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Direito de Família: alimentos e tutela Alimentos Os alimentos podem ser naturais ou civis. Naturais (ou necessários) são aqueles que se mostram indispensáveis apenas à sobrevivência do alimentando. Os alimentos naturais são devidos em duas hipóteses: quando a situação de miséria do credor ocorre por culpa dele mesmo (CC, art. 1.694, §2.º); no caso de cônjuge culpado pela separação, que não possa trabalhar e não te- nha parentes que possam prestá-los (CC, art. 1.704, parágrafo único). Os alimentos civis, por sua vez, são os que permitem viver de modo compatível com a condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. Os ali- mentos civis devem observar as necessidades do autor e os recursos do devedor. Os fundamentos do pleito de alimentos podem ser o casamento, a união estável e o parentesco (CC, art. 1.694). No parentesco, a obrigação de prestar alimentos só vai até o segundo grau, na linha colateral (irmãos – art. 1.697), sendo que na linha reta não há limite de grau, mas devendo sempre ser observada a ordem sucessória: quem herdaria em primeiro lugar deve ser chamado para pagar os alimentos em primeiro lugar. São devidos os alimentos, diz o artigo 1.695 do Código Civil (CC), quando quem os pretende não pode prover o próprio sustento pelo trabalho e aquele de quem se re- clamam pode fornecê-los sem prejuízo do próprio sustento. Mas há uma ordem, como mencionamos no parágrafo anterior, para que seja feita a cobrança: o direito à prestação de alimentos é recíproco, entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recain- do a obrigação sobre os mais próximos em grau, uns na falta dos outros (art. 1.696). Não havendo ascendentes, serão chamados para pagar os descendentes (na ordem em que sucedem, como vimos) e, na falta destes, os irmãos, bilaterais ou unilaterais (art. 1.697). E é importante ressaltar que pode haver concorrência entre classes, ou seja, se quem foi chamado não pode pagar na íntegra os alimentos de que o credor necessita,

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Direito de Família: alimentos e tutela

AlimentosOs alimentos podem ser naturais ou civis. Naturais (ou necessários) são aqueles

que se mostram indispensáveis apenas à sobrevivência do alimentando. Os alimentos naturais são devidos em duas hipóteses:

quando a situação de miséria do credor ocorre por culpa dele mesmo (CC, art. ■1.694, §2.º);

no caso de cônjuge culpado pela separação, que não possa trabalhar e não te- ■nha parentes que possam prestá-los (CC, art. 1.704, parágrafo único).

Os alimentos civis, por sua vez, são os que permitem viver de modo compatível com a condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. Os ali-mentos civis devem observar as necessidades do autor e os recursos do devedor.

Os fundamentos do pleito de alimentos podem ser o casamento, a união estável e o parentesco (CC, art. 1.694). No parentesco, a obrigação de prestar alimentos só vai até o segundo grau, na linha colateral (irmãos – art. 1.697), sendo que na linha reta não há limite de grau, mas devendo sempre ser observada a ordem sucessória: quem herdaria em primeiro lugar deve ser chamado para pagar os alimentos em primeiro lugar.

São devidos os alimentos, diz o artigo 1.695 do Código Civil (CC), quando quem os pretende não pode prover o próprio sustento pelo trabalho e aquele de quem se re-clamam pode fornecê-los sem prejuízo do próprio sustento. Mas há uma ordem, como mencionamos no parágrafo anterior, para que seja feita a cobrança: o direito à prestação de alimentos é recíproco, entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recain-do a obrigação sobre os mais próximos em grau, uns na falta dos outros (art. 1.696). Não havendo ascendentes, serão chamados para pagar os descendentes (na ordem em que sucedem, como vimos) e, na falta destes, os irmãos, bilaterais ou unilaterais (art. 1.697).

E é importante ressaltar que pode haver concorrência entre classes, ou seja, se quem foi chamado não pode pagar na íntegra os alimentos de que o credor necessita,

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DIREITO CIVIL

podem ser chamados os da classe seguinte (CC, art. 1.698). Assim, por exemplo, se o pai só pode pagar uma parcela dos alimentos de que o filho necessita, o avô pode ser chamado para complementar a prestação.

Havendo vários devedores da mesma classe, diz o CC que cada um deles respon-de por sua cota, e por isso se observa que os devedores concorrentes não são solidários entre si (art. 1.698).

Características da prestação alimentíciaEm primeiro lugar, extingue-se o dever de prestar alimentos com o casamento,

a união estável ou o concubinato do credor (CC, art. 1.708). Mas se for o devedor quem casar, juntar-se em união estável ou em concubinato, nesse caso em nada será afetada a prestação alimentícia.

Morrendo o devedor, transmite-se aos herdeiros a obrigação de prestar alimen-tos (CC, art. 1.700). Mas a morte do credor extingue a prestação.

É irrenunciável o direito aos alimentos, o credor podendo apenas deixar de exer-cê-lo (CC, art. 1.707). Além disso, o crédito correspondente é insuscetível de cessão, compensação ou penhora (art. 1.707).

E veja-se que mesmo que o cônjuge necessitado, no divórcio, tenha dito expressa-mente que não precisava de pensão alimentícia, ainda assim poderá cobrá-la, se futura-mente vier a necessitar, pois o direito aos alimentos, como vimos poucas linhas acima, é irrenunciável, no máximo podendo deixar de ser exercido.

O valor da prestação de alimentos jamais transita materialmente em julgado (CC, art. 1.699), pois se enquadra no rol de ações que se referem a relações jurídicas continuativas (CPC, art. 471). Por essa razão, se mudar a situação do credor e do deve-dor (por exemplo, o credor não pode mais pagar o valor anteriormente fixado, pois está desempregado), sempre será possível a qualquer deles o manejo da ação revisional.

Os alimentos podem ser pagos não apenas em dinheiro, mas também em hos-pedagem e sustento (CC, art. 1.701). E se o alimentando for menor, também deverá ser incluído o necessário à sua educação.

Extinguir-se-á o direito do credor ao recebimento de alimentos se ele tiver com-portamento indigno em relação ao credor (CC, art. 1.708, parágrafo único). O CC não esclarece o que seria esse “comportamento indigno”, mas é certo que não se relaciona com a vida sexual ou amorosa do credor, pois é evidente que o devedor não poderia exigir que o credor da prestação alimentícia, para continuar a recebê-la, passasse a viver em celibato.

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A prescrição das prestações alimentícias ocorre em dois anos (CC, art. 206, §2.º). Mas é só em relação às prestações periódicas, que prescrevem uma a uma, pois o direito aos alimentos não se sujeita a qualquer prazo: não caduca nunca. Assim, por exemplo, se o filho nunca requereu que o pai lhe pagasse pensão, isso não o impedirá de fazê-lo quando já tiver 16 anos, pois o direito de requerer a pensão jamais caduca, podendo ser exercido enquanto o credor estiver enquadrado nas hipóteses legais que dão amparo ao pedido de alimentos.

Por outro lado, só poderão ser pedidas as pensões alimentícias daí para a frente, pois não é cabível o pedido retroativo, ou seja, o filho, no exemplo que acima apresen-tamos, só poderá pleitear as pensões vindouras, nada podendo requerer em relação às passadas. Mas uma vez fixada a pensão, por acordo ou por sentença, cada uma delas, se não for paga no vencimento, passará a se sujeitar à prescrição.

Mas é interessante recordar também que, nos casos em que o credor é absolu-tamente incapaz, contra ele não corre qualquer prazo prescricional (CC, art. 198, I). Assim, por exemplo, se foi fixada há dez anos a pensão alimentícia em favor do filho menor, que na época estava com apenas dois anos de idade, se o pai nunca pagou tal pensão, o filho, agora com 12 anos, poderá cobrá-las em relação aos dez anos de inadimplência, pois contra ele não correu qualquer prazo prescricional, pois se trata de absolutamente incapaz.

Ação de alimentosHá um rito especial, previsto na Lei de Alimentos (Lei 5.478/68). Em primeiro lugar,

observa-se que tal ação exige prova pré-constituída, que deverá ser apresentada junto com a inicial: a certidão de casamento, o registro de nascimento etc. Se não houver essa pro-va pré-constituída, será necessária a ação ordinária para o pleito de alimentos.

Assim, por exemplo, no caso do filho nascido fora do casamento, e que não foi reconhecido pelo pai, não seria possível o ajuizamento da ação de alimentos prevista na Lei 5.478/68, pois há a necessidade de prévio reconhecimento desse filho, e portanto seria necessária a ação investigatória de paternidade, caso o pai se recuse a reconhecer espontaneamente.

A Lei 5.478/68 prevê o deferimento dos alimentos provisórios, estipulando que o juiz deverá deferi-los liminarmente, ao despachar a inicial, exceto se o autor expres-samente declarar que deles não necessita (Lei 5.478/68, art. 4.º). E tais alimentos pro-visórios serão devidos desde a citação e até decisão final proferida no processo (art. 13, §§ 2.º e 3.º).

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DIREITO CIVIL

Os recursos, em relação à sentença que acolhe o pleito de alimentos, têm efeito apenas devolutivo, como se vê na regra geral, que foi estipulada no artigo 520, II, do Código de Processo Civil (CPC).

Se os alimentos forem requeridos na ação de investigação de paternidade e a paternidade vier a ser reconhecida – ou seja, se julgada procedente a investigação – a sentença condenará o pai ao pagamento de alimentos, que serão devidos desde a cita-ção (STJ, Súmula 277).

Execução dos alimentos e prisão do devedorO cumprimento da prestação alimentícia deve ser feito mediante:

o desconto em folha, caso o devedor seja servidor público ou tenha emprego ■fixo;

a retenção de aluguéis ou qualquer outro rendimento do devedor, podendo ser ■feito o pagamento diretamente ao alimentando;

a aplicação do artigo 733 do CPC, que se refere à possibilidade de prisão do ■devedor.

Prisão do devedorSó é cabível nos alimentos do Direito de Família, e mesmo assim apenas pelas

pres ta ções atuais (as três últimas), pois as anteriores, se o credor até hoje sobreviveu sem elas, então é porque não são urgentes, e já perderam o caráter de verba alimentar, tendo na reali da de natureza de indenização, conforme reiterada jurisprudência do Supe-rior Tribunal de Justiça (STJ).

A execução sob pena de prisão será cabível qualquer que seja a espécie dos ali-mentos devidos: provisionais, provisórios ou definitivos.

O devedor será citado para que, em três dias, pague, prove que já pagou ou jus-tifique porque não o fez. Se não fizer nada disso, o juiz poderá decretar-lhe a prisão, que poderá ser de um a três meses, no caso dos alimentos provisionais (CPC, art. 733, §1.º), ou de até 60 dias, no caso dos alimentos provisórios ou definitivos (Lei 5.478/68, art. 19).

E cabem sucessivas prisões se houver sucessivos inadimplementos, ou seja, cada prestação que for inadimplida possibilita a prisão do devedor. Mas não cabem duas prisões pelo mesmo inadimplemento. Essa prisão não é pena e sim meio de coerção e, por essa razão, assim que pagar o devedor deverá ser liberado, não importando qual foi o tempo de prisão fixado pelo juiz. Por outro lado, se o devedor não pagar, o cumprimento

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integral do prazo fixado para a prisão não irá liberá-lo da obrigação (Lei 5.478/68, art. 19, §1.º), porém a execução não mais poderá ocorrer sob a forma de prisão.

Contra o deferimento ou indeferimento do pedido de prisão, a medida cabível é o agravo de instrumento, e não o habeas corpus.

Da tutela: aspectos geraisPoderão ser colocados sob tutela os filhos menores quando (CC, art. 1.728):

os pais falecerem ou forem julgados ausentes; ■

os pais perderem o poder familiar. ■

De logo se observa que a tutela não pode coexistir com o poder familiar, o que aliás está expresso no artigo 36, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É que a tutela funciona como substitutiva do poder familiar, ou seja, coloca-se sob tutela o menor em relação ao qual os pais não exercem o poder familiar.

Trata-se de encargo conferido a alguém para que cuide da pessoa de um menor e lhe administre os bens, com as seguintes regras gerais:

é um múnus público (encargo público), e por isso não pode ser recusado pelo ■tutor, a não ser nos casos em que a lei admite a recusa;

é sempre temporária, sendo que o ■ máximo de tempo para o encargo é de dois anos (CC, art. 1.765);

o tutor tem direito a ser ■ reembolsado pelo que gastar e a ser remunerado de modo proporcional ao valor dos bens administrados (CC, art. 1.752, parte final);

mas, por outro lado, deve ■ ressarcir os prejuízos que, por dolo ou culpa, causar ao tutelado (CC, art. 1.752, primeira parte);

pelos prejuízos causados ao tutelado, serão ■ solidariamente responsáveis com o tutor o protutor (nomeado para fiscalizar os atos do tutor – art. 1.742) e todos os que concorrerem para a ocorrência do dano (CC, art. 1.752, §2.º).

As hipóteses de recusa, acima mencionadas, são as seguintes (CC, art. 1.736):

a mulher casada; ■

o maior de 60 anos; ■

os que tiverem mais de três filhos sob seu poder familiar; ■

os impossibilitados por enfermidade; ■

os que habitarem longe do lugar onde deva ser exercida a tutela; ■

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DIREITO CIVIL

o que já exerce a tutela ou a curatela; ■

militares em serviço. ■

Espécies de tutela: testamentária, legítima e dativaEssas três modalidades de tutela diferem entre si apenas quanto ao modo de

escolha do tutor, mas o conteúdo é o mesmo em todas elas.

Na tutela testamentária, a nomeação é feita pelos pais, em testamento ou em qual-quer outro documento autêntico (CC, art. 1.729 e parágrafo único). Mas veja-se que só os pais podem nomear, e não os avós. Além disso, só poderá nomear tutor o pai ou a mãe que exercia o poder familiar, e será nula a nomeação feita pelo que, ao morrer, não tinha tal poder (art. 1.730).

A tutela legítima, por sua vez, segue uma ordem fixada pela lei (CC, art. 1.731), sendo importante se destacar que só haverá a tutela legítima se os pais não nomearam tutor, pois se o fizeram a preferência será pela vontade dos pais. A ordem fixada pela lei é a seguinte: ascendentes, se houver; não havendo, colaterais até o terceiro grau.

A tutela dativa, finalmente, é aquela na qual o juiz nomeia um tutor que resida no domicílio do menor (CC, art. 1.732), e só terá cabimento quando não houver tutor testamentário ou legítimo. Veja-se, portanto, que a tutela legítima e a tutela dativa são supletivas, só funcionando cada uma delas se não for possível o modo anterior de esco-lha do tutor.

Dicas de Estudo

Leia com especial atenção as características dos alimentos, com uma atenção redobrada para aquelas que se encontram indicadas no artigo 1.707 do CC.

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