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Rita Isabel Caldeira Monteiro de Sousa Cuidados Farmacêuticos no Doente Oncológico Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto, 2010

cuidados do farma no paciente oncologico.pdf

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  • Rita Isabel Caldeira Monteiro de Sousa

    Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2010

  • Rita Isabel Caldeira Monteiro de Sousa

    Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2010

  • Rita Isabel Caldeira Monteiro de Sousa

    Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    Monografia apresentada Universidade Fernando

    Pessoa como parte dos requisitos para obteno do

    grau de Licenciatura em Cincias Farmacuticas.

    ________________________________

    Orientadora:

    Professora Doutora Carla Martins Lopes

    Porto, 2010

  • Resumo

    Cada vez mais, o profissional farmacutico centrado no uso racional dos frmacos tende

    a expandir-se para os servios orientados para o doente. Esta mudana importante de

    modo a optimizar a terapia medicamentosa individual. O desenvolvimento de um plano

    de cuidados para cada indivduo uma componente chave no conceito de cuidados

    farmacuticos. O cancro uma doena que requer tratamento a longo prazo e

    monitorizao intensa. O cuidado farmacutico visa melhorar a segurana e resultados

    teraputicos e, consequentemente, a qualidade de vida do doente. Estes objectivos

    implicam uma estreita relao com o cuidado de suporte. Para isso, uma abordagem

    multidisciplinar, incluindo os cuidados farmacuticos, parece ser a mais benfica.

    Abstract

    Increasingly, the pharmacist focused on the rational use of the drugs tends to expand

    into services oriented for the patient. This change is important in order to optimize

    individual drug therapy. The development of a care plan for each individual is a key

    component in the concept of pharmaceutical care. Cancer is a disease that requires long

    term treatment and intensive monitoring. The pharmaceutical care aims to improve

    safety and therapeutic outcomes and consequently, the patients quality of life. These

    objectives imply a close relationship to supportive care. To achieve this, a

    multidisciplinary, including pharmaceutical care, approach seems to be beneficial.

  • Agradecimentos

    No posso deixar de expressar o meu agradecimento a todos os que contriburam para a

    minha formao

    Em primeiro lugar, um muito obrigado Universidade Fernando Pessoa por todo o

    apoio prestado e aos meus professores pelos conhecimentos transmitidos.

    Professora Doutora Carla Martins Lopes, pela disponibilidade, dedicao e valiosas

    contribuies no decorrer deste trabalho monogrfico, pelo seu carinho e pela forma

    como sempre me motivou.

    Aos meus pais, pelo apoio incondicional, amor e compreenso, que sempre me deram

    ao longo destes anos.

    A todos os meus amigos, que sempre me apoiaram, em especial Andreina e ao Nuno.

    A todos o meu reconhecido agradecimento!

  • There is no future in the mere act of dispensing

  • ndice

    Introduo ....................................................................................................................... 12

    Captulo I Cuidados Farmacuticos e Papel do Farmacutico .................................... 14

    Captulo II Seguimento Farmacoteraputico ............................................................... 17

    1. Modelos de Cuidados Farmacuticos .................................................................. 19

    1.1. Modelo de Minnesota ................................................................................... 20

    1.2. Mtodo Dder ............................................................................................... 22

    Captulo III Farmacocintica Clnica .......................................................................... 28

    Captulo IV O Doente Oncolgico .............................................................................. 32

    1. Diagnstico .......................................................................................................... 33

    2. Tratamento ........................................................................................................... 33

    3. Farmacologia dos Agentes Quimioterpicos ....................................................... 34

    3.1. Agentes alquilantes ...................................................................................... 35

    3.2. Agentes antimetablitos ............................................................................... 35

    3.3. Alcalides ..................................................................................................... 36

    3.4. Antibiticos .................................................................................................. 36

    3.5. Agentes hormonais ....................................................................................... 36

    4. Protocolo de Acompanhamento Pr-Quimioterapia ............................................ 37

    5. Quimioterapia ...................................................................................................... 38

    6. Procedimentos Recomendados para Prevenir e Tratar Reaces Anafilticas e de Hipersensibilidade ...................................................................................................... 38

    7. Gerenciamento dos Efeitos Colaterais Induzidos por Quimioterpicos .............. 39

    7.1. Efeitos gastrintestinais ................................................................................. 40

    7.2. Efeitos hematolgicos adversos ................................................................... 45

    7.3. Reaces cutneas ........................................................................................ 47

    7.4. Fadiga ........................................................................................................... 50

    7.5. Cistite hemorrgica ...................................................................................... 50

    7.6. Disfunes sexuais e reprodutivas ............................................................... 51

    8. Dose de citostticos em caso de compromisso de funo renal .......................... 52

    9. Dose de citostticos em caso de compromisso de funo heptica ..................... 52

    10. Princpios da Quimioterapia Combinada ......................................................... 53

    11. Dor oncolgica ................................................................................................. 53

    12. Cuidados Paliativos .......................................................................................... 56

  • Concluso ....................................................................................................................... 58

    Referncias bibliogrficas .............................................................................................. 60

    Anexos ............................................................................................................................ 62

  • ndice de tabelas

    Tabela 1 Classificao de Problemas Farmacoteraputicos (PFT) segundo o Modelo

    de Minnesota .......... 21

    Tabela 2 Classificao de Problemas Relacionados com Medicamentos (PRM)

    segundo o Mtodo Dder ... 23

  • Lista de abreviaturas

    ADN - cido desoxirribonucleico

    AHCPR Agency for Health Care Policy and Research

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PFT- Problemas Farmacoteraputicos

    PRM Problema relacionado com os medicamentos

    PWDT Pharmacist Workup of Drug Therapy

    RAM Reaces adversas a medicamentos

    SEFH Sociedad Espaola de Farmacia Hospitalaria

    SFT Seguimento Farmacoteraputico

    UFC Unidade Farmacocintica Clnica

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    12

    Introduo

    Nas ltimas quatro dcadas tem-se verificado, na prtica de farmcia, uma tendncia

    para o farmacutico se afastar do seu foco original de fornecimento de medicamentos

    para um foco mais abrangente relacionado com o atendimento ao doente.

    O papel do farmacutico tem evoludo a partir do fabrico e fornecimento de produtos

    farmacuticos no sentido de prestar servios e informaes, e finalmente prestar

    cuidados aos doentes.

    Cada vez mais, a tarefa do farmacutico garantir que a terapia medicamentosa do

    doente est devidamente indicada e que a mais eficaz, segura e conveniente para o

    doente.

    Segundo esta nova perspectiva, os farmacuticos devem possuir os conhecimentos e as

    habilidades necessrias para assumir as suas novas funes e responsabilidades e para

    funcionar como membros de colaborao da equipa de sade.

    Um servio de cuidados inicial de qualidade, bem estruturado e orientado para o doente

    oncolgico, deve ser realizado pelo farmacutico responsvel, imediatamente antes ou

    durante o primeiro ciclo de quimioterapia. Os servios ao doente devem consistir no

    aconselhamento e superviso do seu tratamento, sob o ponto de vista farmacutico.

    O contedo do aconselhamento ao doente oncolgico deve abranger os efeitos dos

    citostticos e da teraputica de suporte utilizada, localizao dos efeitos, tcnicas de

    administrao, efeitos adversos relevantes e interaces medicamentosas. Tambm

    importante discutir com o doente como gerir os efeitos adversos e como podem ser

    evitados. Os servios farmacuticos devem estar presentes continuadamente durante

    todos os ciclos teraputicos, e complementar os cuidados mdicos.

    O desenvolvimento de um plano de cuidados uma componente chave no conceito de

    cuidados farmacuticos. O plano permite disponibilizar ao doente um cuidado contnuo

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    13

    e de alta qualidade por qualquer perodo de tempo. O plano de cuidados consiste, ento,

    em resolver qualquer problema de terapia medicamentosa, conseguir com sucesso

    atingir os objectivos teraputicos e prevenir qualquer potencial problema da terapia

    medicamentosa. Para cada indivduo, o farmacutico desenvolve um plano de cuidados

    juntamente com o doente.

    Os servios farmacuticos e a participao no cuidado centrado no doente tm sido

    associados a uma melhoria da sade e dos resultados econmicos, a uma reduo dos

    efeitos adversos, melhoria da qualidade de vida e reduo da morbilidade e mortalidade.

    Este trabalho descreve os novos papis, habilidades e atitudes que os farmacuticos

    precisam de dominar a nvel geral e, em particular, a nvel oncolgico, para que possam

    tornar-se membros das equipas de atendimento multidisciplinar de sade, bem como as

    vantagens que podem oferecer atravs da sua contribuio profissional.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    14

    Captulo I Cuidados Farmacuticos e Papel do Farmacutico

    Os cuidados farmacuticos compreendem atitudes, valores ticos, comportamentos,

    habilidades, compromissos e co-responsabilidades na preveno de doenas e na

    promoo e recuperao da sade (Bisson, 2007). Tm como objectivos principais a

    sade e o bem-estar dos doentes. Estes dois objectivos so prioridades para que a

    ateno farmacutica seja directamente voltada para o doente.

    Apesar de vrias aluses anteriores a esta prtica farmacutica, o termo Pharmaceutical

    Care foi utilizado pela primeira vez na literatura cientfica, em 1990, por Hepler e

    Strand, tendo sido traduzido para cuidados farmacuticos ou ateno farmacutica.

    Nesse artigo, foi sugerido que "Ateno Farmacutica a proviso responsvel do

    tratamento farmacolgico com o objectivo de alcanar resultados satisfatrios na

    sade, melhorando a qualidade de vida do doente". Em 1994, na reunio de peritos da

    Organizao Mundial de Sade (OMS), realizada em Tquio, o conceito de cuidados

    farmacuticos foi discutido, aceito e ampliado, tendo sido definido o papel chave do

    farmacutico: "estender o carcter de beneficirio dos Cuidados Farmacuticos ao

    pblico, no seu conjunto e reconhecer, deste modo, o farmacutico como dispensador

    da ateno sanitria que pode participar, activamente, na preveno das doenas e da

    promoo da sade, em conjunto com outros membros da equipa sanitria" (OMS,

    1994).

    O cuidado farmacutico no envolve apenas a terapia medicamentosa, mas tambm

    envolve decises sobre o uso adequado de medicamentos para cada doente como por

    exemplo a seleco da dose e via de administrao, bem como envolve a monitorizao

    teraputica e o aconselhamento do doente.

    A misso principal do farmacutico prover a ateno farmacutica, que a proviso

    responsvel de cuidados relacionados com os medicamentos, com o propsito de

    conseguir resultados concretos em resposta teraputica prescrita, que melhorem a

    qualidade de vida dos doentes (Bisson, 2007).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    15

    Os cuidados farmacuticos tm portanto como finalidade melhorar a qualidade de vida

    dos doentes, que pode ser traduzida pela cura da doena, pela eliminao ou reduo de

    uma sintomatologia, pelo controlo ou diminuio do progresso de uma doena ou pela

    preveno de uma doena ou de uma sintomatologia (Rovers e Currie, 2007).

    Para isso, necessrio identificar, resolver e/ou prevenir potenciais e actuais problemas

    relacionados com os medicamentos (Tulip et al., 2001).

    Um problema relacionado com os medicamentos (PRM) um problema de sade

    relacionado ou suspeito de estar relacionado com a farmacoterapia e que interfere nos

    resultados teraputicos e na qualidade de vida do usurio (cit in Bisson, 2007).

    Os PRMs mais comuns resultam de situaes diversas, como por exemplo, indicaes

    de medicamentos sem tratamento, seleco inadequada do medicamento, dosagem

    subteraputica, sobredosagem, reaces adversas a medicamentos (RAM) e interaces

    medicamentosas (Rovers e Currie, 2007).

    Neste sentido, os farmacuticos devem reconhecer a necessidade de melhorar a

    segurana e a efectividade da farmacoterapia. So profissionais de sade que podem

    melhorar a qualidade da terapia medicamentosa atravs de estruturas organizadas que

    garantam o acompanhamento do uso racional de medicamentos e avaliando

    regularmente a sua performance.

    A actividade do farmacutico permite, assim, contribuir para aumentar a adeso do

    doente aos regimes farmacoteraputicos, diminuir os custos nos sistemas de sade ao

    monitorizar as RAM e as interaces medicamentosas, e melhorar a qualidade de vida

    dos doentes (Liekweg et al., 2003).

    Para que sejam atingidos os objectivos propostos muito importante a existncia de

    uma relao doente-farmacutico baseada na confiana, comunicao aberta,

    cooperao e numa mtua deciso; necessrio que haja um plano de consentimento

    por parte do doente para a realizao do processo de acompanhamento

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    16

    farmacoteraputico e educao. Todas as informaes obtidas so providas de sigilo e o

    farmacutico deve proporcionar uma tranquilidade relativa ao doente para que ele d

    todo o tipo de dados que possam ser importantes durante o tratamento farmacolgico

    (Rovers e Currie, 2007).

    Muitas vezes, o farmacutico tem diversas tarefas burocrticas que o afastam do doente.

    Tal situao verifica-se principalmente em ambiente hospitalar, onde o farmacutico

    exerce cargos de gerncia e responsvel por diversas actividades. Nestas

    circunstncias, deve-se contratar outros farmacuticos para trabalharem na rea da

    ateno farmacutica, com conhecimentos e habilidades necessrios para fornecer essa

    ateno/cuidado (Wiedenmayer et al., 2006).

    O farmacutico deve olhar para o doente como foco da sua actividade profissional. Para

    isso, este profissional de sade deve ter conhecimentos de doenas, de farmacoterapia,

    de terapia no-medicamentosa, de anlises clnicas, e deve possuir habilidades no que

    concerne monitorizao de doentes, na avaliao fsica, na informao sobre

    medicamentos e no planeamento teraputico (Cipolle et al., 2004).

    O principal alvo dos cuidados farmacuticos o doente. Os cuidados farmacuticos so

    prestados pelos farmacuticos em doentes internados, ambulatrios, tratados na

    residncia e atendidos na farmcia de comunitria.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    17

    Captulo II Seguimento Farmacoteraputico

    O processo de seguimento farmacoteraputico (SFT) de um doente a principal

    actividade dos cuidados farmacuticos, procurando obter resultados teraputicos

    desejados por meio da resoluo de eventuais problemas farmacoteraputicos.

    um processo que, como o prprio nome indica, consiste no acompanhamento do

    doente. O farmacutico responsabiliza-se pelas necessidades do doente relacionadas

    com o medicamento, por meio da deteco, preveno e resoluo de PRMs de forma

    sistemtica, contnua e documentada, com o objectivo de alcanar resultados

    definitivos, buscando a melhoria da qualidade de vida do doente (Cipolle et al., 2004).

    O farmacutico que promove os cuidados no acompanhamento dos doentes submetidos

    farmacoterapia dever possuir as habilidades e os conhecimentos necessrios.

    Este processo de SFT envolve documentao, consultas de retorno nos casos de doente

    em regime ambulatrio e vnculo profissional farmacutico-doente, que s se consegue

    com confiana mtua.

    composto por 3 fases principais: anamnese farmacutica, interpretao de dados e

    processo de orientao (Bisson, 2007).

    O incio do processo envolve a apresentao do farmacutico e os motivos de

    acompanhamento. A anamnese compreende toda a informao obtida relativamente ao

    princpio e evoluo de uma doena at primeira observao do mdico. Esta fase

    pretende no s identificar os sintomas que tm significado clnico, mas tambm

    detalhes importantes sobre os hbitos de vida do doente.

    Na anamnese, o ideal seria que o doente prestasse informaes completas, de modo

    claro, coerente e conciso, sobre a totalidade dos factos da vida que tenham interesse

    farmacutico. Relativamente aos sintomas, o doente deveria descrever todos,

    abrangendo de modo completo as suas caractersticas, inclusive a ordem cronolgica

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    18

    com que se instalaram, as modificaes evolutivas que sofreram, espontaneamente ou

    sob a influncia de determinados factores (teraputicos ou no).

    essencial que o doente compreenda que a anamnese no tem o propsito de

    diagnstico mdico, mas sim de traar um histrico de uso de medicamentos para

    garantir a segurana e o aumento da eficcia dos tratamentos farmacolgicos.

    Aps a fase da anamnese, segue a fase de interpretao dos dados recolhidos,

    representada pelo planeamento farmacoteraputico, que o centro do processo da

    tomada de deciso. Um planeamento farmacoteraputico eficaz facilita a seleco mais

    apropriada do medicamento correcto e a sua dosagem e posologia, estruturando a

    monitorizao do doente em relao resposta da terapia.

    Para obter informaes importantes, no doente internado recorre-se ao pronturio

    mdico, que contm: dados do doente, formulrio de consentimento, prescrio mdica,

    diversos controlos (e.g. temperatura, presso arterial, diurese), dados laboratoriais,

    procedimentos diagnsticos, consultas e inter-consultas, histria clnica e exames

    fsicos, registo da administrao de medicamentos, entre outros (Bisson, 2007).

    Para o doente da farmcia comunitria ou em regime ambulatrio, o farmacutico

    dever obter as informaes necessrias atravs da anamnese, traando um histrico do

    uso de medicamentos. Na posse das informaes necessrias, o farmacutico dever

    interpret-las, para posteriormente proceder ao processo de orientao farmacutica. Na

    farmcia comunitria, no acto da dispensa de medicamentos, o farmacutico o ltimo

    profissional de sade (e, no caso dos medicamentos no sujeitos a prescrio mdica o

    nico profissional de sade) que est em contacto com o doente antes de ele decidir

    consumir medicamentos, da a sua responsabilidade tica e profissional (Bisson, 2007).

    O acompanhamento do doente e o preenchimento da ficha do perfil farmacoteraputico

    permitem relacionar possveis problemas que possam surgir com a administrao dos

    medicamentos. Um medicamento pode ser responsvel pelo aparecimento de

    determinados sintomas ou patologias, ou ainda ser a causa do agravamento da doena.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    19

    Neste sentido, a anlise do perfil farmacoteraputico importante na medida em que

    poder permitir ao farmacutico advertir eventuais problemas.

    Para alm disso, o farmacutico deve recolher dados para documentar as RAM e as

    interaces medicamentosas, que podem ser a causa da hospitalizao de alguns

    doentes.

    Normalmente, os farmacuticos no tm tempo e oportunidade de entrevistar e fazer o

    seguimento farmacoteraputico de todos os doentes que vo farmcia ou passam pelo

    ambulatrio. comum que o farmacutico, numa rpida verificao dos medicamentos

    consumidos pelo doente e numa conversa breve, dimensione as necessidades de

    acompanhamento do mesmo. Este procedimento permite fazer uma seleco inicial dos

    doentes que possam exigir um acompanhamento mais minucioso.

    1. Modelos de Cuidados Farmacuticos

    Os modelos de ateno farmacutica mais utilizados por investigadores e farmacuticos

    no mundo so o espanhol (Mtodo Dder) e o americano (Modelo de Minnesota). Entre

    estes dois modelos existem diferenas, principalmente na classificao dos problemas

    farmacoteraputicos (Pereira e Freitas, 2008).

    A diferena principal na classificao dos problemas farmacoteraputicos baseia-se na

    adeso ao tratamento. No Mtodo Dder a no adeso ao tratamento uma causa dos

    PRM, enquanto para o modelo de Minnesota, a no adeso torna-se um problema

    farmacoteraputico.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    20

    1.1. Modelo de Minnesota

    Em 1988, Strand, Morley e Cipolle apresentaram um mtodo chamado PWDT -

    Pharmacist Workup of Drug Therapy (Anlise da Farmacoterapia pelo Farmacutico).

    Aps algumas modificaes, o mtodo actualmente denominado Pharmacotherapy

    Workup e tambm conhecido por Modelo de Minnesota (Correr, C.,

    http://www.ceunes.ufes.br/downloads/2/anamelchiors-m%C3%A9todos%20cl%C3%

    ADnicso%20aten%C3%A7%C3%A3o%20farmac%C3%AAutica.pdf).

    O Modelo de Minnesota consiste no raciocnio clnico desenvolvido pelo profissional na

    identificao das necessidades e problemas farmacoteraputicos do doente, enquanto o

    processo de ateno consiste nas etapas percebidas pelo doente enquanto ele recebe

    ateno farmacutica. Este processo tem por base o relacionamento entre farmacutico e

    doente e divide-se em: (i) avaliao, (ii) desenvolvimento de um plano de cuidado e (iii)

    o acompanhamento da evoluo do doente.

    Na primeira fase, o farmacutico por meio de uma entrevista clnica recolhe

    informaes e avalia de modo global o doente a fim de certificar que cada agente

    teraputico em questo est apropriadamente indicado, o mais efectivo e seguro

    possvel e se a adeso do doente ao tratamento adequada. Durante a entrevista so

    recolhidas informaes sobre todos os medicamentos em uso, problemas de sade,

    histrico de vacinaes, hbitos de vida e dados clnicos e demogrficos. A abordagem

    sobre os medicamentos faz-se de forma sistemtica de acordo com as necessidades

    relacionadas aos medicamentos percebidas pelos doentes. Estas necessidades nascem da

    experincia com a medicao vivida por cada doente. Realiza-se tambm uma reviso

    por sistemas e rgos a fim de obter informaes complementares. Esta fase registada

    num pronturio especfico composto por cinco pginas.

    A identificao dos problemas farmacoteraputicos e as suas causas so feitas com base

    numa avaliao sistemtica da necessidade, da efectividade, da segurana e da adeso

    do doente teraputica, nessa ordem (Strand et al., 2004). Efectividade e segurana so

    entendidas como dimenses dos resultados obtidos pela farmacoterapia. A adeso do

    doente s deve ser considerada aps essa anlise.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    21

    O Modelo de Minnesota utiliza o termo Problemas Farmacoteraputicos (PFT),

    definindo-o como qualquer evento indesejvel que apresente o doente, que envolva ou

    suspeita-se que envolva a farmacoterapia e que interfere de maneira real ou

    potencialmente na evoluo desejada do doente (Cipolle et al., 2000). Segundo este

    modelo, os problemas farmacoteraputicos so sete (Tabela 1):

    Tabela 1 - Classificao de Problemas Farmacoteraputicos (PFT) segundo o Modelo de Minnesota

    (Strand et al., 2004).

    Necessidade

    PFT 1 Necessita de tratamento farmacolgico adicional

    PFT 2 Tratamento farmacolgico desnecessrio

    Efectividade

    PFT 3 Medicamento inadequado

    PFT 4 Dose do medicamento inferior necessitada

    Segurana

    PFT 5 Dose do medicamento superior necessitada

    PFT 6 Reaco Adversa aos Medicamentos

    Adeso

    PFT 7 Aderncia inapropriada ao tratamento farmacolgico

    Concluda a fase de avaliao, tida como a que consome mais tempo, o farmacutico

    elabora um plano de cuidado com a finalidade de resolver cada um dos problemas

    encontrados, promover o alcance das metas teraputicas e prevenir novos PFTs.

    formulado um plano de cuidado para cada tratamento em curso, havendo ou no PFT, e

    cada plano registado num formulrio prprio. Em seguida, necessrio monitorizar a

    evoluo do doente a fim de observar se as metas do plano de cuidado foram atingidas

    ou se novos problemas possam ter surgido. O acompanhamento de cada problema de

    sade registado num outro formulrio.

    Assim, do ponto de vista do registo, o pronturio de um doente atendido sob este

    mtodo constar de um formulrio de avaliao inicial e tantos formulrios de plano de

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    22

    cuidado e monitorizao quantos forem os problemas de sade presentes ou tratamentos

    em curso.

    1.2. Mtodo Dder

    O Mtodo Dder um modelo de SFT. um instrumento de avaliao de

    farmacoterapia disponvel para os farmacuticos que pretendem efectuar SFT dos seus

    doentes tendo em vista a obteno do mximo benefcio, em termos de efectividade e

    segurana, da teraputica.

    Em Espanha utiliza-se o SFT personalizado, que uma prtica profissional em que o

    farmacutico se responsabiliza pelas necessidades do doente relacionadas com os

    medicamentos. Esta prtica realiza-se mediante a deteco, preveno e resoluo de

    PRM. Esta actividade farmacutica implica um compromisso e deve ser realizada de

    forma continuada, sistematizada e documentada, em colaborao com o prprio doente

    e os restantes profissionais de sade, com a finalidade de alcanar resultados concretos

    que melhorem a qualidade de vida do doente (Machuca et al., 2005).

    O Mtodo Dder de SFT foi desenvolvido pelo Grupo de Investigacin en Atencin

    Farmacutica de la Universidad de Granada, no ano de 1999, e actualmente utilizado

    em vrios pases, incluindo Portugal, por centenas de farmacuticos comunitrios e

    hospitalares (Machuca et al., 2005).

    O SFT representa um campo de interveno farmacutica em que o profissional pode

    colaborar de modo efectivo para aprimorar a qualidade de vida dos doentes, reduzindo a

    morbidade/mortalidade associada aos medicamentos e, no caso de doentes internados, o

    tempo e o custo de internao.

    Os PRMs so todos os problemas de sade que sucedem (PMR manifesto) ou

    provvel que sucedam (PRM no manifesto) no doente, entendidos como resultados

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    23

    clnicos negativos, devidos da farmacoterapia que, provocados por diversas causas,

    conduzem ao no alcance do objectivo teraputico ou ao aparecimento de efeitos no

    desejados (cit in Machuca et al., 2005).

    O Consenso de Granada estabelece uma classificao de PRM em seis categorias, que

    por sua vez, se agrupam em trs supra categorias (Tabela 2):

    Tabela 2 - Classificao de Problemas Relacionados com Medicamentos (PRM) segundo o Mtodo Dder

    (Grupo de Investigacin en Atencin Farmacutica Universidad de Granada, 2004).

    Necessidade

    PRM 1 o doente tem um problema de sade por no utilizar a medicao que

    necessita

    PRM 2 o doente tem um problema de sade por utilizar um medicamento que no

    necessita

    Efectividade

    PRM 3 o doente tem um problema de sade por uma inefectividade no quantitativa

    da medicao, i.e. o doente usa medicamento mal prescrito

    PRM 4 o doente tem um problema de sade por uma inefectividade quantitativa da

    medicao, i.e. administrao de dose inferior e/ou tratamento ocorre por

    tempo insuficiente

    Segurana

    PRM 5 o doente tem um problema de sade por uma insegurana no quantitativa de

    um medicamento, i.e. idiossincracia

    PRM 6 o doente tem um problema de sade por uma insegurana quantitativa de um

    medicamento, i.e o doente apresenta uma reaco adversa

    O Mtodo Dder de SFT tem um procedimento concreto, no qual se elabora um Estado

    de Situao objectivo do doente, e a partir do qual vo resultar as Intervenes

    Farmacuticas correspondentes, em que cada farmacutico, em conjunto com o doente e

    o seu mdico, decide a aco a tomar em funo dos seus conhecimentos e das

    condies particulares de cada caso.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    24

    O procedimento do SFT contm as seguintes fases (Machuca et al., 2005):

    Oferta do Servio

    O momento mais adequado para oferecer o servio quando o farmacutico

    suspeita que possam existir PRMs, no acto da medio de um parmetro

    fisiolgico ou bioqumico na farmcia do qual resulte um valor desviado do

    estipulado como normal, numa queixa do doente durante o acto de dispensa

    sobre algum medicamento prescrito, na consulta sobre algum problema de

    sade, algum medicamento ou algum parmetro bioqumico. Se o doente aceitar

    o servio de SFT, programa-se uma hora cmoda para ambos, que permita

    conversar durante um perodo de tempo suficiente, sem interrupes, sobre os

    seus problemas de sade e os seus medicamentos.

    Primeira Entrevista

    O doente nesta visita farmcia deve trazer um saco com todos os

    medicamentos que tem em casa, com especial ateno para os que est a tomar

    nesse momento e todos os documentos referentes sua sade. A Primeira

    Entrevista est estruturada em trs fases: (i) fase de Preocupaes e Problemas

    de Sade (o doente deve referir os problemas de sade que o preocupam mais),

    (ii) medicamentos que o doente utiliza (nesta fase o objectivo obter informao

    sobre o grau de conhecimento que o doente possui acerca dos medicamentos que

    toma e do grau de cumprimento da teraputica) e, (iii) fase de Reviso (nesta

    fase diz-se ao doente que a entrevista j terminou e que se vai fazer uma reviso

    para verificar se toda a informao obtida est correcta; a fase de reviso faz-se

    seguindo uma ordem que comea na cabea e termina nos ps, de modo a

    aprofundar informaes e descobrir possveis novos problemas de sade). Toda

    a informao veiculada pelo doente deve ser documentada e registada (Anexo

    1).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    25

    Estado de Situao

    O Estado de Situao de um doente, define-se como a relao entre os seus

    problemas de sade e os medicamentos que toma, numa data determinada. O

    primeiro Estado de Situao resulta da obteno dos dados da Primeira

    Entrevista. O Estado de Situao do doente o documento mais importante para

    estudar a sua evoluo; um documento absolutamente dinmico, que vai

    evoluindo a par com as alteraes da sade do doente (Anexo 2).

    Fase de Estudo

    O objectivo desta fase obter informao necessria sobre problemas de sade e

    medicamentos evidenciados no Estado de Situao, para avaliao posterior.

    aconselhvel estudar cada problema de sade com os medicamentos que o

    tratam. Entendendo os problemas de sade do doente melhora-se o

    conhecimento da evoluo do mesmo; ao examinar o mais possvel a origem do

    problema de sade e as suas consequncias e estabelecendo relaes com outros,

    melhorar-se- a interveno de forma a resolver os possveis PRMs, que o

    doente possa apresentar. No que respeita aos medicamentos, os aspectos mais

    importantes a ter em considerao so: indicaes autorizadas, aco

    farmacolgica e mecanismo de aco, posologia, intervalo de utilizao,

    farmacocintica, interaces, interferncias analticas, precaues, contra-

    indicaes e problemas de segurana.

    Fase de Avaliao

    O objectivo desta fase estabelecer as suspeitas de PRMs que o doente possa

    apresentar, trabalhando cada linha do Estado de Situao, que corresponde a

    uma estratgia farmacoteraputica para um determinado problema de sade, com

    perguntas que contestam as trs propriedades fundamentais da Farmacoterapia:

    Necessidade, Efectividade e Segurana: O doente necessita do(s)

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    26

    medicamentos(s)?; Os) medicamento(s) /so efectivo(s)?; O medicamento

    seguro?

    Fase de Interveno

    O objectivo da Fase de Interveno elaborar um plano de actuao de acordo

    com o doente e desencadear as intervenes necessrias para resolver os PRMs.

    As situaes de maior gravidade e que preocupam mais o doente devem ser as

    primeiras a ser resolvidas. Uma vez combinada a interveno com o doente

    elabora-se a informao escrita que ser apresentada e entregue, com uma cpia

    para ele e outra para levar consulta mdica.

    Resultado da Interveno

    O objectivo desta fase determinar o resultado da Interveno Farmacutica

    para a resoluo do problema de sade estabelecido. O resultado da Interveno

    dar lugar a um novo Estado de Situao do Doente. Considera-se uma

    interveno aceite, quando o doente (no caso de intervenes Farmacutico-

    Doente) ou o mdico (no caso de intervenes Farmacutico-Doente-Mdico)

    modificam o uso do medicamento para tratar o problema em consequncia da

    interveno efectuada pelo farmacutico. O problema de sade est resolvido

    quando, em consequncia da interveno do farmacutico, desaparece o motivo

    da mesma.

    Novo Estado de Situao

    O objectivo da avaliao de um Novo Estado de Situao recolher as

    alteraes existentes desde a interveno, relativas aos problemas de sade e

    medicamentos, iniciando-se deste modo uma nova fase de estudo. Nesta fase,

    importante considerar os novos aspectos que podem ocorrer pelo que h que

    voltar a rever os medicamentos, estudar os novos e aprofundar os problemas de

    sade segundo as novas circunstncias.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    27

    Entrevistas sucessivas

    Os objectivos desta fase so: continuar a resolver os PRMs pendentes segundo o

    plano de actuao acordado, cumprir o plano de seguimento para prevenir o

    aparecimento de novos PRMs e obter informao para poder documentar os

    novos Estados de Situao e melhorar a fase de estudo.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    28

    Captulo III Farmacocintica Clnica

    A farmacocintica clnica engloba o conjunto de actividades que tm como objectivo

    desenhar esquemas posolgicos individualizados atravs da aplicao dos princpios

    farmacocinticos.

    Uma dessas actividades a monitorizao farmacocintica que consiste na

    determinao dos nveis plasmticos dos frmacos, permitindo deste modo estimar os

    parmetros farmacocinticos que, por sua vez, sero a base para o clculo dos esquemas

    posolgicos (Bisson, 2007).

    atribuda uma grande importncia farmacocintica, na medida em que esta destina-

    -se a melhorar a qualidade da assistncia individual ao doente, contribuindo para um

    melhor tratamento farmacolgico e um menor risco de efeito adversos.

    A Unidade de Farmacocintica Clnica (UFC) pode ser definida como uma unidade

    funcional estruturada, que tem como finalidade optimizar o tratamento farmacolgico

    atravs da aplicao dos princpios e mtodos de estudos farmacocinticos (Bisson,

    2007).

    A Sociedad Espaola de Farmacia Hospitalaria (SEFH) recomenda que no hospital a

    UFC faa parte do servio de farmcia e que seja dirigida por um farmacutico com

    formao e experincia em farmacocintica clnica (Bisson, 2007).

    Segundo a SEFH, as principais funes da UFC devem ser (Bisson, 2007):

    Seleco dos frmacos que sero includos no programa de monitorizao farmacocintica, com base no seu ndice teraputico

    estreito e na sua ampla variabilidade farmacocintica.

    Seleco dos doentes que iro beneficiar da monitorizao farmacocintica (e.g. doentes com insuficincia renal, doentes

    oncolgicos).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    29

    Seleco dos mtodos analticos, com base no grau de especificidade e sensibilidade. Recomenda-se que o servio de farmcia

    disponha do seu prprio laboratrio, que realize a determinao analtica

    e coordene a extraco das amostras. Nem sempre possvel para o

    servio de farmcia desempenhar esta actividade. Mas, em todo o caso,

    preciso conhecer, no mnimo, em que momento foi realizada a extraco

    para poder interpretar adequadamente o resultado obtido; deve constar a

    hora exacta da extraco, assim como a hora da administrao do

    medicamento.

    Interpretao dos nveis plasmticos com base nas caractersticas do frmaco monitorizado, as caractersticas fsicas do doente, o estado

    clnico do doente e a sua funo renal, heptica e cardaca, a indicao do

    medicamento que ser monitorizado, e o tratamento.

    A UFC deve elaborar um guia de monitorizao farmacocintica. Este guia deve

    mencionar os seguintes aspectos: medicamentos includos no programa de

    monitorizao e margens teraputicas, tempos ptimos de amostragem, condies para a

    obteno das amostras, folha de pedido de nveis plasmticos, horrio de funcionamento

    da UFC, e horrio para a determinao analtica e para a emisso dos resultados

    (Bisson, 2007).

    O farmacutico responsvel pela UFC, caso considere necessrio modificar o esquema

    posolgico, deve comunicar ao mdico responsvel, apresentando deste modo a nova

    posologia, a hora em que se deve iniciar, a previso dos nveis plasmticos e os

    controlos analticos necessrios.

    Atravs dos estudos de absoro, distribuio, metabolismo e excreo de frmacos, a

    farmacocintica clnica estabelece estratgias clnicas concretas que permitam aumentar

    a preciso dos regimes teraputicos nos doentes.

    Para desenvolver as funes prprias de farmacocintica clnica, o farmacutico deve

    conhecer (Bisson, 2007):

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    30

    Princpios bsicos de farmacocintica; Parmetros que caracterizam cada processo farmacocintico e a sua utilizao clnica;

    Modelos, equaes e mtodos farmacocinticos que possam ser teis no desenho, na anlise e na interpretao dos estudos

    farmacocinticos;

    Critrios que devem cumprir os frmacos candidatos monitorizao farmacocintica;

    Doentes que podem beneficiar do controlo dos nveis plasmticos; Situaes clnicas especiais que modificam a conduta farmacocintica dos frmacos (e.g. insuficincia renal, insuficincia

    heptica, estados de hidratao alterados, crianas, idosos, interaces

    farmacocinticas).

    Para o farmacutico desenvolver aces de farmacocintica clnica, importante o uso

    de protocolos de trabalho, que actualmente so universais e baseados em dados da OMS

    e de sociedades internacionalmente reconhecidas de farmacologia e pesquisa clnica.

    Estes protocolos so baseados nos seguintes pressupostos (Bisson, 2007):

    Basear o desenho do regime posolgico individualizado de um doente nos dados farmacocinticos do frmaco, nas caractersticas

    fisiopatolgicas do doente e no objectivo teraputico;

    Critrios para decidir o nmero de amostras biolgicas e o tempo de obteno destas para determinao dos nveis do medicamento;

    Recomendar procedimentos e ensaios para as anlises de concentrao dos frmacos;

    Ajustar os regimes de dosagem com base nas concentraes plasmticas do frmaco e outros marcadores clnicos e bioqumicos,

    seleccionando os modelos farmacocinticos e aplicando os mtodos

    matemticos e informatizados mais adequados;

    Desenvolver informaes orais e escritos para argumentar as recomendaes feitas sobre os regimes de dosagem mais adequados e

    sobre futuros controlos teraputicos que se tornem necessrios;

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    31

    Avaliar uma resposta no usual de um doente com uma possvel explicao farmacocintica;

    Fomentar a coordenao entre as pessoas envolvidas na monitorizao de frmacos;

    Realizar sesses informativas dirigidas a mdicos, enfermeiros e outros farmacuticos sobre princpios farmacocinticos e a sua aplicao,

    para que compreendam e sigam os protocolos estabelecidos.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    32

    Captulo IV O Doente Oncolgico

    O cancro uma neoplasia maligna resultante do crescimento de um tecido novo dentro

    de ns, mas que invasor dos tecidos nossa volta (Simes et al., 2007). Este

    crescimento pode ser o resultado de uma maior proliferao (diviso) celular, ou de uma

    maior resistncia das clulas morte (nestas circunstncias, a morte designa-se por

    apoptose), ou de ambos (maior proliferao e menor apoptose).

    Os tecidos que constituem o cancro no so muito diferentes dos tecidos normais,

    apenas diferem numa percentagem mnima de genes que leva ao crescimento de um

    tecido novo que no respeita as fronteiras do rgo. Este fenmeno acontece devido a

    uma desregulao: as clulas dividem-se mas no morrem, o que leva a que o tecido no

    pare de crescer e, por sua vez, no se diferencie (Simes et al., 2007).

    A interaco de agresses ambientais e uma certa susceptibilidade gentica conduz a

    alteraes genticas que se vo acumulando nas geraes sucessivas de clulas

    neoplsicas, ou seja, passam das clulas-mes para as clulas-filhas, havendo assim

    maior capacidade de proliferar e sobreviver, levando situao do cancro (Pollock et

    al., 2006).

    Contudo, o facto dos cancros serem causados por alteraes genticas no significa que

    sejam hereditrios. A maioria dos cancros (mais de 90%) no hereditrio, isto , as

    alteraes genticas que causam directamente o cancro no so herdados a partir das

    clulas germinativas dos pais (vulo e espermatozide), mas ocorrem nas clulas

    somticas das pessoas durante a vida (Simes et al., 2007).

    O factor influncia ambiental muito mais importante que a susceptibilidade gentica.

    O homem tem evoludo sempre no sentido da adaptao s novas agresses. H

    portanto uma certa adaptao do nosso organismo s agresses ambientais, contudo esta

    adaptao imperfeita. Por exemplo, nas pessoas que fumam, o epitlio respiratrio que

    um epitlio muito delgado substitudo ao fim de um certo tempo por um epitlio

    pavimentoso metaplasia (substituio de um tecido por outro). Esta substituio uma

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    33

    forma de se conseguir suportar as agresses do fuma, sem terem que morrer por causa

    disso. Contudo, em certas pessoas, devido a esta substituio ocorrem erros, e isso que

    pode causar o cancro do pulmo. De um modo geral, pode afirmar-se que, em Portugal,

    como nos restantes pases da Unio Europeia e da Amrica do Norte, o risco que se tem

    de desenvolver um cancro durante a vida de cerca de 50%, e de morrer de cancro de

    cerca de 25% (Simes et al., 2007).

    1. Diagnstico

    O cancro uma doena multifactorial que compromete diferentes rgos, o que leva a

    que os sintomas e sinais sejam muito variveis (Pollock et al., 2006).

    atravs de um conjunto de dados clnicos de imagem (radiologia, ecografia,

    tomografia axial computorizada, ressonncia magntica e cintilografia) e laboratoriais

    (exames analticos, citogentica, tcnicas modulares, marcadores tumorais e exame

    antomo-patolgico) que se diagnostica o cancro (Simes et al., 2007).

    No entanto, somente atravs do exame antomo-patolgico (autpsias, biopsias e

    citologias) que se faz o diagnstico definitivo do cancro. Este exame informa com

    preciso a presena do tumor, a natureza e a extenso do mesmo. Alm disso, permite

    guiar a teraputica, avaliar o prognstico e possibilitar o seguimento do doente e

    deteco de recidivas (Simes et al., 2007).

    2. Tratamento

    A deteco precoce e o diagnstico correcto so condies fundamentais para o

    tratamento mais adequado das neoplasias malignas. Deve ponderar-se os efeitos

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    34

    adversos e os benefcios esperados, esclarecer precocemente o prognstico, considerar

    as preferncias e obter o consentimento informado expresso do doente.

    A cura do cancro requer a eliminao de todas as clulas cancerosas. Contudo,

    clinicamente a cura significa a ausncia permanente de sinais e sintomas da doena, pois

    os doentes podem ainda ter clulas malignas viveis, mas no clinicamente detectveis

    que levam ao eventual reaparecimento do cancro. Por isso, que muitos oncologistas

    preferem falar de controlo da doena em vez de cura da doena (Simes et al., 2007).

    O tratamento das neoplasias malignas varia de acordo com o tipo de neoplasia e com o

    estdio em que o cancro diagnosticado. Incluem a cirurgia, a teraputica com

    radiaes, a quimioterapia com agentes citotxicos, agentes bioterpicos e agentes

    endcrinos, a teraputica gentica e a transplantao de medula ssea (Pollock et al.,

    2006).

    As teraputicas mais usadas para os tumores malignos localizados so a cirurgia e a

    radioterapia, e para os no localizados a quimioterapia com citostticos. Infelizmente,

    os agentes citotxicos causam leses no ADN das clulas malignas e, muitas das vezes

    tambm, em clulas normais que esto em diviso. normal usar-se associao de

    agentes quimioterpicos, com mecanismos de aco e toxicidades diferentes para

    aumentar a morte das clulas malignas, reduzir os efeitos adversos relacionados com as

    doses e diminuir a probabilidade de resistncia ao efeito da quimioterapia (Pollock et

    al., 2006).

    3. Farmacologia dos Agentes Quimioterpicos

    O conhecimento da cintica da populao celular de clulas e do ciclo destas clulas so

    fundamentais na aco e no uso clnico de agentes oncolgicos (Bisson, 2007).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    35

    Alguns frmacos actuam especificamente no ciclo de diviso destas clulas (frmacos

    ciclo celular especficos), enquanto outros actuam no tumor em vrias fases do ciclo

    celular (ciclo celular no-especficos).

    Os citotxicos actuam com cintica de primeira ordem: uma determinada dose de um

    frmaco elimina uma proporo constante de clulas doentes.

    Um dos maiores problemas na quimioterapia do cancro a resistncia a frmacos

    oncolgicos (Pollock et al., 2006). Os mecanismos de resistncia incluem: aumento na

    reparao do ADN (e.g. cisplatina), mudanas em enzimas-alvo (e.g. metotrexato,

    vinca) e diminuio de activao de pr-frmacos (e.g. mercaptopurina, citarabina,

    fluorouracil).

    3.1. Agentes alquilantes

    Os agentes alquilantes so frmacos no-ciclo-especficos. Eles formam uma molcula

    reactiva que alquila os grupos nucleoflicos das bases do ADN, particularmente a

    posio N-7 da guanina, originando quebra do ADN.

    Incluem as mostardas nitrogenadas (clorambucil, ciclofosfamida, mecloretamina), as

    nitrosourias (carmustina, lomustina) e as alquilsulfonatos (busulfan). Existem ainda

    outros frmacos que actuam em parte como alquilantes, como por exemplo a cisplatina,

    a dacarbazina e a procarbazina.

    3.2.Agentes antimetablitos

    Os agentes metablicos so agentes ciclo-especficos na fase S do ciclo celular.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    36

    Assemelham-se estruturalmente a compostos endgenos e so antagonistas de cido

    flico (metotrexato), purinas (mercaptopurina, tioguanina) ou pirimidinas (fluorouracil,

    citarabina).

    Para alm do efeito antineoplsico so tambm imunosupressores.

    3.3. Alcalides

    Os alcalides so frmacos ciclo-especficos.

    Os mais importantes so os alcalides da vinca (vimblastina e vincristina), as

    podofilotoxinas (etoposido e teniposido) e os taxanos (paclitaxel e docetaxel).

    3.4. Antibiticos

    Este grupo de agentes antineoplsicos apresenta uma variada gama de estruturas

    qumicas diferentes, entre os quais se encontram a doxorubicina, a daunorubicina, a

    bleomicina, a dactinomicina, a mitomicina e a mitramicina.

    3.5. Agentes hormonais

    Entre os agentes hormonais citam-se:

    a) Glucocorticides: a prednisona muito utilizada em leucemias crnicas,

    linfoma de Hodgkin e outros linfomas;

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    37

    b) Hormonas sexuais: estrognios, progestagnicos e andrognios;

    c) Antagonistas de hormonas sexuais: tamoxifeno (inibidor da ligao

    estrognio-receptor da clula cancerosa) e flutamida (antagonista

    andrognico, utilizado no cancro de prstata);

    d) Anlogos de hormonas libertadoras de gonadotropina: leuprolide,

    goserelina e nafarelina so utilizados no cancro de prstata;

    e) Inibidores de aromatase: anastrasol e aminoglutetimida.

    4. Protocolo de Acompanhamento Pr-Quimioterapia

    Antes da administrao de agentes quimioterpicos, deve obter-se um perfil do doente

    (Bisson, 2007).

    importante haver um acompanhamento fsico atravs da histria mdica passada (e.g.

    problemas mdicos e cirrgicos, alergias), dados laboratoriais (e.g. hemograma,

    contagem das plaquetas) e reviso de sistemas (e.g. funo cardiovascular, funo

    gastrintestinal, funo respiratria, status dental e da cavidade oral).

    tambm importante haver um acompanhamento social e psicolgico do doente (e.g.

    medos, ansiedade, recursos interpessoais).

    Nesta fase, tambm fundamental que exista uma educao do doente e da famlia

    relativamente ao protocolo de tratamento medicamentoso, potenciais efeitos

    colaterais/reaces adversas e cuidados ps-tratamento.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    38

    5. Quimioterapia

    Frequentemente as dosagens de quimioterapia so calculadas em relao rea de

    superfcie corporal, expressas em miligramas por metro quadrado e baseadas no peso e

    na altura do doente (Bisson, 2007). Neste sentido, em cada sesso de quimioterapia

    deve medir-se o peso e a altura do doente. Neste clculo importante ter-se em

    considerao a presena de edema e ascite. A rea de superfcie corporal

    frequentemente calculada por meio de nomogramas.

    A quimioterapia pode ser administrada sistemicamente ou por mtodos regionais de

    libertao. A quimioterapia sistmica realizada por administrao oral, intravenosa,

    subcutnea, intramuscular ou intra-ssea. Por outro lado, a quimioterapia regional

    realizada pela libertao do frmaco directamente nos vasos sanguneos que alimentam

    o tumor ou na cavidade onde o tumor est localizado (Pollock et al., 2006).

    Contudo, independentemente da via de administrao, fundamental que o profissional

    de sade tome todas as precaues quanto ao seguimento dos protocolos estabelecidos

    nos guias especficos e quanto eliminao dos detritos.

    6. Procedimentos Recomendados para Prevenir e Tratar Reaces Anafilticas e de Hipersensibilidade

    As reaces anafilticas e de hipersensibilidade podem ser o resultado de uma

    superestimulao do sistema imune durante e aps a administrao de agentes

    quimioterpicos (Pollock et al., 2006).

    Neste sentido, existe uma srie de procedimentos que se deve pr em prtica para

    prevenir estas reaces.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    39

    Antes de administrar os medicamentos, deve rever-se o histrico de alergias do doente e

    medir a presso arterial, pulso e frequncia respiratria.

    Em doentes com suspeita de reaces alrgicas, deve considerar-se a viabilidade de

    administrar pr-medicao profiltica, como corticides, anti-histamnicos e

    antipirticos (Bisson, 2007).

    fundamental informar o doente do risco de hipersensibilidade e a necessidade de este

    comunicar sintomas como urticria, coceira, agitao ou sonolncia, edema facial ou

    periorbital, tontura e dores abdominais.

    Antes de administrar a dose inicial de um agente quimioterpico com alto ndice de

    hipersensibilidade, pode ser recomendado a realizao de um teste intradrmico

    (Bisson, 2007). O teste intradrmico consiste em injectar na pele os alergenos em

    determinados intervalos de tempo. Uma injeco de controlo (sem qualquer alergeno)

    tambm administrada. Se o alergeno produzir uma ppula, o doente alrgico quela

    substncia. O teste intradrmico preciso, contudo apresenta um risco de ter uma

    reaco grave.

    importante garantir que estejam disponveis os equipamentos de segurana (e.g.

    oxignio, material de intubao) e uma via endovenosa aberta, bem como

    medicamentos de emergncia (epinefrina, difenidramina, corticides, aminofilina,

    dopamina).

    7. Gerenciamento dos Efeitos Colaterais Induzidos por Quimioterpicos

    Os agentes quimioterpicos podem causar muitos efeitos colaterais e reaces adversas.

    As reaces adversas podem variar desde efeitos suaves at efeitos que pem em risco a

    vida do doente. A toxicidade e os efeitos colaterais so frequentemente causados pelo

    dano diviso celular.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    40

    As clulas mais vulnerveis rpida diviso celular so as que se encontram na medula

    ssea, no folculo capilar e no tracto gastrintestinal (Pollock et al., 2006).

    Neste sentido, importante que na primeira sesso a tolerncia do doente ao tratamento

    seja avaliada antes das sesses posteriores. Sempre que necessrio, a reduo das doses

    ou a descontinuidade do tratamento devem ser consideradas.

    Como j foi referido anteriormente, o doente e os seus familiares devem ser educados

    sobre os efeitos colaterais potenciais e o seu tratamento em casa. Esta situao

    extremamente importante na medida em que, o tratamento dos efeitos colaterais, o

    acompanhamento e a interveno precoce garantem a qualidade de vida do doente.

    7.1. Efeitos gastrintestinais

    Nuseas e vmitos

    A nusea pode ser definida como uma sensao de desconforto na regio epigstrica, na

    garganta e no abdmen. Muitas vezes, a nusea precede o vmito. O vmito a

    expulso forada do contedo estomacal atravs da boca, normalmente acompanhado de

    manifestaes fisiolgicas, como salivao excessiva, taquicardia antes do vmito,

    bradicardia durante o mesmo e diminuio da presso arterial.

    A sua gravidade pode levar ao fim prematuro da teraputica. Portanto, fundamental

    proceder-se a uma teraputica antiemtica eficaz (Wiedenmayer et al., 2006).

    O mecanismo da aco emetognica dos quimioterpicos ainda no bem conhecido.

    Contudo, pensa-se que ocorre a estimulao de vrios receptores no sistema nervoso

    central e tracto gastrintestinal, mediados por numerosos neurotransmissores,

    principalmente serotonina (Bisson, 2007).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    41

    Os antagonistas dos receptores de serotonina tipo 3(5-HT3) tm demonstrado grande

    eficincia em prevenir e controlar a mese produzida por quimioterpicos, que

    aumentam a libertao de grnulos de 5-HT3 das clulas.

    A medicao antiemtica normalmente usada a seguinte:

    Antagonistas de serotonina: granisetrona, ondasentrona Metoclopramida Fenotiazinas: Clorpromazina Corticides: Dexametasona Butirofenonas: Haloperidol Canabinides: Dronabinol Anticolinrgicos: Hioscina

    Uma combinao teraputica pode permitir uma maior efectividade no bloqueio dos

    stios receptores. Em doentes submetidos quimioterapia, a associao de bloqueadores

    de neurotransmissores com corticides tem dado excelentes resultados como terapia

    antiemetognica.

    O farmacutico deve passar algumas orientaes aos seus doentes como terapia

    acessria antiemetognica, tais como:

    - Comer alimentos gelados ou em temperatura ambiente;

    - Ingerir lquidos lentamente;

    - Evitar comidas quentes;

    - Enxaguar a boca com gua com limo;

    - Evitar comidas doces, gordurosas e salgadas;

    - Evitar comer e beber 1-2 horas antes e depois da quimioterapia;

    - Comer alimentos leves no decorrer do dia da quimioterapia;

    - Distra-los com msica, televiso, leitura ou jogos sempre que possvel;

    - Dormir durante perodos de nusea;

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    42

    - Praticar boa higiene oral;

    - Providenciar suporte psicolgico;

    - Encorajar a prtica de exerccios;

    - Acompanhar o doente nas primeiras 24-48 horas aps a quimioterapia.

    Constipao

    Por vezes, a constipao surge devido ao efeito neurotxico de certos agentes

    quimioterpicos (e.g. alcalides de vinca) que afectam a musculatura do tracto

    gastrintestinal provocando uma diminuio da perstase ou paralisao do leo. Se o

    caso se agravar, o tratamento deve ser suspenso at volta do trnsito intestinal; aps a

    melhoria, o tratamento deve ser retomado ou diminuir a dosagem (Wiedenmayer et al.,

    2006).

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Acompanhar os factores de risco associados constipao (hipercalcemia, obstruo

    intestinal);

    - Acompanhar os hbitos dietticos dos doentes;

    - Informar o doente no sentido de incluir alta quantidade de fibras na dieta;

    - Informar o doente que deve evitar enemas e supositrios na presena de leucopenia e

    trombocitopenia;

    - Encorajar o doente a fazer exerccios.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    43

    Diarreia

    A diarreia uma complicao grave da terapia do cancro. Por vezes, alguns agentes

    quimioterpicos podem destruir as clulas epiteliais do tracto gastrintestinal (por

    exemplo, os antimetablicos), ocorrendo uma eventual inadequada absoro e digesto

    de nutrientes e, consequentemente, o aparecimento de diarreia (Bisson, 2007).

    A diarreia no tratada pode levar fraqueza, desequilbrio electrlico e desidratao

    (Wiedenmayer et al., 2006).

    Se o caso se agravar, o tratamento deve ser suspenso at o doente no ter mais diarreia;

    aps a melhoria, o tratamento deve ser retomado ou diminuir a dosagem.

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Informar o doente de que os quimioterpicos podem causar diarreia;

    - Aconselhar o doente a evitar alimentos que irritem o tracto gastrintestinal (e.g.

    pimenta, comida picante);

    - Aconselhar o doente a incluir na dieta alimentos pobres em fibras e com alto teor de

    protenas;

    - Aconselhar o doente a beber muitos fluidos;

    - Orientar o doente sobre o uso de medicamentos antidiarreicos se se descartar a origem

    bacteriana da diarreia.

    Estomatites

    Alguns agentes quimioterpicos (por exemplo antimetablicos, antibiticos

    antitumorais, agentes alquilantes) podem causar muito facilmente dano na diviso

    celular da mucosa oral, resultando na inflamao do tecido oral e perioral, que provoca

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    44

    posteriormente ulcerao dolorosa e infeco (Pollock et al., 2006). A cavidade oral

    deve, portanto, ser verificada antes de cada tratamento.

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Acompanhar os doentes com risco de contrair estomatite por outras causas, como

    radioterapia na regio da cabea e do pescoo e higiene oral deficitria;

    - Instruir sobre a correcta higiene oral e encaminhar o doente a um dentista;

    - Aconselhar o doente a manter os lbios sempre lubrificados;

    - Informar o doente que deve evitar o uso de tabaco e outros irritantes da mucosa oral;

    - Informar o doente que deve evitar colutrios bucais contendo lcool;

    - Orientar o doente sobre o uso de antifngicos e antivirais tpicos, bem como

    analgsicos tpicos ou sistmicos em caso de dor.

    Anorexia

    A anorexia uma diminuio ou perda de apetite, que pode ser causada por agentes

    quimioterpicos. Os efeitos da quimioterapia sobre outros sistemas do organismo

    (nusea, vmito, estomatite, diarreia, constipao, alteraes do paladar) podem

    tambm causar secundariamente anorexia (Bisson, 2007).

    importante salientar que as doses de quimioterpicos so calculadas em funo do

    peso do doente, por isso tornam-se necessrios a pesagem e o clculo da dose a cada

    sesso de tratamento, que deve ser reduzida no caso da perda de peso e desnutrio

    grave.

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Obter um baseline do peso e da altura do doente;

    - Acompanhar mudanas de peso aps cada tratamento;

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    45

    - Acompanhar a ingesto nutricional;

    - Providenciar uma terapia antiemtica que minimize nuseas e vmitos;

    - Evitar odores desagradveis perto do doente quando este estiver a fazer as refeies;

    - Encorajar o uso de suplementos dietticos ricos em protenas e calorias;

    - Considerar o uso de nutrio enteral e parenteral;

    - Utilizar estimulantes do apetite (e.g. acetato de megastrol);

    - Acompanhar os nveis de electlitos e rep-los se necessrio;

    - Acompanhar os nveis plasmticos de protenas e albumina srica.

    7.2. Efeitos hematolgicos adversos

    Trombocitopenia

    uma diminuio na contagem de plaquetas, que pode resultar em hemorragias. A

    trombocitopenia pode ser provocada pela aco de agentes quimioterpicos sobre a

    medula ssea (Bisson, 2007).

    Uma monitorizao do hemograma, especialmente a contagem de plaquetas

    extremamente importante antes e depois da quimioterapia. De acordo com o coeficiente

    de plaquetas, pode ser necessria uma reduo da dose. A quimioterapia s pode ser

    iniciada caso a contagem de plaquetas esteja dentro dos valores normais de referncia

    (130-400x109/L). Se necessrio, poder administrar-se uma transfuso de plaquetas.

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Informar o doente que importante que este evite a aspirina e produtos que a

    contenham;

    - Aconselhar o doente a utilizar escovas dentais macias e evitar o uso de fio dental;

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    46

    - Informar o doente que deve evitar usar enemas e supositrios;

    - Informar o doente que ao assoar o nariz, no o dever fazer com fora.

    Leucopenia/neutropenia

    A leucopenia caracteriza-se por uma diminuio na contagem de glbulos brancos e a

    neutropenia por uma diminuio na contagem de neutrfilos. Podem ser provocadas

    pela aco de agentes quimioterpicos sobre a medula ssea (Bisson, 2007).

    Neste sentido, importante que haja uma monitorizao da contagem de glbulos

    brancos e neutrfilos. Dependendo da concentrao deles, poder ser necessria uma

    reduo da dosagem. A quimioterapia s deve ser iniciada sob limites normais (4,3-

    10,8x109/L de leuccitos, e deste valor 45-75% de neutrfilos).

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Orientar o doente e familiares sobre a correcta lavagem das mos e higiene pessoal;

    - Transmitir ao doente a necessidade de evitar contacto com fontes potenciais de

    infeco e que no surgimento de infeces fundamental um acompanhamento mdico;

    - Orientar o doente sobre o uso de antibiticos, se necessrio.

    Anemia

    A anemia caracteriza-se por uma diminuio na contagem de glbulos vermelhos (cuja

    funo principal transportar oxignio para os tecidos), que pode ser provocada pela

    aco de agentes quimioterpicos sobre a medula ssea (Bisson, 2007).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    47

    importante monitorizar-se a contagem de glbulos vermelhos, especialmente

    hemoglobina e hematcrito, antes e aps a quimioterapia. Se necessrio, procede-se

    transfuso de hemoderivados. Por vezes tambm necessrio monitorizar-se os sinais

    vitais e administrar oxignio.

    O farmacutico deve instruir no doente a capacidade de reconhecer sinais e sintomas de

    hemorragias que podero acontecer.

    7.3. Reaces cutneas

    Alopcia

    A alopcia caracteriza-se pela perda temporria de cabelos, sendo um efeito dos

    quimioterpicos sobre o folculo piloso (Pollock et al., 2006).

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Explicar ao doente a perda de cabelo e inform-lo que temporria, acompanhando o

    impacto da perda de cabelo sobre o doente e o seu estilo de vida;

    - Informar o doente que no deve usar secadores de cabelo;

    - Informar o doente que no deve usar substncias qumicas no couro cabeludo (e.g.

    tinturas, permanentes, sprays);

    - Avisar o doente que os cabelos novos podem vir com textura e cor diferentes.

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    48

    Eritema/urticria

    O eritema e a urticria podem ser generalizados ou localizados, em resposta ao agente

    quimioterpico (Bisson, 2007).

    Muitas reaces podem ser indicativas de uma reaco de hipersensibilidade a um

    agente quimioterpico, podendo, neste sentido, ser necessria a descontinuidade do

    tratamento.

    A utilizao de uma grande veia para a administrao dos frmacos recomendada.

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Acompanhar a integridade da pele antes da quimioterapia;

    - Acompanhar a ocorrncia, padro, gravidade e durao da reaco;

    - Orientar o doente sobre o uso de antihistamnicos e corticides, se necessrio.

    Hiperpigmentao

    Os agentes quimioterpicos podem causar hiperpigmentao (generalizada ou

    localizada) nas pontas dos dedos, pele sobre as articulaes e pontos de presso,

    articulaes interfalangeanas e metacrpicas, nas membranas mucosas, e ao longo das

    veias utilizadas para a administrao de quimioterpicos (Pollock et al., 2006).

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Informar o doente sobre a possibilidade da ocorrncia da hiperpigmentao;

    - Determinar quais os frmacos que esto a causar hiperpigmentao;

    - Verificar a integridade da pele e das unhas antes do doente iniciar o tratamento.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    49

    Reaco tardia radiao

    Pode ocorrer uma reaco tardia sobre reas da pele, quando so administrados

    quimioterpico (e.g. antibiticos antitumorais, antraciclinas, metotrexato) ao mesmo

    tempo ou aps radiao (Pollock et al., 2006). A reaco pode incluir eritema,

    descamao por perda de lquido, formao de vesculas. A pele pode ficar

    permanentemente despigmentada.

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Informar o doente sobre a possibilidade de ocorrer uma reaco tardia radiao;

    - Acompanhar diariamente a integridade da pele em doentes que estejam a fazer sesses

    de radioterapia;

    - Aconselhar o doente a aplicar loes suaves na pele para evitar ressecamento ou

    leses;

    - Aconselhar o doente a evitar produtos que contenham perfumes;

    - Informar o doente que deve evitar o uso de fitas ou adesivos sobre a pele;

    - Informar o doente que deve evitar temperaturas extremas;

    - Indicar o acompanhamento de dermatologista.

    Fotossensibilidade

    Uma reaco de pele erimatosa pode ser causada pela exposio de luz ultravioleta aps

    o tratamento com certos quimioterpicos (Bisson, 2006).

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Aconselhar o uso de filtro solar acima do factor 15;

    - Informar o doente que deve evitar exposies prolongadas ao sol;

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    50

    - Informar o doente que deve proteger o corpo mesmo na sombra.

    7.4. Fadiga

    A fadiga pode ser definida como uma reduo temporria na energia fsica e emocional,

    que pode ser sentida na doena e no tratamento (quimioterapia, radioterapia, cirurgia).

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Avaliar o doente para os factores de risco que causam fadiga;

    - Acompanhar o uso de outros medicamentos que causam fadiga (e.g. narcticos,

    sedativos, lcool);

    - Avaliar os padres da fadiga (horrio, incidncia, gravidade, factores que aliviam ou

    agravam o quadro);

    - Encorajar o doente a descansar frequentemente durante o dia;

    - Encorajar o doente a praticar exerccios de trs a quatro vezes por semana;

    - Encorajar o doente a manter uma dieta balanceada e energtica.

    7.5. Cistite hemorrgica

    O contacto da acrolena, um metabolito da ciclofosfamida, e da ifosfamida com a

    mucosa urinria pode provocar irritao e infeco, levando a um quadro de cistite

    hemorrgica (Bisson, 2007).

    aconselhvel a administrao de Mesna em conjunto com a ciclofosfamida e

    ifosfamida para combater os efeitos txicos destes, evitando assim a cistite hemorrgica

    (Bisson, 2007).

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    51

    O farmacutico deve passar algumas informaes e orientaes aos seus doentes, tais

    como:

    - Informar o doente sobre o potencial hemorrgico de ifosfamida e ciclofosfamida;

    - Educar o doente sobre sinais e sintomas (hematria, disria);

    - Aconselhar o doente a ingerir grande quantidade de lquidos;

    - Instruir o doente a esvaziar a bexiga a cada 1-2 horas durante o dia, ao se deitar e

    durante a noite.

    7.6. Disfunes sexuais e reprodutivas

    A patologia, o tratamento e os efeitos colaterais da terapia podem causar uma alterao

    no funcionamento sexual e um impacto na capacidade reprodutiva (Bisson, 2007).

    O farmacutico deve acompanhar e informar os seus doentes:

    - Avaliar os factores de risco relacionados com a doena, como cancro geniturinrio

    (ovrio, crvix, testculo, pnis);

    - Acompanhar os factores de risco relacionados com tratamentos cirrgicos

    (histerectomia, oferectomia, resseco abdominoperineal, cistectomia, prostatectomia,

    orquidectomia, penectomia);

    - Avaliar os factores de risco relacionados com a radioterapia;

    - Avaliar o uso de outros medicamentos que alterem as funes sexuais;

    - Sugerir ao doente que colha material para banco de esperma/vulos antes de iniciar o

    tratamento.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    52

    8. Dose de citostticos em caso de compromisso de funo renal

    Os citotxicos so medicamentos de margem teraputica estreita.

    Em caso de compromisso de funo renal, pode verificar-se um aumento da toxicidade

    de citostticos e metabolitos activos por acumulao. Neste sentido, pode ser necessrio

    proceder-se a uma reduo de dose para substncias que so eliminadas em grande

    extenso por via renal. , portanto, preciso ter-se em considerao a taxa de filtrao

    glomerular como parmetro da funo renal e o conhecimento farmacocintico e

    farmacolgico sobre os citostticos utilizados (Padres de Qualidade para Servios

    Farmacuticos Oncolgicos, http://www.esop.li/downloads/library/quapos4_portuguese.

    pdf).

    9. Dose de citostticos em caso de compromisso de funo heptica

    A diminuio da funo heptica pode influenciar significativamente a eliminao

    heptica de citostticos. O decrscimo da eliminao do metabolito leva a uma reduo

    do processo de biotransformao dependente e independente do citocromo P450,

    enquanto que a reduo da eliminao biliar diminui a excreo pelo tracto biliar.

    Alguns citostticos acumulam-se com o decrscimo da eliminao heptica. Neste

    sentido, importante que o farmacutico modifique a dose, aps avaliao de dados

    clnicos laboratoriais (Padres de Qualidade para Servios Farmacuticos Oncolgicos,

    http://www.esop.li/downloads/library/quapos4_portuguese.pdf).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

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    10. Princpios da Quimioterapia Combinada

    Normalmente, a combinao entre agentes quimioterpicos aumenta a eliminao de

    clulas cancerosas e previne a formao de clones resistentes. Em alguns casos, o efeito

    sinrgico atingido (Pollock et al., 2006).

    Na seleco dos agentes quimioterpicos importante seguir os seguintes princpios

    (Bisson, 2007):

    a) Cada frmaco deve ser activo quando utilizado isoladamente para

    determinado tipo de cancro;

    b) Os frmacos devem ter mecanismo de aco diferente;

    c) A resistncia cruzada deve ser mnima;

    d) Os frmacos devem ter efeitos txicos diferentes.

    11. Dor oncolgica

    A dor e a morte so os acontecimentos mais temidos da doena neoplsica.

    Segundo a International Association for the Study of Pain, a dor pode ser definida como

    uma experincia sensorial e emocional desagradvel associada a dano tecidual real ou

    potencial ou descrita em termos de tal dano (cit in Pollock et al., 2006).

    O problema da dor no cancro foi reconhecido e identificado como uma das principais

    preocupaes da OMS. A dor um sintoma complexo e angustiante, com um grande

    impacto na qualidade de vida do doente.

    A dor no cancro o resultado de vrias causas, incluindo envolvimento directo do

    tumor, compresso ou infiltrao de nervo ou comprometimento de partes moles

    (Bisson, 2007).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    54

    Na avaliao inicial da dor deve incluir-se informaes detalhadas, incluindo avaliao

    da intensidade e do carcter da dor, exame fsico com nfase no exame neurolgico,

    avaliao psicossocial e investigao diagnostica apropriada para determinar a causa da

    dor.

    Para a avaliao e o controlo da dor, foi desenvolvida uma abordagem clnica de rotina

    pela Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) sobre a dor no cancro e

    est resumida pelo mnemnico ABCDE (Pollock et al., 2006):

    A Ask. Avaliar a dor de forma sistemtica; perguntar sobre a dor regularmente.

    B Believe. Acreditar no doente e na famlia sobre os seus relatos sobre a dor e o que a

    alivia.

    C Choose. Escolher as opes de controlo da dor apropriadas para o doente, a famlia

    e o cenrio.

    D Deliver. Promover intervenes de uma maneira lgica, coordenada e oportuna.

    E Empower. Fortalecer os doentes e as suas famlias; permitir que eles controlem os

    eventos na maior parte possvel.

    A avaliao comea com o dimensionamento da intensidade da dor. O uso de uma

    escala de classificao da dor, que vai desde 0 (ausncia da dor) a 10 (dor pior), ajuda

    na comunicao e na avaliao de mudanas na dor ao longo do tempo. A dor deve ser

    avaliada e documentada em intervalos regulares aps o incio do tratamento e a cada

    novo relato de dor (Pollock et al., 2006).

    Os doentes devem ser instrudos a relatar mudanas de caractersticas ou qualquer nova

    dor para que a reavaliao apropriada e mudanas no tratamento possam ser iniciadas. A

    avaliao da dor um processo contnuo que exige ateno constante s mudanas.

    Uma dor nova pode significar problemas tratveis, como infeco ou factura patolgica.

    Por outro lado, uma mudana na dor em geral pode significar um avano na doena.

    Assim, a dor, como uma experincia multidimensional, deve receber um tratamento

    multimodular que, no doente com dor oncolgica, incluiu analgsicos, radioterapia,

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    55

    tratamento psiquitrico e/ou psiclogo, fisioterapia e neurocirurgia ablativa (Bisson,

    2007).

    O tratamento farmacolgico fundamental e quando devidamente utilizado, controla a

    dor da grande maioria dos doentes oncolgicos. Os analgsicos podem ser divididos em

    trs grupos: analgsicos no-opiides, opiides e medicamentos coadjuvantes (Pollock

    et al., 2006).

    Os analgsicos no-opiides incluem os anti-inflamatrios no-esterides, a aspirina e o

    paracetamol. So teis para dor leve a moderada e tambm so utilizados em

    combinao com opiides para dor de demorada a intensa.

    Os analgsicos opiides (e.g. codena, hidromorfina, oxicodona) reduzem a dor primria

    por meio de mecanismos centrais ao se ligarem com os receptores , e . A seleco e a dosagem de um opiide requerem equilbrio entre o alvio da dor, proporcionando um

    mnimo de efeitos colaterais para realmente se atingir no apenas o alvio da dor, mas

    tambm a melhor qualidade de vida possvel.

    Os medicamentos adjuvantes (e.g. antidepressivos, corticosterides, neurolpticos, anti-

    histamnicos, ansiolticos) so usados para potenciar a eficcia analgsica, tratar

    sintomas concomitantes e fornecer analgesia independente para tipos especficos de dor.

    Os esquemas de analgesia devem ser sempre individualizados e reavaliados em

    intervalos curtos de tempo para a sua maior adequao.

    Na seleco do medicamento analgsico importante ter em conta o efeito tecto

    (ceiling affect) do medicamento. Aumentar as doses alm deste tecto produz um

    aumento dos efeitos secundrios, sem maior resposta analgsica. prefervel usar doses

    mais baixas de um medicamento mais potente do que doses elevadas de medicamentos

    de potncia analgsica menor (Pollock et al., 2006).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    56

    A grande maioria dos efeitos adversos da medicao analgsica pode ser antecipada e,

    portanto, devidamente evitada, por exemplo com o emprego de anticidos, laxantes, etc.

    12. Cuidados Paliativos

    Segundo a OMS, o cuidado paliativo pode ser definido como o cuidado global activo

    dos doentes cuja doena no responde a um tratamento curativo especfico. O controlo

    especfico de sintomas, em especial da dor, e de problemas psicolgicos, sociais e

    espirituais extremamente importante (Urie et al., 2000).

    O objectivo principal do cuidado paliativo melhorar a qualidade de vida dos doentes e

    dos seus familiares. Este conceito de qualidade de vida amplo e envolve as actividades

    de vrios profissionais de sade que actuam de forma integrada.

    Como o controlo de sintomas, alvo principal da teraputica paliativa, requer o uso de

    medicamentos, o profissional farmacutico e as ferramentas de Ateno Farmacutica

    tornam-se de grande valia para o doente e para a equipa multidisciplinar de Cuidados

    Paliativos (Urie et al., 2000).

    Diferentes programas de cuidados paliativos so desenvolvidos, de acordo com os

    problemas e recursos locais: assistncia domiciliar, ateno hospitalar, servio de

    consultoria, hospital-dia, hospice, apoio ao luto, cuidados para o fim da vida, e

    aconselhamento familiar sobre os cuidados paliativos (Pollock et al., 2006).

    Fase Terminal

    Nos ltimos dias e horas de vida os principais objectivos da assistncia so: manter o

    doente agonizante com o mximo conforto possvel, preparar a famlia do doente,

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    57

    intervir para aliviar sintomas e respeitar o processo da morte (sem tentar encurt-lo ou

    prolong-lo).

    Os profissionais farmacuticos devem fazer avaliaes regulares e frequentes para

    medicamentos desnecessrios a fim de evitar o seu uso. Opiides, sedativos e

    antiemticos so os frmacos mais utilizados durante as ltimas horas. A inquietao ou

    agitao deve ser prevenida e tratada (em geral, com haloperidol). As vias mais fceis

    de administrao de frmacos so a via subcutnea e a via intravenosa. A alimentao

    enteral e parenteral deve ser interrompida e fluidos parenterais evitados: a hidratao

    pode aumentar a tosse, a congesto pulmonar, o edema perifrico, os vmitos e a

    dificuldade para urinar. Estes aspectos devem ser explicados com clareza famlia. O

    tremor da morte pode ser reduzido administrando hioscina e ajustando o

    posicionamento do doente (Pollock et al., 2006).

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    58

    Concluso

    O cancro uma das doenas mais temidas no mundo inteiro. Actualmente, os casos de

    cancro j rivalizam com as doenas cardacas como a patologia que mais produz bitos

    e diminui a qualidade de vida da sociedade.

    A maioria dos tratamentos contra o cancro prescrita focalizando a doena, em vez de

    pensar no doente e nas suas percepes subjectivas, como a qualidade de vida. Quando

    as avaliaes sobre qualidade de vida so consideradas parte integral do cuidado do

    cancro e profissionais de sade se incubem dessa actividade e anlise, os resultados em

    termo de satisfao para a cura so percebidos de imediato, tanto pelo doente/famlia

    como pela equipa de assistncia.

    Por vezes, tarefas burocrticas afastam o farmacutico do doente. Contudo, a ateno

    farmacutica deve ter sempre como principais objectivos a sade e o bem-estar dos

    doentes. Neste sentido, o farmacutico no se deve limitar ao acto de dispensa mas deve

    tambm acompanhar o uso de medicamentos, avaliando regularmente a sua

    performance, melhorando assim a segurana e efectividade da farmacoterapia, e como

    consequncia a qualidade de vida do doente.

    Um modelo de comunicao centrado no doente pode ser portanto adoptado, com o qual

    as ideias do doente podem ser exploradas e pode lidar-se com preocupaes sobre sade

    e assistncia sade.

    A Ateno Farmacutica torna-se assim fundamental, orientando a melhor terapia

    medicamentosa para o doente, acompanhando RAM e interaces medicamentosas,

    diminuindo riscos de erros e descontinuidade do tratamento.

    A dor no cancro tem sido citada ao redor do mundo como um problema gravemente

    subestimado e de consequncias enormes para os doentes e as suas famlias. Os avanos

    na analgesia tm fornecido meios para aliviar a grande maioria das dores usando

    tcnicas farmacolgicas e por meio do reconhecimento da natureza multidimensional

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    59

    das mesmas. Esforos contnuos so necessrios a fim de eliminar barreiras para o alvio

    adequado da dor e superar no futuro a disparidade entre prtica corrente e o potencial

    para alvio para todos os doentes com cancro.

  • Cuidados Farmacuticos no Doente Oncolgico

    60

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    ANEXOS

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    Anexo 1 Primeira Entrevista

    (i) Fase de Preocupaes e Problemas de Sade

    (ii) Medicamentos que o doente utiliza

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    (iii) Fase de Reviso

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    Anexo 2 Estado de Situao