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1 Curso de Pedagogia Artigo Original EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES ASSET EDUCATION: PERSPECTIVES AND POSSIBILITIES Deuslâne da Silva Gomes 1 , Thays Gomes de Sena 1 , Renata Almendra² 1 Alunas do Curso de Pedagogia 2 Professora Doutora do Curso de Pedagogia Resumo O presente artigo conceitua o que é Educação Patrimonial e sua importância para a construção da identidade e cidadania dos indivíduos, atuando na educação para a valorização e preservação de nosso patrimônio e da nossa cultura. Com o objetivo de despertar no leitor o interesse pelo tema, esta pesquisa traz também um comparativo entre duas escolas de Brasília, uma pública e uma particular, no que diz respeito ao conhecimento dos docentes sobre a Educação Patrimonial, assim como sua ação pedagógica com seus alunos. Revela-se que a falta de conhecimento sobre Educação Patrimonial se dá pelo desconhecimento por parte dos professores e da população de forma geral, sendo até trabalhado em sala de aula, mas não de forma intencionada. A Educação Patrimonial vem para despertar nos alunos e professores a importância da valorização e preservação da nossa cultura de forma geral, abrangendo a culinária, educação, festejos, monumentos históricos, entre outros, incentivando a continuidade cultural e patrimonial para as gerações futuras. Palavras-Chave: Educação Patrimonial; Patrimônio; Cultura; Brasília. Abstract This article conceptualizes what is Heritage Education and its importance to the construction of identity and citizenship of individuals working in education for the enhancement and preservation of our heritage and our culture. In order to arouse the reader's interest in the subject, this research also provides a comparison between two schools of Brasilia, one public and one private, with regard to knowledge of teachers on Heritage Education, as well as their pedagogical action with their students. It is revealed that the lack of knowledge about heritage education is through ignorance on the part of teachers and the population in general, and even worked in the classroom, but not deliberate form. The heritage education is to awaken in students and teachers the importance of valuing and preserving our culture in general, including the culinary, education, festivals, historical monuments, among others, encouraging cultural and heritage continuity for future generations. Keywords: Heritage Education; Patrimony; Culture; Brasilia. Contato: Deuslâne da Silva Gomes e Thays Gomes de Sena Introdução Este estudo vai de encontro à necessidade de evidenciar a importância de educar culturalmente nossas crianças e despertar nelas o desejo de valorização e preservação do patrimônio. O trabalho docente deve ser norteado pela temática da pluralidade cultural que, segundo os Parâmetros Culturais Nacionais (PCN’s), dizem respeito ao conhecimento e a valorização de características étnicas e culturais das comunidades. Entendemos que as culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo de suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos na produção de conhecimentos, etc. A escola tem o importante papel de desenvolver e valorizar a cultura do nosso país, do nosso povo. Tradicionalmente, as escolas já realizam alguns festejos folclóricos e as festas juninas. Outra forma de valorização da nossa cultura e de reconhecimento patriota que a escola realiza é o ensino do hino nacional, que normalmente é ouvido nas horas cívicas das escolas, buscando reforçar e preservar nossas raízes. No entanto, muito mais pode ser feito! Diante da necessidade de valorização e preservação da nossa cultura, a educação patrimonial vem para agregar, e de certa forma, colocar em prática o que os livros ensinam e os professores reproduzem apenas oralmente. Como exemplo, podemos citar o dia do índio, data que as escolas nunca deixam passar em branco, sempre é lembrada e comemorada com a confecção do cocar e a pintura nos rostos das crianças. No entanto, o reconhecimento do valor e do papel dos indígenas em nossa história poderia ir muito além: poderia ser trabalhada com a visita ao Memorial dos Povos Indígenas ou ao Museu do Índio, onde os alunos poderiam presenciar a cultura desse

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADESnippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/...1 Alunas do Curso de Pedagogia 2 Professora Doutora do Curso de Pedagogia Resumo

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Curso de Pedagogia Artigo Original

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES ASSET EDUCATION: PERSPECTIVES AND POSSIBILITIES

Deuslâne da Silva Gomes1, Thays Gomes de Sena1, Renata Almendra² 1 Alunas do Curso de Pedagogia 2 Professora Doutora do Curso de Pedagogia

Resumo O presente artigo conceitua o que é Educação Patrimonial e sua importância para a construção da identidade e cidadania dos indivíduos, atuando na educação para a valorização e preservação de nosso patrimônio e da nossa cultura. Com o objetivo de despertar no leitor o interesse pelo tema, esta pesquisa traz também um comparativo entre duas escolas de Brasília, uma pública e uma particular, no que diz respeito ao conhecimento dos docentes sobre a Educação Patrimonial, assim como sua ação pedagógica com seus alunos. Revela-se que a falta de conhecimento sobre Educação Patrimonial se dá pelo desconhecimento por parte dos professores e da população de forma geral, sendo até trabalhado em sala de aula, mas não de forma intencionada. A Educação Patrimonial vem para despertar nos alunos e professores a importância da valorização e preservação da nossa cultura de forma geral, abrangendo a culinária, educação, festejos, monumentos históricos, entre outros, incentivando a continuidade cultural e patrimonial para as gerações futuras. Palavras-Chave: Educação Patrimonial; Patrimônio; Cultura; Brasília. Abstract This article conceptualizes what is Heritage Education and its importance to the construction of identity and citizenship of individuals working in education for the enhancement and preservation of our heritage and our culture. In order to arouse the reader's interest in the subject, this research also provides a comparison between two schools of Brasilia, one public and one private, with regard to knowledge of teachers on Heritage Education, as well as their pedagogical action with their students. It is revealed that the lack of knowledge about heritage education is through ignorance on the part of teachers and the population in general, and even worked in the classroom, but not deliberate form. The heritage education is to awaken in students and teachers the importance of valuing and preserving our culture in general, including the culinary, education, festivals, historical monuments, among others, encouraging cultural and heritage continuity for future generations. Keywords: Heritage Education; Patrimony; Culture; Brasilia.

Contato: Deuslâne da Silva Gomes e Thays Gomes de Sena

Introdução

Este estudo vai de encontro à necessidade de evidenciar a importância de educar culturalmente nossas crianças e despertar nelas o desejo de valorização e preservação do patrimônio.

O trabalho docente deve ser norteado pela temática da pluralidade cultural que, segundo os Parâmetros Culturais Nacionais (PCN’s), dizem respeito ao conhecimento e a valorização de características étnicas e culturais das comunidades. Entendemos que as culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo de suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos na produção de conhecimentos, etc. A escola tem o importante papel de desenvolver e valorizar a cultura do nosso país, do nosso povo.

Tradicionalmente, as escolas já realizam

alguns festejos folclóricos e as festas juninas. Outra forma de valorização da nossa cultura e de reconhecimento patriota que a escola realiza é o ensino do hino nacional, que normalmente é ouvido nas horas cívicas das escolas, buscando reforçar e preservar nossas raízes. No entanto, muito mais pode ser feito!

Diante da necessidade de valorização e preservação da nossa cultura, a educação patrimonial vem para agregar, e de certa forma, colocar em prática o que os livros ensinam e os professores reproduzem apenas oralmente. Como exemplo, podemos citar o dia do índio, data que as escolas nunca deixam passar em branco, sempre é lembrada e comemorada com a confecção do cocar e a pintura nos rostos das crianças. No entanto, o reconhecimento do valor e do papel dos indígenas em nossa história poderia ir muito além: poderia ser trabalhada com a visita ao Memorial dos Povos Indígenas ou ao Museu do Índio, onde os alunos poderiam presenciar a cultura desse

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povo, como eles vivem, se apropriando assim de parte da história de nossa nação, entendendo seus costumes que são preservados até hoje, como a pintura dos rostos e do corpo.

Brasília é uma cidade privilegiada, que possui muitos monumentos históricos e culturais, é quase um museu a céu aberto. Muitos espaços públicos da cidade, como superquadras, jardins, prédios são tombados como Patrimônio Cultural e a visitação é gratuita de fácil acesso.

Com a educação patrimonial, ao se visitar os espaços culturais, além de se adquirir conhecimentos, os alunos tomam consciência da importância desses monumentos, museus e espaços para a sociedade, além de entenderem que é preciso preservá-los para que a história continue e outras gerações também tenham a oportunidade de se apropriar dessa história, desse conhecimento.

É importante que tanto os professores como os alunos compreendam que a apropriação da cultura através da educação patrimonial reflete na valorização do mundo que nos rodeia, assim como todos os costumes, tradições, gastronomia, história e artesanatos que contam e constroem a identidade de um povo que se reinventa diariamente e constrói heranças para o futuro.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN surgiu dessa necessidade de preservação e cuidado com o patrimônio e acredita no poder da educação para alcançar essa consciência cultural. Dessa forma, o Instituto promove ações educativas e de exercício da cidadania. Seu Guia Básico de Educação orienta e contribui para a ampliação de ações que auxiliam e contribuem para a educação das pessoas no que se refere às questões de Patrimônio Cultural, colaborando para a sua preservação, despertando no universo educacional caminhos para desenvolver na escola e na comunidade, a sensibilidade para manter a memória viva.

Assim, o objetivo geral deste artigo é apresentar uma análise da importância da inserção da educação patrimonial nos anos iniciais para a apropriação e valorização da cultura nas escolas de Brasília. Como objetivos específicos foi realizado um estudo sobre os conceitos de Educação Patrimonial e uma análise de como os professores entendem a importância do patrimônio local na formação da identidade dos educandos.

Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica teórica aliada à uma pesquisa de campo realizada com professores de uma escola pública localizada em Planaltina-DF e em uma escola localizada na Área Octogonal - DF, com o intuito de enriquecer a pesquisa com dados coletados em campo.

A motivação pela escolha do tema se deu pela apreciação das artes desde a época do ensino fundamental II. Mesmo que as autoras tenham estudado em escolas públicas e em cidades diferentes do DF, encontramos um grande

incentivo dos professores no assunto de arte e cultura, que proporcionava aos alunos saídas de estudos em pontos turísticos e históricos de Brasília, e isso fez grande diferença em nossa formação. Também recebemos incentivo sobre o tema ao longo do curso de Pedagogia, sobretudo na disciplina Teoria e Metodologia do Ensino da Arte. E hoje, como realização de mais uma etapa de nossas vidas, tivemos a oportunidade de pesquisar e defender um tema que temos muita afinidade e consideramos enriquecedor para os futuros pedagogos.

1. PATRIMÔNIO E EDUCAÇÃO

Os conceitos de patrimônio são variados e

cada comunidade pode eleger símbolos de sua cultura como seus próprios bens patrimoniais. Assim, os moradores de um bairro podem, por exemplo, considerar como seu patrimônio uma árvore antiga, o banco de uma pracinha, festas populares tradicionais e outros objetos que sejam considerados por todos como representantes de sua memória e identidade.

Toda produção cultural humana advém de bens já conhecidos por meio da história, do conhecimento que é passado para as gerações e podem ser conhecidos através de manifestações culturais como a dança, a culinária, o artesanato, etc. Esses bens culturais surgem dos valores decorrentes da importância afetiva, histórica, da diversidade cultural e da identidade de um povo.

Nossa Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216, seção II, conceitua Patrimônio Cultural como:

Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I. As formas de expressão;

II. Os modos de criar, fazer e viver;

III. As criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV. As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticos – culturais;

V. Os conjuntos urbanos, sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988)

A Constituição de 1988 traz em alguns

outros artigos diversas diretrizes relacionadas à cultura e ao patrimônio cultural. No entanto, cabe ressaltar que, na constituição em vigor, não foi identificada nenhuma referência direta à Educação Patrimonial.

Já na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n° 9.394/96, em seu artigo 26, podem ser encontradas referências

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associadas à Educação Patrimonial, sobretudo relacionadas à disciplina de História e de Artes. Os PCNs inovaram ao indicar a interdisciplinaridade como uma necessidade na educação básica, principalmente mediante a introdução dos “temas transversais”: Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual, que deverão estar presentes nas diferentes disciplinas escolares. Dois desses temas transversais possibilitam o estudo do patrimônio cultural e a adoção de projetos de Educação Patrimonial: meio ambiente e pluralidade cultural.

O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão que vem atuando na conscientização e preservação do Patrimônio Cultural, tem uma coordenação voltada especificamente para a Educação Patrimonial, a CEDUC (Coordenação de Educação), que publica muitos estudos e materiais relativos a este tema. Uma dessas publicações é o Manual de Atividades Práticas de Educação Patrimonial, elaborado pela educadora e arquiteta Evelina Grunberg em 2007. Neste pequeno manual, a autora traz logo nas primeiras páginas um conceito claro de Patrimônio Cultural:

São todas as manifestações e expressões que a sociedade e os homens criam e que, ao longo dos anos, vão se acumulando com as das gerações anteriores. Cada geração as recebe, usufrui delas e as modifica de acordo com sua própria história e necessidades. Cada geração dá a sua contribuição, preservando ou esquecendo essa herança. (...) e não somente aqueles bens que se herdam dos nossos antepassados. São também os que se produzem no presente como expressão de cada geração, nosso “Patrimônio Vivo”: artesanatos, utilização de plantas como alimentos e remédios, formas de trabalhar, plantar, cultivar e colher, pescar, construir moradias, meios de transporte, culinária, folguedos, expressões artísticas e religiosas, jogos e etc. (GRUNBERG, 2007, p. 5).

Etimologicamente, Patrimônio Cultural,

significa “herança paterna”, ou seja, a riqueza comum que nós herdamos como cidadãos, e que se vai transmitindo de geração a geração. Podemos entendê-lo, portanto, como um bem (ou bens) de natural material e/ou imaterial considerado importante para a identidade de uma sociedade.

Para Almeida (2009), Patrimônio Cultural são bens coletivos que representam uma memória, ou seja, é a materialização dessa memória. Acredita-se que valorizar a cultura é, dentre muitas outras coisas, prestigiar festas típicas e o artesanato local. Assim, a identidade cultural de um país, estado, cidade ou comunidade se faz com a memória individual e coletiva desse povo, o que dá significado, conta uma história.

Já de posse do conceito de Patrimônio Cultural, destaca-se então o que é Educação

Patrimonial, e como se dá. Mais uma vez, especialistas do IPHAN definem em seu Guia Básico de Educação Patrimonial (2009), como:

(...) um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural (HORTA; GRUNBERG; MONTEIRO, 2009, p.6).

Dessa forma, o educador que tem consciência da importância de se educar patrimonialmente, forma sujeitos críticos que entendem e valorizam sua história e suas origens. Os professores devem entender que o passado apresentado nos livros de história é refletido no tempo presente e aponta caminhos para o futuro. Deve-se, portanto, despertar o interesse pela cultura, por sua preservação, garantindo assim a continuidade da história.

GRINSPUM (2001) denominou que Educação para o Patrimônio pode ser entendido como:

[...] forma de mediação que propicia aos diversos públicos a possibilidade de interpretar bens culturais, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos, estimulando-os a exercer a cidadania e a responsabilidade social de compartilhar, preservar e valorizar patrimônios da cultura material e imaterial com excelência e igualdade (GRINSPUM, 2001, p 27).

Dessa forma, destacamos que a Educação Patrimonial desperta para a necessidade de preservação sustentável, uma vez que o conhecimento crítico que o indivíduo adquire ao se apropriar do seu patrimônio e de sua importância o leva a refletir sobre sua identidade e cidadania.

Complementando esta ideia, HORTA (2005), no Guia Básica de Educação Patrimonial, amplia alguns princípios que orientam a perspectiva da Educação Patrimonial:

a) o reconhecimento dos bens culturais

como expressões tangíveis e perceptíveis dos gestos e atos criativos dos indivíduos, e que resultam de suas relações e interações com o seu meio ambiente histórico e social; b) a percepção, compreensão e a identificação com o drama histórico, social e cultural encapsulado em cada expressão cultural que preservamos em nossos museus ou fora deles, como

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referência para o presente e para o futuro; c) a percepção de que os objetos culturais, tomados como patrimônio ou memória coletivos, têm a força e a função de signos no processo da comunicação social, como suportes de sentidos e significados (HORTA, 2005, p.223-4).

A Educação Patrimonial, como agente de transformação e conhecimento, age resgatando a auto-estima e revalorização cultural e de identidade que, com o passar dos anos, se perde em meio à globalização e valorização de outras culturas e raças, por exemplo, que impõem sua cultura como melhor ou superior às demais. Sendo assim, a Educação Patrimonial é também considerada como um instrumento de alfabetização cultural, que situa o indivíduo e o leva a compreensão da sua trajetória histórico temporal.

Para Mattozzi (apud DUTRA, 2015, p. 149), “o escopo da educação patrimonial é gerar o sentido, o conhecimento e o respeito ao patrimônio. ” E ao analisar a relação entre a história e o patrimônio, afirma que “o patrimônio contribui para a formação histórica por permitir dar consistência às informações e aos textos históricos e porque constrói a percepção e a visão histórica do território e do mundo”.

É a partir do contato e de experiências com manifestações de cultura em suas variadas formas, sentidos, aspectos e significados que o indivíduo participa do processo de conhecimento, apropriação e valorização da sua herança cultural. Esse processo se dá, portanto, por meio da Educação Patrimonial que, em poucas palavras, é a educação voltada para as questões culturais, incluída nos currículos escolares (ALMEIDA, 2011).

Para ORIÁ (apud DUTRA, 2015, p. 141), as aproximações entre o ensino da história e o patrimônio tornaram-se também objeto de interesse de pesquisadores e professores que perceberam a perspectiva da Educação Patrimonial entendida como a “utilização dos museus, monumentos históricos, arquivos bibliotecas – os lugares de suporte da memória - no processo educativo” como meio de desenvolvimento da sensibilidade e da consciência dos alunos acerca da importância da preservação destes bens culturais.

O museu é um ambiente cultural que conserva histórias, objetos, documentos, arte, tudo que pode contar sobre nossos antepassados. Mas infelizmente é pouco explorado e em algumas vezes é lembrado como local de coisas ‘’velhas’’. E o PCN de História do Ensino Fundamental traça alguns objetivos que podem ser alçados com a visita a museus: 1. Organizar repertórios histórico-culturais que lhes permitam localizar acontecimentos numa multiplicidade de tempo, de modo a formular explicações para algumas questões do presente e do passado; 2. Conhecer

e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles; 3. Utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histórico, aprendendo a ler diferentes registros escritos, iconográficos, sonoros; 4.Questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e algumas de suas possíveis soluções; 5. Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e como um elemento de fortalecimento da democracia (BRASIL, 1998).

O museu tem a missão de agrupar e preservar obras, documentos, objetos e disponibilizar para a sociedade, disseminando assim a cultura. De acordo com o portal do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM/ Ministério da Cultura: “O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens de pronto irradiadas por objetos e referenciais ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano”.

Observação, preservação, valorização, exploração do território são então as palavras chave da Educação Patrimonial, onde espaços culturais são construídos na intenção de transmitir a cultura do povo. Educar culturalmente é não deixar que nossas raízes sejam esquecidas e sejam valorizadas.

2. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA CIDADE

DE BRASÍLIA Em 1960, no centro do país, inaugura-se

Brasília. Planejada para ser a capital do Brasil, foi desenhada por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Athos Bulcão. Sua proposta urbanística e seus monumentos a tornam uma cidade diferente das demais, sendo quase um museu a céu aberto. Em 1987 toda essa singularidade lhe rendeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e não muito tarde, em 1990 foi tombada como Patrimônio Histórico Federal pelo Governo Federal.

Como Patrimônio Cultural, Brasília é pura cultura, e esse reconhecimento deve ser valorizado nas escolas. As escolas de Brasília devem adotar o estudo do patrimônio em seus currículos, trabalhando junto com a disciplina de História e de forma interdisciplinar, a História de Brasília, buscando despertar o interesse, o orgulho pela nossa cidade e, consequentemente, a valorização e a preservação dos nossos bens históricos. Assim, acreditamos que uma ação pedagógica que objetiva valorizar o Patrimônio Cultural deve constar no Projeto Político Pedagógico das escolas, já que este documento é elemento que identifica a escola, seu público e sua missão, além de orientar quanto aos princípios das

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ações pedagógicas e de normas compartilhadas por toda a comunidade escolar. Sobre o PPP, Demerval Saviani sublinha que:

O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político com os interesses reais e coletivos da população majoritária (SAVIANI apud VEIGA, 1995, p. 93).

Brasília se revela uma cidade multicultural, onde ocorre um verdadeiro encontro de raças e culturas. Pessoas de diversos estados do Brasil vieram na década de 60 para a nova capital, trazendo suas memórias, seus hábitos, costumes e tradições regionais. Ainda hoje a cidade recebe muitas pessoas oriundas dos mais diversos cantos do país e busca valorizar suas memórias com espaços que atraem os diversos públicos, como por exemplo, a Torre de TV. Além de ser um ponto turístico, que permite uma vista privilegiada da capital do país, também possui a famosa feira da torre, onde o artesanato local é valorizado e muitos turistas levam uma lembrança da capital e também conhecem e apreciam nossa gastronomia e de outras regiões do Brasil.

Brasília, mesmo sendo uma cidade pequena, é muito rica culturalmente e possui diversos museus. Como exemplo podemos citar o Catetinho, que foi a primeira residência de Juscelino Kubitschek e recebeu esse nome em referência ao Palácio do Catete no Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil. Lá, os visitantes podem ter acesso às lembranças da época do surgimento da capital, onde os cômodos e as fotos expostas recontam a história e nos remete ao passado.

Percebemos assim as imensas possibilidades e espaços culturais em Brasília que possibilitam a prática de Educação Patrimonial. São lugares de lembranças, de homenagens, ou simplesmente lugares de disseminação da cultura. Mas mesmo com tantas possibilidades, observamos desafios quanto a efetivação da prática educativa em patrimônio, que se deve pela carência de ações sistemáticas nesse campo da cultura, como a elaboração de metodologias e normas que orientem a ação do professor. Sacristan (2000) fala sobre a organização curricular e o estabelecimento de prioridades de acordo com os objetivos educacionais da escola:

Todas as finalidades que se atribuem e são destinadas implicitamente ou explicitamente à instituição escolar, de socialização, formação, de segregação ou de integração social, etc., acabam necessariamente tendo um reflexo nos objetivos que orientam todo o currículo, na seleção de componentes do mesmo, desembocam numa divisão especialmente ponderada entre diferentes parcelas curriculares e nas

próprias atividades metodológicas as quais dá lugar. Por isso, o interesse pelos problemas relacionados com o currículo não é senão uma consequência da consciência de que é por meio dele que se realizam basicamente as funções da escola como instituição (SACRISTÁN, 2000, p.17).

É na escola que passamos uma grande

parte de nossas vidas, e é nela também que aprendemos muito sobre o mundo e nós mesmos. A escola oportuniza muitos aprendizados e um deles deve ser a Educação Patrimonial, que começa pela valorização de nossa escola, da sua história. Passeios realizados para pontos turísticos de nossa cidade ajudam a reforçar que Educação Patrimonial faz parte da vida de todos. Nesses momentos fora da sala de aula vivenciamos que preservar é cuidar do que é nosso, do que faz parte de nossa história e que representa a herança de nosso povo.

Para ocorrer o processo educativo, inúmeros fatores devem ser levados em conta. A ação do educador é um dos mais importantes. Nos planejamentos podemos e devemos incluir assuntos culturais e históricos que retratam o ambiente onde a escola está inserida, apresentando, discutindo e valorizando as tradições, crenças, rituais, artesanatos, comportamentos, visitas a museus e etc. Aspectos estes que muitas vezes não são retratados nos livros didáticos, mas que são de extrema importância para o desenvolvimento e aprendizado da construção da identidade cultural e para o exercício da cidadania.

A museóloga HORTA (2005), aponta que a metodologia da Educação Patrimonial nas escolas pode ser desenvolvida em quatro etapas: 1- a observação, 2- o registro, 3- a exploração e 4- a apropriação do bem cultural. Cada uma dessas etapas permite, respectivamente: identificar o objeto, a sua função e seu significado; registrar o conhecimento percebido, através do aprofundamento da observação; desenvolver a análise crítica através da consulta a outras fontes; e a apropriação do conhecimento adquirido por meio da participação criativa. (HORTA et al, 2009, p. 11). Por meio dessa metodologia podemos perceber a riqueza de habilidades, conceitos e conhecimentos que podem ser adquiridos por todos os envolvidos neste processo educativo, além de desenvolver a capacidade de reflexão, de descoberta, apropriação e valorização pelo Patrimônio Cultural.

Evelina Grunberg (2007) sugere que o conceito de Patrimônio seja iniciado em sala de aula com um exercício simples: o professor pede que os alunos tragam de casa objetos que tenham algum significado importante e uma relação afetiva. Utilizando nessa atividade as fases de observação e registro, os alunos observam os objetos de todos, suas formas, como é feito e respondem algumas perguntas, como por

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exemplo: qual a cor, se faz barulho, para que serve, se ganhou de alguém, quem usou, por que é importante para você. Essa atividade introduz o conceito de Patrimônio, que nesse caso é pessoal, e que deve ser respeitado por todos.

Outra atividade sugerida, além de visitas problematizadas a museus, monumentos e centros culturais, é a caminhada. Esta pode ser realizada nos arredores da escola, explorando os parques, as paisagens, as ruas, etc. No final, todos devem expor suas impressões do que viram, e nesse momento vão perceber patrimônios muito simples de se reconhecer, como por exemplo, o nome de uma rua, qual o seu significado, sua história.

No Guia Básico de Educação Patrimonial, HORTA et tal destacam metodologias de trabalho sobre patrimônio na escola:

A metodologia específica da Educação Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidência material ou manifestação da cultura, seja um objeto ou um conjunto de bens, um monumento ou um sítio arqueológico, uma paisagem natural, um parque ou uma área de proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade de área rural, uma manifestação popular de caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre os indivíduos e seu meio ambiente (HORTA; GRUNBERG; MONTEIRO, 2009, p.6).

Compreendida como uma educação

dialógica, a Educação Patrimonial parte da compreensão e bagagem trazidas pelos alunos, de suas experiências diárias. Podendo começar do concreto e do senso comum, levando-os a compreender nossa realidade. É dar voz aos alunos, para que mostrem seu conhecimento de mundo e para juntos caminharem no sentido de compreender criticamente e cientificamente.

Assim, é importante ressaltar que as ações de Educação Patrimonial devem ser encaradas como um processo sistemático e permanente de investigação, no qual os estudantes são estimulados a descobrir e a usufruir desses bens, num jogo de sensações que os livros não transmitem. São conhecimentos adquiridos na vivência e na experiência prática.

Nessa temática, voltamos ao cenário inicial dessa abordagem: Brasília, local onde essas experiências podem ser adquiridas e vivenciadas num simples passeio em suas superquadras, por exemplo. Ou na visita ao Memorial JK, ou simplesmente ao parar para apreciar um azulejo de Athos Bulcão. São muitas memórias de uma cidade de apenas cinqüenta e seis anos, mas que vive a arte e a cultura desde sua fundação.

Entender os motivos, as propostas que motivaram a construção de Brasília, porque tem esse formato diferente, e saber porque essas memórias devem ser valorizadas e preservadas é

importante para a construção e consolidação de uma cidade consciente. E a Educação Patrimonial desempenha esse papel, já que sua proposta educativa é tratar do reconhecimento histórico e cultural do território.

O museólogo Mário Chagas afirma que:

Toda vez que as pessoas se reúnem para construir e dividir novos conhecimentos investigam para conhecer melhor, entender e transformar a realidade que nos cerca, estamos falando de uma ação educativa. Quando fazemos tudo isso levando em conta alguma coisa que tenha relação com nosso patrimônio cultural, então estamos falando de Educação Patrimonial (CHAGAS, 2006, p. 18).

O não interesse dos alunos pelas questões locais nos indicam que esses aspectos estão sendo pouco trabalhados ou que nunca são trabalhados em sala de aula. Com isso, não se importam com a memória local. O problema não é somente culpa do professor, uma grande parcela advém das unidades formadoras.

Com a Educação Patrimonial, as oportunidades de experiências culturais complementam a identidade cultural do aluno, permitindo experimentar e vivenciar ações que trazem o reconhecimento do passado, ajudando a compreender o presente e promovendo a valorização futura dos patrimônios. Tudo isso é possível quando a escola favorece essas experiências, sejam elas em visitas aos museus, aos pontos turísticos de Brasília ou mesmo na pracinha e igreja de sua cidade.

Através da escola podemos transmitir conceitos e ensinamentos de Educação Patrimonial e preservação dos bens. Nesse sentido, BRANDÃO (1996) afirma que:

Para que a ação educativa de valorização e preservação do patrimônio cumpra seu papel, portanto, faz-se necessário indicar alguns dos caminhos possíveis a serem trilhados. A Educação Patrimonial, em primeiro lugar, deve considerar que a preservação dos bens culturais é uma prática social, inserida nos contextos culturais, nos espaços da vida das pessoas. Ela não deve se utilizar de práticas que enaltecem e reificam coisas e objetos sem submetê-los a um universo de ressignificação dos bens culturais. Ela associa, portanto, os valores históricos do bem cultural ao seu lugar atual, em sua comunidade de inserção, ou seja, ao lugar social onde o bem esta agora (BRANDÃO, 1996, p. 293-294).

Preocupados com essa prática social, em Brasília podemos citar duas empresas que promovem saídas de estudos guiadas. As escolas que conhecem esse trabalho e tem consciência da importância de se educar patrimonialmente contratam seus serviços. A Tríade Patrimônio Turismo, empresa brasiliense especializada no

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conceito Brasília, atua com ações que conectam educação, patrimônio e turismo. Sua missão é encantar, provocar a emoção e despertar o conhecimento por meio de experiências significativas de turismo cultural, educação patrimonial e programas educativos em centros culturais e instituições museológicas. A outra empresa é a Extraclasse Turismo e Eventos, que oferece suporte necessário para a realização de viagens, passeios e atividades pedagógicas.

Essas empresas promovem saídas de estudos estimulantes e criativas, onde as crianças desfrutam de momentos de estudos muito diferentes do que acontece em sala de aula. Preocupam-se também com o conforto e segurança das crianças, uma vez que possuem ônibus confortáveis, brigadista com kit primeiros socorros, além dos guias monitores. É sem dúvida uma experiência incrível para as crianças, que conhecem pontos turísticos e culturais e aprendem a valorizá-los e preservá-los.

A Educação deve resgatar os saberes culturais para formar sujeitos críticos e cultos, que têm orgulho de sua história e se sentem pertencentes a ela. Nossa capital é cultura por toda parte e basta que se ande por ela para perceber isso.

3. PESQUISA DE CAMPO

Como parte de nosso trabalho, realizamos uma pesquisa de campo com professores de duas escolas, sendo uma pública e uma privada situadas no Distrito Federal, mas localizadas em regiões diferentes. Como instrumento de pesquisa e coleta de dados, foi elaborado um questionário composto por 14 questões, com alguns espaços abertos para complementação de informações, caso fosse necessário (ver anexo 1). O questionário foi aplicado com a intenção de verificar o conhecimento dos professores sobre Educação Patrimonial e se esse tema é abordado em suas aulas.

O questionário foi aplicado durante o mês de maio e, em cada escola, dez professores do Ensino Fundamental I colaboraram com a pesquisa. Não houve entrevista individual e cada professor respondeu o questionário individualmente e teve sua identidade preservada.

3.1. DESCRIÇÃO DAS ESCOLAS

Os professores que colaboraram com a coleta de dados da escola particular são docentes da instituição de ensino situada na Área Octogonal/Sudoeste. Esta escola tem 45 anos de história, se intitula como escola construtivista, é uma escola de médio a grande porte que atende um público de classe média alta a alta. Atende da Educação Infantil até o Ensino Médio e ainda conta com turmas de Educação integral com aulas extracurriculares como balé, natação e judô.

Possui laboratórios de informática em todos os seus setores, assim como laboratórios de artes e de ciências, dois espaços multimídias e todas as salas de aula possuem equipamento de data show e aparelhos de televisão, mini hortas, duas piscinas aquecidas, quatro parques de diversões, um ginásio de esportes, campo de futebol de grama sintética, caixa de areia, além de espaço recreativo também com grama sintética. Seu lema é: “Seja Feliz Aqui, Educar é Nossa História”.

A segunda escola na qual foram aplicados os questionários é uma instituição de ensino público localizada em Planaltina – DF, que atende a comunidade oferecendo os anos iniciais e finais do ensino fundamental. A escola está situada em uma comunidade com poder aquisitivo baixo. É uma escola construtivista, segundo o Projeto Político Pedagógico. A escola oferece um amplo espaço agradável, apenas com térreo, as instalações encontram-se conservadas. Desenvolve projetos, passeios, atividades de manifestação artística, onde é explorada a criatividade dos alunos, com o desejo de complementar a percepção de mundo. As salas são arejadas, luminosas e atrativas ao público infantil. A escola possui um laboratório de informática, uma biblioteca, uma cabana literária (espaço para leitura), um parque de areia, uma quadra poliesportiva e sala de recursos. O seu lema é: “Família educa. Escola ensina”.

A escolha das escolas foi proposital, com o objetivo de fazer um comparativo entre o ensino público e privado, mostrando as diferenças e também as semelhanças entre elas, onde a influência de cada uma interfere no desenvolvimento das crianças e também dos profissionais que todos os dias estão nas salas de aula para transmitir o conhecimento a seus alunos.

3.2 AMOSTRA

Para a análise dos dados foi utilizada a técnica comparativa das duas instituições a respeito de cada questão. Lembrando que em cada instituição 10 professoras receberam o questionário, mas apenas 9 responderam na escola particular, e 8 responderam na escola pública. Sendo assim, nossa pesquisa de campo foi realizada com 17 professoras colaboradoras.

4. RESULTADOS DA PESQUISA

A pesquisa realizada permitiu que o tema fosse repensado, discutido e até mesmo investigado pelas professoras que colaboraram com nosso trabalho. Percebemos algum desconforto do corpo docente no entendimento sobre o que seria Educação Patrimonial, alguns professores perceberam que muitas vezes já praticavam ações de educação patrimonial, mas sem ter consciência disso.

8

Os dados coletados nos permitiram conhecer a realidade de duas instituições bem diferentes, mas o resultado obtido foi praticamente o mesmo. De acordo com o Gráfico 1, que aponta o nível de escolaridade dos professores pesquisados, percebe-se que a maioria dos entrevistados possuem, além do curso superior em pedagogia, especialização em alguma área, mas nenhuma tem mestrado ou doutorado. O Gráfico 2 destaca o tempo de atuação docente dos respondentes e, como se pode observar, a maior parte dos professores tem mais de 16 anos de atuação, tanto na escola pública como na escola particular. A pesquisa teve como respondentes professores que estão em sala de aula do 1º ao 4º ano, na escola particular. Na escola pública, responderam o questionário professores que atuam no 1º, 3º, 4º e 5º ano, conforme evidenciado no Gráfico 3.

Gráfico 1: Qual seu nível de escolaridade?

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Particular

Pública

Gráfico 2: Qual seu tempo de atuação como docente?

0

1

2

3

4

5

6

1 a 5 anos

6 a 10

anos

11 a 15

anos

16 a 20

anos

Mais de 20 anos

Particular

Pública

Gráfico 3: Em qual sério/ano você está atuando em 2016?

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

1 º ano

2º ano

3º ano

4º ano

5 ano

Particular

Pública

Quanto à realização de visitas guiadas aos

centros históricos ou museus, a escola particular foi unânime ao responder que sim, que há a promoção de visitas a estes espaços. Já a escola pública ficou dividida, pois metade dos professores respondentes afirmou que há a realização de visitas e a outra metade disse que não (Gráfico 4). No entanto, essa informação dividida da escola pública se justifica após observação complementar de um professor que afirma que chegou à escola no corrente ano e que até o momento não foram realizadas visitas, não podendo ele responder pelos anos anteriores, quando ainda não trabalhava na escola. Gráfico 4: A escola promove visitas guiadas a centros históricos, culturais, museus e monumentos?

0

2

4

6

8

10

Sim Não

Particular

Pública

O Gráfico 5 evidencia que nas duas escolas, os professores realizam um trabalho de contextualização ou de continuação da atividade promovida com a visita em sala de aula, ou seja, a visita a um patrimônio cultural acompanha todo um trabalho didático e pedagógico da escola. Para essa questão, houve 2 abstenções dos professores da escola pública.

9

Gráfico 5: Ao realizarem as visitas guiadas, a escola e/ou professor fazem a contextualização ou realizam a continuação da atividade?

02468

10

Particular

Pública

Nas duas escolas, a maioria confirmou que a escola promove ações educativas que visam a apropriação de heranças culturais (Gráfico 6). Como complemento a pergunta, os professores puderam escrever as principais atividades realizadas nas escolas e apontaram os projetos de valorização de datas comemorativas, visitas à museus, saídas de estudos a lugares turísticos da cidade, festa da família, festa junina, lanche indígena, leitura de livros e debate sobre o tema, apresentações e palestras para os alunos, contato com histórias antigas da cidade, brincadeiras de roda e versos antigos, festa das regiões, produção de livros, poemas, paródias e textos diversos. Gráfico 6: A escola promove ações educativas que visam a apropriação e valorização de heranças culturais?

012345678

Particular

Pública

No gráfico 7 foi verificado se existe contextualização dos acontecimentos históricos com o patrimônio local. Ambas as escolas foram quase que unânimes ao responder que sim. E na instituição particular tivemos abstinências. Apesar das respostas afirmativas citarem saídas de estudos à pontos turísticos como forma de contextualização, identificamos pouco conhecimento sobre o tema ao relacionar atividades que não exemplificam a temática.

Gráfico 7: Costuma contextualizar acontecimentos históricos com elementos do nosso patrimônio local?

02468

10

Particular

Pública

Ao serem questionadas sobre a existência da temática Educação Patrimonial no Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas, as respostas foram variadas e algumas responderam que sim, outras não e algumas não responderam, como vemos no gráfico 8. Assim não conseguimos chegar a uma conclusão sobre essa questão. Talvez o que tenha ficado evidenciado, é que muitos professores não conhecem profundamente o PPP de suas escolas. Gráfico 8: Existe dentro do Projeto Político Pedagógico da escola a temática Educação Patrimonial?

01234567

Particular

Pública

Sobre a capacitação na área de patrimônio ou educação patrimonial, no gráfico 9 fica evidente que nas duas instituições os professores não se capacitaram nessa área. Sendo que das duas instituições, apenas uma professora da escola particular respondeu que sim, mas não citou que tipo de capacitação.

10

Gráfico 9: Você fez alguma capacitação na área de patrimônio e/ou educação patrimonial?

0

2

4

6

8

10

Sim Não

Particular

Pública

Analisando o gráfico 10, percebemos que nas duas instituições, mais da metade dos entrevistados afirmaram que realizam atividades sobre educação patrimonial na prática docente diária, sendo apenas uma abstinência na escola particular. Em relação à existência de projetos de valorização da cultura, podemos verificar no gráfico 11 a unanimidade afirmativa nas duas instituições.

Gráfico 10: Em sua prática docente diária você realiza atividades sobre educação patrimonial em sala de aula?

01234567

Particular

Pública

Gráfico 11: A escola realiza projetos que visam a valorização da cultura e do meio onde está inserida?

7,47,67,8

88,28,48,68,8

99,2

Sim Não

Particular

Pública

Observamos no gráfico 12 que a escola particular busca junto com a comunidade e os alunos, preservar os valores culturais locais, pois todas as professoras responderam afirmativamente. Já a escola pública teve opiniões divididas. O gráfico 13 mostra as respostas ao questionamento sobre como a escola está trabalhando sobre o tema. Ambas as instituições ficaram divididas nas respostas e houve duas abstinências. Os professores que responderam que trabalham com temas da educação patrimonial, citaram que trabalham nas datas comemorativas do nosso calendário e festas da nossa cultura, por meio de diversas atividades como gincana, culinária, através das disciplinas de história e geografia e também em ética e cidadania. Gráfico 12: A escola busca junto com a comunidade que seus educandos aprendam a história e a preservar os valores culturais locais?

0

2

4

6

8

10

Sim Não

Particular

Pública

Gráfico 13: Atualmente, como a escola está trabalhando sobre o tema Educação Patrimonial?

01234567

Particular

Pública

Nas duas escolas não existe transporte para saídas de estudo, e quando estas são realizadas, os pais custeiam a saída. Esse seja talvez o motivo maior de não acontecer com mais freqüência na escola pública como acontece na particular. Isso fica evidente no gráfico 14.

11

Gráfico 14: A escola possui verbas e/ou transporte escolar para promover excursões e saídas da escola com os alunos?

0

2

4

6

8

10

Sim Não

Particular

Pública

Podemos perceber com nossa ida a campo, que a temática Educação Patrimonial soa estranha aos ouvidos da maioria dos professores, apesar de aplicarem de uma forma de outra em sua prática educativa. Mesmo não sendo trabalhada de forma significativa e contextualizada, a Educação Patrimonial faz parte da rotina escolar, só falta perceber a importância que ela tem na formação dos alunos, construindo, assim, uma sociedade que valoriza e preserva suas heranças culturais, seja a culinária, pontos turísticos e históricos, ou até mesmo a pracinha da cidade

Considerações Finais

O tema Educação Patrimonial vem com a intenção de resgatar a valorização da nossa cultura, nossas raízes, nosso patrimônio, seja ele qual for. Essa temática se torna importante, uma vez que vivemos num mundo globalizado e a valorização de outras culturas vem se tornando cada vez mais forte. A cada dia o estilo de vida americano é copiado e cada vez mais desejado, assim como a gastronomia e a moda. Nossas crianças são incentivadas a aprenderem o inglês e tudo que é de fora é muito valorizado e, assim, nossa cultura vai ficando esquecida e na escola muitas vezes só é lembrada apenas nas aulas de história.

Somos um país enorme em extensão e enorme também em suas variedades de culturas, de histórias, de gastronomia, entre outras coisas. E é muito importante conhecer e reconhecer toda essa cultura que faz parte de nossa identidade para aprendermos a valorizar e preservar nosso patrimônio.

A criança deve começar a entender a si própria como seu maior patrimônio, compreendendo a partir daí a importância de preservar o Patrimônio, resgatando assim, a pedagogia do amor. Ao ensinar a criança a enxergar o seu próprio mundo com mais carinho e respeito, ela passará esse amor e cuidado aos que estejam próximos a ela, e com o passar do tempo,

todos poderão viver em um mundo melhor. E a escola é lugar privilegiado em termos de

diversidade e poderia trabalhar a Educação Patrimonial de forma direcionada. É necessário, portanto, que as escolas percebam sua importância e que seja incluída no currículo, pois trabalhando o tema com intencionalidade os resultados em termos de apropriação, valorização e preservação do patrimônio serão mais satisfatórios.

Nosso estudo e pesquisa foram enriquecedores para nossa formação, pois podemos perceber que a educação se atualiza o tempo todo e nós docentes temos que sempre nos atualizar e entender o que novas propostas de educação tem a acrescentar em nossa prática e na formação de nossos alunos. O professor se depara com várias situações sobre ensino e aprendizagem, indisciplina, inclusão e também deve estar atento às novas práticas de educação.

O incentivo à cultura, entendendo-a como nosso patrimônio, sua importância e sua preservação deve ser papel da escola, uma vez que no cenário atual, nossas crianças passam muito tempo na escola.

Perceber a importância de se educar patrimonialmente é educar para a vida, para a cidadania, transformando uma sociedade consciente formada por indivíduos que conhecem, valorizam e preservam sua história e tem orgulho dela. É importante resgatar o que ficou perdido e pensar num futuro melhor, sabendo que a nossa história nunca tem fim.

Agradecimentos:

Agradecemos primeiramente à Deus, pela oportunidade de realizarmos essa conclusão de curso com saúde e paz, aos nossos familiares que nos apoiaram em nossa jornada acadêmica e aos nossos mestres da educação que nos guiaram e transmitiram os saberes necessários para essa grande missão que é educar. Ficam nossos agradecimentos especiais às professoras Edlamar Clauss e Renata Almendra que nos apoiaram com carinho e dedicação nesse momento marcante que é o trabalho de conclusão de curso.

12

Referências:

1. ALMEIDA, Simone Aparecida. Educação Patrimonial: Formação Continuada de Professores de Séries Iniciais. X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. Paraná: PUCPR, 2011. 2. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O difícil espelho: limites e possibilidades de uma experiência de cultura e educação. Rio de Janeiro: IPHAN, 1996. 3. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov>. Acesso em 10.02.016. 4. _______________. Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. 5. _______________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998. 108 p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_5a8_historia.pdf>. 6. CHAGAS, Mário de Souza. A imaginação museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Coleção Museu, memória e cidadania. Rio de Janeiro: MinC/IBRAM, 2009. 7. DUTRA, Soraia Freitas. A Educação Para O Patrimônio Cultural: Entre Práticas E Concepções. Formação de jovens mediadores e multiplicadores. Belo Horizonte - MG, 2013. Disponível em: http://educacao-patrimonial.wix.com/curso. Acesso em 20.03.2016. 8. GRINSPUM, Denise. Educação para o Patrimônio: conceitos, métodos e reflexões para formulação de política. Anais do Simpósio Internacional Museu e Educação: conceitos e métodos. São Paulo: MAE, USP, MAM, 2001.

9. GRUNBERG, Evelina. Manual de Atividades Práticas de Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN, 2007.

10. GRUNBERG, Evelina. HORTA, Maria de Lourdes. MONTEIRO, Adriane. Guia Básico de Educação Patrimonial. 4ª Ed. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 2009.

11. HORTA, Maria de Lourdes P. Lições das coisas: o enigma e o desafio da educação patrimonial. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 31, 2005.

12. Portal do Instituto Brasileiro de Museus: Os Museus. Brasília, 2016. Disponível em: https://www.museus.gov.br/os-museus/. Acesso em 27.02.2016. 13. SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 14. VEIGA, Ilma Passos. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. IN: VEIGA, Ilma Passos (Org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1995.

13

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO

Caro(a) professor(a)

O presente questionário foi desenvolvido com a finalidade de dar estrutura ao Trabalho de Conclusão de

Curso das acadêmicas Deuslâne da Silva Gomes e Thays Gomes Sena, da instituição de ensino superior

ICESP/PROMOVE Brasília, sobre Educação Patrimonial. Agradecemos sua contribuição com nossa

pesquisa e informamos que a sua identidade não será revelada.

1 - Qual o seu nível de escolaridade?

( ) Nível médio

( ) Superior. Área: _________________

( ) Especialização. Área ____________________

( ) Mestrado.

( ) Doutorado

2 - Qual o seu tempo de atuação como docente?

( ) De 1 a 5 anos

( ) De 6 a 10 anos

( ) De 11 a 15 anos

( ) De 16 a 20 anos

( ) Mais de 20 anos

3 – Em qual série/ano você professor está atuando em 2016: ______________

4 – A escola promove visitas guiadas a centros históricos, culturais, museus e monumentos?

Sim Não

5 – Ao realizarem as visitas guiadas, a escola/ e ou professor fazem a contextualização ou realizam a

continuação da atividade?

Sim Não

6 – A escola promove ações educativas que visam a apropriação e valorização de heranças culturais?

Sim Não

Se sim, quais? ___________________________________________________

7 – Costuma contextualizar acontecimentos históricos com elementos do nosso patrimônio local?

Sim Não

14

Se sim, como? ___________________________________________________

8 – Existe dentro do Projeto Político Pedagógico da escola a temática Educação Patrimonial?

Sim Não

9 – Você fez alguma capacitação na área de patrimônio e/ou educação patrimonial?

Sim Não

Se sim, qual? ___________________________________________________

10 – Em sua prática docente diária você realiza atividades sobre educação patrimonial em sala de aula?

Sim Não

11 – A escola realiza projetos que visam a valorização da cultura e do meio onde está inserida?

Sim Não

12 – A escola busca junto com a comunidade que seus educandos aprendam a história e a preservar os

valores culturais locais?

Sim Não

13 – Atualmente, como a escola está trabalhando sobre o tema Educação Patrimonial?

Sim, explique. Não, qual o motivo?

_______________________________________________________________________

14 – A escola possui verbas e/ou transporte escolar para promover excursões e saídas da escola com os

alunos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

Obrigada pela sua colaboração!