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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO PROCURADORIA DA UNIÃO NO ESTADO DE MINAS GERAIS Rua Santa Catarina, 480, Lourdes, CEP 30.170-080, Belo Horizonte/MG – Tel (31) 3029.3107 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 3ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS. Mandado de Segurança Processo nº 16087-58.2013.4.01.3800 Impte.: Renata dos Reis Luiz Barbosa Imptdo.: General de divisão do Exército Brasileiro do 4º Comando Região Militar A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, vem, respeitosamente, perante V. Exa., em face da tramitação do mandado de segurança em epígrafe, requerer o seu ingresso no feito, nos termos do disposto no art. 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009, com a consequente intimação do seu representante judicial acerca de todos os atos decisórios que serão praticados no presente processo. Na oportunidade, a União também se manifesta sobre importantes pontos a serem discutidos nesta ação. I – DOS FATOS: Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar por meio da qual pleiteia a impetrante RENATA DOS REIS LUIZ BARBOSA, sua reintegração ao serviço militar, na condição de direito que dispunha como 2ª Tenente Oficial Técnica 1

Defesa Mandado de Segurança- Renata dos Reis Luiz Barbosa

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 3ª VARA DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS.

Mandado de Segurança

Processo nº 16087-58.2013.4.01.3800

Impte.: Renata dos Reis Luiz Barbosa

Imptdo.: General de divisão do Exército Brasileiro do 4º Comando Região

Militar

A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, vem, respeitosamente,

perante V. Exa., em face da tramitação do mandado de segurança em epígrafe,

requerer o seu ingresso no feito, nos termos do disposto no art. 7º, inciso II, da

Lei nº 12.016/2009, com a consequente intimação do seu representante judicial

acerca de todos os atos decisórios que serão praticados no presente processo.

Na oportunidade, a União também se manifesta sobre importantes

pontos a serem discutidos nesta ação.

I – DOS FATOS:

Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar por meio da qual pleiteia a impetrante RENATA DOS REIS LUIZ BARBOSA, sua reintegração ao serviço militar, na condição de direito que dispunha como 2ª Tenente Oficial Técnica Temporária (OTT), em face de suposta exoneração indevida, ocorrida em 25.02.2013.

A liminar foi indeferida

Não merecem prosperar os pleitos da impetrante, conforme se demonstrará adiante.

II – PRELIMINAR1

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- AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO A PERMITIR A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA – INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA

De suma importância assentar a impropriedade absoluta da via

eleita, vez que incabível, no presente caso, o Mandado de Segurança.

Com efeito, dispõe o art. 5º, LXIX, da Constituição da República:

“LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.”

Da simples leitura do texto constitucional verifica-se ser

imprescindível, para a concessão da segurança, que exista um ato ilegal ou

efetuado com abuso de poder praticado por autoridade pública ou agente de

pessoa jurídica no exercício de atribuição do Poder Público.

Logo, não é qualquer ato da autoridade, mas somente aquele que se

revestir de ilegalidade ou abuso de poder é que poderá ser objeto da impetração.

Com efeito, resulta claro que a atuação do General de divisão do

Exército Brasileiro do 4º Comando Região Militar não se enquadra em nenhuma das

hipóteses que dão ensejo à impetração de mandado de segurança.

Assim, em abuso de poder não se pode falar, visto que não foram

excedidos os limites de sua competência de atuação, bem como não houve desvio

de finalidade.

Com relação à ilegalidade, de igual sorte, também não se cogita. Isto porque a prorrogação do contrato de trabalho do militar temporário é ato discricionário da Administração, sujeito simplesmente ao critério de conveniência e/ou oportunidade.

Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais é firme acerca do poder de discricionariedade na hipótese aqui tratada (realces meus):

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ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. PRORROGAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO. ATO DISCRICIONÁRIO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. LEGALIDADE DO ATO DE LICENCIAMENTO. 1. O militar somente adquire a estabilidade após dez ou mais anos de tempo de serviço, conforme dispõe o artigo 50, IV, a, da Lei nº 6.880/80. No caso, considerando o tempo de serviço do apelante, inevitável concluir que ele não alcançou a pretendida estabilidade, não havendo ilegalidade em seu licenciamento. 2. O militar temporário não possui qualquer direito adquirido à incorporação definitiva no serviço ativo do exército ou à prorrogação do seu tempo de serviço, a qual, ademais, é ato discricionário, sujeita simplesmente ao critério de conveniência e/ou oportunidade da Administração, que não está impedida de licenciar ex officio o militar, nos termos do art. 121, II, § 3º, a e b, da Lei nº 6.880/80.(TRF-4 - AC: 260 SC 2008.72.06.000260-2, Relator: MARGA INGE BARTH TESSLER, Data de Julgamento: 29/07/2009, QUARTA TURMA, Data de Publicação: D.E. 17/08/2009, undefined)

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. LEGITIMIDADE DA AUTORIDADE APONTADA COMO COATORA. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. MILITARES TEMPORÁRIOS. LICENCIAMENTO. ATO DISCRICIONÁRIO. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO À PRORROGAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. 1. De acordo com a teoria da encampação, adotada por este Superior Tribunal de Justiça, a autoridade hierarquicamente superior, apontada como coatora nos autos de mandado de segurança, que defende o mérito do ato impugnado ao prestar informações, torna-se legitimada para figurar no pólo passivo do writ. 2. Os militares temporários, que não adquiriram estabilidade, podem ser licenciados pela Administração, por motivos de conveniência e oportunidade, por ato discricionário que, em regra, prescinde de motivação. Precedentes. 3. Segurança denegada. (STJ - MS: 8206 DF 2002/0019643-0, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 14/05/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 29/05/2008LEXSTJ vol. 228 p. 49, undefined)

Portanto, se não há ato ilegal da autoridade coatora, nem abuso de

poder, então, não é cabível o Mandado de Segurança.

Assim, por ser inadmissível a utilização da ação de mandado de

segurança no presente caso, ante a inadequação da via eleita, o presente feito

merece ser extinto sem resolução de mérito.

III – DO MÉRITO

Por fim, cumpre ressaltar outras questões apresentadas pela

autoridade tida coatora, a saber:3

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“ a. Afirma a impetrante ter concluído Especialização Lato Sensu em Psicopedagogia e aduz que a referida especialização é condição sine qua non para a ocupação do cargo ao qual pretende ser reintegrada. Afirma também que o referido cargo vem sendo irregularmente ocupado por duas militares oficiais Técnicas Temporárias, Pedadogas;

b. ocorre que referido entendimento, à luz da melhor hermenêutica para o caso, não pode prosperar, por não estar condinzente com a realidade dos fatos e de seu licenciamento do serviço ativo;

c. com efeito, a legislação na qual se baseia a impetrante, Portaria Nr 101-EME, de 01 de agosto de 2013, aplica-se genericamente a todas as Organizações Militares do Exército Brasileiro, devendo sua interpretação, em qualquer caso, ser cumulada com o QCP (Quadro de Cargos Previstos) da respectiva Unidade - no caso em tela uma Organização Miniltar Controlada (OMC), cujo QCP para o ano de 2013, fora devidamente aprovado pela 1ª Sub-Chefia do Estado-Maior do exército (EME), em 31 de agosto de 2012. (...)

d.(...) de acordo com a Portaria NR 101-EME c/c com o QCP do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva/Colégio Militar de Belo Horizonte (CPO/CMBH), há previsão de duas vagas a serem necessariamente preenchidas por Oficiais da Carreira do Quadro Complementar de Oficiais do Exército, uma para a referenciação 7223 e outra para a 7224. E há previsão de outras duas vagas, na condição de “pessoal excedente”, a serem preenchidas por Oficiais de Carreira ou Temporários, ambos do Quadro Complementar, sendo uma para a referenciação 7223 e outra para a 7224. Ressalta-se que, em todas as situações, NÃO se exige qualquer habilitação profissional (especialização lato ou stricto sensu), mas sim, mera GRADUAÇÃO em Pedagogia ou Orientação educacional (referenciação 7223) e em Psicologia ou Orientação Educacional (referenciação 7224). Cabendo lembrar que a Portaria do EME é clara ao classificar e distinguir a Grande Área do Conhecimento como “Serviço Psicossocial”, no qual se inserem as “especialidades” de Pedagogia, Psicologia, Assistencia Social, Orientação Educacional e outras, deixando a cargo de cada Unidade a obrigatoriedade ou não de habilidade específica- o que faz através do QCP (...).

e. no que tange ao processo de licenciamento, informo-vos que as vagas previstas para os Oficiais de Carreira, além de constantes no QCP do CPOR/CMBH, também foram divulgadas no Plano de Movimentações do Exército (destinado a militares de carreira em âmbito nacional) - procedimento obrigatório tendo em vista que , havendo “previsão de vaga” para Oficial de Carreira no QCP da Unidade “ocupada” por Oficial Temporário ou com “claro”, abre-se a possibilidade de “transferência”. Frisa-se, a prioridade na ocupação do cargo, nestes casos, é do militar de carreira, e não do temporário (cujo contrato é anual e pode ou não ser renovado em até 30 dias antes de seu termo, de acordo com a necessidade do serviço para o cumprimento da missão institucional da Unidade e respeitando-se os critérios de conveniência e oportunidade, por se tratar de ato discricionário do Comandante);

f. (...)insta salientar que , conforme consta inclusive nas FAOT, o que CPOR/CMBH tem autorização do EME para manter em seu quadro de pessoal um número máximo de 29 Oficiais Temporários, restando preenchidas, até a análise das FAOT, apenas 27 vagas. Eis o motivo pelo qual, tendo em vista a necessidade do serviço e o critério exclusivo do Comandante do CPOR/CMBH, em setembro de 2012 fora divulgado Edital para preenchimento de cargos de Oficiais Temporários para o ano de 2013, cuja contratação era imprescindível. Ocorreu que ,

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externamente, em função do Plano de Movimentação de Oficiais de Carreira do Exército, ao contrário do que se esperava, houve manifestação de transferência para Belo Horizonte, por militar de carreira integrante do Quadro Complementar do Exército na Especialidade de Pedagogia.Assim, a vaga de militar de carreira, Pedagogo, prevista no QCP do CPOR/CMH, até então ocupada por militar temporária, cuja contratação deu-se por período de 12 meses, passível de renovação anual conforme legislação específica deveria, necessária e obrigatoriamente, ser cedida em caráter prioritário ao Oficial de carreira cuja movimentação se processara.(...)h.(...) E,especificamente, no que concerne à motivação [do licenciamento da impetrante], também esta fora adequada tendo em vista que o único fato omitido pela Administração na divulgação ampla do licenciamento fora o conceito obtido pela impetrante na FAOT-2012 (menor pontuação entre as três profissionais avaliadas,) (...).É de conhecimento de todos os Oficiais Temporários o fato de que sua renovação anual depende de vários critérios, dentre eles, a existência de vaga prevista ou de claros nas vagas privativas de oficiais de carreira, o conceito obtido na FAOT e o rendimento nas atividades militares, dentre outros.

IV – CONCLUSÃO E PEDIDOS

Diante do exposto, a União requer o seu ingresso no feito, bem

como a extinção do processo sem resolução de mérito, em razão das preliminares

arguidas acima.

Caso assim não se entenda, no mérito propriamente dito, seja

denegada a segurança impetrada

Pede deferimento.

Belo Horizonte, 17 de abril de 2023.

Rodrigo de Souza NogueiraAdvogado da União

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