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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
FACULDADE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE PARANAVAÍ – FAFIPA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM
SILVANETE DE SOUZA LADEIA AUGUSTI
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
CRÔNICAS: POSSIBILIDADES PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS
PARANAVAÍ
2009/2011
2
SILVANETE DE SOUZA LADEIA AUGUSTI
CRÔNICAS: POSSIBILIDADES PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS
Produção didático-pedagógica-unidade didática- apresentada à SEED – Secretaria de Estado da Educação como parte integrante do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, sob a orientação da Profª. Aldinéia Cardoso Arantes
PARANAVAÍ
2009/2011
3
UNIDADE DIDÁTICA
IDENTIFICAÇÃO
ÁREA: Língua Portuguesa
PROFESSORA PDE: Silvanete de Souza Ladeia Augusti
NRE: Loanda
PROFESSORA ORIENTADORA IES: Aldinéia Cardoso Arantes
IES VINCULADA: FAFIPA/UEM
ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Fernando de Azevedo – EFM
PÚBLICO OBJETO DA INTERVENÇÃO: Alunos dos anos finais do Ensino Fundamental
TEMA: Formar leitores críticos voltados para o ensino-aprendizagem da leitura
TÍTULO: Crônicas: possibilidades para a formação de leitores críticos
.
LEITURA
Fonte: Portal Dia-a-dia Educação (on-line, 2010).
4
A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto, a fim de
obter uma informação precisa, concreta e atingir os objetivos relacionados à
leitura, principalmente, quando se refere a ensinar crianças a ler, compreender
e interpretar.
Nesse sentido estudar crônicas na sala de aula é uma forma de
desenvolver a compreensão e a interpretação da leitura, pois esse gênero traz
características da linguagem escrita e da oralidade, sendo a representação
literária dos fatos do cotidiano que analisam fatos políticos, sociais ou
econômicos de grande importância cultural. É um gênero atrativo para os
alunos, apresenta temas que apontam para as experiências de vida dos
educandos, relato de um ou mais acontecimentos em um determinado tempo,
os personagens são reduzidos, podendo inclusive não haver personagens.
Especificamente, nesse trabalho, será dada preferência às crônicas de
Stanislaw Ponte Preta, uma vez que o autor traz a força total do humor
tipicamente brasileiro, com o calor afetivo de um povo que, espontâneo nos
atos, se quer espontaneamente expressivo na linguagem.
A prática de leitura de crônicas que circulam na nossa sociedade é
importante para que o aluno se reconheça no assunto abordado e seja capaz
de reagir, duvidar, questionar com criticidade, posicionando-se como sujeito
ativo capaz de interagir com a família e a comunidade a qual está inserido. Ao
entrar em contato com a crônica, o aluno irá ativar seus conhecimentos prévios
para estabelecer correlações com o tema abordado, esclarecer dúvidas,
fazendo as inferências necessárias para levantar hipóteses que poderão ser
confirmadas ou refutadas. Para isso, promover estratégias de leitura são
mecanismos relevantes para a formação de um leitor competente, capaz de ler
qualquer texto da sociedade, compreendê-lo e fazer uso de seus
conhecimentos para conseguir interagir no meio social em que vive. É
importante ressaltar que o intuito deve ser o de motivar os alunos para uma
leitura não linear, divertida, relacionada com experiências vividas, propondo
mudanças no jeito de ser e de agir do leitor.
A partir do momento que o professor de Língua Portuguesa propõe esse
trabalho de estratégias de leitura com crônicas estará objetivando a formação
de um leitor competente. Um indivíduo que consiga ler qualquer texto da
sociedade, compreendê-lo e fazer uso de seus conhecimentos. Com esse
5
trabalho, indiretamente estará provocando situações de mudança de
comportamento e, assim, contribuirá para o desenvolvimento de uma pessoa
comprometida, humana, dando bons exemplos como formador de opiniões
positivas capaz de propor ações de mudanças no seu espaço geográfico.
LEIA ESTE TÍTULO:
Através de atividades, vamos juntos usar estratégias de leitura que
possibilitem auxiliar na formação de um leitor competente que saiba interagir
com seus conhecimentos e buscar todos os caminhos possíveis para
entender o texto, a partir de suas previsões, suposições e hipóteses e, dessa
forma, percorrer as diversas possibilidades de compreensão e interpretação.
Ativar o conhecimento prévio sobre o autor, fazer previsões,
inferências, relacioná-lo a vivência concreta para então ler suas crônicas nas
linhas, nas entrelinhas e além delas.
Essa primeira etapa tem como finalidade chamar a atenção para o
texto e o leitor, ativar o conhecimento prévio, estabelecer previsões sobre o
tema, criar expectativas. O objetivo é perceber como as estratégias de leitura
são importantes para facilitar a vida do leitor.
6
l
Ilustração: Silvanete de Sousa Ladeia Augusti
1) Quais expectativas o título deste livro lhe sugere?
2) Que história você espera que será apresentada? Quais as hipóteses?
3) Para você, qual é a característica principal para identificar um
chato?Justifique.
Agora que já tentamos desvendar o assunto por meio do
título, vamos fazer a leitura do texto?
7
LEIA O TEXTO ABAIXO:
Dois amigos e um chato.
OS DOIS ESTAVAM tomando um cafezinho no boteco da esquina, antes de
partirem para as suas respectivas repartições. Um tinha um nome fácil: era o Zé. O
outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era o Flaudemíglio.
Acabado o café o Zé perguntou: — Vais pra cidade?
__Vou __ respondeu Flaudemíglio, acrescentando: __ Mas vou pegar o 434
que vai pela Lapa. Eu tenho que entregar uma urinazinha de minha mulher no
laboratório da Associação, que é ali na Mem de Sá.
Zé acendeu um cigarro e olhou para a fila do 474, que ia direto pro centro e,
por isso, era a fila mais piruada. Tinha gente às pampas.
__ Vens comigo? __ quis saber Flaudemíglio.
__ Não __ disse o Zé: __ Eu estou atrasado e vou pegar um direto ao centro.
__ Então tá __ concordou Flaudemíglio, olhando para a outra esquina e, vendo
que já vinha o que passava pela Lapa: __ Chi! Lá vem o meu... __ e correu para o
ponto de parada, fazendo sinal para o ônibus parar.
Foi aí que, segurando o guarda-chuva, um embrulho e mais o vidrinho da
urinazinha (como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na
véspera para o exame de laboratório...), foi aí que o Flaudemíglio se atrapalhou e
deixou cair algo no chão.
O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro
em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra.
Flaudemíglio só teve tempo de berrar para o amigo: __Zé, caiu minha carteira de
identidade. Apanha e me entrega logo mais.
O 434 seguiu e Zé atravessou a rua, para apanhar a carteira do outro. Já
estava chegando perto quando um cidadão magrela e antipático e, ainda por cima,
com sorriso de Juraci Magalhães, apanhou a carteira de Flaudemíglio.
__ Por favor, cavalheiro, esta carteira é de um amigo meu __ disse o Zé
estendendo a mão.
Mas o que tinha sorriso de Juraci não entregou. Examinou a carteira e depois
perguntou: __ Como é o nome do seu amigo?
__ Flaudemíglio __ respondeu o Zé.
__ Flaudemíglio de quê? __ insistiu o chato.
Mas o Zé deu-lhe um safanão e tomou-lhe a carteira, dizendo: __ Ora, seu
cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada!
Stanislaw Ponte Preta
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Conversando e pensando sobre o texto
1) Após ler o texto, as hipóteses que você levantou antes da sua leitura foram
confirmadas?
2) Quais foram encontradas no texto?
3) O título do texto é pertinente em relação às idéias (assunto) apresentadas no
texto?
4) Qual a temática apresentada por Stanislaw Ponte Preta nessa texto? Como
você chegou a essa conclusão?
5) O texto ―Dois amigos e um chato‖ é humorístico. Mas além de promover o
riso, ele tem outra finalidade. Qual é ela?
a) Volte ao texto ―Dois amigos e um chato‖! e identifique as ações praticadas
pelo personagem Zé.
b) Muito bem! Você já identificou as ações do personagem Zé, agora, circule os
verbos de cada trecho.
Você sabia que quando escrevemos, precisamos nos preocupar em ―amarrar‖
as frases, observar se possuem vínculo entre si, para não deixar o nosso leitor
perdido. Há vários recursos que conferem coesão a um texto. Um deles é a
correta retomada de palavras que já foram mencionadas, sem precisar repeti-
las o tempo todo. Quando falamos de coesão, estamos nos referindo às
relações que se estabelecem entre as diferentes partes do texto (palavras,
orações, frases, parágrafos...).
Não se esqueça! Verbos
são palavras que exprimem
ação, estado, mudança de
estado e fenômenos
meteorológicos, sempre
em relação a determinado
tempo.
6) Quando contamos uma história, várias ações
ocorrem, pois os personagens estão em constante
movimento: eles vivem entrando, saindo,
correndo, viajando, pensando, falando, fazendo
alguma coisa. Afinal, se eles ficassem parados,
não haveria história para contar, não é mesmo?
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7) Vamos ver como isso acontece?
... ―(como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na
véspera para o exame de laboratório...)....‖
a) O material recolhido se refere a que outro termo no texto?
b) O pronome ―ele ―se refere a qual pessoa do texto?
A partir da leitura das previsões, das hipóteses confirmadas ou refutadas,
das inferências, vamos, agora, fazer a leitura dramática da crônica ―Dois
amigos e um chato‖? Para isso é preciso acompanhar os seguintes passos:
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Para saber mais
Leitura dramática 1- Formem um grupo com um número de integrantes igual ao número de personagens do texto. Cada componente do grupo deve ler o texto individualmente pelo menos uma vez.
2- Façam, em grupo, uma segunda leitura do texto, em voz alta, cada aluno lendo as falas de uma personagem. Leiam procurando ter uma compreensão mais ampla do texto e um domínio maior da história.
3- A partir da terceira leitura, comecem a buscar a representação, isto é, comecem a transformar a leitura em ação. Lembrem-se: o ator é um fingidor, alguém que cria ilusões.
a) Para uma boa interpretação, analisem e debatam o comportamento psicológico de cada personagem: quais são seus desejos; que fatos ou que personagens se contrapõem a eles; como ela reage, etc. b) Em seguida, cada um deve buscar a melhor forma de interpretar sua personagem. c) Considerem a pontuação do texto. d) Não deixem cair a entonação no final das frases. Observem como falam os locutores de rádio e televisão e procurem imitá-los. e) Se julgarem necessário, marquem o texto com pausas para respiração e destaquem os verbos das frases para dar um apoio maior à inflexão de voz. f) Para ajudar no volume da voz, imaginem __ como fazem no meio teatral __ que na última fileira do teatro há uma velhinha meio surda e que vocês devem representar para ela.
4- Depois que cada um dos integrantes do grupo tiver encontrado a expressão própria de sua personagem, façam a leitura dramática do texto para uma platéia convidada. Fonte: CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. (2009, p. 36-37).
Para você aprofundar seus conhecimentos sobre teatro e técnicas teatrais, sugerimos: O teatro explicado aos meus filhos, de Barbara Heliodora (Agir); O que é teatro? de Fernando Peixoto (Brasiliense); Teatro brasileiro do século XX, de Samira Youssef Campedelli (Scipione); 200 exercícios ejogos para o ator e o não ator com vontade de dizer algo através do teatro, de Augusto Boal (Civilização Brasileira); Iniciação ao teatro, de Sábato Magaldi (Ática); O livro do ator, de Flavio de Souza (Companhia das Letrinhas); O teatro no mundo, de Pierre Marchand (Melhoramentos).
Fonte: CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. (2009, p. 22).
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Vocês conhecem Stanislaw Ponte Preta? Já ouviram falar
desse autor?
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto). Ilustração de Eduardo Andrade da Silva.
Sérgio Marcos Rangel Porto nasceu no Rio
de Janeiro, a 11 de janeiro de 1923 e
morreu no Rio de Janeiro a 29/30? de
setembro de 1968. Em 1951 começou a
escrever crônicas sobre cinema no Diário
Carioca. Sua primeira coletânea de
crônicas saiu em 1958: O homem ao
lado. Sua segunda edição apareceu cinco
anos depois com o título: A casa
demolida. Daí em diante, foi intensa sua
produção: crônicas e reportagens para
jornais e revistas, scripts para cinema,
programas de rádio e televisão, traduções
de peças teatrais. O pseudônimo literário –
Stanislaw Ponte Preta – tornou-se
conhecido em todo país.
J Um cronista que, dotado de raro senso de humor e gosto
da sátira, soube ver e fixar o drama e a comédia do
quotidiano do Rio de Janeiro. Tinha um poder singular de
criar tipos humanos – o que é raro e difícil na crônica: criou
a Tia Zulmira, a sábia ermitã da Boca do Mato, o Primo
Altamirando, cínico e gozador, o distraído Rosamundo, o
dr. Data Vênia, Manipulador feroz de lugares-comuns,
entre outros.
Pseudônimo é um nome fictício utilizado por um autor. Em vez de utilizar o seu nome de batismo, o escritor escolhe outro para assinar seus textos. Normalmente, trata-se de um jornalista, poeta ou artista que não quer se mostrar para o leitor ou espectador.
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FAMÍLIA PONTE PRETA
Crônica: O registro do efêmero [...] a crônica surge primeiro no jornal, herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no começo de uma leitura e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam num arquivo pessoal. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse contexto, a crônica também assume essa transitoriedade, dirigindo-se inicialmente a leitores apressados, que leem nos pequenos intervalos da luta diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite. Fonte: SÁ, J. de. A crônica. 5. ed. São Paulo: Ática, 1997, p. 10-1. In: CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. 5. ed. reform. São Paulo: Atual, 2009. p. 80.
A carta de Pero Vaz de Caminha: a primeira crônica brasileira?
[...] por mais que ele (Caminha) tenha afirmado [...] que ―para o bem contar e falar, o saiba pior que todos fazer‖, percebemos que tem consciência da possibilidade de ―aformosear‖ ou ―afear‖ uma narrativa, sem esquecer que a experiência vivida é que a torna mais intensa. Daí o cuidado em reafirmar que ele escreve após ter ido à terra ―para andar lá com eles e saber de seu viver e maneira‖: a observação direta é o ponto de partida para que o narra-dor possa registrar os fatos de tal maneira que mesmo os mais efêmero ganhem uma certa concretude. Essa concretude lhe assegura a permanência, impedindo que caiam no esquecimento, e lembra aos leitores que a realidade _ conforme a conhecemos, ou como é recriada pela arte _ é feita de pequenos lances. Estabelecendo essa estratégia, Caminha estabeleceu também o princípio básico da crônica: registrar o essencial. A história de nossa literatura se inicia, pois, com a circunstância de um descobrimento: oficialmente, a Literatura Brasileira nasceu na crônica. Fonte: SÁ, J. de. A crônica. 5. ed. São Paulo: Ática, 1997, p. 507. In: CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. 5. ed. São Paulo: Atual, 2005. p. 72.
De pé, Tia Zulmira. Sentados, Bonifácio, Rosamundo e Altamirando
Ilustração: Eduardo Andrade da Silva.
Curiosidades
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VOCÊ SABE O QUE É CRÔNICA?
Agora que você já sabe o que significa crônica.
Passemos, então, a conhecer algumas de suas características:
Crônica é um gênero literário produzido essencialmente para ser
veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre (2010).
A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser
publicado no jornal. Assim o fato de ser publicada no jornal já lhe determina
vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas
edições.Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente
informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos
diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que
distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos
diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto
elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto
essencialmente informativo não contém. Com base nisso, pode-se dizer que
a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser
considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre (2010).
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DE OLHO NA REDE
Atualmente, no Brasil, já existe uma lei em que as pessoas podem trocar seus
nomes, em razão do constrangimento. A turma pode combinar com o professor
uma visita ao laboratório de informática da escola para, juntos, se inteirarem
dessa lei.
TODOS NÓS GOSTAMOS DE SURPRESAS!!! Você já foi
surpreendido alguma vez?
A seguir faremos a leitura de outra crônica de Stanislaw Ponte Preta,
que é um atento observador da vida e do cotidiano do ser humano. Com uma
linguagem simples e grande senso de humor, consegue surpreender o leitor
mesmo nas situações mais comuns, como a da história que você vai ler.
A velha contrabandista
DIZ QUE ERA uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela
fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da
Alfândega __ tudo malandro velho __ começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
__Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí
atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela
adquirira no odontólogo, e respondeu:
15
VAMOS CONVERSAR SOBRE O TEXTO
__É areia!
Aí quem riu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha
saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e
dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela
montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com
areia e no outro com moamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando
ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou
o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou
e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as
vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
__Olha vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo
essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é
contrabandista.
__Mas no saco só tem areia! __insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta,
quando o fiscal propôs:
__Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não
apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o
contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
__O senhor promete que não ―espaia‖? __ quis saber a velhinha.
__Juro __ respondeu o fiscal.
__ É lambreta.
Stanislaw Ponte Preta
16
1) Leia o trecho a seguir e responda as questões abaixo, de acordo com o
contexto:
―Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava
na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O
pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da
velhinha.‖
a) Qual o significado da palavra fronteira?
b) Você sabe o que quer dizer Alfândega?
c) O que significa a expressão ―tudo malandro velho‖?
2) A crônica é quase sempre um texto curto, com poucas personagens, que se
inicia quando os fatos principais da narrativa estão por acontecer. Por essa
razão, o tempo e o espaço são limitados. Na crônica ―A velha contrabandista‖:
a) Quais são as personagens envolvidas na história?
b) Onde acontecem os fatos narrados?
c) Qual é o tempo de duração desses fatos?
3) Na crônica, os fatos podem ser narrados por um narrador-observador ou por
um narrador-personagem. Qual é o tipo de narrador na crônica ―A velha
contrabandista‖? Justifique sua resposta.
4) O cronista volta seu olhar atento para notícias veiculadas em jornais falados
e escritos e para fatos do dia a dia. E os registra com sensibilidade e poesia,
ora criando humor, ora provocando uma reflexão crítica acerca da realidade.
Ao proceder assim, qual dos objetivos o cronista espera atingir com o seu
texto?
( a ) Informar os leitores sobre um determinado assunto
( b ) Entreter os leitores e, ao mesmo tempo, levá-los a refletir criticamente
sobre a vida e os comportamentos humanos.
( c ) Dar instruções aos leitores.
( d ) Argumentar, defender um ponto de vista e persuadir o leitor.
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6) A história é narrada, na maior parte, em discurso indireto, o próprio narrador
conta, com suas palavras, o que teriam dito as personagens. Porém, em alguns
momentos são colocados, literalmente, as falas dos personagens, isto é, o
autor usa o discurso direto, indicado por meio de travessões.
a) Quantas vezes aparece o travessão para indicar a fala da velhinha? E a do
fiscal?
b) ―_ Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse
saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?‖ Como ficaria essa frase
se ela fosse dita por outra pessoa que tivesse assistido a cena? Fique atento
às modificações necessárias.
7) Troque idéias com seus colegas de grupo e, juntos, concluam: Quais são as
características da crônica? Respondam, considerando os seguintes critérios:
Finalidade do gênero
Perfil dos interlocutores
Suporte ou veículo
Tema
Estrutura
Linguagem
Adjetivo: palavra que
serve para caracterizar seres nomeados pelo substantivos, atribuindo-lhes qualidades (ou defeitos), estados ou modo de ser.
5) Diante do comportamento e atitudes da
velhinha, escreva duas palavras adjetivas que
você usaria para caracterizá-la física e
psicologicamente.
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EXTRAPOLANDO O TEXTO
1) Imagine que você irá contar para um colega
qual foi a maior esperteza que você já praticou
até o momento. Para isso faça um resumo da
história.
2) O Estado que você mora faz fronteira com
outro(s) país(es)? Qual(is)? Fale com seu
professor de Geografia ou pesquise na
internet.
3)Você sabe como o governo controla a fronteira do país. Pesquise e
responda.
TROCANDO IDEIAS
1- Quando não pedimos uma nota fiscal ao fazer uma compra, há também um
prejuízo para toda população. Que prejuízo é esse?
2- Quem sai prejudicado quando uma pessoa adquire um produto sem nota
fiscal, contrabandeado?
3- Sua família já adquiriu algum produto sem nota fiscal? O que é comum as
pessoas comprarem, mesmo sabendo que é contrabandeado?
Resumir um texto é expor
as idéias essenciais em poucas palavras. Aquilo que o autor explica de maneira mais longa deve ser apresentado sucintamente. Quem escreve o resumo não deve apresentar suas idéias pessoais sobre o assunto; deve, apenas, expor o que já foi dito com outras palavras.
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A CRÔNICA QUE VOCÊS VÃO LER PERTENCE AO PRIMEIRO LIVRO DE STANISLAW PONTE PRETA: TIA ZULMIRA E EU.
Você sabia que os cronistas podem usar uma linguagem simples, informal, até mesmo coloquial, como se estivessem conversando pessoal e diretamente com o leitor? Confira!
PARA RECORDAR A crônica é um texto em geral curto, que faz o registro do cotidiano – fatos,
sensações, impressões __, mostrando ora seu lado pitoresco ou cômico, ora seu lado trágico, ora seu lado comovente, poético. As crônicas são, em geral, escritas para colunas que escritores mantêm em jornais ou revistas, só depois é que costumam ser reunidas em livro.
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Vamos acabar com esta folga
O NEGÓCIO aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse café,
tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o
diabo.
De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra
ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocação e logo um turco, tão forte
como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:
__ Isso é comigo?
__ Pode ser com você também __ respondeu o alemão.
Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura que caiu
no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro pra ele. Queimou-se então
um português que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para
cima do alemão e não teve outra sorte.
O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o
que dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele café. Levantou-se então um inglês
troncudo pra cachorro e também entrou bem. E depois do inglês foi a vez de um francês,
depois de um norueguês etc. etc. Até que, lá do canto do café levantou-se um brasileiro
magrinho, cheio de picardia para perguntar, como os outros
__ Isso é comigo?
O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio de
bossa vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou perto, balançou o corpo e... pimba! O
alemão deu-lhe uma porrada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.
Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí, madame.
Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais
malandros do que os outros.
Stanislaw Ponte Preta
21
ANALISANDO O TEXTO
1) A história relatada na crônica lida é apenas ficcional, ou seja, inventada pelo
cronista? Justifique sua resposta.
2) Que objetivos o autor da crônica ―Vamos acabar com esta folga‖ tem em
vista: criar humor e divertir ou levar o leitor a refletir criticamente sobre a vida e
os comportamentos humanos?
3) Observe a linguagem empregada na crônica em estudo.
a) Os fatos são narrados de forma pessoal, subjetiva, isto é, de acordo com a
visão do cronista, ou são narrados de forma impessoal, objetiva, numa
linguagem jornalística?
b) Em relação à linguagem, a crônica está mais próxima do noticiário geral de
um jornal ou dos textos literários, como o conto, o mito, o poema?
c) Que tipo de variedade lingüística é adotada na crônica: a variedade padrão
formal ou a variedade padrão informal? Justifique sua resposta.
d) Conclua: A crônica se limita a narrar fatos ou busca uma abordagem mais
abrangente deles?
4) Pela leitura do texto, que sentido você dá à expressão ―levou uma
traulitada‖.
5) Que outras expressões você conhece nas quais a palavra café não está no
texto sendo utilizada em seu sentido original?
22
.
6) Nas frases: ―...tão forte como o alemão...‖
―...maior ainda do que o turco...‖
―...com tanta força que quase desmonta...‖
a) Construa outras frases utilizando essas comparações.
7) Agora é com você. Mãos à obra!!! Pesquise se nos bares de sua cidade já
aconteceu um fato como este, ou parecido com o da história estudada. Depois,
com o auxílio do(a) professor(a) organizem uma coletânea e socialize com as
demais pessoas da sala, dramatizando-as.
.
FIQUE LIGADO! PESQUISE! O MELHOR DE STANISLAW PONTE PRETA
Comparação é a figura de linguagem que consiste em aproximar dois seres pela semelhança, de modo que as características de um sejam atribuídas ao outro, e sempre por meio de um elemento comparativo expresso:
como, tal, qual, semelhante a, que nem, etc
TIA ZULMIRA E EU PRIMO ALTAMIRANDO E ELAS ROSAMUNDO E OS OUTROS GAROTO LINHA-DURA FEBEAPÁ-1 FEBEAPÁ-2 NA TERRA DO CRIOULO DOIDO – A MÁQUINA DE FAZER DOIDO
23
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: língua portuguesa/ 5ª a 8ª séries. Brasília: 1998.
CAVALCANTI, V. O melhor de Stanislaw Ponte Preta: crônicas escolhidas. 9.
ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. 5. ed. São Paulo:
Atual, 2005. p. 72.
_____________________________. Português: linguagens. 5. ed. reform.
São Paulo: Atual, 2009. p. 22; 36; 37; 80.
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