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T , ,
P R M
A C
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C A G LS T
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
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Pseudo-Xenofonte
A Constituio dos Atenienses
Universidade de Coimbra
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T A CONSTITUIODOSATENIENSEST , , : P R
MA P-X
S A G L - T
C C :Maria do Cu Fialho
C E
Jos Ribeiro Fer reiraMaria de Ftima Silva
D T:Delfim Leo
Francisco de OliveiraNair Castro Soares
EImprensa da Universidade de CoimbraURL: http://www.uc.pt/imprensa_ucE-mail: [email protected] online:http://www.livrariadaimprensa.com
C Imprensa da Universidade de Coimbra
C PRodolfo Lopes & Nelson Henrique
P-IImprensa da Universidade de Coimbra
I A
ISBN978-989-26-0513-5 (IUC)
ISBN D978-989-26-0286-8
DEPSITOLEGAL
1 EDIO: CECH 20112 EDIO:IUC 2012
O .I U C
C D V C (http://classicadigitalia.uc.pt)
C E C H U C
Reservados todos os direitos. Nos termos legais fica expressamente proibida a reproduototal ou parcial por qualquer meio, em papel ou em edio electrnica, sem autorizaoexpressa dos titulares dos direitos. desde j excepcionada a utilizao em circuitosacadmicos fechados para apoio a leccionao ou extenso cultural por v ia de e-learning.
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O UIDC E C H
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NDICE
N
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O C A 15
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3. C P-X 273.1. A DUPLAPERSONALIDADEDOAUTOR 30
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1. A 372. C 51
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CONSTITUIODOSATENIENSES 69
B 105
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INTRODUO
NOTAPRVIA
O volume ora apresentado traz uma nova traduo
da Constituio dos Atenienses, texto cuja autoria no sepode confirmar e que, por isso, se apresenta sob a autoria
de Pseudo-Xenofonte. Apresentado originalmente
como requisito para obteno do grau de mestre pela
Universidade de Coimbra, este trabalho teve a orientao
da Prof. Doutora Maria de Ftima Sousa e Silva.
Esta edio conta com uma introduo que lida
com algumas questes essenciais para a compreenso da
Constituio dos Atenienses, nomeadamente: a autoria, oproblema da datao e o gnero literrio do tratado. Por
ltimo, oferece uma traduo acompanhada de notas
de carter histrico e filolgico. Para a traduo foiutilizada a edio do texto grego de Bowersock 1967,
publicada primeiramente em Harvard Studies in ClassicalPhilology, vol. 71, e que passou a fazer parte da coleoLoeb Classical Library, integrando, em cooperao com
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H M
Marchant 1968, o volumeXenophontis, Scripta Minora.As edies produzidas por Marr e Rhodes 2008,
Ramirez-Vidal 2005 e Frisch 1942 foram igualmente
consultadas, sendo indicado em nota quando o texto
grego da edio de Bowersock preterido em virtude
de uma outra. As abreviaes utilizadas so da LAnnePhilologiquepara revistas e do Te Greek-English Lexiconde Liddell-Scott-Jones para as fontes gregas.
Esta traduo traz, em comparao a sua anterior(2003), feita pela Prof. Dra. Neyde Teml e pelo Prof.
Dr. Andr Chevitarese, que gentilmente me cedeu uma
cpia, a vantagem de possuir notas ao texto e mais
espao para discusso dos problemas extra-textuais da
obra.
O apoio do Centro de Estudos Clssicos eHumansticos, da Classica Digitalia, por meio doProf. Dr. Delfim Leo, e do corpo docente e discente
do Instituto de Estudos Clssicos da Universidade de
Coimbra deve ser salientado, e, em especial, o suporte
das Profs. Dras. Maria do Cu Fialho e Adriana Nogueira
e do Prof. Dr. Jos Ribeiro Ferreira, que compuseram
o jri da defesa de dissertao. Agradeo igualmente
os esforos dos colegas Flix Jacome, Jadir Pereira,
Rodolfo de Arajo, Nlson Ferreira, Carlos de Jesus e
Elisabete Santos que de alguma maneira contriburam
para a preparao deste livro. Explicito tambm meusagradecimentos ao Pedro Paulo Santos Oliveira, Neila
Maria eixeira Ribeiro e Gianna Gener, que me
apoiaram incessantemente. Por fim, agradeo ao Prof.
Dr. Heinz-Gnther Nesselrath, pela orientao durante
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INTRODUO
o perodo em que estive na Alemanha e Prof. Dra.
Maria de Ftima Sousa e Silva, pela inesgotvel vontade
de trabalhar e pelo olhar atento na correo do texto.
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INTRODUO
INTRODUO
Apesar de breve, a Constituio dos Atenienses
impressiona pela quantidade de temas abordados. Sua
tese principal gira em torno da defesa da democracia
como a praticam os Atenienses. Para suport-la edesarmar crticas contrrias, Pseudo-Xenofonte visita
diversos tpicos conhecidos da Atenas do sculo V
a.C. Dentre os principais temas, o autor ressalta a
importncia do imprio martimo e descreve como a
manuteno da talassocracia possvel aos Atenienses,
alm de oferecer uma lista abrangente das atividadesjurdicas e institucionais de Atenas. Apesar de defender
a democracia, o autor no se exime de critic-la. No
plano moral, apresenta-se como um oponente ferrenho
do sistema, e demonstra sua postura ao criticar
mecanismos democrticos que beneficiam a parte mais
pobre da populao, como por exemplo as liturgias.
O autor recorrentemente referido como
Pseudo-Xenofonte, principalmente na bibliografia
francesa, italiana e espanhola. A tradio anglo-saxnica
designa-o com o qualificativo deVelho Oligarca (Old
Oligarch), que se tornou famoso; essa designao,no entanto, no contribui para o debate, j que no
podemos inferir com certeza a idade ou a identidade
do autor. Marr e Rhodes 2008 1-2 identificam-no
como X, indicando somente um autor desconhecido.
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P R M
No presente trabalho utilizaremos as trs denominaes
paralelamente.
A importncia deste testemunho para o estudo
das relaes entre os aliados da Liga de Delos deve
ser evidenciada. Gomme 1945 380 aponta que
durante o perodo entre 477 e 431 a.C. existiam
diversas guarnies atenienses em Mileto, Ertria,
Clcis, Samos, entre outras, nas quais os Atenienses
instituram regimes democrticos. No que se refereao tipo de relao estabelecida por Atenas com seus
aliados, Pseudo-Xenofonte corrobora os comentrios
cidos encontrados em outras testemunhas do sculo V
a.C., como por exemplo Aristfanes V. 655-663 e na
perdida Babilnios, cujo tema central era a escravizao
dos aliados, assim como as descries severas feitaspor ucdides 1.112-117. O Velho Oligarca explica
que os cidados atenienses fazem com que os aliados
sejam obrigados a vir a Atenas para resolver pendncias
jurdicas (1.13) e que os tributos pagos pelos membros
da Liga so a base da vicissitude de Atenas (1.15). Alm
disso, quando se refere fora terrestre, registra que
esta suficiente justamente por ser superior de seus
aliados (2.1), insinuando o controle militar dos outros
membros da liga de Delos pela lder Atenas, tantas vezes
relatado por ucdides, como no caso dos Mlios (Tuc.
5.85-111). Macdowell 1978 227 sustenta, baseado notestemunho do Velho Oligarca, que estas interferncias
na esfera jurdica sobre os aliados possua, para alm
do interesse poltico, claras motivaes de ordem
econmica e social.
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INTRODUO
Um outro aspecto muito estimado pelo nosso
autor a organizao e o poder da armada ateniense.
Pseudo-Xenofonte concorda com a viso clssica de que
Atenas era inferior aos seus inimigos no combate por
terra, mas infinitamente superior na organizao naval.
A familiaridade dos Atenienses com o ofcio naval
vastamente conhecida. O pargrafo 1.2 destaca-se por
fornecer o que pode ser considerada uma lista de oficiais
de bordo. O autor elenca alguns cargos de oficiais docurriculum martimo ateniense, especialmente os que
poderiam ter sido desempenhados por membros do
povo. O segundo captulo destina-se, em grande parte,
discusso de estratgias militares. Fala-se da inferioridade
da infantaria ateniense (2.1); da incapacidade de
insulares reunirem suas foras em revolta, em razo domar que est entre eles (2.2); da possibilidade estratgica,
reservada aos que dominam o mar, de realizar ataques
surpresa e de fugir com facilidade quando a fora inimiga
aproxima-se (2.4); e, por ltimo, da capacidade dos
talassocratas de atravessar longas extenses com relativa
rapidez e facilidade, ao contrrio das foras terrestres,
que no conseguem ausentar-se por muito tempo de
sua base (2.5). Alguns destes cenrios estratgicos sero
discutidos com mais detalhe no captulo sobre a data da
Constituio dos Atenienses, por relacionarem-se a teatros
de batalha conhecidos no sculo V a.C.Um outro tpico de interesse, principalmente no
terceiro captulo, a lista de encargos do Estado ateniense
e o funcionamento de suas instituies. O autor, com o
intuito de explicar por que a democracia por vezes
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ineficiente, lista uma srie de tarefas do conselho e da
assembleia dos Atenienses: celebrar festivais, julgar
processos, despachar assuntos de guerra, tratar das
receitas, propor novas leis e lidar com os aliados (3.2),
alm de apontar diversas liturgias e julgar os processos
advindos dos que no aceitam realiz-las (3.4). Refere-se
a fenmenos tpicos da burocracia ateniense, como o
suborno (3.3). A participao popular e o nmero
excessivo de causas so levantadas como as causas dalentido do sistema, mas reiterada a importncia da
interveno institucional da populao para o bom
funcionamento da democracia. As semelhanas com
as descries das instituies feitas na Constituio de
Atenas, atribuda a Aristteles, so numerosas e sero
apontadas em notas traduo.Este primeiro texto de prosa tica por ns
conhecido vem sobretudo contribuir para o estudo do
pensamento poltico na Atenas do sculo V a.C., por
tratar-se de um testemunho rico, apesar de parcial,
de um indivduo que expressa ora teses oligrquicas,
ora democrticas, sobre a vida poltica de uma cidade
que acabou por exportar e desenvolver o modelo de
democracia, que mais tarde consolidar-se-ia como uma
das mais importantes heranas polticas que a Grcia
clssica nos legou.
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1. XENOFONTECOMOAUTOR?
A tradio manuscrita da Constituio dos
Atenienses confirma, em geral, a autoria de Xenofontede Atenas. odos os doze manuscritos que contm aConstituio dos Atenienses, na ntegra ou parcialmenteconfirmam a autoria de Xenofonte, o Ateniense.Inclusive, encontramos, no fim do sculo II. d.C., ocaptulo 2.10 citado como de Xenofonte ateniense pelolexicgrafo Plux 7.167, 9. 43 e, no fim do sculo Vd.C, os captulos 1.14 e 2.20 citados por Estobeu 43.50-51, com a mesma atribuio. A nica voz contrria aesta tese na Antiguidade a de Demtrio de Magnsia,historiador contemporneo de Ccero, citado por
Digenes Larcio 2.57, no captulo sobre a vida deXenofonte. Nesta controversa passagem, a autoriada Constituio dos Atenienses e da Constituio dosLacedemnios posta em dvida. A leitura tradicional a de que ambas comporiam um s livro e, paraDemtrio de Magnsia, este livro no seria de autoria
de Xenofonte.O primeiro autor moderno a desenvolver
argumentos sistemticos contra a autoria do historiadorgrego foi Schneider 1815 81, que levanta questes deordem cronolgica para invalidar a possibilidade de
Xenofonte ter escrito o opsculo. Nesta passagem, oautor sugere que o texto no poderia ter sido compostodepois da instituio da tirania dos rinta, portantodepois de 404 a.C., o que excluria Xenofonte. A dataindicada por Schneider no goza de unanimidadeentre os estudiosos, no entanto a primeira vez que a
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datao do texto influenciaria a questo da autoria. Estecomentrio indicou a seguinte contradio lgica: se otexto foi produzido antes de 404 a.C. e podemos recuara data de nascimento de Xenofonte no mximo atmeados dos 430 a.C., segundo Anderson 1972 9-10,ele seria, portanto, jovem demais para ser o seu autor.
O segundo grande argumento levantado contra ateoria de Xenofonte como autor de ordem estilstica.
ponto pacfico entre os fillogos modernos que oestilo de X diverge em quase tudo do de Xenofonte.Bowersock 1968 461 abre a introduo de sua edioao texto,caracterizando-ocomo tantalizingly inept,paraem seguida adicionar repetitivee awkward lista dos seustraos estilsticos. Em contrapartida, Xenofonte visto
como um mestre da prosa tica, de linguagem refinadae clara. O excesso de repeties, a falta de continuidadeentre os argumentos e o vocabulrio cotidiano do VelhoOligarca servem como argumento em favor da noautoria de Xenofonte.
Na ltima grande edio da Constituio dosAtenienses, Marr e Rhodes 2008 6-16 levantam oproblema de se basear a deciso da autoria meramenteem critrios estilsticos e argumentam que possvelencontrar semelhanas entre a Constituio dos Ateniensese a Constituio dos Lacedemnios, a saber:na estrutura
do texto, nas auto-referncias, no uso sistemtico dasegunda e da terceira pessoa do singular para ressaltardistanciamento e generalizao, na organizaoprogramtica das afirmaes e na presena de uminterlocutor imaginrio. Mesmo eliminando o critrio
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estilstico para atribuio da obra, os autores declaramque o critrio cronolgico (para Marr e Rhodes otexto foi escrito entre 425-424 a.C.) um argumentoextremamente convincente para no atribuirmos a obraa Xenofonte.
O bigrafo moderno de Xenofonte, Anderson1974 40-41, afirma que a personalidade poltica dohistoriador rene similaridades com o texto de X;
Xenofonte poderia ter escrito o opsculo pelo seuperfil poltico, mas provavelmente no o fez pela suaidade. Nesta nossa reflexo, assumimos que a obra nopertence ao corpus de Xenofonte, aceitando tanto osargumentos estilsticos quanto os cronolgicos, o quenos leva segunda hiptese.
2. QUEOUTROPOSSVELAUTOR?
Diversos nomes de conhecidas personalidadesforam levantados para ocupar a vaga de autor destetexto. Basicamente todas as hipteses falham por dois
motivos: ou porque sabemos demais sobre o autor emquesto e a no autoria se mostra evidente, ou por nosabermos suficiente sobre a personalidade em causa, porvezes somente o nome, o que conduz o debate ao campodo possibilismo1.
Dividiremos as hipteses em dois grandesgrupos; o primeiro o de personalidades secundrias,de que retemos pouca informao (Xenofonte o Velho,
1Esta seo est baseada na compilao feita por Ramirez-Vidal2005 46-50 e no ensaio sobre o autor do opsculo de Leduc 197645-54.
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Xenofonte de Melite, filho de Eurpides, e ucdides,filho de Melsias); o segundo o de grandes nomes dosculo V a.C., de que podemos construir relativamentebem uma biografia ou bibliografia (ucdides, Antifontee Crtias).
Xenofonte, o Velho, foi membro do crculosocrtico e referido poucas vezes em obrasconhecidas, como possivelmente em D.L. 2.59. Este
personagem conhecido por ter cado do cavalo e tersido salvo por Scrates durante a batalha de Dlio(D. L. 2.22-23). Normalmente confundido com ohistoriador Xenofonte2, no s por este episdio daqueda, mas tambm por ser indicado como o autordos Hellenika. Sua idade, sua aproximao com os
crculos filosficos de Atenas e o fato de usar o mesmonome so os argumentos positivos para a determinaode Xenofonte, o Velho, como autor da Constituio dos
Atenienses.Xenofonte de Melite, filho de Eurpides, foi
um nobre que ocupou a hiparquia em 446 a.C. e aestrategia em 440 a.C., tendo morrido em batalha comoestratego em 429 a.C. durante a campanha na Btica(Tuc. 2.79). A coincidncia do nome e o fato de este
Xenofonte ter sido tanto estratego como hiparco so osgrandes argumentos para o aceitar como autor da obra,
pois, em 1.3, X afirma que a hiparquiae a estrategiasoas nicas posies que ainda eram ocupadas somentepela classe alta.
2No podemos deixar de sublinhar como a homonmia podeter responsabilidade na confuso.
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ucdides, filho de Melsias, nos conhecidoatravs das descries de Aristteles (Ath. 28.2), dobigrafo Plutarco (Per. 6.2, 8.5, 11.1-3 e 14.3) edo comedigrafo Aristfanes (Ach. 703-710). eriaassumido a liderana da oposio a Pricles aps amorte de Cmon. Seu perfil de um oligarca radical,que possua prodigiosa habilidade poltica e retrica eteria sido um dos responsveis pela polarizao vista
em Atenas entre democratas e oligarcas, organizandosua prpria classe em um bloco quando participavamna assembleia; foi ostracizado provavelmente no ano de443 a.C. A escolha do filho de Melsias baseada naaproximao poltica dos dois indivduos. O autor daConstituio, provavelmente, pertencia aristocracia,
assim como o filho de Melsias. No entanto, asemelhana s esta e, mesmo assim, uma anlise maisaprofundada do texto revela Pseudo-Xenofonte comoum aristocrata moderado, ao contrrio deste ucdides;Kagan 1969 139-141, por seu lado, defende o pontode vista oposto, de que a viso poltica expressa por Xpoderia ser representativa dos ideais aristocrticos deucdides, embora elimine a possibilidade de ser este oautor do opsculo. Alm disto, somente aceitando umadatao extremamente atrasada, em torno de 440 a.C.,seria plausvel a autoria de ucdides, filho de Melsias.
Defender qualquer um destes trs nomes trazpouca contribuio para o debate. odas as evidnciaslevantadas baseiam-se em coincidncias e no possumosmais dados biogrficos ou polticos sobre estaspersonalidades para aprofundar as pesquisas. A escolha
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de um deles tem o nico objetivo de dar um nomeao autor, no trazendo nenhum elemento novo paraa discusso. Gigante 1953 (apud Ramirez-Vidal 200540) extremamente rigoroso e afirma que no podemosusar como mtodo cientfico a luxria do possibilismo,sem termos dados concretos ou historicamentecomprovados.
O segundo grupo de eventuais autores proporciona
discusses mais aprofundadas, pois conhecemos melhoros postulantes.ucdides, o autor da Histria da Guerra do
Peloponeso,aparece como uma hiptese pela semelhanados temas abordados. A longa explanao sobre o podernaval de Atenas nos discursos atribudos a Pricles
guarda semelhana com a descrio do imprio naval naConstituio dos Atenienses. A lista de temas coincidentes profusa e ser analisada brevemente: a fora de terraateniense menos poderosa do que a espartana (Tuc.1.141.6, Ps. Xen. 2.1); a caracterizao tirnica doimprio ateniense (Tuc. 2.63.2, Ps. Xen. 1.18) e ofamoso discurso sobre a possibilidade de Atenas ser umailha e suas vantagens para o estabelecimento de umatalassocracia (Tuc. 1.143.4, Ps. Xen 2.14), que seranalisado em seguida.
Em 2.14-16, onde Pseudo-Xenofonte mais
se aproxima de ucdides, inicia-se o tpico sobre aseguinte questo terica: e se Atenas estivesse localizadanuma ilha? Um levantamento feito por Romilly 1962237-238, serviu para comparar as passagens maissignificativas, ressaltando a real similitude entre as
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duas exposies, e ao mesmo tempo, evidenciandoa divergncia vocabular e de estilo. A questo dailha levantada pelos dois autores de maneira quaseidntica, como mostram as seguintes passagens: se os
Atenienses, talassocratas, habitassem numa ilha (2.14)e, por outro lado: pois se morassemos numa ilha (Tuc.1.43.5). As sugestes de ao oferecidas pelos doisautores tambm so similares, como vemos nestes
passos: Transferem suas propriedades para ilhas (2.16)eenviaram de todos os lugares o gado e os animais de carga
para a Eubeia e para as ilhas prximas (Tuc.2.43.1).Frisch 1942 79-86 vai mais longe e compara as obraspor completo. Os resultados de ambos os comentadoresso divergentes: para Romilly 1962 240, o autor da
Constituio dos Atenienses est mais preocupado comquestes de poltica interna e economia com relaoao imprio martimo e demonstra profunda ignornciaou indiferena com relao aos assuntos de guerra; porseu lado, Frisch 1942 87 entende que estamos diantede nada menos do que um tratado de teoria da guerra.Uma possvel concluso a de que Pseudo-Xenofonteno conheceu, necessariamente, a obra de ucdides,mas sim que ambos teriam dividido o mesmo ambientepoltico-intelectual (Marr e Rhodes 2008 5) e que,provavelmente, o tema da ilha era um lugar comum
entre os cidados minimamente politizados.A segunda personalidade, Antifonte deRamnunte, fora um loggrafo profissional reconhecidopela excelncia de seu trabalho. ucdides 8.68.1 ocaracteriza como um dos melhores homens de seu
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tempo, hbil com as palavras, mas que no se dirigia assembleia pessoalmente. Gernet 1954 2 explicaque Antifonte pertencia a uma famlia conhecida porter se associado ao regime dos tiranos e, por isso, eleprprio no teria condies de ingressar na polticasem carregar esta pecha. Ainda em 8.68.1, ucdidesindica que Antifonte teria ajudado a instalar o regimeoligrquico de 411 a.C, sem explicar de que maneira.
O perfil poltico de Antifonte assemelha-se ao dePseudo-Xenofonte, pelo fato de ambos serem oligarcase politicamente ativos. Esta hiptese foi deixada de ladopela total divergncia entre as obras que conhecemosde Antifonte, suas Tetralogias, e o texto de X . Se porum lado Antifonte tido como um mestre da retrica,
o autor da Constituio dos Atenienses peca pela faltade conexo lgica e pela topificao desconexa de seusargumentos.
Por fim, o nome de Crtias foi tambmaventado: Si une personne Athnes fut vraimentpour loligarchie, et sans rserve, cette personne estCritias (Romilly 1988 289). De acordo com a autora,Crtias tem todo o potencial para assumir a autoria doopsculo, pois ambos assemelham-se no perfil polticoextremista. Esta caracterstica no suficiente paracredenciar Crtias como autor; mas, se considerarmos o
fato de que Crtias foi autor de diversas constituies uma Constituio dos Lacedemniosescrita em verso,uma Constituio dos Tesslios e uma Constituio dos
Atenienses, de que s chegou a ns o ttulo , noseria improvvel que ele tenha escrito tambm esta
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Constituio dos Atenienses. Como somente fragmentosdestas outras constituies sobreviveram, a tarefa decomparar os dois autores mostra-se difcil. No entanto,pelo menos duas caractersticas podem ser sublinhadas:o gosto pela comparao e a coincidncia de temas.Romilly argumenta que Crtias estava mais preocupadocom a comparao entre o modo de vida nas diversascidades gregas do que com suas instituies polticas. A
maneira de vestir, por exemplo, aparece como tpico emsua Constituio dos Lacedemniose em sua Constituiodos Tesslios3. O texto de Pseudo-Xenofonte tambmcomenta a maneira de vestir ateniense (1.10), almde trazer diversas comparaes entre modos de vidade diferentes cidades gregas. A mais clebre destas
comparaes a do captulo 1.11, entre o direito de umespartano de surrar um escravo, seja ele sua propriedadeou no, e a atitude dos Atenienses de no aplicar castigosfsicos aos escravos.
Tierfelder 1969 82 levanta argumentos deordem estilstica para defender a postulao de Crtiase, principalmente, baseia-se na tradio que fez comque Plux, em seu lxico, considerasse Crtias o autorde uma passagem da Constituio dos Atenienses (3.6).No entanto, o mesmo comentador resigna-se e assume:Den wirklichen Verfasser wird weiterhin niemand
mit Sicherheit nennen knnen. Seguimos a opiniode Tierfelder e da maioria dos estudiosos4 e no
3Os fragmentos das Constituies de Crtias esto traduzidosna edio de Battegazzore e Untersteiner 1962 318-331.
4Frisch 1942, Ramirez-Vidal 2005, Leduc 1978 , entre outros.
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escolhemos um nome para o autor, o que no invalidaa necessidade desta breve capitulao das possibilidades.Como cada uma das personalidades citadas sugere umaaproximao especfica com o autor, possvel agruparestas abordagens e construir um perfil de X.
H de se reter em mente que o autor provavelmente um oligarca, que possivelmente ocupouuma funo militar (estrategia, hiparquia ou trierarquia),
que dividiu com ucdides opinies em voga na poca,conviveu com crculos sofistas e, provavelmente, estavaincludo nas conversaes dos oligarcas que tramaramo golpe de 411 a.C. e o dos trinta tiranos de 404 a.C.
3. CONSTRUINDOUMPERFILPARAPSEUDO-XENOFONTE
Construir um perfil para o autor buscar, atravsde seus prprios comentrios, uma identidade. visvelque ele prprio no tem interesse em se identificar emnenhum momento do texto e o que nos resta fazer extrair de seus comentrios polticos e ideolgicos traos
que podero vir a compor uma personalidade.Se podemos dizer algo sobre seu perfil psicolgico
que o autor extremamente autoconfiante (Frisch1942 88-90). Praticamente metade dos pargrafos dotexto comeam ou so concludos com uma primeirapessoa5. Percebemos que defende fervorosamenteuma ideia coesa ao longo de todo o texto, mesmo quecontraditria primeira vista. O Velho Oligarca noprope uma reflexo entre as duas formas de governo,
5Para uma lista completa das passagens em primeira pessoa verFrisch 1942 88-89.
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como se fazia com frequncia na poca (videcaptulosobre o gnero do texto); tenta convencer sua audinciade que a sua viso sobre a democracia ateniense a maiscorreta, e est absolutamente convencido deste fato.Uma contradio aparente desmascarada medidaque percebemos que os argumentos de X sobre amanuteno da democracia so coerentes.
Alm deste trao decidido da sua personalidade,
podemos afirmar, com bastante segurana, que o autor um Ateniense, pois utiliza a primeira pessoa diversasvezes quando refere-se a esse povo, como na seguintepassagem (1.12):
Eis a razo por que demos liberdade de expresso aos
escravos perante os homens livres ( ...) Por este motivoagimos com razo ao darmos liberdade de expresso aosmetecos.
Contudo, Pseudo-Xenofonte abre excees erefere-se aos Atenienses na terceira pessoa, quando
explicita sua desaprovao com relao a uma decisopor eles tomada, como, por exemplo (1.1): Quanto
forma de governo dos Atenienses, que escolheram este tipode constituio, eu no a aprovo.Sempre que a forma degoverno est em jogo, Pseudo-Xenofonte distancia-se
dos outros Atenienses, utilizando a terceira pessoa doplural; mas, quando, por exemplo, a frota ateniense citada, observamos uma aproximao do autor, pelouso da primeira pessoa, como nesta frase: Exatamente
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destes materiais so feitos os meus navios 6(2.11). Destemodo, a relao de proximidade com a cidade de Atenaspauta-se sobre opinies pessoais do autor, podendoconfigurar uma aproximao com a cidade, como nocaso da frota e suas vantagens, ou um distanciamentomoral bem definido, como por exemplo com relao sbases populares da democracia.
De onde o Velho Oligarca escreve? Frisch 1942
187 sugere que o autor est fora da tica no momentode composio da obra, que foi exilado ou banido, ese dirige a oligarcas de outra cidade. A argumentaode Frisch baseia-se no uso excessivo da palavra autothique indica um distanciamento; o nome Atenas constantemente substitudo por autothi7 ao invs de
enthade.A traduo seria, ento, l e no aqui comose esperava de algum que escreve dentro da cidadede Atenas. Para Frisch esta uma evidncia forte osuficiente para provar que o autor escreve de fora da
tica, porm sobre Atenas. Leduc 1976 53 defende ahiptese contrria e deixa a discusso em aberto:
lemploi de autothi au lieu de enthade nest pas unargument suffisant pour faire de lauteur un exil. Deplus, une poque o tous les Athniens font de longs
6O uso do pronome possessivo na primeira pessoa somado ao
uso da palavra naupegos(1.2) abriu margens para a interpretao deque o Velho Oligarca seria um armador por profisso, ou seja, umprojetista e construtor de navios (Varona 2009 29).
7 E.g. 1.2 Primeiramente, direi o seguinte: legtimo que,em Atenas (authoti), os pobres e o povo recebam mais do que osnobres e os ricos, exatamente porque o povo que conduz as nause confere poder cidade.
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voyages travers la Mditerrane et o Socrate, justement,se singularise par son refus du dracinement, il serait trstonnant quun homme aussi duqu que Ps-Xnophon
ignore les choses de la mer et les noms des pays lointains.
3.1. A dupla personalidade poltica do autor
E o que dizer de seu perfil poltico? evidenteque ele partidrio da oligarquia; sua posio tica
explicada brevemente no pargrafo de abertura (1.1):
Quanto forma de governo dos Atenienses, que escolherameste tipo de constituio, eu no a aprovo pela seguinterazo: aqueles que a escolheram optaram por privilegiar aral ao invs da elite.
Ao mesmo tempo, um entusiasta da armadaateniense e v nela a grande fora de sua cidade. Emsua opinio, este potencial s to grande porqueseus agentes, os remadores, so cidados com poderde deciso no governo ateniense. Se detesta o fato de
o povo ter poder de deciso, por outro lado exalta opoder da armada democrtica. Como conciliar esteparadoxo?
Canfora 1980 91 defendeu a tese de que o textoseria um dilogo entre dois personagens: o Oligarca
moderado e o Oligarca obtuso. O primeiroocupar-se-ia de todas as passagens que mostram a filiaotica nas crenas aristocrticas, enquanto que o segundotrataria de demonstrar a fora que Atenas extrai de seudmose como esta fora manifesta-se na marinha.
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A teoria do dilogo como gnero do texto nuncafoi levada a srio, porm a base de sua argumentao mantida. De fato, existem duas vozes em enormecontraste. Belot 1880 1-17 avanou na discusso epostulou que possvel observar duas almas, mas umas pessoa; Leduc 1976 36-37 emprega os termos ticoe til para caracterizar cada uma dessas almas; por umlado, o Velho Oligarca extremamente apegado s suas
convices morais, que o aproximam da nobreza e daoligarquia, provavelmente pela sua histria de vida;mas, por outro, fascinado pela magnitude blica quea democracia pode oferecer, atravs de sua pujantemarinha. O autor tocado, ento, pela utilidade dademocracia. Frisch 1942 110 tambm corrobora o
carter dbio do texto e afirma:
Tus two souls seem to be fighting in the authors breast,the one, which is idealistic and ethical, is seated in hisemotional life and finds vent in all the terms of abusedirected against the Athenians and the people, the other,
seated in his reason, is realistic and materialistic, and fromthat all the arguments originate.
Ao assumirmos o carter decidido e autoconfiante,podemos interpretar esta aparente contradio como umplano poltico bem delimitado. Pseudo-Xenofonte, defato, detesta a democracia, mas v nela a possibilidade de
Atenas exercer seu poder sobre as outras cidades gregas.A ambiguidade no est presente somente na sua
escolha entre a democracia e a oligarquia, mas tambm nasua prpria maneira de argumentar. Pseudo-Xenofonte
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um fomentador de contrastes e exageros; ao falar dashierarquias sociais, por exemplo, sempre faz questo decoloc-las em planos totalmente opostos, numa ferrenhacaracterizao de conflito social.
Uma outra interpretao, menos elegante, a de que, na verdade, era um homem prtico, sabiaexatamente o que queria e no estava agarrado apressupostos ticos, apesar de os expressar com nfase.
Belot 1880 16 exprime esta opinio da seguinte maneira:
A aristocracia para ele um ideal abstrato que tem o respeitoda sua razo, mas que no governa nem suas afeies, nemmesmo suas opinies sobre a realidade. um princpio semconsequncias, uma religio sem culto, sem influncia sobre
sua conduta, que no o impede de argumentar e de concluirem favor da democracia. Em uma palavra, o autor, se nso julgarmos por sua obra, lembra um pouco o homem deestado de nosso sculo que, durante sete dias da semana,emprega seis contra seus amigos polticos e somente ostimo contra seus inimigos.
Apesar de a Constituio dos Atenienses estarrecheada de generalizaes sobre grandes temas dopensamento social e econmico, o que rendeu ao seuautor a alcunha de premier conomiste et premiersociologue (Leduc 1976 43) inclinamo-nos a pensar que
o texto saiu da mente de um homem prtico, envolvidona poltica, e que suas generalizaes tm a funo deprovar seus argumentos de ordem poltica e no dedesenvolver sistematizaes sobre a sociedade ou sobre aeconomia. No negamos a hiptese de que X era alheio
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completamente aos crculos intelectuais de Atenas,especialmente o crculo sofista, mas consideramosimprovvel tratar-se de um sofista, no sentido estrito dapalavra. No se trata de um profissional do saber. Suasgeneralizaes parecem ter origem no na reflexo, masno conhecimento prtico da sociedade e da economia. mais provvel que tenha tido contato com as ideiasdos sofistas e feito uso delas nas ocasies que lhe
interessavam.
4. CONCLUSOSOBREAAUTORIADOTEXTO
Reconhecemos a impossibilidade de se encontraro nome do autor do texto e a dificuldade de lhe
estabelecer um perfil poltico ntido. No entanto,oferecemos a seguinte hiptese: trata-se de um Atenienseextremamente autoconfiante e com um programapoltico bem definido. As crenas que defende tmbase em uma ideologia oligrquica, mas suas propostasprticas dialogam com o regime democrtico. um
homem de ao, talvez um estratego, um hiparca ou umtrierarca, e participa da poltica ateniense assiduamente. um homem culto, frequenta os crculos intelectuais eest familiarizado com as ideias dos sofistas, apesar deno ser um deles.
Este perfil no uma concluso irrefutvel e,provavelmente, ningum conseguir construir um perfildefinitivo para o Velho Oligarca. No entanto, pontuaas vrias esferas pelas quais o autor transita durante otexto. A escolha do perfil tem a funo de dar coerncia traduo do texto e trazer ao leitor uma coleo de
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tpicos que esto relacionados diretamente com asua leitura como, por exemplo, o imprio martimoateniense, o pensamento sofstico e o conflito social.
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Como era esperado, o problema envolvendo adatao do presente tratado tambm oferece diversasdificuldades e proporcionou debates inflamados entre
os crticos. Para todos os efeitos, consideramos que otexto foi escrito entre 431 e 424 a.C., concordandocom as argumentaes de Ste Croix 1972 309 e Marr eRhodes 2008 6. No entanto, ser feita uma breve anlisedos passos que apontam pistas para a datao do texto,evidenciando argumentos favorveis e contrrios a uma
datao entre 431 e 424 a.C.A tarefa para encontrarmos a data de composio
da Constituio dos Atenienses consiste em tentar extrairdos comentrios de Pseudo-Xenofonte evidncias deacontecimentos histricos, com datao segura, paraestabelecer o terminus post quem e o terminus ante quemda obra. Provavelmente lemos um texto escrito duranteo sculo V a.C.1, especificamente durante a primeiratalassocracia ateniense. Foi levantada a possibilidadede o tratado ter sido escrito durante a segundatalassocracia ateniense (378-355 a.C.), fato improvvel,
mas no impossvel. Kalinka 1913 5 trata de descartaresta possibilidade apontando o uso da palavra phoros
1A nica possibilidade de o texto no ter sido escrito duranteo sculo V a.C. a de termos em mos um exerccio de escola ouuma reconstituio histrica da Atenas do tempo de Pricles, tesedefendida por Belot 1880.
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(imposto), em 2.1, 3.2 e 3.5, como caracterstica daprimeira talassocracia, em detrimento das contribuiesirregulares (syntaxeis) empregadas durante a segunda.Pseudo-Xenofonte descreve uma Atenas soberana nosmares, que desfruta de um sistema democrtico estvele pujante. O que nos leva a acreditar que o opsculofoi escrito antes da derrota naval na Scilia (413 a.C)e depois da transferncia da maior parte dos poderes
do Arepago para a assembleia e para o conselho.Para apontar uma data segura, o ano das reformasde Efialtes (462/1 a.C) o terminus post quem dotratado, mas o ano das reformas do Arepago feitas porPricles (logo aps 451/0, segundo Arist. Athen. 27.1)tambm pode ser entendido como limtrofe. Pseudo-
Xenofonte, em 1.2, considera justo o povo tomar partenos assuntos de Estado, por ser ele o responsvel pelamanuteno do poderio naval. O tom geral do tratadocorresponde narrativa de AristtelesAthen.27.1 sobreo estabelecimento do poder martimo de Atenas:
Com efeito, Pricles retirou ao Arepago alguns dosseus poderes e, em especial, impulsionou a cidade comopotncia martima, medidas que permitiam ao povo ganharconfiana para chamar a si a maior parte dos assuntos de
Estado.2
A discusso maior entre os especialistas sobre aincluso do texto no perodo da guerra do Peloponeso ou
2odas as tradues da Constituio dos Ateniensesde Aristtelesso de autoria de Leo 2002.
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antes dela. Como dependemos somente das evidnciasinternas para desvendar a datao, devemos analisarbrevemente os passos que fornecem indcios slidospara a sua localizao temporal, na perspectiva destegrande conflito da segunda metade do sc. V a.C.
1. ANLISEDOSPASSOSDECISIVOSPARAADATAODAOBRA
O primeiro livro, em geral, no oferece nenhumapista especfica sobre a guerra, mas relata o tipo derelao que os Atenienses mantinham com seus aliados.Em 1.14 e 1.15, o Velho Oligarca refere algumas prticasimperialistas atenienses, tais como a perseguio selites das cidades aliadas e o pagamento dos tributos em
dinheiro ao invs do fornecimento de servio militar.Esta mudana de comportamento da hegemnicaAtenas observada, principalmente, depois de 454a.C., quando o tesouro da Liga de Delos transferidopara o seu territrio e as cidades aliadas deixam defornecer apoio militar e passam a pagar seus impostos
em dinheiro.O pargrafo 1.16 fornece evidncia mais slida:
X afirma que os aliados tm de ir a Atenas para resolversuas disputas jurdicas. A afirmao encontra suporteno decreto de Clcis (IG i2.39), situado usualmenteem 446/445 a.C3. O decreto revela que todos os casos
3 Mattingly 2002 379 entretanto argumenta a favor deuma datao mais avanada do decreto de Clcis, em torno de424/23 a.C., com base na invaso da Eubeia durante a guerra doPeloponeso, o que, se for correto, incidiria diretamente sobre adatao da Constituio dos Atenienses.
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derivados de m conduta de funcionrios pblicosque envolvessem exlio, morte ou perda dos direitospolticos, deveriam ser julgados em Atenas.
Ainda sobre os impostos, mas desta vez oscobrados no Pireu sobre as mercadorias importadas, oVelho Oligarca alude, em 1.17, a um imposto de 1%(hekatoste). No sculo IV. a.C. o imposto pelo uso doporto era de 2% (pentekoste), como afirma Garland 2001
88. A nica referncia ao hekatosteest nas lamentaes dopersonagem Bdelcleon nas Vespas (v. 658)de Aristfanes,pea encenada em 422 a.C. ucdides (7.28) relata que,pelas dificuldades da guerra, Atenas viu-se obrigada, em413 a.C., a aumentar o tributo, que desde ento recebeuoutro nome: eikostes (tributo de 5%).
O segundo livro, dedicado principalmente svantagens blicas do imprio martimo, oferece rastrossobre as estratgias militares em vigor quando o opsculofoi escrito. Em 2.4 descrito o estratagema de devastaodas costas, manobra tpica de quem controla o acessomartimo. Pricles utiliza este meio com nfase durantea guerra do Peloponeso em reao s invases espartanasna tica. Este primeiro perodo do conflito (431-424)ficou conhecido como guerra arquidmica, nome dorei de Esparta defensor e condutor desse conjunto deataques, e foi marcado pelo no enfrentamento direto
das foras atenienses e espartanas. No entanto, esteconjunto de saques pode tambm referir-se s invasesde lmides em 455 a.C.
Em 2.5 Pseudo-Xenofonte afirma que uma foraexpedicionria terrestre no poderia atravessar longas
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distncias tanto pela falta de mantimentos quantopelas dificuldades em cruzar territrios inimigos. Estapassagem tornou-se extremamente debatida em virtudedo comentrio de Roscher 1842 529. O historiadoralemo relacionou este passo com a bem sucedidaexpedio do general espartano Brsidas no vero de424 a.C (Tuc. 4.79). Brsidas teria atravessado todaa esslia at chegar Macednia com um exrcito de
1700 homens, fazendo com que a afirmao do VelhoOligarca perdesse a validade. Este argumento para oterminus ante quemda composio do texto foi duramenteatacado por diversos comentadores. Ste Croix 1972 309diz que a afirmao de Pseudo-Xenofonte no pode serconsiderada como um dogma infalvel4e que, mesmo
com a exceo da campanha de Brsidas, o ensinamentocontinua vlido. Em adio, a narrativa de ucdides(4.78) permite-nos entender que no se tratou de umacampanha tpica. O general espartano contou com aajuda de guias tesslios e foi auxiliado por Perdicas, reida Macednia; e, como ressaltam Marr e Rhodes 2008107, os Espartanos no conseguiram repetir a manobranos dois anos que se seguiram, o que culminou com oisolamento da tropa de Brsidas e com a sua eventualderrota e morte em Anfpolis no ano de 422 a.C. Oque pode se afirmar com menos preocupao que o
texto de Pseudo-Xenofonte no foi escrito logo depoisda campanha de Brsidas.
4 Como afirma Bowersock 1968 489 em nota de rodap aopargrafo 2.5, this dogma was proved false by Brasidas march tothe north in 424 and hence was probably composed before thatyear.
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Em 2.13 o Velho Oligarca enumera mais umavantagem militar que os donos do mar usufruem emvirtude da topografia:
Mais ainda: junto de toda a costa continental h umpromontrio ou uma ilha posicionada de frente para terrafirme ou um estreito, sendo assim possvel aos senhores domar atracar em um destes lugares e pilhar os moradores docontinente.
Este cenrio de conflito, puramente tericosegundo Frisch 1942 57, pode ser relacionado com quatrobatalhas ocorridas durante a talassocracia ateniense. Osadvogados de uma datao tardia defendem que esta
descrio estratgica refere-se ocupao da ilha deCitera, no Peloponeso, feita pelo general lmides noano de 456/5 a.C. na ocasio da primeira guerra entre
Atenas e Esparta e da circumnavegao ateniense doPeloponeso. Para os defensores da datao depois do inciodo conflito entre Atenienses e Espartanos, existem trs
batalhas que coincidem com o relato do Velho Oligarca.No primeiro ano da guerra, a ilha de Atalante forainvadida, para conter a pirataria e defender o territriode Eubeia (Tuc. 2.32). Em 424 a.C. Ncias repetiria ofeito de lmides e invadiria a ilha de Citera com umafora de 2000 hoplitas e sessenta navios (Tuc. 4.53).No entanto, a batalha que mais se assemelha descriode Pseudo-Xenofonte , sem dvida, a de Pilos. Estaocorreu em 425 a.C. e teve como principais generaisDemstenes, que liderou a primeira parte da campanha,
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na qual 420 Espartanos foram tomados como refns, eClon, que lanou uma ofensiva ainda maior sobre a ilhade Esfactria, onde o exrcito espartano estava alojado,rejeitando o acordo de paz proposto pelos Lacedemniosem troca dos refns5. Em termos militares, a localizaoe a topografia da pennsula de Pilos oferece maiorvantagem estratgica em relao ilha de Esfactriado que Citera, que est situada a oito quilmetros ao
sul da costa da Lacedemnia. O que nos leva a pensarque Pseudo-Xenofonte tinha Pilos em mente quandoescreveu este pargrafo. Em oposio, Frisch 1942 57acredita que, se o autor tivesse a campanha de Pilos emmente, no hesitaria em cit-la nominalmente, pelo queeste dado no seria decisivo para a questo da datao.
Marr e Rhodes 2008 121, por outro lado, assumem queo tratado foi escrito logo aps o ano de 425 a.C. pelaimportncia poltica e estratgica que a campanha dePilos representa.
O captulo 2.14 apresenta a clebre digressosobre as vantagens que Atenas usufruiria se fosse situadanuma ilha. A proposta, discutida tambm por ucdidesem 1.143.5, mostra as vantagens de se habitar numailha quando se soberano do mar. Algumas destas soenumeradas em formulao condicional, como:
Se os Atenienses, talassocratas, habitassem numa ilha,poderiam, se quisessem, causar dano sem nada sofrer, desdeque dominassem o mar, sem que suas prprias terras fossem
5Para uma discusso ttica da batalha de Pilos e Esfactria eseus desdobramentos polticos, ver Kagan 1974 218-259.
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destrudas nem invadidas pelos inimigos.
A clusula condicional ei eboulonto se quisessem suficiente para Frisch 1942 57 deslegitimar a passagem2.14-16 como um relato histrico. Para o autordinamarqus, Pseudo-Xenofonte est preocupado coma teoria da guerra e levanta possibilidades estratgicasno necessariamente relacionadas com fatos concretos.
coerente pensarmos que nesta passagem o autoresteja tratando de uma situao terica; no entanto, demasiado forado estender esta argumentao para2.16:
Ora, tendo em vista que, desde o princpio, no vivem
numa ilha, fazem agora o seguinte: transferem suaspropriedades para ilhas, confiando no controle sobre omar, e assistem, sem reagir, devastao do territrio tico,pois bem sabem que se fizerem questo do territrio, seroprivados de outros benefcios maiores.
A frase fazem agora o seguinte: transferem suaspropriedades para ilhas no apresenta ei, an ou outrapartcula que sugira possibilidade ou pura divagaoterica. Marr e Rhodes 2008 126 defendem que, nestepasso, o autor refere-se a algo que est acontecendonaquele momento, ou seja, um movimento estratgico
real de Atenas e no uma possibilidade terica. Apassagem encontra paralelo em Tuc. 2.14.1, sendodecisiva para a datao da obra durante a guerraarquidmica (431-424), justamente pela referncia estratgia de Pricles de deixar o territrio tico ser
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devastado, tanto transferindo os bens para a Eubeia,quanto protegendo-os atrs dos muros de Atenas,que assume a funo metafrica de ilha protegidadas invases inimigas. Ste Croix 1972 309 classificaenfaticamente esta passagem como vital para a dataodo tratado durante a guerra do Peloponeso e afirma comseveridade: Since the arguments for an earlier date haveno substance at all, we must accept 431 as a terminus
post quem.Uma outra passagem fervorosamente debatida a
seguinte (2.14):
Dadas as circunstncias, porm, os fazendeiros (gergountes)e (dmos) e os ricos (plousioi) de Atenas contemporizam
mais com os inimigos, enquanto o povo (dmos), seguro deque no ter propriedades queimadas ou destrudas, vivesem medo e no os receia.
Um primeiro olhar induziria concluso de queesta afirmao invalida a proposio de o texto ter sido
escrito durante a guerra do Peloponeso, especialmentedurante a guerra arquidmica, quando os campos ticosforam saqueados e queimados em grande extenso,havendo perdas materiais tanto para os ricos quantopara os pobres (Tuc. 2.65.2., Ar. Ach. 204-233).Como dizer que o povo vive sem medo, se uma grandeparte da populao rural foi obrigada a abandonarsuas casas e morar dentro dos limites pestilentos damuralhada Atenas? Bowersock 1967 34 no hesita emtratar esta evidncia como um terminus ante quem.
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Para o autor ingls, a obra no poderia ter sido escritadurante a guerra do Peloponeso. Para buscarmos umacontraposio a esta tese, devemos relativizar a afirmaode Pseudo-Xenofonte. Como j vimos, o autor empregatcnicas de amplificao em seu discurso para fazerressaltar as diferenas entre ricos e pobres. Neste passo,o objetivo do Velho Oligarca nada mais do queevidenciar as perdas dos ricos, pois, proporcionalmente,
eles perderiam muito mais do que os pobres, que poucotm. Bowersock tem razo em chamar a ateno para aexpresso ades dzi (vive sem medo). Parece exageradodizer que um povo em guerra vive sem medo, tematambm trabalhado na comdiaAcarnenses, que retratao protesto e descontentamento dos moradores do maior
demos da tica, Acarnas, que viram seu territrioser devastado pelas sucessivas invases espartanas.Diceoplis resume o descontentamento dos Acarnensesnesta frase: Quer dizer que so e salvo ia eu, bem rente muralha, estendido... no lixo6.
Para contra-argumentar, Marr e Rhodes 2008salientam a autoconfiana e otimismo presentes nasclasses baixas de Atenas graas ao poderio martimo eafirmam que toda a argumentao por trs do tratadoest baseada na crena de que Atenas vivia um momentoesplendoroso graas ao controle do mar. ucdides
registra o bom humor dos Atenienses em 424 a.C.,momento ureo da guerra para eles:
6 odas as tradues de Acarnenses so de Maria de FtimaSousa e Silva 2006.
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al era o efeito do sucesso nos Atenienses que elesacreditavam que nada poderia opor-se; para eles tanto osfeitos possveis quanto os impossveis eram alcanveis,
seja com uma grande fora ou uma deficitria. A razopara tal sentimento estava nas sucessivas vitrias, que lhesinspiravam grande esperana.
Uma abordagem similar defendida por
Woodhead 1970 36, que acredita que a Atenasdemocrtica s prosperou porque seus cidadospossuam confiana (tharsos). Nas palavras de
Woodhead: Self-confidence, belief in themselves, based,as is frequently emphasised, on their participation in
Athens naval sucess, and belief in their democratic
mission, was the key to the sucess of the Athenianpeople. Outro a discordar do argumento Ste Croix1972 309, por considerar que o Velho Oligarca entendeo dmos como populao urbanade classe baixa e nocomo fazendeiros (gergountes); por isso, o dmos noteria sofrido demasiado com as invases espartanas ao
territrio tico.No terceiro livro, especificamente em 3.2, X
lista uma srie de obrigaes do Conselho, entre elas aguerra, o que foi tomado como uma pista que sugerisseum estado atual de conflito. Esta aproximao no to evidente e podemos pensar que os assuntos blicoseram debatidos pelo Conselho, mesmo em tempos depaz, assim como nossos atuais ministrios das forasarmadas esto em pleno funcionamento, mesmo emestado de normalidade. No obstante, Aristteles,Ath.
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30.5 tambm enumera os assuntos de guerra7 comouma prerrogativa do Conselho.
Em 3.4 o Velho Oligarca afirma que funodo Conselho e da Assembleia velar pela manutenodos navios e apontar quatrocentos trierarcas por ano.O nmero, considerado pouco realista pela maioriados especialistas8, pode revelar um estado de guerraatual ou iminente. ucdides (2.13.8) afirma que, um
pouco antes do incio da guerra do Peloponeso, estavamdisponveis trezentas trirremes prontas para navegar,nmero que coincide com o dado por Diceoplis em
Acarnenses 544-545: No faltava mais nada! Tratavammas de pr logo no mar trezentos navios. Em 428 a.C,durante a guerra arquidmica, a armada ateniense
contava com duzentos e cinquenta navios (Tuc. 3.17),provavelmente trezentos e cinquenta se considerarmosuma frota de elite, parte, de cem navios (Tuc.2.24.2). No devemos confiar cegamente na declaraode Pseudo-Xenofonte pois, como j foi dito, este tem atendncia de exagerar os fatos e nmeros para provar o
7Os cinco homens seleccionados trataro tambm de tirar sorte a ordem pela qual se apresentaro os que desejam consultar oconselho: em primeiro lugar para assuntos de religio, em segundopara os arautos, em terceiro para as embaixadas, em quarto para asoutras matrias, mas em questes de guerra, os estrategos poderosubmet-las a discusso quando for necessrio.
8Marr e Rhodes 2008 152 concluem: At any rate, the evidenceseems to show that, whatever the exact total numbers of Atheniantriremes was during the Archidamian War, there were never asmany as four hundred. J Frisch 1942 312 acredita que a marinhaateniense possua outros tipos de navios, como transportadoresde animais e de carga, que os trierarcas tambm deveriam serselecionados para a administrao destes navios.
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seu argumento. No entanto, o que conspira a favor donosso autor neste ponto que este passo to somenteuma enumerao das funes dos orgos pblicos, eno uma argumentao relacionada com o benefciode alguma classe social, o que normalmente ocorrequando ele exagera ou distorce algum dado histrico.Oferecendo um voto de confiana ao testemunhode Pseudo-Xenofonte, o nmero no to exagerado
assim, se lembrarmos que muitos navios deveriam ficarnos estaleiros para reparao e construo, e que paraestes navios tambm deveriam ser assinalados trierarcas,como avisa Frisch 1942 312.
O prximo passo (3.5) a nos fornecer pistas sobrea data de composio o seguinte: sobre a cobrana de
impostos, que acontece normalmente (hs ta polla) a cadaquatro anos. O passo refere-se cobrana do tributo dosaliados da Liga de Delos, que passou a ser realizada acada quatro anos na ocasio da celebrao das GrandesPanateneias em Atenas, desde que o tesouro da simaquiafoi transferido para a acrpole em 454/3 a.C. O VelhoOligarca diz que normalmente o imposto cobradoquadrienalmente; isto implicaria que, pelo menos umavez, ele tenha presenciado uma cobrana anormal deimpostos. Este processo repetiu-se trs vezes entre 454e 424 a.C. A primeira foi vista em 443/2 e indicada
por Bowersock 1967 38 como a anormalidade referidapor Pseudo-Xenofonte. Mattingly 1997 353, por outrolado, discorda da suposio, pois acredita que, para serconsiderada uma cobrana anormal, as mudanas nasregras de recolha dos impostos deveriam ser drsticas, o
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que no teria sido o caso de 443/2, onde apenas cinconovos distritos geogrficos so adicionados lista decontribuintes. A segunda anormalidade teria se dadoem 428/7, mas tambm contestada por Mattingly1997 353. O comentador afirma que houve cobranaregular de impostos em 426/5. Finalmente, em 425/4,o decreto de udipo (IGi3 68) demonstra claramenteuma cobrana anormal de impostos, que alm de exigir
contribuies financeiras considerveis, determina aretomada da cobrana dos impostos durante as GrandesPanateneias, significando que em algum momento estaprtica havia sido deixada de lado. Marr e Rhodes 2008156, assim como Mattingly, consideram esta data umterminus post quem. Por outro lado, Frisch 1942 319
no acredita que o autor se refira a uma mudanadrstica e sim que o perodo de quatro anos no erasempre observado estritamente.
A ltima passagem a ser analisada (3.11) precisamente a nica em que Pseudo-Xenofonte utilizaeventos histricos identificveis para esclarecer suageneralizao:
Sempre que tomaram o partido da classe alta, no obtiverambenefcios; pelo contrrio, em pouco tempo o povo, no casoda Becia, foi escravizado. Depois, apoiaram os Milsios
da classe alta e, em pouco tempo, eles revoltaram-see massacraram o povo. Quando escolheram apoiar osLacedemnios contra os Messnios, em pouco tempo osLacedemnios subjugaram os Messnios e entraram emguerra contra os Atenienses.
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O Velho Oligarca defende a ideia de que osAtenienses sempre foram prejudicados quando tomaramo partido da classe alta. Esta afirmao segue a linha depensamento apresentada em 3.10: afinal, os semelhantes,
favorecem seus semelhantes.Para exemplificar sua teoriageral, Pseudo-Xenofonte aponta trs eventos histricosconcretos, a saber: as revoltas da Becia, de Mileto eda Messnia. Sobre a primeira, Pseudo-Xenofonte
provavelmente refere-se ocupao ateniense da Becia,iniciada aps a batalha de Enfita, em 457 a.C., e comtrmino em 446 a.C., aps a derrota de lmides nabatalha de Coroneia9. A derrota foi condicionada peloapoio de ebas aos oligarcas exilados de Coroneia. ebasfoi a nica cidade que manteve um sistema de governo
oligrquico na Becia durante o perodo de ocupaode Atenas e, logo aps a derrota desta em Coroneia,todos os regimes democrticos patrocinados pelaimperialista Atenas sucumbiram, o que condiz com adescrio de Pseudo-Xenofonte. Como ressaltam Marre Rhodes 2008 163, o verbo escravizar (douleuein),neste contexto, indica perda de autonomia poltica, ouseja, aceitao de uma oligarquia. Com esta informaoem mos, Bowersock 1967 36 sugere o ano de 446 a.C.como um terminus post quem.
A citada revolta em Mileto no est to bem
documentada e pode referir-se a diversos momentos dahistria interestatal entre Mileto e Atenas. Bowersock
9Para uma discusso mais elaborada da ocupao da Becia e arevolta de Mileto, videA history of the classical Greek world 478-323BC, Rhodes 2006 44-52.
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1967 37-38 sugere que a falta de pagamento do tributopor parte de Mileto entre 446 e 443 a.C. possa serum indcio da referida revolta oligrquica e ressalta acoincidncia de os dois eventos terem lugar em 446a.C., o que refora sua proposta de um terminus postquem nesse mesmo ano.
O ltimo dos eventos que Pseudo-Xenofonte cita a revolta dos Messnios, no ano de 464 a.C, na qual
Atenas, liderada por Cmon, envia reforos para auxiliarEsparta contra os hilotas, que organizaram sua defesaem volta do monte Itome. Este o ltimo suspiro daaliana entre Atenas e Esparta firmada em virtude dasinvases persas. Cmon, confesso general pr-lacnico,defende o envio de reforos a Esparta em 462 a.C. e
acaba utilizando todo seu capital poltico para talfeito. Efialtes, que costurava a reforma democrtica do
Arepago, no conseguiu impedir o envio dos soldadosatenienses. No entanto, as tropas ticas no alcanaramos objetivos esperados e foram dispensadas de maneirahumilhante pelos Espartanos, que temiam que os
Atenienses mudassem de lado e passassem a defenderos hilotas. O resultado deste breve alinhamento deforas desastroso para Cmon, que no conseguereverter a reforma do Arepago e exilado. Este otrmino definitivo da aliana entre Esparta e Atenas10. A
aproximao histrica entre este evento e o comentriode Pseudo-Xenofonte ajuda-nos a confirmar quelemos um texto escrito depois das primeiras agresses
10Para uma discusso pormenorizada ver Rhodes 2006 24-25 ePowell 2001 109-112 .
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entre Atenas e Esparta, e talvez especificamente, comoapontam Marr e Rhodes 2008 164, depois da batalhade nagra, na Becia, em 457 a.C (Plut. Per.10.1).
2. CONSIDERAESFINAISSOBREADATADOTRATADO
As trs referncias histricas citadas por Pseudo-Xenofonte permitem-nos estabelecer apenas umlongnquo terminus post quem, e no podem ser usadascomo argumento para a determinao de um terminusante quem como faz Bowersock 1967 38. O autoringls afirma que o silncio do Velho Oligarca sobre arevolta de Samos em 411 a.C. sugere um terminus antequem, pois tal evento seria um melhor exemplo para sua
generalizao, alm de mais prximo cronologicamentedo que os trs utilizados. Marr e Rhodes 2008 165argumentam que a essncia da revolta de Samos foidistinta das outras trs citadas, por ter se tratado deum ataque da democrtica Atenas sob o comando dePricles contra a oligarquia estabelecida em Samos11;
desta forma no se configuraria como um apoio aosoligarcas e posterior fracasso em razo deste apoio,como prev a generalizao do Velho Oligarca.
Escolher uma data precisa para a composio daConstituio dos Atenienses ousado justamente pela faltade informao externa ao texto. As evidncias internasprovidas pelo Velho Oligarca so poucas e dbias; noentanto, possvel ressaltar umas em detrimento deoutras. A discusso sobre a possibilidade de Atenas
11 Plutarco (Per. 25-28) e ucdides (1.115-117 e 8.76)comentam a guerra entre Smios e Atenienses.
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ser uma ilha , sem dvida, decisiva para apontarmosuma data. A semelhana com o discurso de Priclespresente em ucdides especificamente sobre a estratgiaateniense de no defender o territrio tico parapriorizar o controle martimo e a sistemtica ocupaodas ilhas vizinhas, como a Eubeia, so traos fortes osuficiente para acreditarmos que estamos lendo umtexto produzido durante a guerra arquidmica. Alm
disso, a proximidade de contedo e vocabulrio entre opanfleto e a pea Cavaleiros de Aristfanes faz-nos pensarque ambos os autores dividiram o mesmo ambientescio-poltico durante os anos 42012.
Por fim, se esta ou qualquer data antes de 420a.C. for correta, podemos afirmar que este o mais
antigo exemplar de prosa tica e o primeiro dedicadoa uma crtica do sistema democrtico (Marr e Rhodes2008 6).
12Assim como as proximidades entre Suplicantesde Eurpides eVespasde Aristfanes, como avisa Marr e Rhodes 2008 6.
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A NATUREZADACONSTITUIODOSATENIENSES
A nica certeza sobre a forma da Constituiodos Atenienses a de que no se trata de poesia porno obedecer a um esquema mtrico. De resto, estamos
no campo das especulaes. O enigmtico texto podecorresponder a uma carta pessoal, um discurso pblico,um texto recreativo para ser lido em grupos pequenos,um tratado argumentativo poltico, um tratado tericosobre guerra e at mesmo um dilogo. H uma longadiscusso1sobre as propriedades estilsticas do texto que
continua em aberto. No entanto, possvel apontar ashipteses que gozam de uma defesa bem construda.De resto, sero tambm apresentadas as semelhanas,em termos de contedo, com outras Constituiescompostas no sculo V a.C.
1. AS CARACTERSTICAS ESTILSTICAS DA CONSTITUIODOSATENIENSES
O tratado pobre em recursos estilsticos, sofrecom a falta de conexo entre uma ideia e outra, pareceno ter meio nem fim2e as repeties de palavras so
1 O estudo de Ramirez-Vidal 2005 16-27 faz um concisoapanhado do debate sobre o gnero entre os especialistas at 2005.
2 Kalinka 1913 22-23 est convencido entretanto de que ocomeo do tratado legtimo, mesmo sendo a construo perideinvulgar em comeos de obras. Quanto ao final do opsculo, odebate continua em aberto.
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exageradas. Kirchhoff 1874 acreditava que o tratadoestava demasiadamente fragmentado para ser lido comoum texto completo, como por exemplo os pargrafos1.13, sobre as casas de banho e palestras, e 2.9, sobreos sacrifcios e festivais, que parecem completamentedeslocados dentro do contexto em que ocorrem (Frisch1942 42); mas a partir da edio de Kalinka 1913,as dvidas sobre a unicidade da obra foram postas de
lado e hoje o texto entendido como uma unidade,mesmo que apresente problemas de conexo entre ostpicos. Marr e Rhodes 2008 28 sustentam que asfalhas estilsticas refletem mais a falta de habilidade doautor o que pode denunciar sua pouca idade , do quenecessariamente uma tradio manuscrita corrupta.
Das diversas possibilidades levantadas peloscrticos, podemos eliminar algumas que j no encontramsustentao. Roscher 1841, pioneiro da crtica modernado tratado, acreditava estar diante de um relatrio feitoao governo espartano, que explicava o sistema polticoateniense. Belot 1880 considerava o texto uma cartapessoal de Xenofonte ao rei Agesilau, com o objetivo delevar ao rei espartano informaes sobre a marinha e osistema poltico atenienses. As duas hipteses podem serrefutadas pelo argumento defendido por Frisch 1942 eque encontra aceitao entre a maioria dos crticos da
obra. Para o autor dinamarqus, o texto tem um carteroral muito bem marcado. Frisch analisa as proposiesde Pseudo-Xenofonte, municiado pelos ensinamentosde Aristteles sobre retrica, e chega concluso de queeste texto de prosa tica tambm pode ser considerado
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um antecessor da retrica ateniense como a conhecemosno sculo IV a.C. Para o autor dinamarqus, trata-se deum discurso do tipo contnuo3. O carter discursivo defendido pelo uso excessivo de repeties e pela faltade ligao entre um perodo e outro (asyndeta4), tpicasde um debate improvisado, mas desaconselhveis paraum discurso escrito.
Ramirez-Vidal 2005 73 concorda com Frisch
sobre as propriedades retricas do texto, porm acreditaque se trata de um outro tipo de discurso, o epidtico:
nuestro texto es un discurso epidctico que tiene comofinalidad mostrar la consistencia interna del rgimendemocrtico de Atenas con base en el criterio de la utilidad;
se emplean en l medios de persusion de carcter artificioso,esto es, relativos al arte.
O discurso epidtico, tambm conhecido comodemonstrativo, pronunciado, em geral, para elogiar ouatacar uma pessoa ou ideia especfica. No caso, o regime
democrtico o objeto de elogio do autor, que lanamo do uso sistemtico de hiprboles para gerar o efeitoesperado de amplificao.
3O lexis eiromen descrito por Aristteles, Rh. 3.9 1409a:Designo contnuo aquele que no tem fim em si prprio, a no ser que
o contedo expresso esteja concludo. odas as tradues da Retricaso da autoria de Jnior, Alberto e Pena 2005.
4O uso de estruturas assindticas e repeties comentado porAristteles, Rh3.12. 1413b: Para dar um exemplo, num texto escritoas estruturas assindticas e as repeties so, com razo, elementoscensurados; mas em debates orais os autores usam-nos, pois so prpriosda pronunciao.
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Consoante com a ideia da origem oral dotratado, Luciano Canfora 1980 91-109 defendeu ahiptese da traduo em forma de dilogo. A tese antiga e foi lanada por Cobet5. O autor sustenta queh no texto uma permanente tenso entre duas linhasargumentativas e que h indcios claros de que osperodos podem ser divididos em falas de personagensdistintas6. Um exemplo que conferiria inteligibilidade
ao texto encontra-se em 1.11:
- Onde os escravos so ricos, no h condies que meuescravo tenha medo de ti. Em Esparta, o meu escravo teriamedo de ti!Mas se o teu escravo tivesse medo de mim, provavelmente
ofereceria todo o seu dinheiro para se preservar de qualquerrisco.7
As possibilidades claras de traduo em dilogono so raras e mais exemplos podem ser encontradosem 2.11-12, 3.5, 3.8, 3.12-13. Esta hiptese ganha
fora com o uso da segunda pessoa do singular, emborararamente, como nos passos 1.8: pois as razes que te
fazem considerar este um mau governo8e 1.9:Mas se umbom governo que procuras. No entanto, esta conclusono definitiva, pois em outras partes do texto noh qualquer sinal de troca de interlocutor e a segunda
5Para uma discusso alargada da possibilidade do texto comodilogo, vide Canfora 1980 91-97.
6Sobre esta questo, ver o captulo sobre a autoria do tratado,onde discutida a problemtica das duas almas do autor.
7Sugesto de traduo de Canfora 1980 101.81.8: ho gar sy nomizeise 1.9: ei deunomian zeteis.
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pessoa pode ser entendida apenas como uma expressode sujeito indeterminado.
Marr e Rhodes 2008 169-170, por outro lado,preferem interpretar estas evidncias de interlocuocomo uma srie de intervenes imaginadas peloautor. Exemplos como: Pode questionar-se: o que
poderia um homem deste nvel dizer que seja til parasi e para o povo?9 sugeririam que o autor possui um
repertrio de indagaes e crticas que j teriam sidofeitas anteriormente, como anunciado no pargrafo deabertura. Estas crticas impessoais so utilizadas comorecurso retrico do autor, que baseia seus prpriospontos de vista na resposta das perguntas que ele mesmotraz ao debate.
Marr e Rhodes 2008 169 chamam a ateno paraa importncia estrutural deste recurso estilstico, pois otratado, de maneira geral, desenvolve-se em torno deste
jogo de perguntas e respostas.
2. A CONSTITUIO DOS ATENIENSES E AS OUTRASCONSTITUIESDOSCULOV A.C.
Sabendo que estamos lidando possivelmentecom um texto de carter oral, que se estrutura a partirda interao com outros indivduos, mesmo que estainterao seja imaginada, podemos passar para a anlisedo contedo do tratado. A aproximao com outrasConstituies dos sculos V e IV a.C. inevitvel.
9 1.7: eipoi tis an, ti an oun gnoi agathon auti he ti dmitoioutos anthrpos.Para uma lista de intervenes imaginadas, verMarr e Rhodes 2008 169-170.
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Mesmo no se tratando de um gnero literrio bemdefinido no tempo em que o Velho Oligarca ter escrito,a apreciao dos outros textos que trataram sobre amelhor forma de governo vlida para compreender asideias presentes na Constituio dos Atenienses.
Distinguem-se as Politeiai escritas na Grcia dossculos V e IV a.C em trs grupos: filosfico, cientficoe poltico. A Repblica de Plato e os livros 6 e 7 da
Poltica de Aristteles so os melhores exemplos deConstituies filosficas, pois tratam a questo da disputaentre as constituies de maneira utpica e idealizada.
A Constituio dos Atenienses de Aristteles a melhorrepresentante do tipo cientfico, j que trabalha comuma suposta imparcialidade e analisa diacronicamente
as instituies polticas de Atenas. O ltimo tipo abarcaobras como os discursos de Pricles, especialmente aorao fnebre, onde ucdides recria o discurso doestratego ateniense enfatizando o modelo polticodemocrtico e os efeitos concretos na vida poltica emilitar de Atenas decorrentes deste modelo. O texto queestudamos certamente pertence ao ltimo tipo.
O tema principal da Constituio dos Ateniensesno poderia ser outro seno a poltica ateniense.Diferentemente da obra homnima de Aristteles,Pseudo-Xenofonte no est interessado em analisar
sistematicamente a transio das sucessivas formasde governo de Atenas, nem o seu mecanismo defuncionamento. Quando descreve os procedimentosda democracia ateniense no com a inteno deproduzir uma anlise imparcial, mas sim de comprovar
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o seu prprio ponto de vista. Antes de mais, o texto emquesto poltico e no se exime desta caracterstica.ucdides, por exemplo, admite possveis falhasmetodolgicas que possam ter afetado sua anlise (Tuc.1.22.3), mas promete ser to fiel aos fatos quanto forpossvel, para que assim sua obra possa ser til porvrias geraes. Pseudo-Xenofonte no tem interesse nofuturo e na sobrevivncia da sua obra. Fala do presente
e tem inteno de influenciar o contexto em que vive.Seus escritos, provavelmente, no teriam sobrevivido seno tivessem sido, por algum motivo, adicionados aocorpus de Xenofonte. endo este erro sido cometido,ganhamos ns, os modernos, com a possibilidade deler um documento pontuado por diversas informaes
importantes sobre a poltica ateniense, mas que,sobretudo, fascina por ser espontneo. rico porescolher um lado e defend-lo. No incorre nos erros doshistoriadores porque no pretende ser historiogrfico. um documento fossilizado que contm um elogioda democracia de um ponto de vista oligrquico.Como tambm no tem preocupaes artsticas, comoEurpides e Aristfanes, que contriburam igualmentepara o debate sobre os diferentes tipos de constituio,no necessita de esconder as palavras na boca depersonagens. O Velho Oligarca no precisa ser sutil,
no precisa emocionar sua plateia, nem produzir umespetculo. Est livre para ir direto ao ponto.O debate sobre as caractersticas polticas dos tipos
de constituio na Grcia clssica observou seu pice nosculo IV a.C com as discusses de Aristteles sobre as
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mudanas constitucionais e a melhor forma de governo.Antes dele, Plato tambm havia teorizado sobre aconstituio ideal10. A escrita de Politeiaipassou a ser umgnero literrio. Foram atribudas escola de Aristtelescento e cinquenta e oito Politeiai, todas perdidas, excetoa mais clebre, a Constituio dos Atenienses. Crtiastambm escreveu, em verso, diversas Politeiai, tendochegado a ns alguns fragmentos das Constituio dos
Atenienses, Constituio dos Lacedemniose Constituiodos Tesslios. Xenofonte deu o seu contributo aognero das Constituies e escreveu a Constituio dosLacedemnios, obra na qual relata o modo de vida,sistema militar e organizao poltica dos Espartanos.
Em que difere o texto de Pseudo-Xenofonte de
todas estas Constituies? Primeiramente, nosso autorno tem como objetivo fazer uma anlise histricadas formas de governo atenienses, como Aristteles,no conduz uma discusso filosfica sobre qual aConstituio ideal, como faz Plato, e no oferece umaexplicao estrutural do modo de vida dos Atenienses edo seu sistema militar, como Xenofonte.
O prprio nome de seu tratado, AthenaionPoliteia, induz-nos a crer que o contedo aproximar-se-ia das Constituies do sculo IV a.C. No entanto, esta uma pista falsa, pois, como argumentam Marr e Rhodes
2008 2, o nome do tratado deve ter sido estabelecidoposteriormente, por algum que teria conhecimento
10Plato inovador na discusso das Constituies, pois oprimeiro a buscar a constituio ideal, sem analisar necessariamenteum caso existente (Bordes 1982 386)
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das outras Politeiaido sculo IV. a.C. e viu na primeiralinha do panfleto a sugestiva combinao vocabular
Athenaion Politeia.Com quais autores devemos ento comparar
o opsculo de Pseudo-Xenofonte? No suficientecompar-lo somente com outros exemplares de prosatica, o que nos levaria basicamente a uma aproximaocom ucdides, mas sim observar escritos de outros
gneros literrios ou obras produzidas dentro efora de Atenas para encontrarmos convergncia decontedo. O teatro trgico de Euripdes e cmico de
Aristfanes dialogam com esta pequena obra em termosde vocabulrio poltico e de contedo. Alm deles,Herdoto 3.80-83 tambm divide o mesmo interesse
poltico ao narrar a discusso dos nobres persas sobre amelhor forma de constituio. Procederemos a uma sriede breves comparaes, com o objetivo de evidenciar asdivergncias e convergncias das obras citadas at agoracom o opsculo de Pseudo-Xenofonte.
Hrodoto contribui para o debate tripartidodas Constituies. Atribui a um conselho de persas adiscusso sobre a melhor forma de governo, que paramuitos s poderia ter ocorrido num meio grego. Umgrupo de sete nobres rene-se para decidir qual ser aforma de governo persa, tendo em vista que Cambises
tinha morrido sem sucessor e o governo seguinte, o dosmagos, obtido por conspirao, tambm tinha sidobanido pelo excesso de abusos. Otanes o campeo dademocracia e o primeiro a falar (Herdoto 80.6):
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Ora, quando o povo (plethos) governa, esse poder tem,antes de mais, o mais belo de todos os nomes isonomia;em segundo lugar, de todas as coisas que um monarca faz,
nenhuma existe em isonomia: por sorteio que se recebecargos pblicos, exerce-se o poder prestando contas, todas
as deliberaes so expostas comunidade.11
Otanes e Pseudo-Xenofonte concordamunicamente na descrio do governo democrtico. Osorteio (1.2), a prestao de contas (3.4), as deliberaespblicas (3.2-8) e a isonomia (1.2-5) so temas presentesna Constituio dos Atenienses. No entanto, as escolhaspolticas so diversas. Pseudo-Xenofonte age como umreformista, aceita que o governo democrtico seja forte o
suficiente para ser mantido e aponta os pontos positivos,mesmo no concordando com ele em princpio,enquanto Otanes acredita, sem restries, que o melhorsistema poltico possvel mesmo a democracia.
Megabizo o encarregado de defender o regimeoligrquico e baseia sua argumentao nos critrios de
utilidade e educao, como vemos no passo Her. 3.81:
Com efeito, nada h de mais insensato do que umamultido intil (omilos achreios), nada h de mais insolente(...). Como que poderia, alis, saber agir quem nuncafoi ensinado, nem viu nada de bom em sua posse (...) e
apangio dos melhores homens (aristoi androi) tomarem asmelhores e mais sensatas deliberaes.
11As tradues de Herdoto so da autoria de Silva e Abranches1994.
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Megabizo, o defensor da oligarquia no debate deHerdoto, certamente poderia fazer parte do clube dealiados polticos de Pseudo-Xenofonte. Eles dividem amesma viso moral: existem pessoas melhores que outrase so elas que devem estar no poder. Servem-se dosmesmos argumentos para diminuir seus adversrios afalta de utilidade e a ignorncia do povo. Diferenciam-sepor questes prticas. Megabizo lana um voraz ataque
democracia e Pseudo-Xenofonte trabalha a possibilidadede se viver bem numa democracia. A diferena queo Velho Oligarca tem uma democracia concreta parabasear suas crticas positivas, enquanto que Megabizoraciocina apenas no plano das ideias.
O ltimo a falar Dario, vencedor do debate
e defensor da monarquia. O futuro rei dos Persasdeslegitima a oligarquia e a democracia usando ums argumento: os homens tendem a polemizar-se unscontra os outros, e desta disputa pelo primeiro lugarnascem discrdias que faro, eventualmente, com queretornem ao estado de monarquia. Pseudo-Xenofontenada tem a dizer sobre a monarquia, pois no estinteressado em debates tericos; e, como sua realidadeexige uma reflexo sobre o posicionamento poltico deoligarcas dentro de uma democracia, a monarquia pareceuma alternativa distante demais para ser discutida neste
pequeno texto.A disposio intelectual dos persas ao discutira melhor Constituio pode ser resumida nesta fraseatribuda a Dario: Das trs alternativas que se nosdeparam, democracia, oligarquia e monarquia, cada uma
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delas pode ser teoricamente defendida como a melhor.Ouseja, exige-se um debate aberto e franco sobre as virtudese vcios das trs formas de governo em sua forma ideal.Vejamos o que tem a dizer Pseudo-Xenofonte (3.9)sobre a melhor forma de Constituio no campo daespeculao:
Em resumo, possvel descobrir muitas maneiras de
melhorar a constituio. Agora preservar a democracia e, aomesmo tempo, encontrar uma frmula poltica melhor, noparece tarefa fcil. A menos que, como acabei de dizer, setrate de adicionar ou suprimir pequenos detalhes.
O autor preocupa-se essencialmente com a
forma poltica vigente e no com uma ideia de regimepoltico ideal. Esfora-se em encontrar solues parareformar a democracia na prtica e no se prope aimaginar formas polticas alternativas que no tenhamuma viabilidade institucional imediata. Em outraspalavras, trata-se de um reformador e no de um
revolucionrio.Faamos uma pequena comparao entre a
Repblicade Plato e o opsculo em questo. O maisantigo ensaio de filosofia poltica utpica da histria,como o chama Maria Helena da Rocha Pereira 200749, est envolto de temas caros filosofia, tais comoa definio das quatro virtudes cardinais, a exposiodo mtodo da dialtica e a repartio da alma em trs.Para cada um destes tpicos a filosofia poltica servede metfora ou smile. A plis analisada como um
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conjunto humano e dela tenta-se extrair o conceito dastrs primeiras virtudes (sophia, andreia, sophrosyne),para que se alcance a quarta, a justia (dike). Comeste intuito, Plato divide a cidade em trs classes, ados guardies, filsofos por excelncia e portadoresda sophia, a dos guerreiros, representantes da andreia,e a dos artfices, trabalhadores manuais. Finalmente,da harmonia entre as trs classes emana a temperana
(sophrosyne).Como temos enveredado pela discusso daConstituio a partir do ponto de vista dos grupossociais, vejamos como Plato (499b-c) convoca osfilsofos para tomarem seu lugar como classe dominantede sua cidade ideal.
Por tais motivos disse eu e com esta preocupao, que ento dissemos, apesar do nosso receio, mas foradospela verdade, que no h Estado, nem governo nem sequerum indivduo que do mesmo modo possa jamais tornar-se perfeito, antes que a esses filsofos pouco numerosos
a que agora chama, no perversos (poneroi), mas inteis(achrestoi), a necessidade, sada das circunstncias, os force,quer queiram quer no, a ocupar-se do Estado , e que estelhes obedea; ou antes que um verdadeiro amor da filosofiaverdadeira, por qualquer inspirao divina, se apodere dosfilhos ou dos prprios homens que esto actualmente no
poder ou ocupam o slio real.12
Se for possvel ler a Repblica como umaconstituio do tipo poltico, a sugesto principal a
12raduo de Rocha Pereira 2007.
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de que a classe dominante deve ser formada por reis-filsofos inspirados por revelaes divinas e munidos deamor legtimo pela filosofia. Por estas e outras sugesteso tratado considerado utpico, pois no passa de umexerccio terico que supe um indivduo perfeito (ouum grupo deles), que tenha alcanado todas as virtudes, testa do governo.
Nada pode ser mais frontal do que a proposta de
Pseudo-Xenofonte. Ao abrir o tratado, a sua viso moralde mundo delineada (1.1):
Quanto forma de governo dos Atenienses, que escolherameste tipo de constituio, eu no a aprovo pela seguinterazo: aqueles que a escolheram optaram por privilegiar a
ral ao invs da elite.
Pseudo-Xenofonte tem uma viso polticaoligrquica e acredita na superioridade dos seus paragovernar. Mesmo com esta crena bem enraizada,seu propsito defender a democracia e evidenciar
as vantagens que este modo de governo traz para osAtenienses. Ou seja, o Velho Oligarca defende umaConstituio que existe e trata dos seus desdobramentossociais e polticos na vida quotidiana ateniense. Mesmoque para isso traia suas prprias crenas morais.
As incertezas quanto forma do texto, felizmente,no nos impedem de traar estas e tantas outrasaproximaes com escritores que se debruaram sobrea poltica ateniense dos sculos IV e V a.C. E, e se nopodemos afirmar com certeza a qual gnero literrio
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pertence a Constituio dos Atenienses, devemosressaltar a importncia desta anlise positiva do sistemapoltico que ocupa lugar central na atualidade, ademocracia.
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1.1. Quanto forma de governo dos Atenienses,que escolheram este tipo de constituio, eu no aaprovo pela seguinte razo: aqueles que a escolheramoptaram por privilegiar a ral ao invs da elite. Eis por
que a no aprovo. Mas j que decidiram desta maneira,pretendo demonstrar como eles conseguem preservara sua constituio e resolver os restantes assuntos deEstado, mesmo recebendo a crtica dos outros gregos.
1.2. Primeiramente, direi o seguinte: legtimo
que, em Atenas, os pobres e o povo recebam maisdo que os nobres e os ricos1, exatamente porque opovo que conduz as naus e confere poder cidade2;
1Aristteles diz que a partir das polticas atribudas a Aristideso Justo, o povo passa a viver em situao confortvel: Concedeu-se,
portanto, multido abundncia de sustento, conforme Arist