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Curitiba, segunda-feira, 27 de abril de 2009 - Ano X - Número 474 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo [email protected] DIÁRIO d o B R A S I L Até agora somente 46% dos brasileiros mandaram a declaração. A Receita Federal prevê correria nesses últimos dias em que receberá os relatórios das pessoas físicas. Para agilizar o processo, a elaboração do documento foi simplificada. Agora não é mais necessário infor- mar o número da declaração do ano anterior. Mesmo assim, a maioria dos contribuintes prefere procurar a ajuda de um contador. Os preços cobrados para fazer este serviço variam de acordo com o estabelecimento. Pesquisa feita pelo LONA mostra que o contribuinte que pesquisar pode economizar até R$ 70. Como nos outros anos, o formulário pode ser enviado pela internet, em disquete nas agências do Banco do Brasil e em formulário de papel nas agências dos Correios. Quem não entregar a tempo terá que pagar uma multa para regularizar o CPF, além de perder direitos como assumir concurso público ou fazer financiamentos. Quinta-feira termina prazo para acertar as contas com o leão Divulgação Página 3 Página 3 Página 3 Página 3 Página 3 Maioria das empregadas domésticas não tem registro Páginas 4 e 5 Páginas 4 e 5 Páginas 4 e 5 Páginas 4 e 5 Páginas 4 e 5 Lei que rege estes trabalhadores não prevê jornada de tra- balho determinada, direito a seguro-desemprego, benefício por acidente de trabalho e nem obrigatoriedade para o de- pósito do Fundo de Garantia. O retrato do gol visto por quem cuida dele Página 7 Página 7 Página 7 Página 7 Página 7 Goleiros brasileiros ganham im- portância no cenário do futebol e ago- ra estão entre os heróis dos campos.

LONA 474- 27/04/2009

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, segunda-feira , 27 de abril de 2009 1

Curitiba, segunda-feira, 27 de abril de 2009 - Ano X - Número 474Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo [email protected]

DIÁRIO

do

BRASIL

Até agora somente 46% dos brasileiros mandaram a declaração. A Receita Federal prevêcorreria nesses últimos dias em que receberá os relatórios das pessoas físicas. Para agilizaro processo, a elaboração do documento foi simplificada. Agora não é mais necessário infor-mar o número da declaração do ano anterior. Mesmo assim, a maioria dos contribuintesprefere procurar a ajuda de um contador. Os preços cobrados para fazer este serviço variamde acordo com o estabelecimento. Pesquisa feita pelo LONA mostra que o contribuinte quepesquisar pode economizar até R$ 70. Como nos outros anos, o formulário pode ser enviadopela internet, em disquete nas agências do Banco do Brasil e em formulário de papel nasagências dos Correios. Quem não entregar a tempo terá que pagar uma multa para regularizaro CPF, além de perder direitos como assumir concurso público ou fazer financiamentos.

Quinta-feiratermina prazopara acertaras contascom o leão

Divulgação

Página 3Página 3Página 3Página 3Página 3

Maioria das empregadasdomésticas não tem registro

Páginas 4 e 5Páginas 4 e 5Páginas 4 e 5Páginas 4 e 5Páginas 4 e 5

Lei que rege estes trabalhadores não prevê jornada de tra-balho determinada, direito a seguro-desemprego, benefíciopor acidente de trabalho e nem obrigatoriedade para o de-pósito do Fundo de Garantia.

O retrato do gol vistopor quem cuida dele

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Goleiros brasileiros ganham im-portância no cenário do futebol e ago-ra estão entre os heróis dos campos.

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Opinião

Expediente

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalis-mo da Universidade Positivo – UP,

Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. CampoComprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000

Reitor: Oriovisto Guimarães. Vice-Reitor: José Pio Martins.Pró-Reitor Administrativo: Arno Antônio Gnoatto; Pró-Reitorde Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitora de Extensão:Fani Schiffer Durães; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesqui-sa: Luiz Hamilton Berton; Pró-Reitor de Planejamento e Ava-liação Institucional: Renato Casagrande; Coordenador do Cur-so de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Profes-sores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida e Mar-celo Lima; Editores-chefes: Antonio Carlos Senkovski, Cami-la Scheffer Franklin e Marisa Rodrigues.

Governo

“Formar jornalistas comabrangentes conhecimentosgerais e humanísticos, capa-citação técnica, espírito cria-tivo e empreendedor, sólidosprincípios éticos e responsa-bilidade social que contribu-am com seu trabalho para oenriquecimento cultural, so-cial, político e econômico dasociedade”.

Missão do cursode Jornalismo

Murossociais

Ética

Prounipara quem?

Luiz Felipe Marques

Quase qualquer coisa podeser justificada. Se algo nãopode, arranja-se uma desculpado mesmo jeito.

Quem está fazendo isso, atéo momento com maestria, é Sér-gio Cabral, governador do Riode Janeiro. Ele acaba de pegarum projeto antigo, barrado inú-meras vezes, e tenta transformá-lo em novo, com base em umanova justificativa.

Trata-se da construção demuros em 13 favelas da cidade,sugestão dada há tempos e quesoa preconceituosa e segregaci-onista também há muito. Per-tence à velha e simplista noçãode que o problema do Rio sãoas favelas – inocentando o co-mum esquecimento e a falta depolíticas públicas, que não so-bem os morros. A justificativa,no entanto, mudou e realmentese tornou mais inteligente. Tal-vez até por isso o projeto tenhasaído do papel e os muros já co-meçam a ser erguidos. Na expli-cação da medida, as obras de-vem ser conduzidas para evitarque a expansão contínua dasfavelas cause uma maior devas-tação da mata atlântica.

Como foi dito, a justificativatem uma ótima aparência, podeaté parecer correta numa visãosuperficial. Ainda assim, po-rém, é frágil. Extremamente frá-gil.

As favelas escolhidas parareceberem os muros já provamque há algo de não tão “susten-tável” no projeto. Como defen-de o espanhol El País, os murosserão construídos apenas emcomunidades que ficam em áre-as nobres da cidade. Já aquelaslocalizadas também em áreasde mata atlântica, mas distan-

tes dos condomínios luxuosos,para o governo, podem continu-ar sem muros.

Já os próprios condomíniosluxuosos, como lembra o ElPaís, também avançam incon-troladamente sobre áreas de na-tureza a ser protegida. Quantoa isso, o que o governo flumi-nense falaria? Que os condomí-nios já possuem muros? Prova-velmente, dando mais uma pro-va de que são muros de conten-ção social, não ambiental.

Entre tantas maneiras dequebrar o argumento do gover-no de Sérgio Cabral, ainda háquem apoie o projeto, o que édeflagrado em diversas reporta-gens em jornais brasileiros.

O irônico é ver que quase to-dos dão como base os númerosdo Instituto Pereira Passos, vin-culado à prefeitura carioca eque leva o nome de um ex-pre-feito do outrora distrito federal,que em sua gestão criou as fa-velas, ao, numa “limpeza soci-al”, expulsar famílias pobres docentro da cidade.

Nas palavras do próprioinstituo, suas obras eram em fa-vor de “transformar o Rio de Ja-neiro numa cidade moderna,condizente com os valores daselites dirigentes da época”. Pormais que sejam diferentes emsuas condutas, os passos dehoje têm os mesmos objetivos.

As favelasescolhidas parareceberem osmuros já provamque há algo de nãotão “sustentável”no projeto

Caroline Mafra Policarpo

Pesquisas feitas pelo Tribu-nal de Contas da União (TCU)revelaram fraudes na participa-ção de alguns bolsistas doProuni, no descumprimento decritérios básicos para poder terdireito ao benefício.

Segundo o TCU, cerca de0,6% dos bolsistas possuem car-ros e muitos são modelos de lu-xos. Nas próximas semanas, aReceita Federal fará um estudonas condições dos beneficiados,para analisar se eles ainda es-tão dentro dos critérios estabe-lecidos.

O que se conclui das pesqui-sas é que o governo está pagan-do Universidade, em alguns ca-sos, para quem não precisa. Dos380 mil beneficiados, há indíci-os de ilegalidade em quase 31mil. O primeiro absurdo é o fatode 1700 bolsistas possuíremcarros novos; desse número, 39alunos do Distrito Federal, daBahia e de São Paulo possuem

carros de luxos, que custammais de R$ 90 mil. Além disso,existem outros problemas: 3.561alunos já têm curso superior - oque é proibido - e 23.100 têmrenda superior à permitidapara participar do sistema.

É triste ver pessoas que sãocapazes de atitudes como estas.Grande parte da população quenão possui condições financei-ras vê o Prouni como uma opor-tunidade para o futuro, umachance de mudar a vida. Essacultura corrupta não é apenasdos políticos, como muitos di-zem; ela pode ser vista tambémna sociedade.

As pessoas criticam quandoé roubado dinheiro públicopara benefícios próprios, mas afraude no Prouni é o quê? É di-nheiro roubado do mesmo jeito,principalmente da classe baixa.Muitos pensam: “Ah, o governorouba meu dinheiro, não vai terproblema”, e esquecem que omais atingido com isso não é ogoverno, e sim a classe mais

desfavorecida. E, assim, acabamentrando no jogo da corrupção.

Nada justifica as atitudes dogoverno e não podemos tomá-locomo espelho. O caso das frau-des no Prouni é reflexo disso.Essas pessoas que fraudaram oProuni tiraram o sonho dequem buscava um objetivo navida, para pensar só em econo-mizar mais o seu dinheiro ou dealguma maneira tentar “recupe-rar” seu dinheiro. E aqueles queagora já podiam estar cursandouma universidade, como ficam?Será que eles vão ter as mesmasoportunidades?

Essa questão deve ser revis-ta e medidas mais drásticas de-vem ser tomadas. Segundo ma-téria do site Globo, em algunscasos, se confirmados, muitosalunos vão ter que dar o valordas mensalidades que já ti-nham sido pagas pelo órgão.Isso é o mínimo perto do danoque eles causaram para a soci-edade.

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GeralCultura

Preço dadeclaração doIR pode variaraté 70%

Imposto de Renda

Contadores aceitam fazer a declaraçãoaté um dia antes do prazo final

Talyssa Chagas Lima

A poucos dias do prazo fi-nal para a entrega da declara-ção do imposto de renda, 70%dos paranaenses estão em fal-ta com o Leão. O ritmo de tra-balho nos escritórios de conta-bilidade é grande nessa época.Os preços para fazer a decla-ração variam muito. Nos bair-ros, nota-se uma diferençagrande no preço cobrado pe-los escritórios de contabilida-de para fazer a declaração doimposto de renda.

De acordo com levanta-mento feito pelo LONA em trêsbairros de Curitiba, o serviçopode custar quase o dobro dopreço em de um lugar para ou-tro. No Bairro São Braz, a de-claração pode ser feita por R$30, no Centro da cidade o pre-ço é de R$ 50 e no Boqueirãoestá o preço mais caro, R$100.

DificuldadesA justificativa para tanta

diferença é o grau de dificul-dade. “O preço para fazer de-pende da complexidade dadeclaração. Para a declaraçãosimplificada o preço é de R$50”, afirma João Carlos Nasci-mento, responsável pelo de-partamento pessoal de um es-critório de contabilidade.

Mas não são todos que dei-

xam para fazer a declaraçãoperto do prazo final. A contri-buinte Roseana Almeida afir-ma que já concluiu tudo háduas semanas. “A minha de-claração era a simplificada,então já declarei tudo o que ti-nha para declarar, não gostode deixar nada para a últimahora”.

A contadora AlessandraBom explica o que significauma declaração simples.“Esta declaração é quandonão tem nenhum empecilho,quando tem informe de rendi-mento, cinco ou seis bens de-clarados, quando tem toda adocumentação.”

Estar em dia com o Leãodá trabalho não só para oscontribuintes, mas tambémpara quem é responsável pela“confecção” da declaração.Os escritórios de contabilida-de estão contratando muitosfuncionários e horas-extrassão necessárias para conse-guir terminar o trabalho.“

Contrataremos pelo menosmais dois contadores; o movi-mento é tão grande que os fun-cionários estão fazendo hora-extra desde já”, relata Nasci-mento.

Alguns escritórios de con-tabilidade garantem que fazema declaração até cinco diasantes do prazo final, outros

afirmam que podem tentar fa-zer a declaração em cima dahora. “Aceitamos fazer a de-claração até o dia 29 de abril”,salienta Nascimento. Já outrosnão prometem terminar o tra-balho.

“Fazemos até mais pertodo último dia, mas não prome-temos entregar porque o siteda Receita Federal fica muitocongestionado”, aponta Car-los Gomes, que trabalha nodepartamento pessoal de umescritório de contabilidade.

Menos da metadeO delegado da Receita Fe-

deral, Vergílio Consetta, relataque o movimento de entregado imposto de renda está equi-valente ao do ano passado eque menos da metade doscontribuintes já declararam oImposto de Renda.

“Até agora 30% das pesso-as já declararam. No Paraná,aproximadamente 493.498contribuintes já fizeram a suadeclaração”, aponta o delega-do. Segundo a Receita Federal,aqui no Paraná, o número es-timado de pessoas para fazera declaração é de 1.650.000.

Silvia Guedes

Shakespeare está por todolado. Cinema, música, fotos,pinturas, novelas e até em pro-paganda de goiabada. Mônicae Cebolinha, personagens docartunista Maurício de Souza,já se vestiram de Romeu e Julie-ta para esse comercial. Mas nãoé só nas artes que Shakespeareestá presente.

Aimara da Cunha Resende,presidente do Centro de EstudosShakespeareanos (CESh), cita nasua palestra para o “Abril deShakespeare”, uma frase queainda se encaixa perfeitamentenos dias de hoje: “Seja meiga ebonita, donzela. Mas deixe queos outros sejam inteligentes.”

O machismo e a diferençaentre homens e mulheres na so-ciedade atual já era retratado an-tigamente nas peças de teatro.Para Aimara, o autor é um vírus.Quem conhece sua obra quer seaprofundar ou pelo menos en-tender. A tradução das obras es-critas por Shakespeare afasta opúblico daquilo que ele realmen-te significa. O endeusamento doautor se deve ao marketing queele teve na Inglaterra. Motivoesse que contribui para o afasta-mento do povo em relação aoautor. “Ele mostra a realidade,o ser humano, faz a gente pen-sar. Para que Freud, se existiu

Shakespeare?”, diz Aimara, con-fessando que essa é sua frasepreferida. O “shake-scene”,como foi chamado na época, eraantes de tudo um grande empre-sário. Começou de baixo e mor-reu rico, como um nobre inglês.“Se Shakespeare estivesse vivoaté hoje talvez ele tivesse uma‘Rede Globo de Teatro’”, dizAimara. A palestra na Univer-sidade Positivo, o título“Shakespeare ontem e hoje”,realizada na quinta-feira à noi-te, abordou temas da históriada arte e mostrou como foi aevolução de Shakespeare nasociedade mundial.

O contraste entre o ontem e ohoje se faz presente na influên-cia que o autor tem nas artesmodernas. O problema dissotudo é que ele não é citado. “Nasnovelas aparece uma históriapróxima de Romeu e Julieta, masalguém sabe que isso é Shakes-peare?”, analisa Aimara. E porque continua fazendo parte docotidiano artístico até hoje? Por-que o autor aborda todos os la-dos do ser humano.

O “Abril de Shakespeare” foipromovido de 22 a 24 de abril.Contou com o apoio da Univer-sidade Federal do Paraná, daUniandrade, da UniversidadePositivo, do Solar do Rosário, daCultura Inglesa e do Centro deEstudos Shakespeareanos.

de ontemno mundo

de hoje

ShakespeareShakespeare

Palestra do “Abril deShakespeare”aconteceu na

Universidade Positivo

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EspecialDireitos do trabalhador

Gabrielle Souza

Em dia de semana, ela se le-vanta às seis da manhã, pegaquatro ônibus até chegar ao tra-balho e outros quatro para vol-tar. Por dia, fica três horas den-tro do ônibus, passa sete horasdo seu dia dentro de um apar-tamento desempenhando servi-ços que muitas pessoas nãogostam de fazer. Passar, lavar,arrumar as camas e tirar pó, elafaz “de olhos fechados”. Com aaparência tranquila, não apa-renta ter 51 anos, 23 deles de-dicados a uma única profissão.Rute Santana é empregada do-méstica e, junto com seu mari-do, educou quatro filhos. Ago-ra o companheiro está desem-pregado e é ela que há cincoanos sustenta a casa.

Rute é uma empregada do-méstica entre as mais de seismilhões de mulheres que de-

Empregada domésticasofre com informalidadeNo Brasil, a cada 100 trabalhadoras dessa área, apenas 27 têm carteira assinada

sempenham essa função noBrasil. De acordo com o Institu-to Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE), em 2003, o tra-balho doméstico era a segundamaior categoria ocupacionaldas mulheres, sendo que 41,6%eram empregadas; 18,6%, traba-lhadoras domésticas; 17,5%,trabalhavam por conta própria;10,1%, não remuneradas; 9,5%,militares e estatutárias e 2,7%,empregadoras. Quanto aos ho-mens, no mesmo ano, apenas0,9% dos homens eram traba-lhadores domésticos.

Empregado doméstico éaquele que presta serviço contí-nuo, não eventual, não esporá-dico e que visa atender as neces-sidades diárias da residênciaou de uma pessoa. Na catego-ria, enquadram-se, além dos do-mésticos, os motoristas particu-lares, vigias, caseiros, damas decompanhia, babás, governantes,

jardineiros e faxineiros.Além de desempenharem

serviços essenciais dentro deuma casa, os domésticos mui-tas vezes são símbolo de fideli-dade. Eles têm a chave da casa,sabem onde estão a maioria dascoisas, desde documentos atéroupas. “É uma profissão mui-to importante, porque a maioriada classe média precisa do nos-so trabalho, mas mesmo assimdevíamos ser mais reconheci-das”, afirma Rute.

Formalidade Xinformalidade

Rute começou a trabalharcomo empregada doméstica em1985. Durante cinco anos traba-lhou na informalidade, e só em1990 veio o seu primeiro regis-tro em carteira. Em todas as re-sidências que trabalhou teveuma permanência que varioude um ano e meio a dez anos

(emprego em que está hoje). Fal-tando cerca de sete anos para seaposentar por idade, Rute con-fessa que não tem pretensão desair do emprego ou deixar daprofissão.

A categoria só veio a ter suaprofissão reconhecida em 1972,através da lei do empregado do-méstico (Lei 5859/72). Na épo-ca, havia pouquíssimos direi-tos trabalhistas, que só foramampliados em 1988, com aConstituição Federal.

A advogada da área traba-lhista Kelli Artigas de Oliveiraexplica que alguns direitos dosempregados domésticos são di-ferentes dos demais trabalhado-res. “Eles não possuem jornadade trabalho determinada, nãotêm direito a seguro-desempre-go, benefício por acidente detrabalho e o depósito do FGTSé facultativo”, comenta.

Mas por lei as férias passa-ram a ser de 30 dias, existe a ga-rantia de estabilidade no em-prego até o quinto mês após oparto, direito a 13º salário, des-canso semanal remunerado, fé-rias, licença-paternidade decinco dias corridos, licença-ma-ternidade de 120 dias, aviso-prévio e aposentadoria.

ImpressõesA empregada considera o

salário da categoria convenien-te, mas acha os direitos um tan-to quanto falhos. Apesar dogosto que tem pelo que faz, Rutecomenta que a profissão é can-sativa. “Todo dia é a mesmacoisa para se fazer, às vezes te-nho vontade de voltar emborano meio do caminho”, declara.

O recifense José Olimpio, de48 anos, faz parte do outro ladoda situação. Ele trabalha em um

hotel de Campo Largo, na Re-gião Metropolitana de Curitiba(RMC), há cinco anos, sem car-teira assinada. Lá desempenhaas funções de camareiro, jardi-neiro, recepcionista, cozinheiroe de limpeza, um “multiuso”,como ele mesmo define. A car-ga horária é das 10h30 às 20h.Num espaço de cerca de 7000m2 de área, Olimpio tem muitacoisa para fazer, e por isso pre-cisa de um “motorzinho” liga-do em seu corpo.

Lembra que um hóspede aovê-lo trabalhando fica impressi-onado, porque teoricamente enuma visão até machista seriamtarefas desenvolvidas por mu-lheres. Para ele, o reconheci-mento não vem do patrão, masa recompensa está na própriaprofissão. “O carinho do clien-te não tem dinheiro que pague.É muito prazeroso saber quevocê está sendo útil para os ou-tros”, conta.

A interação é tão grande en-tre Olimpio e as patroas, que asconsidera uma família e o hotela sua casa, apesar de lá nãomorar. “Virei o mascote do ho-tel, elas acordam gritando omeu nome”, afirma. A médioprazo, Olimpio pretende mudarde profissão: quer montar umafábrica de doces e salgados.

Associações e sindicatosEm Curitiba, existem ao

menos duas organizações quetratam apenas de assuntos li-gados aos domésticos. As or-ganizações auxiliam e orien-tam os empregados na hora docontrato, da rescisão e de tirardúvidas. A maior bandeiradas organizações que defen-dem a classe é a luta pela car-teira assinada.

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EspecialDireitos do trabalhador

A Associação de apoio àsempregadas domésticas de San-ta Zita, localizada no bairroUberaba, próximo a ParóquiaNossa Senhora Aparecida, exis-te desde 7 de setembro de 1944.Com fins assistencialistas, ainstituição ajuda as domésticasnão só na parte burocrática,mas também oferecendo cursosde especialização, como culiná-ria, etiqueta e arrumação decasa. Para angariar dinheiro, aAssociação realiza bingos, fazbazar de roupas usadas, pro-moções e tarde do chá.

Gabrielle Souza

Desde 2001, a Pastoral daCriança oferece em Curitibaum curso de formação em ser-viços domésticos e gerais. Oprojeto-piloto deu certo, e ago-ra está também em Belo Hori-zonte, Brasília, Recife e SãoPaulo.

A coordenadora em Curi-tiba, Maria da Graça DiasUmada, explica que para par-ticipar do programa é precisoser mãe, ou líder, ou avó queparticipe ou tenha participa-do de ações na comunidadeem que mora. O curso é ofer-tado toda vez que acontece odia de Celebração da Vida.Apesar de a Pastoral ser filia-da à Confederação Nacionaldos Bispos do Brasil (CNBB),mulheres de todas as religiõespodem participar.

O curso é gratuito, masnão auto-sustentável’; ele émantido com a ajuda da Pas-toral. Além disso, após capa-citada, cada profissional pre-cisa fazer a devolução dasdespesas durante 10 meses.

São 12 dias úteis de cur-so, das 8 às 17 horas, totali-zando 96 horas de aulas,onde as alunas aprendemna prática como limpar acasa, organizar o guarda-roupa, arrumar uma mesamais sofisticada e o modocorreto de lavar uma roupa.Maria da Graça diz que ocurso visa sempre à econo-mia para os patrões. O espa-ço em que acontece o cursona Pastoral era o antigo re-feitório do Lar das Meninas.Nele foi construída uma es-pécie de casa, onde temquarto, sala de dois ambien-tes, lavanderia, banheiro, co-zinha e sala de aula, tudopara aliar com sucesso teo-ria e prática. Dispõem tam-bém de alguns equipamen-tos como microondas, má-quina de lavar e de secarpara que as futuras empre-

Pastoral da Criançaoferece curso deformação de domésticas

gadas domésticas saibamcomo usá-los.

Os alunos também têm au-las teóricas com advogado,dentista, nutricionista e capaci-tadoras. Em culinária, são ensi-nados pratos triviais bem elabo-rados, como comida árabe, fran-go cremoso, bife a parmegiana,rocambole de carne, bolos, do-ces e sobremesas.

A Pastoral trabalha com ospilares da honestidade, respon-sabilidade, higiene, auto-esti-ma, ética e relações humanas.Dia 2 de março, foi iniciada a90° turma do curso, que tem 12mulheres, todas com idade aci-ma de 18 anos.

Nos sete anos de curso, cer-ca de 686 mulheres já se forma-ram e 70% delas está emprega-da, todas com carteira assina-da, o maior objetivo da Pasto-ral. Um diferencial do curso éque grande parte delas saemautomaticamente trabalhando,pois no 10° dia de aula fazemestágio de um dia na casa deuma pessoa.

Maria da Graça ressalta quea procura é maior que a oferta.Os interessados precisam ir atéa Pastoral e solicitar o serviço deuma aluna. “O projeto de gera-ção de renda já melhorou o ní-vel social de muitas mulheres”,afirma Maria da Graça.

Maria Santa da Silva, mo-radora de Pinhais, já traba-lhou como doméstica, mas re-solveu fazer o curso da Pasto-ral para ter mais referência egarantia de carteira assinada.“Estou aprendendo cada vezmais, coisas que eu não co-nhecia, estou vendo aqui. Diasatrás aprendi a fazer panque-ca no curso e resolvi fazer emcasa, todos adoraram”, revela.

Ana Carolina Soares de Al-meida é outra aluna, mas queestá em busca do seu primeiroemprego aos 19 anos. O quemais gosta no curso são as au-las de culinária, especialmenteas dicas de reaproveitamento dealimentos.

A atual presidente e co-fun-dadora da Associação, EuláliaVentura, tem 82 anos, dos quais46 como empregada doméstica,em uma única casa. Eulália temmuito orgulho da profissão econta que a sua juventude estána associação.

Apesar de Eulália achar queatualmente a profissão está bemregulamentada, algumas até ga-nhando bem, dependendo dacompetência, ela comenta que asituação da informalidade émuito acentuada em todo o Pa-raná, principalmente no interior.

O Sindicato dos EmpregadosDomésticos fica localizado na XVde Novembro e tem como princi-pal função a assistência jurídica,como cálculos de rescisões.

Os domésticos procurammuito o Sindicato para ter escla-recimentos de situações irregu-lares, como falta de pagamentoe diferença salarial. Há algunsanos, Rute procurou o Sindica-to para pedir informações sobreo valor correto da rescisão. “Osmeus antigos patrões queriamme pagar menos do que eu tinhadireito por lei”, lembra.

Segundo a arquiteta Daniela Maistrovicz, nos últimos anos, as pessoas não têm maissolicitado dependência de empregada nos projetos de residências urbanas, padrão mé-dio-alto. “Acredito que por serem tempos mais fáceis. Hoje em dia existem sistemas detransportes eficazes, podendo assim as funcionárias voltarem para suas casas todos osdias”, comenta a arquiteta.

Devido à tecnologia de materiais de acabamento usados naconstrução que são de fácil manutenção e dos aparelhos quefacilitam o trabalho, o serviço doméstico está mais fácil. “Per-cebo que as pessoas estão optando por diaristas em vez demensalistas”.

Já em casas de alto padrão ainda se fazem dependênci-as de empregada, mas existe uma consciência maior doque antigamente, tanto por parte dos proprietárioscomo dos profissionais, e normalmente são proje-tados cômodos confortáveis. Ás vezes com maisde um quarto e banheiro, sendo que o quarto nãoé menor do que 6,50 m2.

“Quartinho de empregada”

Pastoral da Criança

Divulgação

Olimpio trabalha com afazeres domésticos há cinco anos em umhotel sem carteira assinada

Fotos: Gabrielle Souza

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ColunasEducação

Hendryo André

Voltava Ptolomeu da me-lhor lição que um sofista po-dia lhe oferecer, exaurido e or-gulhoso do conhecimento vo-látil aprendido (ou apreendi-do, visto que já sonhara emesquecer tudo aquilo logoapós a conquista do fogo),quando encontrou, em meioàquela caminhada no centroda democrática, igualitária efraterna Atenas mais-que-mo-derna, um cidadão cuja alcu-nha carregava consigo o pro-gresso. Os habitantes dos Bal-cãs mal puderam perceber talação, diluída em meio à homo-geneidade daquela ópera (im-portada de uma península ba-nhada por outros mares, diga-se de passagem) composta porum cenário acinzentado, comtenores que circulavam poraquelas avenidas enquantoescutavam a si mesmos – naparticularidade de fones deouvidos que ditavam um sóritmo – e protegiam as retinascom escuras cortinas emperra-das.

Fitavam-se naquele instan-te como se já se conhecessemhá um bom tempo. Estavampróximos a um vestíbulo quedava acesso a uma estruturamenor apenas que Cronos e,diluídos na penumbra daque-le edifício, não trocaram umasó palavra nos dois minutosseguintes. Ptolomeu procurouobservar durante o rápido mo-mento aspectos positivos na-quele senhor vestido com rou-pas pretas e óculos escuros,barbas brancas e pele clara, arimponente e respeito invisível.“Digo a você, caro jovem,como se falasse a meu primo-

gênito”, interveio o homem aoquebrar o flerte e terceirizar osentimento familiar, “paravencer na vida como eu, éobrigação entender a subjetivi-dade etimológica do cotidia-no”.

Ptolomeu apenas não riu –e tem-se vontade de gargalhar,certas vezes, ao se depararcom cidadãos moralistas e ga-nanciosos – porque ficou anes-tesiado com o excerto “vencerna vida como eu”. Por isso, li-mitou-se a sorrir (afinal, há di-ferença entre rir e sorrir). “Pro-meta”, continuou o senhor aomesmo tempo em que coçava abarba e ajeitava a gravata,“que um dia você será um in-tegrante da sombra que hojenos impede de vermos o cre-púsculo”.

Enquanto falava o senhor, ojovem vislumbrava o edifícioque projetava uma sombra dezvezes maior – talvez quinze –que o tamanho real da obra ar-quitetônica: “Posso ser dessaaltura, talvez maior”, concluiuconsigo quando o movimentotransversal do pescoço alcan-çou o topo do prédio, ao mesmotempo em que os olhos brilha-ram e o sorriso traçava-lhe umar de alento, mal percebera na-quele instante de êxtase a pre-sença de um abutre no ápice.

Naquele início de noite,Ptolomeu reviu os ensinamen-tos dos sofistas com gana e re-memorou a conversa com odesconhecido que o tratarapelo nome. “Vencer na vidacomo eu” não lhe saía da ca-beça e o “prometa” o instiga-va a ponto de o estudante tro-car o ócio por apostilas, nabusca incessante de respostasà prova de fogo.

Todos os dias, o garoto pas-sava em frente ao imponentemonumento e, em busca deconselhos, procurava em vãopelo ancião. Havia no fundouma corrente de pensamentoque o fazia crer em um imedia-to reconhecimento do cidadãoque o ensinara os meandros doprogresso. Mas, o fato é que omoralista não mais reapareceunas proximidades do vestíbu-lo. Houve um dia, entretanto,que Ptolomeu percebeu um mo-vimento estranho em uma dasjanelas do prédio. Atinou-seque era a pessoa com a qualpassara a partilhar princípiose, por isso, observou-o por al-guns instantes – era ainda oancião um mero rastaquera, se-gundo seu próprio discurso.Não foi difícil interpretar – e aonisciência narrativa permiteisso – que aquela figura patri-arcal da qual Ptolomeu mal sa-bia o nome admirava consigo opoder de suas próprias retinas,as quais não se dilatavam aodesafiarem a luz solar já rubra.

Nesse momento, Ptolomeupercebera que teria de ir além:era preciso ver a luz e sentir ocalor do astro de outro ângu-lo. “Poderia tornar-me donodo astro”, concluiu em umpensamento que germinouuma espécie de desejo intensode ganância, iminente à loucu-ra, que o instigava a roubar aluz do sol para projetar assombras como bem quisesse.O vestíbulo era apenas a por-ta de entrada para a objetivi-dade sintática e, quanto maisalto Ptolomeu chegar, maispróximo ao abutre faminto es-tará. O vestíbulo é apenas aporta de entrada para o edifí-cio comercial.

Subjetividadeetimológica

Aline Reis

Quem nunca ouviu a ex-pressão “filho de peixe, peixi-nho é”? E de fato, os “pei-xões” têm papel decisivo navida de seus filhos, mas calma,não estamos falando de pro-fissão, nem de namorados oucoisa parecida.O assunto emquestão é a música.

Num papo descontraídocom a galera da banda Jardi-ne, descobri que a paixão pelamúsica é algo que está no san-gue. E isso acontece mesmoquando o filho não sabe do“passado” do pai.

“Meu pai teve banda, e eufiquei sabendo disso só hápouco tempo, mas eu comeceia tocar teclado por incentivodele aos oito anos de idade”,explica o baixista Paulo Vini-cius, de 25 anos.

O guitarrista do Jardine,Pedro Johns, 25 anos, relataque suas preferências musi-cais mudaram na medida emque ele crescia, mas a boa mú-sica sempre prevalece, segun-do ele. “As influências maisfortes que eu lembro são Bea-tles, Bob Dylan e Chico Buar-que, isso mostra que lá emcasa tínhamos o gosto apura-do para música”.

O sertanejo é sem dúvidaum dos gêneros mais ouvidos,mas se engana quem pensaque é o mais amado. “Lá em

casa meu pai e minha mãe ou-viam bastante sertanejo, caipi-ra... Zezé Di Camargo & Luci-ano, Tonico & Tinoco, nessa li-nha”, exemplifica o bateristada Jardine, Maicon Del Santa,de 26 anos. Contudo, Maicondiz que a sua maior influênciaveio por parte do irmão, queouvia rock nacional e MPB.

A vocalista da Banda, Flá-via Rocha, de 25 anos, tambémouviu muita música sertanejana infância, mas hoje ela pre-fere – a exemplo de seus com-panheiros de banda – a MPBe o rock. “Minha família é dointerior, eu sou uma pessoa deorigens caipiras e meus paissempre ouviram músicas ser-tanejas. Mas meu irmão (sem-pre o irmão mais velho!) come-çou a tocar cedo e ele ouviaheavy metal, todas as verten-tes possíveis do metal e dorock. Mas minhas preferênciasmesmo são MPB, rock, e claroalguns vocais femininos; Cás-sia Eller, Ivete Sangalo, ElisRegina”, explica a cantora.

O fato é que a influênciaque os pais exercem sobre ogosto pela música dos pimpo-lhos é enorme, eles podem nãoseguir os mesmos gêneros,mas, em geral sempre gostamde música. É o caso de Zizi eLuiza Possi, Martinho da Vilae Martinália, Zezé e WanessaCamargo, Jair Rodrigues, Jair-zinho e Luciana Mello.

Amor que passade pai para filho

Jovem

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Curitiba, segunda-feira , 27 de abril de 2009 7

EsporteDia do goleiro

Herói ou vilão, os arqueiros recebem a devida homenagem no dia 26 deabril

Fernando de Castro

“Eu vou lhe avisar, goleironão pode falhar. Não pode ficarcom fome na hora de jogar. Se-não é um frango aqui, um frangoali, um frango acolá”. A música“Eu vou lhe avisar”, de JorgeBen Jor, dá o recado para os go-leiros. E eles sabem disso. O go-leiro é de longe o mais controver-so personagem de uma partidade futebol. É o único atleta que,de herói, pode passar a vilão emquestão de segundos. Nada maisjusto que ontem, 26 de abril, fo-ram prestadas sinceras homena-gens aos guerreiros da meta. “Éimportante ter esse dia. O goleiroé sempre tão sacrificado duranteos jogos e esse dia é, para nós,como se fosse um aniversário”,quem corrobora é o goleiro Galat-to, de 26 anos, titular do ClubeAtlético Paranaense.

Rodrigo José Galatto é o retra-to perfeito das glórias e agruras

da profissão. Revelado pelo Grê-mio e herói da torcida do Atléti-co, o atleta já passou por diversosmomentos marcantes em sua car-reira. Foi herói do Grêmio em2005 na chamada Batalha do Afli-tos, onde o Grêmio conquistou oacesso à primeira divisão do cam-peonato brasileiro, mas algumtempo depois perdeu sua condi-ção de titular. Chegou ao Atléticoem 2008, e após alguns meses nareserva, entrou para não sair maisdo time. “Eu já tive vários momen-tos importantes na minha carrei-ra. Com 26 anos já passei poremoções, adquiri experiências etambém já passei por dificulda-des, mas consegui dar a volta porcima. Quando você é campeão econsegue o título não tem como es-quecer”, relembra o arqueiro.

É curioso analisar como oprocesso de descoberta do golei-ro se transforma do acaso para apaixão. Sílvio Toaldo Junior, de33 anos, é goleiro amador e retra-

ta exatamente este caminho:“É aquela velha história: ouvocê faz gol e vira um gran-de artilheiro ou vira goleiro;no meu caso, não tive muitasopções. Como eu nunca fuimuito habilidoso com a bola nospés, a vaga que sobrava para mimera no gol, abracei e estou atéhoje”. Galatto compartilha da ex-periência de Sílvio: “Como todacriança quando começa a jogarfutebol, queria fazer gol e come-cei como atacante. Vi que não eraa minha e aos poucos fui recuan-do até chegar ao gol. Foi com 13anos. Uma vez faltou um goleiroe acabei ficando no gol. Fiz umasdefesas boas e gostei da ideia.Quando vi que tinha dom acabeime tornando um goleiro”.

Seja amador, profissional, oude fim-de-semana, é fundamentalpara o sucesso do goleiro a res-ponsabilidade que recai sobre ele.Esta responsabilidade é sempremaior do que a dos outros atletas.

A vez do goleirogoleiro

“Um atacante, um médio e mes-mo um zagueiro podem falhar.Só o arqueiro tem de ser infalível”,dizia Nelson Rodrigues.

O preparador de goleirosO goleiro pode “frangar” ou

ter uma ótima atuação; o ônusou as glórias sempre recairão so-bre ele. O que a maioria das pes-soas parece não saber é que portrás do desempenho que vemosdurante os 90 minutos de jogo,existe um trabalho crucial feitopelo preparador de goleiros.Quem assiste aos jogos do golei-ro Galatto, pouquíssimas vezesrelaciona o que vê com o traba-lho de seu preparador de golei-ros, Wanderley Filho. Wander-ley, que assumiu recentemente oposto de treinador de goleiros doClube Atlético Paranaense, ad-mite que o trabalho não é reco-nhecido como deveria. “Nossentimos um pouco indignados,porque quando o goleiro vaibem a maioria das pessoas nãoreconhece que tem um trabalhopor trás disso. Mas quando ogoleiro vai mal, as pessoas che-gam e, além da cobrança, falam- o seu goleiro foi mal - e não queé o goleiro da equipe que foimal”. Se externamente nem tudovai como Wanderley gostaria, omaior beneficiado de seu traba-

lho, Galatto, não tem dúvidas so-bre a importância do trabalhodo treinador de goleiros. “O trei-namento específico é tudo parao goleiro. É onde você se qualifi-ca e aperfeiçoa as técnicas. Parao jogador de linha, o condiciona-mento é importante, para nóseste treino específico para o go-leiro é muito importante”, afirmao arqueiro.

Da meta ao ataqueA paixão pelo ofício nem

sempre é suficiente para man-ter um goleiro em atividade.Wagner Ribas, 27, encerrousua carreira como goleiroamador, justamente para jogarna posição em que se encon-tram os maiores algozes dosarqueiros, o ataque. Ele afirmaque a mudança nada teve aver com as críticas comuns daprofissão. “Fiz essa opçãopura e simplesmente por que-rer correr mais, jogar e ter achance de decidir um jogo fa-zendo gols”, afirmou. A moti-vação de Wagner comprova afrase de Yustrich, ex-técnicoda seleção brasileira: “Goleironão ganha jogo, só perde”.Verdade ou não, casos como ode Wagner apenas contribuempara o enorme folclore queexiste em torno dos goleiros.

Fora dos gramadosFora dos gramadosQuando questionados sobre os primeiros cinco goleiros que vêm à cabeça, dez entre

dez entrevistados citaram apenas goleiros de futebol. Possivelmente reflexo de vivermosno país do futebol, goleiros de modalidades como Handebol, Hóquei ou Pólo Aquáticonão foram citados. Para Murilo Vali, 20, goleiro de handebol, é muito difícil conseguir omesmo espaço que um goleiro de futebol possui, principalmente no Brasil. “Sinto-me umpouco esquecido e um pouco triste com a atenção demasiada dada exclusivamente a umúnico esporte, isso tira o incentivo para o desenvolvimento de outras modalidades e deoutras atividades culturais”, confessou Murilo.

O descontentamento do goleiro é decorrente da falta de conhecimento do brasileiro emrelação a outros esportes. Lincoln Rocha, 30 anos, quando questionado sobre a razão deter citado apenas goleiros de futebol, demonstra esse comportamento: “E qual outro es-porte tem goleiro?”.

Apesar da falta de incentivo, Murilo prefere acreditar que os goleiros de outras moda-lidades terão seu espaço reconhecido com o tempo, do que mudar de esporte, mesmo acre-ditando que poderia ter um bom desempenho. “No handebol os arremessos são realiza-dos a no máximo nove metros de distância, sendo menor quando há uma projeção dojogador para o interior da área de 6 metros. Isso gera uma velocidade muito alta e umafacilidade de retificação muito grande, sendo requeridos grande velocidade de reação dogoleiro e ótimos reflexos”, concluindo que o goleiro de handebol pode apresentar maiorfacilidade para outros esportes.

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EnsaioBombeiros de Curitiba

Texto: Paula Y. S. WernerFotos: Gustavo Alberge

“Por uma vida todo sacrifício é dever”. Esse é o lema do Corpo de Bombeiros do Paraná. Umaprofissão tão arriscada que exige muita dedicação. Não é à toa que os bombeiros são consideradosverdadeiros anjos da guarda. Somente neste ano, no estado do Paraná, 37.510 ocorrências foramatendidas – uma média de aproximadamente 357 por dia.

As fotos desta página registram um incêndio ocorrido no dia 4 deste mês em uma casa abando-nada, próxima ao cruzamento entre a rua Ubaldino do Amaral e a Avenida Sete de Setembro, naregião central de Curitiba. O Corpo de Bombeiros chegou rapidamente ao local e controlou as cha-mas em cerca de 15 minutos. A casa, que costuma abrigar moradores de rua, felizmente estavadesocupada no momento do incêndio.

Profissão de riscode risco