5

Click here to load reader

Efe e Mídias

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Efe e Mídias

7/24/2019 Efe e Mídias

http://slidepdf.com/reader/full/efe-e-midias 1/5

 Motriz Jul-Dez 2001, Vol. 7, n.2, pp. 125-129

Ponto de Vista 

Mídias: Aliadas ou Inimigas da Educação

Física Escolar?

Mauro BettiUniversidade Estadual Paulista

Introdução

“Professor, o que é water-polo?,” “Professor, por que aque-les africanos que não sabiam nadar direito estavam compe-tindo nas Olimpíadas?” Tais perguntas foram feitas por alu-nos do ensino fundamental a seus professores de educaçãofísica, conforme depoimento destes em um grupo de estu-

dos sobre televisão e educação física escolar 1

. A primeiraquestão devia-se ao fato daquela modalidade esportiva es-tar contemplada no enredo de alguns episódios de um po- pular seriado de televisão brasileira, dirigido a adolescen-tes; a segunda, em virtude de ter sido dado grande desta-que, nas várias mídias, à participação de nadadores da GuinéEquatorial nos Jogos Olímpicos de Melbourne/2000, os quaishaviam sido convidados diretamente pelo Comitê OlímpicoInternacional a participar das provas de natação, mesmosendo detentores de desempenho sofrível, segundo infor-mações divulgadas pelas próprias mídias.

As questões levantadas por aqueles alunos já nos per-mitem considerar um fenômeno importante na cultura corpo-

ral de movimento contemporânea: as mídias2

, em especial aTV, transmitem muitas informações sobre a cultura corporalde movimento3  para um grande número de pessoas (inclusi-ve, é claro, os alunos que freqüentam as aulas de educaçãofísica na escola), com privilégio para o esporte. À medidaque subimos a pirâmide social, tais informações são tambémconsumidas—e estão cada vez mais presentes—em outrasmídias: jornais, revistas, TV por assinatura e Internet. Àsvezes, elas são encontradas onde menos se espera—por exemplo, nas embalagens de produtos alimentícios ou em peças publicitár ias—versando sobre regras, táticas e técni-cas de modalidades esportivas, relação exercício-saúde, ap-

tidão física, ginásticas, modelos e padrões corporais, as- pectos históricos, sociológicos e econômicos do esporte,relações exercício-emagrecimento-nutrição e tantos outrosassuntos.

A cultura corporal de movimento, senão no plano da prá-tica ativa, ao menos no plano do consumo de informações eimagens, tornou-se publicamente partilhada na sociedadecontemporânea. Podemos até considerar a possibilidade de

que, em breve, muitos alunos saibam mais sobre alguns as- pectos da cultura corporal de movimento do que os própri-os professores de educação física, embora nem sempre se possa confiar na correção técnico-científica das informaçõesdisseminadas pelas mídias. Logo de imediato podemos en-tão concluir que a relação mídias-cultura corporal de movi-mento coloca um problema pedagógico para a educação físi-ca.

A escola e as mídias

Vivemos num mundo crescentemente informado: somos bombardeados diar iamente por milhares de imagens, pala-vras e sons produzidos pelas mídias. Fala-se mesmo no nas-cimento de uma nova cultura: a cultura das mídias (Santaella,1996). A mídia está em toda parte. Outdoor , rádio, jornal,video-cassete, revista, TV aberta e por assinatura, internet,CD-ROM. Cada vez mais integradas ao cotidiano, por inter-médio do seu discurso apoiado numa linguagem audiovisualque combina os sons, as imagens e as palavras, as mídiasnos transmitem informações, alimentam nosso imaginário econstróem uma interpretação do mundo. Mas também é pre-ciso considerar que muitas dessas informações possuemapenas a forma do espetáculo e do entretenimento, distantede preocupações educativas formais. O que as mídias propi-ciam, num primeiro momento, é um grande mosaico sem es-trutura lógica aparente, composto de informações descone-xas, em geral descontextualizadas e recebidas individualmen-

1 Trata-se de um grupo de estudo formado por professores deeducação física no ensino básico das cidades de Lençóis Paulista ePederneiras e Macatuba, na região centro-oeste do Estado de SãoPaulo, e ligado a projeto de pesquisa financiado pelo CNPq eFundação para o Desenvolvimento da UNESP.

2 Por “mídias” entendemos os meios de comunicação como jornal,rádio, televisão, internet etc.. A opção pelo uso do plural decorredo entendimento compartilhado com Santaella (1996), que vê umacrescente proliferação e diferenciação das mídias, cumprindo cadauma delas funções específicas e inter-complementares.

3 Entendemos por “cultura corporal de movimento” aquela parcelada cultura geral que abrange algumas das formas culturais que se vêmhistoricamente construindo, nos planos material e simbólico,mediante o exercício sistemático da motricidade humana – jogo,esporte, ginásticas e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/expressivas etc.

125

Page 2: Efe e Mídias

7/24/2019 Efe e Mídias

http://slidepdf.com/reader/full/efe-e-midias 2/5

 M. Betti

 Motriz Jul-Dez 2001, Vol. 7, n.2, pp. 125-129

te, não instaurando portanto um verdadeiro processo de co-municação.

 Na era do computador e da televisão, a escola deverásubsistir como lugar de reagrupamento e comunicação, noqual a individualização e o parcelamento dos conhecimen-tos vão poder corrigir-se e unificar-se. Porque a multiplica-

ção dos meios de informação não leva a um aumento dacomunicação entre as pessoas, mas a um aumento das re-cepções individuais de mensagens: “cada indivíduo se tor-na uma esfera receptora auto-suficiente (...) o mundo torna-se um vasto self-service” (Babin & Kouloumdjian, 1989, p.149).

Ferrés (1996), discorrendo sobre a televisão, propõe quea escola eduque para a reflexão crítica: levar o aluno a com- preender o sentido explícito e implícito das informações eestabelecer relações coerentes e críticas entre o que apare-ce na tela e a realidade do mundo. Ele propõe que a escolaeduque no meio, quer dizer, eduque na linguagem audivisualcaracterística da televisão, ensine os mecanismos técnicose econômicos de funcionamento do meio, ofereça orienta-ção e recursos para a análise crítica dos programas, e queeduque com o meio, incorporando audiovisual à sala de aula para otimizar o processo ensino-aprendizagem.

 Nesse contexto, para Babin e Kouloumdjian (1989) a es-cola deveria ser, primeiro, o lugar da “mesa do saber”— nãotanto onde se aprendem coisas, o que poderia ser feito sozi-nho com uma máquina, mas o lugar da comunicação entrehomens que armazenaram conhecimentos com base namultiplicidade de seus receptores individuais. Essa “escola-mesa” é lugar de conexões, sobre a qual aluno e professorescolocam junto o que aprenderam, a fim de ligar, isto é, com- pletar, relativizar, confrontar o aprendido com a sociedade ea ação. O que se pretende é desenvolver nos alunos a capa-cidade de associar informações desconexas, analisá-las eaprofundá-las. Porque a escola deve ser um lugar de cone-xões, de comunicação entre os homens, enfim, lugar de re-flexão crítica coletiva.

Para tal, o professor, pela sua experiência e sabedoria,deve exercer um papel de mediador entre as mídias e os alu-nos. Não pode, portanto, ter uma posição de negação ou preconceito com relação a elas; pelo contrário, deve expor-se às mídias, possuir uma atitude de presença e não de dis-tância no mundo das mídias, mas sem abrir mão da exigênciade qualidade, recusando o que é muito superficial oumanipulador.

Babin e Kouloumdjian (1989) lembram também que a

cultura jovem é cada vez mais uma “cultura audiovisual,”que vem modelando nas novas gerações outros comporta-mentos intelectuais e afetivos, novos modos de ver e com- preender o mundo. A linguagem audiovisual da televisãoestá em consonância com tal cultura—um exemplo muitoclaro é o video-clip: sucessão alucinante de imagens, semaparente lógica narrativa, com estrutura de “mosaico.” Con- jugar tal linguagem, que mobiliza a afetividade e a intuição,com a racionalidade e a reflexão crítica etc. é desafio que seimpõe aos educadores. A dificuldade que aparece aos edu-cadores é o fato de que a imagem da televisão provoca, ini-

cialmente, um impacto emocional, que comove, envolve to-dos os nossos sentidos, arrepia, faz rir ou chorar. Nesta fase,não adianta apelar à razão, porque a imagem não se dirige aointelecto. Apenas numa segunda fase é possível aotelespectador refletir criticamente, racionalizar. Como na maior  parte das vezes não se chega a essa segunda fase, os edu-

cadores tendem a rejeitar a televisão. Educar para este “se-gundo tempo” deve ser uma tarefa da escola.

A forma das mensagens das mídias: A

espetacularização

Como in-formar é dar forma, formalizar, construir uma re-alidade a partir de alguns códigos; é uma forma de ordenar ocaos, organizar ou estruturar elementos dispersos proce-dentes do meio ambiente, segundo certos critérios (Ferrés,1996), é preciso compreender a forma das mensagens comque as mídias nos bombardeiam no campo da cultura corpo-ral de movimento. A forma predominante é a da espeta-cularização.

 No caso do esporte, a mediação efetuada pela câmaratelevisiva construiu uma nova modalidade de consumo parao grande público: o esporte telespetáculo (Betti, 1998), rea-lidade textual relativamente autônoma face à prática “real”do esporte, construída pela codificação e mediação dos even-tos esportivos efetuados pelo enquadramento das câmarastelevisivas, a edição das imagens e os comentários que seacrescentam a elas, que interpretam para o espectador o queele está vendo.

O esporte telespetáculo tende a valorizar a forma em rela-ção ao conteúdo (quer dizer, o como se apresenta o esporteé mais importante do que o que se apresenta), e para tal faz

uso privilegiado da linguagem audiovisual com ênfase naimagem cujas possibilidades são levadas cada vez mais adi-ante, em decorrência dos avanços tecnológicos associadosà informática (mini-câmaras, closes, slow-motion, recursosgráficos etc.). Do outro lado da moeda, a “falação esporti-va” (Eco, 1984) propõe uma concepção hegemônica de es- porte: esporte é esforço máximo, busca da vitória , dinheiro,campeões, sucesso na vida...

O preço que se paga pela espetacularização do esporte éa fragmentação e descontextualização do fenômeno esporti-vo. Os eventos e fatos são retirados do seu contexto histó-rico, sociológico, antropológico. A experiência global do ser-atleta é fragmentada: a sociabilização no confronto com ou-

trem, o prazer, a ludicidade, não são vivências privilegiadasno enfoque das mídias, mas as eventuais manifestações deviolência, em partidas de futebol, por exemplo, são exibidase reexibidas por todo o mundo, fazendo-nos acreditar que ofutebol é um esporte violento.

A educação física e as mídias

As crianças e adolescentes, hoje, e cada vez mais, to-mam contato com os conteúdos da cultura corporal de movi-

126

Page 3: Efe e Mídias

7/24/2019 Efe e Mídias

http://slidepdf.com/reader/full/efe-e-midias 3/5

 Mídias e Educação Física Escolar 

 Motriz Jul-Dez 2001, Vol. 7, n.2, pp. 125-129

mento como telespectadores, e não como praticantes; pelaimagem, e não pela vivência. Particularmente no campo es- port ivo, o esporte telespetáculo é o novo modelo de socia-lização. Se nas gerações mais velhas a assistência pela tele-visão não substituia a prática do futebol, por exemplo, nasruas e terrenos baldios, com predominância do caráter lúdico,

nas novas gerações, que já nasceram com a televisão emcasa e convivem com a ascensão do esporte telespetáculo,a assistência tende a substituir ou anteceder a prática. Talfato, além de distanciar cada vez mais a experiência de prati-car esportes da de assistir, influencia a forma e o significadoda prática esportiva das crianças e jovens, que querem imi-tar o que vêem na TV, que sonham em serem Ronaldinhos eRomários... Assim, crianças que chutam uma bola estão“brincando” ou “praticando esporte?” Houve, na culturacorporal de movimento infantil, um deslocamento históricoentre o lúdico e o esporte; se antes o primeiro antecedia osegundo, agora eles se superpõem.

Do ponto de vista que mais nos importa aqui, é funda-mental perceber que o esporte telespetáculo—e possivel-mente no futuro outras formas da cultura corporal de movi-mento que progressivamente vão se tornando objeto dasmídias—faz parte da cultura corporal de movimento contem- porânea, e tal exige da educação física escolar uma novatarefa pedagógica: contribuir para a formação do receptor crítico, inteligente e sensível frente às produções das mídiasno campo da cultura corporal de movimento (Betti, 1998).

Mas tal proposição só tem sentido numa determinadaconcepção de educação física. Sem adentrar no debate so- bre as “abordagens de ensino” na educação física (Brasil,1998; Darido, 1998), mas considerando as justificativas quese têm apresentado recentemente no debate político para amanutenção da educação física no currículo do ensino bási-co após a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional, não caberia falar em educação nas mídiase com a mídias quando se vê a educação física escolar por estas duas primeiras óticas:

1. Compensatória/terapêutica: a educação física é vistacomo uma disciplina que visa compensar o sedentarismo presente na vida moderna e mesmo o intelectualismo pre-sente nas atividades escolares, e que portanto deve voltar-se para objetivos ligados à sáude, estilo de vida ativo etc.;em alguns discursos de caráter mais psicologizante, apare-cerem intenções de atingir o psiquismo através do trabalhocorporal, visando o desenvolvimento da afetividade, auto-conhecimento etc.

2. esportivização: perspectiva que ressurgiu em funçãodo desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos de Sidney/2000, considerado insatisfatório pelas próprias mídias; talqual na década de 1970, a educação física é vista como base para a formação de atletas, e a coloca em posição subalternaao esporte espetáculo.

Sem questionar as bases científicas e filosóficas (ou afalta delas...) nessas duas perspectivas, diríamos apenas que,se limitada à primeira, a educação física escolar corre o riscode extinguir-se, porque não poderia e não conseguiria con-correr com outras agências sociais (clubes, academias) mui-

to melhor equipadas para alcançar aqueles objetivos, e ain-da, por outro lado, tais objetivos poderiam também ser atin-gidos em contextos recreativos e informais, muitas vezes demodo auto-gerenciado, o que dispensaria a existência deuma disciplina formal no âmbito da escola. Quanto à ótica daesportivização, é óbvio o retrocesso que ela aponta, após

todo o debate e produção pedagógica da última metade dadécada de 1980 e anos seguintes, e que levou à superaçãodo “modelo piramidal” (Betti, 1991) na educação física.

Portanto, em nosso entendimento, apenas uma educa-ção física concebida como articulação pedagógica entrevivência corporal/conhecimento/ reflexão, referenciando-seà cultura corporal de movimento, poderá ser frutífera e rela-cionar-se criticamente com as mídias. Derivada das “teoriascríticas” da educação física, tal opção é a que melhor funda-menta a educação física enquanto prática pedagógica naescola, porque melhor explicita sua contribuição na forma-ção da personalidade dos alunos, integrando as dimensõesfísico-motora, afetiva-social e cognitiva, e vislumbrando aformação do cidadão capaz de usufruir criticamente da cul-tura corporal de movimento. Contudo, muitos professoresde educação física hesitam em optar clara e decisivamente por esse modelo, temendo descaracterizar a educação físicaenquanto disciplina “prática,” diferenciada das demais, ou porque antecipam um possível desinteresse dos alunos, jáque eles querem mesmo é “jogar bola...”

De fato, não se trata de transformar as aulas de educaçãofísica em aulas “teóricas,” pois a garantia da especificidadeda educação física no currículo escolar exige o “corpo emmovimento.” Como já advertiu Betti (1994), a educação físi-ca escolar não deve transformar-se num discurso sobre acultura corporal de movimento, mas numa ação pedagógicacom ela, que estará sempre impregnada da corporeidade dosentir (dimensão biológica-psicológica) e do relacionar-secom o outro (dimensão psico-social), sendo que a dimensãocognitiva (crítico-reflexiva) far-se-á sempre com base nessesubstrato corporal.

O uso da televisão e do vídeo na

educação física

A incorporação das produções das mídias, em especialda televisão (mediante o uso do video-cassete), ao ensinoda educação física na perspectiva da vivência/conhecimen-

to/reflexão, traria muitas vantagens: (1) motiva ao debate e àreflexão, por tratar de assuntos atuais e polêmicos, sobre osquais em geral os alunos já possuem informações; (2) a lin-guagem jornalística é atraente para os alunos, é mais sintéti-ca e muitas vezes conjugada com imagens e recursos gráfi-cos; (3) as produções audiovisuais conseguem dar desta-que e importância para informações que às vezes o próprio professor transmite mas não obtém repercussão satisfatória;(4) os vídeos podem sintetizar muito conteúdo em poucotempo, e substituir com vantagem aulas expositivas ou tex-tos escritos; (5) no caso da televisão, a imagem nos atinge

127

Page 4: Efe e Mídias

7/24/2019 Efe e Mídias

http://slidepdf.com/reader/full/efe-e-midias 4/5

 M. Betti

 Motriz Jul-Dez 2001, Vol. 7, n.2, pp. 125-129

 primeiro pela emoção, e a partir deste primeiro impacto, queco-move o aluno, o professor pode mediar uma interpreta-ção mais racionalizada e crítica.

Com base em Morán (1995), sugerimos que o uso da TV/vídeo no ensino da educação física poderia atender a um oumais dos seguintes objetivos:

1. Vídeo como sensibilização: quando se quer introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivação para novos temas e práticas. Por exemplo, a matéria intitulada“O nome do jogo,” documentário com duração de apenastrês minutos, que foi exibido na “Sportv” (canal por assina-tura). Apresenta o handebol como modalidade esportiva,comparando-a com o futebol. Descreve os principais funda-mentos técnicos e regras do handebol, ilustrados com ima-gens de partidas reais.

2. Vídeo como ilustração: para ajudar a mostrar o que sefala em aula, a compor cenários desconhecidos para os alu-nos, trazer realidades distantes. Por exemplo, a primeira par-te do documentário histórico sobre a história dos Jogos Olím- picos re-exibida pela Globo News, e anteriormente apresen-tada na TV aberta, com duração de cerca de 16 minutos.Historia os Jogos Olímpicos desde a Grécia Antiga (776 A.C.),e exibe muitas imagens de competições em diversos JogosOlímpicos, desde os primeiros Jogos da era moderna, emAtenas (1896); descreve os Jogos Olímpicos da Antigüida-de e exibe gravuras e esculturas da época, bem como ima-gens das ruínas de Olímpia; relata o ressurgimento dos Jo-gos Olímpicos da era moderna, exibindo fotos e imagenscinematográficas da época; historia a participação do Brasilnos Jogos Olímpicos desde Antuérpia (1920); destaca acon-tecimentos e atletas em diversos Jogos Olímpicos, desdeBerlim (1936) até Moscou (1980).

3. Vídeo como conteúdo de ensino: mostra determinadoassunto de forma direta, quando informa sobre um tema es- pecífico orientando sua interpretação; ou de forma indireta,quando permite abordagens múltiplas ou interdisciplinaressobre o tema. Por exemplo, parte do documentárioinvestigativo (15 minutos de duração) sobre o uso deesteróides anabólicos apresentado na série “Dossiê Sportv.”O programa debate e investiga o uso de esteróidesanabólicos e outras substâncias dopantes no esporte e nasacademias de musculação; entrevista atletas, dirigentes es- portivos, médicos, usuários, ex-usuários e psicóloga; inves-tiga o uso dos esteróides nas academias por parte de ado-lescentes, buscando esclarecer as causas desse uso situa-das em torno da busca de um corpo escultural, em virtude da

valorização social da beleza física; relaciona e caracteriza as principais conseqüências maléficas sobre a saúde causadas pelo uso dos esteróides anabólicos.

A partir da pesquisa-ação conduzida junto a professo-res de educação física do ensino básico (Betti, 2000), apre-sentamos nossas recomendações para o uso da TV/vídeonas aulas de educação física:

- deve-se preferencialmente partir de um tema e/ou situ-ação atual e de interesse dos alunos;

- utilizar matérias curtas, de até quinze a vinte minutos -quando mais longas, fragmentar em várias aulas;

- evitar matérias televisivas nas quais predomine a narra-ção em off   (quando há um locutor falando enquanto se su-cedem imagens, direta ou indiretamente relacionadas ao quese fala);

- assistir atentamente as matérias antes de apresentá-lasaos alunos. Atentar para a correção e veracidade das infor-

mações factuais presentes.- conjugar assistência ao vídeo com vivências corporaissempre que possível; quer dizer, o vídeo deve estar integra-do ao conteúdo que está desenvolvendo naquele momento;

- instaurar sempre, durante e/ou após a exibição do vídeo,um processo de discussão, debate, reflexão, buscando rela-cionar o conteúdo do vídeo com a vivência do alunos, comoutros aspectos da cultura corporal de movimento, com con-textos históricos passados e presente, com dados científi-cos.

Todavia, é evidente a dificuldade em localizar e obter vídeos adequados para um programa de educação físicaconcebido como vivência/conhecimento/reflexão; matériascom tais características estão presentes em pequeno núme-ro na TV aberta, e são mais freqüentes na TV por assinatura.Evidentemente não estamos nos referindo aos vídeos maistradicionais na educação física, em geral pouco atrativos elimitados à apresentação de técnica e táticas de modalida-des esportivas. Mas obter um bom texto também não é difí-cil? É que não estamos acostumados a pensar a imagem comofonte de conhecimento, e nossas escolas e universidades possuem bibliotecas, mas não videotecas. Com a dissemina-ção dos vídeocassetes nas escolas e lares, a gravação de programas televisivos para fins educacionais torna-se cadavez mais viável no Brasil. Já há inúmeras experiências emandamento4

Faria Júnior (1969) já nos advertia, na pioneira obra ”In-trodução à Didática da Educação Física”, que:

(...) o professor de educação física procura (...)desenvolver habilidades, proporcionar conhe-cimentos e informações e despertar ideais, ati-tudes e preferências. Assim sendo, quandoministrando informações ou conhecimentos,tem ele a necessidade de acelerar cada vez maiso processo de ensino e nada melhor para fazê-lo do que a utilização de modernos meios etécnicas de comunicação. (p. 220)

Muito pouco avançamos até agora. À despeito de todosos perigos que cercam as mídias no mundo contemporâneo,

a educação física na escola está na privilegiada posição de poder propiciar aos alunos a oportunidade de contrastar avivência das práticas da cultura corporal de movimento,enquanto experiência carnalmente vivida (Belbenoit, 1976),com a experiência de assistir, ler e ouvir enquanto consumi-dor das mídias. Devemos aproveitar tal privilégio!

4 Programa da série “Nota 10”, da TV Futura, intitulado “Mídia naEscola”, apresentou experiências de uso da TV/Vídeo em diversosestados brasileiros.

128

Page 5: Efe e Mídias

7/24/2019 Efe e Mídias

http://slidepdf.com/reader/full/efe-e-midias 5/5

 Mídias e Educação Física Escolar 

 Motriz Jul-Dez 2001, Vol. 7, n.2, pp. 125-129

Referências

Babin, P. & Kouloumdjian, M.F. (1989). Os novos modos de

compreender: a geração do audiovisual e do computa-

dor . São Paulo: Edições Paulinas.Belbenoit, G. (1976). O desporto na escola. Lisboa: Estam-

 pa, 1976.Betti, M. (1994). Valores e finalidades na educação físicaescolar: uma concepção sistêmica. Revista Brasileira de

Ciências do Esporte, 16 (1), 14-21.Betti, M. (1991).  Educação física e sociedade . São Paulo:

Movimento.Betti, M. (1998). A janela de vidro: esporte, televisão e edu-

cação física. Campinas: Papirus.Betti, M. (2000). Imagem e ação: a televisão e a educação

 física escolar . Relatório apresentado à Fundação para oDesenvolvimento da Unesp. Universidade EstadualPaulista, Faculdade de Ciências, Departamento de Edu-cação Física, Bauru.

Brasil, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria deEducação Fundamental. (1998). Parâmetros curriculares

nacionais – terceiro e quarto ciclos do ensino funda-

mental: educação física. Brasília: MEC, SEF.Darido, S. C. (1998). Apresentação e análise das principais

abordagens da educação física escolar.  Revista Brasi-

leira de Ciências do Esporte, 20 (1),58-66.Eco, U. (1984). Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Ja-

neiro: Nova Fronteira.Faria Júnior, A. G. F. (1969). Introdução à didática de edu-

cação física. Brasília: Divisão de Educação Física, Mi-nistério da Educação e Cultura.

Ferrés, J. (1996). Televisão e educação. Porto Alegre: Artes

Médicas.Santaella, L. (1996).  A cultura das mídias. São Paulo: Expe-rimento.

Nota do autor

Mauro Betti é Professor Assistente Doutor do Departamen-to de Educação Física da Faculdade de Ciências da UNESP,campus de Bauru e subcoordenador do Laboratório de Es-tudos Socioculturais e Históricos da Educação Física, vin-culado ao referido departamento.

Endereço:

Universidade Estadual PaulistaDepartamento de Educação FísicaAv. Eng. Luiz E.C.Coube, s/n, Vargem LimpaBauru, 17033-360 SPFone: 014-2216082Fax: 014-2216071E-mail: [email protected] 

 Manuscrito recebido em 27 de agosto de 2001

 Manuscrito aceito em 30 de outubro de 2001

129