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Classificação e nomenclatura dos fungos Classificação dos Fungos Classificar fungos não é tarefa fácil. Trata-se de um grupo muito antigo (mais de 540 milhões de anos) e existem muitas dúvidas a respeito de sua origem e evolução. Os quitridiomicetos, constituídos por cerca de 790 espécies, são os prováveis ancestrais dos fungos. Vivem

Classificação e nomenclatura dos fungos

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Classificação e nomenclatura dos fungos

Classificação dos Fungos

Classificar fungos não é tarefa fácil. Trata-se de um grupo muito antigo (mais de

540 milhões de anos) e existem muitas dúvidas a respeito de sua origem e

evolução.

Os quitridiomicetos, constituídos por cerca de 790 espécies, são os prováveis

ancestrais dos fungos. Vivem em meio aquático e em solos úmidos próximos a

represas, rios e lagos. Vivem da absorção da matéria orgânica que decompõe e,

muitas vezes, parasitam algas, protozoários, outros fungos, plantas e animais.

Algumas espécies causam considerável prejuízo em plantas de cultivo (alfafa e

milho).

Os ascomicetos, com cerca de 32.000 espécies, são os que formam estruturas

reprodutivas sexuadas, conhecidas como ascos, dentro das quais são produzidos

esporos meióticos, os ascósporos. Incluem diversos tipos de bolores, as trufas, as

Morchellas, todos filamentos, e as leveduras (Saccharomyces sp.), que são

unicelulares.

Os basidiomicetos, com cerca de 22.000 espécies, são os que produzem

estruturas reprodutoras sexuadas, denominadas de basídios, produtores de

esporos meióticos, os basidiósporos. O grupo inclui cogumelos, orelhas-de-pau, as

ferrugens e os carvões, esses dois últimos causadores de doenças em plantas.

Os zigomicetos, com cerca de 1.000 espécies, são fungos profusamente

distribuídos pelo ambiente, podendo atuar como decompositores ou como

parasitas de animais. Os mais conhecidos é o Rhizobux stolonifer, bolor que cresce

em frutas, pães e doces - seu corpo de frutificação é uma penugem branca que

lembra filamentos de algodão, recheados de pontos escuros que representam os

esporângios.

Os deuteromicetos, ou fungos conidiais, que já foram conhecidos como fungos

imperfeitos, costituem um grupo de fungos que não se enquadra no dos

anteriores citados. Em muitos deles, a fase sexuada não é conhecida ou pode ter

sido simplesmente perdida ao longo do processo evolutivo. De modo geral,

reproduzem-se assexuadamente por meio da produção de conidiósporos. A esse

grupo pertencem diversas espécies de Penicillium (entre as quais a que produz

penicilina) e Aspergillus (algumas espécies produzem toxinas cancerígenas).

Os liquens são associações simbióticas de mutualismo entre fungos e algas. Os

fungos que formam liquens são, em sua grande maioria, ascomicetos (98%),

sendo o restante, basidiomicetos. As algas envolvidas nesta associação são as

clorofíceas e cianobactérias. Os fungos desta associação recebem o nome de

micobionte e a alga, fotobionte, pois é o organismo fotossintetizante da

associação.

A natureza dupla do liquen é facilmente demonstrada através do cultivo separado

de seus componentes. Na associação, os fungos tomam formas diferentes

daquelas que tinha quando isolados, grande parte do corpo do liquen é formado

pelo fungo.

A microscopia eletrônica mostra as hifas de fungo entrelaçadas com a alga.

Morfologia

Normalmente existem três tipos de talo:

Crostoso: o talo é semelhante a uma crosta e encontra-se fortemente aderido ao

substrato.

Folioso: o talo é parecido com folhas

Fruticoso: o talo é parecido com um arbusto e tem posição ereta.

Reprodução

Os liquens não apresentam estruturas de reprodução sexuada. O micobionte

pode formar conídios, ascósporos ou basidiósporos. As estruturas sexuadas

apresentam forma de apotécio. Os esporos formados pelos fungos do liquen

germinam quando entram em contato com alguma clorofícea ou cianobactéria.

O fotobionte se reproduz vegetativamente. O liquen pode se reproduzir

assexuadamente por sorédios, que são propágulos que contém células de algas e

hifas do fungo, e por isídios, que são projeções do talo, parecido com verrugas. O

liquen também pode se reproduzir por fragmentação do talo.

Habitat

Os líquens possuem ampla distribuição e habitam as mais diferentes regiões.

Normalmente os liquens são organismos pioneiros em um local, pois sobrevivem

em locais de grande estresse ecológico. Podem viver em locais como superfícies

de rochas, folhas, no solo, nos troncos de árvores, picos alpinos, etc. Existem

liquens que são substratos para outros liquens.

A capacidade do liquen de viver em locais de alto estresse ecológico deve-se a sua

alta capacidade de dessecação. Quando um líquen desseca, a fotossíntese é

interrompida e ele não sofre pela alta iluminação, escassez de água ou altas

temperaturas. Por conta desta baixa na taxa de fotossíntese, os liquens

apresentam baixa taxa de crescimento.

Importância Econômica

Os liquens produzem ácidos que degradam rochas e ajudam na formação do

solo, tornando-se organismos pioneiros em diversos ambientes. Esses ácidos

também possuem ação citotóxica e antibiótica.

Quando a associação é com uma cianobactéria, os liquens são fixadores de

nitrogênio, sendo importantes fontes de nitrogênio para o solo.

Os liquens são extremamente sensíveis à poluição, sobrevivendo de

bioindicadores de poluição, podendo indicar a qualidade do ar e até quantidade

de metais pesados em áreas industriais.

Algumas espécies são comestíveis, servindo de alimento para muitos animais.

Príon

Príon é um agente infeccioso composto por proteínas com forma aberrante. Tais

agentes não possuem ácidos nucleicos (DNA e/ou RNA) ao contrário dos demais

agentes infecciosos conhecidos (vírus, bactérias, fungos e parasitos). O termo foi

cunhado em 1982 por Stanley B. Prusiner através de um amálgama entre as

palavras proteinaceous e infection. Os príons são responsáveis pelas

encefalopatias espongiformes transmissíveis em uma variedade de mamíferos,

incluindo os humanos. Todas as doenças priônicas conhecidas afetam as

estruturas cerebrais ou outros tecidos neurais, não possuem cura e são sempre

fatais. Proteínas mostrando um comportamento semelhante ao dos príons são

também reportadas em fungos, que tem sido úteis nas pesquisas para

compreender os príons mamíferos. Os príons fúngicos aparentemente não

causam nenhuma patologia em seus hospedeiros.

Descoberta

O especialista em radiação Tikvah Alper e o matemático John Stanley Griffith

desenvolveram, na década de 1960, a hipótese de que as encefalopatias

espongiformes transmissíveis (TSEs) são causadas por um agente infeccioso

constituído unicamente por proteínas. Esta hipótese foi formulada para explicar a

descoberta que o misterioso agente infeccioso, causador da scrapie e da doença

de Creutzfeldt-Jakob, ser resistente à radiação ultravioleta (o UV causa dano

direto ao DNA pela excitação de moléculas individuais do polímero de DNA,

causando erro ao ser introduzido na seqüência de pares de bases).

Francis Crick reconheceu a potencial importância da hipótese de Griffith para a

propagação do scrapie na segunda edição de seu famoso "Dogma Central da

Biologia Molecular": embora afirmando que o fluxo da sequência de informações

de proteína para proteína ou de proteína para RNA e DNA foi "impedido", ele

observou que a hipótese de Griffith era potencialmente contraditória (embora ela

não tenha sido somente promovida por Griffith). Uma hipótese revisada foi

posteriormente formulada, em parte, para acomodar a descoberta da transcrição

reversa por Howard Temin e David Baltimore.

Stanley B. Prusiner, da Universidade da Califórnia, anunciou em 1982 que sua

equipe havia purificado o hipotético agente infeccioso, e que tal agente consistia

principalmente de uma proteína específica- apesar de ele não conseguir isolar

satisfatoriamente a proteína até dois anos depois de seu anúncio. Prusiner

conferiu o nome "prion" (proteinaceous infection) ao agente infeccioso, e a

proteína específica que compõe o príon foi chamada de "PrP" (Prion Protein),

embora esta proteína possa ser encontrada tanto nas formas infecciosas como

não infecciosas. Prusiner foi premiado com o Nobel de Fisiologia e Medicina em

1997 pela sua pesquisa com príons, mas não sem controvérsia.

Doenças priônicas

Príons causam doença neurodegenerativa por formação de agregados

extracelulares dentro do sistema nervoso central que formam placas conhecidas

por amilóide, que rompem as estruturas do tecido normal. Este rompimento é

caracterizado por "buracos" no tecido que resultam numa arquitetura

espongiforme devido a formação de vacúolos nos neurônios. Outras mudanças

histológicas incluem a astrogliose e a ausência de uma reação inflamatória.

Enquanto o período de incubação das doenças priônicas é geralmente longo, uma

vez que os sintomas aparecem a doença progride rapidamente, levando à danos

cerebrais e morte. Os sintomas neurodegenerativos podem incluir convulsões,

demência, ataxia e mudanças comportamentais e de personalidade.

Todas as doenças priônicas conhecidas, coletivamente denominadas de

encefalopatias espongiformes transmissíveis (TSEs), não apresentam tratamento

e são fatais. Uma vacina tem sido desenvolvida em ratos, no entanto, esta

pesquisa pode fornecer informações para o desenvolvimento de uma vacina

humana para resistir a infecção priônica. Adicionalmente, em 2006, cientistas

anunciaram que tinham modificado geneticamente bovinos sem o gene

necessário para a produção de príons - assim, teoricamente fazendo estes animais

imunes a BSE.

Várias espécies de mamíferos são afetadas pelas doenças priônicas, e as proteínas

priônicas (PrP) são muito similares em todas elas. Apesar da pequena variação na

PrP entre diferentes espécies, é incomum uma doença priônica ser transmitida de

uma espécie para outra. A doença de Creutzfeldt-Jakob Variante, entretanto, é

causada por um príon que tipicamente infecta bovinos, causando a encefalopatia

espongiforme bovina e é transmitida através da carne infectada.

Amilóides são fibrilas proteicas que podem depositar em vários tecidos (epitelial,

ósseo, muscular, etc.), prejudicando a função de vários órgãos (rins, pulmões,

coração, intestino, cérebro, etc).

Os amilóides não são tão raros como se acredita. Ocorrem em mais de 10% dos casos de doenças

que iniciam com o sintoma da proteinúria.

Doenças causadas por príonsAnimais afetados

Doença

ovinos, caprinos Paraplexia enzoótica dos ovinosbovinos Encefalopatia espongiforme bovina (BSE), Doença da vaca loucamarta Encefalopatia transmissível da marta (TME)Veado-de-cauda-branca, alce, veado-mula

Doença emaciante crônica (CWD)

gato Encefalopatia espongiforme felina (FSE)niala, órix, kudu-grande

Encefalopatia de ungulados exóticos (EUE)

avestruzEncefalopatia espongiforme(Não demonstrou ser transmissível.)

Humanos

Doença de Creutzfeldt–Jakob (CJD) Doença de Creutzfeldt–Jakob iatrogênica (iCJD)Doença de Creutzfeldt-Jakob variante (vCJD)Doença de Creutzfeldt-Jakob familiar (fCJD)Doença de Creutzfeldt-Jakob esporádica (sCJD)Síndrome de Gerstmann-Sträussler-Scheinker (GSS) Insônia Familiar Fatal (FFI) Kuru

CLASSIFICACAO E NOMENCLATURA DOS FUNGOS

O reino Fungi é um grande grupo de organismos eucariotas, cujos membros são

chamados fungos, que inclui micro-organismos tais como as leveduras e bolores,

bem como os mais familiares cogumelos. Os fungos são classificados num reino

separado das plantas, animais e bactérias. Uma grande diferença é o facto de as

células dos fungos terem paredes celulares que contêm quitina, ao contrário das

células vegetais, que contêm celulose. Estas e outras diferenças mostram que os

fungos formam um só grupo de organismos relacionados entre si, denominado

Eumycota (fungos verdadeiros ou Eumycetes), e que partilham um ancestral

comum (um grupo monofilético). Este grupo de fungos é distinto dos

estruturalmente similares Myxomycetes (agora classificados em Myxogastria) e

Oomycetes. A disciplina da biologia dedicada ao estudo dos fungos é a micologia,

muitas vezes vista como um ramo da botânica, mesmo apesar de os estudos

genéticos terem mostrado que os fungos estão mais próximos dos animais do que

das plantas.

Abundantes em todo mundo, a maioria dos fungos é inconspícua devido ao

pequeno tamanho das sua estruturas, e pelos seus modos de vida crípticos no

solo, na matéria morta, e como simbiontes de plantas, animais, e outros fungos.

Podem tornar-se notados quando frutificam, seja como cogumelos ou como

bolores. Os fungos desempenham um papel essencial na decomposição da

matéria orgânica e têm papéis fundamentais nas trocas e ciclos de nutrientes. São

desde há muito tempo utilizados como uma fonte direta de alimentação, como no

caso dos cogumelos e trufas, como agentes levedantes no pão, e na fermentação

de vários produtos alimentares, como o vinho, a cerveja, e o molho de soja.

Desde a década de 1940, os fungos são usados na produção de antibióticos, e,

mais recentemente, várias enzimas produzidas por fungos são usadas

industrialmente e em detergentes. São também usados como agentes biológicos

no controlo de ervas daninhas e pragas agrícolas. Muitas espécies produzem

compostos bioativos chamados micotoxinas, como alcaloides e policetídeos, que

são tóxicos para animais e humanos. As estruturas frutíferas de algumas espécies

contêm compostos psicotrópicos, que são consumidos recreativamente ou em

cerimónias espirituais tradicionais. Os fungos podem decompor materiais

artificiais e construções, e tornar-se patogénicos para animais e humanos. As

perdas nas colheitas devidas a doenças causadas por fungos ou à deterioração de

alimentos pode ter um impacto significativo no fornecimento de alimentos e nas

economias locais.

O reino dos fungos abrange uma enorme diversidade de táxons, com ecologias,

estratégias de ciclos de vida e morfologias variadas, que vão desde os quitrídios

aquáticos unicelulares aos grandes cogumelos. Contudo, pouco se sabe da

verdadeira biodiversidade do reino Fungi, que se estima incluir 1,5 milhões de

espécies, com apenas cerca de 5% destas formalmente classificadas. Desde os

trabalhos taxonómicos pioneiros dos séculos XVII e XVIII efetuados por Lineu,

Christiaan Hendrik Persoon, e Elias Magnus Fries, os fungos são classificados

segundo a sua morfologia (i.e. caraterísticas como a cor do esporo ou

caraterísticas microscópicas) ou segundo a sua fisiologia. Os avanços na genética

molecular abriram o caminho à inclusão da análise de ADN na taxonomia, o que

desafiou por vezes os antigos agrupamentos baseados na morfologia e outros

traços. Estudos filogenéticos publicados no último decénio têm ajudado a

modificar a classificação do reino Fungi, o qual está dividido em um sub-reino,

sete filos e dez subfilos.

Características

Antes da introdução dos métodos moleculares de análise filogenética, os

taxonomistas consideravam que os fungos eram membros do reino Plantae

devido a semelhanças nos seus modos de vida: tanto os fungos como as plantas

são na sua maioria imóveis, e apresentam semelhanças na morfologia geral e no

habitat em que se desenvolvem. Tal como as plantas, muitas vezes os fungos

crescem no solo, e no caso dos cogumelos formam corpos frutíferos conspícuos,

que por vezes se assemelham a plantas como os musgos. Os fungos são agora

considerados um reino separado, distintos das plantas e animais, dos quais

parecem ter divergido há cerca de mil milhões de anos. [6][7] Algumas caraterísticas

morfológicas, bioquímicas, e genéticas são partilhadas com outros organismos,

enquanto outras são exclusivas dos fungos, separando-os claramente dos outros

reinos:

Caraterísticas partilhadas:

Com os demais eucariotas: como nos restantes eucariotas, os núcleos das

células dos fungos estão limitados por uma membrana e contêm

cromossomas que contêm ADN com regiões não-codificantes chamadas

intrões e regiões codificantes chamadas exões. Além disso, os fungos

possuem organelos citoplasmáticos delimitados por membrana tais como

mitocôndrias, membranas que contêm esterois, e ribossomas do tipo 80S.

Têm um conjunto caraterístico de carboidratos e compostos armazenados

solúveis, incluindo polióis (como manitol), dissacarídeos (como a trealose) e

polissacarídeos (como o glicogénio, que também é encontrado em

animais).

Com os animais: os fungos carecem de cloroplastos e são organismos

heterotróficos, requerendo compostos orgânicos preformados como fontes

de energia.

Com as plantas: os fungos possuem uma parede celular e vacúolos.

Reproduzem-se por meios sexuados e assexuados, e tal como os grupos

basais de plantas (como os fetos e musgos) produzem esporos. Tal como os

musgos e algas, os fungos têm núcleos tipicamente haploides.

Com os euglenoides e bactérias: os fungos mais desenvolvidos, os

euglenoides e algumas bactérias, produzem o aminoácido L-lisina em

passos específicos de biossíntese, a via do alfa-aminoadipato.

As células da maioria dos fungos crescem como estruturas tubulares,

alongadas e filamentosas designadas hifas. Estas podem conter múltiplos

núcleos e crescer a partir das suas extremidades. Cada extremidade contém

um conjunto de vesículas - estruturas celulares compostas por proteínas,

lípidos e outras moléculas orgânicas - chamado Spitzenkörper. Tanto fungos

como Oomycetes crescem como células hifais filamentosas. Em contraste,

organismos de aspecto semelhante, como as algas verdes filamentosas,

crescem por divisão celular repetida ao longo de uma cadeia de células.

Em comum com algumas espécies de plantas e animais, mais de 60

espécies de fungos apresentam bioluminescência.

Caraterísticas únicas:

Algumas espécies crescem como leveduras unicelulares que se reproduzem

por gemulação ou por fissão binária. Os fungos dimórficos podem alternar

entre uma fase de levedura e uma fase com hifas, em função das condições

ambientais.

A parede celular dos fungos é composta por glicanos e quitina; enquanto os

primeiros são também encontrados em plantas e a última no exosqueleto

dos artrópodes, os fungos são os únicos organismos que combinam estas

duas moléculas estruturais na sua parede celular. Ao contrário das plantas

e dos Oomycetes, as paredes celulares dos fungos não contêm celulose.

Omphalotus nidiformis, um cogumelo bioluminescente.

A maioria dos fungos carece de um sistema eficiente para o transporte de água e

nutrientes a longa distância, como o xilema e o floema de muitas plantas. Para

ultrapassar estas limitações, alguns fungos, como os do género Armillaria,

formam rizomorfos que são morfológica e funcionalmente semelhantes às raízes

das plantas. Outra característica partilhada com as plantas consiste numa via

bioquímica para a produção de terpenos que usa ácido mevalónico e pirofosfato

como precursores. Porém, as plantas têm uma via bioquímica para a produção de

terpenos nos seus cloroplastos, uma estrutura que os fungos não possuem. Os

fungos produzem vários metabolitos secundários que são estruturalmente

semelhantes ou idênticos aos produzidos pelas plantas. Muitas das enzimas de

plantas e fungos que produzem estes compostos diferem entre si na sequência de

aminoácidos e outras características, o que indica origens e evolução separadas

destas enzimas nos fungos e plantas.

Morfologia

Estruturas microscópicas

A maioria dos fungos desenvolve-se como hifas, que são estruturas filamentosas,

cilíndricas, com 2 a 10 µm de diâmetro e até vários centímetros de comprimento.

As hifas crescem nas suas extremidades (ápices); novas hifas formam-se

tipicamente por meio da emergência de novas extremidades ao longo da hifa

existente num processo designado “ramificação”, ou ocasionalmente por

bifurcação de extremidades de uma hifa em crescimento, dando origem a duas

hifas com crescimento paralelo. A combinação do crescimento apical com a

ramificação/bifurcação conduz ao desenvolvimento de um micélio, uma rede

interconectada de hifas. As hifas podem ser septadas ou cenocíticas: as hifas

septadas são divididas em compartimentos separados por paredes transversais

(paredes celulares internas, chamadas septos, que se formam

perpendicularmente à parede celular, dando à hifa a sua forma), cada

compartimento contendo um ou mais núcleos; as hifas cenocíticas não são

compartimentadas. Os septos têm poros que permitem a passagem de

citoplasma, organelos, e por vezes núcleos; um exemplo é o septo doliporo dos

fungos do filo Basidiomycota. As hifas cenocíticas são essencialmente

supercélulas multinucleadas.

Muitas espécies desenvolveram estruturas hifais especializadas na absorção de

nutrientes dos hospedeiros vivos; dois exemplos são os haustórios nas espécies

parasitas de plantas da maioria dos filos de fungos, e os arbúsculos de vários

fungos micorrízicos, que penetram nas células do hospedeiro para consumir

nutrientes.

Embora os fungos sejam opistocontes – um agrupamento de organismos

evolutivamente aparentados, caraterizados em termos gerais por possuírem um

único flagelo posterior – todos os filos, exceto o dos quitrídios, perderam os seus

flagelos posteriores. Os fungos são incomuns entre os eucariotas por terem uma

parede celular que, além dos glicanos e outros componentes típicos, contém

também o biopolímero quitina.

Estruturas macroscópicas

Armillaria ostoyae.

Os micélios dos fungos podem tornar-se visíveis a olho nu, por exemplo, em

várias superfícies e substratos, tais como paredes húmidas e comida deteriorada,

sendo vulgarmente chamados bolores. Os micélios desenvolvidos em meio de

ágar sólido em placas de Petri de laboratório são usualmente designados colónias.

Estas colónias podem apresentar formas e cores de crescimento (devido aos

esporos ou a pigmentação) que podem ser usadas como caraterísticas de

diagnóstico na identificação de espécies ou grupos. Algumas colónias individuais

de fungos podem atingir dimensões e idades extraordinárias, como é o caso de

uma colónia clonal de Armillaria ostoyae, que se estende por mais de 900 ha, com

uma idade estimada em cerca de 9 000 anos.

O apotécio – uma estrutura especializada importante na reprodução sexuada de

Ascomycetes – é um corpo frutífero em forma de taça que contém o himénio,

uma camada de tecido contendo as células portadoras de esporos. Os corpos

frutíferos dos basidiomicetes e de alguns ascomicetes podem, por vezes, atingir

grandes dimensões, e muitos são bem conhecidos como cogumelos.

Crescimento e fisiologia

O crescimento dos fungos como hifas em substratos sólidos ou como células

singulares em ambientes aquáticos, está adaptado para a extração eficiente de

nutrientes, pois estas formas de crescimento têm uma razão entre a área

superficial e o volume bastante alta. As hifas estão especificamente adaptadas ao

crescimento sobre superfícies sólidas e à invasão de substratos e tecidos. Podem

exercer grandes forças mecânicas penetrativas; por exemplo, o patógeno vegetal

Magnaporthe grisea forma uma estrutura chamada apressório que evoluiu de

forma a perfurar tecidos vegetais. A pressão gerada pelo apressório, dirigida

contra a epiderme da planta, pode exceder os 8 MPa (80 bar). O fungo

filamentoso Paecilomyces lilacinus, usa uma estrutura semelhante para penetrar

os ovos de nemátodos.

Bolor cobrindo um pêssego em decomposição. As imagens foram obtidas a intervalos de aproximadamente 12 horas ao longo de seis dias.

A pressão mecânica exercida pelo apressório é gerada a partir de processos

fisiológicos que aumentam o turgor intracelular ao produzirem osmólitos como o

glicerol. Adaptações morfológicas como estas são complementadas por enzimas

hidrolíticas segregadas para o ambiente para a digestão de grandes moléculas

orgânicas – como polissacarídeos, proteínas, lípidos, e outros substratos

orgânicos – em moléculas menores que podem então ser absorvidas como

nutrientes. A vasta maioria dos fungos filamentosos cresce de um modo polar –

i.e., por extensão numa direção – por alongamento no ápice da hifa. Formas

alternativas de crescimento dos fungos incluem a extensão intercalar (i.e. por

expansão longitudinal de compartimentos hifais que estão abaixo do ápice), como

é o caso em alguns fungos endófitos, ou o crescimento por expansão do volume

durante o desenvolvimento dos estipes dos cogumelos e doutros grandes órgãos.

O crescimento dos fungos como estruturas multicelulares consistindo de células

somáticas e reprodutoras – uma característica que evoluiu de modo

independente nos animais e plantas - tem várias funções, incluindo o

desenvolvimento de corpos frutíferos para a disseminação dos esporos sexuais

(ver acima) e de biofilmes para a colonização de substratos e comunicação

intercelular.

Tradicionalmente, os fungos são considerados heterotróficos, organismos que

dependem exclusivamente do carbono fixado por outros organismos para o seu

metabolismo. Os fungos desenvolveram um grau elevado de versatilidade

metabólica, o que lhes permite utilizar uma variedade de substratos orgânicos

para o seu crescimento, incluindo compostos simples como nitrato, amónia,

acetato, ou etanol. Demonstrou-se para algumas espécies que o pigmento

melanina pode ter um papel na extração de energia da radiação ionizante, como a

radiação gama; porém, esta forma de crescimento radiotrófico foi descrita apenas

em algumas poucas espécies, os efeitos nas velocidades de crescimento são

pequenos, e os processos biofísicos e bioquímicos subjacentes são

desconhecidos. Os autores especulam que este processo pode ter semelhança

com a fixação do dióxido de carbono via luz visível, mas utilizando radiação

ionizante como a fonte de energia.

Reprodução

Polyporus squamosus

A reprodução dos fungos é complexa, refletindo as diferenças de modos de vida e

da constituição genética existentes neste reino. Estima-se que um terço de todos

os fungos pode reproduzir-se usando mais do que um modo de propagação; por

exemplo, a reprodução pode ocorrer em dois estágios bem diferenciados no ciclo

de vida de uma espécie, o teleomorfo e o anamorfo. As condições ambientais

desencadeiam estados de desenvolvimento geneticamente determinados que

conduzem à criação de estruturas especializadas para a reprodução sexuada ou

assexuada. Estas estruturas auxiliam a reprodução ao dispersarem eficientemente

esporos ou propágulos contendo esporos.

Reprodução assexuada

A reprodução assexuada por meio de esporos vegetativos (conídios) ou através da

fragmentação do micélio é comum; ela mantém populações clonais adaptadas a

um nicho ecológico específico e permite uma dispersão mais rápida do que a

reprodução sexuada. Os fungi imperfecti (fungos que não apresentam estágio

sexuado) ou Deuteromycota, incluem todas as espécies que não possuem um

ciclo sexual observável.

Reprodução sexuada

A reprodução sexuada com meiose existe em todos os filos de fungos, exceto

Glomeromycota. Difere em muitos aspetos da reprodução sexuada de animais e

plantas. Existem também diferenças entre grupos de fungos, as quais podem ser

usadas para discriminar espécies em função de diferenças morfológicas nas

estruturas sexuais e das estratégias de reprodução. Experiências de acasalamento

entre isolados de fungos podem identificar espécies com base no conceito

biológico de espécie. Os principais agrupamentos de fungos foram inicialmente

delineados com base na morfologia das suas estruturas sexuais e esporos; por

exemplo, as estruturas portadoras de esporos, ascos e basídios, podem ser usadas

na identificação de ascomicetes e basidiomicetes, respetivamente. Algumas

espécies permitem o acasalamento apenas entre indivíduos de tipo reprodutor

oposto, enquanto noutras podem acasalar e reproduzir-se sexuadamente com

qualquer outro indivíduo ou com eles mesmos. As primeiras dizem-se

heterotálicas e as segundas homotálicas.

A maioria dos fungos tem um estágio haploide e um estágio diploide nos seus

ciclos de vida. Nos fungos de reprodução sexuada, os indivíduos compatíveis

podem combinar-se fundindo as suas hifas numa rede interconetada; este

processo, anastomose, é requerido para o início do ciclo sexual. Os ascomicetes e

os basidiomicetes passam por um estágio dicariótico, no qual os núcleos herdados

dos dois pais não se combinam imediatamente após a fusão celular, antes

permanecendo separados nas células hifais (ver heterocariose).

Ascos de Morchella elata com 8 esporos, vistos com microscópio de contraste de

fase

Nos ascomicetes, as hifas dicarióticas do himénio (a camada de tecido portador

de esporos) formam um gancho caraterístico no septo hifal. Durante a divisão

celular, a formação do gancho assegura a correta distribuição dos núcleos recém-

divididos nos compartimentos hifais apical e basal. Forma-se então um asco, no

qual ocorre cariogamia (fusão dos núcleos). Os ascos estão contidos num

ascocarpo, ou corpo frutífero. A cariogamia nos ascos é imediatamente seguida

de meiose e pela produção de ascósporos. Após a dispersão, os ascósporos

podem germinar e formar um novo micélio haploide.

A reprodução sexuada dos basidiomicetes é semelhante à dos ascomicetes. Hifas

haploides compatíveis fundem-se para dar origem a um micélio dicariótico.

Porém, a fase dicariótica é mais extensa nos basidiomicetes, estando muitas vezes

presente também no micélio em crescimento vegetativo. Uma estrutura

anatómica especializada, chamada fíbula, forma-se em cada septo hifal. Tal como

com o gancho estruturalmente similar dos ascomicetes, a fíbula dos

basidiomicetes é requerida para a transferência controlada de núcleos durante a

divisão celular, para manter um estágio dicariótico com dois núcleos

geneticamente diferentes em cada compartimento hifal. Forma-se um

basidiocarpo, no qual estruturas em forma de bastão chamadas basídios geram

basidiósporos haploides após cariogamia e meiose. Os basidiocarpos mais

vulgarmente conhecidos são os cogumelos, mas também podem assumir outras

formas (ver secção Morfologia).

Nos Glomeromycetes (antes Zygomycetes), as hifas haploides de dois indivíduos

fundem-se, formando um gametângio, uma estrutura celular especializada que se

torna uma célula produtora de gâmetas férteis. O gametângio evolui para um

zigósporo, um esporo com parede espessa formado pela união de gâmetas.

Quando o zigósporo germina, sofre meiose, gerando novas hifas haploides, as

quais podem então formar esporangiósporos assexuados. Estes esporangiósporos

permitem ao fungo dispersar-se rapidamente e germinar como micélios haploides

geneticamente idênticos.

Dispersão de esporos

O fungo ninho-de-pássaro Cyathus stercoreus

Tanto os esporos assexuados como os sexuados (esporangiósporos) são

frequentemente dispersos por ejeção forçada desde as suas estruturas

reprodutoras. Esta ejeção garante a saída dos esporos das estruturas

reprodutoras bem como a deslocação através do ar por grandes distâncias.

Mecanismos fisiológicos e mecânicos especializados, bem como as estruturas

superficiais dos esporos (como as hidrofobinas), permitem a ejeção eficiente do

esporo. Por exemplo, a estrutura das células portadoras de esporos de algumas

espécies de ascomicetes é tal, que a acumulação de substâncias que afetam o

volume celular e o equilíbrio de fluidos, permite a descarga explosiva dos esporos

no ar. A descarga forçada de esporos individuais, designados «balistósporos»,

envolve a formação de uma pequena gota de água (gota de Buller), que por

contacto com o esporo leva à sua libertação com uma aceleração inicial superior a

10 000g; o resultado é o esporo ser ejetado a 0,01 – 0,02 cm, distância suficiente

para que caia através das lamelas, ou poros, para o ar abaixo. Outros fungos,

como os do género Lycoperdon, dependem de mecanismos alternativos para a

libertação dos esporos, como forças mecânicas exteriores. O fungo ninho-de-

pássaro usa a força das gotas de água em queda para libertar os esporos dos

corpos frutíferos em forma de taça. Outra estratégia é observada em Phallaceae,

um grupo de fungos com cores vivas e odor pútrido, que atraem insetos para

dispersarem os seus esporos.

Outros processos sexuados

Além da reprodução sexuada normal com meiose, certos fungos, como os dos

géneros Penicillium e Aspergillus, podem trocar material genético por processos

parassexuais, iniciados pela anastomose entre as hifas e plasmogamia das células

dos fungos. A frequência e importância relativa dos eventos parassexuais não são

claras, e podem ser menores que as dos outros processos sexuados. Sabe-se que

tem um papel na hibridização intra-específica. e é provavelmente requerida para

a hibridização entre espécies, a qual foi associada com os principais eventos na

evolução dos fungos.

Evolução

Em contraste com os dados conhecidos sobre a história evolutiva das plantas e

animais, o registo fóssil antigo dos fungos é muito escasso. Entre os fatores que

provavelmente contribuem para a sub-representação das espécies de fungos no

registo fóssil incluem-se a natureza dos esporocarpos, que são tecidos moles,

carnosos, e facilmente degradáveis, bem como as dimensões microscópicas da

maioria das estruturas fúngicas, as quais não são, portanto, muito evidentes. Os

fósseis de fungos são difíceis de distinguir daqueles de outros micróbios, e são

mais facilmente identificáveis quando se assemelham a fungos atualmente

existentes.[86] Muitas vezes recuperadas de um hospedeiro vegetal ou animal

permineralizado, estas amostras são tipicamente estudadas usando preparações

em lâmina delgada que podem ser examinadas com o microscópio ótico ou por

microscópio eletrónico de transmissão. Os fósseis de compressão são estudados

por dissolução da matriz circundante com ácido e usando os meios de

microscopia já indicados para examinar os detalhes da sua superfície.

Os mais antigos fósseis que apresentam caraterísticas típicas dos fungos datam do

éon Proterozoico, há cerca de 1 430 milhões de anos; estes organismos bênticos

multicelulares possuíam estruturas filamentosas com septos, e eram capazes de

anastomose. Estudos mais recentes (2009), estimam o aparecimento de

organismos fúngicos há aproximadamente 760 – 1060 milhões de anos com base

em comparações das taxa de evolução em grupos aparentados. Durante grande

parte da era paleozoica (há 542 – 251 milhões de anos), os fungos parecem ter

sido aquáticos e consistiriam de organismos semelhantes aos atuais quitrídios,

com esporos flagelados. A adaptação evolutiva a um modo de vida terrestre

necessitou uma diversificação das estratégias ecológicas para a obtenção de

nutrientes, incluindo o parasitismo, o saprobismo, e o desenvolvimento de

relações mutualistas como as micorrizas e a liquenização. Estudos recentes (2009)

sugerem que o estado ecológico ancestral dos Ascomycota era o saprobismo e

que eventos independentes de liquenização ocorreram múltiplas vezes.

Os fungos colonizaram a terra provavelmente durante o Câmbrico (há 542 – 488

milhões de anos), muito antes das plantas terrestres. Hifas fossilizadas e esporos

recuperados do Ordovícico de Wisconsin (460 milhões de anos) assemelham-se a

Glomerales atuais, e existiram numa altura em que a flora terrestre

provavelmente consistia apenas de plantas avasculares semelhantes às briófitas.

Prototaxites, que era provavelmente um fungo ou um líquen, terá sido o

organismo mais alto do final do Silúrico. Os fósseis de fungos apenas se tornam

comuns e incontroversos no início do Devónico (há 416 – 359 milhões de anos),

sendo abundantes no cherte de Rhynie, sobretudo Zygomycota e

Chytridiomycota. Por esta mesma altura, há cerca de 400 milhões de anos, os

Ascomycota e os Basidiomycota divergiram, e todas as classes de fungos

modernos estavam presentes no final do Carbónico (Pennsylvaniano, há 318 –

299 milhões de anos).

Fósseis semelhantes a líquenes foram encontrados na formação Doushantuo no

sul da China, datados de há 635 a 551 milhões de anos. Os líquenes eram um

componente dos primeiros ecossistemas terrestres, e a idade estimada do mais

antigo fóssil de líquen terrestre é 400 milhões de anos; esta data corresponde à

idade do mais antigo esporocarpo fóssil conhecido, uma espécie de

Paleopyrenomycites encontrada no cherte de Rhynie. O mais antigo fóssil com

caraterísticas microscópicas semelhantes aos atuais basidiomicetes é

Palaeoancistrus, encontrado permineralizado com um feto do Pennsylvaniano.

Raros no registo fóssil são os Homobasidiomycetes (um táxon aproximadamente

equivalente às espécies produtoras de cogumelos de Agaricomycetes). Dois

espécimes preservados em âmbar constituem evidência de que os mais antigos

fungos produtores de cogumelos que se conhecem (a espécie extinta

Archaeomarasmius legletti) surgiram durante o Cretáceo Médio, há 90 milhões de

anos.

Algum tempo após a extinção permo-triássica (há 251 milhões de anos), ocorreu

um pico de abundância de fungos (originalmente entendido como uma

abundância extraordinária de esporos de fungos nos sedimentos), sugerindo que

os fungos eram a forma de vida dominante deste período, representando quase

100% do registo fóssil disponível para o mesmo. Contudo, a proporção relativa de

esporos fúngicos relativamente aos esporos formados por espécies de algas, é

difícil de avaliar, o pico não apareceu em todo o mundo, e em muitos locais não

diminuiu no limite permo-triássico.

Taxonomia

Embora tradicionalmente incluídos em muitos programas e manuais de botânica,

pensa-se agora que os fungos estão mais próximos dos animais do que das

plantas e são colocados juntamente com os animais no grupo monofilético dos

opistocontes. Análises feitas usando a filogenética molecular suportam a origem

monofilética dos fungos. A taxonomia dos fungos encontra-se num estado de

fluxo constante, especialmente devido a pesquisas recentes baseadas em

comparações de ADN (ácido desoxirribonucleico). Estas análises filogenéticas

atuais revogam frequentemente classificações baseadas em métodos mais

antigos e menos discriminatórios, baseados em traços morfológicos e conceitos

biológicos de espécie, obtidos de acasalamentos experimentais.

Não existe um sistema único de aceitação geral para os níveis taxonómicos mais

elevados e ocorrem frequentes mudanças de nomes em todos os patamares

acima de espécie. Existem actualmente esforços entre os investigadores para

estabelecer e encorajar o uso de uma nomenclatura unificada e mais consistente.

As espécies de fungos podem também ter múltiplos nomes científicos

dependendo do seu ciclo de vida e modo de reprodução (sexuada ou assexuada).

Os sítios da internet como Index Fungorum e ITIS listam nomes atuais das

espécies de fungos (com referências cruzadas para os sinónimos mais antigos). A

classificação do reino Fungi de 2007 é o resultado de um trabalho de investigação

colaborativa em grande escala envolvendo dezenas de micologistas e outros

cientistas que trabalham sobre a taxonomia dos fungos. Esta classificação

reconhece sete filos, dois dos quais - Ascomycota e Basidiomycota – estão

contidos num ramo que representa o sub-reino Dikarya. O cladograma à direita

representa os principais táxons de fungos e a sua relação com os organismos

opistocontes e unicontes. Os comprimentos dos ramos desta árvore não são

proporcionais às distâncias evolutivas.

Grupos taxonómicos

Os filos principais (por vezes chamados divisões) dos fungos foram classificados

sobretudo com base nas características das suas estruturas reprodutoras.

Correntemente, são propostos sete filos: Microsporidia, Chytridiomycota,

Blastocladiomycota, Neocallimastigomycota, Glomeromycota, Ascomycota, e

Basidiomycota.

Micorriza arbuscular vista ao microscópio. Células corticais da raiz de linho

contendo arbúsculos emparelhados.

A análise filogenética demonstrou que os Microsporidia, parasitas unicelulares de

animais e protistas, são fungos endobióticos altamente derivados (vivem nos

tecidos de outra espécie) e bastante recentes. Um estudo de 2006 conclui que os

Microsporidia constituem um grupo irmão dos fungos verdadeiros, isto é, cada

um deles é o parente evolutivo mais próximo do outro. Hibbett e colegas sugerem

que esta análise não colide com a sua classificação de Fungi, e embora

Microsporidia tenha sido elevado ao estatuto de filo, reconhece-se que é

necessária análise suplementar para clarificar as relações evolutivas no seio deste

grupo.

Os Chytridiomycota são vulgarmente conhecidos como quitrídios e têm uma

distribuição mundial. Produzem zoósporos capazes de movimento ativo através

de fases aquosas, com um único flagelo, o que levou os taxonomistas antigos a

classificá-los como protistas. As filogenias moleculares, inferidas de sequências de

ARN ribossómico em ribossomas, sugerem que os quitrídios são um grupo basal

divergente dos outros filos de fungos, consistindo de quatro clados principais com

evidências sugestivas de parafilia ou possivelmente polifilia.

Os Blastocladiomycota eram antes considerados um clado taxonómico dos

Chytridiomycota. Contudo, dados moleculares recentes e caraterísticas

ultraestruturais, colocam-nos como um clado irmão de Zygomycota,

Glomeromycota, e Dikarya (Ascomycota e Basidiomycota). São saprófitas,

alimentando-se de matéria orgânica em decomposição, e são parasitas de todos

os grupos eucariotas. Ao contrário dos seus parentes mais próximos, os quitrídios,

que apresentam sobretudo meiose zigótica, os blastocladiomicetes apresentam

meiose espórica.

Os Neocallimastigomycota estavam antes colocados no filo Chytridomycota. Os

membros deste pequeno filo são organismos anaeróbicos, vivendo no sistema

digestivo de grandes mamíferos herbívoros e possivelmente em outros ambientes

terrestres e aquáticos. Não têm mitocôndrias mas contêm hidrogenossomas de

origem mitocondrial. Como os quitrídios, os neocallimastigomicetes formam

zoósporos que são posteriormente uniflagelados ou poliflagelados.

Os membros de Glomeromycota formam micorrizas arbusculares, uma forma de

simbiose na qual hifas fúngicas invadem células das raízes de plantas e ambas as

espécies beneficiam do aumento resultante no fornecimento de nutrientes. Todas

as espécies conhecidas de Glomeromycota reproduzem-se assexuadamente. A

associação simbiótica entre Glomeromycota e as plantas é antiga, existindo

provas da sua existência há 400 milhões de anos. Anteriormente parte de

Zygomycota, Glomeromycota foi elevado ao estatuto de filo em 2001 e

actualmente substitui o filo Zygomycota. Fungos antes classificados em

Zygomycota estão agora a ser reclassificados em Glomeromycota, ou nos subfilos

incertae sedis Mucoromycotina, Kickxellomycotina, Zoopagomycotina e

Entomophthoromycotina. Alguns exemplos bem conhecidos de fungos

anteriormente incluídos em Zygomycota incluem o bolor preto do pão (Rhizopus

stolonifer), e espécies do género Pilobolus, capazes de ejectar esporos a vários

metros de altura através do ar. Entre os géneros medicamente relevantes

incluem-se Mucor, Rhizomucor, e Rhizopus.

Diagrama de um apotécio (a estrutura reprodutora em forma de taça típica de

Ascomycetes) mostrando tecidos estéreis além de ascos maduros e em

desenvolvimento.

Os Ascomycota, vulgarmente conhecidos como fungos de saco ou ascomicetes,

constituem o maior grupo taxonómico entre os Eumycota. Estes fungos formam

esporos meióticos chamados ascósporos, envolvidos por uma estrutura

semelhante a um saco chamada asco. Este filo inclui o género Morchella, alguns

cogumelos e trufas, leveduras unicelulares (por exemplo dos géneros

Saccharomyces, Kluyveromyces, Pichia, e Candida), e muitos fungos filamentosos

que vivem como saprófitas, parasitas, e simbiontes mutualistas. Entre os géneros

de ascomicetes mais importantes e relevantes incluem-se Aspergillus, Penicillium,

Fusarium, e Claviceps. Em muitas espécies de ascomicetes foi apenas observada

reprodução assexuada (ditas espécies anamorfas), mas a análise de dados

moleculares tem sido frequentemente capaz de identificar os seus teleomorfos

mais próximos entre os Ascomycota. Uma vez que os produtos da meiose são

retidos no asco, os ascomicetes têm sido usados para elucidar os princípios da

genética e da hereditariedade (por exemplo Neurospora crassa).

Os membros de Basidiomycota, vulgarmente chamados fungos de bastão ou

basidiomicetes, produzem meiósporos chamados basidiósporos em estruturas

chamadas basídios. A maioria dos comuns cogumelos pertence a este grupo, bem

como as ferrugens e os carvões (como o carvão-do-milho, Ustilago maydis),

espécies comensais humanas do género Malassezia, e o patógeno oportunista

humano, Cryptococcus neoformans.

Organismos semelhantes aos fungos

Por causa das semelhanças morfológicas e de modo de vida, Myxomycetes e

Oomycetes eram anteriormente classificados no reino Fungi. Ao contrário do que

sucede com os fungos verdadeiros, as paredes celulares destes organismos

contêm celulose e não têm quitina. Os Myxomycetes são unicontes como os

fungos, mas são agrupados em Amoebozoa. Os Oomycetes são bicontes,

agrupados no reino Chromalveolata. Nenhum destes dois grupos é aparentado

com os fungos verdadeiros, e, portanto, os taxonomistas já não os incluem no

reino Fungi. Apesar disso, estudos sobre Oomycetes e Myxomycetes são ainda

frequentemente incluídos em manuais de micologia e em literatura de pesquisa

primária.

Os Nucleariida, actualmente agrupados em Choanozoa, poderão ser um grupo

irmão do clado Eumycetes, e como tal poderiam ser incluídos num reino Fungi

aumentado.

Ecologia

Embora frequentemente inconspícuos, os fungos ocorrem em todos os ambientes

da Terra e desempenham papéis muito importantes na maioria dos ecossistemas.

Ao lado das bactérias, os fungos são os principais decompositores na maioria dos

ecossistemas terrestres (e em alguns aquáticos), tendo, portanto, um papel crítico

nos ciclos biogeoquímicos, e em muitas cadeias tróficas. Como decompositores,

têm um papel essencial nos ciclos de nutrientes, especialmente como saprófitas e

simbiontes, ao degradarem a matéria orgânica em moléculas inorgânicas, que

podem então reentrar nas vias metabólicas anabólicas das plantas ou outros

organismos.

Simbiose

Muitos fungos têm importantes relações simbióticas com organismos da maioria

dos reinos (ou mesmo de todos). Estas interacções podem ser de natureza

mutualista ou antagonística; no caso dos fungos comensais parecem não trazer

prejuízo nem benefício ao hospedeiro. Com as plantas

A simbiose micorrízica entre plantas e fungos é uma das mais bem conhecidas

associações entre plantas e fungos e tem uma importância significativa para o

crescimento e persistência das plantas em muitos ecossistemas; mais de 90% das

plantas estabelecem relações micorrízicas com fungos e dependem desta relação

para sobreviverem.

Os filamentos escuros são hifas do fungo endofítico Neotyphodium coenophialum

nos espaços intercelulares do tecido da bainha da folha de Festuca arundinacea

A simbiose micorrízica é antiga, datando de há pelo menos 400 milhões de anos.

Frequentemente, esta relação aumenta a absorção de compostos inorgânicos pela

planta, tais como nitrato e fosfato, de solos com baixas concentrações destes

nutrientes imprescindíveis para as plantas. Os parceiros fúngicos podem também

mediar a transferência de carboidratos e outros nutrientes entre plantas. Tais

comunidades micorrízicas são chamadas «redes micorrízicas comuns». Um caso

especial de micorriza é a mico-heterotrofia, em que uma planta parasita o fungo,

obtendo todos os seus nutrientes do seu fungo simbionte. Algumas espécies de

fungos vivem nos tecidos no interior das raízes, caules e folhas, sendo então

designados endófitos. Tal como nas micorrizas, a colonização endofítica por

fungos pode beneficiar os dois simbiontes; por exemplo, os endófitos de ervas

fornecem ao seu hospedeiro resistência aumentada aos herbívoros e a outras

pressões ambientais, recebendo em troca alimento e abrigo.

Com algas e cianobactérias

O líquen Lobaria pulmonaria, uma simbiose de espécies de fungos, algas e

cianobactérias.

Os líquenes são formados por uma relação simbiótica entre algas ou cianobactérias

(designados na terminologia dos líquenes como "fotobiontes") e fungos (sobretudo

várias espécies de ascomicetes e alguns basidiomicetes), na qual células

fotobiontes individuais encontram-se disseminadas num tecido formado pelo

fungo. Os líquenes ocorrem em todos os ecossistemas e em todos os continentes, e

desempenham um papel-chave na formação do solo e na iniciação da sucessão

biológica, sendo as formas de vida dominantes em ambientes extremos, incluindo

as regiões desérticas polares, alpinas e semiáridas. São capazes de crescer em

superfícies inóspitas, incluindo solos e rochas nus, cascas de árvores, madeira,

conchas, cracas e folhas. Como no caso das micorrizas, o fotobionte fornece

açúcares e outros carboidratos através da fotossíntese, enquanto o fungo fornece

minerais e água. As funções de ambos os organismos simbióticos estão tão

intimamente relacionadas que eles funcionam quase como um só organismo; na

maioria dos casos o organismo resultante difere muito dos componentes

individuais. A linquenização é um modo comum de nutrição; cerca de 20% dos

fungos – entre 17 500 e 20 000 espécies – são liquenizados. Entre as caraterísticas

comuns à maioria dos líquenes incluem-se a obtenção de carbono orgânico por

fotossíntese, crescimento lento, tamanho reduzido, vida longa, estruturas

reprodutoras vegetativas de longa duração (sazonais), nutrição mineral obtida

sobretudo de fontes aéreas, e maior tolerância à dessecação que a da maioria dos

organismo fotossintéticos no mesmo habitat.

Com os insetos

Muitos insetos têm relações mutualistas com fungos. Vários grupos de formigas

cultivam fungos da ordem Agaricales como fonte de alimento primária, enquanto

algumas espécies de carunchos cultivam várias espécies de fungos nas cascas das

árvores que infestam. De igual modo, as fêmeas de várias espécies de vespas-da-

madeira (género Sirex) injetam os seus ovos juntamente com os esporos de um

fungo decompositor de madeira (Amylostereum areolatum) no alburno de

pinheiros; o crescimento do fungo fornece as condições nutricionais ideais para o

desenvolvimento das larvas da vespa. Sabe-se que também as térmitas da savana

africana cultivam fungos, e leveduras dos géneros Candida e Lachancea habitam

no trato gastrointestinal de uma grande variedade de insetos, incluindo

Neuroptera, escaravelhos, e baratas; não se sabe se estes fungos obtêm algum

benefício dos seus hospedeiros.

Como patógenos e parasitas

O patógeno vegetal Aecidium magellanicum causa uma ferrugem, vista aqui num

arbusto de Berberis no Chile.

Muitos fungos são parasitas de plantas, animais (incluindo humanos), e doutros

fungos. Entre os patógenos importantes de muitas plantas cultivadas que causam

danos e prejuízos à agricultura e silvicultura incluem-se o fungo da brusone do

arroz, Magnaporthe oryzae, patógenos de árvores que causam a grafiose do

ulmeiro, tais como Ophiostoma ulmi e Ophiostoma novo-ulmi,[152] e Cryphonectria

parasitica responsável pelo cancro do castanheiro, e patógenos vegetais dos

géneros Fusarium, Ustilago, Alternaria, e Cochliobolus. Alguns fungos carnívoros,

como Paecilomyces lilacinus, são predadores de nemátodos, que capturam

usando um conjunto de estruturas especializadas como anéis constritores ou

malhas adesivas.[154]

Alguns fungos podem causar doenças graves em humanos, várias delas fatais se

não tratadas. Entre estas incluem-se aspergiloses, candidíases, coccidioidomicose,

criptococose, histoplasmose, micetomas, e paracoccidioidomicose. Também as

pessoas com imunodeficiências são particularmente suscetíveis a doenças

causadas por géneros como Aspergillus, Candida, Cryptococcus, Histoplasma, e

Pneumocystis. Outros fungos podem atacar os olhos, unhas, cabelo, e

especialmente a pele, os chamados fungos dermatófitos e queratinófitos,

causando infecções locais como dermatofitose e pé-de-atleta. Os esporos dos

fungos são também uma causa de alergias, e fungos de diferentes grupos

taxonómicos podem provocar reações alérgicas.

Uso humano

Células de Saccharomyces cerevisiae vistas com microscopia de contraste de

interferência diferencial.

O uso humano dos fungos na preparação e conservação de alimentos e com

outros fins, é extenso e tem uma longa história. A apanha e o cultivo de

cogumelos são grandes indústrias em muitos países. O estudo dos usos históricos

e impacto sociológico dos fungos é conhecido como etnomicologia. Por causa da

capacidade deste grupo para produzir uma enorme variedade de produtos

naturais com atividades antimicrobianas ou outras, muitas espécies são há muito

usadas, ou estão em estudo, para a produção de antibióticos, vitaminas, e drogas

anticancerígenas e redutoras do colesterol. Mais recentemente, foram

desenvolvidos métodos de engenharia genética para fungos, permitindo a

engenharia metabólica de espécies de fungos. Por exemplo, modificações

genéticas de espécies de leveduras— que são fáceis de cultivar com taxas de

crescimento elevadas em grandes vasos de fermentação—abriu novos caminhos à

produção farmacêutica e são potencialmente mais eficientes do que a produção

pelos organismos-fonte originais.

Antibióticos

Muitas espécies produzem metabolitos que são fontes importantes de drogas

farmacologicamente activas. Particularmente importantes são os antibióticos,

incluindo as penicilinas, um grupo estruturalmente relacionado de antibióticos

betalactâmicos sintetizados a partir de pequenos péptidos. Apesar de as

penicilinas de ocorrência natural como a penicilina G (produzida por Penicillium

chrysogenum) terem um espectro de atividade biológica relativamente estreito,

uma grande variedade de outras penicilinas podem ser produzidas por

modificação química das penicilinas naturais. As penicilinas modernas são

compostos semissintéticos, obtidos inicialmente de culturas de fermentação, mas

em seguida estruturalmente alterados para obtenção de propriedades desejáveis

específicas. Entre outros antibióticos produzidos por fungos incluem-se:

griseofulvina de Penicillium griseofulvin usada no tratamento de infecções da

pele, cabelo e unhas, causadas por dermatófitos; ciclosporina, usada como

imunossupressor em cirurgia de transplantação; e o ácido fusídico, usado para

ajudar no controlo de infecção pela bactéria Staphylococcus aureus resistente à

meticilina. O uso em larga escala destes antibióticos no tratamento de doenças

bacterianas, como a tuberculose, sífilis, lepra, e muitas outras, começou no início

do século XX e continua a desempenhar um papel principal na quimioterapia

antibacteriana. Na natureza, os antibióticos de origem fúngica ou bacteriana,

parecem desempenhar um duplo papel: em concentrações elevadas agem como

defesa química contra a competição de outros micro-organismos em ambientes

ricos em espécies, como a rizosfera, e em baixas concentrações funcionam como

moléculas de deteção de quórum para sinalização intra ou interespecífica.

Usos alimentares

A levedura de padeiro ou Saccharomyces cerevisiae, um fungo unicelular, é usado

para fazer pão e outros produtos à base de trigo. Espécies de leveduras do género

Saccharomyces são também usadas na produção de bebidas alcoólicas por

fermentação. O bolor shoyu koji (Aspergillus oryzae) é um ingrediente essencial

na preparação de shoyu (molho de soja), saqué, e miso, enquanto espécies de

Rhizopus são usadas para fazer tempeh. Vários destes fungos são espécies

domesticadas que foram selecionadas segundo a sua capacidade de fermentar

alimentos sem produzirem micotoxinas (ver abaixo) prejudiciais, as quais são

produzidas pelos muito aparentados Aspergillus. Quorn, um substituto de carne, é

feito a partir de Fusarium venenatum.

Uso medicinal

Ophiocordyceps

sinensis

Ganoderma

lucidum

Certos cogumelos são utilizados com fins terapêuticos em medicinas tradicionais,

como acontece na medicina tradicional chinesa. Entre os cogumelos medicinais

notáveis, e com uma história de uso bem documentada, incluem-se Agaricus

blazei, Ganoderma lucidum, e Ophiocordyceps sinensis. As pesquisas identificaram

compostos produzidos por estes e outros fungos, os quais têm efeitos biológicos

inibidores contra vírus e células cancerosas. Metabolitos específicos, como

polissacarídeo-K, ergotamina e antibióticos betalactâmicos, são usados de modo

rotineiro em medicina clínica. O cogumelo shiitake é uma fonte de lentinano, uma

droga clínica aprovada para utilização em vários países, incluindo o Japão, em

tratamentos oncológicos. Na Europa e no Japão, o polissacarídeo-K, um químico

obtido de Trametes versicolor, é um adjuvante aprovado em terapia oncológica.

Espécies comestíveis e venenosas

Amanita phalloides é responsável pela maioria das mortes por envenenamentos

por cogumelos que ocorrem em todo o mundo.

Os cogumelos comestíveis são exemplos bem conhecidos de fungos. Muitos são

cultivados comercialmente, mas outros têm de ser colhidos no estado selvagem.

Agaricus bisporus, vendidos como champignon enquanto pequenos e como

cogumelos Portobello quando maiores, é uma espécie bastante consumida, usada

em saladas, sopas e outros pratos. Muitos fungos asiáticos são cultivados

comercialmente e são cada vez mais populares no Ocidente. Estão

frequentemente disponíveis frescos em mercearias e mercados, incluindo o

cogumelo-de-palha (Volvariella volvacea), cogumelo-ostra (Pleurotus ostreatus),

shiitake (Lentinula edodes), e enokitake (Flammulina spp.).

Há muitas outras espécies de cogumelos que são colhidas no estado silvestre,

quer para consumo pessoal quer para venda comercial. Exemplos: sancha,

Morchella, cantarelos, trufas, trombetas-negras, e cepe-de-bordéus (também

conhecido como cogumelo porcini, boleto ou tortulho) têm um preço elevado no

mercado. São muitas vezes usados em pratos gourmet.

Certos tipos de queijos requerem a inoculação dos coalhos do leite com espécies

de fungos que fornecem um sabor e textura únicos ao queijo. Entre eles contam-

se os queijos azuis como o Roquefort ou o Stilton, inoculados com Penicillium

roqueforti. Os bolores usados na produção de queijo não são tóxicos e portanto

são seguros para consumo humano; contudo, pode ocorrer acumulação de

micotoxinas (aflatoxinas, roquefortina C, patulina, ou outras) devido ao

crescimento de outros fungos durante o processo de maturação e

armazenamento do queijo.

Queijo Stilton com veios de Penicillium roqueforti

Muitas espécies de cogumelos são venenosas para os humanos, com toxicidades

que podem ir desde problemas digestivos ligeiros ou reações alérgicas, e

alucinações até a falha de órgãos e morte. Entre os géneros com cogumelos

tóxicos incluem-se Conocybe, Galerina, Lepiota, e o mais infame, Amanita. Este

último género, inclui o anjo-destruidor (Amanita virosa) e o chapéu-da-morte (A.

phalloides), a causa mais comum de envenenamento mortal por cogumelos.

Gyromitra esculenta é ocasionalmente considerado uma especialidade culinária

quando cozinhado, porém, pode ser muito tóxico quando consumido cru. O

míscaro-amarelo (Tricholoma equestre) era considerado comestível até ter sido

implicado em envenamentos sérios causadores de rabdomiólise. O mata-moscas

(Amanita muscaria) pode também causar envenenamentos ocasionais não fatais,

sobretudo como resultado da sua ingestão como droga recreativa, devido às suas

propriedades alucinogénicas. Historicamente, este cogumelo foi usado por

diferentes povos europeus e asiáticos e o seu uso presente com propósitos

religiosos ou xamanísticos é relatado em alguns grupos étnicos como os coriacos

do nordeste da Sibéria.

Uma vez que é difícil identificar com exatidão um cogumelo seguro sem treino e

conhecimento apropriados, é frequentemente indicado que se deve assumir que

um cogumelo selvagem é venenoso e não consumi-lo.

Controlo de pragas

Em agricultura, os fungos podem ser úteis se competirem ativamente com micro-

organismos patogénicos como bactérias e outros fungos, pelos nutrientes e

espaço, segundo o princípio da exclusão competitiva, ou se forem parasitas

desses patógenos. Por exemplo, certas espécies podem ser usadas para eliminar

ou suprimir o crescimento de patógenos vegetais, como insetos, pulgões, ervas

daninhas, nemátodos, e outros fungos causadores de doenças em colheitas

importantes. Isto gerou um forte interesse nas aplicações práticas que utilizam

fungos como controlo biológico destas pragas agrícolas. Fungos

entomopatogénicos podem ser usados como biopesticidas, pois matam

ativamente os insetos. Exemplos de fungos usados como inseticidas biológicos

são Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, Hirsutella spp, Paecilomyces spp,

e Verticillium lecanii. Os fungos endofíticos de ervas do género Neotyphodium,

como N. coenophialum, produzem alcalóides que são tóxicos para vários

herbívoros invertebrados e vertebrados. Estes alcaloides protegem as ervas da

herbivoria, mas vários alcaloides endofíticos podem envenenar animais de pasto,

como gado bovino e ovelhas.[200] A infecção de cultivares de ervas de pastagem e

forragens com endófitos de Neotyphodium é uma abordagem em uso em

programas de criação de ervas; as estirpes fúngicas são selecionadas por

produzirem apenas alcaloides que aumentam a resistência a herbívoros como os

insetos, mas que não são tóxicos para o gado.[201]

Biorremediação

Alguns fungos, em particular a podridão-branca, podem degradar inseticidas,

herbicidas, pentaclorofenol, creosoto, alcatrão de hulha, e combustíveis pesados,

transformando-os em dióxido de carbono, água, e elementos básicos.

Demonstrou-se que há fungos capazes de biomineralizar óxidos de urânio,

sugerindo que podem ter aplicação na biorremediação de sítios poluídos

radioactivamente. O fungo Pestalotiopsis microspora é capaz de alimentar-se de

plásticos compostos à base de poliuretano.

Organismos modelo

Algumas descobertas fulcrais da biologia foram feitas por investigadores que

usavam fungos como organismos modelo, isto é, fungos que crescem e

reproduzem-se sexuadamente de forma rápida em laboratório. Por exemplo, a

hipótese um gene-uma enzima foi formulada por cientistas que usaram o bolor do

pão Neurospora crassa para testar as suas teorias bioquímicas. Outros fungos

modelo importantes, Aspergillus nidulans e as leveduras, Saccaromyces cerevisiae

e Schizosaccharomyces pombe, têm cada um uma longa história de uso na

investigação de questões da genética e biologia celular dos eucariotas, como a

regulação do ciclo celular, estrutura da cromatina, e regulação dos genes. Outros

modelos fúngicos surgiram mais recentemente, direccionados para questões

biológicas específicas relevantes para a medicina, fitopatologia e usos industriais;

entre os exemplos incluem-se Candida albicans, um fungo dimórfico, e patógeno

humano oportunista, Magnaporthe grisea, um patógeno vegetal, e Pichia

pastoris, uma levedura amplamente usada na expressão de proteínas eucariotas.

Outros

Os fungos são muito utilizados na produção industrial de produtos químicos como

os ácidos cítrico, glucónico, láctico e málico, antibióticos, e até de gangas

deslavadas. Os fungos são também fontes de enzimas industriais, como as lipases

usadas em detergentes biológicos, amilases, celulases, invertases, proteases e

xilanases. Algumas espécies, mais particularmente cogumelos do género Psilocybe

(coloquialmente chamados cogumelos mágicos), são ingeridos pelas suas

propriedades psicadélicas, tanto recreativamente como religiosamente.

Micotoxinas

Ergotamina, uma das principais micotoxinas, produzida por espécies de Claviceps,

que ingerida, pode causar gangrena, convulsões, e alucinações

Muitos fungos produzem compostos biologicamente ativos, vários dos quais são

tóxicos para animais ou plantas, os quais são designados micotoxinas.

Particularmente relevantes para os humanos são as micotoxinas produzidas pelos

bolores que causam a deterioração de alimentos, e os cogumelos venenosos (ver

acima). Particularmente dignas de nota são as amatoxinas de alguns cogumelos

Amanita, e ergotaminas, as quais têm uma longa história de causarem sérias

epidemias de ergotismo em pessoas que consomem centeio e cereais

relacionados contaminados com esclerócios de Claviceps purpurea. Outras

micotoxinas notáveis são as aflatoxinas, as quais são toxinas hepáticas insidiosas e

metabolitos altamente carcinogénicos produzidos por certas espécies de

Aspergillus, que muitas vezes se desenvolvem em cereais ou em nozes

consumidas por humanos, ocratoxinas, patulina, e tricotecenos (por exemplo,

micotoxina T-2) e fumonisinas, as quais têm um impacto significativo sobre as

reservas alimentares e no gado.

As micotoxinas são metabolitos secundários, e as pesquisas demonstraram a

existência nos fungos de vias bioquímicas com o único propósito de produzir

micotoxinas e outros produtos naturais. As micotoxinas podem fornecer

benefícios de aptidão em termos de adaptação fisiológica, competição com

outros micróbios e fungos, e protecção contra o consumo (fungivoria).

Micologia

A micologia é um ramo da biologia que se ocupa do estudo sistemático dos

fungos, incluindo as suas propriedades genéticas e bioquímicas, a sua taxonomia,

e a sua utilidade para os humanos como fontes de medicamentos, alimento,

substâncias psicotrópicas consumidas com propósitos religiosos, bem como os

seus perigos, como o envenenamento e infecção. O campo da fitopatologia, o

estudo das doenças das plantas, está estreitamente relacionado com a micologia,

pois muitos dos patógenos vegetais são fungos.

O uso dos fungos pelos humanos data da pré-história. Ötzi, o Homem do Gelo,

uma múmia de um homem do Neolítico com 5 300 anos de idade encontrada nos

Alpes austríacos, transportava consigo duas espécies de cogumelos poliporos que

podem ter sido usados como mecha (Fomes fomentarius), ou para fins medicinais

(Piptoporus betulinus). Os povos antigos usaram os fungos como fontes de

alimento – frequentemente sem o saberem – durante milénios, na preparação de

pão levedado e sumos fermentados. Alguns dos mais antigos registos escritos

contêm referências a destruições de colheitas provavelmente causadas por

fungos patogénicos.