32
1 E nfoque J urídico Ano I Edição 4 Junho/2011 R$ 7,90 P alco dos principais eventos esporti- vos de 2014 e 2016, dono do pré-sal e um dos países que demonstrou pos- suir uma economia desenvolvida e sólida o suficiente para enfrentar a crise econômica mundial e permanecer crescendo. Esses são os principais pontos levantados por especia- listas ao creditar o aumento do investimento estrangeiro no Brasil. Mas, existem alguns pontos que ainda afugentam parte do empresariado estrangei- ro, especialmente, a carga tributária imposta às empresas que aqui se estabelecem. Para destacar essas questões, o Enfoque Jurídico ouviu alguns especialistas, que destacaram os pontos positivos e negativos para o investidor estrangeiro. ARTIGOS /CONSTITUCIONAL /JUDICIÁRIO A Constituição e o afeto A oportunidade de um novo Código Comercial para o Brasil SÉRGIO RESENDE DE BARROS NEWTON DE LUCCA Investimentos estrangeiros PÁGINA 9 PÁGINA 28 PÁGINA 14 PÁGS. 20 a 23 PÁGS. 3 a 5 /ENTREVISTA DO MÊS Autora de vários livros, doutora honoris causa pela Universidade de Milão, na Itália, ADA PEL- LEGRINI GRINOVER, hoje procuradora apo- sentada do Estado de São Paulo, ocupa uma ca- deira da Academia Paulista de Letras, atua como parecerista, ministra aulas na pós-graduação da Faculdade de Direito da USP e em várias outras instituições públicas e privadas e, a partir de ju- lho, integrará a equipe de mestrado de uma facul- dade em Buenos Aires, na Argentina. /VIAGEM O clima do Mediterrâneo no Chile FÁBIO CÉSAR PEDACE DE SOUZA

Enfoque Jurídico - Edição Junho

Embed Size (px)

DESCRIPTION

* [Edit] * [Delete] * [Edit type] * [Manage fields] * [Display fields] O jornal Enfoque Jurídico é voltado para os operadores do Direito e Empresários e traz análises dos principais acontecimentos legislativos que envolvem o dia-a-dia de advogados, magistrados, promotores, ministros, empresários, entre outros profissionais que precisam de informações jurídicas atualizadas para o desenvolvimento de suas atividades.

Citation preview

Page 1: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico1 junho/2011Enfoque JurídicoAno I – Edição 4 – Junho/2011 R$ 7,90

Palco dos principais eventos esporti-vos de 2014 e 2016, dono do pré-sal e um dos países que demonstrou pos-

suir uma economia desenvolvida e sólida o suficiente para enfrentar a crise econômica mundial e permanecer crescendo. Esses são os principais pontos levantados por especia-listas ao creditar o aumento do investimento estrangeiro no Brasil.

Mas, existem alguns pontos que ainda afugentam parte do empresariado estrangei-ro, especialmente, a carga tributária imposta às empresas que aqui se estabelecem. Para destacar essas questões, o Enfoque Jurídico ouviu alguns especialistas, que destacaram os pontos positivos e negativos para o investidor estrangeiro.

ARTIGOS/CONSTITUCIONAL /JUDICIÁRIO

A Constituição e o afeto A oportunidade de um novo Código Comercial para o Brasil

SÉRGIO RESENDE DE BARROS NEWTON DE LUCCA

Investimentos estrangeiros

PÁGINA 9

PÁGINA 28

PÁGINA 14

PÁGS. 20 a 23

PÁGS. 3 a 5

/ENTREVISTA DO MÊSAutora de vários livros, doutora honoris causa

pela Universidade de Milão, na Itália, AdA Pel-leGrINI GrINover, hoje procuradora apo-sentada do estado de São Paulo, ocupa uma ca-deira da Academia Paulista de letras, atua como parecerista, ministra aulas na pós-graduação da Faculdade de direito da USP e em várias outras instituições públicas e privadas e, a partir de ju-lho, integrará a equipe de mestrado de uma facul-dade em Buenos Aires, na Argentina.

/VIAGEMO clima do Mediterrâneo no Chile

fábio césar pedace de souza

Page 2: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico2 junho/2011

Enfoque JurídicoEditora Bruxelas Ltda.

CNPJ: 10.405.628/0001-20

Junho de 2011 - Edição 4Finalizada em 1/6/2011

Editora responsávelFernanda Sal (Mtb 42.157)

[email protected]

Editoração e projeto gráficoFernando Zeferino/AZ | Brasil - Assessoria & Comunicação

Administração e finançasRenato Vianna

Consultor jurídicoAntonio Rufato

Departamento de marketingAdoniran Miranda

Expediente

O investimento estrangeiro no Brasil está cada vez maior e para discutir ques-

tões jurídicas e econômicas, o En-foque Jurídico entrevistou alguns especialistas que falam sobre o ce-nário de investimento e atribuem esse boom de empresas interna-cionais no País aos grandes acon-tecimentos vivenciados por nós, começando pela crise financeira, que demonstrou a solidez da eco-nomia nacional, e terminando nas obras de infraestrutura que estamos realizando e planejando para sediar a Copa e as Olimpíadas. Isso sem contar que as empresas do mundo inteiro estão interessadas em inves-tir na área petrolífera, que desde a descoberta do pré-sal, tornou-se a “menina dos olhos” de muitos in-vestidores mundiais. Além disso, o País está se destacando no campo tecnológico, tanto para exportar, quanto para importar, daí o inte-resse de empresas estrangeiras de trazer tecnologia para investir em todos os aspectos que necessitam de infraestrutura. Com esse pano de fundo, podemos dizer que o Brasil está firmando-se internacio-nalmente como um País promissor

Brasil em foco: destaque internacional

e em ascensão nas esferas social, política e econômica.

E por falar em ascensão, des-tacamos esse mês a entrevista com a jurista Ada Pellegrini Grinover, um dos maiores expoentes jurídicos na-cional e internacional, que abriu es-paço para a mulher na área jurídica e destaca-se pela atuação profissio-nal, acadêmica e literária. Imortal da Academia Paulista de Letras, Ada expõe sua opinião sobre a trajetória feminina na universidade, fala sobre a participação ativa em elaboração e colaboração de projetos leis, como o Código de Defesa do Consumidor e os estudos que originaram a Lei de Interceptações, assim como agora está colaborando na atualização do CDC. Ela não deixa de mencionar a atuação na literatura e fala sobre sua nova bandeira, a da mediação e conciliação.

Para dar continuidade ao ro-teiro de inverno, esse mês indica-mos uma viagem ao Chile, que se destaca, de junho a setembro, pelas estações de esqui e pelas excelentes vinícolas, onde é possível apreciar vinhos de primeira qualidade.

Boa leitura.Fernanda Sal

Correspondência paraRua Tripuí, 210, cj. 12

CEP: 03147-030 — São Paulo-SPTelefone: (11) 3452-5814

E-mail: [email protected]

Tiragem desta edição: 35.000 exemplares

PublicidadeTCM Brasil

Telefones: (11) 2155-0105 / 8355 2999 / 7829 2780

ImpressãoLeograf: Rua Benedito Guedes de Oliveira, 587, São

Paulo. Fone: (11) 3933-3888

/EVENTOSRetenções na Fonte: Serviços

Prestados por Pessoas Jurídicas - ISS (município de São Paulo), INSS, IRRF, CSLL, PIS/PASEP E COFINS

Local: FISCOSoft Editora - av. Paulista, 1776 - 11° andar - Bloco C - Elevadores 5 e 6 - Cerqueira César – São Paulo (SP)

Data: 14, 15 e 16 de junho de 2011Horário: 19h às 22h30 (14 e 15/6) e

18h30 às 22h30 (16/6)O objetivo do curso é o de capa-

citar os profissionais do setor fiscal/contábil das empresas, quanto às retenções de ISS - Município de São Paulo, INSS, IRRF, CSLL, PIS/PASEP e COFINS, a serem efetua-das por ocasião do recebimento ou do pagamento das notas fiscais de serviços tomados de outras pessoas jurídicas. Além dos aspectos legais, o curso abrange questões práticas, buscando esclarecer os procedimen-tos a serem seguidos no cotidiano corporativo.

Informações e inscrições: (11) 3382-1030 ou [email protected]

FenalawFIRJAN – RJ (Avenida Graça

Aranha, 01, Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2563-4455)

Data: 14 e 15 de junho de 2011 Horário: 9h às 20hFenalaw (Exposição e Congressos

para o Mercado Jurídico) é consi-derado o maior evento jurídico da America Latina. Além da exposição que reúne novas soluções, pro-dutos e serviços destinados para escritórios de advocacia e departa-mentos jurídicos, o evento oferece o mais bem conceituado conteúdo do mercado com foco em admi-nistração legal e também sessões estruturadas de networking. Entre os cursos do Fenalaw 2011, estão: Curso de Capacitação em Gestão de Serviços Jurídicos - Organização FGV; Congresso de Administração Legal para Departamentos Jurídicos; Congresso de Administração Legal para Sociedades de Advogados.

Informações e inscrições: (11) 3017-6859 ou [email protected]

Negociação & Modalidades de

Contratos em empresas de enge-nharia e construção

Informa Seminar CenterRua Bela Cintra, 967 11º Andar -

São PauloDe 29 a 30 de junho de 2011Vários expositores vão discutir

temas que apresentem, de forma prática e objetiva, os aspectos es-senciais relativos à negociação, ela-boração, gerenciamento e revisão de contratos relacionados à enge-nharia e construção, bem como a prevenção e solução de conflitos instaurados nesses contratos. O workshop visa oferecer uma visão prática das diversas modalidades contratuais nesta área (Empreitada Integral, EPC/Turnkey, Contrato de Aliança, Contrato de Concessão e de PPPs, Subcontratos e Contratos preliminares, como constituição de Consórcio e SPE) mostrando as peculiaridades de cada contrato, identificando os seus riscos, orien-tando como melhor estruturar os projetos de engenharia e constru-ção, e os aspectos essenciais que não podem ser esquecidos na reda-ção, negociação e gestão de tais contratos.

Informações e Inscrições: 11 3017-6800 ou pelo site http://www.iir.com.br/pt/event/list

Execuções Fiscais: Defesa e Ad-ministração de Passivo

Auditório da Central Prática (Rua Frei Caneca, 159 - Cerqueira César - São Paulo – SP)

Data: 28 de junho de 2011Horário: 9h às 17h35Este evento apresenta ao público

os aspectos relevantes do proces-so das execuções fiscais e suas características mais atuais. Aborda questões controvertidas sobre a responsabilização dos sócios, bem como a legalidade das penhoras on-line e do faturamento da empresa. O propósito dos painéis é oferecer estratégias legais na prevenção de autuações fiscais e de defesa em execuções fiscais com foco nas soluções dos passivos.

Informações e inscrições: (11) 3257-4979 ou [email protected]

/EDITORIAL

em processo de filiaçãoINSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO

Os artigos publicados refletem as opiniões dos respectivos autores e não do jornal Enfoque Jurídico, que não se responsabiliza e não pode ser responsabilizado pelas informações dos artigos ou por prejuízo de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

Page 3: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 3junho/2011

Enfoque Jurídico - Como per-cebeu que queria seguir a carrei-ra jurídica? Teve alguma inspira-ção?

Ada Pellegrini Grinover - Meu pai era advogado, meu avô desem-bargador e, na verdade, escolhi Di-reito para agradar meu o pai. Eu não tinha muita preferência, gostava de

/ENTREVISTA DO MÊS

ADA PELLEGRINI GRINOVER

Nascida em Nápoles, na Itália em 1933, Ada Pellegrini Grinover, che-gou ao Brasil em 1951. Na época, enfrentava um de seus maiores desafios, a língua. Considerada, atualmente, como um dos grandes

nomes do cenário jurídico, a jurista é formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) desde 1958 e conta com uma longa traje-tória marcada por diversas atuações.

Autora de vários livros, doutora honoris causa pela Universidade de Mi-lão, na Itália, Ada Pellegrini Grinover, hoje procuradora aposentada do Esta-do de São Paulo, ocupa uma cadeira da Academia Paulista de Letras, atua como parecerista, ministra aulas na pós-graduação da Faculdade de Direito da USP, na Faculdade de Direito de Vitória, no Espírito Santo e, a partir de ju-lho, integrará a equipe de mestrado de uma faculdade em Buenos Aires, na Argentina. Simultaneamente, organiza congressos, integra a comissão de juristas do Senado para a atualização do Código de Defesa do Consumidor, coordena os cursos da FGV-GVLaw, e é diretora dos cursos de extensão da Escola Paulista de Direito (EPD).

No último dia 18 de maio, a jurista lançou seu livro “A Professora da USP”, que trata da vida e carreira desde os anos 70, incluindo sua carreira univer-sitária, as atividades na Academia Paulista de Letras, assim como relata a candidatura (e derrota) ao cargo de reitoria da USP.

Antropologia, Sociologia, mas aca-bei me encontrando na faculdade de Direito.

EJ - A sra. se graduou em uma época em que não havia muitas mulheres atuando na área. Como enfrentou isso e como enxerga esta mesma situação hoje em

dia? Disse que ajudou a conquis-tar espaço feminino dentro do centro acadêmico da USP, quan-do, na época, os departamentos masculino e feminino eram sepa-rados, como foi este episódio e o que representou para você?

APG - No decorrer na faculdade havia poucas mulheres, eram cerca de 10% apenas, mas esta época foi marcante. O departamento femini-no era separado do masculino no Centro Acadêmico XI de Agosto. Minha turma foi a primeira em que as moças passaram a freqüentar o restaurante junto com os homens, a primeira que passou a assistir as aulas de sexologia na disciplina de

medicina forense. Aquela turma era brilhante e rendeu cinco pro-fessores titulares para a Faculdade de Direito da USP. Além disso, foi muito marcante, na época, receber dois prêmios como melhor aluna, em Direito do Trabalho e em Direi-to Processual Civil, que foi a área que escolhi para seguir na carreira universitária. Já, hoje, o papel da mulher no mercado jurídico é bem diferente tanto no mercado de tra-balho, como no cenário universitá-rio. Não precisamos mais enfrentar esta dificuldade e acredito muito no mercado feminino, pois a mu-lher tem uma visão um pouco dife-rente do mundo do que o homem

ANDREZZA QUEIROGA

Paixão pela Justiça e pela literatura

fotos: fábio césar pedace de souza

Page 4: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico4 junho/2011

/ENTREVISTA DO MÊS

ADA PELLEGRINI GRINOVER

e isso se reflete no meio jurídico. Posso ver pelos meus alunos que as mulheres, em geral, são mais dedi-cadas, mais aplicadas e esforçadas.

EJ - E ao entrar no mercado, que dificuldades encontrou em um cenário tipicamente mascu-lino? Quando acredita que come-çou a ganhar espaço e reconheci-mento pelo seu trabalho?

APG - Para ser aceita no mer-cado, já no terceiro ano, por inter-médio do meu pai, eu consegui entrar no departamento jurídico da Sul América Terrestres Marítimos e Acidentes, no entanto, o diretor não queria me aceitar por eu ser mulher e jovem. Foi uma batalha para mostrar que era competente. Depois disso, montei um escritório e comecei a trabalhar com aciden-tes de trabalho, no campo civil e no campo penal. O escritório ia bem e conseguimos uma boa cliente-la naquela época (1957), até que prestei concurso para procuradora do Estado nos anos 60 e iniciei uma transformação em minha carreira. Já, em 1973 comecei a carreira aca-dêmica e, depois, fiz a livre docên-cia. Nos anos 80, prestei concurso e me tornei professora titular da Fa-culdade de Direito da USP. Galguei meu espaço com muito trabalho e competência, apesar de toda a re-sistência.

EJ - A sra. também ganhou re-conhecimento internacional pelo seu trabalho na área de Direito Processual, tendo atuado como vice-presidente da International Association of Procedural Law e do Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal, além de ter re-cebido da Universidade de Milão, na Itália, o título de doutora ho-noris causa e de ser agraciada, em 2007, com o prêmio da Fundação Redenti, em Bolonha, também na Itália. O que diria para quem dá seus primeiros passos neste mo-mento e a que atribui todas essas conquistas internacionais?

APG - É preciso estudar, parti-cipar de congressos, de eventos, de causas para se firmar como profissional. No meu caso, posso dizer que consegui reconheci-mento internacional, pois era da escola processual de São Paulo, que tinha como matriz ensina-mentos do professor Enrico Túlio Liebman, que veio da Itália para o Brasil. Na oportunidade, eu tradu-zi alguns livros italianos e pene-trei no mercado estrangeiro por intermédio da Itália. Dediquei-me a trabalhos naquele país como a ação civil pública e o código de defesa do consumidor, o que fez com que me tornasse uma espé-cie de embaixatriz junto à univer-sidade de lá. Depois, tornei-me membro de Direito Processual e da Associação Internacional de Direito Processual, ficando conhe-cida no exterior.

EJ - Foi homenageada nos 75 anos da USP por ter sido a pri-meira pessoa a se doutorar pela Universidade na área de Direito, como vê isso e a que atribui esta conquista?

APG - Fui homenageada por ser a primeira na USP a apresentar tese de doutorado de acordo com a nova regulamentação da univer-sidade. Eu não sabia, foi uma sur-presa.

EJ - Quanto ao papel de escri-tora, ao todo, publicou quantas obras? Entre elas, quais destaca?

APG - Comecei a publicar livros de minha autoria na década de 70. São, ao todo, seis livros. São três au-tobiográficos, que contam a história da minha vida na Itália, os primeiros anos no Brasil e um “pseudo” poli-cial, além um de poemas. Eu gosto muito de escrever, de literatura, de

leitura e os primeiros livros surgi-ram porque eu achava que a minha vida tinha sido muito interessante, aventurosa, com muitos desafios e que esses livros poderiam retratar e fazer com que a pessoas lutassem pelos seus sonhos. Na verdade, eu me encontro nas obras. É um prazer escrever livros que não sejam jurí-dicos, até porque você se abre e é uma espécie de auto-análise. É esti-mulante porque, mesmo nas obras de ficção, você acaba refletindo um pouco de si mesmo nos persona-gens e acontecimentos. Para mim, escrever é ter a oportunidade de me abrir para o mundo.

EJ - Quanto à Academia Pau-lista de Letras, como enxerga seu papel e o papel da academia?

APG - A Academia, segundo al-guns, é uma instituição superada, adequada aos séculos 19 e 20, mas

“Comecei a publicar livros de minha autoria na década de 70. São, ao todo, seis livros.”

Page 5: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 5junho/2011

/ENTREVISTA DO MÊS

ADA PELLEGRINI GRINOVER

eu acredito que ela tenha uma fun-ção importante. A de debater ques-tões ligadas ao perfil da Academia, como Literatura, Língua Portugue-sa, Aprendizagem, nível do ensino. São diálogos que se coletivizam porque os acadêmicos possuem re-cortes diferentes e cada qual expõe suas ideias. Meu papel ali é infor-mar, ilustrar, sou interessada e cum-pro minha responsabilidade.

EJ - E no que diz respeito à educação. Acredita que seja de qualidade? Quais as diferenças entre o ensino de hoje e o da sua época?

APG - O ensino está deficiente. Tem poucos professores que, efeti-

vamente, ministram ensino de qua-lidade. Há faculdades com pouca qualificação no corpo docente e a deficiência também se vê nos alu-nos. Os professores ainda seguem técnicas de ensino superadas. Eles não manejam um ensino com envol-vimento dos alunos, são aulas expo-sitivas, mas esta técnica de aula está defasada. Não vejo uma solução em curto prazo, mas temos de nos preo-cupar, principalmente, com a forma-ção dos professores porque é deles que surge um bom aluno. Se for fa-lar sobre as diferenças do ensino de ontem e de hoje, posso afirmar que antigamente eram aulas magistrais. Com pouca intervenção dos alunos. Tínhamos trabalhos, mas pouca par-

ticipação dos alunos na classe. Hoje, as técnicas deveriam ser de partici-pação. Não há mais sentido que o professor simplesmente passe seu conhecimento e o aluno o aceite passivamente. Tem de haver uma postura crítica e interação entre am-bas as partes.

EJ – E no campo jurídico? Quais as mudanças mais urgentes para a Justiça brasileira? Por quê?

APG - O poder judiciário é mui-to criticado. É um problema geral de todos os países do mundo e, a verdade, é que a lentidão aumenta em uma sociedade de massa. Além disso, o acesso à Justiça foi facilita-do. Aumentaram as causas e, jus-tamente, a vertente de conciliação não só ajuda a desatar o judiciário, como também colabora com a so-lução de conflitos. Daí meu interes-se em investir nas vias mediativas, buscando uma Justiça consensual. Se não se mudar o paradigma não resolveremos este problema. No-vas leis não resolvem. Para tornar o processo mais célere é preciso partir para uma Justiça consensual.

EJ - Apostando nesta via consen-sual, está envolvida em algum tipo de projeto neste sentido?

APG - Meu interesse é amplo e estou envolvida em mediação e con-ciliação. Estou apresentando na USP uma proposta de um curso de capaci-tação de mediadores e conciliadores porque foi determinada aos tribunais a criação de núcleos de conciliação e mediação. Essa é uma vertente que estou ligada, além de pesquisas e controle de políticas públicas.

EJ - Além de acreditar na con-ciliação, também é comprometi-da com estudos sobre intercep-tação telefônica, tendo realizado anteprojetos que deram origem à Lei de Interceptações — a Lei 9.296/96. Enxerga abusos no uso de escutas?

APG - O uso de grampos é abu-sivo. A polícia não quer mais investi-

gar, quer cortar o caminho para, ime-diatamente, solicitar a interceptação e o juiz adere e autoriza. Muitas in-terceptações têm sido anuladas por substituírem as investigações. A lei existe para que as interceptações se-jam utilizadas como último recurso, pois são meios necessários de busca da prova, mas também são meios que invadem a intimidade não só do objeto de investigação, mas tam-bém de todas as pessoas com quem este objeto se comunica. Existe uma proposta de uma lei mais rígida, que prevê requisitos mais rígidos para a interceptação, mas está tudo pa-rado. Nosso Congresso Nacional é inoperante. Vimos a questão da per-missão da união entre pessoas do mesmo sexo, mas precisou de uma decisão do Supremo Tribunal Fede-ral (STF), quando havia dezenas de projetos no Congresso sobre o mes-mo tema. O Congresso não cumpre o seu papel legislativo e o espaço, às vezes é ocupado por outros órgãos, como o Judiciário.

EJ - Além das discussões que culminaram com a Lei de Inter-ceptações Telefônicas, a sra. parti-cipou da elaboração do Código de Defesa do Consumidor. Acredita que este código necessita de uma reformulação?

APG - Estou participando de uma comissão no Senado para atualiza-ção do Código, como o crédito ele-trônico que não existia e o crédito ao consumidor, o endividamento eleva-do, que é muito grave não só para o consumidor, mas também para a em-presa. As pessoas têm acesso ao cré-dito fácil, se endividam e este crédito é conseguido sem as cautelas neces-sárias. Há pouca responsabilidade de ambas as partes. Teremos uma reunião em breve para elaborarmos propostas de atualização do Código e isso não se trata de retrocesso, mas sim de abordar os pontos que o Códi-go, na época não regulou, pois essas questões foram surgindo depois que ele havia sido implementado.

“Os professores ainda seguem técnicas de ensino superadas.”

Page 6: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico6 junho/2011

A crise inicia-se com o questionamento do método de ensino coimbrão, isto é, aquele que se apoia basicamente no conhecido tripé: giz, saliva e lousa.

ARTIGO

/ADMINISTRATIVO

IRENE PATRÍCIA NOHARA

Advogada. Doutora em Direito do Estado (USP). Auto-ra de várias obras jurídicas editadas pela Atlas.

Há tempos se discute a cha-mada crise do ensino jurí-dico. Aliás, em uma socie-

dade em rápida transformação não é só o ensino jurídico que entra em crise, mas diversos outros assuntos demandam reflexão a partir de no-vos paradigmas, tendo em vista que as formas de encarar e resolver os problemas passam a não ser mais capazes de solucioná-los adequa-damente.

São inesgotáveis os núme-ros de assuntos e instituições que são postos em xeque na Contempo-raneidade, como, por exemplo, os modelos de gestão do Estado aptos a melhor satisfazer às necessidades coletivas, os meios tradicionais de solução de controvérsias no Poder Judiciário, exigindo-se da comuni-dade científica esforço maior para diagnosticar e apontar soluções eficazes e comprometidas com a construção de um futuro sustentá-vel para a humanidade.

É atordoante o panorama, pois cada solução pensada e apli-cada apresenta suas deficiências, e a mutação social logo ameaça de obsolescência o novel repertório. Portanto, diante da plasticidade do cenário, não se pode adotar irrefle-tidamente um rol coerente de me-didas sem que se pondere o proble-ma dentro das complexidades do sistema no qual ele se insere e das prováveis modificações sociais em curso.

No caso do ensino jurídico brasileiro, a crise inicia-se com o

Desafios do ensino jurídico do século XXI

questionamento do método de en-sino coimbrão, isto é, aquele que se apoia basicamente no conhecido tripé: “giz, saliva e lousa”. Giz está naturalmente ultrapassado pelos novos recursos de tecnologia apli-cados à educação, contudo, não se trata deste último o sentido mais relevante, mas aqui se fala na ul-trapassagem, junto com a palavra “saliva”, de uma visão unilateral do ensino, onde o professor transmite na “lousa” o saber acumulado aos alunos, vistos da perspectiva de tá-bula rasa.

Ora, este ensino dogmatiza-do não desperta no indivíduo sua natural vocação à pesquisa, pois o ser humano somente é motivado a investigar aquilo que sente que fará alguma diferença no processo de compartilhamento do conhecimen-to produzido. Em suma, se o pro-fessor já se apresenta como aque-le que inquestionavelmente tudo sabe, o aluno, por sua vez, adota uma posição de objeto ou receptá-culo da transmissão do conteúdo ensinado, dentro de uma perspec-tiva alienante, isto é, sem maior en-volvimento.

A “mercantilização” do ensi-no jurídico, num movimento frené-tico de proliferação de faculdades de Direito, em que há, em diversas instituições, um excesso de pessoas nas salas de aula não permite com que o professor tenha condições de dar ao alunado um tratamento individualizado, pressuposto para que haja a produção de pesquisa

de qualidade. Ademais, após a reviravolta na

metodologia das ciências sociais, com a percepção, por exemplo, que a linguagem possui também um conteúdo pragmático, que ar-ticula e dá sustentação às estrutu-ras de poder da sociedade, houve, concomitantemente como a pós-modernidade, a reflexão de que a argumentação e a ponderação são ferramentas indispensáveis para a pretensão de realização de justiça, ao menos diante das particulari-dades dos chamados hard cases (casos concretos onde há a colisão de princípios ou de direitos funda-mentais).

Esta modificação revela à se-ara jurídica a urgência da necessi-dade de contato e interação com diversas áreas do saber (interdis-ciplinaridade), para que o sistema de justiça chegue a soluções que afastem de seu bojo inversões ideo-lógicas e uma série de outras inter-ferências latentes, que aqueles que não detêm suficientes conhecimen-tos humanísticos não são capazes de identificar com clareza e senso crítico, o que os torna quase sem-pre alvo de manipulação por inte-resses escusos.

Também a própria função do Direito é transformada com a Contemporaneidade. Assim, se em épocas distantes o Direito ser-via para analisar os casos a partir da aplicação retrospectiva de pre-ceitos de justiça, cada vez mais se espera dos profissionais da área jurídica uma visão prospectiva dos fenômenos, para a regulamentação e sobretudo resolução antecipada de um sem número de problemas que têm potencial de emergir num contexto de rápida mudança e, por conseguinte, de elevado risco.

De nada adianta a persistência num modelo de ensino dogmático; pois, não obstante seja mesmo im-prescindível ao bacharel o conheci-mento das leis e da chamada “dou-

trina majoritária”, será fatalmente inútil o esforço de ‘memorização’ do conteúdo num cenário em que, quando os alunos estiverem con-cluindo o ensino superior, muitas das leis estudadas já terão sido re-vogadas por outras novas; e, ainda, no qual a jurisprudência avança numa velocidade infinitamente su-perior à doutrina reproduzida pelos professores em sala de aula.

Não são poucos os desafios a serem enfrentados ao se pensar a crise do ensino jurídico no Brasil do século XXI, porquanto as habi-lidades desenvolvidas ao longo da formação do aluno já não devem ser mais as mesmas, sendo que o professor foi formado e formatado num modelo já, em inúmeros as-pectos, ultrapassado. Tais desafios fazem parte de um pano de fundo maior de transformação da pró-pria sociedade brasileira que, por sua vez, se insere num contexto de mutação global. Não obstante, trata-se, sem dúvida, de uma dis-cussão que interessa a toda socie-dade e não somente aos envolvi-dos diretamente com o ensino do Direito.

Page 7: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 7junho/2011Va

lore

s su

jeito

s a

alte

raç

ão

se

m p

révi

o a

viso

.

DireitoAdministra voIrene Patrícia Nohara

Pagamentofacilitado

Frete grá s20%Desconto20% Frete grá s

No cias, ar gos, legislação, capítulos das obras e tudo o que vocêprecisa sobre o Direito Administra vo em www.direitoadm.com.br

De R$ 65,00por apenas

R$ 52,00

De R$ 94,00por apenas

R$ 75,20

920 páginasDe R$ 35,00por apenas

R$ 28,00

280 páginasDe R$ 54,00por apenas

R$ 43,20

214 páginas

De R$ 56,00por apenas

R$ 44,80

236 páginasDe R$ 91,00por apenas

R$ 72,80

518 páginas 320 páginas

DireitoAdministra vo - v.2Irene Patrícia Nohara

Limites àRazoabilidade nos Atos Administra vosIrene Patrícia Nohara

O Mo vo no Ato Administra vo Irene Patrícia Nohara

ProcessoAdministra voLei nº 9.784/99 Comentada Irene Patrícia Nohara e Thiago Marrara

ProcessoAdministra voTemas Polêmicos da Lei nº 9.784/99 Organizador(a):Irene Patrícia Nohara e Marco Antonio Praxedes de Moraes Filho

E mais!Oferta válida para compras somentepelo 0800 17 1944 ou em uma de nossas fi liais, até 15/07/2011.

• Fortaleza - Rua Costa Barros, 901-A - Aldeota • Recife - Av. Montevidéu, 180 - Boa Vista • Salvador - Rua Amazonas, 998 - Pituba • Brasília - SIG/SUL - Quadra nº 3 - Bloco B - Loja 30 • Belo Horizonte - Rua Rio de Janeiro, 1585 - Lourdes • Rio de Janeiro - Rua Visconde de Ouro Preto, 60 - Botafogo • Ribeirão Preto - Rua Mar nico Prado, 178 - Vila Tibério • São Paulo - Praça Olavo Bilac, 38 - Campos Elísios • Porto Alegre - Rua Irmão José Otão, 162 - Loja 4 – térrea

Direito Administra voIrene Patrícia Nohara Compre estas obras com 20% de desconto, frete grá s epagamento facilitado somente pelo 0800 17 1944 ou em nossas fi liais.

JORNAL - Enfoque Jurídico - junho 2011.indd 2 27/05/2011 16:04:30

Page 8: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico8 junho/2011

O Conselho Constitucional da França e o Supremo Tribunal Federal em face do homossexualismo

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

Professor Emérito das Universidades Mackenzie, EPD, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exér-cito – ECEME e Superior de Guerra – ESG; Professor Ho-norário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia); Doutor Honoris Causa da Universidade de Craiova (Romênia) e Catedrático da Universidade do Minho (Portugal); Presidente do Conse-lho Superior de Direito da FECOMERCIO – SP; Fundador e Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária.

Idêntica questão proposta ao Supremo Tribunal Federal so-bre a união entre pessoas do

mesmo sexo foi colocada ao Con-selho Constitucional da França, que, naquele país, faz as vezes de Corte Constitucional.

Diversos países europeus, como a Alemanha, Itália, Portu-gal têm suas Cortes Constitucio-nais, à semelhança da França, não havendo no Brasil Tribunais ex-clusivamente dedicados a dirimir questões constitucionais em tese, embora o Pretório Excelso exerça simultaneamente a função de Tri-bunal Supremo em controle difu-so, a partir de questões pontuais de direito constitucional, e o con-trole concentrado, em que deter-mina, “erga omnes”, a interpreta-ção de dispositivo constitucional.

Pela Lei Maior brasileira, a Suprema Corte é a “guardiã da Constituição” - e não uma “Constituinte derivada” -, como o é também o Conselho Constitu-cional francês: apenas protetor da Lei Suprema.

Ora, em idêntica questão houve por bem o Conselho Cons-titucional declarar que a união en-tre dois homens e duas mulheres é diferente da união entre um ho-mem e uma mulher, esta capaz de gerar filhos. De rigor, a diferença é também biológica pois, na união entre pessoas de sexos opostos, a relação se faz com a utilização

natural de sua constituição física preparada para o ato matrimo-nial e capaz de dar continuidade a espécie. Trata-se, à evidência, de relação diferente daquelas das pessoas do mesmo sexo, incapa-zes, no seu contato físico, porque biologicamente desprovidas da complementariedade biológica, de criar descendentes.

A Corte Constitucional da França, em 27/01/2011, ao exa-minar a proposta de equiparação da união homossexual à união na-tural de um homem e uma mulher, declarou: “que o princípio segundo o qual o matrimônio é a união de um homem e de uma mulher, fez com que o legislador, no exercício de sua competência, que lhe atribui o artigo 34 da Constituição, consi-derasse que a diferença de situação entre os casais do mesmo sexo e os casais compostos de um homem e uma mulher pode justificar uma diferença de tratamento quanto às regras do direito de família”, en-tendendo, por consequência, que: “não cabe ao Conselho Constitu-cional substituir, por sua aprecia-ção, aquela de legislador para esta diferente situação”. Entendendo que só o Poder Legislativo poderia fazer a equiparação, impossível por um Tribunal Judicial, considerou que “as disposições contestadas não são contrárias a qualquer di-reito ou liberdade que a Consti-tuição garante”.

Sem entrar no mérito de ser ou não natural a relação diferente entre um homem e uma mulher daquela entre pessoas do mes-mo sexo, quero realçar um pon-to que me parece relevante e que não tem sido destacado pela im-prensa, preocupada em aplaudir a “coragem” do Poder Judiciário de legislar no lugar do “Congresso Nacional”, que teria se omitido em “aprovar” os projetos sobre a questão aqui tratada.

A questão que me preocupa é este ativismo judicial, que leva a permitir que um Tribunal elei-to por uma pessoa só substitua o Congresso Nacional, eleito por 130 milhões de brasileiros, sob a alegação de que além de Poder Judiciário, é também Poder Le-gislativo, sempre que considerar que o Legislativo deixou de cum-prir as suas funções. Uma demo-cracia em que a tripartição de po-deres não se faça nítida, deixando de caber ao Legislativo legislar, ao Executivo executar e ao Judi-ciário julgar, corre o risco de se tornar ditadura, se o Judiciário, dilacerando a Constituição, se atribua poder de invadir as fun-ções de outro.

E, no caso do Brasil, niti-damente o constituinte não deu ao Judiciário tal função, pois nas “ações diretas de inconstitucio-nalidade por omissão” IMPÕE AO JUDICIÁRIO, APESAR DE DECLARAR A INÉRCIA CONS-TITUCIONAL DO CONGRES-SO, intimá-lo, sem prazo e sem sanção para produzir a norma.

Ora, no caso em questão, a Suprema Corte incinerou o § 2º do art. 103, ao colocar sob sua égide um tipo de união não previsto na Cons-tituição, como se poder legislativo fosse, deixando de ser “guardião” do texto supremo para se transformar em “Constituinte derivado”.

/CONSTITUCIONAL

Se o Congresso Nacional ti-vesse coragem poderia anular tal decisão, baseado no artigo 49, inciso XI da CF, que lhe permite sustar qualquer invasão de seus poderes por outro poder, con-tando, inclusive, com a garantia das Forças Armadas (art. 142 ‘caput’) para garantir-se nas fun-ções usurpadas, se solicitar esse auxílio.

Num país em que os po-deres, todavia, são de mais em mais “politicamente corretos”, atendendo o clamor da imprensa - que não representa necessaria-mente o clamor do povo -, nem o Congresso terá coragem de sus-tar a invasão de seus poderes pelo Supremo Tribunal Federal, nem o Supremo deixará, nesta sua nova visão de que é o principal poder da República, de legislar e defi-nir as ações do Executivo, sob a alegação que oferta uma interpre-tação “conforme a Constituição.” A meu ver, desconforme, no caso concreto, pois contraria os fun-damentos que embasam a família (pais e filhos), como entidade fa-miliar.

É uma pena que a lição da Corte Constitucional francesa de respeito às funções de cada poder, sirva para um país, cuja Constituição e civilização - há de se reconhecer - estão há anos luz adiante da nossa, mas não encon-tre eco entre nós.

Concluo estas breves con-siderações de velho professor de direito, mais idoso do que todos os magistrados na ativa no Bra-sil, inclusive da Suprema Corte, lembrando que, quando os judeus foram governados por juízes, o povo pediu a Deus que lhes desse um rei, porque não suportavam mais serem pelos juízes tutelados (O livro dos Juízes). E Deus lhes concedeu um rei.

ARTIGO

Page 9: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 9junho/2011

A dignidade humana é o critério pelo qual a Constituição proporciona a proteção do afeto: estabelece a proporção entre os interesses individuais e os deveres sociais no direito de família.

A Constituição e o afeto

A Constituição brasileira de 1988 acolhe o afeto em três dimensões: individual, social, difusa. Na primeira dimensão, o afeto gera direitos individu-ais. Destes, o primeiro tem por objeto o próprio afeto. O direito individual ao afeto é a liberda-de de afeiçoar-se um a outro. Implica, a contrario sensu, o direito de evitar ou de repelir o desafeto. É uma liberdade cons-titucional, um direito individual implícito na Constituição, cujo § 2o do art. 5o admite direitos que, mesmo não declarados, de-corram do regime e princípios por ela adotados. A liberdade de afeiçoar-se um a outro é se-melhante à liberdade de contra-tar um com outro. Mas não se deve confundi-las, ensejando a contratualização do afeto. Afe-to não é contrato. Não se deve reduzi-lo a contrato para impor aos “contratantes” efeitos estra-nhos à relação afetiva, que a po-dem desnaturar e até destruir. O afeto gera responsabilidade, mas não pode gerar medo. Há que coadunar a liberdade com a responsabilidade. Mas não de qualquer forma. Essa coaduna-ção forma-se pela dimensão so-cial: o afeto tem função social. Onde não houver função social

SÉRGIO RESENDE DE BARROS

Mestre, doutor e livre-docente em Direito pela USP. Professor da Faculdade de Direito da USP. Professor do Mestrado em Direito da Universidade Metodista de Pira-cicaba – UNIMEP. Professor em curso de extensão na Fa-culdade de Direito da Universidade dos Estudos de Udi-ne, Itália. Professor em curso de verão na Universidade Internacional Menéndez Pelayo, Espanha. Professor em curso de especialização na Universidade Nacional de Educação à Distância – UNED, Espanha. Titular da Ca-deira nº 44 da Academia Paulista de Letras Jurídicas.

/CONSTITUCIONAL

inerente ao afeto não há por que restringir a liberdade indi-vidual. Mas onde houver não é preciso apelar para o contrato: basta a função social do afeto para gerar responsabilidade. É a função social do afeto – e não a sua contratualização – que faz a afetividade ir além do direito individual para entrar na dimen-são dos direitos sociais.

Com esse fundamento é que o art. 229 da Constituição deter-mina que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en-fermidade”. Também é por esse fundamento que o § 6º do art. 227 equipara os filhos, inclusive os adotivos. Igualmente, porque o afeto tem função social e gera responsabilidade social, é que a Constituição abrigou a união estável e a família monoparental e não impede reconhecer outras categorias de família geradas pelo afeto, como a família ana-parental (entre descendentes privados de ambos os pais) e a família homoafetiva (entre pes-soas do mesmo sexo).

Enfim, o afeto se difun-de na sociedade como fator de solidariedade: tem uma dimen-

são difusa. Por isso, a Consti-tuição também o ampara como direito difuso: direito do gêne-ro humano. Nessa dimensão, o afeto gera responsabilidade so-lidária. A solidariedade jurídica nasceu como responsabilidade individual no direito civil e no comercial. Mas avança para o social, submetendo sujeitos e objetos no quanto necessário a preservar com dignidade o gê-nero humano. É nesse sentido que o afeto gera também res-ponsabilidade genérica. O afeto tem compromisso com o gêne-ro humano. Para cumprir esse compromisso, a Constituição fixa três centros de imputação, a família, a sociedade e o Esta-do, aos quais os artigos 227 e 230 atribuem o dever de asse-gurar direitos básicos à criança, ao adolescente e ao idoso. Mas, como o art. 226 estipula que a família, sendo base da socieda-de, tem especial proteção do Es-tado e que o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram (§ 8º), a Constituição não deixa dúvida: o Estado responde pela

ARTIGO

higidez das relações entre seus cidadãos no âmbito da famí-lia. Por isso, se por deficiência da sociedade faltarem à família condições básicas de existência, o Estado – que representa a so-ciedade no dever de assistir a fa-mília na pessoa de cada um dos seus integrantes – está obrigado a suprir essa carência, sobretu-do para a criança, o adolescente e o idoso.

Essas dimensões do afeto devem ser conjugadas por um valor maior: a dignidade do ser humano. A dignidade humana é o critério pelo qual a Constitui-ção proporciona a proteção do afeto: estabelece a proporção entre os interesses individuais e os deveres sociais no direito de família. Cumpre definir a fa-mília pelo afeto. Mas somente é possível desenvolver a teoria e a prática do direito de família em função do afeto, caso se inter-prete e aplique a Constituição em função da dignidade huma-na. É essa possibilidade que une hoje – mais do que nunca antes – constitucionalistas e familia-ristas.

Page 10: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico10 junho/2011ARTIGO

Monitoramento eletrônico em face do advento da Lei nº 12.403, de 04 de maio de 2011

FERNANDO CAPEZ

Procurador de Justiça licenciado e Deputado Estadual. Pre-sidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Mestre em Direito pela USP e doutor pela PUC/SP. Professor da Escola Superior do Ministério Público. Diretor do curso Nobilis. Autor de várias obras jurídicas. www.fernandocapez.com.br – http://twitter.com/FernandoCapez

Objetivando reduzir o grande número de pre-sos provisórios e, ao

mesmo tempo, manter a cons-tante vigilância sobre o indicia-do ou acusado, a Lei nº 12.403, de 04 de maio de 2011, que alterou dispositivos relativos à prisão processual, fiança, liber-dade provisória e demais medi-das cautelares, trouxe signifi-cativa amplitude ao sistema de monitoramento eletrônico.

Na realidade, aludido re-curso tecnológico foi instituído em nosso ordenamento jurí-dico pela Lei nº 12.258, de 15 de junho de 2010, a qual, ao acrescentar o art. 146-B à Lei de Execução Penal, passou a dispor que o juiz poderá lançar mão desse sistema quando: (a) autorizar a saída temporária no regime semiaberto, prevista no art. 122 da LEP (inciso II); (b) determinar a prisão domiciliar, contemplada no art. 117 da LEP (inciso IV)[1].

Note-se que a lei havia li-mitado o seu emprego apenas quando concedidos os referi-dos benefícios, de modo que o monitoramento eletrônico não constituía uma alternativa à pri-são provisória, tal como já su-cede em alguns países, como Portugal.

Tal panorama sofreu sig-nificativas modificações com o advento da Lei nº 12.403/2011, a qual, no Título IX, sob a ru-brica: “Da prisão, das medidas cautelares e da liberdade pro-visória”, inseriu diversas medi-das cautelares que passaram a constituir alternativas à prisão provisória, destacando-se a mo-nitoração eletrônica (art. 319, inciso IX). Nesse contexto, a prisão preventiva somente será determinada quando não for ca-bível a sua substituição por outra medida cautelar (cf. art. 282, § 6o). Por força disto, em sendo aconselhável a aplicação de uma das medidas cautelares, como a utilização do monitoramento, por exemplo, não se imporá a prisão provisória.

As medidas cautelares, di-versas da prisão, estão previstas no art. 319, em seus nove in-cisos, as quais visam justamente impedir o encarceramento do indiciado ou acusado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória e deverão observar: (a) a necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infra-ções penais (art. 282, inciso I); (b) adequação da medida à gra-

vidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado (art. 282, inciso II). E, de acordo com o § 1o, “as medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente”. De qual-quer forma, faz-se necessário ressalvar que a lei veda a inci-dência das sobreditas medidas à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa de li-berdade. (art. 283, §1º).

Mencione-se que a lei constitui um grande avanço em relação ao diploma legal an-terior, pois possibilitou que o monitoramente eletrônico fosse utilizado antes da sentença pe-nal condenatória, na medida em que as medidas cautelares po-derão ser decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por re-presentação da autoridade po-licial ou mediante requerimen-to do Ministério Público (art. 282, § 2o ), não se restringindo mais às hipóteses prescritas na Lei nº 12.258/2010.

No caso de descumprimen-to de qualquer das obrigações impostas, atente-se que a lei, em harmonia com o escopo de evitar ao máximo o encarcera-mento provisório do indiciado ou acusado[2], considerou a prisão cautelar como última al-ternativa colocada à disposição do magistrado. Assim, o juiz, de ofício ou mediante requeri-mento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá: (a) substituir a medi-da, no caso, o monitoramento eletrônico; (b) impor outra em cumulação; ou (c) em último

/PENAL

caso, decretar a prisão preven-tiva (art. 312, parágrafo único) (cf. art. 282, §4º). De qualquer forma, vale mencionar que a lei faculta a revogação da medida ou substituição quando verificar a falta de motivo para que sub-sista, bem como voltar a decre-tá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (art. 282, §5º).

Consigne-se, ainda, que a lei possibilitou ao juiz impor, se for o caso, e desde que obser-vados os requisitos do art. 282, uma das medidas cautelares quando da concessão da liber-dade provisória. Dessa maneira, nada impede que seja concedida a liberdade provisória e, junta-mente, utilizado o sistema de monitoramento eletrônico, uma vez constatada a sua necessida-de, em conformidade com os critérios impostos pelo Diploma Legal. Do mesmo modo, autori-za que, nos casos em que cou-ber fiança, o juiz, averiguando a situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obri-gações constantes dos arts. 327 e 328 do CPP e a outras me-didas cautelares, se for o caso. (art. 350)

Finalmente, vale desta-car que, desde o advento da Lei nº12.258/2010[3], a qual traz algumas instruções quanto aos cuidados que deverá o condena-do adotar em relação ao equi-pamento, a implementação da monitoração eletrônica está su-jeita à regulamentação pelo Po-der Executivo (cf. art. 3º da Lei), cumprindo a este, dentre outros aspectos, dispor sobre qual o sis-tema tecnológico será empregado para a realização da vigilância in-direta do indiciado ou acusado.

Page 11: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 11junho/2011

Ada Pellegrini Grinover (Titular USP/EPD)

Ademir Baptista Silva (Pós-Doutor UTK-USA/EPD)

Alessandra Greco (Doutora USP/EPD)

Alexandre Rollo (Doutor PUC/EPD)

Bruno De Luca Drago (Doutorando USP/EPD)

Carlos Augusto Monteiro (Mestre PUC/EPD)

Claudio Mendonça Braga (Doutorando USP/EPD)

Costa Machado (Doutor USP/EPD)

Eduardo Dias (Doutor PUC/EPD)

Flávio Tartuce (Doutor USP/EPD)

Giselda Hironaka (Titular USP/EPD)

Gustavo Rodrigues Ortega (Doutorando USCS/EPD)

Irene Patrícia Nohara (Doutora USP/EPD)

Ivan Lorena Vitale Junior (Mestre PUC/EPD)

José Eduardo Cardozo (Doutor EPD/Ministro da Justiça)

Lucia Reisewitz (Mestre PUC / EPD)

Luís Carlos Gonçalves (Doutor PUC/EPD)

Luiz Antônio de Souza (Doutor PUC/EPD)

Luiz Antonio Scavone Junior (Doutor PUC/EPD)

Márcia Walquiria B. dos Santos (Doutora USP/EPD)

Márcio Mendes Granconato (Mestre PUC/EPD)

Marcos Vinícius Coltri (Especialista/EPD)

Maria Luiza Machado (Doutora USP/EPD)

Certificates - Pós-Graduação Lato sensu Conheça os coordenadores da EPD

Pós-Graduação em Direito

DIREITO PRIVADOCoordenação Geral: Giselda HironakaDireito de Família e SucessõesDireito Civil e do ConsumidorDireito Civil e Processual CivilDireito Notarial e Registral ImobiliárioDireito Imobiliário (Material e Processual)Direito Contratual DIREITO DO ESTADOCoordenação Geral: José Eduardo Martins CardozoDireito Administrativo EconômicoDireito EleitoralDireito MilitarDireito MunicipalDireito Constitucional e AdministrativoDireito Tributário e Processual TributárioDireito Processual ConstitucionalDireito Penal e Processual Penal DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAISCoordenação Geral: Ricardo CastilhoDireito do Trabalho e Processual do TrabalhoDireito Civil e do TrabalhoDireito Médico e HospitalarDireito PrevidenciárioDireito Desportivo

DIREITO DAS RELAÇÕES ECONÔMICASCoordenação Geral: Newton De Lucca e Ivan VitaleDireito ConcorrencialDireito Empresarial DIREITOS DE TERCEIRA DIMENSÃO, COLETIVOS E DA HUMANIDADECoordenação Geral: Ada Pellegrini GrinoverDireito InternacionalDireitos Difusos e ColetivosDireitos HumanosDireito do TurismoDireito Ambiental

Administração LegalDireito EletrônicoGestão e Direito EducacionalPolíticas e Gestão Governamental

Direito EmpresarialDireito Financeiro e Gestão Tributária

Newton De Lucca (Titular USP/EPD)

Oswaldo Froes (Mestre/EPD)

Paulo Dantas (Mestre USP/EPD)

Régis Fernandes de Oliveira (Titular USP/EPD)

Renata Elaine Silva (Doutoranda PUC/EPD)

Renato Opice Blum (EPD)

Ricardo Castilho (Pós-Doutor UFSC-SC/EPD)

Roberta Densa (Mestre/EPD)

Ronaldo João Roth (EPD)

Rui Badaró (EPD)

Sérgio Resende de Barros (Livre-Docente USP/EPD)

Valderes Fernandes Pinheiro (Doutor USP/EPD)

Vicente Greco (Titular USP/EPD)

Vítor Frederico Kümpel (Doutor USP/EPD)

Wagner Balera (Titular PUC/EPD)

Wagner Menezes (Pós-Doutor UNIPD-IT/EPD)

MBAs

LLMs

Faz toda diferença

Matrículas Abertaspara o 2º semestre 2011

®

Page 12: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico12 junho/2011

JOSÉ RENATO NALINI

Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Docente universitário. Membro da Academia Paulista de Letras. Autor, entre outros, de Ética da Magistratura (2ª ed.), A Rebelião da Toga (2ª ed.) e Ética Ambiental (2ª ed.).

ARTIGO

Juiz tem que estudar

Nunca se duvidou de que para ser juiz é preciso es-tar disposto a sacrifícios.

O concurso de ingresso à Magis-tratura converteu-se num comple-xo de exigências que poucos supe-ram. Espera-se que o julgador seja uma enciclopédia de conhecimen-tos que inclua a integralidade do prolífico cipoal normativo, totali-dade da doutrina e jurisprudência dominante, sem descurar de co-nhecer as divergências.

Por esse motivo, a conclu-são do bacharelado em ciências jurídicas é mero pressuposto a se habilitar ao certame seletivo. A al-ternativa é imergir no estudo con-tínuo ou seguir os passos disponi-bilizados pelos exitosos cursinhos de preparação.

Os concursos vinham sendo os mesmos, previsíveis e sem inovação, até à edição da Resolução 75/2009 do Conselho Nacional de Justiça. Este novo órgão do Poder Judiciá-rio, situado na topografia constitu-cional logo abaixo do STF e acima do STJ, assumiu suas atribuições e pôs-se a disciplinar uma Justiça que até então formava um enorme ar-quipélago de autonomias.

Escusado questionar a com-petência do CNJ para normatizar os processos de seleção, pois o colegiado está no pacto federati-vo e ninguém oferece argumentos capazes de reduzir sua legitimida-de. Nem se invoque o assimétrico federalismo brasileiro, mal copia-

do quando da instauração da Re-pública e que, sendo às avessas do modelo americano, não conseguiu disfarçar a vocação centralizado-ra do Estado.

A Resolução 75/2009 alte-rou, de maneira substancial, a forma de recrutamento dos juízes. O aspecto mais relevante é a exi-gência de outros saberes, que não exclusivamente a técnica jurídica. Para se tornar magistrado, o can-didato precisa se interessar por ética, filosofia, sociologia, psico-logia, teoria geral do direito, ges-tão das unidades judiciais. Não se exclui, por óbvio, o domínio das ciências do direito. Mas introduz-se no sistema a constatação de que o ser humano chamado a jul-gar seu semelhante precisa exata-mente desse atributo imprescindí-vel: humanismo.

A erudição traduzida por um acervo de informações que mais comprovam a capacidade mnemô-nica do que um chamado a exercer uma carreira já não se mostra su-ficiente. Foi um passo enorme em direção ao aperfeiçoamento na es-colha de quem se tornará vitalício e servirá a seu povo - presumivel-mente - durante algumas décadas.

Ainda é preciso avançar na aferição da capacidade de traba-lho. O Judiciário é serviço públi-co, remunerado pelo erário, pos-to à disposição dos destinatários que o sustentam. Não é emprego para quem gosta de filosofar, para

quem superestima a sua autori-dade ou não se preocupa com a otimização dos parcos esquemas postos à sua disposição, com vistas a outorgar o melhor justo concreto.

Produtividade requer cons-ciência e talento. O desmotivado é incapaz de superar dificuldades e enfrentar o desafio de um volu-me crescente de processos. Mui-tos dos quais, reconheça-se, não ostentam complexidade. Queira ou não, o juiz torna-se um espe-cialista. Acredita-se que o trato contínuo com as questões pos-tas à sua apreciação o convertam num experto capaz de acelerar a prestação jurisdicional. O Judici-ário está submetido ao princípio da eficiência, colocado no texto constitucional dez anos depois da promulgação da Carta Cidadã, exatamente porque a Justiça não conseguia adequar-se aos anseios contemporâneos.

Para completar a mudança na seleção dos novos quadros, o CNJ também editou o Código de Éti-ca da Magistratura, que em breve completará três anos. Nele se in-seriu o comando ético do conhe-cimento e capacitação permanen-te do magistrado. É o contraponto ao direito dos jurisdicionados e da sociedade em geral à obtenção de um serviço de qualidade na admi-nistração de Justiça.

Não significa o crescimen-to intelectual exclusivamente nas disciplinas jurídicas, embora ele continue exigível e não se consiga decidir sem apreender o direito. Mas o Código da Magistratura insiste nas capacidades técnicas e nas atitudes éticas adequadas a uma correta aplicação do direito.

Enfatiza a codificação des-tinada ao juiz brasileiro que a obrigação de formação contínua estende-se tanto às matérias es-pecificamente jurídicas quanto no

/JUDICIÁRIO

que se refere aos conhecimentos e técnicas que possam favorecer o melhor cumprimento das funções judiciais.

Inegável o plus qualitativo de quem estudar psicologia, para melhor lidar com o sofrimento humano. Todo processo tem uma carga de angústias que a pasteu-rização da forma e da excessiva tecnicalidade não consegue ocul-tar. Mas é preciso penetrar na seara sociológica, antropológica, econômica, histórica e política, sem o que o magistrado será um profissional incompleto. Desloca-do do contexto social, insuficien-temente preparado, produtor de potenciais injustiças, em lugar de assumir o papel de decideur, pa-cificador e conciliador das partes que controvertem.

Os novos tempos impõem a quem queira bem cumprir o seu dever de solucionar conflitos a obrigação do estudo permanen-te. A formação continuada servirá não apenas para o desempenho adequado do ofício, senão para o melhor desenvolvimento do di-reito e administração da justiça. O direito não é senão ferramenta de tornar os homens menos in-felizes. Não é ciência neutral, de que podem se servir os desprovi-dos de freios inibitórios, aqueles que fazem da ética um deboche e instrumentalizam a justiça para melhor se safar das responsabili-dades.

O compromisso do estudo incessante é pessoal, de cada in-tegrante do Judiciário. Mas cons-titui dever de cada magistrado atuar no sentido de que a institui-ção a que serve também ofereça os meios para que sua formação tenha prosseguimento.

Sem isso, não se oferecerá ao povo brasileiro a justiça opor-tuna e de melhor qualidade que há muito ele está a exigir.

Page 13: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 13junho/2011

GUSTAVO MONTEIRO FAGUNDES

Especialista em Direito Educacional e Consultor Jurídico do ILAPE – Instituto Latino-Americano de Planejamento Educa-cional e da ABMES – Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior. Professor do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito e Gestão Educacional e coautor do livro LDB Anotada e Comentada e Reflexões sobre a Educação Superior – 2ª edição revista e ampliada.

ARTIGO

/EDUCAÇÃO

É sabido o desapego do Ministé-rio da Educação aos princípios fundamentais da legalidade e

da hierarquia das leis, pautando-se a conduta de seus gestores nos últimos anos pelo descumprimento de leis, decretos e de portarias editadas pelo MEC, pelo estabelecimento de proce-dimentos e imposição de obrigações às instituições de ensino a partir de Notas Técnicas, atos destinados ao esclarecimento das questões contro-versas na legislação, e não alterá-la.

Também é clara a tentativa indisfarçada do MEC de usurpar competência constitucional do Po-der Legislativo, utilizando-se de atos normativos secundários e terciários para impor obrigações e limitações a direitos assegurados por leis federais e pela própria Constituição Federal, em flagrante tentativa de fugir ao es-partilho da legalidade.

Apesar deste histórico de arbi-trariedade, a recente republicação da Portaria Normativa nº 40, de 12 de dezembro de 2007, causou surpre-sa e estranhamento, face a absurda solução encontrada pelos burocratas do MEC para alterar e inflar desca-radamente tal portaria.

Com efeito, aproveitando a tranquilidade do final de ano, o MEC agiu em surdina e bombardeou as IES privadas com um pacotaço de Natal, extrapolando os limites da razoabilidade, promovendo, mais de três anos depois de sua publicação, a republicação da Portaria Normativa nº 40/2007.

Com isto, além da usual burla aos princípios da legalidade, da ir-retroatividade e da hierarquia das leis, o MEC inovou, desrespeitando os ditames da Lei Complementar nº 95/1998, que trata da elaboração,

redação e alteração dos diplomas le-gais, e ignorando o Manual de Re-dação da Presidência da República, que, entre outros assuntos, trata da elaboração e redação dos atos nor-mativos no âmbito do Poder Execu-tivo.

Convém registrar que a Porta-ria Normativa nº 40/2007, publica-da em 12.12.2007, tinha a seguinte ementa:

“Institui o e-MEC, sistema ele-trônico de fluxo de trabalho e geren-ciamento de informações relativas aos processos de regulação da edu-cação superior no sistema federal de educação”.

Depois de vigorar por mais de três anos, a Portaria Normati-va nº 40/2007 foi republicada em 29.12.2010, segundo o MEC em vir-tude de “ter saído, no DOU nº 239, de 13-12-2007, Seção 1, págs. 39 a 43, com incorreção no original”, agora com a seguinte ementa:

“Institui o e-MEC, sistema ele-trônico de fluxo de trabalho e geren-ciamento de informações relativas aos processos de regulação da educação superior no sistema federal de educa-ção, e o Cadastro e-MEC de Institui-ções e Cursos Superiores e consolida disposições sobre indicadores de qua-lidade, banco de avaliadores (BASIS) e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e dá outras disposições”.

A leitura das diferentes ementas trazidas pelas versões original e re-publicada da Portaria Normativa nº 40 demonstra a existência de mais uma ilegalidade na condução das ati-vidades de regulamentação exercidas pelo MEC, constatada a partir do registro do artigo 5º da Lei Comple-mentar nº 95/1988, que define o que

vem a ser a ementa de uma norma legal:

“Art. 5o A ementa será grafada por meio de caracteres que a realcem e explicitará, de modo conciso e sob a forma de título, o objeto da lei.” (gri-famos).

Sendo a ementa destinada a apresentar de forma clara e destaca-da o objeto da norma, força é con-cluir que a republicação desta não pode servir para alteração de seu ob-jeto, a qual demanda edição de novo diploma legal.

A republicação da norma legal somente é admitida quando desti-nada à correção de pequenos erros materiais e, ainda assim, antes de sua entrada em vigor ou imediata-mente depois desta, como estipula o item 19.8.6 do Manual de Redação da Presidência da República, o qual deveria ser conhecido pelos gestores do MEC responsáveis pela produção de seus atos normativos:

“19.8.6. Vacatio Legis e Repu-blicação do Texto para Correção

Poderá ocorrer que a lei – ou outro ato normativo – ao ser publi-cada, contenha incorreções e erros materiais que lhe desfiguram o texto, impondo-se sua republicação parcial ou total.

Se tiver de ser republicada a lei, antes de entrar em vigor, a par-te republicada terá prazo de vigência contado a partir da nova publicação (Lei de Introdução ao Código Civil, art. 1o, § 3o).

As emendas ou as correções a lei que já tenha entrado em vigor são consideradas lei nova (Lei de Intro-dução ao Código Civil, art. 1o, § 4o). Sendo lei nova, deve obedecer aos requisitos essenciais e indispensáveis a sua existência e realidade.” (grifa-mos).

Inadmissível, portanto, de acordo com a mais elementar técnica legislativa, bem como pelo disposto na Lei Complementar 95/1998 e no Manual de Redação da Presidência da República, a republicação da Por-taria Normativa nº 40/2007 mais de três anos depois de sua publicação original e, principalmente, com a al-teração de seu objeto.

Outro evidente sinal de inade-quação da conduta autoritária do MEC neste caso é que a republica-ção, evidenciando a inverdade de sua justificativa, não teve como objeto a correção de erros materiais na versão original.

Com efeito, fosse este o objeti-vo da republicação, certamente teria sido levada a efeito imediatamente depois da publicação original da nor-ma, jamais transcorridos mais de três anos dessa.

A inverdade da justificativa apresentada para a republicação se descortina quando, pela leitura da nova versão da Portaria Normativa nº 40/2007, verificamos que ocor-reu a revogação de dispositivos ori-ginais da mesma, além da inclusão de diversos artigos ao texto origi-nal, sem olvidar o já evidenciado elastecimento do objeto da portaria em análise.

Por outro lado, dispositivos do texto original receberam nova reda-ção, sem que resultassem de correção de erros materiais do texto original.

Por fim, ainda evidenciando a impropriedade da republicação sob análise, fundamental registrar a in-clusão de dispositivos inexistentes na norma original e que configuram, obviamente, ampliação de seu alcan-ce, algo incompatível com a figura legal da republicação de norma.

Mais uma vez o MEC extrapo-la os limites legais para sua atuação, usurpando competência legislativa que não possui e distorcendo prin-cípios e normas legais para regular, impondo obrigações e restringindo direitos por intermédio de atos nor-mativos secundários e terciários.

Desta vez, porém, o MEC foi mais longe, simulando republicação de ato normativo, figura destinada exclusivamente à correção de pe-quenos erros no texto original, para, mais de três anos depois de publica-da a Portaria Normativa nº 40/2007, ampliar seu objeto, revogar disposi-tivos da norma original e inserir no-vos dispositivos em seu texto, figuras estas, repita-se, absolutamente in-compatíveis com o escopo do ato de republicação.

A “republicação” da Portaria Normativa nº 40/2007

Page 14: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico14 junho/2011

NEWTON DE LUCCA

Professor Titular, Livre-Docente, Doutor e Mestre pela Facul-dade de Direito da Universidade de São Paulo-USP. Desem-bargador Federal do Tribunal Regional Federal. Membro da Academia Paulista de Magistrados e Membro da Academia Paulista de Direito.

ARTIGO

/EMPRESARIAL

Nota: O presente texto é continuação do artigo intitu-lado: “A oportunidade de um novo Código Comercial para o Brasil”, cuja primeira parte foi publicada em nº anterior (Ano I – edição 3 – maio/2011).

Sem embargo, evidentemente, da ampla polêmica inerente à matéria, parece indubitá-

vel assistirmos, no momento atual, a um evidente fenômeno de deco-dificação do direito privado. Cada vez maior é o número de leis espar-sas ou de microssistemas - com os quais se regula a vida contemporâ-nea. Há um microssistema de defe-sa do consumidor, um de proteção ao meio ambiente, um da tutela do direito de autor, um da atividade empresarial e assim por diante.

O que se pode verificar em todos esses microssistemas, sem necessidade de maiores elucubra-ções, é a presença de suas próprias fontes de criação normativa. Há uma linguagem peculiar a cada um desses subsistemas jurídicos que não mais se afina à linguagem do sistema geral do Código. Fala-se hoje, por isso mesmo, numa tecno-linguagem, só compreendida por aqueles já habituados ao novo jar-gão legislativo.

Natalino Irti, aliás, em outra obra, que já se tornou clássica en-tre os estudiosos pelo seu vigor e expressão, teve a oportunidade de assinalar com extrema acuidade:

“O Código Civil perdeu o ca-ráter de centralidade no sistema das fontes: não é mais sede das

garantias do indivíduo, porque constam da Constituição, nem dos princípios gerais, visto que expres-sos, por singulares categorias de bens ou classes de sujeitos, em leis autônomas.”

Volva-se, então, à questão do fenômeno da descodificação do Direito Privado. Não desejo afir-mar com o meu reconhecimento explícito dele, que inexista, parale-lamente, o da recodificação desse mesmo direito.

Sucede, porém, que os pro-pósitos dessa nova tendência à recodificação, a meu ver, parecem guardar ponderável distância dos objetivos básicos do Código Civil de 2002.

A recodificação de que fala parte da doutrina, no atual mo-mento, não seria uma obra do legislador e sim da dogmática. Para localizar tais dogmas - diz-nos, com a agudez de sempre, o Professor e Ministro da Suprema Corte da Nação Argentina Ricar-do Lorenzetti - “há que construir uma communis opinio doctorum, que não surge da ortodoxia, mas da contraposição de opiniões apo-réticas”. Ele esclarece, a seguir, que a tarefa da recodificação não obedece mais à ordem das disci-plinas: direito civil e comercial; direito dos contratos ou da res-ponsabilidade civil, assim como não segue o conceitualismo, en-tendido este como um debate en-tre conceitos.

René David, depois de mos-trar as insuficiências dos chamados positivismo legislativo e nacionalis-

mo jurídico, aponta, de forma in-questionável, o que denominou de novas tendências:

“O envelhecimento dos códi-gos atenuou, se é que não eliminou, a atitude de positivismo legislativo dominante no século XIX. Reco-nhecemos cada vez mais aberta-mente a função essencial que per-tence à doutrina e à jurisprudência na formação e na evolução do di-reito, e nenhum jurista pensa mais que apenas os textos legislativos sejam importantes para conhecer o direito. Mesmo em matéria de direito criminal, onde o princípio da legalidade das penas pode pa-recer justificar esta convicção, os poderes cada vez maiores dados quer a juízes, quer à administra-ção, para fixar a medida da pena e para regular a sua aplicação, co-locam, na verdade, o direito, mui-to largamente, na dependência do ideal professado por aqueles que são encarregados de o admi-nistrar. A multiplicação das con-venções internacionais, o desen-volvimento do direito comparado obrigam, ou incitam, os juízes a preocuparem-se, cada vez mais freqüentemente, com a maneira como é concebido ou interpretado o direito nos países estrangeiros. O nacionalismo jurídico está em retrocesso e pode esperar-se que a crise, suscitada pelo movimen-to de codificação dos séculos XIX e XX, seja superada num futuro próximo. O renascimento da idéia do direito natural, que na nossa época se observa, é próprio para fazer reviver a idéia do direito co-mum, vivificando o sentimento de que o direito não deve ser conce-bido como se identificando com a lei e como tendo, por esse fato, um caráter nacional.”

Cabe fazer, ainda, algumas considerações adicionais, embora sem nenhum intuito polêmico, é claro... Como já tive oportunida-de de observar, em recente obra,

relativamente à sinonimia entre as expressões direito comercial e di-reito empresarial: Não haveria, a meu ver, perfeita simetria entre os dois conceitos, sob o ponto de vista ontológico. O direito empre-sarial constitui apenas uma parte – sem dúvida a mais importante delas, mas não a única – do di-reito comercial ou mercantil, es-tas duas últimas, sim, expressões que devem ser tomadas como rigorosamente sinônimas. Para a Profª. Paula Forgioni, no entanto (O direito comercial brasileiro: da mercancia ao mercado. Tese de Titularidade, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2008, p. 7, nota de rodapé 1), haveria sinonímia entre as três expressões – direito mercantil, di-reito comercial e direito empresa-rial –, pois: “Em todas as fases de sua evolução, esse ramo especial do direito sempre disciplinou a atividade dos agentes econômi-cos encarregados da geração de riqueza, fossem eles chamados mercadores, comerciantes ou em-presários. O traço diferenciador dessa área do direito, e que iden-tifica seus protagonistas, sempre foi o marcado escopo de lucro.” (grifos da autora)

Seja-me permitido observar que, sob a perspectiva meramente diacrônica – segundo a qual, para alguns, as diferentes denominações justificar-se-iam em razão das fa-ses históricas pelas quais tal ramo do direito teria passado – não há como discordar da referida profes-sora.

Mas caberia acrescentar, tam-bém, como tal questão deveria ser analisada sob o ponto de vista sin-crônico, vale dizer, considerando-se a análise empreendida de forma simultânea e não apenas sucessi-va... Seja-me permitido prosseguir, então, a partir da próxima edição com algumas breves considerações sobre o debate ainda existente.

A oportunidade de um novo Código Comercial para o Brasil

Page 15: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 15junho/2011

OJ 191

Com a nova redação da Orientação Jurispruden-cial 191 da SDI- do TST, ficou estabelecido que, para as empresas de construção civil, a obra tem finalidade econômica, ou seja, é sua atividade-fim. Nesses casos, existe a responsabilidade, que pode ser solidária, quando compartilhada com a empreiteira o pagamento das verbas, ou subsidiária, em que responde pelas dívidas caso o devedor principal não o faça. De acordo com a nova redação: “Contrato de empreitada. dono da obra de construção civil. Responsabilidade: Diante da inexistência de previsão legal específi-ca, o contrato de empreitada de construção civil entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo emprei-teiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora”. (Fonte TST).

Súmula 369

O Pleno do TST aprovou a alteração na no item II da Súmula 369, que trata da estabilidade provisória dos dirigentes sindicais, dobrando para 14 o número de beneficiados com a estabili-dade. Com a alteração, a redação da Súmula é a seguinte: “II – O art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Fica limitada, assim, a estabilidade a que alude o artigo 543, § 3º, da CLT, a sete dirigentes sindicais e igual número de suplentes”. (Fonte TST).

NOTAS

/TST

Venda de imóvel penhorado

A Primeira Turma do TST manteve decisão que declarou a ineficácia da venda de um bem penhorado, por verificar evidente frau-de à execução. Embora o comprador tenha alegado ter agido de boa-fé ao comprar o imóvel, a Turma manteve decisão do TRT da 3ª Região (MG) no sentido da nulidade da transação. O comprador do imóvel alegou que, na época da aquisição do bem, não havia sido ajuizada a reclamação trabalhista contra o executado. De acordo com a deci-são do TRT-MG, a penhora é válida porque a reclamação trabalhista e penhora foram da-tadas de 29/4/1999 e o registro no Cartório de Registros e Imóveis, requisito legal de comprovação da propriedade do bem, só foi efetuado em 18/6/1999. (Fonte TST).

Contratação em entidades do “Sistema S”

Em dois processos com matéria semelhante, a Terceira Turma do TST entendeu que as entida-des do chamado “Sistema S”, no caso o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e o Serviço Social do Comércio (SESC), não neces-sitam da realização de concurso público para contratação de pessoal para seus quadros. Para o ministro Horácio Pires, as entidades são sub-vencionadas por recursos públicos, obtidos por meio de contribuições compulsórias, oriundas de folha de pagamento das empresas. “Este fato obriga seus integrantes a observarem os princípios constitucionais da legalidade, impes-soalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Entretanto, estas exigências não têm a força de, por si só, modificar a natureza jurídica de direito privado da entidade, nem exigem que ela seja submetida a regras dirigidas somente aos entes da Administração Pública”, explicou o ministro. (Fonte TST).

Representação de condomínio

A representação em juízo de condomínio deve ser realizada mediante a figura do síndico ou administrador, podendo ainda fazer-se por meio de preposto, sendo ao empregador facultada essa substituição, contanto que o representan-te tenha conhecimento dos fatos relevantes capazes de esclarecer a demanda. Esse entendi-mento do TST está expresso na Súmula 377 da

Corte e foi seguida pela SDI-1 ao determinar que o processo Condomínio Residencial Bel Air, na cidade paulista de Campinas, retorne à Quinta Turma para julgamento. No caso, o condomí-nio recorreu à SDI-1 porque a Quinta Turma havia condenado por confissão ficta por ter sido representado em juízo por empregado de empresa contratada para realizar a sua adminis-tração. No caso, a pena de revelia e confissão ao condomínio foi aplicado em um processo de um empregado que pleiteava horas extras. (Fonte TST).

Vínculo

As concessionárias de serviços de telefonia não estão autorizadas por lei a terceirizar atividades essenciais ao negócio. Sob esse entendimento, a Sexta Turma do TST reconhe-ceu a existência de vínculo de emprego entre um trabalhador e a TIM Celular, apesar de ele ter sido contratado por outra empresa para prestar serviços à operadora. De acordo com a Turma, a terceirização, no caso, foi ilegal, pois o trabalhador exercia funções próprias da ativi-dade-fim da concessionária de telefonia, o que não teria amparo na legislação. Os ministros verificaram que o empregado fora contratado pela Líder Terceirização para executar serviços de suporte de atendimento, cadastros e atua-lizações de dados de natureza administrativa para a TIM, ou seja, para atuar em atividades essenciais ao desenvolvimento da tomadora dos serviços. (Fonte TST).

Razão social

Caso haja mudança no nome da empresa, no decorrer da reclamação trabalhista, nova procu-ração deve ser juntada, conferindo poderes ao advogado por ela constituído. Caso contrário, estará configurada a irregularidade de represen-tação, invalidando o recurso. Essa decisão foi da SDI-1 do TST em recurso da Roca Brasil Ltda. A ação trabalhista foi inicialmente proposta contra a Logasa S/A, mas no decorrer da ação, a empresa mudou sua razão social para Roca Brasil Ltda. e, ao propor recurso na Terceira Turma do TST, foi considerada a irregularidade de representação. De acordo com o ministro-relator, Aloysio Corrêa da Veiga, a jurisprudência da Corte já se firmou no sentido de que a altera-ção na denominação da razão social obriga que a parte busque legitimar a atuação do advoga-do que subscreve o recurso, sob pena de não conhecimento do apelo. (Fonte TST).

Page 16: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico16 junho/2011NOTAS

/STJPenhora on line

É possível a penhora de valores disponíveis em conta bancária de executados, por meio do sistema BACEN-Jud, sem necessidade de com-provação do esgotamento de vias extrajudiciais de busca de bens a serem constritos, após a vi-gência da Lei 11.382/2006. O entendimento é da Quarta Turma do STJ ao acolher o pedido formu-lado pelo Banco Bradesco S.A., que havia pro-posto ação de execução contra devedor solven-te por título executivo extrajudicial contra uma microempresa e outros, pela importância de R$ 11.788,71, relativa à cédula de crédito bancário. No STJ, foi determinado que o TJ-MS nova apre-ciação dos embargos de declaração, que foram acolhidos para reconhecer a cédula de crédito bancário como título executivo hábil a embasar a execução, determinando o prosseguimento da ação. Como imóvel estava penhorado, o Bradesco requereu a penhora online dos ativos financeiros porventura existentes em nome dos executados. O pedido foi indeferido pelo TJ-MS, em 24/3/ 2008. No STJ, o banco sustentou que o tribunal estadual não levou em consideração as recentes modificações operadas no processo civil pela Lei n. 11.382/06, que determina que, em ação de execução, a penhora deve recair, preferencialmente, em dinheiro, em espécie ou depósito ou aplicação em instituição financeira. A tese foi acolhida. (Fonte STJ/RESP 1093415).

Honorários advocatícios I

Apesar de o STJ já ter reconhecido a natureza alimentar dos créditos decorrentes dos honorá-rios advocatícios, eles não se equiparam aos cré-ditos trabalhistas, razão pela qual não há como prevalecerem, em sede de concurso de credo-res, sobre o crédito fiscal da Fazenda Pública. A decisão é da Terceira Turma do STJ ao entender que os honorários não têm preferência diante do crédito fiscal no concurso de credores. (Fon-te STJ/RESP 939577). Contribuição sindical

O desconto e recolhimento da contribuição sindical compulsória dos inativos não são legí-timos. O entendimento é da Segunda Turma do STJ ao julgar o recurso especial interposto pela Federação dos Sindicatos de Servidores Municipais do Rio Grande do Sul contra decisão do TJ-RS, que havia reconhecido a ilegitimidade do recolhimento compulsório da contribuição sindical dos inativos. De acordo com o ministro-relator, Mauro Campbell Marques, a obrigação de recolher a contribuição sindical não atinge os inativos, uma vez que não mais integram a categoria funcional pela inexistência de vínculo

com os órgãos da administração pública federal, estadual e municipal, direta e indireta. (Fonte STJ/RESP 1225944).

União estável

A Quarta Turma do STJ suscitou incidente de in-constitucionalidade dos incisos III e IV do artigo 1.790 do Código Civil, editado em 2002, e que inovou o regime sucessório dos conviventes em união estável. A questão foi levantada pelo mi-nistro Luis Felipe Salomão, relator de recurso in-terposto por companheira de falecido contra o espólio dele. Com isso, a questão será apreciada pela Corte Especial do STJ. Segundo o ministro, a norma tem despertado, realmente, debates doutrinário e jurisprudencial de substancial en-vergadura. “A tese da inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC tem encontrado ressonância também na jurisprudência dos tribunais estadu-ais. De fato, àqueles que se debruçam sobre o direito de família e sucessões, causa no mínimo estranheza a opção legislativa efetivada pelo artigo 1.790 para regular a sucessão do compa-nheiro sobrevivo”, afirmou. “No caso, a autora viveu em união estável com o falecido durante 26 anos, com sentença declaratória passada em julgado, e ainda assim seria, em tese, obrigada a concorrer com irmãos do autor da herança, ou então com os primos ou tio-avô”, comen-tou o ministro. Nos autos do inventário dos bens deixados pelo inventariado, falecido em 7/4/2007, sem descendentes ou ascendentes, o Juízo de Direito da 13ª Vara Cível da Comarca de João Pessoa determinou que a inventariante – a companheira por 26 anos, com sentença de-claratória de união estável passada em julgado – nomeasse e qualificasse todos os herdeiros sucessíveis do falecido, sob os termos do artigo 1.790 do CC de 2002. Contra essa decisão, a inventariante interpôs agravo de instrumento,

Extinção de contrato

A Sul América Seguros de Vida e Previdên-cias S.A. terá que manter contrato firmado com uma segurada de Minas Gerais que aderiu ao seguro de vida há mais de 30 anos. A empresa pretendia extinguir unilate-ralmente o contrato, propondo termos mais onerosos para a uma nova apólice. Entre-tanto, a renovação terá que respeitar as mesmas bases impostas a princípio, dentro dos parâmetros estabelecidos, sob risco de ofensa ao princípio da boa-fé. A decisão é da Terceira Turma do STJ. (Fonte STJ/RESP 1105483).

alegando ser herdeira universal, uma vez que o artigo 1.790 do CC é inconstitucional, bem como pelo fato de que o mencionado dispositivo deve ser interpretado sistematicamente com o artigo 1.829 do CC, que confere ao cônjuge supérstite a totalidade da herança, na falta de ascendentes e de descendentes. (Fonte STJ/ RESP 1135354).

Honorários advocatícios II

A Terceira Turma do STJ rejeitou pedido de um advogado para que a verba devida a ele em execução de honorários advocatícios fosse calculada sobre o valor pleiteado em uma ação monitória, em que o processo de execução foi provisoriamente convertido. Para a Turma, que seguiu o voto do relator, ministro Sidnei Beneti, os honorários devem incidir sobre o valor indi-cado originalmente no processo de execução. No caso, a Caixa Econômica Federal entrou com ação de execução de título extrajudicial com base em contrato de abertura de crédito rotativo em conta-corrente e, posteriormente, pediu a conversão do feito em ação monitória, tendo em vista a jurisprudência do STJ, no sentido de que o contrato de abertura de crédito, mesmo quando acompanhado de extrato de conta-corrente, não constitui título executivo extrajudicial. A conver-são foi deferida em um primeiro momento, mas, em seguida, houve uma sentença de extinção do processo sem julgamento do mérito, porque a conversão não poderia ter ocorrido após a citação, sem o consentimento da parte contrária. Com isso, a Caixa foi condenada ao pagamento de custas processuais e honorários advocatí-cios fixados sobre o valor da causa. Entretanto, na monitória, a Caixa pediu o equivalente R$ 587.198,16, enquanto na execução valor seria de R$ 16.795,60. E o advogado pedia no STJ a fixa-ção de honorários com base no valor estipulado na ação monitória. (Fonte STJ/RESP 1097081).

Page 17: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 17junho/2011

Débito tributário

Por unanimidade dos votos, a Primeira Turma do STF concedeu pedido de Habeas Corpus (HC 85942) a F.B.S., para o trancamento da ação penal em trâmite na 7ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo. Ele havia sido denunciado pela suposta prática de descaminho (artigo 334, parágrafo 1º, alíneas “c” e “d”, do Código Penal), caracterizado por aquele

que expõe à venda, mantém depósito, adquire e recebe em benefício próprio, no exercício de atividade comercial, mercadoria de procedência estrangeira introduzida clandestinamente no país. Ainda no curso do inquérito policial, a defesa requereu ao juízo da 7ª Vara Criminal a extin-ção da punibilidade, tendo em vista o pagamento dos débitos tributários. Isso porque, conforme os advogados, a Lei 9.249/95 é taxativa ao esta-belecer em seu artigo 34, caput, a extinção da punibilidade da pessoa que promover o pagamento do tributo ou contribuição social antes do recebimento da denúncia. Somente no STF o réu conseguiu o habeas corpus.(Fonte STF/ HC 85942).

Pensão por morte

O ministro Ricardo Lewandowski é o relator de Recurso Extraordinário (RE 603580) que discute tema com repercussão geral reconhecida, por unani-midade, pelo Plenário Virtual do STF. Com base na Emenda Constitucional 20/98, o recurso questiona acórdão que entendeu ser devida a pensão por morte no valor correspondente à integralidade dos proventos de ex-servidor, aposentado antes da Emenda Constitucional 41/03, mas falecido depois da sua promulgação.O recurso foi proposto pelo Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Rioprevidência) e pelo Estado do Rio de Janeiro, e, no processo, estão envolvidos pensionistas de ex-servidores públicos estaduais, alguns integrantes da Fundação Departa-mento de Estradas Rodagens (DER-RJ) e outros da administração direta. O recurso ainda está trâmite na Corte.

Aposentadoria de falecida

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF, indeferiu pedido de liminar formu-lado no habeas corpus (HC 108459) por M.G.L.C., condenada pelo Superior Tribunal Militar (STM) à pena de dois anos de reclusão pelo crime de este-lionato, previsto no artigo 251 do Código Penal Militar (CPM). Ela pedia a suspensão, em caráter liminar, dos efeitos do acórdão (decisão colegiada) do STM e da ação penal militar que tramita contra ela na 10ª Circunscrição Judiciária Militar, até o julgamento de mérito do HC pela Suprema Corte. De acordo com os autos, M.G.L.C. foi denunciada pela suposta prática do delito por ter, no período de outubro a dezembro de 2005, que se seguiu ao faleci-mento de sua mãe, movimentado a conta-corrente, tendo sacado os valores correspondentes à pensão. Ao negar a liminar, Lewandowski, ponderou que a concessão de liminar em HC é medida excepcional e só possível quando ficar demonstrada, de modo inequívoco, a presença dos requisitos autoriza-dores da medida.

NOTAS/LIVROS

/STF

/LIVROS

Casar e juntar não é a mesma coisa. A despeito semelhança entre a realidade social da vida de um casal que contraiu matrimônio e a de outro que se uniu estavelmente, ainda há diferenças substanciais no plano jurídico. O livro analisa as principais diferenças práticas existentes entre o matrimônio e a união estável.

Reúne artigos científicos escritos por especialistas do Brasil e do exterior, que abordam não só questões sob a ótica jurídica, mas também em uma perspectiva macroeconômica. Apresenta jurisprudência polêmica, comentada por especialistas, e acór-dãos selecionados de vários tribunais do Brasil.

O livro comenta as súmulas do TST que estão em vigor. A expo-sição não é feita em capítulos, mas em relação a cada uma das súmulas em vigor, assim como as súmulas acrescentadas 397 a 422, além de ter incorporado várias orientações jurispruden-ciais a súmulas já existentes.

A Editora Manole, a Fundação Armando Alvares Penteado e o Supremo Tribunal Federal lançaram a obra, que objetiva mostrar a evolução do texto da lei e, por que não dizer, do contexto social e político brasileiro desde a primeira Constitui-ção, de 1824, logo após a Independência, até a última, de 1988, elaborada em um contexto de redemocratização.

Obra que iniciou o estudo da “Teoria Geral do Processo”. Fundamental para o estudo, já que partindo dos embasamen-tos e princípios constitucionais e gerais. Contempla todos os aspectos do processo moderno (civil, trabalhista e penal), abordando temas como jurisdição, ação, defesa do réu, clas-sificação das ações, partes, atos processuais, prazos, prova, procedimentos etc.

EDITORA ATLASUNIãO ESTáVEL E CASAmENTO: DIFERENçAS PRáTICAS Gustavo Rene Nicolau

REVISTA DOS TRIbUNAISREVISTA DE DIREITO bANCáRIO E DO mERCADO DE CAPITAIS Coordenador: Arnoldo Wald

EDITORA ATLASCOmENTáRIOS àS SúmULAS DO TST Sergio Pinto martins

EDITORA mANOLEAS CONSTITUIçõES DO bRASILAntonio Cezar Peluso, José Roberto Neves Amorim

EDITORA mALHEIROSTEORIA GERAL DO PROCESSOAda Pellegrini Grinover; Cândido Rangel Dinamarco; Antonio Carlos Araujo Cintra

Page 18: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico18 junho/2011NOTAS

/ECONOMIA

Lei 14.463

O Estado de São Paulo proibiu a cobrança de taxa por emissão de boleto bancário. O gover-nador Geraldo Alckmin sancionou a Lei 14.463, válida para todos os fornecedores - instituições financeiras, empresas prestadoras de serviço, etc. De acordo com o Procon-SP, a regra é positiva para os consumidores que deixam de ser onera-dos pela forma de pagamento até então imposta pelo fornecedor. Caso as empresas descumpram a lei, podem ser multadas com base no artigo 57 do Código de Defesa do Consumidor. As multas variam entre R$ 405,00 a R$ 6.087.800,00. (Fon-te: Economia UOL).

Brasil e Argentina

Os vice-ministros encarregados de comércio de Argentina e Brasil se reuniram no início desse mês para analisar as barreiras às importações que afetam o comércio bilateral. Ficou combinado entre as autoridades reuniões mensais para mo-nitorar o comércio entre os dois grandes sócios comerciais do Mercosul. Recentes travas às im-portações criaram tensões entre os dois países. O setor automotivo argentino expressou preocu-pação após a decisão do Brasil de estabelecer o regime de licenças não automáticas à importação de veículos. Já o Brasil reclamou das dificuldades para que baterias, pneus, calçados e máquinas agrícolas entrem no mercado argentino. A Argen-

tina é sócia do Brasil no Mercosul, bloco integra-do também por Uruguai e Paraguai, que proíbe a adoção de licenças não automáticas entre os integrantes. (Fonte: Reuters).

Brasil e Uruguai

A presidente Dilma Rousseff visitou Monte-vidéu para discutir várias obras de infraestrutura para reforçar a integração entre Brasil e Uruguai por estrada, ferrovia e hidrovia. Além de diversos acordos de cooperação nas áreas de ciência e tecno-logia, o objetivo foi o de investir em obras que podem aumentar ainda mais o comércio entre os dois países. (Fonte: Economia Terra).

Juros

Pela segunda vez consecutiva, os juros co-brados nos financiamentos à pessoa física su-biram em abril. Segundo levantamento da As-sociação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade(Anefac), a alta foi de 3 pontos-base na comparação com março. Com isso, a taxa média ficou em 6,81% ao mês – esta é a segunda maior taxa do ano, só perden-do para a de janeiro. De acordo com a Anefac, a alta ainda é reflexo das medidas do Governo para frear o consumo e reduzir a inflação.Na mesma pesquisa, a associação levantou que a taxa básica de juro aumentou 325 pontos-base desde janeiro de 2010, enquanto os juros ao consumidor caíram 149 pontos-base no mesmo período. Eles passaram de 121,96% ao ano em janeiro do ano passado para 120,47% ao ano no mês passado. Já os juros do cartão de cré-dito e do CDC feito em bancos mantiveram-se estáveis. Os juros dos empréstimos feitos em financeiras caíram. As outras linhas de crédito acompanhadas pela Anefac apresentaram alta nas taxas médias apuradas no período. (Fonte: Economia UOL).

iNte

rNet

iNte

rNet

Contribuição patronal

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo não tem como absorver o custo da desoneração da folha de pagamento das empresas. O governo anunciou que vai re-duzir ou mesmo zerar a contribuição patronal sobre a folha de salários, mas o ministro infor-mou que a perda de arrecadação decorrente dessa desoneração será compensada com o aumento de impostos sobre o faturamento das empresas. Segundo o Mantega, a redução se-ria feita de forma escalonada em um período de dois ou três anos. “A contribuição patronal, hoje, é 20%, e o objetivo é reduzir ou zerar esta contribuição ao longo de um certo período”, explicou Mantega. O ministro informou ainda que a desoneração da folha deve ser feita por medida provisória, ainda sem data para ser editada pela presidente Dilma Rousseff. (Fonte: Economia Terra).

Page 19: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 19junho/2011

Page 20: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico20 junho/2011ESPECIAL

/INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

Cresce investimentos estrangeiros no Brasil

ANDREZZA QUEIROGA

O Brasil tem atraído cada vez mais investimentos es-trangeiros. Na opinião de

especialistas, isso se deve a diversos aspectos. Um deles diz respeito ao comportamento do País, que se man-teve inteiro durante a crise econômica mundial. Outro seria pelo fato de o Brasil sediar dois dos maiores eventos esportivos do mundo - as Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014. Para o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, os inves-timentos tem aumentado por conta do potencial da economia doméstica. Segundo ele, o mercado interno atrai muitas empresas, o que aumenta os investimentos diretos.

Independentemente de que aspectos seriam responsáveis pela demanda que o Pais tem recebido, é preciso entender que, atualmente, contamos com três tipos possíveis de investimentos de acordo com os parâ-metros do Banco Central (BC). Um

deles seria o de bens, ou seja, quando ocorre a entrada de bens tangíveis, como, por exemplo, o de máquinas. Outra espécie de investimento é em portfólio, que se trata daquele espe-culativo, geralmente feitos em cartei-ras de ações, contratos e títulos. Já o terceiro, e último tipo, são os Inves-timentos Externos Diretos (IED),

que é realizado por pessoa física es-trangeira ou pessoa jurídica com sede fora do País. Este, segundo o sócio do V,M & L Sociedade de Advogados e especialista em Direito Internacional, Bento Delgado Kardos, é o principal meio de entrada de capitais estrangei-ros no País e pode acontecer por meio de joint ventures, greenfield invest-

ments, que são os investimentos em novos empreendimentos, ou através de fusões e/ou aquisições de empresas brasileiras por estrangeiras. “Estima-se que em 2010 o País tenha recebi-do cerca de US$ 50 bilhões em IED, número recorde na história do Brasil. Apenas para fins comparativos, esti-ma-se que a China tenha recebido, no

Apesar da alta carga tributária, os investimentos estão em ascensão, especialmente, pela força econômica demonstrada durante a crise financeira mundial

stock.xchNg

O fato de o Brasil estar dentre os destinos de investimento em tecnologia dá-se também em consequência da descoberta da reserva de óleo do pré-sal.

Page 21: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 21junho/2011 ESPECIAL

mesmo período US$105.7 bilhões”, compara o advogado que diz que a China, atualmente, é o país que mais recebe investimentos estrangeiros em todo o mundo. De qualquer forma, em linhas gerais, para Bento Kardos, o que não há no País, ao contrário de outras economias, é um incentivo ao IED, “onde investidores estrangeiros têm suas operações drasticamente de-soneradas, o que acaba por gerar mais postos de trabalho, atração de capital intelectual, dentre outros benefícios”, diz.

O sócio do Guedes Nunes, Oli-veira e Roquim Sociedade de Ad-vogados, Luiz Ernesto Aceturi de Oliveira, frisa que o investimento de capital estrangeiro está sujeito a re-gimes diferentes com base no setor econômico ou a forma em que está investido. Ele explica que caso o In-vestimento Estrangeiro seja realiza-do em valores mobiliários, deve-se também observar a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários

(CVM) e a regulamentação específica do BC (Resolução 2.689). Para ele, “Para produtos importados, foi criada a Tarifa Externa Comum, utilizada pelos membros do Mercosul para im-portação de produtos de países não-membros. Ademais, está em curso uma negociação de maior integração econômica entre a União Europeia e o Mercosul, pelo qual tarifas e barrei-ras seriam baixadas para determina-dos produtos, permitindo que o Co-mércio entre os países se fortalecesse e expandisse”, alerta.

Frederico Bopp Dietrich, do Azevedo Sette Advogados, afirma que a legislação do Brasil é tranquila e que não há controle de capitais. Além disso, segundo ele, o crescimento de investimentos estrangeiros deve-se ao momento feliz do País, mesmo com a crise, pois “passamos incólume e mostramos que temos uma econo-mia robusta com uma moeda estável, com nosso consumo e crédito, o que, consequentemente, aumenta a econo-

mia”. Por outro lado, Gabriel Di Bla-si, sócio do Di Blasi, Parente, Vaz e Dias & Associados, diz que é preciso se atentar para o fato de que o Bra-sil, desde 2005, vem simplificando os procedimentos e reduzindo barreiras para investimentos estrangeiros dire-tos, reduzindo o custo operacional e facilitando o investimento de capital estrangeiro no País.

Gabriel Di Blasi acredita mes-mo que o importante é observar que no cenário atual é “extremamente fundamental desenvolver esforços para aumentar a participação das ex-portações brasileiras no mercado in-ternacional, bem como criar ambiente e instrumentos de forma facilitar os investimentos estrangeiros no Brasil. Mesmo com esta posição e diante de um cenário em que é preciso identi-ficar e impedir as barreiras, vale lem-brar que elas ainda existem.

Empecilho Tributário

O economista Silvio Campos, por exemplo, lembra que o Brasil tem uma política intervencionista, o que não é bom. “O governo intervém em empresas privadas, isso afugenta investidores e pode trazer obstácu-los”, alerta. Luiz Ernesto, por sua vez, acredita que as barreiras atuais são as que comumente vemos elencadas nas colunas nos principais jornais, ou seja, a alta carga tributária, a incidência de tributos em toda a cadeia produtiva, mão de obra mal qualificada, a falta de infraestrutura e o crédito, que ape-sar de estar em alta, ainda é caro, sen-do que o Brasil possui a mais alta taxa de juros do mundo. “Muito embora não haja tributação para a entrada do investimento estrangeiro direto e o envio dos dividendos ao sócio estran-geiro, as atividades diárias da empresa constituída no Brasil são tributadas normalmente. Os inúmeros impostos que uma empresa sediada no Brasil está sujeita é um empecilho para sua operação, tornando-a possivelmente menos rentável do que em outros lo-cais e isso é um fator determinante na hora de investidores estrangeiros de-cidirem direcionar seus investimentos para o Brasil”, sustenta.

Segundo Bento Kardos, a alta

tributação é, “sem sombra de dúvi-da, o mais terrível pesadelo para o investidor estrangeiro, que encontra não apenas uma tributação excessi-vamente alta se considerada toda a tributação que um empresário regular sofre, mas também um sistema tribu-tário composto por um emaranhado de normas e regras cuja compreensão é praticamente impossível”. O advo-gado explica, porém, que, em linhas gerais, os níveis de tributação são, teoricamente, iguais para o capital nacional e para o IED, exceção feita para os investimentos em carteiras de ações, ou seja, o capital especulativo, que sofre incidência de imposto sobre operações financeiras (IOF). “Ou seja, a legislação brasileira não oferece ne-nhum incentivo para investidores es-trangeiros direcionarem o seu capital produtivo para o Brasil, ao contrário do que acontece em outros países em desenvolvimento como, por exemplo, a China”, afirma. Antonio Carlos, advogado especialista em crédito car-bono, afirma que a questão tributária, por si só, se traduz em desincentivo para ampliação do investimento no Brasil, seja interno ou externo. “Ne-nhum outro país do mundo impõe restrição ao investimento através de uma cunha fiscal de tamanha propor-ção. Não só é exageradamente one-rosa, como absolutamente confusa, contraditória e representa elevadíssi-mos custos burocráticos. Na questão de investimentos estrangeiros, assusta entidades e empresas, já que nos seus países de origem não há essa confu-são nos preenchimentos de exigên-cias”, afirma. Para o economista Silvio Campos, o Brasil tem muitos proble-mas de competitividade, mas a carga tributaria, definitivamente, é uma barreira e esta melhoria ainda depen-de do gasto público e vontade política “e isso não deve melhorar em curto prazo”. Di Blasi sustenta o discurso de que existem altas cargas. “Em ge-ral, os principais tributos que incidem sobre a remessa de divisas ao exterior, oriundas de royalties, pagamentos por serviços prestados e remuneração de capital. De toda forma, o Brasil, ape-sar de todo o otimismo, ainda é visto como um país de forte tributação, o que afasta os investidores”, diz.

fotos: divulgação

Bento Delgado Kardos: “estima-se que em 2010 o País tenha recebido cerca de US$ 50 bilhões em IED, número recorde na história do Brasil.”

Page 22: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico22 junho/2011ESPECIAL

Avanço tecnológico

Apesar das barreiras, o total de investimentos no País tem aumenta-do em diversos setores, um deles se refere ao de tecnologia. Para Bento Kardos, esta é uma meta que qual-quer País em desenvolvimento preci-sa atingir. “Sem tecnologia o parque industrial fica defasado, a qualidade do produto cai, aumenta o custo de produção. Contudo, o fato de o Bra-sil estar dentre os destinos de investi-mento em tecnologia dá-se também em consequência da descoberta da reserva de óleo do pré-sal, que pre-cisa de inovação tecnológica para ser explorada e, obviamente, representa uma grande oportunidade de ganhos para os investidores. Paralelamente, devemos lembrar que o Brasil é um exportador de tecnologia, um berço dos sistemas de automação bancária, tido como um dos mais modernos do planeta”, lembra. Para Kardos, o Brasil, atualmente, tem sido destino

de investimentos diretos em diversas áreas, o que inclui o setor industrial, infraestrutura e também o setor de serviços e consumo. “A nova classe média brasileira representa um mer-cado de mais de 100 milhões de pes-soas, cujas famílias percebem uma renda mensal entre três e dez salá-rios mínimos. Estas famílias querem e estão consumindo e, certamente, estão no foco de IEDs que buscam ganhos em seus investimentos”, afir-ma. Gabriel Di Blasi acredita que esta tendência se deve também ao fato de Brasil necessitar se capacitar tecnologicamente por conta do seu crescimento, principalmente nos se-tores, considerados mercados secun-dários, onde efetivamente se produz tecnologia.

De acordo com o advogado Antonio Carlos, o Brasil tem evo-luído em seus projetos de pesquisas e educação continuada. Dessa ma-neira vem conquistando espaços em vários setores de tecnologia aplicada.

Ao mesmo tempo, desde o programa de governo chamado PITCE (Polí-tica Industrial e Tecnológica de Co-mércio Exterior), vem aproveitando diretrizes de fomento para Inovação e desenvolvimento de pesquisas. Fa-tos como esse levaram a uma clara posição de prestígio nos meios aca-dêmicos e industriais, com ênfase em tecnologia. “Isso abriu portas em outros países que começaram a reconhecer a capacidade em Inova-ção e Tecnologia. Porém, a escassez de recursos financeiros no País ainda é barreira importante a ser supera-da”, avalia. Para ele, outro setor que vai demandar uso de tecnologia é a cadeia de infraestrutura apta a li-dar com os grandes eventos espor-tivos, sobretudo Copa do Mundo e Olimpíadas. “Trata-se de sistemas complexos para mobilidade urbana,

transporte interno apto a se conec-tar com os diversos hubs e se integrar com o volume externo de passageiros que aportarão no País”, conclui.

Luiz Ernesto também acredi-ta que o aumento do crescimento estrangeiro se deve, principalmen-te, em função do pré-sal, que atraiu grande investimento nacional e in-ternacional em determinadas regiões do Brasil, possibilitando uma enor-me perspectiva de demanda para se-tores ligados ao petróleo, tais como serviços, tecnologia da informação, além da pesquisa na construção de plataformas, navios, portos. “O Bra-sil, apesar de seus diversos problemas estruturais, é estratégico do ponto de vista comercial pelo fato de ser o grande motor agropecuário do mun-do, bem como grande produtor de minérios. Ademais, tendo em vis-

Para Luiz Ernesto Aceturi de Oliveira, o Brasil, por ser membro fundador e inte-grante do Mercosul, possui o mérito de ter um ambiente de livre comércio entre seus membros, estimulando a integração econômica.

Frederico Bopp Dietrich afirma que a legislação do Brasil é tranquila e que não há controle de capitais.

Page 23: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 23junho/2011

ta a grande instabilidade dos países produtores de petróleo, tais como os países do Oriente Médio e a Ve-nezuela, o Brasil surge como uma alternativa, com um regime mais democrático que os demais, mais es-tável e integrado ao mercado global. A descoberta do pré-sal possibilitou que a Petrobras passasse a desenvol-ver importante papel no crescimen-to recente do País. Juntamente com isso, cria-se grande mercado para os setores indiretos, tais como os de tecnologias navais, estaleiros e ou-tros serviços”, diz.

Silvio Campos também aposta nos setores de pré-sal, infraestru-tura, bem como nos de transpor-tes e da agroindústria. “A Copa e as Olimpíadas também chamam a atenção. Demandas de obras como esta atraem o setor siderúrgico, tec-

nológico e o petróleo como as esta-ções de extração”, avalia. Frederico Bopp Dietrich acredita que as con-cessões e serviços públicos, assim como o setores como o de energia, em geral, propiciam estes inves-timentos. Gabril Di Basi lembra que o setor de matéria-prima ve-getal e mineral continua sendo um grande chamariz de investimentos. “Muito recentemente, uma missão empresária da China revelou um enorme interesse em investimentos de infraestrutura e isso indica que esta área, historicamente dominada por empresas nacionais, pode surgir como um novo atrativo de investi-mentos estrangeiros”, sustenta.

Luiz Ernesto, entretanto, diz que embora o cenário se mostre favorável ao crescimento e ama-durecimento do Brasil no âmbito

ESPECIAL

GuiAs - AmchAm

A Câmara de Comércio Americana (Amcham), em parceria com vários escritórios de Advocacia, publicou 16 guias (How To Series) destinados a estrangeiros que queiram fazer negócios no Brasil. As bancas foram convidadas para participar do projeto de acordo com a sua especialização. A série abrange uma variedade de temas como abertura de empresas, proteção à propriedade intelectual, contratos com órgãos governamentais e como obter financiamento.

Ao todo, já são 16 guias abordando diversos temas. O escritório Di Blasi, Parente, Vaz e Dias & Associados, por exemplo, participou da ini-ciativa para cobrir uma necessidade de atender demandas relativas às questões de propriedade intelectual e investimentos estrangeiros. Segundo o sócio Gabriel Di Blasi, o guia teve uma ótima aceitação e conta com uma grande variedade de temas, são eles, obtenção de visto para o Brasil, Propriedade Intelectual, Direito Desportivo e En-tretenimento, Constituição de sociedade empre-sária e investimentos em private equity e venture capital no Brasil, Licenciamento Ambiental e Con-tratos Públicos (com o Governo), dentre outros. De acordo com o advogado, os pontos abordados pelos guias da série são estratégicos para investi-dores estrangeiros e executivos recém-chegados ao Brasil. “A visão ampla, simplificada, buscando analogias com as figuras de Law & Business que circulam nos grandes países, bem como a concen-tração em pontos práticos, despontam como uma

das grandes razões do lançamento e do sucesso da coleção. Basicamente, foi fornecido um panora-ma da legislação aplicável no Brasil com relação a diversas áreas como, Patentes, Marcas, Desenhos Industriais, Cultivares, Softwares, Contratos de Tecnologia, Direitos Autorais, Direito Desportivo e de Entretenimento”, explica.

Di Blasi afirma que os guias visam apresen-tar de uma forma simples e acessível os meca-nismos de proteção à propriedade industrial no Brasil, bem como as vias práticas e oportunida-des de negócios nesta área, quanto aos Direitos Autorais, com foco na chamada “Indústria do Entretenimento”. “Quando cabível, apontamos detalhes práticos aos quais os investidores es-

internacional, é fato que a legisla-ção aplicável aos mecanismos ju-rídicos que deveriam acompanhar este crescimento efetivamente não o acompanham. “As principais leis aplicáveis aos investimentos es-trangeiros são de uma época dife-rente da realidade. Deveria haver um esforço contínuo de aperfei-çoamento destas regras de inves-timento estrangeiro através dos órgãos reguladores. Um exemplo é a CVM, que através de sua regula-mentação infralegal acompanha a evolução do mercado de capitais de maneira mais efetiva. A legislação sempre ficou, e tende a ficar, atrás das inventividades dos homens de negócios, mas no caso da legislação principal do investimento estran-geiro, datada de 1962, está muito atrasada”, finaliza.

trangeiros devem estar atentos, normalmente ligados às especificidades do Brasil e de sua cultura”, explica. O advogado afirma, ainda, que nesse contexto de alavancagem da economia brasileira, aliada de uma visão internacional bastante otimista quanto aos destinos políticos e financeiros do País, é que guias como os da Amcham se tornam essenciais, pois facilitam a vida do investidor estrangeiro. Diante da quanti-dade de normas, regras e regulamentos existen-tes, os guias procuram identificar os principais pontos iniciais que o investidor necessita para iniciar sua relação comercial com o Brasil. Isso é atestado pelo fato de que a procura pelos guias tem crescido cada vez mais”, diz.

Gabriel Di Basi: “ o setor de matéria-prima vegetal e mineral continua sendo um grande chamariz de investimentos.”

Page 24: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico24 junho/2011

Sob o modelo europeu, foram criadas agências nacionais indepen-dentes da adminis-tração pública e do empresariado, com dotação or-çamentária pró-pria, incumbidas da vigilância e supervisão da apli-cação das regras que protegem os cidadãos, poden-do impor sanções pecuniárias e pedir a cessação de suas atividades.

ARTIGO

/ELETRÔNICO

Armazenamento e quebra de dados sigilosos do consumidor

Atualmente é muito comum a prática, por empresas, da coleta e armazenamento de

dados pessoais, e mesmo a sua ces-são a terceiros.

Em vários países desenvolvi-dos, notadamente da Europa, exis-tem regras estritas que limitam as hipóteses de coleta e guarda dessas informações, além de estabelecer a obrigação de transparência, se-gurança e garantia de acesso aos titulares das informações, que as desejam conhecer, ou mesmo, re-tificar. Legislações análogas já se encontram em vigor em países sul-americanos, como Argentina, Uru-guai e Chile.

Sob o modelo europeu, foram criadas agências nacionais inde-pendentes da administração públi-ca e do empresariado, com dotação orçamentária própria, incumbidas da vigilância e supervisão da apli-cação das regras que protegem os cidadãos, podendo impor sanções pecuniárias e pedir a cessação de suas atividades.

Somente agora, passados mais de 30 anos das primeiras legisla-ções aprovadas na França, Suécia e outros países europeus, vemos o interesse do governo brasileiro na aprovação de legislação análoga, tendo, inclusive, o Ministério da Justiça apresentado para críticas e sugestões o seu anteprojeto de lei.

Não obstante, ainda carecer-mos de lei específica, o próprio Código de Defesa do Consumidor (CDC) prevê a existência de cadas-tros ou bancos de dados de con-sumidores, classificando-os como “entidades de caráter público” (art. 43, § 4º do CDC).

E como tal, estão sujeitos às regras do artigo 22 do CDC, que prevê a obrigação de fornecimento de serviços adequados, eficientes e seguros e a consequente reparação integral do dano que possam cau-sar aos consumidores.

Tal previsão legal, por si só, já obriga a empresa que mantém os bancos de dados a responder pelas fa-lhas na sua armazenagem e eventual vazamento de informações pessoais. Enquanto o anteprojeto de lei referi-do prevê a obrigação de manutenção de sistemas de segurança no “estado da arte”, também reconhece que tal atividade é de risco e que aquele que a pratica deverá responder pelos da-nos materiais e morais, individuais e coletivos, a que der causa.

Em julgados recentes, o Tri-bunal de Justiça de São Paulo tem entendido ser aplicável à espécie não apenas as regras do CDC, mas também do Código Civil, especial-mente quanto à “Teoria do Risco Criado”. Segundo o art. 927 do Código Civil, as empresas respon-derão, independentemente de cul-

pa, pelos danos que causarem no exercício de suas atividades nor-mais.

O tribunal paulista recente-mente julgou casos de vazamento de dados pessoais obtidos junto ao consumidor no ato de compra pela internet, bem como casos de inva-são de sistemas por ‘hackers’ que se apossaram de dados pessoais. Em ambos os casos, os responsá-veis pelos bancos de dados foram sancionados à base de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) por vítima ou evento.

Também há caso em que uma empresa se viu obrigada a excluir de seu contrato padrão, cláusula que lhe autorizava o uso dos dados pessoais de consumidores, inclusive, para transferir a outras empresas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.

No caso de violação de direitos causada isoladamente por empresa domiciliada no exterior - o que não é corriqueiro, pois normalmente existe algum parceiro nacional que lhe dá acesso a essa base de dados -, a pessoa lesada teria de deman-dar contra a empresa estrangeira. Todavia, o juiz brasileiro, por força das regras de competência previs-tas no CDC, será competente para conhecer da demanda, quando presente uma relação de consumo na origem da coleta/fornecimento dos dados. E, talvez, a melhor for-ma de se executar uma sentença condenatória proferida contra uma empresa estrangeira seja a penhora de créditos que esta possa possuir junto a administradoras de cartão de crédito, no Brasil.

Por fim, as empresas que co-letam e processam dados pessoais devem estar atentas a todos esses riscos, pois eventual uso inadequa-do, ou mesmo a quebra do sigilo

dos dados, pode implicar em gra-ve responsabilidade resultando em penas pecuniárias importantes. Daí a importância de tais empresas se limitarem à coleta e uso das infor-mações pessoais de seus consumi-dores na forma estritamente neces-sárias para as atividades lícitas que desempenhem, zelando por seu si-gilo e guarda com os mais elevados padrões físicos e lógicos.

LUIZ FERNANDO MARTINS DE CASTRO

Sócio do escritório Martins Castro Monteiro Advogados, é Doutor em Direito e Informática pela Universidade de Montpellier – França e Membro da Comissão de Infor-mática do Conselho Federal da OAB.

Page 25: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 25junho/2011 ARTIGO

Sustentabilidade: um desafio para a gestão das organizações

ROBERTA DENSA

Advogada em São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). Especializada em Direito das Obri-gações, Contratos e Responsabilidade Civil pela Escola Superior de Advocacia (ESA/SP) e mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O banco de dados e cadastro de consumidores é tratado pelo Código de Defesa do

Consumidor em seu art. 43. Veri-fica-se da leitura do referido dis-positivo legal que a lei não proíbe a existência de cadastros negativos do consumidor inadimplente. Ao invés disso, o legislador regula-menta a questão e traz regras a se-rem seguidas pelos fornecedores.

O artigo trata, primeira-mente, do direito inequívoco do consumidor, de acesso às infor-mações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo sobre ele, bem como das suas respectivas fontes. Esse direito coaduna-se com o direito básico à informação estabelecido no art. 6o, inciso III do mesmo di-ploma legal.

Os cadastros de consumi-dores devem ser objetivos, ver-dadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos. O consumidor que, tendo adquirido bens ou serviços de um fornece-dor, posteriormente deixa de cum-prir com a obrigação do pagamen-to, pode ter o seu nome incluído em bancos de dados criados para esta finalidade.

A inserção do nome do con-sumidor no cadastro negativo de-penderá, sempre, de aviso prévio por escrito. Essa regra está dispos-ta no § 2º do art. 43: “a abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consu-midor, quando não solicitada por

ele”. O objetivo do legislador é cientificar o consumidor da exis-tência do apontamento negativo, evitando constrangimentos e, tam-bém, dar a oportunidade de acesso e possível retificação das informa-ções que estão sendo registradas.

Importante ainda notar que o Superior Tribunal de Justiça enten-de que se a origem das informações for pública (como, por exemplo, a distribuição de um processo de execução contra o consumidor ou o protesto de um cheque) o banco de dados não terá a obrigatorieda-de de efetuar o aviso prévio, dada à publicidade das informações.

Para que a comunicação seja válida e atinja o objetivo a que se destina, deverá ocorrer dias an-tes do registro do débito em atra-so, mas a lei não estabelece prazo para tanto. Entendemos que os arquivistas devem enviar tais cor-respondências com um prazo mé-dio de 5 (cinco) dias úteis antes da efetivação do registro, para que o consumidor possa tomar as pro-vidências que entender cabíveis. Esse prazo pode ser utilizado por analogia ao § 3º do mesmo art. 43 que determina aos arquivistas o prazo de cinco dias úteis para informar a todos o pagamento do débito pelo consumidor.

A lei também não indicou o responsável pela comunicação e foi justamente este o tema acla-rado pela Súmula 359 do STJ que assim dispõe “Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Pro-teção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à ins-crição”. Desta feita, segundo o

pólo passivo da demanda. Assim sendo, a decisão agravada não merece qualquer reparo” (grifo nosso).

Em consequência da emissão da Súmula 359 do STJ podemos concluir que na hipótese de as entidades de proteção ao crédito deixarem de cumprir com o dever de prévio aviso quanto à inscrição do nome do consumidor no ca-dastro de inadimplentes, poderão ser condenadas a pagar indeniza-ção por dando moral, por lesão ao direito à honra .

É nesse sentido o recente acórdão, que ainda salienta a ne-cessidade de a comunicação ser feita pelos correios, não se admi-tindo a comunicação eletrônica: “a teor do art. 43, § 2º, do CDC, o consumidor deve ser comunica-do sobre a inscrição de seu nome em cadastro de inadimplentes por meio de notificação postal. O des-cumprimento da formalidade legal enseja o direito à indenização por danos morais, não havendo neces-sidade de prova do prejuízo” (grifo nosso) (STJ, REsp 1182290 / RS, 4ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 01/02/2011).

Podemos concluir, com a emis-são da súmula 359 do STJ que:

a) o fornecedor direto (cre-dor) não tem qualquer responsa-bilidade sobre o prévio aviso ao consumidor;

b) a entidade que administra o cadastro de inadimplentes tem a obrigação de avisar previamente ao consumidor sobre a inscrição por escrito, utilizando a via postal;

c) o direito ao aviso prévio foi reforçado pela emissão da sú-mula, garantindo ao consumidor o direito ao acesso às informações cadastrais.

d) a ausência de comunicação prévia poderá gerar indenização por danos morais ao consumidor, mantendo-se somente o adminis-trador do banco de dados no polo passivo da demanda.

entendimento do Egrégio Supe-rior Tribunal de Justiça, somente o administrador do banco de da-dos é quem deve figurar no polo passivo de ação que discute dano moral pela falta de aviso prévio ao consumidor sobre a abertura do cadastro.

A doutrina sempre sus-tentou a responsabilidade solidá-ria entre o fornecedor e do admi-nistrador do banco de dados em relação ao aviso prévio ao consu-midor. Essa interpretação estava calcada no conceito de fornecedor do art. 3º, no art. 7º e no § 1º do art. 25 do Código de Defesa do Consumidor que traz, claramente, a responsabilidade solidária entre os causadores do dano: “haven-do mais de um responsável pela causação do dano, todos respon-derão solidariamente pela repa-ração prevista nesta e nas seções anteriores”. Ora, se a ausência de notificação sobre a inscrição cau-sou dano ao consumidor, todos os envolvidos deveriam ser responsá-veis pela reparação.

No enfrentamento dessa questão, o ministro Ruy Rosado de Aguiar, em seu voto no Re-curso Especial nº 285.401 (DJ 11/06/2001) deixou clara a obri-gação solidária entre a adminis-tradora do cadastro e o credor (fornecedor direto) de comunicar ao consumidor sobre a inscrição .

No entanto, no Agravo de Instrumento nº 661.963/MG (2005/0032172-2), que originou a Súmula em comento, a Ministra Nancy Andrighi entendeu que o único responsável pelo aviso pré-vio ao consumidor deve ser a enti-dade que mantém o cadastro:

“Na presente hipótese, a co-municação prévia do consumidor, na forma do § 2º, do art. 43, do CDC, compete à entidade que mantém o cadastro, e não ao cre-dor, que informa a mera existên-cia da dívida. Portanto, o credor é parte ilegítima para figurar no

/CONSUMIDOR

Page 26: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico26 junho/2011

LUIZ ANTONIO SCAVONE JUNIOR

Advogado, Administrador pela Universidade Mackenzie, Mestre e Doutor em Direito Civil pela PUC-SP. Professor de Direito Civil e Mediação e Direito Arbitral nos cursos de graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da FMU. Autor de diversas obras e, entre elas: Direito Imo-biliário – teoria e prática (Ed. Forense) e Comentários às alterações da Lei do Inquilinato (RT).

ARTIGO

/IMOBILIÁRIO

O promitente vendedor tem interesse processual em exigir a outorga da escritura?

O compromisso de compra e venda nada mais é que o con-trato preliminar mediante o

qual o promitente vendedor se obriga a outorgar a escritura ao promitente comprador depois de receber o preço convencionado.

Trata-se de obrigação de fazer consistente na declaração de vontade no contrato definitivo - a compra e venda - em regra por escritura pública lavrada por tabelião.

Certo é que, se houver o des-cumprimento da obrigação de outor-gar a escritura por parte do promiten-te vendedor, o promitente vendedor, credor da outorga da escritura, pode exigi-la através da ação de adjudica-ção compulsória ou da ação de obri-gação de fazer, respeitados os requisi-tos de cada uma das espécies.

Todavia, é de se questionar se, do outro lado, o promitente vendedor, depois de receber o preço, pode com-pelir o promitente comprador a rece-ber a escritura.

Antes de enfrentar a questão polêmica ligada ao tema, preliminar-mente é possível afirmar que, havendo previsão contratual da obrigação de o promitente comprador receber a es-critura em prazo determinado após a quitação, admitida inclusive cláusula penal específica no caso de mora, res-ta evidente que o promitente vendedor pode exigir o cumprimento através de ação de obrigação de fazer com pedi-do de imposição de multa diária (as-terinte), nos termos dos arts. 475-I, 461 e 461-A do Código de Processo Civil.

Ultrapassada a clareza inicial decorrente da previsão contratual da

obrigação de o promitente comprador receber a escritura, indaga-se a mes-ma possibilidade diante da ausência de previsão neste sentido no pacto entre as partes.

Há interesse processual do pro-mitente vendedor (interesse necessi-dade)?

É preciso lembrar que o interes-se processual existe na exata medida em que o autor da ação necessita da prestação jurisdicional pelo exercício do direito de ação para alcançar pre-tensão legítima, com fundamento na lei, que lhe conceda utilidade no pla-no material, mas encontra resistência injustificada da parte contrária.

Em consonância com o acatado é possível afirmar que existe o interes-se processual do promitente vendedor em buscar tutela jurisdicional para compelir o promitente comprador a receber a escritura, ainda que o con-trato seja omisso.

O direito de propriedade do promitente vendedor foi quase que totalmente esvaziado pela quitação do preço pelo promitente comprador e somente era mantido como garan-tia do recebimento de preço, não ha-vendo mais qualquer utilidade na sua manutenção. Pelo contrário, pode lhe impor prejuízos consideráveis, o que justifica plenamente o seu interesse processual.

Posso exemplificar: o proprie-tário do imóvel responde pelos danos decorrentes da ruína em razão da falta de manutenção, o que se afirma com suporte no art. 937 do Código Civil, responsabilidade esta que encontra sua origem na cautio damni infecti do Direito Romano, que autorizava o

pretor a exigir caução do proprietário que não preferisse o abandono.

Há outras consequências, como a obrigação de pagar condo-mínio, qualificada como obrigação propter rem nos termos do art. 1.345 do Código Civil, inclusive havendo alguns julgados que sustentam que é facultado ao condomínio esco-lher entre processar o proprietário ou o promitente comprador, ainda que tenha ciência da promessa. E a execução decorrente da condenação no pagamento dos débitos condo-miniais não fica adstrita à penhora do próprio imóvel, podendo invadir a esfera patrimonial do réu da ação, justamente o promitente vendedor que na hipótese que ora trato já re-cebeu o preço e mantém a proprie-dade totalmente esvaziada.

Se não bastasse a questão con-dominial, existem outras obrigações propter rem, como aquelas decorren-tes dos tributos vinculados ao imóvel e obrigações pelo pagamento do con-sumo de água.

Por todas essas razões, penso que o interesse processual do promi-tente vendedor é evidente, evidentís-simo, aliás.

Neste sentido, o seguinte julga-do do Tribunal de Justiça de São Pau-lo que, inclusive, deferiu o pleito de dano moral pelo fato de o promitente vendedor ter seu nome incluído no rol de inadimplentes:

TJSP - 0002542-08.2010.8.26. 0077 - Apelação - Relator: Francisco Loureiro - Comarca: Birigüi - Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Priva-do - Data do julgamento: 28/04/2011 - Data de registro: 29/04/2011 - Ou-tros números: 25420820108260077 - Compromisso De Venda e Compra Obrigação de Fazer Ação ajuizada pela promitente vendedora contra o promitente comprador para compeli-lo a receber a escritura do imóvel, cujo preço se encontra integralmente pago Interesse da promitente vendedora para que as taxas e tributos ou mesmo obrigações propter rem, ou responsa-bilidade civil por ruína do prédio, não recaiam sobre quem mantém formal-

mente o domínio, mas despido de todo o conteúdo, já transmitido ao adqui-rente. Dano Moral. Ocorrência. Auto-ra que, em decorrência da inexistência de regularização da propriedade do bem, teve seu nome negativado - Ação procedente - Recurso provido.

Em sentido totalmente contrá-rio, inadmitindo o pleito pelo promi-tente vendedor, encontrei o seguinte julgado com o qual, data venia, não posso concordar:

TJSP - Apelação s/ rev. 4291784400 – Relator: Luiz Ambra - São Paulo - 8ª Câmara de Direito Privado - Julg: 16/09/2009 - Reg: 22/09/2009 - ação de preceito co-minatório buscando cumprimento de obrigação de fazer (vir receber escri-tura definitiva de venda e compra de imóvel antes compromissado) - Re-curso contra indeferimento liminar da inicial,

reconhecida a falta de interesse do autor à propositura da demanda – Escopo

do pedido (não mais ser cobrado pelas despesas condominiais do imó-vel) que

não se erige em justificativa su-ficiente para sua formulação - A pro-messa de venda passada com trans-ferência da posse do bem, de si, já inibe a possibilidade de tais cobran-ças - Carência bem decretada, apelo improvido.

Posta assim a questão, em razão do risco deste último entendimento, é de todo recomendável que a obri-gação de receber a escritura esteja disposta em cláusula contratual, com termo certo. Como sugestão, posso indicar a seguinte redação: “O promitente comprador, sob pena de multa de (...), sem prejuízo das medidas judiciais, se obriga a rece-ber a escritura em até (...) dias da quitação do preço, em tabelião indi-cado pelo promitente vendedor por qualquer meio idôneo de comunica-ção, obrigando-se, ainda, a entregar seus documentos e a pagar os tri-butos e custas necessárias à outorga de escritura em cumprimento deste contrato.”

Page 27: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 27junho/2011

. c o mw w w.

Lei nº 1. Sobre o acesso ao conhecimento.

0 8 0 0 7 0 9 8 1 0 0 w w w. t o t v s . c o m/ t o t v s # l e t s s h a r e

Technology | Software (SaaS) | Social Network | Consulting

Compartilhe o novo mundo.

Parágrafo Único. Dividir conhecimento é a melhor maneira de multiplicar riquezas. Essa é a primeira lei. Esse é o novo mundo. Um lugar mais justo, mais próximo, mais humano, onde a informação é livre e está acessível a todos. A TOTVS, por meio de suas soluções em tecnologia, software e serviços, oferece acesso a esse novo mundo sem barreiras ou limitações. Let´s share.

AF_000-0-11_an_juridico_24x27.indd 1 6/3/11 5:03:39 PM

Page 28: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico28 junho/2011LAZER

/VIAGEM

Para desfrutar o inverno praticando esqui, a dica do Enfo-que Jurídico desse mês é o Chile, país que se destaca por possuir um clima mediterrânico. Lá é possível aproveitar as estações de esqui (cotada como as mais modernas da América do Sul), especialmente em Vale Nevado, que ficam abertas de junho a setembro. Após setembro, a neve cede espaço às flores, sur-gindo outra forma de conhecer os Andes e a Patagônia Chilena.

A Cordilheira dos Andes (aci-ma) é o pano de fundo da cidade de Santiago, que fica a 567 metros do

FERNANDA SAL

nível do mar. A cidade não tem um ponto turístico de destaque, já que são várias as opções de passeios e visitas. O melhor é percorrer a pé as ruas dos bairros da cidade, passando pelo Centro histórico com prédios tombados pela Prefeitura, pelo bairro de Bellavista e, ainda, pelo bondinho no Cerro San Cris-tóbal.

Os principais pontos turísticos da cidade se encontram no Centro. A partir da Praça da Cidadania, está localizado o Palácio de La Moneda (abaixo), sede do governo do Chile e do poder executivo. É permitido o

acesso apenas aos pátios internos. Lá tem o Centro Cultural La Moneda, espaço com arquitetura futurista e exposições permanentes e temporá-rias, sendo a maioria delas sobre o país, seu povo, cultura e costumes. O destaque do local é um mapa temático detalhado do Chile, com 50 metros de comprimento.

Próximo ao Palácio de La Moneda, está localizado o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana, eleito um dos melhores e mais completos museus sobre a cultura pré-colombiana do mundo. A um quarteirão de distância, está a Plaza de Armas, praça central da cidade e lugar de encontro de toda a popula-ção. Ali perto, cerca de três quar-teirões, tem o Mercado Central, que reúne restaurantes de pratos típicos e pescados.

Ao turista, a dica é visitar a antiga residência de Pablo Neruda (La Chascona). Além disso, é imper-dível conhecer as vinícolas. Duas vinícolas se destacam perto de Santiago, a Viña Santa Rita, fundada em 1880, e a Viña Concha Y Toro, fundada em 1883.

Para os consumidores de plantão, o comércio local não fun-ciona aos domingos e aos sába-dos somente pela manhã. Não se esqueça que a população local é adepta à cesta, e o comércio fecha das 13h30 até as 15h.

DicAs De hospeDAGem:holiday inn santiago Airport –

Santiago (Armando Cortinez Norte 2150, Santiago, 0000 Chile) – diá-rias a partir de R$228,00.

hotel plaza el Bosque park – Santiago (Ebro 2828, Las Condes, Santiago, 7550091 Chile) – diárias a partir de R$ 200,00.

Santa Magdalena Apart-ments – Santiago (Helvecia 244 Las Condes, Santiago, 7550136 Chile) – diárias a partir de R$ 146,00

Valle Nevado ski Resort – San-tiago (Avenida Vitacura 5250 #304, Vitacura, Santiago) – diárias a partir U$ 265,00

* Os valores das diárias podem variar para mais ou para menos de acordo com o pacote comprado ou agência de turismo escolhida.

Aproveite o clima mediterrânico do Chile

fotos iNterNet

Page 29: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 29junho/2011

Page 30: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico30 junho/2011CULTURA

/CRÔNICA

CLÁUDIO WILLER

Poeta e professor univer-sitário. Foi presidente da União Brasileira de Es-critores por quatro vezes e atualmente é o diretor de Políticas Culturais da entidade.

No começo da década de 1980, o editor Caio Graco Prado da Brasiliense, participante ativo nos debates de política cultural (e outros foros importantes) alertava sobre as conseqüências da cópia reprográfica ou xerocópia custar menos que a página do respectivo livro copiado.

Na mesma época vi, no balcão de uma copiadora, uma moça enco-mendar trinta cópias de um exem-plar de Diário de um ladrão de Jean Genet, editado pela Nova Fronteira. Comentou ser estudante da PUC e que a professora havia pedido um trabalho sobre esse livro. O roubo dos direitos autorais do diário de um ladrão foi na gráfica e copiado-ra Alfa, à Rua Antonia de Queiroz, entre Augusta e Frei Caneca.

Em 1985, participei de uma reunião do CNDA para discutir providências diante do alastramento das cópias reprográficas. A proposta aprovada: taxá-las. Continua, penso, a ser a proposta mais razoável.

A lei em vigor encontrou, porém, outra solução. E instaurou a confusão:

Capítulo IVDas Limitações aos Direitos

Autorais Art. 46. Não constitui

ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução:(...)

Reabertura da discussão da proibição da cópia reprográfica

II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;

No final da década de 1990, por iniciativa de uma entidade, a ABDR, e com nosso apoio, começou o combate à reprografia.

A conseqüência: hoje, esta-belecimentos da região da Avenida Paulista e Rua Augusta não acei-tam copiar livros. Certa vez, tentei copiar-me – levei um dos meus li-vros, precisava da xerocópia de um poema. “Livros, não”, foi a resposta taxativa – e não adiantou argumen-tar que não havia infração, posto que autor e cliente eram a mesma pessoa. O comércio tem que ser simples; comerciantes não são che-gados à sofisticação e refinamento jurídico; melhor perder negócios do que ter polícia baixando na loja; e xerocopiadoras não contratam autoralistas para dar plantão e orientar atendentes sobre o que pode ou não.

Em contrapartida, encomen-do quantas cópias quiser, do que quiser, a oitenta centavos a página dupla, em um dos inumeráveis estabelecimentos menos conspí-cuos em São Paulo. E o faço sem culpa: sou pesquisador; por isso, mais xerocópias equivalem a menos manuseio de algum exemplar de biblioteca.

Se as restrições em vigor funcionassem, causariam prejuízos à pesquisa, à produção do conheci-mento. Principalmente, se atingis-sem blogs de professores e apre-ciadores da literatura, nos quais se pode colher qualquer flor ou fruto proibido no exuberante jardim das letras ao qual se tem acesso através

do Google. Por exemplo, boas sele-ções da poesia de Cecília Meireles, cujos herdeiros, notoriamente, di-ficultam a edição de sua obra e até mesmo a produção e publicação de pesquisas.

Uma solução intermediária seria aquela adotada em bibliote-cas de boas universidades: cópias, só de livros raros, não encontráveis no mercado; ou então, número limitado de páginas por livro. Mas ao lado, no balcão do diretório aca-dêmico, prossegue a xerocopiagem geral. E, novamente, seria exigida sofisticação intelectual além da conta dos atendentes de estabele-cimentos que xerocopiam.

Diante disso, da existência de dois mundos, rigorosamente coe-xistentes – aquele no qual se pode xerocopiar tudo e aquele outro no qual não se pode xerocopiar nada –, é o caso de retomar a propos-ta anterior, aquela da taxação de cópias reprográficas ou xerocópias. E liberar a cópia, inclusive de obra integral, se for parar uso pessoal e não com finalidade comercial. Além disso, é preciso saber se é possível fazer algo no sentido de controlar a reprodução no meio digital, hoje

em dia com escala e dimensões muito maiores que a xerocópia ou reprografia mecânica.

Há um desvio de ênfase. Nosso problema não é a xerocópia barata, porém o livro caro. En-contro a edição norte-americana ou francesa de um autor norte-americano ou francês em livrarias a preços inferiores à respectiva edi-ção brasileira – e isso significa que lá o mesmo livro custa a metade do preço da edição equivalente aqui. Nossos livros são caros porque tiragens são pequenas. Entre outros motivos, por causa da concorrência das cópias. Como romper o círculo vicioso? Não só através de provi-dências jurídicas, porém de políti-cas culturais públicas: ampliação da subvenção à compra de livros por bibliotecas, patrocínios para a produção de obras de qualidade, melhoras na qualidade do ensi-no, programas para a redução do analfabetismo funcional. Editores poderiam arriscar mais, competir diretamente com as xerocópias através de edições baratas com tiragens maiores (a exemplo do que já fazem alguns, com seus “pocket books”).

Page 31: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico 31junho/2011

A Fecomercio Arbitral reúne a credibilidade, a seriedade e a tradição de algumas das entidades empresariais, jurídicas e representativas mais importantes do país: a Fecomercio-SP, o SEBRAE, a Câmara de Arbitragem Internacional de Paris, a OAB-SP e o Sescon. Além disso, conta com um corpo de árbitros altamente qualificado e um ambiente privado, exclusivo e dedicado. Ou seja, tudo o que você precisa para resolver a sua causa jurídica de maneira rápida, segura e imparcial.

Para mais informações ligue 11 3254-1759,ou envie um e-mail para [email protected]

Câmara Arbitral de Paris

LAYOUT-ANUNCIO.indd 2 5/20/11 3:08 PM

Page 32: Enfoque Jurídico - Edição Junho

Enfoque Jurídico32 junho/2011