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Entrevista

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Page 1: Entrevista

Entrevista:

Sophia de Mello Breyner Andresen. Escritora consagrada,

nasceu no Porto, a 6 de Novembro de 1919. Frequentou o

Colégio Sagrado Coração de Maria e a Faculdade de Letras

na Universidade de Lisboa. Ao longo da sua vida, escreveu

inúmeros poemas e contos e publicou um grande conjunto

de obras. Esta entrevista terá como principais temas a

obra e alguns aspectos da vida da escritora.

Boa tarde, dona Sophia, encontramo-nos hoje aqui para

falar um pouco de si, da sua História e do que a levou a

começar a escrever

O que a levou a escrever contos?

Eu comecei a escrever histórias para crianças numa fase em que os meus filhos estavam

doentes, com sarampo. Em casa, comecei a ler-lhes histórias para os entreter. Mas os livros

que lhes lia, achei que estavam piegas demais, por isso resolvi contar-lhes as minhas próprias

histórias, nas quais recordo momentos da minha infância e juventude.

Qual foi o primeiro livro que escreveu? Em que ano?

Escrevi o meu primeiro livro em 1944, com o nome de “Poesia”.

Nos seus contos e poemas, é nítida a sua forte relação com o mar. Como surgiu essa relação?

Tenho uma forte relação com o mar, ele está muito ligado à minha infância. Recordo-me dos

imensos verões que passei na praia e é através destas recordações que escrevo poemas e

contos; é nelas que me baseio.

Qual é a sua memória mais antiga?

A minha memória mais antiga é de um quarto em frente ao mar dentro do qual estava,

poisada em cima de uma mesa, uma maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar e do

vermelho da maçã erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de

fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria.

Que momentos da sua infância recorda mais?

Lembro-me muito bem da casa do Campo Alegre, do jardim, da praia da Granja (sobre a qual

escrevi, em 1944, em carta a Miguel Torga: “A Granja é o sítio do mundo de que eu mais gosto.

Há aqui qualquer alimento secreto”), dos Natais celebrados segundo a tradição nórdica... Estes

vivências que marcaram de forma determinante o imaginário e dos quais me lembro como se

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tivessem acontecido ontem.

O que é para si a poesia?

Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo

traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso.

Considera que a sua vida e o modo como a viveu tenham sido, de

alguma forma, gratificantes?

A vida ensinou-me o bom e o mau. Nela, experimentei sensações e

acontecimentos, uns melhores que outros. Sintetizando, considero

que foi extremamente gratificante, tanto na escrita como na

política, porque fui recompensada e congratulada e isso é uma

grande satisfação pessoal.

Obrigada, Sophia de Mello Breyner espero que daqui para a frente continue com muito

sucesso.

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Soneto à maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento

Me servem neste dia em que te espero

E já não sei se quero ou se não quero

Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?

Daquilo que te peço desespero

Ainda que mo dês - pois o que eu quero

Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares,

De ser tão breve e fundo o teu engano,

E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano:

Também morre o florir de mil pomares

E se quebram as ondas no oceano.

Informação adicional:

Sofia de Melo Breyner faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de Julho de 2004

Trabalho Realizado por:

Lorredana Oliveira Pereira 4C