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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA TESE DE DOUTORADO Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas Uma Abordagem Epistemológica sobre Sínteses Naturalistas Lucas Costa De Souza Cavalcanti Recife, 2013

Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas Lucas... · Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas ... solos, seres vivos, água ... Características e Critérios

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

TESE DE DOUTORADO

Da Descrição de Áreas à Teoria dos Geossistemas Uma Abordagem Epistemológica sobre Sínteses Naturalistas

Lucas Costa De Souza Cavalcanti

Recife, 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

TESE DE DOUTORADO

DA DESCRIÇÃO DE ÁREAS À TEORIA DOS GEOSSISTEMAS: UMA ABORDAGEM

EPISTEMOLÓGICA SOBRE SÍNTESES NATURALISTAS

Tese apresentada por Lucas Costa de

Souza Cavalcanti, sob orientação dos

Drs. Antonio Carlos de Barros Corrêa e

Gregory Anatolievich Isachenko, como

parte dos requisitos para obtenção do

grau de Doutor em Geografia.

Recife, 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS - DCG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO

LUCAS COSTA DE SOUZA CAVALCANTI

“DA DESCRIÇÃO DE ÁREAS À TEORIA DOS GEOSSISTEMAS: UMA

ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA SOBRE SÍNTESES NATURALISTAS”.

Tese aprovada, em 29/10/2013, pela comissão examinadora:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa

(1º examinador – orientador – DCG/UFPE)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Archimedes Perez Filho

(2º examinador – Geografia/Unesp Rio Claro-SP)

____________________________________________________________

Profa. Dra. Danielle Gomes da Silva

(3º examinador – Geografia/UFAL)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Ranyére Silva Nóbrega

(4º examinador – DCG/UFPE)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Bertrand Roger Guillaume Cozic

(5º examinador – DCG/UFPE)

RECIFE – PE 2013

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Para Nayane e a pequena Valentina.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, por seu infinito amor e pela graça imerecida.

À minha família, pelo apoio incondicional, sem o qual este trabalho não existiria.

Ao Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa, por toda ajuda e pela oportunidade única de

conversar sobre geografia.

Ao Dr. Gregory Anatolievich Isachenko, pelo apoio constante, hospitalidade e paciência.

Aos Drs. Osvaldo Girão da Silva e José Coelho de Araújo Filho, por toda ajuda com a

avaliação deste trabalho.

Aos meus amigos e colegas, pelo auxílio e paciência, em especial a Christianne Farias da

Fonseca, Adriana Cassiano, Alcindo Sá, Célia Machado, Daniel Rodrigues, Diogo Galvão,

Geislam Lima, Hewerton Silva, Larissa Rafael, Marlla Araújo, Olga Koresheva, Pieter

Vranckx, Roberto Parahyba, Ronaldo Missura.

Às Sras. Paula Melo Rêgo Barros e Rossana Sette Melo Rêgo, por cederem informações

acerca da vida e obra do Professor Hilton Sette.

À Dra. Dali Nikolaishvili pelo apoio e esclarecimentos sobre a proposta georgiana de

Geografia.

Ao Dr. Timothy F. H. Allen, pelo esclarecimento sobre a ideia de complexidade.

Ao Dr. Leonaldo Alves Andrade, pela ajuda com sua tese.

Ao Instituto Chico Mendes da Biodiversidade e à administração do Parque Nacional do

Catimbau, em especial ao Sr. Francimar Júnior, ao Sr. José Gildo Siqueira dos Santos e à Sra.

Francilda Andrade dos Santos e família, por toda ajuda e hospitalidade.

Ao Sr. Joaquim e família (Alcobaça), ao Sr. Roberto e família (Vila do Puiú), à Sra. Angelita

e seu marido (Serra do Catimbau), à Dona Francisca, sempre amiga, ao Sr. José Praxedes e

família, à Sra. Roseane, sua família e o povo Kapinawá da Ponta da Vargem por todo apoio e

hospitalidade;

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, por acolher e fomentar o desenvolvimento

deste trabalho.

À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco, pela concessão da

bolsa de doutorado.

A todos que contribuíram direta e indiretamente a este trabalho.

Muito obrigado.

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Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça

todos os mistérios e toda a ciência; ainda que tenha

tamanha fé, a ponto de transportar os montes, se eu

não tiver amor, nada serei.

1 Coríntios 13:2.

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RESUMO

Ecossistemas, geossistemas, regiões naturais, ecorregiões, paisagens, biomas, complexos

biogeocenóticos, complexos territoriais naturais e tantos outros termos representam, nas

acepções de distintos autores, a ideia de que existe uma ordem natural promovendo a

organização da superfície terrestre a partir das relações entre seus elementos constituintes

(rochas, solos, seres vivos, água, etc.) e alguns externos (sol, movimentos orbitais, atividade

interna do planeta). O conceito genérico de áreas naturais, como categoria de estudo da

Geografia, e como produto de sínteses naturalistas é objeto deste trabalho. Fazendo uso de

uma abordagem epistemológica, investigamos a estrutura, origens, desenvolvimento e

aplicabilidade do conceito de áreas naturais, tendo como objetivo promover o entendimento

da ideia de áreas naturais como categoria chave da Geografia. Inicialmente procuramos

identificar os elementos estruturantes das sínteses naturalistas, entendidas como sistemas de

gestão da informação sobre a natureza na superfície terrestre. Para tanto, comparamos

exemplos de sínteses propostas para o Estado de Pernambuco. Em seguida, buscou-se

entender as origens e desenvolvimento do conceito de áreas naturais a partir de uma

abordagem historiográfica. Posteriormente, apresentamos aspectos fundamentais da teoria dos

geossistemas como estudo de áreas naturais e perspectivas de sua difusão no Brasil. Neste

momento, foram revelados diversos erros comuns à interpretação da referida teoria no nosso

país. Com base na teoria em questão foram aplicadas técnicas de diferenciação de

geossistemas locais inferidos por geoprocessamento e descrições físico-geográficas em

campo, suportadas adicionalmente por estudos prévios sobre os condicionantes geológico-

geomorfológicos e climáticos sobre as paisagens. A área de estudo escolhida foi o Parque

Nacional do Catimbau (Nordeste do Brasil). Por fim, esta tese de doutorado apresenta muitas

informações até então desconhecidas para a geografia brasileira, além de mostrar, com o

exemplo empírico das paisagens do Catimbau, muitos enganos na interpretação do potencial

da teoria dos geossistemas para estudos detalhados das áreas naturais. Deste modo, são

fornecidos fundamentos para o desenvolvimento de uma geografia física integrada no nosso

país, sobretudo a partir da consolidação do conceito de geossistema/área natural como

categoria de estudo.

Palavras-chave: Epistemologia da Geografia; Geografia Física; Sínteses Naturalistas; Teoria

dos Geossistemas; Parque Nacional do Catimbau.

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ABSTRACT

Ecosystems, geosystems, natural regions, ecoregions, landscapes, biomes, biogeocenotic

complexes, natural territorial complexes and other words synthetize for different authors the

idea that there is a natural order promoting the organization of the Earth surface based on the

relationship between its inner elements (rocks, soils, landforms, animals, plants, etc.) and

some external ones (solar radiation, orbital cycles, core activity). The concept of natural area

as a geographical category and the product of a naturalist synthesis is the object of this work.

Based on an epistemological approach, the structure, origins, development and applicability

of the natural areas concept were investigated, aiming at promoting the understanding of the

natural areas idea as a key category within geography. Initially, it was sought to identify the

structuring elements of naturalistic synthesis, taken as Earth surface nature management

systems. For this purpose, examples of synthesis proposed for the State of Pernambuco were

compared. Following, it was sought to understand the origins and the evolution of the concept

of natural areas based on a historiographic approach. Later, the fundamental aspects of the

geosystems theory, as a natural areas study proposal, and perspectives on its diffusion in

Brazil, were presented. At this stage, some common interpretation mistakes of this theory

usage in our country were presented. Based on the premises of this theory, local geosystems

differentiation tecniques were applied to a chosen area, by means of GIS and field physico-

geographical descriptions, yet supported by geomorphological and climatic conditioning. The

chosen study area was Catimbau National Park (Northeast of Brazil). Finally, this doctorate

thesis presents several information unknown to this date to Brazilian geography, as well as

point out, based on the empirical example of Catimbau landscapes, several interpretation

mistakes regarding the potential of geosystems theory for the detailed study of natural areas.

Thus, the fundaments for the development of an integrated physical geography of our country

are put forward, mainly following the consolidation of the geosystem/natural area concept as

a study category.

Keywords: Epistemology of Geography; Physical Geography; Naturalist Synthesis;

Geosystems Theory; Catimbau National Park.

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Lista de Ilustrações

Figura 1. Diferentes limites traçados para o Planalto da Borborema. ...................................... 26

Figura 2. Vegetação do Estado de Pernambuco. ...................................................................... 31

Figura 3. Associação entre solos, declividade e água no Nordeste do Brasil........................... 34

Figura 4. Domínios de Natureza do Brasil................................................................................

Figura 5. Grupos de Paisagens do Nordeste do Brasil. ............................................................ 39

Figura 6. Unidades da Regionalização Geoecológica (à esq.) e Tipos Geoecológicos. ........... 39

Figura 7. Unidades de Paisagem do Zoneamento Agroecológico do Nordeste. ...................... 42

Figura 8. Unidades de Paisagem do Zoneamento Agroecológico de Pernambuco. ................. 43

Figura 9. Unidades Geológico-Ambientais do Estado de Pernambuco, com detalhe para a

região do Parque nacional do Catimbau. .................................................................................. 44

Figura 10. Compartimentos de Relevo do Estado de Pernambuco. ......................................... 46

Figura 11. Domínios e Unidades Geológico Ambientais e Formas de Relevo Associadas na

região do Parque Nacional do Catimbau. ................................................................................. 47

Figura 12. Ecorregiões do Estado de Pernambuco. .................................................................. 49

Figura 13. Regiões Ecológicas do Nordeste. ............................................................................ 49

Figura 14. Sistema Bisserial para Determinação de Áreas Naturais pelo Método das Forças

Motrizes. ................................................................................................................................... 52

Figura 15. Propriedades da Geografia Particular de uma região. ............................................. 63

Figura 16. 1 a 10 (fácies ao longo de uma seção), A-Г (diferenças no substrato). .................. 83

Figura 17. Estrutura dos Tratos. I, II e III indicam Tratos; IIa, IIb, IIIa e IIIb indicam

Subtratos.Os valores entre 1 e 9 indicam Fácies. ..................................................................... 84

Figura 18. Esquema de diferenciação de uma Localidade como uma unidade morfológica de

uma paisagem. I – Localidade com Tratos em vales úmidos; II – Localidade com Tratos em

vales secos. ............................................................................................................................... 85

Figura 19. Mapa da Paisagem de Drokovski a SW de Moscou (margem direita do rio Iput)..87

Figura 20. Características e Critérios para Identificação de Unidades Zonais e Azonais. ....... 87

Figura 21. Sistema Taxonômico de Unidades Físico-Geográficas Regionais.......................... 88

Figura 22. Geofácies, geohorizontes e distribuição da geomassa. ........................................... 97

Figura 23. Correspondência de termos em Bertrand e Sochava. .............................................. 98

Figura 24. Subdivisão Taxonômica dos Geossistemas. .......................................................... 100

Figura 25. Exemplos de Geômeros Planetários e Regionais. ................................................. 101

Figura 26. Fragmento de Carta de Geossistemas do Sul da Sibéria. ...................................... 101

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Figura 27. Exemplos de Geócoros Planetários e Regionais. .................................................. 103

Figura 28. Localização do Parque Nacional do Catimbau, Estado de Pernambuco (Nordeste

do Brasil). ............................................................................................................................... 114

Figura 29. A – Formas de relevo residuais emergindo dos mantos arenosos na borda da Bacia

Sedimentar do Jatobá. ............................................................................................................. 115

Figura 30. Imagens de alta resolução utilizadas para correlação visual. ................................ 118

Figura 31. Localização do Parque Nacional do Catimbau na Bacia do Jatobá. ..................... 119

Figura 32. Esquema da Evolução da Borda da Bacia Sedimentar do Jatobá. ........................ 119

Figura 33 . Endurecimento de óxidos de ferro (A), Rachaduras poligonais (B) e, Formas de

dissolução (C) no Arenito Tacaratú. ....................................................................................... 120

Figura 34. Principais Estruturas na Região do Parque Nacional do Catimbau. Linhas indicam

falhas e zonas de cisalhamento. Linhas tracejadas indicam falhas inferidas.......................... 122

Figura 35. Serra do Quiridalho e Lagoa do Puiú (Estação Seca). .......................................... 123

Figura 36. Localização dos Perfis Geomorfológicos na Borda da Bacia do Jatobá. .............. 124

Figura 37. Perfil A-B (Sentido NW-SE), apresentando o Horst Buíque. ............................... 125

Figura 38. Perfil C-D (Sentido SW-NE). ............................................................................... 125

Figura 39. Perfil E-F (Sentido WNW-ESE). Representa a configuração geral das

morfoestruturas e do modelado na área do Parque e seu entorno próximo. ........................... 126

Figura 40. Unidades Morfoestruturais e Geomorfológicas do Parque Nacional do Catimbau.

................................................................................................................................................ 126

Figura 41. Paisagens da Borda Leste da Bacia Sedimentar do Jatobá. .................................. 127

Figura 42. Blocos Partidos (A, C) e Caídos na Base do Escarpamento Leste........................ 128

Figura 43. Classes e Subclasses de Paisagens do Parque Nacional do Catimbau. ................. 132

Figura 44. Estimativa Espacial de Superfícies. ...................................................................... 134

Figura 45. Isoietas do Parque Nacional do Catimbau e Arredores. ........................................ 141

Figura 46. Pluviosidade Mensal de Postos em Isoietas abaixo de 600mm. ........................... 142

Figura 47. Pluviosidade Mensal dos Postos em Isoietas acima de 600mm. ........................... 142

Figura 48. Contraste da Pluviosidade entre os Postos de Buíque (798m) e do Amaro (475m).

................................................................................................................................................ 143

Figura 49. Relação entre Altitude e Pluviosidade entre os Postos do Amaro e de Buíque. ... 144

Figura 50. Área Ocupada por Classes de Mudança Sazonal na Pigmentação Foliar no Parque

Nacional do Catimbau (%). .................................................................................................... 144

Figura 51. Mapa de Mudança Sazonal da Pigmentação Foliar. ............................................. 145

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Figura 52. Perfil 1: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.

................................................................................................................................................ 146

Figura 53. Perfil 2: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.

................................................................................................................................................ 147

Figura 54. Valores de Ganho do Perfil 2 Isolados. ................................................................. 147

Figura 55. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF. ................................................. 148

Figura 56. Perfil1: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF). .......................... 149

Figura 57. Correlação entre Fenologia (à esq.), Pluviosidade e Geomorfologia (à dir.) na

Porção SE do Parque. ............................................................................................................. 149

Figura 58. Perfil2: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF). .......................... 150

Figura 59. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF. ................................................. 151

Figura 60. Paisagens do Parque Nacional do Catimbau. ........................................................ 152

Figura 61. Definição dos Geossistemas pelo cruzamento dos Limites dos Sítios e dos Estados.

................................................................................................................................................ 155

Figura 62. Nomenclatura de Sítios Paisagísticos. .................................................................. 156

Figura 63. Fluxograma para Definição de Sítios. ................................................................... 156

Figura 64. Segmentos de Encosta. .......................................................................................... 158

Figura 65. Fluxograma para Determinação da Gênese do Substrato. .................................... 159

Figura 66. Modos de Migração Geoquímica. ......................................................................... 160

Figura 67. Proposta de Nomenclatura para Grupos Estados. ................................................. 163

Figura 68. Fluxograma para Determinação dos Estados. ....................................................... 163

Figura 69. Etapas da Cartografia de Geossistemas................................................................. 164

Figura 70. Critérios para Descrição Físico-Geográfica. ......................................................... 165

Figura 71. Características das Descrições Físico-Geográficas Realizadas............................. 166

Figura 72. Distribuição das Descrições Físico-Geográficas Realizadas. ............................... 167

Figura 73. Matriz Hipotética de Dados Ambientais Observados no Campo.......................... 168

Figura 74. Quadro de Correlação dos Dados Ambientais para determinação dos Geossistemas.

................................................................................................................................................ 168

Figura 75. Seção Esquemática da Paisagem no Perfil Xilili. ................................................. 170

Figura 76. Paisagem no Xilili. ................................................................................................ 171

Figura 77. Diferentes Espécies de Cnidoscolus que Ocorrem em Substratos Distintos. ....... 172

Figura 78. Paisagem do Brejo de São José. ............................................................................ 173

Figura 79. Transição Abrupta entre Conjuntos Paisagísticos. ................................................ 174

Figura 80. Transição Suave de Conjuntos Paisagísticos. ....................................................... 175

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Figura 81. Espécies Dominantes para o Sítio Alcobaça e o Brejo de São José...................... 176

Figura 82. Mapa de Geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça......................................175

Figura 83. Paisagem da Serra do Catimbau. ........................................................................... 178

Figura 84. Faixa Paisagística Altitudinal da Porção SE do Parque Nacional do Catimbau. .. 179

Figura 85. Sítios Paisagísticos do Parque Nacional do Catimbau. ......................................... 181

Figura 86.Estados do Parque Nacional do Catimbau..............................................................180

Figura 87. Grupos de Geocomplexos do Parque Nacional do Catimbau. .............................. 181

Figura 88. Unidades Geoambientais (acima) e Grupos de Geocomplexos (abaixo). ............. 182

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Dados Climáticos da Região do Parque Nacional do Catimbau............................. 135

Tabela 2. Características Pluviométricas da Data de Passagem do Satélite. .......................... 137

Tabela 3. Classificação para Mudanças Intra-anuais nos Valores de NDVI, intervalo de 1.. 139

Tabela 4. Anos Excluídos em Pela Ausência de Dados. ........................................................ 139

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................................... 18

Capítulo 1. Elementos para uma Compreensão Geral das Sínteses Naturalistas ............ 23

1 Introdução .......................................................................................................................... 23

1.1 Problematizando ............................................................................................................. 25

2 Metodologia ....................................................................................................................... 28

3 As Regiões Naturais de Vasconcelos Sobrinho e Hilton Sette .......................................... 29

4 As Paisagens do Brasil aos olhos de Aziz Nacib Ab’Saber............................................... 35

5 As Paisagens do Brasil conforme os Soviéticos ................................................................ 37

6 As Unidades Geoambientais: Detalhamento e Uso de Geotecnologias............................. 39

7 A Preocupação Conservacionista e as Ecorregiões ........................................................... 47

8 Estrutura Geral das Sínteses Naturalistas .......................................................................... 50

9 Conclusões ......................................................................................................................... 54

Capítulo 2. Origens e Desenvolvimento do Conceito de Áreas Naturais ........................... 56

1 Introdução .......................................................................................................................... 56

2 Aspectos metodológicos .................................................................................................... 57

3 Origem Intuitiva e as Contribuições Greco-Latinas .......................................................... 59

4 Bernard Varen e o Renascimento da Geografia Europeia ................................................. 61

5 Iluminismo, Enciclopedismo e História Natural ................................................................ 64

6 Humboldt, Dokuchaev e as Zonas Naturais ....................................................................... 69

7 Áreas Naturais: Entidades Reais ou Produto da Mente Humana? ..................................... 73

8 Conclusões ......................................................................................................................... 78

Capítulo 3. A Teoria dos Geossistemas: Aspectos Gerais e Perspectivas para sua Difusão

na Geografia Brasileira .......................................................................................................... 79

1 Introdução .......................................................................................................................... 79

2 Aspectos Metodológicos .................................................................................................... 80

3 Geossistemas em Bertrand e em Sochava .......................................................................... 81

3.1 Unidades Físico-Geográficas .......................................................................................... 82

3.1.1 Taxonomia dos Geossistemas Regionais ..................................................................... 91

3.2 Dimensão Espacial dos Geossistemas ............................................................................ 94

3.2.1 Geofácies, Geótopos e Tantos Outros Termos ............................................................ 95

3.3 Geossistemas no Tempo: Dinâmica e Evolução das Paisagens .................................... 104

4 O Estudo de Geossistemas pertence a qual área da Geografia? ...................................... 107

5 Conclusões ....................................................................................................................... 109

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16

Capítulo 4. Parque Nacional do Catimbau: Elementos Geológico-Geomorfológicos .... 112

1 Introdução ........................................................................................................................ 112

2 Metodologia ..................................................................................................................... 113

2.1 O Parque Nacional do Catimbau .................................................................................. 113

Fonte: o autor. ..................................................................................................................... 115

2.2 Análise Geológico-Geomorfológica ............................................................................. 116

2.3 Taxonomia das Paisagens ............................................................................................. 118

3 Resultados e Discussão .................................................................................................... 118

3.1 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas .............................................................. 130

4 Conclusões ....................................................................................................................... 131

Capítulo 5. Climatologia do Parque Nacional do Catimbau: Seus Condicionantes e seus

Efeitos sobre a Paisagem ...................................................................................................... 133

1 Introdução ........................................................................................................................ 133

2 Metodologia ..................................................................................................................... 133

2.3 Condicionantes sobre a Precipitação ............................................................................ 136

2.4 Efeito da Precipitação sobre a Fenologia ...................................................................... 136

2.4.1 Ano Climaticamente Regular para a Estação de Arcoverde (Pernambuco) .............. 139

2.4.2 Avaliando a Relação entre Pluviosidade e Fenologia ................................................ 140

2.5 Taxonomia dos Geossistemas ....................................................................................... 140

3 Resultados e Discussão .................................................................................................... 140

3.1 Pluviosidade Média Anual e Seus Condicionantes ....................................................... 140

3.2 Fenologia e Seus Condicionantes ................................................................................. 144

3.2.1 Relação Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF) ............................... 148

3.4 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas .............................................................. 152

4 Conclusões ....................................................................................................................... 152

Capítulo 6. Modelagem Cartográfica e Tipologia dos Geossistemas do Parque Nacional

do Catimbau .......................................................................................................................... 154

1 Introdução ........................................................................................................................ 154

2 Metodologia ..................................................................................................................... 154

2.1 Inferência por Geoprocessamento ................................................................................ 154

2.1.1 Definição dos Sítios ................................................................................................... 155

2.1.2 Definição dos Estados ................................................................................................ 161

2.2 Cartografia de Geossistemas e Descrições Físico-Geográficas .................................... 164

2.2.1 Processamento dos dados ........................................................................................... 166

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17

3 Resultados e Discussão .................................................................................................... 169

3.1 Perfil Puiú-Cumbe ........................................................................................................ 169

3.2 Perfil Xilili .................................................................................................................... 169

3.3 Brejo de São José e Sítio Arqueológico Alcobaça ....................................................... 172

3.4 Serra do Catimbau ........................................................................................................ 178

3.6 Carta de Geossistemas .................................................................................................. 180

4 Conclusões ....................................................................................................................... 185

Considerações Finais ............................................................................................................ 186

Referências ............................................................................................................................ 189

Apêndice A – Descrições de Campo ........................................................................................ 1

Apêndice B – Mapas Analíticos ............................................................................................... 7

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18

Introdução

De modo similar a tantas outras teses de doutorado, esta resulta de reflexões que

surgiram a partir de leituras iniciais, ainda no período da graduação, que no meu caso foi no

curso de Geografia. O desenvolvimento de tais leituras me despertou, inicialmente, o interesse

pela teoria dos sistemas e sua relação com a geografia, o que, invariavelmente me conduziu ao

conceito de geossistema.

O termo geossistema aparece originalmente num artigo intitulado “algumas noções e

termos da geografia física”, publicado no ano de 1963, pelo cientista russo Viktor Borisovich

Sochava. O significado atribuído ao termo o designa como uma área da superfície terrestre (de

qualquer dimensão) em que se possa distinguir um tipo de relações entre os componentes da

natureza, ou seja, é um conjunto de relevo, solo, biota, águas e ar, que possui uma integridade

em relação ao seu entorno, podendo assim, distingui-lo das áreas (geossistemas) adjacentes.

Aparentemente, este conceito é similar a muitos outros, a exemplo das noções de

muitos autores que assumem outros termos como: paisagem, ecossistema, bioma, ecorregião e

tantos outros, como nós já destacamos em outra oportunidade (Cf. Cavalcanti, 2010, p.35-36).

É claro que o grau de similaridade, entre o conceito de geossistema e os demais

mencionados (e outros mais), varia conforme as diversas designações dos autores e a

abrangência de suas conceituações. Por exemplo, em sua geografia de ecossistemas, Bailey

(2009) tem como unidade básica de análise o ecossistema, mas cita como trabalho similar

Isachenko (1973), que tem uma visão distinta em relação aos conceitos de ecossistema e

geossistema (Cf. Isachenko, 1991, p.20).

Entretanto, o signo de igualdade nas perspectivas de Bailey e Isachenko está no

produto de seus respectivos trabalhos e que configura o que chamaremos aqui de síntese

naturalista. Definimos síntese naturalista como qualquer trabalho que busque a

diferenciação de áreas com base nas relações entre os componentes da natureza, sejam eles

modificados/modulados pelas atividades da sociedade ou não.

Foi durante o meu trabalho de mestrado que tomei consciência das sínteses naturalistas

(CAVALCANTI, 2010). A curiosidade em relação a este tipo de atividade me levou a

enveredar pelos aspectos teóricos subjacentes a este tipo de trabalho, foi quando resolvi me

debruçar sobre sua estrutura, origem, seus métodos e a aplicabilidade das sínteses.

Considerando essa perspectiva, esta tese de doutoramento constitui um trabalho de

cunho essencialmente filosófico e geográfico. Tratando da epistemologia da Geografia, para

ser mais exato. Ou seja, o nosso interesse jaz nas concepções envolvidas com a prática das

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19

sínteses naturalistas, como estas concepções tem se transformado ao longo do tempo, qual a

sua validade e os modos como elas interferem e são interferidas pela prática.

Portanto, aqui trazemos um estudo da epistemologia das sínteses naturalistas. Trata-se

de um tema bem especializado e também interdisciplinar, pois não é um assunto que diz

respeito exclusivamente à geografia. A literatura ecológica, das ciências agrárias e florestais e

até da geologia apresentam inúmeros exemplos de sínteses naturalistas.

Neste sentido, este é um trabalho que não se restringe ao conceito de geossistema da

concepção de Sochava, que foi quem nos trouxe até aqui, mas abrange várias concepções

associadas aos termos bioma, ecorregião, ecossistema, paisagem, geoecossistema, unidades de

paisagem, unidades geoambientais e tantos outros similares. O termo e conceito de

geossistema foi o meio pelo qual chegamos à constatação das sínteses naturalistas e que,

agora, nos propusemos a estudar.

Em se tratando de um estudo epistemológico, duas preocupações estão subjacentes.

Uma delas envolve os processos pelos quais são concebidas as sínteses naturalistas e sobre o

quê elas se fundamentam. A outra concepção refere-se à extensão, ou os limites do

conhecimento referente às ditas sínteses (ou seja, o que elas nos permitem conhecer e o que

não).

No primeiro caso, a epistemologia guarda um profundo antagonismo entre duas

perspectivas distintas sobre os objetos estudados: uma empirista (conhecimento provém dos

sentidos) e outra racionalista (conhecimento provém da razão)1. Quanto aos limites do

conhecimento, também duas doutrinas genéricas são reconhecidas, o realismo (a crença de

que determinados objetos realmente existem, independentes de qualquer cognição sobre eles)

e o antirrealismo (que nega as teses realistas sobre determinados objetos ou proposições)1.

Neste trabalho, estudamos as sínteses naturalistas de um ponto de vista pouco

pretensioso em relação às perspectivas que envolvem seu estudo ou mesmo ao julgamento da

realidade ou não de seu objeto e proposições. Em vez disso, nos propomos a analisar as

práticas que têm sido desenvolvidas no âmbito daquilo que classificamos como sínteses

naturalistas, tendo como objetivo ampliar o conhecimento sobre elas.

Deste modo, desenvolvemos uma análise a partir do estudo de casos, ou seja, de um

universo amostral específico, relacionado a algumas propostas de síntese naturalista

elaboradas sobre o Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil), escolhido em função de

apresentar material mais acessível à consulta.

1 CHIBENI, S.S. Epistemologia: Noções introdutórias. Sem data.

Disponível em: <http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/epistemologia.htm> acesso em 30/04/2013.

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20

Inicialmente (capítulo 1), foram avaliadas características gerais de algumas das

sínteses naturalistas já elaboradas para o Estado de Pernambuco. Em se tratando de trabalhos

distintos e de épocas distintas, escolheu-se o critério da gestão da informação para avaliar as

propostas. Este critério foi estabelecido como um filtro para determinar as relações entre as

diversas propostas, partindo do pressuposto de que tais sínteses se constituem, em última

análise, como sistemas de gestão da informação sobre dados da natureza.

Um sistema de gestão da informação apresenta características particulares quanto à

obtenção, processamento, classificação e uso da informação (DAVENPORT, 1998).

Considerando as sínteses naturalistas como tais sistemas, pudemos compará-las entre si com

base nas características acima elencadas, o que nos auxiliou na determinação de elementos

estruturais genéricos das referidas sínteses.

Em seguida (capítulo 2), buscaram-se as origens dos elementos gerais descritos no

capítulo anterior, através de consulta a literatura especializada e de outras fontes que

auxiliassem num quadro geral do desenvolvimento da estrutura das sínteses naturalistas.

Neste sentido, foi realizada uma historiografia, que se baseou na compreensão dos contextos

em que surgiram os elementos estruturantes, enfatizando a variação das concepções (empírica,

racionalista, realista, antirrealista) relativas ao objeto e proposições das sínteses naturalistas.

Ainda no campo historiográfico (capítulo 3), um parêntese foi aberto para discutir a

ideia de geossistema no Brasil, como ela tem sido compreendida e interpretada e como a

nossa estrutura acadêmica tem se relacionado com ela, no sentido do valor que tem sido dado

às sínteses naturalistas e aos desdobramentos da teoria geossistêmica de Sochava. Assim

destacam-se as diferenças entre o contexto da geografia brasileira e o da geografia russo-

soviética, como elemento norteador para o entendimento de nossas diferenças acadêmicas e

até epistemológicas. Cabe salientar que, pela sua própria natureza, este capítulo deve ser lido

com cuidado, em função da grande quantidade de termos e acepções que são apresentados e

discutidos.

Entrando no campo de uma discussão metodológica (capítulos 4 e 5), a partir da

realização de uma síntese naturalista na área do Parque Nacional do Catimbau (no Estado de

Pernambuco), foram debatidos aspectos relevantes para a interpretação e representação das

áreas naturais (geossistemas). Com base nisso, é retomada a discussão dos limites e da

aplicabilidade das sínteses que nos propusemos a estudar.

Inicialmente (capítulos 4 e 5), foi discutida a determinação de contrastes paisagísticos

de dimensões regionais, a partir da relação entre fatores morfoestruturais e bioclimáticos. Em

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21

seguida (capítulo 6), são avaliadas perspectivas de cartografia de paisagens (geossistemas) em

nível de semidetalhe e detalhe.

Por fim, esperamos que este trabalho contribua não apenas com o aprofundamento na

compreensão sobre a epistemologia das sínteses naturalistas, mas que também sirva de base

para sua prática, visto que se trata de (e sempre esteve relacionado a) um conhecimento de

ordem prática para o planejamento territorial em suas múltiplas competências.

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22

1

“(...), há um contingente de timoneiros que vagueiam por mares mais revoltos. Estes reverenciam

profundamente as dinâmicas que enxergam manifestas na fenomenologia natural (os ares, os solos, as águas) e

terminam por dedicar-se ao que se convenciona chamar de métier da Geografia Física.” (REIS JÚNIOR;

PEREZ FILHO, 2009, p.62).

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Sobre a Estrutura e Origem das Sínteses Naturalistas e Perspectivas da

Difusão da Teoria dos Geossistemas no Brasil

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23

Capítulo 1

Elementos para uma Compreensão Geral das Sínteses Naturalistas

1 Introdução

No final do século 19, um conjunto de artigos publicados pelo historiador natural

Vasiliy Vasilievich Dokuchaev formaliza uma perspectiva teórica antiga, relacionada à

compreensão do espaço terrestre a partir da configuração geográfica derivada das interações

entre a natureza viva e não viva.

O conjunto destes artigos recebeu o nome de teoria das zonas naturais e refletia a

preocupação em explicar padrões geográficos resultantes do controle latitudinal (zonas

horizontais) e altitudinal (zonas verticais) sobre os climas, formas de relevo, drenagem, solos,

seres vivos, determinando assim, potenciais de uso da terra.

Posteriormente, a prática de reconhecimento e explicação destes padrões passa a ser

tratada como objeto de disciplinas que receberam nomes diversos, a saber: Ciência da

Paisagem (PASSARGE, 1913; BERG, 1915), Geoecologia (TROLL, 1968), Ecologia da

Paisagem (LESER, 1976), Classificação Ecológica de Terras (THIE; IRONSIDE, 1977),

Estudo de Geossistemas (SOCHAVA, 1978), Geografia Física Complexa (ZUCHKOVA;

RAKOVSKAIA, 2004), Geografia de Ecossistemas (BAILEY, 2009), Biogeografia (LIMA,

2012) e tantos outros nomes.

Este fato denota que a referida prática se diversificou sem uma afiliação terminológica

homogênea, recebendo denominações diversas em distintas regiões e mesmo por distintos

centros de pesquisa num mesmo país, na Rússia, por exemplo, encontramos denominações

como geossistemas, geocomplexos, paisagens e complexos territoriais naturais.

Independente disto, a aplicabilidade deste tipo de reflexão tem se demonstrado

bastante ampla, apoiando-se na demanda pelo conhecimento da diversidade e distribuição das

relações entre os componentes ambientais (formas de relevo, drenagem, solos, cobertura da

terra, etc.) e fundamentando atividades de planejamento agropecuário (ARAÚJO FILHO et

al., 2010), planejamento urbano (BEDÊ et al., 1997), de zoneamento geotécnico para fins de

obras civis (ZUQUETTE; GANDOLFFI, 2004), serviços florestais e de solos, modelagem de

habitat e conservação da biodiversidade (BAILEY, 2009; FIELD MANUAL FOR

DESCRIBING TERRESTRIAL ECOSYSTEMS, 2010).

No conjunto, estas práticas buscam uma visão integrada da natureza na superfície

terrestre, derivada das relações entre os componentes naturais e sendo esta visão, no geral,

representada por um mapa de síntese, sendo este um dos motivos pelos quais vamos adotar,

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aqui, o nome de Sínteses Naturalistas (SN), para nos referir ao conjunto das variações

terminológicas e metodológicas existentes para tal fim.

É neste sentido que, apresentando uma classificação dos diversos ramos da Geografia,

A. G. Isachenko (2004) destaca a Geografia Física Integrada que, assim como a

Geomorfologia e a Climatologia e outras áreas, corresponde a uma perspectiva em Geografia,

que tem sua singularidade marcada pelo estudo da natureza da superfície terrestre, que o

mesmo denomina ‘epigeosfera’, revelando uma preocupação em sistematizar o estudo das

interações complexas entre os diversos componentes da natureza e realizar sua classificação.

Contudo, este tipo de abordagem classificatória integrativa da natureza não é exclusivo

da Geografia, podendo ser encontrada no trabalho de referência dos agrônomos Clifford

Stuart Christian e George Alan Stewart na região de Katherine-Darwin, na Austrália do final

da década de 1940 e início da década de 1950. O objetivo do trabalho era dar indicativos para

um aproveitamento agropecuário-industrial da região. Para tanto, a região foi subdividida em

18 áreas com padrões recorrentes de topografia, solos e vegetação, sendo cada uma destas

áreas denominada land system, reconhecidas por fotointerpretação e amostragem em campo.

O trabalho de Christian e Stewart (1953) se tornaria popular nos países de língua

inglesa, sendo posteriormente adotado pelas Nações Unidas como unidade para a

classificação de terras para fins de agricultura e irrigação (FAO, 1983; 2007). Além disso, a

estratégia de reconhecimento de Land Systems com base na interpretação por fotografias

aéreas e amostragem em campo, inspirada no trabalho do inglês Ray Bourne (1931), se

mostraria útil para popularizar o uso deste modelo classificatório também para fins de

Zoneamento Geotécnico e subsídio ao desenvolvimento de obras de engenharia, como nos

indica Zuquette e Gandolfi (2004).

Comentando um artigo posterior de C. S. Christian, o geógrafo alemão Carl Theodor

Troll (que cunhou o termo ‘Ecologia de Paisagens’) associou o modelo desenvolvido na

Austrália à sua própria classificação, salientando que já realizava estudos semelhantes na

Europa e destacando o caráter ecológico deste tipo de aproximação classificatória, utilizando

os termos paisagem e ecótopo, com aplicações para fins de planejamento urbano e ambiental

(CHRISTIAN, 1958; TROLL, 2006).

A relevância ecológica desta perspectiva também foi posta em evidência pelo geógrafo

francês Jean Tricart. Em sua obra Ecodinâmica (TRICART, 1977), o mesmo propõe uma

classificação dinâmica do meio ambiente, derivada da relação sistêmica entre o equilíbrio

ecológico promovido pelas comunidades biológicas e a instabilidade ambiental causada pelos

processos erosivos. O autor salienta que o desenvolvimento rápido dos processos erosivos

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dificulta a ocupação das terras pelos seres vivos, em contraponto, uma área ocupada pelos

seres vivos tende a se tornar cada vez mais estável, dando margem à dinâmica florestal e à

formação dos solos.

A ecodinâmica teve grande relevância entre geógrafos, geólogos, engenheiros e

cientistas ambientais no Brasil, subsidiando uma série de esquemas para caracterização da

vulnerabilidade ambiental por sensoriamento remoto e geoprocessamento com base nas

relações entre os diversos componentes da natureza num dado local (CREPANI et al., 2001;

ROSS et al., 2005).

Ainda numa perspectiva que relaciona estabilidade biológica e processos

geomorfológicos, mas com vistas ao planejamento dos recursos hídricos, a abordagem dos

estilos fluviais (River Styles®), desenvolvida pelos geógrafos Gary Brierley e Kirstie Fryirs

(2000), busca elaborar uma classificação tipológica de trechos de rios, incluindo canais e

planícies de inundação, com vistas a compreender suas características e sua dinâmica ao

longo das bacias de drenagem. Para estes autores, a gestão dos recursos hídricos precisa ser

realizada numa perspectiva ecológica, valorizando a dinâmica natural da rede de drenagem,

que encontra nos estilos fluviais a base para o seu entendimento enquanto ecossistema

(BRIERLEY; FRYIRS, 2005).

É propondo uma Geografia dos Ecossistemas que o geógrafo do Serviço Florestal dos

Estados Unidos, Robert G. Bailey (2009) divulga a ideia de ecorregiões como sendo áreas de

grandes dimensões abrangendo um conjunto de relações entre os componentes da natureza.

Esta perspectiva tem sido aplicada ao Brasil e a todo mundo com objetivos de Conservação da

biodiversidade. Isto deixa ainda em mais estreita evidência as relações entre Geografia e

Ecologia no tocante à classificação de áreas com base nas relações entre os componentes

naturais.

Considerando esses poucos exemplos, percebe-se que estas distintas classificações

apresentadas partilham um raciocínio de síntese geográfica das relações entre os componentes

da natureza, podendo ser chamadas de Sínteses Naturalistas.

1.1 Problematizando

Em se tratando de classificações, estas sínteses naturalistas carecem de uma estrutura

lógica para o tratamento da informação, a fim de que os dados sejam relacionados de modo a

refletir a realidade, o que pode gerar erros, caso sejam desconsiderados alguns critérios, e

podendo levar a uma confusão na hora de definir políticas de planejamento relacionadas às

unidades naturais estabelecidas.

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Um exemplo concreto é a diferença entre os limites do Planalto da Borborema (no

nordeste oriental do Brasil), que para Corrêa et al. (2010), baseando-se em informações

morfoestruturais, caracterizaram um contorno distinto daqueles indicados por SILVA et al.

(1993), que basearam-se no agrupamento dos tipos de solos (Figura 1).

Figura 1. Diferentes limites traçados para o Planalto da Borborema.

À Esq.: A localização do Planalto da Borborema no Nordeste Brasileiro. À dir.: A mancha cinza foi

proposta por Silva et al.(1993) a partir da agregação de unidades de solos, enquanto a linha preta

vazada corresponde à proposta de Corrêa et al.(2010) com base em análise morfoestrutural.

Organizado pelo autor.

Este exemplo demonstra como distintas formas de organização da informação, por

meio do estabelecimento de diferentes regras para o desenvolvimento de sínteses naturalistas,

produzem ideias distintas sobre um dado ambiental.

Talvez isto ocorra porque nem todos os autores buscam resolver os erros de

classificações anteriores, mas simplesmente adequá-las aos objetivos de suas sínteses

(recursos hídricos, florestais, conservação dos solos e da biodiversidade, etc.). Isto significa

que, grande parte destas propostas surgiu mais com o objetivo de suportar considerações de

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cunho aplicado ou estudos de outra natureza (focados em determinados processos naturais),

do que para construir uma síntese naturalista livre de problemas classificatórios menores em

relação aos objetivos últimos do pesquisador.

Quanto a isso, destaca-se o trabalho de Anatoliy G. Isachenko2 (1973, 1991) que

examina critérios para a síntese naturalista e avalia os trabalhos anteriores a fim de propor seu

sistema para classificação de unidades físico-geográficas com dimensões regionais. Isachenko

(1973) diferencia duas formas gerais para identificação deste tipo de unidades, sendo uma

delas a utilização de uma única série de unidades subordinadas em que os níveis alternam

temas ambientais escolhidos para representar as dimensões dos processos naturais (Geologia-

Clima-Geomorfologia, etc.), mas que as unidades subsequentes não necessariamente derivam

delas. A outra corresponde a um modelo classificatório em que unidades são previamente

definidas com base num critério climato-edafo-botânicas (unidades zonais) e outras com base

num critério geológico-geomorfológico (unidades azonais), e a classificação final é derivada

do cruzamento das unidades zonais e azonais. Estes sistemas são chamados respectivamente

uniseriais e biseriais.

É sem dúvida nos países formadores e influenciados pela antiga União Soviética em

que o tema das sínteses naturalistas é levado adiante com maior ênfase, fato que foi notado

por especialistas de outras regiões (ZONNEVELD, 1995; TRICART; KIEWIETDEJONG,

1992).

Longe da influência da antiga União Soviética, a maioria dos autores traz uma

proposta particular, baseada na sua própria experiência, muitas vezes citando trabalhos

anteriores, mas poucas vezes discutindo os critérios de classificação dos outros autores (cf.

CHRISTIAN; STEWART, 1953; BERTRAND, 1968; TRICART, 1977; WALTER, 1986;

AB’SÁBER, 2003; BRIERLEY; FRYIRS, 2005; BAILEY, 2009, entre outros).

Neste sentido, os procedimentos de síntese tornam-se demasiadamente subjetivos, uma

vez que a estrutura de classificação tende a ser bastante simples e os critérios de identificação

das unidades são mais flexíveis que o necessário. Este é um dos motivos da crítica de Tricart e

Kiewietdejong (1992) ao modelo dos Land Systems de Christian e Stewart.

No sentido de buscar critérios de identificação mais coerentes, diversos autores que

propuseram sínteses naturalistas realizaram revisões das propostas de outros autores, como

2 Anatoliy Gregorievich Isachenko (1922) é professor emérito da Universidade Estatal de São Petersburgo que,

dentre outros prêmios, foi agraciado como Trabalhador Honrado da Ciência da Federação Russa (1999), prêmio

nacional concedido a cientistas de mérito extraordinário. A. G. Isachenko produziu livros considerados

fundamentais sobre a cartografia e estudo de paisagens e regiões físico-geográficas.

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Bailey (2009), algumas vezes chegando a discutir elementos gerais das classificações (Cf.

Isachenko, 1973; 1991 e Sochava, 1978). Contudo, a maioria das propostas apresenta a

metodologia de descrição do meio natural e sua finalidade prática, poucas vezes estando

presente alguma discussão mais geral sobre a natureza do trabalho (Cf. Vasconcelos

Sobrinho, 1970; Bertrand, 1968; Walter, 1986; Riché e Tonneau, 1989; NCST, 2009).

A ideia (e objetivo) deste capítulo é justamente realizar uma comparação entre

distintas classificações, não com o objetivo de julgá-las, mas de evidenciar elementos gerais e

comuns a elas. Para tanto, foram analisadas algumas das sínteses naturalistas que foram

propostas para o Estado de Pernambuco ou mesmo outras que trabalharam uma área maior,

mas que abrangessem o Estado em questão.

2 Metodologia

A comparação entre as propostas selecionadas foi realizada assumindo como premissa

o fato de que qualquer síntese naturalista pode ser tratada com um sistema de gestão da

informação e, uma vez que todas estão colocadas sob este signo de igualdade prática,

podemos compará-las.

A Gestão da Informação consiste na administração do processo de coleta,

arquivamento, recuperação, classificação, organização e utilização dos dados, transformando-

os em informação valiosa para um determinado fim (DAVENPORT, 1998). Neste sentido,

não se pode falar em informação sem falar em dados. Ainda segundo Davenport (1998, p.19),

‘dados’ são ‘observações sobre o estado do mundo’, ‘fatos brutos’ ou ainda ‘entidades

quantificáveis’, que podem ser observados pelas pessoas ou por alguma tecnologia. De acordo

com Drucker (1988), Informação é qualquer dado imbuído de relevância e propósito. Além

destes termos, é preciso considerar o conhecimento, que seria a informação dotada de um

contexto, um significado, enfim, uma interpretação (DAVENPORT, 1998).

A ideia de tratar as diferentes sínteses naturalistas, enquanto sistemas de gestão da

informação, veio da necessidade de estabelecer critérios para compará-las e foi inspirada na

concepção de enfrentamento da complexidade desenvolvida por Zellmer, Allen e

Kesseboehmer (2006). Para estes autores, a complexidade não é propriedade do objeto

investigado, mas sim das questões que se fazem sobre o objeto. Uma questão é considerada

complexa quando não se tem um ponto de referência (paradigma) para abordá-la. No nosso

caso, o problema da comparação entre as sínteses naturalistas foi sanado (simplificado)

quando passamos a tratá-las enquanto sistemas de gestão da informação, o que nos forneceu

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critérios de avaliação, a saber: formas de coleta, processamento, classificação e uso da

informação.

Para tanto, foram avaliados e comparados os procedimentos de coleta,

armazenamento, recuperação, classificação, organização e utilização dos dados sobre o meio

natural conforme algumas das abordagens sintéticas já realizadas para o Estado de

Pernambuco. As seguintes propostas foram selecionadas:

Regiões naturais de Vasconcelos Sobrinho (1941, 1949, 1970) e Hilton Sette (1946);

Paisagens de Isachenko e Shliapnikov (1989), Ab’Saber (2000) e Rodriguez, Silva e

Cavalcanti (2004);

Unidades geoambientais de Silva et al. (2001) e CPRM (2010);

Ecorregiões/Regiões Ecológicas de Andrade (1998) e Velloso, Sampaio e Pareyn

(2002).

Inicialmente foi realizada uma leitura e análise de cada proposta, tomando-se o

cuidado de procurar conhecer, ao mínimo, os propósitos e a natureza das instituições e/ou

formação dos pesquisadores envolvidos. Ao final, tentou-se aprofundar a discussão acerca de

uma estrutura geral das sínteses naturalistas, não se limitando às propostas analisadas e

recorrendo, portanto aos trabalhos de outros autores.

3 As Regiões Naturais de Vasconcelos Sobrinho e Hilton Sette

O primeiro esforço científico de regionalização para o Estado de Pernambuco3 veio de

um dos pioneiros da ecologia brasileira e latino-americana: o agrônomo João Vasconcelos

Sobrinho4.

Sua proposta consistiu na diferenciação de regiões naturais do Estado de Pernambuco

que foi, posteriormente, expandida para o Nordeste do Brasil (VASCONCELOS

SOBRINHO, 1941, 1949, 1970).

3 Em 1921, o bacharel em Direito Agamenon Magalhães (que viria a ser Interventor do Estado de Pernambuco

em 1937) defendeu tese para a cátedra de Geografia do Colégio Pernambucano, destacando dois tipos de habitat

para o Estado: o litoral “região das matas exuberantes” e o sertão “região imensa dos taboleiros e Caatinga

adustas” (MAGALHÃES, 1921). 4 Nascido no município de Moreno (Pernambuco), João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989) graduou-se

engenheiro agrônomo. Pelo menos desde o início da década de 1940 era membro da Sociedade Botância da

América e do Museu de História Natural de Nova Iorque, como está registrado no seu artigo de 1941. Fundou o

primeiro curso de Ecologia do Brasil e foi pioneiro no estudo da Desertificação, sendo inclusive, o representante

da América Latina na Conferência de Nairóbi (em 1977). Também foi fundador da Associação Pernambucana de

Proteção da Natureza e foi o primeiro diretor Jardim Zoobotânico de Dois Irmãos (em 1939) e da Reserva

Florestal de Tapacurá (em 1975).

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As bases conceituais são claramente definidas, apesar de sua filiação teórica, em

relação ao termo “regiões naturais”, permanecer indistinta. É possível que Vasconcelos

Sobrinho estivesse acompanhando a série de debates acerca da temática da regionalização que

vinham sendo travados na época, sobretudo a partir das publicações da Revista Brasileira de

Geografia, do então Conselho Nacional de Geografia (GUIMARÃES, 1941; 1945).

Contudo, o eminente engenheiro pernambucano se esquiva de explicitar seus

pressupostos metodológicos em função de buscar uma linguagem mais acessível, o que lhe

rendeu a crítica de Gilberto Freyre, no prefácio do livro de 1949, intitulado Regiões naturais

do Estado de Pernambuco: o meio e a civilização.5

Posteriormente, o autor retoma seu projeto de regionalização natural, desta vez

propondo uma Geografia Ecológica, como “a ciência que estuda as áreas da superfície

terrestre relativamente ao meio natural, tal como ele se oferece para uso do homem com suas

potencialidades e limitações [...]” (VASCONCELOS SOBRINHO, 1970, p.3), destacando o

conceito de região natural, definida como complexo clímato-edafo-biótico que se integra à

ideia de região socioeconômica para compor o que o autor denomina de sistema integrado de

áreas, cerne de um processo classificatório da superfície terrestre com vistas ao seu

aproveitamento pela sociedade.

Para Vasconcelos Sobrinho (1970), uma área se diferencia fisionomicamente a partir

de três conjuntos de fatores, que deixam transparecer uma lógica evolutiva referente à gênese

dos diferentes componentes da paisagem, a saber:

Primários: de ordem geológica (tectônica, litológica, estrutural);

Secundários: que se dividem em climáticos, edáficos e bióticos e;

Recentes: aqueles relacionados à intervenção humana.

5 Baseando-se em Vasconcelos Sobrinho, o geógrafo Walter Alberto Egler (1951) publica um mapa da vegetação

do Estado de Pernambuco (Fig. 2), cuja descrição de algumas unidades vegetacionais associa elementos de

caráter geomorfológico, caso do “Chapadão do Moxotó”. Esta unidade é a de maior interesse para esta tese, pois

se trata do background físico-geográfico do Parque Nacional do Catimbau. Segundo o referido autor, esta região

tinha a fama de ser a “mais inóspita do Sertão Pernambucano”, sobretudo em função de suas areias soltas e de

grande profundidade, com grande população de cactáceas.

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Para a definição de suas regiões naturais o mesmo ainda sugere que sua diferenciação

seja realizada a partir de uma divisão lógica do território em partes sucessivamente menores

considerando Temperatura e Fotoperiodismo, seguido da Pluviosidade e por último dos

Solos, segundo o qual as formações vegetais se diversificam, tendo como referência suas

observações empíricas sobre o Nordeste do Brasil, em particular o Estado de Pernambuco

(VASCONCELOS SOBRINHO, 1970). Vale salientar que o conceito de solo utilizado pelo

referido autor inclui o relevo (principalmente a hipsometria), o que fica evidente quando o

mesmo afirma que “são as elevações do solo que marcam sempre com muita nitidez, os

limites das diversas zonas florísticas” (VASCONCELOS SOBRINHO, 1949, p.25), é com

base nisso, que o autor diferencia caatinga hipoxerófila (de áreas altas, acima de 600m) da

caatinga hiperxerófila (de áreas baixas).

Contemporâneo a Vasconcelos Sobrinho, o geógrafo Hilton Sette6 elaborou, em 1946,

a tese “Contribuição ao estudo das Regiões Naturais de Pernambuco”, para concorrer à

cátedra de Geografia do Colégio Pernambucano, concurso que nunca chegou a se realizar.

Sette baseou-se na obra do geógrafo italiano Giuseppe Ricchiere (1920)7, que versa

sobre a diferenciação de regiões, propondo três conceitos: a região elementar (baseada em um

só critério: geologia, clima, botânica, etc.), a região geográfica complexa (onde se identificam

o cruzamento de diferentes regiões elementares) e a região integral (formadas por conjuntos

de regiões geográficas complexas).

6 Hilton Sette (1911-1997) era bacharel em Direito, mas dedicou sua vida à literatura e à Geografia. Aos 35 anos

se lançou numa viagem de carona na boleia de um caminhão que ia de Recife à Petrolina, na ida pernoitou em

Caruaru e Serra Talha e na volta em Parnamirim e Arcoverde. A partir de suas observações aplicou a proposta de

Ricchieri para diferenciar regiões naturais do Estado de Pernambuco. Sette também foi professor de Geografia e

membro da Academia Pernambucana de Letras. 7A perspectiva regional de Ricchieri viria a influenciar inclusive os esforços de regionalização empreendidos

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas décadas de 1940 e 1950, principalmente em

relação à consideração dos limites físicos como base para diferenciação das regiões. Naquele momento, o

conceito de região natural tomava contornos paradigmáticos não apenas na geografia brasileira, mas na geografia

mundial também. Sobre isso, Delgado de Carvalho (1944) cita os avanços de La Blache (França), Herbertson

(Inglaterra), Cerceda (Espanha), Ricchiere (Itália), Passarge (Alemanha), Davis (Estados Unidos), Perez (Chile),

entre outros, dando destaque, porém, à proposta italiana. Seguindo a tendência em fazer uso dos paradigmas

contemporâneos para uso prático, o IBGE defendeu o conceito de região natural como base para regionalização

do Brasil (GUIMARÃES, 1941; 1945), promovendo uma divisão do país em 228 zonas fisiográficas

(MAGNAGO, 1995). Posteriormente, os limites das unidades definidas pelo IBGE passaram a levar em

consideração o peso dos fatores socioeconômicos sobre a necessidade do planejamento territorial. No caso da

Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco, as mesorregiões do IBGE foram reagrupadas

conforme à demanda local, resultando na proposta de 12 ‘Regiões de Desenvolvimento’, que já estavam mais

voltadas para as questões político-econômicas do que para o funcionamento ecológico do território, neste

contexto, os contornos das regiões, mesorregiões e microrregiões passaram a ser traçados com base nos limites

municipais (CONDEPE/FIDEM, 2009).

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33

Revendo seu trabalho 40 anos depois, Hilton Sette reescreve suas regiões naturais para

uma publicação do Diário de Pernambuco em 4 de novembro de 1985. Apresenta, pois, uma

descrição sucinta de quatro regiões: Litoral, Mata, Agreste e Sertão.

Do ponto de vista da coleta e armazenamento dos dados, fica claro que ambos (Sette e

Vasconcelos Sobrinho) baseavam-se na observação e registro em cadernetas de campo,

também fazendo uso de registro fotográfico. As informações abrangem unidades de grandes

dimensões (da ordem de centenas a milhares de quilômetros quadrados, ou maiores),

caracterizando trabalhos de caráter exploratório. Além disso, a concepção de uma organização

hierárquica das áreas naturais está presente em ambos.

Nas propostas dos dois pernambucanos, as unidades de menor dimensão da hierarquia

são obtidas pela compartimentação das maiores, através de uma divisão lógica do território

como forma de regionalização e classificação. Entretanto, a diferença entre as abordagens de

Vasconcelos Sobrinho e Hilton Sette se explicitam à medida que as unidades e sua

organização hierárquica são definidas pela determinação de informações no primeiro

(temperatura, fotoperiodismo, pluviosidade, solo) e pelo cruzamento de informações de temas

distintos, no caso do segundo (regiões integrais). Também fica claro que o objetivo de ambos

os trabalhos é apresentar um quadro natural como potencial de utilização pelo homem,

contribuindo de forma ampla para as atividades de planejamento territorial.

Discutindo a relação entre a pobreza e a geografia física do Nordeste brasileiro, o

geógrafo estadunidense Preston E. James8 (1952) apresenta uma caracterização de zonas

naturais e seus subtipos, declarando que o problema da região decorre muito mais da gestão

territorial inadequada do que da seca.

Queixando-se da ausência de informações básicas sobre o território, Preston James

conduz sua investigação a partir de observações de campo, registro fotográfico e do pouco

material disponível. O geógrafo estadunidense adota a nomenclatura de Vasconcelos Sobrinho

(1949), definindo a Zona da Mata e a Zona das Caatingas, promovendo, contudo, uma

subdivisão baseada nas relações entre os solos, o relevo e a água (Fig. 3).

8 Preston Everett James (1899-1986) nasceu em Massachusetts e foi professor de Geografia nas Universidades da

Califórnia e do Michigan. Um de seus grandes interesses de pesquisa foi a América Latina, em especial, o Brasil.

Para ele, a geografia era a ciência da descrição e interpretação de áreas, estando preocupada com os fenômenos

que produzem o aspecto da face da Terra, que ele denomina paisagem (JAMES, 1929).

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34

Figura 3. Associação entre solos, declividade e água no Nordeste do Brasil.

Zona da Mata: 1. Costa, 2. Taboleiros, 3. Terras colinosas, 4. Planícies de inundação; Zona das

Caatingas: 5. Costa, 6. Taboleiros, 7. Planícies grosseiras com remanescentes erosivos, 8. Maciços, 9.

Cobertura em arenito, 10. Serra da Jacobina, 11. Bacia sedimentar da Bahia, 12. Planície de Inundação

do São Francisco, 13. Caminho de drenagem do Itapicurú. Fonte: James, 1952.

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35

4 As Paisagens do Brasil aos olhos de Aziz Nacib Ab’Saber

Dentre as propostas de síntese naturalista do Brasil pode-se incluir aquela do geógrafo

Aziz N. Ab’Saber9 (1965, 2000, 2003a, 2006) que, com base em observações de campo e no

cruzamento de informações climáticas, geológicas, geomorfológicas e fitogeográficas define

domínios de natureza (ou domínios paisagísticos) para o território brasileiro.

Figura 4. Domínios de Natureza no Brasil.

Fonte: Ab’Saber, 1965.

Manejando de forma característica os diferentes modelos conceituais de Arthur

Tansley, Georges Bertrand e Heinrich Walter, o geógrafo de São Luís do Paraitinga analisa os

9 Aziz Nacib Ab’Saber (1924-2012) nasceu em São Luís do Paraitinga (São Paulo) e tornou-se um dos mais

respeitados geógrafos do Brasil, sendo reconhecido e premiado internacionalmente, sobretudo por seus trabalhos

nas áreas de geografia física e geomorfologia e seu envolvimento com a questão ambiental e o planejamento do

território (AB’SÁBER; MENEZES, 2009). Foi professor titular da Universidade de São Paulo e esteve ligado ao

Instituto de Estudos Avançados da mesma instituição.

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diferentes compartimentos naturais do território brasileiro propondo uma discussão acerca da

diversidade paisagística e ecológica do país (AB’SABER, 2003).

Diferentemente de todos os outros autores, Ab’Saber não assume um único modelo

teórico em sua análise da natureza, dialogando com pelo menos três modelos conceituais

distintos: o ecossistema de Tansley, o bioma de Walter e a paisagem de Bertrand. Demonstra,

portanto, a peculiaridade de dialogar com diferentes formalismos conceituais de sínteses

naturalistas, ao mesmo tempo, trazendo uma discussão dos espaços e subespaços de natureza

no Brasil.

Para ele, cada domínio de natureza (litoral, caatingas, cerrados, etc.) apresenta uma

família de ecossistemas que lhe é peculiar, guardando “um tipo de ecossistema absolutamente

predominante, a par com enclaves ou redutos de outros sistemas ecológicos (helobiomas,

psamobiomas, rupestrebiomas e geótopos10

).” (AB’SABER, 2003. p.139).

Nesta proposta, de caráter integrativo, elaborada a partir das observações e da

experiência do autor, o Estado de Pernambuco é abrangido pelos domínios das caatingas, dos

mares de morros e do litoral. O primeiro se caracterizando como: um ambiente seco marcado

pela vegetação xerófila e a originalidade de possuir uma hidrografia completamente exorréica,

diferente de outros ambientes secos no mundo, evitando a salinização excessiva (AB’SABER,

2003). Já os mares de morros compreendem um contínuo de colinas policonvexas com solos

argilosos em que se distribui a vegetação tropical atlântica. Ao leste ainda destaca-se o

domínio da zona costeira atlântica, apresentando helobiomas salinos (manguezais),

intercalados com planícies de restinga e outras feições litorâneas e sublitorâneas

(AB’SABER, 2003).

Em termos de coleta e armazenamento da informação, o trabalho do geógrafo paulista

não dá sinais de diferir muito das propostas de Vasconcelos Sobrinho, Hilton Sette e Preston

James. Contudo, utilizando três modelos conceituais para classificação e organização da

informação, Ab’Saber inova em relação ao que foi visto até agora: mesmo demonstrando crer

na existência dos sistemas ecológicos, ele não se atém a qualquer sistema de representação,

utilizando de cada um aquilo que é útil para explicar a realidade natural do território

brasileiro.

10

As denominações helobioma, psamobioma provêm da classificação de biomas de Heinrich Walter. Para este

autor, a Biosfera seria dividida em grandes porções (biomas), que por sua vez poderiam ser subdivididos em

categorias e subcategorias de acordo o elemento condicionante: por exemplo, quando o solo exercesse influência

para distribuição da vegetação, teríamos o pedobioma, que poderia ser subdividido em subcategorias como

psamobioma (solo arenoso) e litobioma (solo rochoso), este último é denominado por Ab’Saber de

rupestrebioma. A denominação geótopo, foi introduzida na geografia brasileira a partir do texto “Paisagem e

geografia física global: um esboço metodológico” (BERTRAND, 1972), significando um elemento paisagístico

local, da escala do metro quadrado, constituindo uma relação biótopo-biocenose.

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37

Em termos de utilização dos dados, Ab’Saber tanto imprime um fim didático aos

resultados de seu estudo, quanto utiliza suas concepções sobre os espaços e subespaços

naturais para a realização de zoneamento ambiental (AB’SABER, 1989).

5 As Paisagens do Brasil conforme os Soviéticos

Compondo uma obra de caráter mais didático do que planificador, pode-se citar o

trabalho de Isachenko e Shliapnikov (1989) sobre as paisagens do mundo. Seguindo a

tradição da geografia soviética (Cf. capítulo seguinte), a metodologia para diferenciação de

tipos, subtipos e grupos de paisagens, desenvolvida pelo próprio A. G. Isachenko11

, baseia-se

não apenas em dados temáticos de gabinete (climáticos, geológicos, geomorfológicos, etc.),

mas também em observações de campo e registro fotográfico (Fig. 5).

Assim como nas propostas descritas acima, os dados abrangem áreas bastante grandes

(uma vez que o trabalho trata das paisagens do mundo), sendo também trabalhados a partir de

uma divisão lógica do território para encontrar as unidades menores a partir das maiores.

Contudo, em termos de classificação, Isachenko e Shliapnikov (1989) se distanciam de

Vasconcelos Sobrinho e se aproximam de Hilton Sette no sentido em que suas unidades são

obtidas pelo cruzamento de informações temáticas distintas, que no caso de Isachenko inclui

megaunidades geomorfológicas e sua ocorrência dentro de zonas climáticas diferenciando,

para o Estado de Pernambuco, dois tipos, dois subtipos e sete grupos de paisagens.

Posteriormente, outra regionalização de paisagens foi proposta para o Brasil utilizando

declaradamente a metodologia de Isachenko (1991), desta vez os autores foram dois

pesquisadores brasileiros e um cubano (que fez doutorado na Rússia) (RODRIGUEZ; SILVA;

CAVALCANTI, 2004).

Nesta proposta, inicialmente são definidas unidades geoecológicas regionais e em

seguida elas são reorganizadas em tipos (Fig. 6). No caso do Nordeste Brasileiro

(considerando sua parte oriental), são diferenciadas, também por divisão lógica, as unidades

taxonômicas.

Percebe-se que esta proposta, mesmo utilizando a metodologia de Isachenko (1991), é

ligeiramente diferente daquela apresentada por Isachenko e Shliapnikov (1989). Os autores

latino-americanos desenvolvem sua cartografia das paisagens exclusivamente a partir da

11

As bases teóricas da proposta classificatória de Isachenko seguem a tradição russo-soviética de estudo das

paisagens, e que tem como precursor o naturalista Vasiliy V. Dokuchaev, sendo o próprio Anatoliy G.

Isachenko, membro da escola de Geografia de São Peterburgo, tendo sido aluno de Lev S. Berg, um dos

discípulos notáveis de Dokuchaev.

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38

consulta e interpretação de dados temáticos já existentes e também com base no cruzamento

de informações.

Figura 5. Grupos de Paisagens do Nordeste do Brasil.

(à esq.) Grupos de Paisagens da América do Sul. (à dir.) Grupos de Paisagem do Nordeste do Brasil.

Toponínima: Recife (Ресифи), Salvador (Салвадор), Ilhéus (Ильеус), Remanso (Ремансу),

Barbacena (Барбасена), Rio São Francisco (Сан-Франсиску). (abaixo) legenda dos grupos

paisagísticos. Fonte: Isachenko e Shliapnikov, 1989, p.402-403. Tradução nossa.

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39

Figura 6. Unidades da Regionalização Geoecológica (à esq.) e Tipos Geoecológicos.

Regiões geoecológicas (à esq.): Planalto Maranhão-Piauí (15), Planalto da Borborema-Araripe

(16), Depressão Sertaneja (17). A legenda dos Tipos geoecológicos (à dir.) não consta no livro.

Fonte: Rodriguez, Silva e Cavalcanti, 2004.

6 As Unidades Geoambientais: Detalhamento e Uso de Geotecnologias

O termo unidades geoambientais tem se popularizado no Brasil principalmente a partir

dos trabalhos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA). Contudo, são propostas metodologicamente distintas, mas que

possuem traços comuns em relação à sua filiação teórica.

A proposta da EMBRAPA foi utilizada na elaboração do Zoneamento Agroecológico

do Nordeste – ZANE (SILVA et al., 1993), também aproveitada para o Zoneamento

Agroecológico de Pernambuco – ZAPE (SILVA et al., 2001).

Diferentemente de todas as propostas anteriores, esta se baseou em extensos trabalhos

de campo, principalmente no caso do ZAPE, que apresenta um nível de detalhamento

compatível com a escala de 1:100.000, vindo a ser publicado logo após o levantamento de

solos do Estado de Pernambuco (ARAÚJO FILHO et al., 2000), que contou com toda a

sistemática de coleta e análise de dados que vinham sendo desenvolvidas no Nordeste do

Brasil para o levantamento de solos desde a década de 1960.

Para o ZAPE, os pesquisadores da EMBRAPA também fizeram uso de

geoprocessamento, através do georreferenciamento das cartas básicas da Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste (na escala 1:100.000), além disso, a EMBRAPA inova pelo

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40

uso das geotecnologias, ao elaborar ZANE e ZAPE em formato de Sistema de Informação

Geográfica (SIG), criando uma base de dados mais facilmente manuseáveis e com maior

poder de armazenamento e recuperação.

Quanto à classificação das unidades, o esquema hierárquico contém dois níveis de

organização: um antecedente (Unidades de Paisagem) e um consequente (Unidades

Geoambientais), tendo como preocupação central propósitos práticos, voltados para a

aplicabilidade da informação obtida, que segundo Araújo Filho et al. (2001) contém

informações que subsidiam: Diagnósticos agrários e socioeconômicos; Planejamento

agropecuário; Planejamento agroecoturístico; Planejamento de política de recursos hídricos

objetivando a sustentabilidade de atividades agropecuárias; Projetos de irrigação;

Desenvolvimento de ações visando a preservação e a educação ambiental; Ações de reforma

agrária; Facilitar o acesso ao crédito agrícola; e Elaboração de zoneamento agroecológicos.

A ideia de Unidades Geoambientais (UG) usada no ZAPE/ZANE foi proposta por

Riché e Tonneau (1989), que seriam unidades identificadas a partir de topossequencias

(enfatizando a descrição dos solos), sendo uma UG é definida como:

Uma unidade geoambiental pode ser definida como uma entidade ou o

substrato, a vegetação, o modelado, a natureza e distribuição dos solos em

função da topografia e da ocupação dos solos, formando uma assembleia de

problemáticas homogêneas onde a variabilidade é mínima de acordo com a

escala adotada12

Ainda segundo os pesquisadores franceses, sua fundamentação teórica encontraria

lugar junto à perspectiva geossistêmica de Georges Bertrand (1972), que por sua vez fez uso

do conhecimento desenvolvido por Tricart, Troll, Sochava entre outros. Além disso, soma-se

o pragmatismo da ideia de land systems australiana, também mencionada por Riché e

Tonneau, o que deve ter influenciado, sobretudo, o enfoque nos levantamentos de solos, tal

como na proposta de Christian e Stewart (1953), caracterizada por intensa carga operacional

na identificação e preocupação com a relação solos e paisagem.

Indo além das necessidades do planejamento agropecuário, as unidades de Paisagem e

geoambientais definidas pela EMBRAPA passaram a subsidiar propostas de conservação da

biodiversidade, como o esforço para traçar a relação entre as comunidades vegetacionais do

semiárido brasileiro com as unidades de paisagem e unidades geoambientais do ZANE

(RODAL; SAMPAIO, 2002; GIULIETTI et al., 2003).

12

Une unité géoambientale peut être définie comme une entité où le substrat, la végétation naturelle, le modelé,

la nature et la distribution des sols en fonction de la topographie, l’occupation des sols, forment un ensemble de

problèmatiques homogènes dont la variabilité est minimale selon l’échelle retenue (RICHÉ & TONNEAU,

1989, p.58).

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41

Cabe aqui salientar que as unidades apresentadas no ZANE (Fig. 7) são diferentes

daquelas do ZAPE (Fig. 8), variando não apenas em termos de limites, mas também em

termos de conteúdo, principalmente por causa do nível de detalhamento adotado (ZANE

1:2.000.000 e ZAPE 1:100.000). Uma diferença marcante está nos limites do Planalto da

Borborema e da Depressão Sertaneja, que mudam bastante.

No ZANE, o Planalto da Borborema aparece como Unidade de Paisagem, estando

dividido ao meio pela Depressão Sertaneja (que curiosamente se estende até próximo do

litoral). Já no ZAPE, o Planalto da Borborema não existe enquanto Unidade de Paisagem,

estando dividido em duas componentes principais: Encostas (onde no ZANE havia parte da

Depressão Sertaneja) e Pediplano Central, deixando margem para um agrupamento numa

unidade de nível hierárquico superior às UP (o próprio Planalto da Borborema).

Observando em mais detalhe, na região do Parque Nacional do Catimbau, percebe-se

que o nível de detalhamento proporciona uma visualização bastante diferente das unidades

geoambientais, sobretudo em relação aos contornos.

Seguindo a proposta de trabalho da União Internacional das Ciências Geológicas, a

utilização do termo unidades geoambientais ganhou difusão no meio técnico e acadêmico

brasileiro através das iniciativas da CPRM, sendo associada à noção de geodiversidade, que é

definida como:

“a natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de

ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos que dão origem

às paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos

superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como

valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o

educativo e o turístico” (CPRM, 2006).

Para Pfaltzgraff (2010), o estudo da geodiversidade busca a compreensão dos

elementos abióticos do geossistema, sobretudo a variação da geologia (rochas, minerais,

fósseis e estruturas), geomorfologia (formas e processos) e solos.

Esta proposta tem sido aplicada a todos os Estados brasileiros, tomando como base as

informações dos mapas geológicos, dados temáticos diversos, modelos digitais do terreno e

imagens de satélite, todos tratados em Sistema de Informação Geográfica (SIG). Os

procedimentos adotados visaram classificar Domínios Geoambientais para o território

brasileiro, representados principalmente com base nos conjuntos estratigráficos semelhantes

frente ao uso da terra (obras de engenharia, atividades agrícolas, potencial turístico, etc.), que

foram subdivididos em Unidades Geoambientais e Formas de Relevo (CPRM, 2006).

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Trata-se de uma abordagem prática, com preocupação evolutiva voltada para os

grandes registros litológicos, sem trazer evidências mais detalhadas de eventos do

Quaternário, por exemplo. A indicação das formas de relevo de acordo com a litologia dá uma

ideia da evolução dos compartimentos, mas pouco esforço é feito no sentido de elucidá-la,

uma vez que o objetivo reside na geração de produtos para o planejamento.

O enfoque sobre o detalhamento da litologia fica evidente, sobretudo pela natureza do

órgão executor do projeto. Ao fim, as unidades geoambientais figuram cartograficamente

como Unidades Geológico-Ambientais.

Em relação à proposta da EMBRAPA, as unidades geoambientais da CPRM

apresentam uma variedade e detalhamento muito maior das formas de relevo e sua relação

com a litologia, sobretudo através da geração de produtos como um mapa de amplitude

altimétrica, que serviu para diferenciar diferentes domínios de relevo pluviconvexo.

Um problema da proposta da CPRM é o uso do termo planalto de forma discordante

do uso comum na literatura geomorfológica nacional. Enquanto a CPRM utiliza o termo para

áreas de pequenas dimensões (inferior a dezena de km²), na literatura geomorfológica ele é

aplicável somente a áreas de dimensões (superior à centena de km²) (Cf. GUERRA;

GUERRA, 1997; FLORENZANO, 2008).

As figuras 9, 10 e 11 que detalham a região do Parque Nacional do Catimbau,

expressam o contorno das unidades geoambientais, que se basearam no mapa geológico do

Estado de Pernambuco (1:500.000) e em dados Shuttle Radar Topography Mission (resolução

espacial de 90m). Em todas as figuras fica claro o uso do termo planalto discordante da

literatura geomorfológica brasileira.

De outro modo, tanto os produtos da EMBRAPA quanto os da CPRM demonstram

que as geotecnologias consolidaram um ganho considerável em termos volume de informação

processada, capacidade de armazenamento, facilidade de comunicação dos resultados e, além

de tudo, aprimoramento da estética cartográfica.

Contudo é preciso considerar que toda esta melhoria técnica precisa vir aliada ao rigor

conceitual na identificação, classificação, nomenclatura e cartografia das áreas naturais. Isto e

necessário, sobretudo porque o caráter básico e geral dos mapas de unidades de paisagem (e

correlatos) resulta numa aplicabilidade nas mais diversas áreas e, o erro em um mapa pode ser

reproduzido pelos demais (veja o tópico seguinte).

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45

Figura 9. Unidades Geológico-Ambientais do Estado de Pernambuco, com detalhe para a região do

Parque nacional do Catimbau.

Legenda: 4. Coberturas arenoconglomeráticas e/ou síltico-argilosas associadas a superfícies de

aplainamento; 10. Predomínio de sedimentos arenosos de deposição continental, lacustre, fluvial ou

eólica – arenitos; 12. Predomínio de sedimentos quartzoarenosos e conglomeráticos; 30. Predomínio

de metapelitos com intercalações de rochas metabásicas e/ou metaultramáficas; 36. Suítes graníticas

peralcalinas; 52. Predomínio de gnaisses ortoderivados. Podem conter porções migmatíticas; i.

Planaltos; j. Chapadas e Platôs; l. Superfícies Aplainadas Degradadas; m. Inselbergues; p. Morros e

Serras Baixas; r. Escarpas Serranas; t. Vales Encaixados. Linhas em vermelho: estradas e rodovias;

Linhas em azul: drenagem; Linhas em preto: Falhas e Zonas de Cisalhamento. Fonte: CPRM, 2010.

Organizado pelo autor.

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47

Figura 11. Domínios e Unidades Geológico Ambientais e Formas de Relevo Associadas na região do

Parque Nacional do Catimbau.

Domínios geoambientais Unidades geoambientais Formas de relevo

DCSR – Domínio dos

Sedimentos indiferenciados

Cenozoicos relacionados a

retrabalhamento de outras

rochas, geralmente associados

a superfícies de aplainamento

Coberturas

arenoconglomeráticas e/ou

síltico-argilosas associadas a

superfícies de aplainamento

Planaltos,

Chapadas e Platôs

DSM – Domínio dos

Sedimentos Cenozóicos e/ou

Mesozoicos poucoa

moderadamente consolidados,

associados a profundas e

extensas bacias continentais.

Predomínio de sedimentos

arenosos de deposição

continental, lacustre, fluvial

ou eólica – arenitos

Vales encaixados,

Inselbergues

DCM – Domínio das

Sequencias Sedimentares

Mesozóicas

Clastocarbonáticas

consolidadas em Bacias de

Margens Continentais (Rift)

Predomínio de sedimentos

quartzoarenosos e

conglomeráticos

Superfícies aplainadas

degradadas,

Inselbergues,

Escarpas serranas,

Vales encaixados

DSVP2 – Domínio das

Sequencias

Vulcanossedimentares

Proterozóicas dobradas

metamorfizadas de baixo a

alto grau

Predomínio de metapelitos

com intercalações de rochas

metabásicas e/ou

metaultramáficas

Superfícies aplainadas

degradadas,

Inselbergues

DCGR1 – Domínio dos

Complexos Granitóides não

deformados

Suítes graníticas peralcalinas Domínio de morros e serras

baixas

DCGMGL – Domínio dos

Complexos Gnaisse-

Migmatíticos e Granulitos

Predomínio de gnaisses

ortoderivados. Podem conter

porções migmatíticas

Escarpas serranas

Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/media/geodiversidade_pernambuco.pdf. acesso em 26 de

junho de 2012. Organizado pelo autor.

7 A Preocupação Conservacionista e as Ecorregiões

A crescente preocupação conservacionista no Brasil também gerou demanda por

informações ecológicas do território. Neste sentido, destaca-se a iniciativa do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) do Ministério do Meio

Ambiente (MMA).

A partir dos Estudos de Representatividade Ecológica nos Biomas Brasileiros,

iniciados a partir do ano de 1998, o MMA conduziu uma série de estudos no sentido de

mapear regiões ecológicas para o Brasil, contando com a participação de Organizações Não

Governamentais como a The Nature Conservancy (TNC) e a World Wildlife Fund (WWF),

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48

além de diversas entidades como a EMBRAPA Cerrados e a Associação de Plantas do

Nordeste (PNE).

O projeto tomou como base o conceito de Ecorregião proposto inicialmente por Orie

Loucks e desenvolvido por Dinnerstein e colaboradores, sendo definido como:

“um conjunto de comunidades naturais, geograficamente distintas, que

compartilham a maioria das suas espécies, dinâmicas e processos ecológicos,

e condições ambientais similares, que são fatores críticos para a manutenção

de sua viabilidade a longo prazo.” (IBAMA/WWF, 2000, p.2).

No caso do bioma Caatinga, o projeto foi levado adiante pela TNC e a PNE através de

um seminário regional, reunindo alguns dos especialistas mais respeitados no estudo da biota

xerófila do Nordeste brasileiro. Nesta ocasião, a solução espacial encontrada para a

representação das ecorregiões baseou-se no conceito do geógrafo Robert G. Bailey13

e nos

dados do ZANE, alterando-se os limites de algumas das Unidades de Paisagem (UP) de modo

que fosse conveniente para representar as variações ecológicas (Fig. 12).

Figura 12. Ecorregiões do Estado de Pernambuco.

Fonte: Velloso, Sampaio e Pareyn, 2002. Organizado pelo autor.

Este modelo ecorregional apresenta dois níveis hierárquicos, sendo o primeiro deles

determinado pelos limites do Bioma Caatinga (caracterizado pelo contorno da região

13

A proposta de Bailey desenvolve-se a partir de uma ampla revisão da literatura geográfica e ecológica,

sobretudo àquela disponível em língua inglesa, mas considerando também modelos russos, alemães e de outros

países e tratando a ecorregião como um dos níveis de organização de sua hierarquia ambiental, definida como:

“uma unidade relativamente grande de terra e água delineada pelos fatores bióticos e abióticos que regulam a

estrutura e função das comunidades naturais que lá se encontram” (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002,

p.3).

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49

semiárida do Brasil) e o segundo determinado pelas ecorregiões, que acumulam a mesma

escala de representação do ZANE (1:2.000.000).

Seguindo a perspectiva da regionalização ecológica, mas com uma abordagem

bastante diferente, Andrade (1998) inova ao realizar uma classificação ecológica do território

brasileiro no setor acima do meridiano 44ºW e ao norte do paralelo 16ºS, que abrange parte da

região Nordeste e do Estado de Minas Gerais incluindo, portanto, todo o Estado de

Pernambuco.

Afiliado às ideias de origem canadense sobre a classificação ecológica de terras,

Andrade (1998) promoveu uma regionalização ecológica a partir de um tratamento estatístico

sofisticado, envolvendo 34 variáveis climáticas de 813 unidades de observação. Estas

variáveis foram interpoladas e então submetidas à análise fatorial que apontou para três

fatores principais cujos autovalores apresentaram explicação acumulada superior a 80% da

variância dos dados originais. Em seguida, estes fatores foram transformados em índices que

resumem as características do conjunto de dados, a saber: índice térmico e de

evapotranspiração; índice do balanço hídrico e índice de umidade relativa e distribuição da

precipitação. Os valores de cada índice foram organizados numa matriz de escores,

distribuídos entre as células da grade de interpolação. Posteriormente o autor efetuou uma

análise de agrupamento não hierárquico pelo método convergente, resultando em 9 regiões

ecológicas (Fig. 13) cuja validade foi testada por análise discriminante, resultando num

percentual de 93,86% de acerto.

Figura 13. Regiões Ecológicas do Nordeste.

Detalhe para o Estado de Pernambuco (à dir.). Fonte: Andrade (1998). Organizado pelo autor.

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50

Os resultados obtidos por Andrade (1998) dividem o Estado de Pernambuco em seis

Regiões Ecológicas com características climáticas parecidas e que muito se assemelham, no

caso pernambucano, aos modelos apresentados por outros autores, principalmente nos

contornos do Planalto da Borborema e da Depressão Sertaneja.

8 Estrutura Geral das Sínteses Naturalistas

Com base nas propostas analisadas até aqui, podemos prosseguir com mais segurança

numa discussão sobre a estrutura geral das sínteses naturalistas que, a nosso ver, tem duas

componentes gerais, uma conceitual e outra operacional.

A componente conceitual das sínteses naturalistas relaciona-se à concepção de um

modelo hierárquico, enquanto a componente operacional tem a ver com o modo de investigar

tal modelo. Por modelo hierárquico, nos referimos ao conjunto de níveis de organização

aceito por uma determinada proposta, a exemplo das unidades de paisagem e geoambientais

do ZAPE ou as regiões naturais e sub-regiões de Vasconcelos Sobrinho.

A diferença mais perceptível entre as propostas é de ordem léxica, ou seja, das

variações nos termos utilizados pelos pesquisadores para se referir a cada nível de

organização (unidades de paisagem, unidades geoambientais, etc.) e ao conjunto dos níveis

(ex.: ecorregiões, geoambiente, paisagens, regiões naturais, etc.). Muita discussão já foi

realizada sobre a aplicabilidade/adequação deste ou daquele termo (BERTRAND, 1972;

SOCHAVA, 1977; ISACHENKO, 1991; BAILEY, 2009, entre tantos outros). Contudo, aqui

consideramos que esta é uma questão particular a cada pesquisador e/ou centro de pesquisa,

ligada principalmente à história de cada um. Nestes termos, qualquer tentativa de impor um

sistema léxico ou conceitual ao outro fere a ética da discussão até o momento em que haja um

consenso entre os pesquisadores, o que não há.

Outra diferença é a abrangência do modelo hierárquico, isto é, a quantidade de níveis

que cada proposta abrange. Algumas SN fazem uma declaração explícita da quantidade de

níveis que possuem, como no caso do ZAPE, que determina dois níveis. Entretanto, outras

propostas não fazem tal declaração, apresentando um caráter implícito, é o caso da de

Ab’Saber.

Ainda quanto à abrangência, alguns autores diferenciam três conjuntos de níveis de

organização: globais (ou planetários), regionais e locais (ou topológicos), que se relacionam à

dimensão das áreas naturais (SOCHAVA, 1977; ISACHENKO, 1991; BAILEY, 2009).

Nestes termos, podem-se identificar alguns modelos que são eminentemente locais ou

regionais-locais, como as propostas do ZAPE e de Hilton Sette. Enquanto outros sistemas

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51

possuem uma abrangência dos três conjuntos (global-regional-local), seja de forma efetiva,

como em Isachenko e Shliapnikov ou apenas potencial como nas propostas de Ab’Saber e de

Velloso, Sampaio e Pareyn.

Outra diferença está no método de identificação dos níveis de organização, já

constituindo a componente de operacional das SN. Sobre isso, a discussão envereda pelos

trabalhos de Sochava (1977; 1978), Brierley e Fryirs (2005), Bailey (2009) e principalmente

A.G. Isachenko (1973; 1991). Estes autores defendem a importância de considerar os fatores

que determinariam o aparecimento de determinadas categorias de níveis de organização. Esta

ideia emana a partir do trabalho de Dokuchaev, sendo chamada de método das forças motrizes

(driving force method) (ISACHENKO, 1973).

A vantagem deste método é que, evitando a simples sobreposição de informações

(método da sobreposição – overlay method), é possível superar diversas questões que

dificultariam o reconhecimento das paisagens (ISACHENKO, 1973), dentre as quais se

destacam:

Muitos ecossistemas podem conviver num mesmo local, variando apenas com base na

escala do observador, o que impossibilitaria sua representação espacial. Todavia, estes

diferentes ecossistemas estariam sujeitos às mesmas forças motrizes que encadeiam as

relações ecológicas numa determinada área (BRIERLEY; FRYIRS, 2005; BAILEY,

2009);

As fronteiras entre as diferentes unidades estão em constante mudança. Contudo, as

modificações destas fronteiras estariam dentro dos limites impostos pelas forças

motrizes, como por exemplo, a fenologia (ISACHENKO, 1998; 2007; BAILEY,

2009);

A interação entre os organismos pode gerar diferentes padrões espaciais

independentemente das variações abióticas. Estas variações, porém, estariam dentro

do limite das forças motrizes com dimensões superiores (SOCHAVA, 1977; 1978;

BAILEY, 2009).

A adoção do método das forças motrizes conduz a uma importante questão: como

determinar e ordenar as forças motrizes?

Se propondo a solucionar esta problemática, Isachenko (1973), analisando diversas

metodologias soviéticas de cartografia de paisagens, identifica duas categorias de sistemas de

ordenamento das forças motrizes, que o mesmo denominou unisseriais e bisseriais.

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52

Os sistemas unisseriais são compostos por uma única série de unidades subordinadas,

em que os níveis de organização passam a ser definidos, geralmente, pela alternância de

critérios bioclimáticos (ou zonais) e critérios geológico-geomorfológicos (ou azonais).

Para Isachenko (1973), o problema com esta categoria de sistema é que nem sempre

há relação genética entre as unidades de níveis de organização adjacentes, sendo cada nível

representativo de um tema ambiental (geologia, solos, clima, etc.), ou seja, a hierarquia não

representa a organização espacial dos fenômenos, mas um mero agrupamento de informações

de naturezas diferentes.

Já os sistemas bisseriais, definem cada nível de organização pelo cruzamento de forças

motrizes de origem bioclimática (zonais) e geológico-geomorfológicas (azonais). Assim, é

necessário definir unidades zonais, unidades azonais e depois cruzá-las, derivando unidades

de síntese. A Figura 14 traz o exemplo apresentado por Isachenko (1991).

Figura 14. Sistema Bisserial para Determinação de Áreas Naturais pelo Método das Forças Motrizes.

Fonte: Isachenko, 1991. p.301. Modificado por Cavalcanti, 2010.

O problema do sistema bisserial é que ele conduz invariavelmente à divisão lógica,

como abordagem de investigação dos níveis de organização. Esta abordagem (também

chamada top-down, downscaling ou ainda topo-base) caracteriza-se pela determinação dos

níveis inferiores a partir dos superiores, o que pode gerar problemas com o traçado dos limites

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53

das unidades inferiores, que perdem seu detalhamento, pois têm seus limites na dependência

dos níveis superiores (CAVALCANTI, 2010).

Em contraponto, temos a abordagem de agrupamento (ou bottom-up, upscaling ou

ainda base-topo) que consiste na determinação dos níveis superiores pelo agrupamento das

unidades de níveis inferiores, é o caso da proposta do ZANE. O problema desta abordagem é

que as unidades superiores podem ter seus limites subestimados pela desconsideração de

algum fator importante para o nível superior e que não foram utilizados no nível inferior, é o

caso dos limites do Planalto da Borborema no ZANE (e na proposta das Ecorregiões) que

diferem bastante do modelo derivado de considerações morfoestruturais de Corrêa et

al.(2010) e mesmo do ZAPE.

Definidas as unidades, seja por agrupamento ou divisão lógica, as mesmas podem ser

representadas cartograficamente como indivíduos (regiões ou geócoros) ou categorias (tipos,

táxons ou geômeros). No primeiro caso, cada unidade é representada individualmente (ex.:

Planalto da Borborema, Raso da Catarina, etc.). No segundo caso, unidades similares são

representadas como parte de uma mesma categoria (ex.: Planaltos, Bacias Sedimentares, etc.).

Assim, os mapas de paisagens podem ser regionais (ou corológicos), quando representam as

unidades individualmente, e também podem ser tipológicos (taxonômicos ou ainda

categóricos), quando as unidades são representadas por tipos (ISACHENKO, 1973).

No caso dos mapas de regiões, o termo aqui não pode ser confundido com a ideia de

abrangência regional, discutida anteriormente. Logo, a palavra região passa a ter dois

significados, podendo ser aplicada tanto para indicar uma determinada dimensão espacial na

superfície terrestre quanto para designar geócoros (indivíduos geográficos) de qualquer

dimensão.

Em 1978, Sochava propõe a elaboração de mapas taxo-corológicos, ou seja, aqueles

em que as unidades são representadas ao mesmo tempo como indivíduos e como tipos, que na

terminologia proposta pelo referido pesquisador seriam geócoros e geômeros,

respectivamente. Os geócoros seriam organizados em diferentes ordens, referindo-se à sua

posição na hierarquia das paisagens. Enquanto os geômeros seriam organizados em diferentes

categorias, representando o compartilhamento de atributos constituintes (tipo de solo,

drenagem, biocenose, etc.).

Seguindo a proposta taxo-corológica, Semenov e Purdikh (1986), publicaram um

mapa de geossistemas do sul da Sibéria e utilizando de artifícios da cartografia temática,

indicaram ao mesmo tempo indivíduos e tipos de paisagens. Os limites individuais eram

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54

determinados por linhas com diferentes espessuras, enquanto os tipos de geossistemas eram

marcados por diferentes texturas.

Geralmente, nos mapas de pequenas áreas, a hierarquia das áreas naturais tende a ser

construída pela abordagem do agrupamento, indicando que talvez esta seja uma abordagem

mais indicada para estudos locais. Em todo caso, Isachenko (1973) sugere que o ideal é

observar as paisagens ‘de cima’ e ‘de baixo’, ou seja, não se limitar a trabalhos de gabinete ou

de campo, fazendo uso tanto da divisão lógica quanto do agrupamento, a fim de conseguir o

melhor resultado sobre a hierarquia das paisagens.

9 Considerações Finais

Neste capítulo foram apresentadas algumas propostas de síntese naturalista para o

Estado de Pernambuco, as mesmas tendo sido analisadas com base no seu sistema de gestão

da informação, isto é, quanto às suas características de coleta, armazenamento, classificação e

utilização dos dados.

A compreensão das sínteses naturalistas enquanto sistemas de gestão da informação

facilitou a comparação entre as diversas propostas e sua estrutura geral, uma vez que forneceu

elementos básicos para a analogia.

Do ponto de vista da coleta e armazenamento da informação, podem-se diferenciar

dois grupos principais: aqueles que fazem uso de produtos de sensoriamento remoto e

geoprocessamento (as classificações mais recentes, a partir da década de 1990) e aqueles que

não fazem (anteriores a 1990).

Quanto ao emprego de dados auxiliares (planialtimétricos e temáticos: geologia, clima,

etc.), também é possível diferenciar os mais antigos, daqueles mais recentes (após 1990),

sobretudo pelo volume de informação que passou a ser obtido a partir dos trabalhos da

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e do Projeto

RADAMBRASIL14

.

Em relação às classificações, percebeu-se que, na maioria dos casos, os autores

optaram por representar a hierarquia de suas unidades com dois níveis de organização (às

vezes três). Uma explicação plausível seria a facilidade de apresentação da informação em

poucos níveis. Além disso, adotar níveis mais detalhados seria difícil, sobretudo considerando

as informações disponíveis e que os trabalhos visam representar contrastes numa área de

aproximadamente 100.000 km² (Estado de Pernambuco).

14

O Projeto RADAMBRASIL operou entre 1970 e 1985 e teve entre seus objetivos o mapeamento dos recursos

naturais no Brasil, produzindo mapas temáticos diversos (geologia, geomorfologia, vegetação, etc.).

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55

Sobre o nível de detalhamento adotado, com exceção da proposta semidetalhada do

ZAPE (1:100.000), todas as demais classificações se enquadram apenas em nível de

reconhecimento, o que abre portas para mais estudos de semidetalhe e detalhe no território

pernambucano.

Em termos de fundamentação teórica, percebe-se que as propostas surgem em meios

bastante diversos (geografia, geologia, agronomia, ecologia) e provenientes de diversos países

(França, Alemanha, Ucrânia, Rússia, Itália e Estados Unidos da América), mas, no caso

brasileiro, cita-se o peso da geografia física global do francês Georges Bertrand, que está

presente nos esquemas de Ab’Saber, do ZANE/ZAPE e da CPRM.

Ficou claro que o desenvolvimento das propostas tem certa dependência instrumental,

uma vez que a quantidade, qualidade e detalhamento dos dados têm aumentado junto com a

diversificação de centros de pesquisa (principalmente instituições governamentais –

EMBRAPA, CPRM) e da adoção de geotecnologias. Contudo, vale ressaltar que, em todos os

casos, as bases de dados utilizadas não foram resultantes apenas de dados orbitais, mas

principalmente das observações de campo.

Analisando a estrutura geral das sínteses naturalistas percebemos que elas facilitam, e

na maioria das vezes se fundamentam em, uma compreensão da realidade ecológica do

território a partir de um modelo hierárquico. Todas as propostas fazem uso de um sistema

léxico e possuem uma abrangência (global, regional, local) cuja variabilidade muito tem a ver

com as instituições e pesquisadores de diferentes locais, tanto quanto dos propósitos

envolvidos na sua elaboração.

Os modelos hierárquicos são operacionalizados por um método (overlay, driving

forces) que, no caso das forças motrizes, são regidos por sistemas ordenadores (unisseriais ou

bisseriais) e investigados por abordagens de organização da informação (divisão lógica ou

agrupamento), sendo representados individualmente ou categoricamente.

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56

Capítulo 2

Origens e Desenvolvimento do Conceito de Áreas Naturais

1 Introdução

Ecossistemas, geossistemas, regiões naturais, ecorregiões, paisagens, biomas,

complexos biogeocenóticos, complexos territoriais naturais e tantos outros termos tentam

representar, nas acepções de distintos autores, a ideia de que existe uma ordem natural

promovendo a organização da superfície terrestre a partir das relações entre seus elementos

constituintes internos (rochas, solos, seres vivos, água, etc.) e alguns externos (sol,

movimentos orbitais, atividade interna do planeta). Estas relações produziriam um mosaico de

padrões espaciais observáveis que seriam autônomos, mas não independentes, apresentando

uma organização hierárquica natural.

Neste contexto, fica claro que, apesar de tantas variações terminológicas entre

diferentes propostas de síntese naturalista, duas ideias estão claramente subjacentes à maioria

delas (ou todas): a primeira refere-se à noção de áreas naturais homogêneas, elemento sem a

qual a própria síntese não existiria; a segunda diz respeito à organização hierárquica destas

áreas.

Um olhar mais atento sobre a essência da ideia de área natural, em distintas propostas,

nos indica pelo menos três concepções distintas quanto às sínteses naturalistas. Uma delas é

essencialmente biocêntrica, no sentido de que tem seu foco na busca da representação de áreas

homogêneas do ponto de vista das biocenoses, mas cujo fundamento explicativo seria as

relações ecológicas entre os seres vivos e destes com o seu ambiente. Nestes termos, teríamos

a geografia ecológica de Vasconcelos Sobrinho (1941; 1949; 1970) e sua concepção de

regiões naturais. Outros exemplos seriam a biogeografia ecológica de Lima (2012), o modelo

ecorregional de Bailey (2009), a concepção de biomas, biogeocenoses e complexos

biogeocenóticos de Walter (1986) e mesmo a noção de níveis de organização em ecologia de

Odum e Barrett (2005).

Numa concepção mais pragmática e voltada para o planejamento de uso da terra,

teríamos a proposta de land systems de Christian e Stewart (1952). Este tipo de proposta dá

aos solos e à relação solo-paisagem o aspecto essencial da síntese naturalista, assumindo as

necessidades prementes da Sociedade no tocante à resolução de problemas agropecuários,

industriais e até da engenharia civil (Cf. ZUQUETE; GANDOLFI, 2004). Um exemplo é a

proposta de unidades de paisagem e geoambientais da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA) (SILVA et al., 2001).

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57

Uma terceira concepção, talvez intermediária entre as propostas biocêntricas e aquelas

mais pragmáticas, se caracteriza pelas busca das relações entre os componentes da natureza,

sem privilegiar qualquer de seus atributos, sendo policêntrica. Esta perspectiva é associada às

práticas que se desenvolveram na geografia física da Rússia e países centro-europeus, como a

Alemanha, recebendo denominações como ciência da paisagem (BERG, 1913), ecologia de

paisagens (TROLL, 2006), estudo de geossistemas (SOCHAVA, 1978) entre outras.

Nos três casos, podemos ver uma clara associação das perspectivas biocêntricas,

pragmáticas e policêntricas a determinados campos do saber como ecologia-biologia,

agronomia-engenharia e geografia, respectivamente. Com base nisso, o objetivo deste capítulo

é investigar as raízes do conceito de área natural, sua diversificação terminológica e também

o desenvolvimento dos processos metodológicos associados a seu estudo.

Para tanto, recorreu-se a ferramentas historiográficas como forma de subsidiar uma

representação acerca do conceito em questão, de suas origens e seu desenvolvimento. Na

Geografia, o uso das referidas ferramentas tem sido realizado com o propósito de, entre outras

coisas, construir uma narrativa da história desta disciplina e dos fatos ligados a ela

(Historiografia da Geografia).

2 Aspectos metodológicos

O ramo historiográfico da ciência geográfica tem passado, nas últimas décadas, por

discussões de cunho teleológico, sumarizadas por Barros (2007) em duas perspectivas gerais,

uma de cunho contextual, que tem como uma de suas preocupações centrais o estudo do poder

dentro da configuração disciplinar. E outra perspectiva, de cunho propositivo, que busca dar à

historiografia da disciplina uma finalidade prática, no sentido de ser aplicada no auxílio à

mudança nos rumos da ciência em questão.

Independentemente de perspectivas, é certo que a historiografia recente da disciplina

tem, em muito auxiliado na compreensão de como se tem pensado e praticado a geografia

(BARROS, 2012). Neste sentido, Reis Júnior (2008) destaca quatro linhas temáticas gerais de

desenvolvimento do componente historiográfico, a saber:

Releitura de obras clássicas com o objetivo de obter revelações sobre conteúdos que

apresentam o conhecimento geográfico;

Análise de textos de um geógrafo específico (Cf. KASAI, 1975; REIS JÚNIOR, 2007;

BARROS, 2008; VITTE; SILVEIRA, 2009);

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58

Preparação de documentos tratando da difusão de determinados princípios geográficos

e/ou crescimento de escolas geográficas, no sentido da partilha de princípios teóricos e

metodológicos similares e;

Estudo detalhado de fontes documentais que evidenciem o modo como as instituições

têm promovido a recepção, adaptação de comunicação do conhecimento geográfico.

Neste sentido, estas instituições agiriam em consórcio com o ambiente político,

econômico e cultural de um local, funcionando como sítios culturais (BARROS,

2006).

Não necessariamente essas temáticas seriam levadas a cabo isoladamente umas das

outras, podendo ser combinadas na obtenção de resultados mais significativos. Sendo assim, o

tratamento dos objetos analíticos, componentes das supracitadas classes temáticas, é que

revelarão os contornos assumidos pela narrativa então construída.

Além dos sítios culturais, destacam-se outros objetos analíticos, tais como a análise de

papéis-chave na difusão ou restrição do conhecimento, seja por instituições ou pessoas em

particular; afinidades, confluências e divergências teórico-conceituais e metodológicas, entre

outras (REIS JÚNIOR, 2008).

Neste trabalho (e tendo consciência de que as sínteses naturalistas podem ser tratadas

como sistemas de gestão da informação sobre áreas naturais) temos como principal objeto de

análise o conceito de área natural entendido com produto das relações entre os componentes

da natureza de modo a formar um todo autônomo do ponto de vista funcional. Este conceito,

como defendemos, recebe nomenclaturas diversas ao longo da história, revelando nuances em

termos de orientação metodológica (paisagem, ecossistema, geossistema, região natural, estilo

fluvial).

Para destrinchar e discutir o conceito de áreas naturais foi montada uma estratégia de

investigação a partir de fontes e análise do contexto das fontes. Para tanto, partimos de uma

leitura inicial de trabalhos de cunho mais propositivo sobre os termos e técnicas associadas ao

estudo de áreas naturais e sua história.

Para cada proposta analisada, sua compreensão foi ampliada a partir do estudo do

contexto (sítios culturais) do(s) autor(es), através de busca em documentos históricos de

universidades e instituições de pesquisa, bem como de outras fontes que se fizeram relevantes.

Esta ampliação do contexto foi complementada pela seleção das fontes mais fundamentais

apontadas, pelo autor analisado, para compreensão do conceito de áreas naturais.

Assim, as fontes foram então verificadas e repetiu-se a leitura sobre os sítios culturais

dos autores e a busca por suas fontes. De forma sucessiva, tentou-se rastrear as origens do

conceito, suas nuances, seus desdobramentos e filiações.

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59

Muitas vezes recorreu-se à leitura de documentos históricos e análise de textos

específicos sobre a vida de alguns autores-chave. Deste modo, a busca sucessiva pelas fontes

aliada à análise dos contextos viabilizou a compreensão que tentamos organizar e apresentar a

seguir.

3 Origem Intuitiva e as Contribuições Greco-Latinas

Decerto que o reconhecimento de aspectos da natureza e de áreas naturais é intuitivo,

no sentido de que se relaciona ao próprio processo de adaptação do homem ao seu meio. A

busca por abrigo e fontes de abastecimento, melhores locais para habitação e até o

conhecimento do terreno para manobras de combate, estão entre aspectos primais que

fundamentam uma concepção etnogeográfica das áreas naturais.

Na Bíblia, por exemplo, se encontra uma passagem em que Moisés (que viveu há

cerca de 3500 anos) enviava homens para avaliar o terreno que mais tarde seria ocupado pelos

israelitas15

(BÍBLIA, 2010). Outra obra antiga que faz referência ao conhecimento do terreno

é a Arte da Guerra, de Sun Tzu, escrita por volta de 2500 anos atrás (SAWYER, 2007).

Decerto que o reconhecimento de áreas naturais está em parte associado a uma

diferenciação de áreas gerais, envolvendo não só aspectos naturais, mas também culturais.

Neste sentido e, indo além do ponto de vista etnogeográfico, é no pensamento greco-latino

que se encontram os registros mais antigos de um tratamento sistemático (científico) do

conceito de diferenciação de áreas.

Sobre isso, Besse (2006) lembra-nos que a ideia de diferenciar áreas, por comparação

dos aspectos dominantes paisagísticos (vegetação, relevo, águas, cidades, etc.) em locais

distintos, foi apontada como objeto da Geografia já em Ptolomeu (90-168 d.C.). O geógrafo

de Alexandria materializou duas características intrínsecas aos lugares, nos conceitos de

natura (características particulares de uma dada área) e positio (relação de vizinhança, ou

seja, diferença entre áreas). Assim, duas áreas poderiam ser diferenciadas uma da outra se

forem comparados (positio) os conjuntos de suas características particulares (natura).

A Geografia de Ptolomeu traz referências não somente à ideia de diferenciação de

áreas e suas componentes (positio e natura), mas também ao conceito de escala no sentido da

representação cartográfica. Para este geógrafo egípcio, existiam três perspectivas para

15

“Enviou-os, pois, Moisés a espiar a terra de Canaã; e disse-lhes: Subi ao Neguebe e penetrai nas montanhas.

Vede a terra, que tal é, e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, se poucos ou muitos. E qual é a terra em que

habita, se boa ou má; e que tais são as cidades em que habita, se em arraiais, se em fortalezas. Também qual é a

terra, se fértil ou estéril, se nela há matas ou não. Tende ânimo e trazei do fruto da terra. Eram aqueles dias os

dias das primícias das uvas.” (Bíblia, Números 13:17-20.)

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60

diferenciação de áreas, que estavam diretamente relacionadas com a escala de observação

fosse ela global (geografia), regional (corografia) ou local (topografia).

Esta concepção sobre os termos geografia, corografia e topografia ainda estavam em

voga no auge das discussões regionalistas no início do século 20, como pode ser notado em

Preston E. James (1929). Contudo, além da discussão sobre escala de representação, temos

uma nuance mais naturalista do conceito de diferenciação de áreas e que mais se aproxima da

ideia de áreas naturais, que é a ideia de zonas naturais.

Retomando o pensamento de Estrabão (64/63 a.C. – 24 d.C.), em sua Geografia, o

mesmo considera Homero (século 8 a.C.) como fundador da ciência geográfica, sobretudo

pelas descrições das regiões de terra e mar presentes na Ilíada (HAMILTON; FALCONER,

1854), e vai além de Homero, conferindo à geografia um status elevado, quando afirma que:

“Além de sua grande importância para a vida social e a arte de governar, a

geografia nos revela os fenômenos celestes e nos familiariza com os

ocupantes da terra e do oceano, e a vegetação, frutos e peculiaridades dos

vários quadrantes da Terra, um conhecimento que marca aquele que o

cultiva como um homem diligente no grande problema da vida e da

felicidade” (Estrabão 1.1.1, HAMILTON; FALCONER, 1854, p.1-2.

tradução nossa).

Ainda no contexto da cultura homérica, é na Escola Eleata, Pré-Socrática, representada

por Parmênides de Eleia16

(530-460 a.C.), que a diferenciação de áreas naturais possui seu

registro material mais antigo, este registro guarda uma contribuição baseada na concepção de

zonas naturais17

.

16

A Escola Eleata desenvolveu-se na cidade de Elea (atual Itália), fundada por gregos jônios refugiados de sua

cidade natal, Phocaea (atual Turquia), que havia sido sitiada pelo exército persa de Ciro, o grande, num dos

conflitos iniciais das Guerras Greco-Pérsicas. De acordo com Heródoto, os jônios de Phocaea foram os primeiros

gregos a realizarem grandes viagens pelos mares Adriático, Tirreno, Mediterrâneo e Negro, alcançando o Egito,

a França, a costa atlântica da atual Espanha e o Norte da Turquia, chegando a desenvolver colônias em alguns

desses lugares (GODLEY, 1920; JONES, 1924).

Neste contexto de uma organização social que mantinha contato com povos diversos, e de localidades

distantes, os jônios de Phocaea construíram a cidade de Elea, em que Parmênides, ao que se sabe, cumpria a

função de legislador e provavelmente médico, sendo considerado por Aristóteles um physikói, isto é, àquele que

se dedica à observação da natureza (SANTORO, 2011). 17

O que resta do pensamento de Parmênides são fragmentos de seu poema épico “Sobre a Natureza” que,

estruturado de forma a provavelmente guardar um potencial de transmissão oral, à moda do que era feito à

época, é apresentado duas partes, a saber: “A via da verdade” e “A via das opiniões dos mortais”, a primeira

tratando daquilo que é (do ‘ser’), enquanto o segundo lida com questões cosmológicas (SANTORO, 2011).

Na interpretação da cosmologia parmenidiana de Coxon (2009), a esfera terrestre estaria dividida em

anéis centrais de fogo, anéis de ‘noite’ nas calotas da esfera e intermediando estes, anéis mistos. Esta proposta

entra em acordo com o testemunho de Posidônio, citado em Estrabão, que afirma ter sido Parmênides o primeiro

a dividir a Terra em cinco zonas (uma tórrida, duas temperadas e duas frígidas), em referência às variações da

natureza do equador aos polos (HAMILTON; FALCONER, 1854, p.143).

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61

Cerca de 600 anos depois de Parmênides, sua formulação teórica sobre as zonas da

Terra aparecem na Geografia de Ptolomeu, que utiliza o conceito zonal para deduzir que

localidades que, por partilhar o mesmo clima deveriam estar a uma distância similar em

relação ao equador (BERGGREN; JONES, 2001). Esta dedução se baseia no conceito de que

áreas com latitudes similares possuiriam uma mesma inclinação do eixo da esfera celeste em

relação ao plano do horizonte, resultando num mesmo comprimento máximo do dia. Estas

faixas com mesma inclinação eram chamadas de Klimata (ou Klima, no singular)

(BERGGREN; JONES, 2001; CLAVAL, 2010).

Como se pode perceber, o conceito de áreas naturais guarda elementos tanto da

diferenciação de áreas quanto das zonas naturais. Entretanto, muito ainda havia de acontecer

antes que o conceito de áreas naturais, como o definimos, fosse formulado e adaptado às

necessidades da academia e da sociedade.

O manto de incertezas que caiu sobre a Europa com a divisão e queda do Império

Romano, com o período das migrações e o início da alta idade média provocaram uma

retração da divulgação do conhecimento geográfico, que ganhou vazão apenas no mundo

islâmico medieval. Contudo, o fim da idade média trouxe uma retomada europeia da

geografia ptolomaica, que ganhou vulto na obra de Bernard Varen (ou Bernardus Varenius,

como ficou conhecido) (BAUAB, 2011; 2012).

4 Bernard Varen e o Renascimento da Geografia Europeia

Para o filósofo Jean-Marc Besse (2006), as ideias de positio e natura, são

redescobertas no século 16 tanto pelos corógrafos quanto pelos pintores do renascimento

europeu. Para ambos, a representação do mundo era obtida pela contemplação da paisagem e

seus detalhes, sendo representada numa carta ou num quadro. O mesmo autor chega a afirmar

que a noção de paisagem utilizada pelos pintores era a mesma que balizava o empirismo dos

geógrafos e corógrafos daquela época.

Assim, a compreensão dos diferentes lugares era atingida pela observação

pormenorizada dos aspectos visíveis do mundo (natura) e sua comparação com a variação

destes aspectos em outros lugares (positio) forneceria uma ideia da geografia/corografia.

Estrabão cita Posidônio que faz referência a Parmênides como o primeiro a propor uma teoria das zonas

geográficas. Contudo, Hamilton & Falconer (1854) afirmam que, de acordo com Plutarco, uma divisão da Terra

em cinco zonas já havia sido realizada tanto por Thales (624 - 556 a.C.) quanto por Pitágoras (580 - 490 a.C.)

antes mesmo de Parmênides.

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62

É esta concepção que parece ter norteado o trabalho de Bernard Varen18

(Bernardus

Varenius, no Latim) em sua obra Geografia Geral (1650). Nesta obra, o autor discute as bases

da Geografia, seu objeto, objetivos e métodos, assimilando, ainda que de forma implícita as

noções de positio e natura.

Para Varen, o objeto da Geografia seria a Terra e principalmente suas partes externas,

não devendo resumir-se a uma simples enumeração e descrição das regiões, devendo ser

estudada a partir de duas perspectivas: uma Universal e outra Particular.

A Geografia Universal de Varen era voltada para caracterização topográfica e

geodésica e de tipos ambientais, como tipos de rios, de lagos, de desertos, zonas e climas,

além de explicações sobre o funcionamento dos sistemas ambientais, como a variação da

salinidade dos corpos hídricos em terras tropicais, que diminuía em períodos chuvosos e se

acentuava em períodos de estiagem (VARENIUS, 1712; 1734).

Já a Geografia Particular, deveria se focar no uso das leis e tipologias para

diferenciação e descrição das regiões do Planeta (regionum Telluris19

, no original em latim),

possuindo duas subdivisões: a Corografia20

voltada para a descrição de regiões com uma

extensão razoável e a Topografia21

, que busca dar uma visão de algum lugar ou pequeno trato

da Terra (VARENIUS, 1712; 1734).

É evidente que a diferença entre corografia e topografia reside principalmente na

abrangência da região estudada, sendo aquela da topografia a descrição de um lugar em que se

permitisse ter uma visão de algum trato de terra, a primeira carecendo de observações em

pontos distintos de uma mesma região.

18

Bernard Varen (1622-1650) nasceu na região de confluência entre os Rios Elba e Jeetzel à época em que a

cidade de Hitzacker, passava por um contexto de caça às bruxas e promoção do conhecimento formal, baseado

no latim. Anos antes do nascimento de Varen, a cidade de Hitzacker tornou-se residência (desde 1604) de

Augusto, o jovem (duque dos Guelfos – ligados ao Papa), tendo este duque condenado à morte (em 1610) 70

mulheres da região, acusadas de bruxaria. Anos mais tarde, o mesmo duque construiu um castelo (1614), uma

escola de latim (1617) e uma biblioteca (transferida para Wolfenbüttel em 1636), criando um ambiente de estudo

que pode ter sido utilizado por Varen (SCHUCHARD, 2007).

Filho do pregador da corte e irmão de um teólogo luterano e reitor da Universidade de Rostock (180 km

ao norte de Hitzakcer), Bernard estudou medicina em Hamburgo (a 100 km de Hitzacker) entre 1640 e 1642, e

em Königsberg (hoje Kaliningrado, a 834 km de Hitzacker) em 1645.

Em função dos conflitos entre protestantes na região do Sacro Império Romano-Germânico (Guerra dos

Trinta Anos – 1618 a 1648), Varen muda-se para Amsterdam, que na época apresentava ampla divulgação de

conhecimentos e práticas de cartografia, sobretudo àquelas conduzidas pelos estudiosos da Universidade de

Leiden (cidade em que viria a falecer em 1650). Em 1649, defende sua tese em Medicina e também publica a

descrição do reino do Japão (Descriptio Regni Japoniae Cum quibusdam affinis materiae) (SCHUCHARD,

2007). 19

Regionum na edição em latim de 1712 e Country na tradução inglesa de 1734. 20

Corographia regionis alicujus, magnitudem saltem mediocrem habentis, descriptionem proponit. (VAREN,

1712, p.2). 21

Topographia parvum aliquem telluris tractum seu locum describit (Ibid., p.2).

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63

Para constituir as observações da Geografia Particular de cada região, Varen

considerava importante reconhecer um determinado conjunto de características. Neste sentido,

sumarizamos na Figura 15 aquilo que o autor chama de ‘propriedades de uma região’, que

trata-se de uma proposta de caracterização baseada na descrição de tópicos relacionados a três

grupos de informação distintos, a saber: celestiais, terrestres e humanos.

Com base nesta figura, pode-se compreender que a ideia de Geografia em Varen é bem

ampla, abrangendo a elaboração de teorias que tinham por objetivo determinar não apenas o

posicionamento e a forma de cada lugar, mas também o funcionamento de suas características

abióticas (clima, rios, lagos, etc.), bióticas (fertilidade, frutos, florestas) e a composição étnica

e cultural.

Figura 15. Propriedades da Geografia Particular de uma região.

Celestiais Terrestres Humanas

Distância de um lugar até o Equador Limites e fronteiras de cada

região

Estatura dos habitantes, vida,

alimento e bebida, origem,

etc.

Obliquidade do movimento diurno das

estrelas sobre o horizonte de um lugar

Figura (relacionada à forma

geodésica)

Trabalhos e técnicas,

mercadorias e preços

Duração do dia mais longo e mais

curto

Magnitude (ex: área ocupada

por um país)

Virtudes e vícios,

inteligência, conhecimentos

O clima e a zona Montanhas Costumes infantis, o

matrimônio, a morte

Temperatura e estações do ano (chuva,

neve, vento e outros meteoros)

Águas (nascentes, rios e

baías)

Forma de expressão e língua

Surgimento, aparência e continuidade

das estrelas no horizonte

Bosques e desertos Regime Político

Estrelas que passam através do Zênite

de um lugar

Fertilidade e esterilidade e os

tipos de frutos

Religião e situação da Igreja

Aceleração com que cada lugar

revolve

Minerais e fósseis Cidades

- Criaturas viventes Feitos famosos

- Longitude Homens ou mulheres

ilustres, artistas, inventos

Fonte: Varen (1734, p.3-5). Organização e tradução nossa.

Analisando a referida obra, Bauab (2011) afirma que o trabalho de Varen assimila e

explicita os valores da modernidade como não havia sido feito até então em trabalhos de

Geografia, destacando o caráter complementar da busca por leis gerais como condição

apriorística para o desenvolvimento de estudos regionais. É neste sentido que o trabalho de

Varen constitui forte influência sobre o pensamento das SN’s, uma vez que inaugura e

sintetiza a necessidade pelo estabelecimento de tipologias como basilares para a observação,

descrição e compreensão de áreas.

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64

A diferenciação entre universal e particular na obra de Varen é uma tentativa de

promover uma geografia abrangendo dois estilos de ciência, que foram reconhecidos por

Dyson (1988). Para este, a ciência apresentaria dois estilos ou tradições principais: uma

unificadora e outra diversificadora, que parecem bem marcadas na proposta de geografia

particular e universal de Varen, respectivamente.

A importância atribuída, na época, à obra de Varen pode ser atestada pelas oito

edições em latim, sete em inglês, uma em holandês, em francês e em russo, tendo sido

editadas de 1650 a 1765, com algumas versões recebendo comentários e ilustrações de vários

outros autores, dentre os quais Isaac Newton.

Traduzida para o russo (em 1719), a obra teve grande influência sobre o

desenvolvimento da Geografia dos países com acesso a este idioma, que passaram a adotar

uma perspectiva de ciência da terra e de sua superfície, valorizando este tipo de estudos

baseados na descrição com base em tipologias (MAZURKIEVICZ, 1992), influência que

ainda ecoa na própria estrutura contemporânea das faculdades de Geografia da Rússia (ver

CAVALCANTI, 2010).

A preocupação de Varen com as origens dos diferentes atributos da superfície terrestre

ajudou a dar vazão a uma perspectiva na busca pelo conhecimento do planeta, que viria a se

desenvolver com maior ênfase nos séculos seguintes. A partir do século 18, as perspectivas

inauguradas pelo trabalho de Varen passam a ser reproduzidas e ganham ênfase, sobretudo no

ambiente acadêmico influenciado pelo Iluminismo Francês, conjugando um desdobramento

seminal para o surgimento do conceito de áreas naturais e das Sínteses Naturalistas.

5 Iluminismo, Enciclopedismo e História Natural

No século 18, no âmbito dos processos naturais, a Pequena Idade do Gelo22

contribuía

para a queda na produtividade agrícola na França (como em outros países da Europa). A isso

se conjugam o crescimento populacional que superava a oferta de alimentos, além de diversos

outros problemas como a crise fiscal, tributação excessiva e participação em guerras tanto na

Europa quanto na América e na Ásia. Neste contexto de frio, fome e disputas políticas,

despontaram na França as ideias iluministas de Voltaire, Diderot, Montesquieu e outros

contemporâneos como Locke e Kant, é onde a sobrevalorização da razão passa a dinamizar a

busca pelo conhecimento humano de uma forma especializada e especializante.

22

Consiste num período glacial que causou uma diminuição da temperatura, particularmente documentada na

Europa, entre os séculos XIII e XIX, com mínimos de temperatura em 1650, 1770 e 1850 (LADURIE, 1971).

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65

Um dos principais produtos intelectuais deste tempo foi a Encyclopédie ou Dicionário

Racional das Ciências, das Artes e das Profissões, uma enciclopédia organizada pelos

iluministas Denis Diderot e Jean d’Alembert entre 1757 e 1772, com 33 volumes, tendo

contribuições de Voltaire, Rousseau e Montesquieu, dentre outros. Tão famosa quanto a

História Natural de Buffon, esta obra trazia no frontispício uma ilustração simbolizando a

verdade como uma mulher cercada de luz, e cuja natureza era revelada pela razão e a

filosofia, que retiravam seu manto. Marcando um período de desenvolvimento vertical das

ciências, esta famosa enciclopédia traz uma classificação do conhecimento que colocava a

Geografia na seguinte posição hierárquica: Entendimento> Razão> Filosofia> Ciências da

Natureza> Matemática> Matemática Mista> Astronomia> Cosmografia> Geografia.

É nesta França, onde a necessidade de caracterização dos recursos se fazia premente,

que é publicada a carta mineralógica (1746) concebida por Jean-Etienne Guettard23

e

confeccionada por Philippe Buache24

. Esta carta inaugura, com a representação de temas

específicos, uma nova perspectiva para a cartografia e as ciências naturais, ampliando

verticalmente a perspectiva sobre a observação e representação das regiões ao retratar a

continuidade na distribuição dos minerais entre a França e a Inglaterra.

A partir do trabalho de Guettard e Buache, os estudos da natureza ganham uma nova

concepção, referente à possibilidade de caracterização temática e não mais enciclopédica

como na proposta de Varen. É o momento em que passa a se firmar uma divisão do território

não apenas em limites político-administrativos, mas associada a temas diversos. Ao próprio

Buache é atribuída a criação do conceito de bacias de drenagem, que o levou a mapear o

mundo conhecido (inclusive o Brasil), com base nos divisores de águas das principais bacias

hidrográficas.

23

Jean-Etienne Guettard (1715-1786) era neto de um boticário e passou a observar as relações entre as plantas e

o substrato sobre a qual estas se desenvolviam, o que despertou seu interesse sobre os minerais e as rochas.

Formado em Medicina em Paris e tornou-se curador das coleções de história natural do duque de Orleans, tendo

registrado as relações entre as plantas e os solos em seus trabalhos (GINESTE, 2003). 24

Philippe Buache de la Neuville (1700-1773), cartógrafo do rei da França, propôs o conceito de bacias de

drenagem em seu Essai de géographie physique (sendo talvez essa, a primeira utilização do termo ‘geografia

física’), como forma de diferenciação de regiões, proposta que exerceu grande influência entre geógrafos

franceses e alemães até meados do século seguinte (GUIMARÃES, 1963; LAGARDE, 1987). Buache ainda

publicou mapas de vários continentes representados pela divisão de bacias hidrográficas. Por basear-se em

inferência e dar pouca importância aos estudos empíricos para validação dos dados, o modelo classificatório de

Buache, baseado nas bacias hidrográficas, pôs em voga o que Debarbieux (2009) chamou de ‘o triunfo da ordem

cartográfica e o desdém da experiência’, rendendo críticas que atravessaram séculos, sobretudo porque os mapas

elaborados pela teoria de Buache muitas vezes colocavam montanhas em lugares que elas sequer existiam

(GUIMARÃES, 1963).

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66

Apesar de ser uma importante manifestação da cartografia temática, a proposta de uma

Carta do Solo25

ou Mineralógica já havia sido pensada pelo inglês Martin Lister, no final do

século anterior (mais precisamente em 1683), demonstrando que era uma questão de tempo o

despontar de uma nova perspectiva cartográfica.

Acentuando essa perspectiva temática e de especialidades promovidas pelo

pensamento racional, destaca-se a publicação da L’Histoire Naturelle, générale et

particulière, avec la description du Cabinet du Roi, uma enciclopédia de história natural

organizada por Georges-Louis Leclerc (1707-1788)26

, que receberia o título de Conde de

Buffon. Nenhuma outra obra teria tanta influência sobre as ciências naturais no século 18

como esta. Trata-se de uma coleção enciclopédica de livros abrangendo 36 volumes

publicados entre 1749 e 1789 e que teve como objetivo o estudo da história natural, incluindo

teorias voltadas para a explicação da formação de tudo o que existe no universo: planetas,

insetos, plantas, animais, minerais (LECLERC, 1749).

As ideias e iniciativas do Conde de Buffon fortaleceram e impulsionaram estudos

naturalistas de todo tipo. Um exemplo advém do trabalho de Nicolas Desmarest27

, que

influenciado pelas ideias evolutivas de Buffon, tornou-se reconhecido por ser o primeiro a

desenvolver um estudo aprofundado em vulcanologia, descobrindo a gênese dos basaltos na

Europa e sua associação aos vulcões, também sendo responsável por apresentar uma definição

e método para a geografia física, como consta na Encyclopédie, no ano de 1757, que o mesmo

apresenta como uma:

Descrição racional dos grandes fenômenos da terra e a consideração dos

resultados gerais deduzidos das observações locais e particulares,

combinadas e reunidas metodicamente em diferentes classes e em um plano

25

À época de Lister, o conceito de ‘solo’ associava-se à ideia de relevo, no sentido de uma unidade entre o

substrato (rocha) e sua forma na superfície. Este acepção ainda pode ser encontrada em Vasconcelos Sobrinho

(1941), quando afirma que as ‘elevações do solo’, acima dos 600m de altitude, diferenciam entre caatinga

hiperxerófila e hipoxerófila.

26

O Conde de Buffon nasceu em Montbard no centro norte francês e acumulou grande fortuna e prestígio ao

longo da vida. Administrando o Jardim Botânico do Rei, transforma-o num centro de pesquisa e museu,

cercando-se de naturalistas de todo tipo que o ajudariam a escrever sua Histoire Naturelle (ROGER, 1989;

JOSEPH, 2011). 27

Nicolas Desmarest (1725-1815) era filho de um professor da pequena Soulaines-Dhuys, no Centro-Norte

francês, após a morte de seu pai, foi enviado por seu tutor para estudar no Colégio de Troyes em 1741 (58 km a

Leste de Soulaines-Dhuys) e depois foi estudar em Paris entre 1746 e 1747. Apesar de trabalhar como inspetor

geral de manufaturas durante toda a vida, Desmarest torna-se membro da Academia de Ciências em 1771

defendendo um trabalho sobre a origem dos basaltos (LESAGE, 2002).

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67

capaz de fazer ver a economia natural do globo, considerada como uma

massa que não é nem habitada nem fecunda.28

Nesta definição, a Geografia Física que Desmarest propunha estava preocupada com a

economia da natureza, como defendida por Buffon e consoante com o contexto da França à

época. Além disso, baseava-se eminentemente num processo classificatório decorrente da

observação29

. Esta necessidade de basear as explicações sobre os lugares na interpretação

daquilo que é observado justifica-se na valorização da estética paisagística que ganhava

espaço, sobretudo a partir das contribuições dos pintores renascentistas e sua estreita relação

com a ideia de Geografia Particular, como descrita por Bernard Varen.

Baseado em suas observações na região do Vivarais no sul da França, o abade francês

Jean Louis Soulavie30

propõe a noção de região natural, ao estudar o controle da altitude sobre

as variações do clima e da vegetação nos Alpes franceses, tema que seria explorado por

Humboldt para as Américas (GODLEWSKA, 1999).

Em sua ‘Geographie de la Nature’ e na sua ‘Histoire naturelle de la France

méridionale’, o abade Soulavie compreende e propõe sua ‘geografia da natureza’ como

distribuição dos elementos minerais, animais e vegetais, tratando-os não apenas do ponto de

vista descritivo e cartográfico, não obstante sumarizando o tipo de método que Humboldt

viria a denominar ‘empirismo racional’, legando um princípio explicativo para distribuição de

regiões naturais, quando estabelece um paralelo entre a distribuição latitudinal e altitudinal do

calor e sua relação com o clima e a vegetação31

:

“3. A distribuição do calor atmosférico, do mais ao menos, da base das

montanhas ao seu topo e da zona tórrida para os polos é tal que, da França

28

“description raisonnée des grands phénomènes de la terre, & la considération des résultats généraux déduits

des observations locales et particulières, combinées et réunies méthodiquement sous différentes classes & dans

un plan capable de faire voir l’économie naturelle du globe, en tant qu’on l’envisage seulement comme une

masse qui n’est ni habitée, ni féconde.” (DESMAREST, 1757, p.613).

29

Esta preocupação de conduzir uma Geografia Física baseada na observação fomentou uma troca de farpas

acadêmicas entre geógrafos dos séculos 18 e 19, entre aqueles que defendiam esta postura e aqueles que faziam

uma geografia de gabinete (géographie de cabinet) ao estilo de Buache, dentre os quais Desmarest e Humboldt

foram críticos (DEBARBIEUX, 2009). 30

Jean Louis Soulavie (1752-1813) era membro de uma família rural burguesa da região de Antraigues (nos

Alpes franceses), tendo estudado no Colégio Saint-Nicolas em Avignon (a 133 km de Antraigues) e

posteriormente em no Seminário do Espírito Santo. Formado engenheiro geógrafo, foi chefe do depósito das

cartas do ministério da guerra. Publica a “Géographie de la nature” em 1780 como um prelúdio para sua

“l’Histoirie naturelle de la France méridionalle”, composta por 8 volumes escritos entre 1780 e 1784 e que lhe

rende o convite para tornar-se membro correspondente da Academia Real da França e da Academia de Ciências

de São Petersburgo, provavelmente mantendo contato com seu contemporâneo Ivan Lephekin. 31

Em 1495, o cardeal italiano Pietro Bembo foi provavelmente o primeiro a descrever as relações de variação da

vegetação com a altitude em seu De Ætna, promovendo a estratificação zonal do Monte Etna, na Itália.

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meridional, o gelo situado nas montanhas acima dos mil e quinhentos metros

sobre o nível do Mediterrâneo para os polos, há muitas centenas de

quilômetros ao ponto onde o gelo é eterno, como nos planaltos superiores

das montanhas da França meridional acima dos mil e quinhentos metros,

onde o gelo nunca derrete.

4. A comparação de plantas que observei, a partir da base da montanha até o

cume, me convenceu que não há nenhuma planta que não tenha seu clima;

Ela habita exclusivamente porque nesse clima existe o calor necessário para

floração e maturação de seus frutos, além da história fisiológica das plantas

que eu acredito com base nesses fatos”.32

É a partir dos trabalhos do abade francês (e de seu contemporâneo russo, Cf. nota

sobre Ivan Lepekhin33

), que a ciência passa a diferenciar o terreno com base em sua ‘unidade

natural’. Entretanto, é preciso atentar que este tipo de proposição não ocorreu de forma

isolada, dando-se num contexto de profundas mudanças no pensamento ocidental, decorrentes

da promoção do movimento iluminista, o que causava grandes problemas com a Igreja. O

próprio Soulavie sofreu com isso, quando o abade Barruel, seu contemporâneo, afirmava que

seu trabalho era contrário aos textos da Bíblia. Contudo, após a revolução de 1789, Soulavie

abandona a vida religiosa, chegando a contrair matrimônio em 1792 (MAZON, 2002).

À época de Soulavie e Lepekhin, a Rússia mantinha boas relações com a França. Era a

época da czarina Catarina II, a grande, que ficou conhecida como mecenas das artes, literatura

e educação. Quando soube que o governo francês planejava interromper a publicação da

Encyclopédie, em 1762, chegou a propor a Diderot que completasse o trabalho na Rússia.

32

“3. La distribuition de la chaleur atmosphérique, du plus au moins, de la base dês montagnes vers leur

sommet & de la zone Torride vers lês poles, est telle, que dans la France méridionale, les glaces situées sur lês

montagnes elevées de quinze cens toises sur Le niveau de la mediterranée vers lês pôles, on compte plusieurs

centaines de lieues de distance pour arriver na point ou la glace est éternelle, comme sur le plateaux supérieurs

dês montagnes de la France méridionalle éllevées de quinze cens toises où la glace ne fond jamais.

4. Or, la comparaison des plantes que j'ai observées depuis la base de nos montagnes jusque vers leur sommet,

m'a convaincu qu'il n'est aucune plante qui n'ait son climat; elle l'habite exclusivement parce que dans ce climat

se trouve le degré de chaleur nécessaire à la floraison & à la maturité de les fruits; delà, l'histoire physiologique

des plantes que je crois fondée sur ces faits.” (SOULAVIE, 1780 (11-12)). 33

Ivan Ivanovich Lepekhin (1740-1802) foi um naturalista e botânico russo que fez o doutorado em medicina em

Estrasburgo (França), tendo se formado em 1767. Realizou uma comparação entre a distribuição das plantas de

acordo com diferentes climas nos Urais, à mesma época que Soulavie, lançando as bases para a ideia de regiões

naturais, reforçada posteriormente por Humboldt e Dokuchaev. Lephekin era membro da Academia de Ciências

de São Petersburgo. Este fato, somado à proximidade temática de seu trabalho com o de Jean Louis Soulavie e a

época de publicação de seus trabalhos (entre 1770 e 1784) nos permite aventar a hipótese de que os dois possam

ter mantido contato. O abade Soulavie submeteu um trabalho para um concurso para classificação de massas

rochosas à Academia de Ciências de São Petersburgo, ficando em terceiro lugar.

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6 Humboldt, Dokuchaev e as Zonas Naturais

Compartilhando da ideia de ciência pela observação, tanto quanto das críticas de

Desmarest à geografia de gabinete, Alexander Von Humboldt34

fundamenta sua descrição

física do mundo (Geografia Física) no que ele chama de ‘empirismo racional’, que

“corresponde aos fatos registrados pela ciência e testados pelas operações do intelecto”

(HUMBOLDT, 1858, p.49, tradução nossa). De acordo com Pedras (2000), esta união entre

descrição e especulação constitui a essência do método de Humboldt.

A estreita relação entre o método humboldtiano e àquele proposto por Desmarest não

se deve ao acaso, uma vez que no primeiro trabalho científico de Humboldt, intitulado

Observações Mineralógicas em Vários Basaltos no Rio Rhine (de 1789), existem duas

referências a seu contemporâneo francês35

.

Contudo, apesar de conhecer e citar o trabalho sobre os basaltos, escrito por

Desmarest, Humboldt parecia não ter consciência ou não partilhar das ideias expostas no

artigo sobre Geografia Física da Encyclopédie, pois no seu Cosmos propõe o seguinte:

A até então indefinida ideia de geografia física tem, deste modo, por uma

extensão e talvez também um plano ousadamente imaginado, sido

compreendida sob a ideia de uma descrição física do universo, abrangendo

todas as coisas criadas nas regiões do espaço e na terra.36

Humboldt possuía uma proposta abrangente para aquilo que ele denominava como

‘descrição física do universo’, afirmando que a: “Geografia física não é limitada a elementar

vida inorgânica elementar terrestre, mas, elevada ao ponto de vista mais alto, ela abrange a

esfera da vida orgânica e as numerosas gradações de seu típico desenvolvimento”. 37

No contexto daquilo que estamos chamando aqui de Sínteses Naturalistas, o

empirismo racionalista da Geografia Física de Desmarest e Humboldt passa a sustentar e

34

Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt (1769-1859), nasceu em Berlim e apesar de ter estudado

finanças em Frankfurt, manifestava interesse por plantas e animais, que já lhe atraíam desde a infância. Suas

viagens pela América do Sul lhe renderam fama, sobretudo por ter escalado o vulcão Chimborazo, considerado a

mais alta montanha do mundo na época e pela coleta de 6300 espécies de plantas até então desconhecidas. Suas

teorias influenciaram a biologia, a ecologia, a geografia, a geologia e diversas outras ciências. De influência

marcadamente romântica, típica do seu tempo, mantinha contato com líderes deste movimento na Alemanha

como Goethe e Schiller.

35

Ver Mineralogische Beobachtungen über einige Basalte am Rhein de Humboldt (1790, p. 125 e 126.). 36

“The hitherto undefined idea of a physical geography has thus, by an extended and perhaps too boldly

imagined a plan, been comprehended under the idea of a physical description of the universe, embracing all

created things in the regions of space and in the earth.” (HUMBOLDT, 1858, p.8) 37

“Physical geography is not limited to elementary inorganic terrestrial life, but, elevated to a higher point of

view, it embraces the sphere of organic life, and the numerous gradations of its typical development.”

(HUMBOLDT, 1858, p.22).

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desenvolver a ideia de unidade natural das áreas. Mas desta vez, não é aquela unidade

vislumbrada na descrição dos sítios pelos gregos e romanos, nem as regiões da topografia e

corografia de Varen. Alimentada pela razão Iluminista, sobretudo em conformidade com as

diferenciações temáticas, a Geografia Física de Humboldt não é simplesmente o estudo da

natureza das diferentes regiões, mas o discernimento de sua constância, isto é de seus tipos,

afirmando que:

O objetivo final da Geografia Física é, contudo, como nós já temos dito,

reconhecer unidade na vasta diversidade de fenômenos, e pelo exercício do

pensamento e a combinação de observações, discernir a constância dos

fenômenos no meio das mudanças aparentes. 38

Esta ideia de unidade fundamenta a proposta que Humboldt desenvolve em seguida,

tratando da distribuição de plantas e animais em sua relação com o clima, com vistas ao

estabelecimento de leis para a variação deste conjunto em função de dois elementos gerais

controladores: a latitude e da altitude. O naturalista alemão populariza as ideias sobre o que

viria a se denominar de tipos zonais e azonais de paisagens, a partir da comparação entre a

similaridade da distribuição de elementos naturais (sobretudo o clima, a vegetação e a fauna)

ao longo das latitudes e das altitudes.

Não obstante a noção de zonalidade que já estava presente no trabalho dos gregos,

como Eudoxo de Cnido e Aristóteles (MILKOV, 1990), é a partir dos esforços de naturalistas

com visão integrada do mundo, como Humboldt, que as variações da latitude e da altitude,

passam a ser tratadas como determinantes gerais de padrões regionais e globais de ambientes

naturais, passando a ser possível falar de uma teoria das zonas naturais, que viria a sustentar

propostas posteriores como a ideia de biomas de Karl H. Walter e a noção de geossistemas de

Viktor B. Sochava.

Na continuidade das perspectivas sobre a representação de regiões naturais, o

naturalista russo Vasiliy Vasilievich Dokuchaev39

publica sua teoria das zonas naturais, que

38

The ultimate aim of Physical Geography is, however, as we have already said, to recognize unity in the vast

diversity of phenomena, and by the exercise of thought and the combination of observations, to discern the

constancy of phenomena in the midst of apparent changes (HUMBOLDT, 1858, p.43). 39

Vasiliy V. Dokuchaev (1846-1903) nasceu na pequena vila de Milyukova (230 km a oeste de Moscou e 630

km ao sul de São Petersbugo), estudou história natural na faculdade de física e matemática da Universidade de

São Petersburgo. Defendeu sua tese em geomorfologia intitulada “A origem dos vales dos rios da Rússia

europeia”, mas foram seus trabalhos sobre solos que o fizeram famoso em todo o mundo. Dokuchaev

estabeleceu um modelo explicativo para a formação e classificação dos solos e determinou a relação dos solos

com a biota, o material parental e o clima através do tempo, nos moldes das ideias de zonalidade por altitude e

latitude de Soulavie, Lepekhin e Humboldt. É só a partir de Dokuchaev que o termo ‘solo’ passa a ser utilizado,

com maior ênfase, no sentido pedológico e edáfico moderno.

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já havia sido imaginada por Lepekhin e Soulavie no final do século anterior (TEPLYAKOV

et al. 1998). Neste trabalho, Dokuchaev propõe zonas naturais para o hemisfério norte,

diferenciadas entre si conforme o clima, o relevo, os solos, a fauna e a vegetação, inaugurando

formalmente a teoria que sustenta a ideia de unidade natural do terreno.

Além disso, o naturalista russo formula o conceito de zonas naturais, como área de

interação homogênea entre os componentes da natureza, objeto de estudo do que viria a ser

chamado posteriormente de ciência da paisagem, biogeocenologia, estudo de geossistemas,

ecologia de paisagens, geografia de ecossistemas e tantos outros termos.

À época de Dokuchaev, a Rússia vivia um período conturbado, marcado pela

insatisfação popular com o Império. O czar Alexandre II, mesmo tendo abolido a servidão, foi

assassinado, em 1881, num atentado a bomba por membro da organização revolucionária

Народная воля (Vontade do Povo). Seu filho e sucessor, Alexandre III, que implantou uma

série de políticas anti-semitas, chegou a sofrer vários atentados, morrendo, porém de causas

naturais (em 1894), deixando o Império para seu filho, o último czar Romanov: Nicolau II.

No âmbito natural, parte Rússia foi afetada por uma série de secas, registradas em

1868 e 1875 e uma bastante severa em 1891-1892, esta última que chega a registrar meio

milhão de mortos (ROBBINS, 1975). É o momento em que os movimentos populares,

inspirados pelo marxismo começam a ganhar força. Neste cenário de mudanças políticas e

graves problemas agrícolas Dokuchaev liderou expedições científicas que resultaram numa

série de publicações, desde 1877, envolvendo o estudo dos solos da Rússia, principalmente as

terras negras (чернозёме ou chernozens), além de procedimentos para o mapeamento de solos

e avaliação agrícola das terras, que foram divulgadas rapidamente pelo mundo, visto que já

em 1894 era criado o United States Bureau of Soils, como uma entidade separada do

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, chefiada por Milton Withney40

.

Para Dokuchaev, o solo seria o resultado da interação entre o clima, a topografia, o

material parental (rochas ou sedimentos) e os seres vivos ao longo do tempo. Para Saushkin

(1948) a compreensão destas relações é a principal contribuição de Dokuchaev para a

Geografia. A própria concepção edáfica e pedológica do conceito de solo, amplamente

desenvolvida pelo sábio de Milyukova aprofunda a apreensão sobre a ideia de zonas naturais,

40

Outro nome que merece destaque na Pedologia dos Estados Unidos da América (EUA) é o do químico

agrícola alemão Eugene Woldemar Hilgard (1833-1916), que estudou em Heidelberg, mas trabalhou nos EUA

como geólogo assistente e depois como professor em Berkeley. Ele conduziu inventários de solos (considerando

características físicas e químicas) no lado do Pacífico norte-americano à mesma época que Dokuchaev. Contudo,

Hilgard divergia da posição oficial de US Bureau of Soils, que baseava sua classificação de solos

predominantemente nas diferenças texturais. Este fato ‘atrasou’ a incorporação das ideias de Hilgard pelo US

Bureau of Soils (SMITH, 1998).

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que o mesmo distingue em dois tipos, as zonas horizontais (de latitude) e as verticais (de

altitude).

No entendimento do naturalista em questão, pesquisas como as de Lavoisier, Darwin,

Helmholtz e outros, apresentavam falhas no sentido em que:

Objetos separados têm sido primariamente estudados – minerais, rochas,

plantas e animais – bem como fenômenos, elementos separados – fogo

(vulcanismo), água, terra, ar, em que mais uma vez a ciência obteve

resultados notáveis, mas não suas correlações, nem a genética, eterna e

sempre regular conexão que existe entre forças, objetos e fenômenos, entre a

natureza morta e viva... de um lado – e o homem, seu mundo material e

espiritual, do outro.41

Este pensamento era similar ao de Humboldt, que afirmara em seu ‘Cosmos’ que, tão

importante quanto os estudos especializados era a busca pela compreensão das relações entre

os fenômenos terrestres e siderais do cosmos, fato que era encorajado por suas viagens.

Isto demonstra que o século 18 foi marcado por uma sensação de fragmentação e

especialização do conhecimento, como atestado pela elaboração da Encyclopédie e da

Histoire Naturelle.

Tanto a proposta de Humboldt quanto a de Dokuchaev apelam para a necessidade de

um retorno a uma visão inteira do mundo, compreensiva das relações entre os elementos que a

compõem. Corroborando com esta ideia encontra-se o ‘On the scope and methods of

Geography’ de Halford John Macnkinder, publicado em 1877, onde o autor discorre sobre a

necessidade de uma abordagem integrada na geografia, unindo seus aspectos físicos e

políticos sob a égide do conceito de região, voltando à perspectiva de Bernard Varen.

Assim, se o século 18 marcou uma especialização das ciências, e a consequente

fragmentação da Geografia, o século 19 evidenciou o aparecimento de discussões teleológicas

sobre o conhecimento geográfico, seja pela reformulação da disciplina (Mackinder) ou na

busca de uma nova disciplina (Dokuchaev).

41

“Изучались, главным образом, отдельные, тела — минералы, горные породы, растения и животные

— и явления, отдельные стихии — огонь (вулканизм), вода, земля, воздух, в чем, повторяем, наука и

достигла удивительных результатов, но не их соотношение, не та генетическая, вековечная и всегда

закономерная связь, какая существует между силами, телами и явлениями, между мертвой и живой

природой, между растительными, животными и минеральными царствами, с одной стороны,

человеком, его бытом, и даже духовным миром — с другой. А между тем именно эти соотношения, эти

закономерные взаимодействия и составляют сущность познания естества, ядро истинной

натурфилософии — лучшую и высшую прелесть естествознания. Они же, как будет ясно ниже,

должны лежать в основе и всего склада человеческой жизни, со включением даже мира нравственного и

религиозного...” (DOKUCHAEV, 1898)

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Diferentemente da geografia de Mackinder, da geografia da natureza de Soulavie ou

da geografia física de Humboldt, Dokuchaev pensava que a ciência que deveria estudar as

relações entre os componentes da natureza não era a geografia, que estava se desenvolvendo

em todas as direções de uma vez. Caminhando no sentido de uma definição sobre isso, o

cientista russo publica uma série de artigos entre 1898 e 1900 abordando a questão das zonas

naturais e tratando a ideia de zonalidade como uma lei científica, legando ainda uma

perspectiva em mapeamento dos recursos e avaliação de terras para fins de aproveitamento

econômico e planejamento (ISACHENKO, 1973).

Estas ideias deram vazão ao surgimento de muitas novas áreas de estudo, como a

Geoquímica da Paisagem de Boris B. Polinov, a Biogeoquímica e a Teoria da Biosfera de

Vladimir I. Vernadsky, a Bigeocenologia de Vladimir N. Sukachev e a Ciência da Paisagem

de Lev S. Berg, todos estes ex-alunos de Dokuchaev.

7 Áreas Naturais: Entidades Reais ou Produto da Mente Humana?

Decerto que a compreensão da unidade natural do terreno já havia se firmado após os

trabalhos de Soulavie, Lepekhin, Humboldt e Dokuchaev. Todavia, o detalhamento das

teorias explicativas sobre o conceito em questão cresceria juntamente com as necessidades de

planejamento agropecuário, de manejo florestal, da conservação dos recursos naturais e

preservação da natureza, fato que aproximou ainda mais a teoria de zonas naturais da

Ecologia e das Ciências Agrárias.

Do final do século 18 até as primeiras décadas do século 20, o rápido desenvolvimento

industrial e o aparecimento de diversas invenções como o telefone, o fonógrafo, a iluminação

elétrica e o cinema, firmaram a ciência e a racionalidade como pilares da ideologia do

progresso. Nas cidades os trabalhadores, submetidos a jornadas de trabalho extensas, se

organizavam em sindicatos fundamentados em diversas teorias políticas, como o marxismo.

No meio artístico, o movimento romântico (que muito influenciou Humboldt)

contrapunha a ideia de industrialização e a vida urbana insalubre à ideia de uma natureza

bucólica e virgem, exemplo perfeito da Criação.

Concomitantemente, o avanço no processo de degradação da natureza, e as ideias que

vinham surgindo sobre a posição do homem entre os seres vivos e mesmo da Ecologia, deram

subsídios ao crescimento de pensamentos preservacionistas e conservacionistas42

. Dentre

42

Discutindo o surgimento deste tipo de pensamento, Diegues (2001) evidencia o modo como ele esteve

associado à ideologia do progresso e a preocupação com o manejo dos recursos florestais de um lado, e à busca

pela manutenção de ilhas de natureza intocada, que deveriam ser mantidas protegidas do desenvolvimento

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estas ideias, a teoria da evolução de Darwin-Wallace deu fôlego especial aos estudos sobre as

relações entre as espécies e à influência do meio sobre as comunidades.

É neste contexto que o termo biótopo é elaborado pelo biogeógrafo e aracnologista

Karl F. T. Dahl em 1908, surgindo como um complemento à noção de biocenose,

desenvolvida por seu professor Karl A. Möbius, em 1877. A denominação de biocenose veio

a partir do estudo de Möbius sobre mexilhões e seu cultivo. Dahl foi curador da seção de

aracnologia no Museu de História de Berlim, cuja coleção de zoologia era dirigida por

Möbius.

Neste momento, podemos perceber uma mudança na concepção de três reinos

(mineral, animal e vegetal) desenvolvida na L’Histoire Naturelle do Conde de Buffon (século

18), e utilizada por Soulavie, que passa a ser substituída pela noção de relação entre os seres

vivos e não vivos de Humboldt e Dokuchaev, sendo cristalizada nos conceitos de biocenose e

biótopo de Möbius-Dahl.

Além disso, os termos significando um conceito unificador das relações entre seres

vivos e não vivos passam a despontar no meio acadêmico, como as zonas naturais de

Dokuchaev (1898), as regiões naturais de Herbertson (1905), a paisagem de Berg (1913) e

Passarge (1913) ecossistema, por Arthur G. Tansley (1935); ecótopo, proposto por Thorvald

J. Sørensen (1936) e desenvolvido posteriormente por Tansley (1939) e Carl T. Troll (2006);

bioma por Clements e Shelford (1939), entre outros.

Estes termos fundamentaram o desenvolvimento de serviços de estudo e/ou avaliação

do terreno, seja com finalidades ecológicas ou agropecuárias. Sendo ainda possível traçar uma

linha de similaridade entre as diversas propostas que vieram a se estabelecer no século 20,

com base na proximidade do idioma falado e das relações políticas entre as diversas regiões

do globo.

Nos países anglófonos, por exemplo, já em 1905, A. J. Herbertson se questionava

sobre quais critérios deveriam ser utilizados para subdivisão das terras, utilizando o termo

‘regiões naturais’. Alguns anos mais tarde, começam a surgir, nos Estados Unidos da América

(EUA), uma série de trabalhos, utilizando técnicas diversas desde a descrição de campo

(JAMES, 1929; HUDSON, 1936), com destaque para o Michigan Land Economic Survey –

MLES (de 1922), dentre os quais faziam parte os geógrafos Wade de Vries e Jethro Otto

Veatch e o florestal P.S. Lovejoy.

industrial, baseadas numa ideia romântica de natureza selvagem. O mesmo autor ainda demonstra como a

criação de parques e reservas baseada numa ideia prístina tem sido nociva às comunidades tradicionais que

viviam antigamente em locais considerados ‘virgens’ pelos citadinos, que depois se torna prejudicial à própria

gestão das unidades de conservação.

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75

Em sua divisão geográfica natural das terras J. O. Veatch (1930) apresenta um mapa

do Estado de Michigan, contendo ‘land divisions’ formadas por um mesmo tipo de solo,

topografia e vegetação.

O uso de fotografias aéreas da proposta de Ray Bourne (1931), bem como o trabalho

do MLES influenciaram as pesquisas sobre a unidade do terreno na Nova Zelândia

(CUMBERLAND, 1944) e Austrália, como o relatório de serviço na região entre Katherine e

Darwin, no norte Australiano, realizado na década de 1940, mas publicado apenas no início da

década seguinte (CHRISTIAN; STEWART, 1953).

Neste trabalho foi formulado o conceito de Sistemas de Terras (Land Systems) que se

tornou basilar para a proposta ulterior de avaliação de terras (Land Evaluation) adotada pela

Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 1976), e para o

desenvolvimento de aproximações classificatórias de origens chinesa (LONG, 1986, 1994),

neerlandesa (ZONNEVELD, 1989; 1995), italiana (HOWARD; MITCHELL, 1980),

nigeriana (AMEYAN, 1986), iraniana (MAKDHOUM, 2008), entre outras, sendo utilizada

também, como base para avaliações geotécnicas e para obras de engenharia (ZUQUETTE;

GANDOLFI, 2004).

No Canadá, os sistemas de classificação de terras apareceram na década de 1960, a

partir do Canadian Land Inventory (CLI), que promoveu uma avaliação das terras,

principalmente da parte sul do país, inserindo os Sistemas de Informação Geográfica no

processo de compilação dos mapas. A partir dos resultados do CLI, criou-se na década

seguinte um comitê para classificação ecológica das terras (Canada Committee on Ecological

Land Classification – CCELC), contribuindo para o desenvolvimento da perspectiva de

mapeamento de unidades naturais do terreno, utilizando o conceito de Ecorregiões, que mais

tarde seria adotado por organizações não governamentais para conservação da natureza como

a World Wildlife Fund (WWF) e a The Nature Conservancy (TNC).

Na França, destacam-se os trabalhos de Jean Tricart e Georges Bertrand, considerados

principais expoentes da renovação da geografia física francesa na segunda metade do século

20 (VEYRET; VIGNEAU, 2002). O trabalho desses autores incorporou a teoria dos sistemas,

buscando a compreensão do ambiente enquanto entidade dinâmica e hierarquicamente

organizada (BERTRAND, 1968; TRICART, 1977), tendo influenciado diretamente a

geografia física brasileira e indiretamente os zoneamentos agroecológicos no Nordeste do

Brasil, através do trabalho de Riché e Tonneau (1989).

No contexto da língua alemã, as principais ideias para a diferenciação de regiões

naturais já estavam presentes nos trabalhos dos geógrafos Friedrich Von Richtoffen e

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Siegfried Passarge, culminando com os trabalhos de Carl Troll (que cunhou o termo Ecologia

de Paisagens), Gerhard F. Josef Schmithüsen e principalmente, Ernst Neef, que legou uma

escola alemã em Ecologia de Paisagens, cujos moldes conceituais em muito se assemelham

àqueles da Geografia dos países de línguas eslavas (KLINK et al., 2002). Outro nome de

destaque é Hartmut Leser, que escreveu o primeiro livro-texto de Ecologia de Paisagens em

alemão. Todavia, a produção alemã parece ter tido pouca influência além dos limites de seu

território, sendo citados em trabalhos de geógrafos russos, principalmente. No Brasil, Helmut

Troppmair (1984) divulgou inicialmente a perspectiva da classificação de biótopos, mais tarde

retomada por Bedê et al. (1997). Outra contribuição importante da geografia alemã ao estudo

das áreas naturais é a introdução do conceito de regiões morfogenéticas por Julius Büdel

(PELTIER, 1950), que incorpora a noção de zonas naturais à atuação do processo de

formação de mantos de intemperismo e formas de relevo.

O canal de comunicação em línguas eslavas, sob a égide geopolítica da União

Soviética, divulgou, principalmente, os trabalhos dos geógrafos de seus países formadores

(Rússia, Geórgia, Letônia, etc.) destacando quatro principais centros produtores de

conhecimento: Moscou, São Petersburgo, Irkustsk e Tblisi. Todavia, os trabalhos de

geógrafos da Polônia, da então Tchecoeslováquia, Letônia, Estônia, Hungria, Bulgária,

Romênia, Mongólia, Ucrânia e outros países da Europa Central e do Leste também legaram o

desenvolvimento de perspectivas regionais bastante particulares, ainda que mais semelhantes

ao trabalho dos geógrafos soviéticos do que aqueles de países anglófonos (ROUGERIE;

BEROUTCHACHVILI, 1992).

A partir de 1966, com a publicação do livro Princípios de Ciência da Paisagem e

Regionalização Físico-Geográfica43

de Anatolyi G. Isachenko, a modalidade ‘eslava’ da

regionalização em bases naturais passa a contar com uma visão teórica mais abrangente do

que a simples identificação de unidades de terras para o planejamento, que só encontraria

versão similar em língua alemã 10 anos depois (LESER, 1976), 30 anos depois em língua

inglesa44

(BAILEY, 1996) e apenas 38 anos depois em língua portuguesa (RODRIGUEZ;

SILVA; CAVALCANTI, 2004).

No mesmo trabalho, Isachenko (1973) afirma que a perspectiva soviética

fundamentou-se num tratamento das zonas naturais enquanto entidades reais (materiais),

pautada na lógica do materialismo histórico, que se tornava necessária como legitimadora das

43

O livro de Isachenko possui uma tradução para o inglês de 1973: Principles of Landscape Science and

Physical-Geographic Regionalization. Traz uma extensa revisão dos trabalhos anteriores, tanto em língua Russa

quanto de países estrangeiros. 44

Aqui desconsideramos o fato do livro de Isachenko ter sido traduzido para o inglês em 1973.

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posturas acadêmicas na então URSS. Esta postura viabilizou a promoção de reflexões

acadêmicas no sentido de formular princípios gerais, leis e axiomas para classificar e explicar

as áreas naturais.

Em contraponto, na geografia dos países capitalistas, houve a predominância no

tratamento das regiões como entidades não reais, produto do raciocínio humano sobre

determinado problema (Cf. Hartshorne, 1939), sendo tarefa da geografia a busca por leis

gerais para a regionalização de qualquer tema específico ou problema. Decorreu disto que, o

desenvolvimento de abordagens sobre áreas naturais ocorreu principalmente em institutos de

pesquisa e com propósitos práticos (manejo florestal, aproveitamento agrícola, etc.)

(ISACHENKO, 1973).

Assim, o que está subjacente a este debate é o modo como são compreendidas as

áreas naturais/zonas naturais e que reflete um debate mais amplo no âmbito da Filosofia da

Ciência. Este debate envolve as perspectivas do realismo e do solipsismo, o primeiro

afirmando a existência de uma realidade externa independente do pensamento humano, ideia

que é negada pelo solipsismo (NUNES-NETO; EL-HANI, 2012)45

.

Esta dualidade na visão das áreas naturais enquanto entidades reais ou não, parece

mesmo ter sido o grande motor de diferenciação entre as perspectivas soviéticas e dos países

capitalistas. Todavia, o desenvolvimento da ideia de áreas naturais como entidades reais a

partir da biologia e da ecologia foram posteriormente absorvidas pelos geógrafos ‘não

soviéticos’, a exemplo do desenvolvimento da ideia de ecorregião e a geografia de

ecossistemas, de Bailey (2009). Assim, se a ideia de unidades naturais não foi desenvolvida a

fundo pela geografia dos países capitalistas do início do século, isto ocorreu por meio da

biologia e da ecologia, sobretudo na interface com as ferramentas de sensoriamento remoto e

geoprocessamento.

O canal de comunicação eslavo ainda influenciou os geógrafos chineses, sobretudo

após a implantação do regime maoísta, conforme nos indicam Lee (1966) e Fu et al. (2006).

Contudo, mais recentemente, o material de origem anglofônica tem tido maior difusão no

meio acadêmico chinês, sobretudo a partir das contribuições de Cai Yun Long (1986, 1994)

que agrega o conceito de Land Systems de Christian e Stewart (1953) com a ideia russo-

45

Numa perspectiva intermediária entre as abordagens realista e solipsista, Nunes-Neto e El-Hani (2012)

destacam a teoria das hierarquias, como formulada por Ahl e Allen (1996), que afirmam acreditar na existência

de uma realidade externa à mente humana, mas que esta só pode ser apreendida pelos filtros de nosso sistema

cognitivo, sendo a função da ciência propor modelos sobre essa realidade. Deste modo, afirmaríamos a

existência de áreas naturais (geossistemas), mas a fidelidade de sua representação estaria associada aos limites de

nosso universo cognitivo.

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soviética de regionalização físico-geográfica. Outros autores têm seguido a perspectiva de

Long (HUA; QUIAO; GUANG, 1992; FEN; HAN; GUO, 2005).

Ainda no tocante aos países formadores da antiga União Soviética, cabe salientar que a

influência de Dokuchaev foi fundamental no sentido de se pensar uma teoria para a

diferenciação de áreas, visto que, seguindo seu exemplo, seus alunos buscaram elaborar

princípios gerais para explicação das zonas naturais e seus subtipos, dando origem à Ciência

da Paisagem (ISACHENKO, 1973; SHAW; OLDFIELD, 2007).

8 Conclusões

Este capítulo apresentou elementos para o entendimento das sínteses naturalistas a

partir do conceito de área natural. Sob um ponto de vista historiográfico, percebemos que o

referido conceito foi construído historicamente a partir de ideias relacionadas à descrição de

áreas, a exemplo das noções greco-latinas de positio e natura. Mas também partilhando de

uma compreensão do vínculo funcional dos lugares a partir do conceito de zonalidade.

Foi a partir da necessidade de classificação das informações provenientes das

navegações, principalmente através do pensamento de iluministas, como Soulavie, que o

conceito em questão se estrutura sob uma noção especializada, divergindo da visão regional

abrangente das descrições de áreas, que se enriqueceu até a época de Varen, que às colocou

sob a diligência de um quadro teórico-explicativo, organizando a Geografia como universal e

particular.

É a partir do iluminismo que ganha fôlego a compreensão das relações entre o clima, a

altitude e a biota (e posteriormente os mantos de intemperismo, solo e as formas de relevo)

como produtos da influência de fatores geográficos como a latitude e a altitude. Retrabalhada

por dois pensadores de renome (Humboldt e Dokuchaev), o estudo das áreas naturais, pautado

na observação, assume seu caráter de ciência de síntese, como conhecemos hoje.

Contudo, as diferenças no modo de encarar as áreas naturais, como entidades reais ou

não, bem como a diversidade de contextos institucionais e políticos, contribuíram para que a

síntese naturalista caminhasse por vieses distintos para o tratamento da questão integrativa. É

neste cenário de meio termo entre a geografia, a agronomia e a ecologia que crescem a ciência

da paisagem russa, a ecologia da paisagem dos geógrafos alemães, as propostas de

classificação de terras (em termos ecológicos ou não) e tantas outras.

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79

Capítulo 3

A Teoria dos Geossistemas: Aspectos Gerais e Perspectivas para sua

Difusão na Geografia Brasileira

1 Introdução

Assim como em outros países, o Brasil também assistiu, e tem assistido o

desenvolvimento da ideia de áreas naturais como produto das relações entre os componentes

da natureza na superfície terrestre. Esta ideia pós-iluminista foi incorporada às agendas das

instituições de ensino e pesquisa, assumindo conotações e objetivos distintos e,

materializando-se na forma de termos também diferentes como regiões naturais, ecorregiões,

unidades geoambientais, geossistemas, entre tantos outros.

Entre os geógrafos brasileiros, o termo geossistema passou a figurar constantemente

como aplicação da teoria dos sistemas ao estudo de áreas naturais. Pesquisadores renomados

da ciência geográfica de nosso país não se eximiram de tecer suas considerações sobre os

geossistemas e/ou a teoria geossistêmica e sua aplicabilidade à compartimentação e estudo da

dinâmica e evolução das paisagens do Brasil, destacando-se os nomes de Antonio

Christofoletti, Aziz Nacib Ab’Sáber, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro e Helmut

Troppmair.

Muitos dos artigos publicados por estes autores encontram na epígrafe ‘geossistema’,

uma base teórica e metodológica inspirada em trabalhos de geógrafos estrangeiros, sobretudo

franceses e soviéticos. Esta filiação deriva do fato de que o termo geossistema foi introduzido

no Brasil a partir do artigo “Paysage et géographie physique globale: esquisse

méthodologique” escrito pelo francês Georges Bertrand46

em 1968 e publicado no Brasil em

1972, sob tradução de Olga Cruz. Contudo, poucos anos depois, em 1975, por ocasião do 24º

Congresso Geográfico Internacional (realizado pela União Geográfica Internacional, em

Moscou), Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro teve oportunidade de conhecer as práticas

físico-geográficas que se desenvolviam na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(URSS), chegando inclusive a receber livros de presente do letão Adolph A. Krauklis, com

quem fez amizade (MONTEIRO, 2009, comunicação pessoal).

46

Georges Bertrand (1932-) professor da Universidade de Toulouse – Le Mirail (França). Foi diretor do Centro

Interdisciplinar para o Estudo do Ambiente Natural e da Organização Rural (CIMA) do Conselho Nacional de

Pesquisa da França (CNRS). Na década de 1970 foi um dos grandes expoentes da renovação da geografia física

francesa, juntamente com Jean Tricart (VEYRET; VIGNEAU, 2002).

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80

Recebendo também uma versão em inglês de um texto preparado pelo geógrafo Viktor

B. Sochava47

, denominado “The Study of Geosystems”, Carlos A.F. Monteiro introduziu no

nosso país a concepção siberiana da Ciência da Paisagem soviética, que difere grandemente

daquela de Georges Bertrand. Contudo, as interpretações posteriores dos geógrafos brasileiros

passaram, muitas vezes a tomar a posição de Sochava como sinônima da de Bertrand, além de

tecer considerações sobre as dimensões espaciais e temporais dos geossistemas como sendo

entidades de grande abrangência areal, que é coerente com a concepção desenvolvida pelo

francês, mas não com a do russo.

Considerando tudo isto, o objetivo deste capítulo é esclarecer aspectos conceituais e

terminológicos da teoria dos geossistemas, na acepção de Sochava e no contexto da geografia

russo-soviética, contribuindo assim, para desfazer e evitar confusões de nomenclaturas e

metodologia que possam surgir (ou que já surgiram) quando se faz a apreciação do termo

geossistema.

2 Aspectos Metodológicos

A difusão de qualquer conhecimento se depara com os limites dos horizontes

cognitivos dos sujeitos e só compreendemos aquilo que nos está disponível para conhecer

(HACKING, 2008). Numa apreciação hermenêutica, toda ideia exposta (seja em texto ou

outro meio de informação) possui um sentido impresso pelo autor, mas está sujeita a uma

variação de significados em função dos métodos de interpretação utilizados, tanto quanto das

ferramentas e referências disponíveis para sua compreensão (LOPES, 2004).

Buscando o esclarecimento de aspectos fundamentais da teoria dos geossistemas e sua

difusão no Brasil, foram analisadas diversas interpretações sobre a concepção de geossistemas

em Bertrand e em Sochava. Neste sentido, diversos textos produzidos no Brasil sobre a

referida epígrafe, tiveram suas interpretações avaliadas tendo por critério a biografia dos

autores, as suas referências e ferramentas interpretativas disponíveis, bem como seus

pressupostos.

De forma a esclarecer e justificar nossa empresa, na medida em que fomos avaliando

os textos, foi realizada uma análise comparativa mais ampla destes em relação às propostas de

Bertrand e Sochava. Deste modo, contribuímos para dirimir a criação de significados que se

afastem do sentido proposto originalmente pelos autores.

47

Viktor Borisovich Sochava (1905-1978) nasceu em São Petersburgo (Rússia) e foi diretor do Instituto de

Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente (hoje Instituto Viktor Sochava de Geografia). Formado em ciências

agrárias e com doutorado em biologia, foi um dos maiores contribuintes da história da geografia russo-soviética.

Propôs a Teoria dos geossistemas como uma renovação e revisão da noção de paisagem como entidade real,

integrando e ampliando o espectro epistemológico e metodológico da geografia física.

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81

Assim, nossos resultados se iniciam com uma exposição simples sobre as relações

entre as propostas de Bertrand e Sochava e desenvolve-se tratando das dimensões espaciais e

temporais dos geossistemas, destacando divergências na compreensão do sentido original

proposto pelo geógrafo francês e pelo russo também. Por fim, Apresenta-se uma breve

proposição acerca das raízes das divergências enlevadas, expondo, deste modo, limites e

perspectivas para o desenvolvimento e difusão da teoria dos geossistemas no Brasil.

3 Geossistemas em Bertrand e em Sochava

Existe uma diferença fundamental na concepção de geossistemas entre Bertrand e

Sochava, ou seja, mesmo ambos utilizando a mesma epígrafe, apresentam concepções

distintas da palavra. Mesma palavra, ideias diferentes.

No artigo de 1968, Bertrand utiliza a palavra geossistema para se referir a uma das

escalas espaço-temporais da paisagem, abrangendo a 4ª e 5ª ordem de grandeza na

classificação de Cailleux e Tricart, abrangendo escalas espaciais da ordem de 10 a 10² km² e

temporais da ordem de 106 a 10

7 anos. Neste momento, a concepção de geossistema em

Bertrand tem dimensões espaciais e temporais bem definidas.

Isto seria modificado posteriormente, quando Bertrand passa a escrever artigos com o

georgiano Nikolai L. Beruchashvili e assume que seu conceito de geossistema como uma

dimens ão de ordem de grandeza definida é menos coerente que aquela da proposta de

Sochava, afirmando que:

Em 1964-1965, nós havíamos definido o geossistema como uma unidade

taxoxorológica entre outras (geótopo – geofácies – geossistema – região

natural – domínio geográfico – zona). O geossistema representava um

espaço natural homogêneo dividido em geofácies. (...) Num esforço de

uniformização conceitual e de simplificação da linguagem, nós, entretanto,

estamos de acordo, com a definição mais lógica de V.B. Sochava, que faz do

geossistema, como do ecossistema, uma abstração e um conceito

(BEROUTCHACHVILI; BERTRAND, 1978, p.168, tradução nossa) 48

Refletindo sobre isso, Georges Bertrand muda sua concepção do termo geossistema,

passando a compreendê-lo como uma entidade natural formada pelas relações entre os

48

Em 1964-1965, nous avions defini Le géosystème comme une unité taxochorologique parmi d’autres (géotope

– géofaciès – géosystème – région naturelle – domaine géographique – zone). Le géosystème représentait um

espace naturel homogéne divisé en géofaciès. Cette définition taxonomique a été utilsée par d’autres auteurs

aussi bien dans la recherche fondamentale que dans dês travaux d’application. Les études que sont contenues

dans ce numéro de la Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest et lês légends des cartes se conforment

à CET usage.

Dans un souci d’uniformisation conceptuelle et de simplification du language, nous nous rallions

cependant, avec le CIMA, à la définition plus lógique de V.B. Sochava, qui fait Du géosystème, comme de

l’écosystème, une abstraction et un concept.” (BEROUTCHACHVILI & BERTRAND, 1978, p.168).

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componentes da natureza e impactada pela ação da sociedade. Esta nova concepção, inclusive

é utilizada para formular seu modelo Geossistema-Território-Paisagem (GTP),

respectivamente associados às noções de source, resource e resourcement (BERTRAND;

BERTRAND, 2002).

Em outro contexto, Viktor B. Sochava formula o termo geossistema em 1963, no

artigo intitulado “Definição de alguns conceitos e termos da geografia física”, definindo-o

como: “unidade natural de todas as categorias possíveis, do geossistema planetário (envelope

geográfico ou ambiente geográfico em geral) ao geossistema elementar (fácies físico-

geográfica)” (SOCHAVA, 1963, p.53). Assim, diferentemente de uma escala espacial bem

definida, como é o caso da proposta de Bertrand, a conceituação de Sochava é genérica, na

qual o geossistema pode possuir uma ampla gama de dimensões espaciais na superfície

terrestre, indo desde a fácies físico-geográfica até o envelope geográfico (toda a superfície

planetária).

Em sua definição, o geógrafo russo faz referência a estes dois conceitos (envelope

geográfico e fácies físico-geográfica), que vamos apresentar em detalhes a seguir. Ambos os

termos já estavam plenamente desenvolvidos na geografia soviética pelo menos desde a

década de 1940, sobretudo com a publicação dos trabalhos de N. A. Solntcev (KALESNIK,

1964; ISACHENKO, 1973).

3.1 Unidades Físico-Geográficas

Uma definição detalhada de envelope geográfico é apresentada por Isachenko (1973) e

corresponde à parte externa da crosta terrestre que inclui a litosfera (com 4 a 5 km de

espessura), a hidrosfera, a troposfera (altitude entre 8 e 16 km) e a biosfera. Nesta região do

planeta, funciona como um sistema complexo em que elementos bióticos, abióticos e

humanos interagem, produzindo como estrutura emergente as paisagens (RODRIGUEZ;

SILVA; CAVALCANTI, 2004).

No outro extremo, a fácies físico-geográfica ou simplesmente fácies - фация (Fig. 16)

constitui a menor unidade numa divisão natural do terreno. Ela já aparecia em trabalhos do

final do século 19 e início do século 20, como a noção de epimorfo, em Abolin (1904)

(ISACHENKO, 1973).

Em geral, uma fácies é definida como um segmento de relevo (Ex.: o topo do morro,

ou sopé da encosta, etc.), sendo caracterizada pela uniformidade da rocha-mãe, microclima,

regime de drenagem e umedecimento, migração geoquímica, pédon e localização dentro de

uma comunidade ecológica (ISACHENKO, 1991).

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83

Entre a fácies e o envelope geográfico são descritas uma série de subunidades naturais

que, em sínteses naturalistas recebem nomes diversos, como já foi visto. Exemplos são os

complexos biogeocenóticos de Walter (1986) ou as famílias de ecossistemas de Ab’Sáber

(2003). Na Geografia russo-soviética, um modelo destas subunidades físico-naturais

intermediárias se tornou consagrado, sendo inclusive incorporado na proposta de Sochava.

Este modelo inclui agrupamentos hierárquicos de fácies para distinção do ambiente

geográfico de dimensões locais a mesorregionais, tendo sido proposto por N. A. Solntcev.

Figura 16. 1 a 10 (fácies ao longo de uma seção), A-Г (diferenças no substrato).

Fonte: Isachenko, 1991.

No referido modelo, uma fácies é considerada como parte de outra unidade geográfica

maior, denominada Trato (Urochische - урочище, em russo). Por definição, um Trato

corresponde a uma associação funcional de fácies, associação esta definida pela conectividade

e interação no que se refere à circulação de substâncias (água, sedimentos, nutrientes, etc.) e

tem como exemplo clássico o vale (ISACHENKO, 1973; ZUCHKOVA; RAKOVSKAIA,

2004). Um vale conecta diferentes segmentos de encosta e possui um mesmo sentido em

relação à migração de substâncias (Fig. 17). Além disso, caso haja variação nos segmentos de

encosta em função das formações superficiais (rochas e/ou regolito), um vale (trato) pode ser

subdividido em Subtratos ou Podurochische - подурочище (casos II e III da Fig. 17).

Neste contexto, o conceito de Estilos Fluviais (River Styles®

) em Brierley e Fryirs

(2000) pode ser encarado como um Subtrato, em que cada geomorphic unit corresponderia a

uma fácies distinta. Para os referidos autores, um estilo fluvial abrange uma seção da planície

de inundação com mesmo tipo de confinamento das margens e que apresenta mesmo conjunto

de unidades geomórficas com gênese comum.

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84

Seguindo a mesma lógica, Solntcev ainda destacou as áreas naturais formadas pela

interação funcional de Tratos, que ele denominou de Paisagem (landschaft49

- ландшафт). As

paisagens, geralmente apresentando uma dimensão mesorregional (10 a 10² km²), estão mais

próximas do conceito de geossistema de Bertrand, sendo denominadas por Sochava de

Macrogeócoros (ver a seguir).

Figura 4. Estrutura dos Tratos. I, II e III indicam Tratos; IIa, IIb, IIIa e IIIb indicam Subtratos.Os

valores entre 1 e 9 indicam Fácies.

Modificado de Zuchkova & Rakovskaia, 2004.

Uma Paisagem geralmente reflete um mesoclima atuando sobre uma determinada

morfoestrutura, ou seja, consiste numa associação entre processos geológico-geomorfológicos

e bioclimáticos mesorregionais. Para Solntcev (1948), uma paisagem geográfica é uma área

geneticamente homogênea, com uma repetição regular de combinações inter-relacionadas da

estrutura geológica, formas de relevo, águas superficiais e subterrâneas, microclimas, solos,

fito e zoocenoses. Internamente, a Paisagem apresenta um mesmo conjunto funcional de

Tratos e Fácies, a que denominam estrutura morfológica da paisagem (ISACHENKO, 1991;

SOLNTCEV, 2006).

Como se pode notar, a definição de fácies, subtratos e tratos esta associada a uma

classificação por agrupamento, enquanto a paisagem é definida por uma divisão lógica

comparada ao resultado de um agrupamento. No modelo russo-soviético, unidades superiores

a paisagem na hierarquia natural (macro e megarregionais) são classificadas sempre a partir

de divisão lógica (veja a seguir). Neste sentido, a Paisagem é considerada como a menor

unidade de dimensão regional e a maior de nível local (ISACHENKO, 1991).

49

A língua russa não possui uma palavra para paisagem, desta forma eles emprestam o termo alemão landschaft.

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85

Uma Paisagem ainda pode apresentar, em sua estrutura morfológica, uma unidade

intermediária formada pelo agrupamento de Tratos, que é denominada Localidade (Mestnost -

местност). As Localidades se caracterizam por oferecer, dentro de uma mesma Paisagem,

condições distintas para a formação de Tratos. Geralmente isso se dá em função de variações

no litótipo bem como a presença de condicionantes sobre os padrões de drenagem (Fig. 18).

Figura 5. Esquema de diferenciação de uma Localidade como uma unidade morfológica de uma

paisagem. I – Localidade com Tratos em vales úmidos; II – Localidade com Tratos em vales secos.

Fonte: Zuchkova & Rakovskaia, 2004. Modificado pelo autor.

Na proposta de Solntcev, a estrutura morfológica da Paisagem é composta de

Localidades, Tratos, Subtratos e Fácies agrupadas hierarquicamente (Fig. 19). Contudo, as

paisagens ainda estão contidas em diversas subunidades do Envelope Geográfico da Terra,

que foram sistematicamente organizadas por A.G. Isachenko (1973, 1991), sendo

denominadas de unidades regionais.

Diferentemente do agrupamento utilizado para identificar as unidades da estrutura

morfológica da paisagem (fácies, tratos, etc.), as unidades de dimensões meso, macro e

megarregionais são diferenciadas a partir de uma divisão lógica do Envelope Geográfico da

Terra, divisão esta que se baseia em fatores bioclimáticos (denominados zonais) e geológico-

geomorfológicos (denominados azonais) (ISACHENKO, 1991).

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Figura 19. Mapa da Paisagem de Drokovski a SW de Moscou (margem direita do rio Iput).

Fonte: Modificado de Zuchkova e Rakovskaia (2004, p.38).

Em princípio, na proposta taxonômica de A.G. Isachenko, diferenciam-se unidades e

subunidades geradas por condicionantes cósmicos e atmosféricos (zonais), tal como faixas

com mesmo clima regional; em seguida, diferenciam-se unidades e subunidades naturais

formadas por processos geológico-geomorfológicos (azonais), tal como morfoestruturas com

diferentes dimensões; Por fim, ambos os conjuntos são correlacionados de modo a se obter

unidades e subunidades derivadas, correspondendo aos geossistemas regionais.

No desenvolvimento de sua sistemática, Isachenko (1991) as unidades e subunidades

geradas por processos cósmicos e/ou atmosféricos (Zonais) compreendem as seguintes

categorias: Cinturão (пояс), Zona (зона), Subzona (подзона). As unidades e subunidades

decorrentes de processos geológico-geomorfológicos (Azonais) são: Continente (континент),

Subcontinente (субконтинент), País (страна), Domínio (область) e Subdomínio

(подобласть). Além destas, inclui-se uma categoria de unidades azonais definidas pelo efeito

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da continentalidade que, às vezes substituem as unidades Zonais, denominadas Setor (сектор)

e Subsetor (подсектор). A Figura 20 sumariza as características de cada categoria de

unidades bem como os elementos necessários e/ou auxiliares à sua identificação.

Figura 20. Características e Critérios para Identificação de Unidades Zonais e Azonais.

Unidade Características e Critérios de Identificação

Zo

na

l Cinturão Mesmo regime de radiação solar

Zona Similaridades termohidrológicas e dos biomas num Cinturão

Subzona Similaridades termohidrológicas e diferenças internas dos biomas numa

Zona

Azo

nal

Continente Superfície continental numa mesma placa tectônica

Subcontinente Maior regime deformacional na superfície do continente (Plataformas e

Faixas Móveis)

País Maiores atributos morfotectônicos do subcontinente

Combinação entre padrões espaciais de manchas de solos, biomas e clima

regional

Domínio Maiores atributos morfotectônicos do País, história e condições

morfosedimentares semelhantes num País

Subdomínio Grandes conjuntos geológicos, rupturas de declive regionais, conjuntos de

manchas de solos, história e condições morfosedimentares semelhantes

num Domínio

Setor Grau de continentalidade e distribuição dos biomas

Subsetor Grau de continentalidade e distribuição dos biomas num Setor

Fonte: Isachenko, 1991. Adaptado pelo autor.

O cruzamento das unidades zonais e azonais permite classificar geossistemas

regionais, que apresentam as seguintes categorias: Província (провинция), Subprovíncia

(подпровинция), Distrito (округ), Subdistrito (подокруг). Detalhes da classificação regional

de Isachenko (1991) já foram apresentados por Cavalcanti (2010) e Cavalcanti, Corrêa e

Araújo Filho (2011). Entretanto, cabe representar as relações para classificação sistemática de

unidades físico-geográficas (Fig. 21).

Cada uma destas áreas naturais identificada foi chamada de indivíduo geográfico.

Todavia, foi percebido pelo geógrafo Nikolai A. Solntcev que, numa mesma região é possível

que existam indivíduos com características muito similares, sobretudo nos níveis hierárquicos

de menor ordem (fácies, tratos, localidades, etc.) a partir disso ele propôs, para poupar

esforço, que os mapas apresentassem não os indivíduos, mas sim seus tipos (ISACHENKO,

1973), estes tipos seriam chamados por Sochava de geômeros (cf. tópico 3.2.1).

Foi baseada nesta noção de unidades físico-geográficas regionais que a análise

genético-estrutural da paisagem já havia se consolidado na Rússia na metade do século

passado. Contudo, muito pouco havia sido feito no sentido de uma abordagem integrada sobre

a dinâmica e evolução das paisagens, sendo esta a grande contribuição de Viktor B. Sochava.

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Figura 21. Sistema Taxonômico de Unidades Físico-Geográficas Regionais.

Fonte: Cavalcanti, 2010.

A adoção da linguagem sistêmica aplicada à ideia de paisagens permitiu a Sochava

resolver alguns entraves da geografia física soviética através da formulação da Teoria dos

geossistemas. Um exemplo foi a diferenciação disciplinar que existia entre a ciência da

paisagem e a regionalização físico geográfica, que após Sochava passaram a fazer parte do

Estudo de Geossistemas, diferenciando-se apenas a escala dos fenômenos considerados.

Além disso, só a partir da fusão da teoria dos sistemas com a compreensão realista de

áreas naturais (paisagens) da geografia russo-soviética, realizada por Sochava, é que a ciência

da paisagem pôde crescer não apenas sobre a análise espacial, mas também sobre uma

compreensão temporal dos geossistemas (Cf. tópicos a seguir sobre as dimensões espaciais e

temporais dos geossistemas).

Nos países influenciados pela geografia da antiga URSS, é consenso que a proposta de

Sochava trouxe um avanço na compreensão integrativa dos fenômenos espaciais e temporais

que formam as paisagens, bem como num esclarecimento das dimensões epistemológicas da

própria geografia física em sua versão integrada. Foi, pois, a introdução da palavra

geossistema, na literatura geográfica soviética, que representou uma revolução conceitual e

metodológica para a geografia física, alcançando patamares de esclarecimento que ainda hoje

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são escassos nas práticas geográficas de outros canais de comunicação, como aqueles de

origem anglófona. Um exemplo disso é que estudos intra-anuais só passaram a ser

desenvolvidos por geógrafos, fora da influencia da antiga URSS, a partir do advento do

sensoriamento remoto orbital e do realce de imagens por índices de vegetação. Ou exemplo é

que a união entre estudos dinâmicos e evolutivos ainda parece novidade entre geógrafos de

países anglófonos (BRACKEN; WAINWRIGHT, 2008).

Dito isto, vale asseverar que o geossistema em Sochava é compreendido como uma

unidade natural dinâmica de qualquer dimensão, da maior dimensão espaço-temporal (toda a

superfície terrestre), à menor (ex.: um pequeno setor morfodinâmico de encosta com mesmo

sistema de transformação pedológica e estágio de sucessão florestal). Nestes termos, a

definição do russo é completamente diferente daquela que Bertrand propõe em 1968, para o

seu modelo de Geografia Física Global, uma vez que para Sochava os geossistemas podem

possuir qualquer dimensão (de alguns metros até toda superfície terrestre), enquanto para o

francês, os geossistemas são da ordem das dezenas às centenas de quilômetros quadrados.

Em seu livro Introdução à Teoria dos geossistemas, Sochava (1978, Cf. p.101-102)

chega a comentar a diferença entre sua proposta e a de Bertrand, expondo que a existe uma

divergência escalar na acepção do termo. Assim, eles divergem em termos da abrangência

espacial dos geossistemas, sendo a conceituação do geógrafo francês um pouco mais restrita

(como vimos acima) e a do russo mais geral e abrangente, como veremos a seguir. Segundo o

geógrafo russo, o geossistema de Bertrand seria o seu macrogeócoro.

Contudo, como foi visto, Bertrand abre mão de sua definição anterior e abraça a

concepção soviética, na qual se baseia para formular seu modelo de análise integrada das

relações entre Sociedade e Natureza, a partir das relações entre os geossistemas, o território e

a paisagem (o modelo GTP).

Com base na compreensão destas diferenças, se torna mais fácil apreender uma série

de desentendimentos conceituais que ocorrem na literatura geográfica brasileira em função,

sobretudo, do não conhecimento do artigo de Beroutchachvili e Bertrand, de 1978, onde o

geógrafo francês explicitamente abre mão de sua definição inicial para propor algo mais

abrangente. A seguir vamos avaliar e tentar esclarecer algumas dessas confusões conceituais,

começando pela compreensão das dimensões espaço-temporais dos geossistemas.

3.1.1 Problemas com a Hierarquia das Unidades Físico-Geográficas

No cerne da questão que envolve a identificação das unidades físico-geográficas, está

a compreensão da estrutura hierárquica dos sistemas de classificação. Uma vez que estes

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sistemas são compostos por unidades maiores que contém unidades menores, o critério para

escolha de uma quantidade de níveis hierárquicos tem variado bastante, fazendo com que as

sínteses diferenciem grandemente entre si no que diz respeito ao número de níveis

considerados. Algumas possuem apenas dois níveis hierárquicos (as unidades de paisagem e

unidades geoambientais de Silva et al., 2001, por exemplo), enquanto outras possuem 6 (zona,

domínio, região, geossistema, geofácies e geótopo de Bertrand, 1968) ou até 19 níveis:

epigeosfera, cinturão, zona, subzona, setor, subsetor, continente, subcontinente, domínio,

subdomínio, província, subprovíncia, distrito, subdistrito, paisagem, terreno, trato, subtrato e

fácies de Isachenko (1991).

Nesta falta de consenso em relação à quantidade de níveis hierárquicos existentes,

alguns autores chegam a propor que se abandone uma escala apriorística de níveis

hierárquicos (KHOROSHEV; MEREKALOVA; ALESCHENKO, 2007). Para estes autores,

esquemas hierárquicos ‘rígidos’ funcionam para alguns tipos de ambientes, mas não para

outros. Por exemplo, usando o modelo de Solntsev50

, os geógrafos Chernykh e Zolotov (2007)

calcularam a diversidade de localidades51

para diversas regiões da Ásia, e perceberam que

diversas destas localidades abrigavam outras localidades dependendo do ambiente em que

ocorressem, como no caso das planícies de inundação.

O mesmo problema é descrito por Mamay (2007, p.23, tradução nossa) que, num

balanço sobre as classificações de unidades homogêneas, utilizando o modelo de Solntsev e

outros similares, destaca o fato de que:

Durante pesquisas de campo, frequentemente faces adicionais (facultativas)

de complexos territoriais naturais ocorrem nas transições entre as

tradicionais categorias de unidades de paisagem: fácies e subtratos, subtratos

e tratos, tratos e localidades, localidades e paisagens. Essas categorias

adicionais não têm um nome específico e usualmente são chamadas “grupos

de fácies”, “grupos de subtratos”, etc.. Sua gênese está relacionada com

diferentes estágios evolutivos da base litógena. Espera-se que os cientistas da

paisagem definam atributos diagnósticos para estas categorias adicionais e

estabeleçam termos apropriados.

Em sua classificação hierárquica da geobiosfera, Walter (1986) estabelece a unidade

de maior dimensão (bioma), a de menor dimensão (biogeocenose) e afirma que entre elas

existe uma gama de complexos biogeocenóticos, cuja quantidade níveis lhe era incógnita em

função da ausência de exemplos concretos.

50

Este modelo é tão comum nos países formadores da antiga União Soviética quanto o modelo de Christian e

Stewart é para os países de língua inglesa. 51

No modelo de Solntsev, localidade corresponde a um nível hierárquico de classificação, definido com base

num padrão de drenagem comum a um determinado substrato geológico.

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91

As variações e ausência de consenso entre as diferentes sínteses sugerem que essa

distinção entre a quantidade de níveis hierárquicos e os modos de identificá-los possa estar

relacionada a uma adaptação de tais esquemas classificatórios à realidade das paisagens

locais, como nos indica Monteiro (2000).

Neste contexto, a hierarquia de uma síntese pode ser classificada como rígida (quando

possui níveis pré-determinados) ou flexível (quando não possui níveis pré-determinados).

Sínteses com hierarquias rígidas são mais comuns entre as abordagens tradicionais, enquanto

aquelas que usam abordagens probabilísticas tendem a fazer uso de hierarquias flexíveis

(HAY; MARCEAU, 2004). Todavia, algumas Sínteses tradicionais podem ser bastante

flexíveis, como é o caso dos domínios de natureza e famílias de ecossistemas propostos por

Aziz Ab’Sáber (2003), que adota em parte a lógica dos complexos biogeocenóticos de Walter

(1986), e dos domínios morfoclimáticos de Tricart e Cailleux (1956).

A questão da hierarquia nas sínteses naturalistas ainda está, portanto, em aberto e

precisa de estudos voltados não apenas para a classificação de novas áreas, mas também de

estudos preocupados com os fundamentos destas classificações. Assim, é importante

compreender as etapas de coleta, processamento e interpretação dos dados, avaliando as

estratégias de diferentes pesquisadores, considerando também como, quando e em que

contexto elas surgiram e foram retrabalhadas.

3.1.1 Taxonomia dos Geossistemas Regionais

De forma a complementar e auxiliar a diferenciação (regionalização) das unidades

físico-geográficas, também se propõe a classificação destas unidades, ou seja, o agrupamento

de unidades semelhantes em tipos, caracterizando uma tipologia, também chamada

taxonomia. Aqui vamos destacar algumas das propostas taxonômicas comuns à geografia

russo-soviética.

Na proposta taxonômica de Isachenko (1991) e também no seu mapa de paisagens do

mundo (ISACHENKO; SHLIAPNIKOV, 1989), é apresentada uma sistemática que enquadra

as diferenças paisagísticas numa série de categorias, a saber:

Tipo: definidos pelo caráter geral do funcionamento hidrotérmico, com base em

índices derivados de elementos climáticos (temperatura, precipitação, etc.), como o

índice de umidade, o índice de continentalidade e a soma das temperaturas ativas;

Subtipo: definidos com base em pequenos contrastes no interior dos tipos;

Classe: inclui duas classes: montanhas e planícies;

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92

Subclasse: inclui partes de planícies e montanhas. Para as planícies existem duas

subclasses: terras baixas e terras altas. Para as montanhas existem três subclasses: sub-

montana, montana e alto montana.

Espécie: inclui áreas com máxima similaridade em termos de gênese, componentes

característicos (relevo, solos, vegetação, etc.) e estrutura morfológica.

No livro ‘Mundo Natural: Paisagens’ Isachenko e Shliapnikov (1989) determinam

tipos, subtipos, classes e subclasses das paisagens do mundo, mas apresentam as espécies

congregadas em pouco mais de 600 grupos. No capítulo 1 (veja a p.39) apresentamos o mapa

dos grupos de paisagem da América do Sul, destacando as paisagens do nordeste brasileiro e a

legenda dos grupos que ocorrem em Pernambuco.

Na proposta de Vladimir A. Nikolaev (1979), da Universidade Estatal de Moscou, são

apresentadas sete categorias, saber:

Divisão: tipo de contato e interação entre as esferas geográficas com a esfera da

paisagem (divisão de paisagens terrestres, paisagens aquáticas, etc.);

Sistema: base energética das paisagens – distinções zonais dos balanços de água e

calor (sistemas de paisagens subárticas, paisagens boreais, etc.). Pode ser dividido em

subsistemas de acordo com o grau de continentalidade;

Família: Localização regional no país físico-geográfico (Boreal temperado continental

– Europa Setentrional);

Classe: morfoestruturas de alta ordem (elementos do megarrelevo), tipo de zonalidade

natural – vertical ou horizontal (classes de paisagens planas e montanhosas). Pode ser

dividido em subclasses de acordo com diferenças internas do megarrelevo;

Tipo: características dos solos e vegetação no nível de tipos de solos e classes de

formação de plantas (tipos zonais de paisagens; tundras, tundras florestais, etc.). Pode

ser dividido em subtipos;

Gênero: tipos genéticos de relevo (denudacional, lacustre, fluvial, etc.). Pode ser

dividido em subgêneros de acordo com a litologia superficial (argila, areia, cascalho,

etc.);

Espécie: similaridade dos Tratos predominantes nas Paisagens. Pode ser dividido em

subespécies.

Estudando a região do Cáucaso, o georgiano Nikolai L. Beruchashvili (1983) também

propôs um sistema para taxonomia da paisagem, preferindo o termo ‘Complexos Territoriais

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93

Naturais’, de Dokuchaev. Atualmente, esta proposta serve de referência para a determinação

do funcionamento das paisagens da Geórgia, baseada na determinação dos Stexe (ver mais

adiante) para a categoria dos gêneros (ver abaixo).

Classe: envolve duas classes: Montanhas e Planícies;

Subclasses: Sub-Montana, Montana, Alto Montana, Terras Altas e Terras Baixas;

Tipo: usualmente é baseada principalmente em atributos hidrometeorológicos,

considerando também atributos gerais da estrutura, migração de elementos químicos,

parâmetros biológicos e etc.;

Subtipo: é determinado de acordo com diferenças identificadas dentro de um mesmo

tipo;

Gênero: determinado de acordo os seguintes atributos:

o Tipo de relevo dominante (erosivo, acumulativo, etc.);

o Litotipo (carbonático, vulcânico, siliciclástico);

o Grau de continentalidade;

o Formações vegetais;

o Atributos da hidrologia (planície de inundação, delta, etc.);

o Complexidade e diversidade da estrutura morfológica.

Diferentemente dos anteriores, Viktor B. Sochava (1978), em seu livro Introdução à

Teoria dos Geossistemas, sugere que a tipologia dos geossistemas não deva se basear nas

características similares de tratos ou paisagens, mas na estrutura e dinâmica das fácies. Assim,

para Sochava, a tipologia dos geossistemas (geômeros) deve ser realizada pelo agrupamento

sucessivo de fácies (SUVOROV; SEMENOV; ANTIPOV, 2007), apresentando onze

categorias de geômeros, a saber:

Conjuntos de Tipos de Meios Naturais: inclui as grandes faixas geográficas da Terra

(Ex.: Cinturão de Paisagens Boreais);

Tipos de Meios Naturais: grandes conjuntos naturais de uma faixa geográfica (Ex.:

Taiga);

Classes de Geomas: Divisões dos meios naturais com base no megarrelevo (Ex.:

Montanhas Euroasiáticas);

Subclasses de Geomas: divisões do megarrelevo com base em sua posição e outras

características (Ex.: Montanhas de Baikal-Dzhugdzhursky);

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94

Grupos de Geomas: conjuntos naturais de uma subclasse de geoma (Ex.: Taiga

Decidual de Baikal-Dzhugdzhursky);

Subgrupos de Geomas: divisão de um grupo de geomas (Ex.: Taiga Decidual

Montana);

Geomas: agrupamento de classes de fácies com características estruturais e dinâmicas

semelhantes. Ex.: Taiga Decidual de Bacia Intra-Montana

Classes de Fácies: conjunto de grupos de fácies com características estruturais e

dinâmicas semelhantes. Ex.: Estepe

Grupos de Fácies: agrupamento de fácies com características estruturais e dinâmicas

semelhantes. Ex.: Estepes Secas de Piemonte.

Fácies: segmento de relevo com mesmo substrato, tipo de solo e espécies vegetais

dominantes. Ex.: Encosta côncava transeluvial com Stipa-Aneurolepidium em solo

castanho comumente siltoso e carbonático salino.

Geômero elementar (ou Biogeocenose): estágio de transformação pedológica e

sucessão vegetal num segmento geomórfico. Ex.: Stipa-Aneurolepidium em solo

castanho comumente siltoso e carbonático salino.

Detalhando ainda mais a classificação de Sochava (1978), Semenov e Purdik propõem

uma divisão dos Grupos de Fácies em Tipos (caracterizados pela migração geoquímica. Ex.:

Trasenluvial) e Subtipos (definidos pelo segmento do relevo. Ex.: Encosta côncava), tornando

assim, o termo fácies sinônimo de geômero elementar, conforme sugerido em Krauklis (1979,

p.70-80).

3.2 Dimensão Espacial dos Geossistemas

Um primeiro problema que encontramos na interpretação da ideia de geossistemas no

Brasil é quando se estende a definição de Bertrand em 1968, ao trabalho de Sochava e tenta-se

compreender o trabalho do geógrafo russo em função de partilhar o mesmo termo que o do

francês. Isso definitivamente não funciona, porque, como vimos, apesar de usarem o mesmo

termo (geossistema), Bertrand e Sochava referem-se a coisas distintas.

Além disso, o não esclarecimento, por parte de Sochava, nos únicos dois textos seus

que foram traduzidos para o português, de termos como geômeros e geócoros, somado ao já

referido desconhecimento do artigo de Beroutchachvili e Bertrand (1978), em francês,

conduziu a erros interpretativos sobre a dimensão dos geossistemas em Sochava. Assim,

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95

alguns autores brasileiros tenderam a interpretar a proposta de Sochava pela de Bertrand, a

exemplo de Troppmair e Galina (2006, p.81) que, baseado na ideia de que a antiga URSS

seria um país de dimensões continentais, afirmam ter concluído que o geógrafo russo se

referia a áreas de dimensões subcontinentais (tundra, estepes, etc.), quando utilizava o termo

geossistema, o que, definitivamente, não corresponde aos mapas de geossistemas em

ultradetalhe, na escala 1:1.000, elaborados com amostragens de 5m em 5m (Cf. KRAUKLIS,

1979, p.100) ou mesmo ao método da ordenação complexa, proposto para estudar o

funcionamento dos geossistemas locais e suas trocas de matéria e energia com os

geossistemas adjacentes em transectos com 1,5km (SOCHAVA, 1978; KRAUKLIS, 1979).

É neste sentido que, sempre se tratou a ideia de geossistema, na geografia brasileira,

na perspectiva das definições dadas por Bertrand em seu artigo de 1968, mais do que pela

perspectiva de outros autores como Sochava, por exemplo, o que gera uma compreensão

bastante distinta sobre a teoria em questão (Cf. Monteiro, 1976; 2000; AB’SÁBER, 2003;

VICENTE; PEREZ FILHO, 2003, NASCIMENTO; SAMPAIO, 2005).

De outro modo, Sales (2004, p.128-129) afirma que a perspectiva geossistêmica

desconsidera a dimensão temporal dos processos naturais, no sentido de que ignora escalas e

processos evolutivos de ordem morfoestrutural. Além disso, a autora resume muitas das

abordagens que se dizem “geossistêmicas” à simples agrupamentos de informações temáticas

sobre o meio ambiente (cf. Sales, op. cit., p.131). Deste modo, a autora emite uma opinião

crítica sobre aquilo que, na maioria das vezes, foi feito da abordagem geossistêmica no Brasil,

ou seja, simples complicação terminológica. Todavia, uma compreensão mais aprofundada da

ideia de geossistema, fornece uma compreensão distinta daquela da autora sobre a dimensão

temporal dos geossistemas (cf. tópico 3.3, mais adiante).

Além da confusão sobre a dimensão espacial dos geossistemas, o espectro

terminológico relacionado às propostas de Bertrand e Sochava também podem levar a

interpretações errôneas. Um exemplo é a concepção associada aos termos geofácies,

geótopos, geócoros, geômeros, entre outros, como veremos a seguir.

3.2.1 Geofácies, Geótopos e Tantos Outros Termos

De forma similar à diferença conceitual entre o termo geossistema em Bertrand e em

Sochava, os termos geofácies e geótopo também possuem conotações ambíguas na literatura

geográfica, enquanto os termos geócoro e geômero são bastante peculiares aos trabalhos

desenvolvidos pelo antigo Instituto de Geografia da Sibéria (hoje Instituto Viktor Sochava de

Geografia).

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96

O termo geofácies é referido inicialmente por Bertrand (em 1968) como uma

subdivisão espacial do geossistema. Assim, os geossistemas seriam unidades da 4ª ou 5ª

ordem de grandeza, enquanto os geofácies seriam da 6ª ordem. Igualmente, os geótopos

seriam subdivisões dos geofácies manifestando-se na 7ª ordem de grandeza de Cailleux e

Tricart.

Em Beroutchachvili e Bertrand (1978), quando o geógrafo francês adota uma nova

concepção, o termo geofácies aparece em outra acepção, sinônima ao conceito de fácies de

Sochava, sendo definido como uma associação de geohorizontes. Assim, o geofácies da

proposta de Bertrand em 1968, antes da 6ª ordem de grandeza, dez anos depois se torna

sinônimo do que antes era chamado de geótopo. Esta mudança de concepção do geógrafo

francês foi acompanhada também por uma mudança terminológica que, em alguns casos,

inverteu o significado atribuído à uma determinada palavra, no caso, geofácies.

Já o termo geohorizonte foi introduzido por Nikolai Beruchashvili para descrever os

diferentes componentes da estrutura vertical de uma fácies. Assim, o geohorizonte é descrito

em termos das associações das diferentes substancias, que implica o uso do termo geomassa,

que é aplicado para definir a ideia de matéria geográfica, ou seja, aquela que pode ser

agrupada conforme sua posição entre as esferas geográficas, a saber: litosfera (litomassa),

atmosfera (aeromassa), hidrosfera (hidromassa), biosfera (biomassa) (BERUCHASHVILI,

1986).

Além disso, a geomassa pode ser subdividida em pedomassa, fitomassa, zoomassa,

necromassa, etc. (ISACHENKO, 1998; EGOROV, 2008). Assim, um geohorizonte seria um

estrato da paisagem onde houvesse a mesma combinação de geomassa, isto é, a diferenciação

não estaria relacionada apenas à sequencia de estratos vegetais e dos horizontes do solo, pois

também deveria incluir as condições da hidrosfera e atmosfera.

Como exemplo de geofácies na concepção de Beroutchachvili e Bertrand (1978)

podemos apresentar o caso observado no semiárido brasileiro (CAVALCANTI, 2010;

CAVALCANTI et al., 2010), no município de Poço das Trincheiras (Alagoas) (Fig. 22).

Observando um segmento de encosta com aproximadamente 20m², foi elaborado um perfil de

geofácies contendo os seguintes geohorizontes (descritos de cima para baixo):

I - Atmosfera sem interferência da vegetação com limite em 3 metros. II – Folhas

anuais de árvores e arbustos em queda, lianas e limite inferior em 1,7 metros. III –

Rocha aflorante, Folhas anuais de árvores e arbustos em queda, transporte de

biosubstâncias, líquens nos troncos das árvores e em algumas rochas, lianas e limite

em 0,3 metros. IV - Rocha aflorante, Transporte de biosubstâncias, presença de lianas,

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97

folhas e caules de herbáceas com limite de 0,1 metro. V - Rocha aflorante, Transporte

de biosubstâncias, presença de lianas, folhas e caules de herbáceas, Serrapilheira não

destruída, limite na linha de superfície. VI - Rocha e cascalho, raízes e umidade

insuficiente com limite de profundidade em 30 cm. VII - Rocha com limite de

profundidade desconhecido.

Figura 22. Geofácies, geohorizontes e distribuição da geomassa.

A – Aeromassa, P – Fitomassa, L – Litomassa, H – Hidromassa, M – Necromassa. As letras

minúsculas representam variações da geomassa. Os números indicam a altura/profundidade do

geohorizonte. Fonte: Cavalcanti (2010); Cavalcanti et al. (2010).

Considerando toda esta variabilidade de terminologias e acepções intercambiantes e

ainda, para evitar maiores confusões, elaborou-se um quadro de correlação entre os termos

utilizados por Bertrand, Sochava e Bertrand e Beroutchachvili (Figura 23). Espera-se

colaborar para solucionar dúvidas e auxiliar o entendimento sobre a natureza distinta das

propostas apresentadas.

É importante destacar que o geógrafo russo não utiliza o termo geofácies, preferindo o

uso das palavras fácies físico-geográfica ou simplesmente fácies (SOCHAVA, 1963; 1977;

1978). Em termos comparativos, a fácies de Sochava é o geótopo de Bertrand em 1968/1972 e

o geofácies de Beroutchachvili e Bertrand em 1978, abrangendo uma unidade físico-

geográfica da 7ª ordem de grandeza.

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98

Figura 23. Correspondência de termos em Bertrand e Sochava.

Termo Conceito em Bertrand

(1968)

Conceito em

Beroutchachvili e

Bertrand (1978)

Conceito em

Sochava (1978)

Geofácies Subdivisão dos

Geossistemas da 6ª

ordem de grandeza

Utilizado como sinônimo

de fácies. Unidade com

mesma associação de

geohorizontes. 7ª ordem

de grandeza

Não utilizado

Geótopo Subdivisão dos

Geofácies da 7ª ordem

de grandeza

Não utilizado Termo genérico que

se refere a qualquer

ordem de

geossistemas locais

(4ª, 5ª, 6ª e 7ª ordens

de grandeza)

Geomassa Não utilizado Qualquer tipo de matéria

componente da paisagem

Não utilizado

Geohorizonte Não utilizado Estrato de um geofácies Não utilizado

Fonte: Bertrand (1968); Beroutchachvili e Bertrand (1978); Sochava (1978). Organizado pelo autor.

Quanto ao termo geótopo, em Sochava, este é associado a qualquer dos geossistemas

locais (localidades, tratos, subtratos, fácies) e seu estudo é denominado geotopologia, em

contraponto à regionalização físico-geográfica, que se preocupa com os geossistemas

regionais e globais. Deste modo, o geótopo para o geógrafo russo não representa uma unidade

natural com dimensão determinada, mas um termo genérico para designar geossistemas de

pequenas dimensões.

Para complicar ainda mais a situação, Sochava propõe mais termos como geômeros,

geócoros, epigeômeros e outros. Contudo, os termos geócoro e geômero, possuem uma

definição bastante simples, mas cuja tradução não foi realizada em idioma português,

dificultando sua compreensão, por exemplo, Nascimento e Sampaio (2005, p.174) acreditam

que é um problema aplicar a ideia de geossistema em função de os geômeros estarem

relacionados às escalas das zonas climáticas, enquanto os geócoros possuírem escala regional,

quando na verdade os conceitos relacionam-se a duas formas de organização da informação,

de tipologia e de regionalização, respectivamente (SOCHAVA, 1978; ISACHENKO, 1991).

Neste contexto, o termo regionalização é utilizado para diferenciar unidades naturais,

independentemente de sua dimensão espacial (local, regional, planetária), enquanto o termo

tipologia é associado à tipos de unidades. Assim, os geócoros são unidades naturais de

qualquer dimensão (ex.: Depressão Sertaneja), enquanto os geômeros são tipos de unidades

naturais (ex.: Depressões em Rochas Cristalinas sob Climas Secos).

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99

O conceito de ‘tipo’ pode aplicar-se apenas para a diferenciação e comparação entre

paisagens e unidades locais. Todavia, para unidades regionais e planetárias, a tipologia não é

tão importante, uma vez que o número de unidades similares não é tão grande quanto nas

unidades de pequena dimensão (ISACHENKO, 1973). Isachenko (1973) enfatiza que na

natureza existem objetivamente apenas os indivíduos (geócoros de Sochava) e que qualquer

tipologia é produto de generalização teórica.

Apesar de toda inovação terminológica trazida por Sochava, muitos dos conceitos já

apresentavam definição bem claras na geografia russo-soviética. De acordo com Mamay

(2007), as aproximações regionais e tipológicas já haviam sido desenvolvidas por Lev S. Berg

antes do final da década de 1940.

Neste sentido, deve-se ressaltar que a geografia soviética, à época em que Sochava

promove o desenvolvimento da epígrafe ‘geossistema’ (décadas de 1960 e 1970) já

apresentava aspectos bastante consolidados na discussão sobre uma teoria de áreas naturais,

compreendendo a fácies, o envelope geográfico e toda a gama de unidades intermediárias

como entidades reais.

Em 1965, A.G. Isachenko lança o primeiro livro dedicado inteiramente ao tema,

intitulado “Princípios de Ciência da Paisagem e Regionalização Físico-Geográfica”, com

versão em inglês de 1973. Neste livro o autor divide a Geografia Física Integrada em duas

disciplinas: Ciência da Paisagem que busca o estudo das unidades de dimensões locais (<10²

km²), que é sinônima à Geotopologia de Sochava e; a Regionalização Físico-Geográfica

tratando do estudo de unidades superiores a 10² km² (grosseiramente falando).

Em 1991, A.G. Isachenko publica uma segunda edição de seu livro (sem tradução para

inglês) e revisa as denominações aplicadas aos geossistemas de diferentes dimensões pelos

autores soviéticos e verifica a recorrência de algumas terminologias, a partir dos quais é

possível diferenciar um conjunto de unidades taxonômicas largamente aceitas, entre os

geógrafos russo-soviéticos, a saber: epigeosfera (эпигеосфера), cinturão (пояс), zona (зона),

subzona (подзона), setor (сектор), subsetor (подсектор), continente (континент),

subcontinente (субконтинент), domínio (область), subdomínio (подобласть), província

(провинция), subprovíncia (подпровинция), distrito (округ), subdistrito (подокруг),

paisagem (ландшафт), terreno (местност), trato (урочище), subtrato (подурочище) e fácies

(фация).

A proposta taxonômica de Sochava (1978) apresenta uma nomenclatura bem particular

para as unidades naturais (geossistemas), mas que não se afastam grandemente daquelas

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100

citadas acima. Na sua proposta, o referido geógrafo apresenta categorias e ordens de

geossistemas, correspondendo aos geômeros e geócoros, respectivamente (Fig. 24).

Figura 24. Subdivisão Taxonômica dos Geossistemas.

Geômeros Dimensão Geócoros

Geossistema Planetário

Conjuntos de Tipos de

Meios Naturais

Planetária Cinturão físico-geográfico e Grupos de

Domínios físico-geográficos

Tipos de Meios Naturais Subcontinentes e conjuntos de suas

megaposições

Classes de Geomas Regional Domínios físico-geográficos

Subclasses de Geomas

Grupos de Geomas Com Zonalidade

Latitudinal

Com Diferenciação

Vertical Subgrupos de Geomas

Zonas Naturais Grupos de Províncias

Subzonas/Províncias Províncias

Geomas ----------------------- Macrogeócoro (Distritos, Paisagens)

Classes de Fácies Local Topogeócoro (Raion)

Grupos de Fácies Mesogeócoro (Localidades e grupos de Tratos)

Fácies Microgeócoros (Tratos)

Geômero elementar Geócoro elementar

Fonte: Sochava, 1978, p.92. Modificado pelo autor.

Foi levando em conta a inserção real dos geócoros de níveis mais baixos naqueles de

níveis mais elevados que Sochava (1978) se refere a eles como possuindo diferentes ordens,

classificando-os em microgeócoros (sinônimo de Tratos), mesogeócoros (sinônimo de

Localidades), macrogeócoros (sinônimo de Paisagens) e etc.. Igualmente, sendo os geômeros

correspondentes a diferentes tipos de unidades, eles são referidos como possuindo diferentes

categorias definidas pela generalização tipológica das fácies, assim tem-se: grupos de fácies,

classes de fácies, geomas (agrupamento de classes de fácies), subgrupos de geomas, grupos

de geomas e assim por diante.

As diferentes categorias de geômeros seriam determinadas com base em algum

atributo que reflita sua natureza similar de um conjunto de geócoros. Dando exemplos de

geômeros de dimensões planetária e regional, Sochava (1978, p.94) propõe um Cinturão de

Paisagens Extratropicais Setentrionais que contém a Taiga. Esta, por sua vez, distribui-se

sobre as Planícies e Montanhas Euroasiáticas, que constituem Classes de Geomas (Figura

25).

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101

Figura 25. Exemplos de Geômeros Planetários e Regionais.

Categorias de Geômeros Exemplos

Conjuntos de Tipos de

Meios Naturais

Cinturão de Paisagens Boreais Intertropicais

Tipos de Meios Naturais Taiga

Classes de Geomas Planícies Euroasiáticas Montanhas Euroasiáticas

Subclasses de Geomas Ob-Irtysh Baikal-Dzhugdzhursky

Grupos de Geomas Taiga Escura de Ob-Irtysh Taiga Decidual de Baikal-

Dzhugdzhursky

Subgrupos de Geomas Geomas da Taiga Escura Meridional

de Ob-Irtysh

Geomas da Taiga

Decidual Montana

Otimamente

Desenvolvida

Geomas Taiga de Picea abies das Planícies 1. Taiga Decidual de

Bacia Intra-Montana

2. Taiga Decidual de

Encosta

Fonte: Sochava, 1978, p.94. Organizado pelo autor.

O conceito de geoma, em Sochava, consiste numa representação tipológica

mesorregional, constituída por um agrupamento de classes de fácies com atributos estruturais

e dinâmicos similares, que pode ser representado pelo tipo de vegetação regional e sua

posição morfoestrutural, por exemplo. Em seu livro, Sochava não traz exemplos da tipologia

dos geossistemas locais (classes, grupos, tipos e subtipos de fácies). Contudo, o

desenvolvimento das atividades do Instituto de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente,

subsidiou a formulação de tais exemplos (Fig. 26).

Neste sentido, Semenov e Purdik (1986), apresentam o mapeamento e classificação de

geossistemas locais no Sul da Sibéria, determinando grupos e classes de fácies com base no

modo de migração geoquímica de substâncias na paisagem, bem como em feições de relevo e

condições de drenagem. Na carta, as fácies são definidas de acordo com as comunidades

vegetais e tipos de solos predominantes.

É interessante notar que os referidos autores recorrem a técnicas de cartografia

temática para representar, de uma só vez, geômeros e geócoros na carta, compondo o que

Sochava denominou de mapa regional-tipológico. Este produto constitui, pois, um modelo

conceitual das relações entre os componentes da natureza, servindo como subsídio a reflexões

sobre processos regionais e locais geradores de paisagens, sobretudo porque fornecem uma

representação detalhada da distribuição dos indivíduos geográficos (geócoros) e também dos

tipos de geossistemas (geômeros).

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102

Figura 26. Fragmento de Carta de Geossistemas do Sul da Sibéria.

Geoma das Estepes da Ásia Central

Classes Grupos Tipos Subtipos Fácies

Este

pe

s

Este

pe

s se

cas

de

pie

mo

nte

Elu

viai

s

Autônomos 1 – Festuca em solo castanho não-cálcico subdesenvolvido

2 – Chamaerhodos-Festuca em solo castanho não-cálcico subdesenvolvido ou comumente siltoso e carbonático

3 – Chamaerhodos em solo castanho não-cálcico subdesenvolvido

Tran

selu

viai

s

Em encosta convexa

5 – Stipa-Artemisia em solo castanho comumente siltoso e carbonático

Em encosta suave

6 – Stipa em solo castanho comumente siltoso e carbonático profundo

7 – Herbáceas(forbs)-Stipa em solo castanho comumente siltoso e carbonático

8 – Aneurolepidium-Stipa em solo castanho comumente siltoso e carbonático profundo

Em encosta côncava

9 – Stipa-Aneurolepidium em solo castanho comumente siltoso e carbonático salino

Tran

selu

viai

s

Acu

mu

lati

vas Automorfo 10 – Aneurolepidium-Stipa em solo castanho comumente

siltoso e carbonático

11 – Aneurolepidium em solo castanho comumente siltoso e carbonático de pradarias

Pra

dar

ia-E

step

e

Pra

dar

ias-

Este

pes

seca

s

Tran

selu

viai

s

Acu

mu

lati

vas

Semi hidromórfico

13 – Stipa-Aneurolepidium em solo castanho de pradarias comumente siltoso e carbonático com sais elevados

15 – Herbáceas(forbs)-Gramas altas em solo de castanho de pradarias com sais elevados

Fonte: Semenov e Purdik, 1986, p.93-96. Organizado pelo autor.

A partir da carta de geossistemas, torna-se possível definir, e precisar, o

posicionamento de áreas naturais mesorregionais e locais que podem ter conduzido ao

aparecimento de determinadas categorias de geômeros (ex.: tipos de fácies), como a

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103

subsidência lenta de algum bloco rochoso e consequente alagamento progressivo de uma

região.

Os geócoros de diferentes ordens são nomeados a partir de elementos físico-

geográficos de destaque para a área estudada. No caso da Ásia Setentrional, Sochava (1978,

p.99) diferencia dois critérios para regionalização de domínios físico-geográficos, aqueles

condicionados pela distribuição latitudinal da radiação e gradientes termo-hídricos e os que se

definem pelo gradiente hipsométrico. No primeiro caso, o autor destaca o domínio das

planícies drenadas pelos rios Ob e Irtysh e; no segundo caso, os domínios montanhosos de

Baikal a Dzhugdzhursky (Figura 27).

Figura 27. Exemplos de Geócoros Planetários e Regionais.

Dimensão Ordens de Geócoros Exemplos

Planetária Cinturão físico-geográfico Cinturão Extratropical Setentrional

Grupos de Domínios físico-geográficos Ártico Boreal

Subcontinentes Ásia Setentrional

Domínio físico-geográfico Ob-Irtysh Baikal-Dzhugdzhursky

Regional Com Zonalidade

Latitudinal

Com Diferenciação

Vertical

Zonas Naturais Grupos de

Províncias

Taiga Vitimo-Aldansk

Subzonas/Províncias Províncias Taiga

Central/Yenisey

Taiga ao Oeste de

Transbaikal em Áreas

Rochosas de Cimeira

Local Macrogeócoro (Distrito) Taiga Escura das

Planícies sinuosas

de Chulym

Cimeira Rochosa de

Preangara

Fonte: Sochava, 1978, p.99. Organizado pelo autor.

Nota-se que a proposta de Sochava destoa ligeiramente daquela de Isachenko,

sobretudo no tocante à identificação das unidades de dimensões regionais. O primeiro autor,

por exemplo, não faz referência a unidades derivadas do cruzamento de elementos zonais e

azonais. Assim, percebe-se que, apesar de haver certo consenso acerca das unidades físico-

geográficas existentes, o modo de agrupar a informação difere largamente.

Neste ponto, o leitor pode achar que a teoria dos geossistemas ocupa-se única e

exclusivamente da cartografia de área naturais. Contudo, a grande inovação trazida pela teoria

foi a integração dos estudos sobre a estrutura, dinâmica e evolução das paisagens, indo muito

além dos mapas e cartas. De acordo com Mamay (2007) Sochava foi pioneiro no estudo

integrado das variações periódicas da paisagem, pelo estabelecimento de estações de

monitoramento da dinâmica dos geossistemas. Dito isto, é importante que se compreenda o

modo como a referida teoria passou a tratar a dimensão temporal das paisagens.

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104

3.3 Geossistemas no Tempo: Dinâmica e Evolução das Paisagens

Retomando a crítica de Sales (2004), sobre o fato de a dimensão temporal dos

geossistemas não considerar as qualidades morfoestruturais das paisagens, limitando-se às

variações de curto prazo, é preciso destacar pelo menos dois pontos, a saber:

Os procedimentos de diferenciação de geossistemas regionais (cf. Sochava, 1978) e,

daquilo que é chamado de regionalização físico-geográfica (cf. Isachenko, 1991),

determinam área naturais de grandes dimensões pela correlação entre morfoestruturas

e unidades bioclimáticas (cf. tópico 3.1, acima);

Com isso, destaca-se o fato de que, a teoria dos geossistemas não se baseia puramente

em um critério para análise da natureza (ex.: morfoestruturas), mas busca compreender

as relações entre os diversos elementos e processos naturais, e isso traz uma série de

implicações epistemológicas para o estudo e ensino da referida teoria (cf. tópico 4, a

seguir).

A grande contribuição da teoria do geossistema foi a incorporação dos conceitos de

invariantes e variáveis de estado, emprestados da física de sistemas dinâmicos. Aplicados à

geografia, estes conceitos permitiram clarear e expandir os horizontes epistemológicos do

estudo integrado da natureza, sem deixar de lado sua relação com as intervenções da

sociedade.

Tratada como um sistema dinâmico, a paisagem passou a ser observada como um

conjunto de componentes com temporalidades distintas, ou polissistemas, no dizer de

Cherkashin (2008). Com base nisso, é possível distinguir duas categorias de geossistemas

componentes (ou geocomponentes): aqueles que possuem uma taxa de mudança muito lenta

(invariantes) e aqueles que possuem uma taxa de mudança mais rápida (variáveis de estado).

É possível então medir a idade da paisagem como a época em que a invariante se

formou. Uma mudança na invariante significa uma evolução da paisagem, enquanto que as

alterações nas variáveis de estado representam a dinâmica dos geossistemas. Traduzindo,

grosso modo, para a geografia física, uma unidade geomorfológica (forma+estrutura

superficial) corresponde à invariante do geossistema, enquanto os processos e elementos

pedoedáficos, ecológicos, hídricos e atmosféricos representam as variáveis de estado.

Pensando sobre isso, Isachenko & Reznikov (1996) propõem o termo sítio como

unidade formada pela relação entre um tipo de substrato, sua forma de relevo e seu regime de

drenagem. Em complemento, eles propõem que cada etapa de transformação pedológica e

sucessão vegetal sobre um mesmo sítio seja denominada de estado.

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105

Deste modo, os estados compreendem as mudanças ocorridas na paisagem a partir do

estabelecimento do sítio, mas que não impliquem na mudança completa de suas características

(ISACHENKO, 2007). A partir do momento em que um sítio se estabelece, toma lugar uma

série de transformações pedogenéticas, ecossistêmicas e atmosféricas sobre ele. Cada uma

destas transformações compreende um estado.

É similar ao conceito de balanço entre morfogênese e pedogênese de Tricart (1977).

Quando os processos formadores do relevo estão em ação intensa, não há possibilidade de

formação de solos nem de exploração biológica do substrato, é a invariante em transformação

(evolução da paisagem). De outro modo, quando cessa a atividade geomorfológica intensiva,

toma lugar a transformação pedológica e a dinâmica dos seres vivos (sucessão vegetal).

É claro que isso se dá em escalas concomitantes à magnitude dos processos

envolvidos. Um deslizamento pode ser suficiente para fazer evoluir uma fácies ou mesmo um

geócoro elementar (subtrato - podurochische), mas não uma paisagem (landschaft -

Macrogeócoro). Neste sentido, diferentes métodos permitem abordar escalas distintas, não

apenas em termos de resolução espacial, mas também temporal. Por exemplo, algumas

técnicas de análise e datação de perfis estratigráficos (a exemplo da Luminescência

Opticamente Estimulada – LOE, associada a análises sedimentológicas e

morfoestratigráficas), permitem determinar não apenas a idade e natureza da invariante atual,

mas também o conhecimento de quadros sucessivos de paleopaisagens.

Deste ponto de vista, é só a partir da visão geossistêmica que se torna possível tratar

dados de fontes diversas (geomorfológicas, sedimentológicas, palinológicas, etc.) dentro de

um mesmo horizonte epistemológico, transportando a geografia física ao status de ciência

histórica (CORRÊA, 2006). Contudo, apesar de os estudos evolutivos auxiliarem na

compreensão de paleopaisagens, eles não são suficientes para explicar o funcionamento da

paisagem atual, emergindo assim, a necessidade de estudos dinâmicos.

É neste sentido, que a consideração da dinâmica das paisagens permitiu (e permite) à

geografia integrar estudos evolutivos às perspectivas de monitoramento ambiental, na busca

de conhecer estágios funcionais e acompanhar com precisão as mudanças em patamares

formativos de novos geossistemas, sobretudo através do desenvolvimento do conceito de

estados da paisagem.

Os estados da paisagem (ou Estados do Complexo Territorial) abrangem as variações

que um geossistema apresenta em seu funcionamento (dinâmica). De forma mais abrangente,

os estados da paisagem atual incluem três categorias de fenômenos, a saber: de curto prazo

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106

(duração inferior a 24h), médio prazo (>24h a 1 ano) e de longo prazo (>1 ano)

(BERUCHASHVILI, 1983).

Para o estudo da dinâmica da paisagem, Sochava propôs o monitoramento estacional e

semiestacional, sendo o primeiro de caráter fixo e com objetivo de controle das observações e,

o segundo, de caráter variável e com observações em intervalos de tempo mais largos, com o

objetivo de melhor espacialização das informações (SOCHAVA, 1978). Na época da URSS,

foram estabelecidas 20 estações fixas no território soviético, entretanto, algumas destas não

puderam ser mantidas com o fim do regime comunista (MAMAY, 2007).

Seguindo o modelo de estudos estacionais desenvolvido por Viktor Sochava, foi

construída na Geórgia (região de Martkopi) uma estação físico-geográfica que chega a

mensurar entre 6 e 7 mil medidas diárias em 100 diferentes atributos das paisagens e funciona

há mais de 40 anos. A partir dos resultados obtidos pelo monitoramento na estação de

Martkopi (Geórgia), seu proponente, o geógrafo Nikolai Levanovich Beruchashvili propôs o

conceito de Estado do Complexo Territorial (Stexe).52

Um stexe é definido por um regime homogêneo de trocas de matéria e energia num

determinado geossistema. Os estudos estacionais têm demonstrado que um stexe geralmente

dura um dia, mas pode prolongar-se por vários dias, podendo atingir um mês ou mais

(ISACHENKO, 1998).

Como foi dito, os estudos estacionais (dinâmicos) permitem auxiliar na compreensão

dos processos evolutivos, mas ambos também bebem da fonte primária, representada pelos

estudos estruturais, que têm, na cartografia e classificação dos geossistemas, seu principal

objetivo. Assim, a cartografia e classificação sistemática das paisagens, além de fornecerem

informações preciosas ao planejamento territorial, servem de estratificação da amostragem

para determinação de pontos de coleta para estudos evolutivos, tanto quanto para seleção de

áreas para observações fixas (estacionais) e variáveis (semiestacionais).

Esta integração e interdependências de perspectivas estruturais, dinâmicas e

evolutivas, permitida pelo horizonte epistemológico da teoria dos geossistemas, nos leva à

necessidade de uma reflexão sobre o lugar do estudo de geossistemas no âmbito formal da

geografia científica.

52

Stexe é uma sigla para sostoiania territorialniykh komplexov ou Ctekc (Cостояния Территориальных

Комплексов), em russo. Em português significa Estado do Complexo Territorial.

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107

4 O Estudo de Geossistemas pertence a qual área da Geografia?

Acima, havíamos dito que o Estudo de Geossistemas é similar53

ao que se chama na

Rússia de Ciência da Paisagem e Regionalização Físico-Geográfica. Contudo, cabe uma

pergunta quanto à natureza epistemológica deste direcionamento de estudo: a qual área da

geografia pertence?

Analisando o contexto de aplicação do termo geossistema, poderíamos traçar várias

hipóteses, incluindo-o na geomorfologia dinâmica, na biogeografia ecológica ou mesmo numa

climatologia geográfica ou ecologia/geoecologia da paisagem. Entretanto, vamos preferir

analisar o contexto da geografia russa, onde esta epígrafe se desenvolveu.

Observando os trabalhos da 11ª Conferência Internacional da Paisagem (realizada em

2006, em Moscou), que foram reunidos em um livro contendo 31 artigos, podemos observar

que o primeiro deles se dedica a explanar daquilo que se trata a Ciência da Paisagem russa. O

autor, Kiril N. Dyakonov (2007) aponta quatro direcionamentos gerais desta disciplina:

genético-estrutural, dinâmico-funcional, evolucionário/paleopaisagístico, antropogênico e

cultural-histórico.

A linha genético-estrutural estuda a gênese e estrutura das paisagens (geossistemas),

sua diversidade nos níveis locais, regionais e planetários. É uma abordagem característica das

sínteses naturalistas, tais como os domínios de natureza de Aziz N. Ab’Saber, das unidades

geoambientais de Silva et al. (2001) e outros similares;

A direção dinâmico-funcional tem interesse no funcionamento atual das paisagens,

sobretudo a partir de ferramentas geoquímicas e geofísicas. Encontra poucos similares na

geografia brasileira, a exemplo dos estudos geoquímicos de Nascimento et al. (2008), e do

ponto de vista geofísico, no contexto da Climatologia Geográfica de Carlos Augusto de

Figueiredo Monteiro;

O direcionamento evolucionário ou paleopaisagístico está preocupado com o

desenvolvimento das paisagens, principalmente no Holoceno e Pleistoceno. Envolve questões

paleoambientais (Geomorfologia do Quaternário, Paleoclimatologia, Paleobotânica, etc.), tais

como aquelas discutidas por Corrêa (2006) e Silva (2013);

A linha antropogênica foca no desenvolvimento das paisagens provocado pela

atividade humana, avaliação de impactos das atividades econômicas e riscos para a saúde

humana. Em termos da geografia brasileira, corresponderia à ideia de geografia física

aplicada, a exemplo do modelo de vulnerabilidade ambiental de Crepani et al. (2001);

53

A Ciência da Paisagem ainda é mais ampla que o estudo de geossistemas, na medida em que abarca a

dimensão imaterial da paisagem e não apenas seu sentido físico-natural (Cf. o viés cultural-histórico, a seguir).

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108

O viés cultural-histórico é preocupado com as paisagens criadas materialmente e

espiritualmente pela sociedade, focando em aspectos estéticos, patrimoniais, fenomenológicos

e etnográficos (KALUTSKOV, 2007). Este interesse acadêmico é muito próximo ao que se

convencionou chamar no Brasil de Geografia Cultural.

Não obstante toda esta gama de direcionamentos, a Ciência da Paisagem não esgota as

atividades da geografia russa, pelo contrário, ela é apenas um entre diversos de seus

componentes, ou seja, ela é tratada como uma disciplina à parte da geomorfologia,

climatologia, biogeografia, pedologia, da hidrologia, geografia econômica e assim por diante.

Todavia, não se compreende isto sem que antes seja buscado um entendimento da

estrutura acadêmica da geografia como é praticada na Rússia. Deste modo gostaríamos de

sumarizar alguns aspectos, tais como:

Na antiga URSS, o curso de Geografia recebeu o prestígio de possuir uma faculdade

voltada unicamente para seu estudo, organizada em departamentos exclusivos para cada uma

de suas disciplinas especializadas (Geomorfologia, Climatologia, Biogeografia, Geografia

Econômica, Cartografia, Ciência da Paisagem, entre outros). Existe um departamento inteiro

exclusivo para a prática da Ciência da Paisagem, onde os alunos fazem um curso de cinco

anos e estudam detalhadamente cada um de seus direcionamentos.

No Brasil, esta disciplina nem mesmo existe e seu conteúdo, como vimos acima, é

fragmentado em diversas outras disciplinas (climatologia, geografia cultural, etc.) o que

dificulta ainda mais o seu entendimento. Isto ocorre por pelo menos três motivos:

No Brasil, o ensino superior da Geografia foi sempre organizado em um único

departamento, geralmente nas faculdades de Ciências da Terra ou Ciências Humanas;

No século XX os geógrafos soviéticos conduziram a organização de sua ciência numa

preocupação de explicá-la com base no materialismo histórico e da sua utilidade para

o então Estado socialista. No Brasil, sobretudo no último quartel do mesmo século,

ganhou força uma proposta de revisão da geografia que então servia ao Estado

(capitalista), muitas vezes esquecendo-se das desigualdades sociais;

Em resultante disso, na URSS pôde crescer com mais facilidade uma perspectiva

geográfica como ciência da natureza e da sociedade, valorizando tanto a promoção de

abordagens integrativas quanto especialistas ignorando, contudo, questões relativas às

desigualdades sociais e que poderiam ameaçar a imagem do Estado.

No Brasil, sobretudo a partir da década de 1970, o crescimento de uma perspectiva

marxista, no contexto de profundas desigualdades sociais do país, fomentou intensos

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109

debates que resultaram na supervalorização do papel político da disciplina. Este fato

foi acompanhado de uma consequente desvalorização das temáticas da natureza,

principalmente aquelas tais como a Geomorfologia Estrutural, Paleoclimatologia e

Morfotectônica. Numa abordagem reducionista, muitos chegaram a afirmar que estas

temáticas não pertenciam à Geografia, no que Sales (2004) denominou de uma

tentativa de eliminar a Geografia Física do Brasil.

Considerando estas informações sobre os diferentes contextos, fica mais fácil

compreender as diferenças nos horizontes cognitivos de geógrafos brasileiros e russo-

soviéticos. Distinguem-se em termos de contexto político, estrutura acadêmica e história de

desenvolvimento do conhecimento geográfico.

5 Conclusões

Este capítulo tentou apresentar uma sucinta descrição da teoria dos geossistemas nos

termos da geografia russo-soviética, a fim de, desvinculá-la daquela perspectiva francesa,

Bertrandiana de 1968, que tanto tem dominado as interpretações realizadas pelos geógrafos

brasileiros e que, desconsideram as próprias mudanças de concepção do pesquisador de

Toulouse.

Na geografia inicial de Georges Bertrand, o geossistema tratava-se de uma unidade

mesorregional da paisagem, da 4ª ou 5ª ordem de grandeza na escala de Cailleux e Tricart.

Contudo, é na geografia soviética, que o termo geossistema passa a ser associado a uma teoria

explicativa das relações entre os diversos campos da geografia física. Neste sentido, a teoria

dos geossistemas de Sochava consiste numa proposição realista acerca da estrutura, dinâmica

e evolução de áreas naturais derivadas das relações entre os componentes da natureza.

Nesta visão realista, a referida teoria se baseia na aceitação da existência real de

determinadas unidades físico-geográficas, bem como nas relações de trocas de matéria e

energia no âmbito dos diferentes sistemas ambientais que compõem a superfície terrestre.

Assim, destacam-se os conceitos de invariantes e variáveis de estado para da compreensão

das relações entre os componentes da natureza.

O horizonte epistemológico alcançado pela teoria dos geossistemas permitiu integrar,

de modo mais homogêneo, perspectivas estruturais, dinâmicas e evolutivas para o estudo de

áreas naturais. Apesar disso, a teoria em questão apresenta certa dificuldade de interpretação e

aceitação no Brasil por vários motivos. Isto ocorre dos seguintes obstáculos:

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110

Larga divulgação do texto de Bertrand de 1972, sem conhecimento de sua publicação

posterior com Beroutchachvili em 1978 ou mesmo de seu modelo GTP;

Falta de compreensão da diferença entre o conceito de geossistema em Sochava e em

Bertrand, que partilham apenas a mesma epígrafe;

Pouco material disponível em português, sobre as ideias de Sochava e de outros

geógrafos russo-soviéticos e;

Organização diferenciada da estrutura acadêmica e história do pensamento geográfico

no Brasil e nos países formadores da antiga URSS.

Por fim, podemos considerar que muitas interpretações e até críticas pouco assertivas à

teoria dos geossistemas de Sochava, feitas por geógrafos brasileiros, foram realizadas sem o

devido conhecimento da proposta do geógrafo russo. Nestes termos, estas críticas e

interpretações, en passant, realizadas sumariamente, com base apenas em textos disponíveis

em português e línguas mais acessíveis (principalmente o francês), mais prejudicam do que

colaboram construtivamente com o debate sobre áreas naturais, sua classificação e estudo.

Debate este que traz a promessa de tornar a geografia brasileira ainda mais rica do que já é,

mormente pela incorporação de geografias tão distintas quanto àquelas das terras da Rússia e

arredores.

Por fim, cabe destacar que a grande vantagem da teoria dos geossistemas é que ela

permite investigar diferentes aspectos da natureza (estrutura, dinâmica e evolução) sob uma

base unificada em termos de perspectiva e tratamento dos problemas. Entretanto, Vale a

ressalva de que é preciso um direcionamento distinto, do ponto de vista epistemológico (e

consequentemente curricular) para seu estudo.

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111

2

“A experimentação seria a essência do “método científico” ahistórico. A experimentação em laboratório, no

entanto, possui um papel limitado nos trabalhos de geografia física. Não se pode replicar todos os processos de

formação das planícies aluviais nem das rampas de colúvio, (...) O acúmulo de conhecimento em ciências

históricas se dá pela observação, comparação, e pela realização de ‘experimentos naturais’” (CORRÊA, 2006,

p.36).

Lucas Cavalcanti, 2010.

Reflexões Metodológicas sobre o Estudo da Estrutura da Paisagem a

partir da Análise do Parque Nacional do Catimbau (Nordeste do Brasil)

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112

Capítulo 4

Parque Nacional do Catimbau: Elementos Geológico-

Geomorfológicos 1 Introdução

A construção das sínteses naturalistas se estrutura na investigação dos contrastes

paisagísticos, baseando-se também na observação e registro sobre os componentes da

natureza (relevo, solos, vegetação, etc.) que partilham de uma mesma localização geográfica,

bem como na análise pormenorizada das relações entre tais componentes.

Compreendendo isto, podemos afirmar que as sínteses naturalistas são obtidas com

base em três categorias analíticas e integrativas, relacionadas ao modo de obtenção e

tratamento da informação, a saber: macroscópica, mesoscópica e microscópica.

A escala macroscópica é a escala do reconhecimento, da visão sobre padrões de

grandes dimensões, geralmente condicionados pelas morfoestruturas e pelo macroclima. Uma

análise deste tipo busca, portanto, evidenciar como os referidos condicionantes exercem sua

influência na área estudada considerando os grandes contrastes do relevo, dos litótipos e dos

climas, focando nas combinações que produzem padrões repetitivos de formas de relevo,

solos e biota. Os principais métodos de análise macroscópica lidam com a evidenciação de

contrastes paisagísticos gerais: áreas mais altas e mais baixas, mais secas e mais úmidas,

geomorfologicamente estáveis e instáveis e assim por diante, podendo ser realizados por meio

de ferramentas e técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento.

A escala mesoscópica abrange o detalhamento das observações gerais, macroscópicas,

incluindo a descrição das características das paisagens como elas são vistas no campo,

destacando tópicos das formas de relevo, substrato, drenagem, solos, biota e uso da terra.

Neste grau de aproximação é possível determinar, com maior qualidade, as características

locais e elaborar seções-tipo, que compreendem representações das variações ambientais ao

longo de um gradiente topográfico.

A escala microscópica inclui aquilo que os olhos não podem ver, abrangendo as

observações laboratoriais, sobretudo aquelas permitidas pelo uso de instrumentos diversos de

magnificação visual e análise das propriedades intrínsecas dos materiais, envolvendo um

aprofundamento nas características dinâmicas e evolutivas dos depósitos sedimentares, dos

solos e das comunidades vegetais. Na escala microscópica é possível obter uma visão fina da

paisagem, detalhando sua gênese, desenvolvimento e funcionamento.

Observando algumas sínteses naturalistas que abrangeram a área do Estado de

Pernambuco, percebemos que seu foco jaz no delineamento dos grandes contrastes naturais

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113

(grupos de paisagens, zonoecótonos, domínios de natureza, regiões naturais, etc.)

(ISACHENKO; SHLIAPNIKOV, 1989; WALTER, 1986; AB’SABER, 2003; SETTE, 1946;

VASCONCELOS SOBRINHO, 1941). Neste contexto, os estudos de áreas menor dimensão

geralmente abrangem o detalhamento de um aspecto natural em detrimento aos demais, a

exemplo do solo em Silva et al. (2001), não permitindo assim, uma caracterização das

diferenças naturais locais a um nível de compreensão espacial-evolutivo mais detalhado.

Refletindo sobre a estrutura do processo classificatório de cunho sintético-naturalista,

percebemos que é preciso ter cuidado no manejo da informação obtida nas diversas escalas de

observação (macroscópica, mesoscópica e microscópica), mormente pelo risco de

determinação errada da estrutura hierárquica, que pode ressaltar níveis em detrimento de

outros também importantes ou aplicar critérios inadequados para identificação de unidades de

um nível determinado, como a diferença nos limites entre o Planalto da Borborema em Silva

et al. (1993) e em Corrêa et al. (2010) (Cf. Introdução Geral).

Sendo assim, este capítulo e o próximo visam contribuir para a sistematização de

procedimentos classificatórios e de representação dos contrastes paisagísticos em diversos

graus de detalhamento, focando sobre a região do Parque Nacional do Catimbau.

2 Metodologia

2.1 O Parque Nacional do Catimbau

O Parque Nacional do Catimbau (Fig. 28) foi criado por decreto de lei em 13 de

dezembro de 2002, por motivo de sua grande importância biológica, arqueológica e potencial

turístico. O Parque localiza-se na região semiárida do Nordeste do Brasil, no Estado de

Pernambuco, mais precisamente entre os paralelos 8°23’S e 8°36’S e os meridianos 37°33’W

e 37°10’W. Abrangendo uma área de 607 km². A área fica a aproximadamente 250 km da

cidade do Recife, capital do estado. O principal acesso ao Parque é pela BR-232.

A região apresenta importantes pinturas rupestres representativas da Tradição Agreste,

um estilo marcado por grafismos puros e representação de antropomorfos, fitomorfos e

zoomorfos, destacando-se o painel do Sítio Arqueológico Alcobaça, o segundo maior do

Brasil (Fig. 27A). Além disso, a área é considerada piloto para estudos de desertificação e

apresentando em algumas localidades, áreas bastante degradadas (Fig. 27C), fato que também

colaborou para a criação da Unidade de Conservação (SNE, 2002; MMA, 2007).

Figura 6. Localização do Parque Nacional do Catimbau, Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil).

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114

A – Painel de Arte Rupestre (Sítio Arqueológico Alcobaça); B – Formas de dissolução no arenito; C –

Área degradada por desflorestamento; D – Espécies incomuns (Ex.: Paralychnophora

reflexoauriculata (GM Barroso) MacLeish, comum somente na Chapada Diamantina, distante mais de

800km). Fonte: o autor.

Estudos palinológicos e datações por carbono radioativo têm demonstrado que a

distribuição e composição das espécies variaram ao longo dos últimos 8.410± 40 anos AP de

acordo com as variações da umidade (NASCIMENTO, 2008). O mesmo estudo sugere a

presença humana na região por volta de 4500 anos AP em função da ocorrência de Orbignya54

(babaçú), uma espécie exótica na região, e provavelmente relacionada à migração de grupos

humanos vindos do oeste em direção à costa.

54

Sin. Attalea

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115

A fauna e flora do Parque apresentam espécies únicas em todo o mundo, como a

árvore Jacaranda rugosa A.H.Gentry e o lagarto Scriptosaura catimbau Rodrigues & Santos,

além de guardar espécies incomuns para a região, como a Paralychnophora reflexoauriculata

(GM Barroso) MacLeish (Fig. 27D), comum apenas nos campos rupestres da Chapada

Diamantina (a 800km de distância). Estas diferenças são produto tanto da natureza sedimentar

(predominantemente arenosa) do local, quanto do clima mais úmido e menos quente dos

setores mais elevados do relevo. Assim, a precipitação em torno de 600mm/ano e temperatura

média anual de 25°C dos locais mais baixos (média de 700m) contrasta com a pluviosidade

superior a 1000mm/ano e temperaturas médias de 20°C nas cotas superiores aos 900m.

A região contrasta com o entorno, não apenas pela composição biodiversa incomum,

ou pelos registros arqueológicos de extremo valor cultural, mas principalmente pelas suas

paisagens, com feições bastante peculiares, a exemplo do pseudocarse arenítico (Fig. 27B).

A histórica geomorfológica do Parque Nacional do Catimbau se revela aos olhos do

espectador na forma de uma paisagem deslumbrante. A destruição progressiva das rochas da

Bacia Sedimentar do Jatobá adquire uma beleza cênica ímpar na forma de um relevo

ruiniforme com impressionantes feições tabulares marcadas por platôs e mesetas, por vezes

bastante degradados, assumindo a forma de pináculos (Fig. 29). E nos rebordos dos platôs, os

desníveis, muitas vezes superiores a 200m, erguem na paisagem imponentes paredões de

arenito que chegam a alcançar cotas superiores a 1000m, contrastando com pontos mais

baixos, com cerca de 450m.

Figura 7. A – Formas de relevo residuais emergindo dos mantos arenosos na borda da Bacia

Sedimentar do Jatobá.

Fonte: o autor.

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116

A principal drenagem desta região é a do rio Moxotó, afluente da margem esquerda do

rio São Francisco. A maioria dos afluentes do Moxotó nessa região apresenta caráter

intermitente em função do regime climático semiárido.

Não obstante a ocupação pré-histórica, a formação territorial na região apresenta uma

miscigenação entre elementos culturais indígenas e não indígenas, tendo como principais

atividades econômicas a agricultura (mandioca, batata doce, feijão, milho, tomate, caju,

goiaba, laranja, algodão) e a pecuária extensiva, principalmente ovina, caprina, e bovina, esta

associada com a inserção de forrageiras exóticas (ex.: Prosopis juliflora - Algaroba), além de

aves.

A história local é permeada por conflitos territoriais como para a demarcação das

terras indígenas do povo Kapinawá, que só foi efetivada pela então Fundação Nacional do

Índio (FUNAI) em 1993 (NEPE, 2008). Outro conflito recente decorre da própria delimitação

do Parque Nacional, que gerou o descontentamento da população que residia no local e que

não foi devidamente consultada sobre a criação da unidade de conservação (VRANCKX,

2010), dentre os quais se destacam 45 famílias indígenas (NEPE, 2008) e a população da

localidade Porto Seguro, que migrou para a região por questões espirituais, seguindo os

ensinamentos do líder espiritual, já falecido, denominado Meu Rei, que inclusive veio a

instituir uma moeda local (SEVERINO, 2008).

2.2 Análise Geológico-Geomorfológica

Em Geografia Física e Geomorfologia, o termo morfoestrutura possui pelo menos

duas conotações distintas, a primeira delas, definida por Inocêncio Petrovich Guerassimov em

1946, compreende o relevo derivado da atuação de processos neotectônicos e daqueles de

ordem climática, controlados pela estrutura geológica. A segunda, mais restritiva e recente,

sugere que o termo morfoestrutura seja aplicado apenas às formas de relevo geradas pelo

controle das estruturas geológicas, enquanto àquelas derivadas da ação tectônica deveriam ser

chamadas unidades morfotectônicas (SAADI et al. 2004). Em suma, a proposta mais recente

destaca a necessidade de diferenciar as formas de relevo geradas a partir dos processos

neotectônicos daquelas derivadas do controle estrutural sobre o clima. Neste trabalho

preferiu-se fazer uso do termo morfoestrutura na acepção original de Guerassimov, mais

abrangente.

Para identificar as morfoestruturas, inicialmente foi realizada a reunião de informações

(bibliográficas e cartográficas) de ordem geológica, geofísica, geomorfológica,

morfotectônica, hidrogeológica e de outros temas que pudessem revelar a distribuição das

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117

principais estruturas geológicas e seu comportamento deformacional recente, como a

ocorrência de campos de tensão, por exemplo.

Em seguida estas informações foram organizadas de modo a descrever a história da

Bacia Sedimentar do Jatobá e a formação de suas principais estruturas e morfoestruturas. Para

auxiliar a interpretação das morfoestruturas, as principais litologias e estruturas foram

plotadas sobre imagens de satélite do programa de código aberto Google Earth (versão 6).

Ainda para a compreensão das unidades morfoestruturais, escolheu-se utilizar perfis

topográficos. O perfil topográfico é uma ferramenta que projeta as formas do relevo num

gráfico bidimensional, onde os valores de altitude são alocados no eixo Y e os valores de

comprimento são distribuídos ao longo do eixo X. Esta ferramenta auxilia na interpretação da

configuração geomorfológica de uma região. Neste trabalho, os dados de elevação foram

obtidos a partir de dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), refinados para uma

resolução espacial de 30m por Valeriano (2008), que realizou interpolação por Krigagem.

Para elaboração dos perfis utilizou-se as ferramentas Interpolate Line e Create Profile Graph

do menu 3D Analyst do programa ArcMap. A visualização da distribuição dos perfis foi feita

sobre um mapa hipsométrico, que apresenta a distribuição dos valores altimétricos em faixas

de altitude com valores similares.

Complementarmente, fez-se necessária a consulta à estratigrafia dos poços disponíveis

no Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS), acessado pelo endereço:

<http://siagasweb.cprm.gov.br/layout/visualizar_mapa.php> em 26 de abril de 2012. O

objetivo foi o conhecimento tanto da profundidade do embasamento cristalino quanto da

camada sedimentar.

Em complemento ao conhecimento das morfoestruturas, faz-se necessária a

compreensão dos processos modeladores do relevo e suas formas resultantes na paisagem.

Estes processos podem ser denudacionais, quando contribuem para a desagregação e

transporte do substrato rochoso ou sedimentos, e também podem ser deposicionais, quando

resultantes da sedimentação do material transportado. No caso do ambiente tropical, estes

processos são praticamente desencadeados pela ação da água, da gravidade e dos seres vivos,

que auxiliam na degradação do substrato, no transporte e deposição dos materiais, dando

origem a formas de relevo distintas, geradas pela denudação ou pela sedimentação.

Neste trabalho investigaram-se os tipos de agentes denudacionais e deposicionais e as

formas de relevo resultantes com base nas informações morfoestruturais e na observação dos

processos de encosta e canal.

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118

Ainda com base nos perfis topográficos, foi realizada a determinação do modelado

desenvolvido sobre as morfoestruturas, sendo os limites de ambas inferidos e representados

num croqui, tomando como referência os dados geológicos e imagens da câmera de alta

resolução (High Resolution Camera – HRC) do China-Brazil Earth Resources Satellite 2B

(CBERS 2B) e imagens orbitais do Satellite Pour l’Observation de la Terre (SPOT 5)

disponíveis no programa Google Earth 6 (devidamente georreferenciadas), conforme

especificações da Figura 30, a seguir.

Figura 30. Imagens de alta resolução utilizadas para correlação visual.

Satélite/Câmera Data Imagem

CBERS 2B/HRC 11/11/2007 148_C/110_1

CBERS 2B/HRC 09/11/2008 148_B/109_5

CBERS 2B/HRC 09/11/2008 148_B/110_1

CBERS 2B/HRC 31/12/2008 148_D/109_5

SPOT5 02/08/2011 Centro -8.5155/-37.4822

Fonte: INPE/Google, organizado pelo autor.

2.3 Taxonomia das Paisagens

A partir dos dados obtidos, iniciou-se o processo de taxonomia dos geossistemas.

Seguindo a proposta metodológica de Isachenko (1991), definiram-se classes e subclasses de

paisagens, correspondendo às unidades e subunidades geológico-geomorfológicas. Neste

momento ainda foram discutidas questões relativas ao detalhamento e aprimoramento do

traçado dos limites paisagísticos.

3 Resultados e Discussão

Do ponto de vista geológico, a área de estudo insere-se na borda NE da Bacia

Sedimentar do Jatobá, que compõe juntamente com as bacias do Tucano e do Recôncavo, um

sistema de estratos sedimentares aprisionados num aulacógeno (rifte abortado) Mesozoico. A

Bacia do Jatobá apresenta três compartimentos distintos, o Bloco SE, o Graben de Ibimirim

na sua porção central e o Bloco NE (Fig. 31).

As fases evolutivas da borda da Bacia Sedimentar do Jatobá podem ser, assim,

sumarizadas em 3 grandes momentos (Fig. 32): a fase sinéclise (Fig. 32A), marcada pela

deposição das formações no Siluriano e Devoniano; a abertura do Atlântico e formação do

aulacógeno (fase rifte), resultando na subsidência do embasamento e apresamento dos

sedimentos (Fig. 32B1 e 32B2) e; a fase pós-rifte, marcada principalmente pela denudação e

formação das feições ruiniformes da borda da bacia, juntamente com os mantos arenosos

neogênicos (Fig. 32C).

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Figura 31. Localização do Parque Nacional do Catimbau na Bacia do Jatobá.

A. Localização das Bacias Sedimentares do Sistema Recôncavo-Tucano-Jatobá (em vermelho), no

Nordeste do Brasil; B. Localização do Parque Nacional (contorno vazado) na Bacia do Jatobá (em

amarelo); b1. Bloco SE; b2. Graben de Ibimirim; b3. Bloco NE. Fonte: CPRM. Organizado pelo

autor.

Figura 38. Esquema da Evolução da Borda da Bacia Sedimentar do Jatobá.

Fase sinéclise (A); Fase Rifte: subsidência das rochas sedimentares (B1) em função da subsidência do

embasamento (B2); Fase denudacional (C). Fonte: o autor.

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120

Na fase sinéclise foram depositados sedimentos arenosos de origem fluvial

entrelaçada, associados a leques aluviais, provenientes do sul, certamente dos orógenos

brasilianos da Faixa Sergipana e/ou do orógeno mesoproterozóico Cariris Velhos. Esta

formação é denominada Tacaratú.

A diagênese inicial do arenito Tacaratú deu origem à formação de um cimento

ferruginoso provavelmente pelo contato do depósito com a superfície, seguido de uma

compactação mecânica, soterramento e compactação química e posterior intemperismo dos

minerais instáveis (CARVALHO, 2010).

Esta Formação ocorre em cerca de 23,6% da área do PNC, apresentando arenitos de

granulometria média a grossa com níveis conglomeráticos, datando do Siluro-Devoniano,

classificados como Quartzo Arenito (50%), Arenito sublítico (40%) e Subarcósio (10%),

destacando-se também a presença de cimentos de óxido de ferro e silicosos, assimilados

durante a diagênese do arenito (CARVALHO, 2010). Seu intemperismo resultou em

diferentes categorias de formas, como rachaduras poligonais, endurecimento de óxidos de

ferro e feições de dissolução (Fig. 33).

Figura 33 . Endurecimento de óxidos de ferro (A), Rachaduras poligonais (B) e, Formas de dissolução

(C) no Arenito Tacaratú.

Fotografias: o autor.

Ainda na fase de sinéclise, deu-se uma deposição em ambiente marinho raso associado

a um sistema fluvial entrelaçado, sendo composta de arenitos finos a grossos, por vezes

ferruginosos, de cor rósea a avermelhada e com ocorrência de leitos de folhelhos e siltitos

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laminados (CARVALHO, 2010), constituindo a denominada Formação Inajá, datada do

Devoniano. Esta formação ocupa cerca de 5% da área do PNC.

Na fase pré-rifte, datando do Tithoniano (Neojurássico), ocorreu uma deposição

característica de ambiente lacustrino com influência fluvial. Esta constitui-se de folhelhos e

siltitos amarronzados e esverdeados, ocorrendo intercalações de arenitos finos, ora grosseiros,

além de outras litologias como calcarenitos e calcissiltitos esbranquiçados a marrom claro,

lenticularizados e evaporitos, apresentando conteúdo fossilífero, compondo a Formação

Aliança. Recentemente, a análise da paleoictiofauna trouxe evidências de que o ambiente

lacustrino não era raso, como definido anteriormente, em função do tamanho da paleofauna

encontrada (SILVA et al., 2011). Esta unidade ocupa cerca de 1% da área do PNC.

Também datando do Tithoniano, a Formação Sergí se caracteriza pela presença de

arenitos de ambiente fluvial entrelaçado com retrabalhamento eólico com coloração creme

avermelhada com granulometria fina a grossa, ora conglomerática, ocorrendo também

intercalações de siltitos esverdeados, com bolsões de argila (SOUZA et al., 2011). Esta

formação não aparece no mapa geológico da CPRM, mas figura no trabalho de Lima Filho,

Souza e Silva Júnior (2011), ocupando cerca de 5% da área do PNC.

As fases rifte e posterior à abertura do Atlântico Sul condicionaram a denudação da

área sedimentar que originalmente ocupara uma área muito maior do que a atual. A

dissecação do arenito Tacaratú e das coberturas arenosas nas bordas da Bacia Sedimentar

deixa aflorar litologias mais antigas. Estas compreendem rochas cristalinas do Pré-Cambriano

cujos componentes mineralógicos essenciais são o quartzo e o feldspato metamórficos,

apresentando estrutura foliada maciça. Os grãos apresentam-se achatados ou em bandas

félsicas alternadas por bandas máficas. Parte das rochas é produto do metamorfismo de rochas

ígneas (ortognaisses), apesar de, na maioria dos casos não se saber a natureza da rocha

metamorfizada (ex.: biotita ou anfibólio gnaisse – Complexo Riacho do Tigre (SANTOS;

ACCIOLY, 2010). Nas proximidades da borda leste do Parque ocorre o Plúton Buíque

descrito como “granito e granodiorito, grossos a porfiríticos, com ou sem epidoto

magmático, associados a diorito e fases intermediárias de mistura, calcialcalinos de alto K,

metaluminosos” (CPRM, 2003). Estas unidades cristalinas do pré-cambriano abrangem 16%

da área do PNC.

Dentre as coberturas recentes, aparecem formações elúvio-coluviais, derivadas do

intemperismo e transporte a curta distância das unidades descritas acima. No interior dos

canais de drenagem ocorrem depósitos aluvionares e de terraços, ambos do Neógeno. Estas

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formações, majoritariamente resultantes da decomposição do arenito da Formação Tacaratú,

ocorrem em mais de 50% da área do Parque.

A distribuição espacial das litologias descritas acima não pode ser completamente

explicada pelo conhecimento dos sistemas deposicionais, devendo-se considerar também as

principais estruturas geológicas e processos deformacionais, que atuando sobre essas,

controlaram os eventos denudacionais e acumulativos (Fig. 34).

Com exceção das Zonas de Cisalhamento (de origem Pré-Cambriana) e talvez da

Falha do Catimbau, as estruturas que controlam o relevo da área de estudo relacionam-se à

fase rifte. Nesta fase, a reativação de falhas e zonas de cisalhamento Pré-Cambrianas, resultou

na deformação tanto da superfície do embasamento subjacente à bacia quanto do pacote

sedimentar propriamente dito (BARBOSA, 2006). Segundo o mesmo autor, a reativação

sinistral da Zona de Cisalhamento Pernambuco (ZCPE), resultou em falhamentos normais de

direção NE-SW no interior da Bacia.

Figura 34. Principais Estruturas na Região do Parque Nacional do Catimbau. Linhas indicam falhas e

zonas de cisalhamento. Linhas tracejadas indicam falhas inferidas.

Fonte: Santos (1999), Costa Filho et al. (2001), Santos e Accioly (2010). Lima Filho, Souza e Silva

Júnior (2011). Organizado pelo autor.

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Para Lima Filho, Souza e Silva Júnior (2011) este é o momento de surgimento da

Falha de Ibimirim, a estrutura normal que marca o limite norte da Bacia do Jatobá e está

associada à ZCPE. Ainda segundo os mesmos autores, esta seria a idade de formação da Falha

do Moxotó, uma falha normal cujo movimento dextral seria responsável pelo deslocamento da

Falha do Macaco e abertura da morfoestrutura do Gráben do Puiú. Ainda segundo Costa

Filho et al. (2010), as falhas da borda do graben teriam sido responsáveis pela preservação

das litologias (Inajá, Aliança e Sergí) no interior do mesmo. Em Santos (2012), esta

morfoestrutura é chamada Gráben do Brejo do Pioré (Fig. 35).

A Falha do Quiridálho serve também de limite para outra morfoestrutura de direção

NE-SW, o Horst do Quiridálho, que assume uma forma de mesa anticlinal e bordeja uma

estrutura em graben, com a mesma direção, limitada pela Falha do Angico e pela Falha de

Ibimirim: o Gráben do Frutuoso (SANTOS, 2012).

Figura 35. Serra do Quiridalho e Lagoa do Puiú (Estação Seca).

Fotografia: Ronaldo Missura.

Um sistema de hemigrábens de direção aproximada NE-SW, associado a pequenos

rejeitos se desenvolve entre a Falha do Catimbau e a Falha do Macaco, tendo sido proposto a

partir da análise de perfis de eletrorresistividade e dados de poços (COSTA FILHO et al.,

2010). Neste trabalho, com base na distribuição das morfoestruturas homoclinais, sugerimos

dois rejeitos principais, denominados Falha da Ponta da Várzea e Falha do Caldeirão, que

diferenciam três hemigrábens: do Cumbe, da Ponta da Várzea e do Catimbau.

No caso da Falha do Catimbau, observada no cristalino na folha geológica Sertânia

(1:100.000) (CPRM, 2010), cuja continuidade na área sedimentar foi inferida por

eletrorresistividade (COSTA FILHO et al., 2010), sua orientação, no sentido NE-SE sugere

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124

que a borda leste elevada na Bacia do Jatobá tenha sido alçada juntamente com a subida do

embasamento cristalino em função dos eventos deformacionais cenozoicos.

A estratigrafia dos dados de poços também corrobora a hipótese de que as áreas mais

elevadas da borda do Planalto do Jatobá tenham sofrido alçamento juntamente com o

embasamento cristalino, e o próprio Planalto da Borborema a leste – principal morfoestrutura

regional. Desta forma, o cruzamento entre a compartimentação morfológica, os dados de

poços, o reconhecimento do sistema de falhas da região e o mapa litológico, permite traçar um

esquema geral das morfoestruturas e unidades de relevo na região do Parque e seu entorno em

perfis geomorfológicos (Fig. 36).

O Perfil A-B (Sentido NW-SE, Fig. 37), apresenta um horst entre as falhas de

Ibimirim e Itaíba, que trataremos aqui por Horst Buíque. Esta unidade morfoestrutural está

recoberta pelos sedimentos da Bacia do Jatobá, cuja denudação progressiva garante o

surgimento de pedimentos e glacis, bem como a presença residual de chapadas e patamares

em rochas sedimentares.

Figura 9. Localização dos Perfis Geomorfológicos na Borda da Bacia do Jatobá.

Fonte: SRTM/TOPODATA. Organizado pelo autor.

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125

Figura 37. Perfil A-B (Sentido NW-SE), apresentando o Horst Buíque.

Fonte: SRTM. Organizado pelo autor.

O perfil C-D (Fig. 38) apresenta o claro desnível das rochas do cristalino que marca

uma sequencia de hemigrabens que descem à medida que se aproxima do Graben de

Ibimirim. Isto fica bastante claro, quando se comparam as profundidades do embasamento

cristalino entre o poço Paraíso Selvagem (8m) e o poço 4BU-01-PE (105m), que distam entre

si menos de 500m. Além disso, a profundidade do embasamento de apenas 2m do poço do Sr.

Nadival Ferreira (cerca de 7 km a SE do poço Paraíso Selvagem), confirma a superfície do

Horst Buíque, que é capeada por um pacote da Fm. Tacaratú com cerca de 250m de espessura.

Figura 10. Perfil C-D (Sentido SW-NE).

Fonte: SIAGAS. Organizado pelo autor.

É no perfil E-F (Fig. 39), que traçamos uma configuração morfoestrutural e do

modelado para a região do Parque Nacional do Catimbau e seu entorno próximo.

Considerando as informações dos perfis anteriores, juntamente com dados topográficos, da

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geologia e geofísica, determinamos 8 unidades morfoestruturais e 9 tipos de modelados

associados, cuja distribuição espacial é representada no croqui da Fig 40.

Figura 11. Perfil E-F (Sentido WNW-ESE). Representa a configuração geral das morfoestruturas e do

modelado na área do Parque e seu entorno próximo.

1 – Graben do Frutuoso e 2 – Horst do Quiridalho (SANTOS, 2012); 3 – Graben do Puiú, 4 –

Hemigraben do Cumbe, 5 – Hemigraben Ponta da Várzea e 6 – Hemigraben do Catimbau (COSTA

FILHO et al., 2010); 7 Horst Buíque (o autor) e 8 Graben do Alto Ipanema (o autor, com base em

CORRÊA et al., 2010). A – Colinas suaves sobre manto psamo-pelítico Aliança; B – Colinas suaves

sobre manto psamo-pelítico Inajá; C - A – Colinas suaves sobre manto psamítico Tacaratú; D –

Patamares Estruturais; E – Vale Controlado por Falha com manto psamo-pelítico Inajá (Planície do

Riacho do Pioré); F – Colinas acentuadas sobre manto psamítico Tacaratú; G – Glacis; H – Pedimento;

I – Colinas em Escarpa de Falha sobre o Cristalino Intemperizado. As unidades H, I e H integram o

Planalto cristalino da Borborema (CORRÊA et al., 2010).

Figura 40. Unidades Morfoestruturais e Geomorfológicas do Parque Nacional do Catimbau.

As linhas tracejadas representam os limites das morfoestruturas. A figura pequena, acima e à esquerda,

indica os limites das morfoestruturas, onde HV é o provável Horst Vila Moderna e HM, o suposto

hemigraben do Muquem. 1 – Graben do Frutuoso e 2 – Horst do Quiridalho; 3 – Graben do Puiú, 4 –

Hemigraben do Cumbe, 5 – Hemigraben Ponta da Várzea e 6 – Hemigraben do Catimbau; 7 Horst

Buíque. Fonte: o autor.

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127

No perfil acima, na região do Graben do Frutuoso (1), o relevo apresenta-se

suavemente inclinado para leste, em direção ao Riacho dos Campos, e o modelado

desenvolve-se numa sequencia de colinas bastante suaves, mudando gradativamente de

substrato, indo do manto psamítico da Fm. Tacaratú (1C) (a leste) para os mantos psamo-

pelíticos das Fm. Inajá (1B) e Aliança (1A) (a oeste), e suas coberturas de alteração,

respectivamente. A região é entrecortada por poucos canais de drenagem, e apresenta

dissecação muito baixa.

A região do Horst do Quiridalho (2D), que é tipologicamente similar à região elevada

da Serra do Catimbau-Fazenda Porto Seguro (região 7D), constitui um complexo de

patamares estruturais escalonados sobre os quais se intercalam cobertura eluvial (topo) e

sequencias de rocha desnuda (Fm. Tacaratú) nas quebras de gradiente da encosta. Esta

morfoestrutura é controlada pelas Falhas do Quiridálho e Angicos, que, recebendo as

drenagens condicionadas pelo sistema de hemigrábens do Catimbau-Ponta da Várzea (F4, 5 e

6), fornece condições para o desenvolvimento da Lagoa do Puiú, que se instala sobre o gráben

de mesmo nome.

No caso dos Patamares da borda da Bacia (7D) (um a NW e outro a SE), estas feições

são muito mais frequentes e de magnitude mais elevada, sobretudo em função da sua

amplitude altimétrica e da extensão areal ocupada (Fig. 41).

Figura 12. Paisagens da Borda Leste da Bacia Sedimentar do Jatobá.

Fotografia: o autor.

A gênese destes patamares da borda pode estar relacionada aos eventos

deformacionais encontrados na região por Barbosa (2006). Um destes eventos é caracterizado

por uma compressão máxima NW-SE, verificado apenas nas rochas sedimentares da bacia.

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Uma hipótese para este movimento seria a subida do embasamento resultante do magmatismo

Cenozóico associado ao soerguimento do Planalto da Borborema. Curiosamente, Moraes Neto

e Alkmim (2001) detectaram uma tensão compressional com a mesma direção sobre a

Formação Serra dos Martins (entre os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte), delgado

pacote de sedimentos paleógenos que recobre indistintamente níveis de cimeira cristalinos do

setor nordeste do Planalto da Borborema. Em suas encostas é comum o recobrimento por

mantos coluviais arenosos e até, colúvios grossos (tálus), apresentando muitas vezes

matacões, sobretudo na base das encostas (Fig. 42). Na transição entre patamares, é comum a

ocorrência de escarpas, ora apresentando faces livres, ora alcovas decorrentes de erosão por

infiltração.

Figura 42. Blocos Partidos (A, C) e Caídos na Base do Escarpamento Leste.

Fotografias: Daniel Rodrigues de Lira.

Estes Patamares da borda da Bacia encontram-se estruturados sobre o Horst Buíque

(7), delimitado pela Falha do Catimbau a W e pela Falha de Itaíba a E (cerca de 10 km a E do

Parque) e que pode correlacionar-se ao que Corrêa et al. (2010), denominaram de Maciços

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Remobilizados Pernambuco-Alagoas, subunidade morfoestrutural do Planalto da Borborema.

A cobertura sedimentar que capeava esta morfoestrutura sofreu bastante denudação,

resultando em uma área pedimentar (7G e 7H) bastante extensa em relação à porção ocupada

pelos patamares (7D), apresentando substrato que se dá, ora em rocha cristalina (granito e

gnaisses), ora em rocha sedimentar. Esta unidade apresenta-se ainda entremeada por um

conjunto residual de mesas e pináculos.

Todavia, na porção norte da unidade 7D a escarpa apresenta apenas um pequeno recuo

em relação à posição Falha de Ibimirim/Lineamento Pernambuco, revelando o balizamento

por pedimentos ainda pouco extensos, ainda jovens, o que pode indicar tectônica bastante

recente. Esta hipótese de neotectônica ainda é corroborada pela chamada ‘cerca de pedra’,

localizada próxima à região do Muquem e caracterizando uma escarpa de linha de falha

estruturada em sedimentos da Formação Tacaratú.

A subdivisão precisa da área pedimentar 7G-7H em pedimentos e/ou glacis não pôde

ser conduzida corretamente sem antes proceder a uma discussão conceitual e terminológica.

Não obstante sua acepção meramente morfológica, enquanto setor da paisagem em

forma de rampa com menos de 7 graus de inclinação entre o canal de drenagem e o primeiro

knickpoint a montante, o termo pedimento tem sido utilizado para superfícies aplainadas

compostas da mesma rocha das áreas elevadas que balizam. Já o termo glacis de erosão é

aplicado para pedimentos originados sobre uma rocha menos resistente do que aquela das

áreas elevadas (JOLY, 1972; TRICART; DEMEK, 1972; OBERLANDER, 1989; WHITE,

2006). Quando o glacis é recoberto por um manto sedimentar contínuo e incoeso (geralmente

oriundo de leques aluviais), o mesmo passa a ser denominado glacis de acumulação (JOLY,

1972; TRICART; DEMEK, 1972).

Conduzindo uma revisão similar, Thomas (1994) conclui que é preciso adotar

definições mais simples e propõe que o termo pedimento seja reservado às superfícies de

inclinação suave que se desenvolvem sobre material consolidado (rochas) com uma camada

fina de sedimento ou saprolito (2m). Enquanto o glacis seja aplicado para formas suaves sobre

material inconsolidado mais espesso, a exemplo de rampas coluviais, leques aluviais e

saprolito.

Assumindo as definições de Thomas (1994) e tomando por base as informações

geológicas, dividimos o Horst Buíque, em nosso perfil, em duas unidades onde predominam

Glacis (7G) e Pedimentos (7H), contudo é muito provável que haja intercalações de todos os

tipos possíveis no interior de cada uma. Cortando os glacis desenvolvem-se rios de leito

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arenoso, acumulando óxidos de ferro nas margens, sobretudo nos espaços ocupados pelas

raízes das plantas.

Os pedimentos na área apresentam um relevo bastante plano, ocasionalmente

recortado por canais intermitentes, que apresentam longos meandros com margens erosivas

em contraste com barras laterais. Geralmente apresentam leitos argilosos desenvolvidos a

partir da estagnação da água sobre as rochas cristalinas, outras vezes os leitos são rochosos ou

pedregosos e, em ambos os casos, pode ocorrer uma cobertura de areia delgada.

Entre os patamares da borda (7D) e os patamares do Horst do Quiridálho (2D) ocorre,

ao sul do Parque, uma sequencia de hemigrábens (Sistema Catimbau-Ponta da Várzea-

Cumbe) escalonados de forma descendente no sentido W-E, estruturando a drenagem do

Riacho do Catimbau e controlando o desenvolvimento de colinas íngremes de dissecação

média a alta sobre os mantos psamíticos da Fm. Tacaratú (4-5-6F).

Ao norte do sistema 4-5-6-F, e à oeste do complexo de patamares estruturais de NW

(7D), percebe-se que dois quilômetros a leste da localidade do Muquem, a superfície

apresenta um mergulho suave, no sentido do que parece ser a continuidade encoberta da Falha

do Macaco (paralela à Falha do Catimbau), que aqui é inferida juntamente com outra provável

falha que trunca a parte norte do Gráben do Puiú (3E) e se prolonga como um vale pouco

dissecado em direção aos referidos patamares. Este conjunto de falhas inferidas sugere a

existência de um hemigraben a oeste do Muquem (Hemigráben do Muquem), dominado por

um modelado de colinas suaves sobre os mantos da Fm. Tacaratú (não contemplada no perfil).

Outra unidade que pode ser distinguida corresponde à parte elevada onde afloram as

rochas do cristalino na porção norte do Parque, acima da Falha de Ibimirim/Lineamento

Pernambuco e funciona como uma morfoestrutura elevada (hemigraben ou horst?), recebendo

aqui o nome de Vila Moderna, em função da comunidade homônima.

É interessante ressaltar, que a cobertura arenosa (glacis e pedimentos) sobre a

morfoestrutura Vila Moderna é possivelmente produto de recuo da escarpamento da borda da

Bacia, enquanto o material ao sul da Falha de Ibimirim foi rebaixado pela subsidência e

possivelmente evoluiu por rebaixamento e retrabalhamento do manto alterado. Logo, mesmo

tratando-se de coberturas arenosas com relevo bastante suave, possuem origens diferentes,

sendo similares apenas do ponto de vista funcional.

3.1 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas

Do ponto de vista da sistemática das paisagens, o conhecimento dos elementos

geológico-geomorfológicos fornece indicativos sobre os limites dos geossistemas, servindo

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131

para diferenciar as fronteiras abruptas daquelas mais gradativas, suaves. Além disso, a

natureza do litótipo, associado às propriedades do relevo (sobretudo a declividade e

orientação do relevo), condicionam o surgimento de ambientes mais úmidos e mais secos.

Neste sentido, as escarpas que margeiam os patamares estruturais delineiam limites

abruptos das paisagens. Do mesmo modo, os contrastes litológicos, principalmente em termos

dos mantos de alteração formados, se arenosos ou argilosos, também marcam limites claros

entre as unidades, marcando ambientes com predomínio de infiltração sobre escoamento

superficial ou o contrário, respectivamente.

Ainda sobre isso, destacam-se os controles estruturais exercidos sobre a drenagem,

sobretudo, no limite sul do Parque. O Riacho do Catimbau, condicionado pelo sistema de

hemigrábens Catimbau-Ponta da Várzea, corre até seu encontro com o Riacho do Pioré que,

limitado pela falha do Quiridálho, contribui para formação das Lagoas do Puiú e da Maria

Preta.

Além disso, as áreas com extensos e profundos mantos arenosos resultam num

ambiente excessivamente drenado, na parte centro-oeste do Parque. Onde estes mantos são

mais rasos, a exemplo da borda leste do PNC, podem-se formar inclusive ambientes alagados,

de má drenagem (brejos de pé de serra), a exemplo do sítio pingadeira na Fazenda Brejo de

São José e o olho d’água nas proximidades do Sítio Arqueológico Alcobaça.

Entretanto, as áreas com declives menos marcados delineiam mudanças mais suaves

nas paisagens e de mais difícil precisão, é o caso da transição entre a porção norte dos

patamares estruturais da borda da Bacia do Jatobá e as colinas suaves arenosas, a oeste. De

forma similar, os glacis indeterminados (se ‘de erosão’ ou ‘de acumulação’) também

apresentam maior necessidade de precisão, mormente através de observações de campo.

Com base nessas considerações, podemos distinguir classes e subclasses de paisagens

que, na proposta taxonômica de Isachenko (1991), envolvem unidades e subunidades de

ordem geológico-geomorfológica. No caso do PNC, determinamos as seguintes categorias, a

saber: Bacia Sedimentar (colinas e patamares estruturais) e Planalto (colinas e

pedimentos/glacis) (Fig. 43).

4 Conclusões

Este capítulo apresentou a análise de elementos geológico-geomorfológicos do Parque

Nacional do Catimbau, o que permitiu diferenciar unidades morfoestruturais e do modelado.

Com base nos limites inferidos para estas unidades e, associados com os resultados da análise

climática, que será possível propor uma taxonomia dos geossistemas da área de interesse.

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132

A utilização de dados de poços, associados a perfis topográficos, mapas geológicos e

informações geofísicas presentes na literatura, se mostrou bastante eficaz para distinção de

morfoestruturas de âmbito regional e mesorregional, bem como para evidenciar seu controle

sobre o desenvolvimento do modelado.

Figura 43. Classes e Subclasses de Paisagens do Parque Nacional do Catimbau.

Fonte: o autor.

Com base nos dados de poços, evidenciou-se que os patamares estruturais da borda da

Bacia do Jatobá apresentam uma espessura sedimentar de 250m, estando alocados sobre o

Horst Buíque. Contudo, as informações disponíveis não foram suficientes para confirmar a

existência, ou não, do hemigraben do Muquem. Apenas estudos geofísicos posteriores, a

exemplo de modelagem gravimétrica 2D, permitirão tal feito.

Outro problema de ordem cartográfica encontrado envolve a precisão dos limites e

intercalações entre glacis e pedimento. Para este fim, aconselha-se a utilização de radar de

penetração do solo (GPR).

Apesar das reticências elencadas, este capítulo permitiu a diferenciação de conjuntos

morfoestruturais e do modelado que auxiliaram nas reflexões sobre as relações espaciais entre

os compartimentos topográficos levantados, apresentando as bases geológico-

geomorfológicas para classificação dos geossistemas do Parque Nacional do Catimbau. A

partir disso, foram definidas classes e subclasses de paisagens.

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133

Capítulo 5

Climatologia do Parque Nacional do Catimbau: Seus Condicionantes

e seus Efeitos sobre a Paisagem

1 Introdução

Um dos principais fatores envolvidos na diferenciação físico-geográfica é o clima,

correspondendo ao regime habitual da atmosfera numa determinada região. Geralmente o

fator climático é avaliado a partir de critérios como as médias de temperatura e pluviosidade

(KOTTEK et al., 2006), algumas vezes incluindo a radiação solar incidente, soma das

temperaturas ativas, índices de umidade e continentalidade (ISACHENKO, 1991) e a

evapotranspiração potencial (FEDDEMA, 2005).

Apesar da utilização de médias climáticas já terem sido bastante criticadas por

geógrafos (MONTEIRO, 1976, 2003) e ecólogos (HOLDRIDGE, 1947; HOLDRIDGE,

1966), sobretudo por não serem adequadas à representação de aspectos dinâmicos da

paisagem, elas têm demonstrado bastante utilidade para suportar projeções de mudanças

climáticas, tanto mudanças futuras (como destacam KOTTEK et al., 2006), como para

mudanças pretéritas, a exemplo das médias de paleotemperaturas derivadas dos isótopos de

oxigênio (SILVA, 2013).

Na verdade, é preciso que se reconheçam os limites e o potencial dos dados, sabendo-

se que um mesmo conjunto de dados pode ser fundamental para determinados tipos de análise

e, ao mesmo tempo, insuficiente para a resolução de outros tipos de problema. No caso do

estudo de geossistemas, as médias são essenciais para caracterização da estrutura da

paisagem, mas desnecessária para se compreender a dinâmica da paisagem, por exemplo.

Neste sentido, concordamos com Nóbrega (2010), quando este afirma que as classificações

climáticas, apesar de suas limitações, possuem valor para determinadas questões.

Seguindo na ordem da determinação da estrutura da paisagem do Parque Nacional do

Catimbau, este capítulo teve por objetivo caracterizar os aspectos climáticos na referida área,

sobretudo destacando as causas de possíveis contrastes do hábito atmosférico e seus efeitos

sobre os padrões gerais da paisagem.

2 Metodologia

No contexto do semiárido brasileiro, onde a temperatura média anual apresenta-se,

geralmente, quente (média anual superior a 18°C) e apenas ocasionalmente moderada (abaixo

de 18°C), a distribuição do regime hidrológico é o principal fator de diversificação das

paisagens, variando de acordo com os valores de precipitação e o modo como a água

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134

precipitada é aproveitada pelos geossistemas. Aqui, buscou-se a visualização dos setores mais

e menos úmidos na área de estudo, sendo realizada uma estimativa espacial de médias

históricas de precipitação. O objetivo foi reunir informação inicial acerca da distribuição

espacial e temporal das entradas, armazenamento e saídas de água na paisagem.

Por estimativa espacial entende-se a aplicação de métodos de interpolação para

inferência de superfícies a partir de pontos conhecidos. Em outras palavras, a interpolação

compreende um procedimento matemático, algorítmico, que busca o ajuste de uma função à

pontos não amostrados, baseando-se em pontos já amostrados (LANDIM, 2000,

FELGUEIRAS, 2001). Para tanto, cria-se uma grade regular de pontos inferidos

estatisticamente a partir dos pontos conhecidos e, em seguida, são traçadas curvas de igual

valor (isolinhas) (Fig. 44).

Figura 44. Estimativa Espacial de Superfícies.

(À esq.) pontos conhecidos. (À dir.) superfície com valores estimados. Fonte: Landim, 2000.

Organizado pelo autor.

Neste trabalho, os valores históricos de precipitação de 24 postos pluviométricos ao

redor do Parque (Tab. 1) foram salvos num arquivo separado por vírgulas (.csv), utilizando o

Microsoft Excel, e em seguida transformados num arquivo vetorial de pontos, através da

função ‘adicionar uma camada a partir de um texto delimitado’ do programa Quantum GIS

1.8. A partir disso, foi realizada a estimativa espacial dos valores de precipitação utilizando o

método do Inverso Ponderado da Distância (Inverse Distance Weighting - IDW), que estima

valores para pontos desconhecidos a partir da soma ponderada dos valores de N pontos

conhecidos, tendo sido escolhido por não estimar valores maiores ou menores que os dados

originais (LANDIM, 2000), o IDW é definido na equação a seguir:

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135

(5.1)

onde Z é o valor interpolado para o nó da grade, Zi é o valor do ponto amostrado vizinho ao

nó, hij é a distância entre o nó da grade e Zi, β é o expoente de ponderação e n o número de

pontos amostrados utilizados. A interpolação foi utilizado o valor de potência 4, por ser aquele

de menor ordem que apresentou maior suavidade das superfícies estimadas.

Tabela 1. Dados Climáticos da Região do Parque Nacional do Catimbau.

Posto

Pluviométrico

Lat. Long. Altitude

(m)

Precipitação

(mm)

Temperatura

(°C)

Tempo de

observação

(anos)

Algodões -8,316 -37,35 507 507,20 24,00 52

Amaro -8,76 -37,05 475 448,40 23,90 25

Arcoverde 1 -8,43 -37,06 663 590,50 22,50 62

Arcoverde 2 -8,416 -37,05 663 756,60 22,60 10

Brejo de São José -8,516 -37,2 655 629,90 22,70 19

Brejo do Pioré -8,616 -37,53 470 463,60 24,30 26

Buíque -8,616 -37,16 798 1100,10 21,60 54

Cachoeira do Leite -8,183 -37,916 480 625,60 24,60 27

Caiçara -8,35 -37,75 500 539,40 24,40 28

Carualina -8,3 -37,583 470 556,30 24,50 22

Cimbres -8,35 -36,85 850 853,20 21,00 24

Henrique Dias 1 -8,283 -37,183 510 392,50 23,90 22

Henrique Dias 2 -8,25 -37,16 510 352,80 23,90 19

Jeritacó -8,383 -37,63 445 592,30 24,70 53

Moderna -8,43 -37,416 525 509,00 23,90 28

Moxotó -8,716 -37,53 431 458,80 24,60 53

Pedra -8,5 -36,96 660 756,10 22,50 49

Poço da Cruz -8,5 -37,73 450 591,90 23,40 22

Poço do Alexandre -8,666 -37,866 610 553,30 24,60 28

Ponta da Vargem -8,583 -37,316 680 480,40 22,60 27

Salobro -8,616 -36,7 793 565,30 21,20 27

Tara -8,733 -36,86 586 479,30 22,90 48

Tupanatinga -8,75 -37,35 709 928,90 22,30 27

Xilili -8,4 -37,216 630 558,40 23,00 26

Fonte: Departamento de Ciências Atmosféricas/Universidade Federal de Campina Grande. Disponível

em: http://www.dca.ufcg.edu.br/tsm.htm. Acesso em 14 de jan de 2012. Organizado pelo autor.

O principal problema no uso dos dados referidos acima consiste na diferença dos

períodos observados nos diferentes postos pluviométricos. O ideal seria que todos os dados

apresentassem o mesmo número de anos e o mesmo período de observação. Contudo,

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136

arriscamos em função da quantidade de postos disponíveis, esperando que os dados sejam

correlacionáveis entre si, tanto quanto correlacionáveis com os dados de outras naturezas.

2.3 Condicionantes sobre a Precipitação

Após a determinação das isoietas, buscou-se evidenciar possíveis condicionantes sobre

a distribuição espacial do regime de chuvas. Neste caso, verificou-se preferencialmente a

influência da altitude sobre a precipitação, sobretudo em função das variações altimétricas no

contraste entre o Horst Buíque (Cf. capítulo anterior) e o sistema de hemigrábens que o

margeiam, rebaixando-se consecutivamente para oeste.

Para tanto, os valores de ambas as variáveis foram plotados num diagrama de

dispersão e, em seguida, determinou-se a tendência de distribuição dos dados, indicadas pelo

menor ajuste quadrado através dos pontos, utilizando-se a técnica de regressão polinomial.

Esta técnica estatística retorna um valor (R²) referente à tendência geral de distribuição dos

dados, caracterizando um coeficiente de determinação entre os valores dos eixos x e y, sendo

expressa pela seguinte fórmula:

(5.2)

onde b e c1...c6 são constantes.

Uma ressalva importante é que o raster de precipitação precisou ser reamostrado para

ficar com o valor de célula (pixel) igual ao da imagem de Altitude, de outra forma, a

quantidade de pontos gerada pela criação do perfil seria diferente entre as imagens,

impossibilitando a correlação.

2.4 Efeito da Precipitação sobre a Fenologia

Sabe-se que sua resposta fenológica é sensível a diversas características do ambiente,

como a textura do substrato, a duração e intensidade do período chuvoso, a topografia, a

altitude, entre outras. Este conhecimento pode ser usado para identificar diferentes tipos de

interações entre os elementos naturais num dado local, auxiliando na identificação da

cobertura da terra e no consequente mapeamento dos geossistemas.

Neste sentido, o uso de geotecnologias para o estudo fenológico das plantas tem se

tornado comum na literatura geográfica mundial, sobretudo através do processamento digital

de imagens de satélite. O realce das imagens a partir da transformação de seus Números

Digitais (DN) em índices de vegetação e avaliação de uma série de imagens do mesmo ano

tem permitido o monitoramento das fenofases do sistema fotossintético das plantas (BEURS;

HENEBRY, 2010).

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137

Alguns dos principais índices que têm sido utilizados para detecção de fenofases por

sensoriamento remoto são aqueles baseados na pigmentação foliar, sendo mais comum o

Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) (ROCHA; SHAVER, 2009; HUETE;

SALESKA, 2010). Este índice baseia-se na relação entre a luz vermelha incidente (Verm),

absorvida pela clorofila, e a reflexão da luz infravermelha (IV) pela estrutura celular das

folhas (ROUSE et al. 1973), e tem apresentado boa correlação com as mudanças na biomassa

verde, sendo muito importante para o monitoramento sazonal da vegetação (JENSEN, 2009).

O NDVI é obtido pela seguinte equação:

(5.3)

Aqui, as variações intra-anuais do NDVI foram utilizadas para evidenciar diferenças

naturais em escala macroscópica, permitindo a inferência de algumas relações entre os

componentes da natureza na área do Parque Nacional do Catimbau.

As variações na vegetação foram avaliadas a partir da extração do NDVI de duas

imagens do satélite LANDSAT 5, sensor Thematic Mapper, disponibilizadas pelo Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para a órbita 215 e ponto 66, referentes ao ano de

2001, ano climaticamente regular (Cf. tópico seguinte) e que apresentou maior sorte de

imagens com pouca cobertura de nuvem. Cada uma das imagens apresentava características

climáticas distintas, sendo uma do período chuvoso e outra de um período seco (ver Tab. 2).

Tabela 2. Características Pluviométricas da Data de Passagem do Satélite.

Data de

Passagem

Precipitação (mm)

Até 10 dias

antes da

passagem

Até 30 dias

antes da

passagem

Até 60 dias

antes da

passagem

28/03/2001 27 78,2 102,7

06/10/2001 0 0 26,5

Fonte: INPE, INMET. Organizado pelo autor.

Inicialmente foi realizado o pré-processamento das bandas 3 e 4 das imagens,

necessárias para obtenção do NDVI. Esta etapa consistiu na determinação de correções

geométricas e radiométricas. A correção geométrica corresponde à determinação de

coordenadas geográficas para a imagem, e foi realizada tendo como referência corpos hídricos

e estradas.

A correção radiométrica busca resolver ruídos que aparecem nas imagens em função

de problemas na calibração dos sensores, bem como erros na transmissão de dados e a

influência de gases e aerossóis atmosféricos. Para tanto, é preciso converter os números

digitais da imagem em valores de radiância (Lλ), que representam a energia solar refletida por

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138

cada elemento que compõe a imagem e que foi medida ao nível do sensor (≈705 km de altura)

(MARKHAM; BAKER, 1987), sendo obtida pela seguinte fórmula:

(5.4)

onde Lλmax e Lλmin são os valores de radiância espectral máximo e mínimo (em W/(m2 sr

μm)), respectivamente, determinados conforme Chander, Markham e Helder (2009) e DN é a

intensidade do pixel, que varia entre 0 e 255.

Uma vez que os valores de radiância representam apenas a energia solar refletida, que

pode sofrer influência de outras fontes (radiâncias de trajetória) causando distorções nos

valores. O efeito de gases e aerossóis atmosféricos é o principal problema encontrado para a

calibração radiométrica de imagens de satélite, sendo um dos modos mais utilizados para

correção destes efeitos o método de subtração do pixel escuro (Dark Object Subtraction -

DOS). Esta técnica assume que a imagem apresenta pixels escuros com valores de reflectância

de 1% (sombras de nuvens e/ou corpos hídricos) e utiliza os valores apresentados por estes

pixels escuros na imagem, geralmente maiores que o esperado, como referência para

determinação da correção atmosférica (CHAVEZ JR, 1988; 1989).

A correção atmosférica por DOS é realizada com base na seguinte equação:

(5.5)

onde L1% é a reflectância de 1%, Esun é o valor de irradiância solar média na

exoatmosfera55

, cosθz é o ângulo solar zenital que varia de acordo com o momento de

aquisição da cena e d é a distância Terra-Sol em unidades astronômicas.

Em seguida, o efeito do espalhamento atmosférico (Lhaze) é obtido pela diferença

entre L1% e o valor de um pixel escuro obtido da imagem de radiância (Starting Haze Value -

SHVrad). Por fim, obtém-se a imagem de reflectância à superfície, eliminando-se o efeito de

Lhaze.

Todas as etapas de pré-processamento e realce das imagens foram realizadas com a

ferramenta ‘Normalização de Imagens LANDSAT’ (SADECK GEOTECNOLOGIAS, 2011).

Após a determinação dos valores de reflectância de superfície, as imagens foram

transformadas (realçadas) com o NDVI.

Após isso, a imagem NDVI do período chuvoso (março) foi subtraída pela imagem

NDVI do período seco (outubro), cuja diferença foi denominada imagem de mudança, tendo

55

O valor de Esun é determinado de acordo com o dia juliano da passagem do satélite. Podemos encontrar estes

valores de referência para o LANDSAT 5TM em Chander, Markham e Helder (2009).

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139

sido utilizada para evidenciar diferenças espaciais na fenologia do sistema foliar e inferir a

existência de condições ambientais diferentes.

Considerando que os valores de NDVI variam de -1 a 1, os máximos de mudança que

se podem obter com a soma variam entre -2 (quando há uma redução máxima dos valores) e 2

(quando há um incremento máximo dos valores). Observando as variações num intervalo de 1

ponto, podemos identificar 4 classes de incremento e redução de valores de NDVI, que podem

ser representadas de forma percentual e nominal (Tab. 3).

Tabela 3. Classificação para Mudanças Intra-anuais nos Valores de NDVI com intervalo de 1.

Valores de

Mudança

(intervalo de 1)

Mudança

(%)

-2 a -1 Perda >50

0 a -1 Perda 0 a 50

0 a 1 Ganho 0 a 50

1 a 2 Ganho >50

Fonte: o autor.

2.4.1 Ano Climaticamente Regular para a Estação de Arcoverde (Pernambuco)

Além de realizar as correções das imagens (geométrica, radiométrica e atmosférica) é

preciso evitar o efeito de anos muito secos e muito chuvosos na resposta espectral dos alvos,

isso, é claro, quando se pretende caracterizar variações intra-anuais da paisagem de um ano

climaticamente regular. A determinação do ano climático regular consistiu na tentativa de

agrupar os dados de precipitação anual de modo a se obter valores regulares e distingui-los de

valores atípicos, sendo este parâmetro utilizado para selecionar o ano de obtenção das

imagens de satélite para o realce por NDVI.

O ano regular foi determinado utilizando 39 anos de dados de precipitação (1973-

2011) da estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizada

no município de Arcoverde (OMM: 82890), nas coordenadas -8,41º e -37,08º e altitude de

680,7 metros e que opera desde 01/02/1973, a cerca de 25km de distância do PNC. Em função

da presença de lacunas nos dados, a exemplo da falta de informação para um dia, mês ou

conjunto de meses, alguns anos precisaram ser desconsiderados. Deste modo, foram

desconsiderados os anos em que houvesse falta de informação para 3 meses ou mais. A tabela

4 mostra os anos eliminados em função da ausência de informação.

Tabela 4. Anos Excluídos em Pela Ausência de Dados.

Ano Ausência de informação (meses)

1987 3

1988 7

1991 9

Fonte: o autor.

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140

O ano regular foi então, definido pela utilização de separatrizes, agrupando-se os

valores de precipitação anual dos anos considerados em quartis. Os valores abaixo do

primeiro quartil (Q1) indicam os 25% de anos menos chuvosos (anos secos); Os valores

acima do terceiro quartil (Q3) indicam os 25% de anos mais chuvosos (anos chuvosos). Por

fim, os valores entre Q1 e Q3 indicam os 50% dos anos nem muito secos, nem muito

chuvosos, que utilizamos aqui como referência para os anos regulares. Para realização desta

operação utilizou-se a função QUARTIL, do Microsoft Excel.

2.4.2 Avaliando a Relação entre Pluviosidade e Fenologia

A fim de se avaliar um possível condicionamento da fenologia em relação à

pluviosidade, foram elaborados diagramas de dispersão e determinadas linhas de tendência

polinomial de ordem 2, num perfil distinto.

O procedimento utilizado foi o mesmo adotado para análise dos condicionantes sobre

a pluviosidade, a saber: reamostragem das imagens matriciais de precipitação e altitude para

que ficassem com o mesmo tamanho de célula; elaboração de um perfil que destacasse a

maior variação espacial dos valores; exportação do perfil para o Excel e; plotagem dos dados

no gráfico e adição da linha de tendência (regressão polinomial de 2ª ordem).

2.5 Taxonomia dos Geossistemas

Continuando com as investigações do capítulo anterior, sobre a estrutura das paisagens

e sua classificação, as unidades bioclimáticas identificadas serviram para diferenciar em

detalhes os grupos de paisagem, mais uma vez seguindo a proposta de Isachenko (1991). O

cruzamento dos dados climáticos (grupos) e geológico-geomorfológicos (classes e subclasses)

permitiu classificar as paisagens do PNC, estabelecendo cartograficamente os seus limites.

3 Resultados e Discussão

3.1 Pluviosidade Média Anual e Seus Condicionantes

As isoietas para a região do PNC e seu entorno (Fig. 45) apresentam uma faixa de

concentração da pluviosidade na direção NE-SW, com valores históricos acima de 600

mm/anuais, com destaque para o posto pluviométrico de Buíque. Esta faixa mais úmida

separa duas áreas com precipitação inferior a 600 mm/anuais.

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141

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142

Analisando a distribuição da precipitação ao longo do ano (Fig. 46), percebe-se que os

postos possuem picos de precipitação no mês de março, geralmente associados à Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT) (ALVES, 2012). Os postos que se localizam na faixa de

umidade (Arcoverde 1 e 2, Brejo de São José, Buíque, Cimbres, Pedra e Tupanatinga)

apresentam picos de precipitação entre março e julho, decrescendo a partir de agosto (Fig.

47). Estas precipitações geralmente provêm de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL), que

podem se associar a Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) (ALVES et al., 2011;

ALVES, 2012).

Figura 46. Pluviosidade Mensal de Postos em Isoietas abaixo de 600mm.

Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.

Figura 47. Pluviosidade Mensal dos Postos em Isoietas acima de 600mm.

Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.

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143

Todos os postos na faixa superior a 600 mm possuem altitudes acima de 650m, fato

que poderia indicar a altitude como um elemento de diferenciação. Contudo, o posto Ponta da

Vargem, localizado a 680m, possui precipitação média anual de apenas 480,4mm.

A explicação mais provável para a existência do elemento mais úmido são chuvas

orográficas produzidas por uma convecção do tipo vale-montanha, condicionada pela escarpa

do Horst Buíque, que apresenta um desnível em torno de 400m entre a parte mais elevada

desta região. Na região entre o posto de Buíque (1098 mm/ano) e a parte mais baixa, onde se

localiza o posto do Amaro (448 mm/ano), o desnível é de 323m, numa distância de apenas

19,9km (em linha reta) (Fig. 48).

A correlação entre os pluviogramas de ambas as localidades apresenta uma

similaridade no ritmo, mas não na magnitude anual da pluviosidade. Assim, é possível aventar

a hipótese que esta faixa de umidade seja principalmente uma relação entre a escarpa do Horst

Buíque com a atuação dos ventos que adentram o continente no inverno, provavelmente

associados aos Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL).

Figura 4813. Contraste da Pluviosidade entre os Postos de Buíque (798m) e do Amaro (475m).

Fonte: DCA/UFCG. Organizado pelo autor.

Os ventos úmidos oceânicos ganhariam ainda mais umidade pela razão adiabática

decorrente da ascensão da escarpa da referida morfoestrutura, provocando a continuidade das

precipitações até julho. Além disso, a influência da morfoestrutura ainda é uma explicação

plausível para a diferença na magnitude das precipitações entre as localidades consideradas.

O efeito do desnível topográfico no regime de chuvas se torna ainda mais evidente no

diagrama de dispersão (Fig. 49), que apresenta os valores de precipitação ao longo do

gradiente altimétrico entre as duas localidades (Buíque e Amaro), com R² de 0,93, conforme

tendência polinomial de ordem 2.

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144

Figura 14. Relação entre Altitude e Pluviosidade entre os Postos do Amaro e de Buíque.

Fonte: DCA/UFCG;SRTM. Modificado e Organizado pelo autor.

3.2 Fenologia e Seus Condicionantes

A análise do percentual ocupado, no Parque, para cada classe de incremento ou perda

de NDVI, no indica que mais de 85% da área do Parque apresentou classes de perda na

pigmentação foliar entre março e outubro de 2001 (ano climático regular) (Fig. 50). Neste

contexto, apenas 1,15% do PNC apresentou perda > 38%. A maior parte da unidade de

conservação (58,18%) caracterizou uma perda entre 16% e 38%. Além disso, pouco mais que

¼ da área (26,96%) teve uma redução de 0% a 16% no valor de mudança intra-anual na

pigmentação foliar (mPF).

Figura 5015. Área Ocupada por Classes de Mudança Sazonal na Pigmentação Foliar no Parque

Nacional do Catimbau (%).

Fonte: LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.

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145

De forma interessante, uma pequena porção da área de estudo (13,71%) apresentou

incremento nos valores de NDVI, entre março e outubro de 2001. Além disso, uma pequena

região (equivalente a 0,36% da área do Parque) teve ganho superior a 30% no mPF no mesmo

período. O motivo deste incremento é sugerido a seguir.

O mapa de mPF, agrupado em quatro classes (Fig. 50), nos indica que os maiores

contrastes estão relacionados aos valores elevados da porção SE do PNC, que concentra o

incremento de NDVI. As demais regiões do Parque apresentam forte evidencia de caráter

decidual (perda de mPF).

Vale ressaltar que os valores de incremento de NDVI, localizam-se preferencialmente

na porção SE do Parque, coincidindo com as regiões de maior pluviosidade (comparar Fig. 45

e 51). Este fato pode indicar menor deciduidade (caráter semidecidual) e até ausência de

caducifolia (caráter sempre-verde) no extremo SE do PNC.

Figura 51. Mapa de Mudança Sazonal da Pigmentação Foliar.

Fonte: LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.

Uma observação detalhada sobre a relação entre pluviosidade (P) e mPF, por meio do

gráfico de dispersão (Fig. 52), apresenta um ajuste (R²) igual a 0,85 para uma tendência

polinomial de ordem 2. Isto indica uma forte relação entre P e mPF.

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146

Figura 52. Perfil 1: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.

Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.

Além disso, verifica-se que abaixo de 585 mm de P, não foi registrado ganho de mPF,

assim como acima de 650 mm não houve perda de PF, caracterizando uma possível faixa

transicional.

Deste modo, o gráfico acima constitui uma boa explicação para a variabilidade dos

padrões intra-anuais de mudança na pigmentação foliar em relação à pluviosidade média

anual. Além do mais, permite subsidiar hipóteses sobre as relações entre valores de

pluviosidade e as respostas fenológicas do sistema fotossintético para as plantas da região

estudada.

Diferentemente do perfil anterior, o Perfil 2 (Fig. 53) apresentou baixo valor de R2

para a relação P-MPF, sendo de apenas 0,32. Em concordância, acima dos valores de 646 mm

de P, não houve perda de PF. Contudo, houve bastante ganho de PF, mesmo em área com

baixo valor de P. Em função dessa discordância, os dados do Perfil 2 foram observados com

maior cautela para tentar identificar as causas desta diferença.

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147

Figura 53. Perfil 2: Dispersão da Pigmentação Foliar ao Longo do Gradiente Pluviométrico.

Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.

Visto que os valores de ganho do perfil 2 encontravam-se quase totalmente no

intervalo de 557mm e 535mm de precipitação, resolvemos isolá-los num novo gráfico (Fig.

54), no qual percebemos que a maior parte dos valores está agrupada no intervalo de 535mm e

540mm de precipitação.

Reclassificando o plano de informação da pluviosidade média anual em classes de 10

mm, foram isoladas, com a cor cinza escuro, as regiões no intervalo referido (535-540mm) e,

em seguida, procedeu-se uma correlação visual com a imagem de mPF.

Figura 516. Valores de Ganho do Perfil 2 Isolados.

Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.

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148

Observando na imagem de mPF as regiões da porção SW do Parque, com intervalo

535-540mm, não apresentaram valores de ganho. Estes valores concentraram-se na porção S,

próximo às localidades da Ponta da Vargem e do Caldeirão que, na imagem de alta resolução

disponível no Google Earth coincidem com uma área de intenso uso da terra (Fig. 55).

Figura 55. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF.

A. Pluviosidade Média Anual, destacando o intervalo entre 535mm e 540mm (cinza escuro); B.

Localização no perfil de valores de ganho na Pigmentação Foliar, coincidentes com o intervalo

pluviométrico mencionado; C. Visualização em detalhe; D. Visualização na imagem Google Earth.

Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT 5TM; Google Earth 6. Modificado pelo autor.

Com base nisso, podemos concluir que os sistemas de uso da terra (provavelmente

através de irrigação), na região onde foi traçado o Perfil 2, constituem uma explicação

razoável para o baixo valor de R² para a relação P-MPF.

3.2.1 Relação Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF)

Adicionalmente, foi testada a relação Z-mPF, com vistas a avaliar a hipótese da

influência do Horst Buíque também sobre os ciclos anuais da vegetação do Parque. O valor de

0,54 da tendência polinomial de ordem 2 (R2), indica uma baixa correlação. Contudo, no

gráfico da figura 47 ficam visíveis alguns indicadores de relação, como por exemplo, o fato de

que acima de 915m não ocorre perda de PF, assim como abaixo de 750m não é registrado

ganho de PF (Fig. 56).

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149

Figura 56. Perfil1: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF).

Fonte: SRTM/TOPODATA; LANDSAT 5TM. Modificado pelo autor.

Sabendo que altas temperaturas afetam diretamente a fotossíntese e que, a altitude

afeta diretamente a temperatura, podemos levantar a hipótese de que a altitude possa ter um

efeito indireto (através do regime térmico) sobre as mudanças sazonais na pigmentação foliar.

Outra evidência para a sustentação desta hipótese é a simples correlação visual entre

os valores de mPF, de P e os contornos da geomorfologia (Fig. 57). Neste contexto, os valores

de mPF apresentam-se bastante distintos mesmo estando sobre uma mesma faixa de P, mas

que apresentam boa correlação com os contornos da topografia dos Patamares Estruturais da

porção SE do Parque.

Figura 17. Correlação entre Fenologia (à esq.), Pluviosidade e Geomorfologia (à dir.) na Porção SE

do Parque.

Fonte: o autor.

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150

Isto pode ser um indicativo de que a geomorfologia realmente possa estar exercendo

algum controle na vegetação, onde os Patamares Estruturais promovem um regime térmico

diferenciado, que por sua vez afeta as taxas de fotossíntese, condicionando maior

produtividade de pigmentação foliar, talvez em função de um regime térmico mais ameno que

o calor excessivo das regiões de entorno (ver a seguir).

Similarmente ao Perfil 1, a relação Z-mPF no Perfil 2 foi relativamente baixa a

moderada, com tendência polinomial (ordem 2) de 0,64 (Fig. 58). De modo similar ao Perfil

anterior, não houve perda de PF, desta vez acima da cota de 919m. Além disso, abaixo de

720m não se verificou ganho de PF, com exceção de 14 pontos (que representam 1,25% do

total de pontos) localizados no intervalo entre 558m e 588m de altitude.

Figura 58. Perfil2: Altitude (Z) x Mudança na Pigmentação Foliar (mPF).

Fonte: o autor.

Conforme realizado para o Perfil 2 da relação P-mPF, também observamos em detalhe

as causas dessas variações (Fig. 59). Assim, o plano de informação da altitude foi

reclassificado, isolando o intervalo de 558m e 588m. Em seguida foram observadas as seções

do perfil, no referido intervalo, a fim de descobrir em quais delas havia registro de ganho de

PF. Tal condição só foi encontrada na região do Vale do Pioré, no qual, por meio da

visualização da imagem disponível no Google Earth, mais uma vez encontramos uma área

sujeita ao uso da terra.

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151

Figura 18. Influência do Uso da Terra nos Valores de mPF.

A. Altitude, destacando o intervalo entre 558m e 588m (amarelo); B. Localização no perfil de valores

de ganho na Pigmentação Foliar, coincidentes com o intervalo altimétrico mencionado; C.

Visualização em detalhe; D. Visualização na imagem Google Earth. Fonte: DCA/UFCG; LANDSAT

5TM; Google Earth 6. Modificado pelo autor.

Voltando à discussão da relação altitude-temperatura-fotossíntese, resolvemos estimar

a temperatura média mensal para localidades posicionadas acima dos 900m, utilizando o

programa Estima T (DCA/UFCG, 2003), indicando várias altitudes distintas, observadas em

dados de elevação SRTM.

Com isso, encontramos que, por volta dos 920m, a temperatura média do mês mais

frio tende a ser inferior a 18ºC, que na literatura geográfica tem sido referenciada como

indicativa de climas ‘mesotérmicos’ (NIMER, 1979; BERUCHASHVILI, 1983; KOTTEK et

al., 2006). Além disso, a temperatura máxima fica entre 29ºC (mês mais quente) e 23ºC (mês

mais frio), enquanto a mínima fica entre 18ºC (mês mais quente) e 15ºC (mês mais frio). Estes

intervalos também são solidários com a hipótese de um condicionamento altitudinal da

produtividade biológica.

Contudo, a estimativa também demonstra os mesmos valores mais baixos de

temperatura para a porção NW dos Patamares Estruturais da borda do Parque, que não

apresentam valores de incremento de NDVI. Além disso, os Patamares de NW também se

caracterizam por um valor de pluviosidade abaixo de 600mm, talvez uma explicação para a

maior pigmentação foliar restrita aos Patamares de SE.

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152

3.4 Contribuição à Taxonomia dos Geossistemas

Com base nas informações climato-botânicas discutidas aqui, podemos sugerir pelo

menos dois grupos de paisagens para o Parque: Caatingas Secas e Caatingas Subúmidas,

sendo este último localizado sobre a porção SE dos patamares estruturais da borda do Parque.

Em combinação com as subclasses de paisagens definidas no capítulo anterior, podemos

indicar pelo menos 9 categorias de paisagens para a região do Parque Nacional do Catimbau,

a saber (Fig. 60):

Figura 60. Paisagens do Parque Nacional do Catimbau.

Fonte: o autor.

Caatingas subúmidas em patamares estruturais, caatingas secas em patamares estruturais,

caatingas secas em glacis, caatingas secas em pedimentos/glacis, caatingas secas em colinas

íngremes arenosas, caatingas secas em colinas suaves arenosas, caatingas secas em colinas

suaves areno-argilosas, caatingas secas em cristas e morros testemunho, caatingas secas em

planícies.

4 Conclusões

Os dados dos postos pluviométricos apresentaram uma boa correlação entre si, além

de uma boa integração com dados de outras fontes, a exemplo das informações altimétricas,

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153

da fenologia e da geomorfologia. Isto significa que, para a área em questão, as informações

disponibilizadas pelo DCA/UFCG possuem certa confiabilidade.

As análises realizadas permitiram concluir que o Parque Nacional do Catimbau

apresenta um regime pluviométrico típico do clima semiárido do Nordeste Brasileiro.

Contudo, sua porção SE se caracteriza por uma forte influência da topografia no curso anual

das chuvas.

O desnível altimétrico que marca a borda E do Horst Buíque, com valor de R² = 0,93

indica um forte controle da pluviosidade pelos contornos da topografia regional, sugerindo a

existência de uma diferenciação vertical das paisagens. Este condicionamento hipsométrico

dos geossistemas, contudo, não se estenderia muito além das proximidades do desnível, onde

voltaria a atuar o clima regional (semiárido).

Assim, teríamos duas categorias de geossistemas regionais na área do Parque: aqueles

condicionados pelo desnível topográfico e; aqueles condicionados pelo clima regional. As

evidências que corroboram esta hipótese incluem os efeitos marcantes da pluviosidade sobre a

distribuição das variações intra-anuais na pigmentação foliar (fenologia), que chega a

apresentar R²=0,85.

Contudo, em áreas de intenso uso da terra, a fenologia parece ser regulada pela

atividade humana, provavelmente em função da irrigação, resultando numa divergência da

marcha anual da precipitação.

A baixa correlação entre a altitude e a fenologia sugere que a relação desnível

altimétrico>chuvas não se estende para uma relação de controle desnível altimétrico

>fenologia. Entretanto, as cimeiras mais elevadas dos patamares estruturais da porção SE do

Parque parecem interagir com os valores de precipitação mais intensos em função da altitude.

Esta relação afeta diretamente a produtividade biológica, pelo menos em termos de

pigmentação foliar.

Com base nas discussões promovidas, uma classificação downscaling dos

geossistemas nos leva a considerar a existência de 9 unidades de paisagem para o PNC. Sendo

apenas uma delas condicionada pela altitude e pluviosidade, sendo as demais compostas por

caatingas secas que colonizam distintos ambientes geomorfológicos mesorregionais.

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154

Capítulo 6

Modelagem Cartográfica e Tipologia dos Geossistemas do Parque

Nacional do Catimbau 1 Introdução

O estudo da estrutura da paisagem abrange o delineamento dos limites das paisagens

bem como o reconhecimento de suas partes morfológicas. Por partes morfológicas entende-se

a caracterização dos elementos paisagísticos de dimensões locais, a saber: localidades, tratos,

subtratos e fácies. De outro modo, definição de tipologias para estas unidades auxilia em seu

mapeamento, a exemplo dos grupos e classes de fácies, que Sochava (1978) propõe para a

classificação das categorias locais de geossistemas (geômeros).

Tradicionalmente, o reconhecimento da estrutura morfológica da paisagem tem sido

realizado com base em fotointerpretação auxiliada por observações de campo (ISACHENKO,

1991; ZUCHKOVA; RAKOVSKAIA, 2004). Além disso, cabe ressaltar que a identificação e

registro destas unidades físico-geográficas locais segue uma abordagem diferente daquela que

se usa para a cartografia de geossistemas regionais. Neste sentido é preciso ‘olhar a paisagem

de baixo’ (agrupamento) e não mais ‘de cima’ (divisão lógica).

Para o estudo dos geótopos56

, o desenvolvimento das geotecnologias tem permitido

uma maior facilidade na compilação de dados e interpretação de informações para a

classificação e cartografia das paisagens. Como foi visto anteriormente, os referidos

componentes morfológicos das paisagens (fácies, subtratos, tratos e localidades),

tradicionalmente reconhecidos na literatura geográfica, auxiliam na diferenciação detalhada

do território, servindo a propósitos diversos. No nosso caso, espera-se que a cartografia

semidetalhada dos geossistemas do Parque Nacional do Catimbau sirva para a gestão da

unidade de conservação, sendo este o nosso objetivo presente.

2 Metodologia

2.1 Inferência por Geoprocessamento

A determinação dos limites paisagísticos foi realizada por meio de modelagem

cartográfica, baseada na interpretação de planos de informação em dois momentos, a saber: o

primeiro deles voltado para a delimitação dos sítios, e o seguinte para a delimitação dos

estados. Os sítios foram definidos por técnicas de modelagem numérica do terreno, análise

espacial e edição de arquivos vetoriais com base em dados temáticos diversos, sobretudo a

litologia e as morfoestruturas. A delimitação dos estados foi executada tendo como referência

56

Geossistemas locais ou topológicos. Não confundir com o conceito de geótopo de Bertrand (1968).

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155

os limites dos sítios, assim como sugerido por Isachenko (1998; 2007), sendo subsidiada

pelos planos de informação dos solos, da vegetação e por imagens de satélite.

Assim, após a inferência dos limites de um determinado sítio (relação relevo-

substrato), seus estados (relação solo-vegetação) foram avaliados e, caso houvesse mais de

um estado por sítio este era subdividido (Fig. 61). Em função da resolução espacial das bases

de dados utilizadas (ver a seguir), os mapas finais foram reproduzidos na escala 1:150.000,

com exceção do mapa de geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça, que foi reproduzido

na escala 1:10.000.

Figura 61. Definição dos Geossistemas pelo cruzamento dos Limites dos Sítios e dos Estados.

Fonte: o autor.

2.1.1 Definição dos Sítios

Os sítios paisagísticos compreendem as condições gerais sobre as quais se diferenciam

estados de diferentes durações. As principais características físico-geográficas que refletem

estas condições são as formas de relevo, a natureza do litotipo (substrato) e o tipo de

drenagem. Estes três elementos, sob um mesmo clima, garantem ambientes distintos para a

circulação geoquímica, a formação de solos e a sucessão vegetal.

Neste sentido, Isachenko e Reznikov (1996), Isachenko (1998; 2005; 2007) e

Isachenko et al. (2010) propuseram e vêm desenvolvendo uma tipologia de sítios

paisagísticos baseada principalmente em observações de campo. Este modelo fundamenta-se

na descrição de grupos e subgrupos que suportam uma indexação (Fig. 62). Neste trabalho,

tentou-se adequar e expandir a supracitada proposta tipológica, construindo uma referência

para classificação de geossistemas para o ambiente semiárido brasileiro.

A determinação dos limites dos sítios foi realizada a partir de quatro planos de

informação principais, a saber: imagens altimétricas TOPODATA, imagens Google Earth,

litologia e morfoestruturas. Os passos de obtenção dos sítios podem ser sumarizados no

esquema da figura 63 e são descritos a seguir.

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156

Figura 62. Nomenclatura de Sítios Paisagísticos.

Relevo Rocha Sedimento

Cristalino Sedimentar Arenoso a

Franco Arenoso

Médio a Argiloso Orgâni.

Ácid. Básic

.

Carbonát

.

Terríg. C/cas

c.

S/casc. C/casc. S/casc.

Formas positivas

(Δh>5m) drenadas S M C T Kfg Kf G Kl -

Encostas muito

íngremes e escarpas

drenadas

Cs Cm Cc Ct Cfg Cf Cg Cl -

Cânions e Vales

Íngremes com

umedecimento

variável

Vs Vm Vc Vt Vfg Vf Vg Vl -

Planícies de

Inundação com

umedecimento

variável

- - - - - Af - - Ab

Relevos planos ou

suavemente

ondulados (Δh<5m)

drenados

Ps Pm Pc Pt Pfg Pf Pg Pl -

Relevo plano

pantanoso ou com

estagnação de água,

ainda que periódica

Ls Lm Lc Lt Lfg Lf Lg Ll B

Fonte: Modificado de Isachenko (1998).

Além destas características, Isachenko (2007) sugere que algumas outras letras sejam

utilizadas como indicadoras de áreas anteriormente cultivadas (k). Do mesmo modo, é

interessante incluir na ordem de nomenclatura um indicativo da influência da altitude sobre a

formação dos sítios e seu condicionamento sobre os estados, assim utilizaremos a letra ‘e’.

Figura 63. Fluxograma para Definição de Sítios.

Fonte: o autor.

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157

A imagem TOPODATA é um arquivo matricial que apresenta dados de altitude.

Trata-se de um refinamento, por meio de geoestatística, dos dados de elevação adquiridos

entre 11 e 22 de fevereiro do ano 2000 pelo equipamento C/X-Band Synthetic Aperture Radar,

acoplado à nave Endeavour. Os dados possuem acurácia de 16 metros e resolução espacial de

90mx90m, posteriormente, duas imagens de radar, tomadas de pontos ligeiramente diferentes,

foram relacionadas de modo a obter a altitude, tarefa realizada pelo projeto Shuttle Radar

Topography Mission (SRTM). Posteriormente, os dados foram tratados pelo projeto

TOPODATA do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) passando a uma resolução

de 30mx30m (VALERIANO, 2008).

A imagem TOPODATA foi processada no programa de código aberto Quantum Gis

1.8, sendo inicialmente submetida a um estimador de declividade baseado na seguinte

fórmula:

D = arctg {[( ∂Z/∂X )2+( ∂Z/∂Y )2]1/2} (6.1)

Onde ∂Z/∂X é a derivada parcial na direção X e ∂Z/∂Y, na direção Y, ambos sendo as

componentes do vetor gradiente em uma dada posição (BURROUGH, 1986; FELGUEIRAS,

2001). Foi utilizada a ferramenta Raster/Análise de Terreno/Declividade.

Em seguida, o raster de declividade foi reclassificado em 4 classes representativas do

relevo, a saber: 0 a 3% (relevo plano); 3 a 8% (relevo suavemente inclinado); 8 a 32% (relevo

íngreme) e; >32% (muito íngreme a escarpado). A operação foi realizada com auxílio do

algoritmo de reclassificação de dados raster ‘r.reclass’ do módulo GRASS.

Deste arquivo de declividade reclassificado foi gerado um arquivo vetorial com linhas

de contorno, em seguida convertido da categoria de linhas para a de polígonos. Foram

utilizadas as ferramentas Raster/Extração/Contorno e Vetor/Geometrias/Linhas para

Polígonos, respectivamente.

O arquivo poligonal com a declividade teve sua tabela de atributos modificada e foram

inseridos campos fundamentais para diferenciação dos sítios, os seguintes: forma de relevo,

substrato, gênese do substrato, drenagem do perfil, modo de migração geoquímica, rocha

matriz.

Em seguida, foi realizada uma edição vetorial do arquivo poligonal da declividade.

Esta edição buscou a interpretação dos limites dos sítios com base na inferência dos critérios

citados no parágrafo acima, e teve como referência dados auxiliares e chaves de classificação.

Dentre as bases de dados auxiliares utilizou-se o plano de informação da drenagem do

Zoneamento Agroecológico de Pernambuco (escala 1:100.000), as informações

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158

morfoestruturais reunidas no capítulo anterior e imagens disponíveis no Google Earth,

importadas para o Quantum GIS pelo complemento OpenLayers .

A seguir apresentamos os critérios de classificação utilizados para nomenclatura de

cada um dos campos da tabela de atributos do arquivo dos sítios.

Forma de Relevo: compreende o segmento de relevo que pode ser topo, encosta (encosta

superior, meia encosta ou encosta inferior ou basal) e leito, sendo associado à sua declividade

(plana, suavemente inclinada, inclinada, íngreme e muito íngreme a escarpado) (Fig. 64).

Figura 64. Segmentos de Encosta.

Fonte: o autor.

Substrato: corresponde às características gerais do litotipo superficial de uma determinada

forma de relevo, podendo referir-se a algum material consolidado (rocha) ou inconsolidado

(sedimentos e solos). Assim, podemos ter os seguintes tipos de substrato:

Rochoso: quando domina um afloramento rochoso (geralmente ocorre em áreas muito

íngremes a escarpadas);

Arenoso: quando domina uma textura arenosa numa área de material inconsolidado;

Argiloso: quando ocorre uma textura argilosa numa área de material inconsolidado;

Areno-argiloso ou Argilo-arenoso: quando não predominância de material

inconsolidado arenoso ou argiloso;

Pedregoso: quando ocorre cascalho, blocos e/ou matacões. Quando ocorre na porção

inferior de encostas, recebe o nome de depósito de tálus ou, simplesmente, tálus.

Os mapas geológicos e de solos podem dar uma boa indicação da natureza do

substrato, que pode ser confirmada com imagens de satélite e com a forma de relevo (ex.:

dificilmente vai ocorrer um substrato arenoso em áreas muito íngremes ou escarpadas).

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159

Gênese do substrato: dá indicativo do processo que conduziu à formação do substrato. Pode

ser de dois tipos gerais: erosivo ou deposicional. O ideal é classificar tipos específicos,

seguindo a chave de classificação abaixo (Fig. 65):

Figura 65. Fluxograma para Determinação da Gênese do Substrato.

Fonte: o autor.

Quando não for possível inferir a gênese do substrato, ela é referida como

‘indeterminada’.

Drenagem do substrato: corresponde às condições de infiltração e escoamento da água no

substrato. São reconhecidas as seguintes classes de drenagem com base no IBGE (2007,

p.196):

Excessivamente drenado: quando a água é removida do substrato muito rapidamente.

É comum em substratos arenosos e rochosos, áreas de topo, vertentes muito íngremes

a escarpadas;

Fortemente drenado: a água é removida do substrato rapidamente. Geralmente são

áreas de topo ou encostas íngremes com substrato arenoso ou areno-argiloso;

Bem drenado: a água é removida do substrato com facilidade, porém não rapidamente;

os substratos comumente apresentam textura argilosa ou argilo-arenosa e formas de

relevo geralmente inclinadas a íngremes;

Moderadamente drenado: a água é removida do substrato um tanto lentamente, de

modo que este permanece molhado por uma pequena, porém significativa, parte do

ano. Geralmente ocorre em áreas de relevo inclinado a suavemente inclinado, quase

sempre com textura argilosa a argilo-arenosa;

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160

Imperfeitamente drenado: a água é removida do substrato lentamente, de tal modo que

este permanece molhado por período significativo, mas não durante a maior parte do

ano. Geralmente ocorrem em áreas de meia encosta ou encosta inferior quase sempre

inclinada, suavemente inclinada ou plana, comumente apresentando textura argilosa;

Mal drenado: a água é removida tão lentamente que o substrato permanece molhado

por uma grande parte do ano. O nível freático comumente está à superfície ou próximo

a ela durante uma considerável parte do ano. As condições de má drenagem são

devidas ao nível freático elevado característico de encostas inferiores e proximidade

com áreas de leito. É comum em áreas planas ou suavemente inclinadas;

Muito mal drenado: a água é removida tão lentamente que o nível freático permanece

à superfície ou próximo dela durante a maior parte do ano. Ocorrem em áreas planas

ou depressões fechadas.

Modo de migração geoquímica: corresponde ao modo como a matéria (substâncias químicas)

é transferida de uma forma de relevo para outra (ISACHENKO, 1991; MIRLEAN; TELLES;

DUARTE, 2006). São reconhecidos os seguintes tipos de modos de migração (Fig. 66):

Figura 66. Modos de Migração Geoquímica.

Fonte: Adaptado de ROJKOV et al. 1996.

Eluvial: trata-se de formas de relevo que não recebem matéria das outras, ou seja, elas

apenas recebem substâncias de origem atmosférica (pela chuva) ou por algum por

ação biogênica. As áreas de topo é que apresentam um modo de migração eluvial;

Eluvial-Acumulativo: são áreas de topo deprimidas, ou seja, que recebem e guardam

todas as substâncias;

Transeluvial: geralmente são áreas de encosta superior ou meia encosta, ou mesmo de

baixa encosta quando não há ocorrência de nível freático. São áreas que recebem e

transferem substâncias sem ter condições de acumulá-las;

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161

Transeluvial Acumulativa: áreas muito planas e com dificuldade de infiltração, que

tendem à estagnação da água, mas sem permanência da água por muito tempo no

substrato;

Transacumulativas: formas de relevo em que há oscilação do nível freático.

Geralmente na encosta inferior. Estas áreas recebem material que vem de encosta

acima e, em função do nível freático oscilante, terminam acumulando algum material;

Acumulativas ou superaquosas: formas de relevo em que o nível freático atinge o

horizonte superficial do solo;

Subaquosas: formas de relevo totalmente imersas.

Rocha matriz: diz respeito à rocha que deu origem ao material que compõe o substrato. É

inferida preferencialmente a partir do mapa geológico. Quando mais de um litotipo é

responsável pela composição do substrato (no caso do leito de um rio que corta uma área com

vários substratos diferentes), é indicada a classe ‘diversos’. Quando for impossível inferir a

rocha matriz indica-se a classe: ‘indeterminada’.

2.1.2 Definição dos Estados

Diferentemente dos sítios paisagísticos, a nomenclatura dos estados é bastante

variável, sobretudo em função da diversidade de categorias de estados (diários, intradiários,

sazonais, etc.). Para fins de cartografia de geossistemas, é interessante representar os estados

de longo prazo, representados pelos tipos de cobertura pedológica e comunidades vegetais

(afetadas ou não pelo uso da terra). Entendendo que a nomenclatura de estados de longo prazo

para o Nordeste brasileiro ainda não existe, apresentamos, a seguir, uma proposta de

indexação baseada na literatura existente, enfocando, sobretudo, na realidade da área de

estudo.

Refletindo solos e vegetação, podemos distinguir duas categorias de estados de longo

prazo, os pedogênicos e os vegetacionais, respectivamente. Compreendendo isto, uma

nomenclatura geral de estados precisa considerar, mesmo que de modo generalista, as

relações entre estas duas categorias.

Um primeiro passo neste sentido pode-se basear nas considerações biogeográficas

gerais de Cardoso e Queiroz, que reforçaram a perspectiva de outros autores como Andrade-

Lima (1981) e Prado (2003), ao afirmar que a flora do semiárido brasileiro apresenta uma

variação florística distinta nas bacias sedimentares e nas áreas de rochas cristalinas, que

caracterizam solos profundos e arenosos e solos rasos e argilosos, respectivamente.

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162

De outro modo, Santos et al. (2011), destacam dois padrões fisionômicos da flora das

caatingas, um padrão florestal (forest stand) e outro rupestre (scrub land). No primeiro

dominariam espécies lenhosas, sobretudo árvores e arbustos, enquanto nas áreas de

afloramentos rochosos seriam mais comuns espécies de Cactacea e Bromeliacea.

Uma diferenciação destes padrões fitofisionômicos, poderia ser realizada com base em

critérios simples como, por exemplo, a projeção da cobertura vegetal e as condições de

sustentação. Deste modo, o padrão florestal pode ser fechado, onde as copas são interdigitadas

e não é possível enxergar o solo a partir de uma imagem (aérea ou orbital) ou aberto quando

as copas estão separadas e torna-se possível observar o solo a partir de fotointerpretação.

Além disso, uma caatinga fortemente afetada pelo desmatamento pode apresentar um

padrão gramíneo-lenhoso, marcado pela presença de indivíduos ou pequenos grupos isolados

de árvores e/ou arbustos, dispersos em meio a herbáceas pioneiras e pequenos arbustos. Outra

influencia sobre os estados do semiárido brasileiro é o hidromorfismo, que condiciona a

formação de padrões fisionômicos fisiológicos e florísticos com caráter hidrófilo, sejam eles

ripários ou mesmo aquáticos, crescendo geralmente em solos argilosos de baixadas muito

úmidas (Vertissolos).

Considerando que a diferenciação dos sítios já traz a indicação da natureza do

substrato (cristalino ou sedimentar), influência da ação antrópica, efeito da altitude e aspecto

geral dos solos e que, algumas nomenclaturas discutidas acima refletem a natureza do

substrato (rupestre, hidrófila), podemos traçar uma proposta de nomenclatura para grupos de

estados do semiárido brasileiro (Fig. 67).

A determinação dos limites dos estados teve como referência os limites dos sítios, de

acordo com a proposta de Isachenko (2007) e foi realizada a partir de dois planos de

informação, a saber: imagens Google Earth e os sítios. Os passos de obtenção dos estados

podem ser sumarizados no esquema da Figura 68 e são descritos a seguir. As letras entre

parênteses constituem um indexador do grupo de estados, estas letras são precedidas de uma

maiúscula indicando o domínio florístico, a saber: Caatingas ‘T’, Cerrado ‘S’, Mata Atlântica

‘M’ e ‘A’, para área com espécies introduzidas pela sociedade.

Em caso de as observações revelarem uma composição florística mista, esta era

indicada por ‘m’. Por exemplo, um estado rupestre pedimentar (Rp) com elementos florísticos

mistos, típicos das Caatingas (T) e de Cerrado (S) é representado por TSm/Rp. Enquanto uma

Caatinga rupestre pedimentar é representada por T/Rp.

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163

Figura 67. Proposta de Nomenclatura para Grupos Estados.

Grupos de Estados Descrição

Su

bst

rato

Cri

sta

lin

o

ou

Sed

imen

tar

Florestal

Aberto

(Fa)

Indivíduos lenhosos (árvores e arbustos) e sem interditgitação dos dosséis,

sendo possível ver o solo a partir de imagens áreas ou orbitais

Florestal

Fechado

(Ff)

Indivíduos lenhosos (árvores e arbustos) com interditgitação dos dosséis,

não sendo possível ver o solo a partir de imagens áreas ou orbitais

Gramíneo-

Lenhosa

(Fgl)

Área com predomínio de gramíneas com indivíduos lenhosos esparsos

Su

bst

rato

Ro

cho

so Rupestre

(Rp)

Indivíduos agrupados sobre pedimentos rochosos

Am

bie

nte

Híd

rico

Hidrófila

(H)

Formações aquáticas ou ripárias

Fonte: o autor.

Figura 68. Fluxograma para Determinação dos Estados.

Fonte: o autor.

Os estados são obtidos principalmente pela interpretação de imagens orbitais de alta

resolução e pelo mapa de solos. As classes de solos para cada sítio podem ser obtidas de um

mapa temático de solos e seus limites podem ser redesenhados e inferidos com base nos

limites dos sítios. A base para a interpretação dos estados vegetacionais foi o mapa de

cobertura e uso do solo do Parque Nacional do Catimbau, elaborado por Guerra (2004).

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164

2.2 Cartografia de Geossistemas e Descrições Físico-Geográficas

A carta de geossistemas representa um modelo conceitual da estrutura da paisagem

(SOCHAVA, 1978). A cartografia de geossistemas locais baseia-se preferencialmente em

descrições físico-geográficas realizadas em campo. A carta de geossistemas é elaborada ao

longo de cinco etapas, a saber: Escolha da área e nível de detalhamento; Descrição Físico-

Geográfica completa; Descrição Físico-Geográfica simples, Elaboração de Tipologia de Sítios

e Estados; Confecção da Carta. As características gerais destas etapas são sumarizadas na

figura 69.

Figura 19. Etapas da Cartografia de Geossistemas.

Etapa Subetapas Equipamentos necessários

Escolha da área e do nível de

detalhamento

Seleção da área de estudo;

Definição do tamanho da

amostra;

Reunião de material de

referência (imagens de satélite

de alta resolução, fotografias

aéreas, cartas topográficas,

dados temáticos).

Imagens aéreas e/ou orbitais,

cartas topográficas, SIG.

Descrições Físico-

Geográficas completas

Seleção das áreas de controle;

Elaboração de um roteiro de

campo;

Visita a campo;

Plotagem de pontos sobre uma

carta de referência.

Caneta/lápis, caderneta de

campo, receptor GPS, bússola,

altímetro, trena (30m), pá,

enxada e/ou trado, carta de

cores de Munsell (para solos),

máquina fotográfica, fotocópias

do roteiro de campo.

Descrições Físico-

Geográficas simples

Cobertura das áreas não

visitadas;

Plotagem de pontos sobre uma

carta de referência;

Cobertura final das áreas não

visitadas (se necessário);

Idem acima.

Elaboração da tipologia de

sítios e estados

Tabulação dos dados em

computador;

Construção da legenda do mapa

(quadro de correlação).

Programa para trabalhar em

planilhas.

Confecção da carta de

geossistemas

Plotagem dos pontos sobre

imagens de satélite, fotografias

aéreas e/ou curvas de nível

Sistema de Informações

Geográficas

Fonte: o autor.

Uma etapa fundamental da cartografia de geossistemas é a descrição físico-geográfica,

que consiste na observação e registro de atributos físico-geográficos da paisagem, no campo.

Envolve a descrição das formas do relevo, drenagem, litotipo, solos, vegetação, uso da terra,

além de outras informações que sejam relevantes para caracterização de alguma área. Em

geral, as observações são realizadas em parcelas de 30xm30m (ISACHENKO, 1998;

ZUCHKOVA; RAKOVSKAIA, 2004; EGOROV, 2008).

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165

A descrição físico-geográfica pode ser de dois tipos: completa ou simples. Qualquer

atividade de cartografia de geossistemas inicia-se com a elaboração de descrições completas,

que resultam de observações mais detalhadas, com controle seletivo dos locais observados, de

modo a se obter um reconhecimento da maior diversidade possível de paisagens da área que

está sendo mapeada. Este tipo de descrição serve de referência para o estabelecimento de uma

tipologia de sítios e estados.

Já as descrições simples são realizadas com o objetivo de adensar a malha de

observações e auxiliar na construção da carta de geossistemas, sendo elaborada de modo a

cobrir as regiões ainda não mapeadas e detectar as variações nos tipos de sítios e estados já

identificados. Figura 70 apresenta um resumo dos atributos que fazem parte de uma descrição

físico-geográfica.

Figura 70. Critérios para Descrição Físico-Geográfica.

Critérios Atributos

Cabeçalho Coordenadas geográficas; Datum; Data; Número da descrição.

Relevo Altitude, declividade, orientação do relevo, curvatura e

processos superficiais atuais (erosão laminar, erosão linear,

etc.) e pretéritos (ex.: queda de blocos).

Drenagem Condição de Drenagem; Modo de migração geoquímica.

Litotipo/Solo Camadas sedimentares e horizontes pedogenéticos, indicando

sua espessura, cor, textura, estrutura e presença de mosqueado,

cascalho e raízes. Também indicando o tipo de rocha.

Cobertura da terra Cobertura biofísica do terreno, sendo o mais específico quanto

possível. No caso de um ambiente florestal, por exemplo: é

preciso indicar a quantidade de estratos, sua altura, cobertura e

as espécies/gêneros dominantes e suas formas de crescimento.

Uso da terra Inclui registro das evidências de uso da terra (agricultura,

pecuária, etc.)

Fonte: o autor.

Neste trabalho, as descrições de campo foram utilizadas para validar e auxiliar as

interpretações das informações obtidas por meio do geoprocessamento. Sendo assim, as áreas

amostrais escolhidas basearam-se em critérios logísticos (principalmente acessibilidade e

infraestrutura) e em contrastes paisagísticos gerais (contato cristalino-sedimentar, transição

dos patamares estruturais para os glacis da borda da bacia sedimentar, variações litológicas e

abruptas de relevo, condições climáticas distintas).

Além disso, foi confeccionada uma carta de detalhe (1:10.000) na região do Sítio

Arqueológico Alcobaça, tendo como objetivo detalhar uma tipologia de sítios e estados para

os ambientes arenosos do semiárido brasileiro. A Fig. 71 e o mapa da Fig. 72 sumarizam as

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166

condições gerais de escolha das áreas amostrais e as características e distribuição das 13257

descrições realizadas.

Figura 20. Características das Descrições Físico-Geográficas Realizadas.

Local Motivo da

Escolha

Data Duração

(dias)

Descrições Equidistância

dos pontos

Sítio Arqueológico

Alcobaça/Brejo de São José

Detalhamento

da Tipologia

11/2010 5 52 50m

Fazenda Brejo de São José Transição da

borda da

Bacia

08/2011 5 25 1000m

Lagoa do Puiú-Cumbe Variações

litológicas

05/2012 2 12 1000m

Serra do Catimbau Área com

Caatingas

Subúmidas

07/2012 5 26 500m

Xilili Contato

cristalino-

sedimentar

01/2013 1 14 500m

Fonte: o autor.

Foram utilizados os seguintes instrumentos auxiliares: receptor GPS (com altímetro

barométrico e bússola), caderno, caneta, câmera fotográfica, pá (de preferência de corte com

ponta redonda, também chamada “pá cortadeira de bico”), faca e/ou canivete (para o solo),

Carta de Munsell, pulverizador, trena e/ou fita métrica. Neste trabalho também foi necessário

carregar uma cópia da autorização58

do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMbio),

responsável pela administração do Parque.

2.2.1 Processamento dos dados

O processamento dos dados foi realizado a partir da construção de quadros de

correlação com as informações obtidas em campo. Tal ferramenta consiste na elaboração de

um quadro onde são dispostos, e assim correlacionados, os diversos elementos ambientais no

modo como eles foram observados na paisagem. Trata-se de uma técnica lógica de síntese

ambiental, que substitui a simples sobreposição de mapas, considerada subjetiva

(MARTINELLI, 2011).

57

Foram utilizadas 3 parcelas descritas no trabalho de Fonseca (2012). 58

Autorização Nº 23250-1, de 24/08/2010.

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167

Neste trabalho adotou-se o modelo de quadros de correlação desenvolvido por

Isachenko & Reznikov (1996), baseado em duas variáveis: sítios e estados. Um sítio

corresponde a uma unidade geomorfológica, isto é, uma forma de relevo que apresenta as

mesmas características do substrato (litotipo) e um mesmo regime hídrico subsuperficial.

Um estado compreende uma fase de mudança da paisagem, podendo-se identificar

estados de curto prazo (intra-anuais), médio (interanuais) e longo prazo (interanuais

Fig

ura

72.

Dis

trib

uiç

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escr

ições

Fís

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fica

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zadas

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Fonte

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168

superiores a uma década). No caso de estudo de campo com fins de mapeamento, observam-

se os estados de longo prazo, que são aqueles de ordem pedológica (tipos de solos) e de

ordem biocenótica (comunidades vegetais). Na proposta de Isachenko e Reznikov (1996), os

estados vegetacionais e pedológicos são ordenados de acordo com o tipo de sítio em que

ocorrem, sendo possível distinguir duas etapas para sua construção:

1. Elaboração de uma matriz inicial com os dados observados em campo (Fig. 73), onde

cada coluna corresponde a um atributo observado (ponto de descrição, sítio, estados

pedológicos e estados vegetacionais) e as linhas correspondem às variações dos

atributos em cada local observado.

Figura 73. Matriz Hipotética de Dados Ambientais Observados no Campo.

Fonte: o autor.

2. Em seguida, a matriz é rearranjada, organizando a vegetação por tipo de solo e os

solos por tipo de sítio (Fig. 74). O princípio que rege esse tipo de correlação é o

mesmo que rege a ecodinâmica de Tricart (1977), a saber: as transformações

pedológicas e a sucessão vegetacional só podem ocorrer quando há estabilidade

geomorfológica (ou uma instabilidade moderada). Logo, um sítio (unidade

geomorfológica) é a unidade de referência sobre a qual se distribuem os estados

pedogênicos e vegetacionais. O geossistema é, deste modo, um sítio e seus estados.

Figura 74. Quadro de Correlação dos Dados Ambientais para determinação dos Geossistemas.

Local da descrição Sítios Estados de Longo Prazo Geossistemas

(G) Solos Vegetação

1, 3, 5 r1

s1 v1 G1

v2 G2

s2 v3 G3

2, 4 r2 s1 v1 G4

v2 G5

Fonte: o autor.

O quadro de correlação funciona como a legenda do mapa de geossistemas, que é

elaborada a partir da plotagem dos pontos observados sobre dados auxiliares (curvas de nível,

imagens de satélite de alta resolução, dados temáticos, etc.), a partir dos quais se elabora o

contorno dos geossistemas. Contudo, uma vez que este trabalho busca a identificação dos

Local da descrição Sítios (r) Solos (s) Vegetação (v)

1 r1 s1 v1

2 r1 s2 v3

3 r1 s1 v2

4 r1 s2 v3

5 r2 s1 v2

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169

limites naturais por meio de geoprocessamento, as descrições físico-geográficas foram

utilizadas para validar as unidades inferidas em SIG.

3 Resultados e Discussão

A observação da estrutura das paisagens no campo trouxe importantes considerações

sobre sua diversidade e que não foram possíveis inferir por meio de geoprocessamento, deste

modo, algumas unidades dos mapas de sítio e estados foram reajustadas conforme a realidade

observada em campo (ver Apêndice A).

3.1 Perfil Puiú-Cumbe

Na planície do Riacho do Pioré, cuja drenagem é controlada pelo Graben do Puiú,

uma série de litótipos intercalados (Fm. Inajá, Sergí e Tacaratú) aparecem no mapa geológico.

Nesta região, descrevemos 13 pontos com equidistância média de 1 km, no intervalo

altimétrico de 437m a 572m. As observações foram realizadas em maio de 2012. A paisagem

da região é margeada pelos patamares estruturais do Horst do Quiridalho (localmente

denominada Serra do Quiridalho), apresentando duas lagoas (Puiú e Maria Preta) e uma

sequência de depósitos coluviais em rampas na base dos patamares.

Os solos são predominantemente arenosos e pouco desenvolvidos (Neossolos

Quartzarênicos). Contudo, nas proximidades e nas áreas das duas lagoas encontram-se

Vertissolos. Na região dos patamares estruturais, encontram-se escalonados Neossolos

Litólicos e Quartzarênicos.

A vegetação da área é tipicamente arbustiva, dominada por Poincianella e Jatropha,

sempre com Mimosa, Croton e Pilosocereus, não raras vezes com Ziziphus e Cnidoscolus

(principalmente quercifolius). Nas proximidades da localidade do Cumbe, foram identificados

pavimentos detríticos com Pilosocereus gounelei.

O uso da terra exerce uma influência significativa na distribuição da vegetação. Nas

proximidades das lagoas, é muito frequente a ocorrência das exóticas Prosopis e Parkinsonia,

principalmente a primeira. Ainda às margens do ambiente lacustre destaca-se a ocorrência de

Ipomoea, Nicotiana e Tarenaya.

3.2 Perfil Xilili

Nas áreas de rocha cristalina, no setor NE do Parque, foram observados 14 pontos ao

longo de 7km, em altitudes no intervalo de 560m a 630m, próximos à localidade do Xilili,

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170

objetivando a constituição de uma seção-tipo representativa (Fig. 75). As observações foram

realizadas no mês de janeiro de 2013.

Figura 75. Seção Esquemática da Paisagem no Perfil Xilili.

1.Pedimento Rochoso no Cristalino (Ps/p); 2.Pedimento com estagnação sazonal de água (Ls/p); 3.

Glacis Arenoso Conservado (Pf/c); 4. Inselbergue baixo em Serpentinito (M); 5.Poincianella;

6.Mimosa; 7.Maytenus; 8.Ipomoea; 9.Commiphora; 10.Ziziphus; 11.Tacinga; 12.Aspidosperma;

13.Schinopsis; 14.Croton; 15.Jatropha; 16.Prosopis; 17.Pilosocereus (pachycladus e/ou gounellei);

18.Pilosocereus (tuberculatus); 19.Cnidoscolus (cf. quercifolius); 20.Cnidoscolus (cf. pubescens).

Fonte: o autor.

No Perfil Xilili a paisagem desenvolve-se sobre um pedimento estruturado em rochas

metamórficas ocasionalmente inumadas por um manto arenoso, às vezes raso (havendo

migração da argila do cristalino por capilaridade) às vezes profundo, evidenciando a base

dissecada de algum antigo morro testemunho (Fig. 76).

Neste contexto, desenvolvem-se solos rasos sobre camadas alteradas de rocha ou sobre

algum material transportado, geralmente com clastos de tamanhos variados, compondo

pavimentos detríticos que ocasionalmente estão intercalados com afloramentos rochosos

(Neossolos Litólicos) e dificilmente guardam um horizonte A. Muitas vezes o solo reflete a

planura do relevo e seu efeito sobre a estagnação da água, resulta na formação de um

horizonte B bastante argiloso de cor reduzida (B plânico). Onde a cobertura arenosa é rasa, a

argila do horizonte B plânico migra por capilaridade e é percebida na camada arenosa

superior. Onde a cobertura arenosa é mais profunda, o efeito da migração da argila não é

percebido (Neossolos Quartzarênicos) e, no caso observado, estes solos são acompanhados

pela presença de elementos florísticos peculiares aos solos arenosos (ver a seguir).

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171

Figura 76. Paisagem no Xilili.

(A) Pavimento detrítico (Ps/g) com Caatinga Rupestre Pedimentar (T/Rp); (B) Pedimento (Ls/p) com

Formações Gramíneo-Lenhosas (TAm/Fgl1); (C) Ortognaisse; (D) Planícies Arenosas Conservadas

(Glacis – Pf/c) com Caatinga em regeneração (TAm/Fgl2); (E) Pedimento Rochoso (Ps/r) com

Caatinga Rupestre (T/Rp); (F) Planossolo. Fonte: o autor.

A vegetação é de baixo porte, geralmente com indivíduos de Poincianella,

Cnidoscolus, Mimosa e Aspidosperma com 3m a 4m compondo o dossel aberto e elementos

arbóreos emergentes de Schinopsis e secundariamente Commiphora. Esta vegetação recobre

um pedimento desenvolvido por vezes dissecado.

Destaca-se o contraste na ocorrência de duas espécies do gênero Cnidoscolus, a saber:

C. quercifolius e C. pubescens (Fig. 77), estando a primeira distribuída ao longo de todo o

perfil, com exceção da área onde ocorrem Neossolos Quartzarênicos (RQ), que é justamente

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172

onde ocorrem e dominam indivíduos da espécie C. pubescens, o que permite aventar uma

hipótese acerca da relação entre a distribuição destas espécies em função do conteúdo de

argila no solo. Uma relação similar foi encontrada para Pilosocereus tuberculatus, só

registrado na área dos RQ.

Figura 21. Diferentes Espécies de Cnidoscolus que Ocorrem em Substratos Distintos.

Fonte: o autor.

3.3 Brejo de São José e Sítio Arqueológico Alcobaça

As paisagens da borda leste do Parque Nacional do Catimbau são das mais

exuberantes do ponto de vista cênico. A paisagem marcada por glacis arenosos cuja

distribuição é interrompida por morros testemunhos, numa faixa altitudinal entre 670 e 810m,

caracteriza um conjunto de rara dramaticidade (Fig. 78).

O mapa de geossistemas do sítio

Nesta região, as principais variações paisagísticas se dão ao longo de pelo menos dois

tipos de transição, uma mais abrupta, assinalada pela sequencia que se desenvolve a partir das

escarpas (algumas vezes com alcovas), marcadas por um tálus, colúvios diversos e por fim,

glacis arenosos (Fig. 79). Os solos acompanham a distribuição do relevo, as escarpas

marcando a ausência de solos, enquanto o tálus apresenta solos rasos e rochosos (Neossolos

Litólicos), passando a solos arenosos profundos com grande conteúdo de clastos (Neossolos

Quartzarênicos Órticos Fragmentários) a até solos arenosos e profundos com ausência de

clastos (Neossolos Quartzarênicos Órticos Típicos).

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173

Figura 78. Paisagem do Brejo de São José.

Acima: Glacis Arenoso (Pf) e ao fundo Patamares Estruturais (Ct/p) e Escarpamentos (Ct/f). Abaixo:

Glacis Arenoso Conservado com Caatinga Gramíneo-Lenhosa (Pf/c – TAm/Fgl) e Neossolos

Quartzarênico (à esq.) Fonte: Daniel R. Lira, 2011.

Um destaque é o Sítio Pingadeira localizado num estreito corredor na base da escarpa.

A área apresenta um olho d’água que confere um caráter hidromórfico aos solos arenosos

(Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos). Além disso, este setor é marcado pela presença

extensiva de espécies pouco comuns ao domínio florístico do semiárido brasileiro, como

Cecropia sp. E Attalea sp., bem como a presença da hidrófila Typha sp..

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174

Figura 22. Transição Abrupta entre Conjuntos Paisagísticos.

A – Escarpa (Ct/f); B – Alcova (Ct/a); C – Tálus (Ct/t). Fonte: o autor.

De modo geral, a vegetação tende a apresentar uma fisionomia florestal fechada nas

proximidades das escarpas e sobre o tálus, tornando-se mais aberta à medida em que se

distancia dessas morfologias. Com exceção da unidade descrita acima, a composição florística

é típica de caatingas arenosas da região, com ocorrência de Cnidoscolus pubescens e

Pilosocereus tuberculatus (Caxacubrí), esta última que é uma entre 10 espécies de cactáceas

encontradas no local (P. gounellei, P. pachycladus; Tacinga inamoema; T. palmadora;

Rhipsalis sp.; Melocactus sp.; Harrisia adscendens; Cereus jamacaru e C. albicaules).

Outras espécies comuns são Poincianella pyramidalis (Catingueira); Ziziphus joazeiro

(Juazeiro), Sideroxylon obtusifolium (Quixabeira) e Commiphora leptophloeos (Imburana).

Outro destaque é Pityrocarpa, que ocorreu apenas sobre o tálus ou em patamares acima dos

700m.

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175

Por outro modo, os patamares estruturais podem ocorrer de forma menos abrupta,

caracterizando feições de maior grau de dissecação, apresentando sequencias ora recobertas

por depósitos superficiais incoesos, ora desnudas (Fig. 80). As porções recobertas geralmente

são marcadas por uma mudança gradativa da granulometria dos materiais, indo dos

pavimentos detríticos nos setores proximais, a seções psamíticas ou psamo-pelíticas sobre os

distais.

Figura 80. Transição Suave de Conjuntos Paisagísticos.

A – Pavimento Detrítico (Pt/g); B – Patamar Inumado (Pt/c); C – Patamar Exumado (Pt/r); D – Glacis

Arenoso Conservado (Pf/c). Fonte: o autor.

Nas seções de pavimentos detríticos, o substrato alterado é por vezes argiloso, muitas

vezes dando origem a Argissolos Amarelos. O material carreado encosta abaixo compõe solos

arenosos que, ocasionalmente apresentam um maior grau de desenvolvimento elevado

(Latossolos). Contudo, o predomínio é de Neossolos Quartzarênicos e/ou Litólicos.

A vegetação é marcada pelos mesmos elementos comuns descritos acima. Os gráficos

de distribuição das espécies dominantes por parcela foram agrupados conforme o grau de

detalhamento da amostragem, para o Brejo de São José (1:50.000) e para o Sítio

Arqueológico Alcobaça (1:10.000) (Fig. 81), mostrando uma dominância de Ziziphus.

O mapa de geossistemas do Sítio Arqueológico Alcobaça (Fig. 82), na escala

1:10.000, retrata os principais contrastes paisagísticos locais, permitindo um conhecimento

mais detalhado da estrutura morfológica da paisagem e contradizendo qualquer ideia de que a

abordagem geossistêmica não se aplica a áreas de pequenas dimensões.

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178

3.4 Serra do Catimbau

Nas porções elevadas da borda da Bacia do Jatobá, em altitudes superiores à cota de

890m, foram observados 27 pontos numa área de aproximadamente 13,5km, na localidade da

Serra do Catimbau, que auxiliaram na composição de uma seção-tipo representativa. As

observações foram realizadas no mês de julho de 2012 (Fig. 83).

Figura 83. Paisagem da Serra do Catimbau.

A: Pavimento Rochoso (Pt/r); B: Arenito cinza, friável; C: Feições de dissolução no Arenito; D:

Assembleia de Colunas Areníticas (Pt/a); E: Pavimento Rochoso em degraus controlados por

estruturas NNE (Pt/r); F: Solo desenvolvido a partir de alteração do arenito. Fonte: o autor.

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179

O Perfil Serra do Catimbau caracteriza uma paisagem de cimeira plana fortemente

delimitada por escarpas com desníveis que algumas vezes superam os 200m, e geralmente são

sucedidos por diversos níveis escalonados de patamares estruturais ora desnudos, ora com

cobertura elúvio-coluvial arenosa.

A superfície é extensivamente dominada por um arenito cinza a creme, friável, similar

à Fácies B do Arenito Tacaratú, como descrita por Carvalho (2010). A superfície plana da

cimeira facilita a drenagem vertical, dando origem a solos bastante profundos e desenvolvidos

(Latossolos), enquanto nas escarpas, ora escalonadas, a cobertura arenosa não raras vezes é

bastante delgada e parece permanecer pouco tempo na paisagem (Neossolos Litólicos), outras

vezes é profunda, mas sem grande desenvolvimento pedogenético (Neossolos

Quartzarênicos). Em alguns pontos, encontram-se coberturas detríticas sobre um pavimento

argiloso, aparentemente rochas intemperizadas com textura mais pesada.

A vegetação diverge completamente do que foi observado até então, apresentando

inclusive espécies incomuns como Jacaranda rugosa, que até hoje só foi registrada nessa

localidade e Paralychnophora reflexoauriculata comum aos campos rupestres da Chapada

Diamantina. Além disso, os elementos dominantes destoam grandemente do resto dos pontos

observados, destacando-se Gochnatia, Guapira e Pityrocarpa (Fig. 84).

Figura 84. Faixa Paisagística Altitudinal da Porção SE do Parque Nacional do Catimbau.

Fonte: o autor.

Neste momento, podemos retomar as discussões do capítulo anterior, em que se

verificou um regime intra-anual distinto para esta região em termos de pigmentação foliar, de

pluviosidade e de temperatura, em função da altitude e do desnível topográfico. Aqui temos

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solos e plantas diferentes, raras e até únicas. Nas cimeiras planas dominam Gochnatia,

Guapira e Pityrocarpa, enquanto sobre os patamares rochosos prevalecem comunidades de

campos rupestres, com pelo menos duas espécies de Clusia, uma de Paralychnophora e uma

diversidade particular de Bromeliaceae e Orchidaceae. Nos pavimentos detríticos registrou-se

ocorrência de Campomanesia e Eugenia, mas sempre com Gochnatia. Outro elemento

importante que pode auxiliar na distinção da faixa paisagística altitudinal é a ocorrência de

espécies do gênero Tacinga (popularmente conhecidas como quipá e palmatória), típicas de

ambientes semiáridos, só ocorrem abaixo dos 900m.

Estas características paisagísticas são suficientes para confirmar a paisagem de

Caatingas Subúmidas em Patamares Estruturais do capítulo anterior, cuja estrutura

morfológica é composta por feições de Cimeira Plana com Caatingas Subúmidas, Pavimentos

Detríticos com Caatingas Subúmidas e Pavimentos Rochosos com Campos Rupestres.

3.6 Carta de Geossistemas

Unindo os resultados das descrições de campo à inferência por geoprocessamento,

foram identificados 25 grupos de sítios paisagísticos (Fig. 85), determinados pelas

peculiaridades do relevo, drenagem, geoquímica, substrato, gênese dos sítios e rocha matriz

(Ver Apêndice B). Associados aos limites dos 7 grupos de estados (Fig. 86) permitiram inferir

61 diferentes grupos de geossistemas locais (Fig. 87).

Do ponto de vista puramente metodológico, a identificação de mais de uma centena de

áreas naturais de dimensões locais, baseada em princípios estabelecidos pela teoria dos

geossistemas, é contrária à ideia errônea de muitos geógrafos brasileiros sobre a referida

teoria, para os quais a ideia de geossistemas associa-se à escalas de trabalho pequenas. Deste

modo, fica claro que tais geógrafos encaram o conceito de geossistema como parte de um

simples procedimento descritivo das paisagens, sem considerar seus princípios e conceitos

norteadores, a exemplo das noções de sítios e estados.

Ainda no tocante a questões de metodologia, cabe ressaltar, que a melhor aproximação

sobre a compartimentação ambiental do Parque, realizada por Silva et al. (2001), apresenta

apenas 7 unidades geoambientais (Fig.88), que se aproximam muito mais do mapa de sítios

do que do mapa de geossistemas, com 61 diferentes tipos identificados. Deste modo, percebe-

se que o modelo das unidades geoambientais reflete muito mais as características físicas dos

complexos naturais do que realmente um quadro integrado da paisagem.

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Além dos aspectos puramente metodológicos, os mapas inferidos por

geoprocessamento, com auxílio das informações de campo, trouxeram informações

importantes sobre o Parque. Neste sentido, é preciso destacar que em relação à distribuição

Fonte

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184

dos estados, há uma tendência de mudança em função da sucessão florestal, sobretudo nas

áreas de formação gramíneo-lenhosas, sobretudo porque sua origem está associada ao

desmatamento para uso da terra e que, a partir da consolidação da Unidade de Conservação

passarão a assumir outros padrões (ex.: caatinga florestal). Além disso, uma simples

observação do mapa de geossistemas permite destacar as porções E e SE do Parque como

aquelas que apresentam maior heterogeneidade ambiental, principalmente quando comparadas

à porção central da Unidade de Conservação.

Figura 88. Unidades Geoambientais (acima) e Grupos de Geocomplexos (abaixo).

Fonte: Silva et al., 2001; o autor.

Os 61 tipos de geossistemas identificados dão uma ideia do conjunto paisagístico local

do Parque e somam-se às informações já levantadas nos capítulos anteriores para nos dar uma

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compreensão maior da organização das áreas naturais da referida Unidade de Conservação.

Porém, os dados obtidos por geoprocessamento não nos oferecem uma visão clara sobre a

hierarquia das unidades, uma vez que o mapa de geossistemas não necessariamente inclui

unicamente fácies físico-geográficas, sobretudo em função da baixa densidade espacial da

maior parte do Parque.

4 Conclusões

Este capítulo apresentou uma modelagem cartográfica das paisagens do Parque

Nacional do Catimbau, realizada semi-qualitativamente por meio de inferências mediadas

pelo geoprocessamento e consubstanciadas por dados de campo. Os resultados apresentaram-

se bastante satisfatórios no que tange a promoção de um detalhamento inédito dos

compartimentos ambientais da Unidade de Conservação, com a identificação de 61

geossistemas determinados a partir da correlação espacial entre 25 grupos de sítios

paisagísticos e 7 grupos de estados.

Uma correlação com o mapa de unidades geoambientais do ZAPE revelou um avanço

em termos de reconhecimento da diversidade paisagística do Parque Nacional do Catimbau,

que até o momento da finalização deste trabalho, não possuía plano de manejo. Além disso,

foram propostas tipologias inéditas para classificação de sítios e, principalmente, de estados,

de uma forma ajustada à realidade paisagística do semiárido brasileiro. Os avanços obtidos

contribuem para a consolidação e validação empírica da metodologia adotada, que se mostrou

bastante satisfatória, por sua abrangência e caráter tipológico, para distinção de geossistemas

em escala local.

Muito ainda há para ser feito no sentido de ampliar o conhecimento da estrutura da

paisagem do Parque Nacional do Catimbau. Além disso, muito pouco foi dito em relação à

dinâmica e evolução das paisagens, bem como de sua organização hierárquica, sobretudo pelo

fato da metodologia adotada se tratar de uma abordagem essencialmente tipológica. Assim,

reconhecemos que este trabalho não esgota o conhecimento sobre os geossistemas na área de

estudo, pelo contrário, constitui apenas uma primeira aproximação.

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186

Considerações Finais

Esta tese abordou o conceito de Sínteses Naturalistas como objeto único,

historicamente construído e epistemologicamente distinto, abrangendo qualquer atividade

racionalmente mediada, baseada na diferenciação de áreas pelo critério das relações entre os

componentes da natureza. Este tipo de atividade tem no conceito de áreas naturais sua

categoria fundamental. Deste modo, as Sínteses Naturalistas caracterizam-se por apresentar

concepções de abrangência, noções de escala e organização hierárquica e abordagens de

identificação e classificação comuns. Além disso, e, sobretudo, as distintas abordagens de

síntese naturalista variam em termos de compreensão e terminologia utilizada para se referir a

seus caracteres comuns.

Com base numa pesquisa sobre as origens da ideia de área natural, identificamos sua

raiz na concepção de zona natural e na atividade de descrição de áreas, desenvolvidas como

parte da geografia. Contudo, só a partir do século 18 as Sínteses Naturalistas encontram-se

completamente construídas, passando, no final do século 19, a ser objeto de interesse da

ecologia e das ciências agrárias, com finalidades diversas. Hoje, até as engenharias fazem uso

desta atividade.

A aplicação da teoria dos sistemas ao modelo russo-soviético de Síntese Naturalista

resultou numa revolução epistemológica para esta atividade, que passa a ser vista além

daquilo a que se propunha. A teoria dos geossistemas abrange as sínteses naturalistas, mas

não se limita a elas. Fundamenta-se no conceito de áreas naturais, mas pela abordagem

sistêmica, expande o conceito a uma compreensão do funcionamento e evolução destas áreas.

Deste modo, a teoria dos geossistemas, consiste numa ampliação e integração de

horizontes cognitivos sobre as sínteses naturalistas. Neste sentido, a sua principal contribuição

baseia-se na integração de perspectivas (estruturais, dinâmicas e evolutivas), que resultam na

agregação de informações (físicas, biológicas e humanas) para compreensão das áreas

naturais (ou geossistemas).

Do ponto de vista epistemológico, a referida teoria suporta um direcionamento

específico e autônomo, mas não independente, em relação aos outros ramos da ciência

geográfica, a saber: a Geografia Física Integrada, que se baseia em três linhas de estudo:

estrutural, dinâmica e evolutiva. Do ponto de vista das sínteses naturalistas (que se enquadram

na análise estrutural), a teoria dos geossistemas, sobretudo através da ideia de invariantes e

variáveis de estado, suporta uma análise integrada da estrutura da paisagem em nível local,

diferente daquilo que é lugar comum na geografia brasileira.

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187

Em função de a epígrafe ‘geossistema’ ter sido introduzida no Brasil por um artigo de

Georges Bertrand e, numa perspectiva distinta de sua proposição original, por Sochava, o

termo tem sido mal interpretado por geógrafos brasileiros que, sequer reconhecem a mudança

de perspectiva do próprio Bertrand, que abdicou de sua antiga proposta em favor daquela de

Sochava. Além disso, pela natureza de sua organização institucional, a geografia brasileira

configura atualmente uma situação que não favorece o desenvolvimento da teoria dos

geossistemas no país, carecendo de um novo rumo epistemológico-curricular em termos de

incorporação da teoria dos geossistemas e estudo da estrutura, dinâmica e evolução das

paisagens, como componente curricular distinto, ainda que complementar, da geomorfologia e

da biogeografia, por exemplo.

Compreendendo que a utilização de elementos geológico-geomorfológicos e

bioclimáticos permite uma distinção de condicionantes mesorregionais sobre as áreas naturais

(geossistemas), que podem ser detalhados a partir da investigação de seus principais

contrastes com base no uso de outras ferramentas como a modelagem numérica do terreno e

observações de campo, observamos o caso do Parque Nacional do Catimbau. Neste sentido,

identificamos um condicionamento morfoestrutural das precipitações na borda SE do Parque,

bem como uma forte influência da pluviosidade na fenologia das plantas.

A modelagem cartográfica da referida Unidade de Conservação, associada a

descrições de campo e interpretações dos dados morfoestruturais e bioclimáticos, resultaram

na determinação de 61 geossistemas locais. Neste sentido, a abordagem geossistêmica, nos

termos da proposta russo-soviética, mostrou-se de grande relevância para detalhar

grandemente os contrastes paisagísticos locais, contradizendo muito do que parece

firmemente consolidado na literatura geográfica nacional. Em âmbito geral, esta tese inova

pela discussão a respeito sobre as sínteses naturalistas como um produto único, abrindo uma

porta para o desenvolvimento do estudo de geossistemas como componente curricular no

Brasil.

Do ponto de vista prático, apresentamos uma taxonomia dos geossistemas para o

Parque Nacional do Catimbau, unidade de conservação de extrema importância e que sequer

possui plano de manejo. Contudo, pouco se falou sobre os estudos da dinâmica e evolução

dos geossistemas, sobretudo porque estes direcionamentos ainda carecem de exemplos no

cenário nacional e regional. É, pois, uma oportunidade para consolidação de perspectivas e

desenvolvimento de atividades posteriores (agendas de pesquisa), cujo conteúdo está além

deste trabalho.

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188

Por fim, espera-se que este trabalho sirva como auxílio para aqueles que desejem fugir

de perspectivas menos assertivas e que têm pouco a dizer sobre a teoria dos geossistemas. De

outro modo, espera-se contribuir para o desenvolvimento de uma perspectiva colaborativa, no

sentido de promover estudos integrados da natureza sob a ótica do geógrafo. Apesar de este

trabalho enfocar o aspecto estrutural da teoria dos geossistemas, a partir do conceito de síntese

naturalista, ele nem de longe esgota os elementos da referida teoria, sobretudo em relação aos

seus aspectos dinâmicos e evolutivos, enfim, ainda há um longo caminho a ser percorrido pela

geografia brasileira.

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1

Apêndice A – Descrições de Campo

PARCELA LAT LONG ALT SITIO SOLO FITOFISIONOMIA ESPÉCIES DOMINANTES

BSJ1 9059257 695773 700 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Commiphora-Spondias-Poincianella-Croton

BSJ2 9059006 695474 716 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Pityrocarpa-Pilosocereus

BSJ3 9058852 696060 702 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Croton-Schinopsis-Chloroleucon-Varronia

BSJ4 9058735 696720 685 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f RLdf/RQol Arbórea Aberta Schinopsis-Dalbergia-Mimosa-Commiphora

BSJ5 9058352 697487 670 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Jatropha-Lippia-Jacaranda (Cf.)-Poincianella

BSJ6 9057668 696521 673 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea Aberta Commiphora-Schinopsis-Cnidoscolus-Aspidosperma

BSJ7 9057587 696974 680 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea Aberta Syderoxilon-Schinospsis-Prosopis

BSJ8 9056600 696791 687 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea Aberta Ziziphus-Prosopis-Senna

BSJ9 9056036 697124 704 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Arbórea Fechada Pityrocarpa-Ziziphus-Senegalia-Simaba

BSJ10 9053943 696860 764 Tálus com Hidromorfismo na base – Ct/h RQof Arbórea Fechada Attalea-Pipper-Senegalia (Cf.)-Gallesia (Cf.)

BSJ11 9054669 696581 743 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea Fechada Ziziphus-Syderoxilon-Hymenaea-Parapiptadenia

BSJ12 9054627 696035 755 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot/RLdf Arbórea Fechada Hymenaea-Tabebuia-Senegalia (Cf.)-Ziziphus

BSJ13 9054914 695179 729 Tálus – Ct/t RQof/RLdt Arbórea Aberta Ziziphus-Syderoxilon-Maytenus-Chloroleucon

BSJ14 9055207 695409 718 Glacis de Acumulação RQot Gramíneo-Lenhosa Pavonia-Malva-Prosopis-Pilosocereus

BSJ15 9055324 695907 708 Glacis de Acumulação RQot Gramíneo-Lenhosa Prosopis-Ziziphus-Pavonia-Pennisetum

BSJ16 9055724 695818 704 Glacis de Acumulação RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Prosopis-Ziziphus-Senna-Mimosa

BSJ17 9056014 694675 718 Glacis de Acumulação RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Prosopis-Ziziphus-Pilosocereus

BSJ18 9055852 695130 709 Pavimento Detrítico RLdf Arbóreo-Arbustiva Aberta Prosopis-Jatropha-Senegalia-Tacinga

BSJ19 9056052 693826 729 Tálus – Ct/t RQof Arbóreo-Arbustiva Fechada Capparis-Croton-Simaba-Ubaia

BSJ20 9056655 693177 752 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Arbóreo-Arbustiva Fechada Capparis-Croton-Simaba-Ziziphus

BSJ21 9057019 694123 732 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQof Arbóreo-Arbustiva Aberta Tabebuia-Syagrus-Ziziphus-Croton

BSJ22 9056639 694613 706 Glacis de Acumulação RQot Arbórea Fechada Ziziphus-Cedrela (Cf.)-Sideroxylon-Anadenanthera

BSJ23 9056884 695434 706 Glacis de Acumulação RQot Arbustiva Aberta Senegalia-Cereus-Lippia-Varronia

BSJ24 9056375 695813 686 Glacis de Acumulação RQot Arbóreo-Arbustiva Aberta Prosopis-Jatropha-Croton-Ziziphus

BSJ25 9057026 697242 702 Glacis de Erosão RQof Arbóreo-Arbustiva Aberta Croton-Cnidoscolus-Dalbergia

SC1 9052760 695570 961 Pavimento Rochoso – Pt/r RLdt ArbustivaAberta Clusia-Paralychnophora-Pilosocereus-Bromeliaceaesp.

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2

SC2 9052803 695488 980 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f RQof/RLdt ArbustivaAberta Bromeliaceaesp.-Croton-Cnidoscolus-Senna

SC3 9052828 695832 916 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbustivaAberta Hyptis-Sapium-Buquenavia-Hymenaea

SC4 9053253 695639 949 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Senna-Pityrocarpa-Helicteris-Buchenavia

SC5 9053895 695786 987 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Hyptis

SC6 9053888 696304 994 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbustivaAberta Encholirium-Gochnatia-Senna-Clusia

SC7 9053586 695956 994 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbustivaAberta Gochnatia-Hyptis-Campomanesia-Senna

SC8 9053265 695132 975 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Pityrocarpa-Croton-Eugenia/Campomanesia

SC9 9052863 695486 986 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp ArbustivaAberta Erythroxylum-Campomanesia-Sapium-Hyptis

SC10 9052556 695249 978 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)-Ximenia

SC11 9052418 695597 918 Tálus – Ct/t RLdf/RQof ArbustivaAberta Handroanthus-Gochnatia-Bromelia-Syagrus

SC12 9052433 694708 962 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Leguminosa

SC13 9052050 694338 950 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LVAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)

SC14 9052143 695071 995 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Anacardium-Hyptis-Mimosa-Syagrus

SC15 9051636 695091 994 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)

SC16 9051619 695547 940 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c LVAdt ArbóreaFechada Anacardium-Cedrela-Artocarpus-Coffea

SC17 9052383 697528 957 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Senna-Syagrus-Pityrocarpa-Croton

SC18 9052548 698082 970 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Croton-Pityrocarpa-Anacardium-Byrsonima

SC19 9053181 698167 976 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f LAdp Arbóreo-ArbustivaAberta Guapira-Pityrocarpa-Hyptis-Croton

SC20 9054101 697817 947 Pavimento Detrítico – Pt/g PAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Guapira-Pityrocarpa-Syagrus

SC21 9054174 698361 888 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c LAdp ArbóreoAberta Anacardium-Syagrus-Pityrocarpa-Copaifera

SC22 9053574 698047 947 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f PVAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Anacardium-Pityrocarpa-Syagrus-Lippia(Cf.)

SC23 9053457 697557 944 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f PVAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Guapira-Pityrocarpa-Senna-Mimosa

SC24 9053647 697050 925 Pavimento Detrítico – Pt/g PVAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Maytenus-Pityrocarpa-Ximenia-Campomanesia

SC25 9054047 697319 929 Pavimento Detrítico – Pt/g PVAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Gochnatia-Pityrocarpa-Clusia(Cf.)-Mimosa

SC26 9054618 697399 916 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f PVAdt Arbóreo-ArbustivaAberta Syagrus-Anacardium-Pityrocarpa-Cnidoscolus

SC27 9055118 697351 893 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f RLdt Arbóreo-ArbustivaAberta Pityrocarpa-Senna-Mimosa-Clusia(Cf.)

PU1 9049290 670721 475 Leito Argiloso Intermitente – Ll/l VGot FlorestaCiliar Prosopis-Parkinsonia-Euphorbia

PU2 9048347 668854 473 Leito Areno-Argiloso Intermitente – Ll/l RQot/VGot FlorestaCiliar Nicotiana-Prosopis-Croton-Tarenaya

PU3 9048855 669166 533 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Croton-Encholirium-Aspidosperma

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3

PU4 9048726 669157 494 Pavimento Detrítico – Pt/g Aflo.R. Arbóreo-ArbustivaAberta Croton-Ziziphus-Tacinga-Mimosa

PU5 9049037 670128 480 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbustivaAberta Jatropha-Poincianella-Croton-Tacinga

PU6 9049923 670904 503 Tálus – Ct/t RLdf/RQot ArbustivaAberta Croton-Encholirium-Tacinga-Poincianella

PU7 9050667 671773 503 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Árboreo-ArbustivaAberta Pilosocereus-Jatropha-Aspidosperma-Pavonia

PU8 9051154 672352 498 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Jatropha-Cnidoscolus-Prosopis-Senna

PU9 9051864 674297 522 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Pilosocereus-Croton-Commiphora

PU10 9052641 675127 534 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbustivaAberta Pilosocereus-Croton-Cnidoscolus

PU11 9053359 676012 546 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbustivaAberta Pilosocereus-Croton-Jatropha

PU12 9054131 676730 560 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbóreaAberta Commiphora-Anadenanthera-Schinopsis-Cnidoscolus

PU13 9055105 678152 572 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Commiphora-Croton-Jatropha

XI1 9066322 692143 637 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbóreaAberta Schinopsis-Commiphora-Poincianella-Tacinga

XI2 9066812 692359 614 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbóreaAberta Schinopsis-Poincianella-Cnidoscolus-Tacinga

XI3 9067149 692697 609 Pedimento com estagnação sazonal de água – Ps/l SX Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Aspidosperma-Croton-Tacinga

XI4 9067547 693005 606 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot/SX Arbóreo-ArbustivaAberta Schinopsis-Poincianella-Cnidoscolus-Mimosa

XI5 9067914 693374 603 Pavimento Detrítico – Pt/g SX/RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Commiphora-Croton-Tacinga

XI6 9068035 693833 599 Pavimento Detrítico – Pt/g S Arbóreo-ArbustivaAberta Schinopsis-Aspidosperma-Poincianella-Jatropha

XI7 9068124 694384 591 Pedimento Dissecado – Ps/d SX(margens) Arbóreo-ArbustivaAberta Schinopsis-Poincianella-Cnidoscolus-Mimosa

XI8 9068491 694753 590 Pavimento Detrítico – Pt/g SX Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Pilosocereus-Cnidoscolus-Mimosa

XI9 9068858 695091 594 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Cnidoscolus-Pilosocereus-Jatropha

XI10 9069259 694757 585 Pavimento Detrítico – Pt/g SX ArbóreaAberta Schinopsis-Cnidoscolus

XI11 9069751 694637 577 Pedimento Dissecado – Ps/d SX/Aflor.R. Arbóreo-ArbustivaAberta Prosopis-Schinopsis-Ipomoea-Croton

XI12 9070243 694578 574 Sopé Coluvial – Pm/g CX Arbóreo-ArbustivaAberta Schinopsis-Prosopis-Poincianella-Croton

XI13 9070736 694396 568 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Maytenus-Pilosocereus-Cnidoscolus-Poincianella

XI14 9071228 694215 562 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Prosopis-Schinopsis-Croton

PV1 0 0 0 Patamar com Cobertura Arenosa - Pt/f RLdf/RQol Arbóreo-ArbustivaAberta Mimosa-Croton-Aspidosperma-Lippia

PV2 0 0 0 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Croton-Lippia-Jatropha

PV3 0 0 0 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Croton-Maytenus-Dalbergia

AL_CHRIS1 0 0 0 Tálus – Ct/t RLdf/RQof ArbóreaFechada Ziziphus-Anadenanthera-Syagrus-Syderoxilon

AL_CHRIS2 0 0 0 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaFechada Poincianella-Senegalia-Tabebuia-Mimosa

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4

AL_CHRIS3 0 0 0 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot/RF Arbóreo-ArbustivaFechada Ziziphus-Schinopsis-Parapiptadenia-Capparis

AL_PAR1 9056497 698551 690 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQol Arbóreo-ArbustivaAberta Commiphora-Jatropha-Syderoxilon-Croton

AL_PAR2 9056398 698483 705 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d PVAd Arbóreo-ArbustivaAberta Piptadenia-Poincianella-Pilosocereus-Croton

AL_PAR3 9056305 698244 704 LeitoAreno-Rochoso RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Pilosocereus-Mimosa-Croton

AL_PAR4 9056185 698227 707 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Pilosocereus-Croton-Pavonia

AL_PAR5 9055959 698048 726 Tálus – Ct/t RQot/Aflor.R. ArbóreaFechada Parapiptadenia-Simaba-Commiphora-Ziziphus

AL_PAR6 9056152 698152 717 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot/Aflor.R. Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Cnidoscolus-Chloroleucon-Croton

AL_PAR7 9055555 699109 800 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaFechada Pityrocarpa-Copaifera-Libidibia-Croton

AL_PAR8 9055382 698942 801 Pavimento Detrítico – Pt/g Ladt/RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Pityrocarpa-Dalbergia-Clusia-Croton

AL_PAR9 9055345 698666 762 Tálus – Ct/t RQof ArbóreaFechada Parapiptadenia-Simaba-Pityrocarpa-Copaifera/Libidibia

AL_PAR10 9055531 698691 723 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Pityrocarpa-Ziziphus-Croton-Helicteris

AL_PAR11 9055680 698649 718 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Pilosocereus-Jatropha-Pavonia

AL_PAR12 9056050 698536 705 Pavimento Detrítico – Pt/g PVda Arbóreo-ArbustivaAberta Mimosa-Croton-Helicteris-Neoglaziovia

AL1 9056593 698646 690 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbustivaAberta Poincianella-Pavonia-Jatropha-Pilosocereus

AL2 9056559 698675 691 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Commiphora-Jatropha-Croton

AL3 9056486 698622 697 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQof Arbóreo-ArbustivaAberta Syderoxilon-Ziziphus-Schinospsis-Croton

AL4 9056432 698584 706 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RLdf ArbóreaAberta Myracrodruon-Schinopsis-Pilosocereus-Capparis

AL5 9055571 699010 794 Pavimento Detrítico – Pt/g PAda Arbóreo-ArbustivaAberta Schinopsis-Mimosa-Senna-Croton

AL6 9055782 698857 787 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbustivaAberta Tabebuia-Pilosocereus-Croton-Solanum(Cf.)

AL7 9055820 698925 787 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Mimosa-Senna-Pityrocarpa-Croton/Pilosocereus

AL8 9055712 699069 803 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Libidibia-Senna-Copaifera(Cf.)

AL9 9055556 699092 809 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbóreaFechada Libidibia-Pityrocarpa-Copaifera(Cf.)-Croton

AL10 9055433 699001 809 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Pityrocarpa-Croton-Capparis-Neoglaziovia

AL11 9055363 698857 792 Pavimento Detrítico – Pt/g PAda Arbóreo-ArbustivaAberta Pityrocarpa-Lippia-Croton

AL12 9055329 698764 785 Pavimento Rochoso – Pt/r Ausente Arbóreo-ArbustivaAberta Pityrocarpa-Lippia-Croton-Bromelia

AL13 9055311 698663 775 Pavimento Rochoso – Pt/r RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Tabebuia-Pilosocereus-Croton-Senna

AL14 9055345 698666 762 Tálus – Ct/t RQof ArbóreaFechada Parapiptadenia-Simaba-Pityrocarpa-Copaifera/Libidibia

AL15 9055446 698725 745 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaFechada Ziziphus-Pilosocereus-Croton

AL16 9055455 698955 739 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Arbóreo-ArbustivaFechada Ziziphus-Pilosocereus-Croton-Capparis/Chloroleucon

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AL17 9056366 698411 721 Pavimento Detrítico – Pt/g Ausente ArbustivaAberta Poincianella-Senegalia-Tabebuia-Pilosocereus

AL18 9056436 698313 709 Pavimento Rochoso – Pt/r Ausente Arbóreo-ArbustivaAberta Commiphora-Ziziphus-Croton

AL19 9056320 698270 696 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Mimosa-Jatropha-Cnidoscolus

AL20 9056267 698230 699 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Plisocereus-Ubaia-Senna

AL21 9056187 698164 697 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Pavonia-Cereus-Pilosocereus/Chloroleucon

AL22 9056076 698056 713 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Pilosocereus-Mimosa-Capparis

AL23 9056023 698038 716 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Schinopsis-Ziziphus-Capparis-Mimosa/Syagrus

AL24 9055962 698043 726 Tálus – Ct/t RQot/Aflor.R. ArbóreaFechada Parapiptadenia-Simaba-Commiphora-Ziziphus

AL25 9055945 698007 723 Tálus – Ct/t RQof ArbóreaFechada Parapiptadenia-Ziziphus-Syagrus-Maytenus

AL26 9055992 697983 718 Tálus – Ct/t RQot/RQof ArbóreaFechada Syderoxillon-Ziziphus-Simaba-Libidibia/Capparis

AL27 9056036 697980 718 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot/Aflor.R. Arbórea-ArbustivaAberta Ziziphus-Pilosocereus-Capparis-Tacinga

AL28 9056069 697967 718 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Gramíneo-Lenhosa Malva-Cnidoscolus-Chloroleucon-Mimosa

AL29 9056179 697824 725 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea-ArbustivaAberta Ziziphus-Chloroleucon-Mimosa

AL30 9056146 697752 734 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot/RQof Arbórea-ArbustivaAberta Ziziphus-Chloroleucon-Lippia-Capparis

AL31 9056204 697756 737 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot/Aflor.R. Arbórea-ArbustivaAberta Ziziphus-Chloroleucon-Lippia-Capparis

AL32 9056523 698726 684 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea-ArbustivaAberta Ziziphus-Pilosocereus-Croton

AL33 9056394 698813 687 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbórea-ArbustivaAberta Ziziphus-Lippia-Croton

AL34 9056310 698856 691 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbustivaAberta Mimosa-Croton-Capparis

AL35 9056262 698923 695 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQof Arbórea-ArbustivaAberta Poincianella-Schinopsis-Pilosocereus-Chloroleucon

AL36 9056253 698987 705 Pavimento Detrítico – Pt/g Ausente Arbórea-ArbustivaAberta Poincianella-Schinopsis-Pilosocereus-Croton

AL37 9056155 699019 718 Pavimento Detrítico – Pt/g RQot/RQof Arbórea-ArbustivaAberta Poincianella-Chloroleucon-Croton-Lippia/Pilosocereus

AL38 9056063 698996 720 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c LVAdt Arbórea-ArbustivaAberta Poincianella-Croton-Mimosa-Pilosocereus/Varronia

AL39 9056052 699029 720 Pavimento Detrítico – Pt/g PVAdaa ArbustivaAberta Pilosocereus-Croton

AL40 9055957 699057 732 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf Arbórea-ArbustivaAberta Mimosa-Croton-Lippia

AL41 9055929 699004 736 Pavimento Rochoso – Pt/r Ausente Arbóreo-ArbustivaAberta Mimosa-Syagrus-Capparis-Lippia/Croton

AL42 9055871 698993 750 Tálus – Ct/t RLdf Arbóreo-ArbustivaAberta Tabebuia-Syagrus-Senegalia(Cf.)

AL43 9055978 699079 730 Pavimento Detrítico – Pt/g RLdf ArbustivaAberta Capparis-Lippia-Croton

AL44 9055968 699116 711 Pavimento Detrítico – Pt/g PAdca Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Croton

AL45 9055990 699169 708 Glacis Areno-Argiloso Conservado – Pl/c PAdca Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Mimosa-Cnidoscolus-Croton

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AL46 9056031 699280 694 Tálus – Ct/t RLdf/RQof Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Mimosa-Capparis-Croton

AL47 9056076 699299 688 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot Arbóreo-ArbustivaAberta Ziziphus-Poincianella-Commiphora-Mimosa/Cnidoscolus

AL48 9056088 699343 688 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Gramíneo-Lenhosa Prosopis-Malva-Zea

AL49 9056347 699352 674 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RUpt ArbóreaAberta Prosopis

AL50 9056346 699303 677 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot/RQof Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Croton-Mimosa-Jatropha

AL51 9056310 699220 680 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot/RQof Arbóreo-ArbustivaAberta Poincianella-Croton-Schinopsis-Pilosocereus

AL52 9056459 697802 711 Glacis Arenoso Dissecado – Pf/d RQot Gramíneo-Lenhosa Malva-Pavonia-Cnidoscolus-Mimosa

AL53 9056509 697852 711 Glacis Arenoso Conservado – Pf/c RQot ArbustivaAberta Senegalia(Cf.)-Croton-Malva

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Apêndice B – Mapas Analíticos

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Ecorregiões, Regiões Naturais, Unidades de Paisagem, Unidades Geoambientais, Ecossistemas, Geossistemas, Biomas, Complexos Territoriais Naturais, Paisagens...

A literatura geográfica é rica de termos que têm por objetivo representar o conceito

de ‘área naturais’. Este trabalho investiga tais abordagens de Síntese Naturalista a partir de

um enfoque epistemológico, discutindo aspectos estruturais, históricos e metodológicos

deste tipo de atividade.