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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2008
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-040-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Fundação Universidade Estadual de Maringá
PRODUÇÃO DIDÁTICO- PEDAGÓGICA: UNIDADE DIDÁTICA
Título do Projeto: HABILIDADES EMOCIONAIS E AUTISMO
Proponente: MARIA NILDA NABARRETE FRAGA
Orientador: PROFª MESTRE GIZELI APARECIDA RIBEIRO DE ALENCAR
Maringá – São João do Ivaí – 2008.
HABILIDADES EMOCIONAIS E AUTISMO
Maria Nilda Nabarrete Fraga
Escola de Educação Especial “Carinho Fraterno” – Professora PDE
Orientadora: Professora MS. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
INTRODUÇÃO
Esta unidade de trabalho constitui-se em um momento de aprofundamento teórico sobre
o autismo, visando a organização e delineamento de ações pedagógicas por meio de
instrumentos de intervenção que sejam significativas.
O Autismo é hoje considerado uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas
e (GILBERT apud ASSUMPÇÃO 1995) esse quadro sindrômico afeta o
desenvolvimento da interação social tendo como conseqüência prejuízos nas relações
interpessoais do sujeito durante toda sua vida. Acompanha, geralmente, dificuldades
relacionadas à fala, imaginação e alterações no comportamento conhecida como de
tríade de Wing.
É importante salientar que muitos estudos foram realizados desde que o psiquiatra Leo
Kanner, em 1943, publicou se primeiro artigo. Ele mesmo deu continuidade nas
pesquisas até 1973 revendo seus primeiros trabalhos e sugerindo que novas formas de
pensamentos e pesquisas poderiam trazer outras possibilidades na busca de
compreender e explicar cientificamente essa síndrome tão intrigante.
Alguns pesquisadores segundo Assumpção (1995) sugerem indícios de desvios
biológicos em pessoas autistas, mas, como estas podem aparecer em um determinado
grupo de autistas e em outros não, e às vezes também aparece em grupos não autistas,
torna-se difícil a comprovação da veracidade da mesma. Essas alterações
neurobiológicas dão origem a teorias neurofisiológicas, que defendem que o autismo
estaria ligado a problemas neurológicos.
Mediante o exposto, neste texto nos propomos a dissertar sobre o ensino das habilidades
emocionais para crianças com autismo como objetivo de respaldar teórica e
praticamente os professores os da rede regular que venham a atuar junto a esses alunos.
O aporte teórico utilizado fundamenta-se em autores como Valdez (2007), Assunção
(1995), Facion (2005), Baptista, Bosa e colaboradores (2002), Frith (1993), dentre
outros que se façam necessários.
INICIANDO O DIÁLAGO
Para se traçar o diagnóstico de autismo, de acordo com o Manual Diagnóstico e
Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), é preciso considerar um total de seis ou
mais itens, a saber:
1) Marcante lesão na interação social, manifestada por pelo menos dois dos
seguintes itens:
a- Destacada diminuição no uso de comportamentos não verbais múltiplos tais
como: contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com
a interação social.
b- Dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriadas para o
nível de comportamento.
c - Falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações
com outras pessoas, por exemplo: dificuldades em mostrar, trazer ou apontar
objetos de interesse.
d- ausência de reciprocidade social ou emocional
2) Marcante lesão na comunicação, manifestada por pelo menos um dos
seguintes itens:
a – Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem
ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de
comunicação, tais como gestos ou mímicas.
b – Em indivíduos com fala normal, destacada diminuição da habilidade de
iniciar ou manter um conversa com outras pessoas.
c - Ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação
social apropriadas para o nível de desenvolvimento
3) Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e
atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes itens:
a - Obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que
seja anormal tanto em intensidade quanto em foco.
b – Fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais
específicos.
c - Hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou
torção das mãos ou dedos, ou movimentos corporais complexos.
B) Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas,
com início antes dos 3 anos de idade:
1. Interação social.
2. Linguagem usada na comunicação social.
3. Ação simbólica ou imaginária. (AMA-Associação de Amigos do Autista,
2008)
Segundo o DSM-IV, os transtornos do Espectro Autista ou os Transtornos Gerais do
Desenvolvimento se caracterizam por perturbações graves e gerais em várias áreas do
desenvolvimento tais como:
habilidades para a interação social;
habilidades para a comunicação ou presença de comportamentos, e
interesses ou atividades estereotipadas.
Essas perturbações são comumente denominadas de tríade de alterações ou tríade
diagnóstica, ou seja, alterações que ocorrem na comunicação, nas relações sociais e na
imaginação.
Muitos são os estudiosos que se preocupam em investigar e entender esta síndrome,
como e por que ela ocorre, propondo teorias que a explique. Para tanto, compreender
como surgiu e o que significa a Teoria da Mente é de suma importância, uma vez que é
nela que se pauta a o desenvolvimento inadequado das pessoas com esse transtorno.
Assim, é preciso partir do conhecimento produzido historicamente para buscar explicar
como a nossa mente funciona para que possamos entender o sentido oculto presente nas
ações das pessoas. Para melhor esclarecer essa afirmativa recorremos a Frith (1991),
quando, para explicar o funcionamento da mente, valeu-se de uma descrição de cena
pintada em um quadro. Segundo esse estudioso quando relatamos os detalhes, vemos
aquilo que se passa em nível externo como roupas, a disposição dos personagens na
cena, contudo, não temos a capacidade de captar aquilo que está se passando
internamente dentro de cada um. Para que nós possamos mergulhar realmente na cena,
para captar o sentido real, é necessário ao ouvirmos as descrições lógicas e precisas
colocar em ação um poderoso processo mental que nos capacita para relacionar estados
externos de fatos e estados mentais internos. Esse processo nos possibilita realizar
algumas deduções referentes aos sentimentos que os personagens nos mostram.
Este trabalho é realizado pelo cérebro involuntariamente como se não pudesse deixar de
fazê-lo. Olhando para a cena proposta e mediante as pistas ali colocadas associado a
determinados padrões de conhecimentos que já possuímos em nossa mente nos permite
tecer ligações entre os diversos fatos, bem como deduzir e concluir determinado
assunto.
Em se tratando de uma cena real, de acordo com Valdez (2006) a nossa mente utiliza o
mesmo princípio, ou seja, junta certas condutas observadas com o conhecimento
possuído, interpreta-o e processa a informação dando-lhe maior coerência. Isso explica
nossa capacidade de interpretar adequadamente o que outras pessoas estão fazendo,
possibilitando assim a realização de previsões, antecipações, ou seja, prever
mentalmente condutas em uma determinada cena. Isso só é possível porque usamos uma
teoria comum da mente humana que é a de relacionar os comportamentos com os
estados mentais.
Outra característica importante das condutas da mente e suas relações é que ela parece
ser naturalmente programada para ligar essas informações formando tramas coerentes.
Podemos então perceber a importância dessa função mental para atribuirmos sentido as
ações dos outros no dia a dia.
Cumpre frisar que a falha no processo de envio dessas informações acarreta dificuldades
imensuráveis. No caso de pessoas com síndrome de autismo a possibilidade de estar
falha essa teoria da mente baseia-se na sua peculiar incapacidade de relacionar-se com
as pessoas, levando-nos a pensar que eles possuem comportamentos naturais, simples e
não sentem essa necessidade que motiva as demais pessoas na busca da coerência
mental.
Para Frith (1991), é muito importante desenvolver na criança essa capacidade de
atribuição mental assinalando que existe uma semelhança surpreendente entre a lógica
em que se baseiam as atribuições mentais e o ato de criar ficções. Segundo ela podemos
entender a ficção como a precursora da teoria da mente. Essa capacidade de criar
ficções e imaginar, no entanto, se mostra comprometida na pessoa autista.
Essa capacidade, de acordo com Howlin, Baron-Cohen e Hadwin (2006) evidencia-se
desde o nascimento, porém de forma primitiva, ou seja, os recém nascidos possuem
conhecimentos sobre espaço, tempo, casualidade, e possuem também, certos
conhecimentos sobre pessoas e objetos, respondendo a cada uma delas de uma maneira.
Essa forma primitiva se altera quando aprendemos sobre aspectos específicos do mundo
e por meio das representações que fazemos das pessoas, coisas e acontecimentos.
As representações levam, transportam o mundo à mente. A ausência dessa habilidade da
teoria da mente é o que causa no autista dificuldade compreender a emoções e
conseqüentemente os leva a dificuldades no relacionamento afetivo e social.
HABILIDADES EMOCIONAIS
De acordo com a literatura, a tríade diagnóstica evidencia onde devemos atuar em
termos de intervenção pedagógica para respaldar o desenvolvimento da pessoa com
autismo.
As pesquisas recentes sinalizam que na escola, segundo Valdez (2007), geralmente o
aluno autista se sente incomodado, com dificuldade de permanecer no meio de um
grupo de amigos, sofre discriminação, ganham apelidos, não entendem as brincadeiras e
piadas dos outros. Dificilmente entendem a ordem dada pelos professores, não
conseguindo responder adequadamente, tornando-se motivo de chacota para os amigos
da turma, principalmente quando a linguagem desenvolvida é ecolálica. Apresenta
também dificuldade em receber, entender e praticar as regras comuns da escola, tais
como: pedir licença para ir ao banheiro ou sair da classe por algum motivo, o que se
constitui, muitas vezes, como um desafio para o professor que não entende que para ele
essas ações são corretas.
Para o aluno autista essa relação fora do seio familiar se torna sofrida, pois não
consegue resolver os conflitos gerados por elas. Muitas vezes são rotulados de
diferentes, rebeldes e impertinentes. Fora do seu mundo, enfrentando essas difíceis
relações de aluno x aluno, aluno x professor, faz com que eles se sintam desinteressados
e desestimulados a ir para escola.
Em função das leituras realizadas sobre o tema podemos afirmar que as habilidades
emocionais básicas referem-se aos nossos sentimentos, a dos outros e a forma de reagir
a eles. O ser humano é dotado de muitas emoções como inveja, medo, ira, alegria,
tristeza, dentre outros. A luz dessas considerações apresentaremos a seguir a proposta de
trabalho de intervenção, baseado nas pesquisas de Howlin, Baron-Cohen e Hadwin
(2006), no ensino das habilidades emocionais básicas para as pessoas acometidas pelos
transtornos autisticos.
O PASSO A PASSO
Para iniciar uma proposta de intervenção e ensino das habilidades emocionais básicas
(alegria, tristeza, raiva e medo), o professor deverá considerar que o reconhecimento das
emoções não ocorre da mesma maneira para todos. Assim sendo, o primeiro passo a
seguir será preparar o material para posterior aplicação, levando em conta os cinco
níveis de reconhecimento pontuado por Howlin, Baron-Cohen e Hadwin (2006), a
saber: reconhecimento de expressão facial em fotografia; reconhecimento de expressão
facial em desenhos esquemáticos; reconhecimento de emoções baseadas em situações;
reconhecimento de emoções baseadas em um desejo; reconhecimento das emoções
baseadas em uma crença.
1º nível: reconhecimento da expressão facial em fotografias Nesse primeiro
momento, após confecção de cartões com quatro fotografias que expressem as emoções
básicas: alegria, medo, tristeza e raiva o professor deverá apresentar para a criança as
fotos e propor que lhe diga qual expressão demonstra alegria ou tristeza, por exemplo,
como nas ilustrações abaixo.
CARTÃO A SER DISPONIBILIZADO PARA O ALUNO
ALEGRE TRISTE
MEDO RAIVA
a. O professor deverá falar com a criança de maneira que ela entenda.
b. Se a criança não responder corretamente o professor deve ensinar o nome da
expressão.
c. As fotos / cartões deverá ser apresentados gradativamente.
e. O professor poderá falar para a criança que tem mais algumas fotos e que vai colocá-
las em cima da mesa e seguir com os questionamentos até que ele se aproprie dos
conceitos(alegre, triste, raiva e medo).
CARTÃO A SER DISPONIBILIZADO PARA O ALUNO
ALEGRE
2º Nível: Reconhecimento de emoções básicas em desenhos esquemáticos.
Nesse nível o professor deverá introduzir cartões com desenhos esquemáticos contendo
as quatro emoções como no exemplo a seguir.
CARTÃO A SER DISPONIBILIZADO PARA O ALUNO
TRISTE
MEDO
RAIVA
a) Apresentar à criança os cartões contendo os quatro desenhos com as habilidades
emocionais básicas.
b) Perguntar para a criança ou pedir que assinale. Qual desenho representa a emoção
medo, por exemplo, e assim sucessivamente.
3º Nível: Identificando emoções baseadas em situações
Nesse nível o professor deverá identificar se a criança consegue interpretar uma
situação simples e fizer uma previsão da emoção de um personagem de acordo com uma
situação dada. Para realizar esta atividade a criança necessitará utilizar as habilidades
mentais de imaginar e prever qual a reação emocional apresentada na cena como no
exemplo que se segue.
ALEGRE
MEDO
TRISTE
RAIVA
a) O professor aponta para a cena onde o personagem está ganhando pipoca e
pergunta. Que sentimento esta criança vai ter ao ganhar esta pipoca?
b) A criança deverá escolher o desenho esquemático com a expressão que ela julgar
que o personagem irá sentir.
Outra situação ilustrada, a título de exemplo, evidencia uma cena com um menino e um
animal feroz.
ALEGRE
MEDO
TRISTE
RAIVA
Assim como explicitado anteriormente, o aluno deverá ser capaz de escolher o cartão
com a emoção adequado à cena e colocar abaixo do desenho ou no rosto do
personagem.
Num segundo momento o professor poderá, também, confeccionar um cartão em folha
de sulfite onde contenha a cena com a habilidade emocional que queira trabalhar, dispor
para o aluno outros cartões representando as mesmas emoções e pedir que ele escolha
aquela que seja igual a que está no cartão maior.
Essas atividades podem ser feitas também com bonecos encenando pequenas
dramatizações.
4º Nível: Identificando emoções baseadas em um desejo
Quando a pessoa alcançar este nível poderá reconhecer emoções ligadas à realização ou
não dos desejos de um personagem. Para trabalhar as habilidades neste nível o professor
pode apresentar à criança cartões contendo cenas de pessoas que conseguiram ou não
realizar seus desejos envolvendo as quatro emoções básicas citadas acima. A criança
deverá identificar a emoção adequada à situação mediante ou não a realização do seu
desejo.
ALEGRE
MEDO
TRISTE
RAIVA
5º Nível: Identificando emoções baseadas em uma crença
Neste nível é possível avaliar e desenvolver a habilidade da criança para entender que as
pessoas podem sustentar falsas crenças, conceito básico da teoria da mente. Para
melhor entendimento desse nível o professor deverá organizar as etapas por itens:
Vejamos a ilustração abaixo.
ALEGRE
1º fato - a pessoa possui um desejo.
2º fato - ela acredita que aquele desejo não será realizado. Para ilustrar melhor vamos
analisar essa pequena história: Pedro tinha muito desejo de ganhar uma bola de futebol
no natal, ao mesmo tempo em que tinha esse grande desejo ele pensava, acreditava que
ia ganhar um sapato. Pensando nesta situação como você acha que Pedro está sentindo?
Por quê?
Para realizar esta intervenção podemos:
a) confeccionar cartão ou cartões contendo ilustrações onde a situação desejada
apareça tendo como objetivo a emoção que queremos trabalhar,
b) confeccionar cartões ilustrados com as quatro emoções que estamos trabalhando,
c) apresentar para a criança o cartão com a história selecionada, junto dispor
também cartões contendo as quatro emoções que estamos trabalhando (raiva medo
alegria tristeza). Pedir para ela que leia as ilustrações e interprete a história. No caso
dela não conseguir então nós contamos a história para ela (Pedro, no caso citado),
d) perguntar para a criança como ela acha que o personagem está se sentindo e por
que.
e) pedir para que ela escolha o cartão que se refere à emoção que ela acha que ele
está sentindo e coloque sobre o desenho,
MEDO
TRISTE
RAIVA
CONSIDERAÇÕES
Apoiados nos autores que sustentam a teoria desta proposta podemos refletir o quão
importante é a teoria da mente para o desenvolvimento social e emocional do ser
humano a fim de compreender melhor qual o papel da nossa mente nas representações e
como ela influencia a capacidade do ser humano em entender o outro.
O aspecto social configura-se de suma importância, pois expressa a capacidade de
empatia, de nos colocar no lugar do outro, entender o significado de uma linguagem
figurada, uma piada, um olhar diferente, uma inflexão de voz irritada ou irônica dentre
outras.
Segundo Frith (1993), é a teoria da mente que leva para o nosso cérebro essas
informações para que possamos interpretar compreender e reagir adequadamente em
cada situação e conviver socialmente interagindo com nossos pares. A partir desta
reflexão acreditamos que como sugere Valdez (2007), intervenções nas habilidades
emocionais além de ser um trabalho planejado, estruturado e sistemático, deve ser
funcional. Deve ter um forte vínculo com o contexto de vida real da criança tendo como
objetivo central a busca de uma melhor compreensão sobre o mundo físico e social, por
isso, a importância de materiais como fotos desenhos, objetos e outros dando ênfase a
comunicação, a construção de significados e aos sentidos.
Cumpre frisar que cada criança é diferente na maneira de construir seus vínculos
afetivos com os outros e com o mundo, por isso, é importante que ele tenha
possibilidade de conviver com outras pessoas na escola e na sociedade.
ALEGRE
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