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Departamento de Educação do Centro de Teologia e Ciências Humanas

Diretor Escolar: Desafios na Liderança

Alunos: Catarine T. I. Henrique e Pedro Henrique T. de Sarvat

Orientador: Cynthia Paes de Carvalho

Introdução

O projeto de pesquisa integra as iniciativas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa

Gestão e Qualidade de Ensino – GESQ. Alguns trabalhos desenvolvidos pela equipe do

GESQ (OLIVEIRA, 2014) vêm corroborando os achados de pesquisas nacionais e

internacionais (SAMMONS, 2008; SOARES, 2007; LEITHWOOD, 2009; POLON, 2009)

que destacam a importância do trabalho do diretor escolar. Considerando a necessidade de

aprofundar as informações sobre a liderança do diretor e suas relações na escola (levantadas a

partir dos dados provenientes dos questionários contextuais da Prova Brasil e do Survey

desenvolvido pelo grupo de pesquisa) esta pesquisa propõe um estudo qualitativo em duas

escolas da rede municipal do Rio de Janeiro.

Objetivos

O objetivo principal é investigar como os diretores e as equipes gestoras das escolas da

Rede Pública Municipal de Ensino do Rio de Janeiro organizam o cotidiano da escola,

legitimando-se como liderança junto ao corpo docente e às famílias. Para tanto, procuraremos

identificar as prioridades dos gestores escolares em seu trabalho e a percepção do corpo

docente sobre a liderança da direção escolar, além de suas iniciativas na promoção de um

ambiente de colaboração e ênfase acadêmica, que influencie positivamente os resultados

escolares dos alunos. Deste objetivo derivam as seguintes questões para a pesquisa:

Que aspectos do contexto escolar, considerando sua localização na cidade, a

construção histórica de sua identidade sociocultural institucional e as políticas

educacionais, condicionam ou constrangem de forma mais decisiva o da gestão

escolar?

Existe um “efeito gestão”, como propõe Souza (2006), vinculado a diferentes perfis ou

estilos de gestão de dirigentes escolares e suas respectivas configurações de

organização escolar, que influencia os resultados nas avaliações em larga escala?

Que relações podem ser estabelecidas entre as características do trabalho do diretor, as

percepções dos professores sobre o clima escolar e o desempenho dos alunos?

Quais são as principais intervenções do diretor no trabalho do professor? Quais seus

efeitos?

Como os professores caracterizam o trabalho da gestão escolar nas escolas em que

atuam?

Justificativa

Desde a década de 1950, as pesquisas em Sociologia da Educação têm tido, como foco

principal, a tentativa de compreender as desigualdades escolares. Diferentes fases orientaram

as investigações no campo nas últimas décadas: o otimismo pedagógico no período Pós II

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Guerra (todos têm igual oportunidade de aprender, o sucesso depende do mérito individual); o

pessimismo pedagógico da era Coleman, na década de 1960 (as características da origem

social determinam o futuro acadêmico dos alunos e a escola não faz diferença); as teorias da

reprodução, a partir dos anos 1960 e 1970 (o sistema escolar reproduz e legitima as diferenças

sociais).

Após passar por um período de crise em seus paradigmas teóricos e metodológicos, o campo

da Sociologia da Educação passa a incorporar novos objetos e metodologias, especialmente na

área educacional (estudos de caso em salas de aula, por exemplo). Algumas pesquisas

começam, então, a questionar as conclusões tomadas em estudos anteriores e a observar

diferenças entre escolas. A partir de 1980/1990 se fortalecem as críticas ao determinismo e ao

“hiperfuncionalismo” das teorias da reprodução. As investigações, neste caso, têm como alvo

a identificação das diferenças relacionadas ao efeito das escolas nos resultados dos alunos e,

principalmente, na análise de características organizacionais e processuais presentes nas

escolas. Esse conjunto de pesquisas fica conhecido como pesquisas em eficácia escolar e

apontam que, se o background familiar tem um peso importante na definição do desempenho

acadêmico do aluno, alguns fatores intraescolares poderiam minimizar o efeito da origem

social, promovendo a eficácia e a equidade na oferta educacional (BROOKE e SOARES,

2008; SAMMONS, 2008). Há, então, uma mudança de perspectiva no olhar sobre a escola: se

antes ela não fazia diferença (considerando a aposta no determinismo social), as pesquisas em

escolas que apresentavam resultados discrepantes mesmo atendendo alunos da mesma origem

social consolidaram a hipótese de que o trabalho realizado pelas escolas poderia fazer, sim,

diferença. E mais ainda, levantaram a expectativa de que aquelas escolas que atendem

populações menos privilegiadas economicamente poderiam diminuir as diferenças

decorrentes da origem familiar. Considerando que os fatores extraescolares (condições

socioeconômicas, escolaridade dos pais...) ainda que muito importantes, não respondem

sozinhos pelo sucesso ou fracasso escolar, os estudos sobre a eficácia escolar enfocam os

fatores intraescolares. Autores que buscaram mensurar esse efeito indicam que entre 10 e 20%

da variância nos resultados dos alunos poderia ser explicada por aspectos escolares, tendo

controlado as variáveis indicativas das características de origem dos alunos1 (CREEMERS

and REEZGIT, 1996, p. 203). E quais seriam estes fatores escolares? O levantamento de

pesquisas desenvolvidas na área, buscando isolar as características sociodemográficas das

populações atendidas pelas escolas, sintetizaram alguns fatores que foram encontrados,

sistematicamente, como promotores de uma aprendizagem eficaz. A gestão/liderança da

escola e o clima acadêmico aparecem como importantes fatores associados ao efeito-escola.

Entende-se por efeito-escola “o quanto um dado estabelecimento escolar, por suas políticas e

práticas internas, acrescenta ao aprendizado do aluno” (BROOKE e SOARES, 2008, p.10).

Retomando os levantamentos sobre os fatores-chave para a eficácia escolar, destacamos

que a liderança, especialmente desenvolvida pelo diretor escolar, tem um lugar de destaque.

Alves e Franco (2008, p. 495) citam pesquisas realizadas com dados sobre as escolas

brasileiras que apontam a percepção sobre a liderança do diretor e a dedicação do mesmo

como características associadas à eficácia escolar. Sammons (2008) aponta que:

Quase todos os estudos de eficácia escolar mostram a liderança como fator-

chave, tanto na escola primária quanto na secundária. Gray (1990) diz que ‘a

importância da liderança dos diretores é uma das mensagens mais claras da

pesquisa em eficácia escolar’. [...] o estudo da literatura revela que três

características foram encontradas frequentemente associadas à liderança de

sucesso: propósito forte, envolvimento de outros funcionários no processo 1 No original: “Generally it is assumed that 10 to 20 per cent of variance in student achievement can be attributed to school factors after correction for student intake measures such as aptitude or social class”

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decisório, e autoridade profissional nos processos de ensino e aprendizagem (p.

351-352).

A autora, porém, pondera que ainda que a liderança do diretor seja uma característica

marcante da pesquisa sobre eficácia escolar nos Estados Unidos e Inglaterra, sua importância

depende do contexto, especialmente em razão dos diversos padrões de organização escolar

existentes nos países.

Tendo dedicado as duas últimas décadas aos estudos sobre a liderança escolar e o trabalho

do diretor, Leithwood (2009) ressalta a atenção dada ao tema:

El liderazgo escolar es actualmente objeto de una atención sin precedentes. La

agenda de la reforma educacional, en su permanente evolución, parece haber

captado que el rol del liderazgo es en sí mismo una importante meta para la

reforma y, simultaneamente, un vehículo para que otras cosas sucedan (ob. cit.,

p. 17).

O autor destaca a relevância das práticas em sala de aula entre os fatores que podem

influenciar os resultados dos estudantes, mas ressalta que a atuação dos diretores também traz

um efeito sobre a aprendizagem dos alunos, ainda que sua ação seja indireta2. Considerando

os recentes estudos sobre os efeitos do trabalho do diretor para a eficácia na aprendizagem,

Leithwood destaca que, ainda que a liderança escolar somente explique entre 3% e 5% da

variância de aprendizagem dos alunos entre escolas, ela representa um quarto da variância

total quando controladas as variáveis de origem dos alunos e analisados somente os fatores

intraescolares (2009, p. 23).

Soares (2007) também realça a importância da gestão da escola entre os fatores

intraescolares relacionados à eficácia escolar. O autor considera que “dentro da escola há dois

importantes processos que interagem para a produção do desempenho dos alunos: a gestão

escolar e o ensino” (SOARES, 2007, p.153). De acordo com o autor, a gestão,

responsabilidade da direção da escola, tem como função administrar o projeto pedagógico da

escola, as pessoas que constituem a comunidade escolar e os aspectos físicos e financeiros da

organização escolar. Isso implica em garantir o funcionamento da escola “de forma que os

recursos nela existentes possam ser usados para atender às necessidades de aprendizagem dos

alunos” (ibidem). As tarefas de conciliar e manter um ambiente propício para a aprendizagem

compartilhar as metas entre a equipe e favorecer o desenvolvimento de um trabalho coletivo

(onde os membros se sintam incluídos no processo) tem sido apontadas como estratégias de

uma gestão eficaz. Sammons (2008, p. 351) também considera que o impacto do trabalho da

gestão escolar na melhora dos resultados acadêmicos dos alunos não se dá de maneira direta,

mas envolve um verdadeiro trabalho de bastidores que procura garantir o desenvolvimento de

outras características apontadas como essenciais para a eficácia escolar: objetivos e visões

compartilhados, ambiente de aprendizagem, incentivos positivos, parceria casa-escola,

organização orientada à aprendizagem e monitoramento do progresso acadêmico dos alunos.

Entre estas características, o estudo ora proposto busca aprofundar o conhecimento sobre a

relação do trabalho do diretor com o clima escolar (envolvendo a manutenção de um ambiente

de aprendizagem e um trabalho articulado entre os educadores na escola).

2 No original: “os líderes escolares también tienem un efecto sobre el aprendizaje de los estudiantes, pero su incidencia es más bien indirecta” (LEITHWOOD, 2009, p. 20).

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Metodologia

O Survey GESQ 2014, pesquisa realizada por este grupo de trabalho, envolveu a

aplicação de questionários dirigidos a professores, coordenadores e diretores de 42 escolas da

rede municipal do Rio de Janeiro. Os dados levantados apontaram informações sobre

tipologias de liderança escolar, relações entre gestores e professores, entre outras. Em

seguida, foram selecionadas duas escolas em que se desenvolveu a pesquisa qualitativa que

este projeto propõe. A seleção foi feita entre as escolas que apresentaram maior retorno ao

survey e considerando as características relacionadas ao NSE, desempenho dos alunos e

níveis de satisfação dos professores e reconhecimento da gestão (índices criados a partir do

survey)

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com professores, coordenadores e

diretores nas escolas selecionadas. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas. Além

das entrevistas, foi feita observação da rotina escolar, especialmente acompanhando o

trabalho do diretor da escola, a partir de um protocolo de observação específico. Houve ainda

o acompanhamento de reuniões entre a equipe de gestão da escola e o corpo docente.

Para realizar o trabalho, optou-se por experimentar a técnica de shadowing, como

desenvolvida no estudo de Teroski (2014). Nesta metodologia, um ou mais pesquisadores

ficam na escola durante todo o período escolar, acompanhando o trabalho do diretor para

identificar possíveis tendências, predominâncias, comportamentos. Dedicou-se de dois a três

dias consecutivos a esta atividade (em cada escola). A opção pela metodologia qualitativa tem

como principal objetivo, aprofundar e refinar as respostas obtidas no levantamento de dados

quantitativos e possibilitar o adensamento de sua interpretação. Como apontam M. Alves et

al. (2013): “O estudo qualitativo permitirá, assim, compreender melhor o sentido das

diferentes respostas, analisar as configurações específicas e aproximar-nos do sentido das

ações detectadas, neste tratamento estatístico, de modo agregado”.

Conclusões

A análise dos resultados do Survey trouxe algumas indicações importantes sobre fatores

da gestão escolar que podem estar associados à satisfação do professor e/ou aos resultados de

aprendizagem dos alunos na amostra estudada, tais quais os perfis de liderança dos diretores,

condições de infraestrutura do ambiente escolar e número de funcionários por aluno.

As duas unidades têm diretores que assumiram seus cargos através de um processo

democrático, mas com uma significativa diferença de tempo a frente das escolas: 3 e 28 anos

de gestão. As equipes de direção (Diretor, Adjunto e Coordenador) estão completas e

apresentam diferentes perfis e distribuição de funções nas escolas. As duas escolas

apresentam diferenças significativas nos resultados de seus alunos nas avaliações externas.

O trabalho proposto neste projeto, a ser desenvolvido no âmbito do grupo de pesquisa,

pretende aprofundar a análise dos dados levantados. Para nós, pesquisadores em formação,

trata-se de uma rica oportunidade para nos aproximarmos de diferentes metodologias de

pesquisa e de participarmos da análise de seus resultados, através da elaboração de relatórios

das reflexões coletivas.

Referências

[1] ALVES, Maria Teresa Gonzaga; NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, Cláudio

Marques Martins e RESENDE, Tânia de Freitas. Fatores familiares e desempenho

escolar: uma abordagem multidimensional. Dados [online]. 2013, vol.56, n.3, pp. 571-603.

ISSN 0011-5258.

[2] ALVES, M. T. G. e FRANCO, C. A pesquisa em eficácia escolar no Brasil:

evidências sobre o efeito das escolas e fatores associados à eficácia escolar. In: BROOKE,

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Nigel; SOARES, José Francisco. (Orgs.) Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetórias.

Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

[3] BROOKE, Nigel; SOARES, José Francisco. (Orgs.) Pesquisa em eficácia escolar:

origem e trajetórias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

[4] CREEMERS, B. and REEZIGT, G. School level conditions affecting the effectiveness

of instruction. In: School Effectiveness and School Improvement, v. 7, n. 3, p. 197-228,

1996.

[5] LEITHWOOD, K. ¿Cómo liderar nuestras escuelas? Aportes desde la

investigación. Santiago: Salesianos Impresores, 2009.

[6] OLIVEIRA, A. C. P. Política pública e gestão escolar: um estudo de caso no Rio de

Janeiro. Jornal de Políticas Educacionais. 2014.

[7] POLON, T. L. P. Identificação dos Perfis de Liderança e características

relacionadas a gestão pedagógica eficaz nas escolas participante do Projeto GERES

Estudo Longitudinal - Geração Escolar 2005 - Pólo Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.

Tese (Doutorado em Educação) Coordenação de Pós-Graduação, Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro.

[6] SAMMONS, P. As características-chave das escolas eficazes. In: BROOKE, Nigel;

SOARES, José Francisco. (Orgs.) Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetórias. Belo

Horizonte: Editora UFMG, 2008.

[7] SOARES, J. F. Melhora do desempenho cognitivo dos alunos do ensino fundamental.

Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, p. 135-160, jan./abr. 2007.

[8]SOUZA, A. R. Perfil da Gestão Escolar no Brasil. Tese de Doutorado (Educação).

São Paulo: PUC-SP, 2006.

[9]TEROSKY, A, From a Managerial Imperative to a Learning Imperative: Experiences

of Urban, Public School Principals. Educational Administration Quarterly, v.50, n.1, p.3-

33,2014