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DESIGUALDADES SOCIAIS, ESTRATIFICAÇÃO E ESTRUTURA DE CLASSES DESIGUALDADES SOCIAIS 1- DEFINIÇÃO: - Uma desigualdade social não é uma simples diferença individual. Algumas das diferenças que podemos encontrar entre os indivíduos que compõem uma sociedade são sociologicamente irrelevantes: a estatura física, alguns gostos artísticos, por exemplo, podem em nada influenciar as oportunidades de vida concretas, ou nada nos dizer sobre as posições sociais de cada um. - Uma desigualdade social deverá resultar, sobretudo, de um grau desigual de acesso a bens, serviços ou oportunidades, cuja raiz explicativa se encontre nos próprios mecanismos da sociedade. - Segundo Robert Girod, uma desigualdade social “consiste na repartição não uniforme, na população de um país ou região, de todos os tipos de vantagens e desvantagens sobre os quais a sociedade exerce uma qualquer influência” - Anthony Giddens define as desigualdades sociais- ou sistema de estratificação social- como um conjunto de desigualdades estruturadas entre diferentes grupos de indivíduos”, estando os mecanismos de estruturação baseados na sociedade. 1

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DESIGUALDADES SOCIAIS, ESTRATIFICAÇÃO E ESTRUTURA DE

CLASSES

DESIGUALDADES SOCIAIS

1- DEFINIÇÃO:

- Uma desigualdade social não é uma simples diferença individual. Algumas das diferenças que podemos encontrar entre os indivíduos que compõem uma sociedade são sociologicamente irrelevantes: a estatura física, alguns gostos artísticos, por exemplo, podem em nada influenciar as oportunidades de vida concretas, ou nada nos dizer sobre as posições sociais de cada um.

- Uma desigualdade social deverá resultar, sobretudo, de um grau desigual de acesso a bens, serviços ou oportunidades, cuja raiz explicativa se encontre nos próprios mecanismos da sociedade.

- Segundo Robert Girod, uma desigualdade social “consiste na repartição não uniforme, na população de um país ou região, de todos os tipos de vantagens e desvantagens sobre os quais a sociedade exerce uma qualquer influência”

- Anthony Giddens define as desigualdades sociais- ou sistema de estratificação social- como um conjunto de “desigualdades estruturadas entre diferentes grupos de indivíduos”, estando os mecanismos de estruturação baseados na sociedade.

- Podemos definir, em síntese, uma desigualdade social como uma diferença socialmente condicionada no acesso a recursos.

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2- PERSPECTIVA ESTRUTURALISTA E PERSPECTIVA INTERACCIONISTA

Perspectiva Estruturalista:

- Numa perspectiva deste tipo, a análise das desigualdades coloca-se sob um foco predominantemente estruturalista: são as oportunidades de vida, colectivamente determinadas, que exercem uma pressão específica (no sentido durkeimiano de “constrangimento social”) sobre os indivíduos, fazendo-os ocupar certos lugares no mapa das desigualdades.

- As oportunidades de vida individuais escapam, em certa medida, às nossas atitudes singulares: a existência de um conjunto de mecanismos profundos determina grande parte dos nossos sucessos ou fracassos- o percurso e as biografias que vamos construindo.

- Assim, por exemplo, o facto de se deter maior ou menor volume de riqueza, maior ou menor prestígio ou valorização social, diferentes possibilidades de escolarização e sucesso escolar, diferentes capacidades de exercício de poder ou da cidadania, estará subordinado a mecanismos do tipo social que condicionam os destinos individuais

Perspectiva Interaccionista (ou individualista):

- A necessidade de análises individualistas ou interaccionistas colocar-se-á num plano complementar: São as diferentes formas de interacção entre os indivíduos que os levam, frequentemente, a construir subjectivamente certas diferenças, e estas poderão ganhar formas objectivas

.- É a interacção concreta que leva os indivíduos a interiorizar diferencialmente as

realidades. É ela que, no limite, revela possibilidades de saída individual para situações que o constrangimento colectivo não predeterminava.

RESUMO: a perspectiva estruturalista coloca a ênfase no facto das oportunidades de vida serem colectivamente determinadas e exercerem pressão sobre os indivíduos; a perspectiva interaccionista dá relevância à interacção entre os indivíduos uma vez que esta permite construir subjectivamente diferenças

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3- CRITÉRIOS DE DESIGUALDADE:

I. Reunião de um conjunto de características objectivas, que permitem atribuir um vínculo comum a um conjunto de indivíduos- nível de vida ou níveis de riqueza semelhantes, posições determinadas na escala de prestígio e valorização social, níveis de poder, graus de escolarização, acesso ao mercado de trabalho, etc.

II. Conjunto de características subjectivas que moldam uma identidade comum – normas e valores, padrões de comportamento, atitudes e opiniões, atitudes políticas, gostos pessoais, etc.

III. Conjunto de oportunidades de vida idênticas- isto é, a existência de mecanismos de tipo colectivo que explicam, em grande parte, os regimes de mobilidade social existentes, envolvendo a permanência ou a transição de uns grupos sociais para outros.

4- SISTEMAS DE ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

- Os sociólogos falam da existência de estratificação social para descrever as desigualdades. Assim, as sociedades podem ser vistas como constituindo estratos hierarquizados, com os mais favorecidos no topo e os menos privilegiados perto do fundo.

- Podem distinguir-se quatro sistemas básicos de estratificação: a escravatura, as castas, os estados e as classes. Estes encontram-se algumas vezes em conjunção uns com os outros. A escravatura, por exemplo, coexistiu com as classes em Roma ou na Grécia Antiga, ou nos estados do sul dos EUA, antes da guerra Civil Americana.

a) Escravatura:

- A escravatura é uma forma extrema de desigualdade, na qual alguns indivíduos eram literalmente possuídos por outros como sua propriedade

- As condições legais para a posse de escravos variaram consideravelmente consoante as diferentes sociedades. Em alguns casos os escravos eram desprovidos de quase todos os direitos legais- como sucedia no sul dos EUA- enquanto noutros a sua posição estava mais próxima da dos criados.

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- Nos EUA, na América do Sul e nas Índias Ocidentais, nos séculos XVIII e XIX, os escravos eram usados quase exclusivamente como trabalhadores nas plantações e como criados domésticos. Na Grécia Antiga, pelo contrário, os escravos encontravam-se em vários postos, ocupando por vezes posições de grande responsabilidade. Em Roma, onde os grupos dominantes tinham em baixa consideração as actividades comerciais e mercantis, os escravos tornavam-se por vezes bastante ricos através do comércio e alguns destes escravos com dinheiro chegavam mesmo a possuir escravos.

- A escravatura provocou frequentemente a resistência e oposição dos que a ela estavam sujeitos. Os sistemas de trabalho baseados na escravatura ruíram, em grande parte, por causa das lutas que provocavam e, por outro lado, porque incentivos económicos (ou de outro teor) motivavam os trabalhadores mais efectivamente do que a compulsão directa.

- Desde que a liberdade foi garantida aos escravos no continente americano, há cerca de um século atrás, a escravatura como instituição formal foi sendo gradualmente erradicada, tendo hoje em dia quase desaparecido por completo.

b) Castas

- A casta está essencialmente associada às culturas do subcontinente indiano. O termo casta não é origem indiana, mas deriva da palavra portuguesa casta que significava raça ou estirpe pura.

- Os indianos não têm uma palavra única para descrever genericamente o sistema de castas, mas um conjunto de palavras que se referem a diversos aspectos do mesmo, sendo as duas mais importantes varna e jati.

- Há quatro categorias de varna, cada uma com uma posição diferente em termos de honra social. Os que pertencem à varna mais elevada, os Brâmanes, representam a condição de pureza mais elevada, e os Intocáveis a mais baixa. Os Brâmanes devem evitar certos tipos de contacto com os Intocáveis e só a estes últimos é permitido o contacto físico com animais e substâncias consideradas impuras. Os jati são grupos localmente definidos no âmbito dos quais se organizam as distinções de casta.

- O sistema de castas é extremamente elaborado e varia na sua estrutura de região para região – de tal forma que não chega propriamente a constituir um sistema, mas um conjunto diverso de crenças e práticas. No entanto, alguns princípios são amplamente partilhados.

- O sistema de castas está intimamente ligado à crença Hindu no renascimento: crê-se que os indivíduos que não se submetem aos rituais e deveres da sua casta renascerão numa posição inferior na próxima encarnação.

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- O sistema indiano de castas nunca foi completamente estático. Embora os indivíduos sejam impedidos de se mover entre as castas, grupos inteiros podem mudar (e têm-no feito frequentemente) a sua posição dentro da hierarquia de castas.

- O conceito de casta é por vezes usado fora do contexto da Índia, quando dois ou mais grupos étnicos se segregam fortemente entre si, e prevalecem noções de pureza racial.

c) Estados (ordens).

- Os estados faziam parte do Feudalismo europeu, mas existiram também em muitas outras civilizações tradicionais. Os estados feudais consistiam em estratos com diferentes obrigações e direitos, sendo algumas destas diferenças estabelecidas pela lei.

- Na Europa, o estado mais elevado era composto pela aristocracia e pela pequena nobreza rural. O clero formava outro estado, com um status inferior, mas com privilégios próprios. Aqueles que se tornaram conhecidos como “terceiro estado” eram os homens do povo – servos, camponeses livres, mercadores e artesãos.

- Em contraste com as castas, eram tolerados alguns casamentos entre indivíduos oriundos de estados diferentes, existindo alguma mobilidade individual entre os estados. Os homens do povo podiam ser armados cavaleiros, por exemplo, em retribuição de serviços especiais prestados ao monarca e os mercadores podiam por vezes adquirir títulos.

- Uma reminiscência deste sistema persiste ainda na Grã-Bretanha, onde os títulos hereditários continuam a ser reconhecidos, e alguns indivíduos podem ser armados cavaleiros ou receber títulos em reconhecimento dos seus serviços.

- No passado, os estados tendiam a desenvolver-se onde quer que houvesse uma aristocracia tradicional baseada na nobreza do nascimento. Nos sistemas feudais, como o da Europa medieval, os estados estavam intimamente ligados à comunidade senhorial local. Os impérios tradicionais mais centralizados, como a China ou o Japão, estavam organizados numa base nacional.

d) Classes

- Os sistemas de classe são diferentes em muitos aspectos da escravatura, das castas e dos estados. Podem ser mencionadas quatro diferenças essenciais:

1. Ao contrário de outros tipos de estratificação, as classes não são estabelecidas por disposições legais ou religiosas; a posição de classe não assenta numa posição herdada por lei ou pelo costume. Os sistemas de classe são

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tipicamente mais fluidos do que os outros tipos de estratificação e as fronteiras entre as classes não são absolutamente rígidas. Não existem restrições formais aos casamentos entre pessoas de classes diferentes.

2. A posição de classe de um indivíduo é, pelo menos em parte, adquirida e não atribuída, como é comum em outros tipos de estratificação. A mobilidade social é muito mais comum do que em outros tipos de estratificação.

3. As classes dependem das diferenças económicas entre grupos de indivíduos – desigualdade na posse e no controlo de recursos materiais. Nos outros tipos de sistema de estratificação, os factores não económicos, como a influência da religião no sistema de castas da Índia, são geralmente mais importantes.

4. Nos outros tipos de sistema de estratificação, as desigualdades são primordialmente expressas em relações pessoais de dever ou de obrigação. O sistema de classes, pelo contrário, funciona principalmente através de conexões em larga escala de tipo impessoal.

- Podemos definir classe como um grupo grande de pessoas com interesses económicos comuns que influenciam fortemente os seus estilos de vida. A riqueza material, em conjunto com a ocupação, constitui a base das diferenças de classe.

- As principais classes das sociedades ocidentais são uma classe alta (os ricos, patrões e industriais, mais os executivos de topo), uma classe média (que inclui a maioria dos trabalhadores de colarinho branco e profissionais liberais) e a classe trabalhadora (os colarinhos azuis, operários ou trabalhadores manuais). Em alguns países industrializados, como a França e o Japão, uma quarta classe – os camponeses – foi, até há pouco tempo, importante, nos países do Terceiro mundo, os camponeses, de uma forma geral, formam ainda a maior classe.

TEORIA DAS CLASSES E DA ESTRATIFICAÇÃO

- Podemos definir três grandes paradigmas teóricos na abordagem sociológica das classes e da estratificação: as teorias marxista e neomarxista das classes (ou teorias do conflito), a teoria funcionalista da estratificação (ou teorias do consenso) e as teorias weberiana, neoweberiana e mistas.

- A abordagem mais habitual da sociologia, no campo das desigualdades sociais, insiste nos mecanismos socioeconómicos de diferenciação. Tal acontece na maioria das perspectivas adoptadas, salvo, parcialmente, nas que decorrem de Weber.

- O essencial das fracturas e das identidades sociais é detectado a partir das diferentes inserções dos indivíduos e dos grupos na estrutura económica das sociedades. As classes sociais são consideradas como adquirindo o essencial dos seus atributos no

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campo socioeconómico, os aspectos comportamentais ou culturais dos indivíduos e dos grupos são tratados como variáveis derivadas a partir daquela variável primária.

1- AS TEORIAS MARXISTA E NEOMARXISTAS

A teoria marxista

- A maior parte das obras de Marx debruçam-se sobre a estratificação e, sobretudo, sobre as classes sociais, mesmo que ele não tenha elaborado uma análise sistemática do conceito de classe. O manuscrito em que Marx trabalhava por altura da sua morte acaba precisamente no ponto em que ele coloca a questão : “o que constitui uma classe?”. O conceito de classe de Marx teve, por isso, de ser reconstruído a partir do conjunto dos seus trabalhos.

- Para Marx uma classe é um grupo de pessoas com uma posição comum face aos meios de produção- os meios que garantem o seu sustento.

- Antes do aparecimento da indústria moderna, os meios de produção consistiam essencialmente na terra e nos instrumentos usados para a trabalhar ou nos animais. Por conseguinte, nas sociedade pré-industrializadas as duas principais classes eram constituídas por aqueles que possuíam a terra (aristocratas, pequena nobreza rural ou donos de plantações) e pelos que a cultivavam directamente (servos, escravos e camponeses livres).

- Nas sociedades industriais modernas, as fábricas, os escritórios, a maquinaria e a riqueza ou capital necessário à sua aquisição, tornaram-se mais importantes. As duas classes principais são constituídas por aqueles que possuem este novos meios de produção – os capitalistas- e aqueles que ganham a vida vendendo a sua força de trabalho aos primeiros- o proletariado.

- A relação entre as classes, de acordo com Marx, é uma relação de exploração. Nas sociedade feudais, a exploração tomava frequentemente a forma de uma transferência directa de produtos do campesinato para a aristocracia.. Nas sociedades capitalistas modernas, a fonte de exploração é menos óbvia.

- Marx ficou perplexo com as desigualdades criadas pelo sistema capitalista. Embora em tempo anteriores os aristocratas vivessem uma vida de luxo, totalmente diferente da do campesinato, as sociedades agrárias eram relativamente pobres. Contudo, pese embora o facto de com o desenvolvimento da indústria moderna a riqueza ser produzida numa escala muito maior do que em qualquer outro momento anterior, os trabalhadores têm pouco acesso à riqueza gerada pelo seu trabalho.

- Embora na teoria marxista existam duas classes sociais principais, constituídas por aqueles que possuem os meios de produção e pelos que não possuem, Marx

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reconhece que os sistemas de classes reais são muito mais complexos do que este modelo sugere.

- Além destas duas classes básicas, há o que o autor denomina por vezes como classes de transição. Trata-se de classes provenientes de um sistema de produção anterior, tal como o campesinato na sociedade moderna.

- Marx chama também a atenção para as roturas que ocorrem no interior das classes: No seio da classe alta, há frequentemente conflitos entre os capitalistas financeiros e os industriais, existem divisões de interesses entre os detentores de pequenos negócios e aqueles que são proprietários de grandes empresas, na classe trabalhadora, os desempregados a longo prazo (especialmente minorias étnicas) têm piores condições de vida do que a maioria dos trabalhadores .

- Em síntese, podemos afirmar que:

1. Marx considera as classes sociais como possuindo a sua definição no nível directamente produtivo das sociedades.

2. A definição das classes é efectuada sob uma perspectiva relacional3. A relação entre as classes é conflitual 4. O essencial da relação de domínio consiste na propriedade dos meios de

produção5. As classes sociais são o eixo de mediação entre a vida económica e as

práticas dos grupos sociais.

Teorias neomarxistas:

- As teorias neomarxistas das classes sociais apresentam dois objectivos essenciais: resolver alguns pontos menos conclusivos da obra de Marx acerca dos critérios de identificação das classes e situar teoricamente algumas das novidades que o século XX apresentou, identificando situações contemporâneas de classe.

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a) Nicos Poulantzas

- Os critérios para a identificação de classe são mistos: eles obrigam a situar a análise quer a nível das relações de produção quer a nível da superestrutura ideológica.

- Apesar da importância primordial do nível económico nas relações sociais de produção, as configurações ideológicas e políticas que daí resultam adquirem, por vezes, uma relativa autonomia, o que lhes permite tornarem-se, elas próprias, critérios de identificação de classes.

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b) Erik Olin Wright

- Segundo este autor, existe a necessidade de cruzar quatro eixos para definir os lugares de classe:

1. A propriedade dos meios de produção – que permanece a relação de exploração dominante no capitalismo

2. Recursos organizacionais3. Recursos educacionais/ Qualificação- posse de habilitações, profissionais e

escolares. 4. Dimensão da empresa- que permite averiguar algumas inserções

socioprofissionais específicas.

- Wright hierarquiza estes quatro factores: a relação de exploração baseada na propriedade dos meios de produção define o essencial do antagonismo social, daí que se possa falar de exploração dominante e em mecanismos secundários de exploração ( a exploração organizacional e exploração por credenciais)

- No caso de existirem posições sociais onde a posse de recursos aja em sentido contrário (por exemplo, inexistência de recursos de propriedade e abundância de recursos educacionais ou de autoridade) encontramos situações de lugares contraditórios de classe, ocupando, assim, posições de classe simultaneamente exploradas e exploradoras.

- Temos os seguintes exemplos destes lugares contraditórios de classe:

- Os quadros superiores e supervisores ( domínio sobre a classe operária mas ausência de propriedade dos meios de produção)

- Os pequenos patrões (controlo da força de trabalho mas reduzida dimensão da empresa)

- Os empregados semiautónomos (autonomia de processo de trabalho mas assalariamento forçado)

2- TEORIA FUNCIONALISTA DA ESTRATIFICAÇÃO

- Kingley Davis e Wilbert Moore são os principais autores que, no funcionalismo, desenvolveram a teoria sociológica das desigualdades sociais. O texto fundador desta perspectiva foi escrito em 1945. Outras referências clássicas da perspectiva funcionalista da estratificação são Talcott Parsons e Bernard Barber.

- Estes autores respeitam as premissas básicas do estrutural-funcionalismo: Por um lado, eles adoptam uma perspectiva estrutural, ao considerar os eixos de organização social profundamente enraizados nas sociedades, isto é, os suportes da organização social não se encontram primariamente ligados às consciências dos indivíduos, mas formas entidades “objectivas” que transcendem o tempo e o espaço individuais, e adquirem supremacia sobre as acções humanas. Por outro lado, são

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funcionalistas pois a sua ênfase é colocada nas interligações orgânicas dos elementos, estes preenchem diferentes papéis, representam diversas funções, mas estão unidos num mesmo objectivo, que é o funcionamento global da sociedade.

- Na perspectiva estrutural-funcionalista das desigualdades, estas encontram-se enraizadas na sociedade, não existindo organização social que possa sobreviver em condições de perfeita igualdade. As desigualdades sociais, em vez de serem um mal a evitar são funcionais, é precisamente a ocorrência dos seus mecanismos que permite a uma sociedade possuir integridade, dinamismo e, no fundo, satisfazer os indivíduos e os grupos que a compõem.

- Existem dois eixos em torno dos quais devemos raciocinar. Por um lado, verifica-se a existência de uma importância funcional diferencial das posições sociais: diferentes profissões, tarefas, actividades, apresentam uma importância variável pois algumas delas são vitais para a vida social e outras não. Por outro lado, deparamos com uma escassez diferencial de pessoal, isto é, nem todas as posições sociais podem ser ocupadas pelos mesmo indivíduos pois algumas exigem aptidões naturais particulares, outras exigem largo tempo de formação, etc.

- Segundo esta teoria, se a sociedade “recompensasse” igualmente todas as posições sociais, dificilmente encontraríamos indivíduos dispostos a ocupar posições de maior responsabilidade, ou a perder anos da sua vida em estudos e formação para melhor desempenho. É precisamente o facto de a sociedade conferir bens materiais (rendimentos e salários), prestígio e tempos de lazer variáveis às diferentes posições sociais que lhe permite encontrar indivíduos que ocupem todos os lugares.

- As desigualdades sociais, ou estratificação social, são, assim, uma necessidade funcional. Mais ainda, a criação dos mecanismos de desigualdade assenta numa base inconsciente da sociedade pois é o seu funcionamento que leva à diferenciação.

3- TEORIAS WEBERIANA, NEOWEBERIANA E MISTAS

Teoria Weberiana

- Segundo Weber, a divisão de classes deriva não só do controlo dos meios de produção, mas também de diferenças económicas que não têm a ver directamente com a propriedade. Tais recursos incluem especialmente os saberes e os títulos ou qualificações que afectam os tipos de trabalho que as pessoas são capazes de obter. Weber distinguiu também outros aspectos básicos da estratificação além das classes: o status e o partido.

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- Weber considera três eixos de desigualdades sociais:

1. Desigualdades económicas- são estabelecidas em função da posição perante o mercado e constituem as classes. Envolvem não só a propriedade e o controlo dos meios de produção, mas também a posse de outros recursos como, por exemplo, as qualificações educacionais.

2. Desigualdades de prestígio, honra social ou estilos de vida – constituem os grupos de status, que dependem especialmente das apreciações subjectivas dos indivíduos no decorrer da acção social.

3. Desigualdades de poder- constituem os partidos, o partido define um grupo de indivíduos que unem os seus esforços na medida em que possuem interesses idênticos e perseguem um objectivo comum

- Estas desigualdades não estão indissociadas mas a associação não é directa, existindo uma certa autonomia destes níveis de desigualdades. O novo-riquismo é um dos exemplos mais conhecidos: um indivíduo que recentemente acedeu a capitais económicos elevados pode não deter o status correspondente.

- Weber afirma também que a preponderância relativa dos níveis de desigualdades é variável, nas sociedades: em períodos de grandes alterações económicas é normal que as posições de classe adquiram centralidade e sejam elas a estabelecer o critério fundamental das hierarquias de prestígio e poder político; já em situações de estabilidade, é provável que os grupos de status adquiram centralidade e que regulem o acesso ao poder económico e político.

Teorias Neoweberianas e Mistas:

a) Frank Parkin

- Para este autor a posse da propriedade- os meios de produção- constitui o fundamento básico da estrutura de classes, contudo, Parkin defende que a propriedade é apenas uma forma de fechamento social, que pode ser monopolizada por uma minoria e usada como base de poder sobre outros.

- Pode definir-se fechamento social como todo e qualquer processo pelo qual os grupos tentam manter o controlo exclusivo sobre os recursos, limitando o acesso aos mesmos. As formas de garantir esta exclusividade são várias, entre elas encontram-se a propriedade e a riqueza, a etnia, a linguagem e a religião.

- Existem dois processos de fechamento social. O primeiro é o da exclusão, que se refere às estratégias que os grupos adoptam para se separarem de estranhos, impedindo-lhes o acesso a um conjunto socialmente valorizado de recursos (os sindicatos de brancos nos EUA impediam, no passado, a entrada de negros, de modo a manterem os seus próprios privilégios) O segundo processo é o da

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usurpação, que consiste na tentativas de grupos menos privilegiados de aquisição de recursos monopolizados por outros (como sucedeu quando os negros tentaram lutar pelo direito de pertença a sindicatos).

- Ambas as estratégias podem ser usadas simultaneamente em algumas circunstâncias. Parkin chamou a isto duplo fechamento. O duplo fechamento diz respeito, em grande medida, aos lugares contraditórios de classe de Wright.

b) Pierre Bourdieu

- Para Bourdieu, a estrutura de classes reúne, no mesmo plano teórico, os níveis económico, social e cultural/simbólico das relações sociais

- É a posse, historicamente variável, de graus diversos de capital económico, social ou cultural, que permite identificar situações relativas de classe.

- O sistema cultural é incorporado nas posições objectivas de classe, gerando um processo onde a acção social depende simultaneamente de propriedades materiais e de atitudes culturais.

- Apesar da existência de lutas pela atribuição de recursos, o sistema social é capaz de gerar, na esfera da reprodução, mecanismos que contribuem para a estabilidade social, o que ocorre nos vários níveis e, em particular, através da difusão de um sistema simbólico dominante.

c) Anthony Giddens

- Giddens considera que, no capitalismo, é o mercado que surge como o mecanismo básico das desigualdades, mas, para analisarmos as formas concretas de estruturação de classes devemos conjugar múltiplos critérios:

- Estruturação mediata- propriedade dos meios de produção, qualificações técnicas e educacionais e força de trabalho manual

- Estruturação imediata- divisão de trabalho nas organizações, relações de autoridade nas organizações, grupos de status definidos pelo consumo

- Estruturação resultante de atributos não económicos- diferenças étnicas ou culturais

- As configurações e comportamentos de classes concretos, bem como as oportunidades de mobilidade social, resultam das formas particulares de conjunção existentes.

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d) Ralf Dahrendorf

- Na opinião de Dahrendorf são as relações de autoridade, e não as relações de produção, que permitem definir as diferentes classes sociais nas sociedades contemporâneas. Este ponto é visível, por exemplo, nas posições de topo da escala social.

- Contrariamente à época de primeira industrialização, diz-nos Dahrendorf, a actividade de poder económico não está hoje nas mãos dos detentores do capital; a cisão da propriedade e do controlo é, precisamente, uma das marcas distintivas da nova sociedade industrial. Os indivíduos proprietários do capital afastaram-se, em grande parte, das actividades de gestão, tendo-as transmitido a profissionais de novo tipo. A nova classe dominante deve ser analisada, assim, não em função da propriedade mas da posse de autoridade- o actual atributo decisivo do domínio e das clivagens.

- Decorre de Dahrendorf a ideia de uma pluralidade de conflitos nas sociedades contemporâneas. É a conjugação dos grupos em torno de interesses específicos, e o seu conflito com grupos que apresentam interesses opostos, que empresta dinamismo às sociedades. O objectivo destes corpos é agora o controlo dos processos sociais, de forma impor o seu interesse específico, e não o controlo da propriedade.

- A criação de grupos de interesse não se confina à esfera económica das sociedades: a existência de clivagens pode atravessar múltiplos sectores da vida social. Encontramos, assim, sobreposição de grupos de interesse e múltiplos níveis de estruturação das sociedades.

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ÍndiceÍndice de figuras e quadros ..................................................................................... ixSobre os autores......................................................................................................... xvApresentação............................................................................................................. 1Renato Miguel do CarmoParte I | Análise de indicadores (Portugal e comparação europeia)Renato Miguel do Carmo, Frederico Cantante e Inês Baptista1 Disparidades de riqueza: Portugal, um dos países mais desiguais ..... 5Coeficiente de Gini.......................................................................................... 5Desigualdade de rendimento (S80/S20): os 20% mais ricos faceaos 20% mais pobres ....................................................................................... 7Desigualdade de rendimento (S90/S10): o fosso entre os 10% maisricos e os 10% mais pobres............................................................................. 9O PIB per capita português representa 3/4 do valor desta medidanos países da UE-27 ....................................................................................... 102 Taxa de risco de pobreza: incidências diferenciadas .............................. 15Risco de pobreza: o efeito das transferências ............................................. 15Risco de pobreza: estudar faz toda a diferença.......................................... 18Risco de pobreza: o efeito negativo do desemprego ................................. 253 Emprego e desemprego: retratos do último ano ...................................... 33Emprego em 2009 ............................................................................................ 33v

Desemprego acima dos 10% no final de 2009............................................. 38Desemprego registado no IEFP em Dezembro de 2009............................ 424 Educação: alguns sinais de recuperação, mas um longo caminhoa percorrer ........................................................................................................ 53População que concluiu no máximo o 3.º ciclo do ensino básico............ 53População que completou pelo menos o ensino secundário ................... 55População empregada em Portugal: a predominância dos poucoqualificados ...................................................................................................... 59Abandono escolar precoce ............................................................................. 63Aprendizagem ao longo da vida .................................................................. 65Dimensão média das turmas e proporção alunos/docentes .................... 68Despesas em educação na UE-27: países nórdicos entre os que maisgastam ............................................................................................................... 745 Saúde: a gradual consolidação..................................................................... 81Esperança de vida à nascença: populações do Leste da Europacom menor longevidade................................................................................. 81Mortalidade infantil: Portugal apresenta um registo favorável .............. 83Camas nos estabelecimentos de saúde ........................................................ 85Recursos humanos na saúde: Portugal, um país com escassezde médicos........................................................................................................ 89Despesas em cuidados de saúde................................................................... 916 Balanço: a persistência das desigualdades................................................ 95Parte II | Estudos7 Pobreza e participação no mercado de trabalho em Portugal ............... 101Nuno Alves8 Ser pobre em Portugal: percepções da pobreza e políticas sociais ...... 111Raquel Cruz9 Condições de classe e acção colectiva na Europa..................................... 119Nuno Nunes e Renato Miguel do Carmo

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vi DESIGUALDADES SOCIAIS 2010

10 Classes sociais e a desigualdade na saúde ................................................ 127Ricardo Antunes11 Desigualdades sociais na educação básica................................................ 135Pedro Abrantes12 Desigualdades de percursos no ensino superior ..................................... 145António Firmino da Costa e João Teixeira Lopes13 O abandono escolar precoce e suas implicaçõesnos percursos profissionais dos jovens ..................................................... 153Maria das Dores Guerreiro, Frederico Cantante e Margarida Barroso14 Alunos descendentes de imigrantes no final do ensino básico:orientações escolares e condicionalismos sociais .................................... 165Teresa Seabra, Sandra Mateus, Elisabete Rodrigues e Magda Nico15 Evolução articulada do PIB e do desemprego: Portugal e a médiada União Europeia, 2000-2009 ...................................................................... 173Nuno de Almeida Alves16 Emprego dos licenciados universitários.................................................... 181Carlos Manuel Gonçalves17 Desigualdades geracionais: os jovens e a precariedadede emprego na UE........................................................................................... 191Luísa Oliveira e Helena Carvalho18 Trabalho e desemprego entre jovens de um bairro social ..................... 199Alexandre Silva e Fernando Luís Machado19 População e mobilidade nos Açores: desigualdades na educaçãoe na profissão dos imigrantes ...................................................................... 207Gilberta Pavão Nunes RochaÍNDICE vii20 As desigualdades de género em números: reflexõesmetodológicas acerca da construção de índices ....................................... 215Inês Baptista21 Múltiplas dualidades: o efeito território nas desigualdadesde remuneração............................................................................................... 229Renato Miguel do Carmo e Frederico Cantante

Siglas ........................................................................................................................... 241

Publicações

Desigualdades Sociais 2010. Estudos e Indicadores

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Carmo, Renato Miguel do (org.) (2010), Desigualdades Sociais 2010. Estudos e Indicadores, Lisboa,

Editora Mundos Sociais.

Produzido no âmbito do Observatório das Desigualdades, este livro tem como objectivos coligir o

trabalho aí desenvolvido, disponibilizá-lo a um público não necessariamente académico e produzir

uma reflexão sobre este fenómeno. Divide-se em duas partes: a primeira remete para a análise da

situação portuguesa numa perspectiva comparada; na segunda os quinze ensaios examinam esta

problemática sob diferentes ângulos.

Na primeira parte abordam-se separadamente as disparidades de riqueza, a pobreza, o emprego e o

desemprego, a educação e a saúde. Na “fotografia”, Portugal surge como um dos países mais desiguais

da Europa, no que se refere à distribuição de rendimentos e no qual o risco de pobreza, apesar da

diminuição, continua a afectar de forma muito significativa os indivíduos com baixa escolaridade, os

desempregados, as famílias monoparentais e aquelas com um número elevado de filhos ou indivíduos

que vivem sós. Promove-se, igualmente, uma análise da incidência e variação do desemprego entre

diferentes grupos sociais e territórios. Destaca-se o aumento do desemprego entre a população com

menos educação e com qualificações intermédias e, a nível regional, a maior expressão deste fenómeno

no Algarve e no norte do país. No que respeita à educação, ainda que se verifique uma melhoria dos

níveis de escolaridade da população portuguesa, demonstra-se que se continuam a registar elevadas

taxas altas de abandono escolar e um baixo nível de formação ao longo da vida. A saúde é uma das

áreas na qual Portugal apresenta alguns dos indicadores mais favoráveis, sobretudo na taxa de

mortalidade infantil e na esperança média de vida. Portugal é dos países que mais gasta, em termos de

percentagem de PIB neste domínio, ainda que indicadores como o número de camas e médicos registem

valores inferiores à média europeia.

Enquanto a primeira metade do livro assenta sobretudo numa descrição de indicadores estatísticos

relativos à educação, pobreza, saúde ou ao (des)emprego, na segunda parte é promovida uma

problematização e um aprofundamento analítico dessas mesmas temáticas a partir de pequenos ensaios.

Para além do registo da análise ter uma natureza diferente do observado na primeira metade do livro, são

também integrados na Parte II outros temas e eixos de problematização das desigualdades sociais, tais

como a acção colectiva ou as classes sociais.

O tema da pobreza é analisado sob o ponto de vista dos factores que o potenciam e mitigam, mas

também dos modos de representação desse fenómeno. Quanto aos textos sobre educação, que se

debruçam sobre vários níveis de ensino, são abordados os efeitos deste tipo de desigualdades e as suas

repercussões nos projectos e percursos de vida. Mesmo nos ensaios dedicados às dinâmicas do mercado

de trabalho, a questão das qualificações é salientada, destacando-se a sua importância no acesso ao

emprego e a sua influência no tipo de inserção profissional. Vários são os ensaios que relacionam o tipo

de inserção profissional dos jovens no mercado de trabalho, as qualificações por eles detidas e a situação

de precariedade laboral experienciada. No âmbito das classes sociais, alude-se não só à importância

desta variável na compreensão das desigualdades no campo da saúde (a esperança média de vida),

como das formas de acção colectiva.

Este livro procura traçar um retrato multidimensional das desigualdades sociais em Portugal e sua

evolução. Apesar dos progressos feitos e evidenciados ao longo do livro, é demonstrado que continuam a

existir debilidades estruturais que fragilizam o país e a sua capacidade para fazer face aos desafios

colocados pela actual conjuntura de crise económica e financeira.

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Tiago Carvalho 

Ver índice

Desigualdade Social e as Classes Sociais

I.II. Desigualdade social

No mundo em que vivemos percebemos que os indivíduos são diferentes, estas diferenças se baseiam nos seguintes aspectos: coisas materiais, raça, sexo, cultura e outros.

Os aspectos mais simples para constatarmos que os homens são diferentes são: físicos ou sociais. Constatamos isso em nossa sociedade pois nela existem indivíduos que vivem em absoluta miséria e outros que vivem em mansões rodeados de coisas luxuosas e com mesa muito farta todos os dias enquanto outros não sequer o que comer durante o dia.

Por isso vemos que existe a desigualdade social, ela assume feições distintas porque é constituída de um conjunto de elementos econômicos, políticos e culturais próprios de cada sociedade.

III. Desigualdade social: a pobreza como fracasso

No século XVIII, o capitalismo teve um grande crescimento, com a ajuda da industrialização,  dando origem assim as relações entre o  capital e o trabalho, então o capitalista, que era o grande patrão, e o trabalhador assalariado passaram a ser os principais representantes desta organização.

A justificativa encontrada para esta nova fase foi o liberalismo que se baseava na defesa da propriedade privada, comércio liberal e igualdade perante a lei. A velha sociedade medieval estava sendo totalmente transformada, assim o nome de homem de     negócios era exaltado como virtude, e eram-lhe dadas todas as credenciais uma vez que ele poderia fazer o bem a toda sociedade.

O homem de negócios era louvado ou seja ele era o máximo, era o sucesso total e citado para todos como modelo para os demais integrantes da sociedade, a riqueza era mostrada como seu triunfo pelo seus esforços, diferente do principal fundamento da desigualdade que era a pobreza que era o fator principal de seu fracasso pessoal .

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Então os pobres deveriam apenas cuidar dos bens do patrão, maquinas, ferramentas, transportes e outros e supostamente Deus era testemunha do esforço e da dedicação do trabalhador ao seu patrão. Diziam que a  pobreza se dava pelo seu fracasso e pela ausência de graça, então o pobre era pobre porque Deus o quis assim.

O pobre servia única e exclusivamente para trabalhar para seus patrões e tinham que ganhar somente o básico para sua sobrevivência, pois eles não podiam melhorar suas condições pois poderiam não se sujeitar mais ao trabalho para os ricos, a existência do pobre era defendida pelos ricos, pois os ricos são ricos as custas dos pobres, ou seja para poderem ficar ricos eles precisam dos pobres trabalhando para eles, assim conclui-se que os pobres não podiam deixar de serem pobres.

IV. A desigualdade como produto das relações sociais   

Várias teorias apareceram no século XIX criticando as explicações sobre desigualdade social, entre elas a de Karl Marx, que desenvolveu um teoria sobre a noção de liberdade e igualdade do pensamento liberal, essa liberdade baseava-se na liberdade de comprar e vender. Outra muito criticada também foi a igualdade jurídica que baseava-se nas necessidades do capitalismo de apresentar todas as relações como fundadas em normas jurídicas. Como  a relação patrão e empregado tinha que ser feita sobre os princípios do direito, e outras tantas relações também.

Marx criticava o liberalismo porque só eram expressos os interesses de uma parte da sociedade e não da maioria como tinha que ser.

Segundo o próprio Marx a sociedade é um conjunto de atividades dos homens, ou ações humanas, e essas ações e que tornam  a sociedade possível. Essas ações ajudam a organização social, e mostra que o homem se relaciona uns com os outros.

Assim Marx considera as desigualdades sociais como produto de um conjunto de relações pautado na propriedade como um fato jurídico, e também político. O poder de dominação é que da origem a essas desigualdades.

As desigualdades se originam dessa relação contraditória, refletem na apropriação e dominação, dando origem a um sistema social, neste sistema uma classes produz  e a outra domina tudo, onde esta última domina a primeira dando origem as classes operárias e burguesas.

As desigualadas são fruto das relações, sociais, políticas e culturais, mostrando que as desigualdades não são apenas econômicas mas também culturais, participar de uma classe significa que você esta em plena atividade social, seja na escola, seja em casa com a família ou em qualquer outro lugar, e estas atividades ajudam-lhe a ter um melhor pensamento sobre si mesmo e seus companheiros.

V. As classes sociais

As classes sociais mostram as desigualdades da sociedade capitalista. Cada tipo de organização social estabelece as desigualdades, de privilégios e de desvantagens entre os indivíduos.

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As desigualdades são vistas como coisas absolutamente  normais, como algo sem relação com produção no convívio na sociedade, mas analisando atentamente descobrimos que essas desigualdades para determinados indivíduos são adquiridos socialmente. As divisões em classes se da na forma que o indivíduo esta situado economicamente e socio-politicamente em sua sociedade.

Como já vimos no capitalismo, quem tinham condições para a dominação  e a apropriação, eram os ricos, quem  trabalhavam para estes eram os pobres, pois bem esses elementos eram os principais denominadores de desigualdade social . Essas desigualdades não eram somente econômicas mas também intelectuais, ou seja o operário não tinha direito de desenvolver sua capacidade de criação, o seu intelecto. A dominação da classe superior, os burgueses, capitalistas, os ricos,  sobre a camada social que era a massa, os operários, os pobres, não era só economica mas também ela se sobrepõe a classe pobre, ou seja ela não domina só economicamente como politicamente e socialmente.

VI.A luta de classes

As classes sociais se inserem em um quadro antagônico, elas estão em constante luta, que nos mostra o caráter antagônico da sociedade capitalista, pois, normalmente, o patrão é rico e dá ordens ao seu proletariado, que em uma reação normal não gosta de recebe-las, principalmente quando as condições de trabalho e os salários são precários.

Prova disso, são as greves e reivindicações que exigem melhorias para as condições de trabalho, mostrando a impossibilidade de se conciliar os interesses de classes.

A predominância de uma classe sobre as demais, se funda também no quadro das práticas sociais pois as relações sociais capitalistas alicerçam a dominação econômica, cultural, ideológica, política, etc.

A luta de classes perpassa, não só na esfera econômica com greves, etc, ma em todos os momentos da vida social. A greve é apenas um dos aspectos que evidenciam a luta. A luta social também está presente em movimentos artísticos como telenovelas, literatura, cinema, etc.

Tomemos a telenovela como exemplo. Ela pode ser considerada uma forma de expressar a luta de classes, uma vez que possa mostrar o que acontece no mundo, como um patrão, rico e feliz, e um trabalhador, sofrido e amargurado com a vida, sempre tentando ser independente e se livrar dos mandos e desmandos do patrão. Isso também é uma forma de expressar a luta das classes, mostrando essa contradição entre os indivíduos.

Outro bom exemplo da luta das classes é a propaganda. As propagandas se dirigem ao público em geral, mesmo aos que não tem condição de comprar o produto anunciado. Mas por que isso?

A propaganda é capaz de criar uma concepção do mundo, mostrando elementos que evidenciam uma situação de riqueza, iludindo os elementos de baixo poder econômico de sua real condição.

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A dominação ideológica é fundamental para encobrir o caráter contraditório do capitalismo.

VII. A desigualdade social no Brasil

O crescente estado de miséria, as disparidades sociais, a extrema concentração de renda, os salários baixos, o desemprego, a fome que atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a marginalidade, a violência, etc, são expressões do grau a que chegaram as desigualdades sociais no Brasil.

A desigualdade social não é acidental, e sim produzida por um conjunto de relações que abrangem as esferas da vida social. Na economia existem relações que levam a exploração do trabalho e a concentração da riqueza nas mão de poucos. Na política, a população é excluída das decisões governamentais.

Até 1930, a produção brasileira era predominantemente agrária, que coexistia com o esquema agrário-exportado, sendo o Brasil exportador de matéria prima, as indústrias eram pouquíssimas, mesmo tendo ocorrido, neste período, um verdadeiro “surto industrial”.

A industrialização  no Brasil, a partir da década de 30, criou condições para a acumulação capitalista, evidenciado não só pela redefinição do papel estatal quanto a interferência na economia (onde ele passou a criar as condições para a industrialização) mas também pela implantação de indústrias voltadas para a produção de máquinas, equipamentos, etc.

A política econômica, estando em prática, não se voltava para a criação, e sim para o desenvolvimento dos setores de produção, que economizam mão-de-obra. Resultado: desemprego.

VIII. Desenvolvimento e pobreza

O subdesenvolvimento latino-americano tornou-se pauta de discussões na década de 50. As proposta que surgiram naquele momento tinham como pano de fundo o quadro de miséria e desigualdade social que precisava ser alterado.

A Cepal (Comissão econômica para a América Latina, criada nessa decada) acreditava que o aprofundamento industrial e algumas reformas sociais criariam condições econômicas para acabar com o subdesenvolvimento.

Acreditava também que o aprofundamento da industrialização inverteria o quadro de pobreza da população. Uma de suas metas era criar meios de inserir esse contingente populacional no mercado consumidor. Contrapunha o desenvolvimento ao subdesenvolvimento e imaginava romper com este último por maio de industrialização e reformas sociais. Mas não foi isso o que realmente aconteceu, pois houve um predomínio de grandes grupos econômicos, um tipo de produção voltado para o atendimento de uma estrita faixa da população e o uso de máquinas que economizavam mão-de-obra.

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De fato, o Brasil conseguiu um maior grau de industrialização, mas o subdesenvolvimento não acabou, pois esse processo gerou uma acumulação das riquezas nas mãos da minoria, o que não resolveu os problemas sociais, e muito menos acabou com a pobreza.

As desigualdades sociais são enormes, e os custos que a maioria da população tem de pagar são muito altos. Com isso a concentração da renda tornou-se extremamente perceptível, bastando apenas conversar com as pessoas nas ruas para nota-la.

Do ponto de vista político esse processo só favoreceu alguns setores, e não levou em conta os reais problemas da população brasileira: moradia, educação, saúde, etc. A pobreza do povo brasileiro aumentou assustadoramente, e a população pobre tornou-se mais miserável ainda.

IX.A pobreza absoluta

Quando se fala em desigualdade social e pobreza no Brasil, não se trata de centenas de pessoas, mas em milhões que vivem na pobreza absoluta. Essas pessoas sobrevivem apenas com 1/4 de salário mínimo no máximo!

A pobreza absoluta apresenta-se maior nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Para se ter uma idéia, o Nordeste, em 1988, apresentava o maior índice (58,8%) ou seja, 23776300 begin_of_the_skype_highlighting              23776300      end_of_the_skype_highlighting pessoas viviam na pobreza absoluta.

Em 1988, o IBGE detectou, através da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios, que 29,1% da população ativa do Brasil ganhava até l salário mínimo, e 23,7% recebia mensalmente de l a 2 salários mínimos. Pode-se concluir que 52,8% da população ativa recebe até 2 salários mínimos mensais.

Com esses dados, fica evidente que a mais da metade da população brasileira não tem recursos para a sobrevivência básica. Além dessas pessoas, tem-se que recordar que o contingente de desempregados também é muito elevado no Brasil, que vivem em piores condições piores que as desses assalariados.

As condições de miserabilidade da população estão ligadas aos péssimos salários pagos.

X.A extrema desigualdade social

Observou-se anteriormente que mais de 50% da população ativa brasileira ganha até 2 salários mínimos. Os índices apontados visam chamar a atenção sobre os indivíduos miseráveis no Brasil.

Mas não existem somente pobres no Brasil, pois cerca de 4% da população é muito rica. O que prova a concentração maciça da renda nas mãos de poucas pessoas.

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Além dos elementos já apontados, é importante destacar que a reprodução do capital, o desenvolvimento de alguns setores e a pouca organização dos sindicatos para tentar reivindicar melhores salários, são pontos esclarecedores da geração de desigualdade social.

Quanto aos bens de consumo duráveis (carros, geladeiras, televisores, etc), são destinados a uma pequena parcela da população. A sofisticação desses produtos, prova o quanto o processo de industrialização beneficiou apenas uma pequena parcela da poppulação.

Geraldo Muller, no livro Introdução à economia mundial contemporânea, mostra como a concentração de capital, combinado com a mmiserabilidade, é responsável pelo surgimento de um novo bloco econômico, onde estão Brasil, México, Coréia do Sul, Äfrica do Sul, são os chamados “países subdesenvolvidos industrializados”, em que ocorre uma boa industrialização e um quadro do enormes problemas sociais.

O setor informal é outro fator indicador de condições de reprodução capitalista no Brasil. Os camelôs, vendedores ambulantes, marreteiros, etc, são trabalhadores que não estão juridicamente regulamentados, mas que revelam a especificidade e desigualdade da economia brasileira e de seu desenvolvimento industrial.

Bibliografia: TOMAZI, Nelson Dácio. Iniciação a Sociologia. SP, atual; 1993

Autoria: Pedro Roberto Cardoso

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