83
UFRJ DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO Salvatore Barreto Benvenuto Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência Política, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência Política. Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna Rio de Janeiro Julho de 2009

DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

UFRJ

DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:

QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO

Salvatore Barreto Benvenuto

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Ciência Política, Instituto de

Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Ciência Política.

Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna

Rio de Janeiro

Julho de 2009

Page 2: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

II

DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:

QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO

Salvatore Barreto Benvenuto

Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em

Ciência Política, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

de Mestre em Ciência Política.

Aprovada por:

___________________________________

Presidente, Profª. Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna

___________________________________

Profª. Ingrid Sarti

___________________________________

Profª. Ludmila Rodrigues Antunes

Rio de Janeiro

Julho de 2009

Page 3: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

III

Benvenuto, Salvatore Barreto.

Déficit na educação e crescimento econômico no Brasil: questões do novo milênio/ Salvatore Barreto Benvenuto - Rio de Janeiro: UFRJ/ IFCS, 2009.

ix, 83f.: il.; 31 cm.

Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ IFCS/ Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, 2009.

Referências Bibliográficas: f. 71-74.

1. Educação. 2. Crescimento econômico. 3. Déficit educacional. 4. Políticas públicas. 5. Inovação. 6. Produtividade. I. Vianna, Maria Lucia Teixeira Werneck. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Programa de Pós-graduação em Ciência Política. III. Déficit na educação e crescimento econômico no Brasil: questões do novo milênio.

Page 4: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

IV

RESUMO

DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL:

QUESTÕES DO NOVO MILÊNIO

Salvatore Barreto Benvenuto

Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-

graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência

Política.

O objetivo deste trabalho é apontar os déficits educacionais que possam

oferecer entraves ao crescimento econômico no Brasil. O contexto produtivo de

modelo recente, baseado numa intensificação do uso da informação, exige uma

relação muito mais intensa com os processos de aprendizado, os quais permitam a

disseminação dos parâmetros recentes da produção. Estes processos dependem da

formação educacional da mão-de-obra, capaz de sustentar a apreensão sistemática

das novas qualificações em situação de constante obsolescência. Tal contexto

demanda investimentos significativos nas categorias educacionais de base, que

permitam construir as competências requeridas no novo milênio. Em paralelo,

diversas políticas públicas no país tentam atender as atuais demandas investindo

na disseminação da educação sem, no entanto, assegurar a qualidade da mesma.

Palavras-chave: educação, crescimento econômico, déficit educacional, políticas

públicas, inovação, produtividade.

Rio de Janeiro

Julho de 2009

Page 5: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

V

ABSTRACT

DEFICIT ON EDUCATION AND ECONOMIC GROWTH IN BRAZIL:

ISSUES OF NEW MILLENNIUM

Salvatore Barreto Benvenuto

Orientadora: Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-

graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência

Política.

The goal of this work is to point the educational deficits that can offer

obstacles to economic growth in Brazil. The productive context of recent model,

based on an intensification of the information use, demands a much more intense

relationship with the processes of learning, which allow a dissemination of recent

parameters of production. These processes depend on educational formation of

work force, capable of sustaining a systematic apprehension of new qualifications in

situation of constant obsolescence. Such context demands significant investments

on basic categories of education that allow build the competences required in new

millennium. In parallel, diverse public policies on country try to meet the current

demands investing on spread education without, however, ensure the quality of it.

Key words: education, economic growth, educational deficit, public policies,

innovation, productivity.

Rio de Janeiro

Julho de 2009

Page 6: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

VI

AGRADECIMENTOS

Gostaria de tecer um agradecimento especial a minha orientadora Maria

Lucia Teixeira Werneck Vianna. Não caberia aqui o quanto seu incentivo foi

importante no decorrer deste trabalho.

Aos caríssimos professores do programa de pós-graduação em ciência

política, agradeço pela maneira fascinante com a qual a ciência política se

descortinou para mim.

Um agradecimento especial aos professores Aluisio Alves e Liana Cardoso

pelo encorajamento inestimável.

Gostaria de agradecer ao ambiente de debate e cooperação mútua

proporcionado pelos meus colegas de turma, terei sempre todos na memória.

Aos amigos que sofreram e superaram junto comigo todos os desafios, e

dividem agora a satisfação deste trabalho, em especial a Nathalia Cordeiro.

Agradeço ao apoio financeiro da CAPES, decisivo no decorrer deste trabalho.

Page 7: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

VII

Aos meus pais, Paulo Roberto e Elza

Page 8: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

VIII

LISTA DE SIGLAS

FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IOH - Índice de Oportunidade Humana.

OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

PAC - Plano de Aceleração do Crescimento.

Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Alunos.

PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação.

PTE - Paradigma Tecno-econômico.

Saeb - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica.

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

SESI - Serviço Social da Indústria.

Unesco - Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura.

WWW - World Wide Web.

Page 9: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

IX

SUMÁRIO

Introdução 1

Capítulo 1. A modernidade exacerbada 4

A modernidade do final do milênio

O Prometeu moderno

Capítulo 2. O conhecimento na Era informacional 13

Territorialidade e inovação

Conhecimento tácito e conhecimento codificado

Redes de cooperação

Reconcentração da geração de novos conhecimentos

Trabalho e educação no novo contexto produtivo

Informação, inovação e educação

Capítulo 3. A participação do Brasil no novo contexto econômico 41

Investimentos corporativos em educação

Re-exclusão educacional

Uma retórica sobre a educação

O risco moral da educação

Investimentos em educação no Brasil

Finalizando

Considerações finais 67

Referências bibliográficas 70

Page 10: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Introdução

A presente dissertação tem como objetivo apontar a natureza do déficit educacional

no Brasil, diante do atual contexto econômico mundial. Nesse contexto, a chamada

economia informacional, as exigências relativas ao conhecimento não só aumentam

como se tornam mais complexas e sofisticadas. Contudo, o cerne de tais exigências

reside na educação básica, capaz de fornecer os fundamentos dos saberes que

sustentem a apreensão sistemática de cada vez mais conhecimento.

O ponto de partida do trabalho está, assim, no reconhecimento das

mudanças em curso na relação entre tecnologia e produção. Os requisitos de

produtividade e competitividade, cada vez mais exigentes, passaram a demandar

novas abordagens no campo educacional. No Brasil, conforme apontado por vários

estudos, embora tenha ocorrido uma massificação da educação fundamental, as

questões relativas à qualidade e à adequação do ensino básico continuam

pendentes. Pretende-se, com esta dissertação, contribuir para o debate em torno

de tal tema, qual seja, o da necessidade de políticas públicas na área de educação

que visem superar o gargalo que o ensino fundamental ainda representa para o

crescimento econômico do país.

A pesquisa realizada foi eminentemente bibliográfica. Buscou-se levantar a

produção acadêmica que descreve as características do contexto socioeconômico no

novo milênio, com um viés voltado às relações entre educação, trabalho e

crescimento econômico no Brasil. Como esta literatura é vasta e diversificada, foi

preciso traçar um recorte temático que orientasse a seleção dos textos no sentido

de esclarecer o objetivo da dissertação. Obras importantes e indispensáveis à

compreensão do tema tratado deixaram de ser incluídas no corpo do trabalho, no

intuito de não desviar do recorte proposto.

A dissertação está estruturada em três capítulos e uma breve conclusão. O

primeiro capítulo faz uma exposição sucinta das características do atual momento

Page 11: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

2

socioeconômico, ressaltando a controvérsia entre ruptura e continuidade na

chamada modernidade.

O segundo capítulo retrata atual fase produtiva em sua relação com o

conhecimento, destacando o papel da educação neste processo. Ele procura

ressaltar a importância das relações com o aprendizado no esforço produtivo de

modelo informacional, e sua demanda constante por inovação, a ponto de tornar

esta última um fator crítico neste modelo. As relações de trabalho também sofrem

intervenções no modo recente da produção, tornando-se mais dependentes da

capacidade intelectual da mão-de-obra.

Competir, no atual contexto, está de alguma forma condicionado aos

investimentos em educação. Diante das recentes demandas por competitividade no

âmbito internacional do mercado, o crescimento econômico dos países esbarra na

oferta de recursos humanos qualificados, capazes de oferecer resposta aos recentes

implementos tecnológicos. A constante demanda por qualificação não pode sofrer

estrangulamentos, sob pena causar a obsolescência rápida de algum processo

produtivo.

A sustentabilidade do desenvolvimento socioeconômico está diretamente associada à velocidade e à continuidade do processo de expansão educacional. Essa relação direta se estabelece a partir de duas vias de transmissão distintas. Por um lado, a expansão educacional aumenta a produtividade do trabalho, contribuindo para o crescimento econômico, o aumento de salários e a diminuição da pobreza. Por outro, a expansão educacional promove maior igualdade e mobilidade social.1

Neste contexto, surge uma pergunta com relação à situação atual dos

investimentos em educação no país: o Brasil é capaz de acompanhar as mudanças?

O terceiro capítulo trata em boa parte desta pergunta. Diversos empreendedores já

se ressentem da carência por mão-de-obra qualificada, a ponto de alguns deles

investirem na formação educacional de seus funcionários. Este fator vem tomando

o fôlego, não só por sugar parte dos recursos, mas também por tomar um tempo

precioso numa atividade diversa da ocupação principal da empresa.

1 BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA. Pelo fim das décadas perdidas, 2002: 1.

Page 12: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

3

Paralelamente, compensar as desigualdades educacionais vem se firmando

como bandeira em diversos movimentos na sociedade civil, os quais buscam

equalizar o problema. O debate sobre oferta de oportunidades vem ganhando

espaço na sociedade, apontando eventualmente uma variedade da síndrome de

Mateus2. Neste contexto a tendência observada é a de investir mais naqueles que

já tem muito, deixando em segundo plano os que apresentam pouca desenvoltura

em relação às credenciais acadêmicas.

Esta questão coexiste com um risco moral —moral hazard, ou seja, uma

condição de aumento constante das demandas por credenciais acadêmicas. Esta

inflação por diplomas influencia nas exigências por cada vez mais investimentos em

formação educacional sem, no entanto, aderir um conteúdo real à qualificação.

Finalizando, destaca-se que diante do recente contexto socioeconômico, os

gestores das políticas públicas precisam se alinhar aos requisitos do modelo

recente, o que representa habilitar-se a aprender constantemente. Dessa forma, é

possível responder aos requisitos de flexibilidade e adaptação perenes no novo

milênio.

2 Dados empíricos demonstram que empresas deixadas a si próprias investem primeiramente na formação de competências de empregados com bom treinamento formal. Essa 'Síndrome de Mateus', em que mais é dado àqueles que já têm muito, aponta para a necessidade de o poder público proporcionar aos trabalhadores sem qualificação um adequado desenvolvimento de suas capacidades. LUNDVALL, B. Políticas de Inovação na Economia do Aprendizado, 2001: 207.

Page 13: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Capítulo 1

A modernidade exacerbada

Vivemos um tempo ágil. Ao sabor dos ventos das recentes tecnologias, as

mudanças são uma constante, produzindo um ritmo da vida em constante

aceleração. Tal característica é ainda recente, fomentando discussões sobre a

natureza e a forma das atuais circunstâncias. A velocidade e intensidade dos novos

processos informacionais ainda causam apreensão diante da maneira com a qual

avançam.

Existe um aparente descontrole neste avanço. O modo de evolução

característico deste processo pode dar a impressão de algo acéfalo caminhando de

forma descontrolada. Giddens invoca a imagem do carro de Jagrená, um ritual do

hinduísmo onde uma massa humana empurra um carro gigantesco sem controle

preciso, que eventualmente esmaga um ou outro participante sem, no entanto,

interromper sua trajetória.3 Tal metáfora propõe uma imagem bastante

representativa do atual contexto, o qual remete não a destrutividade, mas ao

inesperado.

Cada vez mais a chamada teoria do caos vem sendo associada à atual fase.4

Neste aspecto, remetendo a mesma idéia na mecânica quântica, caos está

associado à imprevisibilidade.5 O comportamento errático do progresso sugere um

3 O termo vem do hindu Jagannãth, 'senhor do mundo', e é um título de Krishna; um ídolo desta deidade era levado anualmente pelas ruas num grande carro, sob cujas rodas, contava-se, atiravam-se seus seguidores para serem esmagados. GIDDENS, A. As consequências da modernidade, 1991: 133.4 Cada vez torna-se mais frequente a menção à teoria do Caos desenvolvida pela matemática e pela física nos textos das ciências sociais. O propósito destas citações é, via de regra, indicar a presença de um 'novo paradigma' científico. Contudo, quase nunca a conexão entre a teoria do Caos e as ciências sociais é realmente explicitada, permanecendo apenas 'subentendida'. LEHER, R. Educação em tempos desiguais, 1998: 2.5 A teoria do caos, como representada pela mecânica quântica, propõe uma não linearidade do comportamento dos corpos. O caos está na forma assimétrica do movimento, a qual estabelece uma dependência sensível das suas condições iniciais, o butterfly effect. A mecânica Newtoniana descreve um modelo o qual explica o movimento baseado em leis

Page 14: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

5

planejamento improvável do futuro, levando a necessidade de adaptação ao estado

de eterno momento presente, a condição de hiper-realidade, uma peculiaridade das

mudanças constantes.

A idéia de descontrole sobre a trajetória dos eventos, sua característica

inovadora e seu potencial revolucionário, tem efeitos diversos sobre os indivíduos.

Alguns diriam que a fase atual coroa uma longa trajetória de evolução tecnológica,

e que presenciamos uma conflagração no processo produtivo, a qual revolucionará

a maneira de viver em sociedade. Para outros, a atual fase representa uma

oportunidade única para humanidade, que diante de uma etapa de mudanças pode

finalmente corrigir injustiças, que vem se perpetrando pela dureza em relação a

transformações.

Tal pensamento sugere uma comparação à célebre frase tudo que é solido

desmancha no ar, em que instituições resistentes a mudanças cedem diante das

novas circunstâncias6. Ele remete a transformações radicais na forma de viver,

assim como a que presenciamos, através de mudanças nas instituições e na

economia, as quais oferecem oportunidades valiosas para melhores rumos. Mas há

aqueles que vêem ameaças nestas mudanças.

A imprevisibilidade tem o poder de mexer com a estrutura das coisas, e

aqueles que conquistaram alguma proeminência, mas não se sentem capazes de

reconquistar, temem o novo. À medida que as circunstâncias mudam, ocorre uma

tensão inconfundível, já velha conhecida da espécie humana, entre os que celebram

o novo e aqueles que se resignam na segurança do território conhecido. A imagem

universais, mas, empiricamente, há aspectos deste movimento que assumem características imprevisíveis e que fogem a proposição de uma regra geral ou lei definitiva e, portanto, caóticos. Versão baseada em: http://en.wikipedia.org/wiki/Chaos_theory, 2009.6 Essas e outras objeções semelhantes são justificadas, e o parecerão ainda mais se lembrarmos que a famosa frase sobre 'derreter os sólidos', quando cunhada há um século e meio pelos autores do Manifesto comunista, referia-se ao tratamento que o autoconfiante eexuberante espírito moderno dava à sociedade, que considerava estagnada demais para o seu gosto e resistente demais para mudar e amoldar-se a suas ambições - porque congelada em seus caminhos habituais. Se o 'espírito' era 'moderno', ele o era na medida em que estava determinado que a realidade deveria ser emancipada da 'mão morta' de sua própria história (...). Essa intenção clamava, por sua vez, pela 'profanação do sagrado': pelo repúdio e destronamento do passado, e, antes e acima de tudo, da 'tradição' (...). BAUMAN, Z. Modernidade líquida, 2001: 9.

Page 15: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

6

do carro de Jagrená talvez invoque uma figura monstruosa, mas para muitos, o

futuro pode ser mesmo temerário. Ainda assim, o ato de encarar com desconfiança

o que revoluciona não é definitivamente algo recente.

No final do séc. XIV o ritmo dos avanços tecnológicos na China estava

prestes a lançá-la em sua própria revolução industrial.7 Os recursos tecnológicos

que dominava colocavam-na a frente de seu tempo, uma posição de supremacia

sem paralelo no mundo de então. Assim, o que teria tragado este país da sua

posição privilegiada? O medo do novo.8 Para manter um determinado status quo,

os burocratas de então sacrificaram o potencial de liderança da China, detendo o

desenvolvimento tecnológico. O temor do potencial revolucionário da tecnologia —o

medo do novo, do desconhecido— fez os burocratas tomarem rumos conservadores

para evitar riscos.9

Diante da mudança, aqueles que detinham privilégios sufocaram o avanço

da china medieval, prevendo que as mudanças trariam algo imprevisível e,

portanto, temerário. Mais tarde, na guerra do ópio, a China se vê dobrada nesta

crença, provando a si mesma que as mudanças são algo inevitável e irrefreável. Tal

inevitabilidade já não é tão contestada nos dias de hoje, mas a desconfiança

parece, na verdade, aumentar. Há os que lançam prenúncios apocalípticos,

temerários da forma incompreensível do futuro hoje.10 Surgem profetas e

7 Nas palavras de Jones: 'A China esteve a ponto de se industrializar no final do século XIV'.CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 45.8 De acordo com Mokyr, parece que o fator determinante do conservadorismo tecnológico eram os temores dos governantes pelos impactos potencialmente destrutivos da transformação tecnológica sobre a estabilidade social. Inúmeras forças eram contrárias à difusão da tecnologia na China, como em outras sociedades, particularmente as guildas urbanas. Os burocratas satisfeitos com o status quo preocupavam-se com a possibilidade de desencadeamento de conflitos sociais, que poderiam unir-se a outras fontes latentes de oposição em uma sociedade mantida sob controle por muitos séculos. Idem: 47.9 Um Estado burocrático, sem incentivo externo e com desencorajamentos internos à modernização tecnológica, optou pela mais prudente neutralidade, consequentemente interrompendo a trajetória tecnológica que a China seguira há séculos, talvez milênios, exatamente sob a orientação estatal. Idem. Ibidem.10 Tampouco surpreende que entre os que mantêm crenças religiosas, haja uma tendência a ver o potencial de desastre global como a expressão da ira de deus. Pois os riscos globais de grandes consequências que todos nós corremos atualmente são elementos básicos do caráter de descontrole, do carro de Jagrená da modernidade, (...). GIDDENS, A. As consequências da modernidade, 1991: 133.

Page 16: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

7

milenarismos, anunciando novos dilúvios. Parece inabalável a tendência humana ao

misticismo, mesmo diante da ascensão da ciência e tecnologia a qual

presenciamos.

Perplexos ante a dimensão e a abrangência da transformação histórica, a cultura e o pensamento de nossos tempos frequentemente adotam um novo milenarismo. Profetas da tecnologia pregam a nova era, extrapolando para a organização e as tendências sociais, a mal compreendida lógica dos computadores e do DNA.11

É possível casualmente perceber associações de cunho quase religioso

insinuando algum fim dos tempos. Essa retórica veemente contribuiu para o

sucesso do polêmico artigo de Francis Fukuyama, o fim da história? Ironicamente,

tal artigo não se referia tanto a um fim, mas muito mais a um período de conflitos

ideológicos que terminam por reafirmar a democracia liberal como uma fase

madura da trajetória humana.

Existem assim aqueles que não se curvam aos deslumbres das recentes

tecnologias, e seus novos milagres, a ponto de anunciarem uma nova Era, mas

preferem assinalar uma exacerbação das características inerentes a própria

modernidade. Tais autores identificam uma economia de novo tipo, calcada nos

novos recursos tecnológicos e independente geograficamente.

A modernidade do final do milênio

O conceito de PTE - Paradigma Tecno-Econômico12 aponta a superação sistemática

das características ligadas ao padrão tecnológico vigente, em busca de

produtividade. Nesta acepção, a atual conjuntura constitui-se dentro de um ciclo de

reconstrução do padrão produtivo, com base na inovação das técnicas e processos

tecnológicos.

11 CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 42.12 Deve ser chamada a atenção para um conceito em particular, que se tornou elucidativo para o entendimento das transformações estruturais enfrentadas periodicamente pelas sociedades. Como resultado dos esforços objetivando explicar as diferentes dinâmicas e padrões de geração, uso e difusão de tecnologias e outras inovações associadas, foi desenvolvido o conceito de Paradigma Tecno-Econômico - PTE (Dosi, 1982; Freeman, 1982; Perez, 1983). LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento e do aprendizado, 1999: 32.

Page 17: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

8

Apesar da característica cíclica deste processo, confrontamos atualmente um

uso ainda mais extensivo das tecnologias disponíveis, aumentando a participação

do uso da informação no seu conteúdo. O atual PTE constitui o que se poderia

compreender como uma intensificação do uso das tecnologias da informação e de

um aumento na implementação do conhecimento para gerar inovação. O processo

informacional de aprimoramento do modelo de produção contém uma característica

ligada à inovação constante, e que se relaciona a uma determinada maneira de ser

da sociedade.

Alguns autores identificam esta circunstância como característica da

modernidade. A tarefa árdua de demarcar este conceito foi abraçada por diversas

obras, e vem trazendo polêmica ao debate sobre o momento vigente.13 Giddens

situa o advento da modernidade no século XVII.14 Desde então, tal evento vem

crescendo em abrangência e aceleração.

Este evento, em constante mudança numa busca por maior eficiência,

institui um contexto de avanço incessante. Em tal contexto, a inovação opera uma

matriz que alimenta a modernização, criando uma dinâmica de aceleração através

da constante alimentação deste sistema, na busca incessante por mais inovação.

Tal processo vem sendo aprimorado sistematicamente, chegando ao momento

atual de forma conceitualmente um tanto controversa.

O artigo de Maria Lucia Werneck Vianna destaca a relação das ciências

sociais com o atual paradigma.15 A autora explora a idéia de hiper-realidade, em

função da produção intelectual contemporânea. Neste artigo sobressai um

interessante antagonismo sobre o tema, onde o autor Boaventura Santos classifica-

se como pós-modernista de oposição em contraposição ao pós-modernismo de

13 A destacar o extenso trabalho de Zygmunt Bauman em sua série líquida.14 'Modernidade' refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. GIDDENS, A. As consequências da modernidade, 1991: 11.15 A rapidez e a intensidade das mudanças operadas na realidade social, o objeto precípuo de todas as ciências sociais, a tornam auto-explicável, hiper-real, (...). O resultado é que teoria e realidade se confundem. A teoria passa a ser a própria realidade, na medida em que esta se auto-explica. VIANNA, M. Hiper-realidade ou hipoteoria?, 2008: 63.

Page 18: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

9

celebração. O que o pós-modernismo celebra é um improvável fim dos tempos,

alardeando uma crise insolúvel que nunca existiu. Nesta proposição, o fim da

história representa uma falta de opções em escala humana, onde a pós-

modernidade acena com um tipo de individualização que sugere o vazio.

A teoria e a cultura pós-modernas celebram o fim da história e, de certa forma, o fim da razão, renunciando a nossa capacidade de entender e encontrar sentido até no que não tem sentido. A suposição implícita é a aceitação da total individualização do comportamento e da impotência da sociedade ante seu destino.16

Jean-François Lyotard demarca uma ruptura, produto do fim de uma grand

narrative para a história humana. Mas, de alguma forma, a teoria da pós-

modernidade estabelece um fim da história que não se comprova. A trajetória da

sociedade segue sem se abalar, provando que a razão humana é capaz de

compreender até mesmo o que em algum momento foi incompreensível.

A fase recente provoca novas abordagens de processos estratégicos da

produção para atender as últimas demandas da competitividade, nas quais diversas

características socioeconômicas sofrem uma exacerbação. Assim sendo, estaríamos

vivendo não a pós-modernidade, mas uma condição sui generis da modernidade,

baseada numa intensificação sem precedentes das suas características próprias.

Giddens nos fala de uma forma tardia da modernidade, na qual, os

processos socioeconômicos conhecidos se intensificam no fim do último milênio.

Assim sendo, o período o qual vivemos não representa uma ruptura, mas um

momentum esporádico e imprevisível, uma modernidade exacerbada17, resultado

de um desenvolvimento inesperado de características conhecidas da sociedade.

O Prometeu moderno

16 CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 42.17 Referência a idéia de Giddens de uma intensificação, ou exacerbação, dos processos da modernidade no atual contexto socioeconômico: Em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes.GIDDENS, A. As consequências da modernidade, 1991: 13.

Page 19: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

10

Recentemente, a economia vem sofrendo uma interferência dada pelo modo das

últimas tecnologias. A competição se torna ainda mais contundente através dos

recentes implementos em comunicação e logística, os quais promovem um acesso

mais ágil a mercados antes distantes. Assim, mais e mais competidores se

confrontam em um cenário muito mais globalizado, impulsionado por um aumento

nesta interatividade econômica.

Esta característica provoca novas abordagens de processos estratégicos da

produção, tais como pesquisa e desenvolvimento, com o intuito atender as

demandas recentes da competição. Calcado na maior interferência tecnológica, este

fenômeno trás um tipo de integração que gera maior intercâmbio da informação,

fazendo do conhecimento um fator chave em função da competitividade.18

Nestas circunstâncias, os processos de aprimoramento da produtividade

sofrem um efeito de aceleração através das recentes tecnologias. Em tal contexto,

o conhecimento opera um papel ainda mais incisivo, trabalhando na promoção da

inovação, onde esta última ocupa um lugar decisivo para a competitividade. O

conhecimento gestado no processo produtivo é reinvestido no aprimoramento do

próprio processo, na busca por maior eficiência.

Castells descreve uma propriedade cíclica de realimentação da inovação,

como um círculo virtuoso que utiliza o processamento das informações como fonte

de produtividade. Assim, o conhecimento opera um processo, no qual a busca

incessante de maior eficiência da produção demanda investimentos substanciais em

desenvolvimento e aprendizado tecnológico, que sustentem o constante impulso

inovador.

A condição estratégica do conhecimento encontra nova ênfase diante da

modernidade em sua fase tardia. A produção de modelo recente requer uma

simbiose entre processo de acumulação de aprendizado e conhecimento. O fator

diferencial na fase informacional da sociedade é como o conhecimento é aplicado na

produção do próprio conhecimento para gerar produtividade.

18 Ver neste trabalho o subtítulo Redes de cooperação.

Page 20: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

11

Estas novas relações de produção ultrapassam os meios convencionais,

lançando mão de um processo produtivo sem precedentes. A atual interferência

deste processo na sociedade é apontada como algo ainda mais incisivo que as duas

últimas revoluções industriais, por representar mudanças ainda mais significativas.

A necessidade da inovação constante, como principal consequência da

globalização em seu contexto competitivo, cria um aumento na demanda por

aprendizado. A velocidade do avanço tecnológico exige cada vez mais capacidade

de uso da informação à medida que a cultura tecnológica se dissemina, ou seja, a

complexidade e velocidade dos processos de inovação demandam constantemente

mais recursos intelectuais.

Numa conjuntura onde a mudança é uma constante, os elementos do

aprendizado, ou em última instância da adaptação aos avanços, podem constituir o

elemento diferencial competitivo. A corrida pela preeminência nesta competição

impõe um ritmo crescente ao aprimoramento tecnológico, mas este aprimoramento

é dependente da capacidade de aprendizado. Ele está calcado na competência dos

indivíduos envolvidos no processo, e na habilidade dos mesmos em lidar com as

novas formas do conhecimento. Assim sendo, o aprendizado corporativo está

relacionado ao aprendizado dos indivíduos.

Identifica-se consensualmente a informação, o conhecimento e as tecnologias de informação, como elementos fundamentais da dinâmica da nova ordem mundial. Da mesma forma, dentre as características mais importantes do novo padrão de acumulação, em primeiro lugar nota-se sempre a absoluta relevância (além da crescente complexidade) dos conhecimentos científicos e tecnológicos desenvolvidos e utilizados. O acesso a tais conhecimentos, assim como a capacidade de apreendê-los, acumulá-los e usá-los, são vistos como definindo o grau de competitividade e desenvolvimento de nações, regiões, setores, empresas e indivíduos.19

Neste contexto, as instituições que atuam na interface entre sociedade e

conhecimento ocupam uma posição estratégica no novo paradigma. Tal

circunstância coloca a educação na interseção de uma série de questões

19 LASTRES, H. Ciência e tecnologia na era do conhecimento, 2000: 15.

Page 21: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

12

socioeconômicas relevantes. Entende-se por educação a interface na qual se dá a

interação entre o indivíduo e o conhecimento, sob determinado contexto

sociocultural. Assim, a educação, como vetor por excelência dos saberes, move-se

por questões cruciais na sociedade do conhecimento.

Recolocar em primeiro plano a questão da modernidade significa, em grande parte, trazer a questão educacional para o centro das preocupações. A redescoberta e revalorização da questão educacional é hoje um tema candente, e uma das tarefas mais centrais das ciências sociais contemporâneas.20

A apreensão dos saberes representa um fator crucial na atual fase. A

formação educacional permite aos indivíduos assimilar os elementos do novo

paradigma informacional, o qual sugere novos contornos para a produção. Dessa

maneira, investimentos em educação são frequentemente considerados um fator

estratégico nesta fase. Uma eventual informatização do processo produtivo não

pode se desenvolver sem uma contraparte intelectual da sociedade, a qual permita

a incorporação dos novos códigos no atual paradigma. Um déficit na formação

educacional da população pode representar um considerável entrave ao

crescimento econômico, segundo os parâmetros recentes da produção.

A educação de base representa um alicerce importante diante do novo

paradigma da produção, sem o que, não é possível construir novas competências.

Tão relevante quanto investir em desenvolvimento tecnológico, é garantir as

condições de implementação do mesmo em função da força de trabalho. A forma

como se desenvolve o atual processo de inovação demanda um aprendizado

constante, o qual requer elementos fundamentais do conhecimento capazes de

sustentar o processo.

20 SCHWARTZMAN, S. Educação básica no Brasil, 1991: 3.

Page 22: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Capítulo 2

O conhecimento na Era informacional

No final do século XX, uma intensificação de diversos processos socioeconômicos

infringiu transformações importantes na sociedade.21 A partir deste contexto, são

lançados novos parâmetros da competição que alimentam o ritmo das mudanças,

trazendo consequências para diversas formas da produção.22 O impacto dos

recentes avanços tecnológicos se dissemina por toda a sociedade, tornando o uso

da informação algo cada vez mais embebido no cotidiano. Dessa forma, a

capacidade de processar o conhecimento ocupa um lugar cada vez mais

significativo neste novo mundo.

As inovações na comunicação e logística tornaram a distância geográfica

menos significativa. Assim, a produção ganha certa mobilidade em relação ao

Estado, criando uma configuração internacional para a competição. Tais condições

têm exigido cada vez mais aprimoramento e eficiência, em face às demandas do

atual contexto econômico. Com uma maior acessibilidade aos diversos recursos, a

forma de usá-los para produzir torna-se muito mais estratégica. Neste caso, a

interferência no processo produtivo, através da inovação, interpreta um papel mais

importante em função do acirramento da concorrência.

Uma característica marcante da atual fase econômica é a ação dos

conhecimentos sobre os próprios conhecimentos como principal fonte de

21 Nas últimas duas décadas do século XX, assistiu-se a grandes mudanças tanto no campo socioeconômico e político quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Estas transformações vieram a receber a denominação de sociedade da informação, na medida em que o elemento motor deste processo está assentado na difusão e utilização das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e, também, pelo valor econômico que a informação e conhecimento passaram a deter no processo de desenvolvimento econômico e social.CASTRO, ROSENTAL e ARAÚJO. Educação a distância e a construção de competências, 2007: 33.22 Em primeiro lugar, salienta-se que apesar da grande variedade de inovações radicais e de incremento, específicas em quase todo o setor industrial, existe evidência de uma mudança de paradigma das tecnologias intensivas em capital e energia e de produção inflexível e de massa (baseadas em energia e materiais baratos), dos anos 50 e 60, para as tecnologias intensivas em informação, flexíveis e computadorizadas dos anos 70 e 80. LASTRES, H. Redes de inovação e as tendências internacionais, 1995: 1.

Page 23: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

14

produtividade. Assim, um dos processos cruciais desta sociedade é a construção do

conhecimento. Mas, no recente contexto competitivo, mais relevante que a posse

dos saberes é o seu uso em função da inovação. O conhecimento não representa

em si algo central, mas secundário em relação à capacidade de fazer usos

inovadores do seu potencial.

O uso da informação para produzir intervenções inovadoras no processo

produtivo vem crescendo em importância.23 A informação gerada no processo

produtivo é reinvestida como forma de otimizar a produtividade, gerando um

círculo virtuoso.24 Assim, o conhecimento gerado como produto deste processo é

reinvestido como forma de gerar mais conhecimento que permita aprimorar a

produtividade. Este movimento cíclico intensifica o ritmo da inovação a partir da

superação constante das velhas técnicas, e da necessidade de mobilizar cada vez

mais conhecimento a partir de uma base de informação em constante

crescimento.25

Com o advento da modernidade —com referência a primeira revolução

industrial— o conhecimento, gerado a partir do funcionamento das mais diversas

operações produtivas, tende a ser reinvestido na busca por mais eficiência. Mas no

contexto econômico recente a velocidade e abrangência deste processo, movido

pelos novos implementos tecnológicos, têm alcançado patamares sem precedentes.

23 Muda o elemento fundamental para a determinação da produtividade do processo de produção, no qual o conhecimento intervém em todos os modelos de desenvolvimento, já que o processo de produção se baseia sempre, e cada vez mais, em algum nível de conhecimento. CASTRO, ROSENTAL e ARAÚJO. Educação a distância e a construção de competências, 2007: 34.24 Contudo, o que é específico ao modo informacional de desenvolvimento é a ação de conhecimentos sobre os próprios conhecimentos como principal fonte de produtividade. O processamento da informação é focalizado na melhoria da tecnologia do processamento da informação como fonte de produtividade, em um círculo virtuoso de interação entre as fontes de conhecimentos tecnológicos e a aplicação da tecnologia para melhorar a geração de conhecimentos e o processamento da informação. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 54.25 O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. Idem: 69.

Page 24: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

15

Assim, operar o mecanismo da conversão da informação em conhecimento

participa, ainda mais, da capacidade de competir.

Nesta configuração produtiva, o uso da informação constitui um elemento

essencial no aprimoramento dos diversos processos da economia informacional.

Diversos autores salientam que, para alcançar o ritmo das inovações, é preciso

participar do processo de criação, desenvolvimento e disseminação da informação,

sem o que fica-se sujeito a permanecer dependente daqueles que o fazem. A

constante obsolescência da tecnologia cria um quadro em que, não desenvolver

inovação pode significar o uso de tecnologia de segunda mão, ultrapassada, e

perda de competitividade.26

Tal competitividade impõe a proposição de novas técnicas e competências,

que precisam constantemente se sobrepor às suas versões anteriores com mais e

mais conhecimento inovador. Estes mecanismos de apreensão e aprimoramento do

conhecimento estão intrinsecamente ligados à formação de pessoal qualificado

capaz de, mais do que operar os dispositivos, desenvolver formas inusitadas da sua

aplicação. Assim, o conhecimento coloca-se como recurso principal e o aprendizado

como processo central da nova fase.

Na análise das novas tendências influenciando as políticas de promoção ao desenvolvimento industrial e tecnológico, destaca-se em primeiro lugar que, na atual Era, o conhecimento coloca-se como recurso principal e o aprendizado como processo central. A idéia principal que vem norteando as discussões realizadas é que quão mais forte for a base de recursos humanos, maior a possibilidade de acelerar o processo de inovação e que quão mais forte o potencial para inovação, maior a probabilidade de o sistema atrair e absorver pressões competitivas.27

Sem a formação de uma base de recursos humanos capaz de sustentar a

assimilação das novas tecnologias, não é possível a um país tornar-se competitivo.

26 A importância de controlar os processos de geração e difusão de novos conhecimentos e inovações mostra-se ainda mais fundamental quando estas colocam-se ainda mais nitidamente no cerne das estratégias competitivas públicas e privadas, como é o caso do atual paradigma em expansão. LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 14.27 CASSIOLATO, J. A economia do conhecimento e as novas políticas industriais e tecnológicas, 1999: 183.

Page 25: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

16

Dessa forma, a disseminação do conhecimento —e dos saberes necessários a

interação com os recursos tecnológicos recentes— pela população, torna-se

fundamental no atual contexto. Mas, mais do que a simples distribuição dos

conteúdos escolares tradicionais, é importante atentar para a sua correspondência

com as atuais demandas e a sua apreensão consistente pelos alunos, fatores

ligados a qualidade na educação.

Em sua dissertação, apresentada ao programa de pós-graduação em

economia da USP —Um Estudo Sobre os Determinantes do Atraso Escolar, Kátia M.

Honda destaca a qualidade da educação como um fator crucial da produtividade.

Dessa forma, o crescimento econômico estaria diretamente vinculado a uma base

intelectual instalada na sociedade.

Tal como evidenciado por Mankiw, Romer e Weil (1992) a formação do capital humano é um dos principais fatores para explicar as diferenças observadas com relação ao crescimento dos países. Hanushek (1992) corrobora essa informação ao provar que apenas a educação com qualidade é responsável por elevar o crescimento econômico. O nível de produtividade de um país está, portanto, limitado pelas habilidades adquiridas pela população.28

No atual contexto produtivo, em que o processamento da informação

contamina os mais diversos aspectos da atividade humana,29 a circulação do

conhecimento depende da capacidade intelectual instalada naquela sociedade.

Assim, o sistema educacional num país torna-se a base para a disseminação dos

parâmetros lógicos e científicos sob os quais ocorre a inovação. Ele opera a

interface entre a sociedade da informação e os processos de aprendizado, sem o

que não se pode formar uma base capacitada, apta a operar e desenvolver os

dispositivos ligados a nova fase produtiva.

As altas taxas de inovações e mudanças recentes implicam, assim, uma forte demanda por capacitação para responder

28 HONDA, K. Um Estudo Sobre os Determinantes do Atraso Escolar, 2007: 12.29 Os produtos das novas indústrias de tecnologia da informação são dispositivos de processamento de informações ou o próprio processamento das informações. Ao transformarem os processos de da informação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento de conexões infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os elementos e agentes de tais atividades. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 119.

Page 26: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

17

às necessidades e oportunidades que se abrem. Exigem, por sua vez, novos e cada vez maiores investimentos em pesquisa, desenvolvimento, educação e treinamento. Argumenta-se, dessa forma, que os instrumentos disponibilizados pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (equipamentos, programas e redes eletrônicas de comunicação mundial) podem ser inúteisse não existir uma base capacitada para utilizá-los, acessar as informações disponíveis e transformá-las em conhecimento e inovação.30

Territorialidade e inovação

Segundo Ianni, o paradigma clássico das ciências sociais sofre uma intervenção no

contexto das atuais mudanças, em que a reflexão sobre o Estado nacional é

repaginada.31 Este autor analisa a intensificação das interações socioeconômicas e

propõe a idéia de sociedade global, na qual diversas relações humanas recebem

novas considerações. Para Ianni, as formas da sociedade nacional sofrem

intervenções dadas pelas tecnologias recentes, que podem sugerir uma

configuração transnacional para a sociedade.

A chamada network society, calcada na maior interatividade através das

recentes tecnologias, trás um aumento na integração que gera mais intercâmbio da

informação. Surge uma demanda por reações rápidas, capazes de oferecer

respostas prementes as mudanças repentinas, majoritariamente ligadas às novas

tecnologias. Neste contexto, a competição se relaciona intimamente à capacidade

de desenvolver e implementar os novos recursos informacionais, num ambiente em

que a constante obsolescência tecnológica demanda uma atualização constante.

O funcionamento singular das novas tecnologias põe as relações com o

conhecimento em posição de destaque. A manutenção da produtividade segue uma

tendência flexibilizante, onde o processo produtivo reinveste a informação gerada

pelo mesmo na otimização da produção. A ingerência da informação participa de

30 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 129.31 O paradigma clássico das ciências sociais foi constituído e continua a desenvolver-se com base na reflexão sobre as formas e os movimentos da sociedade nacional. Mas a sociedade nacional está sendo recoberta, assimilada ou subsumida pela sociedade global, uma realidade que não está ainda suficientemente reconhecida e codificada. IANNI, O. Globalização: um novo paradigma das ciências sociais, 1994: 147.

Page 27: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

18

um círculo virtuoso de refino, no qual, o produto acabado contém cada vez mais

informação acumulada. Neste contexto, o conhecimento torna-se fonte de

produtividade e o aprendizado, algo estratégico para a inovação.

A relação entre os três conceitos é forte: os processos de aprendizado, em suas várias instâncias, resultam na acumulação de conhecimentos; estes sustentam teoricamente os avanços científicos, técnicos e organizacionais que, codificados em vários formatos informacionais, introduzem inovações que irão continuamente transformar o sistema econômico. Em uma era de transição entre paradigmas tecno-econômicos, sujeita a transformações radicais e envolvendo, justamente, tecnologias e atividades intensivas em informação, a simbiose com processos de acumulação de aprendizado e conhecimento é absolutamente indispensável.32

Diante das atuais características da produção, os investimentos em pesquisa

e desenvolvimento têm sido apontados como decisivos em relação à capacidade de

competir. Nesta acepção, o aprendizado é compreendido como um fator

determinante do crescimento econômico, bem em sintonia com o argumento que

identifica os investimentos maciços em educação, como elemento chave do

crescimento de alguns países na história recente. A capacitação se instila como

elemento chave para o desenvolvimento da inovação, algo que move a

competitividade no atual paradigma produtivo.

A necessidade de investir constantemente em inovação implica, necessariamente, promover processos que estimulem o aprendizado, a capacitação e a acumulação contínua de conhecimentos. Assim, e apesar da maior visibilidade das informações e do papel desempenhado pelo conhecimento no cerne do dinamismo do novo padrão, alguns autores vêm preferindo denominar esta nova fase como Economia do Aprendizado.33

Neste contexto ocorre, simultaneamente, um processo de desprendimento

territorial da inovação, em função da sua intensa circulação pelo globo, e uma

reconcentração da geração de novos conhecimentos.34 Ainda que os recursos

tecnológicos permitam um intercâmbio sem precedentes dos conhecimentos é

32 LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento e do aprendizado, 1999: 55.33 Idem: 49.34 Esta citação é mais bem explorada ainda neste capítulo.

Page 28: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

19

preciso redirecioná-los para determinados lócus, tanto para desenvolvê-los quanto

para aplicá-los, em função da inovação. A mobilidade emprestada pelas tecnologias

informacionais atinge apenas a circulação dos saberes sem, no entanto,

reconfigurar o quadro atual criando uma variedade cibernética da produção da

inovação.

Assim, a despeito da transnacionalização apontada por Ianni, o Estado

permanece o grande patrono da inovação.35 Ele é o agente por excelência das

transformações, aquele com potencial para mobilizar os recursos necessários a

disseminação dos parâmetros relativos às demandas do atual paradigma. Dessa

forma, contraditoriamente, mesmo diante de uma forte independência territorial da

tecnologia e da inovação, o poder localizado territorialmente ainda cumpre um

papel fundamental.36

Um dos principais fatores deste papel consiste em criar as condições de

aprendizado para participar do novo paradigma. A inserção no atual paradigma

produtivo, mesmo diante da intensa mobilidade do capital, ainda esta condicionada

a regras territoriais, dadas no âmbito da soberania do Estado. Sendo assim, os

processos informacionais, gestados muitas vezes no ambiente cibernético,

convergem às instâncias territoriais do poder e do conhecimento.

Mas a importância de uma configuração local do conhecimento não se

restringe a capacidade para desenvolver a inovação. Existe um aspecto do

conhecimento de difícil circulação nos meios eletrônicos, capaz de oferecer

obstáculos ao amplo intercâmbio digital dos saberes. Esta variedade do

conhecimento precisa de um contato presencial para transmitir-se, algo que pode

35 Entretanto, embora não determine a tecnologia, a sociedade pode sufocar seu desenvolvimento principalmente por intermédio do Estado. Ou então, também principalmente pela intervenção estatal, a sociedade pode entrar num processo acelerado de modernização tecnológica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do bem-estar social em poucos anos. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 44.36 Cassiolato argumenta que a pretensa necessidade de retração do Estado não encontra correspondência alguma nas políticas efetivamente implementadas nos países mais avançados. As políticas públicas continuam a desempenhar papel fundamental no funcionamento dessas economias, recorrendo a um número maior e mais complexo de instrumentos. LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 12.

Page 29: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

20

representar um elemento complicador diante das demandas atuais por aprendizado

independente às distâncias; o chamado conhecimento tácito.

Conhecimento tácito e conhecimento codificado

O intercâmbio do conhecimento tornou-se um atributo bastante representativo da

atual fase produtiva. Tal intercâmbio representa uma característica marcante do

formato recente da inovação, o qual incorpora usos inovadores do conhecimento,

produzidos de maneira descentralizada, e compartilhados através dos novos

recursos tecnológicos. Neste formato, o contato entre as diversas fontes da

inovação potencializa o uso das descobertas através da interação e acúmulo dos

novos conhecimentos, fruto das mais diversas fontes.

Uma linguagem digital comum aos processos tecnológicos torna possível que

as descobertas sejam rapidamente divulgadas. Dessa forma, as inovações se

disseminam de forma global, criando uma resposta integrada aos avanços. Esta

integração é cara à dinâmica da inovação. Ela permite que as diversas fontes de

conhecimento inovador se conectem para otimizar seus resultados através do

intercâmbio destes saberes.

A linguagem digital relaciona-se a um aspecto do conhecimento codificado

em parâmetros tecnológicos e científicos, que permitem a comunicação entre

espaços socioculturais diversos. Assim, o conhecimento codificado37 constitui-se na

linguagem e metodologia científica, configurando-se de maneira universal e

intercambiável, pautada no acúmulo do conhecimento. Há, por outro lado, um tipo

de conhecimento que não compartilha as características de conversibilidade e

adaptabilidade relacionadas ao aspecto codificado.

37 Também é necessário distinguir dois tipos de conhecimentos: os conhecimentos codificáveis - que, transformados em informações, podem ser reproduzidos, estocados, transferidos, adquiridos, comercializados etc. - e os conhecimentos tácitos. Para estes a transformação em sinais ou códigos é extremamente difícil já que sua natureza está associada a processos de aprendizado, totalmente dependentes de contextos e formas de interação sociais específicas. LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento e do aprendizado, 1999: 30.

Page 30: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

21

O conhecimento tácito baseia-se no know how, ou seja, nos saberes

adquiridos na operação cotidiana da produção. Ele se desenvolve no ambiente local,

baseado numa forma de aprendizado estabelecida contextualmente. A

disseminação do mesmo depende de referenciais socioculturais comuns para sua

inteligibilidade, ou seja, este conhecimento só é compartilhado num determinado

espectro de referenciais socioculturais.

Em relação às tecnologias recentes da comunicação, ele se torna um

elemento complicador porque demanda um contato direto entre os interlocutores

para transmitir-se. Isso porque o conhecimento tácito incorpora certos elementos

que não são facilmente conversíveis em informação e, portanto, dependem de um

determinado tipo de interação para transmitir seu conteúdo. Assim, num contexto

onde o contato não-presencial se firma em diversas áreas, permitindo a troca de

conhecimento em operações tão complicadas quanto, por exemplo, uma cirurgia, a

necessidade de vivenciar o processo de aprendizado in loco representa uma

limitação considerável.

Apesar de ser permanentemente vital na inovação, o conhecimento tácito, por suas características bastante peculiares, só é compartilhado através da interação humana, nas relações realizadas entre indivíduos ou organizações em ambientes com dinâmica específica, o que, em última instância, torna a inovação localizada e restrita ao âmbito dos agentes envolvidos. A capacitação necessária para compreender e usar os códigos locais pode se dar somente com sua inserção nas redes de relações para participação do processo de aprendizado interativo.38

Michael Polanyi39 investigou a natureza subjetiva do conhecimento tácito e

da sua transmissão. Sua construção depende de elementos —também subjetivos—

que sofrem limitações na sua expressão pela linguagem. O conhecimento tácito,

ainda que sob um contexto com dinâmica mais intensa, calcada em parâmetros

tecnológicos e científicos, retém os elementos característicos da sua construção

local. O processo de aprendizado, neste caso, depende da interação humana.

38 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 132.39 POLANYI, M. The Tacit Dimension, 1966.

Page 31: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

22

O campo de estudos da história dos conceitos investiga as limitações

impostas pela linguagem na transmissão dos conceitos. A conversão do

conhecimento em linguagem passível de registro é um tema candente, e

recentemente vem tomando vulto.40 A história dos conceitos é herdeira da

begriffsgeschichte —a história conceitual alemã— e da conceptual history —história

dos conceitos britânica— que procuram desvendar os mecanismos da transmissão e

alteração de sentido dos conceitos entre contextos socioculturais diversos, inclusive

em função do distanciamento espaço-tempo.

Sem dúvida há muitas nuances da experiência difíceis de transmitir numa

narrativa, o que constitui um obstáculo à circulação plena do conhecimento. A

circulação dos saberes precisa de um registro do conhecimento, traduzido em

linguagem intercambiável e, portanto, limitado na sua carga de sentido. Limitado

porque a apreensão do conhecimento, o aprendizado, precisa incorporá-lo no

contexto sociocultural da experiência, no qual a contextualização da mensagem

permite compreendê-la.

Sendo assim, enviar o conhecimento pelos meios digitais não garante sua

compreensão na outra ponta do processo. O elemento tácito demanda que a

reconstrução dos saberes, a partir de uma informação remota, se realize no lugar

da vivência dos mesmos. Dessa forma, há um componente intimamente ligado ao

aspecto cultural na relação com o conhecimento.

O pesquisador da ciência da computação Valdemar Setzer atribui ao

conhecimento à conotação de algo vivido, vinculado a uma experiência.41

Interpretar a informação a partir da experiência seria então um veículo da

construção do conhecimento, o qual se forma numa vivência do objeto do

conhecimento. Isso indica que o conhecimento depende de um determinado

40 JASMIN e FERES JR. História dos conceitos: debates e perspectivas, 2006.41 Caracterizo Conhecimento como uma abstração interior, pessoal, de algo que foi experimentado, vivenciado, por alguém (...). Nesse sentido, o conhecimento não pode ser descrito; o que se descreve é a informação. Também não depende apenas de uma interpretação pessoal, como a informação, pois requer uma vivência do objeto do conhecimento. Assim, o conhecimento está no âmbito puramente subjetivo do homem (...). SETZER, V. Dado, Informação, Conhecimento e Competência, 2001: 4.

Page 32: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

23

contexto para desenvolver-se. Assim, se a informação representa uma leitura

contextualizada do dado, o conhecimento se constitui sobre a articulação das

informações num certo contexto cultural.

A informação foi associada à semântica. Conhecimento está associado com pragmática, isto é, relaciona-se com alguma coisa existente no "mundo real" do qual se tem uma experiência direta.42

Assim, a implementação do conhecimento inovador depende de um

determinado contexto sociocultural para operar. A transposição entre o contexto

onde se desenvolve um determinado aprimoramento e outro o qual recebe a

inovação, depende de uma série de elementos locais. Isto significa que a linguagem

em que o conhecimento circula sofre limitações para transmitir seu conteúdo. O

contexto local de operação da tecnologia contém uma série de vicissitudes que

escapam ao aspecto codificado do conhecimento.

A apreensão dos avanços tecnológicos não é um procedimento estritamente

teórico. O conhecimento precisa ser inscrito num determinado contexto onde a

interpretação dos saberes ocorre. Dessa forma, os referenciais socioculturais são

fundamentais para a compreensão de qualquer mensagem, pois emprestam

determinada conotação ou sentido ao seu conteúdo.

Os novos recursos, produzidos no atual contexto da inovação, não podem

ser instalados além da capacidade humana de decodificar e recodificar tais

conhecimentos. A velocidade e complexidade dos avanços, portanto, estão

condicionadas a fatores humanos de aprendizado, e por mais que a velocidade do

processamento de dados se intensifique, ela depende do potencial humano para

traduzi-la em conhecimento passível de aplicação prática.

A inovação não surge numa forma codificada em parâmetros comuns, mas

na cosmogonia que lhe deu origem. Dessa forma, a ela está carregada de

elementos dados culturalmente, arraigados a certo ponto de vista e de difícil

transposição, dando uma vantagem extra aos que a produzem. A forma do

42 SETZER, V. Dado, Informação, Conhecimento e Competência, 2001: 4.

Page 33: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

24

conhecimento que circula no ambiente cibernético precisa se comunicar com uma

forma local, embebida culturalmente, para implementar as inovações.

Conforme salientado anteriormente, o reconhecimento das diversas fontes de conhecimento foi muito importante para a compreensão da forma como é conduzido o processo inovativo. Como resultado, uma das importantes percepções atuais é que o processo inovativo é um processo de interação de natureza social. O grau de interação com que se dá o aprendizado vai variar conforme os agentes envolvidos, o tipo de relação que mantêm entre si, a existência de linguagem comum, identidades, sinergias, confiança, assim como o ambiente em que se inserem.43

O estudo de Kuenzer, Abreu e Gomes44, ao analisar o ambiente da indústria

petroquímica brasileira, uma área sob forte impacto das inovações, constatou uma

relação de interdependência entre os dois tipos de conhecimento —tácito e

codificado. O estudo empírico investiga a convivência entre trabalhadores

experientes e, portanto, possuidores de know how, e trabalhadores recentemente

contratados, os quais possuem um conhecimento tecnológico mais atualizado.

A conclusão do estudo aponta um ambiente de cooperação entre os dois

tipos de saberes, no qual as situações específicas vão determinar o volume da

interferência de cada um necessária à solução do problema. A combinação entre o

conhecimento tácito, estabelecido na operação sistemática da produção, e o

codificado, transmitido sob parâmetros científicos, é fundamental.

A relação entre conhecimento tácito e conhecimento científico na base microeletrônica não é de oposição e sim de articulação dialética, posto que são categorias que se integram nos processos de trabalho flexibilizados, nos quais a prevalência do tácito ou do científico responde à especificidade do trabalho a ser realizado por uma força de trabalho de qualificações diferenciadas que se articulam para atender às necessidades das cadeias produtivas.45

Os recursos tecnológicos da atual fase produtiva precisam tanto do

acompanhamento das recentes inovações quanto da observação dos componentes

locais, e da coordenação entre os dois pontos de vista para a sua implementação

43 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 134.44 KUENZER, ABREU e GOMES. A articulação entre conhecimento tácito e inovação tecnológica: a função mediadora da educação, 2007.45 Idem: 466.

Page 34: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

25

eficiente. O conhecimento apreendido no desenvolvimento da tecnologia depende

da articulação com o conhecimento local para ser operado.

O conhecimento codificado, passível de circulação na internet, sofre

restrições na sua implementação prática. Isso porque o desenvolvimento e o uso

efetivo do conhecimento estão ligados ao aspecto tácito no qual ele opera. Dessa

forma, articulação dos aspectos codificado e tácito é fundamental para recompor o

conhecimento na experiência prática, decodificada e compreensível, em

determinado contexto. Neste processo, uma série de elementos subjetivos, os quais

não podem ser codificados, são reincorporados para operacionalizar seu uso local.

Em direção contrária à assertiva de que a codificação pode atingir todo tipo de conhecimento tácito, considera-se que o processo de codificação nunca será completo (...). Isto significa que toda codificação de um conhecimento é acompanhada de criação equivalente na base do conhecimento tácito. Ambos os conhecimentos, tácito e codificado, devem ser tratados como complementares, pois sempre haverá alguma forma de conhecimento tácito específico implícita nas práticas comuns a cada firma, setor ou região. Ou seja, ao mesmo tempo em que se observa uma expansão cumulativa na base do conhecimento codificado, essa codificação será sempre incompleta, pois intensifica-se a importância e irredutibilidade do conhecimento tácito como recurso fundamental, que permanece na esfera de indivíduos e empresas específicas.46

Isso implica que uma determinada quantidade de conhecimento tácito deve

surgir para complementar cada parte de conhecimento codificado. Essa interação

deve levar em conta que a aspecto codificado do conhecimento tem uma

característica universal, abrangente e de fácil circulação, com poucos limites à

troca, interação e acúmulo. Isso permite que o mesmo tenha um crescimento

bastante facilitado no atual momento tecnológico.

A comunicação na atual fase torna a produção deste tipo de conhecimento,

ininterrupta e em constante aceleração. Tal conhecimento está ligado ao aspecto

cumulativo da ciência, o qual acrescenta cada vez mais conhecimento a partir das

pesquisas que majoritariamente utilizam método e linguagem científica e, portanto,

comunicam-se diretamente.

46 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 131.

Page 35: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

26

A questão é que a produção do conhecimento tácito é quantitativamente

limitada, culturalmente restrita e geograficamente estabelecida. Está condicionada

ao saber fazer, a aplicação dos saberes. O intercâmbio deste conhecimento fica

restrito a um tipo de linguagem comum aos interlocutores que permita a

compreensão. Isto porque o mesmo se constituí na experiência que de forma

alguma ocorre em separado do contexto cultural onde se deu.

Embora o espaço cibernético caminhe para tornar-se um lugar privilegiado

da interatividade intelectual, existem limitações importantes na transferência do

conhecimento, calcadas nas características próprias da linguagem. Para que os

implementos tecnológicos funcionem, eles precisam interagir com a capacidade

local de pô-los em prática. Assim, desenvolver uma produção própria do

conhecimento é algo fundamental para participar desta fase recente da economia.

Pode-se ainda considerar que, como afirmam alguns autores (Lundvall, 1998), o aumento das possibilidades de codificação de conhecimentos não vem produzindo efeitos significativos em termos de maior transferibilidade dos mesmos. A principal razão apresentada para tal é que quando o conteúdo de conhecimento apresenta taxas extremamente dinâmicas de mudança, apenas aqueles que participam do processo de sua criação têm acesso ao mesmo e acompanham sua evolução dinâmica. 47

A característica tácita do conhecimento se torna dessa maneira ainda mais

relevante, pela importância desta na recepção das inovações. Isto implica num

aumento da importância da capacidade intelectual instalada no contexto local. Tal

capacidade torna-se estratégica no atual contexto competitivo. Sem desenvolver o

potencial humano, uma determinada região pode isolar-se de tal forma do processo

de inovação que ficaria dependente da produção tecnológica alheia, perdendo

competitividade.

A inovação está vinculada tanto a um processo essencialmente humano,

quanto ao seu aspecto científico e tecnológico, ou seja, é preciso combinar os

fatores socioculturais e tecnológicos para implementar a inovação. Existem

47 CASSIOLATO, J. A Economia do Conhecimento e as Novas Políticas Industriais e Tecnológicas, 1999: 174.

Page 36: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

27

requisitos mínimos do conhecimento para atualizar-se de acordo com as inovações,

mesmo que estas se constituam sob um conhecimento novo. Assim, a educação

está na interface entre o conhecimento tácito e codificado. Ela atua no espaço da

experiência48 em que se disseminam os saberes.

É aqui que os investimentos em educação se afirmam como algo estratégico

para a inserção neste novo mundo. As operações informacionais penetram de tal

maneira na forma recente de viver, que tornam o processo ininterrupto de

aprendizado de indivíduos, empresas e países imprescindível. Para todos estes é

fundamental o talento humano capaz de desenvolver usos inovadores do

conhecimento e/ou a implementação das inovações em determinado contexto. A

educação distribui os elementos intelectuais necessários para lidar com o

conhecimento, um fator de importância crescente nesta fase da modernidade.

Diante deste contexto, a educação não só fornece um conhecimento básico à

relação com a inovação, mas, mais ainda, propaga os elementos da linguagem que

permitem interagir com os conhecimentos, no atual paradigma. Neste caso, a

formação educacional constitui um dos processos cruciais diante do recente padrão

socioeconômico. A educação fornece os elementos que permitem compreender a

semântica dos novos parâmetros, sem o que a apreensão das tecnologias recentes

fica comprometida.

Redes de cooperação

A velocidade com a qual avança a tecnologia cria uma nova dinâmica da

competição. Nesta dinâmica o tempo e recursos, uma vez gastos para proteger

dado, informação e conhecimento, perdem importância face à constante

obsolescência destes. Assim, mais importante que preservar o conhecimento

adquirido é desenvolvê-lo no menor espaço de tempo possível para que o mesmo

não perca rapidamente o seu valor.

48 Referência ao ambiente onde ocorre a construção do conhecimento de que fala Setzer.SETZER, V. Dado, Informação, Conhecimento e Competência, 2001.

Page 37: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

28

A sobrevivência no atual quadro competitivo depende da participação nas

diversas fases do processo de inovação como condição para acompanhá-lo. A

velocidade da inovação impõe a capacidade de desenvolvê-la como a melhor

maneira de manter-se competitivo em face ao ritmo das mudanças. Neste

contexto, a cooperação entre empresas com características e necessidades

semelhantes, algumas vezes constitui a única forma de acompanhar o processo de

inovação.

Nesse sentido, o acesso aos conhecimentos específicos de uma firma, arranjo ou setor pode explicar em larga medida a intensificação dos esforços para a formação de redes de cooperação no contexto atual, objetivando a criação de uma interação positiva para a absorção dos conhecimentos tácitosexistentes.49

As inovações neste arranjo podem ser potencializadas pela troca de

experiências em função das similaridades. As trocas de conhecimento são

facilitadas pelo compartilhamento de um determinado contexto da produção com

características semelhantes. A proximidade representada por um contexto similar

potencializa a troca de conhecimento tácito, tanto por facilitar o contato presencial,

quanto por compartilhar características e conceitos comuns.

Assim, o que se verifica é a formação de redes de cooperação, as quais

permitem uma melhor performance nas relações com o conhecimento tácito. A

capacidade de interação neste arranjo promove um maior aproveitamento da

inovação, em função da cooperação quanto à distribuição dos saberes.

O grau de competitividade das empresas passou a refletir cada vez mais a eficiência das redes ou sistemas nos quais tal empresa se insere. As razões principais para tais novos desenvolvimentos e participação em redes são atribuídas aos novos requerimentos do rápido progresso e difusão das tecnologias associadas ao novo paradigma técnico-econômico baseado nas tecnologias da informação (o qual tanto gerou necessidades de colaboração, quanto propiciou os meios técnicos para o aprimoramento das redes).50

A coordenação entre tácito e codificado é de suma importância para a

empreitada produtiva. Neste caso, estabelecer redes que possibilitem equilibrar o

49 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 132.50 LASTRES, H. Redes de inovação e as tendências internacionais, 1995: 1.

Page 38: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

29

máximo possível a produção de ambos os tipos de conhecimento torna-se uma

questão estratégica. Nestas redes as similaridades socioculturais potencializam a

produção de conhecimento tácito que permita a interação com a produção de

conhecimento codificado.

A codificação do conhecimento nesses tipos de arranjo, por seu turno, é também relacionada aos contextos específicos onde se compartilham códigos, linguagem comum, identidade, confiança e conhecimentos tácitos necessários para a interpretação precisa da mensagem codificada.51

A importância do desenvolvimento local do conhecimento tácito aumenta à

medida que avança a produção do conhecimento codificado. Tal característica

depende não só do talento, o qual pode estar restrito à capacidade individual, mas

de uma relativa disseminação da formação educacional. Formar uma base

intelectual local é uma tarefa estratégica no esforço de equalizar a produção de

conhecimento codificado e tácito. A circulação do conhecimento, constituída numa

maior troca dos saberes entre diversos setores, é fundamental para alimentar a

produção de mais conhecimento na atual dinâmica produtiva.

Ainda, baseiam-se na compreensão de que o processo de inovação é um processo de aprendizado interativo, que envolve intensas articulações entre diferentes agentes, requerendo novos formatos organizacionais em redes. Para se estar apto a entrar nessas redes e nesse novo contexto, é fundamental o investimento na capacitação de recursos humanos, responsáveis pela geração de conhecimentos.52

Desenvolver conhecimento inovador não se restringe a pesquisa e a

produção. As empresas estabelecem uma relação com a inovação que participa da

geração do conhecimento, uma relação absolutamente relevante no processo. Este

ciclo se realiza em toda interação na economia informacional, em que o

conhecimento deve ser usado para gerar mais conhecimento. Tal participação está

estritamente ligada à formação educacional dos indivíduos, e influencia o grau de

interação desta sociedade com a tecnologia.

51 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 132.52 Idem: 141.

Page 39: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

30

À medida que mais indivíduos dominem os elementos mínimos da interação

com os recentes implementos tecnológicos, gerando uma maior participação no

processo inovador, maior será a resposta a inovação. A questão não se resume à

formação de mão-de-obra capaz de decodificar as constantes mudanças, mas inclui

constituir uma base intelectual capaz de corresponder ao desenvolvimento

constante da tecnologia. Quanto maior o número de pessoas envolvidas no

processo, maior as chances de surgirem novas abordagens e novas direções para a

inovação.

Trabalho e educação no novo contexto produtivo

A relação entre educação e inovação tem sido bastante discutida no contexto da

chamada sociedade informacional, onde o conhecimento intensifica sua participação

como fator da competitividade. Os termos recentes da competição constituem-se

no uso de formas cada vez mais informacionais da produção, aprimorados através

de um determinado uso do conhecimento. Assim, o processo de inovação constante

aproxima a educação das demandas recentes da produtividade.

A necessidade de acompanhar o aprimoramento cada vez mais sofisticado

do processo de produção implica numa colocação mais intelectual do trabalho. A

questão recente está na maneira como uma tendência constituinte da modernidade,

na qual a máquina substitui com vantagens o trabalho humano repetitivo, se

revivifica neste novo milênio. A velocidade e abrangência da inovação superam

significativamente a das últimas revoluções industriais, causando um efeito

proporcional na sociedade.

Dessa forma, o trabalho sofre um impacto, no qual, dependendo da sua

relação maior ou menor com a tecnologia, estabelece uma relação ainda mais

acentuada com a educação, vis-à-vis a demanda pelo aprendizado constante. A

flexibilização da produção, como forma de adaptação à constante inovação, sugere

Page 40: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

31

o domínio de uma série de competências53 para interagir com tal processo, uma vez

que o elemento humano está diretamente envolvido no desenvolvimento e na

incorporação da tecnologia. À medida que as pressões competitivas aumentam a

velocidade da implementação das inovações, também aumenta a complexidade e o

volume da informação inserida no processo produtivo.

Muito embora a mudança seja uma constante, a inovação desenvolve-se sob

parâmetros de base lógica, voltados a uma proposta de base científica. Os

implementos tecnológicos atuais exigem um parâmetro comum, uma linguagem

digital, que permita a comunicação entre os seus diversos dispositivos.54 Tal

linguagem afeta a interação com estas tecnologias, em maior ou menor intensidade

dependendo da natureza desta interação com as mesmas. Dessa forma, interatuar

com a tecnologia depende do uso de uma linguagem comum, digital e de base

lógica.

O trabalho utiliza cada vez mais um conteúdo intelectual, o qual opera

símbolos que representam os códigos da interação subjetiva. A transposição dos

saberes desenvolvidos, nos mais diversos contextos, para a aplicação prática

depende da capacidade de operar tal linguagem tecnológica.

A disseminação de uma nova "cultura tecnológica" e "organizacional" exige o domínio de novos códigos de leitura e de interação dos trabalhadores com o mundo do trabalho. O momento atual lhes exige, entre outras qualificações, mais que o "saber fazer", exige, sobretudo, lidar com operações que permitam a transformação de símbolos em ações de máquinas;55

53 O conceito de competência começa a ser utilizado na Europa a partir dos anos 80. Não é um conceito preciso nem é empregado com o mesmo sentido nas várias abordagens. Origina-se das Ciências da Organização e surge num contexto de crise do modelo de organização taylorista e fordista, mundialização da economia, exacerbação da competição nos mercados, exigências de melhoria da qualidade dos produtos e flexibilização dos processos de produção e de trabalho. Neste contexto de crise, e tendo por base um forte incremento da escolarização dos jovens, as empresas passam a usar e adaptar as aquisições individuais da formação, sobretudo escolar, em função das suas exigências. DELUIZ, N. A Globalização Econômica e os Desafios à Formação Profissional, 2001: 5.54 Além disso, o processo atual de transformação tecnológica expande-se exponencialmente em razão de sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 68.55 BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 7.

Page 41: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

32

Com o aumento dos recursos tecnológicos, a interferência do uso da

informação para a atividade produtiva aumenta. O trabalho humano tende cada vez

mais a executar funções subjetivas, voltadas a operações as quais as máquinas são

incapazes de executar. Lidar com o conteúdo cada vez mais imaterial, simbólico e

abstrato das recentes tecnologias, codificar e decodificar o conhecimento, é algo

bastante dependente da interferência humana. Assim, tomar decisões sobre as

operações produtivas e aprimorar o conhecimento estabelecido vêm se

consolidando ao longo dos anos como uma tendência do trabalho.

O crescente aumento da interferência da informação estabelece relações

hierárquicas muito mais fragmentárias na produção, nas quais o trabalhador se

envolve de maneira mais direta no processo produtivo. Ele deve ser capaz de

decodificar a informação gerada no processo e interagir de maneira mais

autônoma, pois o tempo de resposta aos problemas que possam surgir deve ser o

menor possível para garantir produtividade.

Surgem novas tendências em relação ao trabalho: este torna-se mais abstrato, mais intelectualizado, mais autônomo, coletivo e complexo. Cada vez mais as funções diretas estão sendo incorporadas pelos sistemas técnicos, e o simbólico se interpõe entre o objeto e o trabalhador. O próprio objeto do trabalho torna-se imaterial: informações, "signos," linguagens simbólicas.56

Assim, o trabalho vem ganhando contornos cada vez mais calcados na

capacidade de uso do conhecimento. De acordo com as tendências recentes, ele

recebe características mais autônomas e intelectuais que representem menos

trâmites hierárquicos e mais produtividade. O papel deste novo trabalhador

demanda uma formação educacional sólida, inclusive para lidar com as constantes

mudanças tecnológicas.

As circunstâncias competitivas, surgidas no contexto das recentes

tecnologias, trazem novas demandas para a educação em diversos níveis. Diante

de um quadro de aceleração constante da produção, obter mão-de-obra capaz de

adaptar-se às mudanças torna-se um fator essencial da competitividade. Neste

56 DELUIZ, N. A Globalização Econômica e os Desafios à Formação Profissional, 2001: 2.

Page 42: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

33

contexto, a centralização das informações no âmbito administrativo da produção,

cede à necessidade de uma maior autonomia no chamado chão de fábrica. O

acesso às informações pertinentes e a tomada de decisões não é mais uma

exclusividade do âmbito administrativo, em nome da agilidade e da performance

produtiva.

Reduz-se, portanto, a separação a priori entre as tarefas de concepção/direção (os desdobramentos do antigo “poccc” “fayoliano”) e as de execução de tarefas. Isto exigirá um aumento do conhecimento e compreensão do conjunto do processo produtivo não apenas dos empresários, gerentes e quadros técnicos, mas agora de todos os trabalhadores, o que só será possível com um maior nível de educação geral e polivalente qualificação dos mesmos.57

A intensificação da circulação e acessibilidade da informação dissemina a

possibilidade de inovar, fragmentando a participação neste processo. Uma vez que

o acesso às informações se torna muito mais fácil, seu uso para compor o

conhecimento, a capacidade de juntar as peças, torna-se ainda mais importante.

Na era informacional de Castells, esta capacidade de decodificar a informação e

reconstruí-la na forma de conhecimento, representa um fator fundamental da

inovação.

Tal característica coloca a educação numa posição crucial quanto às

demandas do atual contexto. As políticas educacionais passam então a uma posição

ainda mais estratégica, pois o conhecimento de base —relativo à educação

fundamental— constitui o alicerce sobre o qual se constroem as qualificações

necessárias ao presente esforço produtivo.

Informação, inovação e educação

As atuais características produtivas operam num parâmetro de superação da

concorrência baseado na criação constante de formas mais eficientes da produção,

formas que são aprimoradas através do uso do conhecimento. Neste modelo, a

produção gera dados sobre o seu desempenho, os quais são organizados em

57 PASSOS, C. Novos Modelos de Gestão e as Informações, 1999: 62.

Page 43: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

34

informações. Tais informações constituem um conhecimento que é aplicado na

inovação do processo produtivo. Este comportamento cíclico de produção e

aplicação constante da informação constitui uma característica da era

informacional.

Assim, o conhecimento reinvestido na produção tem um papel significativo

diante do recente contexto econômico. À medida que a velocidade de

implementação das inovações se intensifica, o volume e complexidade das

informações em questão aumentam. Sendo assim, a capacidade de articular as

informações, e de interagir com a tecnologia, vem sendo cada dia mais requerida

como forma de orientar a própria direção da inovação. Sob este contexto, a

educação corresponde às ferramentas básicas da interação com tais características

operacionais.

Os recursos disponíveis através das recentes tecnologias viabilizam um

aumento da participação dos indivíduos no processo da inovação. Diversas

interações com os meios tecnológicos geram informações aproveitadas pelo próprio

sistema, tornando o consumidor num co-operador ou co-desenvolvedor58 das

mesmas.

Tal usuário precisa dos mecanismos para lidar com a informação, e assim

constituir o conhecimento necessário à interação como a tecnologia. A importância

dos elementos educacionais se reflete na capacidade de gerar, acrescentar ou

expressar a informação para a construção dos saberes. Na sociedade informacional,

a educação proporciona a capacidade de decodificação do conhecimento para gerar

mais conhecimento.

Assim, a questão estratégica foge à posse da informação, a qual circula em

abundância no espaço cibernético, e recai sobre o uso inovador da mesma para

58 Duas alternativas que vêm sendo utilizadas, já há algum tempo inclusive no Brasil, referem-se à transformação do consumidor em co-produtor; seja do serviço que consome (como no caso das caixas automáticas de serviços bancários); seja como fornecedor de informações sobre seu perfil de consumo (como, por exemplo, no caso dos autodenominados correios eletrônicos gratuitos). LASTRES e FERRAZ. Economia da informação, do conhecimento e do aprendizado, 1999: 43.

Page 44: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

35

constituir um conhecimento aprimorado. Dessa forma, quanto maior o número de

cérebros capazes de inovar, maior a chance de produzir inovações que permitam

competir no atual contexto.

Sendo assim, é preciso envolver o maior número possível de pessoas no

esforço de inovação para que as chances de produzi-la aumentem. Quanto mais

indivíduos mobilizem os elementos do conhecimento, maior a probabilidade de que

mais inovação seja incorporada num menor espaço de tempo. Este fator está

intimamente ligado às bases educacionais capazes de lançar os fundamentos

necessários ao aprendizado constante. A educação básica representa, neste

contexto, um fator fundamental para compor a inovação.

Considerando que apesar da velocidade e a natureza das mudanças persiste

uma base lógica calcada no método científico, por mais inusitadas que pareçam as

inovações estas seguem uma linguagem tecnológica e científica, sem a qual não é

possível acrescentar ao conhecimento existente. Assim, as mais diversas relações

com a inovação dependem de um certo montante do conhecimento. A

implementação dos aprimoramentos propostos constantemente não pode acontecer

sem um saber fundamental.

O reflexo da falta de formação educacional já se mostra em diversos setores

produtivos no Brasil. Muitas empresas desenvolvem programas de formação escolar

para compensar a defasagem educacional no país. Neste caso, a educação já não

representa, para colocar em termos simples, somente erudição ou formação

técnica.59 Ela fornece ao indivíduo os mecanismos da apreensão sistemática de

novas competências, as quais permitem operar as tecnologias em aprimoramento

constante. Esta questão surge como fator estratégico à produtividade no contexto

59 A educação técnico-profissional não se tem colocado à margem dessa discussão e hoje começa a refletir sobre a necessidade de estar articulada à educação geral, para evitar a dualidade histórica entre educação propedêutica x educação profissional-instrumental, dando respostas à dupla dimensão dos objetivos educacionais: preparar o profissional competente e o cidadão socialmente responsável, o sujeito-político comprometido com o bem-estar coletivo. DELUIZ, N. A Globalização Econômica e os Desafios à Formação Profissional, 2001: 2.

Page 45: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

36

recente. A intensificação do ritmo da inovação, como principal consequência do

atual contexto competitivo, cria um aumento na demanda por qualificação.

Assim, no atual contexto, as políticas públicas educacionais tornam-se um

fator da competitividade. Uma vez que a implementação da inovação converge ao

espaço territorial, o Estado exerce uma influência determinante nas condições de

recepção das tecnologias recentes. Dessa forma, a ampla disseminação da

educação, pública e de qualidade, torna-se uma condição fundamental para

permitir o acesso do esforço produtivo à mão-de-obra qualificada. Ainda que a

totalidade da formação não se resuma aos contornos da educação formal, é esta

que fornece os fundamentos, sem os quais não é possível acrescentar qualquer

conhecimento.

As relações com o conhecimento constituem-se num fator chave para os

países no contexto competitivo internacional. Este se tornou um elemento

estratégico, o qual determina a inserção no novo paradigma. Assim, a despeito do

aumento considerável da mobilidade dos mais diversos recursos —financeiros e

informacionais— a participação do Estado permanece um fator crucial para

promover a inovação no novo milênio.

Reconcentração da geração de novos conhecimentos

Muito embora algumas argumentações sobre a globalização apontem um

enfraquecimento das instituições enraizadas territorialmente,60 envolvendo algum

desprendimento da produção do conhecimento, certos aspectos desta produção

retêm elementos dados culturalmente e arraigados a contextos locais. Isso implica

a existência de um componente do conhecimento que não pode ser facilmente

60 Na percepção dominante, estaríamos caminhando para um mundo sem fronteiras com mercados (de capitais, informações, tecnologias, bens, serviços etc.) tornando-se efetivamente globalizados e para um sistema econômico mundial dominado por 'forças de mercado incontroláveis', sendo seus principais atores as grandes corporações transnacionais socialmente sem raízes e sem lealdade com qualquer Estado-Nação. LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 10.

Page 46: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

37

transmitido, o conhecimento tácito, o que de certa forma revaloriza as fronteiras

territoriais.

Todo conhecimento codificado está invariavelmente ligado a um

determinado conteúdo de conhecimento tácito. Assim, a idéia de uma aldeia global,

sem fronteiras e independente, a qual experimenta um enfraquecimento do Estado

nacional, pode ser repensada. O uso local da tecnologia, as características locais da

mão-de-obra e seu nível educacional, têm uma importância expressiva diante das

exigências recentes da produção. Ainda que a inovação tecnológica experimente

uma disseminação sem precedentes, são as características locais que determinam a

possibilidade ou não, da recepção destas tecnologias.61

Apesar do crescimento de uma dimensão virtual da circulação dos saberes —

Internet— a sua produção parte de um contexto cultural/territorial específico. Neste

sentido a dimensão territorial da produção do conhecimento não perde em nada

sua significância, pelo contrário, a circulação livre das idéias reforça a importância

da capacidade de implementá-las —ligada ao acesso aos recursos intelectuais e

instalações tecnológicas— como demarcador da supremacia tecnológica. Este

aspecto estratégico da territorialidade remete a uma reformulação dos parâmetros

ligados a competição geopolítica.

Poder que não mais se restringe ao domínio dos meios materiais e dos aparatos políticos e institucionais, mas que, cada vez mais, define-se a partir do controle sobre o imaterial e o intangível — seja das informações e conhecimentos, seja das idéias, dos gostos e dos desejos de indivíduos e coletivos. Estabelecem-se assim novas hierarquias geopolíticas, definidas com base em novos diferenciais sócio-espaciais, refletindo fundamentalmente desiguais disponibilidades de informações e conhecimentos estratégicos, bem como desiguais posições no âmbito dos fluxos e dos fixos que compõem as redes de informação e comunicação em escala planetária. Configuram-se e exigem-se, nesse contexto, novos modelos e instrumentos institucionais, normativos e reguladores, bem como novas

61 As novas formas de codificação do conhecimento mudam a fronteira entre conhecimento tácito e codificado. Entretanto, não reduzem a importância relativa do conhecimento tácito na forma de habilidades, capacitações etc. Ao contrário, o conhecimento tácito adquire um significado maior, acentuando a importância de processos locais de desenvolvimento tecnológico, inovação e competitividade (Cassiolato). LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 15.

Page 47: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

38

políticas industriais, tecnológicas e de inovação que sejam capazes de dar conta das questões que se apresentam frente à nova realidade sócio-técnico econômica.62

Ainda há muito debate quanto às mudanças nos contornos do Estado na

atual fase. O poder se desata cada vez mais dos aspectos materiais, em função da

redução das limitações de comunicação e logística, e avança gradativamente para o

espaço informacional. Esse fator interfere nas relações internacionais de poder,

mudando a forma como as nações competem por maior influência na atual

conjuntura. A estratégia geopolítica aponta novos cenários competitivos baseados

em usos inovadores do conhecimento. O contexto recente permite que novos tipos

de supremacia internacional se desenvolvam, fazendo com que a capacidade de

mobilizar recursos intelectuais seja um fator ainda mais preponderante.

A característica difusa da informação atual dinâmica internacional cria uma

reconcentração da geração de novos conhecimentos. Isso ocorre em função da

maior capacidade de determinados atores implementarem a inovação. O

conhecimento gerado na produção local circula de forma mais intensa neste

contexto, dando chance a certos atores produtivos aproveitarem diversas fontes

para compor a inovação. Tais atores potencializam a inovação gerada no ambiente

local, através do seu maior acesso aos recursos disponíveis.63

O maior acesso à informação potencializa a circulação de abordagens

inovadoras do conhecimento, que podem ser geradas em diversos ambientes,

disponibilizando seu uso por aqueles com recursos adequados para desenvolvê-las.

Dessa forma, o conhecimento inovador disseminado pelo ambiente informacional,

redireciona-se às instituições que de alguma forma mantêm vínculos territoriais.

A maior circulação do conhecimento, dessa forma, não potencializa um

contexto internacional da inovação. O que ela cria é a distribuição do potencial

62 LASTRES e ALBAGLI. Informação e globalização na era do conhecimento, 1999: 9.63 Assim, a globalização é vista como reforçando o caráter cumulativo das vantagens competitivas dos grandes conglomerados, que vêm instalando redes de informação mundiais internas através das quais podem articular as atividades de financiamento, administração, P&D, produção e marketing em escala global. (...) Seus campos de atuação são cada vez mais globais, no entanto suas sedes e centros de decisão continuam centralizados em seus países de origem (Dantas, Albagli, Lastres e Ferraz). Idem: 14.

Page 48: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

39

inovador e o seu redirecionamento para determinados centros de desenvolvimento.

O espaço virtual criado através da WWW —World Wide Web— pode criar a ilusão de

uma dimensão extraterritorial independente, mas o conhecimento precisa ser

reconstituído no ambiente local, privilegiando determinados arranjos estruturais em

ciência e tecnologia.

[...] cerca de 95% da nova ciência é criada nos países que abrigam somente um quinto da população mundial. Grande parte dessa ciência – no âmbito da saúde, por exemplo –negligencia os problemas que afligem a maioria da população mundial. A distribuição desigual da atividade científica gera sérios problemas não só para a comunidade científica dos países em desenvolvimento, mas para o próprio desenvolvimento. Ela acelera a disparidade entre países avançados e em desenvolvimento, criando dificuldades sociais e econômicas no plano nacional e internacional. A idéia de dois mundos científicos é um anátema ao espírito científico. A mudança desse cenário e a extensão dos benefícios da ciência a todos exigirão o empenho dos cientistas e das instituições científicas em todo o mundo (Annan, 2003, p. 1485).64

Essa abordagem destaca a importância da educação, quanto à produção e

disseminação do conhecimento. Os investimentos neste sentido estão diretamente

ligados a capacidade de constituir a inovação fundamental à competitividade. O

papel da formação de pessoal qualificado, capaz de dar sustentação à

implementação das inovações, constitui-se cada vez mais em algo importante em

meio às mudanças recentes no paradigma produtivo.65

Considerando o papel do conhecimento na atual dinâmica produtiva, os

investimentos em educação participam efetivamente da capacidade de competir. É

no ambiente educacional que se lançam as bases para as relações com o

conhecimento, as quais refletem diretamente na capacidade de inovação dos

países.

64 TILLY, C. O acesso desigual ao conhecimento científico, 2006: 47.65 Os habitantes dos países de alta renda da OCDE obtêm cerca de 360 patentes por milhão de pessoas por ano, ao passo que os países em desenvolvimento obtêm menos de uma por milhão (cf. UNDP, 2004, p. 183). Idem: 59.

Page 49: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

40

A seguir a tabela 1 demonstra o impacto significativo de um aumento na

escolaridade da população sobre o desenvolvimento econômico numa comparação

entre Brasil e Coréia do Sul.

TABELA 1

Apud: BARROS e MENDONÇA. Investimentos em Educação e Desenvolvimento Econômico, 1997: 05.

Page 50: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Capítulo 3

A participação do Brasil no novo contexto econômico

Na atual conjuntura econômica a capacidade de aprender tornou-se um fator

decisivo da competitividade. As constantes mudanças, características do modelo

recente, guardam um estreito vínculo com o aprendizado66. Assim, constituir novas

habilitações tornou-se um elemento-chave deste modelo, o qual requer a superação

constante para assimilar a inovação.

Esta questão contém um componente bastante humano, ligado ao

desenvolvimento e implementação da inovação. A capacidade de aprendizado está

vinculada à formação educacional daqueles envolvidos no processo, algo que vem

chamando atenção para a atuação dos indicadores educacionais em diversos

países.

De acordo com as demandas do recente paradigma, é preciso estabelecer

uma escolarização de base, capaz de sustentar a construção recorrente de novas

qualificações. É necessária uma base de recursos humanos que permita ao sistema

absorver as pressões competitivas do recente paradigma. Assim, a competição de

modelo recente exige uma mão de obra disponível, escolarizada, e mais

importante, capaz de aprender.

As novas demandas da produtividade vêm encontrando o Brasil sob um

déficit significativo no seu desempenho educacional.67 Algumas impressões em

relação à educação no país são às vezes compreendidas como gargalos ao

desenvolvimento. Considerando que para manter-se competitivo no quadro atual é

66 Mudança e aprendizado são as duas faces da mesma moeda. A aceleração das mudanças confronta agentes e organizações com novos problemas e a solução para tais problemas requer novas habilitações (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico/OECD 2000). LUNDVALL, B. Políticas de Inovação na Economia do Aprendizado, 2001: 200.67 A partir desse recorte, e com base na evidência empírica, procuramos demonstrar que a realidade educacional brasileira encontra-se em uma encruzilhada no que se refere aos dilemas estratégicos para construção de um processo de desenvolvimento sustentável. BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA. Pelo fim das décadas perdidas, 2002: 1.

Page 51: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

42

preciso uma atualização constante, o salto de produtividade estaria comprometido

sem a capacidade adequada de aprendizado. Dessa forma, o mau desempenho dos

indicadores educacionais relaciona-se às atuais dificuldades enfrentadas pelo setor

produtivo.

Estabelece-se, ao mesmo tempo, uma correlação entre a baixa escolaridade da força de trabalho do país e as dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo para dar o chamado salto de produtividade e qualidade. O modelo que se preconiza, supostamente demandante de novas qualificações e de novas competências à força de trabalho, estaria encontrando barreiras dadas pelas próprias características da formação escolar dos trabalhadores, marcada pela descontinuidade e precariedade.68

Alguns organismos internacionais vêm destacando o papel da educação

frente aos desafios da nova fase econômica. Por exemplo, o Banco mundial

divulgou o IOH – Índice de Oportunidade Humana – participaram do estudo Ricardo

Paes de Barros, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, e

os economistas do Banco Mundial Francisco H. G. Ferreira, José Molinas e Jaime

Saavedra. O mesmo levou em consideração a conclusão do sexto ano escolar na

idade correta e matrícula escolar de crianças entre 10 e 14 anos para o indicador

de educação. Segundo o IOH, o Brasil está abaixo da média latino-americana em

desempenho educacional, inferior ao Chile, Argentina, Costa Rica, Venezuela e

Uruguai.69

Mas a percepção da defasagem educacional no Brasil não se restringe aos

indicadores socioeconômicos. Diversas empresas já se ressentem da má

qualificação geral da mão de obra em função destas carências. Nestes casos, a

demanda não vem sendo atendida pelas políticas educacionais, algo que traz

reflexos preocupantes em diversos setores. Este fator vem demonstrando tanto a

importância da formação educacional em diferentes campos da produção, quanto o

déficit o qual o país enfrenta neste sentido.

68 BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 11.69 BBC Brasil.com - Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola. On-line, postado 02/10/2008.

Page 52: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

43

O Brasil tem grande parte de sua formação educacional nas mãos do Estado,

mas, apesar dos avanços em relação ao número de matrículas em todo o território,

ainda existem déficits significativos na qualidade, os quais provocam lacunas

quanto às demandas por mão-de-obra. Em função destes déficits muitas empresas

têm procurado formar profissionais de acordo com as especificidades das suas

demandas.70

Investimentos corporativos em educação

Há algum tempo, a iniciativa privada procura garantir no país as condições

necessárias quanto à qualificação da mão de obra como, por exemplo, através de

escolas do SENAI, SESI e etc., mas o contexto mudou. Nas atuais circunstâncias a

qualificação específica, característica das escolas citadas, não mais atende às

exigências do modelo recente.

A formação educacional agora deve ser de caráter abrangente, focando

competências que venham a sustentar um aprendizado futuro flexível. Diante das

constantes mudanças nos requisitos das relações com as novas tecnologias, a

educação básica permanece como uma das poucas constantes. Ela fornece o

alicerce necessário ao aprendizado constante, característico do atual paradigma.

No Brasil, no passado, o setor industrial sempre cuidou da formação da mão de obra de que necessitava, através das escolas do SESI e SENAI, mas hoje este tipo de formação estreita e focalizada já não é adequado, colocando em questão o futuro destes serviços educacionais. Hoje, há consenso bastante grande de que o fundamental a ser proporcionado pela educação básica (incluindo a secundária) é a formação geral, sobretudo de conhecimento da língua e do raciocínio matemático, e que o mercado de trabalho pode suprir o resto. O problema da educação básica brasileira não é, pois, que o país não proporciona educação profissional e

70 O baixo nível de escolaridade da força de trabalho do país está pressionando um número crescente de empresas a assumir para si a tarefa de ampliar a escolaridade de seus trabalhadores. Explicita-se, nesta prática, o estabelecimento de vínculos entre a educação dos trabalhadores e os problemas vivenciados pelo setor produtivo face à internacionalização do mercado econômico e ao novo padrão de competitividade daí desencadeado. Cabe à educação, segundo esta concepção, contribuir para a inserção das empresas neste novo contexto e, também, promover as condições para os processos de qualificação/requalificação dos trabalhadores, em que se insere a aquisição de novas competências profissionais.BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 11.

Page 53: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

44

técnica, e sim a má qualidade da educação geral que os alunos recebem.71

Dessa maneira, a responsabilidade por suprir as demandas educacionais em

consonância com os requisitos da atualidade, pertence ao Estado. Ele é o único

agente capaz de constituir um projeto desta magnitude, disseminando a educação

de qualidade que atenda aos atuais requisitos competitivos.

Com a ineficácia do poder público na distribuição adequada do

conhecimento, os custos e as responsabilidades recaem sobre aqueles que não

podem dispensar este recurso. É o caso das empresas que precisam preparar mão-

de-obra para suprir sua demanda por qualificação. Neste caso, a solução

corporativa se apresenta voltada a objetivos específicos sem, no entanto, ser capaz

de resolver o problema de forma definitiva. Enquanto o Estado não cumpre o papel

de realizar investimentos de maneira efetiva, não se pode esperar mais que

soluções momentâneas.

É preciso destacar que a necessidade de investir na educação dos

trabalhadores constitui uma desvantagem competitiva, em relação a regiões onde

isto não é necessário. O esforço para acompanhar as demandas recentes da

produtividade requer um ritmo de aprendizado, que depende da formação

educacional prévia da mão de obra. Tal circunstância no país preocupa, dando

margem a uma série de iniciativas corporativas para compensar as defasagens.

Em artigo recente intitulado o preço da ignorância72 a revista Exame, uma

publicação da Ed. Abril ligada ao movimento educar para crescer73, traz uma série

de depoimentos contundentes. Entre relatos de fonte acadêmica e corporativa,

ressalta a situação alarmante do Brasil diante das carências educacionais. Alguns

trechos referem-se a entrevistas de executivos em grandes empresas, e suas

necessidades reais quanto à mão-de-obra. A realidade precária do ensino no país

71 SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 20.72 EXAME. O preço da ignorância. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.73 http://educarparacrescer.abril.uol.com.br

Page 54: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

45

produz um custo significativo, em tempo e recursos, na hora de selecionar os

candidatos aptos a uma determinada ocupação.

Essa necessidade de avaliar uma multidão de candidatos para encontrar um punhado de eleitos custa caro. No ano passado, a Atento, maior empresa de atendimento telefônico do país, entrevistou 240 000 jovens de 18 a 24 anos com ensino médio completo. Metade dos candidatos foi reprovada nos testes orais por não conseguir falar o português básico corretamente. Identificar e desclassificar tantos despreparados custou 1,8 milhão de reais à empresa. "Só precisamos que o atendente tenha um bom vocabulário", diz Cleide Barani, vice-presidente de RH da Atento. "Mas a maioria dos jovens não sabe falar. Utilizam regularmente expressões como 'nóis foi'."74

Desta forma, as defasagens educacionais são capazes de emperrar o

desempenho econômico. As chances de superar as perdas causadas pela carência

por mão-de-obra instruída, num mercado globalizado, são pequenas. Para competir

no atual contexto não pode haver um gargalo educacional.

O artigo na revista exame ressalta ainda que, ao ter de investir em

educação para garantir condições operacionais necessárias, as empresas desviam

do seu foco os recursos que de outra forma poderiam estar mais bem investidos.

Dessa forma, a empresa desvia sua vocação principal para se enveredar na área

educacional, em função da falta de instrução disponível. O esforço neste sentido

suga o fôlego para superar o concorrente, principalmente na atual conjuntura

competitiva.

O negócio da paulista Tecnisa é construir prédios. Mas a empresa todo ano contrata dez professores e gasta 150 000 reais para ensinar centenas de operários a ler, escrever e ter noções básicas de informática. Assim, consegue garantir a qualidade das obras e reduzir desperdícios. Toda vez que começa uma obra, instala ao lado uma sala de aula. "Dar educação é obrigação do Estado, mas ele perdeu o rumo", diz Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa75

Mesmo com o tema em evidência, a questão parece de difícil solução. A

velocidade com que as tecnologias vêm e vão, exige um esforço ainda maior para

74 EXAME. O preço da ignorância. Prova na seleção de candidatos. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.75 Idem.

Page 55: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

46

adaptar-se ao ritmo das mudanças. Perder tempo para preparar mão-de-obra pode

significar perda de competitividade.

A natureza difusa da informação, e o papel estratégico do conhecimento na

era informacional, fazem do conhecimento algo essencial para assimilar a inovação.

Tal processo implica na formação de pessoal qualificado, capaz de adaptar-se às

novas tecnologias. Este fator vincula a implementação da inovação à qualificação

recorrente da mão de obra, algo que demanda uma formação educacional básica,

que funcione como alicerce aos novos saberes, sem o que não será possível

incorporar-se ao novo paradigma.

Assim, os resultados dos investimentos em educação estão ligados ao

desempenho competitivo no país. Sem o conhecimento que sustente a apreensão

sistemática de novas competências, não é possível implementar a inovação, e sem

este recurso a capacidade de competir se esgota rapidamente. Em suma: sem a

eficiência na administração dos investimentos educacionais por parte do Estado não

pode haver um surto de crescimento para o país, em período recente.

"O que tem de ficar claro é que, se nada mudar, vai serimpossível ter crescimento de verdade", diz o economista Edward Glaeser. (...) O obstáculo fica evidente quando se olha para as empresas de setores em expansão. "Quanto maior é o ritmo de crescimento das empresas, mais complicado é encontrar pessoas qualificadas, e mais oneroso treiná-las", diz Chieko Aoki, presidente da rede de hotéis Blue Tree (...) "Se o Brasil engrenar um novo surto de crescimento, vai parar por falta de gente para trabalhar", diz Marcos Magalhães, presidente da Philips.76

A competitividade depende da qualificação dos indivíduos envolvidos nas

diversas etapas do processo, algo que é influenciado pela capacidade de

implementar o conhecimento incorporado nas relações com a inovação. Neste caso,

o desempenho econômico se conecta a uma espécie de lastro educacional, ou seja,

uma reserva em recursos educacionais capaz de sustentar os avanços em função

do desenvolvimento tecnológico. Esta reserva só é possível sob certas condições

76 EXAME. O preço da ignorância. Setores em crescimento, falta de profissionais. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.

Page 56: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

47

mínimas de educação, as quais permitam que certos indivíduos capazes não sejam

soterrados pela absoluta falta de oportunidade.

Esta idéia está em sintonia com o IOH – índice de oportunidade humana –

criado com o intuito de medir se as chances estão distribuídas de maneira

equitativa,77 em termos socioeconômicos. Em reportagem publicada pela BBC —

Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola— o IOH é citado para

destacar a situação preocupante do ensino no país. Nesta reportagem Marcelo

Giugale, diretor do Banco Mundial para Política Econômica e Redução da Pobreza na

América Latina, comenta a relação entre as remunerações e a formação.

"Sabemos agora que o campo de jogo está desnivelado quando começamos na vida, e que circunstâncias pessoais sobre as quais não temos nem responsabilidade nem controle no início da vida são muito importantes no nosso destino final (...). Isso nos faz questionar se não é o caso de dar a todos as mesmas chances, e não os mesmos prêmios".78

Valorizar as credenciais funciona bem num ambiente de oportunidades

iguais, mas num quadro como constatado no Brasil, isto pode funcionar como

estímulo às desigualdades educacionais. Premiar os mais instruídos não constitui

sempre um real estímulo, pois em muitos casos a trajetória daquele indivíduo foi

impulsionada pela facilidade de acesso aos recursos ou, em outras palavras, pela

maior oportunidade. Para aferir se o que está sendo premiado é a capacidade

daquele indivíduo, ou as oportunidades as quais ele teve acesso, é preciso equalizar

as chances logo no inicio da formação educacional.

Para alguns, o ponto de partida socioeconômico está numa tal situação de

desvantagem, que não se pode esperar um nível de competição razoável na busca

por títulos. É preciso valorizar o talento, e só é possível detectá-lo sob condições

razoáveis de competição. Assim, mais importante que recompensar a formação é

colocar mais competidores em condições equilibradas, para que a capacidade

individual não seja apagada pela extrema falta de oportunidade.

77 BBC Brasil.com - Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola. On-line, postado 02/10/2008.78 Idem.

Page 57: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

48

A premiação da oportunidade em detrimento da capacidade pode ter seu

reflexo na precariedade da inovação. Contratar alguém que teve a melhor formação

não garante que esta pessoa não seja um mero reprodutor de conteúdo. No atual

contexto produtivo, o uso inovador do conhecimento constitui o diferencial

competitivo. Tal característica sugere uma importância renovada da equalização

das chances no país.

No âmbito do governo brasileiro, através do Plano de Aceleração do

Crescimento - PAC, a preocupação com a educação está exemplificada pelo Plano

de Desenvolvimento da Educação - PDE, uma iniciativa do governo Lula para tentar

mudar o quadro atual. Em seu lançamento, no dia 24 abril de 2007, o presidente

enfatiza o papel da educação ainda no início do discurso: Nenhum tema é tão

positivo, tão mobilizador e capaz de unir tanto o País quanto a educação.79

Mas, não só o governo e o empresariado estão envolvidos no problema. Há

algum tempo, o cenário da educação instiga a mobilização por parte da sociedade

civil. A atual conjuntura da educação no Brasil tem suscitado iniciativas relevantes,

as quais demonstram como o tema vem crescendo em evidência.

Outro executivo preocupado é Manoel Amorim, presidente do conselho de administração da operadora de celulares Vivo. Amorim concilia a atribulada agenda profissional com a de conselheiro do movimento Quero Mais Brasil, em que defende reformas no ensino público. (...) Entre os empresários cativados pelo tema está Jorge Paulo Lemann, acionista da Inbev e da Lojas Americanas. Lemann criou uma fundação que leva seu nome e atua na melhoria da gestão do ensino público. "Meus amigos podem achar que estou virando um socialista tardio, mas na verdade estou aflito com os baixos níveis educacionais do Brasil", diz Lemann.80

Com uma motivação semelhante o movimento todos pela educação81 propõe

uma mobilização generalizada, contando com a adesão de diversas instituições.

Este movimento conclama a sociedade a participar de uma convergência de forças

79 O Globo Online - Íntegra do discurso de Lula na cerimônia de lançamento do PAC da educação. On-line, Postado 24.04.2007 às 14h06m.80 EXAME. O preço da ignorância. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.81 http://www.todospelaeducacao.org.br

Page 58: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

49

em prol da educação82, relacionando muitos dos problemas socioeconômicos do

país aos problemas educacionais. Em entrevista recente, o presidente-executivo do

movimento, Mozart Neves, se refere à criação de uma lei de responsabilidade

educacional com o intuito de fiscalizar a gestão dos recursos educacionais83.

Também a editora Abril, através de suas diversas publicações, propõe uma

reflexão sobre este tema em seu projeto educar para crescer.84 A editora apregoa

uma proposta voltada à valorização da educação, a qual inclui um manifesto neste

sentido. Tal proposta tem a percepção da necessidade de uma grande cruzada de

diversos atores sociais em torno da educação, para promover o crescimento

socioeconômico do país.

O movimento educacionista85, Capitaneado pelo senador Cristovam

Buarque, conclama a defender a educação como prioridade nacional. Entre estes, o

MEB – movimento de educação de base – de inspiração católica ligado a CNBB,

propõe a mobilização da sociedade em torno do tema. Tais iniciativas encontram

eco entre vários setores da sociedade, sobressaindo à idéia de que os

investimentos em educação no Brasil têm sido insuficientes e/ou mal aplicados até

então.

Re-exclusão educacional

À medida que a informação torna-se cada vez mais crucial para a produtividade, o

trabalho incorpora maiores elementos da flexibilidade e da adaptabilidade frente às

82 O Brasil só será um país verdadeiramente independente quando todos seus cidadãos tiverem uma Educação de qualidade. Partindo dessa idéia, representantes da sociedade civil, da iniciativa privada, organizações sociais, educadores e gestores públicos de Educação se uniram e, em setembro de 2006, criaram o movimento Todos Pela Educação: uma aliança que tem como objetivo garantir Educação Básica de qualidade para todos os brasileiros até 2022, bicentenário da independência do País. (vários autores). Governança, estatuto e projetos do todos pela educação, 2007.83 O Globo Online - Ensino básico ainda é maior desafio do MEC, diz presidente do todos pela educação. On-line, Postado 23.09.2008 às 20h06m. 84 http://educarparacrescer.abril.uol.com.br85 http://www.educacao-ja.org.br/

Page 59: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

50

mudanças na produção.86 O avanço tecnológico afasta gradativamente o indivíduo

das tarefas repetitivas e sem qualquer intervenção intelectual, dando espaço para

equipamentos mais econômicos e eficientes, e assim, mudando o conteúdo do

emprego.

Este fator essencial da modernidade, o aprimoramento da produtividade na

substituição do trabalho humano repetitivo por avanços tecnológicos, tem novas

implicações no contexto da era informacional. Ele, gradativamente, desvia a

ocupação humana para tarefas das quais dependem a tomada de decisões cada vez

mais complexas, e requerem alguma interferência intelectual, demandando em

alguns casos improvisação e inventividade. Decisões estas que apelam para um

domínio cada vez maior do conhecimento dado pela educação, apreendido e

renovado indefinidamente.

O trabalhador deste novo contexto produtivo precisa ter características

flexíveis, as quais utilizam a formação educacional como prerrogativa básica.

Assim, uma estrutura educacional vincula-se de forma essencial ao crescimento

econômico, através da necessidade de aprimoramento constante da mão-de-obra.

A oferta de trabalho mal qualificado no Brasil produz consequências palpáveis no

setor produtivo.

A esse quadro, junta-se a vulnerabilidade da força de trabalho do país no que diz respeito à escolaridade, indicador que cada vez mais se apresenta como um dos determinantes da "conquista" ou da "manutenção" do e no posto de trabalho, bem como do aumento da produtividade e incremento econômico para o país.87

Atuar na modernidade em sua fase recente exige mais que o conhecimento

estabelecido. O processo de aprendizado precisa ser constante para acompanhar o

ritmo das inovações e corresponder à obsolescência sistemática das tecnologias. O

86 O processo de 'acumulação flexível' gera o fenômeno paradoxal, de ampliação do trabalho precarizado e informal e da emergência de um trabalho revalorizado, no qual o trabalhador multiqualificado, polivalente, deve exercer, na automação, funções muito mais abstratas e intelectuais, implicando cada vez menos trabalho manual e cada vez mais a manipulação simbólica. DELUIZ, N. A Globalização Econômica e os Desafios à Formação Profissional, 2001: 1.87 BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 9.

Page 60: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

51

conhecimento não deve ser estático, canônico e reproduzido a partir de um modelo

tradicional, sob pena de arraigar demais os saberes às suas velhas formas. Neste

quadro, ser alfabetizado significa mais do que dominar as letras. É preciso

estabelecer uma relação persistente com os meios digitais, os quais permanecem

em constante atualização.

A necessidade do aprendizado constante reformula a questão das

desigualdades. Assim, a desigualdade educacional no Brasil se agrava em função da

necessidade crescente do uso da informação. Aqueles que não buscam algum tipo

de atualização, o que consiste numa massa de brasileiros vivendo mais ou menos

isolados do processo, tendem a se distanciar da sociedade, a qual se torna cada dia

mais wireless. A característica inovadora da fase produtiva recente exige o

desenvolvimento de recursos intelectuais, que permitam operar uma matriz de

base tecno-científica de caráter flexível.

Assim, no presente contexto, o fluxo crescente da informação potencializa

muito mais a condição de exclusão, criando uma variedade digital da mesma. A

exclusão digital, ou seja, a falta de acesso aos meios digitais, coloca tais questões

em um novo patamar.88 Aquele indivíduo que de alguma forma não é capaz de

acompanhar o ritmo das inovações se vê sob risco de superação, migrando para

posições profissionais menos favoráveis ou mesmo para a margem do processo.

O chamado processo de re-exclusão89 funciona em sintonia com as

demandas mais recentes de empregabilidade, pautadas na necessidade de

qualificação constante. O crescente aumento na velocidade da inovação requer que

88 Vale lembrar que o termo 'exclusão' foi originariamente utilizado para referir-se às pessoas desprotegidas por programas de seguridade social e, por essa razão, qualificadas de 'problemas sociais' ou 'desajustadas'. Posteriormente, o uso do termo foi ampliado, passando a incorporar o fenômeno da 'nova pobreza', que associa as mudanças tecnológicas ao desemprego prolongado, envolvendo, inclusive, pessoas já qualificadas (POSTHUMA; LOMBARDI, 1997). BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 8.89 No caso da reexclusão, o sentido que lhe é atribuído implica o reconhecimento de um contingente de pessoas que já se encontravam excluídas do mercado de trabalho por falta de vagas ou de oportunidades de emprego e que, devido ao novo cenário produtivo, são novamente excluídas por não domínio das atuais exigências de qualificação profissional. Idem: 8.

Page 61: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

52

um número cada vez maior de indivíduos compreenda os elementos básicos do

conhecimento, necessários às operações tecnológicas cada vez mais comuns.90

Sendo assim, os indivíduos à margem do processo formam uma massa que se

comporta cada vez menos de acordo com as recentes demandas.

O indivíduo sem uma formação educacional adequada torna-se, no processo

de re-exclusão, um tipo inusitado de analfabeto. A característica de isolamento em

relação à informação, presente na falta de compreensão das letras, renova-se de

forma acentuada em relação aos novos meios informacionais. Tal indivíduo se vê

atropelado por um volume de informação crescente e de decodificação complexa,

do qual depende uma parte significativa da sua interação profissional no contexto

recente.

Atento a esta perspectiva, o país tem realizado investimentos significativos

para aumentar o número de vagas no ensino público. A percepção do Estado

brasileiro está em sintonia com diversos organismos internacionais que propõe os

investimentos em educação como algo estratégico no momento econômico atual.

O problema não está na quantidade, mas na qualidade dos investimentos. O

Brasil se coloca como um dos países grandes investidores em educação, mas os

déficits se perpetuam. Parece haver uma retórica que exige um constante aumento

nos valores destes investimentos sem, no entanto, buscar os reflexos efetivos no

crescimento econômico que os justifiquem.

Uma retórica sobre a educação

À medida que mais e mais indivíduos se põem à margem das exigências recentes

do mercado de trabalho, aumenta o debate político, mas pouco se realiza no

sentido resolver o problema. As carências detectadas e as medidas implementadas

90 Difundia-se a idéia de que a flexibilização demandaria um novo perfil de qualificação da mão-de-obra, que compreenderia: escolaridade básica, capacidade de adaptação a novas situações, compreensão global de um conjunto de tarefas e de funções conexas, demandando capacidade de abstração e de seleção, trato e interpretações de informações (Machado 1992, p.15). SHIROMA e CAMPOS. Qualificação e reestruturação produtiva: Um balanço das pesquisas em educação, 1997: 19.

Page 62: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

53

não vêm estabelecendo necessariamente uma relação direta, algo que provoca um

desencontro sistemático entre práticas e resultados. O tema está efetivamente em

pauta, mas as ações ainda demandam aprimoramento frente ao dilema entre

resultados esperados e obtidos.

Na verdade, embora o aumento dos índices de desemprego impulsione os debates, verifica-se um retardamento na definição de práticas efetivas. Este quadro se explicita no precário e tênue vínculo que se estabelece entre educação geral, educação profissional e a conformação de uma política de emprego no país.91

Não falta ao poder público a percepção da importância da educação, bem

como das condições recentes de acirramento da competição, mas ele não consegue

articular-se de maneira satisfatória. As tentativas de produzir políticas que possam

suprir tais necessidades mostram-se débeis diante da pressão competitiva do

mercado. Iniciativas políticas desarticuladas não são capazes de compor um esforço

conjunto, sem o que não é possível reformar o quadro geral da educação.

Também entre os setores governamentais verifica-se um interesse crescente em relação à temática, haja vista o grande número de projetos desenvolvidos sob a coordenação do Ministério do Trabalho, pelas Secretarias de Estado ligadas às questões do trabalho, com o Programa Estadual de Qualificação. São iniciativas, contudo, vêm ocorrendo de forma desarticulada e fragmentada devido principalmente à inexistência de uma política global de educação que, coordenada às demais políticas públicas, concorram para a formação do trabalhador, para a geração de oportunidades de trabalho e de rendas (Kuenzer, 1997).92

Os parâmetros da formação educacional estão sempre mudando, em função

da introdução constante de novas tecnologias, o que demanda uma organização

compatível e articulada dos investimentos na área. É preciso uma ação decidida

para que as mudanças constantes nas exigências do atual paradigma, não sejam

implementadas após a sua desatualização.

A baixa efetividade das políticas educacionais no país pode ter relação com

as expectativas em torno da educação. A idéia de que quanto maiores os valores

em investimentos, maiores os retornos em educação perpassa o argumento. Dessa

91 BARONE e APRILE. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005: 10.92 Idem. Ibidem.

Page 63: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

54

forma, a percepção da educação como tema de importância relevante entra em

pauta sem, no entanto, dar uma idéia precisa de como e onde os investimentos na

área podem contribuir para o desenvolvimento.

As associações entre desenvolvimento e educação têm sido, em larga

medida, propagadas por diversos organismos internacionais, citando o exemplo de

diversos países que melhoraram seus desempenhos econômicos, através de

vultosos investimentos em formação educacional. A idéia de que a educação está

na raiz de diversos problemas socioeconômicos participa de uma retórica capaz de

inflar as expectativas e desviar os ânimos das perspectivas concretas.

O problema com estas esperanças em nome da educação é que elas confundem as verdadeiras origens dos problemas econômicos, e prometem mais do que a educação pode proporcionar. A consequência mais séria deste excesso de promessas é externa às escolas: a idéia de que a educação e o treinamento podem resolver problemas muito maiores desviam a atenção de soluções orientadas de forma mais precisa para as causas dos problemas. A retórica inflada tende também a desestimular a análise séria e cuidadosa sobre quais programas de fato funcionam, e quais dependem somente da retórica para sua justificação.93

Tal retórica propõe os investimentos em educação como fator fundamental

do desenvolvimento. Dessa forma criou-se uma demanda por investimentos na

área educacional, sem necessariamente obter resultados efetivos em qualificação. A

idéia de que mais investimentos refletem em mais educação, e consequentemente

mais desenvolvimento, perpassa o debate.94 Isso vem criando um distanciamento

entre as expectativas quanto ao aumento geral da escolaridade e os seus efeitos

práticos em função do crescimento econômico.

Se a percepção destas importantes questões encerra uma retórica, ou seja,

uma representação dos fatos que não tem necessariamente algo a ver com a

93 SCHWARTZMAN, S. A sociedade do conhecimento e a educação tecnológica, 2005: 11.94 Este excesso de promessas pode também desviar a atenção do papel modesto, mas sem dúvida valioso, que a educação pode ter, ao proporcionar às pessoas competências reais para ocupações qualificadas que de fato existem. A visão contrária – de que a escolaridade tem um papel modesto no desenvolvimento econômico, e isto se a demanda por competências estiver bem estabelecida – tem ganhado reconhecimento nas últimas duas décadas, sobretudo entre planejadores educacionais dos países em desenvolvimento. No entanto, a idéia de que as reformas educacionais podem resolver vários grandes problemas permanece popular na retórica política, em relatórios de comissões, e em documentos governamentais. Idem. Ibidem.

Page 64: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

55

realidade, as ações políticas podem errar o alvo uma vez que a visão do mesmo

está embaçada. À medida que a percepção do papel da educação encerra um

discurso, a perspectiva de como lidar com as questões educacionais pode ser mal

direcionada. Neste caso, a idéia da necessidade de mais recursos para a educação,

e da importância da inclusão dos alunos através do aumento das matrículas, estaria

vinculada a uma percepção que representa pouca efetividade no caso brasileiro.

O desconhecimento destes dados tão básicos faz com que sejam propostas prioridades que pouco contribuem para lidar com os problemas fundamentais da educação. A primeira falsa prioridade é a de aumentar os gastos, como se este fosse o a principal fonte de estrangulamento. (...) Nesta linha, é também equivocada como prioridade a necessidade de criar novas escolas. Com a cobertura se aproximando de 100% e a redução das taxas de fecundidade, muitos estados já começam a sofrer o problema inverso, de salas vazias.95

No atual estágio quase 100% dos alunos do ensino fundamental —7-14

anos— estão matriculados. Existem até casos de excesso de vagas em alguns

municípios surgindo, inclusive, à expressão inflação educacional. A pergunta neste

momento seria então, como e não quanto é preciso gastar para equalizar as

oportunidades no país. Embora a inclusão em massa dos alunos no ensino básico

tenha se realizado, os resultados esperados fogem às expectativas.

Os investimentos vultosos em infra-estrutura não têm garantido resultados

efetivos quanto à qualidade do ensino.96 Estabelecer uma relação equivocada entre

um maior volume dos investimentos e os resultados esperados, parece estar no

cerne do mau desempenho brasileiro nesta área.

Dessa forma, percebe-se que o papel exato da educação quanto às recentes

demandas de empregabilidade e produtividade ainda possui certa controvérsia.

Entre a qualificação efetiva e o credenciamento inócuo para o mercado de trabalho,

95 SCHWARTZMAN, S. Educação: a nova geração de reformas, 2004: 5.96 Os estudos recentes sobre os retornos a educação no Brasil enfatizam o impacto da escolaridade, medida em anos de estudos, sobre os salários. Porém, muitas pesquisas internacionais têm reconhecido a superioridade da qualidade desses anos de estudo, mensurada por testes de proficiência, sobre a quantidade para explicar os salários dos estudantes quando ingressam no mercado de trabalho, assim como a produtividade dos países e das regiões e suas diferenças. O que se tem observado no país é que a educação avança, mas não em termos qualitativos. CURI, A. Relação entre o desempenho escolar e os salários no Brasil, 2006: 16.

Page 65: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

56

a formação educacional nem sempre transparece de que lado está. As pressões

competitivas têm influenciado por maiores requerimentos em titulação sem, no

entanto, existirem garantias da relação destes títulos com uma maior

produtividade. Ainda não se sabe se a educação garante maior empregabilidade, ou

se é a percepção do mercado que aumenta os requisitos educacionais do emprego.

A questão do relacionamento entre a educação e a economia, e, mais especificamente, do impacto da educação sobre a empregabilidade, está sujeita a uma série de mitos que conduzem muitas vezes a políticas equivocadas. Não há dúvida que as pessoas mais educadas conseguem melhores trabalhos, com melhores salários e com menos riscos de desemprego. Existe menos certeza, no entanto, sobre se é a educação que gera esta situação de mais e melhores empregos, ou é o mercado de trabalho que, quando se expande e moderniza, faz uso de pessoas mais educadas e competentes.97

A percepção da necessidade de aumento dos requisitos educacionais, não

está necessariamente baseada em fatores produtivos, e pode causar uma pressão

por diplomas sem, no entanto, acrescentar nada além de inflacionar as demandas

por formação. Tal contradição constitui um risco moral —moral hazard.

O risco moral da educação

A idéia de uma maior necessidade de qualificação não vem necessariamente atada

à demanda por produtividade. Isso indica que alguma parte do aumento nas

exigências educacionais corresponde ao simples credenciamento, sem qualquer

aprendizado. Na verdade, o aumento geral da demanda por qualificação, em

diversos níveis educacionais, coexiste com um crescimento dos requerimentos para

ocupar cargos e funções, voltados meramente aos títulos. Estas duas condições

aparentemente contraditórias parecem conviver, em função das exigências do

mercado, revelando uma oscilação das demandas de uma ou outra, de acordo com

as condições econômicas vigentes.

Quando a economia se mantém estagnada, o efeito da educação pode ser, simplesmente, o de reforçar os mecanismos de filtragem das pessoas para os empregos

97 SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 19.

Page 66: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

57

existentes, sem clara correspondência com as habilidades efetivamente requeridas para as diversas funções. Quando a economia se expande, por outro lado, ela cria demandas por pessoas dotadas das habilidades e competências que as firmas necessitam para seu funcionamento, e existem problemas quando o sistema educacional não é capaz de gerar pessoas com as qualificações necessárias.98

Dessa forma, o que vem ocorrendo é que os requisitos educacionais voltados

à qualificação e a produtividade, crescem em paralelo à manutenção de

determinados privilégios.99 Na tentativa de corresponder às exigências de

determinados cargos, levando em conta os requerimentos para a ocupação destes

tenderem às novas demandas, se estabelece um movimento em busca de títulos e

credenciamentos, que justifiquem a permanência ou contratação em determinados

postos profissionais.

Assim, a disseminação da educação através de uma maior adesão a

formação educacional, em busca de títulos, não contribui para uma maior

qualificação, mas antes cria uma visão distorcida da situação real da produtividade

no país. Quando a formação educacional se dissocia da qualificação, apontando tão

somente para a titulação com fins de ascensão ou manutenção de cargos, ocorre o

chamado risco moral.

No Brasil, esta dissociação atingiu um grau extremamente elevado, criando uma situação que os economistas costumam chamar de "moral hazard" - um risco moral. Nenhum país do mundo, possivelmente, tem tantas profissões regulamentadas, e não sei se existem outros exemplos de países que criaram tantas exigências de diplomas e credenciais educacionais em todos os níveis da vida social, antes que tivessem sistemas educacionais capazes de formar pessoas com as competências esperadas para estes níveis. O resultado desta situação é que existem incentivos crescentes para a obtenção de credenciais educacionais, que não são acompanhados de incentivos equivalentes em termos de competência e produtividade. E, na medida em que o mercado de credenciais inflaciona,

98 SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 19.99 Assim, a educação e as profissões têm sempre uma face dupla. Por um lado, elas têm a ver com a competência, a cultura, a produtividade, os serviços. Por outro, elas têm a ver com o monopólio, os privilégios, os direitos estabelecidos, a diferenciação e a discriminação social. No melhor dos casos, estas duas faces coexistem em harmonia - os que têm competência e produzem mais recebem os benefícios deste trabalho meritório, e tratam de preservar seu mercado de trabalho. Mas existem muitas situações em que elas se dissociam - quando os benefícios do monopólio, do privilégio e das sinecuras preponderam sobre os da competência. SCHWARTZMAN, S. O Risco Moral da Educação, 2001: 3.

Page 67: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

58

surge a necessidade de criar credenciais adicionais, e assim por diante.100

Esta situação vem ocorrendo no país em diversos setores, acarretando

custos que não projetam qualquer possibilidade de ganho econômico. A

necessidade constante de qualificação, como consequência das demandas recentes

da produtividade, pressiona as exigências por formação educacional, aumentando

os requerimentos para a ocupação de determinados cargos.101 Dessa forma, a

dissociação entre a qualificação e o credenciamento, pode ter consequências

importantes no quadro produtivo geral.

O risco moral pode levar a uma demanda crescente por credenciais

acadêmicas sem representar qualquer aumento na produtividade. Ele influencia o

clamor por investimentos em educação sem, no entanto, acrescentar um ganho a

produtividade que os justifiquem. Tal dissociação põe em risco a direção dos

investimentos em educação, ligados à qualificação profissional e à produção do

conhecimento, criando uma variedade burocrática e inócua dos mesmos.

O risco moral, portanto, é a tendência ao crescimento sem limites das demandas por credenciais, elevando cada vez mais os custos da educação, sem que a "fase de crescimento" chegue a seu termo, e sem que as questões de qualidade e competência passem ao primeiro plano.102

Dessa forma, a demanda por investimentos em educação tente a crescer

indiscriminadamente, sem ser acompanhada pelo crescimento econômico que

sustente os mesmos. Uma situação de risco moral pode criar uma associação entre

a impressão de baixos investimentos e a ineficácia do sistema educacional,

deixando à margem a questão dos resultados dos mesmos.

Investimentos em educação no Brasil

100 SCHWARTZMAN, S. O risco moral da educação, 2001: 3.101 Fica clara, também, a necessidade de aumentar cada vez mais a qualificação profissional dos trabalhadores, através da educação em suas diversas formas; ainda que, por outro lado, a exigência de níveis de educação formal cada vez mais altos pelos empregadores pode levar, simplesmente, a uma valorização crescente das credenciais educativas, sem impacto efetivo na produtividade, e resultando em discriminação ainda maior no mercado de trabalho. SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 15.102 SCHWARTZMAN, S. O risco moral da educação, 2001: 3.

Page 68: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

59

A comparação do volume de investimentos educacionais entre o Brasil e diversos

países, aponta para má qualidade dos investimentos ao invés da baixa quantidade

dos mesmos no país. Segundo dados do Pisa103, o Brasil está acima da média em

investimentos em educação entre os países da OECD - Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, como se pode observar no quadro 1,

abaixo.

QUADRO 1

Apud: SCHWARTZMAN, S. Educação e desenvolvimento: onde estamos, e para aonde vamos?, 2003: 9.

As exigências por credenciais sugerem uma carência educacional

constante104, a qual pode ser atribuída à incompetência do Estado em supri-la. Mas

103 O estudo internacional comparativo da OECD sobre 'Competências de Leitura para o Mundo de Amanhã', conhecido como PISA (...) OECD. 'Knowledge and skills for life - first results from PISA 2000 - Education and skills.' Paris: OECD Programme for International Student Assessment. 2001; OECD. 'Knowledge and skills for life - further results from PISA 2000.' Paris: OECD Programme for International Student Assessment, 2003.SCHWARTZMAN, S. Educação e desenvolvimento: onde estamos, e para aonde vamos?, 2003: 1.104 Como Tinbergen (1975) apresentou com precisão, o valor de mercado da educação resulta, de forma relevante, de uma 'corrida' entre a evolução do sistema educacional e o progresso tecnológico. (...) o progresso tecnológico tende a gerar um viés contrário aos trabalhadores não-qualificados (...), produzindo, portanto, um aumento na escassez relativa de trabalhadores qualificados com consequente aumento no valor de mercado da educação.BARROS, HENRIQUES e MENDONÇA. Pelo fim das décadas perdidas, 2002: 7.

Page 69: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

60

a percepção de que o país investe pouco em educação não corresponde à realidade,

se comparada a diversos países em desenvolvimento.

Ao contrário do que se pensa, o Brasil gasta bastante em educação, em relação a seu produto. (...) Com 5.2% do PIB, o gasto brasileiro é superior à média da OECD, e só inferior, no grupo, a Israel e Látvia. 105

O volume de investimentos em educação coloca o Brasil entre os países

grandes investidores na área. Isso indica que ao invés da falta de recursos, o que

se verifica é uma flagrante má distribuição dos mesmos. Um eventual clamor por

investimentos já não pode estar voltado à inclusão em massa dos alunos e o

aumento nas matrículas, pois o acesso generalizado à educação básica já foi

alcançado no país. O problema agora se coloca em outro patamar, no qual, a

questão da qualidade na educação emerge.

Não só tem aumentado o acesso à escola, que hoje é praticamente universal, como a escolaridade, com a média da população de 20 anos já superando os 8 anos de educação fundamental. Esta evolução faz com que se tornem anacrônicas as políticas educacionais que tenham como principal objetivo levar às pessoas à escola. O grande problema da educação brasileira, do ponto de vista propriamente educacional, não são as crianças e adultos que estão fora da escola, e sim o que acontece dentro delas.106

Recentemente, a secretaria de educação do município do Rio de Janeiro

descobriu 25 mil alunos na condição de analfabeto funcional, cursando entre o

quarto e o sexto ano. Diante desta realidade, o governo municipal criou um plano

de realfabetização e reforço escolar em parceria com o instituto Ayrton Senna no

intuito de, paralelamente à educação normal, dar aulas compensatórias.107 O

depoimento do garoto invisível108 da rede municipal do RJ espelha uma realidade

perturbadora no ensino público brasileiro.

105 SCHWARTZMAN, S. Educação e desenvolvimento: onde estamos, e para aonde vamos?, 2003: 8.106 SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 16.107 Segundo a reportagem do JB - Jornal do Brasil, dos 460.553 alunos da 3a à 9a séries avaliados no Rio de Janeiro 315.450 precisam de aulas de reforço, perfazendo 68,5 % dos avaliados. Dentre estes, 28.879 (13,68%) são considerados analfabetos funcionais. Jornal do Brasil. Na sexta série, mas quase analfabeto, 2009.108 Referência ao trecho da reportagem que espelha o embaraço de um aluno diante da sua condição educacional: Bruno queria ser invisível. E, por 5 anos, conseguiu. ÉPOCA. No sexto ano da escola, eles escrevem assim, 2009: 60.

Page 70: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

61

Segundo o instituto Paula Montenegro, ligado ao IBGE, um quarto dos

alunos entre o sexto e o nono ano —25%—, com mais de 15 anos, são analfabetos

funcionais no país. Mas a escola não está conseguindo ensinar direito. E o grupo

que era analfabeto parece estar migrando para a categoria de analfabetos

funcionais, afirma a diretora do mesmo instituto, Ana Lúcia Lima.

A questão do analfabetismo funcional já afeta o parque produtivo no Brasil

há algum tempo. Mesmo quando já existe um quadro de funcionários formado, a

necessidade de atualização esbarra na formação educacional. Resultado: algumas

empresas se vêem envolvidas na ingrata tarefa de formar seus funcionários na

educação básica, para só então treiná-los nas qualificações as quais intentam.

O empresário Edson Musa, presidente do conselho de administração da Caloi, viu de perto como o ensino de baixa qualidade prejudica a vida do trabalhador e da indústria. Ao comprar a empresa, em 1999, Musa decidiu implantar programas de qualidade. Foi avisado pelo RH que os operários não conseguiriam assimilar um programa sofisticado. "Achei aquilo um absurdo e mandei aplicar um teste para medir os conhecimentos", diz Musa. Resultado: 38% dos operários com ensino fundamental completo eram analfabetos funcionais — conheciam palavras, mas não entendiam o significado das frases. Para resolver o problema, a Caloi implantou um programa de reforço escolar e passou a aplicar uma prova na seleção de novos funcionários. Agora a Caloi pedirá ensino médio completo aos operários. "Não precisaríamos desse nível de formação", diz Musa. "Mas talvez assim encontremos gente com conhecimentos de ensino fundamental."109

Assim, verifica-se que, apesar dos esforços no sentido de equalizar as

diferenças educacionais, o ensino público vem diminuindo sua eficiência. Dados

recentes do Saeb - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - apontam

decréscimo nos índices de aproveitamento dos alunos. De acordo com dados

divulgados pelo próprio Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira - as médias de proficiência vêm caindo ao longo dos

últimos anos.

109 EXAME. O preço da ignorância. Prova na seleção de candidatos. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.

Page 71: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

62

A seguir, nos gráficos 1 e 2, dados do SAEB traçam um perfil do ensino

básico brasileiro. Eles apresentam, num período de dez anos, os resultados de

desempenho dos alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e da 3ª série do

Ensino Médio, em Língua Portuguesa e Matemática. As médias de proficiência nas

avaliações propõem um quadro preocupante.

Gráfico 1

Gráfico 2

Apud: Médias de desempenho do SAEB/2005 em perspectiva comparada, 2007.

Análises dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) mostram que muitas pessoas passam pela educação básica sem jamais aprender a ler e escrever com um mínimo de competência.110

110 SCHWARTZMAN, S. A agenda social brasileira, 2004: 16.

Page 72: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

63

A rota descendente da qualidade no ensino básico já se reflete na

produtividade de empresas brasileiras. A importante questão da oferta de mão-de-

obra qualificada demanda atenção urgente. Sem a formação escolar que permita a

introdução aos novos saberes, característicos da Era informacional, a inovação fica

inacessível.

Dessa forma, chegamos ao novo milênio em situação de despreparo frente

às demandas por mão de obra. O país pode ter se preocupado com a sua

capacidade de desenvolver tecnologia, uma condição sem dúvida estratégica no

atual contexto, mas relegou ao segundo plano a base educacional que permita

implementá-la na prática, algo que pode tornar inócuo todo o potencial de

crescimento que possuímos.

Uma pesquisa realizada em parceria entre o Ibmec São Paulo e a London Business School com as 500 maiores empresas brasileiras identificou que a baixa formação dos empregados afeta negativamente decisões de investimento. Cerca de 40% delas disseram que a falta de trabalhadores qualificados impede a adoção de novas tecnologias. "O Brasil sempre se preocupou em fazer política industrial, mas ignorou que o mais importante é formar pessoas", diz o economista Naércio Aquino Menezes Filho, coordenador da pesquisa pelo Ibmec. "O resultado disso é que as empresas estão perdendo produtividade."111

Finalizando

Diante da realidade apresentada, cabe ressaltar o possível impacto destes fatos

para o desempenho econômico brasileiro a médio e longo prazo. Como destacado

anteriormente, o crescimento econômico desenvolveu uma relação ainda maior com

o conhecimento diante do recente paradigma produtivo, aumentando em

importância o papel da educação.

Em sua dissertação, apresentada ao programa de pós-graduação em

economia da USP - A relação entre o desempenho escolar e os salários no Brasil,

Andréia Z. Curi destaca a qualidade da educação como um fator importante do

crescimento econômico. Seu estudo revela que o impacto de um aumento na

111 EXAME. O preço da ignorância. Despreparo da mão-de-obra. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.

Page 73: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

64

qualidade do ensino pode ser bem mais significativo que na quantidade. Assim, é

necessário estabelecer parâmetros de qualidade que evitem o desperdício de

recursos em uma formação inócua em larga escala.

Assim, além do indivíduo, a sociedade também é influenciada pela qualidade educacional, em termos de ganhos de produtividade e de crescimento econômico. Hanushek e Kimko (2000), utilizando informações de exames internacionais de matemática e ciências, demonstram que as diferenças na qualidade das escolas têm grandes impactos nas taxas de produtividade e de crescimento nacional. Os autores mostram que a qualidade do ensino tende a ser mais importante para o crescimento e o bem-estar de um país do que a média de anos de estudo da sua população.112

Esta circunstância pede ações adequadas do poder público, que respondam

as demandas prementes do atual quadro. Considerando-se que o país possui tanto

recursos quanto a vontade de investir em educação, falta apenas corresponder a

tais demandas. Uma vez que o atual paradigma apresenta a característica de

constante mudança, os administradores dos recursos públicos precisam aprender a

aprender, de acordo com o modelo recente.

As peculiaridades deste novo paradigma para produção exigem uma

constante adaptação a novos contextos, que surpreendem constantemente. A

flexibilidade precisa acompanhar as políticas públicas à medida que a tecnologia

permeia a sociedade. Tanto os policy makers quanto as próprias políticas públicas

precisam encarnar as condições de constante mudança e aprendizado

características da atual fase.

A introdução do novo paradigma tecno-econômico, com altas e velozes taxas de mudanças, aliada ao processo de globalização, inclui novos elementos à questão da promoção de inovação. Como destacam alguns autores, mudanças vêm ocorrendo rapidamente, e para melhor inserção na Economia Baseada no Aprendizado importa que se estimule este processo. Nesse sentido, é importante reconhecer que também a formulação de políticas deve ser tratada como um processo de aprendizado, pois é necessário que se compreenda e se adapte as políticas a tais mudanças, para estabelecer diretrizes consonantes com os contextos específicos. Para tanto, enfatiza-se a importância do aprendizado também na formulação de políticas, direcionado tanto para as instituições envolvidas, como para os próprios

112 CURI, A. A relação entre o desempenho escolar e os salários no Brasil, 2006: 15.

Page 74: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

65

formuladores de políticas (Lundvall e Borrás, 1998 e Cassiolato e Lastres, 1999).113

O quadro apresentado dá a impressão de um apego do poder público a

velhas formas do fazer das políticas públicas. A idéia perturbadora é a de que

apesar da percepção de um novo mundo brotando aqui e agora, existem dúvidas e

hesitações quanto ao mergulho no atual contexto. As consequências das hesitações

podem ser devastadoras do ponto de vista da obsolescência.

Em um estudo recente a Unesco - Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura - oferece um diagnóstico incisivo da atual situação

brasileira. A defasagem em relação à educação já é grande o bastante para

significar décadas de atraso. Isto indica que, apesar do tema tomar fôlego no

cenário nacional, ainda estamos longe de competir em condições e igualdade com

os países desenvolvidos.

Segundo estudo da Unesco, mantido o passo atual, o Brasil demorará mais de 30 anos para alcançar o nível educacional que as maiores economias têm hoje. (...) "O emprego do século 21 requer habilidades mentais", diz Célio da Cunha, representante da Unesco no Brasil para a área de educação. "Exige raciocínio rápido, capacidade de interpretação e de análise da informação. Atributos que só são adquiridos com ensino de qualidade."114

As atuais circunstâncias do ensino brasileiro vêm chamando a atenção de

diversos especialistas, os quais apontam a urgência do tema. No atual contexto, a

perda de competitividade para o Brasil é iminente. Tais especialistas apontam o

déficit na qualidade da educação como um fator de peso na matemática da

competição nos dias de hoje.

No sobrecitado estudo do Banco Mundial —IOH— tal fator fica ainda mais

claro. Baseados no mesmo, diversos especialistas apontam a condição frágil na qual

se encontra o país, nos termos da competição de modelo recente. Através dos

baixos índices de eficiência da educação no país pode mos concluir que o Brasil

113 LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento, 1999: 140.114 EXAME. O preço da ignorância. O emprego do século 21 requer habilidades mentais. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.

Page 75: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

66

necessita de medidas urgentes que apontem os caminhos para sair deste imbróglio

político-econômico.

"Há muito tempo, sabemos que as deficiências do Brasil na educação afetam a distribuição de renda e o crescimento pessoal dos indivíduos", diz Alberto Rodríguez, especialista em educação do Banco Mundial e coordenador do estudo. "Com a pesquisa, ficou claro que essas deficiências também provocam a perda de competitividade do país em relação a economias com as quais disputa o mercado global."(...) "Não tenho a menor dúvida de que o baixo crescimento do PIB brasileiro nos últimos anos está intimamente associado à baixa qualidade do ensino", diz o economista americano Edward Glaeser, professor da Universidade Harvard e estudioso dos efeitos da educação sobre o desenvolvimento das sociedades. "A educação é um dos motores do crescimento, e no Brasil esse motor funciona mal."115

O texto magistral de Castells demonstra o mesmo erro por parte de diversos

países ao longo da história.116 Perder a corrida tecnológica pode significar

defasagens insuperáveis, capazes de lançar o país em um ostracismo econômico,

como foi o exemplo da china. O fato é que, nas atuais circunstâncias competitivas,

estas condições estão acirradas pela natureza das transformações. Neste sentido,

correr riscos é muito mais uma condição da nova fase que uma escolha.

115 EXAME. O preço da ignorância. Desenvolvimento empresarial passa pela melhora na qualidade da educação. Alexa Salomão. On-line, Postado 27.08.2008.116 CASTELLS, M. A Sociedade em rede, 2005.

Page 76: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Considerações finais

O medo ao qual se refere Castells117 atinge, nesta nova etapa humana, aqueles que

gostariam de projetar longamente a segurança futura, o que não é mais possível. O

atual paradigma valoriza o momento presente, e a capacidade de arriscar lançando-

se no novo. Um mundo de projeções em curto prazo é um mundo de tempos

breves e mudanças rápidas. Este é provavelmente o fator chave que condiciona as

mudanças ao novo ritmo apressado da vida.

Assim, diante da velocidade com a qual se desdobra o tempo, percebemos

que as defasagens se alargam em ritmo apressado, pedindo frequentemente

regime de urgência às soluções. Em tal contexto acelerado, as mudanças seguem o

ritmo do aprendizado, o qual dita a capacidade ou não de participar do atual

contexto. Adaptar-se significa sobrevir, algo que na atual fase relaciona-se ainda

mais a capacidade de aprender. O aprendizado, assim, reconcilia o indivíduo com o

novo, fazendo deste uma fronteira possível, mesmo em constante movimento.

Dessa forma, é preciso estar sempre pronto a mudar. Sobreviver ao invés de

perecer, em tempos de competitividade internacional acirrada, demanda uma base

sobre a qual construir o aprendizado. Navegar sob os ventos tempestuosos das

inovações requer os instrumentos intelectuais majoritariamente calcados na

educação. Aprender a aprender depende de alicerces sólidos, os quais permitam

relaciona-se com o conhecimento. Estes se desenvolvem sob certas condições que

não precedem a velha escola e o velho professor.

Não há portanto uma desconexão, uma pós-modernidade ou ruptura, mas

uma exacerbação de características bastante familiares. 118 A escola ainda é o locus

do conhecimento, e o professor o vetor do mesmo. O ambiente escolar ainda é o

lugar por excelência do aprendizado, pois o mesmo depende de uma dimensão

humana, um espaço da experiência, no qual ele recompõe a informação para

117 Ver introdução. CASTELLS, M. A sociedade em rede, 2005: 47.118 Referência ao capítulo 1.

Page 77: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

68

estabelecer conhecimento. Considerando que são os indivíduos que operam as

instituições, a educação dos mesmos é um fator fundamental do aprendizado.

Assim, adaptar-se ao atual contexto, falando de empresas indivíduos e países,

requer a capacidade de aprender.

Tanto quanto a educação avançada, o conhecimento básico sustenta o

esforço de inovação. É ele o responsável pela disseminação dos saberes essenciais

a disseminação do atual modelo. Assim, sobre tais saberes é possível erigir o

conhecimento de ponta, tecnologicamente afinado, e voltado a aplicações

sofisticadas. Sem uma boa base, a inovação não se sustenta.

Diante das pressões competitivas atuais, o tempo corre contra as indecisões

e hesitações. É preciso, portanto, mergulhar nas tempestades dos novos tempos,

para aprender a nadar. Sabe-se que o Brasil vem há muito tempo atentando para a

importância dos investimentos educacionais na área produtiva, mas a mudança das

marés econômicas, ainda assim, pegou o nosso sistema educacional despreparado.

No fim do último milênio, as exigências recaíram na formação de condições

básicas, necessárias a construção de saberes mais sofisticados. Tais saberes são

renovados sistematicamente, colocando a questão do ensino de base como uma

das poucas constantes no presente contexto. No Brasil este fator esbarra no

problema da proficiência no aprendizado. Verifica-se uma expansão significativa no

número de matrículas no ensino fundamental, a ponto de incluir quase a totalidade

de indivíduos em idade correspondente, mas ainda assim o problema persiste. Os

portadores destas certificações parecem não possuir as qualificações

correspondentes, fator chave da perpetração das carências por mão-de-obra.

Desta forma, o Estado brasileiro vem esboçando uma preocupação

significativa com o tema, mas ainda não é capaz de articular as medidas que

constituam soluções dos problemas. O ensino hoje é deficitário a ponto de significar

uma real perda de competitividade em diversas áreas da produção. O que se

verifica é que para sobreviver num ambiente internacional extremamente

competitivo, as empresas têm de qualificar elas mesmas sua mão de obra. Tal fator

Page 78: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

69

diminui o desempenho, por consumir tempo e recursos que poderiam de outra

forma, estar mais bem investidos.

O papel da iniciativa privada não é definitivamente o de educar. A esfera

pública é a única que dispõe dos meios para administrar um projeto de tamanha

magnitude; equilibrar as chances de acesso a educação de qualidade. Assim,

equalizar as oportunidades educacionais é algo fundamental para a competitividade

no país. Não há lugar no mundo onde promover o desempenho econômico não

tenha passado por políticas educacionais contundentes, universais e de alta

qualidade. Do empenho governamental depende a solução deste impasse político-

econômico, sem o que podemos sufocar em curto prazo a trajetória de crescimento

econômico para o Brasil.

Page 79: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARONE, Rosa E. M. e APRILE, Maria R. Empresa: um espaço para a educação formal, 2005. http://200.169.97.103/seer/index.php/RBGN/article/viewFile/29/27acesso em 12/03/2008.

______ Educação e políticas públicas: questões para o debate, 2002. http://www.senac.br/BTS/263/boltec263a.htm acesso em 12/12/2006.

BARROS, Ricardo Paes de; HENRIQUES, Ricardo e MENDONÇA, Rosane. Pelo fim das décadas perdidas: educação e desenvolvimento sustentado no Brasil. Texto para discussão n. 857, Ipea, 2002. http://www.ipea.gov.br/pub/td/2002/td_0857.pdf acesso em 24/03/2007.

______ MENDONÇA, Rosane; DOS SANTOS, Daniel D. et al. Determinantes do desempenho educacional no Brasil, 2001. http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/159/94 acesso em 24/03/2007.

______ e MENDONÇA, Rosane. Os Determinantes da Desigualdade no Brasil, 1995.http://www.ipea.gov.br/pub/td/td_377.pdf acesso em 21/03/2007.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony e LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997.

CASSIOLATO, José Eduardo. A economia do conhecimento e as novas políticas industriais e tecnológicas. In: LASTRES, Helena M. M. e ALBAGLI, Sarita (orgs.) Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999:164-190.

CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Vol. 1 - A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 8 ed., 2005.

______ A economia informacional, a nova divisão internacional do trabalho e o projeto socialista. Publicado originalmente na revista El Socialismo del Futuro, n. 4, 1991. Madri. http://www.cadernocrh.ufba.br/include/getdoc.php?id=1276&article=355&mode=pdf acesso em 06/04/08.

CASTRO, Nivalde J. ROSENTAL, Rubens e ARAÚJO, Viviane. Educação à distância e a construção de competências: desafios na cultura corporativa. Bol. Téc. Senac, Rio de Janeiro, 2007. http://www.senac.br/BTS/333/artigo-3.pdf acesso em 16/05/08.

CURI, Andréa Zaituni. A relação entre o desempenho escolar e os salários no Brasil. Dissertação de mestrado USP, São Paulo, 2006. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12138/tde-10122006-184214/publico/Dissertacao_Andrea_Curi.pdf acesso em 30/09/07.

DE PAULA, João Antônio. Limites do Desenvolvimento Científico e Tecnológico no Brasil. Revista de Economia Política, vol. 19, n 2 (74), abril-junho/1999, pp. 5-24. http://www.rep.org.br/pdf/74-1.pdf acesso em 15/12/2007.

DELUIZ, Neise. A globalização econômica e os desafios à formação profissional. Bol. Téc. Senac, Rio de Janeiro, 2001. http://www.senac.br/BTS/303/boltec303f.htm acesso em 16/05/2008.

DEMO, Pedro. Educação e Desenvolvimento: Análise Crítica de uma Relação Quase Sempre Fantasiosa. Boletim técnico do SENAC, 1(25) - Janeiro/Abril 1999. http://www.senac.br/informativo/BTS/251/boltec251b.htm acesso em 27/12/2007.

Page 80: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

71

FUKUYAMA, Francis. The end of history? The national interest magazine. Summer, 1989. http://www.wesjones.com/eoh.htm acesso em 12/12/2008.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.

GOUVÊA, Gilda F. P. Um salto para o presente: a educação básica no Brasil. São Paulo em Perspectiva. n. 1 (14), p. 12-21, 2000. http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n1/9798.pdf acesso em 15/10/2008.

HONDA, Kátia Morinaga. Um Estudo Sobre os Determinantes do Atraso Escolar. Dissertação de mestrado USP, Ribeirão Preto, 2007. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/96/96131/tde-24082007-094357/publico/KatiaMorinagaHonda.pdf acesso em 30/09/07.

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2007.

IANNI, Octavio. Globalização: novo paradigma das ciências sociais. Estud. Av., may/aug. 1994, vol.8, no. 21, p.147-163. http://www.scielo.br/pdf/ea/v8n21/09.pdf acesso em 16/05/2008.

JASMIN, Marcelo G. e FERES JR., João. História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2006.

KUENZER, Acácia Zeneida; ABREU, Claudia Barcelos de Moura e GOMES, Cristiano Mauro Assis. A articulação entre conhecimento tácito e inovação tecnológica: a função mediadora da educação. Rev. Bras. Educ., set./dez. 2007, vol.12, n. 36, p.462-473. http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v12n36/a06v1236.pdf acesso em 15/08/2008.

LASTRES, Helena M. M. Ciência e tecnologia na era do conhecimento: um óbvio papel estratégico? Revista Parcerias Estratégicas - número 9 - Outubro/2000. http://www.geocities.com/gorghp/helenalastres.pdf acesso em 12/03/2008.

______ e ALBAGLI, Sarita (orgs.) Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

______ e FERRAZ, João C. Economia da Informação, do Conhecimento e do Aprendizado. In: LASTRES, Helena M. M. e ALBAGLI, Sarita (orgs.) Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999:27-57.

______ Redes de inovação e as tendências internacionais da nova estratégia competitiva industrial. Ciência da Informação – vol. 24, n. 1, 1995. http://www.ibict.br/cienciadainformacao/include/getdoc.php?id=942&article=589&mode=pdf acesso em 29/03/2008.

LEHER, Roberto. Educação em Tempos Desiguais: A Reconstrução da Problemática Trabalho-Educação. http://www.ced.ufsc.br/gtteanped/19ra/GT09/TRABALHO/leher.pdf acesso em 26.09.2007.

LEMOS, Cristina. Inovação na Era do Conhecimento. In: LASTRES, Helena M. M. e ALBAGLI, Sarita (orgs.) Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999:122-144.

LUNDVALL, Bengt-Ake. Políticas de Inovação na Economia do Aprendizado. Parcerias Estratégicas n. 10 março 2001: 200-218. http://ftp.unb.br/pub/unb/ipr/rel/parcerias/2001/2615.pdf acesso em 10/11/2007.

LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2006.

MENDONÇA, Rosane Silva Pinto de. A Oportunidade Imperdível: Expansão Educacional e Desenvolvimento Humano no Brasil. Tese de doutorado, Instituto de Economia UFRJ, Rio de Janeiro, 2000.

Page 81: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

72

MENEZES-FILHO, Naercio A. A Evolução da Educação no Brasil e seu Impacto no Mercado de Trabalho, 2001. http://ifb.com.br/arquivos/artigo_naercio.pdf acesso em 16/05/2008.

NERI, Marcelo. O combate à pobreza tem de ser duradouro: Recursos existem falta qualidade. Revista Conjuntura Econômica, 2001. http://www.fgv.br/ibre/cps/artigos/Conjuntura/2001/O%20Combate%20%C3%A0%20Pobreza%20tem%20de%20ser%20duradouro_Recursos%20existem,%20falta%20qualidade.pdf acesso em 15/03/2007.

ORWELL, George. 1984 - mil novecentos e oitenta e quatro. Compania Nacional,2004.

PASSOS, Carlos Artur K. Novos Modelos de Gestão e as Informações. In: LASTRES, Helena M. M. e ALBAGLI, Sarita (orgs.) Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1999: 58-83.

POLANYI, Michael. The Tacit Dimension. London: Routledge and Kegan Paul, 1966.

RODRIGUES, Ana S. D. Ensaio sobre a literatura de análise dos efeitos da educação no crescimento econômico. Gestão e Desenvolvimento, n 12, 2004: 199-218. http://www4.crb.ucp.pt/Biblioteca/GestaoDesenv/GD12/gestaodesenvolvimento12_199.pdf acesso em 02/03/2008.

SALM, Cláudio e FOGAÇA, Azuete. Tecnologia, Emprego e Qualificação: Algumas Lições do Século XIX. Revista de Economia Contemporânea Nº 4 Jul – Dez de 1998. http://www.ie.ufrj.br/revista/pdfs/tecnologia_emprego_e_qualificacao_algumas_licoes_do_seculo_xix.pdf acesso em 03/07/2007.

SANTOS, Boaventura de Souza. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2006.

SCHWARTZMAN, Simon. Redução da desigualdade, da pobreza, e os programas de transferência de renda. IETS – Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, 2006. http://www.schwartzman.org.br/simon/2006_desig.pdf acesso em 18/05/2007.

______ A sociedade do conhecimento e a educação tecnológica. IETS – Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, 2005. http://portal.crie.coppe.ufrj.br/portal/data/documents/storedDocuments/%7B93787CAE-E94C-45C7-992B-9403F6F40836%7D/%7B20E1E826-1879-42B2-99E3-CF29F6AC5D51%7D/Sociedade_Conhecimento_Educacao_Tecnologica.pdf acesso em 18/11/2008.

______ Educação: a nova geração de reformas. In: GIAMBIAGI, Fábio; REIS, José Guilherme e URANI, André (orgs.), Reformas no Brasil: Balanço e Agenda. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2004: 481-504.

______ A agenda social brasileira. In: REIS, Elisa P. e ZILBERMAN, Regina (orgs.), Retratos do Brasil. Porto Alegre, Editora da PUC - RS, 2004.

______ Educação Básica no Brasil: a agenda da modernidade. Estud. Av. 13(5),Dec. 1991. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141991000300003&script=sci_arttext&tlng=pt acesso em 13/01/2007.

SEGNINI, Liliana R. P. Educação e Trabalho: Uma relação tão necessária quanto insuficiente. São Paulo em perspectiva 14(2), 2000. http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9791.pdf acesso em 15/06/2007.

SETZER, Valdemar W. Dado, Informação, Conhecimento e Competência. USP -Depto. de Ciência da Computação, 2001. http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/dado-info.html acesso em 07/08/2007.

SINGER, Paul. Poder, Política e Educação. Conferência de abertura da XVIII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, outubro de 1995.

Page 82: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

73

http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE01/RBDE01_03_PAUL_SINGER.pdf acesso em 26/09/2007.

SOARES, Sergei e LIMA, Adriana Fernandes. A mensuração da educação nas Pnads da década de 1990. Ipea, texto para discussão 928. Rio de Janeiro, 2002. http://www.ipea.gov.br/pub/td/2002/td_0928.pdf acesso em 01/03/2008.

STEINER, João E. Conhecimento: gargalos para um Brasil no futuro. Estudos avançados 20 (56), 2006. http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n56/28628.pdf acesso em 01/07/2007.

TILLY, Charles. O acesso desigual ao conhecimento científico. Tempo Social, revista de sociologia da USP. v 18, n 2, novembro 2006: 47-63. http://www.scielo.br/pdf/ts/v18n12/a03v18n2.pdf acesso em 30/05/07.

TUMOLO, Paulo Sergio. Reestruturação produtiva no Brasil: um balanço crítico introdutório da produção bibliográfica. Educação & Sociedade n. 77, Dezembro 2001:71-99. http://www.scielo.br/pdf/es/v22n77/7046.pdf acesso em 05/07/2007.

VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. Hiper-realidade ou hipoteoria? A reflexão dos cientistas sociais sobre política social no Brasil de hoje. In: OLIVEIRA, Fátima Bayma de (Org.) Política de gestão pública integrada. Rio de Janeiro: FAPERJ FGV, 2008: 63-71.

______ Política versus economia: notas (menos pessimistas) sobre globalização e Estado de bem-estar. In: GERSCHMAN, Silvia e VIANNA, Maria Lucia T. Werneck (Orgs.). A miragem da pós-modernidade: democracia e políticas sociais no contexto da globalização. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1997: 155-175.

Imprensa

BBC Brasil.com - Brasil fica pior que AL em ranking de chances na escola. On-line, postado 02/10/2008. http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081002_brasil_ioh_pu.shtml acesso em 02.10.2008.

ÉPOCA. No sexto ano da escola, eles escrevem assim. Texto: Ana Aranha e Martha Mendonça. p 60, 23 março de 2009.

EXAME. O preço da ignorância. Texto: Alexa Salomão. On-line, postado 27.08.2008 http://educarparacrescer.abril.uol.com.br/indicadores/materias_297806.shtml acesso em 27.08.2008.

JORNAL DO BRASIL-JB. Na sexta série, mas quase analfabeto. Texto: Carlos Braga. Caderno cidade, 1 de abril de 2009.

O GLOBO Online. Íntegra do discurso de Lula na cerimônia de lançamento do PAC da educação. Postado 24.04.2007 às 14h06m. http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2007/04/24/295483337.asp acesso em 24/04/2007.

O Globo Online. Ensino básico ainda é maior desafio do MEC, diz presidente do todos pela educação. Postado 23.09.2008 às 20h06mhttp://oglobo.globo.com/educacao/mat/2008/09/23/ensino_basico_ainda_maior_desafio_do_mec_diz_presidente_do_todos_pela_educacao-548348560.asp acesso em 23/09/2007.

O GLOBO Online. Governo lança o PDE. Postado 24.04.2007. http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2007/04/24/295483337.asp acesso em 24/04/2007.

Documentos

Page 83: DÉFICIT NA EDUCAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO …objdig.ufrj.br/34/teses/SalvatoreBarretoBenvenuto.pdf · INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

74

IOH – Banco Mundial – Midiendo la Desigualdad de Oportunidades en América Latina y el Caribe. Ricardo Paes de Barros, Francisco H. G. Ferreira, Jose R. MolinasVega y Jaime Saavedra Chanduvi, 2008. http://siteresources.worldbank.org/LACINSPANISHEXT/Resources/Book_IOH_Ligth.pdf acesso em 18.10.2008.

SAEB - PRIMEIROS RESULTADOS: Médias de desempenho do SAEB/2005 emperspectiva comparada, Fevereiro de 2007.http://www.inep.gov.br/download/saeb/2005/SAEB1995_2005.pdf acesso em 13.02.2007.

Movimentos sociais pela educação

Educarparacrescer.

http://educarparacrescer.abril.uol.com.br/institucional/iniciativa.shtml

Movimento educacionista.

http://www.educacao-ja.org.br/

Todos pela educação. http://www.todospelaeducacao.org.br/Arquivos/DeOlho/Projetos_governanca_estatuto.pdf