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Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade: O máximo dos objetivos e o objetivo máximo, por Wanderlei Passarella | Uma questão de escolha política, por Sérgio Teixeira e Julio Cesar Pinguelli OPINIÃO ARTIGOS Abraman 2016 Manutenção e gestão de ativos é garantia de operacionalidade Perfil profissional: Doneivan Fernandes Ferreira O trabalho é que faz acontecer Os riscos ao meio ambiente das obras do PPI de Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) Ano XVIII • novembro/dezembro 2016 • Nº 110 • www.tnpetroleo.com.br ESPECIAL: CONTEÚDO LOCAL BATALHA NAVAL a indústria sai em defesa do conteúdo local Especial: Cobertura Rio Oil & Gas 2016

defesa do conteúdo local - TNPetróleo - Início · 2016-12-19 · local. E a conclusão é que ela deve ser aprimorada sim, mas não, derrubada. Nessa verdadeira batalha naval,

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Page 1: defesa do conteúdo local - TNPetróleo - Início · 2016-12-19 · local. E a conclusão é que ela deve ser aprimorada sim, mas não, derrubada. Nessa verdadeira batalha naval,

Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade:

O máximo dos objetivos e o objetivo máximo,

por Wanderlei Passarella | Uma questão de escolha política, por Sérgio

Teixeira e Julio Cesar Pinguelli

O P I N I Ã O

A R T I G O S

Abraman 2016Manutenção e gestão de ativos é garantia de operacionalidadePerfil profissional: Doneivan Fernandes FerreiraO trabalho é que faz acontecer

Os riscos ao meio ambiente das obras do PPI de Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam)

Ano XVIII • novembro/dezembro 2016 • Nº 110 • www.tnpetroleo.com.br

ESPECIAL: CONTEÚDO LOCAL

BATALHA NAVAL

a indústria sai em defesa do conteúdo local

Especial: Cobertura Rio Oil & Gas 2016

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Manutenção e gestão de ativos é garantia de operacionalidade

sumário edição nº 110 nov/dez 2016

noss

as r

edes

soc

iais

Especial Conteúdo Local

Eventos: Cobertura Rio Oil & Gas 2016

Eventos: Abraman 2016

Na era digital

Que venham as startups!

Batalha naval: a indústria sai em defesa do conteúdo local

8

30

36

44

21 O reforço das federações

24 Engenharia brasileira ‘embarcada’

28 Certificação derruba política de conteúdo local

29 A flexibilização deve ser respaldada em debate

38 Visão de futuro

40 Empresas apostam em tecnologias para superar crise

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Coffee Break

Pefil profissional CONSELHO EDITORIAL

Affonso Vianna Junior

Alexandre Castanhola Gurgel

Antonio Ricardo Pimentel de

Oliveira

Bruno Musso

Colin Foster

David Zylbersztajn

Eduardo Mezzalira

Eraldo Montenegro

Flávio Franceschetti

Gary A. Logsdon

Geor Thomas Erhart

Gilberto Israel

Ivan Leão

Jean-Paul Terra Prates

João Carlos S. Pacheco

João Luiz de Deus Fernandes

José Fantine

Josué Rocha

Luiz B. Rêgo

Luiz Eduardo Braga Xavier

Marcelo Costa

Márcio Giannini

Márcio Rocha Melo

Marcius Ferrari

Marco Aurélio Latgé

Maria das Graças Silva

Mário Jorge C. dos Santos

Maurício B. Figueiredo

Nathan Medeiros

Paulo Buarque Guimarães

Roberto Alfradique V. de Macedo

Roberto Fainstein

Ronaldo J. Alves

Ronaldo Schubert Sampaio

Rubens Langer

Samuel Barbosa

50 Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade: O máximo dos objetivos e o objetivo máximo, por Wanderlei Passarella

54 Uma questão de escolha política, por Sérgio Teixeira e Julio Cesar Pinguelli

artigos

Ano XVIII • Número 110 nov/dez 2016Foto: Agência Petrobras

seções

46Doneivan Fernandes Ferreira

O trabalho é que faz acontecer

e a harmonia universal das artes

Mondrian

56

2 editorial

4 hot news

6 indicadores tn

30 eventos

46 perfil profissional

49 caderno de sustentabilidade

52 pessoas

53 produtos e serviços

56 coffee break

58 feiras e congressos

59 opinião

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2 TN Petróleo 110

editorial

Rua Nilo Peçanha, 26/904Centro – CEP 20020 100Rio de Janeiro – RJ – BrasilTel/fax: 55 21 [email protected]

DIRETOR EXECUTIVOBenício Biz - [email protected]

DIRETORA DE COMUNICAçãOLia Medeiros (21) [email protected]

EDITORABeatriz Cardoso: (21) [email protected]

EDITOR DE ARTE, CULTURA E GASTRONOMIAOrlando Santos: (21) 99491-5468

RELAçÕES INTERNACIONAISDagmar Brasilio: (21) 99361-2876 [email protected]

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PRODUçãO GRÁFICA E WEBMASTERLaércio Lourenç[email protected]

REVISãOSonia Cardoso: (21) [email protected]

DEPARTAMENTO COMERCIAL

Rodrigo Matias: (21) [email protected]

ASSINATURAS(21) [email protected]

CTP e IMPRESSãOViaman Gráfica e Editora

DISTRIBUIçãO Benício Biz Editores Associados.

Filiada à ANATECOs artigos assinados são de total responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores. TN Petróleo é dirigida a empresários, executivos, engenheiros, geólogos, técnicos, pesquisadores, fornecedores e compradores do setor de petróleo.

Estamos no jogo!

Benício BizDiretor da Benício Biz Editores

COMO DIZIA uM AMIGO, nada melhor que uma ‘boa briga’ para tirar a gente do ma-rasmo e do desalento que tomou conta do setor de óleo e gás, depois de uma década de crescimento sem precedentes. Foi justamente essa rápida expansão da indústria de óleo e gás, trazendo em seu bojo a revitalização do setor naval e do parque fabril brasileiro, que levou o país a outro patamar no cenário de óleo e gás. Da mesma forma, é fato conhecido que quando o negócio movimenta milhões, nunca faltam oportunistas de plantão. Aqui não foi diferente: grupos de oportunistas, travestidos de empreendedores, acabaram por levar nossa indústria à sua pior crise.

Mas é na crise que se aprende, que se avança. Mesmo em nosso caso, quando a crise é quase cíclica em nossa vida, do cidadão às empresas e organizações. Prova disso é termos indústrias que sobreviveram, a duras penas, a cenários catastróficos e casos até de algumas que ‘ressuscitaram’. Mas muitas morreram devido à falta de uma política industrial mais efetiva dos governos. E todos aprendemos com tudo isso. Cientes do caminho que percorremos em dez anos, não podemos simplesmente abandonar o barco que parece ter ficado à deriva. Ainda mais quando navegamos em um mar de oportunidades, sobre riquezas que não imaginávamos há 15 anos, como as reservas do pré-sal!

Essa nova fronteira não apenas atraiu a atenção de investidores do mundo inteiro como também incentivou nossa indústria a buscar qualificação, a incorporar tecno-logias e processos, a investir em inovação. Apoiados pela política de conteúdo local (PLC), demos um grande passo em dez anos. Mas o caminho é longo, como sabem os países que passaram por esse mesmo processo – Noruega, Coreia do Sul, a própria China. Ainda temos desafios a superar para ganhar competitividade e buscar maior inserção no mercado internacional, que já reconheceu, inúmeras vezes, a expertise consolidada por empresas idôneas e bons empreendedores brasileiros.

Esse é o desafio que une e mobiliza brasileiros que nos últimos tempos estiveram em lados opostos no turbulento cenário brasileiro, mas que nos últimos meses embar-caram em uma verdadeira cruzada em defesa da indústria nacional. E é o que mostra a matéria de capa desta edição – ouvimos os principais dirigentes de federações, em-presas, entidades setoriais e de classes sobre a flexibilização da política de conteúdo local. E a conclusão é que ela deve ser aprimorada sim, mas não, derrubada.

Nessa verdadeira batalha naval, insuflada pelo pedido de isenção de conteúdo local para a construção de dois FPSOs, que juntos vão produzir cerca de 350 mil barris de petróleo por dia na virada da década, uma parcela importante da cadeia produtiva de óleo e gás deixou de lado as divergências políticas para defender a indústria da qual faz parte a própria Petrobras. Todos estão cientes de que a petroleira, para seguir adiante em sua brilhante trajetória, precisa de preços mais competitivos para projetos de tal porte. E não abrem mão do terreno conquistado, sobretudo da expertise consolidada pela engenharia brasileira e a capacidade adquirida por empresas – locais e estran-geiras –, que investiram no país para participar da construção dessa grande indústria, razão de ser da nossa TN Petróleo.

Todos os envolvidos nessa ‘batalha’, de governo e autori-dades do setor a operadores, cadeia produtiva e comunidade científica, devem ter claro que somente uma estratégia pen-sada em conjunto, de forma transparente para a sociedade como um todo, poderá levar o Brasil a singrar, de novo, a rota do crescimento econômico. E que a luta movida apenas por interesses individuais cria um campo minado capaz de des-truir tudo o que construímos nos últimos 15 anos!

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4 TN Petróleo 110

hot news

A Odebrecht ÓleO e Gás (OOG) e a teekay Offshore Part-ners lP (teekey Offshore) reali-zaram no dia 2 de dezembro, em cingapura, a cerimônia de batismo do FPSO Pioneiro de Libra, de propriedade da joint venture 50/50 entre as duas empresas (OOGtK). A embarcação será afretada e ope-rada pela joint-venture e realiza-rá testes de longa duração no bloco de libra, para o consórcio formado pelas empresas Petro-bras (Operadora, com 40%), total (20%), Shell (20%), cNPc (10%) e cNOOc (10%) por um período de 12 anos. O primeiro óleo está previsto para o final do primeiro semestre de 2017.

O bloco de libra se estende por mais 1.500 km² na bacia de San-tos, com reservas estimadas entre 8 e 12 bilhões de barris de óleo recuperável, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e biocombustíveis (ANP).

A construção do Pioneiro de libra começou no final de 2014 no

estaleiro Jurong, em cingapura, e recebeu investimentos de cerca de US$ 1 bilhão. A unidade poderá atuar em lâmina d’água de até 2.400 m de profundidade e terá capacidade de produção de 50 mil barris de óleo por dia e de com-pressão de quatro milhões de m³ de gás/ dia.

Ao longo de dois anos, mais de quatro mil pessoas estiveram envolvidas no projeto, incluindo as atividades no estaleiro, com mais de 16 milhões de homens/horas trabalhadas, sem registro de nenhum acidente de trabalho com afastamento.

“O FPSO Pioneiro de Libra é um marco para a produção de petróleo no brasil e temos orgulho de contribuir para esse projeto com nossa capacidade técnica e financeira. Será o primeiro FPSO a atuar no bloco de libra, considera-do a maior reserva de petróleo do pré-sal do mundo. A entrada em operação é um evento de grande importância para o nosso negócio

e, como consequência, de grande relevância para a OOG”, afirma Jorge Mitidieri, diretor Superin-tendente de Serviços Integrados da Odebrecht Óleo e Gás.

“A colaboração neste projeto tem sido de classe mundial e é um exemplo de como temos que traba-lhar juntos na nossa indústria para administrar com sucesso projetos

FPSO Pioneiro de Libra é batizado em Cingapura

O navio-plataforma será o primeiro a atuar na maior reserva de petróleo do pré-sal

Foto

: Div

ulga

ção

Ficha técnica FPSO Pioneiro de Libra

Operação12 anos para Testes de Longa Duração no Bloco de Libra

Investimentosu$ 1 bilhão, aproximadamente

Local de operação

Bacia de Santos

Batismo02/12/2016, Cingapura

Capacidade de produção

50.000 barris de óleo/dia e compressão de 4 milhões m³/dia de gás associado

Profundidade para operação

Lâmina d´água de até 2.400 m

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inovadores como o FPSO Pioneiro de Libra. Nossa forte parceria na joint venture com a OOG e a forma com que trabalhamos conjunta-mente com o Jurong, a Petrobras e outros parceiros evidenciam um grande esforço de equipe, que é um dos principais valores da teekay”, afirma chris brett, presidente da teekay Offshore Production.

“É uma grande conquis-ta atingirmos esse marco do batismo do Pioneiro de Libra, principalmente considerando o ambiente adverso na indústria de óleo e gás nos últimos dois anos e todas as dificuldades vividas pela OOG diante do cenário político e econômico do brasil. Isto mostra a força e resiliência de nossas equipes e principalmente da parceria entre OOG e teekay”, afirma roberto Simões, ceO da Odebrecht Óleo e Gás.

“O trabalho realizado pelo Jurong, por seus subcontratados e pela equipe administrativa da OOGtK tem sido de primeira classe. estamos muito orgulhosos dos padrões e da performance de segurança do projeto. também estamos muito honrados que nosso FPSO será o primeiro a produzir óleo no gigantesco campo de libra e irá contribuir significativamente para nosso fluxo de caixa no fu-turo”, relata Kenneth hvid, eleito ceO da teekay corporation e atual presidente e ceO da teekay Offshore Group.

Os contratos de afretamento e operação do Pioneiro de libra foram celebrados em outubro de 2014. No ano seguinte, a joint-venture formalizou o contrato de financiamento com bancos inter-nacionais para a construção do na-vio. O empréstimo de longo prazo,

na modalidade limited recourse Project Finance, tem valor total de perto de US$ 800 milhões.

O FPSO (Floating Production Storage and Offloading) é um tipo de navio utilizado pela indústria petrolífera para a produção, arma-zenamento de petróleo e/ou gás natural e escoamento da produção por navios cisterna (petrolei-ros). São utilizados em locais de produção distantes da costa com inviabilidade de ligação por oleo-dutos ou gasodutos.

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6 TN Petróleo 110

indicadores tn

Produção de óleo e LGN (em mbpd) - Brasil

Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro

Bacia de Campos 1.416,5 1.408,1 1.390,1 1.368,8 1.354,8 1.344,9

Outras (offshore) 561,7 616,5 630,1 678,4 717,7 686,8

Total offshore 1.978,2 2.024,6 2.020,2 2.047,1 2.072,5 2.031,7

Total onshore 181,9 179,4 176,0 172,9 169,4 163,2

Total Brasil 2.160,1 2.204,0 2.196,2 2.220,0 2.241,9 2.195,0

Produção de GN sem liquefeito (em mm³/d)* - Brasil

Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro

Bacia de Campos 25.289,3 25.731,6 25.034,9 24.862,9 23.999,9 24.741,3

Outras (offshore) 33.063,8 35.880,7 37.194,2 37.552,1 39.730,0 36.415,2

Total offshore 58.353,0 61.612,3 62.229,0 62.414,9 63.729,9 61.156,5

Total onshore 18.030,7 17.207,5 17.155,1 17.055,0 17.460,7 16.364,1

Total Brasil 76.383,7 78.819,8 79.384,2 79.469,9 81.190,5 77.520,6

Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro

Produção de óleo e LGN (em mbpd)** - Internacional

Exterior 84,9 96,2 95,8 67,9 69,8 67,0

Produção de GN sem liquefeito (em mm³/d) - Internacional

Exterior 17.854,8 17.159,3 15.975,8 9.633,7 9.455,9 9.666,3

Produção total de óleo, LGN e de gás natural (em mboe/d)

Brasil+Exterior 2.830,5 2.896,9 2.885,4 2.844,4 2.878,1 2.806,5

Produção da Petrobras de óleo, lgn e gás natural Período de 05/2016 a 10/2016

(*) Inclui gás injetado.

(**) Em 2003 inclui os dados da Petrobras Energia (ex-Pecom). Fonte: Petrobras

bovespa (%)

dólar comercial*

DJ Oil & Gas (%)

euro comercial*

*Valor de venda, em R$

06.12.2016 07.10.2016

06.12.2016 07.10.2016

06.12.2016

06.12.2016

07.10.2016

07.12.2016

3.4083.220

2.100.77

-0.06-0.51

3.653.60

Variação no período: 5.46%

Variação no período: 0.73%

Variação no período: 5.52%

Variação no período: 1.41%

PELO MUNDO

MéXICO: Segundo

leilão de petróleo

em águas profun-

das está previsto

para outubro do próximo ano. Impulsio-

nado pelos resultados do México em seu

primeiro leilão de blocos de petróleo em

águas profundas, realizado no dia 5 de

dezembro,o governo do presidente Enri-

que Peña Nieto planeja aumentar a aposta

– pretende realizar um segundo leilão de

petróleo em águas profundas por volta de

outubro do próximo ano.

O México concedeu oito dos dez blocos

de petróleo oferecidos em águas profundas

no Golfo do México, superando a expecta-

tiva e atraindo grandes companhias, como

a Exxon Mobil e a China National Offshore

Oil Corporation, mesmo em um ambiente

difícil, de baixos preços e grandes cortes

em investimentos no setor.

RúSSIA: Pequenas

e médias empresas

com mais de 49%

de participação es-

trangeira poderão pedir ajuda estatal na

Rússia, de acordo com novo Projeto de Lei

preparado pelo Ministério do Desenvolvi-

mento Econômico da Rússia.

Empresas com até 200 empregados e

lucro anual de até 2 bilhões de rublos (uS$

31,4 milhões) receberão benefícios para

compra de instalações, subsídios fiscais,

empréstimos em condições favoráveis e

estarão isentas de inspeções periódicas.

"É um grande passo para o desenvol-

vimento de pequenas e médias empresas.

Estou convencido de que essa iniciativa vai

estimular a atividade empresarial e levar ao

registo de novas empresas estrangeiras no

mercado russo", diz o professor do Instituto

de Negócios da Academia Presidencial de

Economia Nacional e Administração Pública,

Emil Martirosian.

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TN Petróleo 110 7

Produção de países-membros da Opep e não membros – nov/2014 a out/2016

mb/d (Opep) mb/d (total)Produção de países-membros da Opep

Outros paísesprodutores

97

96

95

94

93

92

91

90

34

33

32

31

30

29

28

27

Nov

14

Dez

14

Jan

15

Fev

15

Mar

15

Abr

il 15

Mai

o 15

Jun

15

Jul 1

5

Ago

15

Set

15

Out

15

Nov

15

Dez

15

Jan

16

Fev

16

Mar

16

Abr

il 16

Mai

o 16

Jun

16

Jul 1

6

Ago

16

Set

16

Out

16

R$16,95

R$18,00

R$11,02

R$15,26

R$16,03

R$24,39

R$18,61

R$30,00

R$11,05

R$16V15

R$27,00

R$32,93

petróleo brent (US$)

petróleo WtI (US$)

petrobras

CPFL BRASKEM

VALE

Período: 07.10.2016 a 06.12.2016 | ações ações ações ações

ON

ON

ON

PN

PNA

PNA

06.12.2016 07.10.2016

06.12.2016 07.10.2016

53.9351.93

50.9349.81

Variação no período: 2.70%

Variação no período: 0.97%

Variação no período: 10.77%

Variação no período: 68.54%

Variação no período: -2.21%

Variação no período: 6.95%

Variação no período: 72.63%

Variação no período: 35.24%

FRASES

"A previsão do mercado é de um barril a US$ 60 ainda em 2017, mas com bastante volati-lidade, já que pode haver picos de preço acima desse valor devido a falta de investimentos. Este acordo da Opep vai forçar este equilíbrio para o primeiro semestre de 2017,uma vez que ele já está sendo cumprido. Po-rém os impactos desta recupe-ração não serão tão claramente visíveis já em 2017.”

Eldar Sætre, CEO da Statoil, após anúncio de acordo da Opep, 07/12/2016 – O Petróleo

"Por força dessa mudança dramática no cenário de oferta e demanda, todas as principais empresas embarcaram em pro-cesso de turnaround [virada] e começaram a vender ativos... Temos de observar o preço do petróleo com cuidado.”

Pedro Parente, presidente da Petrobras, sobre acordo da Opep para reduzir produção de petróleo do bloco, 02/12/2016 – Valor

"Se olhar para a evolução da matriz energética mundial, é muito curioso porque temos uma queda da quota de petró-leo. O petróleo já representou 50% e vem caindo. E sobretudo no século XXI, enquanto o gás é exatamente o inverso. O gás está a subir; sua versatilidade é tal que serve não só para a geração elétrica e térmica, mas também para o sistema de transportes.”

António Costa Silva, presidente da Partex, 07/12/2016 – ECO Economia Online

A OPEP DECIDIu, no dia 30 de novembro, cortar a produção de petróleo em 1,2 milhão de barris por dia, estabelecendo o teto da produção em 32,5 milhões de barris diários. O corte, que entra em vigor em 1º de janeiro de 2017, é a primeira redução de óleo do cartel do petróleo desde 2008.

Opep: menos 1,2 milhão de bpd

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8 TN Petróleo 1108 TN Petróleo 110

BATALHAespecial conteúdo local

8 TN Petróleo 110

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TN Petróleo 110 9

Empresas da cadeia produtiva naval e offshore unem esforços para tentar assegurar a manutenção de índices de conteúdo local que permitam ao setor voltar a singrar as ‘águas’ do crescimento econômico.

NAVALa indústria sai em defesa do conteúdo local

por Beatriz Cardoso

TN Petróleo 110 9

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10 TN Petróleo 110

N a batalha, em que os ope-radores usam todos os re-cursos possíveis para re-duzir custos de projetos

estratégicos, como as plataformas de produção de petróleo e gás, en-quanto estaleiros e fornecedores de equipamentos e serviços lutam para manter no país projetos que consomem bilhões de reais e geram empregos em larga escala, nin-guém quer dar ‘um tiro na água’. enfrentando-se nas turbulências de uma economia em crise, acirrada pelos preços baixos do petróleo, as duas partes dessa contenda devem tomar cuidado com a estratégia que pretendem seguir para evi-tar que, na ânsia de avançar na guerra, acabem por ‘torpedear’ a indústria nacional e o país.

Por ironia do destino, no mesmo dia em que, literalmente do outro lado do mundo, em cingapura, era batizado o FPSO Pioneiro de Libra, construído pelo estaleiro Jurong, mobilizando mais de 16 milhões de homens/horas traba-lhadas e investimentos da ordem de um bilhão de dólares, no brasil, lideranças do setor naval e offshore pleiteavam em brasília, junto ao governo federal, que o conteúdo local não seja lançado nas águas do esquecimento.

Ou melhor, que o recurso do perdão previsto nos contratos de concessão de blocos, relativo ao conteúdo local dos projetos, desde a exploração à produção, não se torne uma ‘regra’ sob a alegação de que a cadeia produtiva instalada no país não tem condições de atender a demanda de todas as etapas e construção de uma plataforma, com custos competitivos e nos prazos determinados. Pior ainda: que o perdão não se torne um ‘torpedo’ contra a indústria nacional sob a alegação de que é o único caminho para agilizar a produção em larga escala do pré-sal.

Fazendo uma analogia com o jogo que se tornou popular no pós-guerra, o pré-sal parece ter se tornado o ‘porta-aviões’ a ser ‘defendido’ a todo custo pela es-quadra. A ironia está no fato de que a própria ‘esquadra’ se vê dividida e acaba mirando seus ‘obuses’ uns contra os outros nesse ‘jogo de interesses’ que mobiliza também companhias internacio-nais – de operadoras a fabricantes de equipamentos e estaleiros de outros países que também estão impactados pela crise econômica.

elas se posicionariam como uma espécie de ‘aliadas’ da Pe-trobras para acelerar o desenvolvi-mento da produção do pré-sal. Mas muitos apontam um descompasso com a história recente da indústria nacional de óleo e gás brasileira, a qual registrou um dos mais velozes e bem-sucedidos processos de de-senvolvimento de uma nova bacia e resultou na produção de mais de um milhão de barris apenas oito anos após a descoberta dessa nova fronteira.

Perdão antecipadoNos últimos três anos, quando

a crise ‘atracou’ no setor de óleo e gás no brasil, aumentou o número

de pedidos de dispensa e isenção do cumprimento dos índices de conteúdo local (waiver) junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e biocombustíveis (ANP).

O conteúdo local (que ficou conhecido pela sigla cl) passou a ser fator decisivo na avaliação dos lances das petroleiras por blo-cos exploratórios a partir da sétima rodada de licitações, realizada em 2005. Nas propostas apresentadas nos leilões, tem primazia as opera-doras e/ou consórcios que apresen-tarem os melhores índices de cl nas várias etapas: da exploração ao desenvolvimento da produção do ativo. esses índices vão constar, inclusive, do contrato de concessão pós-leilão.

de meados de 2011 até ago-ra, já teriam sido apresentados quase 120 pedidos de waiver, re-ferentes, principalmente, a plata-formas e sondas, ainda que esses detalhes raramente ‘venham à tona’, por se tratar de informa-ções sigilosas referentes a editais de licitações em curso ou a serem realizadas. boa parte tem sido negada pela ANP, alegando, em muitos casos, que o pedido foi feito ‘de forma intempestiva’ e/ou fora do prazo regulamentar.

especial conteúdo local

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As operadoras fazem uso desse recurso para evitar a penalização, que nesse mesmo período de cin-co anos resultou em 110 multas aplicadas, somando um valor total de r$ 570 milhões (dos quais r$ 353 milhões em autuações a Petro-bras), segundo cálculos do Instituto brasileiro de Petróleo, Gás e bio-combustíveis (IbP), que reúne as operadoras de petróleo e empresas da cadeia produtiva.

A antecipação de pedidos de waiver, como o que foi apresentado pela Petrobras para os FPSOs Libra e Sépia, entre setembro e novembro deste ano, antes mesmo de uma nova licitação, revela uma mudan-ça na estratégia dos operadores.

“A quantidade de multas e de pedidos de waiver gerou um caos, que muda um pouco a perspectiva. Antes, dado o processo, havia um prazo para apresentar o pedido de waiver à ANP. há pedidos que es-tão em análise há três, quatro anos. É interessante o que está acon-

tecendo agora, porque está ge-rando um deba-te antecipado”, observa o secre-tário executivo do IbP, Antonio Guimarães.

Conteúdo local na miraGuimarães afirma que é neces-

sário acelerar a discussão sobre conteúdo local. “A revisão e evolu-ção do modelo é crucial, emergen-te”, diz ele. “O modelo de multas, vigente há 11 anos, não produziu resultados: quantos projetos foram desenvolvidos nas áreas licitadas a partir da sétima rodada? das mais de 30 descobertas, apenas um está em desenvolvimento, o campo de tartaruga Verde (no bloco bM-c-36, na bacia de campos, 100% Petrobras). Nenhum está em pro-dução”, afirma o executivo do IbP,

que é também diretor de upstream da Shell brasil e&P.

O executivo cita estudo do Woody Mackenzie sobre os riscos dos projetos no setor de óleo e gás. “Quando abordam o risco de fazer negócio no país, eles mostram que o conteúdo local é visto como o pior risco do mundo”, enfatiza, salien-tando que há anos o IbP vem pon-tuando que esse modelo resultaria em projetos não desenvolvidos. “Por isso temos, historicamente, lutado por uma revisão”, diz Gui-marães, frisando que o pedido de waiver é “consequência do tama-nho da dificuldade para cumprir os índices exigidos”.

O dirigente do IbP acredita que o cl pode se tornar um processo na-tural se houver outros mecanismos que sirvam de incentivo ao invés de pesadas penalizações. “Não havia nenhuma cláusula de conteúdo lo-cal para os blocos da rodada zero e o cl tem ficado entre 30% e 40%. Por que o governo não reduz tri-butações para viabilizar projetos e assegurar, dessa forma, índices maiores de conteúdo local? Isso sim, gera resultado para o país. A multa só penaliza o operador”, observa.

“Para sair de onde estamos para um modelo ideal, que seria o de incentivo, precisamos de algum tempo. devemos ter um modelo de transição na próxima rodada”, diz ele, comemorando o anúncio do governo de que vai flexibilizar as regras criadas há uma década para nortear uma política industrial para o país.

Flexibilização ou armadilhaO tema faz parte da pauta da

última reunião do ano do conse-lho Nacional de Política energé-tica (cNPe), que deverá tratar de aspectos cruciais dessa política. dentre as principais mudanças es-peradas pelos operadores nesse modelo de transição estão:

•exclusão do índice de conteúdo local como critério para a defini-ção de vencedores dos certames.

•Mais flexibilização no detalha-mento das áreas de aplicação das regras, de forma que as em-presas tenham liberdade para estabelecer suas estratégias de conteúdo local.

•Nova forma de contabilizar o aten-dimento do cl, considerando os investimentos do operador que con-tribuem para o fortalecimento da cadeia produtiva, incluindo aquisi-ção de lotes em novos fornecedores (e com nova tecnologia) e de bens e serviços para uso em projetos no exterior, de forma a incentivar a ex-portação de bens nacionais.

em meados deste ano, o gover-no e os defensores da flexibilização ganharam o endosso do tribunal de contas da União (tcU), que elaborou um relatório, determinan-do a necessidade de mudanças na aplicação da política de conteúdo local para a cadeia produtiva do petróleo e gás natural. O governo pretende realizar estudos técnicos em 2017 para ter um diagnóstico mais preciso da oferta de bens e serviços pela indústria brasileira; um balanço do resultados relativos ao cl das 13 rodadas; identificação de segmentos estratégicos e daque-les com potencial para exportação.

A ‘mina’ que todos querem essas novas regras de ‘transi-

ção’ seriam aplicadas nas licitações previstas para 2017: a 14ª rodada de licitações, que abrange blocos no pós-sal, e o segundo leilão sob o regime de partilha de produção, que deverá ofertar áreas unitizáveis em campos do pré-sal – essas últimas têm todos os componentes para acir-rar o apetite das grandes operadoras, pois estão próximas a ativos estraté-gicos no pré-sal da bacia de Santos.

Um dos quatro prospectos em estudo é Norte de carcará (bloco

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bM-S-8), praticamente envolven-do o valioso ativo comprado pela Statoil por US$ 2,5 bilhões, com reservas estimadas em 1,3 bilhão de barris de óleo equivalente – mas que muitos geólogos e especialis-tas acreditam ser dez vezes maior. A petroleira norueguesa deverá em-penhar esforços para ficar com essa área, uma vez que as reservas de carcará extrapolam seus limites.

A mesma disputa deverá ocor-rer no leilão do chamado ‘entorno’ de Sapinhoá, envolvendo a parte superior desse ativo da Petrobras,

um dos maiores produtores no pré-sal. dos 35 poços com a maior pro-dução individual de óleo e gás no país, dez estão em Sapinhoá (al-guns próximos ao limite do campo, junto à área a ser licitada).

Os outros dois prospectos são Sul Gato do Mato (S-M-518), tam-bém na bacia de Santos, e Sudoes-te de tartaruga Verde (Jazida de tartaruga Mestiça, antigo bloco c-M-401), na bacia de campos, um dos ativos que pode ser vendido pela Petrobras em seu programa de desinvestimento.

Demonização do conteúdo local

O preço do barril de petróleo é o ‘sal’ dessa discussão crescente no último ano, na qual o conteúdo lo-cal vem sendo ‘demonizado’, disse

o presidente do Sindicato Nacio-nal da Indústria da construção Naval (Sinaval), Ariovaldo Ro-cha, em coleti-va realizada na

sede da entidade, no rio de Ja-neiro, com a presença maciça da diretoria da entidade.

Foi a reação mais incisiva do Sinaval em um período em que o setor encolheu, com uma redução de 50% da força de trabalho nos últimos dois anos – de 82 mil para cerca de 40 mil trabalhadores na construção naval.

O ponto chave da coletiva foi o anúncio de que o Sinaval, em se-tembro, havia protocolado solicita-ção de informações na ANP sobre o pedido de waiver da Petrobras para as plataformas FPSOs dos campos de libra (concessão em regime de partilha) e Sépia (cessão onerosa), ambos na bacia de Santos, que se-rão afretadas.

O que a entidade queria saber era para quais itens de cada pro-jeto (que abrange construção de casco e de módulos, além da ins-talação/integração e ancoragem) a Petrobras pediu isenção de cl. “A Petrobras argumentou que as plataformas de produção ficam 40% mais caras com conteúdo lo-cal. Mas não apresentam os dados que comprovem esse argumento”, declarou rocha. Após entrar com processo administrativo, o Sinaval obteve a resposta da ANP – curta e sem maiores detalhes, informando apenas que são dados sigilosos.

“O dispositivo contratual, que permite o waiver, estabelece ser

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Entorno de Sapinhoá

Lula

Carcará

Norte de Carcará

2ª Rodada de Licitações sob o Regime de Partilha da Produção

Sapinhoá

Comparativo CL do FPSO Libra

Item DescriçãoConteúdo local

atual (%)Conteúdo local

original (%)

Casco

Engenharia 0 90

Construção 0 75

Materiais 0 80

Comissionamento 0 90

Planta

Engenharia 27,2 90

Construção 23,1 75

Materiais 30,8 80

Equipamenttos 10,3 57

Comissionamento 0 90

Instalação

Engenharia 26,4 90

Construção 26,4 75

Materiais 31,6 75

Comissionamento 26,4 75

Ancoragem Sistemas 85 85

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necessária uma consulta à cadeia produtiva nacional, o que não ocor-reu. A ANP não pode conceder a dispensa de conteúdo local sem que as etapas previstas sejam cum-pridas. Falta uma consulta real aos fornecedores locais”, reforçam os dirigentes da entidade.

Quebra da regra“No novo edital de libra, por

exemplo, há 100% de isenção de conteúdo local na construção de casco, índice médio que é supe-rior a 60% na fabricação de mó-dulos”, afirmou Ariovaldo rocha, referindo-se a uma tabela que constaria do edital da licitação de libra, no qual o cl médio da plataforma poderia ficar até quatro vezes menor que o origi-nalmente previsto.

Para provar o impacto desse pedido de waiver e da licitação

prevista para ocorrer este ano, o Sinaval preparou uma planilha comparando os índices de cl dos editais das duas primeiras li-citações, ocorridas este ano mas suspensas devido aos preços. Os percentuais despencam: no caso de cascos, com uma média de 83,7% de cl no conjunto (engenharia, construção, materiais e comissiona-mento), os índices caem para zero. No caso de construção das plan-tas (módulos) que além dos quatro itens acima incluem equipamentos, estes índices, que variavam de 57% em equipamentos a 90% em enge-nharia, caem para 10,3% e 27,2%, respectivamente. enfim: há casos em que o cl representa menos de 20% do mínimo exigido até então.

“Fica claro também que a cons-trução dessas plantas não será fei-ta aqui, uma vez que há zero de conteúdo local para comissiona-

mento”, pondera um dos dirigentes do Sinaval. Melhora um pouco na instalação (integração de módulos), mas que representam em torno de um terço do revisto inicialmente. Só não foi mexido no índice de ancoragem, 85%, que é feita em campo. “tudo nos leva a crer que há uma clara interferência de gru-pos estrangeiros para derrubar o conteúdo local!”, pontuaram os executivos do Sinaval presentes na coletiva.

Cruzadores a caminho Na semana que se seguiu à

coletiva do Sinaval, ficou claro que a cadeia produtiva estava se unindo em uma cruzada, buscan-do abrir novos canais de nego-ciação em brasília. eles temem que, uma vez acatado o pedido de waiver da Petrobras, isso crie um perigoso precedente.

Batalha naval: a indústria sai em defesa do conteúdo local

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O Sinaval e outras entidades setoriais já haviam apresentado suas sugestões ao comitê que dis-cute o Programa de estímulo à competitividade da cadeia Pro-dutiva, ao desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural (Pedefor), liderado pela casa civil e pelo Ministério da Fazenda.

em uníssono, os dirigentes da cadeia produtiva afirmam que é falsa a premissa de que o sucesso dos próximos leilões está atrelado à flexibilização das regras de cl. rebatem também os argumentos de que o custo local é mais alto e que os estaleiros não cumprem os prazos.

em outra tabela distribuída à imprensa, o Sinaval mostra os atrasos ocorridos em contratos sem conteúdo local com estaleiros ex-ternos, frisando que muitos pro-blemas citados pelas operadoras não seriam de responsabilidade exclusiva da indústria, mas de edi-tais dúbios e projetos sem uma de-finição mais precisa do escopo ou, pior ainda, que sofrem alterações no meio do caminho.

Por isso pleiteiam que o Pede-for mantenha o cl como um dos critérios para avaliação das pro-postas da 14ª rodada de licitações de blocos exploratórios, afirmando que esse compromisso deve ser

estabelecido no momento da oferta, conforme a concepção inicial, para que não prejudiquem a indústria e os estaleiros locais.

Encouraçado é dos ‘aliados’A cadeia produtiva naval e

offshore vem se imobilizando em inúmeras reuniões em brasília e em diversos estados onde tem suas instalações fabris, diante da en-trega iminente do FPSO Pioneiro de Libra, que a Odebrecht Óleo e Gás (OOG) e a teekay Offsho-re Partners lP vão afretar para o testes de longa duração (tld) no campo sob regime de partilha, no próximo ano.

O estaleiro Jurong, em cin-gapura, executou o projeto, que consumiu cerca de US$ 1 bilhão, e 16 milhões de homens/horas trabalhadas, empregando cerca de quatro mil pessoas. Uma enco-menda decidida pelo consórcio de libra, que inclui, além da Petrobras (operadora, com 40%), a francesa total (20%), a anglo-holandesa Shell (20%), e as chinesas cNPc e cNOOc (cada uma com 10%).

Um tiro na água para a indústria local que revê estratégias para não perder ainda mais espaço. “A falta de projetos e não o conteúdo local é que vai impactar o país. Se não houver flexibilização, waiver, não

haverá projetos”, afirma Guimarães, do IbP. “São falsas as alegações de que o conteúdo local inibe investi-mentos no país. A história recente mostra isso”, rebate a indústria.

Segundo o Sinaval, os prejuí-zos ao brasil podem ser maiores do que os benefícios que essa redução do cl vai trazer aos acionistas das petroleiras. “haverá perda sim de investimentos das empresas locais e internacionais para ganhar maior competitividade e capacidade, perda no valor da produção local, na ge-ração de impostos e de empregos”, enfatiza o sindicato do setor naval.

Esquadra em movimentoesta é a razão pela qual o Sina-

val estuda caminhos que passam pelos tribunais, para garantir ín-dices de cl que deem suporte ao setor no país. “Acredito que vão atropelar o processo e que não ha-verá audiência pública sobre essa questão antes da licitação dos dois FPSOs (programados para dezem-bro deste ano). Só nos resta a Jus-tiça”, afirma Ariovaldo rocha.

A entidade pleiteia a revisão dos itens listados para fins de aplicação de conteúdo local, mostrando que há alguns que sequer fazem parte dessas unidades navais. “Aceitamos a revisão, por entender que faltou um conhecimento técnico maior na listagem dos itens. Mas não aceita-remos a quebra de conteúdo local”, diz Ariovaldo, depois de mais uma rodada de conversas em brasília.

ele vem amealhando apoio de importantes entidades setoriais, que no ano passado firmaram a Agenda Mínima da Indústria de Petróleo, com sugestões consideradas essen-ciais para aperfeiçoar o ambiente de negócios a esse setor que é crucial para a economia brasileira.

É o caso da Associação brasi-leira da Indústria de Máquinas e equipamentos (Abimaq), com dois assentos no chamado ‘conselhão’

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do governo temer – o conselho de desenvolvimento econômico Social (cdS). em evento no rio de Janeiro, no dia 6 de dezem-bro, o presidente da Abimaq, José Velloso, falou sobre a apre-sentação feita ao presidente da república, incluindo a pauta espe-cífica relativa ao setor de petróleo e gás natural.

Para a entidade, ao defenderem a flexibilização ou retirada do crité-rio de conteúdo local das licitações, as companhias de petróleo estão se posicionando “do lado oposto ao da indústria nacional fornecedora de máquinas e equipamentos”. daí a grande expectativa em relação à reunião do conselho Nacional de Política energética (cNPe), no dia 14 de dezembro, tendo na pauta o Pedefor, que propõe uma nova política para o setor.

dentre as sugestões levadas pela Abimaq ao Pedefor está a exigência de cl por macrosseg-mentos (máquinas e equipamentos, infraestrutura, sistemas, serviços e engenharia de projetos), a ex-tensão do repetro e uma política industrial efetiva para o setor, de modo a melhorar a competitividade da indústria hoje prejudicada pelo ‘custo brasil’. Inclui ainda maior clareza nas condições que permitem a solicitação de waiver por real in-viabilidade de compra no país, entre outras medidas mais operacionais.

Ação inusitadaO diretor executivo de Petróleo,

Gás Natural, bioenergia e Petroquí-mica da Abimaq, Alberto Machado Neto destaca que entre as medidas propostas para implementação em curtíssimo prazo com o objetivo de atrair investimentos por meio de novos leilões da ANP, apenas o

bônus de assinatura terá efeito no curto prazo em termos de aporte de recursos ao tesouro Nacional. “todo o resto demandará um tempo de maturação superior a sete anos. Por outro lado, dependendo das deci-sões a serem tomadas, caso excluam a exigência de conteúdo local, não só não teremos encomendas no brasil para os reservatórios já con-cedidos como também sofreremos mais ainda com a desativação dos vultosos investimentos realizados no parque industrial local nos últi-mos anos”, afirma.

ele vê com preocupação a es-tratégia da Petrobras e suas as-sociadas. “realmente é um fato inusitado a solicitação de waiver prévio antes da contratação. Mais ainda pelo fato de ter sido lançado um edital como se fosse certo obtê-lo (o waiver), com exigências de conteúdo local bem aquém do que está previsto no contrato”, pontua.

Alberto Machado Neto observa ainda que esse processo poderá

gerar uma questão bastante com-plexa quanto ao acompanhamen-to do contrato. “Qualquer aditivo posterior pode vir a descaracterizar as condições em que o waiver foi concedido, cabendo questionamen-to dos concorrentes que porventura tenham sido alijados da competi-ção”, acrescenta.

Para ele, não deixa de ser uma quebra de paradigma a solicitação de um waiver em bloco para uma encomenda que está sendo feita para o aluguel de um equipamento completo enquanto que o contrato tem as exigências de conteúdo lo-cal por item, conforme consta na ‘cartilha’ de cl. “Se for mantida a sistemática atual, a concessionária terá que comprovar que não con-seguiu adquirir o bem no brasil, e a concessão de um waiver global, sem as devidas comprovações das partes, certamente seria um peri-gosíssimo precedente”, agrega o executivo.

Acordo rasgadoele é endossado pelo diretor

regional da Associação brasileira da Indústria elétrica e eletrônica (Abinee), Paulo Galvão, que vai mais longe. “conceder ‘perdão an-tecipado’ parece significar rasgar qualquer regra e contrato existen-tes”, diz ele. “É também um con-trassenso, uma vez que uma das principais críticas feitas ao brasil no mercado internacional, condicionante de investimentos em países, é que falta estabilidade das regras”, ironiza.

Galvão opina que ações como esta demonstram que o conteúdo local, “que deveria ser instrumento de uma política pública baseada no poder de compra do estado, mas que vinha sendo utilizado como se

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fosse a própria política”, parece ter chegado ao seu triste final, a des-peito do fortalecimento de políticas ditas protecionistas inclusive nos países centrais.

Quanto à argumentação de que o que se busca com o waiver é uma proposta mais econômica, ele observa que “o mais barato” precisa ser apurado em cada caso. “No único waiver concedido até

agora, por dife-rencial que teria sido de cerca de 40%, constatou-s e , ap ura dos os custos não contabilizados, q u e f o r a e m verdade de apenas 8%”, pontua, lembrando ainda do ‘custo bra-sil’, já mencionado por outros. “Assim, como comparar preços? A comparação deveria ser entre os custos totais. e a forma isonô-mica de tratar bens nacionais com importados deveria passar por tratamento idêntico entre eles, com a obrigação de cumprimento de todos os itens acima, exigidos do fabricante nacional”, agrega Paulo Galvão.

ele endossa também o presi-dente do Sinaval, de que há in-teresses externos. “difícil saber o que há por trás desse interesse e da demonstração, segundo os níveis de exigência aqui mencio-nados (baixo índice de cl), das vantagens em gerar empregos e renda em outros países”, sublinha o dirigente da Abinee.

Isonomia é lastroPara a Organização Nacional da

Indústria do Petróleo (Onip), que tem como um de seus principais papéis ser um fórum de articulação e cooperação entre as empresas da cadeia produtiva, organismos governamentais e agências de fo-mento, com foco na ampliação da competitividade do setor, o con-teúdo local não pode ‘fazer água’.

Por isso, a concessão do waiver deve ser cuidadosa, na opinião de Bruno Musso, diretor-geral inte-rino da entidade. “temos grande preocupação com o processo de waiver generalizado. reconhece-mos a existência deste mecanismo, mas sua utilização deve estar res-trita aos casos efetivamente com-provados de impossibilidade de fornecimento local”, afirma.

ele salienta que o mecanismo do waiver deve passar por discus-sões e análises mais aprofundadas, mas o grande lastro da indústria nacional será a isonomia em rela-ção aos fornecedores internacio-nais. “Independentemente de como a questão vai evoluir, é preciso dar à indústria nacional condições iso-nômicas frente aos fornecedores internacionais”, complementa.

Musso opina que é difícil ava-liar qual impacto teria a isenção de conteúdo nas duas licitações da Petrobras, requeridas à ANP. “Não temos quantificação do im-pacto, mas é sabido que a indústria nacional se preparou e investiu para ampliar sua participação nos investimentos do setor. Não só a área naval offshore, mas toda a ca-deia espera e está preparada para atender demandas do setor”, frisa.

ele defende a estruturação de uma política industrial específi-ca, que ofereça condições para o aumento da competitividade da indústria nacional, maximizando sua participação sem onerar os in-vestimentos. “Não é trivial mas, por outro lado, é essencial”, conclui o dirigente da Onip.

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Não somente as entidades setoriais, mas as próprias federações da indústria de alguns estados vêm se posi-

cionando em relação ao risco de uma flexibilização que pode criar um cam-po minado para as empresas locais. “essa flexibilização pode significar o fim do conteú-do local”, afirma o vice-presidente da poderosa Fede-ração das Indús-trias do estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Ro-riz Coelho, que também é diretor do departamento de competitividade e tecnologia da entidade.

roriz observa que a crítica inter-na à política de cl deve-se a indícios de diferenças de preços entre deter-minados bens nacionais e impor-tados, sendo que boa parte dessas diferenças está relacionada ao ‘custo brasil’ e à apreciação cambial, e não à política em si. “O conteúdo local não é uma invenção brasileira. diver-sos países adotaram esse tipo de me-dida ao longo das últimas décadas, com significativos resultados para suas sociedades”, pontua, citando canadá, estados Unidos, Noruega e reino Unido. “São países produ-tores de petróleo que construíram uma sólida cadeia de fornecedores no segmento de petróleo e gás com aplicação de políticas adequadas de conteúdo local”, diz ele.

Por outro lado, roriz enumera os países que, apesar de serem grandes produtores de petróleo, não tiveram a estratégia e preocupação de de-senvolver a cadeia produtiva local e permanecem com significativas fragilidades no campo econômico

e social, como é o caso de Angola, bolívia, equador, líbia, Nigéria, Ve-nezuela e determinados países do Oriente Médio.

Por isso acredita que a flexibi-lização da regra do cl para novas licitações prejudicará não somente as empresas da cadeia de petróleo e gás, como também a economia como um todo. e exemplifica essa perda em números mensuráveis, levando em consideração o investimento de US$ 60,6 bilhões (r$ 206,0 bilhões) em exploração e produção no brasil pela Petrobras (Plano de Negócios 2017-2021) e os critérios atuais da política de conteúdo local.

A Fiesp estima que serão gerados ao longo dos cinco anos r$ 257,8 bilhões de produção em todos os setores na economia, r$ 113,5 bi-lhões em PIb, r$ 107,4 bilhões de tributos (federais + IcMS), 315 mil empregos diretos e indiretos ao lon-go dos cinco anos e r$ 12,1 bilhões em salários. “Se o conteúdo local for retirado, a tendência é que esses efeitos sejam perdidos. Vale ressaltar que os resultados estimados incluem os impactos diretos e indiretos sobre todos os setores da economia. dessa forma, fica evidente que os efeitos de encadeamento são cruciais para a recuperação da economia prin-cipalmente num contexto de crise acentuada como a atual”, avalia.

Discurso contraditórioPara o dirigente da Fiesp, a elimi-

nação da exigência de cl significa uma ruptura com o marco regulató-rio do setor construído ao longo de anos. “diversas empresas tomaram decisões de investimento vislum-brando um horizonte de longo pra-zo com política de conteúdo local.

O desmonte do cl é contraditório com o discurso do governo em prol do investimento. tem-se mais uma vez no brasil incerteza jurídica e regulatória, como tem ocorrido em diversos episódios”, conclui.

Afirmando que não houve consul-ta à Fiesp e às suas representadas por parte das empresas que participam da licitação das FPSOs para as quais a Petrobras solicitou o waiver, roriz afirma que uma anuência da ANP significará mudar as “regras do jogo com o jogo em andamento”. Isso por-que todas as operadoras participaram dos leilões tendo total conhecimen-to da exigência de cumprimento do índice de cl. “A indústria brasileira investiu durante anos para atender à demanda da exploração e produção de petróleo e gás e tem condições de ofertar equipamentos e serviços dentro das especificações exigidas e prazos estabelecidos”, afiança.

diante do cenário econômico nacional, ele frisa que é preciso concentrar esforços na recuperação da atividade econômica, que ainda continua com forte retração. “Os úl-timos dados do Instituto brasileiro

O reforço das federações

Sede da Fiesp, São Paulo

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Batalha naval: a indústria sai em defesa do conteúdo local

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de Geografia e estatística (IbGe) demonstram que entre janeiro e se-tembro de 2016 a queda do PIb é de 4,0%, ante igual período de 2015, e que essa é a maior queda para o período desde 1996”, pontua.

Por isso o executivo entende ser fundamental atrair novos investi-mentos na área de petróleo e gás. Mas pondera que mesmo diante do patamar atual do preço do petróleo e o fato de que a exploração em áreas de águas profundas é menos atrativa que em cenários como o do Oriente Médio ou do shale gas, o brasil ainda representa uma ótima oportunidade de negócio para os operadores. “Por-tanto, não podemos encarar a atração de investimentos nessa área como objetivo a ser alcançado a qualquer preço”, diz o dirigente, afirmando que utilizar esse enorme potencial do país para promover um maior desen-volvimento econômico e social deve ser a agenda para qualquer governo. “como exemplificado antes, países que adotaram esta estratégia pro-moveram maiores ganhos internos. Qual tipo de economia e sociedade o país almeja: o do primeiro grupo ou o do segundo grupo? Para a Fiesp, a resposta é óbvia”, conclui.

Contratos devem ser cumpridos

Posição similar, mas cuidadosa, tem a Federação das Indústrias do estado do rio de Janeiro (Firjan), estado que há décadas é a grande capital do petróleo. Status adquirido não somente por conta da produção da bacia de campos e, agora, a de Santos (que avança pelo sul do ter-ritório fluminense), como também por sediar grande fatia da cadeia produtiva, assim como a maior parte dos centros de pesquisa e desenvolvi-mento nesse setor, além das próprias majors como a Petrobras e outras pe-troleiras atuantes no país.

“temos convicção de que os con-tratos serão cumpridos. Não podemos

desconstruir os investimentos feitos no país ao longo das últimas duas décadas. As maiores economias mun-diais adotam práticas de conteúdo local, incluindo países-referência no desenvolvimento de seus merca-dos de petróleo e gás, como o caso do reino Unido e Noruega”, des-taca a gerente de petróleo, gás e naval do Sistema Firjan, Karine Fragoso.

Para ela, o brasil precisa aproveitar o novo marco do pré-sal, com multipli-cidade de operadores, para promover o aprimoramento e a simplificação das regras de conteúdo local, com valori-zação da produção local, seja ela de óleo ou da indústria de transformação. “O que é importante nesse processo, e que entendemos como uma oportuni-dade, é que sejam criadas condições de isonomia que perpassem todo o en-cadeamento produtivo, da oil company até seu último fornecedor”, afirma.

Apontando que entre 2011 e 2014 foram investidos no país mais de US$ 20 bilhões na construção de capacidade industrial para atender o mercado de petróleo e gás, Karine salienta que o brasil precisa mostrar segurança jurídica e ambiente pro-pício ao investimento, com aprimo-ramento e simplificação das regras.

Perdão, mas com regras claras“A regra de conteúdo local precisa

ser amparada por outros mecanismos que viabilizem a produção nacional e contribuam para maior competividade dos fornecedores. e quando falamos de competitividade, falamos de fato-res extramuros, do ambiente do país que precisamos construir para que a competitividade alcançada seja evi-denciada aqui e mundo afora”, frisa a gerente da Firjan.

Karine acredita que o pedido de waiver para os FPSOs Libra e Sépia

ainda deve passar por uma avaliação mais detalhada pela ANP, que deve ouvir a indústria nacional. e toca em um ponto que vem sendo objeto de discussões. “É necessário que o waiver seja regulamentado, prevendo consul-tas públicas ao mercado fornecedor de modo aberto e transparente. dessa forma, será possível saber exatamente onde estão os problemas e trabalhar para solucioná-los possibilitando uma participação mais eficiente da indús-tria nacional”, avalia.

de acordo com a executiva, somen-te se não forem atendidas condições competitivas de preço e prazo é que se pode isentar a operadora do cumpri-mento de conteúdo local, como ditam as regras do contrato de exploração e produção. essa é uma das propostas que a Firjan apresentou na consulta pública no âmbito do Pedefor.

“A ideia é que seja criado um sis-tema de comprovação de consulta ao mercado, e que ele possa ser um indica-tivo real de onde precisamos trabalhar para tratar as questões que impedem essa indústria de avançar. também su-gerimos a constituição de um comitê consultivo no Pedefor, de forma a ga-rantir a representatividade da cadeia produtiva no processo”, conclui.

Efeito devastadorÉ a avaliação curta e objetiva do

coordenador do comitê de compe-titividade em Petróleo, Gás, Naval e Offshore da Federação das Indús-trias do estado do rio Grande do Sul

(Fiergs), Marcus Coester, sobre o impacto que pode-rá ter uma possí-vel autorização da ANP dispensando o cumprimento de conteúdo local

para as plataformas de Sépia e libra, no pré-sal.

Afiançando que não tem conheci-mento de que os fornecedores gaúchos tenham sido consultados para forneci-

especial conteúdo local

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mento de plataformas, subsistemas ou componentes, coester assinala que uma concessão do waiver nesse caso se constitui em um precedente danoso para a indústria brasileira. “É devas-tador para o brasil por marcá-lo como um país que não cumpre contratos. Além disso, o governo estará punindo, com esta atitude, as empresas que to-maram risco e investiram no segmento. Por exemplo: abrindo fábricas e centros tecnológicos no brasil ou mesmo o investimento de grupos industriais brasileiros”, diz ele.

A federação gaúcha afirma que existe falta de visão estratégica so-bre este tema, haja vista que ocorreu uma redução significativa de investi-mentos no setor em nível mundial e não somente no brasil. “A sinalização que o governo passa para o merca-do é de que o brasil está abdicando de competir enquanto outros países estão colocando todas suas fichas nas poucas oportunidades existen-tes”, avalia coester.

ele discorda dos que afirmam que o cl não trouxe resultados, des-tacando seu impacto na economia e no sistema produtivo e o proces-so de amadurecimento necessário. “Implantar uma nova indústria leva uma década. Sem falar na depuração deste sistema: algumas empresas prosperaram, há as que enfrentaram dificuldades e outras que desapare-cem, além das que surgem”, analisa.

Por isso a mudança abrupta neste ambiente será prejudicial ao país como um todo, diz ele, defendendo ser preciso buscar a evolução na po-lítica do conteúdo local. ele sugere, entre outras ações, estabelecer a meta de 50% e aprimorar o sistema de certificação do produto nacional.

“É importante lembrar que os campos do pré-sal apresentam uma produtividade excepcional e uma taxa de sucesso acima da média mundial. Não faz sentido o brasil se contentar em ser um mero produtor de petróleo”, pondera. ele concorda

com o dirigente da federação paulis-ta, afirmando que é preciso persistir num modelo como a Noruega e es-cócia, que geraram enorme riqueza para a sociedade por desenvolver a tecnologia e indústria e não apenas vendendo suas reservas de petróleo.

“Outro esforço importante, que compete ao governo, é recuperar as empresas atingidas pela lava-Jato, como fizeram outros países que ti-veram problemas semelhantes e al-cançaram o sucesso em reposicionar suas empresas no ponto de vista de compliance”, complementou o diri-gente gaúcho.

Retrocesso na indústriaUm dos berços da engenharia do

petróleo, ‘caçula’ da engenharia de minas, o estado mineiro, que não tem produção de petróleo mas uma cadeia de fornecedores de peso, também se juntou à ‘esquadra’ em defesa da po-lítica de conteúdo nacional (Pcl). razão pela qual se posiciona contra a isenção pedida à ANP pela estatal.

“Acreditamos que a ação de per-dão da ANP certamente represen-tará o fim de muitas empresas que investiram com perspectiva em um plano de negócios prometido pelo governo e pela principal petroleira do país”, declara o gerente de Política Industrial (GPI) da Federação das Indústrias do estado de Minas Ge-rais (Fiemg), Melquisedec de Freitas corradi.

ele afirma que o problema vivido por parte das empresas do setor não se deve à indústria brasileira e sim a “ações equivocadas na condução de seus negócios”. e agrega que a indústria tem sido “vítima de po-líticas tributárias com concessões de regimes especiais equivocados e também de ações descoordenadas” das principais demandantes de bens e serviços.

corradi conta que um número reduzido de empresas mineiras está elaborando algumas propostas para

os potenciais operadores dos FPSOs que estão sendo licitados. e que nas raras consultas recebidas, as empresas mineiras são informa-das de que haverá comparação e consulta a concorrentes externos. “A maior preocupação dos empre-sários, nesse processo, é de estarem criando provas contra eles mesmos no futuro, pois são várias as evidên-cias de que os fornecedores, princi-palmente os asiáticos, não atendem a muitos requisitos da Petrobras. requisitos esses que são impostos aos fornecedores nacionais”, revela o titular da GPI.

A federação mineira destaca que a implementação da Pcl estimulou a instalação/expansão de muitas empresas fornecedoras de bens e serviços no brasil. “Vários segmentos se modernizaram e, hoje, competem internacionalmente na produção de equipamentos de alta tecnologia, o que demandou muito tempo, traba-lho sério e vultosos investimentos, sobretudo em P&d. A extinção dessa política significará um retrocesso”, tem reiterado a entidade.

corradi destaca que uma das per-das mais graves será a de “aptidões desenvolvidas por empresas e provi-sionais para produtos com alto valor tecnológico agregado”, lembrando que a indústria de transformação gera empregos qualificados e for-mais. Por isso defende a isonomia para essa indústria e as empresas de projetos de engenharia possam competir com igualdade de condi-ções com as estrangeiras.

“Se houver concessões de regi-mes especiais para um lado, pre-cisaremos que esses instrumentos sejam aplicados em toda a cadeia produtiva. e se o nível de inspeções for relaxado para os importados, precisamos garantir o mesmo para a indústria brasileira. Ou seja, te-mos que competir de igual para igual, mas com as mesmas regras no jogo”, conclui.

Batalha naval: a indústria sai em defesa do conteúdo local

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O ‘bombardeio’ ao conteúdo nacional atingiu em cheio também as empresas de engenharia do país, com

larga experiência na área naval e offshore e expertise reconhecida in-clusive no mercado externo, como Projemar, Forship, Oceânica, entre outras. e atingiu em cheio as entida-des de classe, pois estas embarcaram na luta pela indústria nacional.

A Associação brasileira de en-genharia Industrial (Abemi) vê com preocupação a possibilidade de uma isenção de cl em novas licitações sem um debate mais aprofundado, reunindo todos os segmentos da ca-deia produtiva de óleo e gás. “A aber-tura para flexibilização das regras de conteúdo local é um precedente preocupante, pois pode reduzir a competência tec-nológica existente no setor e preju-dicar a cadeia de fornecedores”, assinala Nelson Ro-mano, presidente da Abemi.

“A Abemi reafirma a capacita-ção e a competitividade da indústria brasileira em todos os segmentos da engenharia de projetos e mantém seu compromisso de mostrar a todo o setor essa competência”, frisa o dirigente. Prova dessa competência, segundo ele, é o fato de ter havido contatos pontuais de alguns poten-ciais afretadores com empresas de engenharia de projeto, “quando ficou clara a capacitação e competitividade brasileira em todos os segmentos da engenharia de projetos”.

Na visão do empresário, a perspec-tiva é de que uma decisão favorável à isenção, por parte da ANP, terá forte impacto no setor. “Seria a primeira vez

na história da engenharia moderna que o brasil reduz a defesa da capa-citação tecnológica no setor”, obser-va. romano alerta que sem o apoio das medidas de estímulo à cadeia nacional, a engenharia de projetos no segmento poderá diminuir e até desaparecer. “Afetaria profundamente a área de construção e engenharia, geradora de milhares de empregos mas que tem sua competitividade prejudicada pelo ‘custo brasil’, ques-tões tributárias, legislação trabalhista superada, e outros”, complementa.

Insegurança jurídicaO novo presidente da Sociedade

brasileira de engenharia Naval (So-bena), luis de Mattos, que em janeiro de 2017 assume o comando da enti-dade que representa a comunidade técnica do país nessa área, alerta sobre a insegurança jurídica que medidas desordenadas podem trazer.

“É extremamente importante man-ter o que foi acordado no passado. A insegurança jurídica afasta investi-dores no longo prazo. O país não pode mudar as regras toda vez que muda de governo”, frisa. ele sugere alternativas

para as próximas rodadas, como a de bonificar quem atinge o cl ao invés de multar quem não cumpre o acordado, e investimentos direcionados.

“Mais importante do que pagar royalties é gerar empregos (cláusula de conteúdo local) e desenvolvimento tecnológico (cláusula de P&d). Seria interessante que a verba de 0,5% de P&d para a indústria fosse utilizada em empresas com engenharia e sede no brasil. desta forma estaríamos desenvolvendo fornecedores locais, no modelo norueguês, e o conteúdo local deixaria de ser um desafio no longo prazo”, avalia.

ele diz que a Sobena aguarda uma posição oficial da ANP em relação ao pedido de waiver da Petrobras, lem-brando que a agência havia afirmado que “seria necessário uma audiência pública para poder se posicionar quan-to ao pedido” tanto no congresso da Sobena (realizado no início de novem-bro) quanto em reunião do conselho da Onip. “todos os pedidos anteriores de waiver foram tratados desta forma. A indústria tem que se preparar para ser ouvida antes e durante a audiên-cia”, enfatiza o dirigente.

Engenharia brasileira ‘embarcada’

especial conteúdo local

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ele observa que um perigoso pre-cedente já foi criado com a retirada do cl da 4ª rodada de acumulações marginais, impactando os fornece-dores locais de sondas onshore e demais equipamentos. “A isenção do compromisso de conteúdo local dos FPSOs que estão sendo licitados no momento atual de estagnação do país é muito sensível. É preciso encontrar o equilíbrio entre o retorno financeiro da concessionária e o de-senvolvimento do parque industrial do país que faz a concessão”, reitera.

Mattos endossa o que outros se-tores já reiteraram sobre o ‘custo bra-sil’ para as empresas, afirmando ser quase impossível para uma empresa brasileira tornar-se competitiva com uma companhia externa “devido a nossa falta de infraestrutura, a nossa carga tributária, aos nossos encargos trabalhistas, a nossa burocracia e ao peso do nosso estado”, assegura.

e rebate as críticas ao modelo bra-sileiro de cl, apontado como ‘fator de risco’ por operadores. “É importante frisar que a Organização Mundial do comércio (OMc) jamais questionou a política de conteúdo local. É um modelo internacional, sendo usado inclusive em países como estados Unidos e Austrália”, salienta. “Sem a política de conteúdo local, não há motivação para fazer no brasil, por melhor que seja nossa tecnologia”, conclui o presidente da Sobena.

Ponte para o passado Para o presidente e ceO da

Forship engenharia, Fábio Fares, o país ‘caminha’ para o retrocesso. “em poucos me-ses atravessamos uma ponte que nos levou para 15 anos atrás, época em que muitos acreditavam que não tínha-mos mesmo condições de construir plataformas offshore aqui no brasil”,

observa o executivo da empresa que consolidou a engenharia do comis-sionamento no país e desenvolve atividades no exterior, inclusive para estaleiros asiáticos.

ele recorda que nos balanços da Indústria do Petróleo realizados na Firjan, especialmente no último, constatou-se que a nova indústria, em dez anos, tinha tido êxito em se capacitar e que era necessário ago-ra torná-la mais competitiva. “com base nas experiências de outros paí-ses, em particular das indústrias do petróleo sul-coreana e norueguesa, que levaram cerca de 20 anos para conquistar a liderança no mercado, prevíamos um período de mais dez anos para atingirmos um nível de competitividade internacional. e o principal caminho apontado foi o desenvolvimento da produtividade e o aprimoramento da lei de con-teúdo local e das políticas fiscais de fomento”, observa Fares.

Por isso ele critica a mudança das regras: “estamos diante do caso que ‘para jogar fora a água suja jogamos a bacia e a própria criança (leia-se, milhares e milhares de empregos)’. Por que abandonar uma política in-dustrial bem-sucedida no meio do caminho? tenham o bom senso de não dizer que é para combater a cor-rupção”, dispara, incisivo.

Fares avalia que se a Petrobras, como empresa estatal, criar um pre-cedente com o pedido de waiver, as petroleiras estrangeiras, que todos esperam venham operar campos no pré-sal, tampouco vão acatar o conteúdo local como política, ainda mais se isso não as favorecerem nas disputas de novos leilões. “Graças à sua importância geopolítica, o pe-tróleo é assunto de segurança na-cional em todo o mundo. Ninguém se omite nesse tema, muito menos os países desenvolvidos”, destaca o executivo. “O mercado não cuida disso, por definição. cada um cuida de suas empresas, algumas vezes de

seu setor e, no máximo, através de instituições como o Sinaval, Firjan, Onip e federações da cadeia produ-tiva na qual estão inseridas. Quem cuida dos interesses do estado é o próprio estado, mas, para isso, pre-cisa haver projeto de nação. É isso que está faltando para se bancar o conteúdo local”, afirma Fábio Fares.

Para o executivo, que tem em sua bagagem e da empresa que criou há quase 18 anos, dezenas de projetos de FPSOs construídos no exterior e no brasil, o impacto da quebra das regras será trágico. “Primeiro, fica-ríamos desmoralizados por quebrar o que foi regulamentado. e retrocede-remos para aquele cenário de ‘ven-ce o mais forte e o mais influente’. com nossa indústria enfraquecida e a onda protecionista em curso no mundo, o resultado seria patético: com tamanha riqueza no pré-sal, perderíamos uma oportunidade his-tórica para o fortalecimento de nossa engenharia”, dispara.

Argumentos duvidosos“É essencial discutir a questão do

cumprimento do conteúdo local esta-belecido nos contratos com os con-cessionários”, afirma Tomazo Garzia Neto, presidente da Projemar, tradi-cional fornecedora de serviços para a indústria naval e offshore e respon-sável por projetos emblemáticos de-senvolvidos para a própria Petrobras. “O estabelecimento dos níveis de con-teúdo local foi ampla e publicamente discutido e acordado com todos os setores envolvidos, então, cumpra-se o contrato!”, afirma o executivo, lembrando que isso sempre foi dito à indústria nacional.

Garzia Neto afirma que são dú-bias as alegação de que os níveis de preço para atender os requisitos de conteúdo nacional são altos, pois o

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acesso às informações desse proces-so não são públicas. “temos várias questões a esclarecer. Por exemplo: quais as exigências de performance contratual feitas para as empresas convidadas a participar nas licitações de libra e Sépia? elas são semelhan-tes àquelas praticadas internacio-nalmente?”, questiona o executivo.

ele frisa que não só o conteúdo local mas outras exigências estão elevando o valor dos contratos. “Isso já aconteceu antes com licitações feitas no brasil, como a da P-57”, diz ele, lembrando que na primeira licitação, um dos requisitos era de que deveria ser construído um casco novo seguindo um projeto desen-volvido pela Petrobras (não poderia ser conversão). “Os preços ofertados foram altos, devido, sobretudo, a isso. A Petrobras então decidiu afretar a unidade no exterior e aceitou que fosse utilizado um casco convertido. A solução da conversão foi uma op-ção mais barata, mas não tinha sido aceita na época da licitação feita no brasil”, destaca.

ele diz ter conhecimento de que tradicionais fornecedoras brasilei-ras de módulos e equipamentos não foram contatadas pelas empresas convidadas para a licitação de libra e Sépia, diferente da Projemar, que foi consultada para a prestação de serviços nos dois projetos. e des-taca a diferença de atitude entre as participantes. “Percebi que um grupo tinha o propósito de atender ao requisito contratual de conteúdo nacional, enquanto outro deixou cla-ro não querer fazer nada no brasil”, revela tomazo.

Segundo ele, durante o trabalho desenvolvido, o primeiro grupo de-monstrou interesse na enorme expe-riência acumulada pela Projemar nos grandes empreendimentos da área offshore. “O trabalho não se restrin-giu apenas à preparação da proposta para ser apresentada ao licitante. houve um grande esforço da Pro-

jemar e do grupo para fazer um benchmarking de escopo e preço, para que ambos atendessem as necessidades do licitante. Por isso, tenho certeza de que as propostas por nós apresentadas foram bastante competitivas e dentro dos parâmetros desejados”, complementou.

Justamente por ter participado desse processo, o presidente da Pro-jemar não vê razão para se alterar as condições de conteúdo local ampla e publicamente discutidas e acordadas com todos os setores envolvidos. “A estratégia de conteúdo local é uma política de governo e de um país e não de uma empresa, por maior que seja seu porte”, alerta.

e lembra que outros países, in-cluindo os asiáticos, estão adotan-do medidas protecionistas e meca-nismos de subsídios para garantir continuidade operacional de sua indústria. “A questão do conteúdo local se insere neste contexto inter-nacional extremamente crítico pelo qual passa a indústria do petróleo. todos os países com fornecedoras das indústrias do petróleo estão pro-curando preservá-las e o brasil não deve abrir mão disso”, frisa.

“O momento de crise pelo qual estamos passando aqui no brasil não permite que se adotem posições que possam privilegiar somente um seg-mento da indústria de petróleo, neste caso as operadoras, em detrimento de todo o restante da cadeia produtiva dessa mesma indústria. eliminar os parâmetros de conteúdo local signi-fica atacar o efeito e não as causas”, conclui tomazo Garzia.

conteúdo local não é escudo “Não queremos o conteúdo local como escudo para preços mais al-tos e baixa eficiência. Queremos o conteúdo local apenas para participar do jogo! Queremos ser convidados

para as concorrências e, a partir daí, termos a oportunidade de apresentar toda a nossa capacidade e compe-titividade”, afirma Daniel Cueva, diretor da Oceânica engineering, outra empresa de engenharia es-pecializada na área offshore e com diversos projetos no exterior.

ele lembra que o conteúdo local foi de extrema importância para o desenvolvimento de empresas na-cionais como a própria Oceânica no segmento de engenharia, e a hbr, no segmento de equipamentos, am-bas do mesmo grupo. “Mais do que uma proteção, a política de conteúdo local permitiu que empresas como as nossas fossem consultadas e par-ticipassem do jogo. Algo que não acontecia antes, quando a Petrobras, epecistas e fornecedores internacio-nais iam diretamente para o mercado externo”, diz cueva.

Quando foram obrigados a estu-dar os fornecedores locais, passaram a fazer a qualificação e a compreen-der melhor a rede brasileira de supri-mentos. “As duas empresas do nosso grupo surgiram como boas opções, estreitaram o relacionamento com os clientes, passando a ser consultadas para todos os projetos de FPSO desde então”, enfatiza o engenheiro.

Prova da importância desse pro-cesso, segundo ele, foram os projetos de sucesso apresentados pelo grupo para todos os FPSOs replicantes e da seção onerosa. “O índice de conteú-do local foi atingido, e com preços e prazos competitivos”, acrescenta.

Aliada da indústria O executivo diz ter ficado sur-

preendido com a redução unilateral da Petrobras dos índices de conteúdo local, ainda mais com a redução a zero para a parcela da engenharia e baixo índice para equipamentos brasileiros.

ele opina que a importância da participação da engenharia nacio-nal está no fato de que os projetos

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buscam especificar componentes, equipamentos e pacotes que estejam alinhados com a cadeia de forneci-mento brasileira. “É muito provável que um projeto feito inteiramente no exterior, sem olhar para nossa capa-cidade produtiva, tenha custos mais elevados de construção no brasil, simplesmente por que não foi adap-tado para cá”, explica daniel cueva.

ele conta que recentemente preencheu um formulário desenvol-vido pela Abimaq, no qual detalhou os fornecimentos realizados pelas empresas do grupo, destacando os índices de conteúdo local e os certi-ficados obtidos. “Uma vez que a ANP possui registro de todos os certifica-dos de cl emitidos, por que não faz uma análise dos índices por produto para cada projeto passado e apre-senta os resultados à sociedade?”, pergunta o engenheiro.

ele diz ter recebido consultas de alguns participantes da licitação dos FPSOs devido ao relacionamento já existente. “Alguns nos consideram fornecedores potenciais. Mas para outros, sobretudo os que nunca exe-cutaram projetos no brasil, qual o sentido de consultar uma empresa brasileira na fase de licitação, já que praticamente não existe conteúdo lo-cal?”, argumenta. “Ou seja, empresas estrangeiras que estão elaborando suas propostas na Ásia, europa ou eUA vão utilizar seus fornecedores próximos desses locais deixando a cadeia brasileira de fora!”

daniel cueva destaca que, no último ano, o grupo iniciou um forte movimento interno para promoção da exportação. “O mais surpreendente foi verificar o reconhecimento do mercado internacional em relação à nossa capacidade técnica em projetos offshore. Felizmente tivemos resulta-dos positivos, com vendas de sucesso para os eUA e Oriente Médio. Mas para vender no brasil, somos obri-gados a provar nossa competência a cada licitação”, espanta-se.

Eficiência deve ser premiadaVisão similar tem Gildeon Luiz

dos Santos Filho, sócio-diretor da ergossol, empresa brasileira atuante nas áreas de en-genharia, ener-gia, otimização energética re-cursos hídricos e meio ambiente,

que vem prestando serviços para uma das empresas convidadas para as licitações dos dois FPSOs, já na fase de proposta final.

Gildeon acredita, caso a ANP conceda o waiver, que isso terá forte impacto na cadeia de fornecedores da indústria naval e offshore do país. “estamos falando de um parque in-dustrial que foi construído e de em-presas que aqui se estabeleceram com a expectativa de que haveria uma demanda interna em função do re-quisito de conteúdo local”, salienta.

Assim como outros empresários e dirigentes de entidades, ele afir-ma que “além da queda na geração de empregos, da ociosidade de mão de obra qualificada que deixará de ser aproveitada e das inovações e desenvolvimentos tecnológicos que não mais vão ocorrer, haverá a cre-dibilidade perdida junto aos empre-sários que acreditaram e investiram no brasil, esperando algo que não aconteceu”.

Gildeon destaca a importância do conteúdo local, mas defende que o índice seja aplicável no nível glo-bal do projeto, sem definição de per-centuais mínimos para todos os itens de fornecimento, para dar liberdade aos operadores de escolherem as cadeias de fornecimento mais com-petitivas localmente. “Isso ajuda a viabilizar os projetos, evita favori-tismos e permite que os segmentos mais eficientes da indústria sejam premiados, criando um ambiente de constante busca por eficiência, inovação e competitividade em toda

a cadeia”, acredita. “Obviamente, exceções devem ser consideradas, mas apenas para setores chaves, que funcionam como fortes indu-tores na geração de conhecimento e tecnologia, como é o caso da en-genharia”, frisa.

O empresário acredita ser im-portante a busca de um equilíbrio. “É sabido que o alto conteúdo local estabelecido em anos anteriores aca-bou provocando uma dificuldade e encarecimento dos projetos, inclusive com atrasos de fornecimento e outros problemas. Mas isso não significa que o cl seja algo ruim e que deva ser abolido”, espanta-se.

Para ele, é necessário sim que seja ajustado, para favorecer os seto-res em que o país tem mais eficiên-cia e vocação para atender de forma competitiva. “e quem deve definir isso é o mercado, sem a intervenção da ANP. Não adianta, por exemplo, impor 100% de cl para um setor no qual não temos capacidade suficien-te de fornecimento e definir 30% em outro, onde somos mais competitivos e temos capacidade para fornecer a todo o mercado. “O melhor caminho é estabelecer requisitos de conteúdo local gerais, deixando que o merca-do escolha quais são os setores que deverão receber as encomendas”, conclui.

Interesses de quem?O presidente do clube de enge-

nharia, uma das mais tradicionais entidades de classe do país, também integra a trincheira naval. “A manu-tenção da política de conteúdo local é essencial para a preservação da capacidade in-dustrial do país”, afirma Pedro Ce-lestino Pereira. O workshop que a entidade promo-veu em novembro faz parte dessa estratégia de defesa, na qual ele é

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um dos primeiros a ir para o ataque: “A alegação da Petrobras de que é mais barato comprar no exterior renega seu papel como âncora do desenvolvimento industrial brasileiro desde sua fundação em 1953. ela hoje é responsável por uma cadeia de mais de cinco mil fornecedores, nacionais e estrangeiros aqui insta-lados”, salienta.

Segundo Pereira, comparar pre-ços internos com externos exige que se leve em conta a isenção de im-postos propiciada pelo repetro, o programa de renúncia fiscal de maior envergadura da nossa história. “É tão lesivo à economia nacional que a

Petrobras dele se utiliza, ao contratar obras e serviços a partir de sua filial holandesa”, alerta.

citando grupos internacionais, como a Ge, halliburton, entre outras, que instalaram centros de pesquisa no país, Pedro celestino questiona qual a segurança jurídica que está sendo dada a empresas estrangeiras que vêm para o brasil, contribuindo para o desenvolvimento, gerando empregos e tecnologias, pagando impostos. “Não há segurança jurídica se o Governo de ocasião adota a po-sição de colonizado, abrindo mão do nosso mercado, para gerar empregos no exterior?”.

Para ele, caso a ANP delibere o waiver sem consulta pública ao setor, “ficará claro que a agência reguladora terá sido capturada pelas petrolíferas estrangeiras. Portanto, não será estranho que se alinhe com os interesses delas, em detrimento dos interesses nacio-nais”, afirma o empresário. “com a desestruturação de empresas e de equipes, e a destruição de empre-gos, resultados imediatos da quebra da política de cl, no médio prazo reverteremos à condição colonial, de exportadores de proteínas vege-tais e animais, de minérios... e de petróleo bruto”, finaliza.

ESSA É A VISãO DO secretário executi-vo da Associação Brasileira dos Produ-tores Independentes de Petróleo (Abe-pip), Anabal Santos Jr. Lembrando que a

entidade representa companhias que atuam mais na exploração e produção terrestre de hidrocarbonetos, ele prefere não se manifestar sobre a

questão do waiver para os FPSOs. “Não estamos qualificados a responder sobre a capacidade de a indústria local atender à demanda de operadores no ambiente offshore”, explica.

Mas enfatiza que a Abepip é uma das entidades que se posicionaram em defesa do conteúdo local no Minis-tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). “Conteúdo local é uma ideia que ninguém pode ser contra. Mas acredito que precisa ser aprimorada”, diz.

Segundo ele, não foi realizado um estudo técnico mais detalhado que respalde os índices definidos pela ANP. “Há uns cinco anos, a Booz & Company fez uma pesquisa a pedido

da Onip, na qual listou um vendor list de quase 400 empresas do setor de óleo e gás. Com base no relatório apresentado, constatamos que não há um estudo consistente que suporte os índices de conteúdo local estipulado nos contratos”, argumenta.

Outra discrepância, de acordo com sua visão, é o custo da certificação. “Há casos em que o processo de cer-tificação custa mais do que o próprio serviço. Não entendemos por que a ANP não poderia utilizar a declaração

de origem fornecida pelas federações das indústrias de cada estado, que é aceita no Mercosul e tem custo míni-mo?”, questiona o dirigente da Abepip.

“A questão da competitividade é crucial. O ‘custo Brasil’ é perverso com a economia do país. A ideia bási-ca do conteúdo local de criar riqueza para o país, gerando empregos, insta-lação de indústria, é importante. Mas não pode ter um custo maior do que o benefício. É preciso racionalidade nessa certificação”, aponta.

Certificação derruba política de conteúdo local

Oportunidades x DesafiosPoucos fornecedores habilitados em grande parte do fornecimentoconteúdo local

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O PRESIDENTE DA SOCIEDADE Brasilei-ra de Geofísica (SBGf), Jorge D. Hilden-brand, observa que não cabe à entidade se manifestar sobre as licitações das pla-taformas para Libra e Sépia por tratar-se de um segmento da indústria relacionado à cadeia de produção. “Fora, portanto, do nosso escopo de atividades”, diz.

Mas acredita que a política de CL precisa ser flexibilizada para reduzir os custos locais e tornar o Brasil competitivo para os investidores, sejam nacionais ou estrangeiros. “Assim, teremos mais atividade nas fases de exploração e desenvol-vimento dos campos, gerando mais oportunidade de emprego para nossos geofísicos, geólogos e engenheiros”, avalia.

Hildenbrand pondera que tal processo também vai trazer novas tecnologias que contribuirão para elevar a taxa de su-cesso na exploração, agilizar a implantação dos sistemas de produção, baixar custos e melhorar a qualificação dos nossos técnicos que farão uso destas tecnologias.

Hildenbrand acredita que dessa forma serão criadas as condições necessárias para que haja continuidade de demanda por bens e serviços da indústria, “diluindo os custos para produção local e/ou de importação dos recursos, ao mesmo tempo em que elevaria a qualificação da mão de obra local”.

Ele afiança que a SBGf é favorável à exigência de conte-údo local, desde que seja mais flexível para não inviabilizar projetos de grande porte que demandem tecnologias não dis-poníveis no país. “Há produtos que não temos como produzir no Brasil com eficiência e a custos razoáveis, mas há outros produtos e serviços que poderíamos, sim, produzir aqui de forma competitiva”, observa.

Por isso avalia que as isenções solicitadas pela Petrobras na licitação dos FPSOs “seriam excepcionalidades necessá-rias pela premência de tempo, ou por outro fator de ordem tecnológica”. Mas pondera: “elas devem ser analisadas caso a caso e somente concedidas quando plenamente justificáveis”.

Quanto ao segmento que representa, ele explica que, com algumas exceções, em projetos que envolvem alta tec-nologia, não há necessidade de utilização de mão de obra estrangeira no segmento de serviços da SBGf. “Na área de sísmica, somos capazes de processar dados com índice de nacionalização superior a 85%. Já na aquisição sísmica os índices das equipes são mais baixos, pois a operação é feita com equipamentos quase 100% importados. Ou seja, a parcela nacional do preço dos serviços está diretamente relacionada com a mão de obra”, observa.

Segundo ele, na aquisição de sísmica terrestre o con-teúdo local mínimo seria da ordem de 40%, enquanto que na aquisição marítima não se pode garantir mais do que 5%

a 10% de conteúdo local. “Outros métodos geofísicos que fazem parte do rol de serviços demandados pela indústria de O&G, geralmente referidos como levantamentos não sísmicos, também têm baixo conteúdo local porque a par-cela maior do preço está atrelada aos equipamentos 100% importados”, explica.

Assim, ele defende a continuação do Repetro, regime de importação temporária com impostos suspensos para bens utilizados pela indústria de O&G, cuja interrupção em 2019, se confirmada, produzirá grande impacto no preço dos serviços de geofísica.

“No que concerne aos equipamentos utilizados pelas em-presas de serviços, o valor dos impostos e taxas praticamente dobra o preço do bem adquirido no exterior. São recursos de-senvolvidos e fabricados lá fora há mais de meio século. Sua fabricação no Brasil não seria viável por não haver mercado interno (escala) para justificar os investimentos necessários à implantação dessa indústria no país. E ainda que o fizéssemos visando o mercado externo, não teríamos competitividade para concorrer com os fabricantes já estabelecidos nos centros mais desenvolvidos”, conclui.

A flexibilização deve ser respaldada em debate

Batalha naval: a indústria sai em defesa do conteúdo local

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ANúNCIOS DE MUDANçAS NA POLíTICA DE EXPLORAçãO E PRODUçãO E

NOVOS LEILÕES, ALIADOS A MúLTIPLOS EVENTOS, DãO O TOM DA MAIOR

FEIRA E CONFERêNCIA DE óLEO E GÁS DA AMéRICA LATINA

eventos

NA ERA DCobertura Rio Oil & Gas 2016

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Com uma audiência de três milhões de pessoas no ambien-te digital, a rio Oil & Gas 2016 – expo & conference confirma

a relevância dessa indústria que passa por um momento difícil no país, agravado pelos baixos preços do petróleo no mercado interna-cional. Ainda que com um número menor de expositores e de público, a 18ª edição, realizada entre os dias 24 e 27 de outubro, no rio-centro (rJ), diferenciou-se pela programação extensa em função de diversos eventos simultâneos.

O maior evento de petróleo da América latina, realizado há mais de 30 anos, foi a ‘tribuna’ escolhida pelo governo para fazer diversos anúncios: da indicação do novo diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e biocom-bustíveis (ANP) a alterações na política de exploração e produção de hidrocarbonetos (incluindo con-teúdo local) e novos leilões.

Mais enxuta, a rOG 2016 reuniu as principais operadoras e forne-cedores da cadeia produtiva local, autoridades, executivos e jovens profissionais do setor, assim como startups, novas empresas e lide-ranças da indústria. A expectativa dos organizadores é de que sejam gerados negócios no valor de r$ 181 milhões nos próximos 12 me-ses em decorrência da tradicional rodada de negócios realizada pela Organização Nacional da Indús-tria do Petróleo (Onip) e o Serviço brasileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas empresas (Sebrae).

Sob o tema 'caminhos para uma indústria de petróleo competitiva', a feira abriu espaço para debates, palestras e apresentações técni-cas que contemplaram as áreas de downstream, upstream, gás e energia, governança, sustentabili-dade, SMS, compliance e geopolí-

tica, estendendo-se para indústria 4.0 e novas lideranças nos eventos paralelos como o 22º encontro de Asfalto, nas arenas de tecnologia, do conhecimento e de Sustenta-bilidade, nos fóruns Financeiro,

de engenharia, de compliance e e&P Onshore.

“A rio Oil & Gas 2016 foi um grande sucesso, pois apresentou números exuberantes”, contabili-zou o presidente do Instituto bra-sileiro de Petróleo, Gás e biocom-

bustíveis (IbP), Jorge Camargo. “Nunca tivemos tantas presenças importantes as-sim”, comemo-rou, referindo-se à presença do

presidente Michel temer, ministros e governadores, entre outros, na abertura do evento.

Para o dirigente do IbP, os anúncios e discursos das autorida-des “demonstraram que o governo atual será parte da solução” e não “um problema”, apontando como altamente positivas as sinalizações de uma possível extensão do repe-tro (regime aduaneiro especial para o setor) e “para uma política focada e factível de conteúdo local”.

Abertura de anúnciosA decisão de antecipar o início

da rOG 2016 para uma segunda-

eventos

uM DOS PRINCIPAIS DA indústria do petróleo, o Prêmio Leopoldo Miguez foi conferido a João Carlos De Luca, ex-diretor da Petrobras (onde traba-lhou durante 24 anos), ex-presidente da Repsol YPF Brasil e atual sócio da Barra Energia, que liderou o IBP por 14 anos.

O presidente do IBP, Jorge Ca-margo, destacou os “valores morais e éticos que pavimentaram a grande liderança” de De Luca, a maior de uma geração inteira de petroleiros.

Prêmio Leopoldo Miguez

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IBP

Números da ROG 2016• Mais de 140 palestrantes

• 34.200 visitantes

• 3.920 congressistas

• 540 expositores

• 300 jornalistas

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-feira (até então, ela abria as por-tas na terça-feira e se estendia até sexta-feira) agradou os participan-tes. e facilitou a participação de temer, ministros e outras autori-dades, uma vez que é um dia mais ‘fraco’ em brasília, onde apenas as negociações se repetem por todos os dias do ano. temer deixou para as autoridades da área a função de anunciar as mudanças que o governo pretende implementar.

O ministro de Minas e energia, Fernando Coelho Filho, destacou

a importância de uma nova políti-ca de conteúdo local e sinalizou que o repetro, regime adua-neiro especial de exportação

e de importação de bens que se destina às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural, poderá ser estendido.

ele também anunciou que ha-via encaminha-do no mesmo dia 24 à casa civil, o nome de Décio Oddone, ex-executivo da Petrobras e di-retor de Projetos

'INOVAçõES E DESAFIOS da Pavi-mentação Asfáltica no Brasil' foi o tema do 22º Encontro de Asfalto, um dos mais antigos e tradicionais even-tos promovidos pelo IBP, que dessa vez aconteceu em paralelo com a ROG 2016. uma oportunidade para os agentes dessa indústria debate-rem as novas perspectivas, desafios e oportunidades do segmento com os principais stakeholders da cadeia de pavimentação asfáltica.

O encontro teve como propó-sito fomentar discussões acerca do desenvolvimento de produtos e tecnologias para pavimentação

asfáltica, abordando questões de caráter normativo, econômico, téc-nico, socioambiental e regulatório, bem como os aspectos relacionados a mercado e investimentos.

O ano é emblemático para o seg-mento, por marcar os 50 anos da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfaltos (Abeda). A entidade produziu um livro contando a trajetória dos pioneiros dessa indús-tria, que cumpriu papel importante na história do país, principalmente na implantação da malha rodoviária em um país de dimensões continentais, assim como na construção de Brasília.

Encontro do asfalto

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eventos

de Óleo & Gás da Prumo logística, para o comando da ANP, em subs-tituição à Mag-da Chambriard, pois Oddone se-ria visto com um profissional mais amigável ao se-tor (e aos planos do governo) do que Magda.

O presiden-te da Petrobras, Pedro Parente,

presente à solenidade de aber-tura, destacou o “conhecimento

profundo de Od-done do setor, tanto do lado da estatal quanto de empresas priva-das”. e destacou: “ele tem uma ex-periência empre-sarial dentro e fora da Petrobras. e isso é importante para quem vai ser regulador, pois conhece bem as dificuldades das empresas. ” entre elas, as multas por não cum-primento do conteúdo local, uma das primeiras tarefas para Oddone equacionar no comando da ANP.

O secretário de Petróleo, Gás Natural e combustíveis renováveis

do MMe, Márcio Félix, anunciou um calendário fixo de leilões e uma nova política de exploração e produ-ção, em substituição a que está em vigor desde 2003. O novo modelo prevê regras mais flexíveis de con-teúdo local, o fim do operador único e o estabelecimento de um calendá-rio de leilões para os próximos cinco anos, com, pelo menos, um certame a cada ano. Segundo ele, o objeti-vo é “assegurar a previsibilidade e sustentabilidade para operadores e toda a cadeia de fornecedores no longo prazo”.

Márcio Félix informou, ainda, que até dezembro estas mudanças, assim como as diretrizes do gás natural, as questões relacionadas à unitização e as áreas a serem leiloadas seriam apresentadas na reunião do conselho Nacional de Política energética (cNPe). “tere-mos uma boa solução já para 2017 e, se ela se mostrar eficiente, não haverá motivo para que a política não continue nos próximos anos, mesmo com outro governo”, sa-lientou o secretário.

Novos leilões“É fundamental que a gente

tenha a competitividade restau-rada. estamos em busca de um novo ponto de equilíbrio, em que todos os projetos precisam ser viá-veis”, afirmou o presidente do IbP, Jorge camargo. como resultado da perda de competitividade do país, ele indicou uma queda de mais de 50% na receita da indús-tria de óleo e gás nos últimos três anos – de US$ 3,2 bilhões em 2013 para pouco mais de US$ 1 bilhão em 2016.

Na área de gás, de acordo com o presidente executivo da Asso-ciação brasileira das empresas distribuidoras de Gás canaliza-do (Abegás), Augusto Salomon, estão travados investimentos da ordem de US$ 27 bilhões em in-

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vestimentos à espera de mudanças regulatórias que estimulem o se-tor. “A questão tributária é crucial. É preciso que o governo concentre esforços no sentido de destravar al-gumas questões para que possamos desenvolver o mercado. temos uma agenda complexa, que precisa ser trabalhada”, destacou.

também presente à abertura da rOG, a nova diretora de licen-ciamento ambiental do Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais renová-veis (Ibama), rose hofmann, afirmou que o órgão trabalha-rá para garantir à indústria um licenciamento ambiental mais célere, simplificado, padroniza-do e com processos eletrônicos. O licenciamento vem sendo apontado com um dos grandes entraves nos processos tanto de

exploração como de desenvolvi-mento da produção.

Magda chambriard, na última aparição pública como diretora-geral da ANP, informou que a 4ª rodada de licitação de campos marginais e

em bacias maduras deve acontecer em março de 2017, com a oferta de 13 áreas inativas nas bacias do re-côncavo, Potiguar e espírito Santo. Os dados sobre essa rodada já estão disponíveis no site da ANP.

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Cobertura Rio Oil & Gas 2016: Na era digital

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A rio Oil & Gas abriu espa-ço para as startups, que ganharam uma posição de destaque na Arena

de tecnologia, onde foram reali-zadas rodadas de apresentações, debates e showcases temáticos. Os avanços da robótica, o uso do big data e a importância do cyber security para os negócios foram alguns dos temas abordados nesse evento inédito que passa a fazer parte da programação da rOG, segundo os organizadores.

A competição entre startups foi uma das atrações da Arena de tecnologia. O Startup Pitch, realizado no dia 25 de outubro, possibilitou a 15 inscritas apre-sentarem, em dez minutos, suas soluções inovadoras para poten-ciais investidores e empresas de petróleo e gás. três delas foram selecionadas para participar do processo de aceleração promovi-do pelo IbP e pela Start You Up – aceleradora de startups com foco no desenvolvimento de negócios

inovadores e escaláveis: o sistema Floco, da deep Seed Solutions, o Kit Metanohl, resultado de um acordo de transferência tecnoló-gica com pagamento de royalties à Universidade de brasília pela empresa Macofren, e uma ferra-menta online da Open Ocean. elas foram selecionadas entre as dez finalistas para receber instruções de como aprimorar e desenvolver comercialmente suas ideias.

O sistema Floco (Field layout concept Optimizer) gera automa-ticamente conceitos de sistemas submarinos de produção de petró-leo e gás natural. Usa como base a extensa gama de componentes, equipamentos, sistemas e recur-sos de instalação disponíveis na indústria. O programa organiza e ranqueia os conceitos, com base em indicadores como capex, Opex, VPl, Payback e tIr.

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Que venham as startups!Que venham as startups!

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“A deep Seed Solutions encon-trou na Arena de tecnologia um excelente fórum para expor seus produtos e serviços, com destaque para o evento Startup Pitch”, desta-cou leandro basílio, diretor de ope-rações da empresa criada este ano. “construímos uma agenda de reu-niões nas semanas que se seguiram ao evento, em que várias empresas demostraram interesse pela deep Seed e pelo Floco, resultado que atribuímos a esta nova roupagem adotada pelos organizadores da rio Oil & Gas 2016. espero que esta iniciativa seja ampliada nas próximas edições”, conclui.

O Kit Metanohl, apresentado por renato Santana, diretor da Macofren, é para ser utilizado no controle da qualidade dos com-bustíveis. trata-se de um kit co-lorimétrico por meio do qual se detecta a presença do metanol em etanol combustível e gasolina. Já a ferramenta online da Open Ocean, detalhada pelo empreendedor fran-cês Guillaume bourichon, facilita a procura e a análise de dados e estatísticas meteoceanográficos.

Soluções inovadorastambém expuseram suas so-

luções na Arena de tecnologia a Ativatec, empresa de robótica sub-marina residente na Incubadora da coppe UFrJ; a Gt2 energia, que desenvolve elétricos para a produção de petróleo e gás natural e refino; a Petrec, spin-off da co-ppe UFrJ especializada em pro-cessamento sísmico e inversão de parâmetros elásticos para explo-ração de petróleo e gás; a twist, especializada em integração de dados e inteligência computacio-nal; a Oil Finder, que desenvolveu método computacional capaz de identificar a posição do óleo via satélite e simular o trajeto inver-so da exsudação, detectando sua origem no assoalho oceânico; e a

easySubsea, também residente da incubadora da UFrJ, que mostrou a solução de monitoramento sem fio de estruturas submarinas.

Além delas, duas jovens empre-sas escolheram a Arena tecnológi-ca para estrear na rio Oil & Gas. A brA certificadora, que destacou a certificação de compliance como uma ferramenta estratégica para a sustentabilidade das corporações. “Nosso grupo é formado por pro-fissionais altamente capacitados, experientes, atualizados e reconhe-cidos como referência técnica no mercado”, destacou tiago Martins, gerente executivo da brA.

A outra estreante foi a Ouro Ne-gro, que mostrou o sistema MOdA (Monitoramento Óptico direto no Arame), tecnologia premiada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e biocombustíveis (ANP) e que integra o conjunto de soluções pioneiras para o pré-sal utilizados pela Petrobras, que recebeu a dis-tinguished Achievement Award da Offshore technology conference (Otc). “Soluções como o MOdA vêm de encontro às necessidades do setor de óleo e gás, que se in-sere cada vez mais no conceito de indústria 4.0", observou o ceO eduardo costa.

Ainda na Arena de tecnologia, o Pipeline tech Meeting contou com a participação de 12 empre-sas demandantes de tecnologia na área de dutos, apresentando seus desafios tecnológicos para os próxi-mos anos: dNV-Gl, Iec, Integral, logum, Petrobras transporte, rep-sol, Statoil, tbG, technip e tenaris foram algumas delas.

Foram destaques ainda o IeA Gas & Oil technologies, workshop promovido pela International ener-gy Agency (IeA), Gas & Oil tech-nologies Implementing Agreement (GOt), Finep e IbP, e o trend talks, com palestras curtas abordando temas de tecnologia e inovação.

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Cobertura Rio Oil & Gas 2016: Na era digital

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eventos

Com o lema ‘Agentes da mu-dança: novos líderes para uma indústria de energia mais competitiva’, o even-

to, idealizado pelo World Petroleum council (WPc) e organizado no brasil pelo IbP, contou com pales-tras, lounge talks e workshops de mais de 70 c-levels, entre ceOs, cFOs e especialistas, que compar-tilharam suas experiências durante o WPc FlF.

Os participantes tiveram a opor-tunidade de discutir temas como liderança, tecnologia, inovação e sustentabilidade. entre os as-suntos abordados, o perfil do líder em 2030, quando autenticidade, resiliência, paixão, entrega, ex-periência e compartilhamento de conhecimento foram apontadas por especialistas como características fundamentais para uma carreira promissora no futuro do setor.

O evento contou com a parti-cipação de nomes como os ceOs da embraer Systems, daniel Moc-zydlower, da repsol Sinopec, leo-nardo Junqueira, da Ouro Negro, eduardo costa, da vice-presidente executiva e cFO da FMc techno-logies, Maryann t. Mannen, e do vice-presidente de Supply chain da Statoil, Mauro Andrade.

“As chamadas gerações Y e Z, aquelas nascidas em uma época de grandes transformações tec-nológicas, nativas digitais, com-pletamente familiarizadas com o compartilhamento de arquivos e grandes volumes de informação, aos poucos vão tomando conta dos

mais altos postos da indústria de petróleo”, destacou eduardo costa, da Ouro Negro.

ele participou do painel tecno-logia & Inovação, que teve como tema ‘Que venham as startups! O futuro da energia: a união de esforços entre gigantes do petróleo e pequenas empresas de energia’. Moderado pelo diretor da Petro-rio, Martin castillo, o painel teve a participação do diretor-geral da total e&P do brasil, Maxime rabilloud, que mostrou a diver-sidade de ações implementadas pela total energy Adventures, e de Ashok belani, vice-presidente de tecnologia da Schlumberger, que discorreu sobre a convergência tecnológica.

“A reinvenção do setor não é uma opção, não apenas no que diz

respeito à convergência de tecno-logias, com o maior uso dos recur-sos digitais – a chamada quarta revolução industrial, ou indústria 4.0 –, e processos, mas em termos de pessoas, de uma visão nova, de uma nova postura, mais adequada aos novos tempos”, avalia. “É esse o caminho para o futuro da nossa indústria”, conclui costa.

O diretor-geral da total e&P do brasil, Maxime rabilloud, e o ceO da Ouro Negro, eduardo costa, participaram ainda de de-bate com o público, evento mo-derado por doneivan Ferreira, diretor de P&d da ci3.

O WPc FlF foi organizado vo-luntariamente por 67 jovens pro-fissionais do setor, reunidos no comitê Jovem do IbP e no Youth committee do WPc.

Visão de futuroRealizado pela primeira vez no Brasil, o Future Leaders Forum reuniu

550 jovens profissionais da indústria de petróleo de 20 países

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S egundo maior evento do mundo da indústria pe-trolífera, a rio Oil & Gas 2016 foi a vitrine escolhi-

da por quase 600 empresas para apresentar novas tecnologias e soluções integradas que visam otimizar processos, reduzir cus-tos e garantir maior segurança nas operações desse setor que passa por sua pior crise.

Schneider: aposta no BrasilGigante do setor de compo-

nentes e sistemas elétricos no brasil e no mundo, a Schneider eletric foi uma das expositoras do Pavilhão França na rio Oil & Gas, que reuniu nove empresas francesas, algumas delas com in-vestimentos recentes no brasil. eficiência operacional e energé-tica no setor de óleo e gás foram os temas destacados em quatro painéis sobre tecnologias e solu-ções por especialistas da empresa que é especializada em gestão de energia e automação.

“O mercado brasileiro é muito importante para a Schneider ele-tric por seu enorme potencial e desafios. Acreditamos que temos soluções que podem auxiliar essa indústria a reduzir seus custos, principalmente na área energéti-ca”, destacou Patrick Albos, vice--presidente global de Óleo e Gás da Schneider electric que veio ao brasil para participar do evento

e manter reuniões com clientes do grupo.

“O mercado de óleo e gás está protagonizando grandes desafios no novo momento econômico. Ofer-tas integradas, serviços inovadores e softwares que aumentem a efici-ência operacional, a segurança e a confiabilidade tornam-se ainda mais importantes como diferencial competitivo”, complementa luis Felipe Kessler, vice-presidente de

Óleo e Gás para América do Sul da Schneider.

entre as soluções apresentadas pela Schneider estão os ehouses, construções metálicas pré-fabrica-das, semelhantes a contêineres, resistentes a altas temperaturas, umidade e poluição, que reúnem diversas tecnologias da Schneider (data centers, sistemas de distri-buição elétrica e ferramentas de gestão e automação).Aptas a incor-

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Empresas apostam em tecnologias para superar crise

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porar recursos de outros fornece-dores, os ehouses garantem maior agilidade na entrega de projetos, redução no custo de implementa-ção e economia e melhor aprovei-tamento da energia.

Outro destaque foi o Simulador para treinamento de Operadores de campo (eYeSIM), ferramenta interativa que faz uso da realidade virtual para capacitar profissionais de campo e salas de controle. esse tipo de treinamento reforça ques-tões importantes relacionadas a segurança da operação, meio am-biente e saúde, temas de extrema relevância nesse setor.

Oxiteno: integridade de ativosA linha de inibidores de corrosão

UltrOIl® cI foi o grande destaque da Oxiteno na rio Oil & as 2016. composta por oito produtos, essa li-nha garante a integridade dos ativos operacionais e preserva os equipa-mentos com boa eficiência e custo--benefício. ela forma uma espécie de filme protetor anticorrosivo nas superfícies metálicas, assegurando a integridade destes materiais me-tálicos em equipamentos utilizados principalmente no transporte e ar-mazenamento de hidrocarbonetos.

“Nossa mais nova solução, a linha UltrOIl®cI é composta de princípios ativos de alta perfor-mance utilizados nas formulações de produtos finais que atuam prote-gendo as superfícies metálicas dos equipamentos e ativos de nossos clientes”, explica Guilherme Fon-seca, gerente de P&d de Petróleo e Gás da Oxiteno.

A empresa reforçou outros pro-dutos de seu portfólio de soluções químicas para as diversas etapas das operações de exploração e pro-dução de petróleo, desde a perfu-ração, estimulação à produção de hidrocarbonetos, de forma a garan-tir maior eficiência, produtividade e alta performance.

entre eles a linha de desemul-sificantes UltrOIl® eb, com-posta de oito bases que garantem tratamento adequado dos fluidos produzidos: água, óleo e gás, ga-rantindo produtividade e compe-titividade aos nossos clientes, e a linha UltrAWet®, formada por preventores de emulsão (aditivos usados em diversos fluidos injeta-dos durante a exploração de poços de petróleo), para ser utilizada tan-to na etapa de completação quanto na de estimulação de poços.

Sotreq: tecnologia com conteúdo local

Além de divulgar a linha com-pleta de produtos de acionamento mecânico e geração de energia, incluindo sistemas de propulsão, a Sotreq levou para a rio Oil & Gas o seu cAt cONNect, que reúne diversas iniciativas ligadas a tecnologia, incluindo monitora-mento remoto, e tem como objetivo auxiliar as empresas na gestão de seus ativos, reduzindo o downtime e otimizando os custos operacio-nais. A solução foi apresentada por meio de telas interativas instaladas no estande.

em suas apresentações a empresa apontou a política de conteúdo local como crucial para a continuidade do desen-volvimento da cadeia de forne-cedores no brasil. com 75 anos de atuação no brasil, a Sotreq é uma das maiores provedoras de soluções customizadas, produtos e sistemas cat®. A caterpillar investiu em uma linha de produ-ção e teste de grupos geradores para a indústria naval e de óleo e gás. Instalada em Piracicaba, já entregou mais de 200 grupos geradores desde a sua inaugu-ração, em março de 2012.

empresa brasileira de capital 100% nacional, o Grupo Sotreq é formado por dez empresas: Sotreq,

Somov, Sitech, MdPower, Soimpex, Semantech, ON², radix, Santa-na e Stogás. conta com mais de 5.000 funcionários e se diferencia pelo suporte realizado por técni-cos especializados e qualificados, atendendo aos mercados de cons-trução, Mineração, energia, Petró-leo & Marítimo, Movimentação de Materiais, entre outros.

Cobertura Rio Oil & Gas 2016: Na era digital

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Honeywell: eficiência com segurança

Umas das principais empre-sas de tecnologia com soluções para todas as etapas da cadeia de óleo e gás, a honeywell levou para a rio Oil & Gas produtos e serviços que visam aumentar a eficiência (operacional e de processamentos) e a seguran-

ça nas atividades da indústria petrolífera.

“temos um portfólio robusto de produtos e serviços para dar suporte às operações das com-panhias de óleo e gás, principal-mente nas atividades offshore. O nosso objetivo é oferecer so-luções que auxiliem essa indús-tria, possibilitando a redução e otimização de custos, melhorias nas diferentes etapas dessa ca-deia produtiva e principalmente, os mais altos níveis de seguran-ça”, destacou Francisco casulli, country manager da honeywell Process Solutions (hPS) no brasil e diretor de vendas da divisão para a América latina. “O brasil é um mercado estratégico para a honeywell”, complementou, lembrando que a empresa atua no país há muitos anos.

O executivo ressaltou a forma diferenciada de a hPS execu-tar projetos para essa indústria, aumentando a flexibilidade e o tempo de execução a partir de associações de inovações tecno-lógicas (hardware e software), com a virtualização de projetos na nuvem. ele lembrou ainda que a companhia é uma das pioneiras na área de Internet das coisas (Iot), uma tendência mundial que está mudando a cara dessa indústria que demanda soluções de segu-rança cada vez mais complexas.

complexidade que estava refletida no enorme estande da empresa, que levou para a feira soluções digital e de instrumenta-ção de campo, sistemas integrados de controle e segurança experion, de detecção de incêndio e de se-gurança, sistemas industriais de detecção e controle de chama e gás, tecnologias para a coleta de dados, soluções para terminais da honeywell enraf; medidores de gás da honeywell rMG, além de sistemas de combustão, recu-

peração de lGNG e soluções da honeywell UOP.

Trelleborg: projetos de última geração

A trelleborg, uma das maiores fornecedoras globais de soluções de engenharia de polímeros para vedação, amortecimento e prote-ção, com aplicações críticas em ambientes rigorosos levou para a rio Oil & Gas projetos de última geração, com certificados de qua-lidade, segurança e desempenho.

três áreas de negócio da empre-sa - trelleborg Sealing Solutions, trelleborg Industrial Solutions e trelleborg Offshore & construc-tion – que têm fábricas no brasil (São José dos campos-SP, Santana do Parnaíba-SP e Macaé-rJ, res-pectivamente) apresentaram suas soluções na exposição.

Uma delas é a tecnologia Se-alWelding, reconhecida por sua abordagem revolucionária, capaz de soldar vedações in situ em uma plataforma FPSO, eliminando a necessidade do navio de petróleo e gás ter que se desativar e ir até a costa. “esta tecnologia recebeu o Prêmio especial de Mérito da e & P para Inovação de engenharia (MeA)”, destaca Osvaldo hirama, gerente geral da trelleborg Sea-ling Solutions no brasil. Os prê-mios MeA foram apresentados na Offshore technology conference (Otc) em houston, texas, em maio de 2016.

trata-se de tecnologia revo-lucionária que possibilita que as vedações sejam soldadas in situ em uma plataforma FPSO, elimi-nando a necessidade de docagem da unidade. “Fabricada a partir do material de vedação da trelleborg, esta nova tecnologia reduz maciça-mente o tempo de inatividade e os custos associados que resultam da manutenção dos swivel stacks dos FPSOs. Atualmente, esta manuten-

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Cobertura Rio Oil & Gas 2016: Na era digital

ção requer que a unidade retorne à costa para a costa, de modo que os componentes possam ser completa-mente desmontados e os vedantes substituídos”, conclui.

Priner: novo nome para expertise

com um portfólio de serviços multidisciplinares, a Priner, novo nome da Mills Serviços Industriais, apresentou algumas de suas so-luções na rio oil & Gas, entre as quais o Web deck, plataforma de acesso suspensa para locais com-plexos e que demandam monta-gens rápidas; o habitat, habitáculo pressurizado para a realização de trabalhos a quente em áreas po-tencialmente explosivas com total segurança, além dos serviços de isolamento térmico e corta-fogo.

“A mudança de nome fortale-ce a nossa posição no mercado de serviços industriais, como uma empresa dinâmica e que pensa em produtividade e segurança todo o tempo. daremos continui-dade à bem-sucedida trajetória da companhia, desde o seu spin-off,

expandindo nosso portfólio de ser-viços e mobilizando equipamentos que nos permitem ser ainda mais rápidos”, afirmou o presidente da Priner, tulio cintra.

A meta da empresa, que alia o novo nome à já reconhecida exper-tise na área em que atua, é ampliar o portfólio de serviços. Para tanto, prevê investimentos da ordem de r$ 4 milhões já em 2017. “redu-ziremos a dependência da cadeia petrolífera via diversificação de serviços e investiremos na fabri-cação de novas ferramentas de alumínio para acesso e na mobi-

lização de equipamentos de alta produtividade para jato e pintura, e isolamentos”, explica o executivo.

A Priner inicia sua trajetória com uma carteira de clientes de grande porte pelo brasil, prestando serviços nas áreas de petroquími-ca, papel e celulose, siderurgia, offshore, naval, mineração e in-fraestrutura. com 1.700 funcioná-rios, a empresa tem um portfólio de serviços multidisciplinares, que abrange sistemas de acesso, pintu-ra industrial, isolamento térmico e habitáculo pressurizado (Safehouse habitat).

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Os desafios de manter e ge-renciar ativos estratégicos em tempos de crise, com desaquecimento, paralisa-

ção e redução da atividade industrial em diversos segmentos – como pe-tróleo e gás, mineração, siderurgia, química e petroquímica, automotivo, entre outros – foram o grande foco dos debates do 31º congresso bra-sileiro de Manutenção e Gestão de Ativos, que se realizou de 17 a 21 de outubro, no campus de convenção da Federação das Indústrias do es-tado do Paraná (Fiep), em curitiba.

Sob o tema ‘Manutenção, gestão de ativos e o desafio da escassez de recursos’, o congresso promovido anualmente pela Associação brasilei-ra de Manutenção e Gestão de Ativos (Abraman) foi realizado em conjun-to com o IV Seminário Nacional de Manutenção e Gestão de Ativos do Setor elétrico. Maior evento do setor na América latina, além de reunir toda a comunidade do segmento, possibilita aos fornecedores de bens e serviços expor suas soluções na expoman-expomase, feira realizada em paralelo aos eventos técnicos.

“diante de uma crise sem pre-cedentes, que impactou indústrias estratégicas para a economia do país, a manutenção e gestão de ativos pas-sam a ser garantia de operacionali-dade, lucratividade e perenidade das empresas, sobretudo nos segmentos que possuem estruturas complexas, com multiplicidade de processos, envolvendo atividades de risco e uso intensivo de tecnologias”, afirmou rogério Arcuri Filho, presidente do conselho da Abraman. ele coorde-

nou a mesa de abertura do evento, dia 18, da qual participaram também o presidente da Itaipu binacional, Jorge Miguel Samek, da copel, Fer-nando Xavier Ferreira, e o superin-tendente da Fiep, reinaldo tockus.

Arcuri citou alguns números do documento Nacional 2015 (dN 2015), pesquisa realizada a cada dois anos pela Abraman, os quais refletem o peso desse segmento na atividade in-dustrial. “Na média nacional, 30% da força de trabalho própria das empre-

operacionalidadeManutenção e gestão de ativos é garantia de

A expectativa de empresários e especialistas

reunidos na 31ª edição do congresso da Abraman

é a de aumento da demanda de serviços

Abraman 2016

por Beatriz Cardoso

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sas é empregada na manutenção, com os custos de pessoal representando quase 40% do total da função. consi-derando o gasto total de manutenção no brasil em 2015, de r$ 195 bilhões (calculado a partir do valor de 3,31% do custo de manutenção por fatura-mento tabulado sobre o PIb de 2015, de r$ 5,90 trilhões), estima-se que mais de r$ 78 bilhões foram gastos em capital humano nessa área”, con-tabilizou Arcuri. A pesquisa é realiza-da em cerca de 25 setores produtivos, com mais de 40 indicadores em oito diferentes áreas de interesse.

cerca de 500 pessoas participa-ram do evento, que reuniu perto de 70 empresas (das quais 16 exposito-res), entre os principais fornecedores de bens e serviços, e especialistas do brasil e da América latina nessa área. A expectativa dos expositores da feira, que tem um perfil técnico e de serviços, é de que o segmento de manutenção tem potencial para crescer em uma economia ainda em crise, na qual há empreendimentos em compasso de espera e projetos de modernização postergados. O que demandará uma manutenção contí-nua e gestão severa para assegurar a integridade dos ativos, inclusive os equipamentos parados.

“O brasil tem um parque produti-vo maduro, razão pela qual vive um duplo desafio. Primeiro, o de garantir a manutenção eficiente e eficaz das unidades fabris, plataformas offshore, refinarias, usinas, centrais e plantas industriais para que elas continuem operando na capacidade máxima, ao mesmo tempo em que deve imple-mentar modernizações e melhorias para aumentar a produtividade, qua-lidade e competitividade, gerando produtos de maior valor agregado. O segundo desafio é o de assegurar a preservação de inúmeros ativos que se encontram paralisados, desde peças e equipamentos a unidades inteiras adquiridas para os grandes projetos, de modo a que venham a

funcionar perfeitamente quando se fizerem necessários”, conclui o pre-sidente da Abraman.

“Vimos muita fé na recuperação do brasil, tanto em termos econômicos quanto de realização de empreen-dimentos. há empresas e pessoas investindo na capacitação e qualifica-ção técnica e gerencial, visando uma retomada do movimento produtivo com qualidade, eficiência, produtivi-dade e técnicas de gestão modernas e efetivas”, destacou Nelson cabral, diretor operacional da Abraman.

Os pontos altos dos eventos, na avaliação de cabral, foram a qualida-de e a quantidade de trabalhos téc-nicos, o alto nível da exposição e das palestras e conferências: “A variedade e excelência dos trabalhos técnicos apresentados refletem a crença das empresas na melhoria dos proces-sos produtivos e na gestão de ativos. Os expositores também fizeram uma análise crítica, visando identificar pontos fortes e áreas para melhoria.”

“A aprovação de 36 cases enviados pelas regionais da Manserv de todo brasil reforça o compromisso da em-presa na busca da inovação constante

em cada um de nossos projetos. de-monstrar as soluções e os resultados alcançados pelo nosso time é ainda mais gratificante”, destacou carlos Alberto Fernandes, diretor-geral de Manutenção da Manserv, que parti-cipou da expoman 2016.

também apresentaram solu-ções na área o Grupo engefaz, a Flir, Nishi, Qualidados, Saito, SIl e Specialmix, além das patrocinadoras Itaipu binacional, copel, comau, de-loitte, Qualidados, Senai e Vivante, e da apoiadoras braidotti, Gestalent e revista TN Petróleo.

Rogério Arcuri Filho, presidente do Conselho da Abraman

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Mineiro de nascimento, com uma ‘pitada’ da Bahia, onde fez o mestrado de

Geologia, Doneivan Fernandes Ferreira, 50 anos, reflete, em sua inquietude,

os 24 anos que viveu nos Estados Unidos, nas décadas e 1980 e 1990. “O

grande aprendizado foi o da cultura empreendedora. Não espere acontecer,

trabalhe para que as coisas aconteçam”, destaca o geólogo que decidiu ir mais

além das bacias sedimentares para ‘mapear’ oportunidades de empreender.

perfil profissional

cOFUNdAdOr, MeNtOr e eStrAteGIStA de startups que atuam na cadeia produtiva de petróleo, inventor com 25 patentes e registros de software na bagagem e uma passagem pelo grupo internacional halliburton, doneivan Ferreira é, desde 2013 é diretor de P&d do Instituto capital Intelectual (c3i), no qual incentiva o empreendedorismo.

“costumo dizer que empreender não é ser empresário. empreender é se engajar para realizar e assumir riscos. Inovar não é inventar e nem criar algo inédito. Inovar é gerar valor por meio de mudanças (componentes, produtos, processos, estratégias, modelos, sistemas, etc.). Uma invenção que não chega ao mercado e não causa mudanças, não é inovação”, afirma. essa postura reflete os 24 anos em que viveu nos es-tados Unidos, para onde foi ainda adolescente com a família, nas décadas de 1980 e 1990.

O fato de ter crescido e se formado geólogo (pela Universi-dade estadual de San Jose, na califórnia, em 1989), no chama-do Vale do Silício, foi um fator determinante em sua vida. “O ambiente é contagiante, mas acho que sempre tive um perfil empreendedor”, afirma. “ter estudado nas melhores escolas, ser reconhecido como uma pessoa brilhante ou ter sempre tirado boas notas, etc., nada disso é receita para o sucesso. Gente brilhante existe em todo lugar, o que vale é a perseverança, o espírito inovador (gerar valor) e, definitivamente, um bom ‘modelo de negócio’. Santos dumont era brilhante e pode até ter voado primeiro, no entanto, os irmãos Wright tinham um modelo de negócio”, complementa.

acontecerpor Beatriz Cardoso

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O trabalho é que faz

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Foi ainda nos estados Unidos que, em 1996, criaria a primeira startup, a lithos International tra-de llc, que atuava na área de de-sign e comercialização de móveis em rochas raras do brasil. “como cofundador dessa startup em dan-bury (connecticut), precisava tra-balhar para ter o capital necessário para manter o empreendimento”, lembra ele, que trabalhou na área de tecnologia de uma fabricante de equipamentos de solda ultras-sônica, para sustentar o negócio.

durante o período do mestrado, na Universidade Federal da bahia (Ufba), entre 1990 e 1993 (quando conheceu a esposa) e do douto-rado na Universidade de campi-nas (Unicamp), entre 2000-2003, ele faria um vaivém entre brasil e estados Unidos, devido aos cha-mados programas “sanduíches” – que permitem ao pós-graduando fazer aprofundamento teórico, co-leta e/ou tratamento de dados ou desenvolvimento parcial da parte experimental de sua tese em uni-versidades no exterior.

durante o mestrado foi conci-liando visitas com pesquisadores do cenpes/Petrobras que ele fez o trabalho de campo no rio Grande do Norte. Fez ainda lâminas petro-gráficas no departamento Nacional de Produção Mineral (dNPM), no rio, e análises de amostras no labo-ratório da Vale, em belo horizonte, além de lâminas para microsson-da eletrônica no departamento de Metalurgia da Universidade Fede-ral do rio de Janeiro (UFrJ). “Pro-curei alunos de doutorado nos eUA que quisessem testar seus modelos. consegui fazer estudos analíticos em dois grandes laboratórios de petrologia. Não precisei de recurso algum de pesquisa, gastando ape-nas com as viagens”, conta.

decidiu fazer doutorado na área de desativação (decommissioning) de instalações offshore depois de

conhecer o professor Saul Suslick, da Unicamp, que falou da criação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do interessante merca-do que se abria para uma pessoa com o perfil dele. trabalhando com Saul para a ANP, foi pesquisador e gerente de projetos do centro de estudos do Petróleo (cepetro).

Vida acadêmicaMesmo depois de ingressar na

Ufba como professor em 2007, o ir-requieto geólogo buscou novos ca-minhos. “Sempre gostei de pesqui-sa aplicada. A Academia no brasil

está, em sua grande parte, voltada para a pesquisa fundamental. Ao longo das décadas, nos tornamos excelentes em pesquisa, mas não aprendemos a ‘desenvolver ’, e muito menos, ‘inovar’. A Academia continua formando ‘concurseiros’. em um país repleto de desafios, criar soluções e gerar valor (ino-var) deveria ser mais importante”, lamenta.

Por isso participa ativamente do grupo cNPq de pesquisa aplicada multidisciplinar e desenvolvimen-to tecnológico para produção de petróleo e gás em bacias maduras e áreas marginais. “Somos 21 pes-quisadores, vários estudantes e 14 startups”, complementa, afirman-do que a interação da Academia com a indústria é um paradigma a ser quebrado. “Apesar da lei de inovação e várias iniciativas de ór-gãos de fomento, é difícil assumir um perfil de ‘empreendedorismo acadêmico’ em uma cultura insti-tucional que entende ‘empreender’ como sinônimo de ‘coisa ilícita’ ou ‘imoral’”, observa.

em 2009, associado a um aluno de mestrado e um colega pesquisador, fundaria a Geo In-nova ltda., que desenvolve ge-otecnologias para dar suporte a operadores independentes, sobre-tudo no gerenciamento de água produzida. “Apostando na área de poços, eles conseguiram elimi-nar a necessidade de conectores/desconectores eletro-hidráulicos com impactos expressivos no cus-to de projetos que usam sistemas de bombeio centrífugo submerso (bcS) e completação inteligente de duas ou três zonas no pré-sal. hoje a Geo Innova tem mais de 15 patentes só em completação de poços”, fala com orgulho do empreendimento que deixou ao ir para a indústria, em 2013.

em 2010, com três pesquisa-dores e profissionais da Indús-

Local e data de nascimento: Santos Dumont/MG – 1966

Estado civil: Casado com a pediatra Juçara, com quem tem três filhas (16, 12 e 10).

Qual livro está lendo? David And Goliath: underdogs, misfits, and the art of battling giants, de Malcolm Gladwell. Excelente livro para pequenos empreendedores trabalhando no ambiente de grandes corporações.

Qual seu livro de cabeceira? Provérbios de Salomão, literatura milenar hebraica.

O que gosta de fazer nas horas de folga? Passar tempo com minhas quatro mulheres.

Qual o seu hobby? Aprender alguma coisa nova, juntar aquilo que sei com algo novo que estou aprendendo. Gosto muito de ciência, tecnologia e história.

Música predileta? Jazz e big bands.

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perfil profissional

tria, fundaria a Free Oil Serviços e tecnologias ltda, a partir do desenvolvimento do protótipo de um tratador de óleo móvel para apoiar os pequenos produtores da bacia do recôncavo. Antes de ser vendida, em 2012, a Free Oil criou um tratador móvel com capacidade para tratar 1.200 bbl/d e, com tec-nologias inovadoras embarcadas, chegava a um bSW (fração de água produzida na extração de hidrocar-bonetos) de 0,4%.

Na rota da indústriaem 2012, doneivan vai traba-

lhar na gigante norte-americana halliburton. “depois de conhecer bem a Academia, o órgão regula-dor, as operadoras, foi importante compreender a dinâmica do mer-cado sob a perspectiva de uma prestadora de serviços. conheço de perto a dificuldade que têm as grandes corporações em inovar na velocidade necessária, mesmo sabendo que inovar é crítico para seus negócios”, afirma.

Participaria ainda da criação da Applied.bio Pesquisa e Servi-ços em biotecnologia ltda., em 2013. “Grande parte da corrosão é causada por atividade micro-biana. tínhamos alguns produtos que precisavam ser aprimorados e patenteados para aplicação em bio-corrosão”, lembra. hoje com 11 de-pósitos de patente (e produtos com aplicação fora da área de petróleo e gás), a empresa tem uma estrutura piloto fabril em São Paulo (até 30 mil litros/mês) e a uma frente de trabalho em North carolina, nos eUA, para implementar projetos de síntese molecular e aprimora-mento de produtos em 2017.

logo em seguida vem a deep.bbl Pesquisa, tecnologia e Servi-ços ltda, comandada pelo ex-pro-fessor colaborador da Unicamp, Gabriel lima, Phd em engenha-ria econômica, que desenvolve

ferramentas para caracterização de reservatórios (processamento e codificação de dados sísmicos), certificação de reservas, estudos de reservatórios e, em parceria com a Geo Innova, tem um pro-jeto em automação (embarque de tecnologia Iot), análise avançada, big data e gestão inteligente de processos. doneivan participa-ria ainda da criação da Inn Flow Pesquisa, tecnologia e Serviços, ltda. “A lição aprendida é que nem tudo dá certo. Saber reconhecer rapidamente que uma startup tem dificuldades para prosseguir, é im-portante. Fechamos a Inn Flow em 2015”, diz o empreendedor.

Por que startups?“com tantos desafios, devería-

mos ter foco na solução de proble-mas. Fui treinado para não pensar o que seria quando crescesse, mas quais problemas poderia trabalhar para resolvê-los”, explica doneivan, que hoje dedica-se ao capital Inte-lectual / Instituto Interdisciplinar de Pesquisa e desenvolvimento (c3i). “A ideia do Instituto surgiu quando eu estava na Unicamp. eu e o Már-cio Pereira (executivo da ecoca-sa) queríamos atrair pesquisadores empreendedores e startups para viabilizar projetos colaborativos fora do ambiente acadêmico”, lembra.

O modelo evoluiu e as possi-bilidades de atuação aumenta-ram. “com o capital intelectual dos pesquisadores, a expertise dos profissionais da indústria e as estruturas das startups, o c3i está em condições de desenvolver projetos de forma mais eficiente do que muitos centros de pesquisas de universidades – compreende a cultura da indústria, não tem as taxas elevadas e nem a burocracia das fundações”, destaca doneivan.

Para ele, a crise atual é opor-tunidade. “ela é um desafio para grandes corporações, assim como para startups. Inovações estão aju-dando o setor de diversas formas... e as startups são protagonistas nes-sas mudanças”, afiança. “existem estruturas com quatro profissionais criando sistemas de completação que permitem uma redução mé-dia de sete dias em operações de intervenção. em águas profundas esta tecnologia pode economizar milhões de dólares em ‘dias de sonda’ e permitir a geração de receita adicional de óleo gerado com a redução de dias parados”, salienta. ”enquanto houver de-safios, as startups continuarão a ser uma alternativa atrativa para as operadoras”, conclui doneivan Ferreira

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Ano 5 • nº 48 • dezembro de 2016 • www.tnsustentavel.com.br

Eficiência Energética • Comercialização de Energia • Legislação Ambiental • Reciclagem

Adivulgação da lista anual de empresas, juntamente com a entrega da marca Pró-Ética,

aconteceu durante a 3ª conferência lei da empresa limpa, no dia 16 de novembro, no auditório do ban-co central, em brasília. O ceO da radix, luiz eduardo rubião, o ges-tor de compliance da organização, Fábio lopes, e o membro do comitê de ética da radix, Marcio Andrade, estiveram presentes no evento e receberam a marca Pró-Ética da empresa de engenharia e software. A radix integrou o seleto grupo de 25 companhias reconhecidas como íntegras nas relações entre setores público e privado em um total de 195 organizações analisadas.

com cerca de um ano com o programa de compliance, a radix conquistou um ótimo resultado na avaliação do Pró-Ética 2016. Segun-do o ceO da empresa, os 91 pontos obtidos representam a maturidade do programa mesmo com o pouco tempo de existência. “Na radix sempre pra-ticamos o compliance, mas apenas há um ano resolvemos registrar o que já era uma prática na empresa. Sempre tivemos a política de conscientizar os colaboradores em pequenas atitudes

e isso se reflete em ações maiores e grandes negociações”, explicou rubião. Além da premiação, rubião realizou uma palestra no painel ‘lei da empresa limpa e o novo paradig-ma para as empresas’, que fez parte da programação do evento.

A conferência lei da empresa limpa premia as companhias apro-vadas no Pró-Ética 2016 e conta com debates sobre temas relacionados à lei Anticorrupção e à integrida-de no setor privado. O objetivo é conscientizar empresas sobre seu relevante papel no enfrentamento da corrupção, ao se posicionarem afirmativamente pela prevenção e combate de práticas ilegais, reduzin-do os riscos de ocorrência de fraude

e corrupção nas relações entre setor público e privado.

A edição 2016, do programa em-presa Pró-Ética, uma iniciativa do Ministério da transparência, Fis-calização e controle (MtFc) e do Instituto ethos, recebeu número re-corde de inscrições, 101% superior à última edição, em 2015, e recorde também no comparativo dos últi-mos seis anos, quando o programa foi criado. do total de 195 compa-nhias, de portes e ramos de atuação distintos, que tiveram interesse em participar da avaliação, apenas 74 empresas cumpriram os requisitos de admissibilidade e foram avaliadas, um aumento de 125% em relação ao ano passado.

Radix integra o grupo seleto de Empresas Pró-ÉticaEmpresa está entre as 25 empresas que receberam o selo Pró-Ética, sendo

reconhecida como íntegra nas relações entre os setores público e privado

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suplemento especial

Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade

O máximo dos objetivos e o objetivo máximoComo em todo aforismo, a frase do título deste artigo muda de

sentido ao trocarmos a ordem das palavras. Neste, em especial,

remeto-me ao mundo dos planos, das metas e dos objetivos.

Acredito que precisamos de uma mudança de sentido nesse mundo es-pecífico que vem ganhando contornos “crocantes” nos últimos 30 anos, principalmente no ambiente profissional e corporativo. Mas, tudo que

é “crocante” pode deliciar o paladar ou pode quebrar as lápides dos dentes!Não resta dúvida de que trabalhar com objetivos é uma excelente forma de

apontar a proa do barco na direção do destino desejado pelo viajante. Mas, a forma como o sistema de metas vem sendo explorado ultimamente, de forma impositiva e gananciosa e com bravatas do tipo “justificativas perpetuam a mediocridade” (numa tentativa de desmantelar psicologicamente quem não atinge suas metas) pode resultar em desastres humanos, corporativos e sociais. Já tive exemplos nessas três esferas. Pessoas afastadas do trabalho por proble-mas psicossomáticos; organizações sendo vendidas porque destruíram o clima e a motivação interna; e desemprego sendo alastrado por um epicentro em que uma grande empresa quebrou devido, entre outras coisas, a sua irrealista política de metas e remuneração variável.

Vejo pessoas ascendendo a cargos de liderança em que as únicas coisas que sabem fazer em relação a outros é mandar, desrespeitar, centralizar de-cisões. São chefes nomeados e não líderes. Por isso a grande emergência do coaching. Os “coaches” são elementos de fora de uma empresa, pagos para ouvirem, fazerem perguntas, trabalharem em conjunto com as pessoas de for-ma que elas possam extrair o máximo de seus objetivos. líderes postiços, di-ríamos. Um bem, afinal. existem por conta do enorme vácuo de liderança em que as empresas se encontram.

líderes de verdade sabem trabalhar com suas equipes. compreendem o momento de cada um. Olham para seus companheiros como pessoas integrais e assim facilitam o seu caminhar pelas diversas esferas do redemoinho da vida pessoal e profissional. Assim, catalisam os processos de busca pelos objetivos e permitem que os seus liderados se superem, no sentido amplo.

chefes acreditam que são pagos para comandar. Ou para controlar, o que é pior. e, com isso, não trabalham os objetivos. Prendem-se a uma infância da gestão, onde as técnicas dominam. Os relacionamentos são deixados de lado

Wanderlei Passarella é mestre em Adminis-tração de Empresas e bacharel em Economia pela FEA-uSP, e também engenheiro mecânico pela Escola Politécni-ca da uSP; pós-graduado na Abordagem Transdisciplinar Holística, pela unipaz/FSJT. Atualmente dirige a Synchron Participações e é coach de executivos. Foi diretor presidente da GPC Química S/A e da Petroflex S/A. Também foi diretor-geral da Menasha Materials Handling South America e exerceu cargos gerenciais na Nitroquími-ca (Grupo Votorantim) e Ipiranga Química.

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(“são perigosos!”). Quase não há possibilidade de cresci-mento profissional, muito menos espiritual, num ambien-te onde reinam os “chefes”.

A chegada de um “coach” em um desses ambientes é uma benção. As relações pessoais se estreitam. “coach” e “coachee” se aproximam em prol de um bem para eles mesmos e para a empresa: o trabalho disciplinado sobre as metas. Não há apenas as técnicas, mas também as re-lações, que são utilizadas com maior maturidade. e, com isso, se procura extrair o máximo dos objetivos.

Mas, ainda assim, fica de lado a questão maior. A gran-de urgência de nossos tempos e de todos os tempos. como, no ambiente de trabalho, e fora dele, conseguir a autorrea-lização? como tornar a vida plena de sentido e significado? desconfio que haja um caminho. Algo que repousa além dos salários, das remunerações e preços/hora. Uma grande questão que fica de lado porque chefes, mentores, coaches e líderes parciais creem que não são pagos para se envolve-rem com isso. esse caminho é focar não apenas em tirar o máximo dos objetivos, mas buscar o objetivo máximo.

e qual é esse objetivo máximo senão a razão pela qual nascemos e nos movemos através da vida. Aquilo que repousa envolto por detrás dos véus da ignorância, da ideologia e dos paradigmas culturais... A boa notícia é que esse véu pode ser transposto. Se todos os que se propuserem a facilitar o caminho de outrem, em primei-ro lugar descobrirem (ou buscarem) o seu próprio. Assim, pelo exercício e vivência do dia a dia, suportando-nos uns

aos outros, podemos tomar consciência de qual é nosso objetivo máximo.

e ele não é encontrado de fora para dentro. Não se pode pensar que determinadas técnicas, ou ainda alguns gurus visionários vão achá-lo para nós. O objetivo máxi-mo vem de dentro pra fora. ele aflora ao longo do cami-nho, pelos entrechoques pessoais, pelas lições cotidianas, pelos sonhos e sincronicidades reveladas pelo inconscien-te, pela observação do exemplo dos mestres e pelas pe-quenas vitórias/derrotas que nos fazem refletir e apontar a proa para o imaginário. líderes de verdade catalisam esse processo em suas equipes porque vivem a beleza de construírem sua própria catedral de abertura e conexão. Fazem um serviço de alta relevância ao todo, pois não só ajudam a conseguir o “máximo dos objetivos” como faci-litam o entendimento do “objetivo máximo” de cada um.

coadunar esses dois lados da moeda dos objetivos, no ambiente de uma empresa, é permitir a eclosão de uma força criativa e construtiva ímpar. essa conclusão ainda é um paradigma para muitos. Mas, felizmente, inúmeras “empresas conscientes” estão despontando. empresas em que uma liderança integral, um propósito não egoísta e uma cultura de amplos resultados pra todos faz uma dife-rença brutal para que as metas sejam alcançadas no curto e no longo prazo. empresas que se preparam para uma longevidade além daquela de seus criadores. empresas que contribuem para que nossa terra seja um lugar me-lhor e sustentável!

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pessoas

O eNGeNheIrO JOãO cArrO AderAldO é o novo diretor da divisão de energia da Prysmian na América do Sul, líder global em cabos e sistemas para os setores de energia e teleco-municações.

Aderaldo assume com a missão de consolidar a posição da subsidiária brasileira de liderança no fornecimento de cabos para os projetos de transmissão e distribuição de energia em diversos segmentos, como residencial, pre-dial, industrial e de infraestrutura, além dos grandes projetos de trans-missão terrestre ou submarina. tam-bém atuará para ampliar a presença

da Prysmian nos demais mercados sul-americanos.

O executivo passou por empresas como Schneider electric e Weg, em posições de liderança nas áreas co-merciais, de marketing e de operações, reunindo 25 anos de experiência nos mercados de energia

elétrica e automação. Formado em finanças pelo Ins-

per/ensino Superior em Negócios, direito e engenharia, e em sus-tentabilidade e negócios pela Uni-versidade de cambridge, ele traz ainda sua experiência na gestão de canais para fortalecer a presença da Prysmian em seus principais pon-

tos de venda, buscando agilidade, dinamismo e maior proximidade do mercado consumidor.

A Prysmian cabos e Sistemas, líder em cabos e sistemas para os setores de energia e telecomunicações, detém toda a tecnologia de desenvolvimento e fabricação e, desde 1929, ano de sua fundação no brasil, vem mantendo posição de liderança nesse segmento em todo o mundo. dividida em duas unidades de negócios – energia (cabos terrestres e submarinos para a trans-missão de eletricidade e distribuição) e telecomunicações (cabos e fibras ópticas para transmissão de dados, imagem e voz e cabos convencionais em cobre) –, o Grupo Prysmian está presente em todos os continentes.

Novo diretor de energia da Prysmian no Brasil

A Odebrecht ÓleO & Gás (OOG) contratou Nir Lander para liderar a área de conformidade, dentro do processo de reestruturação da equi-pe. A chegada do Chief Complian-ce Officer (ccO) está alinhada ao processo de contínua evolução da estrutura de governança corporativa da Odebrecht Óleo & Gás. ele se re-portará ao comitê de conformidade, ligado diretamente ao conselho de Administração da OOG e formado por três membros – dois conselhei-ros indicados pela Odebrecht e um independente.

engenheiro por formação, o is-raelense Nir lander possui mais de 14 anos de experiência em empresa de grande porte, tendo construído uma sólida carreira nas áreas de Auditoria Interna, combate à Fraude corporativa e conformidade. lander chega à Odebrecht Óleo e Gás com a missão de implantar e disseminar as melhores práticas existentes no mercado, buscando tornar a empre-sa referência no assunto. “Nosso objetivo é aperfeiçoar e manter um

sistema de conformidade efetivo, com medidas que visam prevenir, detectar e remediar, de forma sis-têmica, riscos de não cumprimento das leis aplicáveis e ocorrência de quaisquer outras condutas não éti-cas”, relata lander.

com as mudanças, a com-panhia busca se equiparar às práticas mais avançadas de conformidade e governança em vigor no mundo hoje. “A nova estrutura da empresa demonstra a independência no tratamento dos temas re-lacionados à conformida-de. O ccO ficará ligado ao comitê de conformidade, subordinado ao conselho de Ad-ministração, este lhe dando total independência em relação à di-reção da empresa, com poderes de investigar até o ceO”, afirma roberto Simões, presidente da Odebrecht Óleo & Gás.

Na liderança do Programa de conformidade, o ccO terá como principais atribuições monitorar

a exposição a riscos, gerenciar os trabalhos de auditoria interna, acompanhar os sistemas de contro-le interno, supervisionar o canal linha Ética, coordenar o comitê de Ética, disseminar o código de conduta, coordenar ou autorizar investigações internas, realizar treinamentos e supervisionar as políticas empresariais e corretivas ligadas à conformidade.

Odebrecht óleo e Gás contrata executivo de Conformidade

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A APOlO tUbUlArS, dando pros-seguimento à sua política de parce-rias e busca de novas tecnologias, acaba de assinar acordos de licen-ciamento para fabricação e comer-cialização de conexões premium com selo metal-metal e semipremium com as empresas japonesas JFe e Metal One, respectivamente. com investi-mentos significativos em aquisição de novos equipamentos e adaptações de layout, a planta de lorena (SP) está plenamente capacitada para a produção destas conexões até 2017.

empregada notadamente em poços de gás ou quando há altas pressões envolvidas, a conexão premium beAr conta com selo metal-metal, podendo ser usinada tanto em tubos de produção (2 3/8” a 4 ½”) quanto de revestimento (4 ½” a 9 5/8”) e, além de larga apli-cação em várias regiões do mundo, já está homologada pela Petrobras. esta conexão poderá ainda ser aplicada nos diferentes graus de aço fabricados pela Apolo, inclusive no l-80 cr 1%, recen-temente desenvolvido e já também homologado pela Petrobras.

A conexão semipremium Geo-conn, por sua vez, pode ser usinada apenas em tubos de revestimento e é perfeitamente intercambiável com a conexão btc (buttress), além de ter condições comerciais semelhantes a esta. Apresenta, ainda, algumas vantagens com relação à btc, tais como, possui maior resistência a al-tos valores de torque, permite maior número de torques / ‘destorques’, é adequada para perfuração de poços com colunas de revestimento (casing drilling) e tem melhor desempenho em poços geotermais e de injeção de vapor.

A Apolo tubulars é uma empresa brasileira, focada na produção de tubos de aço de alta qualidade, sol-dados por indução de alta frequência (hFIW), para a indústria de petróleo e gás e outros segmentos do setor de energia. Atualmente, a planta indus-trial tem capacidade instalada para produzir 120 mil toneladas de tubos ao ano, destinados aos mercados de produção e exploração (OctG), tu-bos de condução (line Pipe), tubos estruturais e industriais..

Apolo Tubulars

Apolo Tubulars lança conexões premium e semipremium em 2016

INFORMAçãO DE QuALIDADE.Na ponta dos seus dedos

www.tnpetroleo.com.br

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produtos e serviços

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Em primeiro lugar, ao se falar em conteúdo local (cl) é preciso se ter em mente um aspecto fundamental que permeia o desenvolvi-mento industrial no mundo – a competitividade. Um país precisa ter

competitividade na sua base industrial para discutir e implementar uma política de compras no mercado interno. caso contrário, uma política desta natureza acaba por se tornar uma reserva de mercado com efeitos negativos e desestruturantes para o país no longo prazo.

O drive da indústria mundial – e aí não nos referimos apenas ao mer-cado de petróleo que, por si só, é transversal, mas a todos – está calcado em três pilares: eficiência, prazo e custo. Se a indústria de um país não é capaz de produzir reunindo esses três fatores ao mesmo tempo, ela não é competitiva.

Outro relevante aspecto é o teor altamente tecnológico do setor petró-leo. essa indústria é conhecida por tratar com tecnologias do tipo state of art, ou seja, o que há de mais moderno em termos de tecnologia está na indústria do petróleo. Uma espécie de suprassumo da engenharia. logo, não é qualquer lugar que pode oferecer infraestrutura e condições para que essas tecnologias se desenvolvam e sejam disseminadas.

daí a necessidade de se estabelecer no brasil uma política industrial para o setor de petróleo e gás delimitando-se, claramente, quais são as escolhas, as estratégias e as bases do desenvolvimento desse setor no país, oferecendo infraestrutura adequada e competitiva.

A partir daí, o cl seria uma ferramenta para atingimento destes obje-tivos e não uma política per se. Querer impor, a partir de uma abordagem top-down, uma política de cl conforme a que está sendo hoje praticada no brasil (que começa a sofrer uma reflexão a partir do Pedefor) é um contrassenso.

Positivamente, a lógica de penalização por não cumprimento dos índices acordados nas rodadas realizadas está sendo revista, a partir da elaboração do Pedefor. Muitas empresas acabam por precificar o custo do não cumprimento e acabam levando ao preço final esses valores, encare-cendo seus serviços/produtos.

Ao inverter a lógica da penalização por não cumprimento pela lógica da bonificação por cumprimento, a indústria será mais estimulada a

Uma questão de escolha política

Sérgio Teixeira é superintendente de Competitividade da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econô-mico, Energia, Indústria e Serviços (Sedeis).

Julio Cesar Pinguelli é superintendente de Óleo e Gás da Secretaria de Estado de Desenvolvi-mento Econômico, Ener-gia, Indústria e Serviços (Sedeis).

conteúdo local

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comprar no país e a trazer tecnologia, empregos, geração de renda e outros setores, desde que sejam disponibilizadas as condições estruturais para a pro-dução no país.

O Ministério do desenvolvimento, Indústria e co-mércio exterior (MdIc), órgão que está coordenando a institucionalização de novas regras para o conteúdo local, abriu consulta pública com o intuito de solicitar os diversos segmentos representativos da indústria de O&G sugestões para o aperfeiçoamento das regras vigentes do conteúdo local.

A este propósito, tivemos a oportunidade de nos manifestar, remetendo à coordenação do Pedefor o que entendemos ser relevante para o aprimoramento dessa ferramenta:•redirecionamento da cláusula de Pd&I das opera-

doras (cláusula de 1%) para o uso em desenvolvi-mento tecnológico e inovação diretamente na rede de fornecedores.

•excluir o conteúdo local para a fase de exploração, mas o valor obtido pela concessionária poderá ser computado como bônus na fase de desenvolvimento da produção.

•Substituição dos mecanismos de punição (multas) pelo de incentivo, com o encorajamento por meio da bonificação às empresas que excederem os compromissos mínimos de cl propostos por elas na formalização do bId.

•desenvolvimento de uma Política Industrial para o setor de Petróleo e Gás no país em que se busque, ao mesmo tempo, a redução dos custos e a ma-nutenção de uma cadeia fornecedora competitiva para o setor no brasil. O cl seria realocado como um instrumento dessa política industrial para o setor de petróleo e gás no brasil, e não como uma política com fim em si mesma.

•revitalizar a política de compras locais do setor petróleo de forma a torná-lo um mecanismo atra-tivo de promoção de investimento em exploração e produção e do desenvolvimento da cadeia local de fornecedores (outro instrumento dentro de uma política industrial).

•definição dos segmentos industriais onde o brasil possua real competitividade internacional, a fim de que se estabeleçam metas para o seu desenvol-vimento e condições de atendimento do mercado nacional e internacional de bens e equipamentos para o setor de petróleo e gás.

•Nos demais segmentos industriais, a ampliação do regime do repetro, renovando seu convênio, que está para vencer.

Não somos nem podemos ser competitivos em tudo. Portanto, é preciso eleger os setores em que seremos competitivos e traçar uma política indus-trial para estimular essas atividades. É uma questão de escolha política.

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Depois da mostra O Triunfo da Cor: Pós-

Impressionismo, reunindo Monet e os pintores

de sua geração, ou a exposição de obras

inéditas de Picasso, o CCBB-RJ premia

outra vez os cariocas e turistas com a bela

amostragem das obras do pintor holândes

Piet Mondrian (1812-1944).

e a harmonia universal das artesMondrian

por Orlando Santos

coffee break

Mondrian e o Movimento De StijlCCBB-RJ

Até o dia 09 de janeiro de 2017

Rua Primeiro de Março, 66 – Centro

Telefone: (021) 3808-2020

Horário: quarta a segunda,

das 9h às 21h

Entrada franca

trAtA-Se de UMA eXPOSIçãO IMPerdíVel e que, entre outras coisas, ajuda a melhorar a autoestima de quem mora num estado em situação de extrema gravidade socioeconômica, incluindo aí, como não poderia deixar de ser, a questão da redução dos royalties do pe-tróleo que minguou os cofres fluminenses.

O nome Mondrian, para muita gente, remete a uma associação mais ou menos imediata com retângulos de cores primárias delimi-tados por grossas linhas pretas. Mas ele, como tantos outros mestres das artes, não se manteve a vida inteira no âmbito dos seus trabalhos mais conhecidos. Piet Mondrian criou sua obra mais famosa – com-posição com grande plano vermelho, amarelo, preto, cinza e azul, em 1921 –, depois de uma trajetória iniciada em 1892, ao ingressar na Academia real de Artes Visuais de Amsterdã.

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Nos quase 30 anos que antecederam esse despo-jamento, Mondrian produziu paisagens carregadas de cores escuras, e às vezes sombrias, que carac-terizavam a pintura holandesa do século XIX. Aos poucos, foi se aproximando dos movimentos artísticos que aconteciam na europa. Seus tons foram clarean-do e suas composições ficando mais ousadas à me-dida em que se aproximava dos pós-impressionistas franceses, enchendo-se das cores e pinceladas vigo-rosas de Van Gogh, ou experimentando o pontilhismo de Seurat. Num processo contínuo, após a influência temporária do cubismo, procurou formas de abstrair a realidade e buscar a essência da imagem.

Mondrian e o Movimento De Stijl é o título da exposição promovida pelo ccbb, em parceria com a Art Unlimited. “Organizamos tudo para que o vi-sitante possa acompanhar esse percurso e entender que aqueles retângulos coloridos que povoam até hoje o imaginário do moderno, e são tão facilmen-te reconhecíveis, não nasceram de uma hora para outra, nem por acaso”, explica o curador da exposi-ção, Pieter tjabbes.

A exposição, contudo, não se esgota com a história artística de Mondrian. há uma segunda etapa, igualmente relevante para compreender o que aconteceu naquele período (1917-1928), que mostra a agitação provocada pela revista De Stijl (O estilo), o meio escolhido para que um grupo de artistas, designers e arquitetos, incluindo Mon-drian, defendesse o neoplasticismo e a utopia da harmonia universal de todas as artes.

O artista holandês acreditava que sua visão da arte moderna transcendia as divisões culturais e poderia se transformar numa linguagem universal, baseada na pureza das cores primárias, na superfí-cie plana das formas e na tensão dinâmica em suas

telas. e seus companheiros da De Stijl não só tinham visão semelhante, como apli-caram esses conceitos a todo tipo de arte.

Os princípios que a revista propagou, nos 12 anos de sua exis-tência, foram utilizados nas artes plásticas, na arquitetura, na fotogra-fia, no design, na literatura, na tipografia e até mesmo na moda. em Mondrian e o Movimento De Stijl será possível acom-panhar essa forma de ver o mundo e as artes que era revolucionária em 1917 – e continua moderna até hoje –, por meio de obras originais, maquetes, mobiliários, fotogra-fias, documentários, fac-símiles e publi-cações de época.

A mostra exibe cerca de cem obras – 30 das quais de Mondrian – e uma seleção de múltiplas manifestações do movimento de Stijl, compondo o mais completo conjunto desse período já exibido no brasil.

A maior parte do acervo exposto é procedente do Mu-seu Municipal de haia (Gemeentemuseum, den haag), da holanda, o qual reúne a maior coleção do mundo de obras de Mondrian. A exposição, que é gratuita, já passou por São Paulo, brasília e belo horizonte.

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Para divulgação de cursos e/ou eventos, entre em contato com a redação. Tel.: 21 2224-1349 ou [email protected]

feiras e congressos

Todos bem na foto!Para relembrar bons momentos dos grandes eventos do setor, acesse a nossa galeria de fotos no Flickr. Afinal de contas, recordar é viver!

Para divulgação de cursos e/ou eventos, entre em contato com a redação. Tel.: 21 3786-8365 ou [email protected]

16 a 19 – Emirados ÁrabesWorld Future Energy SummitLocal: Abu DhabiTel.: +971 50 452 8168 e-mail: [email protected]

12 a 16 – Emirados ÁrabesMiddle East Sulphur 2017Local: Abu DhabiTel.: 020 7903 2444 e-mail: [email protected]/bXvYtu

17 a 19 – EuAArgus Americas Crude SummitLocal: Houston, TXTel.: 7134007846 e-mail: [email protected]/pH3ySL

13 a 14 – Reino unidoFloating LNG 2017 Local: LondresTel.: 02078276140 e-mail: [email protected] www.deepwateroperations.com

31/01 a 02/02 – MéxicoEnergy Mexico Oil Gas Power 2017Local: Cidade do MéxixoTel.: +52 55 1087 1650 e-mail: [email protected]

21 a 22 – Reino unidoFPSO Europe Congress 2017Local: LondresTel.: 6567229399 e-mail: [email protected] www.theeagc.com

2017Janeiro

Fevereiro

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opinião

Os riscos ao meio ambiente das obras do PPI

Carlos Bocuhy é presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam)

Para aqueles que se esforçam em defesa da sustentabilidade, informo

que temos mais uma novidade. A superficialidade da política brasileira

continua sofrível diante da necessidade de implementar mínimos

requisitos ambientais.

Mas não é a primeira vez que uma crise econômica propicia “mandracarias” e truques desonestos. leia-se aqui ameaças ao regramento constitucional e à defesa

do bem público representado pelo meio ambiente. É obvio que o governo tem de agir para o

enfrentamento da crise econômica, que se arras-ta há dois anos. É seu dever. Mas as ofertas para saídas da crise, incluídas no pacote de bondades da lei 13.334/16, apresentado como o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), parecem um bombom recheado com cacos de vidro, apontan-do para um processo que poderá gerar passivos ambientais intermináveis.

Um dos primeiros atos previstos no PPI foi a assinatura, no último dia 20 de novembro, dos contratos de prorrogação do arrendamento de dois terminais portuários no país. Uma das concessões foi a do terminal de contêineres de Salvador (bA), que terminaria em 2025 e foi renovada até 2050. A outro, o terminal de fertilizantes de Paranaguá (Pr), com término previsto para 2023 e agora es-tendido até 2048.

As obras previstas no PPI são bem mais amplas e podem atropelar, sem qualquer freio, as regras ambientais. A teoria da Curva de Kusnetz é perfei-tamente aplicável a essas iniciativas de curtíssimo prazo: joga-se fermento no processo econômico, o que inchará todas as áreas com pequenos efeitos de uma maré para flutuar todos os barcos – mas em curto prazo a curva se fecha, apenas concentrando renda para o capital e deixando à deriva a popula-ção em geral. trata-se de um processo alheio aos preceitos de sustentabilidade, inclusive econômica – e pior: ignora requisitos ambientais mínimos.

Quem vai assumir as responsabilidades pelas decisões que tenham efeitos sociais e ambientais nefastos, se forem tomadas de forma inconsequen-

te, em toque de caixa, com amplo aval político--administrativo, mas sem maiores compromissos em relação aos atingidos pelas mesmas?

com um texto repleto de frases sedutoras, a lei Federal 13.334, de 13 de setembro de 2016, apresenta à sociedade o PPI, destinado à amplia-ção e fortalecimento da interação entre o estado e a iniciativa privada por meio da celebração de contratos de parceria para a execução de empre-endimentos de infraestrutura e outras medidas de desestatização.

Ninguém é contra, como consta da lei, quando se trata de observar a necessidade de “ampliar as oportunidades de investimento e emprego e esti-mular o desenvolvimento tecnológico e industrial, em harmonia com as metas de desenvolvimento social e econômico do país; garantir a expansão com qualidade da infraestrutura pública, com tari-fas adequadas; promover ampla e justa competição na celebração das parcerias e na prestação dos serviços; assegurar a estabilidade e a segurança jurídica, com a garantia da mínima intervenção nos negócios e investimentos; e fortalecer o papel regulador do estado e a autonomia das entidades estatais de regulação”.

Mas como se dará a avalição ambiental deste pacote de rodovias, mineração, de usinas de carvão e gás, indústria de petróleo ou superexploração agrícola nas bordas da Amazônia? Sem um plano de sustentabilidade para o brasil, sem sabermos quais as grandes diretrizes que pretendemos seguir, o pacote de bondades inclui o mais sutil veneno, que aparece aos poucos, agora com o aval da casa civil.

Para a viabilização dos projetos e diante de sua precária condição de investimento, o estado brasi-leiro necessita de avalistas privados, e está dispos-to a seduzir estes exigentes investidores e toda a

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sociedade, como se dissesse nas entrelinhas: “Não vai haver empecilhos para aprovar seus projetos, o retorno é garantido e o gasto com as externalidades negativas será desprezível.”

há dispositivos para tudo na lei, menos filtros de qualidade ambiental. Ficam garantidíssimos: os prazos, a prioridade, a “segurança jurídica”, “a regularidade da tramitação sem compromisso com o conteúdo”, entre outras. Se fosse para resumir o significado da lei, poderia ser: “Entre com os recur-sos e ganhe o céu da fluidez administrativa, técnica e legal: não haverá objeções para o seu empreendi-mento”. É céu de brigadeiro.

A lei nos coloca diante da perspectiva em que grandes obras de infraestrutura poderão definir o futuro de amplas regiões do país, sem discussões técnicas e democráticas imprescindíveis e que per-mitam a avaliação das demandas e necessidades socioambientais reais da sociedade.

Mas, vamos para além do recheio do bombom, para o aval legal, para “regulamentar”, para que sejam criadas as condições mais propícias para dis-torcer, simplificar e eliminar conteúdos críticos e questionamentos, assim como para atropelar, afas-tar e domesticar a participação e o controle social, e suas quaisquer críticas de ordem socioambiental.

entre os exemplos mais gritantes dos ingredien-tes da mágica socioambiental está o artigo 17 da lei. esse artigo diz, textualmente, que “os órgãos, entidades e autoridades estatais, inclusive as au-tônomas e independentes, da União, dos estados, do distrito Federal e dos Municípios, com compe-tências de cujo exercício dependa a viabilização de empreendimento do PPI, têm o dever de atuar,

em conjunto e com eficiência, para que sejam concluídos, de forma uniforme, econômica e em prazo compatível com o caráter prioritário nacio-nal do empreendimento, todos os processos e atos administrativos necessários à sua estruturação, liberação e execução”.

e vai além. “entende-se por liberação a obten-ção de quaisquer licenças, autorizações, registros, permissões, direitos de uso ou exploração, regi-mes especiais, e títulos equivalentes, de natureza regulatória, ambiental, indígena, urbanística, de trânsito, patrimonial pública, hídrica, de proteção do patrimônio cultural, aduaneira, minerária, tribu-tária, e quaisquer outras, necessárias à implantação e à operação do empreendimento.”

É imprescindível analisar a lei em conjunto com as facilitações e fragilizações trazidas pelas pro-postas de alterações no licenciamento ambiental que tramitam no congresso Nacional. Parece muito evidente que as propostas de alterações no licen-ciamento ambiental foram desenhadas e previstas de forma articulada.

leis como a 13.334/16 não podem ser vistas sem considerar as flexibilizações do licenciamento que estão tramitando no congresso. Quais as con-sequências ambientais dessas iniciativas?

A sociedade brasileira tem percepção desse risco? O Ministério Público está atento para este conjunto de ações governamentais e do setor eco-nômico, que estão sendo servidas com embalagem atraente ao povo brasileiro? responder a estas questões é essencial para que não tenhamos pela frente mais prejuízos ao meio ambiente, a pretexto de retomar o crescimento.

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