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Deposito a prazo 30 dias BCH: 10,00%. BE: 8,00%. BIC: 7,75%. BCI: 5,00%. BKEVE: 5,00%. BCS: 4,50%. BAI: 4,50% 13 de Julho 2020 Segunda-feira Semanário - Ano 5 Nº217 Director-Geral Evaristo Mulaza “Hoje é muito questionável uma resseguradora” Caso 500 milhões: da acusação à sentença Kwanza fraco ameaça PIIM Mostra-se “indignado” com a indife- rença das grandes empresas ao desenvol- vimento das artes plásticas. E dá como exemplo o facto de ter batido a cerca de 20 portas em busca de patrocínio para materializar a exposição ‘40 Anos de Gravura Artística’, mas sem sucesso. O artista afirma que empréstimos ban- cários encareceriam as obras e insiste, em entrevista ao VALOR, que a solução está nas mãos do Estado. Págs. 24 e 25 INVESTIMENTOS. Cerca de um ano após o lançamento do Programa de Intervenção Integrada nos Municípios, o optimismo do Governo contrasta com as dúvidas das empresas contratadas. E as preocupações centram-se na desvalorização cambial, na fiscalização e no “excesso de burocracia” que podem levar à derrapagem dos projectos. Págs. 8 e 9 Empréstimos bancários encarecem obras de arte “Que sejam tão diligentes a pagar a dívida que têm” ANATOMIA DE UM JULGAMENTO CARLOS DUARTE, PCA DA ENSA ANTÓNIO DIAS DOS SANTOS ‘KIDÁ’ GOVERNO E EMPREITEIROS DIVERGEM FILOMENA OLIVEIRA, EMPRESÁRIA CONTRAPARTIDA DO PERDÃO A TRIBUTOS E JUROS FISCO. O Ministério das Finanças quer garantir pelo menos 30 mil milhões de kwanzas dos 61,9 mil milhões de dívida das empresas ao fisco e que se encontram em litígio na justiça. A estratégia passa por perdoar parte dos tributos, dos juros de multas, com a condição de as empresas desistirem dos processos. Dois destacados empresários reagem com cepticismo. Págs. 4 e 5 Governo quer metade dos 60 mil milhões kz em litígio com empresas Págs. 12 e 13 Pág. 10 Págs. 5 e 6

CONTRAPARTIDA DO PERDÃO A TRIBUTOS E JUROS Governo …€¦ · A estratégia passa por perdoar parte dos tributos, dos juros de multas, com a condição de as empresas desistirem

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Page 1: CONTRAPARTIDA DO PERDÃO A TRIBUTOS E JUROS Governo …€¦ · A estratégia passa por perdoar parte dos tributos, dos juros de multas, com a condição de as empresas desistirem

Deposito a prazo 30 dias BCH: 10,00%. BE: 8,00%. BIC: 7,75%. BCI : 5,00%. BKEVE: 5,00%. BCS: 4,50%. BAI : 4,50%

13 de Julho 2020Segunda-feira Semanário - Ano 5Nº217Director-Geral Evaristo Mulaza

“Hoje é muito questionável uma resseguradora”

Caso 500 milhões: da acusação à sentença

Kwanza fraco ameaça PIIM

Mostra-se “indignado” com a indife-rença das grandes empresas ao desenvol-vimento das artes plásticas. E dá como exemplo o facto de ter batido a cerca de 20 portas em busca de patrocínio para materializar a exposição ‘40 Anos de Gravura Artística’, mas sem sucesso. O artista afirma que empréstimos ban-cários encareceriam as obras e insiste, em entrevista ao VALOR, que a solução está nas mãos do Estado. Págs. 24 e 25

INVESTIMENTOS. Cerca de um ano após o lançamento do Programa de Intervenção Integrada nos Municípios, o optimismo do Governo contrasta com as dúvidas das empresas contratadas. E as preocupações centram-se na desvalorização cambial, na fiscalização e no “excesso de burocracia” que podem levar à derrapagem dos projectos. Págs. 8 e 9

Empréstimos bancários encarecem obras de arte

“Que sejam tão diligentes a pagar a dívida que têm”

ANATOMIA DE UM JULGAMENTO

CARLOS DUARTE, PCA DA ENSA

ANTÓNIO DIAS DOS SANTOS ‘KIDÁ’

GOVERNO E EMPREITEIROS DIVERGEM

FILOMENA OLIVEIRA, EMPRESÁRIA

CONTRAPARTIDA DO PERDÃO A TRIBUTOS E JUROS

FISCO. O Ministério das Finanças quer garantir pelo menos 30 mil milhões de kwanzas dos 61,9 mil milhões de dívida das empresas ao fisco e que se encontram em litígio na justiça. A estratégia passa por perdoar parte dos tributos, dos juros de multas,

com a condição de as empresas desistirem dos processos. Dois destacados empresários reagem com cepticismo. Págs. 4 e 5

Governo quer metade dos 60 mil

milhões kz em litígio com empresas

Págs. 12 e 13

Pág. 10

Págs. 5 e 6

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Valor Económico2 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

Editorial

Director-Geral: Evaristo MulazaDirectora-Geral Adjunta: Geralda Embaló

Editor Executivo: César SilveiraRedacção: Antunes Zongo, Isabel Dinis, Júlio Gomes, Guilherme Francisco e Suely de Melo Fotografia: Mário Mujetes (Editor) e Santos Samuesseca Secretária de redacção: Rosa NgolaPaginação: Edvandro Malungo, Francisco de Oliveira e João Vumbi

Revisores: Edno Pimentel, Evaristo Mulaza e Geralda Embaló Colaboradores: Cândido Mendes, EY e Mário Paiva Propriedade e Distribuição: GEM Angola Global Media, Lda Tiragem: 00 Nº de Registo do MCS: 765/B/15 GEM ANGOLA GLOBAL MEDIA, LDA Administração: Geralda Embaló e Evaristo Mulaza Assistente da Administração: Geovana Fernandes Departamento Administrativo: Jessy Ferrão e Nelson Manuel

Departamento Comercial: Geovana Fernandes Tel.: +244941784790-(1)-(2) Nº de Contribuinte: 5401180721 Nº de registo estatístico: 92/82 de 18/10/82 Endereço: Avenida Hoji-Ya-Henda, 127, Marçal, Luanda-Angola;222 320511 Fax: 222 320514 E-mail: [email protected]; [email protected]

FICHA TÉCNICAV

entrega de autos de medição. Ou seja, com um hiato significativo entre o câmbio de referência por altura da assinatura dos contra-tos e o câmbio do momento de liquidação das facturas. Acresce--se a isso o facto de as salvaguar-das determinadas no Decreto Executivo que estabelece o equi-líbrio económico-financeiro dos contratos do PIIM darem largos espaços de manobra para as uni-dades orçamentais agirem com certa dose de arbitrariedade. No fundo, o risco de dois projectos com as mesmas dificuldades mere-cerem tratamentos diferenciados das unidades orçamentais é mais do que inegável.

Posto isto, é caso para se ques-tionar a razão de o Governo não ter considerado um regime de excepção que permitisse a inde-xação dos contratos do PIIM ao dólar. Se os projectos foram devi-damente orçamentados e estando disponíveis os dois mil milhões de dólares, o Governo tinha de

criar condições para salvaguar-dar o valor real dos contratos de forma indiscriminada, o que pas-saria simplesmente por incluir a referência da indexação. Até por-que, até prova em contrário, o inte-resse do próprio Governo é, antes de mais, garantir a execução dos projectos e o consequente sucesso do programa.

Mas há outra razão simples-mente matemática. Se determi-nados empreiteiros assinaram os contratos com o dólar nos 350 kwanzas e recebem os pagamentos com o dólar perto dos 700 kwanzas e sem as devidas correcções pro-porcionais, então o orçamento real do PIIM não será mais de dois mil milhões de dólares. Sobrará uma diferença desconhecida nos cofres das Finanças e o Governo terá de dar alguma explicação a propó-sito. Como se vê, tudo isso seria facilmente evitado com a protec-ção integral dos contratos. Claro, acreditando que se quer mesmo o PIIM viabilizado.

u ma ques-tão de núme-ros, de contas. O Governo afirma que os contratos de execução das obras do Pro-

grama de Intervenção Integrada nos Municípios (PIIM) não podem ser indexados a qualquer moda estrangeira. E acrescenta que os acordos devem ser analisados de forma individual para serem aten-didas necessidades específicas. Por outras palavras, o Governo assume um tratamento discricio-nário dos empreiteiros conforme, por exemplo, as necessidades que estes apresentem ou não de divisas para a importação de equipamen-tos e serviços. Mas esta aborda-gem levanta várias interrogações.

Em primeiríssimo lugar, o Governo faz questão de reiterar, vezes sem conta, que os recursos do PIIM estão disponíveis porque resultam da descapitalização do Fundo Soberano de Angola em dois mil milhões de dólares. E toda a gente sabe que os dinheiros do Fundo são em moeda forte. Ora, se o Ministério das Finanças diz que os pagamentos aos empreitei-ros não podem ter como referência o dólar, isto significa necessaria-mente que as empresas perdem e o Governo ganha com a perma-nente perda do valor do kwanza. Até porque os desembolsos às empresas, como lembram as Finan-ças, devem ser feitos mediante a

PIIM: AS RAZÕES DO CEPTICISMO

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3Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

A semana

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CLÉOFAS VENÂNCIO, presidente da FSA-CS

Como vê o movimento sindi-cal em Angola?É medíocre. Antes dialogáva-mos, mas, a partir de 2017, o diálogo arrefeceu considera-velmente. Observamos que o Estado quer matar o sindica-lismo. Fazíamos parte de várias comissões e sentíamo-nos par-ceiros do Governo. Agora, os sindicatos são apenas nomi-nais, ou seja, já não somos tidos nem achados.

Os sindicatos estão revoltados?Quem nesta altura deve falar dos trabalhadores somos nós, as centrais sindicais. Mas, quando o presidente da Assem-bleia Nacional e os deputados são mais chamados para a con-certação social, onde também devem intervir entidades civis que são sistematicamente pre-teridas, então não sei que con-certação social temos no país.

Qual é o foco da Força Sindical Angolana – Central Sindical?Somos uma federação que existe desde 2004, que congrega 16 sin-dicatos que controlam cerca de 60 mil trabalhadores. Um dos principais alvos da nossa acção, à defesa dos direitos dos traba-lhadores do sector da Saúde. A FSA-CS vive de quotização dos membros, porém, nos últimos dias, 3.246 associados, na sua maioria chefes de família, per-deram emprego por causa da crise financeira e das medidas do Governo.

PERGUNTAS A...

COTAÇÃO

BRENT NÃO RESISTE AO AUMENTO DE CASOS DE COVID...O Brent abriu a semana em queda, com o preço a recuar mais de 1%, ao ser negociado a 42,85 dólares, depois de fechar a semana anterior positivo, nos 43,24 dólares. A queda é influenciada pelo record de casos de covid registados no domingo, mais de 230 mil, e do escalar das tensões dos EUA e da Europa com a China. O cenário, segundo especialistas, pode causar um novo “lockdown”. O WTI iniciou a se-mana a valer 40,14 dólares, após fechar a 40,55.

...NASDAQ NO VERMELHO POR CAUSA DA AMAZON E COMPANHIA Algumas das principais contibuintes para os resultados positivos dos principais mercados de acções nos EUA, contribuíram para o ence-ramento no vermelho nesta segunda-feira. Amazon, Microsoft, Face-book, Nvidia ou Tesla causaram o encerramento em baixa da Nasdaq e a S&P. Em sentido contrário encerraram, as acções da empresa alemã de biotecnologia BioNTech, com mais de 10% e da PFizer com 4%.

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050409 10 O ministro da Agricultura e Pescas, António Francisco de Assis, garante uma ava-liação minuciosa ao impasse que impede o início da acti-vidade da empresa pesqueira Wangfestão, situação que já leva quase um ano.

A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, afirma que se inves-tiu cerca de 43 mil milhões de kz  em materiais de bio-ssegurança para a preven-ção da covid-19, incluindo 544 toneladas adquiridas à China, sendo as doações infe-riores a 50 toneladas.SÁ

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O Governo decide suspen-der o pagamento de propinas “por tempo indeterminado”. O decreto acrescenta que o reinício das aulas fica depen-dente da evolução epidemio-lógica da covid-19 e o que o novo calendário será anun-ciado “oportunamente”.

O Standard Bank estima que as receitas petrolífe-ras em Angola vão descer para menos de 50% do total da receita fiscal pela pri-meira vez devido aos pre-ços das matérias-primas e ao impacto da covid-19.  

Novas regras excepcionais acrescentadas ao estado de calamidade determinam novos horários para res-taurantes e estabelecimen-tos comerciais, passando a encerrar às 16 horas. Bem como as muitas aplicáveis.

É tornada pública a pos-sibilidade de quase 300 instituições terem os seus endereços electrónicos “des-ligados definitivamente” por irregularidades se não acederem à DNS, a empresa especializada em serviços de domínio de internet.SE

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SEGUNDA-FEIRA A libanesa Africell Global é confirmada como vencedora do concurso público para se tornar a quarta operadora de telecomunicações em Angola.

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Valor Económico4 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

Governo negoceia

61,9 mil milhões

kwanzas em litígio

FISCO. 30 mil milhões de kwanzas, é a metade que o Governo espera conseguir. E avisa que só vai negociar com quem desistir do

processo judicial. Empresários defendem negociação de boa-fé.

negociação da dív ida tribu-tária em lit í-gio é uma das medidas fiscais previstas pelo Governo para

incrementar as receitas fiscais para o Orçamento Geral do Estado (OGE) 2020, perspecti-vando arrecadar mais de 30 mil milhões de kwanzas face aos 61,9 mil milhões reclamados.

A intenção consta do relató-rio de fundamentação do OGE 2020 revisto que dá conta que, do valor reclamado, 42,9 mil milhões de kwanzas correspon-

contribuintes nessas condições”, salientou o CEO de um dos 114 grandes contribuintes. “Roma e Pavia não se fizeram num dia e a AGT vem em 2020 tentar rece-ber impostos de 2014 quando as contabilidades se faziam a três pancadas”, reforça, lembrando que “os contribuintes não pos-suem recursos ilimitados para se organizarem”. “Às vezes, os recursos humanos não estão dis-poníveis no mercado, os tecno-lógicos são o veículo da maior exploração a Angola e África, pois os custos de software são extremamente altos e um grande sorvedouro de fundos em divi-sas”, salientou ainda o gestor.

Recentemente, o PCA da AGT, Cláudio Paulino dos San-tos, estimou em 175 o número de processos em tribunais, salientando que grande parte dos valores em litígio é asso-ciada a processos dos últimos cinco anos, de casos ligados ao imposto do consumo não pagos por empresas petrolíferas.

Não é a primeira vez que o Governo faz recurso ao Plano Regularização Excepcional para a recuperação de receitas. Por exemplo, está em curso um plano que entrou em vigor em Janeiro de 2019 e já foi reno-vado em duas ocasiões, tendo o término previsto passado de Julho para Dezembro de 2019 e, depois, para Setembro de 2020.

Este processo abrange as dívidas dos impostos industrial e de selo relacionados aos factos tributários até 31 de Dezembro de 2017. O Governo espera arre-cadar 60 mil milhões de kwan-zas de dívida fiscal e aduaneira, avaliada em 323 mil milhões em moeda nacional. Até Dezembro de 2019, tinha recuperado cerca de 43 mil milhões de kwanzas.

AUMENTO DE 70% DAS TARI-FAS DE EXPORTAÇÃO Além da negociação da dívida em litígio, as Finanças propõem outras alterações fiscais, como o agravamento para 10% da taxa do Imposto Especial de Consumo (IEC) nos veículos de luxo ou de alta cilindrada, actualmente fixada em 2%. Com este agrava-mento, o Governo estima arreca-dar 18,1 mil milhões de kwanzas contra os 3,6 mil milhões ante-riormente previstos.

Está também previsto o aumento de 25% para 30% da taxa do IEC sobre os tabacos e

Por César Silveira

Adem ao tributo, enquanto 12,5 mil milhões são corresponden-tes a multas e juros.

Segundo o Plano de Regula-rização Excepcional proposto, o

valor correspondente a multas e juros seria totalmente perdoado, assim como os 30% do corres-pondente ao tributo. Assim, o montante a perdoar está esti-mado em 25,3 mil milhões de kwanzas.

O Governo justifica a pro-posta com a necessidade de encontrar soluções, “conside-rando que grande parte dessa dívida não pode ser transfe-rida para os cofres do Estado, na medida em que os respec-tivos processos judiciais per-duram”. O Executivo salienta que, com a estratégia negocial, pretende oferecer “aos contri-buintes contrapartes no litígio a extinção das multas, juros e cus-tas processuais, assim como do montante de 20% a 30% do res-pectivo tributo devido”.

Mas avisa que, para ter acesso às contrapartes, os contribuin-tes têm de desistir dos respec-tivos processos judiciais e, por outro lado, realizar o pagamento da respectiva dívida negociada num prazo máximo de 30 dias. Alternativamente, explicam as autoridades, poderão apresen-tar um plano de pagamento da dívida em prestações no limite máximo de seis meses, sendo que a primeira prestação de 50% do valor global da dívida amigavel-mente negociada deve ser paga num prazo máximo de 30 dias.

O valor que o Governo espera recuperar com a renegociação das dívidas em litígio repre-senta cerca de 0,5% das receitas fiscais previstas na proposta do OGE revisto que está fixada em 6.125,0 mil milhões de dólares. Comparativamente ao orçamento em vigor, registou-se uma redu-ção de cerca de 28,9%, face aos 8.614,7 mil milhões de dólares.

E M PR E SÁ R IOS PE DE M MENOS ARROGÂNCIA A medida é aplaudida por grande parte dos empresários contac-tados pelo VALOR que, entre-tanto, apelam para a necessidade de o Governo “despir-se da arro-gância” no processo negocial. “Esse é o caminho recomendável mas, se houver impostos a pagar arbitrariamente fixados sem o mínimo de critérios, os contri-buintes não vão aceitar, apesar de uma maioria poder fazê-lo.

O que tem de ser feito é uma negociação em que a AGT perca a arrogância e prepotência e faça uma negociação de boa-fé com os

CREDORES DEVEM DESISTIR DE PROCESSOS NA JUSTIÇAM

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Economia/Política

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5 Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

FILOMENA OLIVEIRA, EMPRESÁRIA

que lhe parece a proposta das Finanças para a resolução dos litígios fis-cais? Acho muito

difícil por serem propostas ou soluções que não passaram por nenhum estudo e/ou auscultação das partes interessadas. Dão 30 dias às pessoas para pagarem 50% das dívidas. Se as pessoas tives-sem esses valores já teriam ido à AGT tentar negociar. O pro-blema é que a AGT e o Ministé-rio das Finanças não entendem o problema dramático em que as

empresas se encontram. Não é que não queiram pagar, não têm. E quando não se tem, a negocia-ção deve ser feita envolvendo as partes interessadas. Não podem impor a sua posição às outras par-tes interessadas. E tem sido assim constantemente. Gostaria que, da mesma forma, o Ministério das Finanças fosse capaz de tra-zer um programa de pagamento da dívida que tem para com as empresas. Que pagassem já 50% porque as empresas, sobretudo as micro e pequenas, andam a pedir favor, a humilhar-se há bastante tempo.

Não está a condicionar o pro-grama ao pagamento da dívida que o Estado tem com as empre-sas?

Não querem perceber que as empresas já vinham de uma crise terrível e, agora com a covid-19, ficámos pior. Já que não querem perceber, então que sejam tam-bém tão diligentes a pagar a dívida que têm para com as empresas com dinheiro vivo e não estejam a passar títulos. Nós não sabe-mos o que fazer com esses títulos, porque não resolvem problema absolutamente nenhum. Aliás, só vamos perder mais dinheiro porque, se formos negociar esses títulos, vamos ter de ceder parte dos valores dos títulos. É uma injustiça total. E, mais uma vez, decorre da falta da capacidade de gestão que existe ao nível do Ministério das Finanças, nesse caso da AGT, de não utilizar as regras básicas de qualquer pro-jecto, ouvir as partes interes-sadas e chegar-se a um acordo, mas estes acordos têm de ser cumpridos.

Há uma linha de financiamento no BNA para a compra de títu-los, com o objectivo de acudir mesmo as empresas... Se você é uma pequena empresa vai negociar o quê? 10 milhões de kwanzas, 20 milhões de kwanzas? Quando já existem dos governos anteriores decisões que diziam que todas as dívidas que o Estado tinha para com as micro, peque-nas e médias empresas, até 500

Empresária defende necessidade do Governo respeitar a equidade fiscal, pautando pela mesma exigência quando se tratar de pagar as dívidas que tem para com os empresários.

OPor César Silveira

“Não é que as empresas não queiram pagar, não têm”

Governo elaborou ainda outras medidas para incrementar receitas fiscais em 2020

seus derivados. E ainda o agra-vamento em 5% na importação em 36 categorias de produtos constantes da Pauta Aduaneira. Outra proposta é o aumento das tarifas de exportação de produtos nacionalizados (bens alimentares e medicamentos) para 70%... Para angariar mais de 4% das receitas fiscais No global com as medi-das previstas para incrementar as

receitas fiscais, o governo estima receitas adicionais de mais de 261,6 mil milhões de Kwanzas (261 647 229 829,38), correspon-dente a 4,2% das receitas fiscais estimadas para o OGE revisto, cuja receitas globais esta pre-vistas em cerca de 13,5 biliões de Kwanzas, igual valor previsto para as despesas.

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Entrevista

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Valor Económico6 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

Entrevistamilhões, tinham de ser pagas com prioridade e em cash. A seguir, baixaram para 250, depois baixa-ram para 200 e, de repente, nin-guém mais quer saber das micro, pequenas e médias empresas. Somos tratados como se fôsse-mos grandes empresas.

Considerando os pontos fracos que encontra no projecto, acre-dita que é uma proposta para fra-cassar, caso avance como está? Não sei se é um projecto a fracas-sar. Têm vindo a fazer um con-junto de projectos que põem na mesa, que, volto a repetir, não tiveram os requisitos validados pelas partes interessadas. A ten-dência é que não tenham sucesso ou o sucesso será mínimo por-que as regras básicas não são observadas.

Alguns empresários acusam a AGT de “arrogância”. Concorda? Não sei se é arrogância ou mesmo falta de experiência, de saber fazer as coisas. Se tivéssemos a capacidade de resolver os assun-tos, deveríamos ter aprendido a fazer gestão de projectos. Se as partes interessadas não partici-pam, então é mais uma imposição que estão a tentar fazer. Dizem que, se o empresário pagar em 30 dias, terá as multas e juros perdoados. Bom. Mas estão a fazer a mesma coisa em relação às dívidas que têm para com as empresas? Então a equidade fis-cal fica onde? Só nós é que temos obrigações para com o Estado?

Não se pode entender que a morosidade no pagamento por parte do Estado ainda resulte da necessidade de comprovar as dívidas? Aí são dois assuntos. Ninguém foi responsabilizado ao nível dos detentores do poder e, sobre-tudo dos responsáveis das uni-dades de gestão financeira por não terem cumprido com aquilo que era a lei. Não vale a pena ati-rarem para cima de nós, porque quem remete as facturas não é o empresário, são os gestores das unidades financeiras, que são funcionários do Estado. Quando fizemos o fornecimento de bens e serviços, o pagamento era para ser em 45 dias. A Lei diz que o pagamento deve ser feito 45 dias da entrada da factura no sistema. Quando o próprio Estado se arroga a não cumprir a lei como

é que ficamos? Vamos a um tri-bunal, quantos anos andamos nesse processo com mais cus-tos de advogados e outros? As empresas deixam de funcionar. Mas, por outro lado, o Estado é muito célere e diligente no que diz respeito a ter ideias para como ir buscar o dinheiro que lhes é devido. Muitas das empresas que devem impostos estão à espera que o centro de gestão dos cre-dores do Estado se digne a cer-tificar a dívida e andamos para trás e para frente, de ministério em ministério a pedir favor para comprovarem a dívida.

Enquanto empresária, em que situação se encontra? Com

dívida por pagar ou pagamen-tos por receber? Tenho valores a receber por parte do Governo, mas já não tenho nada a dever à AGT. Aliás, a AGT conseguiu, com tanta multa que me deu porque o Estado não me pagava, fechar a minha maior empresa. Tive de pôr 500 traba-lhadores na rua porque o Estado, durante três anos, não me pagou. E ninguém é responsabilizado. E, como eu, há centenas e milha-res de outras micro, pequenas e médias empresas que pura e sim-plesmente fecharam. E, se vamos continuar com este tipo de ati-tude de força do Estado para com as empresas e se não há a tal equidade e justiça financeira

para os dois lados, então a gente fecha. Somos cidadãos com direi-tos e que um dia ousámos criar empregos para terceiros. Mas, se continuar assim, vamos ficar quietos, vamos dar consultoria ou fazer outra coisa qualquer e quem quiser que dê empregos aos milhares de desempregados.

Que contributo daria à proposta das Finanças? Primeiramente, teríamos de fazer um estudo. Estou a enten-der o que está a acontecer. O Ministério das Finanças está num problema desgraçado que tem mais despesas do que recei-tas, mas isso já vem de trás, isso é má gestão. No tempo em que tínhamos a bonança, ninguém se lembrou de fazer um fundo de apoio para acudir uma ou outra situação catastrófica. Teriam de ter previsto nos orçamentos anteriores a questão do risco e nunca foi integrada nos nossos Orçamentos Gerais do Estado muito menos na gestão da coisa pública. Agora que estamos no aperto, acham que quem deve ser sacrificado são os empresários.

A AGT conseguiu, com tanta multa que

me deu porque o Estado não me

pagava, fechar a minha maior

empresa. Tive de pôr 500 trabalhadores na rua porque o Estado,

durante três anos, não me pagou.

PERFIL Maria Filomena Ramos de Oliveira, formada em Marketing e Gestão, foi consultora e coordenadora da “Excursão Caminhada Verdadeira” da Fundação Lwini durante mais de 10 anos. Dirigiu o projecto bilateral Angola/Holanda, com a tarefa de repatriar exi-lados políticos e assegurar a ligação entre o Governo da Holanda e o Governo de Angola. É sócia gerente da Central de Ideias Lda, empresa de consultoria, comunicação marketing e Imagem.

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17Segunda-feira 28 de Maio 2018 Valor Económico

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Valor Económico8 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

Economia/Política

INICIATIVA ARRANCOU HÁ UM ANO

m a n o depois de ter sido inau-g u r a d o o Progra ma Integrado de Intervenção nos Muni-

cípios (PIIM), sobram dúvidas quanto aos resultados e metas. Empreiteiros envolvidos na ini-ciativa de inspiração presiden-cial disseram ao VALOR que, até ao momento, não receberam mais do que 10% de ‘down-pay-ment’ (pagamento inicial), o sufi-

ciente apenas para a organização de estaleiros e início de obras.

As queixas estendem-se a uma “certa burocracia” na alocação de verbas, o que se revela uma autêntica ‘dor de cabeça’, face à constante variação do câmbio. “O que se passa é que os contratos foram celebrados com o dólar a 350 kwanzas. Se a moeda perde peso todos os dias e hoje já roça os 800 kwanzas, já se pode ima-ginar os transtornos que isso representa para a nossa activi-dade”, afirmam operadores do PIIM no Moxico, província onde foi lançado o programa pelo Pre-sidente da República.

O Ministério das Finanças

OBRAS PÚBLICAS. Empreiteiros queixam-se das dificuldades provocadas pela variação cambial, mas Finanças garantem a existência de regras gerais para a realização do reequilíbrio financeiro dos contratos.

UPor Júlio Gomes (Minfin) diz que, “a seguir ao

down-payment, os pagamentos são efectuados contra a entrega dos autos de medição”, ou seja, ressarcimento em função da ava-liação do trabalho efectuado por metro quadrado.

E em relação aos transtornos causados pela desvalorização da moeda, as Finanças asseguram que “foram definidas as regras gerais para a realização do ree-quilíbrio financeiro dos con-tratos”. “De forma a atenuar os impactos negativos que a desva-lorização do kwanza e a inflação poderiam causar à execução do Programa, foi aprovado o Decreto Executivo nº 167/20, de 27 de

Maio, para a reposição do equi-líbrio económico-financeiro dos contratos afectos ao PIIM”, res-ponde o Ministério ao questio-nário do VALOR.

“Neste sentido, sendo a fonte de f inanciamento do PIIM, recursos em dólares descapi-talizados do Fundo Soberano de Angola, foram definidas as regras gerais para a reali-zação do reequilíbrio finan-ceiro dos contratos. Assim, em caso de desequilíbrios financei-ros que fundamentem os pedi-dos de alteração dos contratos públicos em vigor, e de forma a garantir a celeridade na execu-ção do PIIM, as unidades orça-

. MEMORIZE

l A Coordenado pelo pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, o Programa Integrado de Intervençâo aos Municí-pios (PIIM) prevê a exe-cução de mais de 1.600 projectos e as Finanças garante que mais de 700 já se encontram em exe-cução física.

PIIM: entre a incerteza dos empresários e o optimismo do Governo

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9 Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

mentais devem proceder nos seguintes termos: o reequilí-brio económico-financeiro dos contratos públicos devem aten-der aos aspectos concretos de cada contrato, em função das suas características e especifi-cidades”, acrescenta o departa-mento gerido por Vera Daves.

O Minfin avisa às unidades orçamentais a atenderem “os aspectos concretos de cada con-trato, em função das suas carac-terísticas e especificidades”. Para já “o reequilíbrio dos contratos deve ser feito, tendo em conside-ração o valor global do plafond de financiamento atribuído a cada unidade orçamental”.

“A moeda de referência para a execução dos contratos públicos, no âmbito do PIIM, é o kwanza”, logo, “não é permitida a indexa-ção do valor dos contratos ou dos seus pagamentos a uma moeda externa, salvo excepções que resultem da avaliação das espe-cificidades referidas nas Regras de Execução do OGE”, explicita o Governo.

Entretanto, vários observado-res duvidam que o PIIM atinja os objectivos previstos “por ser uma iniciativa que apenas reedita acções do Programa de Investi-mentos Públicos (PIP)”. É o caso do economista Samuel Sequeira ‘Felino’, que considera o pro-grama “bem concebido”, mas “por ter muitos intervenientes, na sua gestão, propicia o desvio de verbas”.

Felino cita, no entanto, o caso do Huambo para criticar as limitações do programa. “Há algumas acções em curso circuns-critas às sedes municipais, mas, nas comunas, lamentavelmente, não há nada, observa, apelando para uma “rigorosa fiscalização”.

Sapalo António, outro econo-mista é categórico: “De maneira nenhuma o programa vai resolver os problemas existentes nas comu-nidades, porque as administra-ções municipais sempre receberam dinheiro no quadro da descentra-lização do Estado e os resultados são praticamente nulos”.

Sapalo compara o PIP ao PIIM e aponta que este último “apenas surge na óptica da estratégia do MPLA de manipulação do cida-dão menos atento”.

Um alto responsável do MPLA e que por isso não quer ser iden-tificado também lança incertezas quanto à eficácia do programa “por conter as mesmas coisas que

CARTEIRA COM MAIS 1.600 PROJECTOSAs Finanças garantem que “o Executivo mantém a estratégia e os mais de 1.600 projectos ins-critos na carteira do PIIM, sendo que mais de 700 já se encontram em execução física”.

O pelouro de Vera Daves não admite falhas no financiamento para a execução dos projectos do Plano. “Não obstante estarmos a enfrentar um ambiente socioe-conómico desafiante, os recur-sos do PIIM estão assegurados”, afirmou a fonte, acrescentando que “o trabalho exaustivo que tem sido feito é no sentido de garantir o sucesso e a execução eficiente do plano”, além de que “todo o trabalho está a ser feito, em articulação com as adminis-trações municipais e governos provinciais que estão ‘in loco’ a assegurar a sua prossecução”.

têm sido feitas em sede do PIP”. Além de que “muitas empresas que ganharam os concursos têm a ‘mão invisível’ de governantes, o que também não ajuda, numa altura em se pretende combater o enriquecimento ilícito”.

Insatisfeito com o rumo deste e de outros planos que têm sido gizados pelo Executivo, aconse-lha que “o melhor seria aplicar os recursos do PIIM na formação de competências para alavancar o desenvolvimento sustentável”.

Diz que “há problemas a jusante”, e que “não é pelo aumento de escolas ou de hos-pitais que teremos mais educa-ção ou mais saúde”, observa, citando o caso de países avan-çados, como o Brasil e os EUA, que “anteciparam investimento no saneamento básico das cida-des para conferir qualidade de vida aos cidadãos”.

RISCO DE DUPLO FINANCIAMENTOO Minfin garante igualmente que não haverá atropelos, como pagamentos duplos a obras já cabimentadas nos Investimen-tos Públicos e esclareceu a polé-mica obra do Kwanza-Sul: “Não foram feitos pagamentos duplos no Kwanza-Sul, no âmbito do PIIM. Os projectos em causa tiveram início em 2013. Entre-tanto, o Ministério das Finanças detectou uma execução acumu-lada registada superior aos valo-res contratados”.

Assim, “registando-se o paga-mento integral do contrato, com a obra não concluída, não sendo as notas de fundamentação rece-bidas suficientes para chegar aos reais fundamentos que leva-ram à não conclusão da obra, foi solicitado pelo Ministério o apuramento dos factos, para a verificação de irregularidades às entidades competentes (IGF e Igae)”, explicam as Finanças. O Ministério acrescenta que “este exercício, dentre outros, é pos-sível pelo acompanhamento fino à execução que tem sido desen-cadeado pelo Minfin, através da adopção de um modelo de execução financeira dos pro-jectos do PIIM, semelhante ao modelo adoptado para a exe-cução de projectos com finan-ciamento de linhas de crédito externas, que permite um maior controlo de custos, onde os des-vios poderão ser observados pre-viamente, permitindo assim a adopção de medidas correcti-vas, ou de contingência”. Com base neste modelo, esclarecem as Finanças, “a seguir ao down-pay-ment, os pagamentos são apenas efectuados contra a entrega dos autos de medição”.

GESTÃO COM 14 ENTIDADESO PIIM é coordenado pelo minis-tro de Estado para a Coorde-nação Económica e integra os pelouros da Administração do Território, Interior, Economia e Planeamento, Agricultura e Pescas, Indústria e Comércio, Obras Públicas e Ordenamento do Território, Energia e Águas, Transportes, Saúde, Educação, Cultura Turismo e Ambiente, e Acção Social e Promoção da Mulher. Também fazem parte da comissão os secretários para o Sector Produtivo e para os Assuntos Económicos do Pre-sidente da República.

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Contrato Designação Valor Prazo

28-A/2020 Complexo residencial administrativo nos Dembos 1.176 milhões 18 meses

29-A/2020 Longonjo

30-A/2020 Cuvelai

31-A/2020 Luchazes

32-A/2020 Chipindo

33-A/2020 Cuvango

34-A/2020 Fiscalização de obra no município dos Dembos 82. 320 milhões 18 meses

35 A/2020 Longonjo

36-A/2020 Cuvelai

37-A/2020 Luchazes

38-A/2020 Chipindo

39-A/2020 Luchazes

12 concursos lançados pelo MAT no âmbito do PIIMOs projectos a financiar são apresentados

pelo Ministério da Administração do Território, mas

também pelos gov-ernos provinciais e administrações

municipais.

2700

Mil milhões, valor subtraido do Fundo Soberano para financiar o PIIM

projectos, estão em execução em todo o país segundo Ministério das Finanças

Não obstante estarmos a enfrentar um ambiente socioeconómico desafiante, os

recursos do PIIM estão assegurados.

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CARLOS DUARTE, CEO DA ENSA

or ocasião da conferência de balanço, afirmou ser intenção a Ensa reestruturar a situação cam-bial em relação ao Resseguro. Por

onde passaria esta reestruturação, considerando a situação económica do país e o não arranque da resse-guradora nacional? O conselho de administração a que pertenço foi nomeado em Novembro. Com ele, deu-se início à definição da Estratégia 2020-2022, às medidas de saneamento da empresa, funda-mentais para purgar de excessos e permitir uma valorização máxima enquanto activo disponível para pri-vatização. Demos início à preparação do processo, nos termos do Decreto Presidencial n.º 250/19. Tudo passa pela focalização no negócio segu-rador, nas actividades e processos core. Daí que algumas actividades deixarão de ser feitas pela segura-dora, tais como os serviços médi-cos, peritagens e outros. Definimos e implementámos uma nova estru-tura organizacional, que reduziu de 26 para 15 unidades de estrutura, e agora mais alinhadas com a mis-são da empresa. Aprofundaram-se as relações comerciais através da

criação de uma direcção destinada à distribuição do negócio mediado, bem como à formação de mediado-res exclusivos, e outros vectores de mudança que configuram uma pro-funda transformação na organiza-ção, visando torná-la mais flexível e ajustada ao dinamismo da eco-nomia. Sabemos que a situação do país é um reflexo do que se passa ao nível mundial, uma economia que, após uma estagnação, começa len-tamente a retomar com a agravante de os desafios cambiais fragilizarem, ainda mais, economicamente, todos os agentes empresariais do nosso mercado. A depreciação da moeda conduziu a uma inevitável perda de valor dos activos, deixando assim a necessidade de uma resseguradora nacional secundarizada. Em termos agregados, a exposição do sector segurador ao resseguro representa qualquer coisa que não deverá ultra-passar 150 milhões de dólares por ano (incluindo o seguro petroquí-mico), que é um valor muitíssimo abaixo de há uns anos. Nos dias de hoje, e para este nível de resseguro, já é muito questionável se ainda jus-tifica uma resseguradora nacional, e obviamente o tema da AngoRe não conheceu mais tracção. Qual é a dívida real da Ensa rela-tiva ao resseguro e qual é a taxa no leque da dívida aos fornecedores?A 31 de Dezembro de 2019, tínha-mos um saldo de aproximadamente

14 milhões de dólares. As contas de terceiros, nas quais se inclui o resse-guro e fornecedores, foram objecto de algumas insuficiências na auditoria, mais uma razão para promovermos um saneamento às contas de 2019 que continuará no corrente exercí-cio. Em alguns casos, temos saldos materiais com alguma antiguidade que importa serem actualizados. É um trabalho meticuloso que consome muitos recursos à empresa. Começá-mos com os nossos principais forne-

SEGUROS. Responsável máximo da Ensa, fala da importaância da empresa focar-se apenas no seu core-bussiness e ter relação com o mercado de resseguro de Londres .

PPor César Silveira

cedores, sobretudo com as principais clínicas e estamos muito avançados na reconciliação dos saldos e respec-tiva regularização, e introduzindo melhorias no processo de modo a eliminarmos os atrasos endémicos. O que esperam ganhar ou melho-rar com a reposição do resseguro para Londres?Como é sabido, o resseguro é o con-trato pelo qual uma seguradora, mediante um determinado prémio,

(res)segura, em parte ou na totali-dade, os riscos que assumiu, junto de outra empresa de seguros, a resse-guradora. A reposição do resseguro para Londres tem como objectivo uma afirmação de qualidade num mercado que é histórico nesta acti-vidade. Temos o maior interesse em estarmos presentes numa praça de seguros/resseguros que transmite confiança, estabilidade e, sobretudo, garantias. Londres é o maior mercado de seguro/resseguro, por isso consi-deramos natural esta credibilidade e confiança que nos trará. Uma segu-radora que quer liderar o mercado angolano e quer ter um papel rele-vante em toda a África Subsariana não pode deixar de ter uma relação com Londres, uma das maiores pra-ças financeiras mundiais. Também falou da intenção ou pos-sibilidade de transformar o imobi-liário num negócio autónomo. Já há modelo para essa transforma-ção? É aconselhável nesta altura que iniciou o processo de privatização? Na estratégia delineada para o período 2020-2022, as decisões estruturantes são efectivamente a privatização, a recuperação de pré-mios em dívida, o património imo-biliário e a arte. Tive a oportunidade de referir que as questões do patri-mónio e da arte podem ser renta-bilizadas, mas que não temos nem know-how residente, nem sequer é a nossa missão. O nosso know-how, o nosso core business, são os segu-ros. Não somos gestores de imobi-liário nem gestores de arte (apesar de termos uma colecção invejável). Desejo um foco, no essencial, no que nos distingue, no que sabemos fazer bem e que melhoramos todos os dias: seguros! Queremos também dar destaque ao património imobi-liário e ter um parqueamento que permita uma melhor reabilitação, gestão e rentabilização, usando, para o efeito, sociedades ou fundos de investimento, sociedades-veículo ou meios afins sujeitos a regulador. Temos uma carteira de imobiliá-rio considerável, com um poten-cial gerador de mais-valias que não queremos, de todo, desperdiçar. A arte, sendo obviamente relevante porque entendemos que as empre-sas devem contribuir para a cultura de um país, deve ser gerida numa perspectiva profissional e não por nós, que nos preocupamos sempre em criar um conjunto de obras de relevo, mas que não detemos know--how para gerir o acervo artístico que já temos e que deve estar ao dispor de Angola e do seu povo.

“Hoje já é muito questionável se ainda justifica uma resseguradora nacional”

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Mercados & NegóciosValor Económico10 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

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RETIRADA DA DENOMINAÇÃO OCORREU EM 2015

entrada de circulação da série 2020 da moeda nacio-nal vai a rein-troduzir das notas de 200 k w a n z a s ,

retiradas do mercado desde 2015, de forma paulatina e sem nenhuma explicação oficial do banco cen-tral, tal como acontece agora com o seu regresso.

Na altura, alguns quadros seniores do BNA, de forma isolada e pontualmente, explicaram que a decisão se tinha devido à exis-tência de uma quantidade exces-

siva de denominações, sendo que a retirada da nota de 200 permi-tiria uma melhor distribuição da massa monetária.

“É mais por uma razão mone-tária”, explicou, em Dezembro de 2015, numa entrevista à Revista Rumo, o então administrador para o meio circulante do BNA, António Ramos da Cruz, estimando que a nota de 200 kwanzas representava cerca de 3% da massa monetária em circulação, que era de 700 milhões de moedas, 511 das quais notas e 243 milhões de moedas metálicas.

O VALOR questionou o BNA sobre a razão da reintrodução da nota de 200 kwanzas, mas não

O Banco de Negócios Internacional (BNI), uma das instituições financei-ras multadas pelo BNA por suposto incumprimento do aviso n.º04/2019 referente à concessão de crédito ao sector real da economia, garante que só não concedeu crédito do período avaliado por “insuficiên-cias” dos projectos.

A instituição assegura que, por estar “devidamente alinhada com a estratégia de substituição das impor-tações pela produção nacional e em

contribuir para a sustentabilidade das contas externas do país, desen-volveu, durante o exercício de 2019, um conjunto de acções” para o cum-primento do aviso.

“Sucedeu, porém, que os projec-tos que foram remetidos ao banco apresentavam insuficiências, desde a existência de promotores com inci-dentes de crédito junto da Central de Informação de Crédito do BNA, ausência de contabilidade organizada das empresas, registo de incidentes

fiscais, projectos sem viabilidade à falta de orientação e experiência dos promotores para a implementação dos projectos que se propunham desenvolver”, justificou.

Por outro lado, o banco avança que, em 2019, financiou 19 projectos de um grupo de pequenos agriculto-res produtores de milho no Huambo. Igualmente, financiou projectos ao abrigo do Aviso 10/2020 de 03 de Abril e espera continuar a apoiar o financiamento a economia.

Aobteve resposta até ao fecho da edição. Certo é que será a primeira nota a entrar em circulação da série 2020. A nota começa a circular a 30 de Julho, enquanto as de 500 e 1.000 kwanzas têm o início de cir-culação marcado para Outubro. Já as notas de 2.000 e de 5.000 entram, respectivamente, em Novembro de 2020 e Janeiro de 2021.

A nota de 10 mil apenas entra em circulação se “se mostrar abso-lutamente necessária”, segundo José Massano, governador do BNA. Já foi assim aquando da entrada em circulação da série 2012 e nunca foi introduzida.

A família actual de notas come-

çou a circular em 2013 quando o BNA tinha, na liderança, precisa-mente José de Lima Massano. Na ocasião, foram produzidos 750 milhões de unidades, compreen-dendo notas de valor facial de 1, 5, 10, 50, 100, 200, 500, 1.000, 2.000, 5.000 e 10.000, além de moedas metálicas de cinco e dois kwan-zas, assim como de 50 e 10 cênti-mos do kwanza.

Em 2015, já o governador era José Pedro de Morais, tendo sido introduzidas as moedas metálicas de 50 e 100 kwanzas com o pro-pósito de substituírem, paulatina-mente e num período de três anos, as notas com o mesmo valor facial.

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BNA reintroduz nota de 200 kwanzas em ‘silêncio’

O BFA disponibilizou ao pro-grama de transferências sociais monetárias, denominado ‘Kwenda’, iniciativa do Exe-cutivo, cerca de 30 milhões de kwanzas.

Manuela Moreira, direc-tora do departamento de Acção Social do BFA, referiu que o mon-tante foi inicialmente orçado para as festividades alusivas aos 27 anos de existência do banco. Mas, face às circunstân-cias actuais, a direcção decidiu disponibilizar as verbas ao pro-grama. “Decidimos fazer a dife-rença. Fazer a diferença, mais do que fazermos negócio, é garan-tir que o país onde ganhamos dinheiro melhore todos os dias a situação social das pessoas”, disse Manuela Moreira, refor-çando a continuação de apoio às famílias carenciadas.

O valor foi entregue na quinta-feira, 9 de Julho, dia de celebração da existência do banco comercial, ao Fundo de Apoio Social (FAS), entidade gestora do programa Kwenda.

Além deste apoio, no âmbito do programa BFA Solidário, o banco apoiou com 250 milhões de kwanzas 12 ONG que desen-volvem projectos nas áreas da educação, saúde, inclusão social e financeira, em Luanda, Kwanza--Sul e Zaire.

BFA apoia ‘Kwenda’ com 30 milhões kz

BNI afirma que não concedeu crédito por “insuficiências” dos projectos

EM RESPOSTA À MULTA DE 45 MILHÕES KZ

O BNA REALIZOU, até 10 de Julho, 131 operações de compra a compra de títulos a 76 empresas, tendo desembol-sado um total de 85,3 mil milhões de kwanzas, dos 100 mil milhões aprovados para compra de títulos públicos às empre-sas no âmbito das medidas de alívio ao impacto da covid-19.

11 Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

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Segunda-Feira 13 de Julho 2020Valor Económico10

Setembro 2018 Acusação no Tribunal Supremo/Pronúncia

Junho 2019Recurso à Pronúncia/Acórdão do Recurso

Dezembro 2019 Primeira sessão no

Tribunal

Dezembro 2019 Declarantes e testemunhas

DEFESA. Manuel Nunes Jr. confirma ter estado numa reunião, em Setembro de 2017, com JES e entidades nacio-nais e estrangeiras em que se tratou da constituição dos fundos estratégicos e da transferência dos 500 milhões, mas diz não saber em que condição par-ticipava. Valter Filipe responde que Nunes Jr. sabia que estava no encontro na qualidade de futuro coordenador da equipa económica e que foi assim que recebeu todo o dossier na sede do MPLA, por orientações de JES. A reu-nião entre Valter Filipe e Nunes Júnior é confirmada por Tiago Dias, actual vice-governador do BNA, que também esteve presente. Valter Filipe acusa, por outro lado, Archer Mangueira de mentir em Tribunal e revela que este havia enganado JES, submetendo um memorando unilateral, ao contrário do parecer técnico conjunto que lhe fora requisitado. Funcionários do BNA confirmam a impossibilidade de ocul-tação da transferência, entre outras razões, por ter sido realizada no sis-tema bancário internacional. Os asses-sores (jurídicos e financeiro) de Valter Filipe, por seu lado, admitem terem feito contribuições na elaboração dos contratos assinados com a MFS, con-trariando a tese de ‘imposição’ do MP.

ACUSAÇÃO. Com destaques para Archer Mangueira (ministro das Finanças à data dos factos) e José Massano, o MP arrola vários decla-rantes para sustentar a acusação. Man-gueira diz ter aconselhado cautelas ao ex-PR e que teria sido retirado do pro-cesso sem explicações. Reassumindo a coordenação já com João Lourenço, teria percebido que faltava idonei-dade aos operadores e que as empre-sas eram dormentes. Massano, por sua vez, afirma ter havido “graves irre-gularidades” na execução da transfe-rência no BNA. O Ministério Público contou também com o testemunho de Manuel Nunes Júnior que, arrolado pela defesa, por não se lembrar, refere que não pode confirmar, a reunião com Valter Filipe, na sede do MPLA, em que terá recebido todo o dossier do caso. Vários funcionários do BNA também são chamados para confirmar ‘a ocultação da transferência’ dos 500 milhões que foi registada tardiamente e a imposição dos contratos pela Mais Financial Services (MFS) ao BNA.

DEFESA. O recurso à pronúncia pro-duziu os primeiros resultados para a defesa, particularmente de ‘Zenu’ dos Santos e de Jorge Gaudens. Num acór-dão de 9 de Junho de 2019, o Supremo decidiu despronunciar os arguidos da acusação de associação criminosa e de falsificação de título de crédito, redu-zindo para três os crimes que tran-sitariam para a fase de produção de provas. Na altura, o Tribunal também extinguiu as medidas de coação que impediam os dois arguidos de saí-rem de Luanda, mas nunca chegou a entregar os passaportes. Ainda assim, para a defesa, era a primeira vitória num processo fortemente ensombrado pelo simbolismo político, acreditando que, não tendo havido fundamento para a falsificação do título de cré-dito, a acusação de burla por defrau-dação ficaria automaticamente ‘sem pernas para andar’.

ACUSAÇÃO. O Tribunal subscreve inte-gralmente a acusação contra os qua-tro réus num primeiro momento e o Ministério Público luta para que o Supremo não mude de opinião na sequência do recurso à pronúncia interposto pela defesa para que o pro-cesso não evoluísse para as sessões de produção de provas. O Tribunal decide dividir a razão por partes, avançando com o julgamento, mas deixando cair algumas das acusações.

DEFESA. Os advogados dos quatro réus reafirmam a sua inocência, justi-ficando que estava em causa um pro-cesso legítimo e legal autorizado pelo ex-Presidente da República (PR), José Eduardo dos Santos (JES). Sérgio Rai-mundo, advogado de Valter Filipe, afirma que a acusação nem devia che-gar a Tribunal sem que JES fosse ouvido, argumentando que se tratava de uma simples diligência que esclare-ceria os factos e que levaria necessaria-mente ao arquivamento do processo, porquanto os réus seguiram instruções do mais alto mandatário da Nação.

ACUSAÇÃO. Após meses entre as paredes da Procuradoria--Geral da República, e com os investigados sob as medidas de coação de termo de iden-tidade e residência determi-nadas em Março de 2018 pela PGR, o Tribunal Supremo (TS) recebe o processo em Setembro, reafirmando toda a acusação do Ministério Público (MP). Valter Filipe, ex-governador do BNA, e António Manuel, ex-director do departamento de gestão de reser-vas do BNA, são pronunciados nos cri-mes de peculato, branqueamento de capitais e burla por defraudação. Ao passo que José Filomeno dos Santos, ex-presidente do conselho de adminis-tração do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), e o empresário Jorge Gau-dens são pronunciados por associação criminosa, falsificação de título de cré-dito, burla por defraudação, tráfico de influência e branqueamento de capi-tais.

DEFESA. Valter Filipe declara que agiu sempre por orientação do ex-PR; reafirma a competência para autori-zar a transferência e explica que o ex--director do departamento de gestão de reservas, António Manuel, cum-priu apenas ordens suas directas, após ‘due dilligence’ na fase negocial dos contratos. Por sua vez, Jorge Gau-dens afirma que a empresa que repre-senta, a Mais MFS, recebeu mandato do ex-PR para intervir como operador privado pela parte angolana e que agiu no quadro dos contratos assinados com o BNA, lembrando a idoneidade da MFS enquanto accionista maiori-tária, entre outros, de uma instituição bancária autorizada pelo regulador. Filipe e Gaudens lembram que os con-tratos previam o retorno dos valores após 30 dias de capitalização e que os 500 milhões serviriam apenas para a constituição da garantia para a capi-talização dos fundos, que passariam a ser geridos por entidades do Estado. José Filomeno declara que interveio como assessor indicado pelo então PR, pela sua experiência no FSDEA. A sua defesa afirma que o Supremo é incom-petente para julgar o caso, já que o que está em causa é apenas a verificação do cumprimento ou não de contratos.

ACUSAÇÃO. A 9 de Dezembro do ano passado, o Supremo inicia final-mente o julgamento do, entre-tanto, já rotulado ‘caso 500 milhões’, com o Ministério Público a reafir-

mar os vários crimes que os arguidos teriam cometido. A tónica da acusa-ção assenta na ilegalidade da operação e, apesar da despronúncia do crime de associação de malfeitores, o Ministério Público mantém a tese de que os argui-dos teriam agido de forma concertada. O MP refere que o ex-Presidente da República teria sido enganado, ques-tiona a competência do então gover-nador do BNA, Valter Filipe, para autorizar a transferência e acusa de falta de idoneidade dos intervenien-tes privados (angolanos e estrangeiros), exemplificando que a parte interna-cional do consórcio era uma empresa especializada em gestão de resíduos, de acordo com buscas de internet.

DEJUREANATOMIA

DO JULGAMENTO

DOS 500 MILHÕES

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11Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

Dezembro 2019 Março de 2020

Discussão de provas

Fevereiro 2020 Carta de José Eduardo

dos Santos

Junho 2020 Alegações

Julho 2020 Quesitos

DEFESA. Os réus, mais uma vez, decla-raram-se inocentes, insistindo que todos agiram no interesse do Estado, cumprindo orientações de JES que ten-cionava passar o poder a João Lou-renço com mais recursos financeiros disponíveis. A defesa recorda que o MP ignorou os factos que levaram ao levantamento de parte das acusações pelo Tribunal e recordou que Estado não perdeu qualquer tostão, uma vez que os 500 milhões regressaram ao país por colaboração do réu Jorge Gau-dens. O mesmo réu devolveu também ao BNA os 24.850.000 euros do con-trato de assistência técnica e os dois milhões de euros a que o Estado incor-reu de custas judiciais no processo em Londres que acabou arquivado. A defesa sublinha que os 24 milhões e 850 mil euros regressaram, apesar de todas as barreiras das próprias auto-ridades para que isso não ocorresse, sendo que as autoridades chegaram a negar-se até a fornecer as coordena-das bancárias para as quais os valo-res deviam ser transferidos. António Manuel, por sua vez, sublinhou que, até hoje, não percebe a razão de estar em Tribunal, uma vez que continua no BNA a executar as mesmas tarefas pelas quais está a ser julgado.

ACUSAÇÃO. Na fase das alegações orais, o Ministério Público manteve todas as acusações, incluindo as que o TS já havia deixado cair, pedindo penas de prisão entre os mínimos de sete e 10 anos e exigindo indemniza-ção para o Estado. Evocando a ilegali-dade da operação, o MP reitera que “os réus tentaram apropriar-se de recursos do Estado e que agiram de forma con-certada”, apresentando como provas as declarações de Archer Mangueira, de José Massano e os mesmos docu-mentos constantes do processo que a defesa usa a seu favor para contestar a acusação. O Ministério Público pediu ainda que o Tribunal Supremo des-considerasse a carta de José Eduardo dos Santos, levantando inclusivamente suspeita de falsidade.

DEFESA. Os advogados e réus respon-dem caso a caso. O sindicato bancário seria formado, como prática, apenas no fim da capitalização do fundo, pro-cesso que ficou interrompido com o congelamento da transferência pelo facto de o BNA não ter confirmado a operação. João Hebo, antigo funcio-nário do BNA, confirma em Tribu-nal ter sido ele a receber dos Serviços de Apoio do ex-PR o memorando com a assinatura de JES a autorizar a celebração dos contratos e a reali-zação da transferência, sublinhando que era autêntico. A defesa argumenta que os 500 milhões, à luz dos contra-tos, nunca saíram da esfera patrimo-nial do BNA; apresenta o acordo de consenso, assinado em Londres que prova que os 500 milhões regressam ao país com a “decisiva colaboração” dos réus. Defende que o MP nunca conse-guiu provar que a garantia era falsa e que até o comunicado do Ministério das Finanças que anuncia o regresso dos 500 milhões ao país refere que a garantia era “presumivelmente falsa”. Colaboradores do BNA declaram tam-bém queValter Filipe tinha competên-cias para autorizar a transferência dos 500 milhões, no âmbito da política de investimento do BNA.

ACUSAÇÃO. O MP defende ao longo de mais 15 sessões de produção de pro-vas: a “falsidade do memorando” que autoriza Valter Filipe a assinar os con-tratos em Londres com o consórcio e a realizar a transferência e simul-taneamente a “falta de competência de José Eduardo dos Santos e de Val-ter Filipe para autorizar a operação”. MP questiona a ausência da produção do sindicado bancário pelos promo-tores; a garantia, que afirma ser falsa, fornecida pelos promotores e prova de má-fé, a saída dos 500 milhões de dólares do património do BNA sem que a instituição fosse vocacionada para o efeito e reitera o “regresso coer-civo dos valores a Angola” como des-crito pelo então ministro das finanças Archer Mangueira.

DEFESA. O Tribunal, antes de desis-tir da diligência, permite à defesa fazer a última tentativa de ouvir o ex-PR. José Eduardo dos Santos acabaria por enviar uma carta ao Supremo, a par-tir de Espanha. No documento, con-firma ter sido ele a autorizar Valter Filipe a assinar os contratos e a pro-cessar a transferência. Revela também que havia anulado o memorando uni-lateral de Archer Mangueira por este o ter enganado e que o tinha afastado da coordenação do processo por razões de agenda. JES precisa que Manuel Nunes Júnior tinha sido apresentado na reu-nião de Setembro de 2017 como o futuro coordenador da equipa econó-mica e que, inclusivamente, João Lou-renço estava informado do dossier. O ex-Presidente refuta a acusação de que houvesse qualquer tentativa de se des-viarem os recursos, afirmando que a operação estava em curso no inte-resse do país, assolado pela crise finan-ceira. E que a mesma se enquadrava no escopo das suas competências consti-tucionais.

ACUSAÇÃO. A audição ou não a José Eduardo dos Santos marcou o desen-rolar de todo o ‘caso 500 milhões’, desde a sua fase de instrução na PGR. Contrário ao entendimento da defesa, o Ministério Público recusou-se a ouvir o ex-Presidente na instrução pre-paratória e na instrução contraditória. MP tentou evitar que a versão de José Eduardo dos Santos fosse ouvida na fase de produção de provas, argumen-tando que era desnecessária. O Tribu-nal lembra diligências para, em nome da imparcialidade, ouvir JES, uma vez que Valter Filipe não aceitou decli-nar das declarações da pessoa de quem recebeu orientações para praticar os actos que culminaram com a transfe-rência.

DEFESA. Os advogados contestaram a elaboração de quesitos baseados num documento nunca antes discutido e que nem constava da acusação até à data. Ainda assim, solicitaram ao MP que apre-sentasse o alegado contrato, pedido que também foi formulado pelo Tribunal. O MP não conseguiu apresentar o docu-mento, tendo a defesa sublinhado que o alegado contrato é inexistente. A defesa requereu a eliminação de quesitos que levantam matérias de direito e não de fac-tos, já que a sua inclusão viola a Lei. A defesa acusa ainda o MP de várias contra-dições, ao confundir o papel de cada um e sem que se tivesse preocupado em acu-sar a parte internacional. Questiona, por exemplo, como foi possível acusar os réus de branqueamento de capitais, uma vez que a origem dos dinheiros é lícta (BNA). Para a defesa, a acusação tinha de assu-mir antes que o BNA exerce actividade criminosa, já que só se pode branquear recursos de origem ilícita. A defesa tam-bém questiona o peculato, considerando que nennum dos réus se beneficiou dos recursos. E a burla por defraudação, já que que o próprio Tribunal concluiu que não houve nem associção criminosa nem falsificação de tírulos. O Tribunal encer-rou a sessão sem marcar a data de leitura do acórdão de sentença.

ACUSAÇÃO. O Tribunal apresenta mais de 100 quesitos às partes, perguntas finais do processo baseadas na acusa-ção, pronúncia e nas sessões de pro-dução de provas, sem respostas aos quesitos. O Ministério Público pede a inclusão de quesitos relacionados com um suposto contrato que previa a divi-são do dinheiro e que estaria dentro do processo pelo que não se trataria de nova prova produzida extemporanea-mente em fase de quesitos e sem dis-cussão com a defesa.

A defesa recorda que Estado não perdeu qualquer tostão, uma vez que os 500 milhões regressaram ao país, além dos 24.850.000 euros do contrato de

assistência técnica e os dois milhões de euros a que o Estado incorreu de custas judiciais no processo em Londres que acabou arquivado.

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Valor Económico14 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

Ambani, um asiático

no top 10

Os impostos pagos pelas indústrias Reliance perfazem 5% do total de receitas de impostos da India.

Reliance é dona da maior refinaria do mundo localizada em Jamnagar, Gujarat, com capacidade para refinar 668 mil barris de petróleo por dia.

Antília a ‘casa’ mais cara do mundo, avaliada em perto de 2 mil milhões de USD, é na verdade um edifício de 27 andares em Mumbai, e, em que vive Ambani e sua família. Tem um spa, centro de recreação e estúdios de yoga e dança, três pistas de aterragem de helicópteros, 9 elevadores que servem os diferentes pisos dos membros da família, cinema de 50 lugares, parque para 168 carros, salão de festas, o seu próprio templo de ora-ção, várias piscinas e jardins suspensos. São precisos 600 funcioná-rios para a manutenção da residência.

A morte do pai trouxe uma cisão familiar que só foi apaziguada pela mãe que dividiu as empresas do pai pelos irmãos Mukesh que reteve as indústrias de petróleo e gás e Anil, dois anos mais novo, que reteve os inves-timentos financeiros, telecomunicações e infraestruturas. Os irmãos tiveram muitas turras mesmo depois dessa divisão com processos judiciais pelo meio. Mukesh fundou a Jio que ajudou a falir a Reliance Telecoms e os investimentos em bolsa de Anil fizeram--no perder mais de 120 milhões de USD, enquanto as empresas do irmão só facturavam. Duas décadas depois, quando Anil esteve perto de ser preso por não poder pagar uma divida Mukesh interveio e apaziguou a zanga.

Mais de metade do investimento em tele-comunicações mundial na primeira metade de 2020, cerca de 15 mil milhões de USD, foram para a Jio braço de telecomunicações do grupo Reliance que tem ‘surfado’ com sucesso a onda gigante da pandemia do covid-19. A empresa está bem posicionada para domi-nar metade do mercado indiano do sector e conta já 388 milhões de subscrições.

O conglomerado Reliance detém interes-ses no petróleo e gás, têxteis e retalho, media, banca e telecomuni-cações com mais de 75 mil funcionários, declara receitas de mais de 90 mil milhões de USD em 2020.

Ambani abandonou a licenciatura na univer-sidade de Stanford nos EUA para responder ao chamado do pai para assumir uma das investidas da empresa do pai que mais tarde iria herdar no sector têxtil.

O presidente da Reliance Industries, o indiano mais rico há 12 anos, viu a sua fortuna passar para 64.5 mil milhões de USD com a duplicação do valor das acções da Reliance. É agora quatro vezes mais rico do que o segundo homem mais rico da India.

Um dos maioresinvestidores desportivos do mundo, Ambani fundou a liga de futebol indiana e é o dono da IPL de Mumbai.

Ambani com 63 anos, facturou 16.4 mil milhões de USD, uma média de 4.5 milhões de USD por dia.

2019

RIQUEZA. É a nona pessoa

mais rica do mundo neste ano assustador para as maiores

empresas do mundo, em grande parte graças ao impacto da covid-19, que aumentou substancialmente o

consumo de telecomunicações, levando à valorização de empresas como a Jio que

lidera o mercado na India. Conheça Mukesh Ambani, o novo integrante do topo dos mais ricos do planeta

e o primeiro asiático a entrar no grupo.

Gestão

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TaçaCheia

96.1 fmR á d i o E s s e n c i a l

Todos os sábados, às 22:00,

com Sebastião

Vemba

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Valor Económico16 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

(In)formalizandoNO LOBITO, BENGUELA

Associação dos Jovens Empreendedores cria hortas comunitárias

om v ista a estimular a agricultura familiar e com-bater a fome, a Associação dos Jovens Empreende-

dores seleccionou 30 famílias que vão beneficiar do programa de hor-tas comunitárias no município do Lobito, em Benguela.

O programa é enquadrado no projecto ‘Kindala’, cujo objec-tivo é combater o desemprego. As famílias estarão agrupadas

elo menos 523 cidadãos, no Bié, encontra-ram emprego em sete das 15 cooperativas de exploração de diamantes exis-

tentes.   Anacleta  Leonardo, directora do gabinete provincial do Desen-volvimento Económico Integrado, informou que oito outras foram forçadas a paralisar por não apre-sentarem todas as exigências da lei.

O departamento desenvolve um trabalho de verificação dos factores que estão a condicionar a reabertura de algumas coopera-tivas  e estudam-se mecanismos para ajudá-las no financiamento junto da banca para impulsionar a sua actividade.

No entanto, Anacleta Leonardo lamentou o facto de actualmente a exploração ilícita de diamantes estar a ser praticada pela população resi-dente, “alegadamente para sustento familiar, ao invés de optarem pela produção agrícola”.

Entretanto, na comuna de Soma-Kwanza, os níveis de pro-dução baixaram mais de 50% por causa da covid-19. João Bar-ros, presidente da cooperativa Chitembo-Tchalaza, disse que os preços também baixaram conside-ravelmente desde Março, quando a Sodiam deixou de comprar a pedra preciosa.

Em função disso, destacou que foram obrigados a reduzir de 500 para 100 o número de tra-balhadores, agravando a situação social dos afectados.

em 30 brigadas e começam, em Agosto próximo, a efectivação do projecto que tem como prio-ridade o cultivo de couve, cebola, tomate e repolho, incluindo algu-mas frutícolas, como melancia ou papaia.

Segundo o presidente da Asso-ciação, Alfredo Cangonga Nguli, o projecto estender-se-á pelo menos a 15 bairros do Lobito e, nos pró-ximos tempos, em outros pontos do país. Face à sua importância no combate à fome e ao desemprego, poderá receber apoios públicos ou privados.

C

PEmprego no ‘garimpo’ de diamantesNO BIÉ

Aquicultores associados de Quissole, em Malanje, ini-ciaram a comercialização de 2.500 toneladas de tilápia tam-bém conhecido por cacusso. A comercialização é respeitante ao primeiro ciclo produtivo dessa espécie que se prolonga até Agosto. Cada quilo está a ser despachado a 3.000 kwanzas.

Evaristo Quintas, coorde-nador para o desenvolvimento comunitário do projecto, expli-cou que o cacusso que está a ser vendido resulta de 124 tanques de engorda, que possuem mais de dois mil peixes cada um, prontos a serem entregues aos clientes. “Mas a meta é aumen-tar a produção com mais 126 tanques”, refere.

A iniciativa apoia 250 famí-lias das localidades de Quissole, Vila Matilde, Vula Ngombe, Ngola Luije, Quéssua, Camizaje, Casteve e Quizanga, todas per-tencentes administrativamente ao município de Malanje.

O governador de Malanje, Norberto dos Santos, presen-ciou o arranque do processo de vendas e, na ocasião, ofere-ceu aos aquicultores uma moto-rizada de três rodas e redes de pesca, tendo desafiado os jovens a criarem cooperativas, visando fomentar o ofício e, desta forma, ajudar o programa do Executivo de diversificação da economia.

Cacusso começa a ser vendido em Malanje

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Valor Económico18

OpiniõesSegunda-Feira 13 de Julho 2020

ão podia come-çar este artigo de outra forma que não fosse con-gratular a Agên-cia Angolana de Regulação e

Supervisão de Seguros (Arseg), pela iniciativa de lançar a Proposta de Consulta Pública nº1/20, sobre o Regime Jurídico da Actividade Segu-radora e Resseguradora em Angola. Com esta iniciativa, a Arseg mos-tra que quer um mercado segura-dor mais sólido, robusto, dinâmico, com competências reforçadas, mais moderno e adaptado às circunstân-cias actuais do país e do mundo.

A proposta sobre o novo regime jurídico da actividade seguradora e resseguradora é uma autêntica revo-lução no sector em Angola, por isso, à medida que avançamos na sua lei-tura, vai-se abrindo aos nossos olhos todo um novo horizonte, um hori-zonte que todos sabemos desafiante, mas, ainda assim, há muito esperado.

N

Formação no Sector Segurador – Uma prioridade II

E como tudo o que é novo precisa de ser apreendido e compreendido, esta proposta de um novo regime jurí-dico precisa de ser descoberta, lida e estudada com atenção.

Os desafios que surgem das alte-rações propostas pelo novo regime jurídico são inúmeros, tanto ao nível do regulador como das segu-radoras, por isso, tal como escrevi no artigo, com o título ‘Formação no Sector Segurador – Uma priori-dade’, que foi publicado neste jornal no passado dia 24 de Março, a for-mação no sector segurador deve ser uma das principais prioridades dos vários intervenientes. Em Março, quando escrevi sobre a urgência da necessidade de formação no sector segurador, a Arseg ainda não tinha lançado a consulta pública sobre o novo o regime jurídico, mas já ante-cipava a necessidade que o sector teria de se ajustar a uma nova reali-dade e que passaria, numa primeira fase, pela formação dos quadros em áreas específicas, mas funda-mentais: “Com um sector segura-dor a ajustar às melhores práticas internacionais a expectativa é que também os modelos de governação das seguradoras se adaptem o que trará uma maior exigência e colo-cará uma enorme pressão sobre os recursos humanos, pois áreas como auditoria interna, compliance, risco,

Ricardo Vinagre, Senior Manager EY, Assurance Services

uma altura em que se analisa o orça-mento revisto de 2020, parece opor-tuno questionar como serão os dois últimos da actual

governação. Restarão os orçamentos de 2021 e o de 2022, este que será o ano das eleições. Ou seja, tratam-se de dois documentos, cujo elabora-ção, quer se queira, quer não, tem uma certa carga eleitoralista, ou seja certamente vão englobar muitos projectos de rápida execução e pen-sados minuciosamente na preocu-pação imediata de agradar o eleitor.

Portanto, a elaboração destes dois documentos certamente seria mais difícil caso a covid-19 não surgisse, trazendo a possibilidade de Angola renegociar as dívidas com alguns dos principais credores e, assim, ganhar algum folego financeiro que permi-

N

Covid-19 a salvação dos próximos dois OGE?

tirá ao MPLA, enquanto partido no poder, elaborar um orçamento mais ajustado ao processo eleitoral.

Um ‘luxo’ a que não se conseguirá dar, por exemplo, se não se confirmar a moratória de pelo menos três anos em relação aos pagamentos devidos à China. Apesar de esta semana a ministra das Finanças, Vera Daves, sublinhar que nada ainda está deci-dido, tudo indica que sim, Angola irá beneficiar desta moratória para os pagamentos das amortizações e juros à China, que é tão-somente o maior credor do Estado.

O correcto seria aproveitar esta moratória para se fazer ‘um pé-de--meia’ no sentido de, quando se retomarem os pagamentos, estar-se em presença de alguma folga finan-ceira, sobretudo devido as incertezas do mercado petrolífero que conti-nuará ser a principal fonte de finan-ciamento do Orçamento do Estado.

Mas parece existirem poucas dúvidas sobre qual seria a escolha do MPLA perante uma eventual necessidade de escolher entre um orçamento realista, mas que não garantisse a vitória eleitoralista, e um outro que desrespeitando as regras de boa gestão, ignorando as possi-bilidades e realidades, fosse dese-nhado para inebriar o eleitorado.

César Silveira, Editor Executivo Valor Económico

actuarizado, assim como um upgrade necessário nas áreas de subscrição e gestão de sinistros serão determinan-tes. O regulador será naturalmente cada vez mais exigente e poderá vir a confirmar o fit and proper das estruturas.”. Em Maio, a Arseg lan-çou a Proposta de Consulta Pública nº1/20, sobre o Regime Jurídico da Actividade Seguradora e Ressegura-dora em Angola e hoje, quando vos escrevo as necessidades de formação em determinadas áreas, deixaram apenas de ser vantagens competi-tivas para as entidades que tinham quadros com determinadas carac-terísticas, para passarem a ser uma exigência, entre outras destaco a cria-ção de funções tais como as de audi-toria interna (artigo 61.º), a actuarial (artigo 62.º) e a criação da figura do sistema gestão de riscos (artigo 58.º) e de controlo interno (artigo 60.º).

Desta forma, aquilo que era expectativa passa a facto e não existe volta a dar, pois, com a evolução do sector segurador em Angola e com a eminente entrada em vigor de um novo regime jurídico, todos os inter-venientes do mercado terão de apos-tar na formação dos seus quadros para que os mesmos consigam, por um lado, dar respostas às exigências impostas e, por outro, as entidades estar em compliance com a legisla-ção em vigor.

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19Valor Económico

O ensino superior confere aos alunos uma variedade de competências e conhecimentos

importantes para a vida, ajuda-os a levar uma vida mais rica e completa.

~

~

Será que a covid-19 finalmente vai

desencadear a disrupção tecnológica há muito esperada no ensino superior? Em todo o mundo, repentinos

bloqueios no meio do ano lectivo, destinados a

combater a pandemia, forçaram as universidades

a passar quase da noite para o dia para o ensino à

distância. Mas, embora essa repentina transição tenha sido difícil para

professores e alunos, algo de bom ainda pode surgir.

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Segunda-Feira 13 de Julho 2020

omo mu it a s empresas, as uni-versidades lutam para reiniciar as actividades e adoptam uma série de estraté-

gias. Por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, anun-ciou que as palestras vão ser todas apenas online até pelo menos mea-dos de 2021. Outras, como a Uni-versidade de Stanford oferecem um ‘mix’ de aulas presenciais e online, bem como o prolongamento do ano lectivo para que menos estudantes venham ao ‘campus’ a qualquer hora.

Não nos enganemos: a covid-19 representa um enorme golpe económico para o ensino superior. Alojamentos dos estudantes estão desocupados, estádios desportivos continuam vazios e os alunos recu-sam-se a pagar os seus estudos. Para muitas faculdades e universidades, é provável que a queda nas receitas de estudantes estrangeiros, especial-mente chineses, seja dolorosa; várias escolas menores com menos recur-sos podem vir a fechar.

Até mesmo as melhores universi-dades enfrentam desafios. A Univer-sidade de Michigan, nos EUA, prevê ter uma perda induzida pela pande-mia de até mil milhões de dólares até o final de 2020, enquanto a Universi-dade de Harvard projecta um défice nas receitas de 750 milhões de dóla-res para o próximo ano.

Mas será que o choque provo-cado pela covid-19 poderá, por fim, ajudar a proporcionar melhor edu-cação a mais pessoas e a um custo menor? A resposta depende, em parte, de as universidades deixa-rem a tecnologia de lado à medida que a pandemia for diminuindo, ou então encontrarem melhores

C

As universidades vão aprender com os bloqueios?

Kenneth Rogoff pessoalmente a uma óptima aula, certamente uma boa palestra gra-vada é melhor do que uma pales-tra presencial medíocre.

Se avançarmos rapidamente qua-tro décadas, no entanto, o progresso tem sido limitado. Uma provável causa é a gestão da universidade: são os docentes quem administram essas instituições e poucos tendem a seguir um caminho que reduziria a procura pelos seus serviços. Sem dúvida, os professores também se preocupam com o facto de as aulas gravadas dificultarem a procura de emprego por parte dos estudantes de pós-graduação. E os estudantes de pós-graduação, com disposição e novas ideias, são os principais impul-sionadores da pesquisa.

As mudanças demográficas há muito exercem pressão sobre as matrículas nas faculdades. Mesmo que alguns professores (como os de ciência da computação) ainda tenham uma grande procura , para muitos outros, o número decrescente de estudantes certamente amplia a resistência às novas tecnologias que economizariam o trabalho.

Mas talvez o maior obstáculo seja o alto custo da produção de palestras gravadas de alta qualidade que satis-façam alunos tanto quanto as aulas presenciais. Produzir até uma única palestra para consumo em massa é uma proposta arriscada e demo-rada. E como as palestras gravadas são muito facilmente clonadas, fica difícil cobrar um preço alto o sufi-ciente para cobrir esses custos. Uma infinidade de ‘startups’ de educação (incluindo muitas na área de Bos-ton e arredores, onde moro) tenta resolver esses problemas, mas até agora não conseguiu causar impacto no sistema.

Portanto, parece razoável per-guntar se o governo dos EUA deve-ria arcar com os custos de criação de materiais básicos para palestras pré-gravadas ou online em determi-nadas áreas. O mesmo poderia ser feito para cursos para adultos. Em particular, os materiais introdutó-rios dos cursos online em assuntos apolíticos, como matemática, ciên-cias da computação, física e conta-

bilidade, deveriam ser os principais candidatos a financiamento federal.

Muitas outras disciplinas aca-démicas, certamente incluindo a economia, também têm um grande potencial online. O candidato pre-sidencial democrata dos EUA, Joe Biden, apoia agora tornar o ensino universitário grátis, o que anima alguns professores. Mas, em vez de expandir o sistema universitá-rio existente nos EUA, o financia-mento federal para a aprendizagem online não seria um caminho mais justo e eficiente, especialmente por-que poderia ajudar adultos de todas as idades?

O ensino superior confere aos alunos uma variedade de compe-tências e conhecimentos impor-tantes para a vida, ajuda-os a levar uma vida mais rica e completa e, espera-se, transforma-os em melho-res cidadãos. Mas está longe de ser óbvio que todos os diferentes aspec-tos do ensino superior, incluindo a aprendizagem dessas capacidades teóricas e o desenvolvimento social e intelectual, precisam ser agrupa-dos da maneira que agora o são. Os alunos precisam estar juntos, mas não necessariamente o tempo todo.

Praticamente, todos concordam que ampliar o acesso ao ensino supe-rior é uma das melhores maneiras de corrigir a desigualdade social e que isso pode ajudar a tornar a sociedade mais justa e produtiva. E também é essencial num mundo onde a tecno-logia e a globalização (ou hoje, talvez a desglobalização) exijam maior sen-tido de adaptação e possivelmente reciclagem para atender às mudan-ças no mercado de trabalho.

É provável que a crise da covid-19 traga mais mudanças velozes e de longo alcance no campo económico que nos envolve. Mas não precisa-mos de ficar apavorados com esssas mudanças se a pandemia também impulsionar uma transição para um ensino superior melhor e mais universal.

Professor de Economia e Polí-ticas Públicas, na Universidade de Harvard; ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional, entre 2001-2003

formas de aproveitá-la. Este não é um desafio fácil, dada a importân-cia das interacções entre professo-res, estudantes de pós-graduação e universitários, dentro e fora das salas de aula.

Quando completei a minha pós--graduação, há 40 anos, estava con-vencido de que o aprendizado por vídeo (a tecnologia da época) remo-delaria o ensino universitário. Afi-nal, pensei, por que os estudantes de todo o mundo não poderiam ter acesso aos melhores palestrantes e a materiais, principalmente porque as palestras presenciais no ‘campus’ para 200 alunos ou mais oferecem um espectro extremamente limitado para a interacção pessoal?

Certamente, o ensino em sala de aula ainda teria um papel impor-tante a desempenhar. Os professo-res ainda desenvolveriam os seus materiais didácticos e responde-riam a perguntas. Não poderia pre-ver palestras gravadas para atender turmas menores (embora os mate-riais gravados possam, é claro, fun-cionar também nesse cenário). Mas, embora seja emocionante assistir

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Valor Económico20

OpiniõesSegunda-Feira 13 de Julho 2020

sta semana a cadeia televisiva Euro-news fez uma peça intitulada ‘Angola é modelo face à crise de covid-19’ em que aplaude a

actuação do governo.Tirando o facto de que ainda é

cedo para se cantar vitória quanto ao covid-19, porque sabemos ainda muito pouco sobre o vírus e porque

mesmo países que se declararam livres do vírus voltaram a tê-lo, já para não falar que os nosso núme-ros aumentaram exponencialmente com o aumento dos testes, o mais duvidoso da peça era, por um lado a afirmação de que alguns observa-dores apontam Angola como o país da Àfrica Sub-saariana mais seguro em termos de saúde, e por outro a afirmação de que Angola ‘se posi-ciona para salvaguardar a economia e garantir a atratividade’. Afirmação particularmente bizarra porque até agora os empresários mal sabem que ajudas de facto o Estado vai poder de facto dar às empresas, enquanto noutros países o Estado subsidiou não só empresas mas o pagamento de salários para manter as estruturas vivas até ao reinicio da actividade. Mas diz a Euronews que angola se está a posicionar...

O ceptismo foi imediato. As perguntas dos internautas giram em torno do “quanto terá custado essa promoção?” Com alguns a per-guntar “em que Angola é que vivem esses observadores que acham o nosso sistema de saúde assim tão bom?” Mas percebe-se o esforço de desatrelar o nome do país de todas as muitas conotações negati-vas, dando um destaque ao que se tem feito de positivo no combate ao Covid-19 desde inicio da pandemia e, com exemplos positivos como o da Fazenda Girassol que viu aumen-tar a sua clientela devido à capaci-dade de fazer entregas numa fase de estado de emergência e calami-dade. Estas acções de promoção são necessárias para abrir o apetite de

E

E agora pergunto eu...

investidores pelo que a Agência de Promoção de Investimentos está a fazer, e bem, o seu trabalho. Ainda que descreva uma Angola que pou-cos conhecem. Até porque temos um país a várias velocidades.

Na mesma semana que uma Euronews bate palmas ao com-bate à pandemia vemos amontoa-dos perigosos de filas causadas pela diminuição da capacidade dos trans-portes instituída sem aprovisiona-mento de meios, e pessoas que não sabem como regressar a casa por-que o sistema público de transportes é quase inexistente. Vemos ajunta-mentos de camionistas desespera-dos para fazer um teste à saída da capital, e vemos anúncios de mul-tas para todos os que não andarem com máscara que, com a polícia que temos, inevitavelmente se vão tra-duzir em ‘mixa’ extra, extraída aos pobres. Pergunto-me se o governo não conhece a polícia que tem? E melhor pergunta do que essa é outra que vi online: “porque é o valor das multas é superior aos 8 mil kwan-zas atribuídos como bolsa a algu-mas famílias carentes?

Temos um País a várias veloci-dades e o reconhecimento desta rea-lidade é instrumental para a classe governativa fazer um trabalho mini-mamente decente.

O ignorar dessas velocidades distintas é que leva a que tenhamos governantes a dizer coisas como “não há fome em Angola”. Coisas tão mais desesperantes porque quem não reco-nhece um problema não tem como sequer tentar resolvê-lo. E andamos assim, em negação (denial is not

just a river in Egipt), a perpetuar a distância entre as diferentes veloci-dades a que anda o país, e assim, a garantir que elas nunca se cruzam. Quem anda rápido anda cada vez mais rápido, quem ficou para trás fica cada vez mais para trás.

Esta semana correu um vídeo online em que crianças pequenas entravam em canoas frágeis, feitas à mão com as suas mochilas, e ventura-vam-se sozinhas no rio kwanza, que para além de cobras e peixes enormes capazes de virar canoas facilmente, tem crocodilos. Tudo para irem para a escola. Nenhuma tinha aspecto de ter mais de 10 anos iam sozinhas e a pessoa que filmava perguntava--lhes os nomes, se tinham medo e dizia “isto é Angola”. Tão diferente da descrita pela Euronews...

O governante vindo de uma casa topo de gama para um escri-tório topo de gama, num carro que também viaja à velocidade de topo de gama, é o mesmo que tem de res-ponder pela Angola da velocidade da canoa daqueles meninos. Daí a dificuldade de, em face da veloci-dade do seu topo de gama, assumir a representação da velocidade da canoa. Mas é preciso que a assuma para a poder tentar resolver.

A mesma Angola do excelente trabalho no combate ao covid tem, por outro lado, quase 5 milhões de crianças e adolescentes fora do sis-tema de ensino, perto de 2 milhões com menos de 12 anos. Tem 60% das escolas sem água, 60% sem elec-tricidade, muitas vezes sem pare-des sequer. Instalações sanitárias são o básico quando há, bibliote-cas e laboratórios são miragem. A mesma Angola que quer construir sedes para as suas instituições, metro de superfície, bairro dos ministérios, a mesma que gastou milhões no CAN e que deixou estragar ou falir a maioria das estruturas, a mesma que gasta milhões na manutenção do edifício da Assembleia Nacional. A mesma Angola que gasta menos de 7% do OGE com a educação, há décadas, e que gasta mais de o dobro com defesa e segurança.

E agora pergunto eu... que futuro é que é possível se continuamos com as prioridades invertidas? Se conti-nuamos com um país a velocidades que contrastam de forma gritante, e em que a maioria (o futuro da Nação) fica bem lá atrás, a ir para a escola de canoa?

Geralda Embaló Directora-Geral Adjunta

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A edição 216 do Valor Económico mereceu

comentários a diferentes temas de capa como a

escassez de ovos em dezembro prevista pela

presidente da Anavi, Maria José e a entrevista do economista Fernando

Heitor. O tema mais discutido na pagina do

Valor Económico voltou a ser protagonizado pela empresária Isabel dos

Santos que revelou em exclusivo revelou que o

Estado português nacionalizou a EFACEC

quando a empresa estaria quase vendida. A pagina

do facebook do Valor económico reuniu mais

de 14 mil interações entre partilhas, emoções e

comentários.

Os comentários são selecio-nados segundo critérios que

visam reflectir a diversidade e qualidade de opiniões sobre

os temas do Valor Económico. Gralhas e discussões pes-

soalizadas são editadas para publicação.

Leia na íntegra em www.valoreconomico.co.ao

Edição 216 Partilhas 83 Likes 711

Pedro Alberto Subscrevo o editorial. Finalmente a mentira tem pernas curtas. Balanço dos dois anos Negativo, um presidente que perdeu a oportunidade de marcar a história, o partido da situação ficou mais desnorteado e dividido e incapaz de pelo menos trazer o essencial para o povo tirando discursos desatualizados e fora do contexto actual, arrogância são as únicas que trazem num país que está arder.

Luis Miguel Bom técnico que já boa alegrou em tempos idos. Agora só se enrola nos dizeres. Em angola ser camaleão é a coisa mais fácil de ser

Osvaldo Diogo MPLA pra mim só sai a ganhar na legalização do partido PRA-JÁ a Unita vai sair a perder com a legalização do PRA-JÁ isso acon-teceu nas eleições passado com a CASA-CE desviou muito jovens qUE poderiam votar na Unita acabaram votar na CASA-CE então o MPLA tem que estudar bem esses factos e legalizar o mas rápido possível porque quanto mais tiverem 3 forças do mesmo nível para competirem nas eleições mais o MPLA sai a ganhar, é a minha opinião.

Professo Filing Nenhum português é digno de falar de roubo que acontece em Angola porque eles estão metidos nos roubos de Angola até ao pescoço. Não é à toa que inocentaram o Manuel Vicente em Portugal. Até ao Ano passado 70% do dinheiro de Portugal pertencia aos Angolanos.

Tony Santos Oportunistas sem escrúpulos.

Hauzer Benchimol Foi um corte à Sérgio Ramos kkkkk Adivinhem quem foi o treinador que deu essa táctica? Kkkkk

Jorge M Rosario A EFACEC não fabrica Cuca nem Ngola para a malta ficar fixe na maratona.

Ricardo Carvalho Bem feita...ao menos não ficou com ela.

Micha Sindiquila Angola só sai a perder!

José António Gonçalves Coelho Processar Portugal...

Divaldo Cruz Bandidagem “tuga!

Jorge M Rosario Divaldo Cruz Companheiro lá o dinheiro custa a ganhar, tem que se preservar... ou proteger. Não é tipo nós aqui. Manda lixar a gaja... que se lixem os empregos... antes de irem trabalhar lá já sabiam que a gaja era bandida.... etc... etc... etc..!!!

Eugenio Silva Divaldo Cruz. Isabel dos Santos, não gastou um euro seu para adquirir a EFACEC, já que utilizou bancos portugueses para realizar essa operação. Consulte online a CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários). Está tudo lá.

Divaldo Cruz Eugenio Silva os créditos, são pagos ,com taxas de juro. Nem querem assumir os empréstimos bancários, pura bandidagem.

Efigenio Bernardo Mentira...por causa dos créditos da tal accionista na banca...situação de alto risco....ninguém queria comprar as acçoes..os candidatos desistiram.

Jornal Valor EconómicoVisite o site www.valoreconomico.co.ao

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21Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

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Valor Económico22 Segunda-feira 13 de Julho 2020

Covid-19

A companhia aérea Emirates, dos Emirados Ára-bes Unidos (EAU), planeia eliminar até nove mil postos de trabalho devido à diminuição da pro-

cura gerada pela pandemia da covid-19.O presidente da companhia, Tim Clark, anun-

ciou que já cortou um décimo do pessoal da companhia aérea, ou seja, seis mil, de um total de 54 mil trabalhadores, aos quais se aplicarão

cortes. “Provavelmente, teremos de cortar mais alguns empregos, provavelmente até uns 15%”,

disse em declarações à BBC.Antes do início da pandemia, a companhia

aérea contava com 60 mil funcionários e, em 31 de Maio, anunciou despedimentos, apesar de

não especificar quantos seriam.Até ao momento, a Emirates era a única opera-dora a manter a sua equipa completa, enquanto as outras operadoras do Golfo Pérsico anuncia-

vam planos de ajustamento.A Etihad, com sede em Abu Dhabi, e a Qatar

Airways, com sede em Doha, começaram a des-pedir depois de os países mais afectados pela

pandemia fecharem os espaços aéreos, à medida que o novo coronavírus se propagava.

Segundo Tim Clark, a Emirates “não estava tão mal como as outras” companhias aéreas e “estava a caminho de conseguir fazer um dos

seus melhores anos” antes da pandemia.

Os centros infantis já despe-diram mais de cinco mil fun-cionários e muitos vão fechar portas definitivamente, aler-tou uma representante do sector, reagindo à suspensão do paga-mento de propinas até ao reiní-cio das aulas presenciais.

O Governo suspendeu a cobrança e o pagamento de propi-nas em todas as instituições públi-cas e privadas de ensino, até à retoma das aulas presenciais, que não tem data prevista.

O decreto executivo conjunto dos ministérios da Administra-ção Pública, Trabalho e Segu-rança Social, do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e da Educação indica ainda que as “prestações mensais das propinas pagas no período em que vigorou o estado de emergência devem ser

deduzidas nos demais meses pre-vistos no calendário do ano lectivo e académico 2020 reajustado”.

Em declarações à Lusa, D’jandira Catela do Vale, da comissão executiva dos centros infantis da Anep (Associação Nacional do Ensino Particular), considerou que o decreto levanta problemas económicos, mas tam-bém sociais e educativos.

A representante da comis-são executiva, que integra mais de 200 centros infantis particula-res e comparticipados pelo Estado com todas as valências (creche e jardim de infância) de Luanda, Bié, Huíla, Zaire, Benguela e Cabinda, lembrou que as escolas estão fechadas desde 24 de Março, quando foi declarado o estado de emergência, mas continuaram o seu trabalho com as crianças.

Emirates planeia despedir até 9 mil funcionáriosDEVIDO À DIMINUIÇÃO DA PROCURA

POR CAUSA DA SUSPENSÃO DAS AULAS

Centros infantis alertam para falências e despedimentos

O receio de ser contami-nado pela covid-19 surge em primeiro lugar numa pesquisa realizada pela Marktest Angola sobre a pandemia feita à população de Luanda, ao que se segue o medo de faltar alimentos.

A pesquisa adianta que 46% dos luandenses mani-festaram receio de serem contaminados pela covid-19; que 14% têm medo que faltem alimentos, e 8% que o sistema nacio-nal de saúde não asse-gure a resposta necessária à pandemia, a par de não sobreviver ao vírus.

Em contrapartida, 84% da população de Luanda sabe a quem se dirigir em caso de suspeita de ter con-traído o vírus.

Relativamente à maior ou menor preocupação desde o início da pan-demia no país, 73% dos luandenses manifesta-ram-se “muito mais ou mais preocupados” e, quanto às últimas medi-das tomadas pelo Governo, 65% estão de acordo e 25% não concorda.

Luandenses têm mais medo de ficar infectados do que ficar sem alimentos

SEGUNDO ESTUDO

Um grupo de 83 milionários propôs a aplicação “imediata” de uma taxa aos mais ricos do planeta de “forma permanente”

para contribuições que possam ajudar a minimizar os efeitos da crise provocada pela pandemia da covid-19.

“Agora que a crise da covid-19 atingiu o mundo, os milio-nários como nós desempenham um papel essencial para

curar o mundo”, afirmam numa carta aberta os signa-tários, entres os quais o co-fundador da cadeia de gela-

dos norte-americana Ben&Jerry, Jerry Greenfield, e o realizador britânico Richard Curtis.   

A carta é difundida antes da reunião dos ministros das Finan-ças do G20 e da cimeira extraordinária para o relançamento económico da União Europeia, esta semana. “Apelamos aos governos a aumentarem os impostos a pessoas como nós, de forma substancial e permanente”, declaram no documento.  “Não somos nós que tratamos das doenças nas unidades de

cuidados intensivos. Não somos nós que conduzimos as ambu-lâncias que transportam os doentes aos hospitais. Não somos

nós que trabalhamos no abastecimento dos supermercados ou que entregamos comida de porta em porta”, escreve o grupo,

que se denominou ‘Milionários pela Humanidade’. Até ao momento, os subscritores que constam da lista no portal do grupo são maioritariamente norte-americanos e britânicos.

Milionários propõem taxas maiores para os mais ricos

PARA MITIGAR CRISE

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23Valor EconómicoSegunda-feira 13 de Julho 2020

A OMS RECOMENDOU, na segunda-feira, 13, que as escolas só reabram quando a trans-missão comunitária do novo coronavírus esti-ver controlada, admitindo desconhecimento sobre o papel das crianças na pandemia.

Depois de Benguela e Luanda, a fábrica de detergentes Huilux, da Catum-bela, começou recentemente a comercializar os seus produtos no

Huambo e pretende distribuí-los em todo o país, devido à procura imposta pela covid-19.

Com uma produção actual de 300 mil litros/mês de lixívia, álcool gel, solução alcoólica, desinfectante bactericida para super-

fícies, detergentes de roupas, sabonetes, limpa vidros e outros pro-dutos, a empresa pretende contribuir na prevenção da covid-19.

Segundo Horácio Cahuita, responsável do departamento comercial, Luanda absorve actualmente 80% da produção, vindo

depois Benguela e agora o Huambo.Cahuita declarou que a fábrica perspectiva um aumento da produ-

ção para fazer chegar os seus produtos a todas as províncias.

O Governo gasta 50 mil kwanzas por dia com cada cidadão em quarentena, anunciou o coordena-dor da comissão multis-sectorial de prevenção e combate à covid-19, acres-centando que já cumpriram quarentena institucional cerca de 6.000.

Segundo Pedro Sebas-tião, metade destes cidadãos esteve na capital, Luanda, e o tempo médio de perma-nência foi de 10 a 20 dias.

Um custo elevado que rondará, só em Luanda, os 3.000 milhões de kwanzas sem contar com o que se gasta nas províncias, esti-mou. “Se juntarmos todo o material de biossegurança que foi adquirido poderão ver aquilo que representa o esforço do Governo para que o país esteja prepa-rado”, reforçou o ministro de Estado, acrescentando que, nas suas várias rubri-cas, a comissão já gastou 43 mil milhões de kwan-zas, nomeadamente na criação de centenas de camas e condições hospi-talares nos centros de qua-rentena e de tratamento, hospitais de campanha, entre outros.

Investigadores de vários países criaram um algoritmo que afir-mam poder identificar se uma pessoa tem covid-19 a partir do som da sua tosse.

Cientistas do México, Esta-dos Unidos, Espanha e Itália, liderados por uma equipa do Massachussetts Institute of Tech-nology (MIT, dos EUA), estão a elaborar uma base de dados com milhares de sons de tosse de pessoas de todas as idades, com e sem covid-19.

Esses sons serão analisados

através de um algoritmo e inteli-gência artificial para distinguir o som da tosse de alguém que não está infectado de quem tem covid-19, de acordo com a res-ponsável do projecto no México, Bárbara Vizmanos.

Segundo explicações dos inves-tigadores, a tosse e até o tom de voz de uma pessoa doente, assin-tomática ou que não está infec-tada têm diferenças, o que ajuda o sistema a identificar o seu estado em 15 segundos.

“Os participantes ‘doam’ a

sua tosse e os seus dados e essas tosses vão alimentar um sistema de inteligência artificial que, com reconhecimento de voz, identifica tosses de pessoas infectadas e de pessoas não infectadas, compa-rando-as a uma precisão de que o ouvido não é capaz”, indicou Bárbara Vizmanos.

O estudo começou há cerca de dois meses em hospitais de Espanha, Itália, Estados Unidos e México, país onde os investiga-dores consideram “fundamen-tal” ter registos sonoros de tosse.

Covid-19 impulsiona fábrica de detergentes

Governo gasta 50 mil kwanzas por dia

POR CAUSA DO AUMENTO DA PROCURA

POR PESSOA

CRIADO POR INVESTIGADORES

Algoritmo para identificar vírus ao

som da tosse

O presidente norte-americano, Donald Trump, usou, pela pri-meira vez em público, uma más-cara de protecção. O inédito aconteceu na segunda-feira, 13.07, durante a visita a um hos-pital militar aonde se deslocou para manter contactos com mili-tares infectados e com os que prestam cuidados de saúde ou cuidam de doentes de covid-19.

Quando deixou a Casa Branca, Trump declarou aos repórteres que, “quando se está num hospital, especialmente... Penso que é esperado que se use uma máscara”.

Trump não tinha usado más-cara desde o início da pandemia nos Estados Unidos da Amé-rica, que começou em Março e já infectou mais de 3,2 milhões de pessoas e matou pelo menos 134 mil no país.

Trump usa máscara em público

PELA PRIMEIRA VEZ

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Valor Económico24 Segunda-Feira 13 de Julho 2020

Entrevista

Tem propostas para ao Governo no sentido da promoção das artes plásticas e da valorização dos artistas, como, por exemplo, a decoração das instituições públicas com obras nacionais. ‘Kidá’ chama ainda à atenção para o facto de o país exportar obras que amanhã terão de retornar a preço de ouro.

omo caracte-riza a situa-ção actual dos artistas plásti-cos, face à pan-demia?A situação é

catastrófica. O contexto torna mais complicada a realização de exposições de artes plásticas, pois tinha de haver público em contacto com o artista, numa interacção até mesmo com carác-ter pedagógico. Os músicos vão fazendo ‘lives’ (directos), con-tudo, a natureza do trabalho de artes plásticas não tem tan-tas possibilidades nesse sentido. Para agravar a situação, as gale-rias de arte estão praticamente encerradas.Não falta criatividade para con-tornar as limitações impostas pela crise sanitária?Pessoalmente, sinto-me bas-tante apreensivo quanto a essa fase da pandemia, uma vez que estava prevista a realização de uma exposição minha, para assi-nalar os 40 Anos de Gravura Artística que se assinala exac-tamente este ano, mas, infeliz-mente, tudo está paralisado. Fiz inúmeros pedidos de apoio para o projecto, mas não obtive respostas.

Foram criadas medidas de alí-vio ao impacto da covid-19. Os artistas foram achados?Se foram criadas ou não, desco-

nheço. Creio que, caso os artistas plásticos fossem considerados, isto passaria, em primeiro lugar,

Superior, o Instituto Superior de Arte ‘Isart’, instituição que veio para consolidar a política de for-mação artística no país nesses níveis de ensino. Noutra pers-pectiva, noto com preocupação e nostalgia que, nos anos 80/90, os artistas plásticos já tiveram uma vida muito mais folgada em termos de venda de obras plásticas.

Melhor que hoje?De uma maneira geral, quase todo o artista vendia. Muito ou pouco, mas vendia. Actualmente, o mercado está bastante limitado e asfixiado. Nas circunstâncias actuais, podemos encontrar um ou outro artista que vai (sobre)vivendo com a venda esporádica de obras de arte, mas, de uma maneira geral, o artista plástico angolano passa por inúmeras dificuldades, pois produz, mas o consumo das suas obras é bas-tante escasso!

Falta de clientes?Não há clientes! E, por vezes, não é por falta de dinheiro por parte de certos clientes! O que acontece é que estes preferem investir em carros top de gama, por exem-plo. E aqui tocamos na questão da educação estética e também de sensibilidade tão necessárias na nossa sociedade. E, então, o artista plástico não vende, não tem consumidores à altura. Vive praticamente de mendicidade e não está correcto.

Há soluções?Temos vindo a defender que as autoridades devem criar meca-nismos de salvaguarda da classe, criando leis que contemplem, a título de exemplo, que todas as instituições e edifícios (exis-tentes e por construir), sejam obrigatoriamente decorados com obras dos artistas plásticos nacionais. Falamos nisso, pois,

Por César Silveira

C

pela Unap, instituição que nos representa enquanto membros associados. Não estou a ver a darem apoios a título indivi-dual por cada artista, certamente não funcionaria. Todavia, que eu saiba, a Unap não foi benefi-ciada com qualquer apoio subs-tancial, o que significa que os artistas plásticos, infelizmente, não foram tidos nem achados em termos do apoio tão neces-sário para a nossa própria sobre-vivência.

Face a este cenário, como se pode avaliar o estado actual das artes plásticas no país?Se tivermos em conta que o país não dispunha de quaisquer infra--estruturas ligadas ao desenvol-

vimento artístico, e considerando também que, durante muitos anos, trabalhámos sem condi-ções materiais, técnicas e huma-nas, podemos dizer que demos um passo gigantesco com a inau-guração, em 2015, do Complexo das Escolas de Arte ‘Cearte’, com quatro escolas multidisci-plinares, Artes Visuais e Plás-ticas, Dança, Música e Teatro e Cinema, de nível médio, e que contam com infra-estruturas moderníssimas. Com a abertura dessas escolas, foram criadas, para essa altura, condições técnicas adequadas de formação artística de exce-lência no país. Paralelamente, no mesmo período, foi também criado, pelo Ministério do Ensino

ANTÓNIO DIAS DOS SANTOS ‘KIDÁ’, ARTISTA PLÁSTICO

“Empréstimos obrigam o artista encarecer as obras”

Os músicos vão fazendo ‘lives’

(directos), contudo, a natureza do trabalho de artes plásticas não

tem tantas possibilidades nesse

sentido.

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25Valor EconómicoSegunda-Feira 13 de Julho 2020

Que perigo?O que vai acontecer é que, estando as maiores e melhores obras da plasticidade angolana compradas e adquiridas por estrangeiros, para tê-las de volta, o Estado há-de pagá-las a preço de ouro. Porque as autoridades nunca tiveram, sequer, a preo-cupação de, por cada exposição realizada, ir adquirindo obras dos artistas plásticos nacionais, per-dendo para os coleccionadores, uns nacionais, mas maioritaria-mente estrangeiros, que reco-nhecem a elevada qualidade nas obras dos criadores angolanos.

E a opção de financiamento em lugar dos patrocínios para a realização das exposições?Todas as possibilidades devem ser consideradas. Todavia, na even-tualidade de haver instituições bancárias disponíveis, teriam de se avaliar as condições de reem-bolso, o prazo e taxas de juro que, muitas vezes, podem não compensar. E, com o emprés-timo bancário, o artista plástico ver-se-ia obrigado a encarecer muito mais as obras e o mercado, como já é de conhecimento, não é atractivo por razões financei-ras e por falta de sensibilidade.

Ou seja, a solução passa mesmo pelo apoio? Se o país valorizasse devida-mente os fazedores de artes, com um mercado sofisticado e favo-rável, os artistas plásticos vive-riam do seu trabalho com uma vida confortável. Noutros paí-ses, os artistas são muito res-peitados e são importantes no desenvolvimento das artes e da cultura, promovendo a econo-mia e vivem com muita digni-dade. Aqui, não é assim. Vai-se a um determinado gabinete ou escritório e notam-se as paredes totalmente despidas, sem qual-quer obra de arte a decorá-las. Quando muito, encontramos réplicas de obras, muitas das quais mal conseguidas, adqui-ridas em lojas de quinquilha-rias quaisquer e que servem como elementos de decoração nesses espaços. E o artista plás-tico angolano tem dificuldades para vender. Daí a necessidade de haver uma determinada Lei que defenda a obrigatoriedade de os edifícios e instituições serem decorados com obras originais de artistas plásticos angolanos.

atender a necessidades de artis-tas, sendo os mecenas os patro-cinadores e/ou apoiantes da vida cultural e artística do país, tendo eles, em contrapartida, apoios do Estado, assentes em incentivos fiscais e alfandegários. A ques-tão é: essa Lei existe de facto? E caso exista, quem têm sido os beneficiários? Que tipos de apoio dão aos artistas? A quem justificam as suas acções e acti-vidades? São inquietações que alguém deve responder.

As artes têm potencial para serem engajadas na diversifi-cação da economia?Claramente. Não sei porque ‘carga d’água’ o Ministério da Cultura ficou ‘geminado’ aos extintos Ministérios do Turismo e Ambiente, mas, já que assim está decidido, é hora de se encon-trarem metodologias eficazes no sentido de se dar corpo às questões culturais e anexá-las, de maneira natural, ao turismo. Desse modo, criar-se-iam espa-ços culturais e artísticos ao cha-mado consumo de turismo feito e dirigido para consumo interno e externo, proporcionado com a vinda de turistas estrangeiros que trazem valores financeiros, divisas, para a economia. Nesse contexto, a cultura e as artes, uma vez bem valorizadas e geridas, por via dos produtos culturais, e também através de incentivos turísticos atractivos e competi-tivos, podem contribuir para a tão propalada ‘diversificação da economia’.

O desinteresse por parte dos potenciais patrocinadores não será também um sinal de que a qualidade das obras ainda não é a desejada?Discordo totalmente dessa afir-mação. Os artistas plásticos já provaram e têm demonstrado, no país e fora dele, que as suas obras têm a qualidade técnica e estética aceitáveis em qual-quer mercado, galeria ou cir-cuito internacional de arte do mundo. Não é por acaso que muitos artistas plásticos ango-lanos estão devidamente catalo-gados e representados em muitas galerias e em coleccionadores de artes espalhados pelo mundo. Por falar nisso, chamo a devida aten-ção para o perigo que o país se arrisca a correr quando um dia entender construir um Museu de Arte Moderna.

Már

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anteriormente, já tivemos expe-riências avulsas nesse sentido e resultaram. Os artistas vendiam e tinham certa dignidade.

Disse que está com dificulda-des de obter apoio para uma exposição. Como se explica isso, considerando o seu per-curso artístico e cultural?Sim, de facto, está muito difícil de entender a falta de apoio das instituições às quais recorremos, no sentido de poderem abraçar o projecto dessa exposição retros-pectiva que visa assinalar os 40 anos de percurso artístico, que julgamos ser bastante relevante e incisiva, particularmente para os estudantes de arte, historia-dores, investigadores, curadores, enfim, para o público e sociedade em geral. É intenção apresentar obras de toda uma trajectória artística feitas ao longo de qua-tro décadas de intensa produção ao nível da gravura, revisitando o que de mais relevante foi pro-duzido e dar a oportunidade de o público visitante as observar e contemplar.

Disse que contactou várias empresas e instituições rele-vantes...O Manuel Sebastião e o Álvaro Macieira sempre estiveram ao meu lado a fazer tais diligên-cias, mas tudo redundou num fracasso total. Desilusão abso-luta. Contactámos cerca de uma vintena de instituições. Ban-cos, empresas de bebidas, tele-comunicações, hotéis. Tudo negativo, mesmo com projecto devidamente apresentado e fun-damentado. Incrível. É muito triste. Até ao próprio Ministé-rio da Cultura pedi apoio, mas deram-me nada. Esqueceram-se de que já muito fiz e ainda faço em termos da cultura e artes do país, ao longo dos 40 anos con-secutivos.

É caro realizar uma exposição em Angola?Sim, é muito oneroso. No caso de uma exposição de gravura artística, pior ainda, pois tem particularidades que vão desde a aquisição de tintas gráficas ao papel com gramagem cor-respondente à compra de mol-duras com vidro para montar as obras previamente impres-sas. Depois, temos as despe-sas de produção de catálogo artístico, dos spots publicitá-

rios, cartazes, dísticos, flyers, outdoors, convites, imprensa, a realização e a montagem da exposição, o pessoal técnico de apoio, enfim, são mesmo des-pesas avultadas e, sem apoios, torna-se muito difícil ter uma exposição de qualidade. Antes do agravamento da pandemia, já estávamos altamente engajados nessa tarefa. Refiro-me às pes-soas que, voluntariamente, deci-diram apoiar-me, como Manuel Sebastião, o Álvaro Macieira, o Miguel Mukanda, o Francisco Ventura, o António Gonga, o Virgílio Pinheiro, que têm dado o melhor de si, incentivando-me a realizar a exposição. Temos já também o Paulo Airosa, o desig-ner gráfico encarregado de ela-borar o layout do catálogo, cujo orçamento está ainda por defi-nir, e o Instituto Camões, que deverá acolher essa histórica exposição retrospectiva de 40 anos de Gravura Artística (1980-2020). Na verdade, todo o tipo de apoio será sempre acolhido de bom grado.

Não considera normal o insu-cesso na busca de patrocínio, visto que o país se encontra em crise desde 2014?Em certa medida, considero normal, dada a asfixia econó-mica e financeira em que o país e as empresas se encontram. Por outro, também já nos habituá-mos a notar que, mesmo em tempos das ‘vacas gordas’, con-seguir patrocínios nunca foi tarefa fácil, isso porque deter-minadas empresas e instituições são mais movidas por razões ‘selectivas’ de amiguismo e de compadrio do que por razões patrióticas, culturais e artísti-cas. É óbvio que, nas circuns-tâncias actuais, todos, ou quase todos, se vão escudar nesse pre-texto. Contudo, a vida continua, bastando a resiliência que nos é característica. Há especificida-des que cada empresa ou ins-tituição pode optar para dar o seu contributo.

Pelo visto, a Lei do Mecenato não está a cumprir o seu papel? A Lei do Mecenato, por vezes, dá-nos a impressão de ser um ‘nado morto’. Porque, se ela existe de facto, devia corres-ponder ao papel e expectativas pelos quais foi criada. Entendo que essa Lei, dentre outros pres-supostos, foi criada com vista a

PERFIL 

António Feliciano Dias dos Santos (KIDÁ), nasceu na aldeia de Sassa-Cária/Dande, Província do Bengo, aos 25 de Setembro de 1961. Fez o ensino primário em Caxito. Em 1980, fez o Curso de Dese-nho e Gravura na UNAP, tor-nando-se membro efectivo da Associação! Em 1992, conclui o Curso Técnico de Opera-dor Ceramista na Escola Pro-fissional de Ofícios Artísticos (EPOA), em Vila Nova de Cerveira, Portugal. Em 1995, conclui, na mesma Escola, o Curso Técnico de Design Grá-fico. Em 2011, faz Licenciatura em Sociologia, pelo ISCED/Luanda. Professor de Arte em Angola, desde 1996. Fez várias exposições artísticas dentro e fora do país. Fez logomar-cas, com realce ao de Angola na Expo-Zaragoza, Espanha, em 2008. Ganhou vários Pré-mios de Arte, com destaque ao Prémio Nacional de Cultura e Artes (PNCA), na categoria de Artes Plásticas, 2018. Foi Direc-tor da Direcção Nacional de Formação Artística (DINFA), do Ministério da Cultura, de 2015 a 2017, altura que pediu a sua aposentação.

Se o país valorizasse devidamente os fazedores de artes, com um mercado sofisticado e

favorável, os artistas plásticos viveriam do seu trabalho com uma vida confortável.

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Valor Económico26 Segunda-feira 13 de Julho 2020

Marcas & Estilos

LIVROS

‘A SOMBRA DO VENTO’ é uma trágica história de amor cujo eco se projecta através do tempo. Com grande força narrativa, o autor entrelaça tramas e enigmas ao modo de bonecas russas num ines-quecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros.

‘O VALOR DE TUDO’ reacende um debate sobre o tipo de mundo em que realmente queremos viver. Mariana Mazzucato demonstra que se queremos introduzir reformas no capitalismo precisamos de perceber onde é produzida a riqueza.

Leveza e adaptabilidade Esta peça desenhada por Stefano Geovannoni é uma ideia romântica e uma forma de arte que dão vida à decoração emocional. Em forma de coração, é o material perfeito para garantir leveza e adaptabilidade.

Companheiro perfeitoEsta carteira de capa de couro fino é a companheira perfeita. O bolso frontal da Harber permite arma-zenar cartões de crédito e notas dobradas. Feita com costura fina, o acessório vai dar-lhe um aspecto desportivo e elegante sem sacrificar a funcionalidade e usabilidade.

TURISMO

Proibido não visitarEm Sidney, a maior cidade da Austrália, encontra várias atrac-ções. Aqui, o turismo vai além do edifício mais famoso, a Ópera de Sidney. É uma cidade bastante cosmopolita. Reúne o que tem de mais moderno e famoso, além de combinar arqui-tectura com a mais bela natureza.

É altamente procurada como destino de todos os tipos de viajan-tes, recebendo milhões de turistas por ano. É uma das mais ancestrais do mundo. É a maior, a mais antiga e a mais entusiasmante cidade da Austrália, e talvez do mundo. Criada há 200 anos, é capital de Nova Gales do Sul, e não da Austrália. A capital australiana é Canberra. A vida em Sidney gira em torno do seu Porto, que, com a  Opera House, cercada de água por todos os lados, e a Ponte do Porto, formam um dos cenários mais fotografados e conhecidos do país.

AUTOMÓVEL

O tamanho da evolução O Porsche 911 Turbo S é equipado com um motor 3.8 boxer de seis cilindros e dois turbos. Dispõe de 650 cavalos, 70 a mais do que o modelo anterior. É a versão mais potente até agora desta geração.Apresenta números de desempenho impressionantes. Acelera de 0 a 100 km/h em 2,7 segundos, e até os 200 km/h em menos de nove segundos, sendo 0,2 segundos e um segundo mais veloz do que o modelo anterior, respectivamente. A velocidade máxima é de 330 km/h.

O primeiro Porsche 911 Turbo, dos anos 1970, tinha “apenas” 260 cavalos, chegava aos 100 km/h em cerca de seis segundos, e sequer alcançava 250 km/h de máxima. Os números, respeitáveis para a época, mostram o tamanho da evolução do modelo nesses quase 50 anos. Pode adquirir já o seu por módicos 250 mil dólares.

AGENDALUANDA

ENTRE JUNHO E JULHO A galeria Talatona Art apresenta, online, a exposição ‘A Arte não pode parar’ com os artistas Alcides Malayka, Álvaro Macieira, Armando Scoott, Fineza Teta, Francisco Vidal, Guilherme Mampuya, entre outros.

ATÉ 15 DE JULHO Pré-venda exclusiva do livro ‘Dezamores de Luanda’, de Hélder Caculo. Reservas 923 934 957 (WhatsApp). Os exemplares estão a ser comercializados a 3.500 kwanzas.

DE 15 A 16 DE JULHOWorkshop Online Especial Angola entre as 09h30 e as 12h30. Para se inscrever, aceda ao site www.key.pt/formacao

19 DE JULHO ‘Live no Kubico’ com os músicos Socorro, Tunjila Tuajokota e Baló Januário, a partir das 14h30, na TPA.

31 DE JULHO Expo Cake Design Angola, no Centro de Centro de Convenções de Talatona, a partir das 17 horas.

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27Valor EconómicoSegunda-feira 13 de Julho 2020

Ambiente

i lhares de av iões no chão e empre-sas de aviação de bandeira, outrora sinó-nimo de esta-bi l idade e

progresso, como a Luftansa ou a British Airlines, a mendigar apoio público é o cenário impensável que os últimos meses de pandemia ins-talou por todo o mundo e as perdas financeiras são de pelo menos 50% do total de receitas. Os governos europeus já acordaram em injectar 12,7 mil milhões de euros estando

em discussão mais 17 mil milhões e nos EUA foram aprovados 25 mil milhões de USD de fundos públicos para salvar a indústria aeronáutica. No entanto, já que vão usar fundos públicos para se reerguer a com-pensação será o retorno à comuni-dade na forma de salvaguarda do ambiente. O ministro das finanças francês foi o mais objectivo ao pro-por que em troca de um ‘bailout’ de 7 mil milhões de euros, a Air-france deve tornar-se a companhia de aviação mais verde do mundo o que implica a redução de 50% das emissões até 2030, redução de voos curtos (- de 2h30m) que competem

com transportes terrestres e aumento do uso de combustível reciclável até 2024. Os restantes líderes europeus também sinalizaram legislação que obrigue as companhias de aviação a cortarem emissões através da cria-ção de taxas para voos curtos e de impostos ao combustível que actual-mente são inexistentes para o sec-tor da aviação.

Algumas organizações de pro-tecção ao ambiente como a Friends ou the Earth ou o Greenpeace defen-dem que o sector não deve ter qual-quer acesso a fundos públicos sem que a redução de emissões seja regu-lamentada com taxas para clien-

tes frequentes que a nível global só representam 3% da população mundial, mas que perfazem mais de 60% dos voos.

“Antes da crise do covid as emis-sões seguiam uma tendência pre-judicial para o planeta, este é um momento que abalou a indústria e levantou questionamentos sobre taxas, emissões e voos frequentes. Esta é a oportunidade que os gover-nos têm para repensarem como e o que devem incentivar no sector da aviação” explica Andrew Murphy da ONG Transport e Ambiente.

Antes da crise causada pelo covid-19 a indústria aeronáutica

já havia dado os primeiros pas-sos para redução das suas emis-sões com o acordo de 192 países CORSIA (Carbon Offsettiting and reduction progamme) que teria data de inicio para 2021 com recurso a diferentes estra-tégias de redução da poluição que incluem o uso de combus-tíveis alternativos recicláveis, o recurso a aviões mais recentes e que usam menos combustível e simultaneamente poluem menos e a programas de compensação que preveem redução de voos e até investimentos em arboriza-ção em projectos físicos.

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GOVERNOS CONDICIONAM AJUDAS

EMISSÃO DE CARBONO. À medida que a pandemia arrasa o sector da aviação e os governos são pressionados a intervir para prevenir o colapso e preparar e salvaguardar o pós-crise, vai emergindo a necessidade de proteger o ambiente do maior agressor em termos de emissões de carbono da última década.

Subsídios à aviação presos a agenda verde

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União Inter-nacional para a Conservação da Natureza (IUCN) disse, recentemente, que quase todos os lémures de

Madagáscar estão ameaçados e cerca de um terço está à beira da extin-ção, devido à desflorestação e à caça.

Numa actualização da ‘lista ver-melha’ de espécies ameaçadas, a IUCN reforçou o alerta para os ris-

cos que enfrentam estes primatas, popularizados pelo filme de anima-ção Madagáscar, da DreamWorks, considerando que estão cada vez mais em perigo.

A ‘lista vermelha’ divide as espécies ameaçadas nas catego-rias ‘vulnerável’, ‘em perigo’ e ‘cri-ticamente ameaçadas’, envolvendo esta última as espécies mais próxi-mas da extinção. Cerca de 33 espé-cies de lémures, que vivem apenas em Madagáscar, estão ‘criticamente ameaçadas’ e 98% dos animais são

considerados ‘ameaçados’. A organi-zação ambientalista sediada na Suíça adverte também para o risco imi-nente de extinção das baleias fran-cas do Atlântico Norte, que são cada vez mais encontradas enredadas em redes de pesca, mas também depois de colisões com navios.

Craig Hilton-Taylor, responsá-vel da UICN, defende que este é um resultado das alterações climáticas, que estão a empurrar os padrões migratórios para as rotas de nave-gação a Norte. Referiu que menos de

250 baleias do Atlântico Norte esta-vam vivas em 2018, marcando uma queda de 15% desde 2011. Quase todas as 30 mortes ou ferimentos graves das baleias confirmados, entre 2012 e 2016, foram por emaranha-mento em redes de pesca.

A ‘lista vermelha’ avalia a situa-ção de cerca de 6.000 espécies que se encontram em maior perigo e aponta que das 120.000 espécies de plantas, animais e fungos avaliados, mais de um quarto estão ameaça-dos de extinção.

ALémures em risco de extinçãoALERTAM AMBIENTALISTAS

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Segunda-Feira 13 de Julho 2020Valor Económico

124.429

Empresas locais proibidas de explora-rem madeira durante a época florestal 2019/2020, em Cabinda.

Milhões de kwanzas. Multa aplicada ao armador do navio pesqueiro ucraniano pela pesca de mais de 800 toneladas de carapau, em tempo de veda.

Quantidade de supostas pedras de diamantes que a polícia apreendeu a um francês, quando efectuava a compra numa residência na Lucapa, Lunda-Norte.

5500

Bancos foram multados pelo BNA no valor de 424 milhões de kwanzas, por incumprimento da concessão de crédito ao sector produtivo.

NÚMEROS DA SEMANA

e Maio a Junho deste ano, os preços de bens e serviços regis-taram aumentos substanciais, com variação de 1,74%, situando-se em

22,62%, um acréscimo de 5,68 pon-tos percentuais, face à observada em igual período do ano anterior.

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados na segunda-feira, 13.06, indicam que a classe de ‘alimentação e bebidas não alcoólicas’ com 2,28%, foi a que registou o maior aumento de pre-ços, seguida das ‘bebidas alcoólicas e tabaco’ com 2,21%, ‘hotéis, cafés e restaurantes’ com 2,19% e ‘bens e serviços diversos’ com 1,85%.

O aumento do nível geral de pre-ços, no mês de Junho, foi contri-

Duzentas e 86 propostas de investi-mento privado foram registadas, de Agosto de 2018 a Junho de 2020, pela Agência de Investimento Privado e Promoções das Exportações (Aipex) dos quais 57 já foram executados, correspondendo a 19,9% das inten-ções. Segundo o relatório estatístico da Aipex, referente a Junho, citado pela Angop, do total de propostas, destinadas a quase todas as provín-cias do país, 221 estão em vias de implementação, três por implemen-tar e cinco desistiram.

O sector da indústria destaca--se com 124, seguindo-se o comércio (71), prestação de serviços (55), agri-

Preço de produtos e serviços subiram em Junho

AIPEX regista execução de 19,9% dos projectos

D buído, em grande parte, pela classe de ‘alimentação e bebidas não alcoó-licas’, com 1,09 pontos percentuais, seguida pelos ‘bens e serviços diver-sos’ com 0,14 pontos percentuais, ‘mobiliário, equipamento domés-tico e manutenção’ e ‘vestuário e cal-çado’ com 0,10 pontos percentuais cada um. As restantes classes tive-ram contribuições inferiores a 0,10 pontos percentuais.

As províncias que registaram maior aumento de preços foram Kuando-Kubango, com 2,58%; Huíla, com 2,37%, e Huambo e Bengo com 2,31% cada uma. Ao passo que a menor variação se regis-tou no Cunene, com 1,40%; Lunda--Sul com 1,48%; Uíge com 1,53%, e Zaire com 1,74%. Luanda registou aumento de preços na ordem dos 1,7 pontos percentuais.

cultura (12) e construção civil (oito). Em relação aos valores, o destaque vai para a Indústria com projectos avaliados em mais de mil milhões de dólares, construção civil com 686 milhões, agricultura (199 milhões), comércio (139 milhões), saúde (131 milhões), prestação de serviços (99 milhões), pescas (82 milhões) e hote-laria e turismo (30 milhões). Os pro-jectos em implementação (221) estão avaliados em mais de mil milhões de dólares, enquanto os projectos por implementar (três) em 10 milhões de dólares. Os cinco projectos que desistiram estavam orçados em 33 milhões de dólares

Tribunal Arbitral de Paris decla-rou-se incompetente para deci-dir sobre o processo aberto contra o Estado angolano pela Atlantic Ventures que contestava a revogação do decreto que auto-rizava a concessão do Porto do

Dande à empresa ligada a Isabel dos Santos.O corpo de jurado, presidido pelo alemão

Jan Kleinheisterkamp, condenou ainda a Atlan-tic Ventures a pagar aos demandados cerca de 132.890,3 mil kwanzas “em compensação dos custos causados pela presente arbitragem”.

E avisou que “quaisquer outros pedidos ou reclamações são rejeitados”, deixando a Antan-tic Ventures sem a possibilidade de recorrer a este mesmo tribunal. Assim, as possibilida-des de recurso da empresa ficam restringidas a outros dois tribunais possíveis, o Centro Inter-nacional para a Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (ICSID), com sede em Washing-ton,  e o UNCITRAL, com sede em Viena. “Depois veremos se outro se venha pronunciar competente”, referiu fonte da AtlanticVentures.

A deliberação foi tomada por unanimidade na passada sexta-feira, 10 de Julho. E, além do alemão Kleinheisterkamp, fizeram parte do corpo do jurado, como co-presidentes, os por-tugueses Vasco António Grandão Ramos e Lino Ortega, ambos com fortes ligações com Angola, sobretudo Grandão Ramos, que foi professor de grande parte dos juristas forma-dos pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, que exercem ou exerceram funções de topo no aparelho de Estado, entre os quais o vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.

Na acção intentada contra o Estado ango-lano, a Atlantic Ventures pedia que o Tribunal arbitral declarasse, de entre outros, a nulidade do Decreto Presidencial através do qual o novo chefe de Estado revogava, em 2018, o diploma que oficializava o acto de favorecimento, bem como o pagamento pelo Estado de uma indem-nização no valor de 850 milhões de dólares.

A concessão do Porto do Dande e a consti-tuição, em área contígua, de uma zona franca constavam de um decreto presidencial assinado no dia 20 de Setembro de 2017 pelo ex-Presi-dente da República.

Tribunal de Paris considera-se incompetente para decidir

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PROCESSO ATLANTIC VENTURES CONTRA ESTADO ANGOLANO