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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A ARTETERAPIA COMO UM CAMINHO NO AUXÍLIO AO TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Por: Christiana Arguello Ortiz Professor Orientador: Maria Poppe Rio de Janeiro 2005 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desenvolvimento psicossocial normal. Dessa forma, o presente trabalho apresenta algumas contribuições do uso das terapias expressivas

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ARTETERAPIA COMO UM CAMINHO NO AUXÍLIO AO

TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Por: Christiana Arguello Ortiz

Professor Orientador: Maria Poppe

Rio de Janeiro

2005

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ARTETERAPIA COMO UM CAMINHO NO AUXÍLIO AO

TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Apresentação de monografia à

Universidade Cândido Mendes

como condição prévia para

conclusão do curso de Pós-

Graduação em Arteterapia em

Educação e Saúde.

Por: Christiana Arguello Ortiz

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3

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar presente em todos os

momentos de nossas vidas e me

encaminhar para a realização de mais

esse projeto.

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4

DEDICATÓRIA

À minha mãe Leandra, doce guerreira e

exemplo para minha vida. Ao meu marido

Ricardo, pelo apoio e cumplicidade. À

minha filha Tafne, meu anjo, meu Sol, uma

dádiva.

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5 RESUMO

O presente trabalho consta de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema

do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, e em como

terapias expressivas enquanto Arteterapia, podem auxiliar no tratamento dos

sintomas do transtorno, e decorrentes deste, complementar ao uso

obrigatório dos medicamentos.

Inicia-se com o histórico e a evolução do conceito do TDAH até os dias

atuais, seguidos das características, causas e sintomas do transtorno e a

repercussão causada no cotidiano das crianças e adolescentes portadores e

suas famílias; descreve uma visão geral acerca dos tratamentos possíveis e

utilizados.

Segue-se as noções de Arteterapia, seus precursores, as primeiras

atividades artísticas relacionadas com saúde e doença, o início como

Terapia Ocupacional em Centros Psiquiátricos e a influência Junguiana

dentro da abordagem arteterapêutica relacionada com tratamento auxiliar ao

TDAH em crianças e adolescentes.

E concluindo com a descrição de técnicas de Arteterapia, já usadas por

profissionais que trabalham com arte, mais especificamente atividades

corporais e jogos, que podem ser utilizadas no tratamento arteterapêutico de

crianças e adolescentes portadores do TDAH, complementando e auxiliando

o tratamento medicamentoso.

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6 METODOLOGIA

A metodologia proposta para o desenvolvimento da presente

monografia consta de:

- Levantamento bibliográfico do tema escolhido;

- Leitura de livros, periódicos e reportagens referentes ao tema de

Hiperatividade, Terapias Expressivas, História e Abordagem da Arteterapia,

assim como, técnicas adequadas ao universo infanto-juvenil;

- Descrição pormenorizada dos temas anteriormente citados;

- Identificação e descrição de técnicas passíveis de serem usadas no auxílio ao

tratamento da Hiperatividade.

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7 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 11

HIPERATIVIDADE

1.1- Hiperatividade e/ou TDAH: Evolução do conceito 11

1.2- O que é TDAH 14

1.3- Tratamento: Remédios e Terapias 21

CAPÍTULO II 28

ARTETERAPIA

2.1-Histórico e pressupostos teóricos da Arteterapia 28

2.2-A Arteterapia na abordagem Junguiana 32

CAPÍTULO III 36

ARTETERAPIA E TDAH

3.1-Arteterapia: um caminho no auxílio ao tratamento de TDAH 36

3.2-Técnicas de Arteterapia 40

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8

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA 53

ÍNDICE 55

ATIVIDADES CULTURAIS 57

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9

INTRODUÇÃO

Muitos autores já escreveram sobre o poder de catarse emocional que

produções teatrais, exposições e peças musicais evocam nas pessoas. As

pinturas em cavernas, nas rochas, ainda hoje visíveis e preservadas em vários

locais, asseguram um registro de tradições seculares de tribos e povos; a

herança dos ancestrais impregnada de poderes mágicos.

Arteterapeutas, assim como outros profissionais que utilizam recursos

expressivos, certamente reconhecerão esses costumes como precursores de

várias de suas técnicas, que incluem pintura, desenho, dança e escultura,

canto e dramatização. Muitos profissionais que atuam utilizando a arteterapia

encorajam catarses emocionais mediante vários tipos de atuação, facilitando a

descoberta de partes da personalidade ou de registros de vivências que

necessitam de expressão e cura.

Muitos autores e profissionais que atuam na área da arte e terapia,

desenvolvem inúmeros procedimentos e técnicas que, separadamente ou

aliadas umas às outras, trazem uma alternativa promissora em busca do

equilíbrio do ser nos caminhos da vida contemporânea.

No mundo atual, cada vez mais, crianças e adultos necessitam do

contato com novos métodos e oportunidades que complementem o tratamento

de seus problemas e suas doenças. Para muitos, já não bastam os

medicamentos. É preciso mais. É preciso transitar pelas diferentes expressões

artísticas e formas de contato para se tornarem seres capazes de buscar a sua

própria cura.

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10 Atualmente temos conhecimento que em uma perspectiva holística, a

música, a pintura, a modelagem, a expressão corporal no ambiente terapêutico,

podem ser potencialmente capazes de atividade dos hemisférios cerebrais

direito e esquerdo e de estimular níveis integrativos de consciência relativos ao

corpo, à mente e à alma.

A hiperatividade é diagnosticada entre 2% a 5% das crianças e

adolescentes entre 6 e 16 anos. O número de casos cresce ano a ano,

intensificando a discussão sobre questões básicas, em torno de diagnósticos,

precipitados ou não, tratamentos convencionais e/ou auxiliares, e qualidade de

vida.

Os sintomas típicos de distração, hiperatividade e agitação, aparecem

em todas as idades, mesmo em adultos. As crianças mostram-se esquecidas

ou impacientes, tendem a atrapalhar os outros e têm dificuldades em respeitar

limites. A falta de controle dos impulsos se manifesta em decisões precipitadas,

brincadeiras bobas e alterações rápidas de humor, agindo sem pensar.

De acordo com vários estudos, a utilização de algum tipo de terapia,

associada ao tratamento medicamentoso, é eficaz e fundamental para

amenizar os efeitos negativos do transtorno, que ameaçam um

desenvolvimento psicossocial normal.

Dessa forma, o presente trabalho apresenta algumas contribuições do

uso das terapias expressivas como auxiliar, e por que não complementar, aos

tratamentos da hiperatividade, com o objetivo de melhorar a convivência da

criança e adolescente com a família, a escola, grupos sociais que freqüenta, e

principalmente, consigo mesmo.

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11 CAPÍTULO I

HIPERATIVIDADE

O termo hiperatividade refere-se a um dos distúrbios de

comportamento mais freqüentes na idade pré-escolar e escolar, caracterizado

por um nível de atividade motora excessiva e crônica, déficit de atenção e falta

de autocontrole.

É difícil estabelecer na literatura o momento preciso em que se

determinou que crianças e adolescentes hiperativos e desatentos, apesar de

sempre existirem, constituíssem um grupo reconhecido como apresentando

alterações de comportamento. As características da educação familiar severa e

de regimes escolares mais rígidos, anteriores a este século, limitavam e

continham os comportamentos mais inquietos.

1.1: Hiperatividade e/ou TDAH: Evolução do conceito.

Historicamente, o diagnóstico de TDAH tem sido dificultado devido às

discordâncias sobre a sua natureza: um distúrbio cerebral biológico ou uma

resposta comportamental a certos ambientes, tais como a escola ou outras

situações onde foram colocadas demandas sobre a criança.

Inicialmente, foi definido como um distúrbio neurológico, vinculado a

uma lesão cerebral mínima. As dificuldades para objetar a existência dessa

lesão provocaram uma mudança importante na conceituação do distúrbio.

Assim, nos anos 60, surgiu a necessidade de defini-lo a partir de uma

perspectiva mais funcional, dando ênfase à caracterização da hiperatividade

como síndrome condutual, e considerando a atividade motora excessiva como

sintoma principal.

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12 Na década de 80, e como resultado de diversas investigações, são

ressaltados os aspectos cognitivos da definição da síndrome, principalmente o

déficit de atenção e a falta de autocontrole ou impulsividade, considerando-se,

além disso, que a atividade motora excessiva é o resultado do alcance

reduzido da atenção da criança e da mudança contínua de objetivos e metas a

que é submetida. Estas mudanças na caracterização do distúrbio produziram

certa confusão em relação a sua definição e denominação, por exemplo,

hiperatividade, lesão cerebral mínima, distúrbio de déficit de atenção com

hiperatividade, etc.

Segundo Cypel (2003), podemos tomar como ponto de partida o ano

de 1925, no qual trabalhos realizados assinalavam o desajeitamento ou a

debilidade motora nas crianças sem lesão cerebral, chamando a atenção para

a participação do aspecto emocional no desenvolvimento dessa função, sobre

a criança inquieta. Publicações dessa época, segundo Cypel (2003), já

esboçavam, na época, as características clínicas dessas crianças, e que

reconhecemos até hoje.

Coube a Strauss e Lehtinen, estudiosos do assunto, em 1947, retomar

o assunto e organizá-lo em suas manifestações, procurando estabelecer uma

associação com as dificuldades no aprendizado e com possíveis lesões

cerebrais, que pudessem ter como prejuízo funções práxicas (atividades

motoras mais específicas) e gnósicas ( percepções de ordem variada ).

Os anos que se seguiram foram de bastante interesse por parte dos

neurologistas. Tais profissionais, na realização de seus diagnósticos, na

maioria das vezes, se baseavam em fundamentos subjetivos e utilizando

critérios diferentes, gerando uma séria confusão na compreensão do problema.

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13 Foi então que, em 1962, em um simpósio com a participação de

profissionais da área neurológica, a partir de um consenso, foi cunhada a

expressão “disfunção cerebral mínima” (DCM). A “disfunção cerebral mínima”,

DCM, seria determinada por causas variadas, semelhantes às da paralisia

cerebral, porém sem provocar uma lesão. Nessa mesma época já se levantava

a hipótese da existência de um fator genético, assim como a predominância da

incidência dos sintomas no sexo masculino.

Essa qualificação da disfunção cerebral mínima, DCM, foi muito

importante e destaca-se como um marco histórico, permitindo ao

neuropediatra, o interesse por sintomas como discretas alterações

relacionadas com as atividades nervosas superiores, podendo se aprofundar

em características que envolviam o aprendizado escolar, a aquisição da

linguagem, a atenção, as percepções, a memória e outras funções importantes

relacionadas ao desenvolvimento da criança.

Apesar desse avanço, os neurologistas ainda se sentiam limitados na

obtenção de diagnósticos da DCM a partir do exame neurológico convencional.

A partir destes questionamentos quanto aos recursos utilizados no diagnóstico

da DCM, surgiram várias propostas de exames neurológicos mais detalhados,

destacando-se as de Towen e Prechtl (1970) e as de Rutter, Grahan e Yule

(1970).

A falta de concordância sobre a definição do TDAH também contribuiu

para a controvérsia. Termos tais como lesão cerebral mínima e disfunção

cerebral mínima são apenas alguns dos termos que foram utilizados para

categorizar crianças que manifestaram o distúrbio. A maioria dos primeiros

termos associados aos diagnósticos, tinham alguma conexão com problemas

neurológicos. Isto se deve em parte ao fato de que crianças e adultos que

tinham sofrido algum tipo de lesão no cérebro, mostravam-se frequentemente

impulsivos, hiperativos e distraídos.

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14 Com o passar do tempo, a atenção dos neuropediatras se focou no

problema apresentado por crianças, como desatenção, impulsividade e

hiperatividade. Segundo Cypel (2003), estes sintomas principais foram

considerados como base do distúrbio de déficit de atenção, quando em 1980 a

Associação Psiquiátrica Americana (APA), por meio do The Diagnostic and

Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III), um Manual de Diagnóstico e

Estatística de Distúrbios Mentais, publicou em sua classificação como

Attention-Deficit-Disorders(ADD), o que antes era referido como DCM,

distinguindo ainda dois grupos, sendo o primeiro com hiperatividade e o outro

sem essa manifestação.

Na edição do DSM-III-R, em 1987, surgiu outra mudança na

nomenclatura, passando a ser referida como Déficit de Atenção e/ou Distúrbio

de Hiperatividade (DADH), sendo classificada entre as alterações do

comportamento consideradas disruptivas.

De acordo com Cypel (2003), em 1991, o DSM-IV agrupou as

propostas anteriores, distribuindo as manifestações clínicas da DADH em dois

grupos: desatenção e impulsividade/hiperatividade. Atualmente esse é um dos

critérios mais utilizados na maior parte dos trabalhos científicos.

1.2-O que é o TDAH

Muito tem sido escrito na imprensa leiga sobre o tema, com a finalidade

de esclarecimento aos familiares e às escolas e de beneficiar essas crianças e

adolescentes, mais especificamente em torno das características

comportamentais, o prognóstico ao chegarem à adolescência ou à idade adulta

e, principalmente sobre os resultados de determinados medicamentos,

tratamentos alternativos e dietas no tratamento das crianças hiperativas.

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15 Porém, por diversas vezes, da mesma forma que contêm informações

corretas, podem também conter informações incorretas ou duvidosas que

fazem com que pais cheguem aos consultórios médicos inundados de

ansiedade, e até mesmo atemorizados com dúvidas sobre sintomas e

remédios. O que na realidade necessitam é de algo que possa alertá-los para o

tema, oferecendo-lhes, ao mesmo tempo, alguma direção na busca de

recursos. Essas informações não se devem ater aos portadores do transtorno,

mas também devem incluir, como parte do tratamento, familiares, amigos e

instituições que freqüentam.

O TDAH se caracteriza como um transtorno que atinge crianças,

adolescentes e adultos que têm dificuldades de manter a atenção, dando a

impressão que estão sempre pensando em outra coisa, aliadas a uma

inquietação diante de atividades consideradas por eles como monótonas e

repetitivas, e a uma impulsividade fora do considerado normal. Vivem trocando

de interesses, tendo dificuldades de finalizar o que iniciam.

São crianças e adolescentes incapazes de filtrar estímulos, sendo

facilmente distraídos. Podem falar muito e/ou alto demais; em momentos

considerados inoportunos não conseguem se controlar. È importante saber

distinguir a criança normalmente ativa e enérgica da criança realmente

hiperativa, como conclui Mattos (2004):

“Em atividades mais livres, como festas de

aniversário, brincadeiras no playground e em parques e

praças, crianças com TDAH falam muito, mexem-se sem

parar, exploram o ambiente de maneira incomum para sua

idade (subindo em mesas, lixeiras, grades, etc.), além de

serem muito impulsivas. Em geral, não avaliam as

conseqüências de nada e freqüentemente se machucam. Em

casa vivem correndo e são “estabanadas”. À medida que

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16 prosseguem os anos, a agitação motora pode diminuir,

porém a maioria destas crianças se mostra inquieta,

mexendo pés e mãos incessantemente”.

No que diz respeito às causas do transtorno, não existe uma

única causa estabelecida, porém existem evidências diante de

experiências e incidências. A herança genética é uma das possíveis

causas, estudada através dessas incidências do transtorno em

membros de uma mesma família, porém pode não ser o único fator

determinante.

Existem outros fatores externos ou ambientais que, aliados a

uma herança genética, podem justificar o aparecimento do transtorno,

como o uso de aditivos alimentares (corantes e conservantes), uso de

aspartame, excesso de açúcar na alimentação, luz fluorescente,

deficiências de vitaminas e problemas na tireóide, porém de acordo com

Mattos (2004) nenhuma se mostrou sólida o suficiente para ser

justificada.

No entanto, alguns fatores como problemas durante o parto

(laboriosos ou com algum tipo de sofrimento para o feto), uso de cigarro

ou álcool durante a gravidez, são considerados importantes.

Existem outros sintomas não relacionados como critérios tradicionais,

mas que são levados em conta na hora de concluir um diagnóstico, e são

muito comuns:

a) Baixa auto-estima;

b) Sonolência diurna, mesmo depois de uma boa noite de

sono;

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17 c) “Pavio curto”, um sintoma que, provavelmente, mistura a

impulsividade com a irritabilidade;

d) Não conseguir fixar o que leu somente de uma vez; lêem,

mas não conseguem absorver e memorizar a idéia contida;

e) Falta de ânimo para começar o dia, letargia;

f) Adiamento crônico das coisas;

g) Mudança de interesses repentinamente;

h) Intolerância diante de situações monótonas;

i) Necessidade de atividades estimulantes e sempre

diferentes;

j) Variações repentinas de humor.

Em geral, as queixas se iniciam no ambiente escolar, afetando a vida

acadêmica do paciente, seja nos primeiros anos, ou na adolescência, quando o

volume de conteúdo programático se torna maior e a necessidade de

concentração aumenta. Isso não significa que o transtorno não possa ser

diagnosticado em uma fase adulta, quando se descobrem prejudicados seus

ambientes profissional, familiar e social.

Esses sintomas podem ficar por muito tempo, ou mesmo uma vida

inteira, sem serem diagnosticados como transtorno, e dessa forma, não obter

por todo esse tempo tratamento correto, só vindo a ser descoberto já em idade

adulta. O TDAH deve ser diagnosticado por um médico ou um psicólogo,

porém sempre que fizer uso de medicamentos, ser orientado por um médico.

Em um texto retirado do livro escrito por Cypel (2003), a Associação

Médica Americana, uma das mais rigorosas e influentes do mundo, disse em

1998, sobre a importância dada ao transtorno:

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18 “O TDAH é um dos transtornos mais bem

estudados na medicina e os dados gerais sobre sua

validade, são muito mais convincentes que a maioria dos

transtornos mentais e até mesmo que muitas condições

médicas”.

.

Segundo Mattos (2004), O TDAH é um problema para toda a vida,

crônico na maioria dos casos (mais de 60%), não existindo cura. Os sintomas

são realmente parecidos, seja durante a infância e a adolescência ou na vida

adulta. Mattos relata o conjunto de sintomas que constituem o TDAH, sendo 18

ao todo, descritos em módulos pelo DSM IV, não deixando de citar a

individualização de cada caso e de cada paciente, considerando sempre seu

histórico pessoal, sua personalidade, estilo de vida particular, contextos

familiares, outros problemas associados e etc.:

Módulo A:

Sintomas de desatenção (devem ocorrer frequentemente):

1) Prestar pouca atenção a detalhes e cometer erros por falta

de atenção;

2) Dificuldade de se concentrar (tanto nas tarefas escolares

quanto em jogos e brincadeiras);

3) Parecer estar prestando atenção em outras coisas em uma

conversa;

4) Dificuldade em seguir as instruções até o fim ou deixar

tarefas e deveres sem terminar;

5) Dificuldade de se organizar para fazer algo ou planejar com

antecedência;

6) Relutância ou antipatia em relação a tarefas que exijam

esforço mental por muito tempo (tais como estudo ou leitura);

7) Perder objetos necessários para realizar as tarefas ou

atividades do dia a dia;

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19 8) Distrair-se com muita facilidade com coisas à sua volta ou

mesmo com seus próprios pensamentos. É comum que pais e

professores se queixem de que estas crianças parecem “sonharem

acordadas”;

9) Esquecer de coisas que deveria fazer no dia a dia.

Módulo B

Sintomas de hiperatividade e impulsividade (eles devem ocorrer

freqüentemente):

1) Ficar mexendo as mãos e pés quando sentado ou se

mexer muito na cadeira;

2) Dificuldade de permanecer sentado em situações em que

isso é esperado (sala de aula, mesa de jantar, etc.);

3) Correr ou escalar coisas, em situações nas quais isto é

inapropriado (em adolescentes e adultos pode se restringir a um sentir-

se inquieto por dentro);

4) Dificuldades para se manter em atividades de lazer (jogos

ou brincadeiras) em silêncio;

5) Parecer ser “elétrico” e “a mil por hora”;

6) Falar demais;

7) Responder perguntas antes de elas serem concluídas. É

comum responder a pergunta sem ler até o final;

8) Não conseguir aguardar a sua vez (nos jogos, na sala de

aula, em filas, etc.);

9) Interromper os outros ou se meter nas conversas dos

outros.

Existem três tipos de TDAH:

Forma predominantemente desatenta, quando existem mais sintomas

do módulo A. Esta é a forma mais comum na população em geral;

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20 Forma predominantemente hiperativa/impulsiva, quando existem mais

sintomas do módulo B. Esta é a forma mais rara;

Forma combinada, quando existem muitos sintomas do módulo A e

também do módulo B. Esta é a forma mais comum nos consultórios e

ambulatórios, provavelmente porque causa mais problemas para o próprio

portador e para os demais, o que leva os pais a procurarem ajuda para o filho.

Para que se diga que alguém tem a forma predominantemente

desatenta, é necessário que apresente pelo menos seis dos nove sintomas

daquele módulo; para ter a forma predominantemente hiperativa, é necessário

que apresente pelo menos seis dos sintomas daquele outro módulo. Na forma

combinada, é preciso pelo menos seis sintomas de cada um dos módulos.

Para Mattos (2004), para complementar o diagnóstico, é obrigatório

ainda:

1) Apresentar os sintomas desde cedo (antes dos 7 aos 12 anos);

2) Causar problemas em pelo menos dois contextos diferentes (por

exemplo, casa e escola);

3) Os sintomas atrapalharem claramente a vida do indivíduo, seja na

escola, em casa, na profissão ou nos relacionamentos com os demais;

4) Os sintomas não serem explicados por um outro problema (por

exemplo, ansiedade ou depressão, cujos sintomas são muito parecidos).

O primeiro passo em direção ao tratamento do TDAH é, sem dúvida, se

certificar de que é o diagnóstico correto e assegurar de que não há outros

diagnósticos associados ao TDAH, sempre feito por um profissional que

realmente tem experiência no assunto, e procurar o máximo de informações

possíveis para se lidar com os problemas cotidianos do portador, sem esquecer

que, cada caso é um caso, individual e único, e por isso deve ser tratado como

tal.

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21 1.3-Tratamento: Remédios e Terapia

As referências quanto ao tratamento do TDAH é, na maioria das vezes,

comum aos especialistas e estudiosos do transtorno; porém, tanto Cypel (2003)

quanto Mattos (2004), ressaltam a necessidade de uma investigação rigorosa

em relação à história de vida da criança e observação de seu comportamento

durante o exame clínico-neurológico.

Mattos (2004) cita alguns aspectos que são complementares ao

tratamento, alguns opcionais:

Ø Confirmação do diagnóstico e avaliação de outros

diagnósticos associados (que podem levar a modificações no

tratamento), podendo exigir o parecer de um especialista e a realização

de entrevistas mais aprofundadas, preenchimento de questionários e

realização de testes neuropsicológicos incluindo testes feitos por

fonoaudiólogos;

Ø Explicação detalhada do transtorno, indicação de livros,

associações ou sites da internet para que os pais conheçam melhor o

TDAH;

Ø Uso de medicamentos;

Ø Orientação aos pais, incluindo a modificação do ambiente

de casa e aconselhamento sobre a forma de se lidar com o transtorno;

Ø Orientação à escola (pode ser feita por material impresso,

indicação de livros, associações ou sites da internet, etc.). Em casos

específicos, quando há muito comprometimento da vida escolar, o

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22 médico, o psicólogo ou o pedagogo da equipe que trata o paciente pode

pessoalmente fazer a orientação mais detalhada e com alguma

supervisão;

Ø Psicoterapia e programas especializados;

Ø Tratamento fonoaudiólogo;

Ø Treino em técnicas de reabilitação da atenção.

Quando o diagnóstico de TDAH estiver claro, ou seja, se existem

desatenção, hiperatividade e impulsividade que causem problemas

significativos na escola, na família e no convívio da criança e/ou adolescente

em geral, o tratamento com medicamentos deve ser feito e, segundo Mattos

(2004) é o primeiro passo a ser tomado no tratamento; mesmo que a idéia de

se tentar outra coisa antes dos medicamentos seja comum, se baseia em

preconceitos e não em bases científicas.

Muitos profissionais não médicos, que têm clareza acerca do TDAH e

trabalham em centros de referência ou pesquisa para o tratamento, indicam um

médico de sua confiança para atender em conjunto o seu paciente, e muitas

vezes atrelam o tratamento psicoterápico ou fonoaudiólogo, ao tratamento

medicamentoso. A psicoterapia seria um tratamento complementar, não uma

alternativa. Essa prática terapêutica medicamentosa nos casos de TDAH é um

consenso entre especialistas e pesquisadores, pois os benefícios apresentados

por diversos autores são muito maiores que eventuais riscos para o portador do

TDAH.

É importante ressaltar a necessidade de uma avaliação e uma

orientação específicas para cada criança, em contraponto a condutas

estereotipadas, e no percurso do diagnóstico, analisar não só a desatenção e

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23 hiperatividade da criança, mas também seu ambiente de vivências, desde a

família até sua inserção em outros grupos sociais. A partir desse olhar

direcionado aos vários aspectos do transtorno, o profissional poderá considerar

um espectro maior de recursos a serem utilizados na orientação terapêutica

além daqueles tradicionalmente utilizados.

Confirmado o diagnóstico de TDAH, o médico poderá então iniciar o

tratamento com medicamentos. Todas as pesquisas realizadas demonstram

que os medicamentos são a forma mais eficaz de tratamento, ressaltando

sempre a necessidade de se ter esgotadas todas as investigações em torno de

sintomas e comportamentos e se estabelecido como diagnóstico final o TDAH.

Segundo Cypel (2003), o uso de medicamentos tem sua indicação em

crianças nas quais a alteração de comportamento é intensa, e as orientações

dadas aos pais, à escola e as medidas psicoterápicas não se mostraram

eficientes. Ou pode ser aplicada desde o início do tratamento naqueles casos

nos quais as conseqüências são de tal porte disruptivas para o ambiente e para

o relacionamento social da criança, que não há como esperar um tempo maior

para que as orientações dadas aos familiares e à escola mostrem seus

benefícios, sendo necessário de imediato abrandar a inquietude e a

impulsividade. Por outro lado, essa prática medicamentosa coloca todas as

crianças em um mesmo patamar, ressaltando-se sempre a necessidade de

individualização de cada caso.

Os medicamentos utilizados no tratamento do TDAH aumentam a

quantidade de dopamina e noradrenalina que se encontram diminuídas em

determinadas regiões do sistema nervoso central, mais especificamente na

região frontal (parte anterior do cérebro) e suas conexões. A dopamina e a

noradrenalina são substâncias normalmente produzidas e liberadas pelas

células nervosas e servem para transmitir as informações entre elas. Uma

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24 regulação deficitária nos sistemas de dopamina e/ou noradrenalina parece

estar envolvida no aparecimento dos sintomas de TDAH.

A opção mais usada em drogas até hoje são os estimulantes, tais como

os derivados anfetamínicos (que não existem no Brasil) e o metilfenidato. Os

estimulantes diminuem ou mesmo eliminam os principais sintomas do TDAH

(desatenção, hiperatividade e impulsividade) em uma enorme escala de

crianças e adolescentes tratados com eles. São elas a seguir:

-Metilfenidato

A droga mais eficaz é o metifenidato (Ritalina). Seus efeitos colaterais

são insônia, inapetência com conseqüente perda de peso, atraso no

crescimento, e, às vezes, uma reação indesejável de aumento na inquietude;

quando essas reações são significativas, há a necessidade de retirada e/ou

substituição do remédio.

-Imipramina

Outra droga que apresenta bons resultados é a imipramina(Tofranil).

Seus efeitos benéficos com relação à atenção e à hiperatividade são

superponíveis ao metilfenidato. O efeito colateral mais freqüente é a

inapetência, podendo ocorrer também o inverso com as crianças e ficarem com

um apetite exagerado e ter um ganho razoável de peso, resultando em

limitação do uso do medicamento. A utilização da imipramina costuma produzir

bons resultados.

-Pemoline

O pemoline é pouco usado em nosso país, tendo sua indicação

associada a menor ocorrência de efeitos colaterais.

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25 -Ansiolíticos

Os medicamentos ansiolíticos, mais especificamente os

benzodiazepínicos, poderão ter sua indicação nos casos em que os níveis de

ansiedade se mostrarem muito elevados.

-Promazínicos e Butirofenona

Essas drogas são indicadas nos casos em que as alterações de

comportamento forem acentuadas e complexas, com manifestações do tipo

psicótico (casos Borderline), e que não obtiveram melhora com os

medicamentos anteriormente referidos.

-Cafeína

Não existem estudos científicos comprovando a eficácia da cafeína em

crianças com TDAH. Alguns poucos estudos mostram que o efeito é

semelhante ao do placebo (substância sem efeito) e não é superior ao efeito

dos estimulantes. A cafeína só demonstrou ter um pequeno efeito positivo

sobre a atenção em indivíduos normais que não eram portadores de TDAH.

-Homeopatia

Não existe qualquer comprovação científica sobre sua eficácia no

TDAH.

-Ortomolecular

Não existe qualquer comprovação científica sobre sua eficácia no

TDAH.

-Fitoterápicos

Não existe qualquer comprovação científica sobre sua eficácia no

TDAH.

É importante lembrar que o uso dessas drogas deve ser sempre

indicado e acompanhado por médicos que tenham experiência em seu uso. A

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26 maioria dos profissionais que trabalham com o TDAH é unânime na opinião ao

tratamento medicamentoso, acompanhado ou não de uma prática terapêutica,

como mesmo exemplifica Mattos (2004):

“Todas as pesquisas que foram realizadas até hoje

demonstraram que os medicamentos são a forma de

tratamento mais eficaz. Como é comum que os pais

tenham receio de usá-los, acaba-se optando por outros

tipos de tratamento que não trazem resultados muito

satisfatórios quando feitos isoladamente. Quando o

portador do TDAH está tomando a medicação (e, portanto ,

tem sua produção de neurotransmissores regularizada),

qualquer outra abordagem que se faça, em especial a

psicoterapia e a modificação do ambiente, traz resultados

muito melhores do que se ele não usasse medicamentos.”

Segundo Mattos, a psicoterapia, ou qualquer outro tipo de terapia, não

vai diminuir os sintomas básicos do transtorno (desatenção, hiperatividade e

impulsividade), mas permitir que se administre melhor esses sintomas no

cotidiano e se atenue o impacto que tem na vida do indivíduo. Tanto Cypel

(2003), quanto Mattos (2004), citam a terapia denominada cognitivo-

comportamental como a única forma de psicoterapia que revelou alguma

eficácia no tratamento do TDAH:

“Constitui uma atividade terapêutica que inclui

trabalhar conjuntamente processos cognitivos e

comportamentos da criança, utilizando-se de técnicas

operacionais” (Cypel, 2003).

”Em crianças com comportamento muito

desadaptativo, técnicas comportamentais podem ajudar

muito. Vários estudos mostram que a criança e o

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27 adolescente com TDAH que recebe tratamento adequado

são menos propensos a desenvolver problemas de

comportamento, quadros de ansiedade e baixa auto-

estima; além de apresentar menor risco de abuso de álcool

ou drogas” (Mattos, 2004).

A arte e as brincadeiras simbólicas podem ajudar a reduzir essa

confusão cognitiva da criança, concentrando sua atenção no uso de materiais

repletos de ludicidade e magia; ou mesmo auxiliando a identificar o grau de

comprometimento afetivo-moral, intelectual e perceptivo-motor em que se

encontra a criança. A arte é uma forma de expressão organizadora de

estímulos perceptivos, possuidora de aspectos cognitivos como motivação e

solução de problemas.

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28 CAPÍTULO II

ARTETERAPIA

A arte possibilita o desabrochar do imaginário. Através de práticas

expressivas que permitem a integração dos dois lados do ser humano,

consciente e inconsciente, razão e emoção, caos e cosmos, yin e yang, a

Arteterapia propicia a possibilidade de descobertas, realizações e

transformações de um ser, a partir da compreensão da dimensão simbólica

contida em suas produções artísticas.

2.1-Histórico e pressupostos teóricos da Arteterapia

A vivência emocional dos indivíduos está sujeita a um racionalismo que

é próprio da nossa cultura ocidental, onde a fragmentação entre o cognitivo e o

emocional, ainda remanescente do século XX, acaba por limitar o “Homem” e,

colocar em segundo plano, fatores como fantasias, emoções, intuições e

sonhos.

Porém, já não nos é incomum que exista atualmente uma intensa

procura por uma visão sistêmica e holística do “homem”, integrado ao seu meio

e à suas emoções internas mais profundas, explorando tanto os lados “caos”

ou “cosmos” presentes em cada ser.

É preciso desmistificar que é somente no cérebro que se concentra o

desenvolvimento e a criatividade do ser humano; nos libertarmos e vermos nas

mãos e nas auto expressões criativas em geral, todo poder de criação e de

dados que poderão ser preciosos em um processo de reconhecimento

patológico, ou mesmo de um “aprender a ver-se”(Urrutigaray, 2003).

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29 Partindo do princípio básico que a arte transmite sentimentos,

possibilita a “integração de algo que falta em você”, a Arteterapia, uso da arte

como terapia, permite o resgate do potencial criativo do homem, estimulando

autonomia e sua transformação interna e melhor compreensão de si mesmo.

A prática da arte proporciona tanto o desenvolvimento racional, quanto

o irracional, simultaneamente, possibilitando assim, o sentido da auto-

organização, por equilibrar a razão e a emoção e, consequentemente, o

desenvolvimento dos aspectos volitivos, afetivos e cognitivos, como define

Liomar Quinto de Andrade (2000):

“A arte, como quer que seja entendida, tem uma

função extremamente importante e essencial para o

desenvolvimento humano podendo fazer a integração de

elementos conflitantes: impulso-controle, amor-

acolhimento, versus ódio-agressividade, sentimento-

pensamento, fantasia-realidade, consciente-inconsciente,

verbal, pré-verbal e não verbal. A função das artes tem sido

explicada dentro de diversas teorias e todas elas

reconhecem nela uma qualidade integrativa inerente, um

poder de unir forças oponentes dentro da personalidade.

Favorecer a reconciliação das necessidades do indivíduo

com as demandas do mundo exterior pode ser

compreendido como a função psicológica da arte”.

Segundo Andrade (2000), no início do século XX, Freud se dedica a

escrever sobre artistas e suas obras, analisando-os sob a luz da psicanálise,

tornando possível a análise profunda das manifestações inconscientes através

da leitura dessas obras artísticas. Para Freud, a criação artística é produto de

uma função psíquica, denominada sublimação.

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30 O recurso da arte aplicado à psicopatologia, originou-se quando Jung

passou a trabalhar com o fazer artístico em forma de atividade criativa e

integradora da personalidade.

Na década de 20, Jung começa a usar a arte como parte do

tratamento. Passa a pedir a seus clientes que façam desenhos, representações

de imagens de sonhos e de situações conflitivas. Para Jung, a criatividade é

uma função psíquica, daí a arte não ser apenas fruto de sublimação de

instintos sexuais e agressivos como pontuava Freud. Começou a usar técnicas

de desenhos livres, para facilitar a interação verbal com os pacientes, partindo

do princípio que através da arte o homem consegue reorganizar seu caos

interior.

No Brasil, o trabalho com arte inicia-se, primeiramente, em centros de

reabilitação psiquiátricas (terapia ocupacional), com o objetivo de acalmar os

pacientes. Andrade (2000) relatou que o precursor no Brasil da análise da

expressão psicopatológica de doentes mentais, internados em instituições

psiquiátricas, foi Osório César, como estudante interno do Hospital do Juquerí.

Osório César realizou mais de 50 exposições para divulgar a expressão

artística de doentes mentais procurando afirmar a dignidade humana desses

pacientes, além de valorizar a técnica de Arteterapia. Acreditava que o fazer

arte era um veículo para a “cura por si”, por permitir acessar o conhecimento do

mundo interior.

Outra pessoa que realizou um trabalho inovador foi Nise da Silveira,

médica e psiquiatra que introduziu a Arteterapia no Brasil como uma nova

modalidade de tratamento de psicoses. Essa experiência foi primeiramente

realizada em 1946 no espaço criado no Hospital Psiquiátrico Pedro II, em

Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, quando criou a Seção de Terapêutica

Ocupacional. Em 1952, criou o Museu de Imagens do Inconsciente, um dos

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31 mais importantes acervos do mundo onde são conservados e organizados

trabalhos de expressão dos internados na instituição:

“Nise da Silveira entendeu com maestria esta

noção junguiana e a instrumentaliza em seu ateliê

enquanto linguagem para produzir a comunicação entre

paciente e terapeuta, utilizando-se de um substrato

comum: o conhecimento armazenado neste suposto lugar

da mente humana, o inconsciente coletivo, que é o herdeiro

de toda a experiência da raça. Para ela, a pintura adquire

uma importante função enquanto instrumento de trabalho

para o doente mental reconquistar um espaço cotidiano ao

reconstruir a realidade. Estes trabalhos documentam em

imagens e símbolos profundas condensações de

,significados constituintes de uma linguagem arcaica de

raízes universais”. (Andrade, 2000)

A partir daí, a arte surge, segundo Urrutigaray (2003), como

“instrumento de diagnóstico e prognóstico”, viabilizando o confronto e o

entendimento de conteúdos inconscientes expressos em “imagens imaginadas”

e posteriormente “criadas”.

Atualmente, as artes terapias superaram os estudos psiquiátricos e

encontraram aplicações como métodos terapêuticos em consultórios e

instituições e organizações diversas. Pode ser utilizada com pacientes

individualmente e em grupo, como no atendimento de casal e família. É

aplicada em crianças, adolescentes e adultos, em terapias focais, breves e de

longa duração; em orientação profissional, vocacional, ocupacional,

recrutamento, seleção e treinamento, bem como encontram amplo uso em

prevenção e educação.

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32 2.2-A Arteterapia na abordagem Junguiana

A Arteterapia baseada na abordagem Junguiana propicia, através do

uso de materiais expressivos e adequados, a criação de símbolos presentes no

universo imaginário e inconsciente singular de cada um, se traduzindo em

produções simbólicas que representam estruturas psíquicas internas do

inconsciente pessoal e coletivo.

O símbolo representa alguma coisa desconhecida ou não entendida

completamente. A razão de ser do símbolo reside na necessidade humana de

expressar aquilo que é inerentemente inexpressável.

Segundo Grinberg (2003), para Jung as imagens representam uma

simbolização do inconsciente pessoal e, muitas vezes, inconsciente coletivo,

decorrente da cultura humana nas diferentes nas diversas civilizações, culturas

e mitologias. O inconsciente não é subproduto da consciência. A consciência

individual é que é produto do inconsciente coletivo da humanidade e traz

consigo sua própria porção inconsciente da luz da consciência, que influencia o

comportamento do indivíduo.

Jung enfatizou a importância dos símbolos como agentes de cura,

induzindo-os a um processo de individuação, que acreditava ser simbolizado

por uma mandala.

O conceito oriental de mandala influenciou fortemente o pensamento

de Jung. Mandala é uma palavra sânscrita que designa um esquema ou

diagrama circular usado com freqüência em meditação e outras práticas

espirituais. Jung descobriu que seus clientes produziam espontaneamente

desenhos de mandalas, mesmo que estranhos à arte ou filosofia orientais.

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33 O termo individuação está ligado à formação de imagens arquetípicas

que leva o cliente a experienciar o “Self” como o centro da personalidade,

transcendendo o ego. Entra em contato com seu próprio “si mesmo”, sua

verdadeira essência. Quanto mais respondemos às exigências do meio, nos

desconectamos de nosso interior. O processo de individuação reunifica

consciente e inconsciente. O processo de individuação conduz a um

crescimento, ao auto-conhecimento e a uma construção interior.

Os nossos processos instintivos se manifestam através de arquétipos,

como padrões de organização de pensamento universais. São modos de

pensar e agir através de imagens arquetípicas presentes em sonhos, mitos,

lendas e contos, fantasias, exercícios de simbolização, projeções, trocas

afetivas e na religiosidade, Enfim, toda manifestação expressiva e criativa

humana. São a união entre a particularização de nossos processos instintivos e

os universais simbólicos do imaginário coletivo, como sita Andrade (2000)

sobre o pensamento de Jung:

“Vê o homem como um ser essencialmente social, a

psique humana não pode existir sem uma cultura de origem,

onde a individualidade vai se processar por diferenciação

deste contexto maior. O indivíduo não pode sobreviver nem

funcionar sem uma sociedade na qual possa inserir o seu

histórico de individuação. A arte, os rituais, religiões, nas

expressões individuais e culturais sempre “re-apresentam”

esse modo funcional do ser humano”.

Jung considerava os conteúdos simbólicos e inconscientes existentes

individualmente em cada processo criativo. No processo criativo, a energia do

inconsciente se liga a um arquétipo e o expressa em uma linguagem simbólica

que transcende a realidade.

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34 Para Jung, existem dois tipos psicológicos, que tem a ver com os

diferentes modos de funcionamento da consciência e suas atitudes em relação

ao mundo a sua volta. O tipo introvertido dirige o seu interesse primeiro para o

seu interior, para o sujeito e depois para os objetos; o tipo extrovertido

direciona seu interesse para o exterior, primeiro para os objetos e depois para

o sujeito. Todos nós possuímos os dois tipos, sendo que um fica adormecido

no inconsciente, podendo ser desenvolvido com o tempo.

Cada uma dessas atitudes psicológicas básicas comporta muitas

variações, atreladas às funções psicológicas definidas por Jung e citadas por

Grinberg (2003):

“Como vimos, as funções psicológicas são utilizadas

pela psique consciente em decorrência de uma necessidade

de adaptação à vida interior e exterior. Tudo aquilo que o

ego empregar visando relacionar-se consigo mesmo, com o

mundo e com os outros é uma função psicológica. Jung

identificou quatro funções psicológicas que o ego utiliza para

se orientar, organizar e “experienciar” a vida: o pensamento,

a sensação, a intuição e o sentimento. Elas são uma espécie

de pontos cardeais da consciência”.

A sensação seria aquilo que diz que algo existe; o pensamento

revelaria o que é esse algo; o sentimento mostraria o seu valor; e a intuição

indicaria as possibilidades. Cada função deve ser experimentada tanto de

maneira exterior quanto interior. Segundo Fadiman & Frager (1986), Jung

definiu as funções pensamento e sentimento como maneiras alternativas de

elaborar julgamentos, e classifica a sensação e intuição, como as formas de

apreender informações. Uma combinação das quatro funções resultaria em

abordagem equilibrada do mundo.

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35 Na abordagem Junguiana, a criança e o adolescente passam por

estágios de desenvolvimento, dando início ao processo de individuação, ao

despertar da consciência, onde começa a assimilar as regras e começa a

desenvolver melhor seu convívio social. A linguagem não verbal da Arteterapia

ajuda a criança a desenvolver seu universo sensorial, sua consciência corporal,

sua capacidade de representar e re-construir seus sentimentos, elaborando

melhor seu mundo interior e exterior.

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36 CAPITULO III

ARTETERAPIA E TDAH

Quando um indivíduo se expressa em arte, tem a possibilidade de estar

consigo mesmo, voltando-se para o seu interior, tendo contato com o mais

profundo da sua consciência e de sua ligação com o todo do Universo. Por

essa razão, a arte em todas as suas expressões, deve ser trabalhada de forma

abrangente, transformando aspectos internos e externos em atitudes que

facilitam o contato com a natureza criativa do ser humano.

3.1-Arteterapia: um caminho no auxílio ao tratamento de

TDAH

Ao lidar com arte, percebe-se a existência de uma constante, apesar

de enfoques diversos surgirem em momentos distintos; brincar e fazer arte,

estimulam a criança ou o adulto a “perceber e desenvolver uma relação mais

aberta consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com as situações

diversas que a vida lhe apresenta” (Saviani in: Ciornai, 2004). Segundo

Saviani, ao vivenciar arte, o indivíduo em questão tem contato com o mais

íntimo do seu ser; tem a possibilidade de ter consciência da sua essência como

ser criador. Além disso, elabora o auto-conhecimento através de uma

linguagem artística, obtendo maior presença no processo de sua própria vida e,

permitindo uma interação maior com o meio que o cerca.

Os seres humanos têm uma necessidade vital de perceber

profundamente o que a natureza é para eles e como ela ocupa seu espaço

interior. A multiplicidade de sons, cores, movimentos, formas, gestos,

expressões, tamanhos, intensidade, são complementos vitais para o equilíbrio

e harmonia interior. Diferentes plantas, o cantar de um pássaro, o mar em

movimento constante, os alimentos, a madeira dos seus móveis, enfim, tudo

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37 que é possível de ser representado através das mãos, sensibiliza o ser e

integra-se materialmente ao seu cotidiano.

Capra (1995) afirma que, o tempo todo estamos diante de mudanças e

transformações, seja no campo biológico, social ou cultural. Afirma ainda que

“o processo é sempre contínuo e permanece sempre em mutação. Tudo está

sujeito à lei do mutável, do movimento contínuo e infinito”.

O ser humano, como um dos integrantes da natureza, afirma Saviani

(in Ciornai, 2004), realiza com ela uma sinergia, trocando energias,

modificando-a e transformando-a, refazendo nesse momento a expressão de si

mesmo e de suas relações e sentimentos com o mundo, sua essência e suas

criações artísticas.

À medida que esse ser entra em contato com essa natureza criativa e

do seu Universo, vivencia, e faz arte, sua percepção se expande, e

sentimentos mais profundos vêm à tona. Sensações, emoções e imagens

pessoais se configuram e se materializam. Outro olhar, outro escutar, e outro

sentir, se fazem presentes em uma nova percepção se suas limitações e

conquistas.

A partir daí, o processo não para; continua em outras situações e no

cotidiano da vida. Dessa experiência surgem novas idéias e novos estímulos.

Desse contato com o fazer artístico, muitos conteúdos internos do ser humano,

afloram, se transformando, potencializando e concretizando externamente. O

poder criador está além do ser humano. O processo é ilimitado, infinito, dentro

de movimentos cíclicos, trabalhando o fim de cada momento, e comemorando

o nascer e o recriar das possibilidades que o potencial criativo traz no seu

contexto.

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38 Esse processo criador, que tão bem coloca Saviani (in Ciornai, 2004),

pode aparecer, quando bem direcionado, em situações internas a serem

resolvidas, em relacionamentos, quanto na criação de algum produto ou na

própria criação artística. A arte pode se manifestar como alguma coisa que

brota do negativo, da ansiedade e da exclusão, mas que evidencia, no fundo,

grande esperança do ser que ali se manifesta, em encontrar resposta às suas

dúvidas e alívio à sua dor.

O processo de criação através de técnicas expressivas como o

desenho, a pintura, a dança, a escultura, sempre nos remete a novas formas

de estar e vivenciar a vida. Os materiais a serem utilizados são inúmeros, e

não se chocam, se complementam. Um aspecto significativo com relação aos

materiais e técnicas expressivas utilizados deve ser considerado: não existem

técnicas nem materiais específicos ou limitados no emprego da arte em auxílio

de um tratamento; porém, nem todos os recursos artísticos possíveis são

aplicáveis a todos os tipos de situações apresentadas ao arteterapeuta no

início do tratamento, ou mesmo durante o seu percurso.

No que se refere ao TDAH, a arte enquanto terapia, objetivando mera

expressão e criação, pode estabelecer uma maneira natural da criança ou

adolescente, comunicar-se com as outras pessoas, quer sejam de sua família,

ou instituições que freqüenta, ou mesmo no atelier terapêutico. Segundo Maria

Cristina Urrutigaray (2003), “a arte consegue, por si só, transmitir sentimentos

como alegria, desespero, angústia e felicidade de maneira única e pessoal”:

“Para finalizar, resumidamente, a Arte Terapia traz,

como modalidade expressiva, a possibilidade de

transformação de um ser. Partindo de realizações concretas,

a criação de seus trabalhos, o indivíduo faz-se a si mesmo,

através da compreensão das suas dimensões simbólicas

contidas nas suas representações” (Urrutigaray, 2003).

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39 Além disso, de acordo com vários estudos, a utilização de algum tipo

de terapia, sempre como auxiliar em um tratamento medicamentoso pré-

existente, é eficaz e fundamental para amenizar os efeitos negativos do

transtorno que ameaçam o desenvolvimento psicossocial normal.

Das crianças com diagnóstico de TDAH, aproximadamente 80% sofrem

de pelo menos mais de um problema, como tiques nervosos, comportamento

anti-social, ansiedade ou problemas de leitura.

Em virtude da diferença de comportamento institui-se uma crise na vida

da criança, afetando tanto seu lado orgânico como psíquico, determinados

pelos transtornos comportamentais diversos e a interrupção do seu

desenvolvimento normal.

Além de neutralizar através da arte, os fatores de ordem afetiva que

naturalmente surgem, consegue expor potenciais mais saudáveis da criança,

por vezes pouco externadas no contexto do transtorno, como curiosidade,

humor, inteligência e criatividade.

A arteterapia pode levar à criança, oportunidades que a levem a aceitar

com mais naturalidade as situações desfavoráveis, facilitando sua adaptação

às rotinas do transtorno e facilitando sua adaptação, estimulando seu

desenvolvimento saudável e restabelecendo o equilíbrio emocional, como

afirma Ana Luísa Baptista em seu texto ”A arteterapia no tratamento de

crianças e adolescentes” (in Philippini, 2004):

“As crianças e adolescentes sabem que essas

vivências estão protegidas pelo Universo imaginário e

simbólico, onde podem experimentar sem medo impulsos

agressivos, destrutivos e prazeirosos também, canalizando

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40 essa energia através das expressões artísticas: uma

linguagem totalmente familiar.”

Da mesma forma que pode identificar indícios, e trabalhar na

prevenção, de conseqüências futuras do problema, como a propensão ao uso

de drogas, transtornos de humor (depressão, principalmente) e transtornos de

conduta, como exemplifica Ana Luísa Baptista (in Philippini, 2004):

“Isso ocorre porque a Arteterapia possibilita um

acesso direto a informações do sistema límbico, tanto no que

se refere a memórias pré-verbais, como a imagens

simbólicas. O material que emerge através do fazer artístico

é revelador da atuação inconsciente em suas formas

retrospectiva – que traz memórias passadas e coletivas;

como prospectiva – mostrando para onde a energia psíquica

se encaminha, trazendo a antecipação de acontecimentos

futuros.”

O processo arteterapêutico com crianças e adolescentes viabiliza a

exploração, no universo inconsciente de regiões desconhecidas. Com isso ela

própria faz novas descobertas sobre si e amplia seus horizontes, se deparando

com a liberdade de mudanças e novas perspectivas em suas vidas.

3.2-Técnicas de Arteterapia

Ao se utilizar de técnicas de Arteterapia, que estejam de acordo com o

tratamento auxiliar do TDAH, o profissional da área deve pensar em algumas

providências administrativas que deverão anteceder a escolha de determinadas

técnicas.

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41 A primeira dessas providências administrativas é tomar cuidado em

escolher o local para a realização do atendimento que poderá ser individual ou

em grupos; é muito importante a escolha e preparação do setting terapêutico.

Em seu texto “Construção da infância e a recuperação da criança interior

através da arte”, Doron Ellia (in Philippini, 2004), relata:

“O atelier é um lugar apropriado para a experiência

prática com artes plásticas, possuindo materiais, ferramentas

e materiais de estímulo. O estudante é estimulado a criar

livremente. O ambiente físico-psicológico dá ao estudante a

capacidade de escolher o lugar de trabalho, o tema de

trabalho, os materiais, as ferramentas, encontros, humanos,

etc”.

Alguns profissionais desenvolvem seu trabalho no próprio consultório,

ou em locais de instituições, adaptando uma sala com cadeiras, mesas,

colchonetes ou almofadas. Frequentemente as cadeiras ou almofadas são

dispostas em uma situação circular (quando trabalho em grupo), o que oferece

uma visão de todos os participantes. Além disso, o círculo apresenta uma

situação psicológica de distância onde os membros interagem.

Quanto à duração da realização de algumas técnicas de Arteterapia,

ela varia substancialmente em relação aos objetivos que se quer atingir e às

características individuais de cada grupo. Porém, o recomendável é que não

tenha menos de uma hora de duração (Castilho, 1995), considerando-se o

número de participantes que compõem o grupo, ou até mesmo se o

atendimento é individual. Esse tempo não deve nunca ultrapassar a três horas,

com o risco de se tornar repetitivo e massivo.

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42 Quanto à freqüência, deve ser levada em consideração a necessidade

da criança ou adolescente, ou o grupo.

Quanto ao número de participantes, quando o atendimento for em

grupo e não individual, ele deve ter em média 12 participantes (Castilho, 1995).

É conveniente lembrar que, se o número de participantes de um grupo

extrapola certos limites, acima de 20, por exemplo, ele tende a apresentar uma

maior dificuldade de integração, correndo o risco do terapeuta não conseguir

atingir o objetivo da atividade.

No que tange às técnicas de Arteterapia sugeridas para utilização no

tratamento auxiliar do TDAH, a análise do material a ser empregado é definitivo

para o sucesso do auxílio ao tratamento medicamentoso.

Em se tratando do material chamado seco, por exemplo, são

representados pelos lápis, lápis cera, pastéis, giz colorido, canetas

hidrográficas, sendo de fácil manuseio e controle, são recomendados para o

início do tratamento, e para crianças e adolescentes que tenham dificuldade

em lidar com elementos fluidos. Nesse caso, pelo fato de com o material seco a

atividade proposta a ser executada, poder ser rapidamente concluída, com

controle total do material que está sendo utilizado.

Segundo Urrutigaray (2003), transmitir segurança reforça a sensação

de equilíbrio e de bem estar, facilitando o encontro com o material projetado. É

ainda a apresentação do material produzido, e da análise desse material que

auxiliarão o terapeuta a definir melhor a condução do tratamento do cliente em

questão. Essas análises são feitas à vista do grafismo (traços fortes e/ou

suaves), cores, tonalidades, etc.:

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43 “No entanto faz-se necessário aclarar que quaisquer

que sejam os materiais utilizados, secos ou úmidos, pode-se

obter a partir da apresentação dos grafismos uma

significação quanto ao tipo de linha e da consistência do

traçado alguns sinais, como elementos significativos de

estados emocionais internos” (Urrutigaray, 2003).

Em particular, o lápis cera constitui uma excelente escolha inicial para

se realizar uma técnica, pois tem a característica de ser facilmente controlável,

possibilitando a sensação do domínio do real. Portanto, por parecer firme ao

seu manuseio, permitem que sejam manifestadas personalidades mais

distantes dos seus afetos, facilitando assim a aproximação de sentimentos

frios, isolados e distantes.

Em contrapartida, o material fluido proporciona um excelente material

para a manifestação das emoções; porém como tem sua característica

primordial ser um elemento líquido, produz certa dificuldade em seu controle e

manuseio, podendo causar irritabilidade, frustração e perda do controle da

situação.

No entanto, se tivermos como objetivo ao aplicar uma técnica de

Arteterapia, fazer aflorar os afetos do paciente e conhecê-los mais a fundo, as

tintas e materiais aquosos são os mais adequados. O trabalho com materiais

fluidos, induzem ao movimento de soltura, de expansão, trabalhando o

relaxamento dos mecanismos defensivos de controle.

A tinta acrílica, por exemplo, possui secagem rápida, traz de imediato o

resultado de sua criação, e além disso, permite corrigir um erro pois podemos

usar elementos para sua remoção, como pedaços de pano, espátulas,

originando efeitos de grande intensidade afetiva.

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44 A tinta para pintura a dedo, por seu aspecto é um material que favorece

o retorno a estados regressivos, sendo indicado para crianças, propriamente

ditas, quanto para o despertar da criança interior em adultos. Além disso, a

criança terá maior domínio das imagens que irá produzir.

Os jogos e brincadeiras despertam a atenção de qualquer criança;

desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das potencialidades

criativas, contribuindo para o aumento da autoconfiança e fortalecimento de um

autoconceito mais feliz da criança, como define muito bem Maluf (2004):

“Sabemos que é possível ao ser humano adquirir e

construir o saber, brincando. Por meio das brincadeiras

podemos desenvolver nosso senso de companheirismo;

brincando, individualmente ou em grupos, vivemos uma

experiência que enriquece nossa sociabilidade e nossa

capacidade de nos tornarmos mais criativos. Aprendemos a

conviver, aprendemos a ganhar ou perder, a esperar a nossa

vez, lidamos melhor com possíveis frustrações, aumentamos

a nossa motivação e conseguimos uma participação

satisfatória”.

Quanto à musica, quando utilizada terapêuticamente, frequentemente é

considerada como uma espécie de linguagem emocional, capaz de atingir

áreas mais profundas de nossa psique que processam informações e que nós,

por vários motivos, não comunicamos com clareza a nós mesmos. A

capacidade lúdica da música tem o poder de fascinar, revolver à imaginação e

afetar vários níveis de consciência da mente.

Assim como a música, a atividade teatral possibilita a exploração de

territórios nunca de todo conhecidos; é um portal aberto para que a criança

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45 possa se relacionar com o que transcende ao próprio homem. É arte que

permite penetrar em um mundo “de mentira”, porém imenso em significados. O

teatro trabalha os afetos e bloqueios, promovendo harmonia, acalmando, ao

menos momentaneamente, a criança em seu sofrimento.

A dramatização permite a experimentação de novos papéis; promove a

criação de histórias, personagens e figuras, onde, por exemplo, um boneco

permite à criança dizer algo que ela não diria por si só. A teatroterapia é

bastante abrangente, devido ao conteúdo simbólico das produções, que podem

partir de teatro de marionetes, atuações, fantoches, teatro de sombras,

bonecos, máscaras, fantoches de dedo e origamis.

O trabalho com material de sucata colabora para o entendimento,

aceitação e eficácia de transformações tão necessárias na vida da criança,

nem sempre bem-vindas e bem aceitas.No texto “Transformar para integrar: da

restauração à reciclagem”, Denise Nagen (in Philippini, 2004) comenta o uso

da sucata como transformador :

“Portanto, transformar plasticamente peças de

variados tamanhos, cores, texturas, utilidades e

composições, dentro do campo material, palpável e visual,

possibilita ao campo psíquico experimentar novas sensações

e sentimentos, caminhando então para uma nova forma,

para uma reestruturação”.

Frente a alguns instrumentais utilizados por arteterapeutas, aqui

descritos, podemos identificar algumas técnicas que poderão ser utilizadas

como auxiliares ao tratamento medicamentoso, visto que alguns profissionais

da área já as descreveram, sendo, portanto, passíveis de já terem sido

analisadas, e descritas como exemplos:

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46 Trabalho com Guache (Técnicas propostas pela professora Dina

Lúcia na disciplina de Criatividade)

Objetivos:

Trabalhar plasticamente com as imagens internas e as externas; com

imagens que “domino” e as que surgem;

Trabalhar a percepção visual, a coordenação motora fina, lateralidade,

estrutura espacial e estrutura temporal.

1-Técnica de pintura a dedo (livre)

Na pintura a dedo, o indivíduo poderá decidir a direção dos

movimentos; irá determinar / dar comando para as mãos, dedos (coordenação

motora fina e óculo- manual).

Poderá tentar reproduzir uma imagem externa, que está visualizando

ou deixar surgir algo do inconsciente.

O indivíduo deverá entrar em contato com todo o material. Cada dedo

deverá mergulhar em uma cor, tendo os cinco dedos ou os dez, mergulhados

em cores diferentes, deslizando os dedos na folha , deixando que a imagem

surja de acordo com os movimentos feitos e/ou idéia anterior.

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47 2- Desenho Surpresa (monotipia)

No desenho surpresa, o indivíduo não tem o domínio da imagem que

irá surgir. Devemos dobrar a folha de papel ao meio e colocar guache (diversas

cores) somente em um dos lados do papel. Logo depois fechar a folha de modo

que o lado com tinta encoste no outro e imprima o lado sem tinta. Ao abrir,

iremos nos surpreender com a imagem que irá surgir.

Podemos trabalhar o inesperado, o oculto através das imagens, as

cores e as formas.

3- Dinâmica do Desenho Musicado

Objetivos

Trabalhar a aceitação / cooperação;

Abordar a importância de se trabalhar em grupo, o respeito ao tempo e

ao espaço do outro;

Trabalhar a agilidade e ao mesmo tempo a paciência e a atenção

através da música;

Situar três momentos; colaboração, interferência e modificação.

A técnica consiste em dispor os componentes em círculo e cada um

com uma folha de papel, com uma única cor de lápis cera, ao iniciar a música,

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48 fazer um desenho livre. À medida que as músicas vão trocando, os desenhos

são passados para o colega ao lado e o mesmo fará então seu desenho no

papel, assim por diante, de modo que todos os desenhos tenham passado

pelas mãos de todos os componentes do círculo.

4-Dança do Jornal (Maluf, 2004)

Objetivos

Estimular a socialização,

A expressão corporal,

A percepção espacial.

A um sinal do professor, deverão dançar ao som de uma música sobre

uma folha de jornal sem rasgá-la ou sair fora dela. Os pares que saírem ou

rasgarem a folha de jornal vão saindo da brincadeira.

5-Dinâmica da Ilha (Técnica proposta pela professora Dina Lúcia

na disciplina de Criatividade)

Objetivos

Mensagem oculta,

Resolução de problemas,

Associação de idéias,

Atenção , raciocínio e percepção.

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49 Os componentes dispostos em círculo tentam descobrir qual o critério,

escolhido pelo facilitador, para que seja permitido que estes entrem ou não na

“ilha”. Cada componente fala que quer entrar na ilha associado a uma idéia.

Exemplo: Eu entro na ilha de pente - entra. Eu entro na ilha de barco - não

entra. Eu entro na ilha de pneu – entra. A mensagem oculta é que todos que

falarem uma palavra com a letra P entram na ilha.

6-Chapéu ao alto (Maluf, 2004)

Objetivos

Desenvolver a coordenação motora,

A agilidade,

A atenção

A prontidão de reação.

Um participante comandará a brincadeira. Os alunos obedecem ao

comando deste líder que dará ordens, tais como: bater palmas, rir, chorar,

girar, coçar a cabeça etc. Em um dado momento ele jogará um chapéu ao alto.

Os componentes continuam obedecendo às ordens do líder, enquanto o

chapéu não tocar o chão. No instante em que o chapéu cair no chão todos

devem parar com os movimentos que estavam executando. Aquele dentre os

participantes que continuar com os movimentos sai da brincadeira.

7-Escravos de Jô

Objetivos

Facilitar o auto-conhecimento e o inter-relacionamento, associando-os

à atividade lúdica,

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50 Liberação espacial (auto-reconhecimento e do outro no espaço que os

cerca),

Movimentação espacial, inclusão e integração (como me relaciono

comigo e com o outro).

A partir da música “Escravos de Jô”, em um círculo formado pelo

grupo, os componentes fazem uma coreografia da música, e aos poucos a

música vai acelerando e dificultando a realização, causando uma preocupação

em acertar a coreografia e não interferir nos passos do outro.

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51 CONCLUSÃO

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, é

descrita atualmente como uma síndrome que atinge pessoas de várias idades,

sendo mais diagnosticada e atingindo, por conseqüência, um número maior de

crianças em idade pré-escolar e adolescentes.

São indivíduos que podem ver sua rotina e seus relacionamentos, seja

familiar ou em outros grupos sociais, se desmoronar diante de sintomas que o

estigmatizarão, acompanhados de um sentimento de inadaptação, baixa auto-

estima, por se sentir diferente e rejeitado por amigos, seja por ter notas baixas

na escola, seja por ser acusado de desastrado ou distraído. Sem contar nos

sentimentos de depressão e introversão, de crianças e adolescentes que da

hiperatividade e excesso de energia, passam à letargia diante dos efeitos

colaterais que podem causar algumas medicações.

O universo simbólico aflorado pelas produções artísticas, vem de

encontro à busca de uma melhora na qualidade de vida desse indivíduo, que

muitas vezes necessita somente de se encontrar e aceitar a si mesmo,

aprendendo a lidar com as limitações que o transtorno lhe apresenta, assim

como a dificuldades de lidar com sentimentos, inerentes a qualquer ser

humano.

Através da arte, podem ser desenvolvidas várias capacidades ainda

não descobertas, e que ultrapassam a realidade, transformando-a através da

imaginação. Podem ser abordados conceitos de baixa auto estima, percepção

de si mesmos, ansiedade e aceitação de limites.

Com um simples brincar, pode-se aprender a conviver melhor consigo

e com o outro, a lidar com possíveis frustrações, aumentar a motivação, reunir

potencialidades. Quanto ao aspecto da atenção e da aprendizagem, pode

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52 trabalhar a lateralidade, a coordenação motora e etc., através do aspecto lúdico

da diversão e do prazer.

No que se refere ao TDAH, atividades coletivas e que necessitem de

bastante “adrenalina”, podem ajudar a gastar energia e ensinar a obedecer

regras; brinquedos que prendam a atenção, como jogos da memória e que

tenham um apelo visual maior, como livros com letras grandes, frases curtas,

muitas figuras com histórias curtas e interessantes que façam desabrochar o

imaginário carregado de simbolismo da criança.

Simples atividades com massinhas, cores, formas, uma vez

conduzidas por profissionais que detenham o universo que abrange o

transtorno e a arteterapia, podem despertar um lado criativo e ainda

desconhecido pela criança, fazendo com que possa, diante das infindáveis

possibilidades da arte, se sentir valorizada e, em algum momento igual a todas

as outras crianças. De alguma forma ajuda a transpor a bagagem negativa que

acompanha o transtorno e a lidar dia a dia com as necessidades, possibilitando

vislumbrar um futuro físico e psicologicamente mais saudável, em harmonia

com seu interior, sua família e o meio à sua volta.

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53 BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Liomar Quinto de. Terapias Expressivas. São Paulo:

Vector, 2000.

BELLO, Susan. Pintando sua alma. Brasília: UNB, 1998.

CAPRA, Fritjof F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1995.

CASTILHO, Áurea. A dinâmica do trabalho de grupo. Rio de Janeiro:

Qualitymark, 1994.

CIORNAI, Selma (org.). Percursos em Arteterapia São Paulo: Summus, 2004.

CYPEL, Saul. A criança com déficit de atenção e hiperatividade:

Atualização para pais, professores e profissionais da saúde. São Paulo:

Lemos Editorial, 2003.

FADIMAN, James & FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo:

Harbra, 1986.

GRINBERG, Luiz Paulo. JUNG O Homem criativo. São Paulo: FTD, 2003.

MALUF, Ana Cristina Munhoz. Brincadeiras para sala de aula. Rio de janeiro:

Vozes, 2004.

MATTOS, Paulo. No mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre

transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças,

adolescentes e adultos. São Paulo: Lemos Editorial, 2004.

PHILIPPINI, Ângela (org.). Coleção Imagens da Transformação. Número 11,

Volume 11. Rio de Janeiro: Clínica Pomar, 2004.

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54 REVISTA VIVER MENTE & CÉREBRO. Reportagem sobre TDAH.

Janeiro/2005

URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: A transformação pessoal pelas

imagens. Rio de Janeiro: Wak, 2003.

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55 ÍNDICE

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I 11

HIPERATIVIDADE

1.1- Hiperatividade e/ou TDAH: Evolução do conceito 11

1.2- O que é TDAH 14

1.3- Tratamento: Remédios e Terapias 21

CAPÍTULO II 28

ARTETERAPIA

2.1-Histórico e pressupostos teóricos da Arteterapia 28

2.2-A Arteterapia na abordagem Junguiana 32

CAPÍTULO III 36

ARTETERAPIA E TDAH

3.1-Arteterapia: um caminho no auxílio ao tratamento de TDAH 36

3.2-Técnicas de Arteterapia 40

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56

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA 53

ÍNDICE 55

ATIVIDADES CULTURAIS 57

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57 ATIVIDADES CULTURAIS