Educação Especial e o Direito à Cidadania - material de leitura para Psicologia Escolar - 3 ano

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    Educao Especial e o Direito Cidadania

    Rosana Salvador Rossit

    A construo de uma Escola Inclusiva dever ter por pressuposto bsico um novo paradigma educacional que preconiza uma 'Escola para Todos", garantindo a igualdade de

    oportunidade, independente de qualquer caracterstica individual incorporando a diversidadeexistente num pas multicultural como o Brasil e nos remetendo a uma nova forma de, conceber o

    papel da escola C, o prprio conceito de deficincia (Oliveira & Leite, 2000, p. 11).0 tema da incluso vem sendo muito discutido e estudado nos ltimos tempos,

    principalmente a partir de 1994. Esta data marca a aprovao da Declarao de Salamanca,documento que se "inspira no princpio de integrao e no reconhecimento da necessidade de ao

    para conseguir uma "escola para todos", ou seja, uma instituio que inclua todos os alunosreconhea as diferenas, promova a aprendizagem e atenda s necessidades de cada um (Declaraode Salamanca, 1994).

    No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao, ri' 9.394, de 1996, coloca que oatendimento educacional de pessoas com necessidades especiais deve ocorrer preferencialmente na

    rede regular de ensino. A poltica oficial do Estado de So Paulo, de acordo com indicao doConselho Estadual de Educao, de dezembro de 1999, prev que "as crianas e os jovens

    portadores de necessidades especiais devero passar a ser atendidos prioritariamente em salas deaula regulares, nas escolas estaduais do Estado de So Paulo".

    Parece haver uma mudana de paradigmas e crenas, prevalecendo uma viso otimistaquanto capacidade de aprender. Cada pessoa tem uma especificidade quanto s caractersticas decomo ocorre o aprendizado, e isso deve ser aproveitado e estimulado.

    1.O que se pretende com esse novo paradigma entender e respeitar a diversidade, ou seja,entender que todos so diferentes uns dos outros e que devem ser condies criadas para que se

    promova a participao de todas as pessoas em diferentes instncias da sociedade.O artigo 5 da Constituio Federal do Brasil, de 1988, diz.- "Todos somos iguais perante a

    lei, sem distino de qualquer natureza ... ". Somos iguais perante a lei e tambm temos o direito deser diferentes. Para que todos possam exercer a cidadania, fundamental haver igualdade deoportunidades de acesso sade, educao, ao trabalho, ao lazer, ao transporte e cultura.

    Nesse sentido, a mudana de atitudes e paradigmas fundamental para a construo de umaescola inclusiva, que no faa distino entre pessoas com necessidades especiais e pessoasnormais, e que apresente uma proposta educacional que garanta e favorea condies deaprendizagem a todos num s contexto, proporcionando educao diferenciada e dando respostaseducativas ao aluno durante todo o processo de escolarizao, se isto se fizer necessrio, ou seja,oferecendo educao permanente, que atenda s peculiaridades de cada aluno. Assim, a incluso

    prev mudanas e transformaes na estrutura da escola a fim de atender exigncia da "educao

    para todos".Com essa nova proposta, surge a oportunidade de modernizar a escola e a necessidade decapacitar professores a fim de aprimorar seus conhecimentos e suas prticas pedaggicas e,conseqentemente, oferecer atendimento educacional a todos os alunos, principalmente queles queapresentam necessidades especiais.

    A Declarao de Salamanca (1994) inspira-se no princpio de integrao e noreconhecimento da necessidade de ao para conseguir uma "escola para todos". Todas as pessoasenvolvidas direta ou m'diretamente no processo educacional devem considerar essa proposta comoum desafio e agir de modo que a "educao para todos" signifique realmente para todos. Com adivulgao desse documento, iniciou-se um processo de questionamentos e reflexes em relao a

    1 In: MARTINS, J.P.; CASTELLANO, E.G. (orgs.) Educao para a cidadania. So Carlos, SP: EdFSCAR, 2003,p.226-239. Terapeuta ocupacional, mestre e doutoranda em Educao Especial pela Universidade Federal de So Carlos.

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    quais mudanas educacionais deveriam ser adotadas para que se efetivasse a proposta de ensinoinclusivo em nossa realidade educacional.

    Em linhas gerais, a incluso pressupe a convivncia, em espao comum e convencional, depessoas com necessidades especiais - portadores de r nelas, condutas tpicas e altas habilidades comoutras consideradas.

    A opo por uma escola inclusiva, que atenda diversidade e s peculiaridades individuais,

    tambm estende-se populao classificada como portadora de deficincia ou, como denominadaatualmente, pessoa portadora de necessidades especiais, o que nos conduz reflexo e aoentendimento de aspectos relacionados Educao Especial.- definio, classificao emodalidades de atendimento educacional.

    Educao Especial

    De acordo com as determinaes do documento Poltica Nacional de Educao Especial(Brasil, 1994), o termo educao especial definido por:

    um processo que visa promover o desenvolvimento (ias potencialidades de 1pessoas portadoras de deficincias, condutas tpicas ou altas habilidades, e queabrange os: diferentes nveis e graus do sistema de ensino. Fundamenta-se em

    referenciais tericos e prticos compatveis com as necessidades especficas de seualunado.

    0 processo deve ser integral, fluindo desde a estimulao essencial at os graus superiores deensino.

    Para melhor compreender essa definio, alguns aspectos foram destacados para anlise. Por Hum processo que visa promover o desenvolvimento de potencialidades" entende-se queprocedimentos diversificados devem ser implementados no sentido de favorecer a aprendizagem emdiferentes reas do desenvolvimento humano. "Promover o desenvolvimento" significa iniciar o

    processo educativo o mais cedo possvel na vida de uma pessoa com necessidades especiais. 0processo deve ser integral, fluindo desde a estimulao at os graus superiores de ensino.

    Ao descrever a clientela, especificam-se "as pessoas portadoras de deficincias", entre a~s'quais compreendem-se a deficincia mental, manifestada desde os nveis mais leves, que detectada

    nos primeiros anos de escolarizao, denominada no ambiente acadmico de "dificuldadesde' aprendizagem", at os nveis moderado, severo e profundo, os quais requerem mtodos,contedos, materiais didticos especiais e, principalmente, profissionais especializados, alm dedeficincia fsica, deficincia auditiva, deficincia visual e deficincia mltipla, esta ltima aassociao, no mesmo indivduo, de duas ou mais deficincias primrias. As outras parcelas da

    populao que podem se beneficiar dos recursos da educao especial so as pessoas com altashabilidades, ou seja, os superdotados, e as pessoas portadoras de condutas tpicas, que somanifestaes no comportamento.

    A Educao Especial "abrange os diferentes nveis e graus do sistema de ensino",, issosignifica que as pessoas com necessidades especiais podem ser inseridas na escola regular ouespecial, em educao infantil, ensino fundamental, ensino mdio e nvel superior. Para que esse

    processo ocorra de maneira satisfatria, toma-se necessria a formao especializada de professoresda rede regular e especial de ensino, a fim de que possam atuar com profissionalismo econhecimento cientfico de diferentes abordagens de interveno. As adaptaes curriculares, svezes necessrias, requerem do profissional da rea de Educao a perspiccia para detectar

    precocemente as necessidades educativas, adaptar os objetivos e a metodologia do ensino e intervirno sentido de melhor atender a essa clientela.

    De acordo com a poltica oficial em vigor no Estado de So Paulo, a incluso das pessoascom necessidades especiais garantida por Lei. Portanto, elas devero ser atendidas,

    prioritariamente, em salas de aula regulares nas escolas pblicas - a incluso prev o convvio e ainter-relao dessa populao com os alunos ditos "normais". Isso demanda transformar a escola em

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    um espao fsico, social, cognitivo e emocional que favorea o desenvolvimento e a aprendizagemde todos.

    Tendo por fato concreto que a poltica educacional em vigor, nacional e/ou estadual, sugerea incluso das pessoas com necessidades especiais na escola regular, a formao continuada dos

    professores ponto fundamental para garantir a qualidade do ensino e do direito aprendizagem e cidadania. Entretanto, isso s ser possvel se o profissional buscar o conhecimento especfico na

    rea da Educao Especial.

    Classificao da Clientela da Educao EspecialConforme descrito no documento Poltica Nacional de Educao Especial (Brasil, 1994), o

    aluno da educao especial aquele que, por apresentar necessidades prprias e diferentes dosdemais alunos no domnio das aprendizagens curriculares correspondentes a sua idade, necessita derecursos pedaggicos e metodologias educacionais especficas. Genericamente chamados de

    portadores de necessidades educativas especiais, classificam-se em: portadores de altas habilidades,de condutas tpicas e de deficincias.

    Portadores de altas habilidades - pessoas que apresentam notvel desempenho e elevada

    potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade intelectualgeral, aptido acadmica especfica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderana,talento especial para artes e capacidade psicomotora.

    Condutas tpicas - manifestaes de comportamentos, tpicas de portadores de sndromes equadros psicolgicos, neurolgicos ou psiquitricos, que ocasionam atrasos no desenvolvimento e

    prejuzo no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado.Deficincia fsica - variedade de condies no-sensoriais que afetam o indivduo em

    termos de mobilidade, coordenao motora geral ou de fala, decorrentes de leses neurolgicas,neuromusculares e ortopdicas ou, ainda, m formao congnita ou adquirida.

    Deficincia auditiva - perda total ou parcial, congnita ou adquirida, da capacidade decompreender a fala por intermdio do ouvido. Manifesta-se como:

    Surdez leve/moderada:perda auditiva de at 70 decibis, que dificulta, mas no impede oindivduo de se expressar oralmente, bem como de perceber a voz humana, com ou sem a utilizaode aparelhos auditivos.

    surdez severa profunda:perda auditiva acima de 70 decibis, que impede o indivduo deentender, com ou sem aparelho auditivo, a voz humana, bem como de adquirir naturalmente ocdigo da linguagem oral.

    Os portadores de deficincia auditiva necessitam de mtodos, recursos didticos eequipamentos especiais para correo e desenvolvimento da fala e da linguagem.

    Deficincia visual- reduo ou perda total da capacidade de ver com o olho menos afetado eaps a melhor correo ptica. Manifesta-se como:

    *Cegueira: sob o enfoque educacional, a cegueira representa a perda total ou resduomnimo de viso, que leva o indivduo a necessitar do mtodo braille como meio de leitura eescrita, alm de outros recursos didticos e equipamentos especiais para sua educao, e visoreduzida ou subnormal: sob o enfoque educacional, trata~se de resduo visual que permite aoeducando ler impressos tinta, desde que se empreguem recursos didticos e equipamentosespeciais.

    Deficincia mltipla - associao, no mesmo indivduo, de duas ou mais deficinciasprimrias (mental, visual, auditiva ou fsica), com comprometimentos que acarretam atrasos nodesenvolvimento global e na capacidade adaptativa. As principais necessidades educativas sero

    priorizadas e desenvolvidas por habilidades bsicas nos aspectos social, de auto-ajuda e decomunicao.

    Deficincia mental - caracteriza-se por apresentar funcionamento intelectual geralsignificativamente abaixo da mdia, oriundo do perodo de desenvolvimento, concomitante comlimitaes associadas a duas ou mais reas de condutas adaptativas ou da capacidade de o indivduo

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    responder adequadamente s demandas da sociedade nos seguintes aspectos: comunicao,cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na famlia e na comunidade, independncia nalocomoo, sade e segurana, desempenho escolar, lazer e trabalho (Luckasson et al., 1992).

    Os alunos portadores de deficincias, condutas tpicas e altas habilidades tm necessidadeseducativas especiais. Esse fato, no entanto, no impede sua incluso no ensino regular. Asdiferentes modalidades de atendimento educacional podem auxiliar os alunos com necessidades

    especiais, por meio de diversos nveis de apoio., a adquirirem as habilidades acadmicas essenciaispara sua independncia na comunidade.So alternativas de procedimentos didticos especficos e adequados s necessidades

    educativas do aluno de educao especial, as quais implicam espaos fsicos, recursos humanos emateriais diferenciados. As modalidades de atendimento em educao especial no Brasil, de acordocom o documento Poltica Nacional de Educao Especial (Brasil, 1994, p. 19-21), so as seguintes:

    Atendimento domiciliar - atendimento educacional oferecido pessoa com necessidadesespeciais em sua residncia, diante da impossibilidade de freqentar a escola.

    Classe comum - ambiente de ensino e aprendizagem considerado regular, no qual tambmesto matriculados, em processo de integrao instrucional, os portadores de necessidades especiais

    que possuem condies de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas doensino comum no mesmo ritmo que os alunos ditos "normais ".

    Classe especial - sala de aula em escolas de ensino regular, organizada de forma a seconstituir em ambiente prprio e adequado ao processo de ensino-aprendizagem do alunado daeducao especial. Nesse tipo de sala, os professores capacitados, selecionados para essa funo,utilizam mtodos, tcnicas e recursos pedaggicos especializados e, quando necessrio,equipamentos e materiais didticos especficos.

    Classe hospitalar - ambiente hospitalar que possibilita o atendimento educacional decrianas e jovens internados que necessitam de educao especial.

    Centro Integrado de Educao Especial - organizao que dispe de servios de avaliaodiagnstica, estimulao essencial, escolarizao propriamente dita e preparao para o trabalho,contando com o apoio de equipe interdisciplinar que utiliza equipamentos, materiais e recursosdidticos especficos para atender aos alunos portadores de necessidades especiais.

    Ensino com professor itinerante - trabalho educativo desenvolvido em vrias escolas pordocentes especializados, que periodicamente trabalham com o aluno portador de necessidadesespeciais e com o professor da classe comum, proporcionando-lhes orientao, ensinamentos esuperviso adequados.

    Escola especial - instituio especializada, destinada a prestar atendimento psicopedaggicoa educandos portadores de deficincias e de condutas tpicas, onde so desenvolvidos e utilizados,

    por profissionais qualificados, currculos adaptados, programas e procedimentos metodolgicosdiferenciados, apoiados em equipamentos e materiais didticos especficos.

    Oficina pedaggica - ambiente destinado ao desenvolvimento de aptides e habilidades deportadores de necessidades especiais por melo de atividades de trabalho orientadas por professoresespecializados, onde esto disponveis diferentes tipos de equipamentos e materiais para o ensino ea aprendizagem, nas diversas reas do desempenho profissional.

    Sala de estimulao essencial - local destinado a atendimento de portadores de deficinciade 0 a 3 anos e de crianas consideradas de alto risco, onde so desenvolvidas atividadesteraputicas e educacionais voltadas para seu desenvolvimento global. A participao da famlia fundamental nos programas de estimulao.

    Sala de recursos - local com equipamentos, materiais e recursos pedaggicos especficos natureza das necessidades especiais do aluno, onde se oferece a complementao do atendimentoeducacional realizado em classes de ensino comum. 0 aluno deve ser atendido individualmente ou

    em pequenos grupos, por professor especializado e em horrio diferente ao do ensino regular.A partir dessas definies apontam-se os seguintes pressupostos bsicos da EducaoEspecial:

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    possvel, por intermdio de procedimentos especializados, superar determinadosdficits de desenvolvimento (no importa sua etiologia) e aumentar as oportunidadeseducacionais e sociais,, assim, seriam justificados programas que vo desde aestimulao essencial at a profissionalizao, passando pela escolarizao;

    a educao especial engloba todos os servios, procedimentos e instituies que sedediquem pessoa considerada excepcional., ou seja, aquela que apresenta

    diferenas e que, por esse motivo, necessita de ateno especial a suas necessidades; o "especial" da educao escolar se explicita quando o sistema educacional recorre

    aos seguintes itens (total ou parcialmente) para atender s necessidades dos alunos:contedos, mtodos e materiais didticos especiais utilizados por profissionaisespecializados;

    a educao especial inspira-se no princpio de normalizao. No se trata denormalizar as pessoas, mas de normalizar o contexto em que se desenvolvem, ouseja, de oferecer s pessoas com necessidades especiais modos e condies de vidadiria o mais similares possvel s formas e condies vivenciadas por outras pessoasda sociedade. 0 que se deve normalizar o ambiente, no a pessoa,

    Nesse sentido, o que se espera a integrao da pessoa com necessidades especiais sociedade. Essa questo objeto de grandes discusses na rea e constitui uma das principais metasda educao especial.

    Conceitos e ConcepesOs termos integrao, insero e incluso misturam-se, confundem-se e substituem-se

    como se fossem sinnimos. Na verdade, cada um tem um significado especfico, embora os trsfaam meno a condies semelhantes de participao no ambiente comunitrio.

    0 conceito de integrao controvertido e no-universal. A palavra, na ntegra, significainteirar-se, completar-se, tomar-se inteiro. Com essa definio podemos compreender que o ato deintegrar leva a pensar em um processo no qual a pessoa com necessidades especiais teria seu espao

    garantido na sociedade, fazendo parte de um contexto maior e em harmonia em todos os ambientes:familiar, social, escolar, de lazer e de trabalho. Com base nessa viso pode-se pensar que aintegrao seria "o pice da escalada" para possibilitar pessoa com necessidades especiais odireito cidadania. Mas, na realidade, verifica-se que esse processo no to simples como parece,

    pois no envolve somente o ato de "inserir" a pessoa na comunidade, mas tambm a receptividade ea aceitabilidade sem discriminao ou preconceitos pela comunidade, o que pressupe umacondio de harmonia e bem-estar entre ambas as partes, ou seja, a pessoa com necessidadesespeciais e a, comunidade.

    Surge, ento, outro termo, insero, freqentemente utilizado como sinnimo de integrao,mas, na realidade, eles so distintos. A palavra insero significa introduzir, colocar. No contextoda educao especial, seria o ato de colocar a pessoa com necessidades especiais em um ambiente

    sem a garantia de aceitabilidade ou adaptao ao referido ambiente. Portanto, seria uma condioanterior integrao, que se caracteriza p Ia ao de coloc-la em um ambiente que no foipreparado para receb-la. Nesse caso, o que pretendia ser "soluo" pode se transformar em 1"problema". A comunidade (educacional, social e trabalhista), em geral, no sabe "o que fazer"nem, "como fazer" para proporcionar a normalizao do ambiente, a qual pode ser favorecida poradaptaes no ambiente fsico, conscientizao das pessoas e discusso sobre as concepes acercade deficincia/eficincia, normal/anormal,

    0 ltimo termo, incluso, o mais empregado atualmente e significa abranger, envolver,inserir. Quando se diz que a pessoa com necessidades especiais est includa em um ambiente,significa que ela est cercada por outras pessoas consideradas "normais". Pressupe-se que umtrabalho anterior de preparao e conscientizao das pessoas diretamente envolvidas nesse

    processo tenha ocorrido. Ou seja, no ambiente escolar, os professores, os diretores, os funcionrios,os pais e os alunos devem ser preparados para essas mudanas. Toda mudana deve ser gradativa,

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    planejada e implementada com cautela. Toda mudana requer preparao para no se transformarem evento polmico, controvertido e constrangedor para as pessoas.

    A idia da incluso fundamenta-se numa filosofia que reconhece e aceita a diversidade. Aproposta de incluir as pessoas com algum tipo de deficincia, condutas tpicas ou altas habilidadesno ambiente educacional, juntamente com aquelas consideradas "normais", pressupe a garantia deacesso de todos a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada um e/ou

    do grupo social a que pertence.A Constituio Federal do Brasil, de 1988, especifica, dentre outros de similar importncia,o princpio de igualdade, no qual determina que "todos so iguais perante a lei., sem distino dequalquer natureza, garantindo a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade"

    Ao fazer referncia igualdade, necessrio cautela, pois esse princpio no pode serentendido como dar ateno igual aos iguais e desigual aos desiguais. Cada pessoa nica, o queimplica caractersticas individuais e necessidades prprias. Nesse sentido, as oportunidadesexistentes devem atender s peculiaridades de cada indivduo, sem perder de vista a garantia daigualdade em todos os nveis da sociedade: famlia, educao, comunidade e trabalho.

    De acordo com Aranha (2000), a incluso o fenmeno mais recente no debate de idias no

    Pas, no que se refere ao delineamento de relaes entre a sociedade brasileira e o segmentopopulacional de brasileiros com necessidades especiais. Conforme definio da autora,

    (. .. ) a incluso um processo mais amplo e complexo do que o proposto

    pela integrao, j que bidireconalmente, exige mudanas no somente na pessoacom deficincia, mas principalmente no contexto social, deforma a poder atender s

    necessidades especiais das pessoas com deficincia tambm, estejam elas nessascondies definitiva ou temporariamente ( .. . ) no espao da contextualizaodessas idias que reside a grande diferena do significado dos termos incluso eintegrao (p. 4) ~

    No contexto da integrao, apesar de parecer implcito o direito de igualdade deoportunidades, atribui-se quase exclusivamente pessoa com necessidades especiais aresponsabilidade pela segregao. Ela o foco de ateno e interveno na tentativa de se ajustar,

    preparar, alterar e mudar para que possa conviver em um ambiente menos restritivo possvel, o que,de certa forma, caracteriza uma ao de desigualdade perante as demais pessoas e a comunidade emgeral.

    A incluso na rea educacional, entretanto, no implica simplesmente o fato de a pessoacom necessidades especiais poder freqentar uma escola regular, mas, alm disso, implicatransformar a escola em um espao que favorea o desenvolvimento e a aprendizagem. A inclusono se constitui no simples fato de colocar" a pessoa com necessidades especiais na sala de aulacomum, mais do que isso, constitui-se em aumento da responsabilidade de todas as pessoas queesto direta ou indiretamente envolvidas no processo educacional. Parte-se do princpio de que a

    escola dever sofrer mudanas e adaptaes para poder atender melhor clientela com necessidadesespeciais.So esperadas mudanas no que diz respeito tanto infra-estrutura como preparao e

    formao especializada de dirigentes, professores e demais pessoas envolvidas no processo deincluso. Portanto, nesse processo, a responsabilidade no est direcionada somente pessoa comnecessidades especiais, mas envolve responsabilidades e mudanas do ambiente e das outras

    pessoas.

    A Incluso e o Processo de Ensino e Aprendizagem

    Os professores, sendo responsveis diretos pelo processo de ensino-aprendizagem, deveroestar aptos a atender a todos os alunos - "normais" e/ou "deficientes" - de modo a criar condies

    para que todos aprendam e se desenvolvam. comum no ambiente educacional atribuir ao aluno e a suas caractersticas individuais(dficit de ateno, falta de prontido, baixo desempenho acadmico e problemas comportamentais)

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    a responsabilidade pela falha na aprendizagem. Na realidade, o aluno est sob a responsabilidadedireta do professor, e se no aprende, no somente porque "no sabe", "no consegue", "deficiente" ou possui "atraso em reas do desenvolvimento", mas tambm porque o professor noest sabendo ensinar. No processo de ensino-aprendizagem, o professor somente pode dizer que"ensinou" quando os alunos apresentarem desempenhos satisfatrios em diferentes tipos deavaliao e quando demonstrarem, por meio de seus comportamentos e atitudes, que "aprenderam e

    apreenderam" determinado contedo. Caso contrrio, o professor no pode considerar um contedoensinado simplesmente por ter cumprido o planejamento Educacional, preciso sondar se aaprendizagem realmente ocorreu.

    Uma das maiores dvidas do professor, quando se depara com um aluno em processo deincluso, "o que ensinar". Em relao a essa dvida, no possvel oferecer receitas, mas sugeriranlises e discusses sobre o caso, traando objetivos realistas e funcionais para que o aprendizadoocorra, alm de buscar o conhecimento especfico ou orientaes peridicas que garantam aqualidade do ensino para todos. Usar atividades semelhantes s utilizadas por outros professores

    pode no ser til, pois o que bom para uma pessoa nem sempre bom para outras. 0 processo deincluso requer perspiccia, iniciativa, conhecimento e, mais do que tudo isso, demanda que as

    pessoas diretamente em olvidas acreditem na capacidade de aprendizagem e desenvolvimento dos

    alunos com necessidades especiais. preciso acreditar na potencialidade de cada um, acreditar que possvel que eles aprendam, assim como possvel que o professor consiga cumprir sua meta deensinar. 0 direito escolarizao da pessoa com necessidades especiais garantido por lei e, nessesentido, a escola dever atender s necessidades educativas.

    A incluso uma garantia de acesso "escola para todos", mas ser que a obrigatoriedadede receber a criana ou o jovem com necessidades especiais na escola comum est realmentegarantindo o direito cidadania e a sua participao na comunidade, de acordo com o princpio deigualdade? Ser que o processo de incluso est realmente minimizando o problema da segregao,da discriminao e/ou da excluso da pessoa com necessidades especiais?

    Nesse sentido, Ferreira (1994) afirma que as escolas, sejam elas regulares ou especiais, tmsido apontadas como agencias fundamentais para a integrao dos portadores de necessidadesespeciais, quer como agencias de capacitao acadmica e profissional quer como espaos deconvivncia possveis com as pessoas consideradas "normais". No entanto, o aumento e adiversificao das oportunidades educacionais para as pessoas denominadas "especiais" podem se

    prestar mais legitimao da excluso social do que a sua integrao.No Brasil, a educao das pessoas portadoras de deficincia no tem evoludo de forma

    perceptvel em relao s deficincias mais marcantes. De acordo com Ferreira (1994), contnua aser observada nas instituies privadas uma ( ... ) assistncia "tcnico-financeira", assistencialista e

    pouco expressiva, oferecida com base em critrios poltico-quantitativos eventualmente associados cincia dos servios, que se propem a promover o desenvolvimento e a integrao dosexcepcionais (p. 10).

    0 autor faz uma crtica velada s instituies que se dispem a atender s pessoas comnecessidades especiais e que, s vezes, acabam por no cumprir com o papel que a elas estimplcito, ou seja, a responsabilidade de preparar a pessoa com necessidades especiais para atuarfuncionalmente na comunidade, ensinando habilidades que proporcionem clientela condies deviver de forma mais independente possvel, apresentando uni repertrio bsico que garanta a suasobrevivncia. As instituies precisam adequar-se s reais necessidades da clientela, a fim de que ainterveno seja efetiva e garanta a possibilidade de real integrao.

    Os princpios de normalizao e integrao contidos no documento Poltica Nacional deEducao Especial" (Brasil, 1994) significam, na rea da Educao, a garantia de acesso das

    pessoas com necessidades especiais ao ensino regular, com o mnimo de segregao possvel. 0 princpio de normalizao no significa transformar a pessoa "deficiente/especial" em pessoa

    normal", mas atend-la em ambientes menos restritivos. Na realidade, o que parece estar ocorrendo o princpio de "anormalizao", "segregao ou excluso" por intermdio da prtica de dificultar oacesso, de criar impeditivos para a permanncia da pessoa com necessidades especiais no ambiente

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    escolar regular ou, ainda, de "deficientizar" a populao economicamente menos favorecida,considerando-a, tambm, portadora de necessidades especiais, encaminhando-a a servios dediagnstico e tratamentos especializados com a finalidade de oficializar a deficincia de uma

    populao discriminada por suas precrias condies de vida. Parece estar se confundindocapacidade cognitiva e/ou de aprendizagem com falta de conhecimento, cultura e oportunidades.

    0 papel da escola sempre foi ensinar, mas. atualmente, parece que esse papel est sendo

    alterado. A escola parece estar mais preocupada com o cumprimento de seu plano de ensino do quecom a real aprendizagem dos alunos. Parece estar preocupando-se mais com o processo deavaliao para a constatao da "no-aprendizagem" do que em assumir o papel de educadora eformadora de cidados conscientes de seus direitos e deveres. Esse processo parece contribuir parao aumento do nmero de pessoas consideradas deficientes dentro do ambiente educacional, sendoque em outros ambientes da sociedade essa deficincia parece no existir. E aqui poderamos fazeruma parada para reflexo: essas pessoas realmente apresentam algum tipo de deficincia acadmicaou tais deficincias esto sendo "fabricadas" com a esperana de que elas possam ser eliminadas outransferidas para outros servios educacionais?

    Vale relembrar que a poltica oficial do Estado de So Paulo prev que os alunos comnecessidades educativas especiais devem ser includos em salas de aula comuns, justificando que os

    valores e as habilidades a serem alcanados so semelhantes. A idia transformar a escola em umambiente aberto diversidade, criando situaes e condies para que todos convivam em umespao comum, independentemente das caractersticas sociais, culturais, econmicas, fsicas oumentais.

    A maior justificativa e, talvez, a maior vantagem em incluir uma criana com necessidadesespeciais no ambiente regular de ensino a oportunidade de ela poder conviver com crianas emcondies iguais ou melhores do que as suas,

    Uma das teorias do desenvolvimento humano baseia-se exatamente na capacidade deaprender pela observao, pelos modelos que vemos e tentamos imitar. Essa teoria denominadaaprendizagem social (Bandura, 1977), tambm conhecida como aprendizagem observacional,aprendizagem por modelao ou, ainda, da imitao de modelos. Todos esses nomes se referem aquisio de conhecimentos e comportamentos novos por intermdio da observao. De acordocom essa abordagem, grande parte da aprendizagem humana depende de processos perceptivos ecognitivos, ou seja, tanto as experincias vivenciadas pelo prprio sujeito como aquelas queobservou outras pessoas viverem determinam a gama de comportamentos presentes no repertrio deuma pessoa. Um dado comportamento , ento. produto das expectativas aprendidas em situaessemelhantes quelas com que a pessoa atualmente se depara (Davis, 198 1).

    Dessa forma, o ambiente mais indicado para a aprendizagem das pessoas com necessidadesespeciais a escola regular, pois os modelos observados podero servir como incentivo a suaaprendizagem e, conseqentemente, favorecero seu desenvolvimento.

    0 termo incluso, desde que surgiu no ambiente educacional, sugere a idia de inovao

    educacional, pois no concebvel uma ateno s necessidades educativas especiais sem que sepense tambm em procedimentos e mtodos adicionais que possam favorecer tal aprendizado.Multas crianas experimentam dificuldades de aprendizagem e tm, portanto, necessidades'

    educativas especiais em algum momento de sua escolarizao, As escolas devem encontrar amaneira de educar com xito todas as crianas, inclusive as portadoras de necessidades especiais. cada vez maior o consenso de que elas sejam includas nos planos educacionais elaborados para amaioria dos alunos.

    Essa idia levou ao conceito da escola integradora. De acordo com a Declarao deSalamanca (1994), o desafio que enfrentam as escolas integradoras o de desenvolverem uma

    pedagogia centralizada na criana, capaz de educar com sucesso todos os alunos, inclusive os portadores de necessidades especiais. 0 mrito dessas escolas no est s na capacidade de

    dispensar educao de qualidade a todas as crianas; com sua criao, d-se um passo muitoimportante para tentar mudar atitudes de discriminao, criar comunidades que acolham a todos esociedades integradoras.

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    As necessidades educativas especiais incorporam os princpios de umapedagogia equilibrada, que beneficia todas as crianas, Parte do princpio de que

    todas as diferenas humanas so normais e de que a aprendizagem deve, portanto,se ajustaras necessidades de cada criana, em vez de cada criana se adaptar aos supostos princpios quanto ao ritmo e natureza do processo educativo. Uma

    pedagogia centralizada na criana e positiva para todos os alunos e,

    consequentemente, para toda a sociedade. A experincia tem demonstrado que possvel reduzir o nmero de fracassos escolares e de repeties, algo muito comumem muitos sistemas educativos, e garantir maior ndice de xito escolar. Uma

    pedagogia centrada na criana pode contribuir para evitar o desperdcio de

    recursos e a frustrao de esperanas, conseqncias, freqentes da m qualidadedo ensino e da mentalidade de que oque bom para um bom para todos". Asescolas que se centralizam na criana so, alm disso, a base para a construo deurna sociedade centrada nas pessoas, que respeite tanto a dignidade como as

    diferenas de todos os seres humanos (Declarao de Salamanca, 1994, p. 18),Durante muito tempo, e provavelmente ainda em vigor em multas localidades, os problemas

    ou dificuldades das pessoas com necessidades especiais foram agravados pela forma de pensar da,

    comunidade, pela sociedade que fixa padres de avaliao em beleza, capacidade e competncia, econsidera mutilado-desviante-diferente aquele que, por algum motivo, diverge dos padres

    predeterminados. Essa concepo errnea sobre u pessoa com necessidades especiais fixa a atenoem suas incapacidades em vez de atentar para suas potencialidades-, denomina-a e trata-a como"deficiente" porque apresenta dificuldades em uma ou mais reas do desenvolvimento. A pessoacom deficincia possui multas habilidades e potenciais a serem desenvolvidos; cabe, portanto, acada um de ns identificar essas habilidades e investir para que outras sejam desenvolvidas.

    Pensando numa escola integradora e aberta a diversidades, a incluso de alunos comnecessidades educativas especiais na escola regular implica, obrigatoriamente, que esta modifiqueseus parmetros de ensino e de avaliao; implica tambm uma escola que atenda s necessidadesconcretas de todos os alunos, rompendo modelos rgidos e inflexveis. Nesse sentido, pode-seinferir que muitas das dificuldades de aprendizagem dos alunos se originam ou se intensificamdevido a planejamentos educacionais rgidos e inadequados (Blanco, 1995).

    A escola tem de ser mais flexvel para que possa acolher uma diversidade de alunos com,diferentes interesses, motivaes e capacidades de aprender. Assim, reafirmamos que a escola queao aluno- no o contrrio, como tem ocorrido.

    De acordo com Blanco (1995), encontrar a resposta mais adequada a cada aluno pressupeconstante busca de solues que permitam ajustar, em cada momento, a ao educacional arealidades concretas que, por definio, mudam constantemente.

    Outro aspecto de igual importncia diz respeito aos contedos, os quais tambm devem sercuidadosamente selecionados. Deve-se levar em considerao que eles no so um fim em si

    mesmos, mas um meio para desenvolver as capacidades do aluno; os contedos devem serselecionados a fim de atender s necessidades, aos interesses e s motivaes do aluno para que aaprendizagem seja significativa os contedos devera ser funcionais para os alunos, devem poder seaplicados em seu dia-a-dia e, dessa forma, serem generalizados para outras situaes e mantidos emseu repertrio.

    Os contedos trabalhados na escola devem ser incorporados e assimilados, de modo queuma habilidade aprendida possa servir de "trampolim" para as prximas habilidades i seremcrismadas. Deve-se pensar o processo educacional como uni contnuo processo de aquisies, semlacunas ou interrupes. podendo integralizar um planejamento educacional que capacite os alunosa serem futuros cidados., cientes de seus direitos e deveres e conhecedores de valores, normas eatitudes aceitveis na sociedade.

    A "metodologia doensino" apontada por Blanco (1995, p. 311) como um dos elementos daao educacional que mais necessita de inovao. A autora explica que "o como aprender to

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    importante como o que se aprende; entretanto, a escola tem enfatizado o que e no o como, ou seja,enfatiza mais os produtos que os processos".

    Somente um processo dinmico de busca de solues garantir o direito de igualdade, odireito de freqentar uma "escola para todos", onde todos, sem exceo, possam se beneficiar dessaoportunidade. Quando nos referimos a "todos", realmente queremos dizer "todos": os alunosconsiderados "normais", aqueles com necessidades educativas especiais e, em especial, o professor,

    que, no cumprimento de seu papel de educador, ter a satisfao de ver seu aluno vencer obstculose aprender os contedos ensinados,Deve-se pensar a escola como formadora de cidados. A funo da escola educar e, nesse

    sentido, o termo "educar" deve ser entendido como o ato de capacitar, formar o aluno (normal ouespecial) para ser o cidado do futuro, dotando-o de habilidades essenciais que o valorizem como

    pessoa e o tornem um cidado participativo na sociedade.(...) o princpio fundamental da linha de ao sobre necessidades educativas

    especiais de que as escolas devem acolher todas as crianas independentemente desuas condies fsicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingsticas ou outras(Declarao de Salamanca, 1994, p. 17).

    De acordo com esse princpio, todas as crianas tm o direito de freqentar escola regular:

    as com deficincia e as bem dotadas, as crianas de rua, as marginalizadas e as que trabalham, as declasse economicamente menos favorecida e as mais favorecidas, as de zona rural e/ou perifrica dacidade, enfim, todas!

    Com base nisso, a expresso "necessidades educativas especiais" refere-se a todas ascrianas e jovens cujas necessidades decorrem de sua capacidade ou de suas dificuldades deaprendizagem. Assim, a pessoa portadora de necessidades especiais definida da seguinte forma:

    (...) apresenta, em carter permanente ou temporrio, algum tipo de deficincia

    fsica, sensorial, cognitiva, mltipla, condutas tpicas ou altas habilidades, necessitando,

    por isso, de recursos especializados para desenvolver mais plenamente seu potencial e/ousuperar ou minimizar suas dificuldades. No contexto escolar, essas pessoas costumam ser

    chamadas de pessoas portadoras de necessidades educativas especiais (Brasil, 1994, p.22-23).Ensinar a pessoa com necessidades especiais e compreender seu processo de aprendizagem

    constituem desafios permanentes para os educadores, que, inspirados na nova filosofia integradora ecentrada no aluno, devero refletir e intervir no sentido de possibilitar s pessoas com necessidadesespeciais o maior proveito possvel em sua permanncia escolar.

    A garantia educao um direito de todos e, como educao implica aprendizado,crescimento, desenvolvimento de idias e contedos, somente uma formao pedaggica que atendas peculiaridades da nova proposta educacional garantir educao de qualidade para TODOS.

    Tudo o que novo toma-se alvo de reflexes, crticas e polmicas, mas, a partir do momentoem que a nova idia vai sendo discutida e incorporada ao contexto, gradativamente toma-se parte do

    mesmo, ou seja, o que parece difcil ou impossvel num primeiro momento, aos poucos assimiladopela situao e, dentro de pouco tempo, passa a fazer parte do contexto.Espera-se que as mudanas apontadas pela literatura e sistematizadas neste texto possam

    contribuir para a reflexo e a tomada de decises em relao ao processo de incluso. A reflexo um exerccio necessrio para a compreenso e a acomodao das idias. Os contedos apontados

    pelos principais documentos da rea - Poltica Nacional de Educao Especial e Declarao deSalamanca - so complexos e necessitam ser interpretados para que se possa chegar a umentendimento. No entanto, esta foi urna tentativa de socializar o conhecimento existente na rea deEducao Especial e de explicitar os pressupostos bsicos e as implicaes do cumprimento dasdeterminaes legais.

    BibliografiaARANHA, M. S. F. Incluso social e municipalizao. In:Educao especial: temas atuais.MANZINI, E. (Org.). Marlia.- Unesp-Marlia Publicaes, 2000. p, 1-9.

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