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JOÃO JORGE EDUCAÇÃO COM CORPO COM EDUCAÇÃO Educar o Ser. João Jorge 16-02-2013 Quem é professor conhece por dentro a realidade do ensino e sabe que este modelo esgotou os seus argumentos, embora o Ministério da Educação continue obstinadamente a investir no mesmo. Chegou ao FIM da LINHA e como tal é imperativo investir noutro que responda aos desafios deste século e prepare os jovens para um reencontro com o SER.

EDUCAÇÃO COM CORPO COM EDUCAÇÃO · A procura da felicidade é o caminho de encontro ... uma escola do futuro e um ponto de encontro internacional de trabalhadores, oriundos de

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  • JOO JORGE

    EDUCAO COM

    CORPO

    COM EDUCAO Educar o Ser.

    Joo Jorge

    16-02-2013

    Quem professor conhece por dentro a realidade do ensino e sabe que este modelo esgotou os seus

    argumentos, embora o Ministrio da Educao continue obstinadamente a investir no mesmo. Chegou ao

    FIM da LINHA e como tal imperativo investir noutro que responda aos desafios deste sculo e prepare

    os jovens para um reencontro com o SER.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 2 Educao Integral

    Joao Jorge

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 3 Educao Integral

    Joao Jorge

    Ttulo original: Educao Com Corpo e Corpo com Educao

    Autor: Joo Manuel Ferreira Jorge

    Ano: 2013

    Coleo: JJ

    Direo: Joo Jorge

    1. Edio: 2013

    Depsito Legal N

    (Registo IGAC- Inspeco Geral das Atividades Culturais)

    ISBN:

    Reservado todos os direitos: Joo Jorge

    Composio Grfica: Joo Jorge Joo Jorge SEDE: Rua: So Jorge 22 Localidade: Benedita Cdigo Postal Telef: Fax: email: [email protected] Apartado: Pas: Portugal Internet:

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 4 Educao Integral

    Joao Jorge

    DEDICATRIA

    Para a minha Famlia:

    Maria Ferreira,

    Joo Miguel e

    Alexandre Miguel.

    A todas as crianas e jovens, desejo

    oportunidade de escolha livre

    em sintonia com o seu

    Projecto Interior, orientadas pelo

    seu Mestre Interior de Verdade,

    no alcance da auto-realizao

    e esclarecimento

    Joo Jorge

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 5 Educao Integral

    Joao Jorge

    AGRADECIMENTOS

    Este trabalho no seria possvel sem a riqueza de conhecimentos disponveis

    em vrios formatos e fontes, de outros autores e investigadores que contriburam

    com a sua reflexo e experincia. O presente documento, pretende ser tambm

    ele, uma anlise abrangente e alargada (holstica), equacionando vrias

    perspectivas do mesmo problema, articulando interdisciplinar e

    transdisciplinarmente conhecimentos aparentemente dspares, num todo coerente,

    tendo como pano de fundo a educao.

    Quero sobretudo enaltecer todos os aqueles que investigam na fronteira da

    cincia, Fora da caixa, porque so esses que impulsionam as transformaes e

    revolues de conscincia, embora no sejam reconhecidos no seu tempo, por

    estarem muito frente da realidade consensual.

    A realizao deste trabalho constitui tambm uma fonte de actualizao

    reflexiva de investigao que transparece a profunda necessidade pessoal em

    conhecer quem sou, de onde venho e para onde vou. A procura da verdade das

    suas razes e origens, constitui um forte mpeto para a procura.

    O meu objectivo como Professor ajudar as crianas a conhecer a verdade e

    no a minha opinio. Como ainda no conheo a verdade, apenas posso despertar

    a curiosidade nos alunos para as coisas belas que a escola descarta, e enriquecer

    a relao pedaggica com o meu estilo pessoal de partilha.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 6 Educao Integral

    Joao Jorge

    CONTEDO

    Contedo

    DEDICATRIA .................................................................................................................................................. 4

    AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................................... 5

    CONTEDO ...................................................................................................................................................... 6

    PREFCIO ....................................................................................................................................................... 7

    INTRODUO ................................................................................................................................................. 10

    CAPTULO I EDUCAO SEM CORPO ............................................................................................................... 14

    1.1 - EMPREITADA EDUCATIVA. ................................................................................................................... 15 1.1.1 - REFINAR A FARINHA: ............................................................................................................. 15 1.1.2 - REFINAR O ENSINO: ............................................................................................................... 16 1.1.3 INFORMAO, CONHECIMENTO OU SABEDORIA? ...................................................................... 17 1.1.4 O PARADOXO LUSITANO. ....................................................................................................... 24

    CAPTULO II EDUCAO COM CORPO ............................................................................................................. 90

    2.1 - CONHECE-TE A IMPORTNCIA DA AUTO-DESCOBERTA NO PROCESSO EDUCATIVO. ................................. 91 2.1.1 EDUCAO E LITERACIA EMOCIONAL ...................................................................................... 94 2.1.2. - QUAL A FUNO DAS EMOES? ......................................................................................... 102 2.1.3. - O QUE A INTELIGNCIA EMOCIONAL? ................................................................................. 126 2.1.4. - QUOCIENTE EMOCIONAL ...................................................................................................... 138 2.1.5. - COMO CRIAR UMA ESCOLA QE: ............................................................................................ 139 2.1.6 - O CREBRO TRIUNO NA EDUCAO: ...................................................................................... 152 2.1.7 APRENDER A RECONHECER PADRES ................................................................................... 246

    2.2 - ESCOLHE-TE ................................................................................................................................... 296 2.2.1 - PENSAMENTO CONSEQUENCIAL ............................................................................................ 296 2.2.2 - NAVEGAR NAS EMOES...................................................................................................... 304 2.2.3 - MOTIVAO INTRNSECA ...................................................................................................... 304 2.2.4 - OPTIMISMO ......................................................................................................................... 375

    2.3 - ENTREGA-TE. .................................................................................................................................. 385 2.3.1 - AUMENTAR A EMPATIA ......................................................................................................... 385 2.3.2 - OBJECTIVOS NOBRES. ......................................................................................................... 387

    CAPTULO III CORPO COM EDUCAO ........................................................................................................... 397

    3.1. DESCONSTRUTIVISMO. .................................................................................................................... 398 3.1.1. COMUNIDADES AUTO-EDUCATIVAS E OS PROCESSOS CRIATIVOS:............................................ 398 3.1.2. - PRINCPIOS DA EDUCAO SISTMICA. ................................................................................. 402 3.1.3 - ARTE ZEN DE ENSINAR. ........................................................................................................ 404 3.1.4 - APRENDIZAGEM IMPLCITA. ................................................................................................... 412 3.1.5 - APRENDIZAGEM DA REALIDADE EXTERNA VERSUS REALIDADE INTERNA. ................................... 416 3.1.6. - APRENDER A LINGUAGEM DO SILNCIO. ................................................................................ 417 3.1.7. - O MEU CORPO O MEU LABORATRIO DE APRENDIZAGEM. ..................................................... 418 3.1.8 EDUCAR PARA A PROSPERIDADE. ......................................................................................... 423 3.1.9. ESCOLA DA PONTE, RUMO AO FUTURO DA EDUCAO ........................................................... 423 3.1.10. - COMUNIDADES EDUCATIVAS AUTO-SUSTENTADAS. ............................................................... 428 3.1.11. - EDUCAO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL. ................................................ 431 3.1.12. - EDUCAO E ESPIRITUALIDADE. ........................................................................................ 432

    CONCLUSO ................................................................................................................................................ 436

    BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................................. 438

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 7 Educao Integral

    Joao Jorge

    PREFCIO

    Suponhamos que todas as slabas, currculos e os livros escolares

    desapareciam. Suponhamos que todos os testes de avaliao normalizados se

    perdiam irremediavelmente. Por outras palavras, suponhamos que os materiais

    mais comuns que impedem a inovao nas escolas, simplesmente no existiam.

    Ento, suponhamos que decidia transformar esta catstrofe numa

    oportunidade para aumentar a relevncia da escola? O que faria?

    Suponhamos que decidia criar um currculo composto por questes. Estas

    questes deveriam valer a pena para que criasse motivao para se procurar

    respostas, no apenas do nosso ponto de vista mas, mais importante, do ponto de

    vista dos estudantes. Com o intuito de nos aproximarmos mais desta realidade,

    juntemos o requisito de que as questes devem de ajudar os estudantes a

    desenvolver e interiorizar conceitos que lhes permitiro sobreviver num ambiente

    em mudana muito acelerada tanto no presente como no futuro! Obviamente

    que partimos do pressuposto que um educador que vive no incio do sculo XXI,

    Neil Postman & Charles Weigrartner (1969).

    Como cientista, a minha tarefa apresentar

    alternativas e no defender qualquer ponto de vista.

    John C. Lilly (2003)

    A verdade para ser encontrada constantemente na

    simplicidade e no na multiplicidade das coisas,

    no interior do caos permanece a simplicidade,

    Katya Walter (1997)

    Este livro est estruturado em trs captulos que exploram a realidade da

    educao segundo diferentes referenciais axiolgicos, confrontando dois paradigmas.

    Face aos crescentes desafios, colocados nesta fase do percurso evolutivo da

    humanidade, resultantes de uma conjuntura complexa e multifacetada, senti um

    impulso interior muito forte para explorar o tema da educao. Fi-lo, no s porque

    assumo o papel de professor pr-activo e reflexivo, mas tambm porque sinto uma

    grande necessidade de propor um modelo que responda s necessidades e anseios

    das crianas, professores e encarregados de educao, neste momento de grande

    angstia e confuso. Basicamente este livro responde pergunta e desafio de Neil

    Postman & Charles Weingartner (1969), Teaching as a Subversive Activity, ou seja,

    ensinar tornou-se numa actividade subversiva. Mas porqu? O que aconteceu,

    quando e como nos desviamos do essencial e camos na iluso?

    Ao ler uma vasta e extensa bibliografia sobre educao senti claramente que as

    respostas no se encontram nas anlises e reflexes daqueles que apenas olham

    para o problema sob o ngulo dos conceitos especficos do universo das tradicionais

    abordagens das cincias da educao. Na verdade o problema da educao, no

    um problema da educao. O que o corpo da famlia educativa manifesta so os

    sintomas de um problema cuja raiz muito mais profunda. Dificilmente este problema

    ser resolvido com reformas educativas decretadas, ou com base em teorias da

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 8 Educao Integral

    Joao Jorge

    aprendizagem rebuscadas. O problema da educao reside numa crise de identidade

    do homem, no afastamento daquilo que o seu propsito e objectivo, na escola da

    terra e do seu verdadeiro currculo. A procura da felicidade o caminho de encontro

    consigo prprio. As respostas encontram-se na fronteira e fora da caixa, para l dos

    horizontes das nossas actuais crenas.

    13 PROJETOS QUE MUDAM A EDUCAO!" O atual cenrio educativo transparece uma profunda crise de valores e reflete uma

    tremenda crise de identidade coletiva e individual. Estamos face a um desafio que nos faz

    refletir muito sobre o sentido ou validade do ensino em si que, na minha opinio, e de muitos

    outros como eu, j perceberam h muito que chegou ao "fim da linha". Precisamos de ideias,

    modelos novos e diferentes, que transformem a escola num Centro de Expanso de

    Conscincia (CEC). Para lanar alguns elementos de reflexo sobre este tema, apresento

    alguns exemplos criativos que apontam no sentido de uma re-evoluo do modelo de ensino,

    uns diriam holstico, quntico, integral ou transpessoal:

    1. A importncia de se educar para o ser, para a vulnerabilidade - Bren

    Brown;

    2. Transferir a responsabilidade da educao para as crianas (estilos de

    ensinos centrados no aluno e no no professor) - Educao como um

    sistema auto-organizado - Sugata Mitra;

    3. Educadores e lideres inspiradores - Simon Sinek;

    4. A escola enquanto centro da psicologia positiva, do otimismo e da

    felicidade - Shawn Achor;

    5. Reinventar a educao utilizando a internet e a auto-educao ( preciso

    lembrar que a aprendizagem se d a partir de quem aprende e no de quem

    ensina) - Salman Khan;

    6. Repensar os princpios fundamentais com que educamos as nossas crianas

    - Ken Robinson;

    7. Educar pelo Jogo da Paz Mundial - John Hunter;

    8. Evoluo dos objetivos e contedos da educao fsica no sentido duma

    vinculaao marginal ou total desvinculao em relao ao desporto com a

    introduo dos jogos cooperativos e a biodinmica como formas de

    explorao e integrao da identidade pelo movimento;

    9. Escola da Ponte - Jos Pacheco - A Escola Bsica da Ponte situa-se em S.

    Tom de Negrelos, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto. A Escola

    Bsica da Ponte uma escola com prticas educativas que se afastam do

    modelo tradicional.

    10. Recompensa pela classificao (Motivao extrinseca) versus abordagem

    educativa baseada na motivao intrinseca, (desejo de fazer coisas porque

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 9 Educao Integral

    Joao Jorge

    elas importam, porque gostamos delas, porque so interessantes, porque

    so parte de algo importante) - Dan Pink.

    11. Educao Holstica - John Hardy depois de venderem a sua empresa de

    joalharia em 2007, envolveram-se num novo projecto, a Escola verde no

    bali. Nesta escola, as crianas aprendem em classes ao ar livre rodeadas por

    acres de jardins que elas cuidam, aprendem a construir em bamboo e

    preparam-se para os exames estilo britnico durante o processo.

    12. Tamera - Centro Internacional de Pesquisa para a Paz, uma escola do futuro

    e um ponto de encontro internacional de trabalhadores, oriundos de muitas

    partes do mundo, para a paz.

    13. UNIPAZ | Pierre Weil -Universidade Holstica

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 10 Educao Integral

    Joao Jorge

    INTRODUO

    Um dia, um homem resolveu procurar a felicidade.

    E fez-se ao seu caminho. Os seus primeiros passos foram leves, embalados

    pela certeza do final da sua busca:

    O cu era azul, os pssaros cantavam e a cada minuto brotava uma flor.

    Entretanto, havia algumas pedras no caminho, e rios a serem ultrapassados,

    montes a serem vencidos, porque apenas as crianas e os loucos podem acreditar

    que seja plano o caminho para a felicidade.

    Assim, houve um momento em que o homem sentiu uma pedra a magoar-

    lhe os ps; o medo tornou os seus passos, que antes leves e rpidos, passaram a

    ser pesados e lentos. E por assim ser, era maior a dor a cada pedra em que

    pisava.

    Houve um dia em que, ao passar um rio, aborreceu-se pelo obstculo no

    seu caminho. Assim, no sentiu a carcia da gua nem viu as cores dos peixes; a

    revolta ocupava todo o seu ser. E da por diante, mais difcil se tornava cada nova

    travessia.

    Noutro dia, irritou-se ao subir um monte; na sua ira, no foi capaz de ouvir o

    canto dos pssaros ou admirar as flores que brotavam ao longo do caminho.

    Agora chegava exausto ao topo de cada monte, desde aquele dia o que retardou a

    sua caminhada. As pedras, os rios e os montes eram tudo que conseguia ver;

    embora os pssaros continuassem a cantar e os botes a abrir-se em flores, ao

    seu redor.

    Como a busca se tornou infindvel, comeou a observar os caminhos dos

    outros homens; todos lhe pareciam ter menos pedras, menos rios e montes que o

    seu prprio caminho, e apesar disto, todos os outros caminhavam carrancudos

    como ele mesmo.

    Sem aviso, a Morte o colheu e o levou consigo para outros caminhos; que,

    por sua vez, o levariam a novos caminhos. Pois est escrito que o homem

    precisar caminhar sempre, enquanto no aprender a desfrutar dos seus passos.

    E enquanto se afastava do caminho que percorrera, o homem viu que a

    Felicidade se deleitava sobre a relva. Revoltado, bradou-lhe:

    1. Agora, mentirosa, surges no meu caminho? Eis que desperdicei toda a minha vida,

    consagrando-a tua procura!

    2. Sorrindo, respondeu a felicidade:

    3. De que me acusas, insensato? A mim, que durante todo o tempo caminhei a teu lado!

    Acaso no saibas que foi o meu perfume, quando o podias sentir, que te sustentou

    durante a caminhada?

    4. Tanto esperei que me descobrisses: nas flores que enfeitavam a tua estrada, nos

    pssaros que cantavam para os teus ouvidos, na gua que refrescava o teu corpo, na

    esperana que te animava para o novo dia.

    5. Dizes que me buscaste! e entretanto, recusaste ver-me, absorvido pelas pedras, rios e

    montes que existiam na tua estrada. Fechaste os teus olhos para mim, deslumbrado

    pela iluso de me ver como me imaginavas.

    6. Acreditaste que eu te traria o que julgavas que te faltasse e todavia, eu estava no que

    possuas, pois a felicidade no est na ambio, mas no amor ao que se tem.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 11 Educao Integral

    Joao Jorge

    7. No te culpes, porm: s apenas um homem e no sabeis apreciar o que tendes, mas

    apenas desejar o que vos falta. Como acreditais que exista um caminho para mim, sem

    saber que acompanho os vossos caminhos. No me deveis buscar, antes, aprendei a

    apreciar os vossos caminhos.

    Assim, eu vos encontrarei!

    Educao com Corpo e corpo com educao um projeto que tem como

    objectivo ajudar-nos a apreciar os seus caminhos, a apreciar e amar o que tm

    em vez de apenas viver a iluso da felicidade centrada na ambio de ter e fazer

    (corpo instrumento de produtividade e sofisticao). Pretende-se que as crianas e

    jovens se olhem com olhos de ver e utilizem a sua criatividade e acedam ao seu

    Mestre Interior de Verdade de forma a manifestar o seu potencial. A conscincia da

    lei da atraco permitir-lhes- obter a felicidade e prosperidade que merecem de

    forma sustentvel. Para tal tero que olhar para si prprias e para o mundo com outros

    olhos, tero que contemplar, compreender e integrar a sua realidade numa outra

    perspectiva, integrar o Quinto Elemento.

    Vivemos tempos em que a Escola a Tempo Inteiro representa o pressgio do

    fim da infncia e na qual o ensinar se torna numa actividade subversiva segundo

    Neil Postman & Charles Weingartner (1969). Qual A verdade Inconveniente da

    Educao, que todos os actores da famlia educativa, sobretudo aqueles que tm

    responsabilidades sobre os alunos, sejam eles Polticos, Professores e Encarregados

    de Educao, teimam em no querer ver? Que ingredientes faltam ao ensino para

    que as crianas Aprendam a Ser Felizes? A aprendizagem da felicidade significa a

    anttese dos conflitos educativos e sociais, significa implementar um processo de neg-

    entropia sistmica, significa introduzir uma varivel na equao que ajude a resolver o

    problema educativo e da sociedade.

    As disfunes e distores do sistema educativo podem conhecer-se atravs dos

    comportamentos e atitudes dos seus atores os quais se mostram cada vez mais

    disfuncionais. Ou seja, a construo hologrfica colectiva mostra claramente o quo

    vivemos em desamor e as crenas enraizadas transparecem uma profunda falta de

    auto-estima e crenas que nos levam a perceber que acreditamos merecer

    austeridade, escassez, tenso, dureza e desconsiderao. Ou seja, o actual estado

    social colectivo mostra profundamente o quo profundo o nosso desamor e o quo

    desligados nos tornamos da nossa natureza espiritual profunda. Ns no precisamos

    de escolas porque estas no formam, no educam, apenas perpetuam as crenas

    disfuncionais eu nos conduziram a este estado social coletivo. Ns precisamos sim de

    CENTROS DE EXPANSO DE CONSCINCIA, locais onde seja promovida uma

    transformao e conscincia e se aprenda a dominar as competncias relativas

    nossa TECNOLOGIA INTERIOR, aquela que nos permite compreender o potencial

    bio-espiritual integrado na nossa biologia. Atravs da super-radincia poderemos

    manifestar um novo holograma, um no qual a nossa realidade esteja e consonncia

    com os objectivos mais belos, harmoniosos e felizes.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 12 Educao Integral

    Joao Jorge

    Vivemos tempos de grande transformao que exigem um amadurecimento. O

    maior desafio da educao ainda est por acontecer, e ir desafiar as crenas mais

    enraizadas que aliceram o actual modelo educativo.

    A cura para a crise educativa produz-se exclusivamente a partir de uma

    doena - do Sistema Educativo - transmutada, nunca com base num sintoma

    derrotado (luta contra o desvio norma?), uma vez que cura significa que o ser

    Humano (ou a Instituio educativa) se torna so, mais completo. Cura significa

    redeno aproximao dessa plenitude de conscincia que se apelida tambm

    de iluminao. A cura consegue-se incorporando aquilo que falta, o que no

    possvel sem uma expanso da conscincia. Doena e cura so conceitos que

    pertencem exclusivamente ao campo da conscincia, pelo que jamais podero

    aplicar-se ao corpo (fisiolgico e/ou social), visto que este nunca est nem doente

    nem so. No corpo reflectem-se apenas em cada situao concreta, estados de

    conscincia, Thorwald Dethlefsen & Rdiger Dahlke (2002). Ou seja, no corpo

    docente e discente reflectem-se apenas em cada situao concreta, estados de

    conscincia. Aprender a ser feliz corresponde a um investimento numa

    modificao dos estados de conscincia.

    A felicidade tornou-se uma utopia no nosso sculo. Nem sempre os homens

    situam a sua realizao no plano do bem ou da felicidade. Contentam-se com

    objectivos mais prximos e mais imediatos. Para alguns o critrio o da utilidade:

    fazem o que lhes d lucro ou proveito para os seus objectivos. Para outros o critrio

    o prazer. Faz-se o que d satisfao e evita-se o que desagradvel. A felicidade

    integra a dimenso da utilidade e do prazer, mas selecciona o que til ou d prazer

    em funo de valores elevados, valores espirituais. A felicidade acontece na

    apreciao do caminho e no apenas como consecuo dos desejos. A felicidade

    acontece no reencontro connosco, na tomada de conscincia e na concretizao do

    nosso propsito. A felicidade uma aco que faz o Homem, que o forma em funo

    da imagem que tem de si, que o faz atingir a plenitude da sua dimenso humana como

    reflexo da sua contraparte espiritual. Significa que as suas realizaes exteriores

    devem estar em consonncia com o seu projecto interior (espiritual) de ser, significa

    que no deve deixar que as ocupaes exteriores abafem a sua interioridade, mas

    antes recebam dela o seu significado e o seu valor.

    As solues para a actual crise social e educativa devem ser procuradas atravs

    de um contacto ntimo com a nossa realidade interior, essa sabedoria residente

    inspiradora. Isto significa que, as solues para a actual crise educativa pressupem

    um amadurecimento do actual modelo paradigmtico que representa um desvio do

    caminho da felicidade, exacerbando o apego iluso e falsa noo de felicidade.

    Para tal, fundamental ter coragem para nos despirmos de preconceitos e retirar os

    nossos espartilhos mentais que condicionam a nossa liberdade de expresso e de

    auto-realizao. Este livro apresenta alternativas e argumentos que nos ajudam a

    compreender o potencial disponvel, e as ferramentas de promoo de uma profunda

    transformao da nossa realidade em funo de uma sociedade mais justa,

    equilibrada, harmoniosa e prspera, que respeite tudo aquilo que no tem respeitado.

    A dimenso educativa passa a ser da responsabilidade de cada um de ns,

    assumindo consciente e autonomamente o potencial soberano de auto-realizao e

    auto-educao, sob a orientao do Mestre Interior de Verdade.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 13 Educao Integral

    Joao Jorge

    Na minha opinio, o objectivo ltimo da educao deve ajudar as crianas na

    descoberta e domnio das ferramentas e instrumentos necessrios e teis, que lhes

    permitam serem felizes, ou seja, realizarem-se segundo vrias dimenses. As

    orientaes e instrumentos que lhe so dadas pelo processo de enculturao,

    desviam a ateno do essencial para o suprfluo, e criam a imagem de um mundo

    cheio de lobos maus, dificuldades, factores de risco, obstculos, complexidade e

    sofrimento. Porm, a proposta explorada ao longo deste livro, mostra que o caminho

    para a felicidade, os instrumentos e o potencial para a alcanar, residem dentro de

    cada um de ns, espera de ser reconhecido. S existe um obstculo felicidade,

    ns prprios. A descoberta da nossa verdadeira identidade e o que isso implica, a

    chave para a felicidade. A sua aceitao pressupe a integrao da nossa sombra e a

    chave reside na inteligncia do centro cardaco e na sua funo ltima, o amor.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 14 Educao Integral

    Joao Jorge

    CAPTULO I EDUCAO SEM CORPO

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 15 Educao Integral

    Joao Jorge

    1.1 - EMPREITADA EDUCATIVA.

    1.1.1 - REFINAR A FARINHA:

    A princpio, o gro era triturado entre duas pedras. A prpria energia do homem

    era dispendida para transformar o gro em farinha. Bolos e pes eram feitos de

    farinha. No instante em que o gro transformado em farinha, a sua energia natural

    ou a sua fora vital (no importa se lhe chamamos nutrientes, vitaminas ou enzimas),

    reduzida. Uma vez o gro pulverizado, ele no mais germinar, no poder

    reproduzir-se.

    Os moinhos movidos a energia humana foram substitudos por moinhos de gua.

    Ento, os cruzados introduziram o moinho de vento importados das terras rabes.

    Posteriormente, as pedras seriam substitudas por esteiras de ao, a gua

    tornou-se vapor e, depois electricidade. A potncia aumentou e as farinhas tornaram-

    se cada vez mais REFINADAS. Aquilo que chamada civilizao (separao da terra),

    avanava. Cada vez se usava mais energia para remover a fora vital dos gros,

    triturando, moendo e peneirando, inicialmente em peneiras de l, que seriam

    substitudas pelas de linho e, finalmente, por redes de seda. As pessoas comem

    farinhas refinadas e tornam-se pessoas refinadas! Cada vez mais se removia maiores

    pores dele, a comear pelo germe ou semente. Se os gros de trigo cados entre as

    esteiras fossem plantados na terra, um gro daria origem a muitssimos outros. O

    produto final do processamento do gro, a farinha, era, contudo morta. Esta apodrecia

    se fosse colocada no solo porque a sua energia vital fora extrada, perdida,

    assassinada, gasta. Assim, os alimentos derivados desta farinha morta, precisam de

    corantes e conservantes qumicos. So dispendidas quantidades enormes de energia

    pelos departamentos de venda e marketing para vender estes produtos derivados, em

    caixas meio vazias, de comida morta. Associam cupes que do prmios e brindes

    aos produtos para aliciar as pessoas refinadas a comprar estas caixas meio-vazias,

    das prateleiras dos supermercados. At onde que vai a nossa necessidade de

    requinte e refinamento (automveis, casas, mobilirio, utilitrios, comodidades

    refinadas) qual o preo que estamos a pagar por esta corrupo?

    A Sofisticao da farinha (sofisticar significava corromp-la), significa estrag-

    la, adicionando-lhe substncias estranhas ou inferiores. A palavra sofisticar

    eventualmente sairia de moda e foi substituda por adulterar, que por sua vez cedeu

    lugar branda descrio quantitativa de substncias inferiores como aditivos.

    Hoje somos to sofisticados, a nossa comida est to desvirtuada, que os

    nossos sofisticadores nos fazem cair num mal entendido. Ser que a comida precisa

    ser fortificada ou enriquecida? Por que razo refinar a farinha e depois enriquec-

    la? O processo de refino retira muitos elementos vitais do gro, isso tudo em nome do

    progresso. Progresso sinnimo de adulterao, de afastamento da simplicidade e

    equilbrio da natureza.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 16 Educao Integral

    Joao Jorge

    1.1.2 - REFINAR O ENSINO:

    Os Rios So Rios:

    Na maior parte das situaes do quotidiano, a aprendizagem no chega a ser um

    problema. O leigo aceita sem questionar que aprendemos atravs da experincia e

    no v nada de problemtico na aprendizagem. Por toda a histria da humanidade as

    pessoas aprenderam, e na maioria dos casos, sem se preocupar com a natureza do

    processo. Os pais ensinaram aos filhos, os oficiais de uma profisso ensinaram os

    seus aprendizes. Os que ensinaram sentiam pouca necessidade de conhecer uma

    teoria da aprendizagem. O ensino consistia em dizer e mostrar como, elogiar quando

    o aluno ia bem e castig-lo quando ia mal. Contudo, este ir bem ou mal depende do

    consenso de realidade que imperava. O professor simplesmente ensinava como havia

    sido ensinado quando jovem.

    Os Rios deixaram de ser rios:

    Quando foram criadas as escolas (Moagem Refinamento), como ambientes

    especiais para facilitar a aprendizagem, ensinar deixou de ser uma questo to

    simples. As matrias ensinadas na escola eram diferentes dos assuntos aprendidos na

    rotina da vida de uma tribo ou da sociedade. Para as crianas, dominar as matrias

    escolares (linguagem, leitura, aritmtica, lnguas estrangeiras, geometria, histria ou

    qualquer outra), parecia uma tarefa completamente diferente das que a vida diria

    oferecia. As pessoas (crianas, jovens e adultos), frequentam modelos pedaggicos

    refinados e tornam-se refinadas, Educadas mas adulteradas, Corrompidas.

    Segundo Bodgan Suchodolsky (1984) at ao presente e de certo modo, a Educao

    serviu de ornamento ao homem que desejava brilhar na sociedade graas a tal enfeite,

    no ensinou o homem a viver a vida real. O seu valor para a vida prtica parecia

    pouco claro. Tais matrias, cuja utilidade imediata no bvia, apresentam-se aos

    alunos como muito diferentes dos ofcios e habilidades que precisam ser

    desenvolvidos no dia-a-dia da vida social, econmica e poltica.

    Assim que a educao se formalizou nas escolas, os professores

    consciencializaram-se de que a aprendizagem na escola , frequentemente muito

    ineficiente (Adulterar). O contedo a ser aprendido pode ser apresentado aos

    alunos inmeras vezes sem resultados palpveis. Muitos estudantes mostram-se

    desinteressados, outros tornam-se rebeldes, ou ainda passivo-agressivos - Jos M.

    L. Diogo (1998), trazendo srios problemas para os professores.

    A Sofisticao (sofisticar o ensino: literacia, novas tecnologias), significa

    corromp-lo ou estrag-lo, adicionando-lhe ritmos estranhos e acessrios ou

    extenses (desrespeitando a cronobiologia e a tecnologia Interior), e

    consequentemente muitas vezes as salas de aula assemelham-se a campos de

    batalha onde professores e alunos fazem guerra Morris L. Bigge (1971), uns contra os

    outros alimentando os Conflitos da Educao, L. D Hainaut, (1980).

    A Educao resultante desta educao morta precisa de corantes pedaggico-

    didcticos (Cosmtica), e conservantes legais decretados.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 17 Educao Integral

    Joao Jorge

    Tal estado de coisas pode vir a ser considerado como facto consumado por

    professores, alunos e pais que, consequentemente, acham natural que os jovens no

    gostem da escola (Neofobia) e tentem resistir aprendizagem acadmica. Em

    decorrncia, assumem que isso apenas mais um dos factos desagradveis da vida:

    as crianas e os jovens aprendem pouco na escola.

    Quando ensinar deixou de ocorrer no colo das mes para se processar num

    ambiente formal planejado especificamente para promover a aprendizagem, foi

    inevitvel que um pequeno grupo de pessoas comeasse a especular se realmente as

    escolas estariam a conseguir os melhores resultados possveis.

    Psiclogos e educadores, analisando criticamente as prticas escolares,

    verificaram que o desenvolvimento de correntes de pensamento em Psicologia, mais

    ou menos sistemticas, oferecia um instrumento para a cristalizao do seu

    pensamento. Cada uma dessas correntes continha, explcita ou implicitamente, uma

    teoria da aprendizagem. Por outro lado, cada teoria da aprendizagem tinha, implcito,

    um conjunto de prticas escolares. Portanto, o modo pelo qual um educador elabora

    um currculo, selecciona material e escolhe as suas tcnicas de instruo, depende

    em muito de como ele define a aprendizagem. Portanto, uma teoria da aprendizagem

    pode funcionar como um instrumento de anlise e os seus seguidores podem us-la

    para avaliar a qualidade de uma determinada situao na sala de aula.

    1.1.3 INFORMAO, CONHECIMENTO OU SABEDORIA?

    Uma das maiores armadilhas colocada aos homens foi o poder do capitalismo

    financeiro nas mos privadas, capazes de dominar o sistema poltico de cada pas e a

    economia de todo o mundo, atravs da criao de um sistema mundial de controlo

    financeiro. Este terceiro estgio do capitalismo possui uma to significativa importncia

    na histria do sculo XX, e as suas ramificaes e influncias so to subterrneas e

    at ocultas, que passam por um dos maiores benefcios de riqueza e prosperidade

    para a humanidade. Este sistema foi criado com o intuito de controlar de uma forma

    feudalista, pelos bancos centrais do mundo, que agem em consonncia, atravs de

    acordos secretos em reunies tambm elas sigilosas. Estes poucos, manipulam a

    actividade econmica nos pases e influenciam os polticos coorporatizados atravs de

    recompensas econmicas no mundo dos negcios, escreve William Bramley (1989),

    The Gods of Eden. Deitem fora tudo o que pensem que sabemos sobre histria.

    Fechem os livros escolares aprovados, encerrem os mass media corporatizados, e

    tudo o que fizermos, no confiem em nada que escutem do vosso governo, afirma Jim

    Marrs (2008) um jornalista premiado do New York Yimes. Jos Argelles (1996), O

    Chamado de Pacal Votan afirma mesmo, a democracia um logro e tem como

    finalidade manter-nos na iluso do poder e da segurana. As instituies

    Governamentais e monetrias so o resultado de um construto mental, e como

    qualquer pensamento, os conceitos dinheiro e Governo so uma iluso. Os

    Governos existem como resultado da crena de que os humanos no so

    suficientemente inteligentes, bons ou fortes para cuidar de si mesmo. A prpria noo

    de Governo , definitivamente, despotencializadora, negando o potencial da

    autonomia genuna ou soberania individual, afirma Jos Argelles (1992). O

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 18 Educao Integral

    Joao Jorge

    documentrio Inside Job mostra claramente os meandros do poder deste

    capitalismo e o reflexo irresponsvel sobre a sociedade e a atual crise:

    Atravs de uma pesquisa extensiva e entrevistas com economistas, polticos e

    jornalistas, "Inside Job - A Verdade da Crise", mostra-nos as relaes corruptas

    existentes entre as vrias partes da sociedade. Narrado pelo actor Matt Damon e

    realizado por Charles Fergunson, este o primeiro filme que expe a verdade

    acerca da crise econmica de 2008. A catstrofe, que custou mais de $20 trilies,

    fez com que milhes de pessoas tenham perdido as suas casas e empregos.

    Daniel Goleman (2003) faz meno do trabalho de investigao de Urie

    Bonfrenbrenner. Na ausncia de bons sistemas de apoio, as presses externas

    tornam-se to intensas que at as famlias mais fortes esto a desmoronar-se. ()

    A agitao e instabilidade expem as crianas, particularmente vulnerveis, a

    foras to disruptivas como os efeitos devastadores do divrcio, da pobreza e do

    desemprego. () Estamos a privar milhes de crianas das suas competncias e

    do seu carcter moral. () A competio a nvel internacional fez baixar os custos

    de mo-de-obra criando foras econmicas que pressionam as famlias.

    Famlias financeiramente sitiadas; Ambos os pais trabalham longas

    horas; Filhos deixados em creches mal dirigidas que equivale ao abandono,

    entregues a si mesmos ou a ver televiso (Baby sitter electrnica) ; Famlias

    monoparentais () A eroso dessas incontveis e pequenas trocas (afectos /

    amor), entre pais e filhos que esto na origem das competncias emocionais.

    O poder do capitalismo tornou-se no patro da educao, e as reformas

    educativas visam colocar a escola, cada vez mais, ao servio da economia em

    detrimento do Homem. Actualmente j no so os psicopedagogos, os filsofos ou

    neurocientistas e outros investigadores que determinam os modelos educativos, so

    os economistas. Ou seja, o secular dilogo de tese e anttese da Pedagogia da

    Essncia versus Existncia retratadas por Bogdan Sushodolski (1984), A Pedagogia e

    as Grandes Correntes Filosficas, foram substitudas pela Pedagogia do Capitalismo,

    tempo dinheiro. As teorias da aprendizagem foram substitudas pelas teorias da

    informao enquanto ramo da teoria da probabilidade e da matemtica estatstica,

    Claude E. Shannon. A escola e os actores da famlia educativa so agora entendidos

    como sistemas de processamento de informao onde a memorizao de grandes

    quantidades de conceitos (vocabulrio) se confunde com erudio, e a retrica e

    demagogia substituram a procura da verdade. Tudo na educao se tornou numa

    questo matemtica e estatstica, tudo foi quantificado, categorizado e taxonomizado.

    Na era da informao, tornamo-nos em capital intelectual, meros recursos

    humanos. A mudana de uma economia baseada no trabalho e capital, para uma

    outra de informao, requer trabalhadores literados que saibam como interpretar essa

    informao para alm da leitura, escrita e aritmtica. A utilizao de trabalho

    temporrio aumentar, bem como os nosso receios sobre a chamada precaridade

    laboral. Este cenrio aumentar a instabilidade, a impermanncia e os medos dos

    cidados. Vladimir Muzhesky, On perceptual Economy: subversive tendencies in

    simulations afirma que toda a economia se baseia na dissociao que ocorre a nvel

    neurolgico entre o processamento espacial e textual: o espao visual dissecado e

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 19 Educao Integral

    Joao Jorge

    quando reconhecido como tal pode ser embalado e vendido. O mundo

    transforma-se em metforas. Os geradores psicotrnicos so unidades as quais,

    por definio, relacionam-se com a actividade do sistema nervoso humano com o

    intuito de modificar a sequncia do seu comportamento a um nvel individual e

    colectivo. Para se compreender a dinmica desta programao mental informativa

    basta analisar como so construdos os mapas e funes cognitivos a luz da

    psicologia cognitiva. A noosfera transformada numa tecnosfera ou ciberesfera, um

    mundo sinttico de iluso que tolda a percepo humana Matrix.

    Esta filosofia mecanicista v a humanidade como um mecanismo de relojoaria e

    Deus um relojoeiro csmico, Philip Ball (2004), Massa Crtica. Esta viso

    desenvolvida por um crculo de filsofos mecanicistas esteve na base dum conjunto de

    crenas que viriam a dominar a organizao social at aos dias de hoje. Thomas

    Hobbes, Leviat, foi o primeiro a procurar uma fsica da sociedade o que levou a

    tratar as pessoas como se fossem apenas pores de matria inanimada ou

    recursos humanos, e a modelao da sociedade baseada na fsica estatstica.

    Definiu o poder como a capacidade de assegurar bem-estar ou vantagem pessoal.

    Assim, o modelo de sociedade de Hobbes gira em torno da suposio de que as

    pessoas procuram acumular poder at um nvel pessoal de saciedade que varia entre

    indivduos, Philip Ball (2004).

    Crenas:

    A vida a procura de poder, Thomas Hobbes;

    O homem como mquina de prazer, economista Francis Edgeworth;

    O trabalhador um comerciante que comercializa o seu tempo e suor, Adam Smith;

    O capitalista procura o lucro;

    O dinheiro a chave da liberdade, Economista Austraco Friederich von Hayek;

    As teorias sociais abordam a realidade da paisagem scio-cultural numa

    perspectiva de comrcio e distribuio da riqueza. Contudo, a prpria noo de

    riqueza est contaminada por preconceitos, atribuindo-lhe uma conotao materialista

    desviando e substituindo o objectivo da humanidade de um pressuposto de evoluo

    espiritual por outro no domnio do realismo materialista. O objectivo ltimo do

    homem foi reduzido actividade laboral e a mxima aspirao humana a

    ascenso na carreira e a acumulao de bens materiais que lhe do um estatuto de

    distino e poder. A educao tornou-se num instrumento privilegiado de doutrinao

    e de manipulao dos cidados.

    lvaro Almeida dos Santos e colaboradores (2009), no seu livro Escolas do

    futuro, 130 boas prticas de Escolas Portuguesas revelam as boas intenes,

    dedicao e vontade de contribuir positivamente no sentido de uma melhoria da

    realidade educativa e social. Porm, as escolas e os seus actores esto limitados e

    condicionados na sua capacidade inovadora e reflexiva, porque se encontram refns

    de um paradigma que bloqueia a sua percepo e o seu caminho rumo a uma

    verdadeira maturidade educativa e social.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 20 Educao Integral

    Joao Jorge

    Noutro nvel da hierarquia da tomada de decises, acredita-se que o objectivo da

    poltica prtica rodear qualquer sociedade com o maior nmero possvel de

    circunstncia nas quais as tendncias sejam benficas e retirar, contrariar ou

    combater, tanto quanto for praticvel, aquelas em que as tendncias sejam

    prejudiciais. Um conhecimento apenas das tendncias, embora sem o poder de prever

    com correco o seu resultado conjunto d-nos, at um grau razovel, esse poder. No

    entanto, as transformaes impostas, decretadas ou dirigidas pelo exterior no

    conquistam resultados palpveis, consistentes e duradouros porque vem o Homo

    economicus e no o Homem luminosus. O homo economicus rege-se pelo medo dos

    ritmos e ciclos econmicos de expanso, retraco e da recesso, a mo trmula

    oculta da economia, e o homo luminosus orienta-se pelo amor e navega na

    impermanncia livre e graciosamente. O Homo economicus procura optimizar o

    comportamento social guiado pelo impulso de minimizar o esforo, o tempo, a

    distncia, ou maximizar o lucro e a pseudo-felicidade segundo a lei do menor esforo

    de Zipf. No entanto, por debaixo da superfcie maquilhada da lei e da ordem social

    existe uma forte presso colectiva, de desconfiana mtua pronta a emergir em

    momentos de crise. A crise de identidade e de Conscincia Espiritual do homo

    economicus torna-o dependente e vulnervel aos comportamentos de massa porque

    coexiste numa paz podre. A privao social, a dureza das condies de vida, os

    baixos nveis salariais e as taxas de desemprego podem ser consideradas foras

    impulsionadoras para o aumento da manifestao das tenses latentes em conflitos

    sociais emergentes. Na verdade, toda a sociedade que conhecemos apoia-se numa

    ordem fictcia, numa falsa harmonia porque ao menor sinal de adversidade e de

    provao social, manifestam-se os medos e ressentimentos no resolvidos da

    sombra, que deterioram os laos que nos unem. As foras das atitudes sociais e os

    valores da famlia so manipuladas e modelados pela poltica econmica que

    procura maximizar a vantagem conjugal em funo dos incentivos e benefcios

    econmico-estatsticos dos subsdios atribudos. As prprias relaes humanas e os

    laos estabelecidos na rede social flutuam em funo das vantagens e

    oportunidades econmicas e no em funo do crescimento espiritual individual e

    colectivo, de uma verdadeira revoluo interior.

    Com base no estudo desenvolvido por Robert Axtell e Joshua Epstein, do

    Instituto de Brookings, Sugarscape que se assemelha ao jogo SimCity cujo

    objectivo construir e manter uma cidade inteira, podemos tirar vrias elaes. Neste

    jogo tem-se a oportunidade de fazer de Deus. Sugarscape serviu como um campo de

    ensaios genricos para as teorias sociais. Verificaram que o comrcio distorce a

    distribuio da riqueza, pelo que a maioria dos agentes pobre enquanto um

    pequeno nmero deles acumula enormes riquezas. O Cientista Social George

    Kingsley Zipf demonstrou na dcada de 1930, esse comportamento em lei de

    potncias. Ou seja, os ricos ficam mais ricos porque existem diferenas de acesso

    ou no controlo dos recursos num mercado livre, resultando num nmero significativo

    de acontecimentos extremos: indivduos muito ricos ou empresas enormes

    (corporaes que controlam o mundo). Esta inevitvel assimetria na distribuio

    das riquezas como uma consequncia inevitvel do modelo economicista serve

    principalmente a busca de poder de uns poucos sobre a maioria, e transforma a

    agenda poltica em meras declaraes de inteno contaminadas a-priori, por um

    modelo falacioso dominado por um punhado de indivduos com intenes duvidosas.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 21 Educao Integral

    Joao Jorge

    O Sugarscape apenas um exemplo de uma ampla gama de sistemas baseados em

    modelos computacionais que procuram fornecer uma compreenso do modo como as

    estruturas sociais, as instituies, os comportamentos e as tradies emergem de

    baixo para cima, ou seja, da forma como os indivduos interagem localmente uns com

    os outros. Estas interaces de redes sociais podem ser orientadas atravs da

    enculturao impressa na programao escolar. No entanto, dificilmente se pode

    esperar que esses modelos constituam uma base slida da definio de polticas, at

    que sejamos capazes de distinguir o que acidental daquilo que robusto.

    Principalmente falta-nos a linguagem que permite compreender a Tecnologia Interior e

    a Cincia da Inteligncia do Centro Cardaco. () os factos apontam para uma

    instituio poltica que hoje consideraramos intolervel e mais capaz de contribuir

    para a misria humana do que diminui-la, um aviso em relao dificuldade em

    escapar s tendncias dos tempos em que se vive, por mais cientficos que tentemos

    ser, Philip Ball (2004).

    A certeza da avaliao:

    Acredita-se (Preconceito) que os dados tornam visvel o invisvel, revelando

    pontos fortes e fracos, que so facilmente ocultados. Os dados Promovem a certeza e

    a preciso, algo que aumenta a confiana dos professores nas suas prprias

    capacidades, Tucker & Stronge (2005). Vende-se a imagem que os docentes eficazes

    possuem motivao no actual sistema e como tal acreditam na avaliao como um

    barmetro do sucesso e uma ferramenta motivadora; a avaliao faz parte integral

    da instruo. Crena que os professores verdadeiramente eficazes CONTROLAM a

    aprendizagem escolar do aluno de forma contnua, e utilizam a informao para

    melhorarem a sua prpria prtica docente. Acredita-se inquestionavelmente que a

    educao se tornou uma ferramenta importante para a alfabetizao e riqueza de um

    pas, capital intelectual, contribuindo para um bom ndice de Desenvolvimento

    Humano. A partir do momento em que as escolas produzem educao para a

    sociedade e no para os indivduos ou famlias, a funo de certificao da escola

    passa a ser objecto de estandardizao e de um controlo apertado. Assim, o ritual da

    classificao, assume uma evidente centralidade e a utilizao de categorias

    estandardizadas de alunos passa a constituir um dos requisitos essenciais, Virgnio

    S (1997). Ao aceitar e privilegiar a certificao e a seleco, sobrepondo-as s suas

    funes iniciais, a escola no s se adulterou por completo como perdeu toda a

    capacidade de inovao e criatividade. Os professores ficam pressionados e

    sentem que a sua primeira responsabilidade no preparar os alunos para a

    vida mas recolher os elementos, as informaes para dar notas no fim do

    perodo e, no fim do ano, para decidir quem passa e quem reprova. Um professor

    poder no fazer nada durante o ano, poder subverter por completo os objectivos da

    sua disciplina e at mesmo a escola, mas se der as notas no momento certo est tudo

    salvo, cumpriu a primeira funo que lhe exigem. E se der notas altas para premiar os

    virtuosos e notas baixas para punir os incapacitados, os indisciplinados,

    desobedientes e rebeldes, a sua eficcia total, Baptista (1999).

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 22 Educao Integral

    Joao Jorge

    O melhor aluno ser o mais apto, o mais inteligente? No, o que melhor aceita

    a lgica da escola. Na tipologia de Weiss (1986) citado por Baptista (1999), parece

    ser muito mais o aluno aplicado e disciplinado, que no se dissocia do submisso, do

    que o aluno activo, socivel e inteligente, a menos que a inteligncia seja orientada

    no sentido de agradar ao professor, de melhor captar as suas expectativas.

    Muitos alunos sem sucesso na escola, tiveram maior sucesso na vida porque,

    embora altamente dotados, recusaram este esprito competitivo, tantas vezes

    doentio e desleal, contrariando frontalmente a prpria funo (des)educativa. Outros,

    simplesmente, no tendo condies ou meios para um lugar honroso, preferem

    abandonar, a suportar indefinidamente a mediania ou a mediocridade com a qual no

    se conformam (Rankings e/ou quadros de Honra). A crise da escola em todo o mundo,

    o mal-estar que afecta os professores, os alunos e os pais, decorre essencialmente da

    subverso das funes iniciais, do seu total desajustamento actual face s

    profundas transformaes sociais e sobretudo espirituais, desmotivando uns e

    outros, e conduzindo a nveis de eficcia irrisrios face aos crescentes investimentos

    que absorve. Numa sociedade da informao e do conhecimento, o saber j no

    (nem nunca foi na verdade), uma prerrogativa concedida apenas por instituies

    formais, Roberto Carneiro (2001). Por isso imperativo descentralizar a Educao e

    flexibilizar os projectos educativos, entregando-os a Comunidades Auto-Educativas,

    auto-sustentaveis. Educar para o desenvolvimento humano mais um tema do

    relatrio da UNESCO (1996) e a pode ler-se que, um dos principais papis reservados

    educao consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de

    dominar o seu prprio desenvolvimento. imperativo perguntar o que se

    entende por desenvolvimento.

    A educao deve, de facto, fazer com que cada um tome o seu destino nas

    mos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, baseando no

    desenvolvimento na participao responsvel dos indivduos e comunidades.

    Assim, uma educao que contribua para o desenvolvimento Humano, como

    vem no relatrio da UNESCO (1996), assume que um desenvolvimento responsvel

    no pode mobilizar todas as energias sem um pressuposto: fornecer a todos, o mais

    cedo possvel, o passaporte para a vida, que os leve a compreender-se melhor a si

    mesmos e aos outros e, assim, a participar na obra colectiva e na vida em sociedade.

    O desenvolvimento visa a realizao do ser enquanto tal, e no enquanto meio de

    produo. O desenvolvimento entendido pela UNESCO pressupe a auto-

    conscincia, e a libertao do poder neo-escravizador da economia.

    A sabedoria existe fora da caixa (quadro de referncias), na fronteira da caixa est o conhecimento, e dentro da caixa a informao. Onde est a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde est o conhecimento que perdemos na informao? T. S. Eliot (1934).

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 23 Educao Integral

    Joao Jorge

    Ao nos tornarmos profissionais competentes, esquecemos o amor pelo que

    fazemos. Contudo, aliada a uma elevada competncia tcnica/racional (QI) est uma

    maior incompetncia emocional (QE), patente nos conflitos sociais, educativos,

    familiares, que se multiplicam e reflectem a falta de paz e harmonia interior. Atravs da

    educao refinada tornamo-nos adultos educados mas adulterados.

    O que a felicidade?

    A definio de Felicidade do dicionrio refere o estado de quem feliz; ventura;

    boa fortuna; dita; sorte; bom xito; contentamento. A felicidade rene em si um

    conjunto de pressupostos como prosperidade, sade, bem-estar, satisfao, prazer,

    alegria, realizao pessoal e profissional. Ns convencionamos que a felicidade

    depende da conquista de um conjunto de bens materiais, segurana e de

    estabilidade relacionadas com pressupostos materiais. Vejamos qual o perfil de

    orientao felicidade dos Portugueses num estudo desenvolvido por Manuel

    Villaverde Cabral (1997), Doutorado em Histria e investigador do Instituto de Cincias

    Sociais da Universidade de Lisboa, Cidadania Poltica e Equidade Social em

    Portugal: no perfil de orientao felicidade em Portugal surge o ter Dinheiro em

    segundo lugar logo a seguir a Boa vida conjugal para o sexo feminino e, em primeiro

    lugar, para o sexo masculino. Ter sade surge em terceiro lugar para ambos os

    sexos. Estes dados representam a realidade de h treze anos atrs, contudo acredito

    que os valores que orientam as nossas vidas, os objectivos e prioridades que

    estatelemos no se alteraram muito, excepto as dificuldades que enfrentamos, e o

    caos social, econmico e ambiental que nos afasta cada vez mais da felicidade, e

    acentua a angstia e o desespero.

    Perguntaram ao Dalai Lama o que mais o surpreendia na humanidade?

    REPOSTA: Os homens! Porque perdem a sade para juntar dinheiro (+),

    depois perdem dinheiro (-), para recuperar a sade. E por pensarem

    ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por no

    viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer, e

    morrem como nunca tivessem vivido.

    Os desvios que fizemos, relativamente felicidade, esto patentes num texto de

    resposta do chefe Seatle, distribudo pelo Programa Ambiental das Naes Unidas,

    que tem sido considerado, atravs dos tempos, como um dos mais belos e profundos

    pronunciamentos j feitos, a respeito da defesa do meio-ambiente, e que retrata as

    consequncias do nosso perfil de orientao felicidade. Esta foi a resposta deste

    ndio no ano de 1854, ao presidente dos Estados face proposta de comprar grande

    parte de suas terras, oferecendo, em troca, a concesso de outra "reserva".

    Como que se pode comprar ou vender o cu, o calor da terra? Essa ideia

    parece-nos estranha. Se no possumos a frescura do ar e o brilho da gua, como

    possvel compr-los? Cada pedao desta terra sagrado para meu povo. ()

    Se lhes vendermos a terra, vocs devem lembrar-se de que ela sagrada, e

    devem ensinar s suas crianas que ela sagrada e que cada reflexo nas guas

    lmpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranas da vida de meu povo.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 24 Educao Integral

    Joao Jorge

    () Se lhes vendermos a nossa terra, vocs devem lembrar e ensinar os vossos

    filhos que os rios so nossos irmos, e vossos tambm. () Sabemos que o

    homem branco no compreende os nossos costumes. Uma poro de terra para

    ele, tem o mesmo significado que qualquer outra coisa, pois um forasteiro que

    vem noite e extrai da terra, aquilo que necessita. A terra no sua irm, mas

    sua inimiga e, quando ele a conquista, prossegue o seu caminho. Deixa para trs

    os tmulos dos seus antepassados e no se incomoda. Arranca da terra aquilo

    que seria dos seus filhos e netos. A sepultura do seu pai e os direitos dos seus

    filhos so esquecidos. Trata a sua me, a terra, e o seu irmo, o cu, como coisas

    que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites

    coloridos. O seu apetite devorar a terra, deixando somente um deserto. Eu no

    sei, os nossos costumes so diferentes dos vossos. A viso das suas cidades fere

    os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho um

    selvagem e no compreenda. () H uma ligao em tudo. Vocs devem ensinar

    s vossa crianas que o solo a seus ps a cinza dos nossos avs. Para que

    respeitem a terra, digam a vossos filhos que ela foi enriquecida com as vidas do

    nosso povo. Ensinem s vossas crianas o que ensinamos s nossas, que a terra

    nossa me. Tudo o que acontece terra, acontecer aos filhos da terra. Se os

    homens cospem na terra, esto a cuspir em si mesmos. Isto sabemos: a terra no

    pertence ao homem: o homem pertence terra. Isto sabemos: todas as coisas

    esto ligadas como o sangue que une uma famlia. H uma ligao em tudo. O

    que ocorrer com a terra recair sobre os filhos da terra. O homem no tramou o

    tecido da vida; ele simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido,

    far a si mesmo. () A terra -lhe preciosa e feri-la desprezar o seu criador. Os

    brancos tambm passaro: talvez mais cedo que todas as outras tribos.

    Contaminem as vossas camas, e uma noite sero sufocados pelos prprios

    dejectos. () Onde est o arvoredo? Desapareceu. Onde est a guia?

    Desapareceu. o final da vida e o incio da sobrevivncia.

    Viktor Schauberger (1885-1958) afirmou que as pessoas consideram-me

    louco. Isso pode ser verdade, mas neste caso isso no tem importncia porque

    assim existe mais um imbecil neste mundo. Contudo, se eu estiver correcto e as

    cincias estiverem enganadas, ento que o Senhor tenha misericrdia da

    humanidade!.

    Existe um n cego na atitude cientfica, a qual declara que, se a utilidade de

    algo no est provada ou compreendida ento no existe, Katya Walter (1997).

    Os imprios nascem, vivem e morrem como as pessoas, acabando engolidos

    pela voragem do tempo, vtimas do seu prprio apetite, pois j nascem contendo,

    em letargia, os factores da prpria destruio. exactamente o que ir acontecer

    ao imprio capitalista porque no respeita princpios e valores universais

    fundamentais.

    1.1.4 O PARADOXO LUSITANO.

    A nossa demanda pela felicidade, acarretou enormes consequncias e custos

    humanos: A posio portuguesa paradoxal na Europa: somos os campees do

    desejo de independncia pessoal, mas depois no concretizamos a vontade de

    empreender. Segundo o ltimo Eurobarmetro da Comisso Europeia, 62% dos

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 25 Educao Integral

    Joao Jorge

    portugueses pretendem ser independentes economicamente, desejariam ser

    patres de si prprios, mas no tm coragem de dar o passo empreendedor,

    porque 62% tm medo de falhar e 82% alegam falta de apoio financeiro. Apesar

    de s 32% quererem ser empregados por conta de outrem, a vontade de corte no

    passa prtica em Portugal. A cultura da dependncia , ainda, muito forte no

    nosso pas. No por acaso que apenas acreditamos que o nosso

    desenvolvimento tenha que ser sustentado (ENDSustentado).

    Ser que A Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentado (ENDS) a

    soluo para os nossos problemas, ou devemos privilegiar a A cura do medo de

    falhar?

    O filsofo Jos Gil, tido como um dos grandes pensadores mundiais da

    actualidade, logo e obrigatoriamente uma figura ou um intelectual de relevo da nossa

    cultura, analisa a alma lusitana no seu livro Portugal, Hoje - O Medo de Existir, e

    toda a actual e antiga conjuntura que levaram o nosso pas e as nossas gentes ao

    actual e miservel estado de pessimismo em que o pas est atolado.

    Num ensaio/artigo intitulado o medo na revista Viso de 3 de Maio pode ler-

    se: () medo e submisso. () No assim que se fomentam espritos livres.

    fora () de segregar mais obedincia quando se diz querer mais criatividade e

    inovao, de produzir mais confuso, irracionalidade em nome da racionalidade da

    modernizao, esquece-se que s existe inveno, inovao, produo criativa

    deixando margem para o imprevisvel, o inavalivel, a irrupo da singularidade.

    Em Portugal nada acontece. Vivemos paralisados pelo medo da energia dos

    outros, pelo medo de no ter uma boa imagem, pelo medo de no estar altura".

    () O medo de existir (), vem de muito antes do salazarismo, do antigo regime!

    Mas de onde, concretamente?. () Herdmos, do passado, esse medo de existir:

    tanto em relao ao poder estabelecido, como em confronto com os nossos

    semelhantes (concidados...).

    Jos Gil afirma que o que a est, diante de ns, na maior parte das situaes,

    o que eu chamo o poder seco, o poder divorciado do saber!....

    Paramahansa Yogananda afirma que o homem que separou a mente da alma,

    no pode manifestar um verdadeiro discernimento.

    Jos Gil peremptrio em afirmar que se Esto a tomar uma srie de medidas

    que vo no pior sentido da liberdade democrtica.

    S deixando passar o vento e a fora do acaso nascero os tcnicos inventivos, os cientistas de ponta, os talentos da indstria, nas artes e no

    pensamento. O medo encolhe os crebros, reduz o esprito, fecha os corpos.

    Est-se a formar um clima de medo. E o medo tem a particularidade de alastrar.

    Ao medo social de perder o emprego, de no subir na carreira, de perder as

    penses, de no aguentar tanta presso e constrangimento em tantos domnios,

    junta-se agora o medo de protestar, de falar, de se exprimir. O medo social est-

    se a tornar poltico: tem-se medo do Governo e, talvez, um dia, do Primeiro-

    Ministro, Jos Gil (2007), O medo.

    Ser este o Perfil de Orientao Felicidade (POF) do Povo Lusitano? O ex-

    governador do banco central dos EUA, Alan Greenspan num artigo publicado no

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 26 Educao Integral

    Joao Jorge

    Financial Times, afirma que a crise financeira actual a mais grave desde a

    Segunda Guerra Mundial. Isto significa que estamos a preparar as crianas e jovens

    para um modelo social e econmico obsoleto e em vias de extino, que no

    responde construtivamente aos desafios do sculo XXI. Este modelo predatrio

    responsvel pelo actual cenrio social, poltico, econmico e ambiental, que se vive.

    Claramente chegamos ao Fim da Linha enquanto experincia civilizacional, e

    continuar a insistir neste modelo, significa apenas confirmar a incapacidade de

    assumir as nossas falhas e limitaes.

    O que pode fazer uma educao madura para contrariar este cenrio? Que tipo

    de preparao e competncias acadmicas, emocional e espiritual devero ter os

    homens do amanh, alunos de hoje, para contrariar as ms opes que ns

    perfilhamos, sem questionar? As crianas que frequentam as nossas escolas, esto a

    herdar de ns uma casa completamente desarrumada, infectada, contaminada e

    destruda.

    COMBATER O DESVIO NORMA?

    Para que haja normose, necessrio a presena de uma consequncia nociva;

    preciso que as normas de comportamento levem ao sofrimento, doena e at

    mesmo morte.

    NORMOSES GERAIS:

    So as que afectam toda a humanidade, independentemente da sociedade ou cultura; O hbito de

    fumar pode ser considerado uma normose geral, pois aparece em praticamente todas as culturas

    actuais.

    NORMOSES SCIO-CULTURAIS:

    So as que se limitam a uma cultura ou a uma dada camada econmica. Manifestam-se nas principais

    actividades humanas, como a comunicao, as cincias, a tecnologia, os mdias, o direito, a

    agricultura, o meio ambiente e a ecologia.

    Uma caracterstica comum s normoses o seu carcter automtico e

    inconsciente. Podemos falar, neste caso, de um esprito de boiada. A grande maioria

    dos seres humanos, talvez por comodismo, segue e repete o que dizem os jornais e a

    televiso: foi publicado, foi divulgado, ento deve ser verdade. Muitos outros aderem

    a uma religio ou partido poltico, porque a moda, ou para serem bem vistos. Assim,

    acaba por ocorrer uma forma subtil de manipulao de opinies, bem como uma

    mudana de sistema de valores. Nesta linha de pensamento, podemos concluir que

    toda a normose uma forma de alienao. As normoses facilitam a instalao de

    regimes totalitrios ou sistemas de dominao. Um burocrata pode simplesmente

    seguir normas e regras, mesmo que ao faz-lo corra o risco de levar a organizao

    runa. Nas religies, o normtico com frequncia um excelente praticante de rituais e

    leis, mas est cego e no sabe o que faz.

    Da a importncia de Consciencializar os Educadores quanto Sua

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 27 Educao Integral

    Joao Jorge

    Responsabilidade, pois nas suas mo est a possibilidade de formar Autmatos

    (Adestramento) condicionados ou normticos, ou Homens Lcidos!

    A automatose, pode socorrer-se de estilos de ensino centrados ou no no

    educador e pode ser dissolvida atravs da auto-consciencia. Trata-se, tambm, de um

    encontro com a liberdade. O homem que segue cegamente as normas torna-se

    escravo delas. Quando aprende a escutar a voz interior da sabedoria, torna-se

    verdadeiramente livre, Pierre Weil (2000).

    As organizaes apenas existem como vivncias concretas e apenas podem

    ser compreendidas a partir da experincia individual. Como as nossas experincias

    so nicas, cada membro pertence a diferentes organizaes dentro da mesma

    instituio, porque as experincias do mesmo so diferentes. Daqui decorre que,

    duas pessoas que trabalham na mesma escola podem mesmo funcionar em duas

    instituies irreconciliveis, Virgnio S (1997), Racionalidades e Prticas na Gesto

    pedaggica. A Escola estandardizou os processos asfixiando o dilogo democrtico.

    Os modelos democrticos defendem que as organizaes existem no apenas para

    cumprir objectivos formais, mas tambm para servir as necessidades das pessoas.

    Quando a organizao bem sucedida na satisfao das necessidades dos seus

    membros ambos beneficiam.

    O nosso modelo de ensino sustentado pela crena poltica-social e

    assume-se numa postura de corte, racionalizao, valorizao (prmio) e

    punio, Maral Grilo (2002), Desafios da Educao, ideias para uma poltica

    educativa para o sculo XXI. Qualquer plano que visa reduzir a despesa pblica

    tem necessariamente de enfrentar muitas resistncias e, por isso, tem que ser

    imposto com grande determinao, sem cedncias, mas partindo de uma lgica de

    interveno e de actuao assente na racionalidade, no critrio e no bom senso -

    Cortar, racionalizar, premiar e punir. () Estou seguro que esta a metodologia

    que vai ser adoptada e quero crer que este um combate que vale a pena travar

    ().

    Est patente neste discurso a Pedagogia do medo e os pressupostos da

    gnese psico-social da sociedade repressiva de Herbert Marcuse, anti democrtica.

    Apesar de termos conquistado a liberdade na revoluo dos cravos, na verdade

    ainda no conquistamos a verdadeira liberdade, porque continuamos a manifestar a

    anttese do pensamento democrtico. A nossa pedagogia democrtica fala em

    imposio, sem cedncias, racionalidade, combate, avaliao, Rankings,

    competitividade, obrigao, imperativo, desgnios deturpados, uniformismo,

    etc

    Ser possvel aprender a ser feliz num contexto onde o medo e a ansiedade

    concentram toda a nossa ateno e esgotam a nossa energia?

    At agora, a educao no pde fazer grande coisa para modificar esta situao real. Poderemos conceber uma educao capaz de evitar os conflitos, ou

    de os resolver de maneira pacfica, desenvolvendo o conhecimento dos outros,

    das suas culturas, da sua espiritualidade?, UNESCO (1996).

    Parece pois, que a educao deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro nvel, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nvel, e ao longo

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 28 Educao Integral

    Joao Jorge

    de toda a vida, a participao em projectos comuns, que parece ser um mtodo

    eficaz para evitar ou resolver conflitos, UNESCO (1996).

    A descoberta do outro, passa necessariamente, pela descoberta de si

    mesmo, e por dar criana e ao adolescente uma viso ajustada do mundo. A

    educao, seja ela dada pela famlia, pela comunidade ou pela escola, deve antes

    de mais ajudar na descoberta de si mesmo. Desenvolver esta atitude de empatia,

    na escola, muito til para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida,

    UNESCO (1996).

    Desde a sua primeira reunio que a Comisso reafirmou, energicamente, um

    princpio fundamental: a educao deve contribuir para o desenvolvimento total da

    pessoa esprito e corpo, inteligncia, sensibilidade, sentido esttico,

    responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado,

    especialmente graas educao que recebe na juventude, para elaborar

    pensamentos autnomos e crticos e para formular os seus prprios juzos de valor, de

    modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstncias da vida.

    O relatrio Aprender a Ser (1972) exprimia, no prembulo, os termos da

    desumanizao do mundo relacionada com a evoluo tcnica. A evoluo das

    sociedades e, sobretudo, o enorme desenvolvimento do poder meditico, veio

    acentuar este temor e tornar mais legtima ainda a injuno que lhe serve de

    fundamento.

    Assim a Comisso adere plenamente ao postulado do relatrio Aprender a ser.

    O desenvolvimento tem por objectivo a realizao completa do homem, em toda a

    sua riqueza e na complexidade das suas expresses e dos seus compromissos:

    Indivduo, membro duma famlia e duma colectividade;

    Cidado e produtor, inventor de tcnicas e criador de sonhos;

    Ser, cuja dimenso espiritual tem sido mal interpretada e adulterada;

    Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o

    acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa

    conceber a educao como um todo. Esta perspectiva deve, de futuro, inspirar e

    orientar as reformas educativas, tanto ao nvel da elaborao de programas como da

    definio de novas polticas pedaggicas, UNESCO (1996).

    Estas novas polticas pedaggicas, para alcanarem os objectivos

    preconizados pela Comisso tero de ser descentralizadas em vrias comunidades

    auto-educativas, enquanto novo conceito de Educao Flexvel, que acontece em

    espaos, tempos e ritmos diferentes, personalizados. S assim se poder respeitar o

    livre arbtrio prprio do pluralismo democrtico. Os percursos curriculares alternativos

    e diversificados, sero construdos em funo das necessidades de auto-realizao

    individual e colectiva. Para que tal seja possvel, este projecto educativo ter que, em

    primeiro lugar, incidir sobre o principal entrave ao seu desenvolvimento, os medos. A

    ferramenta mais vocacionada para este fim a Inteligncia Emocional e Espiritual.

    Ou seja, a introduo do QE (Quociente Emocional) numa escola vocacionada para a

    literacia emocional facilitar o processo de cura, e para a Inteligncia espiritual, a

    conscincia de si. Contudo, para objectivar esta primeira abordagem fundamental

    definir o medo, compreender as suas origens filogenticas e ontogenticas, e

    diagnosticar os principais medos (rudo no sistema), dos actores da famlia educativa.

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 29 Educao Integral

    Joao Jorge

    OBSTCULOS FELICIDADE:

    Lusa Cristina Fernandes (2008), Os medos dos professores e s deles lana

    alguns elementos de reflexo sobre este assunto facilitando o seu enquadramento

    objectivo.

    O medo assume uma dimenso e funo adaptativa, tendo este um papel

    determinante na sobrevivncia humana e que consiste na mobilizao de energia face

    ao perigo, Daron & Parot (2001) cit. Lusa Fernandes (2008). Contudo, o homem, ao

    contrrio dos animais, que reagem apenas ao perigo imediato e real, tambm tem

    medo de recordaes, de antecipaes ou at de fantasias sobre uma situao

    perigosa. O medo est assim relacionado com algo ameaador ou perigoso situado no

    presente, no passado ou antecipado no futuro, afirma Lusa Fernandes (2008). Isto

    significa que o medo deixou a mera dimenso biolgica e se tornou numa imagem

    virtual intemporal, assumindo contornos difusos e pouco objectivos.

    O auto-conceito entendido como a percepo que o indivduo tem de si prprio

    como tal, e de si-mesmo em relao aos outros, ou as atitudes de cada um face a si

    prprio. um factor de personalidade com influncia no comportamento do indivduo,

    organizando-se a partir das crenas e das imagens que o indivduo assume como

    verdadeiras, sobre si prprio, estruturando-se num sistema hierarquizado, onde cada

    crena tem um valor prprio, positivo ou negativo. A auto-estima s pode ser

    compreendida como um olhar global sobre ns mesmos. Se este olhar benvolo e

    positivo, faz-nos minimizar os nossos defeitos e permite-nos tirar partido das nossas

    qualidades. Pelo contrrio, uma fraca auto-estima pode fazer-nos demasiado severos

    com a nossa prpria pessoa, no obstante os nossos xitos, revelando-se um grande

    obstculo felicidade.

    Christophe Andr & Franois Lelord (2000), A auto-estima, pergunta para que

    servem os mecanismos de defesa? A sua resposta refere que servem essencialmente

    para nos evitarem emoes ou pensamentos dolorosos. normal que nos socorramos

    deles quando nos vemos confrontados com dificuldades, pois tm o papel de

    amortecedores. Reprimir uma recordao dolorosa, esquecendo-a, ou refugiamo-nos

    na divagao quando temos preocupaes, constituem, por exemplo, dois

    mecanismos de defesa que nos evitam termos de reflectir acerca do que de

    desagradvel nos aconteceu. Tudo aquilo que reprimimos, recusamos e negamos ir

    fortalecer a nossa Sombra. Quanto mais frgeis, maior a tendncia para os utilizar,

    pois protegem a auto-estima. Evitam questionamentos demasiado frontais e

    representam uma forma de manipulao e evitamento da realidade. Mas, todas as

    formas de evitamento, aumentam a nossa fragilidade. Ns, filtramos literalmente as

    informaes para apenas fixarmos as que nos sossegam e no nos exigem esforos

    de adaptao. De certa forma, os mecanismos de defesa representam uma troca

    inconsciente, na qual os indivduos sacrificam o seu desenvolvimento pessoal a um

    sentimento fictcio de segurana.

    Auto-estima um mecanismo da jurisdio do Complexo-R + Sistema Lmbico

    o resultado de uma avaliao subjectiva e idiossincrtica que o indivduo realiza sobre si prprio tendo como referncia o sucesso e insucesso das suas aces, conquistas

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 30 Educao Integral

    Joao Jorge

    e/ou realizaes no plano material ou intelectual, comparativamente aos padres sociais consensuais e depende em parte da aprovao de terceiros. Trata-se de um mecanismo do ego para se situar face aos restantes egos-auxiliares no palco da vida familiar e social, tendo como base um padro competitivo. Como tal, possui uma linguagem prpria e defensiva

    Inconscientes Conscientes Depresso Negao Minimizao Evico Muito baixa Auto-estima Muito elevada Auto-estima auto-estima Conflitos intrapsquicos 1. Caminho Destrutivo 2. Caminho Destrutivo Centrpetos Centrfugos Depressivos Auto-destrutivos Auto-piedade Revolta Inveja Auto-rejeio

    Linguagem defensiva do ego.

    MECANISMO DE DEFESA FUNO NA MANUTENO DA AUTO-ESTIMA

    Evitamento, retraco Fugir ao risco do fracasso;

    Negao Recusar-se a admitir os problemas;

    Projeco Atribuir aos outros os seus prprios sentimentos

    negativos e as suas dificuldades;

    Fantasmas e divagao Imaginar o sucesso em vez de o construir;

    Racionalizao Reconhecer os problemas, mas atribuir-lhes

    causas que evitem um questionamento;

    Compensao Fugir de um sentimento de inferioridade

    investindo noutras reas;

    Christophe Andr & Franois Lelord (2000), A auto-estima.

    O EGO possui uma linguagem defensiva porque esconde por detrs da mscara as partculas da

    sombra. O nossa Baixa Auto-Estima leva-nos a sacrifcios por uma imagem fictcia, para provar ao

    mundo o nosso valor.

    O caminho da felicidade implica investir primeiro na nossa auto-estima

    (sentimento de ser amado, sentimento de ser competente: Gostar de si mesmo; Boa

    imagem de si prprio; Autoconfiana), para depois deixarmos de depender da

    necessidade de qualquer tipo de avaliao sobre o nosso prprio valor, porque ele

    transcendente.

    O AMOR ESPIRITUAL O CONTRRIO DO AMOR-PRPRIO, virado para si mesmo,

    que s traz desordem e confuso. Ele ultrapassa os conflitos interiores, os

    artifcios que permitem disfarar a solido para se abrir ao universo inteiro.

    Jean-Paul Bourre, Sabedoria Amerndia

    A auto-estima, no uma questo poltica? Esperemos que o nosso Estado no

    se lembre de seguir o exemplo dos polticos de certos Estados americanos como a

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 31 Educao Integral

    Joao Jorge

    Califrnia, que tomaram posio face auto-estima, supostamente assunto para

    psiclogos. Num relatrio sobre este tema, uma taskforce da Califrnia State

    Department of Education notava, por exemplo: A falta de auto-estima individual e

    colectiva est implicada em todos os males que afligem o nosso estado e a nossa

    nao. Preocupado com os aspectos financeiros e psicolgicos do problema, um

    deputado da Califrnia chegou a adoptar uma posio extrema: As pessoas dotadas

    de auto-estima produzem e pagam os seus impostos. As que a no tm consomem os

    subsdios Christophe Andr e Franois Lelord (2000).

    Aprender a ser feliz tem a ver com a relao que estabelecemos connosco

    (Anthropos), com os outros (Ethnos), com a nossa casa (Oikos) e com o tempo

    (Chronos), na dimenso individual e colectiva. Trata-se no fundo de uma questo de

    identidade, e os problemas da humanidade so o reflexo de uma crise de auto-

    identidade. Todo e qualquer Projecto Educativo e Social de sucesso, apoia-se na

    estratgia de construo da identidade prpria, no na cultural relativa, mas na

    espiritual absoluta. A Sombra corresponde a todo o rudo que interfere com a

    conscincia da nossa identidade.

    A auto-estima est co-dependente de uma avaliao prpria ou de terceiros

    (honra), e subserviente da dimenso do ter e do fazer. A auto-conscincia no

    depende de qualquer juzo, valor ou avaliao prpria ou de terceiros, e relaciona-se

    com a dimenso do Ser.

    Tudo aquilo que tememos, chama-se sombra:

    Chamamos sombra (segundo a acepo de C.G. Jung) soma de todas as

    facetas da realidade que o indivduo no reconhece ou no deseja reconhecer em

    si e, por conseguinte, descarta. A sombra constitui o maior inimigo do ser Humano:

    ele tem-na e ignora que a tem, nem a conhece sequer. A sombra faz com que

    todos os propsitos e anseios do ser humano lhe reportem, em ltima instncia, o

    oposto daquilo que perseguia.

    O ser humano projecta num mal annimo existente no mundo exterior. Todas

    as manifestaes que nascem da sua sombra representam o medo de descobrir

    em si mesmo a verdadeira fonte de toda a sua desgraa. Tudo aquilo que o ser

    humano rejeita, alimenta a sua sombra, que no mais do que a soma de tudo

    aquilo que ele no quer. Pois bem, no querer enfrentar e assumir uma parte da

    realidade nunca pode conduzir ao xito desejado. Antes pelo contrrio, o ser

    humano tem de se ocupar especialmente dos aspectos da realidade que rejeitou,

    e isso costuma acontecer atravs da projeco, uma vez que quando rejeitamos

    no ntimo um princpio determinado, desencadeia-se em ns uma reaco de

    repdio e de angstia de cada vez que ele se nos depara no mundo exterior,

    Thorwald Dethlefsen (1993)

    O resgate da nossa sombra sem sombra de dvidas a pedra de roseta para o

    sucesso educativo, e a construo de uma sociedade emocionalmente mais inteligente

    e coesa. Qual a sombra do Sistema Educativo, o que falta na educao e na

    sociedade em geral, o que rejeitam os actores da famlia educativa, em si prprios,

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 32 Educao Integral

    Joao Jorge

    que alimenta a incoerncia e entropia sistmica.

    A sombra contm tudo aquilo que falta ao mundo ao nosso mundo para que

    seja saudvel e bom. A sombra faz com que adoeamos, ou seja, torna-nos

    incompletos; para ficarmos completos falta-nos tudo o que ela encerra. A sombra d

    origem doena e o acto de encarar a sombra cura. Eis a chave para a compreenso

    da doena e da cura. Um SINTOMA sempre uma partcula de sombra que se

    introduziu na matria. O nosso corpo o espelho da nossa alma; revela-nos aquilo

    que a alma incapaz de reconhecer a no ser atravs da sua imagem reflectida.

    Porm, de que nos adianta o espelho, por melhor que seja, se no nos reconhecemos

    na imagem que ele nos devolve? Thorwald Dethlefsen (1993). A sombra torna o homem

    um mero simulador.

    CULTURA DOENTE.

    Para fazer frente a uma cultura doente ou ao sonambulismo conscincial,

    precisamos resgatar alguns conceitos explcitos nas regras da Medicina Chinesa

    reunidas no Huang Di Nei Jing Su Wen (A Medicina Interna do Clssico Imperador

    Amarelo), a qual paralela ao nosso Corpus Hippocratic. A nossa cultura est

    apenas a descobrir a ideia de que o Programa de Sade e Bem Estar

    Integral PSBEI (Wellness), pode ter alguma relevncia. Roger Janhke

    (2007) instituiu um programa de cura natural e de PSBEI (Wellness).

    Ensinavam Tai-Chi e Chi-Kung de forma a potenciar a sabedoria

    residente (Resident Wisdom) que activa o curador interior (Healer within),

    a capacidade de auto-cura natural do sistema humano. Na China isto

    conhecido como a medicina de dentro (Medicine within) um elixir interno

    natural. A medicina mais profunda produzida dentro do corpo humano

    gratuitamente. O corpo deve ser entendido como Unidade em Movimento-

    ensoulment onde o movimento envolve uma orientao no reino do

    esprito.

    Poderamos ainda atribuir tal responsabilidade aos profissionais da motricidade

    humana pois se, tal como afirma Candace Pert (1999) Molecules of Emotion, o

    nosso corpo a nossa mente subconsciente, e os processos mentais dependem de

    uma motricidade satisfeita, cabe ento a estes profissionais restabelecer o dilogo

    entre a mente consciente e subconsciente (corpo) atravs do dilogo tnico. Na

    verdade, como podem eles resolver um problema de sonambulismo consciencial

    que afecta todos os actores da famlia educativa, quando eles prprios olham o corpo

    segundo uma dimenso biomecnica, preocupando-se fundamentalmente com a

    rentabilidade das funes motoras e fisiolgicas e com automatismo cegos.

    Os pedagogos no gostam do fracasso, desde Plato que sonham com uma

    educao que faria dos adultos seres preservados da inadequao, do erro, da culpa,

    do pecado. Pergunta-se: resultaria duma tal educao um adulto ou um autmato?

    Assim, a aprendizagem da linguagem, a escrita, os signos aritmticos, o sistema de

    numerao, as regras de ortografia e de sintaxe so o resultado de um adestramento

    ou de uma aprendizagem activa? O adestramento puro sem dvida mais raro do que

  • EDUCAO COM - CORPO - COM EDUCAO 33 Educao Integral

    Joao Jorge

    se cr e significa sempre, como diz K. Goldstein, uma conduta de catstrofe: tanto

    para o educador, que adestra e que no consegue fazer-se compreender e amar,

    como para o educando, que ter que adoptar uma rotina em vez de compreender e de

    querer.

    A palavra amestrao (ou adestramento) em sentido popular designa duas

    realidades bem distintas.

    Primeiro, um resultado: uma conduta automtica, mais til mais aos outros e a um

    modelo de sociedade do que ao prprio indivduo interessado.; assim que se fala

    de um animal bem amansado ou de um criado bem treinado, mas sem

    distinguir o modo de aquisio desse automatismo.

    Segundo, um meio de aquisio: Na expresso isso vai ensinar-lhe subentende-