Concepções de Roma - uma perspectiva inglesa - Richard Hingley - 97-2003

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    Textos Didticos IFCH/UNICAMP

    Fronteiras do Mito

    Jean-Pierre Vernant

    Concepes de Roma: uma perspectiva inglesa

    Richard Hingley

    Apresentao,

    por Renata Senna Garraffoni

    Richard Hingley professor do Departamento de Arqueologia da

    Universidade de Durham, na Inglaterra. Sua rea de atuao diversificada, pois

    possui trabalhos no s de historiografia e Arqueologia sobre populaes romanas

    das provncias do norte e oeste da Britnia e da Idade do Ferro, como tambm de

    teoria ps-colonial e metodologia, incluindo aqui pesquisa de campo e fotografia

    area.

    Dentre estes temas relacionados, destaca-se uma problemtica especfica:

    como as populaes nativas foram incorporadas ao Imprio Romano e as

    mudanas ocorridas. Neste contexto, a Histria do desenvolvimento da

    Arqueologia romana e a maneira que ela se constituiu na Europa em geral, e Gr-

    Bretanha em especfico, durante os sculos XIX e XX tem sido objeto central das

    pesquisas do estudioso nos ltimos anos.

    O artigo que segue, Concepes de Roma: uma perspectiva inglesa,

    resultado deste trabalho. Nele, o autor prope uma reviso crtica da utilizao demodelos desenvolvidos nos sculos XIX e XX por classicistas . Nota-se,

    claramente, uma postura de questionamento de tais modelos, em particular a

    teoria de romanizao, a partir de um estudo aprofundado do contexto histrico

    em que as concepes do Imprio romano foram criadas. Neste sentido, o texto

    de Hingley uma desconstruo de discursos imperialistas do incio do sculo XX

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    que constituram parte da viso de mundo dos ingleses do perodo e serviram de

    base para estabelecer interpretaes do mundo romano, tanto na Arqueologia

    como na Histria, que so utilizados at o presente. Sua proposta , portanto,

    instigante na medida em que prope uma crtica a idias absolutas e aos

    discursos eurocntricos dos sculos XIX e XX.

    Outras publicaes do autor sobre o tema:

    Hingley, R. 1991. Past, present and futurethe study of the Roman period in

    Britain, Scottish Archaeological Review, 8: 90101.

    Hingley, R. 1995. Britannia, Origin Myths and the British Empire, in S. Cottam, D.

    Dungworth, S. Scott and J. Taylor (edd.), TRAC94. proceedings of thefourth annual Roman Theoretical Archaeology Conference, Durham 1994

    (Oxford): 11-23.

    Hingley, R. 1996. The legacy of Rome: the rise, decline and fall of the theory of

    Romanization, in J. Webster and N. Cooper (edd.), Roman Imperialism:

    post-colonial perspectives (Leicester): 35-48.

    Hingley, R., 1999. The imperial context of Roman studies and a proposal toward a

    new understanding of the process of social change, in: P. Funari, M. Hall,

    S. Jones, Historical Achaeology: Back from the Edge, Routledge, Londres.

    Hingley, R. 2000. Roman Officers and English Gentlemen: imperialism and the

    origin of archaeology(Londres).

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    Concepes de Roma: uma perspectiva inglesa

    Richard Hingley1 University of Durham, Inglaterra

    Traduo: Renata Senna Garraffoni*

    Reviso: Pedro Paulo A. Funari

    1. Introduo

    Este artigo versa sobre como as imagens proporcionadas pela Roma

    clssica foram redesenhadas para ajudar a definir as idias da origem inglesa e a

    justificativa do imprio de 1880 at por volta de 19302. Era o auge do imperialismobritnico. Nesta poca, a ideologia imperial tornou-se parte da linguagem do

    patriotismo britnico3. Tambm foi um perodo em que novas correntes intelectuais

    se desenvolveram para definir e sustentar o controle britnico por extensas partes

    do mundo4. Trabalhos acadmicos, escritos polticos e literatura popular refletem

    esta necessidade imperial e o passado imperial romano foi diretamente recrutado

    para ajudar a tornar conhecida a misso imperial britnica.

    A raiz das origens nacionais no final do sculo XIX e incio do XX passou a

    centralizar consideraes imperiais relevantes na busca de uma definio til de

    anglicidade** que gerou a idia de permanncia na vida nacional britnica. Esta

    definio de anglicidade baseou-se em uma variedade de fontes de informaes,

    1 Texto especialmente escrito pelo autor para publicao em verso portuguesa.* Licenciada e Mestre em Histria, Doutoranda em Histria, IFCH/Unicamp, bolsista Fapesp.2 Muitos destes argumentos foram desenvolvidos com mais detalhes em meu livro recentementepublicado (Hingley 2000) e tambm em doispapers a sair na prxima edio do Journal of Roman

    Archaeology. Para um resumo atualizado sobre as atitudes dos sculos XVIII e XIX como relao aantiga Roma na Britnia, cf. Vance 1997. Uma imagem alternativa proporcionada pela Grciatambm foi importante nos sculos XVIII e XIX na Britnia (cf. Jenkyns (ed.) 1980 e Turner 1981),mas no ser discutida neste artigo.3 Eldridge 1996, 2.4 Koebner e Schmidt 1964; Baumgart 1982 e Judd 1996. Em Hingley 2000 textos datados do finaldo sculo XIX e incio do XX so analisados a partir do conceito de discurso imperial.**Nota da tradutora: no original o termo empregado pelo autor Englishness. Assim, por analogiaao termo em portugus brasilidade, optamos por traduzirEnglishness porAnglicidade em todo otexto.

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    incluindo as fontes histricas clssicas que descreveram a invaso romana na

    Britnia no sculo primeiro d.C e as descries de vestgios arqueolgicos

    recolhidos por antiqurios e arquelogos. Como resultado disto, a Arqueologia

    teve uma grande participao na definio do propsito imperial da Inglaterra.

    Concepes de Roma na Europa

    Ao considerar o significado das maneiras como a imagem do romano foi

    usada na Inglaterra importante ter em mente o contexto europeu desta

    experincia inglesa. O passado tem sido desdobrado por europeus, e povos do

    mundo ocidental em geral, para esculpir identidades que se opem, para construir

    o Ocidente e o no-Ocidente e criar uma ascendncia cultural5. Neste contexto, aconstruo do passado nunca foi uma atividade imparcial6. Roma teve um lugar

    especial na definio da Histria e do pensamento europeu7. Sua capacidade de

    prover imagens mltiplas, mutveis e conflituosas foi quase ilimitada; isto a tornou

    uma fonte rica para dar sentido e para desestabilizar a Histria, a poltica, a

    identidade, a memria e o desejo8. Por exemplo, Roma foi construda, em certas

    pocas e lugares, para representar autoridade literria, governo republicano,

    unificao poltica, poder imperial e seu declnio, proeza militar, eficincia

    administrativa, a idade de ouro do imprio, a Igreja Catlica e o prazer das runas.

    H um grande corpo de trabalhos de variadas associaes historigrficas

    proporcionadas pela Roma clssica, incluindo diversas pesquisas recentes que

    consideram os papis da Arqueologia9.

    Uma dicotomia entre a imagem romana e aquelas munidas pelas idias de

    uma identidade nativa pode ser extrada das concepes de Roma10. A efgie do

    5 Meskell 1999:3.6 Smith 1986: 180-1.7 Edwards 1999: 2-3; Wyke e Biddiss 1999; Farrell 2001.8 Edwards 1999 2-3. A complexa variedade das imagens proporcionadas por Roma tambm erapercebida por autores clssicos (Hardie 1992).9 Veja, por exemplo, Deletant 1998, Edwards (ed.) 1999, Galinsky 1992, Hingley (ed.) no prelo,Jenkyns (ed.) 1992, Moatti 1993, Pagden 1995, Vance 1997, Wyke 1997 e Wyke e Biddiss (edd.)1999.10 Hingley, no prelo a.

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    imprio romano proporcionou um mito de origem para muitos povos da Europa e,

    em particular, para Histria do Ocidente como um todo. A elite de vrias naes

    ocidentais, durante os sculos XVI ao XX, usaram a imagem de Roma para

    ordenar caminhos para o desenvolvimento da educao, arte, arquitetura,

    literatura e poltica11. Em relao contrastante idia de identidade nativa, as

    fontes escritas romanas serviram para prover a idia de alteridade que foi usada

    para ajudar a definir e unir povos dentro de naes individuais na Europa

    Ocidental. Ao definir sua prpria civilizao em oposio aos outros brbaros12,

    autores clssicos proporcionaram um poderoso instrumento interpretativo para

    aqueles, que ajudou a criar naes e imprios modernos. Autores romanos, que

    escreveram durante o perodo de expanso no final do primeiro milnio a. C. e

    incio do primeiro milnio d. C., registraram os nomes e feitos de vrios grupostnicos significativos no imprio ocidental ou em outros locais (incluindo

    gauleses, batavos, germanos, bretes, dcios, entre outros). Alguns textos

    romanos importantes se tornaram disponveis a uma elite ilustrada na Europa

    Ocidental do sculo XVI em diante. Tais textos continham informaes sobre estes

    primeiros povos, histrias sobre seus hbitos cotidianos e seus atos de resistncia

    ante o imperialismo romano. Ocasionalmente, os textos tambm indicavam uma

    localizao geogrfica aproximada na qual estes povos teriam vivido.

    Com a ascenso do antiquarismo e da Arqueologia a partir do sculo XVI,

    evidncias fsicas derivadas do passado artefatos e estruturas puderam ser

    utilizadas para localizar estes povos na paisagem contempornea europia. Neste

    contexto, a Arqueologia desenvolveu-se como uma disciplina til que traduzia uma

    imagem idealizada do passado tnico em realidades tteis usando cnones

    modernos de conhecimento13. No final do sculo XIX e incio do XX, arquelogos

    usavam tcnicas para localizar, datar, descrever e classificar vestgios materiais,

    mas eles tambm proporcionaram histrias sobre a origem dos monumentos e

    11 Stray 1998; Wyke and Biddiss 1999.12 Para a definio clssica do outro como brbaro veja Habinek 1998, 157; Hall 1989; Jones1971; Patterson 1997: 30-32, Romm 1992; Shaw 1983 e Webster 1996, 1999.13 Smith 1986: 180; veja tambm Trigger 1989: 174.

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    artefatos que auxiliaram no desenvolvimento de uma identidade nacional prpria14.

    Nestas histrias, os elementos fsicos de uma cultura herdada os artefatos,

    edifcios e paisagens propiciaram uma conexo tangvel e particular com um

    passado tnico imaginado. O sentido de pertencimento vital para uma definio

    prpria de identidade nacional e a ligao de identidades tnicas a certos tipos de

    evidncias arqueolgicas tornou-se um instrumento poderoso na Inglaterra como

    em vrios outros pases europeus.

    Historiadores romanos produziram relatos nos quais um suposto poder

    civilizador, representado por Roma, teria entrado em conflito com os brbaros e

    contos em que a resistncia de vrios povos nativos expanso imperial romana

    eram desenvolvidos sob um forte estilo anti-romano. Nacionalistas acharam istotil em algumas circunstncias, no entanto, conceber grupos nativos sendo

    incorporados ao imprio era, tambm, profundamente influenciado pela

    civilizao dos romanos. Neste contexto significativo que a Roma imperial era

    freqentemente vista executando um papel especial a transferncia da

    civilizao mediterrnea a vrios povos do ocidente europeu, que efetivamente

    permitiu que a distino romana e as concepes nativas fossem combinadas. As

    fontes clssicas confirmam a classificao de povos pr-histricos na Glia,

    Alemanha, Ibria, Britnia e, at mesmo, Itlia povos que, de alguma maneira,

    pareciam mais semelhantes a populaes nativas do Novo Mundo do que com as

    populaes contemporneas da Europa Ocidental. Argumentava-se que Roma

    teria civilizado todos estes povos.

    Os romanos teriam introduzido a cultura da civilizao estradas, cidades,

    banhos pblicos, impostos e a lngua latina uma civilizao que a Europa

    Ocidental sentia ter herdado. A Europa crist tambm se sentia herdeira desta

    tradio religiosa da Roma clssica. Autores romanos falaram em latim s aulas

    de uma elite ilustrada europia dos sculos XIX e XX uma lngua que ajudou a

    definir sua identidade e de qualquer um que eles pudessem entender. Como

    14 Para publicaes recentes sobre Arqueologia e nacionalismo, veja Atkinson et al. (edd.) 1996;Daz-Andreu e Champion (edd.) 1996; Kohl e Fawcett (edd.) 1995 e Meskell (ed.) 1999.

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    resultado, muitos membros destas classes sentiram uma associao com os

    romanos clssicos como uma herana de uma tradio, religio e civilizao

    clssica em comum uma associao que foi de todas a mais influente devido ao

    domnio da lngua latina na educao da elite contempornea15.

    Os romanos e as imagens da origem dos nativos, no entanto, no foram

    sempre desenvolvidas em oposio de uma a outra, como foram argumentadas

    em certas ocasies, poderiam ser combinadas para desenvolver uma concepo

    nacionalista da grandeza contempornea. Isto tinha um significado particular no

    contexto da Inglaterra do final do sculo XIX e incio do XX.

    Concepes de Roma na Inglaterra durante o final do sculo XIX e incio do

    XX.

    A conquista e ocupao romana do sudeste da Britnia iniciou-se em 43

    d.C. e durou at o princpio do quinto sculo. Este evento lanou os antigos

    romanos na rbita da histria domestica inglesa16. Devido, em parte, ao impacto

    direto na histria domstica do sudeste da Britnia, a efgie de Roma formou um

    conjunto til de referncias histricas tanto para os ingleses como para outras

    naes. Os antigos relatos histricos que confirmaram o carter devastador da

    invaso Anglo-Saxnica na Britnia ps-romana, no entanto, criaram um forte mito

    da origem racial teutnica para os ingleses durante o sculo XIX 17. Esta imagem

    teutnica, ou germnica, da origem racial, que foi dominante por grande parte do

    sculo, se tornou menos poderosa diante dos interesses imperiais prximos ao

    final do sculo. Uma nova representao, que se desenvolveu neste perodo,

    argumentava que o esprito imperial ingls era derivado de uma herana gentica

    mista que inclua antigos bretes, romanos clssicos, anglo-saxes e

    15 Stray 1998: 11; Wyke e Biddiss 1999; Farrell 2001.16 Stobart 1912: 3; Vance 1997: 16.17 A idia da origem teutnica do ingls foi influente no incio e meados do perodo vitoriano esobreviveu durante o sculo XX (veja: Bowler 1989: 51; Colls 1986; Levine 1986: 4; MacDougall1982; Robbins 1998: 29; Samuel 1998: 23; Smiles 1994: 113-28 e Stocking 1987: 62-3). Para umahistria do contraste entre as escolas germnica e romana nos sculos XIX e XX, veja White1971 and Jones 1996.

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    dinamarqueses. Neste contexto, a herana da civilizao romana era sempre

    considerada particularmente fundamental. A misso do Imprio Romano, em

    alguns trabalhos de literatura (incluindo livros para crianas e trabalhos polticos),

    passaram a retratar a transmisso da civilizao clssica (e cristandade) para

    antigos bretes, que, ento, formavam uma parte importante da origem racial

    mista da populao inglesa moderna. A herana romana tambm serviu para

    retratar as classes inglesas educadas como sucessoras da elite imperial romana.

    Examinarei alguns dos caminhos nas quais as duas idias, romana e

    nativa, comearam a ser incorporadas como uma representao da anglicidade

    no final do sculo XIX e incio do XX e o papel da Arqueologia neste processo.

    Durante o final do sculo XIX e incio do XX, um grande nmero de trabalhospopulares relacionados a origem do ingls foram produzidos e alguns relatos

    sero levados em considerao a seguir. Cientistas naturais, gegrafos e

    antroplogos procuravam usar as necessidades do imprio para justificar a

    expanso do ensino e pesquisa em seus campos de investigao neste perodo 18.

    Assim como objetos que eram dominados por cavaleiros amadores passaram a ter

    um carter acadmico crescente dado por estudiosos, estruturas para carreira

    comearam a existir19. A Arqueologia Romana, sob influncia de Francis

    Haverfield, foi um dos objetos de estudos que conseguiram credibilidade

    acadmica20

    Argumentarei que a relevncia imperial da Arqueologia Romana foi

    resultado, em parte, da viso de Haverfield sobre o valor da Romanizao para a

    definio do carter ingls. A Romanizao foi usada para ajudar a corrigir uma

    primeira imagem que sugeria que um pouco da civilizao romana fora transmitida

    para os antigos bretes. Esta idia foi alcanada a partir do desenvolvimento de

    um significado no qual civilizao era tida como algo que poderia ser transferido. A

    Romanizao estava baseada em uma definio de oposio binria entre nativos

    18 Symonds 1986: 1. Veja tambm Stray (1998: 247, note 33) para a fundao de vrias sociedadesacadmicas em diversos campos entre 1892 e 1907.19 Stray 1998: 136.20 Freeman 1997.

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    brbaros e romanos civilizados era o processo pelo qual o breto (ou europeu)

    no civilizado alcanava a civilizao21.

    A teoria da romanizao se encaixa em um contexto no qual muitos de

    escritores populares e polticos estavam buscando uma continuidade nas imagens

    da vida nacional inglesa22. Alguns trabalhos populares vitorianos ou do incio do

    sculo XX sugeriam que os romanos clssicos passaram para os ingleses uma

    civilizao que se dirigiu quase que diretamente para os estado moderno ingls.

    Por meio deste processo de civilizao, Roma parecia, tambm, ter transmitido

    seu prprio esprito imperial para os ingleses. A civilizao, religio e habilidade

    imperial inglesa foram traadas de encontro ao passado romano de maneira que

    os nativos da Britnia romana sempre foram vistos como tendo adotado acivilizao romana e melhorado, em um grande esforo para criar a moderna

    Inglaterra e o Imprio Britnico. Incorporado a esta distinta mistura racial inglesa,

    havia o valente esprito dos antigos bretes que se opuseram a Roma. Neste

    contexto, algumas pinturas da Britnia romana deram uma viso nacionalista de

    uma provncia britnica distintamente civilizada uma sustentao linear para a

    moderna Inglaterra.

    O interesse por linhas de continuidade na vida nacional da Inglaterra

    estruturaram trabalhos acadmicos e populares e a Arqueologia Romana veio a

    ter um valor distinto como parte da representao da anglicidade. Os tipos de

    analogias que foram feitos entre Britnia e Roma, durante os sculos XIX e XX,

    influenciaram, profundamente, o carter dos estudos de Haverfield que, por sua

    vez, influenciou aqueles que estavam por vir. Acadmicos selecionaram imagens

    21 O trabalho de Haverfield proporcionou a base que ir ser chamada interpretao progressiva daromanizao. A interpretao progressiva levou crenas sobre a civilizao imperial alm dos anosde 1970 (Hingley 1996, 2000).22 Raphael Samuel sugeriu que, embora os historiadores estejam preocupados com a pesquisaemprica, eles incorporam, sem se darem inteiramente conta, as estruturas profundas dopensamento mtico (1998: 14). O pensamento mtico refere-se a vises mais amplas dasociedade como as representadas em grandes grupos de idias e mdia como os trabalhospopulares e os escritos polticos. Samuel atribui a adoo deste pensamento mstico ao desejo dosestudiosos em estabelecer linhas de continuidade ou a importncia simblica ligada permannciada vida nacional ou a uma teleologia no discutida e no explcita, mas que a tudo engloba.

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    de uma histria mtica que projetaria a estabilidade da vida nacional e contriburam

    para a representao da anglicidade. Ser argumentado que um dos resultados

    deste processo foi o desenvolvimento da Arqueologia Romana na Britnia sob um

    carter nacional distinto. De fato, a teoria arqueolgica durante o sculo XX serviu

    para projetar muitas vises populares que substituram os limites do estado

    nacional ingls pelo passado romano23.

    Para examinar estes pontos em seguida, estabelecerei cinco tpicos que

    sero produzidos para ilustrar a contribuio do romano clssico a representao

    da anglicidade.

    2. Cinco Tpicos:

    Estes tpicos so: os antigos celtas como indianos; o ingls como romano

    clssico; a resistncia nativa aos romanos; a herana imperial da tocha da

    civilizao e anglicidade.

    Os antigos celtas como indianos, os ingleses como os romanos clssicos

    A presena dos romanos na Britnia registrada pelo menos de duas

    maneiras fontes histricas e monumentos arqueolgicos. Os relatos de

    historiadores clssicos que escreveram sobre a invaso e ocupao da Britnia

    foram utilizados, com freqncia, por vitorianos e eduardianos para ajud-los a

    entender os primrdios da histria da Britnia24. Estas fontes proporcionaram um

    retrato de um povo brbaro e no civilizado os antigos bretes. Muitos

    perceberam que os antigos bretes eram mais semelhantes aos povos nativos das

    colnias do imprio Britnico moderno do que a populao da Inglaterra. A

    presena dos romanos tambm foi atestada por meio da evidncia fsica dos

    edifcios e estruturas construdas durante o perodo de ocupao. As runas dos

    23 Veja Braund 1996: 179.24 Por exemplo, Conybeare 1903, Green 1900 e Scarth 1883.

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    monumentais e impressionantes edifcios da poca romana sobreviveram ao

    perodo moderno (por exemplo, a muralha de Adriano, Wroxeter e Pevensey)25.

    Uma imagem claramente definida na Inglaterra do final do sculo XIX foi

    colocada sobre o carter da Britnia romana como um paralelo para a ndia

    britnica, um paralelo que produziu uma srie de lies histricas 26. Romanos e

    bretes, sob esta perspectiva, eram vistos como distintos, assim como os ingleses

    eram da populao nativa da ndia britnica27. A populao romana da Britnia era

    sempre percebida como sendo constituda por funcionrios e oficiais imperiais que

    viviam em cidades fortificadas, fortalezas e suntuosas villae; os antigos nativos

    bretes eram pensados como amontoados ao redor deles, mas afastado. Estes

    celtas eram, de fato, vistos como uma populao inferior, sujeita hegemonia daclasse dirigente de oficiais romanos (figura 1).

    O paralelo entre ndia Britnica e Britnia Romana no era sempre exata,

    mas isto no parece ter afetado seu valor. Bertram Windle em seu Vida no incio

    da Britnia (1897), considerou o carter essencialmente militar da ocupao

    romana na Britnia e mencionou fortes, estradas militares, grandes cidades

    fortificadas, as muralhas romanas e as magnficas villae que foram construdas

    por oficiais romanos28. A villa em Vectis, no romance de A. J. Church de 1887 era

    propriedade do Conde da Costa Saxnica, um oficial que retornou para Roma

    com o exrcito durante sua retirada. Fletcher e Kipling, escrevendo em 1911,

    viram as villae da Britnia como as casa dos oficiais imperiais romanos que foram

    enviados a Britnia ou se estabeleceram l; outros autores e artistas tambm

    tiveram interpretaes similares (figura 2).

    Considerando os oficiais romanos no contexto dos oficiais britnicos na

    ndia, uma conexo foi feita entre a Inglaterra contempornea e os romanos

    25 Veja Johnson 1989.26 Veja Haverfield 1912, Hingley 1995 e Majeed 1999.27 Haverfield 1912: 19.28 Windle 1897: 11. Para vises comparativas veja, por exemplo, Green, 1900: 4-5 e Rait e Parrott1909: 11.

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    clssicos. Mesmo que, s vezes, os ingleses eram percebidos como descendente

    de origem teutnica, eles teriam aprendido as lies de civilizao e organizao

    imperial proporcionadas pelos romanos clssicos. Em contraste com esta herana

    racial, a populao cltica do norte e oeste *** da Britnia teriam derivado sua

    herana das populaes pr-romanas das ilhas britnicas. Para alguns ingleses

    deste perodo, os antigos bretes eram percebidos como parentes dos irlandeses,

    galeses e escoceses, muitos estudiosos vitorianos afirmaram que a partida dos

    romanos no sculo V deixaram os bretes quase como os celtas quando foram

    encontrados por eles29. Considerou-se que os celtas no civilizados da Inglaterra

    foram derrotados e massacrados, ou ento foram expulsos para o norte e oeste

    pelos ancestrais dos ingleses, os amantes da liberdade teutnicos (figura 3). Por

    exemplo, o reverendo professor A. J. Church em seu romance, acima citado,escreveu sobre a partida das legies romanas em 410 d.C. e os problemas

    subseqentes quando os bretes voltaram aos seus hbitos celtas pr-romanos.

    Quase no final do romance, depois da partida dos romanos (inclusive o Conde), os

    bretes jogaram fora toda a cultura adquirida dos romanos e ... todos os sinais

    daquela sujeio ...30 Eles retornam aos hbitos e vesturios bretes. Este era o

    sonho de Ambiorix, um de seus lderes, ... deixar a Britnia como se os romanos

    nunca a tivessem conquistado31. Os ingleses modernos teriam aprendido a lio

    dos romanos mais por meio do acmulo de experincia que por uma forma direta

    de herana.

    No contexto da imagem das origens teutnicas, muitas das atividades dos

    antiquaristas deste perodo estavam diretamente relacionadas aos monumentos e

    vestgios deixados pelos primeiros ingleses medievais esta poca ocupava o

    esprito como resultado de sua religiosidade e o desejo de permanecer prximo a

    uma identidade inglesa32. A Arqueologia dos antigos bretes e dos bretes-

    ***Nota do revisor da traduo: o norte e o oeste representam as duas reas no inglesas da Gr-Bretanha, respectivamente a Esccia e o Pas de Gales.29 Haverfield 1912: 19.30 Church 1887: 286.31Ibid.32 Levine 1986: 98. Veja tambm Haverfield e Macdonald 1924: 84-7; Smiles 1994: 125 e Henig1995: 186

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    romanos permaneceu relativamente sem desenvolvimento at o incio do sculo

    XX. A relevncia de ambos, romanos e antigos bretes, para as origens raciais e o

    destino da nao parece limitado a muitos vitorianos. Os monumentos de

    populaes pr-histricas sempre parecem ter tido relevncia limitada, enquanto

    que os fortes romanos, as villae e cidades, freqentemente, foram interpretados

    como as casas e postos de oficiais e outros colonos da prpria Roma33. Eles eram

    percebidos, talvez, para apresentar um paralelo histrico para o estilo de vida dos

    oficiais britnicos na ndia, mas no tinham uma ligao direta a histria nacional

    inglesa.

    A resistncia nativa

    Muitos autores eduardianos produziram verses dramticas da tragdia de

    Boadicea34. Esta imagem de Boadicea faz parte de uma relao direta da idia dos

    celtas como indianos; aquela que simbolizou o esprito dos nativos britnicos em

    resistncia a Roma. Boadicea era a personagem principal desta histria, mais

    outros eram tambm considerados sob a mesma luz, por exemplo Caratacus e o

    fictcio Beric do romance Beric, o breto de G. A. Henty (publicado em 1893). A

    representao das aes destas figuras hericas vo do sculo XVI at o princpio

    do XIX35, quando Boadicea, em particular, foi adotada como smbolo de inspirao

    para os ingleses em suas aes imperiais36. Um evento de importncia particular

    no desenvolvimento da imagem de Boadicea foi a confeco e levantamento de

    uma esttua sua por Thornyscroft na ponte de Westminster em 190237(figura 4). O

    desenvolvimento deste culto de resistncia nacional a Roma espelha

    acontecimentos similares em outros pases europeus durante a segunda metade

    do sculo XIX, como a criao de um teatro memria a Vercingetorix por

    Napoleo III na Alesia38.

    33 Haverfield e MacDonald 1924: 84; Levine 1986: 79-84 e Hingley 2000.34 Por exemplo Trevelyan 1900; Marshall 1905 e ONeill 1912.35 Ver Warner 1996, Macdonald 1987, Mikalachki 1998, Williams 1999 e Hingley 2000.36 O uso de Boadicea como uma figura de inspirao imperial emerge em um poema do sculoXVIII de William Cowper (veja Hingley 2000).37 Thornyscoft 1932, Webster 1978: 2.38 Dietler 1996; Smiles 1994 e MAN 1994. O conceito de teatro memria derivado de Dietler.

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    No considerarei mais estes argumentos no desenvolvimento do artigo.

    relevante para minha argumentao o tema que Norman Vance discutiu em seu

    livro recente Os vitorianos e os antigos romanos (1997) que, para os ltimos

    vitorianos, a humilhao dos bretes pelos romanos pode ser contada em pelo

    menos duas maneiras; primeiramente pelas histrias de forte oposio dos nativos

    aos romanos imperialistas e, em segundo lugar, com a imagem de que a prpria

    Gr-Bretanha agora se tornou colonizadora de uma parte do mundo maior do que

    a dominada por Roma39.

    A herana da tocha imperial de civilizao

    A idia da Gr-Bretanha como herdeira de Roma aparece em uma grande

    variedade de fontes, incluindo a histria romana das ilhas britnicas, a natureza da

    educao clssica e a interpretao do progresso derivada de uma teoria

    evolucionria darwiniana. Sob esta teoria evolucionria do progresso, a Gr-

    Bretanha poderia ser considerada no s representante da herana de Roma,

    mas tambm sua valorizadora. J. A. Cramb (professor de Histria Moderna no

    Queens College, Londres), em uma aula apresentada em 1900 como reflexo

    sobre o significado da guerra de Boer para os britnicos, por exemplo, argumentou

    que a Gr-Bretanha teria herdado diretamente o esprito imperial de Roma, mas

    teria tambm particularmente o valorizado40.

    No incio do sculo XX escritores sempre expressaram vises semelhantes

    ao projetar a Europa moderna e, em particular, a Britnia como herdeira de Roma.

    O livro popular de J.C. Stobart A grandeza que era Roma foi publicado em 1912,

    quando ele era professor no Trinity College, Cambridge, e o trabalho tem sido

    reimpresso at os dias de hoje. Neste livro, o autor argumenta que Roma

    preencheu um destino ou funo na histria mundial que foi a criao da

    39 Vance 1997: 198.40 Cramb 1900.

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    Europa41. Alm disso, a histria romana teve uma funo. Roma era a maior

    fora civilizadora em toda a histria da Europa. Patriotas britnicos sempre

    argumentaram que estariam exportando a mais iluminada forma desta herana da

    civilizao ocidental para diversas partes do globo.

    Neste contexto, uma ligao histrica direta entre Roma e Bretanha fora

    criada. Em muitos trabalhos eduardianos, o papel fundamental de Roma na

    civilizao dos bretes recolocado. No livro popular infantil de H. E. Marshall, A

    Histria de nossa Ilha (1905), o papel de Roma como aquela que trouxe paz e

    civilizao depois da conquista de 43 d. C. considerado: os romanos

    introduziram boas casas, estradas, a escrita e o cristianismo42. Desta maneira, a

    conquista romana de quase toda Britnia tem sido sempre representada como achave para a origem da Histria inglesa ou britnica. A civilizao foi introduzida;

    estradas, cidades e casas de campo foram construdas. Na cabea de alguns

    autores, uma perspectiva teleolgica foi desenvolvida na qual parece que os

    romanos teriam transferido sua prpria civilizao para a Britnia e a Inglaterra,

    por sua vez, civilizava os povos de seu prprio imprio.

    A dominao poltica e industrial que a Europa exerceu sobre o mundo no

    final do sculo XIX e a teoria do progresso foram tomados como sustentao para

    a reivindicao dos europeus como portadores de um direto moral para liderar

    outros ramos da humanidade43. Muitos vitorianos tardios influentes reivindicaram

    que sua sociedade estava no auge do desenvolvimento social, com todos os

    estgios anteriores da humanidade colocados em uma progresso linear em

    direo a este estado ideal. Tambm era freqentemente argumentado que estes

    povos iriam progredir para um estado moderno atravs da influncia do Imprio

    Britnico44. Esta tradio redesenhou o passado romano e se tornou parte daquilo

    se tornou conhecido como uma perspectiva eurocntrica na qual Roma teria

    41 Stobart 1912: 5.42 Marshall 1905: x.43 Bowler 1989; Bahrani 1999.44 Bowler 1989: 19; veja tambm Levine 1986: 74.

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    sustentado uma particularidade singular uma vez que permitiu que a cultura grega

    clssica fosse transmitida pelo Ocidente45.

    Woolf46 discutiu a idia de que o conceito romano de humanitas tornou-se

    uma justificativa ideolgica para a elite romana que sustentou a conquista e

    dominao e, tais fontes clssicas, foram redesenhadas no final do sculo XIX e

    incio do XX. Para alguns autores romanos humanitas era originria na Grcia

    clssica e foi espalhada em um mundo maior atravs da expanso imperial

    romana. Representando a cultura grega como o primeiro estgio no processo

    universal, autores romanos puderam afirmar a superioridade romana de maneira

    que serviu para contradizer a ansiedade cultural47. Estas idias romanas foram

    valiosas para a elite europia nos sculos XIX e XX e produziram o imperialismoeuropeu. Esta concepo da superioridade ocidental teve um grande papel no

    imperialismo. Roma era interpretada como aquela que trouxe a civilizao clssica

    aos povos brbaros ao longo do imprio e, o ocidente moderno, por sua vez,

    redesenhou estes conceitos clssicos imperiais ao definir seus prprios mitos de

    origem e propsito imperial48. Neste contexto, os imperialistas ocidentais durante o

    final do sculo XIX e incio do XX poderiam argumentar que a transmisso de uma

    civilizao, importada de seu prprio pas pelos romanos clssicos, ajudou a

    justificar seus prprios atos imperiais como misses civilizadoras49. Dvidas,

    freqentemente, eram expressadas sobre a habilidade de no-europeus

    absorverem este presente e uma permanente ajudar era tida como necessria50,

    mas na cabea dos colonizadores, isto no invalidava o valor de tal ddiva.

    No entanto, havia um problema, na Inglaterra, com esta concepo linear

    de civilizao e progresso que relacionou a poderosas imagens da origem

    nacional existentes na sociedade vitoriana britnica e que sobreviveu no sculo

    45 Bernal 1985, 1994; Lefkowitz e MacLean Rogers (edd.) 1996.46 1998, 54-60.47Ibid.48Bernal 1994: 119. Lefkowitz e Maclean Rogers (edd.) 1996 contm um nmero de respostas aoscomentrios levantados por Bernal.49 Bernal 1994, 119.50 Hingley 2000: 51.

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    XX aos celtas como indianos e s razes teutnicas. A imagem cltica/indiana

    sugeria que muito pouco da civilizao romana fora transferida para os antigos

    bretes durante a ocupao daqueles, enquanto que a imagem teutnica das

    origens raciais sugerem que o ingls era, de qualquer forma, descendente dos

    teutnicos ou anglosaxes, que teriam eliminado os antigos bretes. Qualquer tipo

    de herana da civilizao romana fora, portanto, resultado da educao clssica

    mais do que qualquer forma de herana gentica. Em ltima instncia, qual era a

    relevncia dos antigos bretes e romanos clssicos para a histria domstica

    inglesa?

    Anglicidade

    A representao da anglicidade tem uma longa histria de

    desenvolvimento, surgindo a partir das linhagens polticas emergentes dos anos

    de 1880 e como resultado, em parte, de uma crise geral da sociedade urbana 51.

    Uma resposta cultural iniciando nos anos de 1890 e 1900 espalhou rapidamente

    pela arte, literatura, msica e arquitetura inglesa por volta de 1914. Iniciando antes

    da I Guerra Mundial, mas atingindo seu auge no perodo entre guerras,

    desenvolveu um novo movimento de caadas ao ar livre quando a vida no campo

    se tornou uma forma de lazer acessvel52.

    Esta representao da anglicidade era, freqentemente, organizada a partir

    da concepo de uma populao unida vivendo em uma idlica rea rural inglesa

    no sudeste53. Sugeriu-se que esta era uma histria coesiva, oficial e inerentemente

    conservadora para ser contada diante da insegurana domstica e imperial54. Nos

    anos de 1920 desenvolveu-se mais como uma resposta da grande perda de vidas

    durante a I Guerra Mundial. Uma grande quantidade de livros de histrias

    populares, romances e livros para viagem foram publicados no perodo entre-

    51 Howkins 1986; Stray 1998: 173-9.52 Howkins 1986.53 Uma grande quantidade de livros importantes focalizava a regio rural inglesa do sudeste eignorava as do norte e oeste (Breese 1998).54 Breese 1998.

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    guerras com Inglaterra em seus ttulos e muitos produziram imagens retrgradas

    ou passadistas55.

    A representao de anglicidade em trabalhos de autores influentes

    focalizaram o ideal de permanncia de uma histria nacional inglesa 56. Um grande

    nmero de autores no final do sculo XIX e incio do XX comearam a desenvolver

    uma imagem de anglicidade que trazia novas respostas as perguntas sobre a

    origem inglesa. Esta representao de anglicidade definiu o ingls como uma raa

    misturada da ilha que teve sua herana racial organizada a partir de diversos

    povos que viveram na Britnia no passado. A herana racial derivava, agora, no

    s dos povos germnicos, mas tambm dos antigos bretes, romanos,

    dinamarqueses e normandos57. Esta herana inclua a inspirao dos valentes eantigos heris bretes e tambm a transmisso da civilizao dos romanos

    clssicos.

    Na cabea de alguns autores do final das pocas vitorianas e eduardianas,

    a imagem dos celtas como indianos comeou a se fragmentar como tambm se

    concebeu que a civilizao clssica romana teria sido transmitida a populao

    britnica, ao menos em alguns segmentos. Entre todos estes fatos, dois

    elementos ajudaram a desenvolver esta interpretao da origem nacional.

    Primeiramente, havia um conceito que Roma transferiu a civilizao de antigos

    povos aos ingleses do presente e, em segundo lugar, ao menos alguns

    descendentes destes antigos bretes civilizados sobreviveram invaso anglo-

    sax para trazer a civilizao a mistura racial que formou a moderna nao

    inglesa.

    O professor J. Rhys, em seu livro Primrdios da Britnia Britnia Cltica,

    publicado em 1882, escreve sobre a influncia romana nos bretes nativos. Notou

    a disseminao do cristianismo, alguns conhecimentos da instituio municipal e

    55Ibid.56 Veja observaes de Samuel sobre a permanncia d vida nacional.57 Para uma viso contrastante do sculo XX sobre as origens nacionais que continuaram a serproduzidas a partir de grupos germnicos veja White 1971.

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    tambm o desenvolvimento da lngua latina. Percebeu, no entanto, que boa parte

    desta cultura estava restrita as Fortalezas das partes latinizadas em York,

    Lincoln, Colchester e Londres58. H. M. Scarth publicou um livro no ano seguinte

    entitulado Primridos da Britnia Britnia Romana59. Scarth sugere que os

    colonizadores romanos casaram-se com os nativos e, como resultado, o

    sangue romano misturou-se com o da populao e, desde ento, flui nas veias

    inglesas...60 Neste sentido, ao implantar colnias romanas resultou em uma

    grande mudana nos hbitos e maneiras da populao61. Isto incluiu a introduo

    do cristianismo, que nos ltimos tempos foi revisto e reacendido e, ento, se

    tornou permanente62. Outros autores exploraram o tpico da contribuio romana

    para a civilizao inglesa63.

    Haverfield oferece uma soluo clara e intelectualmente aceitvel para este

    problema de como a civilizao romana se espalhou sobre os antigos bretes.

    Este autor desenvolveu uma interpretao persuasiva da Romanizao em seu

    livro A romanizao da Britnia romana, primeiramente publicado em 1905 e

    reeditado muitas vezes durante os anos de 1910 e 192064. De fato, na viso de

    Haverfield, a antiga Britnia realmente se tornou romana por meio de um processo

    conhecido como Romanizao. Alguns autores anteriores sugeriram que os

    habitantes das villae da Britnia romana eram oficiais de Roma. No relato de

    Haverfield, no entanto, muito dos habitantes da elite das fazendas eram tidos

    como aqueles que romanizaram os nativos bretes. Haverfield tambm

    argumentou enfaticamente que a idia de um grande grupo de colonos romanos

    vivendo em cidades, fortes e villae entre uma imensa populao de nativos

    bretes era imprecisa; esta postura ajudou a erradicar a idia do celta como

    indiano65.

    58 Rhys 1882: 100.59 Scarth 1883: 220.60Ibid.61Ibid: 181.62Ibid: ix.63 Alguns destes so explorados em Hingley 2000.64 Haverfield 1905, 1912 e 1915.65 Mesmo depois da publicao deste importante trabalho de Haverfield, no entanto, muitasimagens da romanizao persistiram, como a imagem do indiano/celta que persistiu em alguns

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    Como a civilizao romana pode ser transmitida para aos ingleses

    modernos se os anglo-saxes massacraram todos os bretes depois da retirada

    dos romanos? No final das eras vitorianas e eduardianas, um grande nmero de

    autores argumentaram que elementos da civilizao dos romanos passaram para

    os britnicos modernos devido sobrevivncia de algumas populaes durante a

    invaso anglo-sax66. A existncia do cristianismo na antiga Britnia e moderna

    Bretanha e a suposta sobrevivncia de uma para outra, proporcionou parte do

    contexto para este desejo de encontrar a continuidade67.

    As idias de sobrevivncia gentica e herana romana vieram a ter papis

    distintos no discurso imperialista do sculo XX. Em seu livro O Imprio Britnico,Sir Charles P. Lucas afirmou que, embora no sculo V todos os vestgios das

    regras romanas desapareceram, as longnquas terras do norte nas terras altas da

    Esccia Britnica se mantiveram mais ou menos unidas sob a administrao

    romana. Neste contexto, sangue romano foi misturado com o dos nativos

    bretes68. Lucas percebeu que era difcil supor que a futura Inglaterra no se

    originaria da fora deste povo maravilhoso que forneceu lei, estradas e

    governo para grande parte do mundo de ento69. Lucas tambm sugeriu que o

    esprito combativo... entrou no sangue ingls. O autor afirmou que esta mistura

    produziu um povo forte e de sucesso e argumentou que as muitas e grandes

    diversidades ... no Imprio Britnico ir ... ser, em ltima instncia, uma fonte de

    fora e no de fraqueza70. Na viso de Lucas, esta herana romana tem um papel

    imperial distinto para o ingls no mundo moderno71.

    segmentos da sociedade (veja Hingley 2000).66

    Por exemplo, J. Rhys afirmou que era provvel que as populaes antigas da Britniasobreviveram a conquista anglo-sax (1882), enquanto que H. M. Scarth argumenta que ascolnias de Roma e a cultura se espalhou na Britnia sobreviveu a partida dos romanos e ainvaso anglo-sax (1883: ix).67 Outros trabalhos desenvolveram idias semelhantes sobre cristianismo e sobrevivncia racial(veja Conybeare 1903 e Locke 1878).68 1915: 6.69Ibid.70Ibid.71 Hingley 2000.

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    Idias da sobrevivncia racial e civilizao tiveram um papel importante nas

    imagens de anglicidade durante o princpio do sculo XX. Lucas adotou uma

    aproximao quase religiosa na maneira como as sucessivas virtudes raciais dos

    bretes, romanos, dinamarqueses, saxes e normandos se combinaram em uma

    mistura para inventar os criadores do Imprio Britnico 72. Mistura racial como fonte

    para a forte raa inglesa evidentemente teve um papel distinto na ideologia do

    propsito imperial. A idia de que a populao da Inglaterra e Britnia era

    geneticamente misturada serviu para proporcionar um mito de origem mais aberto

    que a imagem teutnica, uma idia que poderia servir para criar um maior sentido

    de unidade para o povo britnico. Fundamentalmente, a herana do esprito

    imperial dos romanos clssicos tambm deu, de se supor, ao ingls um papel

    distinto na direo da poltica imperial em contraste com os galeses e escoceses.O trabalho de Haverfield sobre romanizao sugere que os romanos no

    civilizaram os galeses e escoceses at o mesmo nvel dos ingleses 73. A Britnia

    romana, por isso, foi significativa na definio do imperialismo e civilizao

    moderna inglesa.

    Depois da I Guerra Mundial, esta idia da fora racial derivada de uma

    mistura tnica continuou a ser desenvolvida. Alguns relatos deste perodo

    consideram, com grandes detalhes, as maneiras nas quais a Bretanha moderna

    estava relacionada a Roma clssica. Neste sentido, eles redefiniram o caminho no

    qual a tocha da civilizao foi transferida entre os dois imprios to distanciados

    pelo tempo. Como resultado, uma forte idia teleolgica das origens nacionais

    lineares inglesas continuaram a se desenvolver mesmo depois do final da Primeira

    Guerra.

    O livro Britnia Romana do arquelogo e filsofo Robin G. Collingwood foi

    publicado em 1923. Considerando a histria ps-romana da Britnia, Collingwood

    seguiu os autores anteriores ao argumentar que uma grande massa de bretes

    72 Symonds 1986: 51-3.73 Os distritos civis da Britnia romana de Haverfield cobrem somente as terras baixas, o norte eoeste permaneceram como um distrito militar .

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    deve ter sobrevivido invaso anglo-sax, quando cidades e fazendas foram

    destrudas74. A raa britnica, neste contexto, de acordo com Collingwood, no era

    composta somente do sangue saxo, normando e dinamarqus, mas tambm o

    dos antigos bretes. Collingwood continuou especulando que o carter expresso

    no trabalho de grandes artistas ingleses era derivado diretamente da arte de

    natureza romano-britnica75. Por meio deste esquema, criou uma concepo linear

    da histria inglesa tendo como meio o estilo da arte romano-britnica e inglesa

    moderna.

    Stanley Baldwin76 apresentou duas comunicaes em meados dos anos de

    1920 que ajudaram a identificar o significado do Imprio Romano para a elite

    dirigente inglesa do perodo. Sobre a Inglaterra e o Oeste, apresentado a RoyalSociety de St. George em 1924, a definio e celebrao da anglicidade na qual

    Baldwin trabalha sobre uma variedade de concepes, incluindo a da Roma

    clssica. Referindo-se a Roma, argumenta que os ingleses herdaram um esprito

    imperial e a carga do imprio dos romanos clssicos. Em sua comunicao

    presidencial para a Classical Association em 1926, Baldwin desenvolveu uma

    idia da herana racial romana dos ingleses com muitos detalhes. Iniciou com o

    valor dos clssicos para o presente enfatizando a conexo geogrfica entre a

    Britnia e Roma77. O apelo de Baldwin para a ancestralidade romana dos ingleses

    parece ter sido desenvolvido a partir das idias ressaltadas por Sir Charles Lucas,

    no entanto, ressalta a continuidade gentica, mesmo mais tarde ao definir o

    carter dos ingleses.

    A idia da ancestralidade romana dos ingleses parece ter se tornado um

    tpico importante nos anos de 1920. Arthur Weigall, seu livro Errantes pela

    Britnia Romana (1926) expressa um desejo de demonstrar uma conexo prxima

    dos britnicos do presente e os romanos78. Os romanos trouxeram civilizao74 Collingwood 1923: 100.75Ibid: 101.76 Baldwin (1867-1947) foi educado no Harrow e Trinity College, Cambridge. Foi primeiro-ministroda Gr-Bretanha em vrias ocasies entre 1923 e 1936.77 1926: x.78 Weigall 1926: 16.

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    para os britnicos, mas ... o sangue dos romanos somente passou por 45

    pessoas para atingir nossas veias...79. Aceitou que depois da queda de Roma, a

    chegada dos anglo-saxes e normandos aumentaram a mistura; no entanto,

    considerou que o sangue de diversos romanos est nas veias dos ingleses80.

    Observando a invaso romana, considerou que ela introduziu em nosso sangue

    algo da grandeza que foi Roma que ajudou a enviar-nos a aventura e conquista

    de toda a face da terra81.

    A popularidade do conceito de origem racial mista, nesta poca, pode ser

    vista em um contexto de desejo de encontrar uma ideologia que pudesse unir

    supostas raas brancas da Inglaterra, Gr-Bretanha e o Imprio. Ao mesmo

    tempo, como pudemos perceber, isto deu ao ingls um papel imperial diferenciadodentro do Reino Unido, como herdeiros da civilizao imperial romana. Isto pode

    tambm, no entanto, refletir um consenso sobre a crescente ameaa poltica da

    Alemanha neste perodo e o desejo de criar uma clara distino racial entre

    ingleses e alemes.

    Os comentrios de Windle, Baldwin e outros82 desenvolveram uma srie de

    vises que foram expressadas, anteriormente, pelos autores eduardianos. A

    nfase na incluso dos romanos em uma viso geral do carter ingls, contudo,

    proporcionou um novo discurso de anglicidade, como o apelo a uma herana

    racial romana parece ter se tornado muito grande nos anos de 1920. Estes

    conceitos de anglicidade continuaram a se desenvolver muito bem ainda no sculo

    XX83. Por exemplo, Humfrey Grose-Hodge publicou seu livro Panorama romano: a

    base para hoje em 1944, um pouco antes do final da II Guerra Mundial. Grose-

    Hodge sugeriu que embora o povo romano tivesse morrido h muito tempo, a Itlia

    79 Ibid: 20. Tambm considerou uma certa mistura do sangue anglo-saxo e normando, masdesejou, evidentemente, enfatizar a conexo das populaes britnicas modernas com osbretes/romanos civilizados.80 Weigall, 1926: 20.81Ibid: 28.82 Alguns outros relatos importantes so considerados em Hingley 2000.83 A idia de que a fora da nao inglesa deriva mistura racial no estabelecimento da ilha aindaexiste na sociedade contempornea britnica (veja o comentrio de Norman Tebbit, destacado porWlash, 1997: 87).

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    fascista no percebeu o fato. O carter do povo romano, no entanto, continuou

    como ancestral direto dos ingleses84. Afirmou que ... em aes, somos

    romanos85.

    O apelo de Grose-Hodge por uma ancestralidade romana repete vises

    anteriores, mas tambm pode ser vista no contexto do desenvolvimento do

    imaginrio romano imperial de Benito Mussolini. Mussolini mencionou diretamente

    a Roma clssica ao desenvolver suas prprias ambies imperiais, algumas vezes

    inclinado em oposio ao Imprio Britnico86. Grose-Hodge estava, talvez,

    procurando conter os esforos de Mussolini trazendo a civilizao clssica romana

    para perto da Inglaterra. A civilizao romana nos anos de 1940 pode ter sido

    atrativa para alguns, mas o imperialismo romano era menos admirado. A luzdestes acontecimentos na Itlia, muitos lembraram dos aspectos despticos da

    natureza das regras romanas. Em meados dos anos de 1930 e 1940, Roma

    passou a ser vista como modo de despotismo estrangeiro uma ameaa a

    segurana nacional ao invs de uma grande civilizao que proporcionou morais

    imperiais.

    3. Resumo:

    Embora o mito das origens teutnicas inglesas no tenha desaparecido de

    repente no final do sculo XIX, a imagem de uma herana racial dos romanos

    parece tornar-se mais popular durante os anos de 1890 e aumentando nos anos

    84 1944: 10.85Ibid.86 Veja Clark 1939; Manacorda e Tamassia 1985; Moati 1993: 130-42; Quatermaine 1995; Stone1999 e Terrenato 1998.

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    de 1920. Sugeri que se tornou politicamente til para a elite produzir, naquele

    momento, ambas idias, a herana da bravura dos antigos bretes e civilizao

    dos bretes nativos pela Roma imperial. Carregar a herana dos antigos bretes e

    dos romanos da Britnia para o mundo moderno exigiu, ao menos, a

    sobrevivncia de parte da populao romano/britnica durante a conquista anglo-

    sax e, por isso, o declnio do mito teutnico. A idia da mistura racial tambm se

    tornou aceitvel na interpretao arqueolgica da Histria da Bretanha durante o

    sculo XX87.

    A idia de herana da civilizao romana pelos ingleses teve um impacto

    na arqueologia britnica. A. L. F. Rivet, em 1959, comentou sobre um mito que se

    desenvolveu no contexto britnico como resultado do trabalho de Haverfield.Haverfield, por meio de seu trabalho sobre a romanizao, corrigiu uma idia

    predominante na qual a Britnia era uma provncia habitada por romanos ricos

    (freqentemente generais) por um lado e massas selvagens de bretes servis88.

    Conseguiu isto ao apontar que bretes e romanos no eram conceitos

    mutuamente excludentes. Rivet sugeriu que o relato de Haverfield resultou, no

    por sua falta, em um novo mito da Britnia como ... uma provncia to

    verdadeiramente britnica que nenhum agricultor estrangeiro ousaria mostrar sua

    face nela89.

    Rivet no menciona em partes especficas do trabalho que estava

    pensando neste contexto, mas alguns escritos de outros autores, que foram

    revistos neste artigo, deveriam estar em sua cabea90. Muitos textos de princpios

    do sculo XX possuem uma viso linear e teleolgica da histria domstica

    inglesa. Alguns relatos parecem sugerir que os romanos transmitiram para os

    87 Por exemplo, Hawkes e Hawkes 1947. Jones discute uma idia contrria ao mito germnico nosprimrdios da arqueologia medieval (1996), mas a idia de origem racial mista dominou muito opensamento arqueolgico, particularmente nos estudos de pr-histria.88 Rivet 1958: 29.89Ibid.90 Acrescenta-se ainda que neste artigo Rivet criticou a interpretao Britnia romana de RudyardKipling no livro Puck of Pooks Hill pela interpretao nacionalista do passado e este trabalhodeveria estar em sua cabea quando escreveu os comentrios de 1958 (Rivet 1976, Hingley 2000).

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    ingleses uma civilizao romano/britnica singular que conduziu diretamente a

    Inglaterra moderna. Como resultado, o esprito ingls traado em direo ao

    passado romano de uma maneira na qual os nativos puderam adotar a civilizao

    romana e aperfeio-la em um esforo ativo de criar a Inglaterra moderna. O

    bravo esprito dos antigos bretes que se opuseram a Roma fora incorporado a

    esta distinta mistura racial inglesa. Como Rivet enfatizou, algumas gravuras

    populares da Britnia romana deu uma viso nacionalista de uma provncia

    britnica civilizada um conceito inerentemente excludente. O interesse sobre

    linhas de continuidade na vida nacional da Inglaterra estruturou trabalhos

    acadmicos e populares e a Arqueologia romana teve um papel distinto. Teorias

    arqueolgicas e objetos recolhidos por meio da prtica arqueolgica ajudaram a

    justificar as imagens de anglicidade.

    David Braund argumentou que os estudos romano-britnicos no foram

    menos insulares do que se objeto. Por todos os lados, a ilha formou uma proteo

    para um grupo de estudiosos claramente definidos que conduziram trabalhos de

    um tipo especfico. Estes comentrios ecoam os de Rivet. Imagens populares

    produziram uma pintura da provncia to britnica que nenhum romano ousaria

    pisar nela e a teoria arqueolgica se desenvolveu, talvez, sobre uma ampla base

    comparvel. O auto controle e exclusivo carter dos estudos romano/britnicos foi

    construdo, ao menos at determinado nvel, sobre o valor distinto da Arqueologia

    romana para os britnicos no cotidiano do Imprio91. Acredito que ambos, a

    imagem popular e as interpretaes arqueolgicas, refletem um carter comum,

    um interesse com relao a origem nacional inglesa.

    O trabalho de Haverfield teve a maior influncia no desenvolvimento desta

    nfase nacionalista na Arqueologia romana sobre a Britnia. A teoria de Haverfield

    sobre a Romanizao serviu para sustentar uma tradio que se desenvolvia em

    seu tempo. Proporcionou credibilidade acadmica para a idia que uma ligao

    racial direta levava a civilizao romana at a moderna Inglaterra. O trabalho de

    91 Hingley 2000.

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    Haverfield foi utilizado por outros estudiosos de uma maneira no pretendida por

    ele92; de fato, os comentrios de Rivet sugerem que este o ponto. provvel, no

    entanto, que o trabalho de Haverfield fora inspirado em um desejo inconsciente de

    estabelecer linha de continuidade na histria nacional por meio da herana da

    Inglaterra da civilizao europia. Isto pode ter gerado um caminho lgico para

    desenvolver uma idia de romanizao no perodo eduardiano, mas argumentaria

    que tais interesses sobre a herana da civilizao ocidental criaram uma nfase

    nacional particular na aproximao da Britnia romana e a identidade ocidental93.

    Estudiosos modernos que estudaram a Britnia romana herdaram esta nfase

    nacional e gostariam, agora, de reconsiderar tais aproximaes ao passado

    romano. A reintegrao dos estudos romano/britnicos nos estudos clssicos mais

    amplos serve para questionar este problema94, mas para procurar acabar com estasituao, fundamental que aspectos eurocntricos da Arqueologia Clssica

    tambm sejam objeto de uma crtica adequada.

    92 Freeman indicou, claramente, os contatos europeus de Haverfield e o interesse sobre os estudosdos romanos no Continente e, portanto, sua sugesto que o interesse de Haverfield est focalizadona Europa Ocidental como um todo apropriado (Freeman 1996. Veja tambm MacDonald 1924).93 Veja os comentrios da introduo como base para esta hiptese.94 Veja Hingley 2000, 165.

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