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Ana Paula Assunção Rodrigues

Dicas de portugues

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Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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A autora Ana Paula Assunção Rodrigues é servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos em gabinete. Graduada pela UnB em Letras e pós-graduada em Produção Textual, lecionou no Ensino Médio e em cursinho pré-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redação e Língua Inglesa.

Sumário Dica 1 - Estilo de Redação ......................................................................................................... 2

Dica 2 - Pronome Demonstrativo .............................................................................................. 4

Dica 3 - Registro de data e hora ................................................................................................ 7

Dica 4 - Uso dos "porquês"........................................................................................................ 9

Dica 5 - O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa .................................................... 11

Dica 6 - Uso correto de expressões latinas ............................................................................. 15

Dica 7 - Uso do "Se" ................................................................................................................. 20

Dica 8 - Uso de "não há falar", "o mesmo" e "verso" ............................................................ 25

Dica 9 - Estética Textual e Vícios de Linguagem ...................................................................... 29

Dica 10 - Uso do acento grave - CRASE ................................................................................... 35

Dica 11 - Neologismo .............................................................................................................. 42

Dica 12 - Uso da vírgula - parte I ............................................................................................. 50

Dica 13 - Uso da vírgula - parte II ............................................................................................ 55

Dica 14 - Uso de "cujo" ............................................................................................................ 58

Dica 15 - Uso de verbos abundantes e da expressão "daqui a" .............................................. 62

Dica 16 - Uso do infinitivo ....................................................................................................... 66

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Dica 1 - Estilo de Redação Escrito por Ana Paula Rodrigues

‘’(...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. O estilo pode ser muito claro e muito alto. Tão claro que o entendam os que não sabem. E tão alto que tenham muito que entender nele os que sabem[...] O discurso, para ser claro, não precisa ser raso, como os regatos; a profundidade nem sempre faz turvas as águas (...)’’

Padre Antônio Vieira

Sermão da Sexagésima Pregado na Capela Real, no ano de 1655 PEIXOTO, Afrânio. Os Melhores Sermões de Vieira. Rio de Janeiro: Ed. Americana, 1931.

‘’(...) – Mas que significa isso? - perguntou o moço insatisfeito - Não entendi nada. – Nem eu - respondeu a moça - mas os contos devem ser contados e não entendidos; exatamente como a vida.’’

Carlos Drummond de Andrade

ANDRADE, Carlos Drummond de. O Entendimento dos Contos, in: Contos Plausíveis. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1985.

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Nossos mais ilustres autores servem de base para estudos linguísticos de toda ordem, desde as mais corriqueiras lições de gramática até as lições de estilo. Mas os recados transmitidos pelos dois autores citados diferem entre si, concordam? Bem, para começo de conversa, os textos literários propriamente – fictícios – vivem num mundo muito maior que o dos textos técnicos. Aqueles alcançam uma linguagem universal e atemporal, falam diretamente às emoções comuns a todos nós, seres humanos. É por isso que costumamos afirmar que Shakespeare é eterno, que Homero fala a nossa língua e que Machado de Assis é atualíssimo. Eles têm, também, a chamada licença poética, o que permite aos artistas transgredir regras gramaticais em nome da criatividade, do estilo pessoal. Drummond transmite o recado de absorver o hermetismo do conto como se vive a vida, ao invés de se tentar explicar e racionalizar sua poesia, o que a destruiria. Apesar de haver uma linha interpretativa, a hermenêutica, que estuda os textos literários como se fossem uma equação matemática... mas ai já é outro assunto. Já as palavras de Padre Antônio Vieira – que tinha habilidade rara com elas - trazem grande lição de estilo, atual e útil a nós no âmbito do TRT, pois tratam da clareza no ato de escrever aplicável ao texto em prosa não fictício, ao texto técnico. Tendo em mente essa distinção – e dela advêm inúmeros desdobramentos na pontuação, concordância etc – vamos nos concentrar no estilo de redação de textos oficiais e jurídicos. Aqui, temos de fazer nossos textos explicáveis e acessíveis ao jurisdicionado. Por mais hermético que seja um tema, pode ser traduzido em palavras que o mais comum dos leitores compreenda. Então, sabedores de que nosso estilo de trabalho não permite licenças poéticas, vamos às dicas:

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Concisão

No lugar de:

“neste momento nós acreditamos”, diga “acreditamos”; “Travar uma discussão”, escreva “discutir”; “ato de natureza hostil”, → “ato hostil”; “decisão tomada no âmbito da diretoria”, → “decisão da diretoria”; “fazer uma viagem” coloque “viajar”; “pôr as ideias em ordem”, → “ordenar as ideias”.

Diga o que é, não o que não é

“Ele não assiste regularmente às aulas.” troque por “Ele falta com frequência às aulas.”

voz ativa deixa o texto atraente, vigoroso, enquanto a passiva o deixa mole, sem graça:

“Os alunos fizeram a redação” é melhor que “A redação foi feita pelos alunos.”

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A frase:

“Na câmara dos deputados, os parlamentares discutiram em sessão. Tornaram públicas suas desavenças” é melhor que “Na câmara dos deputados, os parlamentares discutiram em plenário tornando públicas suas desavenças”.

Leia as duas frases em voz alta. Depois, escolha a que soa melhor:

“Fui à livraria e comprei os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professor do curso e a gramática.”

“Fui à livraria e comprei a gramática e os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professor do curso.”

A segunda frase agrada mais, concorda? Pela seguinte razão: o termo mais curto ficou na frente do mais longo. Quando o verbo tiver mais de um objeto, direto ou indireto, ponha o mais curto na frente.

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Dica 2 - Pronome Demonstrativo Escrito por Ana Paula Rodrigues

Século XVI, Japão feudal, samurais. Família Ichimongi, com o patriarca Hidetora ao centro, seus três filhos, o bobo da corte. Famílias rivais prestes a selar amizade após anos de intriga. Essa é a segunda cena do brilhante filme RAN, 1985, de Akira Kurosawa, consagrado diretor japonês. Ultrapassada a barreira da nossa ansiedade ocidental, podemos nos deixar enlevar ao ritmo das nuvens do céu do Japão, que acompanham as cenas como se observassem os acontecimentos humanos. Aproximadamente à 1 hora e 53 minutos do filme, temos o diálogo entre os irmãos Sue e Tsurumaru:

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Passadas 2 horas e 3 minutos do filme, ouvimos:

Incitados pelas frases extraídas de RAN - palavra que, a propósito, significa conflito, algo com o que todos os que lidam com processo no TRT estão habituados – vamos a alguns esclarecimentos sobre pronomes demonstrativos.

Concebe-se o uso do pronome demonstrativo a partir do ponto central de orientação do sujeito falante, que é o referencial, e tem o propósito de expressar tempo, espaço, posição no texto (sobre o que ou quem se trata) para a mensagem ser transmitida com exatidão.

1) Critério espacial:

a) este(s), esta(s), isto: referem-se à primeira pessoa gramatical, indicam que o objeto está perto da pessoa que fala (aqui).

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Exemplo: Este livro em meu colo é ótimo;

b) esse(s), essa(s), isso: referem-se à segunda pessoa gramatical, indicam que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (aí).

Exemplo: Esse livro na sua mão é bom?

OBSERVAÇÃO: O objeto pode até estar perto de mim, mas a frase se refere ao meu ouvinte. Imaginem a cena: estou vendo um livro nas mãos de um amigo, me aproximo, pego o livro também, sem tirá-lo das mãos dele e pergunto: Onde você comprou esse livro?

c) aquele(s), aquela(s), aquilo (lá, aí): referem-se à terceira pessoa gramatical, indicam que o objeto está distante do falante e do ouvinte.

Exemplo: Você viu aquela livraria nova na outra comercial?

2) Critério temporal:

a) este(s), esta(s), isto: tempo presente.

Exemplo: Esta semana, este mês (outubro), este ano (2012).

b) esse(s), essa(s), isso: tempo passado recente ou futuro próximo.

Exemplos: • Conheci você em 2008. Nesse tempo, você ainda não tinha filhos; • Esse ano de 2013 será ótimo!

c) aquele(s), aquela(s), aquilo: tempo passado, bem distante, vago, remoto. Exemplo: Bons tempos aqueles da minha juventude!

3) Critério da posição no texto ou critério cognoscitivo:

a) este(s), esta(s), isto: emprego catafórico – indica que a frase será pronunciada, o pronome se refere àquilo que aparecerá no texto, após o pronome; chama

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atenção sobre o que vamos dizer.

Exemplo: A Escola Judicial publicou esta frase: “Terceira turma do curso de português jurídico a distância tem início dia 10”

b) esse(s), essa(s) isso: emprego anafórico – indica que a frase foi pronunciada, está sendo retomada, o pronome se refere àquilo que já apareceu no texto.

Exemplo: “Terceira turma do curso de português jurídico a distância tem início dia 10”, essa frase foi publicada pela Escola Judicial.

É empregado, também, quando nos referimos ao que foi dito por nosso interlocutor.

Exemplo : - Você não dormiu bem, aceita um café para despertar?

- Já tentei isso.

4) Critério distributivo:

Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos já mencionados, servimo-nos dos demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo para o referido primeiro lugar e dos este(s), esta(s), isto para o que foi nomeado por último.

Exemplo: A pressa é inimiga da perfeição, esta não admite aquela.

Trailler do filme RAN – 1985 –

http://ead.trt10.jus.br/ran/

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‘’Não posso ficar Nem mais um minuto com você Sinto muito amor Mas não pode ser. Moro em Jaçanã, Se eu perder esse trem, Que sai agora às onze horas, Só amanhã de manhã.’’

Adoniran Barbosa

Trecho do samba “Trem da Onze”

Clique aqui para ouvir a versão completa

O fragmento do clássico samba vem ilustrar o formato por extenso da notação de horas, redigido assim porque será cantado sem abreviação. Trata-se de texto poético, de letra de música que será entoada tal como escrita. Para nós aqui no TRT esse formato não é possível. Devemos usar a norma culta aplicada aos textos oficiais. Vejamos, então, como deve ser:

a) Não se escreve no formato de relógio digital, portanto, 08:00 é errado!

b) A representação de horas é “sem nada” - sem dois pontos, sem ponto, sem plural, sem espaço, sem maiúsculas;

Dica 3 - Registro de data e hora Escrito por Ana Paula Rodrigues

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c) Somente escreveremos o símbolo de minutos (min) caso haja segundos; os segundos não precisam ser denotados por símbolo, pois já estão implícitos e sempre optaremos pela forma mais econômica nas redações; Exemplo: 14h, 14h30, 14h30min40.

d) Para jornada de horas permanece o numeral em algarismo arábico, mas os termos “horas”, “minutos” e “segundos” vêm por extenso. Exemplo: O reclamante trabalhava 8 horas por dia; a autora usufruiu de apenas 1 hora de intervalo.

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Mais dicas:

a) Nas assinaturas dos documentos é preciso registrar por extenso o mês, com o nome da localidade: Exemplo: Brasília, 5 de maio de 2010.

b) O primeiro dia sempre se escreve em numeral ordinal: Exemplo: 1º .5.2010.

c) O ano se apresenta com os quatro algarismos sem ponto: Exemplo: 2010.

d) Dispense os substantivos dia, mês e ano: Exemplo: em 12 de fevereiro de 1999. e não no dia 12 do mês de fevereiro do ano de 1999.

e) Para citação de lei, recomendável que seja aposta a data da sua criação na primeira vez em que aparecer no texto, no formato sucinto: Exemplo: 5/5/2010.

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Porque - Conjunção explicativa ou causal

Usa-se em resposta ou indicação de causa.

Exemplos:

Ele se sente cansado porque o clima está muito seco. Abandonou o curso porque, tendo de cuidar dos filhos à noite e

trabalhar de manhã, sentiu-se no limite. Por que foram a juízo? Porque estavam cheios de razão. Ela sabe a razão da queda dos juros, porque além do cargo detém

outros poderes. Porque trabalhamos em sala fechada, nem sempre percebemos a

mudança no clima. Não foi à palestra porque não se sentia bem.

Dica 4 - Uso dos "porquês" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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Por que - Preposição + pronome interrogativo ou relativo

Usa-se em oração interrogativa direta (com ponto de interrogação grafado) e também na indireta (sem grafia da interrogação, esconde as palavras "razão", "motivo" ou "causa").

Quando usar:

a) em perguntas diretas e indiretas:

Exemplos: Por que você não veio? Você ainda não me contou por que não veio.

b) em frases afirmativas/negativas e exclamativas:

Exemplos: Vamos verificar por que os processos estão se acumulando nesse setor.

Sinceramente, não sei por que ela não veio.

c) em títulos de obras/artigos:

Exemplo: POR QUE PRATICAR ATIVIDADE FÍSICA [título de artigo]

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Por quê / Quê

O “que“ passa a ser tônico em final de frase. Fica acentuado antes de pausa forte, do ponto de interrogação, exclamação ou final.

Exemplos:

Agradecida. – Não há de quê. O professor marcou novos testes, ninguém sabe por quê. Quem foi ao show adorou. Você quer saber por quê? Tanta correria para quê?! Você é especial, sabe por quê? Qual o quê! É a mais pura especulação.

Porquê - Substantivo masculino

Usa-se precedido de artigo, numeral ou pronome.

Exemplos:

Não entendo o porquê de tudo isso. Ah, se todos os nossos porquês tivessem resposta! Certos porquês não convencem o juiz.

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Alguns porquês da humanidade

"Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e formação de caráter".

Essa frase foi dita por Carl Sagan em um interessante documentário intitulado Um pálido ponto azul. Clique no link abaixo para assistir:

"Um pálido ponto azul" - Carl Sagan

http://ead.trt10.jus.br/carlsagan

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‘’Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura. Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!’’

Olavo Bilac

BILAC, Olavo. Língua portuguesa. In: Poesias. 29. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. p. 268.

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa está em vigor desde 1º/1/2009 e o período de transição para implementação definitiva se encerrará no final de 2012 aqui no Brasil, país que terá o dicionário menos modificado dentre todos os envolvidos.

Dica 5 - O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Escrito por Ana Paula Rodrigues

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A explicação mais usual para o Novo Acordo é que simplesmente se quer unificar a Língua Portuguesa entre os 8 países que a adotam como oficial... mas, por quê? Se a língua é a expressão cultural de identidade de cada povo por excelência,

patrimônio de cada um de nós e, como um organismo vivo, se modifica ao longo do tempo conforme influências e premências diversas, como se pode unificá-la e impor mudanças aos seus falantes naturais? Bem, da mesma forma com que a norma culta é imposta para que se possa escrever de modo inteligível a todos, restringindo coloquialismos, regionalismos e variantes que poderiam atrapalhar a comunicação em larga escala, o Novo Acordo veio para que os 8 países tenham maior integração entre si e mais expressividade no cenário mundial. Entretanto, há mais razões nem tão simples assim que gostaria de lhes contar:

Razões Políticas

A língua é instrumento de poder. Em toda dominação de povos na história da humanidade a língua foi usada para aculturar os nativos ao levar paradigmas diferentes, visão de mundo, valores, todo um universo cultural que subjuga e aos poucos substitui a cultura local. O nosso “português brasileiro” está sendo privilegiado nessa reforma: apenas 0,5% do idioma será modificado aqui, enquanto em Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e no Timor-Leste, 1,6%, com alterações que tornarão a Língua Portuguesa mais brasileira que nunca. Em 1975, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, do qual recebemos gratidão. Todos os países africanos ex-colônias guardam mágoas e ressentimentos de Portugal pela colonização exploratória e discriminatória de mais de 4 séculos de duração. O Brasil é para eles o grande irmão com quem

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simpatizam, a quem admiram em variados aspectos e são agradecidos por atitudes de aproximação recentes. O movimento imigratório para cá é crescente desde 2010, pessoas de diversas nações estão vindo, como se estivesse havendo uma nova descoberta do Brasil. Com a unificação linguística alcançaremos maior representatividade e prestígio em grandes fóruns internacionais. Na ONU, por exemplo, somente a partir de 2008 começou a haver tradução simultânea e possibilidade do Português ser utilizado nas intervenções de abertura e debate geral, apesar de contar com mais de 200 milhões de falantes no planeta, ser a 3ª língua ocidental e 5ª mais falada no mundo e, ainda, ocupar a 4ª posição dos idiomas mais usados na internet.

Razões Econômicas

O mercado editorial se ampliará e o lucro será maior ao se poder publicar uma mesma obra nos 8 países, uma vez que a Língua será una e facilitará divulgação do idioma e respectiva literatura O lobby das editoras, especialmente das brasileiras, tem forte peso para a implementação deste Novo Acordo, que é visto como um tratado facilitador da penetração no mercado africano a ameaçar o das editoras portuguesas naquele continente. No cenário mundial contemporâneo, estamos em destaque economicamente em comparação com Portugal, que vivencia profundamente a crise na Europa. Somos o principal exportador dentre os países lusófonos. O acordo ampliará cooperação internacional entre os 8 países, facilitará intercâmbio cultural e científico entre as nações. Todos esses fatores citados compõem um pano de fundo em que se pode vislumbrar que não se trata de um simples novo conjunto de “regras de Português” que teremos que decorar, é antes um acordo político que linguístico. A revolta em Portugal é muito grande, a reforma nem sequer tem data para entrar em vigor, é chamada de traidora da Pátria. Fala-se em inversão poética da colonização, que a Língua não evolui por decreto e está sendo descaracterizada.

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Há quem lamente que Portugal errou ao deixar um “filho” enorme como o Brasil e não umas vinte repúblicas pequeninas, todas menores que o reino-mãe! Além das questões linguísticas complexas, tem-se um misto de sentimento colonialista transformado em subjugo e abandono, ao invés de cooperação e cultura. Não se pode negar, ademais, que os portugueses demonstram um sentimento protetor e patriótico muito grande e aparentemente maior que o dos brasileiros, a julgar pelo inconformismo, enquanto aqui se observa a simples e pura aceitação das mudanças impostas, que, ainda que mais favoráveis, também são contra a ordem natural das coisas, afinal, já disse Fernando Pessoa, “minha pátria é a Língua Portuguesa”!

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Acredito que, melhor do que dispor neste espaço lista de vocábulos cuja ortografia foi alterada ou mesmo destacar principais mudanças constantes do Novo Acordo - material em profusão em vários meios de comunicação e objeto dos cursos e manuais da Escola Judicial, é fornecer 3 fontes de consulta pela internet bastante úteis:

Novo Acordo Ortográfico na íntegra;

VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, fornecido pela Academia Brasileira de Letras, já devidamente adaptado;

Conversor Ortográfico - converte o vocábulo da escrita anterior para a nova!

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As músicas sugeridas têm letras muito educativas e plenas de significado. “Pindorama”, da dupla Palavra Cantada, é voltada para as crianças, enquanto “Língua”, de Caetano Veloso, é cheia de referências a obras e artistas da Língua Portuguesa:

"Pindorama" "Língua" - de Caetano Veloso

http://ead.trt10.jus.br/pindorama http://ead.trt10.jus.br/lingua

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Se há uma dica de Português infalível para se escrever bem é esta: leia bons livros. Mais do que tentar decorar as regras gramaticais, ler livros bem escritos nos permite memorizar a ortografia correta, a sintaxe perfeita, o uso adequado de expressões diversas, o estilo de que gostamos. A intuição linguística vem a se desenvolver num patamar mais acurado de competências que permitem ao falante se expressar melhor e redigir com assertividade.

Os textos de Machado de Assis são muito bem cuidados, apresentam linguagem culta, clássica e acadêmica, tudo conforme regras de correção gramatical; por tudo isso, servem muito bem ao propósito do estudo da norma.

Veja no texto de "O Alienista" exemplo de bom uso da expressão plus ultra:

Dica 6 - Uso correto de expressões latinas Escrito por Ana Paula Rodrigues

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MOON, Fábio e BÁ, Gabriel. O Alienista de Machado de Assis: adaptação de Fábio Moon e Gabriel Bá. Coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel. Rio de Janeiro: Agir, 2007.

A seguir, lista de palavras e expressões por vezes usadas

equivocadamente e seu correto significado:

A cerca de / Acerca de / Há cerca de / Cerca de

A cerca de – distância aproximada, tempo futuro aproximado. Acerca de – sobre, a respeito de. Há cerca de – indica tempo transcorrido, “faz aproximadamente”. Cerca de – aproximadamente.

Aferir / Auferir

Eis que

Não usar no sentido de causa. Empregar somente no sentido de “de repente”.

Face a face / Frente a frente

Nenhuma expressão composta de palavras repetidas tem acento grave. Nada de crase.

Grosso modo / A grosso modo

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Aferir – avaliar, cotejar, medir, conferir. Auferir - obter, receber.

A fim / Afim

A fim – para, com o objetivo de, finalidade. Afim - tem afinidade, semelhança.

À medida que / Na medida em que

À medida que – à proporção que, ao passo que, conforme. Nunca usar no sentido de causa. Na medida em que – uma vez que, tendo em vista, pelo fato de que. Traz ideia de causa.

A nível de / Ao nível de / Em nível de

A nível de – não existe. Ao nível de – à altura de. Em nível de – nessa instância, no âmbito de. Geralmente dispensável, pode-se cortar da frase sem perda de sentido.

A par / Ao par

A par – ciente, informado, inteirado, por dentro do assunto. Ao par – emparelhado, caminhar lado a lado.

Apud

Apud - Junto de.

A princípio / Em princípio

Grosso modo – de modo grosseiro, aproximado, impreciso; A grosso modo – não existe.

Há / A / Há muito tempo atrás

Há – diz respeito a tempo passado: trabalho aqui há anos; A – no sentido de tempo, refere-se a futuro: daqui a 10 anos me aposentarei; Há muito tempo atrás – pleonasmo, não usar.

Isto posto / Isso posto / Posto isso

Isto posto – “isto” refere-se ao que se dirá, não ao que se disse, além de estar antes do verbo, o que também é inadequado; Isso posto – A forma nominal do verbo (particípio ou gerúndio) deve vir antes do pronome e nessa expressão a posição está invertida; Posto isso – Expressão correta.

Junto a

Tem significado físico: perto de, ao lado de. Exemplos: carrego a bolsa junto ao corpo; Parei junto ao carro. Não use em frases do tipo: “impetrou mandato junto à Vara”; “solicitou empréstimo junto ao banco”; “está em negociação junto aos sócios”. Para essas, prefira:

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A princípio – No começo, inicialmente, antes de qualquer coisa. Em princípio – em tese, teoricamente.

A quo

A quo – juízo a quo é aquele de cuja decisão se recorre. Dies a quo é o dia em que um prazo começa a ser contado.

Através

Do verbo atravessar, só pode ser empregado no sentido de transpassar, passar de um lado para o outro ou passar ao longo de. Exemplos: o navio atravessa os mares; vejo através do vidro. Não pode ser empregado no lugar de “mediante”, “por meio de”, “por intermédio de”, “graças a”, “segundo” ou “por”, sendo assim, não escreva, por exemplo, "peticionou através do advogado" ou "recorre através dos documentos".

Avocar / Invocar / Evocar

Avocar – atribuir-se, chamar. Invocar – pedir ajuda, chamar, proferir. Evocar – lembrar, invocar.

Bastantes / Bastante

Bastantes – quando acompanha substantivo, é adjetivo, por isso, é flexionado e pode ser substituído

“impetrou mandato na Vara”; “solicitou empréstimo ao banco”; “está em negociação com os sócios.

Mutatis mutandis

Quer dizer “mudando o que deve ser mudado”, “com a devida alteração de pormenores”, “uma vez efetuadas as necessárias mudanças”.

Onde / Aonde

Onde - usa-se apenas ao se referir a lugar; significa local em que, no qual; Aonde - indica movimento para um lugar; usa-se somente com verbos que requerem a preposição "a" e indicam movimento.

Pedir vista / Pedir vistas

O correto é "pedir vista", no singular.

Plus ultra

Plus ultra - Mais além.

Posto que

Equivale a "embora", "apesar

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por “muitos” ou “suficientes”. Exemplos: tenho bastante dinheiro; tenho bastantes dívidas; ele obteve bastantes provas para o laudo; Bastante – quando acompanha adjetivo ou verbo, é advérbio, não flexiona e pode ser substituído por “muito”. Exemplo: Trabalho bastante durante a semana.

Cada

É pronome indefinido que não pode ser usado sozinho: acompanha substantivo, numeral ou pronome “qual”; portanto, não use “ganharam 5 bombons cada” e sim "ganharam 5 bombons cada um".

Cessão / Seção / Sessão

Cessão – ato de ceder; Seção – parte, trecho, setor, repartição; Sessão – reunião; lapso de duração de um congresso, assembleia.

Com vista a / Com vistas a

Ambas são corretas e têm mesmo significado.

Custas / Custa

Custas – despesa forense; Custa – sempre no singular na

de" e não a "porque".

Se não / Senão

Se não - caso não; Senão - mas, a não ser, exceto pois, do contrário, caso contrário, defeito. Plural: senões.

Sequer / Nem sequer

Sequer - pelo menos, ao menos: o recorrido teria ido se a intimação sequer tivesse chegado; Nem sequer - nem ao menos - usa-se para expressar negação: o recorrente nem sequer juntou provas aos autos.

Sine qua non

Sem a qual não; indispensável, essencial.

Sito em

Não use "sito a", pois não indica movimento.

Vez que / uma vez que

Vez que - não existe; Uma vez que - dado que, visto que, como, já que; no caso de, caso, se.

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expressão “à custa de”.

Deferir / Diferir

Deferir – conceder, outorgar; Diferir – discordar, diferenciar; retardar, adiar.

Descriminar / Descriminalizar / Discriminar

Descriminar e descriminalizar – do Direito Penal, significa inocentar, absolver de crime; o prefixo “des” traz ideia de negação; Discriminar – tratar de forma diferente.

Vultoso / Vultuoso

Vultoso - volumoso, relativo a vulto, grande vulto; Vultuoso - com a face congestionada.

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Central do Brasil. Drama, 1998, 113 minutos. Diretor: Walter Salles.

http://ead.trt10.jus.br/central

Aproxima-se o recesso forense e muitos de nós começamos a planejar uma viagem... por falar em viagem, há um subgênero no cinema denominado road movie, ou filme de estrada, que Hollywood adora. É um estilo que aborda a viagem por que passa um personagem como símbolo de sua transformação interna, pois a geografia, tanto a física quanto a humana, que ele desconhecia até então, o afeta profundamente, de modo que mudanças na pessoa viajante ocorrem, pois, à medida que se depara com o desconhecido, ela muda, como nós mudamos. Representa também a busca da liberdade e o espírito aventureiro do ser humano. É um estilo de cinema que traz para o espectador a oportunidade de acompanhar não só belas imagens, mas a construção de uma nova personalidade, que, ao fim, se revela.

Destacamos Bagdad Café, Paris/Texas, Sem Destino, Thelma e Louise, Pequena Miss Sunshine, Assassinos por Natureza, Coração Selvagem. Mas não só na terra do tio Sam esse estilo é produzido, temos, por exemplo, o francês Mamute, o mexicano E Sua Mãe Também, os brasileiros Bye Bye Brasil, Na Estrada, Central do Brasil, os dois últimos de Walter Salles,

Dica 7 - Uso do "Se" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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diretor também de Diários de Motocicleta, coprodução que envolveu Argentina, Brasil, Chile, Reino Unido, Peru, Estados Unidos da América, Alemanha, França e Cuba.

Central do Brasil é um filme maravilhoso, humanista, singelo e bem feito. A personagem de Fernanda Montenegro, Dora, recupera sua identidade e o afeto, se re-sensibiliza graças ao encontro do outro, que vem a ser o menino Josué, que a leva a uma viagem por um Brasil diverso daquele do Rio de Janeiro, cidade em que vivia. Atenção para a trilha sonora e para a construção das imagens, que vão se tornando fluidas e rarefeitas na mesma proporção em que Dora se torna livre da opressão e do pragmatismo em que se encontrava; vale também assistir às entrevistas com atores e diretor do filme.

Usaremos várias frases extraídas dessa película e da música Preciso me encontrar, integrante da trilha sonora, para exemplificar os tópicos da nossa dica sobre uso do se, que não é um viajante pelas estradas, mas faz muita gente “viajar na maionese” na hora de escrever!

Nos textos do TRT, há corriqueiramente má aplicação do se principalmente como pronome na função de partícula apassivadora ou de índice de indeterminação do sujeito, como ver-se-á a seguir:

O se tem duas acepções: conjunção ou pronome pessoal.

I) Na qualidade de conjunção, expressa subordinação à ação principal. Pode ser:

1 - condicional

- indica hipótese, condição; no caso de. Se ele não vier, eu deponho. Do filme: Se ele estiver aí, fala alguma coisa maluca.

- indica tempo; quando, enquanto. Se há depoimento, o secretário de audiência digita.

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- indica causa; visto que, uma vez que. Se você nem sequer precisa depor, por que está tão ansioso?

2 - integrante

- exprime dúvida, incerteza, interrogação indireta (se acaso, se por acaso, se porventura).

Neste caso encaixa-se o verso da música em destaque, que, na ordem direta da frase, seria assim:

Diga que eu só vou voltar depois que eu me encontrar se alguém por mim perguntar.

Também, as seguintes frases do filme:

Vê se pelo menos me aparece para conhecer seu filho.

Se por acaso você mudar de ideia é só você vir, ó', vir atrás de mim, numa boa.

II) Na qualidade de pronome pessoal, refere-se à 3ª pessoa do singular para os dois gêneros; funciona como objeto do verbo ou complemento. Pode ser:

1 - objeto direto

- tranquilizar-se, ferir-se, agredir-se, recusar-se; Exemplo de fala do filme: Pai, vem aqui no Rio que minha mãe se machucou;

2 - com verbos pronominais, indica caráter reflexivo ou recíproco

- aposentar-se, arrepender-se, queixar-se; indignar-se; Exemplo extraído do filme: Vá lá, se achegue!

3- partícula apassivadora

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- forma, juntamente com o verbo, a voz passiva sintética, como lemos na placa da mesa de trabalho da Dora, escrevedora de cartas:

Escreve-se carta, ou carta é escrita;

Escrevem-se cartas, ou cartas são escritas.

Registravam-se nas folhas de ponto horários rígidos, sem anotarem-se com correção os intervalos para descanso e refeição, ou horários rígidos eram registrados nas folhas de ponto, sem os intervalos para descanso e refeição serem anotados com correção.

Podem-se citar vários exemplos, ou vários exemplos podem ser citados.

É erro bastante comum, talvez o mais encontrado em anúncios, como os vistos no filme:

Faz-se móveis - o certo é fazem-se móveis (móveis são feitos);

Conserta-se óculos - o certo é consertam-se óculos (óculos são consertados).

Dica: a voz passiva sintética é formada com verbo transitivo direto (há exceções) + se e permite troca para a voz passiva analítica. A voz passiva analítica é formada com verbo ser + particípio. Identifica-se o sujeito passivo da oração, principalmente na conversão da forma sintética (com se) para a forma analítica, como feito nos exemplos. Então, o macete é construir a frase com o verbo ser, se ele for para o plural, o verbo da frase com se também irá.

Na voz passiva sintética, o verbo concorda com o sujeito, por isso, vai para o plural se o sujeito for plural.

4- índice de indeterminação do sujeito - IIS

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- o verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular.

Dica: para não confundir com a partícula apassivadora (item 3), perceba que a transposição para a voz passiva analítica não é possível, pois neste caso não temos verbos transitivos diretos (exceção para os preposicionados), apenas verbos transitivos indiretos, intransitivos ou de ligação. Não se identifica o sujeito da frase.

Por isso, o verbo nunca vai para o plural, pois não há sujeito com o qual concordar em número!

Vejamos:

Precisa-se de empregados. Não é possível a construção "empregados são precisados", pois o verbo PRECISAR é transitivo indireto, requer a preposição de, PRECISAR DE algo;

Aqui se é feliz - verbo de ligação;

Morre-se de amores - verbo intransitivo;

Trata-se de embargos de declaração. Não é possível a construção "embargos de declaração são tratados", o verbo tratar está na acepção de indicar qual é a questão, o que se debate, sobre o que se discorre. Sintaticamente, apresenta-se como verbo transitivo indireto, com preposição de. As estruturas trata-se de e sua afim cuida-se de são, assim, invariáveis.

É erro, dessarte, redigir "tratam-se de embargos..." ou "cuidam-se de embargos", equívoco comum nos textos do TRT. O verbo tratar, na acepção desta frase, é transitivo indireto, requer preposição de, forma a expressão verbal TRATAR-SE DE determinado assunto, e o sujeito é indeterminado.

Obs: importante evitar o excesso de uso do pronome "se" como IIS; em muitos casos, ele pode ser subtraído sem perda do sentido da frase. Ex: Para atingir nossa meta há que evitar estrangeirismos (e não para se atingir...há que se evitar).

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Verso da música Preciso Me Encontrar, Cartola, 1976.

Quanto à colocação correta na frase, o se pode ocupar três posições em relação ao verbo - antes, depois ou no meio do verbo, ou seja, em ênclise, próclise ou mesóclise, respectivamente, conforme regras a seguir:

1 - ênclise

De modo geral, é desta forma que se deve escrever, com o pronome posposto ao verbo. Exemplo: Escreve-se carta.

Atenção para a proibição:

1- Quando houver palavra de valor atrativo de próclise, que estudaremos a seguir.

Obs: Ao usarmos o pronome em ênclise, temos mais chance de acertar, pois atende à maioria dos casos de colocação pronominal!

2 - próclise

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Há perda da força enclítica por motivo de anteposição, aos verbos, de partículas que atraem o pronome oblíquo, normalmente para efeito de eufonia (bom som). Vejamos os 8 casos em que a próclise é obrigatória:

a) Em orações negativas, pois a palavra negativa, seja advérbio, pronome ou conjunção, atrai o "se" para antes do verbo. Exemplos: Nada se fará; Ela não se examina nem se deixa examinar;

b) Com as conjunções alternativas ora...ora, ou...ou, já...já, quer...quer, agora...agora, quando...quando. Exemplos: Ora se expõe, ora se esconde; quando se pensa que o aumento saiu é quando se percebe que ainda há muito por vir;

d) Com pronomes adjetivos e relativos que, qual, quem, cujo. Exemplos: Aí está o processo cujas páginas se sujaram;

e) Com certas conjunções coordenativas aditivas (nem, não só, mas também, que). Exemplos: Não comprou nem se lembrou de pedir para comprar;

f) Com os pronomes indefinidos (algum, alguém, diversos, muito, pouco, tudo, vários etc.), quando estão antes do verbo. Exemplos: Pouco se estuda o idioma pátrio. Tudo se tem aqui, recursos materiais e humanos.

g) Com os advérbios, sempre que precederem o verbo. Exemplos: Aqui se faz, aqui se paga; sempre se pede mais, quando a comida é boa!

h) Com os pronomes demonstrativos. Exemplos: Aquilo se assemelha a uma assinatura forjada;

i) Com o verbo no gerúndio, precedido da preposição em. Exemplo: Nesta terra, em se plantando, tudo nasce.

Proibição:

1- Não se pode iniciar um período com pronome oblíquo. Exemplo de erro: Me deram um presente (deve-se dizer: Deram-me um presente);

3 - mesóclise

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A mesóclise é obrigatória quando as formas do futuro do presente e as do futuro do pretérito iniciarem o período e sempre que, mesmo sem iniciar o período, não houver partícula atrativa de próclise. Exemplos: Queixar-se-ia se não estudasse muito; Alegrar-se-á com as peraltices de seu bebê; mesmo que nada se faça, propor-se-á o projeto novo.

Dica final: a próclise predomina sobre a mesóclise, que predomina sobre a ênclise, embora esta colocação atenda à maioria dos casos!

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As frases destacadas nos quadros são contribuição da cultura popular para

exemplificar o quanto podemos aplicar elipses(1), zeugmas(2) e contrações

às palavras e ainda assim o objetivo da comunicação se efetivar. Depende

da intenção, do contexto, do registro que temos de usar em determinado

veículo e ambiente e, claro, da criatividade, da região do Brasil e até

mesmo em decorrência do grau de instrução. A comédia Ó paí, ó traz

expressão baiana, enquanto o diálogo ao redor do "cafezinho" é

regionalismo mineiro e foneticamente se assemelha ao som de uma

galinha!

Dica 8 - Uso de "não há falar", "o mesmo" e "verso" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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Rotineiramente, lemos em textos jurídicos as expressões "não há falar",

"não há falar-se" e afins e aí surge a dúvida: estão corretas? De uma

primeira impressão, fica a sensação de que falta algo na frase, de que está

capenga, com algum termo elíptico... mas não está!

Podem-se usar as expressões a seguir indistintamente, são sinônimas e

todas corretas:

-Não há falar;

-Não há falar-se;

-Não há que falar;

-Não há que se falar.

Por extensão, mesma explicação serve para outros verbos, como, por

exemplo, não há confundir, não há fugir, não há olvidar.

(1) elipse - omissão de um termo facilmente identificável, que fica subentendido pelo

contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase. Torna o texto mais conciso

e elegante;

(2) zeugma - caso especial de elipse, quando o termo omitido já tiver sido expresso

anteriormente na frase.

buuuuu

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O fantasma no elevador assombra. Chama-se o mesmo. Cuidado com ele!

Por isso, o aviso aos usuários em todo hall de elevadores:

Comunidades no orkut e facebook foram criadas e os mais descrentes

fizeram piada do fantasma (ou seria um maníaco?).

Brincadeiras à parte, vamos entender o porquê dessa frase estar errada.

1. Os termos o mesmo, a mesma, os mesmos e as mesmas não podem ser usados no

lugar de substantivo ou de pronome, e sim como um reforço de um nome ou

pronome ao qual se ligam; sendo assim, concordam com o termo a que se referem,

como nos exemplos:

- Ele mesmo trouxe as provas (próprio);

- As assistentes mesmas farão o voto (próprias);

- As mesmas testemunhas estão neste processo (de igual identidade);

- Os assistentes mesmos digitaram o texto (próprios);

2. O mesmo funciona como substantivo e flexiona em gênero e número quando

significa "a mesma coisa" ou "a mesma pessoa" (atenção, não substitui um

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substantivo e sim é o próprio substantivo):

- Nos anos que se seguiram, sucedeu o mesmo (a mesma coisa);

- Continuam as mesmas na defesa da justiça (as mesmas pessoas).

3. Invariável fica o termo mesmo se utilizado no sentido de realmente, até, ainda

que, embora, como nos exemplos:

- Mesmo doentes, vieram testemunhar;

- As testemunhas colaboraram mesmo com o andamento do processo;

- Mesmo querendo, não vamos concluir todos os votos até o encerramento do ano.

Quanto ao aviso do elevador, o erro está em ter utilizado o mesmo como substituto

de ‘elevador’, o que é proibido, conforme explanação no item 1. Várias maneiras de

se redigir o aviso seriam melhores, tais como:

- Antes de entrar no elevador, verifique se esse encontra-se parado neste andar;

- Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra-se parado neste andar;

- Antes de entrar, verifique se o elevador está no andar.

Mesmo raciocínio se aplica às redações oficiais e votos no TRT. Exemplos de erro:

a) A recorrente solicitou juntada de provas, mas a mesma foi indeferida.

Frase errada porque a mesma não pode substituir o substantivo juntada.

Correta:

- A recorrente solicitou juntada de provas, mas esta foi indeferida.

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b) O juiz recebeu o processo e analisará o mesmo rapidamente.

Errado porque o mesmo está no lugar de processo mas não pode

funcionar como seu substituto. Correto:

- O juiz recebeu o processo e o analisará rapidamente.

c) Irei ao escritório do meu advogado e lá combinarei com o mesmo a melhor

defesa.

Texto incorreto pelo mau uso de o mesmo no lugar do pronome pessoal,

indica estilo fraco e falta de recursos sintáticos. Ficaria melhor:

- Irei ao escritório do meu advogado, com quem combinarei a melhor

defesa;

- Irei ao escritório do meu advogado para combinar com ele a melhor

defesa;

- Irei ao escritório do meu advogado. Combinarei com ele a melhor defesa.

Por fim, vejamos a notação correta para indicação de verso da folha.

Especificar que o assunto está localizado no verso da página (quando ela não é

numerada) é importante e economiza tempo, pois o leitor pode ir direto ao ponto que

interessa.

Temos em frase do tipo "as contrarrazões estão à fl.21, verso" adjuntos adverbiais que

devem ficar separados por vírgula. Identificam-se dois adjuntos adverbiais de lugar, o

primeiro expressa que a informação está contida na folha 21 e o segundo, que o

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conteúdo tem prosseguimento no verso da referida folha.

Recomenda-se evitar o uso da notação "v." para não ser confundida com a abreviatura

de "vide" ou "veja".

Sugerimos, então, a notação no formato a seguir:

O recurso é tempestivo, fl. 121, verso e a representação está regular, fl. 45,

verso.

Por falar em verso, há um trecho do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989,

EUA, drama, direção de Peter Weir) em que encontramos inspiradora

explanação do professor Keating a seus alunos que cabe bem neste momento

de fim de ano, vejam:

Trecho de Sociedade dos Poetas Mortos. DISNEY e BUENA VISTA. 1989

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica8/trecho_sociedadepm.flv

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O que é “belo”? O que vem a ser “beleza”?

Ao longo da história da humanidade, essas questões sempre se fizeram

presentes e as respostas certamente foram bem diversas das que

obtemos no mundo contemporâneo.

ECO, Umberto. História da Beleza, Rio de Janeiro: Record, 2004.

No livro “História da Beleza”, organizado por Umberto Eco, temos breve

análise da cultura ocidental sobre o tema-título desde a Antiguidade até o

Dica 9 - Estética Textual e Vícios de Linguagem Escrito por Ana Paula Rodrigues

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século XX. Embora sua fonte de pesquisa se atenha à Europa e não

abranja tão detidamente as belezas das Américas, partilhamos dos

mesmos ideais e podemos observar o quanto o conceito de belo continha

princípios sublimes, duradouros, nada absolutos. O que hoje se tem, ao

menos popularmente, é a beleza concebida como mero produto de

consumo por vezes descartável, fruto de processo midiático e um fim em

si mesma.

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Míron, Discóbolo, 460-450 a.C.

Na Grécia antiga, o belo, o bom e o verdadeiro

eram indissociáveis, exsurgindo daí princípios

éticos e estéticos. Ligada à proporção e à

harmonia, a beleza relacionava-se ao cosmo e à

natureza.

Miniatura do Código Manessiano, século XIV

Na Idade Média, luz e cor compunham o conceito

do belo, ligado também à poesia. A proporção, a

integridade e a claritas (luminosidade) eram

necessárias à beleza, conforme Tomás de Aquino.

Surpreende saber que ao tempo em que filósofos,

teólogos e místicos eram todos homens de igreja e

de rigor moralista surgiram cantos como Carmina

Burana (séculos XII-XIII) e composições poéticas

pastoris em que se descreviam as belezas

femininas muito sensualmente.

Botticelli, Alegoria da Primavera, 1482

Nos séculos seguintes, passou-se a relacionar a

beleza com a mimesis: imitava-se não no sentido

de cópia, mas de representação da natureza, pois

o conhecimento do mundo visível seria meio para

o conhecimento da realidade suprassensível. O

simulacro tornou-se nobre porque reproduzia a

beleza.

Na Renascença, a mulher da Corte ocupava-se da

moda sem esquecer de cultivar a própria mente

com capacidades discursivas, filosóficas e

polêmicas e tinha participação ativa nas belas

artes. O homem demonstrava poder e força e

colocava-se no centro do mundo. A opulência e a

brancura dos corpos indicava nobreza, uma vez

que fartura de alimentos era para poucos, sendo a

magreza atributo dos plebeus e ligada a pobreza,

doença e mazelas em geral, assim como as peles

bronzeadas pelo sol era indicativo de pessoa

trabalhadora braçal.

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A condessa Hanssonville, 1845

O belo se manifesta na arquitetura e nas artes em geral conforme a época e mesmo uma paisagem passa por

essa conceituação, que se transformou ao longo dos séculos até chegarmos ao minimalismo, praticidade,

funcionalidade e outros atributos relacionados ao nosso tempo, que requer velocidade até na hora de

apreciarmos a beleza! Se antes um texto podia apresentar floreios e divagações tal qual uma vestimenta

rebuscada, hoje tem que primar pela facilidade de leitura ao apresentar períodos curtos, declarações diretas,

concisão, precisão, simultaneamente com preocupações de passar o máximo de informação útil e ainda ser

politicamente correto.

Vila Chigi, em Centinale, Siena Caspar Friedrich, Rochedos em Rügen, 1818

Rosácea norte da Catedral de Notre Dame em Paris Caspar Friedrich, Viajante diante do mar de nuvens, 1818.

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Frank Lloyd Wright, Casa Kufmann, Bear Run, 1936

O belo em temas diversos - jardim, paisagem, arquitetura

Paremos por aqui na apreciação da beleza histórica.

Vamos, afinal, nos deter nas quatro regras a seguir:

Sobre essas regras funda-se o senso comum grego da beleza, e não é que

cabem perfeitamente ao nosso tema da dica?

Estética textual

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A beleza de um texto alcança seus leitores de modo a conduzi-los

agradavelmente a máximos entendimento e compreensão da mensagem;

tem caráter social e coletivo na medida em que colabora para que o

objetivo da comunicação seja atingido.

A estética textual refere-se à correção linguística, ao esmero com que se

escreve e a aspectos técnicos e estruturais como os estabelecidos pela

ABNT. Visualmente aprazível, transmite o cuidado com organização por

parte do escritor e que este se importa com seus leitores.

Boa concatenação de ideias, expressão clara e lógica do pensamento têm

implicação na aparência: os parágrafos devem ser mais curtos, com uma

ideia central apenas.

VÍCIOS DE LINGUAGEM

O bom senso estético e a procura do belo ao redigir evita os denominados

vícios de linguagem:

1 - Ambiguidade - falta de clareza no discurso, gera possibilidade de uma

mensagem ter dois sentidos.

Exemplos:

O reclamante andava de lotação, ao final do contrato já não andava

mais (não andava porque adquiriu deficiência, porque passou a ir a

pé ou porque comprou um automóvel?);

A presidência noticiou aos servidores a mudança de suas funções

(foram mudadas as funções da presidência ou dos servidores?).

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2 - Barbarismo - desvio da norma culta e uso de palavra estrangeira no

lugar da equivalente em Português.

Exemplos:

A empresa mantinha serviço de delivery (serviço de entrega);

Houve justa causa face a conduta do reclamante ( francesismo, em

português é "em face de");

O PJE será implantado nos diversos TRT's (anglicismo, pois em

Português não se usa apóstrofo "s" para o plural; a forma correta

para o plural de uma sigla é com o "s" ao final, sem apóstrofo: TRTs,

CPFs, PMs;

O adevogado chegou a tempo (desvio da norma quanto à grafia da

palavra advogado).

3 - Paradoxo vicioso - consiste numa antítese extrema inútil e

desnecessária ao contexto de uma sentença.

Exemplos:

Tenho relativa certeza quanto às provas dos autos;

As crianças entraram para fora ao amanhecer.

4 - Plebeísmo - uso de palavras de baixo calão, gírias ou termos informais

para o contexto.

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Exemplos:

"...ver um servidor da própria Justiça Federal cuspindo no

produto...";

E aí, velho, o que acha?

5 - Solecismo - desvio em relação às regras da sintaxe

Exemplos:

Fazem anos que não faço um curso de reciclagem (Faz anos ...);

Aluga-se salas nesse edifício (alugam-se...);

Eu não respondi-lhe nada do que perguntou (Eu não lhe respondi...).

6 - Eco - dissonância provocada pela utilização de palavras com

terminações iguais ou semelhantes na frase;

Exemplo: Responde pessoalmente pelo que corresponde.

7 - Cacófato ou cacofonia - encontro de sílabas de palavras diferentes que

resulta num som desagradável ou inconveniente;

Exemplos:

Tem que ter fé demais para ir em frente (fede mais);

A gorjeta era dividida por cada um dos garçons (porcada);

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Diz que o recorrente... (disque).

8 - Colisão - quando o uso legítimo da aliteração não convém e causa um

efeito estilístico ruim ao receptor da mensagem

Exemplo: alegada ilegalidade;

9 - Preciosismo - afetação, falta de naturalidade ao redigir;

Exemplo: Nomeou o insigne e indefectível depositário fiel.

10 - Arcaísmo - modo de escrever antiquado, uso de vocábulos ou

expressões que deixaram de ser usuais na norma;

Exemplo: Pediu dispensa do trabalho para ir à matinê (matinê não

se usa há um tempo).

11 - Pleonasmo vicioso - repetição dispensável de uma ideia, redundância.

Exemplos: - de sua livre escolha;

- lapso temporal (lapso já significa intervalo de tempo)

- conviver junto;

- há anos atrás;

- outra alternativa;

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- motivo que motivou.

12 - Prolixidade - exposição repetitiva e inútil de argumentos e

superabundância de palavras para exprimir poucas ideias. Falta de

objetividade que compromete a clareza e cansa o leitor.

Para finalizar, leiamos exemplo extremamente antiestético de texto cuja

arrogância e plebeísmo geram reações diversas nos leitores - certamente

nenhuma agradável - tomado emprestado com a devida autorização do

sítio www.migalhas.com.br (link ao final):

"A tese é tão brilhante que deve o autor levá-la ao relator do projeto do novo

CPC para que venha a ser acolhida no novo código". A ironia está registrada em

sentença do juiz Federal substituto Guilherme Gehlen Walcher, de SC, ao negar

provimento aos embargos de declaração de servidor da JF que ajuizou ação

contra a Fazenda Nacional. Mas engana-se quem acha que as "lições" do

magistrado param por aí. Há trechos como : "é lamentável ver um servidor da

própria Justiça Federal cuspindo no produto (sentença) da atividade fim da

instituição a que pertence, que paga seu salário e que sustenta sua família". E

completa com uma "humilde" constatação : "Não perco a oportunidade de

registrar que, no dia em que o embargante for aprovado no concurso de Juiz

Federal, aos 27 anos de idade, em três oportunidades, obtendo um primeiro e

um segundo lugares (sendo que neste último caso o primeiro lugar somente foi

assumido por terceiro candidato após a pontuação dos títulos), terá condições

intelectuais de dar lições de processo civil a este julgador (...)". É mole ou quer

mais ? Leia a íntegra da decisão, com todo o destemperado arroubo do jovem

magistrado. Jovialidade que, como se sabe, o tempo dá jeito de curar. (Clique

aqui)

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Cenas do Filme “Matrix” - Warner Bros. – 1999

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica10/sigacoelho.flv

O filme Matrix marcou época. Apresentou efeitos especiais inéditos,

impressionou pelo roteiro enigmático e repleto de referências,

arrebanhou admiradores mundo afora. Vidas saíram das salas de cinema

transformadas. Produziram-se verdadeiros tratados sobre ele, de

filosóficos a místicos, passando pela Psicologia e pela Informática.

Estudiosos de todas as áreas opinaram: jornalistas, cineastas, psicólogos,

semiólogos, designers, financistas e intelectuais, o encanto foi geral.

Mas Baudrillard dele não gostou.

Matrix, filme de ficção científica dos diretores Lana e Andy Wachowski

produzido em 1999, parceria EUA/Austrália, teve como fonte de

inspiração, segundo os próprios criadores, o livro de Jean Baudrillard -

filósofo, sociólogo e fotógrafo francês - chamado Simulacros e Simulação,

lançado em 1981*.

Dica 10 - Uso do acento grave - CRASE Escrito por Ana Paula Rodrigues

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Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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Na cena destacada do filme temos a vista do citado livro, dentro do qual o

personagem Neo guarda, em um fundo falso, dinheiro e o fruto de seu

trabalho hacker.

A metáfora da película remete, pelo viés político, à obra de Guy Debord,

de quem Baudrillard foi contemporâneo e a quem se refere em algumas

de suas publicações. De forma muito simplificada: o mundo em que

vivemos não é real. Todas as experiências humanas autênticas são

devoradas pelo capitalismo de consumo. Depois de engolidas, são

transformadas em produtos vendidos para nós mesmos por meio da mídia

e de seus mecanismos publicitários (que vêm a ser nada mais do que uma

caixinha de ressonância dos desejos da sociedade!). O que há é

substituição da experiência própria por outras artificiais: as que vemos no

cinema, séries, jornais, reality shows, etc e a incapacidade por inteiro de

se formular alguma opinião objetiva sobre quase qualquer assunto devido

ao excesso de informação-desinformação que satura, do isolamento

advindo da tecnologia, do ensino alienante - tudo a nos desapropriar de

nossa natureza essencial.

Baudrillard concentrou sua análise mais profunda na comunicação de

massas e na sociedade de consumo. O desejo de inclusão no sistema de

consumo é a motivação por trás do desejo do consumidor em adquirir

bens; o objeto não é de fato desejado. O mais belo objeto de consumo

finalmente é o corpo, nós mesmos.

Os signos (signo = significado + significante) são manipulados, há infinita

reprodução e sobreposição de imagens e signos a acarretarem o

apagamento de toda a distinção entre o real e a imagem. O sistema de

signos tornou-se nossa hiper-realidade. Disso deriva a perda de

significados estáveis e as sociedades pós-modernas assim estão, na quarta

fase: na fase inicial, o signo reflete uma realidade. Numa segunda, o signo

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Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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mascara e altera uma realidade. Numa terceira fase, o signo encobre a

ausência de uma realidade e numa quarta fase o signo não tem qualquer

relação com realidade alguma: ele é o seu próprio simulacro.

Todos os componentes da vida humana são convertidos em um show. O

espetáculo é um pesadelo do qual temos de acordar.

Neo escolhe a pílula vermelha. E acorda do coma. E seus olhos doem

porque pela primeira vez estão sendo usados.

Baudrillard não aprovou o filme, afirmou que os roteiristas não

entenderam o que leram e que, aliás, muitos intelectuais também não

compreenderam seu texto e estavam a popularizar conceitos equivocados

(vide entrevista, link ao final). Afirmou que Matrix é o tipo de filme que a

própria matriz criaria e, tendo em vista a banalização e absorvição pelo

pop, que esvaziou de significado tudo o que o filme poderia trazer e hoje a

frase "saia da matrix" virou um bordão tolo, parece que o filósofo tinha

razão.

* BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d'água, 1991.

Enfim, ao tempo em que lemos alguns trechos do livro Simulacros e Simulação, vamos estudar o acento grave, a temida crase?

Se outrora pudemos tomar pela mais bela alegoria da simulação a fábula de

Borges* em que os cartógrafos do Império desenham um mapa tão detalhado

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que acaba por cobrir exatamente o território (mas o declínio do Império assiste

ao lento esfarrapar deste mapa e à sua ruína (1), podendo ainda localizarem-se

alguns fragmentos nos desertos – beleza metafísica desta abstração arruinada,

testemunha de um orgulho à medida do (2) Império e apodrecendo como uma

carcaça, regressando à (3) substância do solo, de certo modo como o duplo

acaba por confundir-se com o real ao envelhecer) – esta fábula está terminada

para nós e tem apenas o discreto encanto dos simulacros da segunda categoria

[...]É o real, e não o mapa, cujos vestígios subsistem aqui e ali, nos desertos que

já não são os do Império, mas o nosso. O deserto do próprio real. (pág. 8)

* BORGES, Jorge Luís, Do Rigor na Ciência.

1 - verbo assistir, transitivo indireto na acepção de presenciar, requer

preposição na regência de seu objeto. Em "à sua ruína" temos crase

facultativa porque antes de pronome possessivo.

2 - locução que significa "na proporção". Sempre com crase.

3 - verbo regressar, transitivo indireto na acepção de retornar, requer

preposição na regência de seu objeto. Objeto indireto feminino

(substância), somem-se preposição "a" e artigo "a", temos a crase.

Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se

tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo, a uma ausência

(4). (pág.9)

4 - verbo referir-se, bitransitivo e pronominal na acepção de reportar-se,

requer partícula "se" e preposição na regência de seu objeto. Sem crase

porque proibida antes de artigo indefinido (uma).

...experiência americana de TV-verdade tentada em 1971 sobre a família Loud:

sete meses de rodagem ininterrupta, trezentas horas de filmagem direta, sem

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guião nem cenário, a odisseia de uma família, os seus dramas, as suas alegrias,

as suas peripécias, ‘non stop’ – resumindo, um documento histórico “bruto”, e a

“mais bela proeza da televisão, comparável, à escala da nossa cotidianidade,

ao filme do desembarque na Lua (5)”.(pág.40)

5 - "à escala" - locução de base feminina.

‘Reunidos em congresso em Lyon, os veterinários preocuparam-se com as

doenças e perturbações psíquicas que se desenvolvem na criação industrial de

animais domésticos’. Os coelhos desenvolvem uma ansiedade mórbida, tornam-

se coprófagos e estéreis. Maior sensibilidade às infecções, ao parasitismo

(6)[...]Escuridão, luz vermelha, ‘gadget’, tranquilizantes, nada resulta. Existe nas

aves uma hierarquia de acesso à comida (7), o ‘pick order’[...]Quis-se então

romper o ‘pic order’ e democratizar o acesso à comida mediante outro sistema

de repartição. Fracasso: a destruição desta ordem simbólica leva à confusão

total nas aves e a uma instabilidade crônica (8). Belo exemplo de absurdo:

conhecem-se os estragos análogos que a boa vontade democrática pôde fazer

nas sociedades tribais. Os animais somatizam! Extraordinária descoberta!

Cancros, úlceras gástricas, enfartes do miocárdio nos ratos, nos porcos, nos

frangos! (págs.160/161)

6 - sensibilidade a algo, nesta acepção requer complemento nominal e

preposição na regência do seu complemento. Complemento feminino

(infecções), somem-se preposição "a" e artigo "as", temos a crase.

7 - acesso a algo, requer complemento nominal e preposição na regência

do seu complemento. Complemento feminino (comida), some-se

preposição "a" ao artigo "a", temos a crase.

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8 - verbo levar, transitivo indireto na acepção de conduzir, requer

preposição na regência de seu objeto. Objeto indireto feminino

(confusão), somem-se preposição "a" e artigo "a", temos a crase. O

segundo objeto (uma instabilidade crônica) não tem crase porque proibida

antes de artigo indefinido.

Deixo à consideração (9) se poderá haver um romantismo, uma estética do

neutro. Não creio - tudo o que resta é o fascínio pelas formas desérticas e

indiferentes, através da própria operação do sistema que nos anula. Ora, o

fascínio (em oposição à sedução (10) que se agarrava às aparências (11), e à

razão dialéctica que se agarrava ao sentido) é uma paixão niilista por

excelência, é a paixão própria ao modo de desaparecimento. Estamos

fascinados por todas as formas de desaparecimento, do nosso desaparecimento.

Melancólicos e fascinados, tal é a nossa situação geral numa era de

transparência involuntária.(pág. 196)

9 - verbo deixar, bitransitivo na acepção de deixar algo a alguém, requer

preposição na regência de seu objeto indireto feminino (consideração),

some-se preposição "a" ao artigo "a", temos a crase.

10 - oposição a algo, requer complemento nominal e preposição na

regência do seu complemento. Complementos femininos (sedução e razão

dialética), somem-se preposição "a" e artigo "a", temos a crase.

11 - verbo agarrar, pronominal na acepção de prender-se, grudar-se,

requer preposição na regência de seu objeto indireto feminino

(aparências), some-se preposição "a" ao artigo "as", temos a crase. Antes

da palavra masculina "sentido", proibida a crase.

O termo crase vem do grego e significa fusão: união de duas vogais

idênticas. Graficamente, a junção de "a" (preposição) com outro

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"a" (artigo ou pronome demonstrativo) é representada pelo

acento grave.

Casos:

1. A preposição a + os artigos a, as:

Exemplos:

Prefiro o horário corrido à fixação de dois turnos.

Referi-me às funcionárias do gabinete.

2. A preposição a + os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, a(s):

Exemplos:

Dirija-se àquelas funcionárias de uniforme.

Referi-me àquilo que você citou no despacho.

Referi-me às que você citou.

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Dicas importantes:

• Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se ocorrer "ao" ou "aos" é sinal de que há crase.

Exemplos:

Fui a audiência. (?)

Fui ao salão plenário.

Correto: Fui à audiência.

• Substitua o "a" por "para" ou "para a". Se ocorre "para a" é sinal de que há crase.

Exemplos:

Reportou a história a juíza (?)

Reportou a história para a juíza.

Correto: reportou a história à juíza.

• Não esqueça que só pode ocorrer crase diante de palavra feminina que admita o artigo "a" e que dependa de outra palavra que exija a preposição "a", ou seja:

a) Se o termo regente exige a preposição a:

Exemplo: Sou contrário à ideia de demissão do gerente.

b) Se o termo regido aceita o artigo a/as: a palestra, chegar a

Exemplo: Chegou atrasado à palestra.

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Caso

Uso obrigatório

(diga SIM)

Uso proibido

(diga NÃO)

Uso facultativo

(INDIFERENTE)

Antes de palavras masculinas

Quando estiver implícito “à moda de”:

Móveis à Luís 15; bacalhau à Gomes

de Sá.

Quando subentendido termo feminino:

Vou à [praça] João Mendes.

Viver a seu bel-prazer;

viajar a convite; escrito a lápis; traje a rigor; sessão a portas

fechadas; passeio a pé; sal a gosto; TV a cabo; barco a remo; carro a álcool; avião a jato etc.

Antes de verbos

Veio disposto a colaborar.

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Antes de pronomes

De tratamento - senhora, senhorita e dona:

Dirigiu-se à senhorita Alice.

Antes da maior parte deles, inclusive pronomes de tratamento:

Disse a ela que não virá;

nunca se refere a você;

dirigiu-se a V.Exª rudemente.

Pronomes possessivos:

Enviou a carta à (a) minha família, não à (a) sua família.

Antes de substantivo feminino de sentido indefinido e o "a" vem antes de plural

A juíza não se referiu a mulheres;

não irei a festas nessa casa.

Expressões formadas por palavras repetidas

Cara a cara; ponta a ponta; frente a frente; gota a gota.

Depois de "para", "até", "perante", "com", "contra" outras preposições

O jogo está marcado para as 16h;

foi até a esquina; lutou contra as

americanas.

Antes de cidades, Estados, países

Foi à Itália (voltou da Itália).

Chegou à Paris dos poetas (voltou da Paris dos poetas).

Foi a Roma (voltou de Roma).

Fez péssimas referências a Brasília.

Locuções de base feminina

Às vezes à moda às pressas à primeira vista à medida que à noite à custa de à procura de à beira de à tarde à vontade às cegas às escuras às claras à distância

(quando

A distância (quando esta não for determinada)

Locuções femininas de meio ou instrumento:

À vela/a vela; à bala/a bala; à vista/a vista; à mão/a mão.

Prefira crase quando for preciso evitar ambiguidade:

Vendeu à vista (pois não vendeu os

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determinada), etc. olhos, a vista).

Aquele, aqueles, aquilo, aquela, aquelas

Referiu-se àquilo; Foi àquele

restaurante; Dedicou-se àquela

tarefa.

Com

demonstrativo “a”

A capitania de Minas Gerais estava ligada à de São Paulo;

Falarei às que quiserem me ouvir.

Na indicação de

numeral de hora

determinada

A audiência será às 13h.

Perante nomes

femininos de

pessoas

A convocação dirigiu-se à (a) Maria.

Depois do termo

"até"

Iremos até à (a) sessão de julgamento.

Com os termos

"casa" e "terra"

Se for determinada:

Fui à casa de meus netos no mesmo dia.

Viajarei à terra de meus antepassados.

Fui a casa. Ao

desembarcarmos, fomos direto a terra (terra no sentido de oposição a mar).

Leia a entrevista com Jean Baudrillard, cujo livro inspirou os

diretores da trilogia Matrix. Ao final, há referência a o que ele

pensava sobre o Brasil:

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JEAN BAUDRILLARD

A verdade oblíqua

LUíS ANTôNIO GIRON

O professor baixo e mal-humorado é hoje uma das figuras mais populares do novo século. O

pensador francês Jean Baudrillard, de 74 anos, recusa-se a falar em inglês. Mesmo assim, é tão

popular nos Estados Unidos por causa de suas análises sobre a cultura de massa que foi convidado

a fazer um show de filosofia em Las Vegas. E seu nome está na boca dos espectadores da trilogia

Matrix. No primeiro filme dos irmãos Wachowski, o hacker Neo (Keanu Reeves) guarda seus

programas de paraísos artificiais no fundo falso do livro Simulacros e Simulação, de Baudrillard.

Keanu leu o livro e costuma mencionar o autor em todas as suas entrevistas sobre Matrix

Reloaded, o novo filme da trilogia. Até porque o ensaio sobre como os meios de comunicação de

massa produzem a realidade virtual inspirou os diretores de Matrix a criar o roteiro.

Baudrillard não parece ligar para a fama. Ele esteve no Brasil para lançar seu novo livro, Power

Inferno (Sulina, 80 páginas, R$ 18), e participar da conferência 'A Subjetividade na Cultura

Digital', na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, onde falou com ÉPOCA. Sempre

pautado por assuntos atuais, ele analisa no ensaio os atentados de 11 de setembro de 2001 como

um ato simbólico contra o Ocidente. Nesta entrevista, ele fala sobre seu pensamento turboniilista,

11 de setembro e arte. Se a realidade já não existe e vivemos um permanente e conspiratório

espetáculo de mídia, como quer Jean Baudrillard, o pensador exerce a função de entertainer às

avessas. Ele decreta o fim dos tempos, e todo mundo vibra.

ÉPOCA - Suas idéias demolidoras estão mais em moda do que nunca. O mundo ficou mais

parecido com o senhor?

Jean Baudrillard - Não aconteceu nada. O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só

pode ser redutor. Há um mal-entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de

modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. Veja

o conceito de pós-modernidade. Ele não existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior

familiaridade. Eu próprio sou chamado de 'pós-moderno', o que é um absurdo.

ÉPOCA - Mas pós-modernidade não é um conceito teórico racional?

Baudrillard - A noção de pós-modernidade não passa de uma forma irresponsável de abordagem

pseudocientífica dos fenômenos. Trata-se de um sistema de interpretações a partir de uma palavra

com crédito ilimitado, que pode ser aplicada a qualquer coisa. Seria piada chamá-la de conceito

teórico.

ÉPOCA - Se não é pós-moderno, como o senhor define seu pensamento em poucas palavras? Os

críticos o chamam de pensador terrorista, ou niilista irônico.

Baudrillard - Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma

Andre Arruda/ÉPOCA

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Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular

hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos

oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse

raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida

que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo.

ÉPOCA - Como o senhor explica a espetacularização da realidade?

Baudrillard - Os signos evoluíram, tomaram conta do mundo e hoje o dominam. Os sistemas de

signos operam no lugar dos objetos e progridem exponencialmente em representações cada vez

mais complexas. O objeto é o discurso, que promove intercâmbios virtuais incontroláveis, para

além do objeto. No começo de minha carreira intelectual, nos anos 60, escrevi um ensaio

intitulado 'A Economia Política dos Signos', a indústria do espetáculo ainda engatinhava e os

signos cumpriam a função simples de substituir objetos reais. Analisei o papel do valor dos signos

nas trocas humanas. Atualmente, cada signo está se transformando em um objeto em si mesmo e

materializando o fetiche, virou valor de uso e troca a um só tempo. Os signos estão criando novas

estruturas diferenciais que ultrapassam qualquer conhecimento atual. Ainda não sabemos onde

isso vai dar.

ÉPOCA - A disseminação de signos a despeito dos

objetos pode conduzir a civilização à renúncia do saber?

Baudrillard - Alguma coisa se perdeu no meio da história

humana recente. O relativismo dos signos resultou em uma

espécie de catástrofe simbólica. Amargamos hoje a morte

da crítica e das categorias racionais. O pior é que não

estamos preparados para enfrentar a nova situação. É

necessário construir um pensamento que se organize por

deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e radicalmente

reflexivo que dê conta do mundo sem preconceitos e sem

nostalgia da verdade. A questão agora é como podemos ser

humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia.

ÉPOCA - Seu raciocínio lembra os dos personagens da trilogia Matrix. O senhor gostou do

filme?

Baudrillard - É uma produção divertida, repleta de efeitos especiais, só que muito metafórica. Os

irmãos Wachowski são bons no que fazem. Keanu Reeves também tem me citado em muitas

ocasiões, só que eu não tenho certeza de que ele captou meu pensamento. O fato, porém, é que

Matrix faz uma leitura ingênua da relação entre ilusão e realidade. Os diretores se basearam em

meu livro Simulacros e Simulação, mas não o entenderam. Prefiro filmes como Truman Show e

Cidade dos Sonhos, cujos realizadores perceberam que a diferença entre uma coisa e outra é

menos evidente. Nos dois filmes, minhas idéias estão mais bem aplicadas. Os Wachowskis me

chamaram para prestar uma assessoria filosófica para Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, mas

não aceitei o convite. Como poderia? Não tenho nada a ver com kung fu. Meu trabalho é discutir

idéias em ambientes apropriados para essa atividade.

ÉPOCA - Quanto à arte, o senhor se dedicou a analisar o fenômeno artístico ao longo dos anos.

Em que pé se encontra a arte contemporânea?

Baudrillard - A arte se integrou ao ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a

restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status

especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há exceções,

mas, em geral, os artistas se renderam à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel

'Matrix faz uma leitura ingênua da

relação entre ilusão e realidade. Os

diretores se basearam em meu livro

Simulacros e Simulação, mas não o

entenderam. Prefiro filmes como

Truman Show e Cidade dos Sonhos,

cujos realizadores perceberam que a

diferença entre uma coisa e outra é

menos evidente'

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Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os

signos soterraram a singularidade. Os artistas se submetem a imperativos políticos, e não mais

seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.

ÉPOCA - Por que o senhor escreveu tanto sobre a cultura

americana mas nunca refletiu sobre o Brasil, que o senhor

tanto adora visitar?

Baudrillard - Já me cobraram um livro sobre o Brasil.

Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto

volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira é

muito complexa para meu alcance teórico. Ela não se

enquadra muito em minhas preocupações com a

contemporaneidade, não tem nada a ver com a americana,

com seus dualismos maniqueístas, um país que se

construiu a partir das simulações, um deserto da cultura no

qual o vazio é tudo. Os Estados Unidos são o grau zero da

cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e

altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de

sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas

de explicar. No Brasil, vigora o charme.

ÉPOCA - O que o senhor pensa da civilização americana

depois dos atentados de 11 de setembro? O mundo mudou

mesmo por causa deles?

Baudrillard - Claro que mudou. Nunca mais seremos os

mesmos depois da destruição do World Trade Center.

Abordo o tema em Power Inferno, uma coletânea de

artigos sobre o império americano e a política. Considero os atentados um ato fundador do novo

século, um acontecimento simbólico de imensa importância porque de certa forma consagra o

império mundial e sua banalidade. A Guerra do Iraque apenas dá seqüência às ações imperiais. Os

terroristas que destruíram as torres gêmeas introduziram uma forma alternativa de violência que se

dissemina em alta velocidade. A nova modalidade está gerando uma visão de realidade que o

homem desconhecia. O terrorismo funda o admirável mundo novo. Bom ou mau, é o que há de

novo em filosofia. O terrorismo está alterando a realidade e a visão de mundo. Para lidar com um

fato de tamanha envergadura, precisamos assimilar suas lições por meio do pensamento.

JEAN BAUDRILLARD

Nascimento

Reims, na França, em 1929

Trajetória

Sociólogo e fotógrafo. Em 1966

começou a lecionar na Universidade de

Paris X-Nanterre. Atualmente, dedica-se

a escrever e fazer palestras

Livros principais

O Sistema dos Objetos (1968), À Sombra

das Maiorias Silenciosas (1978),

Simulacros e Simulação (1981), América

(1988), Cool Memories I (1990), A Troca

Impossível (1999), O Lúdico e o Policial

(2000)

fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT550009-1666,00.html

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Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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O recurso indenizatório tornou-se imexível

Onde está o erro nessa frase? Acertou quem apontou para o vocábulo

"indenizatório".

Dialeticidade, juridiquês, inocorrer, inobstante, infraconstitucional,

autoexecutoriedade, inexecutividade, infralegal, prefalado, contrarrazões,

autoaplicável, inincidência, improver, inacolher, sobrenorma, sobredireito,

investigatório, indenizatório, sucumbencial, logiciário, negocial, fiduciante,

insuportabilidade, mensalão, internetês, faturização, insuportabilidade,

locatício, improvimento, invivível, inexigir, improver, imerecer, inaplicar,

induvidar, impagar, publicizar, inconciliar, sigilosidade... sabiam que

nenhuma dessas palavras existe? Ou melhor dizendo, nenhuma foi

catalogada e dicionarizada até o momento?

A criação de palavras configura neologismo, que vem a ser o contrário de

arcaísmo. Segundo Aurélio Buarque de Holanda, é "a palavra, frase ou

expressão nova, ou palavra antiga com sentido novo". É fenômeno

Dica 11 - Neologismo Escrito por Ana Paula Rodrigues

Page 72: Dicas de portugues

Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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linguístico legítimo, surge por necessidades variadas e de muitas

maneiras, vejamos algumas:

1 - Neologismo semântico - quando uma palavra já existente passa a

ter nova conotação, novo significado:

Exemplos:

estou a fim de fulano (estou interessada);

vou fazer um bico (trabalho provisório).

2 - Neologismo lexical - quando de fato a palavra é nova e detém

novo conceito:

Exemplos:

deletar (eliminar);

juridiquês (linguagem do Direito).

3 - Neologismo sintático - combina elementos já existentes na

língua para criar um novo vocábulo, por esquema de derivação ou

composição, entre outros:

Exemplos:

infralegal; indenizatório; sucumbencial;

dialeticidade; saudadear; desinquieto; desfeliz;

avoamento.

Page 73: Dicas de portugues

Dicas de Português - Ana Paula Assunção Rodrigues

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O processo neológico exige duas condições:

1. estruturação adequada em nosso idioma e

2. ausência de sinônimo em nossa língua.

Se não conveniente nem corretamente formado, o neologismo passa a ser

barbarismo e a configurar vício de linguagem.

Para se conferir se determinado vocábulo existe oficialmente na língua (e

não só na nossa imaginação), devemos consultar dicionários e,

especialmente, o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,

catálogo de toda a língua Portuguesa que detém a palavra oficial e final

sobre a matéria, disponível em

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23.

Curiosidades:

♦ "imexível", neologismo expressado pelo ex-ministro Magri nos

idos de 1991, agora é palavra oficial, consta do VOLP e de dicionários

em geral; é exemplo, pois, de legitimação pelo uso dos falantes em

geral e, por ter passado pelo correto processo de formação de

palavras de nossa língua, chegou a ser dicionarizado.

♦ Reparem que os verbos criados são em sua maioria pertencentes à 1ª desinência (final em AR).

♦ O verbo elencar já consta do VOLP e do dicionário Houaiss, mas ainda não aparece no Aurélio!

♦ O VOLP excepcionou o termo improvido como adjetivo (como verbo, não). Pode-se redigir, então, "o recurso foi improvido" - adjetivo, mas não "o juiz havia improvido o recurso" - verbo .

Page 74: Dicas de portugues

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Vejamos indagação à Academia Brasileira de Letras, guardiã da língua e

instituto que elabora o VOLP, e sua respectiva resposta em duas ocasiões

diferentes a respeito do tema:

ABL RESPONDE

"Pergunta : Por favor, por que não encontro o termo jurídico "contrarrazões" no VOLP? É termo largamente utilizado aqui no tribunal onde trabalho e sempre acreditei que o VOLP registra todos os vocábulos da Língua Portuguesa! Obrigada Resposta : Prezada consulente, embora o VOLP procure registrar o maior número possível de palavras, não há como registrar todos os vocábulos possíveis de serem formados na língua portuguesa. Está para sair a 6ª edição do VOLP com a inclusão de novos termos e algumas outras atualizações. Enviaremos sua sugestão para a equipe de Lexicografia, da ABL, responsável pela elaboração do VOLP. Pode utilizar a palavra contrarrazão."

"Pergunta : Bom dia, Trabalho em um tribunal onde se usam os termos

autoexecutoriedade e inexecutividade, mas noto que ambos não são registrados nem no

VOLP nem em dicionários. Como podem ser substituídos, ou por serem termos técnicos,

se tornam neologismos que podem ser empregados? Obrigada, Ana Paula

Resposta : Prezada consulente: Em certas áreas do saber ou da esfera do trabalho,

algumas palavras passam a circular de modo corriqueiro, sem que antes tenha sido

registrada em dicionários. São os chamados neologismos técnicos que, muitas vezes,

ganham amplitude e se consolidam. O VOLP, de fato, não registra os termos

autoexecutoriedade e 'inexecutividade'. Seu uso não é proibitivo, mas recomenda-se a

sinalização de que se trata de um neologismo, com uso de aspas, por exemplo. Atente-

se, porém, para o processo de formação do segundo termo, já que o primeiro, sem

dúvida, está dentro do padrão formativo do português. O segundo termo seria derivado

de inexecutável ? Se for derivado desse adjetivo, a melhor formação será

'inexecutabilidade' e não 'inexecutividade'."

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Criatividade profícua tem hora e lugar; quanto ao ambiente do Tribunal, o

uso da linguagem padrão não deixa espaço para intervenções linguísticas

dos falantes. No entanto, sabemos que há termos com significado técnico

não abrangido por outro vocábulo e se torna de grande utilidade e

necessidade usá-los, mesmo sendo neologismo, por não terem sinônimos

e serem criados para preencher lacunas no vocabulário. O uso e o

costume acabam por trazer à formalidade um termo antes relegado à

informalidade, mas nem sempre.

Sugere-se, então, que se lance mão apenas daqueles neologismos

estritamente necessários por não haver substituto; atente-se, porém, para

termos como "inobstante", que devem ser trocados por outros

legitimados e de igual teor: "nada obstante", "não obstante".

Enfim, sempre que possível e não houver mácula no significado estrito

que se quer empregar, devemos procurar equivalentes para termos não

dicionarizados, uma vez que redigimos em um ambiente que exige o

registro da norma culta para um mundo real e prático; se não, pode

parecer que estamos no mundo de Alice, escrevendo na língua do

Jabberwocky.

O poema intitulado Jabberwocky, considerado nonsense (em verdade,

com muito sentido), de Lewis Carrol em seu texto Através do Espelho,

continuação de Aventuras de Alice, rendeu ao menos 7 versões variadas

em Língua Portuguesa.

Elaboradas por tradutores que tentaram criar neologismos em nossa

língua que provocassem efeito semelhante aos originais (Carrol amava

neologismo), a versão mais conhecida e fiel é a do nosso poeta concretista

Augusto de Campos.

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A primazia era pela sonoridade, é um poema para se ler em voz alta e

pelos sons provocar as sensações de brincadeira de criança e aventura

contra um monstro gigante e ameaçador. As palavras, mesmo

inexistentes, porque frutos de processo neológico, são inteligíveis pelo

contexto e sonoridade, até porque algo dito com muita excitação não faz

sentido à primeira vista:

Desenho de John Tenniel para Através do Espelho, lançado em 1871

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Versões de JABBERWOCKY

JABBERWOCKY

Poema Original de Lewis Carroll

`Twas brillig, and the slithy toves Did gyre and gimble in the wabe: All mimsy were the borogoves, And the mome raths outgrabe.

"Beware the Jabberwock, my son! The jaws that bite, the claws that catch! Beware the Jubjub bird, and shun The frumious Bandersnatch!"

He took his vorpal sword in hand: Long time the manxome foe he sought -- So rested he by the Tumtum tree, And stood awhile in thought.

And, as in uffish thought he stood, The Jabberwock, with eyes of flame, Came whiffling through the tulgey wood, And burbled as it came!

JAGUADARTE

Tradução de Augusto de Campos

Era briluz. As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos. "Foge do Jaguadarte, o que não morre! Garra que agarra, bocarra que urra! Foge da ave Fefel, meu filho, e corre Do frumioso Babassura!" Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo. Na árvore Tamtam ele afinal Parou, um dia, sonilundo. E enquanto estava em sussustada sesta, Chegou o Jaguadarte, olho de fogo, Sorrelfiflando atraves da floresta, E borbulia um riso louco! Um dois! Um, dois! Sua espada mavorta Vai-vem, vem-vai, para tras, para diante! Cabeca fere, corta e, fera morta, Ei-lo que volta galunfante. "Pois entao tu mataste o Jaguadarte! Vem aos meus braços, homenino meu! Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!" Ele se ria jubileu. Era briluz.As lesmolisas touvas Roldavam e relviam nos gramilvos. Estavam mimsicais as pintalouvas, E os momirratos davam grilvos.

One, two! One, two! And through and through The vorpal blade went snicker-snack! He left it dead, and with its head He went galumphing back.

"And, has thou slain the Jabberwock? Come to my arms, my beamish boy! O frabjous day! Callooh! Callay!' He chortled in his joy. `Twas brillig, and the slithy toves Did gyre and gimble in the wabe; All mimsy were the borogoves, And the mome raths outgrabe.

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PARGARÁVIO

Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges

Solumbrava, e os lubriciosos touvos E vertigiros persondavam as verdentes; Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos E os porverdidos estringuilavam fientes. "Cuidado, ó filho, com o Pargarávio prisco! Os dentes que mordem, as garras que fincam! Evita o pássaro Júbaro e foge qual corisco Do frumioso Capturandam." O moço pegou da sua espada vorpeira: Por delongado tempo o feragonists buscou. Repousou então à sombra da tuntumeira, E em lúmbrios reflaneios mergulhou. Assim, em turbulosos pensamentos quedava Quando o Paragarávio, os olhos a raisluscar, Veio flamiscuspindo por entre a mata brava. E borbulhava ao chegar!Um , dois! Um, dois! E inteira, até o punho, A espada vorpeira foi por fim cravada! Deixou-o lá morto e, em seu rocim catunho, Tornou galorfante à morada. "Mataste então o Pargarávio? Bravo! Te estreito no peito, meu Resplendoso! Ó gloriandei! Hosana! Estás salvo!" E na sua alegria ele riu, puro gozo. Solumbrava, e os lubriciosos touvos E vertigiros persondavam as verdentes; Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos E os porverdidos estringuilavam fientes.

O TAGARELÃO

Tradução de William Lagos

Era o Assador e os Sacalarxugos Elasticojentos no eirado giravam Miserágeis perfuravam os Esfregachugos E os verdes porcalhos ircasa arrobiavam. Cuidado, meu filho, com o Tagarelão! Te morde com a boca e te prende com a garra! Escapa ao terrível Jujupassarão E foge ao frumoso e cruel Bandagarra! Cingiu à cintura sua espada vorpal E por longo tempo o manximigo buscou Da árvore Tumtum na sombra mortal, Em cismas imerso afinal descansou. E assim, ufichado em seu devaneio, O tagarelão, com olhos de chama, Surdiu farejando do bosque no meio: A gosma supura e a baba derrama! Um, dois! E dois, um! A lâmina espessa Cortou navalhando sua espada vorpal! Deixou-lhe o cadáver e trouxe a cabeça; Voltou galufando em triunfo total! " Pois mataste destarte o Tagarelão? Vem dar-me um abraço, meu filho valente! O fragor desse dia! O meu coração Em êxtase canta loução e contente! Era o Assador e os Sacalarxugos Elasticojentos no eirado giravam Miserágeis perfuravam os Esfregachugos E os verdes porcalhos ircasa arrobiavam.

BESTIALÓGICO

Tradução de Eugênio Amado Brilhava o dia, e uma fumaça No céu girava sem parar; Palhaços sérios espiavam Loucos risonhos a cantar.

BLABLASSAURO

Tradução de Ricardo Gouveia

Brilumia e colescosos touvos No capimtanal se giroscavam; Miquíticos eram os burrogouvos,

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Cuidado com o Bestialógico! Se ele te pega é perdição! Cuidado com a Ave Jujuba E o terrível Bicho-Papão! Ele tomou de sua espada E foi atrás de uma inimiga; À sombra da árvore Tuntun, Descansou, coçando a barriga. E ali ficou o Bestialógico, Olhos selvagens, chamejantes, Resfolegando na floresta Com mil idéias borbulhantes. Um, dois! Um, dois! Veio marchando. Ao vê-la ergueu a espada e - zop! Deixou-a morta e sem cabeça, Voltando em seguida a galope. Mas quem morreu? O Bestialógico? Pois então vem até os meus braços! Que lindo dia! Tu mereces Milhões de beijos e de abraços! Brilhava o dia, e uma fumaça No céu girava sem parar; Palhaços sérios espiavam Loucos risonhos a cantar.

E os mamirathos extrapitavam. "Foge meu filho, do Blablassauro! Boca que morde, garra que agarra! Fica longe do Ornitocentauro E do frumioso Bombocarra!" Nas mãos tomou sua espada vorpal: Venceria o manxomo inimigo! Pensaparou ao pé de um Tumtal, Meditando, ele e seu umbigo. Em úfia concentração pensava; E o blablassauro, olhar flamejante, Do bosque tulgeo, aos bufos chegava Balouçando o corpo borbulhante! Zás-trás! Alto a baixo, lado a lado Corta e pica a lâmina vorpal! Levando a cabeça do malvado, Galunfante, voltou afinal. "Então o Blablassauro morreu? Vivas! Frabujoso! Quem diria? Abraça-me, briante filho meu!" E ele ria de pura alegria. Brilumia e colescosos touvos No capimtanal se giroscavam; Miquíticos eram os burrogouvos, E os mamirathos extrapitavam.

ALGARAVIA Tradução de Oliveira Ribeiro Netto Era o auge e as rolas brilhantes Pelo ar giravam, giravam. Palhaços davam pinotes, Os montes se amontoava. - Cuidado com a Algaravia, meu filho, ela morde e arranha! Bicho papão te carrega, O Lobisomem te apanha! Ele de espada na mão Foi buscar o inimigo... Junto dum mandacaru Ficou pensando consigo. Enquanto estava cismando, Vem do mato a Algaravia. Dos olhos saia fogo, Era brasa que cuspia.

ALGARAVIÃO

Tradução de Pepita de Leão

Era o fervor, e as rutilas rolinhas Girando, o taboleiro afuroavam. Estavam os truões bem divertidos, E os cerros patetas se firmavam. "Cuidado com o Algaravião, meu filho! Ele morde, e segura até um homem! Cuidado com o Pássaro Bisnau, E foge do terrível Lobishomem!" Ele pegou na espada bem afiada, Levou tempo, buscando o inimigo ... Foi descansar ao pé da Bananeira, E ali ficou, pensando lá consigo. E enquanto ali estava a matutar, Lá de dentro do mato vem chegando O Algaravião de olhos de fogo,

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Um dois, um dois, zás-trás, Num instante ele a matou, Cortou depressa a cabeça E pra casa voltou. - Vem aos meus braços meu filho! Tu mataste a Algaravia? Dia feliz! Salve! Salve! E cantava de alegria. Era o auge e as rolas brilhantes Pelo ar giravam, giravam. Palhaços davam pinotes, Os montes se amontoava.

E de longe ele vinha já bufando! Um, dois! Um, dois! E assim de lado a lado A lâmina cortante foi rangendo! Ele matou-o pegou na cabeça, E de volta p'ra casa foi correndo. "Tu mataste o Algaravião, meu filho? Dá-me um abraço! Que glorioso dia! Que dia glorioso! Viva! Vivôôô!... Ele também deu vivas de alegria. Era o fervor, e as Rutilas rolinhas Girando, o taboleiro afuroavam. Estavam os truões bem divertidos, E os cerros patetas se firmavam.

fontes: http://www.jabberwocky.com/carroll/jabber/jabberwocky.html e http://bravonline.abril.com.br/materia/arte-traduzir-lewis-carroll-4

Coelho, por John Tenniel

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Trailer do filme em 3D "Pina", 2011, de Win Wenders

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica12/PINADance.flv

Imagem de divulgação da Copa do Mundo de Futebol 2014 no Brasil / Neuroprótese, "veste robótica" para vítimas de

paralisia

Dica 12 - Uso da vírgula - parte I Escrito por Ana Paula Rodrigues

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O que pode haver em comum entre o filme “Pina”, o cartaz da FIFA e a imagem da neuroprótese?

Miguel Nicolelis!

O cientista brasileiro mais importante atualmente tem a música como assunto inicial de seu livro “Muito Além do Nosso Eu”. Em boa parte de todo o texto discorre sobre como as sensações desse contato musical inusitado influenciaram sua carreira e suas pesquisas neurocientíficas, inclusive aquelas sobre resgate do movimento de pessoas com paralisia grave. Será um adolescente tetraplégico que deverá usar a "veste robótica" concebida por Nicolelis no jogo inicial da Copa do Mundo em 2014.

Neurocientista de envergadura internacional, cotado para o Nobel desde 2009, pioneiro e descobridor da denominada "nova ciência do cérebro", seu trabalho também o credencia como humanista. Engajado socialmente, suas pesquisas têm alcance não apenas clínico para vasto campo de enfermidades - o que já seria ótimo - mas também social - as crianças do Rio Grande do Norte que o digam (Da pedra lascada à veste robótica: tecnologia é a extensão do nosso ser).

Pina Bausch, bailarina alemã, revolucionária da dança, é considerada uma das coreógrafas mais importantes do século XX. Disse quanto a seu trabalho: "O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move” (Pina Bausch: tudo é dança).

A essência da dança é o corpo em movimento, mas não apenas, há de haver muitas conexões importantes para se criar uma coreografia. É também expressão dos sentimentos, ideias e imagens. O filme-documentário de Win Wenders é sobre uma artista completa, que transcendeu a dança, teve capacidade de tornar o ser humano e o bailarino transparentes: quem dança é a alma, o que vai por dentro, no sentimento e organicidade. Com sua companhia de dança, Pina captava tudo como uma fotógrafa e traduzia em movimento, artes plásticas, cinema, teatro. Dançava a dor, a solidão, com intensidade e delicadeza.

No filme, que foi exibido nos cinemas de Brasília em 2012 em 3D, vemos as cores da Alemanha, diferentes das nossas, e dores e solidões também outras. Mostra como sua obra reflete contrastes dos sentimentos

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humanos, o que organiza e desorganiza - o vil e o sublime, o ódio e o amor. Seus bailarinos apresentam técnica precisa, apurada, mesmo não sendo esse o foco das coreografias.

Com abordagens diferentes, mas ambos ligados ao movimento em sua concepção mais profunda - Pina, no âmbito dos sentidos e dos sentimentos e de suas conexões para se dançar; Nicolelis, no âmbito das conexões cerebrais que geram energia bidirecional - essas duas personalidades vêm a este espaço enriquecer o tema "uso da vírgula", traço indicativo de pausa no movimento lógico da estrutura frasal (e não da fala!).

Acessem matérias sobre eles e seus trabalhos por meio dos endereços eletrônicos indicados ao final e aguardemos a chance de observar o funcionamento da neuroprótese na Copa do Mundo em 2014!

Por ora, vejamos o uso da vírgula nos seguintes trechos do livro do nosso cientista (NICOLELIS, Miguel. Muito além do nosso eu: a nova neurociência que une cérebros e máquinas – e como ela pode mudar nossas vidas. 1ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2011) :

"Perplexo. Só assim eu poderia descrever meu estado ao detectar a primeira rajada de arpejos de violinos que,(1) ricocheteando nas sisudas paredes de mármore,(2) expandiu-se pelas elegantes escadas que ligam o segundo andar ao átrio de entrada do prédio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diante de tal assombração sonora,(3) minha única reação foi exibir um espanto paralisante. Afinal,(4) nenhum estudante de medicina está preparado para enfrentar o absurdo da situação que se apresentou naquela até então tranquila noite de plantão. Pois,(5) durante um breve interlúdio na rotina dantesca de um dos mais concorridos prontos-socorros do planeta,(6) o Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMUSP,(7) sem saber nem como nem por quê,(8) de repente me encontrei imerso nos primeiros acordes de um inebriante concerto que rapidamente preencheu todos os espaços ao meu redor.

[...]

Ainda em choque por tudo aquilo a que eu havia sido exposto pela primeira vez,(9) só me ocorreu perguntar: 'Mas o que eu preciso fazer para encontrar essa outra classe?'

Sorrindo,(10) enquanto gentilmente abria a porta do auditório,(11) dr. César Timo-Iaria deu o

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primeiro conselho ao aprendiz para toda a vida que ele acabara de recrutar com tanta maestria: 'Basta seguir a música!'. " (págs. 11 e 17).

(1) Vírgula obrigatória, marca início da oração intercalada;

(2) Vírgula obrigatória, marca final da oração intercalada;

(3) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora da ordem direta;

(4) Vírgula obrigatória, destaca expressão explanatória;

(5) Vírgula obrigatória, marca início da oração intercalada;

(6) Vírgula obrigatória, marca final da oração intercalada e isola aposto;

(7) Vírgula obrigatória, isola o aposto;

(8) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora da ordem direta;

(9) Vírgula obrigatória, marca frase invertida;

(10) Vírgula obrigatória, separa orações coordenadas;

(11) Vírgula obrigatória, marca frase invertida, fora da ordem direta;

Um consórcio científico internacional,(12) o The Walk Again Project (Projeto andar Novamente),(13) que ajudei a fundar,(14) oferece uma primeira imagem desse futuro. Concebido alguns anos depois que Belle e Aurora demonstraram a possibilidade de conectar

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tecido nervoso vivo com ferramentas artificiais,(15) o projeto tem como objetivo desenvolver e implementar a primeira ICM capaz de restaurar a mobilidade corporal completa em pacientes vítimas de graus severos de paralisia. (pág. 471).

(12) Vírgula obrigatória, isola o aposto;

(13) Vírgula obrigatória, demarca início da oração adjetiva explicativa;

(14) Vírgula obrigatória, demarca final da oração adjetiva explicativa;

(15) Vírgula obrigatória, separa orações coordenadas sindéticas;

Nesta dica, estudaremos os casos de vírgula obrigatória, facultativa e proibida. Na segunda parte, em uma próxima dica, os casos especiais.

Desfazendo mitos

Antes de mais nada, é preciso desmistificar a cultura de que vírgula é pausa pura e

simplesmente.

Tampouco corresponde à respiração ou à fala (o que seria dos asmáticos e dos gagos?).

Também não é "questão de ouvido".

Deve-se evitar a visão simplista de que a vírgula serve para marcar as pausas da fala. A vírgula obedece a critérios sintáticos, ou seja, necessita-se ter conhecimento estrutural da língua para não separar o que é sintaticamente ligado, como estudaremos adiante. A fala é objeto de estudo da prosódia, não da sintaxe.

Certamente desenvolve-se bom conhecimento da estrutura da língua ao lermos textos bem escritos, de bons autores. Não é preciso conhecer

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profundamente a sintaxe, saber fazer análise sintática minuciosamente: a intuição linguística/competência linguística desenvolve-se pela leitura, mas, quando equívocos permanecem, faz-se necessário estudar algumas regras.

Celso Pedro Luft esclarece essa problemática e, por oportuno, transcrevo trecho de seu livro A vírgula (LUFT, Celso Pedro. A vírgula.2ª ed. São Paulo: Ática, 2007) : “A nossa pontuação - a pontuação em língua portuguesa – obedece a critérios sintáticos, e não prosódicos. Sempre é importante lembrar isso a todos aqueles que escrevem, para que se previnam contra bisonhas vírgulas de ouvido. Ensinam as gramáticas que cada vírgula corresponde a uma pausa mas que nem a toda pausa corresponde uma vírgula. Essa ligação entre pausa e virgula deve ser a responsável pela maioria dos erros de pontuação. E penso que está mais do que na hora de desligar a duas coisas." (pág. 7).

Não adianta ler em voz alta e pôr uma vírgula onde se pausa a fala porque

muitas vezes ela não coincidirá com as regras de virgulação e pode-se

acabar até com o significado correto de um trecho. A ordem direta de

uma frase, normalmente sujeito + verbo + complemento, não admite

vírgula, pois este sinal de pontuação existe justamente para demonstrar

"falta ou quebra de ligação sintática (regente+regido,

determinado+determinante) no interior das frases". (pág. 9).

Vírgula obrigatória

a- Separar elementos de uma enumeração. Ex: A audiência foi longa, entediante, desnecessária;

b- Isolar o aposto. Ex: Dad Squarisi, autora das dicas do Correio Braziliense, é festejada em todas as suas publicações;

c- Isolar o vocativo. Ex: Excelência, peço vênia para minha declaração;

d- Indicar inversão ou intercalação de algum elemento da frase, fazendo-a sair da ordem direta. Ex: No início da sessão, os advogados entregaram os memoriais;

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e- Indicar a supressão do verbo. Ex: Antes das férias, mutirão no gabinete para entregarmos todos os processos.

f- Isolar termos pleonásticos ou repetidos. Ex: Na presença dos jornalistas, o ministro calou-se, calou-se quanto ao tema.

g- Destacar as expressões explanatórias ou corretivas. Ex: O preposto falhou, isto é, não esclareceu aspectos fundamentais.

Vírgula optativa

Se a intercalação ou inversão se der com uma só palavra ou com expressão curta, as vírgulas que marcam tal ocorrência acabam sendo optativas. Ex: Com tranquilidade, o reclamante falava sobre tudo; Com tranquilidade o reclamante falava sobre tudo; O reclamante, com tranquilidade, falava sobre tudo;

Observe-se que, quando houver intercalação com vírgula optativa, ou se usam ambas as vírgulas, ou não se usa nenhuma delas. Então, será errado escrever "o reclamante, com tranquilidade falava sobre tudo".

Vírgula proibida

a - Entre sujeito e verbo. Ex: O juiz determinou nova audiência;

b - Entre verbo e objeto direto. Ex: O juiz determinou nova audiência;

c - Entre verbo e objeto indireto. Ex: O juiz precisou de mais tempo para decidir;

d - Entre verbo e predicativo. Ex: A audiência foi longa;

e - Entre verbo e agente da passiva. Ex: Uma nova audiência foi determinada pelo juiz;

f - Entre o adjunto adnominal e o substantivo ao qual se refere. Ex: A defesa da ré gerou revolta;

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g - Entre o complemento nominal e o vocábulo por ele completado. Ex: A defesa contra as acusações gerou revolta;

h - Por raciocínio lógico, também não se usará vírgula entre as orações principais e aquelas que exerçam funções sintáticas de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito e complemento nominal.

i - Quanto à inversão entre os termos da oração, há exceção: a posposição do sujeito ao verbo não vem sinalizada pela vírgula. Ex: Não acarretará sanções o comportamento da recorrida nestes autos;

A matéria de capa da edição de setembro de 2008 da Revista Scientific American já trazia a imagem da "veste robótica" a ser usada na abertura dos jogos da Copa de

2014

Nesse artigo, Miguel Nicolelis discute a rápida evolução da pesquisa em interfaces cérebro-máquina na última década e as perspectivas para que a abertura da Copa do Mundo no Brasil em 2014 possa servir como palco de uma demonstração do potencial de impacto dessa tecnologia no futuro da reabilitação de pacientes portadores de paralisia corpórea grave (Artigo: Mind Motion).

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Matérias em linguagem acessível ao público leigo, mas interessado, disponíveis na internet sobre Miguel Nicolelis e sobre Pina Bausch em:

- Instituto Internacional de Neurociência de Natal

- Nosso Nobel

- Pesquisa de Miguel Nicolelis dá a largada para criar 'internet cerebral' - Miguel Nicolelis, a mente brilhante da ciência brasileira - Samsung quer desenvolver tablets controlados por pensamento - Cientistas desenvolvem prótese wireless que funciona com a força do pensamento

- Pina Bausch: tudo é dança

- Bailarina brasileira da companhia de Pina Bausch fala sobre

o filme

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Ilustração inspirada na obra de Erico Verissimo, em O tempo e o vento 50 anos

Tom Jobim foi um mestre na harmonia e é considerado um gênio brasileiro. Arquitetou solidamente sua obra com uma sofisticação natural, extrema elegância, som claro e límpido, em imensa estrutura harmônica. Ao mesmo tempo, foi popular, tanto que emprestou suas canções a temas musicais de programas televisivos, e quando o víamos na tela da TV, podíamos reconhecer um quase típico homem brasileiro - mais precisamente, carioca -, afável, sorridente, bem humorado.

A harmonia se tem na construção e no encadeamento de acordes, que, por sua vez, sustentam as melodias. Nas composições de Tom, percebemos o mínimo de notas, sem rebuscamentos supérfluos, o que limpa o som que chega aos nossos ouvidos - melódico, direto, claro, facilmente assimilável, aparentemente simples, mesmo não o sendo em sua essência.

Excelente letrista também, temos nesta dica a presença de sua música "Passarim" (aperte o play abaixo para ouvi-la), emprestada para a

Dica 13 - Uso da vírgula - parte II Escrito por Ana Paula Rodrigues

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minissérie feita em adaptação da obra "O Tempo e o Vento", do escritor Érico Veríssimo.

Música "Passarim", de Tom Jobim

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/images/tomjobim_passarim.mp3

Em Veríssimo (sim, ele é o pai de Luís Fernando Veríssimo, também escritor de sucesso), temos outro brasileiro notável. Pertencente ao Modernismo, da fase regionalista do movimento - quando temos autores que se concentram em temas nordestinos (Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e José Lins do Rego) - o autor do épico "O Tempo e o Vento" elaborou uma das obras mais importantes da literatura nacional com foco na região sul do país. A obra é composta de três romances, cada um deles em mais de um volume ou tomo: "O Continente", "O Retrato" e "O Arquipélago", dos quais constam 200 anos do processo de formação do estado do Rio Grande do Sul, num enredo que mescla ficção e fato - história do Brasil, de 1745 a 1945, tempos marcados pelo poder das oligarquias, por conflitos internos e por guerras de fronteira, a recontar a formação deste país. Provavelmente todos já conhecem o capitão Rodrigo, a Ana Terra, ou algum outro personagem marcante da obra, seja pela minissérie, seja por ter lido alguma parte dessa grandiosa epopeia nos tempos de escola. Interessante que todo o processo de finalizar essa trilogia levou o escritor ao esgotamento, como ele mesmo disse:

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"Nessa aceitação vejo hoje um sinal de minha hesitação quanto à última parte de O Tempo e o Vento. No fundo, essa ida para os Estados Unidos foi uma espécie de fuga dos fantasmas, problemas e dificuldades que me esperavam atocaiados nesse novo livro", confessou Érico em uma entrevista à Revista do Globo em 1961, depois da publicação, afinal, do primeiro tomo de O Arquipélago.

Premido, entre outras coisas, pelo próprio "apreciável sentimento de culpa" infundido pela trilogia inconclusa e pela dificuldade de escrever aquele que deveria ser seu romance mais franco, em sua própria opinião, Erico foi derrubado pelo estresse e teve seu primeiro infarto, em março de 1961, o que poderia ter atrasado ainda mais a conclusão da obra.

Em 2012, tivemos o cinquentenário de publicação da obra completa. Vejam no caderno especial do ZERO HORA excelente matéria, com documentários, entrevistas, gravuras e tudo o mais a que se tem direito por se tratar de tão valioso legado: O Tempo e o Vento - 50 anos.

A boa nova é que teremos no segundo semestre de 2013 o lançamento do filme homônimo O Tempo e o Vento, com direção de Jayme Monjardim, com os atores Thiago Lacerda, Marjorie Estiano, Fernanda Montenegro, Cléo Pires, Mayana Moura, entre outros. Confiram ao final o trailler do filme.

A partir deste ponto, vejamos os casos especiais para o uso da vírgula:

Reza a lenda que, na antiga Rússia, um czar rejeitara o apelo de um condenado e dera o veredito: "Manter condenação. Impossível absolver." Tendo pessoal interesse no caso, a czarina, durante a madrugada, teria revertido a situação ao aplicar pequenas alterações na pontuação: "Manter condenação, impossível; absolver."

Percebe-se que a questão da vírgula não é supérflua nem de somenos importância, pois

de seu mau uso podem resultar equívocos sérios.

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I) Vírgula e etc:

O acordo ortográfico - expedido com força de lei pela Academia Brasileira de Letras - em vigência determina que a vírgula deve ser usada antes de "etc.", razão pela qual a referida vírgula se torna, então, obrigatória. Se for "etc." a última palavra da frase, não colocamos dois pontos: um só ponto terá a função de indicar a abreviatura e o ponto final.

Não se deve usar a conjunção "e" antes de etc., pois já exprime o significado "e outras coisas mais";

Pode-se empregar etc. a pessoas e a animais.

Não se devem usar as reticências (...) porque esse sinal de pontuação indica que se suspende a discriminação de outros itens, mas essa suspensão, em última análise, já está implícita no próprio vocábulo "etc".

a) Vistos, etc. (correto); b) Vistos etc. (errado); c) Vistos etc... (errado); d) Vistos, etc... (errado).

II) Vírgula entre orações

Em decorrência da observação feita no item "vírgula proibida" na dica

anterior, que prega o enfoque da separação entre os termos de uma

oração conforme o período simples e a ordem direta da oração, temos

algumas observações sobre o uso da vírgula entre as orações.

Veda-se o uso desse sinal de pontuação entre orações principais e orações

subordinadas que equivalham a um sujeito, objeto direto, indireto,

predicativo e complemento nominal, que seriam as orações subordinadas

substantivas subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, predicativas

e completivas nominais.

Exs:

a) "É importante que se faça a justiça" (subjetiva);

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b) "Os homens da lei querem que se faça a justiça" (objetiva direta);

c) "Todos precisam de que se faça a justiça" (objetiva indireta);

d) "A esperança da população é que se faça a justiça" (predicativa);

e) "A população tem necessidade de que se faça a justiça"

(completiva nominal).

- Também se usa a vírgula para isolar orações intercaladas.

Ex: A justiça, todos dizem, é o que se deseja.

- Orações intercaladas como essa podem ser separadas por

parênteses ou por travessões.

Exs: A justiça - todos dizem - é o que se deseja;

A justiça (todos dizem) é o que se deseja.

- Orações coordenadas normalmente são separadas por vírgulas.

Ex: A justiça é o que se deseja, mas poucos têm acesso a ela.

- Orações coordenadas começadas por "e" e com o mesmo sujeito

não são separadas por vírgulas.

Ex: Todos querem justiça e (todos) têm esperança de serem

contemplados por ela.

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- Porém, as coordenadas começadas por "e" que têm sujeitos

diferentes são separadas por vírgulas.

Ex: Todos querem a justiça, e ninguém perde a esperança.

Obs: se as coordenadas forem orações extensas ou com vírgulas internas, impõe-se o ponto e vírgula.

Exs: Estudei, passei, comecei a trabalhar;

Estudei muito por 2 anos; passei em concursos variados, em diferentes Estados, para cargos de nível médio e de nível superior; comecei a trabalhar no que mais me agradou.

- Conjunção "nem" dispensa vírgula; se as orações são de extensão razoável, usa-se virgular.

Exs: Não precisou depor nem de comparecer ao tribunal;

O empregador não enviou preposto habilitado, nem enviou toda a documentação exigida para esclarecimento fidedigno dos fatos.

- Orações subordinadas adjetivas explicativas são separadas por vírgulas; não o são as adjetivas restritivas.

Exs: Brasília, que é onde fica a sede do TRT10ª Região, entrará no período de baixa umidade do ar em pouco tempo;

O filme que comprei é de edição de colecionador.

- Orações subordinadas adverbiais são separadas por vírgula de suas principais quando antepostas.

Ex: Quando a sessão iniciou, todos os magistrados estavam presentes.

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III) Vírgula em citações de artigos de lei

- Se a citação vai do mais minucioso para o mais geral, em gradação ordenada, usa-se a preposição "de". Esse encadeamento revela que está na ordem sintática direta e não se usa vírgula, mesmo que forme frase extensa.

Exs: Veja-se o inciso II do artigo 5º da Constituição Federal;

Veja-se o inciso II, do artigo 5º, da Constituição Federal (errado).

- Se não houver essa gradação, usa-se a vírgula, pois indicativa de intercalação de elementos, no início e ao final do elemento intercalado.

Exs: Veja-se o artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal;

Veja-se o artigo 5º, inciso II da Constituição Federal (errado);

Veja-se o artigo 5º inciso II, da Constituição Federal (errado);

Veja-se o artigo 5º inciso II da Constituição Federal (errado).

Vídeo de apresentação: O tempo e o vento

http://www.youtube.com/watch?v=MOJnqffVkE4

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De onde vem o gosto musical de cada um de nós? Como ele se forma e se consolida? Esse processo, segundo a neurociência, se desenvolve a partir da estimulação, é automático, inconsciente e tem a ver com dois fatores essencialmente: sistema de recompensa e habilidade para decifrar padrões.

Uma criança inicia seu aprendizado musical a partir de canções simples tanto na estrutura quanto na letra: são aquelas com refrões fáceis, repetitivos, mas nem por isso pobres - apenas é o que o cérebro infantil requer.

Com o passar dos anos, a complexidade nesses padrões deve aumentar, pois o cérebro maduro passa a não achar graça em melodias simples e previsíveis, começa a apreciar músicas que lhe "dão trabalho", pois se inclina a analisar sua estrutura para identificar algum padrão na melodia, a decifrar sequências harmoniosas. Padrões repetitivos se tornam entediantes e a experiência permite processar músicas mais elaboradas e gostar delas.

A apreciação musical também se ligará à nossa memória associada, aos momentos em que determinada canção foi escutada - se momento bom, positivo e importante, ou ruim -, por isso ativa o sistema de recompensa cerebral - aquele cuja ativação, quanto mais intensa for, maior sensação de prazer trará e isso acaba definindo nossas preferências. Esse mesmo sistema de recompensa é acionado também pela própria capacidade de decifração que o cérebro desenvolve, e quanto mais músicas se ouve, mais o cérebro aprende a encontrar e a antecipar padrões em melodias e ritmos cada vez mais complexos, como numa adivinhação, e passa a querer mais músicas complexas para ouvir.

Praticar modifica o cérebro e o deixa cada vez mais hábil para apreciação de músicas diversas e essa habilidade pode ser desenvolvida constantemente, sempre poderemos exercitá-la. A ativação do sistema de recompensa traz euforia e motiva a querermos mais experiências do mesmo tipo.

Trazemos nesta dica duas músicas totalmente diversas entre si, mas ambas comungam de algumas características - originalidade e criatividade, por exemplo.

A música Overture foi feita para a peça "Orfeu da Conceição" (long play, 1956, Odeon), produzida a partir do texto de Vinícius de Moraes, que, por sua vez, inspirou-se no mito grego de Orfeu. Vinícius procurava um músico para a tarefa de criar a trilha sonora para sua peça e foi apresentado ao então jovem Tom Jobim, dando início a amizade e parceria duradouras. A peça

Dica 14 - Uso de "cujo" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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foi adaptada para o cinema também e temos dois filmes produzidos, cujas respectivas figuras de cartazes podemos ver a seguir.

Overture nos proporciona a audição de elementos mesclados, como só Tom Jobim poderia fazer e ele mesmo explica: "modos gregos, as cadências plagais, a nossa herança européia, a nossa maneira brasileira foram usados livremente, usados como na própria música que temos, herdeira de diversas culturas e sem quaisquer pretensões de 'pureza'. O uso livre de 'harmonias européias', de 'instrumentos europeus', que por sua vez tiveram origem em outras culturas - tudo isso vem da crença que temos de que as culturas se interpenetram e se fundem."

E tudo termina em samba, como não poderia deixar de ser por se tratar de um Orfeu negro e de uma história de amor impossível ambientada numa favela carioca, em pleno feriado de Carnaval.

A música da banda Pato Fu (que insiste em trilhar caminhos novos para a música brasileira) nos remete à infância, tanto pelos versos infantis quanto pela melodia, e nos surpreende pela inventividade - aos invés de instrumentos musicais, temos brinquedos no arranjo! Isso torna a musica divertida e traz um ar de novidade que estimula o cérebro, sempre ávido e curioso, pois se diferencia do senso comum musical atual, e por isso não se enquadra no conceito pop de música fácil.

Esperamos que apreciem!

Leiamos um pouco sobre a adaptação do mito de Orfeu para a

realidade brasileira. Com a palavra, o poeta:

Poucas histórias terão excitado mais o espírito criador dos artistas que o mito grego de Orfeu, o divino músico da Trácia, cuja lira tinha o poder de tocar o coração dos bichos e criar nos sêres a doçura e o apaziguamento. Êsse sentimento da integração total do homem com a sua arte, num mundo de beleza e harmonia, - que artista não o traz dentro de si, confundido com o próprio impulso que o move para a criação?

Capa do premiado filme "Orfeu Negro"; musical; 1959; Brasil/França; direção Marcel Camu

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Foi por volta de 1942 que eu, uma noite, depois de reler o mito numa velha mitologia grega, senti subitamente nele a estrutura de uma tragédia negra carioca. A lenda do artista que conseguiu, graças ao fascínio de sua música, descer aos infernos para buscar Eurídice, sua bem-amada morta e que, ao perdê-la em definitivo e com ela o gosto de criar e de viver, desencadeou em torno de si a desarmonia, o desespêro de que seria êle a primeira vítima, - essa lenda poderia perfeitamente passar-se num ambiente como o de uma favela carioca, sublimados, é claro, os seus elementos naturais de modo a atingir a elevação do mito.

Texto da contracapa do long play Orfeu da Conceição, 1956,

escrito por Vinicius de Moraes

Capa do filme "Orfeu"; drama; 1999; Brasil;direção Cacá Diegues

Vamos aproveitar a fala do poeta Vinícius de Moraes para

sacar, lá da 3ª linha, o pronome relativo "cuja" ("...o divino

músico da Trácia, cuja lira tinha o poder...") e dar início ao

estudo sobre o uso de "cujo" e suas flexões.

Primeiramente, conheçamos melhor a expressão latina de cujus:

De cujus – pode exercer função de sujeito na oração, é locução com função substantiva.

Advém da expressão latina de cujus successione agitur: de cuja sucessão se trata. É termo jurídico para pessoa falecida cuja sucessão está aberta aos herdeiros; falecido cujos bens estão em inventário.

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Não confundir com regras de uso de “cujo”, que não pode exercer função de sujeito na oração, tem a missão de unir duas frases e sempre indica posse. Suas acepções são:

1. Pronome relativo - de que ou de quem; do qual, da qual, dos quais, das quais

Relaciona um substantivo antecedente e outro substantivo consequente. O consequente (segundo substantivo) é possuidor de algo (sentimento, qualidade, condição, ser etc.) designado pelo antecedente (primeiro substantivo); equivale a de que, de quem, do/da qual, dos/das quais.

2. Substantivo masculino - uso não aceito na língua culta, formal

Seu emprego como substantivo é aceito apenas como regionalismo e seu uso é informal. Significa alguém de quem já se falou e não se deseja nomear; dito-cujo; pessoa indeterminada; diabo; sujeito, cara, fulano.

1 - “Cujo” contém em si a preposição “de”, por tal razão, traz imbuída a ideia de posse e pode ser substituído por “do qual”. Haverá sempre um antecedente e um consequente diversos. “Cujo” nunca será sujeito por trazer em si a preposição “de” e sujeito não pode vir regido de preposição. Por encerrar valor possessivo, nunca será usado em lugar de “o qual”, somente no lugar de “do qual” e variantes.

Exemplos:

Esta é a lei cuja publicação foi adiada.

Esta é a lei cuja foi publicada (errado).

Esta é a lei a qual foi publicada (certo).

2 - Mesmo encerrando em si a preposição “de”, há casos em que “cujo” pode vir precedido dessa mesma preposição se esta estiver regendo o consequente relacionado. A preposição “de”, então, não rege “cujo”, mas sim seu termo consequente. Outras preposições podem aparecer antes de “cujo”, pois a necessidade da preposição é ditada pelo verbo ao qual “cujo” se liga.

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Exemplos:

A lei de cuja publicação falávamos é esta.

Esta é uma lei em cujas disposições não acreditamos, com cuja finalidade não simpatizamos e de cujos dizeres discordamos, mas a cujas disposições obedecemos para a manutenção do estado de direito (PEREIRA, 1924, pág. 306).

Os autos por cujo julgamento sou responsável estão sobre a mesa.

3 – Há quem antipatize com o uso de “cujo” e o substitua por “que”, mas incorre em erro grave.

Exemplos:

Estou satisfeita em ver a lei cuja publicação eu aguardava (certo).

Estou satisfeita em ver a lei que eu aguardava a publicação (errado).

Difícil é abrir um cofre cujo segredo desconhecemos (certo).

Difícil é abrir um cofre que desconhecemos o segredo (errado).

4 – Não se usa artigo depois do relativo “cujo”.

Exemplos:

Já li a lei cuja publicação ocorreu ontem.

Já li a lei cuja a publicação ocorreu ontem (errado).

5 - “Cujo” sempre concorda com seu subsequente, nunca com seu antecedente.

Ex:

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Gosto deste autor cujas publicações acompanho (certo).

Gosto deste autor cujo publicações acompanho(errado).

O uso correto do pronome relativo "cujo" revela boa competência linguística, enriquece o texto e o deixa preciso, claro e assertivo, vamos usá-lo mais!

"Mamã Papá" (Fernanda Takai/John Ulhoa/Rubinho Troll) – 2ª faixa do álbum "Daqui pro Futuro", 2007,

gravadora Rotomusic.

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica14/musicadbolso_patofu.flv

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Quem se recorda da imagem a seguir?

Imagem de "Antes do pôr-do-sol", 2004

O diretor de cinema Richard Linklater iniciou há 18 anos a produção de uma trilogia que tem fãs fiéis espalhados ao redor do mundo, a série de filmes "Antes".

No ano de 1995, estreou o filme "Antes do amanhecer". Nove anos depois, em 2004, "Antes do pôr-do-sol". Neste mês, também nove anos após o segundo filme, teremos oportunidade de assistir à estreia de "Antes da meia-noite", dia 14 de junho de 2013, nos cinemas brasileiros.

Dica 15 - Uso de verbos abundantes e da expressão "daqui a" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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Quando do lançamento da primeira película, que recebeu o Urso de Ouro no festival de Berlim, muitos se identificaram com a história na tela, se reviram nos personagens. Carregado de sentimentos (não de sentimentalismos) e de diálogos, temos um enredo sobre o amor de dois jovens, de uma ligação emocional imediata e intensa, típico na idade.

O segundo filme surgiu para responder à questão que havia "ficado no ar", esse amor sobreviveu e se concretizou? Novamente, muitas boas surpresas.

São filmes com bastantes conversas, algumas profundas, outras são apenas triviais, mas sempre realistas. Em cena, temos o amor de um casal aos 20, aos 30 e aos 40 anos de idade, com ótimas atuações (por favor, assistam à versão legendada com áudio original), tudo emoldurado por cenários paradisíacos: o primeiro foi filmado em Viena, o segundo, em Paris, o terceiro teve locações na Grécia.

Ethan Hawke e Julie Delpy, atores principais, colaboraram com o roteiro, tamanha a sincronia entre os dois e dos dois com o diretor. Os filmes formam uma trilogia singular, um marco no que tange à escrita de diálogos para o cinema.

O intervalo de tempo fez com que as relações retratadas amadurecessem juntamente com o seu público fã. Todos envelheceram e cresceram juntos e se vê como o tempo os afetou. É divertido observar que a trama sempre se conecta ao momento de vida dos personagens em perfeita simbiose com seu público e seu enredo reflete muito bem todo tipo de sentimento que costuma envolver os romances.

É uma trilogia que consegue escapar dos chavões das comédias românticas e é descrita pelo próprio diretor e roteirista como um "romance para realistas".

Talvez essa seja uma boa explicação para o alto grau de empatia que costuma suscitar nos espectadores - há muitos que falam de Jesse e Celine (Ethan e Julie, respectivamente) como se fossem pessoas reais, tamanha a identificação com as circunstâncias e com as questões existenciais, sentimentais, aspirações, temores e frustrações dos personagens.

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Imagem de "Antes da meia-noite", a estrear no Brasil em 14 de junho de 2013

A seguir, trecho do primeiro filme da trilogia, intitulado "Antes do

amanhecer", 1995, de Richard Linklater:

http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/images/stories/dicas/15/antes_do_amanhecer.flv

[[Cena nº 5 do filme

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Notaram a frase do convite de Ethan Hawke "imagine daqui a 10 ou 20 anos" nesse trecho do filme exibido? Oportuno aproveitarmos o exemplo para sanarmos uma dúvida não tão rara:

"A" e "há" são vocábulos profundamente distintos tanto por sua natureza quanto pelo seu significado, mas muitos se confundem na hora de redigir.

"Há", do verbo haver, nos casos ora em análise, indica tempo passado.

Ex: Há muito tempo anseio por esta data para enfim obter o julgamento da minha ação.

Já "a" é preposição e, para o que interessa no momento, indica tempo futuro. Ex.: "Daqui a um dia a sentença será proferida".

A noção de tempo está em ambas as frases, mas para usarmos o verbo haver temos de ter a significação de tempo passado. Se for tempo futuro, o que se usa é a preposição "a".

Sendo assim, não existe verbo haver se a noção é de futuro (para os casos em estudo nesta dica), razão por que erradas estão as construções: "O magistrado encerrará o julgamento daqui há duas horas" e "daqui há algum tempo poderei saber a sentença".

Portanto, não existe a forma "daqui há", sempre que houver ideia de tempo futuro - e a palavra "daqui" evoca essa ideia - usaremos a preposição, ficando sempre "daqui a", "daqui a pouco", "daqui a um tempo", etc.

Na segunda parte da dica 15, saibamos um pouco mais sobre o uso correto dos verbos abundantes, corriqueiramente empregados em textos no TRT, que vêm a ser aqueles que apresentam duas ou mais formas equivalentes e, geralmente, ocorrem no particípio. Temos, então, formas regulares (terminadas em -ado ou em -ido) e as irregulares, denominadas também de breves ou curtas.

As formas regulares estão perdendo espaço na língua, que tem preferido as formas irregulares porque mais curtas. Mas na linguagem formal devemos nos guiar pelo que preconizam os gramáticos.

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Regras para se escolher entre a forma irregular e a regular:

1 - Verbos "ter" e "haver" preferencialmente particípio passado regular: O juiz tinha suspendido o julgamento; o juiz havia suspendido o julgamento;

2 - Verbos "ser" e "estar" preferencialmente particípio passado irregular: O julgamento foi suspenso pelo juiz; o julgamento estava suspenso;

3 - Nas orações reduzidas, obrigatório o particípio passado irregular: Extinto o processo, foi ao arquivamento (e não extinguido); entregue a intimação (e não entregada);

4 - Verbos "pagar", "ganhar" e "gastar" só são usados na forma irregular com qualquer verbo auxiliar: A ré tinha pego pena alta (e não pegado); o reu tinha ganho mais tempo de defesa (e não ganhado); a testemunha tinha gasto todo o tempo da defesa (e não gastado);

Confusões comuns:

Chego e chegado - apenas o particípio regular é aceito. Ex: o magistrado tinha chegado cedo;

Trago e trazido - o verbo trazer não é abundante, só possui a forma "trazido" no particípio. "Trago" é forma do verbo trazer na 1ª pessoa do singular, ou do verbo tragar ou, ainda, um substantivo. Ex: eu trago processo para casa sempre; eu trago a fumaça do cigarro (verbo tragar); dê-me um trago de cigarro (substantivo);

Incluso e incluído - o verbo incluir traz apenas o particípio "incluído", "incluso" é mero adjetivo hoje em dia. Ex: A turma havia incluído o processo em pauta; o desconto incluso não cabe às custas;

Imprimido e impresso - observar regras número 1 e número 2. Assim, "o assistente havia imprimido a sentença" (e não impresso); "ele já tinha imprimido a sentença (e não impresso); "a sentença foi impressa pelo assistente (e não imprimido); a sentença já estava impressa (e não imprimida).

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Observação:

Devemos evitar, apesar de serem formas regulares de particípio, o uso de escrevido, abrido, gastado, cobrido, ganhado e pagado. Usar escrito, aberto, gasto, coberto, ganho e pago.

Tabela informativa sobre alguns verbos abundantes e seus particípios:

Verbos da primeira conjugação - terminados em "ar" - e seus particípios

Infinitivo forma

regular forma irregular

findar findado findo

limpar limpado limpo

segurar segurado seguro

aceitar aceitado aceito

entregar entregado entregue

enxugar enxugado enxuto

expressar expressado expresso

expulsar expulsado expulso

isentar isentado isento

matar matado morto

salvar salvado salvo

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Infinitivo forma

regular forma irregular

soltar soltado solto

vagar vagado vago

Da segunda conjugação - terminados em "er" - e seus particípios

Infinitivo forma

regular

forma

irregular

acender acendido aceso

benzer benzido bento

eleger elegido eleito

incorrer incorrido incurso

morrer morrido morto

prender prendido preso

romper rompido roto

suspender suspendido suspenso

Da terceira conjugação - terminados em "ir" - e seus particípios

Infinitivo forma forma

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irregular regular

tingir tingido tinto

suprimir suprimido supresso

frigir frigido frito

imergir imergido imerso

emergir emergido emerso

exprimir exprimido expresso

extinguir extinguido extinto

frigir frigido frito

imergir imergido imerso

imprimir imprimido impresso

inserir inserido inserto

omitir omitido omisso

submergir submergido submerso

Verbos das 2ª e 3ª conjugações que só apresentam particípio irregular

Infinitivo forma

irregular

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Infinitivo forma

irregular

abrir aberto

cobrir coberto

dizer dito

escrever escrito

fazer feito

pôr posto

ver visto

vir vindo

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1944 - Criança morta

Filho de imigrantes italianos, Candinho nasceu em 1903 numa fazenda de café no interior de São Paulo, teve 12 irmãos e uma infância pobre, mas feliz. Passou os primeiros anos de vida rodeado de animais, brincando livremente em ambiente rural, observando os trabalhadores no campo, convivendo com a genuína brasilidade por meio de suas festas, suas histórias, seu folclore. Estudou somente até a 3ª série do ensino fundamental e logo cedo revelou seu talento artístico. Após juntar dinheiro por 3 anos, aos 15 foi-se embora para a capital, Rio de Janeiro, para aprimorar seus dons na Escola Nacional de Belas Artes. Sobre a ocasião, expressou:

Dica 16 - Uso do infinitivo Escrito por Ana Paula Rodrigues

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"Saí correndo, tive tempo ainda de apanhar o trem em movimento. A última imagem que me ficou gravada na memória foi a de meu pai,

levantara-se para se despedir, ainda posso vê-lo... não teve tempo de me dizer nada"

Mais tarde, em 1928, por meio de um concurso, ganhou uma viagem a Paris e por lá permaneceu por 2 anos. Aprofundou os estudos e enriqueceu sua técnica, mas a distância da terra natal o fez se aproximar ainda mais do Brasil e desenvolver forte consciência social. Ao retornar à pátria, Cândido Portinari estava renovado, seu estilo agora se apegava mais às cores e às ideias. Rompeu com a escola de artes tradicional e tornou-se representante do Modernismo. Vejamos suas frases:

"A viagem à Europa para um moço que observa é útil. Temos tempo de recuar. Temos coragem de voltar ao ponto de partida. Eu sou moço" -

sobre os valores que aprendeu com os anos que viveu em Paris.

"O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém um meio indispensável" - em declaração que

escandalizou seus mestres acadêmicos da ENBA.

"Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social" -

começando a flertar com o socialismo.

Conheceu sua esposa para toda a vida em Paris, a uruguaia Maria Vitória Martinelli. Um grande encanto foi o nascimento de seu único filho, em 1939, João Cândido Portinari, a quem retratou em muitas ocasiões. Tornou-se expoente da pintura no Brasil, reconhecido internacionalmente, idolatrado em vida.

Mas em 1954 adoece. Recebe a notícia de que está intoxicado pelo chumbo das tintas que usava em seu ofício. Passa a pintar com lápis de cor, caneta tinteiro e outras técnicas, no entanto, reprimido e impedido de expressar-se plenamente por meio de sua arte, sobre as ordens médicas, disse:

"Estão me impedindo de viver"

Em 1960, nasce sua primeira neta - e a única que veio a conhecer -, Denise. Encantado com aquele pequeno ser, com suas primeiras palavras, primeiros passos, fez de Denise sua modelo e retoma os trabalhos com

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tinta a óleo. Para ela, chega a fazer um quadro por mês. Desobedece às ordens médicas, continua a viajar e a trabalhar freneticamente, o que levou a intoxicação por chumbo a níveis letais. Em 6/2/1962, falece em decorrência do envenenamento.

Deixou mais de 5.000 obras que representam o Brasil, nosso povo, nossa história.

1956 - Banda de música 1947 - Menino do tabuleiro 1961 - Denise com carneiro branco

Trecho biográfico do início da carreira

Tarde da noite, o garoto de apenas quinze anos entra na pensão onde trabalha em troca

de uns poucos níqueis e onde, por consideração, o deixam dormir em algum canto, com a

condição de que não perturbe o sossego dos hóspedes. Vinha de retorno de suas aulas de

pintura no Liceu de Artes e Ofícios e tudo o que queria era algo com que matar a fome.

De dentro de seu alforje, tira um pouco da gelatina que, na escola, é distribuída aos

alunos para mesclar às tintas, dando-lhes a consistência necessária. Do que sobrou, o

menino trouxe um pouco para casa, colocou ao fogo e, juntando ao pão duro e

amanhecido, fez sua última refeição.

Havendo iludido seu estômago com essa estranha mistura, foi a um dos banheiros da

casa, colocou no chão algumas tábuas, jogou sobre elas um colchão de crina e deitou-se.

Estava encerrado mais um dia de luta. No dia seguinte, a rotina seria a mesma. Ao deixar a

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família no distante interior paulista para vir sozinho ao Rio de Janeiro estudar pintura,

Candinho nem por sombra imaginava as agruras por que teria de passar.

Mas um dia tudo deveria melhorar, tinha certeza disso. E nessa confiança adormeceu,

refazendo as forças para a jornada de um novo dia e, à noite, para o reencontro com

pincéis, telas e sonhos.

Repararam em quantas vezes os verbos foram usados na forma infinitiva? Muitas, e assim é nos textos em geral. No entanto, dúvidas surgem com frequência quanto à flexão dessa forma nominal do verbo e por tal motivo passemos ao estudo do uso do infinitivo.

1959 - Puxada da rede 1957 - Crianças brincando 1945 - Mulher do pilão 1934 - Mestiço

1940 - Casamento na roça 1956 - Papa vento 1958 - Meninos brincando 1961 - Denise com cachorro

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Os verbos podem se apresentar em forma nominal: gerúndio, particípio e infinitivo.

Nesta dica, veremos o uso do infinitivo, forma nominal do verbo, que pode ser flexionado (pessoal) ou não flexionado (impessoal).

A escolha entre as formas do infinitivo é profundamente estilística, pois depende do intuito de quem escreve em realçar o agente da ação ou a ação em si, mas há algumas regras a serem observadas para o uso do infinitivo flexionado e do infinitivo não flexionado.

Se mais importante a ação, prefere-se o infinitivo não flexionado.

Se mais importante o agente da ação, prefere-se o infinitivo flexionado. A flexão se dá pela desinência verbal:

- es para a segunda pessoa do singular, tu;

- mos para a primeira pessoa do plural, nós;

- des para a segunda pessoa do plural, vós;

- em para a terceira pessoa do plural, eles/elas.

A primeira pessoa do singular e a terceira pessoa do singular mantêm o verbo na forma não flexionada, vejamos:

É para eu julgar

É para tu julgares

É para ele julgar

É para nós julgarmos

É para vós julgardes

É para eles julgarem

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O infinitivo impessoal - não flexionado - é empregado nas locuções verbais. Ex: Os servidores não podem administrar sozinhos os andamentos processuais (certo); os servidores não podem administrarem sozinhos os andamentos processuais (errado).

Atenção: é comum o erro no emprego do infinitivo em locuções verbais principalmente se houver outras palavras entre o verbo auxiliar e o verbo principal. Ex: Os servidores não podem, sozinhos, sem auxílio de todos os segmentos envolvidos, administrar os andamentos processuais (certo); os servidores não podem, sozinhos, sem auxílio de todos os segmentos envolvidos, administrarem os andamentos processuais (errado).

Outro caso em que comumente se incorre em erro é quando, na locução verbal, o verbo auxiliar está numa forma invariável, como o gerúndio. Ex: Os magistrados solicitaram original ou cópias autenticadas dos documentos, devendo, neste caso, as peças acompanharem o traslado (errado). A locução correta é "devendo acompanhar".

O infinitivo impessoal é empregado também:

- quando o sujeito do infinitivo é pronome oblíquo átono. Ex: Deixe-os ir embora;

- quando o infinitivo não se refere a sujeito específico. Ex: Viver é preciso;

- quando o infinitivo funciona como complemento de adjetivo. Ex: Processos difíceis de analisar.

O infinitivo pessoal - flexionado - é usado:

- quando o sujeito do infinitivo for diferente do sujeito da outra oração. Ex: O servidor conclamou os colegas a ajudarem na entrega dos votos;

- quando se pretende indeterminar o sujeito. Ex: Escutei fazerem fofoca por aí.

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- quando se quer evitar ambiguidades. Ex: Está na hora de começarmos o julgamento. Se deixarmos o verbo no infinitivo não flexionado, surgirá dúvida: Está na hora de começar o julgamento (se refere a quem? A mim, a você, a ele, a nós?).

Observação: quando o verbo no infinitivo for precedido da preposição "a", aceita-se o verbo flexionado ou não (exceção para os casos em que houver voz passiva).

Ex: O assessor auxiliava os assistentes a superar suas dificuldades (certo, com realce para a ação);

O assessor auxiliava os assistentes a superarem suas dificuldades (certo, com realce para "os assistentes", sujeitos da ação);

Ex. de voz passiva, em que é obrigatório o uso do infinitivo flexionado:

Esses são os processos a serem julgados.

Tendo em vista esses parâmetros, faça sua escolha no uso do infinitivo conforme seu gosto e sua intenção!

O artista e sua neta Denise, que vê a pintura, feita em 1960, Denise com gato

Fonte: Portal Portinari, em http://www.portinari.org.br/

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Texto e arte

Ana Paula Assunção Rodrigues

Produção

Seção de Educação a Distância (SCEAD)

Responsável: Danilo Batista Correia

Editoração: Hanna Nóbrega

Apoio

Coordenadoria Técnica da Escola Judicial (CDTEJ)

Responsável: Rosana Sanjad

Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região

Responsável: Des. Flávia Simões Falcão

Veja essas e outras dicas no Portal da Escola Judicial do TRT10:

http://escolajudicial.trt10.jus.br

Brasília, dezembro de 2013