53
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ANA KÁTIA DE SOUZA PESSOA ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: Das orientações do MEC as ações dos Estados e Municípios São Paulo 2011

Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

Embed Size (px)

DESCRIPTION

No ano de 2010 começou a vigorar a Lei nº 11.274/06, que sanciona o Ensino Fundamental de nove anos, tornando obrigatório o ingresso de crianças a partir dos seis anos de idade na escola, com o intuito de que as crianças, ao passarem mais tempo na escola, consigam um melhor desempenho acadêmico. O presente trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, em especial documentos do Ministério da Educação (MEC) e legislação específica sobre o tema da pesquisa, qual seja, o Ensino Fundamental de nove anos, e textos de autores do campo da educação como Batista (2006), Kramer (2009), Prada (2009) e Saveli (s/d), teve como objetivos estudar os documentos elaborados pelo MEC, a fim de caracterizar suas orientações com vistas à ampliação da duração do Ensino Fundamental. O problema da pesquisa assim se coloca: como deve ser o primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos, em seus aspectos estruturais e pedagógicos, tomando-o como transição entre a Educação Infantil e esta etapa de ensino. A pesquisa aponta que, apesar da proposta da ampliação do Ensino Fundamental ser boa, se sua implementação não for feita da forma adequada, em vez de se tornar um mecanismo para se obter um melhor rendimento escolar do aluno que frequenta a escola pública, ela se tornar uma violência contra os profissionais de educação e contra as crianças. No ano de 2010, a proposta manteve-se no plano discursivo, evidenciando um hiato significativo entre as orientações do MEC e o cotidiano das escolas da Rede Municipal de Educação de São Paulo.

Citation preview

Page 1: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ANA KÁTIA DE SOUZA PESSOA

ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS:

Das orientações do MEC as ações dos Estados e Municípios

São Paulo

2011

Page 2: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

2

ANA KÁTIA DE SOUZA PESSOA

ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS:

Das orientações do MEC as ações dos Estados e Municípios

Trabalho de Graduação Interdisciplinar apresentado ao Curso de Pedagogia do Centro de Ciências e Humanidades da Universidade Presbiteriano Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Pedagogia.

Orientador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

São Paulo

2011

Page 3: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

3

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof. Dr.: João Clemente de Souza Neto (Orientador)

___________________________________________

Prof. Dr.: Ani Martins da Silva

___________________________________________

Prof. Dr.: Mary Rosane Ceroni

Page 4: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

4

Dedico este trabalho a todas as pessoas que

lutam para tornar este mundo um lugar

melhor.

Page 5: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus familiares que colaboraram para que eu chegasse até aqui,

especialmente a minha mãe, uma mulher simples que desde pequena lutou contra a

pobreza para sobreviver e mesmo enfrentando muitas dificuldades, decidiu que valia

a pena trazer mais uma vida e este mundo e a meu pai, um pedreiro negro e idoso,

cansado de tanto trabalhar e que ainda não conseguiu se aposentar, que durante o

tempo em que eu estudava, humildemente exercia o seu oficio.

Também agradeço a todos os professores do curso de graduação, que

compartilharam com minha turma o conhecimento e a experiência de vida que

tinham, contribuindo para que nos tornássemos tanto pessoas melhores como

profissionais preparados para desempenhar um bom trabalho. Agradeço a

professora Dra. Ani Martins da Silva, que leciona sobre o assunto desta pesquisa, e

contribuiu para que obtivesse uma visão mais ampla do tema. Aproveito a

oportunidade para agradecer mais uma vez a Profa. Dra. Maria de Fátima Chassot,

que me orientou na minha primeira pesquisa de Iniciação Científica e ao Prof. Dr.

João Clemente de Souza Neto, que me orienta na segunda pesquisa de Iniciação

Científica que desenvolvo e me orientou neste trabalho de conclusão de curso,

pedindo a ambos desculpa por ser uma orientanda rebelde.

Não posso deixar de registrar meu agradecimento aos meus companheiros do

curso de graduação, porque nestes sete semestres em que convivemos, mesmo que

muitas vezes brigássemos uns com os outros e o clima na turma se tornasse

desagradável, estávamos aprendendo a respeitar as diferenças que existiam entre

nós e a vivermos juntos, premissa básica para qualquer educador.

Page 6: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

6

“Ressalte-se que a aprendizagem não

depende apenas do aumento do tempo de

permanência na escola, mas também do

emprego mais eficaz desse tempo: a

associação de ambos pode contribuir

significativamente para que os estudantes

aprendam mais e de maneira mais

prazerosa...” (BRASIL, 2006, p. 9)

Page 7: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

7

RESUMO

No ano de 2010 começou a vigorar a Lei nº 11.274/06, que sanciona o Ensino

Fundamental de nove anos, tornando obrigatório o ingresso de crianças a partir dos

seis anos de idade na escola, com o intuito de que as crianças, ao passarem mais

tempo na escola, consigam um melhor desempenho acadêmico. O presente

trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, em especial documentos do Ministério

da Educação (MEC) e legislação específica sobre o tema da pesquisa, qual seja, o

Ensino Fundamental de nove anos, e textos de autores do campo da educação

como Batista (2006), Kramer (2009), Prada (2009) e Saveli (s/d), teve como

objetivos estudar os documentos elaborados pelo MEC, a fim de caracterizar suas

orientações com vistas à ampliação da duração do Ensino Fundamental. O problema

da pesquisa assim se coloca: como deve ser o primeiro ano do Ensino Fundamental

de nove anos, em seus aspectos estruturais e pedagógicos, tomando-o como

transição entre a Educação Infantil e esta etapa de ensino. A pesquisa aponta que,

apesar da proposta da ampliação do Ensino Fundamental ser boa, se sua

implementação não for feita da forma adequada, em vez de se tornar um mecanismo

para se obter um melhor rendimento escolar do aluno que frequenta a escola

pública, ela se tornar uma violência contra os profissionais de educação e contra as

crianças. No ano de 2010, a proposta manteve-se no plano discursivo, evidenciando

um hiato significativo entre as orientações do MEC e o cotidiano das escolas da

Rede Municipal de Educação de São Paulo.

Palavras-chave: Ensino Fundamental de Nove Anos. Reformas e Políticas

Educacionais. Formação Continuada dos Profissionais da Educação.

Page 8: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

8

ABSTRACT

In 2010 came into force Law No. 11.274/06, which sanctions the elementary school

for nine years, making the entry of children as young as six years old at the school, in

order that children, to spend more time in school, get a better academic performance.

This paper, through literature, in particular documents of the Ministry of Education

(MEC) and specific legislation on the subject of study, namely, the elementary school

for nine years, and texts by authors from the field of education as the Baptist (2006),

Kramer (2009), Prada (2009) and shad (s / d), aimed to study the documents

prepared by the MEC in order to characterize their guidelines in order to expand the

duration of the elementary school. The research problem thus arises: how should be

the first year of elementary school for nine years, in their structural and educational

aspects, taking it as transition between kindergarten and this stage of education. The

research shows that despite the proposed expansion of the elementary school to be

good, if its implementation is not done properly, instead of becoming a mechanism

for achieving better academic performance of students who attend public school, she

violence to become a professional education and against children. In 2010, the

proposal remained at the discursive level, showing a significant gap between the

directions of the MEC and the daily life of schools of the Municipal Education of Sao

Paulo.

Keywords: elementary school for nine years. Educational Reforms and Policies.

Continuing Education for Professional Education.

Page 9: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

9

LISTA DE ABREVIATURAS

CEE: Conselho Estadual de Educação

CEFAI: Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão

CEI: Centro de Educação Infantil

CIEJA: Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos

CMCT: Centro Municipal de Capacitação e Treinamento

CNE: Conselho Nacional de Educação

DRE: Delegacia Regional de Educação

EMEE: Escola Municipal de Ensino Especial

EMEF: Escola Municipal de Ensino Fundamental

EMFM: Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio

EMEI: Escola Municipal de Educação Infantil

INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB: Lei de Diretrizes e Bases

MEC: Ministério da Educação e Cultura

PISA: Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

PROUNI: Programa Universidade Para Todos

SAEB: Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SINPEEM: Sindicado dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São

Paulo

SME: Secretaria Municipal de Educação

Page 10: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

10

SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11

2. ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS ........................................................ 166

2.2. PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE

ANOS: AÇÕES DO MEC ........................................................................................... 22

3. PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS ....................... 29

3.1. ADAPTAÇÃO DO CONTEÚDO PEDAGÓGICO E DA ROTINA ESCOLAR ..... 29

3.2. FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ................................................... 34

3.3. ADEQUAÇÃO DOS PRÉDIOS ESCOLARES .................................................. 38

4. O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA CIDADE DE SÃO PAULO ... 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 48

Page 11: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

11

1. INTRODUÇÃO

A fim de melhorar as condições de equidade e qualidade na Educação Básica,

ajudando as crianças a terem um melhor desempenho acadêmico em sua vida

escolar, começou a vigorar, no ano de 2010, a Lei nº 11.274/06 que aumenta a

duração do Ensino Fundamental de oito para nove anos, tornando obrigatório o

ingresso de crianças a partir dos seis anos de idade na escola. Tal medida visa

aumentar o tempo de permanência da criança na escola, uma vez que a Educação

Infantil não é obrigatória como é o Ensino Fundamental, e grande parte das crianças

das camadas populares só entram na escola aos sete anos de idade, dada a

carência de vagas na Educação Infantil nas redes públicas de ensino.

A entrada de crianças de seis anos no Ensino Fundamental foi sinalizada pela

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, embora como

facultativo aos municípios e estados, Lei esta tida como mais democrática,

comparativamente às LDBs anteriores – Leis 4.024/61 e 5.692/71 -, pois foi

elaborada com a participação da sociedade civil e dos movimentos sociais, após o

fim da ditadura militar. Embora a atual LDB tenha apontado a possibilidade de

crianças de seis anos iniciarem o Ensino Fundamental, a prática foi adotada por

alguns estados e municípios brasileiros, antes de se tornar obrigatório, em 2006,

com prazo de implantação no ano de 2010.

Para que a implantação do Ensino Fundamental de nove anos acontecesse com

sucesso em todas as escolas públicas do território nacional, e que o acolhimento e o

trabalho a ser desenvolvido com as crianças de seis anos ocorressem respeitando-

se as especificidades de seus processos de desenvolvimento e aprendizagem, que

diferem do das crianças de sete anos, o MEC elaborou e encaminhou à rede e às

Secretarias de Educação alguns documentos para subsidiar as tomadas de decisão

para a transição do Ensino Fundamental de oito para nove anos.

É neste contexto que definimos os objetivos desta investigação: estudar os

documentos do MEC que orientam a implantação do Ensino Fundamental de nove

anos, documentos esses denominados “Ampliação do Ensino Fundamental para

nove anos: relatório do programa”, “Ensino Fundamental de nove anos: passo a

passo do processo de implantação” e “Ensino Fundamental de nove anos:

Page 12: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

12

orientações gerais”, bem como a Lei nº 11.274/06 que instituiu o Ensino

Fundamental de nove anos, a fim caracterizar as ações recomendadas pelo MEC

com vistas à implantação da ampliação desta etapa de ensino. Desta feita, o

problema da pesquisa assim se coloca: como deveria ser organizada, do ponto de

vista pedagógico e estrutural, o primeiro ano deste ensino, que passaria a acolher

crianças de seis anos que antes frequentavam a última etapa da Educação Infantil?

A pesquisa é de natureza teórica, e esta ancorada no marco jurídico que trata do

tema e, como já colocado, em documentos produzidos pelo MEC, tendo sido

incorporado na revisão da literatura pesquisadores do campo da educação que têm

se debruçado sobre a temática.

O interesse pelo tema surgiu no ano de 2009, quando atuei como estagiária

bolsista em um dos Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão – CEFAI

da Secretaria Municipal de Educação/São Paulo, tendo como função apoiar os

professores em salas de aula onde houvesse alunos com necessidades

educacionais especiais. No ano de 2010, ainda como estagiária, atuei em outra

escola da Rede Municipal que, assim como a primeira escola, era jurisdicionada à

DRE Capela do Socorro. A experiência possibilitou-me presenciar o processo inicial

de implantação do Ensino Fundamental nas duas escolas municipais de São Paulo,

pois estava na rede um ano antes da implantação e no ano de implantação, em

2010, conforme determinado por legislação do Conselho Nacional de Educação.

Na primeira escola, no ano de 2009, os profissionais estavam à espera de um

posicionamento por parte da SME sobre como deveriam ser feitas tanto as

adequações curriculares, e as adequações físicas do prédio escolar, inclusive

esperavam ajuda financeira para as adaptações. Entre os professores havia certo

receio de lidarem com crianças menores, pois nem todos tinham experiência na

Educação Infantil. Alguns diziam terem optado em trabalhar com as crianças

maiores do Ensino Fundamental e que não estavam felizes com a mudança.

Em fevereiro de 2010, na segunda escola, havia iniciado o trabalho alguns dias

antes do começo do ano letivo. Nessa unidade escolar tomei conhecimento que a

escola não havia recebido nenhuma verba para a reforma do prédio que iria receber

crianças menores, e também nenhuma orientação de como começar a trabalhar com

a nova turma de crianças com seis anos de idade. Com a proximidade dos

Page 13: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

13

professores, pude registrar que eles pareciam não diferenciar, de início, série e ciclo,

com dificuldades para escolher, entre os livros enviados pela SME, o mais adequado

à turma para ser trabalhado durante o ano letivo. Os professores perguntavam: “Este

livro do quinto ano é para a quinta série atual ou para a turma da quarta série?”

Alguns professores que trabalhavam em mais de uma escola diziam como a outra

escola havia feito a escolha, para tentarem ajudar seus colegas a escolherem os

livros.

No ano de 2010, essa escola arrumou o parque que já existia na unidade, e fez

uma escala de revezamento entre os professores do primeiro ano para ser utilizado

pelas crianças de suas classes, com apenas algumas horas na semana para uso

pelas demais classes da escola. A professora da classe em que atuei entendia que

seus alunos com nove anos precisavam também brincar, por isto, às sextas-feiras,

reservava um tempo para seus alunos brincarem na última aula e, às vezes, os

conduzia ao parquinho, mas sempre explicava que a prioridade de usar o parque era

das crianças menores do primeiro ano.

Não houve rearranjo na disposição das carteiras das salas de aula para deixá-

las mais adequadas às crianças com seis anos de idade, e continuaram enfileiradas.

A coordenadora do CEFAI, supervisora do meu estágio, visitava as escolas da zona

sul por conta do programa de inclusão, e disse-me que algumas escolas haviam

feito com sucesso a adaptação curricular e física necessárias para receber as

crianças menores, mais que foram muito poucas. Posteriormente, fui informada por

um dos diretores do Sindicado dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal

de São Paulo – SINPEEM, que por não ter havido orientação oficial da SME, cada

escola fez o que pode para receber as crianças menores.

Em relação à formação dos professores para o atendimento das crianças de seis

anos que ingressaram no Ensino Fundamental em 2010, o diretor do sindicato

informou que cada DRE fez de um jeito, algumas no começo do processo, outras no

final, e que teve DRE que não ofereceu nenhuma formação aos professores. A DRE

da Capela do Socorro, encarregada das escolas nas quais estagiei, fez a primeira

formação no mês de maio, quando foi abordado o tema do primeiro ano do Ensino

Fundamental de nove anos, com somente mais dois encontros até o final daquele

ano. Uma estagiária do CEFAI/DRE de Santo Amaro informou que os professores

Page 14: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

14

de sua escola receberam a formação sobre o processo de transição algumas

semanas antes do ocorrido na região da Capela do Socorro.

Na sala dos professores havia sempre materiais no mural do SINPEEM e alguns

exemplares de seu jornal, com matérias sobre a questão da implantação do Ensino

Fundamental de nove anos, e sempre questionando a forma como estava sendo

implantado na Rede. A falta de estrutura das escolas para receber as crianças

menores e a falta de preparação dos professores para recebê-las estavam sempre

presentes nas matérias do jornal e nas conversas entre os professores.

Por conta das vivências, como acima relatado, no primeiro momento da

transição do Ensino Fundamental de oito para nove anos, comecei a estudar o tema

em iniciação científica, no ano de 2009, retomando-o e aprofundando os estudos

neste trabalho de conclusão de curso. No entanto, dada a recente obrigatoriedade

do cumprimento da Lei, ainda não há estudos que apontem como o processo está

ocorrendo, embora o que pude acompanhar, nos anos de 2009 e 2010, na maior

metrópole do país, é um indicador do hiato entre a política pública e o chão da

escola.

Quanto à organização do trabalho, o estruturamos em três capítulos. No

primeiro capítulo denominado Ensino Fundamental de nove anos, há a descrição do

que o MEC espera ampliando o Ensino Fundamental de oito para nove anos no

Brasil, os marcos teóricos da Lei nº 11.274/06 e mostra outros países do mundo que

trabalham com uma Educação Básica de maior duração. Para ajudar nesta reflexão

são usados documentos do MEC, CNE, LDB, INEP e a contribuição dos autores

Saveli, Zan, Cabral e Batista.

No segundo capítulo Primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos, são

descritas as adaptações de conteúdo e horários pedagógicos, além da formação dos

profissionais de educação, para trabalhar com as crianças de seis anos que

ingressam na primeira série do Ensino Fundamental de nove anos. São trabalhados

neste capítulo os documentos do MEC, SME, CEE, CNE, PCN, a LDB, junto com as

contribuições dos autores Padua, Borba, Kramer, Nascimento, Goulart, Corsino,

Luck, Veiga, Silva e Santos, Nery e Prada

No terceiro capítulo O Ensino Fundamental de nove anos na cidade de São

Paulo, mostra-se como funciona a rede de educação na cidade e como foi o

Page 15: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

15

processo de discursão e implantação da Lei nº 11.274/06. São estudados as

deliberações CEE 61/2006 e CEE 73/2008, a Lei n º 9394/96.

Page 16: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

16

2. ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS

A ampliação em mais um ano de estudo deve produzir um salto na

qualidade da educação: inclusão de todas as crianças de seis anos,

menor vulnerabilidade a situações de risco, permanência na escola,

sucesso no aprendizado e aumento da escolaridade dos alunos

(BRASIL/MEC, 2004).

Um Ensino Fundamental com uma maior duração, com crianças entrando mais

cedo na escola existe em muitos países no mundo. Na Europa alguns exemplos são

a Suíça, onde “O ensino obrigatório, assim como no Brasil, inicia-se aos seis anos

de idade e dura nove anos entre o Ensino Fundamental I (seis anos de duração, em

média) e II (três anos de duração)...” (FDFA, 2009); na Dinamarca, onde “...Em

agosto de 2009, a classe pré-primária foi tornada obrigatória para todos os alunos e,

assim, um total de 10 anos de escolaridade é obrigatória, mais frequentemente

entre as idades de 6 e 16...” (Fichas Dinamarca, 2009) e na Finlândia, onde “...A

nova Lei da Educação Básica, que entrou em vigor em 01 de janeiro de 1999 ...

afirma que a Educação Básica dura nove anos...” (Fichas Finlândia, 2009).

Segundo Cabral (2006), a decisão do MEC de aumentar os anos de

permanência das crianças no Ensino Fundamental, aproxima a realidade do Brasil à

de outros países da América Latina, que já trabalham com uma Educação Básica de

maior duração já há muitos anos:

[...] só nós e a Bolívia tínhamos ensino obrigatório de oito anos.

Países como Argentina e Uruguai têm dez anos de ensino obrigatório,

contando o ano final da pré-escola (aos 5 anos) e mais nove de

educação básica. E o Chile recentemente incluiu o ensino médio

como obrigatório, além dos oito anos de fundamental. (MARISA apud

CABRAL, 2006, p. 1).

Batista (2006) acrescenta ainda que a diferença do Brasil em relação a outros

países da América Latina, também se dá no que tange à idade de ingresso no

ensino fundamental, pois nos outros países as crianças ingressam mais cedo na

escola:

[...] o Brasil era o único país da América Latina cuja educação

obrigatória se iniciava aos sete anos. Na maioria dos países latino-

americanos (assim como da América do Norte e Europa), ela começa

aos seis anos, embora as crianças argentinas, colombianas e

equatorianas ingressem aos cinco (BATISTA, 2006, p. 1).

Page 17: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

17

Apesar do destaque do Brasil na mídia internacional, como país referência na

América Latina, a qualidade de seu ensino é considerada ruim por organismos

internacionais. O jornal Estadão publica em janeiro de 2010 a matéria “Qualidade da

educação no Brasil ainda é baixa, aponta UNESCO”, falando sobre o “Relatório de

Monitoramento de Educação para Todos de 2010” organizado pela UNESCO, onde

ele descreve que com os “índices de repetência e abandono da escola entre os mais

elevados da América Latina, a educação no Brasil ainda corre para alcançar

patamares adequados para um País que demonstra tanto vigor em outras áreas,

como a economia”. O relatório aponta que a qualidade da educação no Brasil é

baixa, principalmente na educação básica, e o nosso índice de repetência escolar

não é só o mais elevado da América Latina, pois se o compararmos aos de outros

países do mundo, a diferença se mostra ainda mais expressiva. A UNESCO

acredita que “o Brasil poderia se encontrar em uma situação melhor se não fosse a

baixa qualidade do seu ensino”, segundo consta no relatório.

Zan (2005) analisa se a expansão do Ensino Fundamental para nove anos no

Brasil, não seria uma condição para nos igualarmos aos outros países da América

Latina, que têm um tempo maior de escolarização. Esta também seria uma

estratégia para conseguirmos inserção comercial mais significativa.

Possivelmente, essa iniciativa significaria uma ação no sentido de

aproximação desses países, contribuindo assim para a consolidação

do Mercosul. Acredito que são necessários estudos mais

aprofundados para desvendar o caráter das orientações políticas que

sustentam essa mudança no sistema de ensino brasileiro. (ZAN,

2005, p.1).

Seja visando a longo prazo bons acordos comerciais, ou pensando somente em

garantir um direito, a ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos

precisa ser feita com responsabilidade e comprometimento do governo e de todos os

envolvidos com a educação escolar.

Isto posto, neste capítulo, apresentamos iniciativas de âmbito federal, no que

toca às ações desencadeadas pelo Ministério da Educação (MEC), para a

implantação no país do Ensino Fundamental de nove anos de duração. Iniciativas

que se referem não apenas ao aparato legal produzido após a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional ter sido sancionada, em 1996, mas também à

produção de documentos orientadores dos sistemas de ensino e das escolas.

Page 18: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

18

Ressalta-se, inicialmente, que as ações do MEC, em prol da ampliação da

duração do Ensino Fundamental, datam de 2003, conforme revisão da literatura, e

que, no ano de 2006, a ampliação foi instituída pela Lei nº 11.274, com prazo de

implantação, em todo território nacional, até ano de 2010.

O tema tem mobilizado educadores, pesquisadores da Educação Infantil e do

Ensino Fundamental e a comunidade em geral, e parece não haver consenso sobre

o mesmo. No mês de novembro, a título de exemplo, o jornal O Estado de São Paulo

trouxe, em datas diferentes, duas matérias sobre o tema. A primeira, no dia 25,

intitulada “Justiça libera menor de 6 anos no fundamental”, trata da decisão de um

juiz de Pernambuco, justificada com a tese de “afronta ao princípio da isonomia,

pois, segundo o juiz, as resoluções do Conselho Nacional deixam “que a capacidade

de aprendizagem da criança individualmente considerada seja fixada de forma

genérica e exclusivamente com base em critério cronológico”. Afirmou, ainda, que a

faixa etária dos 6 anos para o início do Ensino Fundamental não se encontra em

nenhum tipo de análise científica que indique que essa é a idade recomendada para

as crianças iniciarem a alfabetização. O juiz recomenda que “o Estado deve se

munir de meios para avaliar as crianças, por meio de comissões interdisciplinares,

que levem em conta elementos psicopedagógicos, interações sociais, fatores

socioambientais, entre outros, a fim de verificar se elas reúnem condições de

avançar de fase de aprendizagem”.

A matéria afirma que a maneira como o Ensino Fundamental de nove anos foi

implantada no país tem provocado polêmica entre gestores, educadores e pais. Há

pais que têm recorrido à Justiça diante da negativa de colégios de fazer a matrícula

de seus filhos no Ensino Fundamental, em cumprimento à legislação. Por sua vez,

diretores escolares alegam que não podem desrespeitar a Secretaria de Educação.

A outra matéria, do dia 27 de novembro, traz a contestação das Escolas Waldorf

à resolução do CNE que exige a matrícula de crianças de 6 anos na 1ª série,

defendendo que as crianças devem iniciar o ensino fundamental aos 7 anos de

idade, contrariando, portanto, decisões do CNE. As Escolas Waldorf estão

questionando na Justiça as decisões desse Conselho. O jornal informa que, em meio

à discussão, nesta semana, uma ação civil pública, do Ministério Público Federal no

Page 19: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

19

Distrito Federal, assim como ocorreu em Pernambuco, propôs o fim da resolução do

CNE, com o argumento de que as redes devem ter autonomia.

A considerar o ano de 2010 como limite para o cumprimento das determinações

do CNE, e, possivelmente, as pressões às escolas por quem cabe fiscalizar,

acredita-se que outros pais devam recorrer à Justiça, em especial aqueles que

mantêm seus filhos em escolas da rede privada.

Cabe, entretanto, percorrer parte do caminho traçado para a instituição do

Ensino Fundamental de nove anos, pois este é o objetivo deste capítulo, e iniciamos

com as disposições transitórias da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

nº 9394/96 (LDB) que traz: “Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União

deverá matricular todos os educandos a partir dos sete anos de idade e,

facultativamente, a partir dos seis anos, no ensino fundamental” (Art.87, §3º, inciso

I). A Lei sinaliza, portanto, para a ampliação da escolaridade obrigatória,

representando uma importante e progressiva conquista da sociedade brasileira em

prol da escolarização de sua população na faixa etária de 6 a 14 anos; meta esta

reiterada no Plano Nacional de Educação (PNE) 2001 – 2011, e instituída,

finalmente, em 2006, pela Lei nº 11.274. Portanto, dez anos após a publicação da

LDB atual, o Ensino Fundamental de nove anos foi instituído e teve suas Diretrizes

Curriculares Nacionais fixadas pela Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010

(BRASIL, 2010).

No que se refere aos marcos legais, uma das expressões da conquista referida,

pode-se tomar a Lei 5692/71, que fixou as “diretrizes e bases para o ensino de 1º e

2º graus” no país, ampliando de quatro para oito anos a duração da escolaridade

obrigatória, integrando o então ensino primário com o ginásio, que passou a ser

denominado ensino de 1º grau. Essa extensão da escolaridade obrigatória

representou uma tentativa de eliminação da histórica dualidade do sistema

educacional brasileiro, nos termos de Souza (2008): “a lei atendia ao disposto na

Constituição de 1967, eliminando, pelo menos formalmente, a concepção de ensino

primário e ginasial, substituindo-a por uma escola integrada de educação

fundamental” (p. 267). A histórica dualidade rompida formalmente, segundo a autora,

refere-se à diferenciação social da cultura humanista e literária que predominava no

Page 20: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

20

currículo do ensino secundário com acesso de poucos, “tida como símbolo de classe

e por isso disputada socialmente, gozando de status e prestígio” (p.290).

A LDB nº 9394/96 alterou a denominação de ensino de 1º grau para ensino

fundamental, mantendo sua duração de oito anos; integrou na Educação Básica três

etapas, a saber: a educação infantil, que tem “ como finalidade o desenvolvimento

integral da criança até seis anos de idade [...], a ser oferecida em creches, para

crianças de até três anos de idade, e em pré- escolas, para as crianças de quatro a

seis anos de idade” (Art.29); o ensino fundamental e o nível médio de ensino.

Ressalta-se que foi a partir dessa Lei que a educação infantil passou a integrar o

sistema nacional de educação, que até então estava vinculada à área da saúde e da

assistência social.

Tematizar o Ensino Fundamental de 9 anos, como proposto neste trabalho,

implica em ressignificar a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, percorrendo

caminhos traçados no plano discursivo e nas ações desencadeadas no âmbito

federal, assim como, trazendo elementos teóricos do debate entre pesquisadores e

educadores das duas etapas de ensino.

No que toca à atuação do Ministério da Educação, sobre a ampliação do Ensino

Fundamental para nove anos, tem-se que o mesmo:

[...] vem envidando efetivos esforços na ampliação do ensino

fundamental para nove anos de duração, considerando a crescente

universalização dessa etapa de ensino de oito anos de duração e,

ainda, a necessidade de o Brasil aumentar o número de anos do

ensino obrigatório (BRASIL, 2006, p.5).

Neste sentido, pontuamos, na sequência, as iniciativas do Ministério da

Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Básica, desencadeadas junto

aos sistemas estaduais e municipais de ensino, a partir do ano de 2004. Naquele

ano, foram promovidos sete encontros regionais, com a participação de 243

secretarias municipais de educação e 4 estaduais, com o objetivo de discutir a

implementação da ampliação do Ensino Fundamental. As contribuições dos

participantes possibilitaram a elaboração do documento Ensino Fundamental de

Nove Anos – Orientações Gerais, publicado pela Secretaria de Educação

Básica/MEC, em 2006, que se tornou “referência nacional para as questões

pedagógicas, administrativas e de avaliação no que se refere à inclusão das

crianças de seis anos no Ensino Fundamental” (BRASIL, 2004, s/p).

Page 21: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

21

No relatório do Programa Ampliação do Ensino Fundamental para Nove Anos,

criado pelo MEC em 2004, a sua responsabilidade pela orientação pedagógica e

indução de políticas públicas para a educação é assumida, bem como justifica-se a

iniciativa da ampliação:

No Brasil atual a universalização do Ensino Fundamental com duração

de oito anos está praticamente consolidada, chegando a cerca de 97%

das crianças . Isso permite que o Ministério da Educação planeje junto

com estados e municípios o atendimento de outras necessidades sociais

na educação, como incluir a população das faixas etárias não

contempladas pelo Ensino Fundamental (BRASIL, 2004,s/p).

Afora justificativas de natureza social, os representantes das secretarias municipais

e estaduais, participantes dos encontros regionais, apontaram aspectos de natureza

pedagógica a serem considerados e incorporados nas discussões, quais sejam:

Aprofundamento da concepção de infância, de alfabetização e letramento;

Reestruturação da proposta pedagógica para o Ensino Fundamental de nove anos, com

ênfase nas dimensões do desenvolvimento humano;

Ênfase ao lúdico e ao brincar nas metodologias;

Consideração do processo contínuo de aprendizado, orientando a progressão continuada nos

dois primeiros anos do Ensino Fundamental de nove anos;

Redefinição da proposta político-pedagógica da Educação Infantil de zero a cinco anos;

Definição de política de formação continuada em serviço envolvendo a esfera municipal,

estadual e federal;

Ampliação da discussão da política de inclusão das crianças com necessidades especiais;

Definição de programas para correção da defasagem idade/série;

Reavaliação do Programa Nacional do Livro Didático, com vistas à nova estrutura do Ensino

Fundamental de nove anos;

Realização de discussões mais efetivas sobre as classes multisseriadas e educação no

campo (BRASIL, 2004, s/p).

Tem-se, assim, na proposta e orientações elaboradas pelo MEC, a compreensão

da ampliação não apenas como uma medida administrativa, pois a atenção volta-se

para o processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, implicando,

portanto, no conhecimento e respeito às características etárias, sociais, psicológicas

e cognitivas da criança de 6 anos de idade no Ensino Fundamental, como afirmado

no documento.

À época, o MEC apontou a necessidade de regulamentação do Ensino

Fundamental de nove anos, tornando-o obrigatório a fim de se evitar dupla

modalidade, internamente, no mesmo sistema de ensino, ou entre os sistemas

estadual e municipal. Essa regulamentação, como já colocado, ocorreu dois anos

após com a aprovação da Lei nº11.274/2006, quando o MEC assim se manifestou:

Page 22: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

22

[...] mais crianças serão incluídas no sistema educacional

brasileiro, especialmente aquelas pertencentes aos setores

populares, uma vez que as crianças de seis anos de idade das

classes média e alta já se encontram, majoritariamente,

incorporadas ao sistema de ensino – na pré-escola ou na primeira

série do ensino fundamenta (BRASIL, 2006, p.5).

No mesmo documento, o MEC aponta para outro fator que justifica a inclusão

das crianças de seis anos na instituição escolar, que são os resultados de estudos

que assinalam que o ingresso da criança antes dos sete anos de idade, implica, em

sua maioria, em resultados escolares superiores quando comparados às crianças

que ingressam apenas aos sete anos. Como exemplo, cita resultados do SAEB

(2003), cujas crianças com históricos de experiência na pré-escola obtiveram médias

superiores de vinte pontos nos testes de leitura, comparadas às crianças sem essa

experiência.

Ao regulamentar a ampliação, definiu-se como prazo para a sua implantação o

ano de 2010, quando os sistemas já deveriam tê-lo planejado e organizado,

garantindo às crianças vagas e infraestrutura adequada, dentre outros, com a devida

orientação do MEC, quanto às mudanças necessárias para a implementação pelos

sistemas estaduais e municipais.

2.2. PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL

DE NOVE ANOS: AÇÕES DO MEC

Na introdução do documento Passo a Passo do Processo de Implantação (Brasil,

2009, 2ª ed.), reafirma-se o direito público subjetivo do Ensino Fundamental e os

objetivos da ampliação desta etapa de ensino para nove anos de duração, conforme

seguem:

a) melhorar as condições de equidade e de qualidade da Educação

Básica; b) estruturar um novo ensino fundamental para que as crianças

prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade; c)

assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças

tenham um tempo mais longo para as aprendizagens da alfabetização e

do letramento (p.5).

Page 23: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

23

Outra razão para a ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos,

apontada no documento, é assim colocada:

Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, mais crianças serão

incluídas no sistema educacional brasileiro, especialmente aquelas

pertencentes aos setores populares, uma vez que as crianças de seis

anos de idade das classes média e alta já se encontram,

majoritariamente, incorporadas ao sistema de ensino – na pré-escola

ou na primeira série do ensino fundamental (BRASIL, 2006, p. 5).

Posição que é compartilhada por Savelli (2009), pois defende que as crianças

dos setores populares, ao entrarem mais cedo na escola, desfrutando de um ano a

mais no Ensino Fundamental, terão mais chances de ser bem sucedidas

academicamente.

[...] a inserção da criança das classes populares mais cedo na escola

obrigatória permite a mesma uma familiarização mais precoce com

um universo cultural mais amplo o que possibilita melhores condições

para o seu aprendizado da leitura e da escrita [...] (SAVELI, 2009,

p.1).

Para Zan (2005), assim como para a autora acima, as maiores beneficiadas com

o aumento da duração do Ensino Fundamental de oito para nove anos serão as

crianças de famílias de classes populares, pois as crianças de famílias de classe

média e alta, desde os seis anos, já se encontram na pré-escola ou no ensino

fundamental.

[...] um número significativo de crianças com essa idade, filhas de

famílias das classes média e alta, já se encontram inseridas no mundo

escolar, seja na pré-escola ou no ensino fundamental (Brasil, 2005), o

que difere da realidade da maior parte das crianças brasileiras dessa

mesma faixa etária [...] (ZAN, 2005, p. 1).

Sabe-se que as vagas para atender a demanda desta etapa da Educação Básica

são criadas conforme a pressão da demanda, o que faz com que muitas mães

precisem recorrer ao Conselho Tutelar e mesmo a entrar com processo na Justiça,

para conseguir um lugar para matricular seu filho. A Educação Infantil é um direito

da criança, fazendo parte da escolarização básica, conforme traz o Conselho

Nacional de Educação (CNE) - Resolução nº 4 de 13 de julho de 2010, que trata das

Diretrizes Curriculares para a Educação Básica -, ao descrever quais são as etapas

em que o desenvolvimento educacional acontece:

Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes momentos

constitutivos do desenvolvimento educacional:

Page 24: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

24

I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, englobando as

diferentes etapas do desenvolvimento da criança ate três (três) anos

e 11 (onze) meses; e a Pré-escola, com duração de

2 (dois) anos;

II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com duração de 9

(nove) anos, e organizado e tratado em duas fases: a dos 5 (cinco)

anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais;

III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos (BRASIL,

2010).

É neste contexto educacional que se insere a Lei nº 11.274/06, que foi proposta

como um mecanismo legal para a ampliação do acesso à educação obrigatória,

tornando o Estado responsável em fornecer escolarização às crianças de seis anos.

Retomando o documento Passo a Passo do Processo de Implantação, o MEC

informa que o mesmo foi elaborado com o objetivo de subsidiar não só os gestores

municipais e estaduais, mas também os conselhos de educação, a comunidade

escolar e demais órgãos e instituições (p.5). Apresenta a seguinte estrutura:

normatização, que traz as bases legais que sustentam a medida, com subdivisões

relativas às normas e orientações ao Conselho Nacional de Educação, Conselho

Estadual de Educação, Secretaria Estadual ou Municipal de Educação e às escolas;

organização pedagógica, que aborda aspectos relativos ao currículo, ao projeto

pedagógico das escolas, à avaliação e formação dos profissionais da educação.

Na sequência, abordaremos os pontos por nós considerados relevantes para a

compreensão das medidas necessárias para a implantação da ampliação,

considerando os diferentes âmbitos de responsabilidade definidos pelo MEC.

No que toca às competências dos Conselhos Estaduais e Municipais de

Educação, cabe-lhes, de acordo com as normas estabelecidas pelo Conselho

Nacional de Educação, definir as normas e orientações gerais quanto à

reorganização administrativa (alterações na documentação escolar,

redimensionamento de pessoal, condições de infraestrutura, adequação e aquisição

de mobiliário e de equipamentos), e à reorganização pedagógica (formação dos

profissionais da educação; período reservado a estudos, planejamento e avaliação;

reorganização dos tempos e espaços escolares; garantia da obrigatoriedade dos

estudos de recuperação; adequação e aquisição do material didático e

redimensionamento da Educação Infantil). O MEC ressalta que as tomadas de

Page 25: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

25

decisões pelos Conselhos, consubstanciadas em um documento legal, deve ser

publicado no Diário Oficial respectivo e outros veículos de comunicação, “além de

serem instrumentos de mobilização das escolas e da comunidade escolar por meio

de reuniões, seminários, distribuição de folder, etc.” (BRASIL, 2009, p.10). Assim, a

participação ativa da escola e da comunidade foram previstas, fato que sinaliza

como relevante, pois, em última instância, qualquer medida que interfere no chão da

escola e no cotidiano dos docentes e dos alunos deve, necessariamente, valorizar a

participação dos docentes, assim como da comunidade.

A atualização da proposta pedagógica é colocada no documento como de

competência das Secretarias Estaduais ou Municipais de Educação, cabendo-lhes

coordenar debates aprofundados sobre: a proposta em si, a formação de

professores, as condições de infraestrutura e os recursos didático-pedagógicos

apropriados, bem como sobre a organização dos tempos e espaços escolares. Para

o MEC são imprescindíveis ações que contemplem todos os aspectos citados acima,

reafirmando ser responsabilidade de cada sistema a reflexão, os estudos e debates

democráticos sobre a temática. O Plano de Implementação do novo Ensino

Fundamental adotado deve ser regulamentado e, para que isto ocorra, deve haver

uma articulação entre as Secretaria de Educação e os Conselhos de Educação. As

orientações normativas e pedagógicas para a construção do plano referido,

conforme assinala o MEC, encontram-se nos Pareceres nº 06/2005 e 04/2008,

sendo necessário constar no mesmo:

estudo da demanda de matrículas no ensino fundamental;

planejamento da quantidade de turmas no ensino fundamental;

o redimensionamento da educação infantil, sem prejuízos em sua oferta e qualidade, bem

como a preservação de sua identidade pedagógica;

redimensionamento do espaço físico;

reorganização do quadro de professores, se necessário;

formação inicial e continuada de professores e demais profissionais da educação;

adequação e aquisição de mobiliário e equipamentos;

adequação e aquisição de material didático-pedagógicos;

garantia de transporte e merenda escolar;

reorganização administrativa para a escola e a secretaria de educação;

processos de avaliação, em especial para o ciclo da infância, qual seja, os três primeiros

anos da etapa do ensino fundamental (BRASIL, 2009, p.11).

As adequações, sejam elas de natureza administrativa ou pedagógicas, devem

orientar-se por princípios a serem observados pelos sistemas de ensino e pelas

escolas, que se referem à promoção da autoestima dos alunos no período inicial de

sua escolarização; o respeito às diferenças e às diversidades no contexto do sistema

Page 26: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

26

nacional de educação; cuidar para que as medidas não representem um retrocesso

no sentido de produzir o indesejável fracasso escolar e tratamento diferenciado ao

aluno em seu processo de aprendizagem, se necessário for, requerendo dos

gestores bom senso nas medidas colocadas em ação (BRASIL, 2009, p.13).

Uma questão polêmica diz respeito à idade de corte para a matrícula do aluno no

ensino fundamental de nove anos. No documento, aponta-se que “é a partir dos seis

anos de idade, completos ou a completar até o início do ano letivo”(p.13), afirmação

genérica e vaga, cuja especificação é trazida nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, fixadas pela Resolução nº 7/2010.

Art. 8º O Ensino Fundamental, com duração de 9 (nove) anos, abrange a população na faixa etária dos 6 (seis) aos 14 (quatorze) anos de idade e se estende, também, a todos os que, na idade própria, não tiveram condições de frequentá-lo. § 1º È obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar ate o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, nos termos da Lei e das normas nacionais vigentes. § 2º As crianças que completarem 6 (seis) anos após essa data deverão ser matriculadas na Educação Infantil (Pré-Escola).

Como colocado no início deste capítulo, a polêmica está instalada, no que diz

respeito à idade de corte e, possivelmente a mobilização dos pais tende a se

intensificar.

Quanto à organização pedagógica, mais especificamente o currículo, as escolas

que, no ano de 2007, já haviam ampliado o ensino fundamental para nove anos de

duração receberam do MEC a publicação “Ensino Fundamental de Nove Anos:

orientações pedagógicas para a inclusão das crianças de seis anos de idade”, uma

coletânea composta por nove textos elaborados por especialistas. Ressalta-se que,

conforme o Censo Escolar de 2003, 11.510 escolas públicas brasileiras, de um total

de 159.861 escolas, já haviam ampliado o Ensino Fundamental para nove anos

(BRASIL, 2004, s/p.). No início do ano de 2009, todas as escolas públicas brasileiras

e as secretarias de educação receberam uma outra publicação, constituída por

cinco cadernos intitulados “Indagações sobre Currículo, cada um deles abordando

um tema referente ao currículo. São documentos, conforme o MEC, de orientação

pedagógica às escolas, cujo objetivo é subsidiar discussões sobre currículo escolar,

Page 27: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

27

pois “[...] um novo Ensino Fundamental requer um currículo novo [...]” (BRASIL,2009,

pp.14 e 15).

As iniciativas do MEC, em âmbito nacional, se deram no sentido de deflagar nas

escolas e nos sistemas de ensino debates sobre a concepção de currículo e seu

processo de elaboração, possibilitando reflexões sobre seus eixos organizadores,

concepção curricular, análise e elaboração das propostas curriculares dos sistemas

de ensino e dos projetos pedagógicos das escolas, fortalecimento da escola como

espaço do conhecimento, do convívio e da sensibilidade, e, ainda, reflexões sobre a

Educação Infantil e o Ensino Fundamental de nove anos, no que toca às suas

diretrizes curriculares nacionais.

Considerando o que pude experienciar, como estagiária, nos anos de 2009 e

2010, em duas escolas da Rede Municipal de São Paulo, as iniciativas do MEC não

repercutiram nas escolas.

Ainda sobre a organização pedagógica, o documento enfatiza que cada escola

requer um projeto pedagógico próprio, e assinala para a relevância da

ressignificação da avaliação da aprendizagem.

Assim, recorrendo ao Parecer CNE/CEB nº 4/2008, esse reafirma que o

processo de avaliação deve considerar, de forma prioritária, que os três

anos iniciais constituam-se em um período destinado à construção de

conhecimentos que solidifiquem o processo de alfabetização e de

letramento. Portanto os procedimentos de avaliação devem acompanhar

a necessidade de se trabalhar pedagogicamente nesses 3 anos para o

desenvolvimento das diversas formas de expressão das crianças (BRASIL, 2009, p.17).

O que se propõe para os três anos iniciais, conforme o Art. 30 das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos (BRASIL,

2010), é que esses três anos devem assegurar:

I – a alfabetização e o letramento;

II – o desenvolvimento das diversas formas de expressão, incluindo o

aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Música e demais

artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da Matemática, da

Ciência, da História e da Geografia;

III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do

processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar

Page 28: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

28

no Ensino Fundamental como um todo e, particularmente, na passagem

do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro .

§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua

autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será necessário

considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco

pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado

para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e

aprofundamento das aprendizagens básicas imprescindíveis para o

prosseguimento dos estudos.

Tem-se, assim, um avanço na compreensão da relevância principalmente dos

três anos iniciais do Ensino Fundamental, recomendando- se que o mesmo seja

considerado como um ciclo sequencial, não passível, portanto, de reprovação. No

entanto, cabe pontuar que o texto deixa em aberto a possibilidade de isto não

acontecer, pois afirma que “será necessário considerar”, correndo-se o risco dos

sistemas que fizeram a opção pela organização seriada ignorarem a recomendação.

Page 29: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

3. PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS

3.1. ADAPTAÇÃO DO CONTEÚDO PEDAGÓGICO E DA ROTINA

ESCOLAR

O aumento do tempo de permanência do aluno no espaço escolar,

acrescentando-se mais um ano ao Ensino Fundamental, não se reverterá em melhor

desempenho acadêmico a longo prazo, se o tempo que ele passa dentro da escola

não for estruturado para atendê-lo em suas especificidades, fazendo-o avançar. Na

introdução do documento Ensino Fundamental de nove anos: orientações gerais,

tem-se a seguinte ponderação:

Ressalte-se que a aprendizagem não depende apenas do aumento

do tempo de permanência na escola, mas também do emprego mais

eficaz desse tempo: a associação de ambos pode contribuir

significativamente para que os estudantes aprendam mais e de

maneira mais prazerosa [...] (BRASIL,2006, p. 9).

Esta constatação de que não basta somente aumentar o tempo de permanência

do aluno não espaço escolar, para que ele obtenha bons resultados acadêmicos,

sendo necessário se fazer adaptações na escola para recebê-lo de forma adequada,

proporcionando-lhe condições de desenvolvimento, aparece em outro documento do

MEC, Ensino Fundamental de nove anos: passo a passo do processo de

implantação:

A organização do novo Ensino Fundamental com nove anos de

duração e, consequentemente da proposta pedagógica, implica na

necessidade imprescindível de um debate aprofundado sobre essa

proposta, sobre a formação de professores, sobre as condições de

infra-estrutura e sobre os recursos didático-pedagógicos apropriados

ao atendimento e o essencial: a organização dos tempos e espaços

escolares e tratamento, como prioridade, o sucesso escolar. (BRASIL,

2009, p. 11).

No ano de 2010, quando o Ensino Fundamental de nove anos entrou em vigor e

as escolas tiveram por obrigatoriedade receber crianças de seis anos, muitas eram

as dúvidas de como adaptar currículo e o espaço físico para recebê-las com

respeito. Estas dúvidas já existiam ha muitos anos, desde que se pensou em

aumentar um ano na escolarização básica, como aponta o documento Ampliação do

Page 30: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

30

Ensino Fundamental para nove anos: relatório do programa: “[...] Os processos

educativos precisam ser adequados à faixa etária das crianças ingressantes para

que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental aconteça sem

rupturas traumáticas para elas” (MEC, 2004, p. 3). Dúvidas de como deveria ser este

novo Ensino Fundamental eram pertinentes, por que:

O Ensino Fundamental ampliado para nove anos de duração é um

novo Ensino Fundamental, que exige uma proposta pedagógica

própria para ser desenvolvida em cada escola (Parecer CNE/CEB n°

4/2008). Portanto, um novo Ensino Fundamental requer um currículo

novo [...] (BRASIL, 2009, p. 14).

Com a mudança do Ensino Fundamental, a escola que é um organismo vivo,

refletindo a sociedade na qual está inserida, deveria ser reformulada para receber as

crianças de seis anos, que outrora frequentavam a Educação Infantil, tornando-se

como diz Saveli “[...] uma escola para a Infância onde nossas crianças possam

conviver em um espaço escolar em que os afetos, as brincadeiras, os saberes, os

valores enfim, a seriedade e o riso estejam presentes” (SAVELI, 2009).

É necessário adaptar as escola em seu conteúdo pedagógico e rotinas

escolares, para trabalhar no primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos, de

forma a atender adequadamente as necessidades das crianças de seis anos de

idade, que são diferentes das crianças de sete anos por não possuírem o mesmo

desenvolvimento físico, cognitivo e emocional destas, pois como consta no

documento Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações gerais, “[...] O

desenvolvimento do aluno é a principal referência na organização do tempo e do

espaço da escola.” (MEC, 2004, p. 13). Tais mudanças precisam ser discutidas e

feitas com muito cuidado, respeitando-se as especificidades das crianças menores,

como consta do mesmo documento:

[...] não se trata de transferir para as crianças de seis anos os

conteúdos e atividades da tradicional primeira série, mas de conceber

uma nova estrutura de organização dos conteúdos em um Ensino

Fundamental de nove anos, considerando o perfil de seus alunos.

(BRASIL, 2004, p. 17).

A antecipação de conteúdos sem levar em conta o aluno atendido,

principalmente quando o aluno em questão são crianças muito pequenas como as

de seis anos, é uma violência. Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais

preveem que a adequação pedagógica ocorra quando necessária, pois:

Page 31: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

31

[...] adaptações resguardam o caráter de flexibilidade e dinamicidade

que o currículo escolar deve ter, ou seja, a convergência com as

condições do aluno e a correspondência com as finalidades da

educação na dialética de ensino e aprendizagem [...] (BRASIL,1998,

p. 16).

Também, sobre a importância de se adaptar a escola para trabalhar com

crianças menores, temos no livro de textos elaborado pelo MEC Ensino

Fundamental de Nove Anos: orientações para a inclusão das crianças de seis anos

de idade, a seguinte posição:

“O modo como organizamos o trabalho pedagógico está ligado ao

sentido que atribuímos à escola e à sua função social; aos modos

como entendemos a criança; aos sentidos que damos à infância e à

adolescência e aos processos de ensino-aprendizagem [...]”

(GOULART, 2006, p. 88).

A necessidade de se adaptar a escola, principalmente o primeiro ano do Ensino

Fundamental de nove anos que receberá crianças de seis anos, se baseia em

estudos como os de Jean Piaget, que foi um epistemólogo suíço considerado o um

dos mais importantes pensadores do século XX, estudioso do desenvolvimento

infantil e da cognição humana. Ele descobriu em seus estudos que as crianças

amadurecem e se desenvolvem ano após ano e, por isso, crianças de seis e sete

anos que se encontram em fases diferentes de maturação física, não podem ser

ensinadas da mesma maneira. As operações mentais que uma criança de sete anos

consegue fazer com certa facilidade, são muito complexas para uma criança de seis

anos.

Do nascimento até aproximadamente dois anos de idade a criança se

encontra no estágio sensório-motor, atingindo um nível de equilíbrio

por volta dos 12 - 18 meses. Terminado este período, ela adentra no

estágio pré-operatório e permanece nele até completar mais ou

menos 7 - 8 anos, sendo que o equilíbrio é atingido quando a criança

está com a idade de 4 - 5 anos. Superado esses dois, começa-se a

jornada pelos dois outros estágios - os operatórios. O primeiro deles é

o concreto que se inicia ao final do segundo estágio e tem duração,

em média, até os 11 - 12 anos. O nível de equilíbrio acontece aos 9 -

10 anos. O último estágio - o operatório formal que inicia ao final do

terceiro e no qual o ser humano permanece por toda a vida adulta

atinge um estado de equilíbrio por volta dos 14 – 15 anos de idade.

Piaget ressalta que "estas idades médias dependem dos meios

sociais e escolares". (PADUA, 2009, p. 34)

Levando em consideração os estudos de Jean Piaget, Vygotsky e Wallon,

compreende-se que o primeiro ano deste novo Ensino Fundamental deve ser uma

adaptação, uma transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, uma vez

que cada etapa de ensino resguarda suas especificidades e deve se adequar ao

Page 32: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

32

desenvolvimento físico, cognitivo e emocional que é diferente entre as crianças de

seis e sete anos. Portanto, não se pode trabalhar da mesma forma e com os

mesmos conteúdos com as crianças menores, pura e simplesmente passando o

conteúdo de primeira série do Ensino Fundamental de oito anos, destinado a

crianças de sete anos. A indagação dos profissionais de educação do que trabalhar

no primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos, aparece no documento do

MEC Ensino Fundamental de nove anos: passo a passo do processo de

implantação:

O conteúdo do primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos é

esmo conteúdo trabalhado no primeiro ano/primeira série do Ensino

Fundamental de oito anos?

Não. Pois não se trata de realizar um “arranjo” dos conteúdos da

primeira série do Ensino Fundamental de oito anos. Faz-se

necessário elaborar uma nova proposta político-pedagógica e

curricular coerente com as especificidades não só da criança de seis

anos de idade, como também das demais crianças de sete, oito, nove

e dez anos de idade que realizam os cinco anos iniciais do Ensino

Fundamental, assim como os anos finais dessa etapa de ensino.

(BRASIL, 2009, p. 24).

Em consonância com as orientações do documento acima citado, tem-se a

posição de estudiosos da educação, como segue:

Nossa experiência na escola mostra-nos que a criança de seis anos

encontra-se no espaço de interseção da educação infantil com o

ensino fundamental... É importante que não haja rupturas na

passagem da educação infantil para o ensino fundamental, mas que

haja continuidade dos processos de aprendizagem [...] (GOULART,

2006, p. 89).

No mesmo livro de texto, tem-se Kramer, para quem “educação infantil e ensino

fundamental são frequentemente separados. Porém, do ponto de vista da criança,

não há fragmentação [...] acrescentando que “educação infantil e ensino

fundamental são Indissociáveis [...]. Na educação infantil e no ensino fundamental, o

objetivo é atuar com liberdade para assegurar a apropriação e a construção do

conhecimento por todos (KRAMER, 2006, pp .21 e 22).

Para as autoras, cada uma das etapas da educação básica tem características

próprias, mas não deve haver uma ruptura drástica do modo de trabalhar da

Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Nas escolas, deixar uma etapa para

ingressar em outra acaba sendo algo traumático para a criança, por isso o primeiro

Page 33: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

33

ano do Ensino Fundamental de nove anos deve ser uma espécie de junção entre a

Educação Infantil e o Ensino Fundamental (KRAMER; GOULART, 206).

Quando a criança ingressa no Ensino Fundamental sua rotina muda, como se

ela não fosse mais uma criança com necessidades especificas, e costumeiramente a

criança sai da Educação Infantil onde brincar era valorizado, para o Ensino

Fundamental onde estudar é um trabalho sério (BORBA, 2006). Sobre essa brusca

ruptura da forma de ensinar, Borba questiona: ”Por que à medida que avançam os

segmentos escolares se reduzem os espaços e tempos do brincar e as crianças vão

deixando de ser crianças para serem alunos? (BORBA, 2006, p.35).

Nascimento ao analisar a importância da brincadeira para as crianças menores,

como algo que ajuda na formação no seu desenvolvimento biológico, emocional e

social e que portanto devem estar presente no cotidiano escolar, faz a seguinte

colocação:

Pensar sobre a infância na escola e na sala de aula é um grande

desafio para o ensino fundamental que, ao longo de sua história, não

tem considerado o corpo, o universo lúdico, os jogos e as

brincadeiras como prioridade. Infelizmente, quando as crianças

chegam a essa etapa de ensino, é comum ouvir a frase “Agora a

brincadeira acabou!” (NASCIMENTO, 2006. p. 32).

A primeira série de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental

deveria priorizar práticas pedagógicas como o trabalho em grupo, comum na

Educação Infantil e que quase não acontece no Ensino Fundamental, que

tradicionalmente coloca o aluno para trabalhar sozinho sentado em carteiras

enfileiradas e as salas de aula também deveriam ter os cantinhos da Educação

Infantil, pois “Na prática pedagógica, a estética dos espaços, dos materiais, dos

gestos e das vozes dá visibilidade ao que e como se propõe à criança e, ainda, ao

que o adulto pensa sobre ela e sobre a educação dirigida a ela” (CORSINO, 2006, p.

69). O aluno que ingressa no Ensino Fundamental não deixa de ser uma criança, ser

biológico de pouca idade e em desenvolvimento, que precisa de cuidados especiais

e rotina diferenciada de um aluno de mais idade.

Para Goulart “Pensar na organização da escola em função de crianças das

séries/anos iniciais do ensino fundamental, com ênfase nas crianças de seis anos,

envolve concebê-las no sentido da inserção no mundo letrado” (GOULART, 2006, p.

Page 34: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

34

91). No documento Ensino Fundamental de nove anos: passo a passo do processo

de implantação, organizado pelo MEC, consta entre as perguntas mais frequentes

dos profissionais da educação, como deve ser a alfabetização no primeiro ano do

Ensino Fundamental de nove anos:

No Ensino Fundamental de nove anos, o primeiro ano se destina

exclusivamente à alfabetização?

Esse primeiro ano constitui uma possibilidade para qualificar o ensino

e a aprendizagem dos conteúdos da alfabetização e do letramento.

Mas, não se deve restringir o desenvolvimento das crianças de seis

anos de idade exclusivamente à alfabetização. Por isso, é importante

que o trabalho pedagógico assegure o estudo das diversas

expressões e de todas as áreas do conhecimento (BRASIL, 2009, p.

23).

Para se receber as crianças menores na primeira série do Ensino Fundamental

com respeito, muitas coisas precisam ser mudadas na escola. Um bom acolhimento

escolar é um direito da criança enquanto cidadã de direitos, como o documento do

MEC Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações gerais, aponta:

[...] considerar a especificidade da faixa etária das crianças significa

reconhecê-las como cidadãs e, portanto, como possuidoras de

direitos, entre eles educação pública de qualidade, proteção e

cuidado por parte do poder público. (BRASIL, 2004, p. 22).

Cientes disto, todas as adaptações necessárias, tanto pedagógicas como

estruturais, assim como a formação continuada dos profissionais que vão trabalhar

com ela, devem ser feitas.

3.2 FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS DA

EDUCAÇÃO

Para que a implantação do Ensino Fundamental de nove anos ocorra de forma

adequada, resultando em ganho acadêmico para a criança atendida, outro ponto

crucial é a formação continuada dos profissionais que irão lidar com estas crianças

menores, especialmente os professores, porque como salienta a educadora Luck:

Page 35: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

35

Entende-se que a questão do desenvolvimento da qualidade de

ensino demanda uma orientação mais global e abrangente, com visão

de longo prazo, do que tópica, localizada nas estimulações de

momento e próximas. Isso porque se tem observado, ao longo da

história de nossa educação, que não se tem promovido a melhoria da

qualidade do ensino por meio de ações que privilegiaram ora a

melhoria de metodologia do ensino, ora o domínio de conteúdo pelos

professores e sua capacitação em sentido mais amplo, ora a melhoria

das condições físicas e materiais da escola. Qualquer ação isolada

tem demonstrado resultar em mero paliativo aos problemas

enfrentados, e a falta de articulação entre eles explicaria casos de

fracasso e falta de eficácia na efetivação de esforços e despesas para

melhorar o ensino, dispendidos pelos sistemas de ensino. (LUCK,

2011)

Para que o professor possa utilizar a teoria aprendida para embasar a sua

prática, refletindo posteriormente sobre a sua atuação parta embasá-lo novamente

na teoria aprendida, em um movimento dialético ascendente, ele precisa de uma

formação continuada que o capacite a fazer isto. Como diz Veiga:

A formação continuada é um direito de todos os profissionais que

trabalham na escola, uma vez que não só ela possibilita a progressão

funcional baseada na titulação, na qualificação e na competência dos

profissionais, mas também propicia, fundamentalmente, o

desenvolvimento profissional dos professores articulado com as

escolas e seus projetos. (VEIGA, 2002).

A formação continuada do professor é tanto uma necessidade para que possa

trabalhar melhor, como um direito garantido em lei, como apontada no documento

do MEC Ensino Fundamental de nove anos: passo a passo do processo de

implantação:

Em relação à formação de professores, lembramos o estabelecido no

artigo 67 da LDB 9.394/96, os sistemas de ensino promoverão a

valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes,

inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do

magistério público: II – aperfeiçoamento profissional continuado,

inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim

(BRASIL, 2009, p. 17).

Frisando a questão da formação docente, por mais que o professor tenha tido

uma boa formação inicial, ela deve continuar se atualizando ao longo de sua vida

profissional por meios de cursos de atualização. A formação não deve ser só de

iniciativa do professor, mas também dos órgãos gerenciais da educação, pois como

consta no documento do MEC Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações

gerais “[...] Promover a formação continuada e coletiva é uma atitude gerencial

Page 36: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

36

indispensável para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico qualitativo que

efetivamente promova a aprendizagem dos alunos.” (BRASIL, 2004, p. 26). A

necessidade de oferta de formação continuada aos profissionais da educação se

acentua em um momento como este, em que se expande o Ensino Fundamental.

A melhoria da qualidade da formação profissional e a valorização do

trabalho pedagógico requerem a articulação entre instituições

formadoras, no caso as instituições de ensino superior e a Escola

Normal, e as agências empregadoras, ou seja, a própria rede de

ensino. A formação profissional implica, também, a indissociabilidade

entre a formação inicial e a formação continuada. (VEIGA, 2002).

No contexto de ampliação do Ensino Fundamental, onde a classe de primeiro

ano deve ser uma transição da educação Infantil para o Ensino Fundamental

(GOULART, 2006; KRAMER, 2006), é um engano achar que o professor por ter

estudado em sua graduação a teoria de como trabalhar com a Educação Infantil e o

Ensino Fundamental, e por já está em exercício de sua profissão trabalhando com

uma modalidade de ensino ou com as duas, saberá sem ajuda adequar um

conteúdo curricular e uma forma de ensinar sem que receba preparo específico para

isso, porque, como consta no documento do MEC Ensino Fundamental de Nove

Anos: orientações para a inclusão das crianças de seis anos de idade:

“O/a professor(a) planeja seu curso, levando em conta o plano/projeto

da escola e as crianças concretas de sua turma: seus conhecimentos,

interesses, necessidades. Considera ainda as condições reais de seu

trabalho, sua trajetória profissional, bem como os objetivos

pedagógicos para os estudantes dos anos iniciais do ensino

fundamental.” (NERY, 2006, p.113).

Como na primeira série do Ensino Fundamental de nove anos há crianças

menores que as tradicionais de sete anos, como diz outro documento do MEC

Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações gerais “[...] é essencial assegurar

ao professor programas de formação continuada, privilegiando a especificidade do

exercício docente em turmas que atendem a crianças de seis anos [...]” (BRASIL,

2004, p. 25).

Sem uma formação específica, o professor enfrentará dificuldades em lidar com

crianças menores, que necessitam de um trabalho diferenciado, pois muitos depois

de formados optaram em atuar ou na Educação Infantil ou no Ensino Fundamental,

por mais que sua formação os habilite trabalhar nas duas fases da educação básica.

Sobe esta formação do professor do Ensino Fundamental de maior duração, está

Page 37: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

37

escrito no documento do MEC Ensino Fundamental de nove anos: Passo a passo do

processo de implantação:

Professores admitidos inicialmente para trabalhar na Educação

Infantil podem ser remanejados para o Ensino Fundamental?

Este remanejamento depende de legislação e normas vigentes no

Plano de Carreira de cada sistema de ensino. Algumas leis

estabelecem a mesma carreira e concurso para atuação tanto na

Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental; outras, no entanto,

definem carreira e concurso com atuações distintas, ou seja,

específicas para a atuação na Educação Infantil e no Ensino

Fundamental. (BRASIL, 2009, p. 22).

Aumentar a carga do Ensino Fundamental sem preparar os professores para

atuarem nela, deixando a cargo deles e da escola fazerem o que acham que

imaginam ser o certo não é dar autonomia escola, mas configura-se em descaso e

violência com toda a comunidade escolar, principalmente com os professores e

crianças envolvidas. O CNE/ Resolução nº 4 de 13 de julho de 2010, Art. 57 traz

que:

§ 1o A valorização do profissional da educação escolar vincula-se a

obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas se associam a

exigência de programas de formação inicial e continuada de docentes

e não docentes, no contexto do conjunto de múltiplas atribuições

definidas para os sistemas educativos, em que se inscrevem as

funções do professor [...]

Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não esgota o

desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e habilidades referidas,

razão pela qual um programa de formação continuada dos

profissionais da educação será contemplado no projeto politico-

pedagógico.

A formação continuada dá mais segurança para o professor desempenhar o seu

papel profissional, e no contexto de aumento da duração do Ensino Fundamental,

com um primeiro ano composta por crianças de seis anos, a formação continuada do

professor e dos outros profissionais da educação que atuam na escola, seria uma

maneira de deixar o ambiente escolar menos tenso, por conta de não se saber como

trabalhar exatamente com estas crianças de seis anos. Segundo Luck:

O clima é, pois, identificável pelas representações que estas pessoas

fazem sobre tudo o que compõe o seu ambiente de vivência e que lhe

provoca estimulações, que passam por suas percepções, motivando

seu posicionamento a respeito, assumido a partir dos significados

construídos em relação a esse conjunto de coisas. (LUCK, 2010, p.

65).

Page 38: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

38

A formação continuada, principalmente do professor que irá lidar com as

crianças de seis anos, mas também de todos os profissionais da educação, é uma

premissa básica para que se consiga os resultados esperados com a implantação da

Lei nº 11.274/06.

3.3 ADEQUAÇÃO DOS PRÉDIOS ESCOLARES

Para receber adequadamente as crianças de seis anos que ingressam na

primeira série do Ensino Fundamental de nove anos, deve haver uma adaptação de

todo o prédio escolar das escolas de Ensino Fundamental, tornando-as mais

parecidas com as de Educação Infantil. As mudanças deveriam começar pelo

mobiliário escolar, disponibilizando as crianças por exemplo, mesas e cadeiras

semelhantes as existentes em salas de educação infantil, próprias para a sua

estatura.

Segundo Silva e Santos, fazer com que uma criança fique sentada por quatro ou

cinco horas sentada em uma cadeira feita para alguém muito maior do que ela, traz

muito desconforto à criança, ocasionando até mesmo dores físicas e tudo isso

atrapalha em seu aprendizado:

“...tal situação poderá induzir a posturas corporais inadequadas que

desencadearão acometimentos físicos e posturais a curto, médio e

longo prazo. Além do mais, desconfortos podem gerar desatenção e

desinteresse pelas atividades pedagógicas, prejudicando não

somente a saúde como também a aprendizagem dos alunos...”

(SILVA e SANTOS, 2006, p. 1).

Além do mobiliário adequado, é necessário se instalar parquinhos nas escolas

para que as crianças possam brincar, pois brincar é algo primordial para o

desenvolvimento biológico, social, afetivo e cognitivo das crianças pequenas. A

existência de parquinho que é comum nas escola de Educação Infantil, mas é raro

nas escolas de Ensino Fundamental. Também devem ser adaptados para o uso de

crianças menores os bebedouros nas escolas, que não muito altos para as crianças

de seis anos, os vasos sanitários nos banheiros, entre outros.

Desde o começo das discussões sobre a ampliação do Ensino Fundamental,

com as crianças menores ingressando nas escolas de Ensino Fundamental, havia

Page 39: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

39

muitas dúvidas dos profissionais da educação em como atender estas crianças

menores. Esta dúvidas dos profissionais da educação aparecem no documento

Ensino Fundamental de nove anos: Passo a passo do processo de implantação,

onde há a seguinte pergunta:

Pode-se utilizar o espaço de instituições de educação infantil para atender as crianças do Ensino Fundamental de nove anos? Não é recomendável que se utilizem instalações de instituições de Educação Infantil para o atendimento do Ensino Fundamental sem a devida adaptação. Esta deverá sempre ser orientada pelos interesses do desenvolvimento das crianças, por faixa etária.” (BRASIL, 2006, p. 22).

Levando em consideração o que Kramer e Goulart trazem em suas discursões,

de que a primeira série do Ensino Fundamental deva ser uma transição entre a

Educação Infantil e o Ensino Fundamental, vemos como é importante se adequar

tanto seu conteúdo pedagógico como adequar a estrutura física da escola para

receber estas crianças menores, pois a escola precisa ser um lugar feito para

receber as crianças pelo o que elas são agora, não pelo que serão daqui a um ano

ou mais.

Page 40: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

40

4. O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA CIDADE DE

SÃO PAULO

No corpo da Lei nº 9394/96 está determinado:

Art.11 Os Municípios incumbir-se ao de:

V – Oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com

prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros

níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as

necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos

percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à

manutenção e desenvolvimento do ensino.

Por conta da determinação da Lei, o Ensino Fundamental na cidade de São

Paulo, que é um centro comercial muito importante para todo o Brasil, sendo uma

referência para muitas outras cidades, está sendo gerida pela Secretaria Municipal

de Educação (SME). No portal digital da Secretaria, a dimensão da Rede é

evidenciada :

A rede municipal de ensino da cidade de São Paulo é o maior sistema

do país, com quase 1 milhão de alunos, 9,2% dos quase 10,8 milhões

de habitantes da cidade. Somados aos pais e familiares, envolve

quase 5 milhões de pessoas, ultrapassando, e muito, a população da

maioria das cidades brasileiras. (SÃO PAULO/SME, 2010).

Segundo dados do SINPEEM, atualizados em fevereiro de 2011, a Rede

Municipal de Ensino é composta por 1.432 escolas, sendo elas assim distribuídas:

356 Centros de Educação Infantil;

538 Escolas Municipais de Ensino Fundamental;

508 Escolas Municipais de Educação Infantil;

08 Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio;

06 Escolas Municipais de Educação Especial;

14 Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos;

02 Centros Municipais de Capacitação e Treinamento.

Page 41: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

41

Para auxiliar a SME na administração de todos esses estabelecimentos de

ensino, existem treze DREs (Diretorias Regionais de Ensino), localizadas nas

regiões de Butantã, Campo Limpo, Capela do Socorro, Freguesia do Ó, Brasilândia,

Guaianazes, Ipiranga, Itaquera, Jaçanã, Tremembé, Penha, Pirituba, Santo Amaro,

São Mateus, São Miguel Paulista.

Nesta Cadeia de estabelecimentos de ensino, a SME dispõe de mais de noventa

e dois mil servidores públicos, que vão desde apoiadores da educação aos

educadores, que atendem a um total de 990.427 alunos, segundo dados da SME, no

ano de 2011.

Com a aprovação da Lei nº 11.274/06, as escolas tiveram quatro anos para se

adaptar fisicamente para receber as crianças de seis anos que chegariam. Deveriam

ser instalados, por exemplo, os parquinhos nos estabelecimentos escolares que não

os tinham. Era preciso também ser feita uma adequação do conteúdo pedagógico

para atender as crianças que chegariam muito pequenas ao primeiro ano do Ensino

Fundamental, além de, por meio de formação continuada, capacitar os professores

para trabalharem com elas.

Essa tão necessária adaptação, que tornaria a primeira série do Ensino

Fundamental de nove anos uma transição entre a Educação Infantil e a etapa

seguinte não ocorreu nas escolas municipais da cidade de São Paulo. Foram

exceções as escolas onde ela aconteceu e, quando isso aconteceu, foi por conta

dos profissionais da educação que atuavam na unidade escolar, não por mediação

da SME. Esta afirmativa pode ser sustentada no que foi por mim vivenciado nos

anos de 2009 e 2010, como estagiaria.

Na sequencia, pontuamos algumas ações legais do Estado de São, em prol da

ampliação do Ensino Fundamental de 8 anos para 9 anos.

Desde que começaram as discussões sobre a ampliação do Ensino

Fundamental para nove anos, antes mesmo da Lei nº 11.274/06 ser sancionada,

tanto o Governo como representantes da sociedade civil e movimentos sociais

discutiram como a ampliação deveria acontecer. Dos documentos produzidos pelo

MEC, um deles traz os resultados das discussões efetuadas até o primeiro semestre

de 2004.

Page 42: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

42

A ampliação do Ensino Fundamental para nove anos vem sendo

discutida pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) com os

sistemas de ensino. Prevista na Lei nº 9.394/96, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (LDB), e em uma das metas do Ensino

Fundamental no Plano Nacional de Educação (PNE), esta ampliação

objetiva que todas as crianças de seis anos, sem distinção de classe,

sejam matriculadas na escola

As contribuições dos participantes nos encontros regionais foram

essenciais para a elaboração do documento Ensino Fundamental de

Nove Anos – Orientações Gerais, ao qual este relatório está anexado.

Esta publicação, elaborada pela SEB/MEC, é referência nacional para

as questões pedagógicas, administrativas e de avaliação no que se

refere à inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fundamental

(BRASIL, 2004, p. 02).

No ano de 2006, assim que a Lei nº 11.274/06 foi aprovada, começou no Estado

de São Paulo o debate sobre como seria este ensino fundamental com um ano a

mais, com o envolvimento do Governo do Estado de São Paulo e segmentos da

sociedade civil, particularmente os sindicatos que representavam os profissionais da

educação, envolvidos diretamente neste processo. As discussões do Conselho

Estadual de Educação (CEE), que foram oficializadas em forma de deliberações e

orientações, expressam com clareza a necessidade de se adaptarem os prédios

escolares onde seriam ofertados o ensino fundamental de nove anos, assim como o

conteúdo pedagógico que seria ministrado às crianças menores que chegariam mais

cedo à escola. O CEE também falava em oferecer formação aos professores.

Segundo a Deliberação do CEE nº 61/2006:

Art. 6º - A implantação do Ensino Fundamental de nove anos

implicará, dentre outras medidas:

I - a reorganização curricular e pedagógica de toda a estrutura desse

nível de ensino, materiais didáticos, mobiliários, equipamentos,

recursos tecnológicos e acervos bibliográficos;

II - a organização dos tempos e no redimensionamento dos espaços e

ambientes escolares, em especial, àqueles que, sendo compatíveis

para crianças de seis anos, garantam-lhes continuidade do contexto

sócio afetivo e de aprendizagens anteriormente vivenciadas;

VI - o estabelecimento de programas de formação continuada de

professores e demais profissionais, privilegiando a especificidade do

docente que irá atender os alunos nos anos iniciais.

Também foi aprovada, no ano de 2006, a Indicação CEE nº 63/2006,

descrevendo como deveria ser a implantação do Ensino Fundamental de nove anos

na cidade de São Paulo:

Page 43: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

43

[...] está prevista a discussão de diferentes concepções pedagógicas

que permeiam o currículo, para que a expansão do Ensino

Fundamental não se reduza à criação de uma série a mais com as

mesmas características da atual 1ª série e a educação infantil tenha

preservada a sua identidade pedagógica. (SÃO PAULO, 2006).

Tanto a Deliberação CEE nº 61/2006 como a Indicação CEE nº 63/2006, são

incisivas na questão da necessária adaptação a ser feita nas escolas, para receber

as crianças de seis anos que começariam a cursar o ensino fundamental, além da

adequada preparação dos professores.

No ano de 2008, uma nova Deliberação e Indicação revogam o que havia sido

decidido no ano de 2006, adotando outra maneira de proceder em relação à

implantação do ensino fundamental de nove anos. Elas deixam de frisar a

necessidade da adequação tanto física dos prédios escolares, como do conteúdo

pedagógico a ser ministrado às crianças menores, não dando ênfase à formação

dos professores que atenderiam a primeira série do novo Ensino Fundamental.

Consta na Deliberação CEE nº 73/2008:

Art. 5º - No ano letivo de 2009, a 3ª fase de Pré-Escola em

funcionamento nas redes municipais de ensino é considerada, para

todos os fins, como equivalente ao 1º Ano do Ensino Fundamental.

§ 2º - As redes municipais de ensino devem proceder aos ajustes de

infra-estrutura e de pessoal necessários à implementação do indicado

neste artigo.

Ao compararmos as duas Deliberações, pode-se notar que houve uma

“flexibilização” da necessidade de adequação dessa etapa de ensino para atender

as crianças menores, o que se evidencia na Indicação CEE nº 73/2008:

1.6. IV. A Concepção Pedagógica correspondente às 8 séries do

antigo Ensino Fundamental de 8 anos - 1ª a 8ª série, não seria

necessariamente alterada pela adoção do seu correspondente no

Ensino Fundamental de 9 Anos.

Este princípio define que o conjunto composto por: projetos

pedagógicos, conteúdos, espaço físico, alocação de docentes,

material didático, etc..., não sofre, obrigatoriamente, nenhuma

alteração significativa por conta dos ajustes à nova situação

1.7 As normas, ora introduzidas, prevêm a revogação da Deliberação

CEE nº 61/2006, no entanto, na elaboração da Proposta Pedagógica,

a equipe escolar deve especialmente atentar para as necessidades:

Page 44: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

44

I - da articulação entre as demandas e as características da

Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,

procurando prever mecanismos de interação entre a família, a escola

e a comunidade, de modo que não haja prejuízo da oferta de

Educação Infantil e seja preservada sua identidade pedagógica. (SÃO

PAULO, 2008).

Para que a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos se reverta

em um melhor aproveitamento acadêmico pelo aluno, é necessário que sejam

levados a termo alguns procedimentos, como adaptar o conteúdo pedagógico e

tempos escolares para a realidade das crianças de seis anos, dar formação

continuada para os profissionais da educação, principalmente os professores para

que consigam trabalhar da forma correta com as crianças menores que chegam a

escola, além de se adequar os prédios escolares para receber as crianças de seis

anos, equipando as unidades escolares com moveis apropriados a estas crianças

menores, se instalando parquinhos, entre outros (BRASIL, 2006).

Page 45: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concordo com a atitude do MEC, que ampliou a duração da educação básica

aumentando um ano no Ensino Fundamental, passando-o de oito para nove anos

com crianças de seis anos ingressando na escola, por meio da Lei nº 11.274/06 que

entrou em vigor no ano de 2010. Tal medida foi tomada com o intuito de melhorar o

desempenho acadêmico dos alunos, especialmente dos alunos oriundos de

camadas economicamente desfavorecidas da população, que muitas vezes só

começavam a frequentar a escola aos sete anos, quando se torna tanto obrigatório

seu ingresso na escola, como ao Estado lhe fornecer uma vaga na rede de Ensino

para que possa estudar. Por conta desta realidade vivida, ao entrar um ano antes no

Ensino Fundamental, os alunos acabam tendo mais tempo para a alfabetização e o

letramento. A adoção de uma educação básica com uma maior quantidade de anos

de duração, já acontece em muitos países do mundo, como cita os autores Cabral

(2006), Batista (2006) e Zan (2005), estando o Brasil atrasado em relação a outros

países, que possuem uma escolarização básica de maior duração que a brasileira, e

em exames educacionais internacionais como o PISA, que medem os

conhecimentos dos alunos, esses países conseguem um melhor resultado que o

Brasil.

É necessário pontuarmos que a extensão do Ensino Fundamental, por si só, não

garante um melhor aprendizado dos alunos, se não for acompanhada de medidas

que confiram qualidade educacional ao tempo que o aluno permanece na escola,

como é apontado pelo MEC e os autores estudados como KRAMER (2006),

GOULART (2006), BORBA (2006), NASCIMENTO (2006), etc. É preciso ser feita

uma adequação do conteúdo pedagógico do que é ensinado no Ensino

Fundamental, pois ao ter mudada a sua configuração de oito para nove anos, o

currículo precisa ser revisto. Faz-se necessário adequar os prédios escolares para

receber crianças menores, instalando parquinhos onde não os há, pois as crianças

pequenas precisam brincar, se adquir móveis apropriados ao tamanho das crianças,

como bebedouros e carteiras, como diz SILVA e Santos (2006) , além de preparar

os profissionais da educação para trabalharem com elas, por meio da formação

continuada que é um direito destes profissionais. Tal formação é imprescindível para

o professor que trabalhará com as crianças de seis anos que ingressam no primeiro

Page 46: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

46

ano do Ensino Fundamental, pois elas precisam encontrar neste primeiro ano uma

sala de aula, que seja uma mistura entre a Educação Infantil e o Ensino

Fundamental (GOULART (2006) E KRAMER (2006) e se isso não acontece é um

desrespeito tanto ao profissional de educação, que não recebe a preparação devida

para exercer seu trabalho, como com a criança, que é submetida à violência de ter

que submeter a um currículo inadequado a seu desenvolvimento biológico, cognitivo,

emocional e social, em prédios feitos para crianças maiores, que elas ainda não são.

O MEC começou as discursões sobre o a implantação de um ano a mais no

Ensino Fundamental em 2003, resultando destas conversas relatórios e documentos

– inclusive um livro texto – indicando quais os caminhos que deveriam ser

observados para adequada implantação deste ano a mais de ensino ocorresse de

forma adequada, porém estas observações não chegaram a base, ao chão da

escola, e no ano da implantação da Lei nº 11.274/2006, as escolas não sabiam o

que fazer. Na cidade de São Paulo, por exemplo, um centro urbano rico e muito

importante para o Brasil, a implantação do Ensino Fundamental de nove anos não

aconteceu da forma preconizada pelo MEC, que orientou os aspectos que deveriam

ser observados na implantação da ampliação do Ensino Fundamental. No ano de

2006, ano de aprovação da LEI n] 11.274/2006, começaram no Estado de São

Paulo discursões puxadas pelo CEE junto à profissionais da educação, estudiosos

do campo educacional e sociedade civil, de como deveria ser feito a implantação do

Ensino Fundamental de nove anos no Estado, e o que deveria ser feito foi fixado

pela Deliberação do CEE nº 61/2006 e outras indicações. Tais orientações feitas

pelo CEE seguiam a linha do que foi dito pelo MEC, frisando a necessidade de

serem feitas ações como a formação dos profissionais da educação, e adequação

dos conteúdos pedagógicos e prédios escolares. Apesar do apontamento da

necessidade de se mexer nas escolas e em sua estrutura de funcionamento para

trabalhar com as crianças menores, principalmente a de seis anos que ingressavam

no primeiro ano, tais ações não aconteceram de fato.

Por mais que a escola e a comunidade que a envolve devam ser reflexivas,

possuindo autonomia para encontrarem as melhores soluções para seus problemas,

neste caso deixar que a escola e a comunidade escolar encontrem sozinhas as

soluções para a adequação pedagógica e estrutural dos prédios escolares, não pode

ser caracterizada como uma gestão democrática por parte do governo, e sim como

Page 47: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

47

descaso com a educação e as pessoas com elas envolvidas. Se isso acontece em

uma cidade tão importante para o Brasil como São Paulo, que é o centro econômico

que está na mídia todos os dias, pode-se imaginar como não foi a implantação em

outros Estados do Brasil, em cidades pobres onde as escolas se encontram em

situação precária, e não há presença da mídia para mostrar o que acontece?

Estudar como foi a implantação do Ensino Fundamental de nove anos é

importante para todos os brasileiros, pois o processo revela como está sendo tratada

a educação em nosso país, e ao analisarmos os pontos positivos e negativos da

implantação deste novo Ensino Fundamental, podemos corrigir o que está errado e

investir no que está certo, melhorando a qualidade do ensino ofertado no país,

tornando-o de fato de qualidade e acessível a todos.

Não adianta somente se ampliar os anos de escolarização, se não houver um

maior investimento na área educacional, garantindo que haja vagas em escolas e

que as mesmas sejam adequadas a seus alunos. É preciso se dar condições para

que as crianças frequentem a escola na idade certa, acabando com a evasão

escolar e garantido acesso à educação de qualidade e gratuita até a Educação

Superior. Ao professor deve ser dado uma excelente formação inicial, devendo a

mesma ter continuidade durante o exercício do magistério. Ele deve ter a seu dispor

bons materiais pedagógicos para utilizar em suas aulas, ter novamente sua

profissão valorizada como um dia já foi, onde ser professor causava prestigio social

tamanha a relevância do seu oficio, recebendo um salário adequado para que não

precisasse trabalhar em vários turnos por dia, ficando sem tempo de preparar suas

aulas de forma adequada, e mesmo ter uma vida saudável, com tempo para

descanso e lazer. Esse reconhecimento do valor de seu trabalho deve ser extendido

também a todos os profissionais da educação, principalmente os que atuam dentro

da escola. Esses profissionais que recebem a designação de quadro de apoio a

educação, também são educadores dentro do ambiente escolar, e precisam ter a

relevância de seu papel no espaço escolar reconhecido e respeitado.

Educação acesso à educação é um direito de todos os cidadãos e dever do

Estado.

Page 48: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

48

REFERÊNCIAS

LEÓN ADURRAMÁN, W. et al. Escola Ativa: Capacitação de professores. Brasília:

Fundescola / MEC, 1999. p. 119 – 130. Disponível em:

<http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-

educar/ensino-fundamental/ensino-fundamental/publicacoes/fundamental-

I/escola%20ativa%20capacitacao%20de%20professor.pdf>. Acesso em: 19 abr.

2010.

AKITA, E. Qualidade da educação no Brasil ainda é baixa, aponta UNESCO.

Estadão, São Paulo, 19 jan. 2010. Disponível em:

<http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,qualidade-da-educacao-no-brasil-

ainda-e-baixa-aponta-unesco,498175,0.shtm>. Acesso em: 28 fev. 2010.

ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez.

2004.

BATISTA, A. A. Ensino Fundamental de nove anos: um importante passo à frente.

In: Ceale 20 anos, 2006. Disponível em:

<http://www.ceale.fae.ufmg.br/noticias_ler_coluna.php?txtId=208>. Acesso em: 16

jul. 2010.

BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: Ensino

Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão de crianças de seis anos

de idade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. p.

33 – 46. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf>.

Acesso em : 20 mar. 2010.

----------; GOURLART, C. As diversas expressões e o desenvolvimento da criança na

escola. In: Ensino Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão de

crianças de seis anos de idade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de

Educação Básica, 2007. p. 47 – 56. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2010.

Page 49: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

49

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). Disponível em:

<http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI200412021

41358.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2011.

______. Lei nº 11.274/2006, de 6 de fevereiro de 2066. Altera a redação dos arts.

29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos

para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de

idade. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-

2006/2006/Lei/L11274.htm>. Acessado em: 15 mar. 2010.

--------./INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira. Disponível

em: <http://portal.inep.gov.br/internacional-novo-pisa-marcos_referenciais>.

Acessado em 19 out. 2011.

--------. Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares / Secretaria de

Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial. – Brasília : MEC /

SEF/SEESP, 1998. Disponível em:

<http://www.ibc.gov.br/media/common/Downloads_PCN.PDF>. Acessado em: 02

mar. 2011.

---------. Resolução CNE/CEB no 04, de 13/07/10 – Define Diretrizes Curriculares

Nacionais Gerais para a Educação Básica. Disponível em: <

http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Documentos/publicacoes/Colet

anea/CTL_2011_LEGISLACAO_FEDERAL.pdf>. Acessado em: 20 out. 2011.

---------./MEC. Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações para a inclusão da

criança de seis anos de idade.Brasília, 2006.

---------/MEC..Ensino Fundamental de nove anos: passo a passo do processo de

implantação.Brasília, 2ª Ed., 2009.

----------/MEC.Ampliação do Ensino Fundamental para Nove Anos – Relatório do

Programa.Brasília, 2004.

Page 50: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

50

CABRAL, J. Ensino Fundamental terá nove anos a partir de 2007. In: Extra-Classe,

Rio Grande do Sul, 2006. Disponível em: <http://www.sinpro-

rs.org.br/extraclasse/out06/educacao.asp>. Acesso em: 17 jul. 2010.

CAVALCANTE, L. S. Proposições Liberais e Não Liberais e as Reformas

Educacionais no Brasil (Período de 1889 a 1989). In: Conteúdo Escola: O portal do

educador, 11 ago. 2004. Disponível em:

<http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/118/42/> Acesso em: 10 jun.

2010.

CORSINO, P. As crianças de seis anos e as áreas do conhecimento. In: Ensino

Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão de crianças de seis anos

de idade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. p.

57 – 68. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2010.

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO na Suíça. In: Federal Department of Foreign Affairs.

Disponível em:

<http://www.eda.admin.ch/eda/pt/home/reps/sameri/vbra/embbra/brasci/edusao.html

>. Acesso em: 03 jul. 2010.

FEDERAL DEPARTMENT of Foreign Affairs. Educação e formação na Suíça. 2009.

Disponível em:

<http://www.eda.admin.ch/eda/pt/home/reps/sameri/vbra/embbra/brasci/edusao.html

>. Acessado em: 03 mar. 2010.

FICHAS DE SÍNTESE nacional dos sistemas de educação na Europa e reformas

em curso. In: Eurydice. Portugal, jun 2009. Disponível em:

<http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice/documents/eurybase/national_summa

ry_sheets/047_PT_PT.pdf>. Acesso em 04 jul. 2010.

KRAMER, S. A infância e sua singularidade. In: Ensino Fundamental de nove anos:

Orientações para a inclusão de crianças de seis anos de idade. Brasília: Ministério

da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. p. 13 – 24. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2010.

Page 51: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

51

Lacerda, A. Justiça libera menor de 6 anos no fundamental. O Estado de São Paulo,

São Paulo, p. A27, 25 nov. 2011.

LIMA, P. P. Ensino Fundamental de nove anos: o que acontece agora? In:

PróMenino, 04 mai. 2006. Disponível em:

<http://www.promenino.org.br/Ferramentas/Conteudo/tabid/77/ConteudoId/2181caab

-eedf-4d0a-94d5-2fbac3e541df/Default.aspx>. Acesso em 13 jul. 2010.

LUCK, H. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. São Paulo: Cortez,

2010.

-------------. A evolução da gestão educacional a partir de mudança paradigmática.

Disponível em: <http://progestaoead.files.wordpress.com/2009/09/a-evolucao-da-

gestao-educacional-h-luck.pdf>. Acesso em: 28 mai. 2011.

MANDELLI, M. Escolas Waldorf contestam resolução que exige aluno de 6 anos na

1ª série. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. A29, 27 nov. 2011.

MIZUKAMI, M. G. N. Aprendizagem da docência: algumas contribuições de L. S.

Shulman. Revista Educação. Edição: 2004 - Vol. 29 - N° 02. Disponível em:

<http://coralx.ufsm.br/revce/index.htm>. Acessado em: 14 set. 2011.

NASCIMENTO, A. M. A infância na escola e na vida: uma relação fundamental. In:

Ensino Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão de crianças de seis

anos de idade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica,

2007. p. 25 – 34. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2010.

PÁDUA, G. L. D. A Epistemologia Genética de Jean Piaget. In: Revista FACEVV | 1º

Semestre de 2009 | Número 2 | p. 22-35. Disponível em:

<http://www.facevv.edu.br/Revista/02/A%20EPISTEMOLOGIA%20GENETICA.pdf>.

Acesso em: 20 out. 2011.

PRADA, L. E. A. Dever e direito: A formação continuada de professores. Revista

Profissão Docente. 2006. Disponível em:

Page 52: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

52

<http://www.uniube.br/propep/mestrado/revista/vol07/16/ponto_de_vista.pdf>.

Acesso em: 22 jun. 2010.

SÃO PAULO. Deliberação CEENº 61/2006. Disponível em:

<http://www.ceesp.sp.gov.br/Deliberacoes/de_61_06.htm>. Acesso em: 28 set.

2010.

----------. Deliberação CEE nº 73/2008. 2008. Disponível em:

http://www.ceesp.sp.gov.br/Deliberacoes/de_73_08.htm>. Acesso: 28 set. 2010.

SAVELI, E. L. Ensino Fundamental de nove anos: O desafio de rever concepções de

escola, infância e alfabetização. Disponível em:

<www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem12/COLE_1541.pdf>. Aceso em: 28 jul.

2010.

SILVA. M. T. M., SANTOS. A. P. S. Análise descritiva da adequação do mobiliário

escolar nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Disponível em:

<http://www.ergopro.com.br/artigos/(2).pdf>. Acesso em: 01 mar. 2011.

SILVA, J. S. ZAMAI, C. A. SILVA, J. S. F. As reformas educacionais no Brasil. P.

Movimento & Percepção. Espírito Santo do Pinhal, SP, vol. 8, n.11, jul/dez 2007,

p.200-216. Disponível em:

<http://189.20.243.4/ojs/movimentopercepcao/viewarticle.php?id=138>. Acesso em:

11 set. 2010.

SINPEEM (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São

Paulo). Disponível em: <http://www.sinpeem.com.br>. Acessado em: 20 jan. 2011.

SOUZA, R.F.de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no século

XX (ensino primário e secundário no Brasil). São Paulo:Cortez, 2008 ( Biblioteca

básica da história da educação brasileira, v.2).

MUNICÍPIO/SME/SP. (Secretaria Municipal de Educação). Disponível em:

<http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/default.aspx>. Acessado em: 20 jan. 2011.

------. Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para o

Ensino Fundamental : ciclo I / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo : SME

/ DOT, 2007. Disponível em:

Page 53: Ensino Fundamental de nove anos: Das orientações do MEC as ações de Estados e Municípios

53

<http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Documentos/BibliPed/EnsFundMedio/CicloI/Ori

entaCurriculares_ExpectativasAprendizagem_EnsFnd_cicloI.pdf>. Acessado em: 18

ago. 2010.

VEIGA, I. P.A. (org) Projeto político pedagógico da escola: uma construção coletiva.

In: Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 14a edição

Papirus, 2002.

ZAN, D. P. Ensino fundamental de nove anos: a quem interessa? Com Ciência.

Disponível em:

<http://www.comciencia.br/reportagens/2005/12/08.shtml>. Acessado em: 17 out.

2010.

ZOTTI, S. A. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de

1980. Campinas: Autores Associados, 2004. Disponível em:

<http://books.google.com.br/books?id=9ZyCdrVMe30C&printsec=frontcover&dq=Cur

r%C3%ADculo&hl=pt-

BR&ei=15B2TcfiHcahtwetamqBg&sa=X&oi=book_result&ct=book-

previewlink&resnum=3&ved=0CEcQuwUwAg#v=onepage&q&f=false>. Acessado

em: 12 abr. 2010.