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Noção de Sociedades e Figuras Afins Sociedade é a entidade que, composta por um ou mais sujeitos (sócios), tem um património autónomo para o exercício de actividade económica que não é de mera fruição, a fim de obter lucros e atribui-los aos sócios ficando estes sujeitos a perdas. 1. Sociedade enquanto acto jurídico e enquanto entidade ”Sociedade” – vocábulo para designar actos jurídicos e entidades. Art. 980 CCiv – noção de contrato de sociedade. No CSC – aparece a sociedade primária e dominantemente como entidade (ente, sujeito, realidade subjectiva). Preferimos falar de sociedade acto jurídico (em vez de contrato ou negocio), porquanto existem actos constitutivos de sociedades sem natureza contratual (ex. negócios unilaterais constituintes de sociedades unipessoais) e sem natureza negocial (ex. DL constituinte de sociedade anónima de capitais públicos). Preferimos dizer sociedade-entidade (em vez de colectividade, pessoa jurídica ou instituição) dada a existência de sociedades unipessoais e de sociedades sem personalidade jurídica. Art.1º/2 CSC – diz-nos quando é comercial uma sociedade, não nos diz o que é uma sociedade; pressupõe o género sociedade, de que a sociedade comercial é espécie; pressupõe uma noção genérica de sociedade. Esta noção de sociedade deve começar por buscar-se no art.980º CC, mas não podemos ficar por aí. Por hoje serem admitidas sociedades que não assentam em contratos ou negócios jurídicos pluripessoais. 2. Elementos ou notas essenciais da noção juridica de sociedade Art.980º CC – retiram-se deste artigo os seguintes elementos da noção de sociedade enquanto entidade: a) A associação ou agrupamento de pessoas – a sociedade começa por ser uma entidade composta em regra por dois ou mais sujeitos (pessoas singulares ou colectivas) art.980º CC e art.7º CSC. 1

Direito Comercial II

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Legislação comercial

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Page 1: Direito Comercial II

Noção de Sociedades e Figuras Afins

Sociedade é a entidade que, composta por um ou mais sujeitos (sócios), tem um

património autónomo para o exercício de actividade económica que não é de mera

fruição, a fim de obter lucros e atribui-los aos sócios ficando estes sujeitos a perdas.

1. Sociedade enquanto acto jurídico e enquanto entidade

”Sociedade” – vocábulo para designar actos jurídicos e entidades.

Art. 980 CCiv – noção de contrato de sociedade.

No CSC – aparece a sociedade primária e dominantemente como entidade (ente,

sujeito, realidade subjectiva).

Preferimos falar de sociedade acto jurídico (em vez de contrato ou negocio),

porquanto existem actos constitutivos de sociedades sem natureza contratual (ex.

negócios unilaterais constituintes de sociedades unipessoais) e sem natureza

negocial (ex. DL constituinte de sociedade anónima de capitais públicos).

Preferimos dizer sociedade-entidade (em vez de colectividade, pessoa jurídica ou

instituição) dada a existência de sociedades unipessoais e de sociedades sem

personalidade jurídica.

Art.1º/2 CSC – diz-nos quando é comercial uma sociedade, não nos diz o que é

uma sociedade; pressupõe o género sociedade, de que a sociedade comercial é

espécie; pressupõe uma noção genérica de sociedade.

Esta noção de sociedade deve começar por buscar-se no art.980º CC, mas não

podemos ficar por aí. Por hoje serem admitidas sociedades que não assentam em

contratos ou negócios jurídicos pluripessoais.

2. Elementos ou notas essenciais da noção juridica de sociedade

Art.980º CC – retiram-se deste artigo os seguintes elementos da noção de

sociedade enquanto entidade:

a) A associação ou agrupamento de pessoas – a sociedade começa por ser

uma entidade composta em regra por dois ou mais sujeitos (pessoas

singulares ou colectivas) art.980º CC e art.7º CSC.

Excepções: o direito vem admitindo:

- sociedades originariamente unipessoais (sociedades constituídas por um

só sujeito), não está prevista no CCivil. Mas prevê o CSC para as sociedades por

quotas e anónima (art.270º-A/1 e 488º/1 permite que uma sociedade por quotas,

anónima ou em comandita por acções constitua “…”). - e sociedades

supervenientemente unipessoais (sociedades reduzidas a um único sócio,

embora tenham sido constituídas por 2 ou mais), é admitida quer pelo CCivil

1

Page 2: Direito Comercial II

quer pelo CSC (art.1007º d CC) e (arts.142º/1 al. a), 270º-A/2, 464º/3 CSC)

unipessoais.

O Estado tem também a possibilidade de através de lei ou DL criar sociedades

unipessoais de capitais públicos (derrogando o regime estabelecido no CCivil e

no CSC aprovados por DL).

b) o fundo patrimonial – qualquer sociedade exige um património próprio,

que é inicialmente constituído ao menos pelos direitos correspondentes às

obrigações de entrada, todo o sócio é obrigado a entrar com bens para a sociedade

(arts.980ºCC, 983º/1 CC, art.20º al. a)CSC).

- As entradas em sociedade comercial (entradas em

dinheiro ou em outros bens susceptíveis de penhora, em industria ou serviços) não

têm de ser realizadas no momento inicial da sociedade.

- Quando as obrigações de entrada não sejam realizadas ou

cumpridas nesse momento, já existe património social, já existem os direitos

correspondentes a essas obrigações.

- Quando a sociedade nasça com entradas

coevamente efectuadas, o património social é composto (exclusivamente ou

parcialmente) por esses bens (pelos direitos relativos a esses bens).

- À medida que vai correndo a vida da sociedade o

património social vai-se alterando com entrada e saída de outros direitos ou bens e

de obrigações pecuniariamente avaliáveis.

c) O objecto (exercício em comum de certa actividade económica que não

seja de mera fruição) - O sujeito-sócio ou o agrupamento de sujeitos-sócios

utilizam total ou parcialmente a base ou substrato patrimonial para o exercício de

certa actividade económica que não seja de mera fruição.(Objecto da sociedade)

- O objecto social é a actividade económica de não mera fruição

que o(s) sócio(s) se propõem a exercer através da sociedade (ou propõem que a

sociedade exerça).

- O domínio ou campo da economia é preenchido pela produção

(nos sectores primários, secundários, terciários) de bens materiais e imateriais ou

serviços que exige ou implica o uso e a troca de bens.

- Os domínios ou campos não económicos não são preenchidos da

mesma maneira, não obstante estes campos apresentam aspectos ou dimensões

económicos: quando a prestação dos respectivos serviços acarrete o uso e a troca

de bens (materiais ou imateriais). Estas dimensões económicas de actividades não

económicas podem ser exploradas mediante sociedades.2

Page 3: Direito Comercial II

- As actividades culturais, desportivas, recreativas, politicas, religiosas

por não pertencerem ao circulo das actividades económicas, não podem ser objecto

das sociedades, podendo sê-lo das associações. No entanto, no círculo do não

económico podem verificar-se aspectos económicos. Estas dimensões económicas

de actividades não económicas podem ser exploradas mediante sociedades (ex. as

actividades teatrais ou musicais podem ser objecto de sociedades).

- A actividade-objecto das sociedades possibilitará em regra lucros. Não

significa que toda a actividade não lucrativa tenha de ser do ponto de vista jurídico

não económica. Nem esta excluído que o objecto das associações possa ser

económico e até lucrativo (no caso das associações de regime geral o lucro não é

repartível pelos associados art.157CCivil).

- A “actividade económica” supõe uma série ou sucessão de actos. As

sociedades quer civis (art.980 CCivil) quer comerciais (art. 1º/2/3 e 11/2/3/6 CSC)

exercem ou propõem-se exercer actividades.

- Não são sociedades as sociedades ocasionais, os grupos de sujeitos

constituídos para a realização de um único acto simples (ex. para a compra de um

bilhete de lotaria nacional para concurso a uma extracção do totoloto).As

sociedades ocasionais não colocam os problemas que o direito societário considera

e regula: criação e administração de um fundo comum e os relativos à organização

jurídica do ente societário.

- As sociedades não podem ter por objecto actividades de simples desfrutem,

de mera percepção dos frutos (naturais ou civis) de bens (art.212CCivil).

- A distinção entre compropriedade e sociedade:

1 – em regra, todo o comproprietário tem direito de exigir a divisão da coisa

comum (art.1412CCivil), não competindo aos sócios direito semelhante.

2 – em regra, qualquer comproprietário tem o direito de servir-se da coisa

comum (art.1406CCivil) o que também em regra não se verifica nas sociedades.

3 – a coisa em compropriedade não é um património autónomo, separado do

património dos comproprietários (as quotas destes na coisa comum respondem por

quaisquer dividas dos mesmos) ao contrário do que acontece nas sociedades,

inclusive nas sociedades civis simples (art.997,999 e 1000CCivil) e nas sociedades

comerciais antes de cumprida a forma legal (art.36/2CSC).

- A actividade económica que não seja de mera fruição (objecto social) deve

ser “certa” ou determinada (art.980º CCivil e 11º/2 CSC).

- Art.980 CCivil – a actividade económica societária há-de ser exercida “em

comum” pelos sócios. Não é assim nas sociedades unipessoais.3

Page 4: Direito Comercial II

- Para as sociedades pluripessoais, a expressão não será a mais adequada.

Pode dizer-se que os sócios através da sociedade exercem em comum uma

actividade. Será mais correcto dizer ser a própria sociedade que exerce a

actividade. Tenha ou não personalidade jurídica a sociedade é entidade ou sujeito

distinto dos sócios.

- O “exercício em comum” não significa que os sócios (exceptuando os de

industria) hão-de intervir directamente na actividade social. Os sócios poderão

participar na condução (directa ou indirecta através da designação dos titulares do

órgão de administração) ou no controlo dessa actividade.

d) O fim (obtenção de lucros para serem repartidos pelos associados) –

- O fim (ou escopo) da sociedade é a obtenção através do exercício da

actividade-objecto social, de lucros e a sua repartição pelos sócios.

- O fim social não se basta com a persecução de lucros, exige ainda a intenção

de os dividir pelos sócios; não é suficiente o “lucro objectivo”, é também necessário

o “lucro subjectivo”.

- Lucro é um ganho traduzível num incremento do património da sociedade. Por

ser um valor patrimonial distribuível há-de formar-se no património social (será

depois transferido para o património dos sócios).

- Contrapõe-se o lucro às vantagens económicas produzíveis directamente no

património dos sujeitos agrupados em entidades associativas e às economias

(eliminação ou redução de despesas) que os associados visam obter participando

nas actividades daquele género.

- Esse fim lucrativo vale também para as sociedades comerciais disciplinadas

pelo CSC: arts. 2º, 6º/1, 2 e 3, 10º/5 al. a), 21º/1 al. a), 22º, 31º, 33º/1 e 2, 34º/1,

176º/1 al. b), 217º, 294º.

- As sociedades comerciais (e civis de tipo comercial) propõem-se obter

lucros. Estes lucros são das “sociedades”, formam-se nelas, são incremento dos

seus patrimónios, destinando-se a ser depois “divididos”, “distribuídos” ou

“repartidos” pelos sócios.

- Sendo o escopo ou intuito lucrativo o fim das sociedades distinguem-se das

associações (contrapostas às sociedades pluripessoais), fundações (contrapostas às

sociedades unipessoais) (art.157 e 195CCivil). As associações e as fundações

podem não exercer actividades económicas mas também podem exercê-las

podendo mesmo explorar empresas. Podem resultar lucros (objectivos) não podem

é ser distribuídos pelos associados ou atribuídos ao fundador (falha o lucro

subjectivo).4

Page 5: Direito Comercial II

- Por falta de escopo lucrativo distinguem das sociedades as cooperativas e os

agrupamentos complementares de empresas.

O escopo lucrativo é elemento indefectível do conceito de sociedade?

Ex: Imaginemos duas ou mais pessoas que celebram um contrato que designam de

constituição de uma sociedade por quotas. A actividade indicada como objecto é

deficitária ou o escopo declarado não é a consecução de lucros para distribuir pelos

associados. O contrato é celebrado por escrito e registado. A falta de escopo

lucrativo não consta do elenco taxativo de causas de nulidade (art.42º/1 CSC), dir-

se-ia que tal contrato é válido e que estamos perante uma sociedade por quotas

sem fim lucrativo. Parece mais adequado situar estas hipóteses no campo da

qualificação de contratos não no campo das invalidades negociais. Faltando um

elemento essencial do contrato de sociedade regulado no CSC não deve falar-se

desse contrato. Em vez de sociedade temos um contrato de associação.

- O fim lucrativo é característica essencial também das sociedades

unipessoais constituídas no CSC. As normas dos arts.2º, 6º/ 1, 2 e 3, 10º/5 al. a)

CSC aplicam directa e literalmente às sociedades unipessoais. O fim lucrativo não

é algo que pressupõe a pluralidade de sócios, art.270º-G.

A situação é mais complexa quando se trata de sociedades de capitais públicos

(com um único sócio-entidade publica ou com vários sócios-entidades publicas) e

sociedades de economia mista (com sócios públicos e sócios privados):

Sociedades de economia mista podem ser:

1. De participação pública minoritária: estas sociedades quer por se constituírem,

em regra, nos termos do CC, ou do CSC, quer por terem sócios privados (que

arriscam capital para lucrar) hão-de ter fim lucrativo.

2. De participação pública maioritária: dada a natureza societária e a existência de

sócios privados, o fim lucrativo não poderá ser anulado pelos interesses públicos de

que são portadores os (dominantes) sócios públicos. Algumas destas sociedades

podem ter de exercer actividades deficitárias (art.19 RSEE e art.20/3 e 23/2

RSEL).Em tais casos, as “indemnizações compensatórias” ou outras

comparticipações públicas não devem repor ou prever simplesmente o equilíbrio

custos-receitas há que retribuir o capital privado investido.

As Sociedades de capitais públicos podem ser:

5

Page 6: Direito Comercial II

1. Constituídas nos termos do CSC ou do CC- por norma, dado terem de respeitar as

notas nacionais de sociedade presentes nos diplomas, estas sociedades têm escopo

lucrativo.

Quando tenham de exercer actividades deficitárias, os interesses públicos podem

determinar uma sistemática actuação sem finalidades lucrativas.

2. Constituídas por lei ou outro meio jurídico-público permitido legalmente - pode o

acto constituinte, derrogando a genérica noção legal de sociedade, estabelecer logo

de modo explícito ou implícito a exclusão de intuito lucrativo. Para estes casos é

apropriado falar de neutralidade da forma sociedade (sociedade como instrumento

para fins (não)lucrativos.

Sujeição a perdas - O sócio(s) podem perder em vez de lucrarem; podem não

recuperar total ou parcialmente, quando saiam da sociedade ou esta se extinga, o

valor das entradas e de outras prestações feitas à mesma. Nenhum sócio pode ser

isento deste risco.

- A sujeição a perdas não consta do art.980º CC. Porém a noção

genérica de sociedade deve integrar este elemento, que se extrai do art.994º CC,

como do art.22º/3 CSC (proibição do pacto leonino).

3 – Sociedade e a Empresa

A sociedade é forma (ou forma jurídica) de empresa;

A Sociedade é forma (ou técnica) jurídica de organização da empresa;

A Sociedade é organização jurídica da empresa;

A Sociedade é uma empresa;

A Empresa e sociedade relacionam-se como matéria e forma.

Estas formulações têm algo de verdadeiro e possuem uma carga sugestiva positiva.

Reflectem a estreita ligação entre sociedade e empresa: uma sociedade é em regra

constituída para a exploração de uma empresa; estruturas orgânicas de direcção e

controlo daquela são-no também desta; vicissitudes várias afectam

simultaneamente uma e outra.

São formulações insuficientes e não inteiramente correctas.

1 – Sociedades a que não correspondem empresas (em sentido objectivo)

ex. muitas sociedades (unipessoais ou pluripessoais) de profissionais liberais e de

artesãos.

2 – As empresas têm conteúdos e formas próprias distintos dos conteúdos e formas

das sociedades.

3 – Sociedade é organização da empresa (quando exista) mas não só: é organização

que transcende a empresa.6

Page 7: Direito Comercial II

A empresa é primordialmente organização objectivo-instrumental da sociedade-

sujeito, organização normalmente não composta ou integrada pelo(s) sujeito(s)

sócio(s).

4 – O exercício da actividade empresarial para que é constituída a sociedade é

normalmente posterior a essa constituição (sociedade precede a empresa). Pode

acontecer que a empresa precede a sociedade (ex. alguém proprietário de uma

empresa entra com ela para a sociedade constituída para a explorar).

5 – Património da sociedade não é idêntico ao património empresarial. É normal que

o património da sociedade compreenda bens e valores não afectados à empresa

(que não são elementos desta).

6 – A Sociedade como outros empresários, pode efectuar negócios tendo por

objecto a respectiva empresa (vendendo-a, locando-a) – relação sujeito objecto

separáveis.

7 – A Sociedade pode sobreviver à sua empresa

Ex. Em caso de dissolução a sociedade mantém-se ate ao final da liquidação

podendo verificar-se antes desse termo a extinção da empresa.

Pode extinguir-se antes dela ex. num processo de liquidação da sociedade é a

empresa alienada continuando na titularidade do adquirente.

4. Sociedade e figuras afins

1 - Cooperativas

O movimento cooperativo europeu teve as primeiras experiencias na Escócia da

segunda metade do sec. XVIII e afirmou-se no sec. XIX na Inglaterra, na França e na

Alemanha.

Numa primeira fase o movimento não tinha cobertura legal especifica.

Em Portugal a lei precedeu as cooperativas: a lei apareceu em 1867 e as primeiras

cooperativas foram constituídas em 1871.

A partir de 1888 a disciplina básica das cooperativas passou a constar do Código

Comercial, o que perdurou até à entrada em vigor do primeiro Código Cooperativo.

Embora tenham sido consideradas sociedades por mais de um século, hoje as

cooperativas já não têm essa qualificação.

Art.2º/1 CCoop.: as cooperativas são pessoas colectivas autónomas, de capital e

composição variável assim se permitindo a fácil e rápida entrada e saída de

cooperadores e as correspondentes mutações do capital. O fim das cooperativas

tanto pode ser a satisfação das necessidades económicas como das necessidades

sociais ou culturais dos cooperadores e sem fins lucrativos. A organização e

7

Page 8: Direito Comercial II

funcionamento das cooperativas obedecem aos princípios cooperativos que se

afastam em muitos pontos da disciplina das sociedades.

O Art.80º é também uma norma sintomática da natureza não societária das

cooperativas.

O art.3º formula os princípios cooperativos:

Adesão voluntária

Gestão democrática pelos membros

Participação económica dos membros

Autonomia e independência

Educação, formação e informação

Interesse pela comunidade

São órgãos das cooperativas:

Assembleia-geral

Direcção

Conselho Fiscal

Os excedentes anuais líquidos depois do eventual pagamento de juros pelos títulos

de capital e da afectação às diversas reservas podem “retornar” aos cooperadores,

arts.69º ss.

É nula a transformação de uma cooperativa em qualquer tipo de sociedade

comercial, sendo também nulos os actos que procurem contrariar ou iludir esta

proibição legal, art.80º.

2 - ACEs – L 4/73, de 4 de Junho e DL 430/73, de 25 de Agosto

Os membros do ACE devem ser empresas em sentido subjectivo a que

correspondam empresas em sentido objectivo; os agrupados devem ser sujeitos

que explorem empresas.

Não obstante será razoável interpretar “empresa” de modo a abarcar sujeitos

empresários e não empresários, sujeitos que exercem actividades económicas

através de empresas em sentido próprio ou sem elas; por exemplo, artesãos não

empresários devem poder participar em ACEs.

A actividade objecto do ACE há-de ser não só diversas mas também auxiliar ou

complementar das actividades exercidas pelos agrupados. Tal actividade é dirigida

a melhorar as condições de exercício ou de resultado das actividades dos membros,

não podendo o ACE ter por fim principal a realização e partilha de lucros (base II, 1,

da L, arts.15º, 16º, / 1 al. b) DL); um escopo acessório de realização de lucros e a

sua partilha pelos membros será licita quando autorizado expressamente no

contrato constitutivo do agrupamento (art.1º DL). Ex.: duas empresas de produção 8

Todos estes órgãos são compostos exclusivamente por cooperadores, art.39º ss.

Page 9: Direito Comercial II

de têxteis constituem um ACE para comprarem em conjunto matérias-primas a

transformar nos respectivos estabelecimentos fabris. Não visa o ACE lucrar À custa

dos seus próprios membros, visa proporcionar matérias-primas mais baratas. O ACE

é instrumento para os agrupados realizarem economias ou conseguirem vantagens

económicas directamente produzíveis no património de cada um deles.

Os ACE adquirem personalidade juridica com a inscrição do contrato de constituição

no registo comercial (base IV da L). Têm um órgão deliberativo-interno (art.7º DL) e

um órgão de administração (art.6º DL), podem ter um órgão de fiscalização (base V

da L, art.8º/2 DL). Os agrupados respondem em regra solidariamente pelas dividas

do ACE (base II, 2 e 3 da L).

O direito subsidiariamente aplicável é o das sociedades em nome colectivo, art.20º

do DL.

Os ACE não são sociedades. São entidades essencialmente sem fins lucrativos. A

própria lei supõe essa natureza não societária, art.4º DL 430/73 e art.21 do mesmo

diploma. São pois os ACE entidades de tipo associativo que se situam entre as

associações de regime geral e as sociedades.

AEIEs – R(CEE) 2137/85 do Conselho, de 25 de Julho de 1985

O objectivo do agrupamento é facilitar ou desenvolver a actividade económica dos

seus membros, melhorar ou aumentar os resultados desta actividade. A actividade

dos AEIEs deve estar ligada à actividade económica dos seus membros e apenas

pode constituir um complemento a esta. Os membros do agrupamento podem ser

de muito variada natureza (art.4º/1). O AEIE há-de ser composto por pelo menos

dos sujeitos que tenham a administração central ou exerçam a actividade principal

em Estados-membros diferentes (art.4º/2). A sede de um AEIE há-de localizar-se na

Comunidade (arts.12º e 13º). Órgãos necessários do agrupamento são o colégio dos

membros e a gerência, art. 16º/1. Cada membro dispõe de um voto, art.17º/1. Pelas

dívidas do agrupamento respondem ilimitada e solidariamente, art.24º.

Um AEIE com sede estatutária em Portugal adquire personalidade juridica com o

registo do contrato constitutivo, DL 148/90, de 9 de Maio, art.1º); pode transformar-

se em ACE quando deixe de satisfazer certas condições previstas no R2137;

aplicam-se subsidiariamente as normas legais aplicáveis aos ACE, art.12º DL).

Os AEIE também não são sociedades.

3 - Consórcios – arts.1º e 2º DL 231/81, 28 de Julho

Contrato pelo qual duas ou mais entidades que exerçam actividades económicas se

obrigam a realizar certas actividades ou efectuar determinadas contribuições a fim

de possibilitar a realização de actos materiais ou jurídicos preparatórios de uma 9

Page 10: Direito Comercial II

actividade, a execução de certo empreendimento, o fornecimento a terceiros de

bens iguais ou complementares produzidos por cada um dos consorciados, a

pesquisa ou exploração de recursos naturais, ou a produção de bens que possam

ser repartidos em espécie entre os consorciados.

É de consórcio o contrato pelo qual duas sociedades de construção civil se obrigam,

para a abertura de uma estrada, a realizar, de forma concertada trabalhos de

terraplenagem, e trabalhos de alcatroamento.

Consórcio Interno: quando as actividades ou os bens são fornecidos a um dos

consorciados pelo outro e só aquele estabelece relações com terceiros, ou quando

as actividades ou os bens são fornecidos a terceiros por cada um dos consorciados

sem expressa invocação dessa qualidade, art.5º/1.

Nos consórcios internos da primeira submodalidade pode ser convencionada a

participação dos consorciados que não operam com terceiros nos lucros e/ou

perdas derivados da actividade do consorciado que estabelece as relações com os

terceiros, art.18º.

Consórcio Externo: quando as actividades ou os bens são directamente

fornecidos a terceiros por cada um dos membros do consórcio e com expressa

invocação dessa qualidade, art.5º/2.

O contrato de consórcio externo pode prever a criação de um conselho de

orientação e fiscalização composto por todos os consorciados, art.7º, e deve prever

e designar de entre os consorciados um chefe de consórcio, a quem compete

exercer funções internas e externas, art.12º-14º.

Nos consórcios externos cada um dos consorciados percebe directamente os

valores que lhe forem devidos pelos terceiros, ou adquire directamente os produtos

resultantes das actividades previstas nas als. d) e e) do art.2º (arts.16º e 17º).

É proibida a constituição de fundos comuns, nos consórcios externos as

importâncias entregues ao respectivo chefe pelos outros membros ou por ele

retidas com autorização deles consideram-se fornecidas nos termos e para os

efeitos do art.1167º a) CC.

Podem as partes do consórcio fazer-se designar, juntando todos os seus nomes,

firmas ou denominações sociais, com o aditamento “Consórcio de…” ou “… em

Consórcio”, art.5º/1.

O consórcio não é uma espécie de contrato de sociedade; do contrato de consórcio

não nasce uma entidade. Não há no consórcio fundo patrimonial comum que

suporte actividade comum; não há exercício em comum de uma actividade

económica, havendo sim actividades ou contribuições individuais, embora 10

Page 11: Direito Comercial II

realizadas de forma concertada; não havendo actividade exercida em comum,

impossível é um lucro correspondente e comum.

4 - Associações em participação – Cap.II do DL 231/81, de 28 de Julho

É um contrato pelo qual um ou mais sujeitos se associam a uma actividade

económica exercida por outro sujeito ficando o primeiro a participar nos lucros ou

nos lucros e perdas que desse exercício resultarem para o segundo, art.21º/1 e

22º/1. O associado deve prestar ou obrigar-se a prestar uma contribuição de

natureza patrimonial; quando a contribuição consista na constituição de um direito

ou na sua transmissão, deve ingressar no património do associante, art.24º/1. O

associado fica sempre com o direito de participar nos lucros derivados da actividade

económica do associante; se outra coisa não resultar do contrato, participará ele

também nas perdas até ao limite da sua contribuição, art.21º/2, 23º/2 e 25º).

A actividade económica em causa é do associante, é ele que a exerce

autonomamente, é ele que se relaciona e responsabiliza perante terceiros. Assim,

não pode o associante, sem consentimento do associado, fazer cessar ou suspender

o funcionamento da empresa, substituir o objecto desta ou alterar a forma juridica

da sua exploração; deve o associante prestar ao associado as informações

justificadas pela natureza e pelo objecto do contrato; pode o contrato estipular que,

sob pena de responsabilidade civil, determinados actos de gestão não devam ser

praticados pelo associante sem prévia audiência ou consentimento do associado,

art.26º/1 b), d), 2 e 3. Por outro, deve o associante prestar contas ao associado,

art.31º.

5 - Notas específicas da noção de sociedade comercial

O género sociedade desdobra-se em duas espécies:

- sociedade civil

- sociedade comercial.

Art.1º/2 CSC – é comercial a sociedade que respeite dois requisitos:

Tenha por objecto a prática de actos de comércio (objecto comercial)

Adopte um dos tipos aí previstos (tipo ou forma comercial):

o Em nome colectivo:

o Por quotas;

o Anónimas;

o Em comandita simples;

o Em comandita por acções;

11

Page 12: Direito Comercial II

Art. 104 CComercial – estes preceitos referiam-se à adopção de um dos tipos ou

espécies societários previstos nessa lei.

CSC – não consagrou a comercialidade societária meramente formal, a qualificação

como comercial de toda e qualquer sociedade que adopte um dos tipos previstos na

lei como mercantis.

- afastou-se de varias leis estrangeiras.

Parece decorrer do Art.1/2CSC que os dois requisitos assinalados (objecto

comercial, forma comercial) são essenciais para qualificar de comercial uma

sociedade.

Não obstante, deve entender-se que só o primeiro requisito (objecto) é essencial.

Uma sociedade que tem por objecto a prática de actos de comércio, ainda quando

não adopte um dos referidos tipos, é sociedade comercial apesar de irregularmente

constituída quando falte essa adopção.

Uma sociedade com objecto mercantil deve adoptar, e só pode adoptar, um dos

tipos de sociedades comerciais (art.1º/3). Não o adoptando, não poderá dizer-se

que tem forma civil ou que é sociedade civil. As sociedades com objecto não

comercial (civis) podem adoptar formas comerciais (art.1º/4), já as sociedades com

objecto mercantil (comerciais) não têm nem podem ter forma civil. A falta de

adopção de um tipo societário mercantil por sociedade tendo por objecto a prática

de actos de comércio acarreta consequências determinadas pela lei societária

aplicável às sociedades comerciais.

6 – Sociedades Civis Simples e Sociedades Civis de tipo Comercial

Sociedades Civis – objecto civil ou não comercial, as sociedades que não tenham

por objecto a pratica de actos de comércio, o exercício de uma actividade

mercantil.

Exs. Sociedades agrícolas, as sociedades de artesãos que exercem actividades

artesanais, as sociedades de profissionais liberais para o exercício das respectivas

actividades.

- hão-de ter exclusivamente por objecto uma actividade não

comercial (art.1/3/4 CSC). Ex. uma sociedade que explora uma empresa agrícola

(objecto civil) e se dedica à comercialização de sementes adquiridas a terceiros é

sociedade comercial (o seu objecto desdobra-se em actividades não comerciais e

comercias).

- podem ser de 2 espécies:

1 – Sociedades Civis Simples – disciplinadas pelo CCivil (art.980)

12

Page 13: Direito Comercial II

2 – Sociedades Civis de tipo ou forma comercial – apesar de civis adoptam um dos

tipos de sociedades comerciais (art.1/4CSC).

- Em regra, podem adoptar ou não qualquer tipo societário

mercantil (art.1/4CSC).

- Excepções:

1 - Algumas sociedades não podem adoptar nenhum dos tipos de sociedades

comerciais

ex. Sociedade de advogados.

2 – Outras sociedades civis apenas podem adoptar certo(s) tipos

ex. “sociedades de agricultura de grupo”, “agrupamentos de produção agrícola” e

“empresas familiares agrícolas reconhecidas” – sociedades agrícolas (especiais) que

têm de ter o tipo de sociedades por quotas.

3 – determinadas sociedades civis podendo embora perfilhar qualquer tipo

comercial não podem deixar de adoptar um desses tipos.

Ex. Sociedades de administradores da insolvência.

- Sociedades profissionais Liberais: exceptuando os casos em

que a lei estabeleça o contrário, defendemos a possibilidade de adopção de

qualquer tipo societário comercial porque:

- as sociedades de tipo comercial em que as entradas de industria não são

permitidas (sociedades por quotas, anónimas e quanto aos sócios comanditários,

em comandita – art. 202/1, 277/1 e 468CSC) dispõem de meios para assegurar a

colaboração profissional dos sócios, sendo de destacar as “obrigações de

prestações acessórias” (art.209, 287, 478).

- a própria lei já admitiu sociedades de profissionais sem forma comercial e sem

qualquer sócio de indústria e vem admitindo que sociedades de profissionais optem

por qualquer tipo societário.

Não podem ser sócios de uma sociedade cujo objecto seja o

exercício de determinada actividade profissional-liberal sujeitos não habilitados a

esse exercício. Só podem ter sócios possuidores do respectivo título profissional. Ex.

sociedade de advogados.

- São lícitas as sociedades pluriprofissionais onde

colaboram profissionais liberais de distintas categorias?

Ex. 2 advogados, 2 economistas e 2 engenheiros pretendem constituir uma

sociedade para prestar serviços a empresas.

2 situações: 1- se o grupo desses serviços se decompõe em sub-grupos, cada um

integrando actos próprios de cada categoria dos profissionais interessados (a 13

Page 14: Direito Comercial II

sociedade propõe-se prestar de modo relativamente autonomizado serviços de

procuradoria e consultoria jurídicas, serviços de economia e de engenharia) não é

lícita a constituição da sociedade teríamos exercício em comum de actividades que

competem exclusivamente a profissionais de determinada categoria.

2 – se o grupo daqueles serviços não é decomponível nos termos

referidos, apresentando-se antes como conjunto de prestações complexas, cada

uma das quais exigindo o concurso dos diversos profissionais não pode dizer-se

especifica do advogado, do engenheiro ou do economista, é licita a constituição da

sociedade.

- As Sociedades de profissionais liberais que possam

adoptar tipos comerciais podem ser sociedades unipessoais por quotas

(art.270 A CSC) é possível excepto quando seja contraria à lei.

II - Tipos de Sociedades Comerciais

1. Tipicidade Societária

art.1/2/3/4 CSC – fala de “tipos” societários.

- as sociedades comerciais oferecem-se na lei em ou como tipos.

- Tipos legais e Tipos doutrinais.

Os tipos societários são modelos ou formas diferenciados de regulação de relações

(entre sócios, entre sócios e sociedade, entre uns e outra com terceiros) não

determinados conceitual-abstratamente mas antes por conjuntos abertos de notas

características (imprescindíveis umas e outras não).

Aproximam-se estes tipos dos conceitos em sentido estrito pelo facto de naqueles

haver notas essenciais e afastam-se pelo facto de tais tipos conterem notas

prescindíveis e por permitirem que correspondentes sociedades concretas

contenham notas atípicas.

As sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio devem

adoptar um dos tipos previstos no CSC, art.1º/ 3:

Sociedade em nome colectivo

Sociedade por quotas

Sociedade anónima

Sociedade em comandita simples

Sociedade em comandita por acções

O princípio da tipicidade constitui uma restrição ao princípio da autonomia privada,

na sua vertente de liberdade contratual, ao invés do estabelecido no art.405º CC, as

14

Esta obrigatoriedade de adopção de um dos tipos previstos na lei chamamos princípio da tipicidade das sociedades comerciais.

Page 15: Direito Comercial II

partes não têm a faculdade de celebrar contratos de sociedade comercial diferentes

dos previstos.

O princípio da autonomia privada só restringe uma das faces da autonomia privada.

As partes, embora não podendo adoptar um tipo diferente do previsto no CSC, já

podem decidir livremente se contratam, assim como podem escolher com quem

contratam. O art.1º/3 deixa intacta a liberdade de contratar em sentido estrito e a

liberdade de escolha da contraparte.

Porém a liberdade de fixação do conteúdo do contrato de sociedade comercial não

é de todo em todo afastada pela lei: observando um tipo e respeitando as normas

imperativas que o regulam, as partes podem conformar livremente o conteúdo do

contrato de sociedade. Este espaço de liberdade deixado pelo legislador às partes

varia muito consoante o tipo de sociedade em causa.

Este princípio impõe-se às sociedades cujo objecto consista apenas na prática de

actos de comércio e também às sociedades que tenham um objecto misto, que se

dediquem à tanto à prática de actos comerciais e não comerciais, art. 1º/4 CSC.

Dentre as sociedade cujo objecto seja comercial, o princípio da tipicidade só

abrange as sociedades que tenham por fonte um negócio jurídico.

A sociedade comercial, nascendo de um contrato pode ter por fonte um negócio

jurídico unilateral (ex.: sociedades unipessoais por quotas, arts.270 – A ss.;

sociedades anónimas unipessoais, art. 488º). Não se tratando de um contrato não

está em causa a liberdade contratual, mas não deixa de se impor a mesma

obrigatoriedade de respeito pelos tipos previstos na lei.

Como Justificação ao princípio da tipicidade é frequente apontar-se a segurança

jurídica e os interesses de terceiros que contratam com a sociedade.

Tais interesse são mais vincados naquelas sociedades em que os sócios não

respondem pessoal e ilimitadamente pelas dívidas da sociedade (chamadas de

responsabilidade limitada), como são a sociedade por quotas e a sociedade

anónima. Nestas sociedades, à limitação, para os sócios, do risco inerente ao

exercício de uma actividade económica corresponde, para os terceiros/credores, um

aumento do seu risco de incumprimento das obrigações da sociedade. O legislador

só conceda aos sócios o benefício da limitação da responsabilidade mediante a

observância por estes de um figurino cujo regime está pré-fixado na lei, sendo

conhecido de todos.

Também os interesses dos próprios sócios (sócios minoritários nas sociedades

anónimas e nas sociedades em comandita por acções) reclamam a adopção

daquele princípio15

Page 16: Direito Comercial II

O afastamento da possibilidade de constituição de sociedades atípicas importa para

os sócios, um acréscimo de segurança e de certeza na sua relação jurídica com a

sociedade.

Pode também identificar-se um interesse público na fixação do princípio da

tipicidade. As sociedades são instrumentos fundamentais da economia dos nossos

dias, podendo falar-se de um benefício geral e difuso decorrente da consagração

daquele princípio.

2 - Caracterização dos tipos legais societários

Art.175, 197, 271 e 465 CSC – caracterizar os diversos tipos societários.

- a caracterização dos tipos faz-se em 1º lugar através da delimitação da

responsabilidade dos sócios, aparecendo depois a referência às espécies de

participações sociais (não aparece no art.175; e o art.465 refere ainda a

possibilidade de certas sociedades serem sócias de sociedades em comandita).

- não parece que as notas relativas às aludidas matérias sejam suficientes para

caracterizar ou descrever os tipos societários. Recorreremos a essas e outras notas

caracterizadoras.

2.1 - Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante os

credores sociais

Responsabilidade dos sócios perante a sociedade:

a) Sociedades em nome colectivo – cada sócio responde pela respectiva

entrada, responsabiliza-se pelo cumprimento ou realização da entrada a que se

obrigue (entrada em dinheiro, em espécie e/ ou em industria art.175/1).

- quando algum sócio entre com bens em espécie

e os mesmos não sejam verificados e avaliados nos termos do art.28º têm os sócios

de assumir expressamente no contrato social responsabilidade solidária pelo valor

que atribuam aos mesmos bens (art.179)

b) Sociedades por quotas – cada sócio responde não apenas pela própria entrada

(em dinheiro e/ou em espécie) mas também (nas sociedades pluripessoais)

solidariamente com os outro(s) sócio(s) por todas as entradas convencionadas no

contrato social (art.197/1) (o valor da entradas podendo ser idêntico ao valor

nominal das quotas pode também ser superior, não devera ser inferior, art.25/1/2.

resultando o capital social da soma dos valores nominais das quotas, também o

somatório dos valores das entradas pode ser superior ao capital social. Os sócios

estão obrigados à realização das entradas). Um ou mais sócios podem ficar

16

Page 17: Direito Comercial II

obrigados perante a sociedade a prestações acessórias e suplementares (art.197/2,

209, 210).

c) Sociedades anónimas – responde cada sócio pela sua entrada (em dinheiro e/

ou em espécie) art.271.

- o “valor das acções” é o valor de emissão que não pode ser

inferior mas pode ser superior ao valor nominal das mesmas (art.25/1/2,

295/2a)3a) e 298.

- o estatuto social impor que um ou mais sócios fiquem

obrigados a prestações acessórias (art.287).

d ) Sociedades em comandita simples e nas sociedades em comandita por acções –

os sócios comanditados e os sócios comanditários respondem perante elas somente

pelas respectivas entradas (em dinheiro, em espécie e/ou em industria quanto aos

comanditários) art.465/1, 474 e 478.

Nota: Alguns sócios de sociedades dos diversos tipos poderão ter de responder para

com elas solidariamente com membros do órgão de administração ou de

fiscalização nos termos do art.83 e o sócio-sociedade por quotas, anónima ou em

comandita por acções em relação de grupo (domínio total ou de subordinação)

responderá nos termos do art.491 e 502.

Responsabilidade dos sócios perante os credores sociais:

a) Sociedade em nome colectivo – os sócios respondem pelas obrigações sociais

(pecuniárias) subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente entre si

(art.175/1).

- A responsabilidade é subsidiaria os credores

da sociedade só podem exigir o pagamento aos sócios depois de excutido o

património social (algum sócio cumprir obrigações da sociedade e se o fizer a fim

de evitar que contra a sociedade seja intentada execução tem o sócio direito de

regresso também contra os outros sócios art.175/4).

- A responsabilidade é solidária os credores

sócias têm direito de exigir de qualquer sócio o pagamento das dividas por inteiro.

b) Sociedade por quotas – a regra, é os sócios não responderem pelas obrigações

sociais.

- pelas dividas da sociedade só ela responde com o seu

património (art.197/3)

17

Page 18: Direito Comercial II

- excepção art.198, pode estabelecer-se no estatuto social

que um ou mais sócios respondem também limitadamente (“até determinado

montante”) perante os credores sociais. O estatuto estabelecerá se esta

responsabilidade é solidária com a da sociedade ou subsidiariamente relativamente

a ela e a efectivar apenas na fase da liquidação da mesma sociedade.

Estabelecendo-se a responsabilidade solidária o sócio que pagar a dividas sociais

tem salvo disposição em contrario direito de regresso contra a sociedade pelo que

houver pago.

c) Sociedade Anónima – os sócios não respondem perante os credores sociais.

- pelas obrigações da sociedade só ela responde art. 271

(os sócios responsabilizam-se só pelas respectivas entradas.

d) Sociedades em comandita simples e nas sociedades em comandita por acções –

2 categorias de sócios:

- comanditados respondem pelas dividas sociais nos mesmos termos que os sócios

das sociedades em nome colectivo (respondem subsidiariamente em relação à

sociedade e solidariamente entre si).

- comanditários não se responsabilizam para com os credores sociais (art.465/1).

Estas situações são alteradas quando:

-seja declarada em situação de insolvência uma sociedade reduzida a um único

sócio este responde ilimitadamente e a titulo principal (não subsidiariamente mas

solidariamente com a sociedade) pelas obrigações sociais contraídas no período

posterior à concentração das participações sociais (…) art.84/1/2.

- nas sociedades em relação ao grupo a sócia-sociedade (por quotas, anónima ou

em comandita por acções) totalmente dominante ou directora é responsável para

com os credores da sociedade dominada ou subordinada nos termos do art.491 e

501.

2.2 - Estrutura Organizatória

As sociedades actuam através de órgãos, ou seja, através de centros

institucionalizados de poderes funcionais a exercer por pessoa(s) com o objectivo

de formar e/ou exprimir a vontade juridicamente imputável à sociedade.

Segundo a competência os órgãos sociais podem ser:

- Órgãos de formação de vontade ou deliberativos-internos (tomam decisões

expressando a vontade social, mas quase nunca a manifestam para o exterior, não

tratam com 3º;

18

Page 19: Direito Comercial II

- Órgãos de administração e representação (gerem as actividades sociais e

representam as sociedades perante terceiros, a quem fazem e de quem recebem

declarações de vontade);

- Órgãos de fiscalização ou controlo (fiscalizam sobretudo a actuação dos membros

do órgão de administração).

Relativamente aos órgãos deliberativos-internos:

1 – Sociedades de qualquer tipo têm um órgão deliberativo-interno – composto pelo

sócio único (sociedades unipessoais) ou pelos sócios em conjunto (pela

colectividade ou globalidade dos sócios) art. 53ss, 189, 246ss, 270Ess, 472.

- é

designado de “assembleia geral”. Em rigor, assembleia geral é uma reunião de

sócios.

- afora a

impropriedade de se falar de assembleia geral nas sociedades unipessoais (pelo

menos em algumas delas), os sócios podem deliberar fora de assembleia (art.54/1,

189/1, 247, 373/1,472/1. deve falar-se ou de sócio(s) ou de órgão deliberativo-

interno (ou de formação da vontade).

Relativamente aos Órgãos de administração e representação:

1 - Sociedade em nome colectivo – este órgão é (legalmente) designado gerência.

- em regra, são gerentes todos os sócios

(art.191/1), dada a responsabilidade ilimitada de cada um deles perante os

credores sociais.

- só não será quando o contrato social determine

diversamente e quanto a sócios-entidades colectivas (art.191/1/3).

- não sócios podem ser gerentes somente quando

os sócios os designem por deliberação unânime (art.191/2).

2 - Sociedade por quotas – gerência é o órgão.

- é composta por um ou mais gerentes, pessoas singulares

com capacidade jurídica plena que podem ser sócias ou não (art.252/1).

3 - Sociedades anónimas – pode optar-se por um conselho de administração ou por

um conselho de administração executivo (art.278/1).

- Nas sociedades com estrutura tradicional ou com

estrutura de tipo germânico cujo capital não exceda 200 000€, pode o estatuto

prever em vez do conselho, um só administrador (art.278/2, 390/2, 424/2).

19

Page 20: Direito Comercial II

- Nas sociedades de estrutura monística o órgão é

sempre plural (conselho): art278/1b)/5.

- os administradores não têm de ser sócios (art.390/3,

425/6). Mas tem de ser pessoas singulares com capacidade jurídica plena

(art.390/3/4, 425/6d)/8, salvo se integrarem a comissão de auditoria (nas

sociedades de estrutura monística): art.423B/6.

4 - Nas sociedades em comandita (simples ou por acções) – gerência é o órgão.

- salvo quando o

contrato social permita atribuir a gerência a sócios comanditários (pessoas

singulares), só os sócios comanditados (de responsabilidade ilimitada para com os

credores sociais), pessoas singulares podem ser gerentes (art.470/1, 474, 478).

- é possível que o

contrato social autorize a gerência a “delegar os seus poderes em sócio

comanditário ou em pessoa estranha à sociedade” (art.470/2).

Relativamente ao órgão de fiscalização (não existe como órgão típico

nalgumas sociedades mas pode existir noutras e tem de existir em

outras):

1 – Sociedades em nome colectivo e sociedades em comandita simples – não existe.

- os sócios

enquanto tais ou enquanto gerentes fiscalizam directamente a actuação da

gerência.

2 – Sociedades por quotas – podem ter sempre um conselho fiscal ou um fiscal

único (art.262/1, 413/1a)) .

- quando ultrapassem determinada dimensão devem

ter conselho fiscal ou fiscal único a menos que designem revisor oficial de contas

para proceder à revisão legal das contas (art.262/2/3).

- um dos membros efectivos do conselho fiscal, bem

como o fiscal único, devem ser revisores oficiais de contas e não podem ser sócios:

os restantes membros do conselho fiscal podem ser ou não sócios e salvo quando

sejam sociedades de advogados ou de revisores oficiais de contas, devem ser

pessoas singulares com capacidade jurídica plena (art.262/1/5, 414/1/2/3).

3 – Sociedades anónimas – devem ter sempre órgão(s) de fiscalização.

- as de estrutura tradicional a par do conselho de

administração (ou de administrador único) têm fiscal único (deve ser ROC, pessoa

singular ou sociedade, não sócio) ou conselho fiscal (ROC não sócio) (art.278/1a)/2,

413/1 a)/4, 414/1/2; ou conselho fiscal (não tem de incluir ROC) e ROC 20

Page 21: Direito Comercial II

(art.413/1b)/4, 414/2). Estes dois órgãos de fiscalização (conselho fiscal e ROC) são

obrigatórios em certas sociedades (art.278/3, 413/2a ).

- as de estrutura de tipo germânico devem ter a par

do conselho de administração executivo (ou do administrador único), conselho geral

e de supervisão (composto por pessoas singulares com capacidade jurídica plena,

sócios e/ou não sócios) e ROC (não sócio) (art.278/1c), 434, 446).

- as de estrutura monística têm comissão de auditoria

(integrada no conselho de administração e composta por pelo menos 3

administradores) e ROC (art.278/1b), 423B, 446).

4 – Sociedades em comandita por acções – terão conselho fiscal ou fiscal único.

- é aplicável as normas das sociedades

anónimas (art.478,413ss).

2.3 - Transmissão de participações sociais entre vivos

Participação social é definível como conjunto unitário de direitos e obrigações

actuais e potenciais do sócio.

Relativamente à transmissão por morte:

1 - Sociedade em nome colectivo – ocorrendo o falecimento de um sócio e se o

contrato social não determinar diversamente podem os sócios superstites optar por

uma de 3 vias:

1 – continuação da sociedade com o sucessor(es) do falecido quando estes nisso

consintam expressamente (a proposta dos sócios sobrevivos e o consentimento dos

sucessores hão de verificar-se dentro dos 90dias posteriores à data em que aqueles

tomaram conhecimento da morte do soco);

2 – dissolução da sociedade (deliberada e comunicada aos sucessores dentro do

prazo referido);

3 – liquidação da parte do sócio falecido, com pagamento aos sucessores deste do

respectivo valor (se no prazo referido nenhumas das duas vidas anteriores for

escolhida, a liquidação da parte impor-se-á).

-O art. 184/1/2.

- acautela os interesses dos sócios superstites, não se lhes impõe a entrada de

estranhos na sociedade (os novos sócios também são em principio gerentes

art.191/1 e são responsáveis pelos credores sociais art.175/1/2) nem a continuação

da sociedade (o sócio falecido podia ter papel considerado essencial).

- acautela os interesses dos sucessores do sócio

falecido (não se pode impor a entrada na sociedade, onde ficariam com

responsabilidade ilimitada pelas dividas sociais).21

Page 22: Direito Comercial II

2 – Sociedade em comandita simples ou em comandita por acções – pelo art.469/2

é aplicável idêntico regime quando ocorra a morte do sócio comanditado.

3 – Sociedade por quotas – falecendo o sócio, a regra é a da transmissão da

respectiva quota para os sucessores. Mas pode o contrato social estabelecer que a

quota não se transmitira (a titulo definitivo) para os sucessores do falecido, e

também condicionar a transmissão a certos requisitos (art.225/1).

- quando por força de cláusulas de proibição ou de

condicionamento a quota não deva ser transmitida para os sucessores do sócio

falecido deve a sociedade amortizá-la (art.232ss), adquiri-la (art.220) ou fazê-la

adquirir por sócio ou por 3º. Se nenhuma destas medidas for efectivada nos 90 dias

subsequentes ao conhecimento por gerente da morte do sócio, a quota considera-

se definitivamente transmitida para os sucessores (art.225/2). Pode também o

contrato social condicionar a transmissão (a titulo definitivo) da quota à vontade

dos próprios sucessores (art.226).

4 – Sociedade em comandita simples – aplica-se idêntico regime à transmissão por

morte da parte de sócio comanditário (art.475).

5 – Sociedades Anónimas e nas Sociedades em comandita por acções (no que diz

respeito aos sócios comanditários) – as participações sociais são “acções”

(art.271,465/3) porque a transmissão mortis causa de acções rege pelo direito

comum das sucessões (art.2024ssCCivil).

Relativamente à transmissão entre vivos:

1 - Sociedade em nome colectivo – o sócio so pode transmitir a sua parte social (a

titulo oneroso ou gratuito e para sócios e não sócios) com o expresso

consentimento dos restantes sócios (art.182º/1) (não consentindo algum sócio a

cessão da parte é ineficaz relativamente a todos os sócios e à sociedade. art.55 –

aplicável directamente quando o consentimento seja prestado através de

deliberação dos sócios aplicável analogicamente nos outros casos).

- defende-se o interesse dos restantes sócios em manter na sociedade um

consórcio de responsabilidade ilimitada e por princípio gerente e em impedir a

entrada na sociedade de sujeitos indesejados.

2 - Sociedades por quotas – a transmissão voluntária (cessão) é em regra livre

quando realizada entre cônjuges, entre ascendentes e descendentes ou entre

sócios (art.228/2 2ª parte).

- Fora destes casos, em regra a cessão de quotas só é

eficaz para com a sociedade quando por esta seja consentida (a transmissão de

quotas por determinação judicial não depende do consentimento da sociedade art. 22

Page 23: Direito Comercial II

239/2). O consentimento é em princípio dado por deliberação dos sócios que por

norma não exige unanimidade bastando-se com a maioria dos votos emitidos

(art.230/2/5/6, 250/3) (a cessão de quota torna se livre quando a deliberação sobre

o pedido de consentimento não seja tomada em certo tempo art.230/4 ou quando a

deliberação de recusa de consentimento não se sucederem outros factos

art.231/2/3).

- no entanto aquelas regras podem ser derrogadas pelo

estatuto social que pode reforçar o relativo fechamento (resultante das regras

dispositivas) da sociedade por quotas como abri-la mais à possibilidade de saídas e

entradas de sócios.

- pode o estatuto proibir a cessão de quotas, exigir o

consentimento da sociedade para todas ou algumas das cessões em regra livres,

condicionar o consentimento social a determinados requisitos mas pode também

dispensar o consentimento da sociedade para todas ou certas cessões

(art.229/1/2/3/5).

3 - Sociedade em comandita simples – à transmissão das partes dos sócios

comanditários é aplicável o regime da transmissão de quotas das sociedades por

quotas (art.475).

4 – Sociedades em comandita por acções – a transmissão das acções dos sócios

aplica-se o regime que vale para as sociedades anónimas (art.478).

Nota: Paras as sociedades 3 e 4 a eficácia da transmissão das partes sociais dos

sócios comanditados exige salvo disposição contratual diversa deliberação

autorizante dos sócios (art.469/1).

5 - Sociedades anónimas – as acções ao portador são livremente transmissíveis.

- as acções nominativas pode o estatuto estabelecer

limitações à sua transmissão (subordinando-a ao consentimento da sociedade a

conceder ou a recusar através de deliberação dos sócios, em regra) ou a

determinados requisitos (subjectivos e/ou objectivos) que estejam de acordo com o

interesse social ou atribuindo um direito de preferência aos outros accionistas

(art.328/1/2, 329/1) (as clausulas subordinando a transmissão de acções

nominativas ao consentimento da sociedade ou a outros requisitos são inoponiveis

em processo executivo ou de liquidação de patrimónios (art.328/5).

3 - Número mínimo de sócios

Para a constituição de sociedades comerciais (ou civis de tipo comercial) o

art.7/2CSC apresenta uma regra e respectivas excepções quanto ao nº mínimo de

sujeitos constituintes.23

Page 24: Direito Comercial II

O nº mínimo de sócios de uma sociedade comercial é dois, 7º/2. Existem excepções

a esta regra, tanto por ser exigido um nº superior (SA e Soc. em comandita por

acções), como por dispensar aquele nº mínimo (Soc. por quotas unipessoais e SA

unipessoais).

Sociedades em nome colectivo e em comandita simples – exige-se pelo

menos a participação de 2 sujeitos. Mas não nas sociedades dos outros tipos.

Sociedades por quotas – pode ser constituída por um único sujeito (sociedades

por quotas unipessoal) art.270 A/1.

Nas SA – afora-se a possibilidade de serem constituídas por apenas uma outra

sociedade (por quotas, anónima ou em comandita por acções) art.481/1 e 488/1 ou

por 2 sócios (nestes casos um deles ser o Estado, entidade publica empresarial ou

outra entidade a ele equiparada por lei para o efeito, que ficara a deter a maioria

das acções art.273/2), têm em regra de ser constituídas pelo menos por cinco

sócios, 273º/1.

Para as sociedades em comandita por acções - não podem constituir-se com

menos de seis sócios – cinco comanditários e um comanditado (art.465/1, 479).

Durante a vida das sociedades devem os números mínimos de sócios ser

respeitados sob pena de dissolução (art.142/1b).

4 - Capital Social

É uma cifra representativa da soma dos valores nominais das participações sociais

fundadas em entradas em dinheiro e/ou em espécie (art.25/1).

Sociedades em nome colectivo constituídas por sócios que entrem

somente com a sua indústria ou trabalho - não têm capital social (art.9/1f,

178/1).

CSC fixa o valor mínimo do capital com que as sociedades de certo tipo hão-de

constituir-se: 5.000€ (sociedades por quotas art.201), 50.000€ (sociedades

anónimas e em comandita por acções art.276/3 e 478). Para as sociedades em

nome colectivo e em comandita simples não está fixado qualquer valor mínimo do

capital.

Tipos doutrinais de sociedades comerciais (releva para a interpretação e

integração da lei e dos estatutos sociais sobretudo no domínio das regras

respeitantes às relações entre sócios e entre sócios e sociedade)

1 – Sociedade de Pessoas e Sociedade de Capitais

Sociedades de pessoas (Sociedade em nome colectivo) – são em grande

medida dependentes da individualidade dos sócios, o intuitus personae é manifesto.

- Principais características:24

Page 25: Direito Comercial II

- responsabilidade dos sócios pelas dividas sociais;

- a impossibilidade ou dificuldade de os sócios mudarem (a transmissão das

participações sociais exige o consentimento dos sócios);

- o grande peso dos sócios nas deliberações sociais e na gestão das sociedades (em

regra, a cada sócio, independentemente do valor da respectiva participação,

pertence um voto, varias deliberações de mudança significativa dos estatutos

sociais devem, por via da regra ser tomadas por unanimidade, todos os sócios são

normalmente membros do órgão de administração;

- a necessidade de a firma social conter o nome ou firma de sócio(s);

- o dever de os sócios não concorrerem com as respectivas sociedades, salvo

consentimento de todos os outros sócios;

- o direito alargado de cada sócio à informação sobre a vida da sociedade.

Sociedades de capitais (sociedade anónima) – assentam principalmente nas

contribuições patrimoniais dos sócios, a individualidade deles e a sua participação

pessoal na vida social pouco contam.

- as características principais são:

- a não responsabilidade dos sócios pelas dividas sociais;

- a fácil mudança ou substituição dos sócios (livre transmissão e penhorabilidade

das participações sociais);

- o peso dos sócios nas deliberações sociais e na gestão das respectivas

participações de capital (os votos são atribuídos em função do valor das

participações, o principio maioritário é regra praticamente sem excepções na

tomada das deliberações, a maioria capitalistica determina a composição dos

órgãos de administração, que podem ter membros não sócios);

- a firma social não tem de ter qualquer nome ou firma de sócio(s) e é

normalmente firma-denominação;

- os sócios não administradores podem concorrer com as respectivas sociedades;

- o direito à informação nalgumas das suas modalidades não é atribuído a todos os

sócios (mas apenas a quem possuir participações de certo montante). Não é fácil

integrar nesta tipologia os tipos legais das sociedades por quotas e em comandita

simples e por acções. Em bom rigor, não correspondem nem às sociedades de

pessoas nem as sociedades de capitais (combinam características importantes quer

de uma quer de outra).

Sociedade por quotas – há quem as coloque nas sociedade de pessoas e quem

as coloquem entre as sociedades de capitais.

25

Page 26: Direito Comercial II

- releva características personalisticas (os sócios são

solidariamente responsáveis por todas as suas entradas art.197/1), a cessão de

quotas exige o consentimento da sociedade embora não de todos os sócios

art.228/2 na venda ou adjudicação judicial de quota têm preferência em 1º lugar os

sócios e depois a sociedade ou pessoa por ela designada art.239/5, os sócios gozam

de amplos direitos de informação art.214ss, as deliberações dos sócios vinculam a

gerência também em matéria de administração art.259.

- características capitalísticas: em regra, só o património social

responde para com os credores pelas dividas da sociedade (art.197/1), os votos

são atribuídos em função do valor das quotas (art.250/1), vigora o principio

maioritário (capitalistico) na tomada das deliberações (art.250/3), embora se exijam

maiorias qualificadas para certos efeitos (art.265/1/3 e 270/1), os gerentes podem

não ser sócios (art.252/1).

Sociedades em comandita simples – as notas personalísticas prevalecem.

Sociedades em comandita por acções – as notas capitalisticas prevalecem.

De acordo com o art.9/3 (norma dispositiva): podem conduzir à introdução de uma

ou outra característica personalistica em sociedade tipicamente de capitais e até a

conformação como de pessoas ou de capitais de sociedades cujo tipo legal não

permite em abstracto enquadrá-las em qualquer desses tipos:

Sociedade em nome colectivo (sociedade de pessoas) – pode ser administrada e

representada por um único gerente não sócio designado no contrato social

(art.191/1/2).

Sociedade anónima (sociedade de capitais) – pode limitar estatutariamente a

transmissão de acções (art.328).

Sociedade por quotas (sociedade de pessoas) – constituída por 2 pessoas cujo

estatuto estabeleça que ambos os sócios respondem solidariamente até certo

montante pelas dividas sociais (art.198), a quota de cada sócio tem igual valor, as

quotas não se transmitirão nem por morte nem entre vivos (art.225, 229/1), a

sociedade poderá amortizar quotas em caso de penhora (art.239/2) e que ambos os

sócios são gerentes (art.252/2/3).

2 – Sociedades Abertas e Sociedades Fechadas

26

Page 27: Direito Comercial II

Sociedades abertas – sociedades anónimas e em comandita por acções

especialmente abertas aos mercados de capitais (mercados de bolsa onde colocam

acções e onde os investidores e os sócios adquirem e alienam acções).

- sociedades de substrato em geral muito amplo potenciando

que pequeno nº de accionistas muitas vezes com muito menos de metade das

acções formem estáveis “grupos de controlo”.

Sociedades fechadas – são sobretudo sociedade por acções que embora típico

legalmente abertas são compostas por um só accionista (sociedade filhas) ou por

reduzido nº de sócios muitas vezes unidos por laços familiares ou de confiança e

que apresentam com frequência cláusulas estatutárias limitando a

transmissibilidade das acções.

5 – Taxatividade dos tipos legais de Sociedades

As sociedades com objecto social constituídas nos termos do CSC só podem adoptar

um dos tipos enumerados no art.1/2.

As sociedades com objecto civil que queiram adoptar um tipo societário mercantil e

sujeitar-se ao CSC quanto à constituição, organização e funcionamento só podem

adoptar um desses tipos.

Quer dizer que vigora neste domínio o Principio da Taxatividade ou do numerus

clausus dos tipos legais de sociedades comerciais. O código permite apenas

sociedades de certos tipos.(Não obsta a que o Estado por lei ou DL crie singulares

sociedades comerciais que não correspondam a qualquer tipo previsto no CSC. Nem

obsta a que o mesmo Estado crie novos tipos societários a que certas sociedades se

hão de submeter)

Impõe uma limitação à liberdade negocial: o sujeito(s) que queiram constituir uma

sociedade comercial (ou civil com forma comercial) têm de optar por um dos tipos

previstos na lei. Nalguns casos é imposto certo(s) tipos: sociedades unipessoais

devem ser por quotas ou anónimas (art.270A, 288); as sociedades com certo

objecto só podem ser por quotas ou anónimas (ex. sociedades gestoras de

participações sociais, agencias de câmbios, sociedades mediadoras do mercado

monetário e do mercado de câmbios; outras sociedades com determinado objecto

apenas podem ser anónimas (ex. sociedades de desenvolvimento regional,

sociedades administradoras de compras em grupo, sociedades gestoras de

patrimónios, sociedades de investimento, de locação financeira, de factoring, e

financeiras para aquisições a credito, sociedades gestoras de fundos de

investimento imobiliário, sociedades desportivas.

27

Page 28: Direito Comercial II

Os sujeitos têm considerável liberdade de conformação do regime das sociedades

de cada um dos tipos: nos espaços não ocupados por lei e nos espaços ocupados

por lei dispositiva há lugar para clausulas atípicas (clausulas que respeitando o

núcleo essencial do tipo se desviam num ou noutro aspecto das típicas

características do tipo) ex. é possível estipular no estatuto de uma sociedade por

quotas que determinado sócio responderá até certo montante perante os credores

sociais art198 ou que tal sociedade terá um “conselho consultivo” cuja competência

não colida com a de qualquer órgão necessário. Não é licito que os sócios de

determinada sociedade por quotas responderão ilimitadamente pelas perdas sociais

ou que tal sociedade terá em vez de gerência um “conselho de administração”

(com regras de organização, funcionamento e competências idênticas às previstas

na lei para as sociedades anónimas) ou que as participações de certa sociedade por

quotas serão “acções” tituladas.

As cláusulas atípicas que contrariem notas essenciais do tipo escolhido serão nulas

(pode a nulidade parcial determinar a invalidade de todo o negocio) a menos que

essas e outras cláusulas configuram uma sociedade de tipo diverso do nomeado

pelos sócios.

Justifica-se por razões de segurança jurídica: os credores sociais, o publico em geral

e até os sócios mesmo desconhecendo os estatutos sociais podem confiar que as

sociedades de certo tipo não podem deixar de obedecer a determinado quadro

regulativo; nas suas relações com as sociedades tais sujeitos sabem com que

podem contar.

III – Constituição das Sociedades Comerciais

1. Constituição das sociedades comerciais como Processo

A Constituição ou formação das sociedades comerciais (e das sociedades civis de

tipo comercial) analisa-se num processo, numa série de actos e formalidades.

O processo normal de constituição de sociedades desdobra-se em 3 actos

principais:

a) contrato de sociedade (sujeito a forma especial art.7/1);

b) Registo definitivo do contrato;

c) Publicação do contrato.

Na variante inovadora (art.18º/ 1, 2, e 3) o processo constitutivo arranca com o

registo prévio do contrato de sociedade excepto as sociedades em que haja entrada

em espécie ou em cujo acto constituinte se preveja a aquisição de certos bens e as

sociedades por acções constituídas com apelo a subscrição pública. Os principais

momentos são: contrato social, o registo prévio, a formalização do contrato (o 28

Page 29: Direito Comercial II

escrito com as assinaturas reconhecidas ou a facultativa escritura publica devem

reproduzir os “precisos termos do projecto previamente registado”), o registo

definitivo (conversão do registo prévio em definitivo), a publicação. A Constituição

de (pluripessoais) sociedades anónimas e de sociedades em comandita

por acções (art.478) pode efectuar-se também “com apelo a subscrição pública”

(art.279ss). Dada a complexidade e os custos deste processo constitutivo é muito

rara a sua utilização.

O CSC permite a constituição de sociedades por quotas e anónimas

unipessoais (art.270A e 488). Processos formativos: acto constituinte com a

natureza de negócio jurídico unilateral que deve revestir a forma exigida no art.7/1

(art.270G e 488/2); registo definitivo do acto constituinte; publicação do acto

constituinte.

É possível sociedades comerciais serem constituídas em termos diferentes

dos regulados no CSC:

Através de lei ou DL o Estado tem constituído várias sociedades anónimas. Nuns

casos os actos legislativos transformam “entidades públicas empresariais” em

sociedades de que o Estado fica sendo o único sócio. Noutros casos, o substrato

patrimonial das sociedades não resulta de empresas e o Estado ou é o único sócio

ou é associado a outras entidades públicas. Pode o Estado juntar-se a 4 sujeitos ou

em certas situações a outro a fim de constituírem por contrato e nos termos do CSC

uma sociedade anónima (art.7/1/2 e 273).

O Estado não pode através de negócio jurídico unilateral constituir uma sociedade

anónima unipessoal (art.488, só certas sociedades podem constituir sociedades

anónimas unipessoais).

O Estado não pode juntar-se a outrem para a constituição por via contratual de

sociedade anónima cujo estatuto contenha cláusulas incompatíveis com normas

imperativas do CSC.

A constituição de sociedades por lei ou DL implica um processo. A aprovação desses

actos legislativos exige determinados procedimentos (art.116, 167, 168, 200CRP)

têm de ser promulgados pelo PR sob pena de inexistência jurídica (art.134b, 136,

137) a promulgação carece de referenda do Governo sob pena de inexistência

jurídica (art.140) e têm de ser publicados no DR sob pena de ineficácia jurídica

(art.119/1c/ 2).

CIRE – o saneamento por transmissão previsto em “plano de insolvência” visa a

constituição de uma ou mais sociedades (podem ser comerciais ou civis de tipo

comercial) para a exploração de um ou mais estabelecimentos adquiridos à massa 29

Page 30: Direito Comercial II

insolvente. Principais momentos da constituição: apresentação da proposta de

plano de insolvência contendo em anexo os estatutos da sociedade, deliberação

tomada em assembleia dos credores aprovando a proposta, homologação judicial

do plano, registo da constituição da sociedade, publicação.

Art.8 RSEL.

Em 2005 e 2006 para simplificar e tornar célere a constituição de sociedades

(unipessoais ou pluripessoais) por quotas ou anónimas o legislador introduziu o

regime especial de constituição imediata de sociedades (“empresa na hora”) DL

111/2005, de 8 de Julho e o regime especial de constituição on line de sociedades

(empresa on line) DL 125/2006 de 29 Junho (ambos foram alterados pelo DL 247B

2008 de 30 Dezembro.

Na generalidade dos casos a sociedade é constituída através de um único acto

(acto “constituinte” ou “constitutivo”).

A sociedade comercial forma-se por via de um processo (o registo é precedido de

vários actos e formalidades).

A Sociedade existe antes do registo e pode actuar antes do registo. A partir do

registo definitivo as sociedades passam a gozar de personalidade jurídica e existem

como tais (como pessoas jurídicas ou colectivas) (art.5, 274, 304/3/6).

Contudo, segundo o plano legislativo, as sociedades comerciais devem possuir

personalidade jurídica e a sua existência e caracterização devem ser plenamente

eficazes, para isso não basta um acto são necessários mais (além do contrato, o

registo e a publicação) – processo de constituição.

2 - Acto constituinte

1 – Espécies.

o normal acto constituinte das sociedades é um contrato (art.3-7/1/2, 9,

15/1,16/1,18/1/5, 19…).

Na formação de sociedades com apelo a subscrição pública não há

propriamente um acto constituinte, há 2 interdependentes e complementares:

- contrato de sociedade formado progressivamente pelas declaraçõ(es) dos

promotor(es) subscritores (existente antes da deliberação precisa dela para

produzir os normais efeitos de um contrato constituinte de uma sociedade, funciona

como condição suspensiva do contrato social) e - deliberação da assembleia

constitutiva (não é um contrato é ou pode ser tomada por maioria dos votos

art.281/5/6/8 e não é deliberação dos sócios propriamente ditos a sociedade fica

constituída somente depois da deliberação, os votos não são atribuídos em função

das acções subscritas cabe a cada promotor e a cada subscritor um voto art.281/4).30

Page 31: Direito Comercial II

O acto constituinte das sociedades unipessoais – é um negócio jurídico

unilateral (negócio de organização não de “fim comum”).

Nas sociedades constituídas por DL ou Lei – o acto constituinte é o respectivo

acto legislativo existente.

Nas sociedades resultantes de “saneamento por transmissão” – o acto

constituinte deve ver-se na decisão judicial homologatória do plano de insolvência

(art.199 e 217/3a CIRE).

O Acto constitutivo inicial ergue o esqueleto da sociedade comercial enquanto

entidade. O propósito de constituir uma sociedade comercial assenta num acordo

em que duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o

exercício em comum de certa actividade económica a fim de repartirem os lucros

resultantes dessa actividade, 980º CC. Se as partes decidiram exercer uma

actividade comercial, devem adoptar um dos tipos previstos no CSC (1º/3).

Sujeitos que podem constituir ou participar na constituição de sociedades:

1 – Pessoas Singulares – podem ser sócios as pessoas humanas com capacidade

de exercício mas também os incapazes (menores não emancipados, interditos,

inabilitados).

Menores – representados pelos pais ou tutor (art.124CC).

- os pais como representantes dos filhos entrar em sociedade por quotas

ou anónimas sem a autorização do MP; para entrar em sociedade em nome

colectivo ou em comandita simples e por acções já é exigida tal autorização

(art.1889/1dCC).

- o tutor como representante do menor necessita de autorização do MP

para entrar em qualquer sociedade (art.19381a),b), d) CC).

- excepcionalmente o menor com 16 ou 17 anos tem capacidade para entrar

em sociedade: disponha de bens adquiridos por trabalho seu e a sua

responsabilidade fique limitada à realização da respectiva entrada (só então

arriscará apenas aqueles bens) (art.127/1aCC).

Interditos – devem ser representados por tutor.

- o tutor necessita de autorização do MP para entrar em qualquer

sociedade (art.1938/1a,b,d CC salvo quando a tutela recaia no pai ou na mãe

(art.1889/1d) por força do art.144CC.

Inabilitados – para entrar em sociedade validamente é necessário autorização do

curador-assistente (passível de ser suprimida) quando a entrada implique ou possa

vir a implicar disposição de bens do inabilitado. (art.153CC).

31

Page 32: Direito Comercial II

O art.1714 CC em regra não é permitido aos cônjuges alterar as convenções

antenupciais nem o regime de bens resultante da lei (nº1) e de esclarecer serem

abrangidos por essa proibição os contratos de sociedade entre os cônjuges não

separados judicialmente de pessoas e bens (nº2) .

Art.8/1CSC – podem os cônjuges (só eles como únicas partes) constituir

sociedades por quotas ou em comandita simples e podem eles participar (como

sócios) em sociedades por quotas, anónimas, em comandita simples ou por acções

desde que sejam ambos comanditários ou só um deles seja comanditado.

Não podem ambos os cônjuges ser sócios de uma mesma sociedade em nome

colectivo (uma participação social pode pertencer em comunhão a ambos os

cônjuges pelo regime matrimonial - de bens comunhão de adquiridos, comunhão

geral. Não significa que ambos devam ser considerados sócios em relação à

sociedade em causa. Se os cônjuges participam na constituição da sociedade

adquirindo em conjunto uma única participação social ou se a participação se

integra em momento posterior na comunhão conjugal por ambos os cônjuges ex.

ambos compraram uma quota, aos 2 foi legada uma quota então são ambos sócios

e a participação em comunhão fica sujeita ao regime da “contitularidade” de

participação art.7/3, 222, 303CSC). Se só um dos cônjuges participa na celebração

do contrato de sociedade ou se a participação social se integra posteriormente na

comunhão conjugal apenas por um deles então só esse é sócio e a participação

social não é disciplinada pelo regime de contitularidade art.8/2).

2 – Pessoas Colectivas Privadas

Sociedades comerciais e civis de tipo comercial (art.6/1,11/4/5/6, 270A/1

(ART.270C/1/2, 488ss), 481ssCSC).

Nalguns actos constituintes intervêm exclusivamente sociedades: art.97/1, 118/1,

130 e 488 (na constituição da sociedade anónima unipessoal).

Cooperativas (art.8/1/3/9) e dos grupos europeus de interesse económico.

Associações e fundações (art.160/1CC). Quando não haja especifica lei a proibi-la

(art.160/2CC) podem as associações e fundações participar na constituição de

(art.270A/1CSC) sociedades sempre que se mostre necessário ou conveniente à

prossecução dos seus fins (os lucros que se espera obter podem revelar-se

necessários ou convenientes para desenvolver a actividade directamente dirigida à

realização dos fins próprios da associação ou fundação) (por analogia devem ser

respeitadas as normas do art.11/4/5CSC). Raramente o nº4 tem aplicação ex.

associação de promoção de teatro gerindo correspondente empresa de

espectáculos públicos e uma sociedade explorando uma empresa teatral32

Page 33: Direito Comercial II

Em regra a sociedade nasce por iniciativa privada, sendo o acto constitutivo inicial

um contrato que reúne duas ou mais pessoas.

3 – Pessoas Colectivas Publicas

Estado pode participar na constituição de sociedades, quer o acto constituinte seja

de natureza privada quer seja de natureza pública (na constituição por lei ou DL o

Estado através dos seus órgãos é o único autor possível do acto constituinte).

As Entidades Publicas Estaduais (serviços personalizados, fundações publicas,

estabelecimentos públicos, entidades publicas empresariais) têm direito de

participar em actos constituintes de sociedades quando as respectivas atribuições e

competências conferidas por lei o permitam. Art. 1/2, 2/1/2, 3/1, 6, 10/2/3, 25/2,

27/2, 37 RSEE.

Regiões Autónomas (art.227/1hCRP, art.273/2, 545CSC, art.5 e 6RSEE.

Municípios e associações de Municípios (RSEL).

4 - Entidades Colectivas Sem Personalidade Jurídica (sociedades civis e

sociedades comerciais) – tem capacidade de gozo e de exercício de direitos para

o efeito (art.157 e 160 CCCivil para as sociedades civis) (art.36/2 e 38ss CSC para

as sociedades comerciais).

2 – Conteúdo

Art.9CSC – menções obrigatórias gerais (generalidade das sociedades). Dado que

as sociedades não são constituídas somente por contrato é mais correcto falar de

acto constituinte ou de estatuto.

CSC passou a utilizar “estatutos” como sinónimo de contrato social ou de acto

constituinte (art.288/4, 289/4, 377/5f, 384/9, 393/1, 413/4, 423B/2, 424/1).

Art.9 1a) – a identificação dos sócios pessoas singulares faz-se indicando o nome

completo, estado (pessoa casada deve mencionar-se o nome completo do cônjuge

e o regime matrimonial de bens), naturalidade e residência habitual (art.46/1c,

47/1ª CNot).

- as sociedades comerciais e civis de tipo comercial sócias são

identificadas (art.171/1/2CSC, art.46/1c CNot).

- as outras entidades colectivas sócias são identificadas pelas respectivas

denominações, sedes e nº de identificação de pessoa colectiva (art.46/1c CNot).

O conteúdo do contrato de sociedade deve conter as menções obrigatórias comuns

a todos os tipos de sociedade.

1d) – Objecto Social – deve ser estatutariamente determinado, especificado. Não

são lícitas as indicações latamente genéricas das actividades prosseguíveis pela 33

Page 34: Direito Comercial II

sociedade (ex. “qualquer actividade não proibida por lei” “qualquer actividade

comercial ou industrial”) art.11/2.

- Constituição de sociedades por subscrição publica

(art.279/5) e justifica-se pela tutela de interesses dos sócios, administradores,

terceiros. Devem os sócios conhecer a actividade em que arriscam capitais ou

trabalho, certas obrigações de não concorrência de sócios e administradores são

delimitadas pelo objecto (art.180, 254, 398/3/4), os órgãos sociais (os de

administração e representação) têm o dever de nada fazerem fora do círculo

delimitado pelo objecto social (art.6/4, 192/2/3/4,260/1/2/3, 409/1/2/3), várias

causas de dissolução das sociedades têm que ver com o objecto (art.141, 1c, d,

142/1b,c,d. a natureza comercial ou civil das sociedades é determinada pelo

objecto (art.1).

- A falta de determinação do objecto provoca a nulidade do

acto constituinte ainda não registado (art.41CSC e art.280CCivil).

1e) – Sede Social ou estatutária (da sede constante do acto constituinte ou

estatuto) é o lugar concretamente definido onde a sociedade se considera situada

para a generalidade dos efeitos jurídicos em que a localização seja relevante

(art.12/1CSC).

- o local de ser “concretamente definido” é preciso que se mencione o nome do

lugar e/ou a freguesia e o concelho, ou o nome da localidade, rua, número de

polícia e do andar ou equivalente, freguesia e concelho.

- releva no quadro do direito dos sócios à informação, podem eles consultar

documentos societários na sede social (art.181/1, 214/1, 263/1, 288/1, 289/1/2), as

assembleias gerais efectuam-se em princípio na sede social (art.377/6a) remete

para art.189/1, 248/1, 474, 478); a competência territorial dos tribunais quanto a

questões respeitantes às sociedades é determinada às vezes pela sede estatutária

(art65/1a, 2, 65a b,c).

“Sede Principal e Efectiva da Administração” da sociedade – o lugar onde

são tomadas e mandadas executar as decisões de gestão societária (onde funciona

o órgão de administração e de representação).

- art.3/1CSC se determina a lei (ou estatuto) pessoal das sociedades, a lei que

regula a capacidade delas, a constituição, funcionamento e competência dos

órgãos, os modos de aquisição e perda da qualidade de sócios, os direitos e

obrigações dos sócios, a responsabilidade das sociedades e dos titulares dos órgãos

perante terceiros, a transformação, dissolução e extinção das sociedades 34

Page 35: Direito Comercial II

(art.33/2CCivil). Ex: uma sociedade constituída e com actividade em Portugal mas

com a sede efectiva no estrangeiro tem como lei pessoal não a portuguesa (CSC)

mas a do respectivo Estado estrangeiro. Se tal sociedade tiver a sede estatutária no

nosso país não pode “opor a terceiros a sua sujeição a lei diferente da lei

portuguesa” (art.3/1 2ªparte). Uma sociedade constituída e com sede estatutária no

estrangeiro mas com sede da administração (originariamente ou em consequência

de transferência) em Portugal tem com a nossa lei pessoal a portuguesa e deve tal

sociedade conformar com a nossa lei o respectivo estatuto (art.3/2/3). (a

transferência de sede efectiva de Portugal para o estrangeiro é possível art.3/4/5

“…contrato de sociedade e exige um quórum deliberativo especialmente

qualificado. Uma alteração dos estatutos sociais importa sempre uma modificação

ou supressão de alguma das suas clausulas e/ou a introdução de nova clausula

art.85/1. a sede mencionada nos estatutos é a sede estatutária não a efectiva, a

clausula do acto constituinte respeitante à sede é alterada quando se altera a sede

estatutária).

Art.3/1 1ª parte – critério da constituição não o da sede efectiva.

Nacionalidade das Sociedades – relevante em matéria de direito dos

estrangeiros e de protecção diplomática.

- o critério da sede real ou efectiva (da administração).

“Formas locais de representação” das sociedades – as sedes - Art.13/1 – a

sociedade sem necessidade de necessidade estatutária (sem prejuízo de o estatuto

o proibir ou limitar (…). Nº2. os signos sucursais, agencia e delegação têm sido

entendidos sinonimamente (art.7RGIC, art.13/5/6 DL94B/98 de 17Abril). (art.7CPC

inclui entre as sucursais, agencias e delegações as “filiais”. Estas têm aparecido

como entidades colectivas, sociedades, dominadas por outras entidades (mães) não

se confundindo com as sucursais, agencias e delegações, desprovidas de

subjectividade jurídica art.508A). As sucursais (ou agencias e delegações) são

partes de empresas ou estabelecimentos. Podem pertencer a pessoas singulares ou

entidades colectivas. Pertencendo a sociedade estas exercem actividades

“localmente” através delas e são propriamente “representadas” por quem está à

frente das sucursais (“gerentes”)

“Outras formas locais de representação” – representações societárias diferentes

das sucursais propriamente ditas ex. “escritórios de representação” (art.62ssRGIC).

1g) – suscita algumas dificuldades representativas.

35

Page 36: Direito Comercial II

- “A quota de capital” – parece significar participação social correspondente à

entrada em dinheiro e/ou em espécie e cujo valor nominal há-de constar do

estatuto.

- “A natureza das entradas” – terá que ver com todas as espécies admitidas (em

dinheiro, espécie ou industria).

- “Os pagamentos efectuados por conta de cada quota” – está relacionado

somente com a realização das entradas (e não propriamente das “quotas” em

dinheiro (só a realização destas entradas pode ser parcialmente diferida).

A indicação da quota e da entrada “de cada sócio” fundador será praticamente

inviável com respeito à maior parte das sociedades por acções constituídas com

apelo a subscrição pública; deve exigir-se quanto aos promotores (art.279/2/3) e

aos subscritores que entrem com bens diferentes de dinheiro (art.283/1).

1h) – respeita às entradas em espécie e em indústria. (art.9/2)

Apesar de não previstas no art.9 há situações que devem também ser mencionadas

nos estatutos das sociedades:

Vantagens especiais – concedidas a sócios conexionados com a constituição da

sociedade (premiando a iniciativa de tais sócios quanto à formação da sociedade) e

das despesas de constituição que a sociedade deve pagar aos sócios ou a terceiros.

Art.16/1/2 (art.279/8, 19/4).

Os “direitos especiais” de sócios só existem quando previstos no contrato social

(art.24/1).

Menções Obrigatórias Especificas de cada um dos tipos sociais:

1 - Sociedade em nome colectivo (art.176º)

a) nada adianta ao dito na al.g), h) art.9/1;

b)1ªparte – o dito na al.h do art.9/1

2ªparte – não tem de constar do contrato (atribuindo-se neste um certo valor a

entrada em industria que é referencia para efeitos de repartição de lucros art.178/2

e de perdas)

c) al.g art.9/1;

2- Sociedade por quotas (art.199º) o que diz nelas já resulta das al.a), g) art.9/1.

3– Sociedades anónimas (art.272)

4 - Sociedades em Comandita (art.466 e 472/2).

Sociedades em comandita simples art.272º excepto a al.g pela remissão do art.478.

5 – Sociedades Anónimas – art.390/1/2 e art.424/1 resulta da letra da lei que

deve constar do estatuto um só nº.

36

Page 37: Direito Comercial II

- importa não olvidar, que em regra supletiva, estas

sociedades ficam vinculadas pelos negócios jurídicos concluídos ou ratificados pela

maioria dos membros do órgão de representação (art.408/1, 431/3) interessa aos 3º

poder conhecer qual o preciso nº de tais membros.

Nos estatutos sociais – há lugar para as menções obrigatórias e para as menções

facultativas

Ex. de Normas legais habilitantes mas não dispositivas ou supletivas:

1 – Sociedades em geral - art.27/3, 146/5, 148.

2 – Sociedades em nome colectivo – art.185,186/1

3 – Sociedade por quotas – art.198/1, 209/1, 210, 225/1, 226/1, 232/1, 240/1, 241/1,

246/1

4 – Sociedades anónimas – art.287/1, 328/2, 391/2, 392/1/6/10, 456/1/2.

Ex. de Normas habilitantes dispositivas (art.9/3 as normas não imperativas do

CSC (dispositivas ou supletivas) se aplicam às sociedades excepto quando os actos

constituintes ou estatutos societários derroguem, desapliquem tais normas

estabelecendo diverso regime ou quando deliberações dos sócios procedam a tal

derrogação, as deliberações sociais poderão derrogar normas legais dispositivas

somente se para isso houver expressa autorização estatutária. Não é certo que só

através do acto constituinte ou de deliberações por ele autorizadas possam ser

derrogados os preceitos dispositivos do CSC. À derrogação pode efectivar-se

através de deliberações quando a lei o admita (art.151/1,191/2,217/1,294/1).

1 – Sociedades em geral – art.15, 22/1, 26, 151/1.

2 – Sociedades em nome colectivo – art.178/2, 190/1, 194/1.

3 – Sociedades por quotas – art.217/1, 229/2, 235/1/2.

4 – Sociedades anónimas – art.294/1, 395/1/2.

3 – Regime das Relações societárias anteriores à celebração do contrato

de sociedade

A celebração de acto constituinte (contrato ou negocio unilateral) de sociedade em

regra, com a mera forma escrita, devendo as assinaturas dos subscritores ser

reconhecidas presencialmente (na constituição on line de sociedades os

documentos escritos e/ou as assinaturas autógrafas podem ser substituídos por

documentos e assinaturas electrónicas). A escritura pública só é exigida quando

necessária para a transmissão dos bens com que os sócios entram para a sociedade

(art.80/1/2e CNot). Fora destes casos, a celebração do acto constituinte pode ser

efectuada por escritura pública mas não tem de sê-lo (não está sujeita às formas

37

Page 38: Direito Comercial II

referidas a constituição de sociedades em “plano de insolvência” nem em DL ou em

Lei).

Concluído um contrato de sociedade comercial e antes mesmo de lhe ser dada

forma legal pode os sócios realizar logo negócios em nome dela (ex. arrendamento

de um imóvel, contratação de trabalhadores, compra de máquinas). Pode acontecer

porque os sócios ignoram a existência da forma legal porque entendem que a

urgência dos negócios não admite espera. A lei não proíbe uma tal prática. Nem o

facto de o contrato social sem forma legal ser considerado nulo (art.41/1CSC e

art.220CCivil, art.42/1eCSC) inviabiliza a aludida actuação, o regime desta

“nulidade” é diverso do regime geral aplicável aos negócios jurídicos.

Contudo sem a forma exigida (e do registo) a sociedade não está perfeitamente

constituída, está em situação irregular. É preciso disciplinar a vida societária nessa

situação (art.36/2).

Nas relações internas (relações entre sócios, entre sócios e sociedade) aplica-se

art.983ssCCivil e art.1001ss.

Nas relações externas aplica-se o art.996ssCCivil.

Art.36/2 remete para as disposições do CCivil, não deve ser interpretado de modo a

qualificarem-se como sociedades civis as sociedades com objecto comercial mas

sem o contrato pela forma legal.

Síntese: verificando-se todas as notas do contrato de sociedade comercial, a

sociedade é comercial. O art.36/2 não deixa de se aplicar às sociedades com

objecto comercial mas sem forma legal outras normas do CSC (ex. art.41 e 52).

Art.36/1 – não existindo contrato de sociedade inexistindo sociedade (não há

actividade nem património comuns) mas porque há uma aparente sociedade, a

tutela da confiança de terceiros impõe responsabilidade solidária e ilimitada dos

aparentes sócios.

4 – Regime das Relações Internas depois da celebração do acto

constituinte e antes do registo (art.37)

No período compreendido entra a celebração do acto constituinte… nº1 (as relações

internas se referem à organização e funcionamento sociais sem projecção

relativamente a 3º abrangendo os direitos e obrigações dos sócios, a das espécies

de órgãos e modo do seu funcionamento).

apesar da falta de registo o regime das relações internas nesta fase é em principio

o aplicável depois de registado o acto constituinte, é praticamente o mesmo que

vigora quando a sociedade está perfeitamente constituída.

Nº2 apresenta 2 excepções:38

Page 39: Direito Comercial II

1 -“Modificações do contrato” – deve continuar sujeito ao direito comum dos

contratos (art. 406/1CCivil).

- a sociedade-entidade existe já e pode actuar (art.38;

antes mesmo da celebração do contrato pode actuar também).

2 - “Transmissão das participações sociais” – a generalidade dos sócios (os de

responsabilidade limitada) pode ter de responder ilimitadamente e solidariamente

por obrigações sociais antes do registo.

- Não é indiferente para os sócios

a substituição de um ou alguns deles, pela via da transmissão das participações por

outros (já sócios ou então não sócios) a unanimidade protege interesses dos sócios

actuais.

5 – Regime das relações das sociedades com terceiros depois da

celebração do acto constituinte e antes do registo (art.38-40)

Período compreendido entre a celebração do acto constituinte e o seu registo

definitivo (nada impede a aplicação do regime do art.40º às sociedades unipessoais

por quotas e anónimas, art.270G e 488/2. As sociedades resultantes de

“saneamento por transmissão” submeter-se-ão no período compreendido entre a

sentença homologatória do plano de insolvência e o registo art.38-40), pelos

negócios realizados em nome de uma sociedade em nome colectivo, com o

acordo de todos os sócios (art.38/1/2). Este consentimento presume-se.

Nome de uma sociedade em comandita simples (art.39/1/2/3) (o consentimento dos

sócios também se presume). O art.38 e 39 têm nº3 e 4.

Nome de uma sociedade por quotas, anónima ou em comandita por acções

(art.40/1/2 “assunção” ver art.19).

Além dos sócios e pessoas indicadas nos art.38-40, também as sociedades

respondem com os respectivos patrimónios (na fase pós-celebração do acto

constituinte parte das entradas deve estar já realizada art.26,202/2/3, 277/2/3)

pelos negócios realizados em seu nome?

1 – Antes do registo a sociedade ainda não existe ou ainda não existe

como pessoa jurídica, não havendo um património social propriamente dito. A

sociedade não responde.

Argumentação: Sem personalidade jurídica a sociedade ente já existe.

Tem um património próprio constituindo pelo menos por créditos

correspectivos das obrigações de entrada e/ou pelos bens resultantes das

obrigações de entrada já realizadas (bens de que a sociedade é titular).

39

Page 40: Direito Comercial II

Pode participar no tráfico jurídico (art.38-40). Tem subjectividade

capacidade suficiente para ser sujeito de direitos e obrigações ex.art.15/1/2, 17/1/2,

29/1CRComercial, os negócios são realizados “em nome” ou em “representação” da

sociedade art.38-40, a sociedade tem personalidade judiciária (art.6dCPC). A

sociedade obrigar-se e responder pelas suas obrigações.

2 – Art.38-40 nada se diz sobre a responsabilidade das sociedades, devendo pois

entender-se responderem exclusivamente os sujeitos aí mencionados.

Argumentação: O silêncio da lei não significa exclusão de responsabilidade social.

Se a sociedade já responde antes da celebração do contrato social

(e registo) art.36/2 por identidade ou maioria de razão ela responderá depois dessa

celebração.

3 – Fundo Patrimonial constituído antes do registo não pode ser onerado com as

obrigações emergentes dos negócios realizados em nome da sociedade, só assim

se garantirá que a sociedade nasça (no registo) com um património correspondente

ao capital nominal; o património não deve poder ser diminuído antes do registo,

deve ser preservado de modo a ter naquele momento valor idêntico ao do capital

social.

Argumentação: O valor nominal das participações sociais não pode exceder o

valor das entradas correspondentes (art.25/1).

(art.26, 202/2/3, 277/2/3/4) (art.71/1/2)

O cumprimento deve ser controlado pelo conservador do registo

comercial (e pelo notário quando o acto constituinte haja sido celebrado com

escritura pública).

O controlo não se estende às posteriores variações do património social (em

confronto com o capital nominal). Se uma sociedade intervém no mercado antes do

registo (no exercício de uma faculdade que a lei lhe concede) e se responsabiliza

por essa intervenção, pode à data do registo o património social valer tanto, mais

ou menos que o capital. Não põe em causa as regras da efectiva formação do

capital, nem compete ao conservador verificar se na data do registo o património

vale menos que o capital. Sabem os 3º que a actividade social anterior ao registo

pode ocasionar diminuições ou acréscimos patrimoniais e sabem que outras regras

tuteladoras dos seus interesses já nessa fase vigoram (ex. as regras sobre a

conservação do capital (art.31ss e sobre a responsabilidade civil dos

administradores art.71ss). O nosso direito não consagra a proibição de pré-

endividamento ou oneração do património social.

40

Page 41: Direito Comercial II

4 – Art.19CSC – a sociedade assume com o registo diversos direitos e obrigações e

que pode assumir outros posteriormente ao registo

- “assunção” – sociedade não era antes do registo sujeito de tais

obrigações (art.595CC) por elas não podendo responder.

Argumentação: A “assunção do art.19 não significa aí transmissão de direitos e

obrigações para a sociedade.

Os direitos e as obrigações assumidos com ou depois do registo

continuam e consolidam-se na sociedade, é em regra a única responsável pelas

obrigações contraídas antes do registo.

Há identidade da sociedade antes e depois do registo.

Quanto à Responsabilidade das sociedades pelos negócios de que cuidamos.

5 – Seria contraditório poderem as sociedades ter lucros próprios (art.40/1 in fine e

37/1) sem se responsabilizarem pelos custos ou passivo que é preciso tomar em

conta para se avaliar da consecução e montante dos lucros.

6 – A responsabilidade dos sócios (art.40/1) – “até às importâncias das entradas

a que se obrigam” significa responsabilidade do património social. Se for exigido

pelos credores, os sócios que ainda não realizaram (parcial ou totalmente) as suas

entradas (já exigíveis ou não) devem realizá-las, devem transferir para a sociedade

os respectivos bens – sociedade responsável com mais meios para cumprir as

obrigações.

7 – Os negócios são realizados “em nome” da sociedade.

Os terceiros participantes nesses negócios confiem ser o património social garante

dos seus créditos, nada aconselhando que se defraude essa confiança.

Dado não haver ainda registo resulta alguma insegurança no comercio jurídico (os

3º não dispõem do instrumento talhado para o acesso fácil e seguro ao

conhecimento da situação patrimonial e pessoal da sociedade) impõe a lei a

responsabilidade de sócios e/ou de quem actua em nome da sociedade

(responsabilização de quem actua em nome da sociedade e a dos sócios que

autorizam cumpre ainda a função de estimulo ou pressão para que seja promovido

o registo com a maior celeridade possível).

É uma responsabilidade que deve acrescer à responsabilidade da sociedade; a

tutela dos credores exige o reforço da responsabilidade, não a sua diminuição.

Síntese:

As sociedades respondem pelos actos em seu nome realizados no período

compreendido entre a celebração do acto constituinte e o seu registo definitivo,

mas com 2 limites:41

Page 42: Direito Comercial II

1 – as sociedades não respondem por obrigações que não podem “assumir” depois

do registo (se não podem ser responsabilizadas por certas obrigações depois do

registo. Antes dele é impossível a responsabilização pelas mesmas obrigações).

Art.19/4 - contrato social = acto constituinte.

- despesas de constituição (art.16/1/2)

- in fine (em relação às entradas em espécie pode acontecer que

alguém entre para a sociedade com um bem valendo mais que a correspondente

participação social, em que os sócios acordam na obrigação de a sociedade pagar

certa importância a quem entrou com o referido bem art.28/3d in fine. Tal

obrigação não pode ser assumida pela sociedade se não estiver mencionada no

contrato social restritamente o preceito de modo a evitar colisões com o art.29 e o

19/1).

2 – Exceptuando os casos em que haja autorização dos sócios, parte do património

social não pode ser mobilizada para pagar a credores (art.202/5b,478).

Os sócios e os que actuam em nome da sociedade, solidariamente responsáveis

(entre si) (art.38/1/2,39/1/2/3 e 40/11ªparte, respondem solidariamente também

com as respectivas sociedades?

Sim. Analogia pelo art.36/2 que remete para art.997/1/2CCivil.

Cada um daqueles sujeitos bem como a sociedade respondem pela prestação

integral e esta a todos libera (art.512/1CCivil). Esta solidariamente não funciona

plenamente, pois os referidos sócios e actuantes em nome da sociedade são

responsáveis subsidiários, podem quando demandados exigir a previa excussão do

património social.

Os sócios de acordo com o art.40/1, 2ªparte – os sócios que não agem nos negócios

(em representação da sociedade) nem os autorizam respondem solidariamente com

os que actuam em nome da sociedade e com os sócios que autorizam tal actuação?

Não. Além de a responsabilidade desses sócios ser limitada, permite aos credores

fazerem-se pagar também com bens que ainda não entraram na sociedade (ela é

credora – bens de entradas ainda não realizadas) ou que dela saíram (lucros e

reservas). É próxima da sub-rogação dos credores à sociedade (art.30/1).

Art.40/1, 2ª parte não preveja a solidariedade.

3 - Registo do contrato de sociedade

Os actos constituintes das sociedades comerciais e civis de tipo comercial devem

ser inscritos no registo comercial (art.18/5CSC e art.3/1a) CRComercial). (art.120,

270G, 488/2CSC e o art.3/1r CRComercial)

Legitimidade para pedir o registo:42

Page 43: Direito Comercial II

Os membros do órgão de administração e representação da sociedade e todas as

demais pessoas que nisso tenham interesse (sócios) (art.29/1 CRComercial)

directamente ou por representante (art.30).

Prazo: 2 meses, a contar da data do título de constituição da sociedade (art.15/2).

Os actos de registo podem ser efectuados em qualquer conservatória de registo

comercial independentemente da localização geográfica.

O pedido do registo (por via electrónica art.45/1CRComercial) deve ser

acompanhado pelo documento que legalmente comprove a constituição da

sociedade (escrito com assinaturas reconhecidas ou documentos de forma mais

solene) art.32CRComercial e deve o certificado de admissibilidade da firma ser

verificado (art.56/1b,51/1, 55/1b/2).

Nos casos de sociedades cuja constituição dependa de autorização administrativa

(ex. instituições de credito e sociedades financeiras art.16ss RGIC e175ss) é preciso

apresentar o documento comprovativo da autorização salvo se o acto constituinte

for titulado por escritura pública que o mencione (art.35/1 CRComercial).

Art.47. (O registo do acto da constituição de sociedade é efectuado por transcrição

não por depósito art.53ACRComercial).

O registo só deve ser recusado “quando for manifesta a nulidade do facto”

(art.48/1d).

Não havendo motivo legal de recusa do registo (art.48) deve o mesmo ser

efectuado no prazo de 10 dias ou se o apresentante requerer urgência no prazo de

1 dia útil.

O registo do acto constituinte da sociedade é obrigatório (art.15/1), o

incumprimento sujeita as sociedades à aplicação de coimas (art.17).

Efeitos do Registo- As Sociedades adquirem Personalidade Jurídica com o

registo definitivo do acto constituinte (contrato ou negocio jurídico unilateral

constituinte de sociedade unipessoal art.5 CSC (art.270G e 488/2) (art.5 ressalva o

disposto quanto à constituição de sociedade por fusão, cisão ou transformação de

outras. As sociedades resultantes de fusão ou cisão adquirem personalidade jurídica

com o registo, art.112 e 120, o mesmo acontece em relação às sociedades

resultantes de transformação extintiva e de transformação de sociedades civis

simples).

(Discute-se se o registo do contrato de sociedade é constitutivo ou declarativo. O

art.13º/1 CRCom., estabelece que os factos sujeitos a registo, ainda que não

registados, podem ser invocados entre as próprias partes ou seus herdeiros. De um

modo geral, o registo comercial tem tão-só efeitos declarativos, sendo por isso 43

Page 44: Direito Comercial II

condição de oponibilidade a terceiros, o que implica que o facto sujeito a registo e

não registado seja plenamente eficaz entre as partes. Ao contrário, o registo

definitivo do contrato de sociedade tem efeitos constitutivos da personalidade

jurídica da sociedade pois na sua falta, nem entre as partes podem ser invocados os

efeitos que são inerentes àquela).

Registo constitutivo – a sociedade só com o registo adquire personalidade

jurídica não podendo esta ser invocada tanto nas relações sociais internas como

nas externas antes de efectuado o registo definitivo do acto constituinte – eficácia

constitutiva do registo não pretendemos significar sem ele não produz o acto

constituinte quaisquer efeitos (a sociedade existe antes do registo e que lhe são

aplicáveis varias disposições legais de natureza societária).

- “Assunção” ipso jure pela sociedade de direitos e obrigações decorrentes de

actos em nome dela realizados antes do registo e na possibilidade de assunção por

ela de outros direitos e obrigações decorrentes de negócios jurídicos igualmente em

nome dela antes do registo.

A sociedade de acordo com o art.19/1CSC “assume de pleno direito”:

a) – (…) respeitantes a vantagens especiais concedidas a sócios em conexão com a

constituição da sociedade mencionadas no acto constituinte e respeitantes a

despesas de constituição referidas no art.16/1 (excepto os emolumentos e as taxas

de serviços oficiais e os honorários de profissionais em regime de actividade liberal

têm igualmente de estar inscritas no acto constituinte para que a assunção de

pleno direito se dê).

b) (…) entrada dos sócios (…) da sociedade em execução de cláusula do acto

constituinte.

c) (…) antes da celebração do acto constituinte.

Os direitos e obrigações decorrentes de actos realizados em nome da sociedade

antes do registo não previsto no art.19/1 não são por ela assumidos

automaticamente. Mas pelo nº2 pode ela assumi-los “mediante decisão da

administração, que deve ser comunicada à contraparte nos 90 dias posteriores ao

registo” (as obrigações do art.19/4 não são nem podem ser assumidas pela

sociedade).

Não podem participar na tomada de decisão de assunção os membros do órgão

plural de administração que tenham intervindo nos negócios jurídicos em causa,

existir conflito de interesses entre eles e a sociedade, aplicar-se-á directamente ou

analogicamente o art.410/6.

44

Page 45: Direito Comercial II

A assunção pela sociedade dos actos realizados antes do registo (assunção

automática ou por decisão da administração) “retrotrai os seus efeitos à data da

respectiva celebração e libera as pessoas do art.40 da responsabilidade aí prevista

a não ser que por lei estas continuem responsáveis (art.19/3) (art.40 deve ser

interpretado extensivamente para abranger os casos raros em que de acordo com o

art38/2 e 39/3 gerentes não sócios sejam responsáveis). Se algum dos sujeitos

liberados desta responsabilidade tiver cumprido alguma obrigação social contraída

antes do registo terá o direito de exigir da sociedade o equivalente daquilo que

prestou.

Art.19/3 in fine (“a não ser que por lei estas continuem responsáveis”):

1 – Alguns autores defendem a ideia que podemos designar “responsabilidade pela

diferença” (na esteira da doutrina alemã).

Por força da assunção dos negócios pela sociedade, o património social for no

momento do registo inferior ao capital social os sujeitos do art.40 continuarão

responsáveis na medida da diferença entre o valor do património social líquido e o

valor do capital social (garantindo assim a integridade do capital no momento da

aquisição da personalidade jurídica).

Nogueira Serens não aceita a ideia de que o art.19º diferenciaria negócios

necessários/negócios não necessários, não abraça a tese da responsabilidade pela

diferença com inteira convicção.

2 – Coutinho Abreu:

Não concorda.

Cabe ao conservador do registo comercial o controlo relativo às entradas e à

cobertura do capital social pelo património inicial não lhe cabendo controlar

posteriores variações do património social.

A sociedade pode actuar antes do registo, ficando sujeita ao risco de perder mas

também de lucrar e os 3º sabem ou devem saber disso.

O CSC sobre conservação do capital, responsabilidade civil dos membros do órgão

de administração, aplica-se também antes do registo.

Art.19/3 in fine – respeitando a sujeitos ligados a sociedades por quotas, anónimas

e em comandita por acções art40, ela é aplicável a sócios de sociedades por quotas

que nos termos estatutários permitidos por “lei” art.198, respondam directamente

para com os credores sociais.

- a sócios comanditados das sociedades em comandita por

acções (por lei art 465/1) eles respondem subsidiariamente em relação às

sociedades e solidariamente entre si.45

Page 46: Direito Comercial II

- a sócios-sociedade totalmente dominantes ou directoras

art.488-491,493ss e 501)

- Invalidades relativas ao acto constituinte.

4 - Publicação do contrato de sociedade

Art.73ss CRComercial – facilitando o acesso dos interessados (3º que queiram com

elas estabelecer relações jurídicas) ao conhecimento do que se contém em tais

actos (art. 166CSC, art.70/1A CRComercial que os mesmos quando estejam em

causa sociedades por quotas, anónimas ou em comandita por acções, sejam

publicados).

Publicações Obrigatórias

Art.70º/1 al. a) CRCom. – é obrigatória a publicação dos actos previstos no art.3º,

quando respeitem a sociedades por quotas, anónimas ou em comandita por acções,

desde que sujeitas a registo obrigatório. Sabendo que a constituição de sociedade

está sujeita a registo obrigatório (art.3º al. a) e art.15º/1 CRCom.) concluímos que o

contrato de sociedade por quotas, anónima e em comandita por acções está sujeito

a publicação obrigatória. A obrigatoriedade de publicação não abrange os contratos

de sociedade em nome colectivo e em comandita simples, art.70º/1 al. a) CRCom.

As publicações obrigatórias devem ser feitas em sítio na Internet de acesso público,

regulado por portaria do Ministério da Justiça (art.167º/1 CSC e 70º/2 CRCom).

Deixa de haver publicações em jornal da localidade da sede social ou de região

autónoma.

A publicação obrigatória do acto constituinte é condição de eficácia ou

oponibilidade a 3º (art.168/2CSC).

Ex1: No estatuto (registado mas não publicitado) de uma sociedade por quotas se

estabelece que falecendo um sócio a respectiva quota não se transmitira aos

sucessores (art.225/1CSC). Faleceu 1 sócio que deixou em testamento a sua quota

na sociedade a uma amiga. Pretende a sociedade amortizar a quota sem ou contra

a vontade da legatária (art.225/2). Dada a não publicação do estatuto não poderá a

sociedade fazer valer contra a legatária (3º) a referida cláusula e proceder à

amortização da quota salvo provando que ela conhecia o acto constituinte já

registado.

Ex2: A mesma sociedade por quotas realiza alguns negócios no período

compreendido entre o registo definitivo do contrato social e a publicação do mesmo

(ou 16 dias após a publicação art.168/3). Os sujeitos (credores e do art.40)

respondem por negócios sociais realizados antes do registo aplicando-se depois

46

Page 47: Direito Comercial II

disso as regras do art.40/1, 19/1/2/3 ( e a inoponibilidade do art.168/2 valer para a

sociedade, e não para os sócios e administradores).

Oficiosidade da publicação

A promoção da publicação cabe à conservatória do registo comercial e não aos

interessados, art.71º CRCom.

Aproveitando as funcionalidades proporcionadas pelas novas tecnologias, a

publicação efectua-se com base nos dados transmitidos por via electrónica entre a

conservatória e a DG dos Registos e Notariado, 71º/3 CRCom. Da publicação do

contrato devem constar as menções obrigatórias do registo, com a menção especial

do depósito do texto do contrato, art.72º/ 1 e 2.

Consequências da falta de publicação

Embora não seja da competência da sociedade comercial promover a publicidade

do contrato de sociedade, é certo que a falta daquela determina a inoponibilidade

deste perante terceiros, art.168º/2. Realizada a publicação do contrato, a sociedade

não pode opor a terceiros os actos praticados antes de terem decorrido 16 dias

sobre a publicação, se os terceiros provam ter estados, durante esse período,

impossibilitados de tomar conhecimento da publicação, 168º/3.

Os centros de Formalidades das Empresas

Os interessados em constituir sociedade comercial estão obrigados a cumprir várias

exigências burocráticas. Há alguns anos criticou-se o peso das formalidades, a

desarticulação dos diversos serviços e a morosidade de algumas conservatórias do

registo comercial. A fim de resolver estes problemas foram criados os Centros de

Formalidades de Empresas. Por força do art.3º do DL 78-A/98, de 31 de Março, cada

centro tem junto de si:

a) Uma delegação do Registo Nacional de Pessoas Colectivas;

b) Um cartório notarial;

c) Uma extensão da DG dos Impostos;

d) Um gabinete de Apoio ao Registo Comercial;

e) Uma extensão do Centro Regional de Segurança Social.

Contudo não se encontram eliminados os inconvenientes atrás referidos.

Regimes especiais de constituição de sociedades por quotas

Regime especial de constituição imediata de sociedades por quotas e

anónimas – “empresa na hora”

DL 111/2005, de 8 de Julho criou o regime da “empresa na hora”. Trata-se de um

regime especial de constituição imediata de sociedades comerciais e civis sob a 47

Page 48: Direito Comercial II

forma comercial do tipo por quotas e anónima com ou sem a simultânea aquisição

de marca registada. Excluídas deste processo estão as sociedades em nome

colectivo, em comandita (simples e por acções), sociedades anónimas europeias,

como também sociedades:

a) Cuja constituição esteja dependente de autorização especial;

b) Em cujo processo de constituição sejam convencionadas entradas em

espécie.

A celeridade deste processo manifesta-se no art.5º que impõe que os serviços

devem iniciar e concluir a tramitação do procedimento no mesmo dia, em

atendimento presencial único. Existe uma certa normalização no que toca ao

conteúdo do acto constitutivo e a composição da firma.

O art.3º fixa os pressupostos de aplicação deste regime:

a) Que os sócios optem por pacto ou acto constitutivo de modelo provado pelo

Director Geral dos registos e do Notariado, art.3º

b) Que os sócios optem por constituir a firma da sociedade com o recurso a uma

expressão de fantasia que foi criada e reservada a favor do Estado ou que seja

apresentado o certificado de admissibilidade da firma emitido pelo Registo Nacional

de Pessoas Colectivas;

O processo de constituição imediata é da competência da conservatória do registo

comercial, independentemente da localização da sede da sociedade a constituir,

art.4º/1. O procedimento pode também ser promovido no posto de atendimento do

registo comercial a funcionar junto dos Centros de Formalidades de Empresa,

art.4º/2.

O processo inicia-se com o pedido formulado pelo interessado junto do serviço

competente, manifestando a sua opção pela firma e pelo modelo de acto

constitutivo, 6º/1. Os interessados devem apresentar, no momento do inicio do

procedimento, documentos comprovativos da sua identidade, capacidade e poderes

de representação para o acto, art.6º/2 e 7º/1. Os interessados deverão apresentar o

documento comprovativo do depósito das entradas ou declarar sob a sua

responsabilidade que o depósito das entradas em dinheiro é realizado no prazo de 5

dias úteis. Podem os interessados, com a formulação do pedido, proceder à entrega

imediata da declaração de início de actividade para efeitos fiscais, 7º/3.

Efectuada a verificação da identidade, da capacidade, dos poderes de

representação dos interessados para o acto, bem como da regularidade dos

documentos apresentados, o serviço competente realiza, os actos previstos no

art.8º/1. São eles:48

Page 49: Direito Comercial II

a) A cobrança dos encargos devidos;

b) A afectação, por via informática e a favor da sociedade a constituir, da firma

escolhida ou da firma e da marca escolhidas e do número de identificação de

PC que está associado à firma, nos casos previstos na 1ª parte da al. a) do

art.3º;

c) O preenchimento do pacto ou acto constitutivo, por documento particular, de

acordo com o modelo escolhido pelos interessados;

d) O reconhecimento presencial das assinaturas dos intervenientes;

e) A anotação da apresentação do pedido verbal de registo diário;

f) O registo do contrato de sociedade;

g) Se houvesse opção por expressão de fantasia criada e reservada a favor do

Estado, será feita inscrição no ficheiro central de pessoa colectivas e

codificação da actividade económica, se foi feita apresentação de certificado

de admissibilidade da firma, será feita a comunicação do registo para efeitos

da inscrição no RNPC e codificação;

h) A emissão e entrega do cartão de identificação de pessoa colectiva e

comunicação aos interessados do número de identificação da sociedade na

segurança social; se foi apresentada declaração de início de actividade para

efeitos fiscais, será esta completada com a firma, NIPC e CAE.

Concluído o procedimento, o serviço competente entrega aos representantes da

sociedade uma certidão do pacto ou acto constitutivo e do registo deste e o recibo

comprovativo do pagamento dos encargos, 12º. A publicação legal obrigatória é

realizada em www.mj.gov.pt/publicacoes, conforme resulta da portaria 590-A//2005,

de 14 de Julho.

Este regime não é isento de dúvidas e problemas. Porém, constitui uma iniciativa

louvável que satisfaz as necessidades de determinados projectos empresariais.

Regime especial de constituição on-line de sociedades

O DL 125/2006, de 29 de Junho, criou o regime especial de constituição on-line de

sociedades por quotas e anónimas, através de sítio na internet, regulado por

portaria do Ministro da Justiça. Este procedimento é da competência do RNPC,

independentemente da localização da sede da sociedade a constituir, 3º/1 DL.

O procedimento não é aplicável quando sejam convencionadas entradas em

espécie cuja transmissão para a sociedade exija forma mais solene do que a forma

escrita e a sociedades anónimas europeias, art.2º DL. Parece que o procedimento é

aplicável a sociedades cujo capital seja realizado com entradas em espécie e a

sociedades cuja constituição esteja dependente de autorização administrativa.49

Page 50: Direito Comercial II

Este regime pode ser usado por qualquer interessado, advogados, solicitadores e

notários, art. 4º, 7º e 9º. Os interessados que quiserem directamente constituir a

sociedade on-line devem munir-se de certificado digital qualificado que permitirá a

autenticação electrónica. Já a autenticação electrónica de notários, advogados e

solicitadores faz-se mediante certificado digital que comprove a qualidade

profissional do utilizador.

O procedimento inicia-se com a formulação do pedido on-line, praticando os

seguintes actos:

a) A opção por firma constituída por expressão de fantasia previamente criada e

reservada a favor do Estado ou pela verificação da admissibilidade e obtenção da

firma;

b) Podem os interessados optar por indicar a firma constante de certificado de

admissibilidade da firma emitido pelo RNPC, previamente obtido;

c) A opção por pacto ou acto constitutivo de modelo aprovado pelo DG dos Registos

e Notariado ou por envio do pacto ou do acto constitutivo por eles elaborado;

d) O preenchimento electrónico dos elementos necessários à apresentação de

declaração de inicio de actividade para efeitos fiscais;

e) Caso não tenha sido efectuado, a declaração dos sócios, sob sua

responsabilidade, que o depósito das entradas em dinheiro é realizado no prazo de

cinco dias úteis a contar da disponibilização da prova gratuita do registo da

constituição da sociedade;

f) O pagamento dos encargos que se mostrem devidos.

São também enviados através do sitio www.empresaonline.pt os documentos

comprovativos da capacidade dos interessados e dos seus poderes de

representação para o acto, o relatório do revisor oficial de contas, art.28º CSC e as

autorizações especiais que sejam necessárias para a constituição da sociedade,

art.6º/4. Uma vez iniciado o pedido deve ser submetido pelos interessados no prazo

máximo de 24horas.

Os interessados podem recorrer aos serviços de advogados, solicitadores e notários

para que estes constituam on-line sociedades por quotas e anónimas.

Validamente submetido o pedido de constituição de sociedade on-line, o RNPC

aprecia o pedido e procede às diligencias subsequentes de se destacam:

a) O registo do pacto ou acto constitutivo da sociedade;

b) A inscrição no ficheiro central de pessoas colectivas e a codificação de

actividades;

50

Page 51: Direito Comercial II

c) A emissão do cartão de identificação de pessoa colectiva e comunicação do

número de identificação da sociedade na segurança social;

d) A promoção da publicação legal;

e) A disponibilização aos serviços competentes, por meios informáticos, dos

dados necessários para o controlo das obrigações tributárias à administração

tributária, dos dados necessários para efeitos de comunicação do início de

actividade da sociedade à Inspecção-Geral de Trabalho, bem como os dados

necessários à inscrição oficial da sociedade nos serviços de segurança social

e no cadastro comercial, 12º/2 e 3. A realização dos actos referidos é da

competência do conservador e dos oficiais de registo, 12º/7.

5 - Interpretação e Integração dos Estatutos

Os estatutos (ou actos constituintes) das sociedades, excepto os que revestem a

forma de actos legislativos ou judiciais, são negócios jurídicos unilaterais ou

contratos, expressivos de ordenação baseada na vontade dos sócios fundadores e

dos sócios participantes nas alterações estatutárias.

São negócios jurídicos de organização, relevando não apenas para os sócios iniciais

mas também futuros sócios e 3º.

Contêm varias disposições de carácter geral (aplicáveis a um nº indeterminado e

indeterminável de sujeitos) e abstracto (aplicáveis a nº indeterminado e

indeterminável de casos) – contém cláusulas de natureza “normativa”.

Atendendo aos interesses dos 3º e dos futuros sócios, têm alguns acórdãos e

autores defendendo uma interpretação (unitária) “objectiva” dos estatutos: não há

que buscar a vontade real dos sujeitos do acto constituinte, para a fixação do

sentido das cláusulas não deve atender-se a elementos estranhos ou extrínsecos ao

estatuto (ex. negociações preliminares) (natureza imperativa do

art.184CComercial).

São negócios jurídicos conformados pela autónoma vontade dos sócios, os

estatutos devem em geral ser interpretados pelo art.236-238CCivil. Há que

proceder a diferenciações impostas pela diversidade das cláusulas estatutárias

1 – Interpretação das cláusulas de organização e funcionamento social relevantes

também para futuros sócios (não participam no acto constituinte) e 3º - cláusulas

ou disposições “normativas”

ex. menções obrigatórias do estatuto e ao modo de exercício dos poderes de

representação da sociedade – os elementos interpretativos de índole subjectiva.

São pouco atendíveis as circunstâncias exteriores ao estatuto utilizáveis para

perquirir a vontade real ou o sentido “normal” das declarações dos sócios 51

Page 52: Direito Comercial II

fundadores (art.236, 238/2) (aferidas por declaratário normal conhecedor de tais

circunstâncias).

Aplicável é um método mais “objectivo”, para descobrir a vontade dos sócios tal

como se revela objectivada no acto constituinte, no texto das cláusulas estatutárias

em causa e no contexto estatutário art.238/1 e 9/2 CCivil. (art.236-238

“objectivismos”. Mas não desatendem a certa perspectiva subjectivista. Mandam

atender à vontade real dos declarantes art.236/2, 238/2. Vontade pesquisável fora

dos comportamentos declarativos propriamente dito. Compreende-se que se fale de

um método mais objectivo: não atende à vontade real não denotada nos estatutos

nem ao sentido das declarações deduzíveis de circunstancias não reflectidas

estatutariamente) (Não só às circunstancias em que o estatuto foi elaborado mas

também às condições especificas do tempo em que é aplicado).

Interpretação Objectiva das cláusulas justifica-se pelo facto de as mesmas deverem

constar de escrito e/ou do registo (forma e formalidade que visam tutelar também

interesses de 3º) (art.238/2 in fine).

2 – Interpretação das cláusulas estatutárias que regulam as relações de um ou mais

sócios entre si ou com a sociedade

ex. (em direitos especiais, participação nos lucros, liquidação da sociedade por

transmissão global do património, exoneração e exclusão de sócios, obrigações de

prestações acessórias, amortização de quotas, distribuição de lucros de exercício,

designação de gerentes) devem ser observadas as regras aplicáveis à interpretação

dos negócios jurídicos em geral (art.236-238).

Esta diferenciação vale para as sociedades de capitais e para as sociedades de

pessoas (nestas ultimas é rara a mudança de sócios e raramente haverá que fazer

apelo aos interesses dos futuros sócios, haverá a consideração das vontades,

representações e interesses dos diversos sócios.

Art.239 CCivil – as lacunas dos estatutos devem em 1ª linha ser preenchidos

através dos preceitos dispositivos do CSC (art9/3CSC). Inexistindo ou sendo eles

insuficientes recorrer-se à vontade hipotética ou conjectural dos sócios ou aos

princípios de boa fé quando estes imponham solução diversa da decorrente daquela

vontade (natural será que os ditames de boa fé prevaleçam mais vezes nestes

negócios).

6 – Acordos parassociais

Ex. contratos celebrados entre todos ou alguns sócios (ou entre sócios e 3º)

(art.17CSC devem ser admitidos como “parassociais” os acordos em que

intervenham também 3º aplicando por analogia o art.17), produtores de efeitos 52

Page 53: Direito Comercial II

atinentes à posição jurídica dos pactuantes sociais e atinentes também a outros

pactuantes (terceiros) e a vida societária mas que não vinculam a própria

sociedade.

Podem influenciar a vida societária e intervir na delimitação de direitos e

obrigações de sócios, os acordos parassociais têm algumas conexões com os

estatutos sociais. Mas são fenómenos distintos.

Quanto à forma:

O acto constituinte social está sujeito à forma especial deve ser registado e

publicado. Os acordos parassociais vale o princípio da liberdade de forma

(art.219CCivil) e não é em geral exigido qualquer registo ou publicação.

Quanto às alterações e extinção do contrato, invalidades:

Os acordos parassociais estão sujeitos em regra, à disciplina do CCivil dos

contratos. Os actos constituintes de sociedade estão sujeitos à disciplina do CSC.

Quanto à eficácia:

O estatuto social vincula a sociedade (os seus órgãos) e os sócios e é oponível a 3º.

Acordos parassociais produzem efeitos só entre os intervenientes, são inoponíveis à

sociedade e o seu incumprimento não se reflecte societariamente (art.17/1 in fine).

Ex. não pode ser impugnada uma deliberação social de eleição de gerentes com o

fundamento de um dos sócios não ter votado nas pessoas em que nos termos do

acordo parassocial se obrigara a votar.

Ex. não pode a sociedade deixar de reconhecer como sócio o comprador de acções

apenas de o vendedor ter violado o dever parassocial de não vender nesse período.

(as sanções para incumprimento dos acordos parassociais são a obrigação de

indemnizar, o montante é frequentemente fixado em cláusula penal

Art.17 – estabeleceu expressamente os acordos parassociais, mas estabeleceu

alguns limites:

São de considerar nulos os acordos parassociais que violem ou defraudem a lei

(art.22º/3 – violem a proibição do pacto leonino e 251, 384/6, 17/1,) e o art.259 e

art.17/2.

Art.17/3 prevê 3 hipóteses:

1 – (…) um sócio ou mais. As instruções “da sociedade” podem ser dadas por ela

através do órgão de representação, de mandatário ou procurador (art.252/6 e

391/7).

Os “órgãos” sociais indicados no acordo para darem instruções poderão ser o órgão

de administração e representação ou os de fiscalização. Sendo indicado o 1º ou ele

aparece propriamente como órgão, logo como “representante” da sociedade 53

Page 54: Direito Comercial II

reconduzindo-se o caso à hipótese das instruções “da sociedade” ou aparece sem

essa veste concretizando-se a hipótese das instruções “de um dos órgãos”.

Sendo indicado algum órgão de fiscalização (conselho fiscal ou fiscal único,

conselho geral e de supervisão, revisor oficial de contas), as instruções não serão

da sociedade (que não pode para o efeito ser por ele representada) mas sim dos

membros do órgão designado.

A competência entre os vários órgãos sociais, não sendo licito que o órgão

deliberativo interno seja comandado por outros. (mal se justifica o “sempre” do

art.17/3a. Interpretar teleologicamente o preceito e a alínea b de modo a sujeitar à

nulidade os acordos de voto dirigidos a concretas situações. Ex. não será nulo o

acordo obrigando alguns sócios a votar o relatório de gestão e contas do corrente

exercício seguindo as instruções do conselho de administração da sociedade?)

b) (…) Órgãos sociais

c) (…) de o exercer (não participando na votação ou abstendo-se em sentido

próprio) (…) vantagens especiais (vantagens, patrimoniais ou não, que caibam

apenas aos sócios que se obrigaram a votar em determinado sentido ou a não votar

e que estão em imediata ou mediata relação causal com tal vinculação). Proíbe-se a

“venda do voto” para satisfação de interesses extra-sociais.

IV – DA PERSONALIDADE E CAPACIDADE DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

1. Da personalidade e capacidade jurídicas das Sociedades Comerciais

Formado o substrato societário (composto pelos elementos pessoais um ou mais

sujeitos, patrimonial resultante da obrigaç(oes) de entrada e teleológico, propósito

de desenvolver determinada actividade económica para em regra atribuir ao(s)

sócio(s) os correspondentes lucro(s) e cumpridos outros requisitos (forma especial e

o registo definitivo do acto constituinte) a lei atribui personalidade jurídica às

sociedades comerciais (e civis de tipo comercial).

Art.5 – todas as sociedades comerciais e civis de tipo comercial têm personalidade

jurídica ou colectiva e todas as têm a partir do registo definitivo do acto

constituinte. (há quem considere que as sociedades comerciais têm personalidade

jurídica antes mesmo do registo) (art.112, 120. As sociedades civis de tipo

comercial resultantes da transformação de sociedades civis simples art.130/2/6,

130/3/5).

2 . Sentido e Limites da Personalidade jurídica

1 – Importância da Personalidade jurídica

54

Page 55: Direito Comercial II

Personalidade colectiva das sociedades é tradição pressupor a existência de

interesses comuns ou colectivos que são condição, se não suficiente pelo menos

necessária para a personalização.

As pessoas colectivas têm certos “atributos” ou importam determinadas

“consequências”. Enquanto unitários sujeitos de direitos e deveres elas têm nome

(firma ou denominação), sede, autonomia patrimonial (os elementos patrimoniais

activos das pessoas colectivas respondem apenas pelas dividas delas, apenas eles

respondendo em certos casos – autonomia patrimonial imperfeita), órgãos,

capacidade de gozo e de exercício de direitos.

As sociedades-pessoas são titulares dos patrimónios sociais e não os sócios. Estes

são titulares de “participações sociais” ligadas a “entradas” em sociedade que se

resolvem em transmissões e aquisições.

1 – A existência de interesses comuns ou colectivos além de não ser condição

suficiente da pessoa colectiva (interesses comuns são prosseguíveis por entidades

colectivas não pessoas) não é condição necessária para a personalização:

as sociedades unipessoais (por quotas ou anónimas) são em regra pessoas

colectivas ou jurídicas que visam prover a interesses individuais, privativos dos

sócios únicos (pessoas humanas) maxime interesses relativos à limitação de

responsabilidade.

2 – Os atributos e consequências sejam característicos das pessoas colectivas

nenhum deles é exclusivo delas.

Entes não personalizados ex. as sociedades comerciais antes do registo definitivo

os têm ou podem ter.

- Têm firma (art.13/2, 18/1CComercial. Art.9/1c CSC),

- têm sede (art.9/1eCSC, art.2/1b/2 CIRE),

- têm autonomia patrimonial mesmo que imperfeita (art.36/2CSC remete para

art.997, 999, 1000 CCivil),

- têm órgãos (o art.36/2 CSC remete para art.985 CCivil. Art.37/1, 38-40 CSC)

- capacidade de gozo e de exercícios de direitos (capacidade para adquirir direitos e

assumir obrigações reconhecida em termos gerais (art.36/2, 38-40, 174/1e CSC) e

em termos específicos (art.5/1, 6d, 9, 22CPC).

A Sociedade antes do registo é já titular do respectivo património social (constituído

pelas entradas dos sócios e pelos direitos e obrigações resultantes da actividade

social) mais do que (co) titularidade em “comunhão” ou “mão comum” dos sócios

teremos uma nova unidade subjectiva.

55

Page 56: Direito Comercial II

É pouco nítida a fronteira que separa as pessoas colectivas de certas não pessoas

colectivas.

Algumas das necessidades que com aquelas se pretende satisfazer podem com

estas ser também satisfeitas. Subjectividade jurídica de grupos sociais e de outros

entes organizados mas desprovidos de personalidade colectiva.

Deve negar-se que os sujeitos de direitos e deveres ou de relações jurídicas têm de

ser pessoas, há que negar a identidade sujeitos de direitos-pessoas (singulares ou

colectivas).

Síntese: a Personalidade colectiva enquanto conceito expressivo de autónoma

subjectividade não deve ser absolutizada.

A Personalidade serve para consolidar ou tornar mais perfeita a subjectividade das

entidades colectivas com relevo para o domínio da autonomia patrimonial das

sociedades comerciais.

A autonomia patrimonial perfeita das sociedades por quotas e anónimas (a

“responsabilidade limitada” dos respectivos sócios) só se afirma depois da

aquisição da personalidade.

A fraca função normativa do conceito da pessoa colectiva: a disciplina societária

aplicável na fase pós-aquisição da personalidade é fundamentalmente determinada

pela lei, não essencialmente deduzível daquele conceito.

O conceito da pessoa colectiva desempenha função ideológica. Não é o

reconhecimento legislativo da sociedade anónima como pessoa jurídica o

fundamento da limitação da responsabilidade dos sócios. A personalidade é “só

uma justificação teórica e uma justificação dada à posteriori”. A responsabilidade

limitada pode passar a ver-se não como “privilégio”, não como “excepção ao

princípio geral da ilimitada responsabilidade patrimonial do devedor. Transforma-se

em aplicação do princípio geral: numa sociedade por acções, o sócio não responde

pelas obrigações sociais com o próprio património pela “natural” razão de que se

trata de obrigações de outrem ou seja, pela mesma natural razão pela qual o

senhor A não responde pelas obrigações do senhor B.

Significado da atribuição de personalidade jurídica às sociedades

comerciais

As sociedades como autónomo centro de imputação de efeitos jurídicos ou

autónomo sujeito de direitos e obrigações

As sociedades são titulares de direitos e obrigações, não são direitos e obrigações

dos sócios. Os sócios não têm nem direitos sobre os bens isolados da sociedade,

nem sobre o património da sociedade no seu todo.56

Page 57: Direito Comercial II

Titular do património social é a sociedade, não os sócios

Se as sociedades comerciais têm personalidade jurídica, são também elas as

titulares do património social. Aquilo que integra esse património pertence à

sociedade e não aos sócios. Esse património é formado por bem que respondem

pelas dívidas da sociedade, 601ºCC. Os sócios apenas têm direitos perante a

sociedade e não sobre os bens que integram o património social.

Os direitos têm a sua participação social, que não se traduz num direito sobre

aquilo que constitui o património da sociedade. A participação social pode ser

entendida como o conjunto unitário de direitos e de obrigações actuais e potenciais

do sócio. Os direitos do sócio são o de quinhoar nos lucros, de participar nas

deliberações dos sócios, de obter informações sobre a vida da sociedade, de ser

designado para os órgãos sociais de administração e fiscalização, 21º CSC.

Destacamos a obrigação de entrar para a sociedade com bens susceptíveis de

penhora ou, se permitido, com indústria, art.20º al. a).

A atribuição de personalidade jurídica às sociedades comerciais torna necessário

que se reconheça o carácter autónomo do respectivo património. O património

social constitui um património autónomo não se pretende afirmar que o referido

património não é da sociedade, antes pelo contrário.

Não é necessário que essa autonomia patrimonial seja perfeita. A ideia de

personalidade jurídica não exige a forma perfeita de autonomia patrimonial. É o que

o referido conceito pressupõe é a insensibilidade da massa dos bens separados às

dívidas contraídas por outro sujeito económico e jurídico no prosseguimento dos

seus fins pessoais.

A personalidade jurídica das sociedades comerciais já não exige que apenas o

património social responda pelas dívidas das sociedades, sendo possível que os

credores se paguem pelos bens dos sócios.

Se analisarmos o regime do CSC vemos que os credores dos sócios não se podem

fazer pagar pelos bens da sociedade. É o que se passa com as sociedades em nome

colectivo, segundo o art.183º/1 CSC.

Quanto às sociedades por quotas, o credor do sócio pode obter a penhora da quota

e a sua venda ou adjudicação, 220º/2, 228º/1 e 239º CSC, e o art.862º/6 CPC. Deve

admitir-se a possibilidade de o credor do sócio executar o direito aos lucros e à

quota de liquidação a que o sócio teria direito.

Os credores dos sócios de SA podem obter o pagamento através da venda ou

adjudicação das acções de que aquele sócio seja titular, 317º/3 al. e), 328º/5 e 478º

57

Page 58: Direito Comercial II

CSC, e 102º/2 al. b) CMV. Também parece possível aos credores executar o direito

aos lucros e à quota de liquidação do sócio.

Quanto aos direitos que os credores da sociedade têm em relação aos bens dos

sócios, temos que analisar separadamente os diversos tipos de sociedades

comerciais.

Sociedades em nome colectivo – art.175º/1 CSC – o sócio responde pela sua

entrada e, solidariamente com os outros sócios, pelas obrigações sociais.

Esta responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais é subsidiária em

relação à sociedade.

Sociedades por quotas – art.197º/3 CSC – só o património social responde

para com os credores pelas dívidas da sociedade, e não o património pessoal

dos sócios. Isto se não ficar estipulado no contrato de sociedade que um ou

mais sócios respondem também perante os credores sociais até determinado

montante, art.198º/1 CSC.

Sociedades anónimas – art.271 CSC – aqueles que têm a sua

responsabilidade limitada ao valor das acções que subscreveram, não

respondendo também pelas dívidas da sociedade.

Sociedades em comandita – os sócios comanditários respondem pela sua

entrada. Os sócios comanditados respondem pelas dívidas sociais nos termos

em que respondem os sócios das sociedades em nome colectivo, 465º/1 CSC.

As entradas dos sócios resolvem-se em transmissões e aquisições

As entradas dos sócios para a formação do capital social que se traduzam na

transferência da propriedade ou de outros direitos são actos de transmissão e

aquisição. Em caso de liquidação da sociedade, na partilha do activo restante

verifica-se a aquisição pelos sócios de algo que não se encontrava no seu

património. É assim porque a sociedade é um novo ente jurídico em face dos sócios.

O direito dos sócios na sociedade, ou a participação social, é bem móvel –

mesmo que o património social integre imóveis ou móveis

Os sócios da sociedade comercial não têm um direito sobre os bens da sociedade. O

direito dos sócios na sociedade, a sua participação social, é um bem móvel, ainda

que o património social integre bens imóveis ou sobretudo bens móveis, 205º CC.

A transmissão, mesmo que total e realizada uno actu, das participações

sociais não equivale nunca ao trespasse do estabelecimento social?

As participações sociais, enquanto conjunto unitário dos direitos e obrigações

actuais e potenciais do sócio, podem ser transmitidas negocialmente. Essa

transmissão não equivale à transmissão da empresa social mas não deixa de ser 58

Page 59: Direito Comercial II

necessário verificar se a primeira pode ou não ter o tratamento que deveria ser

dado à segunda.

Ferrer Correia considerou que tinha sentido a aplicabilidade das disposições legas

concernentes aos pressupostos e efeitos do trespasse no caso da cessão a uma só

pessoa da totalidade das acções ou das quotas se ao comprador não interessasse

propriamente a persistência da sociedade de que adquiria as quotas, mas sim e

apenas a aquisição do negócio em si, para sozinho o gerir e explorar como seu

único senhor. Mais recentemente considerou que a compra da totalidade ou da

maioria das participações numa sociedade exploradora de um estabelecimento

pode equivaler à aquisição do próprio estabelecimento.

O problema também foi analisado por Orlando Carvalho, defendendo que se deve

ter em conta que a cessão de participações sociais pode ter sido o caminho para a

transmissão do estabelecimento.

Entendemos, com Coutinho de Abreu, que no que diz respeito à C/V de todas ou da

maioria das participações sociais numa sociedade em que a empresa social se

encontra onerada ou defeituosa, o comprador deve poder invocar os direitos

previstos nos arts.905º e ss. CC e 913º e ss. CC. Através da C/V de todas ou da

maioria das participações numa sociedade, do ponto de vista subjectivo e/ou

objectivo, uma das partes cede e a outra adquire o controlo societário e o poder de

determinar a gestão da empresa social. O comprador das quotas consegue uma

posição equiparável à de um empresário singular. Há uma transmissão indirecta da

empresa, podendo mesmo falar-se na transferência de prioridade indirecta ou

mediata sobre o estabelecimento.

Quanto à equiparação da venda da totalidade ou da maioria das participações

sociais à venda da empresa, para se afirmar a obrigação implícita de não

concorrência, também se deve entender que a venda opera uma transmissão

indirecta da empresa, é instrumento de uma transferência substancial do

estabelecimento. Se o vendedor das partes sociais, dada a posição de controlo que

tinha na sociedade, for capaz de exercer uma concorrência particularmente

qualificada ou diferencial, fica obrigado a não concorrer.

A equiparação ainda se justifica no reconhecimento de um direito de preferência do

senhorio do prédio, arrendado onde se encontra instalado o estabelecimento

comercial que foi vestido ou que foi objecto de dação em cumprimento. Assim o

senhorio também tem esse direito quando se realiza a alienação de todas as quotas

sociais e o património empresarial coincide com o património social.

2 - Desconsideração da personalidade jurídica59

Page 60: Direito Comercial II

As sociedades-pessoas são autónomos sujeitos de direitos, estão “separadas” dos

seus membros (sócios) outros autónomos sujeitos de direitos.

A sociedade não vive por si e para si, antes existe por e para o(s) sócio(s) destes é

ela instrumento (estreita ligação entre uma e outros).

O património da sociedade não está ao serviço de interesses da pessoa jurídica “em

si” mas dos sócios. É esta substancialista consideração da personalidade colectiva

que abre vias para a “desconsideração da mesma num ou noutro caso. O substrato

pessoal e/ou patrimonial da sociedade que induz a “levantar o véu” da

personalidade a derrogar o “principio da separação”.

A derrogação ou não observância da autonomia jurídico subjectiva e /ou patrimonial

das sociedades em face dos respectivos sócios. A desconsideração legitimar-se-á

através do recurso a operadores jurídicos como a interpretação teleológica de

disposições legais e negociais e o abuso de direito apoiados por uma concepção

substancialista da personalidade colectiva (não absolutizadora do “principio da

separação”) (existem normas legais que acolhem soluções desconsiderantes art.84,

180/4, 254/3, 477CSC).

2 Grupos de casos reveladores de problemas de desconsideração resolúveis de

acordo com as perspectivas ou metodologias oferecidas:

I – Casos de Imputação

(hipóteses em que determinados conhecimentos, qualidades ou comportamentos

de sócios são referidos ou imputados à sociedade e vice versa).

Ex1 – Uma pessoa que pelo trespasse fica obrigada a não concorrer durante certo

tempo com o trespassário viola tal obrigação quando constitui uma sociedade

unipessoal com objecto idêntico ou similar ao do estabelecimento alienado ou

quando entra em sociedade concorrente do trespassário nela passando a exercer

funções de administração ou ficando a deter posição maioritária.

Ex2 – a venda das participações sociais feita por um sócio ou grupo de sócios a

uma ou mais sujeitos coligados não se identifica com a venda da empresa social.

Todavia para certos efeitos aquela venda é equiparável a esta devendo-se aplicar o

regime da venda das empresas em sentido objectivo à venda da totalidade ou da

maioria das participações sociais (ex. venda de bens onerados e de coisas

defeituosas art.905ss e 913ssCCivil) e para efeitos de aplicação do regime de

obrigação implícita de não concorrência. É dogmaticamente enquadrável na figura

da desconsideração da personalidade colectiva, a interpretação teleológica do

contrato de compra e venda de participações sociais apoiada por um entendimento 60

Page 61: Direito Comercial II

substancialista da personalidade jurídica, permite atribuir ao sócio(s) vendedores a

venda de um bem (a empresa social) que somente à sociedade competiria efectuar.

Ex.3 – Art. 877CCivil proíbe sob pena de nulidade a venda a filhos ou netos sem o

consentimento dos outros filhos ou netos.

É anulável a venda de um estabelecimento feita pelos pais a uma sociedade

constituída por um ou mais filhos sem que os restantes filhos consintam nessa

venda.

(os tribunais portugueses pouco têm aplicado a desconsideração da personalidade

colectiva. Art.877 CCivil a uma venda feita por marido e mulher a uma sociedade de

que eles e alguns filhos eram sócios não se referiram à desconsideração. No

entanto outros acórdãos têm levantado a questão).

Ex4 – A nulidade ou anulação de certos negócios jurídicos são inoponiveis a 3º de

boa fé (art.291CCivil). as excepções extra-cartulares são inoponiveis aos portadores

mediatos e de boa fé das letras de câmbio (art.17LULL). Dada a intima ligação entre

sociedade e sócio único não pode este quando adquira daquela invocar

legitimamente as referidas inoponibilidades com base na boa fé.

Ex5 – Certas situações de conflito de interesses estão os sócios impedidos de

exercer o direito de voto (art251, 384/6).

Sendo determinado sujeito e a sociedade que ele domina sócio(s) de outra

sociedade, o impedimento de voto que recaia sobre o 1º estende-se ao 2º e vice-

versa.

II – Casos de Responsabilidade

Hipóteses em que a regra da responsabilidade limitada que beneficia certos sócios

(da sociedades por quotas e anónimas) é quebrada.

Ex1 – Mistura de esferas de actividade e patrimoniais.

A e B casados são os únicos sócios e gerentes da sociedade por quotas C.

Os sócios actuam como se o património social fosse património comum do casal,

não respeitam as regras da separação. Em caso de insolvência da sociedade não

poderão os sócios opor aos credores sociais a sua responsabilidade limitada. (para

as sociedades unipessoais art.84CSC).

A e B além de exercerem determinada actividade através da sociedade C, exercem

ainda actividade similar ou complementar através de empresa não societária D.

Ambas as actividades são exercidas no mesmo local, as linhas telefónicas são as

mesmas, os assalariados são na maioria os mesmos.

61

Page 62: Direito Comercial II

Dada esta confusão ou aparência de identidade poderão também os sócios ter de

responder com o património empresarial não societário perante os credores da

sociedade.

Ex2 – Subcapitalização

Subcapitalização nominal ou formal – quando a sociedade dispõe dos meios

necessários ao exercício da sua actividade, resultando todavia tais meios não tanto

dos “capitais próprios” (fundamentalmente constituídos pelos bens

correspondentes ao capital social e às reservas) reconhecidamente insuficientes

mas sobretudo de empréstimos feitos pelos sócios. (os principais problemas

suscitados pela subcapitalização nominal são resolvidos pelo art.243ssCSC –

suprimentos).

Subcapitalização material – quando os capitais próprios são manifestamente

insuficientes para a prossecução da actividade social e essa insuficiência não é

suprida com empréstimos dos sócios. A problemática da desconsideração da

personalidade tem sido discutida apenas a propósito deste segunda espécie de

subcapitalização.

A legitimidade dos sócios actuarem através de sociedades que lhes proporcionam

um risco limitado, o benefício ou privilégio da responsabilidade limitada. A limitação

desse risco não deve ir ao ponto de a actividade social poder gerar benefícios

apenas ou sobretudo para os sócios e gerar prejuízos principalmente para os

credores sociais. A partilha dos riscos societários tem a sua medida: não podem os

sócios alijar os seus e transferi-los para 3º.

Legitimidade de os sócios responderem subsidiariamente mas ilimitadamente

perante os credores sociais em casos de manifesta ou qualificada subcapitalização

material todos os sócios quando ela seja originária ou inicial (a desproporção

anormal entre o capital social e a actividade que os sócios propõem desenvolver

através da sociedade é evidente logo que esta nasce) ou os sócios controladores da

sociedade (os sócios com poder para deliberar um aumento do capital ou a

dissolução da sociedade) nos casos de subcapitalização superveniente (ex. a

consideráveis perdas sucessivas ou à ampliação da actividade social).

Esta responsabilização dos sócios de sociedades insolventes porque

subcapitalizadas tem sido defendida em diversos países com fundamentos

diferentes:

- direito civil comum (responsabilidade civil extracontratual de sócios e/ou

administradores)

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Page 63: Direito Comercial II

- desconsideração da personalidade jurídica das sociedades (abuso da

personalidade e/ou redução teleológica das normas que consagram a não

responsabilidade dos sócios perante os credores sociais). (não deve beneficiar da

responsabilidade ilimitada dos sócios os credores que conheciam a situação de

subcapitalização e/ou assumiram voluntariamente com escopo especulativo os

riscos.)

Ex.3 – Domínio qualificado de uma sociedade sobre outra(s).

A sociedade anónima A tem uma quota na sociedade por quotas B correspondente

a 70% do capital desta. Estas duas sociedades estão “em relação de domínio”

(art.486CSC). a nossa lei não estabeleceu uma disciplina típica de “direito dos

grupos” para as sociedades em relação de domínio, não estabeleceu a

responsabilidade da sociedade dominante para com os credores da sociedade

dominada (art.501).

A sociedade A intervém continuamente na administração da sociedade B,

determinando um constante subordinação dos interesses desta aos seus próprios

interesses com desequilíbrios financeiros da sociedade B. Estamos perante relação

de domínio “qualificado”. A tutela dos legítimos interesses dos credores da

sociedade B não parece resolver-se pelo art.83CSC (perda completa da autonomia

da administração da sociedade dominada, não é possível precisar os singulares

actos praticados em prejuízo da dominada determinados pela dominante. Deve

considerar-se a personalidade da sociedade B ver o sócio A a instrumentalizá-la em

seu exclusivo proveito e responsabilizá-lo subsidiariamente perante os credores de

B.

Nota: Há também lugar para a “desconsideração da subjectividade jurídica”. É

referida à Pessoa colectiva mas também a sociedades não personalizadas.

III - Descapitalização

3 - Capacidade Jurídica (ou de gozo) das Sociedades

1 – Delimitação da capacidade pelo fim social

É o problema da medida dos direitos e obrigações de que as sociedades podem ser

titulares.

A capacidade de uma sociedade comercial compreende os direitos e as obrigações

necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, art.6º/1 CSC.

Inseparáveis da personalidade singular (ex. os direitos familiares fundados no

casamento ou na adopção) entram na capacidade jurídica das sociedades todos os

direitos e obrigações que se revelem à partida indispensáveis ou úteis à

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Page 64: Direito Comercial II

consecução do seu fim (tal como oart.160CCivil também o art.6CSC consagra o

“Principio da especialidade”).

O fim social é o escopo lucrativo o intuito de obter lucros para atribui-los aos sócios.

Art.6/1CSC: em principio a concessão das liberalidades e de garantias reais ou

pessoais (gratuitas) a dívidas de outras entidades contraria o fim social (nº2,3) e o

objecto social não limita a capacidade (nº4).

Os actos gratuitos, os actos pelos quais uma sociedade dá a outrem uma prestação

ou vantagem sem contrapartida estão em regra porque não necessários nem

convenientes à prossecução do fim social porque contrários mesmo a este fim fora

da capacidade societária.

Os actos estranhos à capacidade societária, contrários ao fim lucrativo (ex.

doações, comodatos, mútuos gratuitos, prestação gratuita de garantias) são nulos.

Art.6/1 – norma imperativa, tuteladora dos interesses dos credores sociais e dos

sócios. Não pode ser derrogada por vontade dos sócios, quer nos estatutos quer em

deliberações (art.9/3).

Se uma sociedade através do órgão representativo pratica um desses actos pode a

respectiva nulidade (art.2CSC e art.294CCivil) ser invocada a todo o tempo por

qualquer interessado (sócio e credores sociais) podendo ainda ser declarada

oficiosamente pelo tribunal (art.286CCivil).

Se uma deliberação dos sócios ou do órgão de administração autoriza a pratica de

algum desses actos ela é nula (art.56/1d, 411/1c CSC).

Não basta a simples gratuitidade dos actos para os colocar fora da capacidade e

dentro da nulidade. Actos gratuitos podem entrar na capacidade societária, as

sociedades podem validamente praticá-los quando eles se revelam necessários ou

convenientes à consecucção de lucros.

Ex. sociedade A subscreve uma letra de cambio de favor para possibilitar que a

sociedade B seja financiada por um banco ou que aquela sociedade empresta sem

juros dinheiro à 2ª. A sociedade B é cliente importante de A e a sua sobrevivência

perigaria se a sociedade A não a auxiliasse praticando um daqueles actos gratuitos.

Tais actos são úteis à prossecução do fim lucrativo da sociedade A.

Matéria muito importante:

A matéria da (in) capacidade das sociedades não deve ser confudida com a da (não)

vinculação das mesmas. As limitações à capacidade não se identificam com as

limitações ao poder representativo dos órgãos de administração e representação (o

art.6 esta relacionado com o problema da vinculação não com o da (in)capacidade

jurídica devendo o art. articular-se com os art.260/1 e 409/1).64

Page 65: Direito Comercial II

2 círculos concêntricos:

1 – círculo maior é o circulo (medida da) capacidade. A sociedade através de um ou

outro órgão, através de um ou mais órgãos poderá fazer tudo aquilo que com relevo

interno ou externo, se contenha no interior deste círculo. Nada poderá fazer sob

pena de nulidade que vá para lá do círculo da capacidade.

2 – Circulo (dos poderes) de vinculação. A sociedade através do órgão

representativo não se liga, obriga ou vincula perante 3º (somente as relações

externas estão em jogo) por actos fora do círculo da capacidade jurídica (actos

nulos); o circulo da vinculação não pode estar fora do da capacidade tem de estar

dentro e há-de ocupar um espaço mais restrito (relações externas). O menor

perímetro do circulo da vinculação é imposto pelo facto de a sociedade não ficar

obrigada por todo e qualquer acto com relevo externo para cuja pratica ela tenha

capacidade, os poderes de representação do órgão representativo são limitados por

disposições legais e por disposições do contrato social (art.192/2, 260/1, 409/1).

Um acto que não vincula a sociedade é em geral um acto ineficaz em relação a ela.

Um acto fora da “capacidade jurídica” da sociedade é um acto nulo.

2 – O Objecto social não limita a capacidade (art.6/4)

Um acto social excede ou é alheio ao objecto da respectiva sociedade quando

atendendo ao nº da sua pratica se revele inservivel para a realização das

actividades que a sociedade pode nos termos do estatuto (art.11/2) exercer;

quando entre o 1º e o 2º não exista uma relação de potencial instrumentalidade de

meio-fim).

Ex. não é nula a compra de uma empresa de fabrico de tapetes para automóveis

feita por uma sociedade dedicada ao comercio por grosso de artigos domésticos,

nem a compra pela mesma sociedade de um prédio urbano para ser arrendado por

curtos períodos a 3º e por preços mais baixos a sócios. Estes negócios estão fora do

objecto social mas a sociedade tem capacidade para os realizar, não contrariam o

fim social.

Art.6/4 in fine resulta o dever de os órgão sociais não excederem o objecto. A

violação deste dever acarreta sanções. Nas sociedades em nome colectivo e em

comandita simples – os gerentes não têm competência, têm falta de poderes de

representação para a prática de actos fora dos limites do objecto social

(art.192/2/3). Os actos alheios ao objecto serão ineficazes relativamente à

sociedade (art.268/1CCivil), só não será assim se forem ratificados por unânime

deliberação (expressa ou tacita) art.192/3. (a ineficácia dos negócios pode ser

invocada também pelos 3º neles intervenientes mas desde que provem que 65

Page 66: Direito Comercial II

ignoravam a ultrapassagem do objecto pelos gerentes (art.192/4) (as referidas

deliberações porque violam uma disposição do contrato social são anuláveis

art.58/1a.no entanto tendo essas deliberações de ser unânimes a anulabilidade não

pode praticamente ser arguida art.59/1).

Nas sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções os gerentes ou

administradores têm em regra poderes de representação suficientes para as

vincularem por actos alheios ao objecto social (art.260/1,409/1,431/3 e 478). A

sociedade não ficará vinculada por actos alheios ao objecto social estes serão

ineficazes relativamente a ela quando se verifique o art.26/2 e 409.

Art.409 – a sociedade pode (é uma faculdade dela apenas e não dos 3º) invocar a

ineficácia em relação a ela dos actos que ultrapassem os limites do objecto social

somente quando se verifiquem 2 condições (positiva outra negativa): prova feita

pela sociedade de que o 3º sabia ou tinha ou devia saber (“não podia ignorar”)

tendo em conta as circunstancias (ex. quando do negocio o administrador fez a

apresentação da sociedade nela incluindo o objecto social, o 3º era cônjuge do

gerente, o 3º havia sido gerente ou quadro superior da sociedade) que o acto

excedia o objecto social (a publicidade legal dada ao estatuto da sociedade embora

releve não é suficiente para fazer a prova art.260/3 e 409/3); não assunção do acto

pelos sócios através de deliberação (estas deliberações são anuláveis art.58/1ª, não

têm de ser unânimes basta com a maioria simples dos votos emitidos.se nem o

órgão de fiscalização nem algum sócio que não tenha votado favoravelmente a

assunção do acto arguírem a anulabilidade do certo prazo art.59/1/2 fica o vicio

sanado).

Outras sanções por prática de actos estranhos ao objecto social são a

responsabilidade de membros da administração para com a sociedade

(art.6/4,64,72) e a destituição com justa causa de membros da administração

(art.6/4,64,191/4/5/6/7, 257, 403, 430, 471), independentemente o tipo societário.

Art.11/4CSC – pode uma sociedade (através do órgão de administração e

representação) sem necessidade de autorização estatutária ou deliberação dos

socios, adquirir participações (de controlo ou domínio) em sociedades de

responsabilidade limitada (sociedades por quotas, anónimas e quando a sociedade

adquirente fique sócia comanditaria em comandita) cujo objecto seja igual (total ou

parcialmente) ao que a sociedade vem efectivamente exercendo (dentro dos limites

permitidos pela cláusula estatutária relativa ao objecto).

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Page 67: Direito Comercial II

- não será assim se o estatuto dispuser diversamente (ex. proibindo a

aquisição, limitando-a a certos valores ou impondo previa deliberação dos sócios).

- quando a sociedade adquirente é sociedade por quotas: se o estatuto

não dispuser diversamente, compete aos sócios deliberar sobre “a subscrição ou

aquisição de participações noutras sociedades” (art.246/2d). em todos estes casos

considera a lei não implicar a aquisição das participações uma ultrapassagem do

objecto social (o estatuto social não precisa de prever na cláusula do objecto a

referida possibilidade).

Art.11/5 CSC – quando o estatuto o autorize, livre ou condicionalmente

(ex .fixando o tipo ou o objecto das sociedades em que é possível participar,

estabelecendo a necessidade de previa deliberação dos sócios – cláusula

desnecessária para as sociedades por quotas), pode uma sociedade adquirir

participações como sócia de responsabilidade ilimitada (sócia de sociedade em

nome colectivo ou sócia comanditada) ou participações em sociedade com objecto

diferente do que ela vem exercendo, em sociedades reguladas por leis especiais e

em regulamentos complementares de empresas.

Ex. O estatuto de uma sociedade proíbe a aquisição de participações em

sociedades de responsabilidade limitada com o mesmo objecto (art.11/4) e não

prevê a aquisição de participações em sociedades com objecto diferente (art.11/5).

A sociedade adquire participações em sociedades com idêntico e diverso objecto.

Estas aquisições não são nulas, a sociedade tem capacidade para as realizar

(art.6/1/4), são é alheias ao objecto social (delimitado também negativamente na

1ªhipoteses). As aquisições são ineficazes se a sociedade adquirente for em nome

colectivo ou em comandita simples (art.192), são em regra eficazes se a sociedade

adquirente for por quotas, anónima ou em comandita por acções (art.260/1/2/3,

409/1/2/3).

3 - Liberalidades realizadas pela sociedade

Em regra, os actos gratuitos se situam fora da capacidade jurídica das sociedades.

Os negócios jurídicos supõem o espírito de liberalidade, esse espírito não se

confunde com o ânimo ou escopo altruísta, desinteressado; liberalidades existem

com fim interessado ou interesseiro, e estas são em geral compatíveis com o fim

lucrativo das sociedades, entram na capacidade delas (ex. letra de favor e com um

mutuo gratuito)

Art.6/2CSC – dirigida a doações. Nem todas as liberalidades ou actos gratuitos são

doações (ex. o mutuo gratuito, comodato, prestação gratuita de penhor).

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- as liberalidades não doações podem não ser nulas, podem entrar no

circulo da capacidade das sociedades mesmo quando não sejam “consideradas

usuais”.

- é necessário para considerar validas, não contrarias ao fim social

certas doações. Toda a doação requer além do espírito de liberalidade, uma

atribuição patrimonial ao donatário sem correspectivo, de que resulta uma

diminuição do património do devedor (art.940/1CCivil).

- há doações feitas habitualmente por sociedades com finalidade

interesseira, para promover as vendas dos seus produtos, melhorar a

produtividade, acreditar o nome e imagem, pagar menos impostos ex. brindes a

clientes nas gratificações a trabalhadores (art.941CCivil), nos donativos de apoio a

iniciativas culturais ou desportivas. Todas estas doações quando a situação

patrimonial das sociedades as permita hão-de ser “consideradas usuais” entram no

art.6/2. sem esta norma elas incluir-se-iam na capacidade societária mostram-se

“convenientes” à prossecução do fim social (art.6/1). Onde se revela a plena

utilidade do art.6/2 é no campo das doações feitas com espírito altruísta.

Ex. sociedade anónima x financeiramente prospera, doa anonimamente 100 000€

para apoio a refugiados de guerra em certo pais. Apesar de a doação não promover

a consecução de lucros pela sociedade ela de acordo com o art.6/2 não deve ser

havida como contraria ao fim social.

Fora dos art.6/1/2 as doações são nulas (as sociedades não têm capacidade para as

realizá-las). Quer as doações que se traduzem em transmissão de direitos para os

donatários quer as que se traduzem ex em assunção de dívidas de 3º

(art.595CCivil) ou em remissão de dívidas de 3º (art.863/2CCivil). Art.6/3 1ª parte

– garantias reais (penhor, hipoteca, consignação de rendimentos - garantias

pessoais (aval, fiança)

- a prestação de garantias é a efectuada a titulo gratuito, é nestes

casos que em regra é contrariado o fim social (lucrativo)não quando haja algum

correspectivo.

Art.6/3 2ª parte apresenta duas excepções à regra da incapacidade da sociedade

para prestar garantias a dívidas de 3º entidades. Estas excepções estão em

consonância com o art.6/1 (nesses casos a prestação de garantias mostrar-se-á

necessária ou conveniente à prossecução do escopo lucrativo da sociedade).

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