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Direito aplicado à logística http://professorhoffmann.wordpress.com | 28 5.6. CONTRATO DE COMPRA E VENDA (CC, 481 a 532). 5.6.1. Conceito Contrato em que uma pessoa (vendedor) se obriga a transferir a outra (comprador) o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea, mediante o pagamento de certo preço em dinheiro ou valor fiduciário correspondente. 5.6.2. Caracteres Gera um vínculo obrigacional (pessoal), de apenas transferir o domínio, sendo que a transferência da propriedade somente se perfaz pela tradição, se móvel ou pelo registro do título aquisitivo no cartório competente, se o bem for imóvel. Em sua caracterização jurídica, este é: a) bilateral ou sinalagmático: pois cria obrigação para ambos os contratantes, que são credores e devedores ao mesmo tempo. b) oneroso: ambas as partes auferem vantagem econômica. Há equivalência entre o ônus e a vantagem transferida. c) comutativo ou aleatório: em regra é comutativo, porque há objeto certo e determinado, havendo equivalência nas prestações e contraprestações. Excepcionalmente será aleatório, nas hipóteses dos artigos 458 e 459 do Código Civil. d) consensual ou solene: de regra, basta o consenso, somente será solene se a lei assim o exigir, como no caso de aquisição de imóveis, que é exigido escritura pública (CC, 108 e 215). e) translativo do domínio: no sentido de servir como titulus adquirendi, isto é, de ser o ato causal da transmissão da propriedade gerador de uma obrigação de entregar a coisa alienada e o fundamento da tradição ou da transcrição. 5.6.3. Elementos constitutivos Três são seus elementos: a coisa, o preço e o consentimento. Pode haver em certos casos um quarto elemento, qual seja a forma com que é realizado. Para tanto, a coisa deverá: 1. ter existência ainda que potencial; 2. ser individuada, ser determinada ou determinável; 3. ser disponível ou estar no comércio; 4. ter a possibilidade de ser transferida ao comprador (ninguém pode transferir a outrem direito de que não seja titular);

Direito aplicado à logística - Professor Eduardo Hoffmann · É direito do locador: a) Receber o pagamento do aluguel (CC, 565). b) Reaver a coisa locada, após o vencimento da

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Direito aplicado à logística

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5.6. CONTRATO DE COMPRA E VENDA (CC, 481 a 532).

5.6.1. Conceito

Contrato em que uma pessoa (vendedor) se obriga a transferir a outra

(comprador) o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea, mediante o pagamento de

certo preço em dinheiro ou valor fiduciário correspondente.

5.6.2. Caracteres

Gera um vínculo obrigacional (pessoal), de apenas transferir o domínio,

sendo que a transferência da propriedade somente se perfaz pela tradição, se móvel ou

pelo registro do título aquisitivo no cartório competente, se o bem for imóvel.

Em sua caracterização jurídica, este é:

a) bilateral ou sinalagmático: pois cria obrigação para ambos os

contratantes, que são credores e devedores ao mesmo tempo.

b) oneroso: ambas as partes auferem vantagem econômica. Há

equivalência entre o ônus e a vantagem transferida.

c) comutativo ou aleatório: em regra é comutativo, porque há objeto

certo e determinado, havendo equivalência nas prestações e contraprestações.

Excepcionalmente será aleatório, nas hipóteses dos artigos 458 e 459 do Código Civil.

d) consensual ou solene: de regra, basta o consenso, somente será

solene se a lei assim o exigir, como no caso de aquisição de imóveis, que é exigido

escritura pública (CC, 108 e 215).

e) translativo do domínio: no sentido de servir como titulus adquirendi,

isto é, de ser o ato causal da transmissão da propriedade gerador de uma obrigação de

entregar a coisa alienada e o fundamento da tradição ou da transcrição.

5.6.3. Elementos constitutivos

Três são seus elementos: a coisa, o preço e o consentimento. Pode haver

em certos casos um quarto elemento, qual seja a forma com que é realizado.

Para tanto, a coisa deverá: 1. ter existência ainda que potencial; 2. ser individuada, ser

determinada ou determinável; 3. ser disponível ou estar no comércio; 4. ter a

possibilidade de ser transferida ao comprador (ninguém pode transferir a outrem

direito de que não seja titular);

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Quanto ao preço, este deverá apresentar: 1. pecuniariedade, soma em

dinheiro que o comprador paga ao vendedor; 2. seriedade: deverá ser sério, real e

verdadeiro, não pode haver compra e venda de valor zero ou nulo; 3. certeza: deverá ser

certo ou determinado para que o comprador possa efetuar o pagamento devidamente.

Por fim, necessita-se do consentimento dos contratantes.

5.6.4. Consequências jurídicas

São conseqüências da realização de contrato de compra e venda:

a) obrigação do vendedor entregar a coisa com todos os seus acessórios, transferindo ao

adquirente a sua posse/propriedade, e do comprador de pagar o preço, na forma e

preços estipulados.

b) obrigação de garantia, contra vícios aparentes ou redibitórios e

evicção.

c) responsabilidade pelos riscos e despesas, antes da tradição ou

transcrição no registro imobiliário (CC, 492). Quanto às despesas para a transferência do

bem, salvo cláusula em contrário, conforme prescreve o CC, 490, que ficarão as da

escritura e registro a cargo do comprador, e as da tradição a cargo do vendedor, bem

como as dívidas incidentes sobre o bem (CC, 502).

d) direito aos cômodos (proveitos ou melhoramentos) antes da tradição

(CC, 237).

e) responsabilidade do alienante por defeito oculto nas vendas de

coisas conjuntas, pois, se o objeto for uma universalidade. O defeito oculto de um deles

não autoriza a rejeição de todos pelo comprador (CC, 503).

f) direito do comprador de recusar coisa vendida mediante amostra,

por não ter sido entregue nas condições prometidas (CC, 484).

g) direito do adquirente exigir se o contrato tem por objeto a venda de

terras, o complemento da área, em caso de falta de correspondência entre a área

efetivamente encontrada e as dimensões dadas, e, se isso não for possível, de reclamar a

rescisão do negócio ou o abatimento do preço, desde que a venda seja ad mensuram (CC,

500), isto é, a especificação precisa da área do imóvel é elemento indispensável, pois ela

é que irá determinar o preço total do negócio. Por outro lado, não haverá complemento

da área, nem devolução de excesso, se o imóvel foi vendido como coisa certa e

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discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referencia às suas dimensões, ainda que

não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus (CC, 500,§ 3º).

h) exoneração do adquirente de imóvel, que exibir certidão negativa de

débito fiscal a que possa estar sujeito o bem adquirido, de qualquer responsabilidade

por dívida anterior do imóvel.

5.6.5. Cláusulas especiais à compra e venda

a) retrovenda

O vendedor se reserva o direito de reaver, em certo prazo, o imóvel

alienado, restituindo ao comprador o preço ou o valor recebido, mais as despesas por ele

realizadas durante o período de resgate, desde que autorizadas por escrito, inclusive as

empregadas em melhoramentos necessários do imóvel (CC, 505). Ex: A, não querendo

perder sua propriedade, ante a dificuldade financeira transitória, vende seu imóvel a B

sob a condição de recomprá-lo no prazo pactuado ou legal, mediante restituição do

preço e de todos os dispêndios feitos pelo comprador.

Admissível apenas na venda de imóveis, torna a propriedade resolúvel.

Não pode ser cedido por ato inter vivos. Passado o prazo de 03 anos, sem que o vendedor

exerça seu direito ao retrato, a venda torna-se irretratável.

b) venda a contento e venda sujeita a prova

Subordina o contrato à condição de ficar desfeito se o comprador não se

agradar da coisa. Só se torna perfeito e acabado, caso o comprador declarar que a coisa

adquirida lhe satisfaz (CC, 509).

Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição

suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea

para o fim a que se destina (CC, 510). Trata-se, indubitavelmente, de uma venda sob

experimentação ou ensaio, que se realiza sob a condição suspensiva.

c) perempção ou preferência

O comprador de coisa móvel ou imóvel fica com a obrigação de oferecê-

la por meio de notificação judicial ou extrajudicial a quem lhe vendeu, para que este use

do seu direito de preferência em igualdade de condições com terceiros, no caso de

pretender vende-la ou dar em pagamento (CC, 513).

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Tal prazo não poderá ser superior a 180 dias no caso de móveis e de 02

anos no caso de imóveis (CC, 513). Pela Lei nº 10.257/01, conforme estipulação dos

artigos 25 e 27 há preferência do município na aquisição onerosa dos imóveis.

d) reserva de domínio

Estipula-se em regra na aquisição de coisa móvel infungível (CC, 523),

que o vendedor reserva para si a sua propriedade até o momento em que se realize o

pagamento integral do preço (CC, 521). Dessa forma, o comprador só adquirirá o

domínio da coisa se integralizar o preço, momento em que o negócio terá eficácia plena

(CC, 524).

e) venda sobre documentos

Tratado nos artigos 529 a 532 do Código Civil, este substitui a tradição

da coisa pela entrega de seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo

contrato. É uma entrega simbólica da coisa adquirida.

5.7. LOCAÇÃO

5.7.1 Conceito e espécie

Contrato pelo qual uma das partes, mediante remuneração paga a outra,

que se compromete a fornecer-lhe, durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma

coisa infungível, ou a prestação de serviço apreciável economicamente ou a execução de

alguma obra determinada.

Neste sentido, três são as espécies de locação previstas no Código Civil:

a) Locação de coisa: o locador concede ao locatário tão-somente o uso

e o gozo de uma coisa, mediante remuneração em dinheiro (CC, 565 a 578).

b) Locação de serviço: relativa a prestação de um serviço

economicamente apreciável, considerada em si mesma, independentemente do

resultado (CC, 593 a 609);

c) Locação de obra ou empreitada: se objetivar a execução de certa

obra ou determinado trabalho, tendo-se em vista um fim ou efeito (CC, 610 a 626).

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5.7.2 Caracteres gerais

Possuem os seguintes caracteres gerais:

a) Cessão temporária de uso e gozo da coisa, sem transferência de sua

propriedade, por se tratar de locação de coisas; da prestação de serviços

economicamente apreciáveis, se a locação for de serviço; ou da execução da obra

determinada, se consistir em empreitada.

b) Remuneração, que na locação de coisas é designada aluguel, na de

serviço, salário, e, na empreitada, preço.

c) Contratualidade, consistindo o contrato em bilateral, oneroso,

comutativo, consensual, execução continuada.

d) Presença das partes intervenientes, isto é, no contrato de locação, de

um lado temos o locador, e, de outro, o locatário.

5.7.3 LOCAÇÃO DE COISAS

5.7.3.1 Conceito e elementos essenciais

Nos termos do artigo 565 do Código Civil na locação de coisas, uma das

partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não

fungível, mediante certa retribuição.

Para sua validade, requer esta espécie de contrato:

a) Consentimento válido, consubstanciada na manifestação recíproca do

acordo completo dos contraentes com o intuito de obrigar-se cada um a certa prestação

com relação ao outro.

b) Capacidade dos contraentes, que é condição sine qua non da validade

do consentimento dado por eles, uma vez que a intenção deliberada de contratar requer

que o contratante tenha consciência de seu ato e que o pratique livre e

espontaneamente.

c) Cessão de posse do objeto locado, que deverá ser:

c.1) infungível, seja corpóreo ou incorpóreo, móvel ou imóvel, divisível

ou indivisível, ante a natureza do contrato, ou seja, ao final o locatário deverá restituir o

bem, sem diminuição de sua substância.

c.2) inconsumível, pois, se destinada a serem consumidas, impossível

seria a sua restituição pelo locatário no término do contrato.

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c.3) suscetível de gozo, material ou juridicamente, isto é, ser lícito e

possível, sob pena de nulidade.

c.4) objeto determinado ou determinável.

c.5) dado por quem possua título bastante para fazê-lo, como o

proprietário, mandatário, usufrutuário, inventariante da coisa.

c.6) alienável ou inalienável, não sendo necessário que esteja no

comércio.

d) remuneração, ou seja, o aluguel ou renda, que é pago pelo locatário

periodicamente pelo uso da coisa, em regra em dinheiro. Deverá ser certo e determinado

ou determinável. Não pago, enseja a cobrança por via executiva ou então resolução do

contrato.

e) Lapso de tempo determinado ou não. A única limitação que há é

quanto aos imóveis da União, que não poderão ultrapassar 10 anos (Dec.-lei 9.760/46,

art. 96).

f) forma livre, não exigindo a lei forma especial, valerá, seja qual for a

forma de que se vestir.

5.7.3.2 Direitos e obrigações do locador

É direito do locador:

a) Receber o pagamento do aluguel (CC, 565).

b) Reaver a coisa locada, após o vencimento da locação. Antes de findo o

contrato, somente poderá reaver a coisa se ressarcir o locatário das perdas e danos, o

qual terá direito a reter a coisa, enquanto não perceber tal indenização (CC, 571).

No entanto, são obrigações do locador:

a) Entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças (CC, 93),

em estado de servir ao uso a que se destina (CC, 566, I).

b) Manter o bem nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula

expressa em contrário (CC, 566 I). Deverá, portanto, realizar reparações necessárias

para que a coisa locada possa ser utilmente empregada. Pelos termos do artigo 567 do

Código Civil, se, durante a locação, a coisa, se deteriorar, sem culpa do locatário, a este

caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou rescindir o contrato, somente se a

coisa não mais servir para o fim a que se destinava. Se o bem perecer, resolver-se-á o

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contrato, com perdas e danos, se houve culpa do locador, embora os contraentes possam

estipular em contrário.

c) Responder pelos defeitos ou vícios ocultos do bem locado (CC, 568).

d) Garantir o uso pacífico da coisa locada, durante o tempo do contrato

(CC 566), abstendo-se da prática de qualquer ato que possa comprometer o uso e gozo

da coisa locada e garantindo ao locatário contra perturbações de terceiros.

e) Pagar não só os impostos que incidam sobre o imóvel locado,

prêmios de seguro contra incêndio, taxas e quaisquer despesas de intermediação ou

administração imobiliária, despesas extraordinárias de condomínio, salvo estipulação

em contrário.

f) Fornecer recibo de aluguel e de encargos.

g) Indenizar as benfeitorias úteis e ou necessárias feitas pelo locatário

de boa-fé, que terá direito de reter a coisa até receber a indenização. Quanto as

benfeitorias voluptuárias, como é caso da fonte, o locador poderá pagá-las ou deixar que

o locatário as remova desde que sem detrimento da coisa.

5.7.3.3 Direitos e deveres do locatário

A seu turno terá o locatário o direito de:

a) exigir do locador não só a entrega da coisa, mas, o recibo de aluguel

ou de encargos, a manutenção do statu quo da coisa locada durante o tempo do contrato,

mas também a garantia do uso pacífico do bem locado e a responsabilidade pelos vícios

ocultos;

b) Pedir ao locador, relação escrita do estado do bem, no ato da entrega.

Não sendo fornecido, não poderá o locador reclamar perdas e danos.

c) Reter a coisa, enquanto não for ressarcido pelo locador que pediu o

bem antes do vencimento do prazo (CC 571).

d) Preferência para a aquisição, que nos termos do CC, 576 aduz: Se a

coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o

contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não

constar de registro.

e) Ser despejado mediante denúncia vazia ou cheia.

f) Sublocar, ceder ou emprestar, desde que é claro, aja anteriormente

consentimento prévio e expresso do locador, quanto a tal possibilidade (STF, 411).

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No entanto, terá o locatário o dever de:

a) Servir-se da coisa locada exclusivamente para o uso convencionado

ou presumido (CC, 569). Se desviar a finalidade ou se perder por sua culpa, o locador

poderá rescindir o contrato e exigir perdas e danos (CC, 570).

b) Tratar da coisa locada como se fosse sua (CC 569).

c) Pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, ou segundo os

costumes do lugar. Havendo devolução do bem antes do termo contratual, prescreve o

artigo 572 do Código Civil que se a obrigação de pagar o aluguel pelo tempo que faltar

constituir indenização excessiva, será facultado ao juiz fixá-la em bases razoáveis.

d) Leve ao conhecimento do locador os danos, que a este incumbe

reparar, e as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito (CC 569).

e) Restituir a coisa quando finda a locação, no estado em que a recebeu,

salvo as deteriorações decorrentes do uso regular (CC, 569 IV).

5.7.3.4 Extinção da locação

Cessará a locação, se houver: a) distrato ou resilição bilateral; b)

retomada do bem locado; c) implemento de cláusula resolutória expressa; d) perda total

da coisa (incêndio); e) perda parcial ou deterioração do bem por culpa do locador ou do

locatário; f) vencimento do prazo contratual determinado; g) desapropriação do bem; h)

morte do locatário, se não tiver sucessores ou sublocatário; i) nulidade ou anulabilidade

do contrato locatício, em razão de vício; j) resilição unilateral por inexecução contratual

ou por infração à lei, por parte do locador ou do locatário; l) falência ou concordata de

um dos contratantes, desde que as partes pactuem a rescisão contratual por essa razão.

5.7.4 LOCAÇÃO DE OBRA OU EMPREITADA

5.7.4.1 Conceito e caracteres

É o contrato pelo qual um dos contratantes (empreiteiro) se obriga, sem

subordinação ou dependência, a realizar, pessoalmente ou por meio de terceiro, certa

obra para o outro (dono da obra ou comitente), com material próprio ou por este

fornecido, mediante remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado.

A empreitada se caracteriza pelo fato de considerar o resultado final e

não a atividade do empreiteiro, em si, como objeto da relação contratual.

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A remuneração ou preço é elemento essencial, seja em dinheiro, seja em

outra espécie, seja mesmo em uma cota-parte da própria obra a ser realizada. Além do

mais, a direção e fiscalização competem ao próprio empreiteiro, que contratará e

despedirá os operários, havendo independência entre os contratantes, não gerando,

portanto qualquer vínculo de subordinação ou de disciplina entre eles.

Tal contrato apresenta os seguintes traços característicos: a)

bilateralidade, por haver obrigações recíprocas; b) comutatividade, prestações

equivalente; c) onerosidade, vantagens mediante contraprestação; d) consensualidade,

não exige forma especial; e) indivisibilidade, pois objetiva uma obra, a qual não se

admitiria sua exeqüibilidade fracionada, exceto quando assim o for contratada. Neste

sentido reza o artigo 614 do Código Civil que se a obra constar de partes distintas, ou for

de natureza das que se determinam por medida, o empreiteiro terá direito a que também

se verifique por medida, ou segundo as partes em que se dividir, podendo exigir o

pagamento na proporção da obra executada; f) execução sucessiva e continuada, por

demandar certo espaço de tempo, realiza-se por uma séria concatenada de atos, gerando

risco da exposição da coisa e o direito de retenção por descumprimento.

5.7.3.2 Modalidades

a) quanto ao modo de fixação do preço ou da remuneração:

a.1) empreitada a preço fixo: se a retribuição for estipulada para a

obra inteira, sem considerar o fracionamento da atividade. Se não se admitir qualquer

variação, ter-se-á empreitada a preço fixo e o empreiteiro não poderá exigir do

comitente quantia maior do que a ajustada (CC, 619).

a.2) empreitada por medida, ‘ad mensuram’: se na fixação do preço

se atender ao fracionamento da obra, considerando-se as partes em que ela se divide ou

a medida (CC, 614). O pagamento é estipulado a tanto por unidade ou por parte

concluída. Aquilo que é pago, se presume verificado isto é, medido.

a.3) empreitada de valor reajustável: se contiver cláusula permissiva

de variação de preço em consequência de aumento ou diminuição valorativa da mão-de-

obra e dos materiais. Possibilita-se, ainda a variação conforme índices oficiais.

a.4) empreitada por preço máximo: se ficar estabelecido um limite de

valor que não poderá ser ultrapassado pelo empreiteiro no decorrer da obra.

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a.5) empreitada por preço de custo: se o empreiteiro se obrigar a

realizar o trabalho, ficando sob sua responsabilidade o fornecimento dos materiais e o

pagamento da mão-de-obra, mediante reembolso do dispendido, acrescido do lucro

assegurado.

b) à execução do trabalho pelo empreiteiro pode ser (CC, 610):

b.1) empreitada de lavor: se o empreiteiro apenas assumir a

obrigação de prestar o trabalho necessário para a confecção, a produção, a construção

ou a execução da obra, competindo ao contratante o fornecimento dos materiais

necessários;

b.2) empreitada de materiais ou mista: se o empreiteiro, ao se

obrigar à realização de uma obra, além de fornecer os materiais necessários à sua

execução e fornecer a mão-de-obra, contraindo uma obrigação de fazer e uma de dar.

5.7.3.3 Efeitos

a) Direitos do empreiteiro:

a.1) perceber a remuneração convencionada, podendo promover ação

contra o comitente para recebê-la;

a.2) exigir do dono da obra que a aceite, uma vez concluída conforme

contratado (CC, 615);

a.3) requerer a medição das partes já concluídas, quando a obra se

constitui por etapas, presumindo-se a seu favor a verificação de tudo o que foi pago;

a.4) reter a obra, em função do trabalho a que se obrigou, recusando-se

a entregá-la até que o comitente satisfaça a sua obrigação;

a.5) constituir o comitente em mora, consignando judicialmente a obra,

caso o comitente se recuse a receber a obra nos termos em que foi contratado;

a.6) ceder o contrato de empreitada a outrem, desde que não seja este

intuitu personae, dando origem a subempreitada;

a.7) suspender a obra, nos termos do artigo 625 do Código Civil, ou

seja: I - por culpa do dono, ou por motivo de força maior; II - quando, no decorrer dos

serviços, se manifestarem dificuldades imprevisíveis de execução, resultantes de causas

geológicas ou hídricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a empreitada

excessivamente onerosa, e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço inerente ao

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projeto por ele elaborado, observados os preços; III - se as modificações exigidas pelo dono

da obra, por seu vulto e natureza, forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda que

o dono se disponha a arcar com o acréscimo de preço.

b) Obrigações do empreiteiro:

b.1) executar a obra conforme as determinações do contrato e dentro

da boa técnica, pessoalmente, sempre que a empreitada for intuitu personae;

b.2) corrigir os vícios ou defeitos que a obra apresentar (CC, 618);

b.3) não fazer acréscimos ou mudanças que não sejam fundadas em

razões de absoluta necessidade técnica, sem o assentimento do dono da obra;

b.4) entregar a obra concluída a seu dono, que terá o dever de recebê-la

(CC 615 e 616);

b.5) pagar os materiais que recebeu do comitente, se por imperícia ou

negligência os inutilizar (CC 617), e responder por perdas e danos se, sem justa causa,

suspender a execução da empreitada (CC 624);

b.6) denunciar ao comitente os defeitos e falas dos materiais entregues

para a obra que possam comprometer a sua execução;

b.7) fornecer, se a empreitada for mista, os materiais de acordo com a

qualidade e a quantidade convencionadas (CC 610).

c) Direitos do dono da obra (comitente):

c.1) exigir do empreiteiro a observância da obrigação contratual e de

suspender a obra desde que pague o empreiteiro as despesas e lucros alusivos aos

serviços já executados, e ainda indenização razoável, calculada em função do que ele

teria ganho, se concluísse a obra;

c.2) receber a obra concluída de acordo com o pactuado (CC, 615);

c.3) acompanhar a execução da obra em todos os seus trâmites;

c.4) enjeitar a obra ou pedir abatimento no preço, se o empreiteiro se

afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos

de tal natureza (CC 616);

c.5) pedir não só o ressarcimento dos materiais perdidos por

negligência ou imperícia do empreiteiro como também indenização se ocorrer

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diminuição no preço do material ou da mão-de-obra superior a um décimo do preço

global convencionado (CC 617 e 620).

d) Dever do dono da obra (comitente):

d.1) pagar ao empreiteiro, na época ajustada, a remuneração

convencionada;

d.2) verificar tudo o que foi feito, apontando falhas, sob pena de se

presumirem aceitas e verificadas as partes já pagas;

d.3) receber a obra, uma vez concluída, de acordo com o ajuste e o

costume do lugar;

d.4) fornecer os materiais necessários, quando isso lhe competir (CC

610);

d.5) indenizar o empreiteiro pelos trabalhos e despesas que houver

feito, se rescindir ou suspender o contrato, pagando ainda por eventuais perdas e danos

(CC 623);

d.6) não alterar o projeto da obra já aprovado, sem anuência do autor.

e) É de responsabilidade do empreiteiro:

e.1) solidez e segurança do trabalho (CC 618);

e.2) aos riscos da obra, se ele forneceu os materiais, até o momento de

sua entrega, a contento de quem a encomendou, se este não estiver em mora de receber;

e.3) ao preço dos materiais empregados na obra, perante os

fornecedores, se a empreitada for mista. Os fornecedores não poderão reclamar o custo

dos materiais do dono da obra, pois nenhum liame jurídico há entre eles;

e.4) aos danos causados a terceiros (CC 929);

e.5) aos impostos, perante as Fazendas Públicas, se a empreitada

compreender execução e materiais, visto que o fornecimento destes assume o aspecto de

venda, justificando a cobrança de tributo.

f) Responsabilidade do dono da obra (comitente) quanto:

f.1) aos riscos de transporte da coisa confeccionada, se ela for remetida

por ordem sua para lugar diverso daquele que estava ajustado no contrato, exceto se o

empreiteiro se afastar se suas instruções;

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f.2) aos riscos da obra, se a empreitada for de lavor (ele forneceu os

materiais);

f.3) à falta de recolhimento das contribuições previdenciárias do

pessoal empregado na obra, se esse encargo não for atendido pelo empreiteiro, ficando,

assim, com ele solidariamente a responsabilidade (Lei n° 8.212/91, arts. 30 e 31);

f.4) ao preço dos materiais, se a empreitada for de lavor.

5.7.3.4 Cessação do contrato de empreitada

Cessará o contrato de empreitada se houver: a) execução da obra ou

adimplemento da obrigação; b) morte do empreiteiro, se o ajuste for intuitu personae, do

outro lado, com o óbito do dono da obra, seus herdeiros assumirão seu lugar até as

forças da herança (CC, 626 e 1.792); c) resilição unilateral, por parte do comitente,

devendo pagar ao empreiteiro os custos até o momento mais indenização pelos lucros

que viesse a ter; d) distrato ou resilição bilateral; e) resolução por inexecução

contratual; f) falência do empreiteiro; g) desapropriação; h) impossibilidade da

prestação, em razão de força maior ou caso fortuito.

5.8. CONTRATO DE MANDATO

5.8.1 Definição

É o contrato pelo qual alguém (mandatário ou procurador) recebe de

outrem (mandante) poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses

(CC, 653).

O mandatário, como representante do mandante, fala e age em seu

nome e por conta deste. Logo, é o mandante quem contrai as obrigações e adquire os

direitos como se tivesse tomada parte pessoalmente no negócio jurídico.

5.8.2 Caracteres jurídicos

b.1) Contratualidade, pois requer a manifestação de duas vontades.

Necessário que o mandatário, aceite expressa ou tacitamente o mandato. O simples

silêncio não indica aceitação do encargo. É um contrato bilateral (deveres para ambas as

partes), gratuito ou oneroso, intuitu personae, preparatório (habilita a praticar atos) e

consensual.

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b.2) Representatividade

Estabelece um liame obrigacional entre representado e terceira pessoa,

por meio do representante. O representante recebe poderes para agir em nome do

representado. Assim, os atos do representante, só vincularão o representado se

praticados em seu nome e dentro dos limites do instrumento que lhe foi concedido, isto

é, conforme os poderes constantes da procuração. Se extrapolar os poderes conferidos,

para gerar vínculo dependerá de ratificação do representado, sendo que o representante

assumirá estes.

b.3) Revogabilidade

Qualquer dos contratantes poderá ad nutum pôr fim ao contrato, sem

anuência do outro, sem qualquer justificativa, mediante simples manifestação volitiva

unilateral, isto é, pela revogação por parte do mandante e pela renúncia por parte do

mandatário.

Não pode ser revogado quando: a) estiver estabelecido que o mandante

não pode revogá-la ou então se se tratar de procuração em causa própria; b) nos casos,

em geral, em que for condição de um contrato bilateral ou meio de cumprir uma

obrigação contratada, como é, nas letras e ordens, o mandato de pagá-las; c) quando

contiver poderes de cumprimento ou confirmação de negócios encetados, aos quais se

ache vinculado.

5.8.3 Requisitos

Exige para sua efetivação, a ocorrência dos seguintes requisitos:

a) Subjetivos, além do consenso das partes, exige capacidade tanto do

mandante quanto do mandatário.

b) Objetivos, deverá se revestir dos mesmos requisitos do objeto de um

negócio jurídico, isto é, deverá ser lícito, física e juridicamente possível.

c) Formais, não se exige forma especial para a sua validade ou para a

sua prova.

5.84 Espécies

Pode-se classificar o mandato quanto:

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d.1) às relações entre mandante e mandatário, que poderá ser oneroso

ou gratuito.

d.2) à pessoa do procurador, caso em que surgirá o mandato singular

(único procurador) ou então mandato plural (vários procuradores).

d.3) ao modo de manifestação da vontade, quando se terá o mandato

expresso (poderes específicos) ou mandato tácito (aceitação do encargo se der por atos

que a presumem).

d.4) à forma de sua celebração, podendo ser verbal (até 10 salário

mínimos) ou escrito.

d.5) ao objeto, caso em que se terá: mandato civil, onde as obrigações

do procurador não se constituem na prática ou na administração de interesses

mercantis; ou mandato empresarial, comercial ou mercantil, onde o procurador tiver de

praticar atividades econômicas organizadas dirigidas à produção e circulação de bens e

serviços.

d.6) à sua extensão, quando se terá mandato geral (todos os negócios do

mandante) ou especial (relativo a um ou mais negócios determinados do mandante).

d.7) ao conteúdo, hipótese em que surgirá: mandato em termos gerais

(se só conferir poderes de administração) ou mandato com poderes especiais (atos de

alienação ou disposição).

d.8) ao fim, para o qual o procurador contrai a obrigação, circunstância

em que se terá: mandato ad negotia ou extrajudicial (fora do Judiciário) ou mandato

judicial ou ad judicia.

5.8.5 Direitos e deveres do mandatário

O mandatário, ao aceitar o encargo, passará a ter o direito de:

e.1) exigir a remuneração ajustada e as despesas de execução do

mandato. Se não ajustada remuneração, será este gratuito;

e.2) pedir ao mandante que adiante a importância das despesas

necessárias à execução do mandato;

e.3) receber o que desembolsou para fazer frente às despesas

necessárias ao exercício do mandato;

e.4) reter o objeto que estiver em seu poder por força do mandato até

ser reembolsado do despendeu;

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e.5) substabelecer os seus poderes representativos;

e.6) obter do mandante a quitação dos seus encargos, ao prestar as

contas;

e.7) não prestar contas se mandato em causa própria for revogado.

Contudo, terá o dever de:

e.8) dar execução ao mandato, agindo em nome do mandante de acordo

com as instruções e os poderes dele recebidos e a natureza do negócio que deve efetivar;

e.9) aplicar toda a sua diligencia habitual na execução do mandato;

e.10) manter o mandante informado de tudo o que se passa com os

negócios, especialmente no que diz respeito às responsabilidade assumidas e às

vantagens;

e.11) responder, se substabeleceu o mandato não obstante proibição do

mandante;

e.12) indenizar qualquer prejuízo causado por sua culpa ou daquele a

quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente;

e.13) responder somente por culpa in eligendo, se fez

substabelecimento com autorização do mandante;

e.14) apresentar o instrumento do mandato às pessoas com quem

tratar em nojme do mandante;

e.15) enviar ao mandante as somas recebidas em função do mandato ou

deposita-las em nome do mandante, de acordo com as instruções recebidas;

e.16) prestar contas de sua gerência ao mandante;

e.17) não compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos

que, por outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte.

e.18) substituir, se houver mais de um mandatário, o que não puder

assumir o encargo ou o renunciar;

e.19) concluir, por lealdade, o negócio já começado, se houver perigo na

demora, isto é, se da sua inação advier dano ao mandante ou aos seus herdeiros, embora

ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante.

e.20) representar o mandante, para evitar-lhe prejuízo, durante os dez

dias seguintes à notificação de sua renúncia ao mandato judicial;

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e.21) entregar ao novo mandatário, em caso de renúncia, os bens do

mandante que se encontravam em seu poder;

e.22) responsabilizar-se pessoalmente pelos atos negociais feitos em

seu próprio nome, ainda que em conta do mandante.

5.8.6 Direitos e obrigações do mandante

O mandante terá direito de:

f.1) revogar ad nutum o mandato, exceto quando contiver cláusula de

irrevogabilidade ou então for em causa própria.

f.2) permitir ou não o substabelecimento do mandato;

f.3) ratificar ou não o negócio realizado pelo mandatário, quando este

exceder os poderes conferidos, ou então ratificar os atos de quem não tenha mandato.

f.4) exigir que as somas recebidas pelo mandatário, em função do

mandato, lhe sejam entregues ou depositadas em seu nome;

f.5) reclamar a prestação de contas por parte do mandatário;

f.6) exigir a responsabilidade do mandatário, no caso de proibição

expressa, ou de omissão ou de autorização de substabelecimento do mandato pelos

prejuízos causados;

f.7) mover contra o mandatário ação pelas perdas e danos resultantes

da inobservância de suas instruções;

f.8) solicitar que o procurador preste informações a respeito do estado

em que se encontram os negócios;

f.9) acionar o mandatário que comprou em nome próprio algo que

deveria, por disposição expressa no mandato, adquirir para o mandante.

A seu turno terá obrigação de:

f.10) remunerar os serviços do mandatário, quando assim ficar

convencionado, ou quando o objeto do mandato for daqueles que o procurador trata por

ofício ou profissão lucrativa;

f.11) adiantar as despesas necessárias à execução do mandato, quando

o mandatário lhe pedir; se recusar, o mandatário poderá renunciar ao mandato;

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f.12) reembolsar o mandatário não só de todas as despesas feitas na

execução do mandato, bem como das quantias em que ele porventura tenha adiantado

par ao cumprimento da obrigação.

f.13) ressarcir o mandatário dos prejuízos que sofreu em consequência

do mandato, sempre que não resultem de culpa sua ou excesso de poderes;

f.14) honrar os compromissos em seu nome assumidos, satisfazendo

todas as obrigações contraídas;

f.15) vincular-se com quem o seu procurador contratou;

f.16) responder extracontratualmente pelos prejuízos causados a

terceiros com o exercício do mandato;

f.17) pagar a remuneração do substabelecido;

f.18) vincular-se a terceiro de boa-fé que contrata com alguém que tem

aparência de ser o seu mandatário;

f.19) responsabilizar-se pelo negócio estipulado, expressamente, em

seu nome pelo mandatário;

f.20) pagar perdas e danos se revogar mandato contendo cláusula de

irrevogabilidade.

5.8.7 Modos terminativos do mandato

Extingue-se o mandato, nos termos do artigo 682: I - pela revogação ou

pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes; III - pela mudança de

estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV

- pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.

Pode-se acrescer a estas a impossibilidade de execução do negócio

objeto do mandato; o advento de condição resolutiva expressa; a nulidade do mandato; e

a resolução por inadimplemento contratual faltoso.

5.9. CONTRATO DE SEGURO

5.9.1 Conceito e caracteres

É aquele pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com outra

(segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legitimo

relativo à pessoa ou a coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros,

previstos no contrato (CC, 757).

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Segurador é aquele que suporta o risco assumido mediante o

recebimento do prêmio, sendo esta atividade realizada por companhias especializadas

(sociedades anônimas) previamente autorizadas pelo governo federal.

Segurado é o que tem interesse direto na conservação da coisa ou

pessoa, efetuando pagamento do prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá

de, em caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, perda

das faculdades humanas etc. indenizá-lo pelos danos sofridos.

A noção de seguro supõe a de risco, isto é, o fato de estar o sujeito

exposto à eventualidade de um dano à sua pessoa, ou ao seu patrimônio, motivado pelo

acaso. Com a verificação do evento a que está condicionada a execução do dever do

segurador, ele pagará a indenização, se o dano atingir a pessoa ou os bens do segurado.

Apresenta os seguintes caracteres: bilateralidade, oneroso, aleatório,

formal (obrigatória a forma escrita), de execução sucessiva ou continuada e por adesão.

5.9.2 Requisitos

São requisitos subjetivos: a) Segurador deve ser pessoa jurídica,

devidamente autorizada pelo governo federal para operar no ramo; b) Segurado deverá

ter capacidade civil; c) Nem todos poderão ser beneficiários (CC, 793, 550, 1801, III,

1814 e 1818); d) Consentimento de ambos os contraentes; e) Não há em regra

solidariedade do co-segurador perante o segurado, pelo artigo 761 do Código Civil, o

segurador-administrador em sendo acionado, por representar os demais, possui ação

regressiva contra eles; f) Não há vinculo entre o segurado e o órgão ressegurador.

Dois são os requisitos objetivos: a) liceidade e possibilidade do objeto,

que é o risco descrito na apólice, e; b) valor do objeto deve ser determinado.

Por fim, como requisito formal, tem-se que o seguro é contrato formal

por exigir documento para ser obrigatório.

5.9.3 Modalidades

Pode-se classificar o contrato de seguro:

1. Quanto às formas que os disciplinam

a) Seguro comercial

b) Seguro civil: o de dano e o de pessoa

2. Quanto ao numero de pessoas

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a) seguro individual

b) seguro coletivo (CC, 801)

3. Quanto ao meio em que se desenvolve o risco

a) seguro aéreo

b) seguro terrestre

c) seguro marítimo

4. Quanto ao objeto que visam garantir

a) seguro patrimonial

b) seguro real

c) seguro pessoal

5. Quanto à prestação dos segurados

a) seguro à prêmio

b) seguro mútuo

c) seguro misto

6. Quanto às obrigações do segurador

a) seguro de ramos elementares

b) seguro de pessoas

b.1) seguro de vida stricto sensu

b.2) seguro contra acidentes

a) seguro contra acidente do trabalho

b) seguro contra acidentes pessoais

7. Seguro de dano: CC, 778 c/c 766

8. Seguro de pessoa

a) Conceito: é o que garante, mediante o prêmio anual que se

ajustar, o pagamento de certa soma a determinada pessoa, por morte, incapacidade ou

acidente do segurado, podendo estipular-se igualmente o pagamento dessa soma ao

próprio segurado, ou a terceiro, se aquele sobreviver ao prazo de seu contrato.

b) espécies: de vida inteira com prêmio fixo; de vida inteira com

prêmios temporários; de capital diferido, e; misto

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5.9.4 Direitos e deveres do segurado

Como direitos, pode-se elencar: a) receber a indenização e a reparação

do dano, equivalente a tudo aquilo que esteja dentro do risco assumido; b) reter os

prêmios atrasados e fazer outro seguro pelo valor integral, se o segurador estiver

insolvente; c) não ver aumentado o prêmio, embora hajam agravado os riscos assumidos

pelo segurador em razão de fato alheio à sua vontade; d) receber reembolso de despesas

feitas no interesse da seguradora para diminuir os prejuízos; e) ser defendido pelo

segurador nos casos de responsabilidade civil, cuja reparação esteja a cargo dela; f)

abandonar a coisa segura, se entender que o capital segurado lhe é mais conveniente do

que a sua recuperação ou indenização parcial; g) exigir revisão do prêmio ou resolução

contratual, se a redução do risco for considerável.

Quanto às suas obrigações, pode-se afirmar que são: a) pagar o prêmio

convencionado; b) responder pelos juros moratórios; c) abster-se de tudo que possa

aumentar os riscos ou de tudo que for contrário aos termos estipulados; d) comunicar

ao segurador todo incidente que possa agravar o risco; e) levar ao conhecimento do

segurador a ocorrência do sinistro, assim que souber de sua verificação; f) demonstrar

os prejuízos que sofreu com o sinistro; g) ser leal, respondendo com sinceridade as

perguntas necessárias à avaliação do risco e ao cálculo do prêmio; h) abster-se de

transacionar com a vítima, com o responsável pelos danos, sem o prévio consentimento

do segurador.

5.9.5 Direitos e deveres do segurador

Como direito, pode-se dizer que são: a) receber o prêmio durante a

vigência do contrato; b) isentar-se do pagamento da indenização, se provar dolo do

segurado e a ocorrência das hipóteses do CC, 778, 766 e 784; c) responder

exclusivamente pelos riscos que assumiu; d) opor ao sucessor ou representante do

segurado, nos caos de sinistro, todos os meios de defesa que contra ele lhe assistirem; e)

sub-rogar-se, se pagar indenização, no direito respectivo contra o autor do sinistro,

podendo reaver o que desembolsou; f) merecer lealdade do segurado; g) reajustar o

prêmio para que este corresponda ao risco assumido; h) comunicar ao segurado

alterações havidas com o risco ou com a titularidade da apólice; i) exonerar-se de suas

responsabilidade no caso do art. 763 do CC.

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Como deveres, tem-se: a) indenizar o segurado quanto aos prejuízos

resultantes do risco assumido, conforme as circunstâncias e o valor da coisa segura; b)

aceitar a cessão do seguro e pagar a terceiro indenização, como acessório da

propriedade ou de direito real sobre a coisa segurada; c) pulverizar o risco sob a forma

de co-seguro e resseguro; d) não reter responsabilidades cujo valor ultrapasse seus

limites técnicos; e) constituir reservas técnicas, fundos especiais e provisões, para

garantia das obrigações assumidas; f) cumprir suas obrigações provenientes da mora ou

da desvalorização da moeda; g) restituir em dobro o prêmio recebido, se não houve má-

fé do segurado, no caso do artigo 773 do CC; h) defender o seguro e tomar as medidas

necessárias para eliminar ou diminuir os efeitos maiores do risco, desde que lhe tenha

sido comunicado algum fato incidente pelo segurado; i) tomas as providencias

necessárias assim que souber do sinistro.

5.9.6 Extinção

Dá-se a extinção do contrato de seguro, pelo: a) decurso do prazo

estipulado; b) distrato; c) resolução por inadimplemento de obrigação legal ou de

cláusula contratual; d) superveniência do risco; e) cessação do risco, em seguro de vida,

se o contrato se configurar sob a forma de sobrevivência; f) pela nulidade.