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Contribuição do PADCT para a Melhoria das Condições de Competitividade da Indústria Brasileira Helena M. M. Lastres José Eduardo Cassiolato versão preliminar para discussão outubro de 1995 ______________________________________________________________________________ Estudo realizado por solicitação da ABIPTI com o propósito de subsidiar futuras negociações com o Banco Mundial visando a renovação do PADCT em sua terceira fase.

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Contribuição do PADCT para a Melhoria das Condições

de Competitividade da Indústria Brasileira

Helena M. M. Lastres

José Eduardo Cassiolato

versão preliminar para discussão

outubro de 1995

______________________________________________________________________________

Estudo realizado por solicitação da ABIPTI com o propósito de subsidiar futuras

negociações com o Banco Mundial visando a renovação do PADCT em sua terceira

fase.

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INDICE

Sumário Executivo .................................................................................................i

Conceito de Competitividade Dinâmica e Sistêmica .........................................i

Transformações Influenciando a Competitividade Mundial e AtuaisPolíticas para Promoção de Vantagens Competitivas .......................................i

Competitividade da Indústria Brasileira e Requisitos para uma Políticade Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e Dinâmico................................... ii

Contribuição do PADCT I e II para o Aumento da Competitividade daIndústria Brasileira ............................................................................................ iii

Contribuição do PADCT III para a Melhoria das Condições deCompetitividade da Indústria e Economia Brasileira ....................................... iv

Diretrizes e Linhas de Ação Propostas...............................................................v

1 - Conceito de Competitividade...........................................................................2

1.1 - Competitividade Dinâmica .......................................................................31.2 - Competitividade Sistêmica .......................................................................3

2 - Fatores Determinantes da Competitividade ................................................5

3 - Grandes Transformações Atuais Influenciando a

Competitividade Mundial ......................................................................................7

3.1 - Mudança no Paradigma Técnico-Econômico............................................73.2 - Globalização ..............................................................................................8

4 - Políticas Governamentais para Promoção da Competitividade .............13

5 - Competitividade da Indústria Brasileira no Quadro Atual......................18

6 - A Política de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e

Dinâmico ....................................................................................................................21

6.1 - Requisitos de Política................................................................................216.2 - Locus da Construção da Competitividade................................................22

7 - Avaliação da Contribuição do PADCT I e II para o Aumento da

Competitividade da Indústria Brasileira ...........................................................24

7.1 - Aspectos positivos mais relevantes: .........................................................257.2 - Principais deficiências identificadas: .......................................................25

8 - Contribuição do PADCT III para a Melhoria das Condições de

Competitividade da Indústria e Economia Brasileira ....................................26

8.1 - Diretrizes e Linhas de Ação Propostas.....................................................29

Bibliografia................................................................................................................40

Figuras, Quadros e Tabelas

Figura 1: Distribuição de Alianças Tecnológicas entre Blocos Econômicos ............11

Figura 2: Origem das Patentes das Grandes Empresas Transnacionaisdos Principais Países da OCDE ..................................................................................11

Figura 3: Gastos em P&D/PNB em Países Selecionados da OCDE ........................14Tabela 1: Países Selecionados - Localização Geográfica das Patentes dasGrandes Empresas Transnacionais............................................................................12

Quadro 1: Exemplos de Política Industrial e Tecnológica em PaísesSelecionados - EUA, Japão e Alemanha.....................................................................17

Quadro 2: Caracterização e Propostas para Aumento da Competitividadedos Setores com Capacidade Competitiva ..................................................................34

Quadro 3: Caracterização e Propostas de Ação para Aumento daCompetitividade dos Setores com Deficiências Competitivas ...................................35

Quadro 4: Caracterização e Propostas para Aumento da Competitividadedos Setores Difusores do Progresso Técnico...............................................................36

Anexo 1 - Políticas de Competitividade nos Principais Países da

OCDE e Alguns NICs Asiáticos..............................................................................43

A.1 - Introdução.................................................................................................43A.2 - EUA...........................................................................................................47A.3 - Alemanha..................................................................................................54A.4 - Reino Unido ..............................................................................................57A.5 - Japão .........................................................................................................63A.6 - Coréia ........................................................................................................68A.7 - Taiwan ......................................................................................................70

Bibliografia do Anexo 1 ..........................................................................................72

Figuras, Quadros e Tabelas do Anexo 1

Tabela A.1.1: Países selecionados - Orientações e InstrumentosPrincipais da Nova Política Industrial e Tecnológica................................................46

Tabela A.1.2: EUA - Gastos em P&D por Parte do Setor Industrial.......................48

Tabela A.1.3: EUA - Gastos Públicos Federais para P&D ......................................49

Tabela A.1.4: EUA - Efeitos do Crédito de P&D nos Fluxos de Caixa dasEmpresas .....................................................................................................................53

Tabela A.1.5: Japão - Incentivos para Promover P&D no Setor Privado................66

Tabela A.1.6: Coréia - Plano de Investimentos em Ciência e Tecnologia................69

Sumário Executivo

Conceito de Competitividade Dinâmica e Sistêmica

Estão superadas as visões que definem a competitividade de forma estática e comouma questão de custos e taxas de câmbio, que levou, no passado, a políticas espúriascentradas na desvalorização cambial, no controle dos salários de mão-de-obra combaixa qualificação e no uso predatório de recursos minerais, energéticos e ambientais,com o objetivo de obter no curto prazo vantagens competitivas.

Na visão dinâmica, a competitividade refere-se à capacidade de se formular eimplementar estratégias concorrenciais, que permitam conservar de forma duradouraposições sustentáveis, destacando-se particularmente as vantagens associadas àqualidade e produtividade dos recursos humanos e à capacitação produtiva einovadora das empresas.

Na visão sistêmica o desempenho competitivo de uma empresa, indústria ou nação énão apenas condicionado por fatores internos à empresa, mas também por fatoresmeso-estruturais e macro-estruturais, que podem favorecer e aperfeiçoar a capacidadede acumulação tecnológica das empresas, tais como: formas de organização einterrelação dos complexos e setores industriais; sistema de educação superior e depesquisa científica e industrial; nível da força de trabalho; níveis e padrões deinvestimento; quadro legal e político; características do mercado interno; e condiçõesdas demais esferas relacionadas ao contexto nacional e internacional no qual se dá ofluxo de comércio e investimento e onde as inovações são geradas e difundidas.

Transformações Influenciando a Competitividade Mundial e asAtuais Políticas para Promoção de Vantagens Competitivas

A dinâmica econômica mundial sofreu profundas alterações na década dos 80 queenvolveram importantes mudanças tecnológicas, organizacionais e institucionais.Objetivando contrarrestar os impactos negativos dos desajustes causados pelamudança de paradigma e agilizar a reestruturação industrial, nos últimos dez anosvem se observando uma intensificação da competição entre empresas e países.

Neste processo, o fortalecimento das bases construídas das vantagens competitivas -englobando a promoção dos recursos ligados ao conhecimento e à capacitação, assimcomo a modernização das estruturas institucionais que facilitam e promovem ageração, internalização e difusão de inovações tecnológicas e organizacionais - colocou-se como objetivo central da estratégia competitiva das empresas e países.

Como consequência principal assistiu-se ao significativo aumento dos esforçosprincipalmente dos países mais avançados, os quais têm enfrentado tais mudançascom políticas diferenciadas, mas que possuem alguns pontos em comum: - as novas políticas não possuem nem a simplicidade nem a relativa legibilidade dasanteriores e apontam na direção a um crescente investimento na promoção da

inovação (entendida como a internalização de novos conhecimentos pelo setorprodutivo), assim como nos objetivos de: (a) rapidamente identificar importantesoportunidades tecnológicas futuras; (b) aumentar a velocidade na qual a informaçãoflui através do sistema; (c) rapidamente difundir as novas tecnologias; e (d) aumentara conectividade das diferentes partes constituintes dos sistemas de C&T para ampliare acelerar o processo de aprendizado;- tanto nos países da OCDE quanto nos NICs asiáticos as políticas comerciais,industriais e tecnológicas mais bem sucedidas, tornaram-se holisticamenteintegradas;- acima de tudo, as novas políticas mostram que a era do auxílio indiscriminado cedeulugar a políticas com foco bem definido e combinam descentralização, cooperação emobilização de instâncias administrativas e agências diversas. - alicerçada na idéia de que mudanças paradigmáticas exigem novos formatosorganizacionais, os Estados Nacionais têm promovido mudanças significativas nasinstituições e instrumentos de promoção à inovação.

Competitividade da Indústria Brasileira e Requisitos para umaPolítica de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e Dinâmico

A situação brasileira confronta-se atualmente com um quadro onde a dimensão,rapidez e complexidade das inovações tecnológicas e institucionais em curso jáavançado nas economias desenvolvidas mostram-se desafiadores. As possibilidadestrazidas pelos desenvolvimentos das novas tecnologias da informação permitiram,particularmente às grandes corporações, a utilização de recursos e insumostecnológicos espalhados em diversos países e regiões. A proliferação das aliançastecnológicas internacionais ampliou e intensificou tal possibilidade, assim comopermitiu a circulação de informações e conhecimentos a nível mundial. Contudo, taisatividades têm-se restringido a um espaço privilegiado e extremamente concentradonos países mais avançados, não se verificando internacionalização efetiva nem dasatividades de pesquisa nem dos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidospelas mesmas.

A necessária reestruturação da indústria brasileira coloca-se hoje num quadro no quala base tecnológica e organizacional para a competitividade é totalmente diferentedaquela dos anos 60 e 70. As alterações na estrutura de produção e comérciointernacional, com a formação de blocos regionais de comércio, resultaram naredefinição das condições de acesso, aquisição e utilização de novas tecnologias,gerando aos países em industrialização crescentes dificuldades quanto a aquisição eintrodução de inovações geradas pelas economias mais avançadas.

Num ambiente muito dinâmico, os níveis de competitividade são rapidamenteerodidos e a base para se entrar em novos mercados torna-se rapidamente inadequadapara se manter neles, se expandir dentro deles ou se diversificar além deles. Projetosde importação de tecnologia (assim como qualquer outra atividade pontual eestanque) podem contribuir apenas temporariamente às posições competitivas emtrajetórias de mudanças tecnológicas aceleradas e contínuas.

Diferentemente do período anterior, calcado em métodos tayloristas e fordistas deprodução, o advento da nova revolução colocou por terra a possibilidade de o país

continuar a se desenvolver sem grau satisfatório de educação e de capacitação dostrabalhadores. Neste quadro o desafio educacional é urgente, pois não é possívelelevar substancialmente a escolaridade média da população em menos que umadécada e meia.

O desenvolvimento competitivo não pode ser alcançado enquanto estão excluídoslargos contingentes da população e subsistem em atividades marginais outrasimportantes frações. A integração dessas parcelas da população à economia e àcidadania é fundamental e concorre no sentido de promover o desenvolvimento de ummercado interno amplo e dinâmico, capaz de desenvolver-se no sentido das exigênciasinternacionais, cada vez mais amplas e rígidas, associadas à qualidade, segurança erespeito ao meio ambiente e aos recursos naturais.

Outro importante desafio refere-se à definição de uma estratégia de longo prazocoerente e coordenada que incorpore o objetivo de promover sua capacitação parainovação. Tal desafio é magnificado tendo em vista a crise no sistema científico-tecnológico brasileiro que compreende estagnação dos gastos públicos em C&T, baixosníveis de gastos privados em P&D e a falta de cooperação entre as instituiçõespúblicas de pesquisa e o setor produtivo. O esforço necessário à superação da atualfragilidade tecnológica nacional requer reverter a tendência de retração dasatividades de inovação a nível do sistema e induzir uma mudança fundamental nasestratégias industriais, buscando o aprendizado e a capacitação para inovação deforma persistente e cumulativa.

Contribuição do PADCT I e II para o Aumento daCompetitividade da Indústria Brasileira

O PADCT em suas primeira e segunda fases não objetivou explícita e diretamente asuperação das limitações e o aproveitamento de oportunidades voltadas a melhoriadas condições de competitividade da indústria e economia brasileira. Pode-se afirmarque o objetivo de apoiar a inovação foi incorporado de forma apenas orientadora.

Aspectos positivos mais relevantes:• experiência com novos formatos para planejar, promover e financiar P&D no País;• tentativa de adotar modos de avaliação e acompanhamento permanentes das açõesadotadas, incorporando ajustes e reformulações necessárias;• alavancagem de recursos para apoio ao desenvolvimento de C&T no Brasil;• apoio a alguns subprogramas verticais e horizontais relevantes quanto ao aumentoda competitividade da indústria brasileira.

Principais deficiências identificadas:• lentidão e imprevisibilidade da liberação dos recursos contratados provocoualterações nos cronogramas e distorceu a execução dos projetos, comprometendoseriamente a obtenção de resultados, assim como a própria possibilidade de cobrançados mesmos e por conseguinte o acompanhamento e avaliação dos subprogramas;• baixo poder de mobilização e articulação de empresários e trabalhadores nadefinição dos objetivos e prioridades do Programa, execução dos projetos eaproveitamento dos resultados gerados;

• importantes deficiências quanto ao acompanhamento e avaliação dos projetosfinanciados;• pequena preocupação com o aproveitamento efetivo dos resultados gerados pelosprojetos apoiados e deficiências quanto à adoção e difusão destes resultados por parteda economia e sociedade;• deficiências quanto à articulação com políticas nacionais e estaduais relevantes;• sistema atual de editais - que supostamente induzem atividades de P&Dprioritárias - tem refletido mais propriamente o que pequenos grupos projetam comoalvos das políticas dentro dos subprogramas já estabelecidos;• estrutura de subprogramas atual respondem de forma apenas marginal aosobjetivos de promover a capacitação técnico-científica visando o aumento decompetitividade da indústria brasileira;• formato de gestão e operação dos GTs, CAs, CC, SE e GEA devem ser reavaliados enaquilo que for necessário modificados para que se permitam imprimir as necessáriasmudanças.

Em sua terceira fase, deve-se buscar a superação de tais disfunções e dificuldades,não apenas visando criar condições para o aproveitamento de oportunidades voltadasà melhoria da competitividade da indústria e brasileira, mas até mesmo para que sejaatendido o objetivo do Programa em se consolidar 'como a mais importanteexperiência em política de P&D no País'.

Contribuição do PADCT III para a Melhoria das Condições deCompetitividade da Indústria e Economia Brasileira

Como ponto de partida, e considerando-se a intenção do PADCT em transformar-seem instrumento modelo para novas políticas de C&T sugere-se que:• ao invés de se estruturar em subprogramas setoriais, por áreas do conhecimento,característica de sua institucionalização no passado, seja o III PADCT reformulado nosentido de definir e auxiliar na resolução de problemas específicos quer estes serelacionem à modernização de formas institucionais deficientes e ultrapassadas, querdigam respeito ao apoio a projetos específicos e estratégicos;• que o redirecionamento das atribuições e escopo do PADCT seja acompanhado dasnecessárias alterações nas estruturas de coordenação já existentes, recriando-as com oobjetivo básico de traçar linhas de ação voltadas à resolução de tais problemas;• a definição de políticas específicas e seletivas seja ajustadas às diferentes fases dedesenvolvimento do País, competitividade industrial e maturidade tecnológica; asquais devem ser reavaliadas, incorporando reajustes e reformulações necessárias;coordenando as políticas macro com políticas setoriais e regionais dereposicionamento, reestruturação e mudança contínua; num processo que envolvagoverno, setor produtivo, comunidade de P&D e outros segmentos representativos dasociedade visando mobilizar interesses e comprometimentos efetivos entre osprincipais agentes.

Dentro de tal orientação, a seguir encontram-se relacionadas um conjunto abrangentede sugestões para orientar a eleição de ações que melhor se incluiriam em fasesdiferentes e seqüenciais de um possível PADCT III, tendo em vista o ambiente político,institucional e social no qual tais fases serão desenvolvidas.

Diretrizes e Linhas de Ação Propostas

Estimular a contínua e cumulativa internalização das atividades deinovação por parte das empresas brasileiras.

Ações Propostas

• Incentivar a formação e capacitação de recursos humanos a todos os níveis doempresário ao trabalhador.

• Promover e financiar as atividade de inovação internas à empresa nacional,incluindo não apenas as atividades de P&D&E, mas também aquelas relacionadas àengenharia reversa.

• Mobilizar estratégias voltadas à conscientização do setor empresarial quanto àimportância efetiva da inovação como elemento fundamental da sobrevivência ecompetitividade nesta e nas próximas décadas, através de:- apoio à montagem de cursos voltados para associações empresariais e sindicais,empresas e trabalhadores, visando discutir a importância das atividades de inovaçãoenquanto instrumento de aumento da competitividade e desenvolvimento;- disseminação de experiências de sucesso empresarial inovativo (por exemplo nasCâmaras Setoriais, redes, associações de classe e meios de comunicação de massa);- promoção de maior divulgação tanto dos instrumentos existentes de fomento àincorporação de conhecimentos técnico-científicos pelo setor empresarial, quanto dosresultados gerados com o uso de tais instrumentos;- abertura de espaços para uma maior participação dos setores produtivos(empresários e trabalhadores) na definição e implementação de estratégias relativasàs políticas de apoio à inovação.

• Fomentar a constituição de maior número de empresas que colocam a inovação comobase de suas estratégias, objetivando influir na alteração do perfil do setor produtivoatual, através do apoio à formação e consolidação de pólos de encubadoras deempresas de base tecnológica e de empresas-juniores.

• Apoiar estratégias que viabilizem a apropriação econômica dos resultados dasatividades de P&D, das informações disponíveis nos documentos de patente, assimcomo de qualquer outra fonte de informação relevante à atividade de inovação,através de:- apoio a projetos de pesquisa que incluam financiamento parcial (com reduçãogradual) do salário de pesquisadores recém contratados por empresas nacionais paraprograma de estágio - em instituições brasileiras de pesquisa - que alie treinamento eespecialização ao desenvolvimento de pesquisa tecnológica de interesse da empresa.Tal apoio visaria, não apenas, estimular as empresas a contratar e capacitar novospesquisadores, como também, potencializar (a) o estreitamento dos laços entreempresas e instituições de pesquisa (b) a utilização econômica dos resultados dasatividades realizadas por esta última e (c) desenvolver capacitação nas empresas emáreas de novas tecnologias;

- montagem e reforço dos sistemas que garantam a rápida disseminação deinformações científicas e tecnológicas de interesse do setor produtivo;- promoção de condições para realização de análise sistemática das informaçõesdisponíveis.

• Condicionar a concessão de incentivos a contrapartidas e comprometimento dasempresas com investimentos efetivos em inovação.

Estabelecer condições que visem aumentar a conectividade entre os agentesdo sistema de inovação, como forma de acelerar o aprendizado conjunto e deaumentar a capacidade de gerar sinergias

Ações Propostas

• Apoiar a constituição e consolidação de redes e inovação ativas que mobilizemesforços setoriais e regionais, particularmente aquelas voltadas ao atendimento dasnecessidades das micro, pequenas e médias empresas.

• Promover o desenvolvimento de redes e sistemas de informação interligandoempresas, centros de pesquisa e outras instituições atuantes na área, de forma agarantir a rápida e eficiente conexão entres os diversos elementos constituintes dosistema brasileiro de inovação.

• Propiciar meios para realização de programas de intercâmbio e estágios de curtaduração no País entre pesquisadores e outros recursos humanos desenvolvendoatividades ligadas à inovação, de forma articulada com outros programas deintercâmbio internacional já existentes.

• Promover a montagem e operação de 'Grupos de Monitoramento de Inovações'envolvendo representantes de diferentes empresas e outras instituições relevantespara analisar dados de patentes, resultados de pesquisas e outras informações,visando identificar oportunidades para (a) atuação das instituições a que são ligados e(b) realização de programas conjuntos. Tais comitês podem ser organizados dentro dasdiversas redes de inovação já existentes (setoriais e regionais) ou fora delas; nestecaso servindo de atividade embrionária para a montagem de novas redes.

• Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento cooperativos entre os diversos tipos deempresas - buscando-se explorar as interfaces existentes nas cadeias de: fornecedores(de insumos, bens de capital e demais intermediários), prestadores de serviços,produtores e usuários, através do enquadramento de arranjos cooperativos comocondição prioritária para usufruto de benefícios.

• Favorecer a aglomeração de empresas em pólos industriais regionais especializados,através do apoio conjunto à capacitação e treinamento de seus recursos humanos; e àmontagem de infra-estrutura tecnológica e de comunicações.

• Apoiar a formação de redes de Electronic Data Interchange - EDI, visandoparticularmente incentivar as pequenas e médias empresas a atuarem em rede epromover a capacitação tecnológica das mesmas.

• Promover a pesquisa e o desenvolvimento cooperativos entre empresas e entidadesde pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, e qualquer outra entidade ouconjunto de entidades que possam contribuir positivamente no esforço de dinamizaçãotecnológica do setor industrial, através de:- apoio à interação empresa e demais instituições de forma articulada com osmecanismos já existentes;- viabilização de estratégias para a utilização e difusão dos resultados das atividadesrealizadas pelas instituição de pesquisa, articulando as demandas de mercado e opoder de compra do Estado;- estabelecimento de incentivos diferenciais que estimulem as diversas instituições depesquisa e as empresas a efetuarem contatos mais estreitos e do enquadramentodestes arranjos cooperativos como prioritários na concessão de apoio.

• Promover a rearticulação da infra-estrutura de P&D já instalada no país, através:- estímulo aos institutos de pesquisa tecnológica industrial a buscarem suareformulação (incluindo reformulação dos meios de gestão e das áreas de atuação,renovação das capacitações dos quadros técnicos e superação da obsolescência de seuslaboratórios) e reengajamento de forma coordenada financeira e tecnicamente com osetor empresarial;- apoio à constituição de 'parques de ciência' mobilizando recursos já disponíveis nosambientes universitários de excelência visando ampliar e melhorar sua articulaçãocom o setor produtivo;- apoio a grupos de excelência organizados em redes e atuantes em áreas estratégicascontra metas de capacitação e desempenho;- apoio à montagem e reforço de sistemas que garantam a disseminação daspossibilidades reais de resposta da competência técnico-científica instalada no Paísaos problemas do setor produtivo e sociedade brasileira.

Promover a melhoria das condições atuais e futuras da competitividade daindústria e economia brasileira, tendo em vista os níveis de capacitação dosdiferentes setores e à inserção estratégica dos mesmos na economia*

• Promover a excelência em linhas de produtos onde a competitividade do produtor edos usuários se beneficie da proximidade física e onde o usuário tenha capacitaçãopara estimular o desenvolvimento de produtos mais competitivos e possibilidade demanter uma demanda sustentada, através de:- apoio a programas específicos visando aumentar os esforços de inovação emempresas líderes com privilegiando o desenvolvimento de produtos mais intensivos emtecnologia;

* Ver, no corpo do trabalho quadros resumindo sugestões do Estudo da Competitividade da IndústriaBrasileira, quanto a ações propostas visando a melhoria das condições de competitividade dos setoresde capacidade competitiva; setores com deficiências competitivas; setores difusores doprogresso técnico.

- estímulo a empresas visando a ampliação de atividades de inovação, com ligaçõesmais próximas a clientes/consumidores e fornecedores para melhorar 'design' deprodutos.

• Induzir estratégias que visem a produção de bens de maior valor agregado,promovendo-se a fusão dos setores difusores do progresso técnico com áreastecnológicas mais maduras e dominadas no país, através de:- programas mobilizadores que apresentem um poder de 'demonstração' para outrasempresas industriais e que permitam a ligação entre produtores e usuários de bens decapital e empresas de 'software'- constituição de centros/distritos voltados à produção de 'software' dedicado àsnecessidades do setor industrial;- apoio à pesquisa aplicada em biotecnologia, informática, etc.

• Dar suporte à realização de programas de certificação, normalização e metrologiaapoiados pela iniciativa privada (preferencialmente por associações empresariais commetas definidas e comprovação de capacidade de gestão).

• Incentivar o desenvolvimento de processos, produtos e serviços menos poluentes,poupadores de energia e de recursos naturais não-renováveis, através de:- promoção do desenvolvimento de fornecedores locais de tecnologias e de serviçosambientais;- estímulo à utilização de tecnologias ambientais por parte das empresas.

• Apoiar a modernização dos processos de produção tendo em vista a automação,flexibilização, integração e otimização dos processos produtivos através de:- difusão de inovações organizacionais e de automação industrial;- incentivo à atualização de equipamentos específicos a cada atividade industrial.

• Estimular pequenas e médias empresas a melhorar o conteúdo tecnológico de seusprodutos/processos através de:- apoio à promoção de programas de gestão em articulação com Estados, Municípios,associações empresariais e outras entidades atuantes;- estabelecimento de medidas visando aumentar a produtividade e reduzir deficiênciasde qualidade de produtos e processos e a elevação de sua capacitação através dainserção em redes que reduzam desvantagens de porte e de capacitação gerencial.

• Estimular a utilização de projetos de grandes empresas públicas como mecanismode promoção do aprendizado tecnológico interno e nas empresas fornecedoras.

• Promover a capacitação científica e tecnológica na área de Ciências da Vida, a qualjá foi identificada como a que potencialmente servirá de base para o desenvolvimentodo próximo paradigma tecno-econômico, visando criar e mobilizar competências baseda competitividade futura da indústria e economia brasileira.

• Promover sistemas de informação para mobilização da competitividade ecapacitação inovadora da economia, através de:

- criação de bancos de dados sobre fatores e indicadores de competitividade e decapacitação técnico-científica e da implantação de sistemas de acompanhamento eavaliação dos níveis atingidos de capacitação e competitividade;- implantação de sistemas de monitoramento das tendências de desenvolvimentoeconômico, científico e tecnológico no Brasil e no exterior- apoio a estudos visando a identificação e análise das necessidades e oportunidadestécnico-científicas atuais e futuras dos setores produtivos e dos demais setores dasociedade brasileira, tanto a nível nacional quanto regional e setorial;- mobilização de meios que garantam o aumento da eficiência e velocidade na qualinformação flui através da economia, contribuindo para rapidamente difundir novosconhecimentos e tecnologias.

Ações Gerais Propostas

• Estabelecer ambiente de negociação e cooperação envolvendo os vários segmentosinteressados para que a definição das diretrizes de política e o acompanhamento dasações implementadas possam ser realizados de forma transparente e submetida aconstantes reavaliações. A capacidade de introduzir correções de rumo comflexibilidade e agilidade é indispensável.

• Promover o uso dos recursos do PADCT de forma articulada com demaisinstrumentos de apoio ao desenvolvimento educacional, industrial e de C&T e visandosempre o objetivo de alavancar e mobilizar um conjunto maior de recursos e esforçospara inovação.

• Adotar como norma fundamental a descentralização das ações, com ênfase nosorganismos estaduais, locais e setoriais atuantes na área de C&T.

• Apoiar a realização de estudos monitorando e analisando (a) novas tendências eoportunidades para o Brasil quanto ao desenvolvimento competitivo, da ciência etecnologia, tanto a nível nacional quanto regional e setorial; e (b) novos desenhos deestratégia para aproveitamento dessas oportunidades.

1 - Conceito de Competitividade

Estudos sobre competitividade tornaram-se freqüentes, principalmente nas

duas últimas décadas, sem que uma definição precisa e de larga aceitação deste

conceito estivesse disponível e, portanto, sem o desenvolvimento de metodologias

apropriadas para a sua análise.

Boa parte desses estudos conceitua a competitividade como um fenômeno

diretamente relacionado às características apresentadas por uma firma ou um

produto. Estas caraterísticas relacionam-se ao desempenho no mercado ou à eficiência

técnica dos processos produtivos adotados pela firma. Para os autores que privilegiam

o desempenho, a competitividade se expressa na participação no mercado (market-

share) alcançada por uma empresa ou um conjunto delas no total do comércio

nacional e internacional da mercadoria em questão. Já para os que associam

competitividade à eficiência, seus indicadores baseiam-se em coeficientes técnicos (de

insumo-produto ou outros) ou na produtividade dos fatores, comparados às 'melhores

práticas' (best practices) verificadas na indústria.

Entretanto, ambos os enfoques podem ser considerados como restritivos, pois

abordam o tema de modo estático, permitindo apenas o exame de como os indicadores

se comportaram até um determinado momento. Se observados dinamicamente, tanto

desempenho quanto eficiência são resultados de capacitações acumuladas e

estratégias competitivas adotadas pelas empresas, em função de suas percepções

quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econômico onde estão inseridas.

Estão igualmente superadas as visões tradicionais que definem a

competitividade como uma questão de preços, custos (especialmente salários) e taxas

de câmbio. Esta concepção levou, no passado, a políticas centradas na desvalorização

cambial, no controle dos custos unitários de mão-de-obra com reduzida qualificação e

- 11 -

no uso predatório de recursos minerais, energéticos e ambientais, com o objetivo de

melhorar a competitividade das empresas.1

1.1 - Competitividade Dinâmica

Na visão dinâmica, a competitividade deve ser entendida como a capacidade da

empresa em formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam

conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. O sucesso

competitivo passa, assim, a depender da criação e renovação das vantagens

competitivas, em um processo onde cada produtor se esforça por obter peculiaridades

que o distinguam favoravelmente dos demais. Neste sentido, destacam-se em primeiro

lugar as vantagens associadas à qualidade e produtividade dos recursos humanos e à

capacitação produtiva e inovadora das empresas.

Qualquer que seja a sua fonte, as vantagens competitivas usualmente

requerem tempo para que possam ser alcançadas. Essa característica é tanto aplicável

às vantagens associadas à inovação e à especialização dos trabalhadores quanto à

própria experiência de produção e comercialização acumulada ao longo dos anos.

Portanto, uma política para competitividade deve objetivar promover a

cumulatividade das vantagens competitivas adquiridas pelas empresas, incluindo,

além das já mencionadas acima, ainda a acumulação de capacidade financeira, a

montagem de relações e interações (por exemplo, com fornecedores e usuários), a

imagem conquistada no mercado, a diferenciação de seus produtos, etc.2

Assim, análises sobre competitividade devem ser capazes de distinguir (a)

situações onde predominam aspectos geradores de capacitações de curto, médio e

longo prazo; e também (b) fatores que contribuem para criação apenas da chamada

1 O conceito de competitividade espúria foi definido para caracterizar a ampla utilização, por parte dealguns países, de fatores como os acima mencionados para obtenção, no curto prazo, de vantagenscompetitivas, num processo que produz efeitos extremamente perversos à economia e sociedade emuitas vezes são irreversíveis. Ver Fanzilber, 1988.2 Casos de sucesso mostram, também, que é importante que as empresas estejam aptas - não apenas aadotar estratégias competitivas que garantam o acúmulo de importantes experiências - mas a imporcorreções de rumo quando necessário.

- 12 -

competitividade espúria daqueles que contemplam a construção de capacitação

competitiva real e sustentável.

1.2 - Competitividade Sistêmica

A noção de competitividade dinâmica indica que o desempenho empresarial

depende e é também resultado de fatores situados fora do âmbito das empresas e até

mesmo da estrutura industrial da qual fazem parte. Tais fatores incluem, dentre

outros: o potencial dos recursos humanos a que têm acesso, as infra-estruturas

disponíveis e as características sócio-econômicas dos mercados nacionais. Todos estes

são específicos a cada contexto nacional e devem ser explicitamente considerados nas

ações públicas ou privadas de indução de competitividade.

Por outro lado, a compreensão da dimensão dinâmica da competitividade -

colocando a inovação como fator fundamental para sustentar a sobrevivência e

crescimento das empresas - revela a preocupação com o entendimento da questão da

capacitação para inovação. Esta nos coloca claramente hoje que o aproveitamento

pleno das vantagens que as oportunidades tecnológicas oferecem depende igualmente

não apenas da organização e da dinâmica inovadora da empresa, mas também de

outras instâncias ao nível meso e macro da economia. No último caso é

particularmente ressaltado o importante papel dos fatores que favorecem e

aperfeiçoam a capacidade de acumulação tecnológica das empresas, tais como: um

forte sistema de educação superior; um ativo sistema acadêmico e de pesquisa

industrial; uma força de trabalho tecnicamente bem treinada e abundante; níveis e

padrões de investimento compatíveis; quadro legal e político estimulante; um forte e

exigente mercado interno; e condições favoráveis nas demais esferas relacionadas ao

contexto nacional e internacional no qual se dá o fluxo de comércio e investimento e

onde as inovações são geradas e difundidas.3

3 Ressalta-se aqui a correlação direta que pode ser feita entre os conceitos de sistema nacional deinovação e o de competitividade sistêmica.

- 13 -

Assim, atualmente o estudo das características e da dinâmica dos diversos

sistemas nacionais de competitividade constitui-se na base do novo enfoque e

compreensão de como vantagens comparativas nacionais surgem e são ou não

aproveitadas. O papel do governo - enquanto promotor e catalisador do processo

cumulativo de aprendizado e de reestruturação dinâmica da economia - é

particularmente enfatizado neste cenário em que se reconhece que o ambiente

econômico, político e social pode tanto (a) adiar ou mesmo barrar mudanças técnicas,

organizacionais e sociais associadas à emergência de novas oportunidades; ou, de

forma diametralmente oposta, (b) incentivar tais mudanças, contribuindo inclusive

para promover importantes mudanças na liderança econômica e tecnológica de

empresas, setores e países.

Faz-se necessário ressaltar que os processos espontâneos de busca da

competitividade, através do jogo das forças de mercado, podem provocar efeitos

adversos, particularmente, em matéria de emprego e salários, dilapidação e

deterioração do meio ambiente. A construção da competitividade sistêmica não pode,

portanto, prescindir de mecanismos que garantam harmonizar adequadamente as

dimensões temporais, econômicas e sociais dos alicerces da competitividade, por duas

razões: para evitar os efeitos adversos relacionados à competitividade espúria e para

que aqueles alicerces não sejam frágeis e efêmeros.

Deve-se também ressaltar que o desenvolvimento competitivo pode ser

compatível com um projeto social de ampliação das oportunidades de emprego,

remuneração e qualidade de vida, mas tem para isso que incorporar de forma explícita

esses objetivos. O desenvolvimento com competitividade pode criar empregos novos e

melhores, assim como qualidade de trabalho e de vida, mas tem para isso que estar

ligada a um conjunto de diretrizes e objetivos capazes de criar perspectivas de

crescimento econômico e redução das distâncias sociais.

- 14 -

2 - Fatores Determinantes da Competitividade

Conforme definições e conceitos definidos nos ítens anteriores, desempenho

competitivo de uma empresa, indústria ou nação é condicionado por um vasto

conjunto de fatores, que pode ser subdividido naqueles internos à empresa, nos de

natureza meso-estrutural, pertinentes à forma de organização industrial dos

complexos e setores industriais, e nos de natureza macro-estruturais.

Os fatores internos à empresa são aqueles que estão sob a sua esfera de decisão

e através dos quais procura se distinguir de seus competidores. Incluem os estoques

de recursos acumulados pela empresa, as vantagens competitivas que possuem e a

sua capacidade de ampliá-las. Pode-se citar, dentre outros, a capacitação inovadora e

produtiva; a qualidade e produtividade dos recursos humanos; a condição de mobilizar

recursos; a qualidade e amplitude de serviços pós-vendas; as relações privilegiadas

com usuários e fornecedores; e o conhecimento do mercado e a capacidade de se

adequar às suas especificidades.

Os fatores meso-estruturais são aqueles que, mesmo não sendo inteiramente

controlados pela firma, estão parcialmente sob a sua área de influência e caracterizam

o ambiente competitivo que ela enfrenta diretamente. Integram esse grupo aqueles

relacionados: à configuração da indústria em que a empresa atua (tais como grau de

concentração, verticalização e diversificação e tamanho das firmas, potencialidades

para formação de alianças e grau de maturidade, ritmo, origem e direção do progresso

técnico); à concorrência (no que tange às regras que definem condutas e estruturas

empresariais em suas relações com consumidores e competidores); e às características

dos mercados consumidores (em termos de sua distribuição geográfica e em faixas de

renda; grau de sofisticação etc.).

Os fatores macro-estruturais da competitividade são aqueles que constituem

externalidades que moldam e afetam o ambiente produtivo e competitivo,

influenciando as vantagens que firmas de um país possuem frente às suas rivais,

tanto no mercado nacional quanto no internacional. Podem ser de diversas naturezas:

- 15 -

- macroeconômicos, como nível de investimentos da economia, taxa de câmbio,

oferta de crédito e taxas de juros;

- político-institucionais, incluem as políticas de desenvolvimento econômico e

industrial, comercial e correlatas, destacando-se as políticas fiscal, financeira,

creditícia e tarifária, de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico e as regras

que definem o uso do poder de compra do Estado;

- regulatórios como as políticas de regulação da concorrência, proteção à

propriedade intelectual, proteção ao consumidor e preservação ambiental;

- infra-estruturais, incluindo a disponibilidade, qualidade e custo de: energia,

transportes, telecomunicações, redes e sistemas informatizados, capacitação científica

e tecnológica e serviços de informação;

- sociais, como a qualificação da mão-de-obra (educação profissionalizante e

treinamento), políticas de educação, formação e treinamento de recursos humanos,

trabalhista e de seguridade social, grau de exigência dos consumidores;

- referentes à dimensão regional, como os aspectos relativos à distribuição

espacial dos vários tipos de recursos (naturais e criados) e da produção; e

- internacionais, como as tendências do comércio mundial, os fluxos

internacionais de capital, de investimento de risco e de tecnologia, relações com

organismos multilaterais, acordos internacionais e políticas de comércio exterior.

Portanto para se formular e implementar estratégias de promoção à

competitividade faz-se fundamental identificar e promover de forma coordenada os

fatores relevantes para o sucesso competitivo - internos e externos à firma - avaliando

a sua importância atual e futura, assim como o potencial das firmas com relação aos

mesmos.

- 16 -

3 - Grandes Transformações Atuais Influenciando a Competitividade

Mundial

3.1 - Mudança no Paradigma Técnico-Econômico

A dinâmica tecnológica internacional mudou significativamente na década dos

80. Apesar da grande variedade de inovações radicais e incrementais específicas em

quase todo o setor industrial, existe evidência de uma mudança de paradigma das

tecnologias intensivas em capital e energia e de produção inflexível e de massa

(baseadas em energia e materiais baratos) dos anos 50 e 60 para as tecnologias

intensivas em informação, flexíveis e computadorizadas dos anos 70 e 80. As

indústrias tecnologicamente maduras foram rejuvenescidas, ao mesmo tempo em que

emergiram outras novas (lideradas pelas tecnologias de informação e comunicação -

TIC, as quais tornaram-se a base do rápido desenvolvimento tecnológico, da produção

e do comércio internacionais.

Esta revolução tecnológica continua afetando, embora de forma desigual, todos

os setores e novos requerimentos têm sido impostos à economia como um todo,

envolvendo, além de importantes mudanças tecnológicas, várias mudanças

organizacionais e institucionais.4 Como reflexo das tentativas de contrarrestar os

impactos negativos dos desajustes causados pela mudança de paradigma e agilizar a

reestruturação industrial, nos últimos dez anos vem se observando uma intensificação

da competição entre empresas e países.

Neste processo, a capacidade de rapidamente gerar, introduzir e difundir

inovações passou a exercer papel fundamental para a sobrevivência das empresas e

até para deslocar rivais de posições aparentemente inexpugnáveis. Tal situação

colocou ainda mais clara a importância da inovação como instrumento central da

estratégia competitiva das empresas e países. Como consequência principal assistiu-se

ao significativo aumento dos esforços de inovação principalmente por parte dos países

mais avançados.5

4 Ver, dentre outros, Lastres, 1993 e Bell e Cassiolato, 1993.5 Ver capítulo 3 do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira.

- 17 -

Uma vez que as novas tecnologias vêm confrontando a maior parte das

empresas com a quebra de suas trajetórias anteriores, a necessidade de informação

sobre futuros desenvolvimentos tornou-se ainda mais crucial. Portanto, o acesso a

uma ampla base científica e tecnológica que constituía-se numa vantagem em fases

anteriores tornou-se uma necessidade vital. Assim, o segundo e correlato aspecto da

tendência internacional nos últimos anos relaciona-se à rápida proliferação de novos

acordos, consórcios e programas de colaboração tecnológica entre empresas (e entre

estas e outras instituições).

A constituição de redes de inovação tornou-se característica marcante dos anos

80s nos países avançados e passaram a ser vistas como um dos componentes

fundamentais no novo desenho da estratégia competitiva industrial. Comparado com

a década dos 70, o número de alianças tecnológicas mais do que sextuplicou na década

subsequente, tendo se concentrado nas novas áreas de tecnologia genérica (tecnologia

de informação e comunicação, biotecnologia e materiais avançados).6 Em

consequência, o grau de competitividade de uma determinada empresa passou a

refletir cada vez mais a eficiência das redes ou sistemas nos quais tal empresa se

insere.

O advento da tecnologia de informação no bojo do novo paradigma técnico-

econômico tanto gerou necessidades de colaboração, quanto propiciou os meios

técnicos para o aprimoramento das 'networks'. Ao mesmo tempo em que a expansão do

novo paradigma vem exigindo maior interligação e colaboração dentre empresas e

entre estas e as instituições de pesquisa, o próprio desenvolvimento das tecnologias da

informação e comunicação facilitam isto; por tornarem viável a rápida comunicação e

transmissão de dados e a ligação em redes, favorecendo interações maiores entre as

esferas de pesquisa, produção e comercialização.

6 Para maiores detalhes ver Lastres, 1993

- 18 -

3.2 - Globalização

A emergência do novo paradigma tecnológico e a aceleração do processo de

globalização são os traços mais marcantes dos últimos 15 anos. Enquanto a revolução

tecnológica se difundia de forma desigual entre as principais economias avançadas,

acelerou-se ainda mais - também de forma desigual - a integração da economia

mundial. Tais aspectos em muito afetaram a competitividade das economias

nacionais, as estruturas setoriais e empresariais.

Deve-se levar em conta, todavia, que analítica e politicamente o conceito de

globalização ainda é escorregadio pois repousa na interface de três fenômenos

distintos: as relações econômicas internacionais mais tradicionais e antigas entre

economias nacionais resultantes do comércio; as atividades das empresas

multinacionais conjuntamente aos mercados corporativos extra-fronteira construídos

dentro de estruturas corporativas multinacionalizadas; e, os mercados financeiros e

monetários realmente globais que surgiram nos anos 60 e que ganharam momentum

nos 70 e 80.7

As novas dimensões da globalização relacionam-se à emergência de um sistema

mundial de interligações de redes entre as principais empresas (e outras instituições)

principalmente nos países da Tríade. Através de tais redes pode-se ligar pesquisa,

produção, marketing e outras atividades ao redor do globo. Essas redes possibilitaram

também a construção de uma ampla gama de alianças envolvendo novos tipos de

interação entre financiadores, fornecedores, clientes, concorrentes etc.

Pode-se afirmar que o atual processo de globalização é um fenômeno composto

de duas dimensões principais, interligadas que se tornaram tecnicamente viáveis a

partir da revolução microeletrônica. A primeira, a globalização financeira, foi

acelerada com a desregulamentação dos mercados a partir dos anos 80, permitindo o

rápido movimento de capitais, na maior parte das vezes especulativo, através das

fronteiras nacionais. Tal dimensão financeira provocou mudanças significativas na

propriedade e controle das grandes corporações, trazendo uma ênfase muito grande

7 Chesnais, 1994.

- 19 -

nos resultados de curto prazo em detrimento dos de longo prazo. Os únicos sistemas

nacionais de produção e inovação protegidos deste processo são aqueles em que o setor

financeiro reconhece ter uma responsabilidade em assegurar a coesão e crescimento

do setor manufatureiro e tem construído ligações menos voláteis com o setor

industrial.

A segunda dimensão, ligada à anterior, refere-se à possibilidade que as

grandes corporações têm de, através de redes corporativas, definir e implementar

estratégias de competitividade de caráter global. Tais estratégias são centradas na

obtenção de vantagens advindas da crescente mobilidade de certos ativos e fatores

(como capital, acesso a matérias-primas, partes e componentes, etc.) e das

possibilidades de manejar sistemas complexos proporcionados pelo avanço da

informática (Cassiolato, 1994).

Deve-se lembrar, todavia, que não existem evidências quanto à existência de

um processo de globalização das atividades científico-tecnológicas. É verdade que as

interligações em redes têm permitindo uma maior, e mais rápida, conectividade entre

equipes de matrizes e filiais e entre estas e pesquisadores trabalhando em vários

países. Isso não significa, contudo, que esteja ocorrendo uma maior divisão do

trabalho intelectual entre as diferentes instâncias das grandes empresas.

Na verdade, estudos avaliando tal comportamento e tendência - através da

análise de dados sobre alianças tecnológicas, 'inputs' tecnológicos (gastos em P&D) e

'outputs' tecnológicos (patentes) - demonstram o contrário. No que se refere às

tendências internacionais quanto à formação de alianças estratégicas tecnológicas,

por exemplo, ressalta a concentração destes arranjos nos países da Tríade (EUA,

Europa Ocidental e Japão). Conforme mostra a Figura 1, 90% dos acordos de

cooperação tecnológica registrados nos anos 80, realizou-se entre empresas

pertencentes a tais países. A grande exceção em termos da participação marginal dos

chamados países em desenvolvimento nos novos acordos de cooperação tecnológica,

refere-se ao caso dos países do Sudeste Asiático, os quais vêm aumentando de forma

significativa e contínua seus esforços relativos à inovação desde a década de 70.

- 20 -

Figura 1: Distribuição de Alianças Tecnológicas entre Blocos Econômicos

1980/9 (número total de casos: 4.192)

EuropaEuropa/US Europa/JapãoUSUS/JapãoJapão Outros

Fonte: Lastres, 1993. Fonte Original de Dados: MERIT/CATI

Conclusões semelhantes são obtidas através análise dos dados sobre os

chamados 'insumos tecnológicos'. Tais análises mostram que - tanto nos EUA, quanto

no Japão e nos países da União Européia - mais de 80% dos gastos de P&D por parte

das grandes empresas transnacionais são realizados nos seus países de origem. A

mesma tendência é observada em relação aos resultados da atividade de inovação.

A Figura 2 mostra que a origem geográfica da quase totalidade das patentes

depositadas nos EUA - no período 1985/90 pelas 500 maiores empresas transnacionais

- é sempre o próprio país sede dessas empresas. De fato, 98,9% das patentes

depositadas por empresas japonesas nos EUA, no período 1985/1990, tem como origem

- 21 -

atividades tecnológicas desenvolvidas no próprio Japão; enquanto 92,2% das patentes

de empresas norte-americanas teve como origem os EUA.

Figura 2: Origem das Patentes das Grandes Empresas Transnacionais

dos Principais Países da OCDE*

* Dados referem-se às patentes depositadas nos EUA, no período 1985/1990Fonte: Lastres, 1995. Fonte original de dados: Patel e Pavitt, 1994

Conforme mostra a Tabela 1, tal situação é semelhante a dos principais países

europeus com uma pequena diferença relativa a um relacionamento um pouco mais

estreito dentre os países membros da União Européia: Alemanha (84,7% das patentes

tem como origem o próprio país e 88,8% a Europa como um todo), França (86,6% e

94,1% respectivamente) e Itália (88,1% e 94,3% respectivamente).

Tabela 1: Países Selecionados - Localização Geográfica das Patentes das

Grandes Empresas Transnacionais

- 22 -

Nacionalidade das

Firmas

País/Região de Origem das Patentes* (percentual)

EUA Europa Japão Resto do

Mundo

Japão 0,8 0,3 98,9 0,0

EUA 92,2 6,0 0,5 1,3

Alemanha 10,3 88,8 0,4 0,7

França 5,1 94,1 0,3 0,5

Itália 5,4 94,3 0,0 0,3

Reino Unido 35,4 61,6 0,2 2,7

* Dados referem-se às patentes depositadas nos EUA, no período 1985/1990

Fonte: Adaptado de Patel e Pavitt, 1994

Portanto a análise de tais dados, indica que, de fato, a pequena

'internacionalização' verificada nesta área, tem se dado na direção de um

aprofundamento do processo de regionalização ou no máximo 'triadização' - mais

propriamente do que de globalização. Conforme mostram tanto a figura quanto a

tabela, a importância relativa da contribuição dos demais países excetos os da 'Tríade'

é desprezível: 0% no caso das empresas japonesas, 1,3% no caso das americanas, 0,7%

no caso das alemãs, 0,5% no caso das francesas e 0,3% no caso das italianas.

Pode-se concluir, portanto, que as transformações associadas ao advento e

difusão do novo paradigma técnico-econômico e ao processo de globalização

produziram importantes avanços que vieram a permitir tanto a realização de

pesquisas integradas a escala mundial, como a difusão rápida e eficiente dos

conhecimentos gerados. Contudo, os dados e análises atualmente disponíveis revelam

uma marcante limitação do espaço geográfico onde as informações e conhecimentos

são produzidos e circulam. Assim, contrariamente à visão mais ou menos difundida

sobre uma pretensa internacionalização dos esforços e resultados do desenvolvimento

científico e tecnológico, o padrão que se observa é o de uma concentração nitidamente

nacional de tais atividades.

- 23 -

Não se pode também confundir o movimento relativo à crescente importância

de acordos de cooperação tecnológica industrial com uma suposta internacionalização

da P&D. O que ocorre, de fato, é que as possibilidades trazidas pelos

desenvolvimentos das novas tecnologias da informação permitiram, particularmente

às grandes corporações, a utilização de recursos e insumos tecnológicos espalhados em

diversos países e regiões. A proliferação das alianças tecnológicas internacionais

certamente ampliou e intensificou tal possibilidade, assim como permitiu a circulação

de conhecimentos a nível mundial. Contudo, tais atividades têm-se restringido a um

espaço privilegiado e extremamente concentrado, não se verificando, também neste

caso, a internacionalização efetiva nem das atividades de pesquisa nem dos

conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos pelas mesmas.

É importante frisar que, portanto, que as alterações descritas acima resultaram

na redefinição das condições de acesso, aquisição e utilização de novas tecnologias.

Uma importante característica correlata do atual contexto internacional que tem

afetado significativamente as condições de acesso a novas tecnologias por parte dos

países em desenvolvimento são as mudanças na estrutura de produção e comércio

internacional, com a formação de blocos regionais de comércio, onde, dentre outras

coisas, se incentivam as parcerias produtivas, comerciais e tecnológicas. Como

decorrência, atualmente os países em industrialização vêm encontrando crescentes

problemas nos seus esforços para adquirir e introduzir inovações geradas pelas

economias industriais mais avançadas.8

8 Ver Bell e Cassiolato, 1993.

- 24 -

4 - Políticas Governamentais para Promoção da Competitividade

Os países mais avançados têm enfrentado as mudanças acima descritas de

maneira diferenciada. Do ponto de vista da complexidade analítica, deve-se enfatizar

que, tanto nos países da OCDE quanto nos NICs asiáticos as políticas comerciais,

industriais e tecnológicas, tornaram-se crescentemente integradas a partir da década

de 1980. Por outro lado, a ênfase principal das novas políticas aponta na direção a um

crescente investimento na criação de capacitações a nível da empresa.

A nível nacional, tem sido observado um crescimento real nos orçamentos

governamentais de P&D na maior parte dos países da OCDE no período mais recente,

o que tem sido acoplado a outras medidas para estimular o investimento em inovação

por parte de empresas. Como resultado, e conforme a Figura 3 mostra, nas últimas

duas décadas os países mais avançados - que já vinham praticando políticas de

promoção à P&D de forma significativa - aumentaram ainda mais seus esforços,

atingindo níveis de gastos próximos a 3% de seus Produto Nacional Bruto - PNB.

As políticas de competitividade ora em vigor nos países da OCDE não devem

ser confundidas com a geração anterior de políticas industriais, uma vez que elas não

possuem nem a simplicidade nem a relativa legibilidade daquelas. Mesmo que as

novas políticas utilizem certos instrumentos tradicionais da política industrial, elas

recorrem a um número maior e mais complexo de instrumentos.

Em praticamente todos os países da OCDE, os governos têm considerado

imperativo contrabalançar o grau elevado de abertura ao exterior que se seguiu à

importante redução de barreiras tarifárias (que em alguns casos foi completa),

mobilizando e desenvolvendo uma ampla gama de instrumentos visando melhorar a

competitividade de suas empresas, tanto no que se refere às exportações quanto em

relação aos mercados internos totalmente abertos à concorrência externa.

Por um lado reconhece-se que a pressão da concorrência externa nos oligopólios

locais é considerada positiva na maior parte dos países da OCDE. Porém, uma série

de outros parâmetros é considerada pelos governos locais. Entre estes destacam-se a

preservação dos componentes principais da soberania nacional, particularmente o

- 25 -

domínio e algum grau de autonomia em tecnologias críticas. A racionalidade para este

parâmetro combina considerações militares e industriais cujo mix varia de acordo com

o país. Outros parâmetros importantes incluem a questão do emprego, a balança

comercial e o aumento dos retornos do estímulo a processos tecnológicos interativos.9

Figura 3: Gastos em P&D/PNB em Países Selecionados da OCDE - 1975/92

EUA Japão Alemanha França Itália Canada0

1

2

3

7580859092

%

Fonte Original de Dados: National Science Foundation, 1995

Um conceito chave é o reconhecimento que as políticas de promoção ao

investimento produtivo, à tecnologia e ao comércio devem ser consideradas de

maneira holística, conjuntamente e não de maneira separada ou alternativa. A

9 Este último, apesar de ainda incipiente, está presente em vários países da OCDE, particularmente ospaíses nórdicos e a França (OCDE, 1993 e 1995).

- 26 -

interface entre tais políticas é particularmente visível nas políticas de apoio á

exportação e no erguimento das barreiras não tarifárias.

As barreiras não tarifárias, em oferecendo a alguns setores uma proteção

efetiva, compensam aquela que foi perdida como resultado da eliminacão das tarifas e,

são, de fato instrumentos setoriais de política de competitividade. Em casos mais

sofisticados elas se dirigem a melhorar o desempenho e permitir o aprendizado nos

mercados domésticos e de satisfazer os requisitos de segurança e ambientais.

As subvenções e os auxílios fiscais-financeiros diretos ou indiretos à indústria

constituem, hoje em dia, o instrumento de política industrial mais utilizado pelos

países da OCDE. Tais subvenções e auxílios incluem instrumentos de financiamento

direto, que transferem recursos a determinadas categorias especiais de empresas e

setores, e incentivos fiscais, que conferem privilégios temporários às empresas que se

qualifiquem para atividades relacionadas à inovação.

Além de medidas que visam especificamente melhorar a concorrência externa

de empresas locais, os novos instrumentos são os que se direcionam a salvaguardar o

tecido industrial dos países da OCDE e apoiar as atividades de P&D e à difusão de

inovações.

Quanto às medidas que visam resguardar o tecido industrial destacam-se as

políticas industriais regionais.10 Estas buscam encorajar e facilitar a conversão

industrial e a diversificação dos recursos locais de capital e trabalho, no caso de

regiões confrontadas com déficits estruturais de emprego, tendo em vista sua

especialização setorial anterior em indústrias decadentes, e promover um processo de

desenvolvimento passível de auto-sustentação em regiões subdesenvolvidas. O

segundo tipo de programa deste bloco valoriza especialmente o apoio a pequenas e

médias empresas. Incluem programas que oferecem vantagens a tais empresas, em

termos de diminuição de custos (essencialmente através de tratamento fiscal),

programas de estímulo a ações específicas locais/setoriais, tendo em vista um

interesse econômico (criação de empregos) ou tecnológico (inovação), e medidas de

10 Os programas deste tipo foram aqueles que mais cresceram, no âmbito dos países da OECD, aolongo da década de 80. Ver Cassiolato, 1994.

- 27 -

caráter geral, mas dirigidas ao reforço de atividades específicas, tais como P&D,

programas de automação e recursos para consultoria em gestão e organização.

Finalmente, o apoio ao emprego e à formação profissional tem sido um dos

objetivos principais dos diversos países da OCDE. As iniciativas compreendem

programas dirigidos a todas as empresas e destinados a auxiliar o financiamento de

atividades de formação (através de renúncia fiscal) e de programas específicos em

favor do investimento e da criação de emprego.

Quanto ao apoio às atividades de P&D e à difusão de inovações, deve-se

sublinhar que tanto o tipo quanto a forma mudaram substancialmente ao longo dos

anos 80. Levantamento efetuado pela OCDE identificou três tipos de programas dessa

natureza. O primeiro, de caráter geral, visa obter reduções nos custos de P&D para as

empresas, sobretudo através de vantagens fiscais. Normalmente, têm sido

complementados por subsídios suplementares se tais atividades são efetuadas sob

certas condições (projetos de cooperação com universidades e centros de pesquisas,

projetos internacionais, etc.). A tendência mais importante é a de encorajar as

modalidades mais interativas. O segundo tipo, apoio a tecnologias específicas, tende a

se concentrar num número relativamente pequeno de áreas tecnológicas,

principalmente em informática e novas formas de energia. Finalmente, o terceiro tipo

visa reforçar os investimentos em P&D de pequenas e médias empresas. Estes

programas, que aumentaram significativamente ao longo dos anos 80, visam, na

maior parte dos casos, estimular o acesso de tais empresas a resultados de P&D já

existentes na economia.

O Anexo 1 do presente trabalho apresenta, em maiores detalhes, os objetivos e

mecanismos de política industrial e tecnológica implementados recentemente nos

EUA, Japão, França, Reino Unido, Coréia do Sul e Taiwan. A seguir, alguns dos mais

importantes dentre esses são apresentados resumidamente no Quadro 1.

Quadro 1: Exemplos de Política Industrial e Tecnológica em Países

Selecionados - EUA, Japão e Alemanha

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EUAConstituição de um ambiente pré-competitivo visando a construção da

nova infra-estrutura voltada à produção e difusão tecnológica através doapoio ao Programa 'Info-highways'; do reforço papel do 'NationalInstitute of Standards and Technology'; e da ampliação do mandato do'National Center for Manufacturing Sciences'

Favorecimento da formação de redes e parcerias - incluindo a promoção deacordos cooperativos entre aproximadamente 1500 laboratórios federaise privados - para capacitação dos diferentes agentes do sistema em áreasespecíficas ('targeted research'), visando a melhorar e garantir acompetitividade de empresas norte-americanas para enfrentar,especialmente, a ameaça japonesa11

JapãoApoio aos 'Intelligent Manufacturing Systems' - IMS que objetivam a

colaboração internacional em P&D em tecnologias ligadas à produção(integração e padronização de tecnologias de produção existentes edesenvolvimento de sistemas de produção para o século XXI)

Promoção de grandes programas de pesquisa cooperativa - com o objetivode promover o monitoramento de informações, a capacitação de recursoshumanos, a criação de interconexões entre atores relevantes e arealização de P&D em áreas estratégicas de tecnologia de ponta - osquais dificilmente seriam levados adiante pelo setor privado sozinhotendo em vista o montante dos gastos, a duração dos projetos e aincerteza neles envolvidos12

'Programa 21' apresentado pelo MITI em 1994, centrado numa visão dofuturo caracterizada por uma combinação entre áreas produtivas,científicas, tecnológicas, etc., que representem as necessidades futurasda sociedade

11 Neste caso inclui-se o apoio a Programas visando a competitividade em setores/áreas estratégicastais como: 'Supercar', 'SEMATECH', 'Clean Car Initiative'; 'US Display Consortium'; 'National FlatPanel Display Initiative'; 'Advanced Communications Technology Satellite' e 'Advanced BatteryConsortium'.12 Neste caso inclui-se a criação do programa para supercondutores cerâmicos de alta temperatura.Ver Lastres, 1994b.

- 29 -

AlemanhaPromoção a empresas 'technology-oriented' e a consórcios de pesquisas

entre empresas e institutos de pesquisa, visando favorecer a formação dejovens pesquisadores que irão trabalhar em empresas, através de seuamadurecimento técnico em institutos de pesquisa

Programa para o Desenvolvimento da Tecnologia Industrial, para odesenvolvimento de sistemas aplicativos baseados em computadores

'Project Forderung', através do qual o governo federal, via o setorfinanceiro, subsidia a P&D industrial em setores de novas tecnologias(energia, informática, biotecnologia, etc.)

Programa para a automação de fábrica - 'Productik' - para apoio ao setorindustrial na introdução de tecnologias avançadas

Programa 'Aplicações de Microeletrônica', visando incentivar a aplicação edifusão da microeletrônica em produtos industriais de setores específicos(eletrônica, robótica, biotecnologia, etc.)

Portanto, juntamente com a maior importância conferida às atividades

tecnológicas, eleitas como elemento fundamental da nova estratégia competitiva em

todos os países da OCDE, uma diferença quanto ao enfoque das diretrizes de política

adotadas fizeram-se notar.

O principal objetivo das atuais políticas e regionais para C&T nos países mais

avançados tem concentrado-se em: (a) rapidamente identificar importantes

oportunidades tecnológicas futuras; (b) aumentar a velocidade na qual a informação

flui através do sistema; (c) rapidamente difundir as novas tecnologias; e (d) aumentar

a conectividade das diferentes partes constituintes dos sistemas de C&T para ampliar

e acelerar o processo de aprendizado.

Tais objetivos têm sido perseguidos de maneira conjunta, especialmente

através da mobilização de redes de inovação, a qual tem se constituído no objetivo

central da política governamental dos países mais avançados nos anos recentes. No

final dos anos 80, 4/5 do orçamento do governo japonês para P&D foram alocados para

projetos de colaboração tecnológica enquanto cerca de 2/3 do orçamento de pesquisa da

União Européia foi desembolsado nesta forma para a promoção das novas tecnologias

genéricas.13

Acima de tudo, as novas políticas industriais e tecnológicas implementadas

pelos países da OCDE mostram que a era do auxílio indiscriminado cedeu lugar a 13 Lastres, 1994a.

- 30 -

políticas com foco bem definido, onde o critério da eficiência e da avaliação dos

resultados tornou-se regra imperiosa. Como contrapartida, medidas focalizadas de

fomento à competitividade aumentaram significativamente.

5 - Competitividade da Indústria Brasileira no Quadro Atual

A situação brasileira confronta-se atualmente com um quadro onde a

dimensão, rapidez e complexidade das inovações tecnológicas e institucionais em

curso já avançado nas economias desenvolvidas mostram-se desafiadores. Visando

analisar os impactos de tais desafios à capacidade de competição da indústria

brasileira, torna-se importante refletir sobre as principais vantagens, potencialidades

e entraves ao desenvolvimento competitivo nacional acumuladas ao longo dos últimos

anos.

Apesar de ser inegável o desempenho brasileiro recente quanto às exportações,

é preocupante que os setores exportadores mais competitivos concentrem suas

exportações em 'commodities', cujos mercados apresentam tendência a um baixo

dinamismo, excesso estrutural de oferta e queda generalizada de preços.

A principal vantagem competitiva da indústria brasileira é o seu mercado

interno, um dos maiores do mundo e que seria ainda mais amplo se não enfrentasse

as restrições decorrentes da crescente desigualdade na distribuição da renda e

consequente marginalização de parcela significativa da população do consumo dos

bens industriais.

Conforme ressaltado pelo ECIB, o período recessivo e de instabilidade dos anos

80 e início dos anos 90, induziu as empresas brasileiras a adotarem estratégias de

sobrevivência. O ajuste empreendido aumentou a eficiência e a qualidade industrial e

evitou a desindustrialização, embora não tenha ocorrido uma renovação e atualização

do parque industrial que significasse um salto qualitativo do ponto de vista da

competitividade. Ao contrário, a natureza defensiva do ajuste praticado pela maior

- 31 -

parte da indústria não permitiu a adoção de estratégias 'ofensivas' de modernização

acelerada do sistema empresarial brasileiro: a estrutura dos grandes grupos nacionais

não avançou em direção a um perfil moderno de atividades de elevada densidade

tecnológica e de rápido crescimento; o tamanho econômico dos grupos de capital

nacional praticamente não cresceu - em contraste com as grandes empresas de outros

países em desenvolvimento.14

Acima de tudo destaca-se que a rarefação dos esforços com inovações por parte

do setor privado brasileiro, aliada à relativa exiguidade destas atividades e a ausência

de processos cooperativos eficazes vêm representando importante deficiência

competitiva no sistema de inovação brasileiro. Além disto e das defasagens técnicas e

organizacionais dos diferentes setores industriais, é relevante ressaltar as deficiências

estruturais, que também se agravaram na 'década perdida', e que não podem deixar

de ser objeto de preocupação:

• a precariedade da base educacional brasileira, especialmente face aos

requisitos exigidos pelos novos processos produtivos;

• o distanciamento entre sistema produtivo e sistema bancário-financeiro,

marcado pela ausência de crédito e financiamento de longo prazo e pelo reduzido grau

de endividamento como proporção dos ativos empresariais; e

• a profunda deterioração da capacidade regulatória do Estado, enfraquecido

pela crise fiscal e financeira, impotente para articular a retomada do crescimento

econômico e para fomentar o avanço da competitividade nacional, sem a

implementação prévia de reformas.

Diferentemente do período anterior, calcado em métodos tayloristas e fordistas

de produção, o advento da nova revolução colocou por terra a possibilidade de o país

continuar a se desenvolver sem um grau satisfatório de educação e de capacitação de

14 A forma adotada de ajuste traduziu-se principalmente no 'enxugamento' da produção, com oabandono de linhas de produtos de maior nível tecnológico em favor de produtos mais padronizados.Esse processo de 'downgrading' da produção, oposto à tendência internacional, vem provocando umsignificativo descolamento da estrutura industrial nacional em relação aos segmentos mais dinâmicosna pauta de consumo dos países industrializados e no comércio internacional. Ver Estudo daCompetitividade Brasileira.

- 32 -

seus trabalhadores, suficiente para levá-los a participar ativamente dos processos de

produção.

O desafio educacional é urgente, uma vez que não é possível elevar

substancialmente a escolaridade média da população em menos que uma década e

meia. À medida que se postergam soluções efetivas para a crise do sistema

educacional brasileiro, posterga-se também o horizonte temporal de superação do

problema - adentrando já nas primeiras décadas do século XXI.

É necessário reconhecer e enfatizar que o desenvolvimento competitivo não

pode ser alcançado enquanto estão excluídos largos contingentes da população e

subsistem em atividades marginais outras importantes frações. A integração dessas

parcelas da população à economia e à cidadania é fundamental e concorre no sentido

de promover o desenvolvimento de um mercado interno amplo e dinâmico, capaz de

desenvolver-se no sentido das exigências internacionais, cada vez mais amplas e

rígidas, associadas a qualidade, segurança e respeito ao meio ambiente e aos recursos

naturais.

A importância da inovação tecnológica para a competitividade - entendida como

a capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe

permita conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado - é

inequívoca. No entanto, conforme visto no item 3, a necessária reestruturação da

indústria brasileira coloca-se hoje num quadro no qual a base tecnológica e

organizacional para a competitividade é totalmente diferente daquela dos anos 60 e

70.

Cabe particularmente ressaltar que num ambiente muito dinâmico, os níveis

de competitividade são rapidamente erodidos e a base para se entrar em novos

mercados torna-se rapidamente inadequada para se manter neles, se expandir dentro

deles ou se diversificar além deles. Portanto, projetos de importação de tecnologia

(assim como qualquer outra atividade pontual e estanque) podem contribuir apenas

temporariamente às posições competitivas em trajetórias de mudanças tecnológicas

aceleradas e contínuas.

- 33 -

Adicionalmente e conforme discutido acima, como decorrência das

transformações ocorridas a nível mundial nos últimos anos, têm-se verificado:

• a redefinição das condições de acesso, aquisição e utilização de novas

tecnologias, resultando no aumento das dificuldades para incorporação de inovações

geradas pelas economias industriais mais avançadas por parte desses países; e

• uma importante marginalização da participação das empresas dos países em

industrialização nos novos arranjos tecnológicos industriais. Sublinha-se aqui que

dentre os países em desenvolvimento, somente aquelas empresas que vêm investindo

de forma significativa e contínua em inovação têm tido algum nível de participação

nos novos acordos de cooperação tecnológica e são vistos como possíveis parceiros nos

novos arranjos de colaboração internacionais.

Consequentemente, o esforço necessário à superação da atual fragilidade

tecnológica nacional requer não apenas reverter a tendência de retração das

atividades de inovação a nível do sistema brasileiro como um todo, mas

principalmente induzir uma mudança fundamental nas estratégias industriais. No

cerne de tal mudança estão obviamente os objetivos de buscar o aprendizado e a

capacitação para inovação de forma persistente e cumulativa. Sem isto os riscos

quanto ao comprometimento do projeto de 'inserção competitiva internacional'

aumentam enormemente.

6 - A Política de Desenvolvimento Competitivo Sistêmico e Dinâmico

6.1 - Requisitos de Política

As exigências da rápida mudança tecnológica e do ambiente competitivo

internacional impõem uma nova agenda de política de competitividade, na qual

privilegia-se a necessidade de suporte à inovação tecnológica, à modernização e

ampliação da infra-estrutura básica, à articulação dos meios e instrumentos de

financiamento, à modernização da gestão empresarial e à reestruturação produtiva.

Tal agenda, associada ao objetivo de criação de meios para se alcançarem formas

- 34 -

dinâmicas competitividade sistêmica, conforme discutido acima, exige a atuação de

um Estado capacitado e eficiente para enfrentá-la. A reconstrução do Estado, em

novas bases, com recuperação de sua capacidade ordenadora, constitui, portanto,

condição essencial para sustentar o desenvolvimento competitivo.

Por outro lado, a indução eficaz de tais comportamentos indica que os

instrumentos de atuação do Estado devam ser calibrados de modo a atender às

características e peculiaridades dos diversos setores da atividade industrial (setores

com capacidade competitiva, setores com deficiências competitivas e setores difusores

de progresso técnico) e às especificidades dos vários tipos de agentes que neles atuam.

Assim, esses instrumentos devem ser articulados em programas com diferentes níveis

de abrangência: programas para o conjunto da indústria, programas setoriais e

programas para subsetores ou para categorias especiais de empresas.

Na busca da criação de condições competitivas sistêmicas dinâmicas, faz-se

necessário, acima de tudo, conciliar a estabilização econômica com um projeto de

desenvolvimento equilibrado e sustentável. Essa sustentabilidade implica, entre

outras condições e em seu cerne, a busca permanente da construção e renovação da

capacidade de inovação da estrutura industrial brasileira. Neste sentido e conforme

visto anteriormente, entende-se que o desenvolvimento competitivo deve assentar-se

em três pilares:

1º) na coordenação e articulação das políticas públicas para assegurar

condições sistêmicas estimulantes: ordenamento macroeconômico; desenvolvimento de

infra-estrutura, educação, sistema de ciência e tecnologia; política de comércio

exterior; programas setoriais de reestruturação produtiva e tecnológica;

implementação de regulações que induzam comportamentos competitivos; e ações de

fomento e estímulo à modernização das empresas e das relações de trabalho;

desenvolvimento social harmônico;

2º) num novo estilo de desenvolvimento fundado em novas relações entre

Estado, Setor Privado e Sociedade; para isto é necessário ampliar espaços e renovar

pautas de negociação entre os agentes econômicos, orientados para o desenvolvimento

competitivo da indústria;

- 35 -

3º) na busca de coesão social em torno aos objetivos da competitividade, de tal

forma que o comportamento dos atores sociais fundamentais se oriente para a

distribuição eqüitativa dos ganhos e benefícios deste processo.

6.2 - Locus da Construção da Competitividade

Um ponto fundamental que repousa na interface entre os mecanismos

interativos e processos cumulativos que comandam a competitividade e o processo de

globalização é o do papel tomado pela 'localização' da competitividade, basicamente

P&D local e 'clusters' industriais.

Tal 'localização' refere-se, em termos gerais, como um espaço geográfico que

oferece recursos específicos para as empresas, cuja exploração gera externalidades

significativas em termos de proximidade. Num contexto de oportunidades oferecidas

por um dado conjunto de condições macro-estruturais (ambiente de política

macroeconômica, características gerais do sistema educacional, regulação do emprego,

estrutura do sistema bancário, etc.), as vantagens competitivas que um dado 'local'

oferece podem incluir:

- oferta de infra-estrutura e outros fatores de produção tais como a qualidade

da mão-de-obra disponível, a disponibilidade de capital, infra-estrutura de

comunicações e pesquisa e infra-estrutura sócio-cultural;

- o tecido industrial local em termos de fornecedores de bens intermediários,

equipamentos e serviços profissionais;

- organização, práticas administrativas e ambiente competitivo das empresas;

- características da demanda, incluindo a propensão de consumidores locais de

produtos com mais alta qualidade e desempenho.

A competitividade ao nível da economia nacional dependerá consideravelmente

do número e natureza de tais 'locais' e 'clusters' e do grau em que locais diferentes

dentro da economia nacional também possuam relações de realimentação entre si e

não se tornem ilhas de prosperidade isoladas. A política governamental que assegure

o desenvolvimento de tais ligações e que também oriente os diferentes locais para que

estes não entrem em concorrência desorganizada para atrair empresas de fora é

- 36 -

extremamente importante. Tal não é uma tarefa trivial e certamente requer uma

reavaliação das políticas regionais e tecnológicas, o novo contexto de ambas e as suas

relações no novo contexto.

A política de competitividade deve, no entanto, partir da constatação de que,

independentemente de quão bem outras partes do sistema estejam operando, a base

para o desenvolvimento e acumulação de tecnologias, evidentemente, situa-se na

empresa e, conforme mostra a experiência internacional, na empresa nacional, tendo

em vista as limitadas possibilidades de desenvolvimento tecnológico criativo

realizadas pelas subsidiárias de empresas estrangeiras.

A própria habilidade de formular um problema ou projeto de pesquisa,

selecionar, avaliar e negociar e finalmente adotar uma nova tecnologia requer

substancial capacitação técnica dentro da empresa. As empresas que vêm investindo

maciçamente em P&D interno têm destacado, não apenas as vantagens de tal

estratégia relativas à geração direta de inovações, mas também à manutenção e

ampliação de sua capacidade de reconhecer, assimilar e explorar informações

externamente disponíveis.

Assim, as várias formas de aquisição de tecnologia de terceiros (incluindo

acordos de cooperação, licenciamentos de tecnologia) não podem ser vistas como

possíveis substitutos para atividades inovativas endógenas. Concomitantemente com

o aumento do esforço de aquisição de tecnologias externas, deve haver, por parte das

empresas, um esforço igualmente significativo de construir/reforçar suas próprias

bases internas de inovação.

A importância de arranjos de colaboração em qualquer sistema nacional de

inovação está em promover os meios para tal acumulação, facilitando o acesso às

fontes de novas tecnologias e incentivando as empresas a realizarem sua própria

acumulação tecnológica. Reconhece-se que programas cooperativos são insuficientes

para sozinhos transformar a capacidade inovativa das empresas. Para efetiva

utilização dos resultados de pesquisa desenvolvida externamente requer-se o

desenvolvimento de capacitação suficiente dentro dessas empresas. Onde falta tal

- 37 -

capacitação interna, pesquisa cooperativa geralmente não tem trazido resultados à

indústria.

Portanto, acima de tudo, ressalta-se que os objetivos e as atividades inovadoras

precisam tornar-se uma dimensão significativa e permanente das estratégias do setor

empresarial; e que, concomitantemente com o aumento das formas de colaboração,

tem que haver por parte das empresas um esforço igualmente significativo de

construir/reforçar suas próprias bases internas de inovação.

7 - Avaliação da Contribuição do PADCT I e II para o Aumento da

Competitividade da Indústria Brasileira

O PADCT em suas primeira e segunda fases não objetivou explícita e

diretamente a superação das limitações e o aproveitamento de oportunidades voltadas

a melhoria das condições de competitividade da indústria e economia brasileira. Pode-

se, inclusive, afirmar que o objetivo de apoiar a inovação15 - complementarmente ao de

apoiar o desenvolvimento científico e tecnológico, manifestado pela orientação de

promover a interação entre empresas e instituições de pesquisa financiadas com

recursos do Programa - foi incorporado de forma apenas orientadora. Tal fato

evidencia-se, por exemplo, nas exigências para comprovação da existência de possíveis

interações, tanto quando do julgamento dos projetos propostos quanto nas fases de

acompanhamento e avaliação dos projetos apoiados.16

Qualquer avaliação sobre a contribuição do PADCT I e II para a melhoria das

condições de competitividade da indústria brasileira deve, portanto, partir deste

reconhecimento. No entanto, algumas considerações sobre tal tema podem ser feitas

com base nos dados e material disponível avaliando o Programa, nas informações

obtidas com a realização de entrevistas com instituições de pesquisa e empresas 15 Entendida como a incorporação pelo setor produtivo de novas tecnologias, métodos e formasorganizacionais. Ver, por exemplo, Lastres, 1995.16 Neste sentido, reconhecem-se as diferentes exigências relativas aos diversos subprogramas. Noentanto, sublinha-se a postura geral adotada quanto à condução geral do programa. Como exemplo,pode-se mencionar o posicionamento a esse respeito refletido no último relatório do GEA.

- 38 -

apoiados e ainda com a participação das reuniões de avaliação de alguns

subprogramas.

7.1 - Aspectos positivos mais relevantes:

• experiência com novos formatos para planejar, promover e financiar P&D no

País;

• tentativa de adotar modos de avaliação e acompanhamento permanentes das

ações adotadas, incorporando ajustes e reformulações necessárias;

• alavancagem de recursos para apoio ao desenvolvimento científico e

tecnológico brasileiro;

• apoio a alguns subprogramas verticais e horizontais relevantes quanto ao

aumento da competitividade da indústria brasileira.

7.2 - Principais deficiências identificadas:

• lentidão e imprevisibilidade da liberação dos recursos contratados provocou

alterações nos cronogramas e distorceu a execução dos projetos, comprometendo

seriamente a obtenção de resultados, assim como a própria possibilidade de cobrança

dos mesmos e por conseguinte o acompanhamento e avaliação dos subprogramas;17

• baixo poder de mobilização e articulação de empresários e trabalhadores

tanto na definição dos objetivos e prioridades do Programa, quanto principalmente na

execução dos projetos e aproveitamento dos resultados gerados;

• importantes deficiências quanto ao acompanhamento e avaliação dos projetos

financiados;

• pequena preocupação com o aproveitamento efetivo dos resultados gerados

pelos projetos apoiados e deficiências quanto à adoção e difusão destes resultados por

parte da economia e sociedade;

17 Infelizmente e conforme informações obtidas, o sistema de acompanhamento e avaliação do PADCTnão possui estatíscas sobre quanto por cento dos projetos apoiados foram financiados no seu valorintegral e quanto não o foram.

- 39 -

• sistema atual de editais que supostamente induzem atividades de P&D

prioritárias tem refletido mais propriamente o que pequenos grupos projetam como

alvos das políticas dentro dos subprogramas já estabelecidos;

• deficiências quanto à articulação com políticas nacionais e estaduais

relevantes;

• estrutura de subprogramas atual respondem de forma apenas marginal aos

objetivos de promover a capacitação técnico-científica do País visando a melhoria das

condições de competitividade da indústria brasileira;

• formato de gestão e operação dos GTs, CAs, CC, SE e GEA devem ser

reavaliados e naquilo que for necessário modificados para que se permitam imprimir

as necessárias mudanças.

Em sua terceira fase, deve-se buscar a superação de tais disfunções e

dificuldades, não apenas visando criar condições para o aproveitamento de

oportunidades voltadas à melhoria da competitividade da indústria e brasileira, mas

até mesmo para que seja atendido o objetivo do Programa em se consolidar 'como a

mais importante experiência em política de P&D no País'.

8 - Contribuições do PADCT III para a Melhoria das Condições de

Competitividade da Indústria e Economia Brasileira

Destacamos acima de tudo, que, num ambiente de crescente globalização e

abertura de mercados, o acirramento da concorrência entre empresas e países, tem

resultado em novas formas de políticas industriais e da competitividade que

enfatizam os seus componentes tecnológicos. Com formas fundamentalmente diversas

daquelas em vigor até o final dos anos 70, instituições foram modernizadas e novos

mecanismos desenvolvidos, observando-se as características do processo de geração e

difusão de inovações resultantes da chamada revolução tecnológica mundial iniciada

àquela época.

- 40 -

A experiência dos países da OCDE, conforme discutida no item 4, demonstra

que as novas políticas industriais e tecnológicas implementadas são complexas e que a

era do auxílio indiscriminado cedeu lugar a políticas com foco bem definido.

Combinam também descentralização, cooperação e mobilização de instâncias

administrativas e agências diversas.

Quanto ao primeiro aspecto, com a finalidade de aumentar os retornos de

processos tecnológicos interativos de caráter eminentemente local, importantes ações

visando influenciar a atitude do setor produtivo relativamente à inovação têm sido

realizadas de maneira descentralizada, a nível dos estados (no caso dos EUA) e a nível

das regiões (casos, por exemplo, da França, Alemanha e do próprio Reino Unido). No

caso francês, tal descentralização apresenta importantes resultados, têm sido

relativamente bem coordenada e os fundos disponíveis têm sido substanciais. No

entanto, a descentralização pode ser um fator desagregador da coesão nacional, tendo

em vista a competição entre as diversas regiões. Nestes casos tem cabido ao governo

federal o papel de coordenação dos diferentes esforços regionais.18

Tanto nesse caso quanto no que se refere aos aspectos de cooperação e

mobilização coordenada, a ênfase principal refere-se à reestruturação profunda e

redefinição do papel das principais instituições responsáveis pela implementação das

políticas, assim como dos instrumentos utilizados. Alicerçada na idéia de que

mudanças paradigmáticas exigem novos formatos organizacionais, os Estados

Nacionais têm promovido mudanças significativas em tais instituições.19

Em resumo, no quadro atual de mudanças internacionais discutidas nos ítens

anteriores, reconhece-se que a competitividade industrial passará a depender quase

que exclusivamente das chamadas bases construídas de vantagens comparativas. Isto

é, de recursos ligados ao conhecimento e à capacitação, assim como das estruturas

18 Ver Cassiolato, 1994.19 A literatura em economia da inovação é muito clara ao ressaltar historicamente (a) a importânciavital das mudanças organizacionais e administrativas e suas interações com as mudanças técnicas; (b)a forte interdependência entre mudanças técnicas e socio-institucionais; e (c) a importância doambiente econômico, político e institucional, o qual em determinadas ocasiões podem propiciar epromover ou mesmo barrar mudanças técnicas, organizacionais e sociais. Ver, dentre outros, Freeman,1995.

- 41 -

institucionais que facilitem e promovam a geração, internalização e difusão de

inovações tecnológicas e organizacionais.

Um importante desafio com que se defronta o setor industrial brasileiro refere-

se à definição de uma estratégia de longo prazo coerente e coordenada que incorpore o

objetivo de promover sua capacitação para inovação. Tal desafio é magnificado tendo

em vista uma crise no sistema científico-tecnológico brasileiro que compreende

estagnação dos gastos públicos em C&T, baixos níveis de gastos privados em P&D e

uma conhecida falta de cooperação entre as instituições públicas de pesquisa e o setor

produtivo.

Dessa maneira, as principais contribuições que definem o quadro de referência

orientando as diretrizes e ações visando o aproveitamento de oportunidades voltadas

à melhoria das condições de competitividade referem-se à:

• articulação estreita da estratégia de desenvolvimento científico e tecnológico

às políticas de desenvolvimento econômico e industrial e às estratégias do setor

produtivo - para capacitar o país a sustentar a competitividade em um ambiente de

acirramento da concorrência, visando prioritariamente: (a) transformar a prática de

P&D em estratégia permanente do setor empresarial, induzindo comportamentos

competitivos que acelerem a capacitação e a inovação constantes e cumulativas; (b)

aumentar a conectividade entre os agentes do sistema de inovação, como forma de

acelerar o aprendizado conjunto e de aumentar a capacidade de gerar sinergias.

• definição de políticas específicas ajustadas às diferentes fases de

desenvolvimento do País, competitividade industrial e maturidade tecnológica; as

quais devem ser dinamicamente reavaliadas, incorporando reajustes e reformulações

consideradas necessárias; coordenando as políticas macro com políticas setoriais e

regionais de reposicionamento, reestruturação e mudança contínua. A definição das

políticas específicas e seletivas em termos de instrumentos e de linhas de produtos/

serviços deve ser realizada de comum acordo entre governo e setor privado.

Como ponto de partida, e levando-se em consideração a intenção do PADCT em

transformar-se em instrumento modelo e padrão de novas políticas tecnológicas

sugere-se, inicialmente que:

- 42 -

• ao invés de se estruturar em subprogramas setoriais, por áreas do

conhecimento, característica de sua institucionalização no passado, seja o PADCT

reformulado no sentido de definir e auxiliar na resolução de problemas específicos

quer estes se relacionem à modernização de formas institucionais deficientes e

ultrapassadas, quer digam respeito ao apoio a projetos específicos e estratégicos;

• que o redirecionamento das atribuições e escopo do PADCT seja acompanhado

das necessárias alterações nas estruturas de coordenação já existentes, recriando-as

com o objetivo básico de traçar linhas de ação voltadas à resolução de tais problemas.

Dentro de tal orientação, a seguir encontram-se relacionadas diretrizes e linhas

de ação propostas para atender ao objetivo de - através do apoio ao desenvolvimento

científico e tecnológico - promover a criação de condições que permitam o

aproveitamento de oportunidades voltadas à melhoria da competitividade da

indústria e economia brasileira. Faz-se necessário ressaltar, contudo, que a seleção de

tais diretrizes e ações norteou-se pelo objetivo de desenhar um conjunto abrangente

de sugestões para orientar a eleição daqueles subconjuntos que melhor se incluiriam

em fases diferentes e seqüenciais de um possível PADCT III, tendo em vista o

ambiente político, institucional e social no qual tais fases serão desenvolvidas.20

Da mesma forma que se destaca que tais sugestões não objetivam esgotar o

tema, destaca-se também que a abrangência intencionada reflete a consideração que

as ações a serem apoiadas através do uso de um dos instrumentos de apoio ao

desenvolvimento científico e tecnológico - o PADCT III - devem necessariamente estar

articuladas a outras, no espaço e no tempo, dentro de um conjunto geral coerente e

harmônico.

8.1 - Diretrizes e Linhas de Ação Propostas

20 Os autores evidentemente possuem opiniões pessoais sobre quais, por exemplo, deveriam ser ossubconjuntos eleitos numa primeira fase do mesmo. Todavia, conforme colocado a seguir uma dasproposições centrais é que tal seleção seja realizada dentro de um processo que envolva desde o inícioos participantes e clientes do programa para objetivar mobilizar estratégias e comprometimentoefetivos dos agentes envolvidos.

- 43 -

Estimular a contínua e cumulativa internalização das atividades de

inovação por parte das empresas brasileiras.

Ações Propostas

• Promover e financiar as atividade de inovação internas à empresa nacional,

incluindo não apenas as atividades de P&D&E, mas também aquelas relacionadas à

engenharia reversa21.

• Mobilizar estratégias voltadas à conscientização do setor empresarial quanto à

importância efetiva da inovação como elemento fundamental da sobrevivência e

competitividade nesta e nas próximas décadas, através de:

- apoio à montagem de cursos voltados para associações empresariais e sindicais,

empresas e trabalhadores, visando discutir a importância das atividades de inovação

enquanto instrumento de aumento da competitividade e desenvolvimento;

- disseminação de experiências de sucesso empresarial inovativo (por exemplo nas

Câmaras Setoriais, redes, associações de classe e meios de comunicação de massa);

- promoção de maior divulgação tanto dos instrumentos existentes de fomento à

incorporação de conhecimentos técnico-científicos pelo setor empresarial, quanto dos

resultados gerados com o uso de tais instrumentos;

- abertura de espaços para uma maior participação dos setores produtivos

(empresários e trabalhadores) na definição e implementação de estratégias relativas

às políticas de apoio à inovação.

• Fomentar a constituição de maior número de empresas que colocam a inovação como

base de suas estratégias, objetivando influir na alteração do perfil do setor produtivo

21 Conforme destacado por Levin et al, 1987, engenharia reversa é considerada como uma dasprincipais formas de aquisição efetiva de capacitação tecnológica. Baseados em pesquisa extensivasobre as principais fontes de inovação em empresas norte-americanas, tais autores confirmaram seresta forma a segunda mais importante de realizar tal aquisição, perdendo posição apenas paraunidades de P&D intramuros (in-house).

- 44 -

atual, através do apoio à formação e consolidação de pólos de encubadoras de

empresas de base tecnológica e de empresas-juniores.

• Apoiar estratégias que viabilizem a apropriação econômica dos resultados das

atividades de P&D, das informações disponíveis nos documentos de patente, assim

como de qualquer outra fonte de informação relevante à atividade de inovação,

através de:

- apoio a projetos de pesquisa que incluam financiamento parcial (com redução

gradual) do salário de pesquisadores recém contratados por empresas nacionais para

programa de estágio - em instituições brasileiras de pesquisa - que alie treinamento e

especialização ao desenvolvimento de pesquisa tecnológica de interesse da empresa.

Tal apoio visaria, não apenas, estimular as empresas a contratar e capacitar novos

pesquisadores, como também, potencializar (a) o estreitamento dos laços entre

empresas e instituições de pesquisa (b) a utilização econômica dos resultados das

atividades realizadas por esta última e (c) desenvolver capacitação nas empresas em

áreas de novas tecnologias;22

- montagem e reforço dos sistemas que garantam a rápida disseminação de

informações científicas e tecnológicas de interesse do setor produtivo;

- promoção de condições para realização de análise sistemática das informações

disponíveis.

• Condicionar a concessão de incentivos a contrapartidas e comprometimento das

empresas com investimentos efetivos em inovação.

22 Sugere-se que no 1º ano o Programa arque com 80% do salário do pesquisador e no 2º e último anodo apoio 50%. O restante ficaria como responsabilidade da empresa interessada, que se comprometeriatambém ao final dos dois anos a contratar em bases normais tais pesquisadores. Programa semelhanteadotado na Alemanha vem obtendo considerável sucesso, tendo em vista as vantagens citadas acima eainda o objetivo maior de estimular a empresa a internalizar atividades de pesquisa e nesse processointeragir mais de perto com centros de pesquisa locais ou setoriais. Os resultados positivos sãoportanto também irradiados para tais centros.

- 45 -

Promover a melhoria das condições atuais e futuras da competitividade da

indústria e economia brasileira, através da (a) consolidação e aumento da

competitividade atual da indústria já adquirida por alguns setores; (b)

mobilização de meios que garantam o 'catch-up' por parte daqueles setores

que ainda apresentam deficiências competitivas; (c) mobilização de

competências base da competitividade futura da economia brasileira.

• Incentivar a formação e capacitação de recursos humanos a todos os níveis do

empresário ao trabalhador.

• Promover a excelência em linhas de produtos onde a competitividade do produtor e

dos usuários se beneficie da proximidade física e, preferencialmente, onde o setor

usuário tenha capacitação para estimular o desenvolvimento de produtos mais

competitivos e possibilidade de manter uma demanda sustentada, através de

- apoio a programas setoriais específicos visando aumentar os esforços de inovação em

empresas líderes com atenção especial a desenvolvimento de produtos mais intensivos

em tecnologia;

- estímulo a empresas visando a ampliação de atividades de inovação, com ligações

mais próximas a clientes/consumidores e fornecedores para melhorar 'design' de

produtos.

• Induzir estratégias que visem a produção de bens de maior valor agregado,

promovendo-se a fusão dos setores difusores do progresso técnico com áreas

tecnológicas mais maduras e dominadas no país, através de:

- programas mobilizadores que apresentem um poder de 'demonstração' para outras

empresas industriais e que permitam a ligação entre produtores e usuários de bens de

capital e empresas de 'software'

- constituição de centros/distritos voltados à produção de 'software' dedicado às

necessidades do setor industrial;

- 46 -

- apoio à pesquisa aplicada em biotecnologia, informática, etc.

• Dar suporte à realização de programas de certificação, normalização e metrologia

apoiados pela iniciativa privada (preferencialmente por associações empresariais com

metas definidas e comprovação de capacidade de gestão).

• Incentivar o desenvolvimento de processos, produtos e serviços menos poluentes,

poupadores de energia e de recursos naturais não-renováveis, através de:

- promoção do desenvolvimento de fornecedores locais de tecnologias e serviços

ambientais;

- estímulo à utilização de tecnologias ambientais por parte das empresas.

• Apoiar a modernização dos processos de produção tendo em vista a automação,

flexibilização, integração e otimização dos processos produtivos através de:

- difusão de inovações organizacionais e de automação industrial;

- incentivo à atualização de equipamentos específicos a cada atividade industrial.

• Estimular pequenas e médias empresas a melhorar o conteúdo tecnológico de seus

produtos/processos através de:

- apoio à promoção de programas de gestão em articulação com Estados, Municípios,

associações empresariais e outras entidades atuantes;

- estabelecimento de medidas específicas visando o aumento de produtividade e

redução de deficiências de qualidade de produtos e processos e a elevação de sua

capacitação através da inserção em redes que reduzam desvantagens de porte e de

capacitação gerencial.

• Estimular a utilização de projetos de grandes empresas públicas como mecanismo

de obtenção do aprendizado tecnológico tanto internamente, quanto nas empresas

fornecedoras.

- 47 -

• Promover a capacitação científica e tecnológica na área de Ciências da Vida, a qual

já foi identificada como a que potencialmente servirá de base para o desenvolvimento

do próximo paradigma tecno-econômico, visando criar e mobilizar competências base

da competitividade futura da indústria e economia brasileira.

• Promover sistemas de informação para mobilização da competitividade e

capacitação inovadora da economia, através de:

- criação de bancos de dados sobre fatores e indicadores de competitividade e de

capacitação técnico-científica e da implantação de sistemas de acompanhamento e

avaliação dos níveis atingidos de capacitação e competitividade;

- implantação de sistemas de monitoramento das tendências de desenvolvimento

econômico, científico e tecnológico no Brasil e no exterior

- apoio a estudos visando a identificação e análise das necessidades e oportunidades

técnico-científicas atuais e futuras dos setores produtivos e dos demais setores da

sociedade brasileira, tanto a nível nacional quanto regional e setorial;

- mobilização de meios que garantam o aumento da eficiência e velocidade na qual

informação flui através da economia, contribuindo para rapidamente difundir novos

conhecimentos e tecnologias.

A seguir encontram-se citadas em quadros as principais sugestões do Estudo

da Competitividade da Indústria Brasileira - ECIB para orientar a escolha de temas,

prioridades e proposições quanto às diretrizes e ações visando o aproveitamento de

oportunidades voltadas a melhoria das condições de competitividade da indústria. A

abordagem dos problemas de competitividade realizou-se através da definição de três

categorias para agrupamento de setores. Os critérios básicos utilizados nesta

classificação foram os relativos à capacitação competitiva dos diferentes setores e à

inserção estratégica dos mesmos na economia. Assim, no Quadro 2, são propostas

ações visando a melhoria das condições de competitividade dos setores de capacidade

competitiva; no Quadro 3 dos setores com deficiências competitivas; e no Quadro 4 dos

setores difusores do progresso técnico.

- 48 -

Quadro 2: Caracterização e Propostas de Ação para a Consolidação e

Aumento da Competitividade dos Setores com Capacidade Competitiva -

SCC

Setores alvos Agroindústria: soja e derivados, café, suco de laranja, frangos,açúcar e álcoolQuímica: petróleo e petroquímicaMineração e metalurgia: minério de ferro, aço, alumínioPapel e celulose

Característicase EntravesPrincipais

Níveis elevados de eficiência produtiva e conformidade deprodutos; porém, produção concentrada em commoditiesPrincipais responsáveis pela geração de divisasPrincipal determinante da competitividade é o baixo custo dasmatérias-primasPequeno porte das empresas nacionaisDeficiências do investimento em inovação e desestruturação dossistema nacional de P&D dificultam evolução para segmentos maisdinâmicos

EstratégiaProposta paraAumento daCompetitividade

Consolidação e ampliação de posições no mercado externoDinamização das vantagens competitivas estáticas: fortalecendo osfatores sistêmicos de competitividade; assegurando oenobrecimento e upgrading da pauta de produtos através de apoioàs atividades de inovaçãoPromoção de reestruturação industrial visando integraçãoprodutiva, aumento do porte empresarial e internacionalização dasempresas brasileiras

Prioridades dePolíticaIndustrial

Estabelecer laços sólidos com clientes, desenvolver canais decomercialização e disputar mercados de maior valor agregadoQualificar recursos humanosAdotar estratégias exportadoras mais agressivasEstimular a concentração industrial e ampliar a integraçãoprodutivaDesbloquear infra-estruturasPermitir a conglomeração, regular condutas dos oligopólios egarantir a concorrência no mercado internoAdequar o modelo de atuação do Estado

- 49 -

Alvos daPolítica de C&T

Programas setoriais específicos visando aumentar os esforços deinovação em empresas líderes com atenção especial adesenvolvimento de produtoForte apoio à pesquisa aplicada em biotecnologia em centrospúblicos e privadosMaior relação com clientes tendo em vista atender à demanda eabrir oportunidades para diferenciação de produtos. Busca deparcerias estratégicas com distribuidores e aumento doconhecimento das preferências de mercado para direcionardesenvolvimento de produtos

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Quadro 3: Caracterização e Propostas de Ação para Aumento da

Competitividade dos Setores com Deficiências Competitivas - SDC

Setores alvos Agroindústria: carne, leiteQuímica: fertilizantesBens de consumo durável: automobilística, autopeças, caminhões eônibus, equipamentos de linha brancaEletrônica: eletrônica de consumoBens de consumo não durável: calçados, têxteis, vestuárioInsumos para construção civil: cimento, plásticos e cerâmicap/construção, mobiliárioPapel e celulose: produtos de papel, gráfica

Característicase EntravesPrincipais

Maior parte das empresas distantes da fronteira tecnológica;poucas empresas/pólos apresentam desempenho competitivoSetores são importantes para emprego e custo-de-vida domésticoPresença acentuada de PMEs e peculiaridades regionais

Estratégia paraAumento daCompetitividade

Esforço amplo e persistente para difusão de práticas produtivas eadministrativas competitivasAumentar a capacitação tecnológica de empresas líderes e pólosindustriais

Prioridades dePolíticaIndustrial

Crescimento do mercado interno e melhor distribuição de rendaRacionalização do sistema de impostos (reduzir concorrênciapredatória informal)Priorizar networking e formação de pólos virtuosos, visandogarantir infra-estrutura básica para desenvolvimento dacompetitividade; melhorar cooperação produtor-usuário; melhorarpolíticas estaduais/municipais para gerar externalidadesAumentar a capacitação tecnológica e apoiar a cooperaçãoLegislação/ação efetiva em: promoção da concorrência e anti-trust;anti-dumping; direitos do consumidor; conformação a padrõestécnicos e normas

- 51 -

Alvos daPolítica de C&T

Empresas líderes devem ampliar atividades de inovação, comligações mais próximas a clientes/consumidores e fornecedorespara melhorar design de produtosApoio à difusão e comercialização de inovaçõesCriação de externalidades positivas - centros regionais/setoriais de P&D operados em basescooperativas - formação de redes de EDI entre fornecedores/produtores paradesenvolvimento conjuntoMelhoria de processos produtivos através de maior automação emelhor educação/treinamento da força de trabalhoMobilização de cooperação da força de trabalho em educação,treinamento e adotar aumentos salariais descentralizados ebaseados em aumento da produtividadePrograma de reestruturação de centros de pesquisa

- 52 -

Quadro 4: Caracterização e Propostas de Ação para Aumento e Consolidação

da Competitividade dos Setores Difusores do Progresso Técnico - SDPT

Setores alvos Eletrônica: computadores, equipamentos de telecomunicações,automação, softwareBens de capital: máquinas-ferramenta, equipamentos elétricospesados, máquinas agrícolas, aeronáuticaQuímica: farmacêutica, pesticidasBiotecnologia

Característicase EntravesPrincipais

Apesar de ainda frágeis em termos de competitividade, tais setoressão estratégicos para a difusão de inovações à toda economiaSimples importação não pode suprir todo o mercado interno, tendoem vista o tamanho e complexidade das atividades industriaisbrasileiras

EstratégiaProposta paraAumento daCompetitividade

Estimular o desenvolvimento competitivo em segmentosselecionados onde exista: alto potencial de demanda; necessidadede sistemas customizados que requeiram relações próximas entreprodutores e usuários; base de recursos humanos e capacitaçõesempresariaisPolíticas altamente articuladas são necessárias

- 53 -

Prioridades dePolíticaIndustrial

Estimular o potencial de mercado de tais setores através dadifusão de inovações e utilizando: crédito aos usuários; tratamentopreferencial de impostos (reduzindo custos de inovação); seguroApoiar a reestruturação e o desenvolvimento de novas empresasatravés de capital de risco e outros esquemas visando suplantarpráticas imperfeitas do mercado financeiroAumentar e melhorar a base de recursos humanos nasuniversidades e centros de pesquisa

Alvos daPolítica de C&T

Forte apoio à inovação em firmas com base no sucesso de mercado;nova legislação de incentivos deve ser adaptada e melhorada;23

papel crítico do MCT e da utilização do poder de compra público.Projetos de grandes empresas públicas devem buscar e maximizaro aprendizado tecnológico e a participação de firmas emergentesLegislação de patentes e propriedade intelectual deve estimular epremiar empresas emergentesRedes de informações e info-highways devem ligar centros depesquisa públicos e privadosScience parks e incubadoras de novas empresas baseadas emciência devem ser reforçadosFormação de pessoal científico deve ser buscada com altaqualificação: melhorar os programas de pós-graduação em áreasfrágeis; aumentar as bolsas e estágios no exterior; apoio àcooperação com universidades e instituições de pesquisaestrangeiras; absorção de cientistas imigrantes qualificadosApoio a pesquisadores/engenheiros do setor privado em programascooperativos/de aprendizado de curto prazo no País e exteriorPromover fusões dessas novas tecnologias com áreas tecnológicasmais maduras e dominadas no paísDesenvolvimento de programa de software dedicado para omercado interno

Estabelecer condições que visem aumentar a conectividade entre os agentes

do sistema de inovação, como forma de acelerar o aprendizado conjunto e de

aumentar a capacidade de gerar sinergias

Ações Propostas

23 Por exemplo, limites de dedução maiores para firmas que investem muito em P&D, deferimento decréditos de impostos, suporte para firmas baseadas em ciência emergentes

- 54 -

• Apoiar a constituição e consolidação de redes e inovação ativas que mobilizem

esforços setoriais e regionais, particularmente aquelas voltadas ao atendimento das

necessidades das micro, pequenas e médias empresas.

• Promover o desenvolvimento de redes e sistemas de informação interligando

empresas, centros de pesquisa e outras instituições atuantes na área, de forma a

garantir a rápida e eficiente conexão entres os diversos elementos constituintes do

sistema brasileiro de inovação.

• Propiciar meios para realização de programas de intercâmbio e estágios de curta

duração no País entre pesquisadores e outros recursos humanos desenvolvendo

atividades ligadas à inovação, de forma articulada com outros programas de

intercâmbio internacional já existentes.

• Promover a montagem e operação de 'Grupos de Monitoramento de Inovações'

envolvendo representantes de diferentes empresas e outras instituições relevantes

para analisar dados de patentes, resultados de pesquisas e outras informações,

visando identificar oportunidades para (a) atuação das instituições a que são ligados e

(b) realização de programas conjuntos. Tais comitês podem ser organizados dentro das

diversas redes de inovação já existentes (setoriais e regionais) ou fora delas; neste

caso servindo de atividade embrionária para a montagem de novas redes.

• Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento cooperativos entre os diversos tipos de

empresas - buscando-se explorar as interfaces existentes nas cadeias de: fornecedores

(de insumos, bens de capital e demais intermediários), prestadores de serviços,

produtores e usuários, através do enquadramento de arranjos cooperativos como

condição prioritária para usufruto de benefícios.

- 55 -

• Favorecer a aglomeração de empresas em pólos industriais regionais especializados,

através do apoio conjunto à capacitação e treinamento de seus recursos humanos; e à

montagem de infra-estrutura tecnológica e de comunicações.

• Apoiar a formação de redes de Electronic Data Interchange - EDI, visando

particularmente incentivar as pequenas e médias empresas a atuarem em rede e

promover a capacitação tecnológica das mesmas.

• Promover a pesquisa e o desenvolvimento cooperativos entre empresas e entidades

de pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, e qualquer outra entidade ou

conjunto de entidades que possam contribuir positivamente no esforço de dinamização

tecnológica do setor industrial, através de:

- apoio à interação empresa e demais instituições de forma articulada com os

mecanismos já existentes;

- viabilização de estratégias para a utilização e difusão dos resultados das atividades

realizadas pelas instituição de pesquisa, articulando as demandas de mercado e o

poder de compra do Estado;

- estabelecimento de incentivos diferenciais que estimulem as diversas instituições de

pesquisa e as empresas a efetuarem contatos mais estreitos e do enquadramento

destes arranjos cooperativos como prioritários na concessão de apoio.

• Promover a rearticulação da infra-estrutura de P&D já instalada no país, através:

- estímulo aos institutos de pesquisa tecnológica industrial a buscarem sua

reformulação (incluindo reformulação dos meios de gestão e das áreas de atuação,

renovação das capacitações dos quadros técnicos e superação da obsolescência de seus

laboratórios) e reengajamento de forma coordenada financeira e tecnicamente com o

setor empresarial;

- apoio à constituição de 'parques de ciência' mobilizando recursos já disponíveis nos

ambientes universitários de excelência visando ampliar e melhorar sua articulação

com o setor produtivo;

- 56 -

- apoio a grupos de excelência organizados em redes e atuantes em áreas estratégicas

contra metas de capacitação e desempenho;

- apoio à montagem e reforço de sistemas que garantam a disseminação das

possibilidades reais de resposta da competência técnico-científica instalada no País

aos problemas do setor produtivo e sociedade brasileira.

Ações Gerais Propostas

• Estabelecer ambiente de negociação e cooperação envolvendo os vários segmentos

interessados para que a definição das diretrizes de política e o acompanhamento das

ações implementadas possam ser realizados de forma transparente e submetida a

constantes reavaliações. A capacidade de introduzir correções de rumo com

flexibilidade e agilidade é indispensável.

• Promover o uso dos recursos do PADCT de forma articulada com demais

instrumentos de apoio ao desenvolvimento educacional, industrial e de C&T e visando

sempre o objetivo de alavancar e mobilizar um conjunto maior de recursos e esforços

para inovação.

• Adotar como norma fundamental a descentralização das ações, com ênfase nos

organismos estaduais, locais e setoriais atuantes na área de C&T.

• Apoiar a realização de estudos monitorando e analisando (a) novas tendências e

oportunidades para o Brasil quanto ao desenvolvimento competitivo, da ciência e

tecnologia, tanto a nível nacional quanto regional e setorial; e (b) novos desenhos de

estratégia para aproveitamento dessas oportunidades;

- 57 -

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- 61 -

Anexo 1 - Políticas de Competitividade nos Principais Países da OCDE eAlguns NICs Asiáticos

A.1 - Introdução

A tão mencionada necessidade de retração completa do Estado no domínio

industrial não encontra correspondência nas políticas efetivamente implementadas

nos países mais avançados. Segundo documento oficial da OECD, em praticamente

todos os países membros, os governos têm considerado imperativo contrabalançar o

grau elevado de abertura ao exterior (redução de barreiras tarifárias) mobilizando

uma gama de instrumentos, visando melhorar a competitividade de suas empresas,

tanto no que se refere às exportações quanto em relação aos mercados internos, cada

vez mais abertos à concorrência externa (OECD, 1993).

O principal constrangimento aos investimentos públicos de fomento às

condições sistêmicas da competitividade e aos outros programas de natureza

tecnológica, setorial ou regional decorreu da crise fiscal do Estado e da dificuldade de

financiar despesas de médio e longo prazo. Mas não se deve confundir estas restrições

advindas da crise fiscal - reais e sérias - com uma desistência de intervenção do

Estado no campo da competitividade. Com efeito, no Japão, na Alemanha, na França

e, hoje, nos EUA, os estados nacionais agem pragmaticamente na defesa ou no reforço

da competitividade industrial.

Mas é mister observar que as políticas de competitividade hoje praticadas nos

países da OECD diferem substantivamente das políticas industriais do pós-guerra.

Estas se orientaram inicialmente para a reconstrução do sistema produtivo e para a

restauração do setor privado (Europa e Japão) e para a reconversão industrial para

fins civis (EUA).

Nos anos 50 e 60, essas políticas (na Europa e no Japão) apoiaram o

desdobramento e a intensificação do desenvolvimento industrial e o fortalecimento

das suas grandes empresas e bancos. Nos anos 70, ganhou peso a questão do

ajustamento energético (em face dos dois choques de preços do petróleo) e iniciaram-

se vários programas setoriais de reestruturação. Começou a ganhar força, ainda no

- 62 -

fim dos anos 70, a preocupação em fomentar o desenvolvimento das novas tecnologias

de uso genérico.

Na primeira metade da década de 80, sob a hegemonia do neoliberalismo,

verificou-se significativo recuo das políticas industriais tais como vinham sendo

praticadas. Programas setoriais foram desativados e os orçamentos de fomento

reduzidos. Mas, pressionados pela concorrência externa e influenciados pelo exemplo

japonês, os governos nacionais começam a redefinir suas políticas na segunda metade

dos 80. As políticas industriais convencionais foram substituídas por políticas de

competitividade, mais abrangentes e caracterizadas por novos ingredientes.

As novas políticas de competitividade incluem alguns dos instrumentos

tradicionais da política industrial e também um número maior e mais complexo de

novos mecanismos. Na prática, as possíveis combinações desses instrumentos dá um

caráter 'ad hoc' muito pronunciado às políticas.

Por um lado, a pressão da concorrência externa sobre os oligopólios locais é

considerada positiva na maior parte dos países. Porém, uma série de fatores

continuam a influir sobre as ações dos governos. Entre estes, destaca-se a preservação

dos componentes principais da soberania nacional, particularmente o domínio e

algum grau de autonomia parcial em 'tecnologias críticas'. A 'racionalidade' neste caso

combina considerações militares e industriais, cujo 'mix' varia de acordo com o país.

Outros fatores importantes incluem a questão do emprego, a balança comercial, a

questão ambiental e o desenvolvimento tecnológico, particularmente através de

projetos cooperativos envolvendo parceria entre empresas e instituições de pesquisa.

Tendo em vista que a cooperação e outras formas de captura de externalidades

adquirem importância crescente, pode-se classificar algumas formas de fomento à

competitividade de acordo com as relações entre os agentes envolvidos, públicos e

privados. Elas representam a oferta de externalidades e de oportunidades de

cooperação. Referem-se a: (a) infra-estruturas e serviços públicos; (b) investimentos

imateriais em educação, treinamento e P&D; (c) articulação de nexos cooperativos

entre agentes através de programas, projetos mobilizadores, incentivos, etc.;

significando articular empresas, instituições de pesquisa pura e aplicada, infra-

- 63 -

estruturas tecnológicas, etc. em torno a sistemas locais ou regionais de inovação; (d)

promoção da parceria entre o sistema financeiro e as empresas inovadoras, através da

criação de condições fiscais, financeiras e institucionais que incentivem os bancos e

agentes financeiros a apoiar a inovação, alargando o horizonte temporal e absorvendo

parte dos riscos.

Fundamentados no tripé descentralização das políticas, cooperação entre os

diversos agentes e mobilização coordenada das diversas instâncias responsáveis, os

principais instrumentos utilizados atualmente pelos países industrializados no

quadro de suas políticas de competitividade podem ser classificados em quatro

categorias: poder de compra do setor público; intervenção direta para a

reestruturação de setores, sob leis ou regulamentos temporários; requisitos de

desempenho para o investimento de risco estrangeiro; subvenções, incentivos e

auxílios fiscais-financeiros, diretos e indiretos.

Os dois primeiros instrumentos (poder de compra e intervenções

reorganizadoras) são utilizados de maneira seletiva, visando setores específicos. O

terceiro refere-se a regulamentações e requisitos informais estabelecidos para filiais

de empresas estrangeiras e dizem respeito ao seu desempenho em certos quesitos, tais

como compra de insumos e componentes locais, obtenção de um equilíbrio entre

importações e exportações nas trocas intra-firma entre matrizes e filiais e de um

desempenho mínimo em termos de exportações fora das relações intra-firma. Tais

medidas, tradicionalmente associadas aos países em desenvolvimento, têm sido

crescentemente utilizadas a partir dos anos 80 por países da OECD, inclusive pelos

EUA (neste caso não em nível federal mas, sim, em nível estadual).

Finalmente, as subvenções e os auxílios fiscais-financeiros diretos ou indiretos

à indústria constituem, hoje em dia, o instrumento de política industrial mais

utilizado pelos países da OECD. Tais subvenções e auxílios incluem instrumentos de

financiamento direto, que transferem recursos a determinadas categorias especiais de

empresas e setores, e incentivos fiscais, que conferem privilégios temporários às

empresas que se qualifiquem para atividades de P&D ou cumpram outros requisitos.

- 64 -

Em suma, a justificativa para tal orientação mais ofensiva das políticas

governamentais é mais acentuada tendo em vista a pressão da concorrência

internacional e a partir da necessidade de se reforçar o potencial de desenvolvimento

nacional e/ou regional. A amplitude das políticas é vasta e extremamente dependente

de cada contexto nacional. Na maior parte dos casos inclui, não apenas o

encorajamento de empresas industriais a se adaptarem às novas tecnologias através

da promoção das atividades de P&D e estímulo à difusão e cooperação tecnológica nas

áreas de pesquisa genérica de longo prazo, mas também e especialmente através da

consolidação das bases regionais para o desenvolvimento tecnológico, o reforço das

malhas de pequenas e médias empresas e do desenvolvimento de atividades

consideradas estratégicas para o crescimento econômico doméstico tais como o apoio

aos setores de ponta e atividades de 'networking' e o reforço substantivo às atividades

de pesquisa básica.

O apoio reforçado a estas atividades adquire novas justificativas não apenas

enquanto aquisição de informações específicas para as empresas mas, especialmente,

dado seu impacto em termos de treinamento e aprendizado. De fato, as capacitações e

técnicas adquiridas através da pesquisa acadêmica são extremamente valiosas em

aplicações posteriores nas carreiras de engenheiros e cientistas e seu valor não é

confinado aos departamentos de P&D das empresas. Elas permitem às firmas

acumular e absorver conhecimento e se relacionar a 'redes' externas (inclusive

internacionais) de modo tal que não seria possível na sua ausência. Em termos

específicos a natureza do impacto da pesquisa básica na tecnologia não se restringe a

transferências diretas de conhecimento codificado mas inclui, principalmente, acesso

a métodos de pesquisa, instrumentos e conhecimento não codificado. Em tal contexto,

as transferências de conhecimento são incorporadas em pessoas, envolvendo contatos

pessoais e participações em redes nacionais e internacionais.

A Tabela A.1.1, apresenta uma tentativa preliminar de esquematização das

orientações gerais e instrumentos principais da nova política industrial e tecnológica

dos principais países da OCDE (EUA, Japão, Alemanha e Reino Unido) e alguns

NICs asiáticos (Coréia e Taiwan). Tais ações serão detalhadas a seguir.

- 65 -

Tabela A.1.1: Países selecionados - Orientações Gerais e Instrumentos

Principais da Nova Política Industrial e Tecnológica

Orientações Gerais Instrumentos

Reino

Unido

PrivatizaçãoPolíticas 'Supply Side'

'Schemes''Science Parks'

Alemanha Redesenho do sistema'Workable Competition'Descentralização (decisões eoperativa)Apoio às Novas 'Lander'

Incentivos FiscaisPolítica RegionalInstitutos de PesquisaApoio Direto

União

Européia

Políticas Ativas/PropositivasPolíticas de Controle

Pesquisa CooperativaGrandes ProgramasRegulação da Concorrência

EUA Políticas Ativas (tranformaçãoda P&D militar em P&D civil)Políticas de ControleUtilização da Pol. Comercial

Grandes Projetos de CooperaçãoIncentivos FiscaisProjetos de Infraestrutura

Japão Política Industrial como Eixo daPolítica EconômicaCoordenação CentralizadaCooperação Estado/SetorPrivado

Grandes ProjetosReformulação InstitucionalProjetos de Cooperação

Coréia do

Sul

Coordenação CentralizadaAumento dos Gastos em P&DCooperação Estado/SetorPrivado

Projetos Nacionais de P&DProgramas de CooperaçãoDistritos Tecnológicos-Industriais

Taiwan Política de Infraestrutura emC&TCooperação Estado/SetorPrivado

Institutos Públicos de P&DFinanciamento a Projetos de PMEsProjetos de Pesquisa em Setores deAlta Tecnologia

A.2 - EUA

O financiamento às atividades de P&D nos EUA deve ser analisado à luz das

características mais importantes dos gastos em P&D por parte daquele país a partir

do final da 2a. Guerra Mundial. Tais características são a magnitude do investimento

total em P&D e o tamanho do orçamento federal em P&D. Durante tal período, os

- 66 -

gastos federais em P&D têm representado parcela representativa de um investimento

nacional significativo em P&D.

O volume total de recursos destinados a P&D desde o final da 2a. Guerra

Mundial é muito alto não apenas em comparação a períodos anteriores, mas também

em comparação a outros países industrializados. De fato, em 1969, quando o gasto

combinado das outras quatro maiores economias industrializadas (Alemanha

Ocidental, França, Reino Unido e Japão) somava US$ 11,3 bilhões, aqueles dos EUA

totalizavam US$ 25,6 bilhões. Apenas no final dos anos 70, o esforço combinado

desses quatro países excedeu o dos EUA (Danhof, 1968).

No sistema norte-americano de P&D do pós-guerra, os gastos federais

financiaram algo entre 50% e 70% dos gastos totais em P&D, sendo a maior parte

destas atividades realizadas pelo setor privado. Em 1985, 73% do total de P&D

financiado pelo governo federal foi realizado pelo setor privado e, apenas 12% em

laboratórios federais (apesar de 47% do total de P&D dos EUA ter sido financiado

pelo governo federal).

Outro ponto importante é que as atividades militares dominaram o orçamento

federal de P&D nos últimos 30 anos. Em 1960, a pesquisa ligada à defesa constituía

80% dos fundos federais para P&D. Apesar do declínio relativo até um nível de 50%

em 1980, observou-se, com o recrudescimento da guerra fria, um novo aumento ao

longo da década de 1980, culminando em 1990 com a participação de 65%.

A concentração da P&D militar em alguns poucos setores como o aeronáutico, o

de mísseis e equipamentos eletrônicos, significou importante incentivo indireto à P&D

em todo o complexo eletrônico. Além da P&D militar propriamente dita, as compras

governamentais do setor militar têm sido apontadas como fundamentais para o

desenvolvimento e consolidação de alguns setores de ponta como, por exemplo, a

indústria de semicondutores (Utterback e Murray, 1977).

O resultado líquido é que os fundos públicos federais são não apenas

importante mecanismo de apoio à pesquisa privada, mas que tais fundos são

relativamente mais importantes para os novos setores intensivos em tecnologia. A

Tabela A.1.2 apresenta dados relativos aos gastos totais em P&D do setor industrial

- 67 -

norte-americano como um todo e para alguns setores intensivos em tecnologia para os

anos de 1958 ,1986 e 1992. Apresenta ainda a parcela de tais gastos que foi

diretamente realizada através de fundos públicos federais.

Tabela A.1.2: EUA - Gastos em P&D por Parte do Setor Industrial - 1958, 1986

e 1992 (US$ milhões de 1989)

Setores 1958 1986 1992

(1) (2) (2/1) (1) (2) (2/1) (1) (2) (2/1)

Equip. de comunicação e

componentes eletrônicos3691 2615 70,8 13412 4874 36,3 13546 3857 28,5

Aeronáutico 11095 9679 87,2 18024 13428 74,5 16119 9871 61,2

Transporte (inclusive

automobilístico)3640 1259 34,6 11244 3043 27,1 10365 887 8,6

Total do Setor Industrial 35674 20238 56,7 89485 30834 34,5 12131 24660 20,3

Notas:(1) Gastos totais em P&D;(2) Gastos do setor privado financiados pelo governo federal;(2/1) Participação de recursos do governo federal nos gastos totais privados.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados em Mowery e Rosenberg, 1993 e

NSF, 1995

Por esta tabela percebe-se que a contribuição direta de recursos públicos

federais aos esforços privados em P&D alcançava 56,7% do total gasto pelas empresas

norte-americanas no final dos anos 50. Apesar de tal participação ter diminuído, em

termos relativos, ao longo as décadas subsequentes, em 1986, ela ainda representava

34,5% do total e em 1992, 20,5%.

Em setores intensivos em tecnologia como equipamentos de comunicações e

componentes eletrônicos e no complexo aeronáutico, a participação do governo federal

é extremamente elevada e superior à média do setor industrial. Mesmo em setores

não diretamente intensivos em tecnologia, mas que são importantes para a economia

norte-americana e que passam por profundas transformações tecnológicas como

- 68 -

equipamentos de transporte (inclusive toda a indústria automobilística), o governo

federal tem sido responsável por parcela significativa da P&D do setor privado: 27,1%

do total em 1986 e 8,8% em 1992.

É verdade que a primeira administração Reagan especificamente restringiu a

intervenção direta em apoio ao setor privado para o desenvolvimento e

comercialização de tecnologias civis. Porém, a ênfase na corrida armamentista

significou, em termos absolutos, um aumento significativo dos fundos públicos

federais alocados para P&D no setor empresarial. De fato, conforme mostra a Tabela

A.1.3, em 1980 o governo federal alocava US$ 14 bilhões para P&D diretamente nas

empresas norte-americanas (31% do total de gastos das empresas e 51,6 % de todos os

recursos públicos federais para C&T).

Em 1984 o governo federal alocou US$ 23,4 bilhões para P&D das empresas

privadas (31,3% do total de gastos das empresas e 55% de todos os recursos públicos

federais para C&T) e em 1989 o montante alocado pelo governo federal era de US$

30,7 bilhões (31,3% do total gasto pelas empresas e 55,2% de todos os recursos

públicos federais para C&T). A esses valores devem ser adicionados uma parcela

significativa dos recursos das agências federais que são também alocados ao setor

industrial.

Tabela A.1.3: EUA - Gastos Públicos Federais para P&D - 1980, 1984, 1988 e

1992 (US$ Milhões)

Gastos Federais em P&D 1980 1984 1988 1992

Alocados na indústria 14029

(51,6%)

23396

(55,0%)

30343

(55,2%)

24660

(44,8%)

Alocados em agências

federais

7632

(28,0%)

11572

(27,3%)

14281

(26,0%)

15690

(28,5%)

Alocados nas

universidades

4098

(15,1%)

5430

(12,8%)

8191

(14,8%)

11090

(20,2%)

- 69 -

Outras instituições não

lucrativas

1450

(5,3%)

2100

(4,9%)

2200

(4,0%)

3550

(6,5%)

Total 27209 42508 55015 54990

Fonte: Elaboração própria a partir de dados em NSF, 1995

Mesmo na esfera civil, já na segunda administração Reagan, os deficits

comerciais de caráter estrutural forçaram uma mudança radical de atitude por parte

do governo norte-americano a partir de uma pressão ampla e bipartidária do

Congresso. Por exemplo, em 1987-88 o governo propunha uma legislação específica

para o desenvolvimento de aplicações comerciais de supercondutores (que incluía

provisões que restringiam o acesso a estrangeiros) e iniciava dois programas de

pesquisa, financiados pelo setor militar, para o desenvolvimento de tecnologias

direcionadas ao setor civil.

Tais mudanças marcaram o início de novas formas de intervenção do governo

norte-americano na política tecnológica que resultaram em orçamentos crescentes

para a área. Se os recursos diretamente alocados para as P&D nas empresas

diminuiu como contrapartida da diminuição do esforço militar, os recursos totais têm

aumentado (Tabela A.1.3). Os recursos orçamentários adicionais têm sido

direcionados para o suporte do desenvolvimento de tecnologias genéricas, pré-

competitivas mas incluem também apoio para certos programas em áreas

consideradas estratégicas. Dentre tais programas destacam-se projetos conjuntos em

áreas tais como: sistemas de computação, robótica, materiais, etc (OCDE, 1993, p.37).

Mais recentemente, pode-se afirmar que, ao lado da política comercial, a

política tecnológica constitui-se no eixo central da política de competitividade do

governo Clinton (Cassiolato, 1994). Deve-se lembrar que, mesmo durante a

administração republicana, após o 'National Cooperative Research Act' de 1984,

multiplicaram-se as iniciativas de caráter tecnológico voltadas ao setor civil, por parte

do governo norte-americano. Porém, elas tinham, essencialmente, um caráter 'ad hoc'

e incremental. No novo governo Clinton elas ganham o 'status' de prioridade absoluta.

- 70 -

É verdade que após a vitória republicana nas últimas eleições legislativas nos

EUA têm havido - no bojo do programa 'Contract with America' do novo 'speaker', o

republicano Newt Gingrich - tentativas de drasticamente cortar partes do orçamento

de C&T voltadas à pesquisa e desenvolvimento voltadas a fins civis e aumentar o

orçamento de P&D do Pentágono24. Porém, pelo menos na presente administração não

se espera que ocorram mudanças significativas nessa direção.

Ao lado de enfatizar a transformação do estilo de política de C&T, isto é de um

direcionado ao esforço tecnológico militar para outro que objetiva promover a

cap;acidade de inovação do setor empresarial civil, as principais prioridades da nova

política de competitividade, implementadas a partir da promulgação do 'National

Competitiveness Act' de 1993, são:

• melhoria das medidas fiscais em favor da P&D;

• investimento em infra-estrutura tecnológica;

• promoção de tecnologias avançadas de produção;

• assistência ao desenvolvimento de uma nova geração de automóveis;

• melhoria das tecnologias de educação e formação;

• investimento na economia de energia.

Deve-se ressaltar que a política norte-americana de competitividade é

caracterizada por um certo protecionismo e por uma forma de intervencionismo

bastante direto. Os dispositivos de política recentemente introduzidos pelo governo

norte-americano reforçam tais características, exprimindo-se particularmente:

• no projeto do 'National Competitiveness Act' , através de programas de apoio

ao desenvolvimento tecnológico (como o 'Advanced Technology Program' e o

'Manufacturing Extension Partnership', voltados a transferir para o setor civil os

resultados de pesquisas militares);

24 Durante os primeiros 100 dias do congresso republicano, uma série de medidas foram tomadas noâmbito do legislativo tentando implemtar partes do 'Contract with America'. No caso de ciência etecnologia o Congresso votou, para o ano fical de 1996, um corte no orçamento da NSF em 2,3% , umcorte para a pesquisa voltada a fins civis de 7,9% e um aumento de 5,9% no orçamento de P&D doPentágono, além de ter endossado um plano para cortar o suporte para pesquisa científica militar em35% nos próximos 5 anos (Sclove, 1995). Porém tais medidas ainda terão que ser aprovadas pelo poderexecutivo.

- 71 -

• no desenvolvimento de pesquisa dirigida ('targeted research') que se exprime

no projeto 'Supercar'; tal projeto organizado sob a coordenação do 'US Council for

Automotive Research' (instituição fundada pelas '3 Grandes') e com o Departamento

de Comércio exercendo a liderança política, foi concebido à semelhança do

'SEMATECH' e beneficia-se de uma ajuda governamental de aproximadamente US$

1 bilhão, alocados do orçamento do Departamento de Energia;

• na utilização contínua de instrumentos de política comercial, notadamente a

conhecida 'seção 301';

• nas diversas proposições para reforçar os instrumentos de política industrial

e comercial, como o 'Amendment Manton', proposição de modificação do 'National

Competitiveness Act' visando incluir condições mais estritas de 'conteúdo local' e

'reciprocidade' para o acesso de filiais de empresas estrangeiras aos programas de

pesquisas sustentados por cofres públicos.

Dois princípios orientam a nova política tecnológica dos EUA:

a) Constituição de um ambiente pré-competitivo através da construção da nova

infra-estrutura voltada à produção e difusão tecnológica;

b) Favorecimento da formação de redes e parcerias de capacitações associadas

aos diferentes agentes (as agências federais, as universidades, as empresas, as

fundações científicas) ligadas a projetos específicos limitadas no tempo e no espaço

(Tyson, 1992).

Como exemplo do primeiro tipo podem ser destacados:

- O 'National Information Infrastructure Program' (info-highways);

- O papel reforçado do 'National Institute of Standards and Technology'

(anteriormente 'National Bureau of Standards'), no que se refere à prestação de

serviços tecnológicos às empresas, visando melhorar a competitividade da indústria

norte-americana; o orçamento do NIST deve dobrar, em termos reais, durante o

período 1992-1997;

- O 'National Center for Manufacturing Sciences', que fornece educação e

treinamento para a indústria tem o seu mandato ampliado, passando a incluir o

desenvolvimento e comercialização de novas tecnologias;

- 72 -

- As outras agências federais recebem como diretiva, alocar de 10 a 20 % de

seus orçamentos a 'joint ventures' com a indústria.

No que se refere ao segundo tipo, além do 'Supercar' e da 'SEMATECH', as

principais ações são:

- 'Clean Car Initiative';

- 'US Display Consortium';

- 'National Flat Panel Display Initiative';

- 'Advanced Communications Technology Satellite';

- 'Advanced Battery Consortium'.

Os acordos cooperativos entre aproximadamente 1500 laboratórios federais e

privados apresentam crescimento significativo no período recente (108 em 1987 e 975

em 1991), referem-se fundamentalmente a programas ligados à NASA e ao

Departamento de Energia e representam um tipo de cooperação, parcialmente

financiados pelo Estado, mudando radicalmente o comportamento da indústria.

Finalmente cabe mencionar que a parte não subsidiada diretamente da P&D

industrial beneficia-se de medidas indiretas e deduções fiscais. Estas, criadas em

1981 (Economic Recovery Tax Act' - ERTA, modificado em 1992 pelo 'Tax Equity and

Fiscal Responsibility Act' -TEFRA) e constantemente renovadas, correspondem para o

ano de 1995 a uma subvenção equivalente a US$ 2 bilhões para novos gastos em

P&D.

Apesar do suposto caráter 'horizontal' do ERTA/TEFRA, há suficiente

evidência (Cordes, 1989) de que são as empresas dos setores de tecnologia de ponta,

especialmente as novas, aquelas que têm mais se beneficiado dos créditos de impostos

devidos. A razão fundamental para tal ocorrência reside no fato de que como o crédito

só é utilizado quando ocorrem aumentos nos gastos totais em P&D, setores e

empresas que apresentam altas taxas de crescimento de vendas e/ou que são

intensivos em gastos em tecnologia são aqueles positivamente afetados pela

legislação. Assim, mesmo que a legislação seja de caráter genérico, a sua utilização

efetiva tende a se dar em setores de ponta.

- 73 -

A Tabela A.1.4 apresenta estimativas sobre a importância relativa dos créditos

fiscais de P&D tanto em relação aos créditos fiscais sobre o investimento como um

todo (que também foi objeto da ERTA/TEFRA) e nos fluxos de caixa pós-impostos das

empresas norte-americanas nos três primeiros anos após a introdução do esquema.

Conforme pode-se depreender da tabela, a relação dos créditos fiscais de P&D sobre os

créditos fiscais para o investimento cresce significativamente ao longo do período

entre as indústrias de alta tecnologia, chegando nos casos de equipamentos de

computação e instrumentos científicos a alcançar aproximadamente 80% no terceiro

período. No caso dos demais setores, não intensivos em tecnologia, a mesma relação

situa-se nos 9%.

Tabela A.1.4: EUA - Efeitos do Crédito de P&D nos Fluxos de Caixa das

Empresas

Relação dos créditos

fiscais de P&D sobre os

créditos fiscais para o

investimento

(em %)

Importância relativa dos

créditos fiscais em P&D

nos fluxos de caixa (pós-

impostos) das empresas

(em %)

SetorAno 1 Ano 2

Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3

Aeronáutico14 42

23 1,6 5,9 5,8

Farmacêutico17 38

53 0,9 1,6 2,6

Componentes eletrônicos23 32

50 2,7 3,2 4,6

Equip. de computação12 37

78 1,4 3,8 4,3

Equip. de comunicações19 24

54 2,1 2,9 7,2

Instrumentos científicos35 48

87 2,3 5,0 7,1

Outros setores4 5

9 0,5 0,7 1,0

Fonte Original dos Dados: Cordes, 1989

- 74 -

No que se refere à importância relativa dos créditos fiscais em P&D nos fluxos

de caixa (pós-impostos) das empresas observa-se que ela cresce ao longo do período

até apresentar um efeito modesto porém importante nos fluxos de caixa das empresas

dos setores de alta tecnologia. Ela chega a mais de 7% no terceiro ano para os setores

de equipamentos de comunicações e instrumentos científicos, enquanto a média da

indústria encontra-se em 1%.

A.3 - Alemanha

Desde o final da II guerra mundial a política econômica alemã tem sido

estruturada a partir de três princípios. O primeiro é o da economia social de mercado,

no qual o papel principal do governo é o de fazer com que as regras sejam cumpridas,

deixando os atores (capital e trabalho) resolver os seus conflitos. O objetivo principal é

o de assegurar condições sob as quais o mercado possa funcionar o mais livre possível.

O segundo princípio indica que, quando e onde mostrarem-se necessárias alterações

quanto a alocação de recursos em um setor (ou a composição de um setor), serão os

principais bancos - ao invés do Estado - que terão o papel principal de mobilizar e

articular os recursos necessários. O terceiro princípio determina que parcerias social ,

política e econômica devem ser consensualmente determinadas entre Estado, bancos,

firmas e trabalhadores.

A crise do petróleo dos anos 70 altera os termos do debate sobre a intervenção

do Estado. Se antes o debate se dava entre intervencionistas e não intervencionistas,

a partir da crise do petróleo, as divergências passam a situar-se entre os que

defendem a intervenção apenas a nível macroeconômico e os que defendem a

intervenção a níveis meso e micro.

A transformação, em 1972, do Ministério para Energia Nuclear em Ministério

para Pesquisa e Tecnologia representa a maior mudança de orientação no tipo e

forma de intervenção do Estado. Como eixo central do novo tipo de intervenção, o

Ministério para Pesquisa e Tecnologia passa a encorajar o desenvolvimento de

indústrias ligadas às novas tecnologias. Mais ainda, é promovida uma mudança

radical na forma e natureza dos subsídios para a indústria. Enquanto nos 50 e 60 o

- 75 -

mecanismo principal era um 'tax rebate' não seletivo na compra de bens de capital

usados em P&D, a partir da década de 70 ele passa a ser um subsídio direto a

projetos de P&D realizados por firmas. Acordos de cooperação entre firmas e

instituições de ensino e pesquisa também foram organizados. Além disso, setores

industriais passaram a ser objeto de atenção específica, destacando-se o aeronáutico,

o de computadores, bens de capital, energia nuclear e telecomunicações.

Durante, os anos 80 a partir da preocupação com o declínio de diversos setores

o governo central deixa o setor financeiro e as 'Lander' negociar acordos com empresas

em setores em dificuldade. Quando o governo central intervém é no sentido de

formular 'cartéis de crise'.

Nos anos 90, a orientação geral da política industrial e tecnológica se dá a

partir de dois eixos principais. O primeiro refere-se à ênfase, no auxílio às novas

'Lander' (anteriormente Alemanha Oriental), no período de transição, para reforçar a

sua capacitação de pesquisa através de medidas de apoio especial e da promoção de

apoio às empresas de tais 'Lander' para alcançar o nível tecnológico das empresas do

restante do país. Tais medidas incluem suporte e promoção de financiamento de

projetos de pesquisa, de pessoal de P&D interno às empresas, de cooperação entre

empresas e instituições públicas de pesquisa (tanto das antigas como das novas

'Lander'), parques tecnológicos e incubadoras.

O segundo eixo principal refere-se à constatação de que, apesar de todos os

esforços realizados desde os anos 70, a economia e indústria alemã ainda não

alcançaram as mudanças estruturais fundamentais necessárias para se alcançar

competitividade nos setores ligados às novas tecnologias de base eletrônica. De fato, o

governo alemão publicou, no final de 1993, um extenso relatório sobre 'as medidas e

resultados da política governamental para o setor de informática', no qual é

enfatizado que, apesar do progresso no desenvolvimento da infra-estrutura e melhoria

nas condições gerais para a utilização das tecnologias de base microeletrônica, se

reconhece que a situação dos produtores alemães no setor eletrônico, em termos de

competitividade, ainda continuava a ser preocupante. Além de medidas específicas

abaixo relacionadas, tal constatação levou a duas medidas mais gerais.

- 76 -

Em primeiro lugar a uma revisão profunda, iniciada em 1995, de todo o

sistema de inovação alemão, incluindo iniciativas das empresas e ação

governamental, sob a idéia de que o sistema está organicamente vinculado ao

paradigma anterior e que ele deve ser radicalmente alterado para atender as

necessidades do paradigma da microeletrônica.

Em segundo lugar a uma ampliação do espaço das políticas para este setor, do

nível nacional para o nível da União Européia, sob a idéia de que proporcionar P&D

em todas as novas tecnologias excede a capacidade de qualquer economia européia,

mesmo a alemã. Assim, dois grandes projetos foram recentemente iniciados na

Alemanha. O primeiro é uma participação extensiva no JESSI (Joint European

Submicron Silicium), realizado dentro da iniciativa européia EUREKA. O segundo é o

de cooperação transatlântica em P&D, com um investimento de DM 2,7 bilhões em

Dresden (o governo federal e o da Saxonia contribuem com DM 1,1 bilhão), visando se

constituir uma infra-estrutura de P&D e capacidade produtiva em microeletrônica.

No que se refere à política para inovação alemã, ela baseia-se em três linhas

fundamentais:

• auxílio direto, para o qual existe uma relação contratual específica entre o

poder público e a empresa beneficiária;

• auxílio indireto genérico ('horizontal');

• auxílio indireto específico, direcionados a setores tecnológicos bem definidos.

Os instrumento financeiros de caráter genérico compreendem (Mathes, 1994):

a) Contribuição para gastos de P&D ligados a pessoal de pesquisa - o

Ministério de Assuntos Econômicos subsidia pessoal de P&D das empresas tanto já

contratado quanto para novas contratações. Para o pessoal já contratado prevêm-se

subsídios até 40% do salário bruto, sujeito a um teto máximo de DM 120000/ano por

empresa. Após 5 anos o percentual se reduz a 25% e o subsídio termina após o sétimo

ano. Para novas admissões o subsídio é de 55% do salário bruto, sujeito a um teto

máximo de DM 250000/ano se a empresa tem menos de 500 empregados. Tal

percentual é gradualmente diminuído no caso de empresas maiores.

- 77 -

b) Contribuição para investimentos em P&D - tratam-se de subsídios para a

aquisição de capital imaterial (por exemplo, patentes), bens móveis e imóveis. O

montante e de 20% do custo total sujeito a um teto máximo de DM 500000 por ano.

c) Promoção de empresas 'Technology-oriented' - trata-se de uma forma de

apoio que varia segundo a fase do projeto. Na fase de estudos contribui-se com 90%

dos custos (até DM 54000); na fase de P&D a contribuição cobre 75% dos custos (até

DM 900000); na fase final, de lançamento do produto é prevista uma garantia de até

50% dos custos (até DM 1600000).

d) Consórcio de pesquisas entre empresas e institutos de pesquisa - o objetivo é

o de favorecer a formação de jovens pesquisadores que irão trabalhar em empresas,

através de seu amadurecimento técnico em institutos de pesquisa. O programa prevê

apoio financeiro por três anos (DM 45000 no 1º ano, DM 40000 no 2º ano e DM 35000

no 3º ano) a empresas que empreguem pesquisadores que desenvolvam projetos de

seu interesse em institutos de pesquisa. A atividade de pesquisas deve ser realizada

em áreas ligadas às novas tecnologias (eletrônica, biotecnologia, robótica, etc.).

e) Instituto de Crédito para a Reconstrução - fornece empréstimos a taxas

preferenciais a empresas. O apoio refere-se a investimentos de longo prazo para

criação, manutenção ou expansão de firmas, despesas de materiais e mão-de-obra

para projetos de melhoria de produção e/ou introdução de novos produtos.

No que se refere ao apoio a setores específicos, o apoio compreende:

a) Programa para o Desenvolvimento da Tecnologia Industrial - o apoio é

fornecido para o desenvolvimento de sistemas aplicativos baseados em computadores

(até 40% do custo total sujeito a um teto máximo de DM 400000 por empresa), de

'robots' e sistemas operativos (mesmo percentual com um teto de DM 800000 por

empresa).

b) 'Project Forderung' - programa através do qual o governo federal, via o setor

financeiro, subsidia a P&D industrial em setores de novas tecnologias (energia,

informática, biotecnologia, etc.). A contribuição é de 50% do custo previsto, mas se o

projeto é considerado de interesse público a contribuição pode ser maior.

- 78 -

c) Programa para a automação de fábrica 'Productik' - o programa se propõe a

apoiar a indústria na introdução de tecnologias avançadas. Financia até 40% de

custos de pessoal de P&D, pesquisa e consultoria externa e realização de protótipos. O

programa atinge três áreas principais: a) DM 350 milhões para os setores de

CAD/CAM e robótica; b) 148 milhões para projetos nos setores de automação flexível e

controle de qualidade; c) DM 32 milhões para estudos de viabilidade e para o

laboratório de CAD 'Karlsruhe'.

d) Programa 'Aplicações de Microeletrônica' - o programa visa incentivar a

aplicação e difusão da microeletrônica em produtos industriais de setores específicos

(eletrônica, robótica, biotecnologia, etc.). Empresas que desenvolvam novos produtos,

em tais setores, que incorporem componentes eletrônicos, com pelo menos 400 horas

de pesquisa, obtêm financiamento (40% dos gastos em P&D e 20% do custo de

investimento - máximo de DM 800000).

e) Programa 'Tecnologia Física' (PPT) - objetiva sustentar a pesquisa básica em

física e acelerar sua aplicação. Os temas prioritários são: laser, plasma, altas

temperaturas, imagens eletrônicas e superfície). Este programa tem caráter de apoio

direto, sem condições 'a priori' e é direcionado a empresas e institutos de pesquisa.

d) Programa Especial para Tecnologia de Produção 'Fertigungstechnik' -

programa que visa automação de escritórios e fábricas do ponto de vista

organizacional. Financia até 50% dos custos para empresas e 75% para institutos de

pesquisa.

Finalmente, existem outros programas tecnológicos setoriais para os setores de

energia, aviação civil e mineração de carvão.

A.4 - Reino Unido25

A política tecnológica do pós-guerra no Reino Unido passou por três estágios

sucessivos (Freeman 1987). Até meados dos anos 60 a ênfase era a de criar uma forte

capacitação em P&D militar e pesquisa básica, em geral, com muito pouca

25 Parcialmente baseado em Cassiolato, 1994.

- 79 -

importância para a P&D civil. Num segundo período, até o final dos anos 70, a partir

da constatação de que a economia britânica não se beneficiava da forte base científica

e tecnológica, uma série de alterações institucionais foi implementada (criação de

Ministério da tecnologia em 1964, reorganização dos 'Research Councils', etc.). Tais

alterações porém nunca foram levadas a ponto de se concretizarem medidas mais

profundas de políticas tecnológicas.

A partir do final dos anos 70 as mudanças introduzidas refletiram a visão de

que as tecnologias genéricas deveriam ser apoiadas através de programas especiais de

P&D e de que sua difusão e aplicação deveria ser promovida através de vários

'schemes' de apoio à P&D industrial e à difusão de tecnologias avançadas,

especialmente as de base microeletrônica. Apesar da filosofia não intervencionista

implantada naquele país a partir de 1979, o 'Department of Trade and Industry', na

prática, continuou com a política de 'schemes', ampliando-a.

Deve-se ressaltar que a política tecnológica do Reino Unido não está baseada

em incentivos de renúncia fiscal. A rejeição britânica a este tipo de incentivo

fundamenta-se em dois fatores. O primeiro seria de que tais medidas não seriam 'cost-

effective'.

Um relatório sobre a experiência de outros países com incentivos fiscais para a

P&D realizada pelo Departamento da Receita britânico é taxativo a esse respeito: 'the

best evidence available suggests that special fiscal incentives increase R&D by an amount

that is roughly one-half of the revenue foregone by the government: the remainder goes to

swell companies' cash flow and post-tax profits' (Inland Revenue, 1987).

O segundo motivo, nem sempre explicitado é que tais renúncias fiscais teriam

algum impacto negativo nos requisitos de empréstimo do setor público através da

redução do imposto efetivamente pago (Stoneman, 1991).

De qualquer maneira, o governo britânico tem, mesmo no contexto das políticas

neoliberais implantadas a partir de 1979, formulado e implementado diversos

programas de apoio específico ao setor privado. Além da conhecida importância das

tecnologias ligadas ao complexo militar-industrial britânico, deve-se mencionar o

Programa Alvey lançado no início dos anos 80 na área de informática e que

- 80 -

apresentou razoável sucesso no sentido de articular o setor privado com o sistema

público de pesquisas e de promover a cooperação entre empresas.

Apesar de cortes no orçamento governamental terem inviabilizado a

continuidade do Programa Alvey na segunda metade dos anos 80, outras medidas,

mais modestas foram introduzidas, destacando-se 30 projetos do Programa LINK, o

qual visa promover pesquisa colaborativa entre o setor privado e a base científica nas

áreas de eletrônica e comunicações, alimentação, biociências, materiais e produtos

químicos (£ 370 milhões em 1992). Outro programa importante é o ATP ('Advanced

Technology Programmes') com 17 projetos promovendo pesquisa colaborativa nas

áreas de computação avançada, supercondutividade e robótica avançada que já alocou

£ 185 milhões a fundo perdido desde 1988 (OCDE, 1993).

Além disso, o governo britânico tem participado de diversos programas

cooperativos europeus, como o conhecido EUREKA, onde a ênfase é exatamente a de

fomentar o setor privado europeu a desenvolver certos tipos de tecnologia estratégica.

Tais iniciativas fazem com que, na prática, o governo britânico tenha uma atitude

muito mais intervencionista do que aquela propugnada pelo seu discurso político.

Em 1993 o governo britânico publicou um 'White Paper' ('Realising our

Potential - A Strategy for Science, Engineering and Technology') que detalhou o

planejamento para se aumentar a competitividade da indústria local, promovendo-se

a importância de C&T através de parceria entre governo, indústria e comunidade

acadêmica (OCDE 1995). Tal 'White Paper' levou a uma revisão da política científica e

tecnológica, que passou a priorizar o acesso das empresas à base tecnológica nacional,

a difusão de 'best practices' e a importância estratégica da inovação, especialmente

para a pequena e média empresa.

A seguir são apresentados os principais programas e instrumentos utilizados

no Reino Unido. Tais programas são, fundamentalmente realizados sob coordenação e

executados pelo 'Department of Trade and Industry' (DTI), o Ministério de Indústria e

Comércio britânico.

No que se refere a instrumentos de tipo fiscal, eles tiveram uma certa difusão,

nos últimos quinze anos, ainda que sua importância sobre o conjunto de medidas seja

- 81 -

ainda modesta. A nível geral, a maior parte das despesas de P&D é sedutível na

apuração do lucro tributável. Particularmente importante são a possibilidade de:

• deduzir o custo de aquisições de patentes por um período de 17 anos ou sobre

o período de vida residual da patente.

• deduzir, do lucro, o total destinado a institutos de pesquisa e universidades

desde que o objeto das pesquisas seja vinculado às atividades da empresa.

• deduzir 100% todas as aquisições na conta de capital efetuadas para o

desenvolvimento de pesquisas relativas às atividades das empresas.

• efetuar amortização acelerada em bases decrescentes para a aquisição de

maquinas e equipamentos.

• obter tratamento diferenciado para determinados investimentos em 'venture

capital'.

A nível regional, as empresas que se localizem em 'Enterprises Zones', gozam

de uma isenção decenal de impostos locais e de uma série de facilidades

administrativas.

No que se refere a instrumentos financeiros, o DTI lançou, a partir do final dos

anos 80, uma quantidade notável de novos 'schemes', alguns com horizonte temporal

determinado. Os principais são:

a) 'Joint Appraisal Scheme' (JAS) - o objetivo do programa é fornecer uma

avaliação técnico-econômica de projetos inovativos apresentados por empresas para

obter financiamento. A este programa aderiram 12 instituições financeiras.

b) 'Support for Certification Scheme' - o objetivo é o de favorecer centros de

certificação de qualidade através de aporte de recursos públicos que podem alcançar

até 50% dos gastos durante os três primeiros anos de atividade. Após tal período, os

centros devem obter auto-suficiência financeira.

c) 'Quality Assurance Support Scheme' o objetivo é o de ajudar pequenas e

médias empresas (com menos de 500 empregados) a melhorar seus procedimentos

para controle de qualidade através de aporte de recursos de até 25% dos custos,

sujeito a um valor máximo de £ 100000.

- 82 -

d) 'Small Firm Merit Award for Research and Technology' (SMART) - premia

os melhores projetos apresentados por pequenas empresas nas áreas de biotecnologia

e instrumentação avançada e provê até 75% dos custo na fase de projeto e 50% na

fase posterior de implementação.

e) 'Space Technology Programme' - oitenta e cinco por cento dos recursos do

programa são alocados para a Agência Espacial Européia (AEE) que, por sua vez,

comissiona a indústria britânica projetos de P&D. O restante é utilizado para

financiar diretamente a indústria local em áreas não cobertas pela AEE.

f) 'Flexible Manufacturing System Scheme' (FMSS) - este programa é dirigido

a estimular a demanda. O financiamento monta a 50% para estudos de planificação

(até um máximo de £50000), 25% para consultores (máximo de £25000) e 20% na

aquisição de bens de capital.

g) 'Computer Aided Design Manufacturing and Testing' - (CADMAT) - os

beneficiários podem receber até 30% do investimento (máximo de £60000).

h) 'Energy Efficiency Demonstration Scheme' - direcionado à demanda de

tecnologias visando a reconversão energética. O financiamento cobre: 50% dos custos

de aquisição, 25% dos custos de instalação e 100% dos custos de monitoramento.

i) 'Energy Research and Development Contracts' - o programa provê a

cobertura dos custos da pesquisa em um montante que varia de 50 a 100%. Em caso

de sucesso comercial prevê-se que o beneficiário devolva uma certa quantia ao DTI.

j) 'Fibre Optics and Opto Electronics Scheme' - consiste de uma subvenção de

até 25% do custo de P&D além de uma auxílio negociável caso a caso para a aquisição

de bens de capital.

k) 'Microelectronics Industry Support Programme' - o objetivo é o de favorecer

a P&D no campo de circuitos integrados, da tecnologia de processos e outros

componentes microeletrônicos e estudos de viabilidade. Cobre 25% dos custos de P&D,

20% da aquisição de CAD (máximo de £40000) e £2500 para estudos de viabilidade.

l) 'Microelectronics Application Scheme' - o objetivo é o desenvolvimento de

aplicações da microeletrônica, requalificação de pessoal e suporte a consultoria. Cobre

- 83 -

50% dos custos da requalificação, 25% do desenvolvimento de novos processos e

produtos e até £2500 para consultoria.

m) 'Robotics Support Programme' - o programa é destinado ao atendimento da

demanda de robôs. O financiamento cobre 25% da instalação e até £ 2500 para

consultoria. Para os fabricantes de robôs, o programa cobre 25% dos custos de P&D.

n) 'Software Production Scheme' - beneficia empresas do setor de serviços de

informática. Os recursos cobrem até 1/3 do custo do desenvolvimento e de marketing

nos 2 primeiros anos.

o) 'Product and Process Development Scheme' - é aplicável a todos os

produtores de bens avançados (CAD/CAM, robótica, máquinas-ferramenta, FMS,

etc.). O financiamento cobre até 1/3 do custo do desenvolvimento dos produtos. O DTI

pode adquirir até 4 protótipos de um produto inovativo.

p) 'Small Engineering Firms' Investment Scheme' - objetiva sustentar o

investimento de pequenas e médias empresas (PME) em tecnologia avançada de

produção (como máquinas de controle numérico) através de um empréstimo a taxas

favorecidas de 1/3 do investimento.

q) 'Loan Guarantee Scheme' - proporciona uma garantia estatal de 70% sobre

empréstimos concedidos por bancos privados a PMEs, sujeito a um limite de £70000.

r) 'Business Expansive Scheme' - proporciona uma isenção no imposto sobre

ganhos de capital para investimentos industriais em sociedades não cotadas em bolsa,

sujeito a um período mínimo de 5 anos e a um valor máximo de £50000. Apesar de

alguns problemas o mérito deste esquema é o de contribuir para a difusão do

instrumento 'venture capital' na cultura financeira britânica.

s) 'Manufacturing Planning and Implementation Studies Programme' (MPI) -

visa auxiliar PMEs no pagamento de consultores externos para assessoria no

planejamento e uso de tecnologias de produção avançadas. Os recursos alocados são

de £ 11 milhões.

t) 'Support for Products under Research' (SPUR) - lançada em 1991, o SPUR

proporciona uma doação fixa (até £ 150000) para projetos de desenvolvimento de

- 84 -

novos produtos e processos que demonstrem avanço tecnológico significativo; o

programa tem um orçamento de £ 32 milhões.

No que se refere a auxílio específico, cabe mencionar:

a) 'Business and Technical Advisory Services' - este serviço inclui: consultoria

semi-gratuita para pequenas empresas, consultoria sobre produtos e processos

(contribuindo com até 75% do custo de consultoria de 15 homens/mês.

b) 'Support for Innovation' - o DTI financia a atividade de P&D das empresas

da seguinte maneira: 25% para projetos de uma empresa, 50% para projetos coletivos

(consórcios tecnológicos). O custo do projeto passível de apoio é de £100000 até

£500000.

c) 'Support for National and Regional Investment' - o DTI cobre 50% dos custos

de estudos de viabilidade, 20% dos investimentos relativos à produção de

componentes eletrônicos avançados, fibras óticas, optoeletrônica e da aquisição de

CAD para o desenvolvimento de circuitos integrados e 25% do custo de introdução de

controle de qualidade nas PMEs.

d) 'Support for Export' - o DTI financia 50% da realização de pesquisas de

mercado no exterior e 60% do custo de participação em feiras, mostras, manifestações

comerciais e informações sobre o mercado externo.

Finalmente, deve-se mencionar que o DTI coloca a prioridade de suas políticas

para a inovação nas fases pré-competitivas. dando ênfase em programas de P&D de

longo prazo das empresas, institutos de pesquisa públicos e universidades. Os

instrumentos constituem-se em:

• programas de pesquisa colaborativa a nível nacional;

• programas de colaboração industrial em geral;

• links, isto é, financiamentos para a realização de pesquisa conjunta entre

empresas e institutos de pesquisa;

• colaboração internacional (participação nos projetos EUREKA, ESPRIT,

BRITE, RACE, etc.).

No que se refere a serviços de assistência e consultoria no campo de patentes, o

apoio é fornecido pelo Escritório de Patentes e pelo 'British Technology Group' (BTG).

- 85 -

Os Institutos de Pesquisa governamentais podem realizar contratos com o DTI

e empresas para fornecimento de assistência técnica. O custo de tais programas pode

ficar inteiramente com o DTI ou através de participação conjunta DTI/empresas.

O DTI se encarrega, ainda, de financiar serviços de consultoria fornecidos pelo

'Design Council', pela 'Production Engineering Research Association' e pelo 'Salford

University Industrial Centre'. Tais serviços são praticamente gratuitos para a

empresa e compreendem consultoria sobre técnicas e tecnologia de produtos e

processos, estrutura industrial, energia e materiais.

No que se refere a ajudas regionais, destacam-se

a) 'Regional Enterprises Grants' - direcionados a pequenas empresas (até 25

empregados) localizadas em áreas de desenvolvimento. O auxílio refere-se a 15% do

capital fixo para projetos de investimento genéricos (até £ 15000) e 50% do custo total

de projetos de alto conteúdo inovativo (até £ 25000).

b) 'Regional Selective Assistance' - auxílio financeiro de 80% (40% a cargo do

DTI e 40% do FSSR) para a formação de pessoal até 25 anos de idade para a criação

de novos perfis profissionais, no âmbito de projetos aprovados.

c) 'Selective Assistance for Small Firms' (Irlanda do Norte) - trata-se de um

plano de desenvolvimento para pequenas empresas (até 50 empregados) da Irlanda

do Norte. O apoio compreende capital para novas plantas e equipamentos, despesas

correntes para pessoal qualificado, gastos de P&D e refere-se a 50% sobre as £50000

iniciais e 40% para o excedente, sujeito a um teto máximo de £ 250000.

A.5 - Japão26

Vários autores caracterizam o processo de 'policy-making' no Japão como uma

interação baseada em 'consentimento recíproco', resultante de constantes contatos,

discussões e compromissos. Okimoto, 1989, por exemplo, caracteriza o Japão como um

'Estado-rede', onde a zona intermediária 'entre o MITI e o mercado' é habitada por

'policy networks' que fundamentam os sistemas político e econômico orientados ao

consenso.

26 Parcialmente baseado em Lastres, 1994.

- 86 -

Em contraste a instituições - que representam continuidade mas também

alguma rigidez potencial - parcerias e redes são fluidas e mais facilmente alteráveis.

Analisando desenvolvimentos recentes na economia japonesa, Okimoto, 1989,

argumenta que as fortes relações com as firmas tornaram-se ainda mais importante

para o MITI após este ministério ter perdido algumas de suas principais fontes de

poder (tais como controle de investimento estrangeiro e licenciamento de tecnologia):

'To elicit cooperation from private enterprises, MITI draws on a combination of resources:

superior information, economic logic, long-term vision, the capacity to mediate and

coordinate, promotion of producer interests, and its mandate to safeguard collective and

national interests.' (p. 145)

Dentro de tais relações entre o MITI e o setor privado, uma ênfase especial tem

sido dada ao desenvolvimento de sistemas visando a coleta de informações técnicas e

comerciais. O exame organizado e cuidadoso das tendências tecnológicas mundiais e a

identificação de áreas de oportunidade para o desenvolvimento tecnológico são

percebidas como parte integral do sistema japonês de inovação. Tais atividades são

realizadas não apenas a nível das empresas e setores industriais, com apoio de

associações industriais, mas também a nível nacional, pela STA, MITI e Conselho de

Ciência e Tecnologia, e internacional, pelas 'trading houses', Jetro and JICST.

Particularmente importante ao nível nacional tem sido o uso de sistemas de previsão

tecnológica para a formulação de políticas tecnológicas e industriais de longo prazo -

visões do futuro. Estas são montadas para indicar a direção do avanço futuro da

economia e da tecnologia e para dar às empresas confiança quando realizam seus

próprios investimentos em P&D, equipamentos e treinamento. Mais ainda, tais

medidas enviam 'sinais' às instituições financeiras privadas de quais áreas e setores

deveriam receber tratamento favorável. Uma característica especial de tais sistemas é

a consulta constante, formal e informal, entre agências governamentais, setor

empresarial e a comunidade científica e tecnológica (Lastres 1994; Freeman, 198827).

27 'There is no other society where financial institutions, banks and even the Ministry of Finance

devote such attention to the future direction of technical and social change.' (Freeman, 1988, p.333).

- 87 -

Tais sistemas tem objetivando particularmente identificar aquelas novas

tecnologias que são capazes de transformar padrões existentes de crescimento

econômico, como foi o caso do reconhecimento da importância tecnologia da

informação. Outra característica significante do sistema Japonês de previsão

tecnológica refere-se à capacidade de rapidamente difundir as expectativas de

alterações tecnológicas e industriais através de um grande número de indústrias e

empresas, assim como para outros níveis do Sistema Japonês de Inovação.

Esse contínuo processo de consulta tornou-se instrumento fundamental na

reestruturação da economia japonesa e de sua orientação em direção a um alvo

comum. Assim, a grande ênfase é colocada no alto nível de conectividade do sistema

japonês de inovação como importante elemento facilitando o processo de aprendizado

e de difusão de novas tecnologias.

Adicionalmente, um elemento central da política de C&T japonesa tem sido os

programas de colaboração financiados pelo Estado, os quais privilegiam pesquisa

cooperativas de longo prazo nas área de tecnologia de fronteira, deixando o

desenvolvimento de produtos e processos para as empresas, que nestes segmentos não

querem interferência e só colaboram quando, como e com quem julgarem necessário.

O envolvimento das associações industriais japonesas na definição e promoção

da política industrial e tecnológica tem, também, sido vital para o sucesso das

políticas japonesas, particularmente quando a associação é forte ou quando o número

de firmas participantes é muito grande. A sua capacidade de identificar 'gargalos' e

resolver diferenças alivia o peso de se agregar as demandas do setor privados, muitas

vezes conflituosa.

A mobilização de redes de inovação tem se constituído no objetivo central da

política governamental dos países mais avançados nos anos recentes e principalmente

do Japão. No final dos anos 80, 4/5 do orçamento do governo japonês para P&D foram

alocados para projetos de colaboração tecnológica.

Existe evidência que através desses projetos nacionais de P&D colaborativos, o

MITI tem sido capaz de promover ainda mais as formas de cooperação, inclusive entre

empresas japonesas concorrentes. No entanto, opostamente à idéia que colaboração

- 88 -

tenderá sempre reduzir a competição entre empresas, tem-se advogado que o objetivo

principal do MITI nestes programas tem sido nutrir as mais empresas como maior

potencial competitivo.

No que se refere especificamente a incentivos pecuniários deve-se lembrar que,

no caso japonês, três tipos de subsídios têm sido utilizados tendo em vista a promoção

das atividades de P&D. São eles tratamento preferencial quanto ao imposto devido,

subsídios e contratos de pesquisa governamentais e empréstimos por parte de

instituições financeiras governamentais a taxas preferenciais.

O tratamento preferencial do imposto devido era utilizado inicialmente para

encorajar a importação de tecnologia estrangeira sendo apenas num segundo

momento utilizado para promover o investimento interno em P&D. No que se refere à

importação de tecnologias, a redução de impostos incluía (i) dedução do imposto

cobrado na fonte (isto é no país exportador) para os pagamentos de tecnologias

estrangeiras consideradas importantes e (ii) isenção de impostos de importação para

equipamentos que incorporassem tecnologia avançada. Quanto à promoção de P&D

interna era permitido (iii) depreciação acelerada de máquinas e edificações para

pesquisa, testes e comercialização de novas tecnologias; (iv) crédito de impostos para

gastos em P&D e testes e (v) deduções especiais de impostos devido quando a renda

geradora era derivada da exportação de serviços técnicos.

Em meados da década de 1960 ocorreu uma importante alteração . O tratamento

preferencial para a importação de tecnologia (ítens i e ii) e a depreciação acelerada

(item iii) foram abolidos em 1965. A idéia básica era de que a ênfase na importação de

tecnologia, que tinha tido um papel importante no progresso tecnológico japonês,

deveria ser gradualmente substituída pela criação de uma base tecnológica local.

Os efeitos do tratamento preferencial quanto a impostos devidos foram, de uma

maneira geral, estimular o esforço privado de P&D. Entretanto, conforme se

depreende da Tabela A.1.5, o montante proporcionado por tais incentivos pecuniários

foi pequeno. A sua importância decresceu com a política tecnológica japonesa se

tornando mais seletiva e desenhada de maneira a promover P&D em áreas específicas

tais como, inicialmente, energia, controle da poluição e espaço. A partir deste

- 89 -

momento, os subsídios e contratos de pesquisa governamentais passam a

desempenhar um papel mais importante.

Tabela A.1.5: Japão - Incentivos para Promover P&D no Setor Privado -

1960/1983 (em bilhões de yen)

Ano Subsídios e

contratos de

pesquisa

Tratamento

preferencial de

impostos

Empréstimos a

taxas

preferenciais

Total

1960 0,7 9,1 - 9,8

1965 3,1 13,3 - 16,4

1970 11,0 19,1 - 31,0

1975 29,8 33,0 0,9 64,7

1980 60,8 38,0 1,9 101,0

1983 58,7 57,0 2,2 117,7

Fonte: Goto e Wakasugi, 1987

Durante o final dos anos 60 e ao longo dos anos 70, subsídios a programas para

setores específicos como computadores e aeronáutica e para áreas específicas como

energia e oceanografia foram iniciados. Nos anos 80, a ênfase das políticas mudou na

direção da promoção de pesquisa em alta tecnologia em áreas como novos materiais,

biotecnologia e eletrônica e na promoção de pesquisa básica em tais áreas. Para a

consecução de tais objetivos foram implementados os contratos de pesquisa para

tecnologias básicas para as indústrias de nova geração. Tanto este programa quanto

aqueles dos 'Large Scale Projects' ainda vigoram no início dos anos 90 prosseguindo a

tendência de abandonar apoio genérico às atividades privadas de P&D em benefício

de uma intervenção mais seletiva e direcionada.

Mais recentemente, alguns novos programas foram iniciados. Um deles objetiva

a melhoria e expansão de infra-estrutura de pesquisas de alto nível. Outro programa

é o IMS ('Intelligent Manufacturing Systems') que objetiva a colaboração

internacional para integração e padronização de tecnologias de produção existentes e

desenvolvimento de sistemas de produção para o século XXI. Todos seguem o mesmo

- 90 -

espírito básico de cooperação entre governo, setor privado e instituições de pesquisa

em áreas de fronteira.

Outro programa importante é o 'Programa 21' apresentado pelo MITI em

fevereiro de 1994 (MITI, 1994). Tal programa centrado numa visão do futuro

caracteriza-se por uma combinação entre áreas produtivas, científicas, tecnológicas,

etc., que representem as necessidades futura da sociedade.

O Programa apresenta como eixos centrais a necessidade de se considerarem os

novos domínios industriais de crescimento e uma visão de que cabe ao setor público

combinar a visão do futuro à sustentação da disseminação e utilização dos resultados

da pesquisa e desenvolvimento nas diferentes áreas, à promoção de uma

desregulamentação adaptada às necessidades da indústria e a uma garantia da

disponibilização sistemática das infra-estruturas ligadas ao desenvolvimento dos

novos mercados resultantes da evolução das necessidades da sociedade.

As áreas de crescimento sugeridas são os mercados ligados à habitação,

informação e comunicações, energia, ambiente, medicina e saúde, cultura, lazer e

segurança.

No que se refere ao financiamento das atividades tecnológicas, duas instituições

financeiras públicas - o Banco de Desenvolvimento do Japão e a Corporação

Financeira para Pequenas e Médias Empresas - têm proporcionado empréstimos a

taxas preferenciais para o setor privado financiar seus gastos em P&D. Em meados

da década de 80 o montante total dos empréstimos do Banco de Desenvolvimento do

Japão era de aproximadamente 550 bilhões de yen.

Finalmente, deve-se lembrar que o montante total de auxílio financeiro direto

às atividades privadas de P&D por parte do governo japonês é relativamente

modesto. Porém, conforme enfatizado pela literatura, o papel do governo enquanto

instância coordenadora e mobilizadora é fundamental no sentido de induzir o setor

privado a investir em áreas e tecnologias consideradas prioritárias pelo Estado.28

28 Ver principalmente Freeman, 1987 e Lastres, 1994.

- 91 -

A.6 - Coréia

A importância do papel do Estado coreano no estabelecimento e implantação de

uma política industrial e tecnológica no processo de industrialização daquele país é

assunto conhecido e amplamente analisado (Amsden, 1989). O desenvolvimento

tecnológico na Coréia do Sul ao longo dos anos 80 foi marcado por um significativo

aumento dos gastos totais em P&D e, concomitantemente, por uma maior participação

relativa do setor privado em tais gastos. O governo coreano teve um papel

fundamental no auxílio ao setor privado através de três mecanismos: subsídio direto à

P&D, financiamento a taxas de juro preferenciais e incentivos fiscais (Kim, 1993).

O governo não tinha nenhum programa de subsídio direto à P&D ao longo dos

anos 70 quando o desenvolvimento industrial coreano se baseava em indústrias leves.

Nos anos 80, porém, o governo da Coréia introduziu dois esquemas para apoio direto à

P&D privada: o primeiro refere-se aos Projetos Nacionais de P&D administrados pelo

Ministério da Ciência e Tecnologia em áreas tecnológicas novas e o segundo aos

Projetos de Desenvolvimento Tecnológico da Base Industrial administrados pelo

Ministério de Comércio e Indústria em áreas tecnológicas existentes. Ambos esquemas

definem tecnologias a serem apoiadas e oferecem subsídio direto à P&D para

organizações públicas e privadas de P&D.

Os Projetos Nacionais de P&D incluem projetos que envolvam novas (para a

Coréia) tecnologias que apresentem altos riscos e/ou externalidades econômicas. O

Ministério de Ciência e Tecnologia coreano identificou as seguintes áreas:

internalização de partes e componentes para máquinas e equipamentos,

desenvolvimento de novos materiais, 'design' de semicondutores, desenvolvimento de

superminicomputadores, tecnologia de conservação de energia, internalização de

combustíveis para energia nuclear, desenvolvimento da nova química, biotecnologia e

pesquisa básica em universidades. Em contraste, o Ministério de Comércio e Indústria

realiza uma pesquisa anualmente para identificar projetos urgentes de P&D em

empresas industriais e proporciona subsídio através dos Projetos de Desenvolvimento

Tecnológico da Base Industrial para organizações de P&D.

- 92 -

Apesar de o subsídio direto total ao setor privado através dos Projetos

Nacionais de P&D ser relativamente pequeno (US$ 6,7 milhões em 1982 e US$ 22,8

milhões em 1987) dois pontos devem ser ressaltados. Primeiro, o número de projetos é

substancial, crescendo de 66 em 1982 para 370 em 1987. Em segundo lugar, o papel

do Estado é o de coordenador, nas áreas definidas como estratégicas, da participação e

atuação do setor privado e instituições públicas de P&D.

Mais recentemente, o novo plano econômico prevê um aumento nos gastos em

P&D para se alcançar 3-4% do PNB em 1998. O governo adotou medidas para

encorajar as empresas a instalar centros de P&D (que eram 122 em 1982, crescendo

para 1604 em 1993) e para aumentar o número de centros universitários de excelência

(de 30 em 1993 para 55 em 1997). O governo vem adotando também medidas

legislativas para facilitar a cooperação para a realização de pesquisas entre

universidades, institutos de pesquisa públicos e empresas, através do 'Joint R&D

Promotion Act'.

Conforme depreende-se da Tabela A.1.6, o papel dos gastos públicos em P&D

nesse esforço tendo em vista se aumentar significativamente o total de gastos em P&D

do país, é significativo. Após várias décadas nas quais o setor privado vinha

aumentando a sua participação relativa em tais gastos, a proposta para os anos 90

prevê um maior balanceamento,. com o setor público aumentando sua participação de

28% em 1992 para 32% em 1996 e 35% em 2001.

Tabela A.1.6: Coréia - Plano de Investimentos em Ciência e Tecnologia

1992 1996 2001

Investimento (Bil. de won) 5539 9570 28755

Percentagem do PNB (%) 2,6 3,5 5,0

Participação do Setor

Público (%)

28 32 35

Participação do Setor

Privado (%)

72 68 65

Emprego em P&D (1000) 66 112 -

- 93 -

Fonte Original de Dados: OCDE, 1993 e 1995

Nesta perspectiva vários programas estão sendo implementados,

particularmente:

• o desenvolvimento de um DRAM de 256 Megabytes e de um DRAM de 1000

Megabytes;

• o desenvolvimento de televisão de alta-definição;

• o desenvolvimento de redes de ISDN;

• o estabelecimento de 4 distritos científico-tecnológicos e industriais (em

Pusan, Taegu, Chonju e Kangnung) capazes de acomodar 300 firmas em engenharia

de 'software' e 'design';

• o estabelecimento de programas de cooperação entre empresas estatais e

empresas/instituições de outros países nas áreas de componentes de alta densidade,

novos materiais, produtos farmacêuticos e química fina.

A.7 - Taiwan

O desenvolvimento industrial de Taiwan foi baseado em uma participação

extensiva de empresas estrangeiras e pequenas e médias empresas locais, com o

Estado tendo um papel siginificativo na montagem de uma sofisticada infraestrutura

tecnológica. Em Taiwan, 60% dos gastos em P&D são financiados pelo governo, a

pesquisa básica é responsabilidade do 'National Science Council' e os diversos

ministérios setoriais conduzem seus respectivos programas.

As pequenas e médias empresas têm um papel significativo no setor industrial,

sendo responsáveis por mais de 60% das exportações, mas realizam atividades

tecnológicas de forma pouco significativa. Para dar conta dessa deficiência, o

Ministério de Assuntos Econômicos financia projetos de pesquisa desenvolvidos em

institutos públicos de P&D como o 'Industrial Technology Research Institute', o

'Institute of Information Industry', o 'Food Industry R&D Institute', o 'China Textile

- 94 -

Institute', o 'China Productivity Centre', o 'Metal Development Centre' e, mais

recentemente o 'Chung Shan Institute of Science and Technology' que realizava P&D

militar e que, agora, diversificou suas atividades, enfatizando programas de pesquisa

direcionadas ao setor civil (OCDE 1993).

Tais institutos não apenas asseguram a difusão das novas tecnologias para o

setor empresarial, mas também agem como incubadores de novas empresas. Destaca-

se particularmente a ênfase quanto ao desenvolvimento de 'componentes críticos'

caracterizados como fundamentais para as indústrias estratégicas emergentes Em

1993, os fundos alocados a projetos realizados por estes institutos totalizaram US$

550 milhões.

Mais recentemente, para promover o desenvolvimento de novos produtos, o

governo lançou 2 programas:

• o 'Master New Product Private Development' - para projetos ligados aos

setores de alta tecnologia; e

• o 'New Product Private Development' - para os outros setores.

Em 1994, um total de 161 empresas participavam de tais programas e o

governo havia alocado US$ 220 milhões para os mesmos. A maior parte dos projetos

tem duração de dois anos de duração e visam congregar esforços quanto ao

desenvolvimento dos 'componentes críticos'.

- 95 -

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