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Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
Curso de Licenciatura em Enfermagem 2011/2015
U.C. Ensino Clínico de Enfermagem ao Adulto e Idoso
Hospital SAMS - Serviço de Medicina Interna
Doenças Pleurais
Docente Orientadora (OE):
Prof.ª Deolinda da Luz
Orientadora Clinica (OC):
Enfª Luisa Afonso
Discente:
Inês Costa
nº4592, Turma D
Lisboa, Abril 2013
1
INDICE
1. Pleura................................................................................................................22. Derrame Pleural................................................................................................3
A) Mecanismos que aumentam a entrada de liquido no espaço pleural. .3B) Mecanismos que dificultam a saída de liquido do espaço pleural........4C) Outros mecanismos de formação de derrame pleural.........................4
2.1. Tipos de derrames pleurais........................................................................52.1.1. Derrame transudativo (não inflamatório)........................................5
2.1.1.1. Etiologias...........................................................................5a) Insuficiência Cardíaca Congestiva.........................................5b) Síndrome nefrótica................................................................6c) Hipoalbuminemia...................................................................6d) Hepatopatias..........................................................................6e) Atelectasia.............................................................................6f) Obstrução linfática..................................................................7
2.1.2. Derrame exsudativo (inflamatório)..................................................72.1.2.1. Variante do derrame exsudativo: parapneumónico...........7
2.2. Tipos de fluido............................................................................................82.2.1. Hidrotórax.......................................................................................82.2.2. Qilotórax.........................................................................................82.2.3. Hemotórax......................................................................................92.2.4. Empiema.........................................................................................102.2.5. Fibrotórax........................................................................................10
2.3. Sinais e Sintomas.......................................................................................112.4. Meios de diagnóstico..................................................................................12
2.4.1. Quadro radiológico..........................................................................122.4.2. Procedimentos diagnósticos invasivos...........................................13
2.4.2.1. Toracocentese...................................................................132.4.2.2. Interpretação de resultados...............................................14
a) Bioquímica.............................................................................14b) Citologia.................................................................................15c) Bacteriologia..........................................................................15
2.5. Tratamento.................................................................................................162.5.1. Tratamento de Fisioterapia.............................................................16
3. Pneumotórax.....................................................................................................174. Drenagem pleural..............................................................................................18
4.1. Princípios da drenagem pleural..................................................................184.2. Colocação de uma drenagem pleural........................................................19
4.2.1. Preparação.....................................................................................194.2.2. Execução........................................................................................19
4.3. Retirar o dreno pleural................................................................................22
2
1. PLEURA
Os pulmões estão contidos na cavidade torácica. Cada pulmão está
envolvido por uma cavidade pleural, formada pelas membranas serosas
pleurais. O mediastino, uma porção mediana formada pelo coração, traqueia,
esófago e estruturas associadas, separa as cavidades pleurais. A pleura
parietal cobre a parede torácica interna, a face superior do diafragma e o
mediastino. No hilo, a pleura parietal continua-se com a pleura visceral que
reveste a superfície do pulmão.
A cavidade pleural está preenchida com fluido pleural (10-30 mL) que é
produzido pelas membranas pleurais, sendo renovado continuamente por um
balanço de forças entre as pressões hidrostática e osmótica da microcirculação
e do espaço pleural. O fluido pleural desempenha duas funções:
1) Atua como lubrificante, permitindo o deslizamento das membranas, à
medida que os pulmões e o tórax modificam a sua forma durante a respiração;
2) Ajuda a manter as membranas pleurais juntas.
Quando o volume torácico se modifica, durante a respiração, o volume
pulmonar altera-se porque a pleura parietal está colada ao diafragma e à
parede torácica interna e a pleura visceral está colada aos pulmões. O fluido
pleural é semelhante a uma pequena camada de água entre duas lâminas de
vidro que podem deslizar uma sobre a outra, mas que são difíceis de separar.
3
Irrigação sanguínea da pleura: A pleura parietal é irrigada pela circulação sistémica, através de vasos provenientes das artérias intercostais, mamária interna, pericadiofrénicas, frénicas superiores e musculofrénicas, e o retorno venoso, feito pelas veias ázigos, amiázigos e mamárias internas. A pleura visceral tem irrigação proveniente da circulação pulmonar, logo através das artérias pulmonares e de ramos das artérias brônquicas e retorno venoso feito pelas veias pulmonares e pelas veias brônquicas.
Inervação da pleura: A pleura visceral é inervada pelo sistema nervoso autónomo simpático e não possui recetores de sensação dolorosa. A pleura parietal, por sua vez, é rica em terminações nervosas, sensitivas, dos nervos frénico, intercostais e ramos do plexo braquial.
2. DERRAME PLEURAL
O acúmulo de liquido na cavidade pleural chama-se derrame pleural (Fig.3).
A formação do derrame pleural envolve um ou mais dos mecanismos capazes
de aumentar a entrada ou de diminuir a saída de liquido no espaço intersticial.
A) Mecanismos que aumentam a entrada de liquido no espaço
pleural
Estes mecanismos estão relacionados às forças hidrostáticas que filtram
água para fora dos vasos e às forças osmóticas que reabsorvem água de volta
aos vasos. As forças, que regulam a passagem de liquido através da
membrana vascular, estão interrelacionadas na equação de Starling.
Pf= k[(Pmv-Ppmv) - s(pomv-popmv)]
4
Em que:
Pf é a pressão de fluxo através da membrana vascular;
k é a capacidade da membrana microvascular para transportar liquido;
Pmv e Ppmv representam a pressão hidrostática nos compartumentos
microvascular e perimicrovascular;
s é o coeficiente de reflexão para proteína total, na membrana vascular;
pomv e popmv representam a pressão osmótica das proteínas nos
compartimentos microvascular e perimicrovascular
Quatro mecanismos são, então, capazes de aumentar o fluxo de liquido no
espaço pleural:
a) aumento da pressão hidrostática na microcirculação sistémica;
b) diminuição da pressão oncótica plasmática;
c) aumento da permeabilidade capilar, pleural;
d) diminuição da pressão no espaço pleural.
B) Mecanismos que dificultam a saída de liquido do espaço pleural
Os fatores que dificultam a saída de liquido do espaço pleural estão
basicamente relacionados com a redução da função linfática pleural.
Os vasos linfáticos são dotados de válvulas unidirecionais e, no tórax,
impulsionam a linfa, utilizando a sua própria contração rítmica e os movimentos
respiratórios da parede torácica. Adicionalmente, o fluxo, através dos vasos
linfáticos, é afetado pela permeabilidade dos mesmos, pela disponibilidade de
liquido e pelas pressões de enchimento e de esvaziamento dos linfáticos.
C) Outros mecanismos de formação de derrame pleural
Passagem de liquido da cavidade abdominal para o espaço pleural através
de pertuitos, na superfície do diafragma, ou através da vasta circulação linfática
existente entre o abdómen e o tórax.
Em suma, segundo Robbins, o acúmulo aumentado do liquido pleural pode
ocorrer nas seguintes situações:
Aumento da pressão hidrostática, como na insuficiência cardíaca
congestiva;
5
Aumento da permeabilidade capilar, como na pneumonia;
Diminuição da pressão osmótica, como na síndrome nefrótica;
Aumento da pressão negativa intrapleural, como na atelectasia;
Diminuição da drenagem linfática, como na carcinomatogenese
mediastinal.
2.1. Tipos de derrame pleural
Segundo Harrison, podemos diferenciar os derrames pleurais em dois tipos:
transudado e exsudado. Além das diferenças a nível do espaço pleural,
podemos também diferenciá-los através da medida da desidrogenase láctica
(LDH)1 e pelo teor proteico do liquido pleural.
2.1.1. Derrame transudativo (não inflamatório)
Qualquer derrame pleural que se forma quando não existe lesão do espaço
pleural é denominado derrame pleural transudado.
O transudado é um ultrafiltrado de plasma, altamente fluido, baixo em
proteínas e desprovido de células inflamatórias. O aspeto macroscópico do
liquido é de um fluido transparente e claro.
Os derrames pleurais transudados formam-se quando as pressões
hidrostáticas e oncótica não estão dentro da normalidade.
Em termos bioquímicos um transudado apresenta:
Proteínas com liquido pleural/proteínas séricas < 0,5;
DLH pleural/DLH sérica < 0,6
Teor em DLH < que 2/3 do valor do limite superior da sua
concentração normal para o soro.
2.1.1.1. Etiologia
a) Insuficiência cardíaca congestiva
Caracterizada pela elevada pressão na arteríola esquerda e nas veias
pulmonares. Este aumento da pressão venosa nas veias pulmonares é, então,
a responsável pelo aumento da quantidade de liquido pleural. Estes derrames
podem ser pequenos, maciços, enchendo todo o hemitórax e comprimindo o
pulmão, ou ainda bilaterais.
1) É uma enzima que catalisa a conversão de lactato a piruvato, sendo libertada na ocorrência de dano celular.
6
b) Síndrome nefrótica
Nesta síndrome ocorre uma elevação exagerada da permeabilidade dos
glomérulos renais às proteínas, levando à proteinúria com perda de mais de 3g
de proteínas por dia na urina e por conseguinte à depleção de proteínas no
organismo. Esta depleção traduz-se numa pressão oncótica insuficiente no
sangue para manter as quantidades adequadas de fluido no interior dos vasos
sanguíneos. Para além disso se existir deficiência de proteína S no organismo,
proteína que ajuda a evitar a coagulação sanguínea, haverá também uma
maior predisposição para embolia pulmonar. Levando estes dois fatores ao
possível aparecimento de um derrame pleural transudativo.
c) Hipoalbuminemia
Esta etiologia encontra-se principalmente associada à SIDA e a patologias
hepáticas crónicas, como a cirrose hepática, que conduzem à descida do nível
sérico de albumina (< 1,8g/dL). Esta concentração anómala de albumina no
sangue permite que o fluido circulante extravase para os espaços intersticiais,
nomeadamente para a cavidade pleural, originando então o derrame pleural.
d) Hepatopatias
Para além da hipoalbuminémia as hepatopatias são também responsáveis
pela acumulação de liquido no abdómen - ascite, devido à diminuição do
metabolismo da aldosterona que conduzindo à retenção de sódio provoca esta
acumulação.
Quando o liquido ascítico presente no abdómen cria um gradiente de
pressão, no qual a pressão abdominal supera a pressão existente na cavidade
pleural, este liquido deslocar-se-á, por este motivo, do abdómen para a
cavidade pleural. Este mecanismo conduz ao aparecimento de um derrame
pleural transudativo, ao qual se dá o nome de hidrotórax hepático.
e) Atlectasia
Perante a atlectasia, ou seja, o colapso de parte ou da totalidade de um
pulmão, há a possibilidade da pressão na cavidade pleural se tornar mais
negativa. Esta diminuição da pressão é então a responsável pelo aparecimento
de pequenos derrames pleurais transudativos.
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f) Obstrução linfática
A situação em que se encontram os vasos linfáticos, como já referido, é um
mecanismo que dificulta a saída do liquido pleural da cavidade pleural. Assim,
perante a obstrução linfática o liquido pleural fica acumulado na cavidade
pleural, formando então o derrame.
2.1.2. Derrame exsudativo (inflamatório)
Um derrame pleural exsudativo é causado pelo aumento da permeabilidade
nos vasos da microcirculação. É rico em proteínas, células e produtos da
decomposição celular.
O aspeto macroscópico do liquido é de um fluido amarelo citrino podendo
também ser turvo (ex: pus do empiema) ou hemático.
Assim um exsudado em termos bioquímicos apresenta pelo menos um dos
três critérios seguintes:
Proteínas com liquido pleural/proteínas séricas > 0,5;
DLH pleural / DLH sérica > 0,6;
Teor em DLH > que 2/3 do valor do limite superior da sua
concentração normal para o soro.
De um modo geral o teor proteico é superior a 3 g/dL e a concentração de
DLH superior a 200 u.l/L.
2.1.2.1. Variante do derrame pleural exsudativo: Parapneumónico
Os derrames pleurais formam-se na pneumonia porque a inflamação
pulmonar aumenta a água pulmonar intersticial e a produção de liquido pleural.
A maioria dos derrames é pequena e desaparece com a resolução da
pneumonia bacteriana.
Um derrame pleural parapneumónico complicado ocorre quando o liquido
pleural possui conteúdo proteico suficiente para coagular, fazendo com que se
criem estrias de fibrina que se estendem para as pleuras parietal e visceral. O
resultado é a acumulação de liquido pleural em pequenas cavidades no interior
da cavidade pleural e que não pode ser drenado através de um único dreno
torácico.
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2.2. Tipos de fluido
2.2.1.Hidrotórax
As acumulações não-inflamatórias de liquido seroso dentro das cavidades
pleurais são chamadas de hidrotórax. Nesta situação o liquido presente tem
coloração amarelo-clara (Fig.4).
A causa mais comum de hidrotórax é a insuficiência cardíaca, e por este
motivo está geralmente acompanhado por congestão pulmonar e edema. Estes
transudados podem ser também formados por qualquer outra donça sitémica
associada a edema generalizado e portanto, são encontrados também na
insuficiência renal e na cirrose hepática.
Assim, se a causa subjacente for aliviada, o hidrotórax pode ser reabsorvido,
em geral sem deixar alterações permanentes.
2.2.2.Quilotórax
O quilotórax é formado quando o ducto linfático torácico é rompido ou
obstruído, o que causa uma rutura secundária dos principais ductos linfáticos.
Desta forma gordura finamente emulsificada (que irá conferir a coloração
branca leitosa) consegue entrar no espaço pleural.
O quilotórax é um fluido leitoso e opalescente; é bacteriostático e não
irritativo e tem pouca tendência para formar fibrotórax. Este pode ser bilateral,
mas costuma estar confinado ao lado esquerdo.
Mais de 50% dos quilotórax estão relacionados com tumores que invadem o
ducto linfático torácico. O trauma é a segunda maior causa de quilotórax, sendo
responsável por 25% dos casos - as causas mais comuns de quilotórax
traumático são cirurgia e feridas penetrantes no tórax; em situação de trauma
9
fechado geralmente deve-se a quedas, acidentes de viação e ferimentos por
compressão do tórax e abdómen. Após trauma geralmente o quilotórax leva
entre 2 a 10 dias a desenvolver-se.
Um fluido pleural que seja esbranquiçado, sem odor e de aparência leitosa
sugere o diagnóstico de quilotórax (Fig.5).
2.2.3. Hemotórax
Hemotórax é a presença de uma quantidade significativa de sangue no
espaço pleural (Fig.6).
As causas mais comuns são traumatismos no tórax (quer penetrantes quer
não penetrantes); e, por vezes, procedimentos médicos, tais como a colocação
de um cateter venoso central. A grandemaioria dos hemotórax ocorre devido a
sangramento de baixa pressão das veias pulmonares parenquimais, estas
deixam de sangrar espontaneamente quando o hemotórax é drenado e as
superfícies pleurais são repostas.
Um derrame pleural é considerado hemotórax quando o hematócrito do
fluido pleural é superior a mais de metade do que o do sangue periférico. No
entanto os hemotórax puros são prontamente identificáveis através da
presença de grandes coágulos que acompanham o componente líquido do
pulmão.
2.2.4. Empiema
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Um exsudado pleural purulento (empiema) em geral resulta da
contaminação bacteriana e micótica do espaço pleural.
O empiema é caracterizado por uma acumulação de pus loculado, amarelo-
esverdeado, cremoso, composto por uma massa de neutrófilos misturados com
outros leucócitos (Fig.7).
A extensão direta de uma infeção pulmonar parênquimal para o espaço
pleural causa mais de metade dos casos de empiema; a infeção pós cirúrgica
contribui em 20% dos casos. O empiema também pode ocorrer após trauma,
penetrante ou não, do tórax. Por vezes bactérias de infeções abdominais
atravessam o diafragma e entram no espaço pleural.
A DPOC e a neoplasia pulmonar são ambas encontradas em
aproximadamente um terço dos doentes com empiema. Outras doenças
associadas incluem o alcoolismo, diabetes, doença esofágica, e distúrbios do
sistema nervoso central que levam à aspiração de conteúdo da orofaringe.
2.2.5. Fibrotórax
O fibrotórax é caracterizado por uma fina camada de tecido fibroso na pleura
visceral.
As três principais causas de fibrotórax são o hemotórax, a tuberculose e o
empiema. Como resultado de um espessamento pleural marcado, o hemitórax
fica contraído e a sua mobilidade reduzida. À medida que o fibrotórax evolui, os
espaços intercostais diminuem, o tamanho do hemitórax afetado diminui e o
mediastino é desviado lateralmente.
Radiograficamente, uma fina camada d hipotransparências envolve o
pulmão (Fig. 8).
11
2.3. Sinais e Sintomas
Os sintomas decorrentes de um derrame pleural são:
Dor provem do acometimento da pleura parietal, é
caracteristicamente do tipo pontada, agravada com movimegtos
respiratórios e coma tosse. Pode irradiar para o ombro o que indica
comprometimento da pleura diafragmática homolateral;
Dispneia devida à limitação imposta aos movimentos ventilatórios,
quer pelo próprio derrame pleural volumoso, quer pela dor;
Tosse seca geralmente está relacionada com o estimulo dos
recetores da tosse, nas vias aéreas torcidas, pelo deslocamento
mecânico das mesmas. A tose produtiva traduz, em regra, a
presença de uma lesão parênquimatosa pulmonar associada.
No exame físico, além dos sinais relacionados coma doenla primitiva,
encontram-se em regra um conjunto de sinais característicos quando o volume
de liquido pleural ultrapassa os 300cc. Pode verificar-se:
Redução ou abolição do frémito toracovocal e do murmurio vesicular;
Macicez à percussão;
Assimetria do tórax;
Redução da expansibilidade do hemitórax comprometido;
Abaulamentos intercostais expiratórios:
Submacicez ou macicez sobre a coluna vertebral adjacente ao
derrame (sinal de Signorelli);
Auscultação de sopro respiratório e voz anasalada (egofonia),
percebida no limite superior do derrame.
12
2.4. Meios de diagnóstico
2.4.1. Quadro radiológico
Uma vez que o diagnóstico de derrame pleural seja suspeitado, a partir das
informações clinicas, torna-se necessária uma radiografia de tórax nas
incidências póstero-anterior (PA) e perfil.
A radiografia irá confirmar a presença e a extensão do derrame, informar
sobre a natureza livre na cavidade pleural ou loculado, bem como sobre a
ocorrência ou não de outros envolvimentos torácicos associados (pulmunar,
cardíaco ou mediastinal). A ocorrência de outras lesões torácicas também
ajuda a evidenciar a possivel causa do derrame.
A radiografia em PA, no derrame pleural livre caracteriza-se pela presença
de um velamento homogéneo, com densidade de partes moles, localizado
inferiormente no hemitórax, obliterando o ângulo do seio costofrénico e
desenhando uma curva de convexidade para baixo, chamada curva de
Damoiseau ou sinal do menisco (Fig.9) . A curva estará tanto mais alta quanto
mais volumoso for o derrame.
Pode ser evidenciado um desvio do mediastino (ou a sua ausência) para o
lado oposto, que também é proporcional ao volume do derrame, cem como à
ocorrência simultânea de atelectasia homolateral.
Uma radiografia em decúbito lateral, com raios horizontais, auxilia a
evidencias liquido livre na cavidade pleural, nos casos duvidosos.
2.4.2. Procedimentos diagnósticos invasivos
A constatação clinicoradiológica de um derrame pleural obriga-nos a seguir
alguns passos na procura da causa do derrame:
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1. Punção do espaço pleural (toracocentese), para retirar uma amostra
do liquido e nele dosar as proteínas e a LDH, de forma a classificar os
derrames nas suas categorias: exsudado ou transudado;
2. Uma vez obtido o diagnóstico de exsudado, deve proceder-se a
outros exames laboratoriais (bioquimicos, citológicos e
bacteriológicos).
3. Quando o estudo de três amostras sucessivas de exsudado (colhidas
em diferentes ocasiões) se revela persistentemente inconclusivo de
diagnóstico, é necessária a realização de uma punção biópsia da
pleura. Esta punção biópsia pode ser conduzida logo de inicio se
houver forte suspeita de se tratar de tuberculose da pleura.
2.4.2.1. Toracocentese
A punção pleural com fins diagnósticos é realizada para recolha de amostras
de liquido pleural, que em seguida irão para estudo.
Tem como principais complicações o aparecimento de pneumotórax,
hemorragias no local da punção, ou infeções.
Material necessário: kit de punção esterilizado, descartável; desinfetante
(com cor), compressas esterilizadas, campo esterilizado; material para
anestesia local (Fig. 10).
Execução: Com o utente na posição sentada, procura-se, no tórax, o ponto
de intersecção da linha axilar posterior e uma linha que circunde o hemitórax,
na altura do apêndice xifoideu. (Fig.11) o Ponto deve estar sobre um espaço
14
intercostal (geralmente o sexto espaço). A fim de prevenir acidentes com o
feixe vasculonervoso, procura-se fazer a punção próximo à borda superior da
costela inferior. Após desinfeção e anestesia local o médico insere a agulha no
local definido. Dependendo do volume do derrame pleural, pode ser necessário
fazer uma drenagem de alivio durante este procedimento. Depois da punção,
aplica-se um penso compressivo no local.
A seguir ao exame é essencial vigiar rigorosamente a respiração, pulso e
tensão arterial do utente, e controlar regularmente o penso.
2.4.2.2. Interpretação dos resultados
a) Bioquímica
Proteínas e LDH utilizam-se as dosagens das proteínas
totais de LDH para distinguir os derrames pleurais exsudativos
dos transudativos. (ver 2.2.1. e 2.2.2.)
Glicose é uma medida informativa, quando os valores estão
abaixo de 50 mg/dL podem indicar a presença de empiema
pleural, de artrite reumatóide, na tuberculose pleural e nos
derrames neoplásicos. No empiema e na atrite reumatóide os
valores podem estar entre 0-10 mg/dL.
Triglicerídeos solicitado quando o liquido pleural é turvo,
espesso e esbranquiçado, com aspeto semelhante a leite
condensado, visualizado pela ocasião da punção. Valores
superiores a 110 mg/dL caracterizam o diagnóstico de
quilotórax.
Amilase solicita-se amilase no liquido pleural sempre que há
suspeita clinica de derrame causado por pancreatite. Nestes
casos os níveis de amilase costumam estar acima de 150 u/dL.
15
Adenosina deaminase (ADA) enzima que participa nos
processos de metabolização das purinas, catalisando a
transformação da adenosina em inosina e libertando amónia. A
atividade da enzima pode elevar-se nalguns casos de derrame
pleural e a sua determinação tem sido empregue na elucidação
dos derrames por tuberculose, situação em que o seu valor
estaria em níveis inconfundivelmente altos, acima de 45 u/L.
b) Citologia
Neutrófilos um aumento predominante de neutrófilos, no
liquido pleural, costuma ocorrer, quando a etiologia é infeciosa
ou inflamatória.
Linfócitos a linfocitose, no liquido pleural, é caracterizada
pela presença de pelo menos 65% de linfócitos. Linfocitos de
85% ou mais costuma estar presente na tuberculose pleural,
nos linfomas e, ocasionalmente, nas neoplasias brônquicas.
Células neoplásicas o liquido pleural torna-se um sitio de
células malignas, quando existe neoplasia pleural primária ou
metástica, podendo o diagnóstico etiológico ser feito através de
pesquisa de células neoplásicas no derrame. O liquido é coado
e centrifugado e o sedimento é utilizado na preparação de
lâminas que são coradas por Papanicolau.
c) Bacteriologia
A busca de bactérias e fungos e do bacilo álcool ácido resistente pode ser
feita através da pesquisa direta e de cultura do liquido pleural.
O pH normal do liquido pleural é alcalino, em relação ao sangue arterial,
flutuando entre 7,40 e 7,60. A colheita de liquido pleural para determinação do
pH deve seguir os mesmos critérios utilizados para medir o pH do sangue
arterial, evitando-se, principalmente, a perda de dióxido de carbono e a demora
na análise do material; a medida feita no liquido da primeira punção é a mais
significativa. O pH do liquido pleural, adicionado a outras informações
bioquímicas, auxilia a reforçar a hipótese de causa do derrame.
16
2.5. Tratamento
A estratégia de tratamento do derrame pleural depende da sua etiologia:
Nos derrames pleurais de origem inflamatória, a terapêutica anti-
infeciosa é prioritária. Além disso o derrame tem de ser removido a
fim de evitar a formação de aderências pleurais extensas. Nos
empiemas da pleura, é essencial proceder à drenagem com lavagem
pleural.
Nos derrames recidivastes, p.ex. no caso de tumores incuráveis, pode
ser feita uma pleurodese (colagem medicamentosa dos folhetos da
pleura. Para tal, após a remoção do derrame, injeta-se um citostático
na cavidade pleural.
Nos derrames pós-traumáticos, em geral está indicada uma
intervenção cirúrgica.
Em caso de fibrotórax extenso, com pulmão encarcerado, pode estar
indicada cirurgia de descorticação pulmonar;
A terapêutica geral passa por:
a) Desinfeção da cavidade pleural (antibioterapia, drenagem
torácica e lavagens pleurais com produtos desinfetantes);
b) Reexpansão pulmonar (drenagem torácica, fisioterapia
respiratória);
c) recuperação funcional (fisoterapia).
2.5.1. Tratamento de Fisioterapia
A Fisioterapia Respiratória deve ser instituída o mais precocemente possível
de forma a minimizar o aparecimento de sequelas a nível pulmonar (aderências
pleurais, paquipleurite, fibrotórax).
Depois de avaliar do utente, traçam-se objetivos mediante a situação clinica
apresentada. Apesar disso, existem alguns objetivos comuns a quase todos os
utentes, estes passam por:
Aliviar a dor;
Aumentar a amplitude respiratória;
Readquirir a coordenação respiratória diafragmo-torácica;
Restabelecer uma postura correta;
17
Reeducação ao esforço.
A diminuição da dor é conseguida através da nossa própria mobilização da
grelha costal;
Na reeducação respiratória, numa primeira fase mais aguda, devem
prevalecer respirações diafragmáticas (evitando a formação de aderências),
trabalhar os decúbitos em que o movimento entre os folhetos da pleura seja
menos (posições antálgicas), bem como os exercícios ativos que causem
pouca expansibilidade do tórax mas que levem a um deslizamento dos folhetos
parietais (como rodar o tórax). A reeducação deve visar, à medida que o
derrame diminui, a capacidade de expansibilidade do tórax lesado (homo ou
bilateral). Podem ser utilizadas técnicas como: contrações repetidas,
estiramento inicial, respiração contra-resistência (progressiva), efetuar apneia
em inspiração e associar movimentos à respiração - todos visam (re)ensinar a
dinâmica respiratória.
O uso de ortóteses é bastante indicado. Como exemplo, a espirometria
incitativa com recurso a inspirações lentas prolongadas para promover o efeito
pneumático.
A reeducação ao esforço deve ser feita gradualmente e, se possível, de
acordo coma ocupação/profissão do utente.
3. PNEUMOTÓRAX
Um pneumotórax consiste na acumulação de ar na cavidade pleural.
Pode ser resultado de um traumatismo penetrante produzido por um objeto
pontiagudo, rombo, ou costela fraturada que penetra na cavidade torácica; por
traumatismos fechados como a compressão do tórax; procedimentos
terapêuticos como sejam a drenagem de um derrame pleural; doenças, como
infeções ou enfisema; ou de causa desconhecida.
Quando a cavidade pleural comunica com o exterior, através de uma rotura
na parede torácica ou na superfície pulmonar, a pressão pleural e a pressão
atmosférica igualam-se. Nesta situação os alvéolos não se expandem e não
existe uma força de oposição á retração do pulmão, o que conduz ao colapso
pulmonar com o seu consequente afastamento da parede torácica. O
18
pneumotórax pode ser unilateral, mantendo-se o outro pulmão insuflado, uma
vez que as cavidades pleurais estão separadas pelo mediastino.
A dor torácica e a dificuldade respiratória são sintomas comuns de
pneumotórax. Ao exame observa-se taquipneia, movimentos torácicos
assimétricos, frequentemente associados a cianose. À auscultação, com
estetoscópio, os sons respiratórios audíveis são muito baixos ou ausentes.
O seu tratamento depende da causa e da gravidade. Nas pessoas com
sintomatologia moderada, o tratamento pode ser conservador e a situação
resolve-se por si só. Nas restantes situações é necessário fazer a drenagem e
aspiração do ar, através da introdução de um dreno torácico que restabelece a
pressão intratorácica negativa e, consequentemente, a expansão pulmonar.
Pode também ser necessário recorrer a cirurgia para o encerramento da
comunicação entre a cavidade pleural e o exterior.
No pneumotórax hipertensivo, a pressão dentro da caixa torácica é sempre
superior à pressão atmosférica porque, ou existe uma "aba" de tecido, ou a
forma do canal de comunicação é tal que forma uma válvula unidirecional que
permite que o ar entre na cavidade pleural durante a inspiração, mas que
impede a sua saída na expiração. Deste mecanismo resulta uma elevação
progressiva da pressão na cavidade pleural que vai comprimir os vasos
sanguíneos diminuindo o retorno venoso ao coração, a pressão arterial e o
aporte de oxigénio aos tecidos.
4. DRENAGEM PLEURAL
4.1. Princípios da drenagem pleural
A drenagem pleural ou torácica permite retirar sangue, secreções ou ar, que
se encontram, no espaço pleural.
O dreno torácico é conectado a um sistema de aspiração fechado, e o
sangue ou secreções são recolhidos em recipiente especifico para esse fim.
No caso do pneumotórax, o ar sai para uma câmara cheia de água destilada
(coluna liquida de segurança), emerge à superfície da água e é aspirado
através de um sistema elétrico de aspiração ou do sistema de vácuo. O retorno
do ar expelido, através da coluna de água, é impossível ou seja, não pode
voltar ao espaço pleural.
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A intensidade da aspiração é regulada pela altura da coluna liquida na
câmara de controlo da aspiração, ou por manómetro mecânico anexo ao
circuito de drenagem. Geralmente o nível é fixado nos 15-20 cm da coluna de
água.
A soma, da intensidade da aspiração regulada e da altura da coluna de
água, é equivalente à pressão negativa no tórax do doente. Se a aspiração do
sistema de aspiração, ou seja a pressão negativa do tórax, for demasiado
elevada, pode ser compensada através de uma válvula (válvula de
compensação).
4.2. Colocação de uma drenagem pleural
4.2.1. Preparação
Preparar o material necessário: desinfetante para a pele, seringa de
10 mL com anestésico local e agulhas para a anestesia por infiltração,
bisturi, campo esterilizado com janela, luvas esterilizadas, dreno
torácico (com mandril), pinça curva, aspirador, circuito fechado de
aspiração, material de sutura, compressas esterilizadas, penso
adesivo com uma largura de 2,5 cm, tesoura;
Preparar o sistema de aspiração: conectar os tubos, encher a coluna
de segurança (2 cm de água) e a coluna de aspiração (até à marca de
20 cm) com água esterilizada, verificar a aspiração;
Preparar o doente: eventualmente, administrar a pré-medicação e
antitússicos, e fazer a tricotomia do local da punção. Se possível
manter o doente numa posição semi-sentada. Informar o doente
sobre o modo de funcionamento da aspiração e sobre os barulhos
que ela provoca.
4.2.2. Execução
Enquanto o médico coloca o dreno, uma enfermeira acalma o doente,
enquanto outra se ocupa do material necessário.
Cuidados após a colocação da drenagem
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Posicionar o doente em decúbito dorsal, com o tronco ligeiramente
elevado;
Fixar os drenos com adesivos. Fazer cortes de 2,5cm x 2,5 cm nas
compressas e colocá-las em torno do ponto de entrada do dreno.
Cortar quatro tiras de adesivo 8 -10 cm e fazer um corte de 1,5 cm,
aproximadamente a meio das tiras, correspondente ao diâmetro do
tubo de drenagem. Colocá-las nos quatro lados do local da punção,
de modo que o local do corte fique colado ao tubo, e a restante parte
da tira fique colada às compressas e à pele. De seguida, colar uma
tira adesiva circular em torno do local coberto pelos adesivos;
Controlar a aspiração do dreno;
Verificar os sinais vitais;
Fazer radiografia do tórax para controlar a posição do dreno;
Administrar analgésicos em caso de necessidade;
Controlar possíveis hemorragias.
Cuidados durante o período de drenagem
a) Medidas gerais
Medidas gerais de profilaxia, principalmente profilaxia de
pneumonia;
Controlo da respiração, pulso, tensão arterial,
temperatura e estado geral;
Auxílio nos cuidados de higiene.
b) Medidas especiais
Independentemente do tipo de sistema, durante o período de drenagem são
essenciais os seguintes cuidados:
O penso, no local de inserção do dreno, é feito quando for necessário.
Se o penso e a pele circundante não evidenciarem alterações, o
penso não precisa de ser mudado. A mudança do penso é efetuada
respeitando as regras de assepsia. É então necessário verificar, e
registar, se o local da punção apresenta sinais de infeção, de
hemorragia ou de enfisema cutâneo (inchaço, com crepitação
característica quando pressionado);
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O dreno não pode ter dobras, pois desse modo a intensidade da
aspiração pode ser alterada.
Verificam-se regularmente os seguintes parâmetros:
Intensidade da aspiração quando a aspiração está ligada e se nota
um borbulhar suave, o nível da coluna de água dá uma medida
aproximada da capacidade de aspiração (normalmente 20 cm de
água)
Nível de água na câmara de segurança e na câmara de controlo de
aspiração se o nível da água baixar devido à evaporação, a adição
de água só deve ser realizada quando houver interrupção da
aspiração. As oscilações da superfície do liquido em sincronia com a
respiração, são normais. Se não se observarem oscilações em
sincronia com a respiração, significa que o sistema entre o doente e o
depósito de água está dobrado ou entupido. Controlar então o tubo de
drenagem. Se o tubo não apresentar alterações, experimentar uma
mudança de posição do doente ou exercícios respiratórios para
melhorar a situação;
Sistema de aspiração no caso de pneumotórax é normal um
borbulhar permanente no depósito de água. Se o depósito de água
borbulhar num sistema fechado, sem que haja pneumotórax, significa
que a ligação entre o tubo de aspiração e o doente não é estanque,
ou que existe uma fuga no interior da cavidade pleural. Nessa
situação, clampar o tubo junto ao corpo do doente. Se o borbulhar
parar é porque a fuga se localiza na cavidade pleural ou no local de
punção (informar o médico). Se o borbulhar continuar, procurar a fuga
no sistema;
O sistema de aspiração é fixado à cama. Deve estar sempre colocado
abaixo do nível do doente, a fim evitar o refluxo das secreções (se
estiver pendurado acima do doente, a pressão hidrostática pode
tornar-se mais forte do que a força de aspiração). A quantidade e a
natureza das secreções (secreções da lesão, pus, sangue) são
registadas, o volume das secreções é considerado no balanço hídrico;
Se o dreno se soltar acidentalmente, colocar imediatamente uma
ligadura e cobrir o local um penso estanque (devido ao perigo de um
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penumotórax espontâneo, porém não se aplica aos doentes com
pneumotórax recente ou em ventilação assistida). Informar o médico.
4.3. Retirar o dreno pleural
No caso de um pneumotórax, geralmente o médico retira o dreno entre o 5º
e o 10º dia. Se o dreno tem como objetivo a aspiração de secreções, é
removido em regra entre o 7º e o 14º dias. Antes de retirar o dreno, o médico
manda realizar uma radiografia do tórax. Se a radiografia não evidenciar
alterações significativas, a aspiração é interrompida e o dreno clampado. Após
nova radiografia do pulmão, decorridas 24 horas, o dreno é retirado.
Material necessário: recipiente para recolha do material utilizado,
compressas não esterilizadas e éter para remover os restos de cola
do adesivo, desinfetante, compressas esterilizadas, instrumentos para
segurar o algodão esterilizados, luvas esterilizadas, pinça e tesoura
esterilizadas, fios de sutura com agulha, material de penso
(compressas e adesivo);
Execução: depois da remoção do material de fixação e da desinfeção
da pelo o médico puxa o dreno de uma só vez, pedindo ao doente
que inspire, e fecha de imediato o local de saída do dreno, com dois
pontos de pele. De seguida, é feito um penso com compressas
esterilizadas uma radiografia de controlo.