408
1 Hélder Ferreira Isayama Letícia Morais de França Oliveira Tatiana Roberta de Souza Silvio Ricardo da Silva (Organizadores) COLETÂNEA X SEMINÁRIO “O LAZER EM DEBATE” 18 a 20 de abril Belo Horizonte 2009

COLETÂNEA X SEMINÁRIO “O LAZER EM DEBATE” · Desejamos assim, que o X Seminário “O Lazer em Debate”, saindo agora da sua fase de ”infância”, não perca essa característica

Embed Size (px)

Citation preview

1

Hlder Ferreira IsayamaLetcia Morais de Frana Oliveira

Tatiana Roberta de SouzaSilvio Ricardo da Silva

(Organizadores)

COLETNEA

X SEMINRIO

O LAZER EM DEBATE

18 a 20 de abrilBelo Horizonte

2009

2

FIcHa caTaLOgRFIca

S471c Seminrio O Lazer em Debate (10.: 2009 : Belo Horizonte, MG.)

Coletnea do X Seminrio O lazer em debate / Organizadores: Hlder Ferreira Isayama, Letcia Morais de Frana Oliveira, Tatiana Roberta de Souza, Silvio Ricardo da Silva. Belo Horizonte : UFMG/DEF/CELAR, 2009. 408 p. 1. Lazer - Congressos. 2. Recreao - Congressos. 0I. Isayama, Hlder Ferreira. II. Frana, Letcia. III. Souza, Tatiana Roberta de. IV. Silva, Silvio Ricardo da. V. Ttulo

CDU: 379.8(063)

Ficha catalogrfica elaborada pela equipe de bibliotecrios da Biblioteca da Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia

Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

Organizadores da coletnea:Hlder Ferreira IsayamaLetcia Morais de Frana OliveiraTatiana Roberta de SouzaSilvio Ricardo da Silva

Diagramao: B1 comunicao e Marketing

Observao: a reviso dos textos de responsabilidade dos seus autores.

capa: adilson Batista Moreira

Impresso da capa e da coletnea: Imprensa Universitria da UFMg

3

COLETNEA

X SEMINRIO

O LAZER EM DEBATE

Belo Horizonte, 18 a 20 de abril de 2009.

Realizao: Universidade Federal de Minas gerais

Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia OcupacionalDepartamento de Educao Fsica

centro de Estudos de Lazer e Recreao cELaRcentro de Extenso da Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMg

(cENEX)

Apoio:Ministrio do Esporte

Programa de apoio Integrado a Eventos (ProEX/UFMg)Programa de Mestrado em Lazer (UFMg)Pr-Reitoria de Ps-graduao da UFMg

alvotur: alvo Viagens e TurismoFapemig - Fundao de amparo a Pesquisa de Minas gerais

Parceiros:curso de Lazer e Turismo (USP Leste)

grupo de Pesquisa anima: Lazer, animao cultural e Estudos culturais (EEFD/UFRJ)grupo de Pesquisa em Lazer (gLP/Unimep)

grupo de Estudo e Pesquisa em Polticas Pblicas e Lazer (gEPL/FEF/Unicamp) Programa de Educao Tutorial Educao Fsica e Lazer (PET/UFMg)Laboratrio de Estudos do Lazer (LEL/UNESP-Rio claro)

centro Esportivo Virtual (cEV)

4

X SEMINRIO O LAZER EM DEBATE

REALIZAO:Universidade Federal de Minas GeraisReitor: Prof. Ronaldo Tadeu Pena

Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia OcupacionalDiretor: Prof. Rodolfo Novellino Benda

Departamento de Educao Fsicachefe: Ronaldo de Rezende Centro de Estudos de Lazer e Recreao (CELAR)coordenao Pedaggica: Profa. christianne Luce gomescoordenao administrativa: Prof. Hlder Ferreira Isayama

APOIO:Programa de Apoio Integrado a Eventos/PROEX/UFMGPr-Reitor de Extenso: Profa. ngela Imaculada Loureiro de Freitas DalbenPr-Reitor de Pesquisa: Prof. carlos alberto Pereira Tavares Pr-Reitor de graduao: Prof. Mauro Mendes BragaPr-Reitor de Ps-graduao: Prof. Jaime arturo Ramrez

Centro de Extenso da Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG CENEXcoordenador: Prof. gustavo crtes

5

cOMISSO ORgaNIZaDORa DO X SEMINRIO O LaZER EM DEBaTE

Coordenao GeralHlder Ferreira IsayamaSilvio Ricardo da Silva

Comisso Cientficachristianne Luce gomes UFMggisele Maria Schwartz UNESPJos alfredo Debortoli UFMg Nelson carvalho Marcellino UNIMEP Ricardo Ricci Uvinha USP Ricardo Teixeira Veiga UFMg Silvia Franco amaral UNIcaMPVictor andrade de Melo UFRJ

Comisso EditorialHlder Ferreira Isayama UFMgLetcia Morais de Frana Oliveira UFMgTatiana Roberta de Souza UFMgSilvio Ricardo da Silva - UFMg

Comisso de AvaliaoBruno Otvio de Lacerda abraho UFMggeorgino Jorge de Souza Neto UFMgRonaldo de Rezende UFMgLerson Fernando dos Santos Maia - cEFET/RN

Comisso de InfraestruturaFelipe Vincius de Paula abrantes UFMg Leonardo Lincoln Leite de Lacerda UFMgNatlia de Souza arajo UFMgPedro Luiz da costa cabral UFMg

Comisso Artstica e Culturaladriano gonalves da Silva UFMgJuliana de alencar Viana UFMgKarine Barbosa de Oliveira UFMgLuiz gustavo Braga gomes UFMgMarie Luce Tavares UFMgRubya Karoline Santos Rodrigues UFMg

Comisso FinanceiraLuiz gustavo Niccio UFMg

Comisso de Hospedagem, Alojamento e Transportesamanda carolina costa Silveira UFMgandr Silveira gomes UFMgThiago Marques Pereira UFMg

6

Rodrigo Elizalde Universidad Bolivariana do chile

Comisso de Apoio Apresentao de Trabalhosalexandre Lima de carvalho UFMgDjango Mendona da Silva UFMgFernanda caetano cunha UFMgFernanda Tatiana Ramos Siqueira UFMgMariana alves Rodrigues UFMgPoliana Ribeiro Bretas UFMgTatiana Roberta de Souza UFMgTiago Felipe da Silva UFMg

Comisso de SecretariaIncio de Loyola Ruas Lima UFMgJoelma Lilian da Silva UFMgLas Machado Nunes UFMgLeandra Fernandes Resende UFMgLetcia Morais de Frana Oliveira UFMgLuiz gustavo Braga gomes UFMgMarcos de abreu Melo UFMgTnia Lopes Soares Mol UFMg

Secretariacinira Veronezi cELaR/UFMg Snia Maria cndido cENEX/EEFFTO/UFMg Wanda Proena cENEX/EEFFTO/UFMg

WebsiteJuliana de alencar Viana UFMg

Cerimonial e lanamento de livrosPriscila augusta Ferreira campos UFMg

7

APRESENTAO

com grande alegria que comemoramos, em 2009, a dcima edio do Seminrio O Lazer em Debate. Em 2000, realizamos na Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMg o incio desse ciclo. Esse evento, que acontece anualmente no primeiro semestre, teve oportunidade de ser sediado sete vezes em Belo Horizonte (UFMg), duas no Rio de Janeiro (UFRJ) e em uma em So Paulo (USP).

Diante do seu contnuo amadurecimento, o Seminrio O Lazer em Debate passou a fazer parte das agendas de pesquisadores, professores e estudantes, de diversas reas do conhecimento que vm se debruando sobre esse campo de estudos. O reconhecimento do campo acadmico se refletiu no envio de cento e oito trabalhos que passaram pela avaliao de uma comisso cientfica, composta por pesquisadores com destacada produo sobre o lazer em nosso pas. como resultado dessa avaliao, temos a apresentao de cinquenta e um trabalhos em treze mesas temticas e quarenta e dois psteres.

cabe destacar a parceria estabelecida entre os grupos cELaR da UFMg, o aNIMa da UFRJ, gPL da UNIMEP, LEL da UNESP de Rio claro, gEPL da UNIcaMP e gIEL da USP - campus Leste. Muito mais do que nos agruparmos em funo da realizao desse Seminrio, estamos estabelecendo uma rede pautada em relaes de afeto, respeito e considerao que se reflete nos eventos, seja na qualidade da produo, seja nas relaes de trocas acadmicas e pessoais que efetuamos.

No podemos deixar de prestar nossos agradecimentos aos palestrantes, aos estudantes de graduao e do Mestrado em Lazer, aos servidores docentes e tcnico-administrativos que no mediram esforos no sentido contribuir com a concretizao desse evento.

agradecemos tambm o apoio da Direo da Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMg, da Pr-Reitoria de Ps graduao da UFMg, da Secretaria Nacional para Desenvolvimento do Esporte e Lazer (SNDEL) do Ministrio do Esporte, do Programa de apoio Integrado a Eventos (PaIE) da Pr-Reitoria de Extenso (ProEX) da UFMg, do centro Esportivo Virtual e da alvotour.

Desejamos assim, que o X Seminrio O Lazer em Debate, saindo agora da sua fase de infncia, no perca essa caracterstica de estimulador e divulgador do conhecimento sobre o Lazer, assim como, da alegria do encontro e da festa.

Um abraoOs Organizadores

8

PROGRAMAO DO X SEMINRIO O LAZER EM DEBATE

18/04/2009 Sbado

18:00 - Credenciamento

19:00 - Abertura

19:30 Conferncia de Abertura: O Lazer como campo de estudos transdisciplinar conferencista: prof Dra. Nuria codina - Universitat de Barcelona

21:00 Confraternizao de Abertura

19/04/2009 Domingo

10:00 - Mesa redonda: O lazer e os estudos antropolgicos Palestrantes: Profa. Dra. ana Maria Rabelo gomes (FaE UFMg) Profa. Dra. La Freitas Perez (FaFIcH UFMg)

12:00 Almoo

14:00 Mesas TemticasMesa Temtica 1: Lazer e Cultura1 - Teorizando a FestaVnia Noronha2 - a religiosidade e o caipira no imaginrio ldico e festivo de So Luiz do Paratinga: Eu sou caipira, voc o qu?Michele cristina alves Vieira3 - Espaos de Dana de Salo da cidade do Rio de Janeiro: Tradio e Inovao no Lazer do cariocaMaria Ins galvo Souza4 - O ensino do jogo na perspectiva do lazerMarizabel Kowalski e Deyliane aparecida almeida Pereira

Mesa Temtica 2: Lazer e Trabalho1 - Lazer e Trabalho: Uma anlise crtica IntrodutriaPedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo2 - Lazer no Trabalho: melhoria da qualidade de vida ou aumento da produtividadealine de Freitas Oleto, Ludmila guimares, Rafael Diogo Pereira e antnio Del Maestro Filho3 - Lazer e trabalho: a questo do SESIEmlia amlia Pinto costa da Silva4 - Trabalho e Lazer na Infncia e adolescncia no Sculo XXI: Direito Social ou Incluso Excludente?Marcelo Silva dos Santos e graziany Penna Dias

9

Mesa Temtica 3: Lazer: conceitos e Teorias1 - Um recorte sobre a relao existente entre o Lazer e o Progresso Tcnicoalice da Silva, cathia alves e Nelson carvalho Marcellino2 - Investigacin alrededor de la psicosociologa del tiempo libre de Frederic Munn: Dilogos de Brasil y EspaaNria codina, Jos Vicente Pestana, Slvia cristina Franco amaral e Paulo cezar Nunes Junior3 - La necesidad de ocio entendida desde la teora del desarrollo a escala humanaRodrigo Elizalde4 - Lazer e cronobiologia: vivncias de indivduos matutinos e vespertinosBianca ap. arajo Pizzolito e Edmur antonio Stoppa

Mesa Temtica 4: Lazer e Polticas Pblicas 11 - PELc: O ponto de vista de uma comunidade usuriacludio gualberto2 - a concepo de Lazer enquanto Indicador de avaliao das Polticas Pblicas: O caso do PELcKeni Tatiana Vazzoler areias, carlos Nazareno Ferreira Borges, Lucas Rezende cabral, Poliana de castro Nery e grece Teles Tonini3 - Representaes de Esporte/Lazer em Projetos Sociais: Um Olhar sobre o Programa Segundo Tempo em vitria EScarlos Nazareno Ferreira Borges, Lucas Rezende cabral e Samuel coelho da Silva4 - Juventude, Esporte e Lazer: O Projeto Esporte Meia-NoiteLeonardo Simes

Mesa Temtica 5: Lazer, Educao e Polticas Pblicas1 - Pistas para uma Educao conscientizadora para e pelo Lazer com Interfaces de IntersetorialidadeLorenza Falchetto Venturim, carlos Nazareno Ferreira Borges e andr de Deus Roeldes2 - a educao para e pelo lazer no Programa Minas Olmpica Nova geraoguilherme carvalho Franco da Silveira e Rodrigo caldeira Bagni Moura3 - Relaes entre o lazer e a educao de tempo a partir das experincias do Programa Segundo TempoMonica Borges Monteiro

Mesa Temtica 6: Lazer e Turismo1 - as fronteiras entre Turismo e LazerMarina arajo e Hlder Ferreira Isayama2 - Lazer, turismo, juventude e cidadania: uma anlise das mediaes no Projeto Turismo Jovem cidado (SESc-RJ)Bernardo Lazary cheibub3 - Identidade Local, Lazer e Turismo: Propostas de Interveno no turismo cultural da Metrpole Belo-HorizontinaRafael Frois da Silva4 - a Insero dos conhecimentos sobre o Lazer nos cursos de graduao em turismo de Minas gerais: Reflexes acerca de Currculo e das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduao em Turismochristianne Luce gomes, Tatiana Roberta de Souza, Ticiane F. Martins da cruz, Jnia gontijo cndido, Mariana Torquete Moura, cleide a. gonalves de Sousa e Ricardo Teixeira Veiga

Mesa Temtica 7: Lazer, Jogo e Esporte1 - Esporte, lazer e sociedadeMarizabel Kowalski e Deyliane aparecida almeida Pereira2 - Jogos Tradicionais e a Perspectiva Cientfica no LazerMarizabel Kowalski e Deyliane aparecida de almeida Pereira3 - O futebol Frente Perspectiva do Lazer: a Prtica do Esporte sob o Olhar dos TorcedoresTiago Felipe da Silva4 - Futebol e Lazer: uma anlise sobre a Sociabilidade e o Estilo de Vida das torcidas Organizadas de

10

Belo Horizonte/MgBruno Otvio de Lacerda abraho, ananda Silza Venam de Souza, andr Silveira gomes, Deborah Salvino Santana Santos, gibson Moreira Praa, Juliana de alencar Viana e Silvio Ricardo da Silva16:00 Intervalo16:30 Sesso de Psteres1 - O brincar na Serra: suas prticas e significadosLeonardo Toledo Silva2 - Representaes sociais dos professores de nvel um sobre contedo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras utilizando as aulas de Educao Fsica na educao infantil: um estudo de caso em uma escola municipal do Estado da BahiaIvo Nascimento Neto3 - a brincadeira nas escolinhas de futsal de Belo HorizonteDiego Henrique Rezende Moreira e Flvio clemente Frana Souza4 - Lazer e educao: problematizando o brincar na educao de crianas a partir das contribuies da psicologia educacional de carl RogersMichelle arajo Rocha e Jos alfredo Debortoli5 - Por uma perspectiva crtica/criativa de lazer na educao fsica: trabalhando com mtodos criativosgraziany Penna Dias, Edith carolina Tavares de Paula, Lilian cristina carvalho Vieira e Marasa Fuscaldi cunha6 - Formao de brinquedistas escolares: saberes necessrios a construo e aplicao de jogos pedaggicos para a educao infantil e sries iniciais de 1 a 4ana cristina guimares de Oliveira7 - O festival de marchinhas de So Luiz do Paraitinga e a memria histrico-cultural de seus participantesMichele cristina alves Vieira8 - Os capoeiras no alto Vera cruz: indcios de lazer e violnciasRoberto camargos Malcher Kanitz9 - Lazer e cultura gtica no centro de So Pauloana Paula Mukoyama Silva e Edmur antonio Stoppa10 - Pedaos do Brasil: as rodas de samba como espaos de lazerguilherme Velloso alves11 - O Hip-Hop como meio de produo alternativa de lazerDaniel Bidia Olmedo Tejera12 - O Lazer na amrica Latinachristianne Luce gomes, alicia Maricel Oliveira Ramos, Leila Mirtes Santos de M. Pinto e Rodrigo Elizalde13 - Prticas de Sensibilizao Territoriaiscinthia Mayumi Saito e Eliane Dias de castro14 - Prticas de lazer e usos da gua na zona de amortecimento da Rebio TinguFellipe Jos Silva Ferreira e ana Lcia Lucas Martins15 - Esporte de montanha no cinema: a mostra BanffEdmundo de Drummond alves Junior, cleber augusto gonalves Dias, Tuan Nunes Maia e gustavo Bento Ribeiro de arajo16 - Reflexes sobre o lazer, educao fsica e formao profissionalaline galante e andra Rodrigues de amorim17 - Os estudos do lazer nos cursos de mestrado acadmico relacionados a Turismo/Hospitalidade no Brasil: reflexes a partir das dissertaes produzidasTatiana Roberta de Souza e christianne Luce gomes18 - Insero profissional dos Bacharis em Turismo formados pela UFMG nos anos de 2005-2007Tatiana Roberta de Souza e christianne Luce gomes19 - Lazer, Idosos e Incluso Social: Explorando o Potencial dos Interesses Tursticos na Perspectiva da animao Socioculturalchristianne Luce gomes, andrezza goulart Buldrini de Souza, Leonardo Lincoln Leite Lacerda e Marcos Filipe guimares Pinheiro20 - (Re) criao do imaginrio ldico nas aulas de atividade fsica para a terceira idade

11

Emlia amlia Pinto costa da Silva, Priscilla Pinto costa da Silva, Julienne de Lucena Souto Marinho e cheng Hsin Nery chao21 - Lazer e fisioterapia geritrica: a importncia da interdisciplinaridadeamanda guiduci Marcial

17:30 - Painis de debates - 60 vagas por tema

Painel 1 - Lazer em Hotis Profa. Ms. Olvia cristina Ribeiro (Universidade So Judas SP)

Painel 2 - Lazer e Novas Tecnologias - Profa. Juliana de alencar Viana (Mestrado em Lazer UFMg)

Painel 3 - Lazer e colnia de Frias Profa. Ms. Dbora alice Machado da Silva (Faculdade de americana FaM/SP)

Painel 4 - Lazer e Escola Prof. Dr. Tarcsio Mauro Vago (EEFFTO UFMg)

21:00 Confraternizao

20/04/2009 Segunda 10:00 - Mesa redonda: O lazer e os Estudos Histricos Palestrantes: Prfa. Dra. Regina Helena alves da Silva (FaFIcH UFMg) Prof. Dr. Victor andrade Melo (UFRJ)

12:00 Almoo

14:00 Mesas TemticasMesa Temtica 8: Lazer, Cultura e Consumo1 - Os espaos de arte como espaos de lazer: um estudo comparativo entre aes educativas do Museu Mineiro e Museu de arte da Pampulha Belo Horizontecleide aparecida gonalves de Sousa e Victor andrade de Melo2 - O samba como veiculo e objeto de educao: apontamentos para uma proposta de educao para o lazerguilherme Velloso alves3 - So Paulo Fashion Week: o evento como espetculoclaudia Heringer Henriques, Hlder Ferreira Isayama e Victor andrade de Melo4 - Lazer como objeto de consumoRicardo Teixeira Veiga e ana Lcia cotia Deister

Mesa Temtica 9: Lazer, Cultura e Consumo1 - a histria oral como possibilidade na investigao e interveno do lazer em comunidadesHenrique Okajima Nakamoto e Slvia cristina Franco amaral2 - Espao pblico de lazer: a histria da Praa OsrioFlavia gonzaga Lopes Vieira e Simone Rechia3 - Tempos modernos em Juiz de Fora: lazer e prticas corporais (1876-1886)

12

Priscila g. Soares e carlos Fernando Ferreira da cunha Junior4 - O Football como diverso em Belo Horizonte no incio do sculo XXRodrigo caldeira Bagni Moura

Mesa Temtica 10: Lazer, Escola e Educao1 - O Lazer enquanto possibilidade de educao e emancipao humanaTiago Nicola Lavoura2 - Pensando a educao para o lazercae Rodrigues e Ricardo Peixoto Stevaux3 - Lazer-Educao e Educao para o Lazer no ensino MdioFlora de Lima Monteiro e Luciene Ferreira da Silva4 - Os contedos culturais do lazer nas aulas de educao fsicaFabiano Domeneghini, Matheus Oliveira Santos e Robson amaral da Silva

Mesa Temtica 11: Lazer e Formao Profissional1 - Formao de Profissionais em Lazer Possibilidades de Debates sobre o Ensino a Pesquisa e Extenso Universitriaana cristina guimares de Oliveira2 - Mediao de sentidos junto a estudantes de educao fsica portugueses: lazer de massa em debatecinthia Lopes da Silva3 - Secretaria de Esporte e Lazer da Regio Metropolitana de Belo Horizonte (Mg): Uma anlise da Poltica de formao de seus ProfissionaisHlder Ferreira Isayama, Rita Mrcia de Oliveira, amanda carolina costa Silveira, Luciana cirino Lages Rodrigues costa, Tarcila Bretas Lopes, Fabiano antnio Sena Peres, ana canado Kunstetter, gustavo Henrique Marques Santana e Paulo de Tarso Muniz de Freitas4 - caractersticas Essenciais de Formao de agentes Sociais para garantir a Vivncia do Lazerandr de Deus Roeldes, carlos Nazareno Ferreira Borges e Lorenza Falcheto Venturim

Mesa Temtica 12: Lazer e Polticas Pblicas 21 - Polticas pblicas de lazer: discutindo sua construogustavo andr Pereira de Brito e Nelson carvalho Marcellino2 - Esporte, Lazer e o Mito da Incluso SocialMabel Barreto de Oliveira e Marcelo Paula de Melo3 - Esporte e Lazer na cidade de Vitria/ES: Um Olhar a partir de atores Representativos da Sociedadegrece Teles Tonini, carlos Nazareno Ferreira Borges e Keni Tatiana Vazzoler areias4 - Poltica Pblica de Esporte e Lazer: um relato de experincia das aes desenvolvida no municpio de Santarm - Pa, no perodo de 2005 a 2008Rita Maria de Ftima Peloso grasso

Mesa Temtica 13: Lazer e Fases da Vida1 - cultura do Lazer e o acesso ao SedentarismoJos Roberto Herrera cantorani2 - algumas relaes entre as manifestaes culturais dana e lazer e as possibilidades de insero social da juventudeKarina cristofoletti Sarto e Nelson carvalho Marcellino3 - Lazer e consumo de lcool: uma anlise sobre os padres de uso de torcedores de futebolLiana abro Romera e Heloisa Helena Baldy dos Reis4 - Prticas corporais com idosos e (re) significao de vida: relaes de proximidade atravs dos estudos do lazerMichelle cristina Duarte gomes Mendes

16:00 Intervalo

16:30 Sesso de Psteres

13

1 - Relato de experincia do consrcio PELc Pioneiros: Perspectivas de acompanhamento, monitoramento e avaliaocludio gualberto e Leonardo Toledo Silva2 - Equipamentos de lazer contribuies para implantao de uma poltica pblica de lazer para o pblico adulto na cidade de americana-SPcathia alves e Stphanie Helena Mariano3 - Programa Minas Olmpica Nova gerao no ISEaT/FHa: uma experincia para a vidaElton de Paula, rica Tamara de assis, Fernanda almeida Mendes, Karine g. S. Santos, Mariza de Macedo Duarte, Renata de Oliveira Santos, guilherme carvalho Franco da Silveira, Rodrigo caldeira Bagni Moura, Simone Esteves e Tereza Pereira do carmo4 - Polticas pblicas de lazer em Suzano/SP: a concepo dos gestoresDeise Miki Kikuchi e Silvia cristina Franco amaral5 - a construo do lazer como direito social no BrasilFlvia da cruz Santos6 - Lazer e ao comunitria em Ermelino MatarazzoNatnia Leite Ramalho, Julio Ramos, aline aoun Sapienza, ana cristina Fernandes clemente, Bianca Navarro da costa, Igor geiger Santanna, Letcia de Oliveira aio, Marina Scarpin de S, Paloma Lopez Brando, Talita caroline de carvalho, Thas Rinaldi alves e Edmur antonio Stoppa7 - Programas de lazer e cidadania: o Programa Escola aberta visto pelos participantescoriolano P. da Rocha Junior e Flvio Damio Pinto Junior8 - Entre o prescrito, as expectativas e a prtica vivida: um estudo da oficina de esporte e lazer do Programa Projovem adolescenteMichelle cristina Duarte gomes Mendes9 - Limites e possibilidades na implementao de um programa de esporte e lazer: o processo de escolha da comunidade e dos espaos de intervenoaline Tschke e Simone Rechia10 - associativismo em comunidades: uma possibilidade de apropriao do lazer na cidade de angra dos Reis RJana Paula cunha Pereira11 - Lazer e Participao Popular no contexto Urbano: O caso da rea de Lazer Jardim LeblonLuciana cirino Lages Rodrigues costa e Srgio Manuel Merncio Martins12 - Impactos das Polticas de Lazer na Regio do aero Rancho em campo grande/MS: consideraes DocumentaisJulio arani Pinheiro Xavier e Felipe Soligo Barbosa13 - anlise do Programa Esporte e Lazer da cidade do Ministrio do Esporte: Os Ncleos de Valparaso - gOJuliana de Oliveira campos, Priscila almeida Suassuna, Simone Tourinho da Silva, Dulce Maria Filgueira de almeida Suassuna e Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo14 - Estudos sobre a temtica lazer e sade produzidos na rea da educao fsica publicados na base de dados LILacSNatlia de Sousa arajo, christianne Luce gomes e gabriela Baranowski Pinto15 - O lazer e a educao fsica na humanizao do ambiente de trabalho, em um hospital oncolgicoanderson Rodrigues Freitas, Luciene Ferreira da Silva e Jos carlos de almeida Moreno16 (Re) conhecimento do lazer em brinquedotecas hospitalaresTnia Lopes Soares Mol e Hlder Ferreira Isayama17 - Levantamento da produo sobre o futebol nas cincias humanas e sociais de 1980 a 2007Luiz gustavo Niccio, Priscila augusta Ferreira campos, Marcos de abreu Melo, Rodrigo Martins da cruz e Silvio Ricardo da Silva18 - Educao para o lazer, educao para o torcer: a influncia da mdia na educao do torcedor para a copa de 2014Felipe Vincius de Paula abrantes e Silvio Ricardo da Silva19 - Torcedores das cadeiras especiais: a influncia de diferentes variveis na escolha por este setor do Mineiro nos jogos do cruzeiro Esporte clubeSilvio Ricardo da Silva e Letcia Morais de Frana Oliveira20 - Lazer em cruzeiros martimos: o ponto de vista dos passageiros

14

Olvia cristina Ferreira Ribeiro21 - Atuao profissional no lazer: os animadores de hotis em questoOlvia cristina Ferreira Ribeiro

17:30 - Painis de debatesPainel 5 - Lazer e acampamento Prof. Dr. Edmur antonio Stoppa (USP SP) Painel 6 - atividades de Lazer na Natureza Profa. Dra. alcyane Marinho (UDESc Sc) Painel 7 - Lazer e Mdia Prof. Rogrio Santos Pereira (Mestrando em Educao Fsica da UFSc) Painel 8 - Lazer e projetos scio-educativos Prof. Dr. Walter Ude (FaE UFMg)

19:00 - Plenria Final / Avaliao

21:00 Confraternizao

15

SUMRIO

Teorizando a FestaVnia Noronha

a religiosidade e o caipira no imaginrio ldico e festivo de So Luiz do Paratinga: Eu sou caipira, voc o qu?Michele cristina alves Vieira

Espaos de Dana de Salo da cidade do Rio de Janeiro: Tradio e Inovao no Lazer do cariocaMaria Ins galvo Souza

O ensino do jogo na perspectiva do lazerMarizabel Kowalski e Deyliane aparecida almeida Pereira

Lazer e Trabalho: Uma anlise crtica IntrodutriaPedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo

Lazer no Trabalho: melhoria da qualidade de vida ou aumento da produtividadealine de Freitas Oleto, Ludmila guimares, Rafael Diogo Pereira e antnio Del Maestro Filho

Lazer e trabalho: a questo do SESIEmlia amlia Pinto costa da Silva

Trabalho e Lazer na Infncia e adolescncia no Sculo XXI: Direito Social ou Incluso Excludente?Marcelo Silva dos Santos e graziany Penna Dias

Um recorte sobre a relao existente entre o Lazer e o Progresso Tcnicoalice da Silva, cathia alves e Nelson carvalho Marcellino

Investigacin alrededor de la psicosociologa del tiempo libre de Frederic Munn: Dilogos de Brasil y EspaaNria codina, Jos Vicente Pestana, Slvia cristina Franco amaral e Paulo cezar Nunes Junior

La necesidad de ocio entendida desde la teora del desarrollo a escala humanaRodrigo Elizalde

Lazer e cronobiologia: vivncias de indivduos matutinos e vespertinosBianca ap. arajo Pizzolito e Edmur antonio Stoppa

PELc: O ponto de vista de uma comunidade usuriacludio gualberto

a concepo de Lazer enquanto Indicador de avaliao das Polticas Pblicas: O caso do PELcKeni Tatiana Vazzoler areias, carlos Nazareno Ferreira Borges, Lucas Rezende cabral, Poliana de castro Nery e grece Teles Tonini

Representaes de Esporte/Lazer em Projetos Sociais: Um Olhar sobre o Programa Segundo Tempo em vitria EScarlos Nazareno Ferreira Borges, Lucas Rezende cabral e Samuel coelho da Silva

22

28

34

39

44

56

62

70

87

93

99

107

115

78

50

16

Juventude, Esporte e Lazer: O Projeto Esporte Meia-NoiteLeonardo Simes

Pistas para uma Educao conscientizadora para e pelo Lazer com Interfaces de IntersetorialidadeLorenza Falchetto Venturim, carlos Nazareno Ferreira Borges e andr de Deus Roeldes

a educao para e pelo lazer no Programa Minas Olmpica Nova geraoguilherme carvalho Franco da Silveira e Rodrigo caldeira Bagni Moura

Relaes entre o lazer e a educao de tempo a partir das experincias do Programa Segundo TempoMonica Borges Monteiro

as fronteiras entre Turismo e LazerMarina arajo e Hlder Ferreira Isayama

Lazer, turismo, juventude e cidadania: uma anlise das mediaes no Projeto Turismo Jovem cidado (SESc-RJ)Bernardo Lazary cheibub

Identidade Local, Lazer e Turismo: Propostas de Interveno no turismo cultural da Metrpole Belo-HorizontinaRafael Frois da Silva

a Insero dos conhecimentos sobre o Lazer nos cursos de graduao em turismo de Minas gerais: Reflexes acerca de Currculo e das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduao em Turismochristianne Luce gomes, Tatiana Roberta de Souza, Ticiane F. Martins da cruz, Jnia gontijo cndido, Mariana Torquete Moura, cleide a. gonalves de Sousa e Ricardo Teixeira Veiga

Esporte, lazer e sociedadeMarizabel Kowalski e Deyliane aparecida almeida Pereira

Jogos Tradicionais e a Perspectiva Cientfica no LazerMarizabel Kowalski e Deyliane aparecida de almeida Pereira

O futebol Frente Perspectiva do Lazer: a Prtica do Esporte sob o Olhar dos TorcedoresTiago Felipe da Silva

Futebol e Lazer: uma anlise sobre a Sociabilidade e o Estilo de Vida das torcidas Organizadas de Belo Horizonte/MgBruno Otvio de Lacerda abraho, ananda Silza Venam de Souza, andr Silveira gomes, Deborah Salvino Santana Santos, gibson Moreira Praa, Juliana de alencar Vianae Silvio Ricardo da Silva

Os espaos de arte como espaos de lazer: um estudo comparativo entre aes educativas do Museu Mineiro e Museu de arte da Pampulha Belo Horizontecleide aparecida gonalves de Sousa e Victor andrade de Melo

O samba como veiculo e objeto de educao: apontamentos para uma proposta de educao para o lazerguilherme Velloso alves

123

129

134

139

145

151

160

167

174

180

187

193

200

208

17

So Paulo Fashion Week: o evento como espetculoclaudia Heringer Henriques, Hlder Ferreira Isayama e Victor andrade de Melo

Lazer como objeto de consumoRicardo Teixeira Veiga e ana Lcia cotia Deister

a histria oral como possibilidade na investigao e interveno do lazer em comunidadesHenrique Okajima Nakamoto e Slvia cristina Franco amaral

Espao pblico de lazer: a histria da Praa OsrioFlavia gonzaga Lopes Vieira e Simone Rechia

Tempos modernos em Juiz de Fora: lazer e prticas corporais (1876-1886)Priscila g. Soares e carlos Fernando Ferreira da cunha Junior

O Football como diverso em Belo Horizonte no incio do sculo XXRodrigo caldeira Bagni Moura

O Lazer enquanto possibilidade de educao e emancipao humanaTiago Nicola Lavoura

Pensando a educao para o lazercae Rodrigues e Ricardo Peixoto Stevaux

Lazer-Educao e Educao para o Lazer no ensino MdioFlora de Lima Monteiro e Luciene Ferreira da Silva

Os contedos culturais do lazer nas aulas de educao fsicaFabiano Domeneghini, Matheus Oliveira Santos e Robson amaral da Silva

Formao de Profissionais em Lazer Possibilidades de Debates sobre o Ensino a Pesquisa e Extenso Universitriaana cristina guimares de Oliveira

Mediao de sentidos junto a estudantes de educao fsica portugueses: lazer de massa em debatecinthia Lopes da Silva

Secretaria de Esporte e Lazer da Regio Metropolitana de Belo Horizonte (Mg): Uma anlise da Poltica de formao de seus ProfissionaisHlder Ferreira Isayama, Rita Mrcia de Oliveira, amanda carolina costa Silveira, Luciana cirino Lages Rodrigues costa, Tarcila Bretas Lopes, Fabiano antnio Sena Peres, ana canado Kunstetter, gustavo Henrique Marques Santana e Paulo de Tarso Muniz de Freitas

caractersticas Essenciais de Formao de agentes Sociais para garantir a Vivncia do Lazerandr de Deus Roeldes, carlos Nazareno Ferreira Borges e Lorenza Falcheto Venturim

Polticas pblicas de lazer: discutindo sua construogustavo andr Pereira de Brito e Nelson carvalho Marcellino

Esporte, Lazer e o Mito da Incluso SocialMabel Barreto de Oliveira e Marcelo Paula de Melo

215

221

226

232

239

244

250

258

265

272

279

284

289

297

301

313

18

Esporte e Lazer na cidade de Vitria/ES: Um Olhar a partir de atores Representativos da Sociedadegrece Teles Tonini, carlos Nazareno Ferreira Borges e Keni Tatiana Vazzoler areias

Poltica Pblica de Esporte e Lazer: um relato de experincia das aes desenvolvida no municpio de Santarm - Pa, no perodo de 2005 a 2008Rita Maria de Ftima Peloso grasso

cultura do Lazer e o acesso ao SedentarismoJos Roberto Herrera cantorani

algumas relaes entre as manifestaes culturais dana e lazer e as possibilidades de insero social da juventudeKarina cristofoletti Sarto e Nelson carvalho Marcellino

Lazer e consumo de lcool: uma anlise sobre os padres de uso de torcedores de futebolLiana abro Romera e Heloisa Helena Baldy dos Reis

Prticas corporais com idosos e (re) significao de vida: relaes de proximidade atravs dos estudos do lazerMichelle cristina Duarte gomes Mendes

O brincar na Serra: suas prticas e significadosLeonardo Toledo Silva

Representaes sociais dos professores de nvel um sobre contedo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras utilizando as aulas de Educao Fsica na educao infantil: um estudo de caso em uma escola municipal do Estado da BahiaIvo Nascimento Neto

a brincadeira nas escolinhas de futsal de Belo HorizonteDiego Henrique Rezende Moreira e Flvio clemente Frana Souza

Lazer e educao: problematizando o brincar na educao de crianas a partir das contribuies da psicologia educacional de carl RogersMichelle arajo Rocha e Jos alfredo Debortoli

Por uma perspectiva crtica/criativa de lazer na educao fsica: trabalhando com mtodos criativosgraziany Penna Dias, Edith carolina Tavares de Paula, Lilian cristina carvalho Vieira e Marasa Fuscaldi cunha

Formao de brinquedistas escolares: saberes necessrios a construo e aplicao de jogos pedaggicos para a educao infantil e sries iniciais de 1 a 4ana cristina guimares de Oliveira

O festival de marchinhas de So Luiz do Paraitinga e a memria histrico-cultural de seus participantesMichele cristina alves Vieira

Os capoeiras no alto Vera cruz: indcios de lazer e violnciasRoberto camargos Malcher Kanitz

Lazer e cultura gtica no centro de So Pauloana Paula Mukoyama Silva e Edmur antonio Stoppa

328

335

340

354

359

367

368

369

370

371

372

373

374

375

320

19

Pedaos do Brasil: as rodas de samba como espaos de lazerguilherme Velloso alves

O Hip-Hop como meio de produo alternativa de lazerDaniel Bidia Olmedo Tejera

O Lazer na amrica Latinachristianne Luce gomes, alicia Maricel Oliveira Ramos, Leila Mirtes Santos de M. Pinto eRodrigo Elizalde

Prticas de Sensibilizao Territoriaiscinthia Mayumi Saito e Eliane Dias de castro

Prticas de lazer e usos da gua na zona de amortecimento da Rebio TinguFellipe Jos Silva Ferreira e ana Lcia Lucas Martins

Esporte de montanha no cinema: a mostra BanffEdmundo de Drummond alves Junior, cleber augusto gonalves Dias, Tuan Nunes Maia e gustavo Bento Ribeiro de arajo

Reflexes sobre o lazer, educao fsica e formao profissionalaline galante e andra Rodrigues de amorim

Os estudos do lazer nos cursos de mestrado acadmico relacionados a Turismo/Hospitalidade no Brasil: reflexes a partir das dissertaes produzidasTatiana Roberta de Souza e christianne Luce gomes

Insero profissional dos Bacharis em Turismo formados pela UFMG nos anos de 2005-2007Tatiana Roberta de Souza e christianne Luce gomes

Lazer, Idosos e Incluso Social: Explorando o Potencial dos Interesses Tursticos na Perspectiva da animao Socioculturalchristianne Luce gomes, andrezza goulart Buldrini de Souza, Leonardo Lincoln Leite Lacerda e Marcos Filipe guimares Pinheiro

(Re) criao do imaginrio ldico nas aulas de atividade fsica para a terceira idadeEmlia amlia Pinto costa da Silva, Priscilla Pinto costa da Silva, Julienne de Lucena Souto Marinho e cheng Hsin Nery chao

Lazer e fisioterapia geritrica: a importncia da interdisciplinaridadeamanda guiduci Marcial

Relato de experincia do consrcio PELc Pioneiros: Perspectivas de acompanhamento, monitoramento e avaliaocludio gualberto e Leonardo Toledo Silva

Equipamentos de lazer contribuies para implantao de uma poltica pblica de lazer para o pblico adulto na cidade de americana-SPcathia alves e Stphanie Helena Mariano

Relato de experincia refletida Programa Minas Olmpica Nova Gerao no ISEAT/FHA: uma experincia para a vidaElton de Paula, rica Tamara de assis, Fernanda almeida Mendes, Karine g. S. Santos, Mariza de Macedo Duarte, Renata de Oliveira Santos, guilherme carvalho Franco da Silveira, Rodrigo caldeira Bagni Moura, Simone Esteves e Tereza Pereira do carmo

376

377

378

379

380

381

382

383

384

385

386

387

388

389

390

20

Polticas pblicas de lazer em Suzano/SP: a concepo dos gestoresDeise Miki Kikuchi e Silvia cristina Franco amaral

a construo do lazer como direito social no BrasilFlvia da cruz Santos

Lazer e ao comunitria em Ermelino MatarazzoNatnia Leite Ramalho, Julio Ramos, aline aoun Sapienza, ana cristina Fernandes clemente, Bianca Navarro da costa, Igor geiger Santanna, Letcia de Oliveira aio, Marina Scarpin de S, Paloma Lopez Brando, Talita caroline de carvalho, Thas Rinaldi alves e Edmur antonio Stoppa

Programas de lazer e cidadania: o Programa Escola aberta visto pelos participantescoriolano P. da Rocha Junior e Flvio Damio Pinto Junior

Entre o prescrito, as expectativas e a prtica vivida: um estudo da oficina de esporte e lazer do Programa Projovem adolescenteMichelle cristina Duarte gomes

Limites e possibilidades na implementao de um programa de esporte e lazer: o processo de escolha da comunidade e dos espaos de intervenoaline Tschke e Simone Rechia

associativismo em comunidades: uma possibilidade de apropriao do lazer na cidade de angra dos Reis RJana Paula cunha Pereira

Lazer e Participao Popular no contexto Urbano: O caso da rea de Lazer Jardim LeblonLuciana cirino Lages Rodrigues costa e Srgio Manuel Merncio Martins

Impactos das Polticas de Lazer na Regio do aero Rancho em campo grande/MS: consideraes DocumentaisJulio arani Pinheiro Xavier e Felipe Soligo Barbosa

anlise do Programa Esporte e Lazer da cidade do Ministrio do Esporte: Os Ncleos de Valparaso - gOJuliana de Oliveira campos, Priscila almeida Suassuna, Simone Tourinho da Silva, Dulce Maria Filgueira de almeida Suassuna e Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo

Estudos sobre a temtica lazer e sade produzidos na rea da educao fsica publicados na base de dados LILacSNatlia de Sousa arajo, christianne Luce gomes e gabriela Baranowski Pinto

O lazer e a educao fsica na humanizao do ambiente de trabalho, em um hospital oncolgicoanderson Rodrigues Freitas, Luciene Ferreira da Silva e Jos carlos de almeida Moreno

(Re) conhecimento do lazer em brinquedotecas hospitalaresTnia Lopes Soares Mol e Hlder Ferreira Isayama

Levantamento da produo sobre o futebol nas cincias humanas e sociais de 1980 a 2007Luiz gustavo Niccio, Priscila augusta Ferreira campos, Marcos de abreu Melo, Rodrigo Martins da cruz e Silvio Ricardo da Silva

391

392

393

394

395

396

397

398

399

400

401

402

403

404

21

Educao para o lazer, educao para o torcer: a influncia da mdia na educao do torcedor para a copa de 2014Felipe Vincius de Paula abrantes e Silvio Ricardo da Silva

Torcedores das cadeiras especiais: a influncia de diferentes variveis na escolha por este setor do Mineiro nos jogos do cruzeiro Esporte clubeSilvio Ricardo da Silva e Letcia Morais de Frana Oliveira

Lazer em cruzeiros martimos: o ponto de vista dos passageirosOlvia cristina Ferreira Ribeiro

Atuao profissional no lazer: os animadores de hotis em questoOlvia cristina Ferreira Ribeiro

405

406

407

408

22

TEORIZANDO A FESTA

Vnia Noronha1

RESUMO: a festa um fenmeno social presente em nossas vidas e ainda pouco teorizado pelos pesquisadores do lazer. O objetivo deste artigo, portanto, o de iniciar um dilogo com alguns estudos tericos das cincias humanas, no sentido de ampliar o debate sobre esta importante dimenso de nossas vidas.

PALAVRAS-CHAVE: Festa. Lazer. cultura.

Minha aproximao com o tema proposto parte do que tenho em comum com todos e todas aqui presentes, o fato de sermos festeiros por natureza, pois a festa faz parte da condio humana, da ser comum a expresso a vida uma festa.

a festa marca nossa vida, os tempos fortes, as pausas, a alternncia de ritmo e de intensidade tanto no campo individual quanto coletivo. Marca ainda a periodicidade das passagens. Vivemos das lembranas de uma festa e da espera por outra, ela nos permite entender que recordar tambm viver.

a festa est presente na histria da humanidade muito antes da cultura. No tempo mtico os homens faziam festa e tambm os deuses (campbell, 2002). Nos livros da bblia sagrada o termo festa aparece com freqncia, podendo ser traduzido como cerimnia, celebrao, participao e descanso (amaral, 1998).

O carnaval certamente uma das festas mais antigas e remonta Idade clssica. Torna-se festa oficial na Roma Antiga e ganha seu carter profano e extra-oficial na Idade Mdia. O escritor renascentista Bakthin com seus estudos sobre a sua teoria da carnavalizao ofereceu inmeros elementos para a compreenso da cultura popular, - vertente quase sempre ocultada pela historiografia oficial - ao analisar a obra de Rabelais, que, justamente por ter optado retratar o lado maldito da cultura de seu tempo, tornou-se o mais incompreendido gnio literrio do Renascimento. Num pas como o Brasil, onde no existe pecado abaixo da linha do Equador, o carnaval ganha novos contornos e vem sendo alvo de estudos significativos para se compreender quem o povo brasileiro.

a festa um fenmeno que perpassa todas as culturas com sentidos diversos. Entretanto no fcil conceituar festa. Perez (2004) instiga com a pergunta: Por que ser que no se consegue constituir uma teoria da festa? E afirma que o termo festa denomina mas no conceitua o fenmeno. A festa muito mais do que a festa. No existe uma festa, e sim vrias, pois cada indivduo pode participar dela de uma maneira. alm disso, existem vrias festas dentro da festa. Para cada um ela uma. Da a dificuldade em conceitu-la.

a festa vem-se tornando objeto de estudos de vrias reas do conhecimento. Na Histria, as questes do poder e a festa cvica tm merecido destaque; na Filosofia, a nfase recai sobre o belo, o ldico e o jogo; na Psicanlise, constri-se elementos de anlise sobre o tabu e conscincia do eu; na Sociologia, h investigaes sobre o lazer e a revoluo; a antropologia preocupa-se com seus rituais (religiosos) (Perez, notas de aula, 2006). Na Educao busca-se compreender os aspectos pedaggicos presentes nas prticas culturais (alves, 2008) e, recentemente, o Turismo analisa seu potencial para os negcios e servios. No campo do lazer, pelo menos em nosso pas, ainda so recentes os estudos sobre a festa e estes quase sempre descrevem os rituais e as possibilidades que oferecem as pessoas em seus tempos disponveis (Rosa, 2004). a festa se faz presente em todas as sociedades, seja ela, celebrao, comemorao, fruio, diverso, espetculo, ritual, brincadeira, investimento, trabalho, religio. Inmeras so as festas, ao mesmo tempo em que so nicas, singulares. cada uma delas exprime o modo de viver dos grupos sociais, que nelas produzem e reproduzem sentidos e significados diversos. Desse modo, diz de ns mesmos, de nossas sociedades e das relaes que as pessoas estabelecem entre os grupos com seus mitos, com o sagrado, o simblico, uma ancestralidade, a historia. Numa perspectiva scio-antropolgica investigar sobre a festa, portanto, compreender um pouco mais sobre ns mesmos e nossa vida em sociedade.

1 PUcMinas/ Universidade Fumec. Doutora em Educao USP, [email protected]

23

Os estudos clssicos sobre a festa Para muitos autores a sociedade precisa da festa. Um de seus pressupostos o divertimento. Em as formas elementares da vida religiosa Durkheim (1996) no desenvolve uma teoria sobre a festa mas, a este autor que devemos a idia deste fenmeno como agrupamento massivo, de efervescncia coletiva e gerao de exaltao geral. Estas caractersticas fazem com que as festas se aproximem de uma cerimnia religiosa, na qual o homem transportado para fora de si e do seu cotidiano. Para ele o divertimento corresponde funo expressiva, recreativa e esttica da festa.

as festas so vividas como forma de sociao (Simmel, 1983), do estar-junto em sua dimenso de delrio coletivo, de exaltao, que constituem as representaes coletivas. Para Durkheim (1996), as representaes atingem o mximo de intensidade, quando os indivduos esto reunidos e em relaes diretas uns com os outros, onde comungam de uma mesma idia ou sentimento. Entretanto, quando a assemblia se desfaz, estas representaes perdem sua energia originria e retorna-se ao cotidiano. preciso encontrar um meio de reaviv-la, da a importncia das cerimnias religiosas. Elas colocam a coletividade em movimento, os grupos se renem para celebr-las e seu primeiro efeito de aproximar os indivduos, de multiplicar os contatos entre eles e de torn-los mais ntimos (apud Perez, 2004). a humanidade precisa da vida sria, pois seria um caos viver em festa. a festa reabastece a sociedade de energia, de disposio para continuar a vida.Segundo Durkheim, possvel identificar, tanto nas cerimnias religiosas quanto nas festas, gritos, cantos, msica, movimentos violentos, danas, alm da busca de excitantes que elevem o nvel vital. Estas caractersticas sinalizam o lugar do excesso e das transgresses permitido nas festas. Nelas vive-se um momento outro, numa lgica outra, permitindo ao indivduo sair, mesmo que por algumas horas, de sua vida real.

Mauss (1974), ao discutir a variao sazonal na vida dos esquims, nos mostra como tambm a nossa, feita de alternncias em sua dinmica. Ele descreve sobre a vida religiosa deste povo que possui caractersticas diferentes no vero e no inverno. O primeiro (vero) caracterizado pelo tempo da disperso, onde os vnculos sociais se afrouxam, as relaes tornam-se mais raras, os indivduos so menos numerosos e a vida psquica se atenua. O inverno, por sua vez, a estao em que a sociedade fica concentrada, possibilitando um estado crnico de efervescncia e superatividade. Neste perodo os esquims vivem uma espcie de festa contnua e coletiva, porque so atividades do grupo e porque o grupo e suas alternncias da vida cotidiana, entre o trabalho e as festas, que elas exprimem.

Outra importante contribuio de Mauss diz respeito s obrigaes recprocas nas questes de ordem moral construdas a partir da teoria da reciprocidade. Essa teoria baseia-se nas trocas - ou obrigaes de dar, receber e retribuir - examinadas pelo autor nas manifestaes da Kula - troca de colares e braceletes entre os trobriandeses, e do potlach, ritual de oferta de bens e de redistribuio da riqueza entre tribos indgenas. No potlach, por exemplo, Mauss discute a economia pautada na ddiva, na qual, diferente da economia de mercado (moderna), no o interesse ou o lucro que motiva as partes, mas a manifestao do reconhecimento daqueles para os quais os bens so oferecidos. O reconhecimento almejado o status ou posio social pretensamente superior daquele que oferece o potlach (Mauss, 1974).

caillois (1988) o primeiro a assumir que est fazendo uma teoria da festa. Em seu livro O homem e o sagrado, ele afirma que a vida cotidiana ope-se efervescncia da festa, pois esta ltima, assim como nos diz Durkheim, provoca o arrebatamento coletivo e se caracteriza pelo excesso e pndega. Nem toda festa para Callois alegre, existem tambm as tristes, mas todas elas se definem pela dana, pelo canto, pela ingesto de comida e bebidas. a diverso a palavra de ordem, at que se chegue exausto e o corpo caia doente. Esta a lei da festa.

analisando as festas de civilizaes primitivas, o autor constata um longo perodo festivo, no qual o esbanjamento e a destruio, caractersticas do excesso, se tornam essncia da festa. Tambm nela a violncia nasce espontaneamente, provocada pela agitao e estmulos em seu interior. a festa representa, assim, o paroxismo da sociedade, pois, ao romper de modo violento com as preocupaes da vida cotidiana, surge para o indivduo como um outro mundo, onde ele se sente amparado e transformado por foras que o ultrapassam. o que mantm o homem ligado sua cotidianidade. como diz caillois, vivemos na recordao de uma festa e na expectativa da prxima, pois nela vive-se um tempo de emoes intensas e da metamorfose do ser.

24

caillois reconhece que Durkheim foi o primeiro a elucidar que as festas proporcionam, em comparao com os dias teis, a distino entre o sagrado e o profano. a vida cotidiana dura, repetitiva, montona, ao passo que o dia do descanso, ou melhor, da festa, encerra um tempo consagrado ao divino, onde o trabalho liberado e a ordem passa a ser o repouso, o gozo e a orao. Desse modo, a festa freqentemente tida como o prprio reino do sagrado, uma vez que nela, no tempo sagrado, os interditos e as restries so reforados pela sua severidade, pelo jejum e pelos rituais. Esta sacralidade da festa caracteriza sua ambivalncia, pois se vive, simultaneamente, o tempo da alegria e o tempo da angstia.

O sagrado manifesta-se na vida corrente pelo que reservado, separado, o que colocado para fora e protegido por proibies destinadas a evitar qualquer dano ordem do mundo ou qualquer risco de a desarranjar e de nela introduzir um fermento de perturbao. O sagrado aparece assim como algo negativo. ao contrrio do que se pensa, desta dimenso que nasce a festa, pois o perodo sagrado da vida social aquele em que as regras so suspensas e a licena recomendada. Para caillois (op. cit.), a que se encontra uma de suas funes, isto , irromper com uma brusca deflagrao aps uma longa e severa compresso.

caillois (op. cit) defende ainda a morte da festa, uma vez que ela est presente no tempo mtico, primordial, idlico. a festa que nos coloca diante a noo de tempo, da finitude, da morte. O tempo esgota e extenua. Ele aquilo que nos faz envelhecer e caminhar para a morte, o que desgasta. a festa renova a natureza e a sociedade. apresenta-se como uma atualizao dos primeiros tempos do universo, como a recriao do mundo, da sua funo revigorante. a festa celebrada no espao-tempo do mito e assim regenera o mundo real. justamente ao renascer que o mundo tem a possibilidade de remoar e de reencontrar a plenitude de vida e de robustez que lhe permitir enfrentar o tempo durante um novo ciclo. o caos reencontrado e de novo moldado.

A festa deve ser ainda definida como o paroxismo da sociedade, ela purifica e renova, ao mesmo tempo em que exagero, dispndio. Ela o ponto culminante no s a partir do vis religioso, mas tambm do econmico. o instante da circulao das riquezas, da distribuio das reservas.

a festa tambm sacrifcio e destruio. Esta noo da festa discutida por Bataille (1993) para quem sacrificar destruir e at matar, no necessariamente em seu sentido literal. Sacrificar abandonar, doar, consumir. gastar o que no se tem, comer o que no necessita, danar mais do que a conta, etc. a festa , portanto, a parte maldita da sociedade, uma vez que precedida da idia de dispndio, sacrifcio, orgia, violncia, consumo e consumao.

As contribuies das teorias contemporneasa partir dessas discusses propostas pela teoria clssica, Perez (2002) chama-nos a ateno

para a necessidade de ampliar o olhar do senso comum sobre a festa em alguns aspectos. O primeiro diz respeito diferena entre festa e divertimento. inegvel que este ltimo corresponde funo expressiva, recreativa e esttica da festa. Porm, como j nos alertou callois, nem todas as festas so alegres, existem tambm as tristes. Talvez o velrio seja o seu maior exemplo. comum no interior do nosso pas ouvirmos a expresso: vamos beber o morto, referindo-se ao encontro, a cachacinha escondida para quebrar o frio do cemitrio e tambm o da morte.

Outro aspecto o de considerar toda festa um ritual. evidente que, no sentido de sua organizao, a festa tem um ritual, uma esttica e etiqueta, mas ela no se restringe a eles. Do mesmo modo, a festa uma reunio exuberante, um espetculo, mas no se esgota nisso, ao contrrio, mais do que tudo isso.

Perez (op.cit.) afirma que a teoria clssica sociologiza excessivamente a noo de festa, ao substantivar, essencializar e funcionaliz-la. ancorada na teoria contempornea da festa (Duvignaud, Grisoni, dentre outros), ela prope uma desconstruo deste fenmeno, afirmando que necessrio tentar outra alternativa que no seja algo que tenha substncia, essncia ou funo, tratar a festa como um ato sem finalidade, da ordem do gratuito.

Para a autora, a morte da festa est presente nas teorias clssicas, uma vez que a relacionam com a tradio, tratada como algo do passado, congelado no tempo, para os quais o que existe hoje mera sobrevivncia, um simulacro esvaziado da sua verdadeira essncia. O carnaval o principal exemplo. comum as pessoas dizerem que o carnaval mudou, que o de antigamente era melhor do que de hoje e que ele j na existe mais. O senso comum, numa viso saudosista, assim avalia todas as festas, fazendo com que o passado seja sempre romantizado e o presente catico. Mas o passado um dia foi presente...

Festa tradio sim, mas no sentido de que aquilo que o grupo faz e que passa de gerao

25

em gerao, perpetuado no calendrio, numa periodicidade cclica. Todo ano os coletivos fazem festa, mas ela no a mesma sempre: cada festa uma festa, ela se repete, mas muda sempre. Tradio no imutabilidade, pelo contrrio, mudana, o que se vive na periodicidade, tem uma estrutura (forma) bsica fundamental, mas o contedo pode variar. a festa nunca morre nem se descaracteriza, ela se atualiza. (Perez, notas de aula, 2006). Nessa criao de uma outra tradio, o que importa o movimento de transmisso que quase sempre se d pela oralidade. contar as histrias lembrar da ancestralidade, dos mais velhos, de outro tempo. a festa o que permite a suspenso do tempo, o esquecimento.

O principal expoente das teorias contemporneas sobre a festa o francs Jean Duvignaud. Este autor dialoga com Mauss (troca-dom) e Bataille (dispndio), mas, ao mesmo tempo, faz uma ruptura com estes autores e com as teorias clssicas, quando estas se colocam como tentativa de regenerao social ou afirmao da ordem vigente. Duvignaud, em toda sua obra (1983, 1986a, 1986b, 1997), radicaliza a teoria da festa. Para ele, a festa est no campo do imaginrio, do possvel, por isso ela abre as possibilidades para a experincia. Na teoria clssica a festa inverte a ordem. Para Duvignaud, ela uma ruptura com a ordem estabelecida e, por sua caracterstica anmica, torna-se nociva a essa.

Duvignaud (1986) afirma que a festa um desses elementos que nos possibilitariam compreender aquilo que nos liga uns aos outros, que faz vnculos e produz elos, pois ela o (re)ligare. Para ele, no seria preciso explicar o que a festa nem o tipo de vnculo que ela constri, mas o que acontece quando os homens se reagrupam nestes momentos privilegiados.

A festa ausncia de significado, portanto potencialidade de gerar significantes. a ruptura com a durao, ela provoca uma quebra no encadeamento dos determinismos, na ordem social e histrica. Por isso, anti-social, remete natureza, a um mundo sem estrutura, sem cdigo, das foras no institudas (instituinte) ao mundo do eu, da subverso. Instaura e constitui um outro mundo, uma outra forma de experienciar a vida social, marcada pelo ldico (prazer, liberdade, gesto de conflitos), pela exaltao dos sentidos e das emoes e agonstico. o simblico no estado puro, na natureza, e no na cultura. uma destruio consertada da cultura, a anarquia total. a louca da casa (Perez, 2002). Este poder subversivo o que possibilita ao humano, outra experincia humana.

Neste sentido, diz este autor que ela revoluo, porque coloca o homem face a face com um mundo sem estrutura e sem cdigo, com instncias de subverso. Ela se aproxima das atividades inteis. A festa no serve para nada. No implica nenhuma outra finalidade, a no ser ela mesma. efmera. No foi feita para durar, seno vira rotina, cotidiano. Essa vivncia do nada a finalidade sem a qual no haveria experincia humana verdadeira. a festa um momento fugaz que sai da rotina, da vida cotidiana, mas que nos remete ao que ns somos: matria, ao imaginrio, ao ldico e experimentao.

antes de mais nada um ato coletivo extra-ordinrio, extra-temporal e extra-lgico. Por essas trs caractersticas podemos dizer que ela transgressora e instauradora de uma nova forma de sociao, dado pelo estar juntos, pelo fato mesmo da relao, o importante o sucesso do momento ou da lembrana dele.

a des-ordem que a festa inaugura produzida pela transgresso das normas vigentes, o que no significa ausncia de ordem. Pelo contrrio a festa tem toda uma etiqueta prpria que deve ser seguida. Instaura um mundo novo, o do sagrado, que marcado por uma temporalidade especial. Traz perturbaes para a ordem estabelecida. como disse Duvignaud deixa sementes que perturbam a sonolncia da vida comum (apud Perez, 2004), por isso, as tentativas de dominao e domesticao da festa. Pouco importa se sagrada ou profana, o que vale que ela espao de reunio das diferenas, de figuraes sociais, de assemblia coletiva e de socialidade. elemento de re-ligao. Num agrupamento festivo, os participantes se sentem mais prximos uns dos outros, alguma coisa divida, uma experincia esttica, momento de grande coeso do grupo. O povo na rua, a rua em festa: folia, orgia, fantasia, seduo, violncia, transgresses de toda ordem, combinam com um clima de afetividade, familiaridade, encontro, de estar junto, coletivamente. a festa estando no campo da no ordem, do possvel, criadora da prpria humanidade do homem, o ato mesmo de produo da vida (notas de aula antropologia da festa, La Perez, FaFIcH, 2004).

Festas brasileiras So inmeras as festas que ocorrem em nosso territrio e, certamente, por aqui tambm. Num pais catlico como o nosso, alm do calendrio liturgico, santos e nossas senhoras se tornam padroeiros e padroeiras de pequenas e grandes cidades, garantindo pelo menos uma festa ao ano, nos mais de cinco

26

mil municpios. Sem dizer dos outros motivos que conduzem a populao a momentos festivos, sendo o futebol, certamente um dos mais significativos. S para se ter uma idia uma final de campeonato em nosso pas quase sempre desloca em torno de noventa mil torcedores ao Estdio, todos comungando das mesmas emoes e sentimentos.

O carnaval vivenciado em todo pas ficando a grandiosidade, o dispndio e a exuberncia, espetacularizada em cidades como o Rio de Janeiro e Salvador, para onde se deslocam milhares de turistas. as festas juninas no Nordeste, comemorando os santos juninos, em especial, o So Joo, repetem a faanha. a festa do boi bumb no Maranho e no amazonas, com destaque para a cidade de Parintins, que revive a lenda do boi, as histrias dos caboclos e dos indgenas por meio da rivalidade entre os bois caprichoso e o garantido, so tambm grandes exemplos. Do norte ao sul do pas triplicam o nmero de manifestaes que renovam a energia da sociedade brasileira e nos identificam como um pas da festa e da alegria, apesar de (e provavelmente at mesmo por isso) todos os problemas que enfrentamos.

Estas festas revelam uma sociedade, que desde o seu comeo, vive do espetculo, das mudanas e da fuso de vrios cdigos, que ri de si mesma, que poetiza as relaes dos homens consigo mesmos e com o mundo dos quais vivem, ou seja, o sagrado e o profano (Perez, 2004).

A festa em homenagem Nossa Senhora do Rosrio em Belo HorizonteEm meus ltimos estudos concentrei os esforos na tentativa de compreender uma festa catlica

tipica dos negros, escravos vindos da frica, em homenagem a Nossa Senhora do Rosrio e a outros santos pretos como So Benedito e Santa Efignia, mais conhecida como festas de Reinado, Congado ou congadas. Estas festas foram disseminadas em vrias regies do Brasil, desde o inicio da colonizao portuguesa e ganharam destaque em nosso Estado, Minas gerais, com o deslocamento dos negros das lavouras de caf para a extrao de ouro. analisar esta prtica permeada pelo simblico me possibilitou compreender um pouco mais sobre a sociedade em que vivo e ainda sobre mim mesma.

S na regiao metropolitana de Belo Horizonte, capital do estado, possivel identificar aproxidamente 50 grupos de congado. O ciclo anual destas festas envolve a realizao de novenas, levantamento de mastros e bandeiras em homenagens aos santos, coroaes de reis e rainhas, procissoes, cortejos solenes, missas, cumprimento de promessas, cantos, danas, banquetes coletivos. Os festejos apresentam uma estrutura organizacional complexa, onde possivel identificar aspectos simblicos e significantes representando o legado de naes africanas e seus reinos sagrados em nosso pas. o povo na rua, mobilizado, unido, compartido, solidrio, que, a partir de sua religiosidade, vive, se renova, ocupa espaos e temporalidades peculiares.

De diferentes modos, os mistrios gozosos que anunciam o nascimento de Jesus, vivido por vrios congadeiros em dezembro, com a folia de reis. Na quaresma, ou seja, nos mistrios dolorosos, respeitam o sofrimento de cristo e por isso, no tocam o tambor. a partir do sbado de aleluia at o dia dedicado a Nossa Senhora da conceio, em dezembro, vivem os mistrios gloriosos, e ao longo do ano realizam suas festas. O dia dedicado a Nossa Senhora do Rosrio 7 de outubro. Vivendo a f, a tradio, o mito por meio de cantos, danas e tudo o mais que envolve a manifestao, homens e mulheres seguem o curso da vida, louvando no s as divindades catlicas mas tambm as nans das guas africanas, Zmbi, o deus banto, os seus antepassados e toda a gnosis africana. Desse modo, atribuem sentidos e significados s suas prprias vidas.

* * * Por ora, desejo que a festa se faa cada vez mais presente em nossas vidas, onde novas formas de aprendizagens sejam possveis em nossos processos de experimentaes tanto individuais como coletivos e a ludicidade, afetividade e sensibilidade possam ser uma constante. Dionso que me oua !!!

27

REFERNCIAS

aLVES, Vnia de Ftima Noronha. Os festejos de Nossa Senhora do Rosrio em Belo Horizonte/MG: prticas simblicas e educativas. So Paulo: USP, 2008 (Tese de doutorado).

aMaRaL, Rita de cssia de Mello Peixoto. Festa a brasileira - sentidos do festejar no pas que no serio. So Paulo: USP, 1998 (Tese de doutorado).

BaTaILLE, georges. Teoria da religio. So Paulo: tica, 1993.

caLLOIS, Roger. O homem e o sagrado. Lisboa: Edies 70, 1988.

caMPBELL, Joseph. Isto s tu. Redimensionando a metfora religiosa. 4 ed. So Paulo: Landy Editora, 2002.

DURKHEIM, Emile. As formas elementares da vida religiosa. So Paulo: Martins Fontes, 1996.

DUVIgNaUD, Jean. Festas e civilizaes. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983.

DUVIgNaUD, Jean. Heresie et subversion. Essais sur lanomie. Paris: Editions La Decouverte, 1986.

DUVIgNaUD, Jean. La solidarit. Liens de sang er liens de raison. Idees-Forces. Fayard, 1986.

DUVIgNaUD, Jean. El sacrifcio inutil. Mxico: Fondo de cultura Econmica, 1997.

MaUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. So Paulo: EDUSP, 1974b. V. 1.

PEREZ, La Freitas. antropologia das efervescncias coletivas. Dionsio nos trpicos: festa religiosa e barroquizao do mundo Por uma antropologia das efervescncias coletivas. In: PaSSOS, Mauro (Org.). A festa na vida: significado e imagens. Petrpolis: Vozes, 2002.

PEREZ, La Freitas. Por uma antropologia da festa: reflexes sobre o perspectivismo festivo. Simpsio Festa: em perspectiva e como perspectiva. XXIV Reunio Brasileira de antropologia, Pernambuco, 2004.

ROSa, Maria cristina. Verbete Festa. IN: gOMES, christianne Luce. (org.) Dicionrio Crtico do Lazer. Belo Horizonte: Editora autntica, 2004. p. 88-93.

SIMMEL, georg. Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura ou formal. Georg Simmel: sociologia. So Paulo, tica, org. [da coletnea] Evaristo de Morais Filho, 1983.

28

A RELIGIOSIDADE E O CAIPIRA NO IMAGINRIO LDICO E FESTIVO DE SO LUIZ DO PARATINGA: EU SOU CAIPIRA, VOC O QUE?

Michele Cristina Alves Vieira2

RESUMO: atravs dos depoimentos de moradores da cidade de So Luiz do Paraitnga, localizada no Vale do Paraba, esta pesquisa objetivou identificar at que ponto a religiosidade e o estilo caipira influenciam o imaginrio ldico e festivo na cidade. O procedimento de pesquisa utilizado foi a histria oral, por meio da coleta dos relatos de experincia de vida de moradores da cidade. comprovou-se que o calendrio de festas, estrias e grande parte das brincadeiras realizados em So Luiz do Paraitinga so baseados na religiosidade (catlica) e na influncia rural, destacando a quantidade de festas religiosas, como do divino, So Luiz de Tolosa, entre outras, e, tambm os luais caipiras, festival de marchinhas caipiras, etc.

PALAVRAS-CHAVE: Imaginrio. Ldico. Festividades.

Di vorta as orige de So Luiz Uma breve apresentao do histrico da cidade de So Luiz do Paraitinga importante para entender a influncia do rural, do homem caipira, da religiosidade, da vida de cidade do interior como o universo social de valores e a produo simblica de seus habitantes. O processo de urbanizao tardio evidenciou peculiaridades de So Luiz em comparao as outras cidades vizinhas do Vale do Paraba. Para muitos luizenses, a cidade continua sendo uma roa, tambm freqente a utilizao do sotaque do caipira, no s nas poesias e msicas elaboradas na cidade, mas tambm na linguagem cotidiana. Expresses atreladas vida rural so empregadas a todo o momento como, por exemplo, sartei de banda. A identificao dos moradores com o rural procede, pois So Luiz passa a ter concentrao urbana maior que a rural a partir da dcada de 90. at ento, o zona rural era a regio de destaque da cidade. ainda hoje, a regio rural muito destacada na memria e tambm no cotidiano dos luizenses. Foi interessante a resposta de Benito quando interrogado se j havia morado na roa:

No, na roa eu nunca morei. Embora meu pai tivesse uma ligao rural, sua famlia teve fazenda, mas eu nem cheguei a conhecer. conheci depois que ele morreu, para saber onde tinha as fazendas. Nesse sentido, eu sou urbano, nunca fui da roa.Como a cidade pequena, essa ligao fica muito tnue, entre rural e urbano. Eu vivenciei muito a zona rural, andar pela roa, conhecer roceiros, tudo isso do meu universo.3

J Leandro Barbosa, que da mesma gerao do filho de Benito, de aproximadamente 24 anos, contou sobre sua vivncia na zona rural:

Eu fui criado durante um perodo na roa porque a famlia por parte do meu pai de l. Eles moram na roa ainda, no bairro do Paiol, entre So Luiz e Taubat. Ento, praticamente minha infncia eu convivi na zona rural, escorregando do pasto, pulava cerca, pegava o milho e a gente fazia umas bonequinhas e dava para as meninas brincarem, nadava no rio preto escondido, rodava peo, enfim tudo o que o bom! Minha infncia foi muito legal por isso, por ter passado um tempo na roa.4

Nas marchinhas, nota-se o uso abundante de expresses e sotaques caipiras. Na entrevista de Leandro, ele mesmo afirmava que o diferencial das marchinhas da cidade a temtica caipira e que tambm reflete no modo de ser e na vida dos luizenses.5 Nos poemas que o entrevistado Benito cria, por exemplo, mostra e declama, a temtica da vida rural, o sotaque e expresses caipiras predominam. Vale a pena conhecer o poema que emprestou o nome a este tpico:

2 Escola de artes, cincias e Humanidades - USP3 Depoimento de Leandro Barbosa, em 02 de Outubro de 2008.4 Depoimento de Benito campos, em 13 de Setembro de 2008.5 Depoimento de Leandro Barbosa, em 19 de Janeiro de 2008.

29

DI VORTA AS ORIGE (Benito Campos) Engraado este mundo

De fundo (ui)... to profundoa gente nasce, vve e tira cria

Fis Marias, fis RaimundosMoribundo a gente vrta

Presses zios rasosSete parmo bem fundo

Vo de terra nucho Nestes continentes dos mundos

Os dot hom das ciena

Desentatuzaram nossas orige que l no cu derradeiroVeja s que rtura vertigeUm buraco negro carvogigante abismr furacocome sr come estrelas come galxias inteiras

A gente fica vio cacundo Vrta criana di estria

Prestes vo bestas dos mundos... Ver o prprio Benito declamando: a teatralizao e o sotaque so timos. Ele mesmo faz uma anlise das suas poesias:

Eu fao um tipo de um caipira reflexivo, vamos dizer assim. Como eu costumo dizer para as pessoas, aqui a gente tem tempo para ver o tempo. Ento, fico olhando para o cu e filosofando, como o caipira que eu me considero, eu tenho as razes rurais, morei todo o tempo nessa cidadezinha que tem essa ligao rural-urbano muito tnue, ai eu fao uma poesia.6

alm das recordaes de infncia na zona rural, Leandro fala da mesma de uma maneira inusitada: a zona rural como vanguarda de So Luiz do Paraitinga, principalmente no que diz respeito s festas e msica:

Em So Luiz, o universo da zona rural maravilhoso, eu aprendi muito com eles. Eu sempre gosto muito de ir s festas da zona rural, o famoso rastap, as festas de roa so muito boas. O interessante, que eu percebi em So Luiz, que as coisas sempre acontecem na zona rural e depois vai para a cidade. Quando uma idia, ou alguma outra coisa, chega cidade, a roa j estava muito mais na frente. Parece-me, que o pensamento do caipira de So Luiz muito mais avanado. Tanto que, por exemplo, a batida das msicas que os caipiras tocam, a batida e a ginga deles so bem diferentes das pessoas da cidade. a zona rural de So Luiz a vanguarda da produo artstica da cidade.7

Leandro tambm descreveu um pouco das influncias de outras culturas, como a de Minas gerais (isso se deve ao fato da formao do ncleo mineiro desde o incio do sculo XX na regio rural de So Luiz, como j descrito) e de cunha (cidade prxima de So Luiz) nas festividades da cidade:

L, a gente tem muita influncia do Vale do Paraba, principalmente de Minas Gerais, por exemplo, a folia de reis tem muita influncia mineira. Os violeiros de So Luiz tiveram muita influncia de Cunha, em cunha tem muitos violeiros bons e se a gente olha no mapa, cunha do lado de So Luiz. Essa troca muito interessante: o pessoal vem pra c e vai pra l. legal ver os senhores com as violas para tocar, com o acordeom. D para aprender muitas coisas com esse pessoal mais experiente. Eles tm o conhecimento emprico, que eles conseguiram com o passar da vida. Eu sempre escuto o que eles tm para contar: estrias e lendas de So Luiz. O caipira to simples que chega at ser complexo. Eles so o simples - complexo!8

6 Depoimento de Benito campos, em 13 de Setembro de 2008.7 Depoimento de Leandro Barbosa, em 02 de Outubro de 2008.8 Depoimento de Leandro Barbosa, em 02 de Outubro de 2008.

30

Enquanto conversamos com Leandro nota-se a valorizao da zona rural, do homem caipira, da vida na roa, etc. Ele reconhece a influncia da religiosidade em So Luiz, mas sempre destacando as caractersticas do caipira. Em seus trabalhos, pelo menos os que foram apresentados para o relatrio final deste trabalho, nenhum falava do demo, do capeta. Contrariamente, nota-se em Benito, alm da influncia do caipira, principalmente em suas poesias, a influncia religiosa. Mesmo no sendo catlico, mas sim um catico aposttico romntico, como ele prprio se descreve, constantemente ele retoma a idia de capeta relacionando lendas que escutou quando criana ou de outros contadores de estrias. Dessa forma, passaremos para uma descrio da influncia religiosa no imaginrio luizense de acordo com as lembranas dos colaboradores.

Se brincar carnaval, ganha chifre e rabo A influncia religiosa em So Luiz j foi notada tambm por pesquisadores em diversas reas do conhecimento. Quando Petrone, em seus estudos sobre a geografia luizense, descreveu muito bem a posio de destaque que a religiosidade, bem como as festas atreladas ela, tem na cultura:

a religiosidade da populao luizense transparece no elevado nmero de capelas existentes na zona rural, nos cruzeiros que s vezes aparecem junto estrada, nos dias santos em grande nmero, que os agricultores guardam, em festas tradicionais, algumas ainda celebradas com regularidade, no elevado nmero de fiis que nos domingos ou dias santos assistem missa, nas freqentes quermesses orientadas pela Igreja, at no carnaval, que praticamente no existe por determinao do vigrio de So Luiz. 9

A influncia religiosa notada claramente no planejamento urbano: a igreja matriz o centro e, ao seu redor, desenvolveu-se a cidade. Mesmo assim, ainda encontramos vrias outras igrejas e capelas espalhadas na zona urbana, pela regio rural, na beira da estrada e at mesmo as pequenas capelas nas casas e nas fazendas. Entretanto, a noo de que a sociedade e a cultura esto sempre se fazendo10 justifica o porqu de uma nova abordagem da religiosidade entre seus atores sociais. Como justificativa, ser usado o caso do carnaval. at a dcada de 80, no havia carnaval na cidade de So Luiz, pois de acordo com o padre, das pessoas que festejassem ou brincassem o carnaval nasceriam rabos e chifres como mostra o artigo:

Um padre moda antiga, que j no est mais na cidade, dizia que nasce chifre e rabo em quem brinca o carnaval. Em 1981, o bloco Encuca-a-cuca resolveu encampar a danao. Saiu s ruas com menos organizao do que a que existe numa escola de samba- e mais alegria, mais espontaneidade. aquele primeiro desfile fez renascer a festa e o esprito crtico da festa. Usava como fantasia os rabos e chifres da danao do padre. E aproveitava o mote para resgatar, na marchinha, personagens das lendas rurais a mula-sem-cabea, o bicho papo, a cuca que pega as criancinhas que no querem dormir.11

Na memria dos moradores tambm essa ligao muito forte, sobretudo, aqueles que viveram um sistema educacional diferente do de hoje. o caso de Benito que falou sobre a influncia da religio catlica na cidade e na sua famlia:

a cidade inteira muito religiosa, as igrejas daqui no deixam mentir: tem a igreja matriz, que a principal, imensa, temos a igreja do Rosrio, a capela das Mercs, a igreja de So Benedito, de So Francisco, e, claro, como toda cidadezinha, fomos colonizados pelos portugueses, obviamente, pelos jesutas, ento a religio muito forte.Minha me foi muito religiosa, catlica, apostlica, romana. Meu pai nem tanto, mas tinha sua f. Eu j cresci num mundo diferente. Claro que quando eu era menino fizeram uma lavagem cerebral e eu at cheguei a participar daqueles grupos mais fervorosos. at sai pregando evangelho algumas vezes. 12

Benito chegou tambm a contar algumas das estrias de cunho religioso pelas quais foi educado, 9 PETRONE: 1959, p. 267.10 VELHO & caSTRO: 1978, p. 22.11 So Luiz do Paraitinga a capital das marchinhas, Estado de So Paulo, caderno 2, 30 de Janeiro de 1999.12 Depoimento de Benito campos, em 13 de Setembro de 2008.

31

estrias que os professores e os pais educavam as crianas nas escolas, geralmente internatos, e at mesmo nos prprios lares:

Eu, por exemplo, fui educado com lendas catlicas. a igreja usava essas lendas, todas com moral religiosa, para evangelizar. Mais ou menos do tipo, aqui no terra de cobra grande, seria mais para o lado da amaznia, Mato grosso, mas como lenda tem perna tambm anda! Minha Tia, tia carlota, contava uma histria, que carregava o fundo moral-religioso e com o temor, como uma maneira de educar, segundo o evangelho catlico apostlico romano. Eu sa um catico aposttico romntico! Sobre a cobra grande, diziam que era uma cobra imensa, alis, foi uma me que pegou o filho e jogou na gua, abortou e jogou o feto na gua. Esse feto se transformou numa cobra, que o smbolo do pecado. De repente, comearam a dar por falta dos pescadores que comearam a desaparecer pelas margens do rio Paraitinga. Foi surpreendente para cidade, ento os moradores se reuniram e descobriram que era uma cobra grande que estava matando os pescadores. Quando descobriram, eles perceberam que a cobra tinha uma estratgia. Ela capturava suas presas atravs da sombra. Dependendo da posio que estavam pescando, o sol batia e projetava a sombra dos pescadores dentro do rio, ento a cobra vinha por baixo d`gua e engolia aquela sombra. Quando o pescador percebia, acabava caindo dentro da gua e a cobra definitivamente engolia a pessoa. Bom, o que fizeram? Eles se reuniram, capturaram e mataram a cobra. Ela era imensa, tanto que a cabea dela est enterrada sob o altar mor da igreja matriz e o rabo sob o altar mor da igreja do rosrio. Diz a lenda que se houver uma interveno numa dessas igrejas, ela vai se manifestar e acabar com a cidade. So lendas locais que so muito interessantes! Elas trazem um mundo e um imaginrio que j no existem mais, como dizem as pessoas, um mundo do fogo de lenha.Tem uma outra lenda muito interessante, essa eu costumo contar para os turistas e para a crianada mostrando, tambm, uma poca que j no existe mais. a histria das lenhadoras. at o nome interessante, uns nomes que no existem mais e eu cheguei a conhecer, pelo menos essas trs eu cheguei a conhecer.Eram a Nha Venturosa, a Nha Maria Picada e tia Tereza, que era de origem escrava mesmo, era filha de escravos, grande jongueira, grande benzedeira, faleceu na dcada de 60 ou 59. Eu me lembro muito vagamente dela, mas lembro.Elas, as lenhadoras, moravam todas na parte mais pobre da cidade que um morro, o do cruzeiro. Quando chegava ao fim da tarde, as lenhadoras desciam e iam lenhar numa mata. Elas usavam uns vestidinhos de chita at o p, levavam o machado na mo direita e no ombro esquerdo levavam um pano que era pra fazer a rodilha, o pano que eles colocavam na cabea para carregar o feche de lenha, fruto do lenhado. Levavam tambm um bornalzinho de forma transversal no corpo. Quando era 15h30/16h, elas passavam por aqui e iam lenhar. L, lenhavam e elas usavam o bornal, justamente, para pegar umas frutinhas silvestres e tinha, tambm, um tipo de cogumelo comestvel muito apreciado pelas lenhadoras. Um belo dia, elas chegaram l, lenharam e a nh Maria picada subiu em cima de um barranco e encontrou no meio da mata um tronco preto que subia e se misturava no mato, no dava direito para ver. Na base daquele tronco estava carregado do cogumelo, que d bastante na madeira podre. Nessa hora j aparecia o crepsculo, j passava do dia pra noite, a Nha Maria Picada pegava os cogumelos e viam que tinha cogumelo para mais de metro, ento ela chamou as outras para ajudar. as outras duas tambm subiram e comearam a apanhar, todas enchendo o bornalzinho. Numa certa altura, uma delas j tinha apanhado tudo daquela regio do tronco, ento ela falou que infelizmente os cogumelos j tinham acabado naquela parte, mas de repente, o tronco respondeu: Desse lado tambm tem!. Da as trs saram correndo, pulando barranco, largaram feche de lenha, machado.... passaram ofegante aqui perto e subiram morro acima embora para casa delas. chegando l, acontece a grande surpresa: uma delas abriu o bornalzinho pra tirar a colheita de cogumelo, meteu a mo no bornal e quando ela tirou a mo, soltou um grito de horror! aquilo no era cogumelo, aquilo era casca de ferida. Na verdade, no era um tronco de rvore, era o lombo do satans! O lombo do satans todo perebento por causa do fogo do inferno!

Sem dvida, foi muito interessante, prazeroso e engraado escut-las. Estrias de uma poca que no existe mais. com relao religiosidade da cidade e as festas, Benito descreveu como se passa a festa do Divino Esprito Santo, uma das mais famosas festa religiosa de So Luiz:

[Em So Luiz]sempre teve essa mistura do profano e do religioso. aqui mistura muito isso. Uma das festas religiosas que mais evidencia essa mistura a festa do Divino.Na festa do Divino, tem o Joo Paulnio, a Maria angu, as congadas, os moambiques, o jongo, as cavalhadas. Eu, sinceramente, acho at uma expresso muito forte: profano! Eu no gosto muito dessa expresso, precisava melhorar essa idia porque, na verdade, a vida para ser festejada, para ser

32

comemorada. a festa, ela trs esse sentido da comemorao. Eu acho que deve ter os ritos religiosos, tem que se cumprir, mas esse encontro entre os dois lados fundamental para a vida, o que d sentido a vida.(...) O Joo Paulnio e a Maria angu so dois gigantes, so de origem Ibrica. como fomos colonizados pelos portugueses, ento essas tradies so muito forte l em Portugal, mas chegou aqui atravs da festa do Divino Esprito Santo. aqui, claro, ganhou uma verso nova. O chynica, por exemplo, ele morreu com 96 ou 97, ele contava para gente uma histria de quando foram montar os bonecos. Existia um casalzinho de caipiras que vinham da zona rural e gostavam muito de festas e vendiam quitutes num tabuleiro. Ele chamava Joo Paulnio e ela, Dona Maria. como ela gostava de fazer pastelzinho de farinha de milho, ela passou a se chamar Dona Maria Angu. Ento, quando fizeram os bonecos, deram o nome em homenagem ao casalzinho, Joo Paulinio e Maria Angu. No desfile, tem um menino que bate o bumbo, tem todo um ritmo, dum, dum, dum, dum dum dum... e nessa batida, a crianada raia oi,oi,oi, oi ao Joo Paulini, oi, oi, oi, oi a Maria angu... a gente costuma dizer que festa para ser festa, se no tiver o Joo Paulinio e a Maria angu no houve festa.13

Na entrevista realizada em Janeiro de 2008 para o trabalho de iniciao cientifica, Benito contou sobre o processo de criao de uma de suas marchinhas. Essa marchinha, chamada Carna Deus, foi inspirada em uma lenda que um fogueteiro de So Luiz narrou para Benito. Ele tambm conta sobre a presena recente de personagens como o Diabo tanto nas estrias entre os moradores, suas msicas, mas tambm ainda no discurso do padre:

Falando um pouco sobre como compor e o caminho que eu construa isso, por exemplo, esse Carna Deus uma msica que eu produzi em cima de uma histria local que, aqui na verdade, tinha uns fogueteiros. Eu conheci um deles que era mstico, ou seja, eles faziam foguetes artesanais e eu queria saber o porqu da origem, o porqu de se soltar foguete em festa. ai eu o vi passando um dia aqui em frente a minha casa, ele quase vizinho, e ele passando em frente a minha casa, eu o convidei para entrar e indaguei dele, por que soltar foguete em festa. Da ele me explicou, eu falei ento , s no me fale sobre a plvora, que de origem chinesa e tal, mas fale sobre o foguete, por que se solta foguete em festa?. Da ele falou: Olha a gente solta foguete em festa pra espantar os maus espritos. E ele dizia tambm que cada vez que ele soltava foguetes ele via dezenas e dezenas de capetas correndo morro acima. Ento essa imagem eu nunca mais esqueci, do capeta correndo e a tanto que, inclusive na prpria arte que eu fao, nas minhas coisas o capeta foi muito sempre presente, e por que? Porque faz parte da cultura local, um povo de alta religiosidade, ento a igreja sempre foi muito firme nesse aspecto. O Djacomo apresenta em todas as igrejas, em todos os causos, a gente v falar em capeta, a resolvi trazer ele, fiz uma letra pro carnaval. 14

ainda mais relevante para ilustrar como a cidade impregnada de valores religiosos, falar novamente do carnaval. como j foi narrado, alguns padres, com destaque para Monsenhor Incio, chegaram a exercer forte oposio a essa festa. Entretanto, na dcada de 80 ela voltou mais forte do que nunca e para ficar. evidente que a criatividade dos luizenses ajudou a perpetuar essa cultura de festa, alegria e de constante inovao. Benito um dos promotores do carnaval de So Luiz desde a retomada do mesmo, h mais de 25 anos. O famoso bloco do Juca Telles que abre oficialmente o carnaval todo sbado ao 12h foi criado por Benito. Todo ano Benito se veste a carter e declama a abertura do carnaval, diretamente do serto das cotias... Ele ainda colabora com o bloco Pai do troo, Espanta Vaca (bloco que surgiu no incio do sculo XX) e o bloco do Cruz Credo. Quando Benito descreve o bloco Pai do troo logo podemos fazer um paralelo com a idia da Festa dos folies de cox:

O pai do troo uma stira aberta de forma que durante os 365 dias do ano, as pessoas tenham um dia no carnaval que pode falar abobrinha, pode falar o que quiser, s que tem que assumir! Voc senta numa bacia de banheiro, que a gente pe l na rua, com descarga e tudo, e ento voc faz o discurso que quiser. Desce o cacete em quem quiser, mas tem que assumir. antes as pessoas mandavam bilhetinho para a gente e quem falava era a gente que organizava, a gente encenava. Hoje, eu penso que isso no muito legal. mais legal a pessoa ir acima do caminho, sentar, fazer o seu discurso e depois d a descarga. Isso muito legal! Esse bloco sai na segunda-feira. Quando chega segunda, eu j estou acabado, sem voz, sem nada!

13 Depoimento de Benito campos, em 13 de Outubro de 2008.14 Depoimento de Benito campos, em 09 de Janeiro de 2008.

33

Eu nunca consegui fazer um discurso pra valer, mas eu quase j fui morto no pai do troo.15

como citado por Benito, ainda tem o Espanta Vaca, que foi a retomada de um bloco do comeo do sculo passado. Esse bloco trs uma inspirao bem rural, a idia da vaca, o pessoal geralmente vai fantasiado de vaquinhas. Tambm trem o cruz credo inspirado na expresso do caipira arranquei Capituva e sartei de banda, que trs para o carnaval o imaginrio luizense dos monstros e figuras horrorosas, ento o refro da msica cruz credo, sartei de banda. Todavia, o imaginrio das lendas religiosas no est presente s na festa do carnaval e nas outras festas de cunho religioso. Tambm no festival de marchinhas muitas das composies so criadas inspiradas nesse tema. Neste ano, em 2008, pode-se citar como exemplo a msica Nh colaca do compositor Pedro Minga. No de duvidar que todo o ano tenha pelo menos uma marchinha que fale do tal capeta. Tambm deve ser acrescentado que no fcil fazer uma separao de quais aspectos da cultura luizense influenciado s pela religiosidade ou s pela ruralidade, isso praticamente impossvel. A cultura de So Luiz est impregnada desses elementos e os trs todo o momento para as festividades, as brincadeiras, os eventos, o modo de falar, as histrias e conseqentemente para o seu cotidiano.

REFERNCIAS

cOX, Harvey. A festa dos folies: um ensaio teolgico sobre a festividade e fantasia. Petrpolis: Vozes, 1974.

PETRONE, Pasquale. a regio de So Luiz do Paraitinga. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: 1959, v. 21, n 3, Julho-Setembro 1959.

So Luiz do Paraitinga a capital das marchinhas, Estado de So Paulo, caderno 2, 30 de Janeiro de 1999.

VELHO, gilberto; caSTRO, Eduardo B. Viveiros de. O conceito de cultura e o estudo de sociedades complexas. Revista Artefato, Rio de Janeiro, ano I, 1978.

VIEIRa, Michele cristina alves. O festival de marchinhas de So Luiz do Paraitinga e a memria histrico-cultural de seus participantes. Trabalho de Iniciao Cientifica. So Paulo, 2008.

15 Depoimento de Benito campos, em 03 de Outubro de 2008.

34

ESPAOS DE DANA DE SALO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: TRADIO E INOVAO NO LAZER DO CARIOCA

Maria Ins Galvo Souza16

RESUMO: O presente estudo tem como objetivo discutir as representaes dos conceitos de tradio e inovao nas prticas de dana de salo a partir de uma anlise de bailes da Zona Norte, do centro e da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro17. Estamos investigando as representaes dos pertencentes ao campo e os elementos utilizados na encenao tais como a forma de danar, a utilizao do espao, os trajes e ritmos preferidos e o domnio da tcnica. Para alcance dos objetivos, estamos realizando entrevistas com freqentadores em bailes previamente selecionados por sua importncia e localizao, uma descrio densa de cada espao e uma fundamentao baseada nos conceitos de corpografia e de tradio. Nosso intuito nessa comunicao apresentar as primeiras reflexes da pesquisa iniciada em 2007 levantando algumas hipteses.

PALAVRAS-CHAVE: Dana de Salo. Espao. cidade.

IntroduoEssa comunicao parte de um estudo que tem por objetivo discutir as representaes dos

conceitos de tradio e inovao nas prticas de dana de salo a partir de uma anlise de bailes da Zona Norte, do centro e da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. a partir da observao de trs bailes de dana de salo de diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro, buscamos verificar como as encenaes18 realizadas nesses espaos dialogam com peculiaridades locais, como uma possvel forma de ressignificao da espetacularizao que tambm envolve essa prtica de dana. Nosso intuito aqui apresentar as primeiras consideraes.

Tentamos no decorrer da pesquisa captar o fenmeno observado a partir de questes que abranjam a maneira como o cidado comum experimenta a dana, partindo de sua compreenso dessa experincia, da motivao para a escolha dos bailes freqentados e das caractersticas do entorno urbano. Percebemos que atravs da dana os atores sociais colocam em prtica valores, desejos e prazeres centrais de suas formas de viver. Nesse sentido a realidade vivida e o salo de dana estabelecem uma relao de continuidade, transformando-se num campo fundamental de produo de sentidos e significados. Estamos estabelecendo como dana de salo aquela praticada por casais, que surgiu na Europa, no Renascimento, e que desde os sculos XV e XVI tornou-se uma forma de lazer muito apreciada. chamada de social por ser praticada por pessoas comuns, em festas de confraternizao, propiciando o estreitamento de relaes sociais de amizade, de romance, entre outras. denominada de salo porque requer salas amplas para os danarinos realizarem livremente suas evolues e porque foi atravs da sua prtica nos sales das cortes reais europias que comeou a ser valorizada e levada para as colnias da amrica, sia e frica. Ela chega ao Brasil pelas mos de colonizadores portugueses, ainda no sculo XVI, e mais tarde pelos imigrantes de outros pases da Europa que para c vieram. Num pas como o Brasil, com to fortes e diferentes influncias culturais, no tardaram a se mesclar com contribuies dos povos indgenas e africanos: um processo de inovao e modificao das prticas europias importadas, bem como do surgimento de novas danas, tipicamente brasileiras. Apesar desses dilogos culturais, no fim do sculo XIX as danas de salo no Brasil ainda expressavam majoritariamente influncia europia. As moas iam ao baile de carn, onde eram anotados os compromissos para as danas. a etiqueta impunha na poca bastante cerimnia no pedido para esta ou aquela contra-dana: o cavalheiro tinha de reverenciar a dama e solicitar a honra de partilhar com ela a prxima valsa ou polca. as regras e cdigos das danas de salo, muitos dos quais ainda hoje podem

16 Professora