58
CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Curso: Distúrbios de Aprendizagem O Distúrbio do Processamento Auditivo e o Trabalho com Jogos na Sala de Aula Kenia de Curtis Sinckevicius São Paulo 2010

CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

  • Upload
    vanhanh

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Curso: Distúrbios de Aprendizagem

O Distúrbio do Processamento Auditivo e

o Trabalho com Jogos na Sala de Aula

Kenia de Curtis Sinckevicius

São Paulo

2010

Page 2: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Curso: Distúrbios de Aprendizagem

Kenia de Curtis Sinckevicius

O Distúrbio do Processamento Auditivo e o

Trabalho com Jogos na Sala de Aula

Monografia apresentada como parte dos

requisitos para aprovação no Curso de

Especialização Lato Sensu em

Distúrbios de Aprendizagem e

submetida ao Centro de Referência em

Distúrbios de Aprendizagem – CRDA,

sob orientação do Prof. Ms. Marco

Antonio Gomes Del’ Aquilla.

São Paulo

2010

Page 3: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Dedico este trabalho a meu amado

marido Renato Antônio Sinckevicius,

pelo apoio, compreensão e carinho

sempre demonstrados a mim.

Page 4: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Agradecimentos

Agradeço a meus queridos pais, que sempre estiveram ao meu

lado, em todos os momentos. Apesar da distância intransponível que

nos separa, sinto-os mais e mais.

Page 5: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

“Não dar atenção às dificuldades e apelos

de uma criança que tem dificuldade de

aprendizado é o mesmo que dar às costas

a ela.”

N. A. Sinckevicius, K.C.

Page 6: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Resumo: O Distúrbio do Processamento Auditivo e o T rabalho com

Jogos na Sala de Aula

Este trabalho de cunho teórico tem como objetivo conhecer melhor o distúrbio

de aprendizagem conhecido como Distúrbio do Processamento Auditivo Central.

Este distúrbio de aprendizagem é encontrado em crianças com ou sem

comprometimento cognitivo ou mesmo com dificuldade em um ou mais processos de

fala, linguagem, percepção auditiva e comportamental, leitura, escrita e aritmética.

Distúrbio ou desordem no processamento auditivo central é uma alteração da

audição na qual há um impedimento da habilidade de analisar e/ou interpretar

padrões sonoros. Embora seja um assunto melhor estudado a bem pouco tempo, já

é possível encontrar, nas teorias pesquisadas características e pontos chaves que

muito podem ajudar no estímulo da aprendizagem dessas crianças. Percebe-se que

a crianças em idade escolar que apresenta esta distúrbio apresenta: problemas na

comunicação oral, alterações nas regras gramaticais, inversões de grafemas,

alterações de noção de direita e esquerda, disgrafias, dificuldade em compreender o

que lê. Além disso eles são distraídos, agitados, hiperativos ou apáticos,

desajustados ao ambiente entre outros sintomas. Estes conhecimentos contribuem

para o conhecimento de pais, professores e terapeutas, que trabalharão diretamente

com estas crianças para a melhoria da aprendizagem e uma maior interação social.

Com o objetivo de despertar o interesse de todos os envolvidos com uma crianças

que apresenta este distúrbio, incentivamos o uso dos jogos, como uma estratégia de

aprendizagem significativa e eficiente. Pela falta de informações, os professores

muitas vezes deixam de lado os alunos considerados problemas, rotulando-os de

incapazes, o que leva à desmotivação e à frustração, impedindo, muitas vezes um

desenvolvimento adequado e justo.

Palavras Chaves: Déficit de Atenção – Hiperatividade – Jogos - Aprendizagem

Page 7: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Abstract: The Disturbance of Auditory Processing an d Working with Games in the Classroom

Theoretical nature of this work aims to better the learning disorder known as

central auditory processing disorders. This is a learning disorder found in children

with or without cognitive impairment or difficulty with one or more processes of

speech, language, auditory perception and behavior, reading, writing and arithmetic.

Disorder or disorder of the central auditory processing is a modification of the hearing

in which there is an impediment on the ability to analyze and / or interpret sound

patterns. Although it is a subject best studied in very little time, we find, in the

theories surveyed characteristics and key points that may well help to stimulate the

learning of children. Realizes that the school-age children shows that this disorder

presents: problems in oral communication, changes in grammatical rules, graphemes

of investments, changes in concept of right and left, disgrafias, difficulty

understanding what you read. Furthermore they are distracted, agitated, hyperactive

or apathetic, wrong to the environment among other symptoms. This knowledge

contributes to the knowledge of parents, teachers and therapists, who work directly

with these children to improve learning and greater social interaction. Aiming to

attract the interest of all involved with a child who presents this disorder, we

encourage the use of games as a strategy for learning meaningful and efficient. The

lack of information, teachers often fail to hand problems as students, labeling them as

disabled, leading to demotivation and frustration, preventing, often developing an

appropriate and fair.

Key Words: Attention Deficit – Hyperactivity – Play - Apprenticeship

Page 8: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Índice

Introdução ............................................................................................................. 09

Objetivo Geral ..................................................................................................... 13

Objetivos específicos .......................................................................................... 13

Casuísticas e Métodos ..........................................................................................13

Resultado e Discussão

1 – O que é Dificuldade no Processamento Auditivo Central?........................... 15

O que é? .................................................................................................... 15

Como funciona? ........................................................................................ 15

O que acontece quando... ......................................................................... 17

O Processamento Auditivo Central .............................................................. 18

Dificuldade no Processamento Auditivo Central: O que é isso?............ 21

O que é Dificuldade de Aprendizagem?........................................................... 25

Atividades que ajudam o portador de distúrbio no Processamento

Central Auditivo.................................................................................................... 40

Alguns jogos que podem ser usados em sala de aula................................... 48

Jogo da Berlinda: Adaptado do jogo de Antunes (1999)......................... 48

Page 9: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Forme a frase corretamente: Atividade sugerida em

Antunes (2001) .......................................................................................... 48

Palavra Pulada ......................................................................................... 49

O que eu estou fazendo? Atividade adaptada do jogo “Ensaiando”

de Antunes (1998).................................................................................. 49

Qual é a ordem?........................................................................................ 50

Quantas bolinhas?...................................................................................... 50

Qual é o meu grupo?................................................................................... 50

Conclusão ........................................................................................................... 53

Referências bibliográficas .................................................................................... 55

Page 10: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Introdução

A trajetória da vida de cada indivíduo determina-se pela busca, a cada dia, de

novas construções e significações acerca dos conhecimentos, dimensionados sob a

ótica da vivência e permeados à luz dos atributos constitutivos da pessoa. Nesse

intuito, a existência procura estabelecer e mostrar a clareza das escolhas, preferidas

não só pela complexa contextualização dos conceitos construídos, mas também

pelos aspectos que motivam para evidenciá-las.

Os pensamentos humanos, alicerçados pelas percepções, impulsionam a

linguagem a uma relação interativa com o comportamento e estabelecem uma

relação dialética, com o meio. Vale ressaltar que dialética, segundo Konder (1997) é

a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz

de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão, sendo um

modo de se pensar as contradições da realidade em permanente transformação.

Pensamento e linguagem são elementos fundamentais para as ações

humanas, dão a elas singularidade, no caráter original, e pluralidade, no aspecto da

amplitude abarcada na generalização que se impõe socialmente.

Essa sincronia e a complexa rede de interação e intencionalidade

intensificaram, a busca pelo conhecimento tácito, relacionado à construção do saber

e ao conhecimento empírico, declarado no dia-a-dia das ações humanas.

Compreender o sujeito em sua complexidade parece pretensão, porém entender

alguns aspectos que fazem parte deste construir contribuiu para a concretização de

novos paradigmas.

Ao se trabalhar com crianças em uma escola, pode-se vislumbrar as

dificuldades específicas que se relacionam ao desenvolvimento humano e, mais

especificamente, aos problemas de aprendizagem e às implicações da função

auditiva central sobre esse processo.

Outro aspecto que amplia o referencial neste trabalho são os estudos

relacionados ao processamento da informação auditiva, mais especificamente ao

estudo do comportamento a partir da função auditiva, interpretada no cérebro -

Neuroaudiologia. Esta ciência estuda a implicação das habilidades auditivas no

Page 11: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

desenvolvimento da pessoa e pesquisas atuais de Musiek; Lamb (2005), têm

mostrado as diversas implicações dos déficits do processamento auditivo (PA). Bellis

e Ferre (2002) apresentam estudos relacionados às implicações dos déficits do PA

no processo de aprendizagem e linguagem, no âmbito educacional.

Crianças em fase escolar, muitas vezes lidam com as dificuldades de

aprendizagem e inúmeras são as causas de sua existência. Muitas delas são

conhecidas e estudadas, como: deficiência visual, mental, perdas auditivas, déficits

de atenção e hiperatividade, fatores psicológicos e até metabólicos. Às vezes, esses

diversos fatores são investigados, mas mesmo assim a criança continua com a

dificuldade, não evolui. O que pode acontecer com uma criança que é inteligente em

determinadas áreas, mas vive “voando” na sala de aula?

Sabe-se que a audição vai além da simples percepção dos sons. Uma

audição saudável, capta, distingue, seleciona, memoriza, localiza e manipula os

sons. Estas são habilidades do processamento da informação auditiva e são

fundamentais para o sucesso na aprendizagem. Sem o funcionamento adequado de

cada uma destas habilidades, prejuízos serão notados no desenvolvimento escolar

da criança.

Hoje em dia, a literatura sobre a relação entre o processamento auditivo e as

dificuldades de aprendizagem, tem sido esclarecedora, mas muito ainda deve ser

investigado, para a melhoria da capacidade de aprendizagem de crianças que

apresentam este distúrbio.

Para vários autores como, como: Álvares; Caetano e Nastas (2000), Antoniuk

(2003), Azevedo e col. (1995) e Philips (1995) apud Frota (1995), fica claro que

apenas diagnosticar não é suficiente. Faz-se necessário ir além, unir conhecimentos

para ajudar e estimular corretamente estas crianças que, muitas vezes, são

incompreendidas em suas reais necessidades educacionais, recebendo rótulos de

incapazes, distraídos e preguiçosos, por profissionais da educação, que

despreparados, não sabem com o lidar com o problema. Sabe-se que a

aprendizagem acontece em ambientes favoráveis, observando o meio físico, social e

a interação do indivíduo com eles, portanto, quando estes ambientes estão em

Page 12: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

harmonia e com nosso esquema corporal estruturado, pode-se entender que a

aprendizagem acontecerá de maneira tranqüila e natural.

Mas e quando algo não acontece como esperávamos?

Quantas vezes observam-se crianças inteligentes, que estão em ambientes

adequados à aprendizagem, mas que não aprendem. O que pode estar

acontecendo com elas?

A falta de um ambiente favorável, da interação da família, professores e todos

os que fazem parte da vida social da criança, que explorem atividades lúdicas que

levem o aluno a uma aprendizagem significativa, conduzem os alunos com distúrbios

no processamento auditivo a um caminho de fracasso e baixa auto-estima.

Os jogos podem ser mediadores das relações com o meio (outro, realidade,

conteúdos). A criança quando brinca interage com um grande número de pessoas,

permitindo um aprendizado significativo, de auto-descobertas, assimilando e

interagindo com o mundo por meio de relações e vivências.

Assim, pode-se dizer que o brincar é um dos processos facilitadores da

construção psicossocial. É preciso considerar que os jogos e as brincadeiras não

definem um saber pronto e acabado, mas que se alteram em função da cadeia

simbólica, imaginária e real.

Para Brougère (1990), “O jogo é brincadeira infantil e não tem conseqüências

em espaços sem riscos, pois se encontra fora de lógica do real”.

O jogo, quando usado nas séries iniciais pode ajudar de maneira significativa

na construção do conhecimento, sempre se utilizando do lúdico, do prazer, da

capacidade de iniciar algo e da ação, o que torna a criança ativa e motivada para a

aprendizagem.

O aluno, principalmente o das séries iniciais, ao perceber que apresenta dificuldades em sua

aprendizagem, muitas vezes começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade,

agressividade etc. Para Bossa (2000), a dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta

baixo rendimento por vontade própria.

Page 13: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Observando as crianças com dificuldade de aprendizagem, e principalmente, no

processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

mesmo diante de suas dificuldades ela pode aprender. Refletir sobre o papel da escola e da família,

e sua relação torna-se fator de extrema necessidade, para o benefício da criança com a dificuldade.

A escola deve desenvolver o potencial de cada criança, respeitando suas

características individuais e reforçando os pontos fortes, auxiliando na superação

dos pontos fracos, evitando dessa forma que as dificuldades que elas apresentam

sejam motivos de exclusão, rotulação ou mesmo discriminação no processo de

aprendizagem.

A família pode ser vista também, como o outro pilar de sustentação da criança

com dificuldade, pois juntamente com a escola, fará uma troca de experiências, em

benefício da criança e de sua aprendizagem.

Não existe criança que não aprenda. Algumas aprendem de modo mais

rápido, outras não, mas ambas, chegarão à aprendizagem. O sucesso escolar de

crianças com distúrbios de aprendizagem deve vir associado a fatores que envolvam

um ambiente adequado, o estímulo correto, a motivação certa, organismo saudável,

assim todos os envolvidos no processo de aprendizagem saberão lidar com as

adversidades, sabendo avaliar o grau de dificuldade, distinguir a dificuldade e

principalmente querer mudar sua postura frente à dificuldade, respeitando cada

criança em seu estágio de desenvolvimento e principalmente entendendo que ela é

um ser emocional, físico e intelectual e a dissociação destes fatores faz dela um ser

incompleto.

Objetivo Geral

Page 14: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

O objetivo geral deste trabalho é efetuar um levantamento na literatura

disponível, livros, artigos científicos e revistas especializadas, sobre o que é o

Distúrbio do Processamento Auditivo (DPA) e a influência dos processos lúdicos

como fator de estimulação de aprendizagem para o aluno portador de DPA.

Objetivos específicos

Têm-se como objetivos específicos:

- compreender de forma detalhada o que é DPA e quais suas conseqüências na vida do

portador;

- compreender os mecanismos de reconhecimento da criança portadora de DPA, e relacionar

propostas de atividades lúdicas e de relacionamento interpessoal com a classe;

- refletir em como utilizar os jogos em sala de aula, tendo o professor como mediador,

estimulando a vida social e acadêmica de maneira a minimizar o preconceito.

Casuísticas e Métodos

O método utilizado na realização deste trabalho foi a de pesquisa

bibliográfica; para isso utilizou-se a leitura de livros, artigos científicos revistas

especializadas, artigos disponíveis em sites relacionados ao tema e documentação

de congressos e simpósios. Foi realizado um levantamento bibliográfico usando a

metodologia da Análise de Conteúdo, onde todo o material lido foi analisado

criticamente.

Na análise de conteúdo o ponto de partida é a mensagem, mas deve ser considerado as condições contextuais de seus produtores e assenta-se na concepção crítica e dinâmica da linguagem (PUGLISI e FRANCO, 2005: 13).

Page 15: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

A validade desta técnica é pertinente ao que se

pretende apurar, uma vez que, segundo Gil (1999), a

principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside

no fato de permitir ao investigador a cobertura de

uma gama de fenômenos muito mais ampla do que

aquela que poderia pesquisar diretamente.

Page 16: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Resultado e Discussão

O que é Dificuldade no Processamento Auditivo Centr al?

Para o inicio deste trabalho, não se poderia deixar de lado o foco da pesquisa,

o processamento auditivo, o que é, como funciona e o que acontece quando existe

dificuldade no processamento auditivo central.

O que é?

A audição não é só a capacidade de perceber, reconhecer, entender e

identificar os sons. Ela é a responsável por: captar, distinguir, selecionar, memorizar,

localizar e manipular os sons ouvidos dentre os demais sons do ambiente, seja ele

externo ou interno.

Como funciona?

Quando um indivíduo tem deficiência em qualquer uma destas funções

auditivas poderá apresentas dificuldade de aprendizagem, pois na escola

encontram-se os mais diversos sons, misturados ao dia-a-dia da sala de aula, que

muitas vezes tornam-se problemas. A criança para aprender ou desenvolver suas

atividades pedagógicas precisa de um ambiente adequado, mas mesmo tendo

acesso a este ambiente, sons diversos enchem o espaço exterior e interior da sala

de aula. Esses sons são transformados em problemas para as crianças com

dificuldade no processamento auditivo, pois o mais simples deles torna-se um

grande ruído, que atrapalha a concentração e o entendimento.

Page 17: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Quando uma criança encontra dificuldade em adaptar-se ao ambiente social,

escolar ou a qualquer outro, por problemas como: atenção curta ou mesmo

desatenção, distração por causa de sons adversos, dificuldade de compreender o

que lhe é falado em locais ruidosos, certo incômodo com sons altos ou ruídos

secundários, normalmente ela necessita que a informação transmitida seja repetida.

Esta criança também poderá apresentar dificuldade em lembrar o que aprendeu

auditivamente, na fala, muitas vezes ouvem, mas não entendem e só ouvem quando

querem. Alguns desses sintomas podem ser confundindo com os sintomas de

hiperacusia, pois segundo KHALFA et al. (1999):

A hiperacusia ocorre em indivíduos com audição normal e representa uma sensibilidade anormal, ou seja, intolerância a sons de baixa ou moderada intensidade 5-10,17. É causada por uma alteração no processamento central dos sons, estando a cóclea geralmente preservada. Como manifestação, provoca sensação de desconforto a inúmeros sons do meio ambiente, mesmo de intensidade baixa ou moderada, independente da freqüência que os compõe, como por exemplo água corrente, ventilador, refrigerador, lava-louças, carro, telefone, campainha, portas fechando, etc. (KHALFA et al., 1999:128)

Segundo Alvarez; Caetano; Nastas (2000), quando se observa tais

comportamentos, deve-se ficar atento às atitudes que esta criança tomará frente às

dificuldades. Se levada à uma avaliação auditiva, apresentará respostas

inconscientes aos sons ouvidos nos exames audiométricos, apresentará uma

alteração na localização da fonte sonora e não conseguirá focar sua atenção. Terá

dificuldade em discriminar, reconhecer ou mesmo compreender as informações

recebidas auditivamente.

Todos estes sintomas e comportamentos facilmente observáveis representam

uma dificuldade ou alteração no processamento auditivo central. Mas, o que o

processamento auditivo central?

Page 18: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

O que acontece quando...

Para Pereira (1996), muitas crianças das séries iniciais têm enfrentado este

problema, pois quando o processamento da informação auditiva não é feito

corretamente o bom desempenho escolar fica comprometido.

Apesar das muitas causas das dificuldades escolares encontradas atualmente

a dificuldade no processamento auditivo é uma das mais complexas, pois seus

sintomas ou sinais são muitas vezes confundidos com outras dificuldades, por causa

da falta de atenção e concentração, dificuldade de compreensão entre outros. São

sintomas difíceis de lidar, pois muito se tem estudado sobre o assunto sem ainda,

uma eficaz terapia de ajuda aos que sofrem com esta dificuldade.

As crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem, mas têm

descartadas as possibilidades de deficiência visual, mental, perdas auditivas, déficit

de atenção, hiperatividade, dislexia, problemas psicológicos e até físicos, e ainda

assim não vão bem na aprendizagem escolar, parecem “voar” em sala de aula,

muitas vezes não entendendo o que é falado, merecem uma maior atenção com a

questão do processamento auditivo.

A conseqüência deste quadro é o baixo rendimento escolar, com dificuldade

em compreender palavras que têm duplo sentido. Podem ocorrer também problemas

de linguagem expressiva, dificuldade de compreender e interpretar o que leu,

inversão de letras na escrita e certo desajuste social, pois estas crianças podem ser

muito agitadas ou isoladas.

Tudo isso torna esta criança insegura e com a auto-estima abalada, pois sem

saber o que de verdade acontece, pode ser julgada e até mesmo considerada

desinteressada, desatenta e até desanimada.

Page 19: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

O Processamento Auditivo Central

Processamento Auditivo Central é descrito pela American Speech-Language

Association – ASHA (1995) como:

Processos ou mecanismos auditivos centrais e processos do sistema auditivo são responsáveis pelos seguintes fenômenos comportamentais: localização e lateralização sonora; discriminação auditiva; reconhecimento de padrões auditivos; aspectos temporais da audição;desempenho auditivo na presença de sinais competitivos e desempenho auditivo com sinais acústicos degradados. (ASHA, 1995:41)

Alvarez; Caetano; Nastas (2000) definem processamento auditivo como: “...

um conjunto de habilidades específicas das quais o indivíduo depende para

interpretar o que ouve.” (ALVAREZ; CAETANO E NASTAS, 2000, p.34).

Já Philips (1995) afirmou que:

Processamento auditivo envolve a detecção de eventos acústicos ; a capacidade de descriminá-los quanto ao local, espectro, amplitude, tempo, a habilidade para agrupar componentes do sinal acústico em figura – fundo, como por exemplo separar o violino de um piano em uma música ou uma voz de outra voz; para identificá-los, isto é, denominá-los em termos verbais e ter acesso á sua associação semântica ( significado), além de presumivelmente também demonstrará a capacidade de introspecção consciente acerca de perceber a si mesmo. (PHILIPS, 1995:45)

A aquisição da linguagem falada e escrita está diretamente ligada ao

processamento auditivo, por isso, muitas crianças que têm alguma dificuldade ou

alteração nele apresentam dificuldades nesta área também.

Por isso, Parra et al. (2004) afirmam que:

A importância da ordenação e da sequenciação temporal no sistema auditivo, são funções básicas para a aquisição da linguagem e para o processo de aprendizagem. (PARRA, et al, 2004:518)

O Sistema de Processamento Auditivo Central representa uma série de operações auditivas,

realizadas para interpretar as vibrações sonoras por ele detectadas.

Page 20: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Segundo Azevedo e Col. (1995), os sistemas de processamentos auditivos centrais devem

manter a integridade anátomo–fisiológica de todo o sistema auditivo, pois esta constitui em um pré–

requisito para a aquisição e o desenvolvimento normal da linguagem.

O Sistema de Processamento Auditivo Central é constituído de processos que

precisam de um bom funcionamento de suas estruturas ligadas ao sistema nervoso

periférico e central. Um simples distúrbio ou falha pode fazer com que a criança não

consiga interpretar o som que ouviu, uma vez que a interpretação dos sons depende

de suas habilidades auditivas organizadas e estruturadas.

A interpretação realizada pelo processamento auditivo segue etapas, e são

elas: detecção, discriminação e compreensão do som; reconhecimento e localização

da fonte sonora. Todas estas etapas estão diretamente ligadas às funções cerebrais

da atenção e da memória.

O Sistema do Processamento Auditivo Central é desenvolvido nos primeiros

anos de vida, portanto é a partir das experiências que a criança concretizou do

mundo sonoro que vai aprender a ouvir.

Ele tem habilidades, chamadas de Habilidades Auditivas Centrais que

necessitam de um perfeito funcionamento para que a informação seja processada

corretamente. Segundo Souza (2001) apud Aquino (2002) são elas:

a) Síntese binaural: é a habilidade que integra os estímulos

incompletos apresentados simultaneamente ou alternados, para as

orelhas opostas;

b) Separação binaural: é a habilidade de escutar com uma orelha e

ignorar o que ouve a orelha oposta;

c) Localização sonora: é a habilidade de localizar auditivamente uma

ou diversas fontes sonoras;

d) Figura-fundo: é a habilidade que identifica a mensagem primária na

presença de sons competitivos.

e) Discriminação: é a habilidade que determina se dois estímulos

recebidos são iguais ou diferentes;

Page 21: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

f) Associação: é a habilidade de estabelecer correspondência entre

um som não lingüístico e sua fonte.

g) Memória: é a habilidade de guardar e recuperar estímulos

recebidos;

h) Atenção: é a habilidade que demanda persistência em escutar um

som sobre um determinado período de tempo;

i) Fechamento: é a habilidade de perceber o todo quando partes são

omitidas;

Por ser o mecanismo do sistema auditivo responsável em interpretar a

informação sonora recebida, através do desenvolvimento das habilidades auditivas,

o Processamento Auditivo Central precisa ser estimulado e seu desenvolvimento

acontece através da exposição do indivíduo a estímulos sonoros que, ao chegarem

nas vias auditivas centrais são decodificados, acontecendo assim a comunicação ou

a compreensão do que foi dito.

Ele é importante na aquisição e no desenvolvimento da linguagem oral, como

já se disse anteriormente, pois para que a criança fale ou escreva o que foi falado,

ela deve ser capaz de ter atenção, de detectar, discriminar e localizar sons,

memorizar, reconhecer e compreender a fala.

Quando as habilidades auditivas não são desenvolvidas, por qualquer razão,

sejam elas físicas ou psicológicas, o indivíduo pode apresentar uma desordem ou

dificuldade no Processamento Auditivo Central, que muitas vezes acarretam em

dificuldades de aprendizagem na idade escolar.

Esta desordem ou dificuldade no processamento auditivo central pode ter

diversas origens. Pode ser genética, onde os filhos apresentam as características de

seus pais, na total ou parcialmente. Algumas crianças que apresentam crises

constantes de otites (inflamação de ouvido) nos primeiros anos de vida ou processos

alérgicos e inflamatórios nas vias aéreas superiores podem ser sérias candidatas a

Page 22: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

uma desordem ou dificuldade no processamento auditivo central. Mas o que é uma

Dificuldade no Processamento Auditivo Central?

Dificuldade no Processamento Auditivo Central: O qu e é isso?

A Dificuldade no Processamento Auditivo Central é um distúrbio do indivíduo

em compreender as informações apresentadas a ele auditivamente, mesmo que ele

tenha uma inteligência e limiares auditivos normais.

Para Pereira (1996):

A Desordem de Processamento Auditivo Central é a quebra em uma ou mais etapas do processamento auditivo, gerando um distúrbio de audição, em que há um impedimento na habilidade de analisar ou interpretar padrões sonoros, podendo ser decorrentes de privações sensoriais, perdas auditivas, problemas neurológicos ou outros. (PEREIRA, 1996:47)

Pereira (1997) ainda afirma que: “A desordem do processamento auditivo é

um distúrbio da audição no qual há um impedimento da habilidade de analisar e/ou

interpretar estímulos auditivos”.

Quando uma ou mais etapas do processamento auditivo é rompida ou

quebrada, automaticamente um distúrbio de audição é gerado. A habilidade de

análise ou interpretação dos padrões sonoros torna-se deficitária, pois ela não

acontece como deveriam acontecer. Esta dificuldade pode ser causada por

ausências sensoriais, perdas auditivas, problemas neurológicos entre outros.

Alguns sinais ou sintomas podem ajudar o professor, a família e os demais

adultos, que convivem com crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem,

por isso é importante conhecer. Segundo Alvarez (2000):

- A pessoa parece não ouvir bem?

- É uma pessoa muito distraída ou desatenta?

Page 23: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

- Demora a escutar e/ou entender quando alguém chama sua atenção?

- Fala muitas vezes “Hã”?, “O quê?”, ou “Não entendi!”

- Tem dificuldade em lembrar o que lhe foi dito ou parece ter problemas de

memória?

- Fala de maneira diferente das outras crianças da mesma idade que a sua?

- Apresenta dificuldades para ler ou escrever ou até outras dificuldades

escolares?

- Apresenta dificuldade para entender o que está sendo falado quando está

em ambientes ruidosos ou em grupos?

- Não consegue acompanhar uma conversa quando muitas pessoas falam ao

mesmo tempo?

- Demonstra cansaço ou sua atenção é curta para sons em geral?

- O volume da televisão é sempre muito alto?

- Demonstra dificuldade de localizar um som?

- Demonstra dificuldades em seguir orientações?

- Apresenta dificuldade em contar um fato ou história?

- Demonstra dificuldades para transmitir um recado?

- Tem dificuldade em seguir uma seqüência de tarefas que lhe foi transmitida

oralmente?

- Demonstra dificuldade em entender piadas ou duplo sentido?

- Sente dificuldade ao interpretar problemas de matemática?

- Tem dificuldade em compreender uma informação abstrata?

Page 24: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Quando se consegue observar tais comportamentos, ou mesmo outros, pode-

se estar diante de sinais de uma dificuldade no processamento auditivo da

informação. Muitos desses sintomas ou sinais podem ser notados em outras

dificuldades também, como déficit de atenção, dislexia, diversos níveis de depressão

etc.

No decorrer desta pesquisa será apresentado como o professor pode ajudar a

criança com dificuldade no processamento auditivo. O cuidado com o aluno deve ir

além da simples observação desses sinais, pois é o professor quem deve buscar a

melhor maneira de ensinar este aluno, fazendo o que a lei de Diretrizes e Base da

Educação (LDB), realmente manda, respeitando as necessidades e a individualidade

de cada um.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extra-escolar;

XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (BRASIL, LEIS DE DIRETRIZES E BASE DA EDUCAÇÃO, nº 9394/96)

Para Pereira (1993), sempre é bom lembrar que quanto mais cedo se detecta

uma dificuldade de aprendizagem, mas rápido e eficaz pode ser o tratamento, a

criança sofrerá menos com a baixa auto-estima e com a sensação de incapacidade

em aprender. A saúde emocional da criança é preservada e mais rápido ela

aprenderá como todas as outras ditas normais.

Page 25: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

O que é Dificuldade de Aprendizagem?

Ao se falar em dificuldades de aprendizagem, percebe-se que ela têm se mostrado cada vez

mais comum em nossa sociedade, em nossas escolas. Como fatores principais dessas dificuldades,

Page 26: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

encontram-se os fatores psicológicos, principalmente os fornecidos pelo sistema familiar e cultural,

que podem ser analisados através da sociedade globalizada, da vivência no dia-a-dia e

principalmente, no ambiente escolar. São esses fatores que também dão o embasamento da

formação da identidade de cada um de nós.

Através da educação devemos desenvolver um meio para a promoção e o

desenvolvimento do indivíduo, tanto nos níveis individuais como nos sociais, não

permitindo que ela se torne um instrumento de seleção e classificação que só

contempla aos mais capacitados.

De acordo com Schwartzman (1992), nas salas de aula, encontramos

alunos com as mais diferentes capacidades em conhecimento e em cultura. Todos

os que têm algum tipo de dificuldade de aprendizagem, precisam de atividades

diversificadas e mais tempo para construir os conceitos a serem aprendidos. Ao se

traçar o perfil das dificuldades que os alunos apresentam, criam subsídios para a

elaboração de planejamentos educativos que permitam um maior desenvolvimento

das capacidades e conhecimentos de todos, propiciando avanços cognitivos em

todas as áreas.

Segundo Bonilla (2002), para que a identidade de cada indivíduo seja formada é necessário

ser diferente, afinal cada indivíduo é único. É a diferença que formará essa identidade. Quando se é

diferente e ainda se tem dificuldade de aprendizagem ou qualquer outro problema, essa identidade

diferente trás uma carga muito pesada, pois atualmente, para quem a carrega o preço a ser pago é

ser colocado à margem desse mundo globalizado, pois aquele que é considerado diferente, por

qualquer aspecto, leva o estigma de ser alguém que não se enquadra nos padrões estabelecidos por

uma sociedade discriminatória.

Definindo a identidade de cada indivíduo, o que é, extremamente difícil, podem-se criar

mecanismos de ajuda e apoio aos diferentes. No dicionário Koogan (1985) identidade é definido

como: “..conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa (nome, idade, sexo, estado

civil, filiação etc.”

A identidade que é aqui abordada é aquela que vai além de uma descrição física do individuo.

Ela é relacional, carregada de símbolos adquiridos no decorrer de cada história de vida e está

vinculada a condições sociais e materiais de cada um.

Sabe-se que é no ambiente escolar que a criança sofre uma maior influência intelectual e

cidadã e esta influência afeta a formação de sua identidade. Segundo Gomes (2007):

Identidade a qual é definida pelos comportamentos, atitudes e costumes de um indivíduo e se modifica com a convivência entre sujeitos, ou seja, se constrói tendo o Outro como referência. Por conseguinte, o fato de o tema

Page 27: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

da diversidade étnico-racial não ser abordado na sala de aula, acarreta na não-valorização da pessoa negra pela sociedade, contribuindo para que os alunos negros percebam as suas diferenças como aspectos negativos. (GOMES, 2007:85).

Para a autora:

O processo de construção da identidade é um dos fatores determinantes da visão de mundo, da representação de si mesmo e do outro. Além disso, ocorre que a identidade da criança está, continuamente, em construção, podendo ser afetada por nosso meio social, ou seja, é formada ao longo do tempo e não algo inato, existente na consciência desde o momento do nascimento. Assim, ela permanece sempre incompleta, está sempre sendo formada, numa interação entre o eu e a sociedade e modificada num diálogo contínuo com os mundos culturais "exteriores" e as identidades que esses mundos oferecem. (GOMES, 2007: 88)

Já Silva (2002), afirma que:

As representações observadas no cotidiano de crianças constituem-se no seu senso comum, elaborado a partir de imagens, crenças, mitos e ideologias, vindo a formar, então, a identidade cultural.(SILVA, 2002:67)

Segundo Gomes (1996), para se falar em identidade precisa-se falar também de

diferença e do diferente. A identidade de cada indivíduo é, muitas vezes, descrita a partir do que ela

não é. São essas diferenças e observações, muitas vezes errôneas que são utilizadas para promover

classificações ou agrupamentos, que possibilitam divisões e formação de grupos que excluem os

diferentes ou os que não combinam com o grupo formado. Assim, identidade e diferença não são

conceitos contrários, mas interligados, partilham uma importante característica, a de serem o

resultado de uma atividade lingüística. Por isso, não são essenciais, nem são elementos naturais que

estão à espera de se revelar ou serem descobertos, pois ambos, para existir, precisam ser

ativamente criados ou produzidos.

Cada indivíduo cria identidades e diferenças em suas relações sociais e culturais e é sob

essas influências e diferenças, que se assumirá papéis com os quais, subjetivamente serão

identificados.

Smith e Strick (2001, p. 14) definem dificuldades de aprendizagem como:

São problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar informações.

Refere-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. Dessa forma, os alunos que apresentam essas dificuldades necessitam de uma atenção

Page 28: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

especial, de um trabalho diferenciado e o professor deve se preocupar com a sua metodologia de ensino. (SMITH E STRICK, 2001:14)

A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais e espontâneos do

ser humano, pois desde bem pequeno, o indivíduo aprende coisas novas, observando,

experimentando, construindo, como: mamar, falar, andar, pensar etc. Ele garante assim, a sua

sobrevivência. Aos três anos, aproximadamente o indivíduo é capaz de construir suas primeiras

hipóteses e já começa a questionar sobre a existência, impondo suas vontades e desejos.

Sabe-se que a aprendizagem é o processo de internalização dos conteúdos

historicamente construídos e socialmente disponíveis. Vygotsky (1998) nos diz que:

Esse processo se torna possível pela mediação, visto que as funções do desenvolvimento humano se manifestam primeiro num plano social e depois individual. (VIGOTSKY, 1998:29).

A aprendizagem escolar, apesar de estar em um contexto isolado e específico, também é

considerada um processo social, que resulta em uma atividade mental complexa, onde o

pensamento, a percepção, as emoções, a memória, a motricidade e os conhecimentos prévios estão

envolvidos. É na escola que a criança deve sentir o prazer em aprender, como nos outros lugares em

que a aprendizagem está presente.

Ao se estudar o processo de aprendizagem e suas dificuldades, desenvolveu-se uma nova

ciência, a Psicopedagogia e outras especializações, que estudam estes processos e procuram

encontrar a melhor maneira de resolvê-los ou amenizá-los. O estudo se dá através da análise de

fatos reais e observações, levando-se em consideração as realidades interna e externa de cada

indivíduo, sempre se utilizando de vários campos do conhecimento integrados e sintetizados, para um

mesmo objetivo. Compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais,

orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que determinam a condição do indivíduo e interferem no

processo de aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a aprendizagem em sua totalidade

de maneira prazerosa. Para uma melhor qualidade das interações é necessário que se tenha uma

melhor qualidade de aprendizagem.

Segundo Weiss (2000):

A aprendizagem normal dá-se de forma integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo. (WEISS, 2000: 56)

Page 29: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

No processo ensino-aprendizagem, onde os alunos apresentam dificuldades

de aprendizagem, a qualidade das interações lingüísticas deve ser planejada e

pensada, para que seu resultado seja positivo e de efetiva ajuda. As diferentes

dificuldades de aprendizagem que o indivíduo pode apresentar, sejam elas

relacionadas à linguagem escrita ou à matemática, podem ser superadas, mas para

que isso aconteça é necessário comprometimento, da família e de todos os que

cercam esta criança.

A linguagem escrita, no período de alfabetização, por exemplo, muitas vezes

pode revelar distúrbios de aprendizagem, dependendo do método adotado para

alfabetizar, pois este deve levar em conta a capacidade do indivíduo enquanto

sujeito ativo do processo. Ferreiro e Teberosky (1994) afirmam que:

[...]no lugar de uma criança que espera passivamente o reforço externo de uma resposta produzida pouco menos que ao acaso, aparece uma criança que procura ativamente compreender a natureza da linguagem que se fala à sua volta, e que tratando de compreendê-la, formula hipóteses, busca regularidades, coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática [...]. No lugar de uma criança que recebe pouco a pouco uma linguagem inteiramente fabricada por outros, aparece uma criança que reconstrói por si mesma a linguagem, tomando seletivamente a informação que lhe provê o meio. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1994: 24).

A criança, ao entrar em contato com o mundo das letras, da escrita e da leitura, descobre que

pode ter outras maneiras de se comunicar, não descartando as que já utilizavam (desenhos, gestos,

sons, sinais). Ela entra assim na linguagem que o mundo entende, começa a fazer parte deste

mundo, o mundo globalizado.

O mundo globalizado em que se vive hoje em dia, vem destruindo as velhas estruturas das

comunidades, suas culturas, impondo uma cultura e uma economia mundiais. A imposição desses

fatores causa modificações nos padrões de produção e consumo que, por sua vez, produzem

identidades globalizadas, descompromissadas com a história de vida de cada indivíduo, onde o que

importa é ser visto como normal, igual.

Modelos são pré-estabelecidos para os indivíduos, independente de sua cultura, etnia ou

profissão. Neste contexto, a formação da identidade se dá pela aceitação de modelos definidos como

corretos, sem questionamento, ou por uma resistência a esses de forma a fortalecer identidades

nacionais ou regionais. De qualquer forma, as identidades são produtos de movimentos sociais em

momentos históricos particulares. Mas onde se enquadra o diferente neste contexto? Como ele pode

reduzir esta diferença se a cada dia é cada vez mais colocado de lado, por causa dessa diferença?

Page 30: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Voltar no tempo, nesse momento é essencial, pois quando, no fim do século XIX, a

escolaridade se tornou obrigatória, ela começou a fazer parte das preocupações daquela época.

No início, a escolarização obrigatória era a meta para acabar com o abismo existente entre

classes sociais, entre os ricos e os pobres. Apesar desse intuito, isso nem de longe, aconteceu, pois

durante muito tempo, era ainda a condição social do aluno que ditava como seria sua trajetória

escolar, seu futuro.

A escolaridade primária (hoje chamada de Fundamental) era reconhecida como obrigatória e

as crianças de baixa renda tinham acesso apenas a esse nível de escolaridade (primária), o que lhes

conferia apenas o direito de acesso ao mundo letrado. Já as crianças da classe média tinham o

acesso garantido à instrução elementar e superior, dando-lhes assim a oportunidade de serem

executivos de nível médio, professores primários etc.

Apenas as crianças advindas das famílias ricas, pertencentes à burguesia, freqüentavam os

Liceus, que eram pagos e permitia o ingresso nas profissões liberais como o Direito e a Medicina.

Hoje, graças aos direitos humanos e à busca de uma igualdade social e justa, as crianças de

todas as classes sociais têm, como obrigatório, prosseguir com sua escolaridade até os catorze anos

de idade. Nossa sociedade mudou muito desde o século XIX e não é apenas o fator econômico que

interfere quando a meta é atingir o nível de escolaridade exigido pelo competitivo mercado de

trabalho, mas também o político e o social.

Para Paín (1992):

A transmissão da herança cultural não mais obedece aos velhos esquemas. O processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação. (PAÍN, 1992: 11).

Nota-se que a tradição familiar e novos modos de vida se chocam a gerando conflitos entre

gerações e se tornando ponto de partida de dificuldades e fracassos escolares. É assim, nesse

contexto de mudanças sociais que é produzida a dificuldade de aprendizagem enquanto patologia.

Vive-se numa sociedade onde dificuldade e fracasso na aprendizagem são sinônimos de

dificuldade e fracasso na vida. Não é uma surpresa que o sucesso de uma criança, que tenha uma

origem economicamente desfavorecida, seja visto como algo anormal, podendo provocar rejeição e

desprezo.

Nessa sociedade contemporânea, prima-se por uma situação financeira privilegiada que

garanta acesso ao consumo de bens. O sucesso na vida escolar torna-se a porta de entrada para

essa situação e aquele que apresenta dificuldades é marginalizado, mesmo que tenha poder

aquisitivo elevado.

Page 31: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

A dificuldade de aprendizagem exime o sujeito da possibilidade de “ser alguém” nesta

sociedade reconhecida como a do consumo desenfreado. Não o consumo do necessário, mas do

novo, do maior, do que faz sucesso.

Como se pode perceber, paradoxalmente, à necessidade de sucesso que a nossa sociedade impõe,

torna-se, ela mesma, fonte de dificuldades e fracassos.

A política educacional atual, dá prioridade à educação voltada para todos e a inclusão de

alunos que antes eram excluídos do sistema escolar, por apresentarem deficiências físicas ou

cognitivas. Um grande número de crianças e adolescentes, que apresentaram dificuldades de

aprendizagem e que estavam com o destino traçado: o fracasso escolar. Com a criação de leis de

proteção e inclusão escolar, elas puderam freqüentar as escolas, mas mesmo com as leis que as

protegem, foram rotulados como alunos difíceis.

Para Bossa (2000):

Os alunos difíceis que apresentavam dificuldades de aprendizagem, mas que não tinha origens em quadros neurológicos, numa linguagem psicanalítica, não estruturam uma psicose ou neurose grave, que não podiam ser considerados portadores de deficiência mental, oscilavam na conduta e no humor e até dificuldades nos processos simbólicos, que dificultam a organização do pensamento, que consequentemente interferem na alfabetização e no aprendizado dos processos lógico-matemáticos, demonstram potencial cognitivo, podendo ser resgatados na sua aprendizagem. (BOSSA, 2000: 67)

As dificuldades de aprendizagem não têm origens apenas cognitivas, podendo envolver

outros fatores mais importantes. Muitos educadores atribuem ao próprio aluno o seu fracasso, ao

considerar que ele tem algum comprometimento em seu desenvolvimento psicomotor, cognitivo,

lingüístico ou emocional. Apenas por conversar muito, ser mais lento que os demais, não fazer a lição

de casa, não ter assimilação, entre outros fatores, analisados isoladamente, coloca-se um rótulo de

dificuldade de aprendizagem. A desestruturação familiar, as condições de aprendizagem que a escola

oferece a este aluno, e os outros fatores intra-escolares que favorecem a não aprendizagem, podem

ser responsáveis por uma dificuldade permanente (distúrbio) ou temporária.

É a família, entretanto, quem pode criar um ambiente adequado à aprendizagem. Ela é

responsável pela garantia de ensino, ao se conseguir nas escolas uma maior participação das

mesmas, a educação de qualidade acontece, e se promove da individualização do sujeito, que é de

vital importância no processo de aprendizagem.

Toda a aprendizagem realizada no contexto familiar faz com que cada criança, pertença a um

grupo, pois as descobertas são compartilhadas com todo o grupo familiar e cria uma necessidade de

autonomia e individualidade, que definirão como e quando se vai utilizar o que foi aprendido. Essa

criação de autonomia e individualidade será a base da elaboração de nossa própria identidade.

Para Souza (1995):

Page 32: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

As crianças com mau desenvolvimento escolar encontram-se impedidas de um desempenho intelectual satisfatório, devido a problemáticas emocionais, muitas vezes relacionadas a conflitos familiares não explicitados (SOUZA, 1995: 02)

Nesses casos, como diz Fernandez (1991:40): “Há crianças que apresentam um mal

rendimento escolar para ganhar certa legitimidade”.

A família é o componente básico da formação do individuo, determinando aspectos da sua

dinâmica que devem ser observados na formação ou na manutenção de uma dificuldade de

aprendizagem.

O movimento gerado no sistema familiar fará parte de um ciclo vital, que somado ao padrão

de aprendizagem desse grupo, vai originar as narrativas sobre os projetos de vida, a carreira, o

sucesso ou o insucesso.

A dificuldade de um indivíduo em avançar, satisfatoriamente, através dos eventos de

desenvolvimento psicológico e intelectual cria uma tendência, por parte da família, onde um

superinvestimento psicológico e financeiro, vai transformá-lo em foco, muitas vezes, camuflando os

sintomas. Esse indivíduo, preso neste processo sem fim, terá alguns lucros, mas ele e todo o grupo

familiar ficam impedidos de se desenvolverem, pois por ele, pela própria dificuldade e pela família, ele

não consegue focalizar sua participação nesse processo.

Essa relação entre indivíduo e grupo familiar nos leva a um segundo aspecto a se observar: o

das alianças e lealdades. Antes de nascer, a criança já é reforçada por todas as expectativas da

família e, quando nasce, essas expectativas se transformam em missões ditadas por este mesmo

sistema. Crescer contrariando as expectativas e anseios da família podem ser perigoso, pois ela acha

que esta situação é ameaçadora ou desleal. Seguindo esse raciocínio, lemos em Polity (2001): “Toda

criança precisa ter o consentimento dos pais, ainda que inconsciente, para crescer.” (POLITY, 2001:

41).

Da mesma maneira que os valores éticos, morais e culturais têm relação com o saber, a

aprendizagem é inscrita na história familiar, determinando a dificuldade ou não de aprender, pois

cada família tem sua maneira de se aproximar ou afastar do saber, que é chamada de modalidade de

aprendizagem. A modalidade é transmitida de geração a geração definindo como será a sua relação

com a aprendizagem. A modalidade de aprendizagem familiar é formada a partir da união entre a

história, os mitos, as lealdades etc, no ciclo de vida deste sistema familiar. Assim, a capacidade de

criar um ambiente seguro para o desenvolvimento intelectual está ligada à habilidade das gerações

anteriores em separar os conflitos dos mais velhos dos conflitos dos mais novos.

Muitas vezes, um segredo familiar pode ser um aspecto a ser considerado, nem sempre um

segredo se refere ao desconhecido, às vezes ele diz respeito a algo que não se pode ou se deve

comentar. Segundo Polity (2001):

Page 33: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Um segredo pode estar relacionado ao surgimento da dificuldade de aprendizagem da seguinte forma: uma criança vê algo que era proibido, a família nega o fato afirmando que foi imaginação, que a criança não viu aquilo. (POLITY, 2001: 42)

Há aqui o que Polity (2001), utilizando-se da psicanálise chamou de desmentido:

Uma parte do eu reconhece e aceita o que viu enquanto a outra desmente; é uma cisão do eu. Neste caso, a criança por não poder confirmar o que viu – e sabe que viu – estende essa atitude para toda sua relação com o conhecimento e assim, não mais pode aprender. É como se a criança se tornasse cega, surda e muda com relação às informações de todo o tipo e, como conseqüência, inapta para o processo de aprendizagem formal. (POLITY, 2001:42)

A não explicação dos fatos e sua origem pode, muitas vezes, dificultar ou comprometer o

estabelecimento da identidade, como no caso de uma criança adotada, por exemplo, que não lhe foi

dado o direito de saber sua origem ou de ver um rosto semelhante ao seu para que possa construir

sua história. Ao expressar sua curiosidade sobre suas origens, a criança pode ser entendida ou

interpretada como desleal e ser tolhida em sua intenção de saber a verdade. Torna-se compreensível

a dificuldade desta criança em estar disponível para o conhecimento quando sua curiosidade é

interpretada como ameaçadora. Ela vai entender que tudo o que ela precisa saber, conhecer será

ameaçador.

A criança precisa encontrar no ambiente familiar, formas facilitadoras de aprendizagem, com

uma disponibilidade de brinquedos e jogos compatíveis com o nível de desenvolvimento da criança e

que estimulem as habilidades cognitivas e a aprendizagem de conteúdos relevantes. A presença de

livros ou outros materiais de leitura e consulta também são de extrema importância. Espaços próprios

onde a criança possa realizar adequadamente essas atividades, com tranqüilidade e liberdade, são

essenciais. No entanto, apenas a presença desses recursos materiais não é o suficiente para

promover um bom relacionamento com a aprendizagem, é necessário investir tempo e atenção a ela.

Um ambiente familiar que contribui positivamente no processo de aprendizagem de seus

membros, com recursos materiais, que oferece segurança, calma, e inclui os adultos com

disponibilidade para interagir com as crianças, ou sejam, capazes de funcionar como mediadores

entre elas e os estímulos.

Segundo Maturano (1999):

É através de seu envolvimento que os pais fornecem recursos emocionais essenciais ao desenvolvimento de um senso de competência. Esse envolvimento se traduz em atitudes de assistência ao desenvolvimento da

Page 34: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

criança, de encorajamento e reconhecimento aos seus esforços de autonomia – exigindo que esta resolva seus problemas, mas mantendo-se disponíveis para dar assistência, caso precise – e a promoção de atividades sociais e culturais enriquecedoras. De uma forma mais simples, é praticar atividades como ler para a criança, brincar, passear, conversar com ela, ajudar em suas tarefas e interessar-se por seu mundo. (MATURANO, 1999:25)

O conceito de dificuldades de aprendizagem apresenta diversas definições e

ainda pode ser um pouco ambíguo e é necessário que se tente determinar a que

fazemos referência com tal expressão ou rótulo diagnóstico, de modo que se possa

reduzir a confusão com outros termos tais como “necessidades educativas

especiais”, “inadaptações por déficit socioambiental” e outras denominações ligadas

às dificuldades de aprendizagem.

Aproximadamente 20% das crianças apresentam dificuldades de

aprendizagem em idade escolar. (CDC - Centers for Disease Control and Prevention,

2004) Muitas vezes, o médico é o mais procurado para se buscar a causa da

dificuldade na criança, porém devemos lembrar de que muitos fatores interferem na

aprendizagem ou na ausência dela. A família, a escola e sua metodologia, o

professor, a sociedade em que a criança está inserida, envolvem aspectos sócio-

culturais importantes para o aprender de uma criança. Para Mery (1985):

O professor desempenha um papel importante na identificação da dificuldade. Aquelas crianças que não adquirem conhecimentos como os colegas devem ser identificados e acompanhados de perto. Após alguns meses de trabalho dentro da sala de aula sem um progresso na aprendizagem o aluno merece uma atenção especial e deverá ser encaminhado à orientação pedagógica da escola que já deve estar ciente do caso. São crianças muitas vezes consideradas como imaturas que não evoluíram satisfatoriamente. Cuidado! Esta criança que não “clica” pode ter uma dificuldade mais importante que necessita de atendimento e avaliação especializada. (MERY, 1985: 12)

Segundo Louro (2003):

A própria escola produz diferenças. Desde o início da sua história a escola exerceu uma ação distintiva fora e dentro dela. Fora, separando os que tinham dos que, a ela, não tinha acesso; e dentro, através de classificações e hierarquizações. A escola que nos foi legada pela sociedade ocidental moderna começou por separar adultos de crianças, católicos de protestantes. Ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres e ela imediatamente separou os meninos das meninas. (LOURO, 2003. p.57).

Page 35: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Uns dos principais elementos para a identificação das dificuldades de

aprendizagem são os profissionais da escola: professores, coordenadores,

orientadores pedagógicos etc, que exercerão um importante papel na formação da

criança. Com a identificação de um baixo rendimento escolar em uma criança, deve-

se verificar os diferentes níveis de dificuldade existentes.

As dificuldades de aprendizagem podem ser transitórias ou permanentes. As

transitórias são aquelas em que uma situação passageira, um momento da vida da

criança com alguma turbulência, por exemplo, onde a criança não consegue realizar

uma determinada tarefa.

As dificuldades globais são causadas por diversos fatores conjuntos ou

isolados e podem ser temporárias ou tornarem-se permanentes. Podem ser

causadas por diversas razões como: a escola, a família, remédios, culturas

diferentes da original e mesmo doenças.

Outras dificuldades podem ser causadas por uma imaturidade funcional da

criança, onde ela apresenta um atraso que pode ser neurológico, emocional,

psicológico, motor ou mesmo social. Respeitar o tempo e o desenvolvimento da

criança pode ser uma solução para o problema ou a facilitação da aprendizagem.

Quando uma criança apresenta uma dificuldade da disfunção cerebral, a

dificuldade é permanente, onde a dificuldade pode ser única ou um grupo delas, que

pode afetar áreas específicas relacionadas à linguagem, leitura, escrita, cálculo,

motricidade, raciocínio, memória, atenção etc.

Antoniuk (2003) classifica as principais disfunções na área da linguagem em:

disfasia, dislexia , disgrafia, disortografia e discalculia.

Outra dificuldade de aprendizagem relacionada à disfunção cerebral são as

dificuldades relacionadas ao Déficit de atenção com ou sem Hiperatividade, que hoje

em dia tem afetado diversas crianças, adolescentes e adultos, que a descobrem

tardiamente. Antes chamados de indisciplinados, sem limites, elétricos e agressivos,

hoje adultos agitados, descobrem a dificuldade e até podem ser tratados, tendo os

sintomas amenizados.

Page 36: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

O Déficit de Atenção, acompanhado ou não de hiperatividade é uma

dificuldade em que os impulsos cerebrais se dão numa velocidade muito acima do

normal. As conseqüências podem ser diversas como: falta de atenção, impulsividade

e agressividade. O indivíduo portador desse distúrbio tende a ser desorganizado,

desleixado e desastrado. Muitas vezes, recebe repreensões freqüentes, por causa

de sua dificuldade em socializar-se adequadamente. Estas repreensões podem

prejudicar sua auto-imagem e sua auto-estima. Reforçar as atitudes positivas e

incentivar sua capacidade de aprendizagem, respeitando seu tempo e sua

dificuldade, pode tornar o indivíduo mais auto-confiante, fazendo com que aprenda e

modifique suas relações sociais.

Segundo o DECS – Descritores de Ciência da Saúde da BIREME:

Lesões agudas e crônicas ao encéfalo, incluindo os hemisférios cerebrais, CEREBELO e TRONCO CEREBRAL. As manifestações clínicas dependem da natureza da lesão. O trauma difuso ao encéfalo é frequentemente associado com LESÃO AXONAL DIFUSA ou coma PÓS-TRAUMÁTICO.

As lesões localizadas podem estar associadas com MANIFESTAÇÕES NEUROCOMPORTAMENTAIS; HEMIPARESIA ou outras deficiências neurológicas focais.

Nota de Indexação Português: geral ou não especificado; com partes específicas do encéfalo; UP CONTUSÃO ENCEFÁLICA: não coordenada com contusões; não confunda com TRAUMA CRANIOCEREBRAL

A Lesão Cerebral pode levar a um distúrbio de aprendizagem que poderá

afetar a criança como um todo. Pode ser: sensorial, afetando o sistema auditivo ou o

visual e mental, com rebaixamento da capacidade intelectual ou ainda dificuldades

emocionais graves. Entre os distúrbios de lesão cerebral mais conhecidos temos o

autismo e a psicose.

Para Rotta (2006):

Dois aspectos envolvem os distúrbios da audição: o primeiro é um impedimento da capacidade de detectar a energia sonora, ou seja, uma perda auditiva; o segundo é o transtorno do processamento auditivo. Tal transtorno se refere a um distúrbio da audição no qual ocorre um impedimento da capacidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros. (ROTTA, 2006:118)

De acordo com Alvarez; Caetano e Nastas (2000), as disfunções centrais

podem ocorrer por disfunção neuromorfológica, que é o atraso de maturação do

Page 37: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

sistema nervoso auditivo central e por distúrbios como: doenças ou lesões

neurológicas e otológicas.

Em todas essas dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, o indivíduo pode

ser trabalhado e estimulado para sanar ou amenizar sua deficiência. A deficiência

mental leve, também pode ser trabalhada em sala de aula regular, através da

inclusão do aluno, mas ele precisa de acompanhamento paralelo. Em se falando da

deficiência mental moderada ou um problema emocional sério, o indivíduo deve ser

encaminhado a uma classe especial ou a uma escola especializada para um melhor

aproveitamento.

Para Schwartzman (1992):

Um dos grandes objetivos da educação é fazer com que a criança seja mais autônoma na sala de aula. Adquirir autonomia é interiorizar regras da vida social para que se possa conduzir sem incomodar o restante do grupo. E essa adequação social é condição sine qua non, sem a qual não há para que seja integrada. (SCHWARTZMAN, 1992: 20).

Continua afirmando que:

... o fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para adquiri-la mais tarde.

Quando discutimos problemas referentes à crianças que apresentam dificuldades escolares temos que nos lembrar que não estaremos discutindo um grupo homogêneo de indivíduos de tal forma que afirmações do tipo “eu trato de crianças com dificuldades escolares desta forma”ou “tenho tido bons resultados com esta ou aquela técnica”devem ser encaradas com cuidado. Na verdade, sob o rótulo de “crianças com dificuldades escolares” podemos estar frente a problemas muito diversos e quando não fazemos um diagnóstico diferencial cuidadoso corremos o risco de tratar de conseqüências ou de aspectos periféricos e não da causa básica, primária ,das dificuldades. Desta forma gostaria que ficasse clara esta posição qual seja a de que o primeiro passo e, talvez o mais importante frente à criança que está fracassando na escola seja o de se tentar, na medida das nossas possibilidades, identificar a causa básica das dificuldades. (SCHWARTZMAN, 1992: 20-21).

O autor afirma ainda que se pode listar, algumas das razões, freqüentes,

pelas quais uma determinada criança pode ir mal na escola. O prejuízo intelectual é,

obviamente, uma delas e que deve ser identificada. Embora esta afirmação deva

Page 38: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

parecer muito óbvia, é comum que crianças que estão sendo tratadas e vem sendo

cuidadas no sentido de melhorar o rendimento escolar não tenham nunca sido

submetidas à um teste formal de inteligência. (Schwartzman, 1992).

Concluiu dizendo que:

Uma vez feito o diagnóstico “causal” das dificuldades escolares caberá propor algum tipo de solução. Esta pode ser muito variável dependendo de cada caso. Em certas crianças será necessário colocar-se a criança em um outro tipo de escola; em outras, bastará sugerir que se aguarde um pouco mais, antes de insistir no processo de alfabetização, tratando-se de uma criança “imatura”ou “lenta”. Outras vezes deveremos propor a colocação da criança em escolas especiais, tamanha a dificuldade presente. Naquelas com Distúrbios Específicos o tratamento deverá ser centralizado em métodos pedagógicos que tentarão suprir as necessidades especiais e desenvolver, eventualmente, estratégias alternativas para o aprendizado. Caberá ao pedagogo, também, optar, quando necessário pelo uso de datilografia, computadores,etc. (SCHWARTZMAN, 1992: 23).

Sabe-se que cada criança, seja portadora de Dificuldade no

Processamento Auditivo ou qualquer outro distúrbio, possui alguma dificuldade que

se destaca em relação ao outro. Por esta razão, acredita-se que a melhor forma de

trabalhar com o aluno com dificuldade de aprendizagem, é dentro da sala de aula,

com toda a turma, pois é através de uma atividade adaptada às necessidades

especiais deste aluno, que ele terá chances de se destacar frente aos demais, ser

respeitado e visto como alguém capaz de participar e, porque não dizer, de superar

suas dificuldades.

Atividades que ajudam o portador de distúrbio no Processamento Central Auditivo

Page 39: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

A maioria das crianças que apresentam alguma dificuldade, ou mesmo

problemas temporários de aprendizagem chegam às escolas rotuladas. Rótulos que

os impedem de caminhar. Segundo os pais ou as entidades responsáveis por seu

encaminhamento, elas têm dificuldade de aprender, são desatentas, lentas, vivem

no mundo da lua, não prestam atenção a nada.

Muitas vezes os pais, os professores, os colegas de classe e de seu convívio

social, não entendem o que está acontecendo. O adulto que está ao lado dela deve

ter a sensibilidade de ajudá-la observando-a, analisando suas atitudes e suas

respostas a estímulos, para que possa criar condições de ajudá-la em suas

dificuldades, resolvendo-as ou mesmo fazendo com que ela entenda como melhorá-

la.

O jogo entra em cena nas situações de dificuldade como um recurso facilitador,

pois através dele a criança é livre para expressar seus sentimentos, suas angústias,

sem medo de ser reconhecido. O psicopedagogo deve utilizar-se desta estratégia

como um artifício de aproximação com a criança, criando um elo de amizade entre

eles. É através deste elo de amizade e confiança que a criança poderá juntar as

peças do quebra-cabeça de sua vida, para que possa reconstruí-la de maneira

saudável e completa.

Os jogos devem conter atrativos às crianças, coisas que chamem suas

atenções e que possam trazer um elo de ligação com o seu mundo real, o que

possibilitará uma abertura, uma aproximação. Mesmo utilizando diversos jogos, não

podemos deixar de citar que a participação da família é de extrema necessidade,

reforçando o vínculo de amizade e confiança, para que a criança consiga superar

sua dificuldade, aceitando-se e colaborando para as possíveis mudanças que

ocorrerão.

A aprendizagem é algo complexo, que não tem receitas prontas. Estimular e

desenvolver as habilidades de cada criança é importante para sua aprendizagem,

tornando-a assim, mais natural e alegre.

Page 40: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Alguns conceitos, muitas vezes, necessitam ser mais elaborados tais como

imagem corporal, lateralidade, orientação temporal. Por isso, é necessário que o

educador e os demais envolvidos com a criança, possam criar maneiras de abordar

o problema através do lúdico. Considera-se uma técnica importante, no tratamento

destas e de outras questões relacionadas à aprendizagem, porque permite perceber

as dificuldades e conversar sobre elas de modo a estabelecer caminhos para

superá-las. Para Froebel (1912: 54-55):

Brincar é a fase mais importante da infância - do desenvolvimento humano neste período - por ser a auto-ativa representação do interno - a representação de necessidades e impulsos internos....

A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo - da vida natural interna no homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... A criança que brinca sempre, com determinação auto-ativa, perseverando, esquecendo sua fadiga física, pode certamente tornar-se um homem determinado, capaz de auto-sacrifício para a promoção do seu bem e de outros...

Como sempre indicamos, o brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação. (FROEBEL, 1912: 54-55)

Através de intervenções lúdicas, a criança e o ser humano em geral têm a

possibilidade de desenvolver o seu lado afetivo, motor, cognitivo, social, moral e

ajuda na aprendizagem de conceitos que serão importantes para a vida futura. É de

extrema importância ver o jogo, sob o aspecto educativo, como uma ajuda para a

elucidação de problemas, mas ele nunca pode ser um substituto da realidade.

No dicionário Larousse (1982) encontrou-se a seguinte definição: “ Jogo é uma

atividade física ou mental organizada que por um sistema de regras definem quem

perde ou ganha. Brincadeira: passatempo, entretenimento.”

Para Freud (1907), o jogo funcionaria como um agente de inspiração para a

criança, pois através dele, ela poderia tornar-se um poeta, criando seu próprio

mundo, que fosse agradável e conveniente para ela.

Piaget (1979), em sua teoria da psicologia genética, compartilhava de algumas

idéias de Freud (1907):

Page 41: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

...o brincar representa uma atividade por meio da qual a realidade é incorporada pela criança e transformada quer em função dos hábitos motores (jogos de exercícios) quer em função das necessidades do seu eu (jogo simbólico) ou em função das exigências de reciprocidade social (jogos de regras). (PIAGET, 1979:56)

Para Winnicott (1985), no brincar a criança se torna mais criativa e mostra sua

personalidade integralmente. Para ele somente assim é que o indivíduo pode

descobrir o seu verdadeiro eu.

Macedo (1999) compreende os jogos de regra como uma possibilidade de

observação dos processos do pensar, pois a criança pode construir seu

conhecimento de acordo com a fase em que se encontra.

Segundo os Referenciais Curriculares Para a Educação Infantil (1998) vemos

que nas brincadeiras o conhecimento pode ser transformado em conceitos que ela já

possuía anteriormente:

Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir um determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer alguma de suas características. Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros etc. A fonte de seus conhecimentos é múltipla, mas estes se encontram, ainda, fragmentados. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis, tomando consciência disto e generalizando para outras situações. REFERENCIAIS CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL (1998:27)

É importante conhecer o jogo e tudo o que ele pode proporcionar à criança que

se utiliza dele, pois ele pode tomar diversas formas, com diversos objetivos. Pode

ser educativo quando é usado com o objetivo intencional de educar. Pode ser

apenas brincadeira, desde que o objetivo seja este.

Estudando a teoria de Piaget (1998), entende-se que o jogo está ligado ao

funcionamento da inteligência, pois quando a criança joga, constrói uma série de

assimilações e acomodações que serão levadas para o restante de sua vida. Pelo

fato do cérebro ser um sistema aberto e mutável, a criança terá estruturas de

Page 42: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

funcionamento moldadas até o fim de sua vida, onde cada indivíduo terá o seu

desenvolvimento pessoal.

Enquanto a criança vai crescendo, aos poucos consegue distinguir os

diferentes tipos de jogos. Consegue notar que para jogar alguns jogos ela

necessitará de um maior esforço de concentração, e isso não torna o jogo menos

prazeroso.

Ao jogar, a criança desenvolve suas habilidades motoras, físicas, emocionais e

intelectuais, mas necessita de um mediador, que observará todo o processo e fará a

intervenção, quando necessária.

A aprendizagem é mediada por processos sócio-culturais. O professor, de

acordo com Fonseca (1995), pode agir como um mediador, dando aos alunos a

oportunidade da produção cotidiana dos conflitos cognitivos. É um incentivo às

várias capacidades, através da análise e da comparação.

A escola, onde reside a instrução formal, mediada pelo professor, mobiliza e

altera o desenvolvimento da estrutura cognitiva, ao atuar através de uma proposta

pedagógica de atuação ativa, pautada no potencial do aluno. Essa base

paradigmática, conforme apresenta Gomes (2002), reside, principalmente, nas

teorias de Vygotsky. Luria (1987) diz que a instrução formal atua sobre o processo

cognitivo, facilitando a transição de operações práticas para teóricas.

Partindo-se dessa premissa, as idéias de Gardner, Korvhaber e Wake (1998)

explicitam a relação direta da Ciência Cognitiva com a Educação, levando em conta

a aprendizagem do sujeito:

Os indivíduos que se saem bem na escola são aqueles que conseguem pensar sobre ações, eventos e fenômenos, mesmo quando essas entidades não sejam acessíveis à percepção e ao contato-direto - isto é, eles pensam bem na ausência das deixas contextuais comuns. (GARDNER, KORVHABER E WAKE, 1998: 263)

Ao se fazer um paralelo entre as idéias da Educação para o novo século e as

aprendizagens a partir das potencialidades do sujeito, entende-se a aproximação do

sujeito aprendente e do professor mediador, na proposta das Ciências Cognitivas:

“Se não formos capazes de ensinar, será impossível aprender” (GOMES, 2002:

261).

Page 43: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Vygostsky (1998) postulou a teoria acerca do processo de aprendizagem

humana, propondo articular o estudo do funcionamento cognitivo aos processos de

interação social. Trouxe o pressuposto de que:

“A estrutura cognitiva e aprendizagem são impulsionadas pelos instrumentos culturais, mais especificamente, os instrumentos psicológicos”. (VYGOSTSKY, 1998: 55)

Tanto as inter-relações quanto os contextos institucionais mais amplos

fornecem campo para a formação dos processos mediados e para o auxílio na

compreensão da função dos instrumentos e ampliam a significação dos conceitos

aprendidos, a partir da própria experiência e da relação com os outros.

De acordo com Vygotsky (1998), o sujeito, ao integrar-se com o meio escolar,

aplica sobre esse ambiente um conjunto de valores, atitudes, competências

perpassadas pelo processamento perceptivo-lingüístico, elaborando e comunicando

informações que incidem sobre o desenvolvimento potencial.

Nesta abordagem, Fonseca (1995), traduzindo as idéias do referido autor,

descreve que face à informação recebida, com base na atenção seletiva (auditiva):

O indivíduo em situação de aprendizagem terá de processá-la em unidades, integrando-as em seqüência temporal que caracteriza a informação ordenada. (FONSECA, 1995: 59),

A estrutura de todo o processamento auditivo pode ser explicada pelas

palavras de Phillips (1995):

Processamento implica a diferenciação entre a entrada e a saída da estrutura. Sua representação implica simplesmente, que a informação acerca da dimensão do estímulo está presente na estrutura cerebral e está disponível para que qualquer processamento possa ocorrer. (PHILLIPS, 1995: 342)

O processo de aprendizagem desenvolve-se ao longo da vida dos sujeitos e é

sistematizado formalmente durante os anos de escolarização, através da instrução

formal. Para Vygotsky (1998), o incremento dos processos psicológicos superiores

Page 44: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

encontra subsídio para realizar-se nas inter-relações sócio-culturais, sendo esse

meio um forte mediador para a construção de conhecimento.

A partir da identificação e do conhecimento do distúrbio do processamento

auditivo, várias sugestões podem ser encaminhadas para a (re)significação de

conceitos e (re)planejamento pedagógico junto aos professores. De acordo com

cada dificuldade, com particularidades apresentadas nos exames comportamentais

do processamento auditivo e características motivacionais de cada sujeito, é

possível auxiliar diretamente a aproximação da construção de conhecimentos e o

processo educacional de cada aluno.

O sucesso do processo de aprendizagem está intimamente ligado às

manifestações de progresso no desenvolvimento da construção de conhecimentos.

Estratégias individualizadas contribuem enormemente para esse sucesso. Poucos

estudos têm tentado abarcar essa temática, tornando-se insuficientes as

considerações acerca dessa proposição.

Bellis e Ferre (2002) propõem aspectos específicos quanto a modificações

comportamentais e ambientais, referentes a mudanças no espaço escolar, no

planejamento pedagógico e na orientação e rotina familiar, para que a criança possa

usufruir de um espaço de verdadeira aprendizagem.

Na sala de aula do portador de distúrbio do processamento auditivo, o

professor deve estar atento a ruídos e estímulos que podem ser negativos ao aluno.

Segundo Jardim (2001), algumas estratégias devem ser usadas para melhorar a

sala de aula:

As crianças com Distúrbio do Processamento Auditivo, quando são

detectadas precocemente, podem ser tratadas de maneira adequada, com a

orientação aos pais, facilitando o trabalho dos professores no processo de

aprendizagem.

- Entrada visual simultânea a mensagem auditiva podem ajudar na

memorização;

Page 45: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

- Lista do vocabulário chave: escrever na lousa palavras-chave do novo

material e as instruções (a criança com PAC necessita de anotações

organizadas e lembretes);

- Vocabulário e mensagem controlados em termos de complexidade e

extensão;

- Monitorar a compreensão e o progresso da criança;

- Avaliação da compreensão: perguntas relativas a matéria devem ser feitas

periodicamente, avaliando sua compreensão;

- Preparação: preparar a criança anteriormente com novos conceitos e

vocabulários que serão utilizados em sala de aula;

- Métodos para prender a atenção da criança;

- Antes de ensinar, chamar a criança pelo nome ou por toques gentis;

- Ajudar individualmente;

- Fazer intervalos mais freqüentes;

- Usar de instruções curtas;

- Tampão monoaural (tampando-se apenas uma orelha), como um auxílio de

audição: considerando que a orelha pior não contribui para o proveito

binaural (tampando-se as duas orelhas) e pode alterar o desempenho da

orelha melhor , mantém–se a orelha ruim ocluída nos momentos em que a

criança necessita de maior concentração. Em terapia , estimula-se mais o

lado ruim, até se chegar próximo a um equilíbrio;

- Assistência quanto à memória, fala e linguagem valorizando as pistas de

linguagem e os aspectos cognitivos;

- Sequencialização com sons verbais e não-verbais;

- Trabalhar a memória auditiva;

Page 46: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

- Discriminação auditiva e associação fonema (unidade formal inferior da

Fonética e está relacionado ao som das letras) – grafema (unidade formal

mínima da escrita, relacionado ao fonema);

- Treinamento auditivo: dessensibilização da fala em presença de ruído e

estimulação mono e binaural com e sem competição com ruído;

Através do jogo as crianças podem ter contatos sociais, podem utilizar-se da

cooperação, tomam consciência de que podem atingir objetivos, reconhecem a parte

e o todo, entendem as relações de ordem, de antecipação e de retroação, além de

serem estimuladas a aprender e a entender o que aprenderam, pois através dos

jogos, as crianças compreendem com mais facilidade o abstrato, o que elas não

podem tocar.

Depois de conhecer todos os benefícios que o jogo pode proporcionar à

criança, com dificuldade ou não, vimos que sua utilização faz-se imprescindível nas

escolas, consultórios e no dia-a-dia das crianças, desde que seja respeitada a fase

de aprendizagem em que cada criança se encontra.

É preciso saber qual habilidade precisa ser desenvolvida ou estimulada na

criança antes de escolher o jogo. Existem jogos para estimular a leitura e a escrita, a

coordenação motora, a memória, a concentração e a atenção. Escolher o jogo

apropriado a cada idade e necessidade é, antes de qualquer coisa, planejar a

atuação do profissional que trabalhará com a criança.

É através da aprendizagem lúdica e do processo cognitivo estimulado por esta

aprendizagem que a criança estará se preparando para o futuro, pois jogando ou

brincando, ela pode desenvolver habilidades que a ajudarão no trabalho, nos

relacionamentos interpessoais e nas demais relações de seu dia-a-dia.

Alguns jogos que podem ser usados em sala de aula

Page 47: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Jogo da Berlinda: Adaptado do jogo de Antunes (1999)

Com os olhos fechados, uma criança fica sentada numa cadeira. As outras que

estão em volta dela vão, uma a uma, até ela e fazem uma pergunta, em voz baixa,

sobre coisas de sua dia-a-dia. A que está sentada deve responder a pergunta em

voz alta e os demais participantes devem descobri, qual foi a pergunta feita. Todos

os participantes devem passar pelas duas situações, ora perguntam, ora respondem.

Esta atividade estimula a atenção, a concentração e o raciocínio lógico.

Forme a frase corretamente: Atividade sugerida em Antunes (2001)

O professor distribui a três crianças palavras, e estas lêem suas palavras em

voz alta. Uma quarta criança deverá ouvir as três palavras e formar uma frase que

tenha sentido. As palavras a serem utilizadas devem fazer parte do dia-a-dia das

crianças, para que elas entendam o que elas significam.

Exemplo:

Janela Fechou Papai

João Triste Ficou

Mateus Camila Namorados

Esta atividade estimula a Inteligência lingüística e verbal.

Palavra Pulada

O professor apresenta às crianças uma lista de palavras que contenham

palavras: mono, di, tri e polissílabas. Cada aluno escolhe uma palavra, mas não

conta aos colegas qual foi esta palavra. Quando solicitado pelo professor, a criança

Page 48: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

vai dizer sua palavra com saltos, um salto para cada sílaba e uma palma no lugar da

sílaba tônica. Os demais alunos deverão descobrir qual é esta palavra:

Exemplo:

Pão: pulo e palma

Uva: pulo e palma – pulo

Cavalo: pulo – pulo e palma – pulo

Hipopótamo: pulo – pulo – pulo e palma – pulo – pulo

Esta atividade estimula a atenção, concentração, raciocínio lógico,

conhecimento de português, separação de sílabas, sílabas tônicas, quantificação e

sequência numérica.

O que eu estou fazendo? Atividade adaptada do jogo “Ensaiando” de Antunes

(1998).

O professor diz no ouvido do aluno o que ele deve fazer, como: Varrer a casa;

comprar pão; andar de bicicleta etc. Os demais participantes deverão descobrir o

que ele está fazendo.

Qual é a ordem?

O professor estipula um grupo de palavras que se relacionem como: frutas,

alimentos quentes, materiais escolares etc., devem ser formados grupos de quatro

crianças onde três dirão, sussurrando ao ouvido de uma delas, a palavra escolhida

por ele. Depois que as crianças falaram suas palavras, a criança que ouviu as

palavras deve dizê-la em voz alta e na sequência em que foi ouvida.

Page 49: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Este jogo estimula a memória auditiva seqüencial.

Quantas bolinhas?

O jogo consiste em picotar e fazer bolinhas de papel ao som de diferentes

instrumentos. Enquanto uma criança faz o som com o instrumento as outras devem

fazer bolinhas de papel, com as pontas dos dedos, não muito grandes nem muito

pequenas e com apenas uma mão . Se o instrumento é trocado deve-se trocar a

mão que faz as bolinhas. Uma variação seria tocar dois instrumentos ao mesmo

tempo, onde as crianças deveriam fazer bolinhas com as duas mãos, ao mesmo

tempo. Quando o instrumento parar, todos devem contar suas bolinhas. Ganha

quem fizer mais bolinhas.

Esta atividade estimula a coordenação motora, a memória auditiva e a

discriminação de sons.

Qual é o meu grupo?

O professor separa previamente potinhos com diversos grãos. Cada criança

recebe um potinho e ao sinal, todos começam a chacoalhar os potinhos, que

emitirão sons diferentes. O jogo consiste em cada criança achar os potinhos que

fazem o mesmo som que o potinho dela. Elas devem estar separadas por uma

distância de 4 metros umas das outras.

Esta atividade estimula a percepção auditiva, discriminação de sons.

No atendimento à criança com distúrbio do processamento auditivo, a atividade lúdica pode seu

um excelente instrumento de investigação e observação, pois através dela ele pode conhecer a

verdadeira personalidade da criança, estabelecer vínculos significativos e proporcionar à criança

momentos de alegria e descontração. Através destas observações poderá formular hipóteses e

diagnósticos para que possa intervir corretamente na resolução da dificuldade.

Como foi visto anteriormente, através da leitura de Antunes (1998), Brougere

(1990), Macedo (1999), entre outros, a capacidade de brincar faz parte do processo

de desenvolvimento da criança e é importantíssima para a sobrevivência psíquica e

Page 50: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

o avanço social dela. É através das brincadeiras que o indivíduo pode desfrutar que

teremos conhecimento de suas estruturas mentais, de seus pensamentos, de seus

sentimentos, de seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor.

Faz-se então a seguinte reflexão: “O que acontece com o brincar; pois ora é tão

valioso ora é tão desvalorizado?”

O brincar e o jogar da criança ao adulto. A origem das palavras é:

Jogar: do latim “jocare”: entregar-se ao; ou tomar parte no jogo de; executar as diversas combinações de um jogo; aventurar-se ou arriscar-se ao jogo; perder no jogo; dizer ou fazer brincadeira; harmonizar-se.

Brincar: “de brinco+ar”; divertir-se infantilmente; entreter-se em jogos de criança; recrear-se; distrair-se;saltar; pular; dançar, (...) (DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA LAROUSSE, 1982:286-98)

O brincar é algo tão espontâneo, tão natural, tão próprio da criança, que não haveria como

entender sua vida sem brinquedo, pois o brincar faz parte da vida do ser humano desde as

sociedades mais primitivas, entre os indígenas e os relatos mais antigos. É preciso ressaltar, no

entanto, que não é apenas uma atividade natural. É, sobretudo, uma atividade social e cultural.

Desde o começo, o brinquedo é uma forma de relacionar-se, de estar com, de encontrar o mundo

físico e social.

Para Didonet (2003):

É uma verdade que o brinquedo é apenas o suporte do jogo, do brincar, e que é possível brincar com a imaginação. Mas é verdade, também, que sem brinquedo é muito mais difícil realizar a atividade lúdica, porque é ele que permite simular situações (...) Se criança gosta de brincar, gosta também de brinquedo. Porque as duas coisas estão intrinsecamente ligadas.(DIDONET, 2003:54)

Didonet (2003) salienta que é necessário passar as informações e conhecimentos sobre a

importância do brinquedo para a criança e o significado para o seu desenvolvimento afetivo, social,

cognitivo e físico.

Para Winnicott (1975) apud Outeiral (1998), a brincadeira é universal e própria da saúde: o

brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde. O brincar conduz aos relacionamentos grupais,

podendo ser uma forma de comunicação na psicoterapia. Portanto, a brincadeira traz a oportunidade

para o exercício da simbolização e é também uma característica humana.

Page 51: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

Conforme Outeiral (1998), o trabalho de Winnicott (1942), "Por que brincam as crianças?",

apresenta algumas motivações da atividade lúdica: para buscar prazer, para expressar agressão,

para controlar a ansiedade, para estabelecer contatos sociais, para realizar a integração da

personalidade e, por fim, para comunicar-se com as pessoas. Sua contribuição mais original ao tema,

entretanto, é o desenvolvimento dos aspectos dos objetos transicionais e fenômenos transicionais,

para descrever a experiência de viver em uma área de transição da experiência, isto é, transição com

respeito à realidade interna e externa.Embasando-se nas pesquisas feitas, entende-se que a criança

constrói seu conhecimento através do ato de brincar. Através do jogo ela adquire confiança na sua

capacidade de encontrar soluções para os problemas de seu dia-a-dia, chegando a conclusões

pessoais com autonomia.

Através das brincadeiras e do ato de brincar a criança se comunica com o mundo, pois

verbaliza seus pensamentos e cria novos canais de comunicação, pois a linguagem cultural da

criança é o lúdico. O brincar será o instrumento usado pela criança para comunicar-se e para tronar-

se agente transformador de sua realidade, colaborando de maneira integral para seu

desenvolvimento.

Conclusão

O desenvolvimento e a aprendizagem da criança estão presentes através da

interação com o meio físico e social, no seu cotidiano, observando, experimentando,

imitando e recebendo instruções de pessoas que atuarão junto à ela. A criança

aprende a fazer perguntas e a obter respostas, que satisfaçam suas necessidades.

A atividade lúdica deve ser vista com muita seriedade, pois brincando a criança

vive experiências, aprende a cultura do local em que vive através dos conceitos,

valores, idéias e objetos concretos, utilizados por ela e desenvolve os conceitos

sobre o mundo e tudo o que o cerca.

É função da escola estimular experiências que devem ser vivenciadas em um

espaço socializado, onde a criança seja vista como um ser único, cheio de emoções

e de energia, que necessitam ser extravasadas, socializadas, experimentadas para

Page 52: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

que se tornem realmente significativas, tanto para ela quanto para a pessoa que

mediará a ação.

Repensar o conteúdo e a prática pedagógica, nas escolas, trocando a rigidez e

a passividade pela vida, pela alegria, pelo entusiasmo de aprender, por uma nova

maneira de ver, pensar, compreender e reconstruir o conhecimento é de extrema

importância.

Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras fazem parte do ato de educar, por

isso devem tornar-se um compromisso consciente, intencional e modificador da

sociedade.

A escola é um espaço social privilegiado de construção do conhecimento.

Portanto, é necessário ao psicopedagogo ajudar esta instituição a entender melhor

as crianças e suas necessidades, fazendo-as crescer na área cognitiva, pois sem

crescimento no relacionamento dele com os outros e consigo mesmo, não é possível

uma aprendizagem que seja realmente significativa.

Ao nos depararmos com quadros de crianças com distúrbios do processamento

auditivo, surge a preocupação de que os professores podem contribuir para que

essa criança, mesmo diante de suas dificuldades possa aprender, através de jogos e

brincadeiras.

Ao considerarmos que o papel da escola é o de desenvolver o potencial de

cada um, respeitando as características individuais do aluno e sempre procurando

reforçar os pontos fracos e auxiliando na superação dos pontos fracos, evitando

dessa forma que as dificuldades que as crianças possuem não sejam estes motivos

para exclusão no processo de aprendizagem, estaremos ajudando esta instituição a

formar alunos sadios, que não possam ser rotulados ou discriminados.

A família não pode ser deixada de lado neste momento, pois através dela a

troca de experiências é essencial. Integração entre escola e a família é importante

para se conhecer a criança de maneira integral.

Trabalhar com crianças com dificuldades do processamento auditivo é buscar

constantemente o prazer de encontrar, nas diversas oportunidades de interação e de

vínculo, a explicação científica para o entendimento de nossa prática profissional,

Page 53: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

principalmente quando é colocada a importância da construção de um “eu” que

precisa ter sua auto-estima elevada para a aprendizagem e construtor de seu

conhecimento e de sua própria história.

Faz-se necessário a todos os profissionais, buscar conhecer mais, a

importância que o brincar tem na vida de crianças que, passam ou passaram por

momentos difíceis, emocionais, intelectuais, sociais e até mesmo culturais.

Brincando ou jogando podemos desfrutar de momentos de descontração, onde o

que nos oprime pode ser colocado para fora e até mesmo pode ser jogado no lixo,

que é onde todo tipo de preconceito deve ser colocado.

Referências Bibliográficas

ALVAREZ, A. M. B. M. A., CAETANO,A. L., NASTAS,S. S. Processamento Auditivo

Central: Avaliação e Diagnóstico. São Paulo: Fono Atual, 1ª Ed., p. 34-36, 2000.

ASHA - AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION. Central

Auditory Processing: Current Status of Research and impplications for Clinical

Practice. A Report from ASHA Task Force on Central Auditory P rocessing .

Rockville, USA, 1995.

ANTONIUK, Sérgio A. Dificuldades na Aprendizagem, UFPR, 2003.

ANTUNES, Celso. Jogos para a Estimulação das Múltiplas inteligências. Petrópolis:

Vozes, 1998.

Page 54: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

______________. Alfabetização Emocional: Novas Estratégias. Petrópolis: Vozes,

1999.

______________. Como Desenvolver Conteúdos Explorando as Inteligências

Múltiplas. Fascículo 3 , Petrópolis: Vozes, 2001.

AZEVEDO, Marisa Frasson de e Colaboradores. Desenvolvimento Auditivo de

Crianças Normais e de Alto Risco, São Paulo: Plexus Editora,1995.

BELLIS, T. J; FERRE, J. When The Brain Can’t Hear: Unraveling The Mistery Auditory Processing

Disorder. New York: Atria Books, 2002.

BONILLA, Maria Helena Silveira. Escola Aprendente: Desafios e Possibilidades Postos no Contexto

da Sociedade do Conhecimento. Bahia: Editora UEFBa 2002, 304 p.

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

BROUGERE, Gilles. Jogo e Educação. Porto Alegre. Artes Médicas, 1990.

CDC (Centers for Disease Control and Prevention) - EPI INFO 2000, versão 3.2.2 –

Epidemiology Program Office – Division of public Health Surveillance and

Informatics. 2004. Disponível em: http://www.cdc.org.br/epiinfo. Acesso em 07/2009.

DECS – Descritores de Ciência da Saúde da BIREME. Disponível em:

http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver. Acesso em 01/2010

DIDONET, Vital. A Importância da Educação nos Primeiros Anos de Vida. Brasília:

UNESCO, 2003.

FERNANDEZ, A. A Inteligência Aprisionada: Abordagem Psicopedagógica Clínica da

Criança e de sua Família. Porto Alegre, Artes Médicas, 1991.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

FONSECA, V. Educação Especial - Programa de Simulação Precoce: Uma Introdução às Idéias de

Feuerstein, Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

FREUD, Sigmund. Escritores Criativos e Devaneio in Obra Completa, op.cit. vol. XIX,

in. O poeta e a Fantasia, 1907.

Page 55: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

FROEBEL, Friedrich. Letters to a Mother on the Philosophy of Froebel. Harris, W.T.

(ed.) New York/London. D. Appleton and Company. 1912.

GARDNER, H.; KORVHABER, M. L; WAKE, W. K. Inteligências: Múltiplas

Perspectivas Porto Alegre: Artmed, 1998.

GOMES, Cristiano M.A. Feuerstein e a Construção Mediada do Conhecimento. Porto

Alegre: Artmed, 2002.

GOMES, Nilma Lino. Educação Cidadã, Etnia e Raça: O Trato Pedagógico da Diversidade (2001). In:

CAVALLEIRO, Eliane (Org). Racismo e Anti-racismo na Educação : Repensando Nossas Escolas .

São Paulo: Summus, 2001.

GOMES, Nilma Lino (Org). Um Olhar Além das Fronteiras: Educação e Relações Raciais. Belo

Horizonte: Autêntica, 2007.

JARDIM, W. R. de S. Dificuldades de Aprendizagem no Ensino Fundamental: Manual de identificação

e Intervenção, São Paulo: Edições Loyola, 2001.

KHALFA, S et al. Hyperacusis Assessment: Relationships With Tinnitus.

Proceedings of VI International Tinnitus Seminar . Ed. Cambridge, p.128-32,

1999.

KONDER, Leandro. O que é Dialética? São Paulo: Brasiliense, 1997.

KOOGAN, A.; ROUAISS, A. (Ed.) Enciclopédia e Dicionário Digital 98. Direção geral

de André Koogan Breikman. São Paulo: Delta: Estadão, 1998. (CD-ROM. Produzido

por Videolar Multimídia).

LAROUSSE, K. Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse. Rio de Janeiro: Larousse, 1982.

LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI No. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

D.O.U. de 23 de dezembro de 1996.

LOURO, G. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma Perspectiva Pós-Estruturalista.

Petrópolis: Ed. Vozes, 2003.

LURIA, A. R. Pensamento e Linguagem. in As últimas conferências de Luria .

Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

Page 56: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

MACEDO, Lino de. A Importância dos Jogos de Regras para a Construção do Conhecimento na

Escola. Universidade de São Paulo/Instituto de Psicologia/Laboratório de Psicopedagogia, 1999.

MATURANO, E. M. Ambiente Familiar e Aprendizagem Escolar. In: Revista

Psicopedagogia. nº 18, 1999, p. 21-26.

MERY, Janine. Pedagogia Curativa, Escolar e Psicanálise. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1985.

MUSIEK, F. E; LAMB, L. Avaliação Auditiva Central: Uma Visão Central In: KATZ, J.

Tratado de audiologia clínica . São Paulo: Manole, p. 195-209, 2005.

OUTEIRAL, José et al. Winnicott: Seminários Paulistas. São Paulo: Casa do

Psicólogo, 1998.

PAÍN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Artes Médicas,

Porto Alegre, 1992.

PARRA, V. M; IORIO, M. C; MIZAHI, M. M; BARALDI, G. S. Testes de padrão de

freqüência e de duração em idosos com sensibilidade auditiva normal. Revista

Brasileira de Ortorrinolaringologia , São Paulo, v. 70, n. 4, p. 517-523, jul.ago.

2004.

PEREIRA, L. D. Processamento auditivo. Temas sobre Desenvolvimento , v. 2, n.

11, p. 17-26, 1993.

_____________. Identificação das desordens do processamento auditivo central

através de observação comportamental: organização de procedimentos

padronizados In: SCHOCHAT, E. Processamento auditivo: atualidades em

fonoaudiologia . São Paulo: Lovise, p. 43-56, 1996.

_____________. Processamento auditivo central: abordagem passo a passo In:

PEREIRA, L. D; SCHOCHAT, E. Processamento auditivo central : manual de

avaliação. São Paulo: Lovise, p. 49-59,1997.

PEREIRA, L. D; SCHOCHAT, E. Processamento Auditivo Central: manual de

avaliação. São Paulo: Lovise, p. 27-36, 1997.

Page 57: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

PHILLIPS, D.P. Central Auditory Processing: a View from Auditory Neuroscience

(1995) in FROTA, S. Fundamentos em Fonoaudiologia . Rio de Janeiro:

Guanabara, 1995.

PHILLIPS, D. P. Central Auditory Processing: a View from Auditory Neuroscience. in

The American Journal of Otology , v.16, n. 3, p. 338-352, May 1995.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. 4ª Ed Rio de Janeiro : Forense Universitária,

1979.

____________. Seis Estudos de Psicologia. 20ª edição. Rio de Janeiro : Sprint,1998.

POLITY, E. Dificuldade de Aprendizagem e Família: Construindo Novas Narrativas.

São Paulo: Ed. Vetor, 2001.

PUGLISI, M.L.; FRANCO, B. Análise de Conteúdo. 2ª edição. Brasília: Líber Livro,

2005.

REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO INFANTIL - Brincar. Versão -

Preliminar – Brasília: DF - dezembro/1998.

ROTTA, N. T. Dificuldades Para a Aprendizagem. IN: ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L; RIESGO, R. S.

Transtornos da Aprendizagem : Aspectos Neurobiológi cos e Multidisciplinares. Porto Alegre:

Artmed, p.113-123, 2006.

SCHWARTZMAN, J.S. A Criança com Dificuldades na Escola, Temas sobre

Desenvolvimento,7:19-25,1992

SMITH, Corinne e STRICK, Lisa. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z. Porto

Alegre: Artmed, 2001.

SOUZA, A. Pensando a Inibição Intelectual: Perspectiva Psicanalítica e Proposta

Diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.

SOUZA, V. M. C. Avaliação Comportamental das Habilidades Auditivas Centrais

(2001) In: AQUINO, A. M. C. M. Processamento auditivo: Eletrofisiologia &

psicoacústica . São Paulo: Lovise, 2002.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Page 58: CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE …crda.com.br/tccdoc/82.pdf · processamento auditivo, deve-se ter a preocupação em quê e como se pode ajudar esse aluno, pois

WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.

WINNICOTT, D.W . O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

_______________. A Criança e seu Mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.