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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
WENDELL PRAXEDES XAVIER
Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de
experiência.
NATAL – RN
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
WENDELL PRAXEDES XAVIER
Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de
experiência.
Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura Plena em Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN – como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Licenciada em Música.
Orientadora: Prof. Valéria Lázaro de Carvalho
Coorientador: Everson Ferreira Fernandes
NATAL – RN
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
WENDELL PRAXEDES XAVIER
Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de
experiência.
Natal, ____de____________de_______
Nota: _____________
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dra.Valéria Lázaro de Carvalho
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Orientadora
________________________________________________
Prof. Ms. Everson Ferreira Fernandes Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Coorientador
__________________________________________________
Prof. Dra. Eliane Leão
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Avaliador
DEDICATÓRIA
Dedico todo esforço deste trabalho a Deus, que me concedeu
todas as oportunidades necessárias para o cumprimento de
mais uma etapa na minha. Toda honra e toda glória a Ele. A
minha mãe e minha noiva, que me deram todo suporte
necessário para realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela força e coragem durante toda esta
longa caminhada. Só Ele sabe o quanto foi difícil essa jornada e sua concretização.
Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante a graduação,
Prof. Dra. Amélia Dias, Prof. Ms. Catarina Shin, Prof. Dr. Danilo Guanais, Prof. Ms. Maria
Helena, Prof. Dr. Ticiano D’amore, Prof. Dr. Jean Joubert, Prof. Dra. Cord. e Orientadora
Valéria Carvalho que aceitou o meu pedido para orientar este trabalho e in memorian o Prof.
Ms. Manoca Barreto. Esses professores, foram de fundamental importância para a minha vida
acadêmica e são responsáveis pelo conhecimento adquirido na EMUFRN.
Gostaria de deixar um agradecimento especial ao grande Manoca Barreto (Mestre
Manoca) o qual ensinou não só a teoria musical, mas, como ser um verdadeiro educador. Sei
que durante o meu percurso como docente, não irei conseguir aplicar tudo que ele tentou
passar, porém, procuro no meu dia a dia de educador, frente aos meus alunos, mostrar um
pouco do que aprendi musicalmente e como pessoa. Obrigado Mestre Manoca.
Agradeço também ao professor Mestre, Everson Ferreira o qual foi o coorientador
nesse trabalho. A sua contribuição de extrema importância e só Deus para poder recompensar
todo o seu trabalho, dedicação e paciência. Toda a sua atenção e gentileza ao aceitar ajudar na
organização desse trabalho foi essencial. Ele praticamente me pegou pela mão e foi
direcionando todos os caminhos e incentivou para que no meio do caminho não desistisse,
muito obrigado!!!!
Dedico esta, bem como todas as minhas demais conquistas, a minha amada Mãe
(Hildaci) que é a “melhor mãe do mundo” e que fez de tudo para que eu conseguisse chegar
até aqui, contribuiu de todas as formas possíveis e impossíveis. É sem dúvidas, uma
batalhadora extraordinária e que se tivesse que escrever um livro sobre uma heroína, o livro
teria o seu nome e seu rosto como capa.
Agradeço também, em um parágrafo separado, aquela que com todas as suas
qualidades, me deu força, ajudou, encorajou, estimulou e por muitas vezes abdicou de várias
outras atividades para que eu pudesse concluir essa etapa. Ela que chegou quando o jogo já
estava rolando, mas foi crucial para a finalização dessa conquista. A minha eterna namorada,
Mayanna Leny.
E a todos que fizeram parte da minha formação direta ou indiretamente, meu muito
obrigado!
EPÍGRAFE
“Nascer sabendo é uma limitação porque obriga
a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar,
refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto,
mais refém do que já se sabe e, portanto, do
passado; aprender sempre é o que mais impede
que nos tornemos prisioneiros de situações que,
por serem inéditas, não saberíamos enfrentar”.
Cortella (2016, p.23)
RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade relatar uma experiência utilizando a concepção de
Projeto de Trabalho e música em duas turmas de oitavo ano do ensino fundamental II de uma
escola da rede particular de ensino, situada na região oeste da cidade de Natal-RN. No início é
apresentado um histórico sobre projeto de trabalho, sua organização e um breve contexto da
música na educação básica após a lei 11.769/2008 que torna a música um conteúdo
obrigatório do componente curricular arte. O objetivo deste trabalho é analisar o uso do
Projeto de Trabalho como uma alternativa para o currículo de música na educação básica. A
metodologia utilizada foi um Relato de Experiência através de uma pesquisa de campo. Em
seguida, é realizado um Relato etapa por etapa do desenvolvimento da metodologia do Projeto
de Trabalho em cada uma das turmas de oitavo ano. E ao final são apresentadas as conclusões
do autor, sobre a importância de utilizar o projeto de trabalho no currículo de música.
Palavras-chave: Projeto de trabalho; Ensino Fundamental; educação musical.
ABSTRACT
The present work aims to report an experience using project work design and music in two
classes of eighth grade of elementary school II of a particular network education school,
which is located in the West of the city of Natal. At the beginning are a history about work
project, your organization and a brief context of music in basic education after the
11,769/2008 law that makes the music a required curricular component art content. The aim
of this study is to analyze the use of the work project as an alternative to the music curriculum
in basic education. The methodology used was an account of experience through a field
research. Then, there is a step by step Account of the development of the methodology of the
project work in each one of the eighth-grade classes. And at the end are presented the
conclusions of the author, about the importance of using the work project in the music
curriculum.
Keywords: Work project; Elementary School; music education.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Apresentação do tema: As emoções que a música causa.........................................35
Figura 2 - Reunião dos grupos para criação da exposição. (8°A). ........................................... 36
Figura 3 - Exposição do grupo: “gêneros musicais e as emoções causadas por ele”..................37
Figura 4 - Exposição do grupo: “a música como trilha sonora”. ............................................ 38
Figura 5 - Exposição do grupo 6: “musicoterapia” (8°A) ........................................................ 38
Figura 6 - Apresentação do tema: Musicoterapia. (8°B) .......................................................... 40
Figura 7 - Apresentação do tema: Por que só gostamos de certos tipos de música? ................ 41
Figura 8 - Reunião dos grupos para montagem da exposição. (8°B) ....................................... 42
Figura 9 - Exposição do grupo: “musicoterapia” (8°B)............................................................ 43
Figura 10 - Exposição do grupo 2: “Quais as substâncias causam prazer na música” ............. 44
Figura 11 - Exposição do grupo 4: “Por que só gostamos de certos tipos de música” ............ 45
Figura 12 - Exposição do grupo 4: Alunos respondendo perguntas. ........................................ 45
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Caracterização de um projeto de trabalho.......................................................21
Quadro 2 - Sequência de síntese da atuação do professor e dos alunos no projeto...........23
Quadro 3 - O que poderia ser um projeto de trabalho.......................................................24
Quadro 4 - Primeiro índice do projeto...............................................................................31
Quadro 5 - Segundo índice da turma do 8°A ....................................................................32
Quadro 6 - Segundo índice do 8°B ...................................................................................39
LISTA DE ABREVIATURAS
LDB Lei de Diretrizes e Base
MEC Ministério Da Educação
OCEM Organizações Curriculares Para O Ensino Médio
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PPP Projeto Político Pedagógico
RCNEI Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................14
2. PROJETO DE TRABALHO E MÚSICA NA ESCOLA....................................17
2.1 História dos Projetos de Trabalho.....................................................................17
2.2 Projeto de Trabalho e sua organização..............................................................21
2.3 A música na educação básica............................................................................25
3. METODOLOGIA..................................................................................................28
4. PROJETOS DE TRABALHO E MÚSNCA NAS TURMAS DE 8° ANO ......30
4.1 – Relato de experiência do 8° A........................................................................32
4.2 – Culminância do projeto do 8° A.....................................................................36
4.3 – Relato de experiência do 8° B........................................................................39
4.4 – Culminância do projeto 8°B...........................................................................42
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................46
REFERÊNCIAS...........................................................................................................48
14
1. INTRODUÇÃO
A minha experiência com projetos de trabalho e música se iniciou em uma escola no
Bairro de cidade Nova, em Natal-RN. Nessa escola o trabalho era todo voltado para um tema
durante o ano inteiro. O tema era exposto para toda a comunidade através da exposição de
cartazes, para o conhecimento dos pais que frequentavam a escola e por meio dos educadores
através de trabalhos desenvolvidos em sua disciplina sobre um eixo temático. A culminância
do projeto se dava em data marcada previamente com os professores e alunos, que
apresentavam o resultado das pesquisas e atividades desenvolvidas em sala para o restante da
comunidade.
No início, por se tratar de algo que nunca tinha vivenciado em minha experiência
escolar, nem durante a minha formação, foi desafiador e ao mesmo tempo empolgante. Por ser
professor de Artes-música, e tendo dificuldades em encontrar livro didático para essa
disciplina, então, observei com entusiasmo o trabalho a ser lapidado, pois iria junto aos alunos,
desenvolver pesquisas dentro de um determinado tema e a partir dele, criar e desenvolver as
atividades com eles.
No ano de 2014, em outra escola, que tinha como objetivo melhorar os resultados no
exame nacional do ensino médio, houve o incentivo para que o corpo docente trabalhasse com
atividades e projetos interdisciplinares. Foi um ano de adaptação para a equipe docente para
essa nova metodologia, ou seja, trabalhar um tema utilizando diversas disciplinas. Neste
mesmo ano desenvolvi um projeto com a orientação do meu coordenador pedagógico, em
parceria com o professor de história, sobre a diversidade musical na década de 60 e 70.
Abordamos os temas: Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicalismo. Esses projetos foram
desenvolvidos com os alunos de três turmas de 9º do ensino fundamental e que teve como
princípio norteador um tema da disciplina de história.
Desde então, o trabalho com projetos se tornou uma prática comum durante a minha
docência. Comecei a buscar experiências diversas em artigos, livros e na internet que
pudessem contribuir ainda mais na minha prática. Exemplos de diversos professores que
utilizam a pedagogia de projetos e os expões na rede, serviram como base para montar vários
projetos. Mesmo com as várias fontes de inspiração, tentei sempre buscar adequar a minha
realidade e a dos alunos. É necessário apontar que quando iniciei o trabalho com projeto e
interdisciplinaridade, havia ainda, por parte dos alunos, uma certa desconfiança e que findou
após a culminância dos projetos.
15
Com os projetos realizados, desenvolvi outros em diferentes turmas do ensino
fundamental nos anos finais: Gêneros Musicais, com alunos do 9° ano no 1° semestre de
2015; História do Rock Nacional dos anos 80, com alunos do 8° ano no 2° semestre de 2015;
História dos Diversos Tipos de Samba, com alunos do 7° ano no 2° semestre de 2015; e
Instrumentos de Orquestra e Seus Sons, com alunos do 6° ano no 2° semestre de 2015.
O objetivo geral deste trabalho é analisar a partir de um relato de experiência, a prática
de Projetos de Trabalho como metodologia para o ensino de música em duas turmas do oitavo
ano de uma escola da rede privada da cidade de Natal-RN. Apresentar como uma estratégia a
ser utilizada para Currículo de música na educação básica.
Os objetivos específicos, são:
Reunir os relatos e investigar a importância de se trabalhar com projetos de trabalhos e
música na educação básica.
Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os
projetos na educação básica.
Avaliar a introdução de projetos de trabalho como estratégia para o currículo de
música na educação básica.
No presente trabalho realizo uma análise a partir de um relato de experiência, o
desenvolvimento de um Projeto de Trabalho fundamentado no modelo que Fernando
Hernández aplicou em escolas do ensino fundamental de Barcelona.
No referencial teórico utilizo como fundamentação o Professor Fernando Hernandez e
passo a ser pesquisador/professor no momento em que aplico e relato como aconteceu todo o
projeto, que teve início com um questionamento de minha autoria, ao final de uma aula com
as turmas de oitavo ano. A pergunta “Quais as sensações que a música causa no ser
humano? ” Foi o fio condutor para iniciarmos todo o projeto. A partir dessa pergunta
expliquei aos alunos como seria realizado o processo e que o meu papel passaria a ser de
orientador do projeto.
Neste sentido, apresento um histórico desse processo, desde o início até o que
conhecemos hoje e apresento uma forma que não é nova, mas que muitos professores de
outras disciplinas têm receio em utilizar, pois muitos partem do princípio que a educação deve
16
ser com conteúdos “engessados” de “cumprir com o conteúdo do livro didático” e sem a
possibilidade de garantir um processo de atitude de autonomia dos alunos.
Ainda no capitulo dois, mostro como Fernando Hernández propõe a organização dos
Projetos de Trabalho e um breve contexto da música na educação básica nos dias atuais após a
lei 11.769 e as diretrizes aprovadas recentemente.
No capitulo três, apresento a metodologia utilizada para o desenvolvimento do
trabalho, expondo como ocorreu a coleta de dados, os participantes da pesquisa e o local onde
foram coletadas as informações presentes neste trabalho.
No quarto capítulo descrevo o percurso dos alunos ao longo do projeto, passando por
fases como a primeira pesquisa e criação do primeiro índice, em seguida passo ao tratamento
dessas informações com o objetivo de conseguir delimitar melhor os temas abordados, e na
sequência, a apresentação do tema para turma como forma de mostrar aos participantes o que
está sendo desenvolvido. Para finalizar, descrevo como foi a criação da exposição para
demonstrar à comunidade escolar o resultado da pesquisa.
Nas considerações finais apresento a minha análise sobre o processo de
desenvolvimento do projeto, a participação dos alunos na criação e execução do mesmo e
exponho a importância de se trabalhar com a concepção de projeto de trabalho na educação
básica e o envolvimento da música nesse contexto.
17
2. PROJETOS DE TRABALHO E MÚSICA NA ESCOLA
2.1 HISTÓRIA DOS PROJETOS DE TRABALHO
Para entender o que significa os projetos de trabalho é necessário saber a história de
quando começou a se trabalhar com essa concepção e quais as suas contribuições para a
educação. Essa concepção que relaciona o aprendizado a questões pertinentes à vida do aluno,
teve seu início no movimento escola nova que surge no final do século XIX e início do século
XX com o pensamento de Jonh Dewey (1989) que tinha como objetivo mudar os rumos da
educação tradicional para uma nova concepção de educação que foi chamada de pedagogia
ativa, onde o aluno é o protagonista do conhecimento. Jonh Dewey estava em busca de
transformar o contexto da educação tradicional da época, que apresentava as matérias de
forma isolada e os conteúdos fragmentados e baseados na repetição. Ele afirmava que era
carregada de elementos desconexos e que eram aceitos por repetição ou imposição.
Assim, ao velho armazenamento da multiplicidade de matérias de estudo,
isoladas umas das outras, fragmentadas, baseadas na repetição, deveria ser
adicionado novos métodos e novas técnicas, novos conhecimentos e novas
habilidades, visando transformar a escola num ambiente onde se deve “viver
o verdadeiro viver”, e assim preparar a criança para enfrentar situações que a
sociedade em mudança estava a exigir. (MENEZES e CRUZ, 2007, p. 112)
Assim, Jonh Dewey propõe fazer na escola fundamental o que se faz na esfera dos
negócios ou seguir um conjunto de tarefas que se desenvolve no seu cotidiano, na sua casa, na
rua, na sociedade. Ele tinha como objetivo mostrar que a educação e o aprendizado dependem
de fatores internos e externos à escola e que não estão apenas em conteúdos engessados no
qual tenta garantir que o aluno demonstre por meio de suas pesquisas aquilo que está sendo
vivido naquele momento e que o diálogo entre a vida, aprendizagem e as experiências são
importantes para a organização e reorganização do pensamento. Nesse contexto Jonh Dewey
queria que o educando desenvolvesse valores morais e éticos que são inerentes aos humanos,
como a autonomia, a solidariedade, a coletividade, o respeito ao próximo, a autoestima
positiva, para assim se tornarem indivíduos completos.
A partir desse pensamento de Dewey, em outros períodos desenvolveram-se diferentes
concepções sobre os projetos e receberam diversos nomes como: Métodos de projetos, centros
de interesse, trabalho por temas, pesquisa do meio, porém, com visões diferentes, contextos
variados e objetivos parecidos. Esses métodos tinham a preocupação de apresentar uma
proposta curricular diferente daquela em que a organização do currículo ocorre por matérias.
18
Nos anos 80, Fernando Hernandez desenvolve experiências em uma escola de
Barcelona no ensino fundamental com o nome de Projeto de Trabalho, com o objetivo de
organizar os conhecimentos escolares, sem copiar, mas sim reinterpretando, recriando,
recontextualizando de acordo com as especificidades do mundo atual. Hernández não tem
como meta fazer uma síntese dos modelos anteriores, e sim propor uma prática pedagógica
adequada às condições da nossa sociedade e não simplesmente readaptar uma proposta do
passado e atualizá-la.
[...] Tanto em educação quanto em qualquer campo de conhecimento não se
parte do zero, e é necessário considerar o “lugar” de onde viemos, as ideias e
as experiências que reconhecemos que nos influenciam. Mas não para copiá-
las, mas sim para reinterpretá-las... pois nada pode continuar sendo como foi
em seus dias. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 23).
O projeto de trabalho desenvolvido por Fernando Hernandez na escola Pompeu Fabra
de Barcelona tinha como objetivo desenvolver o olhar crítico dos estudantes frente a vivências
desenvolvidas em sala de aula como uma forma de mudar o currículo e organizar o
conhecimento escolar de forma globalizada que vai além dos conteúdos escolares e permite
romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as
diferentes áreas de conhecimento numa situação contextualizada da aprendizagem, de forma
compartilhada, tornando a sala de aula um ambiente dinâmico e propício a integração dos
educandos e educadores. Como afirma Menezes e Cruz (2007, p. 112) “[...] os conteúdos são
estudados através de questões problematizadoras, numa perspectiva globalizadora, inter-
relacionando diferentes informações, a partir de um determinado eixo temático”. Neste
sentido é fundamental que o educando utilize de várias estratégias e conhecimentos que já tem
sobre o tema e que busque informações que facilite na construção de seus conhecimentos, na
transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em
conhecimento próprio.
É interessante perceber que a Lei de Diretrizes e Base (LDB, Art.35, inciso III) aponta
que o princípio da aprendizagem está no “aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico”. O aluno não poderá aprender a exercer autonomia se não pratica-la em situações de
aprendizagem reais e é exatamente o que o projeto de trabalho se propõe a fazer se utilizando
de processos de pesquisa, tratamento da informação e a possibilidade de construir o
conhecimento de acordo com os seus questionamentos sobre determinado tema.
19
Essa proposta de trabalho, mais do que uma mudança teórico-metodológica transforma
a maneira de se pensar o conhecimento. Este deixa de ser repassado como produto e passa a
ser construído, o que pressupõe uma ação investigativa por parte dos participantes, alunos e
professores.
O ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não-determinado e
flexibilidade para reformular as metas e os percursos à medida que as ações projetadas
evidenciam novos problemas e dúvidas. (Hernández, 1998, p. 51) “Estabelecer relações com
muitos aspectos de seus conhecimentos anteriores enquanto que, ao próprio tempo, vai
interligando novos conhecimentos. ”
O conhecimento globalizado é uma forma de organizar a atividade e ensino e
aprendizagem com conteúdos flexíveis (não rígidos) e sem referências preestabelecidas. Sua
função é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares a
partir do tratamento da informação, e da relação entre os diferentes conteúdos em torno de
problemas ou hipóteses envolvidas na construção do conhecimento.
Na visão de Hernández, a organização escolar deveria ser em torno de uma visão
globalizadora, ou seja, quando o aluno busca relações entre os saberes, a fim de compreender
melhor o mundo em um processo de investigação de problemas que vai além do aprendizado
de disciplinas.
[...]Continua parecendo-me válida sua relação com a ideia de aprender a
estabelecer e interpretar relações, de superar os limites das disciplinas
escolares e ainda sua conexão com a atitude favorável à interpretação sobre
o que sucede a sala de aula, à não-fragmentação e à aprendizagem constante
do professor. (HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998, p. 19)
Nessa busca de relação entre os saberes, procura-se estimular no aluno, através da
utilização de diferentes procedimentos e estratégias, a seleção da informação para favorecer a
sua autonomia com vistas a poderem adaptar-se as necessidades de trabalho em uma
sociedade informatizada e em constante transformação a partir da enorme quantidade de
informação disponível nos meios de comunicação, livros e internet.
O projeto de trabalho é entendido como uma oportunidade em que os alunos percebem
que o conhecimento não é exclusividade de determinada disciplina uma vez que rompe com a
forma rígida de enquadrar os conteúdos e vai desenvolver no educando várias capacidades
como:
A auto direção: pois favorece as iniciativas para levar adiante, por si mesmo
e com outros, tarefas e pesquisas; a inventiva, mediante a utilização criativa
20
de recursos, métodos e explicações alternativas; a formulação e resolução de
problemas, diagnóstico de situações e o desenvolvimento de estratégias
analíticas e avaliativas; a integração, pois favorece a síntese de ideias,
experiências e informação de diferentes fontes e disciplinas; a tomada de
decisões, já que será decidido o que é relevante e o que se vai incluir no
projeto. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 73)
São diversas capacidades que podem buscar no educando o interesse de obter
respostas e de não aceitar apenas aquilo que é proposto por livros ou professores é um
momento de construção de conhecimento, pois o aluno sai daquele posicionamento passivo,
onde é apenas receptor do conhecimento já elaborado, e terá a responsabilidade de construir
algo novo a partir das suas próprias pesquisas e conclusões. É justamente neste ponto que se
percebe o exercício da autonomia do educando nessa incessante busca de respostas para os
problemas que serão colocados durante a sua vida. E o projeto de trabalho tem essa
característica em que:
O conhecimento é visto como um processo global, construído numa relação
entre os aspectos cognitivos, emocionais, sociais, através do qual o aluno
aprende a fazer fazendo: participando, discutindo, estabelecendo relações,
confrontando, vivenciando suas emoções e suas experiências de vida,
tomando decisões diante dos fatos, para intervir na realidade. (MENEZES e
CRUZ, 2007, p. 119).
Com esse pensamento o projeto de trabalho constrói uma aprendizagem significativa
que consegue unir os conhecimentos que o aluno possui com os conhecimentos que serão
construídos no desenvolvimento do projeto. Uma nova sequência de conteúdos onde se inicia
com os conhecimentos prévios do aluno.
21
2.2 PROJETO DE TRABALHO E SUA ORGANIZAÇÃO
A proposta que inspira os projetos de trabalho está vinculada à perspectiva do
conhecimento globalizado no qual é necessário que o aluno estabeleça relações com muitos
aspectos de seus conhecimentos anteriores. O projeto de trabalho oferece uma aprendizagem
significativa onde o conhecimento tem um valor essencial. Para aprender, o aluno não
necessita apenas de conhecimentos acadêmicos, ou seja, dos conteúdos organizados nas
disciplinas. Para Hernández e Ventura, (1998, p. 61)
Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de
organizar a atividade de ensino e aprendizagem, que implica considerar que
tais conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma
rígida, nem em função de algumas referências disciplinares preestabelecidas
ou de uma homogeneização dos alunos.
Um projeto pode organizar-se de várias formas, a partir de uma problemática que
desperte o interesse de investigação, uma situação que tenha acontecido em sala, um
questionamento de um aluno, uma temática que seja desejo de todos os envolvidos no
processo. O projeto de trabalho contribui para o ensino dando mais flexibilidade aos
conteúdos, visto que o aluno precisa interpretar diferentes aspectos de um problema e criar
estratégias para soluciona-los.
Segundo Santos (2011), os projetos de trabalho de acordo com sua teoria, têm por
finalidade criar uma determinada situação de modo a permitir que o aluno aprenda
procedimentos de pesquisa, que poderão ser usados em qualquer contexto e momento ao
longo da sua vida.
Fernando Hernández (1998), diz que muitos professores comentam que os projetos
“não são nada novo”, ou que são simplesmente “uma moda para nomear o que já se está
fazendo”. O autor apresenta uma caracterização de um projeto de trabalho (Quadro 1). É
importante lembrar, que cada projeto pode ser iniciado e desenvolvido de diferentes formas.
Quadro 1 – Caracterização de um projeto de trabalho.
- Parte-se de um tema ou de um problema negociado com a turma.
- Inicia-se um processo de pesquisa.
- Buscam-se e selecionam-se fontes de informação.
- Estabelecem-se critérios de ordenação e de interpretação de fontes.
- Recolhem-se novas dúvidas e perguntas.
- Estabelecem-se relações com outros problemas.
- Representa-se o processo de elaboração do conhecimento que foi seguido.
- Recapitula-se (avalia-se) o que se aprendeu.
- Conecta-se com um novo tema ou problema. Fonte: Hernandez (1998, p. 81)
22
O ponto inicial de um projeto de trabalho é a escolha do tema como é possível ver no
quadro 1. Tanto o professor como os alunos realizam uma análise sobre a importância do
tema e sua abrangência. Após a escolha do tema vem a parte de planejamento das ações e
organização das informações que irão elaborar um índice, “no qual serão esquematizados os
aspectos a serem tratados no projeto” Santos (2011). Em seguida é necessário a busca de
informações sobre o tema com a finalidade de que as informações encontradas sejam trocadas
no grupo, possibilitando o levantamento de hipóteses, opiniões e pontos de vista que devem
ser discutidos com todos. Em seguida, é necessário garantir que os alunos realizem o
tratamento dessas informações de forma a delimitar a pesquisa o que irá permitir um melhor
aproveitamento do que foi selecionado e pesquisado pelos alunos e tornará o educando sujeito
ativo do projeto e um colaborador essencial.
Descobrem que eles também têm uma responsabilidade na sua própria
aprendizagem, que não podem esperar passivamente que o professor tenha
todas as respostas e lhes ofereça todas as soluções, especialmente porque,
como já foi dito, o educador é um facilitador e, com frequência, um
estudante a mais. (HERNANDEZ e VENTURA, 1998, P.75)
Essa busca de informações por parte dos educandos vai favorecer a autonomia e uma
interação com o educador com propósito de desenvolver um diálogo e troca de conhecimento
sobre o assunto, já que o professor também é estimulado a pesquisar.
No quadro 2 é apresentado uma síntese da sequência seguida tanto pelo professor
quanto pelo aluno durante o desenvolvimento do projeto até a sua finalização. É possível
entender através desse quadro, a participação do professor e dos alunos na realização do
projeto. O quadro não apresenta um modelo que deve ser seguido rigorosamente, e sim, uma
forma de perceber as atividades desenvolvidas pelos participantes do projeto.
23
Quadro 2 – Sequência de síntese da atuação do professor e dos alunos no projeto.
Fonte: Hernández e Ventura (1998, p. 82)
Com o tema escolhido, e com as informações selecionadas desenvolve-se o índice. O
desenvolvimento do índice é uma estratégia de aprendizagem importante como afirma
Menezes e Cruz (2007) “O índice se configura como um roteiro inicial, importante para a
organização do trabalho”. Para a organização da informação e planejamento de um projeto de
trabalho, é através dele que os alunos conseguem escolher quais os assuntos serão necessários
para compor o projeto.
Em seguida, é realizado o desenvolvimento do projeto, onde os alunos vão encontrar
respostas para as questões e hipóteses que foram criadas no índice, nesse momento segundo
Menezes e Cruz (2007 p. 120).
Essas estratégias devem ser desafiadoras a ponto de levar os alunos a novos
conflitos cognitivos, ao desequilíbrio de suas hipóteses iniciais, a
confrontarem seus pontos de vista com os de outras pessoas e com o
conhecimento científico, a fim de construírem novas aprendizagens.
É nesse processo que os alunos irão construir o conhecimento e desenvolver as suas
pesquisas frente a novas perguntas e relembrando o que já foi aprendido e assim criar novas
estratégias e novos desafios.
24
Após o tratamento das informações é necessário a exposição do assunto para a turma.
Os alunos apresentam a pesquisa que eles fizeram e suas conclusões frente a turma e o
professor.
Para concluir os alunos realizam uma apresentação para comunidade escolar a fim de
expor os conhecimentos adquiridos durante a pesquisa.
A culminância- apresentação: Apresentar os resultados das investigações que
pode ser realizado através de diversos meios como: apresentações musicais,
cartazes, vídeos, teatro, dança, exposição, dentre outras formas de
apresentação que se adequem as especificidades do Projeto. (FERNANDES,
2016, p. 34)
Neste momento os alunos decidem como expor o projeto de forma a representar
claramente o que foi pesquisado. Contribuindo para o aprendizado de outras pessoas que
assistirão à apresentação.
A abordagem por projetos não está aprisionada a normas e regras de ação, não são
receitas prontas. Portanto não há como estabelecer um processo igual em todos os projetos.
Os percursos podem variar de acordo com o desenvolvimento da pesquisa, pelo interesse dos
alunos em busca do conhecimento e pelas conexões entre os saberes reconstruídos ao longo
do levantamento dos dados.
Para os interessados nessa concepção para conduzir o processo de ensino e
aprendizagem. Hernandez (1998) apresentou nove itens que para ele, definem o que seria
projeto de trabalho e suas características.
Quadro 3 – O que poderia ser um projeto de trabalho.
1- Um percurso por um tema-problema que favorece a análise, a interpretação e a
crítica (como contraste de pontos de vista).
2- Onde predomina a atitude de cooperação, e o professor é um aprendiz, e não um
especialista (pois ajuda a aprender sobre temas que irá estudar com os alunos).
3- Um percurso que procura estabelecer conexões e que questiona a ideia de uma
versão única da realidade.
4- Cada percurso é singular, e se trabalha com diferentes tipos de informação.
5- O docente ensina a escutar; do que os outros dizem, também podemos aprender.
6- Há diferentes formas de aprender aquilo que queremos ensinar (e não sabemos
se aprenderão isso ou outra coisa).
7- Uma aproximação atualizada aos problemas das disciplinas e dos saberes.
8- Uma forma de aprendizagem na qual se leva em conta que todos os alunos
podem aprender, se encontrarem o lugar para isso.
9- Por isso, não se esquece que a aprendizagem vinculada ao fazer, à atividade
manual e à intuição também é uma forma de aprendizagem.
Fonte: Hernandez (1998, p. 82).
25
2.3 MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
A música no contexto da educação básica no Brasil, passou por várias transformações
em relação a sua implementação como disciplina na escola. A promulgação da Lei 11.769 em
18 de agosto de 2008 é o resultado de um processo de lutas dos educadores musicais para o
reconhecimento da música como componente curricular nas escolas de educação básica,
porém é importante lembrar que por se tratar de uma conquista recente ainda é possível
perceber na comunidade escolar a grande dificuldade de sistematizar conteúdos de acordo
com a idade dos alunos. E essas dificuldades têm sido bastante discutidas com a ideia de se
construir, ao longo dos anos, formas de abordagens que possibilitem uma melhor
aprendizagem dos conteúdos de música e o desenvolvimento das capacidades cognitivas que
podem ser promovidas através dessa disciplina.
A Lei n. 11.769/08 estabelece que a música é conteúdo curricular
obrigatório, o que implica uma série de adaptações por parte dos sistemas
educacionais para que tal conteúdo seja devidamente incorporado ao
conjunto de componentes já presentes nos currículos escolares.
(FIGUEIREDO, 2011, p.5).
Tendo em vista a implementação desta lei, se fez necessário a consulta a documentos
para uma maior orientação que elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), os
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio (PCN) (1997, 1998,
1999), o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) (1998),
posteriormente, Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) (2006).
Recentemente no início do mês de maio deste ano foi homologada as Diretrizes Nacionais
para a operacionalização do ensino de Música na Educação Básica.
Art. 1º Esta Resolução tem por finalidade orientar as escolas, as Secretarias
de Educação, as instituições formadoras de profissionais e docentes de
Música, o Ministério da Educação e os Conselhos de Educação para a
operacionalização do ensino de Música na Educação Básica, conforme
definido pela Lei nº 11.769/2008, em suas diversas etapas e modalidades.
(BRASIL/CNE, 2016, p.1).
Com esta resolução é garantido mais uma vitória do ensino de música, dos educadores
e da sociedade em geral. Esta resolução ao orientar os setores responsáveis pela educação
nacional traz garantias importantes para o ensino de música, a saber: a inclusão do ensino de
música no Projeto Político Pedagógico (PPP), realização de atividades musicais para todos os
estudantes, formação continuada dos professores, elaboração, a publicação e a distribuição de
materiais didáticos adequados ao ensino da música nas escolas, instalações adequadas ao
ensino de música, aquisição de equipamentos e instrumentos musicais, entre outros.
26
Além desta última resolução, temos os parâmetros curriculares nacionais (PCN) (1997,
1998, 1999) que exerce a função de orientação para as diversas disciplinas incluindo a Arte.
Os PCN’s do Ensino Fundamental, em sua introdução sobre a caracterização do
Ensino da Arte no Brasil, destacam que tal ensino promove o desenvolvimento da
sensibilidade, da percepção e da imaginação, seja na realização das formas artísticas, seja na
apreciação e conhecimento de outras obras (BRASIL, 1997, p. 20).
Além de orientar o ensino da arte, o PCN fala sobre a utilização de projetos na
disciplina de artes e quais os seus objetivos e possibilidades ao utilizar dessa metodologia
para o ensino da música em que cada professor ou equipe de professores pode escolher um
projeto para ser desenvolvido de forma interdisciplinar ou apenas em uma das linguagens
artísticas.
O projeto tem um desenvolvimento muito particular, pois envolve o trabalho
com muitos conteúdos e organiza-se em torno de uma produção
determinada. Em um projeto o professor pode orientar suas atividades
guiado por questões emergentes, ideias e pesquisas que os alunos tenham
interesse. (BRASIL, 1998, p. 102).
A utilização de projetos de trabalho se torna um mecanismo de participação efetiva
dos alunos e envolve diferentes conteúdos em um tema que torne o aprendizado dinâmico e
apreciado de forma positiva pelos alunos, pois os mesmos são corresponsáveis pela produção
do projeto.
O projeto cativa os alunos pela oportunidade de trabalhar com autonomia,
tomando decisões e escolhendo temas e ações a serem desenvolvidos sob
orientação do professor. Logo, em um projeto há uma negociação entre
professores e alunos, que elegem temas e produtos de interesse, passíveis de
serem estudados e concretizados. (BRASIL, 1998, p. 102).
Mesmo com as orientações e as diretrizes é fato que a música, diferente das outras
disciplinas, não tem um currículo consolidado e que possibilita uma maior liberdade no uso
de projetos de trabalho, transformando essa metodologia em uma forte aliada para o
desenvolvimento de atividades de pesquisas e trabalho para o ensino da música na educação
básica. Essa falta de hierarquia de conteúdo não transforma a música em um conteúdo
desorganizado, e sim, garante uma maior flexibilidade na abordagem dos conteúdos de
música e desenvolve o potencial criativo dos alunos. Essa prática visa a formação integral do
aluno com aprendizagens que se relacionam com a sua vida cotidiana.
27
A falta de um currículo de música comum e obrigatório na educação básica oportuniza
o uso de outras estratégias e métodos e garante uma maior flexibilidade, porém não deixa de
ser necessário.
Se faz necessária a compreensão de objetivos claros bem como seguir
princípios e fundamentos que levem a concretização desses objetivos. Para
isso a elaboração de currículos de música que sejam significativos, que
levem em consideração a realidade do aluno, e torne os conteúdos
significativos para eles é de fundamental importância. A construção de um
currículo pode não garantir sua aplicação na prática, mas a não existência do
mesmo pode dar margem para realização de práticas sem fundamentos e sem
norte, sem objetivos claros. (FERNANDES, 2016, p.53)
Isso significa que a construção de um currículo é importante para se ter uma base e
objetivos claros, pois é através dele que serão identificadas as habilidades cognitivas a serem
desenvolvidas nos educandos, porém, o uso de outras estratégias e metodologias como o
projeto de trabalho são fundamentais para explorar melhor os conhecimentos dos alunos em
seu processo de aprendizagem.
A utilização de projeto de trabalho e música possibilita a realização de pesquisas
envolvendo diversas disciplinas estabelecendo relação entre elas. A interdisciplinaridade tem
sido amplamente estimulada nas escolas na atualidade e sugerida nos PCN o que garante que
mesmo com um currículo pré-estabelecido o uso de projeto de trabalho no componente de
música seja utilizado.
28
3. METODOLOGIA
A pesquisa desenvolvida é de abordagem qualitativa e de natureza aplicada, uma vez
que foi realizado um Relato de Experiência em uma escola particular de Natal-RN, em duas
turmas de oitavo ano do ensino fundamental II.
Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de
suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O
conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é
de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou
grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações
(DESLAURIERS, 1991, p. 58).
Em relação ao objetivo, teve caráter descritivo, pois atuei como pesquisador e
professor, onde procurei descrever todo o trabalho desenvolvido nessas turmas, explicando
como se deu o desenvolvimento de todas as partes dos projetos de trabalho realizados e
orientando os alunos para execução do trabalho.
A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não
podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações
sociais.
A coleta de dados aconteceu por meio de leitura bibliográfica e Pesquisa de Campo
com 1- um diário de campo; 2- fotografias das apresentações nos espaços escolares utilizados;
e 3- gravação de vídeo das apresentações. O projeto teve início no dia 21/03/2016 e terminou
no dia 09/05/2016, ou seja, com duração de oito semanas.
Os sujeitos participantes desse estudo são os alunos de oitavo ano do ensino
fundamental das séries finais, com faixa etária entre 13 e 14 anos e o professor. Os mesmos
estão diretamente envolvidos na pesquisa sobre a importância do projeto de trabalho no
currículo de música e as suas contribuições para educação. As turmas de oitavo ano são em
turnos diferentes, a turma “A” é do turno matutino e a turma “B” é do turno Vespertino. No
oitavo ano “A”, são 38 alunos e no oitavo ano “B” 37. As aulas de música acontecem em dois
horários seguidos de 50 minutos cada.
O estudo foi realizado em uma escola da rede particular, situada na zona oeste de
Natal-RN que atende crianças e adolescente na educação básica no ensino fundamental e
médio. A escola conta com 13 salas de aula, uma sala multiuso, biblioteca, laboratório de
29
informática, sala de projetos, sala de vídeo, pátio e salas de professores e coordenação. Nas
salas de aula das turmas de oitavo ano tem projetor, tela de projeção, quadro negro e aparelho
de sonorização.
30
4. PROJETO DE TRABALHO E MÚSICA NAS TURMAS DE 8° ANO
O projeto iniciou a partir da escolha de um tema do que aconteceu no dia 21/03/2016
nas turmas de oitavo ano de uma escola particular de Natal, a partir de um questionamento à
turma sobre: “Qual a sensação que a música causa nos seres humanos? ” Depois de exposta a
pergunta, anunciei que esse seria nosso novo projeto, e que ele não tinha nada construído,
apenas o primeiro questionamento.
Um percurso por um tema-problema que favorece a análise, a interpretação
e a crítica (como contraste de pontos de vista). Esse tema-problema pode
partir de uma situação que algum aluno apresente em aula, ou pode ser
sugerido pelo docente. Em ambos os casos, o importante é que o
desencadeante contenha uma questão valiosa, substantiva para ser explorada.
(HERNÁDEZ E VENTURA, 1998, p. 83, grifo do autor).
Expliquei que todo o projeto seria desenvolvido em conjunto, diferente do que eles
estavam acostumados a fazer, no qual o professor mostrava o tema e determinava todas as
atividades que iria acontecer, nesse caso “o professor é um aprendiz, e não um especialista
(pois ajuda a aprender sobre temas que irá estudar com os alunos) (HERNÁNDEZ 1998, p.
83, grifo do autor). Afirmei para eles que nesse projeto, eles iriam escolher o tema, o que
iríamos investigar, quais as disciplinas poderiam ser envolvidas e como seria a culminância
do mesmo. Todas as decisões seriam tomadas em conjunto. Aproveitei para explicar que a
minha função era pesquisar junto com eles e de mediador/facilitador, não de responsável pelo
projeto.
O papel de professor como facilitador não é o de quem determina e decide
aquilo que os alunos vão aprender e como esse aprendizado se dará, mas sim o
de transformar as referências informativas em materiais de aprendizagem com
uma intenção crítica e reflexiva. (HERNÁNDEZ E VENTURA, 1998, p.76)
No segundo encontro com as turmas criamos a partir da pesquisa realizada por eles e
da demonstração de quatro vídeos que tratavam sobre o tema-problema “Quais as sensações
causadas pela música nos seres humanos”, foi criado um índice com várias hipóteses para
desenvolvimento do tema e depois de delimitar o que seria pesquisado, definimos um tema.
A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos
conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a
relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses
que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a
transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares
em conhecimento próprio. (HERNANDEZ e VENTURA, 2000, p.61)
31
Os projetos foram realizados simultaneamente em duas turmas de 8º ano. Tem a
mesma problemática, mas foi possível perceber através da escolha do índice que a percepção
em relação a situação problema foram diferentes “cada percurso é singular e é trabalhado
com diferentes tipos de informação” (HERNÁNDEZ, 1998, p. 84, grifo do autor). Abaixo
está o (Quadro 4) com o demonstrativo da criação do primeiro índice em cada turma.
Quadro 4: Primeiro índice do projeto.
8º ano A – TEMA: A música pode mudar o
ser humano.
8º ano B – TEMA: A música e o ser
humano.
- Música e religião.
- Música e filosofia.
- Efeito da música nas pessoas.
- Música e ciência.
- Influência da música para comprar objetos.
- Música e o comportamentos das pessoas.
- A influência da música em relação a
nossas emoções.
- As emoções que a música pode causar.
- A música utilizada como trilha sonora.
- A imagem que a música gera no ser
humano.
- A emoção que cada gênero musical causa
nas pessoas.
- A relação da música com o momento em
que se ouve.
- Para que serve a musicoterapia?
- A diferença de sensações entre os
gêneros musicais.
- Quais os fatores que causam prazer na
música?
- Por que dançamos quando ouvimos
música?
- Por que só gostamos de certos tipos de
música?
- Como as crianças reagem a música?
- A música se tornou a solução para
suportar a pressão dos dias atuais?
- Como a música pode influenciar nas
ações do dia a dia?
- Que tipo de música causa relaxamento?
- Qual a relação da música com o ser
humano?
- Quais os benefícios a música nos trazem?
Fonte: O Autor (2016)
A criação de um índice, tem como função a organização das informações para que
possam ser esquematizadas e que os estudantes vão criando novas estratégias de
aprendizagem que acontecem durante o processo de construção do projeto.
As estratégias são “ estruturações de funções e recursos cognitivos, afetivos,
ou psicomotores que o sujeito realiza nos processos de cumprimento de
objetivos de aprendizagem. ” A forma que operam as estratégias é mediante
32
a colocação de ação “configurações de funções e recursos, geradores de
esquemas globais e específicas de aprendizagem para a incorporação seletiva
de novos dados e sua organização. Mas também, para a solução de ordem
diversa de qualidade” (NISBET E SCHUCKSMITH (1987) apud
HERNANDE e VENTURA, 1998, p.77)
Após a criação do índice inicial como forma de organizar as informações e planejar o
projeto, na aula seguinte, os alunos trouxeram para a sala de aula as pesquisas que elaboraram
sobre os temas escolhidos por eles. Os mesmos foram distribuídos em temas comuns e criados
os subitens de cada item.
Como se trata de um tema-problema em que a música se relaciona com o corpo
humano, os alunos sentiram a necessidade da participação e orientação da professora de
ciências para condução de questionamentos relacionado ao corpo. As pesquisas realizadas
foram também analisadas com a professora de ciência e realizado o tratamento das
informações.
Começo a descrever como se deu a realização do projeto em cada uma das turmas.
4.1 - RELATO DE EXPERIÊNCIA COM A TURMA DO 8° ANO A
No terceiro encontro com a turma do 8° ano A, foram criados grupos de acordo com o
interesse de cada aluno sobre um item. Foi feita uma orientação para que nesses grupos
fossem criados subitens das perguntas formuladas inicialmente. Os subitens criados nessa
turma, estão expostos no (Quadro 5).
Um dos mitos que reina na educação é que sua finalidade é que os alunos
aprendem o que os professores lhes ensinam. [...] No entanto qualquer
professor reconhece que, na sala de aula, os alunos aprendem de maneiras
diferentes, que alguns estabelecem relações com alguns aspectos dos
trabalhados em aula e outros se “conectam” a conteúdos diferentes. [...] Nos
projetos, potenciam-se os caminhos alternativos, as relações infrequentes, os
processos de aprendizagem individuais, porque, deles, aprende o grupo.
(HERNÁNDEZ, 1998, p. 84)
Os alunos escolheram individualmente o assunto que lhe interessava. Deixando a
critérios deles, aquilo que tinham interesse em investigar. O processo de aprendizagem é
diferente e as pesquisas em sua maioria foram de fontes diferentes, tornando o processo ainda
mais heterogêneo.
Quadro 5: Segundo índice da turma do 8°A
1- Música e ciência.
1.1 – Como a música pode impactar sobre a saúde.
1.2 – A influência da música no bem-estar.
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1.3 – Como a música pode ajudar na Educação.
1.4 – Como a música pode ser um benefício para o cérebro.
2 – Influência da música na compra de objetos.
2.1 – De que forma a música influência na compra de objetos
2.2 – Qual o estilo musical mais agrada as pessoas?
2.3 – como as pessoas se sentem em estar comprando em um ambiente musical?
3 – As emoções que a música causa.
3.1 – A música, a mente e o corpo.
3.2 – Quais são os benefícios psicológicos da música
3.3 – A música transforma o ser humano?
3.4 – Os ritmos e as reações.
4 – Gêneros musicais e as emoções causadas por eles
4.1 – O que são gêneros musicais?
4.2 – O que são emoções?
4.3 – Gênero musical X emoção
4.4 – Qual a importância em escutar algum tipo de música.
5 – A música como trilha sonora
5.1 – O que é trilha sonora
5.2 – Qual a função das trilhas sonoras?
5.3 – Quais as sensações que as músicas de trilha sonora podem causar?
5.4 – Por que as trilhas sonoras podem influenciar nas nossas emoções?
6 – Musicoterapia
6.1 – Como funciona a musicoterapia?
6.2 – Quais tipos de pessoas que a musicoterapia pode ajudar?
6.3 – Quem foi Meca Vargas?
6.4 – Onde a musicoterapia pode ser usada?
6.5 – Como a musicoterapia pode contribuir para o nosso cotidiano Fonte: O Autor (2016)
Os itens foram expostos para turma e solicitado que os alunos fizessem uma pesquisa
sobre o tema e que trouxessem mais informações para apresentação na turma no próximo
encontro.
O projeto permite que se leve em consideração diferentes representações da
realidade. Diante de um tema ou problema, as respostas (assim como o modo
como este é compreendido) são apresentadas de maneira diversificadas. Os
resultados da pesquisa são compartilhados pelo grupo, do qual emerge o
pensamento de cada indivíduo. (SANTOS, 2011, p. 52)
No encontro seguinte os grupos fizeram a exposição do conteúdo de suas pesquisas
para a turma seguindo a ordem do índice. O grupo responsável por pesquisar sobre “música e
ciência”, começou explicando sobre a relação que a música tem com o cérebro e os efeitos
que acontecem quando o ser humano ouve música. Destacaram a questão do bem-estar que o
ouvinte pode ter quando em contato com músicas que criam atividade cerebral e alivia em
sintomas do dia a dia como enxaqueca, ansiedade, estresse e questões comportamentais. Foi
34
destacado pelo grupo como a música pode influenciar na educação e seu efeito sobre
atividades intelectuais, além de promover a expressão pessoal.
O grupo responsável pelo tema “A influência da música na compra de objetos”,
mostrou que a música tem o papel de chamar atenção para aquilo que propõem como sendo o
ideal. Os publicitários se utilizam da música para influenciar as pessoas levando-o de forma
induzida a conhecer, se interessar e a consumir o produto. Eles também mostraram que o
telespectador tem um papel de ouvinte passivo, pois é levado a ouvir as músicas sem escolher
e de tanto ouvir a mesma música passa a reproduzi-la sem perceber tornando um divulgador
do produto ou campanha.
O terceiro grupo com o tema “As emoções que a música causa” (vide figura 3), iniciou
sua fala fazendo a ligação entre música e as emoções como algo comprovado cientificamente
que pode provocar fortes reações emocionais, como as lágrimas e os risos. A música pode
provocar a redução dos níveis de ansiedade, diminuição da pressão arterial e da frequência
cardíaca entre outros. Foi colocado para turma sobre os benefícios que a música pode
estimular nas pessoas a exemplo de: ajudar na comunicação entre pessoas, aumentar a
autoestima, favorecer a reflexão, o surgimento de recordações de novas sensações e emoções.
Além de falarem sobre os benefícios da música em ouvintes os alunos também
abordaram a temática em relação aos instrumentistas. Apontaram que em pesquisas cientificas
os neurocientistas mostraram que ao tocar um instrumento musical é possível melhorar a
memória, noções de matemática e aumentar a capacidade de fazer multitarefas.
No subitem “Os ritmos e as reações” foi apresentada uma pesquisa cientifica
desenvolvida na universidade de Montreal, onde eles realizaram testes com povos de cultura
diferentes e tiveram reações físicas semelhantes ao ouvirem uma mesma composição.
35
Figura 1 - Apresentação do tema: As emoções que a música causa.
Fonte: O autor (2016).
No quarto encontro com a turma, foram expostos os temas e os subitens e passamos a
criação de uma exposição para a culminância do projeto. O que faz com que seja despertado
no aluno os seus talentos e a sua participação é importantíssima para todo o projeto da turma.
Como afirma Santos (2011), durante o desenvolvimento do projeto, os alunos têm a
oportunidade de descobrir qual o seu papel nas tarefas. As contribuições individuais são
diversificadas pois se trata de um grupo heterogêneo, porém, toda ação deve ser valorizada.
Cada tema foi colocado para todos os alunos contribuírem com opiniões para
transformar o conteúdo das pesquisas em uma exposição. Tornando o trabalho democrático e,
Santos (2011) ressalta que “qualquer situação de aprendizagem é desenvolvida em grupo e
compartilhada por todos”
Os grupos se dividiram (vide figura 2), a fim de definir como seria a exposição dos
temas. Cada grupo escreveu como seria a sua exposição e ao final da aula, apresentaram o
resultado para a turma. E cada aluno pode contribuir com as ideias iniciais dos grupos.
36
Figura 2- Reunião dos grupos para criação da exposição. (8°A)
Fonte: O autor (2016).
4.2 - CULMINÂNCIA DO PROJETO DA TURMA DO 8° ANO A
A culminância do projeto aconteceu no dia nove de maio de 2016, nas dependências
do colégio. Como planejado no último encontro os alunos se dividiram em seis salas da escola,
onde duas eram salas de aula comuns e as outras foram: sala multiuso, Cineminha, sala de
informática e sala de projetos. Foi decidido que as turmas de 6° e 7° anos seriam as turmas
que iriam assistir à exposição. As turmas foram divididas em seis grupos e sempre eram
conduzidas de uma sala para outra por um participante do grupo.
O primeiro grupo, música e ciências ficou na sala de projetos, eles realizaram uma
apresentação com auxílio de projetor e o recurso do power point. O grupo demonstrou
bastante segurança e desenvoltura na hora da exposição.
O segundo grupo, a influência da música na compra de objetos, ficou em uma das
salas de aula e realizou apresentação com o auxílio de projetor e o recurso do power ponit. O
grupo se mostrou inseguro na apresentação do tema, mesmo assim tentou interagir com os
que estavam assistindo e ao final colocou algumas propagandas para tocar e ver a relação que
tem a música na compra de objetos.
O terceiro grupo, as emoções que a música causa, o grupo assim como os outros dois
grupos utilizou o projetor e o recurso de power point para falar sobre o tema. O grupo
demostrou segurança na apresentação do conteúdo.
37
O quarto grupo, gêneros musicais e as emoções causadas por ele (vide figura 3), o
grupo ficou no “cineminha” eles realizaram uma pesquisa junto aos ouvintes. Os alunos
entregaram um papel contendo algumas perguntas relacionadas ao sentimento que eles têm ao
ouvir as músicas que foram tocadas pelo grupo. Foram executadas cinco músicas de
diferentes estilos tais como: Música clássica, romântica, reggae, rock e pop internacional. Os
ouvintes responderam às perguntas e devolveram ao grupo.
Figura 3 - Exposição do grupo: “gêneros musicais e as emoções causadas por ele”
Fonte: O autor (2016).
O quinto grupo, a música como trilha sonora (vide Figura 4), ficou na sala de
informática e fez uma exposição de vídeos com trilhas sonoras diferente do original do filme
ou da cena. Mostraram de forma prática a importância da trilha sonora para as cenas.
38
Figura 4 - Exposição do grupo: “a música como trilha sonora”
Fonte: O autor (2016).
O sexto grupo, musicoterapia (vide Figura 5), ficou na sala multiuso onde lá
realizaram uma sessão de musicoterapia. Eles explicaram de que forma funciona a
musicoterapia dividindo a sala em 3 ambientes que são importantes para a realização da
musicoterapia.
Figura 5 - Exposição do grupo 6: “musicoterapia” (8°A)
Fonte: Elaborado pelo autor.
39
4.3 - RELATO DE EXPERIÊNCIA COM A TURMA DO 8° ANO B
Em nosso terceiro encontro demos continuidade ao tratamento da informação no qual
os alunos se reuniram em grupo com suas pesquisas e foram criando os subitens a serem
colocados em cada item. Essa criação foi feita de acordo com os primeiros temas criados por
eles no segundo encontro, logo a união do grupo se deu aleatoriamente, pois os alunos
pesquisaram a parte que despertou mais interesse. Nos grupos, os alunos criaram subitens e
alguns itens, pensados no segundo encontro, passaram a ser descartados, por não gerarem
interesse de nenhum aluno ou em conversa com a turma, percebermos que ele não seria
necessário pesquisar ou ainda por se encaixar em um item que já explorava o assunto. No
Quadro 6, abaixo, é possível ver o resultado dos subitens criados.
Quadro 6 - Segundo índice do 8°B
Fonte: Autor (2016)
Após realizar a criação desses subitens, passamos a realizar uma pesquisa baseados
nos mesmos. No encontro seguinte, os alunos trouxeram o resultado do levantamento de
dados e passamos a discutir os temas em sala, com a participação de todos. Enquanto os
alunos foram expondo as informações sobre o assunto, foi debatida entre eles a importância
1 - PARA QUE SERVE A MUSICOTERAPIA?
1.1 – O que é musicoterapia?
1.2 – Como Funciona a musicoterapia?
1.3 – Quanto tempo leva o tratamento?
1.4 – Quais as doenças que o musicoterapeuta pode tratar?
1.5 – A relação da musicoterapia com o ser humano.
1.6 – O que leva alguém a ser o paciente da musicoterapia?
2- QUAIS AS SUBSTÂNCIAS QUE CAUSAM PRAZER AO OUVIR MÚSICA?
2.1 – A parte cientifica relacionada ao prazer.
2.2 – As substancias que causam prazer.
2.3 – Como o cérebro reage ao estimulo da música.
3 - POR QUE DANÇAMOS QUANDO OUVIMOS MÚSICA?
3.1 – O que é a dança.
3.2 – Música que você gosta de dançar.
4- POR QUE SÓ GOSTAMOS DE CERTOS TIPOS DE MÚSICA?
4.1 – Gostos musicais e personalidade.
4.2 – Cada pessoa apresenta gostos musicais diversos.
4.3 – Gostos musicais em comum.
4.4 – Nos acostumamos com a música por escuta-la diversas vezes.
5- COMO A MÚSICA PODE INFLUENCIAR NAS AÇÕES DO DIA A DIA?
5.1 – Na academia, nos estudos, na telecomunicação, no trânsito.
40
de cada item para produção do projeto. No primeiro tema apresentado, os alunos falaram
sobre a musicoterapia e deram exemplos de como a música pode ajudar na prevenção, na
reabilitação e no tratamento de algumas doenças. Descreveram como acontecem as sessões de
musicoterapia e em quais doenças é possível realizar o tratamento.
Figura6 - Apresentação do tema: Musicoterapia. (8°B)
Fonte: O autor (2016).
No segundo item, apenas um aluno trouxe a pesquisa que tinha uma relação apropriada
com o tema, ele expôs que o indivíduo quando escuta música e a sua excitação chega ao auge,
ocorre a liberação de dopamina que é a substância que causa a sensação de prazer.
No item três, foram destacados a história da dança e quais músicas são utilizadas para
se dançar e como o nosso corpo reage aos estímulos das mesmas.
O item quatro (vide Figura 7), foi o que teve maior participação da turma. Muitos se
interessaram por esse tema, que foi bem explorado por eles. Os alunos apresentaram dados
sobre os gêneros musicais e a personalidade, onde foi demonstrado que pesquisadores fazem
relações com as músicas ouvidas e seus ouvintes e foram dados alguns exemplos dessa
conexão entre o gênero musical e a personalidade. Um dos exemplos foi o de quem gosta de
ouvir jazz geralmente são pessoas criativas e que tem boa autoestima. O fato de se ter gosto
musical parecido foi apresentado fazendo uma ligação com a personalidade de cada pessoa.
Geralmente os que têm personalidades parecidas apresentam gosto musical semelhante.
41
Figura 7 - Apresentação do tema: Por que só gostamos de certos tipos de música?
Fonte: O autor (2016).
No item cinco, foi um tema bastante abrangente, pois trata da música no dia a dia das
pessoas. Mas, conseguimos delimitar o tema para a música no dia a dia relacionado a pessoas
que não trabalham com música. Neste sentido o grupo abordou itens relacionados à música na
academia, a música de uma propaganda, a música que toca na rádio, músicas que não temos o
controle sobre ela, onde somos ouvintes passivos. E foi apresentada uma pesquisa onde
explica a função da música nesses ambientes e como as pessoas reagem a ela.
No quarto encontro com a turma, foram expostos os temas e os subitens e passamos a
criação de uma exposição para a culminância do projeto. Cada tema foi colocado para todos
os alunos contribuírem com opiniões para transformar o conteúdo das pesquisas em uma
exposição. A primeira decisão tomada pela turma era que cada tema fosse exposto em uma
sala diferente seguindo de acordo com a necessidade de cada tema. Proposto e decidido
seguimos para o tema “musicoterapia” ao qual os alunos decidiram inicialmente criar uma
sala onde iriam demonstrar algumas sessões de musicoterapia.
No tema “Quais as substâncias causam prazer ao ouvir música”, os alunos deram a
proposta de fazer uma sala onde mostrasse o caminho que o som da música percorre até
chegar ao cérebro.
Em outro tema “por que dançamos quando ouvimos música? ” Eles sugeriram fazer
uma sala onde os observadores seriam conduzidos a vários estímulos sonoros de gêneros
42
musicais diferentes e em quais gêneros eles dançariam e em quais eles não dançaram e ao
final apresentariam o motivo de dançar ou não em determinado gênero.
Na sequência, o tema “Por que só gostamos de certos tipos de música”, ao som de
algumas músicas decididas previamente pelos alunos, os observadores seriam levados a
responder a um questionário sobre as músicas que estão ouvindo e quais os gêneros musicais
foram mais apreciados.
O último tema “Como a música pode influenciar nas ações do dia a dia”, foi proposto
pela turma que criassem exemplos de ambientes que a música está no dia a dia e fosse feita
uma exposição sobre qual o objetivo de ter música nesses ambientes.
Figura 8 - Reunião dos grupos para montagem da exposição. (8°B)
Fonte: O autor (2016).
4.4 - CULMINÂNCIA DO PROJETO DO 8° ANO B
A culminância do projeto aconteceu no dia nove de maio de 2016, nas dependências
do colégio. Como planejado no último encontro os alunos se dividiram em cinco salas da
escola que foram: sala de aula da turma, sala multiuso, Cineminha, sala de informática e sala
de projetos. Foi decidido que as turmas de 6° e 7° anos seriam as turmas que iriam assistir à
exposição. As turmas foram divididas em cinco grupos e sempre eram conduzidas de uma sala
para outra por um participante do grupo. Passo agora a relatar como os grupos se organizaram
e tecer comentários sobre as apresentações.
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O primeiro grupo, para que serve a musicoterapia (vide figura 9, abaixo), ficou na sala
multiuso e fizeram uma representação de como seria a musicoterapia de forma prática,
colocaram os ouvintes sentados em colchonetes em uma roda que tinha vários instrumentos e
explicaram como funcionava a musicoterapia, logo após com uma música de fundo pediram
para os alunos relaxarem e ouvir a música. Em seguida o grupo solicitou aos ouvintes que
pegassem os instrumentos que estavam espalhados pela sala e tocassem de acordo com o
ritmo da música de fundo. Ao final, foram feitas perguntas relacionadas ao tema.
Figura 9 - Exposição do grupo: “musicoterapia” (8°B)
Fonte: O autor (2016).
O segundo grupo, “quais as substâncias causam prazer na música” (vide Figura 10,
Abaixo), os alunos ficaram no cineminha. Nesse local existe um pequeno corredor onde os
alunos montaram o caminho que a música percorre até chegar ao cérebro. Enquanto os
ouvintes iam entrando no corredor recebiam informações de onde estavam passando e o que
acontecia quando a música ou som passava por aquele local. Ao final, na sala os alunos
sentaram em uma roda e receberam explicações sobre como a música age no cérebro.
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Figura 10 - Exposição do grupo 2: “Quais as substâncias causam prazer na música”
Fonte: O autor (2016).
O terceiro grupo, “por que dançamos quando ouvimos música”, o grupo ficou na sala
de projetos e utilizou como recurso o projetor e Power point no auxílio da apresentação. O
grupo fez uma apresentação breve e não apresentou todos os aspectos pesquisados.
O quarto grupo, “por que só gostamos de certos tipos de música” (Vide Figura 11,
abaixo), ficou na sala da informática onde eles enfeitaram toda a sala com notas musicais,
jogo de luz e utilizaram os recursos de multimídia oferecidos no local. Com ajuda do projetor
os alunos fizeram a exposição do conteúdo, depois apresentaram um vídeo como resumo e em
seguida pediram para que os ouvintes se deslocassem até os computadores para responder a
um questionário elaborado pela turma, no programa socrative (vide Figura 12).
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Figura 11 - Exposição do grupo 4: “Por que só gostamos de certos tipos de música”
Fonte: O autor (2016).
Figura 12 - Exposição do grupo 4: Alunos respondendo perguntas.
Fonte: O autor (2016).
O quinto grupo, “como a música pode influenciar nas ações do dia a dia”, ficou na sala
da turma e lá representaram quatro cenas do dia a dia e explicaram como a música pode
influenciar e ajudar no desenvolvimento de algumas atividades diárias.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi analisar através de um relato de experiência, como
podemos organizar o currículo de música utilizando a metodologia do projeto de trabalho
observando as contribuições e sua importância na aprendizagem dos alunos.
Podemos situar o projeto de trabalho como uma proposta pedagógica que propicia
novas perspectivas para o processo de ensino e de aprendizagem, visto que primam por
situações didáticas reais e diversificadas que contribuem significativamente para a formação
de sujeitos críticos, reflexivos, autônomos e conscientes de seus papéis enquanto seres
histórico-culturais.
Outro ponto importante a destacar na pesquisa é o papel do professor como
facilitador/orientador da relação dos alunos com o conhecimento, ampliando a autonomia e a
sua capacidade crítica e o professor atuando como sujeito pesquisador. O papel do aluno
frente a essa concepção, realizando o tratamento de informações que oferecem diferentes
visões da realidade na qual foi necessário distinguir as diferentes hipóteses, teorias, opiniões e
torna-las compreensíveis aos colegas.
A organização do currículo por projeto de trabalho mostrou-se, uma estratégia
eficiente no currículo de música. A liberdade dada aos alunos para a realização das pesquisas
foi uma forma de perceber a abrangência de informações que se pode conseguir através da
utilização dessa metodologia e que propicia no educando o desenvolvimento de estratégia,
criatividade, argumentos, interpretação da realidade e a organização do pensamento.
A utilização de Projetos de Trabalho contribui para a integração de diversas
disciplinas. Por se tratar de projetos onde os alunos realizaram pesquisas que mais chamaram
a sua atenção, e como a perguntar que serviu como fio condutor, tratava de sensibilidade no
ser humano, os alunos passaram em determinado momento a buscar conhecimento em outra
disciplina que tratasse do corpo humano, nesse caso, a disciplina de ciências. Como é possível
perceber ao longo do relato, alguns temas trabalharam com o cérebro, o ouvido, substâncias
que causam prazer e fez com que os alunos recorressem a disciplina de ciências, realizando
perguntas a professora, sobre suas dúvidas e como encontrar uma melhor forma de expor esse
conhecimento no trabalho. Logo, percebemos uma necessidade do trabalho interdisciplinar
entre a disciplina de música e ciências, o que significa que o aprender é um ato comunicativo,
já que necessita dessa comunicação com outras áreas do conhecimento.
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Um fator que ficou perceptível, é que mesmo sendo a mesma pergunta para as duas
turmas que são de horários diferentes, os alunos pensaram em formas diferentes de se abordar
os temas. Mesmo sendo o fio condutor igual, a execução do projeto aconteceu de forma
diferente nas duas turmas. É possível perceber também, que havia uma conexão entre os
temas e que os alunos ouvintes comentaram sobre o que viram na exposição de outro tema,
mas com informações parecidas, mostrando que houve uma integração dos temas de forma
não planejada e que garantiu aos alunos ouvintes essa conexão entre os temas e melhor
compreensão do processo da pesquisa realizada.
Outro aspecto importante a ressaltar, foi a participação de todos os alunos na
exposição do trabalho, diferente de outros projetos esse teve a participação de 100% das
turmas, ou seja, nenhum aluno faltou. Tiveram alunos que mesmo estando doentes
compareceram à culminância do projeto, demonstrando um real interesse e que a sua presença
era fundamental para exposição do trabalho.
Sobre o conteúdo de música, as pesquisas foram realizadas para tentar entender os
efeitos que a música produz no ser humano, a diversidade de gêneros foi abordada, o objetivo
de músicas que estão em nosso cotidiano também, além de questões relacionadas aos
sentimentos provocados pela música. Não foi objetivo do trabalho, a utilização da linguagem
e estruturação musical e seus conceitos, mas sim, de como a música como produto finalizado
é sentido em nosso corpo.
Os Projetos de Trabalho desenvolvidos nas duas turmas foram sequenciados de acordo
com a proposta de Fernando Henández (1988), então, nesse caso, o currículo é flexível porque
se constrói ao longo da pesquisa. E não cabe ao professor, selecionar os assuntos que serão
estudados e sim o problema em curso.
Pelo que foi registrado até aqui, é possível ver claramente o quanto as atividades de
projeto facilitam a montagem de um currículo, dando nova dimensão ao aspecto didático e,
muitas vezes, superando o programa convencional.
Finalizo, com a expectativa de que essa pesquisa possa contribuir, de forma
significativa para os educadores musicais, pensando em criar estratégias de ensino para o
currículo de música e que desenvolvam atividades que busquem no educando os
conhecimentos necessários para o seu compartilhamento e que o aprender a aprender seja um
fator a contribuir para as atividades musicais.
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REFERÊNCIAS
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1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da
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Legislativo, Brasília, DF, 19 ago. 2008. Seção 1, p. 1.
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União, Brasília, 10 de maio de 2016, Seção 1, p. 1. Disponível em:
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016 acesso em: 21/05/16
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SANTOS, Beatriz Boclin Marques dos. Os projetos de trabalho em ação: Construindo um
espaço interdisciplinar de aprendizagem – Rio de Janeiro: Maud X, 2011.
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APÊNDICES
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ANEXOS
Esta versão foi revisada e aprovada pelo(a) orientador(a), sendo aceite, pela
Coordenação de Graduação em Música, como versão final válida para depósito
no Repositório de Monografias da UFRN.
Valéria Lazaro de Carvalho
Coordenadora dos Cursos de Graduação