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DA JURISDIÇÃO Conceito de jurisdição: A Jurisdição (...) se trata de uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em disputa para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito UNIDADE IV Prof. Marlon Corrrêa

DA JURISDIÇÃO Conceito de jurisdição: A Jurisdição (...) se trata de uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses

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  • DA JURISDIO Conceito de jurisdio: A Jurisdio (...) se trata de uma das funes do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em disputa para, imparcialmente, buscar a pacificao do conflito que os envolve, com justia. UNIDADE IV Prof. Marlon Corrra Prof. Marlon Corrra
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  • Essa pacificao realizada mediante a atuao da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa funo sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (atravs de sentena de mrito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (atravs da execuo forada).
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  • A Jurisdio uma funo do Estado e seu monoplio. Alm disso, podemos dizer que a jurisdio , ao mesmo tempo, poder, funo e atividade. Como poder, a jurisdio a manifestao do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decises.
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  • TEORIA GERAL DO PROCESSO JURISDIO Prof. Marlon Corra Como funo, expressa o encargo que tm os rgos estatais de promover a pacificao de conflitos interindividuais, mediante a realizao do direito justo e atravs do processo. E, como atividade, a jurisdio entendida como o complexo de atos ao juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a funo que a lei lhe comete.
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  • TEORIA GERAL DO PROCESSO JURISDIO Prof. Marlon Corra Esses trs atributos somente transparecem legitimamente atravs do processo devidamente estruturado (devido processo legal). Jurisdio , pois, ato de soberania. Consiste em um poder-dever do Estado, atravs do Poder Judicirio, de declarar e fazer efetivo o direito, aplicando a lei aos casos concretos.
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  • DA JURISDIO Principais caractersticas da Jurisdio: a) Carter substitutivo da jurisdio: Ao exercer a jurisdio, o Estado substitui, como uma atividade sua, as atividades daqueles que esto envolvidos no conflito trazido sua apreciao. No cumpre a nenhuma das partes interessadas dizer definitivamente se a razo est com uma ou com a outra; nem pode, seno excepcionalmente, quem tem uma pretenso invadir a esfera jurdica alheia para satisfazer-se. Apenas o Estado pode, como vimos, em surgindo o conflito, substituir-se s partes e dizer qual delas tem razo.
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  • Essa proposio, que no processo civil encontra algumas excees (casos raros de autotutela, e de autocomposio), de validade absoluta no processo penal: No possvel o exerccio do direito de punir independentemente do processo e no pode o acusado submeter-se voluntariamente aplicao da pena.
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  • b) Escopo jurdico de atuao do direito: O Estado, ao instituir a jurisdio visou a garantir que as normas de direito substancial contidas no ordenamento jurdico efetivamente conduzam aos resultados nelas enunciados, ou seja: que se atinjam, na experincia concreta, aqueles resultados prticos que o direito material preconiza. O escopo jurdico, pois, da jurisdio a atuao (cumprimento, realizao) das normas de direito substancial (direito objetivo).
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  • Em outras palavras: o escopo da jurisdio seria, ento, a correta aplicao do direito e a justa composio da lide, ou seja, o estabelecimento da norma de direito material que disciplina o caso, dando a cada um o que seu.
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  • Outras caractersticas da jurisdio (lide, inrcia, definitividade) c) Lide: A existncia do conflito de interesses qualificado por uma pretenso resistida uma caracterstica constante na atividade jurisdicional, quando se trata de pretenses insatisfeitas que poderiam ter sido atendidas espontaneamente pelo obrigado. esse conflito de interesses que leva o suposto prejudicado efetivo ou virtual a dirigir-se ao juiz e a pedir-lhe a tutela jurisdicional, solucionando a pendncia; e precisamente a contraposio dos interesses em conflito que exige a substituio das atividades dos sujeitos conflitantes pelo Estado.
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  • d) Inrcia: tambm caracterstica da jurisdio o fato de que os rgos jurisdicionais so, por sua prpria ndole, inertes. Isto significa que a o exerccio espontneo da atividade jurisdicional acabaria sendo contraproducente, pois sendo sua finalidade a pacificao social, sua atuao sem a provocao do interessado viria, em muitos casos, fomentar conflitos e discrdias, lanando desavenas onde no existiam.
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  • Alm disso, a experincia ensina que quando o prprio juiz toma a iniciativa de instaurar o processo ele se liga psicologicamente de tal maneira idia contida no ato de iniciativa, que dificilmente teria condies para julgar imparcialmente. Por isso, fica geralmente ao critrio do prprio interessado a provocao do Estado-juiz ao exerccio da funo jurisdicional: assim como os direitos subjetivos so em princpio disponveis, podendo ser exercidos ou no, tambm o acesso aos rgos jurisdicionais fica entregue ao poder dispositivo do interessado.
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  • Mas mesmo no tocante aos direitos indisponveis a regra da inrcia jurisdicional prevalece. certo que o titular da pretenso punitiva (Ministrio Pblico) no tem sobre ela o poder de livre disposio, de modo que pudesse cada promotor, a seu critrio, propor ao penal ou deixar de faz-lo. Vige a o chamado princpio da obrigatoriedade, que subtrai do rgo titular da pretenso punitiva a apreciao da convenincia e oportunidade da instaurao do processo para a persecuo dos delitos de que tenta notcia.
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  • Mesmo assim, todavia, o processo no se instaura ex officio, mas mediante provocao do Ministrio Pblico (ou do ofendido, nos casos excepcionais de ao penal de iniciativa privada). , ento, sempre uma insatisfao que motiva a instaurao do processo. O titular de uma pretenso (penal, civil, trabalhista, tributria, administrativa, etc.) vem a juzo pedir a prolao de um provimento que, eliminando a resistncia, satisfaa a sua pretenso e com isso elimine o estado de insatisfao
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  • , assim, atravs da ao que se vence a inrcia a que esto obrigados os rgos jurisdicionais atravs de dispositivos legais como o do art. 2 do CPC ("nenhum juiz prestar a tutela jurisdicional seno quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais")e o do art. 24 e 30 do CPP os quais estabelecem quem so os titulares da ao penal.
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  • Somente em casos especialssimos, a prpria lei institui certas excees regra da inrcia dos rgos jurisdicionais. Assim, v.g., pode o juiz, de ofcio, declarar a falncia de um comerciante, quando, no curso do processo de concordata, verifica que falta algum requisito para esta (LF, art. 162); a execuo trabalhista pode instaurar-se por ato do juiz (CLT, art. 878); o habeas corpus pode conceder-se de ofcio (CPP, art. 654, 2); a execuo penal tambm se instaura de ofcio, ordenando o juiz a expedio da carta de guia para o cumprimento da pena (LEP, art. 105).
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  • Definitividade: outra caracterstica importante da jurisdio que os atos jurisdicionais e s eles so suscetveis de se tornarem imutveis, no serem revistos ou modificados. A CF, como a da generalidade dos pases, estabelece que "a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada" (art. 5, inc. XXXVI).
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  • Coisa julgada a imutabilidade dos efeitos de uma sentena, em virtude da qual nem as partes podem repropor a mesma demanda em juzo ou comportar-se de modo diferente daquele preceituado, nem os juzes podem voltar a decidir a respeito, nem o prprio legislador pode emitir preceitos que contrariem, para as partes, o que j ficou definitivamente julgado. No Estado de Direito, s os atos jurisdicionais podem chegar a esse grau de imutabilidade. Ao judicirio cabe a ltima palavra.
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  • PRINCPIOS INERENTES JURISDIO 14.1A jurisdio, como funo estatal de dirimir conflitos interindividuais, informada por alguns princpios fundamentais que, com ou sem expresso na prpria lei, so universalmente reconhecidos. Ei-los: a) investidura; b) aderncia ao territrio; indelegabilidade; d) inevitabilidade; e) inafastabilidade ou indeclinabilidade; f) juiz natural; g) inrcia. Prof. Marlon Corrra Prof. Marlon Corrra
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  • PRINCPIOS INERENTES JURISDIO 14.1.1O princpio da investidura significa que a jurisdio s ser exercida por quem tenha sido regularmente investido na autoridade de juiz. Prof. Marlon Corrra Prof. Marlon Corrra
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  • 14.1.2 O princpio da aderncia ao territrio corresponde limitao da prpria soberania nacional ao territrio do pas. Como os demais rgos dos demais poderes constitucionais, os magistrados s tm autoridade nos limites territoriais do Estado. Alm disso, como os juzes so muitos no mesmo pais, distribudos em comarcas (Justias Estaduais) ou sees judicirias (Justia Federal), tambm se infere da que cada juiz s exerce a sua autoridade nos limites do territrio sujeito por lei sua jurisdio. Atos fora do territrio em que o juiz exerce a jurisdio depende da cooperao do juiz do lugar (carta precatria e rogatria).
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  • 14.1.3 O princpio da indelegabilidade resulta do princpio constitucional segundo o qual vedado a qualquer dos Poderes delegar atribuies. Como dos demais Poderes, a CF. fixa o contedo das atribuies do Poder Judicirio e no pode a lei, nem pode muito menos alguma deliberao dos seus prprios membros alterar a distribuio feita naquele nvel jurdico-positivo superior. Nem mesmo pode um juiz, atendendo seu prprio critrio e talvez atendendo sua prpria convenincia, delegar funes a outro rgo. que cada magistrado, exercendo a funo jurisdicional, no o faz em nome prprio e muito menos por um direito prprio, mas o faz em nome do Estado, agente deste que .
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  • Excees: delegao pelo STF, de competncia para execuo forada (art. 102, inc. I, m), e as dos arts. 201 e 492 do Cdigo de Processo Civil (cartas de ordem). A realizao de atos judiciais atravs de Carta Precatria no pressupe delegao de poderes, mas impossibilidade de praticar ato processual fora dos limites da comarca (limite territorial do poder), urgindo que o juiz deprecante pea a cooperao do rgo jurisdicional competente. Seria contra- senso afirmar que o juiz delega um poder que ele prprio no tem, por ser incompetente.
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  • 14.1.4 O princpio da inevitabilidade significa que a autoridade dos rgos jurisdicionais, sendo uma emanao da soberania estatal, impe-se por si mesma, independentemente da vontade das partes ou de eventual pacto de aceitarem os resultados do processo; a situao das partes perante o Estado-juiz de sujeio, que independe de sua vontade e consiste na impossibilidade de evitar que sobre elas e sobre sua esfera de direitos se exera a autoridade estatal.
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  • 14.1.5O princpio da inafastabilidade da jurisdio (ou princpio do controle jurisdicional ou princpio da indeclinabilidade), expresso no art. 5, XXXV, da CF, garante a todos o acesso ao Poder Judicirio, o qual no pode deixar de atender a quem venha a juzo deduzir uma pretenso fundada no direito e pedir soluo para ela. No pode a lei "excluir da apreciao do Poder judicirio qualquer leso ou ameaa a direito", nem pode o juiz, a pretexto de lacuna ou obscuridade da lei, escusar-se de proferir deciso (CPC, art. 126).
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  • 14.1.6 O princpio do juiz natural assegura que ningum pode ser privado do julgamento por juiz independente e imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais, proibindo a CF os denominados tribunais de exceo, institudo para o julgamento de determinadas pessoas ou de crimes de determinada natureza, sem previso constitucional (art. 5, XXXVII). 14.1.7Do princpio da inrcia, (...) o qual est relacionado com a justa composio da lide e a imparcialidade do juiz que estariam comprometidas se se cometesse ao julgador a incumbncia de agir de ofcio, sem a provocao do interessado na soluo do litgio.
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  • Elementos da jurisdio e poderes jurisdicionais Considerando que o direito ptrio utiliza o termo jurisdio para exprimir o conhecimento da causa, seu julgamento e execuo, assim como o poder-dever de impor as sanes legais, a doutrina conclui que as autoridades judicirias tm a jurisdio dos romanos e o imperium, que compreende: o direito de conhecer, ordenar, julgar, punir, e constranger execuo.
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  • 14.3.1 Elementos da jurisdio: conforme clssica concepo, a jurisdio composta dos seguintes elementos: Notio que significa a faculdade de conhecer certa causa, ou de ser regularmente investido na faculdade de decidir uma controvrsia, a compreendidos a ordenar os atos respectivos. Vocatio quer dizer a faculdade de fazer comparecer em juzo todos aqueles cuja presena seja til justia e ao conhecimento da verdade. Coercio (ou coertitio) que o direito de fazer-se respeitar e de reprimir as ofensas feitas ao magistrado no exerccio de suas funes: jurisdictio sine coertitio nula est. Iudicium direito de julgar e de pronunciar a sentena. Executio direito de em nome do poder soberano, tornar obrigatria e coativa a obedincia prprias decises.
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  • Poderes da jurisdio: a doutrina moderna elenca trs poderes jurisdicionais, que so: Poder de deciso que significa que o Estado-juiz, atravs da provocao do interessado, em derradeira anlise, afirma a existncia ou a inexistncia de uma vontade concreta da lei, por dois modos e com diferentes efeitos. Por um desses modos afirma uma vontade concernente s partes, atravs de uma deciso de mrito, com efeito de coisa julgada, significando que a sentena se tornou irrevogvel (coisa julgada formal), e reconhecendo um bem a uma parte, tem o efeito de garanti-lo para o futuro, no mesmo ou em outros processos (coisa julgada material ou substancial).
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  • Pelo outro dos modos, afirma uma vontade da lei referente ao dever do juiz de pronunciar-se quanto ao mrito das questes que lhe so trazidas apreciao. Aqui, o juiz se pronuncia sobre a sua prpria atividade, como um dever inerentes sua funo, no reconhecendo, nem negando o bem da vida parte. Essa deciso, quando se torna irrevogvel, no produz coisa julgada substancial, operando apenas a precluso da questo, com efeitos limitados ao processo, sem obrigar outros processos.
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  • Poder de documentao aquele que resulta da necessidade de documentar, de modo a fazer f, de tudo que ocorre perante os rgos judiciais ou sob sua ordem (termos de assentada, de constatao, de audincia, de provas, certides de notificaes, de citaes etc.)
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  • Poder de coero (ou poder de polcia) manifesta-se com maior intensidade no processo de execuo, embora tambm presente no processo de cognio. Ex. o ato de notificao e citao. Se o destinatrio se recusa a receber materialmente o mandado, esse comportamento gera o efeito de ser considerado entregue. Como decorrncia desse poder, o juiz pode determinar a remoo de obstculos opostos ao exerccio de suas funes.
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  • Os presentes audincia (partes, advogados, ou qualquer outro profissional ou pessoa) esto sujeitos ao poder de quem a preside, que pode admoest-los e at mand-los retirar-se do recinto. A testemunha tem o dever de comparecer audincia, sob pena de conduo coercitiva. O rgo jurisdicional pode requisitar a fora policial para vencer qualquer resistncia ilegal execuo de seus atos.
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  • 14.5 Espcies de jurisdio 14.5.1Unidade da jurisdio como expresso da soberania estatal, a jurisdio no comporta divises. Falar em diversas jurisdies seria o mesmo que afirmar a existncia de uma pluralidade de soberanias, o que no faria sentido. A jurisdio , portanto, to una e indivisvel quanto o prprio poder soberano. A doutrina, porm, fazendo embora tais ressalvas, costuma falar em espcies de jurisdio, como se esta comportasse classificao em categorias.
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  • 14.5 Espcies de jurisdio Classifica-se, pois, a jurisdio nas seguintes espcies: a) pelo critrio do seu objeto em jurisdio penal ou civil; b) pelo critrio dos organismos judicirios que a exercem, em especial ou comum; c) pelo critrio da posio hierrquica dos rgos que a exercem, em inferior e superior; d) pelo critrio da fonte do direito com base na qual proferido o julgamento, em jurisdio de direito ou de eqidade.
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  • 14.5.2 Jurisdio penal ou civil a atividade jurisdicional exercida tendo por objeto uma pretenso que varia de natureza conforme o direito objetivo material em que se fundamenta. H, assim, causas penais, civis, comerciais, administrativas, tributrias etc. Com base nisso, comum dividir-se o exerccio da jurisdio os juzes, dando a uns a competncia para apreciar as pretenses de natureza penal e a outros as demais.
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  • Fala-se, assim, em jurisdio penal (causas penais, pretenses punitivas) e jurisdio civil (por excluso, causas e pretenses no- penais). A expresso "jurisdio civil", a, empregada em sentido bastante amplo, abrangendo toda a jurisdio no-penal. A jurisdio penal exercida pelos juzes estaduais comuns, pela Justia Militar estadual, pela Justia Militar federal, pela Justia Federal e pela Justia Eleitoral;
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  • em suma, apenas a Justia do Trabalho completamente desprovida de competncia penal. A jurisdio civil, em sentido amplo, exercida pela Justia estadual, pela Justia federal, pela Justia Trabalhista e pela Eleitoral; s a Justia Militar no a exerce.
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  • 14.5.3Relacionamento entre jurisdio penal e civil apenas por convenincia de trabalho se justifica a distribuio dos processos segundo esse e outros critrios, pois na realidade no possvel isolar-se completamente uma relao jurdica de outra, um conflito interindividual de outro na certeza de que nunca haver pontos de contato entre eles.
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  • Em verdade o ilcito penal no difere em substncia do ilcito civil, sendo distinta apenas a sano que os caracteriza; a ilicitude penal , ordinariamente, mero agravamento de uma preexistente ilicitude civil, destinada a reforar as conseqncias da violao de dados valores, que o Estado faz especial empenho de preservar.
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  • Assim, quando algum pratica um furto emergem da duas conseqncias que, perante o direito, o agente deve suportar: a) obrigao de restituir o objeto furtado (natureza civil); b) sujeio s penas do art. 155 do Cdigo Penal. Outro exemplo: a quem contrai novo casamento, sendo casado, o direito impe duas conseqncias: a) a nulidade do segundo casamento - CC, art. 183, VI (sano civil); b) sujeio pena de bigamia (CP, art. 235).
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  • Do exposto resulta que no seria conveniente atribuir competncia civil a determinados juzes e penal a outros, sem deixar qualquer trao de contato entre eles, no possibilitando qualquer influncia da esfera cvel na penal ou vice-versa. Assim, o sistema, em alguns dispositivos legais, estabelece, ora a prevalncia da deciso civil como prejudicial da deciso penal, ora dispe que o decidido na campo penal faz coisa julgada no cvel. Assim, se algum est sendo processado criminalmente e para o julgamento dessa acusao seja relevante o deslinde de uma questo cvel, determina- se a suspenso do processo criminal at a soluo da pendncia agitada no processo cvel (CPP, art. 92 a 94).
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  • Vejam por exemplo um caso em que algum esteja sendo acusado de ter cometido um crime de bigamia e alegue que o primeiro casamento era nulo. Em sendo verdadeira a alegao, inexiste o crime (CP, art. 235, 2). Contudo, no compete ao juiz criminal perquirir a validade do casamento, nem o processo-crime meio adequado para a anulao de qualquer do matrimnio. Nessa hiptese, o processo criminal se suspende, "at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado" (CPP, art. 92).
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  • Por outro lado, s vezes, a sentena penal condenatria passada em julgado tambm tem eficcia no esfera cvel. O art. 91, I, do CP d como efeito secundrio da sentena penal condenatria "tornar certa a obrigao de indenizar o dano resultante do crime". Isso significa que a condenao criminal corresponder a uma sentena no cvel que declare a existncia de dano a ser ressarcido (embora sem precisar o quantum debeatur). Passada em julgado a condenao, a autoridade da coisa julgada estende-se tambm possvel pretenso civil, de modo que no se poder mais questionar, em processo algum, sobre a existncia da obrigao de indenizar. Se o ru for absolvido no crime, da mesma forma, dependendo do fundamento da absolvio, ter-se- por definitivamente julgada a pretenso civil: o que ocorre quando a sentena penal reconhece que o ilcito imputado ao ru no foi praticado - inexistncia material do fato ( CPP, art. 66), ou que ele no foi seu autor - negativa de autoria - (CC, art. 1525).
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  • Em face da ambivalncia da deciso criminal, em algumas hipteses, por convenincia, a lei possibilita que o processo civil aguarde a soluo da causa penal (CPP, art. 64 e n.). Outro ponto de contato a chamada prova emprestada que aquela produzida em um processo e que pode ser utilizada em outro, desde que com sua utilizao no se venha a surpreender uma pessoa que no fora parte no primeiro, possvel, pois, que, mediante certides, se levem do processo crime para o civil e vice-versa contra o mesmo ru os elementos de convico j produzidos, sem necessria repetio. Nesse mesmo sentido, a prova da falsidade de um documento, realizada num processo-crime por delito de falso em suas vrias modalidades (CP, arts. 297-298, 299, 300, 304, 342), o bastante para a ao rescisria civil, desnecessitando da sua repetio no curso desta (CPC, art. 485, inc. VI).
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  • Jurisdio especial ou comum os vrios organismos judicirios so institudos pela Constituio Federal, constituindo cada um deles unidade administrativa autnoma e recebendo da Lei Magna os limites de sua competncia. Temos, pois, em considerao s regras constitucionais de competncia, a jurisdio especial e jurisdio comum. Entre as primeiras esto a Justia Eleitoral (arts. 118-121), a Justia do Trabalho (arts. 111-117) e as Justias Militares Federal (arts. 122-124) e Estaduais (art. 125, 3); no mbito da jurisdio comum esto a Justia Federal (arts. 106-110) e as Justias Estaduais ordinrias (arts. 125-126).
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  • 14.5.5 Jurisdio superior o inferior natural o inconformismo do ser humano perante decises desfavorveis, desejando, muitas vezes, nova oportunidade para demonstrar as suas razes e tentar fazer valer a sua pretenso. Por isso, em geral, os ordenamentos jurdicos instituem o duplo grau de jurisdio, princpio consistente na possibilidade de um mesmo processo, aps julgamento pelo juiz inferior perante o qual teve incio, voltar a ser objeto de julgamento, agora por rgos de instncia superior do Poder Judicirio.
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  • Jurisdio inferior aquela exercida pelos juzes que ordinariamente conhecem do processo desde seu incio (competncia originria); Na Justia Estadual so os juzes de direito das comarcas distribudas por todo o Estado, inclusive na comarca da Capital. Jurisdio superior a exercida pelos rgos competentes para conhecerem dos recursos interpostos contra as decises proferidas na jurisdio inferior pelos juzes da recursais 14.5.6 Jurisdio de direito ou de eqidade - "O juiz s decidir por eqidade nos casos previstos em lei" (CPC, art. 127). Por eqidade significa decidir sem as limitaes impostas pela rgida regulamentao legal; isso permitido quando o legislador deixa de traar na lei a exata disciplina de determinados institutos, deixando uma certa liberdade para a individualizao da norma atravs dos rgos judicantes (CC, arts. 400 e 1.456).
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  • No direito anterior, quando devesse decidir por eqidade, o juiz aplicaria a norma que estabeleceria se fosse legislador "quando autorizado a decidir por eqidade, o juiz aplicar a norma que estabeleceria se fosse legislador" (art. 114) - conceito Aristotlico do instituto. No direito atual, no contendo a norma o conceito de eqidade, este passa a ser o que a jurisprudncia entender, dada a falta de regra expressa no Cdigo.
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  • 15.LIMITES DA JURISDIO 15.1Limites internacionais: como exerccio de sua soberania, cada Estado (nao) dita sua normas internas. Contudo, a necessidade de coexistncia com outros Estados soberanos faz com que o legislador mitigue esse poder soberano, atendendo s seguintes ponderaes: a) a convenincia (no convm criao de reas de atritos por questes irrelevantes porque o que interessa, afinal, a paz social); b) a viabilidade (evitam-se os casos em que no ser possvel a imposio autoritativa do cumprimento da sentena). A doutrina elenca trs motivos que recomendam a observncia dessas regras: a) a soberania de outros Estados; b) o respeito s convenes internacionais; c) razes de interesse do prprio Estado. Assim, em princpio cada Estado tem poder jurisdicional nos limites de seu territrio. No Br. os conflitos civis consideram-se sujeitos jurisdio nacional quando: a) o ru tiver domiclio no Brasil; b) versar a pretenso do autor sobre obrigao a ser cumprida no Brasil; c) originar-se de fato aqui ocorrido; d) ser objeto da pretenso um imvel situado no Brasil; e) situarem-se no Br. os bens que constituam objeto de inventrio (CPC, arts. 88-89).
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  • Limites internacionais de carter pessoal - por respeito soberania de outros Estados, tem sido geralmente estabelecido que so imunes jurisdio de um pas: a) os Estados estrangeiros; b) os chefes de Estados Estrangeiros; c) os agentes diplomticos. Hipteses de cessao da imunidade: a) renncia vlida; b) quando o beneficirio autor; c) quando se trata de demanda fundada em direito real sobre imvel situado no pas; d) ao referente a profisso liberal ou atividade comercial do agente diplomtico; e) quando o agente nacional do pas em que acreditado.
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  • 15.2 Limites internos - No direito moderno, em princpio a funo jurisdicional cobre toda a rea dos direitos substanciais. Esse princpio, porm, deve ser entendido com algumas ressalvas. Em primeiro lugar, temos os atos da administrao pblica, no tocante discricionariedade do administrador, do ponto-de-vista da oportunidade e convenincia da sua prtica, aspectos que so imunes crtica judiciria. Alm disso, a lei exclui da apreciao judiciria as pretenses fundadas em dvidas de jogo, ou apostas (CC, art. 1477). Todos esses casos so de impossibilidade jurdica da demanda e so excees porque a garantia constitucional do acesso justia tem conduzido a doutrina e a jurisprudncia a uma tendncia marcadamente restritiva quanto ao exame jurisdicional das pretenses insatisfeitas.
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  • JURISDIO VOLUNTRIA Administrao pblica de interesses privados Por se revestirem de grande importncia, transcendendo os limites da esfera de interesses das pessoas diretamente empenhadas, alguns atos jurdicos da vida de particulares passam tambm a interessar prpria coletividade. Atento a isso, o legislador impe que, para a validade desses atos de repercusso na vida social, imprescinde-se da participao de um rgo pblico, atravs da qual o Estado se insere naqueles atos que do contrrio seriam tipicamente privados. Nessa interveno o Estado age emitindo uma declarao de vontade, desejando tambm que o ato atinja o resultado visado pelas partes.
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  • Trata-se de manifesta limitao aos princpios de autonomia e liberdade, que caracterizam a vida jurdico-privada dos indivduos, o que at se justifica pelo interesse social que envolvem esses atos da vida privada. So atos de administrao pblica de interesses privados, praticados com a interveno de rgos do "foro extrajudicial", a escritura pblica (tabelio), o casamento, o protesto, a participao do MP. na vida das fundaes, os contratos e estatutos que tramitam pela JUCESP.
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  • 16.2 Jurisdio voluntria A independncia, a idoneidade e a responsabilidade dos magistrados perante a sociedade levam o legislador a lhes confiar importantes funes em matria de administrao pblica de interesses privados. Esses atos praticados pelo juiz recebem da doutrina o nome de jurisdio voluntria ou graciosa.
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  • Os atos de jurisdio voluntria se classificam em trs categorias: a) atos meramente receptcios (funo passiva do magistrado, como publicao de testamento CC, art. 1646); b) atos de natureza certificante ("vistos" em balanos, despachos em notificao ou interpelao judiciais, etc.); c) atos que constituem verdadeiros pronunciamentos judiciais (separao judicial amigvel, interdio, venda de bens de incapaz, etc.). Apenas estes ltimos esto disciplinados no CPC, como procedimentos de jurisdio voluntria.
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  • De tudo o que foi visto conclui-se que, na realidade, os atos da chamada jurisdio voluntria nada tm de jurisdicionais, porque: a) no tem como escopo a atuao do direito, mas a constituio de situaes jurdicas novas; b) no tem o carter substitutivo, pois, antes disso, o que acontece que o juiz se insere entre os participantes do negcio jurdico, numa interveno necessria para a consecuo dos objetivos desejados, mas sem excluso das atividades das partes; c) ademais, o objetivo dessa atividade no uma lide, mas apenas um negcio entre os interessados com a participao do magistrado.
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  • Assim, no havendo interesses em conflitos, no adequado falar em partes, expresso que pressupe a idia de pessoas que se situam em posies antagnicas, cada qual na defesa de seu interesse. Alm disso, como no se trata de atividade jurisdicional, imprprio falar em ao, pois esta se conceitua como o direito-dever de provocar o exerccio da atividade jurisdicional contenciosa; e, pela mesma razo no h coisa julgada, pois tal fenmeno tpico das sentenas jurisdicionais. Por outro lado, no lugar de processo, fala-se em procedimento, pois aquele tambm sempre ligado ao exerccio da funo jurisdicional e da ao.