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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA SALA DE AULA: ENCONTROS E DESENCONTROS COM BASE NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ALFONSO LÓPEZ QUINTÁS E ANÁLISE DO FILME MENTES PERIGOSAS. MARIA APARECIDA MAZARO DA COSTA SÃO PAULO 2008

Encuentro Como Base Del Pensamiento

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE PROGRAMA DE PS-GRADUO EM EDUCAO - PPGE RELAES INTERPESSOAIS NA SALA DE AULA:ENCONTROS E DESENCONTROS COM BASE NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ALFONSO LPEZ QUINTS E ANLISE DO FILME MENTES PERIGOSAS. MARIA APARECIDA MAZARO DA COSTA SO PAULO 2008 1MARIA APARECIDA MAZARO DA COSTA RELAES INTERPESSOAIS NA SALA DE AULA: ENCONTROS E DESENCONTROS COM BASE NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ALFONSO LPEZ QUINTS E ANLISE DO FILME MENTES PERIGOSAS. DissertaodeMestrado apresentadaaoprograma dePs-graduaoem EducaoPPEGda Universidade Nove de J ulho Uninove,comorequisito paraobtenodoTtulodeMestre em Educao. Orientador:Prof.Dr.J os Gabriel Periss Madureira SO PAULO 2008 2FICHA CATALOGRFICA COSTA, Maria Ap. Mazaro da. Relaes interpessoais na sala de aula : encontros e desencontros com base no pensamento educacional de Afonso Lopez Quintaze anlise do filme mentes perigosas. / Maria Aparecida Mazaro da Costa Micida. / So Paulo : 2008. 125 f. Dissertao (Mestrado) Universidade Nove de J ulho, 2008. Orientador: J os Gabriel Periss Madureira 1.Encontro. 2. Relaes dicente/ docente. 3. Sala de aula. 4. Conflitos e convivncia I. Madureira, J os Gabriel Periss. CDU 37 3RELAES INTERPESSOAIS NA SALA DE AULA: ENCONTROS E DESENCONTROS COM BASE NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ALFONSO LPEZ QUINTS E ANLISE DO FILME MENTES PERIGOSAS. Por MARIA APARECIDA MAZARO DA COSTA DissertaodeMestrado apresentadaaoprograma dePs-graduaoem EducaoPPEGda Universidade Nove de J ulho Uninove,comorequisito paraobtenodoTtulodeMestre em Educao. ___________________________________ Presidente: Prof. J osGabrielPerissMadureira, Dr. Orientador - Uninove __________________________________________ Membro: Prof. Luiz J ean Lauand, Dr - USP __________________________________________ Membro: Prof. TerezinhaAzerdoRios, Dra. PUC-SP So Paulo,_______de____________ de 2008. 4 Dedicatria Especial Para o meu filho Vitor Luis, razo da minha existncia, equilbrio de minha essncia, fora de minha persistncia. Com a eterna gratido pela sua pacincia e compreenso nos momentos de minha ausncia ao longo deste caminhar. Muito obrigada, meu Filho! 5 E ainda... Aosmeuspais,NewtoneVani,responsveispela integridade da minha formao. Em especial para minha Me, fonte de luz incentivadora, apoio e impulso no decorrer desta jornada. AomeuamigoeatualesposoFernandoA.Dias,pelo apoio, incentivo e motivao. Valeu a fora! minhafuncionria,MariaAparecidadoNascimento,a nossaKuti,companheiradejornadahdezesseteanos,pelasuatotal dedicao e carinho a minha pessoa, ao meu filho e s rotinas da casa, sem a qualjamaisteriaalcanadomeusideaisacadmicoseprofissionais,omeu mais profundo reconhecimento e gratido. 6Agradecimentos A Deus; av paterna de meu filho, Guiomar Scatena Villar, pelo cuidado e ateno ao meu filho, suprindo meus momentos de ausncia durante este perodo, minhagratido; s minhas irms, Suzani, Vani e seus familiares, com excusas aos momentos de ausncia; Aosmeusamadossobrinhos,Izabela,Marcela,BrunaeGuilherme,pelo carinho a mim dispensado; minha amiga e afilhada Cleonice Serradilha (Keu). Aos familiares de meu esposo, em especial Rosaly e J os Ascncio, pelo apoio eadmirao; Aos meus adorveis cunhados paulistanos, J os Amrico Dias, Ana Lcia dos AnjosequeridaMarininha,pormeacolherememsuacasacommuito carinhoaolongodetodoestepercurso.Meumuitoobrigadaetodaminha considerao. Aos amigos queridos, Carla Martinelli, Creuza Ervolino, Suely Bonfietti, Paulo Alves Arajo, J ussara C. Zuim, Elizabete Fernandes, Rosngela Mello, Sergio EspiritoSanto,J ailtoBomfim,CarminhaAmaral,Elza,Myraci,J ooAntnio, Rafael Bellini, Pad e ao querido prof. J orge, pelas diferentes formas de apoio, solidariedadeecontribuiesprestadas,essenciaisparaarealizaodeste ideal. Todo o meu carinho, gratido; sminhasamigasSelniaSilviaWinttereMileneMariane,porteremme apontado este novo caminho. Aos meus colegas de trabalho, supervisores das Diretorias de Ensino de Santo Anastcio, Birigui e Araatuba, obrigada pela compreenso e colaborao; A toda a turma do Programa de Mestrado do ano de 2005, novos amigos, que ficaroguardadoscommuitocarinhonamemriaenomeucorao,como belos personagens da histria de minha vida. 7Aos Profs. Drs. J os Luis Vieira, J os Eustquio Romo, Marcos Lorieri, Esther Buffa, Maria da Glria Gohn pela retido de seus ensinamentos, competncia e seriedade de seus trabalhos. 8Agradecimentos Especiais Ao meu Orientador Prof. Dr. Gabriel Periss. Pelacompetnciaeseriedadenoexercciodesuafuno.Pelaretidode seusconhecimentosepelaformaequilibradacomoconduziumeutrabalho, respeitando,atodoomomento,aminhapessoaeasminhasidiasna elaborao deste estudo. Prof. Dr. Terezinha Azerdo Rios. Responsvel pela minha escolha por esta instituio e pessoa pela qual trago profunda admirao e respeito. Agradeo por ter acompanhado meu trabalho ao longo de todo este percurso atuando de forma direta e pontual, reforando minha grande admirao pela sua pessoa, grata pela generosidade. Muito Obrigada! 9RESUMO As relaes de conflito presentes no universo escolar nos dias atuais tm se tornado cada vez mais constantes. O que se presencia, hoje, na sala de aula, um desencontro de idias e ideais que muitas vezes traz para esse espao um cenriodesoladornoqualeducandoseeducadoresmaisparecem concorrentesmedindoforaepoder,sematentarparaosprejuzos educacionaisquetalsituaoproduz.Inmerossoosestudiosose especialistas em educao que tm se debruado sobre o assunto em busca deminimizarosdanosnaformaointegraldecrianasejovensoriundos desse contexto educacional. Nesse cenrio, este trabalho foi buscar na obra do educadorefilsofoespanholAlfonsoLpezQuintsoconceitodeEncontro, propondoumaanlisedasquestesligadassrelaesinterpessoaisno universoescolar,maisespecificamentenasaladeaula.Encontrose desencontros.Encantosedesencantos.Amizadeseconflitos.luzdo pensamentodeAlfonsoLpezQuints,esteenfoquedasrelaes interpessoais na sala de aula - encontros possveis, desencontros indesejveis - verificado na anlise do filme Mentes Perigosas. Palavras-chave:-Encontro;Relaesdocente/discente;SaladeAula;Conflitose Convivncia. 10ABSTRACT

The conflicts relations present in the school universe nowadays have became moreandmoreconstant.Whatwecansee,today,intheclassroomisa disagreementofideasandidealsthatbrings,somanytimes,tothisspacea desolatedscenerywherestudentsandeducatorsseemtobecompetitors measuring their strength and power, without paying attention to the educational damagesthatthissituationproduces.Innumerablearethestudiousand specialist of education who have leaned over backwards to this subject trying to diminishthedamagesontheintegralformationofchildrenandyoungpeople originated from this educational context. In this enviroment, this paper searched out on the Spanish educator and philosopherAlfonsoLpezQuintsswork,theconceptofEncounter, suggesting an analysis on issues related to the interpersonal relationships in the schooluniverse,morespecificallyintheclassroom.Agreementand Disagreements. Enchantments and disenchantments. Friendships and conflicts. ThoughtheviewofAlfonsoLpezQuintssthoughts,thisfocusonthe interpersonal relationships in the classroom - possible agreements, undesirable disagreements, is verified in the analysis of the movie Dangerous Minds. Keywords: Meetings;Relationsteacher/student;Classroom;Conflictsand coexistence. 11SUMRIO APRESENTAO.............................................................................................13 MEMRIAS DE UMA TRAJETRIA................................................................14 INTRODUO..................................................................................................23 O Problema da Pesquisa........................................................................26 Hiptese..................................................................................................26 Objetivo Geral.........................................................................................27 Objetivos Especficos..............................................................................27 Referencial Terico.................................................................................27 Metodologia Utilizada..............................................................................29 CAPTULO 1 A OBRA DE ALFONSO LPEZ QUINTS Alfonso Lpez Quints............................................................................34 Obras de Lpez Quints.........................................................................35 Lpez Quints e a Filmografia................................................................41 Lpez Quints no Brasil..........................................................................42 Pensamento Educacional........................................................................44

CAPTULO 2 O CONCEITO DE ENCONTRO E SUAS EXIGNCIAS O Conceito de Encontro..........................................................................47 As Exigncias do Encontro.....................................................................51 12CAPTULO 3 O ENCONTRO NO FILME MENTES PERIGOSAS A Anlise do Filme.................................................................................63 O Encontro com o Filme e no Filme Mentes Perigosas.........................65 CONSIDERAES FINAIS..............................................................................91 REFERNCIAS.................................................................................................97 ANEXOS..........................................................................................................104 13APRESENTAO Contextualizar em um trabalho acadmico histrias de nossa vida um exercciodeencontrofecundoentreopresenteeopassado,carregadode emoeseverdadesvividas,quetrazemtonaalgumasrespostasaos porqusdenossasescolhasaolongodessecaminharedosideaisque sonhamosrealizar!Talexerccioleva-nosaummundointeriorizado,emque finalmente somos capazes de justificar nossas escolhas e decises. Valho-me deste breve memorial para justificar o porqu da escolha pelo tema estudado nesta dissertao. Redigirumtextodetamanhasignificaopessoalsemesbarrarno universodasemoesseriacomosemearsempensarnabelezadofruto. Portanto, necessrio esmerar-se para que tal redao traga em seu contexto a competncia tcnica dos grandes escribas, aliada competncia emocional dos poetas e habilidade dos filsofos, capazes de viajar no tempo, no espao das idias e dos pensamentos, sem saudosismos. Ao compreender quem fui, justifico quem sou. 14 MEMRIAS DE UMA TRAJ ETRIA Aquele que no primeiro encontrofoiumaprendizfeliz,umaprendizfelizsempreser! Efeliz, cantar [...] a beleza de ser um eterno aprendiz 1 Meu Percurso Escolar: Um Caminho Feliz! Cheguei com apenas seis anos de idade ao Grupo Escolar RobertoClark,nacidadedeBirigui(SP),noqualfuiaceita,mesmotendo idade abaixo do permitido pela legislao ento em vigor e sem ter feito a pr-escola, ou o perodo preparatrio como se chamava na poca. Lfuieucomocoraodisparadoemumritmoqueeraummistode expectativas e temerosidade, acompanhada apenas pelas mos inseguras de minha irm que, naquele ano, cursaria o seu segundo ano primrio, pois minha me, tambm professora, dirigia-se escola onde trabalhava, para receber sua nova turma de alunos. Aescolaparecia-meenorme,cheiadedesafiosecaminhos desconhecidos. O ptio lotado de alunos, a maioria acompanhada pelos pais. A diretora no final da escadaria que levava s salas de aulas apresentava-nos os professores, seguindo a chamada dos alunos que deveriam acompanh-los em fila, at suas salas. Eu,comosolhosagitados,viaeouviatudoatentamente,cada movimento dos professores e dos alunos ao serem chamados, com receio de 1 GONZAGA J r. O que , o que . EMI Music Ltda, 1982. CD BIS. 15perderachamadaoudefazeralgoforadaregraestabelecida.Quantas dvidas... quanta ansiedade! Finalmente ouvi o meu nome! Que alvio! Atravessei o ptio, subi aquela enormeescadaria,quenopassavadeseteouoitodegraus,masqueme pareciainfinitaelviviumdosmaisbelosmomentosdeencontrosentre outros que trago na memria de minha infncia.Commuitocarinho,fuirecebidapelapessoamaravilhosadaProf. Matilde Amanta. Mais do que tolerante, e extremamente afetuosa, a prof. Matilde trazia emsuaatuaodocentecaractersticasquejulgofundamentaisemuma educadora:eragenerosa,paciente,sempredisponvelaoafetoeaum atendimentoindividualizado.Tinhaumacomunicabilidadequetranscendia qualquer possibilidade de barreira entre ela e seus alunos. Com cordialidade, demonstravaaltadosedesensibilidadeaomecolocarjuntosuamesa, proporcionando-meumaatenoespecial,poisasoutrascrianasdasala haviam passado pelo perodo preparatrio das pr-escolas e eu no. Educadora de destaque profissional, no municpio, frente de seu tempo em suas prticas pedaggicas, a todo o momento retomava os contedos que eu no trazia em meus conhecimentos prvios, sanando minhas dificuldades e defasagensdeaprendizagem.Tudocommuitocuidadoparanoferirmeus sentimentos nem deixar transparecer as minhas diferenas escolares perante a turma. Lembro-mecomriquezadedetalhesdosmomentosemqueasoutras crianas questionavam por que s eu sentava ali, perto da professora, e ela, 16com muito carinho, para no me expor perante os colegas, respondia que era por eu ser a menor da turma na estatura e na idade! E assim, eu seguia o meu caminho pelo mundo alfabetizado.Completo, sem dificuldades e muito feliz! Pelas mos da Prof. Matilde... Um verdadeiro caminho suave! Um verdadeiro entrelaamento da mais alta significao. Acredito que realmente existem professores que fazem a diferena em nossas vidas. E esta professora assim o fez, em todo o resto do meu percurso escolar,poisfoicapazdeestabelecerumencontroentrens,node dependncia,masdeconfiana,desegurana,defirmezaaocaminhar, resultando em firmeza no prosseguir. Nofinaldoanoletivo,conclumeusestudosnomesmonvelde alfabetizao de todos os alunos da classe. Prosseguindo para a segunda srie primria, feliz e segura, acompanhando toda a turma sem nenhuma distino, porm, com muita tristeza em ter que abrir mo daquela figura to doce.Hoje, penso que talvez tenha sido ali, na minha primeira srie primria, queinconscientementedecidiqueseriaprofessora.Eprofessora alfabetizadora! Nestemesmocontexto,prosseguiportodoomeupercursoescolar. Sempretiveafelicidadedeterprofessoresdeboaqualidade,deatitudes voltadasparaoencontroederelaesinterpessoaisaluno/professor,que coadunamcomasconcepesdeAlfonsoLpezQuints,queestaremos demonstrando nos prximos captulos, como tema de estudo deste trabalho. Filhadeumatambmbrilhanteprofessoraalfabetizadora,tivetodaa sortedepossibilidadesdaaprendizageminformaldentrodomeuprpriolar, medianteocomprometimentoeadedicaodaquelame/educadoraque 17atuava em seu dia-a-dia com o entusiasmo dos que realmente querem realizar, fazendo a diferena! Ao concluir meu segundo grau, hoje ensino mdio, tive a possibilidade de fazer escolhas nos mais variados campos de estudo. Entretanto, busquei o Magistrio, por opo, pelo desejo de ser professora alfabetizadora. Meuspais,pessoasquevalorizammuitoaEducao,oferecerams suas trs filhas possibilidades de prosseguirem seus estudos na rea em que desejassem, porm, minha me fez toda a diferena em nossas escolhas. Minhasirmstornaram-seprofessorasdasLicenciaturasdeHistriae Geografia e eu me realizei como Professora Alfabetizadora. Quando conclu o Magistrio, logo comecei a atuar como professora em classes de 1 srie do Ensino Fundamental, e tinha que abrir os caminhos do mundo alfabetizado quelas crianas que ali estavam com os olhos cheios de expectativas e aquele mesmo olhar apreensivo que vivi nos meus seis anos de idade! Nessa etapa de minha atuao profissional, tive somente momentos de alegriaedeextremarealizao.PartientoparaocursodePedagogia,em que estaria validando definitivamente a minha escolha profissional inicial. Conclu a Faculdade, concomitante com a atuao em salas de aulas de alfabetizao.Logodepoisfuiaprovadaemumconcursopblicopara professores do Ciclo I, do Ensino Fundamental da rede estadual de ensino de So Paulo. Perodo da maior importncia em minha vida, pois a alegria de iniciar na carreira to sonhada culminava com a alegria extrema da maternidade.A chegada do meu primeiro e nico filho! 18Vitor Luis! Razo de minha existncia! Enquantoisso,l,naescola,meusalunosatodoomomentome acolhiam,e,juntos,fundvamosmomentosdeencontrosverdadeirosdeque hoje me resultaram alguns afilhados, e apadrinhamentos matrimoniais. Atuandocomoalfabetizadoraporalgunsanosnamesmaunidade escolar,recebioconviteparaexerceraliafunodevice-diretora.Eassim prosseguiportrsanos,oportunidadeemquemebeneficieicoma possibilidade de um novo olhar, no s como educadora, mas tambm quanto s relaes que se estabelecem em um universo escolar, para alm da sala de aula.Nesta etapa, passei a conhecer tecnicamente as questes burocrticas e administrativas da educao e o funcionamento de um espao de uma escolamuito diferente do espao pedaggico ao qual eu estava habituada.Apsalgunsanosatuandocomogestora,fuiescolhidapelocorpo docenteepeloconselhodaquelaescolaparaatuarcomoCoordenadora Pedaggica da Unidade. Aceitei imediatamente, pois estaria assim retornando minha atuao profissional focada para o espao pedaggico da escola, com o qual sempre tive maior afinidade e onde me sentia mais vontade.Experinciariqussimaemminhavidaprofissional,emvirtudedeser essaumafunoqueexigemuitoestudo,muitasreuniesemgrupos diferenciados,muitastrocasdeexperinciascomdiferentesgrupos profissionais, fato que ampliou, no s o meu olhar educativo e meu universo deconhecimento,comotambmasminhasinquietaes,estimulando-mea buscar o primeiro curso de ps-graduao Lato Sensu. 19Paralelamente a tudo isso, ao longo desses anos, sempre fiz todos os cursos oferecidos pela Secretaria da Educao ou particulares, como cursos de atualizaoeaperfeioamentodecurtadurao,embuscaderespostass minhas inquietaes, nos mesmos focos:- as questes ligadas alfabetizao e aquisio da leitura e da escrita tanto de crianas como de jovens e adultos; -asquestesligadassrelaesinterpessoaisqueseestabelecemno universoescolar,maisespecificamentenasaladeaula.Encontrose desencontros. Encantos e desencantos! Convivncia e conflitos. ComoCoordenadoraPedaggica,tiveaoportunidadedevivenciar momentosmuitoprodutivosparaaminhaatuaoprofissional,somatriode conhecimentosnasmaisdiversasreasligadassquesteseducacionaise principalmente nas questes reais das prticas pedaggicas que acontecem no cotidiano de um universo escolar. Aps trs anos como Coordenadora Pedaggica, fui aprovada em um concurso pblico da rede estadual paulista de ensino, para o cargo de Diretor de Escola. Nesse momento, acabei por ingressar em um universo educacional totalmentedesconhecidodetudooquehaviavividoemminhacarreiraat ento. Fuitrabalharemumaescolaenorme,queatendiaemmdiaamile quinhentosalunosdeEnsinoFundamentaldeCicloIIedeEnsinoMdio. Acolhiaaproximadamente60profissionais,entreprofessoresefuncionrios, enfim... Tudo muito diferente de minha prtica anterior em termos pedaggicos, administrativos e, principalmente, no campo das relaes interpessoais dentro da escola. 20 Perododemuitocrescimento,etambmdeinseguranaedvidas, mas,sobretudo,umperododegrandeamadurecimentoprofissional.Porm minhas antigas inquietaes naquele universo se maximizavam dia a dia.Aps trs anos exercendo o cargo de Diretor de Escola, fui aprovada em outroconcursopblicodaredeestadualdeensino,dessavezcomo Supervisora Regional de Ensino. A, sim, pude ter uma viso maior das questes educacionais.Nesseuniversomacro,pudeconstatarqueasinquietaesqueme afligiaml,naquelemicroorganismodaminhasaladeaula,comoprofessora alfabetizadora, e que, depois se reafirmaram como diretora de escola, seriam as mesmas em toda e qualquer escola. Atuandonesseuniverso,presencia-secotidianamenteque,apesardas diferenasepeculiaridadesdecadaescola,apresenadeumnicoponto comum em todas elas no h como passar despercebida. Trata-se da questo dasrelaesinterpessoaisaluno/professornoespaodasaladeaula,das relaes de encontros e desencontros. Efoinessecenrioquesentinecessidadedepesquisarmais.Decidi buscar novas possibilidades de estudo. No sa em busca de culpados, de respostas ou receitas milagrosas que pudessem reverter todo esse cenrio, e sim de estudos e fundamentos que me fizessementend-lomelhor,paraproporintervenesmaisadequadass especificidades de cada realidade escolar. Iniciei minhas buscas por Programas de Ps-graduao e encontrei em duasamigas,SelniaeMylene,oprimeiroimpulsoeumgrandeapoioem forma de orientaes sobre como e por onde comear. 21Fui selecionada em dois Programas de Ps-graduao StrictoSensu: na cidade de Campo Grande (MS) e no Programa da UNINOVE (SP). Ambos propunham enormes desafios em virtude da grande distncia entre minha residncia e essas duas Instituies. Pensei em desistir. Porm, minhas inquietaes falaram mais alto, e com um forte apoio de minha famlia decidi que iria prosseguir. Optei por prosseguir no programa da UNINOVE. Afinal, faz parte de seu corpodocenteaProf.Dr.TerezinhaAzerdoRios,pessoapelaqualguardo profundaadmiraoet-lacomomestre,eraumgrandesonho.Logo,no poderia perder a oportunidade. Tinhamuitoaaprender,muitoaentenderdeformamaisaprofundada sobreasquesteseducacionais,masoquebuscavamesmoeram aprofundamentosterico-filosficosquemefortalecessemparacompreendere saberlidarmelhorcomosconstantesconflitosedesencontrosdouniverso escolar. A escola, hoje, se tornou uma instituio acolhedora de todos os tipos deproblemasedesarranjossociaiscomosendooterritriomgicoqueir solucionar as inmeras conseqncias negativas no campo social resultantes docapitalismo,este,propositordetantasdiferenassociaisaumagrande camada da sociedade que depende da gesto pblica para atend-la em suas necessidadesbsicaseemseusdireitossubjetivos,comoodireitoauma educao de boa qualidade, por exemplo. Nessecenrioeducacionalvivido,atodoomomentodeparamoscomprofessoresque,emsuagrandemaioria,atuamapenascomoprofissionais formados para assumir um papel de transmissores de contedos curriculares. 22Resistentes a um novo perfil de educador, muitos deles no incorporam as palavras de Moacir Gadotti de que, [...] A docncia, como aprendizagem da relao,estligadaaumprofissionalespecial,umprofissionaldosentido, numaeraemqueaprenderconvivercomaincerteza[...](GADOTTI.2003,p.22). Atuando h vinte anos em diferentes escolas e diferentes regionais de ensino da rede pblica estadual de So Paulo, dos quais catorze deles como gestora, pude constatar in loco que, infelizmente, esse tipo de situao vem se agravandocadaveznessaltimadcada.Oinstrucionismoinsuficiente perante os atuais desafios educacionais. Ouso dizer que a impresso que nos causa tal cenrio que realmente o professor perdeu o encantamento pelo exerccio de sua funo primeira: a de formao. O que se presencia, hoje, na sala de aula um desencontro de idias e ideaisquemuitasvezestrazparaouniversodasaladeaulaumcenrio desoladoremqueeducandoseeducadoresmaisparecemconcorrentes, medindoforaepoder,sematentarparaosprejuzoseducacionaisquetal situao produz.Nestebrevefragmentodeminhasmemriasdistanteserecentes, registradasemminhaformaoacadmicaeatuaoprofissional,expe-se umpoucodasminhasinquietaesquantosrelaesinterpessoaisno universo escolar, mais especificamente na sala de aula, que me impulsionaram a chegar at aqui, nesse Programa de Mestrado em Educao. Eis a origem dosmeusestudos,ouseja,osencontrospossveiseosdesencontros indesejveis numa sala de aula. 23INTRODUO Ao longo de minha formao acadmica, como aluna, tive oportunidades distintasdeconvivercomprofessoresatuandodasmaisvariadasformase estilos em se tratando das relaes interpessoais docente/discente, no espao da sala de aula. Concludaaminhaprimeiraformao,mudandodacondiodiscente paradocentee,emumoutromomento,comogestoradeescolas,esses espaosdeconvivnciaampliaram-se,oquemepossibilitouobservareter contatoscomdiversasformasdeatuaodocentee,principalmente,comas relaes que se estabelecem entre professor e aluno no universo escolar. comumobservarmosnasescolaspblicasdaredeestadualdeSo Paulo situaes de conflito entre professores e alunos, por falta de uma melhor comunicao entre eles, ou seja, de uma tentativa de encontro ou de estabelecer uma relao dialgica. s vezes, o conflito se estende ao longo de todo um ano ou mais de escolaridade, por razes pequenas que facilmente seriam superadas se o professor conduzisse o dilogo de outra maneira. Observa-semuito,nosdepoimentos,nosrelatosdeprofessorese, ultimamente, nas pesquisas divulgadas pelos vrios instrumentos miditicos, os entravesexistentesnasrelaesinterpessoaisdocente/discente,nassalasde aula e as dificuldades que os professores enfrentam na conduo de suas aulas e na transmisso dos contedos curriculares. Entraves que muitas vezes culminam em agresses verbais e fsicas. 24Portodasasescolasemqueatuei,constituindominhaformao profissionaldepedagoga,muitomeintrigavamasformascomoalguns professores se relacionavam com seus alunos.Havia sempre dois grupos com formas de atuao opostas. Umgrupodeprofessoresqueserelacionavacomseusalunosde maneiraharmoniosaeque,medianteodilogo,eracapazdeconseguiro respeitodaclasseeestabelecerumarelaopacficaeprodutiva,naqualo alunoerasempreobeneficiado,poisdestaforma,numprocessonatural,os resultados em sua aprendizagem tambm eram mais satisfatrios. Eoutrogrupodedocentesqueatuavamcomoseestivessempronto parasofrerumataque,semprenadefensiva,avessosaodilogo, cordialidade, impondo barreiras entre eles e seus alunos. No se trata aqui de um olhar focado apenas nas relaes de ensino e aprendizagem entre professor e aluno. Trata-se de um olhar para o espao da sala de aula como um todo. Afinal, muitos desses professores revelam em sua atuao o conhecimento profundo dos contedos a serem ensinados aos seus alunos, ou seja, dominam muito bem a tcnica, porm, sua relao tecnicista com os alunos acaba se tornando um dificultador da aprendizagem.ConformeRios,emtodaaodocente,encontram-seumadimenso tcnica,umadimensoticaepoltica,umadimensoestticaeuma dimensomoral(RIOS,2003,p.93).Equandosetemumprocesso pedaggicoemquenohvinculaoentreelas,adocnciaseconduzde forma desarticulada do contexto social. E o que se v um processo de ensino sem aprendizagem, gerando um clima de desencontro entre professor e alunos que resulta em um sentimento 25de frustrao em ambos, o qual, acredito eu, seja um dos fatores responsveis pelo nmero excessivo de conflitos ocorridos na sala de aula nos dias de hoje. Muitos de nossos educadores ainda no se deram conta de que nos dias de hoje, o professor no o nico detentor do conhecimento, a nica fonte de informao para seus alunos. Eafalarecorrentenessecenrioumdiscursotrazidopelos professores carregado de saudosismos, angstias e frustrao no exerccio da funo,colidindocomumdiscursodesmotivado,recheadocompalavrasde desinteresseemrelaoaosestudosesquesteseducacionais,eainda falta de perspectivas desses jovens de um futuro melhor via escola. Neste contexto, iniciei minha pesquisa, focada na questo das relaes interpessoais em sala de aula entre professor e alunos. Quando esta relao sefundaapenasnadimensotcnicadocentetorna-sepontuadapor desencontros e constantes conflitos. Da a possibilidade de que, aprofundando no conceito de Encontro elaborado por Lpez Quints, seja possvel repensar essas relaes e vislumbrar um novo cenrio educacional. 26 O PROBLEMA DA PESQUISA Inicialmente, o problema a ser analisado nesta dissertao as relaes interpessoais no universo escolar da sala de aula: encontros e desencontros caberiaaocampodasquestesticaseestticasprofissionais,ligadas formaodocente,formaopessoal,masprincipalmenteformao acadmica. Aps muitos estudos e leituras, encontrei um novo foco para anlise de taissituaes:ofocodasrelaesdeencontrosedesencontrosentre professoresealunoseasrelaesinterpessoaisqueseestabelecementre elesnouniversodasaladeaula,esuasimplicaescomopropositorasdo encontro com o conhecimento ou no. Nessesentido,busqueiconhecerasdiversasteoriasemrelao convivnciaemsaladeaula,sabendoquetalconvivnciaentreprofessore aluno leva a resultados positivos do ponto de vista do aprendizado. Decidi adotar como categoria para analisar este problema o conceito de Encontro, formulado pelo pensador espanhol Alfonso Lpez Quints. HIPTESE A hiptese desta dissertao a de que a compreenso do conceito de encontro, segundo Alfonso Lpez Quints, possa contribuir para uma reflexo sobre as relaes interpessoais em uma sala de aula. 27OBJETIVO GERAL Oobjetivogeraldestadissertaoverificarteoricamenteemque medidaoconceitodeEncontrosegundoLpezQuintspossibilitaacompreenso da melhor forma de conduzir as relaes interpessoais em sala de aula. OBJETIVOS ESPECFICOS Para alcanar meu objetivo geral, estabeleci dois objetivos especficos: -definirecaracterizaroEncontroesuasexignciasnaconcepode Alfonso Lpez Quints, e -averiguaraeficciadoEncontroassimcaracterizadomediantea anlise do filme Mentes Perigosas. REFERENCIAL TERICO Em busca de um referencial terico, deparei com inmeros autores que descrevemeestudamascondiesnecessriasparaobomandamentodas relaesinterpessoaisemsaladeaula.Procurava,noentanto,umaabordagem filosfica,queultrapassasseoslimitesdasprticasescolares,dadidticaouda psicologia. Tive a oportunidade de conhecer uma nova definio conceitual para a palavraencontro.Trata-sedoconceitodeEncontroelaboradopelopensador espanhol Alfonso Lpez Quints. Lpez Quints dedica boa parte das suas reflexes a analisar a essncia doEncontro,definindocomclarezasuasexignciasefrutos.Demonstra,por exemplo,queoEncontrofazoserhumanodesenvolverseupodercriador, 28outorgando-lheenergiaespiritual,levando-omaturidade.J nessasprimeiras resignificaesdapalavraencontro,identifiqueiumacategoriadeestudo apropriada para os objetivos deste trabalho. LpezQuintsfazverque,exercitando-nosnaartedoEncontro, cumprindosuasexigncias,ecolhendoseusfrutos,descobrimosoautnticoideal da vida. A linguagem e o silncio so veculos do Encontro, o que extremamente relevante quando pensamos nas relaes interpessoais em sala de aula. O dilogo elemento-chave para cumprir aquelas exigncias.ConhecendoumpoucomaissuaobraIntelignciaCriativa,descoberta pessoaldevalores(2004)2,tiveclarezadesetratardeumfilsofohumanista, preocupado com as questes ticas e estticas da atualidade, e com a maneira pela qualosjovenseosprofessoreslidamcomessasquestesnouniversoescolar. Questes essas que trago como inquietao desde que iniciei em minha profisso de educadora. ParacompreenderoconceitodeEncontrodeLpezQuints,foi necessrioapreendercategoriascomo:mbito,experinciasreversveis,vertigem, xtase, entusiasmo, entre outras. Alm disso, e tal caracterstica muito importante no contexto desta dissertao, ao explicar esses conceitos, Lpez Quints reporta-se concretude das obras artsticas como romances, poemas, contos, esculturas e filmes,oqueextremamenteatualeadequadomentalidadecontemporneae principalmenteumimportanterecursometolgicoafavordoseducadoresna formao de crianas e jovens.O autor adota um procedimento de leitura de obras literrias e artsticas propondo que o leitor/espectador entre em dilogo com a obra apreciada, de forma 2 Lpez Quints, Alfonso. Inteligncia Criativa: descoberta pessoal de valores. So Paulo: Paulinas, 2004. 29que observe a obra de maneira sucinta, com um primeiro olhar sobre o que est em evidnciaeaospoucosvaprofundandoesseolhardeformatal,queentreem contatocomaobraapontodedialogarcomasinmerasexperinciashumanas profundas que esta representa. Lpez Quints aponta a literatura como uma lio de vida a qual crianas e jovens devam ter acesso de forma orientada para a reflexo dos temas nela contidos. Assistindo a um filme que traz experincias humanas, sob a orientao de um educador que os conduza reflexo, aprendem a ler o filme e a ler a vida. Sabendo ler a vida, tornam-se capazes de prever as conseqncias de seus atos. Apropostadeumaleiturareflexivadeobrasliterrias,dasvariadas formas artsticase ainda a nfase que Lopez Quints traz sobre o poder formador docinema,emsuasobras,atendesminhasexpectativasnaelaboraodesta dissertao.AescolhadofilmeMentesPerigosasatendeaessadinmicado pensamento de Lpez Quints. J ustificoassimaintenodedesenvolvermeusestudosapoiadano pensamentodeAlfonsoLpezQuints,utilizandoaanlisedeumfilmepara constatar, de modo esttico, a contribuio que o conceito de Encontro, devidamente assimilado,possatrazerpararepensarmosasrelaesinterpessoaisemsalade aula. A METODOLOGIA UTILIZADA Ametodologiacaminhoaserseguidoparasechegaraumfim.Ou, ainda, instrumento possibilitador para se chegar a esse fim: 30Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prtica exercida na abordagem da realidade. Nesse sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e est sempre referida a elas. Dizia Lnin (1965) que o mtodo a alma da teoria(p. 18), distinguindo a forma exterior com que muitas vezes abordado tal tema(como tcnicas e instrumentos) do sentido generoso de pensar ametodologiacomoarticulaoentrecontedos,pensamentose existncia. (MINAYO(Org.),2004. p.16) Pretendoaolongodestetrabalho,refletirsobreasrelaes interpessoaisemsaladeaulaluzdoconceitodeEncontro.Numsegundo momento, a anlise do filme Mentes Perigosas possibilitar constatar a relevncia desta minha reflexo. Reforo que a opo em desenvolver este estudo mediante a anlise de umfilme,deve-seaopressupostodequeaartetornavisvelaquiloque procuramos explicar teoricamente. A narrativa flmica possui alguns recursos que possibilitaaumpblicoheterogneorefletirsobreasquestessociaisali representadas de forma ldica.Acreditonagrandeinflunciaqueocinemaexercenasociedade contempornea, quando este, nos contextos de seus enredos, permite transportar aopblicoqueoassisteashistriasdavidahumana,conflitos,alegrias, frustraes,sonhos,perdas,ganhos,conquistas,derrotasenfim...Paraalmdo entretenimento,existeapossibilidadedequeoespectadorentrenahistria, envolva-se com os personagens, analise e reflita sobres suas aes, avaliando-as comopositivasounegativas,resultandonaelaboraodeumconceitoprprio sobre os dramas apresentados na tela cinematogrfica. [...] tomando os filmes que tratam de escola e que tm o professor comoprotagonista,podemosdecertomodorecolherinformaes sobre as representaes sociais sobre a escola, ou o que aqui para ns d na mesma, como o imaginrio social representa a escola e a atividadedocente.[...]Alinguagemcinematogrficapossuialguns recurso,digamosassim,quepermitemqueessasrelaesentre 31filmeseimaginriosocialseefetivem.(MORAES,hottopos.com, 2007.p.1e 2) Utilizar cenas de filmes est de acordo com as idias de Alfonso Lpez Quints, autor referncia deste estudo. Para tanto, fui buscar em Mara ngeles Almacellas Bernad, seguidora das idias e teorias de Lpez Quints, os critrios de leitura definidos em um roteiro especfico para a anlise de filmes. Marangelesadotaemsuaaodeformadoraousodasobras literrias com muita propriedade e relata que obtm excelentes resultados, e que muito se utiliza da filmografia como um forte recurso para trabalhar as relaes de Encontro,odilogoeoutrosconceitosfundamentaisnaformaodecrianase jovens. A Professora Mara ngeles esclarece que medida que as crianas e jovens vo se aprofundando nos temas dos filmes vo realizando descobertas e que o papel do educador nesse momento deve ser o de um mediador que conduza as reflexes do grupo, sem imposies. Sem dar repostas prontas entre o certo e o errado em relao s atitudes e experincias humanas apresentadas no filme. O professor apenas oferece fundamentao terica aos fatos e lana questes que levem os alunos a uma atitude reflexiva. A autora esclarece que adota alguns critrios de leitura definidos em um roteiroespecficoparaaanlisedosfilmesosquaisseutiliza,capazdelevaro leitorarelacionar-secomaobrademaneiraqueestalhesirvacomoanlise reflexiva de suas atitudes pessoais e interpessoais. Paraodesenvolvimentodestetrabalho,recorremosaMarangeles, apropriando-nosdoroteirodefinidoporela,estabelecendo-ocomoinstrumento metodolgico de leitura e anlise do filme selecionado para este estudo. Qual seja: 32 - Ficha Tcnica; - Tema do Filme; - Valores que aparecem no filme; - Objetivos Formativos; - Estrutura do filme; - Sinopse; - Experincias humanas profundas presentes no filme. - Cenas relevantes ao estudo -Interpretaodascenas,articulando-asaosobjetivospropostospara este trabalho.

Por esses caminhos, comecei a utilizar a filmografia como ferramenta de anlise e compreenso de conceitos, pois a mesma contm um universo rico em conhecimentosreunidossobredeterminadosassuntos,idiaseimagensque concebemosdomundooudenossasrepresentaessociaisetrazainda inmeros recursos e vias de interpretao, que nos permite uma relao entre o imaginrio social e a realidade vivida socialmente. Estadissertaoestestruturadaemtrscaptuloseconsideraes finais e anexos. O primeiro captulo apresenta o Prof. Dr. Alfonso Lpez Quints, e suas obras, em especial aquelas que serviram de suporte terico para este estudo. OsegundocaptulotrazacategoriaEncontroelaboradaporAlfonso Lpez Quints: o conceito de Encontro, suas exigncias e frutos. 33O terceiro captulo apresenta a anlise do filme Mentes Perigosas, com basenoroteirodeanlisepropostoeutilizadoporMariangelesAlmacellas Bernad, seguidora das idias e teorias de Lpez Quints. Nasconsideraesfinais,procurorealizaraarticulaoentrea concepo de Encontro de Lpez Quints e a anlise da narrativa flmica. 34CAPTULO 1 A OBRA DE ALFONSO LPEZ QUINTS Neste captulo, trago uma breve biografia do autor, suas obras e, ainda, consideraes a respeito de alguns conceitos filosficos encontrados na obra de AlfonsoLpezQuints,essenciaisnodesenvolvimentodestetrabalhocoma inteno de situar o leitor no contexto das idias aqui presentes. ALFONSO LPEZ QUINTS AlfonsoLpezQuints.Filsofopedagogoe professor espanhol. Nascido em 21 de abril de 1928 em Santiago de Franza(LaCorua),doutorou-seemFilosofiapela UniversidadedeMadrid,ampliandoseusestudosem Colnia, Munique (Alemanha). Catedrtico de filosofia na Universidade Complutense,ministrou aulas de filosofia na Universidade de Madri.Em 1983, fez parte do Comit Executivo da Federao Internacional de Sociedades de Filosofia. Seunomealcanourelevnciapblicaapartirde1996,pelagrande difuso do Livro dos Valores, a coleo de textos que publicou junto com Gustavo Villapalos, reitor da Universidade Complutense de Madri. 35membrodaRealAcademiadeCienciasMoralesyPolticas(desde 1986),eresponsvelporumcursodeformaoticaparadocentespromovido peloMinistriodaEducaodaEspanha(desde2001).tambmfundadordo projeto educativo Escuela de Pensamiento y Creatividad. (Escola de Pensamento e Criatividade), em que, tendo em vista a formao para pensar com rigor e viver de forma criativa, aplica os resultados de sua pesquisa metodolgica a questes ticas e existenciais.Autordemaisde40livrossobrefilosofia,linguagem,tica,estticae pedagogia, nos quais se nota a influncia de grandes pensadores como Romano Guardini, Karl J aspers, Gabriel Marcel, Martin Heidegger e Martin Bubber.O autor teve ainda, confiado a sua pessoa, o primeiro curso on-line do Vaticano. Suasobrasprincipais:MetodologiadeLoSuprasensible(1963), RomanoGuardiniyLaDialcticadeLoVivente(1966),DiagnosisDelHombre Actual(1966),HaciaunEstiloIntegralDelPensar(1967),Pensadorescristianos contemporneos(1968),FilosofiaEspaolaContempornea(1969),(Diccionario BiogrficoEspaolContemporneo,CrculodeAmigosdeLaHistoria,Madrid 1970,vol.2,pg.937.)eolivroIntelignciaCriativaDescobertaPessoalde Valores Brasil, So Paulo, Editora Paulinas (2004). OBRAS DE LPEZ QUINTS O autor tem consagrado boa parte de seus escritos ao sugerir a melhor formadeeducarosjovensemcriatividadeevalores.Suasobrastrazemna essnciaoamorhumano,asrelaesdeencontrosfecundoscomoformasde 36elevao e crescimento pessoal, o sentido e a grandeza da vida, a formao tica, esttica e criativa, a importncia das obras literrias como fonte de reflexo para a formaodosjovens.Enfim,LpezQuintsescrevedeformaadeixarclaroa importncia de no deixarmos nos levar por idias superficiais ou inconsistentes e indevidas. precisoformularteoriasquesejamsrias,fecundasebem fundamentadas quando se escreve sobre valores e conceitos ligados a formao humana integral, teorias possveis de se encontrar nas seguintes obras do autor: El Amor Humano, Su Sentido Y Su Alcance (O Amor Humano. Seu Sentido E Alcance) (1LivroE12FitasGravadas)Edibesa,Madrid1994,3Ed.,256Pgs. Verso Brasileira: O Amor Humano. Seu Sentido E Alcance, Editora Vozes, Petrpolis, 1995. Verso Russa: Moscou, 1993. El Arte De Pensar Con Rigor Y Vivir De Forma Creativa (A Arte De Pensar Com Rigor E Viver De Forma Criativa) Associao Para O Progresso Das Cincias Humanas, Madrid, 1993, Doze Fitas De Vdeo. Cinco Grandes Tareas De La Filosofia Actual (Cinco Grandes Tarefas Da Filofofia Atual ) Gredos, Madrid, 1977; 342 Pgs. Como Formarse En Etica A Traves De La Literatura (Como Formar-Se Em tica Atravs Da Literatura) Rialp, Madrid 1994, 348 Pgs. (Remodelao Da Obra Anlisis Estetica De Obras Literarias, Narcea, Madrid 1982). Cmo Lograr Una Formacin Integral (Como Obter Uma Formao Integral) UmtimoModoDeRealizarAFunoTutorial,Ed.SanPablo,Madrid 1996, 1997, 2 Ed. Verso Brasileira, Em Processo De Impresso. El Conocimiento De Los Valores (O Conhecimento Dos Valores) Verbo Divino, Estella 31999; 140 Pgs. Verso Inglesa: The Knowledge Of Values, University Press Of America, Washington 1989. Cuatro Filsofos En Busca De Dios. La Fe En Alza (Quatro Filsofos Em Busca De Deus. A F Em Alta) Rialp, Madrid 1989, 2003, 4 Ed., 213 Pgs. Descubrir La Grandeza De La Vida (Descobrir A Grandeza Da Vida) Verbo Divino, Estella 2003. Diagnosis Del Hombre Actual (Diagnose Do Homem Atual) 37Guadarrama, Madrid 1966; 102 Pgs. La Cultura Y El Sentido De La Vida (A Cultura E O Sentido Da Vida) Ppc, Madrid 1993; 235 Pgs.; Edio Remodelada, Rialp 2003. La Defensa De La Libertad En La Era De La Comunicacin (A Defesa Da Liberdade Na Era Da Comunicao) Ppc, Madrid 2004. El Encuentro Y La Alegra (O Encontro E A Alegria) Ed.SanPablo,Madrid2001.VersoEmudioCassete:Exerccios Espirituais, San Pablo, Madrid 1999. El Encuentro Y La Plenitud De La Vida Espiritual (O Encontro E A Plenitude Da Vida Espiritual) Publicaes Claretianas, Madrid 1990; 294 Pgs. El Espritu De Europa. Claves Para Una Reevangelizacin (O Esprito Da Europa. Chaves Para Uma Reevangelizao) Editora Unio, Madrid 2000, 263 Pgs. Estetica De La Creatividad. Juego. Arte. Literatura (Esttica Da Criatividade. J ogo. Arte. Literatura) EdiesCtedra,Madrid1978;PromoesPublicaesUniversitrias, Barcelona 1987, 2 Ed.; Rialp, Madrid 1998, 3 Ed., 494 Pgs. Esttica Musical. El Poder Formativo De La Msica. (Esttica Musical. O Poder Formativo Da Msica.) Rivera Editores, Valencia 2005, 302 Pgs. Estrategia Del Lenguaje Y Manipulacin Del Hombre (Estratgia Da Linguagem E Manipulao Do Homem) Narcea, Madrid 1979, 1980, 2 Ed.; 1988, 4 Ed.; 304 Pgs. Las Experiencias De Vrtigo Y La Subversin De Valores (As Experincias De Vertigem E A Subverso De Valores) Madrid 1986; 72 Pgs. Filosofa Espaola Contempornea (Filosofia Espanhola Contempornea) B.A.C., Madrid 1970; Xi+719 Pgs., Esgotada. La Filosofa Y Su Fecundidad Pedaggica (A Filofofia E Sua Fecundidade Pedaggica) Revista Estudos, Madrid 2003. La Formacin Para El Amor. Tres Dilogos Entre Jvenes (A Formao Para O Amor. Trs Dilogos Entre J ovens) Edit. San Pablo 1995. Verso Brasileira: A Formao Para O Amor, Paulus, San Pablo, 1998. La Formacin Por El Arte Y La Literatura (A Formao Pela Arte E A Literatura) Rialp, Madrid 1993; 170 Pgs. Hacia Un Estilo Integral De Pensar, Vol. I. Esttica (Acerca De Um Estilo Integral De Pensar, Vol. I. Esttica) Editora Nacional, Madrid 1967; 324 Pgs. 38Hacia Un Estilo Integral De Pensar. Vol. Ii. Metodologia Y Antropologia (AcercaDeUmEstiloIntegralDePensar.Vol.Ii.MetodologiaE Antropologia) Editora Nacional, Madrid 1967; 359 Pgs. Inteligencia Creativa. El Descubrimiento Personal De Los Valores (Inteligncia Criativa. O Descobrimento Pessoal Dos Valores) Bac, Madrid 1999, 2 Ed.; 2002, 3 Ed. (Remodelao Da Obra A Arte De PensarComRigorEViverDeFormaCriativa,AssociaoParaO Progresso Das Cincias Humanas, Madrid 1993, 1 Livro-Guia E 12 Fitas De Vdeo). EdioBrasileira:IntelignciaCriativaDescobertaPessoalDe Valores, Edies Paulinas, Nov. 2004.

Los Jvenes Frente A Una Sociedad Manipuladora (Os J ovens De Uma Sociedade Manipuladora) San Po X, Madrid 1985, 1991, 2 Ed.; 162 Pgs. La Juventud Actual Entre El Vrtigo Y El xtasis (A J uventude Atual Entre A Vertigem E O xtase) Cinae,BuenosAires1981,162Pgs.;Narcea,Madrid1982,2Ed.,175 Pgs., Publicaes Claretianas, Madrid 1993, 3 Ed., 242 Pgs. Liberdade E Manipulao Valadares 1991; 140 Pgs. El Libro De Los Valores (O Livro Dos Valores) (GustavoVillapalosYAlfonsoLpezQuints),Planeta-Testimonio, Barcelona 1996, 2002. Liderazgo Creativo (Liderana Criativa) Nobel, Oviedo 2004. Literatura Y Formacin Humana (Literatura E Formao Humana) Ed.SanPablo,Madrid1997.(SegundaEdioRemodelada,DaObra AnlisisLiterarioYFormacinHumanstica,EscolaEspanhola,Madrid 1986; 189 Pgs.). La Manipulacin Del Hombre En La Defensa Del Divorcio (A Manipulao Do Homem Na Defesa Do Divrcio) Ao Familiar, Madrid 21981, 82 Pgs. Manual De Formacin tica Del Voluntario (Manual De Formao tica Do Voluntrio) Ed. Rialp, Madrid 1998, 1999, 2 Ed. Metodologa De Lo Suprasensible, Vol. I. (Metodologia Do Supra-Sensvel, Vol. I) Descubrimiento De Lo Superobjetivo Y Crisis Del Objetivismo (Descobrimento Do Superobjetivo E Crise Do Objetivismo) Editora Nacional, Madrid 1963; Xv +633 Pgs. Necesidad De Una Renovacin Moral Edicep, Valencia 1994, 204 Pgs.; Consudec, Buenos Aires, 2002. Obras Literarias De Hoy (Obras Literrias De Hoje) 39Editorial Ccs, Madrid 1982 (Folheto Explicativo E Oito Fitas Gravadas). El Pensamiento Filosfico De Ortega Y Dors (O Pensamento Filosfico De Ortega E Dors) Guadarrama, Madrid 1972; 434 Pgs. El Poder Del Dilogo Y Del Encuentro (O Poder Do Dilogo E Do Encontro) Bac,Madrid1997.(ReelaboraoDaObra,J Esgotada,Pensadores Cristianos Contemporneos: Haecker, Wust, Ebner, Przywara, Bac, Madrid 1968; Xvi +406 Pgs.) El Poder Transfigurador Del Arte (O Poder Transfigurador Da Arte) Promesa, Costa Rica 2003. LaRevolucinOculta.ManipulacinDelLenguajeYSubversinDe Valores (A Revoluo Oculta. Manipulao Da Linguagem E Subverso De Valores) Ppc,Madrid1998.(RemodelaoDaObraElSecuestroDelLenguaje, 1992, 2 Ed., Esgotada). Romano Guardini Y La Dialectica De Lo Viviente (Romano Guardini E A Dialtica Do Vivente) Guadarrama, Madrid 1966; 345 Pgs. Romano Guardini, Maestro De Vida Ed. Palabra, Madrid 1998. El Secreto De Una Vida Lograda (O Segredo De Uma Vida Plena) Palabra, Madrid 2003. Silencio De Dios Y Libertad Del Hombre (Silncio De Deus E Liberdade Do Homem) Narcea, Madrid 1982; 52 Pgs., Esgotada. La Tolerancia Y La Manipulacin (A Tolerncia E A Manipulao) Ed. Rialp, Madrid 2001. Metodologa De Lo Suprasensible, Vol. Ii. (Metodologia Do Supra-Sensvel, Vol Ii) El Tringulo Hermenutico (O Tringulo Hermenutico) Editora Nacional, Madrid 1971; 584 Pgs. La Verdadera Imagen De Romano Guardini (A Verdadeira Imagem De Romano Guardini) Eunsa, Pamplona 2001. Vrtigo Y xtasis (Vertigem E xtase) Ppc, Madrid 1987, 21992; 405 Pgs. (O Ncleo Deste Livro Foi Assumido NumaInvestigaoMaisAmpla,RecolhidadaObraInteligenciaCreativa (1999) ENosDozeVdeosQueLevamPorTtuloElArteDePensarCon Rigor E Vivir De Forma Creativa). 40 PeloenunciadodosttulosdasobrasdeLpezQuints,jnos possvelidentificaraseriedadedasidiaseteoriaspostasnocontextodaobra como um todo em relao inteno doautor de trazer tona, na essncia de seusescritos,asquestesquefundamentamaformaoadequada configurao de um novo humanismo e as questes ligadas aos valores ticos e ao respeito capacidade de pensar das crianas e jovens, cabendo-nos ensin-lasapensarbem,semquesesintamdominadosoucomsualiberdadetolhida, conforme esclarece em entrevista concedida ao Prof. Dr. J ean Lauand: [...] Ensinar tica utilizando a leitura de alguns textos literrios um mtodo muito eficaz. Muitos jovens no querem ouvir falar de tica, no sentido tradicional. Pensam que se trata de uma tica limitante, quelhestiraaliberdade.Estemtodoqueelaborei,semfalar expressamenteemvaloresmoraisetica,ensinavaloresetica. Atravsdaleituradegrandesobrasliterrias.Demodoqueos jovensaprendemliteraturaeaomesmotemporecebemuma formao tica. [...] (LPEZ QUINTS, Madri.1999). Emsuasobrasnota-seapreocupaoconstanteemalertaros educadoresparaanecessidadeurgentedeseadequarmtodoseficazespara educarcrianasejovensnasquestesbsicasdaticaedeumaformao humana integral.Paratanto,LpezQuintsreporta-sefreqentementesobrasliterriase cinematogrficas como fortes aliadas ao do educador.Emseutexto:AExperinciaEsttica,fonteinesgotveldeFormao Humana, enfatiza: [...] No existe, ainda, um esboo do que pode ser um mtodo bem equilibradodeensinodaticaatravsdaleituradegrandesobras literrias. De minha parte, tenho tentado preencher esta lacuna em vriostrabalhos,inspiradosnaidiadequetodaformadejogo- entendidonosentidocriadorcriambitosderealidade,eo entrelaamento destes produz uma descoberta de sentido e ecloso 41de beleza.J h alguns anos tenho verificado, em diversos centros culturaisdaEspanhaedeoutrospases,queestemtodo facilmenteassimilvelpelosjovensefacilitaaapreensoda perspectivajustaparaabordaraleituradeobrasliterriase tambm, em certa medida, de obras cinematogrficas de tal forma queinclusiveaquelasquepoderiamserconsideradascomopouco edificantestornam-seeducativasporqueapresentamas conseqncias que acarretam a entrega a processos de vertigem ou fascnio.3 Oautordefendeopoderformadordasobrasliterriase cinematogrficas, como caminhos de reflexo, de anlise da vida humana com suas virtudes, seus dramas, suas amarras e as formas de superao. LPEZ QUINTS E A FILMOGRAFIA Lpez Quints reporta-se concretude de obras artsticas, apontando-as como recurso para se trabalhar com crianas e jovens de forma reflexiva os valoresticoseestticosnasrelaeshumanas,decondutaspessoais,as relaesdeencontro,asexperinciashumanasprofundas,sendoos exemplos vivos na obra fontes de reflexo ao intrprete-leitor: [...] Lpez Quints, muito se vale das obras de arte em seus estudos.NaEscoladePensamientoyCreatividadfundadaporelena 3LPEZ,A.Quints.AExperinciaEsttica,FonteInesgotveldeFormaoHumana.Artigo. Traduo: Silvia Regina Brando. . Disponvel em: www.hottoppos.com. Acesso em 20 de set. 2007. 42Espanhaem1987,encontra-secursosdeformaocomttulos diretamente ligados a arte como El arte de pensar con rigor y vivir de forma creativa, Cmo formarse en ticaatravs de la literatura y el cine entre outros. (PERISS, 2004. p.8). Sobrepondo-se aos modismos filosficos e pedaggicos, o autor adota umprocedimentodeleituradeobrasliterriaseartsticaspropondoqueo leitor/espectadorentreemdilogocomaobraapreciada.Sopalavrasde Maria ngeles: Nonecessrioqueumaobracontenhavaloresoucritrios moraisparaquesejaeticamenteproveitosaparaoeducando, sempre que seja de qualidade e ele tenha conseguido interpreta-las, osalunosentramnahistria,pensamsobreelaerevivem-na, criandoempatiascomospersonagens,entendendosualgica interna, buscando alternativas, e essa experincia de vida lhes d a luzparacompreendersuaprpriarealidade.Seensinamosas crianas e jovens a ler a fundo a vida humana que est presente nas obras, lhes ensinamos, ao mesmo tempo, interpretar a vida de uma maneiragerale,consequentementearefletirsobreseusprprios conflitos vivenciais 4 Nessesentido,oseducandos,assistindoaumfilmequetraz experincias humanas, sob a orientao de um educador que os conduza a reflexo, aprendem a ler o filme e a ler a vida. Nodesenvolvimentodestetrabalho,pudeconfirmartalafirmaoe ainda,cabeaquicitar,queosresultadosnaaoreflexivaquandoda interao intrprete/leitor so muito positivos tambm na formao continuada dos educadores, pois um momento de anlise de sua prtica docente. InteragindocomasidiaseconcepesfilosficadeLpezQuints, vejo as obras literrias e cinematogrficas, assim como tambm as obras de arteemusicaisporduasvias.Umaviaemqueestassorealmentefontes riqussimasdeformaohumana,quandodevidamenteutilizadas,e 4 A formao tica de crianas e jovens atravs da Literatura e do Cinema. Conferncia no 1 Congresso Latino de filosofia da Educao, rio de janeiro, 11-07-2000. 43direcionadas para esse fim e no so reduzidas simples narrativas e, uma via em que estas me alertam para a possibilidade do encontro fecundo entre o autor e sua obra, entre o intrprete e a obra, entre o espectador e as cenas assistidas. LPEZ QUINTS NO BRASIL Alfonso Lpez Quints esteve no Brasil em novembro do ano de 1999, naFaculdadedeEducaodaUniversidadedeSoPaulo(FEUSP), ministrandoaConferncia:AFormaoAdequadaConfiguraodeum NovoHumanismo,paraumgrandepblicodealunosdegraduao,ps-graduao e professores. Recentemente,noanode2004,teveseulivrointelignciaCriativa DescobertaPessoaldeValores traduzido e publicado pela editora Paulinas So Paulo. Nesta obra, o autor pe as bases para compreender a fundo o que o encontro, as exigncias do encontro verdadeiro, a fecundidade do encontro queresultaemelevaohumanamtua,oencontrodohomemcomas diversas realidades do ambiente e que ao ver cada um por dentro, descobre o que so os valores e qual o ideal autntico da vida humana.Noanode2005,nacidadedeSoPaulo,deumaparceriaentrea EscolaSuperiordeDireitoConstitucionaldeSoPauloeaEscuelade PensamientoyCreatividadfundadaporAlfonsoLpezQuintsem1987,na Espanha,nasceoNcleodePensamentoeCriatividadecomopropsitode difundiradoutrinaeosideaispropostospelaEscueladePensamientoy 44Creatividad.Seumtodopropeabuscadecaminhosparaumnecessrio aperfeioamentopessoalquereflitaemmelhoreshorizontesparaa coletividade.Opodercriadornoexclusivodosgnios;todospodemos alcanarcotasaltasdecriatividadenavidacotidiana,quenospermitem desenvolvernossapersonalidadeedar-lhetodadignidadeaqueest chamada.OobjetivodessaEscolaensinarcrianas,jovenseadultosa pensar bem, pensar de maneira adequada a cada tipo de realidade. Nosepodeutilizaramesmalinguagemepensardamesma maneiradiantedeumaobradearteediantedeumaao puramente artesanal. Existem vrios nveis de realidade e para cada nvel se deve pensar de uma forma. Isto quanto ao pensamento. Em segundo lugar, a Escola se preocupa em fazer descobrir o que a criatividade, algo importantssimo para as crianas e para os jovens. Muitaspessoascrescemsemsaberoqueacriatividade.E pensamentoecriatividadeseexigemmutuamente.Precisamos descobrir que para pensar bem preciso viver criativamente, e que umapessoaquevivecriativamentetemmuitaschancesdepensar bem.Senosedescobreissonosedumpassofrente.H milhes,milhesdepessoasquevivembloqueadasemsua personalidade,e,portanto,soinfelizes.(LPEZQUINTS, Madri.1999) Aindanoanode2005,teveseulivroDescobriraGrandezadaVida. Introduo Pedagogia do Encontro traduzido pelo Prof. Dr. Gabriel Periss, e editado pela Escola Superior de Direito Constitucional. PENSAMENTO EDUCACIONAL 45A concepo filosfica de Alfonso Lpez Quints fundamenta-se numa viso personalista, em dilogo com o pensamento clssico e com autores mais recentes como Romano Guardini, Martin Heidegger e Martin Buber. Atento aos valoresticoseestticos,LpezQuintsenfatizaaimportnciadaformao integraldoserhumano,levandoemcontasuasdiferentesdimenseseseu relacionamento com o entorno, em particular com o outro. ParaLpezQuints,ohomemumserdeencontro.Todoser naturalmenteumserdeencontro.Aeducaospossvelsehouver Encontro. E nesse sentido que podemos deduzir da obra de Lpez Quints uma filosofia da educao, que oferea contribuies prtica educativa. AfilosofiadeLpezQuintspermite-nos,portanto,pensarnuma Pedagogia do Encontro, em que o dilogo ferramenta fundamental para o relacionamentoentreeducadoroeducando,tendooprimeiroafunode orientadordecaminhosquelevemoalunoaoxitoeautonomiade pensamento. Lpez Quints acredita no pensamento criativo e na necessidade de levarmos os nossos jovens a aprender a pensar com rigor, sendo capazes de compreender sua prpria pessoa e sua realidade. No s compreend-la, mas ser capazes de transform-la pelas suas prprias decises e atitudes. EstaPedagogiadoEncontropodeinspiraroeducadorsituadono cenrio da educao nacional a refletir sobre sua prtica profissional, centrada em sua pessoa como educador, na pessoa do aluno e nas possibilidades de encontro entre ambos com vistas construo de um conhecimento propositor da autonomia cidad de forma tal que todos se abram atividade criativa e aos valores,despertandoemsimesmosopoderdediscernimentoquelhes permitam orientar-se devidamente na vida. 46 UmafilosofiadaeducaocomoaqueALQpeemprtica,na realidade, a fonte de uma viso mais radical sobre a vida, viso que os professores podero aplicar sua ao docente, sem abrir mo dasespecialidadesdesuadisciplinae,aomesmotempo,abrindo perspectivasqueatranscendemeafazemdialogarcomos conhecimentosprpriosdeoutrossaberes.(PERISS,2004.pg. 23) Ao conhecer a concepo filosfica desse autor, tive a oportunidade de me apropriar do conceito de Encontro, que fundamental dentro de sua obra, contextualizando-onaquestoeducacional,emparticularasrelaes interpessoais em sala de aula. Para tanto, convm conhecer as exigncias para que o Encontro ocorra, os frutos que dele decorrem, e como essa realidade do Encontro pode lanar luzessobreaquestoquenospreocupanestadissertao:arelaoentre docente e discente na sala de aula. 47 CAPTULO 2 O CONCEITO DE ENCONTRO E SUAS EXIGNCIAS 48 Ningum muda ningum, Ningum muda sozinho, ns mudamos nos encontros. Simples, mas profundo, preciso. nos relacionamentos que nos transformamos. Somos transformados a partir dos encontros,Desde que estejamos abertos e livres Para ser impactados pela idia e sentimento do outro. [...] Roberto Crema O CONCEITO DE ENCONTRO OInstitutoAntnioHouaissdeLexicografiatrazemseuDicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa, 2001, inmeras e diferentes definies sobre EncontrareEncontro. E o signo lingstico da palavra se traduz entre outras em depararcom,ficarfrenteafrente,passaraconhecer,irtercomalgum, fazerentraremunio,juntar-se,unir-se,estaremcontato,chegardiantedo outro,aoouefeitodedoiscorpos, mas tambm, traz o inverso, ou seja, o significadodoencontroindesejvel,embate,enfrentamento,combate, trajetriadecoliso[...].(HOUAISS,2001)situaesquetratareinesse trabalho por desencontro.Esseapenasumpontodepartida.precisoirembuscadeum aprofundamentoterico-filosficoquetragatonatodaariquezadapalavra encontro. OconceitodeEncontroelaboradonaobradeAlfonsoLpezQuints permiteesseaprofundamento,que,devidamentecontextualizadonombito educacional, propicia novas atitudes em sala de aula.EstanoodeEncontro,emLpezQuints,fundamental,conforme palavras de Gabriel Periss: Anoodeencuentrofundamentalparacompreendero pensamento de ALQ. O prprio estudo de sua obra no poderia se realizar de maneira fria e calculada, mas somente em consonncia comessamesmaconcepodeencontrovital.[...] (PERISS.2004,p.24). 49 E na seqncia, ele conclui: [...] O encontro, portanto um conceito-chave para compreender e vivenciaraspropostasfilosficasepedaggicasdeLpez Quints.(PERISS.2004,p.24). Lpez Quints fala do Encontro como algo muito maior do que a simples proximidade entre as pessoas, algo muito alm do estar lado a lado e aponta-nos que, quando vemos com clareza a fecundidade que o encontro possui em nossas vidas, podemos ver a riqueza que nossa vida tem: Nem voc nem eu podemos prever de antemo as reaes futuras do outro. Da que o encontro sempre traz consigo um risco. Porm, semencontro,nopodemosrealizar-noscomopessoa.(LPEZ QUINTS. So Paulo, 2004. p.154). NoEncontroverdadeiro,aidentidadedecadaumpreservada, mantidaerespeitada,postoquesepresumenohaveraintenoda dominao e sim da participao e colaborao. Em seu livro IntelignciaCriativa:descobertapessoaldevalores, vimos possibilidadesinovadorasdeencontropedaggico,deatividadescriativas possibilitadorasdeumacomunicaomaishumanaeeficaznaconduodo projeto pedaggico e da construo do conhecimento pelos alunos, propondo um EncontroPedaggico,quepartiriainicialmentedoencontroentreoalunoeo professor abrindo a possibilidade do encontro entre o aluno e o conhecimento, atravs do Entreveramento (entreveramiento, em espanhol). A todo o momento, Lpez Quints se utiliza desta palavra que seria mais bemtraduzidaporEntrelaamento.Pensoserestapalavraachaveparaa maioria das portas ligadas s questes educacionais vividas no universo da sala de aula. 50Entrelaamentonostrazaidiaderespeito,deunio,deparceria,de colaborao,dereconhecimentodooutro;nocasoemquesto, entrelaamentoentreaspossibilidadesdeaprenderdoalunoeainiciativa docentedoprofessor.Trazumsentimentodepertencimento,derelao. Relao no sentido trazido por Buber: Aontologiadarelaoserofundamentoparaumaantropologia que se encaminha para uma tica do inter-humano. Diz-se ento que o homem um ente de relao ou que a relao lhe essencial ou fundamento de sua existncia. (BUBER, p.31) Chegaraessenvelderelaonaatuaoprofissionaldocentepede muitoestudo,dedicao,conhecimentoeprincipalmentedeaceitao,no sentido de reconhecimento do outro. Mas,dooutrocomoumserquetrazconsigo,paraouniversoescolar, suaformaopessoal,suashistriasdevida,seussonhoseideais,seu percurso escolar at o momento, expectativas e frustraes, perdas e ganhos... Enfim, um encontro fecundo, cheio de possibilidades, onde cada qual, dentro de suaperspectiva,hqueseposicionardemaneiratalquetodosencontremo melhorcaminhoparaoEncontroPedaggico,isto,paraoEncontrocomo Saber. ParaAlfonsoLpezQuints,ohomemssedesenvolveplenamente mediante suas relaes de encontro.Lpez Quints refere-se a pelo menos dois planos de realidade: o nvel 1 (o nvel dos objetos) e o nvel 2 (o nvel dos mbitos, ou seja, realidades que possuem uma certa iniciativa, no qual o ser humano ocupa o primeiro lugar). Onvel1,LpezQuintsdefinecomosendoonveldosobjetos, realidadestangveis,quepodemserpesadas,medidas,manipuladas.Oser 51humano possui uma dimenso, por assim dizer, nvel 1. A mera proximidade fsicadaspessoasnochegaaconstituiroEncontro.Estespossvel quandooserhumanovistocomoserambital,ouseja,comorealidade pertencente ao nvel 2, capaz de entrelaar criativamente suas possibilidades. Nasatividadesrealizadasnestenvel2,ocorremasrelaesentreas pessoas e os mbitos: [...] o encontro: significa entrelaar um mbito de vida prprio, e o quantoeleimplica,comrealidadesquepossamoferecer possibilidadesereceberasquelhessooutorgadas.Oencontro sertantomaiselevadoefecundoquantomaisricosforemos mbitosqueseentrelaamemaisdispostosestesestiverema comprometer-seentresi;umacontecimentorelacional,sedna relao mtuae ativa de dois ou mais seres. A categoria de relao adquire,luzdateoriadoencontro,umvalordecisivonavida humana. Assimentendida,arelaodeencontronoocorre automaticamente, como fruto da mera proximidade. Deve ser criada por meio do esforo, mediante o cumprimento de certas exigncias inevitveis:generosidadeeaberturadeesprito,respeito,equilbrio entreafusoeodistanciamento,veracidadeeconfiana, agradecimento, pacincia, capacidade de admirar e de surpreender, compreenso e simpatia, amabilidade, cordialidade, fidelidade... [...] (LPEZ Quints. 2004, p.143). Segundo Lpez Quints, para se chegar a um elevado nvel de encontro, necessrio cumprir algumas exigncias. Entre as exigncias requeridas para que haja o Encontro esto a generosidade, a disponibilidade, a veracidade, a comunicao,afidelidade,apacincia,acordialidade,aparticipaoem tarefas relevantes. Asrelaesinterpessoaisentredocenteediscentenaprtica pedaggicadevemserinterativas,ambitais,emespritodecolaborao. Necessitam,portanto,documprimentodasexignciasrequeridasparao Encontro. Uma relao docente em nvel 1 pode conduzir a choques, conflitos, 52desgastes. Em suma, violncia entre objetos, sujeitos que, no fundo, no se consideram como tais. Naprtica,oEncontrosetraduzemaescomodialogar,transmitir saberes, socializar, trocar, ouvir, compartilhar e cooperar. Uma relao ambital (nvel 2) entre professor e aluno funda um encontro possvel entre todos e com o Conhecimento. Asaladeauladeixadesermeroespao,ondecorpos(objetos)se entrechocam. Torna-se um espao de criatividade. Transforma-se num lugar de Encontro. Paratanto,professorealunosprecisamatendersexignciasacima mencionadas.Cadaqualpossuiseuprpriotempoedeverespeitaresse tempo individual no Encontro. O respeito e a tolerncia em relao ao outro so pontos fundamentais. A colaborao inclui saber que competir no deve opor-seacolaborar.Cadaqualprecisarcrescercomoserhumano,descobrindo seu devido lugar e suas responsabilidades para que o Encontro se realize. necessrio ser flexvel para que oEncontro realmente acontea. Tal flexibilidade leva tenacidade de aceitar que nem sempre se est correto. Leva abertura para aceitar o outro. H que se ter cumplicidade e troca. No h Encontro que exista ou resista ausncia de fidelidade, ou seja, essaatitudedequemseesmeraparaquesefaacumpriroprometido, independentemente das circunstncias: Quandosefalaemencontro,normalmentesepensaemduasou mais pessoas que entram em relao de proximidade e de presena. Noentanto,estarpresenteeestarprximosoamesmacoisa? Heidegger comea sua conferncia Das Ding [A coisa], pergunta por queohomemdehoje,mesmotendoanuladoasdistncias,no estabelece uma verdadeira proximidade.A proximidadeespacial alcanadapelasimpleseliminaodadistncia.Estoulongede 53voc,desloco-meesituo-meprximoaolugarquevococupa. Entrei,comisso,emrelaodepresenacomvoc?No necessariamente,porqueminhaaonoimplicoucriatividade* alguma;aindanofundeicomvocummodovaliosoderelao. Nossa relao ainda exterior, no afeta nossas pessoas enquanto tais,enquantoseresquesocentrosdeiniciativa.Refere-se unicamentenossasituaonoespao(LPEZQUINTS, 2004.p.125). AS EXIGNCIAS DO ENCONTRO So vrias as exigncias para que o Encontro se estabelea: - Generosidade e abertura de esprito;- Situar-se a uma justa distncia; - Evitar o reducionismo; - Tolerar o risco que implica a entrega; - Estar disponvel ao companheiro de jogo; - Veracidade e confiana; A gratido e a pacincia; - Capacidade de admirar o que valioso e de se surpreender; - A compreenso e a simpatia; - A ternura, a amabilidade, a cordialidade; - Flexibilidade de esprito; - Fidelidade; - Partilhar valores e, sobretudo o grande ideal da vida. 54Em Inteligncia Criativa Descoberta Pessoal de Valores (2004), Lpez Quints dedica quatro captulos para descrever sua concepo filosfica sobre oEncontro,suasexigncias,osseusfrutos,alinguagemeosilnciocomo veculos para o encontro. Tendo em vista a aplicabilidade do conceito de Encontro com relao convivncia entre professor e alunos em sala de aula, dedico especial ateno s exigncias requeridas para que haja o Encontro. So elas: Primeira exigncia: atitude de generosidade e abertura de esprito. [...] generoso aquele que gera vida em outros, estabelecendo com eles relaes de encontro, que no aumentam nossas posses (nvel 1)masfomentamaqualidadedenossavidapessoal(nvel2).O penetrante filsofo do dilogo, Martin Buber, inspirado na religio da Alianacondensouestaidianumafrasemuitoexpressiva:Quem diz Tu (ou seja, quem trata o outro como pessoa ) no possui coisa alguma, no possuinada mas est em relao .(LPEZ QUINTS, 2004.p.147).

Nessa concepo a palavra de essncia relao, a compreenso dooutrocomosendoumeu.aformamagnnimadagenerosidadedo nopensarapenasemsi,agenerosidadequediferentededarpara receber, a ao de partilhar para promover o outro, possibilitar a troca com o outro,ouaindamelhor,dar-lhepossibilidadesdedesenvolvermelhorsuas potencialidades, viver mais ricamente. 55Essencialnarelaoprofessor/alunocomoproporcionadorada aprendizagemedaconstruodeumconhecimentolibertador,deuma autonomia intelectual do aluno.Nagenerosidadefaz-seessadoaosemesperardeantemoa melhoria da prpria vida. Exigncia primeira para a concretizao do Encontro fecundo. E,ainda,oprincpiodaaberturadeesprito,oudisponibilidadede esprito, leva-nos a atitudes de abertura para ouvir, mesmo que as idias dos outros me soem diferentes, ou seja, divergentes. A disponibilidade para ouvir e mostrar-se entusiasmado com as idias do outro cria o entrelaamento. Atitude fundamental em uma ao docente que pretenda mediar de fato o Encontro do seu aluno com o conhecimento. Segunda exigncia: situar-se a distncia justa. Aoentrarmosemrelao,precisoqueencontremosformasde aprimoramento pessoal que nos tornem capazes de encontrar o ponto mdio entreaabsoroeoafastamentototaldooutrosercomquemestamosem relao. O outro precisa respirar: [...]Paraqueduasrealidadesseentreverem,elasdevemser distintas,masnoestranhas;devemestarprximas,masno fundidas;devemestaradistncia,masnoafastadas.[...].(LPEZ QUINTS, 2004.p.149). 56Passagemprogressivadesituaesemquearelaoentreduas pessoassejaderespeitoedereconhecimentodooutro.precisoquecada qualsaibasituar-sedemaneiraqueumnosufoqueooutroouoreduza insignificncia.Manteradistnciajustanoespaodasaladeaula,narelao professor/aluno, no sentido de fazer uma aproximao, de maneira que no se anule ou sufoque um deles, mas que possibilite uma relao em que no se percaascaractersticasenoimpeaodilogo.Noanularasdistncias, mas permitir o ponto certo de proximidade, sem ocorrer a juno ou solda. No se tornar um s, mas aproximar o suficiente para que haja a perspectiva de mbito de aprendizagem. Terceira exigncia: evitar o reducionismo. Ver o outro como objeto, us-lo como meio para os meus fins, mant-lo to prximo que o anule. Reduzir o outro querer mant-lo sob controle: [...]Quandovamosaoencontrocomtodaariquezaeaenergiade nossoser,nosamosdensmesmos,nonosperdemos,nonos afastamos nem nos alienamos. Pelo contrrio, ampliamos o campo de realidade que abrangemos, adquirimos possibilidades novas de ao e aumentamosnossovalorpessoal..[...].(LPEZQUINTS, 2004.p.153). Na relao que se estabelece no ambiente escolar, preciso agir com energiaebuscartodariquezadepossibilidadesquehnooutro.Evitar situaes que se assemelhem decomposio do ser, reduzindo-o a coisa ou a mero objeto. 57J amais diminuir o outro e us-lo como trampolim para o prprio bem-estar. O respeito fundamental para que se evite essa forma de reduo no decorrer da construo do conhecimento. Quarta exigncia: tolerar o risco que implica a entrega. Encontrarimplicaentregar-se.Oquenosdeixaemumasituaode certa vulnerabilidade. Ao mesmo tempo em que respeito voc, preciso que eu confieemvoc.Aoconfiar,entrego-metotalmente,porm,muitasvezes, podemosperderocontroledenossasemoesedenossasaeseisso incorre em risco na relao de Encontro. Encontro significa entrega. O risco certo e a entrega essencial, portanto, faz-se necessrio o exerccio constante da tolerncia: [...] Nem voc nem eu podemos prever de antemo as reaes futuras dooutro.Daqueoencontrosempretrazconsigoumrisco.Porm, semencontro,nopodemosrealizar-noscomopessoas..[...].(LPEZ QUINTS, 2004.p.154). As relaes de aproximao em que se permite o desenvolvimento sem moldes, sem formas, dando a independncia necessria para que o aluno se desenvolva sem uma conduo prvia, pode gerar certo medo ao educador na conduodesuasaulas.Nohcomopreverosresultadosdeumarelao assim.Seoeducadornosepredispeacorreresserisco,notemcomo realizar o Encontro verdadeiro e produtivo com seu aluno, comprometendo, por conseqncia o aprendizado. 58Quinta exigncia: estar disponvel ao companheiro de jogo. Ohomemdeatitudedisponvelseachaatodomomentodispostoa correr os riscos que a criatividade implica, a sair do mbito fechado de seu eu para entrar no jogo com quem o convida a colaborar. Ele o faz com serena confiana, bem certo que, se realizar essa sada de forma criativa,noseperdercomopessoa[...].(LPEZQUINTS, 2004.p.156). AodesejaroEncontro,imprescindvelestardisponvelparao companheiroepermitirdesnudar-sesemtemor.Oeducador,segundoa PedagogiadoEncontro,entendeessaatitudecomofontedeaprimoramento pessoalepossibilitadoradeevoluirapersonalidadedeseucompanheiro,no caso, o seu aluno. Para tanto, preciso estar disponvel para ouvir, ainda que o que ouviu no lhe agrade, e aberto s idias do outro para, juntos, criarem o entrelaamento de idias diferentes. Sexta exigncia: veracidade e confiana. O homem um ser que tem intimidade; pode manifestar-se como ou comono.Se,emmeurelacionamentocomvoceunome manifestotalcomosou,demonstroquenodesejocompartilharmeu mbitoderealidadecomoseu.Minhalinguagemnoveiculode criatividade,masmscaraqueocultainteressesegostas.Minhas palavras falazes despertam sua desconfiana a meu respeito e o levam afechar-senumasolidoqueimpossibilitaoencontro.[...](LPEZ QUINTS, 2004.p.156). NoEncontro,estaexignciasedquandonosdespimosdanossa casca protetora, deixamos de fazer parecer aquilo que no somos, mostramos ver com transparncia as nossas deficincias e abandonamos as atitudes pr- 59moldadas, samos da condio indestrutvel de egosmo e passamos a agir de modoqueooutronossejaigual,comasmesmasfraquezas,forase intenes, isso gera uma relao de confiana. Stima exigncia: a gratido e a pacincia. Essa comunidade de ao s possvel se formos impulsionados por uma atitude de gratido, e no de ressentimento. O ressentimento tem pesar por um valor que o supera e o humilha. O agradecido acolhe de bomgradotudoaquiloqueoenriquece.[...](LPEZQUINTS, 2004.p.157) EssaexignciadoEncontroestentreasmaisvaliosas.AGratido uma atitude nobre e virtuosa e ser grato at pelo mnimo gesto do outro que lhe direcionado pea-chave nas relaes de Encontro. Atrelada exigncia da Pacincia, mas da pacincia que no se reduz ao simples ato de agentar o que nos incomoda, e sim quela pacincia que aceita o outro da forma como , respeitando seu tempo, seu jeito de ser. Aatitudedepacinciacomoaformadepermitirumaconstruo absolutamenteslidadasnossasaes,geradascomotemposuficientede amadurecimento, mesmo diante de eventos que estejam em desarmonia com o planejado,estandoabertoaosajustesnecessrios.Nasaladeaula,a pacincia se apresenta na forma como o educador age mediante os ritmos de aprendizagem de cada aluno seu. preciso que ele atenda a esta exigncia de formatalquecadaumtenhaseuritmo,seutempodeaprendizagemede encontro com o conhecimento respeitados. 60 Oitavaexigncia:capacidadedeadmiraroquevaliosoede surpreender. O homem s pode ser agradecido se for sensvel e souber acolher de bomgradotudooquevalioso.Acolherativamenteaquiloque valiosoimplicadeixar-sesurpreenderpelasuagrandeza.Para surpreender-se,necessriotercapacidadedeadmiraoede surpreendimento. A pessoa capaz de admirar o grande e o sublime quando estorientadaparaoalto.[...].(LPEZQUINTS, 2004.p.158) OEncontropressupeumarelaoconstantedetrocaeesse pressupostonosremetequestodavulnerabilidadeedosriscos,mas tambm nos abre ao surpreendente e admirao. No difcil admirar o que valioso, porm grandioso, apesar de tudo, ainda conseguir surpreender-se. Paratanto,serequerumestadodalmaelevado,pararevelarariqueza humana que surpreende e que, surpreendendo, desperta a admirao.Conhecimentoestintimamenteligadoadescobertas.Descobertas surpreendem,equandooalunoviveaexperinciadadescoberta,nos admiraovalordaquiloquedescobriu,bemcomosesenteadmiradoe valorizado pelo grupo. Nona exigncia: a compreenso e a simpatia. [...] Eu posso ter vontade de compreender os que esto ao meu redor, perceber seu modo de ser, ver a origem de suas reaes, ou ento no t-laefechar-meemmimmesmo.Adotarumaatitude compreensiva, quevaoencontrodooutroesepreocupeemdescobrirseumodo prpriodeser,requerumimensorespeitopessoadooutro.[...] (LPEZ QUINTS, 2004.p.158) 61 A compreenso leva ao respeito e quem respeita no s simptico aos olhos de outrem como tambm v o outro de forma diferente, sem arrogncia, olha-o tambm com simpatia. ParaarealizaodoEncontro,acompreensodooutrolevaao posicionar-se no lugar do outro, leva ao respeito ao seu modo de ser, aos seus ritmos, s suas aes, aos seus pensamentos e concepes de vida. E este respeitofrutodacompreensoqueproporcionaacapacidadedefundar relaesinterpessoaisemconsonnciacomvaloreseatitudesvirtuosose necessriosmelhoriadaformaohumanamtua.Aestaformade compreenso vincula-se a simpatia. Uma simpatia que permite ajustes e facilita a sintonia entre as pessoas que se dispem ao Encontro autntico e profcuo. Dcima exigncia: a ternura, a amabilidade, a cordialidade. [...]tambmverdadequesemumacertadosedeternurano possveloencontro.Encontrar-seimplicaentreverarosmbitosde vida, e esta forma intensa de unio deve ser facilitada pela doura de tratamento, pela cordialidade, pela amabilidade, pelo bom humor, pela suavidade de expresso. [...] (LPEZ QUINTS, 2004.p.159) Os trs itens da dcima exigncia para o Encontro esto longe de ser intrnsecos ao ser humano. A trade deve ser exercitada a ponto de atingir um estadodesolidez;sassimserpraticadacomsucesso,pormsempre lembrando ao outro que amar bom, mas respeito fundamental. No Encontro necessariamente se entrelaam dois mbitos de vida, isso gera uma diversidade que deve ser tratada com atitudes que impliquem em no ofender,nohumilhar,agirdeformaquesefaaoquecorreto,dandoao 62outroapossibilidadedecorrigirseuserrosdeformanogrosseirae desagradvel, atitudes que geram sentimentos de derrota e infelicidade.A trade desta exigncia passa pelo universo de todas as demais, como odacompreenso,odacolaborao,odobomhumor,dasimpatia,da capacidadedesurpreendereadmirar,dapacincia,dadisponibilidade,mas, sobretudo, a do evitar o reducionismo. Dcima - primeira exigncia: flexibilidade de esprito. Aquelequeafvelesfora-separaserflexvelquandonecessrio, porqueestdispostoacoordenarsuavidacomosdemais.Quem flexvel se mostra pronto para conectar-se com os outros, para adotar a perspectiva deles e descobrir a parte de razo que eles eventualmente possam ter. O homem inflexvel no admite outra perspectiva seno a sua. No reconhece que os outros possam ser fontes de luz, capazes desurpreend-locomidiaseprojetosfecundos.[...](LPEZ QUINTS, 2004.p.160). imprescindvel, nesse processo, que se valorize o aprender contnuo, agrandezadatrocaconstante,daaceitaodeincompletude,nosentidode queooutrotemsemprealgoameacrescentar.Atitudesessenciaisnaao docente. O educador pode defender com veemncia suas convices, mas deve terflexibilidadeetolernciasuficienteparaperceberqueopiniesopostas podem colaborar e devem ser igualmente defendidas. ter como princpio o dilogo, a troca, a aceitao do outro como fonte deluzedepossibilidadesvirtuosasparaomeuaprimoramentohumano. precisoabrir-separaatitudesquecriamintimidade,evnculosquegeram confianaepermitemacompreensodooutro,apontodeentendersuas 63reaes,mesmoquesejamreaesquenosdesagradam.Assim compreendemos, perdoamos e somos perdoados, porque temos uma relao emquesomosverdadeiramentecompreensivosunscomosoutros.A flexibilidade pede estar aberto ao ouvir, ao aceitar que existe luz para alm do nosso ego. Dcima - segunda exigncia: fidelidade. Afidelidadecapacidadeespiritualopoderouvirtusdedar cumprimento s promessas. Aquele que promete corre um srio risco, poissecomprometeaagirdaformaquehojejulgasertimaem situaesquepodemlev-loapensareasentirdemododistinto. Aquelequefielcumpreapromessaapesardasmudanas provocadas pelo tempo nas idias, nas convices e nos sentimentos. [...] (LPEZ QUINTS, 2004.p.161). Fidelidadenonosentidorasodosimplesagentar,ousuportar. Fidelidade,aquicolocadaporLpezQuints,comoumadasexigncias fundamentaisdoEncontro.DoEncontroquepropeumsentidode transcender, indo alm de seus limites no cumprimento do que foi previamente combinado,pormcomintelignciaeflexibilidade.Eissoimplicaaindaa disposiodecriarsuavidaemcadaperodoconformeoprojetopr-estabelecido,oupreviamentedeterminado,ouasmetasaserematingidas. Portanto,afidelidadepostaaqui,temavercomcriatividadeeaberturae soberania de esprito. Porfim,podemosvisualizaraFidelidadenoambienteescolarao propormos levar aos projetos polticos pedaggicos da escola um olhar flexvel e criativo para que efetivamente sejam colocados em prtica. 64 Dcima-terceiraexigncia:partilharvalorese,sobretudo,o grande ideal da vida. [...]Overdadeiroidealdoserhumanocriarformasvaliosasde unidade. Por isso, pode-se afirmar com razo que no h nada que nos unatantocomofazerobememcomum.(LPEZQUINTS, 2004.p.161). AdcimaterceiraexignciadoEncontrotemumacaractersticade magnitude humana, pois requer a partilha de valores elevados, como o valor supremo. Essa exigncia ocorre quando vrias pessoas conseguem unir suas potencialidadespararealizarumatocomum,oualcanarumgrandeideal. Paraqueissoserealizenecessriaapercepodecompreensodo potencial do outro, de perceber o que se quer realizar e entender o ponto de convergncia entre essas aes. Estecaptulotevecomometadeixarclaroeevidenteoconceitode Encontro definido por Alfonso Lpez Quints, a forma como este se concretiza de maneira fecunda e verdadeira, partindo de suas exigncias.Faz-se importante registrar nesse contexto, que o autor fala do encontro esuasexignciasapoiadonaaodocentedeprofissionaisqueatuamnas escolas pblicas da Espanha, que apresentam estruturas fsicas e condies trabalhistasmelhoresqueasnossasescolasbrasileiras.Portanto,preciso visualizartodaessaconceituaotrazidapeloautorlevandoseem considerao as especificidades de nossas escolas brasileiras. 65 CAPTULO 3 O ENCONTRO NO FILME MENTES PERIGOSAS 66 AANLISE DO FILME EmquemedidaoconceitodeEncontroelaboradoporLpezQuints podecontribuirparaoaperfeioamentodasrelaesentreprofessorealuno em sala de aula? Teoricamente, o pensamento de Lpez Quints coerente e convincente.Cabe-nos,agora,procurar,pelaanlisedeumfilmequeretrata situaes de tenso em sala de aula, somada a dificuldades de aprendizagem, verificarapossvelaplicabilidadedoquetemoschamadodePedagogiado Encontro. Paraisso,recorremosnestetrabalhoaoroteirodeanlisedefilmes utilizado pela professora e escritora Mara ngela Almacellas Bernard. Caminhando em direo aos meus objetivos, proponho uma leitura das relaesinterpessoaisqueseestabelecemnasaladeaulasobofocoda categoria Encontro, mediante a anlise do filme Mentes Perigosas. 67Marangeles,inspirando-senasidiasdeLpezQuints,utilizaa filmografiacomorecursopararefletirsobrevaloresticoseestticosnas relaeshumanas,condutaspessoais,asrelaesdeencontro,as experincias humanas profundas e outros conceitos fundamentais na formao de crianas e jovens e ainda, essenciais em cursos de formao docente.Almacellasadotaemsuaaodeformadoraousodasobras cinematogrficas com muita propriedade e relata ter sempre obtido excelentes resultados em relao s atitudes de seus formandos, em especial os jovens. AprofessoraMariangelesesclarecequeadotaalgunscritriosde leitura definidos em um roteiro de anlise dos filmes capaz de levar o leitor a relacionar-secomaobrademaneiraqueestalhesirvacomoocasiode reflexo sobre suas atitudes pessoais no contexto da convivncia, com vistas transformao de seus conceitos e atitudes negativas e destrutivas. a este roteiro de leitura e anlise de filmes que recorro agora: - Ficha Tcnica; - Tema do Filme; - Valores que aparecem no filme; - Objetivos Formativos; - Estrutura do filme; - Sinopse; - Experincias humanas profundas presentes no filme. - Cenas relevantes ao estudo -Interpretaodascenas,articulando-asaosobjetivospropostospara este trabalho. 68 Pretende-se,aolongodaanlise,proporumarelaodialgicacomo filme, estabelecendo vnculos entre o leitor e a obra, e fundando uma atmosfera iluminadaecriadora.Assim,oEncontroentrenseofilmeresultar,nesta dissertao, numa compreenso mais clara do prprio conceito de Encontro e sua pertinncia numa reflexo de carter pedaggico-didtico. O ENCONTRO COM O FILME E NO FILME MENTES PERIGOSAS Mentes Perigosas tematiza a possibilidade do Encontro dentro da sala de aula. No incio, multiplicam-se os conflitos, os embates, a disputa de poder e de espao entre professor e alunos no universo da sala de aula. Ao longo do filme, assistimosaumbeloexemplodemudanadepostura,deatitudesevalores dos envolvidos, resultando num autntico Encontro pedaggico. Ficha Tcnica 69 MENTES PERIGOSAS Ttulo Original: Dangerous Minds Pas de Origem: Reino Unido / EUA Ano: 1995 Produo: Don Simpson e J erry Bruckheimer Produo Executiva:Sandra Rabins Lucas Foster Produo Sonora: Wendy e Lisa Roteiro: Ronald Bass, Baseado no Livro de Louanne J ohnson Fotografia: Pierre Letarte Montagem:Tom Rolf, A.C.E. Durao:99 minutosGnero: Drama Direo:J ohn N. Smith Tema do Filme A determinao e os esforos de uma professora para interagir com seus alunoseconvenc-losdaimportnciadoconhecimentocomopropositorde uma vida mais fecunda e cheia de sentido, e livre da manipulao. Valores que aparecem no Filme Dedicao,amizade,compromisso,generosidade,lealdade,liberdade, perdo, credibilidade, unidade. 70Objetivos Formativos Reconhecercomoaspectosessenciaissrelaesinterpessoais positivas e produtivas: -Asexignciasdatolerncia,dapacincia,dahumildadeeda generosidade. -Acomunicabilidadeeaimportnciadalinguagemnasrelaes interpessoais. - As conseqncias destrutivas do vcio e do abandono familiar. - A grandiosidade da dedicao e da credibilidade no outro. -Afecundidadedasrelaesdeencontroquevenceramocarter destrutivo do desprezo e da alienao. Estrutura do Filme Ofilmeapresentaduasaesconcomitantesedistintasemseuincio que se unificam logo nas primeiras cenas.Uma fuzileira naval que, aps dez anos de atuao, decide abandonar a Marinha para realizar seu ideal de ser professora e que, por no ter concludo totalmenteseucurso,faltando-lheashorasdeestgio,decideprocurarum amigoqueatuavaemumaescolapblicaparapoderconcluirasreferidas horas de estgio, receber sua certificao e s ento ir busca de seu ideal de ser professora.Nesse cenrio, est ocorrendo uma segunda ao que uma situao problemticanessamesmaescola,quetemdeixadoadireodainstituio sem alternativas imediatas para uma soluo eficaz. 71Trata-se de uma turma de alunos que se encontra sem professor titular hmeses.Soalunosmarginalizados,rebeldes,conflituosos,agressivos, envolvidos com drogas, enfim, com problemas de toda ordem. E esse quadro afasta todos os professores que passam pelos caminhos deles. Naprimeiraao,temosumapessoainteressadaemresolverseu problemapessoalparapoderrealizarseusonhoeiniciarumanovavida.Na segunda ao, temos uma escola e uma turma de alunos que j no tm mais a quem pedir socorro. J no tm mais esperanas e credibilidade nas prprias vidas,masquetambmestoembuscadealgoquepossalev-losa recuperar suas prprias vidas e conquista de algum sonho. A partir da a histria se unifica e representa uma situao educacional, vivida com uma grande carga de emoo, pois nos mostra o comprometimento dessa professora frente ao seu grupo de alunos. Ela pretende provar-lhes que so capazes de escolherem o que realmente querem para as suas vidas. Para tanto, supera agresses, desprezo e afrontas de todas as formas. Conduz situaes de conflitos, preconceitos, marginalidade, envolvimento com drogaseafaltadeinteressefamiliar,almdequebrarregrasditadaspela escola. Vincula-se aos seus alunos a ponto de conseguir lev-los ao encontro com a aprendizagem. SINOPSE O filme inicia mostrando o entorno de uma escola localizada num bairro tpicodaperiferianorte-americana.Murospichados,depredados,ruassujas, 72ao fundo um som de rap ou hip-hop e especificidades que reafirmam tratar-se de um bairro sem uma identidade cultural definida pois o mesmo composto por uma populaode imigrantes oriundos de diferentes pases.A esta escola, marcada por essas circunstncias desfavorveis, chega a novaprofessoradeingls,Prof.LouanneJ ohnson,interpretadapelaatriz Michelle Pfeiffer. Trazidaporumcolega,tambmprofessordaescola,aProf.Louanne J ohnson, uma ex-fuzileira naval que decide trocar a carreira militar pelo sonho deserprofessora,apresenta-sediretoraparatentarumavagacomo estagiria. AprofessoraformadaemLiteratura,RelaesPblicas,Marketinge trabalhou na Marinha nos ltimos dez anos. Porm, faltavam-lhe as horas de estgio no currculo, motivo pelo qual ela estava ali. Apenas para cumprir suas horas de estgio e, quem sabe num futuro prximo, finalmente poder realizar seu sonho de ministrar aulas. Avice-diretoraquearecebeficaadmiradaaoverseucurrculoe comentasermuitoraroalgumcandidatar-seaumcargonaquelaescola, principalmente com um currculo como o dela. E ento, para a sua surpresa, a vice-diretoraoferece-lheumcargodeprofessoratitularemumaclassede adolescentes. Ensino Mdio, perodo integral. Surpresacomoconviteetomadapelaalegria,limita-seapenasa perguntar sobre o porqu da ausncia de uma professora titular para esta sala. E a vice-diretora, muito rapidamente lhe explica que: ... atitularpartiunosesabepraondeedesdeentojpassaram por esta classe trs professoras substitutas e a ltima adoeceu esta manh. 73H muito tempo fora da escola como aluna, e sem nunca ter trabalhado comoprofessora,nemporummomentolhepassoupelacabeaqueesta situaopoderiaserumsinaldeproblemas.Suaexpressoummistode espanto e alegria. A vice-diretora lhe explica com muita sutileza que: ... trata-se de uma sala de alunos especiais; um pouco passionais, energticos, desafiadores... A nova professora se retira da diretoria e vai ao encontro de seu colega professor,comemorandoaadmisso.Ocolegatentaalert-lasobreas enormesdefasagensnaaprendizagemqueosalunospossuemesobreas grandesdificuldadesexistentesnasquestesinterpessoaisede relacionamento no s entre eles, mas principalmente com os professores que j passaram por aquela classe. Motivo pelo qual nenhum professor conseguiu concluirumanoletivocomaquelaturmaatento,poisacabavam abandonando-os no meio do caminho. Ela sorri e diz ao amigo no se importar com nada, que aceita o desafio, pois tudo o que mais quer em sua vida ministrar aulas! Feliz, dirige-se para sua casa e comea a preparar suas aulas para o dia seguinte, cheia de entusiasmo e expectativas positivas em relao sua turma dealunos.Nemsequerimaginaquesetratadeumgrupodeadolescentes problemticosparaquemofracassoumarotinaeaescolanotem significado algum em suas vidas.Louanneterqueestarprontaparaaprendercomseusalunospara poder superar tantos obstculos. 74 Experincias Humanas Profundas Em meio ao desafio de conduzir todas as questes de aprendizagem, a professoratambmbuscaatodoomomentoenvolver-secomasquestes ligadas vida de seus alunos, tentando criar com o grupo um vnculo de afeto e demonstrar seu comprometimento para com eles.Participa de seus problemas, aconselha-os, aparta brigas, faz visitas s suas casas quando eles