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COBRANÇA DE TAXA DE SEGURANÇA PREVENTIVA - IMPOSSIBILIDADE - Cel. PM ref. Wilson Odirley Valla 1. INTRODUÇÃO Pela Lei Estadual n.º 10.236, de 28 de dezembro de 1992, foi instituída a TAXA DE SEGURAN- ÇA PREVENTIVA (TSP) com a finalidade de viabilizar recursos financeiros para o Fundo de Modernização da Polícia Militar (FUMPM), além de adotar outras providências relacionadas com a iniciativa. Lamentavelmente, se por um lado, o Estado do Paraná operou uma verdadeira revolução na doutrina de segurança pública, ao fazer desta uma fonte de renda para os seus cofres, por outro lado, vem provocando conflitos e ameaças à imagem de sua administração, aliás, modelo em muitas iniciativas e projetos na área pública e, em particular, na de segurança pública. A gravidade da infausta inovação consiste em onerar um serviço público essencial cujo monopólio estatal deve ser canalizado para a defe- sa do Estado e das instituições democráticas, como condição fundamental para atingir-se o bem comum, contrariando normas expressas da Constituição Federal, do Código Tributário Nacional, de decisões já proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, além de outros dispositivos do ordenamento jurídico vigente, mediante a instituição de taxa. Para tanto, com vista ao desenvolvimento desta análise, é importante destacarmos os aspec- tos principais da referida Lei, no que se refere, exclusivamente, à Taxa de Segurança Preventiva (TSP): Art. 1º Fica instituída a Taxa de Segurança Preventiva (TSP), com base no inciso II do Art. 145 da Constituição Federal e inciso II do artigo 129 da Constituição Esta- dual. Art. 2º A Taxa de Segurança Preventiva (TSP) tem como fato gerador a utilização pelo contribuinte, de serviço específico e divisível prestado pelos órgãos da admi- nistração Policial Militar ou a colocação desse serviço à disposição do contribuin- te cujas atividades exigem do Poder Público Estadual Vigilância, visando a preser- vação da segurança e da ordem pública. Art. 3º Contribuinte da Taxa de Segurança Preventiva é toda pessoa física ou jurí- dica que solicitar a prestação do serviço público ou a prática do ato decorrente da atividade do poder de polícia, ou ainda quem for o beneficiário direto do serviço ou ato. Parágrafo Único. A Taxa de Segurança Preventiva é devida de forma anual, mensal ou unitária de acordo com a natureza do ato, serviço ou evento, ou ainda em função do potencial de risco a que estão expostas as atividades dos solicitantes dos serviços policiais-militares. Art.4º................................................................................................................. Art. 12 - A TSP somente será devolvida, após paga na forma legal, se for recusada a prestação do serviço ou a prática do ato pretendido pelo contri- buinte.

COBRAN A DE TAXA DE SEGURAN A PREVENTIVA 2) · COBRANÇA DE TAXA DE SEGURANÇA PREVENTIVA - IMPOSSIBILIDADE - Cel. PM ref. Wilson Odirley Valla 1. INTRODUÇÃO ... na de segurança

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COBRANÇA DE TAXA DE SEGURANÇA PREVENTIVA - IMPOSSIBILIDADE -

Cel. PM ref. Wilson Odirley Valla

11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Pela Lei Estadual n.º 10.236, de 28 de dezembro de 1992, foi instituída a TAXA DE SEGURAN-ÇA PREVENTIVA (TSP) com a finalidade de viabilizar recursos financeiros para o Fundo de Modernização da Polícia Militar (FUMPM), além de adotar outras providências relacionadas com a iniciativa.

Lamentavelmente, se por um lado, o Estado do Paraná operou uma verdadeira revolução na doutrina de segurança pública, ao fazer desta uma fonte de renda para os seus cofres, por outro lado, vem provocando conflitos e ameaças à imagem de sua administração, aliás, modelo em muitas iniciativas e projetos na área pública e, em particular, na de segurança pública. A gravidade da infausta inovação consiste em onerar um serviço público essencial cujo monopólio estatal deve ser canalizado para a defe-sa do Estado e das instituições democráticas, como condição fundamental para atingir-se o bem comum, contrariando normas expressas da Constituição Federal, do Código Tributário Nacional, de decisões já proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, além de outros dispositivos do ordenamento jurídico vigente, mediante a instituição de taxa.

Para tanto, com vista ao desenvolvimento desta análise, é importante destacarmos os aspec-tos principais da referida Lei, no que se refere, exclusivamente, à Taxa de Segurança Preventiva (TSP):

Art. 1º Fica instituída a Taxa de Segurança Preventiva (TSP), com base no inciso II do Art. 145 da Constituição Federal e inciso II do artigo 129 da Constituição Esta-dual. Art. 2º A Taxa de Segurança Preventiva (TSP) tem como fato gerador a utilização pelo contribuinte, de serviço específico e divisível prestado pelos órgãos da admi-nistração Policial Militar ou a colocação desse serviço à disposição do contribuin-te cujas atividades exigem do Poder Público Estadual Vigilância, visando a preser-vação da segurança e da ordem pública. Art. 3º Contribuinte da Taxa de Segurança Preventiva é toda pessoa física ou jurí-dica que solicitar a prestação do serviço público ou a prática do ato decorrente da atividade do poder de polícia, ou ainda quem for o beneficiário direto do serviço ou ato. Parágrafo Único. A Taxa de Segurança Preventiva é devida de forma anual, mensal ou unitária de acordo com a natureza do ato, serviço ou evento, ou ainda em função do potencial de risco a que estão expostas as atividades dos solicitantes dos serviços policiais-militares. Art.4º................................................................................................................. Art. 12 - A TSP somente será devolvida, após paga na forma legal, se for recusada a prestação do serviço ou a prática do ato pretendido pelo contri-buinte.

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Os demais dispositivos da lei, exceto aqueles referentes ao FUMPM, tratam de alíquotas, épo-cas, fiscalização, procedimentos administrativos para apuração de infração, multas, etc., referentes à cobrança da TSP, repletos de improcedências, se consideradas as peculiaridades das missões das polí-cias militares.

Pelo Anexo à Lei 10.236, - TABELA PARA CÁLCULO DA TSP - estão especificados os serviços operacionais e os atos de serviços administrativos da Corporação, sujeitos ao pagamento do referido tributo, enumerados pela ordem:

1.Atos relativos ao Serviço operacional em geral, tendo como parâmetros o homem/hora e homem/mês. 1.1. Serviços relativos, a segurança preventiva por homem/hora. 1.1.1. Segurança Física de Estabelecimentos Bancários da Administração direta e indireta do Estado, Fundações, Autarquias, Prestadores de Serviços, Indústria e Comércio. 1.1.2. Segurança Preventiva a Eventos Esportivos e de Lazer (Futebol, Shows, Exposições, Feiras, Rodeios, Circos, Parques de Diversões e outros similares) COM COBRANÇA DE INGRESSO. 1.2. Prevenção com equipamentos de alarmes, rastreamento ou similares. 2.Atos/Serviços Prestados pela Administração Policial-Militar 2. 1. Certidões diversas, por folha. 2. 2. Cópias (xérox) autenticadas por folha. 2. 3. Atestados diversos. 2.4. Diárias/Permanência de veículos apreendidos, nas unidades policiais-militares, após notificado o proprietário. 2. 5 Inscrição em Cursos de Formação, por aluno. 2. 6. Inscrição em Curso de Atualização, Treinamento e Preparo de Público Externo. 2. 7. Exame Psicotécnico. 2. 8. Expedição de Certificados e Documentos Diversos ao Público Externo. 2. 9. Fotografias.

A propósito, tomando como referência o conceito da TSP e das respectivas especificações dos fatos geradores, até para o leigo na matéria em destaque, ou mesmo, para o profissional de polícia menos informado, indubitavelmente, salta às vistas de que a iniciativa é questionável, não apenas sob o ponto de vista da legalidade tributária e da doutrina de emprego da força policial, sobretudo, da própria atuação deontológica da Corporação.

Percebemos que o legislador estadual, notadamente, levado a basear-se em pressupostos equivocados, além de infeliz na abordagem do fato posto em ordem, distorceu conceitos doutrinários a respeito das missões das polícias militares e do dever abstrato do Estado para com a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas, do patrimônio e do meio ambiente.

Objetivamos, na abordagem desta análise, não apenas nos determos nos aspectos antijurídi-cos da TSP, como também, suas conseqüências indesejáveis na doutrina de emprego das polícias milita-res, nada tendo a obstar quanto às outras receitas do (FUMPM), aliás, fundamentais ao aporte de recursos para uma política de investimentos na Polícia Militar.

22.. RRAAZZÕÕEESS RREELLAACCIIOONNAADDAASS CCOOMM AA PPRROOBBLLEEMMÁÁTTIICCAA DDAA ((TTSSPP))

Esta iniciativa, um misto de baixo teor jurídico com elevado apetite de receita, criada ao arrepio de todos os princípios fundamentais do instituto da taxa, concebida no governo passado, avalizada pela Assembléia Legislativa, sob as vistas encabuladas dos paranaenses, teve como elemento central a glo-riosa Polícia Militar de memoráveis tradições, sacrifícios e glórias, em prol da sociedade paranaense. E quais seriam essas razões relacionadas com a instituição da referida taxa de polícia? Destaquemos as principais, segundo o que se pode inferir:

a. O gradativo afastamento do atuar deontológico do profissional de segurança pública, em particular do policial-militar, isto é, do verdadeiro sentido da missão. Esta, além de fundamental, trans-

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cende as atividades das polícias militares na preservação da ordem e da tranqüilidade pública. Em outras palavras, no resguardo da sociedade contra as ameaças à preservação e atuações nefastas de elemen-tos da sociedade.

Ao invés, como corolário confrontamo-nos, no dia-a-dia, com as tentativas de comparações da instituição policial como se fora uma empresa qualquer, infensa aos lucros e outras vantagens. Paralela-mente a estas atitudes, vem ocorrendo a materialização e a própria vulgarização dos objetivos institucio-nais, a despeito do relevante papel social que a força tem reservado para si, em prol do bem-estar da coletividade. Daí, para as elucubrações seguintes, só dependem do aval da expressão política dominante e do consentimento da sociedade ou da omissão desta. O único lucro ou vantagem permitido à polícia é a redução da criminalidade.

b. A segunda razão, talvez, mais de raiz emocional, está relacionada aos sistemáticos e reduzidos aportes de recursos destinados à Polícia Militar pelos sucessivos governos do Estado, ao longo das últimas décadas.

Neste particular, temos constatado que as ações programáticas de governo não correspon-dem, nem em qualidade e nem em quantidade às profecias das respectivas campanhas eleitorais. Aliás, no Brasil já está consagrado o slogan de que “SEGURANÇA SÓ É PRIORIDADE EM CAMPANHAS ELEITO-RAIS”.

Em vários ensejos, já foram discutidas formas alternativas para a viabilização de mais recursos, mas apoiadas nesta iniciativa, já convertida em imperativo legal é deveras surpreendente e absurda, chegando às raias da irresponsabilidade pelo trato da coisa pública, particularmente em tão relevante e essencial ativida-de do Estado, só comparável à saúde e à educação. Mesmo porque, o Supremo Tribunal Federal, em reitera-das oportunidades, tem-se manifestado contrário à cobrança de taxas pelos serviços de policiamento na área da segurança pública.

Com referência a estes aspectos, as Nações Unidas em 1990 adotaram a resolução sobre a “prevenção da delinqüência urbana”, que foi desenvolvida no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Delito e ao Treinamento dos Delinqüentes. Das mais de trinta áreas nas quais faz-se necessária a ação policial, em nenhuma se preconizou atitude semelhante a que fora encetada por aqui. Muito pelo contrário, enfatizou-se a participação da polícia na prevenção e colaboração integral com as instituições locais que possam reduzir a delinqüência. Por outro lado, recomendou-se aos governos investir maiores recursos nas cidades e comunidades para a prevenção da delinqüência. Dali para cá, outros congressos, fóruns e conferências foram realizados no plano internacional, relacionados à criminalidade e à violência, porém, sempre recomendando maiores esforços e participações do governo, particularmente, através de recursos públicos.

c. A terceira razão, a mais controvertida, diz respeito a exigência de duplo pagamento para impulsionar a mesma atividade estatal de segurança pública. A problemática da cobrança com a duplici-dade de taxas se dá, de um lado, via a Taxa de Segurança Preventiva, cujas receitas são carreadas para o Fundo da Polícia Militar e, de outro lado, pela Taxa de Segurança, instituída pela Lei n.º 7.257, de 30 de novembro de 1979, cujas receitas são direcionadas para um Fundo da Policia Civil. Como se vê, ambas as taxas, igualadas no mesmo objetivo contraprestacional, habitando o mesmo espaço e ao mesmo tem-po, pelas mesmas finalidades de utilização. Isso caracteriza dupla desmesurada de receitas públicas.

Data vênia, como conseqüências das razões aduzidas, o que vislumbramos, à primeira vista, nos conceitos expressos nos artigos 2º e 3º, da manifesta Lei, são manipulações grosseiras de conceitos legais e doutrinários, rebaixando inclusive a Polícia Militar do Paraná a uma mera empresa de ZELADO-RIA ou de VIGILÂNCIA PÚBLICA, concorrente às empresas de vigilância privada. Isto, além de flagrante ilegalidade, é desrespeito a tão nobre Corporação, como também, desconsideração para com a socieda-de que a mantém, já sobrecarregada com pesados impostos, taxas e contribuições de toda ordem, cuja iniciativa, lamentavelmente, já está sendo adotada por diversas coirmãs de nosso País.

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33.. AA LLEEGGIISSLLAAÇÇÃÃOO EESSPPEECCÍÍFFIICCAA EE AASS AATTRRIIBBUUIIÇÇÕÕEESS DDAASS PPOOLLÍÍCCIIAASS MMIILLIITTAARREESS

Como nos ensina o ilustre mestre Diogo de Figueiredo Moreira Neto, no caso das Forças Armadas e das polícias militares dos Estados, o poder-dever de agir em conseqüência da perturbação da ordem pública, estrutura um sistema de competência que se funde no binômio intensidade e pericu-losidade da perturbação. E podemos acrescentar mais, do qual o Estado-Membro não detém o monopó-lio, nem tampouco a direção exclusiva, mas participa com certa parcela de responsabilidade e dentro de certos limites.

Este sistema de competência, continua o destacado mestre, de que fazem parte as Forças Armadas, na esfera federal, e as polícias militares, no plano estadual, decorre da própria Constituição Federal (Título V - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas) Constituições Estadual (Capítu-lo IV - Da Segurança Pública), do Decreto-Lei n.º 667, de 03 de julho de 1969 (com as alterações de seus artigos 3º e 4º definidas pelo Decreto-Lei n.º 2.010, de 12 de janeiro de 1983, referentes às missões das polícias militares) e do Decreto Federal n.º 88.777, de 30 de setembro de 1983, complementados com outros subsídios doutrinários, incluindo-se neste particular o Decreto Federal n.º 88.540, de 20 de julho de 1983, que regulamenta a convocação das polícias militares prevista no artigo 3º do Decreto-Lei n.º 667/69.

Segundo a norma constitucional superior, a Segurança Pública, no que cabe às polícias milita-res, está assim definida:

Art. 144. A Segurança Pública dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pes-soas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - .................................................................................................................................. V - policiais militares e corpos de bombeiros militares. § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas na lei, incumbe a execução das atividades de defesa civil. § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis aos gover-nadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Outrossim, convém ressaltar que a atividade de polícia ostensiva de preservação e repressão da criminalidade é exercida, não apenas em relação à segurança pública, onde estão presentes os inte-resses do cidadão e da comunidade. É exercida, da mesma forma, em razão do elevado interesse da defesa do próprio Estado, caracterizando a missão síntese das polícias militares, segundo as normas do Decreto-Lei 2.010, de 12 jan. 83, que altera o Decreto-Lei 667, de 02 jul. 69, pelas quais, reorganiza as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal e dá outras providências:

Art. 1º. Os artigos 3º, 4º, 6º e 7º do Decreto-Lei n.º 667 de 02 de julho de 1969, pas-sam a vigorar com a seguinte redação: Art. 3º. Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Policiais Militares no âmbito das respectivas jurisdições: a) executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares da Forças Arma-das, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão em locais ou áreas especí-ficas, onde se presume ser possível a perturbação da ordem; c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego das forças armadas. d) ................................................................................................................................. §1º ................................................................................................................................ §3º Durante a convocação a que se refere a letra “e” deste artigo, que não poderá exceder o prazo máximo de 1 (um) ano, a remuneração dos integrantes da Polícia

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Militar e as despesas com a sua administração continuarão a cargo do respectivo Estado-Membro.

Há que considerarmos, ainda, nesta mesma linha de raciocínio, o delineamento de expresso dis-positivo legal, pelo qual é vedada a alienação das atividades policiais militares. Com meridiana clareza o artigo 45, do Decreto Federal nº 88.777, que regulamenta o Decreto-Lei 667/69, estabelece: “A competência das Polícias Militares estabelecida no artigo 3º, alíneas “a, b e c “ do Decreto-Lei 667, de 02 de julho de 1969, na redação modificada pelo Decreto-Lei n.º 2.010, de 12 de janeiro de 1983, e na forma deste regu-lamento é intransferível, não podendo ser delegada ou objeto de acordo ou convênio”. [Grifou-se].

Pesquisando-se no Dicionário Aurélio, quanto ao significado dos termos fixados no dispositivo legal, encontramos o seguinte:

a. intransferível - que não é transferível, inalienável. Já inalienável, significa aquilo que não pode ser alienado ou vinculado;

b. convênio - convenção, ajuste, acordo, pacto, com interesse comum;

c. acordo - combinação, ajuste, pacto. Ajuste é também a liquidação de contas ou questões. Já o dicionário de tecnologia jurídica define “acordo” como, combinação, transação. E transação implica em opera-ção comercial.

Em termos constitucionais e infraconstitucionais, estes em perfeita harmonia com aqueles, tem sido tradição no Brasil, não se esgotar nos governos estaduais, a direção das atividades das polícias militares, inclusive, com relação às suas vinculações operativas na segurança pública, até para se evita-rem desvios doutrinários acerca do seu emprego. Este, por sua vez, relacionado ao Sistema de Defesa Nacional, em decorrência do papel de forças auxiliares e reservas do Exército.

Ora, não é por outra razão que, superada a capacidade de enfrentamento pelo governo esta-dual e esgotados os instrumentos próprios responsáveis pela segurança pública destinados à preserva-ção da ordem pública, caracterizando-se o quadro de grave comprometimento da ordem pública, pode ser decretada a intervenção federal (CF, Art. 34, III), inclusive com a participação das Forças Armadas. Seja dito, de passagem, que a possibilidade de emprego nesse campo, mais especificamente do Exérci-to, foi introduzida pela Lei Complementar n.º 69, de 23 de julho de 1991, que dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas, legitimando a participação des-tas, ainda na fase da segurança pública, em conformidade com o expresso no parágrafo 2º, do artigo 8º, da referida Lei Complementar:

Art.8º............................................................................................................................. §1 - .............................................................................................................................. § 2º - A atuação das Forças Armadas ocorrerá de acordo com as diretrizes do Presi-dente da República, após esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio relacionados no Art. 144 da Constituição Federal.

Coincidentemente ou não, o legislador federal ao estabelecer, expressamente, que durante o período de convocação, a remuneração dos integrantes da Polícia Militar e as despesas com a sua admi-nistração continuam a cargo do respectivo Estado-Membro, está, por outro lado, afirmando que fora des-se período extraordinário, tais despesas são, também, de sua responsabilidade. O aludido dispositivo legal, além de reforçar o caráter estatal da atividade policial militar, cuja generalidade não abre espaço à participação da sociedade ou do contribuinte, em particular, via outro tributo, que não seja através de impostos, como é da tradição no direito brasileiro.

Por sua vez, Álvaro Lazzarini(1), eminente Desembargador do TJSP, por diversas vezes invo-cado neste estudo, fazendo referência a Cardoso de Mello, que com maior alcance, abordou o assunto, esclarecendo que: “O serviço de segurança é um serviço típico do Estado: a insegurança não é apenas

(1) LAZARRINI, Álvaro. A Segurança Pública e o Aperfeiçoamento da Polícia no Brasil.

Revista A Força Policial, jan/fev/mar 95, n.º 5, p. 12.

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uma causa de lentidão no desenvolvimento social. É uma causa de retrogradação e de perecimento da coletividade”. Assim, sublinha o ilustre Desembargador: “É inequívoco o dever do poder público atuar paralelamente tanto nas origens, como nas manifestações de insegurança pública”. Aliás, com o que concordamos na plenitude.

Por outro lado, se a União pode para mais, inclusive, impondo para que as despesas com pessoal e administração permaneçam sob a responsabilidade do Estado-Membro ou, proibindo que as atividades poli-ciais militares sejam inalienáveis, mediante acordos ou convênios, com muito mais propriedade poderá para menos, isto é, vedar a cobrança destas atividades no varejo, até por uma questão de coerência, aí inclusas as modalidades de taxas.

Conforme bem colocou o Comandante-Geral da PMSP, em 13 de setembro de 1995, na audiência da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, designada a proferir parecer sobre a PEC n.º 46/91, em Brasília, DF - no tocante às funções de polícia de segurança pública, embora se argumente que sejam de natureza civil, o que se verifica é que, perante a Lei n.º 4.375 (Lei do Serviço Militar), artigo 4º, parágrafo único, as atividades de segurança pública exercidas pelas polícias militares e corpos de bombeiros militares são “consideradas de interesse militar”.

Diante desse quadro, emerge a seguinte indagação: É possível, então, que tal empenho, ou seja, para viabilização do referido tributo, encontrasse guarida na Constituição Estadual? A resposta é simples-mente negativa, como adiante podemos inferir. O Constituinte paranaense guardou a devida coerência e o estrito respeito às diretrizes da Constituição Federal, particularmente no que se refere à segurança pública e à Polícia Militar. E, neste caso específico, ao estabelecer a competência do Estado (CE, Art. 11-14), em nenhuma das hipóteses expressas - quer seja em comum com a União e os Municípios ou concorrente-mente com a União -, fixou capacidade para legislar sobre organização e garantias da Polícia Militar, ao contrário do que, expressamente, firmou em relação à Polícia Civil. Ademais, o parágrafo 1º do artigo 13, ainda, em observância ao nível de coerência já mencionado em relação à Constituição Federal, esclarece de maneira insofismável que o Estado, no exercício de sua competência suplementar, observará as normas gerais estabelecidas pela União, que no caso da segurança pública, reservou para si esta prerrogativa pelo disposto no parágrafo 7º, do artigo 144 e, no fato em particular e de modo privativo, em relação às polícias militares, pelo inciso XXI, do artigo 22, tudo da Constituição Federal.

Salvo melhor juízo, o Governo Estadual exorbitou de sua competência legislativa. Analisada por este ângulo, a conclusão inarredável, pois, é a de não podermos fugir ao rigor estabelecido pelas normas federais, revestidas de uma clareza indiscutível, se consideradas as peculiaridades das missões atribuídas às polícias militares. No caso em particular, a Constituição Federal ao enfatizar que a seguran-ça pública é dever do Estado, está obrigando o Estado-Membro ao cumprimento irrestrito deste impera-tivo. Logo, não se trata de uma faculdade ou de mera possibilidade. Evidentemente, é muito mais do que isto, é um compromisso assumido pelo Estado em relação ao direito de todas as pessoas, concernen-tes à segurança individual e comunitária. E, se é direito de todas as pessoas, indistintamente, estão incluídas as pessoas naturais e jurídicas, tendo como escopo maior, assegurar a prevalência do Direito, ou melhor ainda, do próprio Estado Democrático de Direito (CF, Art.1º).

Com a devida vênia, não é necessário muita erudição para chegarmos à conclusão de que as disposições da Lei Estadual n.º 10.236, de 28 de dezembro de 1992, que instituíram a Taxa de Seguran-ça Preventiva já nasceram moribundas, sem qualquer condição jurídica ou técnica para prosperarem. Releva notar, que nos deparamos com tal posição apenas com base no espectro da segurança pública, relacionado às missões atribuídas às polícias militares decorrentes da Constituição Federal e da legisla-ção específica, cuja Constituição de nosso Estado guarda perfeita consonância com as normas editadas pelos poderes da União.

44.. AA CCOONNSSTTIITTUUIIÇÇÃÃOO EE OOSS DDIIRREEIITTOOSS EE GGAARRAANNTTIIAASS FFUUNNDDAAMMEENNTTAAIISS

Capítulo I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan-tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes: I - .................................................................................................................................. XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao públi-co, independente de autorização, desde que não frustrem outra reunião, anterior-mente convocada pelo mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autorida-de competente; XXII - é garantido o direito de propriedade; XXXIII - todos tem direito a receber dos órgãos públicos informações de seu inte-resse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestados no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvada aquelas cujo sigilo é imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; XXXIV - são a todos assegurados, independente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilega-lidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e escla-recimento de situações de interesse pessoal. LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e habeas-data, e na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

Conforme enfatizou o Desembargador do TJSP Álvaro Lazzarini(2), em palestra no I SEMINÁ-RIO DE SEGURANÇA PÚBLICA DA AMAZÔNIA - A Prevenção da Criminalidade -, em comentário ao artigo 5º, caput, da Constituição, em relação à importância capital da polícia:

Verdadeira cláusula pétrea, o artigo 5º, caput, da Constituição de 1988 impõe a inviolabilidade, à segurança e à propriedade nas condições que explicita nos seus incisos, que cuidam dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. A polícia, assim, tem importância capital para o respeito desses direitos e garantias funda-mentais da cidadania e, portanto, para a realização do bem comum.

Nos devidos termos, em continuidade, bem expressa o eminente conferencista: “A norma constitucional tutela de forma expressa e irrestrita, os direitos individuais e coletivos e, quando se refere de forma específica a segurança, não o faz levando-se em consideração, apenas, ao elemento material de proteção”. Aliás, como se aduz da Lei Estadual n.º 10.236/92, em seu artigo 2º, pela ênfase na vigilância e segurança. Ao contrário, a segurança deve ser entendida como um valor supremo, necessário e imperativo à convivência humana, em prol da realização pessoal de cada indivíduo e no interesse maior do bem comum, juntamente, com os demais direitos essenciais ali alinhados, e somente podem ser garantidos pelo Estado, segundo o que se infere da invocação expressa no próprio preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil. Por conseguinte, sem a manifestação do Estado-Membro, através da polícia ostensiva de preservação da ordem pública, é impossível concebermos o exercício da cidadania, expresso no inciso II, do artigo 1º, da Constituição, como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.

É importante, também, destacarmos que a mesma norma constitucional autoriza a reunião pública, desde que se realize com fins pacíficos, sem armas, e não conflite com outra reunião anterior-mente convocada para o mesmo local. Na generalidade, impõe apenas a recomendação de - PRÉVIO AVISO À AUTORIDADE DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA COMPETENTE que, no caso em particular, é a polí-cia de preservação da ordem pública. No Brasil, esta competência cabe às polícias militares.

No conceito de reunião, segundo o entendimento de diversos constitucionalistas, não apenas estão incluídas as passeatas e manifestações nos logradouros públicos, como também a celebração de uma festa, a comemoração de um acontecimento, a expressão de uma homenagem ou de uma reivindicação.

Quando o inciso constitucional se refere em reunir-se em locais abertos ao público, quer dizer que as REUNIÕES PRIVADAS são amplamente livres, por que estão amparadas por outros direitos fundamentais.

(2) LAZZARINI, Álvaro. As Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares como Instru-

mento de Defesa da Cidadania. Revista A Força Policial, São Paulo, n.º 1, jan-mar 1994, p.29.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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No espírito da norma superior, está implícito o dever do Estado, - no caso a polícia - proteger o princípio democrático da reunião, livre e pacífica, sem qualquer outra contrapartida, em especial, de indenização ou taxa de ressarcimento, para a proteção do exercício dos direitos individuais. A mesma norma, para o livre exercício da cidadania, expressamente, estabelece a gratuidade, a qual por sua vez, também é direito.

É, portanto, dever de ofício de garantir a realização de reunião, independente do pagamento de ingresso ou não. Entender de maneira diversa é, na verdade, voltarmos as costas ao dever profissio-nal, além de dificultarmos, pela vinculação do exercício do poder de polícia, a própria defesa do Estado, a defesa da sociedade e, sobretudo, consoante ao que já enfatizamos, a defesa da supremacia do Direito.

Segundo a tradição policial, os locais públicos podem ser classificados quanto à acessibilidade ao povo, em públicos e acidentalmente públicos. Por local público entende-se aquele que é aberto e fran-queado ao público, onde cada indivíduo pode permanecer e exercer o seu direito de "ir e vir" livremente. São exemplos: a via pública; a praça; o largo; a praia; o parque e outros locais similares. Já por locais acidentalmente públicos, são aqueles que embora privados, são eventualmente abertos para o uso públi-co. São exemplos: um ginásio esportivo de propriedade particular; um estádio de futebol; um clube; uma instalação circense; e outras do mesmo gênero; todavia, discutível diante dos constitucionalistas, face à amplitude do conceito de locais públicos fixado pela Constituição Federal de 1988.

Por outro lado, o renomado constitucionalista brasileiro José Afonso da Silva(3), considera que na expressão “locais aberto ao público”, enquadram-se: um terreno particular aberto; um estádio libe-rado ao público; uma igreja; etc. O elemento novo inserido pela Lei Estadual n.º 10.236 - Anexo - “COM COBRANÇA DE INGRESSO”, não exime nem diminui a responsabilidade do Estado na intervenção policial, repetimos “de ofício”, isto é, de iniciativa própria, no sentido de garantir a realização desta.

Pelo Decreto Legislativo n.º 27, de 26 de maio de 1992, que aprova o texto da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Porto São José) celebrado em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, por ocasião da Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, vamos encontrar, além de outros direitos tutelados, o direito de reunião, assim declarado:

Artigo 15. Direito de reunião

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei e que sejam, necessárias, numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem pública, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liber-dades das demais pessoas.

O texto do artigo 15 da referida Convenção por si só é completo e dispensa outros comentários. Todavia, a instituição de uma taxa para viabilizar o exercício deste direito essencial, constitui uma forma de violência injustificável. Além do mais, e de sã consciência, jamais se poderia condicionar, particularmente numa sociedade democrática, como do interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem pública, a contra-partida da referida taxa para o emprego da Polícia Militar em determinados eventos. Contrariando a razão, seria o mesmo, se a Polícia Civil movida pelas mesmas razões, passasse a exigir a contrapartida de uma taxa, naturalmente agora de segurança repressiva, para cumprir seu papel constitucional de polícia judiciária e a apuração das infrações penais, reclamando da vítima ou de seu representante a indenização pelos laudos, exames, perícias e diligências necessárias aos esclarecimentos dos fatos, em virtude do ilícito ter ocorrido num local sujeito à cobrança de ingressos, ou ainda, em outro setor de atividade qualquer que se presuma envolver uma atividade econômica ou lucrativa.

Como então, e com que poder, o Estado-Membro estabelecerá restrições para a proteção e exercício dos direitos individuais e coletivos, numa reunião pública esportiva, numa sessão circense e outras afins, mesmo que se cobre ingresso? E, por paradoxal que seja, é o próprio Estado o principal interessado e beneficiário direto pelas situações de convivência harmoniosa e pacífica da coletividade. É por via de circunstâncias óbvias, que, onde as pessoas se reúnem ou se encontram, ocorrem fatos

(3) SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 6ª Edição, São Paulo,

Editora Revista dos Tribunais, 1990, p. 235.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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sociais, cuja prevenção e desdobramentos são do interesse da polícia, exigindo-lhe antecipado e inconti-nente atendimento em benefício da preservação da ordem pública. (Artigo 3º, alínea b do Decreto-lei n.º 667/69, alterado pelo Decreto-lei n.º 2.010/83 - em que a Polícia Militar deve atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem).

Em se tratando de eventos desportivos, mesmo com a cobrança de ingressos, como poderão as respectivas autoridades imporem a lei e a disciplina nas práticas desportivas, particularmente naquelas consideradas formais, onde as possibilidades de perturbação potencial e iminente da ordem pública são efetiveis, se não contarem com a participação do Estado, através de seu órgão de polícia ostensiva de preservação da ordem pública.

Apenas para citarmos como exemplo, o árbitro de uma partida de futebol, basquetebol, volei-bol, etc., antes, por ocasião da inspeção das condições do campo ou das quadras e seus equipamentos obrigatórios e, posteriormente, no decorrer da disputa desportiva, está investido de plena autoridade para impor a lei e as regras do desporto. E, como poderá impor-se diante de conflitos, se não contar com o apoio e proteção policial competente, cuja exclusividade inicial é do Estado-Membro.

É por estas e por outras razões óbvias que a própria Constituição Federal no artigo 217, além de considerar como dever do Estado fomentar as práticas desportivas formais e não-formais como direi-to de cada um, ainda considera: a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do des-porto educacional e, em caso particular para o desporto de alto rendimento; a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; e, por último, impõe ao poder público obrigação de incentivar o lazer como forma de promoção social. Além do mais, como profissionais de segurança públi-ca, não podemos esquecer que a própria norma constitucional reconhece que as ações no Poder Judiciá-rio, somente serão admitidas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva. Argumentarmos em contrário, é revelarmos incompreensão e desconhecimento do real sentido do dever profissional e da própria função social do Estado.

O interesse na alocação de efetivos da força policial é sempre social e imperativo da parte do Estado, independente de qualquer vinculação política, econômica ou fiscal. E, no caso de agravamento da situação, o comandante responsável pela área não irá reforçar os meios, só pelo fato do contribuinte ter recolhido apenas aquele valor específico, acertado previamente? Ou então, não irá aten-der uma ocorrência deflagrada, pelo fato do responsável não ter recolhido a respectiva TSP? Aliás, segundo consta, fatos similares já foram constatados na prática, podendo comprometer a responsabilida-de funcional dos agentes públicos.

Outrossim, são abstrusas e contraditórias as especificações de serviços como: certidões diver-sas, atestados, documentos diversos ao público externo, incluindo fotografias, quando a própria Consti-tuição Federal assegura este direito no inciso XXXIV, independente do pagamento de taxas, para a obtenção de certidões em repartições públicas, em defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. Qual outro motivo levaria uma pessoa da comunidade, a um órgão policial militar, a requerer certidões, atestados ou outros documentos diversos, incluindo-se fotografias, se não forem para estas finalidades?

Sob estes fundamentos, e desnaturando o perfil jurídico das taxas delineado na Constituição, demonstra que o Governo do Estado, aproveitando o embalo pela instituição da Taxa de Segurança Pre-ventiva, cujo fator obrigatório envolve a atividade-fim da Polícia Militar, pelo anexo à indigesta lei, estende o tributo para outros atos e serviços prestados pela administração policial militar, cujos serviços embora públicos, não envolvem o exercício do poder de polícia e nem se enquadram nas exigências preconiza-das no artigo 2º da Lei em discussão.

Residindo a atividade de segurança pública, no campo constitucional reservado ao poder público, não sendo deferida à iniciativa privada, não só ela se afirma como um genuíno serviço público geral, bem como, as despesas resultantes devem ser cobertas por exações gerais (IMPOSTOS), diga-se a propósito, como sempre fora feito. Não obstante, mesmo que a atividade de segurança pública tenha como um de seus instrumentos o exercício do poder de polícia, correspondendo à utilização efetiva e potencial dos serviços públicos, esta, além de geral é indivisível, como pretendemos demonstrar na continuidade.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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Em época posterior, o Governo Estadual, obviamente, pressionado pelas entidades desportivas ligadas à Federação Paranaense de Futebol, pela Lei n.º 12.023, de 14 de janeiro de 1.998, suprimiu da tabela de cálculo da TSP no item 1.1.2. a expressão “futebol”, isentando da referida taxa os eventos esportivos rela-cionados a esta modalidade esportiva, aliás, e por mais paradoxal que possa, se constituía no alvo principal do respectivo tributo.

Entendemos que por estes dois ângulos enfocados até aqui, seriam suficientes para esclare-cermos os equívocos do Governo Estadual. Contudo continuamos a análise do problema por outros pris-mas, como adiante veremos, até para não deixarmos quaisquer dúvidas ou brechas, pelas quais se pode-riam justificar a iniciativa.

55.. PPOODDEERR DDEE PPOOLLÍÍCCIIAA,, SSEERRVVIIÇÇOO PPÚÚBBLLIICCOO EESSPPEECCÍÍFFIICCOO EE DDIIVVIISSÍÍVVEELL.. SSEEGGUURRAANNÇÇAA PPÚÚBBLLIICCAA EE OORRDDEEMM PPÚÚBBLLIICCAA

a. Poder de Polícia

O Douto Desembargador Álvaro Lazzarini do TJSP ao esclarecer a gama de atividade social de responsabilidade do Estado(4), assim nos esclarece:

O Estado, sabemos, para realizar o bem comum exerce uma ampla atividade social. Nela é reconhecida uma atividade jurídica, com quatro setores bem distintos, ou seja, a) o da declaração de direito, b) o da distribuição da Justiça, c) o da manu-tenção da ordem pública, e d) o da defesa contra inimigo externo.

Ora, o Estado é uma pessoa jurídica de direito público. Seus agentes públicos exercem essas atividades jurídicas para a tutela do Direito, que não podem ser confundidas com a atividade social em sentido estrito, em razão daquelas ações desenvolvidas pelo Estado para assegurar aos cidadãos bem-estar, cultura, progresso e até mesmo o lazer.

Conforme já descortinamos até aqui, a segurança individual e comunitária, que diz respeito à segurança pública, para preservar a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran-ça e à propriedade, além de garantir os elementos que dão estabilidade às relações políticas, econômicas e sociais, é problema dos mais importantes e relevantes do Estado, indelegável e essencial para se man-ter a convivência harmoniosa entre as pessoas, que jamais poderá ser equacionado via Código Tributário Nacional, embora aí se encontre o conceito legal de poder de polícia.

O Ato Complementar n.º 31, que incorporou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (alte-rou o Código Tributário Nacional, isto é, a Lei n.º 5.172, de 26 de outubro de 1966), define o poder de polícia, que foi incorporado no respectivo Código, assim:

Considera-se poder de polícia a atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando o direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abs-tenção de fato em razão do interesse público, concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de ativi-dades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Louvamos o entendimento de que este conceito legal, de cunho fiscal, deve ser enfocado com vis-tas àquele poder de polícia, inerente em quase todas atividades específicas da administração pública, tanto nas esferas federal, estadual como municipal, isto é, como poder de polícia dos serviços públicos, em tempo algum na atividade jurídica da segurança pública. Esta atividade, além de monopolizada pelo Estado, decorrente de imperativo constitucional, também é considerada auxiliar do Poder Judiciário, uma vez que, a lesão do direito ocorrida na esfera da ordem pública e apreciada por este poder, na maioria das vezes inicia com a intervenção policial militar. Nesse caso, também, temos como certo que a atividade estatal de segurança

(4) LAZZARINI, Álvaro. Responsabilidade Civil do Estado aos Atos Omissos dos seus Agen-

tes. Revista O Alferes, Belo Horizonte, MG, n.º 22, jul-set 1989, p. 59.

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pública, deve ser financiada pelos cofres públicos, com o dinheiro arrecadado de impostos, como efetivamente acontece com a remuneração atribuída aos oficiais e praças da Polícia Militar e o funcionamento de todos os serviços relacionados com a missão da força.

Segundo a lição de Roque Antônio Carrazza(5), não é qualquer ato de polícia que autoriza a tri-butação por meio desta modalidade de taxa, mas tão-somente aquele que se consubstancia num agir concreto e específico da Administração, praticado com base em lei, que levanta uma abstenção ou que mantém ou fiscaliza uma exceção já existente. E continuando, o insigne autor, esclarece que a incidência da taxa de polícia é o “exercício do poder de polícia” (Art. 145, II, 1ª parte, da CF), que se consubstan-cia num documento, denominado alvará, e implica uma exceção, manutenção ou fiscalização de exce-ção aberta. Dessa forma, podem ensejar a cobrança de taxa de polícia os seguintes atos administrativos: a licença, a autorização, a dispensa, a isenção e a fiscalização. Jamais os atos de polícia praticados pela polícia de segurança, como instrumento estatal da segurança pública.

Ora, a Polícia Militar, pela execução do policiamento ostensivo, conforme a citação de Lazza-rini(6), pratica atos de polícia administrativa, chamada por Vedel e Rivero de Polícia Geral, pois encar-regada da ordem pública; distingue-se da Polícia Especial, esta voltada para o uso da propriedade, ao comércio, à indústria e outras atividades onde a iniciativa privada sujeita-se ao controle do poder público.

O conflito pelo ato imposto constitui-se em verdadeiro óbice para a distribuição da justiça e da preservação da ordem pública, cujos preceitos de ordem geral estão inseridos dentro dos direitos huma-nos e da própria cidadania.

No uso específico do exercício da polícia de preservação da ordem pública, os fundamentos axiológicos da definição do poder de polícia devem ser essencialmente jurídicos, como decorrência da própria manifestação jurídica do Estado, em relação à manutenção da ordem pública. Jamais de cunho fiscal, conforme pretende a Administração estadual.

Para preservar os direitos individuais e comunitários, como garantias fundamentais, no elevado interesse do bem comum e da cidadania, o Estado institucionalizou o sistema policial atual. Por este sis-tema, as polícias militares não são apenas responsáveis pelos serviços de segurança, mas pela preser-vação, isto é, a segurança de todos aqueles direitos fundamentais, já enfatizados exaustivamente.

É com base nessa dimensão abrangente que se costuma inserir a segurança pública, cujos direitos não comportam limitações ao seu conteúdo, enquanto exercidos em respeito a si próprio e em respeito à dignidade de terceiros.

De outro lado, assim afirma o Desembargador Álvaro Lazzarini(7), ao conceituar poder de polícia como a manifestação jurídica do Estado, e que vem sendo ratificado por diversos publicistas brasileiros:

Poder de polícia, que legitima o poder da polícia e a própria razão de ela existir, é um conjunto de atribuições da Administração Pública, como poder público e inde-legáveis aos particulares, tendentes ao controle dos direitos e liberdades das pes-soas, naturais ou jurídicas, a ser inspirado nos ideais do bem comum e incidentes não só sobre elas, como também, em seus bens e atividades.

Quando o autor se refere ao controle dos direitos e liberdades das pessoas, não quer se referir a impor limitações, constrangimentos ou cerceamento, mas sim, evitar que o excesso da liberdade de uns prejudique a liberdade de outros ou da própria coletividade, naturalmente, tendo como balizamento final os ideais do bem comum. Aqui não se está referindo aos direitos sociais, que na qualidade de cidadãos temos acesso, isto é, direitos aos serviços de polícia e enquadrados dentro da denominação de taxas de licença, taxas de fiscalização ou de inspeção, em decorrência da fiscalização de edifícios, elevadores, pesos e medidas, construção e moradia, serviços funerários, licenciamento e transferência de veículos e tantas

(5) CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 7ª Edição, São

Paulo, Malheiros Editores Ltda., 1994, p. 291. (6) LAZZARINI, Álvaro. A Segurança Pública e o Aperfeiçoamento da Polícia no Brasil.

Revista A Força Policial, São Paulo, n.º 5, jan-mar 1995, p. 25 e 26. (7) LAZZARINI, Álvaro. Idem(2), p. 29 e 30.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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outras, em que o Estado, além de limitar os interesses ou liberdades, poderá ser ressarcido via taxas, no interesse da segurança da coletividade, como está expresso no Código Tributário Nacional.

Por outro lado, as polícias militares não apenas exercem o poder de polícia administrativa, mas executam atos de polícia ostensiva (ações e operações policiais militares), fundamentados num princí-pio jurídico que legaliza e lhe assegura a consistência material para poder agir livremente, apenas limita-dos aos contornos do Direito.

É curioso, e naturalmente o legislador o quis por razões óbvias, empregar a expressão "poder de polícia" uma única vez na Constituição Federal de 1988, mais precisamente no inciso II, do artigo 145, onde se preocupa na instituição de taxas, em decorrência do exercício do poder de polícia e isto, não no capítulo sobre Segurança Pública, mas sim no Sistema Tributário Nacional. Esta particularidade já nos sinaliza a inviabilidade da cobrança de taxas por parte do Estado, sobre ações operativas que objetivem a segurança pública, como instrumento de Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, além do que, em momento algum o inciso II, do artigo 145 CF e artigo 78, do CTN, fazem qualquer menção à seguran-ça pública, ou à incolumidade das pessoas e do patrimônio, conforme já nos reportamos anteriormente.

As polícias militares, como corporações, inserem-se entre as instituições que exercem atos de polícia administrativa geral, isto é, de preservação da ordem pública no campo de segurança pública, integrada na segurança interna e segurança nacional, cujos atos de polícia administrativa, poderíamos chamá-los de atos compostos, isto é, seu exercício é dependente do Estado-Membro, mas, também poderá ser controlado e exercido, no caso de agravamento da situação, pela própria União.

Com efeito, esclarece Sérgio de Andrea Ferreira(8), ao descrever as condições para a imposição de indenizações às limitações ao exercício dos direitos em relação ao poder de polícia, onde entra em cena o administrador público, regulamentando as normas limitativas, com a expedição dos chamados regulamentos de polícia:

Torna-se necessário, porém, ainda, que sejam praticados atos e fatos administrati-vos concretos, através dos quais se verifique a consonância, ou não, do exercício do direito, por seu titular, com o quadro normativo vigente. Esses atos e fatos administrativos de polícia traduzem-se em ordens, como a demolição de prédio em ruína; em exigências, como a de pintura de fachada de edifício; [...] e em autoriza-ções ou licenças, como a licença para o exercício de determinada profissão; em fatos materiais, como a interdição de locais, apreensão de coisas, a detenção de pessoas. Com efeito, na medida em que essas limitações são de ordem geral estabe-lecidas em prol da salvaguarda de interesses comuns, elas não são indenizáveis, como ocorre com a alteração de gabarito, em determinada área da Cidade, para futuras construções.

Sendo assim, na opinião do ilustre Professor Titular da Cadeira de Direito Administrativo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, até por uma questão de coerência, o Estado não pode querer o ressarcimento por uma gama considerável de serviços gerais que executa, como serviços tipicamente públicos, em prol da salvaguarda de interesses comuns, sendo a preservação da ordem pública um des-ses serviços.

E, reforçando o que já foi examinado, podemos acrescentar neste rol ainda: fiscalização do serviço de telecomunicações; licença para dirigir veículos; expedição de documentos pessoais (passapor-te) e outros similares. Aí sim se enquadram as noções de segurança, expressas no artigo 78, do Código Tributário Nacional, considerando-se, ainda, regular o seu exercício, “quando desempenhado por órgão competente da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder”( Art. 78, parágrafo único). Seria, então, o momento de formularmos a seguinte pergunta: qual seria este processo legal a ser observado para a imposição da nominada taxa? Até pelas características das missões das polícias militares, cada situação que se apresenta, reveste-se de condições singulares em função das hipóteses e das variáveis interve-nientes, sendo impossível na prática, manter-se um processo regular a ser observado, ao contrário

(8) FERREIRA, Sérgio de Andrea. Poder e Autoridade da Polícia Administrativa. Direito

Administrativo da Ordem Pública, 2ª Edição, Editora Forense, Rio de Janeiro, 1987, p. 208.

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do que acontece no caso de fornecimento pelo poder público de um alvará de licença, de uma certidão, da própria licença para dirigir veículos, além de outros serviços de natureza específica.

Dentro deste enfoque, efetivamente, poderá o Estado, pelas atividades ou serviços administra-tivos potenciais ou imediatos, colocados à disposição, exigir ressarcimentos na forma de taxas. Mas daí enquadrar atos de polícia de preservação da ordem pública, ou tentar distorcer o sentido da segurança material, pelo exercício do poder de polícia, expresso no artigo 78 do CTN, para segurança pública, onde se enquadra a segurança individual e a segurança comunitária, é pretendença exagerada. Ou melhor, na linguagem jurídica, este episódio é conhecido como ABUSO DE PODER ou DESVIO DE PODER, uma vez que o princípio da legalidade foi desfigurado pelo ato errôneo do sujeito ativo da obrigação.

O insigne professor Ives Gandra da Silva Martins(9), nos ensina que: “Os princípios da legalida-de e de tipicidade da tributação, são fundamentais para o Direito Tributário”. Inserem-se, continua o pro-fessor: “Na própria estrutura molecular de ramo jurídico tão sensível, a nível tal que sua falha percepção pode levar o intérprete a cometer erros elementares, sobre desnaturar o campo específico de análise”.

É o momento de perguntarmos: Não seria para financiar atividades essenciais como saúde, educação e segurança pública que o Estado arrecada impostos? O cidadão e a coletividade já não estão financiando esta atividade que, aliás, vem se degradando dia-a-dia, pela ausência de ações mais efetivas por parte do próprio Estado? Indubitavelmente, as respostas terão que ser afirmativas, valendo-se dizer ainda, que em determinadas condições, para o uso do aparelho policial militar como serviço coloca-do à disposição dos usuários, seria necessária a efetivação do pagamento da taxa retromenciona-da, sem o que não se conseguiria o seu funcionamento.

b. Serviço Público Específico e Divisível

Consoante ao entendimento unânime, o serviço público deve ser regido por regime próprio e destinar-se às necessidades da coletividade em geral. Nos serviços de segurança pública, o interesse público é exclusivo, deixando de proporcionar qualquer vantagem mensurável aos indivíduos. Ao contrário, onde o interesse público é apenas predominante ou secundário, ou ainda, enquanto a atividade executada seja social ou suplementar.

Ainda, por via da tributação de taxa, entendemos as ações e operações policiais militares como atividades públicas gerais e indivisíveis colocadas à disposição de todos, como membros da coleti-vidade. A simples disponibilidade de uma atividade geral e indivisível não poderá constituir-se em causa jurídica da taxa de serviço. Tomemos como exemplo, o caso mais corrente, ou seja, uma disputa despor-tiva realizada num estádio de futebol. Em razão das peculiaridades que revestem as ações e operações policiais militares, inexiste a possibilidade das atividades operacionais serem destacadas em unidades autônomas de intervenção, de utilidades ou de necessidades públicas, nem quanto às ações preventivas ou repressivas. Estas, estritamente situacionais, portanto, jamais poderão ser específicas. Com base nos Fundamentos Doutrinários da Escola Superior de Guerra, na prática é impossível separarmos as ações preventivas, das ações repressivas, haverá necessariamente superposições, ditadas sempre pelas necessidades decorrentes da situação e pelo grau de evolução dos acontecimentos.

Assim, ao se caracterizar uma atitude, deve-se ter em mente a prevalência e não a exclusivi-dade de determinado tipo de medida. Daí, a própria designação de Taxa de Segurança Preventiva ser contrária à razão da própria doutrina. E mais, não é o contribuinte o maior beneficiário direto, como já enfatizamos, mas o próprio Estado, para sua própria garantia e via de conseqüências, das instituições democráticas, com destaque para as liberdades públicas.

O professor de Direito Tributário Bernardo Ribeiro de Moraes(10), nos apresenta como servi-ços públicos gerais fornecidos indistintamente a todos os cidadãos, à guisa de exemplos, os seguintes: “Serviço de defesa nacional, na preservação da integridade do território nacional e dos direitos de soberania; serviço de segurança pública, no zelo pelo interesse comum da coletividade, garan-

(9) MARTINS, Ives Gandra da Silva. Curso de Direito Tributário. Editora Saraiva, 1982, p. 49. (10) MORAES, Bernardo Ribeiro. Doutrina e Prática das Taxas. 1ª Edição, São Paulo, Editora

Revista dos Tribunais, p. 139-142.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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tido pela ordem pública e a defesa social; serviço de assistência social; serviço de obra pública de combate à seca; serviço de comunicações, etc., inclusive o de bombeiros”.

Por outro lado, a vantagem retirada pelo contribuinte de uma atividade estatal específica é o elemento que concorre para caracterizar a taxa, conforme tornou bem distinto o Advogado paranaense Mansur Theophilo Mansur(11), no parecer emitido sobre a Taxa Adicional de 20% ao Fundo de Assistência Judiciária e Penitenciária do Estado. Na continuidade do referido parecer o ilustre Patrono busca a sus-tentação nas lições do professor Theodoro Nascimento, onde de maneira inteligível afirma: “Se não hou-ver elemento vantagem individual que beneficie o contribuinte, poderá ser um imposto especial mas não será taxa” [sem grifo no original].

É então chegado o momento de perguntarmos: Que proveito direto tem o clube, a agremiação ou um promotor de espetáculo, como contribuinte da TSP, através do serviço solicitado? Não é o espec-tador o maior beneficiado pela presença de força policial em tais locais? O serviço, até a data da sanção da Lei pelo Governador do Estado, não vinha sendo executado normalmente via pagamento de impostos? E se o contribuinte não solicitar o serviço policial, portanto, não recolher a taxa, e a situação evoluir no sentido do comprometimento da ordem pública, a Polícia Militar também não irá atender? Quem é o maior omisso, o Estado ou quem deixou de recolher a taxa? Infelizmente, a resposta é óbvia, o Estado, e o que é mais grave ainda, permitindo que empresas particulares de segurança patrimonial executem, em determinadas ocasiões, atividades de policiamento na esfera da segurança pública, consti-tuindo flagrante ilegalidade.

Apenas para reforçarmos o que até aqui foi analisado, vejamos alguns aspectos dos conceitos fixados nos artigos 2º e 3º da Lei 10.236/92, que ofendem não só o profissional, mas sobretudo a institui-ção policial militar e o próprio Direito:

1) Em primeiro lugar, conceitua-se a (TSP) como sendo fato gerador: “a utilização pelo contri-buinte, do serviço específico e divisível."

EQUÍVOCO: já demonstramos que não é nem divisível e nem específico. A própria segurança pública como valor é um estado, uma situação, isto é, a garantia proporcionada aos integrantes de toda a sociedade relacionada com a segurança individual e comunitária. Como valor ou estado, não pode apre-sentar consistência material. É valor social e não propriamente um serviço ou uma atividade operacional. É como se pretendêssemos vender a felicidade e alguém pagar por isto, caracterizando um abuso ou excesso do próprio poder discricionário do Estado. E o que vem a ser, então, o serviço específico e divi-sível em relação à taxa?

Em continuidade ao que já demonstramos, vamo-nos apoiar no balizamento de mais alguns estudiosos, na tentativa de esclarecermos ainda melhor o assunto. Na opinião do Professor Rui Barbosa Nogueira, na obra Direito Financeiro, p. 128 e 129, não se afastando da doutrina até aqui expressa, afirma:

O Estado na sua missão de atender ao bem comum já presta serviços gerais à coletividade, cujos gastos são cobertos sobretudo pela receita de impostos. Serviço específico necessário para a instituição da taxa é o sus-

cetível de utilização individual pelo contribuinte e divisível é o destacável em unidade autônoma. Não há assim confusão com os serviços gerais. (Grifou-se).

Em prosseguimento no enfoque do Professor Bernardo Ribeiro de Moraes(12), somente os ser-viços públicos específicos (especiais, individuais ou particulares) é que podem gerar as taxas de serviços. São serviços que podem ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidades ou de necessidades públicas, perfazendo um liame entre quem fornece (O Estado) e quem usufrui (o indivíduo ou grupo de indivíduos) o serviço. Um serviço público que não pode ser individualizado, como no caso, o de defesa nacional ou o de segurança pública, técnica e juridicamente não pode ser cus-teado por taxas. Aliás, fato já consagrado na doutrina brasileira, ratificado pelo Código Tributário Nacio-nal e já consolidado pelos tribunais.

(11) MANSUR, Mansur Theophilo. Revista Jurídica, Curitiba, n.º 4, 1985, p. 89- 102. (12) MORAES, Bernardo Ribeiro de. Idem (10), p. 142.

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Por outro lado, serviços públicos divisíveis, segundo salienta Rubens Gomes de Souza(13), são aqueles “que podem ser individualizados e destacados dos serviços e atividades gerais do Estado”. Segundo se conclui, estes serviços podem ser individualizados, permitindo que se identifique e se avalie, isoladamente, o complexo da atividade estatal, a parcela utilizada individualmente pela pessoa ou grupo de pessoas. O serviço público indivisível se caracteriza, ao contrário, por ser impossível a determinação da quantidade específica de cada cidadão da comunidade absorver do aludido serviço, complementa o referido autor.

Na seqüência da análise, nos defrontamos com o seguinte paradoxo. Um dos requisitos para a constituição da taxa, é a divisibilidade em unidades autônomas de fruição do serviço operacional das polícias militares, que no caso, seriam as ações e operações policiais militares, agrupadas em quatro modalidades de policiamento (patrulhamento, permanência, diligência e guarda), gerando como sub-produtos dessas modalidades, detenções, prisões, revistas, apreensões, orientações, interdições, condu-ções, observações, assistências, preservações de locais de crimes, além de muitas outras. No anexo à inusitada Lei, toma-se como parâmetro desta divisibilidade o HOMEM/HORA e HOMEM/MÊS, data vênia, fórmula utópica engenhada pelas autoridades da época, o que somente vem a comprovar a impossibili-dade técnica, em se dividir ou destacar a operacionalidade da força em unidades autônomas. Por isso mesmo, o policiamento ostensivo é considerado serviço geral, não específico e indivisível. Outro argu-mento é o fato de que no serviço público específico e divisível, susceptível ao ressarcimento pelo exercí-cio do poder de polícia - alvarás, licenças e vistorias - o sujeito passivo, em razão do processo legal a que é submetido, terá sempre uma decisão favorável ou não, em face de sua situação em relação às exigên-cias da lei. Assim, por exemplo, submetido a todos os trâmites da burocracia e aprovado em todos os exames, terá direito assegurado a receber a licença para dirigir veículos. Somente não terá este direito assegurado se não preencher as exigências expressas ou não for considerado suficientemente apto. Mas, mesmo assim, pela responsabilidade exclusiva do sujeito passivo. Agora, comparemos o sujeito passivo em relação aos possíveis fatos geradores da referida taxa em questão. Qual sua garantia e qual o seu direito assegurado, dentro das condições explicitadas na lei, que ao solicitar o emprego de força policial mediante o ressarcimento respectivo, terá garantido de maneira eficaz o evento, ou seja, que efetivamente a Polícia Militar, através de recursos e manobras, previna ou evite toda a sorte de infrações e desvios de conduta provocados por terceiros? Ou mais: que garanta de forma específica ou peculiar a incolumidade patrimonial e pessoal? Objetivamente, não existe esta presunção, isto é, não existe garantia assegurada, como também, não poderá subsistir a previsão deste direito. Isto vale dizer que ao sujeito passivo, embora compelido ao pagamento pelo serviço solicitado, não tem a proteção esperada, depen-dendo em tudo da evolução dos acontecimentos, a despeito da postura do contribuinte. Assim sendo, mais uma razão que inviabiliza a instituição do tributo em análise.

Ainda, nesta fase, não poderíamos deixar de consultar o saudoso mestre Hely Lopes Meirel-les(14) que ao estabelecer as diferenças entre serviços públicos e serviços de utilidade pública, deixando bem nítida a natureza geral da atividade de polícia, em particular aqueles que até aqui, ainda não se convenceram desta realidade, onde adverte:

Serviços públicos propriamente ditos são os que a Administração presta diretamen-te à comunidade, ao reconhecer que a sua utilização é uma necessidade coletiva e perene. Por isso mesmo, tais serviços são considerados próprios do Estado, no sen-tido de que compete privativamente ao Poder Público prestá-los à coletividade, sem delegação a particulares. Exemplos típicos desses serviços são os de defesa nacio-

nal, os de polícia, os de justiça, os de preservação da saúde pública e outros que exijam medidas compulsórias em relação aos indivíduos. (Grifou-se).

E o referido autor, um pouco mais adiante, faz uma colocação decisiva para o entendimento da natureza geral ou específica dos serviços públicos, afirmando: “No primeiro caso (serviço público), o serviço visa satisfazer necessidades gerais da coletividade, para que ela possa subsistir e

(13) SOUZA, Rubens Gomes de. Compêndio de Legislação Tributária. 2ª edição, Rio de Janeiro,

Editora Financeiras, 1954, p. 124. (14) MIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo, Editora Revista dos

Tribunais, 1966, p. 268.

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desenvolver-se como tal; [...]”. Portanto, ratificando o que já dissemos, as ações e operações policiais militares executadas pelo policiamento ostensivo são de natureza geral e indivisíveis. Portanto, inconci-liável a referida taxa em relação à Constituição, ao Código Tributário Nacional e à doutrina, esta sobeja-mente consolidada pela jurisprudência, aliás, que não é recente.

Outrossim, conforme já nos referimos, os integrantes das polícias militares são pagos via recursos do tesouro dos estados, arrecadados via impostos, e neste caso, a taxa caracteriza “bis-in-idem”, gerando uma incompatibilidade de ordem jurídica-tributária inaceitável, particularmente quando se estabeleceu a divisibilidade pelo fator homem/hora e homem/mês.

2) Na seqüência: "exigem do poder público vigilância”.

LEDO ENGANO: no dizer de Álvaro Lazzarini, o poder público detém o controle dos direitos e garantias individuais. Por outro lado, as polícias militares não exercem atividades de mera vigilância e sim de preservação da ordem pública, executada pelo policiamento ostensivo fardado, observan-do características, princípios e variáveis próprias, com vistas à tranqüilidade pública (Manual Básico de Policiamento Ostensivo - IGPM - Ministério do Exército). Em momento algum, a Constituição Federal ou Estadual, ou ainda, a legislação específica reduzem as atividades das polícias militares às ações próprias de vigilância, aliás, atividades específicas de empresas particulares que exploram tais serviços, conforme veremos mais adiante. E mesmo, na hipótese de que fosse a expressão verdadeira, na atualidade, em que se exigem serviços públicos específicos e divisíveis prestados à coletividade ou postos à sua dispo-sição, a referida taxa é inconstitucional. Segundo a decisão do Tribunal de Alçada de São Paulo, o servi-ço de vigilância não é “nem específico e nem divisível entre os contribuintes da taxa”(15) [sem grifo no original]. Ao contrário, o serviço, embora público, apresenta-se genérico e indivisível.

Tecnicamente, policiamento não é sinônimo de vigilância, como também esta não está inserida nos tipos e nas modalidades de policiamento, consoante as variáveis retromencionadas. Segundo estas variáveis, quanto às modalidades, o policiamento ostensivo é executado através do patrulhamento, per-manência, diligência e escolta. De outra forma, mesmo que se entenda ao contrário, ainda assim a vigi-lância desenvolvida pelo poder público através do policiamento ostensivo, seria serviço de natureza geral. Porém, assumido o compromisso pelo Estado de que o serviço será resultado de vigilância específica sobre a incolumidade de pessoas e patrimônios, este também se sub-roga pela responsabilidade de terceiros.

3) Concluindo o artigo 2º: "visando a preservação da segurança e da ordem pública".

OUTRO EQUÍVOCO: como já salientamos, a missão das polícias militares não é de vigilância, e não seria, simplesmente, por esta, que obteríamos a preservação da ordem pública desejada; quando muito, a segurança individual, privada ou particular. O termo vigilância, na doutrina brasileira, é emprega-da para diferenciar os serviços de empresas de guarda ou serviços de vigilância privadas ou particulares, que as próprias polícias militares deveriam controlar e coordenar (artigo 45, § 2º do Decreto nº 88.777/83). A inserção do termo segurança, precedendo a ordem pública, nos parece intencional, a fim de forçar o enquadramento do tributo dentro do conceito de poder de polícia, susceptível à cobrança de taxa, segundo o que prevêem a Constituição e o Código Tributário Nacional. Mas por outro lado, técnica e juridicamente falando, a ordem pública por ser mais abrangente, nem sempre se refere àquela. Até neste detalhe o legislador se mostrou equivocado. Mais uma vez vale recordarmos que ao viabilizar a cobrança de taxa pelo exercício do poder de polícia (CF, Art. 145, II) e o Código Tributário Nacional ao definir aque-la locução, obviamente não incorporou aqueles serviços tipicamente públicos, que somente podem ser praticados pelo Estado, portanto indelegáveis. Muito menos aquelas relativas à segurança pública. Note-mos, que o próprio conceito de poder de polícia não se estende até aí, quando se refere apenas “[...] concernente à segurança [...]”, o faz, unicamente, considerando o aspecto específico e concreto, como parcela inerente da função administrativa, com abrangência em várias atuações do Poder Público, tanto na esfera federal, estadual ou municipal. Em momento algum faz qualquer referência à segurança públi-ca. Segurança não é, e jamais foi sinônimo de segurança pública, aí residindo o grande equívoco. Como é do conhecimento, dentro da hierarquia das leis, o que a lei maior limitou, circunscreveu ou reservou, a lei inferior não pode extrapolá-la, sob pena de gerar uma incompatibilidade irremediável.

(15) Tribunal de Alçada de São Paulo. Apelação n.º 171.270, RT 438, p. 184.

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E se todos estes equívocos aduzidos, não revelam desconhecimento da doutrina, revela-nos então, o que é pior ainda, o afastamento propositado dos delineamentos deontológicos que deveriam conduzir as missões policiais militares, cingidas pelo dever profissional e jamais em favor dos interesses econômicos ou fiscais, respectivamente.

Data vênia, quando o legislador federal, por qualquer razão, quis o serviço da Polícia Militar como de vigilância específica, ele a expressou através de lei, como por exemplo no parágrafo único do artigo 3º da Lei n.º 7.102, de 20 de junho de 1983, facultando, a critério do Governo do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal e nos estabelecimentos financeiros federais ou estaduais, o exercício pelas polícias militares, das atividades de vigilância ostensiva, próprias das empresas privadas ou particulares, logicamente, encarada como regra excepcional e não como um imperativo normal da atividade de preservação da ordem pública, mesmo nestas condições, continua sendo um serviço insusceptível à cobrança de taxa.

Ainda, no parágrafo único do artigo 3º, da citada Lei:

1) Inicia o texto: "A (TSP) é devida anual, mensal [...]":

AQUI O ERRO É CABAL: no momento em que se estipula um prazo, naturalmente está suben-tendida alguma forma de contrato, ajuste, convênio ou acordo, o que é expressamente vedado pelo Decreto Federal 88.777/83, mais especificamente pelo parágrafo 1º, do artigo 45, conforme já demons-tramos, independente de outras formas dissimuladas de ajustes ou acertos que se queiram estimular.

Bem o sabemos, que a intenção inicial do legislador, ao fixar na legislação específica, de maneira expressa, a impossibilidade de transferência das missões policiais militares, via delegação e acordo ou convênio, foi no sentido de não se permitir, sob quaisquer hipóteses, que outros órgãos - que não sejam as próprias polícias militares - executem as missões a elas, exclusivamente reservadas, ao contrário do que já se verificava em alguns Estados, onde até empresas públicas passaram a executar as atividades das polícias militares. Em não sendo assim, perderia sentido o que a União reservou para si através do inciso XXI, do artigo 22, da própria Constituição da República. Todavia, podemos entender como aplicável esta regra na acepção de que as missões das polícias militares são intransferíveis quanto a sua natureza, isto é, transformá-las de prestadoras de serviços públicos genéricos e abstratos em específicos ou especiais; intransferíveis quanto ao caráter de suas ações, ou seja, que deveriam ser fundamentalmente públicas - objetivando atenderem ao interesse maior da coletividade - ao contrário da ação privada, pelo atendimento, mesmo que remunerado, do interesse particular nem sempre alinhado ao interesse do bem comum. Para tanto, basta observar o que consta do anexo à referida Lei, quando permite que os atos relativos ao serviço operacional em geral, dentro dos parâmetros fixados, se esten-dam, além de outros, à segurança física de estabelecimentos bancários da Administração direta e indireta do Estado, fundações, autarquias, prestadores de serviços, indústria e comércio.

Além do mais, é um absurdo imobilizar recursos humanos e material bélico por médios e lon-gos prazos, para serviços de vigilância às empresas prestadoras de serviços, à indústria e a outros. Como ficará a segurança pública se grande parte dos recursos públicos for concentrada em atividades próprias de vigilância privada? No caso de ameaça potencial ou iminente da pessoa ou propriedade particular, como decorrência do próprio conceito de perturbação da ordem pública, aí sim, o Esta-do tem o dever da proteção, independente de qualquer indenização ou ressarcimento. Por mais paradoxal que possa, imaginemos agora, com vistas na atual conjuntura nacional, a Polícia Militar sendo empregada, com base nas especificações dos serviços operacionais e nos respectivos parâmetros da nominada taxa, para defender áreas de terras das invasões do MST. Sim, pois, juridicamente, o ato de invadir ou esbulhar a propriedade alheia, também, constitui-se num ilícito, a exemplo daqueles que a Polícia Militar, pela iniciativa da taxa, está facultada a prevenir nas empresas prestadoras de serviços, indústria e comércio. É possível imaginarmos que os fazendeiros não atinaram para esta alternativa, inclusive de menor custo, comparando-se aos fornecidos pelas empresas de segurança privada.

Apesar destes fatos apontados, com que grau de responsabilidade o Estado assume o com-promisso perante o sujeito passivo da taxa, a médio e longo prazos, considerando-se que os fatores geradores da insegurança pública são excessivamente dinâmicos dentro da própria conjuntura? Duas situações, ambas intrincadas, poderão ocorrer em razão do grave comprometimento da ordem pública, sem considerarmos as situações mais sérias, como a de grave e iminente instabilidade institucional ou de

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comoção grave de repercussão nacional; simplesmente não cumprindo o compromisso assumido com sujeito passivo por razões óbvias ou mantendo a vigilância nas condições acordadas inicialmente. À vista do fato gerador, ambas as decisões serão contestadas, pois limitam o poder do Estado em relação a sua autonomia. São por estas e por outras razões de natureza técnico-operacional que juridicamente o tributo é estranho em relação à atividade operacional de polícia.

2) Continuando, ou ainda: "em função do potencial de risco a que estão expostas as atividades dos solicitantes dos serviços policiais militares".

O DESREGRAMENTO ENSEJA PERPLEXIDADE: como doutrina, e com base nas características do poder de polícia que são: a auto-executoriedade, a discricionariedade e a coercibilidade, como se colocará a autoridade policial militar neste aspecto fundamental e decisivo da operacionalidade? Ora, quem planeja o emprego da Polícia Militar é o seu comandante e por delegação deste às demais autoridades inseridas na cadeia de comando. Apenas se sujeitariam ao emprego da fração correspondente, com base nas quantidades de efetivos solicitados ou se imporiam valores de efetivos, com base na real necessidade, levando-se em conta todos os fatores determinados por um estudo de situação? Por via da hipótese, o valor da taxa será sempre indeterminado, dependendo do que o comandante da fração entender como potencial de risco. E no caso da atividade solicitada ser de duvidosa legalidade, como se agiria? E no caso, ainda, dessa ilegalidade ser constatada no local, com que independência moral agirá a instituição policial militar se, antecipadamente, já cobrou pelo evento? Naturalmente, os defensores da "brilhante iniciativa" trarão uma centena de bons argu-mentos e propósitos justificáveis. Um desses argumentos, por certo, estará relacionado ao fato de que, segun-do a Nota de Instrução n.º 001/94 - EM/1ª Seção, onde estão estabelecidas as normas para a cobrança da TSP, a triagem das solicitações em relação às prioridades dos serviços de interesse público, a definição dos efetivos, do potencial de risco e do respectivo valor do recolhimento do tributo, estejam condicionados ao reconhecimento do local do evento. Por outro lado, é também sabido, que o inferno está cheio de indivíduos que não passaram das boas intenções ou dos bons propósitos. E mais, como se agiria na situação fática da organização policial militar se não conseguir a tão almejada prevenção e necessitar agir repressivamente, pelo agravamento decorrente da evolução da perturbação da ordem pública? E finalmente, para não nos delongar-mos mais, no caso de danos, abuso e desvio de poder, quem responderá?

Efetivamente, uma nova variável é introduzida no conceito de segurança pública. E mais, quem pagou a referida taxa, parte também da presunção da certeza da garantia, e quem arcará com tudo isto, fatalmente será o próprio Estado, conforme é da doutrina atual e de precedentes judiciais, particularmente do Tribunal de Justiça de São Paulo e, mais recentemente, pelo que se pode inferir de decisão do Supe-rior Tribunal de Justiça, destacando que nestes casos, não se considerou no mérito qualquer contraparti-da por parte dos administrados.

A polícia preventiva, no entender de Mário Masagão(16), é: “Típico exemplo de uma função ati-va espontânea, que a Administração Pública delibera e executa a deliberação, independente de solici-tação de quem quer que seja”. Em outras palavras, ainda conforme o administrativista, “o estado tem de exercê-la, sob pena de faltar a seus deveres”. E, mais uma vez, recordamos que se trata de uma atividade jurídica do Estado, assim indelegável ao particular, a preservação da ordem pública, valendo dizer, na precisa lição de Álvaro Lazzarini(17): “A atividade policial de preservação da ordem pública, obje-to de segurança, como estado antidelitual. Se o Estado falha nesse seu verdadeiro dever, omitindo-se, nada mais justo de que suporte o risco, reparando o dano que o deficiente serviço policial possa ter cau-sado ao administrado”. Não é conceptível querer buscar a eficiência dessa atividade jurídica do estado, ou dificultá-la na sua prestação, via fato impositivo de um tributo, o que na verdade não exime a respon-sabilidade do Estado. Pelo contrário, a amplia. Mais adiante, o insigne Desembargador, assim assevera, implacavelmente, em relação à omissão policial: “[...] que a omissão policial, causadora de danos aos administrados, deve gerar responsabilidade civil do Estado, mesmo que a autoridade policial, seja a da Polícia Civil, seja da Polícia Militar, não tenha sido solicitada” [sem grifo no original].

Em se tratando da responsabilidade civil do Estado, em relação à solicitação de policiamento ostensivo, é oportuno inserirmos recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, ao Recurso Especial n.º

(16) MASAGÃO, Mário. Curso de Direito Administrativo. Tomo I. São Paulo, Editora Max Limo-

nad, 1959, p. 52 (17) LAZZARINI, Álvaro. Idem(2), p. 74.

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41.711 - São Paulo (93.34387-4), em que é relator o Ministro Ari Pargendler(18). A decisão coloca em evidência uma questão diretamente relacionada à problemática que estamos questionando, qual seja, do furto de automóvel em local coberto por força policial militar, não se discutindo no mérito qualquer cobrança por parte do Estado. E, qual a responsabilidade do Estado neste caso? Vejamos como foi entendida a questão nas várias instâncias.

1) A alegação dos fatos

Um Promotor de Justiça ajuizou uma ação ordinária contra o Estado de São Paulo, alegando que em meados de abril de 1990 teve seu carro furtado do interior do pátio do Departamento de Enge-nharia Civil da Escola Politécnica, enquanto exercia suas atribuições para que fora convocado. Tal fato aconteceu, não obstante a requisição de policiamento ostensivo para o local. Em razão disso, quer que o Estado o indenize pela perda, destacando na inicial:

[...] aqui não se cuida daquele dever do Estado em oferecer segurança aos cida-dãos, dever este abstrato, e que por isso exercido de modo genérico. [...] nas cir-cunstâncias e na consideração de que o policiamento foi solicitado inclusive para resguardar os veículos estacionados de qualquer ação criminosa, manifesta a res-ponsabilidade do Estado pelos prejuízos sofridos pelo autor.

2) Sentença do Juízo de 1º grau

O autor obteve sucesso mediante sentença fundamentada pelo juiz, traçando um paralelo entre a responsabilidade civil de shopping centers, supermercados e estacionamentos em geral, resultando que a jurisprudência tem sido implacável em tais casos, responsabilizando quem deveria guardar o veículo furtado, incidindo a culpa in vigilando para caracterizar a responsabilidade civil do guardador, não caracte-rizando caso idêntico, mas semelhante a esses. E continua textualmente enfatizando, em razão de que o policiamento requisitado estava no local: “Contudo, tal policiamento foi ineficiente, permitindo a ocorrência do furto, que encontra-se suficientemente provado, e dando ao autor, assim, o direito de ser ressarcido pelo prejuízo sofrido em face da culpa in vigilando dos policiais” [sem grifo no original].

3) Decisão em grau de recurso ao Tribunal de Justiça de São Paulo

Em conseqüência do recurso e remessa “ex-officio”, ambos rejeitados por maioria de votos, destacamos aqui os votos vencedor e vencido, até para entendermos melhor como está evoluindo a jurisprudência a respeito de fatos, tão diretamente relacionados ao nosso dia-a-dia.

a) O Desembargador Régis de Oliveira de maneira objetiva fundamentou seu voto - no caso vencedor -, argumentando in verbis:

No caso dos autos, a responsabilidade é subjetiva. O Estado não causou o dano. Todavia, o serviço solicitado expressamente à autoridade policial não funcionou ou funcionou mal[...]. Não se obriga ao Estado ao impossível, ou seja, cuidar de todos os veículos que estejam estacionados nas vias públicas. Todavia, no caso dos autos, o policiamento foi expressamente solicitado e enviado. Logo, o serviço funcionou mal e foi condição para que o furto do veículo do autor acontecesse. Em sendo assim, indispensável que deve o Estado suportar o dano sofrido pelo autor.

b) Já o Desembargador Godofredo Mouro - voto vencido - contestando ao alegado, argumen-ta, inicialmente, que o Estado não recebeu em depósito o veículo furtado, apenas forneceu policiamento para a orientação e fiscalização do trânsito, não assumindo a responsabilidade pela guarda ou vigilân-cia de cada veículo estacionado, o que neste caso, aí sim a responsabilidade do Estado seria objetiva. Mais adiante, descarta a possibilidade de qualquer relação com o que ocorre em pátios de supermerca-dos e afins, ressaltando que, “o usuário paga por este serviço, cujo custo está, indiscutivelmente, embu-tido no preço da mercadoria adquirida”. E por fim, evoca os acontecimentos esportivos, quando da exis-

(18) STJ. DJU, de 16 de dezembro de 1996, p. 50.825. Comentários do Prof. Ronaldo Botelho

na coluna Decisões - em Destaque - jornal O ESTADO, de 26 de janeiro de 1997.

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tência de fiscalização e nem por isso o Estado deve responder pelas dezenas de furtos de veículos que acontecem rotineiramente.

4) Decisão do Superior Tribunal de Justiça

Interpostos embargos infringentes, os quais foram rejeitados também por maioria de votos. Daí o recurso ao STJ, provido por unanimidade pela 2ª turma, tendo por relator o Ministro Ari Pargendler, acom-panhado pelos Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Peçanha Martins e Ademar Maciel. Entendemos ser importante transcrever, na íntegra, a fundamentação do voto do Ministro relator, conforme o fez o Prof. Ronal-do Botelho.

A responsabilidade do Estado pode assim ser entendida: quando se cuida de com-portamento positivo ou comissivo do Estado, advém a responsabilidade objetiva, nos exatos termos do § 6º do art. 37 da Constituição da República, a saber, as pes-soas jurídicas de direito público e as de direito privado que prestam serviços públi-cos são responsáveis pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Observe-se e frise-se: o Estado causador do dano. Hipótese diversa se cuida quando o Estado não causa o dano, mas é ele causado em decorrência de omissão do Estado. A responsabilidade objetiva não se aplica aqui, como ensina Hely Lopes Meirelles, ao afirmar que “o legislador constitucional só cobriu o risco administrativo da atuação ou inação dos serviços públicos, não responsabilizou objetivamente a administração por atos predatórios de terceiros [...]” (Direito Administrativo Brasileiro, 14ª edição, p. 555). Aqui, portanto, se discute a respeito de culpa que o acórdão, modalidade de negli-gência, porque “o local era delimitado, o serviço de policiamento fora previamente solicitado e se fazia presente, quando ocorreu o furto do veículo” (fl.97). Já para o voto vencido “o simples fato de ter sido convocado o autor, aqui embargado, para participar de fiscalização de concurso público” na Cidade Universitária, não implica, necessariamente, na assunção da guarda de objetos ou bens do convocado. Não houve um contrato de depósito ou qualquer outro gerador de responsabiliza-ção. Ausente, portanto, a conduta culposa da ré”. A filiação a uma dessas posições exige, primeiro, que se conheça o teor da requisição do Procurador-Geral de Jus-

tiça ao Comandante do Policiamento Metropolitano, in verbis: “Devendo realizar-se no dia 29 de abril próximo vindouro, na Cidade Universitá-ria Armando de Salles Oliveira, em dependências da Escola Politécnica nas ime-diações do monumento Ramos de Azevedo, nessa capital, a prova escrita preambu-lar do 70º Concurso de Ingresso à Carreira do Ministério Público - 1990, venho solicitar a gentileza de Vossa Excelência no sentido de ser instalado, naquele

local, um sistema de policiamento externo, ostensivo, no período das 7 às 20h (fl. 14). Pergunta-se: o atendimento da requisição, nos termos em foi articulada,

implicava a responsabilidade do Estado por furtos praticados a despeito do poli-ciamento ostensivo? Salvo melhor juízo, os termos genéricos da requisição não autorizam essa conclusão, que poderia, é verdade, ser outra, se a requisição, espe-

cificando o propósito da guarda dos veículos, tivesse sido aceita nesses termos; o policiamento ostensivo tem caráter meramente preventivo, ocupando-se da segu-rança geral, sem comprometer o Estado, pelo que só poderia ser o resultado de

vigilância específica. Yussef Said Cahali, dando conta de que não se pode exigir do Estado “uma vigi-lância específica capaz de evitar na situação concreta a prática do delito de que se queixa o particular”, cita acórdão proferido pela Egrégia Terceira Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na Ap. 84.904. Relator o emi-nente Desembargador Lúcio Urbano, dele transcrevendo o seguinte tópico: “É de todo impossível reconhecer-se obrigação ressarcitória do Estado pela prática de crime. Se assim não for, o Estado responderá civilmente por todos os delitos prati-cados. Ao Estado se impõe-se o dever de vigilância, mas nunca o dever de vigilân-cia de cada cidadão em particular, mesmo porque se tal exigir-se, não haverá nenhum cidadão para ser policial, porque até esses também teriam o direito de

especial vigilância. A vigilância e a proteção dadas pelo Estado circunscreve-se à mantença de policial nas ruas, no serviço de policiamento preventivo e ostensivo. Mas isso não quer dizer que se tenha que evitar a concorrência de crime, sob pena

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de obrigação indenizatória” [sem grifo no original], (in Responsabilidade Civil do Estado, Malheiros Editores, São Paulo, 2ª edição, 1995, pág. 533). Enfim, a situação retratada nestes autos se assimila àquela, lembrada no voto do eminente Desembargador Godofredo Mouro, dos “acontecimentos esportivos, quando existe fiscalização e nem por isso o Estado deve responder pelas dezenas de furtos de autos que ocorrem rotineiramente (fl. 69). Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de lhe dar provimento para julgar improcedente a ação, invertidos os ônus da sucumbência

Como podemos observar, o STJ não descartou a possibilidade de ser reconhecida a respon-sabilidade civil do Estado nessas condições. Entretanto, no caso concreto, considerou apenas que dian-te dos termos genéricos do ofício do Procurador-Geral de Justiça, não assumira o Estado através de seu agente, no caso o Comandante do Policiamento Metropolitano, a obrigação específica de vigilância sobre os veículos. Apenas por isso excluiu a responsabilidade do Estado. Este fato já deve servir de alerta aos Comandantes de frações policiais militares, no sentido de uma redobrada atenção ao atender às solicitações de policiamento ostensivo, especialmente quanto ao nível de proteção pretendida, isto é, se genérica ou específica. Caso contrário, estará, como autoridade e agente público que é, assumindo a responsabilidade civil pelo Estado.

Para aqueles que ainda teimam em justificar a permanência da iniciativa, inclusive pela sua constitucionalidade, data vênia, façam um pouquinho de esforço mental e procurem concluir, como seriam encaminhados os votos do Desembargador Godofredo Mouro do TJSP e do próprio Ministro rela-tor do STJ Ari Pargendler, se estivessem incluídos no mérito os elementos que a Lei Estadual n.º 10.236/92, que institucionalizou o tributo, via modalidade de taxa, desnaturando aquele entendimento já consagrado, de que o policiamento ostensivo fornecido pelo Estado aos cidadãos é abstrato, por isso exercido de modo genérico, gerando apenas, em relação ao Estado, a responsabilidade subjetiva, isto é, ao sujeito da ação comissiva. Saliente-se: não se trata de serviço específico, através de uma vigilância especial. Todavia, no texto da própria Lei em causa, de forma inconseqüente, expressa que a taxa tem como fato gerador a utilização pelo contribuinte, de serviço específico e divisível prestado por órgãos da Administração policial militar. Infelizmente, no momento em que o poder público permitiu essa idiossincrasia, tornou concreto o serviço policial militar e objetiva a responsabilidade dos órgãos da Administração policial militar, sub-rogando-se o Estado, inclusive nas responsabi-lidades advindas de terceiros. Persistir em argumentar ao contrário é insensatez, ou então, desconheci-mento do que se deve fazer em termos de administração de operações policiais militares e suas conseqüên-cias. Em linguagem clara, a lição que devemos tirar de tudo isso, é que a polícia, como sendo uma organiza-ção do serviço público propriamente dito, suas dependências e ações, devem ser desburocratizadas ao máxi-mo, de modo que não ignore o que se passa na comunidade. Caso contrário, a ordem pública terá reduzido de muito suas garantias e o sossego da população estará sujeito a uma burocracia intolerável. Neste particular, a TSP conduz, justamente, a uma situação de incoadunabilidade em relação à filosofia da missão da força policial, a despeito de sua flagrante ilegalidade.

Afora estas indagações, infelizmente, o que vislumbramos é serem as unidades operacionais da força policial paranaense, transformadas em balcões de negócios públicos e sufocadas num lodaçal burocrático sem precedentes, em detrimento da operacionalidade.

Em conseqüência de tudo o que foi analisado, a Taxa de Segurança Preventiva é ilegítima, também no Sistema Tributário Nacional e nos dois tipos de fatos geradores que podem originar taxas no Brasil, isto é, pelo exercício do poder de polícia ou pela utilização efetiva ou potencial de serviços públi-cos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição e, além de contrariar a natureza geral e abstrata do serviço de policiamento ostensivo, propicia a existência indiscutível da responsabilidade objetiva do Estado, de graves conseqüências ao próprio erário.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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c. Segurança Pública

Novamente recorremos ao eminente Desembargador Álvaro Lazzarini(19), que em interessante artigo de sua lavra, assim se posicionou em relação à segurança pública:

Cabe-me aqui, discorrer sobre o aspecto da ordem pública que é a segurança pública, dado que a Constituinte de 1988 priorizou-a em o Capítulo III do Título V, que cuida da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas. A Segurança Pública é um dever do Estado e, assim, é um direito de todos [sem grifo no origi-nal] (art. 5º, cap., combinado com o art. 144, caput, ambos da Constituição Fede-ral). Para isso os representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte, instituíram um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma socieda-de fraterna pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprome-tida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, tudo conforme consta do preâmbulo da Constituição Federal de 1988.

Continua, na seqüência o mesmo autor: "Mas se a segurança pública é dever do Estado e direito de todos, de todos também é a responsabilidade”.

Entende-se responsabilidade ao valor, segurança pública, não apenas como mero serviço ou atividade, como equivocadamente entendeu o legislador paranaense. Deve ser uma preocupação cons-tante do Estado conciliar o respeito pelos direitos individuais com os interesses da coletividade, o que não é tarefa somente do Estado, mas responsabilidade da sociedade e de cada um em particular, tarefa facili-tada na medida em que cada um assuma a compreensão de seu papel, num contexto mais amplo e fun-damentalmente observe os preceitos da lei.

Segurança pública é um estado antidelitual, conforme já frisamos, e como tal, toda matéria a ela referida, diz respeito à ordem pública, seu objeto. Entretanto, a ordem pública, por ser mais abrangen-te, nem sempre diz respeito à segurança pública, que resulta da observância dos preceitos tutelados pelos códigos penais comuns e pelas leis das contravenções penais, isto é, pela legislação comum, incluindo-se, aí, o meio ambiente, a ocupação do solo e a própria salubridade pública.

Como integrantes do Sistema de Segurança Pública, às polícias militares cabe, também, zelar pela segurança pública. Esta, por sua vez, integrada num sistema complexo, de órgãos e competência, cujo elemento tutelado é a ordem pública. Ora, no momento em que o governo do Estado do Paraná entendeu estabelecer restrições nas ações operativas da Polícia Militar, exigindo do administrado uma taxa de serviço, estará restringindo também a ordem pública, como instrumento mais abrangente. Dentro do enfoque doutrinário, devemos considerar o binômio intensidade versus periculosidade, isto é, um problema que diz respeito à segurança pública, portanto à ordem pública, tem ligação direta, pelo desdobramento da agravação da crise, com a segurança interna e portanto com a ordem interna, e esta com a própria segurança e defesa nacional.

Fica, então, a indagação de como administrar isto na prática, no momento da exigência de dita TSP, quer seja da pessoa física, quer da jurídica, respectivamente? Naturalmente, que mais uma vez a resposta nos leva à impropriedade técnica da iniciativa, sem contornarmos a impropriedade jurídica. E como ficaria nos casos de Estados de Defesa e de Sítio respectivamente? E nos casos de convocação e mobilização da Polícia Militar, em que o Estado perde, inclusive, o controle operacional da força esta-dual? Lamentavelmente, o governo estadual só poderia agir como o fez, se na realidade detivesse o monopólio da segurança pública no seu território, fato largamente demonstrado, que não detém. Por esta via, também, não teria condições de viabilizar, sem vícios de origem, o referido tributo.

(19) LAZZARINI, Álvaro. O Papel da Investigação e do Sistema Judiciário na Prevenção do

Crime. Revista Unidade, n.º 17, julho de 1993, p. 46.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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d. Ordem Pública

Como bem podemos deduzir, do que até aqui foi explorado, ao Estado-Membro não cabe legislar acerca das missões das polícias militares e nem acerca dos tipos de policiamento a que deva executar, não lhe competindo, também, interferir na segurança pública na forma que o fez. Por outro lado, os serviços atribuídos às polícias militares integram atividades relativas à ordem pública, cuja legislação pertinente é da alçada privativa da União, uma vez que os interesses envolvidos - mesmo que no âmbito do Estado-Membro, - são nacionais, embora executados sob a responsabilidade deste.

Conforme enfatiza Diógenes Gasparini(20), em brilhante artigo em que conclui pela impossibili-dade da municipalização do trânsito, assim caracteriza a ordem pública:

A ordem pública, como a todo instante vem sendo afirmado, carrega a idéia de ati-vidade nacional que, por isso mesmo, não se contém nos estritos limites do interes-se local [...] conforme se infere da afirmação do STF, em lição que vale para os dias de hoje, segundo a qual a noção de ordem pública é nacional”. (Recurso Extraordinário n.º 14.658, relatado pelo doutor Luiz Gallotti). (Grifou-se).

Eis a razão de quando uma propriedade particular é ameaçada, ou irrompe uma situação de perturbação da ordem num estádio de futebol, ou uma pessoa solicita a proteção ou a reparação de um direito ferido, não está em jogo apenas o interesse do Estado-Membro. Está, isto sim, prestes a ser agre-dido, ou já agredido e ferindo um valor maior, nacional, integrante da ordem pública, ou seja, está afrontando a ordem pública, cuja preservação cabe à polícia da ordem pública.

Com vistas ao interesse local da segurança pública em relação ao interesse nacional, Diogo de Figueiredo Moreira Neto(21), assim a confirma:

[...] a segurança de uma sociedade nacional não é o somatório da segurança de cada indivíduo; trata-se de um conceito referido às instituições nacionais, ao Esta-do e à sua ordem jurídica, enquanto representa a justa manifestação dos interesses e aspirações nacionais.

Outrossim, como já ostentamos, a polícia administrativa divide-se em dois ramos: polícia geral e polícia especial. A primeira, também denominada de polícia de segurança, fundada nos valores de ordem pública, bons costumes e moralidade, como consta do ordenamento jurídico positivo, cujos valores compõem seu objeto, executando, portanto, serviços públicos de natureza geral, dever (esse) abstrato do Estado. Por isso, devem ser exercidos de modo genérico.

Neste ramo, enquadram-se todas as atividades atribuídas às polícias militares, como polícia ostensiva e responsáveis pelo nível de segurança pública desejável. Aqui não se admite qualquer remu-neração pelos serviços prestados pela polícia, até por uma questão de lógica. Ora, se é polícia geral, suas atribuições são de ordem geral e não específicas. Portanto, não se enquadram nas regras exigi-das para a instituição de tributo via taxa, conforme exaustivamente já demonstrado.

A segunda, que não se preocupa com assuntos relacionados à ordem pública, isto porque está sujeita a um regime jurídico especial e subordina-se a uma previsão legal muito mais restrita. Aqui sim, suas atribuições são de ordem específica ou concreta. Nesse ramo, enquadram-se as chama-das polícia funerária, edílica, sanitária, exploração de florestas, comércio de medicamentos, indústria de alimentos, entre outras, que impõem restrições à segurança, ao uso e gozo da propriedade e ao exercício da liberdade. Não é na outra, mas nesta forma de polícia que o Poder Público pode interferir e nos limites de sua competência legal, inclusive para estabelecer as respectivas taxas, pelo exercício do poder de polícia específico. "Não é competente quem quer, mas quem pode, segundo a norma de direito", é o que nos ensina Caio Tácito. É sabido que na Administração Pública, não há prevalência nem da liberdade nem da vontade pessoal. É conhecido, também, que na Administração Pública só é permitido realizar o

(20) GASPARINI, Diógenes. Municipalização do Trânsito - Impossibilidade. Revista A Força

Policial, São Paulo, n.º 1, jan-mar, 1994, p.49. (21) MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Capacidade do Estado para Legislar sobre Guar-

das Municipais e Segurança Privada. Parecer da Procuradoria Administrativa do Rio de Janeiro, 1991.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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que a lei autoriza, aliás, é o que expressa o caput do artigo 37, da própria Constituição da República, onde pôs em evidência o princípio da legalidade.

A competência resulta da lei, e nela encontra seus limites. A conclusão é óbvia e não podemos fugir das conseqüências. As missões das polícias militares, além de genéricas e inseridas num dever abstrato do Estado e, por estarem vinculadas à preservação da ordem pública, são, também, de interes-se da União, sendo, portanto, por este ângulo, vedada qualquer intervenção do legislador estadual, sob pena de descaracterizá-las de suas finalidades intrínsecas, e muito menos, constituírem-se em fatos geradores de taxa de polícia.

66.. CCOOMMPPEETTÊÊNNCCIIAA PPAARRAA LLEEGGIISSLLAARR SSOOBBRREE SSEEGGUURRAANNÇÇAA PPÚÚBBLLIICCAA

Como ensinamento, Diogo de Figueiredo Moreira Neto nos ensina que, até à promulgação da Constituição de 1988, o conceito de segurança pública era exclusivamente doutrinário. Em todos os seus estudos, o referido mestre sempre enfatiza como função indelegável do Estado, para manter, preservar e garantir o supremo valor social da ordem pública, isto é, um conjunto de estruturas e de funções que deverão produzir atos e processos capazes de afastar ou eliminar riscos contra a ordem pública.

Nos devidos termos, já podemos deduzir de análises anteriores, que a Constituição de 1988, através do seu artigo 144 caput, estabeleceu um sistema nacional, enumerando órgãos e atribuições para sua execução, a despeito de ter expressado que a segurança pública é dever do estado, direito e respon-sabilidade de todos. Com isso, estabeleceu expressamente a Constituição Federal:

a. pelos incisos I a V definiu os órgãos responsáveis, inclusive, quantitativamente;

b. distribuiu atribuições específicas para cada órgão, obtendo as polícias militares exclusivida-de constitucional para o exercício da polícia ostensiva de preservação da ordem pública, apenas ressal-vado o patrulhamento rodoviário e ferroviário, nas rodovias e ferrovias federais;

c. através do § 7º, preconizou lei nacional disciplinando a organização e funcionamento dos órgãos, de modo a obter a eficiência das respectivas atribuições dentro de uma visão sistêmica.

Acerca da competência legislativa sobre segurança pública, vamo-nos sustentar em ensina-mentos do Professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto, particularmente em seu parecer da Procuradoria Administrativa do Rio de Janeiro(22). Acerca da competência legislativa sobre segurança pública, nos esclarece de maneira objetiva:

Ao reservar atividades de segurança pública para órgãos federais (art. 144, I, II e III, o legislador constitucional atribuiu expresso e explícito poder à União para legislar sobre a competência desses órgãos (art. 22, XXII). Do mesmo modo, ao reservar à União competência legislativa sobre "sistema monetário e de medida, títulos e garantias dos metais" e "transferência dos valo-res", atribuiu-lhe implicitamente o poder de legislar sobre esses aspectos específi-cos da segurança pública (art. 22, VI e VII). Ainda, ao reservar-se a competência legislativa para baixar normas gerais de organização, efetivos e material bélico das polícias militares e corpos de bombeiros militares, a União tomou a si mais este aspecto específico da disciplina da segu-rança pública (art. 22, XXI). Finalmente, ao prever, a Constituição, uma lei (nacional) disciplinadora da orga-nização e funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, defini-dos no art. 144, a União ficou com poderes para homogeneizar e coordenar as ati-vidades de segurança pública no contexto do sistema nacional por ela estabelecido (art. 114, parágrafo 7º).

Eximidas as reservas federais, pode o Estado-Membro legislar sobre segurança pública, em assun-tos remanescentes, tais como: controle dos serviços de segurança privada, ressalvadas ainda, as exceções previstas pela Lei n.º 7.102, de 20 de junho de 1983; normas que impeçam a violação da ordem pública, fixan-

(22) MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Idem(21).

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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do parâmetros para a organização e funcionamento das guardas municipais; organização da polícia judiciária e normas para o seu funcionamento, segundo o que dispõe o inciso XVI, do artigo 13, da Constituição Estadual; normas para o planejamento e controle operacional da polícia de preservação da ordem pública, na área da segurança pública; normas para a segurança em atividades públicas em geral; instruções para instalação de manutenção de sistemas de alarmes em organizações policiais e assim por diante.

Em resumo, se o Estado-Membro, via Sistema de Segurança Pública imposto pelas normas constitucionais, não tem a faculdade para legislar sobre organização das polícias militares, menos ainda terá para estabelecer taxas pelo exercício do poder de polícia, ainda que destinadas para um fundo pró-prio, envolvendo suas missões operativas fixadas na legislação federal e, neste caso, mesmo que se tratasse de serviço público específico e inserido num dever concreto do Estado.

77.. AA SSEEGGUURRAANNÇÇAA PPÚÚBBLLIICCAA IINNTTEEGGRRAADDAA AAOOSS SSUUBBSSIISSTTEEMMAASS JJUUDDIICCIIAALL CCRRIIMMIINNAALL EE PPEENNIITTEENNCCIIÁÁRRIIOO

Mais uma vez vamos nos socorrer dos ensinamentos do caro professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto(23), assim discorrendo acerca da segurança pública, vista como um sistema social integrado aos subsistemas judicial criminal e penitenciário:

Se a segurança pública compreende estrutura e funções para prática de atos, para a garantia da Ordem Pública, ela é, em si mesma, um sistema, com seus elementos definidos, em inter-relação, com sua própria organização e com sua característica intrínseca, e aí temos o Sistema de Segurança Pública. Definidos os elementos do sistema, será fácil adentrar a organização de suas inter-relações a partir de cada caso, pois ela variará de país para país e de época para época. Existem, assim, intocáveis modalidades de organização de Segurança Pública. A organização polí-tico-jurídica dos Estados, para atender às peculiaridades da Segurança Pública, se desdobra em subsistemas especializados, dando surgimento a, pelo menos, três subsistemas da Segurança Pública, básicos: o policial, o judicial e o penitenciário. O subsistema policial faz parte do Poder Executivo, o subsistema judicial, do Poder Judiciário e o penitenciário, de ambos os Poderes. Tocando a todos esses subsistemas, acionando-os, fiscalizando-os e dando-lhes coerência, o Subsistema do Ministério Público cumpre esse papel imprescindível. De todos esses subsistemas, entretanto, é o Subsistema Policial o mais problemático: é o que está mais próximo das perturbações da Ordem Pública, é o que deve atuar concreta e diretamente em benefício dela e é o que, por isso, tem sua atuação preponderantemente discricionária, inesgotável em fór-mulas casuísticas.

E continua o insigne mestre enfatizando: “O agente de segurança pública, no desempenho de suas missões, cabe-lhe o exercício do poder de polícia, poder instrumental do Estado, não só para pro-mover a garantia da ordem pública, mas para preservar outros valores mínimos de convivência social, como o são a salubridade, o decoro e a estética, contra o exercício abusivo das liberdades e direitos individuais”.

Além do mais, os subsistemas judicial e penitenciário também atuam na defesa da cidadania e, particularmente, o judiciário quando chamado a intervir na área criminal e na defesa dos direitos do cida-dão, expressos no caput do artigo 5º, da Constituição Federal, o faz de forma gratuita, isto é, como dever imperativo e indelegável do Estado. Por isso mesmo, o subsistema policial não pode atuar de maneira inversa, isto é, em dissonância com os demais subsistemas.

Analisado por este prisma, mais uma vez a implicação é clara, de que a Polícia Militar é muito

mais que uma organização de vigilância pública e seu objeto é a ordem pública e não apenas a segu-rança, agindo diretamente sobre aquela, integrada num sistema específico e coerente, também denomi-

(23) MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Revisão Doutrinária dos Conceitos de Ordem

Pública e Segurança Pública. Polícia Militar e Constituição. III Congresso das Polícias Militares, Belo Horizonte MG, de 08 a 14 de fevereiro de 1987, p. 52.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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nado de Sistema Criminal(24), compreendendo a legislação penal, a Polícia, o Ministério Público, os advo-gados criminais, o Setor Penitenciário e a Justiça Criminal, como narra Álvaro Lazzarini, recorrendo ao entendimento do cel. PM RJ Carlos Magno Nazareth Cerqueira.

88.. AA AAÇÇÃÃOO PPÚÚBBLLIICCAA CCOOMMOO CCAARRAACCTTEERRÍÍSSTTIICCAA FFUUNNDDAAMMEENNTTAALL DDAASS AATTIIVVIIDDAADDEESS PPOOLLIICCIIAAIISS MMIILLIITTAARREESS

Em primeiro lugar, é interessante definirmos características, como sendo os aspectos gerais que revestem a atividade policial militar, identificando o campo de atuação e as razões do seu desenca-deamento, isto segundo o Manual Básico de Policiamento Ostensivo - IGPM.

A ação pública como característica do policiamento ostensivo enfatiza seu exercício visando a preservar o interesse geral da segurança pública nas comunidades, resguardando o bem comum em sua maior amplitude.

Não se confunde com zeladoria, atividade de vigilância particular de bens ou áreas privadas e públicas, conforme intercalado na Lei n.º 10.236/92, em seu anexo, onde especifica os atos relativos ao serviço operacional da Corporação, objetos de cobrança da TSP. Como também, não se confunde com a segurança pessoal de indivíduos sob ameaça.

A atuação eventual nessas situações deve sobrevir por conta das excepcionalidades e não como regra de observância imperativa, como conseqüência do próprio conceito de perturbação da ordem, previsto no n.º 25, do artigo 2º do Decreto Federal n.º 88.777, de 30 de setembro de 1983, assim declarado:

Art.2º............................................................................................................................. 1) .................................................................................................................................. 25) Perturbação da ordem - abrange todos os tipos de ação, inclusive os decorren-tes de calamidade pública que, por sua natureza, origem, amplitude e potencial possam vir a comprometer, na esfera estadual, o exercício dos poderes constituí-dos, o cumprimento das leis e a manutenção da ordem pública, ameaçando a popu-

lação e propriedades públicas e privadas. As medidas preventivas e repressivas neste caso estão incluídas nas medidas de defesa interna e são conduzidas pelos governos estaduais, contando ou não com o apoio do governo federal. (Grifou-se).

Com que consciência pública se pretende fixar e comprometer o potencial da polícia de pre-servação da ordem pública, em atividades tipicamente privadas, em troca de algumas centenas de reais, quando a população reclama insistentemente por mais proteção e socorro? E o que é pior, descaracteri-zando toda uma organização mais que centenária, sempre voltada para as missões constitucionais e de larga repercussão social, independentemente aos óbices de toda a natureza.

Mais uma vez fica no ar a indagação: Como ficaria o emprego da Polícia Militar, no caso de emergências mais prioritárias, se o pessoal e o material bélico estão imobilizados em ações pagas pelo contribuinte? Os paranaenses já se sentiram cansados e humilhados pelo poder público, quando a des-peito das súplicas por mais segurança pública, viram uma parte significativa dos efetivos de policiais-militares alocados nas agências do BANESTADO e em outras instalações públicas e autárquicas, enquan-to pessoas, atividades e membros do Poder Judiciário tiveram dificultado seus misteres, pela falta de disponibilidade da Polícia Militar.

Embora com certo atraso, a Justiça paranaense já reconheceu esta impropriedade de desres-peito aos direitos do cidadão e, em decisão já consagrada, determinou a retirada dos efetivos da força das agências do referido estabelecimento bancário, tendo em vista as demais necessidades e prioridades da coletividade, cuja resolução já foi cumprida pelo atual Governador do Estado. Frise-se, numa de suas primeiras decisões, ao assumir o respectivo cargo.

Por uma questão de coerência, o próprio Governo deveria tomar a iniciativa da revogação dos dispositivos da referida Lei referentes à TSP, até para se evitar a continuidade de uma situação, que além

(24) LAZARRINI, Álvaro. Polícia de Manutenção da Ordem Pública e a Justiça. Direito Admi-

nistrativo da Ordem Pública. 2ª Edição. Rio de Janeiro, Editora Forense, 1987, p. 3 e 4.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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de inusitada é paradoxal. Não obstante a Justiça ter julgado improcedente a Polícia Militar imobilizar efe-tivos num estabelecimento financeiro estatal, a Administração permite a imobilização destes mesmos efetivos em estabelecimentos e serviços particulares, desde que recolham a respectiva taxa, enquanto deixa de atender aos eventos de caráter público e de interesse da coletividade, sob a alegação do não recolhimento do referido tributo.

Estas posturas, ao invés de aproximar a Polícia Militar da comunidade, vêm afastando-a grada-tivamente, colocando-a em direção oposta aos princípios de uma polícia comunitária. Pela simples intro-dução equivocada de uma variável nova, no caso a TSP, na doutrina de emprego da força policial, já se fez sentir na prática, a queda do nível deontológico que está orientando as análises das missões, por parte de comandantes de frações policiais militares. Buscamos, como exemplo, o sucedido por ocasião da realização de uma Exposição Feira Agropecuária, num dos maiores municípios de nosso Estado, como também, um dos maiores eventos da região, incluindo a participação de representações de países do Mercosul. Sob a alegação de que seria cobrado ingresso, a unidade policial militar simplesmente dei-xou de atender com o policiamento ostensivo de praxe, pelo fato do organizador ter-se recusado a reco-lher a respectiva taxa, optando pelos serviços de particulares. Indubitavelmente, um evento deste por-te, não somente está revestido do caráter público, aí incluso o interesse da coletividade, mormen-te do governo, quer seja no plano municipal ou estadual, respectivamente, até como fator de indu-ção e estímulo ao desenvolvimento regional. Neste exemplo, não unicamente, a omissão da autorida-de policial militar está caracterizada, mas sobretudo, a do Estado. Ainda, à guisa de exemplo, e que vem corroborar com aquilo que temos insistido em relação às distorções no emprego da força, ocorre freqüen-temente em algumas Unidades e em determinados dias e períodos. Assim, estas têm recebido as Guias de Recolhimento com os valores já autenticados, obrigando aos respectivos comandantes apenas deter-minar a imobilização dos recursos, suprimindo, muitas vezes, postos prioritários de atendimento à coleti-vidade, para acolherem serviços privilegiados ou especiais a particulares. Aí sim, nesses casos, isto deveria ser feito por empresas de segurança privada.

Também, por mais este enfoque, não se recomendaria a instituição da tão célebre Taxa da Segurança Preventiva, uma vez que as ações das polícias militares, além de predominantemente públi-cas e legais, ainda, devem ser imparciais e impessoais.

99.. AA AATTIIVVIIDDAADDEE PPOOLLIICCIIAALL MMIILLIITTAARR EE OO CCÓÓDDIIGGOO DDEE DDEEFFEESSAA DDOO CCOONNSSUUMMIIDDOORR

Se as ações e operações policiais militares permanecerem reduzidas a meros serviços de vigi-lância e executadas mediante o prévio pagamento de uma taxa obrigatória, a Polícia Militar ficará, tam-bém, sob o escantilhão da Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor, da qual o contribuinte é o elemento mais importante, como destinatário final. E neste particu-lar, assim define a referida Lei, já no seu capítulo I:

Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único - Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 3º - Fornecedor é toda a pessoa física ou, jurídica, pública ou privada, nacio-nal ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvam ativi-dade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º................................................................................................................................ § 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitá-ria, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

É justamente pela contrapartida da taxa obrigatória, em nosso entendimento, que se concretiza a relação perfeita entre o órgão público - Polícia Militar como prestadora de serviços específicos, portanto, concretos - e o consumidor, o contribuinte, com todas as implicações decorrentes. Muito embora, existam discordâncias em razão de que via tributo, essa relação não se caracteriza de maneira

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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eficaz. Todavia, quando afirmamos isso, o fazemos com base nos elementos alheios à natureza dos serviços públicos gerais, inseridos pelos dispositivos da Lei que instituiu a respectiva TSP.

Já é sobejamente divulgado que a jurisprudência, independente do pagamento ou não, tem reconhecida a responsabilidade civil pública, também nas hipóteses de omissão da autoridade pública nos casos de envolvimento multitudinários, inclusive com integrantes das polícias militares, conforme já fizemos menção anteriormente.

Naturalmente, e com mais propriedade, a Justiça imputará responsabilidade civil ao Estado, na impossibilidade da força policial conter as ações delituosas contra pessoas e ao patrimônio, quando vigiados por frações ou policiais militares isolados. Exemplos do dia-a-dia como: vandalismo em estádios e ginásios esportivos, com graves conseqüências às pessoas e ao patrimônio; roubos e furtos diversos em áreas sob a cobertura policial; ferimentos e mortes; etc. Ao contrário do que se vislumbrou, ficará mais oneroso para o Estado, do que propriamente os benefícios que poderiam advir, mediante a cobrança do tributo.

Tudo isso, naturalmente, será pretexto para os contribuintes impetrarem ações de reparações e indenizações e com o amparo na Lei, agora reforçadas pela contrapartida do ressarcimento via taxa obrigatória. Seria bom e prudente que as autoridades levassem em consideração, também esta hipótese, para não serem surpreendidas num futuro bem mais próximo do que poderiam esperar, aliás, vimos cla-ramente a tendência da jurisprudência na transcrição da recente decisão do STJ.

1100.. AA ÉÉTTIICCAA EE AA AATTIIVVIIDDAADDEE PPOOLLIICCIIAALL MMIILLIITTAARR

Sem sombra de quaisquer dúvidas, são fundamentais o caráter e a investidura militar para nos-sas corporações, além de uma série de outras peculiaridades que lhes são próprias, destacando-se o conteúdo ético que revestem suas missões.

Muito embora sejamos obrigados a reconhecer que nos últimos anos, não somente a milícia paranaense, mas também diversas coirmãs vêm-se afastando dos valores éticos profissionais, com largo espectro de repercussões indesejáveis em suas estruturas disciplinares, especialmente reveladas pelo comportamento do dia-a-dia, onde os desvios de conduta têm sido uma constante.

Mas mesmo assim, ainda existem valores a serem preservados ou recuperados e dentre eles, um dos mais importantes É A CONCEPÇÃO DE QUE AS POLÍCIAS MILITARES DEVEM SER COMPREENDI-DAS COMO DE INTEGRAL DEDICAÇÃO AO PROVIMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA, ENTENDIDA COMO DE PROTEÇÃO E SOCORRO DO INDIVÍDUO E DA COMUNIDADE.

Neste caso específico são magistrais as palavras do cel. PMMG Leonel Archanjo Affonso(25), onde em influente trabalho publicado, textualmente declara:

A formação mais adequada ao PM, bem como a prática profissional mais sadia, levam-no a pautar sua conduta segundo a ótica de uma atividade protetora da sociedade. A Lei é o limite da sua ação coercitiva, mas a assistência que se obriga

a prestar à população transcende, em muito, os limites de seus deveres legais ou regulamentares formais. A PM é uma repartição pública inteiramente desburocra-tizada. O cidadão tem acesso imediato aos seus serviços a um simples aceno ou

através de um telefonema gratuito. Não há guichês; não há requerimentos; não há filas; não há alegações de que o assunto não é de sua competência; de que o fato ocorreu em outra jurisdição territorial” [sem grifo no original].

Aliás, é somente dessa forma que um profissional e um governo conscientes podem

entender as importantes e essenciais missões das polícias militares. Caso contrário tudo isso irá ralo abaixo, tragando os valores e os ideais profissionais.

(25) ARCHANJO AFFONSO, Leonel, Cel PM MG. Polícia Militar e Constituinte. Agosto de

1986, p. 25.

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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Por outro lado, a essência da atividade policial militar está na perfeita noção do dever profis-sional de cada um, feito em juramento solene em que se coloca em risco, inclusive a integridade da vida, em prol do semelhante e da coletividade. Que valor terá isso tudo, se o cidadão for reduzido à mera con-dição de contribuinte compulsório e o policial militar um mero prestador de serviço de vigilância - desna-turado - de sua atividade fundamental, de caráter público e social?

Data vênia, a que patamar vemos deslocar valores expressos e já internalizados, por uma grande maioria de policiais-militares e de outros ilustres brasileiros conscientes da nossa missão, como por exemplo, de que a Polícia Militar deve atuar como um verdadeiro exército da sociedade, segundo o que exclamou Álvaro Lazzarini? Pelo lado da ética profissional, também, se desaconselha a permanência da taxa de prevenção de segurança pelas razões apontadas e por outras até óbvias. E neste particular, outra preocupação, a de termos hoje no Paraná, com a burocracia implantada para a atividade policial militar, agenciadores ou despachantes oficiais, ganhando dinheiro nesta área e muito provavelmente, com o envolvimento de policiais-militares. Quando não, infelizmente, será mais uma brecha para o des-caminho, via corrupção.

1111.. CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS

Inequivocamente, essas funções estatais que se traduzem em sujeição, ao poder de polícia de preservação da ordem pública pelas polícias militares, embora funções essenciais de proteção aos direitos individuais e coletivos, portanto, daqueles direitos e garantias fundamentais como: a inviolabilidade do direito à vida; à liberdade; à igualdade; à segurança e à propriedade, impõem um dever ao Estado abstra-to e por isso desempenhadas de modo genérico. Por conseguinte, devem ser exercidas, independentes de quaisquer ressarcimentos, como bem se depreende da própria norma constitucional, do Código Tributá-rio Nacional e da legislação federal específica. Não poderia ser de outra maneira, considerando-se, ainda, o caráter organizacional “sui generis” das polícias militares, no modelo policial brasileiro.

Para comprovarmos em postimeiro, o que até aqui abrigamos, tomamos conhecimento de que o dirigente de uma importante agremiação de futebol de nossa cidade, na solicitação de policiamento dirigida ao Comando do Policiamento da Capital, já fazia constar apenas 20 (vinte) policiais militares para serem empregados no interior do gramado e, para as demais necessidades seriam contratados serviços de uma empresa particular, por serem menos onerosos ao respectivo clube. Não precisamos argumentar mais nada. Os fatos estão a comprovar, por si mesmos, os desdobramentos indesejáveis, naturalmente, gerados pela iniciativa desalinhada do Poder Público, cujos conflitos, certamente, irão desaguar mais uma vez à apreciação do Poder Judiciário, que por certo, não faltará aos seus compromissos em restau-rar o império da legalidade.

Sem embargo, a idéia de polícia está ligada à idéia de cidadania, tão propalada e tão valorizada nos dias atuais, e neste particular a Constituição Federal é determinante. E, como exercitar esta cidadania, se a polícia estiver comprometida em sua espontaneidade nas ações e operações policiais militares?

Por outro lado, não se pode admitir ao mesmo tempo a instituição e a cobrança de taxas pelo exercício do poder de polícia ou prestação de serviços, sem a atividade específica e divisível, com fundamento na lei. As taxas não se processam discricionariamente e não estão submetidas à livre vontade da autoridade, mediante elucubrações esdrúxulas, mas pelo contrário, ao imperativo constitucional.

Por todos os ângulos analisados, não encontramos nenhum embasamento jurídico, técnico, operacional ou ético que recomendasse a cobrança de tributo, por qualquer uma das modalidades de taxas, vinculadas às atividades exercidas pelas polícias militares. Essas atividades, no plano interno, conforme a doutrina vigente, estão integradas ao Sistema de Defesa Nacional.

Ao contrário, encontramos tão-somente óbices intransponíveis, os quais caracterizam, em definitivo a ILEGITIMIDADE da pretensiosa inovação, isto é, no Brasil e com base no atual ordenamento jurídico, é IMPOSSÍVEL A COBRANÇA DA TAXA DE SEGURANÇA PREVENTIVA, ou a outra designação que quiséssemos atribuir, por mais sofisticada ou dissimulada que fosse. Em resumo e de modo peremptó-rio e categórico: a taxa de segurança preventiva da Lei n.º 10.236, de 28 de dezembro de 1992, instituída para custear um serviço público, ao contrário do que define, trata-se de um serviço

Cobrança de Taxa de Segurança Preventiva - Impossibilidade.

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genérico e abstrato, é um imposto. Um imposto inominado. E, como tal, também é inconstitucional, pois escapa à competência das Unidades Federativas, instituir outros impostos que não aqueles inventa-riados no próprio texto constitucional.

Enfim, se na realidade é assim, também o Governo deveria se preocupar com a hipótese da lei vir a ter argüida a sua inconstitucionalidade, e no caso afirmativo, devolver aos contribuintes os valores arrecadados indevidamente. Esta é uma assertiva irrefutável pelos precedentes já firmados pelos Tribu-nais nas várias instâncias. Trata-se apenas de uma questão de tempo.

Outrossim, na esfera Estadual, o Tribunal de Justiça, em incontáveis apelações cíveis, os Desem-bargadores das diferentes Câmaras Cíveis, por decisões unânimes, têm negado provimento aos apelos para a cobrança da Taxa de Segurança instituída pela Lei estadual n.º 7.257, de 30 de novembro de 1979. Conside-ram os Magistrados que o tributo reivindicado pelo Fisco do Estado é descaracterizado ante a ausência de seus pressupostos, ou pela inexistência de serviço específico e divisível. A característica do serviço de segu-rança pública é por natureza genérica. (Ac. 10.390, de 12/04/95; Ac. 11.796, de 05/09/95; Ac. 10.867, de 13/09/95; Ac. 12.243, de 12/12/95; Ac. 12.244, de 12/12/95 e Ac. 646, de 26/12/95. Apenas para citarmos algumas decisões já consagradas).

O Supremo Tribunal Federal, em reiteradas oportunidades, tem-se manifestado através de vários acórdãos que a taxa de segurança pública, já tentada em outras oportunidades, conflita com a Constituição Federal e com a definição que lhe atribuiu o Código Tributário Nacional em seus artigos 78 e 79. Por isso, invariavelmente, tem decidido pela inconstitucionalidade de taxas de segurança pública criadas em leis estaduais, afirmando que: “Policiamento ostensivo, preventivo e repressivo é serviço público custeado com impostos gerais”. ( R.E. 72.394 - Espírito Santo, Plenário, 10/11/71; Relator Ministro Luiz Gallotti (RTJ, 60/282), e referida, também, a chamada “taxa de segurança” prevista na Lei 2.311, de 15/12/67, declarada, igualmente, inconstitucional. R.E. 77.815, in Ement. 951-1; R.E. 77.452, in Ement. 948-1; R.E. 79.989, in Emment. 983-2; R.E. 77.111, in Ement. 1.106-2. Pela Rp 992-1, em 28/05/80, declarou a inconstitucionalidade da Lei n.º 3.698 de 30/12/76, do Estado de Alagoas, que por coincidência é muito semelhante, no que se refere ao tributo via taxa, àquela instituída em nosso Estado e objeto da atual discussão).

12. EMENTA

Passados mais de três anos após a lavra deste texto veio a primeira decisão da Corte Máxima do País. Confirmando a tradição, o STF em julgamento de liminar da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 1.942, referente ao art. 2º e tabela V, ambos da Lei 6.010, de 27 de dezembro de 1996, do Esta-do do Pará, apresentada pelo Conselho Federal da OAB, decidiu, no dia 05 de maio de 1999, que é inconstitucional a cobrança de taxa sobre serviço ou atividade policial militar, inclusive policiamento ostensivo. A referida Corte, por votação unânime, considerou que em face do art. 144, caput, inciso V e parágrafo 5º, da Constituição, sendo a segurança pública dever do Estado e direito de todos, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através, entre outras, da Polícia Militar, essa atividade do Estado só pode ser sustentada pelos impostos, e não por taxa, se for solicitada por particular para a sua segurança ou para a de terceiros, a título preventivo, ainda quando essa atividade decorra de evento aberto ao público. (Grifou-se). Impende lembrar que a refe-rida ADI, pela natureza da matéria, salvo melhor juízo, goza de eficácia erga omnes (contra todos) e efei-to vinculante em relação às demais normas idênticas editadas por outros entes federativos, exegese do art. 28 da Lei nº 9.868 e do novo art. 102, § 2º da Constituição Federal.

Em relação à Taxa de Segurança Preventiva paranaense, a OAB ajuizou a ADI - sob n° 1.737 - alegando a inconstitucionalidade da referida lei, cuja ação se encontra no STF aguardando o julgamen-to. A jurisprudência já consolidada é a de que o policiamento ostensivo, como dever do Estado, é indivisí-vel e não pode ser custeado mediante taxas. A Advocacia Geral da União já se manifestou pela inconsti-tucionalidade parcial da lei, isto é, dos artigos 1° ao 15, e inciso II, do artigo 22. Todas estas disposições estão relacionadas à TSP.

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