126
MARIA TEREZA TARGINO HORA OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Criação Editora

OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

  • Upload
    others

  • View
    18

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

MARIA TEREZA TARGINO HORA

OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE

JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E DE

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA NO NOVO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Criação Editora

Page 2: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

CRIAÇÃO EDITORA

CONSELHO EDITORIAL

Fábio Alves dos SantosJorge Carvalho do Nascimento

José Afonso do NascimentoJosé Eduardo Franco

José Rodorval RamalhoJustino Alves Lima

Luiz Eduardo Oliveira MenezesMartin Hadsell do Nascimento

Rita de Cácia Santos Souza

www.editoracriacao.com.br

Page 3: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Aracaju | 2017

Criação Editora

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Aracaju | 2017

Criação Editora

OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE

JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E DE

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA NO NOVO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Page 4: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Projeto gráfico: Adilma MenezesCapa: © Steve Lovegrove | Dreamstime.com

Todos os direitos reservados a Maria Tereza Targino Hora

Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, com finali-dade de comercialização ou aproveitamento de lucros ou vantagens, com observân-cia da Lei em vigência. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja expressa marcação do nome do autor, título da obra, editora, edição e paginação. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.619/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Hora, Maria Tereza TarginoH811c Os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa e de

jurisdição voluntária no novo Código de Processo Civil /Maria Tereza Targino Hora. - Aracaju: Criação, 2017.

ISBN: 978-85-8413-150-1 126 p.,il. 21 cm 1. . Código de Processo Civil 2. Jurisdição-contenciosa 3. Jurisdição - voluntária I. Título II.Maria Tereza Targino Hora III.Assunto

CDU 347:342

Catalogação – Claudia Stocker – CRB 5/1202

Page 5: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA1.1) Da Ação de Consignação em Pagamento 91.2) Da Ação de Exigir Contas 171.3 Das Ações Possessórias 241.4) Da Ação de Divisão e Demarcação de Terras Particulares 321.5) Da Ação de Dissolução Parcial da Sociedade 351.6) Do Inventário e da Partilha 431.7) Dos Embargos de Terceiro 561.8) Da Oposição 601.9) Da Habilitação 631.10) Das Ações de Família 641.11) Da Ação Monitória 671.12) Da Homologação de Penhor Legal 721.13) Da Regulação de Avaria Grossa 751.14) Da Restauração dos Autos 78

DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA2.1) Disposições Gerais 812.2) Da Notificação e da Interpelação 842.3) Da Alienação Judicial 862.4) Do Divórcio e da Separação Consensuais, da Extinção

Consensual de União Estável e da Alteração do Regimede Bens do Matrimônio 86

2.5) Dos Testamentos e dos Codicilos 922.6) Da Herança Jacente 96

Page 6: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

2.8) Dos Bens dos Ausentes 982.9) Das Coisas Vagas 1002.10) Da Interdição 1012.11) Das Disposições Comuns à Tutela e à Curatela 1142.12) Da Organização e da Fiscalização das Fundações 1172.13) Da Ratificação dos Protestos Marítimos e dos Processos

Testemunháveis a Bordo 119

BIBLIOGRAFIA 123

Page 7: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

7

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Introdução

Introdução

O presente trabalho versa sobre os procedimentos especiais de juris-dição contenciosa e de jurisdição voluntária previstos no Novo Códi-go Processo Civil. Conforme será demonstrado, o novo diploma pro-cessual corrigiu antiga crítica da doutrina para alocar, dentro da parte especial e do respectivo Livro I (Processo de Conhecimento), tanto o procedimento comum (Título I), quanto os procedimentos especiais (Título III), de modo a quebrar a equivocada classificação do Código revogado que tratava dos procedimentos especiais em livro próprio, segregando, assim, estes últimos e o processo de conhecimento.

Ademais, necessário registrar que o NCPC teve uma política clara de racionalizar os procedimentos especiais, isto é, de tentar manter ape-

Page 8: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil8

MARIA TEREZA TARGINO HORA

nas os procedimentos que ainda tinham alguma utilidade. Isso não significa, contudo, que as ações deixaram de existir, mas apenas que o procedimento a elas aplicado passa a ser o comum, é o caso, por exemplo, da ação de depósito e da ação de prestação de contas.

Finalmente, assinalo que as principais mudanças em relação à legis-lação anterior atinentes aos procedimentos especiais de jurisdição contenciosa foram devidamente enfrentadas nessa obra, merecendo destaque a introdução, pelo novel código, de novos procedimentos relacionados às ações de família, à ação de dissolução parcial de so-ciedade e à regulação de avaria grossa. Além disso, a oposição deixou de ser incluída como hipótese de intervenção de terceiro, para ser tratada como modalidade de ação autônoma.

Quanto à jurisdição voluntária, observar-se-á que poucas modifica-ções foram trazidas pelo Novo Código de Processo Civil, permanecen-do os procedimentos ali indicados, de um modo geral, regulamenta-dos de forma similar ao disciplinado no Código revogado. Todavia, conforme será estudado ao longo dessa obra, foram introduzidas significativas transformações na interdição, na parte geral dos proce-dimentos de jurisdição voluntária, assim como no procedimento de divórcio e de separação consensual.

Feita essa breve introdução, espero que a obra venha a colaborar com a divulgação das alterações trazidas pelo NCPC no tocante aos procedimentos especiais de jurisdição contenciosa como os de juris-dição voluntária. Almejo também que seja útil àqueles que buscam aprimorar os estudos sobre a nova lei processual e as suas principais inovações.

Page 9: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa9

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa

1.1) DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

O pagamento em consignação, modalidade especial de pagamento, pode ser conceituado como um mecanismo existente na lei civil, de que pode se valer o devedor da coisa devida, para liberar–se de uma obrigação assumida em face de um devedor determinado, quando esteja em dificuldades para fazê-lo, seja porque o credor, por exem-plo, recusa-se a receber ou dar quitação, está em lugar inacessível ou, ainda, porque existe dúvida real a respeito de quem possui legitimi-dade para receber o pagamento.

O Código Civil, em seu art. 355, elenca um rol meramente exemplifi-cativo de situações que a consignação poderá ocorrer, in verbis:

Page 10: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil10

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Art. 335. A consignação tem lugar:I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar rece-ber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lu-gar, tempo e condição devidos;III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de aces-so perigoso ou difícil;IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente re-ceber o objeto do pagamento;V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

É certo que a consignação em pagamento libera o devedor do vín-culo obrigacional, isentando-o dos riscos da dívida e de eventual obrigação de pagar juros moratórios ou multa contratual. Em suma, a consignação, desde que cumpridos os requisitos do pagamento (pessoa, modo, tempo, lugar), é capaz de afastar eventual aplicação das regras do inadimplemento, seja ele absoluto ou relativo.

Ao discorrer sobre o tema, o Ilustre processualista Alexandre Freitas Câmara1 nos ensina que “não se pode admitir, por exemplo, que o pagamento por consignação de dívida já vencida, seja feito sem o depósito da multa moratória (quando, evidentemente, houver mora do devedor, o que se dá, por exemplo, no caso de o devedor procurar o credor após o vencimento da dívida para efetuar o pagamento, re-cusando – se este a lhe dar o recibo de quitação)”.

Pois bem, ultrapassadas as breves considerações sobre o aspecto material do instituto, passemos agora à análise do seu aspecto pro-cessual, em especial, as novidades trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015.

1 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Editora Lumen Juris. 2008, p. 272.

Page 11: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa11

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Inicialmente, imperioso ressaltar que o procedimento de consigna-ção em pagamento extrajudicial foi substancialmente mantido pelo Novo CPC. O art. 593, §3ª, apenas amplia o prazo para ajuizamento da ação, na hipótese de recusa do credor, de trinta dias para um mês. Outra novidade está prevista no art. 539,§2º, ao registrar que o pra-zo de dez dias para o credor manifestar a recusa à consignação, será contado do retorno do aviso de recebimento.

A primeira mudança significativa verificada na ação de consignação em pagamento diz primeira diz respeito à supressão do parágrafo único do art. 891 (CPC/1973). Por sua vez, o art. 540 do NCPC (891 CPC/1973) – sem alterações substanciais - dispõe que a ação de con-signação deverá ser requerida no lugar do pagamento.

Vejamos a literalidade dos artigos mencionados.

Art. 891. Requerer-se-á a consignação no lugar do paga-mento, cessando para o devedor, tanto que se efetue o depósito, os juros e os riscos, salvo se for julgada impro-cedente.Parágrafo único. Quando a coisa devida for corpo que deva ser entregue no lugar em que está, poderá o devedor re-querer a consignação no foro em que ela se encontra.Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamen-to, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.

Como pode ser observado, o parágrafo suprimido mostrava-se de pouca utilidade prática, tendo em vista que a regra prevista em seu teor, já estava abrangida pelo caput do mesmo dispositivo. Isto é, se o devedor tem a obrigação de entregar a coisa onde ela está, este também será o local do pagamento, de modo que, nesse caso, deve incidir a regra geral, qual seja, a de que a ação de con-signação deve ser proposta no lugar em que a obrigação deve ser

Page 12: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil12

MARIA TEREZA TARGINO HORA

adimplida.

Nesse sentido, o Enunciado 59 do Fórum Permanente de Processua-listas (FPPC): “Em ação de consignação em pagamento, quando a coisa devida for copo que deva ser entregue no lugar em que está, poderá o devedor requer a consignação no foro que ela se encontra. A supressão do parágrafo único do art. 891 do Código de Processo Civil em vigor não afetará a regra acima destacada, tendo em vista que ainda possui previsão no art. 541 do Código Civil”.

O art. 541 repete o disposto no art. 892 do CPC/173 ao apontar que se tratando de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais for-malidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cin-co) dias contados da data do respectivo vencimento.

Em relação ao dispositivo acima comentado, também foi editado o Enunciado 60 do Fórum Permanente de Processualistas (FPPC): “Na ação de consignação em pagamento que tratar de prestações suces-sivas, consignadas uma delas, pode o devedor continuar a consignar sem mais formalidades as que se forem vencendo enquanto estiver pendente o processo”.

Como bem registra Daniel Amorim2, continua, no Novo CPC (art. 542), cabendo ao juiz a análise da regularidade formal da petição inicial, e, sendo superada positivamente essa fase procedimental, o autor de-verá ser intimado para que realize o depósito no prazo de cinco dias, dependendo a citação do réu da efetiva realização desse ato pelo autor. Em havendo omissão de depósito, será caso de extinção do processo sem julgamento de mérito, existindo decisão do STJ3 que

2 NEVES, Daniel Amorim Assumpção Neves. Novo CPC – Código de Processo Civil – Inovações, Alterações e Supressões Comentadas. Editora Método, 2015, pg. 320.3 REsp 702.739/PB, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ acórdão Ministro Ari Pargendler, j. 19/09/2006.

Page 13: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa13

MARIA TEREZA TARGINO HORA

admite o depósito após o prazo mencionado (cinco dias) previsto no art. 893, I, do CPC/1973 e mantido pelo art. 542, I, do Novo CPC.

Outra alteração que merece ser comentada é a introdução, pelo Novo Código de Processo Civil, da regra prevista no parágrafo único do art. 542 (art. 892 CP/1973) o qual estabelece que se o autor da ação não consignar/depositar o valor que entende devido, o processo deverá ser extinto sem resolução de mérito pelo magistrado. Frise-se, mais uma vez, que não havia dispositivo correspondente no CPC de 1973, muito embora existam diversos julgados em que o aludido entendimento já era aplicado. Senão, vejamos.

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - AUSÊNCIA DE DEPÓSITO, APESAR DO DEFERIMENTO - PRESSUPOS-TOS DE CONSTITUIÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO - EXTINÇÃO DO FEITO - SEN-TENÇA MANTIDA. (...) -O depósito do valor em conten-to é pressuposto essencial para o desenvolvimento válido e regular do processamento da ação de con-signação em pagamento, consoante as regras do art. 337 do CC e art. 893 e seguintes do CPC.(TJ-MG - AC: 10707130097314001 MG , Relator: Wanderley Paiva, Data de Julgamento: 02/04/2014, Câmaras Cíveis / 11ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 07/04/2014)(grifo nosso).CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. AUSÊNCIA DO DEPÓSITO A CONSIGNAR. EXTINÇÃO. INCIDÊNCIA ART. 267, IV, E 893, I, DO CÓDIGO DE RITOS. Na demanda de consignação em paga-mento, deixando o autor de efetuar o depósito, providên-cia essencial ao prosseguimento regular da demanda, im-põe-se a extinção do processo, sem resolução do mérito, por falta de pressuposto de desenvolvimento válido do processo (art. 267, inc. IV, c.c. art. 893, inc. I, ambos do CPC). Sentença mantida. Recurso não provido.(TJ-BA - APL: 03417260920138050001 BA 0341726-09.2013.8.05.0001,

Page 14: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil14

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Data de Julgamento: 03/12/2013, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 06/12/2013)(grifo nosso)

Igualmente, não é demais lembrar que o Superior Tribunal de Jus-tiça, no julgamento do RESP 1170188-DF, sob a Relatoria do Minis-tro Luis Felipe Salomão, firmou o posicionamento no sentido de que em ação de consignação em pagamento, ainda que cumulada com revisional de contrato, é inadequado o depósito tão somente das prestações que forem vencendo no decorrer do processo, sem o recolhimento do montante incontroverso e já vencido (STJ. 4a Turma. REsp 1.170.188-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/2/2014). Isto é, o autor da ação, além de depositar em juízo, mensalmente, o valor das prestações que considera correto, deve consignar também o valor correspondente às parcelas vencidas e inadimplidas.

Os artigos 543 e 544 não trazem nenhuma novidade, vez que repe-tem as previsões dos art. 894 e 896 do Código de 1973, in verbis:

Art. 541 -  Tratando-se de prestações sucessivas, consigna-da uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo vencimento.Art. 544 -  Na contestação, o réu poderá alegar que: I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; II - foi justa a recusa; III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral.Parágrafo único -  No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende devido.

Uma vez alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor com-

Page 15: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa15

MARIA TEREZA TARGINO HORA

pletá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato (art. 545). Quanto ao levantamento imediato dos valores previstos no art. 889, §1º, do CPC/1973 e mantido no art. 545, §1º, do Novo CPC, vale registrar o Enunciado 61 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “É permitido ao réu da ação de consignação em pagamento levantar “desde logo” a quantia ou coisa depositada em outras hipóteses além da prevista no §1º do art. 559 [atual art. 545] (insuficiência de depósi-to), desde que tal postura não seja contraditória com fundamento da defesa”.

Quanto à última mudança a ser analisada, certo é que sempre foi possível propor uma ação de consignação contra várias pessoas, quando existisse dúvida fundada por parte do credor sobre quem deva legitimamente receber o pagamento. Por exemplo, com o fa-lecimento do credor, pode surgir confusão a respeito de quem seja o legítimo sucessor; ou podem surgir questões decorrentes de uma cláusula ambígua em um contrato, que não se permita identificar a quem deva ser dirigido o pagamento. Quanto a esse ponto não há novidade.

A inovação está no art. 548 do NCPC ao regulamentar a possibilidade de ação de consignação contra vários credores presuntivos, in verbis:

Art. 547.  Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitima-mente receber o pagamento, o autor requererá o depó-sito e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.Art. 548 – No caso do art. 547:I - não comparecendo pretendente algum, converter-se--á o depósito em arrecadação de coisas vagas;II - comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano;III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetua-do o depósito e extinta a obrigação, continuando o

Page 16: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil16

MARIA TEREZA TARGINO HORA

processo a correr unicamente entre os presuntivos cre-dores, observado o procedimento comum.

Em relação ao inciso III, vale ressaltar que se houver dúvida quanto ao montante do crédito o processo não será extinto, devendo o magis-trado dar prosseguimento ao feito, para que se apure qual o correto valor da dívida. Assim, se a dúvida não disser respeito ao valor do de-pósito, mas apenas à titularidade do crédito, a obrigação será extinta par o devedor e o litígio remanescerá entre os possíveis credores.

A respeito do tema, o Enunciado 62 do Fórum Permanente de Pro-cessualistas Civis: “A regra prevista no art. 548, III, que dispõe que, em ação de consignação em pagamento, o juiz declarará efetuado o de-pósito extinguindo a obrigação em relação ao devedor, prosseguin-do o processo unicamente entre os presuntivos credores, só se apli-cará se o valor do depósito não for controvertido, ou seja, não terá aplicação caso o montante depositado seja impugnado por qualquer dos presuntivos credores”.

Por fim, quanto à sentença proferida em ação de consignação em pagamento, em regra, terá natureza meramente declaratória. Toda-via, como bem registra Daniel Amorim Assumpção Neves4, excepcio-nalmente, terá também natureza condenatória quando o réu alegar insuficiência do depósito e o autor não complementá-lo em dez dias, caso em que o juiz irá condená-lo a pagar a diferença apurada (art. 899, §2 do CPC/1973 e art. 545, §2º, do Novo CPC).

1.2) DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

Ab initio, cumpre esclarecer que a “Ação de Prestação de Contas” era regulada no Código de Processo Civil de 1973 pelos artigos 914 a 919. Nestes dispositivos, em verdade, eram encontrados dois distintos

4 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit., p. 357.

Page 17: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa17

MARIA TEREZA TARGINO HORA

procedimentos especiais: o da “Ação de Dar Contas” e o da “Ação de Exigir Contas”. Ocorre que, o CPC de 2015 menciona, entre as ações de procedimento especial, apenas a de exigir contas, de modo que devemos observar o procedimento comum na ação de dar contas.

Assim, tanto no CPC 1973 como no CPC 2015, quem estiver adminis-trando certos bens ou interesses de outrem, tem o dever de prestar contas de sua gestão, que poderá ser realizada de forma voluntária (prestar contas) ou mediante exigência dos interessados (exigir con-tas). Vários exemplos podem ser encontrados no Código Civil, tais como o mandatário (art. 668), os administradores nas sociedades (art. 1020), o síndico de condomínio (art. 1348), os tutores (art. 1755), os curadores (art. 1781), entre tantos outros.

O procedimento especial de “exigir contas” será utilizado no caso de “prestação forçada de contas”. Trata-se, como se poderá observar, de um procedimento distinto da maioria dos conhecidos no ordena-mento brasileiro, pois existem, em regra, duas fases distintas: a pri-meira, para que o magistrado decida sobre a existência ou não da obrigação de o réu prestar contas. A segunda fase, que só se instaura se restar verificada a obrigação do réu de prestar contas, a qual servi-rá para que as contas sejam efetivamente prestadas, bem como para que se verifique a existência de eventual saldo em favor do credor ou devedor.

Ao discorrer sobre o tema, Alexandre Freitas Câmara5 nos ensina o seguinte:

É preciso notar, porém, que não se estará diante de dois processos distintos, tramitando simultaneamente nos mesmos autos. O processo, em verdade, é único, embora dividido em duas fases distintas. Há, pois o ajuizamento de uma única demanda, contendo um único mérito.A análi-

5 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op.cit., p. 325.

Page 18: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil18

MARIA TEREZA TARGINO HORA

se deste, porém, é dividido em dois momentos: o pri-meiro, dedicado à verificação da existência do direito de exigir a prestação de contas; o segundo, dirigido á verificação das contas e do saldo devedor eventual-mente existente (grifo nosso).

O §1º do art. 540 do NCPC revoluciona ao exigir como requisito da petição inicial, que o autor especifique, de forma detalhada, as ra-zões pelas quais exige as contas, devendo, ainda, instruí-la com os documentos comprobatórios dessa necessidade, caso existirem. Ou seja, alegações genéricas da existência de um dever de prestação de contas são insuficientes, devendo o autor demonstrar as razões pelas quais necessita da atuação do Poder Judiciário para tanto. Tal exigên-cia visa dar maior segurança ao processo, bem como afastar as lides meramente temerárias.

Uma particularidade desse procedimento é que, ao contrário do pro-cedimento comum ordinário, não existe previsão de marcação de audiência preliminar. A cabeça do art. 550 estabelece que o réu será citado diretamente para prestar contas ou contestar, de modo que diante da ausência de previsão acerca da referida audiência, deve –se observar a lógica do procedimento especial.

Assim, citado o réu, no prazo de 15 (quinze dias) previsto no caput do art. 540, poderá este adotar uma entre várias condutas possíveis:

• Pode reconhecer a obrigação de prestar constas, e já as apresen-tar, caso em que o juiz considerará superada a primeira fase e passará desde logo à segunda.

• Uma vez prestadas as contas, o autor terá o prazo 15 (quinze) dias para manifestar - se sobre as mesmas (§2º) e, caso não concorde, deverá oferecer impugnação fundamentada e especificada, fa-zendo referência expressa ao lançamento questionado (§3º).

Page 19: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa19

MARIA TEREZA TARGINO HORA

• Pode permanecer inerte, sem contestar nem prestar as contas soli-citadas, caso em que, o juiz, aplicando ao réu os efeitos da revelia, julgará antecipadamente a lide, nos termos do art. 355 (§4º), de-terminando que preste as contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar (§5º).

• Se o demandado não apresentar as contas no prazo de quinze dias acima mencionado, o autor deverá apresentá-las, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial se necessário (§6º).

• Pode apresentar resposta, alegando, por exemplo, a inexistência da obrigação de prestar contas. Caso o magistrado entenda que os pedidos formulados são procedentes, o réu será condenado a prestar contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.

• Pode o réu contestar, negando a obrigação de prestar contas, mas, ao mesmo tempo, já apresentá-las. Nesse caso, o processo passará logo à segunda fase, pois ao apresentar as contas, o réu reconhece a obrigação, cumprindo apenas ao magistrado veri-ficar se elas estão corretas e se há saldo em favor dos litigantes.

Importante frisar que, o art. 915, §2º do CPC de 1973 previa que o ato que condenava o réu a prestar contas, sem por fim ao processo, marcando o fim da primeira fase e a passagem para a segunda, teria natureza de sentença, in verbis:

§ 2o Se o réu não contestar a ação ou não negar a obrigação de prestar contas, observar-se-á o disposto no art. 330; a sen-tença, que julgar procedente a ação, condenará o réu a pres-tar as contas no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de não Ihe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.

Ocorre que, o CPC de 2015 não mais designa o ato judicial que encer-

Page 20: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil20

MARIA TEREZA TARGINO HORA

ra a primeira fase como sentença, mas sim como decisão. Assim, em-bora existam controvérsias acerca da sua natureza jurídica, o enten-dimento que prevalece entre os doutrinadores é no sentido de que a nova legislação optou por considerá-la como decisão interlocutória, em face de qual caberá agravo de instrumento.

No mesmo sentido, e Enunciado nº 177 do Fórum Permanente de Processualistas Civis afirma que “a decisão interlocutória que julga procedente o pedido para condenar o réu a prestar contar, por ser de mérito, é recorrível por agravo de instrumento”. Segundo a me-lhor doutrina, o fato ser cabível o agravo de instrumento facilita a utilização do recurso, pois o mesmo possui instrumento próprio, não paralisando o processo, assim como pelo fato de não possuir efeito suspensivo ope legis.

Ademais, o novo diploma processual altera a forma de apresentação das contas prevista no art. 917 do CPC/1973, o qual dispunha que aquelas deveriam ser apresentadas na forma mercantil. Agora, o arti-go 551 e seus parágrafos exigem apenas que as contas apresentadas tanto pelo réu, como pelo autor, nas hipóteses acima elencadas, se-jam demonstradas na forma adequada, especificando – se as recei-tas, a aplicação das despesas e os investimos, se houver.

Outra alteração realizada pelo CPC/2015 é que, pelo regime previsto no art. 917 do CPC/1973, as contas deveriam ser apresentadas em conjunto com os documentos justificativos. O §1º do art. 551 altera esse regime. Esses documentos só precisam ser apresentados após a impugnação justificada e específica do autor e apenas na medida de sua impugnação.

De acordo com Ravi Peixoto6,

6 PEIXTO, Ravi. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Ação de Prestação de Contas e o CPC/2015. Salvador: Editora Juspodivm. 2015, p. 323.

Page 21: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa21

MARIA TEREZA TARGINO HORA

o réu não precisará apresentar a documentação referente a todos os lançamentos, mas tão somente em relação aos que forem impugnados pelo autor. Há de se destacar que os documentos só precisam ser apresentados caso haja impugnação específica e fundamentada dos lançamentos, não se admitindo impugnações genéricas, no sentido de que os débitos lançados estão incorretos.

Um dos exemplos mais comuns de ação de exigir contas é aquela proposta pelo correntista em face do banco. Foi editada, inclusive, uma súmula para reconhecer essa possibilidade: Súmula 259 do Su-perior Tribunal de Justiça que assim dispõe: “A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta corrente bancária” (Obs: a súmula continua válida com o CPC 2015, mas a redação da súmula deverá ser atualizada com o novo nome do procedimento (ação de exigir contas)).

Situação diversa que também envolve bancos e correntistas é aque-la que envolve os contratos de mútuo (empréstimo de dinheiro) e financiamento. Nesses casos, o STJ decidiu que não há interesse de agir por parte do devedor para a ação de exigir contas, tendo em vista que esta tem por finalidade essencial dirimir incertezas surgi-das a partir da administração de bens, negócios e interesses alheios, cabendo ao gestor a apresentação minuciosa de todas as receitas e despesas envolvidas na relação jurídica e, ao final, a exibição do sal-do, que tanto pode ser credor quanto devedor. Ou seja, é fundamen-tal que exista, entre autor e réu, relação jurídica de direito material em que um deles administre bens, direitos ou interesses alheios. Sem essa relação, inexiste o dever de prestar contas.

No contrato de mútuo bancário, a obrigação do mutuante (no caso, a instituição financeira) cessa com a entrega da coisa (na hipótese, o dinheiro). Assim, não há obrigação do banco em prestar contas, porquanto a relação estabelecida com o mutuário não é de admi-

Page 22: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil22

MARIA TEREZA TARGINO HORA

nistração ou gestão de bens alheios, sendo apenas um empréstimo. Concluiu-se, então, pela inexistência de interesse de agir do cliente/mutuário para propor ação de prestação de contas, haja vista que o mutuante/instituição financeira exime-se de compromissos com a entrega da coisa (STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Feli-pe Salomão, julgado em 11/3/2015 (Informativo 558)).

Por fim, faço a ressalva de que a Corte Cidadã firmou entendimento no sentido de que o dever de prestar contas não se transmite aos herdeiros, devido ao caráter personalíssimo da obrigação, não se po-dendo exigir que o espólio ou os sucessores o façam pelo de cujus (AgRg no REsp 1.145.754⁄ES, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 07⁄03⁄2014; REsp 1.122.589⁄MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 19⁄04⁄2012). Todavia, o mesmo não se pode afirmar quando é o espólio que pretende exigir as contas, porque “as circunstâncias que impedem a transmissibilidade do dever de  prestar contas aos herdeiros do mandatário não se verificam na hipótese inversa, rela-tiva ao direito de os herdeiros do mandante exigirem a prestação de contas do mandatário”. (REsp 1.122.589⁄MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª Turma, DJe de 19⁄4⁄2012).

Em suma, o direito de exigir a prestação de contas transmite-se aos herdeiros do de cujus, mas não o dever de prestá-las, tendo em vista que este é personalíssimo e, portanto, intransmissível.

Por oportuno, colaciona–se recente julgado relatado pela Ministra Nancy Andrighi que trata do tema em análise:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. MORTE DA PARTE RÉ. SUCESSÃO PROCESSUAL. IMPOS-SIBILIDADE. OBRIGAÇÃO PERSONALÍSSIMA. 1. Ação de prestação de contas, distribuída em 23/06/2003, da qual foi extraído o presente recurso especial, conclu-so ao Gabinete em 28/09/2012. 2. Recurso especial em

Page 23: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa23

MARIA TEREZA TARGINO HORA

que se discute se o espólio da ré falecida pode suceder--lhe na ação de exigir contas. 3. A disposição do art. 914, II, do CPC, de que a ação de prestação de con-tas compete a quem tiver a obrigação de prestá-las, deve ser lida e interpretada no sentido de competir somente àquele que administra os bens e interes-ses de terceiros (obrigação personalíssima), porque é a pessoa capaz de informar quais providências e despesas foram feitas, como foram feitas e por que o foram. 4. Os herdeiros não podem ser obrigados a prestar contas relativas a atos de gestão praticados por terceiro, realizados sem a anuência ou qualquer participação deles, mormente se considerado o ônus que a inércia lhes impõe, de o Juiz, eventualmente, acolher aquelas que o autor apresentar (art. 915, §§ 2º e 3º, do CPC). Precedentes. 5. A pretensão deduzi-da na ação de prestação de contas - o aclaramento dos gastos, rendimentos e a prova da boa administração - não se confunde com o direito material ao crédito even-tualmente existente, de modo que poderá o credor, pela via comum, buscar satisfazê-lo em face dos herdeiros, nos limites da herança. 6. Recurso especial conhecido e desprovido.(STJ - REsp: 1354347 SP 2011/0299177-0, Re-lator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 06/05/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/05/2014)(grifo nosso).

O art. 552 faz referência à sentença da segunda fase, impondo que a mesma seja líquida, apurando o saldo devedor, que poderá benefi-ciar tanto o autor, como o réu, ressaltando-se, nesse momento, o seu caráter de duplicidade. Como bem registra Ravi Peixoto7 o referido dispositivo apenas reproduz a lógica das decisões relativas a ações

7 PEIXTO, Ravi. Op.cit, p. 324.

Page 24: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil24

MARIA TEREZA TARGINO HORA

de obrigação de pagar quantia, que, de acordo com o art. 491 do CPC/2015, devem sempre ser líquidas, ainda que o pedido seja gené-rico, salvo as exceções dos incisos I e II. Assim, exclui-se a possibilida-de de utilização da liquidação, de modo que não havendo a fixação de valores, a decisão deve ser anulada.

O art. 553 trata de uma hipótese específica de prestação de contas, que é aquela relacionada com os casos em que o dever de prestar contas refere-se a administrador nomeado judicialmente (inventa-riante, tutor, curador, depositário, etc.).

A particularidade dessa prestação de contas está no parágrafo único do mencionado dispositivo, que consiste na forma de efetivação de pagar quantia, caso exista saldo devedor. O juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito o administrador. A novidade fica por conta da par-te final do parágrafo, ao estabelecer que este rol de medidas passa a ser meramente exemplificativo, pois, além das diligências elencadas, permite-se a adoção, pelo magistrado, de outras as medidas executi-vas necessárias à recomposição do prejuízo.

1.3 DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS

Inicialmente, vale ressaltar que o direito brasileiro confere proteção à posse, permitindo que o possuidor a defenda de eventuais agressões de duas formas: pela autotutela e heterotutela (ações possessórias).

A primeira é tratada no art. 1210, §1º do Código Civil que dispõe o seguinte: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou se restituir por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manu-tenção, ou restituição da posse”. Este mecanismo de defesa, muito em-bora de grande relevância, desvia- se do âmbito de nossos estudos, já

Page 25: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa25

MARIA TEREZA TARGINO HORA

que feito sem a instauração do processo e sem a intervenção do Poder Judiciário.

Desta feita, passemos a análise do que realmente nos interessa, as inovações trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015 às ações possessórias e o seu procedimento (heterotutela).

As ações possessórias são também chamadas pela doutrina de inter-ditos possessórios, a saber: a reintegração de posse, a manutenção de posse e o interdito proibitório, cabíveis, quando houver, respecti-vamente, esbulho, turbação ou ameaça. O tipo de agressão permite identificar qual a adequada ação.

As formas de agressão ora mencionados são conceituadas por Mar-cus Vinicius Rios Gonçalves8 da seguinte forma:

Esbulho: pressupõe que a vítima seja desapossada do bem, que o perca para o autor da agressão. É o que ocorre quando há uma invasão e o possuidor é expulso da coisa;

Turbação: pressupõe a prática de atos materiais concretos de agressão à posse, mas sem desapossamento da vítima. Por exemplo, o agressor destrói o muro do imóvel da ví-tima; ou ingressa frequentemente, para subtrair frutas ou objetos de dentro do imóvel;

Ameaça: não há atos matérias concretos, mas o agressor manifesta a intenção de consumar a agressão. Se ele vai até a divisa do imóvel, e ali se posta, armado, com outras pessoas, dando a entender que vai invadir, haverá ameaça.

8 GONÇAVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Editora Saraiva. 2015, p.860.

Page 26: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil26

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Certo é que, no caso concreto, nem sempre será fácil identifi-car quando há esbulho, turbação ou ameaça, razão pela qual o CPC/1973 considera as três ações possessórias fungíveis entre si, permitindo que o magistrado conceda uma forma de proteção di-ferente da pleiteada, sem que fique configurada a sentença extra petita (além do pedido). Ademais, caso no curso do processo, um tipo de agressão transforme-se em outro, poderá o juiz conceder a proteção adequada a esta nova circunstância, sem necessidade de alteração do pedido formulado na inicial. A fungibilidade das ações foi mantida pelo CPC/2015 em seu art. 554: “A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados”.

O Novo CPC também conservou a possibilidade de cumulação do pedido de condenação de perdas e danos (inciso, I, do art. 555) e de multa cominatória ao pedido principal, sem prejuízo do procedi-mento especial (§, único). Todavia, suprimiu o inciso III do art. 921, do CPC/1973 que previa a possibilidade de ser cumulado o pleito de desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento da posse do autor.

Em razão do caráter dúplice das ações possessórias, é lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor (art. 556). Esse dispositivo autoriza ao demandando formular pedidos em sede de contestação, sem necessidade de reconvir.

Feitas essas considerações iniciais, iniciemos os estudos das altera-ções mais relevantes realizadas pelo CPC/2015.

Pois bem, em relação à vedação de propositura, tanto pelo autor como pelo réu, de ação petitória durante o trâmite do processo pos-

Page 27: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa27

MARIA TEREZA TARGINO HORA

sessório, o Novo CPC introduziu a ressalva de que tal impedimen-to não se aplica nos casos em que a pretensão for introduzida por terceira pessoa. Isto é, a vedação prevista no art. 557 do Novo CPC somente se aplica as partes da ação, não alcançando terceiros estra-nhos à lide possessória.

Por oportuno, trago à baila o Enunciado 65 do FFPC, que assim dis-põe: “O art. 557 do projeto não obsta a cumulação pelo autor de ação reivindicatória e de ação possessória, se os fundamentos forem dis-tintos”.

Ademais, o Código de Processo Civil de 2015 mantém a exigência de prestação de caução quando o réu comprovar que o autor rein-tegrado ou mantido provisoriamente na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e da-nos (art. 559). Todavia, existem duas novidades referentes à caução.A primeira é que o artigo em análise expressamente dispõe que a caução poderá ser real ou fidejussória; a segunda inovação é permitir que a parte economicamente hipossuficiente seja liberada da pres-tação de caução.

Ao comentar esta última novidade, o Professor Daniel Amorim As-sumpção9, registra que esta regra é de difícil compreensão, vez que

sendo requisito da exigência de prestação de caução a fal-ta de idoneidade financeira, como afastá-la para os econo-micamente hipossuficientes? Ao que parece, o dispositivo se valeu de expressões diferentes para indicar o autor que não tem condições de arcar com eventuais perdas e da-nos do réu, e ao mesmo tempo prevê que essa condição é causa para a exigência e dispensa de caução. O paradoxo criado pela norma é garantia de polêmica.

9 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit., p. 359.

Page 28: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil28

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Para melhor compreensão da matéria, transcreverei os dispositivos ora comentados, grifando as modificações introduzidas pelo Novo CPC:

Art. 557.  Na pendência de ação possessória é vedado, tan-to ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.Parágrafo único.  Não obsta à manutenção ou à reintegra-ção de posse a alegação de propriedade ou de outro direi-to sobre a coisa.Art. 559.  Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o pra-zo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejus-sória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, res-salvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente.

Outro ponto de destaque quando da análise do Capítulo III do Novo CPC, que trata das Ações Possessórias, foi a introdução dos §1º, §2º e 3º ao art. 554, que discorrem sobre as ações posses-sórias multitudinárias, ou seja, aquelas ações que envolvem inú-meras pessoas, não sendo possível individualizar os ocupantes. Diante da importância do tema, imprescindível a leitura atenta dos parágrafos mencionados:

§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no lo-cal e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.

Page 29: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa29

MARIA TEREZA TARGINO HORA

§ 2o Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o ofi-cial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem en-contrados.§ 3o O juiz deverá determinar que se dê ampla publici-dade da existência da ação prevista no § 1o e dos res-pectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da pu-blicação de cartazes na região do conflito e de outros meios.

Conforme observado, os dois primeiros parágrafos dispõem basica-mente sobre a forma de citação dos réus nas ações multitudinárias. Aqueles que forem encontrados no local serão citados pessoalmen-te e, os demais, deverão ser citados por edital. O parágrafo segun-do, determina que o oficial somente procurará os ocupantes no lo-cal uma vez, citando-se por edital os que no momento não forem encontrados.

Ademais, a intimação do Ministério Público nos interditos posses-sórios em que figure no polo passivo grande número de pessoas é obrigatória, assim como a da Defensoria Pública, se existirem réus em situação de hipossuficiência econômica.

Por sua vez, o parágrafo terceiro determina que deverá ser dada am-pla publicidade à existência da ação possessória multitudinária e dos seus prazos processuais. Ao comentar o novel dispositivo, Daniel Amorim Assumpção Neves10, faz a seguinte ponderação:

Como a experiência mostra, a grande maioria dos réus nesse tipo de ação possessória será citada por edital, e é notória a ineficácia desse meio de tornar a existência

10 NEVES, Daniel Amorim Assumpção.op.cit. 2015, p. 360.

Page 30: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil30

MARIA TEREZA TARGINO HORA

do processo conhecida. Por isso, elogiável o art. 554, §3º ao prever ampla publicidade da existência da ação e também dos prazos processuais por outros meios além do edital, tais como anúncios em jornal ou rádios locais e publicação de cartazes na região do conflito. De qual-quer forma, na maioria das vezes, a liderança do movi-mento responsável pela agressão possessória toma co-nhecimento da existência do processo judicial e de seu andamento.

Ainda a respeito do tema, o Enunciado 63 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:

No caso de ação possessória em que figure no polo passi-vo grande número de pessoas, a ampla divulgação previs-ta no §3º do art. 554 contempla a inteligência do art. 301, com a possibilidade de determinação de registro de pro-testo para consignar a informação do litígio possessório na matrícula imobiliária respectiva.

Em relação ao procedimento das ações possessórias regulado pelo Código de Processo Civil de 2015, a única novidade diz respeito à in-trodução do art. 565 e seus parágrafos, que discorrem sobre o litígio coletivo pela posse de imóvel.

O caput do dispositivo dispõe que nesse tipo de demanda, quan-do o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, obrigatoriamente deverá desig-nar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias. O parágrafo primeiro dispõe, ainda, que se a liminar concedida não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de dis-tribuição, também caberá ao magistrado designar audiência de mediação.

Page 31: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa31

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Ao comentar o mencionado artigo, Brunela Vieira Vicenzi e Fernanda Pompermayer Almeida de Oliveira11 discorrem que

previsão de audiência de mediação obrigatória garante não só a possibilidade de solução pacífica dos conflitos, mas também o direito à ampla defesa e ao contraditório. Isso porque, no CPC/1973 na hipótese de não retratação quanto à concessão de tutela liminarmente, resta à parte prejudicada somente a possibilidade de interpor agravo de instrumento (...). Por sua vez, a mediação prevista no Novo CPC permitirá não só que os indivíduos formulem sua defesa de forma mais livre – menos formalidade e mais oralidade, mas também que exponham todos os seus ar-gumentos de forma direta, perante o autor da ação e o juiz de primeiro grau que proferiu a decisão.

O Ministério Público, em qualquer caso, será intimado para com-parecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça (§2º). Ade-mais, o magistrado poderá comparecer à área objeto do litígio sempre que sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional (§3º).

Por fim, o parágrafo quarto aponta que os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Dis-trito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio po-derão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.

11 VICENZI, Brunela Vieira e Fernanda P. A. de Oliveira. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Estamos indo em direção à Função Social da Posse? Análise das Inovações para Julgamento de Conflitos Possessórios no Novo CPC. Editora Método. 2015, p. 339.

Page 32: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil32

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Assim, observa-se que as intimações previstas pelo §2º constituem um dever do magistrado, enquanto que as intimações dispostas no §4º são meramente facultativas, isto é, cabe ao juiz, no caso concreto, analisar se a presença dos órgãos acima mencionados são, de fato, capazes de contribuir na solução do litígio.

Todos esses procedimentos também são aplicáveis aos litígios que dizem respeito ao domínio ou propriedade, ou seja, também nos juízos petitórios (§5º). A título de exemplo, todos esses procedi-mentos devem incidir para os casos de desapropriação judicial pri-vada por posse trabalho, prevista nos §4º e §5º do art. 1228 do Có-digo Civil.

1.4) DA AÇÃO DE DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS PARTICULARES

A ação de demarcação cabe ao proprietário, para obrigar o seu con-finante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou se aviventando os já apagados. Já a ação de divisão, tem por objetivo a dissolução do condomínio, transformando a cota ideal de cada condômino sobre o prédio comum em parte concreta e determinada. A respeito do tema, o Professor Cintra Pereira 12 esclarece que:

Embora o Código de Processo Civil tenha regulado as duas ações em um mesmo capítulo, evidencia – se, todavia, si-tuações distintas: a demarcatória pressupõe a existência de dois prédios confiantes cujos limites não estejam per-feitamente estremados. Há confusão de limites ou, pelo menos, incerteza quanto à exata extensão das respectivas propriedades (...). A divisão, por seu turno, pressupõe um só imóvel que pertença a dois ou mais proprietários que se

12 MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado. 2008, p. 2708.

Page 33: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa33

MARIA TEREZA TARGINO HORA

encontram dispostos a extinguir o condomínio. Em suma, a demarcação está ligada ao direito de vizinhança; a divi-são é forma de extinguir a comunhão.

O art. art. 569 prevê que cabe ao proprietário a ação de demarcação, para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fi-xando-se novos limites entre eles ou se aviventando os já apagados e ao condômino a ação de divisão, para obrigar os demais consortes a estremar os quinhões.

Existem dois Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis a respeito do tema. Vejamos:

Enunciado 68 - Também possuem legitimidade para a ação demarcatória os titulares de direito real de gozo e fruição, nos limites dos seus respectivos direitos e títulos constitutivos de direito real. Assim, além da proprieda-de, aplicam-se os dispositivos do Capítulo sobre ação demarcatória, no que for cabível, em relação aos direi-tos reais de gozo e fruição(grifo nosso).Enunciado 69 - Cabe ao proprietário ação demarcatória para extremar a demarcação entre o seu prédio e do con-finante, bem como fixar novos limites, aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos (grifo nosso).

Imperioso assinalar que é lícita a cumulação dessas ações, caso em que se deverá processar primeiramente a demarcação total ou parcial da coisa comum, citando-se os confinantes e os condôminos (art. 570).

O Novo Código de Processo Civil insere dois novos artigos ao Capí-tulo IV, que trata da Ação de Divisão de Demarcação de Terras Parti-culares. O primeiro deles é o art. 571 o qual prevê que a demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde que maiores, capazes e concordes todos os interessados. Já o art. 573

Page 34: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil34

MARIA TEREZA TARGINO HORA

dispõe que se o imóvel em análise for georreferenciado, com aver-bação no registro de imóveis, pode o juiz dispensar a realização de prova pericial.

Outra novidade está prevista no art. 575 que dispõe que qualquer condômino é parte legítima para promover a demarcação do imóvel comum, requerendo a intimação dos demais para, querendo, intervir no processo. Registre–se que no CPC/1973 os demais condôminos deveriam ser citados para ingressarem no feito como litisconsortes.A forma de citação dos réus também sofreu alteração, tendo em vista que o art. 576 expressamente aponta que os réus serão citados pelo correio, observado o disposto no art. 247, cabendo a citação por edi-tal somente nas hipóteses previstas em lei para tal modo de citação. Por sua vez, o artigo correspondente no CPC/1973 dispunha que os demandados residentes na comarca deveriam ser citados por pes-soalmente, enquanto os demais por edital.

Já o art. 581, caput, do Novo CPC reproduz a regra consagrada no Có-digo anterior, qual seja, a de que a sentença que julgar procedente o pedido determinará o traçado da linha demarcada. A inovação está no seu parágrafo único, sem precedentes no CPC/1973, ao dispor que a sentença proferida na ação demarcatória determinará a resti-tuição da área invadida, se houver, além de declarar o domínio ou a posse do prejudicado, ou de ambos.

Assim como no art. 962 do CPC/1973, o art. 583 do NCPC estabelece que as plantas serão acompanhadas das cadernetas de operações de campo e do memorial descritivo, e seus incisos indicam os requisitos formais do referido memorial. Merece destaque a atualização feita pelo inciso VI, ao estabelecer que as distâncias a pontos de referên-cia, tais como rodovias federais e estaduais, ferrovias, portos, aglo-merações urbanas e polos comerciais, deixando, assim, de se referir à estação da estrada de ferro, ao porto de embarque e ao mercado mais próximo, como constado no Código revogado.

Page 35: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa35

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Por fim, registro o art. 590 o qual dispõe que o juiz nomeará um ou mais peritos para promover a medição do imóvel e as operações de divisão, observada a legislação especial que dispõe sobre a identifi-cação do imóvel rural. Ademais, o seu parágrafo único, inova ao assi-nalar que o perito deverá indicar as vias de comunicação existentes, as construções e as benfeitorias, com a indicação dos seus valores e dos respectivos proprietários e ocupantes, as águas principais que banham o imóvel e quaisquer outras informações que possam con-correr para facilitar a partilha.

1.5) DA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE

O Novo Código de Processo Civil cria no Título III, que trata dos procedimentos especiais, um novo procedimento denominado de ação de dissolução parcial de sociedade, regulamentado pelos arts. 599 a 609.

O CPC/1973 não continha dispositivos específicos acerca da maté-ria. O seu art. 1.218, inciso VIII, inserido no livro das disposições fi-nais e transitórias, manteve em vigor os arts. 655 a 674 do CPC/1939, que regulavam a “dissolução e liquidação de sociedades”, até que o procedimento viesse a ser regulamentado por lei especial. Tal le-gislação nunca foi editada, de modo que, atualmente, as regras de dissolução e liquidação da sociedade continuaram sendo as esta-belecidas no CPC/1939.

Ocorre que, tais regras, dizem respeito à dissolução total da socieda-de e não à dissolução parcial. É total a dissolução quando ocorre a ex-tinção e liquidação desta. É parcial quando um ou alguns dos sócios se desligam da sociedade, mas ela continua existindo. Assim, não existiam regras procedimentais próprias sobre a dissolução parcial de sociedade, razão pela qual o Novo CPC inova ao criar um regra-mento processual específico para a hipótese de desfazimento parcial dos laços societários.

Page 36: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil36

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Pois bem, o art. 599 dispõe que o objeto da ação de dissolução pode-rá ser: a) a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; b) a apuração dos haveres do sócio falecido, ex-cluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou c) somente a resolução ou a apuração de haveres. Ou seja, ação pode ser propos-ta para que o magistrado decrete a dissolução parcial da sociedade e apure os haveres ou, igualmente, apenas para que seja feita a apura-ção de haveres ou se dissolva a sociedade.

O processualista João Luiz Lessa Neto13 ressalta que para ser propos-ta a ação, deverá existir conflito entre os sócios, não sendo possível a dissolução extrajudicial ou por inexistir acordo sobre os haveres a serem pagos. Inexistindo conflito entre os sócios, e podendo a disso-lução ser realizada adequadamente extrajudicialmente, faltará inte-resse de agir para a propositura da ação.

Complementa que podem

existir conflitos em relação a dois pontos principais: a reso-lução da sociedade e a apuração de haveres. A ação de dis-solução parcial poderá ter por objeto esses dois pontos, que serão conhecidos e decididos em fases procedimentais sub-sequentes, ou ainda, apenas um deles. É possível, por exem-plo, que exista consenso quanto à retirada de um sócio, mas divirjam os interessados sobre os haverem serem pagos a esses sócios pela liquidação de sua participação no capital social”.

O §1º estabelece que a petição inicial deve ser instruída com o con-trato social consolidado. Assim, realizando-se uma interpretação

13 LESSA NETO, João Luiz. A Ação de Dissolução Parcial de Sociedade no Novo Código de Processo Civil – algumas Anotações. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Editora Juspodivm. 2015, p. 406

Page 37: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa37

MARIA TEREZA TARGINO HORA

analógica, nos casos de sociedade anônima, deve ser acostada à exordial o seu estatuto social.

Por sua vez, o §2º alarga o seu objeto ao estabelecer que a ação também pode ser proposta nos casos de dissolução de sociedade anônima de capital fechado, por acionista ou acionistas que representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode preencher o seu fim. Ou seja, exigem–se dois requisitos no caso de dissolução da S/A de capital fechado: o primeiro é a participação societária mínima e o segundo é a demonstração de que a sociedade não mais pode atingir o seu fim.

Assim, percebe-se que o Novo CPC inova no tratamento legislativo da matéria, pois o artigo 206, inciso II, b, da Lei de Sociedades Anônimas trata apenas da hipótese de dissolução total da sociedade, quando não for possível preencher o seu fim social. Não há menção alguma à possibilidade de dissolução parcial das sociedades anônimas.

Imperioso destacar que a matéria – dissolução parcial da sociedade anônima – não é novidade no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, que já pacificou o entendimento quanto à possibilidade de dissolu-ção parcial de sociedade anônima fechada de cunho familiar.

O Ministro Castro Filho no julgamento do REsp 111.294/PR, pondera que a realidade brasileira revela a existência diversas sociedades anô-nimas de médio e pequeno  porte, de capital fechado, que concen-tram na pessoa de seus sócios um de seus elementos preponderantes, como ocorre com as sociedades ditas familiares, cujas ações circulam entre os seus membros, e que são, por isso, constituídas intuito perso-nae. Em casos que tais, deve ser reconhecida a existência da affectio societatis como fator preponderante na constituição da empresa e tal circunstância não pode ser desconsiderada por ocasião de sua dissolu-ção, de modo que a ruptura da affectio societatis representa verdadei-ro impedimento a que a companhia continue a realizar o seu fim, com a obtenção de lucros e distribuição de dividendos.

Page 38: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil38

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Significa dizer que para jurisprudência atual do STJ é possível a disso-lução parcial da sociedade anônima de cunho familiar quando hou-ver o rompimento da affectio societatis, sem a exigência de cumpri-mento de qualquer outro requisito, enquanto o Novo CPC exige uma participação societária mínima e o requisito de demonstração de que a sociedade não mais pode atingir o seu fim.

Nos incisos II e III do art. 599 está previsto o pedido de apuração de haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de reti-rada ou recesso, que pode ser cumulado com o pedido de dissolução parcial ou elaborado isoladamente.

Os legitimados ativos para o ajuizamento da ação em análise estão previstos no art. 600, que assim dispõe:

Art. 600.  A ação pode ser proposta:I - pelo espólio do sócio falecido, quando a totalidade dos sucessores não ingressar na sociedade;II - pelos sucessores, após concluída a partilha do sócio falecido;III - pela sociedade, se os sócios sobreviventes não admiti-rem o ingresso do espólio ou dos sucessores do falecido na sociedade, quando esse direito decorrer do contrato social;IV - pelo sócio que exerceu o direito de retirada ou re-cesso, se não tiver sido providenciada, pelos demais só-cios, a alteração contratual consensual formalizando o desligamento, depois de transcorridos 10 (dez) dias do exercício do direito;V - pela sociedade, nos casos em que a lei não autoriza a exclusão extrajudicial; ouVI - pelo sócio excluído.

O parágrafo único estabelece, ainda, que o cônjuge ou companhei-ro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou

Page 39: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa39

MARIA TEREZA TARGINO HORA

poderá requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota social titulada por aquele sócio.

O Novo CPC, em seu art. 601, elenca espécie de litisconsórcio passivo necessário entre os demais sócios e a sociedade para que, no prazo de 15 (quinze) dias, concordem com o pedido ou apresentem contes-tação. Por sua vez, o parágrafo único faculta a citação da sociedade se todos os seus sócios o forem, fazendo a ressalva de que, mesmo nes-se caso, aquela ficará sujeita aos efeitos da decisão e à coisa julgada.

Dani A. A. Neves14, ao comentar o último dispositivo, faz a seguinte crítica:

O parágrafo único, apesar de boa intenção e encontrar am-paro em jurisprudência no Superior Tribunal de Justiça, foi formulado de forma sofrível e apta a suscitar dúvidas na academia e na praxe forense. Aparentemente, o objetivo do legislador era dispensar a presença da sociedade no polo passivo na hipótese de todos os sócios participarem da demanda, o que não tornaria o litisconsórcio necessá-rio, ao menos quanto à sociedade. A sua inclusão, portan-to, seria facultativaA literalidade da norma, entretanto, não permite tal con-clusão, porque não dispensa a presença da sociedade no polo passivo, mas apenas sua citação. E, para que seja dispensada sua citação, é natural que a sociedade esteja no polo passivo, afinal, não há que se falar em citação de quem não é réu no processo.

Registre-se que, nos termos do art. 602, o valor apurado em favor do sócio que se busca excluir da sociedade poderá ser compensan-do com o valor devido à sociedade de natureza indenizatória. Como

14 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit., p. 371.

Page 40: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil40

MARIA TEREZA TARGINO HORA

a sociedade tem legitimidade ativa e passiva na ação de dissolução parcial da sociedade, o pedido de compensação poderá ser formula-do tanto na petição inicial, como na contestação, quando terá natu-reza convencional.

Pois bem, existindo manifestação expressa e unânime pela concor-dância da dissolução, o juiz a decretará, passando-se imediatamente à fase de liquidação (art. 603, caput). Nesse caso, não haverá conde-nação em honorários advocatícios de nenhuma das partes e as cus-tas serão rateadas segundo a participação das partes no capital social (§1º). Em contrapartida, havendo contestação, observar-se-á o pro-cedimento comum (§2º).

Ultrapassada a etapa de dissolução da sociedade, passa-se a segun-da fase do procedimento especial em estudo, qual seja a apuração de haveres. Esta nada mais é que o levantamento dos valores refe-rentes à participação do sócio que se retira ou que é excluído da sociedade. Nos termos do art. 604, para apuração de haveres, o juiz: a) fixará a data da resolução da sociedade; b) definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social e c) nomeará o perito.

Não há discricionariedade para o juiz fixar a data da dissolução, vez que esta deverá ser estabelecida conforme os critérios previstos no art. 605, in verbis:

I - no caso de falecimento do sócio, a do óbito;II - na retirada imotivada, o sexagésimo dia seguinte ao do re-cebimento, pela sociedade, da notificação do sócio retirante;III - no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio dissidente;IV - na retirada por justa causa de sociedade por prazo de-terminado e na exclusão judicial de sócio, a do trânsito em julgado da decisão que dissolver a sociedade; e

Page 41: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa41

MARIA TEREZA TARGINO HORA

V - na exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou da reunião de sócios que a tiver deliberado.

No que diz respeito ao critério de apuração de haveres, o juiz deve-rá sempre respeitar aquilo que estiver pactuado entre as partes no contrato social ou em acordo de sócios. Ou seja, apenas em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determina-ção, tomando-se por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma, consoante disposto no art. 606 do Novo CPC.

A propósito, O Superior Tribunal de Justiça, atualmente, possui enten-dimento consolidado no sentido de que em respeito à preservação da sociedade e do montante devido ao sócio dissidente, mesmo que o contrato social eleja critério para a apuração de haveres, este somen-te prevalecerá caso haja a concordância das partes com o resultado alcançado. Existindo dissenso, faculta-se a adoção da via judicial e o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa é o balanço de determinação, de modo que a novel legislação processualista, ao elencar como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apu-rado em balanço de determinação, está em plena consonância com as recentes decisões proferidas por nossa Corte Superior. Senão, vejamos:

DIREITO EMPRESARIAL. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIE-DADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. SÓCIO DISSIDENTE. CRITÉRIOS PARA APURAÇÃO DE HAVE-RES. BALANÇO DE DETERMINAÇÃO. FLUXO DE CAIXA.1. Na dissolução parcial de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, o critério previsto no con-trato social para a apuração dos haveres do sócio re-tirante somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado.

Page 42: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil42

MARIA TEREZA TARGINO HORA

2. Em caso de dissenso, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está consolidada no sentido de que o balanço de determinação é o critério que melhor re-flete o valor patrimonial da empresa. 3. O fluxo de caixa descontado, por representar a meto-dologia que melhor revela a situação econômica e a capa-cidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. 4. Recurso especial desprovido.(STJ - REsp: 1335619 SP 2011/0266256-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 03/03/2015, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/03/2015)

Vale lembrar que em todos os casos em que for necessária a realiza-ção de perícia, a nomeação do perito deverá recair preferencialmente sobre especialista em avaliação de sociedades (§ único), bem como que a data da resolução e o critério de apuração de haveres podem ser revistos pelo juiz, a pedido da parte, a qualquer tempo antes de iniciada a perícia (art. 607).

Por fim, nos termos do art. 604, §1º, o juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela permanecerem, que depositem em juízo a parte incontroversa dos haveres devidos, podendo tal depósito ser, desde logo, levantando pelo ex-sócio, pelo espólio ou pelos sucesso-res (§2º).

Page 43: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa43

MARIA TEREZA TARGINO HORA

1.6) DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Com a morte, termina a responsabilidade civil do homem, tem início a sucessão e ocorre a transmissão dos bens aos herdeiros do de cujus. Segundo Maria Berenice Dias15 “inventário, em sentido estrito, é o rol de todos os bens e responsabilidades patrimoniais de um indivíduo. Na acepção ampla, é o procedimento destinado a individualizar o pa-trimônio dos herdeiros e entregar os bens a seus titulares”.

Acrescenta a autora que o inventário pode processar-se judicial ou ex-trajudicialmente; de forma amigável ou contenciosa; pelo rito do in-ventário ou do arrolamento. A lei fornece um cardápio de opções e a escolha dependerá da capacidade dos herdeiros, da existência de testamento e da concordância dos herdeiros quanto à divisão de bens.

Flávio Tartuce16, em sua obra Direito das Sucessões, pondera que o objetivo do procedimento, é a liquidação dos bens e a divisão patri-monial do acervo hereditário, cessando o condomínio legal pro indi-viso existente entre os herdeiros, situação não desejada pelas partes envolvidas.

Em relação ao instituto em análise, o art. 1991 do Código Civil de 2002 dispõe que “desde a assinatura do compromisso, até a homo-logação da partilha, a administração da herança será exercida pelo inventariante”. Isto é, o inventariante é o administrador do espólio, que pode ser conceituado como o conjunto dos bens que integra o patrimônio deixado pelo de cujus, e que serão partilhados, no inven-tário, entre os herdeiros ou legatários.

O Novo Código de Processo Civil, assim como o Código anterior, tra-ta de forma ampla os procedimentos de inventário e partilha e aca-

15 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. Editora: Revista dos Tribunais. 2009, p.55.16 TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões. Editora: Método. 2015, p.552.

Page 44: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil44

MARIA TEREZA TARGINO HORA

ba por repetir a maioria das regras outrora previstas. Nesse sentido, Marcus Vinicius Rios Gonçalves17 registra que não há no Novo CPC alterações muito significativas no processo de inventário. Segundo o renomado processualista, as principais mudanças são:

• Muitos dos prazos mencionados no CPC/1973 foram aumentados;

• Não se repetiu a possibilidade de o juiz, de ofício, determinar a sua abertura;

• Nos termos do art. 654, parágrafo único: “A existência de dívida para com a Fazenda Pública não impedirá o julgamento da parti-lha, desde que o seu pagamento esteja devidamente garantido”

• O arrolamento continua previsto como forma simplificada de in-ventário para a hipótese de os bens do espólio serem de peque-no valor, até o limite de 1.000 salários mínimos, não mais 2.000 OTNS, como no Código de 1973. Continua também havendo pre-visão do arrolamento sumário, com os mesmos requisitos.

O art. 610, caput, do CPC/2015 praticamente repetiu as regras pre-vistas no art. 982 do CPC/1973, ao dispor que havendo testamento ou interessado incapaz, proceder –se–á ao inventário judicial. O §1º, por sua vez, admite que o inventário e a partilha sejam feitos por es-critura pública, isto é, extrajudicialmente, se todos forem capazes e concordes. Nas palavras de Daniel Amorim Assumpção18:

A inovação fica por conta de duas previsões do §1º do art. 610 do Novo CPC. Primeiro, o dispositivo esclarece que a escritura pública servirá como documento hábil para qualquer ato de registro, e não só para o registro para o

17 GONÇAVES, Marcus Vinicius Rios. Op.cit, p.883. 18 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit., p. 372.

Page 45: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa45

MARIA TEREZA TARGINO HORA

registro imobiliário, como era previsto no antigo disposi-tivo. Segundo, o dispositivo indica expressamente que a escritura pública é documento hábil para levantamento de importância depositada em instituições financeiras”.

Não é demais lembrar que o inventário extrajudicial não é forma obrigatória, mas sim facultativa. Isto é, caso as partes prefiram o in-ventário judicial ao extrajudicial, poderão os herdeiros dele se utilizar seguindo as normas previstas na legislação processual civil.

O Novo CPC estabelece, ainda, novo prazo para abertura do inventá-rio: o processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte. Com isso, o prazo de 60 (sessenta) dias previsto no CPC/1973 foi modificado, com a preserva-ção da possibilidade de prorrogação do prazo de abertura, a pedido do interessado ou de ofício pelo magistrado.

Observa-se que, assim como a legislação anterior, o Novo Estatuto Processual, não consagra nenhum tipo de sanção em caso de des-cumprimento do mencionado prazo. Todavia, a ausência de previsão não impede/impedirá que cada Estado institua multa pelo retarda-mento do início do inventário. É esse o entendimento consagrado na Súmula 542 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual é consti-tucional a multa instituída pelo Estado– Membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário. Assim, não ha-vendo a abertura do inventário no prazo previsto, as partes ficaram sujeitas à multa, que poderá ser estabelecida por lei estadual.

Nos termos do art. 613 do CPC/2015, até que o inventariante preste o compromisso, continuará o espólio na posse do administrador provi-sório. Complementando, o art. 614 esclarece que este representa ati-va e passivamente o espólio e é obrigado a trazer ao acervo os frutos

Page 46: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil46

MARIA TEREZA TARGINO HORA

que desde a abertura da sucessão percebeu, bem como tem direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa.

O art. 615 que trata da legitimidade para requerer a abertura do in-ventário e da respectiva partilha, repete o art. 987 do CPC/1973, ao dispor que aquela caberá a quem estiver na posse e na administração do espólio. Ademais, o referido dispositivo, em seu parágrafo único, mantém a exigência de que o requerimento deverá ser instruído com a certidão de óbito do autor da herança.

O art. 616, equivalente ao art. 987 do Estatuto revogado, apresenta, de forma não taxativa, o rol de legitimados concorrentes para reque-rer a abertura do inventário. São eles: I - o cônjuge ou companheiro supérstite: o herdeiro; o legatário; o testamenteiro; o cessionário do herdeiro ou do legatário; o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; a Fazenda Pública, quando tiver interesse; o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite. Assim, extrai–se da leitura do dispositivo que houve a inclusão expressa do companheiro como legitimado, assim como a substituição do termo “síndico da falência” por “admi-nistrador judicial da falência”.

Frise-se que, consoante mencionado no início desse tópico, não exis-te mais a possibilidade de abertura do inventário de ofício pelo ma-gistrado.

Após aberto o inventário, o juiz nomeará o inventariante que passará a exercer as suas atribuições após prestar compromisso. Ele substitui o administrador provisório, que até então estava incumbido de zelar pelo espólio e administrar os bens. O art. 617, correspondente do art. 980 do CPC/1973, estabelece a ordem sucessiva de pessoas que po-derão ser nomeadas inventariantes pelo magistrado, in verbis:

Page 47: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa47

MARIA TEREZA TARGINO HORA

I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que es-tivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste;II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevi-vente ou se estes não puderem ser nomeados;III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio;IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administra-ção do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados;VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;VII - o inventariante judicial, se houver;VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventa-riante judicial.Parágrafo único.  O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a função.

Em relação a esse ponto, verificam – se duas inclusões: o herdeiro me-nor, por seu representante legal no inciso IV e o cessionário de her-deiro ou legatário no inciso VI. Assim, resta superado o entendimento jurisprudencial no sentido de que a inventariança somente poderia ser exercida pelos herdeiros maiores e capazes. A propósito, confira-se o seguinte julgado proferido pelo Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INVENTÁRIO. TESTA-MENTO. NOMEAÇÃO DE INVENTARIANTE. ORDEM LEGAL. ART. 990 DO CPC. NOMEAÇÃO DE TESTAMENTEIRO. IM-POSSIBILIDADE. HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS, MAIORES E CAPAZES. PREFERÊNCIA. - Para efeitos de nomeação de inventariante, os herdeiros testamentários são equipara-dos aos herdeiros necessários e legítimos. - Herdeiro me-nor ou incapaz não pode ser nomeado inventariante,

Page 48: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil48

MARIA TEREZA TARGINO HORA

pois é impossibilitado de praticar ou receber direta-mente atos processuais; sendo que para os quais não é possível o suprimento da incapacidade, uma vez que a função de inventariante é personalíssima. - Os herdeiros testamentários, maiores e capazes, preferem ao testamenteiro na ordem para nomeação de inventariante. - Existindo herdeiros maiores e capazes, viola o inciso III, do art. 990, do CPC, a nomeação de testamenteiro como inventariante. Recurso especial conhecido e provido.(STJ - REsp: 658831 RS 2004/0095197-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 15/12/2005, T3 - TERCEI-RA TURMA, Data de Publicação: DJ 01.02.2006 p. 537)(grifo nosso)

Nos termos do parágrafo único do art. 617, uma vez nomeado, den-tro de cinco dias, contados da sua intimação acerca da nomeação, o inventariante prestará compromisso de bem e fielmente desempe-nhar a função.

As várias atribuições do inventariante estão dispostas no art. 618 do Novo CPC: representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1o; administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem; prestar as primeiras e as últimas declara-ções pessoalmente ou por procurador com poderes especiais; exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documen-tos relativos ao espólio; juntar aos autos certidão do testamento, se houver; trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído; prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar e requerer a declaração de insolvência.

O art. 619 enumera, ainda, quatro incumbências do inventariante, que diferem das anteriores, pois dependem de autorização judicial e da oiti-

Page 49: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa49

MARIA TEREZA TARGINO HORA

va dos interessados. São elas: alienar bens de qualquer espécie; transigir em juízo ou fora dele; pagar dívidas do espólio; fazer as despesas neces-sárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio.

Dentro do prazo de 20 dias contados da data que prestou compro-misso, o inventariante fará as primeiras declarações, das quais se la-vrará termo circunstanciado, assinado pelo juiz, pelo escrivão e pelo inventariante (art. 620). A novidade está por conta do seu §2º ao dis-por que as primeiras declarações podem ser prestadas por procura-dor com poderes especiais, à qual o termo se reportará.

O inventariante perderá o cargo se for removido ou destituído. A re-moção ocorrerá como punição ao inventariante que não cumprir de forma satisfatória as suas funções. Já a destituição verificar-se-á não em razão de culpa, mas em decorrência de um fato externo ao pro-cesso, não ligado ao exercício de sua função.

Pois bem, em relação às hipóteses de remoção, o Novo CPC não trou-xe nenhuma alteração quando comparado com o CPC/1973. A gran-de novidade diz respeito à possibilidade expressa de remoção do in-ventariante de ofício pelo magistrado. Ademais, requerida a remoção com fundamento em qualquer dos incisos do art. 622, será intimado o inventariante para, no prazo de 15 (quinze) dias, defender-se e pro-duzir provas (art. 623). Assim, por ter remoção caráter punitivo, de-verá ser precedida de um procedimento incidental, em que lhe seja assegurado o contraditório a ampla defesa.

O inventariante removido entregará imediatamente ao substituto os bens do espólio e, caso deixe de fazê-lo, será compelido mediante mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de bem móvel ou imóvel. Até aí nenhuma alteração. A ino-vação está na parte final do art. 625 que prevê a possibilidade de aplicação de multa, a ser fixada pelo juiz, em montante não superior a três por cento do valor dos bens inventariados.

Page 50: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil50

MARIA TEREZA TARGINO HORA

De acordo com o art. 626: “Feitas as primeiras declarações, o juiz mandará citar, para os termos do inventário e da partilha, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os legatários e intimar a Fazenda Pú-blica, o Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento”.

O cônjuge ou o companheiro, os herdeiros e os legatários serão cita-dos pelo correio, sendo, reservada a citação por edital para as hipóte-ses previstas na legislação (§1º, art. 626). Assim, desaparece a regra do Estatuto revogado, segundo a qual a citação das pessoas domiciliadas na comarca por onde corria o inventário, ou que aí fossem encontra-das, seria realizada pessoalmente por oficial de justiça; e, por edital, as demais, residentes em outras comarcas ou mesmo no estrangeiro.

Nos termos do art. 627, somente depois de concluídas todas as cita-ções, abrir-se-á vista às partes, em cartório e pelo prazo comum de 15 (quinze) dias, para que os citados se manifestem sobre as primeiras declarações, podendo arguir erros, omissões e sonegação de bens; re-clamar contra a nomeação de inventariante; contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro. Observa-se que o prazo de dez dias previsto no art. 1000 do CPC/1973 foi ampliado para quinze dias.

O art. 1000, § único do CPC/1973 dispunha que caso o magistrado verificasse que a questão ser decidida envolvesse matéria de alta indagação, deveria remeter o requerente para as vias ordinárias, mandando reservar, em poder do inventariante, o quinhão do her-deiro excluído até que fosse decido o litígio. Por sua vez, o §3º do dispositivo em análise, afirma que apenas deverá haver a remessa às vias ordinárias quando a solução do impasse demandar a produção de provas não documentais. Ao comentar tal modificação, Flávio Tartuce19 nos ensina o seguinte:

19 TARTUCE, Flávio. O Novo CPC e o Direito Civil. Editora Método. 2015, p. 510.

Page 51: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa51

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Em suma, um conceito legal indeterminado, com alto grau de subjetividade, foi substituído por uma construção mais objetiva, baseada na produção de prova documental. Para o presente autor, a substituição pode trazer mais certeza e segurança para o procedimento do inventário, cabendo elogios em tal aspecto. Entretanto, por outra via, um ter-mo mais fechado retira a possibilidade de o juiz considerar novas situações no futuro, como é comum quando se uti-lizam conceitos legais indeterminados e cláusulas gerais. Em tal ponto, a mudança pode ser desfavorável. Somente a prática poderá demonstrar se a alteração foi boa ou ruim, tendo este autor dúvidas neste momento.

Superada a fase de impugnação, passar–se–á à fase de avaliação dos bens do espólio. O juiz nomeará um perito, se na comarca não houver avaliador judicial (art. 630), assim como nos casos envolvendo esta-belecimento empresarial, em que o juiz irá nomeá-lo para avaliação das quotas sociais ou apuração de haveres (§ único).

A avaliação poderá ser dispensada caso todos os herdeiros forem capazes e a Fazenda Pública, intimada pessoalmente, concordar de forma expressa com o valor atribuído, nas primeiras declarações, aos bens do espólio (art. 633). Por sua vez, se os herdeiros concordarem com o valor dos bens declarados pela Fazenda Pública, a avaliação cingir-se-á aos demais, isto é, aos bens móveis (art. 634).

Uma vez concluída a fase de avaliações, será lavrado o termo de últi-mas declarações no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou completar as primeiras. As partes serão ouvidas não mais no prazo de dez dias, mas no de quinze dias e proceder–se-á ao cálculo do tribu-to, que variará de acordo com a legislação de cada Estado (art. 637).

Imperioso ressaltar que o imposto de transmissão  causa mortis  é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão

Page 52: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil52

MARIA TEREZA TARGINO HORA

(Súmula 112 do STF) e deve ser calculado sobre o valor dos bens na data da avaliação (Súmula 113 do STF). Ademais, a sua base de cálculo abrange tantos os bens móveis como os bens imóveis da herança, mas não inclui a meação do cônjuge sobrevivente, já que esta não integra a herança.

A regra do art. 1017 do CPC/1973, de que antes da partilha, pode-rão os credores do espólio requerer ao juízo do inventário o pa-gamento das dívidas vencidas e exigíveis, é mantida pelo art. 642 do Novo CPC. Todavia, a grande novidade é encontrada no § 5o do mesmo dispositivo que dispõe, de forma expressa, que os dona-tários serão chamados a pronunciar-se sobre a aprovação das dí-vidas, sempre que haja possibilidade de resultar delas a redução das liberalidades.

Dando-se continuidade ao estudo do tema, passa-se a análise da par-tilha judicial de bens, que está regulamentada nos arts. 647 a 658 do CPC/2015 e tem início após a conclusão da fase de inventário. A partilha consiste na distribuição dos bens entre os sucessores do de cujus e pressupõe a existência de mais de um herdeiro, pois, se hou-ver apenas um, os bens serão adjudicados ao sucessor único.

Pois bem, depois de feito o pagamento dos credores, e apurado o conjunto de bens que deverá ser partilhado, o juiz facultará às partes que, no prazo comum de 15 (quinze) dias, formulem o pedido de qui-nhão e, em seguida, proferirá a decisão de deliberação da partilha, resolvendo os pedidos das partes e designando os bens que devam constituir quinhão de cada herdeiro e legatário (art. 647). Mais uma vez houve a ampliação do prazo que era de dez dias.

O parágrafo único do art. 647 inova ao prever que o magistrado pode-rá, em decisão fundamentada, deferir antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e de fruir de determi-nado bem, com a condição de que, ao término do inventário, tal bem

Page 53: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa53

MARIA TEREZA TARGINO HORA

integre a cota desse herdeiro, cabendo a este, desde o deferimento, todos os ônus e bônus decorrentes do exercício daqueles direitos.

O art. 648, sem correspondente no CPC/1973, traça regras de in-terpretação que deverão ser observadas na partilha. São elas: I - a máxima igualdade possível quanto ao valor, à natureza e à quali-dade dos bens; II - a prevenção de litígios futuros e III - a máxima comodidade dos coerdeiros, do cônjuge ou do companheiro, se for o caso.

Por sua vez, o art. 649, seguindo a linha do anterior, estabelece que os bens insuscetíveis de divisão cômoda que não couberem na par-te do cônjuge ou companheiro supérstite ou no quinhão de um só herdeiro serão licitados entre os interessados ou vendidos judicial-mente, partilhando-se o valor apurado, salvo se houver acordo para que sejam adjudicados a todos. Ora, observa-se que a finalidade do dispositivo é evitar um condomínio indesejado entre os herdeiros, especialmente, aqueles que não possuem um bom relacionamento. Vale registrar que a referida norma já estava consagrada no art. 2019 do Código Civil.

Outra inovação festejada pela doutrina está prevista no art. 650, o qual estabelece que se um dos interessados for nascituro, o quinhão que lhe caberá será reservado em poder do inventariante até o seu nascimento.

O art. 654, caput, do CPC/2015 repete o art. 1026 do Estatuto revoga-do, ao dispor que pago o imposto de transmissão a título de morte e juntada aos autos certidão ou informação negativa de dívida para com a Fazenda Pública, o juiz julgará por sentença a partilha (art. 654). A novidade está no parágrafo único do referido dispositivo que passou a estabelecer que a existência de dívida para com a Fazenda Pública não impedirá o julgamento da partilha, desde que o seu pa-gamento esteja devidamente garantido.

Page 54: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil54

MARIA TEREZA TARGINO HORA

A respeito do tema, o Enunciado 71 do Fórum Permanente de Pro-cessualistas Civis aponta o seguinte:

Poderá ser dispensada a garantia mencionada no parágra-fo único do art. 654, para efeito de julgamento da partilha, se a parte hipossuficiente não puder oferecê-la, aplicando--se por analogia o disposto no art. 300, § 1º20.

Nos termos do art. 657, a partilha amigável, lavrada em instrumen-to público, reduzida a termo nos autos do inventário ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, poderá ser anulada por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz, observado o disposto no § 4o do art. 966. O parágrafo único dispõe que o direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado esse prazo: no caso de coação, do dia em que ela cessou; no caso de erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato; quanto ao incapaz, do dia em que cessar a incapacidade.

Acerca do tema, o Professor Daniel Amorim Assumpção Neves21, nos ensina que

se houver partilha amigável existirá prazo para a propositu-ra de ação anulatória. O prazo para o ingresso da ação é de um ano, mas não tem natureza prescricional. Sendo o direi-to de anular a sentença um direito potestativo, é indiscutí-vel a natureza decadencial desse prazo.

20 A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la(grifo nosso).21 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit., p. 375.

Page 55: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa55

MARIA TEREZA TARGINO HORA

O renomado doutrinador acrescenta que a ação anulatória, entretan-to, só será o instrumento processual adequado se a partilha amigável não tiver sido homologada judicialmente. De acordo com o art. 658, I, do Novo CPC, existindo homologação por sentença da partilha ami-gável, será cabível ação rescisória, o mesmo ocorrendo se a partilha foi feita com preterição de formalidades legais (inciso II) e se for pre-terido herdeiro ou incluído quem não o seja (inciso III). Nesse caso, o prazo não deixa de ser decadencial, mas passa a ser de dois anos do trânsito em julgado da sentença.

Outra inovação trazida pelo Novo CPC diz respeito à possibilidade de expedição dos alvarás referentes aos bens e rendas a serem partilha-dos ou adjudicados, independentemente da comprovação, verifica-da pela Fazenda pública, do pagamento de todos os tributos. Assim, de acordo com o art. 659, §2º, transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou de adjudicação, será lavrado o formal de partilha ou elaborada a carta de adjudicação e, logo em segui-da, serão expedidos os respectivos alvarás, intimando-se o fisco para lançamento administrativo do imposto de transmissão e de outros tributos porventura incidentes, conforme dispuser a legislação tribu-tária, nos termos do § 2o do art. 662.

Ressalte-se, ainda, que segundo o Novo Estatuto Processual, o inven-tário processar-se-á também na forma do arrolamento sumário ainda que haja interessado incapaz, desde que concordem todas as partes e o Ministério Público.

Por fim, destaco o art. 672, que, em atenção ao princípio da economia processual, cria a possibilidade de cumulação de inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas quando houver: I - identida-de de pessoas entre as quais devam ser repartidos os bens; II - heran-ças deixadas pelos dois cônjuges ou companheiros; III - dependência de uma das partilhas em relação à outra. A realização dos inventários conjuntos se justifica pela economia processual.

Page 56: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil56

MARIA TEREZA TARGINO HORA

1.7) DOS EMBARGOS DE TERCEIRO

De acordo com Humberto Theodoro Júnior22

enquanto, na intervenção assistencial, o terceiro se intro-mete em processo alheio para tutelar direito de outrem, na esperança de, indiretamente, obter uma sentença que seja útil a seu interesse dependente do sucesso da parte assisti-da, nos embargos, o que o terceiro divisa é uma ofensa di-reta ao seu direito ou a sua posse, ilegitimamente atingidos num processo entre estranhos. Na intervenção, portanto, o assistente apresenta–se como um titular de um direito de-pendente, que, sem estar em jogo no processo, pode ser indiretamente prejudicado pela derrota da parte assistida.

Acrescenta, ainda, que nos embargos, a defesa é de um direito au-tônomo do terceiro, estranho à relação jurídica litigiosa das partes do processo primitivo e que, a nenhum título, poderia se atingida ou prejudicada pela atividade jurisdicional.

Os embargos de terceiro devem ser ajuizados quando terceiro, que não é parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato cons-tritivo (art. 674 do CPC/2015). No primeiro caso, isto é, quando a constrição já tiver sido efetuada, o autor da ação deverá requerer o desfazimento do ato e, quando existir mera ameaça de constrição, a sua inibição.

Importante frisar que pela primeira vez são previstos embargos de terceiro preventivos, muito embora a jurisprudência brasileira, à luz do princípio da inafastabilidade do Judiciário, já possua entendimen-to consolidado nesse sentido. Vejamos.

22THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 18. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999, v. 3., p. 320.

Page 57: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa57

MARIA TEREZA TARGINO HORA

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO PREVENTI-VO. ART. 1.046, DO CPC. AMEAÇA. CABIMENTO. 1. (...)3. É cediço na Corte que os embargos de terceiro são cabíveis deforma preventiva, quando o terceiro estiver na ameaça iminente de apreensão judicial do bem de sua propriedade. Precedentes: REsp751513/RJ, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ21/08/2006 Resp. nº 1.702/CE, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 9/4/90; REsp nº 389.854/PR, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo, DJ de 19/12/02.4. A ameaça de lesão encerra o interesse de agir no ajuiza-mento preventivo dos embargos de terceiro, máxime à luz da cláusula pétrea da inafastabilidade, no sentido de que nenhuma lesão ou ameaça de lesão escapará à apreciação do judiciário (art. 5º, inciso XXXV, da CF).5. Recurso especial desprovido.(STJ - REsp: 1019314 RS 2007/0307980-6, Rela-tor: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento: 02/03/2010, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 16/03/2010)

Tem legitimidade para opor embargos de terceiro aquele que não figura como parte no processo em que a constrição/ameaça ocorreu ou foi determinada e que alegue ser possuidor ou proprietário, in-clusive fiduciário (§1º, do art. 674). O parágrafo primeiro trouxe uma importante alteração em relação ao diploma anterior, tendo em vista que o mero proprietário, desprovido da posse, não era parte legítima para propor este remédio processual, vez que, na redação prevista no art. 1.046, § 1º CPC/1973, apenas os terceiros senhores e possuidores, ou apenas possuidores poderiam utilizá-lo.

Assim, o terceiro não podia ser somente proprietário (ressalvada a posse indireta), deveria ser proprietário e possuidor ou apenas o pos-suidor. Atualmente, por meio da nova legislação processual, o mero proprietário, inclusive o fiduciário, pode se utilizar deste instrumento. Outra novidade introduzida pelo Novo CPC (2º, do art. 674) foi a am-pliação do rol de terceiros que podem ajuizar os embargos, in verbis:

Page 58: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil58

MARIA TEREZA TARGINO HORA

§ 2o Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos: I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843;II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de de-cisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução;III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo in-cidente não fez parte;IV - o credor com garantia real para obstar expropriação ju-dicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos.

Nos termos da Súmula 84 do Superior Tribunal de Justiça, é admis-sível a oposição de embargos de terceiro fundados em compromis-so de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido de registro. Ressalte–se que, nesse caso, os embargos poderão ser opostos tanto pelo proprietário como pelo possuidor.

O prazo de embargos de terceiro vem estabelecido no art. 675 do Novo CPC (art. 1048, do CPC/1973), o qual determina que aqueles podem ser opostos a qualquer tempo na fase de conhecimento en-quanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da expropriação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. Ademais, a novidade vem exatamente em seu parágrafo único, pois caso o magistrado verifique a existência de terceiro titular de interes-se em embargar o ato, deverá determinar a sua intimação pessoal.

De acordo com o art. 676, os embargos serão distribuídos por depen-dência ao juízo que ordenou a constrição e autuados em apartado. Todavia, nos casos em que o ato de constrição é realizado por carta,

Page 59: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa59

MARIA TEREZA TARGINO HORA

os embargos serão oferecidos no juízo deprecado, salvo se indicado pelo juízo deprecante o bem constrito ou se já tiver sido devolvida a carta (§ único, do art. 676 - sem precedentes no CPC/1973). A respei-to do tema, confira-se o seguinte julgado proferido pelo E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ES-PECIFICADO. CASO CONCRETO. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR EMBARGOS DE TERCEIRO PER-TENCE AO JUÍZO DEPRECADO, JÁ QUE NÃO HOUVE INDIVIDUALIZAÇÃO NO JUÍZO DEPRECANTE ACERCA DOS BENS A SEREM PENHORADOS. DERAM PROVIMEN-TO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70061613147, Décima Sexta Câmara Cí-vel, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Sérgio Scar-paro, Julgado em 04/12/2014).(TJ-RS - AI: 70061613147 RS , Relator: Paulo Sérgio Scarparo, Data de Julgamento: 04/12/2014, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publica-ção: Diário da Justiça do dia 09/12/2014)(grifo nosso)

Alteração que merece ser comentada é o prazo de resposta do réu que passa a ser de 15 (quinze) e não mais de 10 (dez) dias. Ademais, a citação também será na pessoa do advogado da parte, exatamen-te como ocorre na oposição, quando já existir advogado constituído nos autos (§3º). Outra interessante novidade é a introdução do art. 677, §4º, que dispõe que será legitimado passivo não só o sujeito a quem o ato de constrição aproveita, mas também seu adversário no processo principal quando for ele quem tenha indicado o bem para a constrição judicial.

O Código de 1973 previa, ainda, em seu art. 1052 que ao receber os embargos de terceiro, o magistrado além de examinar o pedido li-minar e determinar a citação do réu, deveria ordenar a suspensão do processo principal. No Novo CPC tal previsão foi suprimida, razão

Page 60: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil60

MARIA TEREZA TARGINO HORA

pela qual se entende que o processo principal seguirá seu curso nor-malmente.

Igualmente, existia norma dispondo que, após a resposta do réu, os embargos corriam pelo procedimento cautelar. Agora, deverão se-guir pelo procedimento comum e não mais pelo cautelar, nos termos do art. 679 do CPC/2015.

O caput do art. 678 aponta que “a decisão que reconhecer suficiente-mente provado o domínio ou a posse determinará a suspensão das medidas constritivas sobre os bens litigiosos objeto dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração provisória da posse, se o embargante a houver requerido”.

O parágrafo único do supracitado dispositivo aduz que o juiz poderá condicionar a ordem de manutenção ou de reintegração provisória de posse à prestação de caução pelo requerente. A novidade fica por conta da dispensa de caução diante da parte economicamente hi-possuficiente.

Por fim, outra relevante inovação vem descrita no art. 681 do CPC/2015, sem correspondência no CPC/1973, pois acolhido o pedi-do inicial, o ato de constrição judicial indevida será cancelado, com o reconhecimento do domínio, da manutenção da posse ou da re-integração definitiva do bem ou do direito ao embargante, visando, assim, efetividade processual.

1.8) DA OPOSIÇÃO

A oposição no CPC/1973 era regulada como uma espécie de intervenção de terceiros. No Novo Código de Processo Civil, a oposição foi incluída no rol de procedimentos especiais e, substancialmente, contém as mesmas previsões do Código anterior. Assim, muito embora a natureza jurídica tenha sido modificada, o procedimento em si pouco foi alterado.

Page 61: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa61

MARIA TEREZA TARGINO HORA

O procedimento em análise continua podendo ser utilizado por quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou direito sobre que controverte autor e réu, devendo ser oferecida até a sentença (art. 682, do CPC/2015). O terceiro pretende obter o mesmo objeto ou vantagem que já é objeto de disputa, ou seja, pressupõe–se um ob-jeto litigioso e, para tanto, é imprescindível que o réu já tenha sido citado, pois é a citação que torna litigiosa a coisa.

Ao discorrer sobre o procedimento da oposição, Marcus Vinicius Rios Gonçalves23 ensina que:

Com o terceiro, para ter êxito na oposição, precisa demons-trar que a sua pretensão merece melhor acolhida que a do autor e do réu da ação originária, os disputantes da coisa, será necessário que os inclua a ambos no polo passivo.Haverá, portanto, sempre um litisconsórcio necessário no polo passivo da oposição, compostos pelos autores e réus da ação originária. Como a oposição é nova ação, apresentada e recebida, existirão duas ações que deverá ser julgada pelo juiz: a originária, entre A e B, e a oposição entre C, de um lado, e A e B, de outro, como litisconsortes necessários.

Importante destacar, ainda de acordo com as lições do menciona-do autor, que uma característica fundamental da oposição é que ela guarda relação de prejudicialidade com a ação originária, vez que o seu resultado influenciará o da ação principal. Ou seja, a procedência da oposição implica a improcedência da ação principal.

Desse modo, o magistrado pode julgar procedente a oposição e im-procedente a ação originária, caso em que a posse deverá ser entre-gue ao opoente; pode julgar improcedente a oposição e procedente

23 GONÇAVES, Marcus Vinicius Rios. Op. cit., p.262.

Page 62: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil62

MARIA TEREZA TARGINO HORA

a ação originária, caso em que a coisa deverá ser entregue ao autor dessa ação; e, por fim, tanto a oposição quanto a ação poder ser jul-gadas improcedentes, caso em que o direito à posse será o do réu, que a tinha consigo.

Ressalte-se que não será possível que a oposição e a ação sejam jul-gadas, ambas, inteiramente procedentes. É admissível, por exemplo, que sejam julgadas ambas parcialmente procedentes, como na hipó-tese de opoente e o autor da ação principal serem proprietários, cada qual de uma parte ou fração ideal da coisa.

A depender do momento em que o terceiro intervém no processo, a oposição poderá ser interventiva ou autônoma. A oposição in-terventiva se verifica até a audiência de instrução, enquanto que a autônoma é ajuizada entre a audiência de instrução e a sentença; esta se caracteriza autônoma porque, em verdade, é um proces-so incidente, seguindo o procedimento ordinário e julgada sem prejuízo da causa principal. A oposição interventiva é julgada na mesma sentença.

Nos termos do art. 683 do NCPC, a distribuição será feita por depen-dência e os opostos serão citados na pessoa de seus respectivos ad-vogados, mesmo que nas respectivas procurações não conste poder especial para citação, para contestar o pedido no prazo comum de quinze dias. Ou seja, possuindo os litisconsortes (opostos) advoga-dos distintos ou não, o prazo será comum para ambos, não se apli-cando a regra prevista no art. 229, do CPC/2015.

Caso um dos opostos reconheça a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente (art. 684 CPC/2015). Ademais, a opo-sição interventiva deverá ser apensada aos autos e tramitará simul-taneamente à ação originária, sendo ambas julgadas pela mesma sentença (art. 685). Até aí nenhuma mudança, vez tais dispositivos repetem as previsões dos arts. 58 e 59 do Código em vigor.

Page 63: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa63

MARIA TEREZA TARGINO HORA

A novidade fica por conta do parágrafo único do art. 685 ao dis-por que se a oposição for proposta após o início da audiência de instrução (oposição autônoma), o juiz suspenderá o curso do processo ao fim da produção das provas, salvo se concluir que a unidade da instrução atende melhor ao princípio da duração ra-zoável do processo. Assim, afasta-se o prazo máximo de 90 dias de sobrestamento do processo principal na hipótese de a opo-sição ser apresentada após o início da audiência de instrução e julgamento.

Por fim, cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação originária e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar (art. 686).

1.9) DA HABILITAÇÃO

Afirma o art. 687 do Novo CPC que “a habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houve-rem de suceder-lhe no processo”. Assim, é possível definir a habi-litação como o procedimento através do qual os sucessores das partes ingressam em juízo para recompor a relação processual afetada pela morte de uma dos sujeitos que a integram em sua formação original. A pretensão manifestada pelo demandante é de modificação da relação processual, com o ingresso do sucessor no lugar da parte falecida.

O art. 688 do Novo CPC trata da legitimidade para a demanda de ha-bilitação, afirmando que pode ser ela pleiteada “pela parte, em relação aos sucessores do falecido; e pelos sucessores do falecido, em relação à parte”. Verifica-se, dessa forma, o caráter dúplice do procedimento, podendo qualquer dos sujeitos ocupar a posição de demandante ou demandado.

As únicas novidades trazidas pelo Novo CPC quando ao procedimen-to de habilitação estão consagradas nos arts. 689 e 961.

Page 64: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil64

MARIA TEREZA TARGINO HORA

O art. 689 do CPC/2015 inova ao prever a habilitação proceder- se– á nos autos do processo principal, na instância em que estiver, sus-pendendo-se, a partir de então, o processo, assim como o art. 691 (sem correspondente no CPC/1973), quando dispõe que o juiz deve-rá decidir o pedido de habilitação imediatamente, salvo se este for impugnado e houver necessidade de dilação probatória diversa da documental, caso em que determinará que o pedido seja autuado em apartado e disporá sobre a instrução.

1.10) DAS AÇÕES DE FAMÍLIA

O Novo Código de Processo Civil incluiu um capítulo específico dedi-cado ao procedimento especial para as chamadas “Ações de Família”. As normas contidas no referido capítulo aplicam–se aos processos contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação (art. 693, caput).

Oportuno registrar entendimento firmado no Enunciado 72 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, que assim dispõe: “O rol do art. 693 não é exaustivo, sendo aplicáveis os dispositivos previstos no Capítulo X a outras ações de caráter contencioso envolvendo o Direito de Família”.

As normas disciplinadas, relativas ao procedimento especial das ações de família, não abrangem a ação de alimentos e as a ações que versarem sobre interesse de criança ou de adolescente. Ambas ob-servarão ao procedimento previsto em lei específica, aplicando-se, apenas de forma subsidiária as disposições do capítulo em estudo (art. 693, §único).

O art. 694 do CPC/2015 estabelece que nas ações de família todos os esforços serão empreendidos para a solução consensual da con-trovérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação. Em verdade, o Novo CPC, em sua parte geral, especificamente no §2º de seu art.

Page 65: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa65

MARIA TEREZA TARGINO HORA

3º, estabelece que “a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”.

Seguindo a linha apontada, o parágrafo único do dispositivo em aná-lise prevê que, a requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem a me-diação extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar.

O doutrinador Leonardo Carneiro da Cunha24 ao analisar o tema, faz as seguintes ponderações:

Nas disposições sobre a produção de provas, o novo CPC prevê que o exame psicológico ou biopsicossocial. Embora inserido em disposições gerais, relativas a qualquer caso, sua aplicação às ações de família é inegável, sobretudo em casos relacionados com hipóteses de alienação parental, ou de abuso, ou de violência doméstica, ou de dificuldade de convivência.Nesse exame, o laudo pericial deve ter por base ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as par-tes, exame de documentos do processo, histórico do rela-cionamento familiar, cronologia de incidentes e avaliação da personalidade dos sujeitos envolvidos na controvérsia (...).Se a causa envolver a discussão sobre fatos relacionados a abuso ou alienação parental, o juiz ao tomar o depoimento do incapaz deve fazer–se acompanhar de especialista que o auxilie na condução interrogatório.

24 DA CUNHA, Leonardo Carneiro. Procedimento Especial para as Ações de Família no Novo Código de Processo Civil – algumas Anotações. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Editora Juspodivm. 2015, p. 475.

Page 66: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil66

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Pois bem, a mais relevante especialidade procedimental das ações de família diz respeito à obrigatoriedade de realização da audiência de conciliação e mediação. Ou seja, diferentemente do procedimen-to de comum, em que as partes podem se opor à sua realização, no procedimento especial em estudo, a audiência não pode ser dispen-sada: haverá sempre. Assim, uma vez recebida inicial, e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela provisória, o juiz orde-nará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e conciliação (art. 695).

Com o intuito de estimular a conciliação ou mediação e diminuir a litigiosidade entre as partes, o §1º prevê que o mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar desa-companhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar seu conteúdo a qualquer tempo. Significa que o réu, nas ações de família, quando citado será apenas informado que ocorrerá uma audiência, a qual ele deve comparecer, sem que lhe seja forneci-da cópia da petição inicial.

Ademais, a citação nas ações de família deverá ser feita com antecedên-cia mínima de 15 (quinze) dias da data designada para a audiência e será feita na pessoa do réu (§2ª e 3ª). Na audiência, as partes deverão estar acompanhadas de seus advogados ou de defensores públicos (§4º).

Importante frisar que no CPC/1973 é vedada a citação postal nas ações de família, devendo ser realizada por oficial de justiça. Tal veda-ção deixa de existir no CPC/2015, razão pela qual a citação, em regra, deverá ser feita pelos correios.

O Novo CPC, com o intuito de estimular a solução consensual dos conflitos, em seu art. 696, estabelece, ainda, que a audiência de me-diação e conciliação poderá dividir-se em tantas sessões quantas sejam necessárias, sem prejuízo de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.

Page 67: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa67

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Nos termos do art. 697, não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as normas do procedimento comum, observado o art. 33525. Isto é, frustrada a tentativa de autocomposição, o juiz determinará a intimação do réu, em audiência ou na pessoa do seu advogado, para que ofereça contestação.

O Ministério Público somente intervirá quando houver interesse de incapaz e, nesses casos, deverá ser ouvido previamente à homologa-ção de acordo (art. 698).

Por fim, o art. 699 dispõe que quando o processo envolver discus-são sobre fato relacionado a abuso ou a alienação parental, o juiz, ao tomar o depoimento do incapaz, deverá estar acompanhado por especialista.

1.11) DA AÇÃO MONITÓRIA

O Código de Processo Civil de 1973 previa a ação monitória como um procedimento especial, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel, com base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo.

25 Art. 335.  O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I; III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos.§ 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6o, o termo inicial previsto no inciso II será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência.§ 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, havendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência.

Page 68: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil68

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Com o Novo Código de Processo Civil, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que, como visto, não eram abarcadas pelo antigo Código. Ademais, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve também para exigir que o réu cumpra obriga-ção de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente.

Importante frisar que o credor de qualquer tipo de obrigação, pela nova redação do CPC, que tenha documento escrito comprobatório da obrigação, pode valer–se da ação monitória, mas não está obriga-do a fazê-lo. Pode preferir a ação condenatória comum, de modo que adoção do procedimento monitório é sempre facultativa.

O parágrafo segundo do art. 700 é novidade ao discriminar os requi-sitos da petição inicial da monitória, in verbis:

§ 2o Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, confor-me o caso:I - a importância devida, instruindo-a com memória de cál-culo;II - o valor atual da coisa reclamada;III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.

Vale frisar que, em que pese O CPC 1973 não trazer os requisitos da petição inicial da ação monitória, a jurisprudência atual já exige que a petição inicial da ação em estudo, na qual o autor cobra do réu soma em dinheiro, deve ser instruída com demonstrativo de débito atualizado até a data do ajuizamento. O Superior Tribunal de Justiça entende que esse documento é indispensável para que o devedor possa ter o conhecimento detalhado da quantia que lhe está sendo cobrada, inclusive com a indicação dos critérios, índices e taxas uti-lizados, a fim de que o devedor possa validamente impugná-los nos embargos. Nesse sentido:

Page 69: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa69

MARIA TEREZA TARGINO HORA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO REPETITIVO. ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. DEMONS-TRATIVO DA EVOLUÇÃO DA DÍVIDA. AUSÊNCIA OU INSUFI-CIÊNCIA. SUPRIMENTO. ART. 284 DO CPC. 1. Para fins do art. 543-C, §§ 7º e 8º, do CPC, firma-se a seguinte tese: a petição inicial da ação monitória para cobrança de soma em dinheiro deve ser instruída com demonstrativo de débito atualizado até a data do ajuizamento, assegu-rando-se, na sua ausência ou insuficiência, o direito da parte de supri-la, nos termos do art. 284 do CPC. 2. Apli-ca-se o entendimento firmado ao caso concreto e de-termina-se a devolução dos autos ao juízo de primeiro grau para que conceda à autora a oportunidade de jun-tar demonstrativo de débito que satisfaça os requisitos estabelecidos neste acórdão. 3. Recurso provido. (STJ, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Jul-gamento: 08/04/2015, S2 - SEGUNDA SEÇÃO)(grifo nosso)

Com efeito, verifica-se que o atual entendimento do STJ acima explana-do foi incorporado pelo novo Código de Processo Civil (art. 700, § 2º, I).

Em relação ao valor da causa, este deverá corresponder à importân-cia prevista nos incisos I a II do art. 700 (§3º). Além do mais, o §5º traz uma regra inovadora, pois caso o magistrado verifique que a prova escrita apresentada não tem aptidão para monitória, ele não deverá indeferir a petição inicial, mas sim recebê-la com ação de cobrança, devendo, para tanto, intimar o autor para que emende a inicial.

A súmula 339 do STJ dispõe o seguinte: É cabível ação monitória con-tra a Fazenda Pública. O teor da súmula passou a constar expressa-mente no § 6º do art. 700 do CPC 2015 que dispõe que “é admissível ação monitória em face da Fazenda Pública”. De acordo com o §4º, do art. 701, sendo a ré Fazenda Pública e não apresentados os embargos à monitória, aplicar-se-á o disposto no art. 496 (remessa necessária),

Page 70: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil70

MARIA TEREZA TARGINO HORA

isto é, se houve a ordem de pagamento e o poder público não se de-fender, a ordem se tornará definitiva, mas haverá remessa dos autos ao tribunal competente.

Por fim, o parágrafo sétimo do mesmo dispositivo, dispõe que a cita-ção poderá ser realizada por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum.

O art. 701, caput, dispõe que sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, con-cedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa. Já, no Código de 1973, se o réu cumprisse a ordem estava dispensando do pagamento dos honorários. De acordo com Fredie Didier, essa mudança ocorreu porque os advogados não esti-mulavam os clientes a ajuizarem a monitória, mesmo nos casos em que era cabível, pois não existia condenação em honorários sucum-benciais em caso de cumprimento do mandado.

De acordo com o §1º do art. 701, o réu, assim como no Código an-tigo, será isento do pagamento de custas processuais, se cumprir o mandado no prazo de quinze dias. Já o §2º estabelece que, caso não realizado o pagamento e não apresentados os embargos, o título executivo extrajudicial constituir-se-á de pleno direito, independen-temente de qualquer formalidade.

O §5º do art. 701 inova ao determinar a aplicação do art. 916, no que couber, à ação monitória. O referido dispositivo trata do di-reito potestativo do executado de poder cumprir a obrigação de forma parcelada, desde que deposite 30% (trinta por cento) do valor, sendo–lhe permitido pagar o restante em seis parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao mês.

Page 71: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa71

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Nos termos do art. 702, independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo de 15 (quinze) dias, embargos à ação monitória. Assim, não se exige o recolhimento de custas iniciais para o oferecimento dos embargos, isso porque, estes têm natureza jurídica de defesa, sendo semelhantes à contestação. Esse, inclusive, é o entendimento firmado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À MONITÓRIA. NATUREZA JURÍDICA. CONTESTAÇÃO. RECOLHIMENTO DE CUSTAS. EXIGÊNCIA DESCABIDA. 1. Os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa, motivo pelo qual a exi-gência do recolhimento de custas iniciais é descabida. 2. Recurso especial provido.(STJ , Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 19/03/2015, T3 - TERCEIRA TURMA) (grifo nosso)

Conforme dito acima, os embargos se assemelham à contestação, pois podem se fundar em matéria passível de alegação como defesa no procedimento comum (§1º).

O §2º estabelece como requisitos para o conhecimento dos embar-gos, quando fundado em excesso na cobrança, que o réu declare de imediato o valor que entende correto, assim como que apresente demonstrativo discriminado e atualizado da dívida. Assim, caso des-cumpra as condições apontadas – valor correto e demonstrativo da dívida -, os embargos serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro fundamento, os embargos se-rão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação de exces-so (§3º).

A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão concessiva do mandado monitório até o seu julgamento em primeiro grau (§4º). O prazo de réplica é de 15 (quinze) dias, nos termos do §5º.

Page 72: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil72

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Ademais, na ação monitória, admite-se a reconvenção, sendo veda-do o oferecimento de reconvenção à reconvenção (§6º).

Segundo o §7º, a critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, quando parciais, constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa.

Uma vez rejeitados os embargos constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o processo em observân-cia ao disposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no que for cabível (§8º). Há também previsão expressa do Novo CPC de que o recurso cabível contra a decisão que acolhe ou rejeita os embargos é a apelação (§9º).

Os §10 e §11 tratam da má–fé processual. O primeiro dispõe que o juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até dez por cento sobre o valor da causa. Já o segundo, estabelece a mesma san-ção para o réu que de má-fé opuser embargos monitórios.

1.12) DA HOMOLOGAÇÃO DE PENHOR LEGAL

O art. 1467 do Código Civil, ao tratar do penhor legal, dispõe que são credores pignoratícios, independentemente de convenção: a) os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as ba-gagens, móveis, joias ou dinheiro que os seus consumidores ou fre-gueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; b) o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas.

Nos termos do art. 703 do Novo CPC, uma vez tomado o penhor le-gal nos casos previstos em lei acima mencionados, o credor deverá requer a sua homologação.

Page 73: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa73

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Ato contínuo, o § 1º exige que a petição inicial seja instruída com o contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a ta-bela dos preços e a relação dos objetos retidos, sendo requerida a citação do devedor para pagar ou contestar na audiência preliminar que for designada. Assim, desaparece o prazo de vinte e quatro horas para pagamento da dívida, previsto no Código anterior, devendo o demandado, conforme acima mencionado ser intimado para pagar ou contestar a dívida na audiência designada.

Pois bem, a grande novidade introduzida pelo Novo CPC foi a previ-são e regulamentação do procedimento de homologação do penhor legal pela via extrajudicial nos §2º a §4º, do art. 703, in verbis:

§ 2o A homologação do penhor legal poderá ser promovi-da pela via extrajudicial mediante requerimento, que con-terá os requisitos previstos no § 1o deste artigo, do credor a notário de sua livre-escolha.§ 3o Recebido o requerimento, o notário promoverá a noti-ficação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das causas previstas no art. 704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo com-petente para decisão.§ 4o Transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, o notário formalizará a homologação do penhor legal por escritura pública.

Segundo o Enunciado 73 do II Fórum Permanente de Processualistas Civis, “No caso de homologação do penhor legal promovida pela via extrajudicial, incluem-se nas contas do crédito as despesas com o no-tário, constantes do §1º, do art. 718 (atual 703) do texto projetado”.

Nos termos do art. 704, a defesa só pode consistir em: a) nulidade do processo; b) extinção da obrigação; c) não estar a dívida com-

Page 74: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil74

MARIA TEREZA TARGINO HORA

preendida entre as previstas em lei ou não estarem os bens sujeitos a penhor legal e d) alegação de haver sido ofertada caução idônea, rejeitada pelo credor. Frise-se que esta última hipótese foi acres-centada pelo Novo Código de Processo Civil, não existindo previsão no Código revogado.

Acerca do tema, o Enunciado 74 do FPPC dispõe: “No rol do art. 704, que enumera as matérias de defesa da homologação do penhor legal, deve-se incluir a hipótese do art. 1.468 do Código Civil26, não tendo o CPC revogado o citado dispositivo”.

O art. 705 dispõe que a partir da audiência preliminar, observar-se-á o procedimento comum.

Uma vez homologado judicialmente o penhor legal, consolidar-se--á a posse do autor da demanda sobre o objeto. Em contrapartida, tendo sido negada a homologação, o objeto será entregue ao réu, ressalvado à parte autora a possibilidade de cobrar a dívida pelo procedimento comum, exceto se acolhida a alegação de extinção da obrigação (art. 706, §1º).

Por fim, o parágrafo segundo do art. 706, sem correspondente no CPC/1973, confere ao relator o poder de ordenar que a coisa perma-neça depositada em poder do autor.

26 Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção:I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito;(...)Art. 1.468. A conta das dívidas enumeradas no inciso I do artigo antecedente será extraída conforme a tabela impressa, prévia e ostensivamente exposta na casa, dos preços de hospedagem, da pensão ou dos gêneros fornecidos, sob pena de nulidade do penhor.

Page 75: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa75

MARIA TEREZA TARGINO HORA

1.13) DA REGULAÇÃO DE AVARIA GROSSA

O Novo Código de Processo Civil introduz capítulo referente ao pro-cedimento da regulação de avaria grossa, tema bastante específico que diz respeito à discussão ou ‘distribuição’ dos danos causados em embarcações ou nas mercadorias transportadas via marítima.

O Código Comercial, em seu artigo 761 conceitua avaria como “todas as despesas extraordinárias feitas a bem do navio ou da carga, conjunta ou separadamente, e todos os danos acontecidos àquele ou a esta, des-de o embarque e partida até a sua volta e desembarque.”

Por sua vez, o art. 763 esclarece que as avarias são de duas espécies: “avarias grossas ou comuns, e avarias simples ou particulares. A im-portância das primeiras é repartida proporcionalmente entre o navio, seu frete e a carga; e a das segundas é suportada, ou só pelo navio, ou só pela coisa que sofreu o dano ou deu causa à despesa”.

Assim, da leitura do dispositivo extrai-se o seguinte: que a “avaria” é gênero, sendo suas espécies as avarias grossas ou comuns e as ava-rias simples ou particulares; que na avaria grossa, quando apurada, as despesas oriundas do estrago/dano são repartidas proporcional-mente entre o transportador/consignatários que tiveram carga a bordo; que no caso de avaria simples, as despesas oriundas do estra-go/dano, são suportadas apenas por quem sofreu ou dano, ou seja, ou somente o transportador ou somente o consignatário.

De acordo com Guilherme Bergmann Borges27, há um ato de avaria grossa quando, e somente quando, qualquer sacrifício ou despesa extraordinários são intencionalmente e razoavelmente efetuados ou incorridos para a segurança comum (navio, carga e tripulantes), com

27 Vieira, Guilherme Bergmann Borges – Transportes Internacionais de Cargas – 2ª Edição – São Paulo, Aduaneiras, 2002

Page 76: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil76

MARIA TEREZA TARGINO HORA

o propósito de preservar de perigo a propriedade envolvida, em uma aventura marítima comum. Em outras palavras, avaria grossa é toda despesa extraordinária ou dano causado ao navio ou à carga, volun-tariamente, em benefício comum de ambos. A respeito da matéria, José Flávio Commandulli28, faz as seguintes pon-derações:

Desta feita, a Avaria Grossa “afeta conjuntamente o na-vio e carga”, mas sempre tendo como objetivo minimizar as possíveis perdas. Um exemplo é o incêndio na casa de máquinas do navio, no qual, para apagar o fogo, a água utilizada chegou a danificar a carga transportada. Portanto, seus custos são repartidos por todas as partes interessadas na expedição marítima, no caso, o armador e os proprietários das cargas avariadas ou não, importa-dores, exportadores, consignatário, embarcadores e, por sua consequência, os seguradores das cargas, sem ter a quem responsabilizar para um possível ressarcimento da configuração de avaria grossa ou comum, pois os danos foram efetuados para salvaguardar o bem comum, toda a tripulação, o navio e a carga. 

Feitas essas considerações, reconheço que, de fato, o procedimen-to especial de regulação de avaria grossa possui pouca utilidade no Estado de Sergipe, sendo bastante improvável que venhamos a nos deparar com algum litígio que envolva tal matéria em nosso cotidia-no forense, razão pela qual, apenas a título de curiosidade, sem tecer maiores comentários, transcreverei os cinco dispositivos relaciona-dos à Ação de Regulação de Avaria Grossa.

28 Commandulli, José Flávio. <http://cadernosdeseguro.funenseg.org.br/secao.php?materia=566> Acesso em: 08/11/2015.

Page 77: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa77

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Art. 707. Quando inexistir consenso acerca da nomeação de um regulador de avarias, o juiz de direito da comarca do primeiro porto onde o navio houver chegado, provocado por qualquer parte interessada, nomeará um de notório conhecimento.Art. 708. O regulador declarará justificadamente se os danos são passíveis de rateio na forma de avaria grossa e exigirá das partes envolvidas a apresentação de garantias idôneas para que possam ser liberadas as cargas aos con-signatários.§ 1o A parte que não concordar com o regulador quanto à declaração de abertura da avaria grossa deverá justifi-car suas razões ao juiz, que decidirá no prazo de 10 (dez) dias.§ 2o Se o consignatário não apresentar garantia idônea a critério do regulador, este fixará o valor da contribuição provisória com base nos fatos narrados e nos documentos que instruírem a petição inicial, que deverá ser caucionado sob a forma de depósito judicial ou de garantia bancária.§ 3o Recusando-se o consignatário a prestar caução, o re-gulador requererá ao juiz a alienação judicial de sua carga na forma dos arts. 879 a 903.§ 4o É permitido o levantamento, por alvará, das quantias necessárias ao pagamento das despesas da alienação a serem arcadas pelo consignatário, mantendo-se o saldo remanescente em depósito judicial até o encerramento da regulação.Art. 709. As partes deverão apresentar nos autos os docu-mentos necessários à regulação da avaria grossa em prazo razoável a ser fixado pelo regulador.Art. 710. O regulador apresentará o regulamento da avaria grossa no prazo de até 12 (doze) meses, contado da data da entrega dos documentos nos autos pelas partes, po-dendo o prazo ser estendido a critério do juiz.

Page 78: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil78

MARIA TEREZA TARGINO HORA

§ 1o Oferecido o regulamento da avaria grossa, dele terão vista as partes pelo prazo comum de 15 (quinze) dias, e, não havendo impugnação, o regulamento será homologa-do por sentença.§ 2o Havendo impugnação ao regulamento, o juiz decidirá no prazo de 10 (dez) dias, após a oitiva do regulador.Art. 711. Aplicam-se ao regulador de avarias os arts. 156 a 158, no que couber.

1.14) DA RESTAURAÇÃO DOS AUTOS

O procedimento de restauração dos autos está previsto nos arts. 712 a 718 do Novo Código de Processo Civil, que correspondem aos arts. 1063 a 1069 do CPC/1973. Da simples leitura dos dispositivos obser-va-se que não ocorreram mudanças substanciais no procedimento especial em estudo.

Daniel A. A. Neves29, ao analisar o tema, elucida que a única mudança significativa no Novo CPC quanto ao procedimento em análise vem consagrada no art. 712, caput, ao prever que os autos desaparecidos podem ser eletrônicos e que, além das partes, o Ministério público tem legitimidade ativa para pedir a restauração dos autos.

Registre-se, ainda, o Enunciado 76 do Fórum Permanente de Pro-cessualistas Civis: “Localizados os autos originários, neles devem ser praticados os atos processuais subsequentes, dispensando-se a repe-tição dos atos que tenham sido ultimados nos autos da restauração, em consonância com a garantia constitucional da duração razoável do processo (CF/88, 5º, LXXVIII) e inspiração no art. 964 do Código de Processo Civil Português”.

29 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Op.cit., p. 385.

Page 79: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária79

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária

O CPC/1973, ao dispor sobre a jurisdição voluntária, em seu art. 1º, faz referência à existência de duas vertentes de jurisdição: a conten-ciosa e a voluntária. Ademais, destina um dos seus cinco livros, para regular sobre os procedimentos especiais de jurisdição voluntária. Por sua vez, o Novo Código de Processo Civil, no art. 16, abraçando a ideia de que a jurisdição é uma só, não reproduziu a classificação da jurisdição em contenciosa e voluntária, bem como não reservou um livro específico aos procedimentos especiais, apenas o colocan-do como procedimento de conhecimento, ao lado do procedimento comum e do procedimento por convenção das partes, conforme an-teriormente registrado.

Por oportuno, reproduzirei quadro comparativo para melhor visuali-zação das alterações:

Page 80: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil80

MARIA TEREZA TARGINO HORA

CPC/1973 NCPCDa JurisdiçãoArt. 1º. A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.

Da Função JurisdicionalArt. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.

LIVRO IVDOS PROCEDIMENTOS ESPECIAISTÍTULO IDOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSACAPÍTULO IDA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTOArt. 890. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.(...)

PARTE ESPECIALLIVRO IDO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA(...)TÍTULO IIIDOS PROCEDIMENTOS ESPECIAISCAPÍTULO IDA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTOArt. 539.   Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consigna-ção da quantia ou da coisa devida.(...)

A questão mais discutida a respeito da jurisdição voluntária é a da sua natureza, pois forte corrente doutrinária nega-lhe a qualidade de jurisdição, atribuindo-lhe a condição de administração pública dos interesses privados, cometida ao Poder Judiciário. Para os defensores dessa corrente, não obstante a denominação de jurisdição, a ativi-dade judicial tem notadamente índole administrativa, vez que os in-teresses tutelados são essencialmente privados, assim como não há exatamente uma pretensão resistida a ser resolvida pelo magistrado. Ou seja, sustenta-se que a atividade do juiz é essencialmente integra-tiva, homologatória, à atividade dos particulares.

Já para os que advogam a sua natureza jurisdicional, nas causas de jurisdição voluntária, há ação, pretensão, criação de relação jurídica processual, e observância ao direito, como na jurisdição contenciosa.

Page 81: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária81

MARIA TEREZA TARGINO HORA

A título de exemplo, ilustram como perfeitamente possível o juiz não homologar uma separação consensual se entender que a guarda do filho menor, ou o modo da regulamentação de visita, ou a pensão alimentícia não atenderão aos interesses do incapaz1.

Assim, apesar de a jurisdição voluntária poder ser considerada juris-dição, não há como confundi-la com a contenciosa. Entre as princi-pais características podem ser apontadas2:

• Ela não serve para que o juiz diga quem tem razão, como nos processos de conhecimento de jurisdição contenciosa, mas para que tome determinadas providências para a proteção de um ou de ambos os sujeitos.

• Na contenciosa, busca-se obter uma determinação que obrigue a parte contrária; na voluntária, uma situação que valha para o próprio autor. Ou seja, na primeira a sentença que favorece a uma das partes é dada em detrimento da outra; na segunda, é possível que beneficie ambas.

• Na contenciosa, o juiz resolve uma situação de confronto; na vo-luntária, uma situação conflituosa, cuja solução exige uma altera-ção nas circunstâncias que só pode ser propiciada pelo Judiciário.

2.1) DISPOSIÇÕES GERAIS

O Novo Código de Processo Civil, nos arts. 719 a 729, estabelece algu-mas regras gerais de procedimento, relativas à jurisdição voluntária, que serão aplicáveis quando não houver norma especial em contrá-rio, tendo em vista que nas seções subsequentes, há previsão de al-guns procedimentos específicos, com certas peculiaridades. Assim,

1 MACÊDO, Lucas Buril. Comentários ao novo Código de Processo Civil, art. 717.2 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Op.cit., p. 956.

Page 82: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil82

MARIA TEREZA TARGINO HORA

na ausência de disposições especiais, prevalecem as regras gerais que serão agora analisadas.

Pois bem, já no art. 720 do CPC/2015, verifica-se inovação expres-sa quanto à legitimidade ativa para o procedimento de jurisdição voluntária. Agora, além da iniciativa do interessado e do Ministério Público – já previstas no Código revogado – para a instauração do processo, este também poderá ser iniciado por requerimento da De-fensoria Pública.

Importante registrar que existem exceções, vez que alguns procedimen-tos de jurisdição voluntária, tais como “bens de ausente”, “coisas vagas” e “herança jacente”, podem ser instaurados de ofício pelo magistrado.

O art. 721 corrige antiga imprecisão existente no art. 1107 do CPC/1973, o qual determinava a citação de todos os interessados, bem como do Ministério Público. No Novo Código de Processo Civil os interessados serão citados e o Ministério Público intimado, apenas nas hipóteses previstas no art. 1783, para se manifestem no prazo de 15 dias (não mais 10 dias).

Assim, diferentemente do art. 1107 do CPC/1973, o art. 721 do CPC/2015 não determina a intervenção do representante do Ministé-rio público em todas as causas de jurisdição voluntária, mas apenas naquelas em que houver incapaz ou interesse público.

De acordo com o art. 723, o juiz decidirá o pedido no prazo de 10 dias, muito embora não esteja obrigado a observar o critério da le-galidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que con-siderar mais conveniente ou oportuna. Ou seja, nas hipóteses de ju-

3 Art. 178.   O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: I - interesse público ou social; II - interesse de incapaz; III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.

Page 83: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária83

MARIA TEREZA TARGINO HORA

risdição voluntária, continua se permitindo ao magistrado julgar por equidade.

Imperioso ressaltar que o Novo Código não reproduziu a norma pre-vista no art. 1111 do CPC/1973: “A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias su-pervenientes”. Analisando a supressão, Cristina Ferraz4, faz as seguin-tes considerações:

Diante disso, cabe indagar:Se perante o NCPC lide não é mais essencial ao conceito de jurisdição – tanto assim que não há no NCPC a vertente “jurisdição contenciosa” – e, por tal razão, a jurisdição vo-luntária também reflete a atividade jurisdicional, logo suas causas estarão sujeitas à formação da coisa julgada, assim, a conservação dos termos: interessados e procedimento no NCPC se deu por mera tradição?Se o legislador teve ou não intenção permanecer com a distinção entre as causas de jurisdição voluntária e contenciosa, a questão importa na medida das conse-quências que dela se extraem:a)se não teve a intenção de manter as diferenças havidas no CPC/1973, pode–se deduzir que as decisões provenien-tes da jurisdição voluntária também serão suscetíveis de serem acobertadas pela coisa julgada.b)por outro lado, se a conservação dos vocábulos interes-sados e procedimento forem indicativos de seguimento à orientação dada pelo CPC/1973, as decisões provenientes dos procedimentos de jurisdição voluntária continuarão a não fazerem coisa julgada, conforme precedente de nos-sos tribunais superiores (STJ e STF).

4 FERRAZ, Cristina. Reflexões sobre os Novos Rumos Jurídicos da Jurisdição Voluntária. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Editora Juspodivm. 2015, p. 612.

Page 84: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil84

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Por fim, o art. 725 contém um rol de pedidos que obedecem ao pro-cedimento geral ora analisado. São eles:

• emancipação;

• sub-rogação;

• alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos;

• alienação, locação e administração da coisa comum;

• alienação de quinhão em coisa comum;

• extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufru-tuário, do termo da sua duração ou da consolidação, e de fideico-misso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracterizar a condição resolutória;

• expedição de alvará judicial; (sem correspondentes no CPC/1973)

• homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor. (sem correspondentes no CPC/1973)

Vale observar que esse rol não é taxativo, existindo outros exemplos que obedecem ao procedimento geral, tais como o suprimento de outorga uxória e o suprimento do consentimento para casamento.

2.2) DA NOTIFICAÇÃO E DA INTERPELAÇÃO

As regras relativas à notificação e interpelação judicial, antes prevista no Capítulo destinado às cautelares específicas, no Novo Código estão dispostas no Capítulo atinente aos procedimentos não contenciosos de jurisdição voluntária, mais especificamente nos arts. 726 a 729 do NCPC,

Page 85: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária85

MARIA TEREZA TARGINO HORA

sendo retirado do sistema o protesto judicial. Frise-se que tal modifica-ção é festeja pela melhor doutrina, que há muito já identificava a natu-reza de jurisdição voluntária tanto da interpelação como da notificação.

A notificação, segundo o art. 726, caput, serve para quem tiver inte-resse em manifestar formalmente sua vontade a outrem sobre assun-to juridicamente relevante, enquanto a interpelação, nos termos do art. 727, destina-se a quem pretende que o requerido faça ou deixe de fazer aquilo que o requerente entenda ser do seu direito, in verbis:

Art. 726. Quem tiver interesse em manifestar formalmente sua vontade a outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar pessoas participantes da mesma relação jurídica para dar-lhes ciência de seu propósito.Art. 727. Também poderá o interessado interpelar o reque-rido, no caso do art. 726, para que faça ou deixe de fazer o que o requerente entenda ser de seu direito.

Como bem pontua Daniel A.A. Neves5, tanto a notificação como a interpelação podem ser dirigidas a pessoa determinada, presente na mesma relação jurídica da qual participa o autor, ou à coletividade, quando o objetivo seja dar conhecimento geral ao público. Nesse caso, o pedido somente será deferido pelo magistrado se entendê-lo fundado e necessário ao resguardo do direito (art. 726, §1º).

De acordo com o art. 728, se houver suspeita de que o requerente pre-tende alcançar fim ilícito ou caso tiver sido pleiteada a averbação da notificação em registro público, o requerido deverá ser previamente ouvido antes do deferimento da notificação ou do respectivo edital. Nos demais casos, a oitiva prévia não será necessária, de modo que após a notificação/interpelação do requerido ou publicação do edital, os autos serão entregues ao demandante nos termos do art. 729.

5 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. op.cit. 2015, p. 386.

Page 86: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil86

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Por fim, registre-se que o §2º do art. 726, dispõe que se aplica, no que couber, ao protesto judicial as regras previstas para o procedimento de notificação e interpelação.

2.3) DA ALIENAÇÃO JUDICIAL

Em relação ao procedimento especial de alienação judicial, ano-te-se que há apenas um artigo dispondo acerca da matéria, o art. 730, o qual dispõe que nos casos expressos em lei, não existindo acordo entre os interessados sobre o modo como se deve realizar a alienação do bem, o juiz, de ofício ou a requerimento dos interessa-dos ou do depositário, mandará aliená-lo em leilão, observando-se o disposto na Seção I deste Capítulo e, no que couber, o disposto nos arts. 879 a 903, os quais tratam da alienação na execução por quantia certa.

2.4) DO DIVÓRCIO E DA SEPARAÇÃO CONSENSUAIS, DA EXTINÇÃO CONSENSUAL DE UNIÃO ESTÁVEL E DA ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS DO MATRIMÔNIO

De início, cumpre ressaltar que, em que pese as fortes críticas doutri-nárias no sentido de que o instituto da separação havia sido abolido do ordenamento jurídico após a Emenda à Constituição nº66/2010, o Novo Código de Processo Civil manteve a separação judicial e extra-judicial como formas de dissolução da sociedade conjugal.

Como bem registra Flávio Tartuce6, quando da elaboração do parecer final no Senado Federal, pelo Relator Senador Vital do Rêgo, foram apresentadas propostas de alteração por meio da Emenda 61 – do Senador Pedro Taques –, da Emenda 129 – do Senador João Durval – e de Emendas 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142 e 143 – do Senador Antônio Carlos Valadares –, com o objetivo de afastar em definitivo o

6 TARTUCE, Flávio. O Novo CPC e o Direito Civil. Editora Método. 2015, p. 367.

Page 87: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária87

MARIA TEREZA TARGINO HORA

instituto da separação judicial do NCPC. Contudo, o referido Relator afastou todas as emendas, com a seguinte fundamentação:

As emendas em pauta insurgem-se contra a referência à separação (em todas as suas modalidades) como forma de dissolução da sociedade conjugal ao longo do texto do SCD. Argumenta que, com a Emenda à Constituição nº 66, de 2010, esse instituto teria sido abolido do ordenamento jurídico.Não vingam, porém, as emendas.É pacífico que, após a Emenda à Constituição nº 66, de 2010, não há mais qualquer requisito prévio ao divórcio. A separação, portanto, que era uma etapa obrigatória de precedência ao divórcio, desvestiu-se dessa condição.Todavia, não é remansoso o entendimento acerca da não subsistência da separação no âmbito da doutrina civilista. Aliás, o enunciado nº 514 das Jornadas de Direito Civil (que nasceu após debate pelos civilistas mais respeitados do País) dispõe o contrário, a saber: Enunciado nº 514. “Art. 1.571: A Emenda Constitucional n. 66/2010 não ex-tinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial.” Afinal de contas, a Constituição Federal apenas afastou a exigência prévia de separação para o divórcio, mas não repeliu expressamente a previsão infraconstitucio-nal da separação e do restabelecimento da sociedade conjugal. Há quem sustente que a separação continua em vigor como uma faculdade aos cônjuges que, que-rendo “dar um tempo”, preferem formalizar essa sepa-ração, sem romper o vínculo matrimonial. Eventual rea-tamento dos laços afetivos desses cônjuges separados não haverá de passar por novo casamento, com todas as suas formalidades, mas se aperfeiçoará pelo restabelecimento da sociedade conjugal, ato bem menos formal, que pode ocorrer por via judicial ou extrajudicial.

Page 88: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil88

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Sublinhe-se que nem mesmo os dispositivos do Código Civil que tratam de separação foram revogados. Ora, será uma intervenção indevida, uma invasão científica, utilizar uma norma processual para fazer prevalecer uma das vá-rias correntes doutrinárias que incandescem na seara do Direito Civil. Dessa forma, enquanto o Código Civil não for revogado expressamente no tocante à previsão da sepa-ração e do restabelecimento da sociedade conjugal, deve o Código de Processo Civil – norma que instrumentaliza a concretização dos direitos materiais – contemplar expres-samente as vias processuais desses institutos cíveis.No futuro, em outra ocasião, se assim se entender mais adequado, poder-se-á, por via legislativa própria, modifi-car dispositivos do Código Civil e do Código de Processo Civil para proscrever a separação como um instituto de Direito de Família. Rejeitam-se, pois, as emendas sob vér-tice. (grifei)

Ultrapassadas essas considerações iniciais, passa-se a análise dos dis-positivos elencados no NCPC.

O art. Art. 731 do CPC/2015 estabelece que a homologação do divór-cio ou da separação consensuais, poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, devendo ser observados os seguin-tes requisitos:

• as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;

• as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;

• o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas;

• o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

Page 89: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária89

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Ressalte-se que o tratamento conjunto para as duas ações (separa-ção e divórcio) é novidade, vez que os arts. 1020 a 1024 do Código Revogado tratavam apenas da separação judicial. O parágrafo único do referido dispositivo, faculta aos cônjuges, em caso desacordo, adiar a partilha dos bens para outro momento, de modo que eventual falta de consenso sobre ela não é empecilho para que seja homologada a separação/divórcio.

O art. 732 inova ao prever que as disposições relativas ao processo de homologação judicial de divórcio ou de separação consensuais aplicam-se, no que couber, ao processo de homologação da extinção consensual de união estável.

A Lei nº 11. 441/07 acrescentou ao CPC/1973, o art. 1.124 – A, que autorizava a separação e o divórcio consensuais por meio de escri-tura pública, sem necessidade de homologação judicial, desde que o casal não tivesse filhos menores ou incapazes e que ambos os côn-juges estivessem assistidos por advogado. Confirmando a evolução inaugurada pela referida norma, o art. 733, caput, do NCPC, permite que além do divórcio e separação, a união estável também poderá ser extinta extrajudicialmente, desde que não haja nascituro ou fi-lhos incapazes e observados os requisitos legais.

O § 1o esclarece que a escritura não depende de homologação judi-cial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições finan-ceiras. Registre–se que essa última previsão – possibilidade de levan-tamento - foi acrescentada pelo CPC/2015.

Ato contínuo, o tabelião somente lavrará a escritura se os interessa-dos estiverem assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial (§2º). Nenhuma alteração substancial nesse parágrafo, que basicamente repete o an-tigo art. 1.124 – A do CPC/1973.

Page 90: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil90

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Por sua vez, ressalte-se que o §3º do art. 1124 – A do Código revo-gado, que previa que a escritura e demais atos notariais relativos ao divórcio/separação consensuais seriam gratuitos àqueles que se de-clarassem pobres sob as penas da lei, não foi reproduzido pelo Novo CPC. Todavia, doutrina majoritária, fundada no princípio de proibição de retrocesso dos direitos fundamentais, entende que tal supressão em nada altera o direito à gratuidade outrora conquistado.

Ademais, o CPC/2015 não mais exige a realização de audiência de rati-ficação antes da decretação do divórcio consensual. Sobre esse ponto abro um parêntese para destacar que o NCPC acompanhou a jurispru-dência moderna do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a audiência de conciliação ou ratificação que antecede a homologação de divórcio consensual tem cunho meramente formal, e a falta de sua realização não justifica a anulação do divórcio. Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. AÇÃO DE DIVÓRCIO CONSENSUAL DIRETO. AUDIÊNCIA PARA TENTATIVA DE RECONCILIAÇÃO OU RATIFICAÇÃO. INEXISTÊNCIA. DIVÓRCIO HOMOLOGADO DE PLANO. POS-SIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. Em razão da mo-dificação do art. 226, § 6º, da CF, com a nova redação dada pela EC 66/10, descabe falar em requisitos para a concessão de divórcio. 2. Inexistindo requisitos a se-rem comprovados, cabe, caso o magistrado entenda ser a hipótese de concessão de plano do divórcio, a sua homologação. 3. A audiência de conciliação ou ratifica-ção passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada produzir, e não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir, nada justifica na sua ausência, a anulação do processo. 4. Ainda que a CF/88, na redação original do art. 226, tenha mantido em seu tex-to as figuras anteriores do divórcio e da separação e o CPC tenha regulamentado tal estrutura, com a nova redação do

Page 91: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária91

MARIA TEREZA TARGINO HORA

art. 226 da CF/88, modificada pela EC 66/2010, deverá tam-bém haver nova interpretação dos arts. 1.122 do CPC e 40 da Lei do Divórcio, que não mais poderá ficar à margem da substancial alteração. Há que se observar e relembrar que a nova ordem constitucional prevista no art. 226 da Car-ta Maior alterou os requisitos necessários à concessão do Divórcio Consensual Direto. 5.Não cabe, in casu, falar em inobservância do Princípio da Reserva de Plenário, previs-to no art. 97 da Constituição Federal, notadamente porque não se procedeu qualquer declaração de inconstitucio-nalidade, mas sim apenas e somente interpretação siste-mática dos dispositivos legais versados acerca da matéria. 6. Recurso especial a que se nega provimento.(STJ - REsp: 1483841 RS 2014/0058351-0, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 17/03/2015, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/03/2015)(grifei)

Por sua vez, o Novo Código de Processo Civil introduz o art. 734, que regulamenta a ação de alteração do regime de bens do casamento. In verbis:

Art. 734 - A alteração do regime de bens do casamento, observados os requisitos legais, poderá ser requerida, mo-tivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justificam a alteração, ressalvados os direitos de terceiros.

Muito embora o tratamento da matéria na legislação adjetiva seja novidade, o Código Civil/2002, em seu art. 1.639, §2º, já dispunha que “é admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”. Assim, observa–se que o CPC/2015 praticamente repetiu o disposto no Código Civil.

Page 92: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil92

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Estabelece, ainda, o § 1o que ao receber a petição inicial, o juiz de-terminará a intimação do Ministério Público e a publicação de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo de-cidir depois de decorrido o prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital. Todavia, os cônjuges, na própria inicial ou por meio de petição avulsa, podem propor ao juiz meio alternativo de divulgação da al-teração do regime de bens, a fim de resguardar direitos de terceiros (§ 2o).

Por fim, após o trânsito em julgado da sentença, serão expedidos mandados de averbação aos cartórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (§3º).

2.5) DOS TESTAMENTOS E DOS CODICILOS

Antes de analisar o procedimento especial de jurisdição voluntária, relativo aos testamentos e codicilos, se faz necessário apresentar al-guns conceitos de direito material.

Pois bem, o testamento é ato jurídico personalíssimo, unilateral, gratuito, solene e revogável, pelo qual alguém (testador) dispõe, no todo ou em parte, de seu patrimônio, para depois da sua morte, nos termos do art. 1.857 do CC7.

Assim, a existência ou não do testamento determinará a natureza da sucessão, isto é, da transferência da herança em razão da morte de alguém. A sucessão testamentária ocorre quando a transferência dos bens ao herdeiro/legatário ocorre por meio de testamento. De-nomina–se legítima quando a transferência ocorre de acordo com as normas legais. Frise-se que a sucessão pode ser, ao mesmo tempo,

7 Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.

Page 93: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária93

MARIA TEREZA TARGINO HORA

legítima e testamentária, caso o testamento não abranja todos os bens do falecido.

Os testamentos classificam-se em ordinários e especiais. Os primei-ros podem ser feitos por qualquer pessoa capaz, em circunstâncias comuns; o especial é realizado em circunstâncias especiais, como por exemplo, em alto – mar. Os ordinários subdividem-se, ainda, em pú-blicos, cerrados e particulares (art. 1862, CC) e os especiais em maríti-mo, aeronáutico e militar (art. 1886, CC).

O festejado Professor Elpídio Donizetti8 conceitua os testamentos da seguinte forma:

Testamento público é o lavrado por tabelião, de acordo com a manifestação da vontade do testador, perante duas testemunhas (art. 1864, CC).Testamento cerrado é o escrito e assinado pelo próprio testador ou por alguém a seu rogo, em caráter sigiloso, e posteriormente lacrado (cerrado) por tabelião, perante pelo menos duas testemunhas (art. 1868, CC).Testamento particular é o escrito e assinado pelo testador e lido a três testemunhas, que o subscrevem (art. 1864, CC).(...)Codicilo é um “testamento informal”, sempre particular (escrito pelo próprio disponente, independentemente de testemunhas), por intermédio do qual dispõe-se sobre assuntos de pequena relevância, como enterro, esmolas, legados de bens pessoas móveis de pequeno valor”.

Feitas essas considerações, passemos a análise do procedimento propriamente dito, regulado nos art. 735 a 737 do NCPC que, segun-

8 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. Editora Atlas. 2011, p. 1434/1435.

Page 94: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil94

MARIA TEREZA TARGINO HORA

do o supramencionado doutrinador, tem o objetivo 9 de conhecer a vontade do testador, verificar a regularidade formal do testamento, assim como determinar a sua execução, tudo no sentido de que a vontade do testador seja cumprida.

Nos termos do art. 735, recebendo testamento cerrado10, o juiz, se não achar vício externo que o torne suspeito de nulidade ou falsida-de, o abrirá e mandará que o escrivão o leia em presença do apresen-tante. Assim, por se tratar de testamento realizado de forma sigilosa, ao recebê-lo, deverá o magistrado, de início, verificar se não há qual-quer vício capaz de invalidá-lo.

A seguir, lavra-se o termo de abertura que conterá os requisitos pre-vistos no §1º, do mencionado dispositivo. Após, depois de ouvido o Ministério Público e não havendo dúvidas a serem esclarecidas, o juiz mandará registrar, arquivar e cumprir o testamento (§2º).

Uma vez feito o registro, o escrivão intimará o testamenteiro para as-sinar o termo da testamentária (§3º) e, se não houver testamenteiro nomeado ou se ele estiver ausente ou não aceitar o encargo, o juiz no-meará testamenteiro dativo, observando-se a preferência legal (§4º).

O NCPC introduz o §5º ao art. 735 que, com redação similar ao art.1980 do Código Civil, estabelece o seguinte: “O testamenteiro de-verá cumprir as disposições testamentárias e prestar contas em juízo do que recebeu e despendeu, observando-se o disposto em lei”.

9 DONIZETTI, Elpídio. Op. cit., p. 1434/1435. 10 Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes formalidades: I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas; II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado; III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas; IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador.Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as paginas.

Page 95: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária95

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Em relação ao testamento público11, nos termos do art. 736, qualquer interessado, exibindo o traslado ou a certidão de testamento público, poderá requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento, observan-do-se, no que couber, o disposto nos parágrafos do art. 735.

Ora, em razão do seu caráter público, não é necessário que se proceda à verificação dos vícios externos que comprometam a sua validade, tal como o rompimento do lacre. Ademais, não será lavrado termo de aber-tura, mas sim de apresentação, pois o testamento já se encontra “aberto”.

O testamento particular, assim como o especial e o codicilo, para se-rem cumpridos, precisam ser confirmados, tendo em vista que, neles, não há a interferência do tabelião.

De acordo com o art. 737, depois da morte do testador, cabe ao her-deiro, ao legatário ou ao testamenteiro, bem como ao terceiro deten-tor do testamento, se impossibilitado de entregá-lo a algum dos ou-tros legitimados -, dar início ao procedimento de confirmação, com o requerimento da publicação do testamento particular.

O § 1º dispõe que serão intimados os herdeiros que não tiverem re-querido a publicação do testamento. Após, verificando o magistrado a presença dos requisitos da lei, ouvido o Ministério Público, confir-mará o testamento, observando-se, no seu cumprimento, o disposto nos parágrafos do art. 735 (§2º e §4º).

Conforme acima mencionado, aplica-se o disposto no artigo em es-tudo, ao codicilo e aos testamentos marítimo, aeronáutico, militar e nuncupativo (§3º). 

11 Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público: I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos; II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial; III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.

Page 96: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil96

MARIA TEREZA TARGINO HORA

2.6) DA HERANÇA JACENTE

Diz–se que a herança é jacente quando se abre a sucessão sem que o de cujus tenha deixado testamento, e não se tenha conhecimento da existência de algum herdeiro (art. 1819). De acordo com Elpídio Do-nizetti12 “a herança jacente revela uma situação de fato em que ocorre a declaração da herança, mas não existe quem se intitule herdeiro”.

A doutrina em geral considera jacente a herança quando não há herdeiro certo e determinado, ou se não sabe da existência dele, ou quando a herança é repudiada.

O Código Civil, em seu art. 1823, inova ao considerar a herança vacan-te desde logo, no caso de repúdio por parte de todos os chamados a suceder, in verbis: “quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante”.

Como bem registra Carlos Alberto Gonçalves13, a jacência não se con-funde com a vacância, é apenas uma fase do processo que antecede a esta. Segundo o autor “a herança jaz enquanto não se apresentam herdeiros do de cujus para reclamá-la, não se sabendo se tais herdei-ros existem ou não. O Estado, no intuito de impedir o perecimento da riqueza representada por aquele espólio, ordena sua arrecadação, para o fim de entregá-lo aos herdeiros que aparecerem e demons-trarem tal condição. Somente quando, após as diligências legais, não aparecerem herdeiro, é que a herança, até agora jacente é declarada vacante, para o fim de incorporar-se ao patrimônio do Poder Público”.

Assim, conclui o autor que a herança é jacente quando não há her-deiro certo e determinado, ou quando se não sabe da existência dele, ou, ainda, quando é renunciada. Por sua vez, a herança vacante

12 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. Editora Atlas. 2011, p. 1437.13 GONÇALVES, Carlos Alberto. Curso Direito Civil Brasileiro. Editora Saraiva. 2014, p. 133.

Page 97: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária97

MARIA TEREZA TARGINO HORA

é aquela que é devolvida à Fazenda Pública por se ter verificado não haver herdeiros que se habilitasse no período de jacência.

Pois bem, uma vez verificada a jacência da herança, o juiz, em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá imediatamente à arre-cadação dos bens que, conforme acima mencionado, ficarão sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância (art. 1819 CC c/c art. 738 NCPC).

Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital, que será publica-do na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 3 (três) meses, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, por 3 (três) vezes com intervalos de 1 (um) mês, para que os sucessores do falecido venham a habilitar--se no prazo de 6 (seis) meses contado da primeira publicação (art. 741). Caso haja habilitação de herdeiro/cônjuge/companheiro/testamentei-ro, a arrecadação converter-se-á em inventário (§3º, art. 741).

Passado 1 (um) ano da primeira publicação do edital e não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente, será a herança decla-rada vacante (art. 743). Frise-se que o herdeiro que não se habilitou pode ainda reclamar a herança, por ação direta, como diz o art. §2º do mesmo dispositivo (ação de petição de herança).

A sentença que converte a herança jacente em vacante promove a transferência dos bens, ainda que de forma resolúvel, para o Poder Público que exerce a função de depositário dos bens, na expectativa de devolvê-lo ao verdadeiro titular. Todavia, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas cir-cunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em território federal (art. 1822 CC).

Page 98: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil98

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Destaque–se que o Superior Tribunal de Justiça tem admitido a aqui-sição por usucapião de herança jacente se não houve a declaração de vacância:

CIVIL. USUCAPIÃO. HERANÇA JACENTE. O Estado não ad-quire a propriedade dos bens que integram a herança jacente, até que seja declarada a vacância, de modo que, nesse interregno, estão sujeitos à usucapião. Recurso es-pecial não conhecido. (STJ - REsp: 36959 SP 1993/0019991-9, Relator: Ministro ARI PARGENDLER, Data de Julgamento: 24/04/2001, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 11.06.2001 p. 196LEXSTJ vol. 146 p. 85)(grifo nosso).

2.8) DOS BENS DOS AUSENTES

Diz–se ausente a pessoa que desaparece de seu domicílio, sem que dela haja notícia e sem que tenha deixada representante ou procura-dor a quem caiba administrar-lhe os bens. Também será considerada ausente se, deixando mandatário, este não quiser ou não puder con-tinuar a exercer o mandato, ou se os seus poderes forem insuficien-tes. (arts. 22 e 23 do CC).

Assim, os pressupostos desse procedimento são: o desaparecimen-to de pessoa de seu domicílio, a existência de bens do desapare-cido e a ausência de administrador para gerir esses bens ou caso exista, que não seja possível pelos motivos acima apontados.

Ocorrendo alguma dessas hipóteses, o juiz, a requerimento de qual-quer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, no-mear-lhe-á curador e, ato contínuo, mandará arrecadar os bens do ausente (art. 744).

O Código anterior, em seu art. 1.161, previa que após a arrecadação, o juiz mandaria publicar editais durante 1 (um) ano, reproduzidos de

Page 99: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária99

MARIA TEREZA TARGINO HORA

dois em dois meses, anunciando a arrecadação e chamando o au-sente a entrar na posse de seus bens. Por sua vez, o NCPC inova ao dispor expressamente que os editais deverão ser publicados na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vincula-do e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, pelo prazo de 1 (um) ano.

Em não havendo sítio, a publicação será realizada no órgão oficial e na imprensa da comarca, durante 1 (um) ano, reproduzida de 2 (dois) em 2 (dois) meses, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens (art. 745).

Concluído o prazo previsto no edital, sem que se tenha notícia do au-sente, poderão os interessados requer que se abra provisoriamente a sucessão (§1º). Ademais, nesse momento, o interessado pedirá a citação pessoal dos herdeiros presentes e do curador e, por editais, a dos ausentes para requererem habilitação, na forma dos arts. 689 a 692 (§2º).

A sentença que determinar a sucessão provisória passará a ter efeito após 180 dias contados da sua publicação, nos termos do art. 28 do CC/2002 e, de acordo com o art. 37 do CC/2002, somente dez anos depois de pas-sada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provi-sória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva.

Complementando, o §3º, do art. 745 dispõe que estando presentes os requisitos legais, poderá ser requerida a conversão da sucessão provisória em definitiva.

Caso regresse o ausente ou algum de seus descendentes ou ascen-dentes para requerer ao juiz a entrega de bens, serão citados para contestar o pedido os sucessores provisórios ou definitivos, o Minis-tério Público e o representante da Fazenda Pública, seguindo-se en-tão o procedimento comum (§4º).

Page 100: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil100

MARIA TEREZA TARGINO HORA

2.9) DAS COISAS VAGAS

A coisa vaga é a coisa perdida pelo dono e achada por outrem. O importante no regime da coisa vaga é que ela, embora perdida, não deixa de pertencer a seu dono, vez que a perda não extingue a propriedade.

Assim, “quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor” (art. 1.233). Caso o descobridor não o localize, “entregará o objeto achado à autoridade competente do lu-gar” (§ único).

O procedimento em análise regula a entrega da coisa perdida/acha-da e está disciplinado no art. 746 do Novo Código de Processo Civil, que dispõe em seu caput que quando o magistrado receber do des-cobridor coisa alheia perdida, mandará lavrar o respectivo auto, do qual constará a descrição do bem e as declarações do descobridor. Se entregue a coisa à autoridade policial, esta a remeterá para o juízo competente (§1º).

Depositada a coisa, o juiz mandará publicar edital na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na pla-taforma de editais do Conselho Nacional de Justiça ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que o dono ou o legítimo possuidor a reclame, salvo se se tratar de coisa de peque-no valor e não for possível a publicação no sítio do tribunal, caso em que o edital será apenas afixado no átrio do edifício do fórum (§2º).

Registre –se que o art. 1.237 dispõe que decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, caso não se apre-sente quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recom-pensa do descobridor, o remanescente, caso exista, pertencerá ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. Sendo

Page 101: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária101

MARIA TEREZA TARGINO HORA

de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou (§único).

2.10) DA INTERDIÇÃO

Como se sabe, a interdição é o processo pelo qual se estabelece a curatela do incapaz e o Novo Código de Processo Civil trouxe diver-sas alterações no processo de interdição em relação ao Código re-vogado, lançando um novo olhar sobre o instituto, tornando mais humano, ressignificando e dignificando o interditando.

O Novo Código de Processo Civil promoveu a revogação dos dispositi-vos do Código Civil de 2002 (arts. 1768 a 1.773) que tratavam do procedi-mento de interdição. Ocorre que, durante a vacatio legis do novo Código instrumental, sobreveio o Estatuto da Pessoa com Deficiência, o qual alterou a redação de artigos do Código Civil relativos à interdição que já haviam sido revogados pela nova legislação processual, mas que ainda estavam em vigor por conta do período de vacância então imposto.

Com isso, exsurgiu uma situação inusitada. A revogação de um dis-positivo legal que já estava sendo revogado por outra lei, anterior-mente editada, mas que estava em período de vacatio legis.

Registre-se que quatro são os dispositivos afetados e que serão ana-lisados ao longo deste tópico: os arts. 1.768, 1.769, 1.771 e 1.772 do Código Civil; todos eles revogados pelo CPC/2015 e posteriormente alterados pela Lei n. 13.146/2015. De acordo com os ensinamentos do Prof. Fredie Didider Jr. 14, para que ocorra a correta aplicação das espécies normativas, é necessária a observância de dois postulados normativos, são eles: a) as leis estão em sintonia de propósitos; b) elas devem ser interpretadas de modo a dar coerência ao sistema.

14 DIDIER. Fredie. Estatuto da Pessoa com Deficiência, Código de Processo Civil de 2015 e Código Civil: uma primeira reflexão. < http://www.frediedidier.com.br/editorial/editorial-187/>

Page 102: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil102

MARIA TEREZA TARGINO HORA

O art. 1768 do CC/2002 foi revogado, já que o regramento a respeito da legitimidade para a propositura da ação de interdição passou a ser disciplinado inteiramente pelo art. 747 do CPC/2015, o qual estabele-ce que a mesma pode ser promovida: pelo cônjuge ou companheiro; pelos parentes ou tutores; pelo Ministério Público e pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando. Observa-se que o rol de legitimados foi ampliado, vez que o CPC;/1973 não incluía a possibilidade de ser a intervenção requerida por este último.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, contudo, não observando a re-vogação do dispositivo pelo NCPC, acrescentou-lhe mais um inciso (IV), para permitir a promoção da interdição pelo próprio interditando (au-tointerdição). Surge, assim, uma problemática: a revogação operada pelo Código de Processo de Civil de 2015 alcançou o inciso IV, acrescen-tado pelo a Lei 13.146/2015, isto é, seria possível que o a nova norma pro-cessual revogasse uma norma anterior que ainda não estava em vigor? Nas palavras de Didier: “parece que a melhor solução é considerar que a re-vogação promovida pelo CPC levou em consideração a redação da época, em que não aparecia a possibilidade de autointerdição. A Lei n. 13.146/2015 claramente quis instituir essa nova hipótese de legitimação, até então não prevista no ordenamento – e, por isso, não pode ser considerada como “re-vogada” pelo CPC. O CPC não poderia revogar o que não estava previsto. Assim, será preciso considerar que há um novo inciso ao rol do art. 747 do CPC, que permite a promoção da interdição pela “própria pessoa”.

Já o art. 1769 do Código Civil foi revogado pelo art. 748 do CPC/2015 que passou a tratar especificamente da legitimidade do Ministério Público para a propositura da ação de interdição. De acordo com o NCPC, a legitimidade do referido órgão continua sendo subsidiária, isto é, apenas ocorrerá em caso de doença mental grave e se houver falta ou incapacidade dos demais.

Contudo, o superveniente Estatuto da Pessoa com Deficiência no-vamente promoveu a modificação do Código Civil sem observar a

Page 103: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária103

MARIA TEREZA TARGINO HORA

revogação promovida pelo Novo Código de Processo Civil de 2015 e acabou por alterar a intenção limitadora da nova norma processual, ampliando a legitimidade do Ministério Público. Com efeito, restou assentando no art. 1769 do CC/2002, que o órgão ministerial, através dos seus promotores de justiça, poderá promover a ação de curatela em casos de deficiência mental ou intelectual ou nas hipóteses de inexistência ou inércia dos demais legitimados ou, ainda, nos casos em que os legitimados são menores ou incapazes.

Ora, considerando que deve ser feita uma interpretação sistêmica das normas legais, no sentido de maximizar a tutela jurídica destina-da ao curatelado, entende-se que deve ser observar o comando do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Para melhor visualização das modificações, farei a transcrição dos dispositivos legais:

CPC/2015 CÓDIDO CIVIL (VERSÃO ORIGINAL)

CÓDIGO CIVIL (APÓS A LEI Nº 13.143/2015)

Art. 748.  O Ministério Público só promove-rá interdição em caso de doença mental grave:I – se as pessoas designadas nos in-cisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promove-rem a interdição; II – se, existindo, fo-rem incapazes as pessoas menciona-das nos incisos I e II do art. 747.

Art. 1.769. O Ministério Públi-co só promoverá interdição: I – em caso de doença men-tal grave;II – se não existir ou não pro-mover a interdição alguma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo ante-cedente;III – se, existindo, forem inca-pazes as pessoas menciona-das no inciso antecedente.

Art. 1.769. O Ministério Pú-blico somente promoverá o processo que define os termos da curatela: I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;II – se não existir ou não promover a interdição algu-ma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente;II- se, existindo, forem me-nor ou incapazes as pesso-as mencionadas no inciso II.

Nos termos do art. 749, incumbe ao autor, na petição inicial, especi-

Page 104: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil104

MARIA TEREZA TARGINO HORA

ficar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. Assim a indicação do momento em que se revelou a incapacidade passa a ser requisito específico da petição inicial de interdição, razão pela qual, caso não seja possível especificar o momento, tal fato - impossibili-dade - assim deverá ser declarado na petição inicial.

O parágrafo único, sem corresponde no código anterior, estabelece que o juiz, em caso de urgência, poderá nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos. Em análise críti-ca do dispositivo, o Professor Maurício Requião15, defende que tal hi-pótese deve ser utilizada com cautela, sugerindo que a curatela pro-visória “só seja concedida quando se tratarem de questões tais quais poder de disposição sobre certo bem para custear tratamento de saúde, moradia, ou demais interesses fundamentais do interditando; necessidades pontuais de internação e tratamento de saúde quando a conduta do interditando gerar risco á própria vida ou saúde de ter-ceiros; e situações em que o interditando se encontre impossibilitado de externar sua vontade, seus desejos”.

Ademais, acrescenta que o magistrado deve ser específico na enu-meração dos atos que poderão ser praticados durante a curatela provisória, devendo se restringir ao estrito número necessário para cumprir os fins que justificaram essa medida excepcional.

Imperioso destacar que a possibilidade de nomeação de curador provisório, em que pese a ausência de norma expressa na legislação adjetiva, já é acolhida pela jurisprudência brasileira. Vejamos:

15 REQUIÃO, Maurício. Considerações sobre a Interdição no Novo Código de Processo Civil. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Editora Juspodivm. 2015, p. 636.

Page 105: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária105

MARIA TEREZA TARGINO HORA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERDIÇÃO. CURADOR. PROVISÓRIO. Havendo indícios de que a autonomia da vontade do interditando se mostra substancialmente comprometida, com graves reflexos sobre sua renda e patrimônio, imperiosa a nomeação de curador pro-visório, sujeito a regras estritas de limitação e desti-nação de gastos, a fim de garantir os cuidados básicos de manutenção da vida sadia do indivíduo.(TJ-DF - AGI: 20150020031645 , Relator: ESDRAS NEVES, Data de Julga-mento: 24/06/2015, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 30/06/2015 . Pág.: 177)(grifo nosso)AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERDIÇÃO. NOMEAÇÃO LIMINAR DE CURADOR PROVISÓRIO. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA - ART. 273 DO CPC. Incapacidade temporá-ria que foi atestada em laudo psiquiátrico, elaborado em juízo previdenciário Federal. Necessidade do pro-vimento justificado em razão da exigência judicial de nomeação de curador, com vista ao recebimento de benefício previdenciário por invalidez.(...)(Agravo de Instrumento Nº 70064973290, Oitava Câmara Cível, Tribu-nal de Justiça do RS, Relator: José Pedro de Oliveira Eckert, Julgado em 06/08/2015).(TJ-RS - AI: 70064973290 RS , Re-lator: José Pedro de Oliveira Eckert, Data de Julgamento: 06/08/2015, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diá-rio da Justiça do dia 11/08/2015)

O art. 750 inova ao dispor que o requerente deverá juntar, quando da propositura da inicial, laudo médico para fazer prova de suas alega-ções ou informar a impossibilidade de anexá-lo. Tal exigência busca proteger o interditando de eventuais abusos.

Uma vez instaurado o processo de interdição, o interditando será ci-tado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o en-trevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, von-

Page 106: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil106

MARIA TEREZA TARGINO HORA

tades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as per-guntas e respostas (art. 751).

O Código de 1973, por sua vez, previa que o interditando seria inter-rogado pelo magistrado. A substituição da terminologia “interrogató-rio” por “entrevista” é festejada pela doutrina, vez que o novo termo mostra-se mais adequado ao procedimento de interdição. Maurício Requião16, ao comentar o dispositivo, acrescenta que não deve ocorrer um interrogatório regular, como quando busca o juiz extrair a verdade de uma testemunha, vez que na interdição não há um aspecto inqui-sitorial. Ao revés, deve ele entrevistar o interditando sobre os aspectos mais diversos da sua vida, buscando a partir do resultado da entrevista, entender a dimensão de eventuais necessidades que possa ter.

O NCPC inova ao dispor que a entrevista, em qualquer caso, poderá ser acompanhada por especialista (§2º), bem como que o juiz poderá requisitar a oitiva de parentes e de pessoas próximas (§4º).

Nesse aspecto, também se constata avanço na proteção da autono-mia do interditando ao se assegurar no art. 751, §3º que, durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos tecnológicos capa-zes de permitir ou de auxiliar o interditando a expressar suas vonta-des e preferências e a responder às perguntas formuladas. Ou seja, eventual dificuldade de comunicação entre o magistrado e o interdi-tando poderá ser suprida com a utilização de algum recurso capaz de auxiliar este último a exprimir, de forma precisa e clara a sua vontade. Ademais, no CPC/2015, há previsão expressa de que não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver (§1º). Após a audiência em que ocorreu a entrevista, estabelece o NCPC que se abra o prazo de quinze dias para que o interditando possa

16 REQUIÃO, Maurício. Op. Cit., p. 637.

Page 107: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária107

MARIA TEREZA TARGINO HORA

impugnar o pedido (art. 752). Registre-se que o prazo de resposta no CPC/1973 era de apenas cinco dias (art. 1.182).

Registre- se , ainda, que o supramencionado art. 751 do NCPC ao dis-ciplinar a entrevista judicial do interditando acabou por promover a revogação do art. 1771 o qual estabelecia que antes de pronunciar--se acerca da interdição, cabeira ao juiz, “examinar” pessoalmente o arguido de incapacidade.

Todavia, a Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) alte-rou a redação do art. 1771 – que já havia sido revogado pela nova le-gislação processual – , e passou a dispor que antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o magistrado, deverá ser assistido por equipe multidisciplinar.

Assim, em que pese a redação do Código de Processo Civil de 2015 ser clara ao estabelecer a possibilidade da referida entrevista ser acompanhada por especialista, a Lei 13.146/2015 passou a impor que o magistrado seja assistido por equipe multidisciplinar ao utilizar a expressão “deverá”.

Para Fredie Didier Jr.,

a “imposição” já estava no Código Civil, e havia claramente sido revogada pelo CPC-2015 (art. 751, §2º, CPC); agora, vol-tou pela Lei n. 13.146/2015, que me parece, também aqui, re-vogou tacitamente a revogação do CPC-2015. Já em relação à exigência de o acompanhamento ser por equipe multidis-ciplinar, isso, obviamente, somente pode ser exigido se for o caso; além de encarecer demais o processo, o caso pode dispensar o conhecimento de vários ramos do conhecimen-to. O CPC-2015 já havia previsto a possibilidade de equipe multidisciplinar na perícia da interdição (art. 753, §1º, CPC), regra que obviamente se estendia ao momento da entrevista.

Page 108: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil108

MARIA TEREZA TARGINO HORA

CPC/2015 CÓDIDO CIVIL (VERSÃO ORIGINAL)

CÓDIGO CIVIL (APÓS A LEI Nº 13.143/2015)

Art. 751.   O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamen-te acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessá-rio para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas.§ 1o Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver.§ 2o  A entrevista poderá ser acompanhada por especialista.§ 3o  Durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o interditando a expressar suas vontades e preferências e a responder às perguntas formuladas.§ 4o A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas.

Art. 1.771. Antes de pro-nunciar-se acerca da in-terdição, o juiz, assistido por especialistas, exa-minará pessoalmente o argüido de incapacida-de.

Art. 1.771.    Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe m u l t i d i s c i p l i n a r , e n t r e v i s t a r á pessoalmente o inter-ditando.”

O Ministério Público, assim como no Código de 1973, intervirá obri-gatoriamente como fiscal da ordem jurídica (§1º). Todavia, diferente do estatuto revogado, o CPC/2015 foi omisso quanto à necessidade de nomeação de distinto curador à lide nos casos em que o MP seja o próprio requerente da interdição.

Caso não seja apresentada impugnação pelo interditando, ocorrerá a revelia, contudo não produzirá seus efeitos tais como, o de presun-ção de veracidade das afirmações de fato e o prosseguimento do processo sem a intimação do revel, por se tratar de direito indisponí-vel. Nesse sentido segue a jurisprudência, vejamos:

Page 109: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária109

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Agravo de Instrumento. Processo civil. Ação de Interdi-ção. Gratuidade de Justiça. Efeitos da Revelia. Curatela. (...) Efeitos da revelia que não se observam no presente caso, onde se discute a interdição de supostas inca-pazes, tratando-se de direito indisponível, nos termos do art. 320, II, do CPC. Tratando-se a interdição da últi-ma alternativa por importar em restrição da liberdade e da autodeterminação e, em observância ao princípio da dignidade humana, a decisão que indeferiu o pedido de curatela provisória, uma vez que os laudos periciais não foram conclusivos no sentido da necessidade de interdi-ção das Agravadas. Ademais, de acordo com o estudo psi-cológico realizado, a terapia familiar é tida como a melhor alternativa para a situação apresentada. Recurso a que se nega seguimento.(TJ-RJ - AI: 00026832020148190000 RJ 0002683-20.2014.8.19.0000, Relator: DES. CARLOS EDUAR-DO MOREIRA DA SILVA, Data de Julgamento: 08/04/2014, VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 16/04/2014 12:42)(grifo nosso)

O interditando poderá constituir advogado e, caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial (§2º). Ademais, nessa última hipóte-se (não constituição de advogado), o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá intervir como assistente (§ 3º), desde que, por óbvio, não seja o autor da ação de interdição. Assim, de acordo com Fredie Didier17, cria-se uma assistência litisconsorcial sui generis, que independe da existência de interesse jurídico reflexo e só se justifica se o interditando não tiver advogado constituído nos autos.

Decorrido o prazo previsto no art. 752 (prazo de impugnação), o juiz determinará a produção de prova pericial para avaliação da capaci-

17 DIDIER, Fredie. Curso online sobre o Novo Código de Processo Civil.

Page 110: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil110

MARIA TEREZA TARGINO HORA

dade do interditando para praticar atos da vida civil (art. 753). Ade-mais, o novo diploma processual inova ao estabelecer que a perícia pode ser realizada por equipe composta por expertos com formação multidisciplinar (§1º), bem como ao determinar que o laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais have-rá necessidade de curatela (§2º).

Apresentado o laudo pericial, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz proferirá sentença (art. 754). Nesta, caso se de-crete a interdição, deverá o juiz:

• Nomear curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o desenvol-vimento mental do interdito (inciso I);

• Considerar as características pessoais do interdito, obser-vando suas potencialidades, habilidades, vontades e prefe-rências (inciso II);

De forma pertinente, o NCPC dispõe que a curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado, e não do requerente, devendo ser nomeado aquele que tiver em melhor capaci-dade de realizá-lo (§1º). Em consonância com o disposto nesse disposi-tivo, o art. 758 afirma que o curador sempre deverá buscar tratamento e apoio apropriados à conquista da autonomia pelo interdito, ou seja, o curador além de suprir as necessidades do interdito deve, ainda, tra-balhar para que o interditado alcance a sua autonomia, de modo que, no futuro, não mais precise da curatela, seja ela parcial ou total.

Ademais, existindo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses de ambos (§2º), pois a curatela abrangerá a curatela do incapaz que estava sob guarda daquele que foi interditado.

Page 111: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária111

MARIA TEREZA TARGINO HORA

A sentença que decreta interdição, em que pese esteja sujeito a re-curso, produz efeitos desde logo, nos termos do art. 1173 do CC/2002 e do art. 1012, §1º, VI, do Código de Processo Civil. Assim, qualquer recurso contra a referida decisão terá efeito apenas devolutivo.

Ademais, a sentença deverá ser inscrita no registro de pessoas natu-rais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito pode-rá praticar autonomamente (§3º).

O levantamento da curatela, assim como acontece no CPC/1973 deve ocorrer quando cessar a causa que a determinou (art. 756). O pedido de levantamento poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da interdição (§1º). Fri-se-se, assim, que muito embora o interdito não tenha capacidade civil, tem capacidade processual para pedir o levantamento de sua curatela.

Da mesma forma que acontece quando da propositura a ação de inter-dição, o juiz, na hipótese de levantamento, nomeará perito ou equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito e designará au-diência de instrução e julgamento após a apresentação do laudo (§2º) e, uma vez acolhido o pedido, o magistrado decretará o levantamento da interdição e determinará a publicação da sentença, após o trânsito em julgado, na forma do art. 755, § 3o ou, não sendo possível, na imprensa local e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, seguindo-se a averbação no registro de pessoas naturais (§3º).

Necessário ressaltar que o art. 1722 do Código Civil foi revogado pelo referido art. 755 do NCPC. Todavia, diferentemente do que ocor-

Page 112: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil112

MARIA TEREZA TARGINO HORA

rera com os demais dispositivos do Código Civil alterados pela Lei 13.146/2015 e relacionados à ação de interdição em que surgiram pequenas controvérsias procedimentais, a alteração ora avaliada está em plena consonância com a nova norma processual, a qual dispõe sobre a necessidade de estabelecer os limites da curatela conside-rando as características pessoais do interdito, suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências. Vejamos.

CPC/2015 CÓDIDO CIVIL (VERSÃO ORI-GINAL)

CÓDIGO CIVIL (APÓS A LEI Nº 13.143/2015)

Art. 755.  Na sentença que decretar a interdi-ção, o juiz:I – nomeará curador, que poderá ser o reque-rente da interdição, e fixará os limites da cura-tela, segundo o estado e o desenvolvimento mental do interdito;II – considerará as características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências.§ 1o  A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado.§ 2o Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz.§ 3o  A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar autonomamente.

Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se refe-rem os incisos III e IV do art. 1.767, o juiz assinará, se-gundo o es-tado ou o de-senvolvimen-to mental do interdito, os limites da curatela, que poderão cir-cunscrever-se às restrições c o n s t a n t e s do art. 1.782.

Art. 1.772.  O juiz d e t e r m i n a r á , segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela, c i r c u n s c r i t o s às restrições c o n s t a n t e s do art. 1.782, e indicará curador.Parágrafo úni-co.  Para a esco-lha do curador, o juiz levará em conta a vontade e as preferên-cias do interdi-tando, a ausên-cia de conflito de interesses e de influência indevida, a pro-porcionalidade e a adequação às circunstân-cias da pessoa.”

Page 113: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária113

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Importante novidade trazida pelo novo diploma processual é a po-sitivação da possibilidade de levantamento parcial da interdição, quando demonstrada a capacidade do interdito para praticar alguns atos da vida civil (§4º). Como bem registra Maurício Requião18, torna--se possível, portanto, não somente a reavaliação para verificar que cessaram as causas que levaram a interdição, como também para de-monstrar que se modificou a situação do interdito, encontrando-se ele mais apto para a prática dos atos da vida civil que no momento da sen-tença de interdição. Desse modo, o levantamento da interdição não precisa ser feito em termos de tudo ou nada, vez que é possível que o interditado venha a restaurar a sua capacidade de forma gradativa.

Por oportuno, confira-se didático julgado proferido pelo E. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em que foi confirmada a sentença que julgou parcialmente procedente a ação de levantamento de in-terdição movida pela interditada, para o fim de manter a interdição parcial na parte relativa aos cuidados com a saúde e a função pa-rental, permanecendo a sua genitora como curadora para o exercício dessas funções. Vejamos:

INTERDIÇÃO. PESSOA COM QUADRO DE TRANSTORNO DEPRESSIVO RECORRENTE, MAS COM REMISSÃO ESTÁVEL. NECESSIDADE DE ASSISTÊNCIA RELATIVAMENTE ÀS QUES-TÕES QUE DIGAM RESPEITO À SAÚDE E EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PARENTAL. LEVANTAMENTO PARCIAL. 1. A inter-dição é um instituto com caráter nitidamente protetivo da pessoa, não se podendo ignorar que constitui tam-bém uma medida extremamente drástica, e, por essa razão, é imperiosa a adoção de todas as cautelas para agasalhar a decisão de privar alguém da capacidade civil, ou deixar de dar tal amparo quando é incapaz. 2. Se a interditada é portadora de Transtorno Depressivo

18 REQUIÃO, op. Cit. , p. 642.

Page 114: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil114

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Recorrente (CID-10F33), que responde bem às terapêu-ticas disponíveis, mas exige tratamento permanente e contínuo, justifica-se a manutenção da interdição rela-tivamente às questões que digam respeito à saúde e exercício da função parental, mormente em decorrên-cia do abandono do tratamento por ela. Recurso des-provido. (Apelação Cível Nº 70057802340, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 29/01/2014)(TJ-RS , Rela-tor: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Data de Jul-gamento: 29/01/2014, Sétima Câmara Cível)(grifo nosso).

Por fim, registre-se que a autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens do incapaz que se encontrar sob a guarda e a responsabilidade do curatelado ao tempo da interdição, salvo se o juiz considerar outra solução como mais conveniente aos interesses do incapaz (art. 757).

2.11) DAS DISPOSIÇÕES COMUNS À TUTELA E À CURATELA

Os arts. 759 a 763 do CPC/2015 regulam a nomeação, remoção, dis-pensa, compromisso e responsabilidades dos tutores e curadores. Inicialmente, cumpre observar que o Novo Código de Processo Civil não introduziu mudanças substanciais em relação à matéria, limitan-do-se a reproduzir boa parte dos dispositivos previstos na legislação anterior.

Nomeado o curador/tutor, será ele intimado para prestar compromis-so no prazo de cinco dias e, uma vez prestado compromisso, assumirá a administração dos bens do tutelado ou curatelado (art. 759, §2º).

Poderá o tutor ou curador escusar-se do encargo. A escusa deverá ser apresentada ao juiz no prazo de cinco dias contados da intimação para prestar compromisso (antes de aceitar o encargo) ou do dia que

Page 115: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária115

MARIA TEREZA TARGINO HORA

sobrevier o motivo da recusa (depois de entrar em exercício). Não sendo requerida a escusa no prazo estabelecido, considerar-se-á re-nunciado o direito de alegá-la (§ 1º).

O pedido de escusa será decidido de plano pelo juiz. Não sendo acei-to o pedido, o nomeado permanecerá no exercício do encargo até ser liberado por sentença transitada em julgado (§ 2º).

Nos termos do art. 761, incumbe ao Ministério Público ou a quem tenha legítimo interesse requerer, nos casos previstos em lei19, a re-moção do tutor ou do curador. Nessas hipóteses, o tutor ou o curador será citado para contestar a arguição no prazo de cinco dias, findo o qual se observará o procedimento comum (§ único), sendo permi-tido ao juiz, em caso de extrema gravidade, suspender o tutor ou o curador do exercício de suas funções, nomeando substituto interino (art. 762).

Ademais, cessando as funções do tutor ou do curador pelo decurso do prazo em que era obrigado a servir, ser-lhe-á lícito requerer a exo-neração do encargo. Caso o tutor ou o curador não requeira a exone-ração do encargo dentro dos 10 (dez) dias seguintes à expiração do termo, entender-se-á reconduzido, salvo se o juiz o dispensar (§1º).

Observe-se também, por ser relevante, que os artigos 1764 e 1781 do Código Civil indicam outras hipóteses nas quais cessará o exercício da tutela e da curatela, vejamos a literalidade do dispositivo:

Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:I - ao expirar o termo, em que era obrigado a servir; II - ao sobrevir escusa legítima; III - ao ser removido.

19 Os casos de remoção dos tutores e curadores estão previstos nos artigos 1735 e 1766 do Código Civil de 2002.

Page 116: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil116

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Assim, para que o pedido de renúncia seja deferido pelo magistrado, não sendo caso de expiração do termo de compromisso, é necessário que o curador/tutor demonstre a existência de motivo legítimo para o acolhimento de tal pleito, não sendo suficiente a mera manifesta-ção de vontade. Acerca do tema, confira-se o seguinte o julgado:

EXONERAÇÃO DE CURATELA. Pretendida exoneração ma-nifestada por Curadora nomeada para atuar em favor de pessoa portadora de transtorno psíquico. Simples mani-festação de vontade que não basta para a exoneração do encargo, notadamente, em caso de completa au-sência de substituto. Ausente escusa legítima a auto-rizar a substituição. Sentença de improcedência do pe-dido que merece ser confirmada. RECURSO DA AUTORA NÃO PROVIDO.(TJ-SP , Relator: Alexandre Bucci, Data de Julgamento: 26/08/2014, 9ª Câmara de Direito Privado)(grifo nosso)

Por fim, o NCPC inova ao determinar que uma vez cessada a tutela ou a curatela, a prestação de contas pelo tutor ou pelo curador se torna indispensável (§2º). Registre-se que muito embora não existisse pre-visão na legislação adjetiva revogada, o Código Civil em seu art. 1757, já prevê a obrigatoriedade prestação contas por parte do curador de dois em dois anos ou toda vez que o juiz entender conveniente.

Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CURADOR. PRES-TAÇÃO DE CONTAS. NECESSIDADE. PETIÇÃO INICIAL. INÉP-CIA. EXISTÊNCIA. IRMÃS DA CURATELADA. INTERESSE DE AGIR. OCORRÊNCIA. 01. Ação de prestação de contas ajuizada em 2007, pela qual se busca obrigar curadora a prestar contas da admi-nistração do patrimônio da curatelada.

Page 117: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária117

MARIA TEREZA TARGINO HORA

02. A jurisprudência do STJ tem se orientado pelo aprovei-tamento da inicial, sempre que for possível se extrair, dos fatos e fundamentos jurídicos expendidos, a conseqüência jurídica pretendida. Precedentes. 03. O interesse de agir, ou interesse processual, deve ser aferido pela existência do binário necessidade/utilidade do pronunciamento judicial.04. Há necessidade de prestar contas, por parte da curadora, tanto pela natureza do múnus que detém, como pelos valores percebidos e gerenciados por si, em nome da curatelada. 05. Inconteste a utilidade do pronunciamento judicial, principalmente quando existem indícios de descum-primento do encargo legal - prestação de contas bia-nual -, preconizado pelo art. 1.757/CC-02. 06. Possível inadequação da via judicial utilizada, quando o meio eleito exceder em cautelas e garantias processuais, aquele tecnicamente preconizado, não pode ser erigido como empeço incontornável ao reconhecimento do inte-resse processual. 07. Recurso especial não provido.(STJ , Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Jul-gamento: 11/03/2014, T3 - TERCEIRA TURMA)

2.12) DA ORGANIZAÇÃO E DA FISCALIZAÇÃO DAS FUNDAÇÕES

O capítulo sobre fundação está disposto no estatuto civilista entre os seus arts. 62 a 69.

As fundações, nos termos do art. 62 do Código Civil, são pessoas jurídicas criadas por um instituidor que, por meio de escritura pú-blica ou testamento, fará dotação especial de bens livres, especi-ficando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.

Page 118: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil118

MARIA TEREZA TARGINO HORA

O estatuto da fundação deverá ser elaborado pelo instituidor, ou por pessoa por ele indicada. Caso o estatuto não seja preparado no prazo as-sinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público (§ único, art. 65 do CC).

Nas palavras de Alexandre Freitas Câmara20, o interessado deverá submeter o estatuto ao Ministério Público, que verificará se foram observadas as bases da fundação e se os bens que a compõe são su-ficiente para alcançar os fins a que ela se destina. Apresentando o pe-dido ao Ministério Público este – através do órgão de atribuição para tal – terá o prazo de quinze dias para aprovar o estatuto, indicar as modificações que entender necessária ou denegar a sua aprovação.

Na hipótese de o Ministério público indicar as modificações a serem feitas no estatuto, ou rejeitar a sua aprovação, poderá o interessado demandar em juízo o suprimento da sua aprovação. Assim, através dessa demanda, dar-se-á início ao procedimento de jurisdição volun-tária em estudo, cujo objeto é o suprimento da autorização do Minis-tério Público ao estatuto da fundação.

O art. 764 estabelece que o juiz decidirá sobre a aprovação do estatu-to das fundações e de suas alterações sempre que o requeira o inte-ressado, quando: ela for negada previamente pelo Ministério Público ou por este forem exigidas modificações com as quais o interessado não concorde (inciso I); o interessado discordar do estatuto elabora-do pelo Ministério Público (inciso II). Ademais, antes de suprir a apro-vação, o juiz poderá mandar fazer no estatuto modificações a fim de adaptá-lo ao objetivo do instituidor (§2º).

Dispõe o art. 765 que qualquer interessado ou o Ministério Público promoverá em juízo a extinção da fundação em três ocasiões: quan-

20 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Editora: Lumen Juris. Rio de Janeiro, 2008, p.532.

Page 119: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária119

MARIA TEREZA TARGINO HORA

do se tornar ilícito o seu objeto; for impossível a sua manutenção; vencer o prazo de sua existência. O Código Civil de 2002, em seu art. 69, trata de mais um caso de extinção da fundação: quando a sua existência for inútil.

Extinta a fundação, seu patrimônio será incorporado ao de outra fun-dação, designada pelo magistrado, que se proponha a fins iguais ou semelhantes ao da extinta, salvo se houver disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto (art. 69 do CC).

2.13) DA RATIFICAÇÃO DOS PROTESTOS MARÍTIMOS E DOS PROCESSOS TESTEMUNHÁVEIS A BORDO

O procedimento de ratificação dos protestos marítimos e dos proces-sos testemunháveis formados a bordo está disciplinado entre os arts. 766 a 770 do Novo Código de Processo Civil. Frise-se que o art. 1218, VIII do CPC/1973 determina que o tema em análise será regulado pelo antigo CPC/1939, entre o seu arts. 725 a 729.

Segundo Carla Adriana Gilbertoni21:

O protesto é um dos meios de que se serve o capitão do navio para comprovar quaisquer ocorrências no curso da viagem, seja em relação a carga, aos passageiros ou ao próprio navio. Representa o registro de qualquer aciden-te ocorrido em viagem, constando, pois, de uma declara-ção ou relato feito pelo capitão relativo às circunstâncias da viagem, às tempestades (borrascas) suportadas pelo navio, aos sinistros e acidentes supervenientes que o obri-garam a procurar outro porto e aí se refugiar (arribada for-çada), a própria conduta do capitão a respeito de qualquer

21 GILBERTONi, Carla Adriana. Comitre Teoria e Prática do Direito Marítimo, 1 ed. Rio de Janeiro: Ed., Livraria e Editora Renovar, 1998, pp. 261/262.

Page 120: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil120

MARIA TEREZA TARGINO HORA

medida que julgou ser de seu dever tomar.  É outrossim, o ato escrito do capitão do navio, tendente a comprovar sinistros, avarias ou quaisquer perdas sofridas pelo navio ou sua carga, ou ambos, e que tem por fim eximir o capitão pelos casos fortuitos ou de força maior (...). A ratificação judicial é condição de validade do protesto marítimo. Os protestos, quando confirmados pela ratificação sumária, têm fé pública e fazem prova em juízo, salvo prova em contrário.”(grifei).

Na sistemática do novo diploma processual, todos os protestos e os processos testemunháveis formados a bordo e lançados no livro Diá-rio da Navegação deverão ser apresentados pelo comandante ao juiz de direito do primeiro porto, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas de chegada da embarcação, para sua ratificação judicial (art. 766).

A petição inicial conterá a transcrição dos termos lançados no livro Diário da Navegação e deverá ser instruída com cópias das páginas que contenham os termos que serão ratificados, dos documentos de identificação do comandante e das testemunhas arroladas, do rol de tripulantes, do documento de registro da embarcação e, quando for o caso, do manifesto das cargas sinistradas e a qualificação de seus consignatários, traduzidos, quando for o caso, de forma livre para o português (art. 767).

Ademais, a inicial deverá ser distribuída com urgência e encaminha-da ao juiz, que ouvirá, sob compromisso a ser prestado no mesmo dia, o comandante e as testemunhas em número mínimo de 2 (duas) e máximo de 4 (quatro), que deverão comparecer ao ato indepen-dentemente de intimação (art. 768).

A respeito do tema, o Enunciado 79 do Fórum Permanente de Pro-cessualistas Civis: “Não sendo possível a inquirição tratada no art. 768 sem prejuízo aos compromissos comerciais da embarcação, o juiz ex-

Page 121: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária121

MARIA TEREZA TARGINO HORA

pedirá carta precatória itinerante para a tomada dos depoimentos em um dos portos subsequentes de escala”.

Tratando-se de estrangeiros que não dominem a língua portuguesa, o autor deverá fazer-se acompanhar por tradutor, que prestará com-promisso em audiência. Caso o autor não se faça acompanhar por tradutor, o juiz deverá nomear outro que preste compromisso em audiência (art. 768, §1º e 2º).

Aberta a audiência, o juiz mandará apregoar os consignatários das cargas indicados na petição inicial e outros eventuais interessados, nomeando para os ausentes curador para o ato (art. 769).

Inquiridos o comandante e as testemunhas, o juiz, convencido da veracidade dos termos lançados no Diário da Navegação, em audiên-cia, ratificará por sentença o protesto ou o processo testemunhável lavrado a bordo, dispensado o relatório e, independentemente do trânsito em julgado, o juiz determinará a entrega dos autos ao autor ou ao seu advogado, mediante a apresentação de traslado (art. 770).

Page 122: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição
Page 123: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

123

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Bibliografia

Bibliografia

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008.

Commandulli, José Flávio. <http://cadernosdeseguro.funenseg.org.br/secao.php?materia=566>

DA CUNHA, Leonardo Carneiro. Procedimento Especial para as Ações de Família no Novo Código de Processo Civil – algumas Ano-tações. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitó-rio. Salvador: Editora Juspodivm. 2015

DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2009.

Page 124: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil124

MARIA TEREZA TARGINO HORA

DIDIER, Fredie. Curso online sobre o Novo Código de Processo Ci-vil. Salvador: Editora Juspodivm.

DIDIER. Fredie. Estatuto da Pessoa com Deficiência, Código de Pro-cesso Civil de 2015 e Código Civil: uma primeira reflexão. < http://www.frediedidier.com.br/editorial/editorial-187/>

DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. São Paulo: Editora Atlas. 2011.

FERRAZ, Cristina. Reflexões sobre os Novos Rumos Jurídicos da Ju-risdição Voluntária. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Di-reito Transitório. Salvador: Editora Juspodivm. 2015

Gilbertoni, Carla Adriana. Comitre Teoria e Prática do Direito Maríti-mo. 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. Livraria e Editora Renovar, 1998.

GONÇALVES, Carlos Alberto. Curso Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva. 2014

GONÇAVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquema-tizado. São Paulo: Editora Saraiva. 2015.

LESSA NETO, João Luiz. A Ação de Dissolução Parcial de Socieda-de no Novo Código de Processo Civil – algumas Anotações. Proce-dimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Salvador: Editora Juspodivm, 2015.

MACÊDO, Lucas Buril. Comentários ao novo Código de Processo Ci-vil, art. 717.

MARCATO, Antônio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 2008.

Page 125: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

125

MARIA TEREZA TARGINO HORA

Bibliografia

NEVES, Daniel Amorim Assumpção Neves. Novo CPC – Código de Processo Civil – Inovações, Alterações e Supressões Comentadas. Editora Método, 2015.

PEIXTO, Ravi. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Ação de Prestação de Contas e o CPC/2015. Editora Jus-podivm. 2015.

REQUIÃO, Maurício. Considerações sobre a Interdição no Novo Có-digo de Processo Civil. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Salvador: Editora Juspodivm. 2015

TARTUCE, Flávio. Direito das Sucessões. São Paulo: Método. 2015.

TARTUCE, Flávio. O Novo CPC e o Direito Civil. São Paulo: Método. 2015.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 18. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999

VICENZI, Brunela Vieira e Fernanda P. A. de Oliveira. Procedimentos Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Estamos indo em direção à Função Social da Posse? Análise das Inovações para Julga-mento de Conflitos Possessórios no Novo CPC. São Paulo: Editora Mé-todo. 2015.

VIEIRA, Guilherme Bergmann Borges – Transportes Internacionais de Cargas. 2 ed. São Paulo: Aduaneiras, 2002.

Page 126: OS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA …editoracriacao.com.br/wp-content/uploads/2015/12... · Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição

Os Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e de Jurisdição Voluntária no novo Código de Processo Civil126

MARIA TEREZA TARGINO HORA