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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião desta Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Convido para tomar assento à Mesa a Sra. Lúcia Regina dos Santos Reis, Diretora Executiva da Central Única dos Trabalhadores — CUT. (Palmas.) Convido o Sr. Enílson Simões de Moura, o Alemão, Presidente da Social Democracia Sindical. (Palmas.) Convido o Sr. Antônio Carlos dos Reis, Presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores — COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO EVENTO: Audiência Pública N°: 0495/02 DATA: 23/05/02 INÍCIO: 10h25min TÉRMINO: 12h52min DURAÇÃO: 2h27min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h27min PÁGINAS: 57 QUARTOS: 30 REVISÃO: Anna Augusta, Cássia Regina, Leine, Mesquita, Rosa Aragão SUPERVISÃO: Ana Maria, Cláudia Luiza, Gilza, Letícia, Maria Luíza CONCATENAÇÃO: Zuzu DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO LÚCIA REGINA DOS SANTOS REIS — Diretora-Executiva da Central Única dos Trabalhadores. ENÍLSON SIMÕES DE MOURA — Presidente da Social Democracia Sindical. CARLOS HENRIQUE OLIVEIRA — Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal — CONFETAM. VLADIMIR NEPOMUCENO — Representante da Confederação Nacional das Entidades dos Servidores Públicos. IARA BERNARDI — Deputada Federal. SUMÁRIO: Debate sobre o direito de greve no serviço público. OBSERVAÇÕES Há intervenção inaudível. Há intervenções simultâneas ininteligíveis.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … fileSimões de Moura, o Alemão, Presidente da Social Democracia Sindical. (Palmas.) ... Concederemos cinco minutos a cada expositor,

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião desta Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Convido para tomar assento à Mesa a Sra. Lúcia Regina dos Santos Reis, Diretora Executiva da Central Única dos Trabalhadores — CUT. (Palmas.) Convido o Sr. Enílson Simões de Moura, o Alemão, Presidente da Social Democracia Sindical. (Palmas.) Convido o Sr. Antônio Carlos dos Reis, Presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores —

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

EVENTO: Audiência Pública N°: 0495/02 DATA: 23/05/02

INÍCIO: 10h25min TÉRMINO: 12h52min DURAÇÃO: 2h27min

TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h27min PÁGINAS: 57 QUARTOS: 30

REVISÃO: Anna Augusta, Cássia Regina, Leine, Mesquita, Rosa Aragão

SUPERVISÃO: Ana Maria, Cláudia Luiza, Gilza, Letícia, Maria Luíza

CONCATENAÇÃO: Zuzu

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

LÚCIA REGINA DOS SANTOS REIS — Diretora-Executiva da Central Única dos Trabalhadores.

ENÍLSON SIMÕES DE MOURA — Presidente da Social Democracia Sindical.

CARLOS HENRIQUE OLIVEIRA — Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal — CONFETAM.

VLADIMIR NEPOMUCENO — Representante da Confederação Nacional das Entidades dos Servidores Públicos.

IARA BERNARDI — Deputada Federal.

SUMÁRIO: Debate sobre o direito de greve no serviço público.

OBSERVAÇÕES

Há intervenção inaudível.

Há intervenções simultâneas ininteligíveis.

CGT. (Palmas.) Convido o Sr. Marco Antônio Campanella, representante da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil. (Palmas.) Convido o Sr. Carlos Henrique Oliveira, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal —CONFETAM. (Palmas.) Convido o Sr. Vladimir Nepomuceno, representante da Coordenação Nacional das Entidades dos Servidores Públicos. (Palmas.) Convido também para compor a Mesa a Deputada Iara Bernardi, autora de um dos projetos sobre o tema. (Palmas.)

Esta audiência pública destina-se a debater o direito de greve no serviço público.

O Deputado Freire Júnior, Relator de um dos projetos sobre o tema, de autoria do Poder Executivo, acaba de nos informar que, por motivo superior, não poderá comparecer a esta reunião.

Antes de dar início efetivo aos trabalhos, esclareço que a reunião está sendo gravada, para posterior transcrição. Por isso, solicito às pessoas que sempre se identifiquem ao microfone, declinando o seu nome.

Concederemos cinco minutos a cada expositor, com certa flexibilidade, sendo possível a prorrogação. Dado o número de expositores, esse tempo não poderá ser muito estendido. Somente assim poderemos permitir que seja feito o contraditório.

Gostaria de esclarecer que nossa idéia, em que insistiremos, é deixar que os autores e Relatores de projetos relacionados ao tema em debate — os que estiverem presentes, porque também a Deputada Rita Camata, autora de um dos projetos, não pôde comparecer, bem como o Deputado Paulo Paim — falem por último, porque será melhor para os trabalhos ouvirmos primeiramente as entidades da sociedade civil. Esta é a função da audiência pública. Portanto, a Deputada Iara Bernardi, aqui presente, poderá manifestar-se no final da reunião.

Esta audiência pública foi convocada porque já estava na pauta da Comissão — e por diversas vezes foi retirado — o projeto de lei que trata da falta ao serviço. O seu Relator, Deputado Freire Júnior, entendeu que esse projeto tratava também do direito de greve e ofereceu um substitutivo que efetivamente trata dessa questão. Pelo fato de, em diversas oportunidades, esse projeto ter sido retirado de pauta por falta de acordo, estamos fazendo esta audiência pública, que deverá, ao final, resultar em alguns encaminhamentos.

Lembro, no entanto, que em audiência pública não se delibera. Portanto, esta é uma reunião de debates, e as notas taquigráficas e gravações que estão sendo feitas servirão como orientação para os Relatores e para os encaminhamentos na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Este é o propósito da audiência pública. É sempre bom esclarecê-lo, porque, às vezes, as pessoas imaginam que podemos deliberar, o que não é o propósito deste tipo de reunião. A deliberação acontecerá no plenário da Comissão, nas reuniões ordinárias, que acontecem sempre às quartas-feiras.

Estabelecidos esses ritos, depois faremos registros e combinações com os demais membros da Mesa. Procuraremos ser os mais objetivos possíveis com relação à participação de representantes de entidades nos debates, evidentemente, não na condição de convidados. A Mesa pretende chegar a um entendimento sobre a possibilidade de essas pessoas se manifestarem.

Geralmente, a ordem dos trabalhos é, após os oradores, os Parlamentares inscritos terem

prioridade para se manifestar. Mas isso é algo que combinaremos durante os trabalhos.

Lembramos que não pode haver aparte aos oradores.

Concedo a palavra, pelo tempo combinado — de cinco minutos, com possível prorrogação —, à Sra. Lúcia Regina dos Santos Reis, representante da Central Única dos Trabalhadores, para falar sobre o tema.

A SRA. LÚCIA REGINA DOS SANTOS REIS – Bom dia, Srs. Parlamentares, senhoras e senhores presentes. Agradecemos o convite para discutir o direito de greve dos servidores públicos, de grande interesse para a Central Única dos Trabalhadores.

A CUT tem, entre suas filiadas e na sua base, expressivo número de entidades de servidores. A maioria das entidades do serviço público brasileiro está filiada à nossa Central e constituem 30% da base da Central Única dos Trabalhadores, o que, por si só, já nos traz a tarefa de interferir nesse debate em defesa do direito de greve e dos direitos sindicais dos servidores.

Esse debate tem em si um pouco da história da organização dos servidores públicos e de como ela se confunde com a tentativa de democratizar o Estado brasileiro. A história da CUT e dos servidores públicos se confunde com essa trajetória de luta pela democratização, seja pelo fim da ditadura militar, seja pelo fato de até hoje ainda não termos conseguido superar a consolidação histórica de um Estado autoritário, que permanece afastado das demandas sociais da população brasileira.

A luta pela dignidade da função pública e do servidor público vincula-se à permanente tarefa da sociedade e dos servidores, em especial, de modificarmos essa situação que ainda ocorre no Estado brasileiro, com a deterioração do aparelho administrativo, com cortes sucessivos de investimentos nas políticas públicas, especialmente as da área social e com a manutenção de relações absolutamente autoritárias e unilaterais, em que o servidor não é considerado parte.

Se, em 1988, conseguimos o direito à livre associação sindical, o direito de constituir sindicato, permanecemos sem o direito à negociação coletiva. Este debate deveria preceder a discussão sobre a regulamentação do direito de greve. Não compreendemos como é possível regulamentar o direito de greve e pensar no seu exercício sem antes implantar mecanismos legais para estabelecer a negociação coletiva.

Sempre que vemos iniciativas do Poder Executivo e, muitas vezes, também do Poder Judiciário e do Poder Legislativo quanto aos direitos sindicais dos servidores — com exceção do momento da elaboração da Constituição de 1988 —, nós as percebemos como iniciativas que visam a restringir esses direitos. Foram várias as iniciativas que tratavam de restringir o direito dos servidores ao exercício da greve, que hoje é constitucional. Apesar de esse direito ainda não ter sido regulamentado, é tarefa do Poder Executivo e do próprio Poder Legislativo continuar possibilitando o seu exercício.

Com alguma dificuldade, é verdade, nos anos 90, os servidores vinham conseguindo isso, mas o Governo inibiu o exercício do direito de greve dos servidores nas greves de 2000 e 2001 com pleno vigor, apesar de o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo, através de decretos e de sentenças, terem afirmado que, sem a regulamentação, não seria possível exercer esse direito, ou, no caso do Poder Executivo, através de um decreto de 1994, que prevê sanções, tentando calar o movimento sindical no serviço público.

A CUT não tem ainda posição definida sobre a regulamentação e tampouco sobre os PLs

que estão tramitando na Casa, excetuando o PL apresentado pelo Governo, que repudiamos, porque seu conteúdo não visa regulamentar o direito de greve, mas, evidentemente, restringi-lo.

Esse projeto cria medidas absolutamente inaceitáveis para a CUT e as entidades sindicais a ela filiadas, na medida em que propõe uma série de mecanismos, como o quoruminjustificável de dois terços da categoria presente à assembléia para a deflagração de greve; a possibilidade de a greve ser julgada ilegal, sem determinar qual o fórum de negociação e quais a instância e os parâmetros para a determinação dessa ilegalidade ou legalidade; o corte de salários, de modo que o servidor tenha de entrar em greve com o salário já cortado, para, depois, se a greve for considerada legal, ser restabelecido. Cito parte do conteúdo do projeto de autoria do Governo Federal, que, evidentemente, agride o que os Constituintes de 1988 estabeleceram: a concessão aos servidores do direito de greve.

Parece-me que se está aproveitando do fato de a regulamentação — que deveria ser feita por intermédio de lei complementar — hoje poder ser feita por intermédio de lei ordinária, aprovada com quorum mais baixo, para poder-se falar qualquer coisa. Na prática, isso é verdade, pelo menos na proposta do Governo.

Lemos todos os projetos, entre os quais há grandes diferenças. Alguns têm muitos méritos, preocupando-se, por exemplo, com a negociação coletiva. Mas a proposta do Governo tem mais defeitos do que méritos. Essa proposta surgiu da conjuntura da greve do ano passado, quando o Governo sofreu sucessivas derrotas no Poder Judiciário, que reconheceu que quem estava em mora eram os próprios Poderes Executivo e Legislativo, e não os servidores, que tinham assegurado na Constituição Federal o direito à greve.

Portanto, a proposta do Governo — esta, como outras iniciativas, especialmente do Governo Fernando Henrique Cardoso — vem no sentido de restringir mais ainda os direitos dos servidores. Ela apresenta todas as condições para impedir que os servidores exercitem seu direito de greve, previsto na Constituição Federal.

Para nós, essa discussão é importante, embora tenha precedentes. Ela deveria ser desenvolvida com condições de os trabalhadores, os juristas, a OIT, todas as entidades relacionadas com o trabalho e aqueles que podem discutir o tema participarem e verem como contornar impedimentos que a lei estabelece, para que os servidores possam ter direito à negociação coletiva.

Essa é uma tarefa que a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público e os Parlamentares dedicados ao tema deveriam assumir. Deveriam tratar da negociação coletiva. Não é possível apenas tentar impedir que os servidores defendam a dignidade da sua função e os serviços públicos, algo que normalmente faz parte da pauta de negociação e também faz crescer a mobilização dos trabalhadores do setor.

Sem o mecanismo da negociação e sem esse espaço adequado, não só se mantém a relação autoritária entre Governo e servidores, como também não se trata dos conflitos que cada vez mais se aprofundam entre os servidores e o Estado, nos mais diversos níveis, nas três esferas de Poder.

Ficam sem tratamento esses conflitos; fica sem tratamento o descaso com que o Governo, em especial o Governo Federal, vem tratando os serviços públicos. Quando justifica a apresentação do seu projeto — eu até fiz uma anotação —, o Governo declara que visa assegurar o funcionamento do Estado em circunstâncias de greve para preservar a prestação continuada dos serviços públicos essenciais à sociedade. No entanto, todos os

que pretendem falar a sério sobre esse tema sabem que, mesmo sem greve, a prestação continuada desses serviços está permanentemente ameaçada por motivos variados: falta de pessoal, falta de recursos, falta de participação da sociedade na gestão desses serviços, falta de transparência na utilização dos orçamentos. Todos esses temas deveriam estar — e normalmente estão — em debate normalmente, quando há greves do setor público.

A discussão sobre a regulamentação do direito de greve deve ser precedida pelo debate e pela implantação de mecanismos de negociação coletiva, além de envolver um conjunto maior de atores, que possam ajudar os trabalhadores e o Congresso Nacional a chegar a uma proposta que possa vir a ser aprovada. Garante-se, assim, a democratização dessas relações e a possibilidade de evitarmos as greves, porque quem mais produz greves no setor no País não são os trabalhadores federais, estaduais e municipais, mas o Governo.

São sete anos de congelamento de salário; são sete anos durante os quais foi retirada uma série de direitos. Isso tudo está documentado pelo DIAP e DIEESE. Todos conhecemos as agressões aos direitos dos servidores, não só aos direitos trabalhistas, mas também aos sindicais. Temos assistido à dificultação do desenvolvimento da ação dos dirigentes sindicais do setor. Hoje sua liberação não é facilitada; ela ocorre às expensas da entidade sindical. Conhecemos inúmeros casos em que se corta a contribuição sindical da folha de pagamentos, apenas para citar exemplos de ataques diretos ao desenvolvimento da atividade sindical no setor.

Temos de ampliar esse debate, e a Central Única dos Trabalhadores está disposta a participar dessa discussão, trazendo os elementos necessários para que se desenvolva da melhor maneira possível.

Como meu tempo acabou, vou concluir agradecendo a todos a atenção.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos à Sra. Lúcia Reis a manifestação.

Antes de passar a palavra ao próximo orador, registro a presença do Deputado Pedro Celso, do PT do Distrito Federal.

Mantendo a ordem dos oradores inscritos, concedo a palavra ao Sr. Enílson Simões de Moura, o Alemão, pelo tempo previamente estabelecido.

O SR. ENÍLSON SIMÕES DE MOURA – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, registro ausências importantes: do João Felício; do Paulo, da Força Sindical; e do Antônio, da CGT. As Centrais deveriam atribuir maior importância ao servidor público e se empenhar mais para participar de uma discussão que tem a qualidade que esta tem. É lamentável que os Presidentes das Centrais estejam ausentes neste momento tão importante.

A Social Democracia Sindical está aqui. Temos entre nossos filiados a Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, cerca de 25 federações e 600 sindicatos de servidores públicos. Temos orgulho de esse contingente de trabalhadores brasileiros ter optado pela Social Democracia Sindical e, além do orgulho, naturalmente compreendemos o que isso significa em termos de tarefa e de demanda. A Social Democracia Sindical pratica e discute a necessidade de ser estabelecido de fato o sindicalismo cidadão e a recuperação da cidadania no nosso País. Isso só pode ocorrer se o Estado tiver capacidade de prover os requisitos mínimos indispensáveis para o exercício da cidadania, que significam

segurança pública de qualidade, saúde pública de qualidade, educação pública de qualidade, entre outros.

Temos a clara consciência de que o principal usuário dos serviços públicos do Estado são os trabalhadores, para os quais não existe saúde privada, educação privada, segurança privada. Enfim, os trabalhadores precisam do Estado, e o Estado civilizado precisa ter um serviço público organizado, precisa ter servidor público bem remunerado, bem qualificado e motivado para a prestação do serviço público. Sem essas características não existe cidadania.

A Câmara dos Deputados já deveria, depois da Constituição Federal de 1988, ter feito as leis complementares necessárias para que houvesse uma prática sindical, para que os direitos sindicais dos servidores públicos inscritos na Constituição Federal de 1988 já pudessem, a esta altura, ter-se transformado em realidade. Até hoje isso não foi feito. Há, efetivamente, um déficit, um passivo com relação ao servidor público nesta Casa de leis.

É evidente que ela teve muitas prioridades, mas pensamos que para se falar de um Estado cidadão e de cidadania em nosso País temos de resolver a questão do serviço público. Nesse quadro geral precisamos solucionar definitivamente a questão do direito de sindicalização, dos direitos sindicais de maneira geral e do direito de greve do servidor público.

Srs. Deputados, pensamos que o debate é a melhor forma de buscar o entendimento. Em primeiro lugar, a iniciativa do Governo teve o único mérito de acelerar a discussão, mas, certamente, a nosso ver, não merece sequer ser considerada, para efeito de debate, porque é claro que visa fazer com que não haja mais greve no serviço público. Como pode não haver mais greve no serviço público se tem havido inúmeros motivos para que elas aconteçam?

Por força da função que exercemos, nós, na Presidência da Central, temos conversado com Prefeitos das grandes Capitais deste País, com Governadores e com Ministros, e sentimos que existe desprezo pelo servidor público — para essas autoridades, o servidor público é considerado, na melhor das hipóteses, um mal necessário. E essa onda, que começou basicamente há quinze anos, continuou crescendo e vem ganhando um grau de irracionalidade muito grande, prejudicando a relação entre os servidores públicos e a sociedade, entre os servidores públicos e os mandatários do Estado, etc.

Não vamos fazer nenhum discurso contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas vamos exigir que também exista uma lei de responsabilidade social à qual a Lei de Responsabilidade Fiscal deva ser subordinada. É o que pensamos ser necessário neste País para que se possa efetivamente organizar o serviço público.

Como este é um debate muito grande, esta é uma característica do Estado brasileiro, e não estamos aqui para fazê-lo neste momento — embora possamos fazê-lo e estejamos à disposição para isso —, queremos dizer que, no tocante à questão da greve, apoiamos integralmente o substitutivo que está tramitando nesta Casa, de autoria do Deputado Sérgio Novais. Ele remete as decisões dos impasses para a Justiça do Trabalho que, a nosso ver, é a justiça especializada, que deve julgar as questões relacionadas a greve e a dissídios quando não há acordo. Ele define as obrigações e os deveres para que se faça a greve, permitindo o exercício de greve tal como conhecemos para os trabalhadores do setor privado da economia brasileira.

Portanto, em nome da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, representada aqui por seu Presidente, João Domingos, e das federações a ela filiadas — alguns de seus

representantes estão aqui presentes: o Presidente da Federação de Goiás, Mauro Zica; o Presidente do Sindicato de Goiânia, Sinésio, e muitos outros dirigentes sindicais —, reiteramos nosso repúdio à integralidade da proposta que o Governo apresentou nesta Casa e nosso apoio à proposta do Deputado Sérgio Novais.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao Sr. Enílson Simões a exposição.

Registro a presença em nosso plenário do Sr. João Domingos, Presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil.

Informo aos representantes de entidades que depois queiram fazer alguma intervenção ou questionamento que vamos passar uma lista e, posteriormente, verificaremos a dimensão do tempo. Os interessados podem procurar a assessoria.

Passo a palavra ao próximo orador, Sr. Carlos Henrique Oliveira.

O SR. CARLOS HENRIQUE OLIVEIRA – Senhoras e senhores, companheiros e companheiras, muito bom dia.

Antes de mais nada, parabenizo o Deputado Avenzoar Arruda pela iniciativa de realizar esta audiência, concedendo a segmentos e movimentos de trabalhadores a oportunidade de discutir o direito de greve em nosso País.

Registro a presença neste plenário de companheiros que saíram de diversas cidades, tanto do Estado de Minas Gerais quanto do Estado de São Paulo, como Santa Luzia, Belo Horizonte, São Paulo, Santos, São José dos Campos, Guarulhos, Arujá e Mogi das Cruzes, demonstrando que este debate de fato interessa aos trabalhadores do serviço público, em particular aos servidores públicos municipais.

Companheiros, o debate que está em foco nesta Casa merece uma consideração histórica sobre como tem sido tratada a questão da greve no nosso País. No final do século XIX já víamos os primeiros movimentos grevistas no Brasil. Ainda assim, a Constituição de 1891 ignorou por completo a possibilidade de qualquer referência em relação à greve. Isso aconteceu não por mero acaso. Exatamente um ano antes, em 1890, era aprovado o Código Penal, em que a figura da greve aparecia classificada como um delito. Mas não foi esse posicionamento que impediu os trabalhadores de realizar greve, principalmente no início do século XX. Houve greve de trabalhadores em 1905, 1907, 1917 e 1929.

É interessante vermos como se passou a tratar a greve a partir daí. Em 1932 foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação. Em um dos artigos da lei que previa a criação dessas Comissões, já havia a previsão de punição com demissão sumária para aqueles que realizassem greve.

A Constituição de 1937, que classificou a realização de greve como um recurso anti-social, mostrava bem o que significava a greve no nosso País.

O Código Penal de 1940 também abordou a questão da greve, prevendo, inclusive, a possibilidade de detenção para aqueles que a realizassem.

Em 1946 tivemos uma grande contradição. Embora nesse ano tenha sido aprovada uma

Constituição democrática, o máximo que se conseguiu foi uma referência à greve como um direito dos trabalhadores que seria regulado em lei. Isso se repetiu depois em 1988, no último processo constituinte que tivemos. Mas se a Constituição democrática, no máximo, dava esse tratamento, é interessante observarmos o Decreto-Lei nº 9.070, assinado pelo General Dutra. O decreto previa, inclusive, a destituição dos dirigentes sindicais que não trabalhassem na perspectiva de se resolver o conflito, ou seja, o dirigente sindical que, no exercício de seu cargo, não estimulasse o fim de um conflito poderia ser destituído automaticamente de sua função.

Não foram esses aparatos jurídicos que impediram a manifestação dos servidores. Tivemos greves em 1953, em 1957, esta reunindo mais de quatrocentos mil trabalhadores, e o advento do golpe militar. Dois meses depois do golpe militar, tivemos a aprovação, no Congresso, do Projeto de Lei nº 4.330. Esse projeto, que naquela época já era classificado como uma lei antigreve, era interessante porque já previa a questão do quorum. Eram necessários dois terços de todos os trabalhadores da categoria em primeira chamada, um terço, em segunda chamada, e, para as categorias com mais de 5 mil trabalhadores, o quorum exigido era de um oitavo. Não foi essa lei, nem muito menos a Lei de Segurança Nacional, em 1969, que impediu a realização de greves, mais notadamente no final da década de 70 e início da década de 80.

Essa reflexão histórica, do ponto de vista do tratamento jurídico que se deu em nosso País em relação à greve, é muito importante porque, invariavelmente, no Brasil, a questão da greve foi tratada por um viés extremamente autoritário. A questão da greve é associada muito mais ao Código Penal do que propriamente a um direito expresso na Constituição. Mesmo virando o milênio, vamos perceber que esse caldo cultural extremamente autoritário ainda prevalece nas iniciativas governamentais. Se observarmos o Projeto de Lei nº 6.032, iniciativa do Governo Fernando Henrique Cardoso, veremos também a figura do quorum, só que de maneira muito mais extremada do que a forma como o próprio regime militar tratou a questão em seu projeto de lei, que acabei de referenciar.

Atualmente o Governo Fernando Henrique está propondo quorum de dois terços em assembléias para aprovação de greve. Somente isso. São dois terços, e fim de papo. Não existe sequer a aparente generosidade que vimos durante o regime militar, quando eram exigidos dois terços em primeira chamada. Sem falar de outros artigos que suspendem imediatamente o pagamento dos servidores públicos quando efetivamente houver a possibilidade da realização de greve.

Num País da dimensão do nosso, cujo povo trabalhador demonstra capacidade histórica de reverter situações adversas, não será um empecilho jurídico que irá conter a realização de greves. A própria história mostra isso. Mas, independentemente dessa vontade e determinação histórica, temos, neste momento, uma tarefa que, embora necessária, eu classificaria como bastante difícil de ser sustentada: a de se debater, de se disputar, no campo das idéias, a possibilidade da realização de greve no serviço público.

Além dessa iniciativa do Governo Fernando Henrique Cardoso, temos outros quatro projetos de lei com conteúdo bastante proveitoso e que merecem nossa reflexão.

Chamo a atenção, em particular, para o Projeto de Lei nº 6.141, apresentado pela Deputada Iara Bernardi. Esse projeto de lei, na verdade, tem um diferencial em relação aos outros: ele é fruto de debate. É bem verdade que o debate envolveu uma parcela do movimento sindical, uma parcela dos servidores públicos, mas, ainda assim, existe esse diferencial em relação aos outros projetos de lei. Houve um debate, na verdade dois seminários, com participação de representantes e advogados de entidades sindicais e de representações internacionais. A partir dos dois seminários e do debate, foi materializado

um projeto de lei que a Deputada Iara Bernardi gentilmente se dispôs a protocolar nesta Casa de leis.

Parece-nos que este debate não sai do zero. Não quero com isso tentar constranger nenhuma outra iniciativa. Só deixo claro que, sem dúvida alguma, é necessário um amplo debate envolvendo setores não só do funcionalismo público, mas também da iniciativa privada e da própria sociedade, que tem interesse na discussão, porque é um dos setores que mais sofrem com a realização de uma greve.

Nestes minutos finais, gostaríamos de chamar a atenção para a necessidade de ampliação do debate e para a possibilidade de se lançar um olhar generoso em relação à iniciativa do movimento sindical de discutir o assunto e apresentar uma proposta. Não somos donos da verdade, talvez esta não seja a melhor proposta, mas é um referencial e significa que não estamos saindo do zero neste debate. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao Sr. Carlos Henrique Oliveira a exposição.

Passamos a palavra ao Sr. Vladimir Nepomuceno, próximo expositor.

O SR. VLADIMIR NEPOMUCENO – Em primeiro lugar, cumprimento o Deputado Avenzoar Arruda pela iniciativa de realizar o presente debate, a Deputada Iara Bernardi, companheira nossa de luta de muito tempo, e os companheiros da Mesa e do plenário.

Faço parte da direção da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, que representa 260 entidades sindicais do setor de saúde, previdência e assistência social, tanto federais quanto estaduais, municipais e do setor privado. Neste evento represento a Coordenação Nacional de Servidores Federais, que congrega as onze entidades nacionais do funcionalismo público federal do Executivo, Legislativo e Judiciário. Somos, inclusive, responsáveis, junto com os companheiros da FENAJUF, pela greve que hoje está em curso no Poder Judiciário e no Ministério Público. Somos os responsáveis pelas greves de 2001, a respeito das quais daqui a pouco falaremos, e também pela gigantesca e maravilhosa greve de 2000, que obrigou o Governo Fernando Henrique, que dizia, desde 1995, que não conversava com o servidor, a conversar.

Temos a representação legitimada por assembléias, plenárias e decisões, sempre com a discussão do encaminhamento com a base da categoria. E assim vem sendo feito.

Nós, da Coordenação Nacional das Entidades dos Servidores Federais, estamos muito tranqüilos para participar desta discussão, principalmente porque surgimos, como entidade sindical, antes de a Constituição dizer que podíamos ter entidade sindical. Usávamos os artifícios das associações e através delas fazíamos a luta sindical, que legalmente não era permitida, mas legitimamente era feita porque tinha o apoio da base da categoria em todos os momentos, desde o início da década de 80, quando o movimento começou a ganhar fôlego.

Reconhecemos também que, como fruto do nosso movimento, o debate pôde crescer um pouco mais na Constituinte, a ponto de garantirmos o direito de organização sindical dos servidores públicos na Constituição de 1988, que significou nada mais do que o reconhecimento, na prática, daquilo que já acontecia de fato: a existência de entidades de cunho sindical no serviço público.

Agora, temos de dar continuidade a uma discussão que na Constituinte ficou pelo meio do caminho. Discutimos ali a necessidade e o direito do servidor público em relação a ter sua

entidade sindical e ponto. Não discutimos o mais importante do ponto de vista sindical, que é a relação empregador/empregado, no nosso caso, a relação Estado/servidor.

Compreendemos que a prova de que o servidor público ainda não é tratado e visto como trabalhador, e, sim, como parte da máquina estatal, parte da estrutura de Estado, é o fato de, na Constituição, encontrarmos algo que mencione a possibilidade de direito de greve do servidor no art. 37, que fala da regulamentação do Estado, enquanto greve é tratada de modo geral, como direito social, no art. 8º. Por que os "trabalhadores" — entre aspas — do sistema geral, principalmente do setor privado, têm sua greve tratada no capítulo Dos Direitos Sociais, o art. 8º da Constituição, e nós, servidores, que não somos vistos como trabalhadores, e, sim, como parte do Estado, temos nossa greve tratada no art. 37, que regula o funcionamento da máquina estatal? Por que não se propor uma discussão de alteração da Constituição para que a relação de trabalho dos servidores públicos seja tratada na parte correta da Constituição, para que sejamos tratados como cidadãos e trabalhadores e não como pedaços de uma máquina do Poder Público? Para nós, essa discussão precede qualquer possibilidade de alguém debater o que viria a ser regulamentação do direito de greve.

Outro ponto que queremos discutir são os direitos sindicais dos servidores públicos.

Desde a posse do Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, já perdemos 56 direitos. A esmagadora maioria deles são sindicais. Quando começamos a organizar oficialmente nossos sindicatos, em que pese já existirem oficiosamente a partir de 1988, os primeiros sindicatos registrados e fundados com o nome de sindicato em 1989 tinham total liberdade de indicar sua diretoria inteira, se quisessem, para ser liberada de ponto, com ônus para o Poder Público.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso reduziu esses direitos. Hoje vejo aqui entidades como a CONDSEF e a FENASP, que, com mais de 200 mil trabalhadores na sua base, só podem liberar três pessoas da sua direção. Momento seguinte: mesmo sendo liberados apenas esses três, perde-se o salário, com ônus para a entidade sindical. Aí cria-se um vácuo legal. Denunciamos que o servidor que for eleito dirigente por sua categoria e que por sua entidade for levado à liberação de ponto sai de folha e fica numa situação interessante. Ele não recolhe a contribuição previdenciária porque está fora da folha de pagamento, a entidade sindical não pode recolhê-la porque ele é servidor público, e ela é de caráter privado.

Sugeriram que os servidores federais fizessem o DARF para recolher à Receita Federal. Isso é ilegal, não pode ser feito. A contribuição previdenciária do servidor não pode ser recolhida dessa forma.

Os direitos sindicais nos são tirados, nossos direitos, como trabalhadores, nunca foram dados, e agora vêm dizer que é preciso regulamentar a greve do servidor público. Vamos discutir a relação servidor/Estado, que para nós é muito mais importante.

Outro aspecto que se menciona em relação à greve é a proteção da sociedade, garantindo que não se pare ou se pare com controle dos chamados serviços essenciais. E aí falo com muita tranqüilidade, porque na minha base está todo o setor de saúde pública — federal, estadual e municipal —, e em nenhuma greve fechamos a emergência de qualquer hospital.

Na greve ocorrida em 2000, que teve a esmagadora adesão do serviço público federal, todo o trabalho de controle, acompanhamento, guarda, transporte de material perecível, radioativo e químico funcionou perfeitamente. Os companheiros da Vigilância Sanitária

fizeram greve conosco, e em nenhum momento a saúde da população foi afetada. Sabemos o que é serviço essencial. Que critério foi utilizado, por exemplo, para colocar no PL do Deputado Airton Cascavel a saúde? Foi baseado em quê? Foi genérico? Poder Judiciário é serviço essencial, assim como Ministério Público, Defensoria Pública e diplomacia. É desta forma que estou preocupado com o bem-estar da sociedade. A diplomacia não pode fazer greve porque é serviço essencial, também tributação, orçamento e finanças.

Estamos pensando em que sociedade, em que povo ao propor isso como serviço essencial? Guarda de substâncias até poderia ser aceita. No PL da Deputada Elcione Barbalho, saúde, educação, segurança, setor previdenciário, processo legislativo e judiciário, processamento de dados ligado a serviços essenciais, o que torna muito vago, e controle de tráfego aéreo.

Quanto ao controle de tráfego aéreo, resgato uma conversa que tivemos com o Deputado Freire Júnior, quando S.Exa. foi Relator da emenda da Medida Provisória nº 10, que infelizmente foi rejeitada, apesar de agora ser disfarçadamente reapresentada por meio do PL nº 6.596, do Deputado Eni Voltolini, do PPB de Santa Catarina, que permite contratar trabalhadores temporários para substituir servidor em greve, argumentando que certos serviços não podem parar. Esse contrato é temporário e o controle de tráfego é uma das áreas afetadas. Perguntamos ao Deputado naquele momento: é possível colocar uma pessoa sem experiência como trabalhador temporário para substituir controlador de tráfego aéreo, podendo jogar um avião com duzentas pessoas no chão? É assim que o Governo trata o servidor público no que se refere a seus direitos sindicais e de greve?

Na verdade, achamos que deveríamos parar neste momento, conversar com o interessado, o servidor, que é quem sente na carne o que significa ficar sete anos sem reajuste salarial, ver seus direitos sindical, previdenciário e social serem retirados dia a dia pelo Governo. Como criamos condições dignas de trabalho, de salário, de vida para que não seja necessário chegar à greve e, no caso de se chegar a ela, que esse servidor tenha respeitado aquilo que o Governo brasileiro até hoje não quis fazer, ou seja, assinar a Convenção nº 151, da OIT, dando liberdade aos trabalhadores de organizar o direito de negociação?

Não sabemos como negociar, por que vamos saber como fazer greve, baseados unilateralmente na posição do Governo? Não temos a relação sindical estipulada entre o Estado, seja ele União, Estado ou Município, com seus trabalhadores. No entanto, o lado patronal quer dizer como fazer greve.

Para terminar, temos de resgatar duas coisas rapidamente. Uma é que não nos podemos esquecer de que a Lei nº 7.783, de 1989, a Lei de Greve, é nada mais nada menos que a transposição da Media Provisória nº 50, do então Presidente José Sarney, por conta da ocupação da CSN. É uma Lei de Greve para reprimir trabalhador, e este debate só foi aberto porque os servidores públicos federais, nos anos 2000, 2001 e 2002, têm parado para chamar a atenção da sociedade para os desmandos do Governo.

Um último detalhe: estão propondo agora ampliar a competência da Justiça do Trabalho para julgar servidor público em greve. Ficam algumas perguntas: a negociação vai ser feita na Justiça do Trabalho? Por que não termos direito a ela? Será poder normativo? Não existe isso sobre o servidor público e também não concordamos com ele. Dissídio coletivo é proibido para o serviço público. Por que jogar servidores municipais, como vem sendo feito, na Justiça do Trabalho? Por que jogar servidores estaduais e federais na Justiça do Trabalho se não temos direito à contratação, a dissídio, à negociação de espécie alguma?

Queremos regulamentação, mas pelas mãos dos trabalhadores, com princípios definidos por trabalhadores, garantindo os direitos que os mesmos conquistaram e recuperando aqueles que lhes foram tomados.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao Sr. Vladimir Nepomuceno e passamos a palavra à última expositora e autora do projeto, Deputada Iara Bernardi.

A SRA. DEPUTADA IARA BERNARDI – Bom dia ao Deputado Avenzoar Arruda, que promoveu este debate extremamente importante, a todos que vieram aqui interessados nesse tema e aos ilustres debatedores.

No começo da discussão desse projeto que apresentei, que passou por todo um calendário de debates, que continuam acontecendo, em relação ao projeto elaborado e capitaneado pelo ISP — Internacional de Serviços Públicos e por todas as entidades brasileiras que trabalharam em sua elaboração, havia duas correntes. Uma diz que temos o direito garantido na Constituição. Portanto, não é preciso nenhuma regulamentação a mais, pois ela se faz na luta, no exercício da greve. A outra corrente acha que esse é um direito garantido na Constituição e que deve ser regulamentado por uma lei, a fim de que exista um mínimo de uniformidade nas negociações entre funcionários públicos e Executivo no Município, no Estado, e para os funcionários federais com a União.

Acho que não cabe mais essa discussão, até pelo número de projetos que existem tramitando hoje na Casa.

Então, vamos ter de encarar a realidade. Projetos foram apresentados por Deputados e por aqueles que expuseram todo um calendário de debates.

Houve um projeto cujo Relator foi o Deputado Sérgio Novais, mas que veio pela Comissão de Legislação Participativa, entrou pela participação da sociedade civil — terá o mesmo valor e receberá a mesma atenção de todos os outros, desde que foi aceito naquela Comissão —, e o projeto do Executivo, que também tem essa iniciativa.

Portanto, o apelo que faço a todas as entidades sindicais e às centrais sindicais é que atentem para essa questão. Mesmo que não tivéssemos mais nenhum outro projeto apresentado, está clara dentro desta Casa a iniciativa do Executivo de regulamentar o direito de greve.

É um projeto extremamente danoso, pois, na prática, impede definitivamente o direito de greve, até por todo o processo imposto de comunicação, de negociação, do que são serviços essenciais e emergenciais. Não há mais direito de greve, nem que os sindicatos queiram exercê-lo, porque vão cair numa ilegalidade definitiva.

Algumas faixas trazem: "Luta a favor do direito de greve". O que estamos discutindo hoje é a luta pelo exercício do direito de greve, porque o direito de greve já temos garantido na Constituição, como vários direitos que lá estão garantidos também passaram por regulamentação, entre eles o direito à moradia e à segurança. Isso está garantido ao cidadão?

(Intervenção inaudível).

A SRA. DEPUTADA IARA BERNARDI – Pois é. É exatamente essa a questão. Está garantido na Constituição que temos o direito à moradia, à segurança, à educação, à saúde e a outros benefícios. Leis regulamentam tudo isso, e, às vezes, esse direito não é garantido.

Então, na questão da greve, chegou um momento em que não há mais impasse. Existem seis projetos na Casa. Apresentei o Projeto de Lei nº 6.141/2002. Não foi iniciativa da minha cabeça. Teve outras participações.

Solicito a atenção dos sindicatos e das centrais sindicais para esse tema. Acompanhem a tramitação discutindo com as Lideranças da Casa, as quais decidirão o que e quando será aprovado. Se eles têm essa disposição, um dia ou outro, o projeto vai tramitar na Casa e será aprovado, seja qual for ele.

Pela maioria que existe neste ano de 2002, o projeto do Executivo teria prioridade e poderia até, sensibilizando-se os Deputados, receber modificações.

Por isso, é extremamente importante a atenção dos servidores públicos, dos seus sindicatos de representação e das centrais sindicais para esse tema, porque o projeto do Governo veio depois da greve dos servidores federais, ano passado, nas mais diversas áreas, em destaque na universidade, no INSS e no Poder Judiciário, o que trouxe o alerta ao Governo de que essa questão precisaria ser regulamentada. E regulamentada para o Governo quer dizer impedimento do exercício desse direito. Do jeito que o projeto do Governo está, acaba essa possibilidade.

E, como servidora pública da área de educação, como professora da rede pública do Estado de São Paulo sempre ligada ao sindicato e aos servidores municipais da minha cidade, acompanhei todas as dificuldades relatadas pelos companheiros aqui. Quando o Governo não quer abrir a negociação, coloca a população contra os servidores, retarda qualquer possibilidade de discussão para que sejam pressionados a voltar ao trabalho sem ganhos ou ignora qualquer representação sindical desses servidores.

Como disse um companheiro aqui, foi dado aos servidores públicos o direito de ter sindicato, mas essa relação até hoje não ficou muito clara. Além dos sindicatos, existem milhares de associações pelo Brasil afora que também reivindicam o direito de negociação.

Um dos temas destacados no meu projeto de lei que julgo importante é a comissão de intermediação e arbitragem. É necessário estabelecer regras para a parte patronal e o Executivo em relação à greve. Há o direito, mas o Executivo não abre negociação. Ele deixa que a greve aconteça, que os servidores se desgastem, que a população fique sem emprego, para depois, numa hora qualquer, abrir a negociação ou esperar que o movimento se esvazie.

Deve haver regras também para o Executivo. O processo de negociação tem de ser minimamente regulamentado, destacados os pontos que julgo importantes e que devem aparecer em qualquer projeto, como a definição dos serviços essenciais e das necessidades inadiáveis. De acordo com alguns projetos apresentados aqui, tudo é serviço essencial. Portanto, a maioria das categorias não pode fazer greve.

Quanto à comunicação sobre a deflagração da greve, de acordo com os prazos estabelecidos pelo Governo, não há como cumprir a exigência. Há também a responsabilização da autoridade que descumprir a Lei de Greve. Se haverá regras para os servidores públicos, deve haver regras também para o Executivo durante a negociação.

Um dos pontos abordados aqui é o quorum para realização das assembléias que decidem a greve. Pela proposta do Governo, categorias muito amplas nunca vão poder cumpri-lo, porque dois terços delas devem estar presentes.

São pontos essenciais garantidos no projeto. Espero que o Deputado Avenzoar Arruda indique um novo Relator para analisar todos esses projetos. Que o Relator pegue um projeto como referência e faça emendas, modificações, não se limitando a priorizá-lo em relação aos outros, que também têm méritos.

Pela discussão que estamos travando com os Líderes, preocupo-me bastante com a tramitação na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. Todos os grupos que apóiam este ou aquele projeto devem promover uma discussão com os Deputados, nas suas bases, até para que conheçam os projetos. Na minha cidade, já estou sendo convidada, por grupos de categorias diversas, para discutir esse projeto. Querem saber o que está acontecendo nesta Casa.

Essa é uma tarefa de todos — centrais sindicais, sindicatos e servidores —, porque estamos definindo aqui seu trabalho, sua carreira, seu futuro e seus direitos de reivindicação.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Obrigado, Deputada Iara Bernardi.

Já que foi questionado o problema da Relatoria na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, quero dizer o seguinte: a necessidade de realização desta audiência pública está centrada no fato de existir um projeto de lei na pauta da Comissão tratando da regulamentação do direito de greve, embora o projeto original trate apenas da falta ao serviço.

Ora, depois das exposições, acabei convencendo-me de que a saída mais rápida para resolver o problema seria criar uma Subcomissão Especial para tratar de todos esses projetos que estão chegando a cada momento, e apresentaríamos um relatório. Mais simples seria conseguir acordo para um projeto só, mas estou vendo que isso é impossível. Uma proposta preliminar ronda todas as discussões: é passível de regulamentação ou não. Saindo dessa preliminar, caímos em outra: os direitos sociais ou a administração do serviço público.

Deputada Iara Bernardi, acho que devemos criar uma Subcomissão Especial e tentar fazer um projeto único. Parece-me que essa é a saída. É claro que já estou firmando posicionamento de que ela implica regulamentação. Mas isso é matéria, como já disse, para deliberação da Comissão de Trabalho.

Nós, que estávamos protelando até agora, não temos acordo quanto ao mérito. É preciso dizer isso. Se tivéssemos, não haveria necessidade de realizar esta audiência pública.

Concedo a palavra à Sra. Magda, do CENTRALJUS do Rio Grande do Sul, por até 3 minutos.

A SRA. MAGDA – Obrigada. Estou aqui representando o comando da greve nacional do Judiciário, que hoje se encontra em reunião ampliada em Brasília, num trabalho com os Parlamentares.

O Poder Judiciário tem cerca de 100 mil servidores em todo o País, e 80% deles estão em greve. Falo em nome da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho, da Justiça Militar e do Ministério Público da União. Esses setores estão reunidos com os Parlamentares, na Câmara dos Deputados, onde tramita nosso projeto de lei.

Demos um passo em direção ao Governo Federal, que diz não existirem verbas para cumprir a revisão do nosso Plano de Cargos e Salários.

(Intervenções simultâneas ininteligíveis.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Não pode haver aparte. Solicito um pouco de paciência aos presentes.

Com a palavra a sindicalista Magda.

A SRA. MAGDA – Até relevo o aparte. A indignação da população e de todos os setores aqui representados é legítima. Ficamos indignados quando o Governo Federal, que arrecadou 12% a mais de recursos do que no ano passado e tem 19 bilhões de reais em caixa, diz que não há verba para implementar as revisões salariais dos servidores públicos.

O pessoal das universidades fez uma greve fantástica no ano passado, assim como o pessoal da Previdência Social. Agora, estamos exercendo esse papel de enfrentar o Governo Federal.

Entendemos que a discussão de hoje é fundamental. Estamos vendo a fragilidade do movimento sindical nas negociações com o Governo, que simplesmente aposta no esgotamento do movimento, no cansaço dos servidores, numa total desconsideração com a sociedade, prejudicada na prestação judicial em todo o País.

É muito importante essa discussão sobre nosso direito de greve. Qual é nossa interlocução com o Governo? Qual é a força que os servidores têm para sentar à mesa de negociação? Acreditamos que a greve ainda é a melhor forma de reivindicar, e nosso poder de trabalho é controlado pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais. Nossa força é a greve, independente de estar regulamentada ou não. A base vai para a rua e faz a greve.

Nós, do Poder Judiciário, estamos dispostos a enfrentar o Governo Federal, numa greve que já vai para a terceira semana. Vamos manter a paralisação até a aprovação do nosso projeto

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos à sindicalista Magda.

Com a palavra, pelo tempo máximo de três minutos, o Sr. Nonato Soares, da CONFETAM.

O SR. NONATO SOARES – Companheiros, bom dia.

Sou da Executiva Nacional da CONFETAM. Em primeiro lugar, temos de definir aqui o projeto que já debatemos em seminários, com a participação de dez federações, da Internacional de Serviços Públicos — ISP/Brasil e de representantes da Espanha e de Portugal, onde o direito de greve já é regulamentado.

O projeto da Deputada Iara Bernardi já foi discutido com as entidades representativas da categoria. Nós, servidores municipais, já decidimos, em nossas plenárias e na reunião de nossa executiva, o que fazer.

Deputado, cansei de mobilizar a categoria, quando estamos no auge da greve, para buscar a negociação coletiva. Somos prejudicados por erro judiciário com a suspensão da greve. Portanto, não há negociação, os trabalhadores voltam frustrados, e os dirigentes vão responder a processo no Judiciário porque fizeram a greve.

Qual é a discussão hoje? O direito de greve não foi regulamentado. Por isso, a greve é ilegal. A única saída, neste momento, é a regulamentação do direito de greve. E deve haver uma regra para o Executivo, a fim de que seja punido se violar os direitos dos trabalhadores.

Por isso, defendemos o projeto da Deputada Iara Bernardi. Espero que este Poder garanta a regulamentação do direito de greve e os direitos dos trabalhadores.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradeço ao sindicalista e concedo a palavra ao Sr. João Domingos dos Santos, Presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil — CSPB. Antes, porém, registro a presença da Diretoria da CONDSEF e da FENAFISP.

O SR. JOÃO DOMINGOS DOS SANTOS – Sr. Deputado Avenzoar Arruda, senhores membros da Mesa, colegas da plenária, sou Presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, entidade que tem dezenove federações e mais de quinhentos sindicatos de servidores estaduais, municipais e federais. Somos filiados à Social Democracia Sindical, conforme já disse o companheiro Alemão.

O debate sobre a regulamentação do direito de greve, para a CSPB, é extremamente atualizado, porque estamos nessa luta desde a Constituinte. Aqueles que participam dessa luta lembram que a nossa Confederação e outros segmentos foram responsáveis pela garantia dos nossos principais direitos: sindicalização e greve. Se estamos discutindo esse tema, é porque sofremos um golpe.

À época, conseguimos nomear como Relator da Comissão Temática da Administração Pública nosso diretor de assuntos federais, o ex-Deputado Geraldo Campos. Aqueles que participaram da luta lembram que fechamos acordo na Comissão Temática para que o direito de sindicalização e de greve constasse do art. 8º da Constituição Federal. Na Comissão de Revisão da Constituição, isso apareceu no art. 37. Então, tudo começou com um golpe. E estamos discutindo ainda hoje a regulamentação de direito de greve.

Não satisfeita com isso, em 1990, nossa Confederação entrou com um mandado de injunção no Supremo Tribunal Federal, para garantir o direito na forma como estava expresso na Constituição. Depois de quatro anos, o Supremo Tribunal Federal tomou decisão que é verdadeiro samba do crioulo doido: disse que os servidores têm direito à greve, mas não podem exercê-lo porque não está regulamentado.

Assim, entramos com outra ação no Supremo, pedindo que obrigasse os Poderes competentes a promover a regulamentação, e conseguimos, no máximo, que fosse declarada a omissão do Congresso Nacional.

Então, para nós, esse tema deve ser precedido de uma luta fundamental, ou seja, o

próprio direito à sindicalização, que também está previsto no art. 37 da Constituição, carecendo só de regulamentação.

Nossa Confederação, em 1963, por intermédio do Deputado Marco Antônio, de Minas Gerais, apresentou o primeiro projeto de regulamentação do movimento sindical dos servidores públicos. Apresentamos outro projeto em 1981 e em 1984. Ainda hoje tramita aqui projeto de autoria da nossa entidade, apresentado pelo ex-Deputado Augusto Carvalho, do PPS do Distrito Federal. Estamos discutindo o direito de greve quando sequer o direito de sindicalização foi regulamentado.

Quero acrescentar que esse projeto, além de provocar discussão, tem outro mérito: provocar rara unanimidade entre o movimento sindical de rechaço ao projeto do Governo.

Finalmente, quero dizer que o momento é muito precioso. Conclamo os demais segmentos do movimento sindical e esta Casa para aproveitarmos o momento e discutirmos também os projetos que aqui tramitam sobre direito de sindicalização dos servidores públicos, o que, a meu ver, devem preceder essa discussão do direito de greve.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos as palavras ao sindicalista João Domingos.

Com a palavra o Sr. Luiz Cláudio, do SIND-15.

O SR. LUIZ CLÁUDIO – Bom dia, senhoras e senhores.

Sou funcionário público da Justiça do Trabalho da 15ª Região, que abrange o interior de São Paulo e fica sediada em Campinas. Estou aqui como associado do SIND-15.

Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar a Mesa pelos esclarecimentos, verdadeira aula sobre esse processo que nos atinge atualmente, em especial aqueles feitos pelo Deputado Avenzoar Arruda, cuja participação acompanhamos.

Na seqüência, gostaria de fazer coro com a colega que me antecedeu, a Sra. Magda. Neste momento, o País vive um drama, mas infelizmente ele ainda não foi noticiado pelas emissoras que têm o poder de divulgá-lo nacionalmente. Podemos dizer que a sociedade, de maneira geral, precisa de muito pouco para funcionar bem. E desse pouco podemos destacar saúde, educação, segurança pública e exercício da sua cidadania.

Com esse raciocínio, quero perguntar aos senhores o seguinte: é possível discutir algum desses temas sem a participação do funcionário público em qualquer esfera de poder, seja federal, seja estadual, seja municipal? Alguém consegue conceber saúde, educação e segurança pública sem a participação do servidor municipal? Pois bem, é fundamental a participação do servidor público e da sociedade.

Quero ressaltar um fato relacionado ao exercício da cidadania. Neste momento, no País, oitenta por cento das atividades do Judiciário Federal e do Ministério Público Federal estão paralisadas. Isso significa que audiências na Justiça do Trabalho — falo isso de cadeira —, que em algumas regiões demoram ano e meio para serem agendadas, estão sendo desmarcadas, e um novo ano e meio o trabalhador terá de esperar para ver seu problema resolvido.

Problema de tamanha magnitude faz refletirmos em seu por quê. Estamos acompanhando de perto o impasse que se criou junto ao Governo. A desculpa é aquela que já conhecemos: falta previsão no Orçamento. Quiçá seja verdade. O que nos entristece é que não há ânimo para tentar resolver o problema. Sequer há contrapropostas que nos permitam enxergar uma luz no final do túnel.

Chamou-me a atenção um fato: não devemos incorrer no erro mais criticado no projeto do Governo, ou seja, a sua posição unilateral nos projetos de lei ora apresentados. Sugiro à Comissão e à Casa que promova a maior participação da sociedade civil organizada, desde as chamadas Comissões de Base até as ONGs nacionais e internacionais, porque ela é a principal prejudicada nessa briga que ora travam servidor público e Governo.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Obrigado, Luiz Cláudio.

Com a palavra o sindicalista Gilberto Gomes, Secretário-Geral da CONDSEF.

O SR. GILBERTO JORGE G. GOMES – Companheiros, representamos 260 entidades filiadas e 600 mil trabalhadores em âmbito nacional. Sentimo-nos muito bem representados pelo companheiro Vladimir, que fez uma exposição na mesma linha das discussões que estamos realizando em nossa Confederação.

Estamos levando esse debate para a base da categoria em âmbito nacional, mas há um ponto importantíssimo que não poderíamos deixar de comentar. É fundamental, antes de regulamentarmos ou de criarmos regras para a greve dos servidores públicos — que considero trabalhadores —, começarmos a exercer esse direito. O Governo impôs-nos a condição de servidores da Nação e não nos trata como cidadãos. Portanto, antes de criar regras e regulamentar o direito de negociação coletiva, como quer o Governo, é preciso que esse direito seja reconhecido. É fundamental que esta Casa comece a debatê-lo primeiro.

A primeira regra que temos de criar é o reconhecimento do direito por parte deste Governo. Não poderíamos deixar de abordar esse assunto. E digo mais: no dia 15 lançamos nossa campanha salarial; protocolamos nossa pauta de reivindicações, mas sequer fomos recebidos pelo Governo. Sabem os senhores o que nos disseram seus representantes? Que não havia ninguém no prédio para receber os servidores públicos federais que vinham entregar a pauta de reivindicações e começar a negociação. Enquanto isso, o Governo envia um pacote de propostas que visa a proibir os trabalhadores de fazer greve e de negociar direitos, o que ele próprio está tirando de nós.

Portanto, antes de mais nada, temos de negociar, sim, o direito de negociação coletiva. E nós, trabalhadores do serviço público federal, estadual e municipal, temos de nos juntar e fazer uma grande greve, mostrando que servidores públicos são trabalhadores e é com a sociedade que temos de trabalhar.

É esse ponto de vista que devemos discutir com os Parlamentares, deixando bem claro que queremos o direito da negociação coletiva, principalmente agora que estamos lançando nossa campanha salarial. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Muito obrigado, sindicalista Gilberto Gomes.

Antes de conceder a palavra ao próximo orador inscrito, registro a presença do Deputado

Arnaldo Faria de Sá.

Tem a palavra o sindicalista Leandro Oliveira, Presidente do SINDSEP.

O SR. LEANDRO OLIVEIRA – Bom dia a todos. Cumprimento os integrantes da Mesa, todos os presentes e o Deputado que está coordenando os trabalhos.

Em primeiro lugar, sobre a regulamentação da greve — e isso já foi dito —, há diversas iniciativas. Concordo com o companheiro que me antecedeu. Evidentemente, deveríamos estar batalhando pela negociação coletiva, mas a realidade presente remete-nos à regulamentação. Tudo indica que a sociedade não quer deixar esse tema sem debate e solução, até mesmo do ponto de vista da organização. O sindicato é um pedaço da sociedade, que já vem exercendo o direito de greve. E se não resolvermos essa questão, inclusive o direito que já estamos exercendo, poderemos ter dificuldades no próximo período.

Quem defende a regulamentação, entende que a discussão já abrange a negociação. É impossível discutir o direito e o exercício de greve sem discutir também o direito de negociação. O Projeto de Lei nº 6.141 já prevê a discussão sobre a negociação coletiva. Ele projeto foi construído com a mão dos trabalhadores, na ação daqueles que realizam a greve, por isso deve ser tratado com muito carinho.

Desde a década de 80 temos tido problemas com a negociação e a greve. A pressão pelo fim da greve, com punições e retaliações, é muito grande. Este é o momento oportuno para tratarmos tanto da regulamentação do direito de greve quanto da negociação coletiva.

Não podemos perder a oportunidade de defender os projetos em que acreditamos e precisamos nos mobilizar para que este seja o mais progressista possível, do ponto de vista do interesse das entidades sindicais.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao sindicalista Leandro a sua manifestação.

Após a intervenção de todos os oradores inscritos, concederei a palavra aos expositores. Em seguida, encerraremos nossos trabalhos.

Tem a palavra o sindicalista Antônio Francisco da Silva, de Minas Gerais. Em seguida falará a sindicalista Ana Lúcia.

O SR ANTÔNIO FRANCISCO DA SILVA – Bom dia, colegas servidores e companheiros da Mesa. (Palmas.)

Desde 1988, quando conquistamos o direito de nos sindicalizar, o Governo vem tentando nos tirar essa possibilidade. Até quando esta Casa continuará aprovando projetos de golpe aos direitos do trabalhador, a começar pela reforma da Previdência, que pretendeu acabar com a aposentadoria e massacrar os trabalhadores?

Quem de nós, aos 60 anos, já não está sofrendo alguma doença profissional ou hipertensão, ou diabetes? Com essa idade nem adianta pedir aposentadoria, porque a pessoa já está perto de morrer. Esse foi o primeiro golpe que este Governo nos acertou.

Quando se fala na flexibilização do art. 618, o que se quer é desmoralizar os sindicados. Mais um golpe que facilita a negociação para os patrões e dificulta para os trabalhadores.

Como se isso não bastasse, ainda inventaram a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal. Ora, que Prefeito foi preso ou punido por ter gasto mais do que arrecadou? O grande debate que está sobre a mesa de negociações hoje é a Lei de Responsabilidade Fiscal. Dizem que não podem dar aumento para os servidores públicos por causa dessa lei, mas ignoram a própria Constituição Federal, que em seu art. 37 nos garante a revisão anual dos salários.

E agora mais um golpe nos trabalhadores: a regulamentação do direito de greve proposta por Fernando Henrique Cardoso mostra, na verdade, a preocupação do Governo com a organização dos trabalhadores no ano passado, com a greve do serviço público que pipoca por todos os lados, ou seja, preocupa-se com a organização sindical dos trabalhadores.

Nós elegemos o nosso próprio patrão, diferentemente dos outros trabalhadores que têm patrões capitalistas, de fato. O nosso patrão, que nós mesmos indicamos, é o mesmo que está nos prejudicando.

Queremos, sim, regulamentar o direito de greve, mas não dessa forma golpista. O que está previsto aí não é regulamentação, é cassação do direito que conquistamos em 1988, cujo objetivo é frear o movimento dos trabalhadores. Neste momento, mais do que nunca, precisamos debater a regulamentação do direito de greve que nós queremos e não a regulamentação proposta pelo Governo Fernando Henrique Cardoso, ou seja, a cassação dos nossos direitos. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Muito obrigado, sindicalista Antônio Francisco da Silva.

Tem a palavra a sindicalista Ana Lúcia. (Palmas.) Em seguida falará a Sra. Sônia Auxiliadora.

A SRA. ANA LÚCIA – Bom dia, companheiro Arruda, companheiros da Mesa, companheiros que passaram horas viajando para estar aqui hoje.

A sociedade precisa enfrentar o debate da regulamentação do direito de greve. A Constituição de 1988 aprovou simplesmente a organização dos sindicatos de servidores; não regulamentou o direito de greve nem o contrato coletivo de trabalho. Quatorze anos depois de promulgada a Constituição, estamos hoje pedindo à Câmara dos Deputados que aprove um projeto que nos interessa.

O projeto que mais nos beneficia — servidores municipais, estaduais e federais — é o da companheira Iara Bernardi, construído com o apoio do Movimento Sindical. Defendemos esse projeto porque ele conta com o apoio das lideranças sindicais.

Pedimos a todos os senhores que acompanhem as votações, para que nós consigamos regulamentar o projeto que nos interessa e não o do Governo, que prevê a necessidade da aprovação de dois terços da categoria, em assembléia, para a deflagração de uma greve. Isso é impossível.

Hoje somos poucos, mas quando voltarmos às nossas bases vamos debater com as lideranças da região, para, na próxima vez, sermos muitos.

Obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos à sindicalista Ana Lúcia a sua participação.

Tem a palavra a sindicalista Sônia Auxiliadora. Em seguida falará Paulo Vítor. (Palmas.)

A SRA. SÔNIA AUXILIADORA – Cumprimento a Mesa e todos os presentes. Sou do Sindicato de Servidores Municipais de Presidente Prudente, interior de São Paulo.

Passamos por vários processos no que se refere a greves e mobilizações. Todas as vezes em que fizemos greve, e algumas duraram meses, com mais de 90% da categoria parada — não foi diferente nas outras esferas —, tivemos nossos salários descontados e nunca fomos recebidos pelo Prefeito ou pelo administrador na hora da negociação.

É fundamental que seja regulamentado o direito de greve, mas também o direito de negociar, de forma que o administrador, seja ele Prefeito, seja ele Governador, seja ele o Presidente da República, fique obrigado a negociar com os representantes do sindicato.

Defendemos o projeto da Deputada Iara Bernardi, construído, como já foi dito várias vezes, num seminário elaborado pela ISP. É nele que conseguimos enxergar aquilo que, no momento, atende às nossas necessidades. Precisamos garantir nosso direito de fazer greves e não deixar que nenhum desses projetos do Governo seja aprovado. Só assim acabaremos com todos os sofrimentos que acumulamos com a perda de direitos trabalhistas, sindicais e até mesmo da cidadania. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos à sindicalista Sônia a sua participação.

Tem a palavra o próximo orador, Paulo Vítor. (Palmas.) Em seguida falará o Deputado Arnaldo Faria de Sá.

O SR. PAULO VÍTOR – Bom dia a todos os companheiros e companheiras. Sou Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Guarulhos.

Não quero fazer aqui uma discussão tacanha, pequena, mas o nosso acúmulo é na área municipal. Nós acompanhamos a luta dos servidores estaduais e federais e podemos verificar que a organização dos trabalhadores é a organização da sociedade. A organização do servidor não está descolada da realidade da sociedade, até porque o servidor, antes de ser trabalhador municipal, estadual ou federal, é um cidadão que contribui para a coletividade com o pagamento do seu próprio salário e usufrui do direito resultante dos trabalhos que ele mesmo exerce.

A sociedade tem total interesse em debater as greves no serviço público porque padece quando o serviço público deixa de ser oferecido. A discussão gira em torno da qualidade e da quantidade de serviços públicos que muitas vezes as administrações não têm interesse em prestar. Nós, trabalhadores públicos, sofremos todo o desgaste causado pela teoria internacional de que o público não presta e de que deve prevalecer o privado. Com essa pressão é que começa o desmonte sistemático e doloso de tudo o que o trabalhador público faz. A nossa saúde é inferior, a nossa educação é inferior, o nosso atendimento nos setores administrativos é inferior. É o que precisamos discutir.

A regulamentação, nobres Deputados, companheiras e companheiros, há de vir. E, é

lógico, se não reagirmos, ela há de vir pelo relho, pela espada. O trabalhador sempre foi tratado assim, mas também sempre soube dar resposta. O movimento do trabalhador é social, e não há Governo que mude isso. Se conseguirem regulamentar o direito de greve com a exigência da aprovação dos dois terços, em assembléia, um dia haverá greve sem esse número, porque a pressão não será suportada. (Palmas.) Nós acumulamos, há sete anos, as perdas salariais decorrentes desse plano de ajuste econômico adotado. Hoje não conseguimos colocar na mesa nem a metade do que podíamos comprar há sete anos.

Mas entre nós trabalhadores às vezes há equívocos: discutimos se deveríamos ter essa ou aquela parcela de reposição. Nós precisamos é reverter nosso acúmulo de perdas salariais.

Sou favorável à regulamentação. O projeto que nos parece mais adequado, apesar de ainda precisar de estudo, é o da Deputada Iara Bernardi, que foi discutido com um mínimo de acúmulo por setores do serviço público. O debate tem de ser ampliado, mas é certo que a regulamentação deve vir pela mão do trabalhador. Se for feita pelo administrador, um dia a bola de neve desce ladeira abaixo e engole a regulamentação, o relho e a espada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao sindicalista Paulo Vítor.

Tem a palavra o Deputado Arnaldo Faria de Sá.

O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ – Bom dia a todos. Cumprimento o Deputado Avenzoar Arruda e todos os companheiros da Mesa.

As movimentações devem continuar, porque o Governo Federal quer atropelar o funcionalismo público e, a partir do momento em que faz isso, acaba dando força aos Governos Estaduais e Municipais, como lembrou o companheiro de Guarulhos, para fazerem a mesma coisa.

Tudo vem de cima. O Governo Federal, por meio da Emenda Constitucional nº 19, a reforma administrativa, e da Emenda Constitucional nº 20, a reforma previdenciária, tentou de todas as maneiras desqualificar o funcionário público. Não lhe dá condições de trabalho para, lá na ponta, o usuário achar que a culpa pelo mau serviço é do funcionário. Isso tudo foi feito propositadamente, para jogar a opinião pública contra o servidor público. Este é o grande jogo: desmoralizar o servidor público, para que seja cada vez mais questionado pela própria opinião pública.

A partir da reforma administrativa, quer o Governo, como disse o companheiro de Guarulhos há pouco, terceirizar o serviço público e não dispor mais do servidor público estatutário. É a grande jogada. Na verdade, para a regulamentação do direito de greve, não se pode sequer discutir o projeto do Governo, que visa a impedir qualquer possibilidade de articulação e de movimentação. A discussão deve se dar na Subcomissão presidida pelo companheiro Avenzoar Arruda, no sentido de que tenhamos direito de livre manifestação. O servidor público deve dizer à opinião pública que, lamentavelmente, o Executivo quer acabar com a categoria.

Cabe-nos, entretanto, a seguinte autocrítica: grupos de funcionários públicos estão preocupados e lutam, mas grande parcela está esperando a banda passar, acreditando que nada acontecerá. É a verdade. (Palmas.) Todos devem ir à luta, e não apenas determinado grupo.

Certa gama de servidores públicos federais, estaduais e municipais acreditam que os acontecimentos serão diferentes daquilo que estão dizendo aqui. É preciso mostrar à massa da população a grande realidade. Existe o jogo claro de acabar com o serviço público e de entregar tudo ao setor privado, com a terceirização. Separadas apenas as carreiras de Estado, o resto não importa. Se não acordarmos enquanto é tempo, infelizmente acabarão com o serviço público. Antes que isso aconteça, é preciso mobilizar todos os envolvidos.

Para concluir, cumprimento o Deputado Avenzoar Arruda pela movimentação, reafirmando que precisamos acordar enquanto é tempo. Vamos eliminá-los antes que eles acabem com o servidor público.

Parabéns a todos por esta mobilização. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Com a palavra o sindicalista Manoel Porto, Coordenador-Geral do SINASEF.

O SR. MANOEL PORTO – Saúdo os membros da Mesa, todos os companheiros e, sobretudo, agradeço ao Deputado Avenzoar Arruda, nosso companheiro de sindicato, a abertura desta possibilidade de discussão.

O SINASEF integrou, nos últimos anos, vários movimentos grevistas. Participou das greves de 1998, de 2000 e de 2001, com mais de cem dias de greve. O Sindicato representa os servidores federais da educação básica e profissional, ou seja, os CEFETs, as escolas técnicas e agrotécnicas e o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro.

Entende o sindicato que é muito importante, sim, discutirmos o direito de greve. A falta de negociação traz muitas complicações, estende as greves e, por conseqüência, prejudica a população usuária do serviço público. No entanto, tal fato se deve à intransigência, à prepotência e ao autoritarismo dos administradores federais, estaduais e municipais, que não dialogam com as categorias sobre os problemas dos serviços públicos, de modo que elas, em determinados momentos, são obrigadas a expor sua situação por meio do movimento de greve.

Companheiros e companheiras, este debate está extremamente viciado. Existem dois projetos para regulamentar o direito de greve: um de autoria da Deputada Rita Camata; outro elaborado por setores do serviço público, apresentado pela Deputada Iara Bernardi. Contudo, três projetos surgiram depois, a partir do posicionamento do Governo no momento da greve que houve ano passado, quando não conseguiu passar o rolo compressor sobre os trabalhadores, como já fizera antes, valendo-se da Justiça do Trabalho, que, segundo alguns, é o foro em que se devem dar nossas discussões. Trata-se do movimento dos companheiros da PETROBRAS, dos colegas da Federação Única dos Petroleiros, no primeiro ano do truculento Governo Fernando Henrique, hoje perto do fim.

Portanto, Sras. e Srs. Deputados, companheiros e companheiras, a discussão no Congresso Nacional, neste momento, é temerária devido ao vício de origem da maioria dos projetos que tratam da regulamentação, ou seja, a forma de o Governo vencer, com o rolo compressor que costuma usar contra a classe trabalhadora brasileira, a exemplo do que ocorreu ano passado, durante a greve dos servidores da educação e da previdência.

Essa é, portanto, a posição do SINASEF que trago para a discussão fraterna e solidária com as demais categorias do serviço público. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Com a palavra o sindicalista Rogério Expedito, do SINDISEF de Minas Gerais.

O SR. ROGÉRIO EXPEDITO – Sras. e Srs. Deputados, viemos a esta audiência na perspectiva de comunicar a todos que o debate sobre a regulamentação do direito greve é, evidentemente, extremamente difícil. A discussão não se pode encerrar, sumariamente, com a aprovação de um ou de outro projeto. E trazemos alguns elementos no sentido de consolidar tal ponto de vista.

É fundamental, até para consolidarmos os questionamentos sobre o projeto, separar algumas questões básicas. Uma delas, ligada aos dois projetos apresentados, é a distinção do joio do trigo. É importante esclarecer quem defende fundamentalmente o atrelamento das entidades sindicais ao Estado, o que, para mim, está explicitamente ligado ao projeto que defende que a Justiça do Trabalho deve julgar as causas relacionadas ao direito de greve. Quem defende a autonomia dos trabalhadores está debatendo as questões relacionadas às suas necessidades básicas.

Trata-se de ponto fundamental para nós agora. Se considerarmos a história dos trabalhadores do serviço público, mesmo antes da Constituição de 1988, que proibia terminantemente o direito de greve da categoria, veremos que o exercemos no decorrer da história de luta da classe trabalhadora e conseguimos impor à Constituição Federal várias prerrogativas asseguradas a nós servidores públicos.

A partir daí, tivemos, no decorrer do tempo, inúmeras visões outorgadas por Governantes, que tinham por fim unicamente acabar com o direito a nós assegurado na Constituição. Devemos ter em mente que não foi a regulamentação da greve que inviabilizou a paralisação de muitos setores e a conquista dos trabalhadores.

Falo também em nome de meu Estado, onde diversas greves foram feitas pelos servidores públicos federais, como as citadas pelo companheiro Vladimir. Também os servidores públicos estaduais fizeram várias greves, confrontando seus respectivos Governos, com foi o caso da greve dos policiais militares de Minas Gerais. Do mesmo modo, fizemos várias greves no âmbito municipal. Não foi a regulamentação do direito que impediu os trabalhadores de derrotar o Governo. Portanto, trata-se de ponto fundamental sobre o qual devemos refletir.

O fato é que o Governo enviou projeto que, na prática, inviabiliza direito conquistado e consolidado dos trabalhadores. Outros projetos apresentados têm o mesmo fim, como o que estabelece que a Justiça do Trabalho é o foro para as questões de greve. Exemplo claro foi a greve dos petroleiros, no início deste Governo. A Justiça do Trabalho acabou com a paralisação da categoria, que reivindicava o pagamento de ação judicial já ganha, no valor de 3 milhões de reais, sendo que o Governo teve a capacidade de gastar mais de 7 bilhões de reais para garantir a aplicação de multa, pela Justiça do Trabalho, a todos os sindicatos, inviabilizando o direito daqueles trabalhadores.

Quando nós remetemos as questões relacionadas ao direito de greve, também lhes enviamos as grandes dificuldades apresentadas. Por isso, consideramos essencial a discussão sobre a negociação coletiva dos trabalhadores, de que é conseqüência natural o debate sobre o direito dos servidores públicos de fazer greve.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Com a palavra o sindicalista Marizar Mansilha de Melo, Presidente do SINDISEF do Rio Grande do Sul.

O SR. MARIZAR MANSILHA DE MELO – Meus cumprimentos ao Sr. Presidente da Comissão, Deputado Avenzoar Arruda, ao Deputado Arnaldo Faria de Sá e aos demais membros da Mesa, bem como aos companheiros e às várias lideranças sindicais presentes.

Sou o atual Presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Rio Grande do Sul e da CUT estadual, que representa a base dos servidores federais de autarquias, fundações, Ministérios e sociedades de economia mista, conjunto de 24 mil trabalhadores, divididos entre SINDIPREV, SINDIFAZ, SINDAGRI e associações das universidades —UFRGS, de Porto Alegre; UFSM, de Santa Maria; UPEL, de Pelotas; e FURG, do Rio Grande —, com 6.400 filiados.

Em primeiro lugar, nós trabalhadores, como disseram outros oradores, mostramos à sociedade que não somos os servidores que o Governo apresenta à sociedade. Somos trabalhadores do serviço público que lutam, desde o Governo Collor, contra o processo de privatização e de desmantelamento do serviço público, a disponibilidade de funcionários e sua demissão. Passamos a ser bodes expiatórios, responsáveis pela má administração do País, desde o Governo Collor até o Governo Fernando Henrique Cardoso.

Em nome da categoria, afirmo que o Governo nos impõe projetos, leis e medidas provisórias que desrespeitam o próprio Parlamento, eleito para legislar em nome da classe trabalhadora e de toda a sociedade. Embora não tenhamos política atrelada ao Governo, temos sempre de correr contra os prejuízos, muitas vezes apresentando emendas aos Parlamentares. E ainda não fomos capazes de eleger bancada com número suficiente de Parlamentares para atender aos interesses da sociedade.

Enfrentamos o Governo que, além de ser destruidor, comprometido com o Fundo Monetário Internacional, impõe à sociedade a Lei de Responsabilidade Fiscal, em vez de apresentar a lei de responsabilidade social. Podemos provar que, apesar disso, o Rio Grande do Sul investiu no setor público e, após discussão com a categoria, admitiu mais 32 mil trabalhadores por concurso. Tal fato aconteceu porque houve inversão de prioridades, visto que não havia comprometimento direto com o Fundo Monetário Internacional.

Não estamos aqui para defender o projeto do Governo, mas para afirmar que a greve não precisa de regulamentação. A greve se dá pela luta das categorias, como foi o caso dos trabalhadores da educação, que, ano passado, derrotaram o Governo e conseguiram assegurar o ingresso no serviço público por meio da Lei nº 8.112. Recentemente, travamos combate no Congresso Nacional e conseguimos derrubar a primeira medida provisória imposta pelo Governo, a de nº 33, que acabava com a Fundação Nacional de Saúde, órgão destinado à prevenção da saúde da sociedade, abrindo brecha para a privatização.

Não devemos temer o enfrentamento do Governo. Devemos, sim, repudiar ações de entidades representativas como a Força Sindical, que discutiu com o Governo a flexibilização e as perdas dos direitos dos trabalhadores. (Palmas.) Nossa entidade é cultista, representa os trabalhadores e os orienta no debate político. Temos obrigação de dizer que o ano 2002 será importantíssimo para reforçarmos o trabalho do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas e priorizarmos nossos projetos, a exemplo do que acontece no Rio Grande do Sul, elegendo, pela primeira vez, Luiz Inácio Lula da Silva, representante dos trabalhadores brasileiros, Presidente do Brasil. (Palmas.)

Conclamo todos os companheiros e companheiras a enfrentarem o projeto do Governo neoliberal.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Obrigado, companheiro Marizar Mansilha de Melo.

Concedo a palavra ao último orador, o sindicalista Hélio de Melo, da União Nacional dos Servidores Públicos Civis do Brasil — UNSP, pelo tempo de três minutos. (Palmas.)

O SR. HÉLIO DE MELO – Integrantes da Mesa, companheiros e companheiras, estamos aqui para colaborar com a Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados no sentido de encaminhar projeto de lei, mas não para proibir a greve.

O problema me faz lembrar determinado fato do passado. Certa vez, quando os companheiros do Partido Comunista discutiam o projeto sobre regulamentação de greve dos trabalhadores, um trabalhador de Santos disse: "Regulamentar a greve não é problema nosso, mas dos patrões. Queremos a greve como ela está na Constituição. O direito de greve é livre. Os trabalhadores, em suas assembléias, devem decidir quando e como devem realizá-la". (Palmas.)

Companheiros, estamos convencidos de que a greve é a única arma pacífica que tem o trabalhador para encostar o patrão na parede. A greve só se torna irascível quando há violência contra o trabalhador. Então, mesmo sem greve, existindo a violência, temos de agir com ímpeto. Eles aproveitaram a ocasião, principalmente na época da ditadura. Agora, querem brincar de Estado de Direito, mas, por detrás das cortinas, mandam a sacanagem para a Câmara, enquanto afirmam estar regulamentando o direito de greve. (Palmas.)

Companheiros, tenho em mãos documento da época em que lutávamos pelo direito de sindicalização do servidor público. A disputa foi mais ou menos a mesma. Pedíamos o direito de sindicalização do servidor público, e todos os Governos se faziam de besta. Tanto os Governos ditadores quanto os democráticos nunca deram atenção ao servidor público como categoria profissional. Eles queriam mostrar que ser servidor público era privilégio, sem lembrar que para atuar como tal somos obrigados a nos submeter a concursos públicos, a pagar aquela taxa de inscrição, verdadeira receita. Somos sujeitos ainda a dois anos de estágio probatório. Qual é o privilégio, companheiros? É a imagem que eles querem passar para o povo, ou seja, de que recebemos vantagens.

Para colaborar com a Mesa, lembro que existem vários projetos sobre a sindicalização do servidor público desde 1962. Em 1963, o Deputado Marco Antônio Coelho, de Minas Gerais, cassado pelo golpe militar, apresentou projeto sobre o direito de sindicalização do servidor público.

O PPPprojeto nº 83 está no arquivo do Congresso Nacional, de 1963. Em 1964, Marco Antônio Coelho foi cassado e a matéria ficou navegando em algum lugar, assim como outras propostas de sua autoria. O Senador Franco Montoro também foi autor do Projeto nº 307, de 1978. Todos estão aí.

Indago: por que o atual Governo, que mantém o chamado Estado de Direito, não manda para a Câmara dos Deputados a Convenção nº 151, da Organização Internacional do Trabalho — OIT, que garante o direito de sindicalização do servidor público, não só no caso do Brasil, mas de vários países do mundo, e lhe confere o respeito sindical que ele merece? Hoje, para conseguirmos os direitos resguardados no art. 8º da Constituição —os senhores são testemunhas —, precisamos ir à Justiça. Quer dizer, a organização sindical é feita a partir de sentenças judiciais. Por que o Governo não regulamenta o sindicato do servidor público com os mesmos direitos dos sindicatos das empresas privadas, de acordo com o que está previsto no art. 8º da Constituição? Não faz isso, mas

a regulamentação da greve, sim.

Então, companheiros, nesta hora — sejamos nós de qualquer partido político ou central sindical —, só será nosso inimigo quem estiver a favor do projeto do Governo de regulamentação da greve no serviço público, em que se afirma que todo serviço é essencial e a greve é proibida.

Abaixo o acordo com o FMI e a política neoliberal! Viva a classe trabalhadora organizada! (Palmas).

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao sindicalista Hélio de Melo as palavras.

Retornaremos a palavra aos expositores e em seguida encerraremos os trabalhos.

Concedo a palavra ao sindicalista Vladimir Nepomuceno, pelo tempo máximo de cinco minutos.

O SR. VLADIMIR NEPOMUCENO – Sr. Presidente, o companheiro Hélio, da UNPS, tocou em ponto que, para nós, da Coordenação Nacional das Entidades dos Servidores Federais, é mais do que procedente.

Na intervenção inicial, falei sobre o porquê da proposta de regulamentação da greve do servidor público, de acordo com o art. 37 da Constituição, que define o funcionamento da máquina pública.

Consideramos que a regulamentação deve ser discutida com base no art. 8º da Constituição. Queremos ser tratados como trabalhadores e membros da sociedade e não como pedaço da máquina pública. Disse isso na minha intervenção inicial e repito. Assim, qualquer projeto que trate da regulamentação do direito de greve baseado em como fazer funcionar melhor a máquina pública, para nós, no mínimo, deveria ser suspenso até que fosse ouvida a sociedade. Não dá para aceitar e seguir, pura e simplesmente, certas regras. Devem estar claras a correlação de forças, a conjuntura e várias outras coisas, mas não podemos abrir mão de certos princípios, inclusive do que foi mencionado.

Hoje, vivemos situação que não é nem um pouco confortável. Ela nos foi imposta por conjunturas cada vez mais difíceis. Para conseguirmos interlocução com os Governos —não temos negociação —, somos obrigados a fazer greves, enquanto que os trabalhadores da iniciativa privada a realizam só quando a negociação não dá certo. Por que para nós é o inverso?

Também não podemos esquecer que a Lei nº 7.783, que regulamenta a greve do setor privado, foi medida provisória editada no Governo Sarney para punir aqueles trabalhadores que ocuparam a CSN, local em que foram assassinados trabalhadores pelo próprio Governo.

Quem não se lembra do que aconteceu em 1989, quando os metalúrgicos ocuparam a Companhia Siderúrgica Nacional? O Governo mandou o Exército para lá e matou trabalhadores. Em seguida, foi editada medida provisória, que se transformou na lei que aí está. A lei, inclusive, extrapola, porque, se ela pretende regulamentar a greve no setor privado, não pode incluir entre os serviços essenciais a saúde, conforme está previsto. A lei que regulamenta a greve no setor privado proíbe greve num segmento que é controlado esmagadoramente pelo setor público? O Governo excedeu em seus limites.

Temos de discutir, além do Projeto nº 6.032, do Governo Federal, o Projeto nº 6.596, do Sr. Eni Voltolini.

Em que pese termos derrotado a Medida Provisória nº 10, através do relatório do Deputado Freire Júnior, a mesma proposta voltou em forma de projeto de lei: contratar o trabalhador temporário para substituir servidor público em greve. A razão da greve é parar o trabalho, parcial ou totalmente, para chamar a atenção da sociedade e do Governo. Se o Governo diz que contrata temporariamente, o movimento perde a eficácia e não conseguimos pressionar.

Por que não discutimos os direitos sindicais e a igualdade entre os sindicatos do setor público e privado antes de falar da regulamentação do direito de greve? Tudo bem, o Governo propõe proibir o direito de greve, com o Projeto nº 6.032. O que faremos? Vamos trabalhar em cima do projeto? Que tal esta Casa estabelecer como discussão prioritária os direitos sindicais dos trabalhadores no serviço público? (Palmas.)

Apóio a proposta apresentada pelo Deputado Avenzoar Arruda de discutir no âmbito da Comissão a criação de subcomissão para debatermos o direito de greve segundo todos os projetos existentes. Não podemos prender-nos a cinco PLs que abertamente assumem que têm tal objetivo. Temos também de discutir aqueles outros PLs que, disfarçadamente, tratam do mesmo assunto como se fosse outro. O do Deputado Eni Voltolini é exatamente assim. Ele altera a Lei nº 8.745, que trata de contratação excepcional no serviço público. Não é lei que trata de greve. No entanto, estão incluídos dois artigos que falam sobre a greve no serviço público. Então, temos de abrir a discussão nesta Casa não em cima de cinco projetos de lei, mas em relação ao direito sindical do trabalhador no serviço público. A proposta do Deputado, para mim, está certa. Vamos criar a subcomissão.

Outra atitude é abrir a discussão para todos os segmentos. Por exemplo, debatemos muito sobre a situação da greve no serviço público em vários países. O caso da Espanha é muito citado. Por que não trazer sindicalistas de outros países para contar sua experiência, antes de batermos o martelo sobre o assunto? A Casa não chamou ninguém até hoje. Aqui não aconteceu tal debate. É preciso que isso seja feito. A sociedade não discutiu a questão. Certo segmento realizou debates, de que participei, com alguns companheiros estrangeiros, mas a sociedade não o fez.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Tempo esgotado.

O SR. VLADIMIR NEPOMUCENO – Sr. Presidente, para concluir, por que não trazer todos os segmentos do funcionalismo que vivem a realidade? Por que não trazer as federações e associações de moradores, a Central de Movimentos Populares e a CONAM para discutir como elaborar a proposta junto com os servidores, que são aqueles que vivem a situação no seu dia-a-dia, antes de pensar em restringir o direito de greve do servidor público?

Temos muito o que fazer nesta Casa antes de apresentar qualquer projeto que, inclusive, com muito boa intenção, trata da arbitragem no serviço público, o que é proibido por lei. O próprio Projeto nº 6.141 tem alguns equívocos. Temos de ampliar a discussão. Há ótimas propostas, que podem ser melhoradas, mas o mais importante é ganharmos o tempo necessário para que o debate seja feito, para que a sociedade seja consultada sobre o assunto.

Obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradeço ao Sr. Vladimir

Nepomuceno a exposição.

Concedo palavra ao Sr. Carlos Henrique Oliveira para as suas considerações finais.

O SR. CARLOS HENRIQUE OLIVEIRA – Companheiros, num primeiro momento, quando tivemos a oportunidade de estabelecer o diálogo, chamei a atenção para a construção histórica do que tem sido o tratamento, no que se refere ao direito de greve, por assim dizer.

Enfoquei o movimento cíclico que acontece invariavelmente: para cada ação jurídica extremamente penosa, com o objetivo de criar obstáculos à realização da greve, a reação dos trabalhadores era, com o passar do tempo, realizar greves cada vez mais fortes. Trata-se de conquista que já faz parte da história. Ela mostra que, de fato, não temos nenhum problema entre nós. O objetivo é único: a greve é o instrumento de defesa dos interesses dos trabalhadores. Definir a única meta em comum já facilita muito.

Precisamos, porém, determinar qual a estratégia a ser seguida — há várias —, para alcançar tal objetivo. Particularmente, como disse na minha fala inicial, defendo a contraposição à iniciativa do Governo Federal. Ninguém despreza a realização da greve, mas também é necessário não renegar as relações do mundo jurídico. Nesse sentido, seria um equívoco, a história tem mostrado, desconsiderar a necessidade de os trabalhadores fazerem esta Casa ver a questão da greve a partir da nossa ótica, do nosso pensar, porque até agora quem escreve as leis considera a visão única e exclusivamente daqueles que praticam a relação autoritária de trabalho.

O momento em que vivemos, na verdade, é histórico. Alguns sindicalistas, pelo que percebi, ainda não alcançaram tal compreensão. Companheiros, os trabalhadores não têm força suficiente para impor qualquer pauta de discussão ao Congresso. Não dá. É tranqüilo usar o microfone e discursar dizendo o que deve ser discutido antes ou depois. Na verdade, nós, trabalhadores, não temos condições de impor qual será a pauta, indicando a ordem da discussão. Aliás, insistir é facilitar a aprovação do projeto de lei do Governo Fernando Henrique, porque, enquanto ficamos debatendo entre nós, o Governo faz a negociata dele entre os Deputados e impõe a aprovação do projeto.

Se o momento é histórico, é também verdade que existe determinada tarefa a ser realizada. Diferentemente de outros momentos similares, o trabalho a ser executado agora é debater e ganhar o imaginário não só dos Deputados, mas da própria população, no sentido de compreender a visão de greve dos trabalhadores. E aí, sendo claros o momento histórico e também a tarefa, farei coro com diversos dirigentes de sindicatos de servidores municipais que fizeram uso da tribuna com senso de responsabilidade bastante apurado, com compreensão de conjuntura que nos convence que é possível o movimento sindical responder aos desafios com bastante legitimidade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Tempo esgotado.

O SR. CARLOS HENRIQUE OLIVEIRA – Sr. Presidente, recomendo o olhar generoso para a construção que certo segmento de trabalhadores, composto por representantes sindicais e advogados, elaborou e apresenta, abrindo a possibilidade de alterações. De qualquer forma, é preciso firmar o debate com a disputa do imaginário, de acordo com a tarefa do sindicalista: conquistar adeptos para a visão de mundo diferente daquela que o projeto neoliberal tem imposto a todos. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos ao expositor Carlos Henrique Oliveira as considerações.

Concedemos a palavra à última expositora, Sra. Lúcia Regina dos Santos Reis, representando a direção da Central Única dos Trabalhadores, pelo tempo máximo de cinco minutos.

A SRA. LÚCIA REGINA DOS SANTOS REIS – Aproveito mais uma vez a ocasião em que tentamos sensibilizar os Parlamentares no sentido de abordar as questões de interesse dos trabalhadores, em especial daqueles do serviço público, apesar de já termos conquistado a simpatia do Deputado Avenzoar Arruda. S.Exa. está comovido, porque é o único Parlamentar presente no momento. É uma pena. Mas, como o evento está sendo gravado, talvez outros estejam nos assistindo. Ainda assim discutimos a questão com os sindicalistas e todos os que estão interessados no tema. A idéia é continuar o debate.

Embora o assunto seja bastante objetivo, não há como deixar de falar de temas de nosso interesse e que, a depender do atual Governo, nunca aparecerão na pauta, porque projetos de regulamentação de greve existem há muito tempo. Se o assunto está andando é porque o Executivo pretende restringir o nosso direito.

Então, insisto, a compreensão da Central Única dos Trabalhadores é a seguinte: é fundamental intervir na discussão, dentro dos limites da liberdade sindical, da autonomia sindical, da liberdade de associação sindical, princípios a serem respeitados. É essencial garantir o direito à organização sindical, à negociação e à contratação coletiva para os servidores públicos e também defender o seu direito de greve. São premissas.

O Governo, como membro da OIT, deve assumir os compromissos ratificados em 1998, quando o Presidente Fernando Henrique esteve na conferência da Organização. Portanto, o Governo deve regulamentar o direito da negociação coletiva, incluindo-a na lei e confirmando a Convenção nº 151. Tal medida garante o ambiente necessário para o tratamento dos conflitos instalados entre os trabalhadores e o Executivo, no âmbito federal, estadual ou municipal. Do contrário, faremos greve mesmo sem regulamentação e nos ocuparemos de auto-regulamentá-las, porque estamos sempre atuando assim, sem conseguir que o Governo se sente à mesa para negociar.

Parece-me que o Governo precisa de lei para negociar e dar o tratamento que tem de ser dispensado, com respeito, não só aos trabalhadores, mas também à população. Ela, no limite, fica sem os serviços públicos, porque não suportamos mais o desmonte e o ataque aos nossos direitos e vamos à greve. Temos de lutar pela nossa dignidade, pela nossa carreira e em defesa do serviço público.

É importante sensibilizarmos o Congresso no sentido de discutir a questão. Ela precisa estar na lei. Os servidores têm de ter direito à negociação coletiva. Quando pensamos em negociação coletiva, é claro que nos remetemos à discussão da greve, que, infelizmente, desde a Constituição de 1988, necessita de regulamentação. Primeiro, a matéria precisava vir para o Congresso. Depois, Fernando Henrique emendou a Constituição. Agora, basta o quorum mínimo, ordinário, para alterar o nosso direito.

Temos de analisar a matéria com cuidado, porque tem sido feito um verdadeiro cerco, com várias propostas, medidas provisórias, decisões judiciais, a fim de encostar o movimento dos servidores na parede, levando-nos à ilegalidade. Talvez o Governo consiga construir mecanismos para nos multar, intervir nos nossos sindicatos, fazer o diabo. É o que todas as medidas tentam garantir: substituir o professor universitário, o controlador de vôo ou qualquer um de nós, a partir do décimo dia de greve. O conjunto de medidas tem conteúdo repressivo.

Esperamos que os Parlamentares, especialmente os nesta Casa, que dá início ao debate,

estejam atentos às questões apresentadas. Até agora não conseguimos entender como se dará a tramitação do projeto. Parece que depende do ânimo das lideranças. Sabemos quem é maioria no Congresso. O trâmite terá início a partir da proposta do Governo, repudiada por nós? O projeto a ser discutido será o de autoria da Deputada Rita Camata, ou o de autoria da Deputada Iara Bernardi? É necessário esclarecer tais lacunas. Pretendemos continuar o trabalho junto às lideranças do Congresso para garantir o processo adequado.

Mesmo se defendermos projeto como o da CONFETAM, repleto de méritos, devemos estar atentos aos vários assuntos que serão abordados em seguida. Não falamos em negociação coletiva por mera teimosia. Dentro da lei há restrições para reconhecer o funcionário do serviço público como trabalhador de fato. Como disse o Vladimir, muitas vezes somos colocados de lado, como utensílio ou mobiliário da União, dos Estados e dos Municípios. Nossos direitos são parciais, nosso sindicato não tem poder de negociação. Há pressupostos que devem ser levados em conta, como os administrativos. A experiência internacional precisa ser considerada, não apenas em relação ao direito de greve, mas também no que se refere ao estabelecimento da negociação coletiva, conforme a lei. As entidades que não foram consultadas de maneira adequada pela Casa devem ser ouvidas. O debate deve ser construído com a efetiva participação dos trabalhadores e de representantes da sociedade.

O Presidente da SDS falou sobre a ausência do presidente da CUT. O presidente da entidade não está ausente. A Executiva Nacional da CUT está representada por mim. Como servidora federal, tenho a incumbência de acompanhar o trabalho do servidor público. A Central Única dos Trabalhadores está representada, promoverá o debate e defenderá os direitos sindicais dos trabalhadores do serviço público.

Esperamos acompanhar a tramitação do projeto e traremos aqui a palavra dos trabalhadores da CUT. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Avenzoar Arruda) – Agradecemos à sindicalista Lúcia Reis a participação.

Agradecemos aos Srs. Parlamentares, aos convidados e aos demais presentes a presença neste debate.

Convocamos reunião ordinária para quarta-feira, dia 29, às 10h, no Plenário nº 12.

Está encerrada a presente reunião. (Palmas.)