12
2020 Coleção LEIS ESPECIAIS para concursos Dicas para realização de provas com questões de concursos e jurisprudência do STF e STJ inseridas artigo por artigo Coordenação: LEONARDO GARCIA 28 HERMES ZANETI JR. LEONARDO GARCIA DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS revista, ampliada e atualizada 11ª edição

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

2020

Coleção

LEIS ESPECIAIS para concursosDicas para realização de provas com questões de concursos

e jurisprudência do STF e STJ inseridas artigo por artigo

Coordenação: LEONARDO GARCIA

28HERMES ZANETI JR.LEONARDO GARCIA

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

revista, ampliada e atualizada

11ª edição

Leis Especiais p conc v28.indb 3 22/07/2020 17:19:51

Page 2: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

43

Capítulo VLei da Ação Civil Pública –

Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-am-biente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências.

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação po-pular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados (Alterado pela Lei n. 12529/2011):

l – ao meio-ambiente;

ll – ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

V – por infração da ordem econômica (Alterado pela Lei n. 12.529/2011);

VI – à ordem urbanística.

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. (Incluído pela Lei nº 12.966, de 2014)

VIII – ao patrimônio público e social. (Incluído pela Lei nº 13.004, de 2014)

Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.

ARTIGOS CORRELATOS:

► CDC (Lei 8078/1990) – Art. 81, § único.

► CADE (Lei 12.529/2011) – Art. 1º: Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro deDefesa da Concorrência – SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às in-frações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais deliberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesados consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.

Parágrafo único. A coletividade é a titular dos bens jurídicos protegidos por esta Lei.

Leis Especiais p conc v28.indb 43 22/07/2020 17:19:53

Page 3: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

44

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS – Hermes Zaneti Jr. e Leonardo GarciaArt. 1º

1. Ação civil pública ou ação coletiva?

Nem sempre a ação civil pública será uma ação coletiva. A ação coletiva é um gê-nero que abarca uma série de ações: ação popular, ação civil pública, ação de im-probidade administrativa, mandado de segurança coletivo, mandado de injunçãocoletivo, entre outras. Para ser considerada uma ação coletiva ela precisa contercinco requisitos básicos:

a) tutelar direta ou indiretamente o interesse público primário;

b) legitimação extraordinária e adequada representação dos substituídos;28

c) coisa julgada secundum eventum litis e secundum eventum probationis29;

d) maior amplitude da cognição (ex vi, art. 103, § 3º do CDC); e por último e maisimportante,

e) um direito coletivo lato sensu como causa de pedir (art. 81, parágrafo único doCDC).30

São direitos coletivos lato sensu os direitos difusos (DD), os direitos individuais homogêneos (DIH) e os direitos coletivos stricto sensu (DCSS).

Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa hipossuficiente, não haverá ação coletiva. Tere-mos uma ACP para tutela de direito individual, uma ação civil pública individual, na qual não será possível falar em coisa julgada erga omnes ou ultra partes, em coisa julgada secundum eventum probationis, entre outros institutos próprios do processo coletivo.

Aplicação em concurso

• Juiz de Direito (TJ/BA) – CESPE – 2019“O MP de determinado estado da Federação propôs ação civil pública consistente em pedido liminar para obstar a construção de empreendimento às margens de um rio desse estado. No local escolhido, uma área de preservação permanente, a em-presa empreendedora desmatou irregularmente 200 ha para instalar o empreendi-mento. A liminar incluiu, ainda, pedido para que a empresa fosse obrigada a iniciar imediatamente replantio na área desmatada. Nessa situação hipotética, a ação civil pública proposta deverá discutir apenas a responsabilidade civil da empresa”.A afirmativa está correta. Como o próprio nome indica, a ação civil pública é uma ação de natureza cível, não se discutindo nela as responsabilidades administrativa e

28. Sobre a representatividade adequada, conferir comentários ao art. 5º da LACP.29. Trataremos do significado destas expressões quando do estudo do Título III do CDC.30. Na doutrina Fredie Didier Jr e Hermes Zaneti Jr defendem que o processo coletivo é caracterizado

pela concomitância de dois requisitos: a) pela presença de um grupo no polo ativo ou passivo, b) com a finalidade de tutelar uma situação jurídica ativa ou passiva. Assim, os casos repetitivos, nos quais se forma um grupo a partir das ações que tramitam em juízo (opt in), para tutelar a situação jurídica, questão discutida, mediante a fixação da tese jurídica aplicável para todos os casos, seria, ao lado doprocesso coletivo das ações coletivas, uma espécie de processo coletivo. Cf. Curso, vol. 4, 2016.

Leis Especiais p conc v28.indb 44 22/07/2020 17:19:53

Page 4: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

45

Art. 1ºCapítulo V • LEI DA AçÃO CIVIL PúBLICA – LEI Nº 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985

criminal. Ambas dessas responsabilidades serão tratadas nas instâncias adequadas, quais sejam: administrativa perante administração pública em um procedimento ad-ministrativo ou no exercício do poder de polícia e criminal perante o juízo criminal, caso a conduta do agente configure tipo penal previsto no ordenamento jurídico brasileiro.

• Defensor Público – ES/2012 – CESPE“A categoria ético-política dos sujeitos hipervulneráveis justifica a defesa de direitoindividual indisponível, ainda que não homogêneo, por meio de ACP.”A afirmativa está correta.

Quando a ação civil pública veicular pretensão de direitos coletivos lato sensu, quer sejam difusos, coletivos stricto sensu ou individuais homogêneos não restará dúvida que se trata de demanda coletiva.O mais importante é saber que no direito processual o nome dado para a ação não importa, mas sim o conteúdo que foi dado à demanda, qualquer ação poderá tutelar direitos coletivos lato sensu (princípio da atipicidade).

Aplicação em concurso

• MPE-PI – Promotor de Justiça – PI/2012 – CESPE“Os direitos transindividuais e metaindividuais, direitos coletivos em sentido amplo, abrangem os direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos e o individual in-disponível.”A alternativa foi considerada como correta pela Banca do Cespe. Não concordamos com tal posicionamento da Banca. É errado afirmar que direitos individuais indispo-níveis são direitos coletivos em sentido amplo. Não são. Aliás, como o próprio nome diz, são direitos individuais. O examinador, muito provavelmente, disse mais do que queria. Os direitos individuais ligados por um feixe e chamados direitos individuaishomogêneos poderão ser disponíveis ou indisponíveis. O entendimento consolidado dos tribunais superiores é pela legitimidade do MP para ambos os casos. Talvez por isso a questão tenha ficado confusa. Direitos coletivos lato sensu são: direitos difusos, direitos coletivos em sentido estrito e direitos individuais homogêneos (disponíveis ou indisponíveis, conforme o caso e o momento processual). Talvez o fato do MP poder, via ACP, defender direito individual indisponível (v.g. saúde), tenha confundido o exa-minador. O fato de utilizar da ACP não significa necessariamente que o direito defen-dido seja coletivo. A Banca CESPE se defendeu da seguinte forma: “Argumentação: Ogabarito está correto. A doutrina destaca que os direitos transindividuais pertencem a mais de uma pessoa e os metaindividuais a toda a sociedade. A assertiva está em con-sonância com a doutrina. Assim, são “direitos coletivos em sentido amplo, abrangen-do os direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos e o individual indisponível.”(Manual dos direitos difusos e coletivos. Thiago Henrique Fedri Viana. Pág. 4)” Assim, conforme afirmamos, não concordamos com a Banca e com a doutrina citada.

• Defensor Público – AC/2012 – CESPE“As lesões a direitos individuais homogêneos e disponíveis podem ser investigadaspelo MP.”A afirmativa está correta.

Leis Especiais p conc v28.indb 45 22/07/2020 17:19:53

Page 5: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

46

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS – Hermes Zaneti Jr. e Leonardo GarciaArt. 1º

2. Conceito de direitos coletivos lato sensu:

A ACP poderá ser manejada para tutela de qualquer direito coletivo lato sensu.São direitos coletivos lato sensu os direitos difusos, coletivos em sentido estrito eindividuais homogêneos. O art. 81 do CDC esclarece o conceito e é válido para todoo microssistema (ACP, AP, MSC, LIA etc.):

“Art. 81 do CDC... Parágrafo único.... I – interesses ou direitos difusos, assim en-tendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurí-dica base; III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”

Abordaremos os conceitos nos comentários ao art. 81 do CDC.

Aplicação em concurso

• Delegado de Polícia (PC-DF) – UNIVERSA – 2015“Como espécie de tutela coletiva de direitos metaindividuais, a ACP é via cabívelpara a defesa de direitos coletivos, mas não para a defesa de direitos individuaishomogêneos”.

A alternativa está errada. A ação civil pública é cabível para a defesa de quaisquerdos direitos coletivos lato sensu, sejam eles difusos, coletivos ou individuais homo-gêneos (art. 81, par. único do CDC).

3. Ônus da prova

3.1. Teoria estática (regra de julgamento) e teoria dinâmica (regra de atividade):

Aplicação do microssistema implica na aceitação pela doutrina da ampliação daregra de inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII do CDC para todos osprocessos coletivos.

Além da inversão, também se aplica aos processos coletivos a teoria das cargas ouônus dinâmicos da prova, segundo a qual a prova é atribuída a quem tem melho-res condições de fazê-lo.

3.1.1. CPC/2015: No CPC/2015 a regra adotada foi a distribuição dinâmica, umavez que o juiz poderá atribuir o ônus probatório de maneira diversa, caso hajaexcessiva dificuldade para a parte cumprir o encargo ou maior facilidade da parteadversa fazer a prova do fato contrário (§ 1º do art. 373 do novo CPC/15).

3.2. Momento da distribuição ou inversão: atividade (regra de procedimento eobjetiva) ou regra de julgamento (decisão)

Estas teorias podem ser também trabalhadas a partir do momento da aplicaçãoou da inversão. Teríamos assim a teoria do ônus da prova como regra de julga-mento (aplicável apenas na sentença) e a teoria do ônus da prova como regra de

Leis Especiais p conc v28.indb 46 22/07/2020 17:19:53

Page 6: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

47

Art. 1ºCapítulo V • LEI DA AçÃO CIVIL PúBLICA – LEI Nº 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985

atividade ou procedimento (aplicável a qualquer momento dentro do processo, em especial na audiência preliminar de fixação dos pontos controversos). A se-gunda nos parece mais correta, pois decorre da vedação da surpresa (art. 10, CPC), fazendo com que as partes para quem se atribua o ônus tenham condições de produzir a prova em tempo.

3.2.1. CPC/2015: O CPC/2015 adotou a regra de procedimento, estipulando no art. 357 que o juiz deverá, na decisão de saneamento e de organização do processo, distribuir o ônus da prova (inciso III).

Ademais, o art. 373 do novo CPC/15 afasta por completo a regra de julgamento ao prever que sempre que for distribuído de forma diversa ou alterado o ônus da prova, a parte deverá ter a oportunidade de se desincumbir do encargo.

A regra de julgamento ainda subsiste em relação aos efeitos que a inversão ou a distribuição dinâmica irão acarretar. Ao final do processo, quem não se desincum-biu da sua tarefa de produção de prova, terá presunção contrária ao seu interesse no processo.

A prova não poderá ser “diabólica”, ou seja, uma prova que não pode ser produzi-da por ser excessivamente difícil ou impossível, como ocorre em muitos casos de prova negativa.31

O julgamento por ônus da prova, contudo, não prejudica o princípio da coisa julga-da secundum eventum probationis. Caso não exista prova suficiente para condenar o réu na ação coletiva o julgamento poderá ser por insuficiência de provas, permi-tindo o ajuizamento de nova ação com a ocorrência de prova nova.

Aplicação em concurso

• Defensoria/BA – 2010 – CESPE

“A inversão do ônus da prova, conforme a lei que rege a ACP, pode ser feita a critério do juiz.”

A afirmativa está errada. A LACP não previu a inversão do ônus da prova. Ademais,a inversão é feita a critério do juiz (inversão ope judicis), segundo o preenchimentodos requisitos previstos na lei, “hipossuficiência” ou “verossimilhança da alegação”,segundo as regras ordinárias da experiência (id quod plerunque accidit). Acrescen-te-se, ainda, que a doutrina da distribuição dinâmica prevê a atribuição do ônus aparte que tem “melhores condições de produzir a prova”.

3.2.2. Momento da inversão:

O posicionamento é divergente.

31. É o que prevê o § 2º do art. 373 do novo CPC/15: “§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamentedifícil.”

Leis Especiais p conc v28.indb 47 22/07/2020 17:19:53

Page 7: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

48

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS – Hermes Zaneti Jr. e Leonardo GarciaArt. 1º

a) ônus da prova subjetivo = regra de atividade ou procedimento (antes da sen-tença).

b) ônus da prova objetivo = regra de julgamento (aplicado na sentença).

Como vimos o CPC/2015 altera esta situação (art. 357, III, distribuição do ônus na fase de saneamento; art. 373, § 2º, vedação da prova diabólica). Como dis-semos acima a solução mais de acordo com o devido processo legal e com o princípio da cooperação processual é antecipar o entendimento sobre a inver-são, permitindo a parte produzir a prova.

A Segunda Seção do STJ, julgando a divergência que havia entre a Terceira e a Quar-ta Turmas, por maioria, adotou a regra de procedimento como a melhor regra para o momento da inversão do ônus da prova. (STJ, REsp 802832/MG, Rel. MinistroPaulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, DJe 21/09/2011)

Aplicação em concurso

• Defensor Público – SE/2012 – CESPE“De acordo com decisão pacificada no STJ, a inversão do ônus da prova do direito consumerista é regra de julgamento, ou seja, deve ser analisada na sentença.”A alternativa está errada. Segundo a Segunda Seção do STJ, a inversão do ônus da prova é regra de procedimento.

• (FUNDEP – MPE/MG – 2019)Com relação ao processo coletivo ambiental, admite-se a distribuição dinâmica do ônus da prova, em função das peculiaridades da causa, com atribuição diversa do ônus probatório, quando for impossível ou excessivamente difícil à parte sobre a qual recairia normalmente o ônus da prova cumprir o encargo, ou quando for mais fácil à outra parte a produção da prova do fato contrário.A afirmativa está correta. Ver art. 373, § 1º, CPC.

3.3. Inversão do ônus da prova e STJ

3.3.1. Inversão do ônus da prova na ACP a favor do MP

Informativo 463. ACP. INVERSÃO. ÔNUS. PROVA. MP. Trata-se, na origem, de ação civil pública (ACP) interposta pelo MP a fim de pleitear que o banco seja condena-do a não cobrar pelo serviço ou excluir o extrato consolidado que forneceu a to-dos os clientes sem prévia solicitação, devolvendo, em dobro, o que foi cobrado. A Turma entendeu que, na ACP com cunho consumerista, pode haver inversão do ônus da prova em favor do MP. Tal entendimento busca facilitar a defesa da coletividade de indivíduos que o CDC chamou de consumidores (art. 81 do refe-rido código). O termo “consumidor”, previsto no art. 6º do CDC, não pode ser en-tendido apenas como parte processual, mas sim como parte material da relação jurídica extraprocessual, ou seja, a parte envolvida na relação de direito material consumerista – na verdade, o destinatário do propósito protetor da norma. REsp 951.785-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/2/2011.

Leis Especiais p conc v28.indb 48 22/07/2020 17:19:53

Page 8: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

49

Art. 1ºCapítulo V • LEI DA AçÃO CIVIL PúBLICA – LEI Nº 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985

Aplicação em concurso

• Defensor Público – RR/2013 – CESPE“É vedada a inversão do ônus da prova nas ações civis públicas ajuizadas pelo MP,porque o parquet não é ente hipossuficiente.”A afirmativa está errada.

3.3.2. Inversão do ônus da prova nas ações ambientais

Informativo 404. ACP. DANO AMBIENTAL. ÔNUS. PROVA. Trata-se da inversão do ônus probatório em ação civil pública (ACP) que objetiva a reparação de dano ambiental. A Turma entendeu que, nas ações civis ambientais, o caráter público e coletivo do bem jurídico tutelado – e não eventual hipossuficiência do autor da demanda em relação ao réu – conduz à conclusão de que alguns direitos do consu-midor também devem ser estendidos ao autor daquelas ações, pois essas buscam resguardar (e muitas vezes reparar) o patrimônio público coletivo consubstanciado no meio ambiente. A essas regras, soma-se o princípio da precaução. Esse preceitua que o meio ambiente deve ter em seu favor o benefício da dúvida no caso de incer-teza (por falta de provas cientificamente relevantes) sobre o nexo causal entre de-terminada atividade e um efeito ambiental nocivo. Assim, ao interpretar o art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei n. 7.347/1985, conjugado com o prin-cípio da precaução, justifica-se a inversão do ônus da prova, transferindo para o empreendedor da atividade potencialmente lesiva o ônus de demonstrar a segu-rança do empreendimento. Precedente citado: REsp 1.049.822-RS, DJe 18/5/2009. REsp 972.902-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 25/8/2009.

Tal tema foi sumulado em 2018. Assim, a Súmula 618 do STJ: “A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.”

► Atenção: súmula muito cobrada em concursos!

Aplicação em concurso

• Defensor Público (DPE/MG) – FUNDEP – 2019“A partir da interpretação de normas contidas na legislação brasileira, revela-se ju-ridicamente plausível a inversão do ônus da prova na ação civil pública em matéria ambiental”.A afirmativa está correta.

• Promotor de Justiça – MPE/GO – MPE/GO – 2019“Não se evidencia possível a inversão do Ônus da prova da ação civil pública em matéria ambiental”.A afirmativa está errada.

• Promotor de Justiça – FUNDEP – MPE/MG – 2019“Com relação ao processo coletivo ambiental, admite-se a possibilidade de inver-são do ônus da prova pela aplicação dos princípios da precaução e do in dubio pro

Leis Especiais p conc v28.indb 49 22/07/2020 17:19:53

Page 9: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

50

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS – Hermes Zaneti Jr. e Leonardo GarciaArt. 1º

natura, hipótese que reclama prévia e expressa decisão judicial, com oportunidade ao réu de se desincumbir do referido encargo”.A afirmativa está correta.

• (FCC – Defensor Público – SP/2012)A inversão do ônus da prova em Ação Civil Pública em matéria ambiental, conforme entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, consolidado no julga-mento do Recurso Especial no 1.060.753/SP, de relatoria da Ministra Eliana Calmon,tem como fundamento normativo principal, além da relação interdisciplinar entreas normas de proteção ao consumidor e as de proteção ambiental e o caráter públi-co e coletivo do bem jurídico tutelado, o princípio

a) da precaução.b) da função ambiental da propriedade.c) do usuário-pagador.d) do desenvolvimento sustentável.e) da cooperação.

Letra A

4. Relações com a ação popular – litispendência e coisa julgada:

A LACP não afasta a possibilidade de ajuizar ação popular, contudo, eventualmente poderá ocorrer duplicidade de litispendência entre uma ação popular e uma açãocivil pública. Isto porque, em sede de processos coletivos o nome da ação e o co-legitimado não importam para fins de averiguar a identidade de demandas (iden-tidade dos elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido, cf. art. 337, VI, §§ 2º e 3º, CPC). Na maior parte das vezes, contudo, ocorrerá conexão por afinidadee não litispendência, pois uma das demandas terá um objeto mais amplo (art. 55,§ 3º, CPC).

4.1. CPC/2015: A conexão por afinidade foi admitida pelo CPC todas as vezes que as ações possam gerar resultados conflitantes ou contraditórios. A conexão não gera necessariamente a reunião dos processos, poderá significar a sua suspensão.

A doutrina defende expressamente a conexão por afinidade como justificati-va para suspensão dos processos nos casos repetitivos (IRDR e REER). “O CPC criou um sistema de julgamento de casos repetitivos: seja pelo julgamento do incidente de resolução de demandas repetitivas, perante o Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal (arts. 976 e segs., CPC), seja pelo julgamento dos recursos extraordinários e especiais repetitivos (arts. 1.036-1.041, CPC). Esses artigos preveem um novo caso de conexão no direito brasileiro: uma conexão por afinidade entre as causas repetitivas. [...] As “causas repetitivas” são exatamente aquelas em que os autores poderiam ter sido litisconsortes por afinidade, mas, por variadas razões, optaram por demandar isoladamente”.32

32. DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Vol. 1, p. 236.

Leis Especiais p conc v28.indb 50 22/07/2020 17:19:54

Page 10: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

51

Art. 1ºCapítulo V • LEI DA AçÃO CIVIL PúBLICA – LEI Nº 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985

Ocorre que nas situações em que temos um processo individual e um processo coletivo ou dois processos coletivos que possam gerar decisões conflitantes ou contraditórias entre si, poderá o juiz, caso não exista prejuízo para a tutela dos di-reitos, reunir os processos por conexão por afinidade. Assim, defendemos um pas-so além, pois, ao invés de enxergar a simples prejudicialidade entendemos ocorrer verdadeira conexão por afinidade nos casos do art. 55, § 3º.

“Art. 55 [...] § 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos se-paradamente, mesmo sem conexão entre eles”.

Este modelo de conexão permite a formação de precedentes e o julgamento ade-quado de processos coletivos.

A regra da conexão, tem, contudo, evidentes limites temporais quando implica em suspensão dos processos conexos. Não podem as ações conexas por afini-dade ficarem suspensas eternamente. A lei processual fala em limite de um ano para a suspensão (art. 313, V, “a”, § 4º e § 5º).

► STJ:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – AÇÃO POPULAR – ANULAÇÃO DOS CONTRATOS ADMI-NISTRATIVOS E RESPECTIVOS ADITAMENTOS – LITISPENDÊNCIA – INOCORRÊNCIA – (CPC, ART. 301, § 2º) – CONEXÃO – CARACTERIZAÇÃO – CPC, ART. 103 – PRECE-DENTES/STJ. – Inexistentes os pressupostos necessários à caracterização da litis-pendência, impõe-se afastá-la (CPC, art. 301, § 2º). – Caracteriza-se, na hipótese,o instituto da conexão, já que as ações têm a mesma finalidade, o que as tornamsemelhantes e passíveis de decisões unificadas, devendo-se evitar julgamentosconflitantes sobre o mesmo tema, objeto das lides. (STJ, REsp 208680/MG, Rel.Min. Francisco Peçanha, DJ 31/05/2004)

Aplicação em concurso

• FCC – TJ-AL – Juiz Substituto – 2015“A propositura simultânea, por distintos autores, de uma ação civil pública e de umaação popular, ambas tendo por objeto o mesmo fato lesivo ao patrimônio públicodeve levar à extinção, sem julgamento do mérito, da ação popular, seguindo-se ape-nas a ação civil públicaPORQUEA ação civil pública comporta solução processual mais abrangente, podendo levarà condenação em dinheiro ou ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.”

a) se as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeirab) se as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeirac) se a primeira é verdadeira e a segunda é falsad) se a primeira é falsa e a segunda é verdadeirae) se as duas são falsas”

Letra D

Leis Especiais p conc v28.indb 51 22/07/2020 17:19:54

Page 11: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

52

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS – Hermes Zaneti Jr. e Leonardo GarciaArt. 1º

• UFPR – Defensor Público – PR/2014– “É vedado à Defensoria Pública ajuizar ação civil pública quando já houver açãopopular ajuizada sobre o mesmo fato.”A afirmativa está errada.

– “A propositura de ação civil pública suspende a ação popular que possua identi-dade do objeto.”A afirmativa está errada.

• DPE/PI – CESPE – 2009“À DP é vedado ajuizar ação civil pública, quando houver ação popular ajuizada so-bre o mesmo fato.”A afirmativa está errada.

• MP/AM/Promotor/2007 – CESPE“As ações popular e civil pública destinam-se à defesa e à proteção do patrimôniopúblico. Todavia, essas ações constituem instrumentos processuais reciprocamenteexcludentes, não se admitindo a existência concomitante das duas, em face da litis-pendência.”A afirmativa está errada.

• TRF5/Juiz/2007– CESPE“Se, após o ajuizamento de ação civil pública, constatar-se a existência de tramitação regular de ação popular objetivando a proteção de idênticos interesses coletivos ou difusos mediante a formulação de idêntico pedido, tal situação caracterizará a litis-pendência e terá, como conseqüência processual, a extinção da ação civil pública.”A afirmativa está errada. O STJ, conforme julgado acima, tem entendido pela cone-xão e não pela litispendência.

► Observação importante: reparem que no mesmo ano (2007) o CESPE cobrou a mesmaquestão em concursos diferentes.

5. Ação popular multilegitimária (ação civil pública):

Partindo da interpretação original de Ada Pellegrini Grinover sobre o art. 25, IV, bda Lei 8.625/93 (LOMPE)33, a jurisprudência do STJ reconheceu a possibilidade deuma ação popular multilegitimária para anular atos ilegais e lesivos ao patrimôniopúblico. A identidade entre a ação popular e a ação civil pública é tão grande que

33. Lei 8.625/93, Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público: (...)IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:(...)

Leis Especiais p conc v28.indb 52 22/07/2020 17:19:54

Page 12: DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS - Editora Juspodivm€¦ · (DCSS). Se a ação veicular uma pretensão individual de uma criança, um idoso ou mesmo uma pretensão à saúde de pessoa

53

Art. 1ºCapítulo V • LEI DA AçÃO CIVIL PúBLICA – LEI Nº 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985

gerou a possibilidade de entender alguns casos de ACP como ações populares mul-tilegitimárias.

“Hodiernamente, após a constatação da importância e dos inconvenientes da legitimação isolada do cidadão, não há mais lugar para o veto da legitimatio ad causam do MP para a Ação Popular, a Ação Civil Pública ou o Mandado de Segurança coletivo. Os interesses mencionados na LACP acaso se encontrem sob iminência de lesão por ato abusivo da autoridade podem ser tutelados pelo mandamus coletivo. No mesmo sentido, se a lesividade ou a ilegalidade do ato administrativo atingem o interesse difuso, passível é a propositura da Ação Ci-vil Pública fazendo às vezes de uma Ação Popular multilegitimária. As moder-nas leis de tutela dos interesses difusos completam a definição dos interesses que protegem. Assim é que a LAP define o patrimônio e a LACP dilargou-o, abar-cando áreas antes deixadas ao desabrigo, como o patrimônio histórico, estético, moral, etc. A moralidade administrativa e seus desvios, com conseqüências pa-trimoniais para o erário público enquadram-se na categoria dos interesses difu-sos, habilitando o Ministério Público a demandar em juízo acerca dos mesmos”. (REsp 401.964/RO, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 11.11.2002)

6. Danos morais – o dano extrapatrimonial coletivo (dano moral coletivo):

O dano moral coletivo, embora apresente divergências na doutrina quanto à exis-tência, também foi expressamente previsto no art. 6º, incisos VI e VII do CDC emais recentemente, após a alteração introduzida pela Lei 8.884/1994 ao art. 1º daLei 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública).

Configura o dano moral coletivo a injusta lesão à esfera moral de certa comunidade; aviolação a determinado círculo de valores coletivos. Os valores coletivos não se confun-dem com os valores dos indivíduos que formam a coletividade. Com isso, percebe-seque a coletividade é passível de ser indenizada pelo abalo moral, independentementedos danos individualmente considerados. Como exemplo, temos o dano moral geradopor propaganda enganosa ou abusiva. Recentemente, tivemos o chamado “apagãoaéreo”, gerando descrédito quanto ao sistema de aviação civil no Brasil. De forma am-pla, a coletividade foi lesada, independentemente dos danos que cada indivíduo tevepessoalmente com os atrasos e contratempos causados.

Em caso envolvendo pedido de dano moral em razão de degradação ambiental, aPrimeira Turma do STJ, em 2006, considerou que a vítima do dano moral é, neces-sariamente, uma pessoa, concluindo que não parece ser compatível com o danomoral a ideia da “transindividualidade”.

Para a Primeira Turma, à época, o dano moral envolveria, necessariamente, dor, sen-timento, lesão psíquica, afetando a parte sensitiva do ser humano, como a intimida-de, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.

b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidadeadministrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais ou deentidades privadas de que participem;

Leis Especiais p conc v28.indb 53 22/07/2020 17:19:54