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ttOS OB}ECTNOS DO P.C.P. NAO MUD1~t\M"

ENTREVISTA COM ALVARO CUNHAL

Por JOAQUIM BENITE

"Mudou a situação, mudaram as formas de luta. Mas os objectivos do Partido mantêm·se" - estas palavras de Ãlvaro Cunhal resumem a posição do Partido Comunista Português, apenas alguns dias depois do Congresso Extraordinário que constituiu o grande acontecimento pol ítico desta semana.

Na seg u nda e na terça·feira, os jorna I istas estrangeiros assediaram o gabinete do ministro, procurando ouvi-lo, não propriamente sobre assuntos da governação, mas sobre o papel do Partido de que ele é o secretário-geral. Os olhos do mundo voltam-se para este homem sólido, impressionantemente activo, que deu m momento para o outro se transformou numa das chaves da pol ítica portuguesa.

Pedi uma entrevista a Álvaro Cunhal na segunda-feira, sendo certo de que o texto deveria estar pronto para ser composto apenas 24 horas depois de formulado o pedido.

"É difícil, mas vamos tentar" -disse-me a secretária .

Tentámos . Cunhal qu is as pergu ntas escritas e prometeu dar por escrito as respostas (é assim que ele procede sempre, até nas conferências de Imprensa).

"O camarada irá escrevendo nos bocadinhos que tiver livres" - esclareceu a mesma colaboradora do ministro. Mas durante todo o dia de terça-feira, o secretário-geral do Partido Comunista não pôde debruçar-se sobre o meu questionário : teve toda a manhã ocupada com audiências e a tarde e parte da no ite ded icadas ao Conselho de Ministros.

Porém, quarta-feira às 9 horas, a entrevista estava pronta: Cunhal escrevera-a durante a noite. A sua capacidade de trabalho é notável: "Julgo que ele não dorme a maior parte das vezes mais do que duas ou três horas por dia", tinha-me dito um membro do Partido, seu colaborador.

E, no entanto, não se notam sinais de fad iga neste homem. O aperto ' de mão que assinalou os breves segundos de contacto pessoal que teve comigo, foi enérg ico, juvenil. O seu sorriso era largo.

Quis conversar um pouco com ele, saber como ocupava o seu tempo na antiga sala de espera dos "deputados" (a Sala da República) onde instalou o gabinete. Já não era possível: Cunhal tinha desaparecido por trás da grande porta e a secretária advertiu-me: "Já não lhe posso falar. Está a receber outra pessoa."

Não gostaria, pois, de terminar este breve texto introdutório sem dar conta da impressão que Cunhal produz: a de uma funda energia. A energia moldada na dura luta do Part ido Comunista.

TV E NEUTRALIDADE P.: Na "Plataforma de Emergência" o

P.C .P. refere·se ao "termo das discriminações em relação a partidos políticos na televisão e ou~ros meios de Informação do Estado". De que modo deveria processar-se, segundo o P .C.P., a reforma da televisão, com vista não só a um maior esclarecimento pol ítico como à melhor qualidade da sua programação?

R.: Sem abordar o complexo problema da reforma da televisão podem adiantar -se algumas ideias.

A primeira é que a televisão não pode

ser pol iticamente neutra e mu ito menos uma arma de contestação da pol ític il actual, antes deve ser uma arma da consol idação da situação democrática e do actual curso político.

A segunda é que a televisão deve informar com verdade acerca da vida do País em toda a sua complexidade e variedade.

A terceira é que seja dada notícia da vida pol ítica e social e isto significa, entre outras coisas, que seja dada informação da actividade das organizações pol íticas que participam no processo democrático e que elas tenham acesso regular à televisão.

A quarta é que, dentro da orientação geral traçada, seja dada vasta margem de liberdade e iniciativa ao talento criador de todos os trabalhadores.

Tais são algumas das ·Iinhas de actuação que, no momento actual, haveria que considerar na televisão.

P.: Na mesma plataforma indicam-se algumas importantes medidas de carácter económico a serem postas em prática antes das eleições. I nscrevem-se estas medidas na estratégia antimonopolista defendida no Programa do Movimento das Forças Armadas?

R.: As medidas inscrevem-se no processo da revolução democrática e nacional cuja natureza e objectivos estão definidos e são mantidos no programa do P .C.P . aprovado pelo Congresso E xtraordinário. Não vemos qualquer incompatibilidade entre as medidas que propomos e o Programa do Movimento das Forças Armadas. Pelo contrári o , consideramos que as medidas propostas

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, III bora de carácter I im itado e não rmstituindo medidas de fundo, se podem Ilserir perfeitamente na "estratégia

dntimonopolista" indicada nesse programa.

P.: As medidas indicadas na "Plataforma" acerca da situação agrícola constituem uma preparação da reforma agrária de que o País carece?

R.: Com excepção de duas ou três med idas ind icadas, que, pelo seu alcance e até pela inevitável demora da sua realização, se poderiam mesmo considerar um tanto deslocadas numa plataforma de emergência, as medidas indicadas têm carácter imed iato.

A questão fundamental da reforma ag rana é a questão da terra, mais concretamente, a questão dos latifúndios e das muito grandes propriedades agrícolas, que, conforme os casos e a decisão da própria população laboriosa dos campos, deverão ser entregues, segundo o Programa do P.C.P., ou a um se ctor agrícola do Estado ou a cooperativas ou a famllias de agricultores. A "Plataforma de Emergência" não aborda uma tal questão,

E ntretanto, algumas das medidas imediatas propostas, como as relativas a i n c u I tos, f o r os, par. c e r i a s e arrendamentos, a serem concretizadas, " onduzirão a modificacões muito mportantes na ágricultura. N~sse sentido, ta lvez se possam considerar como uma preparação da reforma agrária.

P. : Considera que o processo de descolonização de Angola, tal como se e ncontra definido, pode entrar brevemente numa fase acelerada?

R.: O problema de Angola é extremamente complexo. É difícil neste momento prever como se desenvolverá o processo de descolonização em Angola. E stão ainda mal definidos alguns importantes factores.

E x i s t i r i a o p e r i g o , se não se prosseguisse consequentemente a descolonização, de um novo agravamento da situação em Angola que poderia conduzir novamente à guerra.

O P .C.P. mantém·se inteiramente fiel ao princípio da autodeterminação e da independência. Não haverá solução do problema de Angola se não se respeitar efectivamente esse princípio.

P.: A plataforma proposta pelo P.C.P. ã aprovação do povo português destina-se também a ser examinada em conjunto pelas restantes forças democráticas. Há já algum ind ício da disposição dessas forças relativamente a tal exame?

R . : Nenhuma força democrática r es ponsável deixará ' de examinar a "P lataforma". Haverá sem dúvida ocasião (! e considerar com as outras forças lemocráticas as medidas que propomos.

P.: Tem-se especulado acerca da real

importância eleitoral do P .C.P. Poderá dar-nos a sua opinião sobre este assunto?

R.: É por enquanto muito difícil fazer uma ideia a esse respeito. I sso depende do que virá a ser a lei eleitoral e da sua aplicação. Há regiões onde o 25 de Abr il não chegou ainda. Nessas reg iões as populações estão coagidas ainda hoje por elementos reaccionários. Se não se agir com rapidez e eficiência, não será posslve l nessas reg iões a expressão I ivre da vontade popular. Isso poderá falsear os resultados gerais das eleições e a posição relativa das várias formações.

P.: Qual é a posição do P .C.P. acerca da lei eleitoral que neste momento está em discussão?

R.: Em vários documentos e na sua imprensa, o P.C.P . expressou, já mesmo antes do projecto de lei elaborado, algumas das suas ide ias em relação à lei eleitoral. No Congresso Extraordinár io voltámos a insistir. Lutámos pelo voto aos 18 anos e aos analfabetos. Por um recenseamento sério e controlado pelas forças democráti cas. Pelo voto e ap u r am e nto d e r e sultados também devidamente controlados.

Somos a favor do voto a em igrantes que tenham em igrado em anos recentes e mantenham est re itos laços com Portuga l, mas contra o voto a emigrantes que vivem em pa íses ond e haja ditaduras reaccionárias. Em tais pa íses nem os em igrantes podem ser esclarecidos pela campanha dos c andidatos nem há qualqu e r possibili d ade dum recenseamento honest o , duma votação honesta e duma fiscali zação efectiva .

O nosso object ivo é que as eleições sejam realmente livres e a expressão genu Ina da vontad e popular.

UNIDADE SINDICAL

P.: Recentemente correu com insistência em certos meios que a coligação governamental iria ser alargada. Apesar das declarações que já fez a este respeito na sua conferência da Imprensa, pode dizer-nos se considera que esse alargamento venha a ser possível relativamente a um partido como o C.D.S.?

R.: Falou -se de f acto nisso depois do 28 de Setembro. A nossa opinião é que , depois de uma vitó ria das forças democráticas e populares seria inaceitável o alargamento da coligação , não com a entrada de representantes daqueles que mais activamente participaram na luta que levou à derrota da reacção - como é o caso do M.D.P. - mas com elementos da direita . Premiar a indecisão ou

posições equ ívocas na crise de Setembro, num momento em que as liberdades estavam em perigo , não ser ia certamente acertado nem no plano politico nem no pl ano mora l.

P. : O P.C .P. tem defendido com vigor o p rincípio da unidade sindical, em oposição a teses de outras forças que sustentam a suposta necessidade de um plu ral ismo das organizações dos traba lh ad o res. Como se justifica a necessidade de uma organização única? Deve ela ser independente dos partidos pol,íticos?

R. : Defendemos de facto uma só ce nt ra l sind ical e uma organização sindica l ún ica, cuja orientação, actividade,

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composição dos corpos gerentes, caibam à decisão livre dos trabalhadores. A organização sind ical deveria ser independente dos partidos pol íticos e do Governo. Tal solução serviria a defesa dos interesses dos trabalhadores e do processo de democratização.

A multiplicação de sindicatos e de centra is satél ites de part idos po líticos sign ificaria a divisão da classe operária e dos trabalhadors em geral, criaria rapidamente uma situação social pouco favorável à democratização, enfraqueceria a sua luta contra o patronato e criaria tensões e conflitos entre os trabalhadores. Uma tal solução não serviria nem os trabalhadores nem a democracia. Somos

contrários a ela e defendemos uma organização sindical unitária. ,

P.: As alterações ao Programa e aos Estatutos do P.C.P., recentemente aprovadas no Congresso Extraordinário, que significado possuem no actual momento histórico? Não será despropositado relacionar estas alterações com a estafada polémica da via pacífica para o socialismo?

R.: A situação mudou, mudaram as tarefas imediatas do Partido.

O Programa aprovado no V I Congresso realizado em 1965 indicava tarefas imediatas voltadas para a luta contra a p o I ítica fascista. A situação é hoje completamente diferente. O Congresso

Extraordinário definiu os objectivos d i] luta nesta nova situação.

Mudaram também necessariamente as formas de I uta, os métodos de organização, a vida interna do Partido.

Não mudaram os objectivos ulteriores da luta. O socialismo e o comunismo continuam sempre as metas do Partido. As alterações não mod ificam nada nas posições ideológicas quanto às vias para o socialismo. Apenas sublinham as novas e originais perspectivas do desenvolvimento do processo da revolução portuguesa.

P.: O P .C.P. possui uma linha pol íticil bem definida e coerente, como se podf? ver pelo resumo das conclusões dos seus congressos. Pode dizer-nos como vê o Partido, no quadro desta linha pol ítica, as actividades e o labor intelectual, designadamente o de escritores e artistas?

R.: A actividade dos escritores e dos artistas constitui uma valiosa contribuição para a construção de um Portugal democrático. Não apenas pela sua participação na acção política, mas também pela sua actividade criadora. Depois de meio século de opressão cultural, a nova situação de liberdade dá possibilidades para uma rápida expansão da cultura e da arte. O povo português tem fome de cultura. Consideramos como dever dos escritores e artistas irem ao encontro dessa necessidade e considerarem as suas obras como uma forma de intervenção que pode ser poderosa no rumo democrático da vida nacional.

P.: O P.C.P. participou na reunião de Partidos Comunistas de Varsóvia. Houve, nesta reunião, qualquer comunicação especial do Partido português? .

R.: Naturalmente que houve. A delegação do P.C.P. deu uma informação sobre a situação pol ítica em Portugal e expôs os pontos de vista do nosso Partido acerca das questões internacionais. O P.C .P. teve a honra de ser a primeira delegação a intervir, o que mostra o extraordinário interesse internacional pela revolução portuguesa e o prestígio do nosso Partido.

P.: A abertura de relações diplomáticas com os países socialistas irá permitir, a curto prazo, um assinalável desenvolvimento da economia portuguesa?

R.: Não poderemos dizer tanto. A cu rto prazo, o desenvolvimento das relações económicas poderá contribu ir para a solução de algumas dificuldades conjunturais. Se assim for, já será importante. Numa perspectiva mais ampla, poderão de facto as relações comerciais e a cooperação técnica e científica de Portugal com os pa íses social istas contribu ir para a estabi I idade económica e desenvolvimento país.

um mais rápido independente do nosso

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