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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA LICENCIATURA EM MÚSICA WENDELL PRAXEDES XAVIER Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de experiência. NATAL RN 2016

Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho ... · Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os projetos na educação básica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

WENDELL PRAXEDES XAVIER

Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de

experiência.

NATAL – RN

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

WENDELL PRAXEDES XAVIER

Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de

experiência.

Monografia apresentada ao curso de

Licenciatura Plena em Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

– UFRN – como requisito parcial para a

obtenção do Grau de Licenciada em Música.

Orientadora: Prof. Valéria Lázaro de Carvalho

Coorientador: Everson Ferreira Fernandes

NATAL – RN

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

WENDELL PRAXEDES XAVIER

Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho: um relato de

experiência.

Natal, ____de____________de_______

Nota: _____________

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________

Prof. Dra.Valéria Lázaro de Carvalho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Orientadora

________________________________________________

Prof. Ms. Everson Ferreira Fernandes Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Coorientador

__________________________________________________

Prof. Dra. Eliane Leão

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Avaliador

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DEDICATÓRIA

Dedico todo esforço deste trabalho a Deus, que me concedeu

todas as oportunidades necessárias para o cumprimento de

mais uma etapa na minha. Toda honra e toda glória a Ele. A

minha mãe e minha noiva, que me deram todo suporte

necessário para realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela força e coragem durante toda esta

longa caminhada. Só Ele sabe o quanto foi difícil essa jornada e sua concretização.

Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante a graduação,

Prof. Dra. Amélia Dias, Prof. Ms. Catarina Shin, Prof. Dr. Danilo Guanais, Prof. Ms. Maria

Helena, Prof. Dr. Ticiano D’amore, Prof. Dr. Jean Joubert, Prof. Dra. Cord. e Orientadora

Valéria Carvalho que aceitou o meu pedido para orientar este trabalho e in memorian o Prof.

Ms. Manoca Barreto. Esses professores, foram de fundamental importância para a minha vida

acadêmica e são responsáveis pelo conhecimento adquirido na EMUFRN.

Gostaria de deixar um agradecimento especial ao grande Manoca Barreto (Mestre

Manoca) o qual ensinou não só a teoria musical, mas, como ser um verdadeiro educador. Sei

que durante o meu percurso como docente, não irei conseguir aplicar tudo que ele tentou

passar, porém, procuro no meu dia a dia de educador, frente aos meus alunos, mostrar um

pouco do que aprendi musicalmente e como pessoa. Obrigado Mestre Manoca.

Agradeço também ao professor Mestre, Everson Ferreira o qual foi o coorientador

nesse trabalho. A sua contribuição de extrema importância e só Deus para poder recompensar

todo o seu trabalho, dedicação e paciência. Toda a sua atenção e gentileza ao aceitar ajudar na

organização desse trabalho foi essencial. Ele praticamente me pegou pela mão e foi

direcionando todos os caminhos e incentivou para que no meio do caminho não desistisse,

muito obrigado!!!!

Dedico esta, bem como todas as minhas demais conquistas, a minha amada Mãe

(Hildaci) que é a “melhor mãe do mundo” e que fez de tudo para que eu conseguisse chegar

até aqui, contribuiu de todas as formas possíveis e impossíveis. É sem dúvidas, uma

batalhadora extraordinária e que se tivesse que escrever um livro sobre uma heroína, o livro

teria o seu nome e seu rosto como capa.

Agradeço também, em um parágrafo separado, aquela que com todas as suas

qualidades, me deu força, ajudou, encorajou, estimulou e por muitas vezes abdicou de várias

outras atividades para que eu pudesse concluir essa etapa. Ela que chegou quando o jogo já

estava rolando, mas foi crucial para a finalização dessa conquista. A minha eterna namorada,

Mayanna Leny.

E a todos que fizeram parte da minha formação direta ou indiretamente, meu muito

obrigado!

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EPÍGRAFE

“Nascer sabendo é uma limitação porque obriga

a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar,

refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto,

mais refém do que já se sabe e, portanto, do

passado; aprender sempre é o que mais impede

que nos tornemos prisioneiros de situações que,

por serem inéditas, não saberíamos enfrentar”.

Cortella (2016, p.23)

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RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade relatar uma experiência utilizando a concepção de

Projeto de Trabalho e música em duas turmas de oitavo ano do ensino fundamental II de uma

escola da rede particular de ensino, situada na região oeste da cidade de Natal-RN. No início é

apresentado um histórico sobre projeto de trabalho, sua organização e um breve contexto da

música na educação básica após a lei 11.769/2008 que torna a música um conteúdo

obrigatório do componente curricular arte. O objetivo deste trabalho é analisar o uso do

Projeto de Trabalho como uma alternativa para o currículo de música na educação básica. A

metodologia utilizada foi um Relato de Experiência através de uma pesquisa de campo. Em

seguida, é realizado um Relato etapa por etapa do desenvolvimento da metodologia do Projeto

de Trabalho em cada uma das turmas de oitavo ano. E ao final são apresentadas as conclusões

do autor, sobre a importância de utilizar o projeto de trabalho no currículo de música.

Palavras-chave: Projeto de trabalho; Ensino Fundamental; educação musical.

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ABSTRACT

The present work aims to report an experience using project work design and music in two

classes of eighth grade of elementary school II of a particular network education school,

which is located in the West of the city of Natal. At the beginning are a history about work

project, your organization and a brief context of music in basic education after the

11,769/2008 law that makes the music a required curricular component art content. The aim

of this study is to analyze the use of the work project as an alternative to the music curriculum

in basic education. The methodology used was an account of experience through a field

research. Then, there is a step by step Account of the development of the methodology of the

project work in each one of the eighth-grade classes. And at the end are presented the

conclusions of the author, about the importance of using the work project in the music

curriculum.

Keywords: Work project; Elementary School; music education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Apresentação do tema: As emoções que a música causa.........................................35

Figura 2 - Reunião dos grupos para criação da exposição. (8°A). ........................................... 36

Figura 3 - Exposição do grupo: “gêneros musicais e as emoções causadas por ele”..................37

Figura 4 - Exposição do grupo: “a música como trilha sonora”. ............................................ 38

Figura 5 - Exposição do grupo 6: “musicoterapia” (8°A) ........................................................ 38

Figura 6 - Apresentação do tema: Musicoterapia. (8°B) .......................................................... 40

Figura 7 - Apresentação do tema: Por que só gostamos de certos tipos de música? ................ 41

Figura 8 - Reunião dos grupos para montagem da exposição. (8°B) ....................................... 42

Figura 9 - Exposição do grupo: “musicoterapia” (8°B)............................................................ 43

Figura 10 - Exposição do grupo 2: “Quais as substâncias causam prazer na música” ............. 44

Figura 11 - Exposição do grupo 4: “Por que só gostamos de certos tipos de música” ............ 45

Figura 12 - Exposição do grupo 4: Alunos respondendo perguntas. ........................................ 45

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Caracterização de um projeto de trabalho.......................................................21

Quadro 2 - Sequência de síntese da atuação do professor e dos alunos no projeto...........23

Quadro 3 - O que poderia ser um projeto de trabalho.......................................................24

Quadro 4 - Primeiro índice do projeto...............................................................................31

Quadro 5 - Segundo índice da turma do 8°A ....................................................................32

Quadro 6 - Segundo índice do 8°B ...................................................................................39

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LISTA DE ABREVIATURAS

LDB Lei de Diretrizes e Base

MEC Ministério Da Educação

OCEM Organizações Curriculares Para O Ensino Médio

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PPP Projeto Político Pedagógico

RCNEI Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................14

2. PROJETO DE TRABALHO E MÚSICA NA ESCOLA....................................17

2.1 História dos Projetos de Trabalho.....................................................................17

2.2 Projeto de Trabalho e sua organização..............................................................21

2.3 A música na educação básica............................................................................25

3. METODOLOGIA..................................................................................................28

4. PROJETOS DE TRABALHO E MÚSNCA NAS TURMAS DE 8° ANO ......30

4.1 – Relato de experiência do 8° A........................................................................32

4.2 – Culminância do projeto do 8° A.....................................................................36

4.3 – Relato de experiência do 8° B........................................................................39

4.4 – Culminância do projeto 8°B...........................................................................42

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................46

REFERÊNCIAS...........................................................................................................48

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1. INTRODUÇÃO

A minha experiência com projetos de trabalho e música se iniciou em uma escola no

Bairro de cidade Nova, em Natal-RN. Nessa escola o trabalho era todo voltado para um tema

durante o ano inteiro. O tema era exposto para toda a comunidade através da exposição de

cartazes, para o conhecimento dos pais que frequentavam a escola e por meio dos educadores

através de trabalhos desenvolvidos em sua disciplina sobre um eixo temático. A culminância

do projeto se dava em data marcada previamente com os professores e alunos, que

apresentavam o resultado das pesquisas e atividades desenvolvidas em sala para o restante da

comunidade.

No início, por se tratar de algo que nunca tinha vivenciado em minha experiência

escolar, nem durante a minha formação, foi desafiador e ao mesmo tempo empolgante. Por ser

professor de Artes-música, e tendo dificuldades em encontrar livro didático para essa

disciplina, então, observei com entusiasmo o trabalho a ser lapidado, pois iria junto aos alunos,

desenvolver pesquisas dentro de um determinado tema e a partir dele, criar e desenvolver as

atividades com eles.

No ano de 2014, em outra escola, que tinha como objetivo melhorar os resultados no

exame nacional do ensino médio, houve o incentivo para que o corpo docente trabalhasse com

atividades e projetos interdisciplinares. Foi um ano de adaptação para a equipe docente para

essa nova metodologia, ou seja, trabalhar um tema utilizando diversas disciplinas. Neste

mesmo ano desenvolvi um projeto com a orientação do meu coordenador pedagógico, em

parceria com o professor de história, sobre a diversidade musical na década de 60 e 70.

Abordamos os temas: Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicalismo. Esses projetos foram

desenvolvidos com os alunos de três turmas de 9º do ensino fundamental e que teve como

princípio norteador um tema da disciplina de história.

Desde então, o trabalho com projetos se tornou uma prática comum durante a minha

docência. Comecei a buscar experiências diversas em artigos, livros e na internet que

pudessem contribuir ainda mais na minha prática. Exemplos de diversos professores que

utilizam a pedagogia de projetos e os expões na rede, serviram como base para montar vários

projetos. Mesmo com as várias fontes de inspiração, tentei sempre buscar adequar a minha

realidade e a dos alunos. É necessário apontar que quando iniciei o trabalho com projeto e

interdisciplinaridade, havia ainda, por parte dos alunos, uma certa desconfiança e que findou

após a culminância dos projetos.

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Com os projetos realizados, desenvolvi outros em diferentes turmas do ensino

fundamental nos anos finais: Gêneros Musicais, com alunos do 9° ano no 1° semestre de

2015; História do Rock Nacional dos anos 80, com alunos do 8° ano no 2° semestre de 2015;

História dos Diversos Tipos de Samba, com alunos do 7° ano no 2° semestre de 2015; e

Instrumentos de Orquestra e Seus Sons, com alunos do 6° ano no 2° semestre de 2015.

O objetivo geral deste trabalho é analisar a partir de um relato de experiência, a prática

de Projetos de Trabalho como metodologia para o ensino de música em duas turmas do oitavo

ano de uma escola da rede privada da cidade de Natal-RN. Apresentar como uma estratégia a

ser utilizada para Currículo de música na educação básica.

Os objetivos específicos, são:

Reunir os relatos e investigar a importância de se trabalhar com projetos de trabalhos e

música na educação básica.

Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os

projetos na educação básica.

Avaliar a introdução de projetos de trabalho como estratégia para o currículo de

música na educação básica.

No presente trabalho realizo uma análise a partir de um relato de experiência, o

desenvolvimento de um Projeto de Trabalho fundamentado no modelo que Fernando

Hernández aplicou em escolas do ensino fundamental de Barcelona.

No referencial teórico utilizo como fundamentação o Professor Fernando Hernandez e

passo a ser pesquisador/professor no momento em que aplico e relato como aconteceu todo o

projeto, que teve início com um questionamento de minha autoria, ao final de uma aula com

as turmas de oitavo ano. A pergunta “Quais as sensações que a música causa no ser

humano? ” Foi o fio condutor para iniciarmos todo o projeto. A partir dessa pergunta

expliquei aos alunos como seria realizado o processo e que o meu papel passaria a ser de

orientador do projeto.

Neste sentido, apresento um histórico desse processo, desde o início até o que

conhecemos hoje e apresento uma forma que não é nova, mas que muitos professores de

outras disciplinas têm receio em utilizar, pois muitos partem do princípio que a educação deve

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ser com conteúdos “engessados” de “cumprir com o conteúdo do livro didático” e sem a

possibilidade de garantir um processo de atitude de autonomia dos alunos.

Ainda no capitulo dois, mostro como Fernando Hernández propõe a organização dos

Projetos de Trabalho e um breve contexto da música na educação básica nos dias atuais após a

lei 11.769 e as diretrizes aprovadas recentemente.

No capitulo três, apresento a metodologia utilizada para o desenvolvimento do

trabalho, expondo como ocorreu a coleta de dados, os participantes da pesquisa e o local onde

foram coletadas as informações presentes neste trabalho.

No quarto capítulo descrevo o percurso dos alunos ao longo do projeto, passando por

fases como a primeira pesquisa e criação do primeiro índice, em seguida passo ao tratamento

dessas informações com o objetivo de conseguir delimitar melhor os temas abordados, e na

sequência, a apresentação do tema para turma como forma de mostrar aos participantes o que

está sendo desenvolvido. Para finalizar, descrevo como foi a criação da exposição para

demonstrar à comunidade escolar o resultado da pesquisa.

Nas considerações finais apresento a minha análise sobre o processo de

desenvolvimento do projeto, a participação dos alunos na criação e execução do mesmo e

exponho a importância de se trabalhar com a concepção de projeto de trabalho na educação

básica e o envolvimento da música nesse contexto.

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2. PROJETOS DE TRABALHO E MÚSICA NA ESCOLA

2.1 HISTÓRIA DOS PROJETOS DE TRABALHO

Para entender o que significa os projetos de trabalho é necessário saber a história de

quando começou a se trabalhar com essa concepção e quais as suas contribuições para a

educação. Essa concepção que relaciona o aprendizado a questões pertinentes à vida do aluno,

teve seu início no movimento escola nova que surge no final do século XIX e início do século

XX com o pensamento de Jonh Dewey (1989) que tinha como objetivo mudar os rumos da

educação tradicional para uma nova concepção de educação que foi chamada de pedagogia

ativa, onde o aluno é o protagonista do conhecimento. Jonh Dewey estava em busca de

transformar o contexto da educação tradicional da época, que apresentava as matérias de

forma isolada e os conteúdos fragmentados e baseados na repetição. Ele afirmava que era

carregada de elementos desconexos e que eram aceitos por repetição ou imposição.

Assim, ao velho armazenamento da multiplicidade de matérias de estudo,

isoladas umas das outras, fragmentadas, baseadas na repetição, deveria ser

adicionado novos métodos e novas técnicas, novos conhecimentos e novas

habilidades, visando transformar a escola num ambiente onde se deve “viver

o verdadeiro viver”, e assim preparar a criança para enfrentar situações que a

sociedade em mudança estava a exigir. (MENEZES e CRUZ, 2007, p. 112)

Assim, Jonh Dewey propõe fazer na escola fundamental o que se faz na esfera dos

negócios ou seguir um conjunto de tarefas que se desenvolve no seu cotidiano, na sua casa, na

rua, na sociedade. Ele tinha como objetivo mostrar que a educação e o aprendizado dependem

de fatores internos e externos à escola e que não estão apenas em conteúdos engessados no

qual tenta garantir que o aluno demonstre por meio de suas pesquisas aquilo que está sendo

vivido naquele momento e que o diálogo entre a vida, aprendizagem e as experiências são

importantes para a organização e reorganização do pensamento. Nesse contexto Jonh Dewey

queria que o educando desenvolvesse valores morais e éticos que são inerentes aos humanos,

como a autonomia, a solidariedade, a coletividade, o respeito ao próximo, a autoestima

positiva, para assim se tornarem indivíduos completos.

A partir desse pensamento de Dewey, em outros períodos desenvolveram-se diferentes

concepções sobre os projetos e receberam diversos nomes como: Métodos de projetos, centros

de interesse, trabalho por temas, pesquisa do meio, porém, com visões diferentes, contextos

variados e objetivos parecidos. Esses métodos tinham a preocupação de apresentar uma

proposta curricular diferente daquela em que a organização do currículo ocorre por matérias.

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Nos anos 80, Fernando Hernandez desenvolve experiências em uma escola de

Barcelona no ensino fundamental com o nome de Projeto de Trabalho, com o objetivo de

organizar os conhecimentos escolares, sem copiar, mas sim reinterpretando, recriando,

recontextualizando de acordo com as especificidades do mundo atual. Hernández não tem

como meta fazer uma síntese dos modelos anteriores, e sim propor uma prática pedagógica

adequada às condições da nossa sociedade e não simplesmente readaptar uma proposta do

passado e atualizá-la.

[...] Tanto em educação quanto em qualquer campo de conhecimento não se

parte do zero, e é necessário considerar o “lugar” de onde viemos, as ideias e

as experiências que reconhecemos que nos influenciam. Mas não para copiá-

las, mas sim para reinterpretá-las... pois nada pode continuar sendo como foi

em seus dias. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 23).

O projeto de trabalho desenvolvido por Fernando Hernandez na escola Pompeu Fabra

de Barcelona tinha como objetivo desenvolver o olhar crítico dos estudantes frente a vivências

desenvolvidas em sala de aula como uma forma de mudar o currículo e organizar o

conhecimento escolar de forma globalizada que vai além dos conteúdos escolares e permite

romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as

diferentes áreas de conhecimento numa situação contextualizada da aprendizagem, de forma

compartilhada, tornando a sala de aula um ambiente dinâmico e propício a integração dos

educandos e educadores. Como afirma Menezes e Cruz (2007, p. 112) “[...] os conteúdos são

estudados através de questões problematizadoras, numa perspectiva globalizadora, inter-

relacionando diferentes informações, a partir de um determinado eixo temático”. Neste

sentido é fundamental que o educando utilize de várias estratégias e conhecimentos que já tem

sobre o tema e que busque informações que facilite na construção de seus conhecimentos, na

transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em

conhecimento próprio.

É interessante perceber que a Lei de Diretrizes e Base (LDB, Art.35, inciso III) aponta

que o princípio da aprendizagem está no “aprimoramento do educando como pessoa humana,

incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento

crítico”. O aluno não poderá aprender a exercer autonomia se não pratica-la em situações de

aprendizagem reais e é exatamente o que o projeto de trabalho se propõe a fazer se utilizando

de processos de pesquisa, tratamento da informação e a possibilidade de construir o

conhecimento de acordo com os seus questionamentos sobre determinado tema.

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Essa proposta de trabalho, mais do que uma mudança teórico-metodológica transforma

a maneira de se pensar o conhecimento. Este deixa de ser repassado como produto e passa a

ser construído, o que pressupõe uma ação investigativa por parte dos participantes, alunos e

professores.

O ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não-determinado e

flexibilidade para reformular as metas e os percursos à medida que as ações projetadas

evidenciam novos problemas e dúvidas. (Hernández, 1998, p. 51) “Estabelecer relações com

muitos aspectos de seus conhecimentos anteriores enquanto que, ao próprio tempo, vai

interligando novos conhecimentos. ”

O conhecimento globalizado é uma forma de organizar a atividade e ensino e

aprendizagem com conteúdos flexíveis (não rígidos) e sem referências preestabelecidas. Sua

função é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares a

partir do tratamento da informação, e da relação entre os diferentes conteúdos em torno de

problemas ou hipóteses envolvidas na construção do conhecimento.

Na visão de Hernández, a organização escolar deveria ser em torno de uma visão

globalizadora, ou seja, quando o aluno busca relações entre os saberes, a fim de compreender

melhor o mundo em um processo de investigação de problemas que vai além do aprendizado

de disciplinas.

[...]Continua parecendo-me válida sua relação com a ideia de aprender a

estabelecer e interpretar relações, de superar os limites das disciplinas

escolares e ainda sua conexão com a atitude favorável à interpretação sobre

o que sucede a sala de aula, à não-fragmentação e à aprendizagem constante

do professor. (HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998, p. 19)

Nessa busca de relação entre os saberes, procura-se estimular no aluno, através da

utilização de diferentes procedimentos e estratégias, a seleção da informação para favorecer a

sua autonomia com vistas a poderem adaptar-se as necessidades de trabalho em uma

sociedade informatizada e em constante transformação a partir da enorme quantidade de

informação disponível nos meios de comunicação, livros e internet.

O projeto de trabalho é entendido como uma oportunidade em que os alunos percebem

que o conhecimento não é exclusividade de determinada disciplina uma vez que rompe com a

forma rígida de enquadrar os conteúdos e vai desenvolver no educando várias capacidades

como:

A auto direção: pois favorece as iniciativas para levar adiante, por si mesmo

e com outros, tarefas e pesquisas; a inventiva, mediante a utilização criativa

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de recursos, métodos e explicações alternativas; a formulação e resolução de

problemas, diagnóstico de situações e o desenvolvimento de estratégias

analíticas e avaliativas; a integração, pois favorece a síntese de ideias,

experiências e informação de diferentes fontes e disciplinas; a tomada de

decisões, já que será decidido o que é relevante e o que se vai incluir no

projeto. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 73)

São diversas capacidades que podem buscar no educando o interesse de obter

respostas e de não aceitar apenas aquilo que é proposto por livros ou professores é um

momento de construção de conhecimento, pois o aluno sai daquele posicionamento passivo,

onde é apenas receptor do conhecimento já elaborado, e terá a responsabilidade de construir

algo novo a partir das suas próprias pesquisas e conclusões. É justamente neste ponto que se

percebe o exercício da autonomia do educando nessa incessante busca de respostas para os

problemas que serão colocados durante a sua vida. E o projeto de trabalho tem essa

característica em que:

O conhecimento é visto como um processo global, construído numa relação

entre os aspectos cognitivos, emocionais, sociais, através do qual o aluno

aprende a fazer fazendo: participando, discutindo, estabelecendo relações,

confrontando, vivenciando suas emoções e suas experiências de vida,

tomando decisões diante dos fatos, para intervir na realidade. (MENEZES e

CRUZ, 2007, p. 119).

Com esse pensamento o projeto de trabalho constrói uma aprendizagem significativa

que consegue unir os conhecimentos que o aluno possui com os conhecimentos que serão

construídos no desenvolvimento do projeto. Uma nova sequência de conteúdos onde se inicia

com os conhecimentos prévios do aluno.

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2.2 PROJETO DE TRABALHO E SUA ORGANIZAÇÃO

A proposta que inspira os projetos de trabalho está vinculada à perspectiva do

conhecimento globalizado no qual é necessário que o aluno estabeleça relações com muitos

aspectos de seus conhecimentos anteriores. O projeto de trabalho oferece uma aprendizagem

significativa onde o conhecimento tem um valor essencial. Para aprender, o aluno não

necessita apenas de conhecimentos acadêmicos, ou seja, dos conteúdos organizados nas

disciplinas. Para Hernández e Ventura, (1998, p. 61)

Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de

organizar a atividade de ensino e aprendizagem, que implica considerar que

tais conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma

rígida, nem em função de algumas referências disciplinares preestabelecidas

ou de uma homogeneização dos alunos.

Um projeto pode organizar-se de várias formas, a partir de uma problemática que

desperte o interesse de investigação, uma situação que tenha acontecido em sala, um

questionamento de um aluno, uma temática que seja desejo de todos os envolvidos no

processo. O projeto de trabalho contribui para o ensino dando mais flexibilidade aos

conteúdos, visto que o aluno precisa interpretar diferentes aspectos de um problema e criar

estratégias para soluciona-los.

Segundo Santos (2011), os projetos de trabalho de acordo com sua teoria, têm por

finalidade criar uma determinada situação de modo a permitir que o aluno aprenda

procedimentos de pesquisa, que poderão ser usados em qualquer contexto e momento ao

longo da sua vida.

Fernando Hernández (1998), diz que muitos professores comentam que os projetos

“não são nada novo”, ou que são simplesmente “uma moda para nomear o que já se está

fazendo”. O autor apresenta uma caracterização de um projeto de trabalho (Quadro 1). É

importante lembrar, que cada projeto pode ser iniciado e desenvolvido de diferentes formas.

Quadro 1 – Caracterização de um projeto de trabalho.

- Parte-se de um tema ou de um problema negociado com a turma.

- Inicia-se um processo de pesquisa.

- Buscam-se e selecionam-se fontes de informação.

- Estabelecem-se critérios de ordenação e de interpretação de fontes.

- Recolhem-se novas dúvidas e perguntas.

- Estabelecem-se relações com outros problemas.

- Representa-se o processo de elaboração do conhecimento que foi seguido.

- Recapitula-se (avalia-se) o que se aprendeu.

- Conecta-se com um novo tema ou problema. Fonte: Hernandez (1998, p. 81)

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O ponto inicial de um projeto de trabalho é a escolha do tema como é possível ver no

quadro 1. Tanto o professor como os alunos realizam uma análise sobre a importância do

tema e sua abrangência. Após a escolha do tema vem a parte de planejamento das ações e

organização das informações que irão elaborar um índice, “no qual serão esquematizados os

aspectos a serem tratados no projeto” Santos (2011). Em seguida é necessário a busca de

informações sobre o tema com a finalidade de que as informações encontradas sejam trocadas

no grupo, possibilitando o levantamento de hipóteses, opiniões e pontos de vista que devem

ser discutidos com todos. Em seguida, é necessário garantir que os alunos realizem o

tratamento dessas informações de forma a delimitar a pesquisa o que irá permitir um melhor

aproveitamento do que foi selecionado e pesquisado pelos alunos e tornará o educando sujeito

ativo do projeto e um colaborador essencial.

Descobrem que eles também têm uma responsabilidade na sua própria

aprendizagem, que não podem esperar passivamente que o professor tenha

todas as respostas e lhes ofereça todas as soluções, especialmente porque,

como já foi dito, o educador é um facilitador e, com frequência, um

estudante a mais. (HERNANDEZ e VENTURA, 1998, P.75)

Essa busca de informações por parte dos educandos vai favorecer a autonomia e uma

interação com o educador com propósito de desenvolver um diálogo e troca de conhecimento

sobre o assunto, já que o professor também é estimulado a pesquisar.

No quadro 2 é apresentado uma síntese da sequência seguida tanto pelo professor

quanto pelo aluno durante o desenvolvimento do projeto até a sua finalização. É possível

entender através desse quadro, a participação do professor e dos alunos na realização do

projeto. O quadro não apresenta um modelo que deve ser seguido rigorosamente, e sim, uma

forma de perceber as atividades desenvolvidas pelos participantes do projeto.

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23

Quadro 2 – Sequência de síntese da atuação do professor e dos alunos no projeto.

Fonte: Hernández e Ventura (1998, p. 82)

Com o tema escolhido, e com as informações selecionadas desenvolve-se o índice. O

desenvolvimento do índice é uma estratégia de aprendizagem importante como afirma

Menezes e Cruz (2007) “O índice se configura como um roteiro inicial, importante para a

organização do trabalho”. Para a organização da informação e planejamento de um projeto de

trabalho, é através dele que os alunos conseguem escolher quais os assuntos serão necessários

para compor o projeto.

Em seguida, é realizado o desenvolvimento do projeto, onde os alunos vão encontrar

respostas para as questões e hipóteses que foram criadas no índice, nesse momento segundo

Menezes e Cruz (2007 p. 120).

Essas estratégias devem ser desafiadoras a ponto de levar os alunos a novos

conflitos cognitivos, ao desequilíbrio de suas hipóteses iniciais, a

confrontarem seus pontos de vista com os de outras pessoas e com o

conhecimento científico, a fim de construírem novas aprendizagens.

É nesse processo que os alunos irão construir o conhecimento e desenvolver as suas

pesquisas frente a novas perguntas e relembrando o que já foi aprendido e assim criar novas

estratégias e novos desafios.

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24

Após o tratamento das informações é necessário a exposição do assunto para a turma.

Os alunos apresentam a pesquisa que eles fizeram e suas conclusões frente a turma e o

professor.

Para concluir os alunos realizam uma apresentação para comunidade escolar a fim de

expor os conhecimentos adquiridos durante a pesquisa.

A culminância- apresentação: Apresentar os resultados das investigações que

pode ser realizado através de diversos meios como: apresentações musicais,

cartazes, vídeos, teatro, dança, exposição, dentre outras formas de

apresentação que se adequem as especificidades do Projeto. (FERNANDES,

2016, p. 34)

Neste momento os alunos decidem como expor o projeto de forma a representar

claramente o que foi pesquisado. Contribuindo para o aprendizado de outras pessoas que

assistirão à apresentação.

A abordagem por projetos não está aprisionada a normas e regras de ação, não são

receitas prontas. Portanto não há como estabelecer um processo igual em todos os projetos.

Os percursos podem variar de acordo com o desenvolvimento da pesquisa, pelo interesse dos

alunos em busca do conhecimento e pelas conexões entre os saberes reconstruídos ao longo

do levantamento dos dados.

Para os interessados nessa concepção para conduzir o processo de ensino e

aprendizagem. Hernandez (1998) apresentou nove itens que para ele, definem o que seria

projeto de trabalho e suas características.

Quadro 3 – O que poderia ser um projeto de trabalho.

1- Um percurso por um tema-problema que favorece a análise, a interpretação e a

crítica (como contraste de pontos de vista).

2- Onde predomina a atitude de cooperação, e o professor é um aprendiz, e não um

especialista (pois ajuda a aprender sobre temas que irá estudar com os alunos).

3- Um percurso que procura estabelecer conexões e que questiona a ideia de uma

versão única da realidade.

4- Cada percurso é singular, e se trabalha com diferentes tipos de informação.

5- O docente ensina a escutar; do que os outros dizem, também podemos aprender.

6- Há diferentes formas de aprender aquilo que queremos ensinar (e não sabemos

se aprenderão isso ou outra coisa).

7- Uma aproximação atualizada aos problemas das disciplinas e dos saberes.

8- Uma forma de aprendizagem na qual se leva em conta que todos os alunos

podem aprender, se encontrarem o lugar para isso.

9- Por isso, não se esquece que a aprendizagem vinculada ao fazer, à atividade

manual e à intuição também é uma forma de aprendizagem.

Fonte: Hernandez (1998, p. 82).

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25

2.3 MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A música no contexto da educação básica no Brasil, passou por várias transformações

em relação a sua implementação como disciplina na escola. A promulgação da Lei 11.769 em

18 de agosto de 2008 é o resultado de um processo de lutas dos educadores musicais para o

reconhecimento da música como componente curricular nas escolas de educação básica,

porém é importante lembrar que por se tratar de uma conquista recente ainda é possível

perceber na comunidade escolar a grande dificuldade de sistematizar conteúdos de acordo

com a idade dos alunos. E essas dificuldades têm sido bastante discutidas com a ideia de se

construir, ao longo dos anos, formas de abordagens que possibilitem uma melhor

aprendizagem dos conteúdos de música e o desenvolvimento das capacidades cognitivas que

podem ser promovidas através dessa disciplina.

A Lei n. 11.769/08 estabelece que a música é conteúdo curricular

obrigatório, o que implica uma série de adaptações por parte dos sistemas

educacionais para que tal conteúdo seja devidamente incorporado ao

conjunto de componentes já presentes nos currículos escolares.

(FIGUEIREDO, 2011, p.5).

Tendo em vista a implementação desta lei, se fez necessário a consulta a documentos

para uma maior orientação que elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), os

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio (PCN) (1997, 1998,

1999), o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) (1998),

posteriormente, Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) (2006).

Recentemente no início do mês de maio deste ano foi homologada as Diretrizes Nacionais

para a operacionalização do ensino de Música na Educação Básica.

Art. 1º Esta Resolução tem por finalidade orientar as escolas, as Secretarias

de Educação, as instituições formadoras de profissionais e docentes de

Música, o Ministério da Educação e os Conselhos de Educação para a

operacionalização do ensino de Música na Educação Básica, conforme

definido pela Lei nº 11.769/2008, em suas diversas etapas e modalidades.

(BRASIL/CNE, 2016, p.1).

Com esta resolução é garantido mais uma vitória do ensino de música, dos educadores

e da sociedade em geral. Esta resolução ao orientar os setores responsáveis pela educação

nacional traz garantias importantes para o ensino de música, a saber: a inclusão do ensino de

música no Projeto Político Pedagógico (PPP), realização de atividades musicais para todos os

estudantes, formação continuada dos professores, elaboração, a publicação e a distribuição de

materiais didáticos adequados ao ensino da música nas escolas, instalações adequadas ao

ensino de música, aquisição de equipamentos e instrumentos musicais, entre outros.

Page 27: Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho ... · Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os projetos na educação básica

26

Além desta última resolução, temos os parâmetros curriculares nacionais (PCN) (1997,

1998, 1999) que exerce a função de orientação para as diversas disciplinas incluindo a Arte.

Os PCN’s do Ensino Fundamental, em sua introdução sobre a caracterização do

Ensino da Arte no Brasil, destacam que tal ensino promove o desenvolvimento da

sensibilidade, da percepção e da imaginação, seja na realização das formas artísticas, seja na

apreciação e conhecimento de outras obras (BRASIL, 1997, p. 20).

Além de orientar o ensino da arte, o PCN fala sobre a utilização de projetos na

disciplina de artes e quais os seus objetivos e possibilidades ao utilizar dessa metodologia

para o ensino da música em que cada professor ou equipe de professores pode escolher um

projeto para ser desenvolvido de forma interdisciplinar ou apenas em uma das linguagens

artísticas.

O projeto tem um desenvolvimento muito particular, pois envolve o trabalho

com muitos conteúdos e organiza-se em torno de uma produção

determinada. Em um projeto o professor pode orientar suas atividades

guiado por questões emergentes, ideias e pesquisas que os alunos tenham

interesse. (BRASIL, 1998, p. 102).

A utilização de projetos de trabalho se torna um mecanismo de participação efetiva

dos alunos e envolve diferentes conteúdos em um tema que torne o aprendizado dinâmico e

apreciado de forma positiva pelos alunos, pois os mesmos são corresponsáveis pela produção

do projeto.

O projeto cativa os alunos pela oportunidade de trabalhar com autonomia,

tomando decisões e escolhendo temas e ações a serem desenvolvidos sob

orientação do professor. Logo, em um projeto há uma negociação entre

professores e alunos, que elegem temas e produtos de interesse, passíveis de

serem estudados e concretizados. (BRASIL, 1998, p. 102).

Mesmo com as orientações e as diretrizes é fato que a música, diferente das outras

disciplinas, não tem um currículo consolidado e que possibilita uma maior liberdade no uso

de projetos de trabalho, transformando essa metodologia em uma forte aliada para o

desenvolvimento de atividades de pesquisas e trabalho para o ensino da música na educação

básica. Essa falta de hierarquia de conteúdo não transforma a música em um conteúdo

desorganizado, e sim, garante uma maior flexibilidade na abordagem dos conteúdos de

música e desenvolve o potencial criativo dos alunos. Essa prática visa a formação integral do

aluno com aprendizagens que se relacionam com a sua vida cotidiana.

Page 28: Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho ... · Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os projetos na educação básica

27

A falta de um currículo de música comum e obrigatório na educação básica oportuniza

o uso de outras estratégias e métodos e garante uma maior flexibilidade, porém não deixa de

ser necessário.

Se faz necessária a compreensão de objetivos claros bem como seguir

princípios e fundamentos que levem a concretização desses objetivos. Para

isso a elaboração de currículos de música que sejam significativos, que

levem em consideração a realidade do aluno, e torne os conteúdos

significativos para eles é de fundamental importância. A construção de um

currículo pode não garantir sua aplicação na prática, mas a não existência do

mesmo pode dar margem para realização de práticas sem fundamentos e sem

norte, sem objetivos claros. (FERNANDES, 2016, p.53)

Isso significa que a construção de um currículo é importante para se ter uma base e

objetivos claros, pois é através dele que serão identificadas as habilidades cognitivas a serem

desenvolvidas nos educandos, porém, o uso de outras estratégias e metodologias como o

projeto de trabalho são fundamentais para explorar melhor os conhecimentos dos alunos em

seu processo de aprendizagem.

A utilização de projeto de trabalho e música possibilita a realização de pesquisas

envolvendo diversas disciplinas estabelecendo relação entre elas. A interdisciplinaridade tem

sido amplamente estimulada nas escolas na atualidade e sugerida nos PCN o que garante que

mesmo com um currículo pré-estabelecido o uso de projeto de trabalho no componente de

música seja utilizado.

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28

3. METODOLOGIA

A pesquisa desenvolvida é de abordagem qualitativa e de natureza aplicada, uma vez

que foi realizado um Relato de Experiência em uma escola particular de Natal-RN, em duas

turmas de oitavo ano do ensino fundamental II.

Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de

suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O

conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é

de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou

grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações

(DESLAURIERS, 1991, p. 58).

Em relação ao objetivo, teve caráter descritivo, pois atuei como pesquisador e

professor, onde procurei descrever todo o trabalho desenvolvido nessas turmas, explicando

como se deu o desenvolvimento de todas as partes dos projetos de trabalho realizados e

orientando os alunos para execução do trabalho.

A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não

podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações

sociais.

A coleta de dados aconteceu por meio de leitura bibliográfica e Pesquisa de Campo

com 1- um diário de campo; 2- fotografias das apresentações nos espaços escolares utilizados;

e 3- gravação de vídeo das apresentações. O projeto teve início no dia 21/03/2016 e terminou

no dia 09/05/2016, ou seja, com duração de oito semanas.

Os sujeitos participantes desse estudo são os alunos de oitavo ano do ensino

fundamental das séries finais, com faixa etária entre 13 e 14 anos e o professor. Os mesmos

estão diretamente envolvidos na pesquisa sobre a importância do projeto de trabalho no

currículo de música e as suas contribuições para educação. As turmas de oitavo ano são em

turnos diferentes, a turma “A” é do turno matutino e a turma “B” é do turno Vespertino. No

oitavo ano “A”, são 38 alunos e no oitavo ano “B” 37. As aulas de música acontecem em dois

horários seguidos de 50 minutos cada.

O estudo foi realizado em uma escola da rede particular, situada na zona oeste de

Natal-RN que atende crianças e adolescente na educação básica no ensino fundamental e

médio. A escola conta com 13 salas de aula, uma sala multiuso, biblioteca, laboratório de

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informática, sala de projetos, sala de vídeo, pátio e salas de professores e coordenação. Nas

salas de aula das turmas de oitavo ano tem projetor, tela de projeção, quadro negro e aparelho

de sonorização.

Page 31: Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho ... · Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os projetos na educação básica

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4. PROJETO DE TRABALHO E MÚSICA NAS TURMAS DE 8° ANO

O projeto iniciou a partir da escolha de um tema do que aconteceu no dia 21/03/2016

nas turmas de oitavo ano de uma escola particular de Natal, a partir de um questionamento à

turma sobre: “Qual a sensação que a música causa nos seres humanos? ” Depois de exposta a

pergunta, anunciei que esse seria nosso novo projeto, e que ele não tinha nada construído,

apenas o primeiro questionamento.

Um percurso por um tema-problema que favorece a análise, a interpretação

e a crítica (como contraste de pontos de vista). Esse tema-problema pode

partir de uma situação que algum aluno apresente em aula, ou pode ser

sugerido pelo docente. Em ambos os casos, o importante é que o

desencadeante contenha uma questão valiosa, substantiva para ser explorada.

(HERNÁDEZ E VENTURA, 1998, p. 83, grifo do autor).

Expliquei que todo o projeto seria desenvolvido em conjunto, diferente do que eles

estavam acostumados a fazer, no qual o professor mostrava o tema e determinava todas as

atividades que iria acontecer, nesse caso “o professor é um aprendiz, e não um especialista

(pois ajuda a aprender sobre temas que irá estudar com os alunos) (HERNÁNDEZ 1998, p.

83, grifo do autor). Afirmei para eles que nesse projeto, eles iriam escolher o tema, o que

iríamos investigar, quais as disciplinas poderiam ser envolvidas e como seria a culminância

do mesmo. Todas as decisões seriam tomadas em conjunto. Aproveitei para explicar que a

minha função era pesquisar junto com eles e de mediador/facilitador, não de responsável pelo

projeto.

O papel de professor como facilitador não é o de quem determina e decide

aquilo que os alunos vão aprender e como esse aprendizado se dará, mas sim o

de transformar as referências informativas em materiais de aprendizagem com

uma intenção crítica e reflexiva. (HERNÁNDEZ E VENTURA, 1998, p.76)

No segundo encontro com as turmas criamos a partir da pesquisa realizada por eles e

da demonstração de quatro vídeos que tratavam sobre o tema-problema “Quais as sensações

causadas pela música nos seres humanos”, foi criado um índice com várias hipóteses para

desenvolvimento do tema e depois de delimitar o que seria pesquisado, definimos um tema.

A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos

conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a

relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses

que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a

transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares

em conhecimento próprio. (HERNANDEZ e VENTURA, 2000, p.61)

Page 32: Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho ... · Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os projetos na educação básica

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Os projetos foram realizados simultaneamente em duas turmas de 8º ano. Tem a

mesma problemática, mas foi possível perceber através da escolha do índice que a percepção

em relação a situação problema foram diferentes “cada percurso é singular e é trabalhado

com diferentes tipos de informação” (HERNÁNDEZ, 1998, p. 84, grifo do autor). Abaixo

está o (Quadro 4) com o demonstrativo da criação do primeiro índice em cada turma.

Quadro 4: Primeiro índice do projeto.

8º ano A – TEMA: A música pode mudar o

ser humano.

8º ano B – TEMA: A música e o ser

humano.

- Música e religião.

- Música e filosofia.

- Efeito da música nas pessoas.

- Música e ciência.

- Influência da música para comprar objetos.

- Música e o comportamentos das pessoas.

- A influência da música em relação a

nossas emoções.

- As emoções que a música pode causar.

- A música utilizada como trilha sonora.

- A imagem que a música gera no ser

humano.

- A emoção que cada gênero musical causa

nas pessoas.

- A relação da música com o momento em

que se ouve.

- Para que serve a musicoterapia?

- A diferença de sensações entre os

gêneros musicais.

- Quais os fatores que causam prazer na

música?

- Por que dançamos quando ouvimos

música?

- Por que só gostamos de certos tipos de

música?

- Como as crianças reagem a música?

- A música se tornou a solução para

suportar a pressão dos dias atuais?

- Como a música pode influenciar nas

ações do dia a dia?

- Que tipo de música causa relaxamento?

- Qual a relação da música com o ser

humano?

- Quais os benefícios a música nos trazem?

Fonte: O Autor (2016)

A criação de um índice, tem como função a organização das informações para que

possam ser esquematizadas e que os estudantes vão criando novas estratégias de

aprendizagem que acontecem durante o processo de construção do projeto.

As estratégias são “ estruturações de funções e recursos cognitivos, afetivos,

ou psicomotores que o sujeito realiza nos processos de cumprimento de

objetivos de aprendizagem. ” A forma que operam as estratégias é mediante

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a colocação de ação “configurações de funções e recursos, geradores de

esquemas globais e específicas de aprendizagem para a incorporação seletiva

de novos dados e sua organização. Mas também, para a solução de ordem

diversa de qualidade” (NISBET E SCHUCKSMITH (1987) apud

HERNANDE e VENTURA, 1998, p.77)

Após a criação do índice inicial como forma de organizar as informações e planejar o

projeto, na aula seguinte, os alunos trouxeram para a sala de aula as pesquisas que elaboraram

sobre os temas escolhidos por eles. Os mesmos foram distribuídos em temas comuns e criados

os subitens de cada item.

Como se trata de um tema-problema em que a música se relaciona com o corpo

humano, os alunos sentiram a necessidade da participação e orientação da professora de

ciências para condução de questionamentos relacionado ao corpo. As pesquisas realizadas

foram também analisadas com a professora de ciência e realizado o tratamento das

informações.

Começo a descrever como se deu a realização do projeto em cada uma das turmas.

4.1 - RELATO DE EXPERIÊNCIA COM A TURMA DO 8° ANO A

No terceiro encontro com a turma do 8° ano A, foram criados grupos de acordo com o

interesse de cada aluno sobre um item. Foi feita uma orientação para que nesses grupos

fossem criados subitens das perguntas formuladas inicialmente. Os subitens criados nessa

turma, estão expostos no (Quadro 5).

Um dos mitos que reina na educação é que sua finalidade é que os alunos

aprendem o que os professores lhes ensinam. [...] No entanto qualquer

professor reconhece que, na sala de aula, os alunos aprendem de maneiras

diferentes, que alguns estabelecem relações com alguns aspectos dos

trabalhados em aula e outros se “conectam” a conteúdos diferentes. [...] Nos

projetos, potenciam-se os caminhos alternativos, as relações infrequentes, os

processos de aprendizagem individuais, porque, deles, aprende o grupo.

(HERNÁNDEZ, 1998, p. 84)

Os alunos escolheram individualmente o assunto que lhe interessava. Deixando a

critérios deles, aquilo que tinham interesse em investigar. O processo de aprendizagem é

diferente e as pesquisas em sua maioria foram de fontes diferentes, tornando o processo ainda

mais heterogêneo.

Quadro 5: Segundo índice da turma do 8°A

1- Música e ciência.

1.1 – Como a música pode impactar sobre a saúde.

1.2 – A influência da música no bem-estar.

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1.3 – Como a música pode ajudar na Educação.

1.4 – Como a música pode ser um benefício para o cérebro.

2 – Influência da música na compra de objetos.

2.1 – De que forma a música influência na compra de objetos

2.2 – Qual o estilo musical mais agrada as pessoas?

2.3 – como as pessoas se sentem em estar comprando em um ambiente musical?

3 – As emoções que a música causa.

3.1 – A música, a mente e o corpo.

3.2 – Quais são os benefícios psicológicos da música

3.3 – A música transforma o ser humano?

3.4 – Os ritmos e as reações.

4 – Gêneros musicais e as emoções causadas por eles

4.1 – O que são gêneros musicais?

4.2 – O que são emoções?

4.3 – Gênero musical X emoção

4.4 – Qual a importância em escutar algum tipo de música.

5 – A música como trilha sonora

5.1 – O que é trilha sonora

5.2 – Qual a função das trilhas sonoras?

5.3 – Quais as sensações que as músicas de trilha sonora podem causar?

5.4 – Por que as trilhas sonoras podem influenciar nas nossas emoções?

6 – Musicoterapia

6.1 – Como funciona a musicoterapia?

6.2 – Quais tipos de pessoas que a musicoterapia pode ajudar?

6.3 – Quem foi Meca Vargas?

6.4 – Onde a musicoterapia pode ser usada?

6.5 – Como a musicoterapia pode contribuir para o nosso cotidiano Fonte: O Autor (2016)

Os itens foram expostos para turma e solicitado que os alunos fizessem uma pesquisa

sobre o tema e que trouxessem mais informações para apresentação na turma no próximo

encontro.

O projeto permite que se leve em consideração diferentes representações da

realidade. Diante de um tema ou problema, as respostas (assim como o modo

como este é compreendido) são apresentadas de maneira diversificadas. Os

resultados da pesquisa são compartilhados pelo grupo, do qual emerge o

pensamento de cada indivíduo. (SANTOS, 2011, p. 52)

No encontro seguinte os grupos fizeram a exposição do conteúdo de suas pesquisas

para a turma seguindo a ordem do índice. O grupo responsável por pesquisar sobre “música e

ciência”, começou explicando sobre a relação que a música tem com o cérebro e os efeitos

que acontecem quando o ser humano ouve música. Destacaram a questão do bem-estar que o

ouvinte pode ter quando em contato com músicas que criam atividade cerebral e alivia em

sintomas do dia a dia como enxaqueca, ansiedade, estresse e questões comportamentais. Foi

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destacado pelo grupo como a música pode influenciar na educação e seu efeito sobre

atividades intelectuais, além de promover a expressão pessoal.

O grupo responsável pelo tema “A influência da música na compra de objetos”,

mostrou que a música tem o papel de chamar atenção para aquilo que propõem como sendo o

ideal. Os publicitários se utilizam da música para influenciar as pessoas levando-o de forma

induzida a conhecer, se interessar e a consumir o produto. Eles também mostraram que o

telespectador tem um papel de ouvinte passivo, pois é levado a ouvir as músicas sem escolher

e de tanto ouvir a mesma música passa a reproduzi-la sem perceber tornando um divulgador

do produto ou campanha.

O terceiro grupo com o tema “As emoções que a música causa” (vide figura 3), iniciou

sua fala fazendo a ligação entre música e as emoções como algo comprovado cientificamente

que pode provocar fortes reações emocionais, como as lágrimas e os risos. A música pode

provocar a redução dos níveis de ansiedade, diminuição da pressão arterial e da frequência

cardíaca entre outros. Foi colocado para turma sobre os benefícios que a música pode

estimular nas pessoas a exemplo de: ajudar na comunicação entre pessoas, aumentar a

autoestima, favorecer a reflexão, o surgimento de recordações de novas sensações e emoções.

Além de falarem sobre os benefícios da música em ouvintes os alunos também

abordaram a temática em relação aos instrumentistas. Apontaram que em pesquisas cientificas

os neurocientistas mostraram que ao tocar um instrumento musical é possível melhorar a

memória, noções de matemática e aumentar a capacidade de fazer multitarefas.

No subitem “Os ritmos e as reações” foi apresentada uma pesquisa cientifica

desenvolvida na universidade de Montreal, onde eles realizaram testes com povos de cultura

diferentes e tiveram reações físicas semelhantes ao ouvirem uma mesma composição.

Page 36: Ensino de música na escola através de Projetos de Trabalho ... · Compreender, através de pesquisa bibliográfica, como devem ser trabalhados os projetos na educação básica

35

Figura 1 - Apresentação do tema: As emoções que a música causa.

Fonte: O autor (2016).

No quarto encontro com a turma, foram expostos os temas e os subitens e passamos a

criação de uma exposição para a culminância do projeto. O que faz com que seja despertado

no aluno os seus talentos e a sua participação é importantíssima para todo o projeto da turma.

Como afirma Santos (2011), durante o desenvolvimento do projeto, os alunos têm a

oportunidade de descobrir qual o seu papel nas tarefas. As contribuições individuais são

diversificadas pois se trata de um grupo heterogêneo, porém, toda ação deve ser valorizada.

Cada tema foi colocado para todos os alunos contribuírem com opiniões para

transformar o conteúdo das pesquisas em uma exposição. Tornando o trabalho democrático e,

Santos (2011) ressalta que “qualquer situação de aprendizagem é desenvolvida em grupo e

compartilhada por todos”

Os grupos se dividiram (vide figura 2), a fim de definir como seria a exposição dos

temas. Cada grupo escreveu como seria a sua exposição e ao final da aula, apresentaram o

resultado para a turma. E cada aluno pode contribuir com as ideias iniciais dos grupos.

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Figura 2- Reunião dos grupos para criação da exposição. (8°A)

Fonte: O autor (2016).

4.2 - CULMINÂNCIA DO PROJETO DA TURMA DO 8° ANO A

A culminância do projeto aconteceu no dia nove de maio de 2016, nas dependências

do colégio. Como planejado no último encontro os alunos se dividiram em seis salas da escola,

onde duas eram salas de aula comuns e as outras foram: sala multiuso, Cineminha, sala de

informática e sala de projetos. Foi decidido que as turmas de 6° e 7° anos seriam as turmas

que iriam assistir à exposição. As turmas foram divididas em seis grupos e sempre eram

conduzidas de uma sala para outra por um participante do grupo.

O primeiro grupo, música e ciências ficou na sala de projetos, eles realizaram uma

apresentação com auxílio de projetor e o recurso do power point. O grupo demonstrou

bastante segurança e desenvoltura na hora da exposição.

O segundo grupo, a influência da música na compra de objetos, ficou em uma das

salas de aula e realizou apresentação com o auxílio de projetor e o recurso do power ponit. O

grupo se mostrou inseguro na apresentação do tema, mesmo assim tentou interagir com os

que estavam assistindo e ao final colocou algumas propagandas para tocar e ver a relação que

tem a música na compra de objetos.

O terceiro grupo, as emoções que a música causa, o grupo assim como os outros dois

grupos utilizou o projetor e o recurso de power point para falar sobre o tema. O grupo

demostrou segurança na apresentação do conteúdo.

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O quarto grupo, gêneros musicais e as emoções causadas por ele (vide figura 3), o

grupo ficou no “cineminha” eles realizaram uma pesquisa junto aos ouvintes. Os alunos

entregaram um papel contendo algumas perguntas relacionadas ao sentimento que eles têm ao

ouvir as músicas que foram tocadas pelo grupo. Foram executadas cinco músicas de

diferentes estilos tais como: Música clássica, romântica, reggae, rock e pop internacional. Os

ouvintes responderam às perguntas e devolveram ao grupo.

Figura 3 - Exposição do grupo: “gêneros musicais e as emoções causadas por ele”

Fonte: O autor (2016).

O quinto grupo, a música como trilha sonora (vide Figura 4), ficou na sala de

informática e fez uma exposição de vídeos com trilhas sonoras diferente do original do filme

ou da cena. Mostraram de forma prática a importância da trilha sonora para as cenas.

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Figura 4 - Exposição do grupo: “a música como trilha sonora”

Fonte: O autor (2016).

O sexto grupo, musicoterapia (vide Figura 5), ficou na sala multiuso onde lá

realizaram uma sessão de musicoterapia. Eles explicaram de que forma funciona a

musicoterapia dividindo a sala em 3 ambientes que são importantes para a realização da

musicoterapia.

Figura 5 - Exposição do grupo 6: “musicoterapia” (8°A)

Fonte: Elaborado pelo autor.

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4.3 - RELATO DE EXPERIÊNCIA COM A TURMA DO 8° ANO B

Em nosso terceiro encontro demos continuidade ao tratamento da informação no qual

os alunos se reuniram em grupo com suas pesquisas e foram criando os subitens a serem

colocados em cada item. Essa criação foi feita de acordo com os primeiros temas criados por

eles no segundo encontro, logo a união do grupo se deu aleatoriamente, pois os alunos

pesquisaram a parte que despertou mais interesse. Nos grupos, os alunos criaram subitens e

alguns itens, pensados no segundo encontro, passaram a ser descartados, por não gerarem

interesse de nenhum aluno ou em conversa com a turma, percebermos que ele não seria

necessário pesquisar ou ainda por se encaixar em um item que já explorava o assunto. No

Quadro 6, abaixo, é possível ver o resultado dos subitens criados.

Quadro 6 - Segundo índice do 8°B

Fonte: Autor (2016)

Após realizar a criação desses subitens, passamos a realizar uma pesquisa baseados

nos mesmos. No encontro seguinte, os alunos trouxeram o resultado do levantamento de

dados e passamos a discutir os temas em sala, com a participação de todos. Enquanto os

alunos foram expondo as informações sobre o assunto, foi debatida entre eles a importância

1 - PARA QUE SERVE A MUSICOTERAPIA?

1.1 – O que é musicoterapia?

1.2 – Como Funciona a musicoterapia?

1.3 – Quanto tempo leva o tratamento?

1.4 – Quais as doenças que o musicoterapeuta pode tratar?

1.5 – A relação da musicoterapia com o ser humano.

1.6 – O que leva alguém a ser o paciente da musicoterapia?

2- QUAIS AS SUBSTÂNCIAS QUE CAUSAM PRAZER AO OUVIR MÚSICA?

2.1 – A parte cientifica relacionada ao prazer.

2.2 – As substancias que causam prazer.

2.3 – Como o cérebro reage ao estimulo da música.

3 - POR QUE DANÇAMOS QUANDO OUVIMOS MÚSICA?

3.1 – O que é a dança.

3.2 – Música que você gosta de dançar.

4- POR QUE SÓ GOSTAMOS DE CERTOS TIPOS DE MÚSICA?

4.1 – Gostos musicais e personalidade.

4.2 – Cada pessoa apresenta gostos musicais diversos.

4.3 – Gostos musicais em comum.

4.4 – Nos acostumamos com a música por escuta-la diversas vezes.

5- COMO A MÚSICA PODE INFLUENCIAR NAS AÇÕES DO DIA A DIA?

5.1 – Na academia, nos estudos, na telecomunicação, no trânsito.

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de cada item para produção do projeto. No primeiro tema apresentado, os alunos falaram

sobre a musicoterapia e deram exemplos de como a música pode ajudar na prevenção, na

reabilitação e no tratamento de algumas doenças. Descreveram como acontecem as sessões de

musicoterapia e em quais doenças é possível realizar o tratamento.

Figura6 - Apresentação do tema: Musicoterapia. (8°B)

Fonte: O autor (2016).

No segundo item, apenas um aluno trouxe a pesquisa que tinha uma relação apropriada

com o tema, ele expôs que o indivíduo quando escuta música e a sua excitação chega ao auge,

ocorre a liberação de dopamina que é a substância que causa a sensação de prazer.

No item três, foram destacados a história da dança e quais músicas são utilizadas para

se dançar e como o nosso corpo reage aos estímulos das mesmas.

O item quatro (vide Figura 7), foi o que teve maior participação da turma. Muitos se

interessaram por esse tema, que foi bem explorado por eles. Os alunos apresentaram dados

sobre os gêneros musicais e a personalidade, onde foi demonstrado que pesquisadores fazem

relações com as músicas ouvidas e seus ouvintes e foram dados alguns exemplos dessa

conexão entre o gênero musical e a personalidade. Um dos exemplos foi o de quem gosta de

ouvir jazz geralmente são pessoas criativas e que tem boa autoestima. O fato de se ter gosto

musical parecido foi apresentado fazendo uma ligação com a personalidade de cada pessoa.

Geralmente os que têm personalidades parecidas apresentam gosto musical semelhante.

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Figura 7 - Apresentação do tema: Por que só gostamos de certos tipos de música?

Fonte: O autor (2016).

No item cinco, foi um tema bastante abrangente, pois trata da música no dia a dia das

pessoas. Mas, conseguimos delimitar o tema para a música no dia a dia relacionado a pessoas

que não trabalham com música. Neste sentido o grupo abordou itens relacionados à música na

academia, a música de uma propaganda, a música que toca na rádio, músicas que não temos o

controle sobre ela, onde somos ouvintes passivos. E foi apresentada uma pesquisa onde

explica a função da música nesses ambientes e como as pessoas reagem a ela.

No quarto encontro com a turma, foram expostos os temas e os subitens e passamos a

criação de uma exposição para a culminância do projeto. Cada tema foi colocado para todos

os alunos contribuírem com opiniões para transformar o conteúdo das pesquisas em uma

exposição. A primeira decisão tomada pela turma era que cada tema fosse exposto em uma

sala diferente seguindo de acordo com a necessidade de cada tema. Proposto e decidido

seguimos para o tema “musicoterapia” ao qual os alunos decidiram inicialmente criar uma

sala onde iriam demonstrar algumas sessões de musicoterapia.

No tema “Quais as substâncias causam prazer ao ouvir música”, os alunos deram a

proposta de fazer uma sala onde mostrasse o caminho que o som da música percorre até

chegar ao cérebro.

Em outro tema “por que dançamos quando ouvimos música? ” Eles sugeriram fazer

uma sala onde os observadores seriam conduzidos a vários estímulos sonoros de gêneros

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musicais diferentes e em quais gêneros eles dançariam e em quais eles não dançaram e ao

final apresentariam o motivo de dançar ou não em determinado gênero.

Na sequência, o tema “Por que só gostamos de certos tipos de música”, ao som de

algumas músicas decididas previamente pelos alunos, os observadores seriam levados a

responder a um questionário sobre as músicas que estão ouvindo e quais os gêneros musicais

foram mais apreciados.

O último tema “Como a música pode influenciar nas ações do dia a dia”, foi proposto

pela turma que criassem exemplos de ambientes que a música está no dia a dia e fosse feita

uma exposição sobre qual o objetivo de ter música nesses ambientes.

Figura 8 - Reunião dos grupos para montagem da exposição. (8°B)

Fonte: O autor (2016).

4.4 - CULMINÂNCIA DO PROJETO DO 8° ANO B

A culminância do projeto aconteceu no dia nove de maio de 2016, nas dependências

do colégio. Como planejado no último encontro os alunos se dividiram em cinco salas da

escola que foram: sala de aula da turma, sala multiuso, Cineminha, sala de informática e sala

de projetos. Foi decidido que as turmas de 6° e 7° anos seriam as turmas que iriam assistir à

exposição. As turmas foram divididas em cinco grupos e sempre eram conduzidas de uma sala

para outra por um participante do grupo. Passo agora a relatar como os grupos se organizaram

e tecer comentários sobre as apresentações.

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O primeiro grupo, para que serve a musicoterapia (vide figura 9, abaixo), ficou na sala

multiuso e fizeram uma representação de como seria a musicoterapia de forma prática,

colocaram os ouvintes sentados em colchonetes em uma roda que tinha vários instrumentos e

explicaram como funcionava a musicoterapia, logo após com uma música de fundo pediram

para os alunos relaxarem e ouvir a música. Em seguida o grupo solicitou aos ouvintes que

pegassem os instrumentos que estavam espalhados pela sala e tocassem de acordo com o

ritmo da música de fundo. Ao final, foram feitas perguntas relacionadas ao tema.

Figura 9 - Exposição do grupo: “musicoterapia” (8°B)

Fonte: O autor (2016).

O segundo grupo, “quais as substâncias causam prazer na música” (vide Figura 10,

Abaixo), os alunos ficaram no cineminha. Nesse local existe um pequeno corredor onde os

alunos montaram o caminho que a música percorre até chegar ao cérebro. Enquanto os

ouvintes iam entrando no corredor recebiam informações de onde estavam passando e o que

acontecia quando a música ou som passava por aquele local. Ao final, na sala os alunos

sentaram em uma roda e receberam explicações sobre como a música age no cérebro.

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Figura 10 - Exposição do grupo 2: “Quais as substâncias causam prazer na música”

Fonte: O autor (2016).

O terceiro grupo, “por que dançamos quando ouvimos música”, o grupo ficou na sala

de projetos e utilizou como recurso o projetor e Power point no auxílio da apresentação. O

grupo fez uma apresentação breve e não apresentou todos os aspectos pesquisados.

O quarto grupo, “por que só gostamos de certos tipos de música” (Vide Figura 11,

abaixo), ficou na sala da informática onde eles enfeitaram toda a sala com notas musicais,

jogo de luz e utilizaram os recursos de multimídia oferecidos no local. Com ajuda do projetor

os alunos fizeram a exposição do conteúdo, depois apresentaram um vídeo como resumo e em

seguida pediram para que os ouvintes se deslocassem até os computadores para responder a

um questionário elaborado pela turma, no programa socrative (vide Figura 12).

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Figura 11 - Exposição do grupo 4: “Por que só gostamos de certos tipos de música”

Fonte: O autor (2016).

Figura 12 - Exposição do grupo 4: Alunos respondendo perguntas.

Fonte: O autor (2016).

O quinto grupo, “como a música pode influenciar nas ações do dia a dia”, ficou na sala

da turma e lá representaram quatro cenas do dia a dia e explicaram como a música pode

influenciar e ajudar no desenvolvimento de algumas atividades diárias.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi analisar através de um relato de experiência, como

podemos organizar o currículo de música utilizando a metodologia do projeto de trabalho

observando as contribuições e sua importância na aprendizagem dos alunos.

Podemos situar o projeto de trabalho como uma proposta pedagógica que propicia

novas perspectivas para o processo de ensino e de aprendizagem, visto que primam por

situações didáticas reais e diversificadas que contribuem significativamente para a formação

de sujeitos críticos, reflexivos, autônomos e conscientes de seus papéis enquanto seres

histórico-culturais.

Outro ponto importante a destacar na pesquisa é o papel do professor como

facilitador/orientador da relação dos alunos com o conhecimento, ampliando a autonomia e a

sua capacidade crítica e o professor atuando como sujeito pesquisador. O papel do aluno

frente a essa concepção, realizando o tratamento de informações que oferecem diferentes

visões da realidade na qual foi necessário distinguir as diferentes hipóteses, teorias, opiniões e

torna-las compreensíveis aos colegas.

A organização do currículo por projeto de trabalho mostrou-se, uma estratégia

eficiente no currículo de música. A liberdade dada aos alunos para a realização das pesquisas

foi uma forma de perceber a abrangência de informações que se pode conseguir através da

utilização dessa metodologia e que propicia no educando o desenvolvimento de estratégia,

criatividade, argumentos, interpretação da realidade e a organização do pensamento.

A utilização de Projetos de Trabalho contribui para a integração de diversas

disciplinas. Por se tratar de projetos onde os alunos realizaram pesquisas que mais chamaram

a sua atenção, e como a perguntar que serviu como fio condutor, tratava de sensibilidade no

ser humano, os alunos passaram em determinado momento a buscar conhecimento em outra

disciplina que tratasse do corpo humano, nesse caso, a disciplina de ciências. Como é possível

perceber ao longo do relato, alguns temas trabalharam com o cérebro, o ouvido, substâncias

que causam prazer e fez com que os alunos recorressem a disciplina de ciências, realizando

perguntas a professora, sobre suas dúvidas e como encontrar uma melhor forma de expor esse

conhecimento no trabalho. Logo, percebemos uma necessidade do trabalho interdisciplinar

entre a disciplina de música e ciências, o que significa que o aprender é um ato comunicativo,

já que necessita dessa comunicação com outras áreas do conhecimento.

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Um fator que ficou perceptível, é que mesmo sendo a mesma pergunta para as duas

turmas que são de horários diferentes, os alunos pensaram em formas diferentes de se abordar

os temas. Mesmo sendo o fio condutor igual, a execução do projeto aconteceu de forma

diferente nas duas turmas. É possível perceber também, que havia uma conexão entre os

temas e que os alunos ouvintes comentaram sobre o que viram na exposição de outro tema,

mas com informações parecidas, mostrando que houve uma integração dos temas de forma

não planejada e que garantiu aos alunos ouvintes essa conexão entre os temas e melhor

compreensão do processo da pesquisa realizada.

Outro aspecto importante a ressaltar, foi a participação de todos os alunos na

exposição do trabalho, diferente de outros projetos esse teve a participação de 100% das

turmas, ou seja, nenhum aluno faltou. Tiveram alunos que mesmo estando doentes

compareceram à culminância do projeto, demonstrando um real interesse e que a sua presença

era fundamental para exposição do trabalho.

Sobre o conteúdo de música, as pesquisas foram realizadas para tentar entender os

efeitos que a música produz no ser humano, a diversidade de gêneros foi abordada, o objetivo

de músicas que estão em nosso cotidiano também, além de questões relacionadas aos

sentimentos provocados pela música. Não foi objetivo do trabalho, a utilização da linguagem

e estruturação musical e seus conceitos, mas sim, de como a música como produto finalizado

é sentido em nosso corpo.

Os Projetos de Trabalho desenvolvidos nas duas turmas foram sequenciados de acordo

com a proposta de Fernando Henández (1988), então, nesse caso, o currículo é flexível porque

se constrói ao longo da pesquisa. E não cabe ao professor, selecionar os assuntos que serão

estudados e sim o problema em curso.

Pelo que foi registrado até aqui, é possível ver claramente o quanto as atividades de

projeto facilitam a montagem de um currículo, dando nova dimensão ao aspecto didático e,

muitas vezes, superando o programa convencional.

Finalizo, com a expectativa de que essa pesquisa possa contribuir, de forma

significativa para os educadores musicais, pensando em criar estratégias de ensino para o

currículo de música e que desenvolvam atividades que busquem no educando os

conhecimentos necessários para o seu compartilhamento e que o aprender a aprender seja um

fator a contribuir para as atividades musicais.

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REFERÊNCIAS

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1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da

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Legislativo, Brasília, DF, 19 ago. 2008. Seção 1, p. 1.

_______. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES 5/2016. Diário Oficial da

União, Brasília, 10 de maio de 2016, Seção 1, p. 1. Disponível em:

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Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC /SEF, 1998. 116 p.

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SANTOS, Beatriz Boclin Marques dos. Os projetos de trabalho em ação: Construindo um

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APÊNDICES

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ANEXOS

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Esta versão foi revisada e aprovada pelo(a) orientador(a), sendo aceite, pela

Coordenação de Graduação em Música, como versão final válida para depósito

no Repositório de Monografias da UFRN.

Valéria Lazaro de Carvalho

Coordenadora dos Cursos de Graduação