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COMPORTAMENTO OU INSTITUIÇÕES? A evolução histórica do neo-institucionalismo da ciência política * Paulo Sérgio Peres Introdução As decisões políticas são o resultado direto das preferências de indivíduos que agem isolada- mente e de forma egoísta ou são processos indu- zidos por instituições políticas e sociais que regulam as escolhas coletivas? Em outras palavras: o com- portamento dos atores é determinado por alguma racionalidade endógena ou, de maneira inversa, por algum tipo de restrição exógena, configurada pelo arranjo institucional que delimita o contexto da tomada de decisão? Estas têm sido questões cen- trais na demarcação teórica de dois tipos de abor- dagem que competiram e dominaram o desenvol- vimento da Ciência Política desde os primeiros decênios do século XX, quais sejam, o institucionalismo e o comportamentalismo. No âmbito desse embate, e após duas “revo- luções” de paradigma, uma nova abordagem veio a prevalecer na análise do fenômeno político nos últimos quarenta anos – o neo-institucionalismo. Na verdade, o paradigma neo-institucional, atualmen- te, é hegemônico na Ciência Política. E esta não é apenas uma impressão gerada pelas recorrentes declarações de adesão aos seus postulados básicos que podem ser encontradas ou na introdução ou nas secções teóricas de livros e artigos científicos; sua hegemonia pode ser objetiva e estatisticamente RBCS Vol. 23 n. o 68 outubro/2008 Artigo recebido em dezembro/2007 Aprovado em junho/2008 Manifesto meus sinceros agradecimentos aos pare- ceristas anônimos da RBCS pelas observações críticas e valiosas sugestões que fizeram ao texto. Na medida do possível, procurei incorporar as alterações, bem como os esclarecimentos sugeridos. Agradeço também à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP – pelo suporte financeiro concedido à época em que realizei o estudo bibliográfico necessário à redação deste texto. Agradeço ainda a Raquel Weiss pela tradução das citações bibliográficas que estavam originalmente em inglês. *

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COMPORTAMENTO OU INSTITUIÇÕES?A evolução histórica do neo-institucionalismoda ciência política*

Paulo Sérgio Peres

Introdução

As decisões políticas são o resultado diretodas preferências de indivíduos que agem isolada-mente e de forma egoísta ou são processos indu-zidos por instituições políticas e sociais que regulamas escolhas coletivas? Em outras palavras: o com-portamento dos atores é determinado por alguma

racionalidade endógena ou, de maneira inversa, poralgum tipo de restrição exógena, configurada peloarranjo institucional que delimita o contexto datomada de decisão? Estas têm sido questões cen-trais na demarcação teórica de dois tipos de abor-dagem que competiram e dominaram o desenvol-vimento da Ciência Política desde os primeirosdecênios do século XX, quais sejam, o institucionalismoe o comportamentalismo.

No âmbito desse embate, e após duas “revo-luções” de paradigma, uma nova abordagem veioa prevalecer na análise do fenômeno político nosúltimos quarenta anos – o neo-institucionalismo. Naverdade, o paradigma neo-institucional, atualmen-te, é hegemônico na Ciência Política. E esta não éapenas uma impressão gerada pelas recorrentesdeclarações de adesão aos seus postulados básicosque podem ser encontradas ou na introdução ounas secções teóricas de livros e artigos científicos;sua hegemonia pode ser objetiva e estatisticamente

RBCS Vol. 23 n.o 68 outubro/2008

Artigo recebido em dezembro/2007Aprovado em junho/2008

Manifesto meus sinceros agradecimentos aos pare-ceristas anônimos da RBCS pelas observações críticase valiosas sugestões que fizeram ao texto. Na medidado possível, procurei incorporar as alterações, bemcomo os esclarecimentos sugeridos. Agradeço tambémà Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SãoPaulo – FAPESP – pelo suporte financeiro concedidoà época em que realizei o estudo bibliográfico necessárioà redação deste texto. Agradeço ainda a Raquel Weisspela tradução das citações bibliográficas que estavamoriginalmente em inglês.

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constatada pelo exame dos temas abordados, dametodologia empregada e das premissas adotadaspor diversos investigadores nos artigos publicadosnos principais periódicos internacionais (cf. Riba,1996).

Diante desse fato, é possível concluir, de acor-do com a perspectiva de Kuhn (1962), que a maio-ria das pesquisas empreendidas pelos cientistas po-líticos no contexto atual é uma atividade de “ciêncianormal” no âmbito do paradigma neo-institucio-nalista; atividade esta voltada à resolução de “que-bra-cabeças” empíricos e metodológicos. Com efei-to, é em torno desse paradigma que se movimentae se organiza a comunidade desse campo científi-co, fazendo avançar o conhecimento acerca dosfenômenos políticos no interior de seu próprio sis-tema cosmológico. Este, por sua vez, abrange osfundamentos ontológicos e epistemológicos daabordagem neo-institucionalista, cuja premissa bá-sica é a idéia de que, para usar expressões consa-gradas, as “instituições importam” decisivamentena produção dos resultados políticos.

Conforme já discutido por alguns autores(por exemplo, Barry, 1978; March e Olsen, 1984;Almond, 1988; Dryzek e Leonard, 1988; North,1990; Eggertsson, 1990; Dimaggio e Powell, 1991;Blackhouse, 1994; Mäki e Knudsen, 1993; Knight eSened, 1995; Nee, 1998; Simon, 2000), há pelomenos três áreas das ciências humanas nas quais,nos últimos quarenta anos, ocorreu a retomada doviés institucional como premissa analítica – a Eco-nomia, a Sociologia e a Ciência Política –, assimcomo no caso da abordagem da política, ainda se-gundo alguns autores (Hall e Taylor, 1996; Kato,1996; Norgaard, 1996), também haveria uma sub-divisão em três tipos de enfoque – “institucionalis-mo histórico”, “institucionalismo sociológico” e“institucionalismo da escolha racional”.

Conseqüentemente, vários autores vêm dis-cutindo as diferenças e as semelhanças entre as ver-tentes neo-institucionais das referidas áreas de co-nhecimento, bem como das escolas que co-habitamo campo da análise política. Contudo, curiosamen-te, há poucos trabalhos concentrados no própriodesenvolvimento histórico de tal paradigma naCiência Política. Sob tal perspectiva, meu objetivoneste texto é fazer uma breve reconstrução históri-ca do desenvolvimento teórico e metodológico doparadigma neo-institucionalista da Ciência Políticaa partir da concepção de “revolução de paradig-

mas” – enquadramento também já utilizado, emalguma medida, por alguns autores (cf. Almond,1996; Gunnell, 2004a, 2005). Como procurareimostrar, no caso específico da abordagem políti-ca, tal revolução envolveu dois processos sucessi-vos, sendo um deles de oposição e o outro de sín-tese. No primeiro caso, uma oposição radical àabordagem comportamentalista que floresceu nosanos de 1920-1930 e se tornou hegemônica ao lon-go das décadas de 1940-1950-1960; no segundocaso, a articulação sintética de elementos do pró-prio comportamentalismo com elementos do quese convencionou chamar de antigo institucionalismo.

A revolução comportamentalistacomo reação ao antigo institucionalismo

O antigo institucionalismo

Em setembro de 1961, Emmette Redford,em seu discurso como presidente da AmericanPolitical Science Association [APSA], destacou à suaaudiência os avanços pelos quais a Ciência Políticaestava passando naquele momento. Segundo ele,estaria em curso uma radical mudança quanto àabordagem do fenômeno político que, até mea-dos dos anos de 1940, era centrada em análises es-peculativas, descritivas e formalistas, inspiradas pelaFilosofia Política e pelo Direito. Tais abordagenseram caracterizadas como institucionalistas e, pos-teriormente, vieram a ser chamadas de antigo insti-tucionalismo, de forma que pudessem ser diferen-ciadas das abordagens neo-institucionais surgidasna década de 1970 (Somit e Tanenhaus, 1967; Mar-ch e Olsen, 1984; Dryzek e Leonard, 1988; Dima-ggio e Powell, 1991; Sened, 1991; Almond, 1996;Hall e Taylor, 1996; Remmer, 1997; Nee, 1998;Peters, 1998; Lane e Ersson, 2000).

Não obstante, é importante que se diga, jáera bastante longa a tradição dos estudos institucio-nais, remontando, grosso modo, a Aristóteles com suaclássica análise das constituições atenienses, sendorevitalizada a partir do século XVII, com a siste-matização do contratualismo moderno por Lockee aprimorado, em seguida, por Montesquieu, naprimeira metade do século XVIII, quando a ênfaserecaiu sobre a centralidade das leis e dos costumescomo instituições fundamentais da dinâmica políti-ca. Ainda nas décadas finais do século XVIII, a

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perspectiva institucionalista recebeu enorme contri-buição do debate dos artigos federalistas norte-ame-ricanos, pela ótica dos quais as instituições, acimade tudo, tornar-se-iam objetos de uma “engenha-ria constitucional”, para usarmos um termo difun-dido por Sartori (1997).

Na primeira metade do século XIX, foi a vezde Tocqueville valorizar as instituições sociais e po-líticas como as variáveis explicativas da bem-suce-dida democracia republicana presidencialista dosEstados Unidos. Outro exemplar significativo des-se tipo de enfoque é o trabalho de Walter Bagehot,The English constitution, publicado em 1867, no qualo autor inglês comparava os modelos constitucio-nais britânico e norte-americano, de forma a res-saltar as supostas vantagens do primeiro sobre osegundo, especialmente em função da adoção damonarquia parlamentarista com constitucionalismomoderado, ou seja, com reduzido grau de disper-são do poder político.

Também na segunda metade do século XIX –e avançando sobre as primeiras décadas do séculoXX –, foi a vez da Economia Política dirigir o focode suas discussões aos possíveis efeitos das institui-ções e da cultura sobre o comportamento econô-mico dos indivíduos. A querela metodológica –notoriamente conhecida como methodenstreit – queopôs, de uma parte, a escola “dedutiva” e “axio-mática”, representada pelo austríaco Carl Menger,e, de outra, a escola “histórica” e “institucional” ale-mã, representada por Gustav Schmoller, redundouna prevalência da vertente institucional no pensa-mento econômico norte-americano, cenário em queThorstein Veblen, John Commons e Weslei Mitchellforam figuras de destaque na defesa da importân-cia dos hábitos e da cultura – ou seja, das institui-ções sociais – como variáveis explicativas funda-mentais, tanto dos processos econômicos, quantodos processos políticos (cf. Blaug, 1993). Tambémno início do século XX, a própria Sociologia, aindaemergente como uma ciência empírica da moral, ebem representada por Émile Durkheim – mas,obviamente, não apenas por este –, do mesmomodo, tomou as instituições sociais – tanto em ter-mos estáticos, como em termos históricos – comosua unidade de análise e instância observacional (cf.Barnes, 1948). Entretanto, esse institucionalismo ain-da era extremamente formalista e normativo.

No caso da política, os estudiosos preocupa-vam-se mais em analisar criticamente “a letra” das

constituições de cada nação, com a intenção de mo-dificá-las de acordo com princípios gerais, deduzi-dos do próprio pensamento racional que contem-pla “O Bem”, levando em consideração os melhorese os piores efeitos, as vantagens e as desvantagensde cada modelo constitucional para a consecuçãodos objetivos mais nobres da humanidade – reali-zação mesma daquele suposto “Bem”. Devido atal postura, esses estudiosos preocupavam-se mui-to mais em estabelecer modelos prescritivos de“desenho constitucional”, sob uma ótica normativado que deveria ser a política, do que em se concen-trar em “fatos objetivos”, em dados empíricos dadinâmica real dos atores e dos comportamentos(cf. Somit e Tanenhaus, 1967; Farr, 1995; Peters,1998; Gunnell, 2005, 2004a).

Ocorre que, àquela altura, essas abordagens,de natureza bastante formal, começavam a ser con-sideradas ineficientes para a explicação dos novosfenômenos políticos que surgiram a partir da déca-da de 1930 – o nazismo, o fascismo, as crises doliberalismo e da representação, a apatia e a aliena-ção políticas etc. Em decorrência disso, depois daSegunda Guerra Mundial, os estudos passaram aenfocar a dinâmica “real” da política, com ênfasena investigação factual, na proposição de hipótesestestáveis e na busca de generalizações empíricas(Dahl, 1963; Somit e Tanenhaus, 1967; Dryzek eLeonard, 1988; Farr, 1995; Almond, 1996). Essesnovos estudos não apenas passavam a incorporaras técnicas mais avançadas de análise estatística –principalmente com pesquisas de opinião e cons-truções de escalas –, como passavam também aabranger outros países, de forma a agregar à Ciên-cia Política o método comparativo (Chilcote, 1996),já bastante utilizado na Sociologia e na Antropolo-gia. Redford (1961) chamou a esse processo de“eruptions in our discipline”, especialmente porcausa da ruptura epistemológica introduzida, queconduziu a grandes avanços na sofisticação analíti-ca e metodológica.

Deve ser destacado também que, na perspec-tiva de Gunnell (1993, 2004b, 2005), tal oposiçãocontinha uma disjuntiva teórica e normativa bemmais profunda, herdeira direta do grande problemapolítico do século XIX, que era o de se estabelecera forma e a modalidade de incorporação das mas-sas à política. Tal problema opunha a visão pluralistada democracia à visão republicana. Segundo ele, avisão republicana estaria vinculada ao normativismo

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da Filosofia Política e aos ideais rousseaunianos deuma democracia direta e harmônica, enquanto opluralismo estaria vinculado à concepção psicológicae sociológica do conflito social entre grupos de in-teresse e da democracia representativa. SegundoGunnell, “o ataque pluralista contra a idéia de sobe-rania do Estado significou muito mais do que umarejeição das análises legalistas e institucionalistas. Elesignificou, com efeito, um ataque à idéia predomi-nante de soberania popular” (2005, p. 598).1

Seja como for, mesmo que de maneira sucin-ta, o que o presidente da APSA estava a caracteri-zar em seu discurso era o que passou a ser designa-do como a “revolução comportamentalista” nocampo da Ciência Política. Mas, afinal, o que foiessa “revolução comportamentalista”? Quais foramsuas principais características e quais suas limitaçõesanalíticas? Enfim, quais as contribuições que o com-portamentalismo trouxe à Ciência Política?

Características gerais do comportamentalismoda ciência política

Logo de início, é preciso ressaltar que o com-portamentalismo é, antes de tudo, uma designaçãogenérica do behaviorismo, cuja extensão é bastanteampla e cuja formulação inicial adveio da psicolo-gia norte-americana. O texto considerado o pontoinicial do behaviorismo foi publicado por Watson([1913] 1997) em uma revista de Psicologia, sob otítulo bastante curioso de “A psicologia como umcomportamentalista a vê”. Nele, o autor abre a dis-cussão com uma declaração que não deixa margempara dúvidas: “a Psicologia, tal como concebidapelo comportamentalista, é um ramo estritamenteobjetivo e experimental da ciência natural. A suaproposta teórica consiste em prever e controlar ocomportamento” (Idem, p. 158).

Portanto, as proposições básicas formuladaspor John Watson surgiram como oposição às pers-pectivas teóricas e analíticas da Psicologia da época,marcadas pelo método introspectivo e pela análisedos processos mentais da consciência (cf. Adcock,1959; Henneman, 1966; O’Donnell, 1987; Wozniak,1995; Baum, 2005). Contrariamente, a ênfase deWatson foi dada à busca de maior cientificidade –objetividade – na análise psicológica, o que o levoua propor o abandono de especulações subjetivasem favor de métodos de observação aplicados aobjetos realmente passíveis de serem investigados

em laboratório. Esse “objetivismo” implicaria nodeslocamento da perspectiva investigativa, passandodos fenômenos mentais para a observação empíri-ca do comportamento (cf. Watson, [1913] 1997).2

Desse modo, a Psicologia aderiu de formavigorosa ao comportamentalismo, que, pouco de-pois, espalhou-se pelas Ciências Sociais. Em realida-de, na Sociologia já havia sido dado anteriormenteum passo importante na direção de uma aberturaàs influências do comportamentalismo. Entusias-mado e, de certa forma, inspirado pelos experi-mentos de Wilhelm Wundt e pelo seu laboratóriode Psicologia, na Alemanha, Émile Durkheim(1897) procurou demonstrar, na prática, por meiode sua obra pioneira e fundadora de análises multi-variadas – O suicídio – , a importância da observa-ção dos comportamentos como a expressão obje-tiva e “mensurável” da moral, entendida comofonte de coesão/solidariedade social.3 Anos depois,Bronislaw Malinowski (1922, 1944), na Antropolo-gia, ressaltou a necessidade de investigações diretas,sem mediações, com aprofundados levantamentosde dados de campo por intermédio de densas des-crições de comportamentos.4 O método etnográ-fico da “observação participante”, de algum modo,representou a busca de maior cientificidade na An-tropologia e, de certa forma, uma aproximaçãoem relação a algumas premissas metodológicas docomportamentalismo (cf. Malinowski, 1970).5

Assim como em pelo menos parte da Antro-pologia e da Sociologia daquele período, na Ciên-cia Política, o behaviorismo também representou umarejeição às análises e aos métodos empregados atéaquele momento. Em realidade, é possível afirmarque a adoção do paradigma comportamentalistana análise dos fenômenos políticos ocorreu comoum movimento acadêmico de rejeição ao antigoinstitucionalismo. Dahl salienta isto, observando que:

Considerada historicamente, a abordagem behavioristaera um movimento de protesto que teve lugar no inte-rior da Ciência Política. […] Termos tais como com-portamento político e abordagem comportamentalistapassaram a ser associados a certo número de cientistaspolíticos, especialmente americanos, que compartilha-vam uma insatisfação em relação às realizações da Ciên-cia Política convencional, especialmente no caso dasabordagens históricas, filosóficas e da descrição insti-tucional (1961, p. 766).

Ocorre que a Ciência Política tradicional erapredominantemente institucionalista; e foi contra

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esse [antigo] institucionalismo que o comportamen-talismo se insurgiu. Afinal, segundo enfatizam Stein-mo et al., “era óbvio que leis formais, regras e es-truturas administrativas não explicavam realmenteo comportamento político ou os resultados políti-cos” (1997, p. 3). Porém, além do protesto contrao institucionalismo formalista na defesa de maiorcientificidade, vários outros fatores de ordem prá-tica contribuíram para a emergência e o reconheci-mento acadêmico da escola comportamentalista (cf.Somit e Tanenhaus, 1967; Farr, 1995; Almond, 1996;Miller, 1998). Neste caso, é possível destacar pelomenos quatro dos mais importantes.

O primeiro desses fatores foi a desvalorização,pelo governo norte-americano, dos trabalhos de cien-tistas políticos institucionalistas, especialmente pelaclara incongruência entre as digressões teóricasproduzidas e os imperativos impostos pela práticado governo no período da Guerra Fria. Em segundolugar, a incapacidade que os teóricos institucionalistasmostraram diante da necessidade de explicação sis-temática de fenômenos importantes da época, comoo nazismo, o fascismo e o socialismo, o que acarre-tou na perda de terreno acadêmico-institucional paraoutras ciências, como a Sociologia, a Psicologia e aEconomia. Em terceiro, a ineficácia da aplicação,logo depois da Segunda Guerra Mundial, do mode-lo político norte-americano – democracia com ca-pitalismo – em países não-industrializados, o queimpôs a necessidade de estudos empíricos compa-rativos (cf. Chilcote, 1996) – neste caso, inclusive,favorecendo a emergência e a proliferação dos es-tudos comparativos da escola comportamentalis-ta, com a ênfase analítica recaindo sobre a culturapolítica e as atitudes psicológicas dos atores sociais(cf. Almond e Powell, 1966; Eckstein, 1988; Pasqui-no, 1994; Chilcote, 1996). Finalmente, o fator de maiorrelevância foi a grande influência que pesquisadorese teóricos europeus exilados, e que se instalaram nasuniversidades norte-americanas, exerceu na forma-ção de novos cientistas políticos e na condução depesquisas sociais (Somit e Tanenhaus, 1967; Almond,1996). Esses intelectuais trouxeram maior rigor teó-rico, novas perspectivas analíticas, habilidades emestatística e, acima de tudo, uma visão multidiscipli-nar, contribuindo enormemente para que a CiênciaPolítica se tornasse uma ciência bastante eclética epluralista do ponto de vista metodológico.

Dahl enfatiza este último aspecto, afirmandoque “boa parte desses especialistas que ocupavam

posições de liderança em departamentos de Socio-logia e de Ciência Política insistiam na relevânciadas teorias sociológicas e psicológicas para o en-tendimento da política” (1961, p. 766). Pasquinosegue o mesmo mote e ressalta que:

Pelo próprio fato de tomarem de empréstimo o nome deuma escola psicológica e por seu interesse pelo homemconcreto, os comportamentalistas foram sempre profun-damente atraídos pela Psicologia. Paralelamente, a An-tropologia, a Sociologia e, por seu rigor e relativa perfei-ção técnica, a Economia, foram as disciplinas às quais oscomportamentalistas mais recorreram (1994, p. 187).

Entretanto, é importante assinalar uma peque-na incorreção de Pasquino (1994) e que ainda persisteem vários autores. Nesse primeiro momento – en-tre as décadas de 1940 e 1960 –, as maiores in-fluências metodológicas absorvidas pela Ciência Po-lítica comportamentalista vinham da Sociologia, daAntropologia e da Psicologia, e não tanto da Eco-nomia. Nesse mesmo período, havia predominadona Economia a perspectiva neoclássica da “escolainglesa” em relação à “escola histórica” alemã e à“escola institucionalista” vebleniana norte-america-na. Rivalizavam com a “escola inglesa”, a “escolaaustríaca” e a “escola monetarista” de Chicago, re-presentada por Friedman. O ponto central da con-trovérsia residia na adoção de uma metodologiaformalista, portanto, dedutiva e abstrata, ou de umametodologia realista, portanto, indutiva e histórica.Friedman, com seu empirismo pragmático – as-sim como os adeptos da “escola austríaca” –,advogava uma teoria de pressupostos irrealistas. As-sim, começava a se firmar na economia a metodo-logia dedutiva com modelos teóricos formais, cen-trados nos fundamentos neoclássicos acerca dasmotivações e do comportamento dos indivíduos.6

Àquela altura, a Ciência Política ainda adotavapremissas indutivas de abordagens culturalistas ehistóricas. A absorção do formalismo da perspec-tiva econômica somente veio a acontecer a partirdos anos de 1960, com a crescente adoção do in-dividualismo metodológico. Na prática, isso signi-ficou um afastamento em relação às premissas so-ciológicas e antropológicas.

De qualquer modo, conforme observa Red-ford, a perspectiva interdisciplinar somente foi viáveldevido ao entrecruzamento de interesses das váriasdisciplinas que se autodenominavam “ciências docomportamento”. Por isso, o cientista político

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comportamentalista pôde integrar diversos enfoquese diversas metodologias, uma vez que, segundo oautor, “ele encontrou um ponto de interesse emcomum com os psicólogos, sociólogos e antropó-logos culturalistas – grupos que também estavaminteressados no comportamento humano” (1961,p. 757). Dahl concorda com este argumento e ain-da ressalta que a perspectiva multidisciplinar foi umdos méritos da escola comportamentalista, afinal,“uma conseqüência desse protesto behaviorista foia restauração da unidade entre as ciências sociais,ao promover uma aproximação dos estudos polí-ticos com esses métodos, teorias, pesquisas e resul-tados da moderna Psicologia, da Sociologia, daAntropologia e da Economia (1961, p. 770).

Já com relação à ênfase dada à orientaçãoempírica e positiva – axiologicamente neutra –,Leiserson chama a atenção para o fato de que:

Do ponto de vista behaviorista, é muito mais importanteque a pesquisa política seja voltada para os dados sobrea influência dos seres humanos sobre os processos go-vernamentais, sobre o modo como constituem esses pro-cessos e são influenciados por eles e, particularmente,que a pesquisa não se apóie em argumentos sobre asprioridades das diferentes Ciências Sociais. Em suma, apesquisa de comportamento político busca, em primeirolugar, dados que expressem o comportamento humanoem tipos de situações que envolvem o exercício da auto-ridade governamental, em vez de encontrar evidênciasque glorifiquem ou condenem entidades personificadas,tais como o Estado, a sociedade, a comunidade, a econo-mia ou a classe, dotadas de qualidades tais como onisciên-cia, onipotência e inevitabilidade (1956, pp. 55-56).

Em suma, portanto, a “revolução comporta-mentalista” da Ciência Política é caracterizada pordois pontos fundamentais. O primeiro deles é suaposição duramente crítica em relação à abordageminstitucionalista de então, propondo, em oposição,uma teoria positiva e uma análise empiricamenteorientada e bem mais rigorosa em termos concei-tuais. O segundo ponto é sua proposta programáticade utilizar, de maneira pluralista, abordagens meto-dológicas de outras ciências “vizinhas”, como aSociologia, a Antropologia e a Psicologia. Estes doispontos compuseram as forças motrizes fundamen-tais de sua busca de maior cientificidade e de maiorreconhecimento social.

Na verdade, a utilização de teorias empirica-mente orientadas e de técnicas mais apuradas parapesquisas de observação correspondia aos anseios

de alguns pioneiros na reivindicação de uma Ciên-cia Política mais científica, ainda em seu início nosEstados Unidos, no começo do século XX (cf.Somit e Tanenhaus, 1967; Gunnell, 2004a, 2004b,1993, 1988). Muitas de suas características podemser identificadas nas propostas que um dos funda-dores da Ciência Política norte-americana, tal qual aconhecemos atualmente, já defendia na década de1920. Trata-se de Charles Merriam (1874-1954),considerado um dos principais cientistas políticosda terceira geração desses intelectuais naquele país,7assim como também é considerado o iniciador daabordagem comportamentalista na política (Somite Tanenhaus, 1967; Jensen, 1969).8 Ele foi professordo Departamento de Ciência Política da Universi-dade de Chicago9 e sua aproximação do comporta-mentalismo ocorreu no contexto da influência quea Psicologia exercia no ambiente daquela universi-dade naquele período.10

Merriam antecipava que “algum dia poderemosadotar outro ângulo, diferente do ângulo formal,assim como o fazem outras ciência, e, assim, começara olhar para o comportamento político como umdos principais objetos de investigação” (1925, p.7). De fato, como pretendia o autor, com a emergên-cia da escola comportamentalista, houve um deslo-camento radical do foco de investigação, que até entãoera mais voltado às instituições jurídicas e adminis-trativas, para os atores políticos; mais especificamente,seu comportamento, seus valores, seus objetivos.11

Na visão de Redford, essa mudança de enfo-que teria provocado, inclusive, uma completa alte-ração na formação e na postura epistemológica doscientistas políticos, na medida em que “o behavio-rismo volta sua atenção para a ação política daspessoas em vez de voltar-se para instituições, acon-tecimentos ou ideologias [. . .]” (1961, p. 756). Defato, tal ruptura epistemológica causou tanto im-pacto que alguns cientistas políticos a caracteriza-ram como uma “revolução científica” nos moldeskuhnianos. Este é o teor de pelo menos três discur-sos presidenciais da APSA,12 nos anos de 1960,totalmente dedicados à questão (Truman, 1965;Almond, 1966; Easton, 1969).

Inovações teóricas e metodológicasdo paradigma comportamentalista

De forma geral, a “revolução comportamen-talista” trouxe várias contribuições à Ciência Políti-

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ca. Entre elas, uma grande preocupação com obje-tividade e com generalizações indutivas, elementosconsiderados essenciais à análise científica. Comefeito, estes são os pontos diretamente relaciona-dos com a proposta comportamentalista: (a) des-crições objetivas, (b) generalizações empíricas, (c)métodos sistemáticos e diferenciais, (d) materialempírico, (e) quantificação e (f) multidisciplinarida-de teórica e metodológica. Mas, acima de tudo, amaior contribuição, segundo Somit e Tanenhaus,foi a seguinte:

O behaviorismo tornou os cientistas políticos mais au-toconscientes e mais autocríticos, mais atentos à teoriaanalítica, ao desenho da pesquisa e às técnicas quanti-

tativas. [Isso significa] [. . .] que ao menos alguns fenô-menos políticos importantes poderiam ser explicadosmediante leis empíricas verificadas, enquadradas emum conjunto de axiomas correlatos (1967, p. 229).

Essa postura metodologicamente rigorosapode ser sintetizada em oito pontos fundamentaisda agenda de pesquisa comportamentalista, con-forme listados no Quadro 1 (cf. Morgenthau, 1946;Lasswell e Kaplan, 1950; Truman, 1951, 1965; Vo-egelin, 1952; Easton, 1953, 1965, 1969, 1998; Eu-lau, Eldersveld e Janowitz, 1956; Butler, 1958; Hy-neman, 1959; Dahl, 1961, 1963; Ranney, 1962;Charlesworth, 1962; Eulau, 1963; Lasswell, 1963;Young, 1958; Farr, 1995; Miller, 1998).

Assim, com tais propostas, o comportamen-talismo atingiria seu ponto máximo durante os anosde 1950, persistindo de maneira hegemônica atémeados da década seguinte, tanto no que se refereà adesão teórica, como no que se refere à sua pre-ponderância nos espaços institucionais – como de-partamentos universitários, instituições de pesquisae assessoria ao governo (Somit e Tanenhaus, 1967;Chilcote, 1996). Contudo, sua consolidação comoprincipal paradigma do período não se deu de for-ma incontroversa; pelo contrário, foi grande a po-lêmica e o debate dos herdeiros do antigo instituci-onalismo com a nova “Ciência da Política”. De fato,o comportamentalismo tanto atraiu devotos mili-tantes como críticos ferrenhos.

A revolução neo-institucionalista como reaçãoao comportamentalismo

No final dos anos de 1960, em outro discur-so presidencial da APSA, temos o registro da criseque tão precocemente se abatia sobre a aborda-gem comportamentalista. O presidente daquelemomento era David Easton, um dos formulado-res da teoria dos sistemas aplicada à política. Emseu pronunciamento, Easton asseverava que:

Uma nova revolução estava acontecendo na CiênciaPolítica americana. Essa última revolução – o behavi-orismo – ainda não havia atingido sua plenitude, quan-do foi repentinamente abalada pelas crises políticas e

Quadro 1Síntese das Diretrizes Metodológicas do Comportamentalismo

1°: Somente uma Ciência Política com orientação empírica e positiva é capaz de explicar cientificamente os fenômenospolíticos.2° O cientista político deve se ocupar apenas de fenômenos observáveis, evitando qualquer especulação dedutiva.3° Os dados analisados devem ser quantitativos ou, então, quantificados.4° A pesquisa deve ser orientada e dirigida por uma teoria conceitualmente rigorosa.5° A análise deve ser pautada pela neutralidade axiológica.6º As pesquisas devem ter caráter analítico [padrões e correlações estatísticas] e não meramente descritivo.7º É recomendável utilizar abordagens multidisciplinares, uma vez que a Ciência Política com tal orientação seria apenasuma das ciências do comportamento.8° Adoção do máximo de rigor metodológico, seguindo a lógica do sistema de inferência indutivo.

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sociais de nossa época. [. . .] Esse novo desafio voltou-se contra o desenvolvimento da ortodoxia behavioris-ta. Chamo esse desafio de revolução pós-behaviorista(1969, p. 1051).

Ainda sem um nome preciso para o novoparadigma que começava a se sobrepor ao com-portamentalismo, Easton (1969) antevia sua futurahegemonia. Esse “pós-comportamentalismo” viriaa ser o que atualmente chamamos de neo-institucio-nalismo. Em grande parte, o neo-institucionalismosurgiu como um movimento de dupla rejeição: (1)à ausência de cientificidade do antigo instituciona-lismo e (2) à ausência do contexto institucional nasabordagens comportamentalistas – tanto as induti-vas [sociológica, antropológica e psicológica], comoas dedutivas [econômica de viés neoclássico/ratio-nal choice ortodoxa]. Dimaggio e Powell destacamtal aspecto, afirmando que o neo-institucionalismoapareceu como:

[…] uma reação contra a revolução behaviorista […].[…] O esforço atual para coadunar os focos de pesquisadessas tradições com os desenvolvimentos contempo-râneos nos métodos e nas teorias não significa um meroretorno às raízes clássicas, mas um esforço para encon-trar novas respostas para antigas questões sobre comoas escolhas sociais são moldadas, mediadas e canaliza-das por arranjos institucionais (1991, p. 2).

Sob tal perspectiva, primeiramente, vejamosem linhas gerais os motivos que levaram à crise doparadigma behaviorista e como, a partir desta,criou-se um habitat favorável ao ressurgimento daabordagem institucional, uma “espécie” já quase emextinção àquela época. Depois, vejamos como essa“espécie” evoluiu para uma nova modalidade teó-rica e metodológica, demandando uma ampliaçãona “taxonomia” usual, com a introdução do ter-mo neo-institucionalismo no “reino” dos paradig-mas da Ciência Política.

A crise do paradigma comportamentalistae a retomada das instituições

De maneira genérica, as críticas ao compor-tamentalismo concentravam-se nas suas insuficiên-cias analíticas – suas “dificuldades empíricas” –quanto à explicação de várias dimensões do fenô-meno político, de um lado, e, de outro, no seu ecle-tismo teórico, com sua pretensão multidisciplinar.

Com relação a este último ponto, as críticas con-centraram-se no fato de que o comportamentalis-mo da Ciência Política acabou sendo absorvidopelo conjunto das ciências do comportamento,quebrando suas fronteiras disciplinares – o que cria-ria um grave problema em termos de demarcaçãocientífica.13 Dessa maneira, de acordo com Dahl(1961), o ecletismo comportamentalista acabouimpondo à Ciência Política as perdas de foco e deespecificidade analítica.

Mas, no que se refere aos aspectos teóricosdo behaviorismo, a crítica apresentada por Dahl(1961, p. 770) foi ainda mais profunda, na medidaem que explicitou suas reticências quanto à insufi-ciência de uma explicação voltada exclusivamenteà ação dos indivíduos, em que se faz tábula rasa docontexto institucional da esfera estritamente polí-tica. Do mesmo modo, o autor já chamava a aten-ção para os paradoxos inerentes à ação coletiva,demonstrados há pouco por Arrow (1951), e queviriam a ser mais bem desenvolvidos posteriormen-te pela teoria da escolha social:

As mais importantes produções da abordagem com-portamentalista até o momento lidaram com indiví-duos – indivíduos que votam, que participam da polí-tica de várias maneiras, ou que expressam certas atitudesou crenças. Mas, um indivíduo não é um sistema polí-tico, e a análise das preferências individuais não podeexplicar plenamente as decisões coletivas, as quais so-mente poderão ser explicadas se entendermos os meca-nismos pelos quais as decisões individuais são agrega-das e combinadas nas decisões coletivas (Dahl, 1961, p.770).

Portanto, além dos problemas demarcatórios,de um lado, e da perda da especificidade analítica,de outro, o programa de pesquisa comportamen-talista entrou em crise especialmente por não ter serevelado bem-sucedido teórica e empiricamente àmedida que suas proposições foram sendo sub-metidas a testes e a refutações, tanto factuais comológicas. Assim sendo, é possível afirmar que a rejei-ção ao paradigma comportamentalista se susten-tou em pelo menos oito críticas centrais, tal comosintetizadas no Quadro2 (cf. Dahl, 1961; Somit eTanenhaus, 1967; March e Olsen, 1984; Skocpol,1985; Dryzek e Leonard, 1988; Easton, 1969, 1998;Sened, 1991; Farr, 1995; Steinmo, Thelen e Longs-treth, 1997; Immergut, 1998; Miller, 1998, Riker,1998; Simon, 2000).

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Conseqüentemente, vários analistas passarama questionar a validade das premissas comporta-mentalistas, tanto da versão indutivista da Sociolo-gia e da Antropologia, como da versão dedutivistada Economia (cf. Riker, 1958, 1998). A área emque o impacto desse movimento crítico se fez maiorfoi no campo de pesquisas sobre o congresso nor-te-americano, na medida em que os estudos dosprocessos legislativos daquele país passaram a ser ocampo inicial da contestação empírica da validadedo paradigma comportamental e da proposiçãode novas perspectivas teóricas para o estudo dasdecisões e dos resultados políticos (cf. Shepsle, 1986;Limongi, 1994). Instalou-se, assim, um período dedisputas entre explicações comportamentalistas in-dutivas e explicações comportamentalistas deduti-vas, paralelamente a explicações que buscavam evi-denciar que as regras que presidiam os processosdecisórios, tanto do comportamento eleitoral – sis-tema eleitoral –, como do comportamento parla-mentar – regras do processo legislativo –, seriamas responsáveis pelos resultados políticos (cf. Ri-ker, 1959, 1961, 1963, 1965).

Assim é que, sob pesadas críticas, o compor-tamentalismo perdeu força e, no final dos anos de1960 e início da década seguinte, o paradigma ins-titucionalista foi, então, revitalizado. A abordageminstitucional ressurgiu mantendo a proposta de tra-zer as instituições para o centro da análise (Ostrom,1986, 1991), mas, dessa vez, aderindo às mesmas

Quadro 2As Principais Críticas ao Comportamentalismo

1°: A negação de que a Ciência Política pudesse vir a ser uma ciência capaz de estabelecer leis como as ciências naturais.

2°: O comportamento seria apenas uma das dimensões do fenômeno político.3°: A impossibilidade da quantificação de todos os dados relevantes à análise política.4°: A discrepância entre as pretensões teóricas do comportamentalismo e os resultados de suas pesquisas.5°: A necessidade da adoção de algum tipo de pesquisa aplicada.6°: A necessidade de comprometimento moral do pesquisador com a pesquisa realizada, o que afastaria ou pelo menosrelaxaria a premissa comportamentalista da radical neutralidade axiológica.7°: A necessidade de uma redução dos enfoques multidisciplinares, a fim de manter a especificidade da análise da CiênciaPolítica.8°: Um excesso de rigor metodológico e teórico, o que poderia levar à anulação da criatividade do pesquisador e,conseqüentemente, à estagnação teórica e metodológica [uma clara preocupação com o “contexto da descoberta” e nãoapenas com o “contexto da justificativa”, segundo os termos popperianos].

preocupações que caracterizaram o comportamen-talismo com relação à cientificidade (cf. March eOlsen, 1984; Almond, 1988; Dimaggio e Powell,1991; Jepperson, 1991; Knight e Sened, 1995; Halle Taylor, 1996; Kato, 1996; Norgaard, 1996; Im-mergut, 1998; Nee, 1998; Miller, 1998). Dessemodo, o neo-institucionalismo não é apenas umarejeição cabal do comportamentalismo, mas simuma síntese entre este e o antigo institucionalismo.Deste último, foi mantida a centralidade das insti-tuições na explicação do fenômeno político; doprimeiro, foi mantida a preocupação com o rigorteórico – especialmente a orientação dedutiva, in-trínseca ao individualismo metodológico da teoriada escolha racional (Ostrom, 1991) –, com a preci-são conceitual – matemática/geométrica – e coma orientação empírica da pesquisa – aplicação detestes quantitativos.

O ponto de partida neo-institucionalista

A retomada das instituições como variáveisexplicativas da dinâmica política dos atores embases empíricas e positivas se deve a dois processos.De uma parte, a uma controvérsia teórica no campoda Economia, voltada ao problema da tomada dedecisões em um contexto de escolhas coletivas. Deoutra parte, às conseqüências teóricas e metodo-lógicas que tal controvérsia produziu nos estudosdo congresso norte-americano a partir dos anos de

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1950-1960, aprofundando-se a partir dos anos de 1970(cf. Shepsle, 1986; Sened, 1991; Limongi, 1994; Rem-mer, 1997; Riker, 1998, 1982, 1980; Nee, 1998;Peters, 1998).

Quanto ao primeiro processo, a partir dos anosde 1960, alguns analistas políticos começaram a seinteressar cada vez mais pelo comportamentalismoda Economia, cujo sistema de inferências era deduti-vo, assentado em premissas básicas acerca das moti-vações e das preferências dos indivíduos e de seumecanismo racional – calculista e egoísta – de toma-da de decisão diante de alternativas excludentes. Emrelação a isso, é importante destacar que algunseconomistas – tais como Schumpeter (1942), Ar-row (1951), Downs (1957) e Buchanan e Tullock(1962) – contribuíram enormemente para tal atra-ção, na medida em que, desde os anos de 1940, jávinham utilizando modelos econômicos de pensa-mento na análise do comportamento político, e,desse modo, acabaram sendo o ponto de partidapara a “revolução” neo-institucional na política.Especialmente nos casos de Arrow (1951) e deDowns (1957), que contribuíram significativamentepara a introdução mais sistemática do individualis-mo metodológico da matriz econômica neoclássica,em que o modelo da escolha racional tem comofundamento axiomático o comportamento “maxi-mizador de utilidades”.

Isso significa que a Ciência Política nesse mo-mento passou a ser atraída por um modelo expli-cativo dedutivo, mas que ainda desconsiderava asinstituições sociais e políticas como variáveis rele-vantes. Desse modo, economistas versados na ma-temática aplicada, ocupados com a formalizaçãode fenômenos sociais, retomaram o até então es-quecido “paradoxo de Condorcet” acerca dosmétodos de decisões coletivas justas em assembléias,relativos à agregação dos votos e/ou preferências.Este também é conhecido como “paradoxo dovoto” e foi apresentado por Nicolas de Caritat,Marquês de Condorcet (1743-1794), um matemá-tico e filósofo francês do século XVIII, considera-do pioneiro na aplicação da matemática a um fe-nômeno político. Num trabalho publicado em1785, ele demonstrou matematicamente a cíclica“transitividade das preferências” num contexto dedecisões coletivas, como as Assembléias.

A conseqüência mais direta de sua demons-tração é que, em uma decisão coletiva por regramajoritária, não é possível encontrar uma única e

invariável maioria num processo de escolha entrealternativas possíveis. Isso porque, fundamentalmen-te, numa decisão qualquer em relação às alternati-vas A, B e C, por exemplo, a maioria pode, emsucessivas votações, preferir A a B, depois, B a C,e, depois, C a A, quebrando, assim, o requisito ló-gico da coerência – em que se A > B e B > C, logoA > C – e evidenciando que não há uma únicamaioria relativa a dado tema, mas sim diversasmaiorias cíclicas e logicamente incoerentes.14

Arrow (1951) retomou esse paradoxo, le-vando-o a um considerável grau de profundidadeanalítica (Riker, 1980, 1982), de forma que seu “te-orema da possibilidade” não apenas trouxe impli-cações para a teoria democrática, como tambémtrouxe a necessidade de se procurar outra variávelexplicativa do processo político que não fosse omero comportamento dos atores.15 Isso porque oautor demonstrou, logicamente, que em um con-texto de decisão coletiva, mesmo no caso de todosos indivíduos serem racionais em termos de cál-culo estratégico, as escolhas, seguindo a regra damaioria, ou seriam coletivamente irracionais – por-que transitivamente incoerentes e instáveis [A > B> C, C > A] – ou, então, seriam injustas – porquecontemplaria apenas uma maioria possível entreoutras maiorias possíveis. Tal constatação, inclusive,abriu espaço para a suspeita de que os ideais de-mocráticos talvez fossem irrealizáveis – decisõesracionais igual e simultaneamente justas (cf. Riker,1980, 1982).

Portanto, tal “revolução” germinou a partirda tentativa de resolução de um problema teórico,e até mesmo normativo, relativo à possibilidade datransposição do comportamentalismo da Econo-mia às análises políticas (cf. Riker, 1982; Searing,1991; Sened, 1991). Esse problema consistia na di-ficultosa adaptação de um modelo de tomada dedecisão no plano individual/micro – rational choicede matriz econômica – para a tomada de decisãono plano coletivo/macro – cujo desenvolvimentoresultou na formulação da social choice theory.

Ocorre que, no modelo neoclássico da Eco-nomia, decisões egoístas no plano individual teriamuma componente altruísta “colateral”, na medidaem que gerariam, residualmente, digamos assim, oequilíbrio coletivo das alocações de recursos. Mas,a simulação matemática realizada por Arrow(1951), na qual era admitida a racionalidade plenados indivíduos, demonstrava, em termos lógicos,

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que a racionalidade individual não produziria ra-cionalidade no plano coletivo. Pelo contrário, esco-lhas racionais tomadas individualmente, sob deter-minadas condições de racionalidade, produziriaminstabilidade coletiva, ou seja, conduziriam à irra-cionalidade do ponto de vista social. Este era umproblema claramente político ao qual o comporta-mentalismo econômico baseado na simples e or-todoxa idéia da “escolha racional” individual nãopodia responder, nem do ponto de vista teórico –uma vez que esse modelo não contemplaria a irra-cionalidade –, nem do ponto de vista empírico –uma vez que, no mundo real, as decisões coletivassão tomadas com certo grau de estabilidade, aocontrário do que se poderia deduzir do modeloteórico.

Quanto ao segundo processo, a discrepânciaentre a demonstração matemática de Arrow (1951),pela qual as decisões coletivas seriam cíclicas e irra-cionais, portanto, as assembléias nunca consegui-riam decidir nada realmente – uma vez que as deci-sões seriam sempre instáveis –, e os dados empíricosdas pesquisas sobre o Congresso norte-americano,que mostravam que os parlamentares, votando emassembléia por regra majoritária, tomavam deci-sões sem enfrentar o problema dos ciclos irracio-nais, previstos pelo autor, logo levaram os teóricosa um óbvio questionamento. Estaria incorreto oteorema de Arrow ou será que existiria alguma va-riável interveniente, não considerada em suas equa-ções, que estaria a contribuir para a “anulação” doefeito esperado?

De acordo com os teóricos, o teorema esta-ria correto e o problema seria precisamente a nãoconsideração de uma variável fundamental que ga-rantiria a estabilidade das decisões: as instituiçõespolíticas.16 Ou seja, as regras que estruturam o pro-cesso decisório seriam as responsáveis não apenaspela estabilidade das decisões como também pelopróprio resultado da escolha, dado que se as deci-sões são estáveis, com uma maioria vitoriosa, numcontexto em que várias maiorias seriam possíveis, adecisão tomada deveria conter certo grau de injus-tiça, pois contemplaria apenas uma maioria possí-vel (Riker, 1980; Smith, 1988; Shepsle, 1995). Des-se modo, então, cada vez mais as instituiçõesestritamente políticas passaram a ser consideradascomo as variáveis explicativas centrais dos proces-sos e das decisões, inclusive como variáveis quecondicionariam aquela que até então estava no cen-

tro das análises, qual seja, o comportamento dosatores (Ostrom, 1991; Immergut, 1998).

A síntese neo-institucionalista

Como visto até aqui, é possível afirmar entãoque a retomada das instituições como objeto centralde investigação política ocorreu, em grande parte, emfunção da contraposição de vários cientistas sociaisem relação às propostas e às premissas comporta-mentalistas. Isso foi devido, fundamentalmente, àconcepção de que aquelas, de alguma maneira, mol-dam ou condicionam o comportamento dos indiví-duos, seja por meio de constrangimentos, seja pormeio de restrições.17 Steinmo resume este argumento:

As atenções voltaram-se mais explicitamente para asvariáveis institucionais no final da década de 1970, emdecorrência do aumento das críticas à ênfase behavio-rista que predominava no campo dos estudos de políti-ca americana e de política comparada durante as déca-das de 1950 e 1960, a qual – embora tenha dado atençãoa aspectos da vida política que antes eram negligencia-dos – geralmente acabava por obscurecer a importân-cia das estruturas socioeconômicas e políticas que mol-dam o comportamento de forma distinta em diferentescontextos nacionais (1997, p. 1).

Quanto a estes aspectos, Pierson, por exemplo,ressalta que “o surgimento do novo institucionalismona Ciência Política reflete um renovado interesse pelopróprio modo como arranjos relativamente estáveise rotineiros estruturam o comportamento político”(1996, p. 152). Justamente por isso, como observaNorgaard, “os institucionalistas rejeitam a proposi-ção de que um conjunto de características compor-tamentais e sociopsicológicas seja suficiente paraexplicar a ação individual e a ação coletiva. [De acordocom eles], a ação é forjada e circunscrita pelas insti-tuições” (1996, p. 33). Com efeito, a estruturação docomportamento pelas instituições se daria pelos maisdiversos mecanismos, tanto formais como informais.Sobre este ponto, Pierson afirma ainda que:

As instituições estabelecem as regras do jogo das lutaspolíticas – influenciando na formação de identidadesde grupo, de preferências políticas e de escolhas decoalização, bem como promovendo o aumento de po-der de alguns grupos, em detrimento de outros. Asinstituições também afetam a atuação do governo – namedida em que interferem nos recursos administra-tivos e financeiros que viabilizam as intervenções po-líticas (Idem, p. 152).

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Portanto, a posição generalizada de rejeiçãoàs premissas comportamentalistas enfatiza que asvariações quanto ao desenho constitucional – porexemplo, forma de governo, sistema eleitoral,modelo federativo, regras do processo legislativoetc. – e quanto às modalidades de interação econô-mica – relação entre Estado e mercado, relaçõescontratuais de trabalho, relações entre eleitores epartidos etc. – produzem interações específicas e,dessa forma, induzem a resultados políticos diver-sos. Então, como sugerem Steinmo et al.:

[…] De modo geral, os institucionalistas estão interes-sados em todo tipo de instituições sociais e estatais quemoldam a maneira pela qual os atores políticos defi-nem seus interesses e estruturam as relações de podercom os outros grupos. Portanto, essa definição tam-bém abrange outras dimensões institucionais, tais comoas regras da competição eleitoral, a estrutura do siste-ma partidário, as relações entre os diversos setores dogoverno e a estrutura e a organização de atores econô-micos, tais como sindicatos (1997, p. 2).

Mas, apesar da oposição ao comportamen-talismo, especialmente por causa de sua desconsi-deração quanto às instituições políticas e econômi-cas, o ressurgimento do programa de pesquisainstitucionalista herdou, por assim dizer, a preocu-pação com o rigor metodológico e a orientaçãoempírica daquele paradigma. Assim, enquanto, deuma parte, os neo-institucionalistas retomaram asinstituições como objeto primordial da análise, deoutra parte, procuram explorar abordagens queprivilegiam maior precisão conceitual e, na maioriados casos, definições operacionais que facilitem omáximo possível o tratamento empírico de dados.

Dessa forma, uma das marcas diferenciado-ras dos neo-institucionalistas em relação aos prati-cantes do antigo institucionalismo é a oposição queos primeiros fazem ao caráter pouco científico dossegundos, assim como a abordagem institucional-mente descontextualizada dos comportamentalis-tas. Paralelamente, os neo-institucionalistas mantêmo foco nas instituições, tal qual proposto pelo anti-go institucionalismo, do mesmo modo que a preo-cupação com a acuidade científica, sugerida peloscomportamentalistas. De forma geral, esses aspec-tos são comuns a todos os neo-institucionalistas, namedida em que julgam que as instituições são fato-res de constrangimento/restrição às e de molda-gem/estruturação das ações, pois limitariam seuscursos de ação possíveis e estabeleceriam uma es-

cala de racionalidade entre estes. Com isso, ao lon-go do tempo, as instituições moldariam/estrutura-riam cada vez mais as preferências.

Contudo, há uma diferenciação que deve serfeita. Na vertente sociológica, a concepção preva-lecente é a de que as instituições moldariam as pre-ferências dos atores, ou seja, o que está em questãoem termos tanto teóricos como empíricos é o pro-cesso de formação das preferências. Em última ins-tância, isso significa que o foco privilegiado da aná-lise é o processo de socialização; no caso, desocialização política. Na vertente da Ciência Políti-ca – em sua quase totalidade adepta ao “institucio-nalismo da escolha racional” –, o que prevalece éconcepção de que as instituições interagem com aspreferências já dadas, provocando um processo de“transição” destas em relação aos objetos, de acor-do com uma “escala de utilidades”. Ou seja, as ins-tituições, como formas de restrição das decisõesem favor daquilo que ocuparia o primeiro lugarnuma dada escala de preferências, provocaria odeslocamento dessa escolha para objetos outros queocupariam ou o segundo, ou o terceiro, ou o quar-to lugar de suas preferências, e assim por diante.Nesse caso, então, não se mostram relevantes nemo processo de socialização, nem a formação daspreferências, uma vez que o problema é exclusiva-mente circunscrito ao processo da tomada de de-cisão num contexto em que as preferências já estãoestruturadas e que são restringidas por certo tipode arranjo institucional.

Isso significa que tanto a Sociologia como aCiência Política neo-institucionais tomam as esco-lhas como unidade de análise, com a diferença deque, enquanto para a primeira as variáveis explicati-vas seriam exógenas à própria decisão, para a se-gunda, tais variáveis seriam endógenas ao processodecisório. Mas, em ambos os casos, o mecanismoarticulado estabelece que, em um primeiro momen-to, as instituições agiriam exteriormente, constran-gendo/restringindo os indivíduos. Esse processo,ao longo do tempo, geraria uma interiorização/conhecimento das instituições como cursos possí-veis de ação, moldando/estruturando, em um se-gundo momento, as preferências. Assim, primeira-mente, as instituições constrangeriam/restringiriam,ou seja, limitariam as preferências, depois, as insti-tuições as moldariam/estruturariam. Nesse caso éque se poderia falar que determinada instituição está,de fato, institucionalizada. Com isso, as interações

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políticas estão diretamente associadas ao modeloinstitucional no qual estas estão inseridas, tendo seusresultados influenciados por esse modelo.

Com tal perspectiva, a partir de meados dosanos de 1970, as instituições voltaram ao centro daanálise, eleitas como as variáveis explicativas, porexcelência, do comportamento e das decisões po-líticas. Na verdade, a própria unidade de análise tam-bém foi deslocada, passado do comportamentopuro e simples, agora relegado ao segundo plano,para as decisões coletivas. Do ponto de vista daSociologia, o retorno das instituições significou asubdivisão de suas análises em pelo menos duasescolas; uma centrada nas instituições sociais e, ou-tra, no Estado (cf. Hall and Taylor, 1996; Norgaard,1996; Kato, 1996).

No caso da Ciência Política, o recorte institu-cional foi processado por uma redução radical dasvariáveis explicativas fundamentais, concentrando-se quase exclusivamente no desenho constitucionale nas regras que presidem o “jogo político”. A cul-tura, as crenças, os valores, enfim, as instituiçõessociais e até mesmo a estrutura econômica passa-ram a ser considerados, todos, elementos exóge-nos tanto ao fenômeno estritamente político comoao conjunto de variáveis explicativas das decisõescoletivas. Na maioria das vezes, tais instituições se-quer são consideradas, num processo – para mui-tos, problemático – semelhante ao ceteris paribus daEconomia, pelas quais estas simplesmente deixamde ser variáveis para se tornarem constantes nãointervenientes no fenômeno.

Seja como for, a idéia básica que serve denúcleo epistemológico e metodológico das análisesatuais acerca dos fenômenos políticos é a de que osatores respondem estratégica ou moralmente a umconjunto de regras formais ou informais que sãocircunscritas às instituições. Estas, moldam, condi-cionam ou induzem os atores a agirem e a decidi-rem de determinada maneira e acabam, assim, ex-plicando grande parte do que ocorre na dinâmicada política.

Conclusão

Meu objetivo neste texto foi fazer uma brevereconstrução histórica do paradigma neo-institucio-nalista da Ciência Política, com a finalidade de des-tacar dois pontos. O primeiro é que houve dois

fatores que concorreram para a “revolução neo-institucional”: (1) a crise do behaviorismo a partirda segunda metade da década de 1960 e (2) a emer-gência, a partir dos anos de 1950, da análise econô-mica dos fenômenos políticos sob a ótica dos pa-radoxos das decisões coletivas. Sob tal perspectiva,minha intenção foi mostrar, mesmo que sucinta-mente, que o desenvolvimento do paradigma neo-institucional se deu como um movimento que sur-giu a partir das críticas e da rejeição do paradigmaaté então dominante, o comportamentalismo, deuma parte, e, de outra, a partir da incorporação, decerto modo, crítica, da abordagem econômica àanálise do problema político.

O segundo ponto que intentei destacar foi que,não obstante a oposição ao comportamentalismoe ao antigo institucionalismo, a abordagem neo-ins-titucional tem como característica teórica central asíntese epistemológica e metodológica de parte docomportamentalismo com parte do antigo institu-cionalismo. A volta das instituições ao centro daanálise resolveu o problema teórico apresentadopelo paradoxo do voto em assembléias, mas nãosignificou a rejeição completa das premissas do in-dividualismo metodológico, na medida em que aconcepção do “Homem-Político” dos neo-institu-cionalistas é semelhante à concepção do “Homem-Econômico”. Isso significa que as premissas do al-truísmo e da razão, entendida como faculdadedestinada à reflexão ética, foram substituídas pelaspremissas do egoísmo e da razão como instrumen-to de cálculo.

Na verdade, o retorno das instituições, nosmoldes adotados pelos neo-institucionalistas da po-lítica, somente pôde fazer sentido no contexto doindividualismo metodológico da Economia. Issoporque, com esse enfoque, que concebeu um mun-do sem instituições e, por isso mesmo, tenebroso,onde decisões nunca são tomadas e a coletividadejamais chega a alguma vontade majoritária estável –ou, então, prevalecendo apenas a vontade de umditador – , torna-se ainda mais evidente a força e aimportância das instituições como variáveis determi-nantes das decisões minimamente justas e estáveis.

Então, a relevância dos modelos constitucio-nais como objetos de investigação voltou à cena,mas não mais com aquele casaco puído e empoeira-do do teórico que só estuda os textos das constitui-ções e deduz da razão abstrata qual o melhor mo-delo político para se produzir o “Bem”. Vestidos

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com seus “aventais de cientistas” e munidos de to-das as “ferramentas” – ou, como já se disse, “aspeças e as engrenagens” da ciência – das pesquisasempíricas trazidas pelo comportamentalismo, osneo-institucionalistas, agora, investigam, de manei-ra positiva e analítica, os efeitos dos desenhos insti-tucionais sobre o comportamento dos atores e so-bre os resultados políticos.

Notas

Na verdade, o embate contra o republicanismo veiotanto dos pluralistas como dos liberais. Os maioresrepresentantes disso são Dahl (1956), em favor dopluralismo, e Riker (1982), em favor do liberalismo.Ambos, entretanto, tinham em comum a identifi-cação de republicanismo com populismo.Na verdade, é importante destacar que houve pelomenos dois importantes precursores do compor-tamentalismo. Um deles foi o fisiologista russo IvanPetrovich Pavlov (1849-1936), o pioneiro da psico-logia comportamental. Suas experiências envolven-do o condicionamento animal levaram-no à pro-posição de que qualquer comportamento, inclusiveo humano, seria o resultado de um processo decondicionamento, viabilizado, por sua vez, pelosmecanismos mentais de associação como um siste-ma de estímulo/resposta. O outro foi o psicólogoe filósofo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920),fundador do famoso e pioneiro Instituto Experi-mental de Psicologia e formulador da abordagem“elementar”, por meio da qual costumava dividir acomplexidade dos fatores envolvidos no compor-tamento em elementos básicos e isolados, comodeterminados sentimentos e sensações, de forma aser possível mensurá-los como respostas a deter-minados estímulos.O relato de Durkheim sobre sua visita à Alemanhae suas impressões acerca dos estudos de Wundtforam publicados em 1887. Embora Durkheim seja,essencialmente, um analista de viés institucional, adespeito de sua filiação ao “naturalismo social”, suaênfase nos métodos empíricos observacionais emoposição à abordagem filosófica possibilitou a aber-tura necessária às influências do comportamentalis-mo na Sociologia subseqüente. Para maiores deta-lhes sobre o debate do autor com a Filosofia, comvistas a formular uma ciência da moral, ver: Weiss(2006).

Wilhelm Wundt também teve grande influência so-bre Malinowski. Este, depois de obter doutoramentoem Filosofia, deslocou-se até a Universidade de Leip-zig, onde estudou folk psychology com Wundt, entre1908 e 1910. Graças a tal influência, Malinowski pas-sou a se interessar por Antropologia, o que o levouaos seus estudos de campo em Mailu e nas IlhasTobriandesas, onde, então, desenvolveu as clássicase inovadoras técnicas de observação participante,bem como sua teoria funcionalista da cultura.Parece-me plausível conjecturar que, ao enfatizar aobservação sistemática e a descrição densa dos com-portamentos como objetivação de “acordos” sim-bólicos coletivos que cumpririam determinadas fun-ções sociais, Malinowski (1944) avançava em direçãoa uma forma de comportamentalismo metodoló-gico. Isso porque ao compreender que a ação huma-na efetiva conduziria ao comportamento organiza-do e que tal organização é dada por um conjunto deregras e valores, denominado instituições, o autorsugere que se, de um lado, a unidade de análiselegítima do fenômeno cultural seriam as própriasinstituições, de outro, seu estudo somente seriapossível por intermédio da observação dos com-portamentos. Segundo o próprio autor, “o valordo behaviorismo é devido, em primeiro lugar, ao fatode que seus métodos são idênticos, no tocante àslimitações e vantagens, aos do trabalho de campoantropológico. [. . .] O princípio fundamental doinvestigador de campo, assim como também o dobehaviorista, é que as idéias, as emoções e as cona-ções nunca prosseguem a conduzir uma existênciacrítica, oculta dentro das profundezas inexploráveisda mente, consciente ou inconsciente” (Malinowski,1970, p. 31).Sobre esse debate metodológico na Economia, verdetalhes em Blaug (1993), Mäki e Knudsen (1993),Blackhouse (1994), Hausman (1998) e Hands (2001).A importância de Charles Merriam também podeser percebida pela constatação da relevância que al-guns de seus orientandos vieram a ter no desenvol-vimento posterior da Ciência Política norte-ameri-cana, entre eles, destacam-se Leonard White, HaroldGosnell, Quincy Wright, Harold Lasswell, V. O. Key,Gabriel Almond, Avery Leiserson, Herbert Simone David Truman.Geralmente, considera-se que Merriam (1921, 1925)foi autor dos dois trabalhos pioneiros do tipo deabordagem que seria adotada mais vigorosamenteapenas duas décadas depois, no âmbito do com-

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portamentalismo. Na verdade, há até quem afirme(Gunnell, 2005) que a década de 1920 foi de tal for-ma crucial para o posterior desenvolvimento desseparadigma que poderia ser considerada um período“pré-behaviorista”.Além das atividades acadêmicas, Merriam tambématuou na política de seu país, sendo consultor dedois presidentes, o republicano Herbert Hoover [31°,que governou no período 1929-1933 e o democrataFranklin Roosevelt, o 32º da república norte-ameri-cana, que governou entre 1933 e 1945.Segundo consta, também foi decisiva para tal con-versão a leitura de duas obras anteriores que abor-davam a “natureza humana” na política sob a óticada irracionalidade guiada pelos sentimentos:Graham Wallas (1908) com Human nature in politicse Walter Lippmann (1922) com Public opinion. Damesma forma, seu irmão, John Merriam, um im-portante geólogo, trouxe-lhe várias influências dasciências da natureza (cf. Jensen, 1969).De acordo com Gunnell (2005), há ainda outrosdois importantes autores da década de 1920 cujasduas obras lançadas naquele período foram igual-mente de fundamental importância, quais sejam,Catlin (1927) e Elliott (1928). Gostaria de acrescen-tar outras obras de grande relevância nesse mesmomomento, cujo foco se concentrava na discussão daaplicação de métodos quantitativos à análise dosfenômenos políticos: Rice (1928, 1931) e Gosnell(1933).Trata-se da American Political Science Association,fundada em 1903 e atualmente a maior entidadeprofissional da área, tanto em número de filiados,como em importância acadêmica [possui atualmentemais de 15 mil membros de cerca de 80 países]. AAPSA é a responsável pela edição da American Politi-cal Science Review, uma das revistas mais importantesda Ciência Política mundial. Por meio de sua linhaeditorial, a APSA matiza a prática do que deve seruma pesquisa científica e sua forma de comunica-ção. Com isso, colabora preponderantemente para adefinição dos parâmetros cosmológicos [o que é ofenômeno político, quais seus elementos mais rele-vantes, quais as grandes questões que os envolveetc.] e metodológicos da comunidade dos cientistaspolíticos.Segundo Somit e Tanenhaus, essa absorção ao cam-po das ciências comportamentais representou, in-clusive, uma orientação de ordem prática. Segundoos autores, “o termo ciência comportamentalista

foi cunhado por um grupo que tinha fortes inclina-ções quantitativas, qual seja, o grupo dos cientistassociais da Universidade de Chicago. Preocupadosem atrair verbas federais para as ciências sociais ereceosos que estas fossem confundidas com socia-lismo, eles conceberam o termo ciência comporta-mentalista” (1967, p 183).Há vários textos que tratam em detalhes de tal pa-radoxo, seja em nível didático, seja em nível avança-do. Para um melhor entendimento a esse respeito,consulte Brams (1976) e Riker (1982).O espaço aqui não permite que se avance sobre to-dos os aspectos desta questão, mas é importantesalientar que há outro autor de fundamental im-portância no desenvolvimento dos problemas ine-rentes às decisões coletivas. Trata-se de McKelvey(1976), que desenvolveu aquela que ficou conhecidacomo a “teoria do caos”, relativa às decisões parla-mentares. Este autor demonstrou geometricamen-te que numa decisão coletiva qualquer resultado épossível, mesmo aquele que discrepe da vontade damaioria, na medida em que as decisões em assem-bléia podem ser manipuladas por intermédio dasimples escolha das alternativas a serem votadas eaté pela ordem em que estas são colocadas em vota-ção. Com isso, o autor evidenciou, em termos lógi-cos, o enorme poder daquele que controla a agendade votação, bem como a importância das “regras dojogo”, pois estas definem como o “jogo” é jogadoe até quem tem mais chances de ganhá-lo. Para umaexposição didática desse modelo aplicado aos estu-dos legislativos, ver Limongi (1994).

No caso dos estudos sobre o Congresso norte-ame-ricano, os esforços dos pesquisadores na tentativade encontrar empiricamente as variáveis explicativaspara a inexistência da instabilidade prevista logica-mente pelo teorema de Arrow (1951) ensejaram odesenvolvimento de três linhas de pesquisa confli-tantes, a “distributivista”, a “informacional” e a “par-tidária”. Para uma análise sintética destas linhas, verLimongi (1994). Tais abordagens e até mesmo aforma de construir o problema de investigação in-fluenciaram bastante as pesquisas sobre o Congres-so brasileiro a partir de meados dos anos de 1990.Neste caso, os pesquisadores têm se dividido entreduas linhas explicativas, quais sejam, a “distributi-vista”, mais pessimista, e a “partidária”, mais oti-mista. Para uma análise da forma de utilização das“teorias positivas” no estudo do legislativo brasi-leiro, ver Santos (2006).

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No caso da Sociologia, o termo mais apropriado é“constrangimento”, na medida em que os desviosàs normas sempre são “punidos” por algum tipode reprimenda moral, quando não sanção penal.No caso da Ciência Política, o termo mais apropria-do seria “restrição”, na medida em que a escola pre-dominante – o institucionalismo racionalista – pres-supõe que as decisões encontram alguma oposiçãoem termos de recursos escassos [porcentagem deeleitores disponíveis, dotação orçamentária etc.] ouinstitucionais [regras eleitorais, regras do processolegislativo etc.], demandando, em face de tais restri-ções [exógenas], uma transitividade na estrutura depreferências [endógenas], levando os atores, emdecorrência de tais restrições, a decisões estratégicas.

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REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 23 No. 68192

COMPORTAMENTO OUINSTITUIÇÕES? AS BASESHISTÓRICAS DONEO-INSTITUCIONALISMODA CIÊNCIA POLÍTICA

Paulo Sérgio Peres

Palavras-Chave: Neo-Institucionalis-mo; Comportamentalismo; História daCiência Política; Instituições Políticas

Meu objetivo neste texto é fazer umabreve reconstrução histórica do paradig-ma neo-institucionalista da ciência polí-tica, com a finalidade de destacar doispontos. O primeiro é que houve dois fa-tores que concorreram para a “revoluçãoneo-institucional”, quais sejam, a emer-gência, a partir dos anos de 1950, da aná-lise econômica dos fenômenos políticossob a ótica dos paradoxos das decisõescoletivas e a crise do behaviorismo a partirda segunda metade da década de 1960.O segundo é que a abordagem neo-insti-tucional tem como característica teóricacentral a síntese epistemológica e meto-dológica de parte do comportamentalismocom parte do “antigo” institucionalismo.

BEHAVIOR OR INSTITUTIONS?THE HISTORICAL BASIS OF THENEO-INSTITUTIONALISM INTHE POLITICAL SCIENCES

Paulo Sérgio Peres

Keywords: Neo-Institutionalism; Beha-viorism; History of Political Science;Political Institutions.

The article aims to reconstruct historical-ly the Political Science neo-institutio-nalism paradigm in order to explore twopoints. The first one consists in arguingthat there were two factors that con-tributed to the neo-institutional “revo-lution” in politics, which are: the emer-gence of the economical analysis of po-litical phenomena under the optics ofthe paradoxes of collective decisions,from the 1950s, and the crisis in beha-viorism in the 1960s. The second oneconsists in arguing that the neo-ins-titutional approach is a synthesis of partof the behaviorism with part of the “oldinstitutionalism”.

COMPORTEMENT OUINSTITUTIONS? LES BASESHISTORIQUES DUNÉO-INSTITUTIONNALISMEDE LA SCIENCE POLITIQUE

Paulo Sérgio Peres

Mots-clés: Néo-Institucionnalisme;Comportementalisme; Histoire de laScience Politique; Institutions Politiques.

Mon objectif dans ce texte est de pré-senter une brève reconstruction his-torique du paradigme néo-institu-tionnaliste de la Science Politique, defaçon à démontrer deux points. Le pre-mier se réfère à l’existence de deux fac-teurs qui ont concouru à la “révolutionnéo-institutionnelle”, qui sont: l’émer-gence, à partir des années 1950, de l’ana-lyse économique des phénomènes poli-tiques sous l’optique des paradoxes desdécisions collectives et de la crise, à par-tir de la seconde moitié des années 1960,du comportementalisme. Le second serapporte à l’abordage néo-institutionnelet a pour caractéristique théorique cen-trale la synthèse épistémologique et mé-thodologique d’une partie du comportemen-talisme avec une partie de “l’ancien”institutionnalisme.