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Dissertação COMPARAÇÃO ENTRE A CLASSE FUNCIONAL DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E A FRAÇÃO DE EJEÇÃO COMO PREDITOR DE COMPLICAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO Valério Martins

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Dissertação

COMPARAÇÃO ENTRE A CLASSE FUNCIONAL DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E A FRAÇÃO DE EJEÇÃO COMO PREDITOR DE COMPLICAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO DE

CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO Valério Martins

 

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Medicina:

Área de Concentração: Cardiologia e

Ciências da Saúde

COMPARAÇÃO ENTRE A CLASSE FUNCIONAL DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E A FRAÇÃO DE EJEÇÃO COMO PREDITOR DE COMPLICAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO DE

CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO

Autor: Valério Martins

Orientador: Prof. Dr. Renato Abdala Karam Kalil

Dissertação submetida como requisito para

obtenção de grau de Mestre ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências da Saúde, área

de Concentração: Cardiologia ou Ciências

Cardiovasculares, da Fundação Universitária

de Cardiologia/Instituto de Cardiologia do Rio

Grande do Sul.

Porto Alegre

2012

 

Bibliotecária Responsável: Marlene Tavares Sodré da Silva CRB 10/1850

M386e Martins, Valério.

Comparação entre a classe funcional da insuficiência cardíaca e a fração de ejeção como preditor de complicações no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio / Valério Martins; orientação [por] Renato Abdala Karam Kalil – Porto Alegre, 2012.

45f ; tab. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul/ Fundação Universitária de Cardiologia - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, 2012.

1.Revascularização.2.Fração de ejeção.3.Classe funcional. I.Renato Abdala Karam Kalil.II.Título.

CDU: 616.127-089.168(083.77)

 

Dedico mais esta etapa vencida da

minha vida a minha mãe, minha tia

Maria, minha esposa e meu filho.

 

AGRADECIMENTOS

Luciane de Fraga Gomes Martins : Responsável pelas mudanças na

minha vida que levaram a este momento além do estímulos e colaboração

neste projeto.

Professor Dr. Renato Abdala K.Kalil : Por ter acreditado e aceitado me

orientar na condução do trabalho

João Carlos Vieira da Costa Guaragna: Pela confiança no meu trabalho

e por ter viabilizado a elaboração do mesmo.

Serviço de Cirurgia Cardíaca do HSL- PUC: Onde tive contato com a

cirurgia cardíaca e foi realizada a coleta dos dados.

Ellen Hettwer Magedanz: Pela colaboração e apoio durante as cadeiras

do mestrado.

Handerson Nunes dos Santos: Pela inestimável ajuda na formatação

deste trabalho.

Professor Dr. Mário Wagner: Pela colaboração no trabalho estatístico.

Jose Antônio e Lucas Gerzson Linck : Por serem estímulo á melhora

pessoal.

 

SUMÁRIO

BASE TEÓRICA ............................................................................................................ 1

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2

1.1 CIRURGIA CARDÍACA .................................................................................... 4

1.2 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA .......................................................................... 5

1.3 FUNÇÃO VENTRICULAR .............................................................................. 11

1.4 FRAÇÃO DE EJEÇÃO ..................................................................................... 11

2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 14

3 HIPÓTESE .............................................................................................................. 15

4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 16

4.1 OBJETIVO PRINCIPAL ................................................................................... 16

4.2 OBJETIVOS SECUNDÁRIOS ......................................................................... 16

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 17

6 ARTIGO ORIGINAL ............................................................................................ 23

6.1 RESUMO ........................................................................................................... 25

6.2 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 26

6.3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 28

6.4 RESULTADOS ................................................................................................. 30

6.5 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 32

6.6 CONCLUSÃO ................................................................................................... 35

6.7 LEGENDAS DE FIGURAS .............................................................................. 36

6.8 TABELAS ......................................................................................................... 37

6.9 FIGURAS .......................................................................................................... 41

6.10 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 45  

 

BASE TEÓRICA

2

1 INTRODUÇÃO

A cirurgia tem sido a alternativa terapêutica - às vezes, única - para diversas

patologias cardíacas. Com a evolução tecnológica e o aprimoramento das técnicas

cirúrgicas, esses procedimentos têm se tornado cada vez mais utilizados, beneficiando

um número maior de pessoas e permitindo indicar a cirurgia para pacientes em

condições clínicas mais avançadas1, 2.

Em todo procedimento médico, a indicação depende do equilíbrio entre os riscos

e os benefícios proporcionados pelo mesmo3. Por isso, a avaliação clínica no pré-

operatório é importante, porque pode, além de indicar a cirurgia, avaliar os riscos

individuais e o melhor momento de cada paciente para o procedimento necessário2, 4. As

complicações têm relação direta com fatores do pré-operatório e do transoperatório,

sendo que, alguns, podem ser reduzidos ou mesmo eliminados5, 6. Após anos de

experiência com cirurgia cardíaca, estão bem estabelecidos, na literatura, os principais

fatores de risco para complicações no pós-operatório e, dentre os mais importantes,

devido à frequência e ao impacto, está a disfunção ventricular7, 8.

Pacientes com disfunção ventricular apresentam risco aumentado para óbito,

tanto precoce, quanto tardio, no pós-operatório de cirurgia cardíaca9.

Na avaliação dos riscos cirúrgicos, o valor de cada preditor deve ser considerado

e toda a informação obtida de maneira ágil e com a menor necessidade de recursos

ganha relevância, neste momento.

Baseado nos fatores de risco, reconhecidos pela literatura, foram criados os

escores de risco, que têm como objetivo principal avaliar os riscos dos pacientes, mas

que, também, servem para comparar os resultados de diferentes centros e entre

cirurgiões10.

3

Um dos primeiros modelos de estratificação de risco foi realizado por Parsonnet

et al, em 1989 e, desde então, diversos outros escores têm sido desenvolvidos, na

tentativa de quantificar risco de óbito e morbidade para pacientes submetidos à cirurgia

cardíaca11.

Dentre os escores mais conhecidos, estão: Bernstein-Parsonnet (2000),

Cleveland 2002), Society of Thoracic Surgeons (2002), Turner et al (1995), Grover et al

(1994), Higgins et al (1992), Pons Score (1997), Guaragna (2010) e o EuroSCORE

(1999). Este último é o mais validado e utilizado, em diversas regiões do mundo10, 12.

Recentemente foi publicado o EuroScore II (2012) confirmando a acurácia do modelo

em predizer risco13.

Todos os escores utilizam preditores semelhantes, com algumas variações, que

dependem da população estudada. Entre os mais utilizados, estão a fração de ejeção, a

insuficiência renal, a disfunção neurológica, o índice de massa corporal, a angina

instável, o infarto agudo do miocárdio recente, a vasculopatia periférica, a doença

pulmonar obstrutiva crônica, a idade, o sexo e a reoperação.

De todos os escores citados anteriormente, apenas o Pons Score não utiliza a

fração de ejeção e pontua a classe funcional III e IV14. Isso mostra a importância que a

fração de ejeção tem em predizer risco e a baixa valorização da classe funcional da

insuficiência cardíaca12.

4

1.1 CIRURGIA CARDÍACA

A cirurgia cardíaca é um procedimento que expõe o paciente a diferentes tipos

de agressão, determinando respostas variadas e levando a diversas possibilidades de

complicações, inclusive ao óbito2.

Conforme a literatura, a morbimortalidade associada à cirurgia cardíaca varia em

torno de 4 a 6 %, podendo ser bem maior em grupos específicos de pacientes, como os

que apresentam disfunção ventricular4.

As indicações para a cirurgia cardíaca de valvulopatias e coronariopatias - que

são as mais frequentemente realizadas - estão bem estabelecidas na literatura e

apresentam relação direta com a gravidade das lesões e a severidade dos sintomas4.

As indicações clássicas para a revascularização miocárdica isolada - que é o

objetivo deste estudo - são: lesão de coronária esquerda ou equivalente, lesão de três

vasos com envolvimento da descendente anterior e disfunção ventricular4, 15.

Os fatores do transoperatório que têm maior relação com complicações, no pós-

operatório, são o tempo de circulação extracorpórea e a qualidade da preservação

miocárdica transoperatória. As mais graves complicações do pós-operatório são:

acidente vascular encefálico, mediastinite, baixo débito cardíaco, infarto agudo do

miocárdio, sangramento aumentado, insuficiência renal aguda, ventilação mecânica

prolongada e óbito16, 17.

A disfunção ventricular possui relação direta com a evolução desfavorável, no

pós-operatório8, 18, 19. Por isso, é fundamental sua adequada avaliação, utilizando o

método que tenha melhor aplicação prática. Uma vez identificada a disfunção

ventricular, uma série de medidas podem ser tomadas, na tentativa de reduzir as

complicações20. Essas medidas vão desde o adiamento do procedimento, para

5

compensação do quadro, a monitorização hemodinâmica no pré-operatório, a colocação

de balão intra-aórtico, até a contraindicação da cirurgia.

Na tentativa de avaliar e quantificar os riscos para complicações e para óbito no

pós-operatório de cirurgia cardíaca, diversos escores têm sido utilizados5, 7, 14. Muitos

deles foram validados em diversas regiões do mundo, entretanto, todos carregam

consigo características particulares das populações onde foram estudados12, 21, 22.

Portanto, é importante que cada serviço conheça as características de sua população,

para identificar quais os principais fatores de risco, adequando a avaliação para seus

preditores1, 3.

1.2 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica, caracterizada por diversos

sinais e sintomas, com manifestações sistêmicas em graus variados, que dependem da

severidade da disfunção ventricular e de outros fatores, como patologias associadas e a

idade6.

Trata-se de uma síndrome, que apresenta prevalência elevada, principalmente

entre os idosos, o que ganha importância crescente com o aumento progressivo da

expectativa de vida da população23.

Com a melhora dos recursos para o tratamento clínico - e a melhor atuação na

fase aguda do infarto do miocárdio e nas situações de instabilização da cardiopatia

isquêmica, com a utilização de Stent e, principalmente, sobre uma população mais idosa

- cada vez mais se operam pacientes com disfunção ventricular. Deve-se, ainda,

considerar que a insuficiência cardíaca e a disfunção ventricular são, também, passíveis

de tratamento cirúrgico, tornando o diagnóstico e a indicação, no tempo certo, um fator

decisivo no prognóstico4, 24.

6

A cardiopatia isquêmica é a principal causa de insuficiência cardíaca, chegando

de 60% a 68% de sua etiologia. Na ausência de valvulopatia, ela, geralmente, leva à

disfunção sistólica do ventrículo esquerdo6, 9.

Usualmente, a insuficiência cardíaca pode ser classificada como disfunção

sistólica ou diastólica do ventrículo esquerdo. A disfunção sistólica é caracterizada pela

diminuição da contratilidade do ventrículo esquerdo, enquanto a diastólica é definida

como déficit de relaxamento ventricular25.

A insuficiência cardíaca tem apresentado elevação, tanto na incidência, como

também, na prevalência, o que está relacionado ao aumento da expectativa de vida da

população e à melhora nos recursos terapêuticos5, 7, 23.

Apesar dos avanços no entendimento da fisiopatologia e no tratamento, a

insuficiência cardíaca ainda mantém mortalidade ao redor de 50%, em quatro anos após

o estabelecimento do quadro clínico6. Possui incidência de morte súbita de seis a nove

vezes maior do que a população em geral e é a maior causa de internações entre pessoas

com mais de 65 anos, com algumas estatísticas chegando a mostrar cerca de 550.000

novos casos por ano e uma prevalência de cinco milhões de casos, nos Estados Unidos6.

No Brasil, dados de 2007 dão conta de que a insuficiência cardíaca foi

responsável por 2,6% das internações hospitalares e por 6% dos óbitos. De todos os

pacientes internados, 69,8% tinham mais de 60 anos (Datasus).

A insuficiência cardíaca atinge 2,5% das pessoas com mais de 45 anos, 8% com

mais de 65 anos e chega a 10% das pessoas com mais de 75 anos. Afeta

significativamente a qualidade de vida de seus portadores, sendo, ainda, considerada um

problema de saúde pública, por sua elevada prevalência e pelo alto índice de

morbimortalidade, acarretando elevado custo social para o tratamento tanto da doença,

como de suas complicações26.

7

A insuficiência cardíaca, muitas vezes, tem origem multifatorial, principalmente,

por ter instalação insidiosa e surgir, geralmente, em pessoas idosas, que apresentam

diversas patologias associadas25.

A hipertensão arterial sistêmica de longa data e, especialmente, se mal tratada, é

uma das principais causas da falência ventricular24, enquanto que as valvulopatias -

como a estenose aórtica, a insuficiência aórtica, a estenose mitral e a insuficiência mitral

- são responsáveis por outra parcela significativa das causas de insuficiência cardíaca.

Outro grupo de doenças que reúne um grande número de mecanismos fisiopatológicos

diferentes, são as chamadas miocardiopatias23, 24.

Existem situações nas quais a disfunção ventricular tem instalação aguda, como

após infarto agudo do miocárdio, o que pode levar ao comprometimento de grande área

do ventrículo esquerdo, ou mesmo disfunção valvar4, 24.

Algumas valvulopatias de instalação aguda, tal qual insuficiência aórtica ou

mitral, como pode ocorrer na endocardite infecciosa, também, são causas de falência

ventricular. Essa situação clínica tem alta mortalidade e o tratamento precoce e

agressivo é fundamental.

A insuficiência cardíaca é uma das síndromes clínicas com o maior conjunto de

sinais e sintomas associados. Isso torna o diagnóstico sindrômico fácil, na maioria dos

casos6.

Os achados clínicos vão variar, de acordo com a causa da disfunção ventricular e

da sua severidade. Nos pacientes idosos, as manifestações clínicas podem estar alteradas

ou minimizadas pelas limitações impostas por outras doenças e, também, podem ter

apresentação atípica6.

A dispneia é o sintoma mais importante e, por isso, utilizado como critério para

definição da classe funcional da insuficiência cardíaca, pela New York Heart

8

Association (NYHA). Ela pode evoluir desde dispneia para grandes esforços até

dispneia de repouso.

A New York Heart Association criou uma estratificação da severidade da

insuficiência cardíaca, baseada nos sintomas e definindo a classe funcional da mesma,

como segue27:

- Classe I = sem limitação para atividades habituais

- Classe II = dispneia para atividades habituais

- Classe III = dispneia para pequenos esforços

- Classe IV = dispneia em repouso

A classificação da NYHA para insuficiência cardíaca é a mais utilizada, com a

primeira publicação em 1955, e várias revisões posteriores, assim como validações. É a

classificação que mostrou melhor associação com prognóstico, servindo, também, para

o acompanhamento da evolução e da resposta terapêutica. Tem como grande atrativo o

fato de ser realizada unicamente com informações clínicas, sem a necessidade de

exames complementares, nem custos28.

As críticas feitas à avaliação clínica da insuficiência cardíaca se referem à

utilização da capacidade do paciente para realizar atividades do cotidiano como critério

de classificação. Esta capacidade é variável entre os pacientes, o que confere

subjetividade na medida. A habilidade dos pacientes em realizar esforço físico, também,

sofre interferência de outros fatores, como a idade e a presença de doenças, como as

osteoarticulares e as respiratórias24.

Para melhor aplicabilidade na prática clínica para pacientes idosos, o estudo

Framingham propôs critérios maiores e menores para o diagnóstico de insuficiência

cardíaca, utilizando-se de dois maiores ou um maior e dois menores para caracterizar o

9

seu grau. Entre os critérios maiores, estão a dispneia paroxística noturna, a turgência

jugular, os estertores pulmonares, o edema agudo de pulmão, a cardiomegalia, a

presença de terceira bulha com ritmo de galope e a perda ponderal maior ou igual a 4,5

quilos com cinco dias de tratamento. Já para critérios menores, são utilizados sinais,

como a presença de edema de tornozelo, a tosse noturna, a hepatomegalia, o derrame

pleural, a taquicardia e a capacidade ventilatória vital menor que um terço da prevista29.

Os exames complementares podem auxiliar tanto no diagnóstico, como na

identificação de outras causas para os sintomas apresentados pelo paciente23. Entre os

mais utilizados, estão o ECG, o raio X de tórax, o ecocardiograma e os exames

laboratoriais simples6.

O teste ergométrico é limitado para essa finalidade, principalmente em pacientes

idosos ou muito sintomáticos. Como alternativa, é possível usar o teste de caminhada de

seis minutos, que tem boa tolerância pelos pacientes e serve, também, como avaliação

terapêutica e prognóstico30, 31.

A disfunção ventricular, gerando baixo débito cardíaco, estimula alterações

sistêmicas e da biologia do miócito, o que confere o caráter evolutivo da patologia23. O

remodelamento é o grande problema dessas alterações, que são mediadas pelo sistema

neuro-humoral, que inicia com hipertrofia do ventrículo esquerdo, progredindo para

dilatação. Esse processo segue uma sequência, que passa pelo aumento da tensão da

parede, pela isquemia relativa, pela perda de energia e segue com fibrose intersticial23.

Todo paciente com evidências de descompensação da insuficiência cardíaca

necessita de controle do quadro, antes de ser submetido a qualquer procedimento.

Existem situações em que o manejo da causa da falência ventricular é de tratamento

cirúrgico e, às vezes, a cirurgia é a única possibilidade de sobrevida para o paciente,

devendo ser realizada mesmo em condições não ideais.

10

O tratamento busca aliviar os sintomas, melhora funcional, prevenir a evolução

da doença, atenuar o remodelamento do ventrículo e reduzir a mortalidade.

Deve-se tentar resolver ou controlar fatores etiológicos e/ou agravantes, como

hipertensão arterial sistêmica, cardiopatia isquêmica e valvulopatias. O tratamento

cirúrgico é a alternativa para muitos desses fatores, em algum momento da evolução do

quadro.

O arsenal medicamentoso tem aumentado, na medida em que se entende melhor

a fisiopatologia da doença. Com isso, alguns medicamentos elevaram sua importância e

outros tiveram a indicação reduzida, como é o caso dos digitálicos que, apesar de

melhora nos sintomas, não alteram a mortalidade.

Entre as drogas de primeira linha estão os betabloqueadores, como carvedilol,

inibidores da enzima de conversão da angiotensina e espironolactona32-34. Diuréticos de

alça são bastante utilizados, nos períodos de descompensação.

Outras drogas servem como alternativas, tais quais os nitratos, a hidralazina e os

antiarrítmicos. Os anticoagulantes orais têm indicação para prevenir complicações

embólicas, principalmente em pacientes com fibrilação atrial e cardiomegalia34.

Atualmente, tem-se utilizado o auxílio de marco-passo para ressincronização dos

ventrículos, com bons resultados em casos selecionados35. Existe, ainda, a possibilidade

de indicar cardioversor e desfibrilador, implantados para reduzir casos de morte

súbita36.

Nas valvulopatias e na cardiopatia isquêmica severa, a cirurgia está indicada na

tentativa de resolver a causa da insuficiência cardíaca e evitar a progressão do quadro.

11

1.3 FUNÇÃO VENTRICULAR

Dentre todos os preditores de risco de complicações e morte no pós-operatório

de cirurgia cardíaca, utilizados por todos os escores, a disfunção ventricular configura

um dos pesos mais importantes18.

A avaliação da função ventricular pode ser feita através de critérios clínicos,

funcionais, como definido pela classificação da New York Heart Association27.

Atualmente, utilizam-se dosagens bioquímicas, como o BNP, na tentativa de identificar

disfunções do ventrículo esquerdo31.

Os sintomas clínicos de insuficiência cardíaca determinam limitações funcionais,

independentemente da presença - ou não - da disfunção sistólica do ventrículo

esquerdo3. Esse fato justifica a pouca relação entre a classe funcional da Insuficiência

Cardíaca com a Fração de Ejeção24.

Na prática diária, muitas vezes, não existe relação direta entre a Fração de

Ejeção e a classe funcional da Insuficiência Cardíaca, pois, ela não mede o estado

contrátil do coração, nem o gasto energético, durante o processo de contração. Em

situações onde há divergência entre a avaliação clínica e laboratorial, não há claramente

definido qual dos dois métodos está mais diretamente relacionado com complicações no

pós-operatório, servindo, então, como o melhor preditor24.

1.4 FRAÇÃO DE EJEÇÃO

A maioria dos escores de risco cirúrgico utiliza a fração de ejeção como

marcador de disfunção ventricular, mostrando a associação da mesma com

complicações e óbito3, 7.

Ela representa o percentual do volume diastólico que foi ejetado durante a sístole

e pode ser avaliada por diferentes métodos, como a tomografia, o estudo hemodinâmico,

12

a ressonância nuclear magnética37, a ventriculografia radioisotópica e o ecocardiograma

- sendo os dois últimos, os mais utilizados18.

O ecocardiograma apresenta como importante vantagem o fato de poder ser

realizado à beira do leito, não necessitar de contraste ou de radiação, não ser invasivo,

não necessitar de preparo, não ter riscos, ser de baixo custo e estar muito disponível. Ele

ainda possibilita avaliar aspectos anatômicos, funcionais e hemodinâmicos38.

Existem várias formas de avaliar a função ventricular, através do

ecocardiograma. A mais utilizada é a determinação da fração de ejeção, que pode ser

medida, principalmente, pelos métodos de Teichholz e de Simpson.

O método de Teichholz necessita que o ventrículo tenha formato esférico e que

não apresente alterações regionais e a Fração de Ejeção é calculada pela diferença das

dimensões do ventrículo esquerdo, ao final da diástole e da sístole. Já o método de

Simpson usa duas projeções do ventrículo e não necessita que o mesmo seja normal,

podendo aparentar alterações regionais, sem comprometer a medida, sendo, por isso, o

meio mais utilizado. Também, calcula a Fração de Ejeção pela diferença das medidas do

ventrículo esquerdo, na diástole e na sístole39.

A grande desvantagem do ecocardiograma está no fato de que a avaliação tem

certo grau de imprecisão e de subjetividade, acarretando que resultados sejam operador-

dependentes40.

A ventriculografia radioisotópica utiliza hemáceas circulantes, marcadas com

isótopo radioativo, para a avaliação da função ventricular. As imagens são adquiridas

em sincronia ao eletrocardiograma, permitindo analisar aspectos funcionais, como a

motilidade global e regional e os volumes ventriculares.

Com os dados volumétricos, pode-se calcular, de modo preciso e reprodutível, a

fração de ejeção, que é a grande vantagem do método, além dos casos onde o

13

ecocardiograma apresenta limitações. As desvantagens estão relacionadas ao custo

elevado e à disponibilidade41.

Uma avaliação adequada da função ventricular no pré-operatório, com a

utilização de critérios clínicos e, também, através de exames complementares, é

fundamental, para um melhor planejamento cirúrgico, bem como a estratificação de

risco4.

14

2 JUSTIFICATIVA

 

A disfunção ventricular é reconhecida como um importante preditor de

complicações e de óbito, no pós-operatório de cirurgia cardíaca. A maioria dos escores

de risco utiliza a medida da fração de ejeção, sem considerar a classe funcional da

insuficiência cardíaca, para quantificação de risco.

A observação clínica no acompanhamento dos pacientes que realizaram cirurgia

de revascularização do miocárdio sugere que a classe funcional da insuficiência

cardíaca avaliada no pré-operatório tem impacto importante, no surgimento de

complicações no pós-operatório, independentemente do valor da fração de ejeção.

Este projeto de pesquisa pretende identificar qual forma de avaliação da função

ventricular, clínica ou laboratorial, é melhor em predizer complicações, no pós-

operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio isolada.

15

3 HIPÓTESE

 

A Hipótese de pesquisa deste estudo é que a determinação da classe funcional da

insuficiência cardíaca, baseada nos critérios da NYHA, representa melhor preditor de

morbidade e de mortalidade no pós-operatório de cirurgia cardíaca, quando comparada

com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo.

16

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO PRINCIPAL

Comparar a classe funcional da insuficiência cardíaca com a fração de ejeção do

ventrículo esquerdo, como preditor de morbidade e de mortalidade no pós-operatório de

cirurgia para revascularização do miocárdio.

4.2 OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

- Identificar as principais complicações do pós-operatório, relacionadas com a

insuficiência cardíaca.

- Avaliar mortalidade cirúrgica relacionada com a insuficiência cardíaca.

17

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ARTIGO ORIGINAL

24

Artigo Original – Arq Bras Cardiol Jul 2012

COMPARAÇÃO ENTRE A CLASSE FUNCIONAL DA INSUFICIÊNCIA

CARDÍACA E A FRAÇÃO DE EJEÇÃO COMO PREDITOR DE

COMPLICAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA DE

REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL/

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA

Valério Martins, João Carlos V. Guaragna e Renato A. K. Kalil

Autor para Correspondência:

Valério Martins – Unidade de Pesquisa IC/FUC

Av. Princesa Isabel, 370 Santana CEP 90.620-000

Porto Alegre, RS – BRASIL

[email protected] / [email protected]

25

RESUMO

Fundamento: Todo procedimento médico necessita da avaliação de riscos e de

benefícios, o que estimulou o surgimento de diversos escores de risco para a Cirurgia de

Revascularização Miocárdica. Dentre os preditores de complicações e de morte no pós-

operatório de revascularização, está a disfunção ventricular, que pode ser avaliada, do

ponto de vista clínico e funcional, pela classificação de New York Heart Association e

através de exames complementares, com a determinação da Fração de Ejeção (FE). Na

prática clínica, nem sempre existe correlação entre essas duas variáveis. Objetivos:

Identificar qual das formas de avaliação ventricular - clínica ou laboratorial - é melhor

preditor de complicações no pós-operatório de Cirurgia de Revascularização

Miocárdica. Métodos: Estudo observacional de coorte histórico, com dados retirados de

um banco, com informações do pré, trans e pós-operatório de todos os pacientes que

realizaram cirurgia no Hospital São Lucas, da PUC, no período de 1996 a dezembro de

2010. Foram incluídos pacientes com mais de 18 anos e revascularização isolada. Os

desfechos avaliados foram IAM, AVE, IRA, ICC, drogas vasoativas, sangramento,

ventilação mecânica prolongada e óbito. Realizou-se análise com SPSS, médias com

desvio padrão, curva ROC e regressão logística com análise multivariada. Resultado:

Incluídos 3040 pacientes, sendo 67% masculinos e idade média = 60 anos. Classe

funcional (CF) I = 66,3%; FE média = 53% (+-15); mortalidade geral = 8,7%; pacientes

com FE < 40% e CF IV tiveram mortalidade = 63% e a média dos pacientes com a

mesma FE foi de 17%. O óbito nos pacientes com FE > 50% e classe I foi de 4%. FE

<40% e classe I, o óbito foi de 8%; FE >50% e classe IV, óbito=22%. Houve associação

da pior classe funcional com óbito (p< 0,001); a complicação mais frequente foi a

necessidade de droga vasoativa. Conclusão: O estudo mostrou que a classe funcional da

IC é preditora independente de complicações e de óbito. Quando associada à FE,

identifica pacientes de alto risco cirúrgico.

Descritores: Revascularização, Classe Funcional, Fração de Ejeção.

26

INTRODUÇÃO

A cirurgia cardíaca tem sido a alternativa terapêutica - às vezes, única - para

diversas patologias cardíacas. Com a evolução tecnológica e o aprimoramento das

técnicas cirúrgicas, esses procedimentos têm se tornado cada vez mais utilizados,

beneficiando um número maior de pessoas e permitindo indicar a cirurgia para pacientes

em condições clínicas mais avançadas1, 2.

Em todo procedimento médico, a indicação depende do equilíbrio entre os riscos

e os benefícios proporcionados pelo mesmo3. Por isso, a avaliação clínica no pré-

operatório é importante, porque pode, além de indicar a cirurgia, avaliar os riscos

individuais e o melhor momento de cada paciente para o procedimento necessário2, 4. As

complicações têm relação direta com fatores do pré-operatório e do transoperatório,

sendo que, alguns, podem ser reduzidos ou mesmo eliminados5, 6. Após anos de

experiência com cirurgia cardíaca, estão bem estabelecidos, na literatura, os principais

fatores de risco para complicações no pós-operatório e, entre os mais importantes,

devido à frequência e ao impacto, está a disfunção ventricular7, 8.

Pacientes com disfunção ventricular apresentam risco aumentado para óbito,

tanto precoce, quanto tardio, no pós-operatório de cirurgia cardíaca9.

Na avaliação dos riscos cirúrgicos, o valor de cada preditor deve ser considerado

e toda a informação obtida, de maneira ágil e com a menor necessidade de recursos,

ganha relevância, neste momento.

Baseado nos fatores de risco, reconhecidos pela literatura, foram criados os

escores de risco, que têm como objetivo principal avaliar os riscos dos pacientes, mas

que, também, servem para comparar os resultados de diferentes centros e entre

cirurgiões10.

27

Um dos primeiros modelos de estratificação de risco foi realizado por Parsonnet

et al, em 1989 e, desde então, diversos outros escores têm sido desenvolvidos, na

tentativa de quantificar o risco de óbito e a morbidade para pacientes submetidos à

cirurgia cardíaca11.

Dentre os escores mais conhecidos, estão: Bernstein-Parsonnet (2000),

Cleveland 2002), Society of Thoracic Surgeons (2002), Turner et al (1995), Grover et al

(1994), Higgins et al (1992), Pons Score (1997), Guaragna (2010) e o EuroSCORE

(1999). Este último é o mais validado e utilizado, em diversas regiões do mundo10, 12.

Recentemente foi publicado o EuroScore II ( 2012) que corrobora a eficácia deste

escore em predizer risco13.

Todos os escores utilizam preditores semelhantes, com algumas variações, que

dependem da população estudada. Entre os mais utilizados, estão a fração de ejeção, a

insuficiência renal, a disfunção neurológica, o índice de massa corporal, a angina

instável, o infarto agudo do miocárdio recente, a vasculopatia periférica, a doença

pulmonar obstrutiva crônica, a idade, o sexo e a reoperação .

De todos os escores citados anteriormente, apenas o Pons Score não utiliza a

fração de ejeção e pontua a classe funcional III e IV14. Isso mostra a importância que a

fração de ejeção tem em predizer risco e a baixa valorização da classe funcional da

insuficiência cardíaca12.

O objetivo deste estudo é demonstrar a que a avaliação clínica da função

ventricular, através da classe funcional, pode ser utilizado como preditor de risco em

cirurgia de revascularização miocárdica isolada.

28

MATERIAL E MÉTODOS

DELINEAMENTO

Estudo observacional de coorte histórica.

AMOSTRA

Os dados foram obtidos do banco de dados do Serviço de Pós-Operatório de

Cirurgia Cardíaca do Hospital São Lucas, da PUC. A coleta das informações foi

realizada de maneira prospectiva, com informações da internação, dos períodos

transoperatório e pós-operatório, até o momento da alta hospitalar dos pacientes que

realizaram cirurgia cardíaca, no período de janeiro de 1996 até dezembro de 2010.

Foram incluídos todos os pacientes adultos, de ambos os sexos, com idade >18

anos, que realizaram cirurgia de revascularização miocárdica isolada e excluídos os

pacientes com cirurgias combinadas (válvula; carótida, aneurisma, aorta) e cirurgia de

urgência.

Os pacientes eram avaliados e acompanhados no período pré-operatório e após a

alta da Unidade de Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca, até a alta hospitalar, pela

mesma equipe médica.

A avaliação da classe funcional da Insuficiência Cardíaca, baseada na

classificação da NYHA, era realizada no momento da internação ou na ocasião da

indicação cirúrgica por médicos treinados.

A fração de ejeção foi estimada, utilizando-se a Radiocardiografia ou

Ecocardiografia, na dependência das condições logísticas. Para fins de comparação,

foram realizados 3 pontos de corte, com fração de ejeção menor que 40%, entre 40% e

50% e maior que 50%.

29

DESFECHOS

Foram considerados desfechos as seguintes complicações, ocorridas no período

pós-operatório: insuficiência cardíaca, quando associada congestão pulmonar a outros

sinais, como a presença de terceira bulha; infarto agudo do miocárdio, caracterizado por

nova onda “Q” no ECG e/ou troponina maior do que nove; baixo débito cardíaco,

definido por insuficiência cardíaca mais hipotensão, com sinais de má perfusão tecidual;

sangramento, definido por uma drenagem maior que 150 ml/h; ventilação mecânica

prolongada, considerada pela permanência em ventilação por mais de doze horas;

arritmia com repercussão hemodinâmica; acidente vascular encefálico; insuficiência

renal aguda, considerado pela elevação acima de 50% da creatinina basal e óbito.

CONSIDERAÇÃO ÉTICA

Foi realizada a análise de um banco de dados, que contém informações colhidas

rotineiramente, para a realização da cirurgia cardíaca. Não houve nenhuma intervenção

ou mesmo coleta de material que não faça parte da rotina assistencial dos pacientes.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de

Cardiologia do Rio Grande do Sul sob o número 4381/09.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

O nível de significância utilizado foi α=0,05 bicaudal. A análise estatística foi

realizada com o programa SPSS versão 17.0 (Chicago, IL).

Para as variáveis contínuas, foram utilizadas as médias das frequências com

desvio padrão. O teste de qui-quadrado foi realizado, para a comparação entre variáveis

categóricas.

30

A área sob a curva ROC foi usada, para comparar a significância das variáveis

em predizer risco.

O modelo de regressão logística, com análise multivariada, foi elaborado para

determinar a independência das variáveis como preditoras de complicações e de óbito.

RESULTADOS

No período de acompanhamento, foram selecionados, no banco de dados, 3040

pacientes que realizaram cirurgia de Revascularização Miocárdica isolada. Destes,

67,2% eram do sexo masculino e a idade média foi de 60 anos ( ± 9,9 anos). A Tabela 1

mostra as principais características dos pacientes, distribuídos entre os que apresentaram

- ou não - complicações no pós-operatório.

A fração de ejeção média encontrada foi de 53,3 (± 15%), sendo a menor de

12%.

A maioria dos pacientes incluídos no estudo encontrava-se em classe funcional I

(66,3%), conforme a NYHA e possuía fração de ejeção maior que 50% (63%).

A mortalidade geral da população estudada foi de 8,7%. Na Tabela 2, são

mostrados os subgrupos de pacientes separados pela classe funcional e a fração de

ejeção. Percebe-se que os pacientes com fração de ejeção menor que 40% e classe

funcional IV tiveram a mortalidade observada de 63%, sendo que a média de óbito no

grupo dos pacientes com fração de ejeção abaixo de 40% , foi de 17%.

O subgrupo de pacientes que apresentou menor taxa de óbito (4%) tinha fração

de ejeção maior que 50% e classe funcional igual a I.

A Tabela 3 apresenta um resumo das complicações e a ocorrência de óbitos

relacionados com a classe funcional estratificado por valores de fração de ejeção.

31

Nos pacientes que apresentavam fração de ejeção menor que 40%, mas, classe

funcional igual a I, a taxa de óbito foi de 8%, enquanto que para os pacientes com

fração de ejeção maior que 50% e classe funcional igual a IV, a ocorrência de óbito foi

de 22%.

As Figuras 1 e 2 evidenciam a ocorrência de óbito, em relação à fração de ejeção

e a classe funcional da insuficiência cardíaca, respectivamente. À medida que progride a

classe funcional e reduz a fração de ejeção, aumenta o risco de óbito (p < 0,001).

Em nosso estudo, 48% dos pacientes apresentaram algum tipo das complicações

avaliadas, sendo que a necessidade de drogas vasoativas foi a mais frequente. Sinais de

insuficiência cardíaca descompensada estiveram presentes em 17,7%.

Conforme mostram as Figuras 3 e 4, houve significativa associação (p< 0,001)

entre a piora da classe funcional com a ocorrência de eventos compostos e o óbito,

respectivamente. Esse fato se manteve, independentemente do ponto corte utilizado para

a fração de ejeção. Os pacientes com fração de ejeção intermediária (40%- 50%)

apresentaram dois platôs distintos de óbito, separando classe funcional I e II da classe

III e IV.

Na avaliação individual da classe funcional da insuficiência cardíaca e a fração

de ejeção como preditor para óbito, houve uma tendência favorável à classe funcional,

com área sob a curva ROC de 0,67 (0,63- 0,71) e de 0,65 (0,62- 0,69), respectivamente.

Aplicamos o EuroSCORE para todos os pacientes incluídos no estudo e o

mesmo apresentou área sob a curva ROC de 0,74 (0,71- 0,77).

Na Tabela 4 apresentam-se os resultados da regressão logística, com análise

multivariada com outros fatores confundidores do pré-operatório, como IAM, AVC,

IRC, DM, sexo e idade. A classe funcional mostrou ser preditor independente para

óbito, no pós-operatório (p< 0,001).

32

Quando comparado o IAM isolado como desfecho, apenas os pacientes que

apresentavam fração de ejeção menor que 40% tiveram associação com a classe

funcional (p< 0,019). Para a ocorrência do AVC no pós-operatório, a associação com a

classe funcional existiu unicamente com pacientes que possuíam fração de ejeção maior

que 50% (p<0,001).

DISCUSSÃO

Em 2004 , o AHA/ACC - Guideline Update for Coronary Artery Bypass Graft

Surgery15, recomendou a utilização de modelos de risco para que pacientes e médicos

pudessem avaliar o risco e o benefício da indicação de Cirurgia de Revascularização do

Miocárdio1. Isso é sustentado por diversos sistemas de escores, incluindo-se o

EuroSCORE7 , considerado modelo de preditor de risco por ter sido validado em

diversos estudos e, portanto, o mais utilizado1, 8.

Nosso trabalho comparou duas formas de avaliar a presença de disfunção

ventricular, que é considerada, por todos os escores de risco, preditor independente de

complicações5, 7, 12.

A avaliação clínica da classe funcional da Insuficiência Cardíaca pelos critérios

da NYHA é feita à beira do leito e não necessita de exames complementares, logo, sem

custos e ágil.

Identificamos que não existe relação direta da Fração de Ejeção com os sintomas

clínicos de Insuficiência Cardíaca, conforme mostram estudos anteriores16. Esses

sintomas podem estar relacionados à presença de disfunção diastólica do ventrículo

esquerdo, sem disfunção sistólica, resultando na manutenção de Fração de Ejeção

normal17.

33

Pacientes com disfunção diastólica tendem a ter melhor evolução, quando

comparados com aqueles com reduzida Fração de Ejeção18.

Os pacientes com reduzida Fração de Ejeção tendem a ser mais doentes e

apresentar mais fatores de risco associados, o que justifica apresentarem maior

mortalidade19.

Diversos estudos mostram que pacientes com disfunção ventricular têm maior

incidência de complicações e óbito no pós-operatório de Cirurgia de Revascularização

do Miocárdio, assim como a falência cardíaca é a causa mais comum de óbito8, 19, 20.

Existe relação estreita entre o desenvolvimento de complicações no pós-

operatório e o óbito, com 16% de mortalidade para os pacientes que tiveram alguma

complicação contra 0,77% para os que não apresentaram21.

Publicações anteriores chegam a mostrar mortalidade até quatro vezes maior,

quando comparam pacientes com Fração de Ejeção abaixo de 20% com aqueles com

mais de 40%8.

A maioria dos estudos avaliando fatores de risco utiliza a Fração de Ejeção,

como marcador de disfunção ventricular7, 22, 23.

Poucos estudam avaliaram a classe funcional da Insuficiência Cardíaca e, na

maioria deles, ela fica de fora dos escores, após realizarem testes estatísticos, como

regressão logística e, quando valorizadas apenas as classes III e IV da NYHA3, 14, 24.

Recentemente, um estudo mostrou correção da classe funcional de Insuficiência

Cardíaca com mortalidade em um ano, em pacientes que realizaram cirurgia não-

cardíaca25.

Na presente pesquisa, identificamos uma importante significância da classe

funcional de Insuficiência Cardíaca como preditor de complicações combinadas e óbito

no pós-operatório de cirurgia de Revascularização Miocárdica isolada.

34

Ela funciona como preditor independente, mesmo quando comparado com

vários outros fatores confundidores e que, também, têm peso em predizer risco

aumentado, como IMA prévio, Diabetes Melitus, Acidente Vascular Encefálico, idade,

sexo e Insuficiência Renal Crônica20, 26.

Também, verificamos que todas as classes da NYHA têm influência nos

desfechos, em que, conforme piora a classe funcional, há aumento do risco de

complicações e de óbito.

Para complicações específicas, como Acidente Vascular Encefálico e Infarto

Agudo do Miocárdio, a classe funcional não manteve a mesma consistência, tendo

apresentado significância para pacientes com Fração de Ejeção maior de 50% e menor

de 40%, respectivamente.

Reconhecemos um subgrupo de pacientes que apresentam riscos cirúrgicos

muito elevados e compreende aqueles com Fração de Ejeção menor de 40% e classe

funcional da insuficiência cardíaca igual a IV, com mortalidade de 63%. Este valor

ficou bastante acima de mortalidade média, tanto do nosso estudo (8,7%), como da

literatura2, 27.

Ao mesmo tempo, mostramos que, nos pacientes com Fração de Ejeção acima

de 50% e classe funcional I a mortalidade foi de 4%, enquanto que a mortalidade média,

para aqueles com a mesma Fração de Ejeção, foi de 6 %.

Estes achados reforçam a ideia de que a classe funcional da insuficiência

cardíaca, pelos critérios de New York Heart Association, deve ser vista como um

preditor independente de risco para complicações - e mesmo óbito - em pacientes que

realizam cirurgia de revascularizacão do miocárdio isolada.

35

LIMITAÇÕES

Entre algumas das limitações do nosso estudo, está o fato de que a avaliação da

Fração de Ejeção foi realizada por mais de um método - basicamente, o

Ecocardiograma, que apresenta um grau de imprecisão, ou a Radiocardiografia - e não

foi realizada a comparação entre eles. Além disso, a classificação da Insuficiência

Cardíaca não foi realizada pela mesma pessoa e sabemos que se trata de uma avaliação

que utiliza critérios subjetivos.

CONCLUSÃO

De acordo com os achados deste estudo, podemos afirmar que a classe funcional

da Insuficiência Cardíaca, pelos critérios da NYHA, dos pacientes no pré-operatório de

cirurgia de revascularizaçao do miocárdio, é capaz de fornecer subsídios importantes, na

avaliação de risco para morbidade e mortalidade.

A presença de sintomas sugestivos de classe funcional III ou IV pela NYHA,

funciona como fator independente de risco para mortalidade, sendo que os pacientes que

apresentam classe funcional de insuficiência cardíaca IV associado a uma fração de

ejeção menor que 40% , possuem risco muito elevado para mortalidade operatória.

36

LEGENDAS DE FIGURAS

 

Figura 1 – Mortalidade em relação à Fração de Ejeção

Figura 2 - Mortalidade em relação à classe funcional da Insuficiência Cardíaca (NYHA)

Figura 3 – Associação de ocorrência de eventos combinados (IAM, AVC, IRA, ICC,

PCR e uso de droga vasoativa) entre a Fração de Ejeção e a Classe Funcional da

Insuficiência Cardíaca (NYHA)

Figura 4 - Associação da mortalidade entre a Fração de Ejeção e a Classe Funcional da

Insuficiência Cardíaca (NYHA)

 

 

37

TABELAS

Tabela 1 – Comparação das características clínicas entre os pacientes com e sem complicações no pós-operatório. Complicação no Pós-operatório Características Todos Presente Ausente P

Idade ≥ 60 anos, nº (%) n=3017 1.714 (56,8)

n=1456 920 (63,2)

n=1561 794 (50,9) <0,001

Sexo masculino, nº (%) n=3038 2.042 (67,2)

n=1467 980 (66,8)

n=1571 1.062 (67,6) 0,668

Acidente vascular cerebral n=3040 208 (6,8)

n=1467 124 (8,5)

n=1573 84 (5,3) 0,001

Diabetes mellitus n=3040 937(30,8)

N= 500(34,1)

N= 437(27,8) <0,001

Infarto agudo do miocárdio N= 1.346(44,3)

N= 714(48,7)

N= 632(40,2) <0,001

Doença pulmonar obstrutiva crônica N= 562(18,5)

N= 315(21,5)

N= 247(15,7) <0,001

Endocardite - - -

Hipertensão arterial sistêmica N= 2.247(73,9)

N= 1.113(75,9)

N= 1.134(72,1) 0,020

Insuficiência renal crônica N= 288(9,5)

N= 204(13,9)

N= 84(5,3) <0,001

Obesidade N= 381(12,5)

N= 209(14,2)

N= 172)10,9) 0,007

Tabagismo N= 1.053(34,6)

N= 473(32,2)

N= 580(36,9)

0,008

Os dados são apresentados como contagens (percentuais). Significância estatística obtida pelo Teste de qui-quadrado.

38

Tabela 2 – Associação entre a ocorrência de complicações e óbito no pós-operatório segundo níveis da fração de ejeção e classe funcional de insuficiência cardíaca pela NYHA.

Complicações Óbito

Variável n nº % P nº % P

Fração de Ejeção, %

< 40 540 365 67,6 <0,001 89 16,5 <0,001

40 a 50 585 316 54,0 70 12,0

≥ 50 1.915 786 41,0 105 5,5

Classificação NYHA

I 2017 879 43,6 <0,001 109 5,4 <0,001

II 631 321 50,9 56 8,9

III 318 218 66,7 69 21,7

IV 74 55 74,3 30 40,5 Os dados são apresentados como contagens e percentuais. P: significância estatística obtida pelo teste do qui-quadrado.

39

Tabela 3 – Associação entre a ocorrência de complicações e óbito no pós-operatório segundo níveis da classe funcional de insuficiência cardíaca pela NYHA estratificando pela fração de ejeção.

Complicações Óbito

n nº % nº %

Fração de Ejeção < 40%

Classe NYHA

I 251 156 62,2 20 8,0

II 132 86 65,2 17 12,9

III 127 96 75,6 33 26,0

IV 30 27 90,0 19 63,3

Valor P <0,001 <0,001

Fração de Ejeção 40 a 50%

Classe NYHA

I 354 172 48,6 30 8,5

II 141 80 56,7 13 9,2

III 69 47 68,1 21 30,4

IV 21 17 81,1 6 28,6

Valor P <0,001 <0,001

Fração de Ejeção ≥ 50%

Classe NYHA

I 1412 551 39,0 59 4,2

II 358 155 43,3 26 7,3

III 122 69 56,5 15 12,3

IV 23 11 47,8 5 21,7

Valor P <0,001 <0,001 Os dados são apresentados como contagens e percentuais.

P: significância estatística obtida pelo teste do qui-quadrado de tendência linear.

40

Tabela 4 – Análise multivariável representando a associação entre classe funcional da insuficiência cardíaca, medida pelo NYHA, com as complicações e o óbito no pós-operatório em estrato da fração de ejeção. Complicações Óbito

OR IC95% P OR IC95% P

Fração de Ejeção < 40%

Classe NYHA

I 1 – 1 –

II 1,06 0,67 a 1,68 0,814 1,43 0,69 a 2,98 0,334

III 1,48 0,90 a 2,45 0,124 3,41 1,80 a 6,44 <0,001

IV 3,32 0,94 a 11,67 0,062 12,28 4,76 a 31,69 <0,001

Fração de Ejeção 40 a 50%

Classe NYHA

I 1 – 1 –

II 1,45 0,95 a 2,21 0,083 0,80 0,37 a 1,70 0,560

III 2,18 1,22 a 3,87 0,008 4,50 2,18 a 9,26 <0,001

IV 3,82 1,20 a 12,11 0,022 3,12 1,00 a 9,70 0,049

Fração de Ejeção ≥ 50%

Classe NYHA

I 1 – 1 –

II 1,24 0,97 a 1,58 0,082 1,94 1,18 a 3,17 0,008

III 1,78 1,20 a 2,63 0,004 2,74 1,46 a 5,17 0,002

IV 1,00 0,41 a 2,46 0,997 2,92 0,84 a 10,10 0,090 OR: odds ratio obtido em modelo de regressão logística ajustado pelos seguintes fatores:

idade, sexo, insuficiência renal crônica, acidente vascular encefálico, diabetes mellitus, infarto agudo do miocárdio e EuroScore.

41

FIGURAS

 

5,4%11,9%

16,4%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

>50% 40-50% <40%

Óbitop<0,001

 

Fig. 1 - Mortalidade em relação à Fração de Ejeção

 

   

42

5,4% 8,87%21,6%

40,5%

-5%

10%

25%

40%

55%70%

85%

100%

I II III IV

Óbitop<0,001

 

Fig. 2 - Mortalidade em relação à classe funcional da Insuficiência Cardíaca (NYHA)

43

 

Fig. 3 – Associação de ocorrência de eventos combinados (IAM, AVC, IRA, ICC, PCR e uso de droga vasoativa) entre a Fração de Ejeção e a Classe Funcional da Insuficiência Cardíaca (NYHA)

 

   

44

 

Fig. 4 - Associação da mortalidade entre a Fração de Ejeção e a Classe Funcional da Insuficiência Cardíaca (NYHA)

45

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