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CLÁUDIA CARNEIRO HECKE KRÜGER PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FISIOLÓGICA DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS DE LEITE BOVINO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Tecnologia de Alimentos, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Tecnologia de Alimentos. Orientadora: Profª. Drª. Lys Mary Bileski Cândido Co-orientadora: Profª. Drª. Iara Taborda Messias CURITIBA 2006

CLÁUDIA CARNEIRO HECKE KRÜGER

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CLÁUDIA CARNEIRO HECKE KRÜGER

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FISIOLÓGICA DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS DE

LEITE BOVINO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Tecnologia de Alimentos. Orientadora: Profª. Drª. Lys Mary Bileski

Cândido Co-orientadora: Profª. Drª. Iara Taborda

Messias

CURITIBA 2006

ii

À memória de meus pais, Paulo e Therezinha;

Ao meu marido, Walter, por todo apoio, amor e compreensão;

Aos meus filhos, Nícolas, Jonathan e Gabriele, pois sua existência é fonte de motivação;

Ao meu Deus, Criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que neles existe;

Dedico.

iii

AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª Lys Mary Bileski Cândido, por ter acreditado em meu trabalho, pela orientação sempre segura e pela amizade;

À Profª Drª Iara Taborda Messias, pela co-orientação e amizade;

Ao Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná;

Ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos;

Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq), pelo apoio financeiro;

Ao Hospital e Maternidade Angelina Caron, onde foram desenvolvidos os experimentos com os animais;

Ao Prof. Dr. João Carlos Domingues Repka, pela oportunidade de convívio, ajuda e ensinamentos indispensáveis;

Ao Dr. Sérgio Ioshi, pela contribuição nas análises histopatológicas;

Ao Prof. Dr. Luis Cláudio Fernandes, pelo auxílio nos ensaios com macrófagos;

Ao Prof. Dr. Ricardo Bastos Cunha, pela colaboração na identificação dos peptídeos por MALDI-TOF-MS;

Às bolsistas, Ana Paula e Celine;

À bolsista de iniciação científica, Maria Isabel Vedana, pela grande contribuição à realização deste trabalho;

Ao Claudemir, da PUCPR, pela liofilização dos peptídeos;

Aos técnicos de laboratório, César Aparecido da Silva, Jair José de Lima e Lindamir Tomzack Túlio, pelo auxílio e pronto atendimento todas as vezes que necessitei;

À Else, do Hospital Militar do Paraná, pela realização dos leucogramas e contagens diferenciais;

À Louise e Sandro, pela ajuda no dia da eutanásia dos animais;

Ao Marcus Cândido, pela revisão do abstract;

Ao Renato Nishiara, do Laboratório de Imunopatologia do Hospital de Clínicas, pela colaboração na execução dos experimentos;

Aos membros da banca, pelas correções;

Ao Pastor Ericson, pela amizade, estímulo e orações;

A todos, que de alguma forma contribuíram, direta ou indiretamente, para que este trabalho se efetivasse;

Muito Obrigada!

iv

“The fear of the Lord is the beginning of wisdom and the knowledge of the holy is understanding”

Proverbs of Solomon

v

SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES..............................................................................................................vi LISTA DE ABREVIATURAS......................................................................................................... viii RESUMO ......................................................................................................................................... x ABSTRACT .....................................................................................................................................xi 1 ............................................................................................................................. 1INTRODUÇÃO

1.1 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................... ..2 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................................2

2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................................................ 3 2.1 CASEÍNAS ...............................................................................................................................3

2.1.1 Estrutura e Função ............................................................................................................3 2.1.2 Extração e Fracionamento ................................................................................................6 2.1.3 Modificação Enzimática ....................................................................................................9 2.1.4 Obtenção de Petídeos Bioativos.....................................................................................12 2.1.5 Funções dos Peptídeos Bioativos...................................................................................14

2.2 CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS ..............................................................................................22 2.2.1 Estrutura ..........................................................................................................................22 2.2.2 Métodos de Obtenção .....................................................................................................25 2.2.3 Funções ...........................................................................................................................29

2.3 RESPOSTA IMUNE NA INTERVENÇÃO NUTRICIONAL....................................................37 2.3.1 Estrutura e Componentes do Sistema Imunitário...........................................................38 2.3.2 Avaliação da Resposta Imunológica...............................................................................45 2.3.3 Função dos Peptídeos do Leite na Resposta Imunológica ............................................46

2.4 O SISTEMA IMUNOLÓGICO E A RESPOSTA INFLAMATÓRIA.........................................48 3 ESTRATÉGIA GERAL ............................................................................................................... 54 4 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................................... 55

4.1 MATÉRIA PRIMA E REAGENTES ........................................................................................55 4.2 EQUIPAMENTOS ..................................................................................................................55 4.2 METODOLOGIA.....................................................................................................................55

4.2.1 Obtenção dos Caseinofosfopeptídeos............................................................................55 4.2.2 Caracterização dos Caseinofosfopeptídeos ...................................................................57 4.2.3 Atividade Antimicrobiana In Vitro ....................................................................................61 4.2.4 Avaliação da Ação dos Caseinofosfopeptídeos na Resposta Imunológica...................62

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................. 70 5.1 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS .........................70

5.1.1 Composição.....................................................................................................................70 5.1.2 Solubilidade .....................................................................................................................80 5.1.3 Seqüenciamento .............................................................................................................82

5.2 ATIVIDADE ANTIMICROBIANA IN VITRO ...........................................................................91 5.3 AVALIAÇÃO DA AÇÃO DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS NA RESPOSTA IMUNE......95

5.3.1 Imunidade Inespecífica ...................................................................................................95 5.3.2 Sepse Induzida..............................................................................................................100

6 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 119 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 121 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 122

vi

LISTA DE ILUSTRAÇÕES TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DAS CASEÍNAS DO LEITE BOVINO ....... 4 FIGURA 1 - FLUXOGRAMA BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CASEÍNA E/OU CASEINATOS...... 7 TABELA 2 - COMPOSIÇÃO TÍPICA DAS CASEÍNAS E CASEINATOS ..................................... 8 FIGURA 2 - PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS PEPTÍDEOS BIOATIVOS DERIVADOS DA

CASEÍNA ........................................................................................................................ 15 FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS ZONAS ESTRATÉGICAS PRESENTES

NA ESTRUTURA PRIMÁRIA DA Β-CASEÍNA ............................................................... 15 TABELA 3 - ATIVIDADE OPIÓIDE DE Β-CASOMORFINAS HUMANA E BOVINA EM

COMPARAÇÃO À NORMORFINA ................................................................................. 18 FIGURA 4 - ESTRUTURA DA REGIÃO CPP.............................................................................. 23 FIGURA 5 - REGIÕES FOSFORILADAS DE DIFERENTES TIPOS DE CASEÍNAS BOVINAS .. 25 FIGURA 6 - MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS....................... 28 FIGURA 7 - APLICAÇÕES POTENCIAIS DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS ........................ 30 FIGURA 8 - DIFERENCIAÇÃO E ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS AUXILIARES (Th)................ 41 FIGURA 9 - DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B................................................................. 42 FIGURA 10 - PAPEL DOS MACRÓFAGOS NA INGESTÃO DE PROTEÍNAS ESTRANHAS E

NA APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS ........................................................................ 43 FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DIAGRAMÁTICA DOS COMPONENTES PRINCIPAIS DO

SISTEMA IMUNITÁRIO DA MUCOSA INTESTINAL ..................................................... 45 FIGURA 12 - MODELO DAS MEMBRANAS INTERNA E EXTERNA DA E. COLI K-12 ............ 50 FIGURA 13 - LIBERAÇÃO DO LPS POR E. COLI....................................................................... 50 FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO DIAGRAMÁTICA DOS EVENTOS ENVOLVIDOS NA

DETECÇÃO E RESPOSTA AOS ESTÍMULOS FORNECIDOS PELAS ENDOTOXINAS MICROBIANAS NA IMUNIDADE INATA............................................. 51

FIGURA 15 - PATOGÊNESE DO CHOQUE SÉPTICO ............................................................... 52 FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

UTILIZADA PARA REALIZAÇÃO DOS OBJETIVOS DA TESE..................................... 54 TABELA 4 - COMPOSIÇÃO DA DIETA COMERCIAL ................................................................ 63 FIGURA 16 - INJEÇÃO INTRAPERITONEAL COM LPS PARA INDUÇÃO DE CHOQUE

SÉPTICO ........................................................................................................................ 68 TABELA 5 - COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS PEPTÍDEOS ......................................................... 70 TABELA 6 - MINERAIS DOS PEPTÍDEOS................................................................................. 71 FIGURA 17 - ELETROFORESE CAPILAR DE ZONA (ELETROFEROGRAMA) DO CPP-A ...... 72 FIGURA 18 - ELETROFORESE CAPILAR DE ZONA (ELETROFEROGRAMA) DO CPP-B ..... 73 FIGURA 19 - ELETROFORESE CAPILAR DE ZONA (ELETROFEROGRAMA) DO CPP-C..... 73 TABELA 7 - COMPOSIÇÃO AMINOACÍDICA (g AMINOÁCIDO/100g DE PROTEÍNA) DOS

CASEINOFOSFOPEPTÍDOS E DO CASEINATO DE SÓDIO ....................................... 74 TABELA 8 – FORMULAÇÕES ISENTAS DE FENILALANINA .................................................... 77 FIGURA 20 - TEOR DE FENILALANINA DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS ........................... 79 TABELA 9 - RELAÇÃO MOLAR ENTRE DADOS DE COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONTEÚDO

AMINOACÍDICO DOS PEPTÍDEOS............................................................................... 79 FIGURA 21 - SOLUBILIDADE DOS PEPTÍDEOS ....................................................................... 81 FIGURA 22 - ESPECTRO DE MASSA POR DESORÇÃO A LASER DO CPP-A......................... 84 FIGURA 23 - ESPECTRO DE MASSA POR DESORÇÃO A LASER DO CPP-B......................... 85 FIGURA 24 - ESPECTRO DE MASSA POR DESORÇÃO A LASER DO CPP-C ........................ 86 QUADRO 1 - MASSAS MOLECULARES DOS PEPTÍDEOS DETECTADOS NO CPP-A E

POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS ............................................................................................ 87

vii

QUADRO 2 - MASSAS MOLECULARES DOS PEPTÍDEOS DETECTADOS NO CPP-B E POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS ............................................................................................ 87

QUADRO 3 - MASSAS MOLECULARES DOS PEPTÍDEOS DETECTADOS NO CPP-C E POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS ............................................................................................ 89

FIGURA 25 – TESTE DE ESTERILIDADE DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS......................... 91 TABELA 10 - INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO MICROBIANO PELOS

CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS....................................................................................... 92 FIGURA 26 - EFEITO DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS CONTRA LISTERIA

MONOCYTOGENES ...................................................................................................... 94 FIGURA 27 - FAGOCITOSE DE ZIMOSAN PELOS MACRÓFAGOS PERITONEAIS DOS

RATOS............................................................................................................................ 96 FIGURA 28 - PRODUÇÃO DE ÂNION SUPERÓXIDO (O ) PELOS MACRÓFAGOS

PERITONEAIS DOS RATOS2-

.......................................................................................... 97 FIGURA 29 - PRODUÇÃO DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO PELOS MACRÓFAGOS

PERITONEAIS DOS RATOS.......................................................................................... 98 FIGURA 30 - VOLUME LISOSSOMAL DOS MACRÓFAGOS PERITONEAIS DOS RATOS ...... 99 FIGURA 31 - CONTAGEM DIFERENCIAL DAS CÉLULAS LEUCOCITÁRIAS ANTES DO

INÍCIO DAS DIETAS (TEMPO = 0) .............................................................................. 100 TABELA 11 - PESO DOS RATOS ALIMENTADOS COM DIETA CONTROLE OU DIETA

ADICIONADA DE CPP, POR UM PERÍODO DE 22 DIAS........................................... 101 FIGURA 32 – EFEITO DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS SOBRE NÍVEIS PLASMÁTICOS DE

IL-6 APÓS ESTÍMULO COM LPS ................................................................................ 102 FIGURA 33 - CONTAGEM DE LEUCÓCITOS............................................................................ 104 FIGURA 34 - CONTAGEM DE NEUTRÓFILOS.......................................................................... 106 FIGURA 35 - CONTAGEM DE LINFÓCITOS.............................................................................. 107 FIGURA 36 - CONTAGEM DE PLAQUETAS.............................................................................. 108 TABELA 12 - VALORES HISTOLÓGICOS MÉDIOS PARA OS GRUPOS CONTROLE, CPP-A,

CPP-B E CPP-C ........................................................................................................... 109 FIGURA 37 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A

PRESENÇA DE CONGESTÃO .................................................................................... 109 FIGURA 38 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A

PRESENÇA DE EDEMA .............................................................................................. 110 FIGURA 39 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A

PRESENÇA DE HEMORRAGIA ALVEOLAR............................................................... 111 FIGURA 40 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A

PRESENÇA DE INFILTRAÇÃO NEUTROFÍLICA ........................................................ 112 FIGURA 41 - EFEITO DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEO (CPP-A) ADMINISTRADO

INTRAPERITONEALMENTE (IP) SOBRE NÍVEIS PLASMÁTICOS DE IL-6 APÓS ESTÍMULO COM LPS................................................................................................................................113

FIGURA 42 - CONTAGEM DE LEUCÓCITOS DOS RATOS...................................................... 115 FIGURA 43 - CONTAGEM DE NEUTRÓFILOS DOS RATOS ................................................... 116 FIGURA 44 - CONTAGEM DE LINFÓCITOS DOS RATOS ....................................................... 117 FIGURA 45 - CONTAGEM DE PLAQUETAS DOS RATOS ....................................................... 118

viii

LISTA DE ABREVIATURAS AAPH - 2,2'-azobis-2-amidinopropano-dihidroclorida AIDS - síndrome da imunodeficiência adquirida Aminoácidos: Ala (A) - alanina Arg (R) - arginina Asn (N) - asparagina Asp (D) - ácido aspártico Cys (C) - cistina Gln (Q) - glutamina Glu (E) - ácido glutâmico Gly (G) - glicina His (H) - histidina Ile (I) - isoleucina Leu (L) - leucina Lys (K) - lisina Met (M) - metionina Phe (F) - fenilalanina Pro (P) - prolina Ser (S) - serina Thr (T) - treonina Trp (W) - triptofano Tyr (Y) - tirosina Val (V) - valina ATCC - American Type Culture Collection C3a - anafilatoxina produzida pela ativação do complemento C5a - anafilatoxina produzida pela ativação do complemento C5b-9 - complexo lítico de membrana CaBP - calcium binding protein CAF - chemically assisted fragmentation CD14 - receptor de superfície que se liga ao complexo LPS-LBP CFP - células formadoras de placas CGP - kappa-caseinoglicopeptídeo CN - caseína ConA - concanavalina A CPP - caseinofosfopeptídeo E/S - relação enzima/substrato ECA, ACE - enzima conversora da angiotensina EDTA - ácido etilenodiamino tetracético ELISA - enzyme linked immuno sorbent assay ESI-CID-MS/MS - electrospray collision induced dissociation FAST - fragmentation analysis and structural time of flight FPLC - fast protein liquid chromatography GH - grau de hidrólise

ix

GMP - glicomacropeptídeo GPI - contrações elétricas induzidas no plexo mioentérico HIV - human imunodeficiency virus HLA - complexo principal de histocompatibilidade HSP - heat shock protein HT -29 - células intestinais tumorais humanas IFN - interferon Ig - imunoglobulina IL - Interleucina IP - intraperitoneal ITAL - Instituto de Tecnologia de Alimentos IUB - União Internacional de Bioquímica LBP - lipopolissacharide binding protein Linfócitos T CD4+ - Linfócitos t auxiliares Linfócitos T CD8+ - Linfócitos t supressores Linfócitos Th - linfócitos t auxiliares Linfócitos Ts, CTL - linfócitos T supressores ou citotóxicos LPS - lipopolissacarídeo MALDI_TOF_MS - espectrometria de massa por desorção a laser MF - microfiltração MIC - concentração inibitória mínima NBT - nitroblue tetrazolium NK - natural killer PBS - tampão fosfato-salina PER - quociente de eficiência protéica PHA - fitohemaglutinina PMA - forbol 12-miristato 13-acetato PSD - post source decay PTN 6.0 - tripsina Novzymes RP - HPLC - cromatografia líquida de alta pressão em fase reversa TECPAR - Instituto de Tecnologia do Paraná TFA - ácido trifluoroacético TGF - fator de transformação de crescimento TLR4 - toll-like receptor four TMB - tetrametilbenzidina TNF - fator de necrose tumoral TOF - time of flight UFC - unidade formadora de colônia

x

RESUMO Introdução: caseinofosfopeptídeos são formados in vivo durante a digestão da caseína e podem ser produzidos in vitro por hidrólise enzimática. Esses peptídeos têm sido apontados por sua bioatividade, podendo ser úteis em alimentos com alegações de propriedades funcionais ou produtos farmacologicamente ativos. Objetivos: avaliar as propriedades funcionais fisiológicas de peptídeos obtidos por hidrólise enzimática de concentrados protéicos de leite bovino. Para atingir esse objetivo, foram elaborados fosfopeptídeos a partir de caseinato de sódio. Métodos: os fosfopeptídeos foram caracterizados do ponto de vista físico-químico e bioquímico. O processamento dos peptídeos foi realizado no Laboratório de Pesquisa e Pós-Graduação do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná. Os peptídeos foram produzidos pela hidrólise tríptica do caseinato de sódio comercial, Lactonat (HV), seguida de precipitação ácida, agregação mineral e precipitação com etanol ou ultrafiltração/diafiltração. Resultados: os produtos obtidos foram liofilizados e denominados CPP-A, CPP-B e CPP-C. Esses produtos se caracterizam como uma mistura de peptídeos derivados da hidrólise das caseínas αS1, αS2, β e κ. A análise da composição centesimal demonstrou os seguintes resultados (em base úmida): CPP-A, 64,28%±0,60 de proteínas e 19,06±0,03% de cinzas; CPP-B, 67,59±0,38% de proteínas, 29,23±0,14% de cinzas; CPP-C, 84,85±0,56% de proteínas, 16,14±0,0003% de cinzas. O rendimento final dos produtos foi de 11,56%, 19% e 45,57% respectivamente para o CPP-A, CPP-B e CPP-C. A análise de aminoácidos revelou redução significativa no teor de fenilalanina para o CPP-A, com redução de 71,89% em relação ao caseinato de sódio. Foram obtidas as seguintes relações molares na caracterização dos produtos: serina/fósforo, 0,973mol/mol no CPP-A, 0,515mol/mol no CPP-B e 0,680mol/mol no CPP-C; nitrogênio/fósforo, 8,082mol/mol no CPP-A, 7,79mol/mol no CPP-B e 16,73mol/mol no CPP-C; nitrogênio/serina, 8,306mol/mol no CPP-A, 15,128mol/mol no CPP-B e 24,611mol/mol no CPP-C. Os peptídeos apresentaram percentuais relativamente elevados de solubilidade tanto em água como em solução salina de tampão-fosfato, pH 7,4. O CPP-C inibiu o crescimento de Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Salmonella typhimurium em quase todas as concentrações testadas. A Lysteria monocytogenes foi inibida por todos os peptídeos testados. Os peptídeos CPP-A e CPP-B não alteraram a resposta normal dos macrófagos, indicando que sua administração não prejudica a resposta imune inata. A liberação de IL-6 após administração de dose de 5mg/kg de lipopolissacarídeo via intraperitoneal foi significativamente reduzida para os animais que receberam dieta com 0,14g/rato/dia de CPP-A por um período de 22 dias. Os níveis de IL-6 também se apresentaram reduzidos (p=0,000255) nos animais que receberam o CPP-A via intraperitoneal, concomitante à administração de LPS. Conclusões: a comprovação da ausência de respostas citotóxicas pelos CPP-A e CPP-B, bem como seu potencial efeito protetor da saúde pode ser visto como uma contribuição importante na formulação de novos alimentos e na alegação de propriedade funcional ou de saúde em rótulos de alimentos. Palavras-chave: caseinofosfopeptídeos; espectrometria de massa; antimicrobiano; macrófagos; lipopolissacarídeo.

xi

ABSTRACT Introduction: casein phosphopeptides can be liberated in vivo by normal digestion of casein as well as could be produced in vitro by enzymatic hydrolysis. These peptides were suggested to have biological activity, to be useful in food or pharmaceutical applications. Objective: to study the functional and biological properties of milk protein peptides obtained by enzymatic hydrolysis. For this purpose, phosphopeptides were obtained from sodium caseinate. Methods: peptides were physicochemical and biochemically characterized. Casein phosphopeptides were produced at the Research and Post-Graduation Laboratory of the Department of Nutrition at the Federal University of Parana, Brazil. They were produced by tryptic hydrolysis of commercial sodium caseinate, followed by acid precipitation, mineral aggregation, ethanol precipitation or/and ultrafiltration and diafiltration. The products were lyophilized and named CPP-A, CPP-B and CPP-C. Results: these products were characterized peptide mixtures, derived from hydrolysis of αS1, αS2, β and κ caseins. The centesimal composition analysis demonstrated the following results (wet basis): CPP-A, 64.28%±0.60 of proteins and 19.06±0.03% of ashes; CPP-B, 67.59±0.38% of proteins, 29.23±0.14% of ashes; CPP-C, 84.85±0.56% of proteins, 16.14±0.0003% of ashes. The final yield of the products for CPP-A, CPP-B and CPP-C respectively was 11.56%, 19% and 45.57%. The amino acid analysis disclosed significant reduction in phenylalanin for the CPP-A, with reduction of 71.89% in relation to sodium caseinate. The following molar ratios were obtained in the characterization of the products: Ser/P, 0.973mol/mol in the CPP-A, 0.515mol/mol in the CPP-B and 0.680mol/mol in the CPP-C; N/P, 8.082mol/mol in the CPP-A, 7.79mol/mol in the CPP-B and 16.73mol/mol in the CPP-C; N/Ser, 8.306mol/mol in the CPP-A, 15.128mol/mol in the CPP-B and 24.611mol/mol in the CPP-C. Casein phosphopeptides presented relatively high percentages of solubility in water as in saline solution of PBS, pH 7.4. When tested against Escherichia coli, CPP-A displays antimicrobial activity at 0.2mg/mL and 1mg/mL. CPP-C inhibited Staphylococcus aureus, Escherichia coli and Salmonella typhimurium growth at different concentrations. All tested peptides inhibited Lysteria monocytogenes growth. CPP-A and CPP-B did not modify the response of macrophages, indicating that its administration does not harm the innate immune response. The IL-6 release after administration of 5mg/kg of intraperitoneal LPS was significantly reduced for the animals that had received a diet with 0.14g/rat/day from CPP-A for 22 days. The IL-6 levels were also reduced (p=0,000255) in the animals that had received the intraperitoneal CPP-A, concomitant the LPS administration. Conclusions: the proven absence of cytotoxic response for CPP-A and CPP-B, as well as its potential health-protective effect can be regarded as an important contribution for the food industry, justifying the allegation of functional health property in food labels. Keywords: casein phosphopeptide; mass spectrometry; antimicrobial; macrophages; lipopolysaccharide.

1

INTRODUÇÃO

O aumento na produção de alimentos industrializados tem criado uma demanda

crescente de ingredientes que associem propriedades fisiológicas e funcionais. As

frações protéicas do leite agregam atributos nutricionais, funcionais e fisiológicos, que

podem ser isolados e utilizados pela indústria farmacêutica e de alimentos funcionais.

Alimentos funcionais são entendidos como aqueles que apresentam componentes com

potencial protetor da saúde, especialmente no que se refere às doenças crônicas não

transmissíveis.

O leite é um ingrediente de importância fundamental para a indústria de

alimentos. O fracionamento desta matéria-prima gera uma série de produtos indicados

para inúmeras aplicações, incluindo: soro ácido, caseinatos, co-precipitados protéicos

de caseína e soro, coágulo de caseína, soro doce, concentrados e isolados protéicos

de soro e lactalbumina.

Nos últimos 30 anos, vários peptídeos originados do leite têm sido identificados e

caracterizados. Esses fragmentos protéicos apresentam propriedades bioquímicas

específicas, que incluem atividade opióide, anti-hipertensiva, imunomoduladora, anti-

trombótica e a capacidade de ligar minerais.

Caseinofosfopeptídeos derivam-se da hidrólise da caseína e apresentam

propriedades bioativas. Esses peptídeos são liberados durante a digestão por meio de

proteinases intestinais, melhorando a absorção de cálcio por aumentar sua

biodisponibilidade.

A produção de caseinofosfopeptídeos pode ser realizada pela hidrólise da

caseína, enriquecimento das preparações com íons di e trivalentes, seguida de

processos de purificação e concentração. Os produtos obtidos podem ser considerados

como ingredientes potenciais para receberem alegações de propriedades funcionais.

Portanto, esses produtos devem ser examinados e caracterizados em relação ao seu

efeito benéfico ou possível efeito citotóxico.

2

1.1 JUSTIFICATIVA

A possibilidade de formulação de novos alimentos empregando hidrolisados

protéicos de leite bovino e/ ou seus peptídeos isolados pode ser vista como uma

contribuição importante na prevenção de doenças crônicas e/ou na proteção à saúde.

1.2 OBJETIVOS Objetivo geral: Produção, caracterização e avaliação das propriedades funcionais fisiológicas de

peptídeos obtidos por hidrólise enzimática de concentrados protéicos de leite bovino.

Objetivos específicos: 1. Elaborar fosfopeptídeos a partir de caseinato de sódio

2. Caracterizar os peptídeos do ponto de vista físico-químico

3. Avaliar a atividade antimicrobiana in vitro dos caseinofosfopeptídeos

4. Avaliar o efeito dos caseinofosfopeptídeos na imunidade inespecífica e na indução

de sepse após sua administração em animais de laboratório

3

2 REVISÃO DE LITERATURA As proteínas são componentes importantes dos alimentos, tanto pelo aspecto

nutricional como também pelo valor funcional. Os aminoácidos essenciais ao

funcionamento do organismo são fornecidos pelas proteínas da dieta. Além disso, as

proteínas possuem algumas funções específicas relativas à presença de peptídeos

bioativos em sua seqüência primária, o que as torna agentes promotores de saúde

(LÉONIL et al., 2000).

O leite bovino contém aproximadamente 3,5% de proteínas, que podem ser

classificadas em quatro grupos, de acordo com suas propriedades físico-químicas e

estruturais: a) caseínas; b) proteínas do soro; c) proteínas das membranas dos glóbulos

de gordura; d) enzimas e fatores de crescimento (SGARBIERI, 2005).

2.1 CASEÍNAS

2.1.1 Estrutura e Função As caseínas são as proteínas predominantes no leite da maioria de espécies

mamíferas. Constituem um grupo heterogêneo de fosfoproteínas que estabilizam o

fosfato de cálcio em estruturas micelares. Suas funções biológicas incluem o

fornecimento de fosfato (PO4) e cálcio (Ca2+) para a mineralização de alguns tecidos, o

provimento de aminoácidos essenciais e a formação de peptídeos com atividade

biológica (RASMUSSEN et al., 1999). Compreendem de 2,5 a 3,2% do leite fluido e

aproximadamente 80% das proteínas totais do leite bovino.

Três principais componentes são obtidos a partir da caseína: αS1(50% do total), β

(33%) e κ (15%), existindo ainda quantidades variáveis do componente γ. A análise

elementar da caseína (complexo α, β, κ) revela a seguinte composição: carbono, 53%;

hidrogênio, 7,05%; nitrogênio, 16,65%; enxofre, 0,76%; fósforo, 0,85% (SGARBIERI,

1996).

4

Existem componentes menores no sistema caseína, que são fragmentos C-

terminais da β-caseína produzidos pela ação da enzima plasmina (FOX, 2001).

As características físico-químicas das caseínas αS1, β, κ e γ, são apresentadas

na Tabela 1.

TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DAS CASEÍNAS DO LEITE BOVINO

FRAÇÃO PROTÉICA PORCENTAGEM NO

LEITE DESNATADO pI∗ MASSA MOLECULAR

(Da) Caseína αS 45-55 4,1 23.613

Caseína β 25-35 4,5 24.000

Caseína κ 8-15 4,1 19.000

Caseína γ 3-7 5,8 21.000

FONTE: SGARBIERI, 1996 NOTAS: ∗ pI = pH no ponto isoelétrico

A porcentagem de nitrogênio é comumente usada para conversão em

porcentagem de proteína, multiplicando o fator 6,25 (16% de nitrogênio). Como a

caseína contém mais que 16% de nitrogênio, o fator de conversão deverá ser 6,38 e

não 6,25 (SGARBIERI, 1996).

A presença de fósforo nas caseínas permite classificá-las como fosfoproteínas. A

maioria das moléculas de αs1-caseína contêm 8 resíduos de PO4, mas algumas contêm

9; β-caseína normalmente contém 5 mol PO4/mol; αs2-caseína contém 10, 11, 12 ou 13

mol PO4/mol; a maioria das moléculas de κ-caseína contém somente 1 mol PO4/mol. O

número de grupamentos fosfato é indicado como αs1-CN 8P, β-CN 5P, etc. Os

grupamentos fosfato estão esterificados por ligações monoéster de serina e possuem a

habilidade de se ligarem fortemente a cátions. Esse tipo de ligação leva a neutralização

de carga e precipitação das caseínas αs1, αs2 e β quando as concentrações de Ca2+

são superiores a 6mM a 30ºC (FOX, 2001).

Por meio de ionização por eletrospray e espectrometria de massa verifica-se que

uma alta porcentagem de β-caseína é desfosforilada (mais de 27% do total da

proteína) durante o processo de elaboração industrial do caseinato (LÉONIL et al.,

2000).

5

Somente as caseínas αs2 e κ contêm cisteína. Esse resíduo forma pontes

dissulfeto intermoleculares. A ausência de cisteína ou cistina nas caseínas αs1 e β

permite uma maior flexibilidade nessas moléculas. As caseínas, especialmente a β-

caseína, são proteínas de estruturas abertas e com predominância de estruturas

primárias (randomizadas) o que se deve, em parte, aos altos teores de prolina,

distribuída em toda a cadeia polipeptídica, que previne a formação de estruturas

secundárias (DICKINSON, 1999).

A falta da estruturação secundária e terciária torna as caseínas mais

susceptíveis à desnaturação e contribui para sua elevada atividade de superfície, que

lhes confere boa capacidade de formação de espumas e emulsões e facilita a

proteólise. As caseínas são relativamente hidrofóbicas. Os resíduos hidrofóbicos,

polares e carregados não se apresentam uniformemente distribuídos, mas ocorrem

como áreas hidrofóbicas ou hidrofílicas, tornando-as anfipáticas. Sua alta

hidrofobicidade explica a propensão dos hidrolisados de caseína ao aparecimento de

amargor. Todas as caseínas exibem polimorfismo genético, o qual envolve a

substituição de um ou mais aminoácidos (FOX, 2001).

As moléculas de caseína apresentam elevada afinidade por cátions bi- ou

trivalentes em função da presença de resíduos serina fosforilados. Os cátions também

podem se ligar a grupamentos carboxílicos (ácidos glutâmico e aspártico), grupamentos

fenólicos (resíduo tirosil), grupamentos sulfidrílicos (resíduo cisteinil) e grupamentos

imidazólicos (resíduos histidil). A associação de minerais à caseína leva à formação de

ingredientes com propriedades funcionais diferenciadas, de acordo com o íon

associado (GAUCHERON et al., 1997).

As micelas de caseína se apresentam suspensas na fase líquida do leite, com um

diâmetro médio de aproximadamente 120 nm, contendo 93% de proteínas e 7% de sais

inorgânicos, principalmente cálcio e fosfato. A estrutura das micelas não está bem

estabelecida. A estrutura proposta por WALSTRA (1999), segundo SGARBIERI (2005),

apresenta as seguintes características: a) a micela apresenta-se essencialmente

esférica, contudo sua superfície não se apresenta lisa; b) é formada de unidades

menores denominadas submicelas, contendo principalmente caseína; c) as submicelas

6

variam em composição, existindo particularmente dois tipos principais, isto é, um tipo

formado pelas caseínas αs, β e κ e outro formado pelas caseínas αs e κ; d) as

submicelas parecem permanecer ligadas por aglomerados (clusters) de fosfato de

cálcio; e) dessa forma, as submicelas se agregam até a formação completa da micela,

em que a caseína κ se posiciona superficialmente; f) a porção C-terminal da caseína κ

(glicopeptídio) projeta-se para fora da superfície da micela, formando uma camada

esponjosa que previne, por repulsões estéricas e eletrostáticas, qualquer agregação

posterior de submicelas. Os fatores que podem alterar a estrutura do sistema micelar

são a acidificação química ou biológica, a adição de cálcio ou etanol ou a combinação

desses agentes (CREAMER et al., 1998; KRUIF, 1999).

Do ponto de vista nutricional, as proteínas do leite apresentam um Quociente de

Eficiência Protéica (PER) elevado. A caseína é considerada proteína referência,

apresentando um PER acima de 2,5 e o caseinato de sódio apresenta um PER de 2,6

(MING, 2000).

Um estudo de avaliação nutricional de caseinato de sódio e de coágulo de

caseína produzidos no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL, Campinas), revelou

valores de PER de 3,15 para o caseinato de sódio e de 3,65 para a caseína coagulada

enzimaticamente (BORGES et al., 1999).

Além do fornecimento de aminoácidos necessários ao crescimento do neonato, o

sistema micelar das caseínas possui importância fisiológica, pois está relacionado à

prevenção de uma calcificação patológica das glândulas mamárias. A inclusão de cálcio

e fósforo nas micelas de caseína apresenta-se na forma de "nanoclusters", permitindo a

retenção e transporte desses importantes e pouco solúveis minerais ao recém-nascido

sem o perigo da precipitação do cálcio nas glândulas mamárias (MAZA, 1998).

2.1.2 Extração e Fracionamento

Há 2 processos básicos de produção de caseínas em escala industrial: a

precipitação isoelétrica e a coagulação enzimática. O esquema geral de fabricação da

caseína e dos caseinatos está representado na Figura 1, sendo que modificações nos

7

agentes utilizados nas diversas etapas levam à obtenção de produtos diferenciados em

composição (Tabela 2) e aplicação funcional.

O coágulo de caseína, obtido por enzimas, é usado principalmente na

elaboração de queijos. A caseína isoelétrica, obtida pela precipitação no ponto

isoelétrico, geralmente é convertida para a forma de sal (caseinato). Neste caso, um

álcali (sódio, cálcio ou potássio) é adicionado ao produto, que então é desidratado.

FIGURA 1 - FLUXOGRAMA BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CASEÍNA E/OU CASEINATOS

Leite Desnatado Pasteurizado

Coagulação/Precipitação

Dessoragem

Lavagem

Ajuste de pH

Secagem

Caseína / Caseinatos

8

TABELA 2 - COMPOSIÇÃO TÍPICA DAS CASEÍNAS E CASEINATOS

CASEÍNA

ISOELÉTRICA

COÁGULO DE

CASEÍNA

CASEINATO

DE SÓDIO

CASEINATO

DE CÁLCIO

PROTEÍNA (%) 87,3 80,6 90,4 90,5

UMIDADE (%) 9,6 11,0 4,6 4,6

CINZAS (%) 1,8 7,8 3,8 3,7

GORDURA (%) 1,2 0,5 1,1 1,1

LACTOSE (%) 0,1 0,1 0,1 0,1

SÓDIO (%) <0,01 <0,01 1,2 0,01

CÁLCIO(%) 0,02 2,8 0,03 1,3

FÓSFORO (%) 0,7 1,6 0,8 0,8

pH 4,6 7,1 6,8 6,8

FONTE: Adaptado de HUFFMAN & HARPER, 1999.

Os caseinatos de sódio e potássio são solúveis em pH neutro, possuem

elevadas propriedades de superfície e estabilidade ao congelamento. Formam soluções

de alta viscosidade quando em concentrações acima de 10%. O caseinato de cálcio

apresenta alta dispersibilidade e baixa viscosidade. O coágulo de caseína e os

caseinatos de sódio e cálcio podem ser usados em produtos de panificação, alimentos

infantis, alimentos para atletas, na elaboração de emulsões, coberturas, pós para

bebidas, sopas e sobremesas. A utilização de coágulo de caseína e de caseinatos na

elaboração de queijos leva a uma melhor hidratação e rápida dispersão dos

componentes, tendo como resultado uma melhor textura do produto final. Além das

aplicações alimentícias, o caseinato de sódio pode ser usado na fabricação de papéis e

adesivos (MANN, 1991; USDEC, 1997; HUFFMAN; HARPER, 1999; KRÜGER, 2002).

Dois novos processos têm sido propostos para a desestabilização das micelas

de caseína. O primeiro denomina-se crioprecipitação e tem como princípio o

aproveitamento do efeito de temperaturas negativas na estabilidade micelar. O

congelamento a -10ºC do leite com posterior armazenamento leva ao abaixamento do

pH para valores próximos a 5,8, devido à precipitação do fosfato de cálcio. O segundo

9

processo se baseia na baixa estabilidade da caseína quando o leite é acidificado a pH

6,0 e misturado a 10 a 15% de etanol (DAMODARAN; PARAF, 1997).

As micelas de caseína também podem ser separadas do soro pelo uso de

membranas de microfiltração (MF). A microfiltração de leite integral ou desnatado em

membranas com porosidade variando de 0,1 a 0,2µm, permite a coleta de um

permeado com composição semelhante ao soro doce, porém mais cristalino e de

qualidade bacteriológica satisfatória. Este soro doce pode sofrer purificação posterior

por ultrafiltração gerando um isolado protéico de soro com 96% de proteínas. Como

retentado se obtém o fosfocaseinato de cálcio micelar ou caseína micelar

(DAMODARAN; PARAF, 1997; MAUBOIS; LEONIL; SABOYA, 2002). Essa é uma

tecnologia emergente e promissora para a indústria alimentícia, pois a caseína micelar

não apresenta a eletronegatividade causada pela clivagem do glicomacropeptídeo.

Além disso, a caseína micelar pode ser considerada um ingrediente potencial para

fracionamento posterior.

As micelas de caseína também podem ser sedimentadas por centrifugação a

100.000xg por 1 hora, processo que pode ser realizado em nível laboratorial. Micelas

de caseína obtidas como retentado de ultrafiltração podem ser sedimentadas por

centrifugação a 75.000xg por 1 hora a 50ºC. O sobrenadante resultante tem a

composição de um concentrado protéico de soro com 35% de proteínas (FOX, 2001).

IMAFIDON, FARKYE & SPANIER (1997) fazem uma revisão detalhada das

técnicas de isolamento e purificação das frações caseínicas. A separação da β-caseína

tem sido proposta tanto por troca iônica como por processos de membranas. A fração

apresenta funcionalidade superior ao caseinato de sódio.

Do ponto de vista industrial, maior interesse tem sido dado ao fracionamento da

β-caseína, glicomacropeptídeo e caseinofosfopeptídeo, pois esses produtos

apresentam aplicações potenciais para a indústria de alimentos para fins especiais.

2.1.3 Modificação Enzimática

As proteínas podem ser modificadas intencionalmente por reações químicas,

reações catalisadas por enzimas, transformações físicas ou alterações genéticas.

10

Essas modificações podem ocorrer in vitro ou in vivo (GONZÁLEZ-TELLO et al., 1994;

SGARBIERI, 1996; IMAFIDON et al., 1997).

O uso de enzimas na manipulação de proteínas garante maior especificidade,

controle e segurança nos hidrolisados obtidos do que a utilização de meios químicos. A

hidrólise enzimática de proteínas produz peptídeos com pesos moleculares variáveis e

alterações na estrutura nativa da proteína. Previne reações indesejáveis devido à sua

especificidade de ação, utiliza condições moderadas de tratamento, menor energia no

processo, sendo possível sua inativação após o uso. Os hidrolisados obtidos por via

enzimática geralmente apresentam menor conteúdo de sais do que os obtidos por

hidrólise ácida ou alcalina (LÖFFLER, 1986; DEESLIE; CHERYAN, 1988; GONZÁLEZ-

TELLO et al., 1994; IMAFIDON et al., 1997).

Como resultado da hidrólise, há aumento na solubilidade das proteínas, melhoria

das propriedades interfaciais e redução na viscosidade (TURGEON; GAUTHIER;

PAQUIN, 1992; CARNEIRO, 1997).

O grau de hidrólise (GH) é definido como o número de ligações peptídicas

hidrolisadas em relação ao número total de ligações peptídicas de uma determinada

proteína. Proteínas intactas têm um valor GH = 0% e uma proteína completamente

hidrolisada tem valor GH = 100%. O grau de hidrólise é determinado pelas condições

do processo (relação enzima:substrato, tempo, temperatura, pH) e influenciado pela

natureza da atividade enzimática (PANYAM; KILARA, 1996).

As proteases têm sido classificadas de diferentes formas, mas a classificação

mais satisfatória é a adotada pela Comissão de Enzimas (CE) da IUB: proteases

contendo serina, contendo cisteína, metaloproteases e proteases ácidas (proteases

aspárticas). Em relação ao local de atuação na molécula de proteína são classificadas

como exo e endopeptidases (CÂNDIDO, 1998).

Os hidrolisados podem ser classificados de acordo com o grau de hidrólise e

com a aplicação dos mesmos. Assim, se agrupam em três grandes blocos: a)

hidrolisados com baixo grau de hidrólise, entre 1 e 10%, para melhoria de propriedades

funcionais; b) hidrolisados com graus de hidrólise variável, geralmente alto, para

utilização como aromatizantes; c) hidrolisados extensivos, com grau de hidrólise

11

superior a 10%, para uso em alimentos para fins especiais. Estes podem se subdividir

em hidrolisados para utilização em suplementos protéicos e hidrolisados com

composição definida para o tratamento de enfermidades e síndromes específicas

(VIOQUE et al., 2001)

Os hidrolisados têm sido utilizados como suplementos protéicos na elaboração

de dietas para alimentação enteral de bebês e adultos enfermos, fórmulas

hipoalergênicas para lactentes e lactantes, suplementos para praticantes de atividade

física, dietas para idosos e para controle de peso. Hidrolisados com composição

definida têm sido usados em erros metabólicos congênitos, como na fenilcetonúria, em

que se propõem as remoções dos aminoácidos aromáticos e em enfermidades

hepáticas, onde há necessidade de uma alta razão de Fischer (ramificados/aromáticos).

Finalmente, devido à sua alta solubilidade, digestibilidade e boa absorção intestinal, os

hidrolisados extensivos podem ser usados em pacientes com atividade gastrointestinal

deficiente, como no caso da doença de Crohn. Portanto, esses produtos devem possuir

um adequado balanço osmótico, hipoalergenicidade, sabor agradável, baixa

concentração salina, valor nutritivo igual ou similar ao concentrado original

(GONZÁLEZ-TELLO et al., 1994; SINGH; DALGLEISH, 1998; NEKLYUDOV; IVANKIN;

BERDUTINA, 2000; VIOQUE et al., 2001; PACHECO et al., 2002; CÂNDIDO;

SGARBIERI, 2003).

Tradicionalmente, proteases têm sido aplicadas no amaciamento de carnes

utilizando-se papaína. A modificação enzimática mais clássica do leite se refere à

clivagem da κ-caseína, nos resíduos Phe105-Met106 pela ação da renina e a proteólise

subseqüente que ocorre na maturação dos queijos. Enzimas também agem na

prevenção da turbidez da cerveja, na produção de detergentes e em fermentações de

alimentos orientais. Vários estudos têm demonstrado a aplicação de hidrolisados

protéicos solúveis elaborados a partir de proteínas vegetais ou de pescados (LÖFFLER,

1986; FENNEMA, 1993; CÂNDIDO; SGARBIERI, 2003).

A produção industrial de hidrolisados de caseína teve seu início a partir da

década de 70. A matéria-prima mais freqüentemente empregada tem sido o caseinato

de sódio e, dependendo da aplicação é selecionado o tipo de enzima proteolítica a ser

12

usado. Muitas vezes, o hidrolisado é ultrafiltrado para eliminação de enzimas e de

peptídeos de alto peso molecular (BRULE et al., 1980).

A hidrólise seletiva das proteínas do leite, com a finalidade de produzir

hidrolisados protéicos ou peptídeos com propriedades fisiológicas ativas, tem sido

pesquisada por vários autores (ROKKA et al., 1997; CHU; MACLEOD; OZIMEK, 1996;

YAMAMOTO; TAKANO, 1999; FITZGERALD; MEISEL, 1999; LEDOUX, et al., 1999).

Após o processo de hidrólise por uma enzima específica, há necessidade da

caracterização dos peptídeos obtidos. Vários métodos podem ser utilizados e incluem

eletroforese em gel de poliacrilamida uni ou bidimensional, focalização isoelétrica,

imunoeletroforese, cromatografia líquida de alta pressão em fase reversa (RP-HPLC),

eletroforese capilar e espectrometria de massa do tipo MALDI-TOF. Este último é

composto por um ionizador (MALDI, matrix assisted laser desorption/ionization), um

analisador (TOF, time of flight) e um detector que registra o tempo de deslocamento

(time of flight) dos vários peptídeos ionizados. Como os íons menores “voam” mais

rápido que os maiores, a razão m/z pode ser calculada a partir dos tempos de vôo

registrados, após calibração do instrumento, permitindo assim determinar as massas de

cada peptídeo. Este método pode ser associado ao seqüenciamento aminoacídico por

degradação de Edman (KANEKANIAN, GALLAGHER, EVANS, 2000; PACHECO et al.,

2002).

2.1.4 Obtenção de Petídeos Bioativos

Substâncias bioativas de origem alimentar são definidas como componentes dos

alimentos consumidos que podem vir a exercer atividades regulatórias no organismo

humano, independentemente de suas funções nutricionais (MEISEL, 1999).

Baseados no conceito acima, vários pesquisadores têm considerado diferentes

substâncias bioativas como ingredientes promotores da saúde, a fim de utilizá-los em

alimentos com alegações de propriedades funcionais, que podem ser consumidos como

parte da dieta diária e em produtos farmacologicamente ativos.

Vários estudos estão sendo conduzidos na determinação de substâncias

bioativas, para aplicação em alimentos formulados:

13

- O uso de microorganismos probióticos na prevenção de infecções do trato

gastrointestinal e no restabelecimento da microflora (VAUGHAN; MOLLET,

1999);

- A utilização de oligossacarídeos e catequinas do chá no controle da

hiperglicemia de pacientes diabéticos (SHIMIZU, 1999);

- Peptídeos bioativos derivados das prolaminas de cereais, capazes de

prevenir, in vitro, as alterações causadas pelos mesmos cereais em pacientes

portadores de doença celíaca (SILANO; VICENZI, 1999);

- Os efeitos antioxidantes dos flavonóides (HEMPEL et al., 1999; PFORTE et

al., 1999);

- Lipídios bioativos do leite bovino (MOLKENTIN, 1999);

- A capacidade das isoflavonas em prevenir e/ou tratar doenças crônico-

degenerativas como a osteoporose, câncer e doenças coronarianas

(BEDANI; ROSSI, 2005).

- O potencial farmacológico dos extratos etanólicos de própolis: anticâncer,

anti-inflamatório, antibiótico, antioxidante, antifúngico e antiviral (CHOI et al.,

2006).

As proteínas, especialmente as caseínas, que sofreram digestão in vivo, in vitro

ou durante o processamento dos alimentos podem ser consideradas substâncias

bioativas. Provavelmente, esses peptídeos não possuem um potencial similar ao de

drogas comumente utilizadas no tratamento de doenças, porém podem regular alguns

processos orgânicos quando ingeridos diariamente. Em alguns casos, a expressão do

potencial biológico ocorre num sinergismo entre os peptídeos e substâncias não

protéicas (SHANBACHER et al., 1998).

Há uma série de peptídeos bioativos que compõem a estrutura primária das

caseínas, porém que não apresentam atividade biológica enquanto a proteína se

mantém intacta. Sua ativação depende da ocorrência de proteólise que pode acontecer

durante o processamento do alimento protéico ou no decorrer de sua digestão.

No caso do leite, a proteólise pode acontecer de forma natural, pela presença de

enzimas ou bactérias ácido-lácticas. Ocorre nos processos de fermentação para

14

elaboração de produtos de valor agregado ou na maturação dos queijos. Os

caseinofosfopeptídeos são constituintes naturais dos queijos e o processo de

maturação leva ao aparecimento de peptídeos com atividade anti-hipertensiva. Leites

fermentados com a utilização de Lactobacillus helveticus e Saccharomyces cerevisae

produzem β-casoquininas e β-caseína (169 – 175), um peptídeo com moderada

atividade inibidora da enzima conversora da angiotensina (ECA), com atividade no

sistema cardiovascular (MEISEL; BOCKELMANN, 1999; GOBETTI et al., 2002).

No processo digestivo, após a ingestão de leite se detecta uma considerável

quantidade de proteínas do soro no jejuno e somente traços de caseína intacta. A

diferença no tempo de esvaziamento gástrico entre proteínas do soro e frações

caseínicas se dá pela alta solubilidade das primeiras. O coágulo de caseína formado no

meio ácido estomacal permanece sofrendo hidrólise e é liberado na forma de

peptídeos, com potencial atividade biológica como o glicomacropeptídeo (GMP),

peptídeos com atividade opióide (casomorfinas) e fragmentos fosfopeptídicos (TOMÉ;

DEBABBI, 1998).

A maioria dos peptídeos derivados de caseína que apresentam atividade

biológica é produzida in vitro pelo uso de proteinases pancreáticas, especialmente

tripsina. Combinações de endo-proteinases também podem ser utillizadas, incluindo

quimotripsina, pepsina, termolisina, pancreatina, carboxipetidase entre outras. Essas

enzimas podem ser de origem microbiana, vegetal ou animal (GOBETTI et al., 2002).

2.1.5 Funções dos Peptídeos Bioativos

Os peptídeos com atividade fisiológica derivada da caseína podem exercer

funções em diferentes sistemas do organismo, conforme esquema apresentado na

Figura 2. Algumas seqüências peptídicas são consideradas “zonas estratégicas” por

apresentarem mais de uma atividade biológica. Estas zonas são parcialmente

protegidas contra a proteólise, de maneira que a atividade fisiológica é preservada

durante a digestão ou processamento. A Figura 3 representa esta “multi-

funcionalidade”.

15

FIGURA 2 - PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS PEPTÍDEOS BIOATIVOS DERIVADOS DA CASEÍNA

PEPTÍDEOS BIOATIVOS

Sistema Cardiovascular Sistema Nervoso Sistema Digestório Sistema imunológico

Peptídeos Peptídeos Caseinofosfopeptídeos Glicomacropeptídeo Antitrombóticos Anti-hipertensivos

Agonistas Antagonistas Peptídeos Peptídos Opióides Opióides Imunomoduladores Antimicrobianos

FONTE: Adaptado de SILVA & MALCATA (2005)

FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS ZONAS ESTRATÉGICAS PRESENTES NA ESTRUTURA PRIMÁRIA DA Β-CASEÍNA

60 β-casomorfina 70

-Val-Tyr-Pro-Phe-Pro-Gly-Pro-Ile-Pro-Asn-Ser-Leu-

Imunopeptídeo

Casoquinina + Peptídeo amargo

Imunopeptídeo

190 200 209 Ala-Phe-Leu-Leu-Tyr-Gln-Glu-Pro-Val-Leu-Gly-Pro-Val-Arg-Gly-Pro-Phe-Pro-Ile-Ile-Val-OH Peptídeo amargo Peptídeo amargo + Peptídeo emulsificante

FONTE: MEISEL, 1998.

16

2.1.5.1 Sistema Cardiovascular

Alguns autores apontam semelhanças entre os mecanismos envolvidos na

formação do coágulo de leite e no processo de coagulação do sangue. Existem

algumas homologias entre os resíduos 106 - 116 da κ-caseína e os resíduos 400 - 411

do fibrinogênio humano. Um peptídeo denominado casopiastrina foi obtido pela

hidrólise tríptica da κ-caseína e demonstrou atividade antitrombótica por impedir a

ligação do fibrinogênio às plaquetas (SMACHI; GOBETTI, 2000).

As casoplatelinas são peptídeos derivados da clivagem da κ-caseína (f106 –

116, f106 – 112, f 113 – 116) que possuem atividade inibidora da agregação plaquetária

(JOLLÉS et al., 1986).

A regulação da pressão sanguínea é parcialmente dependente do sistema

renina-angiotensina. A renina age sobre a angiotensina liberando a angiotensina I. Esta

se converte em angiotensina II, um hormônio vasoconstritor, pela ação do sistema da

enzima conversora da angiotensina (ECA ou ACE). A angiotensina II inativa a

bradiquinina (um vasodilatador) aumentando a produção de aldosterona que diminui a

excreção renal e aumenta a retenção de líquidos pelo organismo (SILVA; MALCATA,

2005).

A enzima conversora da angiotensina (ECA ou ACE) se localiza em vários

tecidos. A inibição da ECA pode influenciar diferentes sistemas de regulação do

organismo envolvidos na modulação da pressão arterial, defesa imune e atividade do

sistema nervoso (MEISEL, 1998).

Uma característica estrutural da maioria dos peptídeos inibidores de ECA e de

alguns peptídeos imunomoduladores é a presença de um resíduo Arg carboxi-terminal

(MEISEL; GÜNTHER, 1998)

São encontrados peptídeos inibidores de ECA a partir de algumas fontes

vegetais, como o glúten, caseínas humanas e bovinas e a partir de veneno de cobra

(SMACHI; GOBETTI, 2000).

A inibição da ECA é registrada em peptídeos obtidos a partir de αs1-caseína (f23

– 34, 23 – 27, 294 – 299), β-caseína bovina (f177 – 183), β-caseína humana (f43 – 52)

17

e κ-caseína (f63 – 65). Esses peptídeos são conhecidos como casoquininas

(SCHANBACHER et al., 1998).

2.1.5.2 Sistema Nervoso

Peptídeos derivados da caseína podem desempenhar funções regulatórias no

sistema nervoso. São conhecidos como peptídos opióides, podendo exercer atividades

agonistas ou antagonistas.

Estudos farmacológicos, bioquímicos e de comportamento têm estabelecido a

existência de pelo menos três tipos de receptores opióides no sistema nervoso central e

periférico dos mamíferos. Esses receptores opióides interagem com moléculas

protéicas que se ligam a eles e que podem ser de origem endócrina ou exócrina (BITRI,

2004).

Os peptídeos opióides “típicos” são a encefalina, a endorfina e a dinorfina que

são peptídeos derivados da propiomelanocortina, da proencefalina e da prodinorfina.

Essas substâncias apresentam uma seqüência N-terminal semelhante: Tyr-Gly-Gly-

Phe. Os peptídeos “atípicos” com atividade opióide são derivados das proteínas lácteas

e apresentam seqüências N-terminais diferentes dos “típicos”. Entretanto, ambos

grupos possuem algumas semelhanças estruturais, como a presença de um resíduo

tirosina amino terminal e de resíduos aromáticos (tirosina ou fenilalanina) na 3ª ou 4ª

posição. Peptídos com ausência de tirosina não apresentam atividade opióide (MEISEL,

1998).

Os peptídeos agonistas opióides derivados da caseína possuem de 5 a 10

resíduos e são conhecidos como casomorfinas ou exorfinas. Ligam-se aos receptores

opióides nas células intestinais e outros tecidos. São obtidos a partir da β-caseína (f60-

70 – β-casomorfina) e αs1-caseína (f90 – 96 – α-casomorfina). A morficetina é o

peptídeo com maior potencial opióide. Pertence ao grupo da β-casomorfina e apresenta

a seguinte seqüência N-terminal: Tyr-Pro-Phe-Pro. Estudos têm demonstrado que as

casomorfinas são responsáveis pela produção de analgesia, aumento do tempo de

trânsito intestinal, efeitos antidiarréicos, aumento na absorção de aminoácidos e

18

eletrólitos e estímulo da secreção de insulina e somastostatina (MEISEL; SCHLIMME,

1990; KORHONEN et al., 1998; SCHANBACHER et al., 1998; SHAH, 2000).

BRANTL (1985) seqüenciou β-casomorfinas humanas e avaliou sua atividade

opióide, tendo verificado que as β-casomorfinas bovinas apresentam um potencial

opióide mais intenso (Tabela 3).

A penetração de peptídeos pela barreira hemato-encefálica em adultos é restrita,

porém há evidências de que sob determinadas condições alguns oligopeptídeos podem

ultrapassar essa barreira. UMBACH et al. (1985) verificaram a presença de β-

casomorfina imunoreativa no plasma de bezerros e apontam a possibilidade de

receptores opióides do sistema nervoso central apresentarem maior afinidade pela β-

casomorfina do que pela morfina.

TABELA 3 - ATIVIDADE OPIÓIDE DE Β-CASOMORFINAS HUMANA E BOVINA EM

COMPARAÇÃO À NORMORFINA

SUBSTÂNCIA GPI*

β-casomorfina -4 : (Tyr-Pro-Phe-Pro) 14,3

β-casomorfina -4 humana: (Tyr-Pro-Phe-Val) 56,2

β-casomorfina -5: (Tyr-Pro-Phe-Pro-Gly) 2,0

β-casomorfina -5 humana: (Tyr-Pro-Phe-Val-Gly) 33,1

Normorfina 0,1

* Os valores indicam concentrações µM, causando 50% de inibição das contrações elétricas induzidas no plexo mioentérico do íleo de roedores por preparação longitudinal do músculo (GPI). BRANTL (1985)

A hidrólise das proteínas lácteas também leva à formação de peptídeos opióides

com atividade antagonista. Estes se denominam casoxinas, quando obtidos a partir das

caseínas. Surgem em concentrações mais elevadas em leite proveniente de animais

com mastite e promovem aceleração no trânsito intestinal. As casoxinas A e B são

derivadas da κ-caseína, sendo que a casoxina A corresponde ao fragmento 35 – 41 e a

casoxina B ao fragmento 58 – 61. A casoxina C (f 25 – 34) é obtida da hidrólise tríptica

da κ-caseína e apresenta o maior potencial biológico dentre as demais. A casoxina D é

formada a partir da αs1-caseína. Algumas casoxinas são metoxiladas durante os

19

processos de isolamento e purificação e se tornam mais ativas (MEISEL;

BOCKELMAN, 1999; SILVA; MALCATA, 2005).

2.1.5.3 Sistema Imunológico

Os peptídeos do leite apresentam propriedades reguladoras no desenvolvimento

do sistema imunológico. Essas propriedades podem ser classificadas em dois grandes

grupos: a imunomodulação e a atividade antimicrobiana.

Sabe-se que o leite contém inúmeras substâncias que protegem a criança contra

infecções (COSTE et al., 1992; SMACHI; GOBETTI, 2000).

Estudos experimentais com animais demostraram que o concentrado protéico de

soro de leite apresenta atividade anticarcinogênica. O concentrado protéico de soro

induziu o aumento de glutationa nos tecidos, diminuindo o volume tumoral,

provavelmente devido ao efeito estimulador da glutationa sobre a resposta imunológica

(BOUNOUS, 2000).

MONTAGNIER; OLIVIER e PASQUIER (1998), estudaram o efeito do

ImmunocalTM, produto do soro de leite patenteado no Canadá, em crianças com

síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), e constataram que o tratamento é bem

tolerado. A utilização do concentrado de soro melhorou o estado nutricional dos

pacientes, com reflexo no peso e nas medidas antropométricas.

MORENO (2002) investigou o papel imunomodulador do concentrado protéico de

soro doce (obtido no Instituto de Tecnologia de Alimentos ITAL-Campinas) em crianças

com AIDS, e constatou que a suplementação nutricional com um concentrado protéico

rico em cisteína aumenta os níveis de glutationa nos eritrócitos e induz a melhora da

relação entre os linfócitos T CD4+/CD8+. O hemograma e a liberação de intermediários

reativos do oxigênio mantiveram-se sem modificações. Não foram observadas

alterações nos marcadores de estresse oxidativo das crianças envolvidas no ensaio

clínico, situação semelhante aos resultados obtidos com adultos infectados pelo HIV

suplementados com as proteínas do soro de leite bovino. As crianças suplementadas

apresentaram diminuição da ocorrência de episódios infecciosos.

20

DIAS et al. (1999) investigaram o efeito das proteínas do lactosoro no sistema

imunológico de camundongos. Os autores utilizaram animais recém-desmamados, que

receberam dietas durante 21 dias contendo 20% de proteína e água ad libitum. Após 15

dias, os animais foram injetados com 5x106 hemácias de carneiro, lavadas com solução

salina. No quinto dia após a injeção, os animais foram sacrificados e os baços e fígados

retirados. Nos testes, que verificam o numero de células formadoras de placas (CFP),

características da existência de resposta imune humoral, os camundongos tratados com

um produto de soro de leite patenteado no Canadá (Immunocal), apresentaram valores

significativamente mais elevados de CFP (95,85x103), seguidos dos camundongos

tratados com concentrados protéicos de soro ácido (obtido no ITAL). Por outro lado, os

camundongos tratados com concentrado protéico de soro doce (obtido no ITAL)

apresentaram os valores mais elevados de glutationa (8,4µmol/g de tecido).

Imunopeptídeos, obtidos da αS1, β-caseína e α-lactalbumina estimulam a

atividade fagocitária e também apresentam papel protetor contra infecções por

Klebsiella pneumoniae em camundongos. Esses peptídeos podem estimular a

proliferação e maturação dos linfócitos T e de células natural killer na proteção de

neonatos contra bactérias entéricas (SHAH, 2000; SMACHI; GOBETTI, 2000).

COSTE et al. (1992) produziram hidrolisados de β-caseína bovina utilizando

quimosina. Os peptídeos apresentavam a seqüência 193 - 209. Os autores avaliaram a

proliferação celular de células de baço de ratos não sensibilizados e células de

linfonodos inguinais de ratos sensibilizados com ovalbumina. A atividade biológica dos

peptídeos mostrou-se mais efetiva na ativação celular dos linfonodos.

Em 1996, WONG et al. comunicaram que a β-caseína bovina era capaz de

aumentar significativamente a resposta proliferativa de linfócitos ovinos, induzidos por

mitógenos.

Os mecanismos pelos quais os peptídeos lácteos exercem efeitos

imunomoduladores não estão completamente definidos. A presença do resíduo Arg nas

regiões C- ou N- terminais dos peptídeos é apontada como um elo de ligação entre o

peptídeo e receptores de membrana da superfície de células de defesa imunológica

(MEISEL, 1998).

21

Há evidências de que neonatos exibem peptídeos antibacterianos formados após

a ingestão do leite. Ainda não existem estudos in situ que comprovem esta hipótese

(MALKOSKI et al., 2001).

Peptídeos antimicrobianos têm sido identificados em frações de leite bovino,

apresentando um provável papel regulador da flora intestinal (ZUCHT et al., 1995).

Um peptídeo denominado caseicidina, obtido pela digestão da caseína com

quimosina em pH neutro possui atividade inibidora do crescimento de Staphylococcus

spp., Sarcina spp., Bacillus subtilis, Diplococcus pneumoniae e Streptococcus

pyogenes. O fragmento derivado da αs1-caseína (f1 - 23) denominado isracidina

demonstrou atividade bacteriostática contra S. aureus e Candida albicans e foi capaz

de proteger ovinos e bovinos de infecções nas glândulas mamárias (LAHOV;

REGELSON, 1996).

RECIO & VISSER (1999) identificaram dois peptídeos, obtidos da α-s2 caseína

com atividade antibacteriana contra uma série de microorganismos.

A casoplatelina é um decapeptídeo derivado da κ-caseína (fragmento 127 – 137)

com atividade na função plaquetária e provável atividade antimicrobiana (RIZZELLO et

al., 2005).

2.1.5.4 Sistema Digestório

O trato gastrintestinal pode ser considerado como uma porta de entrada para

nutrientes e como um sítio de ação para substâncias de origem alimentar que possuem

atividade biológica. Alguns produtos apresentam efeito local, outros apresentam efeito

sistêmico ao longo do sistema digestório. Podem agir como antimicrobianos, ligarem-se

a patógenos ou toxinas, seqüestrarem nutrientes microbianos, se associarem a

receptores de mucosa e renovarem o crescimento das células (HOERR; BOSTWICK,

2000).

As caseínas possuem atividade biológica relacionada ao transporte de cálcio,

zinco, cobre, ferro e fosfato. Os caseinofosfopeptídeos atuam como carreadores de

minerais.

22

O glicomacropeptídeo (GMP), que se forma na clivagem da κ-caseína, possui

uma composição aminoacídica singular. O produto não apresenta resíduos aromáticos

e é rico em resíduos ramificados, sendo uma opção interessante para a elaboração de

fórmulas alimentícias destinadas a pacientes com doenças hepáticas e desordens do

metabolismo (SILVA; MALCATA, 2005).

NAKAJIMA et al. (2005) avaliaram o efeito preventivo do GMP contra infecções

intestinais, tendo verificado que o peptídeo se liga a diversas bactérias impedindo sua

aderência em células intestinais.

2.2 CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

O termo caseinofosfopeptídeo (CPP) foi introduzido na década de 50 para

descrever peptídeos fosforilados derivados da caseína que apresentam a propriedade

de melhorar a calcificação de crianças portadoras de raquitismo. Essa influência de

peptídeos no metabolismo mineral partiu das observações de Mellander que incubava

caseína com pepsina e suco pancreático, obtendo uma fração peptídica resistente à

degradação posterior por outras enzimas. Os peptídeos obtidos apresentavam elevado

conteúdo de resíduos fosfoserina e aumentavam o balanço de cálcio de 39 a 78% em

neonatos raquíticos. Desde então, verificou-se cientificamente que os

caseinofosfopeptídeos possuíam a habilidade de ligar microelementos como Ca, Mg e

Fe e também, elementos-traço, como Zn, Ba, Cr, Ni, Co e Se (FITZGERALD, 1998;

SCHOLZ-AHRENS; SCHREZENMEIR, 2000).

2.2.1 Estrutura

Os primeiros estudos sobre a hidrólise da caseína, em 1895, demonstraram que

a utilização de extratos pancreáticos permitia a quebra da molécula e a obtenção de

compostos inorgânicos de fósforo. Mais tarde, verificou-se que os compostos

fosforilados derivados da caseína formavam sais insolúveis com vários metais sendo

denominados “fosfopeptonas” (RIMINGTON, 1941; KITTS; YUAN, 1992).

23

LOWNDES et al. (1941) obtiveram um polipeptídeo a partir da caseína e com uso

de tripsina, com uma relação N:P de 4:1. A caracterização desta fosfopeptona foi

realizada pelos métodos então disponíveis, revelando a presença de serina e um ácido

dicarboxílico, que aparentemente seria o ácido hidroxiglutâmico.

Estudos subseqüentes verificaram que os caseinofosfopeptídeos consistem

numa mistura de peptídeos de diferentes pesos moleculares formados in vivo quando a

caseína é degradada pelas enzimas proteolíticas no trato digestivo. Esses peptídeos,

em sua estrutura primária, contêm uma seqüência de aminoácidos carregada

negativamente em pH fisiológico, constituída pelos resíduos de ácido glutâmico e serina

fosforilada (Ser(P)-Ser(P)-Ser(P)-Glu-Glu), cuja conformação está representada na

Figura 4. (ERBA; CIAPPELANO; TESTOLIN, 2001).

FIGURA 4 - ESTRUTURA DA REGIÃO CPP

A partir de então, vários estudos têm demonstrado que a digestão da caseína

eleva a biodisponibilidade do cálcio. Os caseinofosfopeptídeos formam complexos

solúveis com fosfato de cálcio em pH alcalino. Esses complexos previnem a

precipitação do fosfato de cálcio e aumentam a concentração do cálcio solúvel in vitro e

no lúmen do intestino delgado (KITTS et al., 1992).

24

HAN; SHIN E BYUN (2000) identificaram uma nova variante genética da β-

caseína (β-caseína-H ou β-CN-H) com substituição do 25º resíduo (região CPP). Em

ratos, o efeito da solubilização do cálcio é aumentado em 23% comparado com outras

variantes genéticas.

A elevada afinidade das moléculas de caseína por cátions bi e trivalentes é

atribuída à sua fosforilação. A extensão da fosforilação das caseínas é dependente do

tipo de caseína em questão. Por exemplo, a caseína bovina αs2 possui 13 grupos

fosfato, enquanto a κ-caseína apresenta somente um grupamento. O fósforo aparece

ligado às caseínas através de ligações monoéster nos resíduos serina, criando um

domínio ácido favorável à ligação com metais. A seqüência de aminoácidos na cadeia

peptídica também é outro fator a definir o grau de fosforilação da molécula, isto é, uma

seqüência tripla de resíduos de aminoácidos aniônicos: SerP-SerP-SerP-Glu-Glu

(FITZGERALD, 1998; KITSS, 2005).

A Figura 5 apresenta as regiões fosforiladas encontradas nas caseínas de leite

bovino.

A presença de sítios fosforilados conduz a um aumento na hidrofilicidade e na

mobilidade daquele determinado sítio peptídico. Aproximadamente 80% das regiões

fosforiladas da caseína se apresentam com a estrutura β-pregueada (ZHANG; OTANI,

2003)

HUQ, CROSS e REYNOLDS (2004) investigaram a estrutura da αs1-caseína f59

– 79 utilizando ressonância nuclear magnética. Observaram a existência de alto grau de

flexibilidade e mobilidade. Esse achado se correlaciona bem com a habilidade do

peptídeo em se ligar a uma variedade de íons.

MIQUEL et al. (2006) hidrolisaram fórmulas infantis com pepsina e pancreatina,

simulando o processo fisiológico e obtiveram caseinofosfopeptídeos com massas

moleculares na faixa de 1400 a 9600Da. Em aproximadamente 50% dos CPPs

identificados obtiveram a seqüência SerP-SerP-SerP-Glu-Glu, responsável pela ligação

com minerais.

25

FIGURA 5 - REGIÕES FOSFORILADAS DE DIFERENTES TIPOS DE CASEÍNAS BOVINAS

αs1-caseína gln-met-glu-ala-glu-ser(P)-ile-ser(P)-ser(P)-ser(P)-glu-glu-ile-val-pro-asn-ser(P)val-glu-gln-lys f(59 – 79) val–pro-asn-ser(P)-ala-glu-glu-arg f(112 – 119) αs2-caseína glu-his-val-ser(P)-ser(P)-ser(P)-glu-glu-ser-ile-ile-ser(P)-gln-glu f(5 - 18) asn-pro-ser(P)-lys-glu-asn f(29 - 34) gly-ser(P)-ser(P)-ser(P)-glu-glu-ser(P)-ala-glu-val f(55 - 64) gln-leu-ser(P)-thr-ser(P)-glu-glu-asn-ser-lys-lys-thr-val-asp-met-glu-ser(P)-thr-glu-val-phe f(127 - 147) β-caseína ile-val-glu-ser(P)-ser(P)-ser(P)-glu-glu-ser-ile-lys variante A f(12 - 23) ile-val-glu-ser(P)-lys-ser(P)-glu-glu-ser-ile-lys variante B f(12 - 23) κ-caseína glu-ala-ser(P)-pro-glu-val-ile f(147 - 153)

2.2.2 Métodos de Obtenção

Caseinofosfopeptídeos têm sido produzidos in vitro por meio da utilização de

enzimas pancreáticas na digestão da caseína. Estudos in vivo também têm

demonstrado a formação de caseinofosfopeptídeos a partir de caseína em animais

experimentais (McDONAGH; FITZGERALD, 1998; BOUHALLAB et al., 1999; PÈRES et

al., 1999; MEISEL; BOCKELMANN, 1999; OTANI et al., 2000; PARK; ALLEN, 2000).

Os caseinofosfopeptídeos podem ser produzidos a partir de diferentes enzimas

de origem bacteriana, fúngica, vegetal ou animal, mas a habilidade de solubilizar o

cálcio diferencia-se com o método de obtenção. Endoproteinases de origem microbiana

resultaram na produção de CPPs de melhor qualidade e menores custos (McDONAGH;

FITZGERALD, 1998).

26

A partir de 1950, vários métodos foram estabelecidos para a produção de

fosfopeptídeos derivados da caseína, em escala laboratorial (PETERSON; NAUMAN;

McMEEKIN, 1958; MANSON & ANNAN, 1971; NAITO & SUZUKI, 1974). Entretanto,

esses métodos eram executados para produzir caseinofosfopeptídeos para fins de

pesquisa e para confirmar sua presença e pureza. Alguns reagentes utilizados, como

BaCl2, eram impróprios para uso em ingredientes alimentícios e as operações difíceis

de serem convertidas para a escala industrial.

BRULE et al. (1980) propuseram um método de obtenção de fosfocaseinatos a

partir da hidrólise enzimática, seguida da agregação de cátions divalentes ao

hidrolisado e de ultrafiltração. Apontam os produtos obtidos como ingredientes

terapêuticos a serem incluídos em dietas para alimentação oral ou enteral.

Em 1987, REYNOLDS propôs a extração de fosfopeptídeos a partir de solução

de caseinato de sódio digerida com tripsina por 1 hora, a 37ºC e pH 5. Neste método,

ajusta-se o pH para 4,7 e removendo-se o precipitado resultante. Adiciona-se BaCl2

(0,25% p/v) seguido de igual volume de etanol absoluto e o precipitado resultante é

removido e seco. O precipitado é dissolvido 10 vezes e a solução acidificada. Adiciona-

se igual volume de acetona e o precipitado é novamente removido e seco. O

precipitado é então dissolvido em água e acidificado para pH 2 com HCl. O precipitado

resultante é removido e descartado e o sobrenadante ajustado para pH 3,5 com NaOH

e adiciona-se volume igual de acetona. Coleta-se o precipitado resultante, redissolve-se

em água e adiciona-se H2SO4. O sobrenadante é dialisado e liofilizado. Obtém-se uma

mistura de cinco fosfopeptídeos.

A utilização de uma matriz de quitosana para adsorver os fosfopeptídeos é

preconizada em uma patente (KOIDE et al., 1994). A adsorção dos fosfopeptídeos

começa no momento em que a solução de caseína digerida e com pH na faixa de 2,5 a

4,5 entra em contato com a quitosana. Pode-se eluir os 10 a 20% de fosfopeptídeos

que ficam adsorvidos após a lavagem da matriz com água pela adição de 0,2 a 1mol/L

de NaCl. Após, os peptídeos podem ser facilmente separados por métodos

convencionais de separação sólido-líquido. Pode-se usar centrifugação, decantação,

filtração ou filtração por membranas. Para a adsorção e desorção dos fosfopeptídeos

27

com quitosana, pode-se usar uma coluna empacotada com a mesma, tanque ou

fermentador usado rotineiramente na indústria láctea.

REYNOLDS, RILEY e ADAMSON (1994) descreveram um método de purificação

de fosfopeptídeos a partir da precipitação com cálcio e etanol de digestos trípticos de

caseína. Os peptídeos fosforilados passam por processos de purificação pelo uso de

FPLC.

McDONAGH e FITZGERALD (1998) obtiveram fosfopetídeos a partir de

hidrolisados de caseinato de sódio utilizando agregação de cloreto de cálcio em pH

neutro seguido de precipitação destes agregados com etanol, conforme segue: o

sobrenadante resultante da precipitação a pH 4,6 é elevado para o pH 7,0 com o

acréscimo de solução 2N de NaOH. Adiciona-se CaCl2 até a concentração final de 1%

(p/v) e as soluções são deixadas por 1 hora à temperatura ambiente. Acrescenta-se

etanol a 50% (v/v) e o precipitado resultante é coletado por centrifugação a 6000xg por

10 minutos.

Os métodos de obtenção dos caseinofosfopeptídeos são, em sua maioria,

patenteados. FITZGERALD (1998), em sua revisão propõe a elaboração dos

caseinofosfopeptídeos, conforme apresentado na Figura 6.

PÉRÈS et al. (1999) isolaram β-caseína de caseinato de sódio comercial por

solubilização a frio (pH 4,5 e 4 ºC), seguida de cromatografia de troca iônica. Obtiveram

o caseinofosfopeptídeo (β-caseína, fragmento 1 – 25) por hidrólise tríptica e

precipitação com cálcio e etanol. Os autores ligaram Fe ao caseinofosfopeptídeo

adicionando solução de FeCl2 (4.10-2M; pH 5,3; 30 minutos e 25ºC). O excesso de ferro

(não ligado) foi descartado por ultracentrifugação e diafiltração numa membrana de

celulose regenerada com um “cutt off” de 3.000Da. O complexo obtido foi liofilizado.

Verificou-se que 1 mol do peptídeo obtido foi capaz de ligar 4 moles de Fe.

PARK e ALLEN (2000) separaram a caseína de leite integral utilizando a

precipitação no ponto isoelétrico, seguida de separação das frações por coluna de troca

aniônica. Os autores prepararam hidrolisados utilizando tripsina (Sigma) e GSE SP 446

(Novo Nordisk). Separaram, então, os caseinofosfopeptídeos, pelo emprego de coluna

QAE-Sephadex A 25, que foi equilibrada com 50mM de tampão Tris-HCl, pH 8,0. As

28

frações αs e β-caseína hidrolisadas foram colocadas na coluna com uma taxa de fluxo

de 3mL/min., monitorando-se o eluído a 280nm.

FIGURA 6 - MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

agregação de CaCl2ultrafiltração/diafiltração

desidratação ou liofilização

CPP

agregação de CaCl2precipitação c/ etanol

separação cromatográfica

remoção do material não peptídico(centrifugação/ultrafiltração)

digestão por endoproteinase(pH 7,0 - 8,0)

Caseinato de sódio

ELLEGARD et al. (1999) propuseram um método de obtenção de

caseinofosfopeptídeos em escala industrial utilizando hidrólise tríptica, precipitação

ácida, diafiltração e cromatografia de troca aniônica. O produto resultante se caracteriza

como de alta pureza e boa funcionalidade.

OTANI et al. (2000) prepararam caseinofosfopeptídeos a partir de solução de

caseína a 15% (p/v) de pH 7,0 tratada com tripsina bovina (Novo Industry,

caseína:tripsina = 100:0,01, p/p) por 2 horas a 60ºC. O pH da solução de caseína

tratada é ajustado para 4,5 e o precipitado formado removido por ultrafiltração.

29

Adiciona-se cloreto de cálcio e etanol ao filtrado até uma concentração final de 1,1%

(p/v) e 50% (v/v), respectivamente. O precipitado formado é então coletado e

desidratado. O produto obtido consiste de 12% (p/p) de caseinofosfopeptídeos dos

resíduos 1 – 32 da caseína bovina αs2 e dos resíduos 1 – 28 da caseína bovina β.

Os caseinofosfopeptídeos têm sido produzidos em escala industrial no Japão,

por meio de hidrólise tríptica da caseína. São considerados alimentos funcionais e

utilizados para elevar a biodisponibilidade de cálcio no trato intestinal (OTANI;

WATANABE; TASHIRO, 2001).

2.2.3 Funções

Os caseinofosfopeptídeos são formados in vivo durante a digestão da caseína.

Com o objetivo de avaliar a distribuição do CPP no trato digestivo de ratos (Sprague-

Dawley), TAKANORI et al. (1995) coletaram o conteúdo do trato digestivo após 4 e 10

horas da ingestão de caseína. Os autores observaram as maiores taxas no íleo após 4

horas (5,2%) sendo que houve redução significativa no conteúdo após 10 horas (1,4%).

Também foi observada a presença de CPP no ceco e cólon intestinal.

A presença de caseinofosfopeptídeos também foi observada no íleo de adultos

humanos após algumas horas da ingestão de leite. Como o trato epitelial intestinal

representa a porta de entrada para os componentes dos alimentos, várias preparações

de caseinofosfopeptídeos foram testadas em relação à possível citotoxicidade. Não

foram observadas respostas citotóxicas dos caseinofosfopeptídeos com o uso de

modelos citoquímicos recomendados pela literatura (HARTMANN et al., 2000;

HARTMANN; MEISEL, 2002).

PARK e ALLEN (2000) utilizaram um modelo animal para verificar o potencial

alergênico dos caseinofosfopeptídeos. Verificaram que os fosfopeptídos derivados da

hidrólise tríptica da αs-caseína possuem imunogenicidade significativamente menor do

que a αs-caseína intacta ou seus hidrolisados.

Ratos que receberam injeção intraperitoneal de caseinofosfopeptídeos não

apresentaram diferença significativa nos níveis de IgE em relação a animais não

imunizados, indicando baixa alergenicidade do produto (OTANI et al, 2000).

30

A antigenicidade de uma proteína tem sido associada à hidrofilicidade,

mobilidade e propensão à formação de estruturas β-pregueadas. Esses requisitos são

atendidos pelos sítios fosforilados das β-caseínas, indicando uma alta possibilidade

dessas regiões se localizarem nos epítopos ou muito próximas a eles. ZHANG e OTANI

(2003) num estudo com camundongos confirmaram que os anticorpos reconhecem as

regiões fosforiladas da β-caseína como epítopos intactos ou parte deles. Os anticorpos

reconheciam a seqüência Ser(P)-Ser(P)-Ser(P), mas não mostraram reatividade com a

β-caseína desfosforilada ou com peptídeos contendo dois resíduos serina fosforilados,

intercalados por qualquer resíduo não-fosforilado (Ser(P)-X-Ser(P)).

Desta forma, segmentos fosforilados contendo dois resíduos serina provenientes

da β-caseína ou fosfopeptídos derivados da hidrólise tríptica da αs-caseína podem ser

utilizados na elaboração de fórmulas hipoalergênicas.

Várias formulações alimentícias têm sido citadas como carreadores em potencial

para os fosfopeptídeos. Estas incluem: produtos de confeitaria, alimentos matinais,

produtos de panificação e confeitaria, sorvetes e sobremesas congeladas, leite e

produtos lácteos, sucos, chocolates, chás e maionese (FITZGERALD, 1998).

As principais aplicações dos caseinofosfopeptídeos estão resumidas na Figura 7.

FIGURA 7 - APLICAÇÕES POTENCIAIS DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

CASEINOFOSFOPETÍDEOS

Suplementação mineral Efeito anticariogênico Humanização do leite bovino Imunomodulador Antioxidante

31

2.2.3.1 Suplementação Mineral

Os fosfopeptídeos possuem um alto conteúdo de cargas negativas e sítios de

ligação fosfoseril ou carboxílicos que os tornam eficientes na formação de complexos

solúveis com cátions divalentes. São relatados complexos formados entre

fosfopeptídeos e diversos minerais (VEGARUD; LANGSRUD E SVENNING, 2000).

Quando são comparados os níveis intestinais de isótopos de Ca45 entre animais

que recebem diferentes fontes protéicas em suas dietas (caseína, glúten, gelatina,

caseína desfosforilada, albumina de ovo, soro de leite ou isolado protéico de soja) se

torna claro que a fosforilação da caseína é um pré-requisito indispensável para o efeito

significativamente maior dessa proteína na solubilidade do mineral (SCHOLZ-AHRENS;

SCHREZENMEIR, 2000).

O leite e os produtos lácteos representam uma excelente fonte de cálcio. As

formas básicas de absorção de cálcio pelo homem são: um sistema dependente de

vitamina D localizado no duodeno e jejuno. Neste, o fator chave é uma proteína

("calcium-binding protein" - CaBP) que facilita a difusão do mineral pelas membranas,

participando do transporte ativo. Esta proteína é estimulada pela vitamina D ou por seu

metabólito ativo (1,25 - (OH)2 - D3). Outra forma de absorção se faz por meio de um

sistema passivo, independente de vitamina D localizado no íleo. O transporte passivo

constitui o maior canal de absorção do mineral derivado da dieta. Existe também, um

sistema pinocítico de absorção, importante em crianças. Vários fatores dietéticos

podem afetar a absorção do mineral: presença de fitatos, oxalatos, compostos

fenólicos, lactose, fósforo e vitamina D. Por exemplo, têm sido bem documentado que a

presença de fitatos em isolados protéicos de soja reduz a absorção do mineral por

complexar com o cálcio, formando quelatos, altamente insolúveis (KITTS et al., 1992).

Quando diferentes doses de CPP são incubadas in vitro, elevadas quantidades

de cálcio são transportadas do íleo numa relação dose-dependente, sendo que a

absorção ocorre pelo sistema passivo. Além disso, a formação de complexos solúveis

entre o peptídeo e o mineral previne a precipitação do fosfato de cálcio e, como

32

conseqüência, aumenta a quantidade de cálcio solúvel (SCHOLZ-AHRENS;

SCHREZENMEIR, 2000).

A avaliação da habilidade de CPP (contendo 80% de peptídeos fosforilados e

obtida pela remoção seletiva dos não-fosforilados) em solubilizar o cálcio foi comparada

com hidrolisado protéico de soro de leite. Uma solução de cloreto de cálcio foi

preparada e teve seu pH elevado para 7,4 com a adição de fosfato de potássio, tendo

sido adicionada ao CPP ou ao hidrolisado de soro. O aumento progressivo da solução

de CPP levou à prevenção da precipitação de fosfato de cálcio em pH neutro, sendo

que 150mg de CPP ligaram 100mg de cálcio. O hidrolisado de soro de leite não

solubilizou o cálcio (STEINJS, 2001).

Embora a aplicação potencial dos CPP se relacione à sua habilidade em

solubilizar minerais, são observadas diferenças de solubilidade em diferentes estudos

realizados. Essas disparidades podem ser atribuídas a diferenças na metodologia

utilizada para medir extrínsica e intrínsicamente a absorção de cálcio (KITTS et al.,

1992; MEISEL; OLEIMAN, 1998)

A utilização do cálcio absorvido na mineralização óssea é um método alternativo

para avaliar a biodisponibilidade do mineral (KITTS; YUAN, 1992)

As investigações do papel do CPP em melhorar a absorção de cálcio também

apresentam resultados contraditórios. Estudos em suínos em crescimento e em ratas

lactentes apontam que a suplementação de CPP não foi capaz de influenciar a

mineralização óssea. Por outro lado, a adição de CPP às dietas de ratas

ovariectomizadas preveniu o declínio na densidade mineral óssea. Galinhas normais e

raquíticas tiveram aumento da absorção do mineral. Ratos alimentados com dieta

contendo 200g/kg de caseína tiveram a formação de 5 mg de CPP (aproximadamente

1,6µmol de CPP de β-caseína), que evitou a precipitação de 20µmol de cálcio no íleo

distal. O caseinofosfopeptídeo também foi capaz de aumentar a incorporação de Ca2+

aos espermatozóides facilitando sua penetração nos oócitos de suínas (SATO et al.,

1991; TSUCHITA et al., 1996; SCHOLZ-AHRENS; SCHREZENMEIR, 2000;

FERRARETTO et al., 2001)

33

Provavelmente as discrepâncias entre resultados se devem a diferenças no

delineamento experimental, estado dos animais ou composição química dos

caseinofosfopeptídeos utilizados.

BOUHALLAB et al. (2002) estudaram a influência de diferentes métodos de

preparação de caseinofosfopeptídeos na absorção de ferro. Concluíram que a eficiência

do CPP em aumentar a absorção de ferro depende de sua origem e propriedades

estruturais. Caseinofosfopeptídeos produzidos pela digestão de β-caseína resultaram

em índices maiores de absorção do mineral do que CPP produzido a partir de caseína

integral e de frações obtidas de αs-caseína.

A biodisponibilidade do ferro é melhorada pela ligação com os

caseinofosfopeptídeos por diversos mecanismos: a hidrólise protéica melhora a

absorção do mineral, provavelmente por melhorar sua solubilidade, que se correlaciona

com sua melhor absorção. A ligação do ferro ao CPP forma complexos solúveis e

resistentes a alterações no pH e força iônica, que ocorrem no trato digestório. Frações

de CPP não digeridos são encontradas nas fezes permitindo um maior contato entre o

ferro solúvel e a mucosa. O ferro também pode ser absorvido por endocitose, ligado ao

CPP, sendo os peptídeos fragmentados dentro do enterócito (AÏT-OUKHATAR et al.,

1997; PÉRÈS et al., 1999; YEUNG; GLAHN; MILLER, 2002).

FERRARETTO et al. (2001) investigaram as interações entre o CPP e as células

intestinais, utilizando o cultivo de células tumorais humanas (HT-29). Sugerem que a

ação do CPP no fluxo de cálcio ocorra pela formação de canais próprios ou pelo

carreamento do mineral via endocitose.

Algumas evidências epidemiológicas, clínicas e de experimentação animal

apontam uma possível relação entre a suplementação de cálcio e a redução nos níveis

de pressão arterial. O íon Ca2+ possui atividade na regulação do tônus da musculatura

vascular. KITTS et al. (1992) avaliaram o papel da ingestão de cálcio ou de

fosfopeptídeos que melhoram a biodisponibilidade do mineral no desenvolvimento da

hipertensão. Os autores concluíram que o uso dessa suplementação não leva a uma

redução significativa nos níveis arteriais de ratos espontaneamente hipertensos.

34

A maioria dos dados apresentados na literatura sobre os efeitos do CPP na

absorção mineral se baseia em estudos in vitro, in situ e de cultivo celular. Muitos foram

realizados com roedores. Ao se realizar um balanço entre os resultados apresentados,

se conclui que há elevada evidência de que estes peptídeos melhoram a absorção

mineral. Entretanto, há necessidade de estudos longitudinais em humanos, com

monitoramento de dados relativos a mineralização óssea.

Um estudo realizado avaliou pacientes acima de 50 anos que receberam

suplementação de 1200mg/dia de cálcio bioativo (cálcio ligado ao CPP), num período

de 34 meses. Houve redução significativa nas fraturas ósseas e diminuição dos custos

médicos diretos (HANSEN, 1995).

2.2.3.2 Efeito Anticariogênico

O consumo de produtos lácteos e leite está associado à redução no

aparecimento de cáries dentárias. Essas estão relacionadas à desmineralização

dentária gerada por ácidos orgânicos produzidos por bactérias odontopatogênicas

durante a fermentação dos açúcares da dieta. Fosfopeptídeos possuem também a

habilidade de prevenir a formação de cálculos dentários, que constituem um depósito

de fosfato de cálcio na forma de hidroxiapatita. Além disso, seqüestram minerais

antibacterianos como Zn, Cu, Sn, Ag e Al. Agem como agentes tampões contra a placa

dentária ácida. Devido a essa variedade de aplicações odontológicas, os CPPs podem

ser utilizados em produtos para a higiene dental (FITZGERALD, 1998).

REYNOLDS et al. (1995) utilizaram um modelo animal para comparar a atividade

do CPP com o flúor na redução de cáries. Constataram que o uso de CPP (0,5 – 1%

p/v), duas vezes ao dia nos dentes é equivalente ao uso de 500ppm de flúor.

A aderência de S. sobrinus e S. mutans à película salivária foi reduzida pela

incorporação de CPP. Provavelmente se dá a formação de um biofilme que aumenta a

remineralização dos dentes e impede a adesão bacteriana (SCHÜPBACH et al., 1996)

O CPP pode ser incorporado a uma série de produtos para higiene oral. Após 3

horas do uso de goma de mascar de xilitol contendo CPP ainda é possível se detectar a

35

presença do peptídeo na superfície dos dentes. O uso de enxagüatório bucal contendo

CPP aumenta o nível de cálcio e fosfato na região oral. Pasta dentária com CPP

aumenta a remineralização impedindo a formação de placas dentárias. O uso de pasta

dental contendo CPP também reduz a sensibilidade em indivíduos que sofrem de

elevada sensibilidade dos dentes em sua higiene oral (YAMAGUCHI et al., 2006).

Os derivados de leite constituem o grupo de alimentos com maior atividade

anticariogênica. WALKER et al. (2006) verificaram que a adição de CPP aumenta

significativamente a habilidade do leite bovino em remineralizar lesões dentais in situ.

2.2.3.3 Humanização do Leite Bovino

O leite bovino possui uma relação entre fósforo orgânico/fósforo total de 0,34,

enquanto no leite humano esta relação é de 0,83. BRULE et al. (1980) sugerem a

incorporação de CPP às formulações destinadas a lactentes como uma forma de

aproximá-las do leite humano.

A fosfatase alcalina é uma fosfatase específica que se liga às microvilosidases

apicais da borda em escova e que tem como função melhorar a absorção de fosfato. A

fosfatase alcalina intestinal de bezerros é capaz de hidrolisar resíduos de fosfoserina,

mas possui baixa atividade em hidrolisar a caseína intacta. A enzima hidrolisa somente

10% dos resíduos de fosfoserina presentes numa dispersão de caseína intacta

incubada a 37ºC por 60 minutos. Já, quando a mesma quantidade de enzima age sobre

αs1- ou β-caseínas, hidrolisa 50% dos resíduos fosfoserina em 30 minutos (YEUNG;

GLAHN; MILLER, 2002).

2.2.3.4 Modulação do Sistema Imunológico

Em 1998, MEISEL e GÜNTHER em comunicação prévia, relatam que até aquele

momento não haviam evidências na literatura de que fosfopeptídeos pudessem exercer

atividades imunomodulatórias. Entretanto, estudo realizado pelos mesmos autores

36

demonstrou que tanto os caseinofosfopeptídeos como seus derivados desfosforilados

possuem efeitos imunomoduladores.

HATA; UEDA; OTANI (1999) avaliaram a atividade imunoestimuladora de

fosfopeptídeos derivados da caseína em culturas de células de baço, timo e intestino de

ratos. Os autores apontam que o resíduo 59 - 79 da αs1-caseína, derivada de hidrólise

tríptica, é responsável pelo aumento da produção de imunoglobulinas nas células de

baço desses animais.

KIHARA e OTANI (2000) produziram caseinofosfopeptídeos com diversas

seqüências e observaram que aqueles cuja matéria-prima recebeu tratamento térmico

antes do processo apresentaram atividade mitogênica sobre células de baço de ratos.

Esses peptídeos também aumentaram as respostas proliferativas nas células, induzidas

por lipopolissacarídeos e concanavalina-A.

OTANI et al. (2000) estudaram o efeito da administração oral de

caseinofosfopeptídeo em camundongos. Os resultados obtidos pelo grupo indicam um

aumento na produção de imunoglobulina A (IgA) pela mucosa intestinal nos animais

estudados.

Em 2001, OTANI; WATANABE; TASHIRO, investigaram o centro ativo dos

caseinofosfopeptídeos responsável pela proliferação de linfócitos e produção de IgA,

utilizando o fragmento 1-28 da β-caseína. Os autores avaliaram a proliferação de

linfócitos B estimulados com LPS derivada de Salmonella typhimurium e de linfócitos T

pelo uso de PHA e concanavalina A, bem como a produção de IgA secretória. Os

ensaios foram realizados em células de baço de camundongos. Os autores concluíram

que os fosfopeptídeos que contêm a seqüência SerP- X – SerP são responsáveis pela

atividade imunoregulatória. Propuseram então a utilização do tripeptídeo SerP- X –

SerP como ingrediente alimentício adjuvante no estímulo da produção de IgA.

Indivíduos que ingeriram tortas contendo CPP por um período de 15 dias

apresentaram valores aumentados de IgA secretória, sendo que a resposta foi maior

naqueles indivíduos que raramente consumiam leite e seus derivados (KITAMURA;

OTANI, 2002).

37

Alguns peptídeos antibacterianos são liberados após a ingestão do leite,

contribuindo na função do sistema imunológico dos neonatos. O glicomacropeptídeo

(GMP) tem sido apontado com capacidade de inibir a aderência de Streptococcus

mutans à película salivária e de inibir o crescimento de patógenos orais como o

Streptococcus mutans e Porphyromonas gingivalis, assim como de Escherichia coli.

Esta forma ativa do GMP foi designada kapacina e possui homologia estrutural com

peptídeos catiônicos anfipáticos presentes em vertebrados (MALKOSKI et al., 2001).

2.2.3.5 Antioxidante

Os caseinofosfopeptídeos exibiram atividade antioxidante primária e secundária

em modelo que avaliou a degradação da desoxiribose. Os caseinofosfopeptídeos

também protegeram os lipossomas de soja da oxidação gerada pela adição de íons

ferro e de radicais livres como a AAPH (2,2’-azobis-2-amidinopropano-dihidroclorida).

Esses estudos iniciais sobre o papel antioxidante dos caseinofosfopeptídeos apontam

efeitos benéficos da sua presença no intestino após o consumo de leite, contribuindo

provavelmente para a redução do stress oxidativo e manutenção da saúde intestinal

(KITTS, 2005).

2.3 RESPOSTA IMUNE NA INTERVENÇÃO NUTRICIONAL

A interdependência entre as disciplinas de Nutrição e Imunologia foi reconhecida

formalmente a partir de 1970 quando medidas imunológicas foram introduzidas como

parte da avaliação nutricional. Atualmente, a desnutrição protéico-calórica é

reconhecida como a maior causa mundial de imunodeficiências. Também ocorrem

alterações do sistema imunológico na maioria das doenças crônicas nas quais a dieta

possui um papel de prevenção e/ou tratamento, tais como artrite reumatóide, diabetes

tipo 1, doença celíaca, câncer e doenças cardiovasculares (FIELD, 2000).

Proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais são essenciais para a

manutenção e o crescimento dos seres humanos. Alterações qualitativas e quantitativas

38

nesses nutrientes podem afetar significativamente as funções do sistema imunológico.

Células desse sistema, quando ativadas, sintetizam e secretam moléculas. Assim, uma

deficiência ou um excesso de nutrientes específicos pode influenciar a síntese dessas

moléculas, alterando dessa forma a regulação da resposta imune (STITES; TERR,

1992).

Com relação a defesa inata, a influência da desnutrição sobre o muco epitelial é

consistente com o risco de infecção e translocação de bactérias. A imunidade mediada

por células é afetada em lactentes de baixo peso ao nascimento. Na resposta imune

humoral, a expansão clonal e a produção de anticorpos requerem rápida síntese

protéica, sendo que a restrição de aminoácidos inevitavelmente interfere nessa função

(BOUNOUS; BATIST; GOLD, 1989; NESTLÉ, 2001).

2.3.1 Estrutura e Componentes do Sistema Imunitário

A resposta imune é desencadeada pela introdução de um antígeno e geralmente

culmina com a sua eliminação. Existem dois tipos de resposta imune. A resposta imune

inata, inespecífica ou natural que está presente desde o nascimento, não possui

especificidade nem memória e se utiliza de barreiras físicas (por exemplo, pele íntegra

e membranas mucosas íntegras), barreiras químicas (por exemplo, ácido gástrico e

enzimas digestivas), células fagocíticas e do sistema complemento. O sistema

complemento consiste de pelo menos 30 proteínas plasmáticas e associadas às

membranas celulares. O complemento desempenha importante papel na iniciação da

resposta inflamatória, solubilizando e transportando os complexos imunes, modulando a

produção de imunoglobulinas, opsonizando os microorganismos patogênicos e

induzindo a sua lise direta pela formação do complexo lítico de membrana (C5b-9). Ao

contrário dos mecanismos de defesa inespecíficos, a imunidade adquirida ou adaptativa

é específica para o antígeno invasor, apresenta memória e se baseia nas respostas

específicas de linfócitos T e B. A imunidade específica pode ser adquirida naturalmente

por infecção ou artificialmente por imunização. A imunidade específica é dividida em

imunidade humoral e imunidade mediada por células (STITES; TERR, 1992,

CUNNINGHAM-RUNDLES, 1998).

39

Os linfócitos são células capazes de reconhecer e responder a antígenos.

Apresentam-se como células circulantes no sangue e linfa, surgindo como coleções de

células dos órgãos linfóides (timo, baço e linfonodos) ou organizadas em estruturas

linfóides associadas às mucosas. Os principais tipos são os linfócitos T, B e as células

NK (ou natural killer). Assim como os monócitos, os linfócitos são células

mononucleares (CALDER, 1998).

As células T são originárias da medula óssea e diferenciam-se no timo em

distintas populações, os linfócitos T auxiliares (Th - T helper), CD4+ e os linfócitos T

citotóxicos ou supressores (CTL ou Ts), CD8+. Os linfócitos T auxiliares (Th) são

constituídos por duas subpopulações, Th1 e Th2 que se distinguem funcionalmente

pelo tipo de citocinas que produzem. (CALDER, 1998; ELIA; SOUZA, 2001).

As células CD8+ possuem atividade citolítica e representam o principal

mecanismo de defesa contra patógenos intracelulares. Estão relacionadas com o

fenômeno de apoptose (morte celular programada). A maioria das células CD8+

reconhece peptídeos endógenos antigênicos apresentados pelas moléculas de classe I

do HLA e apresentam atividade citotóxica. Observa-se também a existência de

respostas de células CD8+ em conseqüência da apresentação de antígenos exógenos,

sendo que este tipo de resposta é efetivo no tratamento de algumas doenças do

sistema imune. O estudo de peptídeos análogos aos peptídeos exógenos que ativam as

células CD8+ é interessante pois esse tipo de apresentação leva essas células à

produção de citocinas como o IFN-γ, que é um inibidor potente dos eventos

dependentes de Th2 (Figura 8), inclusive da produção de imunoglobulina E (IgE)

(TOTSUKA et al., 1998).

O evento central, tanto na resposta humoral como na mediada por células,

depende da ativação e da expansão clonal de linfócitos T auxiliares (Th). A interação do

linfócito Th com o antígeno dá início a uma seqüência de reações bioquímicas que

induzem a expressão do receptor de IL-2 e a secreção de IL-2. Em resposta à IL-2, a

célula Th ativada prolifera e se diferencia em célula de memória ou célula efetora. A

resposta do tipo Th1 compreende uma produção aumentada de IFN-γ e IL-2, que

ativam predominantemente linfócitos T citotóxicos e macrófagos, capazes de atuar

40

diretamente sobre o antígeno ou de causar lesão na célula infectada ou tumoral. Os

macrófagos ativados, por sua vez, produzem citocinas pró-inflamatórias tais como a IL-

1 e TNF-α, que favorecem a reação do tipo de hipersensibilidade tardia e também

produzem IL-12 que estimula linfócitos Th1 em um mecanismo de retroalimentação

positiva. Na resposta do tipo Th2 ocorre um aumento na produção de IL-4, IL-5 e IL-6,

que favorecem a imunidade humoral, estimulando a proliferação e diferenciação de

linfócitos B e a conseqüente produção de anticorpos. Além disso, a resposta do tipo

Th2 é capaz de inibir paralelamente a resposta Th1, através do aumento na produção

de IL-10 e de IL-13, responsáveis pela retroalimentação negativa sobre linfócitos Th1 e

macrófagos (Figura 8).

O papel dos anticorpos na defesa imunológica é de neutralização e eliminação

do antígeno. Os anticorpos pertencem a diferentes classes de imunoglobulinas,

dependendo do tipo de estímulo apresentado (Figura 9).

As células NK ou natural killer caracterizam-se por não expressarem marcadores

de superfície, como os linfócitos T e B. Possuem a habilidade de destruir células

neoplásicas ou células infectadas por vírus, sem prévia estimulação antigênica. São

ativadas pela IL-2, IL-12, IFN-γ ou TNF-α (CALDER, 1998).

O sistema fagocítico mononuclear é composto por células de uma mesma

linhagem, cuja função primária é a de fagocitose. Todas as células desse sistema

originam-se da medula óssea, adquirindo diferentes formas, após a maturação. A

primeira célula a deixar a medula óssea e entrar na corrente sanguínea, ainda não

completamente diferenciada, é o monócito. Nos tecidos, após maturar, passa a se

chamar macrófago ou histiócito. Dentre as funções dos macrófagos destacam-se a

fagocitose de partículas estranhas e a função de células apresentadoras de antígenos

(Figura 10). Os macrófagos também produzem intermediários reativos de oxigênio

(peróxido de hidrogênio, superóxido e óxido nítrico) mediadores derivados dos lipídios

(prostaglandinas e leucotrienos), citocinas e fatores de crescimento. Os compostos

produzidos pelos macrófagos agem na eliminação de células neoplásicas e

microbianas, na regulação das funções de linfócitos T e B e da resposta inflamatória.

Entretanto, esses mesmos produtos podem estar envolvidos em doenças auto-imunes,

41

inflamatórias e no desenvolvimento da aterosclerose. Por exemplo, espécies reativas de

oxigênio e citocinas derivadas dos macrófagos foram encontradas em tecidos de uma

variedade de doenças auto-imunes, inflamatórias e em placas ateroscleróticas. Estudos

epidemiológicos com esquimós sugerem que a utilização de óleo de peixe pode resultar

de alguma forma na supressão da atividade dos macrófagos, pois essas populações

apresentam uma incidência muito baixa de doenças inflamatórias, auto-imunes e

coronarianas. Esses dados indicam que há possibilidade de intervenções nutricionais

ou farmacológicas que atuem no processo de ativação dos macrófagos (YAQOOB,

CALDER, 1995; ELIA; SOUZA, 2001).

FIGURA 8 - DIFERENCIAÇÃO E ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS AUXILIARES (Th)

FONTE: CALDER, 1998. NOTAS: CTL, linfócitos citotóxicos; IFN-gama, interferon-gama; IL, interleucina; NK, natural killer; TGF-beta, fator de transformação do crescimento-beta, + , promove, - suprime; - - - →, modula, →, produz.

42

FIGURA 9 - DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B

FONTE: CALDER, 1998. NOTAS: IFN-gama, interferon-gama; Ig, imunoglobulina; IL, interleucina; TGF-beta, fator de transformação do crescimento-beta, +, promove; - - - →, modula, ──, produz.

Os eosinófilos são granulócitos derivados da medula óssea que possuem um

núcleo bilobulado e grânulos citoplasmáticos com enzimas lisossomais, proteína

catiônica e neurotoxinas. Essas proteínas apresentam propriedades tóxicas para

helmintos, células tumorais e para as próprias células do hospedeiro. O citoplasma dos

eosinófilos também contém grânulos com corpos lipídicos que apresentam atividade

pró-inflamatória. São fontes de citocinas, que estão estocadas nos grânulos

citoplasmáticos, juntamente com as proteínas catiônicas. O mecanismo de liberação

dessas citocinas parece estar relacionado a degranulação seletiva da célula. Algumas

das principais citocinas liberadas pelos eosinófilos incluem: IL-3, IL-5, fatores de

crescimento (TGF-α, TGF-β – transforming growth factors), citocinas imunoregulatórias

(IL-2, IL-4 e IFN-γ) e pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, IL-8, TNF-α). A ativação eosinofílica

representa, assim, importante função efetora no processo inflamatório (ELIA; SOUZA,

2001).

43

FIGURA 10 - PAPEL DOS MACRÓFAGOS NA INGESTÃO DE PROTEÍNAS ESTRANHAS E NA APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS

FONTE: PATHMAKANTHAN; HAWKEY, 2000. NOTAS: HLA, complexo principal de histocompatibilidade.

As citocinas são proteínas solúveis, com peso molecular entre 5 e 50 KDa,

produzidas pelos leucócitos e outros tipos celulares, que desempenham importante

funções na comunicação intercelular, incluindo a ativação de receptores específicos de

membrana, a proliferação e diferenciação celular, a quimiotaxia e a produção de

imunoglobulinas. Após serem secretadas, as citocinas se ligam a receptores específicos

na superfície das células do sistema imunológico, exercendo suas diferentes funções.

Em estudo experimental, observou-se uma correlação positiva entre a

biodisponibilidade de glutamina e a produção de citocinas. Camundongos alimentados

com dieta rica em glutamina tiveram um aumento expressivo na produção de citocinas

pelos macrófagos. Esse efeito sugere que a administração oral de glutamina possa

melhorar a resposta imunológica contra bactérias, vírus, parasitas e tumores (YAQOOB;

CALDER, 1998; WELLS et al, 1999).

44

Algumas citocinas desempenham um papel importante nos processos

inflamatórios. A interleucina-6 (IL-6), IL-1β e o fator de necrose tumoral (TNF-α) são

citocinas pró-inflamatórias produzidas em resposta à inflamação sistêmica. São

produzidos basicamente por macrófagos ativados, mas também por linfócitos e células

endoteliais. São responsáveis por vários sinais fisiológicos que acompanham a

endotoxemia. O TNF-α regula a resposta de fase aguda, induz a produção de outras

citocinas imunoregulatórias; a expressão de moléculas do complexo maior de

histocompatibilidade (HLA) de classes I e II e de moléculas de adesão; ativa células T,

B, NK e neutrófilos; promove quimiotaxia de monócitos, neutrófilos e granulócitos para

áreas de reatividade imune e aumenta a síntese de proteínas de fase aguda. A IL-6

regula a síntese de proteínas de fase aguda pelo fígado e ativa células T e B. A IL-6

pode modular diferentes eventos biológicos, tais como a diferenciação celular, a

proliferação e a apoptose. As células intestinais produzem IL-6 em resposta à

exposição de bactérias e infecções virais, demonstrando que esta citocina também

apresenta um papel de regulação do sistema imune intestinal (YAQOOB; CALDER,

1995; KITTS; NAKAMURA, 2006)

O sistema imunológico das mucosas também constitui uma parte importante do

sistema de defesa, sendo a imunoglobulina A (IgA) o componente principal, o qual se

encontra em secreções e superfícies mucosas. O epitélio intestinal é constantemente

invadido por antígenos derivados de patógenos e da própria dieta e inicia a interação

desses com o sistema imunológico. A maioria dos linfócitos T encontrada nas células

intraepiteliais consiste do fenótipo citotóxico, enquanto na lâmina própria se encontram

as células Th, B e monócitos/macrófagos. As células M são células de transporte,

isentas de microvilosidases e aptas a fagocitar antígenos solúveis e microorganismos.

As placas de Peyer são encontradas na lâmina própria (Figura 11). As células epiteliais

do intestino estão envolvidas no transporte da IgA da lâmina própria até o lúmen

intestinal e produzem várias citocinas imunoregulatórias importantes, que influenciam a

secreção local de Igs pelas células B. Esses linfócitos B expressam principalmente IgA

(60% na mucosa brônquica e até 85% na mucosa intestinal), além de IgG, IgM e IgE

(KITTS; NAKAMURA, 2006).

45

FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DIAGRAMÁTICA DOS COMPONENTES PRINCIPAIS DO SISTEMA IMUNITÁRIO DA MUCOSA INTESTINAL

FONTE: PATHMAKANTHAN; HAWKEY, 2000.

2.3.2 Avaliação da Resposta Imunológica

Um dos testes mais utilizados para avaliar a função dos linfócitos é a proliferação

das células em resposta a sinais mitogênicos. Utiliza-se a concanavalina A (Con A) e a

fitohemaglutinina (PHA), para se estimular linfócitos T e o lipopolissacarídeo (LPS), para

linfócitos B. A resposta proliferativa dos linfócitos é medida pelo aumento no número de

células através da incorporação de timidina radioativamente marcada no DNA dessas

células ou por meio do uso de ensaios colorimétricos (LOOSDRECHT et al., 1994;

CALDER, 1998; FIELD, 2000).

A medição de citocinas circulantes ou secretadas, quando bem conduzida,

permite uma excelente correlação com os estudos de resposta proliferativa

(CUNNINGHAM-RUNDLES, 1998).

A função dos linfócitos e a produção de citocinas derivadas das células T

também podem ser avaliadas após indução de sepse por endotoxinas bacterianas

(LANZA-JACOBY; FLYNN; MILLER, 2001).

46

2.3.3 Função dos Peptídeos do Leite na Resposta Imunológica

Devido ao fato das proteínas do leite representarem a única fonte protéica na

alimentação dos neonatos, algumas evidências apontam que seus peptídeos possuem

uma ação local na regulação da função imune gastrintestinal (COSTE et al., 1992;

SMACHI; GOBETTI, 2000). Os primeiros meses de vida se caracterizam como um

período crítico no desenvolvimento de tolerância oral a algumas moléculas presentes

nos alimentos e na obstrução à entrada de antígenos derivados de patógenos. O

sistema imunitário da mucosa intestinal é desafiado constantemente a discriminar

patógenos de antígenos não patogênicos derivados da dieta e de microorganismos da

flora normal. Portanto, peptídeos com propriedades bioativas podem gerar a supressão

da resposta imunológica a alguns produtos, dos quais se requer a tolerância oral e a

indução do sistema imunológico, como um sinal de alerta para a presença de antígenos

(BALDI et al., 2005).

O estudo do fenômeno fisiológico de tolerância oral aponta para implicações

terapêuticas futuras em doenças relacionadas com anormalidades no mecanismo de

tolerância, além de permitir novas abordagens para o desenvolvimento de vacinas orais

para diversas doenças inflamatórias sistêmicas (ELIA; SOUZA, 2001).

A supressão da proliferação celular também possui aplicações clínicas

importantes na melhoria do quadro clínico de pacientes que sofrem de doenças auto-

imunes, como artrite reumatóide, psoríase, esclerose múltipla, entre outras (PABLO;

CIENFUEGOS, 2000).

Vários trabalhos realizados com proteínas do leite apontam a presença de

peptídeos imunomoduladores, tanto com atividade supressora como indutora do

sistema imunológico.

OTANI & MONNAI (1995) verificaram que o κ-caseinoglicopeptídeo (resíduos

106 – 169, CGP) foi capaz de inibir a resposta proliferativa dos linfócitos de baço de

ratos quando estimulados por mitógenos. Em 1996, OTANI; HORIMOTO E MONNAI

propuseram que a atividade supressora do CGP ocorra por dois mecanismos: produção

47

de um componente inibitório que reage com o anticorpo anti-IL-1ra e supressão do

receptor de IL-2 nos linfócitos Th.

KAYSER & MEISEL (1996) apontam que β-casomorfina-7 e a β-casomorfina-10,

podem inibir a proliferação de linfócitos de sangue periférico humano, quando em

baixas concentrações.

HATA; HIGASHIYAMA; OTANI (1998) digeriram a αS1-caseína com tripsina

bovina, obtendo peptídeos com efeito inibitório na proliferação de células de baço de

camundongos, quando estimuladas por concanavalina A.

Existem indicações de que o papel dos hidrolisados de caseína na imunidade

seja dependente do nível de amadurecimento do sistema imunológico. BALDI et al.

(2005) examinaram o efeito de dois peptídeos sintéticos, correspondentes aos resíduos

191 – 193 e 63 – 68 da β-caseína, na expressão do complexo principal de

histocompatibilidade de classe II (HLA) por neutrófilos de sangue de suínos. Para esse

modelo experimental, os autores concluíram que os peptídeos se apresentam efetivos

no período de tempo que corresponde à imaturidade do sistema imunológico e não

quando o sistema imunológico adquire sua plenitude funcional.

BERTHOU et al. (1987) purificaram um digesto de caseína humana até a

obtenção de um tripeptídeo: Gly-Leu-Phe. Tanto este peptídeo natural como o similar

sintético elevou a atividade fagocítica de macrófagos peritoneais de ratos.

Dois peptídeos sintéticos (Tyr-Gly e Tyr-Gly-Gly) tiveram seu efeito proliferativo

avaliado com o emprego de ConA e utilizando linfócitos periféricos humanos. Ambos

demonstraram proliferação, sendo que o dipeptídeo teve um resultado

significativamente mais elevado. Os peptídeos Tyr-Gly e Tyr-Gly-Gly são seqüências

parciais da estrutura primária da κ-caseína e da α-lactalbumina, respectivamente. Esses

peptídeos foram usados para imunoterapia de pacientes infectados pelo HIV: um

extrato de leucócitos dialisado, obtido de doadores normais teve a inclusão dos

peptídeos. Após um período de duas semanas os pacientes apresentaram redução nas

manifestações clínicas (KAYSER; MEISEL, 1996)

Camundongos alimentados com caseinofosfopeptídeos por via oral exibem

aumento na produção de IgA em resposta a antígenos via peritoneal (OTANI; KIHARA;

48

PARK, 2000). O efeito estimulatório do CPP na produção de IgA ocorre também após a

ingestão oral de LPS (OTANI; NAKANO; KAWAHARA, 2003).

OTANI; WATANABE; TASHIRO (2001) avaliaram a proliferação celular dos

linfócitos T e B usando mitógenos. Ao final do período de cultivo, coletaram os

sobrenadantes para medição dos níveis de imunoglobulinas. Os resultados obtidos

indicam que fosfopeptídeos contendo a seqüência SerP-X-SerP aumentam a

proliferação dos linfócitos e a produção de imunoglobulina A, indicando o tripeptídeo

como adjuvante na produção de IgA.

2.4 O SISTEMA IMUNOLÓGICO E A RESPOSTA INFLAMATÓRIA

A inflamação é uma resposta normal do hospedeiro contra agentes infecciosos.

A sepse é caracterizada pela produção excessiva de mediadores inflamatórios e pela

excessiva ativação de células inflamatórias. Os mediadores inflamatórios promovem a

injúria dos tecidos, as endotoxinas produzidas pelas bactérias destroem os tecidos pela

ativação da cascata de coagulação, da cascata do complemento, da injúria de vasos ou

pela liberação do ácido araquidônico ou óxido nítrico. A principal conseqüência desta

resposta inflamatória é o comprometimento de muitos órgãos e o quadro de choque

com evolução para a síndrome da imunodeficiência de múltiplos órgãos, que é

acompanhada de alta mortalidade (GLAUSER, 2000).

Os componentes da parede bacteriana são os principais ativadores da resposta

do hospedeiro: as endotoxinas dos microorganismos gram-negativos (principalmente o

lipídio A), o ácido teicóico, o ácido lipoteicóico e as peptidoglicanas dos

microorganismos gram-positivos (GLAUSER, 2000).

Os lipopolissacarídeos bacterianos consistem basicamente de 3 partes: o lipídio

A (ou endotoxina), um oligossacarídeo central e um polissacarídeo distal (antígeno-O)

(Figura 12). O lipídio A ou endotoxina é uma “âncora” hidrofóbica do lipopolissacarídeo,

sendo um componente das membranas externas da maioria das bactérias gram-

negativas. Existem aproximadamente 106 resíduos de endotoxina em uma única célula

de Escherichia coli. As moléculas do lipídio A são detectadas em níveis picomolares

49

pelo receptor do sistema imunológico inato presente nos macrófagos e nas células

endoteliais. Este receptor recentemente foi identificado e denominado TLR4 (toll-like

receptor 4) (RAETZ; WHITFIELD, 2002).

O lipopolissacarídeo (LPS) é liberado da membrana externa das bactérias

durante a divisão celular, apoptose ou como resultado do tratamento com antibióticos

contra a infecção bacteriana (Figura 13). Após sua liberação, o lipopolissacarídeo é

reconhecido pelas células fagocíticas (monócitos e macrófagos), ativando-as. Como

resultado, há um aumento na atividade fagocítica e indução da secreção de citocinas

pró-inflamatórias. Embora essas citocinas possuam um papel fundamental na resposta

inflamatória local, sua produção excessiva gera o choque séptico (ROSENFELD;

PAPO; SHA, 2006).

O mecanismo de ativação dos macrófagos pelo LPS se inicia pela ligação do

LPS (através de sua porção tóxica, o lipídio A) a uma proteína específica, denominada

LPS-LBP (LPS-binding protein) no plasma, acelerando a ligação do LPS ao CD14, um

receptor primário de LPS, que é expresso na maioria dos macrófagos. O complexo

LPS-CD14 inicia a sinalização intracelular para interagir com o receptor de membrana,

TLR-4, resultando na ativação dos macrófagos, conforme representado na Figura 14.

A ativação dos macrófagos conduz à biossíntese de diversos mediadores

inflamatórios, como o TNF-α, a IL-1 β e a IL-6 e coestimula a produção de algumas

moléculas necessárias para a resposta imune adaptativa (RAETZ; WHITFIELD, 2002).

50

FIGURA 12 - MODELO DAS MEMBRANAS INTERNA E EXTERNA DA E. COLI K-12

FONTE: RAETZ; WHITFIELD, 2002 NOTAS: LPS, lipopolissacarídeo da superfície de E.coli.

FIGURA 13 - LIBERAÇÃO DO LPS POR E. COLI

NOTAS: LPS, lipopolissacarídeo da superfície de E.coli; LBP, LPS binding protein . FONTE: RAETZ; WHITFIELD, 2002

51

FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO DIAGRAMÁTICA DOS EVENTOS ENVOLVIDOS NA DETECÇÃO E RESPOSTA AOS ESTÍMULOS FORNECIDOS PELAS ENDOTOXINAS

MICROBIANAS NA IMUNIDADE INATA

FONTE: GLAUSER, 2000. NOTAS: LPS, lipopolissacarídeo; LBP, LPS binding protein; CD14, receptor de superfície dos monócitos que se liga ao complexo LPS-LBP; TLR-4, receptor que se liga ao complexo CD14-LPS, resultando na ativação celular.

A presença de citocinas pró-inflamatórias leva a anorexia, perda de peso,

alterações no metabolismo de lipídios por suprimirem a atividade da enzima lipase

lipoprotéica favorecendo a lipólise, aumentam o “turnover” de proteínas, os níveis de

cortisol, glucagon e adrenalina (hormônios catabólicos), reduzem os níveis de insulina

(hormônio anabólico) e favorecem o quadro de resistência periférica à insulina

(PIZATO, 2004)

A Figura 15 representa a complexidade dos eventos envolvidos na endotoxemia.

52

FIGURA 15 - PATOGÊNESE DO CHOQUE SÉPTICO

Quimiotaxia Radicais superóxido

Complemento Enzimas lisossomais

Neutrófilos

Moléculas de adesão

A ativação do complemento conduz à liberação de anafilatoxinas, especialmente

C3a e C5a, que são responsáveis por vasodilatação, aumento da permeabilidade

vascular, agregação plaquetária e ativação de granulócitos, sendo que este é um fator

desencadeante da síndrome respiratória. Os neutrófilos ativados formam aglomerados

e aderem ao endotélio vascular. Também ocorre liberação de derivados do ácido

araquidônico, subprodutos citotóxicos do oxigênio e enzimas lisossomais, produzindo

efeitos vasculares e endoteliais. Os neutrófilos ativados contribuem às injúrias

vasculares e teciduais. O Fator XII (Fator de Hageman) desempenha um papel

importante na patogênese do choque séptico, sendo ativado pelo lipídio A. Após sua

ativação, conduz ao consumo dos fatores de coagulação, disseminando a coagulação

intravascular. Sua ativação também leva à conversão da pré-quallikreína em

LPS

LBP

Células monocíticas

Citocinas

Mediadores lipídicos

Fator tissular

Sistema de coagulação Fibrinólise

Extravasamento capilar Acúmulo de neutrófilos Febre Alterações metabólicas Alterações hormonais Vasodilatação Coagulação intravascular

Sídrome séptica Hipotensão Falhas de múltiplos órgãos Morte

Fator XII

Bradiquinina

Células endoteliais

53

quallikreína. Esta, cliva o quininogênio em bradiquinina, que se caracteriza como um

potente agente hipotensor (GLAUSER et al., 1991).

A apoptose celular em pacientes com sepsis varia de acordo com o tipo celular.

Encontra-se aumentada para linfócitos do sangue e baço, não se altera para monócitos

circulantes e apresenta-se diminuída para neutrófilos do sangue e macrófagos

alveolares (ANNANE; BELISSANT; CAVAILLON, 2005).

A inalação de LPS, em humanos, conduz à ativação, migração de neutrófilos e

superprodução de mediadores inflamatórios. A instilação intratraqueal de LPS é

responsável por inflamação pulmonar e lesão pulmonar aguda, sendo que esta se

caracteriza pela presença de infiltrados neutrofílicos e aumento da permeabilidade

alvéolo-capilar (FERNÁNDEZ-MARTÍNEZ, et al., 2004; JANSSON; ERIKSSON; WANG,

2005)

A administração intravenosa de Escherichia coli ou de endotoxina em ratos

rapidamente (< 20 minutos) desencadeia hipertensão pulmonar e lesão pulmonar

aguda. A avaliação histológica de pulmões de ratos que receberam LPS via intravenosa

ou intraperitoneal revela freqüentemente os seguintes achados: edema pulmonar,

edema perivascular, ativação e infiltração de neutrófilos, infiltração de macrófagos,

extravasamento do fluido do espaço vascular, resultando em hemoconcentração,

hemorragia severa no interstício e alvéolos, hipertensão pulmonar, destruição da

arquitetura pulmonar e fibrose (SILLIMAN et al., 1998; CLAVIJO et al., 2000; LEE et al.,

2001; AKCA et al., 2005; KOKSEL et al., 2005; KONO et al., 2005; ZHANG; SUN,

2005).

A administração de endotoxina de bactérias gram-negativas a ratos resulta em

hipotensão sistêmica, aumento do hematócrito, redução do número de leucócitos

circulantes (polimorfonucleares), monócitos e plaquetas. Essas alterações podem ser

parcialmente atribuídas à ativação do complemento e geração de anafilatoxinas pela

endotoxina (SMEDEGARD; CUI; HUGLI, 1989).

54

3 ESTRATÉGIA GERAL A Figura 16 apresenta a estratégia geral utilizada neste trabalho.

FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA UTILIZADA PARA REALIZAÇÃO DOS OBJETIVOS DA TESE

Avaliações

Caseinato de sódio

Hidrólise Tríptica

CPP-A

CPP-B

CPP-C

Caracterização Físico-Química

Atividade antimicrobiana in vitro

Inespecífica

Sepse induzida

Imunidade

55

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 MATÉRIA PRIMA E REAGENTES Utilizou-se caseinato de sódio (LACTONAT HV, Lactoprot Deutschland GmbH),

cedido pela empresa Colorcon do Brasil Ltda., com a seguinte composição química:

proteína, 87,5%; umidade, 5,8%; cinzas, 5,3%; gordura, 1,7%, lactose, 0,3% e pH 6,6.

Os reagentes utilizados, de grau analítico, foram os disponíveis comercialmente

de empresas como: Merck, Sigma, BD Pharmigen, Pharmacia, etc. A enzima PTN 6.0

foi gentilmente cedida pela empresa Novozymes.

4.2 EQUIPAMENTOS Agitadores; homogeneizadores; balança analítica; banho termostático;

liofilizador; equipamento para eletroforese capilar; sistema de ultrafiltração;

espectrofotômetros; digestor e destilador de Kjeldahl; estufas; capela de fluxo laminar;

centrífugas; demais equipamentos e material de uso corrente em laboratório.

4.2 METODOLOGIA

4.2.1 Obtenção dos Caseinofosfopeptídeos

Após levantamento bibliográfico dos métodos existentes na literatura para

obtenção de caseinofosfopeptídeos, optou-se pelo agrupamento destes em três tipos

de processos. Estes processos foram reproduzidos no Laboratório de Pesquisa e Pós-

Graduação do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná. Os

parâmetros foram cuidadosamente ajustados para a otimização dos processos citados

no trabalho. Os produtos foram liofilizados na Planta Piloto de Secagem da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná.

56

Os peptídeos foram produzidos pela hidrólise tríptica do caseinato de sódio,

seguida de precipitação ácida, agregação mineral e precipitação com etanol (OTANI et

al., 2000), agregação de cloreto de cálcio (REYNOLDS, 2002) ou agregação de sulfato

de zinco (FITZGERALD, 1998), conforme processos descritos abaixo. Os produtos

foram liofilizados e denominados respectivamente, CPP-A, CPP-B e CPP-C.

4.2.1.1 Processo CPP-A:

Dissolveram-se 228,57g de caseinato de sódio em 2000mL de água nanopura para

produzir solução a 10% de proteínas. O pH inicial da solução foi de 6,32. Ajustou-se o

pH para 8 com NaOH 0,5N. Adicionou-se tripsina (PTN 6.0) dissolvida em água na

relação E/S 1:100. Procedeu-se à hidrólise, sob leve agitação, à temperatura de 50ºC e

pH 8. O pH foi mantido em 8 durante a hidrólise pelo acréscimo de NaOH 0,5N,

segundo o método de pH-stat (ADLER-NIESSEN, 1979). A reação de hidrólise ocorreu

até não haver mais o consumo de base. Após, ajustou-se o pH para 4,64 com HCl 2M

O precipitado insolúvel que se formou foi removido por centrifugação a 3000xg por 10

minutos. Ao sobrenadante foram adicionados CaCl2 a 1% e etanol a 50%, com o

objetivo de promover a agregação do cálcio ao peptídeo e conseqüente precipitação. O

precipitado resultante foi coletado por centrifugação a 4000xg por 15 minutos.

Redissolveu-se o precipitado em água destilada. O produto foi congelado, liofilizado e

denominado CPP-A.

4.2.1.2 Processo CPP-B:

Dissolveram-se 228,57g de caseinato de sódio em 2000mL de água para obtenção

de solução a 10% de proteínas. O pH da solução foi ajustado para 8 com NaOH 2M.

Adicionou-se tripsina (PTN 6.0) dissolvida em água numa relação E/S 1:100. O produto

foi submetido à hidrólise a 50ºC por 4 horas, sem adição de base. Após a hidrólise o pH

foi reduzido para 4,7 com HCl 2M. O precipitado insolúvel que se formou foi removido

por centrifugação a 3000xg por 10 minutos. Ajustou-se o pH para 7 com NaOH 0,5M.

57

Adicionou-se CaCl2 a 1% e o produto foi submetido à agregação por 1 hora. A solução

foi diafiltrada em membrana de 10kDa pelo acréscimo de 3 volumes de solução de

CaCl2 a 1%. O pH do retentado foi reduzido para 3,55. O produto foi diafiltrado com

água e concentrado em membrana de 1kDa. Após, elevou-se o pH para 7. O produto foi

congelado, liofilizado e denominado CPP-B.

4.2.1.3 Processo CPP-C:

Dissolveram-se 228,57g de caseinato de sódio em 2000mL de água para obtenção

de solução a 10% de proteínas. O pH da solução foi ajustado para 8 com NaOH 2M.

Adicionou-se tripsina (PTN 6.0) dissolvida em água numa relação E/S 1:100. O produto

foi submetido à hidrólise a 50ºC por 4 horas, sem adição de base. Após a hidrólise o pH

foi reduzido para 4,7com HCl 2M. O precipitado insolúvel que se formou foi removido

por centrifugação a 3000g por 10 minutos. Ajustou-se o pH para 7 com NaOH 0,5M.

Acrescentou-se 1,1% de ZnSO4. A solução foi mantida por 1 hora sob agitação suave

para promover a agregação de zinco ao peptídeo. Após, foi ultrafiltrada em membrana

de 10 kDa, diafiltrada com 1 volume de solução 38mM de ZnSO4 e concentrada. O

produto foi então liofilizado e denominado CPP-C.

4.2.2 Caracterização dos Caseinofosfopeptídeos 4.2.2.1 Composição Centesimal

A determinação de nitrogênio protéico foi realizada pelo método semi-micro

Kjeldahl, utilizando-se o fator 6,38 para conversão em proteína (AOAC, 1990). Cinzas

foram dosadas pelo método de incineração em mufla a 450ºC até peso constante

(AOAC, 1990). Umidade por meio de secagem em estufa com circulação de ar forçada

a 105ºC até peso constante (AOAC, 1990).

58

4.2.2.2 Minerais

Para determinação dos minerais, realizou-se abertura seca das amostras, que

foram pré-calcinadas em fogareiro, calcinadas em forno mufla a 550ºC até a obtenção

de cinzas brancas ou acinzentadas. Após adicionou-se 25mL de HNO3 25%, 1mL de

KCl 20% e os cadinhos foram colocados em banho–maria e deixados em aquecimento

por cerca de 1 hora. As soluções foram filtradas utilizando papel filtro qualitativo faixa

preta, para balão volumétrico de 100mL. Os teores de Ca, Na e Zn foram determinados

por espectrofotometria de absorção atômica em equipamento Varian modelo SpectrAA-

200 (AOAC, 1990). A dosagem de P foi realizada pelo método colorimétrico vanado-

molíbdico, que se baseia na formação de um complexo de adição do fósforo ao

reagente vanado-molíbdico, de coloração amarela (procedimento 22.042-2045 – AOAC,

1990).

4.2.2.3 Aminoácidos

O método de eletroforese capilar de zona baseia-se na migração diferencial de

compostos iônicos ou ionizáveis, em um campo elétrico (TAVARES, 1996). Na

eletroforese capilar de zona essa separação ocorre por diferença na razão carga-

massa. As moléculas eluem-se no capilar de sílica fundida por ordem de carga positiva

decrescente (TOMÁS-BARBERÁN, 1994). Para dosagem de aminoácidos, as amostras

foram hidrolisadas a 110°C em presença de HCl 6M por 22 horas. Ao término deste

tempo, evapora-se o ácido (evaporador à vácuo) elevando-se o pH a 8 e o volume a

20ml. Previamente à análise, procede-se à filtração em membranas de 0,22µm.

A análise foi realizada sob as seguintes condições: equipamento modelo PNA 402,

tampão: Borato, pH=9 e T=15oC em colunas: 67cm / 65cm / 375um / 50um. A Injeção

da amostra foi de 15 seg. e 5KV. Empregou-se voltagem de 15KV com ~11,2 uA. A

detecção foi efetuada a: 400nm/500nm com laser a 10mW e 500KHz .

59

4.2.2.4 Solubilidade

Determinada pelo método de MORR et al. (1985). Foram preparadas dispersões

protéicas a 1% com agitação mecânica em 50 mL de água destilada e em PBS pH 7,4.

A dispersão foi agitada por 1 hora. A dispersão foi centrifugada por 30’ a 20000xg e

temperatura de 5ºC. A fração sobrenadante resultante foi filtrada em papel de filtro

Whatman nº 1. O teor de proteína do filtrado foi determinado pelo método semi-micro-

Kjedahl. A porcentagem de proteína solúvel foi dada pela equação:

100(g%)/100 amostra da proteína de teor x (g) amostra da peso

(g) tesobrenadan de mL 50 em proteína de ãoconcentraç(%) xS =

4.2.2.5 Espectrometria de Massa por Desorção a Laser (MALDI-TOF-MS)

As amostras foram dissolvidas em água nanopura na concentração de 5pmol/µL.

Retirou-se um volume de 10µL de cada uma das mostras dissolvidas e se realizou a

dessalinização com colunas ZipTips C18 (Millipore, Billerica, MA). As amostras foram

ressuspensas em 10µL de ácido trifluoroacético (TFA 0,1%), dos quais 1µL foi aplicado

na placa de MALDI de aço inoxidável da Bruker Daltonics, junto com 1µL de solução de

ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico 10mg/mL, acetonitrila 50% e TFA 0,1% (matriz de

MALDI).

Os espectros de MALDI-TOF-MS foram obtidos em um espectrômetro de massa

Reflex IV (Bruker Daltonics, Bremen, Germany), com laser UV de 337nm e intensidade

média de 12%, no modo refletor positivo (voltagem do refletor igual a 19,8kV) e

extração retardada (delayed extraction), usando faixa de massa de 0,3 a 3,5kDa. Cada

espectro foi calibrado externamente com uma mistura-padrão de peptídeos PeptideMix

(Bruker Daltonics, Bremen, Germany).

A identificação dos precursores de caseína, dos peptídeos encontrados nos

espectros de MALDI-TOF-MS, foi realizada inicialmente com o auxílio do programa

Paws (MacOS). Com este programa, as massas obtidas são comparadas com as

60

seqüências das caseínas (α-s1-casein, α-s2-casein, β-casein and κ-casein),

considerando um erro de 0,5 Da para cada peptídeo. As possíveis seqüências

correspondentes a cada massa foram então comparadas com as seqüências das

caseínas com o auxílio das ferramentas do Expasy (www.expasy.org).

4.2.2.6 Seqüenciamento por MS/MS

Devido ao fato das amostras consistirem numa mistura de peptídeos, realizou-se

inicialmente cromatografia líquida de alta eficiência em fase reversa (RP-HPLC). Foram

obtidas novas frações, contendo um ou mais peptídeos.

Foram dissolvidos exatamente 1,2mg da amostra em 200µL de TFA 0,1% (v/v),

agitado em vortex por 1 minuto e centrifugado a 14000rpm por 10 minutos. A amostra

foi analisada por RP-HPLC utilizando uma coluna C18 (Vydac 218TP54, 4.6mm ×

250mm, Separations Group, USA) sob um gradiente de 0 a 100% de acetonitrila em 85

minutos com uma taxa de fluxo de 0,8mL/minuto. A absorção em UV foi monitorada a

216nm.

Para confirmação dos peptídeos identificados por MALDI-TOF-MS foram

realizados experimentos de seqüenciamento utilizando técnicas de ESI-CID-MS/MS

(electrospray collision induced dissociation) e MALDI PSD (post source decay).

As frações liofilizadas isoladas por HPLC foram dissolvidas em acetonitrila 50% e

ácido acético 50% na concentração de 5pmol/µL e analisadas por espectrometria de

massa em um instrumento API300 equipado com fonte de nanospray - Applied

Biosystems (Foster City, CA).

Os dados obtidos foram interpretados com o auxílio do Programa BioMultiView

v1.2. Os experimentos de PSD foram realizados em um espectrômetro de massa Reflex

IV (Bruker Daltonics, Bremen, Germany), operando no modo refletor positivo e

utilizando o acessório FAST (Fragmentation Analysis and Structural TOF). Os dados

foram analisados com o auxílio do programa BioTools v. 2.0. Para alguns peptídeos,

cuja fragmentação não foi observada pelo método PSD convencional, foi realizado o

seqüenciamento por CAF (chemically assisted fragmentation) usando o kit de

seqüenciamento Ettan CAF MALDI, GE Healthcare (Chalfont St. Giles, UK).

61

4.2.3 Atividade Antimicrobiana In Vitro

Antes da execução dos experimentos, realizou-se teste de esterilidade das

amostras. Este teste foi realizado sete dias antes da inoculação final, com o objetivo de

verificar possível contaminação prévia da matéria-prima.

Soluções dos peptídeos CPP-A, CPP-B e CPP-C foram preparadas em

duplicata, em solução salina de tampão fosfato (PBS) estéril, pH 7,4, na concentração

de 125mg/mL. Foram inoculados 0,9mL destas soluções em kit HEMOPROV I com

seringa de 1mL e agulha previamente esterilizadas. Os frascos foram mantidos em

estufa a 37ºC por uma semana, quando se deu a avaliação dos resultados.

A atividade antimicrobiana foi avaliada pelo teste de susceptibilidade através do

método de microdiluição em caldo. O método de microdiluição em caldo permite avaliar

de forma quantitativa a atividade in vitro de determinado antimicrobiano frente a um

isolado bacteriano. Esta técnica é realizada através de placas de microdiluição estéreis

contendo quantidades pré-determinadas do meio de cultura adicionado de diluições

crescentes dos antimicrobianos. Nestas diluições aplicam-se inóculos de supensões

bacterianas previamente padronizadas (ISENBERG, 1998).

A escolha das cepas se deu de acordo com pesquisa de microorganismos mais

freqüentemente envolvidos em surtos de infecção e/ou intoxicação alimentar, de acordo

com dados da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná (disponível em

<http\\:www.saúde.gov.pr.br>).

As bactérias Gram-positivas Staphylococcus aureus (ATCC 6538) e Listeria

monocytogenes (ATCC 7644) e as Gram-negativas Escherichia coli (ATCC 8739) e

Salmonella typhimurium (ATCC 14028) foram pré-cultivadas aerobicamente a 37ºC em

meio Mueller-Hinton. Após, foram suspensas neste mesmo meio e a atividade

antimicrobiana foi testada pela inibição do crescimento. Soluções dos peptídeos foram

preparadas em triplicata, em solução salina de tampão fosfato (PBS) estéril, pH 7,4, nas

seguintes concentrações: 125mg/mL, 25mg/mL, 5mg/mL, 1mg/mL e 0,2mg/mL. O

ensaio foi realizado em placas de cultura de 24 poços. O inóculo foi preparado pela

62

diluição exponencial das células em meio de crescimento, até que o inóculo contivesse

3 x 106UFC/mL para a Listeria monocytogenes e 1,5 x 107UFC/mL para as demais

bactérias, de acordo com a escala de McFarland.

Em cada poço foram adicionados 1800µL das soluções de peptídeos, contendo

os peptídeos CPP-A, CPP-B, CPP-C e 200µL do inóculo bacteriano. Os controles

consistiam de todos os componentes, com exceção dos peptídeos. O crescimento

microbiano foi avaliado pelo aumento na absorbância após 24 horas de incubação a

37ºC. O valor da A620 nm das culturas controle (sem o peptídeo) foi tomado como 100%.

Após avaliação, as amostras que obtiveram redução no crescimento microbiano,

comparativamente ao controle, foram novamente semeadas em placas com ágar

Mueller-Hinton, por 48 horas a 37ºC.

4.2.4 Avaliação da Ação dos Caseinofosfopeptídeos na Resposta Imunológica

4.2.4.1 Animais

Foram utilizados 54 ratos albinos machos (Rattus norvegicus), da linhagem

Wistar, com 30 dias pós-desmame. Os animais foram adquiridos do Instituto de

Tecnologia do Paraná (TECPAR). O biotério possuía temperatura e umidade

controladas com ciclos de luzes acesas e apagadas de 12 horas. O projeto seguiu os

Princípios Éticos adotado pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA).

4.2.4.2 Dietas

Os animais foram distribuídos em nove grupos de seis e receberam dieta

comercial (Nuvilab CR1, Nuvital, Curitiba) suplementada com 0,14g/rato/dia de CPP

(dieta com CPP) ou somente dieta comercial (dieta controle) por um período de 22 dias.

A composição detalhada da dieta comercial está demonstrada na Tabela 4.

63

TABELA 4 -COMPOSIÇÃO DA DIETA COMERCIAL

COMPOSIÇÃO DIETA CONTROLE*(%)

UMIDADE (máx.) 12,5

PROTEÍNA BRUTA (min.) 22

EXTRATO ETÉREO (min.) 4

MATERIAL MINERAL (máx.) 10

MATÉRIA FIBROSA (máx.) 8

CÁLCIO (max.) 1,4

FÓSFORO (min.) 0,8

* Por kg apresenta não menos que: vit. A, 12000 UI; D3, 1800 UI; E, 30 mg; K3, 3 mg; B1, 5 mg; B2, 6 mg; B6, 7 mg; B12, 20 µg, niacina, 60 mg; ácido pantotênico, 20 mg; ácido fólico, 1 mg; biotina, 0,05 mg; colina, 600 mg; ferro, 50 mg; zinco, 60 mg; cobre, 10 mg; iodo, 2 mg; manganês, 60 mg; selênio, 0,05 mg; cobalto, 1,5 mg; DL metionina, 300 mg; lisina, 100 mg.

4.2.4.3 Imunidade Inespecífica

a) Obtenção de Macrófagos

Para este ensaio, foram selecionados os animais que receberam a

suplementação com os peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C) por um período de 22 dias.

Estes grupos não foram submetidos à indução de endotoxemia. Após a eutanásia, os

animais tiveram a pele da região abdominal cuidadosamente removida e foram

injetados 10 mL de tampão fosfato, pH 7,4 (PBS) estéril na cavidade peritoneal. Após, a

cavidade foi aberta e o fluido aspirado com auxílio de pipeta de Pasteur estéril. Estas

células foram centrifugadas a 2500xg, 4ºC por 5 minutos. O sobrenadante foi

descartado e os macrófagos foram ressuspendidos em PBS. As células foram então

incubadas em placas de cultura, por 2 horas e após, lavadas três vezes com PBS para

remoção das células não-aderentes.

64

b) Índice de Fagocitose

Foram retiradas alíquotas de 0,1mL das suspensões de macrófagos e

adicionadas a placas com 96 poços para cultivo celular. O material ficou em repouso por

40 minutos, para a aderência das células. Foram adicionados 10µL de “zimosan”

(Sigma, 1x108 partículas/mL) a cada perfuração. O “zimosan” é uma preparação de

células de levedura (Saccharomyces cerevisiae) que conduz ao processo de fagocitose.

A incorporação do “zimosan” pelos macrófagos é classificada como uma fagocitose não

específica. Essa característica de não especificidade a distingue da incorporação de

antígenos mediada por receptores de superfície (CARVALHO et al., 2000).

O material foi incubado por 30 minutos com solução formol-cálcio de Baker (4%

formaldeído, 2% cloreto de sódio, 1% acetato de cálcio) por 30 minutos. As células

foram lavadas por centrifugação (435xg por 5 minutos). O “zimosan” foi solubilizado

pela adição de 0,1mL de álcool acidificado (10% ácido acético, 40% etanol em água

destilada) aos poços. Após 30 minutos, realizou-se a leitura de absorbância a 550nm.

c) Produção de Superóxido

A produção de superóxido foi estimada pelo ensaio de redução do NBT (nitroblue

tetrazolium), um composto amarelo que se torna insolúvel e de cor azul no estado

reduzido (MADHAVI; DAS, 1994). A utilização de PMA (forbol 12-miristato 13-acetato)

torna o método seletivo para superóxido, pois este composto estimula a atividade do

sistema NADPH-oxidase (que é dormente em células não desafiadas

imunologicamente). Uma vez organizado e funcional na membrana, este complexo

enzimático catalisa a oxidação do composto NADPH (produzido pela via pentose

fosfato a partir de glicose) a NADP+, sendo que os elétrons liberados nesta oxidação

são utilizados para a redução do oxigênio molecular ao ânion radical superóxido, O2-

(HALLIWELL; GUTTERIDGE, 1989; CADENAS, 1995).

65

Alíquotas de 0,45mL de solução de macrófagos foram suspensas em PBS e

incubadas por 1 hora a 37ºC na presença de 0,03mL de PMA e 0,1% de NBT. A reação

foi interrompida pela adição de 0,45mL de ácido acético glacial. A mistura foi

centrifugada a 2500xg por 30 segundos e o NBT reduzido presente no sedimento foi

solubilizado em 900µL de ácido acético a 50%. Os restos celulares foram sedimentados

por nova centrifugação (30 segundos) e a absorbância do sobrenadante determinada a

560nm.

d) Produção de Peróxido de Hidrogênio

Para processar os microorganismos fagocitados, os macrófagos precisam

produzir substâncias com alta capacidade lítica, como é o caso dos produtos envolvidos

no burst respiratório (aumento da captação de O2). Dentre estes produtos, encontra-se

o peróxido de hidrogênio, que é o resultado do aumento da captação de oxigênio,

seguida da redução do oxigênio em ânion superóxido (O2-) pela enzima NADPH

oxidase, e a conseqüente dismutação (espontânea ou enzimática) do ânion superóxido

que forma então, o peróxido de hidrogênio (PICK; MIZEL, 1981).

A produção de peróxido de hidrogênio foi realizada conforme método de PICK e

MIZEL (1981). Esse ensaio se baseia na reação que ocorre entre o vermelho de fenol

e o peróxido de hidrogênio, na presença de peroxidase (horseradish peroxidase).

Alíquotas de 100µL de solução de macrófagos e 10µL de éster de forbol 12-miristato

13-acetato (PMA – 20µM) foram colocados em placas de microdiluição, no escuro (para

impedir a foto-oxidação), por um período de 1 hora a 20ºC. Após esse período, o

sobrenadante foi descartado por inversão e foram adicionados 100µL da solução de

vermelho de fenol contendo peroxidase e zimosan. A solução foi incubada por 30

minutos e realizada leitura com absorbância de 620nm.

66

e) Avaliação do Volume do Lisossoma

A incorporação do corante catiônico vermelho, que se concentra nas células

lisossomais, corando-as, foi utilizada para avaliar o volume do sistema lisossomal dos

macrófagos (BONATTO et al., 2004).

Adicionou-se 20µL de solução de vermelho neutro a 3% dissolvida em PBS a

0,1mL de solução de macrófagos. A suspensão foi incubada por 30 minutos em poços

de microdiluição. As células foram lavadas por duas vezes com PBS por centrifugação

(435xg por 5 minutos). O vermelho neutro foi solubilizado pela adição de 0,1mL de

ácido acético a 10% e solução de etanol. Incubou-se por 30 minutos. A absorbância foi

lida a 550nm.

4.2.4.4 Sepse Induzida

Duas condições experimentais foram estudadas: (1) administração

intraperitoneal de LPS após dieta via oral de CPP e (2) injeção intraperitoneal de LPS

após administração intraperitoneal de CPP.

O Experimento 1 seguiu o delineamento abaixo:

Grupo 1: Grupo controle

Grupo 2: Grupo controle + LPS

Grupo 3: CPP A

Grupo 4: CPP A + LPS

Grupo 5: CPP B

Grupo 6: CPP B + LPS

Grupo 7: CPP C

Grupo 8: CPP C + LPS

67

Após o período de 22 dias foi realizada a indução de endotoxemia por meio de

injeção intraperitoneal de lipopolissacarídeo (LPS) de Escherichia coli (sorotipo

0111:B4; Sigma Chemical, St. Louis, MO) (Figura 16), em dose de 5mg/kg. Após

tratamento com LPS, os animais retornaram às suas gaiolas e foram monitorados nas 6

horas subseqüentes. A toxicidade foi avaliada pela observação de sinais adversos,

como: prostração, pilo-ereção e blefarite sanguinolenta. Foram avaliados também a

taxa e tempo de sobrevivência. Os animais foram submetidos a eutanásia por

exanguinação por punção intracardíaca seis horas após a injeção de LPS. Foram

realizados leucogramas e determinados os níveis de interleucina 6 (IL-6) no plasma. Os

pulmões dos animais submetidos ao LPS foram removidos, fixados em tampão

formalina-fosfato e embebidos em parafina. Cortes histológicos foram corados com

hematoxilina e eosina para avaliação. Na avaliação histológica, as variáveis analisadas

foram: presença de leucócitos, congestão, necrose perivascular, fibrose septal, edema

alveolar, hemorragia alveolar e colapso alveolar. As variáveis foram quantificadas por

uma escala de 4 pontos: 0, ausente; 1, discreto; 2, moderado; 3, intenso.

No Experimento 2, preparou-se solução a 5% de CPP-A, dissolvido em tampão

fosfato-salina (PBS, estéril, pH 7,4). Animais adultos, com peso variando entre 280 a

305g, receberam o peptídeo (CPP-A) via intraperitoneal (IP) (0,75g/kg). Em seguida,

induziu-se a sepse por injeção intraperitoneal de lipopolissacarídeo (LPS) de

Escherichia coli (sorotipo 0111:B4; Sigma Chemical, St. Louis, MO), em dose de

5mg/kg. O grupo controle recebeu somente a injeção de LPS. Os animais foram

submetidos a eutanásia após 6 horas da administração de LPS. Foram realizados

leucogramas e determinados os níveis de interleucina 6 (IL-6) no plasma.

68

FIGURA 16 - INJEÇÃO INTRAPERITONEAL COM LPS PARA INDUÇÃO DE CHOQUE

SÉPTICO

NOTAS: LPS, Lipopolissacarídeo.

4.2.4.5 Determinação dos Níveis de IL-6 Para determinação da produção de citocina, o sangue dos ratos foi coletado em

tubos contendo EDTA, para separação do plasma. Na determinação da interleucina 6,

utilizou-se kit específico para ELISA (BD OptEIATM, Pharmigen).

As amostras foram pipetadas sobre as escavações de placas de 96 poços

(Maxisorp F-96, Nunc) cobertas previamente com anticorpo de captura específico para

a interleucina (anticorpo monoclonal anti-rato IL-6), seguido de diversas lavagens e da

69

adição de diluente (tampão fosfato com 10% de soro fetal bovino, pH 7,0). Após a

colocação das amostras nas escavações, as placas foram incubadas por duas horas à

temperatura ambiente. Realizaram-se de cinco lavagens totais. Realizou-se então a

adição do anticorpo de detecção (anticorpo monoclonal anti-rato IL-6 biotinilado) e

incubação por uma hora a temperatura ambiente. Após remoção do excesso do

segundo anticorpo, adicionou-se a enzima peroxidase (avidin-horseradish peroxidase

conjugate). Esta se ligou ao anticorpo de detecção para completar a reação. Após a

lavagem para remoção de toda enzima não ligada, colocou-se solução de substrato

(TMB, tetrametilbenzidina e peróxido de hidrogênio) e as amostras foram incubadas por

30 minutos a temperatura ambiente, no escuro. Após esta etapa, foi adicionada solução

2N de ácido sulfúrico (stop solution), para interromper a reação. Realizou-se leitura a

450 nm e os valores obtidos para as amostras foram comparados com curva padrão,

que utilizou IL-6 liofilizada de rato.

70

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

5.1.1 Composição

A análise química dos produtos está apresentada na Tabela 5,

comparativamente ao caseinato de sódio. O conteúdo protéico do CPP-C é semelhante

ao teor do caseinato, indicando que foram removidos poucos peptídeos da proteína

original. Em conseqüência do alto conteúdo mineral dos peptídeos, os valores de cinzas

são superiores aos do caseinato. O teor de umidade pode ser considerado elevado

para produtos cuja secagem foi realizada por liofilização, provavelmente devido à alta

higroscopicidade e elevada capacidade de absorção de água pelos hidrolisados.

TABELA 5 -COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS PEPTÍDEOS

PRODUTO PROTEÍNAS

(%) UMIDADE

(%) CINZAS (%)

Caseinato* 87,5 5,8 5,3 CPP-A 64,28±0,60 15,72±0,03 19,06±0,03 CPP-B 67,59±0,38 6,66±0,29 29,23±0,14 CPP-C 84,85±0,56 4,89±0,02 16,14±0,0003

NOTAS: *Lactoprot, HV (dados fornecidos pelo fabricante) Os dados estão apresentados como média ± desvio padrão da média para amostras analisadas em triplicata.

O conteúdo mineral dos peptídeos está listado na Tabela 6. Os teores

encontrados para cálcio, sódio e fósforo estão de acordo com valores apresentados na

literatura (ELLEGARD et al., 1999). O CPP-A apresentou um conteúdo de fósforo mais

elevado, indicando maior rendimento na obtenção dos fosfopeptídeos.

71

TABELA 6 - MINERAIS DOS PEPTÍDEOS

PRODUTO CÁLCIO

(mg/100g)

SÓDIO

(mg/100g)

ZINCO

(g/100g)

FÓSFORO

(g/100g)

CPP-A 452 539,14 n.d. 2,89

CPP-B 376 425,74 n.d. 1,45

CPP-C 188,30 272 4,06 1,05

NOTAS: n.d. – não determinado

Algumas patentes apontam a possibilidade da purificação de CPP a partir da

utilização de quaisquer minerais di ou trivalentes. Preferencialmente utiliza-se cloreto de

cálcio, porém há possibilidade do uso de cloreto de ferro ou sulfato de zinco

(FITZGERALD, 1998; PÉRÈS et al., 1999; REYNOLDS, 2002). O CPP-C, obtido com a

utilização de sulfato de zinco apresentou valores elevados do mineral, devido ao fato

deste não ter sido dissociado do produto ao final do processo (na diafiltração), o que

indica que seu uso em alimentos deve ser condicionado ao cálculo de doses fisiológicas

de zinco, evitando desta forma o risco de toxicidade.

CARIO et al. (2000) avaliaram o efeito da suplementação de zinco na morfologia

de células epiteliais intestinais humanas. Verificaram que concentrações fisiológicas do

mineral auxiliam no reparo tecidual. Entretanto, quantidades excessivas de zinco

podem causar injúrias aos tecidos, inclusive perda de aderência e indução de apoptose.

A associação de íons às moléculas de caseína foi revista por GAUCHERON et

al. (1997). Os autores avaliaram a ligação de diferentes cátions (cálcio, manganês,

zinco, cobre e ferro) ao caseinato de sódio e a estabilidade dessas associações sob

diferentes condições físico-químicas. Em relação à associação com o zinco verificaram

que o mineral é responsável por uma precipitação pronunciada da proteína quando em

concentrações acima de 24mM para 100g de caseína, comportamento este semelhante

ao dos íons cobre e ferro. Essa precipitação provavelmente ocorre devido à

neutralização das cargas negativas das moléculas de caseína com redução nas

interações eletrostáticas e aumento nas interações hidrofóbicas. Com base nesses

achados, se pode supor que o teor protéico mais elevado do CPP-C tenha ocorrido

72

devido à precipitação de um número mais expressivo de frações peptídicas, pois o

produto final apresenta uma concentração 62mM de Zn2+ em 100g.

Tomando por base o número de resíduos serina fosforilados existentes mais

freqüentemente nos genótipos de caseína, os pesos moleculares desses

fosfopeptídeos teóricos e das caseínas, ELLEGARD et al. (1999) calcularam o

rendimento gravimétrico teórico do CPP em 22,8%. Os autores obtiveram um

rendimento de 16%. Nos processos elaborados no presente trabalho, o rendimento final

foi de 11,56%, 19% e 45,57%, respectivamente para o CPP-A, CPP-B e CPP-C. Estes

valores indicam que para os dois primeiros processos, provavelmente, nem todos os

peptídeos fosforilados foram purificados e que no processo de obtenção do CPP-C,

outros peptídeos, além dos fosforilados foram obtidos.

As Figuras 17 a 19 mostram os eletroferogramas da composição de aminoácidos

dos peptídeos obtidos e os valores correspondentes de concentração de aminoácidos,

aparecem na Tabela 7.

FIGURA 17 - ELETROFORESE CAPILAR DE ZONA (ELETROFEROGRAMA) DO CPP-A

1 4 1 6 1 8 2 0 2 2 2 4 2 6 2 8 3 0 3 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

1 6 A m o s tra : A

A rg

P h e

L e u

Ile

M e t

V a l

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A s p

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G lu

G ly

H is

re f

T h r

S e r

Fluo

resc

ênci

a (V

olts

)

T e m p o (m in )

NOTAS: Detecção efetuada a 400nm/500nm com laser a 10mW e 500KHz; pH=9 e T=15oC em colunas: 67cm / 65cm / 375um / 50um. A injeção da amostra foi de 15 seg. e 5KV. Empregou-se voltagem de 15KV com ~11,2uA.

73

FIGURA 18 - ELETROFORESE CAPILAR DE ZONA (ELETROFEROGRAMA) DO CPP-B

1 4 1 6 1 8 2 0 2 2 2 4 2 6 2 8 3 0 3 2

0

2

4

6

8

1 0

1 2

1 4

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A m o s tr a : D

A rg

P h e

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T h r

S e r

Fluo

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ênci

a (V

olts

)

T e m p o ( m in )

NOTAS: Detecção efetuada a 400nm/500nm com laser a 10mW e 500KHz; pH=9 e T=15oC em colunas: 67cm / 65cm / 375um / 50um. A injeção da amostra foi de 15 seg. e 5KV. Empregou-se voltagem de 15KV com ~11,2uA.

FIGURA 19 - ELETROFORESE CAPILAR DE ZONA (ELETROFEROGRAMA) DO CPP-C

1 4 1 6 1 8 2 0 2 2 2 4 2 6 2 8 3 0 3 2

0

2

4

6

8

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1 2

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Ile

A m o s t r a : F

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G lu

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T h r

S e r

Fluo

resc

ênci

a (V

olts

)

T e m p o ( m in )

NOTAS: Detecção efetuada a 400nm/500nm com laser a 10mW e 500KHz; pH=9 e T=15oC em colunas: 67cm / 65cm / 375um / 50um. A injeção da amostra foi de 15 seg. e 5KV. Empregou-se voltagem de 15KV com ~11,2uA.

74

TABELA 7 - COMPOSIÇÃO AMINOACÍDICA (g AMINOÁCIDO/100g DE PROTEÍNA) DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDOS E DO CASEINATO DE SÓDIO

AMINOÁCIDOS

(g/100g de ptn.) CASEINATO DE SÓDIO

PEPTÍDEOS CPP-A CPP-B CPP-C

Serina

4,91 8,49 5,35 4,12

Treonina

3,61 3,08 3,68 3,35

Histidina

2,83 0 1,59 2,61

Glicina

1,6 1,51 1,45 1,18

Àcido glutâmico

21,3 29,49 24,77 17,95

Alanina

2,78 2,23 2,2 1,91

Ácido aspártico

6,23 8,07 7,21 5,86

Tirosina

4,98 1,63 1,96 2,67

Valina

5,74 5,8 5,99 4,43

Metionina

2,3 2,58 2,14 2,08

Isoleucina

4,65 8,04 6,69 4,43

Leucina

8,35 6,28 8,56 6,49

Fenilalanina

4,59 1,29 2,04 3,28

Arginina 3,24 0,76 2,92 2,93

75

A composição aminoacídica do caseinato de sódio revela altos teores de tirosina

e fenilalanina. A comparação do perfil de aminoácidos dos peptídeos obtidos e do

caseinato de sódio revela redução expressiva nos teores de fenilalanina e tirosina. Os

peptídeos CPP-A e CPP-B apresentam altos teores de serina, ácido glutâmico,

asparagina e isoleucina. Não foram observadas perdas elevadas de aminoácidos nos

peptídeos. O triptofano não foi determinado, pois o aminoácido é destruído durante a

hidrólise ácida utilizada na preparação das amostras.

BERNARDI et al. (2003) verificaram que o uso do evaporador a vácuo para

eliminar o HCl promove perdas de treonina e serina, relacionadas principalmente à

destruição por calor. A neutralização com solução padrão de citrato/NaOH diminui

essas perdas, contudo a inclusão de sais interfere com a determinação por eletroforese

capilar, sendo que por esta razão não foi adotada.

A análise quantitativa de aminoácidos por eletroforese capilar apresenta

desafios, incluindo a separação entre os compostos. Observa-se uma certa dificuldade

na separação de ácido glutâmico e alanina (algumas vezes os resultados aparecem

como a soma dos dois aminoácidos) e leucina com fenilalanina.

A detecção da cisteína (Cys), lisina (Lys) e arginina (Arg) por fluorescência

induzida a laser também apresenta alguns problemas. Nestes hidrolisados a Cys ocorre

como Cys-Cys (cistina) e não como cisteína livre. Por consequência, na reação de

derivatização, formam-se dois fluoróforos por molécula Cys-Cys, uma em cada amina

primária. Estes sistemas não fluorescem porque cada fluoróforo se encontra muito

próximo ao outro. Ocorre um fenômeno chamado "quenching", onde um rouba a

energia do outro, o que provoca diminuição na fluorescência (como se pode ver pelo

tamanho dos picos nos eletroferogramas). O mesmo acontece com a Lys, pois ela tem

uma segunda amina primária na cadeia lateral (pK=10,7). Com a Arg o problema não

ocorre porque o pK da amina primária da cadeia lateral é 12,1, este valor elevado

impede que a reação de derivatização ocorra com esta amina (da cadeia lateral).

No processo de elaboração dos peptídeos, após a realização da digestão tríptica,

reduziu-se o pH para 4,64 no CPP-A e 4,7 nos demais produtos e os precipitados

76

obtidos foram removidos por centrifugação. Esse procedimento tem como objetivo

principal remover os peptídeos hidrofóbicos do digesto protéico. Sabe-se que as

proteínas podem ser precipitadas pela indução de modificações no pH, força iônica,

constante dielétrica e temperatura. LÉONIL et al. (1994) verificaram que a precipitação

de peptídeos hidrofóbicos ocorre pela redução do pH a valores inferiores ao pH 5. Os

autores sugerem que a diminuição brusca da solubilidade dos peptídeos, nessa faixa de

pH, independente de seus pontos isoelétricos, seja responsável pela destruição das

associações entre peptídeos que os mantêm em solução. Como conseqüência, ocorre

um aumento nas interações hidrofóbicas, promovendo o fenômeno de precipitação

desses peptídeos.

A análise de aminoácidos revelou redução expressiva no teor de fenilalanina

(Phe) para o CPP-A (Figura 20). O valor obtido para este produto representou redução

de 71,89% em relação ao caseinato de sódio, 51,89% e 26,61% em relação a estudos

de desenvolvimento de hidrolisados com baixo teor de fenilalanina (LOPEZ-BAJONERO

et al., 1991; MONTEIRO, 2003). Estes trabalhos utilizaram carvão ativo na adsorção do

aminoácido, o que pode ocasionar perdas de aminoácidos essenciais, devido à baixa

especificidade do carvão.

Os resultados obtidos apontam os caseinofosfopeptídeos como uma alternativa

importante na elaboração de formulações a serem utilizadas em pacientes

fenilcetonúricos. A fenilcetonúria é uma das doenças causadas por erros inatos do

metabolismo. É de herança autossômica recessiva e resulta da deficiência da

fenilalanina hidroxilase hepática, que converte o aminoácido fenilalanina em tirosina. A

fenilcetonúria clássica tem uma incidência internacional média de 1:11000 recém

nascidos vivos. A manifestação clínica mais severa é o atraso no desenvolvimento

neuropsicomotor. A detecção precoce e o controle dietético rigoroso são essenciais

para esses pacientes. A dieta deve ser suplementada com fórmulas que podem ser

elaboradas a partir de misturas de aminoácidos ou produtos derivados de proteínas,

dos quais se tenha retirado a fenilalanina (LOPEZ-BAJONERO et al., 1991).

Diversas formulações isentas de fenilalanina estão disponíveis no mercado,

conforme se verifica na Tabela 8. São isentas por se constituírem em misturas de

77

aminoácidos, acrescidas de carboidratos, vitaminas, minerais, e outros ingredientes,

dependendo de cada formulação. Normalmente apresentam-se em forma de pó e

devem ser reconstituídas em água de acordo com a quantidade recomendada pelo

profissional de saúde que acompanha o paciente. O Lofenalac é um hidrolisado

protéico de caseína que contém aproximadamente 75 mg Phe/100g de produto.

TABELA 8 – FORMULAÇÕES ISENTAS DE FENILALANINA

FABRICANTE PRODUTO PROTEÍNA

(g/100g)

IDADE*

Mead Johnson Lofenalac 14,0

Phenyl-free 1 16,2

Phenyl-free 2 22,0

Phenyl-free 2 40,0

Vitaffix Rilla 1 60,0 Até 12 meses

Rilla 2 60,8 1 a 8 anos

Rilla 3 60,8 Mais de 8 anos

Support PKU 1 50,3 Até 12 meses

PKU 2 66,8 1 a 8 anos

PKU 3 68,0 Mais de 8 anos

XP Analog 13,0 Até 12 meses

XP Maxamaid 25,0 1 a 8 anos

XP Maxamum 39,0 Mais de 8 anos

NOTAS: *Idade: recomendação do fabricante Fonte: http://www.supportnet.com.br/produtos/erros_finilcetonuria/index.htm, http://www.vittafix.com.br/produtos_bod.htm, http://www.meadjohnson.com/professional/indivdescr.html#metabolics De acordo com a Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005 (ANVISA,

2005), que trata da ingestão diária recomendada (IDR) de proteína, vitaminas e

minerais, crianças de 0 a 6 meses devem ingerir 9,1g de proteína por dia (ptn/d); até 11

meses, 11g ptn/d; de 1 a 3 anos, 13g ptn/d; de 4 a 6 anos, 19g ptn/d; e de 7 a 10 anos,

34g ptn/d.

78

A dieta de pacientes fenilcetonúricos deve conter entre 250 a 500mg Phe/dia,

enquanto que para não portadores a recomendação é de 2500mg Phe/dia (BRASIL,

2002).

A vantagem do uso dos caseinofosfopeptídeos em relação aos hidrolisados

tratados para eliminação de fenilalanina, é que o CPP não apresenta perda de

aminoácidos que possam comprometer o valor nutricional.

Além disso, a produção de caseinofosfopeptídeos a partir da digestão da caseína

eleva a biodisponibilidade de cálcio (KITTS et al., 1992). A ingestão de caseína ou β-

caseína produz o aparecimento in vivo de CPP no trato intestinal de ratos e associa-se

a uma maior concentração de cálcio solúvel no lúmen do íleo distal (SATO et al., 1991).

Estudos do estado mineral ósseo de crianças e adultos com fenilcetonúria revelaram

retardo na maturação do esqueleto e osteoporose (McMURRY et al., 1992; AL-

QADREH et al., 1998), sugerindo que os caseinofosfopeptídeos podem ser utilizados

para melhorar o perfil de mineralização óssea desses pacientes.

O teor de Phe do CPP-A é de 1,29g de Phe/100g proteína. Apesar de

aparentemente elevado, considerando que a recomendação de proteína para uma

criança de menos de três anos é de 13g ptn/dia, uma formulação à base deste peptídeo

respeitaria a ingestão recomendada de Phe ainda que o CPP fosse a única fonte de

proteína na dieta.

Além disto, o uso de hidrolisados protéicos contendo peptídeos de cadeia curta é

altamente desejado em formulações. A absorção de peptídeos de cadeia curta é

considerada mais eficiente quando comparada a uma quantidade equivalente de

aminoácidos livres. Isto se deve à disponibilidade de sistemas específicos de transporte

de peptídeos e a subseqüente quebra em aminoácidos por ação das peptidases

citoplasmáticas nos enterócitos, antes do transporte à circulação. Por outro lado,

peptídeos são menos hipertônicos que misturas de aminoácidos, facilitando a absorção

de outros componentes da dieta e eliminando problemas osmóticos. Além disto, devido

à instabilidade química e à insolubilidade em água, alguns aminoácidos como

glutamina, tirosina e cisteína não podem ser facilmente administrados em forma livre.

(CLEMENT, 2000)

79

FIGURA 20 - TEOR DE FENILALANINA DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

CPP-A CPP-B CPP-C CASEÍNA * **

Phe

(g/1

00g

prot

eína

)

NOTAS: * , ** Hidrolisados de caseína tratados com carvão ativo para remoção da Phe (*MONTEIRO, 2003; **LOPEZ-BAJONERO et al., 1991).

A relação entre os dados de composição química e o conteúdo de serina permite

descrever alguns parâmetros de qualidade dos caseinofosfopeptídeos (Tabela 9).

TABELA 9 - RELAÇÃO MOLAR ENTRE DADOS DE

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E CONTEÚDO AMINOACÍDICO DOS PEPTÍDEOS

AMOSTRA Ser/P* N/P N/Ser

CPP-A 0,973 8,082 8,306

CPP-B 0,515 7,790 15,128

CPP-C 0,680 16,73 24,611

NOTAS: *mol/mol

80

A relação molar entre serina/fosfato próxima de 1 indica que todos os resíduos

serina estão fosforilados.

TAKANORI et al. (1995) encontraram uma relação molar entre serina e fósforo

de 0,96, em caseinofosfopeptídeos obtidos das fezes de ratos que foram alimentados

com caseína, indicando que praticamente todos os resíduos de serina estavam

fosforilados. Valores baixos na relação molar entre nitrogênio/fósforo e nitrogênio/serina

indicam que os fosfopeptídeos apresentam, respectivamente, elevada fosforilação e

alto conteúdo de serina. Os valores obtidos nos processos realizados apontam o CPP-A

como um produto que apresenta teor mais elevado de serina fosforilada. LIHME et al.

(1998) obtiveram as seguintes relações molares na caracterização de fosfopeptídeos

obtidos por troca iônica: Ser/P, 0,84 a 0,93mol/mol; N/P, 6,71 a 6,92mol/mol; N/Ser,

7,00 a 7, 56mol/mol. Os autores comparam os valores obtidos com um processo de

obtenção de fosfopeptídeos com uso de etanol, (CPP III), cujos valores são os

seguintes: Ser/P, 1,06mol/mol; N/P, 10,05mol/mol; N/Ser, 9,58 mol/mol.

5.1.2 Solubilidade

A solubilidade de um material protéico descreve a capacidade do mesmo formar

soluções coloidais. O conceito de solubilidade para proteínas define a proporção de

nitrogênio (ou proteína) de uma amostra protéica que se solubiliza a partir de um

determinado procedimento de solubilização. A adição de sais pode modificar a

solubilidade protéica pela estabilização ou desdobramento da estrutura da proteína e

pela modificação na carga líquida da mesma (PILOSOF; BARTHOLOMAI, 2000).

A Figura 21 apresenta a solubilidade dos peptídeos. Ao se realizar a

comparação do perfil de solubilidade de cada produto em relação ao tratamento

realizado (dissolução em água ou PBS), se verificou que para o CPP-A não houve

diferença significativa (p= 0,400035). Esse achado pode se relacionar ao fato desse

produto ter sido obtido pela adição de etanol. Para os demais produtos houve diferença

significativa entre os tratamentos (CPP-B, p= 0,042463; CPP-C, p= 0,013688).

81

A solubilidade dos caseinofosfopeptídeos variou de 83,73% para o CPP-B em

água a 94,06% para o CPP-C dissolvido em PBS. Estes valores de solubilidade podem

ser considerados elevados, se comparados com o caseinato de sódio, cuja variação é

de 97,57% a 99,06%, na faixa de pH de 6 a 8 (KRÜGER et al., 2002).

A solubilidade da proteína e dos complexos peptídeos-minerais é um bom

indicador de funcionalidade, especialmente para aplicação dos produtos em sistemas

alimentares que envolvam a formação e estabilidade de espumas e emulsões ou a

formação de géis. A solubilidade também tem importância fundamental para a absorção

in vivo e para a biodisponibilidade, tanto das proteínas como dos minerais (VEGARUD;

LANGSRUD; SVENNING, 2000).

FIGURA 21 - SOLUBILIDADE DOS PEPTÍDEOS

Sol

ubilid

ade

(%)

76

80

84

88

92

96

100

§ #

# *

NOTAS: A solsalina-fosfato média (n = 4)indicam diferenPBS, p=0,400versus em PBS

CPP-A H2O C

ubilidade foi(PBS). Os d. Símbolos ças estatíst

035; CPP-B, p=0,01368

PP-A PBS C

*

determinadaados estãodiferentes nicas. Teste T em água 8.

PP-B H2O CPP-B PBS CP

em água (H2O) e comp apresentados como mas colunas que repres de Student: p< 0,05; C

versus em PBS, p=0,0

*

P-C H2O CPP-C

arativamenteédia ± desvioentam o mesPP-A em água42463; CPP-C

§§

PBS

em tampão padrão da mo produto versus em em água

82

5.1.3 Seqüenciamento

A digestão tríptica do caseinato de sódio, seguida de processos de separação

permitiu a obtenção de 3 produtos que se caracterizam como uma mistura de peptídeos

derivados da hidrólise das caseínas αS1, αS2, β e κ (KRÜGER et al., 2005).

Os picos encontrados nos espectros de massa estão demonstrados nas Figuras

22 a 24 e foram comparados com seqüências conhecidas das caseínas bovinas,

tomando como base seu peso molecular (FERRANTI et al., 2004). A confirmação das

seqüências foi feita por espectrometria de massa e, quando necessário, as amostras

foram analisadas por seqüenciamento automatizado, utilizando um kit para

seqüenciamento de peptídeos, conforme descrito nos métodos. Essas análises

permitiram a determinação da seqüência de aminoácidos da maioria dos fragmentos

obtidos. A caracterização completa dos peptídeos das três amostras está descrita nos

Quadros 1 a 3.

A técnica de MALDI-TOF-MS pode ser utilizada na identificação de resíduos

fosforilados. A análise por PSD (post source decay) identifica o resíduo fosforilado na

seqüência peptídica. Esse processo é relativamente simples no caso da fosforilação da

tirosina, pois a fosfotirosina é detectada como um resíduo correspondente à soma da

massa da tirosina com o grupamento fosforil. Entretanto, o resíduo serina fosforilado é

mais lábil, sendo perdido facilmente durante a fragmentação, resultando na formação

de um resíduo deidroalanina no lugar da fosfoserina, o que conduz a formação de um

pico de intensidade mais elevada (TALBO et al., 2001). Optou-se então, pela utilização

das técnicas de seqüenciamento já mencionadas, sendo que a presença de peptídeos

fosforilados foi deduzida a partir da verificação da existência de resíduos fosfoserina

nos fragmentos obtidos.

A análise dos espectros resultou na identificação dos seguintes peptídeos

fosforilados: αs1-caseína (f62-73) no CPP-B, αs1-caseína (f106-115) no CPP-A e CPP-C,

αs1-caseína (f100-115), no CPP-B, αs1-caseína (f109-139) no CPP-C e αs2-caseína

(f151 -165) no CPP-B. Entretanto, não foram detectados peptídeos fosforilados da β-

caseína.

83

Os resultados parecem controversos se comparados com a Tabela 9 que

relaciona a composição química com a análise de aminoácidos, indicando um alto grau

de fosforilação para o CPP-A e, para os demais produtos, valores médios.

Sabe-se que existem dificuldades na localização de resíduos fosforilados. Uma

das estratégias que podem ser empregadas consiste na separação da fosfoproteína ou

peptídeo em pequenos fragmentos. Utiliza-se preferencialmente a composição em

aminoácidos do que a seqüência para a identificação do resíduo (MEYER et al., 1986).

Na análise dos dados se verificou que os segmentos N-teminais não foram

identificados nas caseínas αs2, β e κ. No caso da αs1-caseína, que apresenta uma

porção N-terminal hidrofóbica e rica em prolina, os fragmentos 23-37 foram identificados

no CPP-A e CPP-C. Na seqüência da β-caseína esse fato se torna mais evidente, pois

o segmento N-terminal, com elevada densidade de carga e bastante hidrofílico,

apresenta quatro radicais fosfato entre os resíduos 15 – 19 e um resíduo na posição 35

(SGARBIERI, 1998), que não foram identificados.

MINKIEWICZ et al. (2000) verificaram que durante a ionização para os ensaios

de espectrometria pode ocorrer fragmentação de alguns peptídeos com liberação de

íons e elevação de até 15Da nas massas observadas.

Em relação ao tamanho dos peptídeos obtidos, os espectros indicam pesos

moleculares coincidindo com outros trabalhos de obtenção de caseinofosfopeptídeos

(ELLEGARD et al., 1999), sendo que para o CPP-A e o CPP-B os fragmentos variaram

de 5 a 20 resíduos de aminoácidos e para o CPP-C de 6 a 30 resíduos.

Um dos peptídeos cuja seqüência foi deduzida a partir dos dados de MS é o

fragmento 128 – 137 da κ-caseína, que compõem quase toda a estrutura da

casoplatelina (f 127 – 137), análoga ao fibrinogênio e com provável ação antimicrobiana

(RIZZELLO et al., 2005).

Praticamente todos os peptídeos identificados podem ser classificados como

peptídeos trípticos, clivados pela tripsina nos resíduos Lys e Arg. A ausência de

peptídeos quimotrípticos demonstra a baixa quantidade de quimiotripsina na enzima

utilizada (PTN 6.0, Novozymes, Denmark).

84

FIGURA 22 - ESPECTRO DE MASSA POR DESORÇÃO A LASER DO CPP-A

NOTAS: Espectro obtido em espectrômetro de massa Reflex IV, com laser UV de 337nm e intensidade média de 12%, no modo refletor positivo (voltagem do refletor igual a 19,8kV) e extração retardada (delayed extraction), usando faixa de massa de 0,3 a 3,5kDa.

85

FIGURA 23 - ESPECTRO DE MASSA POR DESORÇÃO A LASER DO CPP-B

NOTAS: Espectro obtido em espectrômetro de massa Reflex IV, com laser UV de 337nm e intensidade média de 12%, no modo refletor positivo (voltagem do refletor igual a 19,8kV) e extração retardada (delayed extraction), usando faixa de massa de 0,3 a 3,5kDa.

86

FIGURA 24 - ESPECTRO DE MASSA POR DESORÇÃO A LASER DO CPP-C

NOTAS: Espectro obtido em espectrômetro de massa Reflex IV, com laser UV de 337nm e intensidade média de 12%, no modo refletor positivo (voltagem do refletor igual a 19,8kV) e extração retardada (delayed extraction), usando faixa de massa de 0,3 a 3,5kDa.

87

QUADRO 1 - MASSAS MOLECULARES DOS PEPTÍDEOS DETECTADOS NO CPP-A E

POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS

Amostra Peptídio

(m/z)

Seqüência deduzida a partir

dos dados de MS

Seqüência

Confirmada por MS/MS

Caseína

Identificada

CPP-A

1104,47*

KTKVIPYVR − α - s2 caseína

(212 – 220)

CPP-A

1104,47*

QTEDELQDK − β − caseína

(55 – 63)

CPP-A 1267,52

#

YLGYLEQLLR YLGYLEQLLR α - s1 caseína

(106 – 115)

CPP-A

1759,73

HQGLPQEVLNENLLR HQGLPQEVLNENLLR α - s1 caseína

(23 – 37)

CPP-A

1867,72

VKEAMAPKHKEMPFPK − β - caseína

(113 – 128)

CPP-A

2281,02*

QPLPPTVMFPPQSVLSLSQSK − β - caseína

(164 – 184)

CPP-A

2281,02*

QTPVVVPPFLQPEVMGVSKVK − β - caseína

(94 – 114)

NOTAS:1) As massas marcadas com um asterisco (*) correspondem aos peptídeos isobáricos, que apresentam duas possibilidades de seqüência com base nos dados de MS. As massas marcadas com sinal jogo da velha (#) correspondem aos peptídeos fosforilados; 2) Os experimentos para dedução das sequências foram realizados em um espectrômetro de massa Reflex IV, operando no modo refletor positivo e utilizando o acessório FAST (Fragmentation Analysis and Structural TOF). Os dados foram analisados com o auxílio do programa BioTools v. 2.0. Para alguns peptídeos, cuja fragmentação não foi observada pelo método PSD convencional, foi realizado o seqüenciamento por CAF (chemically assisted fragmentation) usando kit de seqüenciamento. QUADRO 2 - MASSAS MOLECULARES DOS PEPTÍDEOS DETECTADOS NO CPP-B E

POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS

Amostra Peptídio

(m/z)

Seqüência deduzida a partir

dos dados de MS

Seqüência

Confirmada por MS/MS

Caseína

Identificada

CPP-B

751,44

YPVEPF YPVEPF β - caseína

(129 – 133)

continua

88

Amostra Peptídio

(m/z)

Seqüência deduzida a partir

dos dados de MS

Seqüência

Confirmada por MS/MS

CPP-B

977,54

TKLTEEEK −

CPP-B

1139,40

AIPPKKNQDK −

CPP-B

1383,80

LLYQEPVLGPVR LLYQEPVLGPVR

CPP-B 1476,55

#

ESTEDQAMEDIK −

CPP-B

1494,59

QGPIVLNPWDQVK −

CPP-B

1759,61

HQGLPQEVLNENLLR HQGLPQEVLNENLLR

CPP-B 1771,61

#

KKTVDMESTEVFTKK −

CPP-B

1867,52

VKEAMAPKHKEMPFPK −

CPP-B 1951,56

#

DVPSERYLGYLEQLLR −

CPP-B

2280,66*

QPLPPTVMFPPQSVLSLSQSK −

CPP-B

2280,66*

QTPVVVPPFLQPEVMGVSKVK −

CPP-B

2794,68

KLTEEEKNRLNFLKKISQRYQK −

NOTAS: 1) As massas marcadas com um asterisco (*) correspondem aos pepapresentam duas possibilidades de seqüência com base nos dados de MS. As msinal jogo da velha (#) correspondem aos peptídeos fosforilados; 2) Os experimentos para dedução das sequências foram realizados em um esmassa Reflex IV, operando no modo refletor positivo e utilizando o acessório FASTAnalysis and Structural TOF). Os dados foram analisados com o auxílio do progra2.0. Para alguns peptídeos, cuja fragmentação não foi observada pelo método PSfoi realizado o seqüenciamento por CAF (chemically assisted fragmentation) seqüenciamento.

continuação

Caseína

Identificada

α - s2 caseína

(166 – 173)

κ - caseína

(128 – 137)

β - caseína

(206 – 217)

α - s1 caseína

(62 – 73)

α - s2 caseína

(116 – 128)

α - s1 caseína

(23 – 37)

α - s2 caseína

(151 – 165)

β - caseína

(113 – 128)

α - s1 caseína

(100 – 115)

β - caseína

(164 – 184)

β - caseína

(94 – 114)

α - s2 caseína

(167 – 188)

tídeos isobáricos, que assas marcadas com

pectrômetro de (Fragmentation ma BioTools v.

D convencional, usando kit de

89

QUADRO 3 - MASSAS MOLECULARES DOS PEPTÍDEOS DETECTADOS NO CPP-C E POSSÍVEIS SEQÜÊNCIAS

Amostra Peptídio

(m/z) Seqüência deduzida a partir

dos dados de MS Seqüência

Confirmada por MS/MS Caseína

Identificada

CPP-C 634,39+ LNFLK LNFLK α - s2 caseína

(176 – 180)

CPP-C 751,37+ YPVEPF YPVEPF β - caseína

(129 – 134)

CPP-C

827,47

NQFYQK − α - s2 caseína

(101 – 106)

CPP-C 830,45+ AVPYPQR AVPYPQR β - caseína

(192 – 198 )

CPP-C 910,47+ EGIHAQQK − α - s1 caseína

(140 – 147)

CPP-C 960,00+ PIGSENSEK PIGSENSEK α - s1 caseína

(200 – 208)

CPP-C

977,51

TKLTEEEK − α - s2 caseína

(166 – 173)

CPP-C 994,57+ QEPVLGPVR QEPVLGPVR β - caseína

(209 – 217)

CPP-C

1057,49

QVLSNTVPAK QVLSNTVPAK κ- caseína

(98 – 107)

CPP-C 1267,56

#

YLGYLEQLLR YLGYLEQLLR α - s1 caseína

(106 – 115)

CPP-C

1759,58

HQGLPQEVLNENLLR HQGLPQEVLNENLLR α - s1 caseína

(23 – 27)

CPP-C 2104,97+ TDAPSFSDIPNPIGSENSEK TDAPSFSDIPNPIGSENSEK

α - s1 caseína

(189 – 208)

CPP-C

2280,61*

QPLPPTVMFPPQSVLSLSQSK − β - caseína

(164 – 184)

CPP-C

2280,61*

QTPVVVPPFLQPEVMGVSKVK − β - caseína

(94 – 114)

continua

90

CPP-C

2794,60

KLTEEEKNRLNFLKKISQRYQK − α - s2 caseína

(167 – 188)

CPP-C 3833,69

#

YLEQLLRLKKYKVPQLEIVPNSAEERLHSMK − α - s1 caseína

(109 – 139)

continuação

NOTAS: 1) As massas marcadas com um asterisco (*) correspondem aos peptídeos isobáricos, que apresentam duas possibilidades de seqüência com base nos dados de MS. As massas marcadas com sinal jogo da velha (#) correspondem aos peptídeos fosforilados; 2) As massas marcadas com sinal de adição (+) correspondem a peptídeos que não foram detectados nos primeiros dados de MS obtidos por MALDI-TOF, mas foram isolados posteriormente por cromatografia líquida de alta performance (HPLC) e seqüenciados por ESI-MS/MS. 3) Os experimentos para dedução das sequências foram realizados em um espectrômetro de massa Reflex IV, operando no modo refletor positivo e utilizando o acessório FAST (Fragmentation Analysis and Structural TOF). Os dados foram analisados com o auxílio do programa BioTools v. 2.0. Para alguns peptídeos, cuja fragmentação não foi observada pelo método PSD convencional, foi realizado o seqüenciamento por CAF (chemically assisted fragmentation) usando kit de seqüenciamento.

91

5.2 ATIVIDADE ANTIMICROBIANA IN VITRO

O resultado do teste de esterilidade das amostras, que detecta possíveis

contaminações da matéria-prima utilizada para os experimentos, foi analisado após 72

horas e após sete dias da inoculação dos peptídeos em frascos Hemoprov I. Observou-

se imediata turvação do CPP-A no momento da inoculação das amostras, sendo que

esta não se modificou no período de avaliação. Não foram observadas quaisquer

alterações nos frascos, conforme se pode visualizar na Figura 25.

FIGURA 25 – TESTE DE ESTERILIDADE DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

NOTAS: Caseinofosfopeptídeos em solução salina de PBS estéril, pH 7,4, na concentração de 125mg/mL. Foram inoculados 0,9mL destas soluções em kit HEMOPROV I.

Neste trabalho se verificou que os três produtos elaborados apresentaram

atividade antimicrobiana.

A Tabela 10 apresenta a porcentagem da inibição do crescimento pelos

peptídeos nos ensaios realizados com Escherichia coli, Staphylococcus aureus e

Salmonella typhimurium.

92

TABELA 10 - INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO MICROBIANO PELOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS

% DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO2AMOSTRA QUANTIDADE1

(mg/mL) E. coli S.

aureus

S.

typhimurium

CPP-A 1,0 53±2 NI3 NI

CPP-A 0,2 10±6 NI NI

CPP-B 125 NI 53±14 27±2

CPP-B 25 NI NI 5±3

CPP-C 125 15±8 87±6 94±7

CPP-C 25 73±0,8 71±6 89±1

CPP-C 5 84±1 41±11 48±2

CPP-C 1 30±3 NI 16±1

NOTAS: 1- Quantidade do peptídeo no ensaio antimicrobiano 2- % média da inibição do crescimento ± desvio padrão (n = 3), avaliado pelo aumento na

absorbância após 24 horas de incubação a 37ºC. O valor da A620 nm das culturas controle (sem o peptídeo) foi tomado como 100%

3- NI = nenhuma inibição A inibição do crescimento de Escherichia coli pelo CPP-A ocorreu nas

concentrações de 0,2 e 1mg/mL. Nas demais concentrações, não houve inibição do

crescimento. O CPP-B reduziu o crescimento de Staphylococcus aureus e Salmonella

typhimurium, respectivamente em 53% e 27%, quando numa concentração de

125mg/mL. O CPP-C inibiu o crescimento de Escherichia coli e Salmonella typhimurium

a partir de 1mg/mL. A inibição do crescimento de Staphylococcus aureus ocorreu a

partir de uma concentração de 5mg/mL.

A Figura 26 apresenta os resultados obtidos na inibição do crescimento da

Listeria monocytogenes. Em todos os peptídeos estudados houve diferença significativa

entre o controle (amostra sem adição do peptídeo) e as amostras com adição dos três

caseinofosfopeptídeos.

A concentração inibitória mínima (MIC) da atividade dos microorganismos é

definida como a concentração mínima na qual há um declínio significativo na

absorbância (DEVIENNE; RADDI, 2002). No presente trabalho está apresentado o

93

comportamento dos inóculos frente aos peptídeos, além dos valores inibitórios mínimos.

Foram realizados repiques das negativas, sendo que as placas de cultivo apresentaram

crescimento escasso. Desta forma se pode notar que o comportamento da Listeria

monocytogenes nem sempre se apresenta linear, sendo que no caso do CPP-B há um

efeito bacteriostático inicial que não se perpetua quando as doses de peptídeo são

aumentadas. Estes dados foram confirmados por repetições, sendo o MIC o método de

escolha para determinação da atividade antimicrobiana.

O CPP-C foi obtido com a utilização de sulfato de zinco. A presença do zinco no

produto pode ser responsável pela potencialização do efeito antimicrobiano.

O peptídeo denominado kappacina, derivado da κ-caseína, também denominado

glicomacropeptídeo (GMP) fosforilado demonstrou atividade inibidora do crescimento

contra bactérias oportunistas da via oral (Streptococcus mutans e Porphyromonas

gingivalis) e contra Escherichia coli (MALKOSKI et al., 2001). DASHPER et al. (2005)

ligaram cátions divalentes à kappacina e verificaram que o metal Zn2+ permitiu uma

melhoria na propriedade antibacteriana. A ligação de cátions divalentes ao peptídeo

provavelmente altera sua conformação, podendo facilitar a ligação do peptídeo à

membrana celular da bactéria.

O íon zinco também é capaz de reduzir o crescimento e o metabolismo de

bactérias por interagir com grupos sulfidrílicos das enzimas bacterianas, inibindo sua

atividade. O zinco é um mineral bacteriostático, contudo quando em altas

concentrações, apresenta atividade bactericida (PHAN et al., 2004).

94

FIGURA 26 - EFEITO DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS CONTRA LISTERIA MONOCYTOGENES

A

B

0,0

0,1

0,1

0,2

0,2

0,3

0,3

Abso

rbân

cia

(650

nm

)

0 0,2 1 5 25 125Concentração de CPP-A (mg/mL)

a a

bab

a

c

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

Abso

rbân

cia

( 650

nm

)

0 0,2 1 5 25 125

Concentração de CPP-B (mg/mL)

c

d d

c

b

a

C

0,0

0,1

0,1

0,2

0,2

0,3

0,3

Abso

rbân

cia

(650

nm

)

0 0,2 1 5 25 125Concentração de CPP-C (mg/mL)

b b

cc

b

a

NOTAS: Os dados estão apresentados como valores médios obtidos para análises realizadas em triplicata. A concentração inicial (0 mg/mL do CPP) se refere ao controle, sendo que colunas com letras diferentes desta, apresentam resultados estatísticos diferentes. ANOVA com teste de Tukey para comparação das médias: p<0,05; A = CPP-A, p=0,0001; B = CPP-B, p=0,0001; C = CPP-C, p=0,0001

95

O mecanismo de inibição do crescimento das bactérias pelos peptídeos testados

não é conhecido, porém algumas possibilidades da interação peptídeos/bactérias

podem ser apontadas.

Alguns peptídeos antibacterianos têm sido isolados e caracterizados. Geralmente

possuem uma alta porcentagem de resíduos básicos em sua estrutura primária,

facilitando a interação entre as cargas positivas do peptídeo e as cargas negativas da

membrana bacteriana (MALKOSKI et al., 2001).

Peptídeos antimicrobianos geralmente possuem resíduos prolina e fosforilação

e/ou glicosilação em peptídeos aniônicos. Cita-se também a presença de resíduos

cisteína ou de pontes dissulfeto (MALKOSKI et al., 2001).

Os caseinofosfopeptídeos testados se apresentam como uma mistura de

peptídeos com pontos isoelétricos variáveis, havendo alguns peptídeos catiônicos e

também peptídeos aniônicos fosforilados, tais como o fragmento 62 - 73 da αs1-caseína,

presente no CPP-B, com pI 3,83. O resíduo prolina também aparece em alguns

segmentos, como é o caso do fragmento 113 – 128 da β-caseína com pI 9,53.

(KRUGER et al., 2005). Embora estas seqüências não possuam atividade

antimicrobiana descrita, atendem parcialmente às características dos peptídeos

antimicrobianos citados por MALKOSKI et al., 2001. Dentre os peptídeos obtidos

também está o fragmento 128 – 137 da κ-caseína no CPP-B, semelhante à

casoplatelina (f 127 – 137) e com provável ação antimicrobiana (RIZZELLO et al.,

2005).

5.3 AVALIAÇÃO DA AÇÃO DOS CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS NA RESPOSTA IMUNE

5.3.1 Imunidade Inespecífica

5.3.1.1 Índice de Fagocitose

Os macrófagos desempenham um papel fundamental no reconhecimento,

internalização e degradação de substâncias estranhas. Possuem receptores de

96

superfície, que reconhecem os componentes moleculares comuns a muitos patógenos

bacterianos. O processo fagocítico é benéfico ao organismo na defesa contra

constituintes microbianos, mas também pode contribuir para a patogênese de algumas

doenças inflamatórias (CARVALHO et al., 2000).

A Figura 26 apresenta os resultados obtidos na ativação dos macrófagos

peritoneais pelo “zimosan”. Os animais que receberam a suplementação de CPP-A e

CPP-B não diferiram do controle. O índice de fagocitose do grupo CPP-C se apresentou

significativamente menor do que o controle (p = 0,01178), sendo que os demais

peptídeos não diferiram entre si.

A utilização de partículas de “zimosan” demonstrou que os peptídeos CPP-A e

CPP-B não alteram a atividade dos macrófagos na capacidade de promover a

fagocitose. O CPP-C induziu a uma diminuição da capacidade fagocítica, sugerindo uma

possível interferência na eliminação de patógenos bacterianos ou virais.

FIGURA 27 - FAGOCITOSE DE ZIMOSAN PELOS MACRÓFAGOS

PERITONEAIS DOS RATOS

Índi

ce d

e Fa

goci

tose

,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

2,8

3,0

controle CPP-A CPP-B C

*

NOTAS: Grupos controle ou com suplementação de peptídeos (CPP-A, um período de 22 dias. Índice de fagocitose expresso em absorbância/2dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n de teste de Tukey para comparação das médias: * p< 0,05 versus Controle

PP-C

1

CPP-B e CPP-C) por x105 células/poço. Os = 5). ANOVA, seguida .

97

5.3.1.2 Produção de superóxido

A produção de superóxido não apresentou diferença entre os grupos

(p=0,059855). Ao se observar a Figura 28, verifica-se que os animais alimentados com o

CPP-C apresentaram valores mais elevados na produção deste radical tóxico e que

aqueles animais alimentados com o CPP-B apresentaram os menores valores.

Embora a produção de superóxido e peróxido de hidrogênio pelos macrófagos

dos animais não tenha sido superior ao controle, os dados obtidos indicam que os

peptídeos avaliados não alteraram a imunidade inata.

FIGURA 28 - PRODUÇÃO DE ÂNION SUPERÓXIDO (O2-) PELOS

MACRÓFAGOS PERITONEAIS DOS RATOS

Prod

ução

de

Supe

róxi

do

0,74

0,80

0,86

0,92

0,98

1,04

1,10

controle CPP-A CPP-B CPP-C

NOTAS: Grupos controle ou com suplementação de peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C) por um período de 22 dias. Produção de ânion superóxido expressa em absorbância/2x105 células/poço. Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 5). ANOVA, p< 0,05.

98

5.3.1.3 Produção de peróxido de hidrogênio

Quase imediatamente após um patógeno ser englobado por um macrófago

ativado, uma bateria de enzimas degradativas e outras substâncias tóxicas são

produzidas. Oxidases geram radicais tóxicos do oxigênio e de peróxido de hidrogênio.

A produção de peróxido de hidrogênio pelos macrófagos peritoneais não

apresentou diferença entre o controle e os peptídeos testados (p = 0,388661), conforme

Figura 29.

FIGURA 29 - PRODUÇÃO DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO PELOS

MACRÓFAGOS PERITONEAIS DOS RATOS

Pro

duçã

o de

Per

óxid

o de

Hid

rogê

nio

0,00

0,06

0,12

0,18

0,24

0,30

0,36

controle CPP-A CPP-B CPP-C

NOTAS: Grupos controle ou com suplementação de peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C) por um período de 22 dias. Produção de peróxido de hidrogênio expressa em absorbância/2x105 células/poço. Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 5). ANOVA, p< 0,05.

99

5.3.1.4 Avaliação do Volume do Lisossoma

O volume do lisossoma dos macrófagos derivados de ratos alimentados com os

peptídeos foi significativamente menor do que o controle (p = 0,001024), conforme

dados apresentados na Figura 30.

Dentre os peptídeos, o CPP-C pode ser caracterizado como um peptídeo que

apresentou um índice de fagocitose inferior aos demais e com baixa capacidade

lisossomal. Esses resultados sugerem que o grupo de animais que recebeu esta

suplementação pode vir a apresentar interferências nos processos de defesa relativos à

fagocitose, com possível efeito supressor na imunidade inata.

FIGURA 30 - VOLUME LISOSSOMAL DOS MACRÓFAGOS PERITONEAIS DOS RATOS

Vol

ume

lisos

som

al

0,00

0,04

0,08

0,12

0,16

0,20

controle C

* *

NOTAS: Grupos controle ou com suplepor um período de 22 dias. Volucélulas/poço. Os dados apresentados(n = 5). ANOVA, seguida de teste deversus Controle.

PP-A CP

mentação de pepme lisossomal e

se referem às mé Tukey para com

P-B C

*

tídeos (CPP-A,xpresso em adias ± desvio pparação das m

PP-C

CPP-B e CPP-C) bsorbância/2x105 adrões da média édias: * p< 0,05

100

5.3.2 Sepse Induzida

Antes do início dos Experimentos 1 e 2, os animais foram submetidos a punção

intracardíaca para realização de leucograma. Os dados apresentados na Figura 31 se

referem à contagem diferencial das células leucocitárias. Os valores encontrados estão

dentro dos padrões de normalidade, de acordo com HARKNESS e WAGNER (1993).

Os autores apontam os seguintes valores hematológicos para ratos: leucócitos totais, 6

a 17 x103/mm3; neutrófilos, 9 a 34%; linfócitos 65 a 85%; eosinófilos, 0 a 6%;

monócitos, 0 a 5%; basófilos, 0 a 1,5%; plaquetas, 500 a 1300 x103/mm3.

FIGURA 31 - CONTAGEM DIFERENCIAL DAS CÉLULAS LEUCOCITÁRIAS

ANTES DA INTRODUÇÃO DAS DIETAS (TEMPO = 0)

%

0

20

40

60

80

100

Eosinófilos Bastonetes Segmentados Linfócitos Monócitos Basófilos

NOTAS: Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média.

101

5.3.2.1 Experimento 1: Administração Intraperitoneal de LPS Após Dieta Via Oral

de CPP

A Tabela 11 apresenta a comparação entre o ganho de peso dos ratos que

receberam a dieta controle e as dietas com adição de CPP. Os pesos finais dos grupos

com adição de CPP-B foram mais elevados, porém sem diferença estatística. Houve

homogeneidade entre as variâncias para ganho de peso, comprovada pelo teste de

Levene (p = 0,44928). OTANI et al. (2000) forneceram caseinofosfopeptídeo (CPP-III) a

camundongos, não encontrando diferenças significativas entre o ganho de peso de

dietas acrescidas de CPP-III (0,1 a 1g CPP por 100g de dieta) e dietas controle.

TABELA 11 - PESO DOS RATOS ALIMENTADOS COM DIETA CONTROLE OU DIETA

ADICIONADA DE CPP, POR UM PERÍODO DE 22 DIAS

DIETA

PESO CORPÓREO (g)

INÍCIO Dieta controle 198.58±9.79 Adição de CPP-A 203.5±20.10 Adição de CPP-B 201.25±12.05 Adição de CPP-C 202.92±13.17 FINAL Dieta controle 291.32±13.14 Adição de CPP-A 295.21±17.33 Adição de CPP-B 302.05±17.33 Adição de CPP-C 289.51±14.72 NOTAS: Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 12 animais por grupo). ANOVA: p< 0,05

Os animais receberam uma dose de 5 mg/kg de LPS, que induz a uma alta taxa

de mortalidade. A sobrevivência foi de 100% para os grupos controle, CPP-A e CPP-C

e de 83% para o grupo CPP-B, num período de 6 horas.

Após 90 minutos de injeção intraperitoneal de endotoxina, a IL-6 já pode ser

detectada no plasma, mesmo em baixas doses de LPS (5µg/kg) (LENCZOWSKI et al.,

1997). Baixas doses de LPS (10 ou 100µg/kg) induzem à elevação de citocinas pró-

inflamatórias, porém não geram disfunções hepáticas. É necessário uma dose de

1mg/kg de LPS para induzir alterações na função normal do fígado (BENO et al., 2001).

102

GIACOMMETI et al. (2004) e GHISELLI et al. (2004) administraram 1 mg/kg de LPS a

ratos não tendo observado letalidade após um período de 72 horas. WISCHMEYER et

al. (2001) induziram a sepse em ratos pela aplicação de 5mg/kg de LPS via

intravenosa. Os ratos do grupo controle apresentaram uma taxa de 33% de

sobrevivência em 48 horas. RYAN et al. (1992) administraram dose de 20mg/kg de LPS

intraperitoneal a ratos e observaram um índice de letalidade de 71,4% num período de

24 horas.

A IL-6 participa, principalmente, da indução da febre e da produção de proteínas

de fase aguda pelo fígado. Essa citocina é a que apresenta melhor correlação com a

mortalidade, em modelos experimentais e em pacientes com sepse (BENJAMIM, 2001).

A IL-6 não foi detectada nos grupos que não receberam a administração

intraperitoneal de LPS, mas o estímulo por LPS elevou a concentração da citocina no

plasma dos animais que receberam indução da sepse. A Figura 32 apresenta os níveis

de IL-6 obtidos no Experimento 1.

FIGURA 32 – EFEITO DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEOS SOBRE NÍVEIS PLASMÁTICOS DE IL-6 APÓS ESTÍMULO COM LPS

IL-6

(pg/

mL)

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

controle C

NOTAS: IL-6, interleucina 6. Níveiintraperitoneal de LPS (controle) ou Lapresentados se referem às médias ±ANOVA, seguida de teste de Tukey pa

*

PP-A CPP-B CPP-C

s plasmáticos de IL-6 após 6 horas da injeção PS + peptídeos (CPP-A, CPP-B E CPP-C). Os dados desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). ra comparação das médias: * p< 0,05 versus Controle.

103

Houve homogeneidade entre as variâncias para níveis de IL-6, comprovada pelo

teste de Levene (p = 0,275211). O grupo que recebeu CPP-B aparentemente

apresentou um efeito imunomodulador, porém a IL-6 não foi significativamente

reduzida. Os valores são estatisticamente inferiores para o CPP-A.

O CPP-C não apresentou efeito redutor significativo nas concentrações de IL-6.

Este produto tinha como um de seus diferenciais o acréscimo de zinco à formulação.

Sabe-se que o zinco é um mineral importante em vários processos metabólicos, sendo

essencial para a atividade de mais de 300 enzimas. Possui também um papel

fundamental na manutenção da estabilidade e permeabilidade das membranas

celulares. A deficiência de zinco pode se expressar na involução do timo, depleção de

timócitos, redução na atividade proliferativa dos linfócitos T periféricos, resposta

humoral a antígenos e atividade de células NK (natural killer). As funções imunológicas

que se apresentam diminuídas, tanto em humanos como em animais experimentais

submetidos a dietas com teores insuficientes do mineral, podem ser corrigidas por sua

suplementação (OBMINSKA-DOMORADZKA; SZCZYPKA; DEBOWYJ, 2002).

Entretanto, CHANG et al. (2006) verificaram que concentrações fisiológicas de zinco em

células mononucleares de sangue periférico humano obtidas de indivíduos sadios não

apresentam funções imunológicas ou biológicas, mas concentrações farmacológicas

consideradas máximas (100µM) ou valores superiores alteraram ambas as funções.

Concentrações superiores a 100µM reduziram a viabilidade celular e a partir de 100µM

a expressão de citocinas foi aumentada. A concentração de IL-6 foi aumentada de

50,9±8,9pg/mL sem adição do mineral ou em dose fisiológica de 30µM para

356±23,6pg/mL a 100µM e 701±66,5 a 300µM. Os autores também avaliaram a indução

da apoptose por eletroforese de fragmentação do DNA e citometria de fluxo, tendo

verificado que o mineral induz a morte celular programada. Após 24 horas de

tratamento, o percentual de células apoptóticas se elevou de 11,6% a 30µM de Zn2+

para 23,19% a 100µM e 95,2% a 1000µM.

Em dietas destinadas a ratos, existem algumas variações nos valores apontados

pela literatura para a administração de zinco. São consideradas dietas deficientes,

aquelas contendo 0,8 a 5mg/kg de peso corpóreo; dietas adequadas ou suficientes

104

contêm de 25 a 40mg/kg. Em suplementação, os valores variam de 54 a 155mg/kg. As

concentrações fisiológicas variam de 6,25 a 50µM, sendo que doses acima de 100µM

induzem a apoptose (KAGANDA; TATSUHIRO; HIROO, 2003; PASKI et al., 2003;

ROTH, 2003). O CPP-C foi adicionado à dieta dos animais em valores de

0,14g/rato/dia, o que corresponde a uma concentração de 86,8µM de zinco. Esta

concentração está acima dos valores fisiológicos, podendo ser considerada como uma

dose farmacológica, que pode ter estimulado a elevação dos níveis de IL-6 (CHANG et

al., 2006), comparativamente aos resultados obtidos pelos demais

caseinofosfopeptídeos.

O leucograma dos animais submetidos à administração de LPS indica alterações

hematológicas, com redução na contagem de leucócitos (25% dos valores normais),

linfócitos (45% dos valores normais) e plaquetas (31% da normalidade). A contagem de

neutrófilos foi aumentada em 282% em relação aos valores normais.

Os valores obtidos na contagem de leucócitos estão demonstrados na Figura 33.

FIGURA 33 - CONTAGEM DE LEUCÓCITOS

Leuc

ócito

s (K

/uL)

0

1

2

3

4

5

6

CONTROLE CPP-A CPP-B CPP-C

NOTAS: Contagem de leucócitos em K/µL após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C). Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). Kruskal-Wallis. p< 0,05.

105

Na avaliação deste parâmetro foi realizada estatística não paramétrica, pois os

grupos não apresentaram homogeneidade nas variâncias. Não houve diferença

significativa entre os grupos na contagem de leucócitos (p = 0,5398) com teste de

Kruskal-Wallis.

KITAJIMA et al. (1995) avaliaram a relação entre o tratamento com LPS (1 mg/kg

de peso corpóreo) e as alterações hematológicas de ratos. Verificaram um decréscimo

tempo-dependente dos leucócitos (80% do controle), linfócitos (40% do controle) e

plaquetas (35% do controle) e um aumento nos neutrófilos (330% do controle) e

monócitos (650% do controle).

A administração de endotoxina causa um decréscimo na contagem de

leucócitos, seguida de significativa neutrofilia (FIJEN et al., 2000). Dentre as

manifestações hematológicas também pode ocorrer leucocitose, sendo que o

prognóstico da leucopenia é pior do que da leucocitose (PEREIRA et al. 1998).

A contagem de neutrófilos (Figura 34), realizada pela soma das contagens

diferenciais de bastonetes e segmentados, apresentou homogeneidade nas

variâncias, segundo teste de Levene (p = 0,421301) e a ANOVA não registrou

diferença significativa entre os grupos (p = 0,804072). Embora sem diferença

estatística, o grupo CPP-B apresentou os menores resultados. Um achado constante

nas contagens diferenciais foi o desvio nuclear à esquerda, indicando um aumento no

número de neutrófilos bastonetes e caracterizando um quadro de infecção aguda.

Esse achado se apresentou em todos os grupos estudados.

Um achado comum na endotoxemia é o aumento no número de bastonetes (>

10%) com linfopenia (PEREIRA et al. 1998).

Em todos os grupos estudados se verificou um aumento importante na contagem

de neutrófilos, o que indica que a dose de 5 mg/kg de LPS administrada aos animais

conduz a um quadro infeccioso agudo. Os peptídeos não influíram nesse achado

hematológico.

106

FIGURA 34 - CONTAGEM DE NEUTRÓFILOS

N

eutró

filos

(%)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

CONTROLE CPP-A CPP-B CPP-C

NOTAS: Contagem de neutrófilos em %, correspondente a soma das contagens diferenciais de segmentados e bastonetes após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C). Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). ANOVA, p< 0,05.

A Figura 35 apresenta os resultados obtidos na análise de linfócitos. O teste de

Levene para linfócitos demonstrou homogeneidade nas variâncias (p = 0,636841) e,

segundo a análise de variâncias, não houve diferença significativa entre os grupos.

Todos os grupos demonstraram um comportamento semelhante com redução de

aproximadamente 45% dos valores obtidos no início do experimento, sendo que os

peptídeos não influíram nestes resultados. O grupos CPP-A e CPP-B apresentaram

redução de 38% e 36% dos linfócitos encontrados nos animais no início do

experimento, indicando uma redução não significativa, porém expressiva.

107

FIGURA 35 - CONTAGEM DE LINFÓCITOS

Linf

ócito

s (%

)

0

10

20

30

40

50

60

70

CONTROLE CPP-A CPP-B CPP-C

NOTAS: Contagem de linfócitos em %, após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C). Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). ANOVA, p< 0,05.

Os valores obtidos na contagem de plaquetas foram homogêneos (Levene, p =

0,194727) e sem diferença significativa na ANOVA (p = 0,080607), conforme se verifica

na Figura 36.

Mesmo com o quadro clínico de um paciente com disfunção de múltiplos órgãos

resolvido, a plaquetopenia pode persistir, retornando aos valores normais apenas três

ou quatro semanas após o início do quadro (PEREIRA et al. 1998).

Alguns autores descrevem a avaliação do escore de gravidade do paciente com

disfunção de múltiplos órgãos pela pontuação de sinais orgânicos e achados

bioquímicos e hematológicos, sendo que a contagem de plaquetas é um dos

indicadores da gravidade do quadro e sua redução é utilizada no prognóstico da doença

(LE GALL et al., 1996).

Embora os valores não tenham diferido entre os grupos, se observou que no

grupo CPP-B a contagem de plaquetas apresentou valores mais elevados, o que pode

indicar uma tendência de proteção do processo inflamatório pela administração do

peptídeo.

108

FIGURA 36 - CONTAGEM DE PLAQUETAS

P

laqu

etas

(K/u

L)

0

75

150

225

300

375

450

525

CONTROLE CPP-A CPP-B CPP-C

NOTAS: Contagem de leucócitos em K/µL após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + peptídeos (CPP-A, CPP-B e CPP-C).Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). ANOVA, p< 0,05.

Devido às injúrias que afetam os pulmões na endotoxemia, este órgão foi

selecionado para avaliação histopatológica. A endotoxina age nos pulmões causando

alterações estruturais na microcirculação, induzindo a destruição da barreira sangüínea,

edema alveolar e intersticial. Essas alterações iniciam o processo de infiltração de

neutrófilos e macrófagos e a hemorragia alveolar. A liberação de citocinas pró-

inflamatórias, mediadores reativos do oxigênio e metabólitos do ácido araquidônico

também contribuem na patofisiologia da injúria pulmonar (KOKSEL et al., 2005).

Os valores histológicos médios para os grupos estão apresentados na Tabela 12.

Como não houve homogeneidade nas variâncias, foi realizada a análise não-

paramétrica dos dados. No teste de Kruskal-Wallis não foram encontradas diferenças

entre os grupos (p=0,6003). Contudo, houve prevalência dos seguintes sinais:

infiltração leucocitária, congestão, edema alveolar, hemorragia e colapso alveolar. As

microfotografias, apresentadas nas Figuras 37 a 40, demonstram alguns destes

109

achados. Na Figura 37 evidencia-se a congestão pela presença de aglomerados

celulares. O edema está demonstrado na vacuolização do parênquima pulmonar

(Figura 38). Na Figura 39 é possível a observação de hemácias no parênquima,

caracterizando a presença de hemorragia alveolar. A figura 40 registra a presença de

neutrófilos, com infiltração neutrofílica.

TABELA 12 - VALORES HISTOLÓGICOS MÉDIOS PARA OS GRUPOS CONTROLE,

CPP-A, CPP-B E CPP-C

Grupo Leucócitos Congestão Necrose

PerivascularFibrose Septal

Edema alveolar

Hemorragia alveolar

Colapso alveolar

Controle 1,5 1,2 0 0,0 0,3 1,2 1,0CPP-A 1,5 2 0 0,0 1,0 1,5 1,2CPP-B 1,2 1,5 0 0,2 0,7 1,0 1,2CPP-C 1,4 1,2 0 0 0,6 1,2 0,8Quantificação: 0, ausente; 1, discreto; 2, moderado; 3, intenso. Os dados apresentados se referem às médias (n = 6 animais por grupo). Kruskal-Wallis: p< 0,05.

FIGURA 37 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A PRESENÇA DE CONGESTÃO

NOTAS: Pulmões dos animais removidos após 6 horas da administração intraperitoneal de LPS; fixados em tampão formalina-fosfato e embebidos em parafina. Cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina. Microscopia com aumento de 400x.

110

FIGURA 38 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A PRESENÇA DE EDEMA

NOTAS: Pulmões dos animais removidos após 6 horas da administração intraperitoneal de LPS; fixados em tampão formalina-fosfato e embebidos em parafina. Cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina. Microscopia com aumento de 200x.

111

FIGURA 39 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A

PRESENÇA DE HEMORRAGIA ALVEOLAR

NOTAS: Pulmões dos animais removidos após 6 horas da administração intraperitoneal de LPS; fixados em tampão formalina-fosfato e embebidos em parafina. Cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina. Microscopia com aumento de 200x.

112

FIGURA 40 - ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE PULMÃO DE RATOS, DEMONSTRANDO A PRESENÇA DE INFILTRAÇÃO NEUTROFÍLICA

NOTAS: Pulmões dos animais removidos após 6 horas da administração intraperitoneal de LPS; fixados em tampão formalina-fosfato e embebidos em parafina. Cortes histológicos corados com hematoxilina e eosina. Microscopia com aumento de 400x.

113

5.3.2.2 Experimento 2: Injeção Intraperitoneal de LPS Após Administração

Intraperitoneal de CPP.

No Experimento 2, verificou-se o efeito protetor dos peptídeos num modelo de

choque tóxico por LPS. Uma dose de 5mg/kg de LPS foi administrada concomitante à

administração de CPP-A (0,75g/kg). A sobrevivência dos ratos foi avaliada num período

de 6 horas, sendo de 100% tanto nos ratos controle como nos animais que receberam o

CPP-A. Os ratos submetidos ao choque apresentaram blefarite sanguinolenta, assim

como prostração. Não houve diferença desses sinais entre os que receberam o CPP e

os que não receberam. Os animais que receberam o peptídeo via intraperitoneal

tiveram uma redução significativa na produção de IL-6 (Figura 41).

FIGURA 41 - EFEITO DE CASEINOFOSFOPEPTÍDEO (CPP-A) ADMINISTRADO

INTRAPERITONEALMENTE (IP) SOBRE NÍVEIS PLASMÁTICOS DE IL-6 APÓS ESTÍMULO COM LPS

IL-6

(pg/

mL)

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

CONTROLE C

*

NOTAS: Os dados apresentados se referem às médias(n=6 animais por grupo). Teste T de Student. * p< 0,05 ve

PP-A IP

± desvio padrões da média rsus Controle.

114

WISCHMEYER et al. (2001) administraram doses de glutamina de 0,15 a 0,75

g/kg a ratos submetidos à indução de choque séptico pela injeção intravenosa de LPS

(5mg/kg). Os autores confirmaram o papel protetor da glutamina contra as injúrias

geradas pela endotoxemia, sendo que o mecanismo de proteção envolve a expressão

de proteínas de choque térmico (HSP, heat shock proteins). Elevações na expressão

das HSP se associam a reduções na liberação de citocinas pró-inflamatórias. Além

disso, verificaram que a glutamina é capaz de conferir maior proteção quando

administrada no início da sepsis do que como um pré-tratamento.

O CPP-A foi o peptídeo selecionado para o Experimento 2, pois foi aquele que

gerou uma redução significativa na expressão de IL-6, após sua inclusão na dieta por

um período de 22 dias. Entretanto, os resultados obtidos na liberação de IL-6, por esse

peptídeo, quando administrado no início da sepsis foram inferiores aos resultados para

o mesmo peptídeo no Experimento 1, assemelhando-se ao papel terapêutico da

glutamina.

A avaliação do leucograma dos animais submetidos ao Experimento 2 indica

alterações hematológicas, com redução na contagem de leucócitos (70% dos valores

normais), linfócitos (28% dos valores normais) e plaquetas (55% da normalidade). A

contagem de neutrófilos foi aumentada em 347% em relação ao tempo 0 do

experimento. Os valores obtidos estão demonstrados nas Figuras 42 a 45. A análise

estatística foi realizada pelo teste T de Student, sendo que não houve diferença

significativa entre os grupos na contagem de leucócitos (p = 0,56047). Embora não se

apresente diferença significativa, os valores de leucócitos para o grupo CPP-A IP se

apresentam bem superiores e próximos dos valores normais, com redução de 30%

contra uma redução de 70% dos animais do grupo controle, indicando um possível

efeito protetor.

115

FIGURA 42 - CONTAGEM DE LEUCÓCITOS DOS RATOS

Le

ucóc

itos

(K/u

L)

0

2

4

6

8

10

12

CONTROLE CPP-A IP

NOTAS: Contagem de leucócitos em K/µL, após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + CPP-A intraperitoneal (0,75g/kg). Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). Teste T de Student, p< 0,05.

116

A contagem de neutrófilos, realizada pela soma das contagens diferenciais de

bastonetes e segmentados, não registrou diferença significativa entre os grupos (p =

0,174026), conforme dados apresentados na Figura 43.

FIGURA 43 - CONTAGEM DE NEUTRÓFILOS DOS RATOS

Neu

trófil

os (%

)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

CONTROLE CPP-A IP

NOTAS: Contagem de neutrófilos em %, correspondente a soma das contagens diferenciais de bastonetes e segmentados, após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + CPP-A intraperitoneal (0,75g/kg). Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). Teste T de Student, p< 0,05.

117

Na contagem de linfócitos não houve diferença significativa (p = 0,139370), pelo

teste T de Student. Os valores estão representados na Figura 44. Embora não se

caracterize a diferença estatística, o grupo controle apresentou uma redução na

contagem de linfócitos de 49% dos valores obtidos no tempo zero do experimento e o

grupo que recebeu o peptídeo teve uma redução de 28%.

FIGURA 44 - CONTAGEM DE LINFÓCITOS DOS RATOS

Linf

ócito

s (%

)

0

10

20

30

40

50

60

70

CONTROLE CPP-A IP

NOTAS: Contagem de linfócitos em %, após 6 horas da injeção intraperitoneal de LPS (controle) ou LPS + CPP-A intraperitoneal (0,75g/kg). Os dados apresentados se referem às médias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). Teste T de Student, p< 0,05.

118

A contagem de plaquetas apresentou diferença significativa entre o grupo

controle e o grupo CPP-A (p = 0,015088), conforme Figura 45, indicando um provável

papel protetor do peptídeo.

FIGURA 45 - CONTAGEM DE PLAQUETAS DOS RATOS

Plaq

ueta

s (K

/uL)

0

150

300

450

600

CONTROLE CPP-A IP

*

NOTAS: Contagem de plaquetas em K/µL, após 6 horas da injeç(controle) ou LPS + CPP-A intraperitoneal (0,75g/kg). Os dados apmédias ± desvio padrões da média (n = 6 animais por grupo). Testversus Controle (p = 0,015088).

ão intraperitoneal de LPS resentados se referem às e T de Student, * p< 0,05

119

6 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos e apresentados neste trabalho permitem concluir que:

1. É possível a obtenção de misturas de peptídeos fosforilados pela utilização dos

métodos preconizados na literatura.

2. Os peptídeos apresentaram percentuais relativamente elevados de solubilidade,

indicando baixa desnaturação nos processos de obtenção, com conseqüente

manutenção das propriedades fisiológicas. O perfil aminoacídico apresentado indica

que não foram observadas perdas elevadas de aminoácidos nos peptídeos. A análise

dos espectros e o seqüenciamento posterior indicam a obtenção de três produtos que

se caracterizam como uma mistura de peptídeos derivados da hidrólise das caseínas

αS1, αS2, β e κ. A correlação entre os dados de composição química, análise de

aminoácidos e técnicas de seqüenciamento empregadas denota a necessidade da

otimização da metodologia de MALDI-TOF-MS para peptídeos fosforilados.

3. Os três produtos apresentaram diferentes graus de atividade antimicrobiana, sendo

que a presença do zinco no produto CPP-C sugere que o íon desempenhou um papel

fundamental na redução do crescimento microbiano.

4. Os peptídeos CPP-A e CPP-B não alteraram a resposta normal dos macrófagos,

indicando que sua administração não prejudica a resposta imune inata. Num modelo

experimental de endotoxemia, os níveis da interleucina 6 se apresentaram diminuídos,

pela administração do CPP-A via oral ou intraperitoneal, sugerindo que este peptídeo

possui um papel imunomodulador pela redução no processo inflamatório dos animais.

Os resultados obtidos neste trabalho são inovadores, sugerem que estes

peptídeos apresentam bioatividade e apontam novas perspectivas para o emprego de

caseinofosfopeptídeos em alimentos.

A comprovação da ausência de respostas citotóxicas pelos CPP-A e CPP-B,

bem como seu potencial efeito protetor da saúde pode ser visto como uma contribuição

120

importante na formulação de novos alimentos e na alegação de propriedade funcional

ou de saúde em rótulos de alimentos.

121

CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como objetivo a obtenção, caracterização e avaliação da

atividade biológica de caseinofosfopeptídeos de leite bovino. Pode-se verificar que a

distribuição dos peptídeos e conseqüente atividade biológica foram afetadas pela forma

de obtenção do CPP. Conhecimento adicional da forma de atuação das seqüências

verificadas em cada CPP poderia ser obtido com o isolamento destas frações e

posterior avaliação da atividade. Para exemplificar: uma seqüencia similar a do

peptídeo casoplatelina foi detectada neste trabalho, e segundo a literatura apresenta

atividade antimicrobiana. Com o isolamento destas frações seria possível estudar o

mecanismo da propriedade fisiológica. Esta seria uma proposta de caráter acadêmico e

poderia colaborar no conhecimento da relação estrutura-função de peptídeos bioativos.

Do ponto de vista do agronegócio, a otimização da metodologia de obtenção de CPP,

fisiologicamente ativo, e isento de toxicidade, poderia contribuir para agregação de

valor aos produtos lácteos e para a segurança alimentar.

122

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