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1 EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA COLENDA __CÂMARA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR. URGENTE ANA CAROLINE CAMPAGNOLO, brasileira, divorciada, professora, deputada estadual eleita em 2018, CPF n. 061.313.819-84, RG n. 4.959.278, residente e domiciliada na Rua João Manoel da Silva, n. 11, Cabeçudas, Itajaí/SC, CEP: 88306470, vem, por seus procuradores, inconformada com a decisão de fls. 79/87, proferida pelo MM. Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude da Comarca da Capital, na ação civil pública autuada sob o nº 0917862-17.2018.8.24.0023, com fundamento no artigo 1015, I, e 1019, do Código de Processo Civil (CPC), interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO, tendo como parte Agravada o Ministério Público de Santa Catarina, devidamente qualificado nos autos em destaque, representado pela 25ª Promotoria da Capital, nos termos que seguem:

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA …€¦ · 3 anexo, a Agravante foi intimada do decisum recorrido em 19/11/2018. 04. Sendo assim, o prazo de 15 dias úteis para interposição

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

COLENDA __CÂMARA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

RELATOR.

URGENTE

ANA CAROLINE

CAMPAGNOLO, brasileira, divorciada, professora, deputada

estadual eleita em 2018, CPF n. 061.313.819-84, RG n. 4.959.278,

residente e domiciliada na Rua João Manoel da Silva, n. 11,

Cabeçudas, Itajaí/SC, CEP: 88306470, vem, por seus procuradores,

inconformada com a decisão de fls. 79/87, proferida pelo MM. Juiz

de Direito da Vara da Infância e Juventude da Comarca da Capital,

na ação civil pública autuada sob o nº 0917862-17.2018.8.24.0023, com

fundamento no artigo 1015, I, e 1019, do Código de Processo Civil

(CPC), interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE

EFEITO SUSPENSIVO, tendo como parte Agravada o Ministério

Público de Santa Catarina, devidamente qualificado nos autos em

destaque, representado pela 25ª Promotoria da Capital, nos termos

que seguem:

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I – DOS DOCUMENTOS JUNTADOS

01. Segundo o art. 1017, I e II, do

CPC:

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será

instruída:

I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da

contestação, da petição que ensejou a decisão agravada,

da própria decisão agravada, da certidão da respectiva

intimação ou outro documento oficial que comprove a

tempestividade e das procurações outorgadas aos

advogados do agravante e do agravado;

II - com declaração de inexistência de qualquer dos

documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado

do agravante, sob pena de sua responsabilidade

pessoal;

02. Com efeito, visando atender o

dispositivo acima, firmam os procuradores da Agravante declaração

no sentido de informar que não se encontram juntados nos autos

originários a contestação e a procuração de autoria da parte Autora.

II – DA TEMPESTIVIDADE

03. Nos termos da Certidão em

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anexo, a Agravante foi intimada do decisum recorrido em 19/11/2018.

04. Sendo assim, o prazo de 15 dias

úteis para interposição do Agravo de Instrumento (CPC, artigos 2191,

231, inciso III2 e 1003, §5º3), expirará em 07/12/2018.

III – DO CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

05. Ampara-se o agravo de

instrumento no art. 1015, I, do CPC: “cabe agravo de instrumento

contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I – tutelas

provisórias”.

IV – DA DECISÃO AGRAVADA

06. Perante o Juízo da Vara da

Infância e Juventude da Comarca da Capital o Ministério Público

ingressou com ação civil pública em desfavor da Agravante.

07. Aduziu, em resumo, que em

1 Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. 2 Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo: III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria; 3 Art. 1003 [...] [...] §5º. Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

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29/10/2018, a Agravante divulgara comunicado contendo as

seguintes informações:

08. Sustentou que a destacada

mensagem, que foi compartilhada por diversos usuários nas redes

sociais, geraria apreensão quanto ao futuro da educação em Santa

Catarina, além de proporcionar constrangimento e outros

sentimentos negativos.

09. Relatou que a Agravante estaria

implementando delações informais e anônimas, visando impor um

suposto regime de medo e terror nas salas de aula.

10. Depois de fundamentar,

requereu em face da Agravante providências de caráter liminar.

11. Analisando os pedidos, o MM.

Juiz a quo deferiu parcialmente as citadas pretensões liminares,

sustentando, inicialmente, que tal conduta infringiria a liberdade de

expressão e os interesses da criança e do adolescente. Também

asseverou que o criado canal de denúncias seria ilegal, porque se

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encontraria vinculado ao Poder de Polícia, o qual é exclusivo da

Administração Pública. Expressou que a demora na ação poderia

agravar os prejuízos advindos, sobretudo porque já teria repercutido

em outros estados da Federação.

12. Ocorre que a decisão em

destaque merece ser totalmente reformada, senão vejamos.

V – DAS RAZÕES PARA REFORMA

V.1 - CONSIDERAÇÕES FÁTICAS RELEVANTES

13. A agravante trata-se de

Deputada Estadual eleita por Santa Catarina, apresentando a

expressiva votação de 34.825 (trinta e quatro oitocentos e vinte cinco

mil votos).

14. Necessário salientar que a

destacada eleição foi resultado de um tsunami eleitoral que atingiu o

território brasileiro. Com efeito, exercendo o direito sagrado do voto,

os eleitores brasileiros expressaram enorme descontentamento

quanto aos “desmandos” da Administração Pública, não suportando

mais a terrível crise ética, moral e econômica que perdurará por

vários anos até ser superada.

15. Outro ponto essencial, que se

relaciona à ação civil pública em destaque, atrela-se aos rumos da

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educação do país, que se encontra em um verdadeiro “buraco”.

16. Isso porque, em todos os

rankings divulgados o Brasil vem ocupando as piores posições.

17. Segundo externou a

Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) em Paris, no dia 13/05/2017, o Brasil ficou na 60ª colocação

dentre os 76 países listados (disponível em:

https://www.dw.com/pt-br/brasil-%C3%A9-60%C2%BA-em-

ranking-de-educa%C3%A7%C3%A3o/a-18449351, Acesso em

10/11/2018).

18. Pois bem, na qualidade de

professora atuante há vários anos, a Agravante entende ser

conhecedora dos problemas que afligem a educação. Sendo que,

dentro desses problemas, encontra-se a conduta de alguns

professores, que transformam a sala de aula em verdadeiro

“palanque” eleitoral.

19. Nesses termos, ao contrário do

que dá a entender o Ministério Público, os atos da Agravante visam

defender justamente a pluralidade de ideias, e, sobretudo, o direito

do aluno de ter a posição política que reputar conveniente, sem que

necessite “agradar” o professor e/ou ficar a mercê do que este

reputar como verdadeiro. Com o devido respeito, alguns desses

professores só defendem a democracia quando a posição política

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deles sagra-se vitoriosa.

20. A tão propalada “liberdade” de

manifestação do pensamento, que esses professores supostamente

defendem, é ilustrada pelos vídeos abaixo relacionados:

a) https://www.youtube.com/watc

h?v=4yhoQ1uHNfw , acesso em 10/11/2018. Observe-se o discurso

raivoso desse professor “democrático” preparado para seus alunos e

direcionados contra as pessoas que protestaram no ano de 2016.

Pergunta-se: tais palavras do professor possuem algum vínculo com

a atividade curricular, ou quem sabe se adequariam mais a um

comício eleitoral voltado para a extrema esquerda?

b) https://youtu.be/sksxNGhqg1E,

acesso em 10/11/2018. Mais um discurso raivoso e mentiroso, sem

qualquer vínculo com a matéria curricular. Trata-se, na verdade, de

uma doutrinação acerca da posição política do professor;

c) https://www.youtube.com/watc

h?v=3spnYReUz6M, acesso em 10/11/2018. Suposta aula explicando

que aquilo que for diferente do marxismo não “presta”. Curioso é

essa professora defender cinicamente a liberdade do professor e de

forma concomitante tenha resolvido atacar posições alheias;

d) https://www.youtube.com/watc

h?v=8is7oq1pERU. Acesso em 10/11/2018. Aos berros esse professor

ataca ferozmente os alunos que opinam favoravelmente ao então

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candidato Jair Bolsonaro, chamando-o de “Hitler”, dentre outras

“pérolas”. Pobre aluno que questionou esse professor autoritário!

Questiona-se ao nobre Representante do Ministério Público: quem

cometeu o ato ilícito? O professor ou o aluno, quando o gravou?

21. No estado de Santa Catarina o

modus operandi de alguns desses professores vem sendo o mesmo,

consoante ilustra o seguinte vídeo gravado pela mãe de uma aluna de

escola pública em Caçador, donde a professora de História resolveu

ministrar uma aula partidária de incitação ao ódio, inclusive

sugerindo que se Jair Bolsonaro se fosse eleito colocaria os “negros”

na senzala e ainda autorizaria estupro de mulheres. Vide em

https://www.youtube.com/watch?v=7ooKcG4lQ14#action=share,

acesso em 10/11/2018.

22. Por essas e outras razões a

Agravante, defensora ferrenha do movimento “Escola sem Partido”,

que, ao contrário daquilo que sustentou o Ministério Público, não visa

tolher o pluralismo político ou criar uma geração de “acéfalos”. Busca

defender a formação do espírito crítico do aluno, que necessita

conhecer diversas correntes político-ideológicas, sem o

favorecimento por paixões políticas, nem para um lado ou para o

outro. Sala de aula não é local para comício político, mas para

formar adequadamente jovens que ajudarão a conduzir os

rumos do país.

23. Sublinhe-se que quando o

indigitado movimento (Escola sem Partido) defende a atuação do

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magistério nesses parâmetros almeja que os professores comportem-

se de forma isenta em sala de aula, o que não se confunde a suposta

tentativa de amordaçá-lo. Inclusive, da forma como vem ocorrendo

são os próprios alunos que são amordaçados.

24. Todos os problemas acima

relatados foram brilhantemente abordados pela Nota Técnica em

anexo, firmada por diversos membros do Ministério Público em

território nacional, os quais defenderam a legalidade, a

constitucionalidade e a importância desse projeto Escola Sem Partido;

repita-se, projeto este um dos “carros chefes” da campanha da

Agravante para Deputada Estadual, o que foi evidentemente aceita

pela Sociedade Catarinense.

25. Veja-se o seguinte trecho

(disponível

https://www.jota.info/wpcontent/uploads/2018/11/3542833db22

513a554f9b7d37aafdc29.pdf, acesso em 10/11/2018):

ESCOLA SEM PARTIDO E A DOUTRINAÇÃO NAS

ESCOLAS

2. O Movimento Escola sem Partido surgiu em 2004

como reação a duas práticas ilegais que se

disseminaram por todo o sistema educacional: de um

lado, a doutrinação e a propaganda ideológica,

política e partidária nas escolas e universidades; de

outro, a usurpação ‒ pelas escolas e pelos professores

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‒ do direito dos pais dos alunos sobre a educação

religiosa e moral dos seus filhos.

3. Desde a sua criação, o Escola sem Partido vem

colecionando evidências dessas práticas abusivas, e

hoje possui um significativo acervo de documentos

(pesquisas, artigos, reportagens, depoimentos,

gravações em áudio e vídeo, cópias de livros

didáticos, eventos “acadêmicos”, etc.) que

demonstram, para além de qualquer dúvida, a

existência de um problema sistêmico, cujas origens

remontam aos anos 60 do século passado e se

consolidou durante as últimas 6 décadas. Esse acervo

está disponível nas páginas do movimento, na

internet: www.escolasempartido.org; e no Facebook:

@escolasem- partidooficial.

4. O fato é que, de tão disseminada no tempo e no

espaço, a doutrinação se naturalizou, a ponto de 80%

dos professores da educação básica não se

constrangerem de reconhecer que seu discurso em

sala de aula é “politicamente engajado”; e de 61% dos

pais acharem que é “normal” o professor fazer

proselitismo ideológico em sala de aula. (Cf. pesquisa

CNT/SENSUS, cujos resultados foram publicados pela

Revista Veja, Edição nº 2074, de 20.08.2008).

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5. Não obstante, e como será demonstrado, o uso

ideológico, político e partidário das escolas e

universidades viola gravemente a Constituição

Federal e outras leis do país, causando enormes

prejuízos aos estudantes, às famílias e à sociedade.

6. Os estudantes são lesados quando professores

militantes e ativistas se aproveitam de sua audiência

cativa para tentar transformá-los em réplicas

ideológicas de si mesmos; quando são cooptados e

usados como massa de manobra a serviço dos

interesses de sindicatos, movimentos e parti- dos;

quando são ridicularizados, estigmatizados e

perseguidos por possuírem ou expressarem crenças

ou convicções religiosas, morais, políticas e

partidárias diferentes das dos professores; quando

estes lhes sonegam ou distorcem informações

importantes para sua formação intelectual e para o

conhecimento da verdade; quando o tempo precioso

do aprendizado é desperdiçado com a pregação

ideológica e a propaganda político-partidária mais ou

menos disfarçada.

7. As famílias são lesadas quando a autoridade

moral dos pais é solapada por professores que se

julgam no direito de dizer aos filhos dos outros o que

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é certo e o que é errado em matéria de moral.

Instigados por esses professores, muitos jovens

passam a questionar e rejeitar o direcionamento

estabelecido por seus pais no campo da religião, da

moral e dos costumes, ensejando o surgimento de

graves conflitos no seio das famílias.

8. E a sociedade é lesada quando recebe, em troca

dos impostos que paga, uma educação conhecida

mundialmente por sua péssima qualidade; quando é

obrigada a suportar o fardo de uma força de trabalho

despreparada; quando sofre as consequências de

greves abusivas, seletivamente organizadas e

deflagradas para prejudicar adversários políticos dos

sindicatos de professores; quando cus- teia o projeto de

poder dos partidos que aparelharam o sistema de

ensino.

9. “Já em meados dos anos 1980 ‒ escreve o Prof.

Diniz Filho, da Universidade Federal do Paraná 2‒

estava criada uma corrente de transmissão de ideias que se

fecha em si mesma e que continua a funcionar nos dias

atuais. Os egressos do ensino médio chegam à universidade

com sua visão de mundo já formada dentro dos parâmetros

do pensamento crítico3, os quais são reafirmados e

complementados pela graduação, na qual há limites bem

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estreitos para a pluralidade de pensamento. Uma vez

devolvidos ao ensino fundamental e médio para trabalhar

como professores das mais diversas disciplinas, o circuito se

fecha e a corrente continua fluindo. Uma corrente muito

difícil de quebrar.”

10. Difícil por quê? Por uma série de motivos.

Primeiro, porque não existe um comando

centralizado, de natureza político-administrativa,

cujas diretrizes sejam seguidas por obedientes

professores. Se existisse tal comando, bastaria

substituí-lo, e o problema estaria resolvido. Mas não é

as- sim que funciona. Governo e burocracia do ensino

podem até ajudar ‒ e ajudam, de fato, estimulando,

facilitando ou sendo coniventes com a doutrinação ‒,

mas o agente do processo é o professor militante

ideológico. Não existe doutrinação sem o militante

ideológico camuflado de professor.

11. Segundo, porque a quase totalidade do trabalho

de inculcação e cooptação se desenvolve entre quatro

paredes e a portas fechadas, o que inviabiliza qualquer

controle hierárquico efetivo.

12. Terceiro, porque as vítimas desses abusos na

educação básica ‒ indivíduos imaturos, em processo

de formação ‒ normalmente não se reconhecem como

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vítimas; e, quando se reconhecem, geralmente se

calam para não sofrer perseguições.

13. Quarto, porque o professor militante ‒ também

ele vítima da doutrinação ‒ aprendeu e acredita que,

como não existe neutralidade, ele não tem o dever

profissional de se esforçar para ser neutro, de modo

que sua missão é essa mesma: despertar, com seu

discurso politicamente engajado, o chamado

“pensamento crítico” dos alunos, entendendo-se por

“crítico” o pensamento que resulta da assimilação

acrítica daquele discurso.

14. Quinto, porque, como já se disse, 61% dos pais,

conhecendo por experiência própria a realidade das

escolas, acham “normal” que os professores dos seus

filhos promovam esses discursos em sala de aula; e,

quando não acham, também se calam, a pedido dos

próprios filhos, para não os expor a retaliações da

escola, dos professores e dos colegas.

15. E, sexto, porque impera no meio acadêmico a

mais completa e proposital ignorância sobre os limites

éticos e jurídicos da atividade docente, ignorância que

deriva em parte da propositada e ilícita ausência de

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disciplina obrigatória de ética do magistério nos

cursos de formação de professores.

16. Que limites são esses? No plano da ética, os

deveres que emanam do reconhecimento da

vulnerabilidade do estudante como a parte

hipossuficiente na relação de aprendizado, uma

relação de poder absolutamente desigual que se

desenvolve, em ambiente normalmente fechado, entre

um adulto e um grupo de indivíduos imaturos e

inexperientes, intelectual e emocionalmente

vulneráveis, diretamente submetidos à sua autoridade

e à sua influência. No plano da lei, as obrigações que

decorrem, primordialmente, da Constituição Federal

‒ princípio da neutralidade política, ideológica e

religiosa do Estado; liberdade de consciência e de

crença; direito à intimidade; liberdade de aprender e

de ensinar e pluralismo de ideias ‒ e da Convenção

Americana sobre Direitos Humanos (CADH), que

assegura o direito dos pais a que seus filhos recebam

a educação religiosa e moral que esteja de acordo com

suas próprias convicções.

17. Ou seja, a atividade docente é limitada, de um

lado, pelos direitos dos estudantes e seus pais; e, de

outro, pelo direito de todos os brasileiros a que a

máquina do Estado não seja colocada a serviço desse

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ou daquele governo, partido, ideologia ou religião. No

dia a dia da sala de aula, são esses limites que definem

o espaço reservado ao exercício da liberdade de

ensinar pelo professor. E é contra o abuso dessa

liberdade que se insurge o Movimento Escola sem

Partido.

18. Mas que solução ele propõe? O que pode ser feito

para coibir essas práticas covardes, antiéticas e

abusivas, que se desenvolvem no segredo das salas de

aula e têm como vítimas indivíduos vulneráveis, em

processo de formação?

19. Nada mais simples: basta informar e educar os

alunos para a cidadania, sobre o direito que eles já têm

de não ser doutrinados por seus professores; basta

informar e educar os professores sobre os limites éticos e

jurídicos da atividade docente.

26. Como se disse acima existem

milhares de relatos em todo o Brasil de alunos vitimados pelo

constrangimento ideológico de seus educadores, os quais, além de

repudiarem todo e qualquer pensamento divergente, consomem o

precioso horário das aulas com assuntos alheios à grade de ensino.

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27. Livros didáticos são utilizados

para o fim espúrio de doutrinação política, consoante se extrai, por

exemplo, do seguinte trecho, que reputa o capitalismo como se fosse

uma figura diabólica e opressora (disponível em

https://spotniks.com/5-exemplos-de-como-a-doutrinacao-

ideologica-atua-na-educacao-brasileira/, acesso em 10/11/2018).

28. São requisitos cumulativos da

tutela de urgência a existência do perigo de dano irreparável ou de

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difícil reparação e a plausibilidade do direito aventado (art. 300 do

CPC). O pleito liminar do Ministério Público é desprovido.

29. Pois bem, mas vamos às

postagens que geraram toda a celeuma jurídica, motivando o ingresso

de ação civil pública.

30. Em uma dessas publicações, que

a Agravante não nega sua autoria, constou a seguinte mensagem:

31. Ao contrário do que sustentou o

Ministério Público, a Agravante não agiu de forma ilícita. Quis

EVITAR (e não estimular) que após a eleição do Presidente da

República Jair Messias Bolsonaro o sagrado recinto escolar fosse

utilizado como instrumento para incitação ao ódio, à opressão, à

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divisão do chamado “nós contra eles”.

32. Buscou a Agravante proteger

aqueles que pensassem de forma divergente desses professores que

transformam as aulas em “palanques ideológicos”, que são

direcionados contra pessoas que ainda se encontram em formação

física e intelectual.

33. Inclusive, justamente por se

encontrarem nesse estágio de formação, é que os jovens alunos devem

ser protegidos contra os abusos perpetrados por alguns docentes.

34. O desiderato da Agravante de

proteger os alunos encontra-se bem definido na parte final da tão

propalada missiva, terrivelmente deturpada pelo Ministério Público,

quando afirma que “filme ou grave todas as manifestações político-

partidárias ou ideológicas que humilhem ou ofendam sua liberdade

de crença ou consciência”.

35. Indaga-se: quando um aluno é

ofendido em sala de aula? Quando um professor procura impor a sua

vontade e expressa os mais odiosos instrumentos de intimidação, tais

como baixar a nota, chamá-lo de fascista e até mesmo colocar o

estudante em uma situação de vulnerabilidade perante os demais,

proporcionando, por exemplo, a prática do bullying.

36. Aliás, causa perplexidade que no

item 16 da inicial o Ministério Público tenha externado que o

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pronunciamento da Agravante deteria “viés político-partidário”.

Ora, consoante expressado acima, o canal de comunicação criado pela

Agravante, que nada tem de ilícito conforme será adiante debatido,

visava coibir justamente o que o parquet tenta indevidamente atribuir

à pecha em seu desfavor. Basta rememorar o trecho final outrora

destacado.

37. Sobre a outra postagem da

Agravante não se consegue conceder qualquer atitude tendente a

intimidar os professores. Volta-se, frise-se, a proteger os alunos:

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38. Com efeito, a mensagem em

destaque produzida pela Agravante enquadra-se perfeitamente na

seguinte máxima: “quem não deve não teme”! Se o professor está

agindo corretamente, por qual motivo existe o receio dele ser

gravado? Aliás, quando o professor utiliza precioso tempo para

“doutrinar” alunos, ele estará efetivamente lecionando?

39. De onde provém tamanho

receio de ser filmado? A atividade docente não é e nunca será sigilosa.

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Sobretudo os genitores têm o direito de saber o que se passa no

interior da sala de aula.

40. Destarte, situações críticas,

vexatórias, amparam a utilização de meios extraordinários de

gravação.

41. Atinente à outra postagem (fl.

137 da inicial), o Ministério Público parece que deseja “amordaçar” a

Agravante, impedindo-a que na qualidade de professora e agora

eleita Deputada Estadual possa criticar determinadas pessoas ou

qualquer postura ideológica.

42. Repita-se: a Agravante foi eleita

deputada estadual com uma votação expressiva de pessoas que

acreditavam em suas ideias, dentre as quais a “Escola Sem Partido”

que ela defenderá com “unhas e dentes” na Assembleia de Santa

Catarina. Foi esse o desejo da população quando a elegeu.

43. Ou, quem sabe, dirá o

Ministério Público em futura manifestação, que todos os seus

eleitores foram compostos por pessoas que tripudiam a democracia?!

44. O ideal da Agravante, o norte da

sua futura atividade parlamentar, pautar-se-á na concretização desse

projeto no âmbito estadual, que tem o nítido propósito de respeitar as

divergências de opiniões, a pluralidade em sala de aula, coibir

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perseguições, evitar que o futuro da nação, representada pelos jovens

ainda em formação, tornem-se caixas de ressonância dos

entendimentos políticos partidários de alguns professores.

45. Toda e qualquer pessoa possui

as suas próprias convicções políticas e religiosas, de sorte a ser

impossível a neutralidade absoluta dos professores. Porém, tal

circunstância não elide a necessidade de que em sala de aula se

portem com imparcialidade e isenção, respeitando o pensamento

alheio.

46. Conforme a célebre frase de

Voltaire, que dentre outros pensadores são tratados por alguns desses

professores carinhosamente como “um porco burguês”: “não

concordo com o que dizes, mas defendo até a morte o direito de o

dizeres”.

47. As condutas perpetradas pela

Agravante, de alertar o estudante catarinense contra atitudes de

alguns professores (que resumem a democracia apenas àquilo que

eles acham como correto) tiveram o nítido propósito de criar um

canal de comunicação contra a opressão, contra o regime do medo,

da doutrinação que impera principalmente nas Instituições de

Ensino, inclusive no âmbito das Universidades.

48. A situação tornou-se

insustentável, tomando-se como exemplo desses absurdos a

paralisação decidida pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas da

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UFSC em apoio à candidatura de “Haddad e Manuela” (disponível

em https://www.nsctotal.com.br/colunistas/moacir-

pereira/centro-de-filosofia-e-ciencias-humanas-da-ufsc-suspende-

as-aulas-em-apoio, acesso em 10/11/2018).

49. Vale lembrar que a Agravante

não está sozinha na defesa de atos que visam proteger a liberdade do

aluno, a qual será prejudicada se ações como a presente, dotadas de

induvidoso viés ideológico, forem acolhidas.

50. Ao reverso do entendimento

adotado pelo subscritor da inicial, o parquet Federal de plano afastou

qualquer ilegalidade em representação contra o Presidente eleito da

República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, por publicar

vídeo em 29/10/2018 que defendeu a atitude da Agravante, o que

será adiante tratado.

51. Recentemente, no Estado de São

Paulo, o Governador eleito João Doria anunciou que encaminhará

projeto de lei à assembleia legislativa, o qual estabelecerá que as salas

de aula deverão ter um cartaz especificando os deveres do professor,

como “não cooptar os alunos para nenhuma corrente política,

ideológica ou partidária”4 .

52. O próprio Sindicato das Escolas

Particulares de Santa Catarina, em resposta à recomendação n. 22/18

do Ministério Público Federal, emitida pela Procuradoria da

República no Município de Chapecó, declarou por meio do Ofício-

4https://noticias.r7.com/sao-paulo/em-sao-paulo-projeto-escola-sem-partido-vira-mote-de-joao-doria-07112018, acesso

em 10/11/2018.

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Circular n. 41/18 que (documento em anexo):

(...)

A liberdade de ensinar (cátedra) – assegurada pelo art.

206, II, da Constituição Federal – não se confunde com

liberdade de expressão; não existe liberdade de

expressão no exercício estrito da atividade docente, sob

pena de ser anulada a liberdade de consciência e de

crença dos estudantes, que formam, em sala de aula,

uma audiência cativa.

A liberdade de ensinar obviamente não confere ao

professor o direito de se aproveitar do seu cargo e da

audiência cativa dos alunos, para promover os seus

próprios interesses, opiniões, concepções ou

preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas

e partidárias; nem o direito de favorecer, prejudicar ou

constranger os alunos em razão de suas convicções

políticas, ideológicas, morais ou religiosas; nem o

direito de fazer propaganda político-partidárias em

sala de aula e incitar seus alunos a participar de

manifestações, atos públicos e passeatas; nem o

direito de manipular o conteúdo da sua disciplina

com o objetivo de obter a adesão dos alunos a

determinada corrente política ou ideológica; nem,

finalmente, o direito de dizer aos filhos dos outros o

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que é verdade em matéria de religião ou moral.

Por essa razão, caso alguma escola afiliada ao

SINEPE/SC venha sofrer alguma demanda

administrativa ou judicial, em decorrência da

presente “recomendação” ou congênere, desde já, nos

colocamos à disposição para fazer a devida defesa por

meio da assessoria jurídica do sindicato.

53. Cumpre ainda dizer que os

professores comprometidos com o ensino plural, democrático, que

explicita as várias versões do conhecimento, não têm nada a temer

com iniciativas idênticas à tratada no caso em tela. Tanto isso é

verdade que já surgem diversas manifestações de apoio de

educadores em relação ao canal de denúncia criado pela Agravante,

segundo abaixo:

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54. Enfim, por tudo que se expôs

não há outra justificativa para a ação que se discute, além de uma

nítida perseguição política. Enquanto isso, grande parte de algumas

medidas sorrateiras praticadas dentro de sala de aula, por alguns

professores, continuarão impunes, e serão tratadas como se fossem

apenas ilações fantasiosas.

V.2 – DO NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS PARA

CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

55. Com amparo no art. 213, §1º, do

Estatuto da Criança e do Adolescente e no art. 12 da Lei da Ação Civil

Pública, concedeu-se parcialmente pedido de ordem liminar nos

seguintes termos:

(i) se abstenha de criar, manter, incentivar ou promover

qualquer modalidade particular de serviço de denúncia

das atividades de servidores públicos, atividade

própria das ouvidorias criadas pela Administração

Pública;

(ii) retire de imediato da publicação de p. 23,

publicada em seu perfil do "Facebook", as seguintes

frases: "Filme ou grave todas as manifestações político-

partidárias ou ideológicas que humilhem ou ofendam sua

liberdade de crença e consciência. DENUNCIE! Envie o

vídeo e as informações para (49) 98853 3588, descreva o

nome do professor, o nome da escola e a cidade.

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Garantimos o anonimato dos denunciantes", e "Alunos

que sentirem seus direitos violados podem usar gravadores

ou Câmeras para registrar os fatos”.

56. Todavia, em que pesem o notório

conhecimento e ilibada reputação da Autoridade Julgadora, os

requisitos para a concessão da medida liminar não se encontram

preenchidos.

A) DA SUPOSTA RELEVÂNCIA DO FUNDAMENTO DA

DEMANDA

57. Acolhendo integralmente os

argumentos do Ministério Público a decisão recorrida entendeu que

as condutas da Agravante infringiriam os artigos 5º, IX, e 206, II e III,

da Constituição Federal.

58. Na realidade, tal qual

exaustivamente abordado, a conduta da Agravante buscou assegurar

os citados preceitos Constitucionais, que visam obstar todo e

qualquer tipo de censura.

59. Com efeito, na tão propalada

missiva a Agravante expressou que as filmagens voltar-se-iam para

aquelas manifestações político-partidárias ou ideológicas que

humilhassem ou ofendessem a liberdade de crença e de consciência

de determinados alunos, o que infelizmente vem se propagando

consoante exaustivas informações que foram outrora apresentadas.

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60. Juntamente com os destacados

preceitos, a Carta Constitucional confere a liberdade da manifestação

do pensamento e a liberdade de consciência e crença (art. 5º, IV e VI),

que se tornam letra morta quando os alunos são ridicularizados tão-

somente por possuírem posição ideológica alheia àquela do

professor.

61. Aliás, se a ação civil pública

prevalecer em todos os seus termos, será a Agravante uma das

pessoas injustamente atingidas com a “lei da mordaça” sugerida pelo

Ministério Público Estadual.

62. Também é necessário observar

que a interpretação conferida pelo parquet e pelo MM. Juiz a quo,

acerca da Lei Estadual 14.363, de 25 de Janeiro de 2008 não foi, data

máxima vênia, a mais adequada para a situação concreta. Confira-se a

redação:

Art. 1º Fica proibido o uso de telefone celular nas salas

de aula das escolas públicas e privadas no Estado de

Santa Catarina.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua

publicação.

63. Quando foi criado o antedito

texto legislativo tinha por nítido desiderato evitar atividades que

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dificultassem a concentração dos alunos, por meio da troca de

mensagens, games, etc.

64. Evidentemente que tal

proibição não se aplica em situações como a relatada, em que o

aparelho de celular, dotado de múltiplas funções (câmeras,

gravadores, etc.), serviria para registrar atos capazes de intimidar os

alunos, dentre outras práticas ilícitas.

65. Não se pode olvidar que,

quando um professor utiliza o “chão da escola” para fazer uma

espécie de “comício eleitoral”, não está ministrando aulas, o que

mitiga a indigitada proibição; diga-se de passagem, extremamente

genérica.

66. A propósito do caráter genérico,

a exegese sustentada na decisão recorrida impingiria situações

completamente absurdas, como, por exemplo, a proibição de que

determinado aluno filmasse uma aula de professor que defendesse o

racismo, o nazismo, o extermínio de pessoas em massa, o terrorismo,

e assim vai...

67. Quem sabe nesse caso o ilustre

Representante do Ministério Público ignoraria a aplicação irrestrita

do texto normativo em destaque, de sorte a defender que eventuais

abusos realizados em ambiente escolar pudessem ser gravados!

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33

68. Outras perguntas que não têm

resposta: gravações através de câmeras, computadores, relógios,

tablets seriam válidas?

69. Além do que foi comentado,

tem-se que a interpretação dessa norma deverá se dar de forma

sistemática, compatibilizando-se com preceitos Constitucionais e

outras regras infraconstitucionais.

70. Nesse rumo, dentre os

princípios que norteiam a Administração Pública o art. 37 da

Constituição Federal elenca o da publicidade, que no magistério do

sempre atual Hely Lopes Meirelles “abrange toda a atuação estatal,

não só sob o aspecto de divulgação oficial dos seus atos como, de

propiciação de conhecimento da conduta interna dos seus agentes”

(Direito administrativo brasileiro, 36ª edição, São Paulo, Malheiros,

2010, página 97).

71. Pondere-se que o sigilo das

informações trata de situação excepcional, que só deverá ocorrer

quando for imprescindível para “à segurança da sociedade e do

Estado” (CF, art. 5º, XXXIII).

72. De outro vértice advirta-se que

a Lei Federal de Acesso à informação (Lei 12.527/2011), diz

textualmente que “não poderá ser negado acesso à informação necessária à

tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais”; os quais são

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flagrantemente violados quando um professor usurpa das suas

funções para impor suas ideias político-partidárias, utilizando-se, em

grande parte das vezes, de inescrupulosos meios de coação.

73. Ainda sobre a norma em

evidência, o seu artigo 3º prioriza a publicidade, conforme segue:

Art. 3o Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a

assegurar o direito fundamental de acesso à informação e

devem ser executados em conformidade com os princípios

básicos da administração pública e com as seguintes

diretrizes:

I - observância da publicidade como preceito geral e do

sigilo como exceção;

II - divulgação de informações de interesse público,

independentemente de solicitações;

III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela

tecnologia da informação;

IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de

transparência na administração pública;

V - desenvolvimento do controle social da administração

pública.

74. Ultrapassado o princípio da

publicidade, que se tornará “letra morta”, caso aplicada na acepção

literal a norma defendida pelo Ministério Público, é fundamental

enfatizar que a conduta desses maus professores (os bons professores

não precisam se preocupar, independente de suas convicções

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políticas e ideológicas) colide frontalmente com o princípio da

impessoalidade, consagrado também pelo caput, do art. 37 da CF.

75. Nesse sentido, consoante

novamente Odete Medauar (Direito administrativo moderno, São Paulo,

RT, 12e edição, página 125):

Com o princípio da impessoalidade a Constituição visa

obstacularizar situações geradas por antipatias,

simpatias, objetivos de vingança, represálias,

nepotismo, favorecimentos diversos, muito comuns em

licitações, concursos públicos, exercício do poder de

polícia. Busca, desse modo, que predomine o sentido da

função, isto é, a ideia de que os poderes atribuídos

finalizam-se ao interesse de toda a coletividade,

portanto a resultados desconectados de razões

pessoais. Em situações que dizem respeito a interesses

coletivos ou difusos, a impessoalidade significa a

exigência de ponderação equilibrada de todos os

interesses envolvidos, para que não se editem decisões

motivadas por preconceitos ou radicalismos de

qualquer tipo.

76. Celso Antônio Bandeira de

Mello (in Curso de direito administrativo, São Paulo, Malheiros, 1999,

página 70) também discorreu acerca desse princípio da

impessoalidade:

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Nele se traduz a ideia de que a Administração tem que tratar

a todos os Administrados sem discriminações, benéficas ou

detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são

toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou

ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e

muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de

qualquer espécie. O princípio em causa não é senão o próprio

princípio da igualdade ou isonomia.

77. Qual o interesse da coletividade

de manter no anonimato professores que se esquecem do conteúdo,

do currículo escolar, enfim, de preparar adequadamente o aluno

para que o país deixe de ocupar vergonhosas posições em rankings

mundiais? Além de inexistir interesse público, o mau professor

abusa das funções que lhe foram conferidas.

78. Pois bem, em outro ponto da

decisão recorrida entendeu-se, em fase de cognição sumária, que o

canal de denúncias aberto pela Agravante seria ilícito, porque o Poder

de Polícia pertenceria exclusivamente ao Estado. Não procede tal

fundamento.

79. Isso porque, a questão em

apreço não se relaciona com o Poder de Polícia da Administração

Pública, mas com o direito que todo e qualquer cidadão tem de se

insurgir contra atos ilícitos. A prevalecer a tese defendida, diversos

mecanismos privados restar-se-iam inviabilizados, ou poderiam ser

alvo de ações civis públicas, tais como o Observatório Social

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(http://osbrasil.org.br/), Safernet Brasil

(https://new.safernet.org.br), Disque Denúncia, etc. Inclusive, o

próprio poder investigativo do jornalismo restar-se-ia

inviabilizado.

80. Com efeito, a Lei, além de não

proibir, estimula que todo e qualquer cidadão usuário de serviço

público fiscalize os atos do Poder Público, denunciando tudo aquilo

que entender como ilícito.

81. Nesse sentido, o art. 5º, XXXIV,

da Constituição Federal assegura a todos os interessados, o direito de

petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidades ou abuso de Poder.

82. De outro vértice, o art. 5º, LXXIII,

também da Constituição Federal, confere a todo e qualquer cidadão

a legitimidade para o ingresso de ação popular, que é regulada pela

Lei nº 4717/1965.

83. Por tudo isso, negar a uma

pessoa eleita de forma legítima o direito de receber denúncias,

podendo com base nelas agir na defesa de alunos e pais que foram

vítimas desses maus professores, configura sério atentado às

liberdades constitucionais, à ordem pública e à própria essência da

democracia.

84. Em adição, já que a ação versada

fundamenta-se no Estatuto da Criança e do Adolescente, não se

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pode ignorar que o art. 70 desse texto normativo estabelece como

DEVER de todos os cidadãos prevenir a ocorrência de ameaça ou

violação dos direitos da criança e do adolescente, sendo este a

espinha dorsal do anteprojeto do Programa Escola Sem Partido.

85. Ainda com base no ECA, artigos

17 e 18 estabelecem as seguintes regras:

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade

da integridade física, psíquica e moral da criança e do

adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da

identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças,

dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da

criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer

tratamento desumano, violento, aterrorizante,

vexatório ou constrangedor.

86. Com efeito, é direito subjetivo

das crianças e dos adolescentes, que constituem a principal clientela

da educação básica, a liberdade de consciência e de crença; a

intimidade; a liberdade de aprender, ao pluralismo de ideias; à

dignidade; e a inviolabilidade psíquica e moral.

87. Por tudo isso, foi que a

Agravante disponibilizou um canal de denúncias, o qual, em pouco

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tempo, recebeu diversas mensagens contendo informações de

professores que se valiam da cátedra para fins político-partidários,

fatos que demonstram que a sua preocupação tinha sólidos

fundamentos. Todavia, tal canal foi obstaculizado pela decisão

recorrida.

88. A Lei 13.608/18, invocada na

exordial realmente cria meios de denúncia, mas em momento algum

prevê que apenas e exclusivamente eles possam ser utilizados pelo

cidadão para divulgar atitudes inapropriadas de um agente público,

consoante suscitado acima.

89. O Promotor de Justiça faltou com

a verdade ao afirmar tamanho absurdo (ver item 39, fl. 142, da inicial).

90. O citado diploma legal apenas

inaugurou no cenário pátrio a figura do Whistleblower (ou

“soprador do apito”), vale dizer, a hipótese, por meio da qual o

cidadão, não envolvido na atividade criminosa, resolve auxiliar e

“denunciar” irregularidades administrativas e ilícitos criminais às

autoridades públicas, recebendo, em contrapartida, uma retribuição

financeira intitulada “recompensa” ou “prêmio”

(https://jus.com.br/artigos/63486/a-lei-n-13-608-de-10-de-janeiro-

de-2018-preve-o-instituto-do-whistleblower).

91. Com efeito, a atitude do

Promotor é arbitrária, traduzindo indubitável ato de censura, pois

não existe vedação alguma na legislação pátria para que particulares

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criem sistemas de recebimentos de denúncias de atividades ilegais.

92. Dessarte, o legislador em

nenhum momento pretendeu exaurir as hipóteses de denúncia no

bojo da lei.

93. Ora, a garantia constitucional da

legalidade esculpida no art. 5º, II, da Constituição da República é

absolutamente clara ao dizer que: “ninguém será obrigado a fazer ou a

deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

94. Da doutrina, extrai-se preciosos

ensinamentos sobre a garantia supramencionada:

Em outras palavras, podemos dizer que o princípio da

legalidade é uma verdadeira garantia constitucional.

Através deste princípio, procura-se proteger os

indivíduos contra os arbítrios cometidos pelo Estado e

até mesmo contra os arbítrios cometidos por outros

particulares. Assim, os indivíduos têm ampla liberdade

para fazerem o que quiserem, desde que não seja um

ato, um comportamento ou uma atividade proibida por

lei. Como aponta o professor Pedro Lenza, no âmbito

das relações particulares, pode-se fazer tudo o que a lei

não proíbe, vigorando o princípio da autonomia de

vontade[1]. O particular tem então, autonomia para

tomar as suas decisões da forma como melhor lhe

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convier, ficando apenas restrito às proibições

expressamente indicadas pela lei. O princípio da

legalidade é corolário da própria noção de Estado

Democrático de Direito, afinal, se somos um Estado

regido por leis, que assegura a participação

democrática, obviamente deveria mesmo ser

assegurado aos indivíduos o direito de expressar a sua

vontade com liberdade, longe de empecilhos. Por isso o

princípio da legalidade é verdadeiramente uma

garantia dada pela Constituição Federal a todo e

qualquer particular5.

95. Por que, repita-se, o Promotor

de Justiça também não ingressou com uma Ação Coletiva para vetar

os mecanismos de recebimento de denúncias dos sites da Safenet.com

e do Observatório Social de Santa Catarina, ambos sufragados pelo

Ministério Público?

96. Tais ferramentas absolutamente

privadas já ajudaram a responsabilizar centenas de agentes estatais

por atos ilícitos. A segunda entidade, além de receber informações

sigilosas de cidadãos, em várias ocasiões ingressou com ações em

prol do erário catarinense6.

97. Ora, a Agravante que é deputada

estadual eleita, e para bem desempenhar seu papel constitucional terá

5https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7125/O-principio-da-legalidade-na-Constituicao-Federal-analise-comparada-dos-principios-da-reserva-legal-legalidade-ampla-e-legalidade-estrita 6 http://www.ossj.org.br/novo/acao-civil-publica-exige-transparencia-no-processo-legislativo-municipal-em-sao-jose/

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o direito de receber informações da sociedade. Acrescente-se que,

além da função legislativa típica, a parlamentar pode participar de

comissões de inquérito, as quais têm poderes de investigação

próprios das autoridades judiciais (art. 47, § 3º, da Constituição

Estadual de Santa Catarina).

98. Porém, segundo o Ministério

Público Catarinense, ela não está autorizada a receber vídeos de

alunos que sentirem lesados por seus professores!

99. Frise-se que um dos modelos de

controle externo da administração pública – e a educação traduz um

serviço público prestado diretamente ou por meio de autorização7 –

é justamente o popular, o qual, em um regime democrático de direito,

deve ser amplo.

100. Desse modo, se os professores

têm ampla liberdade de se expressar em sala de aula, ao corpo

discente deve ser dado o direito de se proteger de eventuais abusos

no desempenho das aludidas funções.

101. O Agravado comenta no ponto

31 da inicial na necessária liberdade de expressão de professores e

alunos. Porém, a ação parece proteger apenas os interesses de

educadores mal intencionados que, ao invés de ministrarem

conhecimentos científicos, aproveitam-se da relação de ascendência

7 www.stf.jus.br/arquivo/biblioteca/PastasMinistros/ErosGrau/ArtigosJornais/784171.pdf

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para fins político-partidários e outros desideratos ideológicos

escusos.

102. Ao contrário do “melhor dos

mundos possíveis” onde parece viver o Promotor de Justiça, o aluno

está numa posição de vulnerabilidade frente a esta espécie de

professor que, ao perceber a discordância ideológica do educando,

tende a persegui-lo com os mais criativos modos de repressão.

103. A liberdade de educar por meio

de processos livres e dialéticos não é absoluta, como deseja o autor da

demanda. A criança e o adolescente possuem sim o direito de se

insurgir contra abusos de seus professores. Por isso é que o Estatuto

da Criança e do Adolescente prevê em seus artigos 16 e 53:

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes

aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços

comunitários, ressalvadas as restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem

discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à

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educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua

pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência

na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo

recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades

estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua

residência.

104. Para se “jogar uma pá”

de cal no que tange à matéria, merece especial ênfase o

Parecer do ilustre Procurador da República Fábio Moraes

de Aragão, que analisando a já comentada representação

contra o Presidente eleito Jair Messias Bolsonaro reputou

como legal e “LOUVÁVEL que alunos gravem as aulas

Ministradas por seus professores, quer seja para fins de

revisão da matéria a posteriori, quer seja para constituir

prova na eventual hipótese de ilícitos perpetrados em sala

de aula”.

105. Vale a transcrição dos

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seguintes trechos:

No caso sub examine, inexiste ilegalidade na conduta

do Presidente eleito Jair Messias Bolsonaro ao sugerir

que estudantes gravem as aulas ministradas pelos

professores da rede pública, diante das seguintes razões.

Primus, os princípios jusadministrativos da publicidade

e da transparência impõem que o conteúdo das aulas

ofertadas esteja aberto à sociedade. Se os professores

lecionam Matemática e Língua Portuguesa, dentre outras

disciplinas, óbvio é que o conteúdo destas matérias não

é secreto. Seria non sense declarar que regras gramaticais

ou operações aritméticas expostas em sala de aula

estão acobertadas pelo sigilo, uma vez que não se

relacionam à vida privada (artigo 5º, X, CFRB/88) e

muito menos são consideradas imprescindíveis à

segurança da sociedade e do Estado (artigo 5º, XXXIII,

CRFB/88), hipóteses excepcionais que justificariam o

segredo. Não há, portanto, a possibilidade de professor

invocar o direito à privacidade quando leciona sua

disciplina, já que o ato de transmissão do conhecimento

em sala de aula é, por natureza, uma atividade pública,

não estando ligada à intimidade pessoal ou à informação

sobre aspectos privados do docente.

Secundus, a Administração Pública deve cumprir o

princípio constitucional da eficiência (artigo 37, caput,

CFRB/88), esperando-se a sociedade brasileira que o

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ensino público seja de qualidade e que os alunos

realmente aprendam o conteúdo programático escolar.

Assim sendo, sabe-se que uma das formas habituais de

estudo é a gravação de aulas pelos discentes a fim de que,

posteriormente, possam fazer a revisão da matéria,

fixando-a pela repetição da aula gravada. Caso se

chegasse ao absurdo de entender que os alunos estão

proibidos de registrar por equipamentos eletrônicos as

aulas ministradas, cerceando a possibilidade de

revisão da matéria gravada, tal medida causaria imenso

prejuízo no processo de aprendizagem, violando- se,

pois, o próprio interesse público que clama pela

concretização do direito fundamental à educação de

qualidade.

Tertius, é da sabença de todos que alguns professores

no país cometem atos ilícitos no ambiente escolar

como, verbi gratia, abusos sexuais, assédio moral,

agressões físicas ou verbais, discriminação,

doutrinação político-ideológica aproveitando-se da

audiência cativa dos alunos etc. Nestes casos, as

gravações realizadas pelos alunos são relevantes para a

comprovação dos atos ilícitos cometidos e a adoção das

providências cabíveis. Impedir que os alunos, muitas

vezes vítimas de delitos, gravem as ocorrências

significa desampará-los e despojá-los de direitos

basilares insculpidos na Constituição da República e

na Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do

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Adolescente. Se não bastasse, a proibição de gravação

terminaria por proteger condutas ilegais

eventualmente cometidas por professores,

estimulando a impunidade, inclusive no caso de crimes

sexuais.

Quartus, no dizer do Presidente eleito Jair Messias

Bolsonaro, os professores devem se orgulhar de seu

trabalho. Ou seja, não há motivo para que professores

idôneos temam que suas aulas sejam registradas por

equipamentos eletrônicos. Somente docentes que

praticam ilicitudes terão receio de gravações realizadas

por alunos, e nesta hipótese o registro das aulas por

aparelho eletrônico é medida muito recomendável para

o regular exercício dos direitos dos alunos e de seus pais

no sentido de representarem contra as arbitrariedades

cometidas.

Quintus, o Presidente eleito, ora representado, solicitou

que os alunos entrassem em contato para reportar

eventuais ilícitos cometidos por professores. Tal

conduta é lícita e legítima, pois se trata do exercício do

direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de

direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder,

assegurado constitucionalmente (artigo 5º, XXXIV, “a”).

Sextus, a gravação das aulas ministradas não ofende,

de maneira alguma, a liberdade de cátedra, visto que o

professor permanecerá com autonomia para lecionar, e

obviamente não sofrerá nenhum tipo de reprimenda

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estatal pelo cumprimento do seu dever de mestre.

Somente condutas ilegais serão alvo de investigação

pelas autoridades competentes. Causa estranheza que

o representante anônimo, que se identificou como

professor, insurja-se contra o combate a atos ilícitos!

106. Diante do exposto, tem-se que

a decisão combatida, com o devido respeito, deverá ser reformada

em virtude da ausência do necessário amparo jurídico.

V.2 – DO PERICULUM IN MORA

107. Relativamente ao Periculum in

mora a douta Autoridade Julgadora expressou que “a demora

natural no processamento da demanda pode agravar os prejuízos já

advindos, pois há indícios de que o fato ora em análise já chegou a

repercutir em outros Estados, o que se dirá, então, acerca do

ambiente escolar em análise” (fl. 86).

108. De fato, a repercussão no

âmbito nacional ocorreu, porém, não no sentido de reconhecer

qualquer ilegalidade nos atos da Agravante, mas sim para criticar

explicitamente o comportamento do Promotor de Justiça no feito

em questão. Somente o viés ideológico e a tentativa de amordaçar

a Agravante são capazes de justificar tamanho absurdo!

109. Eméritos Julgadores há

flagrante deturpação dos fatos, transformando-se uma defensora

dos direitos dos alunos em uma espécie de inimiga pública da

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democracia. Ao passo que aqueles maus professores, que doutrinam

e constrangem seus alunos, permanecem impunes.

110. Por que o ilustre Promotor não

fez nada, por exemplo, contra a professora de Caçador que em sala

de aula disse que o Presidente Jair Messias Bolsonaro autorizaria o

estupro de mulheres e que mandaria negros para as senzalas,

conforme outrora comprovado?

111. Quem sabe, na acepção do

parquet, esses atos seriam irrelevantes, frente, por exemplo, a

tentativa de uma professora (ora Agravante) proteger alunos contra

maus professores.

112. Por esse motivo, tem-se que o

periculum in mora revela-se como inverso, ou seja, se for mantida a

Lei da Mordaça em desfavor da Agravante importante canal de

comunicação para se denunciar os desmandos de alguns professores

deixará de produzir os necessários efeitos. Quem perderá com isso

são os próprios alunos, que continuarão sendo doutrinados e

coagidos por professores.

113. Segundo disse o Ministro da

Propaganda Nazista Joseph Goebbels (antes que o Promotor

requisite a abertura de um inquérito para apuração de apologia ao

Nazismo, ressalta-se desde já que não se está defendendo esse

regime nefasto, mas apenas se citando uma frase): “uma mentira

repetida mil vezes se torna verdade”.

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114. Trazendo tal frase para a

situação dos autos, as práticas espúrias, mentirosas e reiteradas

desses professores continuarão a surtir reflexos negativos na

educação em território catarinense, atingindo justamente a parte

mais fraca dessa relação, que é a criança e o adolescente.

VI – DA CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO

115. Segundo o artigo 1019, I, do

CPC:

Recebido o agravo de instrumento no tribunal e

distribuído imediatamente, se não for o caso de

aplicação do artigo 932, incisos III e IV, o relator, no

prazo de 5 dias:

I – Poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou

deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente,

a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão.

116. Com efeito, a probabilidade do

direito da Agravante (fumus boni iuris) reside de toda argumentação

anteriormente enfatizada, que demonstra a inexistência de qualquer

ilícito da Agravante baseado, dentre outros, nos seguintes aspectos:

respeito à liberdade de expressão, que será flagrantemente infringida

se a “Lei da Mordaça” requerida pelo Ministério Público for mantida;

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direito que todos os cidadãos possuem de denunciar atos ilícitos,

especialmente em se tratando de direitos da criança e de adolescente,

que não podem ser obrigadas a serem doutrinados, tolhidos de

opinião e intimidados por arbitrariedades cometidas em sala de aula;

e o dever dos professores que compõem a Administração Pública de

agir com imparcialidade, o que não se coaduna com a transformação

da sala de aula em palanque eleitoral.

117. Por outro lado, tal qual

aduzido acima, o periculum in mora revela-se inverso, porquanto se for

mantida a decisão combatida importante canal de comunicação para

se denunciar os desmandos de alguns professores deixará de

produzir os necessários efeitos. Quem perderá com isso são os

próprios alunos, que continuarão sendo doutrinados e coagidos por

professores.

118. Em adição, a proibição dessas

gravações continuará protegendo as condutas ilegais praticadas por

esses maus professores, estimulando a impunidade não apenas em

questões de cunho ideológico, como também na prática de diversos

crimes (abusos sexuais, assédios morais, agressões físicas, verbais,

etc.).

119. Logo, requer em caráter de

urgência sejam imediatamente suspensos os efeitos da decisão

combatida.

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VII – DOS REQUERIMENTOS

120. Pelo exposto requer-se:

a – com amparo no art. 1019, I, do

CPC, a concessão de efeito suspensivo da decisão recorrida, enquanto

não for analisado o mérito desse agravo de instrumento;

b – seja o Agravado intimado para

apresentar contrarrazões ao recurso;

c – o conhecimento e provimento do

agravo de instrumento, de sorte a reformar a decisão a quo que deferiu

parcialmente pedido liminar formulado pelo Ministério Público,

cassando-se, por consequência, todos os seus efeitos.

Termos em que

Pede conhecimento e provimento.

Florianópolis, 22 de novembro de 2018.

CLAUDIO GASTÃO DA ROSA FILHO NICOLI MORÉ BERTOTTI

OAB/SC n. 9284 OAB/SC n. 25.052