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ESCOLA SUPERIOR DE TURISMO E TECNOLOGIA DO MAR Empresa de gestão de experiências turísticas “ARTES DO MAR” Mestrado Turismo do Ambiente UC: Turismo em Ambiente Alternativo Professor: Doutor António Sérgio Araújo de Almeida António Xavier, nº 4120391 Luísa Dias, nº 4120390 1º Semestre Janeiro de 2013

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ESCOLA SUPERIOR DE TURISMO E TECNOLOGIA DO MAR

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Empresa de gestão de experiências turísticas

“ARTES DO MAR”

Mestrado Turismo do Ambiente

UC: Turismo em Ambiente

Alternativo

Professor:

Doutor António Sérgio Araújo de

Almeida

António Xavier, nº 4120391

Luísa Dias, nº 4120390

1º Semestre

Janeiro de 2013

ESCOLA SUPERIOR DE TURISMO E TECNOLOGIA DO MAR

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Índice

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3

1.1. Os primeiros passos… .................................................................................................... 3

1.2. Turismo Pós-Moderno................................................................................................... 4

1.3. A viagem turística: O início da experiência intrapessoal ou o retorno às origens. ....... 6

2. PROJECTO .............................................................................................................................. 7

2.1. Empresa de gestão de experiências turísticas – “ARTES DO MAR” .............................. 7

2.2. Peniche uma terra de Mar e Pescadores ...................................................................... 7

2.3. As Fases do Projeto ....................................................................................................... 9

2.4. Os Produtos Turísticos................................................................................................. 10

2.4.1. Elementos de uma experiência significativa ....................................................... 10

2.4.2. Níveis da experiência ........................................................................................... 11

2.4.3. Na rota das sardinhas .......................................................................................... 13

2.4.4. Como se faz em Peniche? ................................................................................... 13

2.4.5. Vai na Onda… ...................................................................................................... 14

2.4.6. Histórias do mar no Forte de Peniche ................................................................. 15

2.4.7. Passeios em Peniche ........................................................................................... 15

2.4.8. Visitas ao fundo do mar ...................................................................................... 16

2.4.9. Pesca desportiva.................................................................................................. 17

2.4.10. Reviver as Lendas de Peniche ............................................................................. 18

3. Estudo de Caso “O Tour da Experiência” ............................................................................ 24

4. Conclusão ............................................................................................................................ 27

5. Bibliografia .......................................................................................................................... 29

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1. INTRODUÇÃO

Na realização deste trabalho pretendemos apresentar os recursos e produtos

turísticos que Peniche dispõe, numa perspetiva de vivência de experiencias

significativas. Assim apresentamos a proposta de formação de uma empresa

de gestão de experiências, “ARTES DO MAR” que serviria de elo de ligação

entre os stakeholders que se associassem a este projeto. Iniciamos o trabalho

com a apresentação de conceitos fundamentais para um novo modelo de

turismo: Turismo de Experiências e Consumo de Emoções. Apresentamos de

seguida o nosso projeto e os produtos que propomos incluir. A construção dos

produtos turísticos/experiências tem como ferramenta de trabalho a Pirâmide

de Experiências do Modelo Finlandês. O fio condutor de todas as experiências

propostas é o mar, por ser o elemento mais forte e, porque não, mais autêntico

na vida desta comunidade. As potencialidades que Peniche revelou, ao longo

deste trabalho, levam-nos a pensar que seria relativamente fácil envolver a

comunidade e os recursos existentes num projeto em torno do mar. O maior

desafio para o sucesso deste projeto reside na comunicação/promoção para o

exterior. Chegar aos turistas potenciais interessados em vivenciar estas

experiências seria o objetivo fundamental a atingir para o sucesso deste “novo”

turismo aqui apresentado.

Por último, como estudo de caso, descrevemos a experiência que se está a

desenvolver no Brasil onde em vários destinos turísticos estabeleceu-se uma

rede de turismo de experiência, intitulada “Tour da Experiência”.

1.1. Os primeiros passos…

No final da década dos anos 90 do século passado, surgiram novos conceitos

oriundos de ciência económica que rapidamente se difundiram em diferentes

setores, inclusive o turismo. Referimo-nos ao conceito de Economia da

Experiência (PINE; GILMORE, 1999) e aos conceitos abordados na obra

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Sociedade dos Sonhos (JENSEN, 1999). Na essência estes termos

concentram-se na criação de experiências e emoções que o consumo de

determinado produto propicia ao consumidor, construindo “experiências

vividas” individualizadas e únicas. O consumo destas experiências conduziria a

um estado de satisfação simultaneamente centrado na necessidade que

originou o seu consumo, e globalizado por gerar outras satisfações de caracter

mais subjetivo. Surge assim um novo modelo em turismo que em síntese

podemos chamar “turismo de experiências e consumo de emoções”.

Quando nos referimos a turismo de experiência, focalizamo-nos num tipo de

atividade que pretende marcar o turista, de maneira profunda e positiva, com

as experiências intrapessoais que vivência durante a sua viagem e estada no

destino. Ao turismo de evasão, como fuga ao dia a dia, surge a viagem

construída para o desenvolvimento intrapessoal, como forma de alargar os

horizontes, de experimentar para enriquecimento intelectual (WEARING, 2001).

Neste processo transitório os vendedores de apartamentos em hotéis serão

substituídos por vendedores de experiências; os criadores de pacotes turísticos

deverão criar emoções; os comerciantes tornar-se-ão contares de histórias e os

turistas deixam de ser espetadores para se tornarem protagonistas neste novo

cenário (LOCKS, 2007).

Olhando para a evolução epistemológica do turismo podemos dizer que ao

esforço no desenvolvimento do produto no “turismo fordista” sucedeu-se a

focalização na qualidade de serviços no turismo pós-fordista. Atualmente as

empresas pós-modernas concentram-se na construção de experiências,

ficando o desenvolvimento do produto e do serviço englobados num conceito

mais abrangente: a experiência do turista.

1.2. Turismo Pós-Moderno

A eclosão do turismo de massas na década dos anos 50 e 60 foi sustentada

num modelo de crescimento fordista. Durante este período desenvolveram-se

em massa, destinos turísticos estandardizados com baixo preço para uma nova

multidão de turistas emergentes. Os espaços turísticos eram a reprodução de

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um mesmo modelo de crescimento, crescimento vertical ao longo da orla

costeira. Este turismo caracterizou-se por um aumento constante da procura e

da oferta ao longo dos anos (DONAIRE; FRAGUELL y MUNDET, 1997).

No início dos anos 80 surgem os primeiros sinais de esgotamento deste

modelo. A especialização na praia e montanha para uma oferta

homogeneizada não considerou as segmentações de mercado, concebendo

um turista uniformizado para um destino estândar. A dicotomia entre uma oferta

rígida e homogénea em confronto com uma procura individualizada e

diferenciada foi um dos primeiros sintomas da crise do modelo fordista

(DONAIRE, 1998).

O turista contemporâneo assumiu a singularidade da experiência turística.

Segundo Feifer:

“O pós-turista sabe que não é um viajante do tempo quando visita

um lugar histórico, nem um selvagem quando está numa praia

tropical, nem um observador invisível quando visita um campo

nativo. Resolutamente “realista” não se evade da sua condição de

forasteiro”.

Por outro lado, “na atualidade, alguns ou muitos países estão prestes a se

engolidos pelo processo turístico. Não é um fenómeno destinado a lugares

concretos, mas todos os espaços, atividades (…) podem ser materiais ou

simbolicamente, objeto do olhar turístico” (URRY, 1990).

Assistimos à turistificação generalizada dos territórios no mundo e

simultaneamente à “singularização” da viagem turística e à redefinição da

autenticidade em turismo.

Quando analisamos o turismo pós-moderno numa perspetiva global, tendo em

atenção a diversidade de regiões do planeta, interessa interrogar-nos sobre a

gestão dos produtos turísticos praticado nestes destinos, uma vez que se

apresentam como alternativa no mercado turístico. A refleção que se impõe

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deve direcionar-se para as inter-relações com os fenómenos sociais, culturais e

ambientais que integram este novo turismo.

Ao contrário do turismo massificado, predominante nas décadas de 50 a 70,

centrado no produto e nos serviços, o turismo alternativo centra-se no turista, o

produto turístico deve responder às expetativas do turista, das experiências

pessoais que mais valoriza, das emoções que procura.

1.3. A viagem turística: O início da experiência

intrapessoal ou o retorno às origens.

O pós-turista na sua busca por uma experiência autêntica e única

prefere a independência ao guia turístico, pois a interação como as

comunidades locais dos destinos visitados é muito maior e muito mais

diversificada. (VAN DER BERGHE, 1994).

Viajar é abrir novos horizontes, conhecer novas comunidades e culturas,

novas paisagens e ambientes. Segundo Mário Carlos Beni, 2004:

“A viagem é um movimento externo e interno ao turista. Externo

porque ele desloca-se no espaço físico e no tempo. Interno

porque seu imaginário segue na frente, instigando a

intelectualidade e o emocional, preparando-o para viver o

inusitado em experiências únicas na revelação do desconhecido e

do diferente”.

Nem toda a viagem é uma experiência que mereça ser repetida. Há

experiências medíocres sem nenhum impacto. Contudo a viagem envolve o

contexto e o imaginário mais amplo da palavra viagem. Esta é um continuo

ritual de passagem, um preludio do que está para chegar numa sequência em

que preparar as bagagens, partir, chegar, fotografar as paisagens são

transicionalidades que intensificam o imaginário construído dos destinos. A

intensidade das experiencias vividas é proporcional às emoções provocadas,

antes, durante e depois. O termo viagem assume, assim dois sentidos. O ato

de viajar propriamente dito, a deslocação espacial e temporal que nos

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transporta e a viagem como um conjunto onde deslocação e estada fazem

parte de um todo.

2. PROJECTO

2.1. Empresa de gestão de experiências turísticas –

“ARTES DO MAR”

A empresa a constituir pretende ser um instrumento de referência para o

turismo em Peniche, no que diz respeito à adequação da oferta às novas

tendências contemporâneas no mundo do Turismo Alternativo, onde o turista é

o ator da sua própria experiência, o protagonista dos seus sonhos no destino

que elegeu para sonhar. O objetivo desta empresa é, proporcionar ao turista as

condições favoráveis à concretização dos seus sonhos.

2.2. Peniche uma terra de Mar e Pescadores

O concelho de Peniche localiza-se na faixa costeira ocidental de Portugal

continental. Com uma área de aproximadamente 77,4 Km2 e integrando uma

componente continental e outra insular, constituída esta última pelo arquipélago

das Berlengas. Um quinto da sua área é constituído pela península de Peniche

e pelos terrenos de aluvião que constituem o seu istmo.

O concelho de Peniche confina a nordeste com o concelho de Óbidos e a sul

com o concelho da Lourinhã, todos pertencentes à Região de Turismo do

oeste.

A estação climatológica da cidade de Peniche, no Cabo Carvoeiro regista

valores de temperatura do ar e de precipitação que permitem classificar o clima

do concelho como temperado oceânico, moderadamente chuvoso e húmido.

A península de Peniche está incluída na Orla Meso-Cenozóica Ocidental de

Portugal, e constitui uma ótima representação espacial das rochas com origem

no Jurássico inferior. No extremo ocidente da península encontra-se o Cabo

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Carvoeiro, cuja paisagem é dominada por uma sucessão de calcários e rochas

afins. Este local está enquadrado numa posição de alto valor paisagístico da

nossa costa ocidental.

O concelho de Peniche tem uma população de 27 753 habitantes, subdividida

em 6 freguesias: Ajuda, Conceição e São Pedro (freguesias em que se divide a

cidade) e Ferrel, Atouguia da Baleia e Serra D’El Rei na zona rural.

Relativamente à ocupação geral do território, esta assenta num sistema algo

desequilibrado, sendo o índice de distribuição populacional por pequenos

aglomerados relativamente significativos (apesar da maior concentração na

sede concelhia).

Fazendo uma análise da realidade paisagística e cultural da região de Peniche,

existem grandes valores de caracter natural e cultural, património

geomorfológico, património histórico edificado, património arqueológico

subaquático e património cultural (material e imaterial).

A base económica do concelho de Peniche tem assentado fundamentalmente

na pesca e no vasto conjunto de atividades que lhe estão associadas, quer a

montante quer a jusante, sobressaindo entre estas a elevada importância da

indústria de transformação de pescado, seja na sua vertente de conservas de

peixe, seja na diversificada indústria de congelação.

A atividade turística, também com uma forte interligação com o mar nas suas

múltiplas vertentes, assume-se progressivamente como um dos pilares de

suporte e sustentação da base económica local. A sua excelente localização

geográfica, as acessibilidades, as características físicas intrínsecas a este

território, as paisagens de rara beleza, as Berlengas e a gastronomia, são

alguns dos fatores determinantes na atratividade turística de Peniche, levando

a que a população presente no concelho mais do que duplique em alguns

períodos do ano, nomeadamente nos meses de Verão e aos fins-de-semana.

Peniche é assumidamente um dos concelhos de excelência turística do Oeste,

nomeadamente no produto sol e mar (só ao nível da hotelaria convencional, os

estabelecimentos localizados no concelho contabilizam mais de 850 camas,

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enquanto os parques de campismo podem albergar um número superior a

3000 campistas por dia).

2.3. As Fases do Projeto

A primeira fase deste projeto será a realização de um inventário de recursos

turísticos e de empresas ligadas ao setor. O contacto com estas empresas para

apresentar o projeto e condições de adesão a este conceito será o segundo

passo a realizar. Pretende-se constituir uma rede em que as

atividades/experiências proporcionadas aos turistas tenham como conceito

corporativo as artes do mar. Cada empresa aderente assumirá o compromisso

de valorizar os seus produtos e adaptar as suas ofertas de forma a promover

emoções e a satisfazer as necessidades do turista. Por outro lado a Artes do

Mar tomará a responsabilidade de dar formação a todos os intervenientes nas

experiências turísticas, guias e comunidades participantes, nomeadamente

pescadores, surfistas, etc. No seu conjunto estas empresas constituirão um

pacote de experiências turísticas que a “Artes do Mar” assumirá como

compromisso a comunicação e comercialização para o exterior. Para isso será

necessário a criação de uma equipa de colaboradores que alicerce as

atividades turísticas das empresas aderentes e dos seus produtos e serviços,

como um caminho singular e sustentável de desenvolvimento socioeconómico

e cultural de Peniche. Para além da qualificação das empresas aderentes, o

projeto pretende contribuir para a formação de outros produtos ligados a

recursos ainda pouco explorados, como por exemplo, a turismo industrial na

conserveira “Maria Elizabete”, turismo de atividade económica com a pesca

profissional do cerco ou a pesca apeada tradicional, turismo cultural ligado ao

património de Peniche, etc.

A realização de parcerias entre a iniciativa privada e as instituições públicas

será fundamental para suportar os vários setores que compõem este projeto.

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2.4. Os Produtos Turísticos

Adotámos a Pirâmide de Experiência do modelo Finlandês, como ferramenta

de análise prática dos produtos que propomos para a nossa empresa.

Sabemos que as emoções numa experiência são impossíveis de controlar pelo

que o seu sucesso é sempre subjetivo. No entanto e apesar desta

subjetividade inerente ao resultado atingido com a vivência de uma experiência

significativa, pretendemos avaliar o valor dos produtos através das reações dos

nossos clientes, adotando para isso esta pirâmide.

Figura 1 – Pirâmide de Experiências (Modelo Finlandês)

2.4.1. Elementos de uma experiência significativa

A individualidade refere-se à originalidade do produto e ao seu carater único e

extraordinário. A individualidade significa orientação do produto face às

preferências e necessidades do cliente. Aumentar a individualidade ´tende a

aumentar os custos do produto. O desafio é produzir produtos facilmente

comercializáveis cujo o conceito base possa ser copiado e que se adaptem às

singularidades do cliente.

Autenticidade refere-se à credibilidade do produto. Na sua forma mais simples

a autenticidade reflete o estilo da vida atual e da cultura de uma região ou

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lugar. Como não há conceitos universais de verdadeiro e real, a autenticidade é

em última análise determinada pelo cliente. Um produto é autêntico se se

pensa que é genuíno e real.

A história está intimamente ligada com a autenticidade. Para a experiência ser

atraente é importante ligar os diferentes elementos do produto numa história

coerente, credível e autêntica. Na sua forma mais simples o uso de uma

história ajuda a justificar ao cliente o que é feito e a sua ordem.

Perceção multissensorial, um produto deve ser experimentado com o maior

número de sentidos possível. Deve ter impacto visual, auditivo, olfativo,

gustativo e tátil. O estímulo dos sentidos deve ser doseado com parcimónia, se

são estimulados em excesso podem provocar irritação, se por defeito podem

provocar distração.

Contraste, a experiencia é tanto mais intensa quanto mais contrastante for

com a vida quotidiana do cliente. O produto deve ser capaz de fazer

experimentar algo novo, exótico e fora do comum. As características culturais

do cliente devem ser tidas em consideração, porque o que é exótico para uma

cultura pode não ser para outra.

A interação resulta do sucesso da comunicação entre um produto e o cliente,

entre o gestor da experiência e o cliente e entre clientes. Viver algo em

comunidade aumenta a aceitação social do produto/experiência.

Individualmente a interação entre o gestor de experiência e o cliente tem um

papel decisivo da forma como a experiência é transmitida e vivida pelo cliente.

2.4.2. Níveis da experiência

O eixo vertical do modelo da pirâmide de experiencia ilustra como esta é

construída pelo turista a partir da motivação para a experiencia real e através

do processo de tomada de consciência e que o leva a uma experiencia

significativa e a uma mudança interior

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A nível motivacional a experiência deve despertar a atenção e o interesse do

cliente. A motivação para um produto deve estar diretamente relacionada com

todas as características que constituem a base da pirâmide.

No nível físico é fundamental garantir o bem-estar físico do turista. Os

sentidos devem ser o veículo de experimentação do produto. Neste nível um

bom produto garante uma experiencia agradável e segura. A exceção, ao que

atrás foi dito, faz-se às experiências radicais onde o risco de vida ou de lesão

são elementos intensificadores da experiência.

No nível intelectual, os estímulos sensoriais devem permitir aprendizagem,

reflecção e aplicação de conhecimentos e formulação de opiniões. Neste nível

o cliente avalia o seu nível de satisfação com o produto. Um bom produto é

aquele que permite ao turista a aprendizagem de algo de novo.

No nível emocional é onde a parte mais significativa da experiência ocorre,

embora as reações emocionais sejam difíceis de prever ou controlar, se todos

os elementos básicos de um produto tiverem sido cuidadosamente tomados em

consideração é bastante provável que o turista tenha uma reação emocional

positiva, alegre e de satisfação por ter atingido novas aprendizagens, a

sensação de triunfo, a ultrapassagem de um desafio.

Nível mental, se todos os outros níveis forem plenamente atingidos durante a

experiência, a satisfação que o turista atinge pode levar a uma experiência e

mudança pessoal. Saí turista regressei peregrino (Amirou, 2007). Através de

uma experiência intensa e significativa pode-se adotar um novo passatempo,

maneira de pensar ou descobrir novos recursos dentro de si mesmo.

Um produto turístico para funcionar como uma boa experiência, deve conter

todos os 6 elementos apresentados na base da pirâmide (individualidade,

autenticidade, história, perceção-multissensorial, contraste e interação) em

cada estádio de evolução do turista ao longo da experiência. Isto é, desde a

captação do interesse até à transformação do turista, uma experiência deve ser

completa.

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Partindo das premissas da pirâmide tentámos elaborar produtos turísticos

tendo em atenção os recursos de Peniche a diversidade de turistas e a

sazonalidade que o clima impõe às atividades outdoor.

2.4.3. Na rota das sardinhas

A sardinha é um ícone da cidade de Peniche, grande parte da sua

população vê as suas economias dependerem deste peixe e do trabalho que

ele proporciona a muitas famílias. Assim nada mais autêntico, real e objetivo

que experiências que possibilitem ao turista entranhar-se nesta realidade

social, assim propomos:

Saída num barco de pesca, “Princesa de Peniche”, para a pesca do

cerco à sardinha;

Visita à fábrica de conservas “Maria Elizabete”;

Workshop de conserva de sardinha;

Visita aos fornos romanos do Morraçal da Ajuda;

Visitas aos Bairros de Pescadores com uma sardinhada familiar;

2.4.4. Como se faz em Peniche?

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Proporcionar aos turistas a aprendizagem do artesanato, gastronomia e da

atividade das profissões mais ancestrais. Viver com os pescadores e ouvir as

suas histórias de alegria e tristeza vividas no mar são os objetivos destes

produtos:

Workshop de renda de bilros;

Um dia com os pescadores a reparar as artes da pesca;

Workshop de gastronomia (caldeirada, mariscada, “amigos de

Peniche” e “esses de Peniche”);

2.4.5. Vai na Onda…

“Ir na onda” com os surfistas, partilhar o seu estilo de vida, aprender os

segredos de uma surfada, velejar pelos mares de Peniche ou ultrapassar-se

com outros desportos mais radicais são as propostas do “Vai na Onda” :

Cursos de surf, bodyboard, vela, kitesurf , windsurf.

Estilo de vista surfista, experiência com surfista durante um dia.

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2.4.6. Histórias do mar no Forte de Peniche

Conhecer a história, o passado desta terra de pescadores, aventureiros de

outrora, com a recriação de momentos que marcaram o passado. No forte de

Peniche grande parte desse passado está guardado nas suas memorias, que

nos contam histórias de piratas, de fugas de prisioneiros que queremos

partilhar:

Visitas guiadas ao museu do Forte;

Visitas noturnas ao Forte com a recriação da fuga de Álvaro Cunhal da

Cadeia de Peniche;

Visita temática ao forte e às muralhas de Peniche sobre naufrágios,

tesouros e piratas.

2.4.7. Passeios em Peniche

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As arribas de Peniche, as rochas e as suas formas, a paisagem marcada pelo

mar são o propósito dos passeios que propomos:

Passeios de barco à Península de Peniche;

Passeios de barco às Berlengas e/ou Farilhões;

Passeios de burro na costa de Ferrel;

As histórias que as pedras nos contam, passeio geológico do Baleal à

Nau dos Corvos;

Passeios pedestres nas Berlengas;

2.4.8. Visitas ao fundo do mar

As Berlengas constituem um dos melhores locais de mergulho em Portugal

Continental, a observação da natureza subaquática ou a visita a barcos

afundados são duas das muitas propostas que queremos elaborar:

Curso de mergulho com garrafas nas berlengas;

Roteiro subaquático de observação da natureza;

Roteiro Subaquático “Naufrágios e Tesouros”;

Geocaching subaquático.

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2.4.9. Pesca desportiva

Experienciar várias modalidades de pesca desportiva no mar ou na costa.

Pescar à zagaia, ao corrido, ao sentir ou à lula são algumas das possibilidades

que o mar de Peniche oferece. Na costa a pesca apeada, ao fundo nas praias

que rodeiam a península ou à boia nas arribas rochosas são atividades que

poderão proporcionar emoções únicas:

Pesca embarcada;

o Ao goraz

o Ao safio

o À zagaia

o Ao sentir

o Ao corrido

Pesca Apeada;

o À boia

o Ao spinning

o Ao sentir

o Com negaça aos polvos e navalheiras

o Aos percebes

o Aos ouriços

“Pescador na cozinha”, workshop de gastronomia de marisco e peixe.

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2.4.10. Reviver as Lendas de Peniche

A utilização do património oral e principalmente das lendas, em recreações

(autenticidade encenada) nos locais onde terão, segundo a tradição oral,

acontecido. Parece-nos importante, desenvolver produtos turísticos ligados

às raízes e às histórias em que o povo acredita ou acreditava. Se possível

as visitas aos locais onde estas lendas terão ocorrido, devem ser

acompanhadas por alguém da terra, que as saiba contar como os seus

antepassados o faziam. Transcrevemos em seguida excertos da obra de

Mariano Calado, que relatam três lendas que nos parecem mais

interessantes do ponto de vista dos nossos produtos, com o elo de ligação

ao mar.

Os Amores de Rodrigo e Leonor

“ Conta-se que, no primeiro quartel do século XVI, existiam em Peniche

dois fidalgos que, reciprocamente, se odiavam: ódios velhos, nascidos

porventura nos longos e temerosos cruzeiros das descobertas, de onde

haviam trazido histórias fantásticas para contar e riquezas de sobejo para

desbravar o torrão final. E nada no mundo os fazia aproximar e esquecer a

sua malquerença.

Quis Deus, todavia, que Rodrigo, filho de um deles, se enamorasse

loucamente de Leonor, a bonita e prendada filha do outro dos fidalgos

desavindos.

Sabedores do ódio profundo que separava seus pais, não ousavam os

jovens enamorados revelar o doce afeto que os unia, não podendo, porém

evitar que transbordasse o alvoroço de amor que os aproximava.

Descobertos então os sentimentos de ambos e sem que nada houvesse a

demovê-lo da sua decisão, resolveu o pai de Rodrigo degredar seu filho

para a Berlenga, fazendo-o ingressar como noviço, no Mosteiro da

Misericórdia, de frades jerónimos existente, a fim de que ele esquecesse

tão indesejável e impossível união.

Obediente a seu pai, partiu Rodrigo para a Berlenga, com a alma cheia de

revolta e de ansiedade. . As pombas que faziam ninho na torre do Outeiro

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começaram a servir de mensageiras. E um dia Rodrigo soube que a sua

amada teria facilidade em falar-lhe nessa noite, numa gruta que ficava

junto à torre, por intermédio de uma aia compadecida do seu sofrimento

Com a ajuda de um pescador seu amigo, fazia-se o jovem transportar num

pequeno batel, todas as noites, até uma gruta situada nas penedias da

costa meridional de Peniche, onde Leonor ansiosamente o aguardava

assinalando a sua presença com a luz de uma pequena lanterna.

Por muitas e longas noites se repetiram os encontros dos dois jovens

apaixonados. Mas, certa vez, descobertas as surtidas de Leonor, viu-se a

donzela perseguida pelos servos de seu pai e, na precipitação da fuga,

saltando de rochedo em rochedo, resvalou sobre os seixos da encosta. E,

na negrura da noite, tombou um grito de morte do alto da penedia,

afogando-se no mar negro que, em baixo, ciciava segredos e saudades.

Entretanto, para mais uma noite de amoroso convívio, chegou Rodrigo à

vista da gruta. Não enxergando o sinal do costume, começou o jovem de

sentir a alma repassada de surpresa e receio. Subiu a encosta, apressado,

chamando pela bem-amada. Só o eco e o marulho das ondas lhe

responderam. Tentou penetrar na noite, temendo alguma desgraça. Nada.

Até que se lhe retalhou o coração de angústia ao ver a boiar em baixo,

inútil, o manto branco da sua enamorada. Um grito de dor cresceu da sua

alma ferida, enchendo de tragédia os recônditos mais negros dos

rochedos. E, na esperança de salvar a sua amada, lançou-se Rodrigo do

alto das arribas ao encontro da noiva que perdera...

Dias depois, nas areias do carreiro vizinho, alguém encontrou o corpo de

Leonor, embalado docemente pelas ondas, os lábios iluminados por um

sorriso triste e imaculado, constando que, piedosamente, o fizeram

depositar no adro da capela de Santa Ana.

Quanto ao corpo do desventurado moço, diz também a tradição que foi

encontrado na costa do norte, junto a uma rocha a que se deu o nome de

Laje de Frei Rodrigo.

E ainda hoje, quem souber entender os murmúrios do mar e passear os

olhos pela beleza que se distende por toda a costa sul de Peniche,

pressentirá a doçura inefável de um mistério cheio de encantamento e

poesia: talhada romanticamente nas arribas, a gruta que foi teatro de tão

trágico amor e a que o povo, religiosamente, chama Passos de Leonor, lá

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está, altiva e serena, a aguardar, numa renovada esperança de juventude,

o regresso feliz dos dois enamorados…”

CALADO, Mariano Peniche na História e na Lenda Peniche, Edição do

Autor, 1991 , p.418-419

A teatralização desta lenda incluiria uma visita guiada à Laje do Frei

Rodrigo, aos Paços de Dona Leonor, ao Cabeço das Pombas ao carreiro

das Furnas e ao forte de São Julião, nas Berlengas.

A Sereia de Peniche

“Um dia, nas águas sossegadas da praia do Carreiro do Cabo, entretinha-

se a mulher de um pescador a dar banho a uma sua filhinha de tenra

idade.

As ondas vinham beijar de mansinho as areias douradas e finas que

desciam dos médões rasteiros dos Remédios em ondulações brandas e

preguiçosas.

Entrementes, perante a surpresa da mãe, a criança saltou dos braços

maternos e, com um brilho estranho de felicidade nos olhos e um sorriso a

divinizar-lhe as feições, atirou-se ao mar. Espanto, gritos de receio de que

a menina se afogasse, correria assustada das outras mulheres que se

encontravam também ali perto, à beira-mar. Mas, perante o assombro dos

presentes, a menina emergiu das ondas, calma, serenamente deixando-se

apertar nos braços da mãe que chorava de alegria por tornar a vê-la. Mas

a criança dava a ideia de vir diferente: o olhar, o sorriso, os cabelos

castanhos e ondulados, irradiavam reflexos maravilhosos de uma estranha

felicidade e como que exultava uma animação maior em toda ela.

Passaram-se anos sobre este dia. A criança crescera em graça e beleza;

uma graça e uma beleza que fariam adivinhar a presença misteriosa de

qualquer sortilégio. Os pais bebiam os ares pela filha e nada encontravam

de singular no seu convívio; mas as mulheres que haviam assistido à cena

de anos antes — velhas mulheres embiocadas cheias de crendices e de

assombros — pressentiam naquela existência como que um halo

sobrenatural, qualquer coisa de misterioso que não sabiam explicar. E, à

boca pequena, maravilhadas do seu próprio receio, iam contando que,

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algum dia a moça se transformaria em sereia, por ter recebido os poderes

do encanto quando surgira do mar, estranhamente feliz.

Ora, um dia, o filho do ouvidor do Conde de Atouguia, deslumbrado pelo

fascínio irradiante da rapariga, apaixonou-se loucamente por ela. Mas não

deixou o seu amor ser tão puro e tão forte que, à sombra do poderio e dos

Privilégios de que seu pai gozava, a não tivesse seduzido e abandonado

miseravelmente.

A donzela, humilhada e cheia de vergonha, carpiu largamente a sua

desgraça. A beleza que a todos assombrava pela sua singularidade, foi-a

ela perdendo, dia após dia, perante as lágrimas tristes dos pais que a

adoravam e que nada podiam fazer para o evitar. Até que o seu desgosto

de amor a levou à morte, sendo levada a enterrar no adro da igreja de

Nossa Senhora da Vitória, à altura existente no Cabo Carvoeiro.

Certa noite, voltava o moço sedutor de uma festa nos Remédios em que

tomara parte, seguindo pela costa a caminho da Ribeira, onde morava.

Não muito longe do Carreiro do Cabo, ouviu uma voz harmoniosa

entoando os versos de uma canção nostálgica. Com mil cuidados, não

fosse surpreender e assustar a dona de voz tão bela, aproximou-se. E,

cheio de admiração, viu, sentada junto de uma gruta existente ali perto,

uma mulher, extraordinariamente formosa.

À luz do luar que recortava figuras estranhas e sinistras pelos rochedos,

pareceu-lhe, cheio de assombro, o vulto da sua antiga namorada.

Acercou-se, cheio de receio e curiosidade. A mulher, porém, ao pressenti-

lo, desapareceu misteriosamente.

Mas aquela visão deixara o moço estupefacto e ansioso. E, na noite

seguinte, voltou de novo a passar perto da gruta, ouvindo novamente a

mesma voz a entoar a canção triste da véspera; lá estava a mesma

mulher, esbelta e enigmática, sentada à beira da rocha. Aproximou-se,

tentando tocar-lhe para certificar-se do que os seus olhos viam mas no

momento em que o ousou fazer, ela voltou-se inesperadamente para ele e

enlaçou-o, gritando numa voz estranha e ameaçadora que chegara

finalmente a hora de ele expiar o crime da sua desonra. O seu grito teve o

condão de enfurecer as ondas do mar, que se levantaram e ergueram,

raivosas, até ao cimo da gruta, arrastando os dois jovens, no meio de um

turbilhão de espuma, para o fundo dos abismos.

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Alguns dias depois, foi encontrado junto do Médão Grande o corpo do

infeliz sedutor, lamentavelmente pisado e moído como se tivesse sido

exposto a bárbaras torturas.

Quanto à donzela seduzida, diz o povo que se transformou realmente

numa sereia — como o haviam pressentido as velhas mulheres

embiocadas, cheias de crendices e de assombros — e que, saudosa dos

seus amores, todas as noites em que o mar se pavoneia, sereno,

acarinhando a terra e o luar brilha no céu escuro espargindo um manto de

prata por sobre os rochedos de recortes sinistros, volta à gruta misteriosa

em que o mancebo a encontrara. E aí, entre a hora fantasmagórica da

meia-noite e as duas da madrugada, eleva a sua mágoa para os céus, em

cânticos de tal maneira tristes e requebrados, melodiosos e encantadores,

que enternecem e fazem chegar lágrimas aos olhos dos rudes pescadores

que passam a caminho do mar alto, ou dos caminhantes que se

aventuram a horas tão mortas por caminhos tão escusos e perigosos…”

CALADO, Mariano Peniche na História e na Lenda Peniche, Edição do

Autor, 1991 , p.416-417

Visita guiada ao Carreiro do Cabo/Prainha do Cabo à noite com

teatralização desta lenda, seguida de visita ao desembarque do pescado no

porto de Peniche. O imaginário coletivo remete-nos, quando falamos de

sereias, para histórias de pescadores. Por isso parece-nos interessante

nesta atividade e como fator de enriquecimento a visita guiada ao

desembarque do pescado no porto de Peniche.

A lenda de Nossa Senhora dos Remédios

“Parece que, pelo século VII, invadido pelos sarracenos o território do

atual Concelho, os cristãos, receosos que uma imagem da Virgem, muito

venerada, fosse profanada pelos infiéis, a procuraram esconder numa

gruta cavada nos rochedos das imediações do Cabo Carvoeiro. E aí ficou

a imagem, a coberto de assaltos e sacrilégios.

Entretanto, pelos fins do século XII e durante o reinado de D. Afonso

Henriques, um criminoso, fugido à justiça, procurou refúgio nas cavernas

da costa ocidental da Ilha, posto que era a única salvação para a sua

liberdade ameaçada. Por um acaso providencial, foi esse criminoso

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acolher-se à mesma gruta onde, quinhentos anos antes, a imagem da

Virgem havia sido escondida. Maravilhado com a sua descoberta, não se

atreveu, todavia, a dar parte dela no povoado, aguardando que alguém se

aproximasse; mas não se conteve que a não revelasse a um grupo de

crianças que, ali perto, se entretinha a brincar nos rochedos.

As crianças, surpreendidas, correram a dar a notícia a seus pais e,

em breve, toda a gente da povoação se achegava a admirar o achado

precioso.

Com receio de que, ali tão perto do mar, não ficasse a imagem

resguardada de assaltos e profanações, resolveram os habitantes da terra

levá-la para a igreja de S. Vicente, em Peniche de Cima; porém, de todas

as vezes que o tentaram, a imagem desaparecia misteriosamente do

templo, tornando a aparecer na mesma gruta onde fora encontrada.

Certos de que isso correspondia à vontade da Senhora, ergueram no local

uma capelinha, começando por cavar a golpes de picão o nicho onde a

Virgem aparecera, justamente aquela que ocupa a reentrância do lado

esquerdo do corpo da atual capela de Nossa Senhora dos Remédios.

Consta que, antigamente, sempre que vestiam quaisquer trajes ou

mantos à imagem, estes eram encontrados depois caídos a seus pés,

como se a Virgem se contentasse apenas com os trajos esculpidos na

própria figura. E diz ainda o povo que, numa cruz natural existente à

entrada da capela, do lado direito, sempre que acontecia dar-se alguma

graça por intercessão da Senhora, apareciam, sobre cada um dos orifícios

dos cravos, três gotas de água puríssima, como pérolas brilhantes…”

CALADO, Mariano Peniche na História e na Lenda Peniche, Edição do Autor,

1991 , p.412

Visita guiada à costa Norte de Peniche com paragem nos pesqueiros com

nomes alusivos à Senhora dos Remédios: Laje dos Remédios, Revelim dos

Remédios (miradouro) e Cruz dos Remédios. Seguida de uma visita à igreja de

S. Vicente (local onde os pescadores, segundo a lenda, terão colocado a

imagem da santa) finalizando com a visita à Capela de Nossa Senhora dos

Remédios (onde a imagem se encontra na atualidade).

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3. Estudo de Caso “O Tour da Experiência”

No Brasil, desde 2006 que na Região da Uva e Vinho-RSO tem vindo a ser

implementado um projeto-piloto, “Economia da Experiência”. Este projeto

estendeu-se a mais quatro destinos brasileiros, Belém‐PA, Bonito‐MS, Costa

do Descobrimento‐BA e Petrópolis‐RJ e tem por objetivo, “encantar, emocionar

e transformar a sensibilidade dos turistas, marcar suas almas proporcionando

experiências inesquecíveis e gerando o desejo de vivenciá‐las novamente,

indicar a outros, indo além do sentimento de satisfação”.(Valéria Barros,

Coordenadora Nacional de Turismo da Unidade de Atendimento Coletivo,

Comercio e Serviços).

Durante o desenvolvimento deste projeto foi elaborado pelos seus parceiros

Ministério do Turismo, SEBRAE, Instituto Marca Brasil e SHRBS da Região da

Uva e Vinho‐RS, uma marca comercial com o conceito de experiência como fio

condutor, alicerçado na história, tradição e cultura, através das vivências

proporcionadas aos turistas. Estas vivências pretendem materializar-se em

sentimentos produzidos por emoções: prazer, inspiração e satisfação. Este

projeto foi intitulado “Tour da Experiência” e tinha como principal objetivo,

valorizar e promover empreendimentos que apresentassem produtos

diferenciados, alinhados com os conceitos concebidos pelo projeto.

Através de formação dos recursos humanos pretendeu-se auxiliar os

profissionais da área de turismo a tornarem-se “mestres na arte de vender

experiências”, visando não apenas atender e satisfazer as novas procuras

detetadas, mas, sobretudo, superar as expectativas dos turistas. Para isso, foi

necessário, de um lado, promover a integração do mercado através da

consolidação de uma rede de cooperação, e de outro, estimular profundamente

a criatividade dos empreendedores, de modo que fossem capazes – através da

valorização de suas peculiaridades culturais – de estabelecer um processo

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constante de inovação para as suas ofertas. Além disso, com base em estudos

detalhados sobre o comportamento da procura, o projeto atuou no sentido de

auxiliar os destinos na divulgação e na comercialização dos seus produtos,

buscando, para isso, um conjunto de técnicas inovadoras, com o propósito

de aumentar a competitividade e promover o pleno desenvolvimento

socioeconómico de suas regiões.

Metodologia

“Quando pensamos nesse projeto parecia um sonho, pois

atuaríamos em algo inovador, baseado numa tendência de

mercado onde o consumidor buscaria experimentação e

emoção.”

Daniela Fernanda de Bitencourt Moraes

Diretora/Superintendente do Instituto Marca Brasil

Etapa I - Ações Preparatórias de Sensibilização e Mobilização

Conjunto de atividades locais de planeamento, diagnóstico, mobilização e

sensibilização acerca do conceito de Economia da Experiência. Foram

realizadas visitas diagnósticas aos destinos, nas quais a equipa técnica avaliou

a atividade turística no sentido da formação de experiências turísticas

significativas.

Etapa II – Reconhecimento da Situação Atual

Esta etapa compreendeu um profundo estudo mercadológico relacionado, por

um lado, às tendências do ambiente turístico externo, e de outro, a uma

detalhada análise local. Pretendeu-se inventariar os principais recursos dos

destinos, as características do perfil de comercialização dos produtos e as

tendências do turismo na ótica do operador.

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Etapa III – Apresentação e desenvolvimento do conceito

Nesta face tratou-se de apresentar e desenvolver o conceito do projeto,

realizaram-se palestras, workshops e uma viagem técnica para benchmarking

dos empresários envolvidos. Destacamos as seguintes atividades: palestra de

história e cultura; workshop de criatividade, inovação ou tematização; palestras

de tematização na gastronomia; oficina como encantar clientes contando

histórias.

Etapa IV – Aplicação do conceito

Realizaram-se encontros individuais entre consultores e empreendedores

consoante as necessidades de cada destino. Pretendia-se materializar novas

ideias para aumentar a competitividade diferencial dentro dos produtos e

serviços oferecidos pelas empresas.

Etapa V – Gestão Mercadológica

Esta face constou de uma visita técnica de uma equipa de representantes do

Ministério do Turismo do SEBRAE e do Instituto Marca Brasil, para analisar as

experiencias implantadas aferindo da sua consonância com o conceito

proposto e com o tema adotado pelo destino.

A divulgação deste projeto passou pela construção de um site

www.tourdaexperiencia.com, o bloge, projetoee.blogspot.com e o twitter do tour

da experiência. A divulgação contou ainda com a realização de Famtours para

os agentes de mercado externo e Fampress para os meios de comunicação

social. Por fim a divulgação do Tour da Experiência passou ainda por 4 grande

eventos do setor: 4º Salão Nacional do Turismo em 2009, ABAV – Feira das

Américas em 2009, Festival de Gramado em 2009 e 5º Salão Nacional de

Turismo em 2010.

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Etapa VI – Sustentabilidade

O cumprimento desta etapa está a cargo da iniciativa dos stakeholders neste

projeto. No sentido de monitorizar a sustentabilidade deste projeto, realizou-se

em março de 2010, um “Encontro Nacional dos Empreendedores de Economia

da Experiência” no Rio Grande do Sul. Esta ação teve como principal objetivo

incentivar a criação de uma Rede Nacional de Empreendedores do Turismo de

Experiências; realizar um Manual Completo Tour da Experiência.

Para cada destino foi elaborado um estudo diagnóstico cuja síntese é

apresentada em quadro com as diferentes etapas de realização, são ainda

apresentados o conjunto de experiências e as empresas que as comercializam.

4. Conclusão

O projeto “Artes de Peniche” pretende apresentar um novo conceito para as

empresas e instituições ligadas ao turismo em Peniche. Trata-se de

desenvolver uma rede constituida pelos aderentes a este conceito e construir

as ferramentas que lhes permitam apetrechar os seus produtos,

proporcionando aos turistas experiências únicas e emoções fortes

propiciadoras de satistação, bem estar e transformação intrapessoal. Os

constructos destas experiências basear-se-ão nas histórias e na cultura muitas

vezes desvalorizadas pela propria comunidade local. Assim, o primeiro desafio

é o desenvolvimento nos parceiros, de uma atitude de integração na própria

história local e na sua cultura, de forma a tornar mais autêntica a sua ação

junto dos clientes.

Como poderemos proporcionar aos turistas essas vivências se os próprios

gestores de experiência não as assumirem como suas e não se assumirem

como parte integrante delas?

Conhecer a realidade deste lugar – Peniche; desenvolver junto dos parceiros

ações de monitorização das experiências proporcionadas pelos seus produtos;

formar os recursos humanos; implementar ações de benchmarking entre as

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empresas parceiras com as práticas observadas e experiência adquirida;

desenvolver uma estratégia de comunicação do projeto para o exterior e por

último analisar exemplos de sucesso deste tipo de turismo noutros lugares do

mundo.

Peniche deve ponderar as suas estratégias de desenvolvimento turistico,

aproveitando as mais valias de projetos de grande dimensão e impacto

espacial, como por exemplo o Rip Curl Pro que o mais provável é rumar para

outras ondas daqui a alguns anos, no sentido de encontrar caminhos que

melhor se ajustem às novas tendências de mercado.

O turismo de experiência, o turismo em ambientes alternativos, são novos

conceitos que devemos assumir quanto antes, para podermos dar resposta às

necessidades de uma sociedade pós-moderna onde as emoções e a cultura da

imagem têm uma importancia crescente.

Antecipar as transformações que o mercado parece adivinhar, é a atitude mais

sensata e sustentável para Peniche. Manter os grandes eventos como veiculo

de comunicação do melhor que este lugar tem ou pode vir a ter, parece-nos

uma das estratégias fundamentais para o desenvolvimento sustentável de um

projeto como este que aqui apresentamos.

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5. Bibliografia

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TOUR DA EXPERIÊNCIA, (acedido em 30/12/2012)

http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/

downloads_publicacoes/Estudo_de_Caso_Tour_Experiencia.pdf

TOUR DA EXPERIÊNCIA, (acedido em 30/12/2012)

https://twitter.com/TourExperiencia

TOUR DA EXPERIÊNCIA, (acedido em 30/12/2012)

http://projetoee.glogspot.com