2
Terça-feira, 7 de agosto de 2018 | Ano 19 | Número 4562 | R$ 5,00 www.valor.com.br Paz aumenta o desmatamento na Colômbia Daniela Chiaretti De Bogotá, Colômbia O processo de paz colombiano teve forte impacto nas florestas do país. Os dados mais recentes indicam que o desmatamento está aumentando des- de a assinatura dos acordos de paz com as Forças Armadas Revolucioná- rias da Colômbia, as Farc, no fim de 2016. Na Amazônia colombiana, o desmatamento dobrou em 2017 em relação a 2016. É o pior resultado dos últimos seis anos. Em 2016, o desmatamento já havia aumentado 40% em relação ao ano an- terior. Foi assim também em outros países com florestas que viveram con- flitos, como Nicarágua, República do Congo e El Salvador. As Farc ocupa- vam as matas para se esconder, e as- sim, indiretamente, as preservaram. As florestas ocupam 52% do território da Colômbia. Página A12 Malandragem é legado dos negros, diz Mourão leiro herdou a “indolência” dos índios e a “malandragem” dos negros. Questio- nado por “O Globo”, ele disse não ver ra- cismo ou preconceito em suas opiniões. O general afirmou, ainda, que o brasilei- ro tem tendência a querer privilégios — se- gundo ele, uma característica herdada dos povos ibéricos, referindo-se à colonização portuguesa. De acordo com Mourão, esses atributos dificultam que o país transforme seu “porte estratégico” em poder. No Rio, Bolsonaro afirmou que, se for eleito, seu governo terá um “montão de ministro militar (sic)”. Página A7 Haddad, uma costura trabalhosa no PT Cristiane Agostine e Ricardo Mendonça De São Paulo O ex-prefeito Fernando Haddad foi es- colhido para ser vice de Lula, na chapa do PT que disputará a eleição presidencial, por ser visto pelo ex-presidente como aquele que possui as melhores condições de expressar seu pensamento fora da pri- são. Dentro do partido, a escolha exigiu uma costura trabalhosa. A indicação so- fria resistência da direção do PT e das ten- dências mais à esquerda. Alegava-se ain- da, contra Haddad, o receio de que seu nome fosse entendido como rendição ao “plano B” — a desistência da candidatura de Lula, que o partido sempre negou. Fa- vorita dos grupos mais à esquerda, a pre- sidente da sigla, senadora Gleisi Hoff- mann, foi vetada por Lula. Página A6 Empresas já relatam ganhos com decisão sobre PIS/Cofins Beatriz Olivon De Brasília Grandes empresas começam a regis- trar ganhos com a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da Cofins, decidi- da pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017. Pão de Açúcar, Telefônica Bra- sil, Via Varejo e Hering têm, juntas, R$ 2,8 bilhões em créditos, de acordo com os balanços do segundo trimestre. Embora a decisão do STF ainda seja al- vo de recurso da Fazenda, os valores já podem ser aproveitados, principalmente por contribuintes com processos defini- dos em seu favor pela Justiça. O caso da Telefônica está entre os fina- lizados no STJ, o que impede a Fazenda de recorrer. Nas informações financeiras do segundo trimestre, a empresa observa que o lucro líquido contábil de R$ 3,16 bilhões foi influenciado por um efeito não recorrente — recebimento de R$ 1,8 bilhão pelo direito da exclusão do ICMS da base de cálculo das contribuições ao PIS e Cofins, que estava em julgamento no Superior Tribunal de Justiça. O Pão de Açúcar divulgou, no balanço do período, que vendeu a terceiros parte de seus créditos fiscais. Segundo o grupo, o ganho decorrente dessa alienação so- mou R$ 50 milhões (R$ 45 milhões sem os impostos). Como o STF ainda não en- cerrou o julgamento, alguma mudança na decisão ainda poderá ter reflexo em balanço futuro, relatou o Pão de Açúcar. O grupo informou também que não está prevista nova venda de créditos, mas que Receita da ECT cresce onde há concorrência Daniel Rittner De Brasília As mesmas mudanças tecnológicas e de costumes que deixaram a troca de cartas à beira da extinção fazem o co- mércio eletrônico crescer geometrica- mente. Nesse cenário, a Empresa Brasi- leira de Correios e Telégrafos (ECT) aca- ba de dar uma guinada emblemática. Pela primeira vez, as receitas no seg- mento concorrencial superaram as mo- nopolistas. Em julho, os serviços em que há concorrência privada (DHL, UPS etc.) rendeu R$ 770 milhões. São encomen- das (Sedex e PAC), cargas expressas (e- commerce), malas diretas. Na contra- mão, as receitas com serviços de mono- pólio (cartas, malotes, contas de luz etc.) renderam R$ 620 milhões. Página B1 Enquanto sindicalistas temem a perda de empregos com o acordo entre Boeing e Embraer, fornecedores da empresa brasileira buscam certificação para atuar nos mercados aeroespacial e de defesa internacionais. “Temos que aproveitar essa oportunidade”, diz Marco Antonio Raupp. Página B4 SILVIA ZAMBONI/VALOR Delações premiadas revelam corrupção entre empresas e o governo argentino sob os Kirchner A9 Tabela do frete elevou custo de exportação de grãos em US$ 2,4 bi B12 “avalia oportunidades constantemente”. A Via Varejo decidiu esperar pelo jul- gamento dos embargos de declaração no STF, segundo informa em suas de- monstrações do segundo trimestre. Mas acredita que a decisão não irá limi- tar seu direito. A companhia estima ter R$ 944 milhões a receber, referentes a créditos de 2010 a fevereiro de 2017. O valor inclui atualização monetária e ho- norários a serem pagos a advogados. No caso da Hering, a queda no lucro por causa do volume de vendas e redução na margem bruta foram parcialmente compensados pelo reconhecimento de R$ 4,2 milhões referentes à exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins. A Ambev também cita a questão no balan- ço, mas sem informar valores. Página E1 Voos internacionais Crise na Argentina derruba exportação brasileira de veículos, diz Megale B5 Ibovespa 6/ago/18 -0,47 % R$ 7,5 bi Selic (meta) 6/ago/18 6,50 % ao ano Selic (taxa efetiva) 6/ago/18 6,40 % ao ano Dólar comercial (BC) 6/ago/18 3,7208/3,7214 Dólar comercial (mercado) 6/ago/18 3,7321/3,7327 Dólar turismo (mercado) 6/ago/18 3,6314/3,8825 Euro comercial (BC) 6/ago/18 4,3020/4,3042 Euro comercial (mercado) 6/ago/18 4,3118/4,3125 Euro turismo (mercado) 6/ago/18 4,1896/4,4860 Ideias Indicadores Luiz Gonzaga Belluzzo O pequeno fascismo desliza sorrateiro para a alma do individuo, ainda que simule de- fender a família, os costumes, a religião. A11 Roberto Klabin e Felipe Dias Sem vegetação natural não haverá água no Pantanal e, a longo prazo, tampouco atividade econômica. A10 Destaques O governo americano implementou hoje a primeira fase de retomada das sanções econômicas contra o Irã, abandonadas em 2015 após assinatura do acordo nuclear. O bloqueio às exportações de petróleo do país está previsto para uma etapa seguinte, que deve entrar em vigor em novembro. “Ao aplicarmos a máxima pressão econô- mica... continuo aberto a um acordo mais amplo”, disse o presidente Trump. A9 Fusão de Praxair e Linde sob ameaça Exigências de venda de ativos por parte das autoridades antitruste dos Estados Unidos poderão inviabilizar a megafu- são entre a companhia de gás america- na Praxair e sua concorrente alemã Lin- de, que juntas formariam a maior com- panhia de gases industriais do mundo, avaliada em US$ 80 bilhões. B6 Emprego formal inicia inflexão O mercado de trabalho formal deve ter em 2018 o primeiro saldo positivo após três anos, mas o resultado esperado não é mo- tivo de comemoração, avaliam economis- tas. A estimativa do governo, de geração de cerca de 200 mil vagas, não representa nem 10% dos 2,9 milhões de empregos formais perdidos entre 2015 e 2017. A5 Retomada no Tesouro Direito Após dez meses, o Tesouro Direto, programa de venda de títulos públicos pela internet, voltou a ter fluxo positivo. Em junho (último dado disponível), a captação líquida foi de R$ 188,9 milhões. A reversão pode represen- tar o início de um movimento de retomada da aplicação, sustentado pelo ambiente de incertezas e pela alta dos juros pagos. C8 Piora dos ratings latino-americanos A América Latina está na contramão do res- to do mundo em termos de notas soberanas neste ano. Segundo o diretor-executivo e chefe global de ratings soberanos da Fitch, James McCormack, enquanto a tendência global é exibir um resultado líquido de ele- vações em 2018, na região “a situação con- tinua se deteriorando”. Como exemplo, McCormack citou o caso brasileiro. C2 Trump inicia sanções contra o Irã Licitação sem CND O Superior Tribunal de Justiça entendeu que empresas submetidas a processo de recuperação judicial podem participar de licitações públicas desde que de- monstrem, na fase de habilitação, ter viabilidade econômica. Para os minis- tros, não cabe a exclusão unicamente em virtude da não apresentação de cer- tidão negativa de débitos tributários. E1 Litel tem derrota em disputa bilionária A ministra Isabel Gallotti, do Superior Tri- bunal de Justiça, negou pedido da Litel — que reúne os fundos de pensão estatais na Vale — para suspender execução supe- rior a R$ 4 bilhões em favor da Elétron, veículo do Opportunity na mineradora. Essa nova derrota da Litel, no entanto, ainda não encerra a disputa judicial. B6 Calor europeu afeta produção da agricultura Assis Moreira De Genebra A onda de calor e seca na Europa provoca situações inusitadas, como na Suíça, onde o Exército leva água de helicóptero a vacas que pastam nos Alpes e pescadores tentam salvar peixes que começam a morrer por causa da temperatura dos rios. Mas para além dessas medidas inusitadas, o fato é que o calor extremo em deixa- do rastros devastadores em vários paí- ses e o setor de agronegócios é um dos que mais têm sofrido. No mercado de commodities agrí- colas, o maior prejudicado tem sido o trigo. Na Rússia, que lidera a produção no continente e as exportações mun- diais, a tonelada do cereal alcançou 234 na sexta-feira, maior nível desde 2014. Depois da colheita recorde do ano passado, os russos preveem queda de 20% na produção em 2018, para 68,5 milhões de toneladas. A Alema- nha tem perdas estimadas em 8 mi- lhões de toneladas. Página B12 Investimento vai crescer no máximo 4% Sergio Lamucci De São Paulo O aumento das incertezas internas e externas nos últimos meses consoli- dou a avaliação de que o investimento terá uma alta moderada em 2018, na casa de 3,5% a 4%, contribuindo para que a economia tenha uma expansão modesta, de 1,5% ou menos. No come- ço do ano, havia expectativa de que o investimento, avaliado pela formação bruta de capital fixo (FBCF), poderia mostrar avanço de 6%, depois de qua- tro anos de retração. O quadro piorou depois da greve dos caminhoneiros, que afetou fortemente a confiança dos empresários. Em um cenário marcado também pela indefi- nição quanto à eleição de outubro, a expectativa é que as companhias vão aguardar para investir mais. Para com- pletar, a alta dos juros de prazos mais longos e a desvalorização expressiva do câmbio tendem a afetar as decisões de investimento, diz o economista Igor Velecico, do Bradesco. Página A5 Eleições 2018 De São Paulo e do Rio Em seu primeiro compromisso públi- co como candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Antonio Hamilton Mourão (PRTB) afirmou ontem, durante evento da Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Caxias do Sul (RS), que o brasi-

Empresas já relatam ganhos com decisão sobre PIS/Cofinslatinclima.org/sites/default/files/oportunidades/valor_economico.pdf · forte impacto nas florestas do país. Os dados mais

  • Upload
    dinhnga

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Terça-feira, 7 de agosto de 2018 | Ano 19 | Número 4562 | R$ 5,00www.va l o r. c o m . b r

Paz aumenta odesmatamentona ColômbiaDaniela ChiarettiDe Bogotá, Colômbia

O processo de paz colombiano teveforte impacto nas florestas do país. Osdados mais recentes indicam que odesmatamento está aumentando des-de a assinatura dos acordos de pazcom as Forças Armadas Revolucioná-rias da Colômbia, as Farc, no fim de2016. Na Amazônia colombiana, odesmatamento dobrou em 2017 emrelação a 2016. É o pior resultado dosúltimos seis anos.

Em 2016, o desmatamento já haviaaumentado 40% em relação ao ano an-terior. Foi assim também em outrospaíses com florestas que viveram con-flitos, como Nicarágua, República doCongo e El Salvador. As Farc ocupa-vam as matas para se esconder, e as-sim, indiretamente, as preservaram.As florestas ocupam 52% do territórioda Colômbia. Página A12

Malandragem é legadodos negros, diz Mourão

leiro herdou a “i n d o l ê n c i a” dos índios ea “m a l a n d r a g e m” dos negros. Questio-nado por “O Globo”, ele disse não ver ra-cismo ou preconceito em suas opiniões.

O general afirmou, ainda, que o brasilei-ro tem tendência a querer privilégios — se -gundo ele, uma característica herdada dospovos ibéricos, referindo-se à colonizaçãoportuguesa. De acordo com Mourão, essesatributos dificultam que o país transformeseu “porte estratégico” em poder.

No Rio, Bolsonaro afirmou que, se foreleito, seu governo terá um “montão deministro militar (sic)”. Página A7

Haddad, uma costura trabalhosa no PTCristiane Agostine e Ricardo MendonçaDe São Paulo

O ex-prefeito Fernando Haddad foi es-colhido para ser vice de Lula, na chapa doPT que disputará a eleição presidencial,por ser visto pelo ex-presidente comoaquele que possui as melhores condiçõesde expressar seu pensamento fora da pri-são. Dentro do partido, a escolha exigiu

uma costura trabalhosa. A indicação so-fria resistência da direção do PT e das ten-dências mais à esquerda. Alegava-se ain-da, contra Haddad, o receio de que seunome fosse entendido como rendição ao“plano B” — a desistência da candidaturade Lula, que o partido sempre negou. Fa-vorita dos grupos mais à esquerda, a pre-sidente da sigla, senadora Gleisi Hoff-mann, foi vetada por Lula. Página A6

Empresas já relatam ganhoscom decisão sobre PIS/CofinsBeatriz OlivonDe Brasília

Grandes empresas começam a regis-trar ganhos com a exclusão do ICMS dabase de cálculo do PIS e da Cofins, decidi-da pelo Supremo Tribunal Federal (STF)em 2017. Pão de Açúcar, Telefônica Bra-sil, Via Varejo e Hering têm, juntas, R$ 2,8bilhões em créditos, de acordo com osbalanços do segundo trimestre.

Embora a decisão do STF ainda seja al-vo de recurso da Fazenda, os valores jápodem ser aproveitados, principalmentepor contribuintes com processos defini-dos em seu favor pela Justiça.

O caso da Telefônica está entre os fina-lizados no STJ, o que impede a Fazendade recorrer. Nas informações financeiras

do segundo trimestre, a empresa observaque o lucro líquido contábil de R$ 3,16bilhões foi influenciado por um efeitonão recorrente — recebimento de R$ 1,8bilhão pelo direito da exclusão do ICMSda base de cálculo das contribuições aoPIS e Cofins, que estava em julgamentono Superior Tribunal de Justiça.

O Pão de Açúcar divulgou, no balançodo período, que vendeu a terceiros partede seus créditos fiscais. Segundo o grupo,o ganho decorrente dessa alienação so-mou R$ 50 milhões (R$ 45 milhões semos impostos). Como o STF ainda não en-cerrou o julgamento, alguma mudançana decisão ainda poderá ter reflexo embalanço futuro, relatou o Pão de Açúcar.O grupo informou também que não estáprevista nova venda de créditos, mas que

Receita da ECTcresce onde háconcorrênc iaDaniel RittnerDe Brasília

As mesmas mudanças tecnológicas ede costumes que deixaram a troca decartas à beira da extinção fazem o co-mércio eletrônico crescer geometrica-mente. Nesse cenário, a Empresa Brasi-leira de Correios e Telégrafos (ECT) aca-ba de dar uma guinada emblemática.Pela primeira vez, as receitas no seg-mento concorrencial superaram as mo-nopolistas. Em julho, os serviços em quehá concorrência privada (DHL, UPS etc.)rendeu R$ 770 milhões. São encomen-das (Sedex e PAC), cargas expressas (e-commerce), malas diretas. Na contra-mão, as receitas com serviços de mono-pólio (cartas, malotes, contas de luz etc.)renderam R$ 620 milhões. Página B1

Enquanto sindicalistas temem a perda de empregos com o acordo entre Boeing e Embraer, fornecedores da empresa brasileira buscam certificaçãopara atuar nos mercados aeroespacial e de defesa internacionais. “Temos que aproveitar essa oportunidade”, diz Marco Antonio Raupp. Página B4

SILV

IA Z

AM

BO

NI/

VALO

R

Delações premiadasrevelam corrupçãoentre empresas e ogoverno argentinosob os Kirchner A9Tabela do frete elevoucusto de exportação degrãos em US$ 2,4 bi B12

“avalia oportunidades constantemente”.A Via Varejo decidiu esperar pelo jul-

gamento dos embargos de declaraçãono STF, segundo informa em suas de-monstrações do segundo trimestre.Mas acredita que a decisão não irá limi-tar seu direito. A companhia estima terR$ 944 milhões a receber, referentes acréditos de 2010 a fevereiro de 2017. Ovalor inclui atualização monetária e ho-norários a serem pagos a advogados.

No caso da Hering, a queda no lucropor causa do volume de vendas e reduçãona margem bruta foram parcialmentecompensados pelo reconhecimento deR$ 4,2 milhões referentes à exclusão doICMS da base de cálculo do PIS/Cofins. AAmbev também cita a questão no balan-ço, mas sem informar valores. Página E1

Voos internacionais

Crise na Argentinaderruba exportaçãobrasileira de veículos,diz Megale B5

I b ove s p a 6 /a g o / 1 8 -0,47 % R$ 7,5 bi

Selic (meta) 6 /a g o / 1 8 6,50 % ao ano

Selic (taxa efetiva) 6 /a g o / 1 8 6,40 % ao ano

Dólar comercial (BC) 6 /a g o / 1 8 3, 720 8 /3, 72 14

Dólar comercial (mercado) 6 /a g o / 1 8 3,7321 /3,7327

Dólar turismo (mercado) 6 /a g o / 1 8 3,6314/3, 8825

Euro comercial (BC) 6 /a g o / 1 8 4 , 3 020 /4 , 3 0 4 2

Euro comercial (mercado) 6 /a g o / 1 8 4 , 31 1 8 /4 , 31 2 5

Euro turismo (mercado) 6 /a g o / 1 8 4 , 1 8 9 6 /4 ,4 8 6 0

Id e i a s

I n d i c a d o re s

Luiz Gonzaga BelluzzoO pequeno fascismo desliza sorrateiro paraa alma do individuo, ainda que simule de-fender a família, os costumes, a religião. A11

Roberto Klabin e Felipe DiasSem vegetação natural não haverá águano Pantanal e, a longo prazo, tampoucoatividade econômica. A10

D e st a q u e s

O governo americano implementou hojea primeira fase de retomada das sançõeseconômicas contra o Irã, abandonadas em2015 após assinatura do acordo nuclear.O bloqueio às exportações de petróleo dopaís está previsto para uma etapa seguinte,que deve entrar em vigor em novembro.“Ao aplicarmos a máxima pressão econô-mica... continuo aberto a um acordo maisa m p l o”, disse o presidente Trump. A9

Fusão de Praxair e Linde sob ameaçaExigências de venda de ativos por partedas autoridades antitruste dos EstadosUnidos poderão inviabilizar a megafu-são entre a companhia de gás america-na Praxair e sua concorrente alemã Lin-de, que juntas formariam a maior com-panhia de gases industriais do mundo,avaliada em US$ 80 bilhões. B6

Emprego formal inicia inflexãoO mercado de trabalho formal deve ter em2018 o primeiro saldo positivo após trêsanos, mas o resultado esperado não é mo-tivo de comemoração, avaliam economis-tas. A estimativa do governo, de geraçãode cerca de 200 mil vagas, não representanem 10% dos 2,9 milhões de empregosformais perdidos entre 2015 e 2017. A5

Retomada no Tesouro DireitoApós dez meses, o Tesouro Direto, programade venda de títulos públicos pela internet,voltou a ter fluxo positivo. Em junho (últimodado disponível), a captação líquida foi deR$ 188,9 milhões. A reversão pode represen-tar o início de um movimento de retomadada aplicação, sustentado pelo ambiente deincertezas e pela alta dos juros pagos. C8

Piora dos ratings latino-americanosA América Latina está na contramão do res-to do mundo em termos de notas soberanasneste ano. Segundo o diretor-executivo echefe global de ratings soberanos da Fitch,James McCormack, enquanto a tendênciaglobal é exibir um resultado líquido de ele-vações em 2018, na região “a situação con-tinua se deteriorando”. Como exemplo,McCormack citou o caso brasileiro. C2

Trump inicia sanções contra o Irã

Licitação sem CNDO Superior Tribunal de Justiça entendeuque empresas submetidas a processo derecuperação judicial podem participarde licitações públicas desde que de-monstrem, na fase de habilitação, terviabilidade econômica. Para os minis-tros, não cabe a exclusão unicamenteem virtude da não apresentação de cer-tidão negativa de débitos tributários. E1

Litel tem derrota em disputa bilionáriaA ministra Isabel Gallotti, do Superior Tri-bunal de Justiça, negou pedido da Litel —que reúne os fundos de pensão estataisna Vale — para suspender execução supe-rior a R$ 4 bilhões em favor da Elétron,veículo do Opportunity na mineradora.Essa nova derrota da Litel, no entanto,ainda não encerra a disputa judicial. B6

Calor europeuafeta produçãoda agriculturaAssis MoreiraDe Genebra

A onda de calor e seca na Europaprovoca situações inusitadas, comona Suíça, onde o Exército leva águade helicóptero a vacas que pastamnos Alpes e pescadores tentam salvarpeixes que começam a morrer porcausa da temperatura dos rios. Maspara além dessas medidas inusitadas,o fato é que o calor extremo em deixa-do rastros devastadores em vários paí-ses e o setor de agronegócios é um dosque mais têm sofrido.

No mercado de commodities agrí-colas, o maior prejudicado tem sido otrigo. Na Rússia, que lidera a produçãono continente e as exportações mun-diais, a tonelada do cereal alcançou€ 234 na sexta-feira, maior nível desde2014. Depois da colheita recorde doano passado, os russos preveem quedade 20% na produção em 2018, para68,5 milhões de toneladas. A Alema-nha tem perdas estimadas em 8 mi-lhões de toneladas. Página B12

Invest imentovai crescer nomáximo 4%Sergio LamucciDe São Paulo

O aumento das incertezas internas eexternas nos últimos meses consoli-dou a avaliação de que o investimentoterá uma alta moderada em 2018, nacasa de 3,5% a 4%, contribuindo paraque a economia tenha uma expansãomodesta, de 1,5% ou menos. No come-ço do ano, havia expectativa de que oinvestimento, avaliado pela formaçãobruta de capital fixo (FBCF), poderiamostrar avanço de 6%, depois de qua-tro anos de retração.

O quadro piorou depois da greve doscaminhoneiros, que afetou fortementea confiança dos empresários. Em umcenário marcado também pela indefi-nição quanto à eleição de outubro, aexpectativa é que as companhias vãoaguardar para investir mais. Para com-pletar, a alta dos juros de prazos maislongos e a desvalorização expressiva docâmbio tendem a afetar as decisões deinvestimento, diz o economista IgorVelecico, do Bradesco. Página A5

Eleições2018De São Paulo e do Rio

Em seu primeiro compromisso públi-co como candidato a vice-presidente nachapa de Jair Bolsonaro (PSL), o generalda reserva Antonio Hamilton Mourão(PRTB) afirmou ontem, durante eventoda Câmara de Indústria e Comércio(CIC) de Caxias do Sul (RS), que o brasi-

A12 | Valor | Terça-feira, 7 de agosto de 20 1 8

Ambiente Sem as Farc e com a ausência do Estado, florestas ficam vulneráveis à apropriação ilegal de terras

Acordo de paz eleva desmate na ColômbiaDaniela ChiarettiDe Bogotá

O processo de paz colombianoteve forte impacto nas florestasdo país. Os dados mais recentesindicam que a tendência do des-matamento na Colômbia está emalta, fenômeno que se verificadesde a assinatura dos acordosde paz com as Forças ArmadasRevolucionárias da Colômbia, asFarc, no fim de 2016. Na Amazô-nia colombiana, o desmatamen-to dobrou em 2017 em relação a2016. É o pior desempenho dosúltimos seis anos.

Em 2016, o desmate já havia da-do um salto de 40% em relação a2015. Foi assim em outros paísescom florestas e que viveram confli-tos, como Nicarágua, República doCongo ou El Salvador. “Está com-provado que, depois de terminadoo processo de paz, o desmatamen-to cresce”, diz uma fonte do gover-no, que prefere não se identificar.

As Farc ocupavam os bosquescolombianos para se esconder, e

assim, indiretamente, os preserva-ram. “É preciso relativizar esta afir-mação. As Farc usaram algumasáreas de floresta para se abrigar, éverdade, mas derrubaram outraspara cultivos ilícitos”, continua.

As florestas ocupam mais dametade da Colômbia — 52% do ter-ritório. Em 2017 foram ao chãoquase 220 mil hectares de cobertu-ra florestal, comparados aos 178,5mil hectares de 2016. Foi um cres-cimento de 23%. Na Amazônia co-lombiana, o desmatamento foi de70 mil hectares em 2016, mas do-brou no ano passado, chegando amais de 144 mil hectares, segundodados do Instituto de Hidrologia,Meteorologia e Estudos Ambien-tais (Ideam), ligado ao Ministériode Ambiente e DesenvolvimentoSustentável (Mads).

“O desmatamento acontece nosvazios de poder do território”, dizJosé Julián Gonzalez, técnico doIdeam. São os “baldios” colombia -nos, terras que não são proprieda-de privada e pertencem ao Estado,mas que não têm destino e são

ocupadas por quem chegar pri-meiro. É um processo parecido aoque acontece na Amazônia brasi-leira, nas terras públicas sem desti-nação — o Estado não indica se ali éunidade de conservação, terra in-dígena, território quilombola ou oque for, e a área se torna alvo para ailegalidade e o desmatamento.

Na Colômbia os vetores do des-matamento são a apropriação ile-gal de terra, a ampliação da fron-teira agropecuária com a conver-são de bosques em pastos, a proli-feração dos cultivos ilícitos (indí-genas usam folhas de coca em prá-ticas tradicionais e medicinais, cul-tivo considerado lícito), a minera-ção ilegal de ouro e coltan, umamistura dos minerais colombita etantalita, sendo que o tântalo, ex-traído da tantalita, é usado em ele-trônicos como celulares. Há aindaos incêndios florestais e os planosde obras de infraestrutura.

“Até 2016 o governo tinha con-trole sobre metade do territórionacional. Agora abriu-se a frontei-ra da outra metade que temos que

governar também, explorar, levari n s t i t u c i o n a l i d a d e”, diz Gonzalez.“Temos que enfrentar os atoresque se apropriam ilegalmente dasterras livres. Para eles, as florestassão obstáculo. Só querem a terra.”

O acordo de paz com as Farc foiassinado em novembro de 2016,depois de 53 anos de conflito.Deixou 220 mil mortos e 60 mildesaparecidos nos choques entreforças do governo, traficantes,guerrilheiros e paramilitares.

Segundo o Alto Comissariadodas Nações Unidas para os Refu-giados, (Acnur), a Colômbia tem omaior número de deslocados in-ternos do mundo. As estimativassão de 7,7 milhões de colombianosdesalojados no período. A agênciada ONU diz que, depois dos acor-dos de paz, algumas regiões dopaís estão sem proteção, o que ex-plicaria o deslocamento de maisde 91 mil pessoas em 2017.

O tema é sensível para os co-lombianos, que preferem o ter-mo “p ó s - a c o r d o” para definir es-te período a “p ó s - c o n f l i t o”, por-

que a violência continua. “Háuma mudança total na dinâmicade ocupação das florestas com asaída das Farc”, diz Adriana La-gos, coordenadora da EstratégiaIntegral de Controle do Desma-tamento e gestão das florestas doMads. “Chegam outros atoresque querem ocupar a terra. Opós-acordo deixa a conservaçãode bosques na Colômbia em si-tuação muito frágil.”

A gravidade do assunto foi temade campanha dos dois candidatosà Presidência que chegaram ao se-gundo turno, tanto do conserva-dor Iván Duque Márquez, que ga-nhou o pleito e assume hoje, comodo esquerdista Gustavo Petro. Am-bos prometiam ações para enfren-tar e controlar o desmatamento.

Está em curso uma estratégiaque foi amadurecida durante oitoanos e lançada recentemente, cha-mada “Bosques Território de Vida”.O plano, que tem apoio de váriosórgãos multilaterais, como a Orga-nização das Nações Unidas paraAlimentação e Agricultura (FAO) e

o Banco Mundial, entre outros,procura frear a tendência de altado desmatamento estimulando oecoturismo, a pesquisa e a explora-ção econômica sustentável dosprodutos da floresta.

Iván Duque irá nomear o geó-logo Ricardo José Lozano comoministro de Meio Ambiente, umnome bem recebido por cientis-tas e ambientalistas. Ele é ex-di-retor do Ideam.

Em junho os Estados Unidos di-vulgaram estatísticas apontandoque a área de cultivo de cocaínaaumentou 11% em 2017 na Co-lômbia, chegando a 209 mil hecta-res. A cifra fez o então presidenteSantos anunciar o retorno da fu-migação de plantações com agro-tóxicos, mas usando drones e nãoaviões. A nova tecnologia seriamais precisa e menos danosa aoambiente. Duque estaria inclinadoa adotar o método. “Mas o proto-colo diz que, se houver algum gru-po indígena perto da área, ele teráque ser previamente consultado”,diz uma fonte do governo.

Comunidade cuidade floresta e vendecrédito de carbonoDaniela ChiarettiDe Acandí, Colômbia

No humilde aeroporto de Acan-dí, no noroeste colombiano, háuma escultura grande de uma tar-taruga-de-couro cinzenta. Do ladoesquerdo, menos visível, está a ruí-na de um pequeno avião que foiusado pelo narcotráfico e alguémincendiou. Tartaruga e avião sãometáforas concretas da aposta nofuturo e do esforço para superar opassado que confrontam os habi-tantes da região mais pobre da Co-lômbia. É aqui que comunidadesquilombolas se organizaram, mo-nitoram matas e tartarugas, e pro-tagonizam a primeira venda co-munitária de créditos de carbonopela proteção de florestas do país.

São os afrodescendentes quevivem no corredor de biodiversi-dade Chocó-Darién, que começano Panamá e avança pela costado Pacífico da Colômbia. É co-nhecido como um polo de altabiodiversidade, por onde transi-tam onças e antas de Baird, alémde espécies ameaçadas de faunae flora. É um dos lugares ondemais chove no mundo.

As comunidades afrodescen-dentes colombianas, como se de-nominam, tem trajetória similaraos quilombolas brasileiros. Sãooriginárias dos processos de ci-marronaje, a fuga de escravos defazendas de cacau e outros culti-vos, para espaços escondidos nasflorestas. Em Acandí, nove comu-nidades afrodescendentes se orga-nizaram no Cocomasur, a sigla pa-ra Consejo Comunitario de las Co-munidades Negras de la Cuencadel Río Tolo y Zona Costera Sur.

Os turistas que desembarcamem Acandí são seduzidos pelomar de sete cores do Caribe, pelanatureza exuberante da região,pela possibilidade de ajudar tar-taruguinhas recém-nascidas, eameaçadas, a avançar na areia esumir nas ondas. O turismo eco-lógico e social é a aposta do mu-nicípio que vive o cotidiano desi-gual dos pequenos agricultores ede grandes fazendas de gado.

Relâmpago é o nome do velhocavalo que puxa a carroça ondeacomodam malas e turistas. Noseu passo a sede do município fi-ca a 15 minutos. São 3,5 quilôme-tros em estrada de terra. Na pai-sagem, pequenas pontes de ma-deira, ferros-velhos, mecânicasde motos e extensas pastagens.Ao lado de algumas “bodeguitas”fica a sede do Cocomasur.

O Estado colombiano regulari-zou há alguns anos a posse da ter-ra aos coletivos quilombolas eterras indígenas. No caso de Co-comasur, a titulação aconteceuem 2005 e contemplou 13.500hectares de floresta tropical. A pe-cuária é forte na região. Estima-seum rebanho de 47 mil cabeças.

DANIELA CHIARETTI/VALOR

Casas coloridas de Peñaloza e a cadela Mocha, que acompanha diariamente as equipes de monitoramento: o esforço impediu a fragmentação da floresta

DANIELA CHIARETTI/VALOR

Everildys Córdoba: os benefícios de Redd são o fortalecimento da comunidade

Onde fica Acandí

COLÔMBIA

PERU

VENEZUELA

EQUADORBRASIL

Bogotá

MedellínAcandí

Peñaloza

Cali

Mar do Caribe

OceanoPacífico

O processo de derrubar florestae abrir pastagens ameaça os bos-ques do Chocó e é ponto de confli-to com as comunidades afrodes-cendentes, que dizem que o seuterritório original tinha uma áreade 150 mil hectares. O processocorre na Justiça. “No GPS marca-ram 13.500 hectares, mas nós sa-bemos que o nosso território é de150 mil hectares. Por isso, toma-mos conta de tudo, monitoramost u d o”, diz Everildys Córdoba, coor-denadora do Cocomasur.

Da sede, em Acandí, até a comu-nidade de Peñaloza, às margens dorio Tolo, leva-se quase uma hora,no pau-de-arara local. Há pasta-gens nos dois lados da estrada. Osquilombolas dizem que aquilo tu-do pertence a duas pessoas e é 1/4da área do município. Não men-cionam os proprietários.

Em Peñaloza vivem cerca de400 pessoas. As casas coloridas, demadeira, ficam ao redor de umgramado e ladeando o rio Tolo.No centro está a escola, um gal-pão para festas e reuniões, a igre-ja. Os visitantes são recebidos comsom de tambores e marimba. Ser-vem majajú de plátano, uma es-pécie de ensopado de banana,ovo, queijo, cebola e alho. Entre acomunidade e o bosque há algunsquilômetros de pastagens.

Em 2010, Cocomasur come-çou o primeiro projeto de umacomunidade na Colômbia a ven-der créditos de carbono e receberpara proteger a floresta. O meca-nismo, definido nas reuniões cli-máticas internacionais das Na-ções Unidas é conhecido pela si-gla Redd+, Redução de Emissõespor Desmatamento e Degrada-ção. Basicamente, trata-se deuma forma de remunerar quempreserva florestas em pé e nãopermite que se transformem emfonte de emissão de gases-estufa.

Foi o antropólogo Brodie Fer-guson quem iniciou o processocom os quilombolas de Cocoma-sur. “Foi a primeira vez que ouvi-mos falar de Redd”, diz EverildysCórdoba. Ferguson fundou umaempresa, a Anthrotect, e com elainiciou o processo. Técnicos doJardim Botânico de Medellín trei-naram os quilombolas a identifi-car e reconhecer as espécies flo-restais do bosque.

No site da Anthrotect, que foiparceira dos quilombolas na em-preitada, lê-se que o projeto, quetem 30 anos de prazo, conseguiureduzir 90 mil toneladas de CO2

nos primeiros 18 meses. Seria oequivalente a retirar 25 mil carrosdas ruas. O coletivo vendeu, na pri-meira leva, 104.700 créditos a dezcompradores. Eles não revelam asoma que receberam na operação.“Nosso primeiro benefício foi for-talecer a governança que temos so-bre o território”, diz Aureliano Cor-doba, liderança de Cocomasur.

O primeiro passo foi capacitara comunidade a entender do quese tratava Redd. Era preciso des-fazer ideias equivocadas, de que“iam vender o oxigênio das pes-soas , ou desmontar o discursodos ‘cowboys do carbono’ , deque iriam ganhar milhões de dó-lares”, diz Adriana Lagos, coorde-nadora da Estratégia Integral deControle do Desmatamento e daGestão das Florestas, do Ministé-rio de Meio Ambiente e do De-senvolvimento Sustentável. “Eraum tema muito polêmico nopaís. Os movimentos sociais o es-tigmatizavam, alguns sataniza-vam Redd por falta de informa-ç ã o”, continua. “A ideia é pagarquem preserva pelo seu trabalhoe assim evitar o desmatamento.”

Seis jovens afrodescendentesmonitoram a floresta todos osdias. Caminham 12 horas. Vão re-colhendo dados sobre as espé-cies de fauna e flora que encon-tram e reportando eventuais fo-cos de desmatamento. “Se anteso desmatamento aqui era de 100hectares ao ano agora é, no máxi-mo de 10 ou 20 hectares”, dizEtiel Enrique Cordoba Murillo,coordenador do monitoramento

das florestas de Cocomasur.“Conseguimos evitar a fragmen-tação da floresta”, diz FerneyCancedo, também de Peñaloza, eda equipe que realizou o inventá-rio florestal da região, medindo eidentificando mais de 3.000 ár-vores para estimar o estoque decarbono da floresta. O projeto es-tima quanto há de carbono emáreas [desmatadas] de pasto. As-sim se contabilizam as reduçõesde emissão de gases-estufa queforam evitadas.

Cocomasur agora prepara no-va venda, de 300 mil créditos.Neste esforço tem o apoio doprograma ONU-Redd, formadohá 10 anos para ajudar países emdesenvolvimento a se capacitarpara proteger as matas. O pro-grama é um consórcio entre téc-nicos da Organização das NaçõesUnidas para Alimentação e Agri-cultura (FAO), do Programa dasNações Unidas para o Desenvol-

vimento (Pnud) e da ONU MeioAmbiente (conhecida formal-mente pela sigla Pnuma).

“Nossa estratégia é atuar juntoao setor privado e o financeiro.Muito do desmatamento é pro-vocado pelo setor privado”, dizJuan José Fernando, do ProgramaONU-Redd para a América Lati-na. O programa atua em 64 paí-ses procurando reduzir a emis-são por desmatamento, aumen-tar as reservas florestais de carbo-no e promover a gestão sustentá-vel dos bosques.

“É algo muito complexo queinicia com a capacitação e inclu-são das comunidades, com o es-tabelecimento dos níveis de refe-rência, com monitorar os hecta-res de floresta”, continua. “E en-tender que os bosques não são sócarbono, que há muito além emtermos de recursos naturais e be-nef ícios”, diz Fernando.

A Colômbia tem uma estraté-

gia nacional de Redd+ desde2017. A meta climática nacional,apresentada durante as negocia-ções do Acordo de Paris, em2015, é de cortar em 20% as emis-sões de gases-estufa em relaçãoaos níveis de 2010.

Em Peñaloza, os quilombolasdiscutem o futuro enquanto co-mem arroz preparado com leitede coco e frango e bebem águacom canela. Alguém atira um pe-daço de comida a Mocha, a cade-la magra que apareceu por ali, foiadotada por todos, e acompanhaos jovens nas caminhadas paramonitorar a floresta.

Os benefícios — ou não — doecoturismo é ponto em debate.“Nossa grande ameaça é o mode-lo turístico que está sendo criadono país”, diz Everildys Córdoba.“O modelo coloca em risco a lide-rança comunitária. Se não esta-mos de acordo com algo, nosolham como opositores do de-senvolvimento. Mas desenvolvi-mento para quem?” questionaela. “Os pacotes turísticos nãonos deixam nada, só lixo”, emen-da Aureliano Cordoba.

À noite, na praia perto da sededo município de Acandí, um gru-po de afrodescendentes monitorao nascimento de tartaruguinhas-de-couro. Na Páscoa são tantos osturistas na cidade que é preciso fa-zer controle de visitantes na praia.“Não podemos impedir que as pes-soas venham e visitem os atrativosda região”, diz Everildys Córdoba.“Mas vivemos em um santuário defauna e flora e temos que ter cuida-d o”, continua. “A ideia é que esta vi-sita de turistas traga benefícios, enão que cause danos à nossa cultu-r a”, segue a líder.

A jornalista viajou à Colômbia a conviteda ONU-Redd

Es p e c i a l