Economia Politica Da Comunicacao

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    Economia poltica da informao e comunicao em tempos de internet:revisitando a teoria do valor nas redes e no espetculo

    Marcos Dantas*

    Resumo o pilar terico da Economia Poltica a teoria do valor-trabalho. O capitalismocontemporneo vem submetendo essa teoria a desafios tericos e prticos pois, nas atuais condiesde produo, o valor de troca estaria sendo esvaziado, subsistindo o valor de uso. O texto procuramostrar que a compreenso desses problemas pode estar no cerne das preocupaes da EconomiaPoltica da Informao, Comunicao e Cultura (EPICC), j que o seu objeto de estudo o processode trabalho e valorizao nos meios de comunicao, na produo de espetculos e, agora, tambm,na internet.

    Palavras-chave valor de uso, valor de troca, trabalho, informao, internet, "jardins murados"

    Political economy of information and communication in the internet era: revisiting

    value theory in networks and in entertainment

    Abstract the pillar of Political Economy theory is the theory of labor value. Contemporarycapitalism has subjected this theory to theoretical and practical challenges because, under currentproduction conditions, the exchange value was being emptied, subsisting use value. The text seeks

    to show that understanding of these problems can be at the core concerns of the Political Economyof Information, Communication and Culture (PEICC), since its subject is the process of work andvalorization in the media, the production of entertanment, and now also on the Internet.

    Keywords: use value, exchange value, labour, information, internet, "walled gardens"

    Introduo

    O objetivo desse texto discutir alguns conceitos basilares sobre os quais se apia a EconomiaPoltica da Informao, Comunicao e Cultura (EPICC), mas submetendo essa discusso s

    * Doutor em Engenharia de Produo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor doPrograma de Ps-graduao e da Graduao da Escola de Comunicao (Eco) da UFRJ. Endereo postal:UFRJ, Eco, Av. Pasteur, 250 (fundos), Praia Vermelha, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, CEP. 22290-902.

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    condies econmicas, polticas e culturais do capitalismo contemporneo, caracterizado peladimenso determinante ocupada hoje em dia pelo trabalho dito "artstico" ou "criativo", e pelaorganizao reticular dos processos de valorizao do capital.

    Entendo a EPICC como o campo razoavelmente recortado, apresentado e discutido em Bolao(2000), recorte este reafirmado e atualizado no recente Albornoz (2011). no interior desse recorteque se prope um dilogo que reivindica a retomada, pela EPICC, da investigao do problema dovalor, mas associando-a investigao semitica e compreenso cientfica da informao. Da serpossvel compreendermos a natureza do trabalho informacional mobilizado pelo capitalcontemporneo em seu processo de valorizao e o esvaziamento do valor de troca da mercadoria,concomitantemente hipervalorizao do seu valor de uso simblico na forma fetichista deespetculos, marcas, comportamentos, para o qu a contribuio dos meios de comunicaodigitalizados e reticulares ser determinante.

    O texto uma verso para publicao da conferncia pronunciada por seu autor por ocasio deconcurso para Professor Titular da Escola de Comunicao da UFRJ. No escapa, assim, scondicionantes, conforme entendidas pelo autor, desse especial momento: no raro escrito naprimeira pessoa, retoma ou relembra as teses bsicas que nortearam a sua carreira acadmica, a

    partir delas propondo EPICC, como se esperaria de candidato a tal postulao, um programaterico e poltico cuja tese central, nas atuais circunstncias, sustenta que o principal desafio docampo o de construir a crtica aos mecanismos de apropriao do conhecimento que o capital vemnos impondo atravs de "jardins murados" e "direitos intelectuais".

    O autor muito agradece s crticas e observaes apresentadas, na ocasio da conferncia, pelosprofessores Sarita Albagli, Ida Stumpf, Giuseppe Cocco, Othon Jambeiro e Paulo Tigre. Algumas,penso, esto incorporadas ou melhor esclarecidas. Outras denunciam minhas persistentes falhas.Tambm no pode deixar de agradecer ao apoio e estmulo, ao longo da vida e da carreira, de muitosamigos, amigas e colegas que, na impossibilidade de citar todas e todos, represent-los- nas pessoasde Vnia Araujo, Suzy dos Santos, Ivana Bentes, Amaury Fernandes, Henrique Antoun, Arthur

    Pereira Nunes e Jos Ricardo Tauile (in memoriam).

    Economia Poltica e Economia Poltica da Comunicao

    Ensina-nos Robert Heilbroner:

    Economia [Economics, no original ingls] o nome que damos aos processos queasseguram a pr-condio de existncia de todas as sociedades. Esses processosconsistem tanto em atividades de produo e distribuio, quanto dos meios pelosquais essas atividades so orquestradas de acordo com os propsitos da ordemsocial. [...] Economia se refere tanto ao processo real de abastecimento dasociedade, quanto s idias e crenas pelas quais ns explicamos (ou justificamos)esses processos (HEILBRONER, 1988: 32).

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    Em qualquer sociedade, sejam tribais, sejam feudais, sejam as modernas industriais liberais ousocialistas, os processos de suprimento das necessidades sociais so tambm processos de poder eprivilgios, de relaes familiares, de normas comunitrias e "sobretudo, so hbitos de

    subordinao" s condies e relaes que tornam possvel o atendimento a essas necessidadesmesmas, lembra Heilbroner (idem: p. 31). Como essas idias, crenas e prticas legitimam ouquestionam os regimes ou normas de poder e privilgios que organizam aqueles processos dealocao dos recursos, a Economia no os pode ignorar, da, confirma Napoleoni, o "nome deeconomia poltica com o qual muito freqentemente a cincia econmica tambm designada"(NAPOLEONI, 1979: 26).

    Fao esse intrito porque, com todo o respeito a Vincent Mosco, no me parece satisfatriodescrever a Economia Poltica e, por extenso, a Economia Poltica da Informao, Comunicao eda Cultura (EPICC), como

    o estudo das relaes sociais, particularmente as relaes de poder que mutuamenteconstituem a produo, distribuio e consumo dos recursos. Nesta especficaabordagem, os produtos de comunicao, tais como jornais, livros, vdeos, filmes eaudincias, so, antes de mais nada, recursos. Tal formulao contm um certovalor heurstico para estudantes de Comunicao porque chama a ateno para asforas fundamentais e os processos que operam no mercado. [...] Alm do mais, aEconomia Poltica tende a se concentrar sobre um especfico conjunto de relaessociais organizadas em torno do poder ou da habilidade de controlar, entre outros, opovo, os processos e as coisas, at mesmo as possibilidades de resistncia(MOSCO, 1995: 25).

    Focar o estudo nas "relaes de poder" ser mais o objeto de uma Sociologia ou Cincia Poltica dasComunicaes, do que de uma Economia, sem ignorar, claro, de modo algum, as inter-relaes einterpenetraes necessrias e constituintes desses processos. Mas excludo o recorte especfico donosso campo de estudo (os meios de comunicao, ou "mdia" ), o que poder identificar-nos seresse "conflito bsico que", nas palavras de Paul Singer (1975: 11), "divide a Economia em duasescolas opostas", escolas que se definem e se descrevem conforme se posicionem diante do"problema do valor".

    Se a Economia a cincia das escolhas num mundo de recursos escassos, as escolhas esto fundadasem valores estticos, morais, psicolgicos. Valores so, em princpio, subjetivos, e no raroimplcitos ou subconscientes. Os preos (fenmeno econmico por definio) so explcitos, soexpostos, mas as escolhas entre um produto ou outro nem sempre depende de preos se assimfosse, todo mundo somente compraria o mais barato dos automveis mas depende, sobretudo,disso que vem a constituir "valores". As escolhas estticas, as escolhas amorosas, tambm asescolhas econmicas so orientadas por "valores". Examinar e entender os "valores" abrem ostneis, digamos assim, que nos permitem penetrar alm da superfcie ou obviedade dos fatos,

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    alcanar as estruturas mais profundas, as ordens subjacentes que presidem, determinam, concedemalargar ou impem estreitar as prprias escolhas possveis. Aqui entenderemos as relaes sociais,culturais, histricas, psicolgicas, que definem nossas aes no mundo, inclusive nossas compras e,para comprar, nossas motivaes ou sujeies de trabalho e remunerao. Assim tambmentenderemos nosso gosto, ou no, por algum determinado programa de televiso escolhaessencial do ponto de vista do canal de TV que veicular tal programa.

    Robert Heilbroner sustenta que a noo do valor, mesmo quando nem sempre explicitada peloseconomistas, que faz da Economia mais do que uma mera descrio fenomnica de fatos, e sim umacincia capaz de organiz-los e explic-los em um conjunto terico racional. A problemtica geraldo valor, dir ele,

    empenha-se em casar os fenmenos superficiais da vida econmica com algumaordem ou estrutura subjacente [...] Ela trata da natureza dessa 'estrutura profunda'dentro da vida econmica e a maneira como influencia os fenmenos superficiais deproduo e distribuio (HEILBRONER, 1988: 105-106passim).

    Em torno dessa problemtica, dividem-se as duas escolas econmicas: a Poltica e a Marginalista.Nesta, explica-nos Singer, o valor (no conceito econmico) resulta do grau de satisfao que osindivduos obtm do atendimento a uma dada necessidade. A Economia ser um estudo das relaesentre os seres humanos e o mundo positivo que os cerca, e de como cada indivduo faz suas escolhasconforme satisfaam suas necessidades. J a Economia Poltica entende "que a atividade econmica essencialmente coletiva" (SINGER, 1975: 14), logo realiza-se atravs da cooperao e diviso detrabalho, originando-se o valor do intercmbio de trabalho entre os diversos grupos e subgrupossociais, especializados, cada um, no atendimento a alguma especfica necessidade. A EconomiaPoltica ser ento o estudo das relaes sociais, das relaes entre classes ou grupos sociais que seatendem e intercambiam mtuas necessidades: "o valor, neste caso, o fruto das relaes que secriam entre os homens na atividade econmica" (idem: p. 12). Ou seja, o valor, neste caso, fruto dointercmbio de trabalho.

    Por isto, se evidente que a Economia Poltica da Comunicao trata dos meios de comunicao emsuas amplas relaes econmicas, polticas ou culturais, ela dever buscar entender essas relaes apartir da problemtica econmica do valor. Ela examinar os meios de comunicao, examinar aindstria cultural, examinar os processos pelos quais a sociedade se supre de bens simblicosindustrializados nas condies capitalistas de produo e consumo, inclusive os seus processospolticos e institucionais, assumindo como ponto de partida e de chegada a teoria do valor-trabalho.Este o nosso primeiro diferencial e referencial bsico.

    Mas no o nico, ou exclusivo.

    Desde Aristteles (1991), recuperado por Adam Smith, David Ricardo e aperfeioado por Marx,sabemos que o valor da mercadoria, para a Economia Poltica, a sntese do valor de uso e do valorde troca. A mercadoria um objeto externo, uma coisa, o qual, pelas suas propriedades, satisfaznecessidades humanas de qualquer espcie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam doestmago ou da fantasia, no altera a natureza da coisa. [...] A utilidade de uma coisa faz dela um

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    valor de uso (MARX, 1983-1984: V. I, t. 1, p. 45).

    Sublinhemos este detalhe: no importa se a necessidade se origina do estmago ou da fantasia.Voltaremos a este ponto crucial muitas vezes, adiante.

    Ocorre que, para haver a troca, considerando que a utilidade subjetiva, logo no mensurvel, osagentes necessitam de alguma medida de equalizao: esta medida ser o tempo de trabalho social

    mdio consumido na produo da mercadoria.

    Assim, a mercadoria uma sntese da sua qualidade (as suas propriedades intrnsecas em funo dealguma necessidade) e uma dada quantidade de trabalho, medido pelo seu tempo despendido e"coagulado", "congelado" (os termo so de Marx), registrado, na matria que constitui a mercadoriamesma. A mercadoria tem um valor para algum que a sua utilidade. Ou, em outras palavras, osignificado que ela transmite dadas as necessidades do comprador. Mas este significado transmitido por um veculo material, por um significante, em cuja materialidade esto encerrados osquantitativos da troca.

    Escreveu Marx que cada mercadoria ao relacionar-se com outra na troca, s "revela seu pensamento

    em sua linguagem exclusiva, a linguagem das mercadorias" (idem: p. 57). Esta linguagem parece umcdigo secreto, ou um "hierglifo" cujo sentido ou significado os homens e mulheres precisarodecifrar: precisaro nele tentar descobrir o "segredo de seu prprio produto social, pois adeterminao dos objetos de uso como valores, assim como a lngua, produto social" ( idem: p. 72).

    Comentando essas passagens, Anthony Wilden observa ser

    claro que os termos 'linguagem' e 'pensamento' se devem interpretar em sentidosemitico e no em sentido lingstico e as metforas semiticas soparticularmente abundantes no texto de Marx. [Essas] passagens indicam que se

    deveria distinguir entre o aspecto matria-energia de uma mercadoria e ainformao que esta contm, seja como valor de uso ('objetos de uso'), seja comovalor de troca (WILDEN, 2001: 32).

    Distinguir matria-energia e informao, este ser o nosso ponto-chave para avanarmos naconstruo terica e prtica da EPICC. Tal nos obriga a tratar a noo intuitiva de informao como mximo rigor formal, assim como trataramos a noo de matria-energia.

    Heinz von Foerster, um dos pioneiros no s da Ciberntica mas da crtica construtivista ao modelopositivista de Claude Shannon, nos ajudar nessa elaborao:

    O que atravessa o cabo no informao, massinais. No entanto, quando pensamosno que seja informao, acreditamos que podemos comprimi-la, process-la,retalh-la. Acreditamos que informao possa ser estocada e, da, recuperada. Veja-se uma biblioteca, normalmente encarada como um sistema de estocagem erecuperao de informao. Trata-se de um erro. A biblioteca pode estocar livros,

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    microfichas, documentos, filmes, fotografias, catlogos, mas no estocainformao. Podemos caminhar por dentro da biblioteca e nenhuma informao nosser fornecida. O nico modo de se obter uma informao em uma biblioteca olhando para os seus livros, microfichas, documentos etc. Poderamos tambmdizer que uma garagem estoca e recupera um sistema de transporte. Nos dois casos,os veculos potenciais (para o transporte ou para a informao) estariam sendoconfundidos com as coisas que podem fazer somente quando algum os faz faz-

    las. Algum tem de faz-lo. Eles no fazem nada (VON FOERSTER, 1980: 19,grifos no original).

    Von Foerster est a nos dizer que processar informao atividade detrabalho vivo. No linguajar deMarx, "trabalho em estado lquido", ou... trabalho concreto. Informao, assim entendida, ser umprocesso pelo qual o dispndio de energia por parte de um agente qualquer, visa, teleologicamente,recuperar, mesmo parcialmente, aquela energia que o prprio agente despende ou dissipa, e que nopode deixar de dissipar, por fora das leis da termodinmica. Ou seja, a informao encontra-se emum processo de trabalho que permite sustentar a neguentropia, isto , a capacidade de fornecertrabalho desse agente. justo o que fazem os sistemas biolgicos, capazes de buscar, identificar,descrever, capturar fontes de energia livre; capazes de pr em forma algum ambiente, nas formasque respondem s suas necessidades neguentrpicas. A informao no est dada. Pode estarpressuposta num segmento de espao-tempo, consideradas as "memrias", "conhecimentos","aprendizagens", prvios do agente. O pressuposto delimita um campo de incerteza a ser processadodurante a ao, ao que s se resolve uma vez superadas ou solucionadas as incertezas. Esteresultado ampliar ou reorganizar as "memrias" ou "conhecimentos" do agente que, entretanto,precisar manter-se em ao permanente enquanto suas condies o permitirem, para continuar...vivo. Definiu, em frase sntese, Gregory Bateson: "informao uma diferena que gera umadiferena" (BATESON, 1998: 484). Informao emerge em algum sistema longe do equilbrio,longe da indiferena, que por ela orienta uma atividade que sustenta as suas condies de no-equilbrio.

    Esta abordagem que relaciona a informao a uma ao orientada a um fim, apia-se numa tradiocientfica que, a partir de Lon Brillouin, avana com von Foerster, o prprio Bateson e a Escola dePalo Alto, Jacques Monod, Henri Atlan, entre outros (DANTAS, 2001; 2006). um abordagem(talvez pudssemos mesmo admitir "paradigma") muito distinta daquela mais conhecida, at mesmovulgarizada, originada de Claude Shannon. Lucien Sfez (1994) j esclareceu as diferenas entre oatomismo dualista, objetivista, de Shannon e toda a sua linhagem, na qual teremos de incluir DaniellBell, Marc Porat e Manuel Castells (basta conferir a definio de informao por este adotada emmera nota de rodap, nas primeiras pginas de sua monumental trilogia sobre a "sociedade em rede"CASTELLS, 1999: p. 47, nota 27); e o monismo construtivista, dialtico, de von Foerster ou daEscola de Palo Alto que pode remeter, sustenta Sfez, a Spinoza e Hegel (logo a Lukcs, Lucien

    Goldman e Marx, acrescento eu).

    Para relacionar sujeito e objeto na ao, a informao organiza-se em trs dimenses: sinttica,semntica e pragmtica. A informao sinttica shannoniana, mensurvel, contida nos limitesconhecidos do objeto, ou de escolhas previamente delimitadas, congeladas, no instante da escolhapoderia expressar, num contexto econmico, o valor de troca da informao, ou da mercadoria. Ainformao semntica ainda codificada, mas numa variedade aberta e flexvel, plstica s situaesde seus contextos e circunstncias. A informao pragmtica sintetiza essa estrutura sinttico-

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    semntica em um "um cdigo secreto e complicado, por ningum conhecido e por todos entendido",no dizer de Sapir (apudWINKIN, 1981: 64), ou habitus de campo, como proporia Bourdieu (1983).Por que afinal a informao encontra-se na ao, ela, a exceo daquela primeira dimenso sintticabsica, no ser descrita matematicamente, mas semioticamente, via interpretao, na lgicaabdutiva de Peirce (1977), atravs da anlise das relaes entre as formas de expresso e formas decontedo em seus contextos e circunstncias prticos de enunciao (MORRIS, 1994; BAKHTIN,1986; ECO, 1980; DANTAS, 2001). Esta informao qualitativa, da qual a quantidade subconjunto, ser, em contextos econmicos, o valor de uso da informao, ou da mercadoria. Comodir Jameson, o "valor de uso pertence ao domnio da diferena e da diferenciao como tal, aopasso que o valor de troca acabar sempre, [...], sendo descrito como o domnio das identidades"(JAMESON, 2006: 242-243). O valor de uso pertence ao domnio da informao, da "diferena quegera uma diferena".

    Sabemos muito bem que o problema do valor de uso foi explicitamente excludo da EconomiaPoltica pelo prprio Marx. O objeto da Economia a troca de equivalentes. O valor de uso umpressuposto, condio sine qua non (palavras de Marx), mas uma vez dado, a relao econmicaenquanto tal, logo tambm a sua formalizao terica, se desdobrar sobre o valor de troca.

    Pois, correndo o risco de ofender ouvidos ortodoxos, sustentarei que o valor de uso o exato objetoda EPICC. Este o diferencial distintivo do campo. Investigar o valor de uso revelar-nos- asrelaes polticas ou institucionais, as fundaes culturais, as condies psicolgicas, outras relaesou fontes de comportamento que, ao fim e ao cabo, presidem as determinaes de trabalho econsumo no capitalismo real em que vivemos neste sculo XXI. E o mtodo nos exigir, na esteirade Cristophe Dejours, que se apia em Paul Ricoeur,

    integrar em sua modelizao conceitos extrados da semiologia e da semntica, isto, conceitos lingsticos, qualitativos, cuja validade fundamenta-se no rigor da

    anlise estrutural e da lgica que articula os diferentes elementos da explicao(DEJOURS, 1997: 84).

    A utilidade , antes de mais nada, uma expresso cultural. Se de alguma forma, cada indivduo podeparecer um tanto distinto de outro em alguns "gostos", logo "necessidades", essas variaesidiossincrticas esto contidas, limitadas, em conjuntos culturais maiores e relativamente bemdefinidos por condies histricas ou sociais gerais. A religio, por exemplo, pode dar um enorme"valor" vaca na ndia, mas, por isto mesmo, desconsiderar sua carne enquanto valor de uso, seeste tiver que atender s necessidades do estmago... E nisto, muito dificilmente algum indivduoindiano, rico ou pobre, xtria ou pria, engenheiro ou campons, se diferenciar de outro.

    Marx sabia que os processos econmicos estavam embebidos de determinaes culturais, conformealis insistir Raymond Williams (1979). "A fome a fome", escreveu Marx nos Grundrisse, "mas afome que se satisfaz com carne cozida, comida com garfo e faca, uma fome muito diferente da quedevora carne crua com ajuda das mos, unhas e dentes" (MARX, 1971: v. 1, p. 12). Depois que vocaprende a comer com garfo e faca, comer com garfo e faca torna-se uma "necessidade". Nem todosos povos do mundo tm tal necessidade...

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    Da porque nada pode ou deve ser produzido se, de algum modo, uma dada sociedade no estiverdisposta ou educada, formal ou informalmente, na escola ou na vida, para consumi-lo. Todaproduo produo daquilo que uma certa cultura histrica quer ver produzido. Ainda Marx:

    [...] a produo imediatamente consumo, o consumo imediatamente produo.

    Cada um imediatamente o seu oposto. Mas, ao mesmo tempo, tem lugar ummovimento mediador entre os dois. A produo mediadora do consumo, cujosmateriais cria e sem os quais para este faltaria o objeto. Mas o consumo tambmmediador da produo, j que cria para os produtos o sujeito para o qual eles soprodutos. O produto alcana seu finish final somente no consumo. [...] Semproduo no h consumo, mas sem consumo tampouco h produo j que, nestecaso, a produo no teria objeto. [O consumo] cria os objetos da produo sobuma forma subjetiva. Sem necessidades, no h produo. No entanto, o consumoreproduz as necessidades (idem: p. 11-12).

    Detenhamo-nos nesta passagem. Autntica aula de dialtica, no ocupemos nosso escasso espaocom elaboraes sobre alguma "passagem de uma era de produo para uma era de consumo", comolemos em tantos autores e autoras, a exemplo de Riesman, citado por Martin-Barbero (2009: 68). Arelao produo/consumo imediata, no sentido dialtico da expresso (mas tambm no real davida em sociedade), e j mediatizada pelos materiais atravs dos quais ela se d. Esses materiais someios de comunicao, canais de interao entre a produo e o consumo. Est bvio, no casotratado por Marx, esses materiais so a mercadoria.

    Mas se trago essa elaborao para as categorias conhecidas das teorias de Informao e deComunicao, posso dizer, que emisso imediatamente recepo, recepo imediatamenteemisso (DANTAS, 1994; 1999). o esquema "emerec" "metteur-recepteur" de Jean Cloutier,

    citado por Escarpit, para quem, em sntese definitiva, "informar se informar" (ESCARPIT, 1991:112passim).

    Em suma, "ningum pode nada comunicar", j o disse Paul Watzlawick (apud WILDER, 1981:318). Nem mesmo o telespectador dito "passivo", acrescento eu (e sabem os Ibopes da vida...). Ele,o telespectador, tambm produz a produo e Martin-Barbero, de Dos meios s mediaes(MARTIN-BARBERO, 2009), John Thompson, de Mdia e Modernidade (THOMPSON, 1995),entre outros, tm trabalhado justo nesta tese. Mas Mikhail Bakhtin j a esclarecera teoricamente:

    Qualquer tipo genuno de compreenso deve ser ativo, deve conter j o germe deuma resposta. S a compreenso ativa nos permite apreender o tema, pois aevoluo no pode ser apreendida seno com a ajuda de um outro processoevolutivo. Compreender a enunciao de outrem significa orientar-se em relao aela, encontrar o seu lugar adequado no contexto correspondente. A cada palavra daenunciao que estamos em processo de compreender, fazemos corresponder umasrie de palavras nossas, formando uma rplica. Quanto mais numerosas esubstanciais forem, mais profunda e real a nossa compreenso (BAKHTIN, 1986:132).

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    A ltima frase desta citao esclareceria o que pode ser a grande diferena entre a compreensoativa de um programa do Luciano Hulk e a compreenso ativa de uma pera de Wagner...Curiosamente, alis, os freqentadores de um auditrio de televiso so muito mais agitados do queos da platia de pera. Meras diferenas de cdigos culturais na expresso da compreenso ativa, naemisso imediata recepo do plo da platia.

    Porque a compreenso ativa; porque ningum pode nada comunicar; todos os plos envolvidos nacomunicao trabalham. Como o disse Umberto Eco: "produzir signos implica um trabalho, querestes signos sejam palavras ou mercadorias" (ECO, 1981: 170). Seja lendo, seja falando, sejadesenhando; seja assistindo a um filme ou a um jogo de futebol na tela da TV, seja atuando nasgravaes do filme ou participando diretamente dos lances do jogo como atleta; seja na poltrona decasa, seja na arquibancada ou na platia; as formas, as intensidades, os esforos, verdade, variam,mas sempre estamos dedicando tempo e desgastando o corpo enquanto nos envolvemos emquaisquer dos plos interativos de comunicao, enquanto opomos contra-palavras s palavras,palavras s contra-palavras. E alm do corpo, nesse trabalho, no ambiente que nos cerca, queinformamos enquanto nos informa, alteramos freqncias sonoras ou hertzianas, o arranjo dos

    eltrons na trilha magntica do disco rgido do computador, as folhas de papel em que escrevemos, oestado da bola, das chuteiras, dos uniformes tudo aquilo que possa servir de suporte comunicao sofre mudanas e desgaste.Estamos falando de um trabalho material.

    Basicamente, so dois os modos de produo material sgnica, sem entrar aqui nos maiores detalhesumbertianos das suas variaes: replicao e inveno (ECO, 1980). Na replicao, trabalhamoscom as associaes habituais, com os cdigos sintticos e, tambm, os semnticos "dicionarizados",digamos assim, significaes j previstas num dado contexto cultural. Na inveno, buscamos, apartir de alguns elementos pouco definidos, propor novas funes significativas. O logotipo ou osmbolo prprio de uma empresa seja, por exemplo, aquele grande e curvilneo M dourado daMcDonald's uma inveno, mas, uma vez inventado, passa a associar o significante material,

    onde quer que brilhe, a tudo que possa potencialmente significar a rede de alimentao fast food,sobretudo nas suas representaes fetichistas deste McMundo em que vivemos. Depois deinventado, pode ser e passa a ser replicado em seus adequados contextos e circunstncias.

    O valor de uso o signo. Nas circunstncias prticas de cada enunciao, o signo socialmentereplicado (quer dizer, j entendemos, trabalhado, retrabalhado) a partir de um tipo, no conceito dePeirce (1977), um modelo, um molde, um padro que, nas prticas culturais gerais, nos sofornecidos, entre outras fontes, pela gramtica da lngua e sua variedade lxica. Mas no mundo dacultura capitalista e da sua produo de valores, mundo muitas vezes inventado e reinventado pelodinamismo shumpeteriano da destruio/criao, o tipo ser o molde ou prottipo industrial, oprimeiro exemplar impresso sem erros de um jornal ou livro, a primeira pelcula acabada e aceita de

    um filme, um primeiro exemplar, em suma, a partir do qual sero reproduzidas centenas ou milharesde peas rigorosamente idnticas a mercadoria. O molde, ou matriz, ser assim elo essencial,indispensvel, entre a criao e a reproduo, o produto mesmo, direto, do trabalho de criao (deengenheiros, ou figurinistas, ou artistas, dependendo da indstria), a pea originale nica a partirda qual sero reproduzidas milhares de outras peas a ela idnticas. O molde, por isto mesmo, ser osigno do valor de uso a ser reduzido a valor de troca (DANTAS, 2001; 2007).

    Sabemos que desde Ramn Zallo, quase vale dizer, desde os seus primrdios, a EPICC, como nos

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    narra, em detalhada resenha crtica, Csar Bolao (2000), entendeu que o "trabalho cultural" noseria "inteiramente homogneo", pois se dividiria em duas fases ou processos distintos, "o deconcepo da obra por um ou mais trabalhadores culturais e o de reproduo material dessa obra"(apudBOLAO, 2000: 166). Da que o seu valor de uso guardaria ainda as caractersticas de umproduto nico, tipicamente artstico, embora a sua reproduo industrial nele viesse a registrar ascaractersticas do valor de troca da mercadoria. Como o valor de uso, entretanto, o contedo, no osuporte material, a histria narrada no romance, no as folhas do livro; o drama ou comdiatransmitidos pelo filme ou programa de televiso, no o carretel de pelcula gravada ou a tela daTV; o desempenho do jogador de futebol, no a bola; como a utilidade originou-se da fantasia,no do estmago, o valor desse trabalho encerra-se no prprio desempenho, na criatividade, nashabilidades, na empatia, na personalidade, na capacidade ativa de comunicao do trabalhador, nocaso, o artista, logo apangio do trabalho vivo, do trabalho em "estado lquido", trabalhoconcreto, "ainda insuficientemente redutvel a trabalho abstrato", no dizer de Zallo, logo dificilmentesubmetido lei do valor(idem, ibidem).

    O problema da Economia Poltica da Comunicao, desde ento, tem sido essa necessidadeparadigmtica, digamos assim l Kuhn (1987), de explicar a reduo desse trabalho artsticoconcreto a trabalho abstrato e valor de troca. Aparentemente, identificar as caractersticas das"indstrias de edio", ou "indstrias de onda", ou de "imprensa", na taxonomia de Flichy (apudBOLAO, 2000), tentaria responder ao problema, explicando como nelas se do os processos dereproduo tpicos da mercadoria industrial, logo de realizao do valor de troca. Ser cada vez maisdifcil sustentar esse modelo com base nessa taxonomia, na medida em que avana, no havendomais dvidas sobre isso, a assim denominada "convergncia de mdias", na medida em que livros oudiscos, at mesmo jornais dirios, inclusive tambm filmes, tornam-se acessveis por um mesmoterminal digital fixo ou mvelcomputador, TV digital ou iPad.

    Proponho virar de ponta-cabea essa soluo, a rigor fenomnica. Exatamente porque o valor deuso o trabalho concreto ele mesmo, indiferente ao suporte, o cantor cantando, o artistarepresentando, o animador da TV animando a audincia que anima o animador, o jogador de

    futebol jogando e a arquibancada urrando, a interpretao, a atuao, a interaocomunicacional, "trabalho vivo produzindo atividade viva", na feliz expresso de Yann Mounier-Boutang (1998: 142), o capital, essa "contradio em processo" (MARX, 1971: v. 2, p. 229),conseguiu revolver-se a si mesmo, conseguiu anular-se como autovalorizao sustentada no trabalhoabstrato, ao quase anular o valor de troca da sua produo material objetiva, vale dizer, anular amercadoria mesma.

    No se trataria mais de explicar como o trabalho artstico concreto e, por extenso, todo o trabalhodito "criativo" em geral, pode ser reduzido a trabalho abstrato, pode ser mercantilizado como valorde troca, mas de explicar exatamente como o capital consegue se apropriar do resultado de umtrabalho que o prprio trabalho vivo em atividade, algo que, em princpio, seria inaproprivel.

    Equivale a perguntar, por que o capital no se esboroou ao atingir esta etapa, como o prprio Marximaginava nos Grundrisse? Adiantemos a resposta: porque logrou construir um sistema de monopolizao capitalista da assim chamada "propriedade intelectual".

    Se a EPICC h de ser, como Economia Poltica, a investigao do valor-trabalho; e como "daInformao, Comunicao e Cultura", a do valor de uso, portanto do trabalho material sgnico; aEconomia Poltica da Informao, Comunicao e Cultura, como teoria crtica, a teoria crtica daapropriao privada dos produtos do trabalho intelectual, a teoria crtica da monopolizao

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    privada do conhecimento.

    Trabalho e informao

    Isto que parece ser exclusivo do "trabalho artstico" ou da "indstria cultural" , na verdade,realidade comum a todo o processo capitalista de produo de valor, a qualquer outro segmentoindustrial, guardadas as especificidades de cada um. Assim como no pode haver um disco para serprensado, se no houver o trabalho artstico do cantor, tambm no pode haver automvel para sermontado, se no houver o trabalho de projeto, desenho, inclusive marketing, trabalho materialsgnico por excelncia, das instncias de criao da indstria automobilstica. E assim como, nascondies da indstria cultural conforme ela se constituiu ao longo do sculo XX, no haverrealizao do valor econmico, acumulao, do trabalho do cantor, se no houver uma indstriafonogrfica para reproduzir e distribuir milhares de cpias registradas da sua voz, atingindo umgrande pblico em um amplo espao, no menor tempo; tambm de nada adiantaria um belo projeto e

    desenho de automvel, se no existisse uma grande fbrica com seus operrios, alm de todo umsistema de revendas e mais assistncia tcnica e abastecimento, para fabric-lo e lev-lo at ouniverso consumidor.

    Nas condies capitalistas de produo, o trabalho veio se tornando, desde a primeira revoluoindustrial, cada vez maissocial, coletivo, colaborativo. Ao mesmo tempo, por isto mesmo, cada vezmais segmentado, fragmentado, especializado em muitos e distintos perfis de trabalho concreto, emmuitas diversificadas qualidades, competncias, habilidades dos diversos tipos de trabalhadores,mais bem formados, no to bem formados, ou at mesmo semi-analfabetos, que participam noprocesso total de produo de valores. Por outro lado, a cada etapa histrica, em funo decondies econmicas, tecnolgicas, polticas, culturais gerais e outras, mudam e mudaram muito

    os processos que organizam e qualificam o trabalho. O trabalho que valoriza capital nocapitalismo contemporneo muito distinto daquele que Adam Smith examinou na sua poca oudaquele sobre o qual Marx teorizou (DANTAS, 2003). Estes mestres observavam o trabalho aindafundamentalmente artesanal, trabalho apoiado no conhecimento emprico do trabalhador. Hoje, otrabalho, mesmo o do operrio, fundamentalmente cientfico-tcnico, apoiado na percepo,tratamento e comunicao de material sgnico, trabalho informacional.

    Na Seo I do Livro II d'O Capital, Marx nos apresenta a sua conhecida frmula do ciclo daacumulao:

    DM ...P... M'D'

    (Dinheiro, D, investimento inicial, adquire as mercadorias M no mercado para p-las na produo denovos valores de uso durante o subcicloP, da obtendo mercadorias valorizadas M' que retornam

    circulao no mercado, onde sero convertidas em mais-dinheiro, lucro, D').

    Marx muito claro quanto importncia desse ciclo se completar, realizar-se, no menor tempopossvel: quanto mais acelerado, quanto menor for o tempo total DD', maior ser a produtividade

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    do capital, maior ser o lucro. Esta reduo de tempo imperiosa tanto nos subciclos DM e M'D', quanto tambm no subciclo P. "Time is money", sempre soube qualquer empresrio...

    Alm disso, as mercadorias e os dados significativos sobre a mercadoria, inclusive o dinheiro a serpago ou ser recebido, precisam percorrer distncias no espao que, desde a primeira grande"globalizao" promovida pela Inglaterra no sculo XIX, estendeu o mercado ao tamanho domundo. No sendo possvel "emagrecer" a Terra (esta dieta ainda no foi inventada...), tornou-senecessrio, como escreveu Marx, "anular o espao atravs do tempo" (MARX, 1971: v. 2, p. 13),reduzir o tempo que mercadorias, documentos sobre os negcios, ou pessoas levam para ir de algumlugar a outro. Esses meios, em Marx, constituem

    ramos autnomos da indstria, nos quais o produto do processo de produo no um novo produto material, no uma mercadoria. Entre eles, economicamenteimportante apenas a indstria da comunicao, seja ela indstria de transporte demercadorias e pessoas propriamente dita, seja apenas de transmisso deinformaes, envio de cartas, telegramas etc. [...] O que a indstria de transporte

    vende a prpria locomoo. O efeito til acarretado indissoluvelmente ligado aoprocesso de transporte, isto , ao processo de produo de transporte. [...] O efeitotil s consumvel durante o processo de produo; ele no existe como coisa tildistinta desse processo, que s funcione como artigo de comrcio depois de suaproduo, que circule como mercadoria. Mas o valor de troca desse efeito til determinado, como o das demais mercadorias, pelo valor dos elementos deproduo consumidos para obt-lo (fora de trabalho e meios de produo)somados mais-valia criada pelo mais-trabalho dos trabalhadores empregados naindstria de transporte (MARX, 1983-1984: v. 2, p. 42-43, grifos meusMD) .

    Est claro que, para Marx, pode haver produo de valor, sem que haja produo de mercadoria,produo de valor que ser movimento (locomoo), no trabalho congelado, trabalho morto, "coisa"inerte. A frmula dos transportes, vale dizer, das comunicaes, ser, por isto:

    DM ...PD'

    O investimento (D) adquire mercadorias que ingressar num processo produtivo (P) que a suaprpria locomoo, no produo de novas mercadorias, da obtendo-se o lucro D'.

    O processo de busca incessante por anular o espao pelo tempo, levar o capital a desenvolver, cadavez mais aceleradamente, os modernos meios de comunicao. Este setor de "apenas transmisso deinformaes", experimenta uma evoluo extraordinria ao longo do sculo XX, desconhecida,

    talvez at mesmo impensvel poca de Marx. Mais frente, seramos obrigados a tentar entend-lo, sem poder contar com leituras literais (felizmente, eu diria!). Dallas Smythe sintetizar aperplexidade de todos: trata-se de um verdadeiro "buraco negro do marxismo ocidental" (apudBOLAO, 2000: 142).

    Se falamos de telefonia, radiodifuso, obviamente imprensa, tambm cinema e, claro, internet, comoassoci-los, se isto for possvel, ao P do ciclo marxiano da comunicao? Como associ-lo aoprocesso de trabalho e valorizao, mas processo que no produz nova mercadoria?

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    A soluo, vimos antes, j nos foi dada por Heinz von Foerster: trata-se de trabalho em movimento(diferente de trabalho congelado = mercadoria); trata-se de informao ( sinal). O Pna frmulamarxiana da comunicao ser tanto "locomoo" quanto "informao" num caso ou noutro,movimento no espao e no tempo:

    DM ...ID'

    O investimento D adquire mercadorias M, inclusive fora de trabalho, para processar, registrar ecomunicar informao I, da derivando o lucro D'.

    O trabalho material sgnico se efetua na relao informacional I. O seu produto, seja na forma maisusual das replicaes, seja na das criaes, sero as mudanas geradas no ambiente social ou nascoisas, no tempo dessa relao mesma, isto , no tempo do prprio trabalho. Cessou o trabalho,cessou o movimento, cessou a informao. Restaro, claro, os suportes inertes de dados, ou trabalhomorto documentos na forma de livros, CDs, pelculas de filmes, relatrios, folhas de jornal,arquivos eletrnicos de computador, etc., etc. espera de uma nova atividade relacional, da aodos sujeitos sobre eles, como explicou von Foerster. A informao no se estoca, no estnecessariamente "congelada" numa nova mercadoria, no est "coagulada" nas folhas do livro, no

    metal do CD, muito menos nas freqncias hertzianas da radiodifuso. Embora os materiaissubmetidos a esse trabalho sofram naturais transformaes e desgastes (a folha de papel impressa jno mais a mesma folha branca que j foi), o objetivo do subciclo I o de produzir algum valor deuso, cuja utilidade reside na sua condio de promover, fomentar, provocar, como dito acima,atividades vivas. A utilidade a comunicao; s se efetiva no seu prprio ato. J o meio decomunicao, o livro ou o satlite, tanto uma prtese tecnolgica, amplificando as possibilidadesdo corpo (e, com elas, as do capital), como o o automvel, o trem, o avio para a locomoo.

    Na locomoo sempre se perdero tempos na movimentao do objeto de um lugar a outro, por maisque o desenvolvimento dos meios de transporte, nos ltimos 100 anos, tenha logrado muito reduziresses tempos. Na informao tambm haver um tempo de espera: ser necessrio realizar todo o

    trabalho de paginar e imprimir livros ou jornais, transportando-os em seguida para livrarias oujornaleiros; reproduzir milhares de cpias de discos e coloc-las nas lojas. At mesmo no interior deuma grande empresa como sabem os mais velhos , entre o relatrio manuscrito do tcnico a serenviado a alguma chefia e a elaborao de sua forma impressa na qual deveria ser lido, havia que sepassar pelo obrigatrio trabalho especializado, um tanto quanto massacrante, dos pools dedatilografia. O que era isto? Traduzir signos desenhados a mo, em signos padronizados nas formasdas letras da mquina de escrever. Evidentemente, a utilidade estaria naquilo que os signosdesenhados a mo transmitiam, mas havia de se perder tempo, facilitando-lhes a leitura, atravs dotrabalho das datilgrafas. O capital resolveu isto: inventou o "Word". Thanks Mr. Gates!...

    As tecnologias digitais de informao e comunicao, as TICs, permitiram reduzir, no raro ao

    limite de zero, o tempo de trabalho material sgnico redundante, o tempo de mera replicao emalgum suporte adequado comunicao, do valor de uso a ser comunicado, isto , posto em umarelao social interativa. este ganho quantitativo que nos permite perceber, a tambm, um saltoqualitativo no regime capitalista de acumulao, ultrapassando o assim chamado "fordismo" paraesta nova etapa informacional.

    Em seu af de reduzir tempos, da tambm, em orientar os investimentos mais produtivos para ossetores economicamente mais rentveis, com estes "puxando" o restante da economia e da

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    organizao social (na poca de Marx, era a indstria txtil...), o capital vem investindopesadamente, nas ltimas dcadas, nas indstrias de comunicao suportadas na base tcnica digital.Hoje, esse complexo que inclui os fabricantes de equipamentos e sistemas, as operadoras detelecomunicaes, produtores audiovisuais, emissoras de televiso aberta ou fechada, o crescentesetor de videojogos e a j onipresente, parece at que onisciente internet, soma cerca de 7% do PIBmundial (UNCTAD, 2008; IDATE, 2009). E apenas est comeando a crescer.

    Com suas novas tecnologias de transporte e comunicao, o capital pde reordenar-se temporal eespacialmente, nos ltimos 20 anos: a produo pde ser "enxugada" em muitos casos ("toyotismo","JIT" etc.), ou transferida para as periferias do sistema (Sudeste Asitico, Amrica Central, Manaus,inclusive algumas periferias de Paris ou Londres e, estamos descobrindo agora, notciasrecentssimas de jornal, embora sem direito surpresa, tambm da nossa So Paulo ver PYL eHASHIZUME, 2011), transferida para onde o retrocesso das condies de trabalho a relaes semi-escravistas no parece muito afetar olhos, ouvidos ou narizes mais sensveis...

    Em muitas indstrias, os custos materiais de reproduo, sobretudo, o tempo de trabalho congeladoem cada unidade replicada, caiu a valores desprezveis. Isto acontece, por exemplo, tanto naindstria de vesturio, quanto na indstria... fonogrfica. A lgica a mesma: o valor da mercadoria,

    do "objeto externo", da cala jeans enquanto tecido, tinta e costura, ou do disco, enquanto suportemetlico proporcionando emisses sonoras, o valor da mercadoria foi quase dissolvido, quaseanulado, porque o seu valor de troca, nesses casos, tende ao limite de zero.

    Sobrevive o valor de uso. No apenas, por exemplo, no caso da cala, como valor de uso meramenteinstrumental, de vestimenta a proteger do calor ou do frio. Nem mesmo to somente como expresso(semitica) de certos valores culturais gerais que nos obrigam a andar "convenientemente" vestidos(necessidade absolutamente ausente entre ndios no aculturados). O valor de uso veio ganhando,no de agora, mas pelo menos nos ltimos 100 anos, como o demonstram, desde os anos 1970, osestudos de Pierre Bourdieu (1982; 2007), ou os do primeiro Baudrillard (1972), o valor de uso veioganhando cada vez mais conotaes (semiticas) devidas menos ao estmago, mais fantasia. No

    basta vestir uma cala, tem que ser Diesel, ou Benetton, ou de alguma outra grife; no basta estarcalado, tem que ser Nike, ou Adidas, ou Mr.Cat. A fome ainda a fome, mas a fome saciada comcarto de crdito muito diferente da fome saciada com marmita fria trazida de casa. "O que seconsome um estilo de vida", sentenciou Isleide Fontenelle (2002), citando Otilia Arantes, numestudo de explcita matriz marxiana, sobre a construo da marca McDonald's e, por extenso, dasmarcas Coca-Cola, Malboro, Nike etc.

    Por isto, o consumo pode ser produtivo, no sentido de que produtivo aquilo que produz valor parao capital. E Fredric Jameson diria, como admitiu em dilogo crtico com Gary Becker, um autorliberal dos anos 1970, ser "possvel aceitar esse tipo de coisa". Para justific-lo, remete... aosGrundrisse (JAMESON, 2006: 275).

    Capitalismo espetacular e apropriao do trabalho vivo

    Na produo de estilos de vida, na produo dessas utilidades que, como qualquer utilidade, soculturais, so sgnicas, na produo desses fetiches distintivos, a marca se identifica ao espetculo,

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    "o capital em tal grau de acumulao que se tornou imagem" (DBORD, 2000: 25). Chega a seraxiomtica, de to evidente, essa associao entre a marca e o espetculo. O espetculo veicula amarca. A marca paga o espetculo. Basta acompanharmos qualquer jogo de futebol: no havernenhum segundo, seja na tela da TV, seja ao vivo no estdio, em que nossas retinas, logo nossasemoes, no estejam sendo penetradas, invadidas, sensibilizadas e mediadas por alguma marca, nacamisa dos atletas, nas placas nas laterais dos campos, nos anncios que se intrometem na telinha. Altima Copa do Mundo, na frica do Sul, rendeu FIFA USD 3,2 bilhes, sendo USD 2,1 bilhessomente com a venda dos direitos de transmisso para a TV e outros USD 1,1 bilho, dos direitos demarketing da prpria FIFA (2010). No ser preciso acrescentar que a televiso, por sua vez, pagouaqueles USD 2,1 bilho com a (re)venda dos seus assim ditos "direitos de marketing".

    To magnficos resultados, no custa relembrar, no poderiam ser obtidos se, em todo o mundo,milhes e milhes de pessoas ditas "espectadoras" ou "consumidoras" no estivessem, com as suasemoes, com as suas representaes, com as suas frustraes, com as suas fantasias, com as suasidentidades, com os seus preconceitos (brasileiros sobre argentinos, argentinos sobre brasileiros...),produzindo esse produto, o espetculo do futebol, dele participando imediatamente, mesmo queintermediadas pelas prteses de comunicao a distncia das redes mundiais de televiso: o tempoanula o espao. E entre as marcas Heineken, Adidas (com a sua "Jabulani"), Nike, Coca-Cola,HSBC, Vivo, Samsung tantas outras, todas "globais", entre essas marcas e essas milhes de pessoas,organizado, programado, comandado pela FIFA e redes de televiso, isto pelo capital, pe-se otrabalho vivo, concreto, dos verdadeiros artistas do espetculo, atletas como Xavi, Iniesta, Reuben,Forlan, todos os outros.

    Sim, difcil aqui ser divisar nesse trabalho qualquer perspectiva revolucionria... Mas isto seriatema para outro artigo.

    O capital no produz mais, de modo determinante, mercadorias, o capital produzfundamentalmenteespetculo, nele subsumindo a mercadoria. Explicou David Harvey:

    Pode ser [] que a necessidade de acelerar o tempo de giro no consumotenha provocado mudana de nfase da produo de bens (muitos dos quais,como facas e garfos, tm um tempo de vida substancial) para a produo deeventos (como espetculos que tm um tempo de giro quase instantneo)(HARVEY, 1996: 149).

    Mas j pressentia Marx:

    Quanto mais as metamorfoses da circulao do capital forem apenas ideais,isto , quanto mais o tempo de circulao for = zero ou se aproximar de zero,tanto mais funciona o capital, tanto maior se torna sua produtividade eautovalorizao (MARX, 1983-1984: v. 2. p. 91).

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    E Marx no conheceu a internet...

    A quase eliminao das barreiras de tempo no processo produo-circulao-consumo, antesimpostas pelas condies de reproduo, afetaram decisivamente as condies de apropriao dasrendas oriundas do processo mesmo. No espetculo, ao contrrio da mercadoria, no h trabalhocongelado a ser trocado, s trabalho vivosendocomunicado no instante do prprio espetculo. Nopode haver troca de equivalentes. Por isto, o capital precisa afirmar a os assim ditos direitos depropriedade intelectualcomo meio de apropriao.

    Ningum discordar que o direito propriedade intelectual gera um monoplio. No entanto, nascondies tcnico-industriais que prevaleciam na indstria em geral e na indstria cultural, emparticular, at os anos 1980, a monopolizao podia ser disfarada pela forma-mercadoria de discos,livros, tambm roupas, at geladeiras ou automveis. A dissoluo do valor de troca de boa parte daproduo mercantil, sobretudo, muito especialmente, da produo industrial cultural, colocou asociedade frente a frente com a verdadeira e definitiva face do capital: a monopolizao da cincia edas artes, isto , a monopolizao do conhecimento, como monoplio do poder de produzir edistribuir riqueza, inclusive, claro, oferecer, permitir ou negar trabalho.

    Nesta economia ou sociedade espetacularizada, que outros querem denominar, sempre busca deburcas encobridoras, "economia criativa", a apropriao e distribuio da riqueza, anulada aequivalncia, passa a depender de barreiras que se possam introduzir no acesso ao conhecimento, cincia, s artes. Em toda indstria onde o processo de replicao permanea custoso em tempo emateriais, as barreiras "naturais" de acesso podem ainda subsistir como, por exemplo, na indstriaautomobilstica. Mas em todas aquelas onde o custo unitrio das rplicas tende a situar-se no limitede zero, o capital passou a enfrentar um srio problema de apropriao. A investigao desseproblema pode ser remetida discusso sobre as rendas diferenciais, conforme Marx na Seo VIdo Livro III d'O Capital(DANTAS, 2008).Barreira de tempo e outros custos, maiores ou menores,determinaro as condies de apropriao das rendas informacionais extradas e aambarcadasdiretamente do trabalho vivo de criao cientfica ou artstica. Aqui, ser fundamental tambm o

    papel (poltico) que o Estado possa desempenhar na defesa jurdico-policial dos "direitosintelectuais". Temos visto, nos ltimos anos, o Estado buscar munir-se dos instrumentosnecessrios: oDigital Millennium Act, nos Estados Unidos; a Lei Hatopi, na Frana; A Lei Sinde, naEspanha; o j apelidado "AI-5 digital", ainda em processo de aprovao legislativa, aqui no Brasil;para no falar de toda a evoluo recente, nesse terreno, da OMC e da OMPI, a culminar no ACTA(Anti-Counterfeiting Trade Agreement).

    Internet: dos "bons selvagens" aos "jardins murados"

    O problema da apropriao nas indstrias que se posicionam na fronteira mais dinmica doespetculo, agravou-se dramaticamente com a emergncia e extraordinria expanso da internet. Aproduo de atividades vivas atravs do trabalho vivo artstico pde se tornar empiricamenteimediata. A indstria de replicao, como notrio o caso da fonogrfica, entrou em criseaparentemente terminal.

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    A internet nasceu nos anos 1970-1980, fomentada e acompanhada pelo Pentgono. Nessas primeirasdcadas, foram resolvidos os seus problemas tcnicos bsicos, por uma comunidade de cientistas,professores, estudantes vinculada aos departamentos de cincias "duras", matemticas eengenharias, das principais universidades estadunidenses e algumas outras do mundo capitalistacentral. Era uma elite intelectual e mesmo poltica razoavelmente uniforme nas suas crenas,valores, comportamentos, objetivos na vida (MOUNIER, 2006). Em especial, naqueles tempos deGuerra Fria, era uma elite predominantemente branca anglo-sax, politicamente "liberal" nos termoscom os quais Richard Barbrooke viria a descrev-la, alcunhando-a "esquerda da Guerra Fria"(BARBROOKE, 2009). Da derivar a transferncia para a nascente internet de alguns valores carosa qualquer comunidade cientfica estadunidense: colaborao mas respeitando as individualidades;construo de consensos pela livre, maspositivista, troca de idias; crena na objetividade da razoe na neutralidade ou distanciamento poltico dos atores (MOUNIER, 2006). Essa ideologia marcarprofunda e indelevelmente toda a evoluo poltico-institucional posterior da grande rede.

    A segunda fase da internet caracteriza os anos 1990. A rede transborda os campi universitrios e descoberta por milhares e milhares de pessoas dos mais diversos estratos sociais como novo meio decomunicao interpessoal, acesso a notcias, entretenimento. Detecta-se um mercado. Surge umagerao de "colonizadores" que, ao contrrio dos "primeiros habitantes", intui que seria possvelganhar dinheiro na rede e trata de descobrir como: Steve Case, da AOL; Jim Clark, da Netscape; BillJoy, da Sun; Rob Glaser, da Real One, so alguns nomes. No lhes faltaro, no Vale do Silcio,"capital de risco" (ou venture capital) com timo faro para as novas oportunidades de negcios elucros.

    Os cientistas e universitrios sentiram que rapidamente o instrumentoescapava ao seu controle. Muitos deles, como Richard Stallmann,refugiaram-se em uma oposio feroz e na ilustrao e defesa dos valores domundo cientfico na internet e, mais amplamente, na informtica. No preciso, porm, dar-lhes necessariamente uma importncia desproporcionadaa seu peso real. So numerosos tambm os pioneiros sados do mundo Unix

    que, como Marc Andreesen com o Mosaic ou Bill Joy com Sun, rapidamenteinclinaram-se para o lado comercial, para fazer parte dos grandes(MOUNIER, 2006: 99-100).

    Em resumo, vai acabar a "inocncia de alguns bons selvagens que comunicavam entre si as ltimasnovas da aldeia usando os seus tambores eletrnicos", na fina ironia de Mounier (2006: 87). Eassim, ainternet chegar, neste limiar da segunda dcada do sculo XXI, parecendo seguir por umcaminho muito similar ao da radiodifuso, nas primeiras duas dcadas do sculo XX: inicialmentefomentada por interesses militares, comeou a ser espontnea e livremente apropriada pela

    sociedade como meio de interao individual, de entretenimento e acesso a informao, at serdescoberta pelos interesses comerciais de grandes corporaes capitalistas, e pelos polticos dosEstados nacionais, da resultando as regulamentaes controladoras monopolistas que moldaram aevoluo do rdio e da televiso por todo o restante do sculo XX (SARTORI, 1987; FLICHY,1991; DANTAS, 2000).

    Isto porque o capital a rede. A rede, o fluxo, o movimento, a formanatural de existncia docapital:

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    Exatamente porque a figura monetria do valor sua forma autnoma,palpvel, de manifestao, a forma de circulao D ... D', cujo ponto departida e ponto de chegada o dinheiro real, expressa de modo maispalpvel o motivo condutor da produo capitalista o fazer dinheiro. Oprocesso de produo aparece apenas como elo inevitvel, como malnecessrio, tendo em vista fazer dinheiro. (Todas as naes de produocapitalista so, por isso, periodicamente assaltadas pela vertigem de quererfazer dinheiro sem a mediao do processo de produo) (MARX, 1983-1984: v. 2, p. 44) .

    (A ltima dessas vertigens, vimos, resultou na crise, ainda no superada, de 2008. Mas Marx,dizem, que est superado...)

    As redes de computadores, dentre elas a internet, no foram desenvolvidas para atender aosreclamos democrticos da sociedade ou gerar novos modos de sociabilidade, assim como tambmno o foram, no passado, a telegrafia ou a radiodifuso. Visam permitir ao capital avanar ainda

    mais no seu af de livrar-se daquele "mal necessrio", reduzi-lo ao mnimo inevitvel ou, quandoainda no possvel, remet-lo para as suas periferias invisveis onde possa at mesmo fazer uso defora de trabalho semi-escrava. Como escreveu o blogueiro Lucio Uberdan, "5,5 milhes decongoleses morreram, mas veja o lado bom, o seu smartphone vibra..."(http://relatividade.wordpress.com/ 2011/05/01/2182/, acesso em 30/08/2011). Referia-se a umareportagem publicada na revista Galileu, intitulada "Gadgets de sangue", segundo a qual minrioscomo tantalita e columbita, essenciais para a fabricao de smartphones, so extrados na frica, sobas condies as mais vis possveis. Mas quem deixar de comprar o seu Nokia ou o seu Samsungpor isso? Falemos das "redes sociais", esqueamos esses detalhes incmodos. Dizem que as "redes"esto derrubando ditaduras na frica...

    No entanto, verdade, assim como j acontecera com a radiodifuso, com a telefonia, at com aremota telegrafia, verdade que a internet, por suas prprias caractersticas empiricamenteinterativas, poderia vir a ser um novo e espaoso terreno para as lutas de classe. A rede como "gorainformacional", como espao de discusso poltica e cultural ilustrada, j fora proposta, por Nora eMinc (1978), quando a prpria idia de sua massificao ou universalizao ainda no passava dehiptese tcnica e poltica, embora hiptese forte. Na onda das experimentaes que acompanham adisseminao da internet na ltima dcada do sculo XX, ela ser reivindicada como asoluotcnica capaz de viabilizar a reconstruo daquela esfera pblica "burguesa" cuja dissoluo nos foiexposta por Habermas (1986), reconstruo esta, claro, alargada agora s dimenses espao-temporais da cidadania que se acredita ampliada e conquistada neste limiar de sculo XXI.

    Esta , sabemos, uma disputa em pleno curso, renhidamente travada pelos "ciberativistas", atravsde propostas como "software livre", "creative commons", ou combate s legislaes restritivas nomundo e no Brasil (SILVEIRA, 2011). Por outro lado, Richard Barbrooke talvez nos sugira noalimentar muitas iluses:

    http://relatividade.wordpress.com/%202011/05/01/2182/http://relatividade.wordpress.com/%202011/05/01/2182/http://relatividade.wordpress.com/%202011/05/01/2182/http://relatividade.wordpress.com/%202011/05/01/2182/
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    mil para quem lhe desenvolvesse um programa no prazo de 36 horas. Ganhou um brasileiro. Oprograma, claro, propriedade intelectual da Nokia (ELIAS, 2011). A Procter&Gamble ofereceu,pela internet, USD 300 mil a qualquer qumico, em qualquer lugar do mundo, que lhe oferecesseuma soluo para tirar manchas de vinho das roupas. Evidentemente, a "propriedade doconhecimento" ser dela. E, a prosseguir assim, o emprego de boa parte de seus 7 mil qumicosestar seriamente ameaado. A Goldcorp, empresa de minerao, colocou na rede, num ato semdvida inusitado, os seus mapas geolgicos. E pagou USD 500 mil ao gelogo que, tendo estudadoos mapas, indicou-lhe a localizao de uma jazida onde, estudos posteriores, revelaram uma reservano valor de USD 3,4 bilhes. E o valor de mercado da Goldcorp saltou de USD 90 milhes paraUSD 10 bilhes (TAPSCOTT, 2012).

    Como j explicara Harvey (1996), em sua anlise da "acumulao flexvel", o capital cada vezmenos necessita centralizar espacialmente os seus processos de trabalho e valorizao. Com ainternet, o capital sequer precisa delimitar contratualmente, recortar, segmentar, a frao do trabalhosocial que cada unidade (ou firma) pe diretamente sob seu comando. A rede est permitindo aqualquer empresa contratar qualquer trabalho individualizado que lhe possa ser til, no importaonde, no interessa quem. Interessa to somente o resultado, o material sgnico obtido e lhecomunicado. Assim como o consumo pode seratomizado, a produo tambm. E, rigorosamente,esta produo no colaborativa. Ao menos, no nos casos exemplificados. um contra todos,disputando os prmios de 100 ou 300 mil dlares.

    Mais-valia 2.0, denunciou Rafael Evangelista (2007): os stios colaborativos "no sonecessariamente bens-comuns. A maior parte, tendo como matria-prima o tempo e o talento dosusurios, um empreendimento privado visando lucro". Alguns desses colaboradores recebempolpudos prmios, obviamente em troca da no socializao do conhecimento que geraram. Agrande maioria se contentar com os 30 segundos de fama... J ser alguma distino, como poderiadizer Bourdieu, se vivo ainda fosse. Num caso ou noutro, o trabalho concreto gerou um valorsomente aproprivel pelo reconhecimento jurdico do "direito autoral" e pela edificao de "jardinsmurados" sua volta.

    Se o capital-informao cresce valorizando conhecimento, cincia, arte, o crebro social humano, oconhecimento social geral, general intellect na expresso hoje famosa de Marx, o seu recursoprimrio essencial. Numa analogia com a minerao, para uma empresa mineradora toda a crostaterrestre, em princpio, o seu recurso primrio. Nela, atravs da pesquisa de seus gelogos, apoiadanos meios fornecidos pela cincia e tecnologia, a empresa recortar fraes de terreno abaixo dasquais espera encontrar formaes geolgicas mais promissoras. Aprofundando suas pesquisas nessasformaes e, no raro, depois de descartar algumas, afinal localizar as jazidas mais produtivas erentveis. A internet fornece ao capital-informao um poderoso instrumento de conexo direta eimediata com todos os crebros sociais a ela conectados. Evidentemente, as condies educacionais,os nveis de renda, os ambientes familiares e culturais, as redes pessoais de contato, tudo contribui

    para favorecer, ou no, a criatividade produtiva, naquele conceito mesmo, marxiano, de trabalhoprodutivo a criatividade que for produtiva para o capital. Mas, ao contrrio da jazida mineralrentvel que est concentrada em alguns lugares da Terra de quase sempre difcil acesso, o crebrocriativo pode estar em qualquer recanto do mundo, quase sempre de relativamente fcil acesso,sobretudo se diante de um computador conectado. Para encontr-lo bastar uma busca. Depreferncia, pelo Google...

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    Concluses: uma agenda a construir

    Gramsci anotou em algum lugar que deveramos associar o "pessimismo da inteligncia aootimismo da vontade". O ciberativismo e o conjunto de mobilizaes populares que avanam pelomundo, no esquecendo as importantes mudanas polticas e sociais em curso na Amrica Latina,

    inclusive no Brasil, nos fortalecem o otimismo da vontade. Mas a cincia nos arma com opessimismo da razo. Podemos, sim, colocar satlites, homens e mulheres em rbita volta daTerra. Podemos, porque conhecemos muito bem todas as foras reais que conspiram contra,sabemos que uma nica e pequena falha, como aquela que destroou a Chalenger minutos aps seulanamento, fatal. Evitamos tantas outras tragdias similares porque estamos o tempo todobuscando saber o que pode dar errado. O acerto ou a falha no sero "culpa" da tecnologia. Somosns, somos os atores conscientes que acertamos ou erramos. A tecnologia no resolver os conflitosda histria. Por isso, escavando mais fundo os discursos, explorando suas contradies, inclusiveomisses, buscando o concreto resultante de mltiplas determinaes, a Economia Poltica daInformao, Comunicao e Cultura descobre o rosto real do capital, nas faces de Bill Gates, SteveJobs, Rupert Murdoch, Ted Turner, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, para citarmos apenas alguns

    mais conhecidos. Todos eles inquiriram as "multides" com apenas uma pergunta: "como vocs mefaro bilionrios"? Descobriram as respostas. No foi nada por acaso. Entendidas estas, poderemosretornar do problema profundo do valor para as mediaes das relaes polticas e institucionais,como reivindicado por Mosco.

    Este retorno impe-se ao intelectual engajado, quele que, nas palavras de Bourdieu,

    engaja numa luta poltica sua competncia e sua autonomia especfica e os valoresassociados ao exerccio de sua profisso, como os valores de verdade e desinteresse,ou algum que se encaminha para o terreno da poltica mas sem abandonar suasexigncias e suas competncias de pesquisador (BOURDIEU, 2001: 37).

    No bastar EPICC desvelar o discurso apologtico ou, do outro lado, a ingenuidade bemintencionada que encobrem os debates e investigaes sobre a internet ou sobre este capitalismoinformacional atual. A crtica, o mergulho nos processos escondidos sob a superfcie dos embatespolticos e prticas sociais, inclusive e sobretudo, hoje em dia, sob as prticas scio-tcnicasreticulares, esta crtica ser o primeiro passo que nos permita trazer luz "os determinantes quepesam nos produtores do discurso dominante" (idem: p. 39) para assim nos armarmos visando areconstruo, igualmente reivindicada por Bourdieu mas, muito antes, por Herbert Schiller (1986),

    do prprio pensamento crtico. Ou seja, da compreenso do problema do valor, ainda incipientemesmo no campo da EPICC, poderemos retornar s discusses e propostas em torno das polticas einstituies que regulam as condies sociais de trabalho, inclusive ou principalmente, do trabalhoartstico, cientifico, cognitivo. De um lado, como parece bvio, h um debate em curso, mas aindapoliticamente pouco claro para a maior parte da sociedade, em torno da monopolizao capitalistado conhecimento. Por outro, h uma questo ainda mais obscura que ser deixada em aberto aqui: otrabalho tem valor e precisa ser remunerado. Que alternativas podemos apresentar aos "jardinsmurados"? O encontro da EPICC com os movimentos sociais j engajados na luta pelo livre acesso

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