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Cultura Africana

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TEMA: CULTURA AFRICANA

CULTURA AFRICANACULTURA AFRICANA

Formação Continuada

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Cultura AfricanaCentro Universitário Leonardo da Vinci

OrganizaçãoTânia Cordova

Conteudista

Reitor da UNIASSELVIProf. Ozinil Martins de Souza

Pró-Reitor de Ensino de Graduação a DistânciaProf. Janes Fidélis Tomelin

Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a DistânciaProf. Hermínio Kloch

Diagramação e CapaLucas Albino Hack

Revisão:Anuciata Moretto

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1 INTRODUÇÃO

Caro(a) estudante, se estima que aproximadamente 45% da população brasileira é formada por negros e pardos. O Brasil é o segundo país com a maior população de origem africana no mundo, ficando atrás apenas da Nigéria.

Os africanos trouxeram em sua bagagem cultural suas crenças, sua culinária e suas formas de sociabilidade. Todavia, com toda a riqueza da influência das matrizes africanas em nossa cultura, sabemos muito pouco sobre este continente.

A força e a influência da cultura que os africanos reconstruíram em terras brasileiras são inegáveis. No entanto, até pouco tempo atrás essas contribuições culturais não eram reconhecidas ou valorizadas. Quando eram valorizadas, remetiam a uma situação de diferenças entre negros e brancos, isso porque ela era pensada em termos raciais.

Os livros didáticos, os noticiários dos jornais e outros meios de informação, na sua grande maioria, apresentam um conhecimento simplificado da África. Conhecimento este, que, muitas vezes, não oportuniza estabelecer relações com a real importância deste continente na construção de nosso país.

Nesse aspecto, organizamos algumas informações que buscam abordar conteúdos que trazem para a sala de aula a História da África e do Brasil Africano com o objetivo de propiciar a você, prezado(a) estudante, a reflexão sobre questões que estão presentes na sociedade contemporânea, como: a discriminação social, a valorização da diversidade étnica, o combate a práticas raciais, entre outras.

A primeira etapa deste curso organiza informações como a África e seus habitantes; as formas de organização e o comércio de escravos. Enfim, o objetivo da etapa é apresentar o continente africano para que possa ser construída uma imagem de um continente plural em sua diversidade.

A segunda etapa abordará os africanos no Brasil; a irradiação de elementos culturais africanos na cultura brasileira; a Lei nº 10.639 que torna obrigatório a inserção da História da África e Cultura Afro-brasileira.

Esperamos que as informações apresentadas auxiliem-no no trabalho em sala de aula e na sua formação enquanto estudante.

Bons Estudos!

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2 ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS DA ÁFRICA

Prezado(a) estudante, iniciamos nossos estudos sobre a cultura africana e a irradiação desta na construção da cultura brasileira. Para compreendermos as dimensões da influência das matrizes culturais africanas em nosso país, é necessário entendermos um pouco sobre este continente milenar. Assim, buscaremos neste primeiro item apresentar informações sobre os aspectos físicos, geográficos e sobre os habitantes que compõem o mosaico africano.

FIGURA 1 - MAPA FÍSICO DA ÁFRICA

FONTE: Souza (2007)

A África é o terceiro maior continente em extensão territorial e o segundo mais populoso da Terra, sendo constituído desde 1960 por 54 países independentes, sendo 48 continentais e 6 insulares. Este enorme continente apresenta uma grande diversidade geográfica. Nele há de tudo: montanhas,

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grandes desertos, florestas extensas, savanas. Ao nordeste a África é banhada pelo mar Vermelho, ao norte pelo mar Mediterrâneo, a oeste pelo Oceano Atlântico e a leste pelo Oceano Índico. Perceba, caro(a) estudante, que essa configuração possivelmente permitiu o contato com povos fora da África, o que contribui com o rompimento da visão de uma África como uma cultura estática e isolada.

Na África estão os desertos do Saara, localizado ao norte, e o deserto do Calahari localizado a sudeste. Os desertos africanos foram importantes para as rotas de comércio. Pelo deserto do Saara, por exemplo, transportavam-se mercadorias como o sal que era comercializado, principalmente, nas feiras do Sael. Sobre o comércio na África trataremos adiante neste curso.

Ao centro do continente africano localizam-se as florestas tropicais, as savanas ou campos de vegetação esparsa e rasteira, que separam áreas desérticas de áreas de florestas, e algumas terras altas, onde nascem os rios. É importante destacar, que cerca de metade do continente é formada por savanas.

Entre os rios africanos destacam-se o Nilo, que nasce na região do lago Vitória e deságua no mar Mediterrâneo. É relevante lembrar que o rio Nilo foi essencial na constituição da civilização egípcia. Nas montanhas do Futa Jalom nascem os rios Senegal, o Gâmbia, o Volta e o Níger. Estes rios deságuam no oceano Atlântico. São ainda importantes os rios em África: o Congo, o Cuanzo, o Limpopo e o Zambeze. Os rios africanos são importantes meios de comunicação, pois favoreceram as atividades comerciais que se serviam deles como vias de locomoção.

Com uma vasta extensão de terras que somam cerca de 8.000 km de norte a sul, 7.600 km de leste a oeste, totalizando 30.000.000 m2 de superfície, o continente africano pode ser dividido em cinco grandes regiões.

• A África do Norte: que se estende do Atlântico ao Mar Vermelho, compreendendo o Saara, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito.

• A África Ocidental: é composta pela região situada abaixo do Saara e do deserto da Líbia. A oeste pelo planalto da Etiópia e acima pela floresta tropical. Os pântanos do Alto Nilo compreendem ainda, a Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Cabo Verde, Mali, Níger, parte do Chade, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Burkina Faso, Togo, Benin, Nigéria e parte da República dos Camarões. (LOPES, 2006).

• A África Central: localiza-se abaixo de uma linha imaginária que vai de Duala, no Camarões, até a região dos Grandes Lagos (Vitória, Tanganica etc.), compreendendo Camarões (parte), República Centro-Africana, parte do Sudão, parte do Chade, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, Zaire e as ilhas de

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FONTE: Adaptado de: <www.alfandegas.gv.ao/files/.../20081114023711.manualSADC.pdf>.Acesso em: 25 jun. 2012.

• A África Austral: compreende os países de Angola, Zâmbia, Malaui, Moçambique, Zimbábue, Botsuana, Namíbia, Lesoto, Suazilândia e África do Sul.

São Tomé e Príncipe, no Atlântico.

• A África Oriental: localiza-se a leste e abaixo do planalto da Etiópia, incluindo a região dos Grandes Lagos e compreendendo parte do Sudão, Etiópia, Djibuti, Quênia, Tanazânia, Ruanda, Burundi, Somália, Uganda e as ilhas Madagascar, Comores, Maurício, Reunião e Seychelles, no Oceano Índico.

Caro(a) estudante, podemos compreender as dimensões e a divisão do continente africano no mapa a seguir.

FIGURA 2 - DIVISÃO POLÍTICA DA ÁFRICA (ATUAL)

FONTE: Souza (2007)

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Em relação ao clima, o continente africano também se apresenta sob uma diversidade. Em algumas regiões faz frio na maior parte do ano, em outras, predomina o calor úmido. Nos desertos, o calor seco ou a absoluta falta de umidade são predominantes. “Nas regiões costeiras do norte do continente e na parte meridional da África do Sul, o clima é temperado, com as quatro estações bem definidas, como na Europa”. (SILVA, 2008).

Nesta imensidão que é a África viveram e vivem diferentes grupos sociais organizados de maneiras distintas. Caro(a) estudante, no próximo item teceremos algumas informações sobre os habitantes e as formas de organização social africana.

3 A ÁFRICA E SEUS HABITANTES

3.1 A ÁFRICA NA GÊNESE DA HUMANIDADE

Se remontarmos aos estudos da Pré-História, vamos lembrar que vários fósseis com características humanas foram encontrados na África como, por exemplo: o fóssil encontrado em 1924, na África do Sul pelo pesquisador australiano Raymond Dart. Ou o fóssil de um Australopithecus afarensis de aproximadamente 3,2 milhões de anos, descoberto em 1974, pelo professor Donald Johanson no deserto de Afar, na Etiópia. Este fóssil apresentava metade dos ossos intactos e, de acordo, com as análises pertencia a uma fêmea sendo batizado de Lucy.

Em 2001, foram encontrados fósseis de um crânio, batizado de Toumai, que data de cerca de 7 milhões de anos, no deserto do Chade, na África Ocidental. A revista Science publicou, em outubro de 2009, o relato do pesquisador Tim White sobre a descoberta e a análise de um espécime de hominídeo o Ardiphitecus Ramidus que teria vivido a aproximadamente 4 milhões de anos na região da Etiópia.

FIGURA 3 - FÓSSIL DE LUCY

FONTE: Disponível em: <http://triskellion.blogspot.com.br/2010/12/qual-e-o-fossil-humano-mais-antigo.html>. Acesso em: 2 jun. 2012.

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FIGURA 4 - CRÂNIO TOUMAI

FONTE: Disponível em: <http://anthropology.net/2008/02/28/the-march-4th-issue-of-pnas-will-confirm-aradiochronological-date-for-toumai/the-toumai-

cranium/>. Acesso em: 2 jun. 2012.

FONTE: Disponível em: <http://ilevolucionista.blogspot.com.br/2010/08/ardiphitecus-ramidus-entrevista-tim.html>. Acesso em: 2 jun. 2012.

FIGURA 5 - CAPA DA REVISTA SCIENCE/OUT 2009

Há cerca de dois milhões de anos, o Homo erectus desenvolveu ferramentas de pedra rudimentares, mas adequadas ao seu modo de vida. Posteriormente, o Homo sapiens habitou o território africano, e de lá, de acordo com algumas teorias como a do Estreito de Bering, teria migrado para outras regiões dando início ao povoamento do planeta.

Em seus estudos, o historiador Joseph Ki-Zerbo, aponta que as técnicas desenvolvidas pela espécie homo e que são características das diferentes fases da pré-história parecem ter-se sobreposto e coexistido durante longos períodos na África. Essa posição de Ki-Zerbo vem reforçar a importância da História da África para a história da humanidade colocando-a como na gênese das civilizações. (CORDOVA, 2010).

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A África é riquíssima de línguas e culturas. Estimasse que no continente existam mais de mil idiomas. Algumas destas línguas como o suaíli e o hauçá, são faladas por milhões de pessoas em uma extensa área geográfica.

Uma das perspectivas de estudo deste continente é a partir dos grupos linguísticos. Na África delimitam-se a existência de quatro grandes grupos: Afro-Asiático, Níger-Congo, Nilo-Saariano e Cóisan espalhados por toda a região africana, conforme mostra o mapa a seguir.

3.2 GRUPOS LINGUÍSTICOS DA ÁFRICA

FIGURA 6 – MAPA DOS GRUPOS LINGUÍSTICOS DA ÁFRICA

FONTE: Souza (2007)

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O ramo africano do tronco linguístico afro-asiático (composto também de línguas semíticas como o árabe, o hebraico e o aramaico, entre outras) compreende povos que vivem em toda a região entre o Chifre da África parte do deserto do Saara e Sael se estendendo até a região do Magrebe (Marrocos e Argélia).

Os povos falantes da língua afro-asiáticas são formados pela mistura entre os povos autóctones e os migrantes de outros continentes, especialmente do Oriente Médio. Estes povos se espalharam pela costa e pelo interior do continente, pelo vale do rio Nilo, pela Etiópia, chegando ao atual Marrocos. Dentre os principais povos dessa origem estão os berberes, azenagues e tuaregues do deserto do Saara.

Os povos nilo-saarianos espalhavam-se das nascentes do rio Nilo (próximo ao Lago Vitória) até o coração do deserto do Saara e eram, portanto, em sua maioria, nômades ou criadores de gado. Havia, no entanto, alguns povos desse grupo que praticavam a agricultura e o artesanato, ou que passaram a beneficiar-se do comércio transaariano, e em função desta atividade, geralmente, se convertiam ao islamismo, ou a formas africanas de islamismo.

Os povos falantes da língua nilo-saariana disputaram com os bantos a ocupação da região dos lagos Vitória e Tanganica.

Nos últimos anos, estabeleceu-se um consenso de que a enorme variedade de línguas existentes nas regiões do litoral atlântico (no Senegal) até o Oceano Índico (em Moçambique e no Quênia) e da República Centro-Africana até África do Sul tem uma origem comum.

3.2.1 Os povos afro-asiáticos

3.2.2 Os povos nilo-saarianos

3.2.3 Os povos níger-congoleses

Chifre da África é o nome dado à saliência do continente, em forma de chifre, que contorna a península Arábica, formando o golfo de Aden, onde hoje se localiza a Somália.

IMPORTANTE:

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No extremo sul da África, nas regiões da atual Namíbia e norte da África do Sul, a expansão dos bantos não conseguiu assimilar ou exterminar alguns povos autóctones, caçadores e coletores, mas que aprenderam a pastorear o gado. Os povos dessa região – os hotentotes (chamados de cois) e os bosquímanos (conhecidos como sãs) – são conjuntamente conhecidos como cóisans.

A principal característica de seus idiomas são os sons de estalidos (golpes com a língua), que servem como consoantes comuns. São características

3.2.4 Os povos cóisan

Os povos do grupo níger-congo ocupam a maior parte do continente africano, e mantêm características linguísticas semelhantes – em especial, a alternância entre vogais e consoantes na mesma sílaba, a nasalisação e o sistema tonal, que dá a línguas como o iorubá e o banto, ouvidos nas cerimônias das religiões afro-brasileiras, suas características tão peculiares.

O tronco linguístico níger-congolês se subdivide em cinco grupos. O mais numeroso é o dos bantos, que teriam surgido provavelmente na região da atual Nigéria e, ao longo de mais de 2.500 anos, empreenderam uma grande migração por toda a região central da África, até o Oceano Índico. Conforme a região onde se estabeleciam, receberam nomes diferentes como: ovimbundos, cassanjes, bacongos e lundas na região de Angola e do Congo receberam o nome de: zulus, sesotos e suazis no sul, iaôs na costa do Índico.

Nessa região, o idioma suaíli, de origem banta e com influência do árabe e de outras línguas da região, tornou-se uma língua franca. Os demais grupos se estabeleceram na África Ocidental como os kwa, grupo ao qual pertencem línguas como: o axante, o iorubá, o ibo, o igala e o nupe, falado nas regiões de florestas e savanas que se estendem da costa atlântica até o Sael.

Das florestas do baixo Níger, os mandê (como os songai e os soninquê), que vivem no alto Níger e construíram alguns dos impérios mais notáveis da África, ao sul do Saara; os fulas, mandingas e jalofos do litoral atlântico, no atual Senegal; e os mossis, que vivem na região do alto Rio Volta (no atual Burkina Fasso).

Os povos desse grande grupo linguístico estão diretamente relacionados à história do Brasil, pois os escravos trazidos para cá eram originários de diversos pontos da enorme região geográfica que ocupavam. Conforme a origem, eram denominados: bantos, quando eram do grupo étnico de mesmo nome, ou sudaneses, quando originados dos outros grupos níger-congoleses.

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que não ocorrem em nenhuma outra língua do mundo. Exceto alguns idiomas bantos de povos que vivem próximos a seus territórios (como o xhosa e o zulu, povos da África do Sul), que os receberam por influência. Estudos recentes com DNA mitocondrial, que tentam apontar as relações de parentesco entre os diversos povos, indicam que os povos cóisan são, provavelmente, os grupos geneticamente mais próximos da matriz original de todos os seres humanos.

FONTE: Disponível em: <http://geopoliticaclaudiomar.blogspot.com.br/search?q=podem+ter+valores>. Acesso em: 35 jun. 2012.

O historiador Alberto da Costa e Silva (2008) chama a atenção para o fato de que em uma área, onde predomina determinado idioma pode haver pequenos bolsões de outro. Ou de outros. Muitas vezes, dois grupos vizinhos se expressam em línguas inteiramente diferentes. E podem ter valores e maneiras de viver, também distintos. Ou, ao mesmo tempo, semelhantes e diferentes. Ou até conflitantes.

Esta situação, exposta por Silva (2008), pode ser observada, caro(a) estudante, no mapa dos grupos linguísticos, localizado no início deste item, onde grupos falantes do nilo-saariano estavam inseridos ou próximos a grupos afro-asiáticos.

Um exemplo pode ser verificado, a partir das diferenças culturais entre os iorubás e os ibos, ambos pertencentes ao mesmo grupo linguístico. Os níger-congoleses e distantes pouco mais de uma centena de quilômetros.

Entre os iorubás, o nascimento de gêmeos é celebrado como um acontecimento positivo e a mãe é vista como favorecida pelas divindades. Já entre os ibos, os gêmeos eram, no passado, considerados uma abominação e abandonados na floresta, enquanto a mãe tinha de se submeter a cerimônias de purificação (SILVA, 2008).

Não só as culturas diferem de povo para povo, na organização social e política essa situação não foi dessemelhante. No próximo item, vamos compreender como estava organizada a África na dimensão social.

O continente africano é cenário da origem de diversas culturas e organizações sociais, que realizavam todas as atividades que costumamos definir como civilização: agricultura, criação de animais, metalurgia, entre outros. As sociedades africanas, das mais simples às mais complexas, organizavam-se a

4 AS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL

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FONTE: Adaptado de: <http://historiabh.blogspot.com.br/2009/02/historia-africana-e-cultura-afro.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

De acordo com Souza (2007), as confederações eram formas de organização social e política mais ampla do que as aldeias e envolviam mais pessoas. Não havia um único chefe, as decisões eram tomadas por representantes do conjunto de aldeias.

Prezado(a) estudante, o conceito de civilização diz respeito ao conjunto de características desenvolvidas pelos grupos sociais a partir de suas realizações, em especial aquelas marcadas por certo grau de desenvolvimento tecnológico, econômico e intelectual, tendo como referência o modelo das sociedades ocidentais modernas, caracterizadas por diferenciação social, divisão do trabalho, urbanização e concentração de poder político e econômico.

Os povos nômades, que também circulavam no continente, podiam tanto ser pastores do deserto como coletores e caçadores das florestas. Devem ser considerados entre as formas de organização social.

partir da fidelidade ao chefe e das relações de parentesco. O chefe, cercado de seus dependentes e agregados constituía o núcleo básico de organização social na África.

Na África, a forma mais comum de os grupos se organizarem foi a aldeia. Nela, a prática de caça e coleta, daquilo que a natureza oferecia, ou o plantio, foram as formas mais recorrentes de sobrevivência.

As aldeias eram formadas por famílias, cada uma com seu chefe, sendo todos subordinados ao chefe da aldeia que era o responsável por liderar os guerreiros quando era necessário, por distribuir a terra, atribuir castigos às pessoas que não seguiam as leis. Nesse sentido, o chefe era o responsável pelo bem-estar de todos que viviam sob sua proteção e para isso recebia parte do que as pessoas produziam na agricultura, na criação de animais, na caça ou na coleta.

Outra forma de organização social foi a confederação, onde várias aldeias podiam estar articuladas uma com as outras. As aldeias confederadas prestavam obediência a um conselho de chefes. O casamento entre pessoas de diferentes famílias ou aldeias e trocas de produtos eram os principais motivos que faziam com que as aldeias se articulassem e formassem uma confederação.

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As cidades na África, que não chegaram a formar reinos são outra forma de organização social. No geral, estas cidades eram cercadas por muros feitos de terra, pedra ou paliçadas.

De acordo com Souza (2007), as cidades eram também centros de comércio, onde diferentes rotas se encontravam. Por trás dos muros, funcionavam os mercados. Moravam comerciantes e os vários chefes que tinham diferentes atribuições e viviam em torno do rei. Os artesãos se agrupavam, conforme as atividades que desenvolviam e, nos arredores da cidade viviam os agricultores e pastores.

Na África, algumas sociedades formaram grandes reinos como o Mali, Oió, Axante, Songai, Daomé e Egito. As informações mais antigas acerca de povos africanos referem-se a este último, onde há aproximadamente 5 mil anos, no vale do rio Nilo floresceu uma civilização que durou mais de 2 mil anos. E deixou algumas marcas de sua existência como a construção de templos. Ainda nesta mesma região, outra civilização surgida em 750 a.C. foi a Núbia.

Nessa mesma região, localizada no atual Sudão, houve sucessivos reinos que se impuseram sobre reinos menores com destaque aos reinos de Meroe, surgido por volta de 500 a. C e o reino da Etiópia (SOUZA, 2007).

O reino de Benim, existente até os dias de hoje, está integrado à Nigéria assim como os emirados de Kano, Zária e Katsina. Na África existiram outros reinos que embora tenham sido poderosos, tiveram pouca duração como o reino de Angúni de Gaza, em Moçambique e o sultanato fula de Macina localizado no atual Mali.

Os reinos africanos tiveram tamanhos variados e surgiram em momentos distintos da história africana. A grande maioria constituiu-se a partir dos conflitos, guerras entre povos que coabitavam este continente.

As formas de administrar a justiça, o excedente de produção, as forças militares, o comércio, a expansão territorial eram ditados por um chefe maior que morava na capital. Desta capital, o chefe exercia a autoridade sobre todos os outros chefes e procurava manter a unidade do reino.

FONTE: Adaptado de: <http://historiabh.blogspot.com.br/2009/02/historia-africana-e-cultura-afro.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Nas capitais dos reinos havia concentração de riquezas e poder, de gente, de oferta, de alimentos e serviços, de possibilidades de troca e de convivência de diferentes grupos. (SOUZA, 2007).

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FONTE: Disponível em: <http://gephiseseba.blogspot.com/feeds/posts/default>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Antes do Mali, o reino de Gana, foi um importante reino localizado ao norte do rio Senegal, sendo a primeira organização política que se beneficiou do comércio transaariano. Vamos estudar alguns reinos africanos.

Caro(a) estudante, antes de os europeus tomarem conhecimento da África subsaariana, existiram nela algumas sociedades que merecem ser lembradas como o reino do Mali, que foi o primeiro reino da África negra que se tem notícias.

As cidades de Tombuctu, Jené e Gao foram importantes cidades, centros de troca e concentração de pessoas, graças à rede de rios que fertilizava as terras e possibilitava o transporte (SOUZA, 2007).

O reino de Gana, localizado em uma posição estratégica no Sael, a meio caminho do deserto e das minas de ouro e sal da bacia do rio Senegal. Foi um poderoso reino no qual se davam os negócios entre os comerciantes que traziam ouro do sul e os caravaneiros que iam para os portos do norte da África (SOUZA, 2007).

A composição étnica deste reino era formada, principalmente, de soninquês (também chamados saracolês), povos da família mande do grupo linguístico níger-congoleses.

O reino de Gana não constituiu um estado nacional, nem tinha uma estrutura semelhante a um império europeu e, ao que tudo indica o território nem tinha um nome oficial. A origem de seu nome teria surgido, de acordo com os relatos de Al Bakri, um árabe, natural de Córdova, na Andaluzia, que circulou na região no século XI, do título dado ao soberano (SOUZA, 2007).

Este reino, também não configurou um território organizado, delimitado e administrado por uma estrutura rígida de governo. Para Gana, importava menos a extensão de seus territórios do que a relação que estabelecia com os seus dominados. A principal motivação das guerras era a conquista de aldeias e grupos humanos que pudessem fornecer tributos, escravos requisitados pelos comerciantes do Magrebe e soldados, para defenderem a região dos reinos vizinhos de Takrur, Gaô e outros, bem como dos berberes do Saara.

O objetivo da conquista era, portanto, a captura de pessoas, que

4.1 O REINO DE GANA

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traziam consigo os territórios que ocupavam. Do exército de Gana, dizia-se que o soberano conseguia reunir cerca de 200 mil homens em um breve espaço de tempo.

O poder de Gana atingiu seu apogeu nos anos finais do século X e início do século XI, quando as disputas com os vizinhos cessaram. A enorme riqueza proporcionada pelo comércio de ouro, sal e outros produtos – como a noz-de-cola, estimulante muito procurado pelos muçulmanos e escravos, permitiu aos chefes de Gana criar uma corte cheia de pompa, que impressionou até os viajantes muçulmanos habituados ao luxo.

O sal era uma mercadoria tão necessária que o seu status chegou a igualar e, por vezes, ultrapassar o valor do ouro. A capital, Kumbi ou Kumbi Saleh, de acordo com as descrições de Al Bakri, era composta de duas cidades gêmeas, uma habitada pelos animistas e a outra por comerciantes e dignatários muçulmanos. Situadas a seis milhas de distância uma da outra e unidas por uma larga avenida. A cidade real (animista) era rodeada de bosques sagrados, e, por isso, os árabes a denominaram El-Ghaba (a floresta).

A partir do século XI, esse reino entrou em declínio. Aos poucos as províncias do sul deixaram de ser leais a Gana, e a maciça presença de muçulmanos, provavelmente, contribuiu para desestabilizar o governo e colocá-lo à mercê dos exércitos vindos do norte. A nova dinastia dos Almorávidas, que comandava o Magrebe (atuais Marrocos e Argélia) e a Península Ibérica, investiu contra o reino de Gana e conseguiu conquistá-lo em 1076. O vácuo de poder na região duraria algumas décadas, até o surgimento do reino do Mali, no século XII.

As regiões de floresta do baixo Níger, na atual Nigéria, passaram a ser ocupadas, possivelmente entre os séculos VI e XI, pelo grupo étnico ibo, também denominado iorubá. Sua estrutura de organização era bastante democrática para os padrões da região: organizava-se em aldeias, que chegavam a reunir milhares de habitantes. As aldeias eram independentes umas das outras. Embora, às vezes, ligadas pelas devoções a uma mesma divindade e por ancestrais em comum. Assim, não se pode falar propriamente na formação de reinos iorubás, mas em confederações de cidades.

As origens dos ibos estão mergulhadas em relatos mitológicos, de modo que é muito difícil determinar com precisão sua validade. A cosmologia dos iorubás é repleta de divindades (chamadas orixás), que possivelmente se referem aos ancestrais reais, divinizados após a morte. O grande antepassado

4.2 OS REINOS IORUBÁS E O BENIN

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de todos os ibos é Odudua, que teria dado origem aos reinos iorubás como Oió e Ilê Ifé.

A cidade de Ilé Ifé era reconhecida por todos os iorubás, como a fonte de poder e de legitimidade dos soberanos, e era para lá que eram levados seus restos mortais. O soberano de Ifé, chamado Oni, era considerado o grande sacerdote dos orixás. Mesmo após a Diáspora (nome dado, atualmente, pelos estudiosos para a migração forçada dos africanos para trabalharem como escravos na América). Ifé manteve a reputação de local sagrado.

FONTE: Disponível em: <http://oridesmjr.blogspot.com.br/2012/02/os-reinos-iorubas-e-daomeanos.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

No século XVI, enquanto outros reinos iorubás ascenderam, Ifé entrou em declínio. A presença de comerciantes na costa atlântica fortaleceu as cidades mais próximas dos lugares em que ancoravam, trazendo em seus navios novas mercadorias, que passaram a ser desejadas pelos chefes africanos. Mas, mesmo com a ascensão de outros reinos e o seu empobrecimento econômico, Ifé, manteve a importância religiosa. Todos os chefes das várias cidades-estados que teriam sido fundadas por descendentes de Odudua iam até Ifé para terem seus poderes confirmados pelo Oni (SOUZA, 2007).

O reino de Oió, legendariamente fundado por Oranyan e comandado por seu filho Xangô, localizava-se ao norte, na confluência dos rios Níger e Benue, e chegou a ter uma grande proeminência na região. Seus governantes, os alafngs, recebiam seu poder dos orixás, que lhes emprestavam um poder de atuação sobre a natureza – axé. Mas seu poder não era absoluto, e estava sujeito a inúmeras formas de controle por parte de um Conselho de Estado.

Também dos descendentes de Oranyan, teria surgido o reino do Benin. Ali, no entanto, o poder estava bem mais centralizado na figura do soberano (Obá) do que em Oió. Detinha um poder absoluto, mas era vigiado de perto pelo Conselho de Estado. Como soberano, tinha o monopólio das transações comerciais, o que lhe proporcionava (e ao reino) riqueza suficiente para erguer uma capital que deslumbrou os viajantes que a conheceram.

O reino do Benin entrou em contato com os portugueses nos últimos anos do século XV, quando uma expedição portuguesa chegou à capital do reino. E estabeleceu os primeiros contatos com o Obá que foi favorável aos portugueses, autorizando práticas comerciais. O comércio com os portugueses envolvia além de escravos, armas, pimentas, vestimentas, marfim, entre outros.

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16 Cultura Africana

De acordo com Souza (2007), muitas das informações que se sabe sobre os reinos de Ifé e Benin são proveniente da riqueza de objetos encontrados como placas e cabeças esculpidas e moldadas em metal, que datam dos séculos XV e XVI, época em que os portugueses chegaram a essa região africana.

Para os povos africanos, as esculturas eram objetos de rituais, de comunicação com os deuses e também uma maneira de mostrar e diferenciar-se das demais sociedades.

Prezado(a) estudante, na segunda etapa deste curso, estudaremos sobre a escultura africana.

FIGURA 7 – ESCULTURAS AFRICANAS

FONTE: Disponível em: <http://www.portaldarte.com.br/arteafricana02.html>. Acesso em: 3 jun. 2012.

O líder do reino Benin, ainda permitiu que missionários cristãos construíssem igrejas no reino, que seus súditos batizassem. No entanto, ele não se converteu ao cristianismo, como fez o rei do Congo, nosso próximo reino há ser estudado.

Ao Sul, na margem meridional do baixo rio Congo, existiu um reino que se tornou conhecido não só pela influência que teve sobre os povos da região,

4.3 O REINO DO CONGO

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FONTE: Disponível em: <http://oridesmjr.blogspot.com.br/2012/03/o-reino-do-congo.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

mas pelos estreitos laços com os europeus. Estes por sua vez, mantiveram uma significativa produção de observações sobre estes povos, que foram utilizadas como fontes para a compreensão da estrutura social, econômica e política desses povos.

Os membros desse grupo, que seguiam a liderança de Nimi a Lukeni, passaram a ser chamados de muchicongos e ocuparam terras já habitadas por outros povos bantos, como eles. Por meio de casamentos e alianças, os recém-chegados se misturaram aos antigos moradores dessas áreas, mas guardavam para si as posições de maior autoridade e poder. Sob a liderança dos muchicongos, radicados na capital (Banza Congo), se formou uma federação de províncias às quais pertenciam conjuntos de aldeias.

Nestas continuaram em vigor os poderes tradicionais das famílias, as candas, que as haviam fundado. Nas aldeias, um chefe e seu conselho tratavam de todos os assuntos referentes à vida da comunidade. Já um conjunto delas estava submetido à autoridade de um chefe regional, que fazia a ligação delas com a capital, de onde o ntotila, ou mani Congo, governava todo o reino (SOUZA, 2007).

O reino do Congo se formou a partir da mistura, por meio de casamentos e alianças, de uma elite tradicional com uma elite nova, descendente de estrangeiros que vieram do outro lado do rio.

Por volta de 1438, iniciam-se os primeiros contatos entre portugueses e africanos do reino do Congo. Os portugueses encontraram uma sociedade hierarquizada, com aglomerados populacionais que funcionavam como capitais regionais e uma capital central. Na qual o mani Congo, como o obá do Benin e muitos outros chefes de diversos grupos, viviam em construções grandiosas, cercado por mulheres e filhos, conselheiros, escravos e ritos (SOUZA, 2007).

No reino do Congo viviam agricultores que muitas vezes, quando convocados pelo soberano, participavam dos conflitos internos e externos do reino como, por exemplo, rebeliões de aldeias que queriam desligar-se do reino. As aldeias (lubatas) e cidades (banzas) pagavam tributos ao mani Congo, geralmente com o que produziam: alimentos, tecidos, sal e metais.

Nos mercados regionais eram trocados produtos de diferentes

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regiões do reino. A capital do reino, Banza Congo, encontrava-se na confluência de várias rotas comerciais. O mani Congo controlava o comércio, o trânsito de pessoas, recebia os impostos, exercia a justiça, buscava garantir a harmonia das pessoas do reino (SOUZA, 2007).

Os limites do território eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam tributos ao poder central, devendo fidelidade e recebendo proteção, tanto dos assuntos desse mundo, como dos assuntos do além, pois o mani Congo era responsável, também, pelas boas relações com os espíritos e ancestrais (SOUZA, 2007).

Quando os portugueses entraram em contato com esse reino, perceberam que seria um bom parceiro comercial, e trataram de manter relações amistosas com ele. Em contrapartida, o mani Congo e os chefes, também perceberam a importância de uma boa relação com os portugueses. Por mais de três séculos portugueses e congoleses mantiveram relações comerciais, políticas pautadas pela independência dos dois reinos, mas os portugueses acabaram por controlar a região, que hoje corresponde ao norte de Angola.

FONTE: Adaptado de: <http://oridesmjr.blogspot.com.br/2012/03/o-reino-do-congo.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Uma das mais impressionantes demonstrações da sofisticação cultural dos bantos pode ser encontrada no sul da África. Trata-se de conjuntos de ruínas monumentais feitas de pedra chamadas Zimbabués. Estas enormes muralhas de pedra chegam a 5 metros de altura por mais 2 metros de largura sem nada para uni-los a não ser a sobreposição de uma pedra na outra. Existem vários zimbabués no país que recebeu esse nome e no norte da África do Sul. Essas construções estavam articuladas a um reino que os portugueses, quando chegaram até lá, denominaram Monomotapa (Mwene Mutapwa), título dado ao soberano.

O reino Monomotapa era bastante próspero, rico em marfim, ouro e outros metais e estabeleceu contatos comerciais com outras regiões como a China e a Índia. De acordo com Souza (2007), foram encontradas em escavações próximos aos zimbabués porcelanas chinesas e contas indianas, provando que mercadorias passavam de mão em mão continente adentro.

Os povos xonas ou carangas, como eram chamados pelos portugueses,

4.4 O REINO DO MONOMOTAPA

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A presença de comerciantes árabes e portugueses no interior do continente, querendo controlar o comércio de ouro e marfim aumentou os conflitos e as tensões existentes entre os diferentes povos. Mesmo sem encontrar as riquezas esperadas, os portugueses se instalaram naquelas terras, procurando manter relações amistosas com os chefes locais.

Muitas vezes, se casavam com as filhas destes, fortalecendo os laços que os uniam a eles. Desta forma, se formou naquela região um grupo que ocupava lugar privilegiado no comércio por trocarem ouro e o marfim vindos do interior por tecidos, contas, objetos de metal trabalhados, barras de cobre e sal oriundo da costa (SOUZA, 2007).

FONTE: Disponível em: <http://oridesmjr.blogspot.com.br/2012/04/o-reino-de-monomotapa.html>. Acesso em: 27 jun. 2012.

habitaram também essa região e comercializavam sal, cobre e gado com seus vizinhos do interior. Vivendo em terras férteis e envolvidos em intercâmbios comerciais, desenvolveram uma sociedade muito pouco conhecida, mas provavelmente com uma chefia centralizada, que combinava poderes administrativos com poderes religiosos (SOUZA, 2007).

Entre os séculos XVII e XVIII, este reino comercializou escravos com outras regiões. No entanto, foi um comércio que não atingiu as proporções como o da costa ocidental da África. Estes escravos destinavam-se à Índia, enquanto que os escravos da costa ocidental eram enviados para o Brasil e o resto do continente americano.

Caro(a) estudante, para reforçarmos o estudo sobre as organizações sociais na África, sugerimos que observe o mapa que apresenta a localização aproximada dos reinos e cidades do passado, que se constituíram em diferentes momentos da história africana. Estes lugares na África tornaram-se importantes centros de poder e comércio.

Sobre o comércio na África, estudaremos no próximo item.

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FIGURA 8 – ÁFRICA COM CIDADES E REINOS ANTIGOS

FONTE: Souza (2007)

A região do deserto do Saara era e ainda é habitada por uma diversidade de povos nômades conhecidas como berberes que criavam camelos e conheciam os oásis e poços de água. Este conhecimento fazia deles os guias que tornavam possível o trânsito de pessoas e produtos por esta região.

Caro(a) estudante, de acordo com Souza (2007), a introdução do camelo na África, trazido da península Arábica, possibilitou a melhoria das condições de circulação pelo deserto, facilitando a comunicação e sustentando um comércio que uniu o Sael ao norte da África e ao Mediterrâneo.

5 AS RELAÇÕES COMERCIAIS EM ÁFRICA

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FONTE: Disponível em: <sigplanet.sytes.net/nova_plataforma/monografias../8014.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2012.

Os diferentes grupos sociais africanos trocavam seus produtos por meio do comércio de curta ou longa distância. O comércio de longa distância era o mais lucrativo, pois nele se trocavam mercadorias raras e de maiores valores, que apenas os mais poderosos podiam pagar.

Esse tipo de atividade exigia um investimento maior, pois era preciso comprar mercadorias a ser negociadas; providenciar o transporte e a segurança das cargas; esperar o melhor momento para negociar. A margem de lucro era, suficientemente, grande para sustentar um grupo de comerciantes ricos, próximos dos poderes centrais das sociedades nas quais viviam (SOUZA, 2007).

O comércio de curta distância se organizava, a partir da vida da aldeia, das cidades próximas, das províncias, envolvendo as regiões vizinhas. O excedente de um grupo era trocado pelo de outro. Nas cidades da costa oriental e na costa atlântica, a partir do século XV, por exemplo, quase todos os povos mantinham algum tipo de troca com seus vizinhos. Rotas fluviais e terrestres possibilitaram a circulação de mercadorias.

As trocas regulares de produtos deram origem ao desenvolvimento de redes comerciais internas na África. Desde o século VII, as regiões africanas estabeleciam contatos entre si. Os produtos que circulavam por estas rotas eram: sal, ouro, cobre, marfim, noz-de-cola, entre outros.

Sael é o nome que se dá a faixa de savana que ocorre ao sul do deserto do Saara. O termo vem do árabe Sahil, que quer dizer costa, pois a região era referida como sendo uma praia para o verdadeiro mar interior que é o Saara. Esta faixa se estende pelos atuais países do Mali, Níger e Chade, o Darfur na República do Sudão.

ATENÇÃO

O comércio era uma importante forma das sociedades se relacionarem. No entanto, além de mercadorias, os grupos trocavam também ideias e comportamentos. Os produtos eram negociados por pessoas vindas de longe, com costumes e crenças diferentes, que algumas vezes eram incorporados, misturando às tradições locais (SOUZA, 2007).

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O sal extraído das minas de Teghazza, por exemplo, supria os mercados do Sudão ocidental. Já em Arwill, o sal extraído das margens do rio Senegal abastecia o interior do Níger. O sal, em algumas regiões, era utilizado como moeda comercial entre as sociedades africanas.

No século X, registra-se a ocorrência do comércio de ouro desde a África Ocidental até o sul do Saara. Quatro séculos mais tarde, o reino Mali influirá decisivamente na expansão do mercado de ouro, evidenciando a importância da rota de Tombuctu a Kayrawam, passando por Wargla.

O mapa a seguir demonstra as rotas de comércio que atravessavam o deserto do Saara.

FIGURA 9 – ROTAS COMERCIAIS TRANSAARIANAS

FONTE: Hernandez (2008)

No centro do Sudão e na região do Chade, onde se situavam o reino de Bornu-Kanem e as cidades Hauça, formaram-se importantes pontos de desenvolvimento do comércio intracontinental. Exportavam sal, cobre, presas de elefante, produtos manufaturados e escravos.

O comércio de sal e de outros produtos foi também praticado na rota que atravessava o interior da Etiópia até o Zambeze. Mostrando que a floresta equatorial não foi uma barreira entre as savanas setentrionais e meridionais.

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Existem registros de trocas de técnicas, objetos e estatuetas entre a Nigéria e Angola. A tradição oral é rica em referências às trocas de ideias e à migração de povos de uma região a outra.

A inserção dos árabes, neste continente, intensificou e ampliou a circulação comercial entre os séculos XII e XVI, estendendo-se em especial da zona sahelo-sudanesa ao Magrebe. Seguindo os itinerários dos principais produtos africanos, pode-se constatar a complexidade e o dinamismo das relações comerciais e culturais entre cidades de diferentes regiões do continente (HERNANDEZ, 2008).

É relevante destacar que a entrada dos povos do Oriente Médio no Continente Africano fez com que diversos grupos adotassem o Islamismo como religião. Foi o que aconteceu com os povos da região do Marrocos no século XI, ou com os povos da região do Sael, que adotaram em maior ou menos grau elementos da cultura árabe.

O conhecimento do intercâmbio comercial entre as regiões em África, conduzido pelos próprios africanos ou por agentes externos (como os árabes), auxilia na concretização de uma unidade histórica como a de dinamismo cultural do continente africano, apresentando intercâmbios entre diversas organizações políticas de complexidade e extensão notáveis (HERNANDEZ, 2008).

Afastando a noção de um continente cortado em duas partes incomunicáveis e ao mesmo tempo rompe com a ideia de uma África homogênea.

Enfim, o desenvolvimento de redes comerciais dentro do continente africano, das mais diferentes formas, possibilita pensarmos na dinâmica vivida pelos povos africanos. Povos que antes da chegada do europeu, estabeleceu contato com diferentes regiões como a Arábia, a Índia, a China, a Ásia Ocidental e a própria Europa.

Caro(a) estudante, nas rotas comerciais africanas houve uma mercadoria, que a grosso modo irá aquecer as relações comerciais entre a África e a Europa. Esta mercadoria era o escravo. No próximo irem estudaremos sobre a escravidão e comércio de escravos.

Durante quase quatro séculos, para suprir de mão de obra na Europa e no continente americano, a África foi despojada de um enorme contingente

6 A ÁFRICA E O COMÉRCIO DE ESCRAVOS

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de africanos de diferentes grupos sociais. Aproximadamente 12,5 milhões de pessoas desembarcaram, na condição de escravos, nas Américas. Destes cerca de 4 a 5 milhões no Brasil.

Anterior, ao comércio de escravos com a Europa, o africano já comercializava escravos com outras regiões. Entre os anos de 650 e 1600 foram enviados, à força, cerca de oito milhões de pessoas para o mundo islâmico, para a África do Norte, o Oriente Médio e países do Índico.

No entanto, mesmo com a existência de um comércio de escravos na África, anterior aos europeus, é errôneo pensar que a escravidão atlântica foi uma extensão da escravidão africana.

Caro(a) estudante, antes de adentrarmos ao comércio transatlântico de escravos e a consequência deste às Américas e a África, estudaremos como o africano se tornava escravos.

A autora Leila Leite Hernandez na obra a África na sala de aula, publicada em 2008, se propõe a responder sobre os mecanismos que levavam à escravidão nas sociedades africanas antes dos europeus. Para esta autora, quatro aspectos devem ser levados em consideração para pensar a escravidão na África.

O primeiro foram as guerras internas. Tais guerras cresceram com a expansão dos mulçumanos pelo Mediterrâneo e o aumento das demandas por escravos. As guerras ocorriam por razões variadas, como:

- o rapto de mulheres de comunidades clânicas ou linhageiras;

- os conflitos entre estados em formação ou já formados;

-a expansão com vistas a incorporar povos tributários, segundo sistemas de servidão com tributos e prazos fixados pela tradição.

Um segundo aspecto seria a fome ou a impossibilidade de viver por falta de recursos. Esta condição impelia o africano a vender a si mesmo e a sua família como escravos. A punição judicial foi outra forma de passar da condição de homem livre para a de escravo. Muitas vezes, toda a família do condenado, também era escravizada. Os crimes que sentenciavam a esta punição eram assassinato, agressão armada, adultério, furto e feitiçaria.

Com o passar do tempo, o número desses condenados foi aumentando, porque reis e chefes, desejosos de atender à demanda dos mercadores, passaram a aplicar a pena de escravidão a delitos insignificantes.

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A garantia do pagamento de uma dívida também foi uma forma de cercear a liberdade do africano. Enquanto durasse a dívida, durava o cativeiro. Nesses casos, os escravos tinham acesso aos meios de produção, sendo que o principal era a terra.

No modo de escravidão africano, os escravos podiam, em alguns casos, casar-se com pessoas livres e eram considerados membros da família do senhor. Os filhos de escravos não eram vendidos, nem maltratados. Muitos acabavam por reconhecer o soberano como seu próprio rei. Em algumas regiões africanas, os escravos desenvolveram funções administrativas e militares. Em outras foram submetidos a serviços desagradáveis e extenuantes como carregar cargas.

Caro(a) estudante, as relações escravistas que se estabeleceram no continente africano, de sociedade para sociedade, foram diferentes das que se estabeleceram em solo americano, onde o trabalho escravo foi a mola propulsora da economia das colônias europeias nas Américas.

O expansionismo europeu sobre as Américas, na perspectiva da exploração colonial, demandou a organização de sistemas coloniais que contaram com a formação de regimes escravistas. Quanto mais os europeus avançavam sobre as Américas, principalmente nos séculos XVI e XVII, mais crescia a necessidade por mão de obra.

Diante disso, europeus e americanos, aliados às elites africanas, organizaram dos dois lados do Oceano Atlântico um enorme empreendimento denominado de Tráfico Atlântico. A instituição desta prática alterou, profundamente, a história do Continente Africano e trouxe significativas contribuições para o continente americano.

Prezado(a) estudante, o termo Tráfico Atlântico é o nome que se utiliza para definir o comércio de homens e mulheres pelo Atlântico entre os séculos XVI e XIX.

Entre os anos de 1520 até 1870, várias regiões da África forneceram escravos para as Américas. As primeiras levas de escravos foram destinadas a trabalhar nas minas de Prata descobertas pelos espanhóis no Peru. Em seguida, inicia-se o desembarque de africanos para atender a produção de açúcar, primeiro no Brasil e depois no Caribe.

Não tardou para que fossem também, responsáveis pelo cultivo do tabaco na Bahia, pelo tabaco e algodão nas colônias inglesas da América do

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Norte. Depois ouro e diamante no Brasil e mais a frente o café, que por muito tempo foi a principal fonte da economia brasileira.

Os portugueses foram os primeiros parceiros do comércio atlântico de povos da região da Senegâmbia, da Guiné, do Golfo do Benin, da foz do rio Congo, da baía da ilha de Luanda e em Benguela (SOUZA, 2007).

No final do século XVI, ingleses e franceses disputavam entre si e com os portugueses os melhores portos da costa e faziam alianças com os chefes africanos.

Caro(a) estudante, o mapa a seguir identifica os reinos envolvidos com o comércio de escravos e principais portos de embarque na África.

FIGURA 10 – PRINCIPAIS PORTOS DE EMBARQUE

FONTE: Souza (2007)

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De acordo com Souza (2007), a costa da Mina, ou o golfo de Benin, foi uma das principais regiões fornecedoras de escravos para os mercadores atlânticos entre os séculos XVII ao XIX. Nesta região, algumas cidades, controladas pelos reinos do Daomé e de Oió, eram as bases nas quais se davam as trocas entre comerciantes africanos e europeus.

No entanto, destaca-se que estas trocas, na maioria das vezes, seguiam regras estabelecidas pelas sociedades africanas, o que forçava os europeus agirem, conforme o que era determinado nos locais de comércio.

Outras regiões como a foz dos rios Níger e Senegal, as regiões de Ajudá e Lagos, entre outras, sofreram intenso contato com os europeus. Em todos os lugares, que estes passaram a frequentar, se tornou comum o comércio de pessoas. Prisioneiros de guerra, condenados por infrações, pessoas sequestradas de suas aldeias, apanhadas em tocais ou razias, eram vendidas ou trocadas por armas, pólvora, tecidos, tabaco, aguardente.

Enfim, uma diversidade de mercadorias que variavam de região para região. Essas pessoas vinham de lugares diferentes, negociadas de mercado em mercado. Do interior em direção ao litoral onde eram embarcadas para diferentes regiões do continente americano e ilhas do Caribe, onde se tornariam necessárias ao desenvolvimento das economias coloniais. Fundadas na exploração da mão de obra escrava e na produção de mercadorias, como: açúcar, algodão, tabaco, ouro, prata e diamantes, comercializados pelas metrópoles: Lisboa, Madri, Paris, Londres e Amsterdã (SOUZA, 2007).

Caro(a) estudante, os dados na tabela a seguir mostram aproximadamente o número de africanos comercializados e desembarcados em algumas regiões para além da África.

TABELA 1 – APRESENTA O NÚMERO DE ESCRAVOS DESTINADOS A DIFERENTES REGIÕES

Regiões de Desembarque %

Brasil 4.864.374 45,41

Caribe Britânico 2.318.252 21,64

América Espanhola 1.292.912 12,07

Caribe Francês 1.120.215 10,46

América Holandesa 444.728 4,15

América do Norte 388.746 3,63

Caribe Dinamarquês 108.998 1,02

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Europa 17.722 0,16

África 155.569 1,45

Total 10.711.516 100,00

FONTE: Disponível em: <www.slavevoyages.org>. Acesso em: 7 jun. 2012.

Do século XVI ao XIX, milhões de africanos foram desembarcados no Brasil e submetidos como escravos nas diferentes regiões do país.

O mapa a seguir apresenta as principais rotas do comércio atlântico de escravos para o Brasil, nos dando uma ideia de onde estes africanos desembarcaram.

FIGURA 11 – PRINCIPAIS ROTAS DE COMÉRCIO PARA O BRASIL

FONTE: Souza (2007)

Nos portos africanos, as pessoas eram embarcadas em navios que atravessavam o Oceano Atlântico, na maioria, em condições precárias uma vez que as embarcações não possuíam condições adequadas para a travessia. Os navios negreiros, como eram chamados as embarcações que transportavam os negros vindos da África representam a ligação entre a África e o comércio de seres humanos destinados a suprirem a demanda de trabalho escravo na Europa e nas colônias da América.

Nos porões das embarcações negreiras, milhares de seres humanos foram trancados e obrigados a viverem longos períodos de privações.

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Muitos morreram na travessia. Mas, os que sobreviveram foram enviados para trabalharem em diversas funções que demandavam trabalho escravos. A seguir apresentamos a imagem de um navio negreiro, para que sejam observadas as condições de transporte desses escravos.

FIGURA 12 – ESQUEMA DE UM NAVIO NEGREIRO PUBLICADO POR ABOLICIONISTAS NO SÉCULO XIX

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_5aOFOu8RCys/SV1KpMl8XI/AAAAAAAAABs/WTJ9O9crKAA/S742/bn2f523(navio).jpg>. Acesso em: 7 jun.

2012.

Desembarcados nos portos, os africanos escravizados eram enviados para as regiões brasileiras que demandavam por trabalho escravo. A inserção e a circulação do africano na sociedade brasileira alteraram significativamente as dimensões culturais, sociais e econômicas do país.

Nessa perspectiva, prezado(a) estudante, a próxima etapa deste curso irá tratar da presença africana no Brasil. Vamos em frente!

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AUTOATIVIDADE

1 O extenso continente africano abrigou inúmeros povos que coexistiram em uma mesma região. Apesar da proximidade estes povos apresentavam aspectos culturais, políticos, sociais e linguísticos distintos. Sobre os grupos linguísticos africanos identifique-os e descreva suas características.

2 O Continente africano é formado por uma diversidade geográfica. Os desertos representam uma significativa parcela do território africano. Cite os dois principais desertos da África e a sua relação com o desenvolvimento do comércio.

3 Os grupos africanos diferenciaram-se nos aspectos culturais e linguísticos. No âmbito das organizações políticas e sociais, o cenário também não foi diferente, ou seja, nos aspectos políticos e sociais as estruturas africanas apresentaram-se diferentes. Identifique e caracterize as formas de organização sociopolíticas africanas.

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GABARITO

1 O extenso continente africano abrigou inúmeros povos que coexistiram em uma mesma região. Apesar da proximidade estes povos apresentavam aspectos culturais, políticos, sociais e linguísticos distintos. Sobre os grupos linguísticos africanos, identifique-os e descreva suas características.

Resposta esperada:

O(A) estudante deve responder que a África esta dividida em 4 os grupos linguísticos:

• Afro-asiáticos: grupo formado pela mistura entre os povos autóctones e os migrantes de outros continentes. Este grupo é composto também, pelas línguas semíticas como o árabe, o hebraico e o aramaico. Os povos falantes desta língua espalharam-se pela costa e pelo interior do continente, pelo Vale do Nilo, pela Etiópia e pelo Marrocos. Fazem parte deste grupo os berberes, azenagues e tuaregues localizados no deserto do Saara.

• Nilo-saarianos: os falantes desta língua espalharam-se das nascentes do rio Nilo até o interior do deserto do Saara. Eram nômades ou criadores de gado. No entanto, algumas sociedades nilo-saarianas praticavam a agricultura e o artesanato.

• Níger-congoles: os falantes desta língua ocuparam a maior parte do continente, mantiveram características linguísticas comuns como a alternância entre vogais e consoantes na mesma sílaba. Este tronco linguístico subdivide-se em cinco grupos, sendo o mais numeroso o grupo banto.

• Cóisan: os povos falantes deste tronco linguístico são os hotentotes e os bosquímanos, a principal característica da fala cóisan são os sons dos estalidos, uma espécie de som produzido com a língua, que servem como consoantes comuns.

2 O Continente africano é formado por uma diversidade geográfica. Os desertos representam uma significativa parcela do território africano. Cite os dois principais desertos da África e a sua relação com o desenvolvimento do comércio.

Resposta esperada:

O(A) estudante deve citar os desertos do Saara, localizado ao norte e do Calahari, localizado a sudeste. Estes desertos se constituíram em importantes rotas de comércio. Nestas rotas eram comercializadas diversas mercadorias, como: sal, noz-de-cola, marfim entre outros produtos que vinham de diferentes regiões. Este tipo de comércio, para além da troca de produtos, também, oportunizou aos diferentes povos africanos, trocas culturais.

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3 Os grupos africanos diferenciaram-se nos aspectos culturais e linguísticos. No âmbito das organizações políticas e sociais, o cenário também não foi diferente, ou seja, nos aspectos políticos e sociais as estruturas africanas apresentaram-se diferentes. Identifique e caracterize as formas de organização sociopolíticas africanas.

Resposta esperada:

O(A) estudante deve caracterizar as organizações sociopolíticas presentes no continente africano, anterior à colonização europeia no século XIX. Entre as organizações sócias africanas estão:

• As aldeias: formação sociopolítica mais comum no continente, onde o modo de subsistência estava centrado na caça, coleta e o plantio. Estas unidades políticas eram formadas por famílias, cada uma liderada por um chefe, que deviam obediência a um chefe geral. Este último era o responsável por toda a vida na aldeia, sua intervenção ia desde a distribuição de terras, atribuição de castigos aos que não respeitassem as leis até a liderança dos guerreiros quando necessário.

• As confederações: outra forma de organização sociopolítica constituíam-se na associação de várias aldeias articuladas e que obedeciam a um conselho de chefes.

• Povos nômades: geralmente eram caçadores e coletores que viviam nas florestas ou pastores do deserto. O nomadismo é considerado, neste continente, como uma opção social e política.

• As cidades: na África, as cidades não constituíram reinos. O surgimento das cidades é resultante das transações comerciais que se estabeleciam entre os povos africanos. As cidades eram, geralmente, entrepostas de comércio onde viviam os comerciantes, nos seus arredores viviam, também, agricultores e pastores. Estes locais eram cercados por muros feitos de pedra, terra ou paliçada, o que dava a cidade certa segurança.

• Os reinos: os reinos são caracterizados pela existência de um chefe maior que administrava, da capital do reino, a justiça, as forças militares, o comércio, a expansão territorial. Nas capitais, havia a concentração de riquezas e de poder. Os reinos africanos existiram em momentos diferentes e também tiveram tamanhos diferenciados.

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REFERÊNCIAS

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