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Ana Paula Assunção Rodrigues

4 Dicas Portugues

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  • Ana Paula Assuno Rodrigues

  • Dicas de Portugus - Ana Paula Assuno Rodrigues

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    A autora Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos em gabinete. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio e em cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Sumrio Dica 1 - Estilo de Redao ......................................................................................................... 2

    Dica 2 - Pronome Demonstrativo .............................................................................................. 4

    Dica 3 - Registro de data e hora ................................................................................................ 7

    Dica 4 - Uso dos "porqus"........................................................................................................ 9

    Dica 5 - O Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa .................................................... 11

    Dica 6 - Uso correto de expresses latinas ............................................................................. 15

    Dica 7 - Uso do "Se" ................................................................................................................. 20

    Dica 8 - Uso de "no h falar", "o mesmo" e "verso" ............................................................ 25

    Dica 9 - Esttica Textual e Vcios de Linguagem ...................................................................... 29

    Dica 10 - Uso do acento grave - CRASE ................................................................................... 35

    Dica 11 - Neologismo .............................................................................................................. 42

    Dica 12 - Uso da vrgula - parte I ............................................................................................. 50

    Dica 13 - Uso da vrgula - parte II ............................................................................................ 55

    Dica 14 - Uso de "cujo" ............................................................................................................ 58

    Dica 15 - Uso de verbos abundantes e da expresso "daqui a" .............................................. 62

    Dica 16 - Uso do infinitivo ....................................................................................................... 66

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    Dica 1 - Estilo de Redao Escrito por Ana Paula Rodrigues

    (...) Como ho de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas so muito distintas e muito claras. O estilo pode ser muito claro e muito alto. To claro que o entendam os que no sabem. E to alto que tenham muito que entender nele os que sabem[...] O discurso, para ser claro, no precisa ser raso, como os regatos; a profundidade nem sempre faz turvas as guas (...)

    Padre Antnio Vieira

    Sermo da Sexagsima Pregado na Capela Real, no ano de 1655 PEIXOTO, Afrnio. Os Melhores Sermes de Vieira. Rio de Janeiro: Ed. Americana, 1931.

    (...) Mas que significa isso? - perguntou o moo insatisfeito - No entendi nada. Nem eu - respondeu a moa - mas os contos devem ser contados e no entendidos; exatamente como a vida.

    Carlos Drummond de Andrade

    ANDRADE, Carlos Drummond de. O Entendimento dos Contos, in: Contos Plausveis. Rio de Janeiro: Ed. Jos Olympio, 1985.

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    Nossos mais ilustres autores servem de base para estudos lingusticos de toda ordem, desde as mais corriqueiras lies de gramtica at as lies de estilo. Mas os recados transmitidos pelos dois autores citados diferem entre si, concordam? Bem, para comeo de conversa, os textos literrios propriamente fictcios vivem num mundo muito maior que o dos textos tcnicos. Aqueles alcanam uma linguagem universal e atemporal, falam diretamente s emoes comuns a todos ns, seres humanos. por isso que costumamos afirmar que Shakespeare eterno, que Homero fala a nossa lngua e que Machado de Assis atualssimo. Eles tm, tambm, a chamada licena potica, o que permite aos artistas transgredir regras gramaticais em nome da criatividade, do estilo pessoal. Drummond transmite o recado de absorver o hermetismo do conto como se vive a vida, ao invs de se tentar explicar e racionalizar sua poesia, o que a destruiria. Apesar de haver uma linha interpretativa, a hermenutica, que estuda os textos literrios como se fossem uma equao matemtica... mas ai j outro assunto. J as palavras de Padre Antnio Vieira que tinha habilidade rara com elas - trazem grande lio de estilo, atual e til a ns no mbito do TRT, pois tratam da clareza no ato de escrever aplicvel ao texto em prosa no fictcio, ao texto tcnico. Tendo em mente essa distino e dela advm inmeros desdobramentos na pontuao, concordncia etc vamos nos concentrar no estilo de redao de textos oficiais e jurdicos. Aqui, temos de fazer nossos textos explicveis e acessveis ao jurisdicionado. Por mais hermtico que seja um tema, pode ser traduzido em palavras que o mais comum dos leitores compreenda. Ento, sabedores de que nosso estilo de trabalho no permite licenas poticas, vamos s dicas:

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    Conciso

    No lugar de:

    neste momento ns acreditamos, diga acreditamos; Travar uma discusso, escreva discutir; ato de natureza hostil, ato hostil; deciso tomada no mbito da diretoria, deciso da diretoria; fazer uma viagem coloque viajar; pr as ideias em ordem, ordenar as ideias.

    Diga o que , no o que no

    Ele no assiste regularmente s aulas. troque por Ele falta com frequncia s aulas.

    voz ativa deixa o texto atraente, vigoroso, enquanto a passiva o deixa mole, sem graa:

    Os alunos fizeram a redao melhor que A redao foi feita pelos alunos.

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    A frase:

    Na cmara dos deputados, os parlamentares discutiram em sesso. Tornaram pblicas suas desavenas melhor que Na cmara dos deputados, os parlamentares discutiram em plenrio tornando pblicas suas desavenas.

    Leia as duas frases em voz alta. Depois, escolha a que soa melhor:

    Fui livraria e comprei os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professor do curso e a gramtica.

    Fui livraria e comprei a gramtica e os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professor do curso.

    A segunda frase agrada mais, concorda? Pela seguinte razo: o termo mais curto ficou na frente do mais longo. Quando o verbo tiver mais de um objeto, direto ou indireto, ponha o mais curto na frente.

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    Dica 2 - Pronome Demonstrativo Escrito por Ana Paula Rodrigues

    Sculo XVI, Japo feudal, samurais. Famlia Ichimongi, com o patriarca Hidetora ao centro, seus trs filhos, o bobo da corte. Famlias rivais prestes a selar amizade aps anos de intriga. Essa a segunda cena do brilhante filme RAN, 1985, de Akira Kurosawa, consagrado diretor japons. Ultrapassada a barreira da nossa ansiedade ocidental, podemos nos deixar enlevar ao ritmo das nuvens do cu do Japo, que acompanham as cenas como se observassem os acontecimentos humanos. Aproximadamente 1 hora e 53 minutos do filme, temos o dilogo entre os irmos Sue e Tsurumaru:

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    Passadas 2 horas e 3 minutos do filme, ouvimos:

    Incitados pelas frases extradas de RAN - palavra que, a propsito, significa conflito, algo com o que todos os que lidam com processo no TRT esto habituados vamos a alguns esclarecimentos sobre pronomes demonstrativos.

    Concebe-se o uso do pronome demonstrativo a partir do ponto central de orientao do sujeito falante, que o referencial, e tem o propsito de expressar tempo, espao, posio no texto (sobre o que ou quem se trata) para a mensagem ser transmitida com exatido.

    1) Critrio espacial:

    a) este(s), esta(s), isto: referem-se primeira pessoa gramatical, indicam que o objeto est perto da pessoa que fala (aqui).

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    Exemplo: Este livro em meu colo timo;

    b) esse(s), essa(s), isso: referem-se segunda pessoa gramatical, indicam que o objeto est perto da pessoa com quem se fala (a).

    Exemplo: Esse livro na sua mo bom?

    OBSERVAO: O objeto pode at estar perto de mim, mas a frase se refere ao meu ouvinte. Imaginem a cena: estou vendo um livro nas mos de um amigo, me aproximo, pego o livro tambm, sem tir-lo das mos dele e pergunto: Onde voc comprou esse livro?

    c) aquele(s), aquela(s), aquilo (l, a): referem-se terceira pessoa gramatical, indicam que o objeto est distante do falante e do ouvinte.

    Exemplo: Voc viu aquela livraria nova na outra comercial?

    2) Critrio temporal:

    a) este(s), esta(s), isto: tempo presente.

    Exemplo: Esta semana, este ms (outubro), este ano (2012).

    b) esse(s), essa(s), isso: tempo passado recente ou futuro prximo.

    Exemplos: Conheci voc em 2008. Nesse tempo, voc ainda no tinha filhos; Esse ano de 2013 ser timo!

    c) aquele(s), aquela(s), aquilo: tempo passado, bem distante, vago, remoto. Exemplo: Bons tempos aqueles da minha juventude!

    3) Critrio da posio no texto ou critrio cognoscitivo:

    a) este(s), esta(s), isto: emprego catafrico indica que a frase ser pronunciada, o pronome se refere quilo que aparecer no texto, aps o pronome; chama

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    ateno sobre o que vamos dizer.

    Exemplo: A Escola Judicial publicou esta frase: Terceira turma do curso de portugus jurdico a distncia tem incio dia 10

    b) esse(s), essa(s) isso: emprego anafrico indica que a frase foi pronunciada, est sendo retomada, o pronome se refere quilo que j apareceu no texto.

    Exemplo: Terceira turma do curso de portugus jurdico a distncia tem incio dia 10, essa frase foi publicada pela Escola Judicial.

    empregado, tambm, quando nos referimos ao que foi dito por nosso interlocutor.

    Exemplo : - Voc no dormiu bem, aceita um caf para despertar?

    - J tentei isso.

    4) Critrio distributivo:

    Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos j mencionados, servimo-nos dos demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo para o referido primeiro lugar e dos este(s), esta(s), isto para o que foi nomeado por ltimo.

    Exemplo: A pressa inimiga da perfeio, esta no admite aquela.

    Trailler do filme RAN 1985

    http://ead.trt10.jus.br/ran/

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    No posso ficar Nem mais um minuto com voc Sinto muito amor Mas no pode ser. Moro em Jaan, Se eu perder esse trem, Que sai agora s onze horas, S amanh de manh.

    Adoniran Barbosa

    Trecho do samba Trem da Onze

    Clique aqui para ouvir a verso completa

    O fragmento do clssico samba vem ilustrar o formato por extenso da notao de horas, redigido assim porque ser cantado sem abreviao. Trata-se de texto potico, de letra de msica que ser entoada tal como escrita. Para ns aqui no TRT esse formato no possvel. Devemos usar a norma culta aplicada aos textos oficiais. Vejamos, ento, como deve ser:

    a) No se escreve no formato de relgio digital, portanto, 08:00 errado!

    b) A representao de horas sem nada - sem dois pontos, sem ponto, sem plural, sem espao, sem maisculas;

    Dica 3 - Registro de data e hora Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    c) Somente escreveremos o smbolo de minutos (min) caso haja segundos; os segundos no precisam ser denotados por smbolo, pois j esto implcitos e sempre optaremos pela forma mais econmica nas redaes; Exemplo: 14h, 14h30, 14h30min40.

    d) Para jornada de horas permanece o numeral em algarismo arbico, mas os termos horas, minutos e segundos vm por extenso. Exemplo: O reclamante trabalhava 8 horas por dia; a autora usufruiu de apenas 1 hora de intervalo.

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    Mais dicas:

    a) Nas assinaturas dos documentos preciso registrar por extenso o ms, com o nome da localidade: Exemplo: Braslia, 5 de maio de 2010.

    b) O primeiro dia sempre se escreve em numeral ordinal: Exemplo: 1 .5.2010.

    c) O ano se apresenta com os quatro algarismos sem ponto: Exemplo: 2010.

    d) Dispense os substantivos dia, ms e ano: Exemplo: em 12 de fevereiro de 1999. e no no dia 12 do ms de fevereiro do ano de 1999.

    e) Para citao de lei, recomendvel que seja aposta a data da sua criao na primeira vez em que aparecer no texto, no formato sucinto: Exemplo: 5/5/2010.

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    Porque - Conjuno explicativa ou causal

    Usa-se em resposta ou indicao de causa.

    Exemplos:

    Ele se sente cansado porque o clima est muito seco. Abandonou o curso porque, tendo de cuidar dos filhos noite e

    trabalhar de manh, sentiu-se no limite. Por que foram a juzo? Porque estavam cheios de razo. Ela sabe a razo da queda dos juros, porque alm do cargo detm

    outros poderes. Porque trabalhamos em sala fechada, nem sempre percebemos a

    mudana no clima. No foi palestra porque no se sentia bem.

    Dica 4 - Uso dos "porqus" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    Por que - Preposio + pronome interrogativo ou relativo

    Usa-se em orao interrogativa direta (com ponto de interrogao grafado) e tambm na indireta (sem grafia da interrogao, esconde as palavras "razo", "motivo" ou "causa").

    Quando usar:

    a) em perguntas diretas e indiretas:

    Exemplos: Por que voc no veio? Voc ainda no me contou por que no veio.

    b) em frases afirmativas/negativas e exclamativas:

    Exemplos: Vamos verificar por que os processos esto se acumulando nesse setor.

    Sinceramente, no sei por que ela no veio.

    c) em ttulos de obras/artigos:

    Exemplo: POR QUE PRATICAR ATIVIDADE FSICA [ttulo de artigo]

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    Por qu / Qu

    O que passa a ser tnico em final de frase. Fica acentuado antes de pausa forte, do ponto de interrogao, exclamao ou final.

    Exemplos:

    Agradecida. No h de qu. O professor marcou novos testes, ningum sabe por qu. Quem foi ao show adorou. Voc quer saber por qu? Tanta correria para qu?! Voc especial, sabe por qu? Qual o qu! a mais pura especulao.

    Porqu - Substantivo masculino

    Usa-se precedido de artigo, numeral ou pronome.

    Exemplos:

    No entendo o porqu de tudo isso. Ah, se todos os nossos porqus tivessem resposta! Certos porqus no convencem o juiz.

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    Alguns porqus da humanidade

    "Tem sido dito que a astronomia uma experincia de humildade e formao de carter".

    Essa frase foi dita por Carl Sagan em um interessante documentrio intitulado Um plido ponto azul. Clique no link abaixo para assistir:

    "Um plido ponto azul" - Carl Sagan

    http://ead.trt10.jus.br/carlsagan

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    ltima flor do Lcio, inculta e bela, s, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela

    Amo-te assim, desconhecida e obscura. Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura!

    Amo o teu vio agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, rude e doloroso idioma,

    Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Cames chorou, no exlio amargo, O gnio sem ventura e o amor sem brilho!

    Olavo Bilac

    BILAC, Olavo. Lngua portuguesa. In: Poesias. 29. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1977. p. 268.

    O Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa est em vigor desde 1/1/2009 e o perodo de transio para implementao definitiva se encerrar no final de 2012 aqui no Brasil, pas que ter o dicionrio menos modificado dentre todos os envolvidos.

    Dica 5 - O Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    A explicao mais usual para o Novo Acordo que simplesmente se quer unificar a Lngua Portuguesa entre os 8 pases que a adotam como oficial... mas, por qu? Se a lngua a expresso cultural de identidade de cada povo por excelncia,

    patrimnio de cada um de ns e, como um organismo vivo, se modifica ao longo do tempo conforme influncias e premncias diversas, como se pode unific-la e impor mudanas aos seus falantes naturais? Bem, da mesma forma com que a norma culta imposta para que se possa escrever de modo inteligvel a todos, restringindo coloquialismos, regionalismos e variantes que poderiam atrapalhar a comunicao em larga escala, o Novo Acordo veio para que os 8 pases tenham maior integrao entre si e mais expressividade no cenrio mundial. Entretanto, h mais razes nem to simples assim que gostaria de lhes contar:

    Razes Polticas

    A lngua instrumento de poder. Em toda dominao de povos na histria da humanidade a lngua foi usada para aculturar os nativos ao levar paradigmas diferentes, viso de mundo, valores, todo um universo cultural que subjuga e aos poucos substitui a cultura local. O nosso portugus brasileiro est sendo privilegiado nessa reforma: apenas 0,5% do idioma ser modificado aqui, enquanto em Portugal, Angola, Cabo Verde, Guin-Bissau, Moambique, So Tom e Prncipe e no Timor-Leste, 1,6%, com alteraes que tornaro a Lngua Portuguesa mais brasileira que nunca. Em 1975, o Brasil foi o primeiro pas a reconhecer a independncia de Angola, do qual recebemos gratido. Todos os pases africanos ex-colnias guardam mgoas e ressentimentos de Portugal pela colonizao exploratria e discriminatria de mais de 4 sculos de durao. O Brasil para eles o grande irmo com quem

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    simpatizam, a quem admiram em variados aspectos e so agradecidos por atitudes de aproximao recentes. O movimento imigratrio para c crescente desde 2010, pessoas de diversas naes esto vindo, como se estivesse havendo uma nova descoberta do Brasil. Com a unificao lingustica alcanaremos maior representatividade e prestgio em grandes fruns internacionais. Na ONU, por exemplo, somente a partir de 2008 comeou a haver traduo simultnea e possibilidade do Portugus ser utilizado nas intervenes de abertura e debate geral, apesar de contar com mais de 200 milhes de falantes no planeta, ser a 3 lngua ocidental e 5 mais falada no mundo e, ainda, ocupar a 4 posio dos idiomas mais usados na internet.

    Razes Econmicas

    O mercado editorial se ampliar e o lucro ser maior ao se poder publicar uma mesma obra nos 8 pases, uma vez que a Lngua ser una e facilitar divulgao do idioma e respectiva literatura O lobby das editoras, especialmente das brasileiras, tem forte peso para a implementao deste Novo Acordo, que visto como um tratado facilitador da penetrao no mercado africano a ameaar o das editoras portuguesas naquele continente. No cenrio mundial contemporneo, estamos em destaque economicamente em comparao com Portugal, que vivencia profundamente a crise na Europa. Somos o principal exportador dentre os pases lusfonos. O acordo ampliar cooperao internacional entre os 8 pases, facilitar intercmbio cultural e cientfico entre as naes. Todos esses fatores citados compem um pano de fundo em que se pode vislumbrar que no se trata de um simples novo conjunto de regras de Portugus que teremos que decorar, antes um acordo poltico que lingustico. A revolta em Portugal muito grande, a reforma nem sequer tem data para entrar em vigor, chamada de traidora da Ptria. Fala-se em inverso potica da colonizao, que a Lngua no evolui por decreto e est sendo descaracterizada.

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    H quem lamente que Portugal errou ao deixar um filho enorme como o Brasil e no umas vinte repblicas pequeninas, todas menores que o reino-me! Alm das questes lingusticas complexas, tem-se um misto de sentimento colonialista transformado em subjugo e abandono, ao invs de cooperao e cultura. No se pode negar, ademais, que os portugueses demonstram um sentimento protetor e patritico muito grande e aparentemente maior que o dos brasileiros, a julgar pelo inconformismo, enquanto aqui se observa a simples e pura aceitao das mudanas impostas, que, ainda que mais favorveis, tambm so contra a ordem natural das coisas, afinal, j disse Fernando Pessoa, minha ptria a Lngua Portuguesa!

    **********************************************************************

    Acredito que, melhor do que dispor neste espao lista de vocbulos cuja ortografia foi alterada ou mesmo destacar principais mudanas constantes do Novo Acordo - material em profuso em vrios meios de comunicao e objeto dos cursos e manuais da Escola Judicial, fornecer 3 fontes de consulta pela internet bastante teis:

    Novo Acordo Ortogrfico na ntegra;

    VOLP Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa, fornecido pela Academia Brasileira de Letras, j devidamente adaptado;

    Conversor Ortogrfico - converte o vocbulo da escrita anterior para a nova!

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    As msicas sugeridas tm letras muito educativas e plenas de significado. Pindorama, da dupla Palavra Cantada, voltada para as crianas, enquanto Lngua, de Caetano Veloso, cheia de referncias a obras e artistas da Lngua Portuguesa:

    "Pindorama" "Lngua" - de Caetano Veloso

    http://ead.trt10.jus.br/pindorama http://ead.trt10.jus.br/lingua

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    Se h uma dica de Portugus infalvel para se escrever bem esta: leia bons livros. Mais do que tentar decorar as regras gramaticais, ler livros bem escritos nos permite memorizar a ortografia correta, a sintaxe perfeita, o uso adequado de expresses diversas, o estilo de que gostamos. A intuio lingustica vem a se desenvolver num patamar mais acurado de competncias que permitem ao falante se expressar melhor e redigir com assertividade.

    Os textos de Machado de Assis so muito bem cuidados, apresentam linguagem culta, clssica e acadmica, tudo conforme regras de correo gramatical; por tudo isso, servem muito bem ao propsito do estudo da norma.

    Veja no texto de "O Alienista" exemplo de bom uso da expresso plus ultra:

    Dica 6 - Uso correto de expresses latinas Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    MOON, Fbio e B, Gabriel. O Alienista de Machado de Assis: adaptao de Fbio Moon e Gabriel B. Coleo Grandes Clssicos em Graphic Novel. Rio de Janeiro: Agir, 2007.

    A seguir, lista de palavras e expresses por vezes usadas

    equivocadamente e seu correto significado:

    A cerca de / Acerca de / H cerca de / Cerca de

    A cerca de distncia aproximada, tempo futuro aproximado. Acerca de sobre, a respeito de. H cerca de indica tempo transcorrido, faz aproximadamente. Cerca de aproximadamente.

    Aferir / Auferir

    Eis que

    No usar no sentido de causa. Empregar somente no sentido de de repente.

    Face a face / Frente a frente

    Nenhuma expresso composta de palavras repetidas tem acento grave. Nada de crase.

    Grosso modo / A grosso modo

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    Aferir avaliar, cotejar, medir, conferir. Auferir - obter, receber.

    A fim / Afim

    A fim para, com o objetivo de, finalidade. Afim - tem afinidade, semelhana.

    medida que / Na medida em que

    medida que proporo que, ao passo que, conforme. Nunca usar no sentido de causa. Na medida em que uma vez que, tendo em vista, pelo fato de que. Traz ideia de causa.

    A nvel de / Ao nvel de / Em nvel de

    A nvel de no existe. Ao nvel de altura de. Em nvel de nessa instncia, no mbito de. Geralmente dispensvel, pode-se cortar da frase sem perda de sentido.

    A par / Ao par

    A par ciente, informado, inteirado, por dentro do assunto. Ao par emparelhado, caminhar lado a lado.

    Apud

    Apud - Junto de.

    A princpio / Em princpio

    Grosso modo de modo grosseiro, aproximado, impreciso; A grosso modo no existe.

    H / A / H muito tempo atrs

    H diz respeito a tempo passado: trabalho aqui h anos; A no sentido de tempo, refere-se a futuro: daqui a 10 anos me aposentarei; H muito tempo atrs pleonasmo, no usar.

    Isto posto / Isso posto / Posto isso

    Isto posto isto refere-se ao que se dir, no ao que se disse, alm de estar antes do verbo, o que tambm inadequado; Isso posto A forma nominal do verbo (particpio ou gerndio) deve vir antes do pronome e nessa expresso a posio est invertida; Posto isso Expresso correta.

    Junto a

    Tem significado fsico: perto de, ao lado de. Exemplos: carrego a bolsa junto ao corpo; Parei junto ao carro. No use em frases do tipo: impetrou mandato junto Vara; solicitou emprstimo junto ao banco; est em negociao junto aos scios. Para essas, prefira:

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    A princpio No comeo, inicialmente, antes de qualquer coisa. Em princpio em tese, teoricamente.

    A quo

    A quo juzo a quo aquele de cuja deciso se recorre. Dies a quo o dia em que um prazo comea a ser contado.

    Atravs

    Do verbo atravessar, s pode ser empregado no sentido de transpassar, passar de um lado para o outro ou passar ao longo de. Exemplos: o navio atravessa os mares; vejo atravs do vidro. No pode ser empregado no lugar de mediante, por meio de, por intermdio de, graas a, segundo ou por, sendo assim, no escreva, por exemplo, "peticionou atravs do advogado" ou "recorre atravs dos documentos".

    Avocar / Invocar / Evocar

    Avocar atribuir-se, chamar. Invocar pedir ajuda, chamar, proferir. Evocar lembrar, invocar.

    Bastantes / Bastante

    Bastantes quando acompanha substantivo, adjetivo, por isso, flexionado e pode ser substitudo

    impetrou mandato na Vara; solicitou emprstimo ao banco; est em negociao com os scios.

    Mutatis mutandis

    Quer dizer mudando o que deve ser mudado, com a devida alterao de pormenores, uma vez efetuadas as necessrias mudanas.

    Onde / Aonde

    Onde - usa-se apenas ao se referir a lugar; significa local em que, no qual; Aonde - indica movimento para um lugar; usa-se somente com verbos que requerem a preposio "a" e indicam movimento.

    Pedir vista / Pedir vistas

    O correto "pedir vista", no singular.

    Plus ultra

    Plus ultra - Mais alm.

    Posto que

    Equivale a "embora", "apesar

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    por muitos ou suficientes. Exemplos: tenho bastante dinheiro; tenho bastantes dvidas; ele obteve bastantes provas para o laudo; Bastante quando acompanha adjetivo ou verbo, advrbio, no flexiona e pode ser substitudo por muito. Exemplo: Trabalho bastante durante a semana.

    Cada

    pronome indefinido que no pode ser usado sozinho: acompanha substantivo, numeral ou pronome qual; portanto, no use ganharam 5 bombons cada e sim "ganharam 5 bombons cada um".

    Cesso / Seo / Sesso

    Cesso ato de ceder; Seo parte, trecho, setor, repartio; Sesso reunio; lapso de durao de um congresso, assembleia.

    Com vista a / Com vistas a

    Ambas so corretas e tm mesmo significado.

    Custas / Custa

    Custas despesa forense; Custa sempre no singular na

    de" e no a "porque".

    Se no / Seno

    Se no - caso no; Seno - mas, a no ser, exceto pois, do contrrio, caso contrrio, defeito. Plural: senes.

    Sequer / Nem sequer

    Sequer - pelo menos, ao menos: o recorrido teria ido se a intimao sequer tivesse chegado; Nem sequer - nem ao menos - usa-se para expressar negao: o recorrente nem sequer juntou provas aos autos.

    Sine qua non

    Sem a qual no; indispensvel, essencial.

    Sito em

    No use "sito a", pois no indica movimento.

    Vez que / uma vez que

    Vez que - no existe; Uma vez que - dado que, visto que, como, j que; no caso de, caso, se.

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    expresso custa de.

    Deferir / Diferir

    Deferir conceder, outorgar; Diferir discordar, diferenciar; retardar, adiar.

    Descriminar / Descriminalizar / Discriminar

    Descriminar e descriminalizar do Direito Penal, significa inocentar, absolver de crime; o prefixo des traz ideia de negao; Discriminar tratar de forma diferente.

    Vultoso / Vultuoso

    Vultoso - volumoso, relativo a vulto, grande vulto; Vultuoso - com a face congestionada.

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    Central do Brasil. Drama, 1998, 113 minutos. Diretor: Walter Salles.

    http://ead.trt10.jus.br/central

    Aproxima-se o recesso forense e muitos de ns comeamos a planejar uma viagem... por falar em viagem, h um subgnero no cinema denominado road movie, ou filme de estrada, que Hollywood adora. um estilo que aborda a viagem por que passa um personagem como smbolo de sua transformao interna, pois a geografia, tanto a fsica quanto a humana, que ele desconhecia at ento, o afeta profundamente, de modo que mudanas na pessoa viajante ocorrem, pois, medida que se depara com o desconhecido, ela muda, como ns mudamos. Representa tambm a busca da liberdade e o esprito aventureiro do ser humano. um estilo de cinema que traz para o espectador a oportunidade de acompanhar no s belas imagens, mas a construo de uma nova personalidade, que, ao fim, se revela.

    Destacamos Bagdad Caf, Paris/Texas, Sem Destino, Thelma e Louise, Pequena Miss Sunshine, Assassinos por Natureza, Corao Selvagem. Mas no s na terra do tio Sam esse estilo produzido, temos, por exemplo, o francs Mamute, o mexicano E Sua Me Tambm, os brasileiros Bye Bye Brasil, Na Estrada, Central do Brasil, os dois ltimos de Walter Salles,

    Dica 7 - Uso do "Se" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    diretor tambm de Dirios de Motocicleta, coproduo que envolveu Argentina, Brasil, Chile, Reino Unido, Peru, Estados Unidos da Amrica, Alemanha, Frana e Cuba.

    Central do Brasil um filme maravilhoso, humanista, singelo e bem feito. A personagem de Fernanda Montenegro, Dora, recupera sua identidade e o afeto, se re-sensibiliza graas ao encontro do outro, que vem a ser o menino Josu, que a leva a uma viagem por um Brasil diverso daquele do Rio de Janeiro, cidade em que vivia. Ateno para a trilha sonora e para a construo das imagens, que vo se tornando fluidas e rarefeitas na mesma proporo em que Dora se torna livre da opresso e do pragmatismo em que se encontrava; vale tambm assistir s entrevistas com atores e diretor do filme.

    Usaremos vrias frases extradas dessa pelcula e da msica Preciso me encontrar, integrante da trilha sonora, para exemplificar os tpicos da nossa dica sobre uso do se, que no um viajante pelas estradas, mas faz muita gente viajar na maionese na hora de escrever!

    Nos textos do TRT, h corriqueiramente m aplicao do se principalmente como pronome na funo de partcula apassivadora ou de ndice de indeterminao do sujeito, como ver-se- a seguir:

    O se tem duas acepes: conjuno ou pronome pessoal.

    I) Na qualidade de conjuno, expressa subordinao ao principal. Pode ser:

    1 - condicional

    - indica hiptese, condio; no caso de. Se ele no vier, eu deponho. Do filme: Se ele estiver a, fala alguma coisa maluca.

    - indica tempo; quando, enquanto. Se h depoimento, o secretrio de audincia digita.

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    - indica causa; visto que, uma vez que. Se voc nem sequer precisa depor, por que est to ansioso?

    2 - integrante

    - exprime dvida, incerteza, interrogao indireta (se acaso, se por acaso, se porventura).

    Neste caso encaixa-se o verso da msica em destaque, que, na ordem direta da frase, seria assim:

    Diga que eu s vou voltar depois que eu me encontrar se algum por mim perguntar.

    Tambm, as seguintes frases do filme:

    V se pelo menos me aparece para conhecer seu filho.

    Se por acaso voc mudar de ideia s voc vir, ', vir atrs de mim, numa boa.

    II) Na qualidade de pronome pessoal, refere-se 3 pessoa do singular para os dois gneros; funciona como objeto do verbo ou complemento. Pode ser:

    1 - objeto direto

    - tranquilizar-se, ferir-se, agredir-se, recusar-se; Exemplo de fala do filme: Pai, vem aqui no Rio que minha me se machucou;

    2 - com verbos pronominais, indica carter reflexivo ou recproco

    - aposentar-se, arrepender-se, queixar-se; indignar-se; Exemplo extrado do filme: V l, se achegue!

    3- partcula apassivadora

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    - forma, juntamente com o verbo, a voz passiva sinttica, como lemos na placa da mesa de trabalho da Dora, escrevedora de cartas:

    Escreve-se carta, ou carta escrita;

    Escrevem-se cartas, ou cartas so escritas.

    Registravam-se nas folhas de ponto horrios rgidos, sem anotarem-se com correo os intervalos para descanso e refeio, ou horrios rgidos eram registrados nas folhas de ponto, sem os intervalos para descanso e refeio serem anotados com correo.

    Podem-se citar vrios exemplos, ou vrios exemplos podem ser citados.

    erro bastante comum, talvez o mais encontrado em anncios, como os vistos no filme:

    Faz-se mveis - o certo fazem-se mveis (mveis so feitos);

    Conserta-se culos - o certo consertam-se culos (culos so consertados).

    Dica: a voz passiva sinttica formada com verbo transitivo direto (h excees) + se e permite troca para a voz passiva analtica. A voz passiva analtica formada com verbo ser + particpio. Identifica-se o sujeito passivo da orao, principalmente na converso da forma sinttica (com se) para a forma analtica, como feito nos exemplos. Ento, o macete construir a frase com o verbo ser, se ele for para o plural, o verbo da frase com se tambm ir.

    Na voz passiva sinttica, o verbo concorda com o sujeito, por isso, vai para o plural se o sujeito for plural.

    4- ndice de indeterminao do sujeito - IIS

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    - o verbo fica sempre na 3 pessoa do singular.

    Dica: para no confundir com a partcula apassivadora (item 3), perceba que a transposio para a voz passiva analtica no possvel, pois neste caso no temos verbos transitivos diretos (exceo para os preposicionados), apenas verbos transitivos indiretos, intransitivos ou de ligao. No se identifica o sujeito da frase.

    Por isso, o verbo nunca vai para o plural, pois no h sujeito com o qual concordar em nmero!

    Vejamos:

    Precisa-se de empregados. No possvel a construo "empregados so precisados", pois o verbo PRECISAR transitivo indireto, requer a preposio de, PRECISAR DE algo;

    Aqui se feliz - verbo de ligao;

    Morre-se de amores - verbo intransitivo;

    Trata-se de embargos de declarao. No possvel a construo "embargos de declarao so tratados", o verbo tratar est na acepo de indicar qual a questo, o que se debate, sobre o que se discorre. Sintaticamente, apresenta-se como verbo transitivo indireto, com preposio de. As estruturas trata-se de e sua afim cuida-se de so, assim, invariveis.

    erro, dessarte, redigir "tratam-se de embargos..." ou "cuidam-se de embargos", equvoco comum nos textos do TRT. O verbo tratar, na acepo desta frase, transitivo indireto, requer preposio de, forma a expresso verbal TRATAR-SE DE determinado assunto, e o sujeito indeterminado.

    Obs: importante evitar o excesso de uso do pronome "se" como IIS; em muitos casos, ele pode ser subtrado sem perda do sentido da frase. Ex: Para atingir nossa meta h que evitar estrangeirismos (e no para se atingir...h que se evitar).

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    Verso da msica Preciso Me Encontrar, Cartola, 1976.

    Quanto colocao correta na frase, o se pode ocupar trs posies em relao ao verbo - antes, depois ou no meio do verbo, ou seja, em nclise, prclise ou mesclise, respectivamente, conforme regras a seguir:

    1 - nclise

    De modo geral, desta forma que se deve escrever, com o pronome posposto ao verbo. Exemplo: Escreve-se carta.

    Ateno para a proibio:

    1- Quando houver palavra de valor atrativo de prclise, que estudaremos a seguir.

    Obs: Ao usarmos o pronome em nclise, temos mais chance de acertar, pois atende maioria dos casos de colocao pronominal!

    2 - prclise

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    H perda da fora encltica por motivo de anteposio, aos verbos, de partculas que atraem o pronome oblquo, normalmente para efeito de eufonia (bom som). Vejamos os 8 casos em que a prclise obrigatria:

    a) Em oraes negativas, pois a palavra negativa, seja advrbio, pronome ou conjuno, atrai o "se" para antes do verbo. Exemplos: Nada se far; Ela no se examina nem se deixa examinar;

    b) Com as conjunes alternativas ora...ora, ou...ou, j...j, quer...quer, agora...agora, quando...quando. Exemplos: Ora se expe, ora se esconde; quando se pensa que o aumento saiu quando se percebe que ainda h muito por vir;

    d) Com pronomes adjetivos e relativos que, qual, quem, cujo. Exemplos: A est o processo cujas pginas se sujaram;

    e) Com certas conjunes coordenativas aditivas (nem, no s, mas tambm, que). Exemplos: No comprou nem se lembrou de pedir para comprar;

    f) Com os pronomes indefinidos (algum, algum, diversos, muito, pouco, tudo, vrios etc.), quando esto antes do verbo. Exemplos: Pouco se estuda o idioma ptrio. Tudo se tem aqui, recursos materiais e humanos.

    g) Com os advrbios, sempre que precederem o verbo. Exemplos: Aqui se faz, aqui se paga; sempre se pede mais, quando a comida boa!

    h) Com os pronomes demonstrativos. Exemplos: Aquilo se assemelha a uma assinatura forjada;

    i) Com o verbo no gerndio, precedido da preposio em. Exemplo: Nesta terra, em se plantando, tudo nasce.

    Proibio:

    1- No se pode iniciar um perodo com pronome oblquo. Exemplo de erro: Me deram um presente (deve-se dizer: Deram-me um presente);

    3 - mesclise

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    A mesclise obrigatria quando as formas do futuro do presente e as do futuro do pretrito iniciarem o perodo e sempre que, mesmo sem iniciar o perodo, no houver partcula atrativa de prclise. Exemplos: Queixar-se-ia se no estudasse muito; Alegrar-se- com as peraltices de seu beb; mesmo que nada se faa, propor-se- o projeto novo.

    Dica final: a prclise predomina sobre a mesclise, que predomina sobre a nclise, embora esta colocao atenda maioria dos casos!

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    As frases destacadas nos quadros so contribuio da cultura popular para

    exemplificar o quanto podemos aplicar elipses(1), zeugmas(2) e contraes

    s palavras e ainda assim o objetivo da comunicao se efetivar. Depende

    da inteno, do contexto, do registro que temos de usar em determinado

    veculo e ambiente e, claro, da criatividade, da regio do Brasil e at

    mesmo em decorrncia do grau de instruo. A comdia pa, traz

    expresso baiana, enquanto o dilogo ao redor do "cafezinho"

    regionalismo mineiro e foneticamente se assemelha ao som de uma

    galinha!

    Dica 8 - Uso de "no h falar", "o mesmo" e "verso" Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    Rotineiramente, lemos em textos jurdicos as expresses "no h falar",

    "no h falar-se" e afins e a surge a dvida: esto corretas? De uma

    primeira impresso, fica a sensao de que falta algo na frase, de que est

    capenga, com algum termo elptico... mas no est!

    Podem-se usar as expresses a seguir indistintamente, so sinnimas e

    todas corretas:

    -No h falar;

    -No h falar-se;

    -No h que falar;

    -No h que se falar.

    Por extenso, mesma explicao serve para outros verbos, como, por

    exemplo, no h confundir, no h fugir, no h olvidar.

    (1) elipse - omisso de um termo facilmente identificvel, que fica subentendido pelo

    contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase. Torna o texto mais conciso

    e elegante;

    (2) zeugma - caso especial de elipse, quando o termo omitido j tiver sido expresso

    anteriormente na frase.

    buuuuu

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    O fantasma no elevador assombra. Chama-se o mesmo. Cuidado com ele!

    Por isso, o aviso aos usurios em todo hall de elevadores:

    Comunidades no orkut e facebook foram criadas e os mais descrentes

    fizeram piada do fantasma (ou seria um manaco?).

    Brincadeiras parte, vamos entender o porqu dessa frase estar errada.

    1. Os termos o mesmo, a mesma, os mesmos e as mesmas no podem ser usados no

    lugar de substantivo ou de pronome, e sim como um reforo de um nome ou

    pronome ao qual se ligam; sendo assim, concordam com o termo a que se referem,

    como nos exemplos:

    - Ele mesmo trouxe as provas (prprio);

    - As assistentes mesmas faro o voto (prprias);

    - As mesmas testemunhas esto neste processo (de igual identidade);

    - Os assistentes mesmos digitaram o texto (prprios);

    2. O mesmo funciona como substantivo e flexiona em gnero e nmero quando

    significa "a mesma coisa" ou "a mesma pessoa" (ateno, no substitui um

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    substantivo e sim o prprio substantivo):

    - Nos anos que se seguiram, sucedeu o mesmo (a mesma coisa);

    - Continuam as mesmas na defesa da justia (as mesmas pessoas).

    3. Invarivel fica o termo mesmo se utilizado no sentido de realmente, at, ainda

    que, embora, como nos exemplos:

    - Mesmo doentes, vieram testemunhar;

    - As testemunhas colaboraram mesmo com o andamento do processo;

    - Mesmo querendo, no vamos concluir todos os votos at o encerramento do ano.

    Quanto ao aviso do elevador, o erro est em ter utilizado o mesmo como substituto

    de elevador, o que proibido, conforme explanao no item 1. Vrias maneiras de

    se redigir o aviso seriam melhores, tais como:

    - Antes de entrar no elevador, verifique se esse encontra-se parado neste andar;

    - Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra-se parado neste andar;

    - Antes de entrar, verifique se o elevador est no andar.

    Mesmo raciocnio se aplica s redaes oficiais e votos no TRT. Exemplos de erro:

    a) A recorrente solicitou juntada de provas, mas a mesma foi indeferida.

    Frase errada porque a mesma no pode substituir o substantivo juntada.

    Correta:

    - A recorrente solicitou juntada de provas, mas esta foi indeferida.

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    b) O juiz recebeu o processo e analisar o mesmo rapidamente.

    Errado porque o mesmo est no lugar de processo mas no pode

    funcionar como seu substituto. Correto:

    - O juiz recebeu o processo e o analisar rapidamente.

    c) Irei ao escritrio do meu advogado e l combinarei com o mesmo a melhor

    defesa.

    Texto incorreto pelo mau uso de o mesmo no lugar do pronome pessoal,

    indica estilo fraco e falta de recursos sintticos. Ficaria melhor:

    - Irei ao escritrio do meu advogado, com quem combinarei a melhor

    defesa;

    - Irei ao escritrio do meu advogado para combinar com ele a melhor

    defesa;

    - Irei ao escritrio do meu advogado. Combinarei com ele a melhor defesa.

    Por fim, vejamos a notao correta para indicao de verso da folha.

    Especificar que o assunto est localizado no verso da pgina (quando ela no

    numerada) importante e economiza tempo, pois o leitor pode ir direto ao ponto que

    interessa.

    Temos em frase do tipo "as contrarrazes esto fl.21, verso" adjuntos adverbiais que

    devem ficar separados por vrgula. Identificam-se dois adjuntos adverbiais de lugar, o

    primeiro expressa que a informao est contida na folha 21 e o segundo, que o

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    contedo tem prosseguimento no verso da referida folha.

    Recomenda-se evitar o uso da notao "v." para no ser confundida com a abreviatura

    de "vide" ou "veja".

    Sugerimos, ento, a notao no formato a seguir:

    O recurso tempestivo, fl. 121, verso e a representao est regular, fl. 45,

    verso.

    Por falar em verso, h um trecho do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989,

    EUA, drama, direo de Peter Weir) em que encontramos inspiradora

    explanao do professor Keating a seus alunos que cabe bem neste momento

    de fim de ano, vejam:

    Trecho de Sociedade dos Poetas Mortos. DISNEY e BUENA VISTA. 1989

    http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica8/trecho_sociedadepm.flv

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    O que belo? O que vem a ser beleza?

    Ao longo da histria da humanidade, essas questes sempre se fizeram

    presentes e as respostas certamente foram bem diversas das que

    obtemos no mundo contemporneo.

    ECO, Umberto. Histria da Beleza, Rio de Janeiro: Record, 2004.

    No livro Histria da Beleza, organizado por Umberto Eco, temos breve

    anlise da cultura ocidental sobre o tema-ttulo desde a Antiguidade at o

    Dica 9 - Esttica Textual e Vcios de Linguagem Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    sculo XX. Embora sua fonte de pesquisa se atenha Europa e no

    abranja to detidamente as belezas das Amricas, partilhamos dos

    mesmos ideais e podemos observar o quanto o conceito de belo continha

    princpios sublimes, duradouros, nada absolutos. O que hoje se tem, ao

    menos popularmente, a beleza concebida como mero produto de

    consumo por vezes descartvel, fruto de processo miditico e um fim em

    si mesma.

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    Mron, Discbolo, 460-450 a.C.

    Na Grcia antiga, o belo, o bom e o verdadeiro

    eram indissociveis, exsurgindo da princpios

    ticos e estticos. Ligada proporo e

    harmonia, a beleza relacionava-se ao cosmo e

    natureza.

    Miniatura do Cdigo Manessiano, sculo XIV

    Na Idade Mdia, luz e cor compunham o conceito

    do belo, ligado tambm poesia. A proporo, a

    integridade e a claritas (luminosidade) eram

    necessrias beleza, conforme Toms de Aquino.

    Surpreende saber que ao tempo em que filsofos,

    telogos e msticos eram todos homens de igreja e

    de rigor moralista surgiram cantos como Carmina

    Burana (sculos XII-XIII) e composies poticas

    pastoris em que se descreviam as belezas

    femininas muito sensualmente.

    Botticelli, Alegoria da Primavera, 1482

    Nos sculos seguintes, passou-se a relacionar a

    beleza com a mimesis: imitava-se no no sentido

    de cpia, mas de representao da natureza, pois

    o conhecimento do mundo visvel seria meio para

    o conhecimento da realidade suprassensvel. O

    simulacro tornou-se nobre porque reproduzia a

    beleza.

    Na Renascena, a mulher da Corte ocupava-se da

    moda sem esquecer de cultivar a prpria mente

    com capacidades discursivas, filosficas e

    polmicas e tinha participao ativa nas belas

    artes. O homem demonstrava poder e fora e

    colocava-se no centro do mundo. A opulncia e a

    brancura dos corpos indicava nobreza, uma vez

    que fartura de alimentos era para poucos, sendo a

    magreza atributo dos plebeus e ligada a pobreza,

    doena e mazelas em geral, assim como as peles

    bronzeadas pelo sol era indicativo de pessoa

    trabalhadora braal.

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    A condessa Hanssonville, 1845

    O belo se manifesta na arquitetura e nas artes em geral conforme a poca e mesmo uma paisagem passa por

    essa conceituao, que se transformou ao longo dos sculos at chegarmos ao minimalismo, praticidade,

    funcionalidade e outros atributos relacionados ao nosso tempo, que requer velocidade at na hora de

    apreciarmos a beleza! Se antes um texto podia apresentar floreios e divagaes tal qual uma vestimenta

    rebuscada, hoje tem que primar pela facilidade de leitura ao apresentar perodos curtos, declaraes diretas,

    conciso, preciso, simultaneamente com preocupaes de passar o mximo de informao til e ainda ser

    politicamente correto.

    Vila Chigi, em Centinale, Siena Caspar Friedrich, Rochedos em Rgen, 1818

    Roscea norte da Catedral de Notre Dame em Paris Caspar Friedrich, Viajante diante do mar de nuvens, 1818.

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    Frank Lloyd Wright, Casa Kufmann, Bear Run, 1936

    O belo em temas diversos - jardim, paisagem, arquitetura

    Paremos por aqui na apreciao da beleza histrica.

    Vamos, afinal, nos deter nas quatro regras a seguir:

    Sobre essas regras funda-se o senso comum grego da beleza, e no que

    cabem perfeitamente ao nosso tema da dica?

    Esttica textual

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    A beleza de um texto alcana seus leitores de modo a conduzi-los

    agradavelmente a mximos entendimento e compreenso da mensagem;

    tem carter social e coletivo na medida em que colabora para que o

    objetivo da comunicao seja atingido.

    A esttica textual refere-se correo lingustica, ao esmero com que se

    escreve e a aspectos tcnicos e estruturais como os estabelecidos pela

    ABNT. Visualmente aprazvel, transmite o cuidado com organizao por

    parte do escritor e que este se importa com seus leitores.

    Boa concatenao de ideias, expresso clara e lgica do pensamento tm

    implicao na aparncia: os pargrafos devem ser mais curtos, com uma

    ideia central apenas.

    VCIOS DE LINGUAGEM

    O bom senso esttico e a procura do belo ao redigir evita os denominados

    vcios de linguagem:

    1 - Ambiguidade - falta de clareza no discurso, gera possibilidade de uma

    mensagem ter dois sentidos.

    Exemplos:

    O reclamante andava de lotao, ao final do contrato j no andava

    mais (no andava porque adquiriu deficincia, porque passou a ir a

    p ou porque comprou um automvel?);

    A presidncia noticiou aos servidores a mudana de suas funes

    (foram mudadas as funes da presidncia ou dos servidores?).

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    2 - Barbarismo - desvio da norma culta e uso de palavra estrangeira no

    lugar da equivalente em Portugus.

    Exemplos:

    A empresa mantinha servio de delivery (servio de entrega);

    Houve justa causa face a conduta do reclamante ( francesismo, em

    portugus "em face de");

    O PJE ser implantado nos diversos TRT's (anglicismo, pois em

    Portugus no se usa apstrofo "s" para o plural; a forma correta

    para o plural de uma sigla com o "s" ao final, sem apstrofo: TRTs,

    CPFs, PMs;

    O adevogado chegou a tempo (desvio da norma quanto grafia da

    palavra advogado).

    3 - Paradoxo vicioso - consiste numa anttese extrema intil e

    desnecessria ao contexto de uma sentena.

    Exemplos:

    Tenho relativa certeza quanto s provas dos autos;

    As crianas entraram para fora ao amanhecer.

    4 - Plebesmo - uso de palavras de baixo calo, grias ou termos informais

    para o contexto.

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    Exemplos:

    "...ver um servidor da prpria Justia Federal cuspindo no

    produto...";

    E a, velho, o que acha?

    5 - Solecismo - desvio em relao s regras da sintaxe

    Exemplos:

    Fazem anos que no fao um curso de reciclagem (Faz anos ...);

    Aluga-se salas nesse edifcio (alugam-se...);

    Eu no respondi-lhe nada do que perguntou (Eu no lhe respondi...).

    6 - Eco - dissonncia provocada pela utilizao de palavras com

    terminaes iguais ou semelhantes na frase;

    Exemplo: Responde pessoalmente pelo que corresponde.

    7 - Cacfato ou cacofonia - encontro de slabas de palavras diferentes que

    resulta num som desagradvel ou inconveniente;

    Exemplos:

    Tem que ter f demais para ir em frente (fede mais);

    A gorjeta era dividida por cada um dos garons (porcada);

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    Diz que o recorrente... (disque).

    8 - Coliso - quando o uso legtimo da aliterao no convm e causa um

    efeito estilstico ruim ao receptor da mensagem

    Exemplo: alegada ilegalidade;

    9 - Preciosismo - afetao, falta de naturalidade ao redigir;

    Exemplo: Nomeou o insigne e indefectvel depositrio fiel.

    10 - Arcasmo - modo de escrever antiquado, uso de vocbulos ou

    expresses que deixaram de ser usuais na norma;

    Exemplo: Pediu dispensa do trabalho para ir matin (matin no

    se usa h um tempo).

    11 - Pleonasmo vicioso - repetio dispensvel de uma ideia, redundncia.

    Exemplos: - de sua livre escolha;

    - lapso temporal (lapso j significa intervalo de tempo)

    - conviver junto;

    - h anos atrs;

    - outra alternativa;

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    - motivo que motivou.

    12 - Prolixidade - exposio repetitiva e intil de argumentos e

    superabundncia de palavras para exprimir poucas ideias. Falta de

    objetividade que compromete a clareza e cansa o leitor.

    Para finalizar, leiamos exemplo extremamente antiesttico de texto cuja

    arrogncia e plebesmo geram reaes diversas nos leitores - certamente

    nenhuma agradvel - tomado emprestado com a devida autorizao do

    stio www.migalhas.com.br (link ao final):

    "A tese to brilhante que deve o autor lev-la ao relator do projeto do novo

    CPC para que venha a ser acolhida no novo cdigo". A ironia est registrada em

    sentena do juiz Federal substituto Guilherme Gehlen Walcher, de SC, ao negar

    provimento aos embargos de declarao de servidor da JF que ajuizou ao

    contra a Fazenda Nacional. Mas engana-se quem acha que as "lies" do

    magistrado param por a. H trechos como : " lamentvel ver um servidor da

    prpria Justia Federal cuspindo no produto (sentena) da atividade fim da

    instituio a que pertence, que paga seu salrio e que sustenta sua famlia". E

    completa com uma "humilde" constatao : "No perco a oportunidade de

    registrar que, no dia em que o embargante for aprovado no concurso de Juiz

    Federal, aos 27 anos de idade, em trs oportunidades, obtendo um primeiro e

    um segundo lugares (sendo que neste ltimo caso o primeiro lugar somente foi

    assumido por terceiro candidato aps a pontuao dos ttulos), ter condies

    intelectuais de dar lies de processo civil a este julgador (...)". mole ou quer

    mais ? Leia a ntegra da deciso, com todo o destemperado arroubo do jovem

    magistrado. Jovialidade que, como se sabe, o tempo d jeito de curar. (Clique

    aqui)

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    Cenas do Filme Matrix - Warner Bros. 1999

    http://escolajudicial.trt10.jus.br/joomla/videos/dica10/sigacoelho.flv

    O filme Matrix marcou poca. Apresentou efeitos especiais inditos,

    impressionou pelo roteiro enigmtico e repleto de referncias,

    arrebanhou admiradores mundo afora. Vidas saram das salas de cinema

    transformadas. Produziram-se verdadeiros tratados sobre ele, de

    filosficos a msticos, passando pela Psicologia e pela Informtica.

    Estudiosos de todas as reas opinaram: jornalistas, cineastas, psiclogos,

    semilogos, designers, financistas e intelectuais, o encanto foi geral.

    Mas Baudrillard dele no gostou.

    Matrix, filme de fico cientfica dos diretores Lana e Andy Wachowski

    produzido em 1999, parceria EUA/Austrlia, teve como fonte de

    inspirao, segundo os prprios criadores, o livro de Jean Baudrillard -

    filsofo, socilogo e fotgrafo francs - chamado Simulacros e Simulao,

    lanado em 1981*.

    Dica 10 - Uso do acento grave - CRASE Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    Na cena destacada do filme temos a vista do citado livro, dentro do qual o

    personagem Neo guarda, em um fundo falso, dinheiro e o fruto de seu

    trabalho hacker.

    A metfora da pelcula remete, pelo vis poltico, obra de Guy Debord,

    de quem Baudrillard foi contemporneo e a quem se refere em algumas

    de suas publicaes. De forma muito simplificada: o mundo em que

    vivemos no real. Todas as experincias humanas autnticas so

    devoradas pelo capitalismo de consumo. Depois de engolidas, so

    transformadas em produtos vendidos para ns mesmos por meio da mdia

    e de seus mecanismos publicitrios (que vm a ser nada mais do que uma

    caixinha de ressonncia dos desejos da sociedade!). O que h

    substituio da experincia prpria por outras artificiais: as que vemos no

    cinema, sries, jornais, reality shows, etc e a incapacidade por inteiro de

    se formular alguma opinio objetiva sobre quase qualquer assunto devido

    ao excesso de informao-desinformao que satura, do isolamento

    advindo da tecnologia, do ensino alienante - tudo a nos desapropriar de

    nossa natureza essencial.

    Baudrillard concentrou sua anlise mais profunda na comunicao de

    massas e na sociedade de consumo. O desejo de incluso no sistema de

    consumo a motivao por trs do desejo do consumidor em adquirir

    bens; o objeto no de fato desejado. O mais belo objeto de consumo

    finalmente o corpo, ns mesmos.

    Os signos (signo = significado + significante) so manipulados, h infinita

    reproduo e sobreposio de imagens e signos a acarretarem o

    apagamento de toda a distino entre o real e a imagem. O sistema de

    signos tornou-se nossa hiper-realidade. Disso deriva a perda de

    significados estveis e as sociedades ps-modernas assim esto, na quarta

    fase: na fase inicial, o signo reflete uma realidade. Numa segunda, o signo

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    mascara e altera uma realidade. Numa terceira fase, o signo encobre a

    ausncia de uma realidade e numa quarta fase o signo no tem qualquer

    relao com realidade alguma: ele o seu prprio simulacro.

    Todos os componentes da vida humana so convertidos em um show. O

    espetculo um pesadelo do qual temos de acordar.

    Neo escolhe a plula vermelha. E acorda do coma. E seus olhos doem

    porque pela primeira vez esto sendo usados.

    Baudrillard no aprovou o filme, afirmou que os roteiristas no

    entenderam o que leram e que, alis, muitos intelectuais tambm no

    compreenderam seu texto e estavam a popularizar conceitos equivocados

    (vide entrevista, link ao final). Afirmou que Matrix o tipo de filme que a

    prpria matriz criaria e, tendo em vista a banalizao e absorvio pelo

    pop, que esvaziou de significado tudo o que o filme poderia trazer e hoje a

    frase "saia da matrix" virou um bordo tolo, parece que o filsofo tinha

    razo.

    * BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulao. Lisboa: Relgio d'gua, 1991.

    Enfim, ao tempo em que lemos alguns trechos do livro Simulacros e Simulao, vamos estudar o acento grave, a temida crase?

    Se outrora pudemos tomar pela mais bela alegoria da simulao a fbula de

    Borges* em que os cartgrafos do Imprio desenham um mapa to detalhado

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    que acaba por cobrir exatamente o territrio (mas o declnio do Imprio assiste

    ao lento esfarrapar deste mapa e sua runa (1), podendo ainda localizarem-se

    alguns fragmentos nos desertos beleza metafsica desta abstrao arruinada,

    testemunha de um orgulho medida do (2) Imprio e apodrecendo como uma

    carcaa, regressando (3) substncia do solo, de certo modo como o duplo

    acaba por confundir-se com o real ao envelhecer) esta fbula est terminada

    para ns e tem apenas o discreto encanto dos simulacros da segunda categoria

    [...] o real, e no o mapa, cujos vestgios subsistem aqui e ali, nos desertos que

    j no so os do Imprio, mas o nosso. O deserto do prprio real. (pg. 8)

    * BORGES, Jorge Lus, Do Rigor na Cincia.

    1 - verbo assistir, transitivo indireto na acepo de presenciar, requer

    preposio na regncia de seu objeto. Em " sua runa" temos crase

    facultativa porque antes de pronome possessivo.

    2 - locuo que significa "na proporo". Sempre com crase.

    3 - verbo regressar, transitivo indireto na acepo de retornar, requer

    preposio na regncia de seu objeto. Objeto indireto feminino

    (substncia), somem-se preposio "a" e artigo "a", temos a crase.

    Dissimular fingir no ter o que se tem. Simular fingir ter o que no se

    tem. O primeiro refere-se a uma presena, o segundo, a uma ausncia

    (4). (pg.9)

    4 - verbo referir-se, bitransitivo e pronominal na acepo de reportar-se,

    requer partcula "se" e preposio na regncia de seu objeto. Sem crase

    porque proibida antes de artigo indefinido (uma).

    ...experincia americana de TV-verdade tentada em 1971 sobre a famlia Loud:

    sete meses de rodagem ininterrupta, trezentas horas de filmagem direta, sem

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    guio nem cenrio, a odisseia de uma famlia, os seus dramas, as suas alegrias,

    as suas peripcias, non stop resumindo, um documento histrico bruto, e a

    mais bela proeza da televiso, comparvel, escala da nossa cotidianidade,

    ao filme do desembarque na Lua (5).(pg.40)

    5 - " escala" - locuo de base feminina.

    Reunidos em congresso em Lyon, os veterinrios preocuparam-se com as

    doenas e perturbaes psquicas que se desenvolvem na criao industrial de

    animais domsticos. Os coelhos desenvolvem uma ansiedade mrbida, tornam-

    se coprfagos e estreis. Maior sensibilidade s infeces, ao parasitismo

    (6)[...]Escurido, luz vermelha, gadget, tranquilizantes, nada resulta. Existe nas

    aves uma hierarquia de acesso comida (7), o pick order[...]Quis-se ento

    romper o pic order e democratizar o acesso comida mediante outro sistema

    de repartio. Fracasso: a destruio desta ordem simblica leva confuso

    total nas aves e a uma instabilidade crnica (8). Belo exemplo de absurdo:

    conhecem-se os estragos anlogos que a boa vontade democrtica pde fazer

    nas sociedades tribais. Os animais somatizam! Extraordinria descoberta!

    Cancros, lceras gstricas, enfartes do miocrdio nos ratos, nos porcos, nos

    frangos! (pgs.160/161)

    6 - sensibilidade a algo, nesta acepo requer complemento nominal e

    preposio na regncia do seu complemento. Complemento feminino

    (infeces), somem-se preposio "a" e artigo "as", temos a crase.

    7 - acesso a algo, requer complemento nominal e preposio na regncia

    do seu complemento. Complemento feminino (comida), some-se

    preposio "a" ao artigo "a", temos a crase.

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    8 - verbo levar, transitivo indireto na acepo de conduzir, requer

    preposio na regncia de seu objeto. Objeto indireto feminino

    (confuso), somem-se preposio "a" e artigo "a", temos a crase. O

    segundo objeto (uma instabilidade crnica) no tem crase porque proibida

    antes de artigo indefinido.

    Deixo considerao (9) se poder haver um romantismo, uma esttica do

    neutro. No creio - tudo o que resta o fascnio pelas formas desrticas e

    indiferentes, atravs da prpria operao do sistema que nos anula. Ora, o

    fascnio (em oposio seduo (10) que se agarrava s aparncias (11), e

    razo dialctica que se agarrava ao sentido) uma paixo niilista por

    excelncia, a paixo prpria ao modo de desaparecimento. Estamos

    fascinados por todas as formas de desaparecimento, do nosso desaparecimento.

    Melanclicos e fascinados, tal a nossa situao geral numa era de

    transparncia involuntria.(pg. 196)

    9 - verbo deixar, bitransitivo na acepo de deixar algo a algum, requer

    preposio na regncia de seu objeto indireto feminino (considerao),

    some-se preposio "a" ao artigo "a", temos a crase.

    10 - oposio a algo, requer complemento nominal e preposio na

    regncia do seu complemento. Complementos femininos (seduo e razo

    dialtica), somem-se preposio "a" e artigo "a", temos a crase.

    11 - verbo agarrar, pronominal na acepo de prender-se, grudar-se,

    requer preposio na regncia de seu objeto indireto feminino

    (aparncias), some-se preposio "a" ao artigo "as", temos a crase. Antes

    da palavra masculina "sentido", proibida a crase.

    O termo crase vem do grego e significa fuso: unio de duas vogais

    idnticas. Graficamente, a juno de "a" (preposio) com outro

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    63

    "a" (artigo ou pronome demonstrativo) representada pelo

    acento grave.

    Casos:

    1. A preposio a + os artigos a, as:

    Exemplos:

    Prefiro o horrio corrido fixao de dois turnos.

    Referi-me s funcionrias do gabinete.

    2. A preposio a + os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, a(s):

    Exemplos:

    Dirija-se quelas funcionrias de uniforme.

    Referi-me quilo que voc citou no despacho.

    Referi-me s que voc citou.

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    Dicas importantes:

    Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se ocorrer "ao" ou "aos" sinal de que h crase.

    Exemplos:

    Fui a audincia. (?)

    Fui ao salo plenrio.

    Correto: Fui audincia.

    Substitua o "a" por "para" ou "para a". Se ocorre "para a" sinal de que h crase.

    Exemplos:

    Reportou a histria a juza (?)

    Reportou a histria para a juza.

    Correto: reportou a histria juza.

    No esquea que s pode ocorrer crase diante de palavra feminina que admita o artigo "a" e que dependa de outra palavra que exija a preposio "a", ou seja:

    a) Se o termo regente exige a preposio a:

    Exemplo: Sou contrrio ideia de demisso do gerente.

    b) Se o termo regido aceita o artigo a/as: a palestra, chegar a

    Exemplo: Chegou atrasado palestra.

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    Caso

    Uso obrigatrio

    (diga SIM)

    Uso proibido

    (diga NO)

    Uso facultativo

    (INDIFERENTE)

    Antes de palavras masculinas

    Quando estiver implcito moda de:

    Mveis Lus 15; bacalhau Gomes

    de S.

    Quando subentendido termo feminino:

    Vou [praa] Joo Mendes.

    Viver a seu bel-prazer;

    viajar a convite; escrito a lpis; traje a rigor; sesso a portas

    fechadas; passeio a p; sal a gosto; TV a cabo; barco a remo; carro a lcool; avio a jato etc.

    Antes de verbos

    Veio disposto a colaborar.

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    Antes de pronomes

    De tratamento - senhora, senhorita e dona:

    Dirigiu-se senhorita Alice.

    Antes da maior parte deles, inclusive pronomes de tratamento:

    Disse a ela que no vir;

    nunca se refere a voc;

    dirigiu-se a V.Ex rudemente.

    Pronomes possessivos:

    Enviou a carta (a) minha famlia, no (a) sua famlia.

    Antes de substantivo feminino de sentido indefinido e o "a" vem antes de plural

    A juza no se referiu a mulheres;

    no irei a festas nessa casa.

    Expresses formadas por palavras repetidas

    Cara a cara; ponta a ponta; frente a frente; gota a gota.

    Depois de "para", "at", "perante", "com", "contra" outras preposies

    O jogo est marcado para as 16h;

    foi at a esquina; lutou contra as

    americanas.

    Antes de cidades, Estados, pases

    Foi Itlia (voltou da Itlia).

    Chegou Paris dos poetas (voltou da Paris dos poetas).

    Foi a Roma (voltou de Roma).

    Fez pssimas referncias a Braslia.

    Locues de base feminina

    s vezes moda s pressas primeira vista medida que noite custa de procura de beira de tarde vontade s cegas s escuras s claras distncia

    (quando

    A distncia (quando esta no for determinada)

    Locues femininas de meio ou instrumento:

    vela/a vela; bala/a bala; vista/a vista; mo/a mo.

    Prefira crase quando for preciso evitar ambiguidade:

    Vendeu vista (pois no vendeu os

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    determinada), etc. olhos, a vista).

    Aquele, aqueles, aquilo, aquela, aquelas

    Referiu-se quilo; Foi quele

    restaurante; Dedicou-se quela

    tarefa.

    Com

    demonstrativo a

    A capitania de Minas Gerais estava ligada de So Paulo;

    Falarei s que quiserem me ouvir.

    Na indicao de

    numeral de hora

    determinada

    A audincia ser s 13h.

    Perante nomes

    femininos de

    pessoas

    A convocao dirigiu-se (a) Maria.

    Depois do termo

    "at"

    Iremos at (a) sesso de julgamento.

    Com os termos

    "casa" e "terra"

    Se for determinada:

    Fui casa de meus netos no mesmo dia.

    Viajarei terra de meus antepassados.

    Fui a casa. Ao

    desembarcarmos, fomos direto a terra (terra no sentido de oposio a mar).

    Leia a entrevista com Jean Baudrillard, cujo livro inspirou os

    diretores da trilogia Matrix. Ao final, h referncia a o que ele

    pensava sobre o Brasil:

  • Dicas de Portugus - Ana Paula Assuno Rodrigues

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    68

    JEAN BAUDRILLARD

    A verdade oblqua

    LUS ANTNIO GIRON

    O professor baixo e mal-humorado hoje uma das figuras mais populares do novo sculo. O

    pensador francs Jean Baudrillard, de 74 anos, recusa-se a falar em ingls. Mesmo assim, to

    popular nos Estados Unidos por causa de suas anlises sobre a cultura de massa que foi convidado

    a fazer um show de filosofia em Las Vegas. E seu nome est na boca dos espectadores da trilogia

    Matrix. No primeiro filme dos irmos Wachowski, o hacker Neo (Keanu Reeves) guarda seus

    programas de parasos artificiais no fundo falso do livro Simulacros e Simulao, de Baudrillard.

    Keanu leu o livro e costuma mencionar o autor em todas as suas entrevistas sobre Matrix

    Reloaded, o novo filme da trilogia. At porque o ensaio sobre como os meios de comunicao de

    massa produzem a realidade virtual inspirou os diretores de Matrix a criar o roteiro.

    Baudrillard no parece ligar para a fama. Ele esteve no Brasil para lanar seu novo livro, Power

    Inferno (Sulina, 80 pginas, R$ 18), e participar da conferncia 'A Subjetividade na Cultura

    Digital', na Universidade Cndido Mendes, no Rio de Janeiro, onde falou com POCA. Sempre

    pautado por assuntos atuais, ele analisa no ensaio os atentados de 11 de setembro de 2001 como

    um ato simblico contra o Ocidente. Nesta entrevista, ele fala sobre seu pensamento turboniilista,

    11 de setembro e arte. Se a realidade j no existe e vivemos um permanente e conspiratrio

    espetculo de mdia, como quer Jean Baudrillard, o pensador exerce a funo de entertainer s

    avessas. Ele decreta o fim dos tempos, e todo mundo vibra.

    POCA - Suas idias demolidoras esto mais em moda do que nunca. O mundo ficou mais

    parecido com o senhor?

    Jean Baudrillard - No aconteceu nada. O resultado de um consumo rpido e macio de idias s

    pode ser redutor. H um mal-entendido em relao a meu pensamento. Citam meus conceitos de

    modo irracional. Hoje o pensamento tratado de forma irresponsvel. Tudo efeito especial. Veja

    o conceito de ps-modernidade. Ele no existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior

    familiaridade. Eu prprio sou chamado de 'ps-moderno', o que um absurdo.

    POCA - Mas ps-modernidade no um conceito terico racional?

    Baudrillard - A noo de ps-modernidade no passa de uma forma irresponsvel de abordagem

    pseudocientfica dos fenmenos. Trata-se de um sistema de interpretaes a partir de uma palavra

    com crdito ilimitado, que pode ser aplicada a qualquer coisa. Seria piada cham-la de conceito

    terico.

    POCA - Se no ps-moderno, como o senhor define seu pensamento em poucas palavras? Os

    crticos o chamam de pensador terrorista, ou niilista irnico.

    Baudrillard - Sou um dissidente da verdade. No creio na idia de discurso de verdade, de uma

    Andre Arruda/POCA

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    realidade nica e inquestionvel. Desenvolvo uma teoria irnica que tem por fim formular

    hipteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensveis. Procuro refletir por caminhos

    oblquos. Lano mo de fragmentos, no de textos unificados por uma lgica rigorosa. Nesse

    raciocnio, o paradoxo mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida

    que acontece no momento, como um fotgrafo. Alis, sou um fotgrafo.

    POCA - Como o senhor explica a espetacularizao da realidade?

    Baudrillard - Os signos evoluram, tomaram conta do mundo e hoje o dominam. Os sistemas de

    signos operam no lugar dos objetos e progridem exponencialmente em representaes cada vez

    mais complexas. O objeto o discurso, que promove intercmbios virtuais incontrolveis, para

    alm do objeto. No comeo de minha carreira intelectual, nos anos 60, escrevi um ensaio

    intitulado 'A Economia Poltica dos Signos', a indstria do espetculo ainda engatinhava e os

    signos cumpriam a funo simples de substituir objetos reais. Analisei o papel do valor dos signos

    nas trocas humanas. Atualmente, cada signo est se transformando em um objeto em si mesmo e

    materializando o fetiche, virou valor de uso e troca a um s tempo. Os signos esto criando novas

    estruturas diferenciais que ultrapassam qualquer conhecimento atual. Ainda no sabemos onde

    isso vai dar.

    POCA - A disseminao de signos a despeito dos

    objetos pode conduzir a civilizao renncia do saber?

    Baudrillard - Alguma coisa se perdeu no meio da histria

    humana recente. O relativismo dos signos resultou em uma

    espcie de catstrofe simblica. Amargamos hoje a morte

    da crtica e das categorias racionais. O pior que no

    estamos preparados para enfrentar a nova situao.

    necessrio construir um pensamento que se organize por

    deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e radicalmente

    reflexivo que d conta do mundo sem preconceitos e sem

    nostalgia da verdade. A questo agora como podemos ser

    humanos perante a ascenso incontrolvel da tecnologia.

    POCA - Seu raciocnio lembra os dos personagens da trilogia Matrix. O senhor gostou do

    filme?

    Baudrillard - uma produo divertida, repleta de efeitos especiais, s que muito metafrica. Os

    irmos Wachowski so bons no que fazem. Keanu Reeves tambm tem me citado em muitas

    ocasies, s que eu no tenho certeza de que ele captou meu pensamento. O fato, porm, que

    Matrix faz uma leitura ingnua da relao entre iluso e realidade. Os diretores se basearam em

    meu livro Simulacros e Simulao, mas no o entenderam. Prefiro filmes como Truman Show e

    Cidade dos Sonhos, cujos realizadores perceberam que a diferena entre uma coisa e outra

    menos evidente. Nos dois filmes, minhas idias esto mais bem aplicadas. Os Wachowskis me

    chamaram para prestar uma assessoria filosfica para Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, mas

    no aceitei o convite. Como poderia? No tenho nada a ver com kung fu. Meu trabalho discutir

    idias em ambientes apropriados para essa atividade.

    POCA - Quanto arte, o senhor se dedicou a analisar o fenmeno artstico ao longo dos anos.

    Em que p se encontra a arte contempornea?

    Baudrillard - A arte se integrou ao ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a

    restituio da reproduo clssica. A arte quer cumplicidade do pblico e gozar de um status

    especial de culto, situao prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que h excees,

    mas, em geral, os artistas se renderam realidade tecnolgica. Desde os ready-mades de Marcel

    'Matrix faz uma leitura ingnua da

    relao entre iluso e realidade. Os

    diretores se basearam em meu livro

    Simulacros e Simulao, mas no o

    entenderam. Prefiro filmes como

    Truman Show e Cidade dos Sonhos,

    cujos realizadores perceberam que a

    diferena entre uma coisa e outra

    menos evidente'

  • Dicas de Portugus - Ana Paula Assuno Rodrigues

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    Duchamp, a importncia da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os

    signos soterraram a singularidade. Os artistas se submetem a imperativos polticos, e no mais

    seguem ideais estticos. A arte j no transforma a realidade e isso muito grave.

    POCA - Por que o senhor escreveu tanto sobre a cultura

    americana mas nunca refletiu sobre o Brasil, que o senhor

    tanto adora visitar?

    Baudrillard - J me cobraram um livro sobre o Brasil.

    Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto

    volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira

    muito complexa para meu alcance terico. Ela no se

    enquadra muito em minhas preocupaes com a

    contemporaneidade, no tem nada a ver com a americana,

    com seus dualismos maniquestas, um pas que se

    construiu a partir das simulaes, um deserto da cultura no

    qual o vazio tudo. Os Estados Unidos so o grau zero da

    cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e

    altamente original em sua vacuidade. No Brasil h leis de

    sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas

    de explicar. No Brasil, vigora o charme.

    POCA - O que o senhor pensa da civilizao americana

    depois dos atentados de 11 de setembro? O mundo mudou

    mesmo por causa deles?

    Baudrillard - Claro que mudou. Nunca mais seremos os

    mesmos depois da destruio do World Trade Center.

    Abordo o tema em Power Inferno, uma coletnea de

    artigos sobre o imprio americano e a poltica. Considero os atentados um ato fundador do novo

    sculo, um acontecimento simblico de imensa importncia porque de certa forma consagra o

    imprio mundial e sua banalidade. A Guerra do Iraque apenas d seqncia s aes imperiais. Os

    terroristas que destruram as torres gmeas introduziram uma forma alternativa de violncia que se

    dissemina em alta velocidade. A nova modalidade est gerando uma viso de realidade que o

    homem desconhecia. O terrorismo funda o admirvel mundo novo. Bom ou mau, o que h de

    novo em filosofia. O terrorismo est alterando a realidade e a viso de mundo. Para lidar com um

    fato de tamanha envergadura, precisamos assimilar suas lies por meio do pensamento.

    JEAN BAUDRILLARD

    Nascimento

    Reims, na Frana, em 1929

    Trajetria

    Socilogo e fotgrafo. Em 1966

    comeou a lecionar na Universidade de

    Paris X-Nanterre. Atualmente, dedica-se

    a escrever e fazer palestras

    Livros principais

    O Sistema dos Objetos (1968), Sombra

    das Maiorias Silenciosas (1978),

    Simulacros e Simulao (1981), Amrica

    (1988), Cool Memories I (1990), A Troca

    Impossvel (1999), O Ldico e o Policial

    (2000)

    fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT550009-1666,00.html

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    O recurso indenizatrio tornou-se imexvel

    Onde est o erro nessa frase? Acertou quem apontou para o vocbulo

    "indenizatrio".

    Dialeticidade, juridiqus, inocorrer, inobstante, infraconstitucional,

    autoexecutoriedade, inexecutividade, infralegal, prefalado, contrarrazes,

    autoaplicvel, inincidncia, improver, inacolher, sobrenorma, sobredireito,

    investigatrio, indenizatrio, sucumbencial, logicirio, negocial, fiduciante,

    insuportabilidade, mensalo, internets, faturizao, insuportabilidade,

    locatcio, improvimento, invivvel, inexigir, improver, imerecer, inaplicar,

    induvidar, impagar, publicizar, inconciliar, sigilosidade... sabiam que

    nenhuma dessas palavras existe? Ou melhor dizendo, nenhuma foi

    catalogada e dicionarizada at o momento?

    A criao de palavras configura neologismo, que vem a ser o contrrio de

    arcasmo. Segundo Aurlio Buarque de Holanda, "a palavra, frase ou

    expresso nova, ou palavra antiga com sentido novo". fenmeno

    Dica 11 - Neologismo Escrito por Ana Paula Rodrigues

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    lingustico legtimo, surge por necessidades variadas e de muitas

    maneiras, vejamos algumas:

    1 - Neologismo semntico - quando uma palavra j existente passa a

    ter nova conotao, novo significado:

    Exemplos:

    estou a fim de fulano (estou interessada);

    vou fazer um bico (trabalho provisrio).

    2 - Neologismo lexical - quando de fato a palavra nova e detm

    novo conceito:

    Exemplos:

    deletar (eliminar);

    juridiqus (linguagem do Direito).

    3 - Neologismo sinttico - combina elementos j existentes na

    lngua para criar um novo vocbulo, por esquema de derivao ou

    composio, entre outros:

    Exemplos:

    infralegal; indenizatrio; sucumbencial;

    dialeticidade; saudadear; desinquieto; desfeliz;

    avoamento.

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    O processo neolgico exige duas condies:

    1. estruturao adequada em nosso idioma e

    2. ausncia de sinnimo em nossa lngua.

    Se no conveniente nem corretamente formado, o neologismo passa a ser

    barbarismo e a configurar vcio de linguagem.

    Para se conferir se determinado vocbulo existe oficialmente na lngua (e

    no s na nossa imaginao), devemos consultar dicionrios e,

    especialmente, o VOLP - Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa,

    catlogo de toda a lngua Portuguesa que detm a palavra oficial e final

    sobre a matria, disponvel em

    http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23.

    Curiosidades:

    "imexvel", neologismo expressado pelo ex-ministro Magri nos

    idos de 1991, agora palavra oficial, consta do VOLP e de dicionrios

    em geral; exemplo, pois, de legitimao pelo uso dos falantes em

    geral e, por ter passado pelo correto processo de formao de

    palavras de nossa lngua, chegou a ser dicionarizado.

    Reparem que os verbos criados so em sua maioria pertencentes 1 desinncia (final em AR).

    O verbo elencar j consta do VOLP e do dicionrio Houaiss, mas ainda no aparece no Aurlio!

    O VOLP excepcionou o termo improvido como adjetivo (como verbo, no). Pode-se redigir, ento, "o recurso foi improvido" - adjetivo, mas no "o juiz havia improvido o recurso" - verbo .

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    Vejamos indagao Academia Brasileira de Letras, guardi da lngua e

    instituto que elabora o VOLP, e sua respectiva resposta em duas ocasies

    diferentes a respeito do tema:

    ABL RESPONDE

    "Pergunta : Por favor, por que no encontro o termo jurdico "contrarrazes" no VOLP? termo largamente utilizado aqui no tribunal onde trabalho e sempre acreditei que o VOLP registra todos os vocbulos da Lngua Portuguesa! Obrigada Resposta : Prezada consulente, embora o VOLP procure registrar o maior nmero possvel de palavras, no h como registrar todos os vocbulos possveis de serem formados na lngua portuguesa. Est para sair a 6 edio do VOLP com a incluso de novos termos e algumas outras atualizaes. Enviaremos sua sugesto para a equipe de Lexicografia, da ABL, responsvel pela elaborao do VOLP. Pode utilizar a palavra contrarrazo."

    "Pergunta : Bom dia,