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I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL E SEU IMPACTO SOBRE A
QUALIDADE DA CARNE BOVINA
Mario Luiz Chizzotti1, Pedro Veiga Rodrigues Paulino2, Marcio Machado
Ladeira1, Leandro Samia Lopes1, Otávio Rodrigues Machado Neto1 Julimar do
Sacramento Ribeiro3
1 – Universidade Federal de Lavras; 2 – Universidade Federal de Viçosa; 3 –
Universidade Federal de Alagoas
1-) INTRODUÇÃO
Em sistemas de produção animal, os custos com alimentação
respondem por mais da metade dos custos totais de produção. No Brasil,
especificamente neste ano de 2011, também se observa um marcante aumento
nos preços do milho e dos demais alimentos energéticos e protéicos, em
relação aos anos anteriores, o que poderá impactar de forma negativa no
número de animais alojados em sistema de confinamento no país.
Portanto, verifica-se que a eficiência de utilização dos alimentos por
parte dos animais é uma variável que tem grande impacto sobre a rentabilidade
de sistemas de produção de bovinos. Na pecuária de corte, a maioria dos
programas de melhoramento genético enfatizam apenas a seleção para
aumento dos pesos nas diferentes idades, ganho de peso diário, circunferência
escrotal, características de carcaça e até mesmo o desempenho reprodutivo
(Lanna & Almeida, 2004), sem se atentar para a diminuição dos custos com
alimentação. Ou seja, não há atualmente preocupação em se reduzir a
quantidade de alimento consumido para cada quilo de carne produzida.
Melhorias em eficiência alimentar podem levar à redução dos custos de
produção e à melhoria do sistema de produção como um todo (Nkrumah et al.,
2006). Uma melhoria de cerca de 5% na eficiência alimentar pode ter como
consequência um beneficio econômico quatro vezes maior que um aumento de
5% no ganho de peso médio diário (Gibb & McAllister, 1999). Basarab et al.
(2007) sugeriram que a melhor forma de reduzir os custos de produção é
através da seleção de touros que são naturalmente mais eficientes, uma vez
que 80 a 90% do melhoramento genético em um rebanho é realizado através
dos machos. Um touro considerado eficiente em termos de utilização dos
alimentos tem a capacidade de passar esta característica para a sua progênie,
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resultando em economia na alimentação de bezerros do nascimento ao abate e
também na alimentação de novilhas de reposição (Smith, 2009).
A grande maioria das medidas de eficiência alimentar está relacionada
uma às outras (eficiência alimentar e conversão alimentar, por exemplo) e o
que é mais importante, tem alta correlação com a taxa de crescimento. A
medida mais conhecida de mensuração de eficiência alimentar é a conversão
alimentar (relação entre o consumo de matéria seca e o ganho de peso), sendo
que a relação inversa (eficiência alimentar) é também frequentemente utilizada
na pecuária de corte. Segundo Carstens (2003), o grande problema dessas
medidas de eficiência alimentar reside no fato de que são altamente
correlacionadas com a ingestão de alimentos e a taxa de ganho de peso, além
de terem correlação genética alta com o peso adulto. Portanto, a seleção de
animais tendo a conversão alimentar como critério de seleção, pode ter como
consequência o aumento no peso à maturidade dos animais, o que é
indesejável na pecuária moderna. Além disso, segundo Smith et al. (2009),
animais com conversão alimentar semelhante podem diferir de forma intensa
quanto às suas taxas de crescimento. . A relação entre consumo de matéria
seca e ganho de peso nem sempre é linear e a máxima eficiência em ganho de
peso pode ocorrer em níveis inferiores ao consumo máximo (Ferrell & Jenkins,
1998).
De acordo com Ferrell & Jenkins (1998) um importante inconveniente da
conversão alimentar é a inabilidade desta variável em considerar a utilização
dos alimentos para mantença. Aproximadamente 70-75% do custo energético
(dietético) de produção de bovinos de corte é utilizado na manutenção dos
animais, principalmente das vacas (NRC, 1996). A variabilidade genética nas
exigências energéticas de mantença de bovinos é de moderada a alta (h2 =
0,22 a 0,71), sugerindo uma oportunidade para seleção dos animais mais
eficientes (Basarab et al., 2003). No entanto, conforme relatado por Lanna &
Almeida (2005), a seleção direta para redução das exigências de mantença é
impraticável e parâmetros de eficiência precisam ser identificados a partir do
consumo
Koch et al. (1963) propuseram o conceito de Consumo Alimentar
Residual – CAR (Residual Feed Intake), que é definido como sendo a diferença
entre o consumo de matéria seca observado e o consumo de matéria seca
predito em função da taxa de ganho de peso observada e do peso metabólico
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do animal. Sendo assim, animais mais eficientes tem um CAR negativo
(consumo observado menor que o consumo predito para o ganho de peso
observado) e os animais menos eficientes tem um CAR positivo (consumo
observado maior que o predito). Esta medida de eficiência alimentar apresenta
como vantagem o fato de ser fenotipicamente independente da taxa de
crescimento e do peso vivo dos animais e, conseqüentemente, é uma variável
mais interessante para inclusão em programas de melhoramento genético do
que a conversão alimentar (Kennedy et al., 1993; Archer et al., 2002; Baker et
al., 2006).
A utilização da conversão alimentar como critério de seleção em
sistemas de produção de bovinos de corte pode resultar em aumento do peso à
maturidade dos animais nas gerações subsequentes, o que não é interessante,
principalmente no Brasil, onde a sazonalidade da produção de forragem pode
causar dificuldades na nutrição desses animais, devido às suas maiores
exigências energéticas para mantença. Quando o alimento disponível não é
suficiente para atender as exigências de mantença e crescimento de novilhas
de maior tamanho, por exemplo, a eficiência reprodutiva pode ser
comprometida, visto que esses animais terão mais dificuldade de manter
escore corporal adequado em relação a animais de menor porte (Calegare,
2007).
O consumo alimentar residual é uma característica que apresenta
variabilidade genética entre animais dentro de uma população e herdabilidade
moderada-alta, variando de 0,21-0,47 (Lancaster et al., 2009), tornando-a
passível de ser utilizada em programas de seleção e melhoramento genético.
2-) MENSURAÇÃO DO CAR
O consumo alimentar residual é uma mensuração que deve ser
realizada individualmente nos animais do rebanho, portanto os animais devem
seralimentados individualmente em baias ou em gruposutilizando dispositivos
eletrônicos que mensurem o consumo individual. O custo com a alimentação
individualizada dos animais em baias pode limitar a utilização deste parâmetro
como medida de eficiência alimentar para seleção genética. Entretanto, o uso
de equipamentos eletrônicos de mensuração de consumo individual, que
permite que um número muito maior de animais sejam avaliados por teste,
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pode viabilizar a utilização do consumo alimentar residual em programas de
seleção.
Para que se tenha uma mensuração adequada do CAR, o consumo de
alimentos, o ganho de peso médio diário e o peso corporal devem ser
avaliados por um período pré determinado. Uma vez que os custos com o
manejo dos animais nas condições necessárias para a realização do teste e os
custos com alimentação aumentam à medida que o tempo de duração do teste
aumenta, há necessidade em se definir o tempo ideal de duração do teste que
permita a identificação dos animais mais e menos eficientes dentro de um
grupo. Nos Estados Unidos, testes com 112 dias de duração são considerados
adequados para o teste de touros para taxa de ganho de peso (Franklin et al.,
1987; Kemp, 1990; Brown et al., 1991). No entanto, segundo Archer & Bergh
(2000) testes com tempo de duração entre 70 e 84 dias são adequados para
gerar uma medida acurada de CAR em touros de raças britânicas e de outros
tipos biológicos. Todavia, estas recomendações foram obtidas sem considerar
a natureza de medidas repetidas no tempo, do consumo alimentar e do peso
vivo, durante o teste. Wang et al. (2006), avaliaram o tempo ótimo de duração
do teste para determinação do CAR, utilizando um modelo misto com análise
de medidas repetidas no tempo. Foi verificado que o teste para determinação
do CAR pode ser reduzido para 63 dias sem significativa redução da acurácia,
desde que o peso vivo dos animais seja mensurado semanalmente, o que
pode, no entanto, acarretar em estresse aos animais, interferindo no padrão de
consumo, principalmente em se tratando de animais Zebuínos. Portanto, para
esta prática é necessário um condicionamento prévio dos animais à rotina de
manejo e pesagens ou o uso de dispositivos eletrônicos de pesagem
Diversos fatores podem afetar a acurácia do modelo (valor de R2 da
equação, ou seja, quanto da variação no consumo é explicada pelas variáveis
preditoras: peso corporal e ganho de peso) usado para estimar o consumo de
matéria seca dos animais, incluindo o tipo de dieta, raça e classe sexual. A
inclusão de algumas características de carcaça, mensuradas por ultrassom,
podem melhorar as equações, sendo as mais efetivas, o ganho de gordura de
acabamento e a área de olho de lombo final (Lancaster et al., 2009).
Geralmente, as medidas de carcaça explicam em torno de 9 a 12,5% da
variação observada no consumo (Lancaster et al., 2009), sendo o restante
ocasionado pelo peso corporal e o ganho de peso. Embora a inclusão de
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características de composição de carcaça no cálculo do CAR tenha mínimos
impactos no ranking dos animais, seu uso seria interessante, pois permitiria
reduzir o potencial impacto negativo da seleção para CAR sobre a qualidade da
carcaça (Lancaster et al., 2009).
3-) EFICIÊNCIA ALIMENTAR E METABOLISMO
De acordo com Herd et al. (2004) as diferenças observadas quanto à
eficiência alimentar entre os animais podem ser resultantes de variações
existentes nos seguintes processos: consumo de alimentos, digestão dos
alimentos (e os custos energéticos associados a este evento), metabolismo
(anabolismo e catabolismo, associado com variações na composição corporal),
nível de atividade e termorregulação. De acordo com estes autores, a
deposição da mesma quantidade de tecido magro (músculo) e gordura têm
diferentes custos energéticos. Existe maior variação na eficiência de deposição
de tecido muscular do que na de adiposo. A eficiência parcial teórica de uso
dos nutrientes para deposição de tecido adiposo varia de 70 a 95% e para
deposição de tecido muscular, de 25 a 50%. A maior variação na eficiência de
deposição de tecido muscular é devida à maior variação existente no turnover
protéico quando comparado ao turnover de lipídeos. Além disso, a taxa de
turnover protéico apresenta grande variabilidade entre os diferentes órgãos, o
que não ocorre para o turnover de lipídeos (Herd et al., 2004).
Os processos de síntese e degradação protéica são energeticamente
dispendiosos e tecidos com alta taxa de turnover protéico apresentam alta
demandapor aminoácidos, acentuado fluxo sanguíneo e elevado consumo de
oxigênio, reflexo da alta atividade metabólica. Esta é a característica primordial
da maioria dos tecidos viscerais como trato gastrointestinal e fígado (Reynolds,
2002). O consumo de oxigênio por esses órgãos é proporcional à ingestão de
matéria seca, uma vez que os maiores gastos energéticos seriam para
atividades como digestão da dieta, absorção e metabolismo dos nutrientes,
manutenção da estrutura e das funções celulares, pelo transporte de íons e
pela reciclagem de proteína, e pela energia gasta durante o metabolismo
oxidativo de substratos e a síntese de novos compostos (gliconeogênese
hepática).
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Qualquer variação na composição do ganho de peso ou na composição
corporal pode influenciar a eficiência aparente de uso dos nutrientes.
Richardson et al. (2001), trabalhando com novilhos de corte que foram
submetidos à seleção divergente para CAR, verificaram que a composição
química corporal esteve correlacionada com a variação genética observada
para o CAR, sendo que a progênie de animais de baixo CAR apresentaram
menor concentração de gordura corporal e maior concentração de proteína no
corpo, quando comparados a animais de alto CAR. Entretanto, as diferenças
em energia retida no corpo responderam por apenas 5% da variação
observada em consumo de matéria seca, sendo o restante das diferenças
observadas relacionadas às diferenças quanto à produção de calor. Concluiu-
se que as variações observadas quanto ao CAR são pouco explicadas pela
composição corporal dos animais, apesar de existirem diferenças quanto à
eficiência de uso desses nutrientes (proteínas e lipídeos).
Variações observadas no metabolismo podem afetar a produção de
calor, sendo que muitos desses processos têm influência na exigência de
energia para mantença dos animais. Tem sido demonstrado que existem
diferenças quanto à eficiência de utilização da energia para mantença entre
animais (Archer et al., 1999) e, além disso, há evidências de que a exigência
de energia para mantença por unidade de peso metabólico é fortemente
correlacionada com as variações genéticas observadas em CAR (Herd &
Bishop, 2000). O turnover protéico em animais de produção é um evento que
apresenta alto custo energético e variações observadas no metabolismo de
proteína acompanham a seleção para taxa de crescimento e outras
características. Segundo Herd & Arthur (2009), em bovinos selecionados para
taxa de crescimento ou contra taxa de crescimento, o gasto de energia por
unidade de massa muscular diferiu em aproximadamente 20%. Uma
significativa parte desta variação foi devida às diferenças nas taxas relativas de
degradação protéica e síntese protéica dentro de cada músculo (Oddy et al.,
1995, 1998). A calpastatina, que é um inibidor específico das enzimas
calpaínas, responsáveis estas pela degradação de proteínas, parece diferir
quanto à sua concentração em bovinos selecionados para eficiência alimentar
(McDonagh et al., 2001). Richardson & Herd (2004) relataram maior
concentração de proteínas plasmáticas totais, de uréia e de aspartato amino
transferase (um marcador de função hepática que indica maiores níveis de
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catabolismo protéico) em bovinos de alto CAR em comparação aos animais de
baixo CAR, o que indicaria um maior turnover protéico em bovinos de alto CAR.
Arthur et al. (2001), avaliando a correlação entre a espessura de gordura
subcutânea medida entre a 12ª e 13ª costelas, observaram correlação genética
de 0,17 e 0,06 entre essa característica e o CAR, para bovinos recém
desmamados e novilhas. Em experimento com novilhos de sobreano, de várias
raças de corte, Schenkel et al. (2004) relataram correlações genéticas entre
CAR, espessura de gordura subcutânea e gordura de marmoreio. Os autores
verificaram uma correlação de 0,16 entre CAR e espessura de gordura
subcutânea e de -0,02 entre CAR e gordura intramuscular (marmoreio).
Nkrumah et al. (2007), em experimento com bovinos jovens confinados,
encontraram correlações um pouco mais altas entre CAR e teor de gordura na
carcaça, sendo reportados valores de 0,35 entre CAR e espessura de gordura
subcutânea e de 0,32 entre CAR e gordura de marmoreio.
Em um experimento onde foram abatidas progênies de animais que
sofreram seleção divergente para CAR, Richardson et al. (2001) concluíram
que o peso dos tecidos do trato gastrointestinal e dos órgãos internos não
estiveram relacionados à variação genética observada em CAR. Os autores
concluíram que as diferenças observadas quanto ao consumo de energia
metabolizável foi resultado de processos metabólicos ao invés de mudanças na
composição corporal. O consumo de oxigênio pelas vísceras drenadas pelo
sistema porta parece estar diretamente relacionado à ingestão de matéria seca
em bovinos de corte (Huntington, 1988). Devido a forte correlação existente
entre CAR e ingestão de matéria seca, é possível que ocorra diminuições no
consumo de oxigênio desses tecidos após os animais sofrerem seleção para
CAR.
A mitocôndria produz aproximadamente 90% da energia celular, são
numerosas em tecidos metabolicamente ativos (fígado, rins, músculo e tecido
nervoso) e contribuem com cerca de 10% do peso vivo de humanos adultos e
provavelmente com similar proporção do peso vivo de animais (Ojano-Dirain et
al., 2007). Variações observadas em aspectos relacionados à eficiência
energética da função mitocondrial têm sido utilizadas para explicar diferenças
fenotípicas observadas em taxas de crescimento e eficiência alimentar em
muitos animais de produção. Segundo Kolath et al. (2006), animais de baixo
CAR apresentam maior taxa de respiração mitocondrial ou seja, a cadeia
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transportadora de elétrons apresenta maior grau de acoplamento, enquanto
animais de alto CAR parecem ter o fluxo de elétrons prejudicado. Alguns
autores têm sugerido que as mitocôndrias de animais menos eficientes têm
menor atividade do complexo de proteínas ligadas à respiração celular, em
virtude de sofrerem maior taxa de oxidação, já que o acoplamento da
respiração é menor, resultando em um maior vazamento de elétrons, que
levam à formação de espécies oxigenadas reativas (ROS, reactive oxygen
species) que, por sua vez, afetam a funcionalidade das proteínas presentes
nos complexos enzimáticos mitocondriais (Botje et al., 2006).
Conclui-se que vários fatores estão envolvidos nas diferenças
observadas em bovinos de alto e baixo CAR. De acordo com Herd & Arthur
(2009), as diferenças em energia retida como proteína e gordura, respondem
por 5% da variação observada em CAR. Diferenças em digestão contribuem
com aproximadamente 10%, e padrões de consumo alimentar
(comportamento), com cerca de 2% da variação observada no CAR. O
incremento calórico contribui com 9% e a atividade física com cerca de 10%. O
turnover protéico, somado ao metabolismo tecidual e a resposta ao estresse
contribuem com aproximadamente 37% da variação observada em CAR. Por
último, aproximadamente 27% das diferenças observadas em CAR são
devidas à variações em outros processos, como transporte iônico.
Embora o consumo residual esteja sendo muito relacionado às
exigências de energia para mantença, levando ao entendimento que as
variações observadas são devidas às alterações no metabolismo visceral, a
fisiologia do músculo esquelético precisa ser mais bem estudada e
compreendida. O músculo esquelético representa cerca de 50% da massa
corporal e é responsável por aproximadamente 25% da taxa metabólica basal
(Lefaucheur et al., 2011). Castro-Bulle et al. (2007) encontraram que as
exigências de energia para mantença de novilhos de corte foram
fenotipicamente correlacionadas (r = 0,76) com as taxas fracionais de
degradação protéica, confirmando que o turnover protéico das proteínas
miofibrilares é uma fonte significativa de variação entre animais quanto aos
gastos energéticos, estando diretamente relacionado ao consumo alimentar
residual. Ou seja, mudanças nas propriedades contráteis e metabólicas do
músculo podem explicar parte da variação observada entre animais quanto ao
CAR e, o mais importante, possibilitam o entendimento do impacto da seleção
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
para eficiência alimentar sobre o desenvolvimento do tecido muscular e a
qualidade final da carne.
4-) CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL E QUALIDADE DA CARNE.
A composição física da carcaça, normalmente expressa em termos de
porcentagem de ossos, músculo e tecido adiposo, é avaliada com o propósito
de determinar possíveis diferenças existentes entre animais, em função de
fatores genéticos e/ou ambientais.
Apesar da maior eficiência produtiva dos animais CAR negativos, várias
pesquisas têm demonstrado que as alterações metabólicas podem ter efeito
sobre a qualidade da carne desses animais (Herd & Arthur, 2008). Portanto, é
imprescindível verificar se a seleção desses animais não ocasionará redução
na qualidade das carcaças e da carne bovina, uma vez que poderiam reduzir o
benefício econômico alcançado pela seleção para a diminuição dos custos com
a alimentação animal (McDonagh et al., 2001).
A concentração sistêmica de hormônios metabólicos chaves associados
com o consumo alimentar, acúmulo de gordura, partição energética e a
utilização de nutrientes foram descritos por Wood et al. (2004) como potenciais
marcadores fisiológicos para eficiência alimentar, permitindo aumentar o
entendimento sobre o metabolismo das principais características de carcaça e
da qualidade da carne.
O hormônio de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), devido a
sua capacidade mitogênica para a proliferação celular, foi determinado ser
geneticamente e fenotipicamente correlacionado com CAR em machos e
fêmeas em crescimento (Brown et al., 2004; Moore et al., 2005). Porém, Kelly
et al. (2009) não encontraram correlação entre CAR e IGF-1 em bovinos
alimentados a base de forragem.
Recentemente, Johnston (2007) reportou que a medida que os animais
se tornam fisiologicamente maduros, a correlação genética entre concentração
plasmática de IGF-1 e CAR diminui, indicando que muitos genes responsáveis
pela concentração sistêmica de IGF-1 diferem em expressão entre as fases de
desenvolvimento de pós desmama e terminação. Portanto, o IGF-1 não estima
satisfatoriamente o CAR, principalmente em animais mais próximos da fase
final de crescimento, sendo mais útil quando avaliado em animais mais jovens.
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A leptina é outro hormônio produzido pelo tecido adiposo e que tem
relação direta com os processos de regulação de consumo, que pode estar
ligado ao crescimento e ao CAR, uma vez que está associada com a
diminuição da eficiência alimentar e aumento da gordura corporal (Suzuki et al.,
2009) O principal efeito da leptina é a regulação no balanço energético nos
animais, onde a secreção da leptina estaria relacionada com a massa de
gordura corporal, afetando consequentemente a qualidade da carcaça (Zieba et
al., 2005). Espera-se que animais de baixo CAR apresentem menores
concentrações plasmáticas de leptina (Farjalla, 2009). Lefaucheur et al. (2011)
verificaram que animais selecionados para baixo CAR apresentaram menor
concentração de leptina no sangue, quando coletado sem jejum, sendo que a
diferença deixou de ser significativa quando os animais foram mantidos sem
acesso ao alimento durante uma noite antes de terem o sangue coletado. Os
autores afirmaram que a diferença em relação à concentração de leptina foi
devido às alterações na composição corporal, uma vez que os animais mais
eficientes apresentaram menor proporção de gordura subcutânea em relação
aos menos eficientes. Por outro lado, Sanches et al. (2006) verificaram o
oposto, pois o CAR foi negativamente correlacionado com os níveis
plasmáticos de leptina, onde animais de baixo CAR tenderam a apresentar
maiores níveis plasmáticos de leptina. Dessa forma, o menor consumo
alimentar desses animais poderia ser em decorrência da inibição do apetite
pelos altos níveis plasmáticos de leptina.
Outro hormônio que está relacionado com a qualidade da carne é o
cortisol. Animais zebuínos são mais susceptíveis ao estresse quando
comparados a animais taurinos. E quando os animais são comparados dentro
de um mesmo grupo genético, animais CAR negativo apresentam menores
concentrações sanguíneas de cortisol (Gomes, 2009). Animais com maiores
níveis de cortisol no momento do abate podem apresentar menor quantidade
de glicogênio muscular, o que pode levar a uma inadequada acidificação
muscular, promovendo menor queda no pH (pH > 6,0) originando uma carne do
tipo DFD (dark, firm and dry).
Segundo McDonagh et al. (2001), ao se considerar melhores valores
de CAR no processo de seleção, poderá haver prejuízo à qualidade de carne
dos animais selecionados. Embora esses problemas sejam observados na
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literatura, há benefícios do uso do CAR para a seleção dos animais, visto que
há retorno econômico para a cadeia produtiva.
Em geral, raças taurinas apontam para uma correlação positiva entre
gordura corporal e CAR, indicando que animais mais eficientes apresentariam
menor deposição de gordura e maior deposição de proteína. Porém, em sua
maioria, esta associação tem sido pequena, levando alguns autores a
sugerirem que a seleção para CAR não levaria a perda na qualidade da
carcaça (Gomes, 2009). Baker et al. (2006), trabalhando com bovinos da raça
Angus, não observaram diferenças nos parâmetros de qualidade de carne
entre animais CAR positivo e negativo.
Concordando com o acima citado, em animais taurinos foram relatados
maior AOL e menor EGS nos animais mais eficientes (Richardson et al., 2001;
Basarab et al., 2003; Herd et al., 2003). No entanto acredita-se que,
possivelmente, há sinergismo entre genótipo (taurino e zebuíno) e CAR para as
características AOL e EGS. Gomes (2009) afirmou que existem diferenças no
padrão de deposição de gordura corporal em função do CAR em novilhos
zebuínos e que provavelmente este padrão difere-se daquele apresentado por
bovinos taurinos, especialmente as raças britânicas.
Ainda, no estudo realizado por Richardson et al., (2001), as correlações
encontradas entre CAR e composição corporal foram pequenas, sendo
sugeridos valores inferiores a 5% da variação do CAR dos touros testados.
Sainz et al. (2006) não encontraram diferença entre novilhos Angus-Hereford
para animais CAR negativo e positivo para peso de carcaça quente, área de
olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, grau de marmoreio, massa
visceral e gordura abdominal, indicando a baixa ou inexistente correlação
fenotípica entre CAR e composição corporal.
Trabalhando com novilhos Nelore, Gomes (2009) não encontrou
diferença nos parâmetros de carcaça (AOL e EGS) e qualidade de carne entre
animais CAR negativo e positivo. Almeida et al. (2004) também não
observaram diferenças entre animais zebuínos CAR negativo e positivo em
relação à espessura de gordura subcutânea e área de olho de lombo.
Posteriormente, Lemes e Gomes (2007) relataram que animais Nelore CAR
negativo apresentaram menor espessura de gordura subcutânea, menor peso
de gordura renal pélvica e inguinal e maior área de olho de lombo, quando
comparados aos animais CAR positivos. Segundo os autores, essas diferenças
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
entre os experimentos podem ser explicadas pela diferença na maturidade
fisiológica apresentada pelos animais nos distintos experimentos.
Farjalla (2009) não encontraram diferença para todas as características
de carcaça avaliadas entre animais Nelore de CAR baixo, médio e alto. As
características de carcaça avaliadas foram: peso de carcaça quente,
rendimento de carcaça, gordura subcutânea, escore de marmoreio, área de
olho de lombo, extrato etéreo no Longissimus dorsi, força de cisalhamento e
índice de fragmentação miofibrilar. De acordo com o autor, os dados diferem na
grande maioria dos trabalhos comparados, pois animais de CAR negativo (mais
eficientes) tenderiam a apresentar carcaças mais magras, com menor
quantidade de gordura subcutânea e menor deposição de gordura
intramuscular, o que poderia levar as carcaças de animais CAR negativo a
apresentar características de menor aceitação para determinados mercados,
principalmente devido à menor maciez da carne.
Reis et al. (2010a) avaliaram a qualidade da carcaça e da carne de
novilhas cruzadas Bos taurus x Bos indicus classificadas em diferentes grupos
de consumo alimentar residual (alto, médio e baixo) e não encontraram
diferenças significativas em relação aos parâmetros de cor (L*, a* e b*) e
composição química do músculo Longissimus dorsi, sugerindo que os animais
mais e menos eficientes apresentaram mesmo grau de marmoreio (4,28% de
extrato etéreo no músculo). A carne dos animais dos diferentes grupos de
consumo residual também não diferiu em relação à força de cisalhamento,
recebendo também o mesmo escore de maciez, sabor e suculência em um
painel sensorial treinado (Reis et al., 2010b). Portanto, a hipótese de que
animais mais eficientes, ou seja, de menor CAR apresentam menos marmoreio
e maior dureza na carne, por uma possível maior atividade de calpastatina, não
foi confirmada.
Já Basarab et al. (2003) encontraram diferença na gordura de
acabamento e escore de marmoreio, o que segundo os autores foi devido
principalmente à maior quantidade de energia metabolizável consumida pelos
animais menos eficientes. Mesmo diante dos menores valores de gordura
subcutânea apresentados pelos animais CAR negativo, vale ressaltar que os
frigoríficos exigem 3 mm de gordura subcutânea, e este valor pode ser obtido
quando os animais são expostos a um bom manejo alimentar, independente do
CAR que os animais são classificados. Com esses resultados acredita-se que a
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seleção para eficiência alimentar residual, com ênfase em qualidade de carne
não trará prejuízos às características de carcaça.
Os mesmos autores acima citados encontraram correlações fenotípicas
significativas de 0,22; 0,22 e 0,26 para CAR e ganhos em gordura subcutânea,
escore de marmoreio e gordura no corpo vazio em animais cruzados. Gomes
(2009) verificaram correlações entre CAR e porcentual de gordura, proteína e
teor de energia no corpo vazio de 0,18; -0,18 e 0,17, respectivamente, que são
próximos aos valores encontrados por Basarab et al. (2003) em raças taurinas.
Porém, não houve diferença nas variáveis analisadas quando foram
comparadas dentro dos grupos de eficiência.
Ribeiro et al. (2007) não encontraram diferença para animais Angus
CAR positivo e negativo para o percentual de gordura na carcaça e gordura
interna, porém os animais CAR negativo apresentaram menor peso de trato de
gastrointestinal, podendo-se inferir que estes animais utilizaram menos energia
para manutenção dos órgãos viscerais, quando comparados aos animais CAR
positivo, compensando o menor consumo de matéria seca.
O ganho protéico, tanto nos tecidos como no corpo em geral, é a
diferença entre a síntese e a degradação protéica. Em termos de um maior
crescimento animal, qualquer estratégia que aumente essa diferença é melhor
(Sainz et al., 2006). Em termos energéticos, devido ao custo elevado da
formação das ligações peptídicas (5ATPs/ligação), torna-se muito importante
identificar mecanismos que reduzam a taxa de proteólise tecidual (Lobley et al.,
2000).
As altas taxas de dissociação das miofibrilas podem ser indicativas de
altas taxas de degradação protéica no músculo do animal in vivo, sendo essa
dissociação das miofibrilas positivamente correlacionadas com a maior
atividade da enzima calpaína e maior maciez da carne (Sainz et al., 2006).
Dessa forma, pesquisas recentes têm evidenciado que as proteases ativadas
pelo íon cálcio, denominadas calpaínas, são enzimas relacionadas à proteólise
post mortem, que levam a um aumento progressivo na maciez da carne.
Whipple et al. (1990), estudando as características responsáveis pela maciez
da carne, concluíram que a atividade da enzima calpastatina constitui-se uma
importante característica de predição de textura, o que pode ser explicado pelo
coeficiente de correlação existente com a força de cisalhamento.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
McDonagh et al. (2001), avaliaram a progênie de bovinos oriundos de
seleção para CAR e verificaram que amostras do músculo Longissimus dorsi
de animais CAR negativo apresentaram menores valores de índice de
fragmentação miofibrilar, tanto na carne in natura (sem maturação) quanto na
carne maturada por 14 dias, e concentrações de calpastatina no músculo 13%
maiores, quando foram comparados a animais CAR positivos. De acordo com
os autores, a contínua seleção para animais de CAR negativo, poderia levar
esses animais a apresentarem uma carne com menor maciez. Tais resultados
se complementam com os achados por Lefaucheur et al. (2011), que
demonstraram maior porcentagem de fibras musculares glicolíticas em animais
de baixo CAR, uma vez que esse tipo de fibra muscular apresenta menor
turnover protéico quando comparado às fibras oxidativas (Lewis et al., 1984),
tendo, portanto, maior eficiência de crescimento (Therkildsen & Oksbjerg,
2009). Trabalhando com suínos após 5 gerações de seleção divergente para
consumo alimentar residual, Smith et al. (2011) verificaram que a atividade de
calpastatina foi maior no músculo Longissimus dorsi dos animais selecionados
para baixo CAR, quando comparados aos animais controle. No entanto, a
degradação de desmina, uma das proteínas presentes na linha Z dos
sarcômeros e que sofre proteólise pelas calpaínas, não foi diferente entre os
animais eficientes e controle. A degradação da desmina permite que os
filamentos finos (formados principalmente por actina) se desprendam da
superfície das miofibrilas, e também quebram as ligações existentes entre as
miofibrilas, permitindo que se separem (Goll et al., 2008), tornando a carne
mais macia. No trabalho de Smith et al. (2001) o painel sensorial também
conferiu mesmas notas para maciez, demonstrando que embora a atividade de
calpastatina tenha aumentado com a seleção para CAR após 5 gerações,
ainda não foi suficiente para diminuir a degradação da desmina e afetar a
maciez ao ponto de ser percebida por um painel treinado. Entretanto, usando
um número maior de animais, os mesmos autores obtiveram correlação
positiva entre consumo alimentar residual e maciez e negativa entre CAR e
força de cisalhamento. A correlação negativa obtidas entre CAR e presença de
desmina intacta no músculo após 7 dias de maturação sugere que o lombo dos
animais de baixo CAR apresentou menor degradação protéica. Ou seja, ao
longo do tempo, é possível que a maciez da carne seja afeta pela seleção para
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CAR em virtude de maior atividade de calpastatina e menor conteúdo de
gordura intramuscular nos animais mais eficientes (Smith et al., 2011).
Por outro lado, Baker et al. (2006) não encontraram diferença entre
novilhos Angus de CAR negativo e positivo para a atividade de calpastatina,
composição química, força de cisalhamento e escores de maciez. Da mesma
maneira, Gomes (2009) não encontrou diferença na força de cisalhamento,
índice de fragmentação miofibrilar no dia 0 e com 7 dias de maturação,
atividade de µ-calpaína, m-calpaína e calpastatina entre animais Nelore CAR
negativo e positivo com aproximadamente 19 meses de idade.
Devido à variabilidade genética encontrada entre os animais em relação
à concentração de calpastatina nos músculos, a seleção contra essa enzima
pode resultar em melhorias na maciez da carne, embora isso possa
representar uma perda de adaptabilidade dos animais a ambientes mais
desafiantes, como é o caso dos trópicos. Shackelford et al. (1994) relataram
que a herdabilidade para a enzima calpastatina é alta (h=0,65), e que a
correlação da calpastatina com a força de cisalhamento é de 0,50.
Savell e Shackelford (1992), ao analisarem o significado da maciez para
a indústria da carne, sugeriram que para melhorar o grau de satisfação que a
carne proporciona ao consumidor, deve se reduzir a variabilidade genética do
gado de corte, e também que a carne com mais de 25% de genótipo Bos
indicus é inaceitável para consumidores americanos. Cundiff (1992)
demonstrou que a carne da progênie de touros Bos Indicus (Brahman, Sahiwal
e Nelore) é menos macia que mestiços Hereford-Angus, apresentando força de
cisalhamento aproximadamente 25% superior.
Devido aos resultados conflitantes na literatura presente e a falta de
resultados entre os diferentes genótipos (Bos indicus vs Bos taurus), são
necessários ainda mais experimentos para validar os reais efeitos da seleção
de animais para CAR, quando o objetivo é a avaliação de carcaça e qualidade
de carne, principalmente quando são utilizados animais zebuínos que são
detentores de carne com maior dureza, devido à maior atividade da enzima
calpastatina.
A relação entre proteases musculares (calpaínas e calpastatina) e
eficiência alimentar ainda carece de mais estudos, principalmente em animais
Nelore, visto que nada se conhece praticamente sobre a ação dessas enzimas.
Trabalhos recentes têm demonstrado que tanto em suínos quanto bovinos, a
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
calpastatina ocorre em dois picos distintos (calpastaina I e II), sendo a
calpastatina II mais ativa do que a I contra ambas µ- e m-calpaína (Cruzen et
al., 2011). Essa maior atividade da calpastatina II pode estar relacionada a uma
maior fosforilação em relação a calpastatina I, potencializando sua
especificidade e eficiência inibitória sobre as calpaínas (Salamino et al., 1997).
É importante discernir também que a maioria dos trabalhos realizados
na área de consumo alimentar residual não pode ser interpretada da mesma
maneira, visto que apresentam aspectos metodológicos com diferenças
marcantes. Por exemplo, a maior parte dos trabalhos realizados no Brasil até o
presente momento com consumo alimentar residual foram baseados somente
na identificação, dentro de um grupo de animais, dos mais e menos eficientes,
através dos dados de consumo observado e predito. Sem um programa de
seleção divergente para consumo residual, qualquer conclusão acerca dos
efeitos do CAR sobre a qualidade da carne se torna superficial. Para se ter
convicção de afirmar qual o real impacto da seleção para consumo alimentar
residual sobre a deposição de tecidos corporais e a qualidade da carne, seria
necessário estudar algumas gerações de animais controle e provenientes de
um núcleo de seleção estabelecido para identificar e cruzar animais de baixo
CAR, como tem sido feito na Austrália, nos Estados Unidos e no Canadá. O
Instituto de Zootecnia, de Sertãozinho-SP, está desenvolvendo uma amostra
de animais Nelore selecionados para baixo CAR, que poderão ser utilizados
para elucidar essas dúvidas. Em breve, alguns dados estarão disponíveis na
literatura. Através desse tipo de estudo, que é caro, demorado e trabalhoso,
poderemos ter as respostas para saber os reais impactos da seleção para
eficiência alimentar sobre a qualidade da carne.
No entanto, alguns trabalhos, realizados com espécies em que o
intervalo de gerações é mais curto (aves e suínos), sugerem que ao longo das
gerações, os animais selecionados para baixo CAR, ou seja, melhor eficiência
alimentar, passam a apresentar maior deposição de músculo, menor conteúdo
de gordura na carcaça (menor acabamento), e com alguns prejuízos quanto a
qualidade de carne (Lefaucheur et al., 2011). O aumento observado no
conteúdo de carne magra da carcaça dos animais mais eficientes é explicado,
pelo menos parcialmente, por uma maior hipertrofia (aumento em área) das
fibras musculares, principalmente das glicolíticas, cuja freqüência também é
aumentada em animais de baixo consumo residual, quando comparados aos
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de alto CAR. Geralmente, quanto maior o crescimento de tecido magro, maior a
participação de fibras do tipo IIB, ou glicolíticas (Lefaucheur et al., 2011).
5-) CONCLUSÕES
A seleção para CAR proporciona expressivos ganhos econômicos e
ambientais e, embora possa estar associada a redução na gordura corporal e
menor maciez da carne, sua utilização conjunta ao monitoramento de atributos
de qualidade de carne e o correto manejo nutricional na terminação pode
minimizar seus possíveis impactos negativos o que a torna fundamental para a
produção bovinos com elevada eficiência e alta competitividade.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
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