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 HISTÓRIA DE PORTUGAL A história de Portugal tem a sua génese com a chegada dos primeiros hominídeos à Península Ibérica há cerca de 1.2 milhões de anos atrás. O território entrou no domínio da história escrita com o início das guerras Púnicas . Em 29 a.C. era habitado por vários povos, como os Lusitanos , quando foi integrado no Império Romano como a província da Lusitânia , influenciando fortemente a cultura, nomeadamente a língua portuguesa , na maior parte originada no latim. Após a queda doImpério Romano, estabeleceram-se aí povos germânicos como os Visigodos e Suevos, e no século VIII seria ocupado por árabes . Durante a reconquista cristã foi formado o Condado Portucalense , primeiro como parte do Reino da Galiza e depois integrado no Reino de Leão. Com o estabelecimento do Reino de Portugal em 1139, cuja independência foi reconhecida em 1143, e a estabilização das fronteiras em 1249, Portugal reclama o título de mais antigo estado-nação europeu. [1] Durante os séculos XV e XVI, os portugueses foram pioneiros na exploração marítima, estabelecendo o primeiro império colonial de amplitude global, com possessões em África, na Ásia e na América do Sul , tornando-se uma potência mundial económica, política e militar. [2] Em 1580, após uma crise de sucessão, foi unido a Espanha na chamada União Ibérica que duraria até 1640. Após a Guerra da Restauração foi restabelecida a independência sob a nova dinastia de Bragança , com a separação das duas coroas e impérios. O terramoto de 1755 em Lisboa, as invasões espanhola e francesas que antecederam a perda da sua maior possessão territorial ultramarina, o Brasil , resultaram no desmembramento da estabilidade política e económica, reduzindo o estatuto de Portugal como potência global no século XIX. Após a queda da monarquia , em 1910 foi a proclamada a República , iniciando o actual sistema de governo. A instável Primeira República foi sucedida por uma ditadura sob o nome de Estado Novo. Na segunda metade do século XX, na sequência da guerra colonial portuguesa e do golpe de estado da revolução dos cravosem 1974, a ditadura foi deposta e estabelecida a democracia parlamentar , com todos os territórios ultramarinos a obter a sua independência,

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 HISTÓRIA DE PORTUGAL 

A história de Portugal tem a sua génese com a chegada dos

primeiros hominídeos à Península Ibérica há cerca de 1.2 milhões de anos

atrás. O território entrou no domínio da história escrita com o iníciodas guerras Púnicas. Em 29 a.C. era habitado por vários povos, como

os Lusitanos, quando foi integrado no Império Romano como a província

da Lusitânia, influenciando fortemente a cultura, nomeadamente a língua

portuguesa, na maior parte originada no latim. Após a queda doImpério

Romano, estabeleceram-se aí povos germânicos como

os Visigodos e Suevos, e no século VIII seria ocupado por árabes.

Durante a reconquista cristã foi formado o Condado Portucalense, primeiro

como parte do Reino da Galiza e depois integrado no Reino de Leão. Com oestabelecimento do Reino de Portugal em 1139, cuja independência foi

reconhecida em 1143, e a estabilização das fronteiras em 1249, Portugal

reclama o título de mais antigo estado-nação europeu.[1]

Durante os séculos XV e XVI, os portugueses foram pioneiros na exploração

marítima, estabelecendo o primeiro império colonial de amplitude global,

com possessões em África, na Ásia e na América do Sul, tornando-se uma

potência mundial económica, política e militar.[2] Em 1580, após uma crise de 

sucessão, foi unido a Espanha na chamada União Ibérica que duraria

até 1640. Após a Guerra da Restauração foi restabelecida a

independência sob a nova dinastia de Bragança, com a separação das duas

coroas e impérios. O terramoto de 1755 em Lisboa, as

invasões espanhola e francesas que antecederam a perda da sua maior

possessão territorial ultramarina, o Brasil, resultaram no desmembramento

da estabilidade política e económica, reduzindo o estatuto de Portugal como

potência global no século XIX.

Após a queda da monarquia, em 1910 foi a proclamada a República,

iniciando o actual sistema de governo. A instável Primeira República foisucedida por umaditadura sob o nome de Estado Novo. Na segunda metade

do século XX, na sequência da guerra colonial portuguesa e do golpe de

estado da revolução dos cravosem 1974, a ditadura foi deposta e

estabelecida a democracia parlamentar, com todos os territórios

ultramarinos a obter a sua independência,

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nomeadamenteAngola e Moçambique em África; o último território

ultramarino, Macau, seria entregue à China em 1999.

Portugal entrou, após um conturbado período revolucionário, no caminho da

Democracia Parlamentar, ao mesmo tempo que procedia à descolonização

de todas as suas colónias. Membro fundador da NATO, o Portugal

democrático reforçou a sua modernização e a sua inserção no espaço

europeu com a sua adesão, em 1986, à Comunidade Económica

Europeia (CEE).

Historiografia

A compreensão de Portugal e da sua História é uma constante

da Historiografia portuguesas pelo menos desde o início do século XIX. As

condições que tornaram possível a autonomização de Portugal de Leão eCastela e, depois, lhe permitiram construir e manter uma identidade

na Península e no mundo são temas que estiveram no cerne da análise e da

reflexão de historiadores e pensadores como Herculano, Oliveira

Martins, Antero, Sampaio Bruno, Jaime Cortesão, António Sérgio e Joel

Serrão, para citar apenas alguns nomes.

Portugal tem, pelas sua posição geográfica, acentuada ainda pelas

características geomorfológicas do seu território, uma posição excêntrica

relativamente à Europa. A posição atlântica de Portugal, prolongada, desde o

início do século XV, pelos dois arquipélagos descobertos e povoados por

portugueses, o dos Açorese o da Madeira, foi a chave da sua história e da

sua identidade nacional: encravado entre um poderoso vizinho e o mar, os

Portugueses souberam tirar partido da sua situação estratégica, quer

construindo no mar um poderio militar, quer aliando-se à potência naval

dominante (aliança inglesa), assegurando a sua sobrevivência face às

pretensões hegemónicas das potências europeias. Escreve Veríssimo

Serrão (História de Portugal, vol. 1) : «em face de uma Espanha superior em

dimensão cinco vezes, não houve milagre no caso português, mas somente aadequada integração dos seus naturais num quadro político que lhe

assegurou a existência autónoma que qualquer periferia marítima

amplamente favorece.»

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A leitura da História de Portugal em termos de um ciclo de apogeu e queda,

de potência mundial à irrelevância geopolítica, é uma leitura marcadamente

oitocentista, nascida no contexto da reflexão política de finais do século XIX.

Pré-história

Mapa Étnico-Linguístico da Península Ibérica cerca de 200 AC.

A região que corresponde actualmente a Portugal começou a ser habitada há

cerca de quinhentos mil anos, primeiro pelos Neandertais e, mais tarde, pelo

Homem moderno. Entre 20 000 a.C. e 10 000 a.C., a Península

Ibérica começou a ser colonizada por grupos humanos Cro-Magnon e,

milénios mais tarde, passou a abrigar outros povos, autóctones e sem

parentesco aparente com quaisquer outros povos conhecidos. Entre eles,estavam os iberos, na costa mediterrânica de Espanha,

os tartessos (relacionados aos turdetanos, túrdulos e cónios), no extremo sul

de Portugal (regiões do Algarve e Alentejo) e

osaquitanos e vascones (prováveis antepassados dos actuais bascos), na

região dos Pireneus. A hipótese de todos serem de origem berbere, do norte

daÁfrica (citada na teoria do Vascoiberismo), hoje é amplamente

desacreditada, embora o parentesco entre iberos e bascos ainda continue a

ser investigado. Porém, segue-se a crença de que todos eram povos distintos

etnicamente entre si.

No século VII a.C., a região passou a ser habitada por povos indo-europeus,

sendo estes tribos proto-célticas e celtas. As tribos iberas e algumas vagas

celtas misturaram-se, dando origem aos celtiberos, em partes de Espanha.

Outras populações proto-célticas e celtas acomodaram-se em território

português, como os lusitanos, os vetões (ou Vettones) e os galaicos (ou

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Gallaeci), entre outras menos significativas, tais como

os brácaros, célticos,coelernos, equesos, gróvios, interamici, leunos, luancos,

límicos, narbasos, nemetatos, pésures, quaquernos, seurbos, tamagani, tapo

ros, zoelas, turodos). Influências menores foram os gregos e os fenícios-

cartagineses.Romanização

 

As províncias romanas Lusitânia eGalécia, reorganizaçãoda Hispânia deDiocleciano, 298 d.C..

No século III a.C. os Romanos penetraram na Península Ibérica no contexto

da Segunda Guerra Púnica que mantiveram contra Cartago. Foram anexadas

duas regiões da Península Ibérica

por Roma como províncias das Hispânias (a Citerior e a Ulterior). Entre 209 e169 a.C., o exercito romano levou para Roma cerca de 4 toneladas de ouro e

800 toneladas de prata que obtiveram como espólio de guerra retirado dos

tesouros das tribos nativas.[3] A exploração mineira, como a das Três

Minas ,das maiores do mundo romano, que terá iniciado no tempo de

Augusto (27 a.C.- 14 d.C.),ou das minas do campo de Jales ou da

Gralheira[4] era um dos principais factores económicos para o interesse

romano na região.

A Citerior foi subjugada e ocupada com relativa facilidade, mas a anexaçãoda Ulterior) só se tornou efectiva muito depois. A conquista total da

península pelos Romanos só ocorreu no tempo do imperador Augusto.

Viriato, o líder lusitano, conseguiu conter a expansão romana durante alguns

anos, fazendo com que fosse dos últimos territórios a resistir à ocupação

romana da Península Ibérica. Erigindo-se em chefe dos Lusitanos após

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escapar a uma matança perpetrada à traição pelo romano Galba, uniu à sua

volta um número crescente de tribos e travou uma guerra incansável contra

os invasores. Perito em tácticas de guerrilha e em iludir o adversário,

derrotou sucessivamente os vários generais romanos enviados contra ele.

No auge da sua carreira, o Senado reconheceu-o e declarou-o "amigo dopovo romano". Não obstante, seria morto à traição (140 a.C.) por três

companheiros de armas comprados pelos romanos.

Ponte de Trajano sobre o rio Tâmega, Chaves (Portugal).

Desprovidos de chefe, os Lusitanos sujeitaram-se ao jugo romano, mas por

pouco tempo. Na sequência das guerras civis, o general romano Sertório, da

facção derrotada, foi convidado pelos Lusitanos a chefiá-los contra Roma.

Excelente general, derrotou mais uma vez todos os generais enviados contra

ele, incluindo o célebre Pompeu. Sertório era um hábil e carismático político.Perpena, um outro general romano que se lhe juntou, veio a assassiná-lo

traiçoeiramente. A partir daí, a romanização do território que viria a ser

português prosseguiu sem dificuldades de maior para Roma.

Os Romanos deixaram um importante legado cultural naquilo que é

hoje Portugal, nos costumes, na arte, na arquitectura, na rede viária e nas

pontes, algumas das quais servem até aos nossos dias, como a

de Trajano sobre o rio Tâmega em Chaves (Aquae Flaviae) ou a de Vila

Formosa (Alter do Chão), mas pouco terão contribuido para a composiçãoétnica portuguesa actual. Uma variante do Latim (Latim Vulgar) passou a ser

o idioma dominante da região. Surgiram novas cidades e desenvolveram-se

outras, segundo o modelo habitual de colonização romana. No fim do século

I a.C. o imperador Augusto criou a província da Lusitânia, que correspondia a

grande parte do actual território português, embora não à sua totalidade, já

que as terras a norte do rio Dourointegravam a Tarraconense. Em 74 D.C. o

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imperador Vespasiano concedeu o "direito latino" (equiparação aos

municípios da Itália) a grande parte dos municípios da Lusitânia, datando

dessa época um importante surto urbano. Difundiu-se também a cidadania

romana, que viria a ser atribuída a todos os súbditos (livres) do império pela

chamada Constituição Antoniniana, ou édito de Caracala (212 D.C.). Emfinais do século III d.C. o imperador Diocleciano subdividiu a Tarraconense

em outras províncias, entre as quais se achava a Callaecia, que integrava o

norte do actual Portugal, a Galiza e as Astúrias. Durante o Império Romano

o Cristianismo difundiu-se em toda a Hispânia, pelo menos a partir do século

III.

Invasões bárbaras

Visigodos e Suevos(Galécia) na Península Ibérica de 560 d.C..

Em 409 d.C., os chamados povos bárbaros, compostos principalmente

por Suevos (Quados e Marcomanos), Vândalos (Silingos e Asdingos)

e Visigodos, todos de origem germânica, além dos Alanos, de origem persa,

fixam-se na Hispânia. Em 411 estes povos dividem entre si o território: os

Vândalos Asdingos e os Suevos ocuparam a Galécia, enquanto os Alanos

ocuparam as províncias da Lusitânia e a Cartaginense, e os Vândalos

Silingos, a Bética.

Algum tempo depois, ocorre a entrada dos Visigodos na península ao serviçodo Império Romano e com o objectivo de subjugar os anteriores invasores.

De todos estes povos, os Suevos e os Visigodos seriam aqueles que teriam

uma presença mais duradoura no território que é hoje Portugal.

Estabelecendo a capital do seu reino em Braga, os Suevos dominam o

território da Galécia e chegam a dominar a parte norte e ocidental da

Lusitânia. Estabelecidos na condição de federados do Império Romano, o

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reino suevo foi o primeiro reino da Europa a cunhar moeda própria, tendo

sido convertidos ao catolicismo no ano 449, evangelizados finalmente por S.

Martinho de Dume. A partir de 470 crescem os problemas do reino

suevo com o vizinho reino visigodo. Em 585 o rei visigodo Leovigildo toma

Braga e anexa a Galécia sueva. A partir daqui toda a Península Ibérica ficaunificada sob o reino visigodo (com excepção de algumas zonas do litoral sul

e levantino, controladas pelo Império Bizantino) e zonas do norte controladas

pelos vascões) até à queda deste reino em 711. A estabilidade interna deste

reino foi sempre difícil, pois os visigodos eram adeptos do arianismo,

enquanto a maioria da população era católica. Recaredo I, convertendo-se ao

catolicismo, facilitou a união das duas populações; mas questões dinásticas

reacenderam os conflitos e vieram a estar na origem do colapso final.

Os povos bárbaros eram numericamente inferiores à população hispano-romana, pelo que foram obrigados à miscigenação étnica e cultural com

esta. Muitas cidades foram destruídas durante este período e verificou-se

uma ruralização da vida económica.

Ocupação Muçulmana

 

Antiga mesquita de Mértola, no sul de Portugal, hoje Igreja de Santa Maria da Assunção.

Em 711 a Península Ibérica foi invadida pelos muçulmanos do Norte de

África (basicamente Berberes com alguma componente de Árabes). Estes

dominaram partes da península por mais de cinco séculos: inicialmentesobre o controlo do Califado de Damasco, como uma província do

império omíada, oAl-Andalus, mais tarde sob a forma de um emirado

e califado e, devido ao colapso deste, em pequenos reinos (taifas) com

autonomias características. Durante estes séculos, nas Astúrias, a única

região que resistiu à invasão árabe, desenvolvia-se um movimento

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de reconquista da Península, culminando no fim do poder político islâmico

nesta com a tomada de Granada pelos Reis Católicos (1492). A esta altura, já

o reino de Portugal estava formado, soberano e completo e, talvez por isso, o

país explorava o além-mar, em parte sob o pretexto do espírito

das Cruzadas, para difundir o Cristianismo. Os muçulmanos que não foramexpulsos ou mortos durante o processo de reconquista, tiveram de aderir aos

costumes locais (incluindo o Cristianismo). Não se sabe ao certo o grau

existente de mescla com estes berberes na população portuguesa actual,

mas há um consenso de que esta mescla existe.

Formação do Reino de Portugal

 

Evolução das fronteiras linguísticas dos territórios na Península Ibérica aolongo da Idade Media e Moderna.

Se rápida foi a invasão árabe, a reconquista cristã foi francamente mais

lenta. Este processo gradual originou o nascimento de pequenos reinos que

iam sendo alargados à medida que a Reconquista era bem sucedida.

Primeiro, o Reino das Astúrias, que viria a dividir-se entre os filhos de Afonso

III das Astúrias quando morreu. Assim nasciam os reinos de Leão e, mais

tarde, de Navarra e Aragão e Castela.

Mais tarde Afonso VI de Leão e Castela (autodenominado Imperador de todaa Espanha), entregou, por mérito, ao seu genro D. Henrique de Borgonha, o

governo dos territórios meridionais, o Condado Portucalense, grosso modo

entre os rios Minho e Douro e o Condado de Coimbra, entre os rios Douro e

Mondego. Destes condados, que faziam ainda parte do reino de Leão, mas

que dele tinha grande independência, nasceria o reino dePortugal.

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D. Henrique governou no sentido de conseguir uma completa autonomia

para o seu condado e deixou uma terra portucalense muito mais livre do que

aquela que recebera. Por morte de D. Henrique (1112), sucede-lhe a viúva

deste, D. Teresa, no governo do condado durante a menoridade do seu

filho Afonso Henriques. O pensamento de D. Teresa foi idêntico ao do seumarido: fortalecer a vida portucalense, conseguir a independência para o

condado. D. Teresa começou (1121) a intitular-se «Rainha», mas os muitos

conflitos diplomáticos e a influência que concedeu a alguns nobres galegos

(principalmente a Fernão Peres) na gerência dos negócios públicos

prejudicou o seu esforço. Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso

Henriques arma-se a si própriocavaleiro – segundo o costume dos reis –

tornando-se assim guerreiro independente, e passando a viver em Coimbra a

partir de 1130. A posição de favoritismo em relação aos nobres galegos e aindiferença para com os fidalgos e eclesiásticos portucalenses originou a

revolta destes, sob chefia do seu filho, D. Afonso Henriques.

A luta entre Afonso Henriques e sua mãe desenrola-se, até que em 1128 se

trava a Batalha de São Mamede (Guimarães) e D. Teresa é expulsa da terra

que dirigira durante quinze anos. Uma vez vencida, D. Afonso

Henriques toma conta do condado, declarando-o principado independente.

Continuou, no entanto, a lutar contra as forças de Afonso VII de Leão e

Castela (inconformado com a perda das terras portuguesas), enquantoparalelamente travava lutas contra os muçulmanos. Em1139, Afonso

Henriques conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha de

Ourique, tendo declarado a independência com o apoio dos chefes

portugueses, que o aclamaram como soberano.

Nascia, pois, em 1139, o Reino de Portugal e sua primeira dinastia, com o Rei

Afonso I de Portugal (D. Afonso Henriques), e a cidade de Coimbra como a

primeira capital.

Só em 1143 é reconhecida independência de Portugal pelo rei de Castela,no Tratado de Zamora, assinando-se a paz definitiva. D. Afonso Henriques

dirigiu-se ao papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé,

tendo reclamado para a nova monarquia a protecção pontifícia. Durante o

período que se segue, as atenções seguiam, sempre que possível, em

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assegurar essa soberania (que ficou dificultada durante a crise dinástica de

1383) e prolongar o território para Sul.

Os descobrimentos

Descobrimentos portugueses de 1415-1543, principais rotas no OceanoÍndico(azul), territórios portugueses no reinado deD. João III (verde).

A partir da conquista de Ceuta em 1415 iniciaram-se várias campanhas

além-mar, na conquista de praças em África, como Ceuta e Tânger. Vendo ariqueza com que se vivia na região, os portugueses empenharam-se em

descobrir mais e mais território. O pretexto inicial da conversão cristã

começava a revelar-se agora um verdadeiro espírito aventureiro, o gosto

por descobrir . Portugal inicia uma longa caminhada pela costa Africana,

redescobrindo a Madeira, Açores e descobrindo São Tomé e Príncipe, Cabo

Verde, Angola e a Guiné até que D. João II, baseado em boatos que procurou

esclarecer, inicia o planeamento de um projecto que iria lançar Portugal

entre as potências mundiais: uma rota comercial marítima para a Índia. O

projecto passa a empreendimento, e eis queVasco da Gama, já no tempo

de D. Manuel I, vê a luz ao Oceano Índico e espalha a presença portuguesa

pela costa oriental africana, até à Índia. Entretanto tomava-se conhecimento,

através de Cristóvão Colombo, de novo território a Oeste, as mais tarde

chamadas Índias Ocidentais, as Américas, portanto. E seria a curiosidade

de Pedro Álvares Cabral que traria, para o novo Império Português, o Brasil.

Com todas as suas colónias estabelecidas, Portugal tornou-se rapidamente

um importante explorador comercial, tornando a Península Ibérica a maior

potência mundial da altura.

O Império Português

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Mapa anacrónico do Império Português(1415-1999).

O Império Português foi o primeiro e o mais duradouro dos Impérios

coloniais (1415-1999) da Era dos Descobrimentos. Após a descoberta da

costa Africana, enquanto se avançava por terra para o centro do continente,

exploravam-se outras alternativas rumo às especiarias. A intensidade desta

procura, por várias nações, iria permiti-las estabelecer vastas colónias em

todo o mundo, e Portugal foi uma dessas nações. Em 1571 uma cadeia de

entrepostos ligava Lisboaa Nagasaki, cidade fundada no Japão pelosportugueses: o império tornara-se verdadeiramente global, trazendo no

processo enormes riquezas para Portugal. Desde a América do Sul à Ásia,

Portugal espalhava a língua e os costumes, trazendo para o país grandes

riquezas, muitas vezes em prejuízo das colónias.

No entanto, logo após a Segunda Guerra Mundial começou a ruptura das

dominações coloniais, a que Portugal não escapou. Após a perda do Estado

Português da Índia, a situação manteve-se relativamente controlada até que,

em 1961, estalavam os primeiros confrontos armados em Angola, a que sesucederiam intensos combates.

Dinastia Filipina

Em 1580, com a morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir,

Portugal enfrenta uma crise dinástica cuja análise se mostrou complexa.

Apesar dos esforços de D. António, o Prior do Crato, o trono caiu nas mãos

dos reis de Espanha, sob a forma de monarquia dual - dois reinos, um rei.

Durante a Dinastia Filipina o império português sofreu grandes reveses ao

ser envolvido nos conflitos de Espanha com a Inglaterra, a França e

a Holanda. Os confrontos foram iniciados a pretexto daGuerra dos Oitenta

Anos. Entre 1595 e 1663 foi travada a Guerra Luso-Holandesa com as

Companhias Holandesas das Índias Ocidentais e Ocidentais, que tentavam

tomar as redes de comércio portuguesas de especiarias asiáticas, escravos

da áfrica ocidental e açúcar do Brasil. Portugal foi envolvido no conflito por

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estar unificado sob a coroa dos Habsburgos, mas os confrontos perduraram

vinte anos após a Restauração da Independência em 1640.

Face ao ocorrido, e à instabilidade social provocada pela quebra de

promessas pelos reis castelhanos, Portugal vive um período de guerra

interna pela restauração da Independência, até conseguir aPaz que

elevaria D. João IV ao trono português.

Após 1640 (fim da dinastia filipina), a Coroa Portuguesa criou o Conselho

Ultramarino, encarregado de uma nova política colonial, com o objetivo de

superar a situação económica enfrentada pela Metrópole. Neste contexto,

o Brasil, como a maior e a mais rica das colónias, foi alvo de um arrocho

económico e administrativo, e ao mesmo tempo, estimulou-se a busca pelo

ouro e pedras preciosas. Assim, procurou-se reduzir os poderes das Câmaras

Municipais, caracterizados no localismo político dos “Homens Bons” daColónia.

Era Pombalina e Iluminismo

 

Marquês de Pombal e a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755.

No princípio do século XVIII, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de 

Pombal assume o cargo de primeiro-ministro, e torna-se responsável por

reformas em várias áreas. Introduziu em Portugal a doutrina do "direito

divino dos reis", revelando-se um déspota esclarecido ao serviço de um

apagado rei absoluto, D. José I. Os jesuítas, defensores do pacto de sujeição

do rei à República, foram naturalmente expulsos. As Cortes nunca reuniram.

Foi muito contestado pela sua crueldade e rigidez, evidente no processo dos

 Távora. A reconstrução da baixa de Lisboa, após o Terramoto de 1755,

expressa os conceitos urbanos e estéticos do Iluminismo. Relativamente

ao Brasil, o Marquês considerava-o uma colónia estritamente dependente de

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Lisboa e ao serviço do enriquecimento do Reino de Portugal; o povo

brasileiro sentiu-se desprezado, o que gerou a instabilidade local suficiente

para que a colónia se revoltasse e se viesse a tornar independente. [carece de

fontes]

As Invasões Francesas

Com a derrota da Prússia em 1806 e a aliança franco-russa de 1807 (Tratado

de Tilsit), Napoleão Bonaparte orienta a sua política para a Espanha,

formalmente um país aliado, mas cuja dinastia Napoleão, à semelhança do

que fizera noutros Estados, pretende substituir pela dinastia Bonaparte. É

neste contexto que se deve situar a invasão de Portugal, aliado da Inglaterra

e, portanto, não aderente ao sistema do Bloqueio Continental decretado em

1806 (Decreto de Berlim). Para conseguir os seus intentos, Napoleão celebra

com a Espanha o Tratado de Fontainebleau (27 de Outubro de 1807), no qualprevia a divisão de Portugal em três reinos sob a influência da França. Ao

mesmo tempo, Napoleão planeava já apoderar-se do Brasil e das colónias

espanholas. O plano é executado logo no Outono de 1807, com a invasão de

Portugal por um exército comandado pelo general Junot, que atingiria a

fronteira portuguesa da Beira Baixa no final de Novembro. Na invasão as

tropas francesas foram reforçadas por três corpos do exército espanhol.

Porém, todos os planos de Napoleão fracassaram. A família Real Portuguesa,

toda a Corte e o Governo, num total de cerca de 15 mil pessoas, partirampara o Brasil, de onde foi prosseguida, com inegável êxito, a política

internacional portuguesa. Com a rebelião popular espanhola, as tropas

espanholas abandonam Portugal, deixando margem para a revolta do Porto

(7 de Junho de 1808) e para a constituição da Junta Provisional, ao mesmo

tempo que, em todo o território português alastra um movimento de

resistência popular que nem a feroz repressão das forças francesas, em que

se destacou especialmente o general Loison (o famigerado «maneta»),

conseguiria debelar. O desembarque de uma força expedicionária britânica

comandada por Arthur Wellesley, futuro duque de Wellington, perto da

Figueira da Foz (1 de Agosto) deitará por terra os planos de ocupação e

dissolução de Portugal. Derrotado em Roliça e Vimeiro (21 de Agosto), Junot

não tem outra alternativa senão assinar um armistício (Convenção de Sintra,

de 30 de Agosto de 1808), que, sob protesto português, lhe permitirá

abandonar Portugal em navios britânicos, com as suas tropas e o seu saque.

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Estava concluído o fruste domínio de Napoleão Bonaparte sobre Portugal, ao

mesmo tempo que a guerra alastrava a toda a Península, acabando por

comprometer toda a política imperial da França. Nas duas invasões

subsequentes, a de Soult (1809) e a de Massena (1810), a resistência luso-

britânica, que culminou nas batalhas do Buçaco (27 de Setembro de 1810) edas Linhas de Torres Vedras, quebrou as asas à política imperial e aos

sonhos de domínio sobre a Península Ibérica. No Rio de Janeiro, o Governo

português, chefiado por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Conde de Linhares,

obtinha da Inglaterra o cumprimento do Tratado de Londres de 1807, ao

mesmo tempo que mandava tomar a Guiana Francesa, só restituída à França

após o Congresso de Viena.

A Revolução Liberal de 1820

Embarque para o Brasil do Príncipe Regente de Portugal, D. João VI, e detoda a família real, no cais de Belém, em 27 denovembro de 1807. Gravura feita porFrancisco Bartolozzi (1725 - 1815) apartir de óleo de Nicolas Delariva.

Nos inícios do século XIX Portugal vivia uma crise motivada pela partida da

família real para o Brasil, pelas consequências destrutivas das Invasões

Napoleónicas, pelo domínio dos ingleses sobre Portugal e pela abertura dos

portos do Brasil ao comércio mundial, o que tinha provocado a ruína demuitos comerciantes portugueses. Ao mesmo tempo, a ideologia liberal

implantava-se em pequenos grupos da burguesia.

No dia 24 de Agosto de 1820 eclodiu no Porto uma revolução cujo objectivo

imediato era convocar Cortes que dotassem Portugal de um texto

constitucional.

Esta revolução não encontrou oposição. Tendo a cidade de Lisboa aderido ao

movimento, formou-se uma Junta Provisória cujo objectivo era organizar as

eleições para eleger as Cortes. Os deputados eleitos, oriundos de todo oterritório controlado por Portugal (Brasil, Madeira, Açores, dependências da

África e Ásia) formaram as Cortes Constituintes.

O rei D. João VI foi intimado pelas Cortes a regressar a Portugal. Antes de

voltar nomeia o seu filho, o príncipe D. Pedro, regente do reino do Brasil, o

que desagradou às Cortes Constituintes que entendiam que a soberania só

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poderia residir em Portugal continental. As cortes ordenaram também que D.

Pedro deixasse o Brasil para se educar na Europa. Estas atitudes geraram o

descontentamento dos 65 deputados brasileiros nas Cortes Constituintes,

que deixam o país em direcção ao Brasil. No dia 7 de Setembro de 1822 o

princípe D. Pedro recebe mais uma mensagem das Cortes, que rasga diantedos seus companheiros, exclamando: "Independência ou morte!". Este acto,

conhecido como o grito de Ipiranga, marcaria a data da independência do

Brasil.

No mesmo ano as Cortes aprovaram a Constituição. Inspirada na

Constituição francesa de 1791 e na Constituição de Cádis de 1812 , consagra

a divisão tripartida dos poderes (legislativo, executivo e judicial), limitava o

papel do rei a uma mera função simbólica, colocando o poder no governo e

num parlamento unicamaral eleito por sufrágio directo. Isso mostrava a forteinfluencia iluminista na época.

Guerra Civil Portuguesa (1828-1834)

Com a morte de D. João VI, levantava-se um problema de sucessão. Após D.

Pedro IV ter sido forçado a abdicar do trono de Portugal em favor do trono do

Brasil, D. Maria II subia ao trono por legitimidade. Entretanto, D. Miguel, que já se revoltara pelo menos duas vezes e estava exilado, foi nomeado regente

do Reino, e o casamento com D. Maria seria arranjado. Na tentativa de impor

o seu regime absolutista, depôs o regime monárquico-constitucionalde D.

Maria dando início a seis anos de conflitos armados com intervenções da

política internacional. Para resolver a situação, D. Pedro abdica do trono para

o seu filho Pedro II do Brasil, e impõe-se, pela força. As derrotas sucessivas

de D. Miguel iriam forçá-lo a desistir da luta no [Convenção de Évora Monte],

e permitir a restauração da Carta Constitucional de 1826 e do trono de D.Maria II.

Primeira República

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O Republicanismo acentuou-se de tal forma na primeira década do século

XX que em 1 de Fevereiro de 1908 se dá o regicídio. Quando regressavam de

Vila Viçosa, o Rei D. Carlos e o seu filho mais velho, o príncipe herdeiro D.

Luis Filipe, foram assassinados no Terreiro do Paço (Praça do Comércio), em

Lisboa. A 3 de Outubro de 1910 estalava uma revolta que provocaria adeposição de D. Manuel II e a criação da República Portuguesa. Constituía-se

o primeiro Governo Provisório, encabeçado por Teófilo Braga, naquele que

ficou conhecido como o primeiro momento do período das Três Repúblicas.

A ditadura e o Estado Novo

 

António de Oliveira Salazar.Por volta de 1928 tornara-se premente a situação financeira do Estado

português. Nesse ano foi chamado ao governo um professor de Finanças

da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar, que teria os

destinos de Portugal nas suas mãos durante as próximas quatro décadas.

O seu pensamento político rejeitava o comunismo, mas também as tradições

do liberalismo político e económico. Profundamente conservador e

nacionalista, alimentava uma nostalgia pelo meio rural, considerado ideal.

Em 1932 Salazar passa a acumular o cargo de ministro das Finanças, com ode presidente do Conselho de Ministros para o qual é nomeado. A partir

daqui dedica-se a montar as estruturas do novo regime político,

caracterizado pela existência de um único partido (a União Nacional), por um

sistema económico regulador da economia (condicionalismo industrial) e

pelo antiparlamentarismo.

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Em 1933, entrou em vigor a nova Constituição Portuguesa. De cariz

presidencialista, admitia a existência de uma Assembleia Nacional e de uma

Câmara Corporativa composta por elementos ligados às profissões. Na

prática, o presidente da República foi uma figura apagada, a Assembleia

Nacional foi ocupada por apoiantes do regime e o poder concentrou-se nafigura de Salazar.

Os antigos partidos políticos portugueses desaparecem, com excepção

do Partido Comunista Português (fundado em 1921), cujos dirigentes foram

duramente perseguidos pela polícia política (PVDE e depois, PIDE). A

censura, restabelecida em 1926, foi consolidada e todas as greves proibidas.

Em 1936 o regime cria aMocidade Portuguesa, cujo propósito era incutir à

 juventude do país as ideias do regime.

 

Agricultores beirões (c.1950).

Durante a Segunda Guerra Mundial Portugal manteve-se neutro no conflito,tendo beneficiado com a venda de volfrâmio, usado para o fábrico de

material bélico. Em 1949 Portugal ingressa na Organização do Tratado do

Atlântico Norte (OTAN/NATO) e em 1955 na Organização das Nações Unidas.

Nos anos sessenta Portugal registou um forte fenómeno de emigração. Os

destinos principais dos portugueses, motivados pelo desejo por melhores

condições de vida, foram a França e a Alemanha Ocidental.

A Operação Vagô envolveu o desvio de um avião entre Casablanca e Lisboa,

na 10 de Novembro de 1961. Foi a primeira acção do género no Mundo e

serviu para distribuir panfletos anti-salazaristas. No dia 19 de Dezembro de

1961 tropas da Índia invadem os territórios portugueses de Goa, Damão e

Diu. No mesmo ano estala a guerra de indepedência em Angola.

Guerra do Ultramar

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Embarque de tropas portuguesas.

No contexto político-social do pós-Segunda Guerra Mundial, em que

subsistiam os princípios de autodeterminação e independência, as colónias

em todo o Mundo revoltavam-se contra os colonizadores, exigindo a

independência, ou uma forma de governo equiparável à metrópole.

As possessões portuguesas, agora designadas províncias ultramarinas não

foram excepção, e entre 1961 e 1964 estalam uma série de tumultos

violentos contra as forças coloniais portuguesas exigindo a libertação dos

povos. Primeiro em Angola, depois na Guiné Portuguesa e Cabo Verde, e em

1964 em Moçambique, dava-se início ao um conflito armado que ficou

conhecido na historiografia portuguesa como Guerra do Ultramar , e na

historiografia das antigas colónias como Guerra de Libertação. A

insustentabilidade de uma guerra de três frentes (desprezando Timor

Português, cuja distância tornou inviável a intervenção portuguesa), aliado aum contexto político-social ditatorial, fariam o país revoltar-se contra o

governo e, num movimento apoiado pelas Forças Armadas, libertava-se o

país do regime opressor que se vivia, com a designada Revolução dos

Cravos.

Revolução dos Cravos

Manifestação do 25 de Abril de 1983 na cidade do Porto.

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Numa conspiração militar, o Exército Português consegue ser bem sucedido

num golpe de estado que, por não ser violento, se tratou de designar

historiograficamente de Revolução dos Cravos e que ocorreu no dia 25 de

Abril de 1974. Os dirigentes do movimento (os "Capitães de Abril"),

assumiram como prioridades o fim da polícia política, o restabelecimento daliberdade de expressão e pensamento, o reconhecimento dos partidos

políticos existentes ou a criar e a negociação com os movimentos de

independência das colónias.

O poder seria assumido pela Junta de Salvação Nacional, constituída por

militares, órgão que seria substituído pelo Conselho da Revolução (1975-

1982).António de Spínola foi designado Presidente da República, tendo

entrado em funcionamento o primeiro de uma série de governos provisórios,

presidido porPalma Carlos.No dia 11 de Março de 1975 o país viveu a ameaça de um golpe de estado

direitista encabeçado por militares próximos a Spínola, que entretanto,

descontente com aquilo que consideravam ser uma deriva esquerdista na

vida política nacional tinha partido para Espanha. No mesmo dia o governo

provisório tomou medidas socialistas na economia, decretando a

nacionalização da banca e dos seguros.

No dia 25 de Abril de 1975, passado justamente um ano sobre a revolução,

realizaram-se as primeiras eleições democráticas, cujo objectivo era formaruma Assembleia Constituinte que elaborasse uma constituição para o

país. Essa constituição seria promulgada no dia 2 de Abril de 1976 e é a

constituição que rege Portugal até hoje, apesar de ter sido revista em várias

ocasiões.

III República

A Terceira República Portuguesa é o período da história de Portugal que

corresponde ao actual regime democrático implantado após a Revolução dos

Cravos do dia 25 de Abril de 1974, que pôs um fim ao regime autoritário do

Estado Novo. Foi caracterizado inicialmente por constante instabilidade e

possibilidade de guerra civil durante os primeiros anos pós-revolucionários.

Foi elaborada uma nova constituição, a censura foi proibida, a liberdade de

expressão garantida, os prisioneiros políticos libertos e as maiores

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instituições do Estado Novo foram extintas. Subsequentemente foi concedida

às colónias africanas a independência.

O I Governo Constitucional de Portugal teve o seu início a 23 de

Setembro de 1976, sob a chefia de Mário Soares. As primeiras eleições

democráticas para a presidência da República foram realizadas por sufrágio

directo. Venceu Ramalho Eanes, um dos oficiais do Grupo dos Nove. A 12 de

Novembro do mesmo ano realizaram-se as primeiras eleições autárquicas.

Passam a funcionar todas as instituições democráticas. Portugal entra para

o Conselho da Europa, iniciando o processo de abertura do país que levou à

adesão de Portugal à CEE (actual União Europeia) em 1986.

Para aderir à União Europeia Portugal saiu de EFTA em 1986.[5] Em 1999,

Portugal aderiu à Zona Euro,[6] e ainda nesse ano, entregou a soberania

de Macau à República Popular da China.[7] Desde a sua adesão à UniãoEuropeia, o país presidiu o Conselho Europeu por três vezes, a última das

quais em 2007, recebendo a cerimónia de assinatura do Tratado de Lisboa.[8]

CONDADO PORTUCALENSE

 

Presumível bandeira do condado portucalense, derivada do pendão docondeHenrique da Borgonha.

Houve, no actual território de Portugal, ao longo do processo de reconquista,

dois Condados Portucalenses ou Condados de Portucale distintos: umprimeiro, fundado por Vímara Peres após a presúria de Portucale (Porto)

em 868 e incorporado no reino da Galiza em 1071, após a morte do

conde Nuno Mendes (e que embora gozando de certa autonomia, constituiu

sempre uma dependência do reino das Astúrias/Leão/Galiza), sendo

sensivelmente equivalente ao actual Entre-Douro-e-Minho). Um segundo,

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constituído c. 1095 em feudo do rei Afonso VI de Leão e Castela e oferecido

a Henrique de Borgonha, um burguinhão que veio auxiliá-lo

na Reconquista de terras aos Mouros, tendo também recebido a mão de sua

filha Teresa de Leão. Este último condado era muito maior em extensão, já

que abarcava também os territórios do antigo condado de Coimbra,suprimido em 1091, partes de Trás-os-Montes e ainda

do Sul da Galiza (mormente da diocese de Tui). De notar que Condado é um

termo genérico para designar o Território Portucalense, já que os seus chefes

eram alternativamente intitulados Comite (conde), Dux (duque)

ou Princeps (Príncipe).

Por uma questão de comodidade, aludir-se-á ao longo deste artigo ao

primeiro condado portucalense como Condado de Portucale, e ao segundo

como Condado Portucalense, dado serem essas as expressões maisconsagradas.

História

O nome do condado vem do topónimo Portucale, com o qual desde o século 

IX se designava uma cidade situada perto da foz do Douro, designada

de Portus Cale, "Porto de Cale", que se julga ser um nome híbrido formado

por um termo latino (Portus, "porto") e outro grego (καλός, transl. kalós,

"belo"), donde qualquer coisa como "Porto Belo"; Outra explicação é de que

o nome deriva dos povos de cultura castreja que habitariam a área de Cale

nos tempos pré-romanos - os Callaeci. Uma explicação alternativa é a de que

o nome deriva da deusa venerada pela tribo e que poderia historicamente

relacionar-se com a palavra Cailleach (definida como "deusa ancestral"),

na Irlanda, numa invasão celta proveniente da Galécia e que teria nesses

primórdios invadido a actual Irlanda. Uma outra teoria afirma que a

palavra cale ou cala, seria celta e significava "porto", uma "enseada" ou

"abrigo", e implicava a existência de um porto celta mais antigo.[1] Ainda

outra teoria propõe que Cale deriva de Caladunum.[2]

Data assim desse período a expressão terra portucalense ou província

 portucalense para designar um território distinto que era limitado ao norte

pela terra bracarense, e ao sul pelo rio Vouga, e tinha por centro e cabeça a

povoação de Portucale.

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No século I a.C. as "Histórias de Salústio" referem uma "Cales civitas"

localizada na Gallaecia; Cale teria também sido conquistada por Perpena; no

século IV, no "Itinerário de Antonino", fala-se de uma povoação chamada de

Cale ou Calem; no século V, Idácio de Chaves escreve sobre um "Portucale

castrum".[3]

Portucale

Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período

romano se encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua

localização exacta; oParoquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado

pelo cônego Pierre David após a sua identificação pelo

também cônego Avelino de Jesus da Costa, um dos nomes mais importantes

da diplomática portuguesa,[4] refere-se, séculos depois, a um povoado que

designava como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda, e outro,o Portucale Castrum Novum, na direita.

Quando do domínio dos Suevos, Portucale foi palco de vários

acontecimentos, contando-se entre eles o aprisionamento

de Requiário durante a invasão de Teodorico (457), a revolta do seu

governador Agiulfo, que pretendia ser aclamado rei e foi executado, e a

última batalha (585) de Andeca, último rei suevo, vencido por Leovigildo.

Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde

a segunda metade do século VI, a sede da diocese Portucalense, situada na

província da Galécia, e tendo por metropolita o bispo de Braga. Após a

invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas restaurada após a

reconquista do Porto, em 868.

Condado de Portucale

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A reocupação e possível reconstrução ou fortificação de Portucale verificou-

se após a presúria de Vímara Peres, em 868, vivendo, a partir de então, um

próspero período da sua história: daí partiu toda a acção de reorganização,

bem sucedida, e nalguns casos de repovoamento, para além dos limites da

antiga diocese nela sediada, quer ao norte do rio Ave, quer ao sul do rio

Douro. Por esta altura, o território designava-se já de Terra Portugalense.

Pouco a pouco são alargadas as fronteiras do território que, neste sentido,

confinava com outros territórios (Braga, Lamego, Viseu, Terras da

Feira e Coimbra).

A reconquista permitiu também a restauração diocesana, tendo os bispos de

Portucale sido instalados numa pequena povoação chamadaMagneto (a qual

os especialistas fazem corresponder com a actual Meinedo, no concelho

de Lousada).

Apenas dez anos decorridos sobre a reconquista definitiva de Portucale

tivesse sido tomada a cidade de Coimbra e erigida em condado

independente às mãos deHermenegildo Guterres; a sua posição de charneira

entre os mundos cristão e muçulmano permitiu uma vivência de maior paz

no Entre-Douro-e-Minho. As campanhas do Almançor, em finais do século X,porém, fizeram recuar a linha de fronteira de novo até ao Douro.

Na segunda metade do século XI, reconstituiu-se ao sul o condado de

Coimbra (que incluía não só a cidade do Mondego, como ainda as terras

de Lamego, Viseu eFeira), sendo entregue ao conde (ou alvazil, segundo

outros documentos coevos) Sesnando Davides, um moçárabe valido do

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rei Fernando I de Leão e Castela, que conquistara definitivamente a cidade

em 1064 (este condado viria mais tarde a ser incorporado no Portucalense).

Paulo Merêa refere a existência de documentos comprovadamente

encontrados na província de Ourense, na Galiza, nos quais surge a referência

expressa a terras situadas em Portugal, ou seja, ao sul do rio Lima, e que

então pertenciam, e vieram ainda a pertencer durante algum tempo, no

âmbito da organização eclesiástica de Tui, repovoada durante o reinado

de Ordonho I.

O repovoamento da Terra Portugalense ocorreria no tempo de Afonso

Magno, sob o governo de Vímara Peres e seus descendentes.

Condes de Portucale: a casa de Vímara Peres

Foram condes da casa de Vímara Peres (nem sempre em linha recta, masrecorrendo às vezes à sucessão congnática):

 

# NomeInício

dogoverno

Fim dogovern

oNotas

1

Vímara

Peres 868 873

2LucídioVimaranes

873 ? Filho de Vímara Peres.

3

OnegaLucides

(com DiogoFernandes)

?antes

de 924

Filha de Lucídio Vimaranes.Governa conjuntamente com o

esposo, Diogo Fernandes.

4 MumadonaDias(com Mendo

924 950 Filha de Onega Lucides e DiogoFernandes. Governaconjuntamente com o esposo,

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I Gonçalves) Mendo I Gonçalves.

5Gonçalo IMendes 950 999

Filho de Mumadona Dias e Mendo

I. Em 997 intitula-semagnus dux  portucalensium.

6Mendo IIGonçalves

999 1008Filho (ou neto?) de Gonçalo IMendes.

7AlvitoNunes

1008 1015

8

IlduaraMendes(com Nuno IAlvites)

1015 1028

Filha de Mendo II Gonçalves.Governa conjuntamente com oesposo, Nuno I Alvites, filho deAlvito Nunes.

9Mendo IIINunes

1028 1050

10

Nuno IIMendes

1050 1065

Último conde da família deVímara Peres; derrotado pelorei Garcia da Galiza na batalha dePedroso.

Em 1065, o Condado de Portucale e a Galiza fizeram parte do território

atribuído por Fernando I para o seu filho mais novo Garcia II, que se tornou o

primeiro monarca a usar o título de "Rei de Portugal e Galiza". No entanto,ele lutava por controlar os seus nobres irascíveis. Com a sua vitória em

1071, na Batalha de Pedroso, onde derrota Nuno II Mendes, o Condado de

Portucale é extinto.

Mais tarde, em 1071, os seus irmãos Afonso VI e Sancho II tomaram o reino

de Portugal e Galiza, expulsando Garcia. Na primavera seguinte, Sancho, por

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sua vez, expulsou Afonso, voltando a juntar os três reinos, o de Leão, o de

Portugal e Galiza e o de Castela. Sancho aparece identificado como rei num

documento português de 1072. Com o assassinato de Sancho, mais tarde, no

mesmo ano, D. Afonso VI sucedeu na coroa de Leão (que abrangia os três

reinos).

Condado Portucalense

Evolução das fronteiras dos territórios na Peninsula Ibérica ao longo dareconquista, 790-1300.

Não se deve confundir o Condado Portucalense — concessão dos dois

territórios de Coimbra e de Portucale ao conde D. Henrique — com

o condado de Portucale, que começou a existir desde a presúria de VímaraPeres, prolongada pelos seus descendentes — embora nem sempre segundo

uma linhagem perfeita — até à morte do último conde, na batalha de

Pedroso, em 1071, que tentava conseguir maior autonomia face a Garcia II

da Galiza, que governava o Reino da Galiza e Portugal de seu pai, Fernando

Magno.

Porém, a atrofia do condado de Coimbra, criado em 878, mas suprimido com

a conquista da cidade por Almançor no final do século X, permitiu a

supremacia nortenha, que nem mesmo a reconstituição de uma autoridadeequivalente à do conde — em benefício de Sesnando Davides, em 1064, e

prolongada até à sua morte, em 1092 — pôde impedir.

Entretanto, a ambição de Afonso VI de Leão e Castela reconstituiu

novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por

morrer, depois de preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram para

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as mãos de Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca. A esta altura, o

vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes

militares, para melhor reforçar o território: um comando na zona central,

entregue ao próprio rei Afonso VI, outro, não oficial, exercido por El

Cid em Valência, e o terceiro a ocidente, entregue a Raimundo; este últimonão conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já

perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo rei taifa de Badajoz,

 juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos

Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns

historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI[5] de reforçar ainda

mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída

inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de

Borgonha.O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses,

introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto

das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou

governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e

o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma

completa autonomia quando, no caso português, as condições lhe eram

propícias.

A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henriquedeu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre

elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias

regalias, muitos francos seus compatriotas.

Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro

do castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D.

Henrique (1112), passa a viúva deste D. Teresa, a governar o condado

durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.

D. Teresa começa (1121) a intitular-se «Rainha», mas os conflitos com oalto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem

entregara o governo dos distritos do Porto eCoimbra, trouxeram-lhe a revolta

dos Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por

estranhos, da gerência dos negócios públicos.

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Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques arma-se a si

próprio cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim

guerreiro independente. Em 1128, trava-se a Batalha de São

Mamede (Guimarães) entre os partidários do infante Afonso e os de sua

mãe. Esta é vencida, D. Afonso Henriques toma conta do condado e dele vaifazer o reino de Portugal.

Lutando contra os cristãos de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso

Henriques conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha de

Ourique, em 1139, e declarou a independência. Nascia, pois, em 1139,

o reino de Portugal e sua primeira dinastia, com o rei Afonso I de Borgonha

(Afonso Henriques).

[editar]Condes Portucalenses: Casa de Borgonha

 

# Nome

Iníciodo

governo

Fim dogoverno

Cognome(s)

Notas

1D.

Henrique

1096 1112Pai de D. Afonso

Henriques.

2D.Teresa

1112 1128

Regente na menoridadedo filho (r. 1112 - 1128),com o títulode regina(«rainha»). Mãede D. Afonso Henriques.

3 D.AfonsoHenriques

1128 27 de Julho de 1139

OConquistador OFundador 

Conde de Portucale edepois primeiro Rei dePortugal

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O Grande

INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL

Foi rápida a ocupação muçulmana da Península Ibérica no ano 711 d.C., ea reconquista pelos visigodos foi francamente mais lenta. Este processo

gradual originou o nascimento de pequenos reinos que iam sendo alargados

à medida que a reconquista era bem sucedida. Primeiro, o Reino da Galiza,

que viria a dividir-se entre os filhos de Afonso III da Galiza quando morreu.

Assim nasciam os reinos de Leão e, mais tarde,

de Navarra e Aragão, Portugal e de Castela.

Alguns anos mais tarde, em 1096, descontente com as políticas bélicas

do conde Raimundo de Borgonha, o rei Afonso VI de Leão e Castela entregao governo do Condado Portucalense a um primo de Raimundo, o conde D.

Henrique de Borgonha, juntamente com a sua outra filha, a infanta D.

 Teresa, passando Henrique a ser conde de Portucale.

Deste condado, nasceria o reino de Portugal. D. Henrique governou no

sentido de conseguir uma completa autonomia para o seu condado e deixou

uma terra portucalense muito mais livre do que aquela que recebera.

Aquando a morte de D. Henrique (1112), sucede-lhe a viúva deste, D.

 Teresa, no governo do condado durante a menoridade do seu filho AfonsoHenriques de Borgonha. Inicialmente, o pensamento de D. Teresa foi idêntico

ao do seu marido: fortalecer a vida portucalense, conseguir a independência

para o condado. D. Teresa começou (1121) a intitular-se rainha, mas os

muitos conflitos diplomáticos e a influência que concedeu a alguns nobres

galegos (principalmente a Fernão Peres) na gerência dos negócios públicos

prejudicou o seu esforço de tal maneira a que D. Teresa foi obrigada a

abdicar das suas pretensões, e mudar de política.

Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques, com o apoio danobreza portuguesa da época, arma-se a si própriocavaleiro – segundo o

costume dos reis – tornando-se assim guerreiro independente. A posição de

favoritismo em relação aos nobres galegos e a indiferença para com os

fidalgos e eclesiásticos portucalenses por parte de sua mãe, D. Teresa,

originou a revolta destes, sob chefia do seu filho, D. Afonso Henriques.

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A luta entre D. Afonso Henriques e sua mãe desenrola-se, até que a 24 de

 Junho de 1128 se trava a batalha de São Mamede (em Guimarães) e D.

 Teresa é expulsa da terra que dirigira durante 15 anos. Uma vez vencida, D.

Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o reino independente,

dado que ele era neto de Afonso VI, Imperador de toda a Hispânia, passandoa assinar todos os documentos oficiais não como conde, mas sim como rei.

Continuou, no entanto, a lutar contra as forças do seu primo, o rei Afonso VII

de Leão e Castela (inconformado com a perda das terras portuguesas, pois à

semelhança de seu pai, Afonso VI, ele também se intitulava

como Imperador), enquanto paralelamente travava lutas contra

os muçulmanos. Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de

Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se

como rei de Portugal, e com o apoio dos nobres portugueses, é aclamadocomo rei soberano.

Nascia, pois, em 1139, o Reino de Portugal e a sua primeira dinastia e Casa

Real: os Borgonha. D. Afonso Henriques, torna-se rei, o rei Afonso I de

Portugal. Contudo, o estatuto de independência carecia de reconhecimento,

o qual só foi feito por parte do Reino de Leão e Castela a 5 de

Outubro de 1143, data em que o rei Afonso VII assinou o Tratado de Zamora,

que assinalaria a separação entre os reinos. Desde então, D. Afonso

Henriques (Afonso I) procurou consolidar a independência por si declarada.Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos. Dirigiu-se

ao papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário daSanta Sé, tendo

reclamado para a nova monarquia a protecção pontifícia. Em 1179 o papa

Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, confirma e reconhece a

Portugal como país independente e soberano protegido pela Igreja Católica.

Na continuação das conquistas procurou também terreno ao sul, povoado,

até então, por Mouros e, após ver malograda a primeira tentativa

de conquistar Lisboaem 1142, feito que só conseguiu realizar em 24 deOutubro do mesmo ano, após conquistar Santarém no dia 15 de março com

o auxílio de uma poderosa esquadra com 160 navios, e um contingente de

12 a 13 mil cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.

RECONQUISTA 

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Reconquista (também referenciada como Conquista cristã) é a

designação historiográfica para o movimento cristão com início no século 

VIII que visava à recuperação dos Visigodos cristãos das terras perdidas para

os árabes durante a invasão da Península Ibérica.

Os muçulmanos não conseguiram ocupar a região montanhosa das Astúrias,

onde resistiram muitos refugiados; aí surgiria Pelágio (ou Pelaio) que se pôs

à frente dos refugiados, iniciando imediatamente um movimento para

reconquistar o território perdido.

A guerra tinha um objectivo: reapoderarem-se das terras e de tudo o que

nelas existia. A ocupação das terras conquistadas fazia-se com um

cerimonial: cum cornu et albende de rege, isto é, com o toque

das trombetas e a bandeira desfraldada.

A ideia de «cruzada» só veio a surgir na época das Cruzadas (1096). A

reconquista de todo o território peninsular vai durar cerca de oito séculos, só

ficando concluída em 1492 com a tomada do reino muçulmano de 

Granada pelos Reis Católicos. Em Portugal, a reconquista terminou com a

conquista definitiva deSilves pelas forças de D. Afonso III, em 1253. Mais

tarde, a expansão marítima portuguesa, precedida pela conquista das

praças africanas foi considerada, em parte, como uma continuação da

Reconquista.

Precedentes

Por volta do ano 711 toda a Península Ibérica seria invadida por

hordas berberes, comandadas por Tarik ibn-Ziyad, obrigando os visigodos a

recolher-se principalmente nas Astúrias, uma região no Norte da Península,

que, pelas suas características naturais, colocava grandes dificuldades ao

domínio muçulmano. Além disso, os muçulmanos estavam mais interessados

em atravessar osPirenéus e derrotar os Francos, visto terem como objectivos

conquistar todos os territórios à volta do Mediterrâneo, o que acabou por não

acontecer, pois foram derrotados pelos Francos. O período compreendido

entre 711 e 1492 foi marcado, na Península Ibérica, entre outros fatos, pela

presença de governantes muçulmanos. Em nome da recristianização da

região, ocorreu um longo processo de lutas, considerado por alguns como

parte do movimento de cruzadas, resultando finalmente na completa

reconquista do território por parte dos cristãos.

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Durante esta fase, dá-se o nascimento do Reino de Portugal e de diversos

outros reinos na Península Ibérica. Enquanto Portugal já em 1250 tinha seus

limites muito próximos dos atuais, a unificação da Espanha deu-se de forma

gradual; até hoje ainda existem movimentos separatistas.

A revolta

Estátua dePelágio das Astúrias

Antes de 750, os soldados berberes, que se acantonavam nas terras mais

ao norte, revoltaram-se contra os árabes: estes eram pouco numerosos e

chamaram tropas sírias, que dominaram a revolta. Em 718 Pelágio, chefe

dos Visigodos, aproveita a desorganização muçulmana e dá início a um

processo de reconquista dos territórios hispânicos, que iria durar cerca de

oito séculos.

Não se sabe muito sobre Pelágio: o nome não é gótico: os autores de

pequenas crónicas escritas pelo fim do século IX e no X procuram relacioná-lo com os antigos reis visigodos, para estabelecerem uma relação entre os

guerrilheiros montanheses e a «restauração» do Cristianismo em Espanha.

Um escritor árabe coevo diz que se tratava de umgalego. Um historiador

moderno supõe que seria um servo que se conseguiu impor aos

companheiros no período de crise que seguiu a queda da monarquia; um

outro considera-o um nativo das Astúrias; outros autores consideram que

Pelágio era duque da Cantábria, parente, segundo a tradição, do rei Rodrigo.

Pelágio seria então o chefe daquele heróico grupo de montanheses (ástures

e cántabros) que escaparam à dominação árabe da Península, refugiados

nas montanhas quase inacessíveis das Astúrias. O domínio muçulmano na

Península levava os guerreiros cristãos a porfiadas pelejas, cada um

querendo «gizar» um reino para si.

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É em 722 que ocorre a primeira grande vitória dos Cristãos contra os

mouros, na Batalha de Covadonga; dá-se assim a derrota dos

muçulmanos. Alexandre Herculano considera que o ardil de guerra que deu a

vitória a Pelágio tem muito de comum com aquele que Viriato pusera por

vezes em prática, cerca de novecentos anos antes: ainda que muito a custo,os cavaleiros enviados em cilada para a floresta à esquerda das gargantas

de Covadonga, puderam chegar aí sem serem sentidos pelos árabes.

Aquando da aproximação dos árabes, os cristãos recuaram e os primeiros,

atribuindo ao temor esta fuga simulada, precipitaram-se em sua direcção.

Pouco a pouco, o duque da Cantábria atraiu-os para a entrada da gruta de

Covadonga. Ao som da trombeta de Pelágio, do cimo dos rochedos surgiram

guerreiros que dizimaram os africanos e os renegados godos com tiros e

lançando rochedos.Na batalha de Auseba foram vingados os valentes que pereceram nas

margens do Chrysus, pela morte de vinte mil sarracenos.

A oportunidade

Os cristãos esperavam esses combates na esperança de um avanço na

reconquistas cristã, e encontravam nas montanhas das Astúrias um campo

propício. Das Astúrias desceu um dia um grupo de godos, capitaneados por

Pelágio, que infligiria aos sarracenos uma formidável derrota na batalha de 

Cangas de Onís (cerca de722), e que seria o primeiro elo dessa cadeia decombates que, prolongando-se através de quase oito séculos, fez recuar

o Corão para as praias de África e restituiu a Península ao Cristianismo.

Seguiu-se uma prolongada guerra civil, a cerca de 740, em consequência da

qual as terras para o norte do Douro ficaram livres, ou quase livres, dos

invasores, porque os berberes, que lá estavam, marcharam para o sul para

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fazer guerra aos árabes. As populações hispano-góticas dessas regiões

puderam, então, levantar cabeça e colocaram-se do lado dos cristãos contra

os mouros. A Galiza foi uma zona onde essa luta foi mais renhida e

devastadora. Antes de terminar o século VIII, por efeito do recuo dos mouros,

divididos por guerras internas, a Península Ibérica tinha duas zonas, cujolimite passava, aproximadamente, por Coimbra, seguia o curso

do Mondego por Talavera, Toledo, Tudela e Pamplona. As populações não

estavam submetidas a nenhuma organização definida permanente, a não ser

ao clero.

Algumas sés (entre elas as do Porto e Braga) foram abandonadas

pelos bispos, mas o culto cristão nunca foi interrompido. Alguns

historiadores, entre eles Alexandre Herculano, tomaram à letra algumas

frases dos cronicões da reconquista, em especial o atribuído a Sebastião,bispo de Salamanca.

Rezam as crónicas que foi Afonso I (um chefe asturiano) quem reconquistou

uma enorme região, que incluía toda a Galiza, o Minho, o Douro e parte da

actual Beira Alta, passando os mouros a fio de espada e levando consigo,

para norte, todos os cristãos que encontrou no território.

É essa a origem da teoria do ermamento : se todos os mouros foram mortos e

todos os cristãos levados, a terra transformou-se num grande deserto, onde

a vida social parou e só veio a renascer a partir da sua incorporaçãonos novos reinos cristãos. Este ponto de vista foi depois corrigido. Os

cristãos levados para o norte pode explicar-se pela necessidade de mão-de-

obra. E, entre os mortos e os feridos, há sempre alguns que escapam.

Os ataques

As razias eram feitas nos lugares onde os saques podiam ser

compensadores, e o facto de se repetirem várias vezes mostra que as

populações estavam enraizadas. À aproximação dos soldados(umas vezes

mouros, outras vezes cristãos), os aldeões faziam como em Coimbra:

refugiavam-se nos montes e voltavam depois para construir

novas choupanas e continuar as sementeiras. E estas dificuldades iam

fortalecendo o poder popular. As condições sociais desta época são pouco

conhecidas. Apesar disso, há indicações de conflitos sociais violentos entre

os servos e os senhores.

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Os Cristãos consideravam que o seu protector era Santiago (ainda hojepatrono da Espanha), apelidado deSantiago Matamouros.

Sebastião de Salamanca e o cronicão Albeldense falam-nos de uma revolta

de libertinos, isto é, descendentes de antigos escravos. Diz que se

revoltaram contra os senhores mas foram vencidos e «reconduzidos à

escravidão». Em alguns casos, as populações revoltavam-se após aincorporação dos territórios em que habitavam no domínio cristão. Essas

revoltas não eram de carácter religioso: não existem indícios de uma

profunda adesão dos povos ao credo islâmico. Mas os «reconquistadores»

não aceitavam as organizações dos vizinhos que, entretanto, se tinham

enraizado.

Santiago Mata-Mouros

De acordo com outras tradições, Santiago teria

aparecido miraculosamente em vários combates travadosem Espanha durante a Reconquista Cristã, sendo a partir de então apelidado

de Matamoros (Mata-Mouros). Santiago y cierra España foi desde então o

grito de guerra dos exércitos espanhóis. Santiago foi também protector

doexército português até à crise de 1383-1385, altura em que o seu brado

foi substituído pelo de São Jorge.

Os reinos cristãos

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Mapa da evolução da conquista cristã.

Cronologia da reconquista cristã da Península Ibérica (790 - 900 - 1150 -1300). A verde, os territórios sob domínio muçulmano, a amarelo a formaçãodo território português, outros tons para os reinos cristãos da Península(Leão, Aragão, Castela, Navarra).

O primeiro reino cristão foi o das Astúrias, fundado por Pelágio, e mais tarde

de Reino de Leão. Nos princípios do século X a provínciade Navarra tornou-seindependente, formando o Reino de Navarra.

Os reis ásturo-leoneses foram alargando os domínios cristãos que atingiram

o rio Mondego (Afonso III de Leão, e, ao mesmo tempo, iam repovoando

terras e reconstruindo igrejas e mosteiros, ficando célebre na parte ocidental

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o Mosteiro de Guimarães – com grandes propriedades rústicas e

muitos castelos por todo o norte do país.

Porém, já no século X, as discórdias entre os chefes cristãos enfraqueceram

o reino, e Almançor tomou a ofensiva destruindo Leão, a capital, e reduzindo

o reino cristão ao último extremo.

No século XI, Sancho de Navarra, rei de Navarra, anexou o condado de 

Castela e, por sua morte, os seus estados foram divididos pelos três filhos,

sendo nessa altura os condados de Aragão e de Castela elevados à categoria

de reinos. O reino de Castela coube aFernando I, o Magno, mas este em

breve se apoderou também do reino de Leão.

Fernando, rei de Leão e Castela, notabilizou-se na luta contra os

muçulmanos recuperando muitas terras, entre as quais Coimbra(1064),alargando assim definitivamente os limites da reconquista até ao Mondego.

Este monarca desenvolveu o território entre o Douroe Mondego, o qual

aparece designado por Portucale, separadamente dos outros territórios

da Galiza, com dois distritos ou condados – Portugal e Coimbra – gozando de

autonomia administrativa, com magistrados próprios.

Fernando I, ao falecer (1065), repartiu os seus domínios pelos

filhos: Sancho ficou com Castela, Afonso com Leão e Astúrias, e Garciacom a

Galiza (e portanto com o condado de Portugal), transformado em reino 

independente. Depois de varias lutas entre os irmãos, morto Sancho e

destronado Garcia, Afonso VI de Castela reúne novamente todos os estados

de seu pai, tornando-se assim rei de Leão, de Castela e de Galiza.

Afonso VI, aproveitando as lutas entre os principados muçulmanos após a

desagregação do califado de Córdova (1031), prosseguiu a guerra contra os

infiéis e conquistou Toledo, onde fixou a capital.

Face ás vitórias cristãs, os emires pedem auxilio

aos Almorávidas da Mauritânia, e estes, vindo à Península, derrotam osexércitos cristãos na Batalha de Zalaca (1086). Porém, a oeste, os nobres

galegos e do condado portucalense, tomam Santarém e a

seguirLisboa e Sintra (1093), estendendo assim a reconquista até ao Tejo.

Contudo, em 1110, uma reacção mais forte dos Sarracenos trouxe-os de

novo até junto de Santarém e após um longo assédio a cidade rendeu-se,

diminuindo de extensão o poder dos leoneses. Santarém permanece então

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no poder dos mouros até ser reconquistada definitivamente por D. Afonso

Henriques em 1147.

Acudindo aos apelos de Afonso VI, entre os cavaleiros de além-Pirenéus,

vem Raimundo, filho do conde de Borgonha, que casaria com D. Urraca, filha

do rei de Leão e recebe deste (1093) o governo de toda a Galiza até ao Tejo.

No ano seguinte chega à PenínsulaD. Henrique, irmão do Duque de Borgonha

e primo de Raimundo, que recebe a mão de D. Teresa, filha ilegítima de

Afonso VI e recebe, depois, o governo da província portucalense que fazia

parte do Reino da Galiza - terra que seu filho Afonso Henriques (revoltando-

se contra ela e o seu padrasto Fernão Peres de Trava) alargou e tornou em

reino independente. Assim, a formação do reino de Portugalfoi uma frutuosa

consequência das cruzadas do Ocidente. O reino da Galiza passou a ser

unicamente aquele ao norte do rio Minho, ficando, com o tempo, maisdependente do poder do Reino de Castela — limitada por Leão a Este e por

Portugal a Sul, a Galiza assumia assim a sua fronteira e Portugal seria o

único a constituir um estado independente do poder castelhano.

Depois de D. Afonso VI de Leão, o último grande reconquistador espanhol até

aos reis católicos, a reconquista contra os Almóadas foi prosseguida pelos

reis de Portugal, Castela, Aragão e peloscondes de Barcelona.

Portugal na Reconquista

D. Afonso Henriques, filho do conde de Portucale, iria revoltar-se contra asua mãe, conquistando a Independência de Portugal e iniciando a

reconquista portuguesa autonomamente. Desde o início do seu reinado,

conseguimos documentar as seguintes batalhas:

 

Reinado Acontecimento Local Ano

Afonso

HenriquesFundação do Castelo Leiria 113

5

AfonsoHenriques Batalha de Ourique Ourique 113

9

Afonso  Tomada do Castelo Santarém 114

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Henriques 7

Afonso

HenriquesConquista de Lisboa Lisboa 114

7

AfonsoHenriques Batalha de Sacavém * Sacavém 114

7

AfonsoHenriques  Tomada do Castelo Almada 114

7

AfonsoHenriques  Tomada do Castelo Palmela 114

7

AfonsoHenriques Conquista Alcácer do 

Sal1158

AfonsoHenriques

Conquista do Castelo de Cera

 

 Tomar 1159

AfonsoHenriques

Conquista de Évoramonte

 

Évoramonte 1159

AfonsoHenriques Conquista de Beja Beja 115

9

Afonso

Henriques Reconquista de Beja Beja

116

2

AfonsoHenriques Conquista de Évora Évora 116

5

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AfonsoHenriques  Tomada de Serpa Serpa 116

6

AfonsoHenriques  Tomada de Moura Moura 1166

AfonsoHenriques Batalha de Badajoz Badajoz 116

9

D. Sancho I Rendição da Cidade Silves 1189

D. Afonso II Batalha Navas de  Tolosa

Navas de  Tolosa

1212

D. Afonso IV Batalha do Salado Salado 1340

* - Considerada lendária pela historiografia moderna

Cronologia da Reconquista

Ordens religiosas e Cruzadas

  Todos os reinos ibéricos puderam beneficiar do apoio de váriasOrdens 

Militares, das quais se destaca a Ordem dos Templários, uma Ordem militar

e religiosa instituída com o propósito da cristianização.

Portugal, especialmente, viria a beneficiar das Cruzadas em trânsito para

o Médio Oriente, tendo estas desempenhado um papel importantíssimo natomada de algumas cidades portuguesas e subsequente expansão, bem

como na fundação do próprio Reino de Portugal.

O fim do domínio árabe

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Granada — entrega das chaves da cidade pelo próprio rei Boabdil àrainha Isabel I de Castela.

Em 1492, com a conquista do reino de Granada, a Reconquista chegava ao

fim. Já os reinos da Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão iniciavam umarelativa unificação ao possuir um único rei (embora mantendo a autonomia

económica, administrativa e comercial), que posteriormente recebeu o nome

de reino de Espanha. Juntamente com o reino independente de Portugal,

debatiam-se estes dois Estados pelas conquistas marítimas. Ainda com o

apoio da Igreja, ambos os reis estavam agora de olhos postos no Norte de 

África, nas praças comerciais de renome, como Ceuta e Tânger, sob o

pretexto da cristianização. Caminhava-se, paralelamente, para a fase inicial

dosDescobrimentos.

DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES 

Os descobrimentos portugueses foram o conjunto de viagens e

explorações marítimas realizadas pelos portugueses entre 1415 e 1543 que

começaram com a conquista de Ceuta na África. Os descobrimentos

resultaram na expansão portuguesa e deram um contributo essencial para

delinear o mapa do mundo, impulsionados pela Reconquista e pela procura

de alternativas às rotas do comércio no Mediterrâneo. Com estasdescobertas os portugueses iniciaram a Era dos

Descobrimentos europeus que durou do século XV até ao XVII e foram

responsáveis por importantes avanços da tecnologia e ciência

náutica, cartografia e astronomia, desenvolvendo os primeiros navios

capazes de navegar em segurança em mar aberto no Atlântico.

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Embora com antecedentes no reinado de D. Dinis (1279) e nas expedições

às Ilhas Canárias do tempo de D. Afonso IV, é a partir da conquista de Ceuta

em 1415, que Portugal inicia o projecto nacional de navegações oceânicas

sistemáticas[1] que ficou conhecido como "descobrimentos portugueses".

 Terminada a Reconquista, o espírito de conquista e Cristianização dos povos

muçulmanos subsistia. Os portugueses dirigiram-se então para oNorte de

África, de onde tinham vindo os mouros que se

haviam estabelecido na Península Ibérica. Avançando progressivamente

pelo Atlântico ao longo das costas do continente africano, passaram o Cabo

da Boa Esperança e entraram no Oceano Índico movidos pela procura de

rotas alternativas ao comércio Mediterrânico. Chegaram à índia em 1498,

simultaneamente exploraram o Atlântico Sul e aportaram nas costas do

Brasil em 1500, navegando no extremo da Ásia chegaram à China em 1513e ao Japão em 1543.

As expedições prolongaram-se por vários reinados, desde as explorações na

costa africana impulsionadas pelo Infante D. Henrique, filho de D. João I, até

ao projecto da descoberta de um caminho marítimo para a Índia de D. João

II, culminando no reinado de D. João III, altura em o Império Português ficou

estabelecido.

Antecedentes

Com a Reconquista concluída, D.Dinis interessou-se pelo comércio externo,

organizando a exportação para países europeus. Em 10 de Maio de 1293,

instituiu um fundo de seguro marítimo para os comerciantes portugueses

que viviam no Condado da Flandres, que pagavam determinadas quantias

em função da tonelagem, que revertiam em seu benefício se

necessário. Vinho e frutos secos doAlgarve eram vendidos na Flandres e

na Inglaterra, sal das regiões de Lisboa, Setúbal e Aveiro eram exportações

rentáveis para o Norte da Europa, além de couro e Kermes, um corante

escarlate. Os portugueses importavam armaduras e munições, roupas finase diversos produtos fabricados da Flandres e da Itália.[2]

Em 1317 D. Dinis fez um acordo com o navegador e mercador

genovês Manuel Pessanha (Emanuele Pessagno), nomeando-o

primeiro almirante da frota real com privilégios comerciais com seu país, em

troca de vinte navios e suas tripulações, com o objetivo de defender as

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costas do país contra ataques de pirataria (muçulmana), lançando as bases

da Marinha Portuguesa e para o estabelecimento de uma comunidade

mercante genovesa em Portugal.[3] Obrigados a reduzir suas atividades

no Mar Negro, os mercadores da República de Génova tinham-se voltado

para o comércionorte Africano de trigo, azeite (também fonte de energia)e ouro - navegando até aos portos de Bruges (Flandres) e Inglaterra.

Genoveses e florentinos estabeleceram-se então em Portugal, que lucrou

com a iniciativa e experiência financeira destes rivais da República de

Veneza.

 

O Infante D. Henrique, o Navegador, personifica a gesta dos

descobrimentos[4]

Na segunda metade do século XIV, surtos de peste bubónica levaram a um

grave despovoamento: a economia era extremamente localizada em

poucas cidadese a migração do campo levou ao abandono da agricultura e

ao aumento do desemprego nas povoações. Só o mar oferecia alternativas,

com a maioria da população fixada nas zonas costeiras de pesca e comércio.[5]

Entre 1325 e 1357 D. Afonso IV de Portugal concedeu o financiamento

público para levantar uma frota comercial e ordenou as primeirasexplorações marítimas, com apoio de genoveses, sob o comando de Manuel

Pessanha. Em 1341 as ilhas Canárias, já conhecidas dos genoveses, foram

oficialmente descobertas sob o patrocínio do rei Português.[6] A sua

exploração foi concedida em 1338 a mercadores estrangeiros, mas em

1344 Castela disputou-as, concedendo-as ao castelhano D. Luís de la Cerda.

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No ano seguinte, Afonso IV enviou uma carta ao Papa Clemente VI referindo-

se às viagens do portugueses às Canárias e protestando contra essa

concessão. Nas reivindicações de posse, sucessivamente renovadas pelos

dois povos, prevaleceu, no final, a vontade do rei de Castelasobre estas

ilhas.

Em 1353 é assinado um tratado comercial com a Inglaterra para que os

pescadores portugueses pudessem pescar nas costas inglesas, abrindo

assim caminho para o futuro Tratado de Windsor em 1386. Em 1370 é criada

a Bolsa de Seguros Marítimos e em 1387 há notícia do estabelecimento de

mercadores do Algarveem Bruges. Em 1395, D. João I emite uma lei para

regular o comércio dos mercadores estrangeiros.

Há unanimidade dos historiadores em considerar a conquista de Ceuta como

o início da expansão portuguesa, tipicamente referida comoos Descobrimentos. Foi uma praça conquistada com relativa facilidade, por

uma expedição organizada por D. João I, em 1415. A aventura ultramarina

ganharia grande impulso através da acção do Infante D.

Henrique reconhecido internacionalmente como o seu grande impulsionador.

[editar]Motivações

Até ao século XIX, considerava-se que a principal motivação para as

conquistas africanas em Marrocos tinha sido de ordem religiosa. O

cronista Gomes Eanes de Zurara refere que os Infantes tinham as suasrazões, os letrados as suas, mas a decisão cabia ao rei D. João I: “Eu não o

teria por vitória, nem o faria em boa verdade, ainda que soubesse cobrar

todo o mundo por meu, se não sentisse que em alguma maneira era serviço

de Deus”.[7] O motivo religioso, sobrepondo-se a todos os outros, foi como tal

apontado, entre outros, por João de Barros, Luís de Camões, Gil Vicente.

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As importantes rotas comerciais da sedae das especiarias, bloqueadaspelo Império Otomano em 1453 com a queda de Constantinopla, foi o quemotivou a procura de um caminho marítimo pelo Atlântico, contornandoa África

Mapa das rotas comerciais portuguesas de Lisboa à Nagasaki em 1580-1640

Mas havia também outras razões para a conquista de Ceuta, mais de um

século depois resumidas pelo carmelita Frei Amador Arrais, ligando-as à

acção deD. Afonso IV na Batalha do Salado - “El-Rei Dom João o primeiro,

começou a conquista de África, tomãdo Septa, Baluarte da Cristandade, &

Chave de toda Hespanha, Porta do comércio do poente para levante."

O inimigo muçulmano dominava o Estreito e era poderoso em Granada. Pela

sua posição geográfica, Ceuta era uma base naval que podia servir de apoio

à navegação entre a península itálica e Portugal, permitindo também

reprimir ou tolher a pirataria dos mouros nas costas do Atlântico.

No século XX, houve historiadores que julgaram o passado com as

preocupações do presente, considerando a primazia do interesse económico:

procurar acesso directo a fontes de fornecimento de trigo, de ouro ou

de escravos no norte de África. Mas houve também historiadores,

como David Lopes, rebatendo essa tese: "Ainda que Ceuta tivesse

importância como centro de comércio, a sua conquista por cristãos desviaria

dela o tráfico muçulmano" [8]

As conquistas de Marrocos, porém, sob o impulso do Infante D. Henrique,

vieram a dar lugar aos descobrimentos. Segundo Gomes Eanes de Zurara,

naCrónica do descobrimento e conquista da Guiné (Capítulo VII), as

expedições organizadas pelo Infante tinham cinco motivações: (1ª) conhecer

a terra além das Canárias e do cabo Bojador; (2ª) trazer ao reino

mercadorias; (3ª) saber até onde chegava o poder dos muçulmanos; (4ª)

encontrar aliados que o pudessem ajudar numa guerra que durava há trinta

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e um anos; (5ª) e trazer para a fé de Cristo todas as almas que se quisessem

salvar.

Se, com o Infante, ao avançar pela costa de África na direcção do sul, parece

haver sobretudo a intenção de envolver pela rectaguarda o grande poderio

islâmico, adversário da Cristandade (uma estratégia militar e diplomática

tributária do espírito das Cruzadas), a crescente intervenção dos "cavaleiros-

mercadores" (Magalhães Godinho) nos reinados de D. Afonso V e D. João II,

acabará por levar a expansão portuguesa até ao Oriente em busca das

especiarias. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos, as

trocas comerciais no Mediterrâneo de Veneza e de Génova ficaram muito

reduzidas. O proveito de uma rota comercial alternativa mostrava-se

recompensador. Portugal iria ligar directamente as regiões produtoras

das especiariasaos seus mercados na Europa. Quando se firma o projecto dadescoberta do caminho marítimo para a Índia, a expansão portuguesa está

 já dominada pelo interesse comercial.

[editar]Primeiras expedições no Atlântico

 

Imagem de Preste João no trono, mapa da África oriental no Queen Mary'sAtlas, Diogo Homem, 1558,Museu Britânico

A conquista de Ceuta em 1415 é geralmente referida como o início dos"descobrimentos Portugueses". Nela participou o Infante D. Henrique, que a

partir de então dirigiu e impulsionou as primeiras expedições no Atlântico,

como investimento do seu património pessoal. As primeiras navegações

estão associadas à sua figura a partir da base que estabeleceu em Lagos e

na Sagres, onde foi acompanhado por um grupo de cartógrafos, astrónomos

e pilotos. Além dos interesses materiais, o príncipe ambicionava estabelecer

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uma aliança com o Preste João das Índias, um príncipe cristão que

governaria as terras da Etiópia. Graças a essa aliança, D. Henrique pensava

expulsar os Muçulmanos da Terra Santa e recomeçar as Cruzadas, mas

numa escala planetária. Por trás deste movimento estava um grupo vasto de

mercadores e armadores profissionais, interessados e participantes nasnavegações e, como dirigente governativo, o infante D. Pedro, responsáveis

por uma série importante de iniciativas a que o Navegador aderiu.

[editar]A ilha da Madeira

Em 1418, ainda no reinado de D. João I, e sob comando do Infante D.

Henrique dá-se o redescobrimento da ilha de Porto Santo por João Gonçalves

Zarco e mais tarde da ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Trata-se de

um redescobrimento pois já havia conhecimento da existência das ilhas

da Madeira noséculo XIV, segundo revela a cartografia da mesma época,principalmente em mapas italianos e catalães. Tratava-se de ilhas

desabitadas que, pelo seu clima, ofereciam possibilidades de povoamento

aos Portugueses e reuniam condições para a exploração agrícola.

Os arquipélagos da Madeira e das Canárias despertaram, desde cedo, o

interesse tanto dos Portugueses como dos Castelhanos; por serem vizinhos

da costa africana, representavam fortes potencialidades económicas e

estratégicas. A disputa destes territórios deu origem ao primeiro conflito

ibérico motivado por razões expansionistas que só terminou com aassinatura do Tratado das Alcáçovas-Toledo em 1479.

[editar]Os Açores

Em 1427, dão-se os primeiros contactos com o arquipélago

dos Açores por Diogo de Silves. Ainda nesse ano é descoberto o grupo

oriental dos Açores, São Miguel e Santa Maria. Segue-se o descobrimento do

grupo central - Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial). Em 1452 o grupo

ocidental (Flores e Corvo) é descoberto por Diogo de Teive.

[editar]A costa oeste de ÁfricaEm 1434 Gil Eanes contornou o Cabo Bojador, dissipando o terror que este

promontório inspirava. No ano seguinte, navegando com Afonso Gonçalves

Baldaia descobriram Angra de Ruivos e este último chegou ao Rio de Ouro,

no Saara Ocidental. Entretanto, após a derrota portuguesa

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de Tânger em 1437, os portugueses adiaram o projecto de

conquistar Marrocos no Norte de África.[9]

 Já na regência de D. Afonso V, em 1441 Nuno Tristão chegou ao Cabo

Branco. Juntamente com Antão Gonçalves fizeram incursões ao Rio do Ouro,

de onde foi obtido ouro em pó. A partir de então ficou generalizada a

convicção de que essa área da costa africana poderia, independentemente

de novos avanços, sustentar uma actividade comercial capaz de responder

às necessidades denumerário que, em Portugal, como em toda a Europa, se

fazia sentir. Em 1456, Diogo Gomes descobre Cabo Verde e segue-se o

povoamento das ilhas ainda no século XV.[10]

Em 1455 é emitida a bula Romanus Pontifex do Papa Nicolau V confirmando

as explorações portuguesas e declarando que todas as terras e mares

descobertos a sul do Bojador e do cabo são pertença dos reis de Portugal,que poderá cobrar impostos sobre a navegação e comércio. No ano seguinte

chegava a Bristol o primeiro carregamento de açúcar provindo da ilha da

Madeira. Em 1460,Pêro de Sintra atinge a Serra Leoa. Nesse ano faleceu

o Infante D. Henrique. Após a sua morte, a missão é atribuída

temporariamente ao seu sobrinho, o Infante D. Fernando (filho de D.Duarte).

 

Mapa do século XVI, da costa oeste africana Golfo da Guiné e "A mina"

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Em 1469, Afonso V, Rei de Portugal dadas as poucas receitas da exploração,

concedeu o monopólio do comércio no Golfo da Guiné ao mercador de

LisboaFernão Gomes, contra uma renda anual de 200.000 réis.[11] Segundo João de Barros, ficava aquele «honrado cidadão de Lisboa» com

a obrigação de continuar as explorações, pois o exclusivo era garantido com«condição que em cada um destes xinco anos fosse obrigado a descobrir 

 pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do seu

arrendamento desse quinhentas léguas descobertas[12]». Este avanço, do

qual não há grandes pormenores, teria começado a partir da Serra Leoa,

onde haviam já chegado Pedro Sintra e Soeiro da Costa.

Com a colaboração de navegadores como João de Santarém, Pedro

Escobar, Lopo Gonçalves, Fernão do Pó e Pedro de Sintra, Fernão Gomes fê-

lo mesmo para além do contratado. Com o seu patrocínio, os portugueseschegaram ao Cabo de Santa Catarina, já no Hemisfério Sul. João de

Santarém e Pêro Escobar exploraram a costa setentrional do Golfo da Guiné,

atingindo a «minha de ouro» de Sama (actualmente Sama Bay), a costa

da Mina, a de Benin, a do Calabar e a do Gabão e as ilhas de São Tomé e

Príncipe e de Ano Bom,[13] Quando as expedições chegaram

a Elmina na Costa do Ouro em 1471,,[14]encontraram um florescente

comércio de ouro.

Seguiram-se outros navegadores como Soeiro da Costa (que deu nome aorio Soeiro), Fernão do Pó (que descobriu a ilha Formosa (em África), que ficou

conhecida posteriormente pelo seu nome), João Vaz Corte-Real, que

em 1472 descobriu a Terra Nova, e em 1473 Lopo Gonçalves (cujo nome se

transmitiu ao Cabo Lopo Gonçalves, hoje conhecido por Cabo Lopez)

ultrapassou o Equador.

Em 1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o príncipe D. João, futuro D. João

II, com apenas dezanove anos, a organização das explorações por terras

africanas. Mais tarde, em 1481, o rei confirmou a missão do príncipe emnovo diploma: «…sabemos certo que ele dá, per si, e per seus oficiais, mui

boa ordem à navegação destes trautos e os governa mui bem.». Assim que

lhe foi entregue a política de expansão ultramarina, D. João organizou a

primeira viagem de Diogo Cão. Este fez o reconhecimento de toda a costa

até à região do Padrão de Santo Agostinho. Em 1485, Diogo Cão levou a

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cabo uma segunda viagem até à Serra Parda. Há notícias de carregamentos

de açúcar da Madeira serem entregues em Rouen (1473) e Dieppe (1479).

 

A pedra de Dighton na Terra Nova, evidência da descoberta por João Vaz

Corte-Real

Em 1479, buscando proteger o investimento resultante das descobertas,

Portugal negociou com Castela o Tratado das Alcáçovas-Toledo,

estabelecendo a paz e concertando a política externa Atlântica dos dois

reinos rivais: Portugal obtinha o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha

da Madeira, o Arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a costa da Guiné,

enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao

Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam. O

tratado dividia as terras descobertas e a descobrir por umparalelo na alturadas Canárias, dividindo o mundo em dois hemisférios: a norte, para a Coroa

de Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. Preservavam-se, desse modo,

os interesses de ambas as Coroas, definindo-se, a partir de então, os dois

ciclos da expansão: o chamado ciclo oriental, pelo qual a Coroa portuguesa

garantia o seu progresso para o sul e o Oriente, contornando a costa africana

(o chamado "périplo africano"); e o que se denominou posteriormente de

ciclo ocidental, pelo qual Castela se aventurou no oceano Atlântico, para

oeste até ao Novo Mundo.Em 1482 dá-se a construção da Fortaleza de São Jorge da Mina e, no ano

seguinte, Diogo Cão chega ao rio Zaire.

A Fortaleza de São Jorge da Mina e a cidade foram construídos em 1482 em

redor da indústria do ouro.[15] Com os lucros deste comércio, Fernão Gomes

auxiliou o monarca na conquista de Arzila, Alcácer Ceguer e Tânger. Além da

aquisição do ouro e malagueta, o comércio escravagista oferecia boas

perspectivas de lucro.[16]

[editar]A ligação do Atlântico com o Índico

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Viagem de Bartolomeu Dias (1487–88)

Em 1487, D. João II envia Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã em busca

do Preste João e de informações sobre a navegação e comércio no Oceano

Índico. Nesse mesmo ano, Bartolomeu Dias, comandando uma expedição

com três Caravelas, atinge o Cabo da Boa Esperança. Estabelecia-se assim a

ligação náutica entre o Atlântico e o Oceano Índico.

O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II

como medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e

tentativa de monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez

mais sólida presença marítima portuguesa, D. João almejava o domínio dasrotas comerciais e expansão do reino de Portugal que já se transformava em

Império. Porém, o empreendimento não seria realizado durante o seu

reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar Vasco da Gama

para esta expedição, embora mantendo o plano original.

Porém, este empreendimento não era bem visto pelas altas classes. Nas

Cortes de Montemor-o-Novo de 1495 era bem patente a opinião contrária

quanto à viagem que D. João II tão esforçadamente havia preparado.

Contentavam-se com o comércio da Guiné e do Norte de África e temia-sepela manutenção dos eventuais territórios além-mar, pelo custo implicado na

expedição e manutenção das rotas marítimas que daí adviessem. Esta

posição é personificada na personagem do Velho do Restelo que aparece,

n'Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, a opor-se ao embarque da armada.

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Em 1492, Abraão Zacuto é expulso da Espanha por ser judeu, vindo viver

para Portugal, trazendo consigo as tábuas astronómicas que ajudariam os

navegadores portugueses no mar.

[editar]Tratado de Tordesilhas e o domínio do Atlântico Sul

Ver artigo principal: Tratado de Tordesilhas

 

Meridiano de Tordesilhas demarcando os territórios a explorar por Portugal epor Castela

Face à chegada de Cristóvão Colombo à América no mesmo ano 1492,

segue-se a promulgação de três bulas papais - as Bulas Alexandrinas - que

concediam ao reino de Espanha o domínio dessas terras. Cientes da

descoberta de Colombo, os cosmógrafos portugueses argumentaram que a

descoberta se encontrava em terras portuguesas.

D. João II consegue uma renegociação, mas só entre os dois Estados, sem aintervenção do Papa, propondo estabelecer um paralelo das Ilhas Canárias.

Os castelhanos recusaram a proposta inicial, mas prestaram-se a discutir o

caso. Reuniram-se então os diplomatas em Tordesillas.

Como resultado das negociações, foi assinado em 7 de

 Junho de 1494 o Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Castela. Este

tratado estabelecia a divisão do Mundo em duas áreas de exploração: a

portuguesa e a castelhana, cabendo a Portugal as terras "descobertas e por

descobrir" situadas antes da linha imaginária que demarcava370 léguas (1.770 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, e à Espanha as

terras que ficassem além dessa linha.[17]

Em princípio, o tratado resolvia os conflitos que seguiram à descoberta do

Novo Mundo por Cristóvão Colombo e garantia a Portugal o domínio das

águas do Atlântico Sul, essencial para a manobra náutica então conhecida

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como volta do mar , empregada para evitar as correntes marítimas que

empurravam para norte as embarcações que navegassem junto à costa

sudoeste africana, permitindo a ultrapassagem do cabo da Boa Esperança.

[editar]A chegada à Índia

Ver artigo principal: Descoberta do caminho marítimo para a Índia

 

Vasco da Gama chega à Índia, a 20 de Maio de 1498.

Nos anos que se seguiram à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494)

Portugal prosseguiu no seu projecto de alcançar a Índia, o que foi finalmente

alcançado pela frota de Vasco da Gama, na sua primeira viagem de 1497-

1499.

Mantendo o plano de D. João II, o rei D. Manuel I mandou aparelhar as naus e

escolheu Vasco da Gama, cavaleiro da sua casa, para capitão desta armada.

Segundo o plano original, D. João II teria designado seu pai, Estêvão da

Gama, para chefiar a armada; mas a esta altura já ambos tinham falecido.A 8 de Junho de 1497 iniciou-se a expedição semi-planetária que terminaria

dois anos depois com a entrada da nau Bérrio rio Tejo adentro, trazendo a

boa-nova. Neste dia parte do Restelo a armada chefiada por Vasco da Gama.

 Tratava-se de uma expedição comportando três embarcações. É a partir da

viagem de Vasco da Gama que se introduzem as naus. A 20 de

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Maio de 1498 Vasco da Gama chega a Calecute. Estabelecia-se assim

o caminho marítimo para a Índia.

[editar]Chegada ao Brasil

Ver artigo principal: Descobrimento do Brasil

 

Carta a El Rei D. Manuelescrita por Pero Vaz de Caminha descrevendo asterras brasileiras achadas na expedição de Pedro Álvares Cabral.

Em 1499, após o retorno de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral foi

nomeado capitão-mor da armada que se dirigiria à Índia. A sua missão era a

de estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Samorim,

promovendo a imagem de Portugal e instalando um entreposto comercial

ou feitoria, retornando com o máximo de mercadorias.A sua foi a mais bem equipada armada do século XV, integrada por

dez naus e três caravelas, transportando de 1.200 a 1.500 homens, entre

funcionários, soldados e religiosos. Era integrada por navegadores

experientes, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, tendo partido de

Lisboa a 9 de março de 1500, após missa solene na ermida do Restelo, à

qual compareceu o Rei e toda a Corte.

Mas Pedro Álvares Cabral, por alturas de Cabo Verde, desvia-se da rota.

 Tendo-se afastado da costa africana, a 22 de abril de 1500, após quarenta etrês dias de viagem, avistou o Monte Pascoal no litoral sul da Bahia. No dia

seguinte, houve o contato inicial com os indígenas. A 24 de abril, seguiu ao

longo do litoral para o norte em busca de abrigo, fundeando na atual baía

de Santa Cruz Cabrália, nos arredores de Porto Seguro, onde permaneceu

até 2 de maio.

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Detalhe do mapa "Terra Brasilis" (Atlas Miller, 1519), actualmentena Biblioteca Nacional de França.

Cabral tomou posse, em nome da Coroa portuguesa, da nova terra, a qual

denominou de "Ilha de Vera Cruz " (mais tarde Terra de Santa Cruz e

finalmente Brasil - face à abundante existência de madeira pau-brasil), e

enviou uma das embarcações menores com a notícia, inclusive a Carta de

Pero Vaz de Caminha, de volta ao reino. Retomou então a rota de Vasco da

Gama rumo às Índias.

Ao cruzar o cabo da Boa Esperança, perderam-se quatro dos navios, entre os

quais o de Bartolomeu Dias, navegador que o descobrira em1488.

Diogo Dias contava entre os navegadores experientes da frota de PedroÁlvares Cabral na segunda armada à Índia. É citado na Carta do Achamento

do Brasil de Caminha como «homem gracioso e de prazer». A 10 de Agosto

de 1500, após ter dobrado o cabo da Boa Esperança, separou-se do resto da

expedição devido aos ventos, e descobriu uma ilha a que deu o nome de São

Lourenço, mais tarde designada Madagáscar. Sua embarcação se perdeu

durante a tormenta, e acabou sendo o primeiro capitão português a viajar

pelo mar Vermelho. Incapaz de prosseguir rumo à Índia, retornou a Portugal,

onde chegou com apenas sete homens.

A armada de Pedro Álvares Cabral chega a Calecute em 1501, onde ocorrem

confrontos com o Samorim, com o qual acaba por romper relações. Assim,

dirige-se para Sul e estabelece uma feitoria em Cochim.

[editar]Explorações secretas e Duarte Pacheco Pereira

Ver artigo principal: Duarte Pacheco Pereira

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A expedição de Pedro Álvares Cabral viria a abrir uma

polémica historiográfica acerca do "acaso" ou da "intencionalidade" da

descoberta. Note-se que uma das testemunhas que assinaram oTratado de

Tordesilhas por Portugal foi Duarte Pacheco Pereira, um dos nomes ligados

a um suposto descobrimento do Brasil pré-Cabralino. Embora não existamevidências concretas a sustentar qualquer das hipóteses, certo é que por

esta data já se tinha, na Europa, o conhecimento da existência de terras a

leste da linha do Tratado de Tordesilhas.

[editar]A chegada às Molucas, China e ao Japão

 

Carraca Portuguesa em Nagasaki, cidade fundada pelos portuguesesno Japão em 1570. Painel japonês do período Nanban, século XVII

Em 1510 Afonso de Albuquerque conquistou Goa, na Índia e pouco depois,

em 1511, Malaca, na Malásia. Simultaneamente investiu esforços

diplomáticos com os mercadores do sudeste asiático, como os chineses, na

esperança de que estes fizessem eco das boas relações com os portugueses.

Conhecendo as ambições siamesas sobre Malaca, imediatamente

enviou Duarte Fernandes em missão diplomática ao Reino do

Sião (actual Tailândia), onde foi o primeiro europeu a chegar viajando num

 junco chinês que retornava à China, estabelecendo relações amigáveis entre

os reinos de Portugal e do Sião.[18]

Ainda em Novembro desse ano, ao tomar conhecimento da localização

secreta das chamadas "ilhas das especiarias", ordenou a partida dos

primeiros navios portugueses para o sudeste asiático, comandado pelo seu

homens de confiança António de Abreu e por Francisco Serrão, guiados por

pilotos malaios. Estes são os primeiros europeus a chegar às Ilhas

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Banda nas Molucas. A nau de Serrão encalhou próximo a Ceram e o sultão

de Ternate, Abu Lais, entrevendo uma oportunidade de aliar-se com uma

poderosa nação estrangeira, trouxe os tripulantes para Ternate em 1512. A

partir de então os portugueses foram autorizados a erguer uma fortificação-

feitoria na ilha, na passagem para o oceano Pacífico: o Forte de São JoãoBaptista de Ternate.

Em 1513, partindo de Malaca (actual Malásia) Jorge Álvares atinge o Sul

da China. A esta visita seguiu-se o estabelecimento de

algumas feitoriasportuguesas na província de Cantão, onde mais tarde se

viria a estabelecer o entreposto de Macau. De acordo com os registos

disponíveis, foi o primeiroeuropeu a alcançar e visitar o território que

actualmente é Hong Kong.

Em 1543, Francisco Zeimoto, António Mota e António Peixoto são osprimeiros portugueses a atingir o Japão. Terão aportado ao Japão a 23 de

Setembro, tendo sido este primeiro contacto de europeus com o Japão,

relatado pelo cronista Fernão Mendes Pinto. Segundo este, a ilha de

 Tanegashima teria sido o primeiro lugar visitado pelos portugueses, que

espantaram os autóctones não só com o relato de terras e costumes que

tinham visto como com a novidade das armas de fogo, visto que o

conhecimento da pirobalística ainda não tinha chegado ao Japão. A chegada

dos portugueses deu origem ao período de comércio Nanban (sendo Naban- jin, a denominação que atribuiam aos bárbaros do sul), durante o qual uma

intensa interação com os poderes europeus ocorreu tanto a nível econômico

como religioso.

[editar]Descobrimentos e explorações portuguesas

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Descobrimentos, viagens e explorações portuguesas: datas e primeiroslocais de chegada de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul),territórios portugueses no reinado de D. João III (verde)

[editar]Países actuais

Os descobrimentos Portugueses marcaram a primeira presença dos

europeus, chegando pelos Oceanos, entre os primórdios do Século XV e a

primeira metade do Século XVI, em muitos dos actuais países. Os

portugueses foram os pioneiros nos países:

América do Norte - Canadá ( Terra Nova e Labrador)

América do Sul  - Brasil

Oceania - Austrália, Papua-Nova Guiné, Vanuatu

África (litoral atlântico e ilhas) - Marrocos (e Saara

Ocidental), Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Cabo Verde, Guiné-

Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do

Marfim, Gana, Benim, Nigéria,Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, São Tomé e Príncipe, Angola, Namíbia, África do Sul.

África (Litoral índico e ilhas)

- Moçambique, Madagascar, Tanzânia, Maurícia, Comoros, Quênia, Som

ália

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Ásia - Iêmem (Kamaran, Socotra), Omã, Bahrein, Irão (Ormuz), Índia (G

oa, Damão e Diu, Dadrá e Nagar-Aveli, Calicute, etc.), Sri-

Lanka (antigo Ceilão), Maldivas, Tailândia (Sião), Malásia,Indonésia, Ti

mor-Leste, Ilha Formosa (Taiwan), China, Japão.

Ilhas diversas pertencentes a países europeus- Canárias (ESP); Açores e Madeira (POR); Ascensão, Santa

Helena e Tristão da Cunha (RU)

As Filipinas, as possessões Marianas Setentrionais (EUA) e a Polinésia

Francesa (FRA) foram descobertas por um português a serviço

da Espanha, Fernão de Magalhães, durante a sua viagem de circum-

navegação.

[editar]A ciência náutica portuguesaVer artigo principal: Ciência Náutica Portuguesa

 

A Caravela Vera Cruz nos 150 Anos da A.N.L.

As sucessivas navegações e a experiência acumulada dos pilotos levaram auma evolução bastante rápida da ciência náutica portuguesa, tendo a

investigação criado uma elite

de astrónomos, navegadores, matemáticos e cartógrafos, entre os quais se

destacaram Pedro Nunes com os estudos sobre a forma de determinar as

latitudes por meio dos astros e D. João de Castro.

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Navios

Até ao século XV os portugueses praticavam a navegação

de cabotagem utilizando a barca e o barinel, embarcações pequenas e

frágeis de um mastro com velaquadrangular fixa, usadas nas primeiras

viagens às ilhas Canárias, Madeira e Açores, e no litoral africano até Arguim,na actual Mauritânia. Mas que não conseguiam dar resposta às dificuldades

no avanço para Sul, como os baixios, os ventos fortes e as correntes

marítimas desfavoráveis, sendo substituídas pelas caravelas.

A caravela foi o navio que marcou os descobrimentos portugueses,

resultando do aperfeicoamento de embarcações já usadas na faina da pesca.

Era e ágil e de navegação mais fácil, com uma tonelagem entre 50 a 160

toneladas e 1 a 3 mastros com velas latinas triangulares que

permitiam bolinar. A pouca capacidade de carga e tripulação eram os seusprincipais inconvenientes, mas que não obstaram ao seu sucesso. Entre as

caravelas famosas estão a Bérrio e a Caravela Anunciação.

 

Armada portuguesa de 1507, Livro de Lisuarte de Abreu

Com a passagem das navegações costeiras às oceânicas também as naus se

desenvolveram de forma assinalável em Portugal. "Nau" era o sinónimo

arcaico de navio de grande porte, destinado essencialmente a transportar

mercadorias. Devido à pirataria que assolava a costa, passaram a ser

utilizadas na marinha de guerra. Foram introduzidas as bocas-de-fogo, que

levaram à classificação das naus segundo o poder de artilharia. À medida

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que se foi desenvolvendo o comércio marítimo, foram sendo modificadas as

suas características. A capacidade aumentou das

duzentas toneladasno século XV até às quinhentas. As naus eram

imponentes e tinham, em geral, duas cobertas, castelos de proa e depopa,

dois a quatro mastros e velas sobrepostas. Na carreira da Índia no século XVIforam também usadas as carracas, naus de velas redondas e borda alta com

três mastros que atingiam 2000 toneladas.

Navegação astronómica

 

Padrão dos Descobrimentosrepresentando muitos dos seus intervenientes,

inaugurado em 1960 nos 500 anos da morte do Infante D.Henrique.Belém, Lisboa

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 Tábua astronómica do Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto, 1496.

No século XIII era já conhecida a navegação astronómica através da posição

solar. Para a navegação astronómica os portugueses, como outros europeus,

recorriam a instrumentos de navegação árabes, como o astrolábio eo quadrante, que aligeiraram e simplificaram. Inventaram outros, como

a balestilha, para obter no mar a altura do sol e outros astros, como

o Cruzeiro do Sul descoberto após a chegada ao hemisfério Sul por João de

Santarém e Pêro Escobar em 1471, que iniciaram a navegação guiada por

esta constelação. Mas os resultados variavam conforme longo do ano, o que

obrigava a correcções. Para isso os portugueses utilizaram tabelas de

inclinação do Sol, as Tábuas astronómicas, preciosos instrumentos de

navegação em alto-mar, que conheceram uma notável difusão no século XV.

Quando se introduziram na náutica as observações astronómicas que arevolucionaram, em particular a observação de alturameridiana do Sol para

com o conhecimento da declinação solar, se poder calcular a latitude do

lugar, recorreu-se às tábuas Almanach Perpetuum, do astrónomo Abraão

Zacuto, publicadas em Leiria em 1496, que foram utilizadas, juntamente

com o seu astrolábio melhorado, por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.

Técnicas de navegação

Mapa mostrando a localização das principais correntes e ventos oceânicosgiratórios

Além da exploração do litoral foram feitas também viagens para o mar largo

em busca de informações meteorológicas eoceanográficas (foi nestestrajectos que se descobriram os arquipélagos da Madeira e dos Açores, o Mar 

dos Sargaços). O conhecimento do regime de ventos e correntes do Atlântico

e a determinação da latitude por observações astronómicas a bordo,

permitiu a descoberta da melhor rota oceânica de regresso de África:

cruzando o Atlântico Central até à latitude dos Açores, aproveitando os

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ventos e correntes permanentes favoráveis, que giram no sentido dos

ponteiros do relógio no hemisfério norte devido à circulação atmosférica e ao

efeito de Coriolis, facilitando o rumo directo para Lisboa e possibilitando

assim que os portugueses se aventurassem cada vez para mais longe da

costa, manobra que ficou conhecida como "volta da Mina", ou "Volta domar".

Cartografia

Pensa-se que Jehuda Cresques, filho do cartógrafo catalão Abraão

Cresques terá sido um dos notáveis cartógrafos ao serviço do Infante D.

Henrique. Contudo a mais antiga carta de marear portuguesa assinada é

um portulano de Pedro Reinel de 1485 representando a Europa Ocidental e

parte de África, que reflecte as explorações efectuadas pelo

navegador Diogo Cão ao longo da costa africana. Reinel foi também autor daprimeira carta náutica conhecida com uma indicação de latitudes em 1504

bem como da primeira representação da rosa-dos-ventos.

Com o seu filho, Jorge Reinel e o cartógrafo Lopo Homem, participou na

elaboração do atlas conhecido por Atlas de Lopo Homem-Reinés ou Atlas de

Miller , de1519. Foram considerados dos melhores cartógrafos do seu tempo,

a ponto do imperador Carlos V os desejar a trabalhar para si. Em 1517 o rei

D. Manuel I de Portugal passou a Lopo Homem, cartógrafo e cosmógrafo

português, um alvará que lhe dava o privilégio de fazer e emendar todas asagulhas (bússolas) dos navios.

Na terceira fase da antiga cartografia náutica portuguesa, caracterizada pelo

abandono da influência de Ptolemeu na representação do Oriente e por uma

melhor precisão na representação das terras e continentes, destaca-

se Fernão Vaz Dourado (Goa ~1520 — ~ 1580), cuja obra apresenta

extraordinária qualidade e beleza, conferindo-lhe a reputação de um dos

melhores cartógrafos de seu tempo. Muitas de suas cartas são de grande

escala.

IMPÉRIO PORTUGUÊS 

Império Português é a designação comum dada ao conjunto dos territórios

ultramarinos ocupados e administrados por Portugal a partir do início século

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XV até ao século XX. O termo "Império Português", no entanto, nunca foi

usado oficialmente. A designação oficial mais utilizada para o conjunto dos

territórios ultramarinos portugueses foi simplesmente "Ultramar Português".

 Já a designação "Império Colonial Português" foi oficial, mas apenas durante

um breve período, de 1930 a 1951.

O Império Português foi o primeiro império global [1]  da história, com um

conjunto de territórios repartidos por cinco continentes sob

soberania portuguesa, resultado das explorações realizadas na Era dos

descobrimentos. Foi o mais duradouro dos impérios coloniais

europeus modernos, já que a presença portuguesa fora da Europa abrangeu

quase seis séculos. Foi governado pela Casa de Avis por cerca de cento e

cinquenta anos, depois por sessenta anos, pelaCasa de Habsburgo,

posteriormente pela Casa de Bragança por trezentos anos, e a partir de 1910foi governado pelaRepública Portuguesa.

Convenciona-se o início do Império como sendo a conquista

de Ceuta em 1415. Já o final do Império, consoante o critério utilizado, pode

ser considerado o ano de 1975 - independência da maior parte dos territórios

-, o ano 1999 - fim da administração portuguesa de Macau, o último território

ultramarino ainda administrado de facto por Portugal - ou o ano de 2002 -

data da independência de Timor-Leste, último território ultramarino

considerado de jure sob soberania portuguesa.[2]

História

 

Infante Dom Henrique, o Navegador, (1394-1460), impulsionador dasprimeiras explorações[3]

O expansionismo português foi movido inicialmente pelo

espírito militar e evangelizador, de continuação da reconquista no Norte de

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África e, depois, pelo interesse comercial, primeiro nas prósperas capitanias

das ilhas da Madeira e dos Açores, seguindo-se a busca de um caminho

marítimo para a Ásia, alternativo ao Mediterrâneodominado pelas repúblicas

marítimas italianas, pelos otomanos, pelos mouros e por piratas, no lucrativo

comércio de especiarias.

Os portugueses começaram por explorar sistematicamente a costa

de África a partir de 1419, com o incentivo do Infante D.

Henrique e navegadores experientes servidos pelos mais avançados

desenvolvimentos náuticos e cartográficos da época, aperfeiçoando

a caravela. Em 1471 chegaram ao Golfo da Guiné, onde em 1482 foi

estabelecida a feitoria de São Jorge da Mina para apoiar um florescente

comércio de ouro de aluvião. Partindo da Mina Diogo Cão estabelece o

primeiro contacto com oReino do Congo. Após sucessivasviagens exploratórias para sul, em 1488 Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da

Boa Esperança, entrando pela primeira vez no Oceano Índico a partir

do Atlântico.

A chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492 precipitou uma

negociação entre D. João II e os Reis Católicos de Castela e Aragão. Como

resultado foi assinado em 1494 o Tratado de Tordesilhas, dividindo

o Mundo em duas áreas de exploração demarcadas por

um meridiano situado entre as ilhas de Cabo Verde e as recémdescobertas Caraíbas: cabiam a Portugal as terras "descobertas e por

descobrir" situadas a leste deste meriadiano, e à Espanha as terras que

ficassem a oeste dessa linha.

Pouco depois, em 1498, Vasco da Gama chegou à Índia, inaugurando a Rota

do cabo. Em 1500, na segunda viagem para a Índia, Pedro Álvares

Cabral desviou-se da rota na costa Africana e aportou no Brasil.[4] Em Lisboa foi então estabelecida a Casa da Índia para administrar todos os

aspectos do monopólio régio do comércio e da navegação além-mar. Seisanos após a viagem de Gama foi nomeado o primeiro vice-rei sediado

em Cochim e a sua vitória na Batalha de Diu afastou mamelucos e árabes,

facilitando o domínio português do comércio no Índico. Em 1510 é

constituído o Estado Português da Índia com capital em Goa, primeira

conquista territorial na Índia. Malaca foi conquistada em 1511 e os

portugueses continuaram a exploração e conquistas de portos nas costas e

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ilhas da Ásia oriental, alcançando as ambicionadas "ilhas das especiarias"

(as ilhas Molucas) em 1512, e a China um ano depois, estabelecendo-se na

ilha deSanchoão. Em 1529 o Tratado de Saragoça demarcou as explorações

portuguesas e espanholas no oriente: as Molucas são atribuídas a Portugal e

as Filipinas a Espanha.

 

Descobrimentos e viagens portuguesas entre 1415-1543: principais rotas(azul), império sob D. João III (verde)

Durante a expansão, de 1415 até 1534, data em que foi ordenada a

colonização do interior nas capitanias do Brasil [5]  por D. João III, o império

português foi uma talassocracia,[6][7] abrangendo os

oceanos Atlântico e Índico, defendida por uma cadeia

de fortificaçõescosteiras protegendo uma rede de Feitorias, reforçada por um

sistema de licenças de navegação, os cartazes, com o apoio de numerosasrelações diplomáticas e alianças, incluindo com o Reino do

Sião, Safávidas da Pérsia, Reino de Bisnaga e Etiópia, era completado pela

acção das missões religiosas em terra ao abrigo do Padroado, um acordo da

coroa portuguesa com a Santa Sé.

Em 1543 comerciantes portugueses aportam no Japão estabelecendo-se

inicialmente em Hirado. Em 1557 as autoridades chinesas autorizaram os

portugueses a estabelecerem-se em Macau, que depressa se tornou a base

de um próspero comércio triangular entre a China, o Japão e a Europa via

Malaca e Goa. Em 1571 uma cadeia de entrepostos ligava Lisboa a Nagasaki,

cidade então fundada pelos portugueses: o império tornara-se

verdadeiramente global, trazendo no processo enormes riquezas para

Portugal. Em 1572, três anos após regressar do Oriente, Luís Vaz de

Camões publicaria a epopeia "Os Lusíadas", cuja acção central é

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a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama,

imortalizando os feitos dos portugueses.

Apesar dos formidáveis ganhos no Oriente, o interesse

pelo Marrocos manteve-se. Em 1578 o rei D. Sebastião procurou conquistar

os territórios interiores, o que terminou na derrota em Alcácer-Quibir,

seguindo-se uma crise sucessória que resultou na união com a coroa

espanhola em 1580. Durante a Dinastia Filipina o império português sofreu

grandes reveses ao ser envolvido nos conflitos de Espanha com a Holanda,

a França e a Inglaterra, que tentavam estabelecer os seus próprios impérios.[8]

Entre 1595 e 1663 foi travada a Guerra Luso-Holandesa com as

Companhias Holandesas das Índias Orientais (VOC) e Ocidentais (WIC), que

tentavam tomar as redes de comércio portuguesasdeespeciarias asiáticas, escravos da África ocidental e açúcar do Brasil [9]  .

Após a perda de numerosos territórios,[10] Portugal restaurou a

independência em 1640. Em 1654 conseguiu recuperar o Brasil e Angola,

embora tendo perdido para sempre a proeminência na Ásia. O Brasil ganhou

assim importância no império, reforçada pela descoberta de grandes

quantidades de ouro no fim do século XVII. Com a chegada da Corte

portuguesa em 1808, protegendo-se dos exércitos de Napoleão I, passou a

ser considerado um associado ao Reino, com a designação de Reino Unidode Portugal, Brasil e Algarves.

Com o reconhecimento da declaração de independência do Brasil em 1825,

Portugal acentuou a expansão territorial no interior da África, e a partir de

1870 teria que enfrentar as potências europeias para conservar o resto do

seu fragmentado Império. Durante o Estado Novo, em que esteve em vigor

o Acto Colonial (1930 - 1951), o Ultramar Português teve a designação oficial

de "Império Colonial Português",[11] sendo então composto pelas

colónias africanas de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, GuinéPortuguesa, Angola, Cabinda, Moçambique e São João Baptista de Ajudá,

pelas colóniasasiáticas de Macau, do Estado Português da Índia e de Timor

Português. Em 1951, a designação "Império Colonial Português" foi abolida,

como política para evitar ser considerado uma potência colonial nos fóruns

internacionais. Na esperança de preservar um Portugal intercontinental, o

Estado Novo passou a designar as colónias por províncias ultramarinas,

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considerando que esses territórios não eram colónias, mas sim parte

integrante e inseparável de Portugal, como uma "Nação Multirracial e

Pluricontinental".

A resistência à dominação portuguesa manifestou-se no contexto

da descolonização europeia. Em 1954, a União Indiana anexou os territórios

de Dadrá e Nagar Haveli, e em 1961 iniciam-se confrontos generalizados no

Oriente e em África: a Índia independente conquistou Goa, numa acção

armada com pouca resistência e pouco depois a Ilha de Angediva. Em 1961

iniciam-se também os confrontos da Guerra Colonial Portuguesa em África,

que duraria até à Revolução dos Cravos em (1974), resultando

na independência das colónias em 1975.

O "fim" de jure do Império Português terá sido em 1999, quando Macau,

último território sob a sua administração, foi devolvido à República Popularda China. Pode-se ainda considerar que este ocorreu em 2002, quando

Portugal reconheceu a independência de Timor-Leste, libertada da ocupação

indonésia em 1999. Pode dividir-se a história do império português em

períodos distintos:

"Primeiro Império" (1415-1580): Descobrimentos e expansão em África

e no Oriente, que terminaria com a ocupação espanhola.

"Segundo Império" (1580-1822): Com a perda de influência no Oriente,o Brasil ganha importância.

"Terceiro Império" (1822-1975): Após a independência do Brasil, a

África domina as atenções no Império Colonial Português.[12]

Presença portuguesa em África

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Possessões portuguesas em Marrocos entre 1415-1769: cidades (vermelho);fortalezas (azul).

A tomada de Ceuta em 1415 e a descoberta das ilhas da Madeira em 1418 e

dos Açores em 1427, territórios de colonização e exploração agropecuária,

marcam o início da expansão territorial marítima portuguesa. Movidas de

início pela busca de privilégios de fidalguia conquistados em batalha e,

depois, pela iniciativa privada que buscava riqueza fora do território -

conseguindo-a nas prósperas capitanias dos arquipélagos da Madeira e

dos Açores- as viagens prosseguiram pela costa africana, cada vez mais para

sul.[13]

[editar]África Ocidental

As expedições passaram o cabo Bojador em 1434. À medida que os

resultados se mostravam mais compensadores, foram tomadas medidas

para proteger os interesses de Portugal. Impulsionado pelo Infante Dom

Henrique, "o Navegador", é decretado o monopólio da navegação na costa

oeste Africana em 1443. Os navios passam a ser licenciados por Portugal em

troca de parte dos lucros obtidos, o que motivou o investimento em viagens

de exploração por portugueses e estrangeiros, como os genoveses e

venezianos.[13] Em 1444, como governador do Algarve, o Infante estabelece

um consórcio de navegação em Lagos. E em 1445 é criada a

primeira feitoria comercial da ilha de Arguim, na costa da Mauritânia,construída sob as instruções do próprio Infante: visava atrair as rotas

percorridas por mercadores muçulmanos no norte de África: tentava-se

implantar um mercado para monopolizar a actividade comercial da zona.

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Cisterna Manuelina da Fortaleza de Mazagãoconstruída entre 1513-1541,Marrocos

Em 1453 dá-se a queda de Constantinopla, tomada pelos Otomanos, um

golpe para o cristianismo e para as relações comerciais estabelecidas

no Mediterrâneo. Pouco depois o Papa Nicolau V emite a bula Romanus

Pontifex[14]  a favor do rei Afonso V de Portugal, reforçando a anteriorDum

Diversas de 1452, declarando que as terras e mares descobertos além do

Cabo Bojador são pertença dos reis de Portugal, e autorizando o comércio e

as conquistas contra muçulmanos e pagãos, legitimando a política

portuguesa de mare clausum no Atlântico e a ainda incipente escravatura.

Em 1455 iniciara-se na Madeira uma florescente indústria de açúcar. A

acessibilidade das ilhas atraiu comerciantes genoveses e flamengos

interessados em contornar o monopólio Veneziano, mas o problema era a

necessidade de mão de obra e o trabalho pesado: a solução foi trazer

escravos da África.[15] Neste comércio prosperou o florentino Bartolomeu

Marchionni, que viria a investir em numerosas viagens portuguesas. A partir

de 1458, Ceuta e Arguim, com as suas guarnições militares, foram pontos-

chave de apoio logístico e material às navegações portuguesas e um entrave

à pirataria praticada pelos mouros.

O Golfo da Guiné e o ouro da Mina

Após a morte do infante, e dados os magros proveitos da exploração, em1469 o Rei Afonso V concedeu o monopólio do comércio na parte do Golfo da

Guiné ao mercador Fernão Gomes contra uma renda anual de 200 000 reais.

O exclusivo do comércio da então chamada "malagueta", a pimenta-da-

guiné ( Aframomum melegueta ) popular substituto da pimenta preta,[16] foi-

lhe também concedido por 100 000 reais anuais. Gomes tinha que explorar

100 léguas da costa da África por ano durante cinco anos.[17]

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Fortaleza de São Jorge da Minaconstruída em 1482 em redor da indústria deouro da então chamada Costa do Ouro, actual Gana.

Com a colaboração de navegadores como João de Santarém, Pedro

Escobar, Lopo Gonçalves, Fernão do Pó e Pedro de Sintra, fê-lo mesmo para

além do contratado. Com o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao

Cabo de Santa Catarina, já no Hemisfério Sul, e encontraram também as

ilhas do Golfo da Guiné, incluindo São Tomé e Príncipe e Elmina em 1471,[18] onde encontrou uma florescente indústria de ouro de aluvião.

Com os lucros deste comércio Fernão Gomes auxiliou D. Afonso V na

conquista de Arzila, Alcácer Ceguer e Tânger, desempenhando um papel de

enorme influência na economia do reino. Aquele trecho do litoral passou a

ser designado Costa do Ouro, despertando a cobiça dos Reis Católicos, quesó cessaram as pressões para se apossarem da região após a assinatura

do Tratado das Alcáçovas-Toledo em 1479. O tratado reconhecia o domínio

português das descobertas a Sul das Canárias, incluindo os direitos sobre

a costa da Mina e o Golfo da Guiné e o prosseguimento da exploração na

costa.

Pouco depois de subir ao trono, em 1482, D. João II centralizou na coroa a

exploração e comércio, determinando a construção de uma feitoria para o

comércio do ouro. Sob o comando de Diogo de Azambuja foi rapidamenteconstruído o "Castelo de São Jorge da Mina" [19] com pedra previamente

talhada e numerada em Portugal, enviada como lastro nos navios, sistema

de construção depois adoptado para numerosas fortificações. Ao abrigo da

fortificação-feitoria desenvolveu-se a povoação de São Jorge da Mina que

recebeu Carta de Foral em 1486. Ali passaram a ser

trocados trigo, tecidos, cavalos e conchas ("zimbo"), por ouro (até

400 kg/ano) e escravos, estes com intensidade crescente a partir do século

XVI.O reino do Congo e a fundação de Angola

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Audiência do rei do Congo, ou "Manicongo" (do Kikongo "mwene kongo" ) anavegadores portugueses e súditos africanos, data desconhecida

Desde a assinatura do Tratado das Alcáçovas que as costas da Guiné eram

cuidadosamente patrulhadas, sendo vedadas a castelhanos e outros

europeus. Entre 1482 e 1486, Diogo Cão, que fora investido por D. João IInestas patrulhas, partiu de S. Jorge da Mina para explorar o estuário doRio

Congo e terá subido 150 km a montante até às cataratas de Ielala. Aí ergueu

o primeiro padrão de pedra, substituindo as habituais cruzes de madeira, e

enviou uma embaixada portuguesa ao Reino do Congo, iniciando os

primeiros contactos europeus[20] É a partir daqui que se inicia conquista da

região que se tornaráAngola. O primeiro passo foi o estabelecer de uma

aliança com o influente "Manicongo" (do Kikongo "mwene kongo" ), que

dominava toda a região: Diogo Cão levou alguns nobres de visita a Portugale ao retornar em 1485 faz um acordo com o rei Nzinga a Nkuwu, que em

1491 se converteu ao cristianismo e foi baptizado, bem como vários nobres,

assumindo o nome "D. João I" em honra do rei português.[21] Os primeiros

sacerdotes católicos e soldados descrevem a capital M'Banza Kongo como

uma grande cidade do tamanho de Évora. João I do Congo governou até

cerca de 1506 e foi sucedido pelo filho Afonso I Mvemba um Nzinga, que

estabeleceu o cristianismo como religião oficial do reino. A sul deste reino

existiam dois outros, o de Ndongo e o de Matamba, os quais acabariam por

fundir-se, para dar origem ao reino de Angola (c. 1559).

Explorando as rivalidades e conflitos entre estes reinos, na segunda metade

do século XVI os portugueses instalam-se na região de Angola. O

primeirogovernador de Angola, Paulo Dias de Novais, procurou delimitar o

vasto território e explorar os seus recursos naturais, em particular os

escravos. A penetração para o interior era limitada. Em 1576 fundam São

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Paulo da Assunção de Luanda, a actual cidade de Luanda. Angola tornar-se-

há mais tarde o principal mercado abastecedor de escravos para as

plantações da cana-de-açúcar do Brasil.

África Austral e Oriental

 

A ilha de Moçambique foi uma importante escala de navegação da carreirada Indiainiciada em 1498: mapa do percurso seguido pelas naus na ida

(vermelho) e rota de regresso (verde)

Com a passagem do cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias em 1488,

ao proselitismo da Reconquista adicionam-se a curiosidade científica e

omercantilismo. Vasco da Gama usou as cartas marítimas até então traçadas

para estabelecer uma rota marítima para a Índia. Após esta descoberta

oséculo XVI tornar-se-ia o "século de ouro" para Portugal e o seu apogeu

como nova potência europeia. A partir de então as explorações perderam o

carácter privado, passando a efectuar-se sob iniciativa da Coroa, com D.

Manuel I a determinar que todos os anos, entre Fevereiro e Março, saísseuma armada para a Índia.

Na sua segunda viagem em 1502, Vasco da Gama tornou tributário de

Portugal o porto árabe da ilha de Quíloa (actual Kilwa Kisiwani), na Tanzânia,

e fez também o reconhecimento de Sofala em Moçambique. Para impor o

monopólio do comércio de especiarias no Índico, partiu no início de 1505 a

armada de D. Francisco de Almeida, nomeado primeiro de Vice-rei da Índia

Portuguesa. Foi então estabelecido o Forte de São Caetano de Sofala,

mediante um acordo com um chefe local e progressivamente reforçado.[22]

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Igreja de Santo António, Ilha de Moçambique, Património Mundial da UNESCO

Em 1507 os portugueses ocuparam a ilha de Moçambique, porto estratégico

de apoio à carreira da Índia que ligavaLisboa a Goa. Como escala de

navegação era o ponto de encontro das embarcações desgarradas na

viagem de ida e das que aguardavam a monção. Aí foi construída mais tarde

uma poderosa fortificação, a Fortaleza de São Sebastião (1558) e umhospital. Nos Açores, a Armada das ilhas protegia as naus carregadas a

caminho de Lisboa dos ataques de piratas e corsárioseuropeus.

Em Agosto de 1507, a ilha de Socotra, na entrada do Mar Vermelho, foi

conquistada.[23] Aí, Tristão da Cunha enviou uma expedição para a Etiópia,

que então se pensava ser mais próxima. Sem conseguir atravessar

por Melinde, Afonso de Albuquerque conseguiu desembarcá-los em Filuk,

perto do Cabo Guardafui.[24] Na sequência desta expedição, chegou a Goa em

1512 o embaixador Mateus, enviado pela rainha regente Eleni da Etiópia aorei D. Manuel I de Portugal e ao Papa, em busca de uma aliança para fazer

face ao crescente poder otomano na região. Visto como o muito esperado

contacto com o lendário Preste João e com Pêro da Covilhã, o rei informou o

Papa Leão X em 1513 e Mateus viajou para Portugal em 1514,[25] de onde

regressou com uma embaixada portuguesa, juntamente com Francisco

Álvares. Os portugueses só compreenderam a natureza da sua missão ao

chegarem à Etiópia em 1520, após a morte de Mateus, facto que complicou

os contactos com o imperador etíope.[26] Contudo iniciou as primeiras

relações contínuas de um país europeu com a Etiópia[27]  e em 1517 Portugal

ajudou o imperador Lebna Dengel, enviando armas e quatrocentos homens,

que ajudaram a restabelecer o governo[28] na guerra Etíope-Adal.

Confrontos com os holandeses em África (1597-1663)

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Mapa do Império Espanhol-Português em 1598.

 ██ Territórios administrados pelo Conselho de Castela

 ██ Territórios administrados pelo Conselho de Aragão

 

 ██ Territórios administrados pelo Conselho de Portugal

 

 ██ Territórios administrados pelo Conselho da Itália ██ Territórios administrados pelo Conselho das Índias

Apesar dos formidáveis benefícios gerados pelo império colonial no Oriente,

o interesse da coroa por Marrocos não enfraqueceu. O século XVI é uma

sucessão de conquistas e de abandonos de fortalezas costeiras até que o

rei D. Sebastião(1557-1578) investiu na conquista dos territórios interiores, o

que resultou na derrota em Alcácer-Quibir em 1578 seguindo-se uma crise

sucessória que acabou na união com a coroa espanhola em 1580.

No contexto da Dinastia Filipina, o império português sofreu grandes reveses

ao ser envolvido nos conflitos que a Espanha travava com a Inglaterra,

a França e a Holanda, que tentavam estabelecer os seus próprios impérios.[8] Portugal seria arrastado, sem verbas e sem capacidade para enviar

exércitos para as regiões atacadas por forças bem preparadas. Os

holandeses, envolvidos na Guerra dos Oitenta Anos com Espanha desde

1568, atacavam por mar colónias e navios. O império português, constituído

sobretudo de assentamentos costeiros, vulneráveis a ser tomados um a um,

tornou-se um alvo fácil.[29]

A Guerra Luso-Holandesa começou com um ataque a São Tomé e

Príncipe em 1597. Foi travada pelas CompanhiasHolandesas das Índias

Orientais e Ocidentais, com o objectivo de tomar as redes de comércio

portuguesas de especiarias asiáticas, escravos da África ocidental e açúcar

do Brasil.[30] Após vários confrontos no oriente e no Brasil, começaram os

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ataques nos postos comerciais da costa oeste africana, visando

assegurar escravos para a produção de açúcar em territórios conquistados

no Brasil. Em 1638 os holandeses tomaram o Forte de São Jorge da Mina,

seguindo-se Axim (1642) no golfo da Guiné, e Luanda em 1641.[10]

Em 1640, Portugal restaurou a independência, restabelecendo a aliança com

a Inglaterra que pouco depois viria a desafiar os Holandeses. Em 6 de

Abril de 1652, o mercador da VOC Jan van Riebeeck estabelece perto

do Cabo da Boa Esperança um posto de reabastecimento que se tornaria

na Cidade do Cabo, permitindo aos holandeses dominar a rota do cabo, de

comércio para o oriente. Portugal perdeu para sempre a proeminência

na Ásia, mas, em 1654, a frota de Salvador Correia de Sá e

Benevides conseguiu recuperar o Brasil e Luanda. Os Holandeses, temendo

perder os territórios já conquistados, acabariam por selar definitivamente apaz do Tratado de Haia em 1663.

Em 1622, uma força anglo-persa tomou o forte de Ormuz, cuja guarnição foi

enviada para Mascate (Omã). Com a vitória omani sobre Mascate em 1650,

prosseguiu o combate aos portugueses na costa oriental africana, vencendo-

os em Zanzibar e Pemba até que, após um cerco de dois anos, é tomado

o Forte Jesus de Mombaça em 1698 [31] (Quénia), forçando a recuar para o sul

até Moçambique.

Na tentativa de consolidar as posições na África Oriental, determinou-se queas terras pertenciam à coroa e eram arrendadas pelos chamados prazos, por

3 gerações transmitidos por via feminina. Contudo através de casamentos

mistos estas propriedades tornaram-se verdadeiros “estados” afro-

portugueses ou afro-indianos, defendidos por grandes exércitos de escravos

conhecidos como “chicundas”. A escravidão era realizada entre chefes

tribais, que invadiam tribos guerreiras e vendiam os prisioneiros aos

prazeiros.

O mapa cor-de-rosa (1822-1890)

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Mapa Cor-de-Rosa reclamando a soberania de Portugal nos territóriosentreAngola e Moçambique, c.1886.

Após a perda do Brasil, com a independência em 1822, Portugal teve de

enfrentar as potências europeias para conservar o resto do seu fragmentado

império: as possessões nas Índias, Macau e Timor-Leste, as ilhas de Cabo

Verde e de São Tomé e Príncipe, as costas da África Ocidental

(depois Angola e Guiné) e Oriental portuguesas (depois Moçambique), onde

vigoravam acordos de protecção com governantes locais e cujo interior não

fora ocupado. Em 1842Portugal pôs fim ao tráfico negreiro no Império e

em 1869 aboliu a escravidão sob pressão da Grã-Bretanha. Esta decisão

seria rapidamente contrabalançada por uma legislação trabalhista insistindo

na necessidade do trabalho indígena nos campos de algodão ou nas obras

públicas.

Durante a chamada "partilha de África", Portugal reclamou vastas áreas do

continente africano baseado no "direito histórico", alicerçado na primazia da

ocupação, entrando em colisão com as principais potências europeias. A

crescente presença inglesa, francesa e alemã no continente ameaçavam a

hegemonia portuguesa, como testemunhou Silva Porto, comerciante

sedeado no planalto do Bié.[32] A partir da década de 1870 ficou claro que o

direito histórico não bastava: à intensa exploração científica e geográfica

europeia seguia-se muitas vezes o interesse comercial. Entre 1840 e1872 David Livingstone explorou a África central, onde se instalaria

a Companhia Britânica da África do Sul. Em 1874 Henry Morton

Stanley explorou a bacia do rio Congo e foi financiado pelo rei Leopoldo II da

Bélgica, que em 1876 criou uma associação para colonizar o Congo,

ignorando os interesses portugueses na região.[33] Em 1875 setenta e quatro

subscritores fundaram a Sociedade de Geografia de Lisboa para apoiar a

exploração, tal como as congéneres europeias.[34] Prepararam então as

primeiras expedições científico-geográficas, financiadas por subscrição

nacional, de Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto, que

entre 1877 e 1885 mapearam o território. Pretendiam fazer o

reconhecimento dos rios Cuango, Congo eZambeze, concluindo a carta da

África centro-austral (o famoso Mapa cor-de-rosa) para manter "estações

civilizadoras" portuguesas no interior.

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Entretanto, o ministro dos negócios estrangeiros João de Andrade

Corvo reafirmou a tradicional aliança Luso-Britânica, propondo abrir

Moçambique e Goa ao comércio e navegação britânicos[35] em troca do

reconhecimento no Congo. Em 1883 Portugal ocupou o norte do rio Congo e

no ano seguinte firmou um acordo com os ingleses reconhecendo o direito aambas as margens. O acordo foi de imediato denunciado pelas restantes

potências, levando à convocação da Conferência de Berlim (1884–

1885) [36] por Bismarck, para dirimir os conflitos - incluindo a oposição Luso-

Britânica à expansão de Leopoldo II. Contudo a aliança decepcionou: sob

pressão da Alemanha e da França, Portugal perdeu o controlo da foz do

Congo, [35] mantendo apenas Cabinda, cujos notáveis assinaram o Tratado de

Simulambuco em Fevereiro de 1885, pelo qual aceitavam ser um

protectorado da coroa portuguesa.[37]

A exigência de uma ocupação efectiva determinada pela Conferência de

Berlim[38] obrigou Portugal a agir. O estado português diversificou então os

contactos internacionais, cedendo à França na Guiné, e à Alemanha no Sul

de Angola,[39] que então nomeou colónia, em troca do reconhecimento às

terras interiores. Nascia assim o Mapa Cor-de-Rosa, tornado público em

1886, reclamando uma faixa de território de Angola à contra-costa ou seja,

a Moçambique. Para sustentar esta reclamação foram feitas campanhas de

exploração e avassalamento dos povos do interior, cuja resistência era

combatida pelas Campanhas de Conquista e Pacificação conduzidas pelas

forças armadas.

Em 1887, ao saber dos planos portugueses, o primeiro-ministro

britânico Lord Salisbury avisou que não reconheceria territórios "não

ocupados com forças suficientes para manter a ordem, proteger estrangeiros

e controlar nativos". Enquanto os britânicos criavam a Rodésia do Sul,

Portugal tentou fechar o Rio Zambeze à navegação e reclamou o vale

do Niassa, numa faixa que isolava as colónias britânicas.[40] Em Janeiro de

1890 Paiva Couceiro estacionou com 40 soldados no Bié, em Angola, a

caminho do Barotze para tentar obter a "avassalamento" do soba Levanica.[41]Simultaneamente, junto ao Lago Niassa, em Moçambique, as forças

de Serpa Pinto arreavam as bandeiras inglesas, num espaço monitorizado

pelo Reino Unido.

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A 11 de Janeiro de 1890, a pretexto do incidente Serpa Pinto, o Ultimato

britânico exigiu a retirada imediata das forças militares portuguesas no

território entre Moçambique e Angola (actuaisZimbabwe e Zâmbia). Portugal

terminou, então, de imediato a expansão colonial africana que Lord Salisbury

considerara baseada em "argumentos arqueológicos" de ocupação[40]. Oultimatum causou sérios danos à imagem do governo monárquico português.

Um ano depois a Questão do Barotze, referente ao estabelecimento das

fronteiras de Angola foi resolvida entre Portugal e a Grã-Bretanha com a

arbitragem de Vítor Emanuel III da Itália.

O Império Colonial Português em África (1890-1975)

Na sequência do ultimato britânico de 1890 a administração colonial

portuguesa endureceu a actuação, investindo em "campanhas armadas de

pacificação" e no derrube dos régulos menos cooperantes. Em 1885 aliara-sea Gungunhana, imperador do Império de Gaza na África oriental, entre os

rios Zambeze e Limpopo, que aceitara o acordo num balanço precário entre

forças portuguesas, britânicas e a ameaça dos pretendentes ao trono.

A província de Gaza e o porto de Lourenço Marques (actual Maputo) eram

cobiçados pelos britânicos da British South Africa Company e Cecil Rhodes

para escoar as matérias-primas do Transvaal. Após o ultimato foram

autorizadas três grandes concessionárias para explorar imensos territórios

em Moçambique: a Companhia do Niassa (1890), a Companhia deMoçambique (1891) e a Companhia da Zambézia (1892): todos procuravam

atrair Gungunhana para os seus interesses. Em Outubro de 1890 Cecil

Rhodes obtém uma aliança[42] para concessão de exploração e acesso ao mar

ao arrepio do acordo de 1885, mas ao jogar no conflito entre Londres e

Lisboa Gungunhana é surpreendido quando, ao pedir a protecção britânica,

fica sem resposta: os governos tinham acordado a delimitação dos territórios

em Junho de 1891, e Gaza fica no interior de Moçambique. É intimado

assumir-se como súbdito de Portugal.

Em 1890 António Enes decretou uma revisão do Código de Trabalho Rural de

1875 - que estabelecia a obrigação "moral" dos colonos [camponeses

indígenas] de produzirem bens para comercialização- que o camponês já não

tem a opção de pagar o "mussoco" em géneros: "...O arrendatário

[dos Prazos] fica obrigado a cobrar dos colonos em trabalho rural, pelo

menos metade da capitação de 800 réis". Entre 1891-1892 Mouzinho de

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Albuquerque, governador do distrito de Lourenço Marques (Maputo)

endureceu as relações com os povos circundantes. O trabalho forçado, o

pagamento de impostos, como o Imposto de palhota, e a violência contra as

populações levaram à revolta. Entre os cada vez mais frequentes incidentes,

em Junho de 1894 uma força naval alemã ocupou o triângulo de Quionga nafoz do rio Rovuma, na fronteira entre a África Oriental

Alemã (atual Tanzânia) e Moçambique, obtendo o controlo da

desembocadura no oceano Índico; em Agosto, e até 1895, uma rebelião

reúne milhares de guerreiros e cerca Lourenço Marques (Maputo) durante

mais de dois meses. A cidade foi saqueada, sendo a queda impedida por

navios de guerra. Em Lisboa a rebelião era atribuída a Gungunhana e a

interesses britânicos, o alarme foi grande. O governo reagiu energicamente

reforçando a presença militar em Moçambique. A 28 de Dezembro de 1895Gungunhana foi preso por Mouzinho de Albuquerque. Conhecido da imprensa

europeia, foi condenado ao exílio nos Açores.

Em 1911, após o fim da monarquia, emprestando dos britânicos um método

de administração indirecta, mas também influenciados pelos franceses, os

republicanos deram às possessões d'além-mar o nome de colónia às quais

atribuem uma certa autonomia financeira e administrativa. O Triângulo de

Quionga foi reocupado em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, por

forças portuguesas e foi reintegrado oficialmente em Moçambique em 1919

pelo Tratado de Versalhes, que definiu novamente a fronteira ao longo do rio

Rovuma.

O Acto Colonial centralizador aprovado em 1930, durante a Ditadura Militar

(1926-1933) que antecedeu o Estado Novo, re-definiu as formas de

relacionamento entre a metrópole e as colónia, restringindo a já limitada

autonomia financeira e administrativa. Desde 1926 as pessoas afectadas

pelo Estatuto do indígena estiveram excluídas da categoria de cidadãos ao

qual pertenciam os africanos integrados e os colonos europeus, até 1961. O

conjunto dos territórios administrados passou a então a denominar-

se Império Colonial Português. Este Acto definiu durante muito tempo o

conceito ultramarino português tendo sido revogado na revisão da

Constituição feita em 1951, que o modificou e integrou no texto da

Constituição.

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A partir de 1946, como forma política de evitar que Portugal fosse

considerado uma potência colonial nos fóruns internacionais, e na esperança

de preservar um Portugal intercontinental, o Estado Novo passou a designar

as colónias por províncias d'além-mar ou províncias ultramarinas,

considerando que esses territórios não eram colónias, mas sim parteintegrante e inseparável de Portugal, como uma "Nação Multirracial e

Pluricontinental"..[43]

[editar]Presença portuguesa no Oriente

 

Igreja de S. Francisco emCochim, a mais antiga da Índia, construída em1503.[44][45] Vasco da Gama, falecido em 1524 foi aqui sepultado inicialmente.

A viagem comandada por Vasco da Gama até Calecute,[46] foi ponto de

partida da implantação portuguesa na costa oriental africana e na Índia. O

primeiro contacto deu-se a 20 de Maio de 1498. Após alguns conflitos com

mercadores árabes que detinham o monopólio das rotas de especiarias,

Vasco da Gama conseguiu uma carta de concessão ambigua para as trocas

comerciais com o samorim de Calecute, aí deixando alguns portugueses para

estabelecerem uma feitoria. Pouco depois, foi criada em Lisboa a Casa da

Índia para administrar o monopólio régio da navegação e comércio com o

Oriente.

O objectivo de Portugal no Oceano Índico foi o de assegurar o monopólio do

comércio de especiarias. Jogando continuamente da rivalidade que

opunha hindus e muçulmanos, os portugueses estabeleceram,entre 1500 e 1510, várias fortalezas e feitorias comerciais.

Em 1500 a segunda armada à Índia que vinha de descobrir o Brasil explorou

a costa oriental africana, onde Diogo Dias descobriu a ilha a que deu o nome

de São Lourenço, mais tarde designada Madagáscar. Esta armada,

comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou a Calecute em Setembro, onde

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assinou o primeiro acordo comercial na Índia. A feitoria portuguesa aí 

instalada teve contudo efémera duração: atacada pelos muçulmanos em 16

de dezembro, nela pereceram vários portugueses, entre os quais o

escrivão Pero Vaz de Caminha. Após bombardear Calecute, Cabral seguiu

para Cochim.O Estado Português da Índia

Beneficiando da rivalidade entre o marajá de Cochim e o samorim de

Calecute, os portugueses foram bem recebidos e vistos como aliados na

defesa, fundando em Cochim o forte (Forte Manuel) e posto comercial que

seria a primeira colónia europeia na Índia. Aí construiram em 1503 a Igreja

de São Francisco.[47] Em 1502 Vasco da Gama tomou a ilha de Quíloa, na

costa da Tanzânia, onde em 1505 foi construída a primeira fortificação

portuguesa da África Oriental para proteger as naus da carreira da Índia.

Em 1505 o rei D. Manuel I nomeou D. Francisco de Almeida[48]  primeiro Vice-

rei da Índia[49] por um triénio. Sedeada em Cochim iniciou-se a governação

portuguesa no oriente. Nesse ano os portugueses tomaramCananor onde

fundaram a fortaleza de Santo Angelo e Lourenço de Almeida chega a Ceilão-

a lendária Taprobana- actual Sri Lanka, onde descobre a origem da canela.

Encontrando-o dividido em sete reinos rivais, estabelece um pacto de defesa

com o reino de Kotte e, explorando as rivalidades internas, estende o

controlo nas áreas costeiras, onde em 1517 seria fundada a fortalezade Colombo.[50]

 

Forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz, erguido entre 1507-1515, Irão.

Em 1506 os portugueses, sob o comando de Tristão da Cunha e Afonso de

Albuquerque, conquistam Socotorá na entrada do Mar Vermelho, em

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1507Mascate e temporariamente Ormuz, onde Albuquerque inicia a

construção do Forte de Nossa Senhora da Vitória, seguindo a estratégia que

pretendia fechar as entradas para o Índico. Nesse mesmo ano foram

construidas fortalezas na Ilha de Moçambique e em Mombaça, na costa

queniana.

Em 1509 é travada a batalha de Diu contra uma frota conjunta do Sultanato

Burji do Cairo, do Sultão Otomano Beyazid II, do samorin de Calecute e do

Sultão de Gujarat, com o apoio naval da República de Veneza e da República

de Ragusa.[51] A vitória portuguesa foi determinante, marcando o início do

domínio europeu no Índico. Com o poder dos otomanos seriamente abalado,

os Portugueses conquistaram rapidamente localidades costeiras.

 Já sob o governo de Albuquerque Goa foi tomada aos árabes em 1510 com o

auxílio do corsário hindu Timoja. Cobiçada por ser o melhor porto comercialda região, entreposto de cavalos árabes para os sultanatos do Decão,

permitia cumprir a vontade do Reino de não permanecer eterno hóspede de

Cochim. Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se a sede da presença

portuguesa, sob nome de Estado Português da Índia, com a conquista a

desencadear o respeito dos reinos vizinhos: Guzerate e Calecute enviaram

embaixadas, oferecendo alianças, concessões e locais para fortificar.

Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a primeira cunhagem de moeda

portuguesa fora do reino, aproveitando a oportunidade para anunciar aconquista.[52][53]

[editar]Malaca e o Sudeste Asiático

 

 Ternate, no arquipélago das Molucas, mostrando a feitoria-Forte de São JoãoBaptista de Ternate iniciada em 1522. Desenho holandês de 1720

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Inicialmente D. Manuel I e o conselho do reino tentaram distribuir o poder a

partir de Lisboa, criando três áreas de jurisdição no Índico: Albuquerque

seguira com a missão de tomar Hormuz, Aden e Calecute assegurando o

domínio no mar Vermelho; Diogo Lopes de Sequeira fora enviado para o

sudoeste asiático, com a missão de tentar um acordo com o sultão deMalaca; Jorge de Aguiar e, depois, Duarte de Lemos presidiam à área entre o

Cabo da Boa Esperança eGuzerate.[54] Contudo estes cargos foram

centralizados por Afonso de Albuquerque, que se tornou plenipotenciário, e

assim permaneceram.

Em Abril de 1511 Albuquerque zarpou para Malaca, na Malásia, com uma

força de cerca de 1 200 homens e 17 ou 18 navios.[55] Placa contornante do

comércio com a China e com o sudeste asiático, a península de Malaca

tornou-se então a base estratégica para a expansão portuguesa na ÍndiaOriental, sob o Estado Português da Índia cuja capital era Goa. Para defender

a cidade foi erguido um forte cuja porta, denominada a "A Famosa", ainda

subsiste. Vencido o sultanato de Malaca, Afonso de Albuquerque envia

imediatamente Duarte Fernandes em missão diplomática ao Reino do

Sião (Tailândia), onde é o primeiro europeu a chegar, dadas as pretensões

siamesas em Malaca.[56] Em Novembro desse ano, ficando a saber a

localização das chamadas "ilhas das especiarias" nas Molucas, as ilhas

Banda, enviou uma expedição comandada por António de Abreu para as

encontrar. Pilotos malaios guiaram-nos via Java, as Pequenas Ilhas da

Sonda e da ilha de Amboíno até Banda, onde chegaram no início de 1512.[57] Aí permaneceram, como primeiros europeus a chegar às ilhas, enchendo

os seus navios com noz moscada e cravinho.[58] Abreu partiu

por Ambão enquando o seu vice-comandante Francisco Serrão se adiantou

para Ternate. Nesse mesmo ano, na Indonésia, os portugueses

tomam Macáçar, chegando a Timor em 1514.[59][60]

Em 1513, partindo de Malaca, Jorge Álvares chegou ao Sul da China,

aportando na foz do Rio das Pérolas na Ilha de Lintin.[61] Seguiu-se a chegada

a Cantão e Sanchoão por Rafael Perestrelo. Em1517  Tomé Pires foi enviado

como embaixador de D. Manuel I à China, na frota de Fernão Peres de

Andrade, que conseguiu negociar com as autoridades de Cantão o seu envio

a Pequim e uma feitoria em Tamau. Inicialmente bem sucedida, a embaixada

ficou retida.[62] Comerciantes portugueses sedearam-se então na ilha de

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Sanchoão, subornando mandarins locais, mais tarde em Liam Póque seria

destruída, Tamau onde em 1521 e 22 foram combatidos pelas forças

chinesas e Lampacau, uma pequena ilha na baía de Guangzhou (Cantão).

 

Fortaleza de Diu, a mais importante fortificação da Índia Portuguesa (1535-1536). Guzerate, Índia.

No Golfo Pérsico os portugueses conquistam Ormuz em 1515 e, devido à

posição estratégica na região, o Bahrein em 1521. Em 1522 o rei hindu

de Sondana Indonésia procurou selar uma aliança com os Portugueses em

Malaca para se defender do aumento de poder muçulmano no centro de

 Java.[63], convidando-os a construir uma fortaleza no porto de Kalapa

(actual Jacarta). O Tratado de Sunda Kalapa (1522) foi selado com

um padrão, mas os portugueses não conseguiriam cumprir a promessa de

voltar no ano seguinte: nesse ano torna-se governador da Índia Duarte de

Meneses que, após uma administração desastrosa, é enviado sob prisão parao reino e substituído por Vasco da Gama, que veio a falecer em Cochim em

1524. Entre 1522 e 1529, na sequência da viagem de circumnavegação

de Fernão de Magalhães, os castelhanos contestaram o limite Este do

 Tratado de Tordesilhas, disputando as valiosas Molucas "berço de todas as

especiarias" e as Filipinas com os portugueses. Em 1529 D. João III e Carlos I

de Espanha selaram o Tratado de Saragoça, que definia a continuação do

meridiano de Tordesilhas no hemisfério oposto, a leste das ilhas Molucas,

cedidas pela Espanha mediante o pagamento de 350.000ducados de ouro.[64]

Em 1533 Portugal conquista Baçaim, a cerca de 50 km de Bombaim. Em

1534, Guzerate foi ocupada pelos mogóis e o sultão Bádur Xá de

Guzerate foi forçado a firmar o tratado de Baçaim, onde estabelecia uma

aliança para recuperar o seu país, cedendo em

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troca Damão, Diu, Bombaim e Baçaim.[65] Em 1535 o capitão António de

Faria, partindo de Da Nang, onde os portugueses tinham aportado em 1516,

na então chamada Cochinchina (actual Vietname), tentou estabelecer um

posto comercial em Faifo, o que falhou.[66]

Em 1538 a fortaleza de Diu é novamente cercada por 54 navios otomanos.

Um outro cerco falhado em 1547 poria fim às ambições otomanas,

confirmando a hegemonia portuguesa.

O empório comercial

 

A Casa da Índia situada noPaço da Ribeira frente ao rio Tejo, vendo-se oestaleiro naval (Ribeira das Naus). Desenho de Braun e Hogenberg - Civitates Orbis Terrarum - 1572

O Império Português em África e no Oriente foi essencialmente marítimo e

comercial, localizado em regiões costeiras. A vasta rede de feitorias e

fortalezas facilmente abastecíveis por mar,[67] reforçadas pela acção

das missões religiosas em terra, permitiram aos portugueses controlar edominar o comércio de especiarias, de pedras preciosas, da seda e da

porcelana. Lisboa era o "empório" da Europa.

Em Lisboa a "Casa da Índia" administrava o monopólio da navegação e do

comércio com o oriente, mantendo a Coroa como reguladora. Criada

entre 1500 e 1503,[68] foi sucessora de instituições semelhantes, como

a Casa da Guiné e a Casa da Mina, para acompanhar a expansão comercial

no oriente. A Casa da Índia administrava as exportações para Goa, centro do

império oriental, o desembarque de mercadorias orientais e a sua venda emLisboa. A distribuição na Europa era feita através daFeitoria Portuguesa de

Antuérpia.

O monopólio régio incidia sobre as principais especiarias

- pimenta, cravinho e canela e exportação de cobre, com grande procura na

Índia- cobrando uma taxa de 30% no lucro dos restantes produtos.

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Em 1506 cerca de 65% dos proveitos do reino vinham de taxas sobre as

actividades além-mar. Em 1518 só o lucro das especiarias[69]representava

39% da receita da Coroa,[70] o que levaria Francisco I de França a apelidar

D. Manuel I de Portugal "le roi épicier", ou seja, "o rei merceeiro".

Ao longo de cerca de 30 anos, de 1503 a 1535, os portugueses conseguiram

ultrapassar o comércio de especiarias veneziano do Mediterrâneo,[71] projectando Antuérpiacomo grande centro comercial da Europa. O estilo

Manuelino atesta ainda hoje prosperidade do reino em obras como

o Mosteiro dos Jerónimos, encomendado pelo reiD. Manuel I e iniciado em

1502, pouco depois de Vasco da Gama ter regressado da Índia. Financiado

em grande parte pelos lucros do comércio de especiarias, grande parte da

sua construção seria realizada até 1540, no reinado de D. João III. No oriente

desde 1510, a política do governador-geral Afonso de Albuquerque encorajouos casamentos mistos, permitindo o aparecimento de uma comunidade

euroasiática em Goa, que por sua vez apoiava a administração e as

actividades comerciais e de construção naval.

 

Rotas comerciais portuguesas de Lisboa a Nagasaki entre 1580-1640 (azul).E a rota comercial espanhola estabelecida em 1565, o chamado galeão deManila(branco)

A receita começou a declinar em meados do século, devido aos custos da

presença em Marrocos e a gastos perdulários. Portugal não desenvolvera as

infraestruturas domésticas para acompanhar a actividade, confiando em

serviços exteriores para suportar as suas actividades comerciais, fazendocom que grande parte da receita se dissipasse no processo. Em 1549, após

um pico especulativo, a Feitoria Real de Antuérpia faliu e foi encerrada.[72] O

trono confiava crescentemente no financiamento externo e em 1560 a

receita da Casa da Índia não era suficiente para cobrir as suas despesas: a

monarquia tinha entrado em ruptura. (A política portuguesa de monopólio

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real seria atenuada em1570 e abandonada em 1642, com a crise sucessória

e após dinastia filipina, passando a Casa da Índia a ter um carácter

de alfândega).

Chegada ao Japão e fixação em Macau

Os portugueses encontraram também uma lucrativa fonte de rendimento

no comércio triangular China-Macau-Japão.[73] Desde 1535, na sequência de

um naufrágio, tinham sido autorizados a aportar na península de Macau e a

exercer as suas actividades comerciais, embora sem permanecer em terra.[74][75]

Em 1542 um grupo de comerciantes, entre os quais Francisco

Zeimoto aportou no Japão pela primeira vez. Segundo Fernão Mendes Pinto,

que terá participado nesta viagem, chegaram à ilha de Tanegashima, onde

espantaram os autóctones as armas de fogo e o relógio. Nesse mesmo ano,

ao abrigo do Padroado português, o missionário Francisco Xavier co-fundador

da ordem jesuíta chegou a Goa para ocupar o cargo de Núncio Apostólico,

viajando com o novo vice-rei. Fora enviado por D. João III após sucessivos

apelos ao Papa pedindo missionários para espalhar a fé e ajudar a manter a

ordem na Ásia portuguesa, e recomendado entusiasticamente por Diogo de

Gouveia, que aconselhou o rei a chamar os jovens cultos da recém-formada

Companhia de Jesus.

No Japão os portugueses estabeleceram-se no porto de Hirado, iniciando deimediato uma intensa interação tanto a nível económico como religioso, no

que ficou conhecido como período de "Comércio Nanban", (japonês:南蛮貿易,

nanban-bōeki, "Comércio com os bárbaros do sul"). O arcabuz foi fabricado

pelos japoneses em grande escala[76] e teria um papel determinante no curso

das batalhas do período Sengoku que então travavam entre daimyos;

o açúcar refinado e o cristianismo seriam outras das novidades de grande

aceitação. Francisco Xavier viajaria no Japão em 1549, fazendo numerosos

convertidos.

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Carraca Portuguesa em Nagasaki. Painel japonês do períodoNanban do Japão.

O comércio português local tornou-se particularmente lucrativo a partir de

1547, quando as autoridades chinesas proibiram o comércio directo entre a

China e o Japão devido à pirataria, retomando a política isolacionista Hai

 Jin (literalmente "proibição marítima"), mas deixando os portugueses como

únicos intermediários: apesar da proibição, a China, carente da prata,

precisava de acesso às reservas do Japão. Por sua vez, os japoneses eram

grandes consumidores de sedas e porcelana chinesa. Em 1549 foram

autorizadas missões comerciais anuais de Sanchoão e em 1554 Leonel de

Sousa obteve um acordo para negociar em Cantão, que levaria a avançar

para Macau. Nestas circunstâncias, os portugueses tornaram-se osintermediários naturais, ganhando o monopólio de um comércio que atingiria

o seu auge entre o final do século XVI e o início do século XVII. Para tal

instalaram-se em Macau.[77]

Por volta de 1555 Macau tornara-se já um importante centro do comércio

entre a China e o Japão e entre estes e a Europa. Em 1557, as autoridades

chinesas deram finalmente autorização para os portugueses se

estabelecerem permanentemente,[75] concedendo-lhes um considerável grau

de autogovernação mediante um pagamento anual (cerca de500 taéis de prata). Desde a sua fundação, Macau cresceu à custa do

lucrativo comércio baseado na troca de sedas chinesas por prata japonesa.

Em apenas uma década, tornou-se o intermediário-chave no comércio entre

a China e o Japão, com os portugueses a embolsar enormes lucros. Tornar-

se-ia rapidamente um nó importante no desenvolvimento do comércio ao

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longo de três eixos principais: Macau-Malaca-Goa/Lisboa; Guangzhou-Macau-

Nagasaki e mais tarde Macau-Manila-México.

Em 1571, após um acordo com o daimyo cristão Omura Sumitada (baptizado

"Dom Bartolomeu") os portugueses mudar-se-iam fundando a cidade

portuária de Nagasaki, no Japão [78] e criando assim um centro comercial que

durante muitos anos seria a porta do Japão para o mundo. Em 1580, pouco

antes do início da união Ibérica, Omura Sumitada cedeu a jurisdição sobre

Nagasaki aos Jesuitas.

Dinastia Filipina e guerra luso-holandesa (1580-1663)

 

A captura de Cochim e victória da V.O.C. holandesa sobre os portugueses em1656. 1682, Atlas van der Hagen

A morte de Dom Sebastião em Alcácer Quibir, sem descendência, fez passar

a coroa em 1580 para os Habsburgos da Espanha. Durante este período, o

império do Oriente viu-se envolvido nas guerras que a Espanha travava com

os ingleses e os holandeses. Ao longo do século XVII, na guerra Luso-

Holandesaos holandeses tomaram sistematicamente possessões

portuguesas, aliando-se por sua vez com os dirigentes locais, e

desmantelando o monopólio comercial português na Ásia.

Em 1592, considerando suspenso a aliança Luso-Britânica de 1373 e em

plena guerra com Espanha, uma frota inglesa interceptou ao largo

dos Açores uma frota vinda da Índia, capturando a Nau portuguesa Madre de

Deus de grande tonelagem. Com 1600 toneladas (das quais 900 de

mercadorias) tinha 3 vezes o tamanho do maior navio inglês e uma

tripulação de 600 a 700 homens. Entre as riquezas estavam jóias, ouro e

prata, âmbar, rolos de tecido e tapeçaria, 425 toneladas de pimenta, cravo

da Índia, canela, cochonilha, ébano, noz-moscada, benjamim. Havia ainda

incenso, sedas, damasco, tecido de ouro, porcelana chinesa e presas de

elefante entre outros. E o maior tesouro: um documento impresso em Macauem 1590, contendo informação sobre o comércio português na China e no

 Japão. Richard Hakluyt relatou-o tratado como a mais preciosa das jóias.

Quando Isabel I de Inglaterra foi informada do sucedido enviou Sir Walter

Raleigh para reclamar o seu quinhão. O valor estimado da carga equivalia a

metade do tesouro inglês na altura. Quando Raleigh restaurou a ordem já só

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sobrava cerca de um quarto. A Madre de Deus seria um dos maiores saques

da História, galvanizando o interesse inglês na região.

Basílica do Bom Jesus, Goa Velha, construída entre 1594-1605 onde seencontra o túmulo de S. Francisco Xavier, Património Mundial da UNESCO

Nesse mesmo ano Cornelis de Houtman fora enviado por mercadores de

Amesterdão para Lisboa, com a missão de recolher tanta informação sobreas Ilhas das Especiarias, quanto pudesse. Em 1595 o mercador e

explorador holandês Linschoten, após ter viajado extensamente na Ásia ao

serviço dos portugueses, publicou em Amsterdão o relato "Reys-gheschrift 

vande navigatien der Portugaloysers in Orienten" ("Relato de uma viagem

pelas navegações dos portugueses no Oriente"). A obra continha cartas e

indicações sobre como navegar entre Portugal e as Índias Orientais até

ao Japão. O interesse despertado nos Países Baixos e na Inglaterra por estas

informações esteve na origem do movimento de expansão comercial que

levou à fundação da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais em 1602

da Companhia Britânica das Índias Orientais em 1600, permitindo a entrada

dos seus compatriotas nas então denominadas Índias Orientais.

Os confrontos com os Holandeses no oriente iniciaram-se em 1603, quando

a carraca portuguesa "Santa Catarina", carregada de valiosas mercadorias,

foi capturada ao largo deSingapura pela recém criada Companhia Holandesa

das Índias Orientais, ou VOC. O feito, um saque que duplicava o capital inical

da VOC, gerou protestos internacionais mas serviu de pretexto para

contestar a política ibérica de Mare Clausum, advogando o "Mare Liberum",uma sustentação ideológica para que os holandeses quebrassem os

monopólios comerciais, utilizando a sua potência naval para estabelecer o

seu próprio monopólio.

Em 1605 mercadores da VOC capturaram o forte português de Amboina,

seguindo-se Ternate, nas ilhas Molucas. Em 1619, fundaram Batávia (actual

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 Jacarta) na Indonésia, tornando-a capital do seu império no Oriente. Nos

vinte anos seguintes Goa, sob cercos desde 1603, e Batávia batalharam

incessantemente entre si, como capitais rivais dosEstado Português da

Índia e da VOC. No médio oriente os Persas, com a ajuda dos ingleses,

expulsaram os portugueses do Bahrein em 1602 e de Ormuz em 1622.Apogeu e queda do comércio Macau-China-Japão

 

Ruínas de São Paulo, igreja construída em 1565 e Colégio Jesuíta de SãoPaulo de 1594, a primeira universidade ocidental no Oriente, Macau

Os portugueses de Macau viram com preocupação a subida de Filipe II ao

trono, temendo perder o monopólio no comércio ou a expulsão do território

pelos chineses. Em 1583 criaram o Senado para garantir a autonomia e

mantiveram a bandeira portuguesa. Fulcral no comércio entre a China, a

Europa e o Japão, Macau atingiu a sua "idade de ouro" durante a união

espanhola, de 1595 a 1602. Devido à crescente prosperidade foi elevada acidade em 1586 por Filipe II. Além da exclusividade portuguesa do comércio

com o Japão, a sua posição estratégica permitia beneficiar das rotas

comerciais portuguesas e espanholas, como o Galeão de Manila, a rota

alternativa que ligara Manila a Acapulco e a Espanha desde 1565, e tornara-

se fulcral quando os Holandeses começaram a perturbar as rotas

de Goa e Malaca. Os espanhóis sedeados em Manila tentaram sem sucesso

acabar com a posição privilegiada portuguesa: em 1589, com a criação de

uma rota comercial Macau-Acapulco, chegaram a pedir a destruição de

Macau e transferência do comércio de prata e de seda entre o Japão e a

China para Manila. (Mais tarde, D. João IV recompensaria a lealdade de

Macau com o título Não Há Outra Mais Leal, passando esta cidade a ser

designada por Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais

Leal).

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A ilha de Dejima na baía de Nagasaki, construida em 1634 para confinar osportugueses e sede Holandesa desde 1641, único ponto de comércio externodo Japão após decretado o sakoku. 1820, British Museum

Macau sofreu ataques holandeses desde 1603 a 1622, ano em que resistiu a

uma tentativa de conquista após dois dias de combate. O comércio com

o Japão terminaria abruptamente: confinados à ilha de Dejima no porto

deNagasaki desde 1636, os portugueses e o catolicismo foram vistos como

uma das causas da rebelião de Shimabara de 1638, sendo expulsos do Japãoem 1639, ao mesmo tempo que o cristianismo no Japão passou à

clandestinidade (os Kakure Kirishitan). Reprimida com o auxílio dos

holandeses, que se haviam estabelecido em Hirado- a rebelião reforçou as

políticas de isolamento Sakoku do xogum Tokugawa Iemitsu, afectando

seriamente a economia de Macau, que entrou rapidamente em declínio.

Dejima passou para os holandeses da VOC, que ganharam o exclusivo do

comércio, prejudicando seriamente a economia de Macau.

Restauração e declínio do Estado Português da Índia

Em 1640 começou a Guerra da Restauração em Portugal. Com o fim do

dominio Habsburgo João IV de Portugal ascendeu ao trono. O rei enviou

embaixadores a França, Inglaterra e à holanda, visando formar parcerias na

luta contra a Espanha. Foi firmado o Tratado de Haia (1641), estabelecendo

uma trégua de dez anos entre o Reino de Portugal e a Holanda. Foi um

 Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva entre ambas as partes. Na prática,

a trégua firmada para todos os territórios de ambos impérios, limitou-se ao

continente europeu, sendo ignorada por ambas as partes no resto do mundo:

Malaca foi conquistada pelos holandeses da VOC em 1641, no culminar da

guerra, constituindo o maior golpe, ao privar o império português do controlo

do estreito.

Em 6 de Abril de 1652, o mercador da VOC Jan van Riebeeck estabeleceu um

posto de reabastecimento próximo do Cabo da Boa Esperança que evoluiu

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para se tornar na Cidade do Cabo, permitindo aos holandeses dominar a rota

do cabo, fazendo a navegação directa desde o Cabo da Boa Esperança até

ao estreito de Sunda, na Indonésia.

Mapa mostrando a posição possessões europeias na Índia e Sri Lanka(Ceilão), entre 1501 e 1739.

Ceilão foi perdida em 1658, Cochim em 1662 e a costa de Malabar em 1663,quebrando um segundo acordo de paz, o Tratado de Haia de 1661.[79] Ano

em que Bombaim e Tânger foram cedidas à Inglaterra como dote do

casamento entre a princesa Catarina de Bragança e Carlos II de Inglaterra.

A desactualizada administração do império, a falta de recursos humanos,

económicos e militares para uma efectiva ocupação, a reorganização do

comércio por parte dos Turcos e dos Árabes, com novas rotas de transporte

dos produtos orientais (as "Rotas do Levante"), a pirataria e o corso, e,

sobretudo o aumento da capacidade económica, militar e naval de potênciaseuropeias como a Inglaterra e a Holanda, que estabelecera o seu

império sobre os territórios conquistados aos portugueses com vastas rotas

comerciais, ditaram do monopólio Português no Oriente.

Do seu império fragmentado, Portugal só conseguiu conservar não muito

mais do que Goa, Damão, Diu, Macau e Timor Português.

Na Índia vários territórios foram, entretanto, perdidos para

os maratas até 1739, mantendo-se as designadas "Velhas Conquistas",

quatro concelhos de Goaincorporados no Estado Português da Índia desde oinício do domínio português. Entre 1713 e 1788, a superfície de Goa triplica

com a incorporação dasNovas Conquistas: Portugal apoderou-se de Dadrá e

Nagar-Haveli, num grupo de sete concelhos, ao sul, ao norte e a leste, que

foram acrescentados ao Estado Português da Índia. Em 1787 dá-se a

chamada "Conjuração dos Pintos", uma tentativa de derrubar o regime

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português em Goa, com vários clérigos e militares, naturais da região,

sentiam-se discriminados nas promoções de suas carreiras, por motivos

raciais. O grupo dos conspiradores era liderado pelo padre José António

Gonçalves de Divar, e incluía o nome de José Custódio Faria, conhecido como

"Abade Faria". Denunciada, a conspiração foi reprimida pelas autoridadesportuguesas. O padre Divar conseguiu escapar e viria a morrer emBengala.

O Abade Faria escapou para a França, onde alcançaria a fama.

Houve dois curtos períodos de dominação britânica (1797-1798 e 1802-

1813) e poucas outras ameaças externas após este período.

Presença portuguesa no Brasil

Em 1499 na segunda armada à Índia, a mais bem equipada do século

XV, Pedro Álvares Cabral afastou-se da costa africana. A 22 de abrilde 1500 avistou o Monte Pascoal no litoral sul da Bahia. Oficialmente tida

como acidental, a descoberta do Brasil originou a especulação de ter sido

preparada secretamente.[80] O território conseguira fazer parte dos domínios

portugueses renegociando a demarcação inicial da Bula Inter Coetera de

1493, quando D. João II firmou o Tratado de Tordesilhas em 1494, que movia

mais para oeste o meridiano que separava as terras de Portugal e de

Castela.

Até 1501, a Coroa portuguesa enviou duas expedições de reconhecimento.[81] Confirmando a descrição de Pero Vaz de Caminha, de que "Nela até agora

não podemos saber que haja ouro nem prata, nem alguma coisa de metal

nem de ferro lho vimos; pero a terra em si é de muitos bons ares, assi frios e

temperados como os d'antre Doiro e Minho", encontrou-se como principal

recurso explorável uma madeira avermelhada, valiosa para a tinturaria

europeia, que os tupis chamavam ibirapitanga e a que foi dado o nome pau-

brasil. Nesse mesmo ano o rei D. Manuel I decide entregar a exploração a

particulares, adotando uma política de concessões de três anos: os

concessionários deveriam descobrir 300 léguas de terra por ano, instalar aí uma fortaleza e produzir 20.000 quintais de pau-brasil..[82]

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Pau-brasil (Caesalpinia echinata) florido, jardim botânico de São Paulo.

Em 1502 um consórcio de comerciantes financiou uma expedição, que terá

sido comandada por Gonçalo Coelho, para aprofundar o conhecimento sobre

os recursos da terra, estabelecer contactos com os ameríndios e

principalmente fazer o mapeamento da parte situada aquém do Meridiano

de Tordesilhas, por isso pertencente à coroa portuguesa.Em 1503, todo o território foi arrendado pela coroa para exploração do pau-

brasil aos comerciantes que financiaram a expedição, entre eles Fernão de

Noronha, que seria representante do banqueiro Jakob Fugger, que vinha

financiando viagens portuguesas à Índia. Em 1506 produzia cerca de 20

mil quintais de pau-brasil, com crescente demanda na Europa, cujo preço

elevado tornava a viagem lucrativa.[83] Os navios ancoravam na costa e

recrutavam índios para trabalhar no corte e carregamento, em troca de

pequenas mercadorias como roupas, colares e espelhos (prática chamada

"escambo"). Cada nau carregava em média cinco mil toras de 1,5 metro de

comprimento e 30 quilogramas de peso. O arrendamento foi renovado duas

vezes, em 1505 e em 1513. Em 1504, como reconhecimento, o rei D. Manuel

I doou a Fernão de Noronha a primeira capitania hereditáriano litoral

brasileiro: a ilha de São João da Quaresma, atual Fernando de Noronha.

Nas três primeiras décadas o Brasil teria um papel secundário na expansão

portuguesa, então centrada no comércio com a Índia e para o Oriente.[80] O

litoral servia fundamentalmente como apoio à carreira da Índia, em especial

a Baía de Todos-os-Santos onde as frotas se abasteciam de água e lenha,

aproveitando para fazer pequenos reparos. No Rio de Janeiro, junto à foz do

rio foi erguida uma construção inspirou o nome que os índios deram ao local:

"cari-oca", casa dos brancos.

Comerciantes de Lisboa e do Porto enviavam embarcações à costa para

contrabandearem pau-brasil, aves de plumagem colorida

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(papagaios, araras), peles, raízes medicinais e índios para escravizar.

Surgiram, assim, as primeiras feitorias. A cultura da cana-de-açúcar foi

introduzida a partir de 1516 e as grandes plantações na Bahia e

em Pernambuco exigiriam um número crescente de escravos negros

da Guiné, do Benim e da Angola.As Capitanias hereditárias e o primeiro Governo Geral (1532-1580)

 

Mapa de Luís Teixeira (c. 1574) com a divisão do Brasil em 12 capitanias e alinha de Tordesilhasdeslocada dez graus para oeste.

Desde as expedições de Gonçalo Coelho que se assinalavam incursões de

franceses no litoral brasileiro..[84] A partir de 1520, os portugueses

apercebem-se que a região corria o risco ser disputada, dada a contestação

do Tratado de Tordesilhas por Francisco I de França, que incentivava a

prática do corso. O aumento do contrabando de pau-brasil e outros géneros

por corsários, desencadearam um esforço de colonização efectiva do

território.

Entre 1534-36 D. João III instituiu o regime de capitanias hereditárias,

promovendo o povoamento através das sesmarias, como se fizera com

sucesso nas ilhas da Madeira e de Cabo Verde. Foram criadas quinze faixas

longitudinais que iam do litoral até o Meridiano das Tordesilhas. Este sistema

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envolvia terras vastíssimas, doadas a capitães-donatários que possuíssem

condições financeiras para custear a colonização. Cada capitão-donatário e

governador deveria fundar povoamentos, conceder sesmarias e administrar

a justiça, ficando responsável pelo seu desenvolvimento e arcando com as

despesas de colonização, embora não fosse proprietário: podia transmiti-laaos filhos, mas não vendê-la. Os doze beneficiários eram elementos da

pequena nobreza de Portugal que haviam se destacado nas campanhas da

África e na Índia, altos funcionários da corte, como João de Barros e Martim

Afonso de Sousa. Das quinze capitanias originais (a dois meses de viagem de

Portugal) apenas as capitanias de Pernambuco e de São

Vicenteprosperaram. Ambas se dedicaram à lavoura de cana-de-açúcar e,

apesar dos problemas comuns às demais, os donatários Duarte Coelho e os

representantes de Martim Afonso de Sousa, conseguiram manter os colonose estabelecer alianças com os indígenas.

Percebendo o risco que corria o projeto de colonização, a Coroa decidiu

centralizar a organização da Colónia. Com a finalidade de "dar favor e ajuda"

aos donatários, o rei criou em 1548 o Governo Geral, enviando como

primeiro governador-geral Tomé de Sousa. Resgatou dos herdeiros de

Francisco Pereira Coutinho a Capitania da Baía de Todos os Santos,

transformando-a na primeira capitania real, sede do Governo Geral. Esta

medida não implicou a extinção das capitanias hereditárias.

 

Esquema do ataque de Mem de Sá aos franceses na baía de Guanabara em1560 (autoria desconhecida, 1567).

O governador-geral passou a assumir muitas funções antes desempenhadas

pelos donatários. Tomé de Sousa fundou a primeira cidade,Salvador (Bahia),

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capital do estado. Trouxe três ajudantes para ocupar os cargos das finanças,

da justiça e da defesa do litoral. Vieram também padres jesuítas, para

catequese dos indígenas. Em 1551, foi criado o 1º Bispado do Brasil. Foram

também instaladas as Câmaras Municipais, compostas pelos "homens bons":

donos de terras, membros das milícias e do clero. Sob o governo de Tomé deSousa que chegou ao Brasil um considerável número de artesãos. De início

trabalharam na construção da cidade de Salvador e, depois, na instalação de

engenhos na região.

Os governadores seguintes, Duarte da Costa (1553 - 1557) e Mem de

Sá (1557 - 1572), reforçaram a defesa das capitanias, fizeram explorações

de reconhecimento e tomaram medidas no sentido de reafirmar a

colonização, enfrentando choques com índios e com invasores,

especialmente os franceses, que em 1555 trazidos por Nicolas Durand deVillegagnon ocuparam o território o Rio de Janeiro, onde tentaram

estabelecer uma colónia, a França Antártica. A ocupação francesa perduraria

até 1567, ano em que foram definitivamente derrotados, estabelecendo-se

em definitivo a hegemonia portuguesa. Surgiram ainda conflitos com o

bispo, e com os próprios jesuítas que se opunham à escravidão indígena, e

entre antigos e novos colonos.

Domínio Habsburgo, divisão e invasões holandesas (1580-1663)

Com a união ibérica sob o domínio Habsburgo, resultante da crise desucessão de 1580 em Portugal, terminaram os limites do meridiano de

 Tordesilhas, permitindo expandir o território do Brasil para oeste. Foram

então realizadas expedições ao interior tanto por ordem da Coroa, as

"entradas", como por particulares, os "bandeirantes". Estas expedições

exploratórias duravam anos, em busca de riquezas minerais, sobretudo a

prata abundante na América espanhola e indígenas para escravização. Esta

união colocou contudo o império português em conflito com potências

europeias rivais de Espanha, como a Holanda. Em 1595 iniciou-se a

guerra Guerra Luso-Holandesa.

Inicia-se então um grande desenvolvimento da agricultura. A economia da

colónia gradualmente passara à produção da cana-de-açúcar e do cacau em

grandes propriedades, com o engenho de açúcarcomo peça principal

especialmente na Bahia, Pernambuco, e mais tarde no Rio de Janeiro. Com

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uma produção muito superior à das ilhas Atlânticas, o açúcar brasileiro

supria quase toda a Europa e no início do século XVII era exportado para

Lisboa, Antuérpia, Amsterdão, Roterdão, Hamburgo. Gabriel Soares de

Sousa comentava o luxo reinante na Bahia, com capelas magníficas e

refeições emlouça da Índia, que servia de lastro nos navios. Para sustentar aprodução a partir de meados do século XVI, começaram a importar-se

africanos como escravos. Até então os portugueses possuíram o monopólio

do tráfico de escravos, mas com o crescimento das suas colónias franceses,

holandeses e ingleses entraram no negócio, enfraquecendo a participação

portuguesa. Capturados entre tribos em África, por vezes com a conivência

de chefes rivais, atravessavam o Atlântico em navios negreiros, em péssimas

condições. Nas senzalas os seus filhos também eram escravizados,

perpetuando a situação.Em 1621 o Brasil é dividido em dois estados independentes: o Estado do

Brasil, de Pernambuco à atual Santa Catarina, e o Estado do Maranhão, do

atual Ceará à Amazônia, resultado do destacado papel como ponto de apoio

para a colonização do norte e nordeste. Em ambos os estados, os chamados

de "portugueses do Brasil" estavam sujeitos às mesmas leis que regiam os

residentes em Portugal: as Ordenações manuelinas e as Ordenações

filipinas.

 

"Planta da restituição da Bahia" ( João Teixeira Albernaz, o velho, 1631).

Em 1624 a recentemente criada Companhia Holandesa das ÍndiasOcidentais, ou WIC, conquista a cidade de Salvador (Bahia), capital

do Estado do Brasil. O Governador é capturado e o governo passa para as

mãos de Johan van Dorth. A resistência portuguesa reorganiza-se a partir

do Arraial do rio Vermelho. Em 1625 a Coroa espanhola envia uma poderosa

armada luso-espanhola, conhecida como Jornada dos Vassalos. Esta bloqueia

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o porto de Salvador, consegue a rendição holandesa e a recuperação da

Bahia.

Em 1630 a capitania de Pernambuco é conquistada pela WIC. O território

ocupado é renomeado Nova Holanda, abrangendo sete das dezenove

capitanias do Brasil à época. João Maurício de Nassau-Siegen foi nomeado

Governador da colônia. O avanço holandês nas duas costas do Atlântico

Sul a partir do fim doséculo XVI ameaçou fortemente as possessões

portuguesas. Os holandeses apoderaram-se sucessivamente

do Recife (1630), de São Jorge da Mina (1637), de Arguim (1638) e de São

 Tomé (1641). No entanto, a maior parte do Brasil permaneceu em mãos

portuguesas, que foram uma constante ameaça ao domínio holandês.

Nessa época foram fundados os quilombos, como o Quilombo dos Palmares,

liderado por Zumbi, que congregava milhares de negros fugidos dosengenhos de cana do Nordeste brasileiro e alguns índios e brancos pobres ou

indesejáveis. Este "submundo" foi destruído por bandeirantes portugueses

comandados por Domingos Jorge Velho.

Restauração e capitulação holandesa (1640-1663)

Em 1640 uma armada luso-espanhola falhou o desembarque em

Pernambuco, sendo destruída perto de Itamaracá. A guerra recomeçou. No

mesmo ano começou a Guerra da Restauração, terminando assim o período

do domínio Habsburgo [85] e D. João IV de Portugal ascende ao trono.Em 1642, Portugal concedeu à Inglaterra a posição de "nação mais

favorecida" no comércio colonial.

1645 eclode a Insurreição Pernambucana de luso-brasileiros descontentes

com a administração da WIC. Nesse ano o Brasil foi elevado a Principado.

Entre 1648-1649 são travadas as Batalhas dos Guararapes, vencidas pelos

luso-brasileiros no Estado de Pernambuco. A primeira batalha ocorreu em 19

de Abril de 1648, e a segunda em 19 de Fevereiro de 1649. As forças

lideradas pelos senhores de engenho André Vidal de Negreiros e JoãoFernandes Vieira, pelo africano Henrique Dias e pelo indígena Felipe

Camarão, terminam as invasões holandesas do Brasil, embora a guerra

continuasse noutras partes do império. Entre 1645 e 1654, os colonos

recifenses(também chamados leões do norte) luso-brasileiros, comandados

por Salvador Correia de Sá, expulsaram-nos do Brasil e recuperaram Recife.

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Em 1648, no Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides preparou

uma frota de 15 navios sob o pretexto de levar ajuda aos portugueses

sitiados pelos guerreiros da rainha Nzinga em Angola. Partiu do Rio de

 Janeiro a 12 de Maio e, através de contactos com Jesuitas, conseguiram

reconquistar Luanda em 15 de Agosto. A campanha prolongou-se de 1648 a1652, recuperando Angola e ailha de São Tomé para os portugueses.

Em meados do século, o açúcar produzido nas Antilhas Holandesas começou

a concorrer fortemente com o açúcar do Brasil. Os holandeses tinham

aperfeiçoado a técnica no Brasil, e dominavam o transporte e distribuição

em toda a Europa. Em 1649, dando seguimento a uma ideia já avançada por

padre António Vieira,[86] D. João IV autoriza a criação da Companhia Geral do

Comércio do Brasilpara fomentar a recuperação da agromanufatura

açucareira. A sua principal função era a de fornecer, em carácter deexclusivo, escravos africanos para a região nordeste do Brasil e garantir o

transporte do açúcar em segurança para a Europa, para coadjuvar a

resistência ao invasor.

Em 26 de Janeiro de 1654 é assinada a capitulação holandesa no Brasil,

a Capitulação do Campo do Taborda, no Recife, de onde partiram os últimos

navios holandeses. Portugal foi obrigado a recorrer à Inglaterra e nesse ano

aumentou os direitos ingleses, que poderiam negociar diretamente vários

produtos do Brasil com Portugal e vice-versa.Em 1661 a Inglaterra comprometeu-se a defender Portugal e colônias em

troca de dois milhões de cruzados, obtendo ainda as possessões

de Tânger e Bombaim, cedidas como dote do casamento entre a

princesa Catarina de Bragança e Carlos II de Inglaterra. Nesse ano é

assinado o segundo Tratado de paz de Haia com os holandeses: Portugal

aceitou as perdas na Ásia, comprometendo-se a pagar oito milhões de

Florins, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro, como compensação

pelo reconhecimento da soberania portuguesa do Nordeste brasileiro, ex-Nova Holanda. Este valor foi pago em prestações, ao longo de quarenta anos

e sob a ameaça de invasão da Marinha de Guerra.

O Ciclo do Ouro (1693-1800)

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Cidade de Ouro Preto, Património Mundialda UNESCO. Minas Gerais, Brasil.

 Talha dourada barroca, Igreja e Convento de São Francisco (Salvador) (1708-1752).

No fim dos confrontos com os holandeses, embora conseguindo recuperar

o Brasil e territórios em África, Portugal perdeu para sempre a proeminência

no Oriente. Assim, ao longo do século XVII, o Brasil começou a ganhar uma

importância crescente no império, para o qual exportava pau-brasil e açúcar.

A partir de 1693 as atenções centraram-se na Capitania do Espírito Santo, na

região que ficaria conhecida como Minas Gerais, onde bandeirantes paulistas

haviam descoberto ouro.[87] As primeiras descobertas importantes na serra

de Sabarabuçu e o início da exploração nas regiões auríferas (Minas

Gerais,Mato Grosso e Goiás) provocaram uma verdadeira "corrida do ouro",

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com grande afluxo migratório para estas regiões. Em 1696 foi fundada a

povoação se tornou a vila de Minas Gerais em 1711, novo centro económico

da colónia, com rápido povoamento e alguns conflitos.[88]

Este Ciclo do Ouro permitiu a criação de um mercado interno e atraiu uma

grande quantidade de imigrantes. A população cresceu 750%

entre 1650 a 1770. A população de Minas Gerais rapidamente se tornou a

maior do Brasil, contribuindo para o povoamento do interior. 78% desta

população era formada por negros e mestiços, destacando-se também

os cristãos-novos vindos do norte de Portugal e das Ilhas dos Açores e

Madeira, importantes no comércio colonial nos povoados em volta de Ouro

Preto e Mariana.

A corrida ao ouro aumentou consideravelmente as receitas da coroa, que

cobrava um quinto de todo o minério extraído, o que passou a ser conhecidocomo "o quinto". Os desvios e o tráfico eram frequentes, pelo que instituiu

toda uma burocracia de controlo.[89]

Na correspondência do embaixador francês em Lisboa, Rouillé, há a primeira

menção ao ouro chegado na frota em 1697 - 115,2 quilos. Faltam elementos

para julgar o ouro entrado no Reino de 1698 a 1703, mas Godinho sem citar

a fonte menciona, em 1699, 725 quilos e, em 1701, 1.785 quilos. A produção

aurífera terá passado de 2 toneladas por ano em 1701 para 14 toneladas nos

anos 1750, mas depois começou a declinar fortemente até se esgotar antesdo fim do século. O ouro ultrapassou em lucro os outros produtos do

comércio e permitiu a prosperidade do Rio de Janeiro. A importância

económica do Brasil para Portugal, teria levado D. João IV a referir-se ao

Brasil como a "vaca leiteira do Reino".[90]

No final da década de 1720, descobriram-se também diamante e outras

gemas preciosas. O ouro abundante nos ribeirões esgotou-se e passou a ser

mais penosamente buscado em veios dentro da terra, com as condições de

vida dos escravizados na região mineira particularmente difíceis.Apareceram metais preciosos em Goiás e no Mato Grosso, no século XVIII.

O tratado de Madrid (1750) definiu as fronteiras entre o Brasil e o resto dos

territórios espanhóis, mas os conflitos continuam frequentes ao respeito

dacolónia do Sacramento, até que Portugal a renunciou no Tratado de Santo

Ildefonso (1777). O século XVIII foi marcado por uma maior centralização e

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aumento do poder real por todo o Império Português; o poder dos jesuítas,

então protectores dos Índios ante a escravidão, foi brutalmente suprimido

porMarquês de Pombal com a dissolução desta ordem religiosa católica sob

solo português em 1759. Em 1774, os dois Estados do Brasil e do Grão-Pará

e Maranhão fundiram-se numa só entidade administrativa. Os colonoscomeçam a manifestar uma certa insatisfação face às autoridades de Lisboa.

A decadência da mineração tornou difícil pagar os impostos exigidos pela

Coroa. Em 1789, quando se anunciava a derrama, um imposto de 20% do

valor doouro retirado, eclodiu em Ouro Preto a Inconfidência Mineira. A

revolta que partiu da elite de Minas Gerais fracassou e, em 1792, um dos

seus líderes, Tiradentes, foi enforcado.[91] Dez anos mais tarde seguiu-se

a Conjuração Baiana em Salvador, um movimento que partiu da camada

humilde da sociedade da Bahia, com grande participaçãode negros, mulatos e alfaiates, por isso também é conhecida como Revolta

dos Alfaiates, que pregavam a libertação dos escravos, a instauração de um

governo igualitário com a instalação de uma República na Bahia, que seria

detida em 12 de Agosto de 1798. Estes dois movimentos manifestavam já a

intenção de proclamar a independência, inspirados nos

ideais iluministas da França e na recente independência norte-americana.

Mudança da Corte e Independência do Brasil (1807-1825)

 

Primeira Carta Régia, de 1808, com oDecreto de Abertura dos Portos àsNações Amigas.

Em Novembro de 1807, refugiando-se das tropas de Napoleão Bonaparte, a

coroa portuguesa mudou-se para o Brasil. Dom João VI chegou ao Rio de

 Janeiro em 1808 com uma comitiva de 15.000 pessoas, após uma aliança

secreta com a Inglaterra, que acordou pôr a salvo a família real e o governo

português, escoltando os navios no caminho.[92] Instalaram-se no Paço da

Cidade, residência dos governadores desde 1743.

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Quatro dias após a chegada, ainda na Bahia, o Príncipe assinou a primeira

carta régia com o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas,

acabando com o Pacto colonial, que estabelecia o monopólio de comércio do

Brasil com Portugal. Os portos brasileiros foram então abertos às nações

amigas - como a Inglaterra).[92] Foi permitida a importação "de todos equaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportadas em navios

estrangeiros das potências que se conservavam em paz e harmonia com a

Real Coroa" ou em navios portugueses, numa tentativa de diminuir, abrindo

os portos, a total dependência de Portugal da Inglaterra. Esta abertura foi

acompanhada por uma série de melhoramentos, decretados por carta régia:

depois do comércio, chegou "a liberdade para a indústria", a criação

da Imprensa Nacional e de uma Fábrica de Pólvora,[93][94] que desde 1540 era

fabricada na Fábrica da Pólvora de Barcarena.[95]

Em 12 de outubro foifundado o Banco do Brasil para financiar as novas iniciativas e empreitadas.

Como represália à França, D. João ordenou a invasão e anexação da Guiana

Francesa, no extremo norte, e da banda oriental do rio Uruguai, no extremo

sul. O primeiro território seria devolvido à soberania francesa em 1817, mas

o Uruguai foi mantido sob o nome de Província Cisplatina.

 

Bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

Em 16 de dezembro de 1815, no contexto das negociações do Congresso de

Viena, o Brasil foi elevado à condição de Reino dentro do Estado português,

com a designação "Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves". O Rio de

 Janeiro tornou-se Corte e capital e as antigas capitanias passaram a ser

denominadas províncias. Nesse ano morreu a rainha Maria I e D. João VI foicoroado rei. Deu ao Brasil como brasão-de-armas a esfera manuelina com as

quinas, já presente em moedas da África portuguesa (1770).

Em Janeiro de 1821, após a (revolução liberal portuguesa de 1820), foram

instauradas em Portugal as "Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da 

Nação Portuguesa" encarregadas de elaborar uma constituição. Em

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Fevereiro, D. João VI ordenou que deputados do Brasil, bem como dos

Açores, Madeira e Cabo Verde participassem na assembleia. No Rio, um

decreto comunicou o retorno do rei a Portugal e ordenou que, «sem perda de

tempo», fossem realizadas eleições dos deputados para representarem o

Brasil nas "Cortes Gerais" convocadas em Lisboa.

O Brasil elegeu 81 representantes para as Constituintes em Lisboa. Em Abril

chegaram a Lisboa Maciel Parente e Francisco Moniz Tavares, deputados da

 Junta do Pará e de Pernambuco, os primeiros brasileiros a discursar

oficialmente na Assembleia,[96] em vivo debate, com os deputados

portugueses Borges Carneiro e Ferreira Borges e Moura, contra a remessa de

mais tropas para Pernambuco e a incômoda presença da numerosa

guarnição militar portuguesa na província.[96] No Rio, a primeira assembléia

de eleitores do Brasil resultou em confronto com mortos, com tropasportuguesas a dissolveram a manifestação. No dia seguinte, cariocas

afixaram à porta do Paço um cartaz com a inscrição "Açougue do Bragança",

referindo-se ao Rei como carniceiro. D. João VI partiu para Portugal cinco dias

depois, em 16 de abril de 1821, deixando seu primogénito Pedro de

Alcântara como Príncipe-Regente do Brasil. Em Agosto de 1821 as Cortes

apresentaram três projetos para o Brasil com medidas que estes se

recusavam a aceitar.

 

Império Português em 1822.

Em Janeiro de 1822, a secessão do Brasil seria impulsionada e anunciada

informalmente pelo príncipe herdeiro D. Pedro, com a declaração de de que

iria permanecer no Brasil, no "Dia do Fico", com as seguintes palavras: Como

é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao

 povo que fico. Agora só tenho a recomendar-vos união e tranquilidade. Esta

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seria declarada no dia 7 de setembro a data do romantizado "grito do

Ipiranga".

Em 7 de setembro de 1822 Dom Pedro proclamou a independência e reinou

até 1831, como D. Pedro I, quando foi sucedido por seu herdeiro,Dom Pedro

II, que tinha apenas cinco anos.[97] Aos catorze anos em 1840, Dom Pedro

II teve sua maioridade declarada, sendo coroado imperador no ano seguinte.

No final da primeira década do Segundo Reinado, o regime estabilizou-se. As

províncias foram pacificadas e a última grande insurreição, a Revolta

Praieira, foi derrotada em 1849.

Com o reconhecimento por Portugal da declaração de independência do

Brasil, em 1825, mediante pagamento, Portugal fica obrigado a acentuar a

sua expansão territorial no interior da África a fim de manter-se a par com as

outras potências. A independência do Brasil, porém, criou uma imensa ondade choque emocional e material em Portugal, pois era o baluarte do Império,

símbolo de orgulho nacional.

Portugal Insular

Durante o reinado de D. João I, sob comando do Infante D. Henrique dá-se o

redescobrimento da ilha de Porto Santo por João Gonçalves Zarco em 1418 e

mais tarde da ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Trata-se de um

redescobrimento pois já havia conhecimento da existência das ilhas

da Madeira no século XIV, segundo revela a cartografia da época,

principalmente em mapas italianose catalães.

Eram então ilhas desabitadas que, pelo seu clima, ofereciam possibilidades

de povoamento e reuniam condições para a exploração agrícola. Os

arquipélagos da Madeira e das ilhas Canáriasdespertaram, desde cedo, o

interesse tanto dos Portugueses como dos Castelhanos; por serem vizinhos

da costa africana, representavam fortes potencialidades económicas, em

especial as Canárias, que tinham uma grande importância estratégica.

A disputa destes territórios deu origem ao primeiro conflito ibérico motivado

por razões expansionistas que terminaria com a assinatura do Tratado das

Alcáçovas-Toledo em 1479. Além de formalizar a paz entre Afonso V de

Portugal e os Reis Católicos, continha cláusulas concernentes à política

externa de dos dois reinos, que competiam pelo domínio do Oceano

Atlântico e das terras até então descobertas na costa africana: Portugal

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obtinha o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira,

o Arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto

que Castela recebia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao Sul do cabo

Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam. Regulamentava

também as áreas de influência e de expansão de ambas as coroas peloReino Oatácida de Fez, no Norte de África.

A Madeira

Para tentar evitar uma situação idêntica à das Canárias, perdidas

para Castela, logo em 1424 iniciou-se a colonização da Madeira adoptando

um sistema de capitanias. Inicialmente a Madeira

exportava cedro, teixo, sangue-de-dragão, anil e outros materiais tintureiros;

a partir de 1450 tornou-se um centro produtor de cereais.

Com a queda na produção cerealifera, o infante D. Henrique mandou plantar

na ilha da Madeira a cana-de-açúcar - rara na Europa e já tentada no Algarve

- promovendo, para isso, a vinda, da Sicília, da soca da primeira planta e dos

técnicos especializados. A partir de 1455 inicia-se uma florescente indústria

de açúcar. A acessibilidade da Madeira atraiu

comerciantes genoveses e flamengosinteressados em contornar o

monopólio Veneziano,[15] entres os quais pontuou o florentino Bartolomeu

Marchionni. A produção cresceu de tal forma que exigiu uma grande

necessidade de mão-de-obra. Para satisfazer esta carência foram levadospara a ilha escravos originários das Canárias, de Marrocos e, mais tarde, de

outras zonas de África.

"Em 1480 havia cerca de setenta navios envolvidos no comércio de açúcar 

da Madeira, com a refinação e distribuição concentrada em Antuérpia.

Em 1490 a Madeira tinha ultrapassado Chiprecomo um produtor de

açúcar."[15]

Mais tarde, cerca do século XVII, a cultura da cana-do-açúcar iria ser

promovida no Brasil - inicialmente comercializado como "açúcar da Madeira"- passando a Madeira a investir na produção dovinho.

Os Açores

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" A Cidade de Angra na Ilha de Jesus Cristo da Terceira...", porto de abrigodaarmada das ilhas ( Jan Huygen van Linschoten, 1596).

Em 1427, dão-se os primeiros contactos com o arquipélago

dos Açores por Diogo de Silves. Ainda nesse ano é descoberto o grupo

oriental dos Açores, (São Miguel e Santa Maria). Segue-se o descobrimento

do grupo central ( Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial). Em 1452 o

grupo ocidental (Flores eCorvo) é descoberto por João de Teive.

Para que os colonos pudessem cultivar as terras foi necessário desbastar

densos arvoredos que proporcionavam matéria-prima para exportação. A

exportação de madeiras para produção escultórica e construção naval,

o cedro-do-mato e o teixo, o cultivo de cereais e a criação de gado foram as

actividades predominantes, com o trigo. Para além do trigo, de que Portugal

era cronicamente carente, cedo canalizado para as então praças

portuguesas das conquistas do norte de África, em

especial Mazagão e Ceuta, a cultura do pastel e a apanha da urzela para

tinturaria deram origem a um activo comércio com os portos da costa

europeia, em especial com Portugal e a Flandres, atingindo o seu auge

quando a produção de cana-de-açúcar, tentada sem grandes resultados, e

de trigo entraram em decadência.

Os arquipélagos dos Açores e da Madeira, territórios desabitados até à altura

do seu descobrimento, foram colonizados desde o início do século XV, tal

como o sul do Continente Português, maioritariamente por portugueses,

embora também com alguns estrangeiros europeus, maioritariamenteflamengos e italianos. A presença de grande número deflamengos nas ilhas

do Grupo Central levou a que aquelas ilhas fossem durante muitos anos

conhecidas por "ilhas flamengas" (em inglês "Flemish islands") na cartografia

oriunda do norte europeu. A presença nas ilhas de flamengos e alemães,

entre os quais o cosmógrafo Martin Behaim, contribuiu para algum

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cosmopolitismo da vivência insular de então, em particular no Grupo Central.

Entre os povos que vieram para os Açores estavam os cristãos-

novos, judeus convertidos forçadamente ao catolicismo que emigraram do

continente europeu para adquirirem terras e escaparem da perseguição

religiosa.

O progresso das ilhas deveu-se à importância como escala da

chamada Carreira da Índia, apoiando as naus que regressavam na "volta do

mar". No porto de Angra do Heroísmo eram reabastecidas e reaparelhadas

as embarcações carregadas de mercadorias. Por essa razão desde as

primeiras décadas do século XVI aqui foi instalada a Provedoria das

Armadas, para apoiar a chamada Armada das ilhas. A cidade teve parte

activa à época da Crise de sucessão de 1580 resistindo ao domínio

Castelhano, apoiando António I de Portugal que aqui estabeleceu o seugoverno, de 5 de Agosto de1580 a 6 de Agosto de 1582. Posteriormente, no

contexto da Dinastia Filipina, serviu de porto aos galeões espanhóis

carregados de ouro e prata, oriundos das "Índias Ocidentais", numa rota que

se estendia de Cartagena das Índias, passava por Porto Rico e por Angra, e

alcançava Sevilha. Em 1641, o modo como expulsou os espanhóis

entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil valeu-lhe o título de "Sempre

leal cidade", outorgado por João IV de Portugal.

Sujeitas desde o início ao regime senhorial, tal como o resto do país, as Ilhasforam integradas na estrutura centralizada do Reino pelo Marquês de

Pombal, no sc. XVIII, quando extinguiu esse regime senhorial e instituiu as

capitanias-gerais, antecessoras dos distritos autónomos do liberalismo

oitocentista.

Com efeito, nos Açores as capitanias donatárias haviam sido extintas

em 1766, anterioremente ao dos restantes senhorios do Continente, ficando

a autoridade do Governo centralizada no capitão-general, com sede

em Angra. A 26 de Janeiro de 1771 os Açores foram oficialmente declaradosprovíncia de Portugal.

As ilhas portuguesas tornaram-se constitucionalmente, em 1976, regiões

autónomas de Portugal, Estado unitário, não podendo ser consideradas

partes do Império, que tanto aliás ajudaram a colonizar.

Descolonização (séc. XX)

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Colônias portuguesas no século XX, as datas representam a perda doterritório.

No Oriente, a resistência à dominação portuguesa manifestou-se no contexto

da descolonização europeia. Após a independência indiana concedida

pelos britânicos, em 1947, Portugal recusou-se a aceder ao pedido

da Índia para rescindir a sua posse. A atitude era condenada pelo Tribunal

Internacional e pela Assembleia das Nações Unidas que se pronunciou a

favor da Índia. Em 1954, após a descolonização francesa Pondicherry,

a União Indiana anexou os territórios de Dadrá e Nagar Haveli, que

desde 1779 faziam parte doEstado Português da Índia. A Índia impediu

Portugal de deslocar militares para a sua defesa, acabando por anexar

formalmente os enclaves, após vários protestos pacíficos, com o governo

português liderado por António de Oliveira Salazar a recusar-se a negociar.

Em Dezembro de 1961, a União Indiana invadia os territórios de Goa, Damãoe Diu. De 18 para 19 de Dezembro de 1961 uma força de 40.000 soldados

a Índia independente conquistou Goa, numa acção armada - feita por terra,

ar e mar, que durou cerca de 36 horas - acabou com o domínio Português de

451 anos em Goa encontrando pouca resistência, e integrou o Estado

Português da Índia no seu território. E no ano seguinte tomava a Ilha de

Angediva. À época, o Conselho de Segurança da ONU considerou uma

resolução que condenava a invasão, o que foi vetado pela União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas. A maioria das nações reconheceram a

acção da Índia, no entanto, Salazar recusava-se a reconhecer a soberania

indiana sobre os territórios, mantendo-os representados naAssembleia

Nacional até 1974, altura em que se deu a Revolução dos Cravos. A partir de

então, Portugal pôde restabelecer as relações diplomáticas com a Índia,

começando pelo reconhecimento da soberania indiana sobre o antigo Estado

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Português da Índia. No entanto, aos seus habitantes que o pretendessem foi

dada a possibilidade de manterem a cidadania portuguesa.

Em 1961, um movimento antiportuguês manifestou-se em Angola com o

surgimento de dois partidos de luta armada, o Movimento Popular de

Libertação de Angola (MPLA) e a União dos Povos de Angola (UPA), iniciando

a Guerra Colonial Portuguesa. Em Moçambique, as operações de guerrilha

começaram em 1964. Após a morte de Salazar, Portugal aceitou conceder,

em 1972, a autonomia à Angola e a Moçambique. Após a Revolução dos

Cravos na metrópole (1974), a situação colonial dos dois países degradou-se

rapidamente e os portugueses concordaram em conceder aindependência às

suas colónias em 1975. Em Moçambique, a Frente de Libertação de

Moçambique (FRELIMO) toma o comando do país, enquanto a guerra civil

angolana, que divide as forças de libertação, conduzem rapidamente aodespedaçamento e à ruína dum país em pleno desenvolvimento e rico

em petróleo, diamantes, ferro e café.

O processo de descolonização é próximo na Guiné, onde os portugueses se

mostram incapazes de travar o aumento das hostilidades e reconheceram

rapidamente a independência da Guiné-Bissau(1974) e de Cabo

Verde (1975). No mesmo ano, as ilhas de São Tomé e Príncipe acederam

igualmente à independência.[98]

 

Cerimónia da Transferência da Soberania de Macau para a República Popular

da China, decorrida nos primeiros momentos da madrugada do dia 20 deDezembro de 1999.

 Timor-Leste proclamou unilateralmente a sua independência em 1975, mas

foi anexado no mesmo ano pela Indonésia. Consequentemente, esteve sob

administração indonésia até ao referendo de 1999, seguida da administração

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provisória da ONU até 2002, quando Portugal reconheceu a sua

independência.

A descolonização de Macau foi feita de um modo diferente e especial e teve

começo após a Revolução dos Cravos, quando foi proposta o seu retorno

imediato à República Popular da China, retorno esse rejeitado por aquele

grande país comunista. Em 1976, esta colónia passou oficialmente a ter o

estatuto especial de "território chinês sob administração portuguesa".

Em 1987, após intensas negociações, na declaração conjunta sino-

portuguesa Portugal aceitou a recuperação pela China, no dia 20 de

Dezembro de 1999, da soberania sobre Macau. Em contrapartida, a China

prometeu conservar as especificidades de Macau, incluindo o seu sistema

económico de carácter capitalista, e conceder um elevado grau de

autonomia para a população de Macau, seguindo o princípio de "um país,dois sistemas". Após o retorno à China, Macau passou a ser uma Região

Administrativa Especial, administrada por suas gentes, mas mais

concretamente dirigida por um Chefe do Executivo (entretanto eleito

por sufrágio indirecto) e uma Assembleia Legislativa (somente menos de

metade dos seus membros entretanto são eleitos pelo sufrágio directo,

dando por isso uma

Fim do Império

Existem várias datas que podem ser consideradas como as do fim do ImpérioPortuguês. Pode considerar-se o fim de jure - marcado pelo reconhecimento

do mesmo - e o fim de facto - marcado pela independência das possessões

coloniais. A título de exemplo, existem pelo menos três datas referentes

à independência do Brasil, a maior possessão colonial portuguesa de

sempre. No Brasil, oficialmente, é comemorado o 7 de

Setembro de 1822 como o dia da independência, data em o príncipe real D.

Pedro deu o Grito do Ipiranga. No entanto, formalmente, é a data de 1 de

dezembro de1822 - dia da coroação de D. Pedro I como Imperador - que selaa independência política unilateral do novo Império do Brasil. No estado

da Bahia é comemorado o dia 2 de julho de 1823, como aIndependência da

Bahia, quando as últimas tropas portuguesas são retiradas do território

brasileiro. Por fim, também se pode considerar a data de 29 de

agosto de 1825, uma vez que foi então quePortugal e a comunidade

internacional, reconheceram a independência do Brasil.

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Assim sendo, e seguindo esta lógica, pode-se afirmar que o "fim" de facto do

Império Português ocorreu em 1975, quando as suas colónias proclamaram

em massa a sua independência e/ou viram a sua independência reconhecida

por Portugal, ou ainda quando Timor-Leste, que proclamou unilateralmente

nesse mesmo ano a sua independência, foi imediatamente invadido eocupado pelaIndonésia. Macau foi o único que não proclamou a sua

independência em 1975, mas esta possessão colonial, encravada em terras

chinesas, possui uma situação colonial peculiar e única no Império Português

e por isso, o seu caso deve ser analisado de uma maneira diferente e

especial.[99]

Mas, também se pode considerar o "fim" oficial ou de jure do Império

Português em 1999, mais precisamente no dia 20 de Dezembro de 1999,

quando Macau, o último território sob a sua administração, foi finalmentedevolvido na sequência da declaração conjunta de 1987 e passou para a

soberania da República Popular da China como região administrativa

especial, que sempre defendeu que Macau era, desde os tempos mais

remotos, um território inalienável da China, mas ocupado gradualmente por

Portugal desde o século XVI.

Pode-se ainda afirmar que o verdadeiro "fim" oficial ocorreu em 2002,

quando Portugal, num acto simbólico, reconheceu a independência, e

portanto, a soberania de Timor-Leste, que foi libertada da ocupaçãoindonésia em 1999.

Legado

 

Mapa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Sete das ex-colónias de Portugal, hoje países independentes, têm hoje

o português como sua língua oficial. Juntamente com Portugal, são agora

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membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que, quando

combinada, totaliza de 10 742 000 km², ou 7,2% do território da Terra.[100] A Guiné Equatorial, que adoptou o português como seu terceiro idioma

oficial, é atualmente um observador associado da CPLP, junto

com Maurícia e Senegal. Além disso, doze países ou regiões candidatassolicitaram a adesão à CPLP e estão aguardando aprovação.

Hoje, o português é uma das principais línguas do mundo, sendo o 6º idioma

mais falado, com cerca de 240 milhões de falantes em todo o mundo.[101] É a

terceira língua mais falada nas Américas, principalmente devido ao Brasil,

embora haja também comunidades significativas de lusófonos em países

como Canadá, Estados Unidos e Venezuela. Além disso, existem

inúmeras línguas crioulas de base portuguesa, incluindo o utilizado pela

população da Comunidade Cristang em Malaca.[102] É também a língua-francaem muitas antigas possessões coloniais em África e a língua oficial em 8

países, sendo também a língua co-oficial junto com o cantonês na região

administrativa de Macau. Deixou a sua influência no Japão, com

diversas palavras de origem portuguesa no léxico japonês. A presença

em Malaca, na Malásia, deu origem à comunidade Cristang. No Sri Lanka,

antigo Ceilão, aos chamados Burghers portugueses que, como muitos outros

povos, mantêm vivo um de várioscrioulos de base portuguesa.

No ciberespaço, estima-se que o português seja a sétima língua maisutilizada da Internet e na Wikipedia, tem actualmente, a nona maior

quantidade de artigos publicados.[101]

Em função da sua importância internacional, Portugal e Brasil estão

liderando um movimento para incluir o português como uma das línguas

oficiais da Organização das Nações Unidas.[103]

A presença portuguesa deixou também uma vasta herança humana,

gastronómica, cultural e arquitectónica em vários continentes, um legado

extraordinário, sabendo-se que o total da população portuguesa eraem 1527 de apenas 1,2 milhão de habitantes.[104]