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Revista Eletrônica Fundação Educacional São José

8ª Edição ISSN: 2178-3098

EM BUSCA DE UMA PEDAGOGIA TERAPÊUTICA

Irineide Santarém André Henriques1

RESUMO

Este artigo tem por objetivo investigar o desenvolvimento biológico do ser humano e sua

interação com o social desde o nascimento até a fase de alfabetização escolar. Uma vez que é

comum crianças nesta etapa perderem a curiosidade para o aprendizado e apresentarem

sintomas de adoecimento, contrariando o desabrochar do momento. Segundo esta proposta a

razão disto é o desconhecimento do docente de que a parte neurológica se desenvolve num

processo lento e que não pode ser forçada. Piaget, Vygotsky e Emilia Ferreiro são autores que

fundamentam o presente trabalho, para dialogar sobre a importância do biológico no

aprendizado, a fim de que o educando vivencie uma pedagogia que seja terapêutica.

Palavras- Chave: Biológico. Aprendizado. Interação. Terapêutica.

ABSTRACT

This article aims to investigate the biological development of the human being and his social

interaction from birth until school literacy phase. Once this step is common for children to

lose their curiosity for learning and presenting symptoms of illness, contradicting the

unfolding of time. Under this proposal the reason for this is the lack of teachers that the

neurological part develops a slow process and can not be forced. Piaget, Vygotsky and Emilia

Ferreiro authors are underlying the present work, to talk about the importance of biological

learning, so that the student experience a pedagogy that is therapeutic.

Keywords: Biological. Learning. Interaction. Therapeutic.

1 Mestre em Psicologia (CES/JF), Mestre em Letras (CES/JF), Especialista em Filosofia Moderna e

Contemporânea (UFJF). Professora da Fundação Educacional São José – FESJ - Santos Dumont. Rua: Barão de

Cataguases 9/101- Bairro: Santa Helena- Juiz de Fora- MG- CEP: 36015-370. Tel: (32) 3217- 8452. E-mail:

[email protected] ( Artigos Originais)

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8ª Edição ISSN: 2178-3098

EM BUSCA DE UMA PEDAGOGIA TERAPÊUTICA2

INTRODUÇÃO

Pode-se dizer que há um controle e ansiedade muito grande de pais e educadores no

que diz respeito ao inicio da vida escolar. A maioria anseia por crianças superdotadas,

enquanto estas na realidade são exceção. Assim, querem a todo custo que crianças em tenra

idade estejam já escrevendo seus nomes e lendo conforme a norma da língua portuguesa, pois

na realidade crianças cujos pais tem o hábito de ler, são capazes de fazer leitura de imagens de

forma muito significativa e isso é importante no desenvolvimento cognitivo e prepara a leitura

formal.

Rasgar, rabiscar, desenhar livremente são etapas necessárias a fim de que a criança

desenvolva a sua coordenação motora de forma plena. Piaget (1987) afirma que é necessário

respeitar a maturação biológica, porque na realidade a criança não responde antes disso e o

que acontece é que o forçar desestimula o potencial em desenvolvimento, uma vez que para

este autor, o ser humano desenvolve-se “de dentro para fora”, isto quer dizer que os estímulos

do ambiente são importantes, mas que vão ocorrer com uma interação com o biológico, que se

prepara primeiramente para receber o que o ambiente suscita.

Assim, é como no senso comum costuma-se dizer: “é como tirar uma fruta do pé antes

de estar completamente madura: é sem gosto, não tem sabor”. A palavra saber

etimologicamente quer dizer sabor, então o aprendizado deveria ser executado sem pressões,

mas com muita alegria para que o sabor fosse agradável.

O desenvolvimento do ser humano acontece de forma lenta, na realidade entre os

animais é o mais demorado como veremos no item a seguir.

1 TORNAR-SE HUMANO

O ser humano possui uma fragilidade maior do que outros animais, caso não haja

alguém que lhe dê os necessários cuidados no devido tempo ele pode vir a morrer. Por isso,

ele pode ser nominado como um animal “incompleto”, apenas um projeto de humano. As

tartarugas marinhas, por exemplo, logo ao nascerem correm para o mar, ligeiramente,

capacidade que o humano só irá adquirir com cerca de um ano e meio a dois anos de idade,

2 Este artigo foi fundamentado na palestra que proferimos no Instituto Superior de Educação de Santos Dumont-

Curso de Pedagogia- FESJ no Workshop:” Pedagogia: atuais tendências, novos desafios” no dia 17/05/2008.

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conforme o organismo psíquico-físico da criança. Um gato com sessenta dias de nascido já se

tornou independente da sua mãe, já desmamou, enquanto o bebê humano é completamente

indefeso.

É interessante verificar que a fragilidade humana é desde o nascimento diferindo dos

animais que já nascem quase independentes. Isso foi analisado desde a antiguidade com os

filósofos pré – socráticos Anaximandro é um exemplo disso:

O homem não surgiu, no começo, nessa forma acabada como o vemos hoje.

Tal é a sua fragilidade, manifestada numa longa infância, inteiramente

dependente de seus progenitores e carente de tantos cuidados indispensáveis

que, se assim o fosse, não teria a mínima possibilidade de garantir, sozinho,

a sua sobrevivência. Essa concepção de Anaximandro garante-lhe o titulo de

precursor da moderna teoria da evolução, ainda que de forma incipiente,

ingênua e sem os conceitos de mutações em vista de progressivas adaptações

e novas condições de vida (SANTOS, 2001, p.35).

Existem inúmeras diferenças entre o Homo sapiens e os outros animais. A espécie

sapiens que designa sapiência ou sabedoria mantém a coluna ereta e foi denominada

primeiramente de Homos eretus por apresentar esta característica. Pode-se ressaltar que

alguns animais, tais como; o urso, macaco, canguru, entre outros, mantêm-se eretos, somente

por alguns momentos. É comum entre os insetos sociais, tais como as sociedades de abelhas e

formigas repetirem a ordem hierarquicamente. Esta ordem será reprisada de geração a geração

sem nunca ser transgredida.

O humano transforma as informações que recebe o tempo todo (capacidade de

abstrair, por isso é denominado ser cognoscente) e transgride a ordem da natureza quando faz

som e fala o que pensa transformando e transgredindo a ordem estabelecida.

Vygotsky (1989) ao investigar o desenvolvimento do pensamento e linguagem do ser

humano faz uma distinção do que ocorre com os primatas, principalmente os chimpanzés que

chegam somente numa linguagem pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e pré-

intelectual do desenvolvimento da linguagem. Sobre isso, Marta Oliveira cita o trabalho de

Vygotsky:

Os animais são capazes de utilizar instrumentos como mediadores entre eles

e o ambiente para resolver determinados problemas. Usam meios indiretos

para conseguir um certo objetivo, como nos experimentos já mencionados,

em que chimpanzés utilizam varas ou sobem em caixotes para alcançar um

alimento que está distante. Esse tipo de comportamento revela uma espécie

de “inteligência prática”, onde existe capacidade de solução de problemas e

de alteração do ambiente para a obtenção de determinados fins. Esse modo

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de funcionamento intelectual é independente da linguagem, definindo a

chamada fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento (1997, p. 44).

Os sons que estes animais emitem juntamente com os gestos não têm a função de uma

comunicação com um interlocutor que compartilhe um sistema de signos, mas simplesmente

de alívio emocional com os outros membros do grupo. Até aproximadamente três anos estes

desenvolvem-se da mesma forma que um bebê humano. E é neste momento que um

distanciamento crucial ocorre com o humano: desenvolve a fala e progride a sua linguagem,

enquanto os chimpanzés conservam apenas os gruídos.

Estes continuam produzindo e usando ferramentas para atingir determinada finalidade,

só que não expressam a fala e a escrita tal qual a humana, pois não possuem cerebelo (órgão

do corpo humano situado no cérebro3, e que possibilita que se desenvolva determinada função

como a lógica de se pensar mais rapidamente do que a pessoa que está falando, e assim

argumentar de forma diferenciada ou de acordo) e outras funções cerebrais que são próprias

do humano: “ O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é

um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico

transforma-se no sócio-histórico “(OLIVEIRA, 1997, p. 45).

Os chimpanzés apenas suprem as necessidades imediatas, não produzem tradição,

cultura, podemos dizer que não há uma complexidade, mas uma “técnica rudimentar”. O

objetivo do presente trabalho não é fazer investigação minuciosa do comportamento dos

chimpanzés, mas apenas compará-los brevemente, a fim de entender o diferencial que se faz

entre eles e os seres falantes. Procura-se explicar a origem da fala no humano de acordo com

as teorias da evolução.

Para Vygotsky em estudos da autora Oliveira:

3As atividades motoras mais complexas do corpo são controladas pelo córtex cerebral, pelos gânglios da base e

pelo cerebelo, com essas três áreas funcionando, quase que sempre, em conjunto e não isoladamente. Entretanto,

a remoção do córtex cerebral, em alguns animais inferiores, tem efeito muito pequeno sobre a capacidade do

animal de andar, de correr, até de lutar. O que eles perderam foi o caráter proposital de suas atividades motoras.

No ser humano, por outro lado, o córtex cerebral é muito mais desenvolvido e , de modo correspondente, parte

consideravelmente maior de nossas atividades motoras é controlada pelo córtex.A área motora do córtex cerebral

fica localizada, imediatamente à frente do sulco central. O cerebelo possui um tipo especial de circuito neuronal

que permite que os sinais sejam retardados por várias frações de segundo. Por conseguinte, se deseja realizar

dois movimentos diferentes, um em seguida do outro, o cerebelo produz o retardo apropriado, entre as atividades

motoras seqüenciais. Por exemplo, durante o andar, cada passo consiste em movimentos seqüenciais da perna

para a frente e para trás. Se o seqüenciamento não for perfeito, a pessoa perde seu equilíbrio. O controle da

palavra falada é um exemplo especialmente interessante de controle motor de alta complexidade. As palavras

que vão ser enunciadas não são escolhidas pelo córtex motor mas, pelo contrário, pela parte do córtex sensorial

chamada de área de Wernike. Essa área funciona em associação com o córtex motor primário, com os gânglios

basais e com o cerebelo para controlar as seqüências de contrações dos músculos laríngeos, orais e respiratórios,

necessários para a formação das diferentes palavras (GUYTON, 1988, p.143).

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Existe, assim, a trajetória do pensamento desvinculado da linguagem e a

trajetória da linguagem independente do pensamento. Num determinado

momento o desenvolvimento filogenético, essas duas trajetórias se unem e o

pensamento se torna verbal e a linguagem racional. A associação entre

pensamento e linguagem é atribuída à necessidade de intercâmbio dos

indivíduos durante o trabalho, atividade especificamente humana (1997, p.

45).

Observando-se crianças de tenra idade de diferentes lugares do mundo se verifica que

os sons emitidos e o processo de desenvolvimento da fala são os mesmos, existe uma

universalização. Entretanto, isso não é suficiente para determinar se os seres serão falantes,

pois o verdadeiro “salto” para a linguagem se dará com o convívio social. Este é categórico

para o aparecimento da língua que determina cada cultura.

Segundo pesquisas nos vários ramos da Antropologia, Sociologia, Psicologia

confirmam que sem a fala do outro semelhante, o bebê humano não consegue produzir língua

e não se torna ser social. Como pode ser visto nestas histórias:

Os casos mais dramáticos de crianças que cresceram isoladas são os das

crianças “selvagens” ou meninos lobos” que têm sido descritas como

crescendo com animais selvagens ou vivendo sozinhos na floresta. Em 1920,

foram encontradas na Índia duas crianças selvagens, Amala e Kamala que

segundo se pensa, viveram entre os lobos. O caso mais famoso documentado

por François Truffaut no filme O Menino Selvagem, é o de Victor,”o menino

selvagem de Aveyron” que foi encontrado em 1798. Sabe-se que foi

abandonado na floresta quando era muito novo tendo sobrevivido. Foi

descoberto quando era já adolescente. Têm-se verificado casos de crianças

cujo isolamento resultou de esforços deliberados de as manterem afastadas

da vida social. Em 1970 descobriu-se o caso de uma criança, a quem os

relatórios científicos deram o nome de Genie, que tinha sido fechada num

pequeno quarto e que tinha tido o mínimo de contato humano desde os

dezoito meses até aos quatorze anos. Nenhuma destas crianças,

independentemente da causa do isolamento, sabia falar ou conhecia qualquer

linguagem quando foram reintegradas na sociedade (FROMKIM, 1993, p.

24).

Estas histórias parecem mostrar que a capacidade humana de adquirir linguagem requer um

estimulo lingüístico adequado. Uma criança afastada do contato humano nunca aprenderá a falar.

Existem várias hipóteses para se tentar explicar o não desenvolvimento da linguagem

nestas crianças, como retardo mental, surdez, entre outros. Entretanto, observa-se que em

todas estas faltou o convívio com o ser humano, principio fundamental para o treinamento

desta habilidade. Haja vista crianças saudáveis organicamente que não têm muito contato com

outras crianças falarem pouco em tenra idade, e uma vez que passam a ter contato com outras

da mesma idade através da escola infantil desenvolvem plenamente sua faculdade de falar.

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Necessário se faz verificar o quanto é importante conhecer o desenvolvimento

demorado do ser humano, para melhor respeitá-lo, principalmente na infância onde o sistema

nervoso sofre maturações que são para o resto da vida.

2 A INTERAÇÃO DO BIOLÓGICO COM O APRENDIZADO

Segundo Guyton (1988) o sistema nervoso é o sistema que sente, que pensa e que

controla em nosso organismo. Para realizar essas funções, ele reúne as informações sensoriais

vindas de todas as partes do corpo oriundas de terminações neurais sensoriais especializadas

da pele, dos tecidos profundos e dos olhos, dos ouvidos, do aparelho do equilíbrio e de outros

sensores e as transmite, pelos nervos, para a medula espinhal e para o encéfalo.

A medula espinhal e o encéfalo podem reagir, de forma imediata, a essa informação

sensorial, enviando sinais para os músculos e para os órgãos internos do corpo, produzindo a

resposta motora ou, em outras condições, pode não ocorrer nenhuma resposta imediata: pelo

contrário, a informação sensorial é guardada em um dos grandes bancos de memória do

encéfalo.

Verifica-se que este trabalho em conjunto gera muitas informações e a partir das

diversas combinações, novos pensamentos são elaborados. Tudo isso pode acontecer em

fração de minutos ou após alguns meses e, até mesmo, alguns anos, pois este extenso

processamento de informações poderá causar alguma resposta motora que não pode se

precisar quando acontecerá ou se acontecerá. Talvez a resposta seja bem simples, ou quem

sabe, uma bastante complexa, como a construção de uma casa, ou a pilotagem de nave

espacial.

Por isso, necessário se faz que a professora de educação infantil e dos primeiros anos

do ensino fundamental desenvolva um trabalho em que a criança possa se expressar

livremente todas suas possibilidades de criação através da massa de modelar, rabiscos e

desenhos livres, das brincadeiras de boneca, carrinhos feitos de papel, cozinhar com barro

e/ou alimentos reais, pular e tantas outras, mas principalmente desenvolva na criança a sua

oralidade, através da contação de histórias, teatros em que a criança possa vivenciar vários

personagens, a fim que ela elabore seus medos, seus sonhos.

Sobre isso Piaget (2011) afirma: “(...) do ponto de vista pedagógico, leva

incontestavelmente a dar toda ênfase às atividades que favoreçam a espontaneidade da

criança” (p. 17).

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Este conjunto todo trabalhado com a criança possibilitará que ela alfabetize de forma

plena, porém, nenhum professor ou pesquisador poderá precisar quando o momento da

alfabetização completa se dará. O importante é que o sistema nervoso seja trabalhado

lentamente sem pressões para que possa responder brevemente ou num futuro próximo em

respostas motoras tão esperadas por pais e educadores.

Necessário se faz que a professora alfabetizadora desenvolva paciência e humildade

para até não ver o resultado de seu trabalho, pois este poderá se dá somente em outros anos e

o importante é que a curiosidade da criança seja trabalhada. Sobre isto Paulo Freire afirma em

Pedagogia da Autonomia:

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto

estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua

sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que

minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue

sinal de sua rebeldia legitima, tanto quanto o professor que se exime

do cumprimento e seu dever de propor limites à liberdade do aluno,

que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à

experiência formadora do educando, transgride os princípios

fundamentalmente éticos de sua existência (2009, p. 59-60).

Este respeito ao educando favorecerá que ele tenha vontade de aprender cada vez

mais, não importando a fase em que se encontre. Verifica-se que mesmo com os avanços

tecnológicos e tantas conquistas na humanidade, ainda vemos professores muito

despreparados para suas funções e consequentemente alunos desistindo da escola, pois ela não

se torna um lugar atraente com gosto de querer saber mais.

Neste contexto, observa-se que o organismo sofre ativação nervosa dos órgãos

internos do corpo, como a produção de freqüência cardíaca aumentada, ou o peristaltismo

intestinal aumentado que podem ser considerada parte da resposta motora, como foi citado no

item anterior. Este último provoca na criança sintomas de doenças que estão relacionados ou

tem como fator desencadeante o ambiente escolar.

Enurese, ecoprese, são sintomas que sinalizam que algo não vai bem, a criança não dá

conta de resolver determinada situação e libera a energia na urina e/ou fezes, gerando mais

problemas de cunho social, quando acontece na escola e/ ou casa, principalmente perante a

professora e colegas de classe.

O estômago onde é feita a digestão, e caso não se consiga digerir a situação adversa

pode ter problemas, como dores de barriga que os alunos da educação infantil reclamam com

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frequencia. Dores de cabeça, pois sentem-se pressionadas literalmente no seu psiquismo,

órgão do saber.

Falta de apetite podendo levar a uma anorexia ou aumento do apetite exagerado,

bulimia, na tentativa de suprir o que falta ou que não consegue resolver no seu dia a dia,

febres sem explicação orgânica, taquicardias, desmaios, entre outros.

A pressão psicológica é somatizada, o que a mente sofre e não dá conta derrama no

corpo sob sintoma de doença. Entretanto, se o aluno for colocado em um ambiente aprazível

estes sintomas que são fantasmagóricos, por não possuírem causa orgânica desaparecem.

Assim deve-se ter muita cautela ao fazer o encaminhamento deste. Sobre isso Maia na obra

intitulada Neuroeducação: a relação entre saúde e educação afirma:

Quando as relações entre saúde e a educação preexistem aos

encaminhamentos individuais de alunos, por meio de parcerias em estudo e

capacitação continuada, cria-se nova mentalidade entre os diversos

profissionais. Antes que o aluno seja encaminhado para a rede de saúde, sua

situação é analisada dentro do espaço escolar de diversas instâncias até que

as causas de caráter pedagógico e a relação com a família sejam esgotadas

(2011, p. 34, grifo nosso).

Existem crianças que não conseguem ler, mesmo com prontidão para tal

empreendimento, pois sofrem com opressão escolar: não podem escrever ou ler errado.

Observa-se que na cultura ocidental o erro sempre foi visto como algo negativo, e não

como uma experiência que tem o mesmo valor das que são positivas. Muitas pessoas adoecem

porque não conseguem lidar com a polaridade negativa das ações da vida e sentem-se

frustradas e impotentes.

Caso os grandes cientistas não se permitissem errar o mundo iria ficar sem grandes

contribuições, tais como: Galileu Galilei que derrubou o geocêntrismo, Issac Newton, com a

gravitação universal, Thomas Edison com a lâmpada, Pasteur com a pasteurização do leite, a

penicilina com Alexander Fleming, Einstein com a teoria da relatividade, Piaget com

experimentos com crianças e tantos outros que com seus erros fizeram e fazem o mundo

evoluir.

A psicóloga argentina Emília Ferreiro (2008) afirma que os erros que as crianças

cometem nas suas primeiras tentativas de escrita não podem ser denominados erros no sentido

literal da palavra, mas fases do processo de aprendizagem pelo qual a criança está

vivenciando.

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Assim, as dificuldades que a criança apresentar o educador deverá propiciar vários

momentos diferentes para que se possibilite o desenvolvimento e superação sem data

marcada.

Para Guyton (1988), uma criança que esteja aprendendo a escrever letras, trabalha

meticulosamente no traçar todas as curvas e linhas. Isso é um procedimento lento de muitos

erros e tentativas.

Durante todo o tempo, o sistema nervoso sensorial avalia o grau de sucesso. Após um

grau mínimo de sucesso inicial, as tentativas subsequentes de execução da tarefa combinadas

com os sinais sensoriais corretivos levam à realização perfeita.

Dessa forma, o sistema sensorial desempenha grande papel no estabelecimento de

todas as funções motoras de precisão e aprendidas no encefálo. Assim, a escrita de uma letra

ou de uma frase é na realidade a ativação de uma sequência de padrões de atividade motora.

Sobre isso Vygotsky (1989), afirma que o outro possibilita o desenvolvimento

cerebral, pois para ele o humano desenvolve de “fora para dentro”, ou seja, a realidade social-

histórica do individuo é que vai favorecer para a sua maturação biológica.

Ele caracteriza como zona de desenvolvimento proximal aquelas funções que ainda

não amadureceram, mas que estão em estado latente e que se desenvolverão com o contato

social:

(...) as relações entre desenvolvimento e aprendizado, e particularmente

sobre a zona de desenvolvimento proximal, estabelece forte ligação entre o

processo de desenvolvimento e a relação do individuo com seu ambiente

sócio-cultural e com sua situação de organismo que não se desenvolve

plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie. É na zona de

desenvolvimento proximal que a interferência de outros indivíduos é a mais

transformadora ( OLIVEIRA, 1997, p. 61).

Educar é dar possibilidade do outro crescer. Precisa-se oferecer um ambiente

criativo para que a criatividade infantil possa aparecer, pois na fundamentação de

Vygotsky, sem a contribuição da cultura, o humano não se transforma de biológico em

sócio-histórico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pedagogo, que é aquele que conduz, tem de possibilitar o acolhimento. Permitindo

que a criança seja criança, como afirma o filósofo alemão Nietzsche (1977) deixar a criança

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brincar livremente sem monitoramentos, para que a curiosidade não seja cortada, e assim,

vivencie a infância plenamente e a curiosidade a leve para o resto da vida, permitindo que o

saber seja uma constante em sua vida e aconteça de forma terapêutica. Para este

empreendimento necessário se faz que o professor tenha uma boa formação acadêmica e

também ame o seu labor, pois, somente o amor é calmo para esperar o outro crescer sem

pressa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 40.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

FROMKIM, Vitória; RODMAN, Robert. Introdução à linguagem. Coimbra: Almeida, 1993.

GUYTON, Artur C. Fisiologia humana. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

MAIA, Heber. Neuroeducação: a relação entre saúde e educação. Rio de Janeiro: Wak, 2011.

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

1977.

OLIVEIRA, Marta Kohl. 4.ed. Vygotsky Aprendizado e desenvolvimento: um processo

sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

______. Para onde vai a educação? 20. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

SANTOS, Mário José. Os pré- socráticos. Juiz de Fora: UFJF, 2001.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2.ed. São Paulo, Martins Fontes,1989.